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O ENSINO DE HISTÓRIA DA AMÉRICA NO LIVRO DIDÁTICO E NA PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA: OS JESUÍTAS NA AMÉRICA COLONIAL Lucas do Nascimento Rodrigues Fernando Augusto de Souza Manarin (Universidade Estadual de Maringá) Resumo Nesse trabalho objetiva-se fazer a abordagem do ensino de História da América, especificamente a presença dos missionários jesuítas no processo de colonização, dando visibilidade aos conflitos entre estes religiosos, os colonos portugueses e espanhóis, e as Coroas Ibéricas, devido ao Tratado de Madrid (1750), culminando nas guerras guaraníticas, e posteriormente, na expulsão dos jesuítas da América. Neste sentido, considerando essa abordagem, temos como objetos de análise: o livro didático “História global 2”, de Gilberto Cotrim lançado em 2016, utilizado no 2° ano do Ensino Médio da Educação Básica e o filme “A Missão”, de direção de Roland Joffé, lançado em 1986, procedendo uma análise comparativa. Assim, por meio da análise da representação da História da América nesses artefatos culturais, que podem se constituir em recursos didáticos no ensino de História e/ou documentos na pesquisa histórica, propomos apresentar os resultados de pesquisas desenvolvidas no Programa de Iniciação à Docência (PIBIC) e no Programa de Iniciação Científica (PIC), da Universidade Estadual de Maringá - UEM. Palavras-chave: Ensino de História da América; Jesuítas, Livro Didático; Filme. Financiamento: CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior Introdução Frequentemente, produções cinematográficas com conteúdos relacionados à determinados períodos históricos são produzidos; se tratando de História da América não é diferente. Entre as diversas obras já produzidas,

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O ENSINO DE HISTÓRIA DA AMÉRICA NO LIVRO DIDÁTICO E NA

PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA: OS JESUÍTAS NA AMÉRICA COLONIAL

Lucas do Nascimento Rodrigues

Fernando Augusto de Souza Manarin

(Universidade Estadual de Maringá)

Resumo

Nesse trabalho objetiva-se fazer a abordagem do ensino de História da

América, especificamente a presença dos missionários jesuítas no processo de

colonização, dando visibilidade aos conflitos entre estes religiosos, os colonos

portugueses e espanhóis, e as Coroas Ibéricas, devido ao Tratado de Madrid

(1750), culminando nas guerras guaraníticas, e posteriormente, na expulsão

dos jesuítas da América. Neste sentido, considerando essa abordagem, temos

como objetos de análise: o livro didático “História global 2”, de Gilberto Cotrim

lançado em 2016, utilizado no 2° ano do Ensino Médio da Educação Básica e o

filme “A Missão”, de direção de Roland Joffé, lançado em 1986, procedendo

uma análise comparativa. Assim, por meio da análise da representação da

História da América nesses artefatos culturais, que podem se constituir em

recursos didáticos no ensino de História e/ou documentos na pesquisa

histórica, propomos apresentar os resultados de pesquisas desenvolvidas no

Programa de Iniciação à Docência (PIBIC) e no Programa de Iniciação

Científica (PIC), da Universidade Estadual de Maringá - UEM.

Palavras-chave: Ensino de História da América; Jesuítas, Livro Didático;

Filme.

Financiamento: CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de

Nível Superior

Introdução

Frequentemente, produções cinematográficas com conteúdos

relacionados à determinados períodos históricos são produzidos; se tratando

de História da América não é diferente. Entre as diversas obras já produzidas,

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está o filme “A Missão” (1986), de direção de Roland Joffé, que retrata através

de suas representações, o contexto da América Colonial, sobretudo no tocante

à atuação dos missionários da Companhia de Jesus nas reduções indígenas

da Bacia Platina.

Segundo Schallenberger (2014, p.10), as reduções jesuíticas da Bacia

Platina, eram povoados conduzidos por padres jesuítas e habitados por

indígenas, estabelecidos a partir de 1608 com a criação da Província Jesuítica

do Paraguai, que através do sistema de catequização por redução,

concentravam os neófitos nesses povoados exercendo atividades religiosas,

econômicas, políticas e militares, que muitas vezes causaram impacto na

sociedade colonial.

Um dos conflitos mais impactantes entre as missões e a sociedade

colonial foi a guerra guaranítica, na qual os indígenas das reduções se

levantaram contra os exércitos das Coroas Ibéricas, em decorrência dos

conflitos causados pela execução do Tratado de Madrid, de 1750. Tal contexto

é representado no filme “A missão” (GOLIN, 2014).

Sabemos que a História da América é conteúdo obrigatório na formação

escolar dos alunos do ensino básico e que um dos principais

instrumentos/recursos utilizados para o ensino de história em situação de sala

de aula é o livro didático, a exemplo de “História global 2” (2016), de Gilberto

Cotrim, utilizado pela rede pública paranaense de ensino.

Através das experiências obtidas nos programas de Iniciação Científica

(PIC) e de Iniciação à Docência (PIBIC), promovidos pela Universidade

Estadual de Maringá, chegamos a este trabalho, que aborda o ensino de

história da América Colonial em sala de aula. Através da temática dos jesuítas

no período colonial, analisamos, por meio de uma comparação, o filme “A

Missão” (1986) e capítulo do livro didático História global 2” (2016), com foco

em recursos didáticos aplicáveis na promoção do ensino de História e na

aproximação da pesquisa histórica com o ensino escolar.

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Justificativa

Atualmente, vivemos em uma sociedade que convive com os altos

padrões de consumo de imagens. Assim, vídeos, fotos, selfies, propagandas

tomam conta das redes sociais com muita velocidade. O problema está

justamente no fato de que, com a mesma rapidez com que as imagens são

publicadas elas são substituídas por outras. Essa dinâmica colabora com a

ausência de reflexões mais profundas que atribuam significado histórico, social

ou cultural sobre o que é postado através do recurso imagético. Segundo

Nascimento (2008, p.10), “a força e a abrangência da linguagem imagética,

seja de qualquer natureza, é uma das principais características do mundo

moderno”. Devemos levar em consideração, que as crianças e jovens em idade

escolar não passam ilesos por esse processo, pois

“las actividades que la juventud realiza a través de internet

repercuten importantemente en las formas en la que obtienen información y desarrollan competencias y habilidades en campos como el social, el cultural y el de formación” (CHAVEZ,

2017, p.289).

Entende-se a importância do ensino de história não só para a formação

educacional dos estudantes, enquanto disciplina ocupante dos currículos

escolares, mas também como fundamental para a formação cidadã, pois

através de uma compreensão histórica mais abrangente, elabora-se um senso

crítico mais apurado, capaz de analisar as dinâmicas das representações,

sobretudo no tocante às produções imagéticas.

É de fundamental importância a utilização de recursos didáticos

envolvendo imagens, especialmente produções cinematográficas. No entanto,

o filme não pode ser usado como pretexto para ensinar um conteúdo

programático. Ao contrário disso, ele deve oportunizar reflexões e discussões

de caráter analíticas com o objetivo de ampliar o saber. Por isso, é preciso

motivar a análise crítica da produção, no sentido de buscar encontrar o que

está por trás da narrativa, as construções envolvidas e o contexto que a obra

foi produzida.

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Desse modo, fica evidente a necessidade de análises que busquem

resultados práticos aplicáveis em sala de aula, com o intuito de promover uma

aprendizagem proficiente da disciplina História, bem como aproximar os

resultados obtidos na academia através das pesquisas históricas dos

conteúdos aplicados em sala de aula. Por conseguinte, quando o estudante é

levado a refletir sobre tudo o que foi historicamente construído e, a partir disso,

percebe seu papel social de cidadão, inserido num tempo/espaço, então, o

ensino se efetivou. Diante do exposto, explorar um filme como “A Missão” pode

proporcionar grande motivação/antecipação/reflexão com o objetivo de tornar a

aprendizagem mais significativa.

Objetivos:

Analisar a representação das missões jesuíticas na obra cinematográfica

e no livro didático, com o intuito de aproveitá-los enquanto recursos didáticos,

bem como aproximar a pesquisa histórica da sala de aula, através dos

resultados parciais obtidos nos programas de Iniciação Científica e à Docência.

Resultados

A utilização de recursos didáticos familiares aos alunos - que geralmente

estão imersos em uma grande quantidade de material de imagem e som –

possibilita um maior interesse sobre o conteúdo, bem como permite ao

professor uma diversificação didática em sala de aula, utilizando como um

ponto de partida para provocar reflexões, pois:

“Ensinar História não pode prescindir de pensar o mundo além

da sala de aula. É necessário abrir os ambientes de

aprendizagem histórica a outros espaços, levando os alunos a

refletir sobre seu cotidiano” (SCHMIDT; CAINELLI, 2004,

p.150)

Com base nos pressupostos apresentados, neste trabalho nos

propusemos a fazer uma análise do filme “A Missão”, lançado em 1986 sob a

direção de Roland Joffé, pensando-o enquanto artefato cultural de

representação dos conflitos ocasionados por conta do Tratado de Madri,

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envolvendo as Missões Jesuítico-Guaranis da Bacia Platina, que viria ficar

conhecido como “Guerra Guaranítica”, e entendendo o mesmo não apenas

como recurso didático mas como motivador de discussões prévias que

antecedem o conteúdo, bem como proporcionar a contextualização.

Como mencionado, o filme traz a representação do desenrolar da

Guerra Guaranítica. Esse foi um conflito decorrente do tratado de Madrid de

1750, que envolveu os guaranis que habitavam as missões da Província

Jesuítica do Paraguai, que se negaram a cumprir as determinações do tratado

e tiveram de resistir frente aos exércitos das Coroas espanhola e portuguesa.

(GOLIN, 2014).

O contexto que é representado no filme, pode ser utilizado de forma rica

como parte da metodologia para o ensino de história, pois aborda as temáticas

da História Colonial, do contato do europeu com os nativos americanos, as

Reformas Pombalinas. Além disso, trata da delimitação das fronteiras do que

posteriormente viriam formar os Estados Nacionais, e mais uma gama de

aspectos que são passíveis da abordagem dentro do conteúdo programático

estabelecido.

A partir dos conceitos de Saliba (2004, p.120), entende-se que “na

História, o filme é uma construção imaginativa que necessita ser pensada e

trabalhada interminavelmente”. Dito isso, consideramos de fundamental

importância a discussão sobre o filme em sala de aula, mostrando alguns

aspectos construídos na narrativa, a exemplo do que discutiremos a seguir.

O filme narra a trajetória dos padres Jesuítas que estavam envolvidos

nos trabalhos das missões localizadas na Bacia Platina, no entanto, a narrativa

fílmica tenta demonstrar os primeiros contatos dos padres com os nativos. Isso,

do ponto de vista histórico, seria anacrônico, haja vista que o período retratado

no filme se passa em meados do século XVIII. Segundo Schallenberger (2014,

p.9), sabe-se que os primeiros contatos dos missionários jesuítas com os

nativos ao redor dos territórios Asunción foram por volta de 1588.

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Outro aspecto interessante de ser ressaltado e trabalhado é a construção

da imagem do indígena na narrativa fílmica, sobretudo o seu modo de

representação: o estereótipo seminu. Durante o filme, são representadas as

lideranças indígenas de modo seminu, enquanto historicamente é levantado

que desde as primeiras missões havia a preocupação por parte dos jesuítas de

vestir os neófitos, por razões morais. De acordo com Martins (2000, p.13), no

período retratado no filme, sabe-se que, sobretudo as lideranças, os “membros

do cabildo indígena, a instituição governativa de âmbito municipal da tradição

espanhola”, tinham hierarquia e práticas espelhadas no modelo espanhol, e

“recebiam vestimentas especiais”.

Saliba (2004, p.119), diz “que a imagem não ilustra e nem reproduz a

realidade, ela a constrói a partir de uma linguagem própria que é produzida de

um dado conceito histórico”. Através das questões levantadas, com o objetivo

de discuti-las em sala de aula, não se pretende dar descrédito ao filme, mas

sim, buscar apontar aos alunos as parcialidades e construções que estão

envolvidas em uma narrativa fílmica, levando à compreensão que o filme é um

produto de seu próprio tempo, impossibilitado de reproduzir o passado.

Nascimento (2008, p.12) afirma que o “conhecimento não é “algo” dado pela

imagem; é construído a partir de problematizações; e, no espaço escolar, essa

construção dá-se na interação entre professor/aluno”.

Acreditamos que, conforme demonstramos a necessidade de promover

o senso histórico e crítico na formação educacional e cidadã dos alunos, seja

válido e importante trabalhar juntamente com o filme e com as discussões

assinaladas, algum outro tipo de fonte histórica, utilizando-se da mesma como

recurso didático que permite agregar à discussão proposta, a múltiplos pontos

de partida, pois

“ao ensinarmos história na escola, pomo-nos a ensinar a ler o passado através das representações que sobre o passado estão sendo ou foram produzidas, mas também, quem sabe, através dos vestígios deixados pelas gerações anteriores”

(PEREIRA, SEFFNER, 2008, p.119).

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Neste caso em específico, acreditamos ser viável e interessante levar

aos alunos alguns trechos de escritos jesuíticos da época, que tratam sobre o

assunto, como por exemplo no excerto a seguir, extraído dos escritos do Padre

Antônio Sepp (1655-1733), que trata das vestimentas dos indígenas das

missões, mostrando, diferentemente, do que é representado no filme: “o povo

guerreiro americano não mais vestia peles de tigres, de ovelha ou de boi, à

maneira pastoril, mas estava de uniforme de gala, trajando graciosamente

conforme a moda espanhola (SEPP,1980,p.122)

Além disso, também seria interessante levar aos alunos trechos de

escritos dos indígenas, que faziam parte da administração dos povoados e que

tinham práticas letradas, pois segundo Neumann; Boidin (2017, p.98) no

contexto da delimitação das fronteiras e da guerra guaranítica, “os Guarani

escreveram intensamente, e os documentos produzidos por eles permitem

repensar as relações estabelecidas com o território missioneiro e,

especialmente, suas formas de ação política”.

Um dos escritos potencialmente trabalhados seria o que a autoria é

atribuída à Nicolás Neênguirû, enviado ao governador de Buenos Aires em

1753:

Señor gobernador. Todas estas razones que aducen nustra gente son la pura verdade y precisamente por eso se lo comunicamos. A nosotros que desempeñamos los cargos públicos faltan las palavras... Estando las cosas como están, te suplicamos com todo respeto, que nos protejas, conforme a lo decretado por el rey, cuyos clientes somos nosotros

(JESUÍTAS, [1750-1756] 2017, p. 742).

O excerto exposto pode ser trabalhado em sala de aula, juntamente com

as discussões levantadas sobre o filme. O professor lança questões sobre as

representações acerca dos indígenas, que, nesse caso, se tratava de um

indígena letrado, influente na administração do povoado, entrando em contato

com o governador da província, representante de coroa espanhola. No entanto,

as representações indígenas na narrativa fílmica não aparecem dessa forma, o

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que permite, através das discussões professor/aluno, perceber as construções

acerca da representação.

Quanto ao livro didático, podemos pensar sua utilização como um

guia/instrumento para apresentar um conteúdo pedagógico ao aluno, trazendo-

o de forma didática. Devemos considerar que o autor do livro didático deve

apresentar o conteúdo promovendo leituras, debates e dinâmicas de trabalho

variadas pois de acordo com Munakata (2009, p.283), “se há a ortodoxia do

autor ou do editor, buscando determinar como a obra deve ser lida, também há

por parte do leitor, o seu usuário (por exemplo, o professor), a sua liberdade de

apropriação”.

A abordagem realizada no livro “História Global 2” de Gilberto Cotrim,

pode ser utilizada para convergir com o tema das missões jesuíticas na

América colonial. O filme “A Missão” (1986) está no Capitulo 6: “Expansão

territorial”, que mostra o povoamento, principalmente, da América portuguesa,

indo do século XVI com o povoamento litorâneo, os dois séculos seguintes com

a expansão para o interior do país, os jesuítas, e a catequização dos indígenas,

a fundação de aldeamentos no interior e seu cotidiano, até o século XVIII com

a expansão pela pecuária no Sul do país, passando pelos Tratados de

Tordesilhas de 1494 e o Tratado de Madri de 1750, suas implicações.

No entanto, ao contrário do filme “A missão” (1986) em que os jesuítas

são representados com foco principal e agentes da colonização ao lado dos

espanhóis e indígenas, Cotrim apresenta a visão principalmente da ação dos

bandeirantes, pois observa-se que desde o princípio, a imagem que abre o

capítulo é uma fotografia do Monumento às bandeiras, 1953 de Victor

Brecheret. A respeito do ensino de história da América, Bittencourt afirma que

Existe uma tendência, notadamente, nos manuais didáticos em apresentar “uma história integrada” sem as tradicionais divisões de História Geral, História do Brasil e História da América, em um esforço de constituir um tempo sincrônico que identifique as relações históricas de sociedades situadas em espaços diversos. (BITTENCOURT, 2005, p.11).

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A partir disso, levando em consideração que Cotrim destaca os

bandeirantes como os pioneiros, responsáveis por colonizar o interior do Brasil

e buscar mão de obra, observa-se uma tendência “Integrada”, como apontou

Bittencourt (2005), em que ao trabalhar a história da América, mostra-se uma

perspectiva mais voltada à América Portuguesa e/ou ligada diretamente com a

história do Brasil que, geralmente, não são dados enfoques específicos para a

América Espanhola.

Figura 1 – Capa do Capitulo 6: Expansão territorial

(Monumento às Bandeiras)

Fonte: Cotrim, 2016, p. 68

O livro didático, como destacado por Munakata (2009, p.283), não deve

servir como “muleta” para o professor em sala de aula, apoiando-se

inteiramente nele, mas como instrumento de transmissão didática do conteúdo,

sendo pensado como um recurso de ponto de partida para o ensino, apenas

como um dos meios para a promoção do mesmo. No caso analisado,

propomos a utilização conjunta de outros recursos, como citamos, o filme e os

escritos da época analisada.

Através dos recursos utilizados, propõe-se que o professor trabalhe com

os alunos uma análise crítica e comparativa entre os recursos apresentados,

destacando outros pontos como:

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1- A importância da cultura católica no desbravamento do país e seus

reflexos na sociedade atual;

2- O massacre cultural por parte dos jesuítas, visto que mesmo que eles

resguardassem os índios dos bandeirantes que buscavam escraviza-

los, faziam convertendo-os para a religião católica, excluindo sua

cultura própria

3- Uma relação dos personagens envolvidos no contexto e como eles

são lembrados nos dias atuais, com nome de bandeirantes em

rodovias e ruas;

4- Discussão sobre a formação geográfica, cultural e linguística da

América do Sul;

5- Como a história da América no Brasil dá mais destaque para a

Formação dos Estados Unidos e história do Brasil e relega a américa

espanhola.

Portanto, a partir das discussões acerca da utilização dos recursos

didáticos propostos, entendemos que trabalhar as fontes seja um meio de

aproximar os alunos do ofício do Historiador, dando uma maior compreensão

da história e aproximando, de certo modo, os conhecimentos da academia com

os que são trabalhados em sala de aula. Assim como a utilização de recursos

didáticos diversificados dinamiza a aula, facilitando a promoção do ensino de

história. Tal análise e resultados, foram obtidos com base no que foi produzido

e aplicado nos programas de Iniciação Científica (PIC) e de Iniciação à

Docência (PIBID).

Considerações Finais

Através do que foi exposto até aqui, podemos perceber possibilidades

de diversificação de recursos didáticos no ensino de história, cada recurso com

suas particularidades, desde que, acrescidos com discussões e considerações

por parte do professor, permitem uma maior dinâmica de ensino.

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Apresentamos a possibilidade de uma análise crítica e contextual de

uma obra cinematográfica, visando promover a consciência histórica e crítica

nos alunos, dando-os a capacidade de analisar e criticar a grande massa

imagética que é consumida na sociedade atual. Além disso, por meio da

comparação entre a obra cinematográfica e o livro didático, permite ao

professor as discussões sobre a produção e o discurso que é apresentado no

livro, ampliando as perspectivas apresentadas que seriam trabalhadas apenas

com o livro.

Além disso, a utilização de excertos das fontes históricas produzidas no

período analisado, permite discussões sobre o próprio conceito de fonte

histórica e do ofício do historiador, visando a aproximar o conteúdo produzido

na academia com o ensino aplicado em sala de aula, respeitando os limites de

abordagem.

Levando em consideração que o trabalho resulta de uma aproximação

dos resultados obtidos nos programas de Iniciação Científica e de Iniciação à

Docência por parte dos autores, ainda não foi possível sua aplicação prática

em sala de aula devido à pandemia da Covid-19 e consequente suspensão das

aulas presenciais.

Referências

A MISSÃO. Direção: Roland Joffé. Produção de Fernando Ghia, David Puttnan. Warner Bross, 1986.

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de história da América: reflexões sobre problemas de identidades. Revista Eletrônica da ANPHLAC,

n.4, 2005, p.5-15.

CHÁVEZ, A. R. Información líquida en la era de la posverdad. Revista

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GOLIN, Tau. A Guerra Guaranítica: o levante indígena que desafiou Portugal e Espanha. São Paulo: Terceiro Nome, 2014.

COTRIM, Gilberto, História global 2. 3° Edição. São Paulo: Editora Saraiva,

2016.

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MUNAKATA, Kazumi. Devem os livros didáticos de história ser condenados? In: RRROCHA, Helenice; MAGALHAES, Marcelo; CONTIJO

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NASCIMENTO, Jairo Carvalho do. Cinema e ensino de História: Realidade escolar, propostas e práticas na sala de aula. Fênix - Revista de História e

Estudos Culturais, Uberlândia, v.5, nº2, abril/junho, 2008.

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