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STIFTUNG EBERT FRIEDRICH A N A L I S I S Y P R O P U E S T A S K J JELD AKOBSEN O monitoramento de empresas multinacionais Uma visão do movimento sindical

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STIFTUNGEBERTFRIEDRICH

A N A L I S I S Y P R O P U E S T A S

K JJELD AKOBSEN

O monitoramento deempresas multinacionais

Uma visão do movimento sindical

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Los trabajos que publicamos son de exclusiva responsabilidad desus autores y no representan necesariamente el pensamiento de laFundación Friedrich Ebert.Se admite la reproducción total o parcial, a condición de mencionar lafuente y se haga llegar un ejemplar.

Evaluación y Perspectivas de laAcción Sindical en el Mercosur ALVARO CORONEL

Seguridad Social en América Latinay Conosur: mitos, desafíos, estrategiasy propuestas desde una visión sindical ERNESTO MURRO

Tendencias actuales de lasrelaciones laborales en Europa FLAVIO BENITES

Las normas sociales de los acuerdoscomerciales y de inversión bilateralesy regionales THOMAS GREVEN

Los comités de empresa: ¿una estrategiapara la acción del sindicalismotransnacional en América Latina? FLAVIO BENITES

O monitoramento deempresas multinacionais

A N A L I S I S Y P R O P U E S T A SO T R O S T I T U L O S

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A N Á L I S I S Y P R O P U E S T A S

O monitoramentode empresas multinacionaisUma visão do movimento sindical

KJELD JAKOBSEN

noviembre 2006

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FRIEDRICH EBERT STIFTUNG

FESUR – Representación en UruguayPlaza Cagancha 1145, piso 8Casilla 10578, Suc. Plunae–mail: [email protected]://www.fesur.org.uyTels.: [++598 2] 902 2938 / 39 / 40Fax: [++598 2] 902 2941

Realización gráfica: www.gliphosxp.comISSN: 1510–9631

Kjeld JakobsenConsultor em Relações Internacionais e Presidente do Instituto ObservatórioSocial – Brasil.

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INTRODUÇÃO _____ 5I. PARADIGMAS PRODUTIVOS DE HOJE _____ 7

II. O CONHECIMENTO E AS REDES SINDICAISCOMO EIXO DAS NOVAS ESTRATÉGIAS _____ 13III. ALGUNS MONITORAMENTOS COM

BONS RESULTADOS NO BRASIL _____ 18CONCLUSÃO. DA EFICÁCIA DO MONITORAMENTO _____ 23

Bibliografia _____ 25

Indice

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As corporações empresariais multinacionais sãoos atuais motores da globalização, particular-mente a partir da mudança do paradigmaprodutivo do pós–guerra, representada pelasubstituição do modelo «Fordista» de produçãopelo «Toyotismo», e a reestruturação produtivaneoliberal. Esta mudança provocou profundastransformações no mercado de trabalho, assimcomo já havia ocorrido em menor proporção nopassado, na transição da primeira para a se-gunda revolução industrial.

Hoje não há pleno emprego e as relações detrabalho são cada vez mais fluidas e flexíveis noseu conjunto. A globalização provocou uma divisãona sociedade mundial que alguns denominam detrês terços e outros de cinco quintos, embora alógica seja praticamente a mesma.

Esta divisão caracteriza a sociedade compostapor um terço de pessoas com bom nível de vida,

Introdução

boa remuneração, alta capacidade de consu-mo, vivendo em segurança e dispondo de umaeficiente rede de proteção social. O segundoterço seria composto pelos que vivem no limiarda pobreza, que produzem para benefício doprimeiro grupo, freqüentemente sob formasinformais de trabalho e cuja segurança, bem–estar e proteção social são precários. O últimoterço é representado pelos excluídos socialmen-te, onde uma grande parte chega a sobreviverabaixo da linha da pobreza com menos de umdólar por dia.

Porém, de alguma forma, exceto os desempre-gados, quase todos estão inseridos em algumacadeia produtiva global, desde os empregadose gerentes de empresas multinacionais,passando pelos vendedores de ruas de CD–ROM e MP–3 ou os que trabalham a domicíliopara as empresas de vestuário e calçados, atéchegar aos coletores de lixo reciclável.

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Esta situação exige dos sindicatos a adoção denovas estratégias para cumprir seu papel de de-fender os direitos e interesses dos trabalhadores,bem como o de colocar as pessoas em primeirolugar. Uma delas, sem dúvida, passa pela políti-ca e a luta pela transformação social, e uma outrapassa pelo monitoramento das políticas e docomportamento trabalhista e social dascompanhias multinacionais e das empresas quefazem parte de suas cadeias produtivas.

O conteúdo deste artigo visa analisar algumasexperiências efetivadas no Brasil e que buscamatuar nesta direção. Para tanto, além desta

introdução, o texto está dividido em três capítu-los. O primeiro tratará das principais característi-cas do padrão produtivo atual, o segundo do pa-pel estratégico da informação sobre as empre-sas multinacionais e da organização sindical emredes, e o terceiro apresentará alguns casos con-cretos de monitoramento no Brasil, que tomamcomo referência as normas fundamentais detrabalho da OIT, as Diretrizes para EmpresasMultinacionais da OCDE, o Pacto Global da ONUe os Acordos Marco negociados pelasFederações Sindicais Internacionais. A conclusãodo texto tentará avaliar a eficácia desta estratégiasindical.

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O «fordismo» caracterizava–se pela produçãode bens industriais por meio de linhas demontagem, possibilitando a produção em massacom custos mais reduzidos e tornando essesprodutos acessíveis para uma grande parcelada população dos países industrializados,basicamente os da Europa Ocidental, EstadosUnidos e Canadá.

Os altos ganhos de produtividade do modelo,somados a uma situação de pleno emprego e aum forte movimento sindical, permitiram que ossalários dos trabalhadores nesses países seelevassem e contribuíssem para manter o altonível de consumo.

Da mesma forma, as históricas reivindicaçõespor mecanismos de proteção social, comoassistência à saúde, aposentadoria, acesso àeducação, seguro–desemprego, entre outrosbenefícios, foram se transformando em direitos

legais em vários países, principalmente nos maisdesenvolvidos economicamente, devido àaliança política dos sindicatos com os partidossocial–democratas de diferentes matizes que ougovernaram ou participaram dos seus governos,o que, somado ao pleno emprego e aos bonssalários, assegurava a estabilidade social(CHESNAIS, 1996, p. 300).

A estabilidade monetária era assegurada graçasao câmbio fixo mantido pela paridade entre odólar americano e o padrão–ouro, ao qual sevinculavam as demais moedas dos paísesindustrializados, processo coordenado pelo Fun-do Monetário Internacional – FMI.

Por fim, o Estado disciplinava o funcionamentodo setor privado quando necessário e tambémintervinha para suprir deficiências setoriais oupara fortalecer a demanda (CHESNAIS, 1996,p. 300).

I. Paradigmasprodutivos de hoje

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Porém, esse período de prosperidade do pós–guerra, conhecido como «os anos dourados docapitalismo», começou a apresentar sinais dedebilidade nos anos 1960 e terminou durante arecessão mundial de 1974–75. O marco maisconcreto do seu esgotamento foi o fim dos«Acordos de Bretton Woods», quando os EUAabandonaram a paridade entre o dólar e opadrão–ouro. Além da instabilidade inicial quecausou, foi um passo importante na direção daliberalização financeira em nível mundial que,entre outros fatores, tornou–se um atrativo paraa realização de altos lucros por meio daespeculação financeira.

Além do câmbio flutuante e da liberalizaçãofinanceira, a introdução de novas tecnologias enovos métodos de trabalho na indústria, aliberalização do comércio e dos investimentos e aredução do papel do Estado na economia tambémcontribuíram para gerar um novo paradigma deacumulação capitalista em substituição ao«fordismo».

A adoção da robótica, substituindo operários nalinha de montagem, e do chamado «toyotismo»,um novo sistema produtivo desenvolvido inicial-mente no Japão, permitiu que se ampliasse aprodução com um número menor detrabalhadores. O «toyotismo» é caracterizadopelo sistema «just in time», que permite progra-mar a produção de modo a não gerar estoques,nem de matéria–prima e nem de produtos finais,bem como utilizar integralmente a disponibilidadede máquinas e mão–de–obra. Esse sistemarequer flexibilidade nos contratos de mão–de–obra e também a descentralização da produçãopor intermédio de «outsourcing» (terceirização),o que joga os prejuízos do sistema sobre osombros dos trabalhadores e das empresassubcontratadas.

A mudança do paradigma surge após váriosanos de crescimento constante do comérciomundial sob hegemonia dos paísesindustrializados. Esse crescimento foi superiorao crescimento do PIB mundial devido a umaintegração e interdependência maior daseconomias capitalistas por intermédio de em-presas multinacionais.

Nesse período os investimentos externos diretos(IED) aumentaram ainda mais que o comércio,embora não de forma linear, pois a média anualde investimentos externos diretos dessas em-presas, entre 1982 e 1986, foi de US$ 61 bilhões,mas alcançou US$ 359 bilhões em 1996 e oauge de US$ 865 bilhões em 1999 (CIOSL,2001, p. 35).

A principal origem do IED são empresasmultinacionais de cinco países, que respondempor dois terços do seu total. São EUA, Alemanha,Inglaterra, Japão e França (CUT, 1998, p. 8).Estes são também os países que controlam amaior parte do comércio mundial, bem como ospaíses–sede dos maiores oligopóliosinternacionais.

Devido à liberalização financeira, às novastecnologias e à liberalização do IED, o númerode empresas multinacionais se expandiu ex-traordinariamente. Em 1969 existiam em tornode 7.000 delas e em 1996 o seu número seampliou para aproximadamente 44.000, com280.000 subsidiárias espalhadas pelo mundo(CUT, 1998, p. 8).

Para se ter uma idéia do seu poder, apenas asdez maiores corporações globais – GeneralMotors, Daimler–Chrysler, Ford, Wal–MartStores, Mitsui, Itochui, Mitsubishi, Exxon, Ge-neral Eletric e Toyota – faturaram 1,2 trilhão dedólares em 1998. Este valor representa cercade 70% do PIB conjunto de Brasil, México, Ar-gentina, Chile, Colômbia, Peru, Uruguai e Ve-nezuela no mesmo ano.

Seu modo de produção foi reestruturado levandoem consideração vantagens geográficas, odesenvolvimento dos acordos de integraçãoeconômica e o «toyotismo», inclusive associando–se em cadeias produtivas globais, de modo a teremcontrole tanto de seus suprimentos, quanto do mar-keting e comercialização de seus produtos. O con-trole ou coordenação dessas redes tornou–sepossível com a evolução da informática, datelecomunicação e dos computadores.

Por exemplo, em 1990, a multinacional italianaBenetton possuía um centro nevrálgico que in-

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cluía a direção central da empresa, criação emarketing, logística e informática e o controle daqualidade do corte, das cores e do produto aca-bado. Nesse núcleo não trabalhavam mais demil pessoas ao todo. No entanto, a partir dessecentro controlava–se uma rede de vendas avarejo composta por 4.500 lojas franqueadas em52 países que empregavam cerca de 40.000pessoas, e também uma rede de produção des-centralizada de 450 empresas subcontratadasque empregavam aproximadamente 24.000pessoas (CHESNAIS, 1996, p. 108).

Dessa forma, a Benetton e outras empresasmultinacionais que adotam esquemas semelhantestêm como negociar contratos extremamentevantajosos e isentos de riscos, pois estes ficam comas empresas subcontratadas e com as lojas fran-queadas. Da mesma forma, quanto às relações detrabalho a Benetton só se responsabiliza pelosempregados no seu núcleo central, e não nas re-des. Ou seja, a probabilidade é que nesse caso osmil trabalhadores empregados diretamente pelaempresa tenham um contrato regular de trabalhocom bons salários e benefícios, enquanto os 64.000que trabalham na produção e nas vendasprovavelmente são submetidos a contratosprecários e mal pagos.

Entretanto, não é apenas no campo trabalhistaque há queixas contra a Benetton. Em 1997, aempresa adquiriu cerca de 900 hectares de terracompradas da Compañía de Tierras del Sur Ar-gentino por US$ 50 milhões e que se localizamnas províncias patagônicas de Neuquén, RíoNegro, Chubut e Santa Cruz. Em 2002, começoua desalojar diversas comunidades de indígenasMapuches para dar início a uma larga criaçãode ovinos para produção de lã a custos baixos.

Essa atitude fere frontalmente várias normasinternacionais, a começar pela Convenção 169 daOIT, que preserva alguns direitos dos povos indí-genas originários diante da presença de atividadeseconômicas e a possibilidade de serem utilizadosno trabalho que estas desenvolvem. Esse fato foidenunciado recentemente no Tribunal Permanentedos Povos, que se instalou em Viena durante aCúpula América Latina–União Européia, em maiode 2006.

Posteriormente, para melhorar sua imagemprejudicada por este fato, a Benetton ofereceuuma doação de 7.500 hectares comocompensação, uma oferta que, no entanto, foidesaconselhada até pelo Instituto de Terras daArgentina, ao constatar a má qualidade do solo,e que foi rejeitada pela população Mapuche.

As multinacionais são atualmente as instituiçõesmais poderosas do mundo, mas sem a intervençãodireta de governos como o de Thatcher na Ingla-terra, a partir de 1979, o de Reagan nos EstadosUnidos, a partir de 1981, e em seguida de outros,não teriam conseguido implementar as políticasde liberalização comercial e de investimentos, bemcomo as políticas de desregulamentação,privatização e desmantelamento do «WelfareState», tão rápida e radicalmente (CHESNAIS,1996, p. 34).

O impacto foi dramático sobre o mercado mun-dial de trabalho. O desemprego tornou–secrônico na Europa, ultrapassando os 10%. NosEUA era menor, porém, em 1997, 18,4% da PEAtrabalhavam em tempo parcial, o que equivaliaa 21 milhões de pessoas, e ao mesmo tempo, onúmero de trabalhadores temporários saltou de640 mil em 1987 para mais de três milhões em1999 (POCHMAN; BORGES, 2002, p. 84).

A partir dos anos 1950, principalmente, algunspaíses de desenvolvimento mais tardio, como,por exemplo, Brasil, Argentina e México naAmérica Latina e Taiwan, Cingapura, Hong–Kong, Malásia e Coréia do Sul no continenteasiático, adotaram políticas de substituição deimportações que lhes permitiram também com-petir no mercado mundial com suas vantagenscomparativas, entre elas, o baixo custo de suamão–de–obra.

Embora esse modelo tivesse uma participaçãoimportante do Estado, contava também com apresença de empresas multinacionais em váriossetores da indústria. Suas economias eram maisfechadas que as dos países centrais e nãopossuíam o mesmo nível de proteção social. Paraos países latino–americanos, principalmente, amudança do paradigma «fordista» para oneoliberal foi sinônimo de uma crise prolongada.

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O desemprego na América Latina era de 11%em 2002 e 10% em 2004. Em 1999 havia umtotal de 84 milhões de desempregados ousubempregados no continente (BARBOSA;JAKOBSEN; BARBOSA, 2005, p. 40).

Além do aumento do desemprego, o novo pa-radigma também contribuiu para o aumento dotrabalho informal. No período anterior, particu-larmente durante a expansão industrial dos paí-ses em desenvolvimento, o trabalho informal era

uma conseqüência do excedente de mão–de–obra que provinha das zonas agrícolas para asregiões urbanas e que a indústria não conseguiaabsorver. Porém, no período neoliberal tornou–se também uma alternativa ao desemprego eparte do novo paradigma, tendo em vista quena conformação das cadeias produtivas globaisé estimulada a utilização do trabalho informalcomo fator de aumento de competitividade. Oquadro abaixo mostra sua evolução mundial.

Além da redução do número de trabalhadoresformais do setor privado na América Latina, onúmero de postos de trabalho no setor públicotambém se reduziu e as mulheres ficaram maissujeitas a trabalhar na informalidade do que oshomens.

A redução do número de trabalhadores no setorpúblico deve–se às políticas de «Estado míni-mo» e às privatizações.

A presença maior de mulheres na informalidade éconfirmada por várias fontes. Por exemplo, no sis-tema de trabalho a domicílio do setor de vestuárioe calçados predominam as mulheres. Uma pes-quisa realizada pela CUT, em 1999, sobre o perfildo trabalho informal na cidade de São Paulo,mostrou que as mulheres, os negros, os jovens até25 anos, as pessoas com mais de 40 anos e ascom baixa escolaridade tinham maior probabilidadede não conseguir um contrato regular de trabalho.A combinação de dois ou mais desses fatoresampliava esta tendência (JAKOBSEN; MARTINS;DOMBROWSKI, 2000, p. 57).

Essas transformações implicaram também noaumento da pobreza no continente. O total de

pobres na América Latina em 1980 era de 130milhões, que passaram a 221 milhões em 2002,praticamente 46% da população. O marcante éque dois terços deles se concentram em quatropaíses – Argentina , Brasil, Colômbia e México –justamente os que mais desenvolveram suaindústria e, por conseqüência, os mais afetadospelo ajuste neoliberal (BARBOSA; JAKOBSEN;BARBOSA, 2005, p. 43 – 44).

A combinação de desemprego com informalidadee pobreza é grave e reduz significativamente acapacidade de resposta dos sindicatos diante dasnovas condições de trabalho que as empresascomeçaram a exigir.

No Primeiro Mundo, Thatcher e Reagan sabiamque tinham que enfraquecer o movimento sin-dical de seus países para levar a políticaneoliberal adiante. A primeira deixou uma grevedos mineiros de carvão durar 400 dias sem fazerqualquer concessão e o segundo enfrentou umagreve de controladores de vôo demitindo todossumariamente e cancelando o seu direito detrabalhar nesta profissão. Além disto, os doisintroduziram uma série de novas leis parareduzir o papel dos sindicatos.

PARTICIPAÇÃO DO TRABALHO INFORMAL NO EMPREGO URBANO (%)

Período Mundo Países Desenvolvidos África América Latina Ásia

1980 – 1989 26,0 13,0 44,0 29,0 26,0

1990 – 2000 32,0 12,0 48,0 44,0 32,0

Fonte: OIT apud Barbosa, Jakobsen e Barbosa, 2005, p.41.

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O Trade Union Congress – TUC – da Inglaterraperdeu metade de seus 12 milhões de filiadosao longo da década de 1980 e a AmericanFederation of Labor–Congres of Industrial Unions– AFL–CIO – teve sua representatividadereduzida de 25 milhões nos anos 1950 paraaproximadamente 10 milhões atuais.

Na verdade, mesmos os sindicatos dostrabalhadores dos países industrializados nãosabiam o que fazer diante do novo modelo ealguns achavam mesmo que não havia o quefazer e que a nova realidade era inexorável.

Um exemplo da combinação da liberalizaçãoeconômica com flexibilidade de direitostrabalhistas é o México com suas «maquillas»instaladas na fronteira com os EUA. Graças àtarifa zero do Acordo de Livre Comércio da Amé-rica do Norte – NAFTA, as indústrias americanasmandam peças de vestuário, eletrônicos e outrospara serem montadas nessas instalaçõesmexicanas a custos extremamente baratos e, emseguida, os bens já montados retornam aos EUApara serem vendidos com bons lucros.

Para garantir esses baixos custos, ignoram–seas leis trabalhistas e ambientais do México,muitas vezes simplesmente demitindo todos ostrabalhadores em caso de resistência ao siste-ma. As «maquillas» empregam hoje, aproxima-damente, um milhão de pessoas, a maioriamulheres, não desenvolvem tecnologia eencerram suas atividades com a mesma rapidezcom que as iniciam, geralmente sem pagarindenizações para ninguém. Tampouco agregamvalor à sua produção, pois exportam praticamenteo mesmo valor daquilo que importam de matéria–prima.

Este exemplo, muito relacionado com aproximidade da fronteira com os EUA,espalhou–se pelo mundo e as suas formas defuncionamento, bem como seu marketing,tornaram–se políticas de Estado em vários lu-gares.

A maioria dos governos da América Centralcomeçou a criar «Zonas de Processamento deExportações» – ZPEs, onde as empresas

podem se instalar gratuitamente e isentas deimpostos. Os governos de Honduras, Repúbli-ca Dominicana, El Salvador e outros começarama divulgar as vantagens dessas zonas argumen-tando a proximidade dos EUA, a isenção deimpostos, estrutura gratuita e pronta paracomeçar a produzir e salários de US$ 0.50 ahora (R$ 1,10). As ZPEs começaram a se ins-talar também na Ásia, e no caso de Bangladesh,além de prometer salários ainda menores, ogoverno assegurava que os sindicatos estavamproibidos por lei de atuar nessas áreas.

Em outros lugares do mundo há iniciativassemelhantes. O governo militar de Myanmarcostuma recrutar a população local paratrabalhar compulsoriamente em obras de infra–estrutura básica, como abrir estradas e aplainarterrenos, para a instalação de indústriasmultinacionais. Após mais de dez anos dediscussões e reprimendas sobre essa prática,que caracteriza trabalho escravo, o Comitê deAplicação de Normas da OIT suspendeu o direitoa voto deste país na OIT enquanto o problemaperdurar.

Vários países, como EUA e China, são acusa-dos de beneficiar sua indústria de transformaçãocom o suprimento de peças produzidas porpresidiários. Outros de se beneficiarem dotrabalho infantil, que ainda envolve no mínimo240 milhões de crianças entre 5 e 14 anos nomundo, a sua maioria na Ásia (OIT, 1996, p. 3).

O pagamento de salários menores para trabalhoigual ainda afeta as mulheres em relação aoshomens ou os negros em relação aos brancosna maioria dos países e também no Brasil. Aquium homem branco ganha, em média, mais queuma mulher branca, que ganha mais que ohomem negro que, por sua vez, ganha mais queuma mulher negra.

Recentemente, a Comissão Econômica paraAmérica Latina e o Caribe (CEPAL), órgão daOrganização das Nações Unidas (ONU),concluiu um estudo afirmando que aglobalização piorou a distribuição de renda naAmérica Latina. Outro dado preocupanteproduzido por esse estudo indica que sete de

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cada dez novos empregos criados nas áreas ur-banas da América Latina nos anos 1990 surgiramno setor informal. Estas informações parecemconfirmar os temores de que a globalização, talcomo vem sendo implementada, aumenta asdesigualdades sociais e o desemprego.

Quanto ao Brasil, a crescente presença de em-presas estrangeiras é um dos elementos quemelhor evidenciam a inserção do país naglobalização. É notável a velocidade e amagnitude do avanço do capital estrangeiro emvários setores da indústria e dos serviços, talcomo no sistema financeiro, no comérciovarejista, no setor químico, na indústria daalimentação, nas telecomunicações, no setor deenergia, entre outros.

Atualmente, é difícil encontrar algum setoreconômico brasileiro onde as empresasmultinacionais não estejam expandindo suasoperações. Isto se expressa pelo fato de quedas 500 maiores corporações internacionais 420delas estão presentes no Brasil e, em geral, sãoempresas líderes no ramo onde atuam. Adimensão do seu mercado de consumo, arazoável infra–estrutura e a possibilidade deacesso aos mercados vizinhos por meio doMercosul justificam essa presença.

Porém, aqui, além das práticas discriminatóriasno mercado de trabalho já mencionadas, também

há violações dos demais direitos fundamentaisde trabalho: liberdade sindical, negociaçãocoletiva, proibição de trabalho infantil e escravo.

O mercado de trabalho brasileiro é muito diverso.Encontramos desde trabalhadores extremamentequalificados e bem pagos em setores de ponta daeconomia e nos setores de alta tecnologia até otrabalho escravo, principalmente nas áreas defronteira agrícola, onde se desmata para dar lu-gar à pecuária e à agricultura.

As violações dos direitos trabalhistas e sociaisse encontram com mais freqüência e gravidadeà medida que se analisam as cadeias produtivasdas empresas. Quanto mais profundo e descen-tralizado é o seu processo de subcontratação,maior é a possibilidade de encontrar trabalhoinformal, infantil, precário e até escravo.

Assim sendo, o movimento sindical vem se orga-nizando tanto no plano nacional como no interna-cional com a finalidade de aumentar seu poder denegociação com as empresas multinacionais. Aseguir, apresentamos algumas dessas estratégiase iniciativas sindicais – centrando nossa atençãonas experiências promovidas pela CUT (CentralÚnica dos Trabalhadores) do Brasil, apontandoseus benefícios e limites.

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Em primeiro lugar, entender a estratégia das em-presas multinacionais é fundamental, e a novarealidade sob a qual elas atuam no sistema in-ternacional aos poucos está promovendo umamudança também no comportamento dasorganizações dos trabalhadores. Muitos dirigen-tes sindicais perceberam que, frente àglobalização das decisões sobre investimentosou encerramento de operações locais, a luta dostrabalhadores perde progressivamente acapacidade de proteger empregos e direitossociais e sindicais se for restrita às fronteirasnacionais.

O movimento sindical depara–se com umparadoxo. De um lado, a OIT busca reforçar oseu papel na promoção das normasfundamentais de trabalho e houve umcrescimento do número de acordos e protocolosinternacionais, definidos por organizaçõesmultilaterais internacionais, em defesa de

II. O conhecimentoe as redes sindicais

como eixodas novas estratégias

melhores condições de vida e de trabalho paraas comunidades onde as empresasmultinacionais estão instaladas, como asDiretrizes para Empresas Multinacionais daOCDE (Organização para a Cooperação eDesenvolvimento Econômico), o Pacto Global daONU, entre outros. Sem falar na repercussão quea responsabilidade social empresarial vemassumindo nos últimos tempos. De outro lado, arealidade limita o poder de barganha dos sindi-catos no plano local, pois as formas tradicionaisde luta dos trabalhadores demonstram–se me-nos eficazes para atingir seus objetivos.

Portanto, os trabalhadores necessitamtransnacionalizar suas ações como forma de ga-rantir a eficácia destas, restabelecendo a suacapacidade de mobilização e negociação parapreservar empregos, salários e direitos sociais.Se as decisões são tomadas no exterior, os sin-dicatos têm que alcançar esse espaço também.

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Em qualquer ação frente às empresastransnacionais, o conhecimento e a informaçãosão elementos essenciais. O desconhecimentopermite que as multinacionais muitas vezesdesrespeitem os direitos fundamentais do trabalhomundialmente reconhecidos, ignorem acordosinternacionais assinadas por elas mesmas e, aomesmo tempo, assumam comportamentos dife-renciados em suas fábricas instaladas no Brasil,comparados com seus países de origem, em de-trimento dos próprios trabalhadores.

Para superar a lacuna da falta de informação edo conhecimento sobre as empresas naeconomia globalizada, a CUT do Brasil criou em1997 o Instituto Observatório Social, emcooperação com o DIEESE (DepartamentoIntersindical de Estatística e Estudos Sócio–Econômicos), a UNITRABALHO (RedeInteruniversitária de Estudos e Pesquisa sobre oTrabalho) e o CEDEC (Centro de Estudos deCultura Contemporânea), recebendo o apoio deparceiros internacionais para essa iniciativa.

Essa proposta foi uma conseqüência do fortedebate desenvolvido no interior do movimentosindical internacional quando terminou a Roda-da Uruguai do GATT, em 1994, e o governo dosEUA propôs que a OMC a ser instalada no anoseguinte contivesse uma cláusula vinculando aparticipação no comércio mundial com ocumprimento das normas fundamentais detrabalho.

A idéia foi rejeitada pela maioria dos países, emparticular por aqueles em vias de desenvolvi-mento, preocupados com o surgimento de novosmecanismos protecionistas. No meio sindical, aproposta foi abraçada pelos sindicatos dos paí-ses industrializados, mas também foi vista comdesconfiança pela maioria dos sindicatos dos paí-ses em desenvolvimento.

A CUT do Brasil apoiou a idéia de uma Cláusu-la Social na OMC como mecanismo defortalecimento dos direitos dos trabalhadores emnível internacional, porém, condicionando oapoio à implementação de «sanções positivas»,isto é, que os países onde houvesse violaçõesdos direitos fundamentais de trabalho pudessem

receber assistência técnica e financeira para re-solver os problemas, e que os países quecumprissem regularmente as normas tivessemalguma vantagem especial no comércio inter-nacional como forma de estímulo ao bomcomportamento trabalhista e social.

Os dirigentes da CUT também argumentavamsobre a necessidade de vincular o debate so-bre o respeito às normas fundamentais detrabalho a uma avaliação do conteúdo dosacordos internacionais de comércio, uma vezque de pouco adiantaria assegurar certosdireitos como, por exemplo, o da negociaçãocoletiva, se os acordos de maior liberalizaçãocomercial levassem a mais desemprego einformalidade, como em geral ocorreu duranteas décadas de 1980 e 1990.

Por fim, havia a questão sobre quem definiria seem determinado país havia o chamado «Dum-ping social» e em que graus, dimensões e setoreseconômicos. Diante da inexistência de umainstituição com esta capacidade, surgiu a idéiada criação de um organismo técnico e científicoligado ao movimento sindical, com o propósitode verificar e monitorar o comportamento das em-presas que se beneficiam da liberalizaçãoeconômica promovida pela globalização. Este or-ganismo, no Brasil, tornou–se o InstitutoObservatório Social.

O objetivo desse instituto é a realização deestudos e pesquisas que subsidiem ações con-cretas pela globalização de direitos e a proteçãoambiental em âmbito nacional e internacional,a partir da produção de conhecimento,informação e monitoramento do comportamentodas transnacionais, que são disponibilizados aossindicatos.

Por meio do Observatório e das pesquisas reali-zadas, a CUT e seus sindicatos buscam conhecera estratégia internacional e nacional das empre-sas, suas políticas de responsabilidade social eos acordos internacionais das quais sãosignatárias, para aumentar seu poder debarganha. A partir disso, os sindicatos podem tro-car informações, bem como traçar estratégias eplanos de ação, explorando inclusive os

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compromissos internacionais assumidos pelasmultinacionais analisadas e que muitas vezes nãosão devidamente respeitados.

As empresas enfatizam a publicidade de suasiniciativas na área de responsabilidade social, es-pecialmente as de caráter filantrópico, como for-ma de melhorar sua imagem perante o públicoem geral. No entanto, divulgam pouco seus Có-digos de Conduta e a forma como se comportamperante seus próprios empregados.

Os sindicatos conhecem bem a realidade do in-terior das plantas produtivas, e transformar essetipo de informação em algo transparente fortale-ce sua situação perante as próprias empresas,porque a maior transparência desses aspectosé uma exigência crescente de investidores, con-sumidores, governos e da sociedade em geral.Todas as formas de organização sindical tornam–se importantes fontes de informação, como asComissões de Fábrica, as CIPAs (Comissão In-terna de Prevenção de Acidentes), as Comissõesde PLR (Participação nos Lucros e Resultados),as de conciliação prévia, etc. Nota–se quequando estas instâncias estão bem articuladas emantêm entre si um diálogo constante, o sindi-cato se fortalece perante a empresa.

Os sindicatos não deveriam se restringir a in-formar apenas a sua base, mas também o pú-blico em geral, por meio de campanhas decomunicação cujas informações podem ser uti-lizadas também por outros atores sociais parapressionar pela melhoria das condições de vidae de trabalho nessas empresas, bem como paraconhecer a relação delas com o seu entorno,comunidade, meio ambiente, etc.

A realidade está tornando o consumidor um ele-mento–chave nessa relação com asmultinacionais, pois ele tem assumido umacapacidade crescente de influenciar ocomportamento das empresas. Há pesquisasque demonstram que aumentou a preocupaçãodos consumidores quanto à ética com que osbens que consomem são produzidos.

Embora essas parcerias com outros atoressociais sejam importantes porque podem forta-

lecer a ação sindical, não são suficientes. Énecessário melhorar a articulação entre o própriomovimento sindical e atribuir aos representan-tes dos trabalhadores uma visão mais ampla dasempresas multinacionais e da compreensão deseu papel na cadeia produtiva.

Um bom exemplo dessa demanda organizativaocorreu na empresa Unilever. Esta é umacompanhia multinacional de capital anglo–holandês que atua no setor de produtos de hi-giene e alimentação. Sua política deinvestimentos está centrada na compra de em-presas tradicionais e às vezes até obsoletas,unicamente pelo valor que possuem suas mar-cas, como, por exemplo, Knorr, Gessy, Lipton,entre outras.

No Brasil ela adquiriu várias indústrias, como aindústria de sorvetes Kibon, a Refinações deMilho Brasil, que fabrica os tradicionais produtosderivados de milho Maisena e Caro, a indústriade enlatados Cica, a Best Foods americana, queera dona da marca Arisco, entre outras. AUnilever promoveu uma profunda reestruturaçãoprodutiva em todas elas, inclusive fechando di-versas unidades.

Esse tipo de investimento externo direto quedestrói empregos e não traz dinheiro novo paraa economia representa um desafio ainda maiorpara o movimento sindical.

No caso brasileiro, essa situação traz um desa-fio adicional devido à estrutura sindical vigente,de sindicatos por categoria e com representaçãonão menor que um município. Assim, tínhamosum grupo de sindicatos de trabalhadores no setorda alimentação espalhados pelo país e querepresentavam os trabalhadores da Kibon, daCica, da Arisco e da Maisena, os quaisrapidamente se tornaram sindicatos detrabalhadores da Unilever.

No entanto, quase não havia contatos anterio-res entre as diretorias desses sindicatos, salvopor meio da sua confederação nacional, umavez que se tratava de representações em em-presas diferentes e com negociações coletivasem datas diferentes. Porém, se a unidade de

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ação já era importante antes, ela passou a sercrucial quando todas as fábricas passaram apertencer a uma mesma empresa e a ter queseguir as mesmas políticas de salário e relaçõesde trabalho, pois seria a única forma de alcançaralguma eficácia nas negociações.

Além da unidade da ação sindical numa mesmaempresa, a estratégia sindical tem que superartambém o marco corporativo, e para tanto seránecessário envolver várias categorias profissionais,buscando alianças sindicais nacionais e internacio-nais convergentes quanto aos produtos/serviços deum mesmo grupo de empresas e buscando criarnovas formas de organização.

Pensar em novas formas de organização sindi-cal não significa substituir o que já existe, mascomplementá–lo de forma a melhor adaptar ossindicatos à nova realidade. Podemos dizer queisto implicaria três novos comportamentos:

1. elaboração de mecanismos de busca deinformações sobre as ações das empresase de suas cadeias produtivas;

2. busca por maior articulação entre os sindi-catos e organização de redes sindicais noplano nacional;

3. elaboração de estratégia supranacional eextensão internacional das redes.

A CUT vem promovendo, nos últimos anos, acriação de redes e comitês nacionais por em-presa, dentro do Projeto Ações Frente àsMultinacionais, que tem como objetivo centralorganizar os sindicatos que representam ostrabalhadores dessas empresas no Brasil ecujas plantas produtivas estão distribuídas aolongo do território nacional. Essa iniciativa bus-ca melhorar a organização sindical e concen-trar as negociações coletivas por meio dacriação de um Comitê Sindical Nacional paracada empresa multinacional, levando em contaexperiências anteriores, como o Comitê Mun-dial da Volkswagen ou da DaimlerChrysler e

também as iniciativas coordenadas por algumasFSIs (Federações Sindicais Internacionais).

Essa iniciativa tem gerado bons resultados,como no caso dos sindicatos que representamtrabalhadores das empresas Akzo Nobel, Philips,ThyssenKrupp e Unilever, que estão organizan-do comitês nacionais. Outras experiências estãoum pouco mais estruturadas, como no caso dosbancos ABN AMRO e Santander, nos quais ossindicatos criaram comitês sindicais no Mercosul,ou ainda a Rede Sindical sul– americana dostrabalhadores da BASF. Hoje existem aproxima-damente 25 redes articuladas pela CUT e quecontam com pesquisas do Observatório Social.

Os comitês e redes procuram conectar suas açõescom o trabalho desenvolvido por organizaçõessindicais internacionais, como os ComitêsMundiais ou Europeus de Empresas, bem comopelos sindicatos de trabalhadores nas matrizes dasempresas. Isto tem aberto muitas possibilidadesde negociação de acordos com aplicabilidade emtodas as plantas das empresas e não apenasnaquelas localizadas na Europa.

No entanto, a atual realidade internacional exi-ge um comportamento mais agressivo, no sen-tido das negociações se traduzirem em iniciati-vas concretas que busquem alterar a condutadas empresas multinacionais, especialmentenos países em desenvolvimento.

As questões básicas que interessam a todos eque são referências para essas iniciativas sãoas normas fundamentais de trabalho da OIT, quederivam da Declaração Universal dos DireitosHumanos1, a Declaração da OIT sobre Empre-sas Multinacionais e Direitos Sociais, asDiretrizes para Empresas Multinacionais daOCDE, o Pacto Global da ONU, os AcordosMarco, entre outros compromissos.

Assim, um primeiro passo é verificar como asempresas se comportam frente a compromissos

1 Estas se traduzem em Convenções que asseguram a liberdade sindical (87 e 98), direito à negociação coletiva (98), proibição detrabalho infantil (138 e 182), proibição do trabalho escravo (29 e 105) e proibição de discriminação no local de trabalho (100 e 111).

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internacionais que elas têm que assumir, sejaporque os países onde operam ratificaram asnormas fundamentais da OIT e as Diretrizes daOCDE, seja porque as empresas aderiram aoPacto Global ou assinaram algum acordo mar-co com as Federações Sindicais Internacionais.

Além disto, algumas empresas adotam códigosde conduta ou políticas de responsabilidade so-cial (RSE) por iniciativa própria e normalmentenão os negociam com os sindicatos. Mesmoassim, o conhecimento dessas iniciativas é útilpara as ações sindicais, pois se nem elas foremrespeitadas, maior será a motivação e a justifi-cativa para a mobilização.

Cabe, inclusive, avaliar se as políticas de RSEde determinadas empresas têm coerência comsua política de relações de trabalho, pois jáforam encontrados casos onde havia umapreocupação exagerada com o marketing diri-gido aos «stakeholders» externos em detrimentode profunda insatisfação dos trabalhadores,devido a que as relações e condições detrabalho eram ruins.

Um outro aspecto a ser considerado é a visão demuitas empresas de que RSE é meramente umnovo modelo de marketing por meio de medidasassistencialistas, quando deveria ser um meca-nismo de contribuir para o desenvolvimento doseu entorno do ponto de vista econômico e so-cial.

Alguns sindicatos têm tomado a iniciativa depropor a adoção de códigos de conduta

supranacionais às empresas, o que elas normal-mente rejeitam sob a alegação de cumprirem alegislação local. No caso da Unilever, foisingelamente proposto que a negociação coletivanacional fosse realizada entre a empresa e oComitê de Sindicatos. Até isso ela recusou, sobo argumento de que seria contra a lei, o que é,no mínimo, um exagero porque, embora alegislação trabalhista brasileira atribua arepresentação dos trabalhadores nasnegociações ao sindicato da categoria, nãoproíbe que esta representação se faça por meiode um conjunto de entidades.

De toda maneira, há um forte debate no interiorda CUT sobre a necessidade de se alcançaruma maior coesão orgânica da organização sin-dical, fundindo sindicatos e criando estruturasregionais ou nacionais, bem como existe umprojeto de reforma da estrutura sindical brasileiraem tramitação no Congresso Nacional, queprevê o fim da unicidade sindical imposta porlei, a representação por ramo de atividadeeconômica e a organização no local de trabalho.

Particularmente a aprovação dos dois últimositens provocaria um tremendo salto organizativona direção da possibilidade de se representar eorganizar o conjunto dos trabalhadores ligadosa uma mesma cadeia produtiva, inclusive osinformais, sobre os quais a empresa principal tem,juridicamente, responsabilidade subsidiária, oque significa que ela pode ser responsabilizadaquando seu fornecedor viola direitos trabalhistas,como, por exemplo, não registrar corretamenteseus empregados.

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O tremendo poder das corporações multinacionaisno Brasil, as iniqüidades e a impunidade quegrassam num país como o nosso, bem como arealidade das altas taxas de desemprego einformalidade, sugeririam que seria muito difícildesenvolver um sindicalismo autêntico frente aessas empresas com possibilidade de obter con-quistas. Isto é parcialmente verdade, mas apren-demos com as experiências do IOS que muitacoisa pode ser feita apesar dos limites que essepoder e a realidade nacional nos impõem.

Até o momento, o Observatório Social elaborouaproximadamente 40 relatórios sobre empresasbrasileiras, americanas, japonesas e principal-mente européias que atuam na mineração,indústria, serviços e agro–indústria do Brasil. Osprincipais setores econômicos estudados foram:bancos, comércio varejista, telecomunicações,eletroeletrônico, farmacêutico, higiene, metalúr-gico, mineração, papel e celulose, químico e

petroquímico, utilidades públicas, têxtil evestuário, alimentos e bebidas, automotivo, agri-cultura, entre outros.

Os relatórios compreendem a análise docomportamento das empresas desses setoresno tocante às normas fundamentais de trabalhoda OIT, normas de saúde e segurança dostrabalhadores, responsabilidade social empre-sarial e suas estratégias de desenvolvimento denegócios. Muitos dados são coletados de fontessecundárias, mas as entrevistas com dirigentessindicais, ativistas e trabalhadores, bem comointegrantes da administração das empresas,quando elas aceitam colaborar com as pesqui-sas, são fundamentais.

Metodologicamente, a pesquisa é participativae permite aprofundar a avaliação sobre os pro-blemas detectados por meio de marcos dereferência elaborados pelo próprio Observatório

III. Algunsmonitoramentos

com bonsresultados no Brasil

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Social sobre liberdade sindical, negociaçãocoletiva, trabalho infantil, trabalho escravo ouanálogo, discriminação de gênero, discriminaçãode raça, meio ambiente interno da empresa(saúde e segurança), meio ambiente externo eresponsabilidade social empresarial.

Quando é decidido iniciar uma pesquisa em de-terminada empresa, ela é comunicada comantecedência e convidada a participar. A maiorianão aceita, mas algumas das que aceitaram, inte-ligentemente assumiram a pesquisa como sefosse uma auditoria externa e aproveitaram suasconclusões para corrigir os problemas detectados.

Os principais problemas que as pesquisas têmverificado na maioria das empresas referem–seà violação da liberdade sindical, discriminaçãode gênero e/ou raça e disseminação dos casosde lesões por esforços repetitivos (LER).

Muitos desses relatórios foram utilizados pelos sin-dicatos para negociar melhores condições detrabalho, pois o fato das informações serem levan-tadas por uma entidade externa e de forma acuradatem dado maior credibilidade a elas. Nos casos emque as empresas optam por participar das pesqui-sas, os comitês bipartites que usualmente seformam para acompanhá–las acabam se tornan-do os catalisadores de importantes negociaçõescoletivas, uma vez que os problemas detectadosse tornam visíveis para as duas partes.

A preocupação de algumas empresas com suaimagem perante a sociedade e os consumidorestem sido um fator a mais de estímulo à eventuaisnegociações e busca de soluções para os pro-blemas levantados, conforme demonstram pelomenos três situações investigadas pelo IOS e di-vulgadas amplamente.

Uma foi a divulgação de uma reportagem espe-cial escrita por jornalistas do Observatório Socialque acompanharam uma equipe volante doMinistério do Trabalho e Emprego em repressãoao trabalho escravo e análogo em carvoarias doPará e Maranhão.

Nesta região de Carajás há centenas decarvoarias que fornecem carvão vegetal para

os altos–fornos de siderurgias que pertencem aempresas brasileiras como a Gerdau, QueirozGalvão e outras, que produzem ferro–gusa paraexportação. Um dos seus principais clientes é aempresa americana Nucor Corporation.

Foram encontradas situações de trabalho escravoe, principalmente, condições extremamenteprecárias de trabalho, de moradia e alimentaçãodos trabalhadores que se dedicavam à atividadede produzir carvão vegetal, sem falar da falta decontratos regulares de trabalho e cumprimento dosdireitos básicos.

A denúncia fortaleceu a iniciativa de algumasdas empresas siderúrgicas de criar um institutofinanciado por elas para monitorar as carvoariase orientar as mudanças que se fizessemnecessárias sob pena de suspensão da com-pra do carvão.

Esta política provocou a melhoria das condiçõesde trabalho em muitas dessas carvoarias e ametodologia foi posteriormente avaliada peloIOS, que constatou que, apesar de avanços sig-nificativos no estado do Maranhão, ainda haviafalhas na eficácia do monitoramento no sul doPará.

Infelizmente, o trabalho escravo, principalmen-te nas áreas agrícolas dos estados do Pará eMato Grosso, ainda persiste, embora tenhahavido importantes progressos devido a umtrabalho conjunto entre governo federal e OIT,acompanhado por várias entidades dasociedade civil. A OIT, em seu relatório de 2006,calcula que devem existir em torno de 25.000trabalhadores nessa condição.

Outra situação foi a divulgação do trabalho decrianças na mineração de «pedra–sabão» emOuro Preto, no estado de Minas Gerais, produtoeste utilizado para produção de talco empregadona fabricação de tintas por grandes empresasmultinacionais, como a Faber Castell, ICI Paintse BASF. As duas primeiras reagiram prontamen-te à denúncia suspendendo a aquisição destamatéria–prima. Porém, a BASF insistiu na teseda inexistência de trabalho infantil para aprodução de talco, embora posteriormente

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adotasse a mesma medida das demais empre-sas e reconhecesse, numa reportagem da revis-ta Exame, que a auditoria dos seus fornecedoreshavia falhado neste caso.

O trabalho infantil também é um problema quevem se reduzindo ao longo dos últimos anos, masque persiste principalmente nas regiões mais po-bres do Brasil, onde a sociedade é menos organi-zada e menos capaz de reivindicar aimplementação das medidas governamentais exis-tentes para erradicá–lo. É o caso da mineraçãoprecária e atividades agrícolas, principalmente.

O terceiro exemplo foi quanto ao envolvimentoda empresa holandesa C&A com a sub–contratação de fornecedores de vestuário que seutilizavam do trabalho de emigrantes bolivianosem situação de semi–escravidão na cidade deSão Paulo. Embora não seja a única empresado comércio varejista de vestuário a se utilizardesse expediente, ela foi flagrada em diligênciaspoliciais e citada numa investigação da Câmarade Vereadores da cidade.

A sua resposta à denúncia foi acelerar aimplementação de uma auditoria social de seusfornecedores no Brasil, além de se dispor a co-operar com uma pesquisa em execução peloIOS nas suas lojas. Esta pesquisa havia sidodemandada pelos comerciários da CUT.

Uma nova experiência de pesquisas em em-presas multinacionais e intercâmbio entre sin-dicatos da Alemanha, Brasil e Holanda foiapoiada pela União Européia e iniciada em2002. Tratava–se de três empresas alemãs– Bayer, Bosch e ThyssenKrupp – e três ho-landesas – Akzo Nobel, Phillips e Unilever –,todas em operação no Brasil.

Como de costume, as empresas foram convi-dadas a participar da pesquisa e lhes foi solici-tado que possibilitassem o acesso dospesquisadores aos seus dados gerenciais etambém facilitassem a realização das entrevis-tas com os trabalhadores diretamente nos locaisde trabalho.

Graças aos esforços empreendidos pelos sin-dicatos alemães e holandeses, as empresasmatrizes orientaram as filiais no Brasil a coope-rar, e a forma de fazê–lo foi negociada com ossindicatos locais e o IOS. As maiores polêmicasque se apresentavam eram invariavelmentesobre a confidência das informações e os limi-tes da divulgação dos futuros relatórios.

No entanto, a negociação desses termos acabouproduzindo um acordo que implicava umprocesso de monitoramento, pois a condiçãopara a divulgação das pesquisas incluía umrelatório sobre os processos alcançados, o queexigiu um acompanhamento mais prolongadodo comportamento empresarial.

Esse processo estabeleceu negociações mais in-tensas entre as empresas – matrizes e filiais –com os sindicatos brasileiros e europeus epossibilitou resolver uma série de problemas queanteriormente não se solucionavam devido àinexistência de canais permanentes de contatosentre as partes.

Dessa forma, impediram–se demissões naunidade da Phillips em Manaus, a Akzo Nobelreconheceu as comissões de fábricas em trêsunidades, liberdade sindical e negociações re-gulares entre sindicatos e empresa foramestabelecidas na ThyssenKrupp, bem como naunidade da Bayer em Belford Roxo, no Rio deJaneiro.

O próximo quadro mostra os resultados desseprojeto e as possibilidades positivas das redessindicais internacionais.

A exceção foi a Unilever, onde não houvenenhuma evolução especial das relações detrabalho, o que pode ser explicado facilmentedevido às suas políticas de reestruturaçãoprodutiva permanente e fechamento de empre-sas e demissões, bem como às dificuldadesque os sindicatos têm para estruturar uma redepermanente. Houve uma rede que chegou areunir três sindicatos filiados à CUT, mas quedepois se desfez.

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Esta experiência mostrou as possibilidades dossindicatos para melhorar a organização dostrabalhadores nessas empresas multinacionaise a importância tanto do trabalho em redesnacionais e internacionais como das relaçõesdos sindicatos de trabalhadores com seuscongêneres dos outros dois países, para atingirresultados concretos.

No entanto, os trabalhadores dessas seis em-presas são empregados com contratos formaisde trabalho, enquanto aproximadamente 50%dos trabalhadores brasileiros são informais, emparte devido à mudança do paradigma produtivo.

Na cadeia produtiva dessas empresaspesquisadas também há trabalhadoresinformais, para os quais não se respeitam osmesmos direitos de seus colegas com contra-tos formais, apesar do entendimento jurídico

brasileiro da responsabilidade subsidiária.Portanto, deveria ser de interesse dos sindica-tos que representam trabalhadores de empre-sas multinacionais conhecer a estrutura da suacadeia de fornecedores e exigir que ascondições de trabalho na cadeia produtiva sejamigualmente adequadas, como forma de inibir aterceirização motivada pela redução de custostrabalhistas.

O Observatório Social estendeu as pesquisasna Unilever, em Goiás, à rede de supridores detomates para produção de molhos e concentra-dos e verificou a proximidade e a dependênciados pequenos produtores e dos trabalhadoresrurais assalariados em relação à empresa.Embora não tenham vínculos empregatícioscom a Unilever, sua subsistência é afetada porqualquer mudança adotada pela empresa.Quando a fábrica de Goiânia foi comprada da

RELAÇÃO ENTRE REDES SINDICAIS E EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO

Centrais Redes Relações ProgressoEmpresa Setor Sindicais sindicais internacionais nas relações

nacionais de trabalho

Akzo–Nobel2 Químico CUT e FS SIM SIM SIM

Phillips Eletroeletrônico CUT, FS NÃO NÃO SIM4

e outros3

Unilever Alimentação CUT, FS SIM SIM NÃOe outros

e Higiene

Bayer Químico CUT SIM SIM SIMe outros

Bosch Metalúrgico CUT e FS NÃO5 Parciais NÃO

ThyssenKrupp Metalúrgico e CUT e SIM SIM SIMSiderúrgico outros

Fonte: Instituto Observatório Social apud Jakobsen, 2006, pg. 53.

2 A rede de supermercados Bompreço (Royal Ahold) foi substituída na pesquisa pela Akzo Nobel após ser vendida para a Wal–Mart.

3 FS significa a central sindical Força Sindical e «outros» refere–se a entidades sem filiação.4 Houve algum progresso no início, mas as redes sindicais deixaram de funcionar regularmente.5 Na Bosch não existe uma rede sindical nacional, apenas algumas poucas reuniões entre os sindicatos. Os contatos com os

sindicatos alemães também foram esparsos.

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Best Foods, havia inúmeros casos de trabalhoinfantil na produção de tomates, que foramcoibidos pela Unilever para preservar sua mar-ca e imagem.

Na verdade, é mais um desafio para os sindica-tos terem que lidar com o trabalho informal, por-que a melhor forma de fazê–lo ainda édesconhecida. Porém, como uma parcela sig-nificativa desse tipo de relação de trabalho éaquela que a OIT classifica como prestação deserviços para empresas, não há dúvidas que éjunto às empresas principais que os sindicatosdevem atuar.

As pesquisas feitas pelo Observatório Socialtambém têm servido para fundamentarreclamações junto ao «Ponto de Contato Na-cional» (PCN) das Diretrizes para EmpresasMultinacionais da OCDE. Estes devem ser ins-talados em cada país membro da OCDE etambém nos países que, apesar de não seremmembros, aderiram às Diretrizes. Este é o casoda Argentina, Brasil, Chile e Eslovênia.

As Diretrizes abrangem as normas fundamentaisde trabalho da OIT e também uma série deoutros aspectos mais amplos sobre meio am-biente, promoção de emprego, ética empresa-rial, transparência, entre outros, possibilitandoaos sindicatos desenvolverem uma atuaçãomais abrangente e trabalhar junto com outrasorganizações sociais.

Neste sentido, têm se estabelecido algumasoutras redes sociais no Brasil, envolvendo ONG’s,o Instituto de Defesa do Consumidor e entidadesque lidam com responsabilidade social empre-sarial, para agir em favor de mais respeito aosdireitos em geral. Isto tem possibilitado retomaralgumas alianças sociais que haviam desapare-cido após a redemocratização do país.

Embora o cumprimento das Diretrizes sejavoluntário e não exista nenhum poder coerciti-vo sobre as empresas multinacionais para queas respeitem, não deixam de oferecer um argu-mento que os sindicatos podem utilizar, inclusi-ve internacionalmente, pois já existe uma rede

de organizações sociais e sindicais, que sechama «OECD Watch», com o papel deacompanhar a eficácia das Diretrizes mundial-mente.

No caso do Brasil há várias queixasencaminhadas ao PCN nacional, que está sobresponsabilidade do Ministério da Fazenda.Entre elas, há reclamações contra a Unileverpor violação da liberdade sindical, contra aParmalat por ter fechado uma fábrica sem co-municar previamente aos trabalhadores e con-tra a Shell e Votorantim por danos ambientais.

Muitas empresas que atuam no Brasil sãoaderentes ao Pacto Global da ONU, que impli-ca assumir dez compromissos que incluem orespeito à normas de Direitos Humanos, osDireitos Fundamentais de Trabalho da OIT, Nor-mas Ambientais e o Tratado Anti–Corrupção daONU. No entanto, o Pacto, além de ser deadesão voluntária, não possui mecanismos demonitoramento.

O Observatório Social teve apenas umaexperiência de pesquisar o comportamento deuma empresa diante do Pacto Global, que foi ocaso da BASF, a pedido do sindicato e comcolaboração da empresa.

No caso dos Acordos Marco que são negocia-dos pelas Federações Sindicais Internacionaiscom algumas empresas multinacionais, temhavido muitas queixas de sindicatos da Améri-ca Latina de que essas negociações não tomamem consideração a realidade sindical do sul eacabam se tornando letra morta pela falta deconsulta aos filiados das federações e pelodesconhecimento de seu conteúdo.

Os novos trabalhos que são demandados ao IOS,neste momento, implicam ampliar o número deempresas a serem pesquisadas e monitoradas,melhorar a metodologia de pesquisa introduzindoo conceito de trabalho decente da OIT, monitoraros Acordos Marco, monitorar o comportamentotrabalhista das «multilatinas», que incluem em-presas transnacionais brasileiras no exterior, eampliar a análise sobre as cadeias produtivas.

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Até o presente momento, tivemos aoportunidade de acompanhar o comportamentoe as políticas de cerca de 40 empresas, em suamaioria multinacionais que representam aproxi-madamente 10% das maiores que atuam noBrasil. Ainda é um número pequeno parapossibilitar traçar uma tendência, mas ao me-nos permite avaliar as possibilidades para ossindicatos com certo grau de otimismo.

A estratégia sindical para enfrentar o poder dasempresas multinacionais deve ir muito além dasimples representação e capacidade demobilização dos locais de trabalho que confor-ma o sindicalismo tradicional.

Ela deve começar pelo conhecimento daestratégia das empresas e pelo seumonitoramento permanente, mas a questão–chave é o que se faz com as informações. Elasdevem ser adequadas para fundamentar

denúncias junto à justiça local, junto à OIT demaneira geral e junto ao seu Comitê deLiberdade Sindical, se envolverem problemasdesta ordem, e junto ao PCN das Diretrizes paraEmpresas Multinacionais da OCDE.

As informações também são importantes paraembasar as negociações com as empresas epara estabelecer pontos de ação comum comoutras organizações sociais, em particular o diá-logo com os consumidores, que têm enormepoder de pressão sobre as empresas aodeixarem de adquirir determinado produto poralguma razão, inclusive ética. Por isso é impor-tante que as informações sejam objetivas e quetenham a maior divulgação possível.

O conhecimento sobre a estratégia internacio-nal das empresas e sua atuação em diferentespaíses também é fundamental para estabelecercomparações e embasar o trabalho conjunto

Conclusão.Da eficácia do

monitoramento

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com organizações sindicais de outros países,partindo do pressuposto de que já existe umcontato mínimo e/ou articulações entre os sin-dicatos internacionalmente.

Entre os exemplos bem sucedidos mencionadosanteriormente no texto, havia o caso dasdemissões que foram evitadas na Phillips, emManaus. Isso não significa que as pesquisasdesenvolvidas até aqui e as articulações sindicaisinternacionais sejam suficientemente eficazes paraevitar a redução de postos de trabalho provocadapela reestruturação produtiva em cada empresa.

Combater o desemprego estrutural e o trabalhoinformal exige estratégias e acúmulo de forçaspolíticas muito maiores do que a estratégia queestamos discutindo aqui.

Mesmo assim, se pretendemos, pelo menos, en-frentar o poder das empresas multinacionais eintroduzir alguns mecanismos de regulação do-méstica, devemos começar pela construção dasinformações, pelo monitoramento das empresase pela organização das redes nacionais de sindi-catos. O passo seguinte é conectar essas redesnacionais com parceiros sindicais do exterior parapossibilitar a ocorrência de negociações emcaráter supranacional.

Dessa forma, ao atuarmos nas duas frentes– denúncias junto aos organismos internacionaispertinentes e negociações supranacionais –,cobrimos todas as possibilidades de ação pormeios sindicais.

No entanto, ainda é possível ampliar asalianças nacionais trabalhando junto comoutras organizações sociais, o que aumenta aspossibilidades de ação junto às empresas, prin-cipalmente por meio dos consumidores. Pode-mos imaginar que qualquer campanha coorde-nada e envolvendo sindicatos, organizaçõesnacionais, sindicatos de outros países e orga-nismos internacionais tenha maiorprobabilidade de alcançar bons resultados.

Pelos exemplos que apresentamos anteriormen-te e que tiveram resultados positivos, é impor-

tante frisar também que se tratou basicamentede empresas de capital europeu, onde a culturade negociação é mais disseminada, além de queos sindicatos de trabalhadores europeus têmmaior disposição de estabelecer laços contínuospor meio de redes, se comparados com seuscolegas americanos ou japoneses. As empre-sas de capital americano, brasileiro, japonês ecoreano seguem um modelo de administraçãoque tem altas dificuldades de conviver com ossindicatos.

Há ainda a discussão sobre a relação desseprocesso com o Estado. Espera–se, pelo me-nos, que os Estados nacionais regulem ofuncionamento das empresas multinacionais eque prezem o seu papel de fazer respeitar asnormas previstas nos tratados internacionais,como as Convenções da OIT e as Diretrizes paraEmpresas Multinacionais da OCDE. Este é,portanto, um lado da questão.

Um outro lado é a relação entre autoridadeslocais, como prefeituras e estados, e as empre-sas multinacionais. Como assinalado no casoda Unilever, em Goiás, gera–se freqüentementeuma relação estreita e forte dependência entreos municípios e as empresas, devido aosempregos locais e o recolhimento de tributos.São por demais conhecidos os casos de cidadesque entram em franca decadência quando umaou mais empresas encerram suas atividades,como os exemplos de cidades portuárias,mineiras, entre outras.

Com certeza os sindicatos têm as autoridadeslocais como aliadas no enfrentamento àreestruturação produtiva e na geração de alter-nativas de desenvolvimento local como formade combater o desemprego.

Isso vale também para a construção de novasformas de organização e produção, como ascooperativas e associações, bem como osarranjos produtivos articulados entre o poderpúblico, a sociedade e o setor privado.

De toda forma a base para todas as ações é ainformação.

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