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O ESPORTE COMO ELEMENTO SIGNIFICATIVO NA CULTURA CORPORAL DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO: as possibilidades do currículo multicultural

Autor: Rejane Maria Rohmann1

Orientador: Miguel Arcanjo Freitas Jr.2

Resumo:

Considerando as observações feitas ao logo de 26 anos de atuação no Colégio Estadual Professor Colares, e através da troca de experiências com outros profissionais da área, constatou-se que ao longo do Ensino Médio, os alunos vão perdendo o interesse pelas aulas de Educação Física. Este estudo foi realizado com o objetivo de apresentar uma proposta de construção curricular sob a perspectiva multicultural, para auxiliar no processo ensino aprendizagem e buscar motivar os alunos a retomarem o interesse pelas aulas da disciplina. No intuito de compreender melhor o tema estudado, num primeiro momento estratificou-se uma amostra de 86 alunos de quatro turmas de terceiro ano, do turno matutino, os quais responderam um questionário investigativo cujo objetivo era auxiliar no mapeamento da cultura corporal dos 483 alunos pesquisados. Para o registro das ações realizadas foi utilizado um diário de campo e produções dos alunos, por meio das quais foi possível verificar que os conteúdos mais significativos para estes são os esportes: voleibol e futsal. Num segundo momento, realizou-se o planejamento das ações didáticas, considerando como ponto de partida os conteúdos já vivenciados, os interesses e expectativas dos alunos sobre os conteúdos da cultura corporal, diante de uma metodologia dialética, e assim construir o conhecimento sistematizado. As ações realizadas neste estudo propunham construção de jogos e reelaboração de regras possibilitando que através da troca de experiências e da reflexão crítica fossem ampliados os conhecimentos sobre os conteúdos da cultura corporal respeitando a diversidade de ideias e de culturas. Desta forma, os alunos sentiram-se parte integrante do processo de construção do conhecimento apresentando melhora significativa na motivação para as aulas da disciplina.

Palavras-chave: Cultura Corporal, Ensino Médio, Currículo Multicultural.

1 Professora Licenciada em Educação Física pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG),

Especialista em Ciência da Educação Motora (UEPG). 2 Professor Licenciado em Educação Física pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Mestre em

Ciências Sociais Aplicadas (UEPG), Doutor em História do Esporte (UFPR).

1 Introdução

O Colégio Estadual Professor Colares é composto por 647 alunos: 483 do

Ensino Médio e 164 do Ensino Fundamental, que advém de vários bairros e vilas da

cidade, as quais não possuem colégios que ofertem o Ensino Médio.

Considerando a experiência profissional de 26 anos no referido colégio, na

disciplina de Educação Física foi preocupante observar que os alunos ao longo do

Ensino Médio vão perdendo o interesse pelas aulas da disciplina. Com o intuito de

auxiliar no processo ensino aprendizagem e incentivar os alunos a retomarem o

interesse pelas aulas foi apresentada esta proposta de estudo que trata da

construção curricular sob a perspectiva multicultural.

Para o desenvolvimento do estudo, em um primeiro momento foi aplicado

um questionário exploratório nos alunos dos terceiros anos do Ensino Médio do

colégio, com o objetivo de mapear a cultura corporal dos alunos do colégio. O

questionário investigativo, continha oito questões abertas e foi aplicado pela

professora que propôs este estudo, com os alunos numa sala de aula. Participaram

do questionário 86 alunos de terceiros anos, mas em torno de vinte alunos

participaram efetivamente das atividades propostas no Projeto de Intervenção, pois o

projeto foi realizado em contra turno o que dificultou a participação de um número

maior de alunos, pois alguns moram longe do colégio e outros trabalham.

A partir das expectativas destes alunos em relação aos conteúdos da cultura

corporal foram elaboradas as ações didáticas aplicadas no Projeto de Intervenção

na Escola. Nestas ações foi utilizada uma metodologia dialética. Isto é: para que a

aprendizagem se efetive será necessário que o conhecimento seja organizado e

acompanhe todo o processo de formação a partir de três pilares: 1) conhecimento

histórico- patrimônio da humanidade; 2) o conhecimento social- fruto do

conhecimento de outros indivíduos ou grupos- e 3) o conhecimento prático- fruto da

experiência real do próprio grupo e da cultura escolar (NEIRA e NUNES, 2008,

p.239).

Segundo os autores (2008, p.278), na concepção de currículo multicultural, o

professor trabalhando de forma coletiva, organizando os alunos em grupos de

atividades estará dialetizando as manifestações da cultura corporal, deslocando-se,

portanto, do papel de único detentor do conhecimento para dar vozes aos seus

alunos e alunas podendo assim descobrir suas capacidades de se expressarem

através das inúmeras linguagens corporais (dançando, jogando, lutando, nos

esportes e na ginástica), da linguagem oral, que já é dominante em nossa cultura e

de tantas outras linguagens que a escola deverá disponibilizar aos alunos visando o

fortalecimento intelectual cultural e político da população escolar, estimulando a

criticidade e a criatividade, condições indispensáveis para fazer escolhas

conscientes e assumir sua cidadania.

A proposta curricular abordada neste estudo tem por objetivo investigar as

expectativas dos alunos do Ensino Médio do colégio em relação aos conteúdos da

cultura corporal e oportunizar a participação na construção destes conteúdos:

reelaborando ideias, conceitos, regras a partir das já existentes, com o intuito de

socializar as diferentes abordagens culturais, bem como estimular a autonomia, o

respeito às diferenças culturais e o nível de aprendizagem que os alunos possuem

sobre os temas propostos. Partindo do conhecimento prévio e das experiências e

expectativas dos alunos em relação aos temas da cultura corporal: (ginástica,

danças, lutas, jogos e esportes) e através da mediação do professor apresentando

aos alunos os seus saberes será elaborado o conhecimento sistematizado.

Nesta perspectiva, pretende-se a ressignificação dos saberes relativos ao patrimônio da cultura corporal no espaço escolar, transformando-o em um espaço vivo de interações, aberto ao real e às suas múltiplas dimensões. Por meio de uma prática dialógica com diversos níveis de aprofundamento em busca das respostas às questões que surgem sempre que uma problemática é enfrentada, o conhecimento configura-se em um instrumento para a compreensão e possível intervenção na realidade (Neira e Nunes, 2008, p. 243 e 244)

Esta investigação, do ponto de vista dos procedimentos técnicos pode ser

considerada um estudo de caso, o qual, segundo Yin (2001), trata de uma

investigação empírica na busca de dados relevantes obtidos por meio da vivência,

da experiência e permite preservar características e significados de eventos da vida

real. Para Gil (2002): “o estudo de caso se constitui no estudo mais completo de

todos quando se trata de coleta dados, pois, se utiliza tanto de dados de gente

quanto dados de papel”. Neste estudo será realizada uma descrição e uma análise

do Projeto de Intervenção Pedagógica realizado com alunos do terceiro ano do

Ensino Médio do Colégio Estadual Professor Colares, na disciplina de Educação

Física e das temáticas desenvolvidas no Grupo de Trabalho em Rede (GTR), que

contou com a participação de onze professores da Rede Pública de Ensino do

Estado do Paraná.

2 Desenvolvimento

O Grupo de Trabalho em Rede – GTR é uma das atividades obrigatórias do

PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) previstas no Plano de Formação

Continuada do Programa. Seu objetivo é a socialização das produções do Professor

PDE por intermédio da interação através do espaço virtual, destes, com os demais

professores da Rede Estadual de Ensino, possibilitando a contribuição dos

professores participantes no sentido de realizar uma análise crítica e avaliar a

aplicabilidade dos projetos apresentados e contribuir diretamente para a

Implementação do Projeto na Escola e para a elaboração deste Artigo Final (SEED-

PR).

As atividades propostas do curso citado (GTR) foram postadas no ambiente

virtual em forma de fórum ou diário e foram estruturadas em três temáticas: A

primeira temática teve como objetivo refletir e discutir sobre tema abordado no

Projeto de Intervenção na Escola. Nesta temática os professores deveriam elaborar

um texto opinando como a elaboração dos conteúdos curriculares com base na

teoria multicultural poderia contribuir para a sua prática pedagógica. Os resultados

serão apresentados no quadro abaixo.

Professores GTR

Considerações sobre o currículo Multicultural

Professor A Os conteúdos no ensino médio são os mesmos, causando desmotivação. Uma mudança pode ser feita com a prática do currículo multicultural fazendo uma sondagem diagnóstica para programar os conteúdos de acordo com os interesses e o nível dos alunos.

Professor B Acredito nesta proposta. Trabalhar os conteúdos partindo do conhecimento dos alunos provoca participação mais ativa, contribuem mais durante a aula.

Professor C Facilitar o trabalho através de uma sequência e organizar estratégias para aplicar os conteúdos. Nesta proposta conteúdos comuns podem ser trabalhados de maneira diferente.

Professor D No ensino médio os conteúdos devem ser desenvolvidos com uma metodologia diferente dos anos anteriores.

Professor E Alunos desmotivados porque os conteúdos são sempre os mesmos A maioria dos professores só ensinam esportes. Importante promover discussões sobre os diversos temas da cultura corporal.

Professor F Importante projeto. Já vivenciei algo parecido com o currículo multicultural na minha docência.

Professor G Todos nós percebemos a falta de estímulo dos alunos. Deixar que eles organizassem os conteúdos pode motivá-los muito mais.

Professor H Distribuindo responsabilidades os alunos aumentam a confiança, e a autoestima. A aprendizagem e a avaliação são mais eficazes.

Professor I Os professores e alunos do ensino médio precisam ser desafiados constantemente. Interessante propor que os alunos organizem as atividades, pois se tornam mais dinâmicos e participativos.

Professor J O envolvimento dos alunos nas atividades acresce muito na aprendizagem e no currículo escolar.

Professor K Esta proposta é o caminho para atender às necessidades dos alunos desinteressados.

Quadro 1- Elaborado por Rejane Maria Rohmann para este Artigo Científico.

É importante transcrever um trecho da resposta apresentada pela professora

J, pois resume o entendimento dos professores em relação ao tema do Projeto: “Ao

considerar os valores, os costumes, as formas de pensar, o professor reconhece o

aluno como sujeito capaz de se apropriar de novos conhecimentos, organizados e

sistematizados que darão novas possibilidades para reflexão e a autonomia”.

Nesta temática a discussão foi unânime em torno da necessidade de motivar

nossos alunos do Ensino Médio para as aulas de Educação Física, e que para isso

alguns conteúdos precisam ser resgatados como a capoeira, a dança, os jogos e

também os esportes sob um novo enfoque: enfatizando seu valor histórico e cultural.

A segunda temática do GTR teve como objetivo propor aos professores

participantes refletir criticamente sobre a relevância da Produção Didático

Pedagógica para a realidade da escola pública. Para esta discussão foi sugerido um

texto do Material Didático3 que aborda as questões de gênero. Foi escolhido este

tema pelo fato de que na perspectiva de currículo multicultural se faz necessário

problematizar questões presentes na sociedade e no dia a dia escolar. Nas ações

realizadas com o conteúdo futsal durante a implementação do Projeto Pedagógico

na Escola surgiram algumas situações que evidenciaram a necessidade de abordar

este tema. Foi então solicitado aos professores que elaborassem um texto relatando

3 Este Material didático foi elaborado como patê integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional

(PDE), com a finalidade de socializar com os profissionais da área de Educação Física, os conhecimentos

adquiridos a partir da pesquisa realizada sobre os conteúdos da cultura corporal sob a perspectiva do

currículo multicultural.

em que situações as questões de gênero podem ser percebidas durante as aulas da

disciplina e quais as ações educativas do professor na tentativa de resolução dos

problemas encontrados?

Os professores, em geral relataram que as questões de gênero podem ser

percebidas em vários momentos de suas aulas (em especial com o conteúdo

futebol). O professor H relatou que para tentar solucionar esta problemática

conversa individualmente com os alunos envolvidos, trabalha o futsal com atividades

mistas, em duplas ou em grupos e afirma que na maioria das vezes têm obtido bons

resultados. “Vejo que as meninas já conquistaram um espaço grande nas aulas de

Educação Física. Acredito que seja porque o interesse das meninas pelo futebol

aumentou bastante”.

Na opinião dos professores a forma de explicar e conduzir as atividades são

muito importantes para que as diferenças sejam respeitadas e que é fundamental

oferecer outras possibilidades na elaboração e organização das atividades.

Nas palavras de uma professora J: “por que não instituir regras,

conjuntamente acordadas com os alunos e alunas, que limitem a atuação de alguns

em prol da participação de todos”.

Neste sentido as regras são elaboradas para que as meninas joguem em

iguais condições que os meninos e as possíveis diferenças de habilidades possam

ser minimizados.

Porém, segundo Neira e Nunes (2008, p.231), citando a pesquisa de Souza

e Altmann (1999), algumas regras como: só vale o gol das meninas podem reforçar

o preconceito em relação às manifestações culturais mistas conferindo às meninas a

condição de mais fracas e mais frágeis, em condição inferior, sendo merecedoras de

cuidados especiais e que para as meninas participarem em iguais condições com os

meninos o jogo precisa ser caricaturado. Assim, atividades que poderiam contribuir

para educar para o convívio mútuo, educariam para ter “pena, dó, das meninas”.

No “diário” desta temática, a professora A fez a seguinte colocação: “Não é

fácil contrariar aquelas que são, muitas vezes, as expectativas imediatas dos

alunos”. Nas práticas esportivas, especificamente no futebol, por envolver

habilidades motoras como força, agilidade, muitas vezes as meninas acabam sendo

excluídas por serem consideradas mais frágeis e menos habilidosas em relação aos

meninos. Às vezes é difícil para alguns alunos romperem com o paradigma que o

futebol é esporte de homem.

Segundo o relato da professora J: “não basta que as meninas joguem futebol

para que o problema do preconceito contra a mulher no esporte se resolva”.

Neste sentido, Neira e Nunes (2008, p.230), comentam sobre o jogo

conhecido como futebol de casais ou “futpar: “a diferença entre homem e mulher

pode ser biológica, mas as questões de gênero são sociais”. Se não as

questionarmos no seio da cultura onde ocorrem, elas não se alterarão”. Isto é,

dificilmente serão resolvidas.

A temática três do GTR teve como objetivo socializar com os professores

participantes, os avanços e desafios enfrentados durante a fase de Implementação

Pedagógica. Neste momento foram relatadas e colocadas em discussão as

experiências e ações no desenvolvimento do projeto na escola.

Nesta temática, no diário foram sugeridas aos professores que relatassem

algumas experiências e sugestões de atividades aplicadas em suas aulas.

As atividades relatadas demonstram criatividade na elaboração e na forma

de conduzi-las, sendo um indicativo do comprometimento destes profissionais com a

qualidade do ensino nas escolas públicas. Estes professores mostraram-se abertos

a novas possibilidades (inclusive a construção curricular proposta neste estudo),

com a finalidade de aprimorar seus conhecimentos e suas ações pedagógicas e

assim tentar motivar os alunos do Ensino Médio para as aulas da disciplina.

Os professores que participaram do GTR possuem turmas de Ensino Médio e

relataram ter problemas de motivação com seus alunos. Este foi o motivo da

participação neste curso, pois esperam que através do conhecimento adquirido

sobre o tema e a troca de experiências possa contribuir para solucionar a

problemática da falta de motivação dos seus alunos.

2.1 A Educação Física e o Currículo

Nas últimas décadas, o corpo deixou de ser entendido apenas sob o

predomínio das ciências biológicas, passando a ser estudado e analisado também

com base em conhecimentos nas áreas de sociologia, da história, das ciências

políticas. Isto possibilitou a ampliação da discussão e produção cultural na área e já

é possível afirmar que a Educação lida com os conteúdos culturais e pode ser

explicada pelas ciências humanas (DAOLIO, 2007, p.01).

Para o autor “cultura é o principal conceito para a Educação Física porque

todas as manifestações corporais humanas são geradas na dinâmica cultural e

assumem significados próprios dos grupos culturais onde este contexto se realiza”.

A Cultura Corporal, historicamente construída pela humanidade, se

caracteriza como sendo o objeto de estudo e ensino da Educação Física (esportes,

jogos, ginástica, danças, lutas). Neste sentido, é possível ampliar as possibilidades

de intervenção educacional a partir dos elementos que articulam as práticas

corporais: Cultura Corporal e Corpo, Cultura Corporal e Saúde, Cultura Corporal e

Ludicidade, Cultura Corporal e mundo do Trabalho, Cultura Corporal e

Desportização, Cultura Corporal – Técnica e Tática, Cultura Corporal e Lazer,

Cultura Corporal e Diversidade, Cultura Corporal e Mídia. Esses Elementos

Articuladores visam integrar e interligar as práticas corporais de forma mais reflexiva

e contextualizada. (DCE, 2008, p.53).

Os elementos acima citados fazem parte do contexto da educação física

escolar e foram organizados para facilitar a compreensão e transmissão dos

conteúdos curriculares da disciplina, contribuindo assim com a intervenção

pedagógica nas situações de aprendizagem.

No atual momento político e econômico de reestruturação produtiva, se faz

necessário uma mão de obra diferenciada, ou seja, que crie, inove e que coloque a

disposição não só sua força de trabalho, seu saber técnico, mas, também suas

capacidades cognitivas, seu comportamento e suas competências e habilidades. A

formação docente nessa perspectiva passou a ser uma questão fundamental haja

vista, a sua qualificação para lidar com o novo perfil de aluno que hoje a fase de

reestruturação produtiva do capitalismo exige. (DELVAL, 2001)

Isto está evidente nos pressupostos teóricos das Diretrizes Curriculares

Nacionais (DCN, 1998), e dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que

propõem uma formação crítica e preparação para o trabalho, contudo, se estabelece

uma formação humana mais flexível, adaptável, empregáveis para o mercado de

trabalho em constante mutação.

Na Educação Física, os PCNs podem ser caracterizados por concepções de

princípios teórico-metodológicos diferentes (psicomotor, construtivista ou

psicologicista, lazer e ludicidade e teoria crítico social dos conteúdos) no qual todas

as correntes pedagógicas e psicológicas se fundem, dificultando assim, as diferentes

formas de interpretar a realidade.

O quadro acima exposto desafiou a uma nova reflexão e novas

possibilidades de atuação na educação física, pois segundo a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional (LDB) 9394/96, de 20 de dezembro de 1996, art. 26º,

parágrafo 3º: “A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é

componente curricular obrigatório da educação básica”.

Como visto, a lei valoriza a disciplina de Educação Física, considerando o

papel social a ela atribuída, como um componente curricular da Educação Básica em

todos os níveis e modalidades de Ensino. Neste sentido, se pode concluir, que tanto

o professor, quanto a escola enfrentou diferentes desafios no sentido de organizar e

estruturar um currículo adequado e integrado à Proposta Pedagógica da Escola com

conteúdos contextualizados histórico, social, cultural e politicamente, que propiciem

a reflexão acerca dos movimentos corporais e façam sentido para os alunos

envolvidos no processo do conhecimento.

No Estado do Paraná, na gestão 2003 – 2010 estabeleceram como linha

prioritária a retomada da discussão coletiva do currículo, submetendo, a fazer

reflexões e levantar novas proposições práticas, levando em consideração as

situações concretas da escola. Essas proposições resultaram na construção das

Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná.

É pertinente dizer que o documento das Diretrizes permite ao professor

traçar o caminho de sua ação pedagógica. Contudo, elas expressam a necessidade

do professor em potencializar o estudo e o aprendizado, buscando outras leituras

que possam ampliar seu referencial teórico, objetivando um melhor entendimento da

concepção proposta no documento das Diretrizes na tentativa de ampliar o âmbito

de sua intervenção visando sua potencialidade formativa.

Na Educação Física, esse documento visa explicitar a concepção Crítico

Superadora. A raiz desta proposição está nas marcas da pedagogia Histórico Crítica,

que se fundamenta na teoria do movimento da realidade, que busca apreender o

movimento objetivo do processo histórico, ou seja, que tem como referencial teórico

o Materialismo Histórico Dialético. O objeto de ensino da disciplina são os temas

que, historicamente, compõem a Cultura Corporal Jogo, Ginástica, lutas Dança e

Esporte.

O inegável mérito da abordagem Crítico Superadora foi o estabelecimento da cultura corporal como objeto de estudo da educação física. Assim as várias manifestações corporais humanas, em vez de ser tomado como conteúdos tradicionais estanques da área, ou como auxiliar do desenvolvimento motor, como nos apresenta na abordagem desenvolvimentista, devem ser vistas como construção histórica da humanidade (DAOLIO, 2007, p. 30).

Nesta tendência, a dinâmica curricular no que se refere à cultura corporal:

“busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de

representação do mundo que o homem vem produzindo no decorrer da história,

exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, esportes e a ginástica”

(CASTELLANI et al, 2009, p.39).

Pelo fato da Educação Física ter características próprias, assume um

importante papel social dentro dos ambientes que a acolhem, seja no ambiente

escolar, no clube ou na academia, seu papel e seus conteúdos geralmente não são

questionados, por ainda ser senso comum que a educação física está vinculada a

treinamento, aquisição de saúde, recreação, lazer, ensino de fundamentos e regras

dos esportes, não considerando o aspecto da compreensão e análise crítica das

práticas corporais e que além das suas múltiplas possibilidades de movimento,

favorecem a formação do caráter e da aquisição de valores morais como respeito e

autonomia tão importantes na construção da cidadania e da valorização humana.

2.2 O Currículo Multicultural

Em diferentes épocas, as diferentes filosofias e pedagogias educacionais,

mesmo sem utilizar este termo, já faziam menções sobre o currículo, pois sempre

houve a preocupação em como ensinar e como organizar os conteúdos escolares. O

termo “currículo” começou a ser utilizado em países europeus como: França,

Alemanha, Espanha e Portugal, sob a influência da literatura educacional americana,

mais precisamente um livro chamado The Curriculum, escrito por Bobbitt (1918), no

momento em que as forças do poder tinham por objetivo, formar uma educação de

massa dentro dos seus moldes econômicos, políticos e culturais (SILVA, 2010, p.22).

Para o autor “o currículo é um local onde, ativamente, se produzem e se criam

significados sociais”.

É importante salientar que no atual momento histórico e político, o currículo

dentro das instituições escolares precisa atender à demanda da sociedade

contemporânea, onde os sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem não

partem do zero. Eles já chegam aos bancos escolares com um cabedal de

conhecimentos adquiridos através da sua experiência na resolução de situações e

problemas do cotidiano.

Partindo deste princípio, estes conhecimentos já assimilados pelos sujeitos,

não podem ser desprezados, precisam sim ser valorizados e considerados como

ponto de partida no processo de construção curricular (seleção, organização,

distribuição e avaliação dos conteúdos). Considerando o que nos dizem Neira e

Nunes (2008, p.140): “A perspectiva epistemológica central do conhecimento

envolvido no currículo deve ser ela própria, baseada na ideia de construção social”.

Assim, as reflexões sobre o papel do currículo diante do conteúdo escolar e

dos desafios que se põem no cotidiano do professor: questões sociais, econômicas,

políticas, culturais, étnicas e de gênero devem ser consideradas e respeitadas sem,

contudo, secundarizar o papel do conhecimento escolar.

Não se constrói um currículo de forma neutra, ele sofre as influências do

momento cultural e político no qual esta sociedade está inserida devendo ser

considerado em sua elaboração o modelo de sociedade e de homem que se quer

para esta sociedade, pois um dos objetivos do currículo é justamente provocar

alguma modificação nos sujeitos envolvidos, tornando, mais críticos, mais

autônomos, capazes de opinar sobre quais conteúdos são relevantes, necessários

tanto para a ampliação dos seus saberes sistematizados como também se estes

conteúdos serão capazes de contribuir para a resolução das situações problemas

enfrentados no dia a dia.

Segundo Neira (2007, p.151): “O multiculturalismo crítico se interessa

essencialmente pelas relações entre a pedagogia, justiça e transformação social”.

É de suma importância, ainda, que o conhecimento prévio que o aluno

possui sobre os conteúdos a serem trabalhados, bem como suas experiências e

interesses sejam considerados na construção curricular sob a perspectiva

multicultural para que segundo Neira e Nunes (2008, p.141) “os conteúdos não

sejam repassados nos moldes tradicionais, de forma estanque, fragmentada, onde o

professor seleciona a atividade, o ritmo, o tempo e o espaço, distorcendo o currículo

e desconsiderando o ritmo de aprendizagem do educando”.

O diálogo entre professor e alunos propostos na abordagem curricular sob a

perspectiva multicultural e almejados nas ações didáticas elaboradas para este

estudo visaram contribuir para que ambos pudessem construir juntos os

conhecimentos sistematizados, respeitando os saberes prévios dos alunos, sua

cultura, suas expectativas e ritmos de aprendizagem para que a aprendizagem se

concretize de forma que se torne relevante em contextos apresentados além do

espaço escolar.

Quando a construção curricular acontece de forma crítica, de modo que

contemple o estudo da etnia, da classe social e do gênero e possibilite aos alunos

integrar estes conteúdos à sua consciência, este aluno passará, então, a ter uma

visão mais ampla de como se processam os meios de opressão e as lutas das

classes menos favorecidas para resistir ao poder e aos interesses da classe

dominante. Partindo deste entendimento, poderão ser capazes de auxiliar na

construção de uma sociedade democrática onde é possível reconhecer e respeitar a

diferença sem perder a sua individualidade (NEIRA, 2007, p.158).

Para isso é preciso abrir espaço no âmbito escolar para a investigação o

estudo e a discussão das práticas sociais e corporais dos diversos grupos étnicos,

do predomínio da cultura branca e masculina, de como esta diversidade de culturas

se manifestam, dos preconceitos, que produzem tensões e contradições que

interferem na vida diária e escolar. Somente assim os alunos conseguirão se

identificar como produtores de conhecimento, como agentes de transformação,

atuantes na luta contra o poder e a submissão dos grupos dominantes.

A importância da interação entre professor e alunos proposta na abordagem

curricular sob a perspectiva multicultural consiste na perspectiva que ambos possam

construir juntos os conhecimentos sistematizados, respeitando os saberes prévios

dos alunos, sua cultura, suas expectativas e ritmos de aprendizagem para que esta

aprendizagem se concretize de forma que se torne relevante em contextos

apresentados além do espaço escolar.

Para entendermos melhor a questão do currículo, vejamos o que Silva

(2010, p.16 e 17) relata sobre as teorias do currículo: Assim como as teorias da

educação, as teorias do currículo podem ser divididas em diferentes perspectivas:

Nas teorias tradicionais do currículo, o conhecimento é dado como inquestionável e

a preocupação está em responder às questões: Como? O que? As teorias

tradicionais são consideradas como neutras, cientificas e desinteressadas, que se

preocupam mais com questões de organização, planejamento, objetivos, avaliação,

metodologias e aceitam mais facilmente os conhecimentos e saberes dominantes,

contribuindo para a reprodução das desigualdades e das injustiças sociais.

Para o autor, o foco central da questão curricular é saber qual conteúdo deve

ser ensinado? Qual conhecimento ou saber é considerado importante ou válido ou

essencial para merecer ser considerado como parte do currículo? Por que “esses

conhecimentos” e não “aqueles” devem ser selecionados? Para responder estas

questões é importante considerar a ênfase dada nas diferentes teorias do currículo:

sobre a natureza humana, sobre a natureza da aprendizagem ou sobre a natureza

do conhecimento, da cultura e da sociedade, para então decidir quais

conhecimentos e saberes serão selecionados.

O autor nos remete ainda, à importante observação de que o conteúdo

selecionado deve atender às expectativas do ser humano nele envolvido, a partir do

tipo de pessoa considerado ideal para um determinado tipo de sociedade, pois o

currículo, segundo o autor, busca modificar as pessoas as quais se remete

reforçando a ideia de identidade implícita no currículo e deve servir para atender não

apenas as expectativas em relação aos conteúdos escolares, mas também às

expectativas de vida do indivíduo nele envolvido.

Para que esta forma de construção crítica de currículo realmente seja

eficiente e a aprendizagem se concretize, e para que os conteúdos curriculares

atendam ao propósito de criar um terreno fértil onde se possa criar e produzir

cultura, é necessário que estes conteúdos sejam transmitidos aos alunos, sob a

forma de resolução de situações problema, onde eles precisem encontrar respostas

para atingir as metas propostas, onde possam ainda, ampliar ou redimensionar seu

conhecimento sobre um determinado tema, analisando criticamente o assunto,

investigando, questionando, chegando assim a um conhecimento mais elaborado,

sistematizado, de caráter mais científico, cumprindo então com esse que é um dos

objetivos de conhecimento dentro da instituição escolar (NEIRA e NUNES, 2008).

As teorias críticas e pós-críticas do currículo consideram o fato que nenhuma

das teorias é neutra, cientifica ou desinteressada e estão preocupadas com as

relações entre saber, identidade e poder, considerando, segundo o autor, “que

selecionar ou privilegiar um tipo de conhecimento em detrimento de outro é uma

operação de poder”.

As teorias pós-críticas não estão surgindo para criticar ou combater as

teorias críticas, mas apenas para ampliar, somar aos seus ensinamentos alguns

itens ainda não elencados. Em ambas as teorias as relações de poder se fazem

presentes, mas de outra forma: Nas teorias pós-críticas estas relações de poder se

apresentam mais descentralizadas, não estando apenas sob a responsabilidade do

Estado, por exemplo, nem tampouco limitam o poder ao campo econômico do

capitalismo.

Sob a perspectiva das teorias pós-críticas, na preocupação com os

processos de dominação, passam a ser incluídas questões como raça, etnia,

gênero, idade, sexualidade, que não estão bem contempladas nas teorias críticas.

Agora, a identidade, a alteridade, a diferença, o multiculturalismo e subjetividade dos

sujeitos passam a se constituir em elementos importantes na construção curricular.

(NEIRA e NUNES, 2008, p.118).

É importante ressaltar ainda, que nestes modelos de teorias de educação,

além das classes sociais, das relações de poder, ainda são consideradas as

relações de produção, a conscientização, a emancipação e libertação. Ao aluno, é

dada a oportunidade, dentro do ambiente escolar, de exercer sua cidadania:

discutindo, questionando e opinando, na construção dos conteúdos curriculares. Ele

passa assim a ser considerado como elemento integrante na sua construção, se

tornando autor do conhecimento, participando junto com o professor da elaboração

do conteúdo programático, onde serão levados em consideração às experiências, e

interesses sociais de alunos e professores, favorecendo assim, a interação social

entre ambos, para juntos, ampliarem seu conhecimento e sua visão de mundo

(NEIRA e NUNES, 2008).

3 Projeto de Intervenção na Escola

O Projeto de Intervenção Pedagógico na Escola, assim como o GTR é parte

integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), que é uma política

de formação continuada da SEED-PR (Secretaria de Estado da Educação do

Paraná). O PDE proporciona aos professores da Rede Pública Estadual realizar

estudos referentes ao cotidiano da sala de aula, detectando problemas encontrados

e propondo pesquisa na busca da melhora na qualidade do processo ensino

aprendizagem das escolas públicas do Paraná (SEED-PR).

Este Projeto teve como objetivo apresentar uma proposta pedagógica que

0portunizasse aos alunos a participação na elaboração dos conteúdos curriculares

da disciplina de Educação Física sob a perspectiva multicultural, no sentido de tentar

solucionar a problemática de motivação dos alunos do Ensino Médio.

A partir do conhecimento prévio e das experiências já vivenciadas pelos

alunos sobre os elementos da cultura corporal e através da mediação do professor,

novos saberes poderão ser construídos de forma que o conhecimento cotidiano e o

sistematizado possam ser redimensionados. Neste processo foram analisados e

discutidos os conteúdos da cultura corporal: ginástica, esportes, jogos, danças e

lutas e foram problematizadas questões de gênero. As atividades propostas no

Projeto de Intervenção na Escola foram realizadas com uma amostra de 20 alunos,

no período de setembro a novembro de 2011, em 64 horas divididas em quatro

horas/aulas semanais.

As atividades propostas no Projeto de Intervenção na Escola foram

elaboradas envolvendo os conteúdos da cultura corporal: jogos como o “basquete

amigão” elaborado por Brotto (2008, p.111 a 119) e adaptado pelos alunos

participantes deste estudo, voleibol com rede humana, futevôlei com regras

organizadas pelos alunos, ginástica (mais especificamente a ginástica localizada),

lutas (capoeira), dança e os esportes (voleibol e futsal). As atividades mais

enfatizadas e as que serão discutidas neste artigo envolvem os esportes voleibol e o

futsal por serem conteúdos relevantes na cultura corporal dos alunos de Ensino

Médio do colégio, pois aparecem com mais frequência no questionário investigativo

realizado com os alunos envolvidos na implementação deste projeto.

Durante as atividades propostas com o conteúdo estruturante esporte, mais

especificamente no caso do esporte futsal houve a necessidade de problematizar as

questões de gênero. Apesar dos alunos durante as reflexões realizadas ao iniciar o

conteúdo, afirmarem não haver discriminação de gênero, quando proposto um

festival misto de futsal envolvendo os alunos do Ensino Médio do colégio, observou-

se certa relutância por parte de alguns alunos na sua realização. Porém, no decorrer

da implementação, após a realização de novas reflexões sobre o tema e serem

propostas algumas atividades de futsal envolvendo grupos mistos, nas quais os

alunos participaram da elaboração das regras, estes alunos mostraram-se bem mais

receptivos à realização do festival. Este festival foi elaborado pelos alunos do

terceiro ano e foi realizado no mês de novembro na última etapa, para finalizar a

implementação do Projeto Pedagógico na Escola.

Para elaborar as ações didáticas do Projeto de Intervenção na Escola de

acordo com a proposta curricular apresentada foi realizado com os alunos do

terceiro ano do Ensino Médio, um questionário investigativo com o objetivo de

mapear a cultura corporal dos alunos do Colégio Estadual Professor Colares,

utilizando-o como ponto de partida para elaborar as ações didáticas que nortearam

este projeto. Constatou-se que o conteúdo relevante para estes alunos e alvo de

preocupação dos professores participantes do GTR é o conteúdo estruturante

esporte, mais especificamente o voleibol e o futsal. As ações didáticas foram

realizadas com o objetivo de motivar os alunos para as aulas sendo discutidas e

elaboradas em interação com os alunos envolvidos na pesquisa, após a coleta e

tabulação dos dados obtidos no questionário.

Os questionários apresentados neste estudo têm como base Neira e Nunes

(2008 2ª. Ed., p.248). Os autores utilizaram como modelo de instrumento para

reconhecer o patrimônio cultural sobre as manifestações corporais disponíveis na

comunidade escolar durante pesquisa de campo. Neste estudo foi utilizado com

adaptações de acordo com o objetivo do estudo apresentada no parágrafo anterior.

Foram escolhidos para este estudo alunos dos terceiros anos, por ser a faixa

etária em que se observa maior problemática de motivação nas aulas da disciplina:

As questões a seguir foram escolhidas por estarem diretamente

relacionadas ao objetivo deste estudo que foi mapear a cultura corporal dos alunos

do Ensino Médio do colégio, diagnosticar suas expectativas em relação a esses

conteúdos e apresentar uma proposta de construção curricular que possa contribuir

para motivar estes alunos para as aulas da disciplina.

O questionário investigativo foi realizado com base nos seguintes

questionamentos:

1-Quais as práticas corporais realizadas no Colégio nas aulas de Educação Física?

Gráfico 1- Práticas corporais realizadas no colégio

Dos 86 alunos entrevistados, setenta afirmaram que os esportes fazem parte

das práticas corporais realizadas nas aulas de Educação Física, dezesseis alunos

destacaram os alongamentos e a ginástica como práticas corporais realizadas nas

aulas da disciplina. Estas respostas demonstram que o esporte tem relevância nas

ações pedagógicas do colégio.

2- Como e onde são realizadas estas práticas? (quadra, sala de jogos, salão para

dança, aulas teóricas, práticas, etc.).

Gráfico 2- Local onde são realizadas as práticas corporais na escola.

Cinquenta e dois alunos citaram somente a quadra como local de realização

das aulas. Trinta e um alunos citaram além da quadra, o uso da sala de jogos e

apenas três alunos se lembraram de mencionar as aulas teóricas na sala de aula,

embora estas sejam realizadas com todas as turmas pelos professores da disciplina.

Observa-se pelas respostas que neste colégio, a quadra de esportes é o local onde

se realizam a maioria as ações pedagógicas relativas à disciplina de Educação

Física. O fato dos alunos não se lembrarem de mencionar a sala de aula é porque

os conteúdos da disciplina na maioria das vezes são ministrados aliando teoria e

prática no mesmo local, ou seja, a quadra do colégio.

3- Todos os alunos participam? Por quê?

Gráfico 3- Participação dos alunos nas aulas

Trinta e um alunos relataram que a maioria dos alunos de sua turma

participa das aulas porque gostam de esporte e porque é importante para a sua

saúde. No entanto cinquenta e cinco alunos afirmam que na sua turma nem todos

participam. O fato ocorre, segundo os alunos entrevistados, ou por não gostarem de

aulas que envolva esportes, por desinteresse ou simplesmente por preguiça. Pelas

respostas percebem-se muitos alunos desmotivados pelas aulas da disciplina.

4- Das práticas corporais realizadas no seu Colégio, qual (s) mais lhe agrada(m)?

Gráfico 4- Práticas corporais que mais agradam os alunos do colégio

Trinta e quatro alunos elegeram o futsal e 29 o voleibol como a prática

corporal que mais lhe agrada, 20 alunos optaram pelo tênis de mesa e 13 alunos

têm preferência por outras práticas corporais. Nesta questão considerou-se que

alguns alunos fizeram mais de uma opção e mesmo assim os esportes: futsal e

voleibol são os conteúdos relevantes para estes alunos.

5- Qual delas você gostaria de aprofundar seus conhecimentos e/ ou praticar de

outra forma?

Gráfico 5- Práticas corporais eleitas para aprofundar os conhecimentos e/ou praticar de outra forma

Vinte e nove alunos elegeram o voleibol, 28 preferem o futsal, 11 o tênis de

mesa e 18 escolheram outros conteúdos da cultura corporal para aprofundarem seus

conhecimentos e/ou praticar de forma diferenciada. As respostas reforçam a

afirmação que o conteúdo estruturante esporte e mais especificamente o futsal e o

vôlei como conteúdos relevantes para os alunos do Ensino Médio do colégio.

6- O professor durante as aulas lhe dá espaço para sugestões na elaboração das

atividades e na forma de realizá-las?

.

Gráfico 6- Espaço dado aos alunos pelo professor para sugestão na elaboração das atividades

Quarenta alunos responderam que o professor lhe dá espaço para

sugestões na elaboração das atividades e na forma de realiza-las, 35 alunos

responderam que não e 06 responderam que às vezes é dado este espaço e os

demais não responderam esta questão.

7- Quais práticas corporais você costuma realizar fora do colégio?

Gráfico 7- Práticas corporais realizadas fora do colégio

Trinta e um alunos relataram que praticam o futebol fora do colégio, 16 o

voleibol, 05 a dança, 12 o ciclismo, 14 optam pela caminhada e 05 pela corrida, 02

pelo tênis de mesa, 02 praticam MMA, 01 o caratê e 15 alunos relataram não

participar de nenhuma prática corporal fora do ambiente escolar. Nesta questão,

assim como na questão 04, os alunos poderiam optar por mais de uma prática

corporal. Observou-se pelas respostas que para estes alunos mesmo em ambientes

fora do espaço escolar os esportes futebol e voleibol ocupam espaço de relevância

na sua cultura corporal.

8- Como estas práticas são realizadas? Com quem?

Gráfico 8- Locais onde os alunos realizam as práticas corporais fora do colégio

0

5

10

15

20

25

Pratica

Na rua

Em casa

Em campo de futebo

Quadra esportiva

Academia

Praça

Clube

Esta questão foi dividida em duas partes. A primeira parte se refere ao local

onde o aluno realiza a prática corporal fora do colégio, sendo que 14 alunos

relataram realizar a praticar em casa, 21 na rua, 12 em um campo de futebol, 11 em

quadra esportiva, 04 em praça, 04 em clube e 05 realizam a prática corporal em

academia. Na segunda parte desta questão que trata da companhia com quem

realizam a prática corporal fora do colégio, 43 relataram realizar sua prática na

companhia de amigos, 08 praticam com familiares e ainda 05 praticam junto com um

grupo de dança.

A partir das respostas foram elaboradas as ações de implementação do

projeto, dando prioridade aos conteúdos relevantes para os alunos, reservando para

estes conteúdos um maior número de horas aula.

Antes de discorrermos sobre a Implementação do Projeto de Intervenção na

Escola faremos algumas considerações teóricas sobre a disciplina de Educação

Física e o currículo.

3.1 O Currículo Multicultural e os esportes na Educação Física escolar

O caráter monocultural está muito arraigado na educação. Partindo deste

princípio as propostas curriculares da Educação Física sendo parte integrante da

cultura escolar precisa ser elaborada sob um novo olhar numa releitura dos seus

conteúdos. Para isso não basta que os jogos, as brincadeiras, os esportes, as lutas

e ginástica e a dança sejam acrescentados ao currículo. É preciso que estes

conteúdos sejam questionados e vivenciados dentro de inúmeras possibilidades de

reinvenção. (NEIRA e NUNES, 2008, p.275).

Para os autores é necessário, que a cultura popular de jogos e dos esportes

que os alunos trazem ao entrar na escola, seja considerada como parte integrante

dos conteúdos curriculares e não façam parte apenas dos momentos de lazer. Os

jogos e esportes devem ser contextualizados dentro das aulas de Educação Física,

dando significação aos seus movimentos e deslocamentos, e a aprendizagem não

pode se efetivar por meio da repetição, pois cada situação dentro do jogo, do

esporte, exige movimentações peculiares, necessitando de uma análise prévia, da

localização e movimentação dos outros jogadores da equipe, dos adversários e da

bola, para que então o jogo flua da maneira desejada.

Analisaremos agora alguns exemplos do conteúdo estruturante esporte e o

currículo multicultural.

Exemplo um: O Currículo Multicultural e o esporte voleibol

As aulas da disciplina de Educação Física se constituem num espaço para

integrar os alunos dentro dos diferentes conhecimentos da cultura corporal. Dentro

deste contexto está o aprendizado dos esportes e do conteúdo voleibol.

É importante no aprendizado deste esporte saber como surgiu, por qual

sociedade foi criado e com que finalidade, sua evolução, suas regras e como estas

foram sendo modificadas ao longo da história. Porém, não se deve ensinar o esporte

na escola, suas regras, enfatizando a competição, o desempenho máximo, pois

neste sentido “o esporte na escola pode se tornar uma prática excludente,

privilegiando os mais fortes e hábeis ao invés de propiciar a todos igualmente a

oportunidade de vivenciar o esporte de forma lúdica e prazerosa” (DCE, 2008, p.63).

Segundo Neira e Nunes (2008, p.199), a prática do esporte na escola “não

precisará ocorrer dentro das regras oficiais, mas estas devem ser conhecidas para

que possam ser reelaboradas com a participação de alunos e professores

redimensionando os conhecimentos”.

Neste sentido foram propostas neste estudo algumas atividades envolvendo

o aprendizado do futsal e do voleibol e suas regras, possibilitando vivenciar estes

esportes, de forma mais lúdica e criativa. A perspectiva é que os alunos possam

expressar seu conhecimento prévio, que aliado a um novo conhecimento, mediado

pelo professor, torne possível a produção conjunta do conhecimento sistematizado.

Segundo Daolio (2010), cada educando que participa da construção de um

novo conhecimento trás consigo uma gama de significados atrelados a este

conhecimento, que é influenciado pela cultura que ele possui: de esporte, de mundo,

dos grupos sociais do qual faz parte e dentro desta dinâmica de construção do

conhecimento junto com seus pares, poderá ser capaz de ampliar e redimensionar o

conhecimento sobre o tema trabalhado, não se limitando a ser um mero reprodutor

do conhecimento.

Vejamos no quadro a seguir algumas regras oficiais do voleibol e como

sofreram modificações ao longo do tempo. Estas regras foram utilizadas nas

atividades propostas aos alunos neste estudo para que pudessem vivenciar o jogo

com as regras oficiais, fazer uma análise crítica e depois foi proposta a elaboração

de jogos com adaptações de regras sugeridas pelos alunos, para que seu

aprendizado ocorresse de forma dinâmica, crítica, criativa e não de forma estanque

como nos moldes do ensino tradicional.

Quadro comparativo das modificações das regras do voleibol

Antes

Hoje

1- Em 1995: jogado com 09 jogadores na quadra de jogo.

1- Equipe composta de 06 jogadores na quadra.

2- Em 1995: nome do esporte era minonette

2- 1896: Mudança do nome para Volleyball.

3- Forma de Pontuação: O ponto só era marcado quando a equipe recuperasse a posse de bola e ainda confirmasse a vantagem adquirida.

3- A vantagem foi retirada para diminuir o tempo de jogo.

4- Bloqueio defensivo 4- Em 1964: O bloqueio passa a ser ofensivo e o bloqueador pode tocar duas vezes na bola.

5- Recepção da Bola: Não poderia ser feita com as mãos separadas, pois era considerada como dois toques.

5- A recepção da primeira bola com as mãos separadas passou a ser permitida, não sendo mais considerada como dois toques.

6- Saque: A bola não poderia tocar a rede, passando a vantagem para o adversário.

6- Em 2000: Foi permitido o toque na rede, no saque.

7- O espaço para executar o saque era restrito a uma determinada área, chamada zona de saque.

7- O espaço para a execução do saque passou a ser liberado em toda a extensão após a linha final da quadra, desde que o jogador não ultrapasse ou toque os pés nesta linha no momento da execução do saque.

8- O saque poderia ser bloqueado.

8- A partir das Olimpíadas de Los Angeles,

em 1984, a regra não permitiu mais que o saque fosse bloqueado.

9- Somente era permitido que a bola tocasse partes do corpo acima da cintura.

9- A regra permite que a bola toque outas partes do corpo (inclusive os pés).

Quadro 2- elaborado por Rejane Maria Rohmann Professor PDE-2010, para este Artigo Científico.

Em 2000 houve as alterações e oficializações de novas regras: uso do

líbero, permissão do saque “queimado”; fim do segundo saque; 25 pontos por set em

sistema sem vantagem (após esse número persistindo o empate, dois pontos

vencedores); quinto set no mesmo esquema em quinze pontos; tempo técnico

(MARCHI, 2004, p. 236).

Estas inovações nas regras vieram conferir maior dinamismo ao jogo de

voleibol, maior facilidade na sua transmissão televisiva (com a retirada da vantagem

diminuiu o tempo de jogo) o que colaborou para atingir um público cada vez maior

(popularização), aumentando o número de praticantes e entusiastas da modalidade,

motivando mais patrocinadores a investir neste esporte (MARCHI, 2004, p.137).

É impossível negar a importância do conhecimento da sua história, das

regras e suas modificações, de seus fundamentos técnicos e a aplicabilidade no

jogo. Mas será que não haverá ainda, outras possibilidades dentro do aprendizado

do voleibol onde os próprios alunos possam desenvolver sua autonomia, criando e

adaptando regras para facilitar o aprendizado, como diminuir ou aumentar o número

de jogadores, o tamanho da quadra ou a altura da rede de acordo com a

necessidade da turma no momento, para que os alunos menos habilidosos possam

jogar de forma prazerosa e participar ativamente do jogo, de forma cooperativa?

As ações didáticas elaboradas para este estudo envolvendo o conteúdo

voleibol, suas regras e modificações foram realizadas na quadra esportiva do colégio

com a amostra de alunos participantes deste estudo. Foram utilizadas 16 horas/aula

para a realização das atividades propostas.

Nesta proposta de estudo foi contemplado o esporte voleibol, como um dos

conteúdos integrantes do planejamento das ações didáticas, pois foi um dos temas

mais citados durante o mapeamento da cultura corporal realizada com os alunos,

através do questionário investigativo. Porém as sugestões de atividades

apresentadas para o voleibol podem ser utilizadas para qualquer modalidade do

conteúdo estruturante esporte, partindo da realidade cultural do aluno,

problematizando o esporte em questão, contextualizando-o dentro dos momentos

históricos, seus fundamentos, regras, permitindo aos alunos novas formas de

construção do conhecimento, através do diálogo com outro e com o professor para

que ambos tenham papeis importantes na construção dos conteúdos curriculares.

O objetivo destas atividades com adaptações das regras foi proporcionar aos

alunos a participação no processo de construção dos conteúdos curriculares sob a

perspectiva multicultural, com o intuito de motivá-los para as aulas da disciplina,

além de incentivar a alteridade, a criticidade, a criatividade, a autonomia, e o

respeito às diferenças: de gênero, etnia e de ritmo de aprendizagem entre os atores

envolvidos no processo de aprendizagem.

Num primeiro momento realizou-se com os alunos, alguns questionamentos

visando fazer uma reflexão, uma análise do conhecimento que os alunos já possuem

sobre o conteúdo voleibol Esta reflexão foi realizada com os alunos sem que eles

fizessem relato por escrito. As respostas das seis questões foram anotadas num

diário de campo enquanto refletíamos sobre o voleibol. Este questionário, bem como

o questionário realizado sobre os conhecimentos prévios do esporte futsal tem como

base um exemplo de instrumento de avaliação inicial utilizado por Neira e Nunes

(2008, p.265), num trabalho de campo para mapear os conhecimentos dos alunos

sobre modalidades esportivas com raquete. Neste estudo, o questionário foi

adaptado para o esporte voleibol e mais adiante para o esporte futebol.

1-Quais as regras do esporte voleibol que você conhece?

Tendo em vista que os alunos vão adquirindo conhecimentos sobre os

conteúdos da cultura corporal e do esporte voleibol ao longo de quatro anos do

Ensino Fundamental e dois anos do Ensino Médio, ao chegar ao terceiro ano, já

possuem conhecimento suficiente para responder satisfatoriamente à questão um,

pois conseguiram apontar as principais regras do esporte.

Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008, p.62) “Os

conteúdos estruturantes da Educação Física devem ser abordados em

complexidade crescente”. Isto é: As regras dos esportes, por exemplo, podem ser

trabalhadas na teoria e serem vivenciadas na prática desde o sexto ano sendo dado

o enfoque de acordo com sua capacidade de aprendizagem.

A preocupação neste sentido é como contextualizar os conteúdos

curriculares de forma que ao chegar ao terceiro ano do Ensino Médio os alunos não

tenham a sensação de não ter mais nada a aprender e isto acabe por desmotivá-los

da prática de atividades que até então eram extremamente prazerosas

2- Quais regras você mudaria no voleibol para se tornar um praticante?

Nesta questão as respostas variaram desde diminuir a altura da rede e o

tamanho da quadra, o jogo ser realizado por tempo e outras modificações que serão

relatadas adiante na terceira atividade proposta.

3- Você acha importante seguir regras para o bom andamento do jogo?

A resposta foi positiva.

4- Em sua opinião, porque são feitas tantas alterações de regras no voleibol?

Nesta questão os alunos tiveram dúvidas para responder, mas relataram,

que em sua opinião seria para facilitar o jogo e torna-lo mais agradável.

5- Para você é possível montar um jogo de voleibol adaptando as regras (como

tamanho da quadra, número de jogadores, altura da rede, etc.) para que mesmo os

jogadores menos habilidosos consigam jogar?

A maioria respondeu que sim.

6- Você acha importante também seguir regras em outros aspectos da vida? Por

quê?

A resposta foi sim, pois na palavra dos alunos: “se não existirem regras as

coisas não funcionam e vira bagunça”.

7- O esporte voleibol pode auxiliar na formação de valores morais? Quais?

A questão seis foi onde os alunos tiveram mais dificuldade em responder,

portanto tive que intervir para conversarmos um pouco sobre valores como respeito,

cooperação, responsabilidade e autonomia.

Num segundo momento foi realizada a leitura e comentários sobre um texto

relacionado ao voleibol e o quadro dois, que sintetiza as mudanças nas regras ao

longo do tempo. Num terceiro momento, então foram propostas algumas atividades

práticas, envolvendo regras do jogo de voleibol, nas quais os alunos deveriam

analisar de forma crítica e dar sugestões de como estas regras poderiam ser

modificadas para facilitar e motivar a participação de todos os envolvidos. Neste

sentido os alunos puderam com a mediação de o professor participar da construção

curricular sob a perspectiva multicultural ampliando e redimensionando o seu

conhecimento sobre o conteúdo voleibol de forma que seus saberes, suas ideias,

interesses e expectativas fossem valorizados.

Exemplo dois: O Currículo Multicultural, o esporte futsal e as questões de

gênero

As questões de gênero, neste trabalho foram abordadas e problematizadas

mais especificamente em relação ao esporte futebol, por ser uma das práticas

corporais onde mais se percebe o preconceito e a distinção de gênero entre

meninos e meninas. Este tema parece gerar bastante preocupação, considerando

que se faz presente em algumas situações de aulas gerando conflitos.

Ao de iniciarmos as atividades com o conteúdo futsal, num primeiro

momento foram realizadas com os alunos, algumas reflexões sobre o tema proposto

como forma de diagnosticar o conhecimento prévio dos alunos sobre o conteúdo

futsal e como a problemática de gênero se encontra na realidade do colégio nas

aulas de Educação Física e na visão dos alunos na prática do futsal na sua

comunidade. Durante as reflexões, as respostas dos alunos de modo geral foram

sendo anotadas num diário de campo e serão aqui relatadas.

1-Você gosta de jogar futebol? Por quê?

Os alunos de modo geral afirmaram gostar de jogar futebol porque gostam

de esportes, e nas palavras de um aluno: “além de fazer exercício para o corpo,

melhorar a saúde é bom para passar o tempo e não ficar sem fazer nada”. É um

hobby.

2- Em sua opinião, as regras do futebol deveriam ser modificadas para prática

feminina? Quais?

Em relação à questão dois responderam que não precisava modificar as

regras, pois as meninas já estão praticando. Mas no decorrer das aulas, propondo

jogos e atividades em grupos mistos os próprios alunos reconheceram a

necessidade de fazer algumas modificações para que alunos e alunas participassem

de forma satisfatória.

3 - Gostaria de participar de um jogo de futebol misto?

Os alunos responderam que sim, pois “todos têm que participar igualmente”.

Porém na prática houve dificuldade de aceitação quando foi proposto um torneio

misto envolvendo as turmas de Ensino Médio do colégio. Quando foi proposto um

jogo misto que para eles tinha uma conotação mais recreativa a aceitação foi melhor,

mas quando eles interpretaram que o jogo teria um caráter mais competitivo (no

caso do torneio, uma turma contra a outra), a aceitação foi menor. Ao final foi

proposto um festival de futsal misto onde eles poderiam elaborar as equipes desde

que fosse composta de meninos e meninas e eles elaborariam as regras e a

arbitragem, a aceitação foi bem melhor.

4- Na sua comunidade as mulheres praticam o futebol? Onde?

A maioria dos alunos respondeu que sim, e que praticam o futebol em

campinhos próximos de suas casas.

5- Na sua comunidade ainda existe a discriminação e a ideia de que futebol é

esporte para homem?

Os alunos afirmaram não existir discriminação ou a ideia que futebol é

esporte para homem. Relataram ainda que na sua comunidade meninos e meninas

jogam futebol juntos.

6- Como você percebe a participação de meninos e meninas na prática do futebol na

sua escola?

Os alunos responderam que há boa aceitação e participação de meninos e

meninas nas aulas de futsal. Porém durante as aulas de futsal observa-se que

algumas meninas ainda ficam sem participar. A principal alegação é que quando

jogam com os meninos, eles não passam a bola. Quando os alunos elaboram as

regras existe maior participação das meninas no jogo misto de futsal.

7- Em sua opinião as meninas podem se tornarem tão habilidosas quanto os

meninos na prática do futebol?

As alunas afirmam que sim. “Se treinarmos conseguiremos ser habilidosas

como os meninos”. Os meninos pesquisados afirmaram que sim e comentaram:

“basta ver o número de meninas que estão praticando”.

Os alunos afirmaram durante as reflexões, que os preconceitos de gênero

no futebol não se fazem presentes nas aulas de Educação Física da escola e nem

tampouco nas práticas de futebol realizadas em sua comunidade, pois meninos e

meninas jogam o futebol sem que haja qualquer discriminação. Porém, durante as

atividades, quando foi proposto um festival misto de futsal houve relutância de

ambas as partes. Por um lado, as meninas reclamam que os meninos não passam a

bola para elas durante o jogo e os meninos demonstraram nítida preferência em

realizar o festival separando meninos e meninas.

A partir desta problemática foi trabalhado um texto para que os alunos

pudessem refletir sobre o tema e fazer uma análise crítica do que é e como se

processa a discriminação de gênero. Em seguida foram sugeridas algumas

atividades práticas com o conteúdo futsal.

Precisamos ter consciência que as construções de gênero possuem um

sentido mais abrangente que os espaços escolares, pois se refletem em todas as

esferas que envolvem o convívio social, ou sob a forma de conflito ou de alteridade.

No entanto cabe a nós educadores estarmos atentos aos significados atribuídos às

questões de gênero para que não se tornem fatores de desigualdades sociais,

gerando tensões e interferindo na aprendizagem (Daolio, 2010).

Para a realização das atividades de futsal deste estudo foram utilizadas 14

horas-aula na quadra de esportes do colégio, utilizando traves e bolas de futsal.

Assim como nas aulas de voleibol, nas de futsal além do jogo, foram propostos

exercícios com os fundamentos do esporte de forma que os alunos participassem

ora realizando os exercícios ora auxiliando o professor na realização das atividades.

Após conversarmos sobre as regras do futsal e as questões de gênero no

esporte foi solicitado que os grupos de alunos elaborassem, inclusive por escrito, um

jogo de futsal especificando pelo menos seis regras podendo recriá-las a partir das

regras institucionalizadas.

Os grupos organizaram os jogos de forma criativa readaptando as regras do

futsal, para possibilitar que alunos e alunas pudessem jogar de forma dinâmica

exaltando mais o aspecto recreativo e cooperativo do que o competitivo. Assim,

mesmo em grupos heterogêneos, onde existam diferenças culturais e no nível de

aprendizagem, é possível vivenciar o esporte de forma prazerosa sem

necessariamente utilizar as regras institucionalizadas, possibilitando reorganizá-las a

partir das necessidades e expectativas dos alunos envolvidos na atividade proposta.

4 Conclusão:

Na perspectiva de auxiliar na resolução da problemática que originou a ideia

deste estudo: isto é, a falta de motivação dos alunos do Ensino Médio do Colégio

Estadual Professor Colares, para as aulas da disciplina de Educação Física foi

apresentada uma proposta curricular sob a perspectiva multicultural, para que

professores e alunos pudessem de forma dialética integrar o senso comum, o

conhecimento prévio que o aluno possui e o conhecimento sistematizado, com o

propósito de motivar os alunos e adquirir uma visão mais ampla do tema estudado.

É de suma importância que o conhecimento prévio que o aluno possui sobre

os conteúdos a serem trabalhados, bem como suas experiências e interesses sejam

considerados na construção curricular sob a perspectiva multicultural. Neste sentido,

as ações didáticas realizadas neste estudo, tanto com o esporte voleibol como com

o futsal propuseram a organização de jogos, reelaborando regras a partir do

conhecimento dos alunos sobre estes esportes, possibilitando a construção conjunta

das atividades, através da troca de experiências, estabelecendo o diálogo entre

reflexão e ação respeitando os saberes prévios, as expectativas e interesses e o

ritmo de aprendizagem dos alunos envolvidos.

As atividades realizadas atingiram o objetivo proposto, pois além da melhora

da motivação para a participação nas aulas houve o respeito às diferenças culturais

e de gênero, a cooperação dos alunos na participação dos jogos organizados pelos

outros grupos, contribuindo para atingir objetivos comuns propiciando a aproximação

da situação real de vida, ou seja, no esporte como na vida, somos submetidos

diariamente a situações que exigem a autonomia na tomada de decisões para a

resolução de problemas, e uma postura de respeito às diferenças favorecendo a

convivência escolar e social.

Ao elaborar a presente proposta procurou-se organizar atividades onde os

alunos pudessem buscar soluções para resolver juntas as situações problema que

se apresentavam no decorrer das atividades. Por exemplo: quando foi apresentada

pelo professor a proposta do festival misto de futsal, alunas e alunos após análise

crítica da situação precisaram além de adaptar regras, reelaborar os seus conceitos

sobre as questões de gênero, e assim conseguirem realizar a atividade proposta

com sucesso.

Neste sentido, as ações didáticas propostas vêm de encontro tanto à

proposta multicultural quanto à proposta Crítico-Superadora, pois ambas buscam a

identificação e solução de conflitos no processo de ensino-aprendizagem realizada

de forma dialética entre professores e alunos.

Durante a realização das atividades com o conteúdo futsal foi observada a

problemática de gênero, que embora não tenha sido abordada com a profundidade

necessária neste estudo abriu possibilidades para novos estudos que podem ser

realizados sob a ótica dos autores aqui citados e de outros autores que tratam do

currículo multicultural e das questões de gênero.

Verificou-se durante o desenvolvimento deste estudo que o problema de

desmotivação dos alunos do Ensino Médio pelas aulas de Educação Física eram

decorrentes de diferentes fatores, desde a falta de habilidade técnica para praticar

esportes; questões e interesses pessoais que estavam diretamente ligados com os

interesses próprios dos adolescentes e principalmente a forma como as atividades

eram propostas e desenvolvidas. Certamente isto acabou impondo limites para o

alcance deste estudo, por meio do qual, verificou-se que a construção de uma

proposta curricular a partir de uma perspectiva multicultural na disciplina de

Educação física, no que se refere ao conteúdo estruturante esporte, mais

especificamente do voleibol e do futsal se constituiu em um meio eficiente para

integrar a realidade concreta dos alunos, e o conhecimento sistematizado,

propiciando aos mesmos fazer parte do processo de construção. O resultado destas

ações foi uma melhora significativa na motivação para a participação nas aulas da

disciplina.

Sendo uma proposta nova, a introdução da construção curricular na

perspectiva multicultural nas ações pedagógicas da escola precisa continuar sendo

investigada, inclusive sob a ótica de outros autores. Neste sentido, pretende-se

ampliar a abrangência deste estudo para os próximos anos no propósito de

contemplar também os primeiros e segundos anos do Ensino Médio e os outros

conteúdos estruturantes da cultura corporal.

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