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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Wedna Cirino Soares
O LIVRO DA VIDA COMO AGENTE FACILITADOR DA APRENDIZAGEM: As contribuições da Livre Expressão
UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte
Dissertação de Mestrado Orientador: Prof. Dr. Lucrécio Araújo de Sá Júnior
Natal/RN 2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
O LIVRO DA VIDA COMO AGENTE FACILITADOR DA APRENDIZAGEM: As contribuições da Livre Expressão
Wedna Cirino Soares Dissertação apresentada como requisito parcial Mestrado em Educação. Orientador: Prof. Dr. Lucrécio Araújo de Sá Júnior
Natal/RN 2016
Catalogação da Publicação na Fonte.
UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA
Soares, Wedna Cirino.
O livro da vida como agente facilitador da aprendizagem: as contribuições da
livre expressão/ Wedna Cirino Soares. - Natal, 2016.
102f.: il.
Orientador: Prof. Dr. Lucrécio Araújo de Sá Júnior.
Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. Centro de Educação. Programa de Pós-graduação em Educação.
1. Pedagogia Freinet – Dissertação. 2. Aprendizagem Significativa –
Dissertação. 3. Livro da Vida - Dissertação. I. Sá Júnior, Lucrécio Araújo de. II.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/BS/CCSA CDU 37.015.3
Wedna Cirino Soares, O LIVRO DA VIDA COMO AGENTE FACILITADOR DA APRENDIZAGEM: As contribuições da Livre Expressão
a dissertação intitulada ―O Livro da Vida como agente facilitador da aprendizagem: as contribuições da Livre Expressão foi aceita pelo Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito à obtenção do grau de Mestre em Educação, sendo aprovada por todos os membros da Banca Examinadora, abaixo especificada:
Aprovado em: ___/___/___
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________________________
Prof. Dr. Lucrécio Araújo de Sá Junior – Orientador/UFRN
_____________________________________________________________________
Prof. Dr. Antonio Basílio Tomaz de Menezes – UFRN
_____________________________________________________________________
Prof. Dr. Walter Pinheiro Barbosa Junior – UFRN
_____________________________________________________________________
Prof. Dr. José Mateus Nascimento – IFRN
_____________________________________________________________________
Prof.ª Dra. Andrezza Maria Batista do Nascimento Tavares – IFRN
Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos. Nem tão longe e nem tão perto. Na medida mais precisa que eu puder. Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida. Da maneira mais discreta que eu souber. Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar. Sem forçar tua
vontade. Sem falar, quando for hora de calar. E sem calar, quando for hora de falar. Nem ausente, nem presente por demais. Simplesmente, calmamente, ser-te paz. É bonito ser amigo,
mas confesso é tão difícil aprender! E por isso eu te suplico paciência. Vou encher este teu rosto de lembranças. Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias… (Fernando Pessoa)
AGRADECIMENTOS
___________________________________________________________________
Chega o momento de registrar em uma página os agradecimentos pela
realização de mais uma etapa da minha formação. Etapa que não seria possível de se realizar sozinha, o fiz com o apoio e ajuda de muitas pessoas que fazem parte dessa caminhada, pessoas a quem serei sempre grata.
Agradeço inicialmente a Deus, por me dar forças sempre, e que no momento em que esta me faltou fez questão de levar-me nos braços.
Agradeço aos meus familiares por confiarem e por estarem ao meu lado em todos os momentos, pela paciência e apoio.
Agradeço ao meu esposo e filha pelas tantas ausências, e impaciências. Agradeço às minhas amigas Lamoniara, Miriam e Dulci que me fizeram
acreditar que seria capaz de ser admitida no mestrado, e me ajudarem em todas as etapas.
Agradeço aos professores que reservaram momentos de suas corridas rotinas para contribuir com minha pesquisa. Sou muito grata ao professor Flávio Boleiz Júnior por estar ao meu lado nos primeiros rascunhos deste trabalho.
Um agradecimento especial ao meu professor/orientador Lucrécio Araújo de Sá Júnior por pacientemente instruir o caminho que percorremos para fazer nascer estes escritos.
À Escola Escola Freinet de Natal e a gerações de professores que cruzaram a minha história profissional e pessoal, que contribuíram de forma decisiva para a persistência em aperfeiçoar dia-a-dia o meu trabalho de educadora da Escola Moderna.
RESUMO: Este trabalho procurou investigar o Livro da Vida como agente facilitador
da aprendizagem e a contribuição da Livre Expressão segundo a proposta
pedagógica de Celestin Freinet. Para realização deste trabalho temos como campo
empírico a Escola Freinet de Natal. Dentro do referido campo, escolhemos uma
turma de 4º ano do Ensino Fundamental dos Anos Iniciais, no ano letivo de 2014,
alunos em uma faixa etária entre 9 e 10 anos. A investigação se fundamenta nos
estudos de Boleiz (2012), Canário (2006), Freinet,(1976, 1979, 1996a, e 1996b),
Imbernòn (2012), Oliveira (1995), Pozo e Crespo, (2009), Santos (1993), Zabala
(2010) Vigotski (1998; 2009; 2014), dentre outros. Ancoramos o trabalho sob uma
perspectiva sócio-histórica, uma vez que esta abordagem nos orienta a ver o sujeito
em seu contexto histórico e social. Realizamos a pesquisa de forma descritivo-
analítica, haja vista que fizemos descrições sobre o percurso metodológico da
produção do livro da vida, e, ao mesmo tempo, realizamos análises por sobre os
impactos destes na aprendizagem dos educandos, levando em conta o
desenvolvimento das capacidades de livre expressão. A pesquisa de cunho
bibliográfico e documental fez uso de textos como artigos, livros da área de estudos,
revistas, e ainda dos documentos da Escola Freinet de Natal, como fonte para
realizar as análises necessárias ao tema, como por exemplo, o Projeto Político
Pedagógico, os Dossiês Avaliativos e os próprios Livros da Vida produzidos pelos
alunos. Como conclusão deste trabalho, evidenciamos possibilidades de
aprendizagem contidas na produção do Livro da Vida, uma vez que constatamos a
presença dos conteúdos seguindo as invariantes apontadas por Freinet e as
aprendizagem significativas diante das experiências vivenciais dos alunos.
PALAVRAS CHAVES: Pedagogia Freinet; Aprendizagem Significativa; Livro da Vida.
SUMMARY: This study sought to investigate the Book of Life as a facilitator of learning agent and the Free Expression contribution according to the pedagogical proposal of Celestin Freinet. For this work we have the empirical field to School Christmas Freinet. Within that field, we chose a group of 4th year of Elementary School of Early Years, in the academic year 2014, students in an age group between 9 and 10 years. The research is based on studies of Boleiz (2012) Canary (2006), Freinet (1976, 1979, 1996a and 1996b), Imbernon (2012), Oliveira (1995), Pozo and Crespo (2009), Santos (1993), Zabala (2010) Vygotsky (1998; 2009; 2014), among others. We anchor work under a socio-historical perspective, since this approach leads us to see the subject in its historical and social context. We carry out research descriptive and analytical way, given that we did descriptions of the methodological course of the production of the book of life, and at the same time, we conducted analyzes on the impacts of these on students' learning, taking into account capacity building free expression. The bibliographic and documentary nature of research made use of texts such as articles, studies area of books, magazines, and aindas of the Freinet Christmas School documents as a source to perform the analyzes necessary to the theme, such as the Pedagogical Political Project the Dossiers evaluative and own Books of Life produced by the students. As a conclusion of this study evidenced learning possibilities contained in the production of the book of life, as we see the presence of the contents following the invariants mentioned by Freinet and significant learning on the existential experience of the students.
KEYWORDS: Freinet pedagogy; Meaningful Learning; Book of the life.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO______________________________________________ 10
1 PEDAGOGIA FREINET: CONTEXTO, PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE
UMA PEDAGIOGA MODERNA ________________________________
15
2 CAMPO DE EMPÍRICO _______________________________________ 39
2.1 UM POUCO DA HISTÓRIA: FUNDAÇÃO DA ESCOLA FREINET DE
NATAL ___________________________________________________
43
2.2 ESTRUTURA FÍSICA E SUA ORGANIZAÇÃO_____________________
43
2.3 PROPOSTA PEDAGÓGICA __________________________________
49
2.3.1 Técnicas freinetiana segundo a Escola Freinet_____________________
53
3 O LIVRO DA VIDA __________________________________________ 59
3.1 O LIVRO DA VIDA PARA A PEDAGOGIA FREINET_________________ 59
3.2
O LIVRO DA VIDA NA ESCOLA FREINET DE NATAL: PRIMEIRAS
ELABORAÇÕES_____________________________________________
62
3.3
O LIVRO DA VIDA: A MATERIALIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM E DA
LIVRE EXPRESSÃO_________________________________________
71
CONSIDERAÇÕES FINAIS____________________________________ 94
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS_____________________________ 99
ILUSTRAÇÕES:
___________________________________________________________________
foto 1
Pátio da Escola Freinet de Natal___________________________
44
foto 2 Sala ateliê da Escola Freinet de Natal________________________
45
foto 3 imagem 2 – sala ateliê foto 4 Espaço Externo da Escola Freinet de Natal___________________
46
foto 5 Espaço Cultural da Escola Freinet___________________________
47
foto 6 Versões manuais do Livro da Vida__________________________
67
foto 7 Capa do Livro da Vida feita manualmente_____________________
68
foto 8 Assinatura dos autores dos Livros da Vida____________________
69
foto 9 Página do Livro da vida com convite para Feira de Cultura e desenho da Escola______________________________________
72
foto 10 Capa do dossiê foto 11 Parte interna do dossiê de avaliação 2014____________________
73
foto 12 Foto retirada do Livro da Vida 2014 da turma do 4º ano________
80
foto13 Texto Livre da aluna Livia Maria, foto retirada do Livro da Vida 2014 da turma do 4º ano__________________________________
86
foto 14 Alunos medindo a área externa da escola na aula da matemática._
88
foto 15 Aula passeio no centro histórico de Natal, retirada do Livro da Vida 2014 da turma do 4º ano__________________________________
90
foto 16 Aula passeio em uma Faculdade de Natal , retirada do Livro da Vida 2014 da turma do 4º ano______________________________
92
Gráfico 1
Etapas da produção do Livro da Vida _______________________
76
8
INTRODUÇÃO
A Pedagogia como possibilidade profissional entrou nas páginas da minha
vida de forma precoce, quando aos 14 anos fui fisgada pelo "doce mel da educação".
Bastaram alguns poucos anos de experiência para perceber que aquele mel não era
tão doce assim, perceber que, na atividade em que iniciei minha vida
profissional, que poderia ser o limiar entre um adulto passivo e um adulto atuante,
trouxe para mim muito mais que motivação, pois nesse ensejo, veio junto a ela um
espirito crítico quanto a verdadeira função da escola. O que inicialmente parecia
apenas um encontro de uma adolescente com o primeiro trabalho, torna-se curso
superior em Pedagogia no ano de 1999, com a aprovação no vestibular, na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Desse instante em diante,
muita cortinas caíram por terra, confirmando ou negando as impressões iniciais à luz
das teorias estudadas, uma vez que me ajudara a observar criticamente o contexto e
as práticas educativas exercidas no cenário educativo brasileiro, e, por conseguinte,
orientar meu trabalho pedagógico.
Em 1999, recebi um convite para trabalhar como professora auxiliar na
Escola Freinet de Natal/RN, o qual nessa primeira ocasião resolveu não aceitar,
visto que, não possuía experiência na área. Passado algum tempo, resolvi voltar
atrás da proposta de trabalho e a aceite. Percebi que trabalhar na escola Freinet foi
a grande oportunidade da minha vida profissional, trabalhar em uma instituição de
credibilidade no cenário educacional da cidade e aprender caminhos eficazes para
uma educação de qualidade.
Uma dívida enorme se formou dentro dessa breve história entre ―eu
pedagoga‖ e a Escola Freinet, uma vez que, profissionalmente, tive esta como
formadora de boa parte da minha bagagem conceitual e prática na educação.
Assumindo tal dívida, surge a oportunidade de contribuir com a história desta
instituição, com a minha aprovação no processo seletivo do Mestrado da UFRN.
Para conseguir esta aprovação, apostei no que a meu ver tem de mais relevante na
Pedagogia Freinet, a liberdade produtiva dos educandos. Produção alavancada
através dos princípios propostos pelo educador francês Celéstin Freinet (1896-
9
1966), que são elas: Tateamento Experimental, Cooperação, Educação
pelo Trabalho e a Livre Expressão.
Pesquisar algo que pessoalmente para mim parecia tão próximo, não
teve início com o mestrado, já na graduação trouxe como tema do meu trabalho
monográfico, Freinet e sua pedagogia. Agora, já no mestrado, me senti desafiada a
direcionar meus estudos por sobre a Pedagogia Freinet, através da Livre Expressão
e suas implicações na aprendizagem dos alunos. Acredito que esta pesquisa será
relevante para os educadores que se interessam por essa proposta pedagógica e
que por consequência não estão satisfeitos com a pedagogia tradicional de ensino.
Ouvir os alunos saber seus desejos, suas motivações e fazer disso seu
material de trabalho, uma vez que a Livre Expressão está diretamente ligada à
exposição de uma reflexão que já ocorreu internamente, um ciclo de pensamento e
linguagem que é estabelecido de maneira funcional no momento em que se
promove o espaço necessário ao discurso que levará a uma prática reflexiva. E
ensinar nessa perspectiva, exige do educador a perspicácia de um especialista, que
assume uma postura diferenciada das práticas tradicionais de ensino.
Diante disso e das discussões, geradas entorno do tema: O Livro da Vida
como agente facilitador da aprendizagem: A contribuição da Livre Expressão,
assumo a pretensa de abordar o princípio da Livre Expressão, presente na
Pedagogia Freinet, como conceito relevante das investigações dessa dissertação,
por consistir em uma teoria de conhecimento que se traduz no chão da sala de aula,
uma práticas de comunicação, na qual os educandos devem ser estimulados através
de técnicas desta pedagogia, a comunicar seus trabalhos, sua experiências, suas
pesquisas, e ainda, os problemas decorrentes de suas convivências. Tendo em
vista, as reflexões acima, passei a refletir na seguinte questão: como as práticas de
ensino, tendo como mediador, a livre expressão contribui no processo de
aprendizagem dos educandos?.
Esta é a questão de pesquisa que me levou a elaborar o seguinte objetivo
geral que é o de evidenciar a influencia da Livre Expressão na aprendizagem dos
educandos. Sendo objetivo específico a analisar o Livro da vida como alternativa de
trabalho resultante da Livre Expressão. Para desenvolver um trabalho que
contemplasse essas premissas, escolhemos como campo de pesquisa a Escola
Freinet de Natal, uma cooperativa de professores localizada na Av. Hermes da
10
Fonseca, n 1500. Dentro da escola escolhemos uma turma de 4º ano do Ensino
Fundamental dos Anos Iniciais, no ano letivo de 2014.
Os alunos dessa turma estavam na faixa etária entre 9 e 10 anos. A escolha
da faixa etária se justifica por procurarmos um público que, em sua maioria, já
estudasse na escola há alguns anos. Neste caso, especificamente, quase todos os
educandos da turma são alunos da Escola Freinet desde a educação infantil e a
experiência com a produção do livro da vida já vem se estendendo ao longo dos
anos escolares anteriores, portanto traz para essa pesquisa argumentos e dados
excelentes para os resultados da investigação. Entendo que a produção do Livro da
Vida para esta turma não se constitui em algo novo, e sim, estes já acumulam
sucessos e insucessos na elaboração dos mesmos em anos anteriores.
Seria uma tarefa improdutiva investigar sobre um tema, que em certo ponto é
complexo, sem escolher uma abordagem teórica que pudesse dar vazão as
permanências e transformações próprias da pesquisa que envolve pessoas (alunos),
sujeitos sócio-históricos, isto é, sujeitos que se constituem ao longo da sua história
de vida tendo como viés de sua transformação os contextos históricos e da
sociedade a que participaram. Por esse ponto de vista, a perspectiva teórica
escolhida para esta investigação foi à abordagem sócio-histórica, uma vez que esta
abordagem nos orienta a ver o sujeito em seu contexto histórico e social, sendo
assim, fundamental para trazer à pesquisa as verdades contidas nas linhas e
entrelinhas dos sujeitos partícipes da pesquisa.
A perspectiva sócio-histórica, tendo o materialismo histórico-dialético como
pano de fundo, expressa em seus métodos e arcabouço conceitual as marcas de
sua filiação dialética. Analisando a produção de autores da abordagem sócio-
histórica, dos quais cito Vygotsky (1896-1934). Este pontua e se contrapõe a
separação feita pela Psicologia e ciências, no que toca aos embates entre modelos
das concepções empiristas e idealistas que privilegiam ora a mente e os aspectos
internos do indivíduo, ora o comportamento externo. Modelo que não permite a
compreensão do indivíduo em sua totalidade. Ao invés disso, a teoria sócio-histórica
se baseia na tentativa de superar tais reducionismos, pois promove uma articulação
dialética dos aspectos externos com os internos, considerando a relação do sujeito
com a sociedade à qual pertence na busca de encontrar métodos de estudar os
sujeitos como unidade de corpo e mente, ser biológico e ser social, membro da
11
espécie humana e participante do processo histórico, portanto os aspectos humanos
só podem ser estudados em sua plenitude, isto é, em sua totalidade. Imprimindo a
pesquisa características próprias da pesquisa qualitativa.
A tradução em texto, dos estudos realizados para composição deste trabalho,
e que trouxe materialidade a esta pesquisa, é um ato de responsabilidade, que
precisa cumprir seu papel de registro do encontro entre do pesquisador e a sua
pesquisa, e do pesquisador e seus pensamentos em um momento único, como
afirma, ainda Bakhtin 2003, ―Onde não há texto não há objeto de pesquisa e
pensamento‖ (p.307). E ainda, ―O texto é o dado (realidade) primário e o ponto de
partida de qualquer disciplina nas ciências humanas‖ (p.319). Neste sentido,
o pesquisador deve se colocar dentro de uma ética na qual é do, ―ato de pesquisar,
ao entender que o acontecimento da pesquisa abarca, simultaneamente, um
―pensamento sobre o mundo‖ e um ―pensamento no mundo‖, na medida em que
admitimos esses momentos diferenciados na produção do conhecimento‖. (SOUZA
E ALBUQUERQUE, 2003, p.9.)
Para a realização dessa pesquisa, como afirmado anteriormente, escolhi
como objeto de estudo os livros da vida produzidos no ano letivo de 2014, por uma
turma de 4º ano do Ensino Fundamental, da Escola Freinet de Natal/RN, a fim de
verificar como acontece a materialização da Livre Expressão dos e pelos alunos nos
momentos de suas produções escritas espontânea. Sendo assim, enquadrando os
objetivos numa metodologia descritivo-analítica, uma vez que farei descrições sobre
o percurso metodológico da produção do livro da vida, e, ao mesmo tempo, realizei
análises por sobre os impactos destes na aprendizagem dos educandos levando em
conta o desenvolvimento das capacidades da livre expressão.
Para tanto, esta pesquisa, a princípio, é de cunho bibliográfico por se utilizar
de textos como artigos, livros da área de estudos, revistas, e ainda documental por
se servir dos documentos da Escola Freinet de Natal, como fonte para realizar as
análises necessárias ao tema, como por exemplo, o Projeto Político Pedagógico, os
Dossiês Avaliativos e o próprio Livro da Vida, objeto de estudo.
Apresentando suscintamente este trabalho: este será composto, para além
desta introdução e das considerações finais, em três capítulos, organizados da
seguinte forma:
12
No primeiro capítulo desta dissertação, foram elencados os principais
conceitos abordados na investigação, conceitos como aprendizagem, Princípios da
Pedagogia Freinet entre outros. Com este busquei esclarecer aos leitores, a luz dos
arcabouços teóricos construídos, as intencionalidades das minhas escolhas e dos
fundamentos teóricos e metodológicos que regem e sustenta a produção do
conhecimento aqui pretendido.
No segundo capítulo, discorri sobre o campo de pesquisa, ou seja, a
Escola Freinet de Natal/RN, sua estrutura, funcionamento e possibilidades. A
Pedagogia Freinet, tem particularidades que demandam espaços escolares,
totalmente diferentes das que costumeiramente encontramos nas escolas
tradicionais. O mobiliário, os espaços livres são decisivos para fazer da rotina de em
uma escola com uma pedagogia tão específica como esta. .
No terceiro capítulo, fiz uma abordagem histórica a respeito do Livro da Vida e
os contextos de sua produção, desde as primeiras experiências do Educador Freinet
e sua inserção na prática educativa escolar, enfatizando a realização dessas
experiências pelos alunos da Escola Freinet Natal/RN. Para ajudar a responder as
questões suscitadas neste trabalho, dividi os dados construídos na investigação, em
categorias de análise que dizem respeito aos princípios da Pedagogia Freinet e sua
relação com os achados documentais. E são elas:
1. O Conteúdo de Caráter Procedimental;
2. O Conteúdo de Caráter Atitudinal;
3. Conteúdo de Caráter Conceitual do Livro da Vida.
Desde o inicio desta pesquisa que busco evidenciar as possibilidades de
aprendizagem contidas na produção do livro da vida, mesmo sabendo da descrença
de alguns quanto à eficácia de um trabalho como este, submetendo os livros
produzidos por este grupo de alunos, pude constatar a presença dos conteúdos das
mais diversas tipologias, então nada mais apurado que utilizá-las como categorias
para demonstração dos resultados.
A partir das categorias citadas, busquei analisar os dados a fim de responder
a questão e seus objetivos. E assim, compreender a produção do livro da vida e
suas implicações nas aprendizagens dos educandos no que diz respeito ao tema do
desenvolvimento de sua livre expressão.
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1 – PEDAGOGIA FREINET: CONTEXTO, PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE UMA
PEDAGIOGA MODERNA.
Ao iniciar este trabalho pretendo encontrar perguntas e respostas para muitos
pensamentos acerca da formação humana, elaborar hipóteses, confirmá-las,
descartá-las, tudo isso através da Pedagogia Freinet que é a principal abordagem do
trabalho, enfim, fazer o conhecimento circular e, consequentemente, se desenvolver.
Falar de uma experiência profissional, transformando-a em conhecimento científico,
com o apoio dos estudos investigativos aos quais me proponho, tem ligação direta
com o meu acreditar na transformação do homem pela educação escolar.
Sobre a Pedagogia Freinet, Boleiz (2012, p.54) recupera a trajetória de vida
do professor primário Célestin Freinet, discorrendo sobre as relações existentes
entre ele e a seu país de origem, quando aponta que ―A França é um país que se
constituiu como nação, apresentando como peculiaridade o Centralismo e a
constituição de uma organização territorial baseada nas pequenas propriedades
produtivas‖. Contudo, Boleiz fala ainda, que este mesmo Centralismo perdura até
hoje, e fez brotar em Freinet, um sentimento contrário a tal forma de governo, uma
vez que as
[...] bases políticas da República Francesa, instaurada definitivamente em 1879, eram formadas pelos comerciantes, artesãos, profissionais liberais, funcionários públicos, pequenos e médios proprietários rurais, além de pequenos e médios
empresários; constituintes da pequena e média burguesia. (BOLEIZ, 2012. p. 56).
Dentre os pequenos burgueses estava a família de Célestin Freinet, que
buscando assegurar o futuro de seu filho, antes dos quatro anos de idade levou- o
para a escola. Nas palavras de Brasilino, 2007 p.40, ―Freinet afirma que a escola lhe
deixou poucas lembranças comparativamente àquelas que ele viveu fora dela, ela
não o marcou nem bem nem mal‖. Estas lembranças ou a falta de lembranças
trouxe para Freinet muita inquietação, como um espaço que deveria ser marcante,
como é a escola por que não deixaram lembranças significativas em sua infância?
Há nisto algo de errado, ou seja, a escola não cumpre sua responsabilidade
deixando em seus alunos a impressão de perda de tempo?
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Voltando ao Centralismo, para justificar o comentário acima, percebemos que
neste período, em varias áreas da vida francesa, tudo de realmente significativo se
estabelecia na capital Paris. Boleiz (2012. p. 54) afirma que ―Não por acaso o
sistema educativo também é altamente centralizado, seguindo uma hierarquia rígida
e com determinações e diretrizes que se impõem a todo o país, até os mínimos
detalhes, a partir da capital‖.
Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) aguça seu pensamento acerca da
indústria, afirmando que não consegue ver nela nada mais do que a concentração e
a soma dos trabalhadores da tradicional divisão do trabalho das oficinas artesanais,
sem entender em profundidade as mudanças que aconteceram no trabalho e nas
relações de propriedade, exerceu forte influencia por sobre os sindicalistas
franceses. Como bem afirma Boleiz (2012. P.60):
O sindicalismo na França sofre forte influência de suas ideias, impregnando por longo período, por exemplo, as lutas do sindicato dos professores, inclusive durante a época de Freinet — com a aversão pelos partidos políticos, o espírito libertário e um profundo anticentralismo.
Neste sentido podemos afirmar que toda essa discussão pode nos dá pista do
quanto Célestin Freinet foi influenciada pela política de seu tempo. Sua trajetória em
escolas se deu no pós-guerra, em 1º de janeiro de 1920, quando foi nomeado
professor adjunto da escola de meninos em Bar-sur-Loup, vilarejo a 10 quilometro
ao nordeste de Grasse e a 36 de Nice. Freinet enfrentou muitos problemas neste
começo, inclusive por motivo do dano causado aos seus pulmões durante a guerra.
Freinet encontrou no vilarejo salas com estrados para os professores, mapas
empoeirados, carteiras organizadas em filas, quadro negro, ábacos velhos e 35
alunos com idade entre 5 e 8 anos. Esta situação encontrada por ele provocou a
necessidade de discutir com seus pares, o que o fez, primeiro através de revistas
como bem nos expõe Brasilino (2007, p. 44);
15
Freinet passou a tomar parte nos debates abertos, através da revista I École Émancipée. Ele ataca a concepção oficial de uma escola autônoma, estranha ao mundo que a cerca, e defende uma nova pedagogia que saberá reu8n ir ambas. Os seus artigos testemunham apenas uma visão teórica das ideias propostas, uma vez que não se conta com uma prática ampla e profunda. Más ele se apoia cada vez maisnos trabalhos de pedagogos pesquisadores que são, não só curiosos, mas ativos, notadamente pedagogos alemães, nesse primeiro quarto do século.
Indo à Altona, perto de Hamburgo (Alemanha), no ano de 1923, Freinet faz
contato com a pedagogia Libertária, e ainda vai para Montreux (Suíça), no
congresso da Liga Internacional para Educação Nova, aonde recebe clara influência
dos pedagogos da época: Ferrière, Claparède, Coué, Bovet, estes que apostam no
papel ativo da criança em sua formação.
Freinet explica e defende uma Escola Moderna que, segundo ele, não é uma
religião, muito menos um dogma, onde os iniciados se veem obrigados a reproduzir
o que se lhes transmite na iniciação. Para ele a Escola Moderna é ―uma via que nos
conduzirá àquilo que, todos juntos, construirmos‖ (FREINET, 1975, p. 45).
Seguro de que era importante mudar a escola e suas técnicas de trabalho, ele
se utiliza da profissão docente como meio de transformação do ambiente escolar,
ele modifica as condições de vida dos estudantes dentro e fora da escola, bem como
sua visão acerca da escola como principal instituição de ensino, isso vira do avesso
o clima nas escolas com a aplicação de suas técnicas.
Em 1925 participa de um encontro em Moscou, junto a um grupo de
professores convidados pelo governo no período pós-revolucionário soviético, este
foi um momento de muitas experiências novas na educação, marcado por diferentes
experimentos de reforma. Como grande influenciador da Escola Moderna:
A escola russa dos primeiros anos pós-revolução apresenta, então, varias características das correntes marxista, libertária e escolanovista (esta impregnada do pensamento de Rousseau), como a importância dada ao trabalho e à estreita relação entre produção e escola — em consonância com o pensamento de Marx — e o incentivo ao livre desenvolvimento dos educandos — em conformidade com o ideário libertário. O conselho escolar era eleito livremente e, apoiado nos princípios da Carta da Escola Única do Trabalho, considerado soberano de modo que não podia sofrer interferências exteriores de ordem nenhuma. Com relação à influência escolanovista, a contribuição de Froebel, Montessori, Ferrière, Kerschensteiner, Dewey, Decroly ocorre, principalmente, no
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que diz respeito aos métodos e técnicas. (Cf. OLIVEIRA, 1997, p. 128).
Numa aula da Escola Moderna, a aula é iniciada com uma conversa informal,
mas bem arquitetada pelo professor, como modo de introduzir uma espécie de
tomada de consciência individual e sócia dos acontecimentos que vem a ser
relatada pelos alunos desta. Cada criança recebe uma folha de papel em que terá a
oportunidade de trabalhar seu desenho livre, de acordo com seu ritmo, ao mesmo
tempo em que dois ou três colegas leem para a turma, conforme já estabelecido
desde o dia anterior, como exercício de leitura em voz alta e desenvolvimento
cultural para o restante da sala.
Freinet, Impactado e influenciado por vários educadores da Escola Nova, na
qual se inspirou para criar várias ideias e técnicas à Escola Moderna, o encontro
com a escola russa, especialmente a Escola do Trabalho de Moisey Mikhaylovich
Pistrak, foi fundamental para alavancar nele um esforço para permanecer no
movimento de superação e reelaboração de ideias. Anne-Marie Milon Oliveira
aborda a importância da viagem de Freinet e seu contato com a escola de Pistrak,
destacando que esta foi talvez o mais decisivo aporte à sua obra. (OLIVEIRA, 1995,
p. 127)
Nesta interface, Freinet foi bastante influenciado por Ferrière, que coloca a
criança como centro do processo educativo, uma forma de estimular o autogoverno
da criança por sobre o seu processo educativo, e que o professor nesse contexto
seria um orientador deste. Já John Dewey (1859-1952) outro influenciador do
pensamento Freinetiano, discorda de tal proposição como bem explica Keenneth
Teitelbaun e Michel W. (Apple p.199).
A contenda com alguns educadores defensores da educação centrada na criança ilustra em parte, a velha antipatia de Dewey perante os pensamentos dicotómicos e princípios absolutistas. Dewey ataca dualismos comuns tais como teoria e prática, indivíduo e grupo, público e privado, métodos e matérias escolares, mente e comportamento, meios e fins e cultura e vocação. A sua intenção não era valorizar um ou outro externo, mas, pelo contrario, por exemplo, no caso de se começar uma planificação curricular com a criança ou a matéria escolar, reconstruir o debate de tal modo que as partes não sejam interpretadas como opostos. Desta forma, não era propriamente uma questão de escolha entre validar os interesses da criança ou das matérias escolares na construção do currículo, mas
17
uma questão de compreensão e desenvolvimento do continuo das experiências que as associam entre si.
Mas nem só de diferenças viveu a relação entre Dewey e Freinet, uma vez
que os dois apostam em uma pedagogia que leve em consideração as experiências
da vida dos alunos, como material indispensável para elencar novos saberes, utilizar
tais saberes acumulados pelos educandos em outros espaços e outros tempos, é
considerados por eles indispensável.
Voltando a escola de Pistrak (1888-1940) e sua busca pela formação do Novo
Homem através dos ―Complexos‖, que se sustenta em sua compreensão de
preparar o sujeito para a realidade atual, isso inspirado em Decroly (1871-1932)
mesmo com alguma ressalva por motivo da escolha dos temas pelo grau de
importância deste para a sociedade e não somente por motivos pedagógicos. Daí
nasce às ideias das oficinas que seria uma simulação para o mundo do trabalho,
seguindo o modelo escolanovista americanos de autogoverno.
Como bem afirma Boleiz (2012, p. 83), tal experiência com a escola Russa foi
de fundamental importância para Freinet e sua pedagogia:
Nos artigos que escreveu para a revista L‟école Emancipée, logo que retornou de viagem, manifestou uma visão entusiasmada da escola soviética, cheia de elogios para seus coordenadores. Mais do que nunca, Freinet critica a escola tradicional taxando-a como artificial e impositora de objetivos sem nexo capitalista e inculcadora de conhecimentos inúteis em seus alunos futuros proletários até os treze anos de idade para que, em seguida partam para o mercado de trabalho onde serão explorados na produção, aos estudantes, com a vida do trabalho. Argumenta que a escola tradicional é essencialmente capitalista e inculcadora de conhecimentos inúteis em seus alunos futuros proletários até os treze anos de idade para que, em seguida partam para o mercado de trabalho onde serão explorados na produção.
Ao longo desta história percebo que a educação tem sido usada como meio
para atender as necessidades de uma época ou de uma ideologia dominante. A
escola como representação concreta da educação, historicamente, representa a
personificação do poder dominante. Assim dizendo, o aparelho escolar ocupa um
lugar privilegiado quando pensamos nos aparelhos ideológicos do Estado, pois
contribui no processo de reprodução da divisão social do trabalho, levando os
18
indivíduos a aceitarem sua condição de passividade. Sobre isso, afirma (FREITAG,
1980, p. 33)
[...] a escola preenche a função básica de reprodução das relações materiais e sociais de produção. Ela assegura que se reproduza a força de trabalho, transmitindo as qualificações e o savoir faire necessários para o mundo do trabalho: e faz com que ao mesmo tempo os indivíduos se sujeitem à estrutura de classes. Para isso lhes inculca, simultaneamente, as formas de justificação, legitimação e disfarce das diferenças e do conflito de classes. Atua, assim, também ao nível e através da ideologia. (FREITAG, 1980, p. 33)
Para Bourdieu, o sistema educacional preenche duas funções importantes
para a sociedade capitalista: a reprodução da cultura e a reprodução da estrutura de
classes (BOURDIEU, 1992, p. 66). Nesta concepção a escola favorece a formação
social capitalista quando pretende sujeitar os indivíduos à ideologia dominante,
garantir a reprodução da força de trabalho por meio da reprodução de habilidades,
além de garantir a reprodução da submissão às regras da ordem estabelecida
dentro desse regime de exploração e repressão proletária.
Ora, o que se aprende na Escola? Vai-se mais ou menos longe nos estudos, mas de qualquer maneira, aprende-se a ler, a escrever, a contar, portanto algumas técnicas, e ainda muito mais coisas, inclusive elementos (que podem ser rudimentares ou pelo contrário aprofundados) de ‗cultura científica‘ ou ‗literária‘ directamente utilizáveis nos diferentes lugares da produção (uma instrução para os operários, outra para os técnicos, uma terceira para os engenheiros, uma outra para os quadros superiores, etc.). Aprende-se portanto ‗saberes práticos‘ (des ‗savoirs - faire‘). Mas, por outro lado, e ao mesmo tempo em que ensina estas técnicas e estes conhecimentos, a Escola ensina também as ‗regras‘ dos bons costumes, isto é, o comportamento que todo o agente da divisão do trabalho deve observar, segundo o lugar que está destinado a ocupar: regras da moral, da consciência cívica e profissional, o que significa exactamente regras de respeito pela divisão social técnica do trabalho, pelas regras da ordem estabelecida pela dominação de classe. Ensina também a ‗bem falar‘, a ‗redigir bem‘, o que significa exactamente (para os futuros capitalistas e para os seus servidores) a ‗mandar bem‘, isto é, (solução ideal) a ‗falar bem‘ aos operários, etc. (ALTHUSSER, 1970, p. 21)
No período das grandes navegações europeias ocorridas entre os séculos
XV e XVII, os europeus que se consideravam povos cultos e civilizados impuseram
19
sua cultura, conhecimentos, saberes e valores ocidentais aos povos do ―novo
mundo‖, considerados incultos e selvagens. Estes, portanto, precisariam sair de um
estado de ―rudez‖ de modo a se transformarem em sujeitos para agir conforme os
moldes e regras da nação colonizadora e aprender a servi-la da melhor forma
possível.
De igual modo no Brasil, no período de sua colonização, os europeus retiram
os direitos das populações indígenas e os expropriaram de suas terras, os
escravizaram, e impuseram seus costumes, negando-lhes o direito de partilhar ou
mesmo de exercer o arsenal de saberes de sua tradição, visto que estes eram
desconsiderados ao projeto de erudição dos colonizadores. Também, assim ocorreu
no período da escravatura, quando negros africanos foram trazidos como escravos
ao país e forçados a desnudar de seus valores, tradições e modos de vida para
inculcar os saberes que os colonizadores valoravam para a produção de saberes, da
riqueza de seus senhores e da nação.
Conforme Mignolo (2008) é histórico a negação dos valores e
conhecimentos e saberes das populações menos favorecidas sócio e
economicamente no Brasil e em outras partes do mundo, a exemplo disso, aponto a
negação dos valores indígenas e africanos na história do país, o que resultou numa
construção epistemológica de conhecimento que até os dias atuais marginaliza,
desconsideram outros saberes que não provém de uma episteme colonial ou
quando consideram os hierarquizam ainda como sendo inferiores e não tão
relevantes.
Contrariando tais concepções, Freinet pensou uma pedagogia que somava
ao ideário dos escolanovistas, uma visão marxista e popular, tanto da organização
da rede de ensino como do aprendizado em si. Entendemos em Sampaio (1994) que
Freinet sempre acreditou que é preciso transformar a escola por dentro, afirmando
ser lá onde se manifestam as contradições sociais tão alarmantes na sociedade
como um todo.
Mesmo mergulhado neste contexto histórico ele em nenhum momento olhou
para os seus alunos com descredito, não atribuiu a eles qualquer diferença que
pudesse ser encaradas como dúvidas quanto ao seu potencial. Célestín Freinet
demonstrou sua preocupação com as crianças, uma vez que o mesmo em suas
invariantes afirma que a criança e o adulto tem a mesma natureza, ou seja, ―a
20
criança é um ser afetivo, um ser inteligente e um ser social como o adulto‖
(FREINET, 1978 p. 13).
A criança assume nesta pedagogia a função central do processo educativo,
é definida como um ser que pensa, sente, age, busca, cria, ou seja, que interage
com a sociedade, através da expressão genuína da vida, a Expressão Livre.
Podemos iniciar nossa análise trazendo para o texto as chamadas
Invariantes Pedagógicas de Célestin Freinet, para ser mais exatas, são trinta
orientações que visam auxiliar o educador que se propõe a trabalhar com os
conceitos de uma Pedagogia Moderna, servindo como pontos de auto avaliação
para não deixar que o fazer do dia-a-dia o leve a uma prática repetitiva e sem
reflexão. Ao mesmo tempo, as invariantes pedagógicas traz um panorama geral dos
princípios da Pedagogia proposta por Freinet e a dialogicidade presente nela.
INVARIANTE Nº 1 – A criança tem a mesma natureza do adulto. Imbernòn (2012, p.
53):Logo na primeira invariante, percebemos claramente em que lugar Freinet
coloca a criança, como centro do processo educativo, ela passa se um sujeito do
direito que precisa ser considerada em suas particularidades. Ainda neste sentido, a
o reconhecimento de que a diferença entra a criança não esta em sua essência
constitucional e sim no grau, reconhecer isso significa dizer da necessidade de uma
mudança de atitude perante elas como afirma (Imbernòn, 2012 p. 54):
Com esta invariante, Freinet estabelece que a diferença entre adulto e criança é de grau, não de natureza. Trata-se de uma afirmação poderosa que supõe uma nova visão da infância. O fato de compartilhar a mesma natureza leva a ver a criança, assim como o adulto, como sujeito de direitos. Esta nova abordagem provoca uma mudança de atitude: o adulto começa a se colocar no lugar da criança, de modo empático, antes de julgá-la ou de sancioná-la.
Diante desta forma de ver a criança, esta passa a ser sujeito de sua voz, voz
essa que deve ser considerada no diálogo, suas reflexões devem ser consideradas,
passa do papel passivo para o ativo, se faz sujeito a partir das contribuições de
outros sujeitos que escutaram sua fala e agora a retrucam com suas experiências e
com suas impressões do mundo.
21
As técnicas da Pedagogia Freinet trazem sempre em sua constituição a
possibilidade de verbalização e reflexão, uma vez que se proporciona ao educando
a possibilidade de pronuncia do mundo, com o relato e o contato com a vida destes.
Reforçando o pensamento apontado pela primeira invariante, Freinet
apresenta na seguinte a afirmativa que contraria a superioridade dos adultos
imposta pela Escolástica, aonde a escola fez prevalecer por muito tempo através de
sua mobília: estrado, mesas maiores para o professor, lugar central para o mesmo
dentre outras coisa. A segunda invariante afirma: INVARIANTE Nº 2 – Ser maior não
significa necessariamente estar acima dos demais. (Imbernòn, 2012, p. 55):
Ainda podemos perceber tal posição do educador francês por sobre as
relações de superioridade, em suas invariantes quatro, cinco, seis, sete e oito:
INVARIANTE Nº 4 – Ninguém gosta de receber ordens autoritárias; a criança não é diferente do adulto nisso. Imbernòn (2012, pág. 61). INVARIANTE Nº 5 – Ninguém gosta de se alienar, porque isso significa obedecer passivamente a uma ordem externa. Imbernòn (2012, pág. 63). INVARIANTE Nº 6 – Ninguém gosta de ser obrigado a fazer determinado trabalho, mesmo quando este trabalho em si não desagrade particularmente. É a compulsão o que paralisa. Imbernòn (2012, pág. 64). INVARIANTE Nº 7 – Todos gostam de escolher seu próprio trabalho, mesmo que a escolha seja a melhor. Imbernòn (2012, pág. 66). INVARIANTE Nº 8 – Nínguem gosta de trabalhar sem um objetivo, de agir como um robô; ou seja, de atuar e estar preso a pensamentos inscritos em rotinas nas quais não participa. Imbernòn (2012, pág. 67).
Para a Pedagogia Moderna de Célestin Freinet o trabalho deve ser resultado
de uma necessidade, ou tão somente de um desejo, e como tal deve ser
manifestado pelo indivíduo, ou deve ser provocado pelas estratégias de ensino
eleitas pelo professor, e nunca impostas. Assim como afirma as invariantes acima
citando: Ordens autoritárias; alienação; obrigatoriedade; escolha do trabalho e
trabalho sem objetivo.
22
A Livre Expressão, princípio fundamental na Pedagogia Freinet, aposta todas
as suas fichas na comunicação tão desejada por todas as crianças, falar, discutir
sobre a vida se constitui uma necessidade que deve ser respeitada pela escola. O
sujeito dialógico comunica discute, ouve, e se expressa livremente, não permite que
outros falem por ele, e sim com ele. [...] ao expressar-se, ao emitir e ouvir opiniões
diferentes ao observar as mais variadas reações e posições, ao criticar e ser
criticado, ao elogiar e ser elogiado, o aluno poderá, pouco a pouco, sem que nada
lhe seja imposto, reformular seu pensamento, sua maneira de ver o mundo [...]
(SANTOS, 1993, p. 49).
O mundo de nosso tempo tem sofrido com marcas temporais rápidas e
desordenadas, em contrapartida, a escola tem mantido uma preocupação excessiva
com apenas uma vertente do ensino, os conteúdos programáticos, acreditando que
através deles, serão atingidos todos os objetivos de seu papel institucional, fruto do
pensamento da escola tradicional.
Em seu tempo Freinet entendia por tradicional, uma escola que tem por
objetivo principal de seu fazer, o conhecimento científico e que para tanto lança mão
de uma atuação do professor de forma excessivamente expositiva, explicativa, onde
os alunos ocupam o papel de receptores do saber. Podemos observar através de
um trecho do livro Pedagogia do Bom Senso (1996b, pág. 31), como o educador
francês traduz este tipo de escola, ou como ele explica uma escola onde o trabalho
acontece migalhas:
Só há migalhas na nossa vida de educadores. Nem sequer conseguimos reuni-las, o que, aliás, seria inútil, pois migalhas de pão espremidas e enroladas nunca dão mais do que bolinhas, boas apenas para servir de projéteis no refeitório. Migalhas de leitura, caídas de uma obra que ignoramos e que têm gosto de pão que ficou ressecado nas gavetas e nos sacos. Migalhas de histórias, umas bolorentas, outras mal cozidas e cuja amálgama é um problema insolúvel. Migalhas de matemática e migalhas de ciências, como peças de máquinas, sinais e números que uma explosão tivesse dispersado e que nos esforçamos por montar, como um quebra-cabeça. Migalhas de moral, como gavetas que mudam de lugar, no complexo de uma vida de infinitas combinações. Migalhas de arte... Migalhas de aula, migalhas de horas de trabalho, migalhas de pátio de recreio... Migalhas de homens! Perigos de uma Escola que alinha, compara, agrupa e reagrupa, ausculta e avalia essas migalhas.
23
Reconhecemos a escola, que hoje intitulamos como tradicional, já não
corresponde à descrição feita por Freinet uma vez que a escola é produto do meio
social, e nesse sentido mudanças significativa foram implementadas, mas, apesar
de saber que alguns preceitos apontados ainda não foram superados como o
excesso de explicações pelo professor, e uma preocupação também exagerada
quanto ao currículo oficial.
Celéstin Freinet (1896-1966), fala da escola tradicional como sendo uma
escola que mede todos os alunos por uma única régua, onde a partir desta o aluno
será incluso em determinado grupo. Lugar de ficar atendo, imóvel e receber
instruções ―conteúdo programático‖ de um ser superior ―o professor‖.
Este tipo de escola, apontada por Freinet, não atende mais as transformações
sociais, históricas, culturais e, principalmente, ao desenvolvimento das tecnológicas
das últimas décadas. A produção do conhecimento tem sofrido uma aceleração na
sua formulação e divulgação, com isso, mudanças significativas ocorreram por sobre
o sujeito que é atendido nas instituições escolares, nas quais durante séculos têm
acreditado que estava no conteúdo a ser passado, sua verdadeira função.
Já em meados século XIX, Célestin Freinet, educador que dedicou sua vida
na busca constante por uma aproximação da escola com a vida, não encontrava no
espaço físico de sua sala de aula um sentido para realização de suas atividades, via
claramente no rosto de seus alunos a apatia da mesmice proposta pela 1Escolástica,
paredes e carteiras frias e enfileiradas que colocava cada um dentro de um patamar
de igualdade que o incomodava, uma igualdade que não abria espaço para observar
o que a vida deu a cada um em sua individualidade.
Freinet, um pensador situado em seu tempo histórico, com ideias inovadoras,
já demonstrava séria preocupação com o ensino tradicional, ele consegue ter uma
visão que iguala a natureza do homem à natureza da criança, exposta em uma de
suas invariantes pedagógicas, rompendo com o pensamento tradicional, que coloca
o professor como portador do saber e a criança como um adulto em potencial.
1 O raciocínio escolástico é uma forma de poder político, científico e retórico, que parte da demonstração lógica,
racional, estabelece verdades, ou uma verdade que conduz e coage as opiniões dissidentes, o pensamento
histórico e complexo.
Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 90, p. 17-39, Jan./Abr. 2005 25 Disponível em http: //www.cedes.unicamp.br.
24
Romper com a escolástica para Freinet é, principalmente, propor outra concepção
de trabalho: a do trabalho real - vivo. Freinet nos faz parar para refletir sobre o real
significado de uma pedagogia tradicional, autoritária, longe da vida e fora do
contexto de vivência das crianças. O autor critica a postura do docente que, sem se
preocupar com as ―entrelinhas‖ de uma educação imposta, trabalha com conteúdos
compartimentados, em que o mestre manda e os alunos simplesmente obedecem.
Ele concorda com os conceitos de ordem, disciplina, autoridade e dignidade dentro
do ambiente escolar, desde que resultem de uma organização do trabalho, em que o
respeito seja fruto do cooperativismo, e que o professor seja capaz de partir do
mesmo patamar de seus alunos, construindo juntos descobertas, conhecimentos e
dignidade.
O autor faz uma comparação nítida da escola tradicional com um hospital:
O silêncio e a frieza do hospital habitam estes espaços, sem nenhum tipo de relação ou contato com o meio de vida natural, ou familiar, asseio, ordem e tecnicismo. [...] O escolástismo será a blasfêmia pedagógica que aclimataremos nos meios educacionais, onde já introduzimos tanto outros neologismos. (FREINET, 1996, p. 93).
Neste sentido é que, a partir do final do século XIX, na busca pela superação
da concepção tradicional de ensino, e representante do pensamento acima,
surgiram iniciativas visando à implantação de novas formas de ensino, dando vasão
ao surgimento de uma Escola Nova com uma proposta de inovação, na qual o aluno
transcende a margem do processo educativo para o centro deste, atribuindo ao
professor à função de facilitador da aprendizagem, priorizando o desenvolvimento
psicológico e a autorrealização do educando, agora agente ativo, criativo e
participativo no processo de ensino-aprendizagem. Neste contexto,
Os conteúdos programáticos ganham significação, são expostos através de atividades variadas como trabalhos em grupo, pesquisas, jogos, experiências, entre outros. [...] os alunos são levados a aprender observando, pesquisando, perguntando, trabalhando, construindo, pensando e resolvendo situações problemáticas apresentadas, quer em relação a um ambiente de coisas, de objetos e ações práticas, quer em situações de sentido social e moral, reais ou simbólicos (Lourenço Filho, 1978, p. 151).
25
A Escola Ativa, como passou a ser chamada nesta fase, passa a exigir uma
aprendizagem do aluno em movimento de busca do conhecimento, resultando de
impulsos emotivos naturais em que aspectos biológicos são respeitados. E as
atividades devem ser organizadas de acordo com as etapas do desenvolvimento de
cada criança. ―A escola passa a preocupar-se em entender como o aluno aprende‖
(LOURENÇO FILHO, 1978, p. 19).
Esta forma de educação é associada ao desenvolvimento da industrialização,
à urbanização e ao entendimento de que havia se formado novas necessidades
sociais, o que provoca a escola a desenvolver um novo olhar sobre a educação,
onde o absolutismo dos conteúdos deverá sofrer rupturas, ou, minimamente, um
deslocamento do que hoje está estabelecido, uma vez que se acredita serem os
conteúdos conceituais ―o porto seguro‖ da aprendizagem, subjugando outros
saberes tão necessários quanto estes, gerando certa confusão quanto ao seu papel
na formação de educandos.
O contexto contemporâneo traz à cena das escolas esta problemática que
irradia outras possibilidades e perspectivas de compreender o universo escolar, com
olhos plurais e multifacetados por sobre a realidade, levando a perceber a
complexidade que nos acomete através da prática educativa. Através da voz dos
discentes são mostrados espaços de vivência e práticas que destronam hierarquias
e visões de mundo compartimentadas.
O ensino de maneira geral teve seu significado em transformação ao longo
dos tempos, é inegável que isso aconteceu em função das exigências vigentes em
dado tempo histórico. Com a chegada da ―Era Globalizada‖, conceito dado por
Giddens (2000), referindo-se a intensificação das relações sociais em escala
mundial e as conexões entre as diferentes regiões do globo, através das quais os
acontecimentos locais sofrem a influência dos acontecimentos que ocorrem a muitas
milhas de distância e vice-versa, faz-se necessário a busca de uma nova reflexão do
processo educativo, de modo que o corpo discente das instituições de ensino passe
de um grupo de expectadores à agentes, e ainda consigam transportar as vivências
das quais serão oportunizadas pela escola para outros espaços sociais.
As implicações decorrentes desta realidade globalizada exige um padrão
educacional que esteja voltado para o desenvolvimento de um conjunto de
competências e de habilidades essenciais, a fim de que os alunos possam
26
fundamentalmente compreender, refletir e atuar de forma inteligente sobre a
realidade, com isso não queremos afirmar que estas necessidade são novas,
apenas que elas ressurgem com força, devido ao contexto atual em que estamos
vivendo.
Em minha experiência como profissional da educação, me deparo com
situações que demandam respostas que nem sempre consigo encontrar, devido à
automatização do dia a dia, que acaba por nos conferir certa condição de escravos
do tempo presente e do fazer. A falta de tempo e à execução automática pode nos
levar a uma prática sem reflexão, o que se configura, em qualquer situação, num
erro. É possível afirmar que esta não reflexão tem provocado o que estamos
chamando de ―Crise na Educação‖, ou ainda, a ―Crise da escola‖, o que chega a ser
um paradoxo, pois em pleno século XXI, estamos comemorando o triunfo da
escolarização, o que está diretamente ligado à promessa do Século das Luzes
―Escola, razão e progresso‖. Outro adendo, é que cada vez mais as pessoas se
escolarizam, mas se confrontam com problemas de ordem moral, social e ambiental.
Durante séculos o ensino se concretizou com a continuidade da experiência e da
vida cotidiana, e a escola como conhecemos hoje trouxe consigo a ruptura com o
que esta fora dela, gerando a falta de significado do que é trabalhado lá.
Estou falando da escola que é organizada por disciplinas, hora aula,
professores especialistas, que são responsáveis por transferir informações que com
―um clik‖ o educando conseguirá sem sair de casa. Rui Canário (2006, p.15) cita
Cubberley, em uma obra de 1916 (citado por Sirotnik 1994), assim descreve os
estabelecimentos de ensino:
As nossas escolas são, em um certo sentido, empresas em que as matérias primas, isto é, as crianças tem de ser modeladas e transformadas em produtos. As especificações para a manufatura provêm das exigências da civilização do século XX e é tarefa da escola construir os seus alunos de acordo com as especificações apresentadas. Isto exige boas ferramentas, maquinário especializado, medidas continuas de produção para ver se o produto está de acordo com as especificações, eliminar gastos na manufatura e uma grande diversidade.
As mudanças apresentadas pelo mundo contemporâneo nos convidam a
entender que a educação é um mecanismo de manifestação social, e deve ser
contemplado por olhares múltiplos, olhares estes que devem alcançar os mais
27
diversos setores da vida, social, econômica, cultural, onde a sociedade como um
todo traz o contorno do mundo que existe e o mundo desejado. Com isso, a escola
deve atuar de maneira filosófica, política e metodológica, buscando estabelecer uma
coerência com a afirmativa de Freinet ―sem a revolução da escola, a revolução
política e econômica será efêmera‖ (1998, p. 69).
Para a verdadeira revolução da escola acontecer, cada agente participante do
processo educativo deve cumprir seus papéis com o máximo de responsabilidade
possível, deixando de lado o olhar ingênuo, atribuindo sentido as suas posições no
trabalho educativo. A escola é um espaço político, e como tal está longe de ser um
ambiente portador de neutralidade, contudo, negando a relação da escola com a
política, aparecem algumas figuras detentoras do poder político e econômico,
apresentando em seus discursos da neutralidade, e afirmando que a escola por ser
um espaço coletivo, e por isso, deve partir deste princípio da neutralidade. Segundo
Vitor Paro (2002), estes que defendem a neutralidade do espaço escolar, justifica
sua posição com a afirmação: ―O saber da escola, por seu conteúdo universal,
estaria assim a serviço de todos, não devendo submeter-se a interesses de grupos
ou pessoas‖ (p.43)
Demonstrando que a escola não é um espaço neutro e sim produto de um
processo histórico, que deverá atender as necessidades e expectativas dos alunos e
professores na escola, precisamos fazer uma breve retomada do percurso da
educação no último século, a luz do texto de Rui Canário – A escola tem futuro – das
promessas às incertezas (2006) e ainda, apontar para re-encontro da escola com a
vida como uma possibilidade de atendimento destas necessidades.
O autor acima citado propõe em seu texto a análise da educação do século
XX sobre três eixos: (i) A hegemonia da forma escolar de educação; (ii) A
configuração organizacional dos estabelecimentos de ensino; (iii) e por fim, as
mutações sofridas pelas instituições de ensino que passou de um modelo de
certezas para um modelo de promessas ou incertezas.
As mutações sofridas pela instituição de ensino provocaram uma ruptura
prejudicial ao aprendizado, que foi o distanciamento entre o aprender e a
experiência cotidiana, negou-se com isso o que acontecia em séculos anteriores,
onde a realidade social era tida como ponto de ligação entre a experiência e a
28
aprendizagem, e com isso se configurou uma falta de sentido do que é feito pela
escola. (Rui Canário, 2006, p. 15) sobre tal separação afirma:
São elas: o menosprezo pela experiência não-escolar dos alunos, que tendem sempre a ser encarados como uma ―tabula rasa‖ (historia da do Zênite) e, por fim, a tendência da escola para ensinar soluções, ou seja, para dar respostas, subestimando a capacidade de natação), a frequente dificuldade ou incapacidade que os alunos têm em atribuir sentido ás tarefas escolares que lhes são impostas (história pesquisa e de descoberta, que exige competências para equacionar problemas e imaginar diferentes soluções (CANÁRIO, 2006, p. 15).
Considerando o que diz Rui Canário, podemos analisar as escolas deste
século como espaços alienantes, percebe-se forte presença do pensamento
escolástico, de reprodução do conhecimento, onde os educandos são considerados
meros aprendestes, incapazes de fazer relação entre os conhecimentos adquiridos e
utilizados em sua vida e o saber sistematizado. Duvidar da capacidade de busca que
é inerente aos seres humanos é desconsiderar sua constituição inata, e suprimir no
mesmo, sua capacidade de ascensão cognitiva, gerando, em certa medida, a falta
de significado das atividades impostas pela escola, não queremos com isso afirmar
que estes são os únicos problemas encontrados no interior das escolas, mas
certamente estes apontamentos acima serão repetidamente mencionados por
educandos e educadores.
Apontamos ainda outra questão, o formato apresentado pela organização da
escola, em turmas, por idade, por série e em salas de aula, é a forma estrutural que
traz em suas entrelinhas muito mais do que apenas uma organização física,
configura a distribuição do conhecimento em conta gotas, aonde o aluno só terá
acesso a determinado conhecimento quando permitido pela estrutura escolar
apresentada.
Já, em seu tempo, e em contrapartida a essa situação Freinet buscou
desenvolver princípios e técnicas que pudessem se distanciar dessa forma de fazer
e aprender na escola, como a principal preocupação dele era a formação do ser
humano e com isso suas capacidades individuais, Freinet (1998) não estabelece
uma forma exata de se trabalhar, porém nos trás alguns princípios essenciais para a
realização do encontro dos alunos com a vida, são eles: a cooperação, a livre
expressão, o tateamento experimental e educação pelo trabalho. Estes princípios
29
têm por objetivo trazer para o epicentro do processo educativo o ser aprendente,
que é o individuo da cooperação, que se expressa livremente, que tateia a fim de
encontrar e elaborar saberes, portanto agentes epistemológicos.
O detalhamento dos princípios da pedagogia Freinet, se faz necessário,
acreditando que estes se configuram em conceitos cruciais para o entendimento das
posteriores implicações destes com nosso objeto de estudo portanto procuraremos
elucidar suas proposições.
O Tateamento Experimental é o princípio que mais se aproxima da aquisição
de conhecimento propriamente dito, uma fez que este nos remete as tentativas dos
educandos em busca dos mesmos. O ato de experimentar faz parte da vida desde a
mais tenra idade até as mais elaboradas aquisições, pois é ele que possibilita o
contato do indivíduo com seu objeto de curiosidade. Assim afirma (Freinet,1998 p.
385):
Assim é a natureza da criança. Até parece que desconfia, com toda a razão, aliás, de nossas justificações e de nossas explicações verbais, do aspecto talvez enganador do que ela deseja. Precisa tocar, partir, amassar, pesar, medir, provar, sentir, misturar, cozinhar... precisa ex-pe-ri-men-tar.
No curso desta citação Freinet complementa suas afirmações sobre o
Tateamento Experimental evidenciando o quão natural essa relação entre a criança
e o experimentar. Este caminho até o saber não pressupõe uma linearidade de
acertos, como se pode esperar, pelo contrário, o processo natural de tatear,
considera os ―tropeços‖ utilizando-os como ponto de partida para outros
tateamentos.
A Educação pelo Trabalho, outro princípio norteador da Pedagogia Freinet,
consiste no devir da atividade produtiva do homem, é no trabalho que este deve
encontrar sua plenitude, sua satisfação. Segundo (Freinet, 1998, p. 310), este
princípio tem relação intrínseca com o prazer de fazer algo, que tem valor e
utilidade. Por se tratar de um processo interno, o princípio traz certa complexidade
em seu entendimento com anuncia (Celéstin Freinet,1998, p. 310):
O trabalho não é algo que se explique e se compreenda; é uma necessidade que se insere no corpo, uma função que tende a ser satisfeita, músculos que se movimentam, relações de íntima
30
concordância que se estabelecem, trajetos que se abrem e se fortalecem.
Apesar desta afirmação (Freinet, 1998, p. 309), faz sua explicação sobre o
trabalho:
Se sabemos com suficiente precisão o que a criança deseja, do que necessita para seguir suas linhas de vida, só nos resta encontrar a delicada conjunção entre a riqueza, infelizmente demasiado heterogênea, das gerações passadas e presentes, e a intrépida e instrutiva ousadia dos seres jovens partindo à conquista de seu devir. Este traço de união é o trabalho!
Fazer com que a criança produza, que conquiste através do trabalho o seu conhecimento é função primeira de uma educação pautada no trabalho, estabelecendo as suas relações produtivas com seus desejos.
Outro princípio, que será cabal para nosso trabalho, é a Expressão Livre
ganhando ares de arrebento das amarras que durante anos pairou por sobre as
instituições escolares, ela eleva o sujeito aprendente à condição de ser ativo, sujeito
que será considerado, e que em seu entorno se dará todos os processos
pedagógicos para a aquisição do conhecimento vivo, ou da vida, o que contrária
toda e qualquer possibilidade de reforçar o papel de vitimado, proposto pela cultura
dominante.
A exemplo do que estou falando, Freinet, (1998) relata o desejo de um
provável encontro com um jovem, que em sua obra representa as crianças
aprendentes. Este jovem, apesar de não saber ler nem escrever, mantem sua
curiosidade, seus sentidos primitivos e contemplativos da natureza intactos
[...] ficaria feliz que viesse para cá, nas férias, uma jovem que não soubesse ler nem escrever, que jamais tivesse ido ao cinema nem ouvido rádio, mas conservasse os olhos e o espírito intrepidamente curiosos, com a inteligência e o bom senso intactos e, sobretudo, soubesse sentir e viver a vida. Então, ela me ouviria, me faria perguntas; faria perguntas também à natureza, exercitando sua nova compreensão, desenvolvendo e aguçando seu sentido de beleza. Não seria um papagaio sem originalidade nem sabor; não seria uma dessas bonecas padronizadas de quem admiramos os penduricalhos e os cílios cuidados, e o toque de ruge nas bochechas, mas da qual temos de renunciar a tirar algo de humano e de sensibilidade inteligente (FREINET, 1998, p. 62).
31
Esta criança, capaz da contemplação do sentido da beleza, não se encaixaria
em uma escola que não o desafiasse em direção a vida, ela jamais realizaria seu
trabalho para aquisição de uma nota, e sim realizaria o trabalho criativo, que terá
como retribuição os comentários e as contribuições de seus pares, o que por sua
vez, geraria novos trabalhos através das expressões dos alunos que possuem [...]
cérebros bem estruturados e mãos experientes a cabeças cheias de conhecimentos
(FREINET, 1969, p. 27), neste sentido a Expressão Livre – nas suas mais diferentes
formas: verbal, gráfica, plástica, corporal, musical, escrita, - é sempre o ponto de
partida para a ação educativa. Ela é estimulada e acolhida como elemento propulsor
de todas as atividades.
A Livre Expressão, princípio fundamental na Pedagogia Freinet, aposta todas
as suas fichas na comunicação tão desejada por todas as crianças, falar, discutir
sobre a vida se constitui uma necessidade que deve ser respeitada pela escola. O
sujeito dialógico comunica discute, ouve, e se expressa livremente, não permite que
outros falem por ele, e sim com ele. [...] ao expressar-se, ao emitir e ouvir opiniões
diferentes ao observar as mais variadas reações e posições, ao criticar e ser
criticado, ao elogiar e ser elogiado, o aluno poderá, pouco a pouco, sem que nada
lhe seja imposto, reformular seu pensamento, sua maneira de ver o mundo [...]
(SANTOS, 1993, p. 49).
Para Freinet a escola deve ser ativa, dinâmica como é a vida, integrada à
família e a comunidade, deve ser um lugar de questionamento a tudo que queira
reforçar o poder, a dominação e a exploração dos sujeitos pela sociedade, afim de
que eles possam preservar sua identidade pessoal e coletiva. E decidir
coletivamente sobre a construção de um currículo democrático, conforme suas
expectativas de produção de conhecimento. Para ele, não há distanciamento entre a
escola e a política, o espaço escolar deveria ser também um espaço de formação
política, onde os indivíduos pudessem sentir com o sucesso escolar que enfrentar as
adversidades da vida é uma coisa corriqueira e inerente à própria. O aluno que tem
sua educação pautada nos Princípios da Pedagogia Freinet tem como objetivo o
sucesso, tão preconizado no cerne do trabalho pedagógico, como Freinet afirma ―só
o sucesso escolar reforça o dinamismo pessoal e é sobre ele que queremos nos
apoiar‖ (FREINET, 1979, p.74)
32
A metodologia defendida por Célestin Freinet, também nos trás importantes
pistas das convicções pedagógicas deste educador, nomeadas de Método Natural,
que trás em suas definições uma contraposição ao método tradicional de ensino.
Para nosso melhor entendimento a cerca deste método, Freinet (1989 p.46) em seu
livro Método Natural I - Aprendizagem da linguagem, nos leva a refletir sobre a
aquisição da linguagem de uma criança pequena, aonde a mesma emite um grito
casual e este grito vai adquirindo modulação com a experiência e se tornará mais
tarde uma linguagem usual. E ele explica:
a) O ser humano é, em todos os domínios animados por um princípio de vida que o empurra a subir incessantemente, a crescer, a aperfeiçoar-se, a pegar em instrumentos e mecanismos, a fim de adquirir um máximo de poder sobre o meio que o rodeia. Se esta necessidade não existisse, todas as nossas solicitações, todas as nossas invenções pedagógicas seriam basicamente inoperantes como o são nas tentativas, embora pacientes e metódicas, da educação dos macacos. b) O indivíduo experimenta uma espécie de necessidade, não só psicológica, mas funcional, de harmonizar os seus actos, os seus gestos, os seus gritos com os dos indivíduos que o cercam. Todo o desacordo, toda a desarmonia são sentidos como uma não integração, uma causa de sofrimento.
Como bem contempla a citação acima, Freinet atribui ao aprendente a
responsabilidade pela aquisição de sua aprendizagem, afirmando que ela é um
processo natural nos seres humanos. A escola, de modo gera, não caminha para o
mesmo sentido, ela se coloca no meio deste processo acreditando ser ela o elo
entre aprendizagem e indivíduo, porém vejamos o que o autor francês afirma sobre
a aprendizagem pelo método natural:
É o indivíduo que deve construir as bases sólidas de suas aprendizagens, recorrendo aos adultos e ao meio, como auxiliares que favorece sua ascese: existe, então, educação. Se, do exterior, se impõe ao indivíduo um quando de condicionamento que não serve a suas necessidades naturais, existe domesticação. O Método Natural, baseado na livre expressão da criança e na pesquisa experimental, favorece as aprendizagens no sentido de um trabalho genético, que responde a todas as exigências do homem.
33
A concepção de aprendizagem de Freinet se dá pelo método natural não se
dá apenas na linguagem, mas em toda aprendizagem que se configure através das
necessidades do educando, ou seja, tudo que ele quiser e sentir a necessidade de
aprender para viver melhor. Por esse motivo, Freinet não acreditava na formação
dos alunos para uma futura cidadania, as crianças atuam na vida hoje, enfrentam
todo dia ocasiões que exige delas a utilização de seus valores para tomar decisões,
e fazer escolhas, para nos ajudar a entender (Boleiz, 2012, p. 73) explica:
Assim, a escola não tem o caráter de preparar os educandos para virem-a-ser, mas, desde já e a todo o momento, de propiciar a vivência concreta e real de inserção social a todas as crianças. As especificidades do contexto histórico e social em que Freinet nasceu e viveu sua infância e adolescência obviamente contribuíram para sua visão de mundo e para sua compreensão do significado da educação.
Para o Método Natural de Freinet, o homem livre capaz de se usar a
Expressão, que nada mais é que a manifestação da liberdade. O ponto de partida de
uma boa aula deverá sempre a expressão do aluno, assim perguntas fundamentais
são: qual é a sede desse aluno? O que ele deseja aprender? Quais suas
inquietações?
Neste sentido vale chamar atenção para o trabalho da professora Maria Lucia
Santos (1993) que atua na área da linguagem, e faz referência a Livre Expressão
(Princípio da Pedagogia Freinet), como sendo a condição de dar a palavra ao aluno,
e proporcionar o ouvir, o discutir e o valorizar, para tornar a palavra em conceito
individual e ao mesmo tempo coletiva através do diálogo. Destaco ainda, a
importância de um espaço escolar que permita essas trocas de experiências, para
que o trabalho pedagógico propicie a participação ativa desses alunos, através da
compreensão destes como sendo sujeitos ativos de sua aprendizagem. Para isso, o
educador precisa antes de tudo conquistar seus alunos, estabelecendo um clima de
confiança e segurança em sala de aula e a motivação intrínseca deverá funcionar
como uma mola propulsora ao longo do processo educativo. Segundo PEREIRA
(1997),
34
[...] A prática da expressão livre segundo a experiência por tentativas, em Freinet, é considerada etapa indispensável no processo de relações entre criança e o meio, e entendida como trabalho resultante da reflexão e análise [...] instrumento de expressão dos seus pensamentos. (PEREIRA 1997, p. 82-85)
Relacionando a teorização da Pedagogia Freinet, trazemos para a discussão
Antoni Zabala, priorizando seu trabalho acerca da prática educativa, aonde ele
levanta um questionamento que por muito de assemelha como o nosso trabalho e
com as assertivas de Célestin Freinet, a função social da educação, a finalidade da
escola, sua razão de ser. Afirma que a escola de nosso tempo tem servido para
selecionar os alunos que darão continuidade aos estudos universitários, o que
provoca a sua fala.(Zabala, 2010, pág. 27) diz:
[...] tem justificado a maioria dos esforços educacionais e a valorização de determinadas aprendizagens acima de outras tem sido a potencialidade que lhes é atribuída para alcançar certos objetivos propedêuticos, que dizer, determinados por seu valor a longo prazo e quanto a uma capacidade profissional, subvalorando, deste modo, o valor formativo dos processos que os meninos e as meninas seguem ao longo da escolarização.
Toda prática educativa está submergida em um entendimento do que é a
educação, e é cercada de conceitos pré-determinados que deem suporte a ela, não
existe fazer sem finalidade, saber o que se quer com determinada forma de atuação
educativa é ponto crucial para definir as bases de pedagogia fundante.
Neste sentido, Zabala (2010) propõe que a formação dos meninos e meninas
se baseie em uma formação integral2, para que não seja atribuído menor valor a
determinado tipo de conhecimento em detrimento de outros, ou seja, nenhum
conhecimento isoladamente corresponderá à totalidade dos seres humanos que a
escola deve formar.
Para fins de avaliação, e no intuito de compreender a finalidade da educação
que os nossos alunos recebem, Zabala sugere que utilizemos o conteúdo como
2 Formação integral – segundo Zabala
35
resposta primária a questão – o que ensinamos? O autor ainda faz questão de
lembrar que quando ele se refere ao termo conteúdo devemos nos desprender do
conceito tradicional deste, aonde ele é compreendido como ―conhecimentos ou das
matérias ou disciplinas clássicas, e habitualmente, para aludir àqueles que se
expressam no conhecimento de nomes, conceitos, princípios, enunciados e
teoremas‖. (Zabala, 2010, pág. 30)
Para prosseguir procurando responder a pergunta do parágrafo anterior,
Zabala busca apoio nos escritos de Coll (1986), quando propõe a classificação dos
conteúdos em conceituais, procedimentais e atitudinais (Estes conceitos serão
usados mais adiante para explicar as categorias de análises deste trabalho), porém
Zabala acrescenta a estes os conteúdos factuais.
Iniciaremos nossas considerações por este último que (Zabala, 2010, pág.41),
observa ―por conteúdos factuais se entende o conhecimento de fatos,
acontecimentos, situações, dados e fenômenos concretos e singulares.‖ Ou seja,
sua natureza se relaciona ao carácter descritivo e concreto, aonde o aluno é capaz
de reproduzir de maneira fidedigna o que lhe foi ensinado como datas,
acontecimentos importantes, nomes de personagens importantes ou coisa deste
gênero.
Os conteúdos conceituais e princípios como os próprios termos nos dão
pistas, dizem respeito ―[...] ao conjunto de fatos, objetos ou símbolos, que têm
características comuns, e os princípios se referem às mudanças que se produzem
num fato, objeto ou situação em relação a outros fatos, objetos ou situações e que
normalmente descrevem relações causa-efeito [...]‖ (Zabala, 2010, pág. 42).
Já os conteúdos procedimentais ―[...] inclui entre outras coisas as regras, as
técnicas, os métodos, as destrezas ou habilidades, as estratégias, os procedimentos
– um conjunto de ações ordenadas e com um fim, quer dizer, dirigidas para a
realização de um objeto‖. (Zabala, 2010, pág. 43). E ainda, os conteúdos atitudinais
―[...] engloba uma série de conteúdos que por sua vez podemos agrupar em valores,
atitudes e normas‖ (Zabala, 2010, pág. 47).
Não podemos deixar de apontar a aproximação entre o que é entendido como
importante para o aprendizado dos alunos sob o olhar de Freinet e Zabala, o que em
36
certa maneira nos fez tomarmos como parte do nosso referencial teórico. Vejamos o
que afirma (Zabala, 2010, pág. 29):
É preciso insistir que tudo quanto fazemos em aula, por menor que seja, incide em maior ou menor grau na formação dos nossos alunos. A maneira de organizar a aula, o tipo de incentivo, as expectativas que depositamos, os materiais que utilizamos, cada uma destas decisões veicula determinadas experiências educativas, e é possível que nem sempre estejam em consonância como o pensamento que temos a respeito do sentido e do papel que hoje em dia tema a educação.
Todo este esforço em discutir conceitos relevantes está ligado ao desenvolver
do nosso olhar quanto à aprendizagem no âmbito escolar, essas discussões nos
remetem à necessidade de falar sobre o que entendemos de aprendizagem. O que
nos deixa cada vez mais convictos de que a concepção construtivista é a que mais
se aproxima com os conceitos valorizados pela Pedagogia Freinet. Por este motivo
ilustraremos a seguir alguns princípios básicos que nortearão nosso entendimento
sobre a aprendizagem, e toda a sua complexidade.
Para finalizarmos gostaríamos de pontuar que a concepção construtivista
sinaliza para uma aprendizagem significativa (Zabala 2010), aonde são
considerados as aprendizagem anteriores do educando, sendo esta considerada
como elo para novas aquisições, ou em outras palavras estabelecem vínculos dos
novos conteúdos com os conhecimentos prévios, são proporcionadas situações de
aprendizagens ativas, onde o aluno torna-se elemento de partida para o
aprendizado.
37
2 – CAMPO EMPÍRICO
O campo de pesquisa sob o qual realizamos esta análise empírica, analítica e
descritiva é a Escola Freinet de Natal, suas atividades, seus documentos, seu dia a
dia. Levamos em consideração para tal escolha nossa aproximação com o trabalho
campo de pesquisa, e as implicações percebidas com os conceitos sob os quais
iremos nos debruçar.
2.1 UM POUCO DA HISTÓRIA: FUNDAÇÃO DA ESCOLA FREINET DE NATAL
A história da Escola Freinet de Natal está ligada a Fundação da Cooperativa
de Professores do Rio Grande do Norte – COOPERN, criada no dia 08 de julho de
1996, na cidade do Natal, Rio Grande do Norte – Brasil, e congrega como sócios,
profissionais da educação de nível superior. Estes profissionais encontraram parte
de sua motivação para criar uma escola alternativa que fosse contraria os moldes
tradicionais de ensino, em seus questionamentos sobre o ensino básico público
vigente, de baixa qualidade. Em seu documento maior consta sua pretensão inicial:
A Escola Freinet de Natal nasce com pretensões de apontar novas possibilidades metodológicas para o cenário municipal, portanto, preocupados e conscientes de que o sistema público escolar brasileiro é alicerçado em regras e determinações do poder legislativo e político, e que este sistema usa a escola para direcionar os indivíduo versus os seus interesses, alienando-os da função de cidadãos, levantam questões tais como: por que a escola pública se atrela a um livro texto único e obrigatório para todos, editado dentro dos propósitos do sistema político? Por que as aulas são monótonas – escutar o professor, ler sempre o mesmo livro, cada aluno na sequência estabelecida pelo professor. E, o pior, não orienta o aluno a fazer uma análise da realidade para nela se inserir? Por que os alunos são tratados como robôs, ou seja, trabalham sem conhecerem os objetivos reais do seu desempenho?... (PROJETO POLITICO PEDAGOGICO DA ESCOLA FREINET DE NATAL, 2014, p.3).
Os cooperados que entraram neste trabalho afirmam acreditar, que a Escola
Freinet de Natal, como escola alternativa, pode dar um novo direcionamento as
ações educativas, e buscar a superação desses problemas levantados, sobretudo
38
na qualidade do ensino ministrado, através de ações mais integradas de um grupo
que vê a educação como prioridade para o crescimento global da sociedade.
É a partir dessas reflexões que os sócios da COOPERN resolvem priorizar, num
primeiro momento, dentre tantas linhas de ações possíveis numa Cooperativa, a
implantação da Escola Freinet de Natal, que teve seu início no dia 30 de outubro de
1996 e cuja escolha do nome deve-se prioritariamente as seguintes razões: está
integrada a uma Cooperativa de Professores, ter sido criada no mês de outubro de
1996, ano centenário do professor Célestin Freinet que defende o cooperativismo, e
idealizador da Cooperativa de Ensino Leigo (CEL). Esse educador que
questionando o ensino vigente na época, contrapõe-se a Escola Tradicional,
modeladora de uma classe de elite e castradora dos direitos das classes menos
favorecidas deixando-as a margem da sociedade, aonde o professor é o centro do
processo de ensino-aprendizagem, o dono absoluto do saber e cuja palavra não
pode ser contestada, aonde predomina um sistema de notas e classificações,
aguçando o individualismo e a competição pela seleção e a concorrência, negando
assim a igualdade de oportunidades. E, para tanto, escolheu a escola como veículo
para construção de uma vida cidadã e a partir daí começa a sua batalha na
organização de uma pedagogia que pudesse revolucionar o ensino. Cria a Escola
Moderna Francesa, cujo centro principal é o aluno e para orientar essa escola utiliza
essa pedagogia, conhecida entre os educadores como – Pedagogia Freinet,
norteadora das ações educativas que tem em mira a formação de um homem
consciente e responsável capaz de agir e interagir com consciência e
responsabilidade no meio onde está inserido, ou seja, preocupa-se com a formação
do cidadão.
Percebemos o quanto as ideias dos precursores da Escola Freinet de Natal
se aproxima dos desejos de Célestin Freinet, seus anseios e crenças ainda
encontram-se vivo e atuais. A afirmativa fica nítida quando nos debruçamos no que
seria o objetivo maior desta escola, como o descrito em seu projeto político
pedagógico,
Assim, a Escola Freinet de Natal tem como objetivo maior contribuir para a organização de uma sociedade mais democrática, portanto mais justa e, assim sendo, preocupa-se com a formação de um homem mais livre das amarras do poder dominante, ou seja, que saiba quais são os seus direitos perante a sociedade, assim como saiba cumprir os deveres que lhe são inerentes como cidadão, o que
39
caracteriza um homem mais livre mais autônomo e mais responsável ao tomar decisões e, portanto mais apto a contribuir na transformação da sociedade. (PROJETO POLITICO PEDAGOGICO DA ESCOLA FREINET DE NATAL, 2014, p.4).
Para que a Escola saísse das pretensões destes educadores foi criada uma
estrutura administrativa de cooperativa, com seus cargos eletivos, seu estatuto e por
fim um corpo de trabalho composta por presidente, vice-presidente, conselho fiscal e
administrativo. Em seguida, foram eleitos3 as pessoas que iriam compor a estrutura
administrativa da Escola, com gerente administrativo, gerente pedagógico,
secretário, psicólogo escolar e professores.
A Escola iniciou suas atividades, propriamente ditas, com poucas turmas,
algumas da Educação Infantil e e salas de Ensino Fundamental, que foram sendo
acrescidas com o passar dos anos com a chegada de alunos.
Faz-se por bem lembrar que a Escola Freinet de Natal apresenta quatro
características que a diferencia das demais escolas públicas e privadas do Estado
do Rio Grande do Norte. Em primeiro lugar, ela é um empreendimento
cooperativista e assim sendo, todas as suas funções administrativas e
pedagógicas são assumidas pelos professores membros da Cooperativa, ou seja,
seus cooperados. Em segundo lugar, reúne, na mesma sala de aula alunos de
duas classes sociais bem distintas: crianças de classe social mais favorecida como
por exemplo filhos de professores universitários e pela parceria firmada entre a
Cooperativa de Professores e a Sociedade Eunice Weaver (entidade filantrópica
que assiste a crianças menos favorecidas), recebe as crianças por ela assistidas,
como por exemplo filhas de lavadeira, de empregada doméstica, entre outras.
A Sociedade Enice Weaver, representada nesta parceria através do
Educandário Oswaldo Cruz (1942), entra como parceira da Escola Freinet de Natal
cedendo o espaço físico necessário para implementação da estrutura das salas de
aula e espaços administrativos, em contrapartida são atendidos 100 alunos do
educandário na escola, com todos atendimentos usufruídos pelos alunos pagantes
3 Por se tratar de uma cooperativa, todos os cargos administrativos podem ser ocupados por qualquer
cooperado que seja habilitado para estes, mediante eleição diante dos demais sócios.
40
diretos. O Educandário Oswaldo Cruz, idealizado pelo doutor Varela Santiago, tem
em sua história registros de sofrimento e assistência, primeiramente, por atender
em meados de 1942, os filhos de leprosos que vinham para Natal receber
tratamento no antigo Leprosário, estas crianças moravam no EOC, tempo
suficiente para o tratamento de seus responsáveis. Em um segundo momento,
este mesmo educandário, com a erradicação da (lepra), passou a atender a
crianças oriundas da periferia da cidade, que suas mães precisavam trabalhar e
não tinham onde deixar seus filhos. Neste momento é que nasce a parceria entre o
EOC e a cooperativa de professores.
Devemos considerar, em terceiro lugar, como característica peculiar da
escola, o desenvolver de uma pedagogia diferenciada dos ensinamentos tradicionais
- A Pedagogia Freinet, cujo centro do processo ensino-aprendizagem é o aluno, é
com ele e para ele que o ensino acontece. Por fim, para que essa pedagogia
funcione a contento, o número máximo de alunos, em sala de aula, no Ensino
Fundamental Anos Iniciais (1º a 5º ano) é de 25 alunos e no Ensino Fundamental
Anos Finais (6ºano à 3ª série do Ensino Médio), pode-se chegar a 30 alunos, em
casos excepcionais, se as condições assim o permitirem.
Para Célestin Freinet a escola é concebida como uma preparação para a
vida, pelo fato de o aluno assumir as responsabilidades escolares como um trabalho
que está inerente a todo aquele que nela está engajado em busca da formação de
sua personalidade. Assim sendo, a sua proposta pedagógica não se restringe a
simples transmissão de conhecimentos, ultrapassa o estudar para a memorização
dos conhecimentos prontos e acabados, esta proposta tem suas bases na reflexão,
na ação, a participação, a ajuda mútua, a compreensão dos direitos e deveres, o
respeito ao outro etc, são elementos integrantes da sua ação educativa. A
Pedagogia Freinet, considera as necessidades das crianças de exprimir suas ideias
e seus sentimentos, de comunicar-se com os outros, de criar, pesquisar, conhecer,
tatear, de organizar-se e avaliar-se. E, assim, as crianças se interessam e
participam, como afirma ZAGO & LAUDANI (2003, p.100) afirmam que ―Freinet nos
proporcionou, dentre tantas coisas, uma pedagogia na qual a criança é co-autora do
seu conhecimento, do conhecimento coletivo e de seus valores e princípios‖.
O Projeto Político Pedagógico da Escola Freinet de Natal, como não poderia
deixar de ser, pauta-se inteiramente sobre a Pedagogia Freinet, seus princípios e
41
técnicas, porém, faz-se por bem lembrar que, um projeto pedagógico, por mais bem
delineado que esteja por si só não opera milagres. Seu sucesso depende da
atuação de um grupo produtivo e cooperativo, consciente de seu compromisso com
a educação, característica inerente a todos os professores que fazem a Pedagogia
Freinet como o próprio documento expôe:
Três observações se fazem pertinentes: a) O professor deve ter claro, em sua proposta de ensino, que toda atividade realizada em sala de aula deve ser endereçada àqueles que são os sujeitos, por excelência da aprendizagem, – os alunos - e para tanto, eles devem estar engajados tanto quanto o professor nessa proposta; b) Para maior segurança sobre o que se está estudando o professor deve recomendar aos alunos que afixem nos seus cadernos, tanto a lista de conteúdos determinada pelas exigências oficiais de ensino, como a organização prévia da programação que funcionará como guia à organização dos planos de trabalho, no decorrer do processo de ensino-aprendizagem, ao tempo que facilitará a retomada de algum tema não devidamente estudado. c) O professor não pode esquecer que uma bibliografia atualizada é indispensável a um bom planejamento. (PROJETO POLITICO PEDAGOGICO DA ESCOLA FREINET DE NATAL, 2014, p.16).
2. 2 – ESTRUTURA FÍSICA E SUA ORGANIZAÇÃO:
Iniciaremos a descrição da estrutura física do nosso campo de pesquisa
falando das especificidades da instituição, espaço arborizado, com muito espaço
livre, de convivência e com a circulação constante de pessoas. Plantas presentes
em todo o ambiente, na tentativa de integrar natureza e estrutura física.
foto 6 - Pátio da Escola Freinet de Natal
Fonte: acervo da Escola Freinet, 2014.
42
Suas salas são organizadas em grandes ateliês, onde são realizadas
atividades por área de conhecimento, estas por sua vez são compostas de
disciplinas que geram possibilidades de trabalho, proporcionando aos alunos, se
tornarem autores do seu próprio processo de aprendizagem. Nestes ateliês existe
uma mesa central, onde todos os alunos fazem suas discussões, organizam seu
trabalho e o avaliam, para em seguida reiniciar todo o processo, procurando sempre
o crescimento dos estudos em curso.
A sala freinetiana, neste formato de um grande ateliê, equipado com
ferramentas de trabalho educativo e temático, se assemelha a um laboratório de
disciplinas, no qual os alunos poderão realizar seus estudos. O acesso às salas
temáticas ocorrem de acordo com o dia e horário determinado quebrando a fronteira,
entre as séries sem perder o vínculo com o grupo. Cada grupo de alunos (alunos do
1º ou 5º ou 6º, etc) dirigir-se-ão às salas temáticas onde terão suas aulas-
experimentais e estudos teóricos em cada área. Outros objetos que compõe o
acervo das salas são livros de diversos autores. Havendo, também um vasto acervo
de paradidáticos, acesso a internet para pesquisa e correspondência, bem como
material em dvd e cd de consulta.
A partir de seus estudos, os alunos constroem seu próprio material didático,
que será levado para casa ao final do semestre, uma encadernação de todas as
atividades significativas do seu processo de aprendizagem.
Ilustração: foto 7 - Sala ateliê da Escola Freinet de Natal
Fonte: Acervo da Escola Freinet, 2014
43
Ilustração - foto 8 - sala ateliê Fonte: Acervo da Escola Freinet, 2014
Percebe-se claramente, através de um movimento intenso em seus
corredores, o prazer com que os alunos em se apropriar daquele espaço, eles estão
sempre comunicando de alguma maneira as suas produções, que devemos frisar,
são intensas, e é esta busca ativa que os motiva a exercitar a produção do
conhecimento, e é por essas peculiaridades que escolhemos esta escola como
campo de estudos e observação, como forma de contribuir com a educação de
maneira geral.
Como já dito, no espaço da Escola Freinet o conhecimento não circula
somente dentro de sala de aula, a vida é o cenário perfeito para novas aquisições.
Aulas passeios, ateliês (aulas práticas), produções individuais e coletivas, jornais,
textos livres, são algumas das técnicas utilizadas dentro do espaço desta instituição.
Essas técnicas serão destrinchadas em um momento seguinte.
44
Ilustração: foto 9 Espaço Externo da Escola Freinet de Natal -
Acervo da Escola Freinet de Natal, 2014
No centro da escola existe um grande ―Espaço Cultural‖ onde ocorrem, as
comunicações de todo o conhecimento que é produzido nos ateliês. Não sendo esse
o único espaço para isso.
45
Ilustração: foto 10 - Espaço Cultural da Escola Freinet
Fonte: Acervo da Escola Freinet de Natal
A Escola Freinet de Natal - atende crianças a partir de 2 anos até os 5 anos de
idade. Está organizada em cinco períodos:
O Primeiro período (Período II) está reservado às crianças de 2 anos de idade.
Segundo Período (Período III) às crianças de 3 anos de idade. Nos períodos II e III
os cuidados estão voltados para a identificação do próprio corpo, ou seja, o
conhecimento de si. Assim sendo, o professor deve criar situações que exijam o
aperfeiçoamento das capacidades motoras da criança e oportunize desafios, e
assim ela tenha sempre progresso; o Terceiro Período (Período IV) às crianças de 4
anos de idade; o Quarto Período (Período V) ás crianças de 5 anos de idade.
Nos períodos IV e V, dando-se continuidade as atividades motoras iniciais,
deve-se desenvolver atividades mais sistemáticas, aprofundar gradativamente os
conhecimentos a respeito do corpo e na medida em que o comportamento e as
46
ações da criança vão solicitando, deve-se ir introduzindo outros conhecimentos, mas
a professora deve estar sempre atenta aos conhecimentos prévios das crianças.
O Ensino Fundamental abrange do 1º ao 9º ano, e como afirma sua equipe dentro do projeto político pedagógico da escola, ―tem como proposta uma educação que contemple o desenvolvimento do indivíduo em toda a sua amplitude, seja no domínio cognitivo desenvolvendo e aprimorando os conhecimentos científicos necessários ao seu crescimento intelectual e, conseqüentemente preparando-o para os estudos subseqüentes, seja no domínio das atitudes e habilidades necessárias ao seu convívio social como cidadão‖ (PROJETO POLITICO PEDAGOGICO DA ESCOLA FREINET DE NATAL, 2014, p.10).
Quanto a avaliação, na Escola Freinet, embora o aluno possa ser avaliado a
qualquer momento que se fizer necessário, há três momentos específicos em que a
avaliação não pode deixar de acontecer – o chamado balanço das atividades:
1º) No final de cada jornada letiva, no caso da Educação Infantil (sendo que esta
poderá ser constante, ou seja, após cada atividade realizada pelo aluno, caso a
professora ache mais produtiva); no Ensino Fundamental 1º ao 5º ano – depois de
cada jornada escolar. No Ensino Fundamental – 6º ao 9º ano, no final das aulas de
cada disciplina. Para tanto, o professor deverá reservar 10 ou 15 minutos ou mais,
se necessário.
2º) Por ocasião da Reunião Cooperativa, o que caracteriza o balanço semanal das
atividades para o qual o professor poderá reservar apenas as competências não
atingidas durante a semana letiva.
3º) Tendo em vista colocar o aluno em contato com a realidade social vigente, a
Escola Freinet de Natal resolveu fazer dois grandes balanços, escritos, no final dos
dois semestres letivos, consequentemente com o acúmulo dos conteúdos estudados
de cada semestre, em todas as disciplinas. Este 3º balanço tem caráter obrigatório
do 6º ao 9º ano e opcional para os Anos iniciais do Ensino Fundamental.
O instrumento para esse balanço escrito deverá ser elaborado com questões
subjetivas e objetivas, relativo aos conteúdos estudados em cada semestre letivo.
Duas orientações se fazem pertinentes:
47
a) As avaliações escritas devem ser elaboradas em consonância às exigências
técnicas para a sua elaboração.
b) Os alunos devem estar cientes que esse balanço escrito tem como finalidade
fazer um diagnóstico concernente às suas aquisições tanto dos
conhecimentos específicos relativos aos conteúdos, quanto aos relacionados
aos comportamentais (hábitos, atitudes etc), exigidas nas aprendizagens do
respectivo semestre letivo, a fim de retomá-las, se ainda necessário, pois é de
suma importância que tanto o professor como os alunos estejam sempre
atentos que a pedagogia Freinet visa única e exclusivamente o sucesso
escolar, e, jamais se contentará com o mais ou menos; para melhor dizer
esta terminologia não existe numa classe Freinet. Também este balanço não
terá nenhuma pretensão de classificar os alunos em ―bons‖, ―médios‖ ou
―fracos‖. Ou mesmo de compará-los entre si, para saber qual é o que tem o
melhor ou o pior desempenho. Essa terminologia também não existe na
Pedagogia Freinet.
Portanto, a avaliação da aprendizagem na Escola Freinet de Natal tem um
caráter diagnóstico, sistemático e contínua e visará especificamente acompanhar o
desenvolvimento do aluno em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e sócio-
afetivo, tendo em vista o seu sucesso escolar, bem como à sua formação para o
exercício da cidadania.
2.3 PROPOSTA PEDAGÓGICA
Como já foi dito, anteriormente, desde sua gênese, a Escola Freinet foi
concebida com o intuito de ser a representante de uma proposta pedagógica na
cidade de Natal, para tanto, defende como proposta de trabalho a Pedagogia
Freinet, tendo em vista o maior princípio defendido por Freinet que é a
aprendizagem pelo ―Método Natural‖, que faz da criança a grande mestra do seu
próprio saber. Aliando-se a este, outros princípios indispensáveis a organização das
suas aprendizagens, tanto cognitivas como sócio afetivas, como sejam: a Educação
48
pelo Trabalho, princípio inerente ao assumir as responsabilidades escolares pelo
aluno, a autonomia que ele deve imprimir às suas ações educativas em busca de
seus conhecimentos e de sua formação; a Comunicação e a Expressão Livre,
indispensáveis as suas aquisições e, consequentemente ao seu crescimento
intelectual; o Tateamento Experimental que imprime ao aluno a liberdade de
caminhar no seu ritmo, tanto na busca de novas aquisições como no refazê-las,
quando não inteiramente assimiladas; e, a Cooperação, elemento integrador de
todas as ações desenvolvidas pelo aluno em harmonia consigo mesmo e com o
grupo classe e a escola, e propiciadora do crescimento tanto individual, quanto
coletivo.
De posse desta pedagogia, espera-se que educador freinetiano tenha
condições compreender que é para o aluno que a escola existe. Por isso deve
propor expectativas de trabalho e ajudá-lo a desempenhar suas atividades, fazendo
da escola um local de atividade, de trabalho e de vida para que assim, ele se sinta à
vontade para realizar suas tarefas, construir o seu saber, participar, cooperar e,
consequentemente ser o agente ativo de sua formação de cidadão. Não é sem
razão que na prática pedagógica freinetiana tem primazia o desenvolvimento do
espírito crítico, o questionamento das ideias recebidas, o espírito de curiosidade, a
criatividade, a iniciativa individual e o trabalho cooperativo.
Essa proposta pedagógica tem no aluno e nas suas potencialidades – o
centro da ação educativa. O trabalho escolar é realizado tendo em vista o respeito a
sua identidade, ou seja, o respeito as suas diferenças individuais e ao ritmo de
aprendizagem do aluno. Prima pelo respeito às diferenças sociais, cognitivas,
econômicas, culturais, étnicas e religiosas.
O respeito à criança é o ponto orientador de todas as ações desenvolvidas
pela pedagogia Freinet. É na vida da criança que está alicerçado todo o trabalho
educativo em sala de aula ou fora dela,nas oficinas, aulas passeio...
É fácil encontrar nos escritos de Freinet passagens em que ele afirma o
interesse pela vida. Em muitos momentos deixa claro que a pedagogia deve
concentrar suas intenções numa técnica para vida, mesmo entendendo que ela,
principalmente em nosso tempo, não é estática, sofre profundas modificações em
pequenos intervalos de tempo.
49
A escola sempre foi, e acredito que sempre será um espaço onde podemos
perceber rapidamente as transformações ocorridas de geração em geração,
portanto, é vital e urgente repensar o ―fazer‖ pedagógico. O próprio Freinet, investido
de sua percepção futurista fala desta urgência, relatando que houve um tempo, no
começo deste século, aonde as evoluções sociais e técnicas se faziam no saltar de
uma geração, aonde os pais e os educadores poderiam, de certa maneira, preparar
as crianças de acordo como os possíveis problemas que elas iram enfrentar. Estes
ainda, não precisavam considerar qualquer modificação nas técnicas e na
pedagogia durante seu exercício docente. Mas atualmente, como acompanhar toda
esta velocidade que nos é apresentada através dos alunos? Onde buscar o
equilíbrio para não sermos engolidos por esta onda tecnológica, inevitável? Foi
pensando nisto que a Escola Freinet de Natal, adotou uma proposta de trabalho
para a vida, e por saber da velocidade a qual estão fadadas a transformação da vida
nos privou de amarras, nos deixando livres para tatear em busca de caminhos para
o nosso fazer.
Para a Escola Freinet, professores e alunos se transformam em buscadores,
em experimentadores, os papéis não são invertidos, são reinventados. O professor
não é apenas o transmissor, num mundo em que tudo acontece de uma forma
vertiginosa, que o novo daqui a pouco será velho, em que não sabemos com muita
certeza como é. O professor traz a sua experiência de vida para também descortinar
possibilidades, cavoucar talentos e incentivar o surgimento das iniciativas dos seus
alunos.
Das necessidades humanas a comunicação faz parte das mais básicas e
vitais, desde a mais tenra idade as pessoas manifestam de forma primitiva suas
tentativas de comunicar seus desejos, este comportamento inicia um movimento que
se estende ao longo das histórias de vida das pessoas.
Historicamente a humanidade sempre buscou a comunicação como sendo
forma de estabelecer suas relações com o outro e fazer valer sua forma de agir.
Podemos citar como exemplo a linguagem do homem paleolítico que baseava no
início em gestos, sinais e desenhos e mais tarde também na voz. Neste caso, a
comunicação foi usada com finalidades bem definidas como: Deixar o registro para
50
outras gerações; se identificar como ser pensante; e acima de tudo para fazer parte
de um grupo já estabelecido.
Uma escola que se insere no ―hall‖ das Escolas Modernas deve ter por
princípio o respeito ao curso natural das necessidades humanas, investe na
necessidade de comunicação como sendo uma oportunidade impar para
desenvolver a linguagem. O ponto de partida de todo movimento do conhecer, nesta
perspectiva, os indivíduos devem ser estimulados a fazer uso da linguagem de
maneira livre para que gere com isso material de trabalho didático. A linguagem que
revela os seres, suas intenções e pensamento dão margem para o trabalho
pedagógico intencional e eficaz que é eixo imprescindível numa proposta que tem
como centro o indivíduo e suas necessidades.
Neste sentido, o aprendizado que contempla a linguagem como parte de sua
atuação pedagógica, entende o indivíduo como ser do coletivo que fala, ouve e
neste movimento resignifica os seus saberes. Reafirma alguns dos seus conceitos,
descarta outros e assim se estabelece um diálogo produtivo.
Numa perspectiva de Escola Moderna o diálogo produtivo é considerado a
espinha dorsal para o trabalho que gera aprendizagem, devido à possibilidade que
só a linguagem é capaz de promover a contento de trazer o mundo externo para os
bancos da escola se utilizando de relatos e conversas dos alunos. Gerar
oportunidades de comunicação é papel fundamental de qualquer instituição que se
inscreva em uma vertente da Escola Modernista.
A Escola Freinet como representante deste Movimento Escola Modernista
(FIMEM), que tem seus trabalhos ativos a nível internacional, realizando encontros
periódicos, trás em suas linhas, propostas claras de como este pensamento
lingüístico deve ser estimulado. Inicialmente através de seus princípios, e
posteriormente, com suas técnicas de trabalho que irão, na prática, propiciar a
execução dos princípios, como já foi dito.
51
2.3.1 Técnicas freinetiana segundo a Escola Freinet
No intuito de apresentar os ―meios‖ que estão previstos pela Pedagogia
Freinet, e afim de favorecer o entendimento do leitor acerca de como se trabalham
os Príncipios desta pedagogia, iremos apresentar as técnicas utilizadas por Célestin
Freinet em suas salas de aula, e que ainda hoje são utilizadas na Escola Freinet. As
técnicas que serão apreciadas são consideradas o elo entre a teoria e a prática
desta proposta pedagógica. São elas:
a) O Texto Livre: essa técnica de escrita, leitura e publicação textual é feita a
partir de um desejo do aluno em registrar suas ideias. Feito em um caderno
específico, no qual o aluno desenvolverá sua produção espontânea, sua
criatividade literária, exercício da escrita e correção gramatical. Cada semana
os professores escolhem o texto livre de um aluno para apresentação e
correção coletiva, onde cada aluno estará com uma cópia reprográfica do
texto escolhido, fixado em seu caderno para acompanhar a correção
gramatical, após essa etapa o texto irá para publicação no mural da escola
e/ou no jornal da sala.
b) Jornal Escolar: As pesquisas, produções, desenhos, fotografias, produções
textuais diversas, entre outras linguagens são a matéria bruta para
organização do jornal escolar. Nele os alunos e professores de cada sala
devem organizar uma publicação de produções autorais ou de coletâneas
sobre os assuntos apresentados nas reuniões iniciais, projetos de pesquisa,
atividades práticas fotografadas e identificadas, reportagens e pesquisas
promovidas nas salas. Esse jornal circula quinzenalmente entre salas e é
possivelmente enviado para os meios digitais de divulgação da escola, bem
como serve para exercitar a correspondência entre instituições apropriadas.
c) Correspondência escolar: é o meio de divulgação pessoal e coletiva de
informações voltadas para criar redes de relacionamento entre salas e entre
alunos. Pode ser feita a partir de produção escrita em papel ou digitada,
52
enviada de forma mecânica ou virtual. Essa produção, quando coletiva passa
pelo processo de correção em sala, e em seguida é enviada ao destinatário.
d) Plano Individual de Trabalho (PIT): uma das técnicas mais ricas da proposta
freinetiana na Escola Freinet é o PIT, com ele o aluno tem a possibilidade de
expressar sua liberdade de escolha para realizar atividades voltadas para
suas necessidades de aprendizagem e atividades lúdicas. Esse plano
acontece três vezes por semana nas salas dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, Educação Infantil e em um tempo determinado em todas as
aulas dos Anos Finais do Ensino Fundamental. O PIT vem favorecer o
processo de aprendizagem individual de cada aluno, pois quando nos
deparamos com as diferenças de aprendizagens, precisamos realizar ações
específicas colaborativas para que todos tenham acesso ao conhecimento
necessário e atinjam os seus objetivos. Essa técnica nas turmas dos Anos
Finais do Fundamental. acontece em momentos (20 min em média)
combinados com os alunos, que pode ser após a reunião inicial ou no final da
aula. O professor reserva um espaço para atendimento individualizado com
aqueles que necessitam e os outros alunos desenvolvem autonomamente
atividades com os fichários e/ ou outros encaminhamentos do professor(a). O
PIT, após produzido, pode ser apresentado para turma como forma de expor
um resultado satisfatório que levou ao sucesso do aluno diante do
conhecimento. O aluno deve trazer de casa, algum material de estudo para
contribuir no momento do PIT. Há nessas salas uma pasta de sugestões dos
professores para realização de pits. Os alunos organizam os pits na reunião
cooperativa, em sintonia com a pasta de sugestões.
e) Regras de Vida: Dentre as técnicas da Pedagogia Freinet, as regras de vida
se configura pela normatização, todas as regras das salas são elaboradas
apartir dos problemas que surgem no dia a dia, e que são levados para
discussão na reunião cooperativa, técnica que será melhor explicada aseguir,
depois do debate, são elencadas as possíveis solução que se tornam regras
para sala.
f) Reunião Cooperativa: o maior diferencial da proposta freinetiana na Escola
Freinet é a Reunião Cooperativa, realizada pelos alunos, acompanhados de
53
seus professores, esta é dividida em duas etapas. Na primeira parte acontece
a reunião de avaliação. Este encontro acontece todas as sextas-feiras
durante o tempo necessário para sua realização. A reunião cooperativa inicia-
se com a apresentação de uma pauta pelos gerentes, nela deverá estar
contido:
O tema da Reunião – o tema desta reunião é escolhido previamente pelos
gerentes, com a mediação dos professores(as), tendo como base o assunto de
maior relevância na semana que se encerra. Os gerentes fazem um pequeno relato
explicando a escolha do tema, o qual servirá de referência (critérios) para a o
momento de auto-hétero avaliação.
Leitura do diário de turma – Na escola são confeccionadas papéis
destinados a escrita do Critico, Sugiro e Parabenizo fazem parte do momento de
rememorar o que aconteceu durante toda a semana, estes ficam à disposição nas
salas para que os alunos registrem suas críticas, sugestões e parabenizos.
Auto-hétero avaliação – nesse momento cada aluno inicia sua auto-
avaliação explicando como foi sua semana em aspectos de compromisso e
responsabilidade com os estudos e atitudes diante das regras de vida construídas
em sala. Ao final de sua avaliação, o aluno sugere uma cor, relacionadas as cores
do sinal, onde o verde representa o cumprimento de todas as responsabilidades, o
amarelo faz referencia ao cumprimento parcial de suas atribuições e o vermelho é
sinal de que é preciso repensar seus afazeres, tudo isso sinaliza sua avaliação. A
sala deve fazer observações que retifiquem ou não a cor indicada pelo aluno, caso a
sala não concorde, o próprio aluno deve refletir e rever sua sinalização, cabendo a
ele a mudança, porém mediada pelo coordenador/professor(a) da sala. A auto-
hétero é um momento de auto-reflexão, e não de ―julgamento‖ de qualquer espécie.
Encaminhamentos – todos os encaminhamentos da reunião cooperativa
devem tornar-se regras de vida, fixadas na sala para que todos tenham acesso e
possam cumpri-las. Na segunda etapa da reunião acontece a organização do PIT e
outras ações que serão executadas na semana seguinte. Uma dessas ações é a
organização ou troca do quadro de responsabilidades e encaminhamentos do
projeto de pesquisa e do Livro da Vida. A reunião é feita com um dos gerentes
fazendo a ata no livro de atas da sala. A mesma deve ser datada e assinada pelo
relator.
54
g) Fichários – este recurso de sala é significativo para o complemento de
atividades de sala com o qual o aluno poderá escolher uma ou mais fichas
com atividades para ampliação de seus conhecimentos. No momento do PIT
os fichários servem de apoio para os alunos estudarem com autonomia. O
conteúdo dos fichários deve ser produzido conjuntamente, ou seja, alunos e
professores. Pode ser feito em um momento de ateliê no qual as fichas são
feitas com a realidade de cada sala.
h) Ateliê – momento de atividades diversificadas em sala. A produção dos
alunos é coletiva ou individual no ateliê. O que caracteriza o ateliê é a
possibilidade de apresentação das produções realizadas (socialização) tanto
na própria sala como em outros espaços da escola, tais como o Jornal Freinet
(mural da sala).
i) Plano Semanal de Trabalho- feito na sexta-feira com a participação dos
alunos na Reunião Cooperativa de Organização. O Plano Semanal de
Trabalho apresenta todas as ações que serão desenvolvidas na semana
seguinte, portanto deve ser feito coletivamente. Será entregue para digitação
até a segunda pela manhã, fixado na agenda do aluno, com cópia para o
quadro do PST da gerência pedagógica e na mesa da professora para que
todos tenham acesso.
j) Aula - passeio- Uma das ações mais importantes da proposta da Escola
Freinet, essa deve ter conexão direta com os estudos de sala, tanto como
antecipação do estudo como encerrando um processo de estudo.
k) Livro da vida- é o registro coletivo de atividades e eventos que cada turma
participa durante o ano letivo. Esse material é coletado a partir de fotografias
digitais e scanner de atividades, registros de produção de textos e finalizada
numa apresentação de slides no computador em programa específico.
l) Reunião inicial – Acontece todos os dias no momento de chegada dos
alunos, tem o objetivo de abrir um espaço democrático de comunicação de
novidades, curiosidades e assuntos pesquisados livremente pelos alunos.
Essa reunião poderá desencadear uma discussão rica na sala, na qual todos
os alunos terão a oportunidade de expor um assunto de seu interesse. Cabe
55
aos professores (as) dar atenção e estimular essa ação pedagógica de Livre
Expressão.
Portanto, como a Escola Freinet se propõe a ser uma escola para a formação
do cidadão, acredita-se ser da responsabilidade da equipe pedagógica buscar
capacitar o aluno para o exercício pleno de sua cidadania, dando-lhe oportunidades
favoráveis e seguras para o seu desenvolvimento intelectual, científico e tecnológico,
a fim de que ele saiba enfrentar novos desafios e também saiba se posicionar de
maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais; criar, nas
diversas áreas do conhecimento, situações em que o aluno aprenda a utilizar os
seus saberes como instrumento de compreensão da realidade, seja de utilidade
prática, seja na formação de estruturas do pensamento; oferecer meios que
permitam ao aluno expressar e comunicar suas ideias de modo claro e preciso e,
compreender e se fazer compreendido nas suas elocuções, (princípio da
comunicação e expressão); desenvolver uma consciência positiva sobre a
valorização do trabalho na construção da cidadania e propiciar um clima
harmonioso de trabalho, em sala de aula de modo que o aluno se sinta co-
responsável nas suas aprendizagens e as assumam com autonomia e
responsabilidade, (atendendo assim ao principio da Educação para o Trabalho);
E ainda, desenvolver atitudes de respeito, solidariedade, ajuda mútua e
sociabilidade, garantindo um convívio social democrático no seio do grupo no qual o
aluno está inserido, ao tempo que propicia condições de um crescimento maior e
mais eficaz face as contribuições valiosas dadas e recebidas do grupo classe
(vivenciando assim o princípio da Cooperação); orientar o aluno de modo que ele se
perceba como agente transformador da sociedade; estabelecer momentos de
reflexão individual, em grupo e coletiva para que o aluno possa repensar suas
aquisições, tanto cognitivas como comportamentais e atitudinais e, se necessário,
retomá-las e refazê-las no caso das aprendizagens cognitivas e reorganizá-las e
reestruturá-las no caso das aquisições comportamentais e atitudinais, num processo
contínuo de construção e reconstrução de seus saberes e de sua formação de um
modo geral, (evidencia-se assim o princípio do Tateamento Experimental.).
Na Escola Freinet de Natal, o professor em sua sala de aula é uma autoridade
constituída a quem cabe resolver por si só através da cooperação, se isso for
possível, ou conjuntamente com os alunos, toda e qualquer desordem que venha de
56
encontro à disciplina da sala de aula e, consequentemente prejudique a
aprendizagem, mas deve lembrar que não é com autoritarismo. Para quebrar o
autoritarismo professor e alunos devem trabalhar juntos, com o objetivo de no final
de cada estudo a bons níveis de discussão do conhecimento e de compreensão em
relação à resolução dos problemas advindos da jornada escolar. Só assim é
possível avançar no exercício da cidadania, Para tanto, deve criar o hábito de no
início de cada jornada escolar lembrar aos alunos sobre a importância de sua
participação para o crescimento de todos e de cada um em particular, bem como no
final da sua jornada de aulas, fazer um balanço das atividades realizadas no sentido
de verificar se as competências pré-estabelecidas foram atingidas e assim poder
retomá-las de imediato, se necessário.
Por fim, outra arma importante utilizada na Escola Freinet é a formação,
sobretudo no que concernem as exigências da pedagogia Freinet, na condução do
processo de ensino-aprendizagem, para que assim possa chegar aos resultados
esperados - a formação de um cidadão livre e consciente de suas responsabilidades
perante a sociedade na qual está inserido e, consequentemente ao sucesso escolar.
A orientação dos alunos na vivência da pedagogia também é uma condição
essencial ao seu engajamento no processo de sua formação e essa orientação deve
ser dada pelo professor, tantas vezes se faça necessária.
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3 – O LIVRO DA VIDA
Neste capítulo, como o próprio título evidencia, tratarei do Livro da Vida, na
sua proposta inicial, pela Pedagogia Freinet; Como a Escola Freinet de Natal
construiu sua forma de fazer o Livro da Vida e finalmente, o resultade da pesquisa,
uma analise da relação entre Livro da Vida, Livre Expressão e aprendizagem.
3.1 O LIVRO DA VIDA PARA A PEDAGOGIA FREINET
As técnicas criadas por Freinet surgiam de acordo com as necessidades que
eram apresentadas dentro de sua sala de aula, a experiência sensorial vivenciada
por ele trouxe para o cenário educacional da época grandes contribuições que
perduram até hoje. Suas técnicas de trabalho não ficavam restritas à sua sala, ele
sempre fez questão de multiplicar suas experiências através da divulgação destas,
Freinet apostou na troca de experiências entre profissionais de sua área, o que
acabava por levar sua participação a vários congressos, rodas de conversas etc.
Em meio a tantos encontros, Celéstin Freinet procurou fazer da sua vida um
verdadeiro testemunho, seduzindo-se assim, por diversos teóricos do ensino, como
exemplo Montessori, Montaigne e Rousseau entre outros. O que para ele parecia
pouco, acreditando em seu modo de trabalho e na troca de saberes diz:
Tomei imediatamente outra decisão: em vez de guardar segredo sobre esta descoberta, lancei-a deliberadamente no crisol da cooperativa. A classe dos professores contava apenas com alguns pioneiros, entre os quais A. Ferrière, quando eu constituía já uma cooperativa com circulares, boletim, revista de textos infantis: La Gerbe, intercâmbio do congresso da valorosa Federação do Ensino. Tínhamos já rompido o círculo do individualismo estéril. Havíamos lançado as bases do nosso movimento pedagógico cooperativo. (FREINET, 1976, p. 21).
Fiel às suas convicções, Freinet se relaciona com seus colegas com o mesmo
princípio utilizado em sua sala de aula, ensina o outro enquanto aprende com o
mesmo. A troca de experiências característica desta pedagogia não se apregoa
apenas na relação professor-aluno e sim em todas as relações humanas.
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Dando continuidade ao relato do arcabouço prático desta pedagogia, Freinet
define seu trabalho como sendo uma proposta prática para o povo, dessa maneira,
não poderia ser uma atividade fora do âmbito da vida experimental, passiva, do
tocar, do fazer e etc. Em suas palavras:
[...] a pedagogia Freinet da Escola Moderna aparece, hoje, não só em França, mas também no resto do Mundo, com fórmula pedagógica de futuro, com práticas coerentes, em espírito harmonizador entusiasmante, fundamentos psicológicos, filosóficos e sociais que atingem, para as renovar, as próprias bases da Escola do Povo, com equipas de investigadores, finalmente, e de experimentadores cujo dinamismo constitui garantia de sucesso.
(FREINET, 1976, p. 14)
A palavra ―experimentadores‖ será utilizada de maneira recorrente neste
trabalho, assim como em toda a obra de Freinet, seria demasiadamente improvável
que se falasse nesta pedagogia sem utilizá-la, pois ela traduz, em forma de palavra,
um sentimento essencial neste trabalho. Propor um fazer da experimentação, da
análise, do pensamento investigativo, protagonizado pelos aprendentes, é o que tem
de mais caro na pedagogia Freinet, tudo isso buscando um objetivo claro e virtuoso
o sucesso escolar.
A proposta de trabalho defendida por ser de cunho prático, leva em
consideração o ―Ser‖ e o seu tempo histórico, entendendo que se faz necessário
aglutinar ao ensino, aspectos sociais relevantes ao momento, o que garantiria a
continuidade do termo usado por ele, Pedagogia Moderna, assim sendo, ela sempre
estará atualizada e passiva de adaptação.
O livro da vida, mais uma técnica das várias elaborada por Celéstin Freinet,
este criativo professor francês, tinha como objetivo o não desperdício de nenhuma
oportunidade de trabalho em sala de aula, tudo que era dito, feito, questionado, se
configurava, para ele, em uma oportunidade de trabalho e precisava ser valorizado,
por isso, precisava ser registrado de alguma maneira, para que na aula seguinte
pudesse ser retomado. Pensando nisso é que Freinet cria o livro da vida, a vida que
outrora circulava em meio aos alunos precisava ser garantida, e um aluno (no caso
dos alfabetizandos) ou a professora (entre os não alfabetizados) se responsabilizava
59
por registrar tais acontecimentos, outro ficava responsável por elaborar a ilustração
e assim por diante.
Eleger o que é relevante para a turma é um exercício importante e essencial
para uma conscientização sobre o trabalho que deverá ser realizado, assim como
entender que o que foi dito entre pares não será descartado e sim valorizado como
material de pesquisa e trabalho. Nesse sentido Freinet pensava: ―Se eu pudesse,
por meio de um material impresso adaptado a minha classe, traduzir o texto vivo,
expressão do ―passeio‖, em páginas escolares que substituíssem as do manual,
encontraríamos na leitura expressa o mesmo interesse profundo e funcional que
experimentamos na preparação do próprio texto‖ pág. XXVIII (Educação pelo
trabalho).
A Pedagogia Freinet, ao abarcar a técnica do livro da vida como forma de
registro, possibilita ao professor planejar intencionalmente seu trabalho, proporciona
para ele o material necessário para dar prosseguimento às suas aulas, mas não um
material qualquer, um material advindo das vivências dos alunos, das suas
tentativas experimentais, que é organizado a fim de garantir que as crianças tenham
vivências adequadas e necessárias desde a tenra idade. É conceber a criança como
um sujeito capaz de estabelecer relações com outras pessoas, com o meio, com os
objetos e com o próprio conhecimento. Nesse sentido Freinet afirma que: "À criança,
sobretudo, era preciso dar o direito de viver plenamente como criança, sob todos os
aspectos. Era necessário respeitá-la para que pudesse desenvolver suas
capacidades e sua personalidade, sem afastar-se de uma finalidade social e
humana mais ampla" (SAMPAIO, 1994, p. 45).
O livro da vida é um artefato pedagógico de trabalho perene, pois não se
esgota em sua produção. Seu processo produtivo exige de seus autores altas
habilidades manuais e intelectuais, porém este material pode e devem ser
revisitadas tantas vezes quantas sejam necessárias, seja para aperfeiçoamento,
seja para consulta, ou até mesmo como um momento de reviver as experiências dos
momentos registrados.
As crianças, através do Livro da Vida, têm a possibilidade de guardar seus
materiais, de organizar as suas vivências, de relatar os acontecimentos e, com isso,
valorizar a sua participação na escola. Para Freinet, o Livro da Vida era o lugar onde
ficavam armazenados os momentos das crianças. Nesse material, as crianças
60
anexavam suas impressões, registravam os lugares visitados, constituindo um
documento de articulação entre si e suas famílias (SAMPAIO, 1994).
É propósito crucial para Pedagogia Freinet registrar as ações das crianças
como modo de incentivando a livre expressão, através do compartilhando de seus
desejos, das suas necessidades e tensões, isso pode ser feito através de várias
técnicas como a correspondência escolar, o jornal, o texto livre, dentre outras, onde
as crianças exprimem suas impressões de mundo vivenciadas dentro e fora da
escola.
Assim, quando registramos, optamos igualmente por melhorar a nossa prática
enquanto professores e nos dispomos a refletir sobre o trabalho que realizamos com
as crianças. Dessa maneira, começamos a entender a importância do processo
como acompanhamento das ações, como vivências em si, como possibilidades de
interação com as crianças e não apenas como produto final.
3.2 O LIVRO DA VIDA NA ESCOLA FREINET DE NATAL: PRIMEIRAS
ELABORAÇÕES
A Escola Freinet de Natal, imbuída dos sentimentos de mudança tão
presentes no pensamento de seu patrono, sentiu no ano de 2013 a necessidade de
criar uma equipe permanente para pensar esta pedagogia, uma vez que a considera
possível de atualização. O grupo foi intitulado Conselho Pedagógico (assunto que
iremos retomar), inicialmente composto por quatro professores da escola, o que não
impediria a inserção de outros membros.
O trabalho iniciou-se com o estudo das obras-base da Pedagogia Freinet,
entre as quais podemos citar: O Método Natural I – A aprendizagem da Língua
(1977); O Método Natural II – A aprendizagem do desenho (1977); O Método Natural
III – A aprendizagem da escrita (1997); As Técnicas Freinet da Escola Moderna
(1975); Educação pelo trabalho (1998); Pedagogia do Bom Senso (1996); O texto
livre (1976); Ensaio de Psicologia Sensível (1998); para retomar a intimidade
61
necessária com sua proposta de trabalho e só assim colaborarmos de maneira
responsável nas possíveis reformulações do fazer Pedagogia Freinet.
A equipe também passou a observar as aulas, a entrevistar alunos, pais e
professores, para ouvir suas angústias, reclamações, descobertas e etc. Em meio a
tal percurso, percebemos uma contradição enorme no discurso oriundo da equipe
pedagógica da escola e algumas práticas que insistíamos em manter, o que nos
distanciava dos nossos verdadeiros propósitos da Escola Moderna.
Uma dessas práticas arraigadas era o uso do livro didático, seus textos
prontos, sem aparentes erros ortográficos, em que não há espaço para o
questionamento, nos quais eram contidas as certezas e afirmativas inquestionáveis
e sua visão unilateral do conteúdo proposto.
Em 1926, Freinet se põe concretamente contrário ao que chamou de ―Ensino
livresco‖, se expressando através da guerra contra os manuais escolares. Para ele,
[...] os manuais são um veículo de embrutecimento. Estão a serviço, por vezes de modo vil, dos programas oficiais. Alguns professores ainda os agravam por uma louca e exagerada vontade de dar um volume maior de matéria, mas, raramente os manuais são feitos para as crianças. [...] Os manuais matam qualquer senso crítico, e é a eles que, provavelmente, devemos essas gerações de semiletrados que creem, palavra por palavra, no que está no jornal. E, sendo assim, a guerra contra os manuais é verdadeiramente necessária. (Freinet, 1976, p.45)
O livro didático, como hoje se apresenta, é uma herança da história da
educação, assim como a própria história da legislação educacional, sua
viabilização passa por uma sucessão de decretos, leis e medidas governamentais,
a partir dos anos de 1930, período de grande efervescência política e
desencadeamento de uma política educacional com uma maior preocupação
científica e sem pretensões democráticas, de forma impositiva e sem a
participação de sindicatos, associações, partidos, movimentos de educadores,
dentre outros (DAMIS, 2002), até os anos atuais, quando o Governo Federal, por
intermédio do MEC, propõe o desenvolvimento de ações que visam à melhoria da
qualidade dos livros didáticos, notadamente para serem utilizados nas escolas
públicas de todo país. Perrenoud (1997), comentando o caráter da prática
pedagógica em sala de aula, afirma que essa prática não se realiza como
uma concretização de regras ou receitas de ação e que a transformação das
62
condições objetivas de ensino trariam maior contribuição do que a difusão de ideias
ou de receitas pedagógicas novas. Nesse sentido, são muitos os teóricos que
insistem em afirmar que o livro didático ainda se constitui no principal orientador do
trabalho de professores e alunos na escola, dentre os quais podemos
destacar Freitag (1989), Faria (1988, 1994), Oliveira (1984) e Méndez (2003).
As polêmicas acerca desse material são muitas e, assim como Freinet, outros
autores se contrapõem a essa ideia de que o livro didático é um instrumento
benéfico ao processo de aprendizagem. Perceberam que muitas vezes eles estão
cheios de textos subliminares acerca de assuntos tais, que Faria (1994) afirma que o
livro didático atua como difusor de preconceitos, através das ideologias que
carregam em seus discursos. Podemos compreender melhor esse caráter do livro
didático, enquanto difusor de preconceitos, a partir da compreensão de que
nossa sociedade é fortemente marcada pela divisão de classes, de modo que as
classes dominantes, ou seja, aqueles que detenham o poder de falar do e sobre
o ―outro‖, determinam as ideias que prevalecem nas narrativas e discursos
presentes nos textos dos livros didáticos, assim como as representações,
concepções e significados que estão sendo difundidos nestes livros nas escolas.
Seguindo o mesmo fio condutor da reflexão sobre a importância do livro didático
nas sociedades atuais, Saviani (1991), numa palestra proferida no Seminário
Nacional de Literatura e Pós-Modernidade, em Porto Alegre, no ano de 1988,
reflete sobre a compatibilidade do livro didático numa realidade pós-moderna e
defende que o conteúdo do livro didático ―[...] não deve ser constituído pelo antigo
ou tradicional nem pelo moderno ou pós-moderno. Seu critério deve ser o clássico.‖
(op. cit., p. 37), pois, seguindo esse caminho, ou seja, utilizando-se do livro didático
enquanto instrumento de participação do que acontece em nossa época, para
entendimento daquilo que passou, mas que perdurou como válido para as épocas
futuras, a escola estará contribuindo com o desenvolvimento da cultura humana.
O livro didático, alvo de tantas críticas, durante anos se configurou em uma
segurança para muitos educadores, uma vez que se entendia que lá se
encontravam todas as informações necessárias para ―o aprender‖ acerca de
determinados temas.
Por esse motivo o embate para a mudança e a exclusão do livro didático, na
Escola Freinet, sofreu, em um primeiro momento, desconfianças: os pais não
63
acreditavam que seus filhos seriam capazes de compor um material tão rico que
pudesse se comparar, aos grandes e distantes, livros didáticos.
O Livro da Vida na Escola Freinet de Natal surgiu em um contexto de
repensar a proposta pedagógica da escola; após anos de prática, observa-se que o
resultado do trabalho se traduzia muito mais no campo da subjetividade, portanto
havia a expectativa de transformar essa subjetividade em algo palpável, concreto.
Outro aspecto importante que se levou em consideração para a elaboração desse
material é a valorização do trabalho do aluno, o esforço e o caminho percorrido
precisavam aparecer e ser valorizados.
A avaliação faz parte do trabalho do professor e da rotina de qualquer escola,
na Escola Freinet não seria diferente, mas como fazê-lo evitando o rigor das
semanas de provas e sem o aspecto excessivo da subjetividade. O professor, o pai
e principalmente, o aluno que acompanha e participa do processo de construção do
Livro da vida, tem total condição de realizar uma avaliação eficaz, pois esta não será
resultado de um momento pontual, e sim de todo um percurso metodológico.
No livro da Vida encontramos registros fotográficos, das aulas passeios, dos
experimentos, das discussões, assim como registros escritos como: coletas de
dados, pesquisas planos de trabalho individuais e coletivos, textos finais de análises
de conteúdo, textos livres, entrevistas, frutos de um trabalho com significado.
Fica claro também, com este trabalho, o sentimento de cuidado e pertença que
permeia a relação dos alunos com esse material, uma vez que existe o
estabelecimento de relações de identidade. Todos os alunos se reconhecem nesse
registro. Trata-se de um trabalho em que eles publicaram suas impressões, seus
trabalhos, esse é o livro da vida da sala de aula e dos alunos.
O processo de produção do Livro da Vida na Escola Freinet de Natal, como
qualquer produção humana, é uma experiência produtiva histórica. Esta elaboração
se deu através de muitas buscas teóricas realizadas no ano de 1996, iniciadas em
uma revisitação à obra de seu mentor, Celéstin Freinet.
A formação de professores da Escola Freinet de Natal se confunde com a
própria produção das reformulações e adaptações necessárias às técnicas de seu
patrono, haja vista que as necessidades dos educandos, hoje, não são as mesmas
da época da criação delas. Nos encontros formativos acontecem verdadeiros fóruns
de discussão, cada professor em sua área de atuação contribui com os relatos de
64
sua vivência em sala para aproximá-la o máximo possível da realidade atual dos
alunos.
O resultado dessa atividade é inserido na rotina dos ateliês da escola, para se
avaliar, na prática, a sua eficácia em sala de aula. Passado algum tempo de
utilização da técnica, a mesma volta para mais uma sessão de discussão em que é
avaliada a fim de apurar os resultados conseguidos, ou adaptações para melhorar
seu desempenho.
A técnica do Livro da Vida, em um primeiro momento, foi inserida nas aulas
da Escola Freinet na integra, como relata os livros do próprio Celéstin Freinet, o
cuidado e o respeito dos educadores com o autor, não permitiram muitas
intervenções na versão original da técnica.
Como já foi dito, o Livro da Vida é uma técnica que, em sua execução,
perpassam várias outras técnicas. Inicialmente, dentro da Reunião Cooperativa de
Organização, são escolhidos os alunos que serão responsáveis pela seleção do
material que será inserido no Livro da Vida, em sua versão final, em seguida estes
alunos irão planejar, diante do plano de trabalho organizado para a semana, os
registros que irão para o livro da vida.
Neste momento da execução do Livro da Vida, todo o trabalho é feito de
maneira artesanal, através de recorte, colagem, e anotações manuais. Os alunos
precisam demonstrar suas habilidades manuais, seu senso de organização espacial
e ainda, de tempo, uma vez que eles terão que organizar seus horários para
trabalhar no Livro da Vida em meio a suas outras atividades.
O Livro da Vida por ser uma produção coletiva, tem no momento de decisão
da sua capa um momento rico de diálogo entre os alunos, pois esta proporciona
uma revisitação ao conteúdo do livro, para que fique caracterizado, nela, o maior
número de informação contida no interior do livro.
65
Ilustração: foto 6 - versões manuais do Livro da Vida Fonte própria da autora, 2016.
Ilustração: foto 7- capa do Livro da Vida feita manualmente/ Fonte: própria da autora, 2016
66
Outro momento importante nesta elaboração é a assinatura dos autores. Esta
etapa é repleta de solenidades em que cada autor fala sobre suas contribuições
para este material e, em seguida, executa sua assinatura, o que se transforma em
prova cabal de seu trabalho.
Ilustração: foto 8 - Assinatura dos autores dos Livros da Vida Fonte: própria da autora, 2016
As atividades do calendário escolar também têm lugar garantido no registro
do Livro da Vida, sendo contemplados os convites, o registro de tudo o que acontece
durante os eventos, inclusive de seus participantes, que, posteriormente, são
abarcados pelos relatos dos alunos sobre a atividade em questão. Isso pode ocorrer
através de fotos, desenhos, textos, ou mesmos por relatos de terceiros através de
entrevistas, as técnicas para este registro são bem variadas e não se esgotam
facilmente.
Na figura abaixo podemos perceber as várias formas de vê a Escola em que
estudam cada aluno desenhou a escola da sua forma, conforme seu ângulo de
visão, sob a sua maturação em relação ao desenho, mas de maneira alguma a
diferenças apresentadas provocam uma hierarquia entre os lugares de exposição
dos desenhos dentro do Livro da Vida.
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Ilustração: Foto 9 – Página do Livro da vida com convite para Feira de Cultura e desenho da
Escola;
Fonte: própria da autora, 2016
No ano de 2011, após algumas sugestões de pais, alunos, e professores, a
elaboração do Livro da Vida sofreu algumas alterações: o livro dantes feito de forma
artesanal passou a ser digital e entregue a cada aluno no final do bimestre em DVD;
fez-se necessária a aquisição de máquinas fotográficas para as salas ateliês, para
que todo o processo produtivo do trabalho em sala de aula pudesse ser fotografado
pelos alunos, isso gerou uma nova função no quadro de responsabilidades, o de
fotografo; foi incluído no material individual do aluno um pendrive, pois as pesquisas,
as atividades, as fotografias, precisavam ser transportadas de maneira rápida e
prática pelos alunos, e coletada para composição do livro, também aí se fez
necessário à criação da função, um aluno responsável pela organização dos dados;
o acervo de fontes de pesquisa também teve que ser incrementado, inicialmente
contávamos com livros didáticos e paradidáticos, livros da vida de anos passados e
68
agora todas as salas passaram a contar com computadores para facilitar o dia-a-dia
dos alunos.
Perceba-se que nada foi alterado na essência do livro, porém a técnica de
confecção teve que se adaptar às novas formas de trabalho, o trabalho eletrônico,
tão presente na vida dos educandos. Para eles estas alterações vieram em boa
hora, os alunos voltaram a sentir o desejo de organizar e produzir o Livro da Vida.
Mas nem tudo nesse processo foi fácil de ser implementado, a escola
enfrentou vários problemas, um deles estava na formação básica dos professores de
sala de aula, alguns com muita dificuldade de se relacionar com as novas
tecnologias, outros por falta de conhecimento resistiam em adaptar a técnica,
afirmando que desta forma o livro perderia o valor didático.
Alguns pais também demonstraram receio uma vez que atividades que
outrora eram impressas passaram a existir no plano virtual, o que em certa medida
abalou o campo da certeza de alguns. Nesse caso, em específico, ao assistir o
material produzido pelo filho em sala de aula, o temor ficava para traz, pois se
tratava de um material bem feito e organizado.
O custo dos equipamentos adquiridos também se transformou em outra
problemática enfrentada pela escola, que por se tratar de uma cooperativa e não
poder contar com recursos extras ou governamentais, sofreu um sensível abalo
financeiro.
No ano seguinte ressurgiu nas discussões de equipe, uma preocupação com
o livro didático adotado anualmente pela escola, os questionamentos procuravam
colocar em xeque nossa proposta pedagógica. Como a escola se põe como
defensora da Pedagogia do Francês Celéstin Freinet, que abominava os manuais, e
continua a utilizá-los?
Junto a estes questionamentos, surge a preocupação de alguns pais quanto
aos conteúdos trabalhados em sala de aula, aquele velho e insistente fantasma, que
assola a maior parte dos pais, ―será que meu filho terá acesso a todos os conteúdos
previsto pelos órgãos oficiais?‖. A escola não poderia ficar alheia a isso e procurou
aperfeiçoar ainda mais o Livro da Vida, e ainda deixar mais claro os procedimentos
para a produção desse material, e é nesse contexto que encontro de forma latente
as Categorias de Analises do meu trabalho.
A análise realizada permite afirmar que o desenvolvimento dos Livros da Vida
ressignifica os conteúdos e, consequentemente, o currículo escolar. Eles colocam o
69
aluno no centro do processo de aprendizagem tornando o currículo descentralizado,
flexível, transformador e interdisciplinar.
Faremos uma análise dessa proposta metodológica, frente aos conteúdos
conceituais, procedimentais e atitudinais, os quais estão imbricados na constituição
dos sistemas cognitivos dos alunos. A eles é conferida a liberdade para escolherem
situações de aprendizagem condizentes com seus sistemas de significação. Para
formularem as questões de pesquisa e a justificativa de escolha das mesmas, os
alunos necessitam ser capazes de identificar, reconhecer, classificar, descrever e
comparar ―objetos, acontecimentos ou ideias‖, o que, segundo Coll (2003, p. 165)
representa a capacidade de ―aprender fatos e conceitos‖.
Analisando documentalmente livros produzidos nesta fase que comportam os
anos entre 2011 e 2014, constatamos de maneira contundente, a existência real dos
conteúdos atitudinais, procedimentais e conceituais, tão importante para formação
global dos educandos.
3.3 O LIVRO DA VIDA: A MATERIALIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM E DA LIVRE
EXPRESSÃO
Nesta última parte do trabalho tratarei dos resultados da pesquisa, uma vez
que mostraremos o funcionamento do Livro da Vida e sua influência na
aprendizagem através da Livre Expressão. Organizaremos este capítulo de maneira
que fique exposto todo o percurso traçado para a produção do Livro da Vida, e com
ele, o processo de aprendizagem que é conferida aos alunos/autores desta
produção através dos conteúdos programático.
Toda escola no território nacional tem como documento maior, para sua
organização, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) nº 9.394 de 20 de Dezembro de
1996, por este motivo, a organização do currículo da escola campo de pesquisa
segue as mesmas determinações, onde seu currículo oficial obedece às orientações
deste, como podemos constatar no artigo 26 deste documento:
70
Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. (Lei de Diretrizes e Bases 2010, p.24)
Neste sentido, constatamos em nossas análises do Projeto Político Pedagógico da escola em questão, um trecho que mostra consonância com a LDB, o documento evidencia a obediência da instituição a legislação vigente no país, e ainda a garantia ao estudante que lá recebe sua instrução, que terá acesso ao currículo comum:
Os conteúdos de ensino são cuidadosamente organizados em consonância com a grade de disciplinas obrigatórias e complementares oferecidos pela rede oficial de ensino do país, respeitando todas as recomendações nela contidas tais como: a inserção dos temas transversais – ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, orientação sexual, temas locais, entre outros que se apresentem importantes num dado momento. Esses temas permeiam as diferentes disciplinas e é de responsabilidade de todos os professores e de cada um em particular.
(PROJETO POLITICO PEDAGOGICO DA ESCOLA FREINET DE NATAL, 2014, p.12).
Outro documento, objeto de nossas análises, que nos apontam o
cumprimento do currículo em consonância com a Base Nacional Comum, é o Dossiê
dos alunos da Escola, este documento serve como alternativa da instituição ao
―Boletim‖, nas escolas tradicionais, este é um espaço de registro para avaliação
trimestral dos alunos da escola. O dossiê apresenta o currículo oficial para o ano de
escolaridade a qual este se destina, com espaços específicos para o professor fazer
sua avaliação, como vemos na imagem abaixo:
Ilustração:
Foto 10 – Capa do dossiê Fonte: própria da autora, 2016
71
Ainda sobre o dossiê, vale chamar atenção que em sua composição é reservado espaços específicos para avaliação dos pais e a auto avaliação dos alunos como vemos na imagem abaixo:
Foto 11 – Parte interna do dossiê de avaliação 2014
Fonte: própria da autora, 2016
72
Fez-se imprescindível, tocarmos nestas explicações para nos situar no
universo de elaboração do Livro da Vida, uma vez que este processo se dá muito
antes de sua construção física, advindo dos primeiros passos dentro da escola,
através do planejamento do professor, este que tem como pretensão primária a
aprendizagem dos alunos aos quais ele irá orientar, por isto, o professor não deve
perder de vista tais orientações presentes na LDB e no Projeto Político Pedagógico
da escola.
Como estamos falando de currículo oficial, podemos perceber outro ponto que
difere a escola em questão das escolas tradicionais, onde estas tendem a colocar
como centro do processo de aprendizagem, o conteúdo programático, a chamada
Grade Curricular, ou até mesmo, Currículo Escolar. Para nos ajudar a esclarecer
melhor como este assunto é encarado em uma proposta de trabalho ativo, podemos
dizer então, que as concepções de currículo se diversificam no contexto histórico,
devendo atender as necessidades momento, não sendo um documento estático
como bem observa Libâneo (2001, p. 101):
O conjunto dos vários tipos de aprendizagem, aquelas exigidas pelo processo de escolarização, mas também aqueles valores, comportamentos, atitudes, que se adquirem nas vivencias cotidianas na comunidade, na interação [...]‖. O ―currículo, dessa forma, deve ser encarado como uma construção, e não como um produto acabado e que deve ser seguido à risca.
Um currículo vivo se faz a partir da vida, surge com a intenção de resgatar a vida
na escola e fazer com que a aprendizagem seja prazerosa e completa, e deve seguir
as premissas abaixo:
Cave bem fundo, vincule à educação a vida, dê as palavras o esplendor original, integre o saber nas alegrias e nas preocupações do trabalho. Mesmo que as julgue extintas, enterradas para sempre num passado morto, você as verá surgir como sem querer, vivas e dinâmicas, pois você as alimentou com sensibilidade e experiência e construiu sobre as rochas. (FREINET, 1988, p. 68).
Adiante, Freinet (1988, p.73) ainda observa:
Também nós tomamos impulso para a Vida; se a criança se interessa e se apaixona pela sua própria cultura, se ―quer‖ criar instruir-se, enriquecer-se, ela o conseguirá, talvez por ilógicos caminhos de contrabando, mas num
73
tempo recorde, com uma segurança e uma plenitude que nos edificarão. O principal é encontrar esse ardor, essa vida, esse furor de querer, que é bem próprio da natureza do nosso ser. Se o conseguirmos nas nossas classes, todos os problemas acessórios estarão resolvidos. Tais passagens evidenciam a importância do uso da sensibilidade do professor bem como a forte relação do ser humano com a natureza, sendo essas, alavancas de inúmeras aprendizagens e desenvolvimento de um ser humano mais sensível e pertencente ao meio.
Segundo Freinet endossado por Libâneo, a vida é fonte inesgotável de saber
e saber com significação, por que então buscar o currículo que subsidiará o trabalho
na escola em documentos frios e estáticos, que pouco dizem da vida do educando,
e que os encara como números estatísticos, e ainda, não os reconhecem como
agentes epistêmicos, negando sua condição de conhecedor de uma experiência
rica, frutífera. Neste sentido o educador deverá estar sempre atento e sensível para
perceber a emersão desses saberes e utilizá-los como ―prato principal‖ de suas
aulas.
Adentrando ainda mais no processo produtivo do livro da vida, após as
observações pertinentes sobre o currículo oficial da escola, parte integrante deste
processo, elaboramos um quadro no intuito de demonstrar o percurso dessa
produção, de maneira simplificada e esquemática, e que será mais bem detalhada
posteriormente:
74
Ilustração: Quadro 1 - etapas da produção do Livro da Vida Fonte: própria da autora, 2016
REUNIÃO COOPERATIVA DE ORGANIZAÇÃO
Planejamento dos Planos de Trabalhos Coletivos e
individuais
Técnicas da Pedagogia Freinet: Aula passeio, jornal, texto
livre etc.
REUNIÃO COOPERATIVA AVALIAÇÃO
PRODUÇÃO GRÁFICA
DENTRO DELA ACONTECEM...
PREENCHIDOS COM AS...
ELAS E AS ATIVIDADES PRODUZIDAS SERÃO
AVALIADAS NA...
LOGO APÓS RETORNAM Á...
OU SEGUEM PARA A...
CURRÍCULO OFICIAL
OS CONTEÚDOS SERÃO SELECIONADOS E EM
SEGUIDA SÃO LEVADOS PARA...
75
Como já foi exposta, a produção do Livro da Vida começa logo no
planejamento das aulas pelo professor da sala, diante do currículo oficial de sua
turma, no caso de nossa pesquisa o 4º ano, o professor seleciona os conteúdos que
melhor atende as necessidades de sua classe neste momento, este tema é levado
para um momento de discussão inicial (Reunião Inicial), espera-se que neste
momento os alunos tragam elementos de suas vivências (da vida) e despertem os
conhecimentos que já possuem sobre o tema, para agregar valor e proximidade com
o tema trabalhado. Em seguida, iniciam-se os trabalhos de planejamento dentro da
sala ateliê, através da Reunião Cooperativa de Organização, os alunos irão
preencher junto como o professor, o Plano de Trabalho com as atividades que
realizarão a fim de conhecer melhor os temas realizando as Técnicas da Pedagogia
Freinet, como meio de atingir os objetivos dos estudos. Em suma, o livro da vida,
que é uma técnica que aglutina outras, devendo ser considerado um legítimo
representante do currículo escolar vivo, de uma escola ativa, como a escola, campo
empírico, de nosso trabalho.
A aula passeio, a coleta de dados, as entrevistas, os experimentos, os ateliês,
são exemplos de atividades (técnicas) que podem fazer parte do plano de trabalho
dos alunos, que irão se utilizar do Tateamento Experimental, da Educação pelo
Trabalho, da Cooperação e da Livre Expressão (princípios da Pedagogia Freinet)
para trilhar em busca do conhecimento.
Este movimento não tem aí o seu fim, a cada período de tempo, semanal ou
quinzenal, é realizada a Reunião Cooperativa de Avaliação, que completa o
percurso avaliando o desempenho produtivo do aluno e da turma, dando voz ao
autor e aos seus parceiros (outros alunos) no intuito de lapidar este fazer, nas
semanas seguintes, pois de posse das avaliações o aluno planejará novamente
suas atividades.
Este caminho, estas atividades, estes experimentos, o seu aprender, suas
tentativas estarão expostos no Livro da Vida do aluno. Onde o aluno ao montá-lo
toma posse do seu processo de aprendizagem, este que ele tão bem conhece como
bem expõe a professora Doutora Djanira Brasilino de Souza nas páginas iniciais do
dossiê avaliativo da Escola Freinet de Natal, é um direito do aluno, ser parte
integrante na sua formação. Saber o que vai passar, durante as aulas, poder se
avaliar e mostrar o que mais aprendeu pedir ajuda sem ser julgado, se colocar a
disposição dos que tem mais necessidade.
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Relacionando o processo produtivo do livro da vida com a aprendizagem, e
resgatando o conceito desta já mencionado no primeiro capítulo, devemos levar em
conta à natureza social e socializadora da educação escolar como bem explicita
(Zabala, 1998, p. 37), para fazer relação com a real influencia da Livre Expressão na
aquisição da aprendizagem.
Partindo da concepção construtivista de aquisição da aprendizagem, que vem
corroborar com os processos de aprendizagens previstos na Pedagogia Freinet e na
produção do livro da vida, descrita acima, consideraremos alguns princípios desta
concepção para evidenciar as aquisições cognitivas dos alunos e as técnicas
aplicadas na produção do livro.
O primeiro princípio que Zabala aponta, propõe que a nossa estrutura cognitiva
é configurada em redes de “Esquemas de conhecimento‖, que consiste em
considerar as representações que o aluno tem sobre um dado conhecimento, em um
dado momento de sua vida. E ainda afirma (Zabala,1998, p. 37), ―Ao longo da vida,
estes esquemas são revisados, modificados, tornam-se mas complexos e adaptados
a realidade, mais ricos em relações‖. Segundo tal afirmação, a aprendizagem é um
processo de revisão e de construção de esquemas de conhecimento, que se somam
através das experiências dos indivíduos.
Por esta razão, quando na produção do livro da vida se oferece procedimentos
como a discussão dos temas na reunião inicial, a instrumentalização destes na
reunião cooperativa de organização e avaliação, se proporciona uma revisão nos
conhecimentos pré-existentes dos alunos ou ―conhecimentos prévios‖, outro
princípios apontado por Zabala. Estes se utilizam da livre expressão para através de
suas falas expressarem suas aquisições anteriores sobre o objeto estudado, e ainda
se utilizam da expressão de seus pares para recorrer a outros itens da memória que
ainda não veio à tona em sua fala, isso é que nos remete a afirmação da natureza
socializadora da educação escolar.
Em uma concepção tradicional de ensino, acredita-se que a simples exposição
aos conteúdos são suficiente para que a aprendizagem aconteça, mas desta
maneira ocorrerá uma aprendizagem superficial, mecânica e com poucas relações
com conhecimentos adquiridos anteriormente, e que pode gerar o esquecimento
rápido. Em contra partida, o Construtivismo, assim como Pedagogia Freinet, se
valem do princípio da aprendizagem significativa para potencializar o aprendizado,
Zabala afirma que esta acontece quando:
77
É necessário que diante destes (os conteúdos) possam atualizar seus esquemas de conhecimento, compará-los com o que é novo, identificar semelhanças e diferenças e integrá-las em seus esquemas, comprovar que o resultado tem certa coerência podemos dizer que está se produzindo uma aprendizagem significativa. (Zabala, 1998, p.37)
Com isso a aprendizagem, segundo Zabala, se dá com a atuação direta nas
Zonas de Desenvolvimento Proximal (Vygotsky, 1979), outro princípio construtivista,
que criará condições para novas aquisições a partir das já estabelecidas e de acordo
com o percurso a ser feito.
A aprendizagem orientada pelo Tateamento Experimental, conceito já exposto
no nosso capítulo de problematização, pode ser percebida no processo de produção
do livro da vida quando os alunos são levados a realizar experiências tateantes,
como se evidencia no registro de várias aulas passeio, quando os alunos vão de encontro
ao conhecimento, são incentivados a levantar suas hipóteses, descarta-las ou
refutá-las com o passar dos estudos. A livre expressão incentivada desde os
momentos iniciais dos estudos sobre determinado tema possibilita ao aluno
liberdade para colocar suas dúvidas, fazer ligações com outros alunos sobre um
mesmo assunto, sem medo de falar, porque ele sabe que tem direito a voz, não será
sancionado, nem impedido de se expressar, como ilustra a Invariante Pedagógica 13
de Freinet: A criança e o adulto não gostam de ser controlado, receber sanções nem
submeter-se a constrangimento. Isso caracteriza uma ofensa à dignidade humana.
por Imbernòn (2012, pág. 72).
Vejamos a seguir uma página do livro da vida da turma do 4º ano, onde a
aluna escreve um texto livre sobre as hipóteses de extinção dos dinossauros, este
trabalho é fruto do processo contido no Gráfico1 deste trabalho. Percebo que as
etapas pelas quais o estudo deste tema passou, auxiliou a aluna na aprendizagem
que ela demonstra através da escrita de seu texto. Isto permitiu que a aluna
enriquecesse seus esquemas de conhecimento através dos conhecimentos prévios
e agora o expressasse desta maneira.
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Ilustração: Foto 12 – Foto retirada do Livro da Vida 2014 da turma do 4º ano Fonte: própria da autora, 2016
O Conteúdo de Caráter Conceitual
Quando se refere à tipologia, surge aí nossa primeira categoria de análise,
dentro do objeto de estudo (livro da vida), o Conteúdo de Caráter Conceitual, este
acontece no instante onde, na tentativa de justificar a escolha dos temas a ser
estudados, ou a escolha do objeto de estudo, associada à mediação cuidadosa do
professor, aos alunos-pesquisadores ativam seus sistemas de significação relativos
ao tema da pesquisa. Ao argumentarem sobre o que desejam conhecer ou já
Hipóteses sobre a extinção dos dinossauros
Para trabalhar os conceitos de linguagem e produção de texto, estudamos sobre as
diferentes hipórteses sobre a extinção dos dinossauros. Essa atividade nos proporcionou
conhecer como a ciência trata o aparecimento e a extinção dessas incriveis criaturas.
Através de pesquisas dividimos a sala em alguns grupos, cada grupo Depois, teriamos
que organizar diferentes cartazes e apresentar para a turma. E então, escolhemos qual
hipótese nos consideramos mais verdadeira de acordo com os estudos.
Os dinossauros foram grandes
animais que viveram na terra durante a era
mesozóica. Essas criaturas dominaram o
planeta por aproximadamente 160 milhões de
anos, foram os maiores animais já registrados
na história. Próximo ao fim do período
cretáceo, algo aconteceu para eliminar esses
animais do planeta, há cerca de 65 milhões de
anos. São várias as teorias que tentam explicar
os motivos da extinção dos dinossauros. As
especulações, atualmente, se dividem em dois
grupos: teorias absoletas e teorias plausíveis.
As justificativas que integram o primeiro grupo:
formuladas em faze inicial dos estudos sobre
os dinossauros e por causa de inconsistências
e imaturidades são tidas hoje como
descartadas. Já as teorias plausíveis são as
presentes nas pesquisas atuais, são mais
maduras, entretanto ainda deixam lacunas nas
soluções.
Pesquisadora: Joyce Aureliano
79
conhecem acerca daquele conceito, estabelecem relações com outros conceitos
presentes em suas redes de significados. Estes consistem em substituir o
aprendizado das técnicas pelo desenvolvimento de estratégias de pensamento, a
produção dos alunos desde as atividades para discussão contemplam os conteúdos
conceituais.
Seguindo o princípio freinetiano do Tateamento Experimental que está
diretamente ligado ao fazer científico. Segundo Pozo e Crespo (2009): ―Uma pessoa
adquire um conceito quando é capaz de dotar de significado um material ou uma
informação que lhe é apresentada, ou seja, quando ―compreende‖ esse material; e
compreender seria equivalente, mais ou menos, a traduzir algo para suas próprias
palavras.‖ (p. 82). Considerando-se os argumentos de Coll (2003) e de Pozo e
Crespo (2009), é possível afirmar, que o trabalho com os referidos livros se pauta na
iniciação científica não desconsidera a aprendizagem dos conceitos; ao contrário,
ele resignifica os mesmos na medida em que foca a sua compreensão, remetendo
ao abandono da mera acumulação ou repetição. Enquanto na escola tradicional os
conceitos são apresentados como fatos passíveis de serem transmitidos, durante a
elaboração da pesquisa os avanços ocorrem em sentido inverso. Um dos objetivos
da produção do livro da vida consiste em fazer com que fatos simples do cotidiano
evoluam até os saberes científicos.
O Conteúdo de Caráter Procedimental
A epistemologia genética mostrou que a aprendizagem envolve a construção
de sistemas cognitivos dinâmicos responsáveis por ―ultrapassar um estado de fato
para visar um novo real rico em atualizações eventuais, melhor equilibrado
conceitualmente.‖ (PIAGET, 1995, p. 59). É justamente na composição destes
sistemas que residem os conteúdos procedimentais, daí a dificuldade da avaliar e,
até mesmo de, verbalizar o procedimento realizado. Ele representa os níveis de
domínio, em relação a um dado contexto, alcançados pelo indivíduo. Ocorre que
existe uma diferença significativa entre o saber fazer e o explicar o que se fez.
(POZO; CRESPO, 2009) Os tipos de procedimentos estão, segundo Pozo e Crespo
(2009 p. 49) ―situados ao longo de um contínuo de generalidade e complexidade que
iria das simples técnicas e destrezas até as estratégias de aprendizagem e
raciocínio‖.
80
A escola sempre foi, e acredito que sempre será um espaço onde podemos
perceber rapidamente as transformações ocorridas de geração em geração,
portanto, é vital e urgente o movimento permanente de repensar o ―fazer‖
pedagógico. Freinet investido de sua percepção futurista fala desta urgência,
afirmando que nas evoluções sociais e técnicas se davam em um compasso de
gerações, o que facilitava a vida de pais e educadores que tinham como função
principal, preparar as crianças para problemas conhecidos, era possível em certa
maneira antecipar possíveis dificuldades. Os professores eram preparados em suas
formações com técnicas que pouco se alterariam durante sua atuação docente, não
precisavam considerar qualquer mudança drástica de comportamento. Sobre tais
indagações discute Margaret Mead (1971) apud Forquin (2015) pág 7.
Hoje, não se encontra em nenhum lugar do mundo pessoas mais velhas que sabem o que as crianças sabem, por mais distantes e simples que sejam as sociedades onde vivem essas crianças, afirma Margaret Mead. ―No passado, sempre havia adultos que sabiam muito mais coisas do que qualquer criança, pelo fato de terem crescido no interior de um sistema cultural. Hoje não existe mais nenhum. Não só porque os pais deixaram de ser guias, mas também porque não existem mais guias, por mais que se procure por eles no seu próprio país ou no exterior. Nenhum adulto de hoje sabe do nosso mundo o que dele sabem as crianças nascidas no decorrer dos últimos vinte anos. (p. 123-124)
Mas como acompanhar toda esta velocidade que nos é apresentada através
dos alunos? Onde buscar o equilíbrio para não sermos engolidos por esta onda
tecnológica inevitável? É por essa razão, conclui Margaret Mead, que num mundo
onde deixaram de existir as culturas pós-figurativas, as quais eram sistemas
essencialmente fechados que reproduzia indefinidamente o passado, ―nós devemos
agora trabalhar na‖ criação de sistemas abertos centrados no futuro, isto é, voltados
para crianças cujas capacidades nos são desconhecidas e cujas escolhas precisam
permanecer ―abertas‖ (p. 143), sistemas estes cujo desenvolvimento dependerá
essencialmente ―da existência de um diálogo contínuo por meio do qual os jovens,
livres para agirem a partir de sua própria iniciativa, poderão conduzir os adultos no
caminho do desconhecido‖. (p. 145)
81
E foi pensando nisto que Freinet elaborou suas técnicas. E por saber da
velocidade a qual estão fadadas a transformação da vida nos privou de amarras, nos
deixando livres para tatear em busca de caminhos para o nosso fazer.
Um legado importante impresso na Pedagogia Freinet, e que nos aproxima de
uma lógica possível para os dias atuais, consiste no princípio do Tateamento
Experimental que tem como eixo maior a instrumentalização da inteligência, atua na
formação conceitual, que não necessariamente acontecerá de forma igual para
todos.
Projetar, tatear, verificar, experimentar, tão preconizados para a realização do
livro da vida, são sinônimos que trilham para uma conceituação científica que não
morre em si mesma, pelo contrário, abre um leque de possibilidades para novos
questionamentos para chegar a construção de outros conceitos, isto sim, não será
engolido pela rapidez com que o conhecimento tem se modificado, pois o
pensamento sempre será agente transformador e nunca estático.
Dessa forma, professores e alunos se transformam em buscadores, em
experimentadores; os papéis não são invertidos, são reinventados. O professor não
é apenas o transmissor, num mundo em que tudo acontece de uma forma
vertiginosa, que o novo daqui a pouco será velho, em que não sabemos com muita
certeza como é. O professor traz a sua experiência de vida para também descortinar
possibilidades, cavoucar talentos e incentivar o surgimento das iniciativas dos seus
alunos.
No contexto da pesquisa, os procedimentos ocupam um lugar relevante por
que tornam os alunos participantes dos próprios processos de construção e
apropriação do conhecimento.
Durante o desenvolvimento do livro, ao ―tomar decisões e realizar uma série
de ações, de forma ordenada e não aleatória, para atingir uma meta‖ (BRASIL,
1997, p.52) os alunos pesquisadores, com o apoio dos conteúdos procedimentais,
Desde a escrita da justificativa, passando pela seleção e análise das produções
referentes ao assunto pesquisado, a escolha da metodologia até o registro da sua
própria produção os conteúdos procedimentais estão presentes aprofundam seu
quadro conceitual.
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O Conteúdo de Caráter Atitudinal
Os conteúdos atitudinais passam a ser reconhecidos como uma parte
constitutiva do currículo. O trabalho em equipe e a divulgação das próprias
produções se constituem em espaços de diálogo que exigem dos alunos a
interiorização de novas formas de comportamento valorizando o desenvolvimento de
atitudes e valores.
Da mesma forma, os conteúdos atitudinais permeiam o processo já que os
valores e as atitudes se tornam necessários para o bom andamento do trabalho em
equipe. Os progressos na interação e cooperação ficam evidentes nas rodadas e
nas mostras dos trabalhos produzidos. Pozo e Crespo (2009) indicam que o primeiro
passo para a elaboração de qualquer currículo que valorize os conteúdos atitudinais,
é os professores tomarem consciência das atitudes que pretendem desenvolver
junto aos seus alunos e das atitudes que expressam nas suas condutas. Os autores
destacam que a aquisição de atitudes sempre envolve a identidade das pessoas que
dela participam. Desta forma, a mudança de atitude se desenvolve em complexos
processos de aprendizagem, baseados na mudança de conduta tanto dos
professores quanto dos alunos. Os conteúdos procedimentais tem uma natureza
diferente dos demais conteúdos. Embora permeiem todas as etapas do
desenvolvimento eles não podem ser aprendidos nem ensinados.
As técnicas baseadas na ação são representadas pelos movimentos
efetuados pela abstração empírica, ao passo que as estratégias de raciocínio
elaboradas para se alcançar um dado resultado fundamentam-se na abstração
reflexionante. Ocorre que ambos estão presentes em cada progresso atingido pelo
sujeito, embora com graus de profundidade diferente uma se apoia sobre a outra.
(PIAGET, 1995).
As três grandes categorias de conteúdos apresentadas nos PCNs constituem
a espiral evolutiva do conhecimento do aluno que se desenvolve a cada etapa
elaborada nos Livros da vida. ―ideias, imagens e representação da realidade‖
(MEC/SEF, 1997, p. 51). Desta forma, os conteúdos procedimentais constituem as
estruturas que fundamentam a constituição dos sistemas cognitivos. Como pode ser
evidenciada, a metodologia empregada na produção do Livro da Vida, além de
integrar as tecnologias digitais ao currículo da Educação Básica fundamenta-se na
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estruturação dos sistemas conceituais, procedimentais e atitudinais evidenciados
durante a elaboração das atividades.
Iremos detalhar estas Categorias dentro do Livro da Vida, escolhendo um conteúdo programático de cada componente curricular, advindo do currículo oficial, e como este aparece como resultado final dentro do Livro da Vida. Neste percurso chamaremos sempre atenção pra as observações advindas do Projeto Político Pedagógico da escola, baseadas nos PCNs, para uma melhor organização dos conteúdos de cada disciplina. Iniciaremos evocando as orientações para a Língua Portuguesa, onde explica:
Para a Língua Portuguesa, propõe-se a escola que organize o ensino de modo que o aluno possa desenvolver seus conhecimentos discursivos e lingüísticos, sabendo: ler e escrever conforme seus propósitos e demanda social; expressar-se apropriadamente em situações de interação oral diferentes daquelas próprias de seu universo imediato; refletir sobre os fenômenos da linguagem, particularmente os que tocam a questão da variedade lingüística, combatendo a estigmatização, discriminação e preconceitos relativos ao uso da língua. (PROJETO POLITICO PEDAGOGICO DA ESCOLA FREINET DE NATAL, 2014,P.13)
Ainda no Projeto Político Pedagógico:
Vale sempre lembrar que o melhor manual para a aprendizagem da língua é o texto escrito pelo aluno. A partir do texto pode-se apreciar a organização do pensamento do aluno, o conhecimento que ele tem do meio onde ele habita, a sua familiaridade com o uso correto ou não da gramática e daí partir para as aquisições que se fizerem necessárias à aprendizagem da norma culta da língua portuguesa. (PROJETO POLITICO PEDAGOGICO DA ESCOLA FREINET DE NATAL, 2014, p. 13)
CONTEÚDO CONCEITUAL: Texto informativo: Categoria texto jornalístico
CONTEÚDO PROCEDIMENTAL: Ter compromisso de legibilidade com o leitor,
aperfeiçoando sua escrita.
CONTEÚDO ATITUDINAL: Atribuição de sentido, coordenando texto e contexto.
PRODUÇÃO DO LIVRO DA VIDA: Reportagem produzida pela aluna Lívia Maria 12/08/14, após as pesquisas, discussões e atividades.
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Ilustração: Foto 13 – Texto Livre da aluna Livia Maria, foto retirada do Livro da Vida 2014 da turma do 4º ano
Fonte: própria da autora, 2016
A imagem acima é a representação fiel do entendimento da aluna por sobre o
assunto trabalhado. A produção textual conta com os quesitos fundamentais
apresentados durante os estudos em sala, quanto ao formato específico do gênero
textual em questão.
É perceptível no texto da aluna sua preocupação com um tema que faz
relação com o contexto do momento uma vez que se aproximava o período de
comemoração do dia dos pais. Com linguagem simples a aluna se posiciona e faz
uso do gênero texto informativo para isso.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para a área de Língua Portuguesa
apontam para a necessidade de dar ao aluno condições de ampliar o domínio da
língua e da linguagem, aprendizagem fundamental para o exercício da cidadania. O
caminho da aprendizagem significativa, proposta pela produção do Livro da Vida,
expõe o aluno a diversas situações de escrita, como a ilustrada acima, uma vez que
todo o livro é produzido pelo educando. E neste sentido, oferece-se como alternativa
de trabalho para desenvolver seus conhecimentos discursivos e lingüísticos,
sabendo:
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[...] ler e escrever conforme seus propósitos e demandas sociais; expressar-se apropriadamente em situações de interação oral diferentes daquelas próprias de seu universo imediato; refletir sobre os fenômenos da linguagem, particularmente os que tocam a questão da variedade lingüística, combatendo a estigmatização, discriminação e preconceitos relativos ao uso da língua. (BRASIL, 1998,P.59)
A Livre Expressão ―costura‖ todo o processo de conhecimento, inclusive nas
práticas de linguagem que são primordiais par que o aluno expanda sua capacidade
de uso da linguagem e de reflexão sobre a Língua Portuguesa devem organizar-se
tomando o texto (oral ou escrito) como unidade básica de trabalho.
Para iniciarmos a tratar da disciplina da matemática faz-se por bem lembrar o
que diz Freinet, quando escreve sobre o Método Natural I – aprendizagem da língua,
p. 14: ―Nenhuma, absolutamente nenhuma das grandes aquisições vitais se faz por
processo aparentemente científicos. É caminhando que a criança aprende a
caminhar; é falando que aprende a falar; é desenhando que aprende a desenhar‖.
Esta colocação de Freinet não se limita ao conhecimento matemático, porém nele
em especial, este conceito se faz pertinente.
Ainda evidenciando as orientações do Projeto Político Pedagógico, os
conhecimentos matemáticos têm como orientação que:
Para a Matemática, deve-se desenvolver uma prática que possibilite a inserção do aluno como cidadão, no mundo do trabalho, das relações sociais e da cultura. Deve-se substituir no ensino da Matemática os procedimentos mecânicos pela resolução de problemas e experiências práticas vivenciadas pelo aluno no seu cotidiano. (PROJETO POLITICO PEDAGOGICO DA ESCOLA FREINET DE NATAL, 2014, p. 14)
CONTEÚDO CONCEITUAL: Números Decimais CONTEÚDO PROCEDIMENTAL: Compreensão e utilização das regras do sistema de numeração decimal para leitura, escrita, comparação e ordenação dos números naturais. CONTEÚDO ATITUDINAL: Atribuir sentido aos números decimais e seus usos. PRODUÇÃO DO LIVRO DA VIDA: Registro dos alunos medindo o espaço externo da escola para analise dos dados em sala de aula.
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Ilustração: Foto 14– Alunos medindo a área externa da escola na aula da matemática. Fonte: própria da autora, 2016
A atividade registrada no livro da vida através desta imagem seguiu a
orientação do professor de sala, onde os alunos utilizaram as dimensões e medidas
da escola para se apropriar dos números decimais. Os alunos planejaram e
executaram um projeto para inserir no espaço mostrado um gramado, e para isso
realizaram uma série de cálculos com números decimais para conclusão da
atividade.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a aprendizagem
significativa, propõe para o ensino da matemática o desenvolvimento de uma
matemática que permita ao aluno compreender a realidade em que está inserido,
desenvolver suas capacidades cognitivas para a vida, de modo a ampliar os
recursos necessários para o exercício da cidadania, onde o mesmo através de sua
Livre Expressão este encontre seu lugar no mundo.
No que se refere à disciplina de História, a orientação da escola, baseada na
Pedagogia Freinet, sugere evitar os nomes, as datas que não serão facilmente
compreendidos pelas crianças, pois não necessariamente fará sentido em um
primeiro momento. Não que estes não possam ser citados, mas não devem ser
cobradas como conteúdo principal. E o documento oficial da escola orienta:
Na História, recomenda-se ao professor valorizar o intercâmbio de ideias, através do uso de imagens, texto, objeto, música etc...Incentivar uma informação pelo diálogo, pela troca na
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formulação de perguntas, na construção de relações entre o presente e o passado e no estudo das representações. E desse modo subsidiar o aluno, para torná-lo um cidadão crítico e consciente das transformações da sociedade. (PROJETO POLITICO PEDAGOGICO DA ESCOLA FREINET DE NATAL, 2014, p. 14)
A aula Passeio acima demonstrada procurou, em consonância como os
PCN´s, ―valorizar o intercâmbio de idéias, sugerindo a análise e interpretação de
diferentes fontes e linguagens — imagem, texto, objeto, música etc. —, a
comparação‖ PCN´S, (1998, P. 60). Entre informações e o debate, ocasionadas por
incentivo da Livre Expressão, acerca de explicações diferentes para um mesmo
acontecimento. Incentivam, desse modo, uma formação pelo diálogo, pela troca, na
formulação de perguntas, na construção de relações entre o presente e o passado e
no estudo das representações.
E na Geografia [...] ―deve ser ensinada de modo que os alunos possam
realizar uma leitura da realidade, que tenha significado no seu cotidiano, para que
eles possam interagir, num processo de globalização e fortalecer o seu espírito de
solidariedade como cidadão‖. Por este motivo é tão importante levar o aluno a
expressar-se, e como isso, levar o conteúdo trabalhado de encontro as suas
vivências.
CONTEÚDO CONCEITUAL: Brasil: Descobrimento ou Achamento?
CONTEÚDO PROCEDIMENTAL: Reconhecimento do estudo da História para nossa
vida cotidiana.
CONTEÚDO ATITUDINAL: Analisar o presente por meio do passado
PRODUÇÃO DO LIVRO DA VIDA: Registro fotográfico da aula passeio dos alunos
nos principais pontos históricos da cidade.
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Ilustração: Foto 15 – Aula passeio no centro histórico de Natal, retirada do Livro da Vida 2014 da turma do 4º ano
Fonte: própria da autora, 2016
A aula acima mencionada fez parte de uma série de atividades programas
pelos professores e alunos para responder a questão desencadeadora das
discussões no ateliê de história: Brasil: Descobrimento ou Achamento?. Os alunos
realizaram a aula, fizeram fotos dos pontos históricos, tiveram acesso ao acervo de
roupas da Igreja do Galo, visitaram o museu Câmara Cascudo, Forte dos Reis
Magos entre outros.
Na área da História, os Parâmetros Curriculares Nacionais têm, como pressuposto,
que o aluno pode apreender a realidade na sua diversidade e nas múltiplas dimensões
temporais. Desta maneira podemos destacar o compromisso e as atitudes de indivíduos, na
construção e na reconstrução das sociedades; propondo
[...] estudos das questões locais, regionais, nacionais e mundiais, das diferenças e semelhanças entre culturas, das mudanças e permanências no modo de viver, de pensar, de fazer e das heranças legadas por gerações. Procuram valorizar diferentes fontes e linguagens — imagem, texto, objeto, música etc. o intercâmbio de idéias, sugerindo a análise, interpretação e comparações [...] (BRASIL, 1998, p.63)
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A Livre Expressão propõe a formação pelo diálogo, pela troca, formulação de
perguntas, construção de relações entre o presente e o passado e no estudo das
representações, esta vivencia se configura numa verdadeira aprendizagem
significativa.
No contexto das Ciências Naturais
―Ciências Naturais devem ser ensinadas de forma a propiciar aos alunos o desenvolvimento de uma compreensão do mundo que lhes dê condições de continuamente colher e processar informações, desenvolver sua comunicação, avaliar situações, tomar decisões, ter atuação positiva e crítica no seu meio social‖. (PROJETO POLITICO PEDAGOGICO DA ESCOLA FREINET DE NATAL, 2014, p. 14)
CONTEÚDO CONCEITUAL: Os sistemas do corpo humano
CONTEÚDO PROCEDIMENTAL: Estabelecer relações entre os diferentes sistemas
do corpo humano
CONTEÚDO ATITUDINAL: Fazer uso dos estudos sobre o corpo, atribuindo
cuidados em sua vida diária.
PRODUÇÃO DO LIVRO DA VIDA: Registro da vivência dos alunos no laboratório
de ciências de uma faculdade da cidade.
Na disciplina de ciências e no intuito de desenvolver os conteúdos acima
mencionados, foi realizada uma aula passeio (técnica da Pedagogia Freinet), para
um laboratório de ciências de uma faculdade da cidade, onde os alunos puderam
encontrar explicações sobre as hipóteses levantadas em sala por eles, receberam
explicações de profissionais da área, e ainda, puderam ter acesso a materiais
especializados encontrados no laboratório.
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Ilustração: Foto 16 – Aula passeio em uma Faculdade de Natal , retirada do Livro da Vida 2014 da turma do 4º ano
Fonte: própria da autora, 2016
Os exemplos que utilizei para ilustrar os registros contidos no livro da vida da
turma do 4º ano 2014, nos leva a concluir que há uma preocupação contínua em
fazer com que os alunos tenham acesso ao conteúdo vivo, não deixando de lado o
que exigido pelo currículo oficial. Perceber que o que se estuda em sala de aula tem
repercussão direta com a vida fora dos muros da escola.
Isto tudo para que se estabeleça uma relação crucial entre os conteúdos e
que desta maneira se provoque nos educandos a vontade de aprender, por entender
que o que ele faz tem significação e é valorizado através do registro no livro da vida.
Para o ensino das Ciências Naturais, os Parâmetros Curriculares Nacionais
propõe, uma aprendizagem dialógica, promovendo o contato direto como o conteúdo
trabalhado, e ainda, leve o aluno ao questionamento, o debate, a investigação,
proporcionadas dentro da Pedagogia Freinet, através da Livre Expressão, visando o
entendimento da ciência como construção histórica e como saber prático..
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Por fim não poderíamos encerrar este capítulo sem tratar da relação entre
conhecimento, comunicação (Livre Expressão) e Invariantes Pedagógicas. Por traz
de toda ação positiva ou não, há sempre uma intenção, na educação não é
diferente, uma vez que ao pensar uma aula, o professor deposita nela varias de
suas crenças e preocupações. Então o que diferencia a Pedagogia Freinet desta
premissa, é o fato do aluno estar junto neste planejamento, ou seja, se sai do eixo
do professor, para o eixo aluno, configurando desta maneira que todo o processo de
planejamento e execução do Livro da Vida favorece o explorar das crenças e
preocupações dos alunos, de suas vidas. O aluno são levados através das técnicas
freinetianas a expressar seu pensamento de forma oral ou escrita e isto é
concretizado no livro desta turma de 4º ano do Ensino Fundamental dos anos
iniciais. O aluno é levado a produzir conhecimento, ele não é um ser passivo, e tem
suas produções reconhecidas através da impressão do produto final destes, O
LIVRO DA VIDA.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Para iniciar as considerações finas deste trabalho voltarei ao terceiro capítulo,
para trazer minhas analises sobre as aprendizagens desenvolvidas a partir da
produção do livro da vida, e, por conseguinte, responder a pergunta de partida deste
trabalho: Como as práticas de ensino, tendo como metodologia mediadora, a livre
expressão contribuem para aprendizagem?, e ainda, atender ao nosso objetivo geral
que é evidenciar a influencia da Livre Expressão na aprendizagem e o específico
que é analisar o Livro da vida como alternativa de trabalho resultante da Livre
Expressão.
No ultimo capítulo foi feito um apanhado de conteúdos que contemplam o
currículo oficial do 4º ano, turma analisada na pesquisa, e em seguida descrevemos
a atividade que foi registrada no livro da vida dos alunos, e a ilustração deste
registro. Isto foi feito para demonstrar de que forma os conteúdos programáticos
surgem dentro do nosso objeto de estudo (o Livro da Vida).
As categorias de analises emergem da pesquisa documental realizada nos
livros da vida desta turma, dão conta de que a aprendizagem dos alunos não se
limita aos conteúdos conceituais, como acontece nas escolas que tem o ensino
tradicional como referencia.
O Livro da Vida é a representação de todo o processo educativo da Escola
Freinet de Natal e da Pedagogia Freinet, a produção deste material como já foi
enfatizado no terceiro capítulo, perpassa a dia a dia dos alunos nos ateliês (sala de
aula), por este motivo chegamos à conclusão de que um dos aspectos encontrados
em nosso objeto de estudo é que ele aglutina as atividades (técnicas) que
instrumentalizam a aprendizagem dos alunos.
Freinet ao organizar estas técnicas vislumbrou a significação do trabalho
realizado em sala, com bem explica em sua Invariante 17 ―A criança não se cansa
de um trabalho funcional, ou seja, que atende aos rumos da sua vida‖ (Imbernòn
2012, pág.74), afirmando que o sucesso da aprendizagem está ligado ao desejo e
disponibilidade do educando em buscar o conhecimento. Ter sede de aprender é
etapa crucial na aprendizagem como um todo, ou seja, produzir o livro da vida se
utilizando das técnicas da Pedagogia Freinet leva a uma aprendizagem significativa.
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Neste sentido uma das principais funções do Livro da Vida é o registro destas
atividades, mas não o registro pelo registro, é a valorização do trabalho do aluno, um
trabalho que será aperfeiçoado, de maneira individual ou coletiva, até que este
possa fazer parte de uma produção escrita tão importante como o Livro. Como o
próprio Freinet afirma: ―Valorize o texto informe, dando-lhe a perenidade do
majestoso impresso; valorize, pelas cores e pela apresentação, os desenhos que
forem dignos de uma coleção ou de uma exposição‖ (FREINET, 1988, p. 34). E
ainda em sua invariante 26, Freinet fala da não valorização: ― A concepção atual das
grandes escolas conduz professores e alunos o anonimato, o que é sempre um erro
e cria barreiras.
Então com essa prática, afirma (Freinet 1988, p. 34), o aluno sentirá orgulho
de sua obra bem feita e se animará em fazer novos trabalhos, escrever novos textos
e produzir novos desenhos. Desta forma, podemos constatar outro aspecto
importante na produção do livro da vida que implica diretamente na aprendizagem
dos alunos, a Motivação, percebida através do orgulho e desejo dos alunos ao
produzir tal material.
Diante disso, foi constatado que por meio dos atrativos de uma prática
pedagógica produtiva pautada em uma pedagogia moderna, como é a proposta do
educador Freinet, as possibilidades dos educandos de produzirem em conhecimento
e de comunicar o que aprendeu. Isso percebido nas produções dos alunos da turma
em análise, em que os educandos se apresentaram como sujeitos motivados,
autônomos, com sede de conhecer, com isso é possível perceber, ainda, que há nas
produções dos alunos da turma em análise, a sede de conhecer, de produzir e
comunicar o que aprendeu. Como o Freinet ilustra em seu livro Pedagogia do Bom
Senso (FREINET, 1988, p.16):
Se o aluno não tem sede de conhecimentos, nem qualquer apetite pelo trabalho que você lhe apresenta, também será trabalho perdido ―enfiar-lhe‖ nos ouvidos as demonstrações mais eloquentes. Seria como falar ao surdo. Você pode elogiar, acariciar, prometer ou bater... o cavalo não está com sede!
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Contrário a tal apelo ainda em (FREINET, 1988, p.16):
Provocar a sede, mesmo que por meios indiretos. Reestabelecer os circuitos. Suscitar um apelo interior para o alimento desejado. Então, os olhos se animam, as bocas se abrem, os músculos se agitam. Há aspiração e não atonia ou repulsão. As aquisições fazem-se agora sem intervenção anormal da sua parte, num ritmo incomparável às normas clássicas da Escola.
O livro da vida é motivação, e como o Freinet fala em sua Invariante – 9 ― É
fundamental a motivação para o trabalho‖ por Imbernòn (2012, pág. 68). Passo a
ressaltar esta afirmação por constatar produções de qualidade, produzidas mediante
as exigências do currículo oficial das escolas, textos de opinião com argumento bem
articulados, desenhos caprichados, fotos de momentos de busca de conhecimento
em aulas passeios precisas.
O princípio da Livre Expressão entra na produção do Livro da Vida como uma
mola propulsora de opinião e escolhas, o processo de produção deste livro acontece
de maneira muito democrática, e é seguindo este raciocínio que os alunos se
colocam como produtores destes, e como tal são responsáveis por definir tudo que
lá será exposto. Isso demanda dos educandos uma constante expressão de
argumentos e opiniões para se chega ao resultado final do trabalho.
Como foi exposto no terceiro capítulo, a execução produtiva do livro é
costurada por dois momento (técnicas da Pedagogia Freinet) importantes, a Reunião
Cooperativa de Organização, momento de planejar todo o processo de
aprendizagem dos alunos e pelos alunos, que tem com consequência amplas
discursões sobre o melhor caminho à seguir, e ainda, a Reunião Cooperativa de
Avaliação, que trás em sua execução momentos de repensar o que foi bem ou mal
sucedido neste processo. Isto empodera os educandos no sentido de avaliar e
reprogramar as atividades no intuito de buscar melhores resultados para si próprias,
o que ressalta como aspecto relevante no desenvolvimento de sua autonomia e
posse de sua própria formação.
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Revisitação dos conteúdos estudados através da avaliação e da
reprogramação das atividades também deve ser ressaltada como aspecto relevante
para a aprendizagem dos educandos, que tomam posse da sua própria formação.
Outro aspecto importante nesta produção é a escolha, pelo aluno, de que
produções do seu processo de aprendizagem, foram significativas o suficiente para
ser imortalizado nas páginas do livro da vida. Esta é uma etapa de muita reflexão
por sobre sua aprendizagem e como tal, promove o reviver e consolidação do que já
foi feito.
Adentrando em algumas observações que realizei durante a análise e
construção desse trabalho ressalto que dentro da proposta de produção do livro da
vida. Dentro da proposta de produção do livro da vida evidenciada no Projeto
Político da Escola participante da pesquisa, existe uma orientação de reutilização
dos livros produzidos; Essa se realizaria pelo uso de alunos de anos posteriores a
produção no intuito de se utilizarem como fonte de estudos já realizados por outro
alunos com fonte de pesquisa. O que não vem acontecendo, os livros produzidos
são entregues aos alunos e sua utilização tem ficado restrita aos mesmos.
Essa ação por parte da escola, retira o caráter do seu Projeto de Ensino,
elaborado politicamente, o Projeto Político e Pedagógico que traduz as intenções de
dar significado e valorização pelas produções dos alunos. Nesse aspecto, a escola
perde um pouco do caráter valorativo dos seus educandos, se descaracteriza, até
certo ponto, da pedagogia Freinetiana e retira a oportunidade dos educandos de
serem coparticipantes em trabalhos posteriores e de outros alunos menos
experientes, e destes conhecer os aspectos históricos da própria instituição
representados nas diferentes vozes dos alunos que lá estiveram Com isso se perde
mais uma forma de valorização dos trabalhos destes alunos, o que os elevaria à
coparticipantes em trabalhos posteriores e de outros alunos menos experientes.
Outro ponto que gostaria de registrar é a produção de um livro da vida
coletivo, ou seja, um livro que registra toda a produção da turma, desta forma corre-
se o risco de se evidenciar os trabalhos de alunos que se destacam em detrimento
dos alunos que tem um processo de aprendizagem mais lento. O que se configuraria
um erro e uma negação aos princípios da Pedagogia Freinet.
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Ainda sobre o livro da vida coletivo, não acreditamos que em um único
exemplar seja possível registrar todo o processo metodológico de uma turma inteira,
com suas devidas reflexões.
Diante do exposto e das observações afirmamos que o processo de produção
dos livros da vida, através da livre expressão, constitui como instrumentos decisivos
no desenvolvimento das capacidades cognitivas dos alunos, e que possibilita a
aprendizagem dos conteúdos de Carácter Conceitual, Atitudinal e Procedimental.
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