o habitus professoral- o objeto dos estudos sobre o ato de ensinar na sala de aula (3)

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O habitus professoral: o objeto dos estudos sobre o ato de ensinar na sala de aula Programa de Pós Graduação em Educação FaE/CBH/UEMG Sociologia da Educação Andréa Gaspar Lidiane Arantes

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Apresentação de pesquisa sobre o habitus professoral

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O habitus professoral:o objeto dos estudos sobre o ato de ensinar na sala de aulaPrograma de Ps Graduao em Educao FaE/CBH/UEMG Sociologia da Educao

Andra GasparLidiane Arantes

IntroduoO artigo surge a partir de uma dissertao e uma tese, respectivamente: O movimento adidtica em questo: alguns de seus embaraos (Silva, 1994) e As experincias vividas na formao e a constituio do habitus professoral: implicaes para o estudo da didtica (Silva, 1999).

A construo desse trabalho se embasou fortemente no pensamento de Pierre Bourdieu e sua noo de habitus e na categoria denominada experincia por Edward Palmer Thompson.Essas pesquisas contriburam para fortalecer a base emprica sobre o lugar do aprendizado dateoria e da prtica na formao de professores, que estabelece relao direta com a constituio do objeto de estudo em questo: O habitus professoral.

a natureza do ensino na sala de aula constituda por uma estrutura estvel, porm estruturante, isto , uma estrutura estvel mas no esttica, que denominamos habitus professoral.Os primeiros esteios da idiaA ideia surgiu a partir dos dados coletados para uma pesquisa quantitativa que dizia respeito ao modo por meio do qual os futuros professores para as sries iniciais do ensino fundamental concebiam a disciplina didtica no currculo do curso que os formava, e como esses professorandos acreditavam que se aprendia para ensinar na sala de aula. Desta pesquisa participaram 700 alunos professorandos de 1 4 sries que freqentavam de 1987 a 1989 a ento habilitao para o magistrio nas cidades de So Carlos, Araraquara e Ribeiro Preto, no Estado de So Paulo. O grupo de alunos se compunha por 550 estudantes que freqentavam escolas pblicas consideradas de boa qualidade e 250 trabalhadores-estudantes professorandos que freqentavam uma escola privada noturna considerada de m qualidade.Apesar da construo social e cultural diferente desses sujeitos, as informaes coletadas confluam para a mesma resposta: diziam que se aprende a ensinar na sala de aula, ou seja, na prtica, mas consideravam a didtica como a disciplina que mais ensinava a dar aula, durante a formao.A didtica ensinada para ensinar na sala de aula brasileira dos cursos que preparavam professoresDesde a dcada de 70 acontecia um grande debate sobre a didtica usada, ensinada e pensada no Brasil. Em 1980 a discusso ganhou flego com a realizao dos trs primeiros seminrios A Didtica em Questo (1982, 1983, 1985) e do IV Encontro Nacional de Didtica e Prtica de Ensino (1987).Iniciava-se ento o Movimento A Didtica em Questo que faziam uma crtica severa didtica que se ensinava, didtica que se utilizava para ensinar nos cursos que preparavam professores e professoras e aos modos por meio dos quais se produzia pesquisa nessa rea, especialmente no BrasilUm dos principais argumentos expressos pelos pensadores desse movimento para justificar as deficincias da disciplina se embasava na ideia de que a Didtica teria assumido caractersticas da Didtica Magna, de Comnio, escrita em 1657, e da pedagogia escolanovista. As lideranas do movimento afirmavam ainda que essas propostas pedaggicas no consideravam questes polticas que perfazem o ato de ensinar, reduzindo o ensino a uma atitude eminentemente tcnica.Observou-se, no entanto, que o argumento apresentado pelo movimento foi construdo por meio de um equvoco analtico, agravado pela falta de informaes empricas sobre qual o tipo de didtica que era, de fato, usada e ensinada na sala de aula dos cursos de formao pedaggica. Comnio e Dewey visavam a um tipo de organizao social em harmonia com suas proposies didticas, que visivelmente sustentavam interesses de carter poltico. Suas proposies atendiam aos seus interesses histricos e polticos.Para o movimento A Didtica em Questo,era necessrio reconstruir a didtica, articulando as dimenses tcnica, poltica e social que caracterizam o ato pedaggico crtico. Esta nova didtica receberia o nome de didtica fundamental. A Didtica Fundamental se justificava pelo fato de a escola brasileira estar saindo da gide de um regime autoritrio, demandando o uso de procedimentos didticos que levassem os alunos desalienao.O modo pelo qual se aprende para ensinar em sala de aulaA partir de 1995, Marilda da Silva, se comea a se utilizar dos conceitos de campo e habitus da obra de Bourdieu e de experincia de Thompson como subsdios para pensar questes sobre prtica docente e constituio do campo educacional. Buscando assim entender o modo como se aprende para ensinar na sala de aula. Bourdieu formulou uma teoria da ao prtica, mostrando que a efetivao de prticas exercidas social e coletivamente configuram um habitus. O que se buscava era saber como a prtica de ensinar na sala de aula era aprendida, uma vez que o saber docente tido como um saber prtico da vida.Thompson afirma que a experincia fruto de muitos acontecimentos inter-relacionados ou de muitas repeties do mesmo tipo de acontecimento. Pode-se considerar que a experincia adquirida pelos educadores sobre o ensino na sala de aula tambm uma repetio de acontecimentos inter-relacionados, ou a repetio de determinadas e mesmas aes com determinado fins, que so frutos dos condicionantes prticos oriundos da natureza pr- tica do ato de ensinar.

O modo por meio do qual se aprende para ensinar na sala de aulaA partir da anlise dos dados observou-se que se aprende para ensinar na prtica desse exerccio. E ainda: nesse e com esse exerccio que se desenvolve o habitus professoral. Habitus professoral: o conjunto de aes que visivelmente eram exercidas pelos professores observados, que recebiam respostas imediatas, objetivas e espontneas de seus alunos, que estabeleciam relao direta com os gestos de ensino decididamente intencionais praticados por esses profissionais. H um habitus professoral que esperado pelos alunos. Quando o habitus de ensino de um professor no condiz com a expectativa dos alunos este no reconhecido pelo grupo de alunos.Discentes no aprendem prticas especficas de mestres quando so estudantes.O aprendizado que advm da observao intelectual, e no prtico. O aprendizado terico vai ser manifestado na prtica do exerccio que o convoca.Durante a formao os discentes estruturam o habitus estudantil, e no o habitus professoral, pois o ltimo ser desenvolvido somente no e com o exerccio da docncia. A teoria se aprende quando se est cursando a formao, mas a prtica aprende-se quando se est exercendo a profisso, e somente com o exerccio pr- tico que desenvolvido e incorporado um tipo de habitus. O fechamento do raciocnioO habitus professoral faz parte do conjunto de elementos que estruturam a epistemologia da prtica. A produo desse habitus depende da qualidade terica e cultural da formao dos professores, mas no desenvolvido durante a formao, e sim durante o exerccio profissional.A natureza e a caracterstica dos componentes curriculares que so ensinados na escola tambm definem a esttica do habitus. E essas caractersticas, provocadas pela lgica interna da teoria que se ensina, so bastante visveis quando olhamos para os modos de ser dos grupos de professores que ministram componentes curriculares distintos.Acredita-se que os sujeitos da pesquisa colocaram a didtica na mesma posio da prtica de ensinar devido natureza da didtica, cujo corpo terico somente pode existir objetivamente quando a teoria transformada em prtica. O desenvolvimento da pesquisa levou a concluso que os alunos que participaram da pesquisa estavam corretos ao afirmar que aprende-se a ensinar durante o exerccio da profisso, mas a didtica, como disciplina, tambm ensina a ensinar durante a formao.