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15ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE GOIÂNIA NÚCLEO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___ VARA DA FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DA COMARCA DE GOIÂNIA-GO. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo Promotor de Justiça que esta subscreve, titular da 15ª Promotoria de Justiça da Capital, que integra o Núcleo de Defesa do Meio Ambiente, com endereço profissional no rodapé da presente, onde receberá, pessoalmente, as comunicações processuais de estilo, com fulcro nos artigos 129, inciso III , 225 , 182 e seguintes da Constituição Federal de 1988, nos artigos 147 da Constituição do Estado de Goiás de 1989, na Lei Federal n º 7347/85, Lei Federal n º 6.766/79 e Decreto–Lei 58/37, vem à ilustre presença de Vossa Excelência propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA C/C DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO JURÍDICO, DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE REGISTRO PÚBLICO E REINTEGRAÇÃO DE POSSE em face de: 1 15ª Promotoria de Justiça de Goiânia - Núcleo de Defesa do Meio Ambiente Rua 23 esquina com Avenida B, qd 06, lts. 15/24, sala 163, Jardim Goiás Edifício Sede do Ministério Público, Goiânia/Goiás CEP.: 74.805-100 e-mail – [email protected] Telefone: (62) 3243-8238

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15ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE GOIÂNIANÚCLEO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___ VARA DA

FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DA COMARCA DE GOIÂNIA-GO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo

Promotor de Justiça que esta subscreve, titular da 15ª Promotoria de

Justiça da Capital, que integra o Núcleo de Defesa do Meio Ambiente, com

endereço profissional no rodapé da presente, onde receberá,

pessoalmente, as comunicações processuais de estilo, com fulcro nos

artigos 129, inciso III , 225 , 182 e seguintes da Constituição Federal de

1988, nos artigos 147 da Constituição do Estado de Goiás de 1989, na Lei

Federal n º 7347/85, Lei Federal n º 6.766/79 e Decreto–Lei 58/37, vem à

ilustre presença de Vossa Excelência propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA C/C DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO

JURÍDICO, DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE REGISTRO PÚBLICO

E REINTEGRAÇÃO DE POSSE

em face de:

115ª Promotoria de Justiça de Goiânia - Núcleo de Defesa do Meio AmbienteRua 23 esquina com Avenida B, qd 06, lts. 15/24, sala 163, Jardim Goiás

Edifício Sede do Ministério Público, Goiânia/Goiás – CEP.: 74.805-100

e-mail – [email protected] Telefone: (62) 3243-8238

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15ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE GOIÂNIANÚCLEO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE

CLUBE DE REGATAS JAÓ, pessoa jurídica de direito privado,

sociedade recreativa, inscrita no CNJP sob nº. 01.571.066/0001-02, com

sede na Avenida Quitandinha n°. 600, setor Jaó, nesta Capital,

representada pelo seu sócio administrador Ubirajara Berocan Leite Filho,

portador do RG nº 244.790 – SSP/GO, inscrito no CPF sob o n°.

219.499.131-04, residente na Alameda Pampulha, quadra 63, lote 14,

setor Jaó, nesta Capital;

PROMINCO – GESTÃO CONTRATUAL LTDA. - EPP, pessoa jurídica

de direito privado, inscrita no CNJP sob nº. 01.534.049/0001-97, com

sede na avenida Quitandinha n°. 600, setor Jaó, nesta Capital,

representada pelo seu sócio administrador: Ubirajara Berocan Leite

Filho, brasileiro, solteiro, empresário, portador do RG nº. 224.790 -

SSP/GO, inscrito no CPF sob o n°.219.499.131-04, residente e

domiciliado na Alameda Pampulha, qd. 63, lt. 14, setor Jaó, nesta

Capital;

SÍTIO BEROCAN SOCIEDADE LTDA., cuja denominação social

anterior era ESSEBE AGROPECUÁRIA LTDA., pessoa jurídica de direito

privado, inscrita no CNJP sob nº. 02.585.354/0001-70, com sede na

Alameda dos Buritis n°. 408, sala 1.103, setor Central, nesta Capital;

NÚCLEO DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL BIOPARQUE JAÓ, pessoa

jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob nº 05.965.237/0001-20,

com sede na Alameda Paraná, Chácara 3, Setor Jaó, nesta Capital,

representada por seu presidente Natércio Ferreira Brunes, residente e

domiciliado na Rua Henrique Peclat, quadra 07, lote 17, Setor Criméia

Leste, nesta capital;

INTERESTADUAL MERCANTIL S.A., pessoa jurídica de direito

privado, inscrita no CNPJ sob nº 17.177.460/0001-92, com sede na Rua 2

15ª Promotoria de Justiça de Goiânia - Núcleo de Defesa do Meio AmbienteRua 23 esquina com Avenida B, qd 06, lts. 15/24, sala 163, Jardim Goiás

Edifício Sede do Ministério Público, Goiânia/Goiás – CEP.: 74.805-100

e-mail – [email protected] Telefone: (62) 3243-8238

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Carijós, nº 244, sala 1405, Centro, Cep: 30670-565, Belo Horizonte –

MG;

MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, pessoa jurídica de direito público interno,

inscrita no CNPJ sob nº. 01.612.092/0001-23, com endereço

administrativo no Paço Municipal, Av. Cerrado, nº. 999, Park Lozandes,

nesta Capital, representada por seu Prefeito Municipal, Paulo de

Siqueira Garcia, a ser citado através do Procurador Geral do Município;

pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

I – INTRODUÇÃO

A presente ação tem por finalidade precípua a restituição

para uso da coletividade de áreas de preservação ambiental, bens

ambientais de uso comum do povo, de domínio do Requerido Município de

Goiânia, desde a aprovação do loteamento do Setor Jaó, pelo Decreto n°.

97, de 09.03.1952, com modificações feitas pelos Decretos n°. 38, de

27.01.1966 e nº. 304, 19.06.1970; integrantes de áreas verdes e espaços

livres do referido loteamento, destinadas originariamente para a

implantação de uma Unidade de Conservação denominada Parque Jaó,

mas que foram, ao longo dos anos, indevidamente alienadas pela

Requerida INTERESTADUAL MERCANTIL S.A., para os Requeridos CLUBE DE

REGATAS JAÓ, PROMINCO – GESTÃO CONTRATUAL LTDA. – EPP e SÍTIO

BEROCAN SOCIEDADE LTDA., bem como encontrando-se, atualmente,

sendo utilizada privativamente por parte dos Requeridos CLUBE DE

REGATAS JAÓ e BIOPARQUE JAÓ.

Tem por finalidade fazer cessar o uso privado de áreas

públicas de preservação ambiental, obstar novas intervenções e

construções no referido local, bem como visa a desocupação e restauração

dos atributos ambientais da Unidade de Conservação.

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Busca, ainda, a anulação das indevidas alienações

realizadas pela empresa loteadora, a Requerida INTERESTADUAL

MERCANTIL S.A., e, de consequência, a anulação dos atos de registro

imobiliário que alteraram o domínio público municipal para domínio

particular.

A ação visa, finalmente, obter a reintegração de posse da

referida área à coletividade e a determinar ao Município de Goiânia a

implementação da Unidade de Conservação, haja vista que a área é um

espaço livre de uso comum do povo com esta destinação específica.

II - DOS FATOS:

Nos últimos anos, as Promotorias de Justiça de Meio

Ambiente e Urbanismo de Goiânia instauraram diversos procedimentos

investigatórios relativos a variadas questões ambientais e urbanísticas do

parcelamento urbano denominado Setor Jaó, nesta Capital. Dentre os

assuntos apurou-se notícias de degradação ambiental decorrente de

destruição de áreas de preservação permanente, ocupação de áreas

públicas institucionais destinadas ao uso coletivo e à proteção ambiental,

existência de nascentes em áreas parceladas, danos ambientais

decorrentes da ausência de implantação de unidades de conservação,

aterramento em áreas brejosas, etc.

Por meio do Procedimento Administrativo 128/2003,

posteriormente convertido no Inquérito Civil Público 214/2012, a 15ª

Promotoria de Justiça iniciou as investigações acerca exclusivamente de

ocupações e alienações de áreas públicas em todo o Setor Jaó.

Soma-se a isso, que a 81ª Promotoria de Justiça, em

dezembro de 2001, instaurou Procedimento Administrativo registrado sob

o R.A. nº. 078, no qual, além de outras notícias, visou apurar ocupações de

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áreas de preservação permanente, áreas verdes e áreas públicas pelo

Clube Jaó, nesta Capital.

Do conjunto desses procedimentos investigatórios

levantou-se a irregularidade que é objeto da lide, qual seja, a alienação e

ocupação privada de áreas públicas e bens de uso comum de todos,

pertencentes ao Requerido MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, mais precisamente as

áreas verdes e espaços livres do Setor Jaó, localizadas entre a Rua Paraná

e a margem direita do Córrego Jaó, iniciando na confluência da Rua J-47 até

a Rua da Divisa, destinadas originariamente, no ato de aprovação do

loteamento, para a implantação de uma Unidade de Conservação, isto é

um Parque Ambiental, mas que, ao longo dos anos, foram indevidamente

alienadas pela Requerida INTERESTADUAL MERCANTIL S.A. aos Requeridos

CLUBE DE REGATAS JAÓ , PROMINCO – GESTÃO CONTRATUAL LTDA. – EPP e

SÍTIO BEROCAN SOCIEDADE LTDA.; bem como estando, atualmente, sendo

ocupadas e utilizadas privativamente por parte dos Requeridos CLUBE DE

REGATAS JAÓ e BIOPARQUE JAÓ.

Cumpre informar que os Requeridos CLUBE DE REGATAS

JAÓ e BIOPARQUE JAÓ fazem o uso privado da área pública para fins de

preservação ambiental, especialmente das áreas de preservação

permanente que garantem a qualidade da água do Córrego Jaó, com o fim

de garantir o abastecimento de atrações da entidade recreativa, com água

despoluída.

Todavia, apesar da destinação ambiental feita pelos

Requeridos, há a apropriação privada, por parte dos Requeridos, de terras

públicas de uso comum do povo, num verdadeiro esquema de grilagem de

terras.

Apurou-se também que diante dessa grilagem de terras

públicas ambientais, o Requerido MUNICÍPIO DE GOIÂNIA posta-se em

situação de inércia e descura-se no exercício de suas obrigações

constitucionais de proteção ao patrimônio público e de tutela ao meio

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ambiente, uma vez que está sendo conivente com a usurpação e esbulho

do patrimônio público, pois não adota nenhuma medida para reaver os

ditos bens de uso comum que lhes foram confiados para a guarda; além

de deixar uma área reconhecida como de preservação ambiental

desguarnecida de qualquer medida protetiva, uma vez que deixou de

implementar a Unidade de Conservação denominada Parque Jaó, bem

como priva a toda a coletividade o direito de usufruir sustentavelmente de

uma área que é um espaço livre de uso comum do povo e com destinação

específica de ser uma área de preservação ambiental.

Cumpre, desde logo, esclarecer que não é a totalidade da

área ocupada pelos Requeridos CLUBE DE REGATAS JAÓ e BIOPARQUE JAÓ

que é o objeto da lide, mas somente a parte localizada entre a Rua Paraná

e a margem direita do Córrego Jaó, iniciando na confluência da Rua J-47 até

a Rua da Divisa, conforme delimitado na imagem abaixo.

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A fim de melhor compreendermos o sistema de grilagem

de terras públicas, é necessário traçar um escorço histórico da aprovação

e implantação do Setor Jaó, bem como da instalação do Clube Jaó.

O Setor Jaó é um parcelamento urbano que foi aprovado,

sob a égide do Decreto-Lei 58/37, por meio do Decreto Municipal n°. 97,

de 09.03.1952, com modificações autorizadas pelos Decretos Municipais

n°. 38, de 27.01.1966 e nº. 304, 19.06.1970, cujo loteador foi a Requerida

INTERESTADUAL MERCANTIL S.A., que parcelou três glebas de terras com

área total de cerca de 30 alqueires (aproximadamente 1,5 milhão de m2),

havidas de área maior, a Fazenda Retiro, transcritas sob os números

21.870, 21.871 e 21.872, todas de 16.10.1951, no C.R.I. da 3ª

Circunscrição local.

Em conformidade com as plantas originais do

parcelamento, constantes dos registros da Secretaria Municipal de

Desenvolvimento Urbano Sustentável – SEMDUS, do Requerido MUNICÍPIO

DE GOIÂNIA, cujas cópias integram a inicial, assim como as plantas

arquivadas no Registro Imobiliário, as áreas localizadas entre a Rua Paraná

e a margem direita do Córrego Jaó, iniciando na confluência da Rua J-47

até a área das nascentes do referido Córrego, foram definidas e instituídas

como áreas verdes e espaços livres com destinação específica para um

Parque Ambiental (fls. 170/172 do ICP), e tornaram-se de domínio público

municipal no ato de aprovação do loteamento, nos exatos termos da

legislação vigente à época do parcelamento, o Decreto-Lei 58/37.

Não obstante a clareza do domínio público sobre as áreas

verdes institucionais, em flagrante esquema de grilagem urbana, a

empresa loteadora, Requerida INTERESTADUAL MERCANTIL S.A. e os

Requeridos CLUBE DE REGATAS JAÓ, PROMINCO – GESTÃO CONTRATUAL

LTDA. – EPP e SÍTIO BEROCAN SOCIEDADE LTDA., promoveram sistemáticas

apropriações de áreas públicas destinadas à unidade de conservação.

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15ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE GOIÂNIANÚCLEO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE

Para a instalação do Requerido CLUBE DE REGATAS JAÓ, a

Requerida INTERESTADUAL MERCANTIL S.A., em 15.05.1963, por meio de

escritura pública de doação lavrada no Tabelionato do 3º Ofício de Notas

desta Capital, transcrita sob os números 58.449 a 58.512, fls. 26 a 33,

livro 3 – AP, lhe fez a doação de todos os lotes das Quadras 70, 71, 72 e

73, bem como doou as Chácaras 5, 6 e 7, com área de 24.987,00 m2,

situadas abaixo da av. Quitandinha, na confluência com a R. J-38 esquina

com a Al. Pampulha até o Córrego Jaó, margeando-o, até a sua foz no Rio

Meia Ponte, decorrentes dos registros n°s. 21.780, 21.781 e 21.782, do CRI

– 3ª Circunscrição, que são os registros de aquisição das glebas rurais para

implantação do Setor Jaó.

Em que pese a inexistência de ato legislativo de

desafetação das áreas remanescentes e dos logradouros públicos, quais

sejam as ruas que traçavam as referidas quadras, por meio dos Decretos

Municipais n°. 38, de 27.01.1966 e nº. 304, 19.06.1970, foram aprovadas

modificações no projeto original do Setor Jaó, com a aprovação da nova

planta (fls. 269 do ICP), em que pode se observar o remembramento das

referidas quadras para abrigar o Requerido Clube Jaó. Tal situação, apesar

de formalmente incorreta, está consolidada há quase 05 décadas, o que,

dentro do princípio da razoabilidade, não justifica ser revertida.

Mais tarde, uma nova área foi integrada ao norte do

complexo do Requerido Clube Jaó, que é a composta pelas Chácaras 1, 2, 3

e 4, que conforme as plantas do loteamento encontram-se localizadas na

Avenida Paraná, entre a Avenida Quitandinha e a Rua J-47, bem como uma

área supostamente reservada compreendida entre a Chácara 1, Alameda

Paraná, Alameda Maracanã e o Córrego Jaó. Tal acréscimo se deu em

virtude de escritura de venda e compra lavrada em 09.02.1972, às fls.

73/74, do livro 548, do 1º Tabelionato de Notas de Goiânia, registrada sob

a matrícula 88.932, do CRI da 3ª Circunscrição de Goiânia, na qual a

Requerida Interestadual Mercantil S.A. vendeu referidas chácaras à

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Requerida PROMINCO – GESTÃO CONTRATUAL LTDA. – EPP (fls. 282/283 do

ICP).

A partir dessas transações imobiliárias iniciam-se os atos

de grilagem da área pública municipal destinada ao Parque Ambiental do

Setor Jaó, como será demonstrado.

Em 28.08.80, conforme escritura de venda e compra

lavrada no livro 279, fls. 107/8v, do 5º Tabelionato de Notas de Goiânia, a

Requerida PROMINCO – GESTÃO CONTRATUAL LTDA. – EPP revendeu estas

mesmas chácaras à empresa Essebe Agropecuária Ltda., que,

posteriormente sofreu alteração na sua razão social transformando-se na

Requerida SÍTIO BEROCAN SOCIEDADE LTDA; estando dita área,

atualmente sob os domínios dos Requeridos Clube Jaó e BIOPARQUE JAÓ.

Conforme a folha 6, da Planta do Loteamento do Setor Jaó

(fls. 326 do ICP), arquivada junto ao órgão de ordenamento urbano do

Município, as Chácaras 1, 2, 3 e 4 encontram-se localizadas na Avenida

Paraná, entre a Avenida Quitandinha e a Rua J-47. O mesmo documento

claramente mostra que a área lindeira à Chácara 1 é expressamente uma

área verde institucional, vez que encontra-se expressamente grafada com

a palavra “PARQUE”.

Todavia, na primeira transação feita pela Requerida

Interestadual Mercantil, lavrada na escritura de Compra e Venda, de

09.02.1972, às fls. 73/74, do livro 548, do 1º Tabelionato de Notas de

Goiânia (fls. 282/283), estabeleceu-se como objeto da transação

imobiliária:

Uma área de terras com 24.529 metros quadrados, formada pelas chácaras números um (1), dois (2), três (3) e quatro (4) e bem assim a área reservada compreendida entre a chácara número um (1), Alameda Paraná, Alameda Maracanã e o Córrego Jaó, tudo no Setor Jaó, nesta Capital.

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15ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE GOIÂNIANÚCLEO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE

Assim, tem-se que a Requerida Interestadual Mercantil, de

forma fraudulenta, utilizando-se da falsa informação de que se tratava de

área reservada, vendeu à Requerida PROMINCO – GESTÃO CONTRATUAL

LTDA. – EPP o espaço livre destinado a Parque, na planta e no memorial do

loteamento. Ou seja algo que não lhe pertencia, nos exatos termos do art.

3º, do Decreto-lei 58/37.

A fraude imobiliária foi reforçada na transação imobiliária

em que a Requerida PROMINCO – GESTÃO CONTRATUAL LTDA. – EPP vendeu

a mesma área para a empresa Essebe Agropecuária Ltda., por meio da

escritura de venda e compra lavrada no livro 279, fls. 107/8v, do 5º

Tabelionato de Notas de Goiânia (fls. 289/291), na qual, no afã de

acobertar a irregularidade de alienação de um espaço livre do loteamento,

o montante total da área foi incorporado aos limites das Chácaras 1, 2, 3 e

4, sem fazer qualquer menção à origem da suposta área reservada.

Além disso, a fraude é grosseira e facilmente perceptível,

pois a escritura pública faz as descrições dos limites e confrontações das

chácaras de forma totalmente diferentes dos seus verdadeiros limites e

confrontações definidos, desde a aprovação do loteamento originário, nas

plantas oficiais do Setor Jaó.

Basta comparar a folha 6, da Planta do Loteamento do

Setor Jaó (fls. 326 do ICP), arquivada junto ao órgão de ordenamento

urbano do Município, que se percebe que as Chácaras estão numeradas

em forma decrescente no sentido Sul/Norte, sendo a Chácara 4 localizada

na confluência da Avenida Quitandinha e Alameda Paraná, limitando-se

com a Chácara 3, que por seu turno limita com a Chácara 2, sendo a

Chácara 1 a última lindeira, já na confluência da Rua J-47, com Alameda

Paraná.

Não obstante a clareza, a escritura pública do 5º

Tabelionato de Notas, no afã regularizar a negociata sobre um espaço livre

do loteamento e de dar ares de legalidade ao negócio jurídico nulo,

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15ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE GOIÂNIANÚCLEO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE

descreveu áreas superiores à realmente existentes para as Chácaras 1 a 4

e, grosseiramente, alterou os limites e confrontações de cada uma delas,

dispondo de forma errada e totalmente diferente à Planta e ao memorial

descritivo do loteamento, descrevendo os seus limites de forma inversa no

sentido Sul/Norte, isto é em ordem crescente da Chácara 1 a 4.

Comprova-se a fraude também por uma simples medição

feita na Planta aprovada, que está numa escala 1:1000, que as áreas das

Chácaras totalizam aproximadamente 19.000 m², enquanto que a área

pública indevidamente negociada perfaz o montante faltante.

A grilagem de terras públicas continuou, pois em

30.06.1988, por meio da escritura pública de compra e venda lavrada no

Livro 897, fls. 59 do 4º Tabelionato de Notas de Goiânia (fls. 302/303), a

Requerida Interestadual Mercantil S.A., vendeu ao Requerido CLUBE DE

REGATAS JAÓ outra parte do espaço livre destinado a Parque, na planta e

no memorial do loteamento Setor Jaó, uma área pública destinada a

Unidade de Conservação, com 15.600,00 m2, situada entre a rua da

Divisa, Avenida Pedro Álvares Cabral e Alameda Cachoeira no Setor Jaó,

medindo e confrontando 81,38 metros para a Avenida Pedro Álvares

Cabral; 110 metros de fundo, dividindo com a Rua da Divisa; 180,73

metros pelo lado direito, dividindo com a Alameda Paraná; e 151,96

metros pelo lado esquerdo, dividindo com a Alameda Cachoeira. A referida

transação foi registrada sob a matrícula 18.096, do CRI da 3ª Circunscrição

de Goiânia.

Esta nova fraude imobiliária foi construída tendo como

fundamento o suposto registro originário do terreno na inscrição n°. 38 e

transcrições n°s. 21.870, 21.871 e 21.872 de ordem do Cartório de

Registro de Imóveis da 3ª Circunscrição de Goiânia (fls. 305/308 do ICP),

conforme se vê da referida escritura. Acontece que tais registros são em

realidade os registros das aquisições das três glebas rurais, que foram

transformadas no Setor Jaó, além do registro do próprio parcelamento

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aprovado pela Municipalidade. Ou seja, a Requerida Interestadual

Mercantil S.A., no ato do registro do loteamento, nos exatos termos do art.

3º, do Decreto-lei 58/37, deixou de ser proprietária dos espaços livres

constantes da planta e do memorial descritivo. Não obstante a isso,

entabulou negócio jurídico nulo com o Requerido CLUBE JAÓ sobre bem

que não mais lhe pertencia.

A conclusão da apropriação das áreas públicas de uso

comum se deu em 27.07.1988, por meio de nova escritura pública de

compra e venda, também lavrada no 4º Tabelionato de Notas de Goiânia,

agora no livro 899, fl. 88., a Requerida Interestadual Mercantil S.A., vendeu

ao Requerido CLUBE DE REGATAS JAÓ mais uma parte do espaço livre

destinado a Parque, na planta e no memorial do loteamento Setor Jaó,

agora uma área pública destinada a Unidade de Conservação, com

24.000,00 m2, situada entre as Avenidas Pedro Álvares Cabral, Maracanã e

Alameda Paraná, tendo o córrego Jaó como limite pelo lado direito.

Este último embuste foi construído tendo também como

fundamento o suposto registro originário do terreno nas transcrições n°s.

21.870, 21.871 e 21.872 de ordem do Cartório de Registro de Imóveis da

3ª Circunscrição de Goiânia (fls. 305/308 do ICP). Acontece que, como

escrito anteriormente, tais registros referem-se aos das aquisições das

três glebas rurais, que foram transformadas no Setor Jaó, conforme se vê

das respectivas certidões anexas. Ou seja, após tais transcrições ocorreu o

registro do loteamento, que foi feito sob a égide do Decreto-Lei 58/37,

portanto as transcrições 21.780, 21.781 e 21.782 não poderiam ter sido

utilizadas, vez que já existia o registro do loteamento, que alterou a

situação fática e jurídica dos imóveis, passando a ser o registro válido.

Outra situação que demonstra a má-fé das partes

contratantes é o fato de que as transcrições n°. 21.780, 21.781 e 21.782

referem-se a três glebas específicas com seus respectivos limites e

confrontações, totalizando uma área de aproximadamente 30 alqueires,

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que foram adquiridas em 1951, para a implantação do Setor Jaó. Desta

maneira não se trata de gleba única. Assim, as alienações fraudulentas

efetivadas perante o 4º Tabelionato de Notas de Goiânia deveriam

especificar de qual, ou quais, das três glebas originárias são as áreas

objetos das transações realizadas. Todavia isto não foi feito, porque, em

realidade, mais uma vez o embuste utilizou-se de encobrir a negociata

sobre um espaço livre do loteamento e de dar ares de legalidade a

negócios jurídicos nulos.

Além da clareza das irregularidades demonstradas nos

títulos aquisitivos descritos, tem-se também a corroborar a grilagem de

terras, as escrituras públicas realizadas para regularizar a posse sobre as

áreas públicas institucionais, nas quais destacamos:

• Escritura Pública de Declaração com Quitação, lavrada no Cartório

do 5º Ofício, em 29.08.84, no livro 339, fls. 47v./48v., no qual consta

o seguinte trecho: “Que reconhecem ser o Clube Jaó o responsável

pela respectiva área pública, como vigilante” (fls. 377/379).

• Escritura de Cessão de Direitos de Posse, lavrada no Cartório do 2º

Ofício, em 10.03.86, no livro 712, fls. 45v./46v., no qual consta o

seguinte trecho: “Que é senhora e legítima detentora, por ocupação

própria há mais de três anos, dos direitos de posse sobre as

benfeitorias constantes em uma área de terras com mais ou menos

2.800 metros quadrados, às margens do Córrego Jaó, frente para a

Rua Paraná, lado esquerdo dividindo com Anízio Pereira Dutra, pela

direita dividindo com área verde pertencente a Intermercantil S/A, nos

fundos dividindo com o córrego jaó e Ministério da Agricultura,

precisamente em frente da quadra 128, Setor Jaó, nesta Capital” (fls.

374/376).

Vale destacar ainda que, nos mapas e plantas do

loteamento Setor Jaó, as áreas verdes institucionais e destinadas a parque

são facilmente identificáveis pelos desenhos e legendas comuns à época 13

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de sua confecção, conforme pode ser visto nos mapas e plantas que

acompanham a presente inicial (fls. 170/172 e 270).

Cumpre trazer a este R. Juízo, a informação de que a

Requerida Interestadual Mercantil é contumaz na prática de grilagem de

terras no Setor Jaó. Inclusive já houve provimento jurisdicional do Tribunal

de Justiça do Estado de Goiás, transitado em julgado, no sentido do

domínio público municipal sobre as áreas verdes e os espaços livres do

referido Setor, como ocorreu na área onde hoje encontra-se instalado o

Parque Municipal Beija-flor (fls. 209/216 do ICP).

III – DO DIREITO:

III.1 – Do Domínio Público das Áreas Verdes Institucionais

do Setor Jaó

O Setor Jaó é um parcelamento urbano que foi aprovado,

por meio do Decreto Municipal n°. 97, de 09.03.1952, com modificações

autorizadas pelos Decretos Municipais n°. 38, de 27.01.1966 e nº. 304,

19.06.1970, cujo loteador foi a Requerida INTERESTADUAL MERCANTIL S.A.,

que parcelou três glebas de terras com área total de cerca de 30 alqueires

(aproximadamente 1,5 milhão de m2), havidas de área maior, a Fazenda

Retiro, transcritas sob os números 21.870, 21.871 e 21.872, todas de

16.10.1951, no C.R.I. da 3ª Circunscrição local.

O Decreto Municipal de aprovação do loteamento Setor

Jaó foi registrado no Registro de Imóveis da 3ª Circunscrição da Comarca

de Goiânia, sob a inscrição nº. 38, no Livro Auxiliar 8-C, às fls. 314/315, em

25.08.2970, por determinação do Provimento nº 34/70, de 01/06/1970, da

Corregedoria Geral da Justiça.

Portanto os atos constitutivos de aprovação e registro do

loteamento foram feitos sob a égide do Decreto-lei nº 58, de 10 de

dezembro de 1937, que dispõe textualmente em seu artigo 3º:

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“A inscrição torna inalienáveis por qualquer título, as vias de comunicação e os espaços livres constantes do memorial e da planta”.

Bem como sob o pálio do Decreto-Lei nº 271, de

28/02/1967, que estipula expressamente no art. 4º:

“Desde a data da inscrição do loteamento passam a integrar o domínio público de Município as vias e praças e as áreas destinadas a edifícios públicos e outros equipamentos urbanos, constantes do projeto e do memorial descritivo”.

O projeto e a planta, aprovados e registrados,

estabelecem que a área localizada entre a Rua Paraná e a margem direita

do Córrego Jaó, iniciando na confluência da Rua J-47 até a área das

nascentes do referido Córrego, foram definidas e instituídas como áreas

verdes e espaços livres com destinação específica para um Parque

Ambiental, objeto da presente lide.

O domínio público municipal sobre a área é inconteste e

iniciou-se a partir do ato administrativo do poder público municipal em

aceitar o parcelamento de um imóvel rural.

Nessa oportunidade o poder público municipal, visando

atender ao interesse da coletividade, aceitou a transformação de um

imóvel rural em lotes urbanos, desde que atendidos alguns requisitos

urbanísticos. Dentre estes requisitos, pode-se citar a destinação de

determinadas áreas para serem bens de uso comum do povo e os espaços

destinados a instalação dos equipamentos urbanísticos e prédios públicos.

Por outro lado, o loteador que visava parcelar seu imóvel

rural em lotes urbanos, em atendimento a função social da propriedade,

disponibilizou determinadas áreas ao Município, para os fins acima

expostos.

O ato de aprovação de um loteamento é o ato

administrativo constitutivo do direito dominial do poder público municipal

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sobre os espaços livres e áreas destinadas aos prédios e equipamentos

públicos.

Comentando o art. 3º, do Decreto-lei n.º 58/37, Waldemar

Loureiro teve ocasião de observar:

“Inscrito o loteamento, as vias de comunicação e os espaços livres constantes do memorial e da planta, tornam-se inalienáveis por qualquer título (art. 3º, Decreto-lei nº 58/37), vale dizer, tornam-se bens públicos, nos precisos termos dos arts. 66, I, II e 67, do C. Civil”1.

Wilson de Souza Campos Batalha reforçou o

posicionamento:

“Adquirindo o imóvel estado de propriedade loteada, opera-se uma novidade juridicamente relevante com definidas consequências... Passam a integrar o domínio público do município as vias e praças, bem como as áreas destinadas a edifícios públicos e outros equipamentos urbanos constantes do projeto e do memorial descritivo.”2

“... o registro do loteamento transfere ao domínio público as vias e praças, bem como as áreas destinadas a edifícios públicos e outros equipamentos urbanos constantes do projeto e do memorial. O art. 4º do Decreto-lei nº 271 já previa a incorporação ao domínio público dessas áreas.”3

Complementarmente, Walter Ceneviva ensina que :

“O registro do loteamento tem efeito constitutivo de direito em favor do município. Efeito que nasce com o registro na data deste. As vias, praças e espaços livres, áreas destinadas a edifícios públicos e equipamentos urbanos, constantes do projeto e do memorial descritivo, passam a pertencer ao domínio municipal, independentemente de outros assentos. O domínio público é uma das formas de exercício da soberania, nem confundível com a propriedade, nem a ela equiparável. Por isso não é sujeito ao registro imobiliário, destinado às modificações dos direitos reais sobre imóveis.” 4

1 LOUREIRO, Waldemar. Registro da Propriedade Imóvel. Revista Forense: Rio de Janeiro, 6ª edição, 1968, vol. II, pág. 41.2 BATALHA, Wilson de Souza Campos. Comentários à Lei dos Registros Públicos. Ed. Forense, Rio de Janeiro, 1983, 2ª ed. P. 767.3 BATALHA, Wilson de Souza Campos. Promessa de Compra e Venda e Parcelamento do Solo Urbano, 3ª ed. Ed. RT, 1987, os. 54/55.4 CENEVIVA, Walter. Lei dos Registros Públicos Comentada. Ed. Saraiva. SP. 1994, 9ª ED. P. 166.

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Ainda a respeito da inalienabilidade dos espaços livres

constantes do memorial e da planta, vale transcrever a lição do saudoso

Hely Lopes Meirelles, em parecer constante da RT 378/60-67:

“A inscrição do loteamento produz, de imediato, três consequências jurídicas; a subdivisão da área para efeito de alienação individual dos lotes; a imutabilidade da situação urbanística traçada na planta e descrita no memorial; a transferência das vias de comunicação (ruas) e dos espaços livres (praças e áreas reservadas para equipamentos urbanos) para o domínio público do Município do que decorre a inalienabilidade dessas áreas. Esta última consequência está expressamente consignada no art. 3º do Decreto-Lei nº. 58/37, embora em termos pouco técnicos, pois que o dispositivo legal toma o efeito (inalienabilidade) pela causa (transferência do domínio particular para o domínio público). O que ocorre, na realidade, com a inscrição do loteamento, é a transferência, por destinação, das vias e áreas livres, para o domínio público do Município, que é a entidade estatal titular dos bens urbanos de uso comum do povo e dos bens de uso especial da municipalidade. Isto é da tradição do nosso direito municipal e está repetido na lei de loteamentos, com visível imprecisão técnica, mas com perfeita adequação à realidade. Não há, portanto, necessidade de invocação da teoria francesa do ‘concurso voluntário’, para justificar uma transferência de domínio prevista em lei e tradicional em nosso direito, já tantas vezes aplicada pelos nossos tribunais (Rev. dos Tribunais, vols. 318/285, 254/178 e 228/248 – Rev. Forense, vol. 86/641)”.

A jurisprudência é uníssona em afirmar que a

transferência das áreas livres e institucionais para o domínio público se

opera com a aprovação pelo Município e registro do loteamento no CRI,

prescindindo de ato jurídico de doação pelo loteador em favor do

Município, nem mesmo necessitando registro específico no registro

imobiliário.

Da mesma forma, a jurisprudência tem interpretado não

haver mais espaço para discussão acerca de prescrição e usucapião sobre

espaços livres reservados em loteamentos, ou para indagações quanto a

destinação da área, senão vejamos:

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O Excelso Supremo Tribunal Federal assentou

entendimento que:

“Loteamento. Aprovado o arruamento, para urbanização de terrenos particulares, as áreas destinadas às vias e logradouros públicos passam automaticamente para o domínio do município, independentemente de título aquisitivo e transcrição, visto que o efeito jurídico do arruamento é, exatamente, o de transformar o domínio particular em domínio público, para uso comum do povo. Não tem o loteador infringente do Decreto-lei 58/37 mais direitos que o loteador a ele obediente. Inalterabilidade das plantas sem o consenso do município. Recurso extraordinário conhecido, porém não provido. (RE nº 84.327, in DJU 19.1.76, P. 10032).”

O Colendo Superior Tribunal de Justiça vem proclamando:

“LOTEAMENTO URBANO. INALIENABILIDADE DOS 'ESPAÇOS LIVRES’. Inscrito o loteamento, sob a vigência do Decreto-lei 58/37, tornam-se inalienáveis, a qualquer título, as vias de comunicação e os espaços livres constantes do memorial e da planta, dentre estes o espaço destinado à construção da igreja. Pela inalienabilidade, perdeu o loteador a posse e o domínio de tais áreas, transferidas ao poder público. Nula, destarte, posterior doação feita pelo loteador a uma determinada confissão religiosa, do espaço livre já de domínio do município. Lei municipal autorizando a desafetação de tal área e sua alienação a uma empresa particular, através de escritura pública, registrada no oficio imobiliário anteriormente ao registro da escritura da doação realizada pelo loteador. Invalidade da doação feita pelo loteador e, em consequência, improcedência da ação reivindicatória ajuizada pela igreja donatária. Recurso especial conhecido e provido.” (RESP nº 2.734, in RJM 87-88/49).

“Civil - Área Loteada - Vias e Logradouros - Domínio do Município. I - Jurisprudência predominante assentou entendimento no sentido de que a aprovação e o registro do projeto passam as áreas destinadas às vias e logradouros públicos, em terreno loteado, ao domínio público, independentemente de título aquisitivo e transcrição. II - Inviável reexaminar-se em sede de especial matéria de prova. III - Recurso não conhecido “. (RESP nº 10.703, in DJU nº 159/10994).

Prescindível, portanto, o registro de referidas áreas em

nome do ente público, posto que, com a aprovação do loteamento,

passam, automaticamente, na qualidade de áreas institucionais e

logradouros, a essa condição, sem necessidade de escrituração do

loteador ao Município, conforme entendimentos de outros Tribunais

Pátrios, na década de 50, que decidiram nesse sentido. Senão vejamos:

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“RDA, 87:218 – Executado o arruamento, se a Municipalidade aceita o plano, opera-se a transmissão do domínio particular para o domínio público (TJSP)”.

“JB – 25:205 – Os espaços livres do loteamento, na forma constante do projeto e do memorial descritivo aprovados, integram ex vi legis, e por sua destinação, o domínio público do Município, independentemente de qualquer assento no registro imobiliário (TJSP)”.

“RF 152:294 – Não pode o proprietário pretender que a Prefeitura lhe indenize os espaços livres destinados a ruas e praças. Esses espaços convertem-se em terrenos de uso comum, inalienáveis por qualquer título (Ap. cível 8.823. 9TJMG, ac. De15/06/1953)”.

Impende mais uma vez ressaltar, por oportuno, que o

Poder Judiciário de Goiás já analisou questão idêntica a dos presentes

autos, isto é, a alienação de áreas verdes e espaços livres no mesmo

Setor Jaó, por parte da Requerida Interestadual Mercantil , tendo, por meio

do então Juiz de Direito titular da 1ª Vara da Fazenda Pública Municipal da

capital, nos autos da Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público em

face de Município de Goiânia e Malkon Merzian, protocolada sob o nº

940314850 (Autos nº 926/94), assim decidido:

“O art. 3º do Decreto nº 58, de 10 de dezembro de 1937, assim preceitua:

'Art. 3º. A inscrição torna inalienável, por qualquer título, as vias de comunicação e os espaços livres constantes do memorial e da planta.'Ora, a primeira declaração desse dispositivo é precisa no sentido de se tornarem inalienáveis as vias de comunicação e os espaços livres constantes do Memorial e da Planta. Bem se vê que se refere à inscrição do loteamento – e não de alguns lotes.Há de se ater, ainda, à conclusão clara de que se torna prescindível a transmissão por meio de escritura, pois, com o respectivo registro do loteamento no C.R.I., opera-se essa transferência.De outra feita, o art. 4º, do Decreto-Lei nº 271, de 28 de fevereiro de 1967, instrui no sentido de que é prescindível a lavratura de escrituras em casos que tais. Eis o seu teor:'Art. 4º. Desde a data da inscrição do loteamento passam a integrar o domínio público do Município as vias e praças e as

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áreas destinadas a edifícios públicos e outros equipamentos urbanos constantes do projeto e do memorial descritivo.'Muito bem. Disso resulta que a área destinada a Parque ora questionada então demonstrada na Planta passou ao domínio público do Município de Goiânia, visto que foi posta fora do comércio, segundo a previsão do art. 520, inc. III, do Código Civil.(...)Ora, está bem claro na certidão imobiliária de fls. 38, destes Autos, que consta da Planta do loteamento a área ora discutida, que é destinada a Parque, localizada entre a Av. Prof. Venerando de Freitas Borges, Alameda J-22, Alameda Pampulha e Alameda J-28.(...) Ora, como essa área é definida em projeto de loteamento como área verde ou institucional, não pode, em qualquer hipótese, ter sua destinação, fim e objetivos originariamente estabelecidos, alterados.(...)Desta sorte, ao teor do exposto e mais o que dos Autos consta, com fulcro nos dispositivos acima declinados, julgo procedente a presente Ação Civil Pública, e, de consequência, declaro a nulidade das escrituras de doação lavrada às fls. 149 vsº a 152, do Livro nº 172, do Cartório do 4º Ofício de Notas desta Capital; de doação lavrada às fls. 67/70, do Livro nº 113, do cartório do 6º Ofício, da Comarca de Goiânia-Go., e de compra e venda, lavrada às fls. 19/20, do livro nº 651, do Cartório do 7º Ofício de Notas, da Comarca de Goiânia-Go., e, como decorrência, cancelados os registros nº 83,432, do Livro nº 3-BC, e R-1 e R-2 na Matrícula nº 9,892, do Livro nº 2, todos do Cartório do Registro de Imóveis da 3ª Circunscrição da Comarca de Goiânia-Go.. Outrossim, fica proibido, tal a condenação, ao réu Malkon Merzian de construir qualquer obra ou exercer qualquer atividade junto a área discutida, sob pena de, em desobedecendo, pagar a multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por dia, mesmo porque tenho por convalidada a decisão anterior nesse sentido. Ainda, condeno o Município de Goiânia e o réu Malkon Merzian a promoverem, solidariamente, o reflorestamento da área em questão, de modo a recuperar todos os danos causados, de acordo com as recomendações técnicas. De outra feita, condeno os réus ao pagamento das custas processuais. Por outro lado, em atenção ao princípio do duplo grau de jurisdição, tal a previsão do art. 475 do Cód. De Proc. Civil, com relação ao Município de Goiânia, com recurso voluntário ou não, recomendo se faça a remessa deste processo ao Egrégio Tribunal de Justiça para o reexame desta sentença.”

Referida decisão foi mantida pelo Egrégio Tribunal de

Justiça do Estado de Goiás, conforme se vê da ementa abaixo transcrita:20

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EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Legitimidade do Ministério Público. Ato lesivo ao patrimônio público municipal. Doação de área pública pelo loteador, após a aprovação do loteamento pelo Prefeito Municipal. Área inalienável, inicialmente, passando, posteriormente, ao domínio do Município. Aprovação de construção de casas, por particulares, em área de domínio público, com reflexos negativos no meio ambiente.I – O Ministério Público Estadual é parte legítima para propor ação civil pública para anular ato lesivo ao Patrimônio Público e que implicou na mudança de destinação de área de uso comum do povo.II – O loteador, uma vez aprovado o loteamento pelo chefe do Poder Executivo Municipal, perde o domínio sobre as áreas destinadas às vias de comunicação e espaços livres constantes do memorial e da planta.III – Nulo é o ato do Prefeito Municipal que aprova a construção de casas, por particular, em áreas de domínio público e com evidente degradação do meio ambiente. Apelações improvidas. (TJGO - Apelação Cível 3851-4/195, Relator: Dr. Roldão Oliveira de Carvalho)

No mesmo feito, ao decidir os Embargos Infringentes, o

colegiado das Câmaras Cíveis Reunidas ementou:

“Loteamento. Bens de domínio público. O efeito que torna as áreas reservadas ao bem comum em domínio público, opera-se de imediato ao se registrarem o memorial e a planta do loteamento, tornando as vias de comunicação e os espaços destinados ao uso da comunidade, imediatamente, inalienáveis a qualquer título e, a fortiori, fora do comércio, sendo vedado dar-se-lhes qualquer outra destinação, ad exemplum da doação. Embargos infringentes conhecidos e rejeitados, por maioria de votos.” (EI nº 697-8/196 (9700149269/196)

Cumpre esclarecer que o provimento jurisdicional citado,

após tentativas frustradas de reexame nos Tribunais Superiores, transitou

em julgado e, hoje, o espaço livre do loteamento foi restituído ao Município

de Goiânia, que ali fez implantar o Parque Municipal Beija-flor.

Além desse, há outros precedentes jurisprudenciais

similares no TJ-GO, que merecem a colação:

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“EMENTA. Usucapião extraordinário. Área destinada a templo religioso pelo loteador. Inalienabilidade e Imprescritibilidade. Inteligência do art. 3º, do Decreto-lei 58/37. Apelo provido e decretada a carência de ação. Nos termos do artigo 3º, do Decreto-lei 58/37, o registro do loteamento torna inalienável todo e qualquer espaço vazio, constante da planta e do memorial, ainda que destinado a equipamentos comunitários, razão pela qual não pode ser objeto de usucapião, porque a prescrição aquisitiva pressupõe a alienabilidade – alienabile ergo preascriptibile.” (TJGO. 3ª Câm. Cível. Rel. Des. Jamil Pereira de Macedo, DJ, de 15/06/93)

“EMENTA: Loteamento. Área reservada. Domínio do município. Desnecessidade de registro acerca de inalienabilidade. Inscrito o loteamento sob a vigência do Decreto-lei 58/37, tornaram-se inalienáveis, a qualquer título, as vias de comunicação e os espaços livres constantes do memorial e da planta, dentre estes, os espaços sem numeração. Remessa e apelo conhecidos e improvidos. Decisão Unânime.” TJGO 2ª Câm. Cível, Rel. Des. Fenelon Teodoro Reis. DJ nº 12.579, de 19.06.1997).

“EMENTA: AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE C/C CANCELAMENTO DE REGISTRO IMOBILIÁRIO. LOTEAMENTO. ÁREA RESERVADA À CONSTRUÇÃO DE PRÉDIO PÚBLICO. DESNECESSIDADE DE REGISTRO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA. PRECLUSÃO. Inscrito o loteamento sob a vigência do Decreto-lei nº 58/37, tornaram-se inalienáveis, a qualquer título, as vias de comunicação, praças e as áreas destinadas a edifícios públicos e outros equipamentos urbanos constantes do projeto e do memorial descritivo, passando a integrar o domínio público, independentemente de transferência do registro... Recurso conhecido e desprovido”. (TJGO 4ª T. da 4ª Câm. Cível, Rel. Desª. Beatriz Figueiredo Franco. 21/06/2001)

In casu, é de uma evidência cristalina que a área em

questão foi transferida ao domínio público de forma automática, no

momento da aprovação do projeto e do registro da planta do loteamento.

E mais, o domínio público sobre a área continua até o

presente, vez que não houve qualquer ato do Município de Goiânia, com

ou sem autorização legislativa, alienando-a sob qualquer forma.

Sendo assim, os seguintes atos jurídicos de compra e

venda e respectivos registros do CRI da 3ª Circunscrição de Goiânia, são

nulos, haja vista que se basearam em atos jurídicos imperfeitos, que 22

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foram realizados por parte ilegítima, ou seja, por quem nunca possuiu a

titularidade sobre a coisa, bem como versaram sobre objeto impossível,

dada a inalienabilidade das áreas públicas institucionais:

• Escritura de venda e compra lavrada em 09.02.1972, às fls. 73/74, do livro 548, do 1º Tabelionato de Notas de Goiânia, na qual a Requerida Interestadual Mercantil S.A. vendeu à Requerida PROMINCO – GESTÃO CONTRATUAL LTDA. – EPP, além das Chácaras 1 a 4, a área pública reservada compreendida entre a chácara número um (1), Alameda Paraná, Alameda Maracanã e o Córrego Jaó, registrada sob a matrícula 88.932, do CRI da 3ª Circunscrição de Goiânia.

• Escritura pública de venda e compra lavrada em 28.08.1980, no livro 279, fls. 107/8v, do 5º Tabelionato de Notas de Goiânia, em que a Requerida PROMINCO – GESTÃO CONTRATUAL LTDA. – EPP revendeu estas mesmas chácaras à empresa Essebe Agropecuária Ltda.

• Escritura pública de compra e venda lavrada em 30.06.1988, no Livro 897, fls. 59 do 4º Tabelionato de Notas de Goiânia, em que a Requerida Interestadual Mercantil S.A., vendeu ao Requerido CLUBE DE REGATAS JAÓ uma área pública destinada a Unidade de Conservação, com 15.600,00 m2, situada entre a rua da Divisa, Avenida Pedro Álvares Cabral e Alameda Cachoeira no Setor Jaó, medindo e confrontando 81,38 metros para a Avenida Pedro Álvares Cabral; 110 metros de fundo, dividindo com a Rua da Divisa; 180,73 metros pelo lado direito, dividindo com a Alameda Paraná; e 151,96 metros pelo lado esquerdo, dividindo com a Alameda Cachoeira, registrada sob a matrícula 18.096, do CRI da 3ª Circunscrição de Goiânia.

• Escritura Pública de Venda e Compra, lavrada, 27.07.1988, no 4º Tabelionato de Notas de Goiânia, no livro 899, fl. 88, em que a Requerida Interestadual Mercantil S.A., vendeu ao Requerido CLUBE DE REGATAS JAÓ a área pública, com 24.000,00 m2, situada entre as Avenidas Pedro Álvares Cabral, Maracanã e Alameda Paraná, tendo o córrego Jaó como limite pelo lado direito.

III.2 - Proteção da Ordem Urbanística e do Meio Ambiente -

Responsabilidade Civil do Município – Omissão Administrativa do Poder

Executivo Municipal

A Carta Magna estabelece o dever do Poder Público de

conservar o patrimônio público (art. 23, I) e de defender e preservar o

meio ambiente (sem distinção da espécie: urbano ou natural), bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida (art. 225). 23

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O artigo 182, caput, da Constituição Federal, que orienta a

política pública urbana em todo o País estabelece:

“A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público Municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.”

O artigo 225, da Constituição Federal, sustentáculo do

direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, dispõe,

in verbis:

“Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; [...]VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.[...]

§ 3º - As condutas e as atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.”

O meio ambiente, erigido a direito fundamental pelo

poder constituinte de 1988, é constituído do espaço em que vivemos,

circundado e integrado por todas as formas de vida, numa perfeita

interação dos elementos naturais com os elementos artificiais e culturais

criados a partir da ação antrópica.

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O bem jurídico tutelado pela norma ambiental é bem

jurídico específico, que não possui um titular mediato corporificado. Ainda

que se possa identificar o titular do patrimônio ofendido, há uma parcela

desta propriedade que é de todos e de ninguém, razão pela qual, as

normas que regulamentam a proteção ao meio ambiente são, em grande

medida, normas que insculpem uma intenção política de proteção à

coletividade.

Ademais, a norma constitucional impõe ao Poder Público o

dever de proteção da fauna e da flora, além do dever de definir, em todas

as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a

serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão

permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que

comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.

Soma-se a isso o dever de preservação e recuperação dos

espaços livres, praças, áreas verdes e institucionais, componentes do meio

ambiente urbano, bens do patrimônio público e social.

A Lei Federal nº 9.985/00 instituiu o Sistema Nacional de

Unidades de Conservação (SNUC) e serve de parâmetro legislativo tanto

no que se refere à competência comum dos entes da Federação para a

proteção do meio ambiente e preservação das florestas, definida no art.

23, incisos VI e VII; quanto no que tange aos limites da competência

concorrente para legislar sobre florestas e proteção ambiental, definidas

no art. 24, inciso VI, todos da Constituição Federal.

No âmbito do Estado de Goiás, a matéria foi regulada por

intermédio da Lei Estadual nº 14.247/02 e pelo Decreto Estadual nº

5.806/03, que instituíram, por seu turno o Sistema Estadual de Unidades

de Conservação (SEUC).

No Município de Goiânia, o Plano Diretor Municipal, Lei

Complementar 171/2007, regulamentou a matéria nos seguintes termos:

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Art. 104. Constituem as Áreas de Patrimônio Natural, as Unidades de Conservação, de acordo com a Lei Federal nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC. Parágrafo único. As Unidades de Conservação dividem-se em Unidades de Proteção Integral que tem caráter de proteção total constituídas pelas APP’s e Unidades de Uso Sustentável que tem caráter de utilização controlada, representada na FIG. 5 – Rede Hídrica Estrutural e Áreas Verdes.Art. 105. No Município de Goiânia, as Unidades de Proteção Integral tem objetivo de preservar a natureza, sendo admitido apenas uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos em lei e correspondem a todas as Áreas de Preservação Permanentes – APP’s existentes no território.Art. 106. Constituem as APP’s as Áreas de Preservação Permanente, correspondentes às Zonas de Preservação Permanente I - ZPAI e as Unidades de Conservação com caráter de proteção total e pelos sítios ecológicos de relevante importância ambiental.[...]§ 2º Consideram-se Unidades de Conservação com caráter de proteção total os sítios ecológicos de relevante importância cultural, criado pelo Poder Público, como:I – parques naturais municipais;II – estações ecológicas;III – reservas biológicas;IV– monumentos naturais;V – bosques e matas definidas nos projetos de parcelamento do solo urbano;VI – florestas, matas e bosques e as reservas legais localizadas no território municipal;VII – refúgio de vida silvestre.

Por unidade de conservação a norma federal definiu,

como sendo o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as

águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente

instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites

definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam

garantias adequadas de proteção.

No SNUC há dois grupos definidos de unidades de

conservação: Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso

Sustentável.

Nos termos da mencionada lei federal, o termo proteção

integral significa a manutenção dos ecossistemas livres de alterações

causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos

seus atributos naturais.26

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A unidade de conservação, objeto da lide e a qual se

busca implantar, foi criada no ato administrativo de aprovação e registro

do loteamento Setor Jaó, para ali ser implantado um Parque.

Assim, torna-se incontroverso que mesmo tendo sido

criada anteriormente à mencionada lei nacional balizadora, a unidade de

conservação in comento, por atender ao mandamento constitucional e ao

Plano Diretor do Município, bem como não contrariar o disposto na

legislação infraconstitucional, foi recepcionada e é considerada de

Unidade de Conservação de Proteção Integral.

A categoria de unidade de conservação do tipo parque,

nos termo do art. 11, da Lei Federal nº 9.985/00, tem como objetivo básico

a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e

beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o

desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de

recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.

A comprovação da não observância aos deveres

constitucionais citados revela que o Requerido Município de Goiânia, por

negligência, consubstanciada na falta de implementação da política

pública ambiental específica de proteção da fauna, da flora e da

biodiversidade do Parque às margens do Córrego Jaó, descurou de sua

obrigação legal e constitucional de implantar a Unidade de Conservação

de Proteção Integral, colocando em risco a proteção dos atributos

ambientais, que justificaram a criação da referida unidade de

conservação, bem como privando o cumprimento dos objetivos básicos

estabelecidos em lei para esta categoria de espaço territorial

ambientalmente protegido.

No caso concreto, tem-se que a lei impõe ao Poder Público

o dever de preservação e recuperação dos espaços livres, praças, áreas

verdes e institucionais, componentes do meio ambiente urbano, bens do

patrimônio público e social. Assim a constatação da invasão e ocupação

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desses espaços revela que o Município, gestor dos bens públicos, descurou

de sua obrigação legal, permitindo, por negligência (falta de fiscalização

eficaz e mal funcionamento do serviço público), que a coletividade fosse

despojada da fruição do espaço livre, em prol de empresas de um grupo

familiar.

In casu, O Requerido Município de Goiânia,

injustificadamente, deixou de exercer, a tempo e modo, o poder de auto

executoriedade dos seus atos, já que "a utilização indevida de bens

públicos por particulares, notadamente a ocupação de imóveis, pode - e

deve - ser repelida por meios administrativos, independentemente de

ordem judicial, pois o ato de defesa do patrimônio público, pela

Administração, é auto executável, como o são, em regra, os atos de polícia

administrativa, que exigem execução imediata, amparada pela força

pública, quando isto for necessário"5

O Tribunal de Justiça de Goiás reconhece a ação civil

pública como instrumento adequado para a manutenção e conservação do

patrimônio público, que o Ministério Público é parte legítima ativa e que o

Município é responsável pela sua omissão no dever de fiscalização, não

sendo discricionária a proteção aos bens de uso comum do povo, mas,

sim, vinculada à lei e sujeita à apreciação judicial (Ap. 35.404-6/188, 1ª

Câm. e 3ª Turma, Rel. Des. Antônio Nery da Silva, j. 27/06/95, v.u. in RT

721/207-213).

As áreas destinadas a unidades de conservação e as áreas

verdes institucionais, desde a aprovação e registro do Loteamento Setor

Jaó, são de domínio do Poder Público Municipal, dessa maneira devem ser

revertidas à pessoa jurídica de direito público detentora da

responsabilidade de sua proteção, exigindo-se, ainda, a destinação

preservacionista com a implantação da respectiva Unidade de

Conservação, desatrelada dos objetivos ou interesses das pessoas físicas

5 MEIRELLES Hely Lopes, "Direito Administrativo Brasileiro", 20ª edição, Malheiros Editores, pág. 434.28

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e jurídicas de direito privado, que figuram no polo passivo da presente

ação.

Portanto, espera-se que a ação do Poder Judiciário seja no

sentido de proteger o interesse difuso ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, restituindo ao domínio coletivo as áreas indevidamente

invadidas e determinando ao Poder Público Municipal a adoção de medidas

concretas para a efetiva implantação da Unidade de Conservação de

Proteção Integral, visando a proteção da fauna, da flora e da

biodiversidade local, para usufruto das presentes e futuras gerações.

IV - DA LIMINAR:

Para a plena efetividade da atividade jurisdicional em

matéria ambiental, é necessária, antes de tudo, a garantia da preservação

do bem jurídico tutelado ou, ainda, caso venha a ocorrer o efetivo dano

ambiental, sua restauração ao status quo ante.

Nos termos do artigo 12 da Lei nº. 7.347/85, que

contempla um procedimento especial, estabelece-se que é permitido ao

Juiz o poder de conceder, sem justificação prévia, MEDIDA LIMINAR, onde

lhe é permitido, ainda, cominar multa para o descumprimento (artigo 12, §

2º), para evitar dano irreparável ou ameaça de danos.

Trata-se de verdadeira medida antecipatória do

provimento do mérito, tal qual nas liminares de procedimento especial, e

não mera providência cautelar, perfeitamente possível, compatível e

autorizada por lei, podendo ser concedida nos próprios autos da ação civil

pública (cf. RTJ - JESP 113/312).

A medida liminar tem, assim, perfeita aplicabilidade ao

caso em questão, pois, a suspensão imediata de condutas lesivas

praticadas pelos Requeridos é a única forma real de se garantir a

preservação de bens ambientais de uso comum de toda a coletividade.29

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Para tanto, bastam a presença do fumus boni juris e do

periculum in mora, além da caracterização de possíveis danos irreparáveis

ou de difícil reparação às pessoas ou que mereçam a imediata ação do

Poder Judiciário.

O fumus boni juris está materializado nos fundamentos de

direito expostos, que demonstram de forma inequívoca a nulidade e a

ilegalidade dos atos constitutivos da propriedade particular sobre as áreas

que são objeto da lide. Bem como demonstram, claramente, a ocupação

indevida de áreas destinadas às espaços livres, áreas verdes e unidade de

conservação, bens de uso comum do povo.

Já o periculum in mora, a despeito da época em que

ocorrem as ocupações e irregularidades, decorre do prolongamento da

continuidade da situação fática caracterizadora de ilegalidade, que fará

com que toda a coletividade fique indefinidamente privada de usufruir um

bem ambiental de uso comum do povo.

O risco da demora se perfaz também pelos próprios

atributos ambientais da área objeto da lide, que justificaram, há muitos

anos, a criação de uma unidade de conservação, dada às características

intrínsecas que exigem especial proteção por parte do Poder Público.

Ademais, é de conhecimento público que o Requerido

Clube Jaó, ao longo dos anos, fez diversas obras de ampliação de suas

instalações, sendo que, conforme pode se observar nas imagens aéreas,

não há mais espaço físico no restante de suas dependências para novas

construções, que por certo ocorrerão sobre a área verde institucional há

anos esbulhada.

O perigo da demora inverso, ou seja, em caso de não

concessão da medida liminar, equivale ao respaldo institucional à prática

ilegal de grilagem de terras públicas e à deterioração da sadia qualidade

de vida, além da permissão para que os Requeridos possam usar e dispor

livremente sobre bens ambientais de interesse coletivo em detrimento do

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direito de todos a usufruírem do meio ambiente ecologicamente

equilibrado. Se a liminar não for concedida, certamente o provimento

jurisdicional final restará ineficaz, tendo em vista já terem ocorridos

graves danos à área verde originariamente destinada a implantação de

um Parque.

A relevância do fundamento da demanda se encontra na

franca e manifesta irreversibilidade do dano, como são, por excelência, os

de natureza ambiental.

A degradação ambiental, como regra, é irreversível.

Eventual responsabilidade civil, especialmente quando se trata de mera

indenização, é sempre insuficiente e de utilidade duvidosa.

Ademais, a defesa do meio ambiente é regida por

princípios próprios, dentre os quais encontra-se o princípio da precaução

ou também denominado de princípio da cautela, da prudência, o qual

exige, quando exista perigo grave ou irreversível ao meio ambiente, que

não se imponha a certeza instrumental como meio de se postergar a

adoção de medidas eficazes para o seu impedimento. A certeza exigida

pelo princípio da precaução dirige-se justamente para o lado oposto, isto

é, para a afirmação da inexistência de prejuízo ao meio ambiente, a fim de

que qualquer tipo de intervenção possa ser admitido.

Isso posto, conclui-se que a concessão da liminar ora

pleiteada encontra respaldo no efetivo perigo de dano que a demora

representaria para o meio ambiente e a ordem urbanística e ainda, se

funda em princípio do Direito Ambiental, que exige a cautela e a

prevenção a seu favor, toda vez que sua preservação esteja sendo

ameaçada.

Assim, o Ministério Público requer, nos termos do artigo

12 da Lei nº 7.347/85, initio litis, a concessão de MEDIDA LIMINAR, até

final julgamento da presente demanda, consubstanciada em:

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e-mail – [email protected] Telefone: (62) 3243-8238

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15ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE GOIÂNIANÚCLEO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE

• Proibir aos Requeridos, imediatamente, de promoverem qualquer supressão de vegetação, construção ou intervenção nas áreas verdes e espaços livres do Setor Jaó, localizadas entre a Rua Paraná e a margem direita do Córrego Jaó, iniciando na confluência da Rua J-47 até a Rua da Divisa, imóvel objeto da lide;

• Proibir ao Requerido Município de Goiânia de licenciar, autorizar, conceder, ou permitir o uso para qualquer atividade de uso, supressão de vegetação, construção ou intervenção na área objeto da lide;

• Suspender qualquer licença, autorização, concessão, ou permissão de uso, porventura existentes, para qualquer atividade de uso, supressão de vegetação, construção ou intervenção na área objeto da lide;

• Oficiar à Agência Municipal de Meio Ambiente - AMMA, dando-lhes conhecimento dos termos da liminar concedida e determinando-lhes a realização de fiscalização do cumprimento da ordem judicial.

• Requer, por fim, em sede liminar, cominação de multa no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), por dia de descumprimento da liminar concedida, a ser revertida ao Fundo Estadual do Meio Ambiente.

V - DO PEDIDO:

Por todo o exposto, REQUER o Ministério Público:

A) Seja a presente ação recebida, autuada e processada

na forma e no rito preconizados;

B) Seja concedida, initio litis, a tutela antecipada dos

pedidos relacionados às obrigações de fazer e de não fazer formulados,

com fundamento no artigo 273 do Código de Processo Civil, observada a

regra do artigo 2º da Lei nº 8.437/92, especificamente, quanto ao prazo de

72 horas para a resposta preliminar.

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C) Em caráter sucessivo, observada a regra do artigo 2º

da Lei nº 8.437/92, especificamente, quanto ao prazo de 72 horas para a

resposta preliminar, a concessão initio litis da medida liminar, na forma

pleiteada.

D) A citação dos Requerido MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, CLUBE

DE REGATAS JAÓ, INTERESTADUAL MERCANTIL S.A., PROMINCO – GESTÃO

CONTRATUAL LTDA. – EPP, SÍTIO BEROCAN SOCIEDADE LTDA. e BIOPARQUE

JAÓ, na forma e nos locais inicialmente indicados, para, querendo, virem

responder aos termos da presente ação no prazo legal, sob pena de

aplicação dos consectários jurídicos legais da revelia (artigo 319 do CPC),

o que desde já requer, produzindo as provas que porventura possuir,

acompanhando-a até final julgamento.

E) Seja autorizado ao Oficial de Justiça, para as

comunicações processuais, a permissão estampada no artigo 172, § 2°, do

Código de Processo Civil.

F) Quanto ao mérito requer:

F.1) Sejam declaradas de domínio público, desde o ato de

aprovação do loteamento, pelo Decreto Municipal n°. 97, de 09.03.1952; e

do seu registro de nº. 38, no Livro Auxiliar 8-C, às fls. 314/315, do Cartório

de Registro de Imóveis da 3ª Circunscrição da Comarca de Goiânia; todas

as áreas verdes e espaços livres constantes das plantas existentes nos

assentamentos da Prefeitura Municipal de Goiânia.

F.2) Sejam declarados nulos os seguintes atos jurídicos de

compra e venda e respectivos registros do CRI da 3ª Circunscrição de

Goiânia, que transferiram as áreas verdes e espaços livres do Setor Jaó,

localizadas entre a Rua Paraná e a margem direita do Córrego Jaó, iniciando

na confluência da Rua J-47 até a Rua da Divisa, para o domínio de

particulares, a saber:

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• F.2.1) Escritura de venda e compra lavrada em 09.02.1972, às fls. 73/74, do livro 548, do 1º Tabelionato de Notas de Goiânia, na qual a Requerida Interestadual Mercantil S.A. vendeu à Requerida PROMINCO – GESTÃO CONTRATUAL LTDA. – EPP, além das Chácaras 1 a 4, a área pública reservada compreendida entre a chácara número um (1), Alameda Paraná, Alameda Maracanã e o Córrego Jaó, registrada sob a matrícula 88.932, do CRI da 3ª Circunscrição de Goiânia.

• F.2.2) Escritura pública de venda e compra lavrada em 28.08.1980, no livro 279, fls. 107/8v, do 5º Tabelionato de Notas de Goiânia, em que a Requerida PROMINCO – GESTÃO CONTRATUAL LTDA. – EPP revendeu estas mesmas chácaras à empresa Essebe Agropecuária Ltda.

• F.2.3) Escritura pública de compra e venda lavrada em 30.06.1988, no Livro 897, fls. 59 do 4º Tabelionato de Notas de Goiânia, em que a Requerida Interestadual Mercantil S.A., vendeu ao Requerido CLUBE DE REGATAS JAÓ uma área pública destinada a Unidade de Conservação, com 15.600,00 m2, situada entre a rua da Divisa, Avenida Pedro Álvares Cabral e Alameda Cachoeira no Setor Jaó, medindo e confrontando 81,38 metros para a Avenida Pedro Álvares Cabral; 110 metros de fundo, dividindo com a Rua da Divisa; 180,73 metros pelo lado direito, dividindo com a Alameda Paraná; e 151,96 metros pelo lado esquerdo, dividindo com a Alameda Cachoeira, registrada sob a matrícula 18.096, do CRI da 3ª Circunscrição de Goiânia.

• F.2.4) Escritura Pública de Venda e Compra, lavrada, 27.07.1988, no 4º Tabelionato de Notas de Goiânia, no livro 899, fl. 88, em que a Requerida Interestadual Mercantil S.A., vendeu ao Requerido CLUBE DE REGATAS JAÓ a área pública, com 24.000,00 m2, situada entre as Avenidas Pedro Álvares Cabral, Maracanã e Alameda Paraná, tendo o córrego Jaó como limite pelo lado direito.

F.3) Sejam os Requeridos CLUBE DE REGATAS JAÓ,

INTERESTADUAL MERCANTIL S.A., PROMINCO – GESTÃO CONTRATUAL LTDA.

– EPP, SÍTIO BEROCAN SOCIEDADE LTDA. e BIOPARQUE JAÓ condenados, na

obrigação de não fazer consubstanciada na proibição de promoverem

qualquer uso, supressão de vegetação ou construção nas áreas verdes e

espaços livres do Setor Jaó, localizadas entre a Rua Paraná e a margem

direita do Córrego Jaó, iniciando na confluência da Rua J-47 até a Rua da

Divisa, imóvel objeto da lide.

F.4) Sejam os Requeridos CLUBE DE REGATAS JAÓ,

PROMINCO – GESTÃO CONTRATUAL LTDA. – EPP, SÍTIO BEROCAN SOCIEDADE

LTDA. e BIOPARQUE JAÓ condenados na obrigação de fazer

consubstanciada no dever de desocuparem e removerem todas as 34

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edificações, inclusive aterramentos irregulares, das áreas verdes e

espaços livres do Setor Jaó, localizadas entre a Rua Paraná e a margem

direita do Córrego Jaó, iniciando na confluência da Rua J-47 até a Rua da

Divisa, e, de consequência, seja o Requerido Município de Goiânia

reintegrado na posse da referida área;

F.5) Sejam os Requeridos CLUBE DE REGATAS JAÓ,

INTERESTADUAL MERCANTIL S.A., PROMINCO – GESTÃO CONTRATUAL LTDA.

– EPP, SÍTIO BEROCAN SOCIEDADE LTDA. e BIOPARQUE JAÓ condenados,

solidariamente, na obrigação de fazer consubstanciada no dever de

recuperar e revegetar as áreas verdes e espaços livres do Setor Jaó,

localizadas entre a Rua Paraná e a margem direita do Córrego Jaó, iniciando

na confluência da Rua J-47 até a Rua da Divisa, que foram ao longo dos

anos degradadas, mediante a elaboração, num prazo de 60 (sessenta)

dias, de Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas – PRAD,

devidamente assinado por profissional habilitado, com a devida anotação

de responsabilidade técnica – ART, o qual deverá ser executado num prazo

máximo de 24 meses.

F.6) Sejam os Requeridos CLUBE DE REGATAS JAÓ,

INTERESTADUAL MERCANTIL S.A., PROMINCO – GESTÃO CONTRATUAL LTDA.

– EPP, SÍTIO BEROCAN SOCIEDADE LTDA. e BIOPARQUE JAÓ condenados,

solidariamente, a indenizar os danos morais causados à coletividade pela

ocupação indevida das áreas verdes e espaços livres do Setor Jaó,

localizadas entre a Rua Paraná e a margem direita do Córrego Jaó,

iniciando na confluência da Rua J-47 até a Rua da Divisa, em valor a ser

fixado por arbitramento, em patamar não inferior a R$ 5.000.000,00 (cinco

milhões de reais) a serem revertidos ao Fundo Municipal do Meio Ambiente,

com a destinação específica de implantar o Parque Municipal Jaó.

F.7) Seja o Requerido Requerido Município de Goiânia

condenado nas seguintes obrigações:

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F.7.1) Obrigação de fazer consubstanciada no dever de, no

prazo de 06 (seis) meses implantar a unidade de conservação Parque

Municipal Jaó, criado no ato de aprovação do Setor Jaó, obedecendo a

forma estipulada nos artigos 22 e seguintes da Lei Federal 9.985/00.

F.7.2) Obrigação de fazer consubstanciada no dever de, no

prazo de 06 (seis) meses, elaborar e apresentar em juízo os estudos

técnicos relativos à implantação da unidade de conservação Parque

Municipal Jaó, que contemplem: aspectos inerentes ao clima, solo,

recursos hídricos, levantamento arqueológico, inventário de fauna,

inventário de flora, definição de zona de amortecimento e outros aspectos

técnicos relevantes.

F.7.3) Obrigação de fazer consubstanciada no dever de, no

prazo de 06 (seis) meses, fazer a demarcação física e cercamento de todo

o perímetro da unidade de conservação Parque Municipal Jaó.

F.7.4) Obrigação de fazer consubstanciada no dever de, no

prazo de 06 (seis) meses, instituir e implantar o Conselho Consultivo da

unidade de conservação Parque Municipal Jaó, devendo, ainda, fazer prova

em juízo que o mesmo está em funcionamento.

F.7.5) Obrigação de fazer consubstanciada no dever de, no

prazo de 06 (seis) meses, elaborar e aprovar o Plano de Manejo da

unidade de conservação Parque Municipal Jaó, devendo, ainda, no prazo

de 01 ano, fazer prova em juízo de sua efetiva implantação.

F.7.6) Obrigação de fazer consubstanciada no dever de

inserir no orçamento do município o valor financeiro de R$ 5.000.000,00

(cinco milhões de reais), ou quantia suficiente, para custear as despesas

necessárias à implantação da unidade de conservação Parque Municipal

Jaó e demais pedidos da presente ação civil pública.

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G) A publicação de edital para dar conhecimento a

terceiros interessados e à coletividade, considerando o caráter erga

omnes da Ação Civil Pública.

H) Protesta provar o alegado, por todos os meios de prova

em direito admitidos, pleiteando, desde já a juntada da documentação

anexa como meio de prova dos fatos expostos.

I) Protesta, ainda, por possível emenda ou retificação à

presente inicial, caso seja necessário.

J) Sejam os atos processuais comunicados pessoalmente à

parte Autora, nos termos do art. 236, parágrafo 2º do Código de Processo

Civil e do art. 41, inciso IV, da Lei nº 8.625/93.

K) Requer, ainda, a procedência in totum dos pedidos,

com atendimento dos objetivos elencados.

L) Requer, desde já, a produção de prova pericial, bem

como de todos os demais meios de prova permitidos em lei, além das já

produzidas nos autos do Inquérito Civil Público nº 201200357752, que

instrui a presente exordial.

M) Sejam os Requeridos condenados ao pagamento de

custas e demais cominações legais, em sendo o caso.

N) Requer, por fim, a imposição de multa diária, no valor

de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), pelo descumprimento das obrigações de

fazer e não fazer impostas na sentença a ser prolatada, que poderá,

inclusive, incidir sobre as pessoas físicas dos administradores, ou

servidores públicos responsáveis, na hipótese de desobediência à ordem

judicial, a ser revertida ao Fundo Estadual do Meio Ambiente.

Conquanto de valor inestimável, dá-se à causa, para os

efeitos legais, o valor de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais),

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ressalvando, no entanto, que este é um valor estimativo e formal, não

impedindo o arbitramento de eventual indenização em nível superior.

Termos em que

Pede deferimento.

Goiânia, 25 de maio de 2015.

JULIANO DE BARROS ARAÚJOPromotor de Justiça

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