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O estudo da personalidade por meio do método de Rorschach (Sistema Compreensivo) setembro/2014 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia Edição Especial nº 008 Vol.01/2014 set/2014 O estudo da personalidade por meio do método de Rorschach (Sistema Compreensivo) Ana Cristina Resende [email protected] Pontifícia Universidade Católica de Goiás Pós-doutoranda pela UNIFESP com bolsa da FAPESP Regina Sonia Gattas F. do Nascimento - [email protected] Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Goiânia, GO, 05 de setembro de 2013 Resumo O estudo da personalidade é considerado uma das áreas mais consolidadas na Psicologia. Quando se trata de avaliá-la, uma das principais estratégias é por meio da administração no indivíduo de uma bateria de instrumentos ou testes padronizados para este fim. Dentre esses instrumentos o Método de Rorschach se destaca como um dos mais utilizados, pesquisados e reconhecido internacionalmente por sua capacidade de identificação de uma ampla gama de traços de personalidade nas mais variadas áreas de atuação do psicólogo. Este artigo teórico descreve a importância da utilização do método em várias circunstâncias em que características de personalidade são relevantes para tomadas de decisões em tribunais, em escolas, empresas, hospitais ou em qualquer outro tipo de estabelecimento em que informações a respeito da personalidade de uma pessoa é um aspecto essencial. O artigo também retrata o potencial do Rorschach para ser administrado em contextos transculturais e avalia a confiabilidade e a validade da avaliação por meio desse método. No final, algumas preocupações são levantadas sobre a adequação da formação do profissional para a utilização do Rorschach, uma vez que somente uma avaliação realizada por um profissional especializado e bem treinado no método poderá fazer contribuições valiosas na investigação da personalidade. Palavras-chave: Método de Rorschach. Avaliação de Personalidade. Validade. Avaliações Forenses. Avaliações Clínicas. Introdução As pessoas provavelmente têm tomado decisões com base em avaliações ou apreciações de personalidade desde o início das interações humanas. Se o homem das cavernas escolhesse o companheiro com motivações e personalidade inadequadas, o resultado de sua caça poderia ser um fracasso. Se na antiguidade os gregos e romanos falhassem em escolher os seus líderes, com as qualidades de personalidade essenciais necessárias, a sobrevivência de todos poderia estar ameaçada. Gideão, citado no velho testamento da bíblia sagrada, usou alguns critérios para selecionar os soldados mais bem preparados para ir à guerra. O primeiro critério foi solicitar às pessoas que estivessem com medo que retornassem para suas casas. O segundo consistiu em testá-los quanto à astúcia para se manterem em alerta durante o período de descanso. Permaneceram no exército apenas 300 homens de um exercito de 32.000. Para selecionar as pessoas nessa época, os líderes frequentemente utilizavam de uma série de fontes de informações: sonhos, sinais de Deus, oráculos, espiões, traidores, observações

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O estudo da personalidade por meio do método de Rorschach (Sistema Compreensivo) setembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia – Edição Especial nº 008 Vol.01/2014 set/2014

O estudo da personalidade por meio do método de Rorschach (Sistema

Compreensivo)

Ana Cristina Resende – [email protected]

Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Pós-doutoranda pela UNIFESP com bolsa da FAPESP

Regina Sonia Gattas F. do Nascimento - [email protected]

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Goiânia, GO, 05 de setembro de 2013

Resumo

O estudo da personalidade é considerado uma das áreas mais consolidadas na Psicologia.

Quando se trata de avaliá-la, uma das principais estratégias é por meio da administração no

indivíduo de uma bateria de instrumentos ou testes padronizados para este fim. Dentre esses

instrumentos o Método de Rorschach se destaca como um dos mais utilizados, pesquisados e

reconhecido internacionalmente por sua capacidade de identificação de uma ampla gama de

traços de personalidade nas mais variadas áreas de atuação do psicólogo. Este artigo teórico

descreve a importância da utilização do método em várias circunstâncias em que

características de personalidade são relevantes para tomadas de decisões em tribunais, em

escolas, empresas, hospitais ou em qualquer outro tipo de estabelecimento em que

informações a respeito da personalidade de uma pessoa é um aspecto essencial. O artigo

também retrata o potencial do Rorschach para ser administrado em contextos transculturais

e avalia a confiabilidade e a validade da avaliação por meio desse método. No final, algumas

preocupações são levantadas sobre a adequação da formação do profissional para a

utilização do Rorschach, uma vez que somente uma avaliação realizada por um profissional

especializado e bem treinado no método poderá fazer contribuições valiosas na investigação

da personalidade.

Palavras-chave: Método de Rorschach. Avaliação de Personalidade. Validade. Avaliações

Forenses. Avaliações Clínicas.

Introdução

As pessoas provavelmente têm tomado decisões com base em avaliações ou apreciações

de personalidade desde o início das interações humanas. Se o homem das cavernas escolhesse

o companheiro com motivações e personalidade inadequadas, o resultado de sua caça poderia

ser um fracasso. Se na antiguidade os gregos e romanos falhassem em escolher os seus

líderes, com as qualidades de personalidade essenciais necessárias, a sobrevivência de todos

poderia estar ameaçada. Gideão, citado no velho testamento da bíblia sagrada, usou alguns

critérios para selecionar os soldados mais bem preparados para ir à guerra. O primeiro critério

foi solicitar às pessoas que estivessem com medo que retornassem para suas casas. O segundo

consistiu em testá-los quanto à astúcia para se manterem em alerta durante o período de

descanso. Permaneceram no exército apenas 300 homens de um exercito de 32.000. Para

selecionar as pessoas nessa época, os líderes frequentemente utilizavam de uma série de

fontes de informações: sonhos, sinais de Deus, oráculos, espiões, traidores, observações

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diretas, histórias familiares, os ancestrais, características fisionômicas e entrevistas

(BUTCHER, 2009; WEINER e GREENE, 2008).

Um outro dado histórico, considerado um precursor da avaliação de personalidade e do

método de Rorschach, remete a Leonardo da Vinci (1452-1519), que afirma que os estímulos

confusos e indeterminados estimulam a imaginação criativa. Isto era uma proposta de se dar

atenção à percepção das manchas de umidade na parede, ou irregularidades na superfície que

ele considerava haver diferenças individuais na percepção destas manchas, ou formas

indefinidas e que poderiam servir de estímulos à criação de obras de arte. Da Vinci notou que

diferentes traços pessoais eram refletidos na imagem criada. De acordo com Leonardo este

fenômeno teria sido identificado por Boticelli (1440-1510), um contemporâneo seu. Estas

informações encontram-se em seu “Livro da Pintura”, publicado em alemão em Viena, em

1882 (NASCIMENTO, 2010).

No entanto, o interesse maior em características subjacentes de personalidade teve um

foco mais objetivo no século XIX. Muitos estudiosos aderiram à frenologia, depois à

craniometria e fisionomia. Todas essas disciplinas podem ser categorizadas hoje como

pseudociência. Nelas as características físicas tais como uma protuberância na cabeça ou o

formato dos olhos estavam associados às características de personalidade, a talentos especiais

como pintura e música como também à predisposição para ser um assassino ou um

estuprador. Os médicos liam e compreendiam as pessoas por meio de suas características

físicas (BUTCHER, 2009).

Apenas no final da década de 1930 que o estudo da personalidade foi formalizado e

sistematizado na Psicologia, principalmente com o trabalho de Henry Murray e Gordon

Allport, da Universidade de Harvard. Depois dos seus esforços iniciais surgiram livros

profissionais e revistas, as universidades passaram a oferecer cursos e foram realizados estudo

científicos. Os psicólogos acadêmicos começaram a conjecturar que era possível desenvolver

um estudo científico da personalidade.

O primeiro inventário de personalidade de autorrelato foi desenvolvido por Woodworth

(1919 apud BUTCHER, 2009) durante a Primeira Guerra Mundial visando detectar problemas

psiquiátricos suscetíveis de perturbar a adaptação dos recrutas ao exército americanos. Ao

total eram 116 itens com questões do tipo “você faz amizades facilmente?” ou “você se sente

cansado a maior parte do tempo?”. A partir daí outros inventários de avaliação de

personalidade foram desenvolvidos, até a criação do mais utilizado atualmente no mundo,

mas não validado para o uso no Brasil, o Inventário Multifásico Minnesota de Personalidade –

MMPI (GRAHAM, 2006).

Paralelo ao desenvolvimento dos inventários tivemos as técnicas projetivas, baseadas no

desempenho de tarefas que são solicitadas ao indivíduo, no início do século XX: neste

momento destaca-se o Psicodiagnóstico de Hermann Rorschach, um psiquiatra suíço. Tudo

iniciou com centenas de relatórios sobre o que os seus pacientes, com diferentes transtornos,

viam em manchas de tinta. Segundo o autor, nos relatórios era possível observar nitidamente

indicações do estado mental e disposições pessoais desses pacientes. A organização desses

relatórios resultou na publicação do seu Psicodiagnóstico, em 1921 (RORSCHACH,1978).

Neste livro, Rorschach apresentou diretrizes para a administração, pontuação e interpretação

de respostas dadas a um conjunto padronizado de 10 manchas de tinta que posteriormente

ficou conhecido como o Método de Rorschach (BUTCHER, 2009; WEINER e GREENE,

2008).

Embora muito mais complexo do que um inventário, as manchas de tinta foram

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igualmente destinadas para identificar distúrbios de personalidade. O Psicodiagnóstico de

Rorschach tem como subtítulo "um teste de diagnóstico baseado na percepção", e o autor

explicitamente afirma: "É preciso entender que o teste é primariamente um auxílio ao

diagnóstico clínico"(RORSCHACH, 1921/1978, p. 121). No entanto, Rorschach postulou

numerosas relações entre certos achados nas manchas de tinta e algumas características

particulares de personalidade. Nos EUA, na década de 60, já havia 5 sistemas básicos de

Rorschach (Beck, Hertz, Klopfer, Piotrowski, Rappaport), além de outros em países variados.

Em 1974, Exner (2003) publica o Sistema Compreensivo (SC), integrando os cinco sistemas

norte-americanos num só, sem alterações estruturais, privilegiando, inicialmente, as bases

psicométricas do teste. Até hoje gerações de estudiosos do instrumento transformaram o

Método de Rorschach1 em uma rica fonte de informações sobre como as pessoas tendem a

perceber os eventos, a se perceber e perceber os outros, a experimentar emoções, a controlar o

stress, a se comportar em diversas situações pouco familiares, como normalmente processam

as informações e pensam, entre outros aspectos da personalidade.

Além de focar nas variáveis com maior fundamentação científica, o novo sistema de

unificação, foi desenvolvido de modo um pouco parecido com a terceira revisão do Manual

Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III). O SC utilizou uma abordagem

ateórica para que os psicólogos de diversas orientações teóricas pudessem usar o teste. Assim,

esmagadoramente, o SC se tornou o sistema mais comumente ensinado nos Estados Unidos.

Ele também ganhou popularidade na avaliação forense como o sistema de Rorschach

preferido em função de suas bases empíricas que cumpriam as normas legais de

admissibilidade de um teste psicológico válido e confiável (McCANN e EVANS, 2007).

Atualmente, o Método de Rorschach SC consiste em um instrumento reconhecido

mundialmente por sua eficácia na avaliação do funcionamento psíquico de crianças, jovens e

adultos, quer sejam considerados normais ou diagnosticados com alguma psicopatologia.

Após 92 anos desde a sua criação, o Rorschach continua sendo um dos métodos mais profícuo

para estudar a personalidade (WEINER, 2004; MEYER, ERDBERG e SHAFFER, 2007).

Em um estudo internacional recente Meyer et al. (no prelo) encontraram que, entre os clínicos

que usavam o Rorschach, 96% corrigem e interpretam o teste usando o SC como seu sistema

primário.

O desenvolvimento da avaliação de personalidade não teria chegado onde chegou sem a

avaliação baseada em computador. A interpretação computadorizada das medidas de

personalidade tem revolucionado os instrumentos destinados ao exame psicológico. O

primeiro teste a ter esse tipo de correção e interpretação foi o MMPI em 1962 (WEINER e

GREENE, 2008). Hoje praticamente todos os testes de personalidade têm este tipo de suporte

tecnológico, o que fornece resultados mais eficientes, rápidos e confiáveis. Apesar de ainda

existir alguma resistência dos clínicos, a informática vem contribuindo ao garantir maior

precisão aos resultados apresentados, além de facilitar todo o trabalho para se chegar a uma

interpretação. Tomando o cuidado de garantir a adaptação às normas brasileiras, não podemos

evitar o uso computadorizado (sempre vindo de outros países), que já faz parte da vida de

todos, em todas as áreas profissionais. No entanto no trabalho clínico, a elaboração da

compreensão de um resultado de um protocolo de Rorschach necessita de um refinamento

1 No Brasil o Método de Rorschach é considerado um teste psicológico, ou seja, um instrumento de

avaliação de uso privativo do psicólogo.

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criterioso, profundo e particularizado, necessário a completar uma avaliação realizada por

procedimentos informatizados. Entra a compreensão clínica, dinâmica e particularizada da

compreensão de uma pessoa (NASCIMENTO, 2005).

A ciência e a prática da avaliação de personalidade expandiu muito nas duas últimas

décadas, tanto em termos de desenvolvimento de medidas eficazes quanto em termos de

quantidade de pesquisas anuais que são desenvolvidas. O crescimento tem sido tão grande que

é difícil se manter atualizado em mais do que algumas técnicas.

Butcher (2009) destaca que as razões para este ritmo acelerado de crescimento da

avaliação de personalidade são várias. Primeiro porque os instrumentos de avaliação são

frequentemente usados como medidas de critério para a pesquisa em comportamento anormal

e em processos psicológicos (cognição, emoção, percepção, motivação, atenção, memória...).

Segundo porque faz parte da avaliação clínica, que é uma atividade que está se tornando cada

vez mais respeitada entre os clínicos da área da saúde, com aplicação tão diversa como o

exame psicológico para a cirurgia bariátrica, para porte de arma, para as tradicionais

avaliações de saúde mental. Terceiro porque a avaliação de personalidade tem sido cada vez

mais requisitada em settings forenses. Nunca os testes psicológicos foram tão requisitados e

aceitos como evidências em tribunais quanto são atualmente. Quarto porque a avaliação de

personalidade também tem se expandido bastante na área da Psicologia das Organizações e do

Trabalho, tanto para avaliar aptidões quanto para a seleção de pessoal.

Dessa forma, o estudo da personalidade é considerado uma das áreas mais consolidadas

na Psicologia. Quando se trata de avaliá-la, ou de estudar o perfil psicológico de uma pessoa,

uma das principais estratégias é por meio da administração no indivíduo de uma bateria de

instrumentos ou testes padronizados de avaliação de personalidade (WEINER e GREENE,

2008). Esses testes psicológicos se subdividem em duas grandes categorias: medidas de auto-

relato (questionários e escalas) e medidas baseadas no desempenho ou na projeção, que se

fundamentam na observação de como os examinandos executam as tarefas que são definidas

por eles: como exemplo dizer o que uma mancha de tinta poderia ser a partir do jogo de

cartões padronizados do Rorschach, ou contar histórias por meio das figuras do Teste de

Apercepção Temática, ou fazer alguns desenho como são solicitados em Baterias Gráficas de

avaliação.

A seguir serão descritas algumas características do Método de Rorschach que o tornam

um instrumento tão eficiente e abrangente no âmbito da avaliação de personalidade. Serão

discutidas questões tais como: o Rorschach como um instrumento passível de ser utilizado por

qualquer corrente teórica da Psicologia; o potencial do teste para ser administrado em

contextos transculturais; os principais contextos onde o teste tem mostrado suas maiores

aplicabilidades; os fundamentos científicos de confiabilidade, validade e normatização do

instrumento e algumas questões da adequação da formação do profissional para a utilização

do Rorschach.

1. Rorschach e as diferentes fundamentações teóricas

O Método de Rorschach pode ser considerado como um dos instrumentos que mais se

destaca no mundo quando diz respeito à avaliação de personalidade, especialmente por ser um

instrumento que busca primordialmente apreender a personalidade por meio da percepção,

independente de qualquer fundamentação teórica da personalidade (RORSCHACH, 1921). A

validade do método não depende de nenhuma teoria de personalidade. “Um traço revelado no

protocolo do Rorschach pode ser interpretado psicanaliticamente ou sociologicamente ou

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fisiologicamente ou educacionalmente ou por minha combinação de conceitos tirados de

diferentes ciências” (PIOTROWSKI, 1957, p. xiii). Essa noção foi enfatizada por Exner

(2003) quando da criação do Sistema Compreensivo em 1974. O mais importante no teste é o

modo como a pessoa percebe as coisas e raciocina. Dessa forma, ele é considerado um teste

perceptivo, objetivo, que tem fornecido parâmetros e indicadores psicométricos confiáveis

(como índices altos de confiabilidade, validade e padrões normativos) para se tomar decisões

a partir de aspectos relacionados à personalidade do indivíduo (EXNER, 2003; PASIAN e

LOUREIRO, 2010). Trata-se, portanto, de uma avaliação da estruturação cognitiva que

envolve processos de atenção, percepção, memória, tomada de decisões e análise lógica.

Outros modelos de trabalho a partir de bases estruturais também são conhecidos no trabalho

com o Rorschach. Entre os mais conhecidos citamos Klofer, Piotrowski, Beck e Loosli-Usteri.

O trabalho de interpretação do Rorschach também tem aspectos de sua avaliação que

vão além do trabalho formal, sem perder a fidedignidade. Neste trabalho pode-se integrar as

contribuições da formulação individual das respostas à análise do sumário estrutural. Para esta

avaliação podemos verificar a interação de conteúdos individuais ou idiográficos, para os

quais encontramos diversas escalas que, além de enriquecer a interpretação com alguns

elementos, estão também fundamentados em pesquisas relevantes, apresentando-se inclusive

em forma de escalas (COOPER, PERRY e ARNOW, 1988; TIBON, PORCELLI e

WEINBERGER, 2005).

Por outro lado, pode ser considerado também projetivo, associativo e/ou aperceptivo,

uma vez que as manchas, um material extremamente plástico, são uma barreira que impede a

interferência de estímulos ambientais comuns, não havendo nenhuma restrição à

individualidade da personalidade. Assim, o indivíduo pode expressar livremente seu mundo

próprio de significados, simbolizações e sentimentos pessoais, que extrapolam as qualidades

reais do estímulo, na medida em que ele não está em perigo de colidir com a realidade

(RORSCHACH, 1978; WEINER, 2003).

O problema que houve com o Rorschach foi que muitos clínicos e pesquisadores

tentaram formular posições teóricas que enfatizavam um modo unilateral ou parcial de se

trabalhar com as respostas às manchas: aspectos cognitivos/ psicométricos/ quatitativos ou

temáticos/projetivos/subjetivos do instrumento. Essas formulações, segundo Weiner (2003),

se prestaram a um desserviço à riqueza e complexidade do método e, equivocadamente, dão a

entender que existe apenas um modo de analisar as respostas deste valioso instrumento. O

autor ainda afirma que considerar o Rorschach como método, e não como teste, ajuda a

desestimular a adesão estéril a um único enfoque e promove a utilização adequada das

informações levantadas pelo instrumento.

Outra consideração a fazer é que os mesmos resultados encontrados no Rorschach

podem ser avaliados de diferentes perspectivas teróricas. Assim, encontramos trabalhos com

fundamentação teórica psicanalítica (SCHAFFER, 1954; LERNER, 1991; CHABERT, 1993),

com fundamentação jungiana (McCULLY, 1980), ou com base fenomenológica

(BARTHÉLÉMIE, 1997; HELMAN, 1991, MINKOWSKA, 1956). Além do mais, Hermann

Rorschach, entre os anos 1910 e 1922, época em que atuou profissionalmente, conviveu em

seu percurso profissional com grandes representantes da área, incluindo expoentes dessas 3

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correntes – Jung, Bleuler, Minkowski e Biswanger, além de ter sido vice-presidente da

Sociedade de Psicanálise da Suíça, em 1919 (NASCIMENTO, 2010).

Dessa forma, o Rorschach transcende os pontos de vista teóricos e seus dados podem

ser interpretados de acordo com o referencial teórico, que se eleger, pois a sua capacidade de

gerar informações úteis existe independentemente de qualquer teoria específica.

2. A aplicabilidade do Rorschach em diferentes culturas

Concorda-se com Resende e Argimon (2010) quando afirmam que o Brasil, com

dimensões continentais, exige o desenvolvimento de métodos de avaliações psicológicas que

possam abarcar toda a gama de culturas que o compõe: povos indígenas, europeus, africanos,

asiáticos, árabes, entre outros. Esses povos concebem uma realidade cultural específica que,

apesar de constituir uma identidade brasileira, se revela na multiplicidade de tradições,

folclores, religiões e crenças, hábitos, linguagens, pensamentos e artes. Toda essa

multiplicidade não é coesa nas diferentes regiões do país. Cada estado tem suas

peculiaridades, e cada um pode ser considerado um polo cultural diferente. No geral, também

se observa que em todas as regiões do país há grupos culturais menos favorecidos ou que

vivem às margens da sociedade como alguns grupos indígenas, comunidades negras e outras

comunidades tradicionais.

Diante dessa realidade multicultural que é o Brasil, um instrumento de avaliação

psicológica que tem o potencial para ser administrado em contextos transculturais é o método

de Rorschach. Nestes casos, o instrumento é considerado ideal porque se trata de um método

composto por manchas de tinta, que são estímulos visuais neutros, bastante simples, e as

tarefas propostas pelo método são encontradas nas mais variadas culturas. Ao contrário dos

testes verbais mais estruturados, o Rorschach não envolve fotografias ou desenhos, como

também não requer a tradução de itens e, portanto, pode tornar-se isento de influências

culturais (RITZLER, 2004; DANA, 2005).

Os 28 estudos normativos de não-pacientes de 16 países diferentes – Argentina,

Austrália, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, Grécia, Holanda,

Israel, Itália, Japão, Peru, Portugal e Romênia – apresentados no suplemento especial de 2007

do Journal of Personality Assessment corroboram essa concepção de que o Rorschach é um

método livre de culturas. Observou-se em todos os estudos uma consistência notável nos

resultados, com poucas variáveis que demonstravam diferenças significativas (EB, L, X-%,

Nota D negativa, pontos de corte para CDI, DEPI e HVI, dentre algumas outras). Como

sugerido por esses dados, o método de Rorschach parece ser tão válido quanto o é nos Estados

Unidos (EUA) quando administrado em outros países e com outras línguas.

Weiner (2004) também afirma que o Rorschach é um método livre de culturas. O teste é

adequado para aplicações multiculturais, porque basicamente a cultura fornece o contexto

para o funcionamento da personalidade, mas não determina sua estrutura básica e sua

dinâmica. Segundo o autor, as dimensões da personalidade são um fenômeno universal,

revelam-se nos mesmos dados estruturais que podem ser apreendidos pelas estruturas do

Rorschach. Nesse sentido, as normas podem ser usadas a fim de calibrar os critérios do

Rorschach para inferir características de personalidade em um determinado grupo. Frank

(1993) também reconheceu que as normas de grupo potencialmente poderiam fornecer no

Rorschach as descrições das diferenças culturais dentro dos EUA, apesar da heterogeneidade

intragrupo ir contra a utilidade prática desta informação.

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Presley et al. (2001), Meyer e Viglione (2008), Meyer (2001) e (2002) realizaram estudos

inter e multiculturais considerando pessoas de países diversos, ou pessoas de subculturas

diferentes dentro de uma mesma cultura ou pacientes hospitalares provenientes de diferentes

minorias étnicas. Os autores não encontraram diferenças estatisticamente significantes entre a

grande maioria das variáveis do Rorschach, e concluíram que a etnia não estava associada

com qualquer um índices, porcentagens ou variáveis investigadas derivadas do método.

Concorda-se com Dana (2005), que adverte que o termo "livre de cultura" aplicado ao

Rorschach pode implicar o endosso de que as semelhanças entre as pessoas de diferentes

culturas são maiores do que as diferenças tanto na vida quanto nos dados Rorschach. Isso

contribui para a insensibilidade contemporânea para as questões culturais, dificultando a

investigação continuada sob este enfoque. Apesar de muitas variáveis manterem o mesmo

significado e frequências equivalentes nas diferentes culturas, algumas poucas variáveis do

método têm se destacado por demonstrarem pouca validade quando interpretadas da mesma

forma em culturas diferentes. Isto é um problema sério e que pode passar despercebido por

pessoas que não são especialistas no uso desse instrumento. Além do mais, diferentes

configurações de variáveis no Rorschach podem ter vantagens e desvantagens adaptativas

dentro dos diversos ambientes socioculturais. Meyer adverte que para comparar pessoas de

etnias diversas e grupos minoritários deve-se, no entanto, controlar fatores demográficos

como idade, educação, características da saúde (pacientes e não pacientes). Este autor afirma

que com desenhos de pesquisa bem delineados, as diferenças no Rorschach não tendem a ser

significativas (MEYER, 2002).

3. A aplicabilidade do Rorschach às diferentes áreas da Psicologia

Como instrumento de avaliação de personalidade, a Rorschach fornece informações

sobre a capacidade de adaptação do indivíduo, estilo de enfrentamento de situações adversas

(coping), atitudes e preocupações subjacentes, e disposições para pensar, sentir e agir de

determinada maneira. Estas indicações de estados, traços e vida interior de uma pessoa,

frequentemente facilita as decisões em que as características de personalidade são uma

consideração relevante. Assim, o método serve a propósitos úteis a diferentes áreas da

Psicologia, especialmente nas áreas clínica e jurídica.

3.1. Área Clínica

No que diz respeito à importância da utilização do Rorschach na clínica, o seu uso já é

amplamente aceito. Neste âmbito, o instrumento volta-se para a descrição de características da

personalidade que podem estar associadas a vários padrões psicopatológicos sem pretensão de

sempre fornecer uma medida direta e específica dessas condições, mas que revelam, antes de

tudo, características do funcionamento psíquico úteis para um diagnóstico diferencial. Por

exemplo, a esquizofrenia é caracterizada pelo pensamento desordenado e teste de realidade

diminuído. O Rorschach de uma pessoa possui uma suspeita de estar sofrendo com esse

transtorno apresentará os índices de associações incoerentes, raciocínio ilógico e distorção

perceptiva aumentados. Consequentemente, a probabilidade de a pessoa apresentar um

transtorno do espectro da esquizofrenia é elevada (WEINER e MEYER, 2009).

Os informes provenientes do Rorschach, essencialmente, podem complementar o

diagnóstico identificando (a) traços estáveis; estados afetivos relativamente transitórios e

atitudes decorrentes e (b) processos psicológicos subjacentes ou privados que interferem no

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funcionamento global da personalidade (modos de pensar, sentir e agir). O mais importante na

prática clínica e na pesquisa é saber que o método pode identificar de modo mais ou menos

acurado forças e fraquezas da personalidade com implicações para planos de tratamento e de

intervenções, além de ser bastante útil para avaliações de resultados de tratamento (WEINER,

2003).

Considerando o planejamento do tratamento, o Rorschach mede inúmeras

características de personalidade que são relevantes para tomadas de decisões antes e durante o

processo de intervenção. Inicialmente, o grau de perturbação ou incapacidade de lidar com

situações adversas mostrados nas respostas ao método terá implicações para saber se o

indivíduo requer cuidados hospitalares ou se ele está funcionando suficientemente bem para

ser tratado em casa. O estilo de personalidade e gravidade da desorganização refletida nos

resultados do Rorschach podem ajudar a determinar se as necessidades de tratamento de um

indivíduo serão melhor atendidas por uma abordagem de apoio, que visa aliviar o sofrimento,

ou uma abordagem cognitivo-comportamental, projetada para modificar sintomas ou resolver

problemas, ou ainda um abordagem exploratória voltada para aumentar a auto-compreensão,

ou se se trata de uma pessoa que precisa de um trabalho mais longo e que poderá aproveitar

de um trabalho psicoterápico de ordem mais profunda. Independentemente da abordagem

implementada, os traços adaptativos e preocupações subjacentes sugeridas pelas respostas ao

método podem ajudar terapeutas a decidirem, em consulta com seus pacientes, quais serão os

objetivos do tratamento e com que prioridade esses objetivos devem ser abordados.

Certas características de personalidade mensuradas pelas variáveis do Rorschach

também podem ajudar o terapeuta a antecipar se o cliente está predisposto ou não a se engajar

e obter progresso no seu tratamento. A consciência de tais obstáculos potenciais para o

engajamento e o progresso podem afastar a impaciência ou desânimo do terapeuta diante de

um tratamento inicialmente lento, além de focar a atenção para a importância de superar ou

contornar estes obstáculos para que se tenha progresso nas intervenções terapêuticas

(WEINER e MEYER, 2009).

A utilidade da avaliação de Rorschach para monitorar progressos e resultados de

psicoterapia foram demonstradas por Weiner e Exner (1991), Exner e Sanglade (1992) e

Fowler et al. (2004). Paciente em tratamento a longo e curto prazos e em psicoterapias breves

foram examinados em várias aspectos durante e após o tratamento. Os pacientes nesses

estudos revelaram mudanças positivas significativas ao longo de sua terapia, e o nível dos

avanços ou progressos estava diretamente relacionado ao comprimento de sua terapia.

Só para ilustrar esse contexto, imagine que uma avaliação antes da terapia identifica

algumas metas de tratamento que podem ser expressas em termos do Rorschach, tais como:

reduzir o nível de estresse, desenvolver atitudes mais cooperativas e promover a capacidade

de solucionar os problemas de modo mais cuidadoso. Com esses dados do teste como uma

linha de base, o reexame após um período de tempo pode fornecer indicações quantitativas de

quanto progresso foi feito para atingir esses objetivos.

3.2. Área Jurídica

O Rorschach tem sido um dos testes mais usados, aceitos e frequentemente

requisitados na prática de avaliação psicológica forense (GACONO e EVANS, 2008;

ROVINSKI, 2006). O seu uso se justifica por ser uma medida comportamental baseada no

desempenho do sujeito que pode revelar características de personalidade que as pessoas não

reconhecem plenamente em si ou hesitam em admitir quando questionadas sobre elas

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diretamente (WEINER e GREENE, 2008). Nesse sentido, o instrumento é menos suscetível à

manipulação ou dissimulação consciente e intencional por parte do examinando (EXNER,

2003; GAMBOA, 2006; ROVINSKI, 2006).

De maneira semelhante à área clínica, as aplicações forenses do Rorschach em casos

de direito criminal e civil, especialmente em relação ao direito de família e danos pessoais,

derivam de uma tradução de conceitos jurídicos em termos psicológicos. Por exemplo, uma

das questões mais solicitadas em avaliações forenses em direito criminal consiste em saber se

a pessoa acusada tem competência ou capacidade de discernimento adequada e se pode ser

considerada responsável pelo seu alegado crime. A competência, neste contexto, consiste em

verificar se a pessoa é capaz de compreender e enfrentar o processo judicial e participar

efetivamente em sua própria defesa. No que diz respeito ao funcionamento da personalidade,

estes aspectos da competência são medidos pelos índices de distúrbio do pensamento e pelo

prejuízo no teste de realidade no Método de Rorschach (WEINER e MEYER, 2009).

Outra questão frequentemente solicitada é a avaliação da sanidade mental, ou seja, se

uma pessoa acusada estava legalmente saudável, do ponto de vista psicológico, no momento

do crime. Uma avaliação por meio do Rorschach sustenta questões de competência que dizem

respeito ao funcionamento psíquico de um réu (aspectos cognitivos, capacidade de

autocontrole e manejo do estresse) no momento atual da avaliação. Nesse sentido, quanto

mais próxima for a avaliação do momento do crime mais precisa poderá ser a inferência sobre

essa questão da sanidade mental (ZAPF, GOLDING e ROESCH, 2006).

Além do que foi dito, ainda tem a investigação de danos pessoais. Este é um outro

aspecto em que a avaliação da personalidade pode ser relevante para avaliar em que medida

uma pessoa se tornou emocionalmente perturbada ou incapacitada em consequência de um

comportamento irresponsável por parte de outra pessoa ou de alguma instituição. Nestes

casos, a avaliação pode ajudar o tribunal a estabelecer se, e em que medida, um denunciante

tornou-se emocionalmente perturbado ou incapacitado após o comportamento supostamente

irresponsável do acusado. Os indícios no Rorschach de estresse pós-traumático, de ideações e

afetos depressivos, de perda psicótica do contato com a realidade são particularmente

relevantes na identificação desses danos psíquicos (GACONO e EVANS, 2008)

As questões da determinação legal da guarda dos filhos e direito de visitação baseiam-

se também nas características da personalidade de pais separados ou divorciados e seus

filhos. Distúrbios psicológicos ou problemas emocionais não necessariamente impedem uma

pessoa de ser um bom pai ou mãe. Mas, pessoas seriamente perturbadas ou psicologicamente

incapacitadas são suscetíveis de interferirem na capacidade de serem bons genitores, pois o

julgamento, o controle dos comportamentos, pensamentos e sentimentos podem ser tão

ineficientes a ponto de interferir na capacidade parental. Todas essas questões importantes

pode ser avaliadas por meio do Rorschach (GACONO e EVANS, 2008; WEINER e MEYER,

2009).

Outras questões também muito investigadas nessa área são: maior predisposição para

comportamentos violentos, bem como se a pessoa apresenta risco para sua própria vida e para

a vida dos outros. Estes argumentos, embora longe de esgotar todas as possibilidade do uso da

avaliação por meio do Rorschach nesta área de investigação da personalidade, já são

suficientes para entender a contribuição que o instrumento pode propiciar às Avaliações

Psicológicas Jurídicas.

3.3 Área organizacional

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O Rorschach na prática organizacional está relacionado primariamente com a seleção e

avaliação de pessoal (WEINER e GREENE, 2008). Algumas questões importantes para

avaliar em perfis profissionais por meio desse instrumentos são: produtividade, rendimento

intelectual, capacidade de análise e síntese, praticidade, capacidade de lidar com problemas

abstratos, flexibilidade e rigidez do pensamento, capacidade de tomar decisões, habilidade de

estabelecer metas realísticas, tolerância à frustração e ao estresse, capacidade para as relações

interpessoais, para trabalhar com outras pessoas e cooperar, criatividade e capacidade

inovadora, liderança, iniciativa, capacidade de envolver as pessoas emocionalmente,

indicadores de comportamentos antissociais, de características narcísicas, de insegurança,

sinais de depressão, comportamentos dependentes e independentes. Outras questões avaliadas

também estão relacionadas à investigação do perfil do profissional técnico e perfil do

professional gerencial (SAINZ e GOROSPE, 2005). No Brasil temos estudos interessantes a

respeito do perfil gerencial e do perfil do profissional em informática, ambos levantados por

meio do Rorschach (AMARAL, 2006; GARCIA-SANTOS, 2009, 2005).

A avaliação de pessoal por meio do Rorschach pode também envolver a avaliação da

capacidade de uma pessoa para um determinado cargo cuja capacidade de exercer tal função

tornou-se prejudicada por seus distúrbios psicológicos. Outras questões também têm sido

bastante solicitadas nesse meio atualmente: a avaliação de comportamentos potencialmente

agressivos em pessoas voltadas mais para a ação e a avaliação da falta de autocontrole, o que

aumenta a probabilidade de reincidir em comportamentos violentos em pessoas que já

exibiram este tipo de comportamento em empresas ou instituições.

3.4. Área da Saúde

Nesta área o foco tradicional encontra-se no diagnóstico e tratamento de doenças

mentais. Como já foi explicitado na área clínica, o Rorschach se presta para a descrição de

como a pessoa normalmente se sente, pensa e comporta, que são dados que facilitam o

diagnostico diferencial. Além disso, as avaliações expandem-se para: a avaliação da

predisposição para se engajar e progredir no tratamento, a avaliação de características de

personalidade associadas com as origens e a evolução da doença física; a avaliação associada

com a adaptação à incapacidade crônica, ou com a tolerância para os procedimentos médicos

e cirúrgicos mais estressantes e/ou manutenção de um estilo de vida saudável. Ainda na área

da saúde encontam-se avaliações que são realizadas para detectar funções mentais em

questões de Neuropsicologia, como no caso de avaliar o funcionamento das Funções

Executivas (ROSENTHAL, PACHECO E SILVA NETO, NEDER & NASCIMENTO,

2004), ou mesmo quando há necessidade de se avaliar pessoas antes de cirurgias em caso de

TOC grave (ROSENTHAL, 2007). Ressaltam-se também estudos de personalidade

associados com a existência de dor crônica (SEMER et al., 2008 e 2009), sendo o Rorschach

um excelente instrumento para avaliar pessoas com distúrbios psicossomáticos.

3.5. Área da educação

Nessa área o Rorschach pode ajudar a lançar luz sobre as necessidades e

preocupações dos alunos mostrando problemas de aprendizagem ou condutas. É muito grande

a demanda de avaliação psicológica de crianças com problemas escolares. Nestas situações é

difícil discernir de onde vem a problemática, se especificamente da área cognitiva, ou se já

interferência do funcionamento emocional. O método pode ser usado, por exemplo, para

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verificar o quanto questões emocionais e/ou cognitivas (processamento/mediação/ideação)

estão interferindo no fracasso escolar. Informações a respeito da personalidade de alunos

podem ser usadas para chegar a conclusões e fazer recomendações úteis para uma ampla

gama de aplicações educacionais, como orientações vocacionais, necessidade de

aconselhamentos ou de serviços educacionais especiais para estudantes com problemas de

comportamento ou de aprendizagem. Ressalta-se a importância de estudos sobre as

características de estudantes como forma de subsidiar tomadas de decisão e planejamentos

pedagógicos mais adequados, além de permitir o oferecimento de serviços psicológicos

relacionados à demanda.

Para finalizar este tópico em relação à aplicação o Rorschach nas mais variadas áreas

de atuação do psicólogo, sublinhamos que sempre que características de personalidade são

relevantes para tomadas de decisões em tribunais, em escolas, empresas, hospitais ou em na

clínica, uma avaliação de Rorschach realizada por um profissional especializado e bem

treinado poderá fazer contribuições e críticas valiosas.

4. Fundamentos científicos do Rorschach

Quando se fala em fundamentos científicos de um teste psicológico significa que o

instrumento deve ser construído de acordo com os princípios reconhecidos pela comunidade

científica, especialmente os desenvolvidos pela Psicometria. As propriedades mínimas e

obrigatórias para ser considerado um instrumento psicológico são: a demonstração de

evidências empíricas de confiabilidade/precisão e validade, bem como a apresentação dos

seus dados normativos (CFP, 2003; ITC, 2003).

No Brasil, temos o Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (SATEPSI) que

consiste em uma norma de certificação de instrumentos de avaliação psicológica, que é

mantido pelo Conselho Federal de Psicologia. Este sistema é gerido por uma comissão

consultiva, que avalia e qualifica os instrumentos em apto ou inapto para uso profissional, a

partir da verificação objetiva de um conjunto de requisitos técnicos mínimos (fundamentação

teórica, precisão, validade e normatização), definidos pela área (AERA, APA e NMCE, 1999;

CFP, 2004; PRIMI e NUNES, 2010).

Weiner (2003) esclarece que por mais de 50 anos, desde a sua publicação em 1921, o

método foi frequentemente criticado como um instrumento pouco satisfatório em termos

científicos ou psicométricos. Essas críticas desafiaram alguns dos pioneiros responsáveis pelo

aperfeiçoamento do Rorschach a desenvolver estudos rigorosos, com hipóteses baseadas em

teorias e voltadas para conceitos, bem como com a utilização de métodos estatísticos meta-

analíticos e considerações do impacto do erro.

É importante destacar que, desde que o Rorschach foi padronizado em sua forma de

aplicação, correção e interpretação por Exner (2003), com o advento do Sistema

Compreensivo (SC), e ao mesmo tempo tem sido investigado por meio de metodologias de

pesquisa aperfeiçoadas, o instrumento tem demonstrado sua cientificidade e calado suas

críticas de que ele não tem propriedades psicométricas suficientes para ser considerado um

teste psicológico.

Salienta-se que as críticas negativas mais dramáticas do Rorschach não são

consistentes com a base de evidências científicas do instrumento. Mesmo os psicólogos que

são críticos do teste geralmente concordam que algumas pontuações de variáveis do

Rorschach podem ser úteis para a detecção de transtorno de pensamento, para o diagnóstico

de transtornos mentais caracterizados por desordem de pensamento, avaliar comportamentos

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de dependência, e para prever o resultado do tratamento (GARB et al., 2005, p. 105). A

seguir, os fundamentos científicos de confiabilidade, validade e normatização do Rorschach

serão descritos de modo sucinto, com base em uma revisão da literatura relevante.

4.1. Confiabilidade ou Precisão

A confiabilidade é a extensão em que um construto é avaliado de forma consistente,

ou sem erros. No caso da avaliação de personalidade, quando decisões são tomadas com base

nos escores dos testes, seus usuários precisam ter certeza de que estes escores são

razoavelmente confiáveis ou livres de erros de mensuração para serem úteis. É importante

observar que os escores de testes não precisam ser totalmente livres de erros para serem úteis

(URBINA, 2007). Existem diferentes formas de se avaliar a confiabilidade (ou precisão) de

um instrumento psicológico, mas aquelas que se aplicam mais especificamente ao Rorschach

é a confiabilidade teste-reteste e a confiabilidade interavaliadores.

A confiabilidade teste-reteste avalia a estabilidade temporal, que se refere ao grau em

que os resultados de um teste repetem-se em diferentes momentos. Para se estimar a

estabilidade temporal de um teste, este é aplicado e reaplicado a um grupo de indivíduos após

um intervalo de tempo e então é calculada a correlação entre os resultados do teste e do

reteste. Um teste de personalidade deve apresentar resultados estáveis, mesmo em intervalos

relativamente longos, o que indicaria que os erros de medida são pequenos e que o teste avalia

traços de personalidade, ou seja, características mais permanentes do que situacionais (SILVA

NETO e CUSTÓDIO, 2010).

A consistência temporal tem sido estudada com bastante frequência no Rorschach.

Grønnerød (2003), Exner (2003), Meyer e Archer (2001) e Viglione e Hilsenroth (2001)

conduziram meta-análises sistemáticas dessa literatura, bem como desenvolveram estudos

empíricos de teste-reteste e os resultados mostram-se aceitáveis para uma boa estabilidade

para os escores do teste. As pontuações das variáveis que mensuram traços de personalidade

produziram coeficientes de teste-reteste relativamente altos, mesmo em longos períodos de

tempo (por exemplo, três anos de intervalo), enquanto os escores daquelas que avaliam

estados emocionais ou estresse situacional produziram coeficientes relativamente baixos,

mesmo em intervalos de tempo curtos (por exemplo uma ou duas semanas).

Sultan et al. (2006) encontraram níveis de estabilidade temporal um pouco mais baixos

quando investigaram 75 adultos não pacientes franceses, em que o reteste ocorreu 3 meses

depois do teste. A estabilidade temporal de 49 variáveis apresentou uma correlação média de

r=0,53 0,15 e mediana = 0,51. Apenas nove variáveis mostraram correlações acima de

0,70. Destacam Meyer e Viglione (2008) que embora mais baixa do que o esperado ou

desejado, este nível de estabilidade é similar ao observado com testes de memória e de

medidas de desempenho no trabalho.

A confiabilidade interavaliadores (ou intercodificadores) consiste em pelo menos dois

avaliadores diferentes corrigirem separadamente o mesmo grupo de testes, para que o

desempenho de cada testando gere dois ou mais escores independente. As correlações entre os

conjuntos de escores são o índice de confiabilidade entre os avaliadores. Uma correlação de

0,65 entre dois avaliadores no Rorschach pode ser considerada satisfatória, ou seja, a

confiabilidade entre os avaliadores é boa e isto indica que a correção do teste é precisa

(URBINA, 2007).

Silva Neto e Custódio (2010) relatam que algumas pesquisas realizadas com o SC no

Brasil informam sobre a confiabilidade interavaliadores, mostrando resultados adequados,

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com valores de Kappa ou do Coeficiente de Correlação Intraclasse (ICC) maiores do que 0,60

(SILVA NETO, 2008). A codificação do Rorschach para examinadores treinados

normalmente é bastante simples e o acordo é atingível através de avaliadores. As meta-

análises indicam que os avaliadores razoavelmente treinados conseguem uma boa

confiabilidade, com a média da correlação de Pearson ou intraclasse ( ICC) acima 0,85 e os

valores médios de kappa para pontuações atribuídas a cada resposta acima .80. (MEYER et

al., 2002, MEYER, 2004). Segundo Meyer (2004) os juízes avaliadores de Rorschach

concordam mais do que os supervisores avaliando o desempenho no trabalho dos empregados

(r = 0,57), os cirurgiões e enfermeiros diagnosticando anormalidades da mama em um exame

clínico (kappa = 0,52), e mais do que os médicos que avaliam a qualidade dos cuidados

médicos prestados por seus pares (kappa = 0,31). Para muitas variáveis do Rorschach, a

pontuação mostra o mesmo grau de confiabilidade quando os médicos estimam o tamanho do

canal vertebral e medula espinhal de ressonância magnética, tomografia computadorizada, ou

raio-x (r = 0,90). Ou o mesmo grau de confiabilidade entre médicos ou enfermeiros que

avaliam o grau de sedação de drogas para pacientes em terapia intensiva (r = 0,91, ICC =

0,84).

Ao mesmo tempo, também se observam alguns limites em relação à confiabilidade

daquelas variáveis que aparecem em frequência muito baixa (menor do que em 5%) nos

protocolos do teste (MCGRATH et al., 2005; MEYER et al., 2002; VIGLIONE & TAYLOR,

2003; MEYER & VIGLIONE, 2008). Segundo Meyer e Viglione (2008), são necessárias

grandes amostras de testes para estimar com precisão a confiabilidade dessas variáveis mais

raras (por exemplo as variáveis Sx, Fr+rF e CP). Além disso, existem alguns códigos mais

comuns que geralmente apresentam uma menor confiabilidade em função de apresentarem

subtipos que podem ser difíceis de discriminar (por exemplo, os tipos de sombreados, na

medida em que a forma é primária, secundária ou ausente; ou diferenciar os conteúdos

botânico, de paisagem e natureza; ou classificação de tipos específicos de desorganização

cognitiva). Para ajudar na superação dessas dificuldade Viglione (2002) desenvolveu um livro

de codificação que aborda estas questões. Além disso, é preciso ter em mente que a

confiabilidade entre avaliadores no Rorschach não é uma propriedade fixa do instrumento.

Pelo contrário, é totalmente dependente da formação, habilidade e consciência da examinador.

Assim, a prática repetida e a calibração com critérios bem definidos de correção são

essenciais para uma boa prática (MEYER e VIGLIONE, 2008).

Meyer e Viglione (2008) advertem sobre a questão de que a maioria das pesquisas de

confiabilidade para o Rorschach e outros instrumentos conta com avaliadores que trabalham

ou treinam no mesmo ambiente. Dessa foram, consistem em pessoas que possuem as mesmas

orientações e vícios de correções, em que o acordo entre esses avaliadores que trabalham

juntos pode ser maior do que o acordo entre avaliadores de grupos de trabalho diferentes.

Como resultado, a confiabilidade na correção de dois avaliadores de um mesmo grupo pode

ser maior do que a precisão de pontuação correta de fato. Enquanto o índice de confiabilidade

entre avaliadores do mesmo grupo de pesquisa tende a ser maior ou próximo de 0,85, por

outro lado, esse índice pode chegar a 0,72 quando os mesmos protocolos do teste são

codificados por avaliadores de grupos diferentes.

Segundo os autores, isto sugere que há complexidades no processo de codificação que

não estão totalmente esclarecidas em materiais de treinamento padrão do Sistema

Compreensivo. Para minimizar esses problemas, os avaliadores devem ter práticas exaustivas

de correção do teste, por meio dos exercícios disponíveis nos livro de treinamento do sistema,

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além de contar com textos específicos de esclarecimento a respeito de soluções para

codificação do teste como o livros de Viglione (2002), Exner (2001, 2003) e Exner & Erdberg

(2005).

Em pesquisas brasileiras tem-se encontrado um excelente resultado de confiabilidade

na codificação das respostas. Podemos citar a pesquisa normativa de Nascimento (2007 e

2010) e diversos trabalhos, dissertações e teses que têm sido apresentados. Por exemplo, a

concordância entre juízes apresentada nos estudos de Resende, Carvalho e Martins (2012),

Ribeiro, Semer e Yazigi (2011, 2012), Leonel, Semer e Yazigi (2012) e na tese de doutorado

de Garcia-Santos (2009).

4.2 Validade

O estudo da validade de um teste psicológico evidencia se o teste está medindo o

construto que se propôs a verificar em sua definição inicial e até que ponto o faz. Vários

autores nacionais e internacionais são unânimes em asseverar que esta é uma qualidade

imprescindível aos testes psicológicos. Para se garantir a validade de um teste psicológico,

muitas linhas de evidências devem ser englobadas, exploradas e testadas. A validade depende

das evidências que se pode reunir para corroborar qualquer inferência feita a partir de

resultados de testes (AERA, APA e NMCE, 1999; BALBINOTTI, 2005; URBINA, 2007;

WEINER e GREENE, 2008).

Segundo Weiner e Greene (2008), a mais extensa fonte de informação a respeito da

validade do Rorschach é a meta-análise desenvolvida por Hiller et al. (1999). Esses

pesquisadores realizaram uma análise comparativa de validade entre o Rorschach e o MMPI.

Eles investigaram um amostra aleatória de 2.276 protocolos Rorschach e 5.007 protocolos de

MMPI e concluíram que ambos os instrumentos são válidos para avaliar o que eles se

propõem avaliar. Particularmente o Rorschach demonstrou maior validade em relação a

critérios classificados como objetivo. Os critérios que eles consideraram objetivos

abrangeram uma série de variáveis que foram consideradas reações comportamentais,

condições médicas, interações comportamentais com o meio ambiente, ou classificações que

exigiam um mínimo de julgamento de um observador, como o abandono do tratamento,

história de abuso, o número de acidentes de trânsito, as histórias criminais, o diagnóstico de

um transtorno médico, o desempenho em um teste cognitivo, o desempenho em um teste

comportamental de capacidade de adiar a gratificação, ou resposta à medicação.

Vários estudos têm fornecido evidências de validade do Rorschach por meio de meta-

análises, considerando sua validade global, ou algumas de suas escalas específicas (ou

índices) ou, ainda, mediante a análise de variáveis individuais (BORNSTEIN e MASLING,

2005; EXNER e ERDBERG, 2005; MEYER e ARCHER, 2001; MIHURA et al., 2012). Entre

os índices que evidenciaram maior validade encontram-se: o Índice de Suicídio (S-Con),

Índice de Distúrbio do Pensamento (PTI), de Hipervigilância (HVI), de Dependência (ROD),

de Forma Distorcida (FQ-), de Códigos Especiais (Sum6), Lambda (L), Experiência Efetiva

(EA), Índice de Complexidade (Complexity), Frequência Organizacional (Zf), Ideações

Deliberadas (M) e Índice de Stress (EA-es).

Grønnerød (2004), por meio da meta-análise, resumiu sistematicamente a literatura de

Rorschach que examinou até que ponto as variáveis do teste poderiam medir mudanças da

personalidade em função do tratamento psicológico. O Rorschach produzido um nível de

validade que era equivalente a instrumentos de autoavaliação e em avaliações realizada por

clínico. Grønnerød também observou que a validade do Rorschach aumentava quando estava

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relacionada a tratamentos a longo prazo, sugerindo que quanto mais terapia mais mudanças

saudáveis na personalidade.

4.3 Normatização

No que diz respeito à normatização, como tipicamente não são conhecidos os escores de

uma determinada população, busca-se alcançar o desempenho médio de uma amostra de

indivíduos, com um perfil representativo dessa população para a qual o teste foi planejado, o

que estabelece padrões normativos relativamente estáveis de desempenho para interpretar os

resultados individuais. Os desempenhos médios, ou normas, permitem comparar o sujeito

com os seus pares ou consigo mesmo em diferentes aspectos avaliados de sua personalidade.

O desempenho do indivíduo pode variar de uma cultura para outra e de uma região para outra,

de acordo com os fatores de seu entorno. Qualquer norma é restrita à população da qual foi

derivada, e cada indivíduo deve ser avaliado em seu desempenho tendo como referência o

grupo em que está inserido (McGREW, 2009; URBINA, 2007).

Weiner e Greene (2008) ressaltam que a amostra normativa tem, como principal

requisito, ser representativa da população para a qual o instrumento será aplicado. Segundo,

os dados devem ser coletados por examinadores experientes que tiveram treinamento de

aplicação e correção do método. Finalmente, o participante, embora voluntário e anônimo,

deve estar seriamente envolvido na tarefa. Caso contrário, a falha em qualquer um desses

requisitos será uma variável interveniente que poderá invalidar qualquer estudo normativo do

teste.

Este problema da representatividade da população é um ponto crítico em quase todos os

estudos normativos da maioria dos países. No caso específico do Brasil, a representatividade

populacional dos estudos normativos é bastante crítica, vista a característica continental do

país e a diversidade sociocultural das regiões.

É importante enfatizar também a necessidade de estudos por faixa etária diferenciada,

que servem de referência normativa para crianças, adolescentes e adultos. Pois, como

destacam Stanfill, Viglione e Resende (2012), o desenvolvimento psicológico das crianças é

mais rápido e perceptível na primeira infância (até os três anos de idade), onde um período de

seis meses pode evidenciar mudanças significativas nas habilidades emocionais, cognitivas,

sociais e psicológicas (BRADY, 2002; PIAGET & INHELDER, 1962). Essas mudanças

psicológicas abrandam com o desenvolvimento do processamento cognitivo, que tende a ser

amplamente realizado ao final da adolescência (BALTES, 1987; FIERRO, 2004), embora

progressos bastante desiguais e grandes diferenças individuais sejam comuns durante a

infância (GRISSO, 2005).

Stanfill et al. (2012) enfatizam que as enormes diferenças individuais também foram

identificadas em protocolos de Rorschach de crianças por diferentes autores (AMES et al.,

1974; MEYER, ERDBERG e SHAFFER, 2007), pois afirmam que a grande variação nos

escores produzidos ocorre devido a diferenças de desenvolvimento entre esses jovens. Exner,

Thomas e Mason (1985), Exner e Weiner (1994) e Weiner (2003) observaram que as

pontuações no Rorschach muitas vezes flutuam ao longo do desenvolvimento e não se

estabilizam até aproximadamente dezesseis anos de idade.

Estudos dedicados à revisão de pesquisas empíricas nacionais e internacionais sobre a

utilização do Rorschach na infância, concluíram que é bastante incipiente o uso deste teste em

crianças menores, especialmente as pré-escolares, entre 3 e 6 anos de idade. Também foi

observado que entre os anos de 1930 e 2002, um período de 72 anos, existiam apenas cinco

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estudos normativos no país que consideravam a faixa etária até 13 anos de idade: o de

Barreto(1955), o de Viana Guerra (1958), o de Windholz (1969), o de Jacquemin (1976) e o

de Adrados (1985). Pela data de realização destas pesquisas é possível perceber que elas,

ainda que tenham representado uma grande contribuição para a área da avaliação psicológica

com crianças, são bastante antigas e, portanto, estão vinculadas a uma realidade sociocultural

diferente da atual (FERNANDES, 2010; NASCIMENTO, PEDROSO e SOUZA, 2009;

PASIAN, 2002).

Na busca por pesquisas normativas com o Rorschach, particularmente no SC, em

crianças e adolescentes no Brasil considerando os últimos 11 anos, período entre 2003 e 2013,

foram identificadas três publicações com amostras de faixa etária variável entre 5 e 14 anos

de idade: Nascimento et al. (2008), realizado com 140 crianças, entre 13-17 anos, em São

Paulo (SP); Ribeiro, Semer e Yazigi (2011, 2012), realizado em Cuiabá (MT), com 211

crianças entre 7 e 10 anos; Resende, Carvalho e Martins (2012), com 201 crianças entre 5 e

14 anos, da cidade de Goiânia (GO).

Considerando os estudos normativos do SC para adultos, pode-se dizer que já existem

normas para uma grande variedade de países. Exemplos desta preocupação e cuidados

técnicos estão presentes nos congressos da International Rorschach Society (IRS) – em

especial os ocorridos nos anos de 1999 e 2008 – e em periódicos científicos, com destaque

para Journal of Personality Assessment (em especial o publicado em 2007) e para

Rorschachiana (diferentes volumes) (PASIAN e LOUREIRO, 2010). No Brasil temos já

publicado um estudo normativo realizado com 409 adultos do estado de São Paulo

(NASCIMENTO, 2010) e uma publicação com estudos normativos de crianças e adolescentes

está em andamento, por Nascimento, Resende e Ribeiro. Em breve deverá estar finalizado.

Meyer et al. (2007) desenvolveram normas internacionais, provenientes dos protocolos

de Rorschach SC de adultos não-pacientes de 16 países diferentes, (Argentina, Austrália,

Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, Grécia, Holanda, Israel,

Itália, Japão, Perú e Portugal). Essas normas corroboram com a concepção de que o

Rorschach é um método independente das peculiaridades culturais. Observou-se em todos os

estudos normativos uma consistência notável nos resultados. Poucas variáveis demonstraram

diferenças significativas. Evidências recentes sugerem algumas das diferenças aparentes entre

as amostras normativas coletadas nos Estados Unidos e internacionalmente são

provavelmente devido a diferenças inesperadas em pontos ou marcas de referências locais

usados para a administração e pontuação do teste (MEYER e VIGLIONE, 2008).

Por outro lado, são essas poucas diferenças significativas que apontam que o instrumento

também é sensível às culturas, pois além de mostrar consistência nos dados normativos em

diferentes países, o Rorschach capta os modos de expressão próprios de sujeitos com

determinados idiomas nativos, capta imagens temáticas e referências simbólicas de uma

cultura específica ou de um indivíduo em particular (DE VOS e BOYER, 1989; WEINER,

2003).

Considerações finais

Com base em tudo o que foi exposto sobre o Método de Rorschach, pode-se afirmar

que os resultados das pesquisas mais recentes indicam sua popularidade não só no Brasil, mas

também internacionalmente, como um do instrumentos mais usados para avaliar a

personalidade em diferentes áreas de Psicologia, especialmente na clínica e jurídica. Uma das

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maiores vantagens do instrumento é que ele pode ser aplicado em diferentes culturas em

função de se tratar de estímulos visuais neutros, cuja tarefa é bastante simples e pode ser

desempenhada facilmente nas diferentes faixas etárias. Outra vantagem é que o instrumento,

em sua essência, é ateórico, o que facilita os psicólogos de diversas orientações teóricas

utilizar o teste, pois a sua capacidade de gerar informações úteis existe independentemente de

qualquer fundamentação específica.

Apesar da necessidade constante de aprimoramento do instrumento, atualmente o seu

status científico repousa sobre uma base psicométrica sólida. A literatura científica aponta

claras evidências a respeito de sua confiabilidade e validade, além de apresentar os cuidados

necessários envolvidos na elaboração de referenciais normativos para aplicação e

interpretação do método. Tudo isso é consequência dos esforços de grupos de pesquisas,

como também da construção de uma rede nacional e internacional de profissionais e

acadêmicos interligados, em projetos de colaboração, em grande escala, para coleta de dados

nas diferentes culturas.

A riqueza de informações de pesquisa em diversas áreas, a aplicabilidade deste

instrumento para avaliação psicológica, faz deste instrumento um ícone da prática do exame

psicológico. Seus resultados garantem uma fidedignidade e validade, como vimos, acrescidos

grande profundidade na compreensão dos mecanismos psíquicos. Concorre também para o

destaque deste instrumento para avaliação psicológica a possibilidade se trabalhar com

aspectos profundos e particulares de uma pessoa. Estas vantagens tem levado a uma

exploração ainda crescente em pesquisas, um respeito por profissionais de diversas áreas,

como dos advogados, juízes e promotores, na área forense, dos médicos e em especial, dos

psiquiatras na área da saúde, como também de educadores e profissionais da esfera das

organizações que reconhecem seu status científico.

Por outro lado, concorda-se com Weiner e Meyer (2009) que é importante ter em

mente que ainda há muito o que ser estudado e aprendido sobre como, por que e quando o

método funciona com excelência ou maior eficiência, assim como sobre qual informação

única que somente o método pode fornecer com mais clareza.

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