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O MERCADO BRASILEIRO DE RESINAS TERMOPLÁSTICAS: CONCENTRAÇÃO DE MERCADO NA

CADEIA PRODUTIVA E DE FORNECIMENTO

Euler E. Neder1*, Miguel J. Bacic2, Ana L. G. da Silva2

1* AkzoNobel Ltda – Polymer Chemicals, Itupeva – SP – [email protected]

2 Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia - Instituto de Economia / UNICAMP, Campinas - SP. O ano de 2008 registrou o ápice de um longo processo de concentração da indústria petroquímica que teve início há mais de 10 anos. Na primeira geração da indústria dois grandes grupos se formaram e dominam a produção de etileno e propileno, as principais matérias-primas utilizadas na produção de resinas termoplásticas. A segunda geração tem a mesma característica de concentração e poucas empresas fazem parte desse segmento. Assim como no resto do mundo, a indústria petroquímica nacional tornou-se mais competitiva com a verticalização advinda das fusões. Apesar dos grupos formados serem bastante menores que seus concorrentes internacionais, eles se tornaram empresas mais competitivas regionalmente. O modelo de organização do setor apresenta uma configuração sensivelmente concentrada, indo de um caso semelhante ao monopólio até situações oligopolísticas. A característica desse segmento vista sob a ótica da concentração de mercado também é válida para os demais fornecedores de matérias-primas, que, assim como seus clientes petroquímicos, se consolidaram e se tornaram também monopolistas ou oligopolistas em seus respectivos segmentos de atuação. Palavras-chave: Petroquímica, resinas termoplásticas, concentração, oligopólio.

The Brazilian Market of Thermoplastic Resins: Market Concentration in the Supply Chain and Production

The year of 2008 finalized a long trial of concentration of the petrochemical industry in Brazil that started more then 10 years ago. As a result, two big groups were formed in the called first generation and dominate the output of ethylene and propylene, the main raw materials utilized by the thermoplastics producers. The second generation showed the same characteristic of concentration and very few companies are part of that segment. As well as in the rest of the world, local petrochemical industry became more competitive as they became back integrated but the local groups are still far behind the big international competitors. The model of organization of the sector presents clear situations of monopoly and different kinds of oligopolies. These characteristics are also seen in the side of raw materials suppliers. Like their big clients, the suppliers were also consolidated into fewer specialized companies and became also monopolists and oligopolists in his respective segments of action. Keywords: Thermoplastics, monopoly, oligopoly, supply chain, concentration. Introdução Nos últimos 10 anos a indústria petroquímica nacional vem passando por diversos processos de reorganização societária que culminaram em 2008 na consolidação de dois grupos na chamada primeira geração e em uma grande concentração na segunda geração da cadeia produtiva. Um exemplo desse processo pode ser observado com as resinas termoplásticas (RT) mais consumidas como polietileno (PE), polipropileno (PP) e policloreto de vinila (PVC) onde somente dois fabricantes detêm praticamente toda a capacidade produtiva existente no país.

O processo de concentração, capitaneado na década passada pela Braskem, possibilitou a formação de uma empresa de porte e escala internacionais, embora com forte disparidade em relação aos demais competidores internacionais [1]. Juntamente com a Quattor, os dois grandes grupos formados representam a quase totalidade da produção dos insumos petroquímicos básicos e uma significativa parte da segunda geração. Entretanto, seu porte ainda não os insere entre os 10 maiores grupos petroquímicos mundiais. Recentemente a consultoria Townsend Polymers Services & Information [2] divulgou a capacidade produtiva dos 10 principais produtores mundiais de PP. Analisando a figura 1 e considerando que a capacidade de produção da Braskem, que é o principal fabricante nacional de PP, é de pouco mais de 1 milhão de toneladas, pode-se concluir que ainda

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seriam necessários grandes investimentos produtivos para colocá-la entre os 10 maiores fabricantes mundiais dessa resina.

A concentração no segmento petroquímico não ocorre somente no Brasil e é um fenômeno mundial. A estrutura oligopolística desse segmento será destacada no decorrer desse artigo, que não tem o objetivo de fazer juízo de valores ao modelo de concentração no qual está inserida a indústria petroquímica brasileira, mas sim mostrar sua atual organização produtiva e as forças atuantes nesse mercado. Os resultados em termos de eficiência do modelo organizacional certamente não serão visíveis no curto prazo e poderão ser melhor avaliados somente nos anos subsequentes.

0 1 2 3 4 5 6 7 8Milhões de Toneladas

LyondellBasell - Holanda

Ineos - Inglaterra

Sinopec - China

Total AS - França

Sabic - Arábia SauditaExxon Mobil - EUA

Petrochina - ChinaFormosa Plast. - Taiwan

Reliance - India

Borealis AG - Austria

Figura 1: Capacidades produtivas dos 10 principais fabricantes mundiais de PP [2].

Estrutura do Setor Petroquímico Desde o final dos anos 90, a demanda pelas resinas termoplásticas (RT) mais utilizadas no Brasil tem crescido a taxas médias anuais de 5% [3]. A evolução histórica do consumo está apresentada na figura 2 e mostra um crescimento expressivo de mais de 135% em pouco menos de duas décadas.

0

1

2

3

4

5

6

Milhões T.

90 94 96 98 2000 ´01 ´02 ´03 ´04 ´05 ´06 ´07 ´08

Anos

Figura 2: Evolução histórica da produção de resinas Termoplásticas [3].

Dentre as RT mais utilizadas, o polipropileno (PP) e o polietileno (PE) representam mais de 68% do total comercializado no país. Em 2008 foram produzidos mais de 3,3 milhões de toneladas dessas duas resinas. Apesar da produção superlativa, o consumo per capita brasileiro para as RT ainda é muito baixo quando comparado àqueles observados em países da Europa e da América do Norte. Enquanto no Brasil o consumo per capta é de 27,5 kg/hab./ano [4], nos EUA é de 100 kg/hab./ano e na França alcança 60 kg/hab./ano [5]. A diferença entre os consumos específicos dá a magnitude do potencial de crescimento que existe no Brasil, e que ainda pode ser ampliado. A grande demanda

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reprimida tem animado os fabricantes de resinas a investir no aumento da capacidade produtiva e buscar alternativas de crescimento, realizando fusões e aquisições e planejando expansões fora do país. Esses movimentos de expansão foram um dos responsáveis por uma grande mudança nas empresas ligadas à fabricação de RT observada nos últimos anos.

O setor petroquímico transforma produtos da destilação do petróleo bruto em bens de consumo e industriais como embalagens, tubos, filmes e peças para o setor automotivo e eletroeletrônico. Como mostrado na figura 3, o segmento é organizado, via de regra, dividindo os produtores em primeira, segunda e terceira geração com base na fase de transformação de várias matérias-primas ou insumos petroquímicos.

Derivados do Petróleo

1º Geração 3º Geração 2º Geração

Gás Natural

Etano

Nafta

Petróleo

Eteno

Buteno

Propeno

Benzeno

Paraxileno

Butadieno

Cloro

Estireno

Etilbenzeno

Dimetilte-reftalato (DMT)

Ácido tereftálico

(PTA)

Polietileno de baixa densidade linear

(PEBDL)

Polietileno de baixa densidade (PEBD)

Polietileno de alta densidade (PEAD)

Policloreto de vinila (PVC)

Polipropileno (PP)

Dicloroetano

Poliestireno (PS)

Acrilonitrila butadieno estireno (ABS)

Polietileno tereftalado

(PET)

Filmes, embalagens, garrafa, utensílios domésticos, fios e

cabos

Tubos, conexões, filmes, calçados, frascos, fios e

cabos

Autopeças, sacarias e embalagens

Automóveis, eletroeletrônicos e

telefones

Embalagens e fibras têxteis de poliéster

Eletroeletrônicos e embalagnes

Figura 3: Organização do setor petroquímico destacando os produtores de primeira, segunda e terceira geração [1].

Os produtores de primeira geração, também denominados “craqueadores”, têm sua principal atividade centrada no fracionamento da nafta ou do gás natural, em petroquímicos básicos que no caso das RT são o etileno e o propileno, principalmente. Devido a limitações na disponibilidade de gás natural, a nafta acaba sendo o insumo mais utilizado pelos “craqueadores” e é produzida no Brasil unicamente pela Petrobras. A importação é realizada em escala relevante e os principais fornecedores são empresas do Oriente Médio e África [6]. Nos últimos anos, aproximadamente 70% da Nafta utilizada como insumo petroquímico foram fornecidos pela Petrobras e 30% foram importados. [6].

Não existe legislação que impeça uma empresa local de produzir nafta, mas na prática os altos custos de instalação de uma unidade de refino e a dependência de petróleo de outros fornecedores são barreiras suficientemente grandes para que a Petrobras se mantenha como única produtora.

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Existem 3 centrais de craqueamento de nafta no Brasil e uma de gás natural. A figura 4 fornece detalhes sobre a localização, controle acionário e capacidades de produção de cada um desses pólos petroquímicos.

À exceção da Petrobras, as outras duas empresas apresentadas na figura 4, Braskem e Quattor, fazem parte de dois grupos nacionais cuja composição acionária atual é mostrada na tabela 1.

No arranjo atual da cadeia produtiva, os fabricantes de insumos da chamada primeira geração petroquímica vendem os insumos básicos a produtores de segunda geração, que são empresas que pertencem aos mesmos grupos destacados na tabela 1 e também a outras poucas empresas que dependem desses dois grupos. A figura 5 fornece detalhes das capacidades produtivas da primeira e da segunda geração, bem como a interação entre elas [7].

Braskem – TriunfoEtileno = 1.135Propileno = 581

Quattor - ABC / D. CaxiasEtileno = 1.020 Propileno = 325

Petrobras - L. Freitas / D.Caxias / SJ. CamposPropileno = 395

Braskem – CamaçariEtileno = 1.280Propileno = 330

Braskem – TriunfoEtileno = 1.135Propileno = 581

Quattor - ABC / D. CaxiasEtileno = 1.020 Propileno = 325

Petrobras - L. Freitas / D.Caxias / SJ. CamposPropileno = 395

Braskem – CamaçariEtileno = 1.280Propileno = 330

Figura 4: Localização das centrais de craqueamento de Nafta, com as respectivos grupos controladores e capacidades produtivas por produto em milhares de toneladas anuais.

Tabela 1: Composição acionária dos dois maiores grupos Petroquímicos Brasileiros produtores de Etileno e Propileno. Em %.

Grupo controlador Braskem Quattor Odebrecht 60,4 0 Petrobras1 30 40 Unipar 0 60 Minoritários2 9,6 0

Os produtores de terceira geração, também denominados transformadores, compram as RT dos produtores de segunda geração e os transformam em produtos finais, tais como embalagens (sacos, filmes garrafas), tecidos, autopeças, brinquedos, bens de consumo, peças para produtos eletrônicos, dentre outros. Segundo a ABIPLAST, existem mais de 11.200 produtores de terceira geração operando no Brasil [8].

1 A Petrobras participa como sócia por intermédio da Petroquisa, da qual detêm 100% do capital. 2 Quantidade de ações negociadas em bolsa de valores.

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A importação de resinas termoplásticas não sofre restrições, mas o mercado produtor local é protegido por altas tarifas de importação3 e custo logístico. Em 2007 foram importadas pouco mais de 1,1 milhão de toneladas de resinas de PE, PP e PVC, representando 25% do total produzido [8].

Figura 5: Estrutura da indústria petroquímica brasileira de primeira e segunda geração com as respectivas capacidades produtivas de insumos básicos e RT. Dados referentes a setembro de 2008. [7]

O papel da Petrobras Anteriormente a 1995, a Constituição do Brasil concedia ao governo brasileiro um monopólio, exercido por intermédio da Petrobras, sobre a pesquisa, exploração, produção, refino, importação e transporte de petróleo bruto e produtos de petróleo refinado no Brasil (com exclusão de produtos petroquímicos). Também estava previsto que os produtos do refino, entre eles a nafta, poderiam ser fornecidos no Brasil somente pela Petrobras ou por seu intermédio. A partir de 1995, a Constituição Federal foi alterada para permitir que as atividades relacionadas ao petróleo fossem realizadas por empresas privadas, por meio de concessão ou autorização do governo brasileiro, e desde então houve uma liberalização no setor petroquímico do Brasil. Depois de 1997 foram introduzidas novas regras e regulamentos que deveriam gradualmente eliminar o monopólio da Petrobras e a partir daí

3 De acordo com a NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul), o imposto de importação atual é de 12%.

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os produtores de primeira geração tiveram liberdade de importar nafta de empresas comerciais exportadoras e de produtores de petróleo e de gás do exterior.

Ainda como monopolista, no que tange ao refino de nafta, a Petrobras tem um papel chave no cenário petroquímico nacional. Além de centralizar a produção da principal matéria-prima, ela está associada aos dois principais grupos nacionais que dominam mais de 70 % da fabricação de RT.

Nesta situação em que uma empresa controla 100% da produção local da principal matéria-prima petroquímica e participa com relevância na composição acionária dos dois únicos produtores de etileno e propileno, abre-se espaço para fixação de preços em detrimento dos produtores da segunda geração que dependem desses insumos, levando os transformadores finais a pagar um preço acima do mercado para fabricar os produtos finais. Essa hipótese é corroborada pelas distorções existentes no preço da nafta no mercado local que em 2008 esteve sempre acima do preço internacional.

Concentração na indústria petroquímica Antes do longo processo de concentração e consolidação observado na última década, quase finalizado em 2008, a indústria local de segunda geração de RT era bastante fragmentada. A capacidade produtiva das empresas era muito menor do que a de seus concorrentes internacionais, de modo que o aumento da competitividade dessas empresas requeria elevação das escalas de produção de modo a alcançar reduções expressivas de custo. Esse foi o principal argumento para justificar os movimentos de fusões. Com empresas maiores, torna-se possível melhor defender o mercado local contra concorrentes externos poderosos e com custos muito menores possibilitados pelas elevadas escalas de operação.

A tabela 2 ilustra as capacidades de produção anteriores ao ano de 20024 e, portanto, antes do processo mais intenso de consolidação observado após esse período [9]. Ao final de 7 anos, o movimento de consolidação formou 2 empresas com grande capacidade produtiva e consideradas de classe mundial. A tabela 3 mostra o novo perfil de produção das empresas formadas depois da consolidação.

Se de um lado a concentração trouxe vantagens competitivas aos dois grupos formados, pode ter gerado distorções na cadeia produtiva. Os fornecedores de outros insumos, que não aqueles básicos, tiveram seu leque de clientes reduzido e a força de negociação dos dois grandes grupos passou a ser enorme. Do lado dos transformadores, se anteriormente existiam opções de compra e de serviços diferenciados, a partir da consolidação passaram a contar com praticamente 2 fornecedores para seu principal insumo.

Tabela 2: Dados sobre a produção das principais resinas termoplásticas antes do processo de concentração em 2002. Em mil toneladas.

Grupo Petroquímico PE PP PVC Ipiranga Petroquimica 650 150 PE União 130 Polibrasil 625 Solvay 82 236 Petroquimica Triunfo 160 OPP 710 550 Politeno 340 Polialden 160 Trikem 479 DOW (antiga Union Carbide) 144 TOTAL 2.376 1.325 715

4 2002 foi escolhido por ser o ano de formação da Braskem, reunindo a Copene, Trikem, OPP, Nitrocarbono e Polialden.

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Tabela 3: Capacidade de produção das principais RT depois do processo de concentração. Dados relativos a 2008. Em mil toneladas.

Grupo Petroquímico PE PP PVC Braskem5 1.975 1.040 516 Quattor 1.040 875 Solvay 82 236 TOTAL 3.097 1.915 752

Mundialmente, o segmento petroquímico caracteriza-se por exibir estruturas de mercado de caráter altamente concentradas. No Brasil, o fornecimento da nafta é claramente de caráter monopolístico. Na primeira e na segunda geração verifica-se uma situação de oligopólio, porém de naturezas diversas.

Os fatores que levam ao surgimento das estruturas altamente concentradas são de natureza econômica ou relacionados à legislação. As razões econômicas se originam das vantagens que decorrem das significativas economias de escala, da necessidade de elevados investimentos, do poder de compra, do acesso a fornecedores e a canais de distribuição, do domínio de tecnologia, das dificuldades de acesso de concorrentes localizados em outras regiões geográficas e do exercício do marketing em ampla escala. Os fatores relacionados à legislação têm a ver com as regras definidas pelo ordenamento legal do país, seja quanto à permissão de determinadas empresas operarem em um setor, seja no que se refere à estrutura de tributação e às alíquotas de importação.

No caso dos mercados oligopolísticos, Sylos-Labini [10] distingue 3 situações típicas: oligopólio diferenciado, oligopólio concentrado e oligopólio misto. Na situação de oligopólio diferenciado, as empresas que concorrem por meio da diferenciação de produto, o que, ao dar espaço para estratégias individuais segmentadas, permite a existência de um número relativamente grande de empresas concorrentes. No oligopólio concentrado, os produtos são homogêneos e o fator principal para concorrer, além do domínio da tecnologia, está no aproveitamento das economias de escala. A obtenção destas economias permite custos menores e um maior poder competitivo, o que gera pressão permanente para a consolidação da indústria. Já no oligopólio misto verifica-se uma situação intermediária, onde a concentração técnica é importante, mas há espaço para o uso de estratégias de diferenciação [11].

O fornecimento da nafta no Brasil encontra-se em situação de monopólio, tendo em vista a existência de somente um fornecedor para um determinado o produto. Vários fatores explicam esta situação: 1) existência de barreiras à entrada para novos fornecedores; 2) dificuldades alfandegárias e não-alfandegárias para importação; 3) por tratar-se de um produto extremamente inflamável e perigoso, o transporte transoceânico é limitado a poucas companhias de navegação; 4) os volumes consumidos pela indústria petroquímica de primeira geração são elevados, fazendo com que as barreiras logísticas se tornem um entrave para uma efetiva concorrência; 5) apesar de a alíquota de importação não ser uma barreira alfandegária importante (não há imposto de importação), existe necessidade de licença prévia de importação, contribuindo para dificultar a compra no exterior.

Na primeira geração encontramos uma situação de oligopólio concentrado, que se manifesta na forma de duopólio com apenas dois fabricantes locais para as principais matérias-primas (etileno e propileno). Esta situação concretizou-se após a consolidação da indústria. As razões que explicam a consolidação residem nos seguintes fatores principais: 1) alto valor de investimento; 2) tecnologia estabelecida que fecha o caminho a inovações radicais e abre espaço somente para inovações incrementais; 3) produção de commodities; 4) potencialidade de obtenção de ganhos de escala.

Dado que as empresas produzem produtos homogêneos, o espaço para concorrer requer investimento para obter reduções de custo por meio dos ganhos propiciados pelas economias de

5 Inclui 160 mil toneladas referentes a Petroquimica Triunfo, recentemente incorporada pela Braskem.

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escala, busca de maior produtividade, diminuição de consumo de energia e obtenção de melhores padrões de qualidade de produto. Estes fatores, especialmente a potencialidade dos ganhos de escala, tendem a favorecer a concentração da indústria. Dificuldades na operação de importação diminuem as alternativas para os compradores locais. Apesar da relativa facilidade de importação, os fabricantes locais têm uma proteção de 12% de imposto de importação. Além disso, há riscos na operação de importação associados à variação cambial. Além disso, existe a falta de garantia de prazos de chegada devido aos procedimentos burocráticos de importação, nem sempre claros e quase sempre muito custosos.

Diferentemente da primeira geração, onde se identifica a existência de oligopólio concentrado, na segunda geração observa-se uma situação de oligopólio misto, o que permite a coexistência de número maior de empresas e de estratégias segmentadas. Isto ocorre, pois as empresas, mesmo oferecendo aparentemente commodities, podem diferenciá-las a partir de aspectos valorizados pelos transformadores (também chamados de terceira geração). Nessa situação é possível alterar as características dos produtos, seja no referente a atributos relacionados com o uso final ou com as características do processo. A diferenciação pode se realizar para atingir especificações especiais e atender nichos de mercado ou mesmo realizar “customizações” na cadeia de distribuição e demais quesitos logísticos.

De acordo com dados de 2006, existem mais de 11.200 empresas que compõem o segmento da terceira geração petroquímica [8]. Eles são transformadores que processam as resinas tornando-as artigos de consumo final ou ainda peças para outros mercados industriais. Na terceira geração, as empresas operam com necessidades de investimentos bem menores relativamente às gerações anteriores e há possibilidade de diferenciar produtos, o que garante o espaço para a formulação de estratégias segmentadas. Dadas as especializações que a produção pode tomar na terceira geração, verifica-se que alguns segmentos especializados configuram-se como oligopólio diferenciado e outros se aproximam de mercados competitivos. Como a tecnologia é fornecida por terceiros à indústria, não há espaço para inovações radicais concentradoras de mercado. Nesta situação, o mais provável é que na indústria continue operando grande número de empresas no longo prazo, desenvolvendo estratégias especializadas e concorrendo somente com as empresas que atuam dentro do mesmo segmento.

Concentração na cadeia de fornecedores do setor petroquímico A nafta ou o gás natural, chamados de insumos básicos, são de longe as matérias-primas mais importantes da cadeia de consumo do setor petroquímico. Entretanto, existe um leque de outros insumos muito menos significativos em termos de volume, mas igualmente importantes e necessários para a produção das RT e de suas matérias-primas. Os custos unitários desses produtos, apesar de serem muito mais altos que os insumos básicos, têm um impacto pequeno no custo total da RT.

Se existem situações diversas de monopólios e oligopólios na comercialização de RT e seus precursores, o mesmo pode-se dizer para os fornecedores da cadeia de matérias-primas. Genericamente, o perfil das empresas que fornecem para a cadeia petroquímica é de companhias internacionais, em geral de grande porte, multidivisionadas, especializadas e bastante focadas em diferenciação, seja pela tecnologia, logística ou outros serviços.

Dependendo do insumo a ser utilizado, as empresas da primeira e segunda geração têm pouquíssimas opções de compra e muitas vezes observam-se os três tipos de oligopólios descritos por Sylos-Labini [10]. Os fornecedores da cadeia petroquímica tem se consolidado na mesma velocidade dos grandes fabricantes de resinas.

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Conclusões A formação de oligopólios no segmento petroquímico nacional não é um fato isolado e está inserido no contexto mundial. Ganhos de escala advindos das fusões permitiram que os dois grandes grupos formados adquirissem melhor condição de defender seu território de concorrentes com capacidades produtivas muito maiores e com preços relativamente alinhados ao mercado. A participação da Petrobras como fornecedora única de nafta e gás natural traz alguma segurança no que se refere à disponibilidade de matéria-prima para a primeira geração, mas também pode trazer distorções de preço. Sendo empresa estatal, também não se pode desconsiderar o uso político da empresa com relação à formação de preços de seus produtos.

Se do lado dos fabricantes da primeira e segunda geração existem oligopólios claramente identificados, também se pode afirmar o mesmo com relação aos fornecedores de matérias-primas.

Caracterizados por menor complexidade tecnológica, maior diversidade de produtos acabados e menor capital requerido, os transformadores (terceira geração) são numerosos e, apesar de existir alguma concentração em nichos de aplicação, o segmento é muito pulverizado e bastante competitivo.

Ainda é cedo para concluir se o modelo de concentração alcançado em 2008 trará benefícios aos usuários finais, mas parece claro que a organização existente no passado era muito pesada e seus altos custos acabavam de alguma forma sendo transferidos aos clientes finais. De qualquer modo, é certo que os dois grupos consolidados (Braskem e Quattor) reforçaram suas condições de competitividade para enfrentar os gigantes internacionais. Referências Bibliográficas 1 – G. Gomes et al. A Nova Integração Refino-petroquímica: oportunidades e desafios para a petroquímica brasileira. “Rio Oil & Gas Expo and Conference 2006”, Rio de Janeiro, 2006. 2 – S. Merryweather. Plastics News, Townsend Polymers Services & Information Inc., Houston 2009. 3 – Relatório do SDI – Sistema Dinâmico de Informações Estatísticas. São Paulo. Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM), 2008 – semestral. 4 – C. Hiratuka; A. Cunha. Estudo Prospectivo Setorial – Plásticos. Relatório de Acompanhamento Setorial (Número 1), CGEE (Centro de gestão e estudos estratégicos), Brasília 2007. 5 – R.A. Pereira; T.B. Alves; L.R. Furtado; A.M.S. Antunes; L.G. de Sá. Tendências Tecnológicas e Mercadológicas dos Principais Produtos Petroquímicos Básicos: eteno e propeno. In 4º PDPETRO / ABPG. Campinas 2007. 6 – C. Moreira; E. Fernandes; G.L. Gomes; P. Dvorsak; T.B.B. Heil; V.D. Bastos. Potencial de Investimentos no Setor Petroquímico Brasileiro 2007-2010, BNDES. Disponível em http://www.bndes.gov.br/conhecimento/liv_perspectivas/05.pdf. 7 – Anuário da Indústria Química Brasileira. São Paulo: Associação Brasileira da Indústria Química – ABIQUIM, 2008– anual. 8 – Perfil da Indústria Brasileira de Transformação de Material Plástico 2007. São Paulo: Associação Brasileira da Indústria de Plástico – ABIPLAST, 2007. 9 – Anuário da Indústria Química Brasileira. São Paulo: Associação Brasileira da Indústria Química – ABIQUIM, 2002– anual 10 – P. Sylos-Labini. Oligopólio e Progresso Técnico. Rio de Janeiro, Forense, 1979. 11 – A.L.G. da Silva. Concorrência sob Condições Oligopolísticas. Campinas: Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas, 2004.

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