o efeito da submissão ao chronic mild stress (cms) sobre o
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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental:
Análise do Comportamento
O Efeito da Submissão ao Chronic Mild Stress
(CMS) sobre o Valor Reforçador do Estímulo
Cássia Roberta da Cunha Thomaz
PUC - SP
2001
2
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental:
Análise do Comportamento
Efeito da Submissão ao Chronic Mild Stress (CMS)
sobre o Valor Reforçador do Estímulo
Cássia Roberta da Cunha Thomaz
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de MESTRE
em Psicologia Experimental: Análise do
Comportamento, sob orientação da Profa.
Dra. Maria Amália Pie Abib Andery.
Trabalho financiado pela FAPESP – Processo 00/04890-0
PUC - SP
2001
3
Autorizo, Exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial
desta dissertação por processos fotocopiadores ou eletrônicos.
Assinatura:____________________________ Local e Data:______________________
4
Banca Examinadora
______________________________
______________________________
______________________________
5
Agradecimentos
A Maria Amália, pelo apoio e incentivo, por fazer com que o processo fosse
novamente divertido sob a sua orientação.
Ao Roberto, pela ajuda e sugestões, por me apresentar ao fascinante campo dos modelos
experimentais.
A Maly, pelo apoio de sempre, pelo modelo.
Aos colegas do laboratório, pela agradável convivência nos anos de mestrado.
Ao Marcos e Paula, pela paciente ajuda com a informática.
Ao Fábio e Miriam, colegas da USP, pelas importantes sugestões nas fases iniciais deste trabalho.
A Neusa, Conceição e Maurício, por toda a ajuda no cuidado com os sujeitos deste trabalho.
Aos meus pais, pelo apoio incondicional e fundamental.
Ao Bruno, pela paciência e pelo sorriso de todas as manhãs.
Ao Marco Antonio, minha fonte incansável de reforçamento, que me ajudou a seguir.
Agradeço também a FAPESP pelo financiamento concedido.
6
Índice
Introdução.................................................................................................................................01
Método....................................................................................................................................... 31
Resultados.................................................................................................................................. 40
Discussão................................................................................................................................... 61
Referências Bibliográficas....................................................................................................... 71
7
Thomaz, Cássia R. C. (2001) O efeito da submissão ao 'chronic mild stress' sobre o valor reforçador doestímulo.
Chronic Mild Stress (CMS) é um modelo animal experimental proposto como um modelo de depressão, aoqual ratos são submetidos. Após passarem por um conjunto de "situações de estresse suave", o consumo deágua e de água com sacarose desses animais decresce. Considera-se que a submissão ao conjunto deestressores modifica o organismo e, consequentemente, a propriedade recompensadora da água e da águacom sacarose. Supõe-se, então, que o sujeito toma-se "Insensível" à recompensa. O presente estudopretendeu replicar os resultados de Willner, Towell, Sampson, Sopholeus e Muscat (1987) e tambémverificar se o que é denominado "Insensibilidade à recompensa" poderia ser descrito como diminuição dovalor reforçador do estímulo, uma vez que este estímulo, nos estudos de CMS, não é produzidosistematicamente por uma ação/resposta dos sujeitos sistematicamente medida. Ou seja, a submissão ao"regime de estresse" afetaria o valor reforçador do estímulo? Ratos machos foram sujeitos. Dois sujeitosforam submetidos a um conjunto de condições de estresse suave, por 6 semanas, conforme descritos porWillner e cols. (1987), como por exemplo, privação de água e comida, barulho intermitente, iluminaçãocontínua, agrupamento de dois sujeitos na mesma gaiola, luz estroboscópica, cheiro, apresentação de umagarrafa vazia após privação de água, acesso restrito a comida, inclinação da gaiola, presença de um objetoestranho na gaiola e chão da gaiola sujo. Verificou-se uma diminuição no consumo total de líquido e napreferência por água com sacarose destes sujeitos durante e após este procedimento. Outros dois sujeitosforam submetidos a sessões operantes sob um esquema concorrente FR15-FRI5 com água e água comsacarose como estímulos reforçadores antes e após a submissão ao mesmo conjunto de estressores. Tambémcom estes sujeitos observou-se diminuição no consumo de líquido e na preferência por água com sacarose emtestes semanais de consumo de líquido, durante as semanas de exposição ao estresse, o que indicaria umaparente efeito do regime de estresse sobre o valor reforçador dos estímulos. Observou-se também, comestes sujeitos, que a submissão à condição operante após o período de estresse parece ter alterado o efeitoproduzido pelo CMS, aumentando o consumo de líquido e a preferência pela água com sacarose nos testesrealizados nas semanas seguintes à exposição ao regime de estresse.
Orientador: Maria Amalia Andery
Linha de Pesquisa: Processos básicos na análise do comportamento
Palavras-chave: modelos animais, modelos experimentais, estresse, depressão, valor reforçador doestímulo, esquemas concorrentes
8
ABSTRACT
Chronic Mild Stress (CMS) is an experimental model for depression: Rats are
submitted to a set of stressing conditions and as a result their consumption of water
and water with sucrose, as well as the animals previous preference for water and
water and sucrose also drops. It is argued that the stress changes the organism and,
consequently, changes the reinforcing properties of water and water with sucrose.
Therefore the stress would make the subjects insensible to reward. The present study
investigated if what has been called sensitivity to reward could be described as a drop
in the reinforcing value of a reinforcer. In other words, one of this study's goals was
to evaluate if a protocol of mild stress diminished the reinforcing value of a known
reinforcer, here, water with sucrose. Four male rats were submitted to a stress
protocol of six weeks (as described by Willner, Towell, Sampson, Sophokleus e
Muscat (1987). Two of them were also submitted to operant sessions of a FR-FR
concurrent schedule of reinforcement, with responses followed either by water or
water with sucrose prior and after the stress protocol. Results showed that all four
subjects diminished their overall liquid consumption while the stress protocol was in
effect. Results also showed the two subjects preferred water with sucrose on the FR-
FR condition (with higher rates of responses on the lever associated with water with
sucrose), and that these subjects recovered their overall consumption and their
preference for water with sucrose faster than the two subjects not submitted to the
operant condition.
Key words: Animal model, Experimental Model, Chronic Mild Stress, Depression, Reinforcing value,
concurrent schedules of reinforcement
9
Modelos animais de psicopatologias
O estudo de fenômenos psicológicos em situação controlada de laboratório permite
a investigação sistemática de variáveis relevantes para a compreensão do comportamento
humano.
As psicopatologias humanas, como Esquizofrenia, Transtornos de Ansiedade,
Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtornos Alimentares e Depressão, entre outros,
constituem uma área de investigação da Psicologia e, dentre as diferentes maneiras de se
investigar, teorizar e discutir as psicopatologias na Psicologia, encontram-se propostas de
procedimentos de investigação no laboratório, com animais infra-humanos. Estas propostas
são denominadas, na literatura de modelos animais de psicopatologias ou modelos
experimentais de psicopatologiasAbramson e Seligman (1977) afirmam que os modelos
animais de psicopatologias são aqueles que tentam reproduzir, em situações controladas de
laboratório, fenômenos análogos às “desordens mentais” 1 que ocorrem com humanos, e
que o importante não é somente levar a psicopatologia para o laboratório, mas reproduzi-la
ali, para que as variáveis que a determinam possam ser especificadas e isoladas. Nesse
sentido, os autores salientam que o que se produz no laboratório não são as psicopatologias
conforme ocorrem com humanos, mas fenômenos que são análogos a essas.
Os autores afirmam também que há duas características que os modelos
experimentais deveriam possuir: a) especificidade, devendo-se verificar se o fenômeno que
está sendo produzido no laboratório é similar a características que correspondem a diversas
psicopatologias; e b) semelhança entre o modelo experimental e a patologia humana a que
o modelo supostamente se refere, em termos de “causas”, “sintomas”, “prevenção” e
1 Tradução literal dos autores
10
“cura” 2. Abramson e Seligman (1977) defendem que ambas as características –
especificidade e semelhança - devam ser medidas para se avaliar uma modificação
comportamental quando essa é feita sobre um padrão estabelecido em laboratório.
Abramson e Seligman (1977) consideram que o controle da história de vida e da
hereditariedade, a possibilidade de isolamento de variáveis por introdução sistemática de
eventos na vida do sujeito, a monitoração contínua de seus comportamentos e a verificação
de possíveis mudanças fisiológicas conseqüentes à manipulação de eventos caracterizam-
se como vantagens do uso de animais em situações controladas de laboratório, no estudo
de psicopatologias.
Por outro lado, os autores afirmam que duas desvantagens têm sido apontadas como
relevantes no uso de animais no estudo de psicopatologias: a) a dificuldade de demonstrar
que um fenômeno produzido no laboratório, em uma espécie, é similar àquele que ocorre
sem manipulação direta em outra; e b) o fato de que alguns comportamentos humanos não
têm "correspondentes" em animais.
Os autores apresentam estas vantagens e desvantagens para o uso de animais no
estudo de psicopatologias e concluem que o modelo animal3 de laboratório de
psicopatologias caracteriza-se como uma maneira de se verificar se variáveis produzidas
no laboratório podem reproduzir um fenômeno que ocorre com humanos fora desse
ambiente controlado. Quanto às possíveis desvantagens, Abramsom e Seligman (1977)
afirmam que os fenômenos reproduzidos em animais, no laboratório, são, de fato,
semelhantes a fenômenos que acabam por ser considerados psicopatologias em humanos e,
portanto, que não cabe criticar os modelos com base neste critério.
Keehn (1979) parece concordar com Abramsom e Seligman (1977), ao afirmar que
a suposição de que há semelhança entre os fenômenos produzidos em animais no
2 Termos utilizados pelos autores, que parecem estar adotando os usos que têm sido feitos na literaturamédica tradicional.
11
laboratório e as psicopatologias humanas é essencial para que se possa afirmar que o que
se demonstra no laboratório pode ser proposto como um modelo animal de psicopatologia.
O autor aponta ainda que os estudos de psicopatologias com animais no laboratório e com
humanos são complementares, uma vez que os estudos em laboratório com animais podem
investigar a etiologia, enquanto que os estudos de psicopatologias em humanos acabam por
lidar com os fenômenos possivelmente resultantes das variáveis que costumam ser
manipuladas no laboratório.
Willner, Muscat e Papp (1992) também defendem o estudo de psicopatologias por
modelos animais e apontam alguns critérios utilizados para se discutir a validade de
modelos de psicopatologias: a) a acuracidade das previsões que podem ser feitas a partir do
modelo e b) a semelhança entre o fenômeno produzido na situação controlada e a
psicopatologia conforme encontrada em humanos.
Além de discussões acerca das características necessárias e da importância de
modelos animais de psicopatologias, são encontrados na literatura relatos de investigações
com animais a respeito de variáveis que, quando manipuladas, produzem como efeito
padrões que simulam psicopatologias específicas e que, resumidamente, investigam se e
como determinadas variáveis ambientais interferem no comportamento do sujeito.
Modelos Animais de Depressão
Como o presente trabalho refere-se a um modelo experimental de depressão, serão
brevemente apresentados a seguir alguns modelos animais já propostos como descritores
desta psicopatologia, ainda que, de maneira nenhuma, pretenda-se esgotar a apresentação
dos modelos existentes.
Um modelo encontrado na literatura é o do Isolamento Social (também chamado de
3 Utiliza-se, no presente estudo, os termos "modelo animal" e "modelo experimental" como sinônimos.
12
Modelo de Separação por Mckinney e Bunney, 1969 e Willner, 1984), no qual se isola o
sujeito (usualmente macaco, cachorro ou rato) da mãe nas primeiras semanas de vida,
colocando-o em uma gaiola individual onde ele fica privado de contato visual e físico com
outros membros da espécie. Quando o sujeito é removido do isolamento verifica-se um
déficit em vários comportamentos como, por exemplo, comportamentos de interação
social, consumo de alimento e atividade destes sujeitos, que ocorrem em baixa freqüência
em comparação com o padrão comportamental de sujeitos de um grupo controle.
Este modelo tem sido utilizado para estudar os “primeiros” efeitos ambientais sobre
diversos comportamentos (como interação social) e tem sido considerado relevante como
um modelo de depressão (Einon, Morgan e Sahakian, 1975 – que utilizaram ratos como
sujeitos) e de esquizofrenia (Kornetsky e Markowitz, 1978 – que utilizaram macacos como
sujeitos).
Um outro modelo animal de depressão é o do “Desespero Comportamental”
(Porsolt, 1981). Nesse, ratos são forçados a nadar em um espaço confinado e após
emitirem várias tentativas de fuga do espaço com água (através da resposta de abaixar uma
escada para sair do espaço com água) sem sucesso, isto é, sem possibilidade de escapar da
situação a que estavam submetidos, passam a não mais emitir a resposta de fuga, adotando
uma “postura imóvel”4. Se submetidos novamente à mesma situação, então com a
possibilidade de emitirem a resposta de abaixar a escada e essa produzir a saída do espaço,
não o fazem. Ou seja, na situação em que a resposta de abaixar uma escada para sair do
espaço em que há água teria como conseqüência sair da água, os sujeitos não emitem a
resposta. Em resumo, quando os sujeitos são posteriormente submetidos a uma situação na
qual não houve possibilidade de fuga não o fazem, permanecem nadando e acabam por
adotar a "postura imóvel".
4 O termo “postura imóvel” é utilizado pelo autor e parece referir-se ao fato de o sujeito não mais apresentarresposta de fuga, e a não parar de nadar. Na verdade, isto não fica claro na descrição do autor.
13
Percebe-se que no modelo do Desespero Comportamental encontra-se uma história
de contingências nas quais o responder do sujeito não alterava a possibilidade de certos
eventos subsequentes, ou de impossibilidade de controle (segundo a linguagem de
Seligman, 1975), característica também presente no procedimento utilizado no modelo do
Desamparo Aprendido (Seligman, 1975). Seligman afirma que a exposição de sujeitos a
estímulos aversivos incontroláveis produz déficits na aprendizagem da correlação resposta
– conseqüência; déficits motivacionais, que dizem respeito à dificuldade em iniciar
respostas voluntárias; déficits emocionais, como redução da agressividade; além de
alterações fisiológicas. O autor afirma, ainda, que estes déficits não são observados em
sujeitos expostos aos mesmos estímulos aversivos com controle5 sobre esses.
Em um planejamento experimental padrão de (Overmier e Seligman, 1967), foram
usados três grupos de sujeitos (cachorros). Na primeira parte do experimento, o primeiro
grupo (grupo de fuga) foi treinado, no arreio, a desligar o choque (estímulo aversivo)
pressionando um painel com o focinho. O segundo grupo (grupo emparelhado) recebeu
choques idênticos (em número, duração e padrão) aos administrados ao primeiro grupo. A
diferença entre os dois grupos estava no fato de que a resposta de pressionar o painel não
afetava a programação dos choques para o grupo emparelhado. O terceiro grupo (grupo
controle) não recebeu choques no arreio.
Na segunda parte do experimento, vinte e quatro horas após a exposição à condição
no arreio, os três grupos foram submetidos a treinamento de fuga-esquiva em uma gaiola
de alternação, que era uma câmara dividida em dois compartimentos na qual o sujeito, ao
pular uma barreira de um compartimento para o outro, desligava o choque (resposta de
fuga) ou evitava o choque (resposta de esquiva).
5 Seligman (1975) considera que um evento é incontrolável quando a probabilidade de uma consequência é amesma quer uma determinada resposta ocorra ou não, isto é, a consequência é independente desta resposta.
14
Segundo os autores (Overmier e Seligman, 1967), tanto os sujeitos do grupo de
fuga como os do grupo controle aprenderam rapidamente a saltar a barreira enquanto que
os sujeitos do grupo emparelhado praticamente não emitiram esta resposta ou a emitiram
com latências muito elevadas. Esta falha na aprendizagem6 de respostas de fuga ou
esquiva, em consequência da exposição prévia aos choques incontroláveis, foi chamada,
pelos autores, de Efeito de Interferência e, posteriormente, de Desamparo Aprendido
(Seligman, 1975, Maier e Seligman, 1976).
Aparentemente, os efeitos da submissão aos choques “incontroláveis” são
diferentes em cachorros (sujeitos de Seligman) e ratos. Seligman (1975) salienta os efeitos
observados em cachorros. Após a submissão aos choques incontroláveis, estes sujeitos não
adquiriram prontamente uma resposta de fuga. Ademais, após poucos choques, na fase de
teste, não apresentam as reações inicialmente eliciadas pelo choque (como gritar, pular
etc.), ficando passivamente sentados enquanto recebiam os choques, além do que a
ocorrência de uma resposta de fuga/esquiva reforçada não aumentou a probabilidade de
ocorrência de outras, como tipicamente ocorre com animais ingênuos.
Com ratos, as reações inicialmente eliciadas pelo choque em cachorros (como gritar
e pular) não foram encontradas, assim como não ocorreu a ausência de aprendizagem da
resposta de fuga. Observou-se apenas uma aprendizagem mais lenta que a verificada nos
sujeitos ingênuos, que foi igualmente denominada de efeito de interferência (Meier e
Seligman, 1976). Este efeito passou a ser descrito como falha ou demora em aprender uma
resposta instrumental de fuga. Entretanto, o sentido de aprendizagem mais lenta de uma
resposta parece predominar na literatura (Maier, Albin e Testa, 1973; Backer, 1976;
Jackson, Alexander e Maier, 1980; Crowell e Anderson, 1981).
Além das diferenças entre espécies, Hunziker (1981) afirma que alguns parâmetros
6 Aparentemente, Overmier e Seligman (1967) referem-se à aprendizagem da relação de dependência entreresposta e consequência.
15
das variáveis utilizadas nos estudos sobre efeito de interferência ou desamparo aprendido
foram identificados como relevantes para a verificação do efeito de aprendizagem lenta,
como a natureza dos estímulos apresentados e a natureza da resposta.
Quanto à natureza dos estímulos, diferentes parâmetros dos choques, como
intensidade, frequência, duração, densidade e localização no corpo podem alterar o efeito
de interferência observado posteriormente. Em relação à natureza da resposta, a autora
afirma que foi verificado que nem todas as respostas são igualmente sensíveis à
"incontrolabilidade". Nos primeiros trabalhos realizados com ratos não se observou o
efeito de interferência utilizando a resposta de correr de um lado para o outro em uma
caixa de dois compartimentos. Diferentemente dos cães, os ratos apresentavam esta
resposta com uma frequência baixa desde as primeiras tentativas (Maier, Albin e Testa,
1973). Os autores supuseram que a resposta de correr poderia ser, pelo menos em um
primeiro momento, uma resposta reflexa ao choque, o que dificultava a avaliação do
processo de aprendizagem desta resposta e, consequentemente, o efeito de interferência.
Ao aumentarem a exigência da resposta (o sujeito deveria ir e voltar na caixa para desligar
o choque), verificaram altas latências iniciais e o efeito de interferência.
Seligman e Beagley, (1975) também observaram problema semelhante com a
resposta de pressão à barra e propuseram, da mesma maneira, um aumento no número de
respostas. Para se desligar o choque foram, então, exigidas três respostas de pressão à
barra, tendo-se observado, nesta situação, o efeito de interferência.
Por outro lado, Hunziker (1981) afirma que não se observou o efeito de
interferência quando se utilizou a resposta de focinhar, apesar dela ocorrer com alta
latência em um primeiro momento e sofrer decréscimo gradual após exposição à
contingência posterior (na qual se testa o efeito de interferência) (Hunziker, 1977 e
Samuels, DeCola e Rosellini 1981).
16
Hunziker (1981) afirma que não se pode afirmar que a resposta de focinhar ocorre
inicialmente de forma reflexa, como foi feito em relação à resposta de correr (Maier e
cols., 1973), analisando-se as baixas latências observadas desde as primeiras tentativas
(após a submissão aos choques ‘incontroláveis’). Hunziker (1981) sugere que a diferença
de desempenho tem outra fonte: no grau de atividade exigida pela resposta. A resposta de
focinhar difere das de correr ou de pressionar a barra em relação ao grau de atividade
motora envolvida na sua emissão (esta resposta requereria menos atividade do organismo).
Nesse sentido, sugere que o grau de atividade requerido pela resposta de teste poderia ser
uma variável relevante para ocorrência do efeito de interferência (Hunziker, 1981, p. 12)
Ainda segundo Hunziker (1981), é importante considerar que: (a) o efeito de
interferência (ou Desamparo Aprendido) – aprendizagem, por parte dos sujeitos
submetidos a uma situação na qual as conseqüências ambientais independiam de suas
respostas, de que os eventos ambientais independem da resposta - é inferido das mudanças
comportamentais observadas nos sujeitos nos testes arranjados experimentalmente, e (b) o
que tem definido um arranjo experimental de incontrolabilidade é a programação de
consequências ambientais independentes às respostas dos sujeitos.
Parece, na teoria do Desamparo Aprendido, que a interpretação dos resultados
observados nos testes realizados após a submissão dos sujeitos a contingências nas quais os
eventos ambientais independem das suas respostas repousa na suposição de que os sujeitos
submetidos a um arranjo experimental de incontrolabilidade não aprendem, em
contingências posteriores, a dependência entre uma resposta e a consequência, mesmo
quando ela existe.
Modelos Animais de Anedonia
17
Há, por fim, um conjunto de modelos experimentais de depressão que enfatizam a
anedonia, como Retirada de Estímulos Psicomotores Crônicos, Choque Incontrolável e
Chronic Mild Stress. O termo "anedonia" refere-se à insensibilidade à recompensa,
conforme afirmam Willner, Towell, Sampson, Sophokleous e Muscat (1987) e é um
aspecto relevante a ser reproduzido em um modelo de depressão, segundo estes autores,
por dois motivos: (a) a perda de interesse e de prazer (anedonia) e o humor deprimido
seriam os dois sintomas centrais na definição de depressão, e a anedonia, diferentemente
do humor deprimido, pode ser produzida em animais; e (b) a anedonia seria o sintoma que
define melancolia, um subtipo de depressão maior, ainda segundo Willner e cols. (1987).7
Como o presente estudo trata de um modelo de anedonia, a seguir haverá uma
tentativa de detalhar mais os modelos de depressão que enfatizam este aspecto.
Willner, Sampson, Papp, Phillips e Muscat (1990) afirmam que há três propostas de
procedimentos que avaliam o declínio na sensibilidade à recompensa (anedonia). Todos
utilizam a exposição a estressores8 de vários tipos e uma medida da sensibilidade à
recompensa antes e após esta exposição. São estas propostas: I) Retirada de Estimulantes
Psicomotores Crônicos; II) Choque Incontrolável; e III) Chronic Mild Stress.
O modelo de Retirada de Estimulantes Psicomotores Crônicos (Olds e Milner,
1954) foi o modelo proposto para se estudar o paradigma da auto-estimulação intracraniana
(Intra Cranial Self Stimulation – ICSS). O paradigma da ICSS baseia-se na implantação de
eletrodos no cérebro do animal que provêm uma estimulação elétrica no cérebro que é
usada como recompensa a um comportamento. Segundo Hoebel (1976):
7 A literatura médica (DSM-IV) define o episódio depressivo a partir de dois sintomas centrais: humordeprimido e diminuição ou perda de interesse/ prazer; e de “outros sintomas”: perda de peso, insônia,agitação ou retardo psicomotor, fadiga ou falta de energia, sentimentos de inutilidade, culpa excessiva ouinapropriada, diminuição da concentração ou indecisão, pensamentos recorrentes de morte ou suicídio.A melancolia é considerada um subtipo de depressão, cujo sintoma central seria a perda do prazer ou a faltade reatividade a estímulos prazerosos, e os outros sintomas seriam: humor deprimido, depressão mais fortepela manhã, fraqueza matutina, agitação ou retardo psicomotor, anorexia ou perda de peso, culpa excessivaou inapropriada.8 O termo “estressor” parece referir-se a qualquer evento ambiental que se supõe aversivo para o sujeito.
18
“... tais eletrodos estimulam diretamente os substratos neurológicos que são ativados
indiretamente por recompensas naturais. Este paradigma é um dos mais usados para a
investigação de “processos de recompensa”. (p. 68).
Em um estudo típico do modelo de Retirada de Estimulantes Psicomotores
Crônicos (Leith e Barret, 1976), encontra-se um decréscimo na resposta que produziria a
estimulação no cérebro após os sujeitos terem sido submetidos à retirada de tratamento
crônico com anfetamina. Neste estudo, a anfetamina (que é considerada um estimulante
psicomotor) foi administrada a ratos por 4 a 10 dias, muitas vezes ao dia e em doses
crescentes. Concomitantemente, os sujeitos foram expostos a uma contingência na qual
respostas de pressão à barra produziam estimulação intracraniana. Quando houve uma
pausa na administração de anfetamina, notou-se um decréscimo na taxa das respostas de
pressão à barra que produziam o estímulo reforçador (estimulação intracraniana). Os
autores afirmam que: (a) esta redução na taxa de respostas refletiria um decréscimo na
sensibilidade do sujeito à recompensa por estimulação cerebral e não um decréscimo na
atividade motora; e (b) a sensibilidade à estimulação intracraniana teria sofrido um
decréscimo devido à interrupção na administração da droga (e que a intervenção seria um
evento aversivo).
No modelo do Choque Incontrolável, proposto por Zacharko, Bowers, Kokkinidis e
Anisman (1983), também se utiliza estimulação intracraniana como estímulo reforçador.
Ratos são submetidos a uma contingência na qual repostas de pressão à barra produzem
este estímulo reforçador. No grupo de sujeitos também submetidos a choques (eventos
aversivos) incontroláveis (independentes de suas respostas), observou-se um decréscimo na
taxa de pressão à barra. O mesmo não se observou nos sujeitos submetidos a choques
controláveis.
19
Os resultados apresentados por Zacharko e cols. (1983) parecem semelhantes aos
encontrados nos experimentos sobre Desamparo Aprendido, descritos anteriormente, mas,
no caso do modelo do Choque Incontrolável, os autores (1983) afirmam que o decréscimo
na taxa de respostas deve-se à diminuição da sensibilidade à estimulação intracraniana
decorrente da exposição aos choques incontroláveis.
Uma vez que estes modelos manipulam a apresentação de eventos aversivos
inescapáveis como variável que produziria decréscimo em atividades que produziriam uma
consequência recompensadora, nota-se uma semelhança entre os modelos Retirada de
Estimulantes Psicomotores Crônicos, Choque Incontrolável e Desamparo Aprendido. Uma
das diferenças entre os dois primeiros e o modelo do Desamparo Aprendido parece residir
nas explicações dadas pelos autores a respeito do porquê haveria uma mudança no
comportamento dos sujeitos após a exposição a eventos aversivos incontroláveis. Além
disso, parece haver uma diferença nos efeitos comportamentais que cada um dos grupos de
autores enfatiza.
Enquanto no modelo do Desamparo Aprendido sugere-se que há, por parte do
sujeito, um déficit de aprendizagem da correlação resposta – conseqüência, os autores que
propõem os modelos que explicam as mudanças devido a anedonia parecem sugerir que os
eventos ambientais afetam o organismo no sentido de que um estímulo que anteriormente
era recompensador deixaria de sê-lo. A mudança observada no padrão de respostas
operantes é similar: um decréscimo na taxa de respostas que produziria um estímulo
recompensador, no caso da anedonia, ou fuga do reforçador negativo, no caso do
desamparo aprendido.
Já no terceiro modelo que toma a anedonia como modelo de explicação do efeito de
diminuição na taxa de respostas que produziria um estímulo recompensador, o modelo do
20
Chronic Mild Stress (CMS) (Willner, Towell, Sampson, Sophokleous e Muscat,1987), os
sujeitos (ratos), após passarem por um conjunto de estressores suaves9, apresentam
diminuição no consumo de líquido e na preferência pela água com sacarose. Os autores
consideram que este é um modelo de anedonia, afirmando que a submissão ao conjunto de
estressores modifica o organismo e, consequentemente, a propriedade recompensadora da
água com sacarose. Isto é, o sujeito passaria a não mais se comportar da mesma maneira,
depois de passar pelos estressores, para obter água com sacarose, a qual parecia ser
recompensadora, porque a água não mais seria recompensadora.
Parece importante acrescentar, entretanto, que neste modelo emprega-se um
procedimento em que há também uma contingência de independência entre respostas do
sujeito e consequência, pois os estressores são apresentados independentemente das
respostas dos sujeitos, apesar dos autores não enfatizarem esta variável.
Com relação ao modelo do Desamparo Aprendido, Willner (1984), em artigo que
discute a validade de modelos de depressão, faz uma avaliação do modelo do desamparo
aprendido, desenvolvido por Seligman (1975), talvez por ser esse um modelo altamente
difundido e considerado como um modelo animal da depressão significativo. Neste
modelo, como já assinalado, propõe-se que a exposição a eventos aversivos incontroláveis
provê a base, em animais e em pessoas, para o déficit na aprendizagem de que há uma
correspondência entre o comportamento e suas conseqüências e que é o déficit nesta
aprendizagem que diminui (suprime) o responder (característica da depressão). Além disso,
supõe-se que esta aprendizagem vem acompanhada de outros efeitos como redução da
agressividade, perda de apetite, além de várias alterações fisiológicas. Afirma-se, então,
9 Os autores parecem chamar de "estressores" os eventos aversivos apresentados aos sujeitos. Os autoresparecem chamar estes estressores de "suaves" porque a apresentação deles, isoladamente, parece não ter oefeito de diminuir o consumo de líquido e a preferência por água com sacarose, diferentemente do que ocorrequando são apresentados conjuntamente.
21
que todos estes efeitos são também encontrados em pessoas deprimidas, o que faz com que
se considere o modelo do desamparo aprendido um bom modelo animal de depressão.
A especificidade do modelo do Desamparo Aprendido como sendo um modelo de
depressão é questionada por Willner (1984), no sentido de que a exposição a choques
independentes da resposta produziria muitos outros efeitos, tais como comportamento
supersticioso, dificuldade de aprendizagem e anedonia, que não apareceriam
necessariamente em todos os sujeitos o que prejudicaria a "generalidade" do modelo do
Desamparo Aprendido. Ademais, segundo o autor, alguns dos efeitos produzidos (como
redução da agressividade e várias alterações fisiológicas) podem ser encontrados em
diversas psicopatologias, incluindo esquizofrenia, paranóia e psicopatia, de modo que,
mais uma vez, a "especificidade" do modelo também estaria prejudicada.
“ A validade do modelo de depressão do desamparo aprendido repousa em
três suposições: que animais expostos a eventos aversivos incontroláveis ficam
desamparados; que um estado semelhante é induzido em pessoas pela
incontrolabilidade; e que desamparo em pessoas é o sintoma central da
depressão. Cada uma destas suposições têm sido fonte de controvérsias, que
podem ser sumarizadas da seguinte maneira: as interpretações de “desamparo”
dos experimentos com animais não foram conclusivamente estabelecidas, a
interpretação de “desamparo” dos experimentos com humanos é ainda menos
certa, e a relação entre desamparo e depressão permanece evasiva.” (Wilnner,
1984, p. 6).
Willner, Sampson, Papp, Phillips e Muscat (1990) afirmam que a grande maioria
dos estudos no campo do Desamparo Aprendido investigou o efeito de eventos aversivos
incontroláveis no “comportamento de aprender”10, isto é, na possibilidade do sujeito passar
10 Termo utilizado pelo autor, discutido anteriormente.
22
a se comportar para que o choque fosse evitado ou para que uma recompensa11 (comida ou
água) passasse a ser produzida por sua resposta. Exemplos deste último "efeito" são
relatados nos estudos de Rosellini (1978) e Rosellini e De Cola (1981) que verificaram que
o choque elétrico incontrolável diminui a aquisição de respostas que produziriam comida
em animais privados de alimento. Estas descobertas foram interpretadas, segundo Willner
e cols.(1990), pelos autores que realizaram os experimentos, a partir do paradigma do
desamparo aprendido, como evidências da dificuldade em aprender que respostas
produzem conseqüências, depois de uma experiência de "incontrolabilidade".
Willner, Sampson, Papp, Phillips e Muscat (1990) consideram, assim, que o modelo
do Desamparo Aprendido trataria da "questão da aprendizagem” e afirmam que este não é
um modelo que aborda a questão da “sensibilidade à recompensa”. Seria esta ênfase na
aprendizagem que seria o problema central do modelo do Desamparo Aprendido, uma vez
que a anedonia, uma característica relevante a ser considerada na investigação da
depressão, é desconsiderada. Para estes autores, esta é uma questão relevante porque o
sujeito que passou por uma situação na qual havia apresentação de estímulos aversivos
incontroláveis pode "vir a aprender que uma conseqüência pode depender da sua resposta"
e, ainda assim, não emitir respostas que a produzem. Os autores hipotetizam que o que vem
sendo chamado de “dificuldade de aprendizagem” no modelo do Desamparo Aprendido
poderia ser explicado com base na suposição de que a conseqüência pode não ser mais
suficientemente “recompensadora”, a ponto de o sujeito comportar-se para produzi-la.
Willner e cols. (1990), então, supõem que os modelos de depressão existentes não
dão conta de lidar com a “sensibilidade à recompensa”, que para eles é ponto fundamental
em uma simulação de depressão com animais em laboratório, e propõem o modelo do
11 Vale notar que os autores usam o termo recompensa e não reforço. Uma vez que esses não são sinônimos,esta diferença será discutida mais pormenorizadamente posteriormente.
23
Chronic Mild Stress (CMS) como o melhor modelo experimental da depressão.
Modelo do Chronic Mild Stress (CMS)
O presente trabalho refere-se ao modelo de Chronic Mild Stress e por isto o modelo
será descrito em maiores detalhes aqui.
O modelo do Chronic Mild Stress (CMS) baseou-se originalmente em um
experimento de Katz, Roth e Carroll (1981), no qual ratos eram submetidos a uma
variedade de "estressores" não sinalizados, que incluíam um conjunto de eventos aversivos
como: choques elétricos, imersão em água gelada e pinçamento do animal pelo rabo. Após
uma semana de submissão a tais estímulos aversivos, notou-se que foram produzidas
mudanças no comportamento dos sujeitos, medidas a partir de atividades de campo aberto.
Além disso, em um outro experimento realizado também por Katz (1982),
percebeu-se uma mudança no consumo de água com sacarose destes animais, ou seja,
notou-se um decréscimo no consumo desta solução após a submissão aos estressores.
Assim, este último experimento parecia permitir uma maneira de se medir anedonia, a
partir da observação de mudanças no consumo de líquido pelos sujeitos. Esta foi uma
descoberta importante, segundo Wilnner, Towell, Sampson, Sophokleous e Muscat (1987),
por apresentar uma nova medida de sensibilidade à recompensa: a quantidade de água e
água com açúcar ingeridas.
Os autores (1987) afirmam que, teoricamente, a sacarina ou sacarose adicionadas à
água aumentariam a probabilidade de se consumi-la, ou seja, aumentariam o seu valor de
recompensa. O experimento de Katz (1982) reproduzia, aparentemente, anedonia, pois os
sujeitos que antes consumiam dada quantidade de água com sacarose, não mais o faziam
na mesma quantidade após a submissão a eventos aversivos. Tal resultado fez com que os
24
autores hipotetizassem que os sujeitos tornaram-se “insensíveis” a esta “recompensa”, a
água doce.
A partir das descobertas de Katz (1982), Willner, Towell, Sampson, Sophokleous e
Muscat (1987) relataram em uma mesma publicação quatro experimentos, com o objetivo
de reproduzir a anedonia e de avaliar as suas condições produtoras. Os autores tinham
como objetivo, ainda, estender os resultados de Katz (1982). Para isso, propuseram cinco
alterações no experimento de Katz (1982): (1) na severidade dos estressores, que foi
reduzida para que uma analogia mais real com a vida diária pudesse ser obtida; (2) na
medida, com o uso de duas garrafas de testes para aumentar a sensibilidade da medida de
preferência; (3) na freqüência das medidas, que passariam a ocorrer semanalmente durante
a exposição ao regime de estresse, para estabelecer o curso temporal do efeito; (4) na
inclusão de um teste com antidepressivos, para se verificar a possibilidade de reversão do
déficit de preferência produzido; (5) na introdução de uma avaliação da interferência de
outros fenômenos que não os “estressores”, como os níveis de glicose no sangue.
O primeiro experimento examinou os efeitos da exposição aos estressores no
consumo e preferência por sacarina. O segundo, usando um número maior de estressores,
examinou a preferência por água com sacarose e água salina e os efeitos do antidepressivo
tricíclico desmetilemipramina (DMI). Neste segundo experimento, ainda, a sacarina foi
substituída pela sacarose para se verificar se os efeitos produzidos pela submissão aos
estressores se mantinham, uma vez que a sacarina é uma substância não calórica e a
sacarose é calórica. O terceiro experimento replicou a exposição aos estressores e verificou
os efeitos do DMI na preferência por sacarose, além de examinar as possíveis influências
dos níveis de corticosterona e de glicose no sangue. O quarto e último experimento
examinou o efeito do DMI sobre a exposição a uma solução de água com sacarose menos
25
concentrada. Estes experimentos são descritos mais pormenorizadamente posteriormente e
o protocolo12 que apresenta como se deu a exposição aos estressores encontra-se no
Quadro 1.
Os sujeitos utilizados em todos os experimentos foram ratos machos (Lister),
pesando entre 310 e 350g. Todos ficavam em gaiolas que mediam 26 x 19 x 38 cm,
sozinhos, mantidos em um ciclo claro-escuro de 12h e com comida e água livres.
Em todos os experimentos, o teste de consumo de líquido era feito na gaiola viveiro
do animal, entre 14 e 15 hs, uma vez por semana. O teste de consumo de líquido consistia
no quanto de líquido o animal havia consumido. Isto era medido pelo peso das garrafas de
teste que eram pesadas antes e depois do período de teste. Setenta e duas horas antes do
início da medida da linha de base, expunha-se os animais por quarenta e oito horas às duas
garrafas com as soluções de teste (água com sacarose, água com sacarina ou água com
cloreto de sódio, a depender do experimento) e com água pura. As garrafas eram
contrabalançadas entre os lados direito e esquerdo do compartimento de comida. Esse
procedimento foi adotado para os testes tanto durante a fase de linha de base quanto
durante a submissão ao “regime de estresse” e após tal submissão. 13
A partir da quantidade de líquido consumida nos testes, os autores (1987) mediam
quantidade de água e de água com sacarose (total) nos testes. Para indicar a preferência por
água com sacarose, Willner e cols. (1987) tomaram por base a porcentagem de água com
sacarose consumida em relação ao total de líquido consumido, por teste.
No Experimento 1, após quatro horas de privação de água e comida, uma solução
de 0,1% de solução de sacarina era colocada à disposição de 24 ratos, por uma hora, uma
vez por semana. A linha de base foi tomada, conforme descrito anteriormente, no teste de
12 Todo o conjunto de estressores a que os sujeitos foram submetidos é chamado de “protocolo ou regime deestresse”.
13 Todos os resultados, dos quatro experimentos, são apresentados de maneira genérica. Não há uma
26
consumo de líquido, que foi feito antes, durante e depois da submissão ao “regime de
estresse”. Após a linha de base do consumo da solução, os animais foram alocados em dois
grupos de doze sujeitos. Um grupo foi submetido ao seguinte conjunto de estressores,
durante cinco semanas: privação de comida; privação de água; iluminação contínua;
inclinação de 30°(da gaiola; permanência na gaiola com outro sujeito; gaiola suja (100 ml
de água derramada na gaiola); exposição à temperatura rebaixada (10o C). O outro grupo
não foi submetido ao “regime de estresse” e foi considerado grupo controle. Willner e cols.
(1992) salientam o fato de que mesmo os ratos considerados não estressados foram
submetidos a dois estressores: eles ficavam isolados em suas gaiolas e foram submetidos à
privação de água antes dos testes de consumo de água e água com sacarose.
Nas duas primeiras semanas de exposição aos estressores, mediu-se o consumo de
água com sacarina, com a apresentação ao sujeito de somente uma garrafa, uma vez com
água, outra com água com sacarina. Nas semanas 3, 4 e 5 foram realizados testes com duas
garrafas, uma contendo 0,1% de sacarina e outra água pura, colocadas à disposição dos
sujeitos simultaneamente. Conforme descrito anteriormente, estes testes foram realizados
uma vez por semana.
Nos testes realizados nas duas primeiras semanas de exposição ao conjunto de
estressores, com uma garrafa, constatou-se que o consumo de sacarina decresceu
consideravelmente no grupo submetido aos estressores quando comparado ao grupo
controle. Nos testes com duas garrafas, que ocorreram a partir da terceira semana de
exposição aos estressores, verificou-se que aumentou o consumo de água com sacarina no
decorrer do tempo no grupo controle, embora não houvesse mudança significativa no
grupo submetido ao estresse. Durante todos os testes (com uma e duas garrafas), os sujeitos
do grupo controle consumiram mais água com sacarina que água. No entanto, para os
apresentação de resultados por sujeito.
27
sujeitos do grupo submetido ao regime de estresse não houve diferença significativa entre
o consumo de água e água com sacarina.
Os autores afirmam, como conclusão, que a preferência por água com sacarina
decresceu no grupo de animais estressados, no decorrer do tempo, mas permaneceu
inalterada no grupo controle. Segundo os autores, a preferência por sacarina diminuiu
significativamente em comparação ao grupo controle nas semanas 4 e 5.
No Experimento 2, realizado pelo mesmo grupo de pesquisadores do Experimento
1, dois grupos de 20 ratos foram privados de água e comida por vinte e três horas antes do
teste com duas garrafas, uma contendo água e a outra contendo ou 1% de solução de
sacarose ou 0,5% de solução de cloreto de sódio. O cálculo de consumo durante as linhas
de base foi realizado da mesma maneira que no experimento 1. Um dos grupos foi
subdividido em dois subgrupos de 10 sujeitos cada e um subgrupo recebeu água com 1%
de sacarose e outro recebeu água salina (antes, durante e após a submissão ao “regime de
estresse”). O outro grupo de 20 sujeitos foi tomado como grupo controle.
O subgrupo de sacarose e o subgrupo de cloreto de sódio foram submetidos a um
“regime de estresse” durante seis semanas e o teste de preferência de líquido, com duas
garrafas, foi realizado em intervalos semanais. O regime de estresse a que estes sujeitos
foram submetidos foi similar ao do experimento 1, com a adição dos seguintes estressores:
barulho intermitente (85 dB); luz estroboscópica (300 flashes por minuto); exposição a
uma garrafa de água vazia após um período de privação; acesso restrito a comida (poucas
pelotas de 45 mg de comida espalhadas pela gaiola); odores diferentes (por exemplo,
desodorantes purificadores de ar); presença de um objeto estranho na gaiola (por exemplo,
um pedaço de madeira ou plástico). Além disso, a intensidade de alguns estressores foi
gradualmente aumentada no decorrer das seis semanas de teste (por exemplo, a inclinação
28
da gaiola aumentou de 30 (para 50 e a permanência com outro sujeito na gaiola aumentou
de dois para quatro sujeitos). Detalhes do programa de apresentação de tais estressores
neste experimento também são dados no Quadro 1.
Os resultados indicaram que, nos animais submetidos ao “regime de estresse”, o
consumo de água e de água com sacarose diminuiu no decorrer das três semanas de
exposição aos estressores. No grupo controle o consumo de água com sacarose aumentou e
o de água se manteve. Estas mudanças não se refletiram na análise de preferência até a
terceira semana, quando a preferência por sacarose nos ratos submetidos ao estresse foi
significativamente reduzida se comparada com o grupo controle. O efeito do DMI após
tratamento crônico de duas semanas foi o de aumentar o consumo de água com sacarose e
reinstalar a preferência por essa nos animais estressados. Ou seja, o antidepressivo pareceu
anular os efeitos do protocolo de estresse. O total de líquido ingerido pelos animais não
estressados não diferiu entre os grupos que consumiram água com sacarose e água salina.
Além disso, nem o grupo controle nem o de animais estressados mostrou mudança
significativa quanto ao consumo de solução salina nas três primeiras semanas de exposição
aos estressores. No entanto, os grupos de animais que consumiram solução salina
reduziram o consumo de água durante o mesmo período de três semanas. Como resultado,
houve uma tendência ao aumento pela preferência tanto no grupo controle quanto no grupo
de sujeitos estressados, mas não houveram diferenças significativas em relação à
preferência por solução salina entre os grupos controle e de animais estressados.
Assim, a solução de água com sacarose pareceu possibilitar uma medida de
consumo e preferência mais próxima àquela que se pretendia (de “sensibilidade à
recompensa”), o que não ocorreu com a solução salina.
No Experimento 3 (Willner, Towell, Sampson, Sophokleous e Muscat, 1987), 22
29
ratos foram distribuídos em dois grupos. Um destes grupos foi submetido ao mesmo
regime de estresse usado no experimento 2 durante nove semanas. O outro grupo não
passou pelos estressores. Após três semanas, DMI foi administrado para 11 animais de
cada grupo (grupo experimental e grupo controle). Durante este período e por mais quatro
semanas após a retirada do regime de estresse e do DMI, a preferência por água com
sacarose foi medida em intervalos semanais, com exceção das semanas 8 e 10, quando
amostras de sangue foram retiradas, para que um teste do nível de glicose no sangue fosse
feito. Os resultados obtidos neste experimento são similares aos do experimento 2. Um
teste do nível de corticosterona no sangue também foi realizado na semana 8. Isto foi feito
porque uma possível explicação para a diminuição do consumo de sacarose pelos animais
estressados, segundo Willner e cols. (1987), poderia advir do argumento de que o estresse
aumentaria os níveis de glicose e de corticosterona no sangue. Entretanto, os autores
afirmam ter medido tais variáveis e que elas permaneceram inalteradas com este “regime
de estresse”. Duas semanas após a última submissão ao “regime de estresse”, a preferência
e o consumo de água com sacarose ainda se mantinham baixos. Mesmo após quatro
semanas, a preferência não voltou ao nível da linha de base, embora o consumo de água
com sacarose tivesse voltado. Além disso, notou-se que o DMI não interferiu no
comportamento dos animais não estressados, mas aumentou a preferência por água com
sacarose nos animais estressados, após quatro semanas.
No Experimento 4, dois grupos de doze ratos foram submetidos a testes de
consumo e preferência com uma solução mais fraca de água com sacarose (0,6%) após
passarem pelo “regime de estresse”. Neste mesmo experimento, administrou-se DMI a um
grupo por seis semanas e, durante este período, os testes com duas garrafas foram
realizados em intervalos de três dias.
30
As alterações nas quantidades de consumo obtidas a partir dos testes com uma
solução mais fraca de água com sacarose foram substancialmente menos significativas que
aquelas obtidas com 1%, pois a diferença entre as quantidades de água e água com
sacarose ingeridas foi menor. Isto verificado, concluiu-se que esta solução mais fraca
produziu uma preferência menor que a produzida pela solução de 1% de sacarose usada
nos experimentos 2 e 3, nos testes com duas garrafas.
Os resultados destes estudos, segundo Willner e cols. (1987), parecem ampliar as
descobertas de Katz e cols. (1981), pois indicariam que a exposição a um “regime de
estresse suave” desenvolveu gradualmente anedonia nos animais no decorrer de algumas
semanas: uma redução na preferência por sacarose se manteve por um período de 2 a 4
semanas após a retirada de tal regime (experimento 3), o que indicaria que a mudança
comportamental não seria causada pela proximidade entre o teste e algum estressor.
Outra variável isolada pelos autores foi o uso de sacarina (não calórica) ou sacarose
(calórica), pois uma outra possibilidade de “explicação” do efeito comportamental seria a
de uma regulação calórica como efeito da ingestão de sacarose. Uma vez que ambas as
soluções produziram o mesmo efeito, parece que a redução no consumo de água com estas
soluções, após a submissão ao protocolo de estresse, não seria um efeito de uma regulação
calórica e sim um efeito anedônico específico da submissão ao regime de estresse. Nesse
sentido, para os autores, a não preferência por água com sacarose e/ou sacarina parece
poder ser explicada por uma redução em suas “propriedades recompensadoras”, redução
essa que parece se relacionar com a submissão a um regime de estresse crônico e suave e
não por mudanças sensoriais ou motoras. Portanto, os efeitos comportamentais observados
– anedonia, como foi chamado – seriam produto da exposição dos sujeitos ao chamado
“regime de estresse”.
31
Para avaliar os efeitos isolados de cada um dos componentes – os estressores –
envolvidos no “regime de estresse”, Muscat e Willner (1992) realizaram um experimento
no qual media-se o consumo de água e água com sacarose antes, durante e depois da
submissão a cada estressor a fim de se verificar se eles sozinhos eram necessários ou
suficientes para causar anedonia. Constatou-se que o único estressor que reduziu o
consumo de água com sacarose isoladamente foi a colocação de outro sujeito na gaiola.
Entretanto, os efeitos duraram apenas uma semana e o sujeito voltou a consumir água e
água com sacarose nas mesmas quantidades que antes da exposição à nova situação
(parece ter havido uma habituação a esta nova situação de outro sujeito na gaiola).
Segundo os autores, nenhum dos estressores isoladamente pareceu ser necessário e
suficiente para manter um decréscimo no consumo de água com sacarose, sendo a
combinação de um conjunto de estressores (em termos de variedade) que pareceu ser o
elemento essencial para que o “regime de estresse” produzisse anedonia.
Partindo do suposto que o modelo do Chronic Mild Stress produz um decréscimo
no consumo de sacarose e na preferência por essa, e que este decréscimo é explicado por
uma mudança na "sensibilidade à recompensa, o presente trabalho pretendeu verificar se o
que é denominado “insensibilidade à recompensa” (ou anedonia), neste caso, poderia ser
descrito como diminuição do valor reforçador do reforço. Os experimentos citados
(Wilnner, e cols., 1987) não permitem afirmar que uma solução de água com sacarose seja
um reforçador ou que o consumo menor seja produto de uma redução no valor do reforço,
uma vez que este estímulo não é produzido como conseqüência de uma classe de respostas
(não é produzido sistematicamente por uma ação/ resposta do sujeito) que tenha sido
medida.
32
Estímulo Reforçador e Recompensa
Skinner (1953/1989)14 define reforçamento de uma resposta como o processo pelo
qual uma conseqüência contingente a uma resposta do organismo aumenta a probabilidade
futura de ocorrência dessa última enquanto uma classe de respostas.
Skinner chama a atenção para o fato de que uma resposta que já ocorreu não pode
ser prevista ou controlada e que, portanto, as respostas que têm sua probabilidade
aumentada com o reforçamento são aquelas que são controladas pela mesma conseqüência.
Assim, na ciência do comportamento, muda-se não uma resposta, mas uma classe de
respostas, e Skinner (1953/1989) dá o nome de operante para o conjunto de respostas que
produzem uma mesma conseqüência, enfatizando o fato de que o comportamento opera
sobre o ambiente para gerar conseqüências e que, portanto, pode ser definido por um efeito
que pode ser especificado. (Skinner, 1953/ 1989, p. 73).
Estas conseqüências que aumentam a probabilidade de ocorrência do
comportamento são denominadas pelo autor (1953/1989) de estímulos reforçadores.
Catania (1998), conforme Skinner (1953/1989), define reforçador, como um
estímulo que segue uma resposta e aumenta a probabilidade da resposta que o produziu
ocorrer novamente. Em suma, o “reforçador” é um estímulo, enquanto que o
“reforçamento” é um processo ou uma operação. "Reforça-se respostas e não organismos, e
o que se produz com o reforçamento são duas mudanças no sujeito, que se referem à
probabilidade de ocorrência futura da resposta e a sensações". (Catania, 1998, p. 405).
Skinner (1953/1989) salienta que há outras palavras, como recompensa, que se
refeririam ao efeito da conseqüência do responder sobre o sujeito, mas que só através da
14 A Edição utilizada no presente trabalho foi a 7ª edição brasileira, traduzida do original, Science and HumanBehavior de 1953. Apesar de a referência no texto aparecer como 1953, as páginas referem-se à edição de
33
análise experimental (ou seja, da manipulação das conseqüências e da medida de seus
efeitos sobre o responder) poder-se-ia dizer que uma conseqüência é reforçadora.
Catania (1998) também levanta tal questão e afirma que apesar de ser tentador
igualar recompensa e reforço, isso pode induzir a erro. Um reforçador não se define pela
sensação que causa no organismo e, portanto, não é sinônimo de recompensa. O reforçador
só será assim denominado após a observação do efeito de aumento de probabilidade no
comportamento do indivíduo. O termo recompensa não leva em consideração este efeito
fortalecedor.
Catania (1998), novamente ecoando Skinner (1953/1989), resume o processo do
reforçamento operante, afirmando que é somente depois de se observar uma mudança na
freqüência de determinada resposta que se pode dizer que tal processo ocorreu.
Frente à definição de reforçador, como estímulo que ao consequenciar uma resposta
aumenta a probabilidade futura de ocorrência de respostas da mesma classe, fica a questão:
o procedimento do Chronic Mild Stress altera o valor reforçador da água com sacarose?
Valor Reforçador do Estímulo
Estabelecida a função de estímulo reforçador, uma questão importante, dentre
outras, para que o analista do comportamento explique a variabilidade do responder é
enfocada em termos de motivação e de valor reforçador do estímulo.
Millenson (1967) afirma que um comportamento fortemente motivado é aquele que
é mantido por um reforçador poderoso. O autor (1967), ao discutir o valor reforçador de
estímulos, afirma que diferentes operações podem alterar o valor reforçador de um
estímulo e estas operações referem-se, por exemplo, a mudanças nas condições anteriores à
1989.
34
apresentação do estímulo reforçador. No caso do estímulo reforçador água, por exemplo,
operações como privação, exercício forçado, mudança na temperatura e administração de
certas drogas podem modificar o valor do estímulo reforçador água.
Catania (1998), também discutindo o valor reforçador dos estímulos, afirma que as
consequências do comportamento têm sua efetividade modificada por operações que
mudam a probabilidade de ocorrência do comportamento. Estas operações são chamadas
operações estabelecedoras.
Usando a privação como exemplo de uma operação que modifica o valor reforçador
do estímulo água, Skinner (1953/1989) afirma que, sob circunstâncias normais, um
organismo bebe intermitentemente e mantém-se em um estado estável. Quando o
organismo é privado da oportunidade de beber água, o estímulo água terá seu valor
reforçador modificado e o beber terá maior probabilidade de ocorrência.
Por exemplo, se um organismo está mais propenso a beber água muito tempo
depois de tê-la bebido do que logo após bebê-la é a probabilidade do comportamento e não
a água que muda. Neste caso, diz-se que beber água é evocado pela operação
estabelecedora, privação de água. Mas é também ocasionado pela presença de água, porque
o beber só pode ocorrer na presença de água e pela história de condicionamento do sujeito.
Millenson (1967) afirma que não há uma só maneira de medir o valor reforçador
dos estímulos e que qualquer medida de força da resposta necessariamente é também uma
medida da força do estímulo reforçador ou, mais precisamente, do valor reforçador do
reforço, isto é, só é possível medir o valor reforçador de um estímulo a partir da medida
dos efeitos comportamentais dos estímulos quando eles são contingentes a respostas
operantes.
Segundo Millenson (1967), parece haver um conjunto de medidas comportamentais
que covariam com a privação do reforço (e consequentemente com a mudança no valor
35
reforçador do estímulo). Quando se aumenta o valor reforçador do estímulo, por exemplo,
o sujeito trabalha mais depressa em um esquema de reforçamento em intervalo, chega a
responder em uma razão mais alta em um esquema de razão progressiva, supera mais
obstáculos, ou adquire mais rapidamente uma nova habilidade. (Millenson. 1967, p. 358).
“A covariação sistemática em um número de medidas comportamentais
independentes em relação a uma única operação (por exemplo, privação)
fornece uma base para a introdução de um conceito que irá resumir e
denominar essa covariação. O termo valor reforçador é justamente este
conceito.” (Millenson, 1967, p. 359).
O estudo das maneiras pelas quais se pode medir valor reforçador do estímulo
consiste em uma área de investigação na análise do comportamento.
Petry e Heyman (1995) afirmam que a economia comportamental é um método que
tem sido aplicado para análise da relação entre reforçadores. Adota-se neste procedimento
a “lei da demanda” que estipula que o consumo total diminui quanto o custo de resposta
aumenta, se todas as outras variáveis estiverem iguais. Poder-se-ia, então, aplicar a “lei da
demanda” em situação controlada de laboratório, uma vez que a exigência da resposta pode
ser análoga ao custo e o consumo pode ser objetivamente medido.
Em um dos experimentos descritos pelos autores (Petry e Heyman, 1995),
submeteu-se os sujeitos a uma situação em que o mesmo reforçador (solução de água com
10% de sacarose) ficava disponível próximo de duas barras, uma de cada lado da caixa
operante. Com valores idênticos de VR, os sujeitos responderam exclusivamente em uma
barra. Aumentando-se o valor do VR do lado em que havia preferência, o responder
mudava para a outra barra.
Notou-se que as taxas de respostas nas duas barras mudaram com as mudanças na
exigência da resposta. No entanto, em configurações com valores próximos (por exemplo,
36
VR8 – VR10), os sujeitos alternavam entre as duas barras. Os autores sugerem que
mudanças nos requerimentos das respostas podem ter sido difíceis de serem detectadas
pelos sujeitos devido ao fato de estes estarem acostumados a responder em só lado.
Ademais, Petry e Heyman (1995) afirmam que este resultado sugere que a
preferência pelo lado deve ser uma variável a ser considerada quando da análise do valor
reforçador de um estímulo em um esquema concorrente, pois os sujeitos podem estar
respondendo em uma das barras devido ao controle exercido pelo lado e não pelo estímulo
reforçador.
Segundo Macenski e Meisch (1998), a taxa de respostas tem sido tradicionalmente
utilizada para avaliar a força e probabilidade de uma resposta e a efetividade de um
estímulo reforçador. No entanto, critica-se o uso da taxa absoluta de respostas como um
índice de efetividade do estímulo reforçador a partir da afirmação de que o estímulo
reforçador é apenas uma das variáveis que afetam a taxa de respostas. Por consequência, os
métodos de razão progressiva e as medidas de taxa relativa de respostas também são
utilizados para se obter dados relativos à efetividade de reforçadores, como possíveis
alternativas para o problema.
Os métodos de razão progressiva, segundo Macenski e Meisch (1998), referem-se
aos procedimentos nos quais o número de respostas exigidas para reforçamento aumenta
gradualmente na sessão ou no decorrer da sessão. Nesta situação, as medidas de taxa
relativa de respostas expressam o responder em relação a uma segunda medida para o
responder. De maneira geral, as variações no requerimento da resposta ou a magnitude de
reforçadores são, então, estudadas.
Macenski e Meisch (1998) afirmam que, em experimentos com drogas, nota-se que
nos estudos em que houve uma variação sistemática, no decorrer das sessões, da exigência
da resposta ou da magnitude do estímulo reforçador, as diminuições das taxas de respostas
37
foram relativamente menores nos comportamentos mantidos por doses maiores de
droga.No experimento descrito pelos autores (1998), examinou-se um responder mantido
por cocaína com diferentes concentrações da droga em diferentes valores de VR e FR.
Investigou-se também as relações entre concentração de cocaína, taxa de respostas,
exigência da resposta, medidas de persistência e efeitos reforçadores. Foram comparados,
ainda, os dados obtidos com outras medidas de efeito reforçador. Macenski e Meisch
(1998) observaram que a cocaína parece ter tido uma função de estímulo reforçador para o
responder e que maiores concentrações da droga tiveram maior efeito reforçador.
Os autores (1998) afirmaram que apesar das diferenças nas condições
experimentais os resultados observados com base em uma linha de base estável são os
mesmos nos vários métodos de análise e provêm a mesma possibilidade de análise, de uma
maneira geral. Macenski e Meisch (1998) sugerem que: (a) apesar das diferenças
qualitativas entre drogas e outros estímulos reforçadores, como comida, os estímulos
reforçadores encontram-se na mesma relação funcional entre a magnitude do reforço e a
resposta sob esquema FR de reforçamento; (b) dentro de uma gama de valores, os efeitos
reforçadores são diretamente proporcionais à magnitude do reforço e (c) isso minimiza a
utilidade do uso de medidas de taxa relativa de respostas quando se pretende verificar os
efeitos de um estímulo reforçador. Parece, assim, que Macenski e Meisch (1998) propõem
que a taxa absoluta de respostas seria sim uma medida sensível do efeito de um estímulo
como reforçador.
Com base nesta afirmação, a taxa absoluta de respostas foi utilizada como medida
do valor reforçador de um estímulo no presente estudo.
38
TRABALHO DESENVOLVIDO NO LABORATÓRIO DE PSICOLOGIA
EXPERIMENTAL DA PUC-SP
Willner e cols. (1987) afirmam que o Chronic Mild Stress (CMS) produziria uma
insensibilidade à recompensa e o fazem a partir dos seguintes dados: (a) a quantidade de
água e água com sacarose ingeridas pelos sujeitos decresce após seis semanas de
submissão ao conjunto de estressores, e (b) a tendência de ingerir mais água com sacarose
que água verificada antes da submissão aos estressores não é mais observada após
submissão a esses.
O objetivo do presente trabalho foi o de investigar o efeito da experiência da
submissão ao “regime de estresse”, proposto por Willner e cols. (1987), chamado de
Chronic Mild Stress (CMS), no desempenho dos sujeitos em um esquema concorrente de
FR. Isto permitiria avaliar se o que os autores chamam de “insensibilidade à recompensa”
poderia ser tomado como sinônimo de “diminuição do valor reforçador do estímulo”: a
submissão ao “regime de estresse” afetaria o valor reforçador do estímulo? Para responder
esta questão, mediu-se o desempenho dos sujeitos em uma contingência em que seu
responder produziu água ou água com sacarose, antes e depois da submissão ao conjunto
de estressores do CMS.
Supõe-se que o desempenho em um esquema concorrente FR – FR, de mesmo
valor, produz taxas de respostas diferentes nas duas barras a depender da qualidade do
estímulo reforçador, dado que a exigência da resposta é a mesma. Assim, a medida
utilizada para análise, no presente estudo, consistiu das taxas de respostas mantidas por
água e por uma solução de água com 8% de sacarose, em um esquema concorrente FR15 –
FR15.
Atentando-se para o fato de que poderia haver uma preferência por lado / posição
dos estímulos, como afirmaram Petry e Heyman (1995), a localização dos estímulos
39
reforçadores foi contrabalançada nos dois lados da caixa, no decorrer das sessões.
Optou-se por avaliar o desempenho dos sujeitos em um esquema de reforçamento
concorrente FR – FR, com dois estímulos reforçadores, por se considerar que essa
contingência tinha uma similaridade em relação àquela utilizada por Willner e cols.(1987),
- água e água com açúcar estavam disponíveis ao mesmo tempo – e, também, porque uma
medida de valor reforçador de um estímulo em que água e água com sacarose não
estivessem disponíveis ao mesmo tempo, poderia influenciar o desempenho dos sujeitos
nos testes de consumo de líquido semanais, que são realizados com dois estímulos
reforçadores.
É ainda importante considerar que, diferentemente do experimento conduzido por
Willner e cols. (1987), no qual os sujeitos não saíam das gaiolas durante toda o período de
coleta, no presente estudo alguns dos sujeitos saíram das gaiolas viveiro para serem
submetidos às sessões experimentais na caixa de condicionamento operante, o que fez com
que eles fossem submetidos a algumas condições distintas daquelas dos sujeitos de
Willner e cols. (1987).
No entanto, isto não parece se caracterizar como um problema porque o objetivo
deste experimento não foi expor o sujeito ao menor número de estressores possível e sim
verificar o efeito do estresse no desempenho dos sujeitos em um outro ambiente que não a
gaiola e, principalmente, quando submetidos a uma outra contingência. Assim, além da
medida semanal de consumo e preferência na gaiola acrescentou-se, para alguns sujeitos,
uma medida de taxa de respostas obtida em outro setting.
Em suma, para avaliar o efeito do estresse sobre o comportamento dos sujeitos,
replicou-se, no presente trabalho, o “regime de estresse” proposto por Willner e cols.
(1987), com algumas mudanças, e se submeteu alguns dos sujeitos a um esquema
concorrente FR – FR, com dois estímulos reforçadores diferentes, para avaliar preferência
40
por estímulos e verificar possíveis alterações no valor reforçador do estímulo antes e
depois da submissão ao “regime de estresse”.
41
MÉTODO
Sujeitos
Foram utilizados neste trabalho 12 ratos machos, experimentalmente ingênuos,
provenientes do Laboratório de Psicologia Experimental da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP), que tiveram suas condições de peso, alimentação e local
de permanência controlados desde o desmame.
Os sujeitos foram pesados diariamente, em uma balança digital marca FILIZOLA,
de capacidade máxima de 2kg e sensibilidade de 0,5g, sempre no mesmo horário. Iniciou-
se o presente estudo quando os sujeitos atingiram três meses de vida.
Durante todo o estudo, os sujeitos foram privados de água a fim de manter o peso a
85% do peso ad lib.
Dos doze sujeitos, quatro serviram como sujeitos experimentais, quatro foram
utilizados somente para agrupamento15, dois serviram como sujeitos reserva, um como
controle de peso na sala isolada e um como controle de peso no biotério do Laboratório de
Psicologia Experimental da PUC – SP. Além dos quatro sujeitos experimentais, somente os
sujeitos reserva foram privados de água a fim de manter o peso a 85% do peso ad lib. Os
outros seis sujeitos permaneceram com água e comida livres.
Equipamento
GAIOLAS VIVEIRO
Com três meses de vida, os sujeitos foram alojados em gaiolas individuais de
alumínio, medindo 20 cm por 30 cm, especialmente construídas para facilitar o cuidado –
15 O agrupamento será explicado pormenorizadamente na descrição dos “estressores” utilizados.
42
limpeza e alimentação – e alojamento dos mesmos neste experimento. Estas gaiolas foram
também construídas de modo a facilitar a manipulação das variáveis que fazem parte do
“regime de estresse”, como “inclinação da gaiola”, “agrupamento na gaiola”, “gaiola suja”
e “presença de um objeto estranho na gaiola”.
Estas gaiolas permaneceram em uma sala isolada do biotério do Laboratório de
Psicologia Experimental da PUC – SP, de 0,90m por 4,25m, para que pudesse haver o
maior controle possível das condições às quais os sujeitos foram submetidos,
principalmente aquelas referentes ao “regime de estresse”, como “iluminação contínua”,
“barulho intermitente”, “luz estroboscópica” e “cheiro”. A permanência em gaiolas
construídas especificamente para este experimento e o isolamento do biotério também
diminuiu a possibilidade de os sujeitos serem expostos a outras situações aversivas que não
as programadas e/ou controladas.
A iluminação da sala seguiu um ciclo de 12 horas, ou seja, a luz permaneceu acesa
por doze horas e apagada por doze horas. Havia um exaustor na parede lateral da sala e um
climatizador de ar no chão, 3m à frente da estante em que ficavam as gaiolas. A porta da
sala permaneceu fechada a fim de diminuir os ruídos externos.
Neste setting, os sujeitos (01 a 11) permaneceram alojados e foram submetidos ao
“regime de estresse” baseado em Willner e cols. (1987), com algumas modificações. O
“regime de estresse” a que os sujeitos foram submetidos está descrito no Quadro 2.
CAIXAS EXPERIMENTAIS
Foram utilizadas caixas de condicionamento operante Med Associates, modelo
Env-008, colocadas dentro de uma caixa de isolamento acústico, de dimensões 67 cm
(largura) X 47 cm (altura) X 47 cm (profundidade), com um exaustor de 100W para a
circulação de ar. Em cada uma das paredes da caixa (esquerda e direita) havia uma barra
43
colocada a 8 cm do chão da caixa e no centro da parede e um bebedouro no chão, embaixo
de cada barra.
A apresentação dos estímulos e o registro do desempenho dos ratos foram
controlados por interface eletromecânica e pelo software Schedule Manager para
Windows, produzido pela Med Associates, versão 2.0 em um computador IBM 486.
Procedimento
“REGIME DE ESTRESSE”
“Estressores”
Foi feita uma replicação do “regime de estresse” proposto por Willner e cols.
(1987), no modelo do Chronic Mild Stress (CMS).
Os estressores foram apresentados aos sujeitos por um período de seis semanas. Os
sujeitos foram expostos, como mostram os Quadros 2 e 3, aos seguintes estressores,
semanalmente, durante os seguintes intervalos de tempo:
privação de comida – os sujeitos sofreram privação de comida de 5ª feira às 15hs a
6ª feira às 15hs; de Sábado às 17hs a 2ª feira às 12hs, e de 3ª feira às 10hs a 4ª feira às
12hs.
Iluminação contínua – a luz da sala permaneceu acesa de 6a feira às 17hs a Sábado
às 10hs, e de 3ª feira às 17hs a 4ª feira às 12hs;
inclinação da gaiola – a caixa viveiro foi inclinada a 30º, para trás, de Domingo das
10hs às 17hs, e de 4ª feira às 17hs a 5a feira às 10hs;
permanência na gaiola com outro sujeito – os sujeitos foram agrupados com outros
quatro sujeitos especialmente separados para este fim, em pares, nas próprias caixas
viveiro e nas caixas viveiro destes outros sujeitos, alternadamente, de Domingo às 17hs a
2a feira às 10hs;
44
gaiola suja – 50 ml de água limpa misturada com serragem foram espalhados no
chão da caixa viveiro, de 5a feira às 17hs a 6a feira às 10hs;
barulho intermitente – um ruído branco, intermitente, de 85Db, permaneceu ligado
de 6a feira das 15hs às 18hs, e de 2a feira das 12hs às 17hs;
luz estroboscópica – uma luz estroboscópica localizada no chão da sala, na parede
oposta à localização das caixas viveiro, permaneceu ligada, disparando 300 flashes por
minuto, de 5a feira das 10hs às 12hs, e de Sábado das 10hs às 17hs;
exposição a uma garrafa de água vazia após um período de privação – após o
período de privação de água, foi apresentada ao sujeito uma garrafa de água vazia, das
10hs às 11hs aos sábados;
acesso restrito a comida – três pelotas de 1g de comida foram espalhadas pela caixa
viveiro, de 2a feira das 10hs às 12hs;
cheiro – um desodorante purificador de ar foi colocado em frente à estante com as
caixas viveiro, de 2a feira às 17hs a 3ª feira às 10hs;
presença de um objeto estranho na gaiola – uma argola de plástico redondo de 12
cm de diâmetro foi colocada dentro da caixa viveiro, de Sábado às 17hs a Domingo às
10hs.
Diferentemente do procedimento utilizado por Willner e cols. (1987), o “estressor”
diminuição da temperatura da sala não foi apresentado aos sujeitos.
Outra mudança no “protocolo de estresse”, se comparado com aquele utilizado por
Willner e cols. (1987) é que o “estressor” privação de água não foi apresentado aos sujeitos
da mesma maneira, mas esteve presente durante todo o experimento, a fim de manter o
peso dos sujeitos a 85% do peso ad lib16.
16 O peso dos sujeitos a 85% do peso ad lib foi mantido a partir da pesagem diária desses e consequenteacesso por tempo limitado à água, a depender do peso de cada um.
45
Teste de Consumo de Líquido0
Após os sujeitos estarem com o peso estabilizado a 85% do peso ad lib., foram
iniciados os testes semanais de consumo de líquido, com duas garrafas, uma contendo
água e outra contendo uma solução de água com 2%17 de sacarose. Nestes testes, duas
garrafas com 250 ml de volume, do tipo mamadeira, foram colocadas na parede frontal da
caixa viveiro, a 5 cm da base da gaiola, eqüidistantes da parede lateral. As garrafas foram
contrabalançadas entre os lados direito e esquerdo da caixa viveiro, isto é, trocou-se o lado
de apresentação das garrafas correspondentes à água e à água com sacarose a cada teste.
Nos testes de consumo de líquido, mediu-se, ao final do período de 01 hora de
exposição às garrafas, a quantidade de cada um dos líquidos consumidos. Esta medida foi
feita pelo volume (em mililitros) de líquido ingerido no período. Estas medidas foram
realizadas durante todo o estudo.
Antes de se iniciar o teste de consumo de líquido (aos sábados), por duas semanas
consecutivas os sujeitos foram expostos a uma garrafa contendo uma solução de água com
2% de sacarose, por uma hora, após uma privação de 23 horas de água e comida.
Posteriormente, por três sábados consecutivos, anteriores ao início da submissão ao regime
de estresse, realizou-se o teste de consumo de líquido com duas garrafas. Durante a
submissão ao “regime de estresse”, o teste de consumo de líquido ocorreu nos 2o, 9o, 16o,
23o, 30o, 37o e 44o dias e ao final dessa, ocorreu por mais três vezes, uma vez por semana.
Durante a fase de “medida de preferência pelo estímulo reforçador”, o teste de
consumo de líquido ocorreu sempre aos sábados e durante a fase de submissão ao
“protocolo de estresse” o teste de consumo de líquido ocorreu sempre às sextas-feiras, após
23hs de privação de água e comida.
17 Foi utilizada a concentração de 2% de sacarose porque Willner (1997) afirmou ser essa a que produz umpadrão mais estável de consumo.
46
“MEDIDA OPERANTE DE PREFERÊNCIA PELO ESTÍMULO REFORÇADOR”
Cada sessão teve duração de 60 minutos.
Estas sessões ocorreram cinco vezes por semana. No sexto dia da semana submetia-
se os sujeitos ao teste de consumo de líquido. Na realização do teste de consumo e
preferência - exposição por 60 minutos à água e à solução de água com sacarose - o peso
dos sujeitos alterava-se, razão porque não se realizava sessões experimentais no sétimo dia
da semana.
Modelagem
Respostas de pressão à barra esquerda foram primeiramente modeladas e
fortalecidas em esquema de reforçamento contínuo. Posteriormente, exigiu-se que o sujeito
pressionasse também a barra da direita, por aproximação sucessiva e essas respostas
também foram primeiramente modeladas e fortalecidas em esquema de reforçamento
contínuo. O reforço utilizado foi água pura.
Considerou-se finalizada esta fase quando o sujeito pressionou ambas as barras,
mesmo que com preferência por um dos lados. Isso ocorreu após duas sessões de 60
minutos.
Exposição a Dois Estímulos Reforçadores
Após a instalação e fortalecimento das respostas de pressão às duas barras, os
sujeitos foram expostos a duas sessões de esquema concorrente FR4–FR4, quatro de
FR10–FR10 e quatro de FR12–FR12, com água em um dos bebedouros e uma solução de
água com 8%18 de sacarose em outro. O lado (esquerdo ou direito) de apresentação da água
18 A quantidade de sacarose foi diferente da quantidade utilizada nos testes de consumo, pois se notou, emtestes prévios, que esta quantidade fornecia valores mais claros de preferência.
47
e da solução de água com sacarose mudou, no decorrer das sessões, a depender do
desempenho dos sujeitos: solução de água com sacarose foi colocada do lado em que o
sujeito não apresentava preferência durante a modelagem, na primeira sessão com a
presença dos dois estímulos reforçadores. Nas sessões seguintes, mudou-se o lado de
apresentação dos estímulos após haver um desempenho que indicasse aparente
preferência.19
Estabilidade da Medida de Preferência pelo Estímulo Reforçador
Após dez sessões de submissão a dois estímulos reforçadores, com valores
crescentes de FR, os sujeitos foram submetidos a oito sessões em esquema concorrente
FR15 – FR15. Para que se obtivesse um padrão estável de respostas diante de cada
reforçador, independentemente do lado em que esse se encontrava cada um dos estímulos
reforçadores, esses foram apresentados nos bebedouros dos lados esquerdo e direito da
caixa. Após uma sessão em que a taxa de respostas indicava uma preferência pela água
com sacarose (maior taxa de respostas na barra referente a este estímulo), alternava-se o
lado de apresentação dos estímulos. Se nesta sessão seguinte, a taxa de respostas do sujeito
indicava um controle pelo lado (o sujeito emitia uma taxa de respostas na barra
correspondente à água e, portanto, do lado em que havia respondido mais na sessão
anterior), mantinha-se a apresentação dos estímulos do mesmo lado. Se nesta sessão
seguinte, o sujeito emitisse uma taxa de respostas maior na barra correspondente à água
com sacarose (portanto na barra do lado contrário à que apresentou maior taxa de respostas
na sessão anterior), mudava-se novamente o lado de apresentação dos estímulos na sessão
seguinte.
Tomou-se como critério de medida de preferência pelo estímulo reforçador a taxa
19 Os lados de apresentação dos estímulos e o critério para mudança de lado serão descritos maispormenorizadamente nos Resultados.
48
de respostas de pressão às barras.
DELINEAMENTO EXPERIMENTAL
O Quadro 04 indica as condições às quais os diferentes sujeitos foram submetidos
após o início da medida operante de preferência pelo estímulo reforçador.
QUADRO 04: Condições às quais os sujeitos foram submetidos a partir do início da
medida operante pelo estímulo reforçador.
SUJEITO Teste de consumo e preferência emedida operante de preferência
(04 semanas)
Teste de consumo e preferência +Regime de estresse (06 semanas)
Teste de consumo e preferência(03 semanas)
01 Agrupamento02 Agrupamento03 Reserva Reserva Reserva04 Controle de peso Controle de peso Controle de peso05 Teste de consumo de líquido Regime de estresse e Teste de
consumo de líquidoTeste de consumo de líquido
06 Medida operante e Teste deconsumo de líquido
Regime de estresse e Teste deconsumo de líquido
Fase operante e Teste de consumode líquido
07 Medida operante e Teste deconsumo de líquido
Regime de estresse e Teste deconsumo de líquido
Fase operante e Teste de consumode líquido
08 Teste de consumo de líquido Regime de estresse e Teste deconsumo de líquido
Teste de consumo de líquido
09 Reserva Reserva Reserva10 Agrupamento11 Agrupamento78 Controle de peso Controle de peso Controle de peso
Os sujeitos 01, 02, 10 e 11 foram utilizados somente para o agrupamento (estressor)
na fase de submissão ao protocolo de estresse. Estes sujeitos permaneceram na sala isolada
do biotério do Laboratório de Psicologia Experimental da PUC-SP. Os sujeitos 03 e 09
permaneceram na sala isolada do biotério do Laboratório de Psicologia Experimental da
PUC-SP durante todo o experimento, como sujeitos reserva. O sujeito 78 foi utilizado
como controle de peso durante todo o estudo. Este sujeito permaneceu no biotério do
Laboratório de Psicologia da PUC-SP. O sujeito 04 foi utilizado para controle de peso.
Este sujeito permaneceu na sala isolada do biotério do Laboratório de Psicologia
49
Experimental da PUC-SP. Esse não foi submetido a privação de água e comida nem aos
estressores apresentados individualmente na gaiola viveiro (como presença de um objeto
estranho, acesso restrito a comida e apresentação de uma garrafa vazia de água).
Os sujeitos 05 e 08 foram submetidos aos testes de consumo de líquido semanais
por 03 semanas, anteriores ao início do protocolo de estresse. Foram, então, submetidos ao
protocolo de estresse por 06 semanas e testes de consumo de líquido semanais
correspondentes. Posteriormente, foram submetidos ao teste de consumo de líquido
semanal por mais três semanas.
Os sujeitos 06 e 07 foram submetidos à medida operante de preferência pelo
estímulo reforçador. Nas três semanas anteriores ao protocolo de estresse, foram também
submetidos ao teste de consumo de líquido semanal para que fosse verificado o consumo
de água e de água com sacarose, destes sujeitos, antes da submissão ao protocolo de
estresse.
Após 04 semanas de exposição à medida operante de preferência e 03 semanas após
o início dos testes de consumo de líquido (que ocorreram aos sábados, conforme descrito
anteriormente), foram submetidos ao protocolo de estresse e testes de consumo de líquido
semanais correspondentes a esta semana. Esta fase durou 06 semanas. Posteriormente
(após as 06 semanas de submissão aos estressores), foram novamente submetidos à medida
operante de preferência pelo estímulo reforçador, por mais 03 semanas. Os testes de
consumo de líquido semanais continuaram a ser realizados nestas 03 semanas.
50
RESULTADOS
“Peso dos sujeitos”
A Figura 01 mostra o peso dos sujeitos 04, 05, 06, 07, 08 e 78 desde o início do
estudo.
Os sujeitos 04, 05, 06, 07 e 08 foram os sujeitos que permaneceram na sala isolada
do biotério. O sujeito 04 não foi submetido a privação ou a qualquer manipulação
individual. Foi submetido apenas aos estressores que eram apresentados na sala como, por
exemplo, barulho, iluminação contínua luz estroboscópica e cheiro. Foi utilizado para
controle de peso. O sujeito 78 permaneceu no biotério do Laboratório de Psicologia
Experimental da PUC-SP, para controle de peso.
A curva de peso dos sujeitos indica que a submissão ao protocolo de estresse por
seis semanas te um efeito de diminuição no peso dos sujeitos submetidos a todos os
estressores se comparados com o sujeito. No entanto, a diminuição no peso destes sujeitos
não chegou a colocá-los em um peso inferior a 80% do peso ad lib desses.
Observa-se, ainda, que os sujeitos submetidos aos estressores, durante a fase do
estresse, tiveram alteração de peso semelhante, isto é, o peso aumentou e diminuiu,
aparentemente na mesma proporção e nos mesmos intervalos, para todos os sujeitos.
“Teste de Consumo de Líquido e Submissão ao Chronic Mild Stress”
A Figura 02 mostra os resultados dos Testes de Consumo de Líquido para os
sujeitos 05, 06, 07 e 08 antes, durante e após a submissão ao protocolo de estresse, quanto
ao total de líquido (água mais água com sacarose) ingerido.
FIGURA 01: Curva de peso dos sujeitos 04, 05, 06, 07, 08 e 78 durante todo o estudo. A primeira linha tracejada indica o início da privação. A sunda linh tracejada indica o início do protocolo de estresse. A terceira linha tracejada indica o final do protocolo de estresse.
0
30
60
90
120
150
180
210
240
270
300
330
360
390
420
450
480
1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73 79 85 91 97 103 109 115 121
Sujeito 05
Sujeito 06
Sujeito 07
Sujeito 08
Sujeito 04
Sujeito 78
FIGURA 02: Consumo em ml de água e de água com sacarose nos testes de consumo de líquido, dos sujeitos 05, 06, 07 e 08. As linhas pretas indicam o início e o final da exposição aos estressores.
05
101520
253035404550
1 3 5 7 9 11 13
água
sacarose
SUJEITO 05
0
510
15
2025
30
35
4045
50
1 3 5 7 9 11 13
água
sacarose
SUJEITO 06
05
101520
253035404550
1 3 5 7 9 11 13
água
sacarose
SUJEITO 07
05
101520253035404550
1 3 5 7 9 11 13
água
sacarose
SUJEITO 08
51
Nota-se que antes da submissão ao protocolo de estresse (testes 01, 02 e 03), o
consumo total de líquido dos sujeitos foi maior que durante a exposição ao protocolo de
estresse, sendo que a diminuição no consumo total de líquido parece se acentuar no
decorrer das semanas, claramente para os sujeitos 05, 06 e 08 e diminuindo bruscamente
após o 5o teste (semana 8) para o sujeito 07. (
O consumo total de líquido dos sujeitos 05 e 08 não aumentou significativamente
após o término da submissão ao regime de estresse (testes 11, 12 13), em comparação com
o consumo total de líquido destes sujeitos nos testes 08, 09 e 10, que ocorreram durante a
submissão aos estressores.
Em relação aos sujeitos 06 e 07, nota-se que o aumento no consumo de líquido nos
testes 11, 12 e 13, realizados após o término da exposição aos estressores e o início da
submissão à medida operante de preferência, tendeu a aumentar, em comparação ao
consumo de líquido nos testes 08, 09 e 10, que ocorreram durante a submissão ao
protocolo de estresse. (Para o sujeito 06 este aumento é tal que chega, no 3o teste, a um
consumo comparável com as primeiras medidas).
Parece, primeiro, que como com os sujeitos de Willner e cols. (1987), os consumo
de líquido destes sujeitos (05, 08, 06 e 07) sofreu efeitos importantes do/ com o regime de
estresse: decresceu para todos os sujeitos.
Parece, em segundo lugar, que a submissão à situação operante de esquema
concorrente FR15 – FR15, com os estímulos reforçadores água e água com 8% de
sacarose, exerceu influência sobre o consumo total de líquido nos sujeitos 06 e 07, nos
testes semanais de consumo de líquido - posteriores ao regime de estresse - realizados
concomitantemente à fase operante de medida de preferência.
52
A Figura 03 mostra as quantidades de água e água com 2% de sacarose consumidas
nos Testes de Consumo de Líquido pelos sujeitos 05, 06, 07 e 08 antes, durante e após a
submissão ao protocolo de estresse.
A Figura 04 mostra as porcentagens de água com 2% de sacarose consumidas pelos
sujeitos 05, 06, 07 e 08 antes, durante e após a submissão ao protocolo de estresse,
tomando-se como base (100%) o consumo total dos líquidos em cada um dos testes.
Observa-se, nas semanas precedentes ao protocolo de estresse, que o consumo de
água com sacarose foi maior que o consumo de água para todos os sujeitos. Estes valores
expressariam uma preferência pelo estímulo água com 2% de sacarose para todos os
sujeitos, o que também ocorre quando da análise da porcentagem de água com 2% de
sacarose consumida por esses nos três primeiros testes (exceto o sujeito 05 no teste 01).
Nota-se, ainda, que na primeira semana de teste, os sujeitos 05 e 08, que não
passaram pela fase operante, consumiram água e água com sacarose em quantidades
próximas. Nos dois testes subseqüentes diferenciou-se o consumo de água com sacarose
para ambos os sujeitos, especialmente o sujeito 8.
Por outro lado, o consumo de água com 2% de sacarose dos sujeitos 06 e 07, já no
primeiro teste, foi maior que o de água, mantendo-se diferenciado nos testes subsequentes.
Parece importante considerar que estes sujeitos, diferentemente dos sujeitos 05 e 08,
estavam sendo submetidos à medida operante de preferência pelo estímulo reforçador a
duas semanas, antes do primeiro teste de consumo de líquido, isto é, estes sujeitos já
estavam sendo expostos aos estímulos água e água com sacarose antes do teste 01, o que
poderia ter sensibilizado-os à diferença entre os estímulos.Nas semanas subsequentes ao
início da submissão aos estressores, nota-se uma diminuição acentuada no consumo e de e
na preferência por água com sacarose, para os quatro sujeitos, e uma diminuição no
FIGURA 03: Consumo em ml de água e de água com sacarose nos testes de consumo de líquido, dos sujeitos 05, 06, 07 e 08. As linhas pretas indicam o início e o fim as exposição ao protocolo de estresse.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
1 3 5 7 9 11 13
sacarose
água
SUJEITO 05
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
1 3 5 7 9 11 13
sacarose
água
SUJEITO 06
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
1 3 5 7 9 11 13sacarose
água
SUJEITO 07
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
1 3 5 7 9 11 13
sacarose
água
SUJEITO 08
FIGURA 04: Porcentagem de consumo de água com sacarose dos sujeitos 06, 06, 07 e 08 nos testes semanais de consumo de líquido, tomando-se por base (100%) o consumo total dos líquidosem cada um dos testes.
0102030405060708090
100
1 3 5 7 9 11 13
% sacarose
SUJEITO 05 SUJEITO 08
0102030405060708090
100
1 3 5 7 9 11 13
% sacarose
SUJEITO 06
0102030405060708090
100
1 3 5 7 9 11 13
% sacarose
SUJEITO 07
0102030405060708090
100
1 3 5 7 9 11 13
% sacarose
53
consumo de água, ainda que menos acentuada, de modo que a quantidade de água com
sacarose ingerida aproxima-se da quantidade de água ingerida.
Esta diminuição fica mais clara após a quarta semana de submissão ao protocolo de
estresse, mas não se observa, em nenhum dos testes, com nenhum dos sujeitos, um
consumo de água maior que o de água com sacarose.
Após as seis semanas de submissão ao protocolo de estresse, nos testes 11, 12 e 13,
realizados nas três semanas seguintes, os sujeitos 05 e 08 parecem manter um consumo e
preferência baixos por água com sacarose e um consumo baixo de água, semelhantes aos
observados nos testes 08, 09 e 10, precedentes.
Os sujeitos 06 e 07, por outro lado, após o período de apresentação dos estressores
e, portanto, o reinicio da fase operante, aumentaram o consumo de água e de água com
sacarose nos testes referentes a este período e a preferência por água com sacarose.
Especialmente o sujeito 06 aumentou o consumo de ambos, embora o aumento do
consumo (e da preferência) de sacarose tenha chegado no 3o teste a nível semelhante ao de
linha de base e o de água não. O sujeito 07 aumentou especialmente e sistematicamente o
consumo de água com sacarose, mas não atingiu os níveis de linha de base. Em relação à
preferência, a porcentagem de consumo de água com sacarose aumentou e ultrapassou os
valores observados na linha de base.
A Figura 05 mostra a porcentagem de água e água com 2% de sacarose consumida
nos Testes de Consumo de Líquido antes, durante e após a submissão ao protocolo de
estresse, tomando-se como base (100%) o consumo médio de cada um dos líquidos nos
três testes que antecederam o regime de estresse.
No sujeito 05, nota-se um consumo percentualmente maior de água com sacarose
nos testes 02, 05, e 06. Durante a submissão aos estressores, observa-se que a diferença na
FIGURA 05: Porcentagem de consumo de água e de água com 2% de sacarose dos sujeitos 05, 06, 07 e 08nos testes de consumo semanais, tomando-se por base (100%) a média de consumo de cada um dos líquidosnos três testes que antecederam ao estresse. O valor 1 corresponde a 100%, o valor 2 ao teste 4, o 3 ao teste5, o 4 ao teste 6, o 5 ao teste 7, o 6 ao teste 8, o 7 ao teste 9, o 8 ao teste 10, o 9 ao teste 11, o 10 ao teste 12e o 11 ao teste 13. As linhas pretas indicam o início e o fim da submissão ao estresse.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
120
130
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
sacarose
água
SUJEITO 05
Por
cent
agem
0102030405060708090
100110120130140150160170180190
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
sacarose
água
SUJEITO 06
Por
cent
agem
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
sacarose
água
SUJEITO 07
Por
cent
agem
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
sacarose
água
SUJEITO 08
Por
cent
agem
54
porcentagem do consumo de água para água com sacarose, progressivamente diminui,
chegando a ser levemente maior a porcentagem do consumo de água na 10a medida.
Depois do fim do estresse, aumenta mais a porcentagem de consumo de água.
Sujeito 08: do mesmo modo que com o sujeito 05, durante a submissão ao estresse,
parece que vai diminuindo a diferença entre a porcentagem de consumo de água e água
com sacarose (com exceção do 10o teste), chegando a se estabelecer maior porcentagem de
consumo de água (9o teste). Nos testes realizados após o fim dos estressores, nota-se
também um aumento na porcentagem de consumo de água (12o e 13º testes) o que poderia
significar uma diminuição na preferência pela água com sacarose.
Sujeito 06: observa-se uma maior porcentagem de consumo de água com sacarose
até o teste 09 (com exceção do teste 05) e também se observa uma diminuição na diferença
da porcentagem de consumo de água e de água com sacarose. Parece estabelecer-se,
proporcionalmente, uma maior porcentagem de consumo de água do que água com
sacarose nos testes 5, 6, 8, 9 e 10. Como fim da submissão dos estressores e reinício da
medida operante, parece haver um restabelecimento de proporção semelhante de consumo
dos dois líquidos. E muito próximas da linha de base - dos 100%, sugerindo que o sujeito
voltou ao seu padrão. Estes resultados demonstram que parece haver um efeito de
diminuição na preferência por água com sacarose em decorrência da submissão aos
estressores e um restabelecimento da preferência pela água com sacarose após o término
do protocolo de estresse e o início da fase operante.
Sujeito 07: no início da fase de submissão aos estressores, parece haver uma clara
preferência por água com sacarose, que se inverte no 8o teste. No 10o teste, o consumo de
água já é maior que o de água com sacarose (proporcionalmente à linha de base). Estes
resultados poderiam indicar uma diminuição na preferência pela água com sacarose. A
partir do teste 11 (fim da submissão ao protocolo de estresse e início da fase operante),
55
claramente se observa um aumento na porcentagem de consumo de água com sacarose e
um decréscimo na de água o que indicaria o estabelecimento de preferência por água com
sacarose.
Os resultados apontados aqui sofrem os efeitos do consumo real dos sujeitos. Isto
porque com a introdução do regime de estresse e a redução no consumo total de líquidos, o
consumo de água, que já era menor, podia decrescer (proporcionalmente) o mesmo que o
consumo de água com sacarose.
Os resultados mostram que a submissão ao protocolo de estresse produziu como
efeito a diminuição no consumo total de líquido. Nesse sentido, não se pode tirar
conclusões dos resultados em termos de consumo bruto ou em termos de porcentagem
isoladamente. A Figura 03 que mostra as quantidades de água e água com sacarose
consumidas nos testes indica uma clara diminuição do consumo de água com sacarose. A
Figura 04, que demonstra a porcentagem de água com sacarose com base no consumo total
de líquido total consumido por testes, indica uma diminuição na preferência por água com
sacarose bem como a Figura 05 - que mostra esse consumo em termos de porcentagem de
consumo de água e de água com sacarose, tendo como base (100%) o consumo médio de
cada um dos líquidos nos três testes que antecederam o regime de estresse - que indica a
que a preferência por água com sacarose diminuiu inclusive em relação à porcentagem de
consumo de água.
De qualquer maneira os resultados parecem mostrar que a submissão à situação
operante após o regime de estresse pode ter produzido efeitos tanto sobre a recuperação do
consumo total de líquidos como na preferência pelo estímulo água com sacarose: o sujeito
6, nos testes 12 e 13, teve resultados muito semelhantes aos de linha de base (quase 100%
de água e água com sacarose) e o sujeito 7, embora não tenha voltado aos níveis pré-
estresse, teve o consumo de água com sacarose aumentado muito mais rapidamente e para
56
muito mais perto dos níveis pre-éstresse do que os níveis de consumo de água (indicando
uma recuperação óbvia da preferência, para níveis aparentemente maiores do que os
anteriores)
“Medida de Preferência pelo Estímulo Reforçador”
Sujeito 06
A Figura 06 mostra o total de respostas por sessão, do sujeito 06, nas barras
correspondentes à água e à água com sacarose, antes e depois da submissão ao protocolo
de estresse.
Observa-se que nas primeiras sessões, antes da submissão ao protocolo de estresse,
há uma taxa de respostas maior na barra da direita, tanto quando essa corresponde à água
quanto quando corresponde à água com sacarose. Somente na sessão 09, com a
apresentação da água com sacarose na barra da esquerda e uma maior taxa de respostas
nesta barra em comparação à da direita, parece que o responder ficou sob controle de água
com sacarose, pois mesmo com a alternação do lado de apresentação do estímulo, a taxa de
respostas mais alta ocorreu na barra relacionada a ele. Esta preferência parece ter se
mantido na sessão seguinte e, na sessão 11, a menor taxa de respostas na barra referente à
água com sacarose pode dever-se à mudança no lado de apresentação estímulo, pois não se
observa um decréscimo na taxa de respostas referente à água com sacarose semelhante à
das primeiras sessões.
FIGURA 06: Total de respostas do sujeito 06 nas barras correspondentes à água e à água com sacarose por sessão. O espaço em branco indica o intervalo no qual o sujeito foi submetido ao protocolo de estresse. O ponto azul escuro indica a água com sacarose na direita e o ponto azul claro na esquerda. O ponto vermelho indica a água na direita e o laranja na esquerda.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
45001 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34
sacarose
água
SUJEITO 06
57
Da sessão 13 à sessão 18, a taxa de respostas na barra correspondente à água com
sacarose foi sempre maior que na correspondente à água, o que indicaria, então, uma
preferência mais clara por este estímulo.
Após a submissão ao protocolo de estresse, nota-se que o sujeito volta a apresentar
maiores taxas de respostas na barra da direita, correspondente à água com sacarose na
sessão 01, mas correspondente à água nas sessões 02, 03 e 04. Somente na sessão 05 o
sujeito volta a apresentar maiores taxas de respostas nas barras correspondentes à água
com sacarose, mesmo quando há alternação do lado de apresentação dos estímulos. Na
sessão 13, nota-se um maior número de respostas na barra referente à água, o que,
provavelmente, se deve à alternação do lado de apresentação dos estímulos.
Além disso, verifica-se que o sujeito apresenta aproximadamente o mesmo número
de respostas que o fazia nas últimas sessões antes da exposição ao protocolo de estresse, a
partir da sessão 03 desta segunda submissão à fase operante.
A Figura 07 apresenta a taxa acumulada de respostas do sujeito 06 nas barras
correspondentes à água e água com sacarose, nas sessões 01, 02 03, 04, 07, 08, 09 e 10 da
fase operante que aconteceram antes da submissão ao estresse.
Até a sessão 08, nota-se que a localização da barra – nos lados esquerdo e direito –
parece controlar fortemente o desempenho do sujeito, de modo que o sujeito taxa de
respostas na barra do lado direito é sempre maior, independentemente do bebedouro
correspondente conter água ou água com sacarose. Ou seja, aparentemente a diferença
entre estímulos reforçadores não teve o efeito de aumentar a taxa das respostas na barra
correspondente ao estímulo água com sacarose.
FIGURA 07: Taxa acumulada de respostasdo sujeito 06 nas sessões 01, 02, 03, 04, 07, 08, 09 e 10 na fase operante antes da submissão ao protocolo de estresse.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
173
345
517
689
861
1033
1205
1377
1549
1721
1893
2065
2237
2409
2581
2753
2925
3097
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 02
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
170
339
508
677
846
1015
1184
1353
1522
1691
1860
2029
2198
2367
2536
2705
2874
3043
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 03
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
212
423
634
845
1056
1267
1478
1689
1900
2111
2322
2533
2744
2955
3166
3377
3588
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 01
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
109
217
325
433
541
649
757
865
973
1081
1189
1297
1405
1513
1621
1729
1837
1945
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 04
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
217
433
649
865
1081
1297
1513
1729
1945
2161
2377
2593
2809
3025
3241
3457
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 07
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
178
355
532
709
886
1063
1240
1417
1594
1771
1948
2125
2302
2479
2656
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 08
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
141
281
421
561
701
841
981
1121
1261
1401
1541
1681
1821
1961
2101
2241
2381
2521
2661
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 09
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
149
297
445
593
741
889
1037
1185
1333
1481
1629
1777
1925
2073
2221
2369
2517
2665
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 10
58
Após nove sessões, parece ter-se instalado um controle diferencial pelo estímulo
reforçador água com sacarose, uma vez que a taxa de respostas na barra do lado
correspondente a este estímulo (independentemente do lado) foi maior que na barra do lado
correspondente à água. Este desempenho repete-se na décima sessão.
A Figura 08 mostra a taxa acumulada de respostas do sujeito 06 nas barras
correspondentes à água e à água com sacarose nas sessões 13, 14, 15 16, 17 e 18 da fase
operante, também antes da submissão ao protocolo de estresse. Nestas sessões, o lado de
apresentação dos estímulos água e água com sacarose foi mudado de sessão para sessão a
depender do desempenho do sujeito. Nas sessões 13 e 14, apresentou-se água com sacarose
na direita e água na esquerda, pois na sessão 13 a preferência do sujeito pelo estímulo água
com sacarose não estava muito claro, conforme se tornou na sessão seguinte, com a mesma
posição dos estímulos. Na sessão 15, então, mudou-se a posição de apresentação dos
estímulos, ficando a barra da direita correspondente à água e a da esquerda correspondente
à sacarose. A maior taxa de respostas do sujeito na barra esquerda, nesta sessão, sugere que
o maior valor reforçador da água com sacarose controlaria o responder, mesmo com a
mudança do lado de apresentação dos estímulos.
Na sessão 16, modificou-se novamente o lado de apresentação dos estímulos – água
com sacarose na barra da direita e água na barra da esquerda. A taxa de respostas do sujeito
mais uma vez foi maior na barra correspondente à água com sacarose, mesmo com a
mudança do lado de apresentação deste estímulo. Na sessão seguinte (17) inverteu-se
novamente o lado de apresentação dos estímulos e mais uma vez o desempenho do sujeito
pareceu ser controlado pelo maior valor reforçador da água com sacarose. do meio para o
final da sessão. Repetiu-se a mesma posição de apresentação dos estímulos na sessão
seguinte (18), quando a preferência pelo estímulo água com sacarose ficou mais claro.
FIGURA 08: Taxa acumulada de respostas do sujeito 06 nas seis últimas sessões da fase operante antes da
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
198
395
592
789
986
1183
1380
1577
1774
1971
2168
2365
2562
2759
2956
3153
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 13
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
179
357
535
713
891
1069
1247
1425
1603
1781
1959
2137
2315
2493
2671
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 14
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
143
285
427
569
711
853
995
1137
1279
1421
1563
1705
1847
1989
2131
2273
2415
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 15
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
216
431
646
861
1076
1291
1506
1721
1936
2151
2366
2581
2796
3011
3226
3441
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 16
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
150
299
448
597
746
895
1044
1193
1342
1491
1640
1789
1938
2087
2236
2385
2534
2683
2832
2981
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 17
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
204
407
610
813
1016
1219
1422
1625
1828
2031
2234
2437
2640
2843
3046
3249
3452
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 18
59
Nota-se que, independentemente do lado em que se apresentam os estímulos (água
na direita e água com sacarose na esquerda ou água com sacarose na direita e água na
esquerda), o sujeito tendeu a emitir taxa maior de respostas do lado correspondente ao
estímulo reforçador água com sacarose, o que mostraria seu maior valor reforçador.
Nas sessões 13 e 17, que foram sessões nas quais houve uma mudança na posição
de apresentação dos estímulos, parece que o lado exerceu ainda algum controle sobre o
desempenho do sujeito, ficando a preferência pelo estímulo água com sacarose mais clara
nas sessões seguintes (14 e 18).
Após as seis semanas de submissão ao protocolo de estresse, o sujeito 06 foi
novamente submetido à medida do valor reforçador do estímulo reforçador em um
esquema concorrente FR15 – FR15.
A Figura 09 mostra a taxa acumulada de respostas do sujeito 06 nas seis primeiras
sessões da fase operante de medida de preferência pelo estímulo reforçador após as seis
semanas de submissão ao protocolo de estresse.
Nota-se que o sujeito 06, na sessão 01, emitiu taxa de respostas maior do lado
correspondente à água com sacarose (direita) e nas três sessões seguintes taxa de respostas
maior do mesmo lado (direito), então correspondente à água. Nas sessões 05 e 06, a taxa de
respostas do sujeito 06 foi maior do lado correspondente à água com sacarose (esquerda).
Aparentemente, foi na sessão 05 que as taxas de respostas mostram uma preferência pela
água com sacarose, ou melhor controle pelo estímulo reforçador de maior valor.
FIGURA 09: Taxa acumulada de respostas do sujeito 06 nas seis primeiras sessões (01, 02, 03, 04, 05, e 06) após a submissão ao protocolo de estresse.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
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359
717
1075
1433
1791
2149
2507
2865
3223
3581
direita-sacaroseesquerda-água
SESSÃO 01
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
333
665
997
1329
1661
1993
2325
2657
2989
3321
3653
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 02
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
338
675
1012
1349
1686
2023
2360
2697
3034
3371
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 03
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
257
513
769
1025
1281
1537
1793
2049
2305
2561
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 04
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
207
413
619
825
1031
1237
1443
1649
1855
2061
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 05
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
205
409
613
817
1021
1225
1429
1633
1837
2041
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 06
60
A Figura 10 apresenta a taxa acumulada de respostas do sujeito 06 nas quatro
sessões finais da fase operante de medida de preferência pelo estímulo reforçador após a
submissão ao protocolo de estresse.
Na sessão 12, o sujeito emitiu uma maior taxa de respostas na barra correspondente
à água com sacarose (direita). Na sessão 13, com a mudança na posição de apresentação
dos estímulos (água na barra da direita e água com sacarose na barra da esquerda), não
houve maior taxa de respostas na barra correspondente à água com sacarose (esquerda).
Houve, sim, um aumento na taxa dessas respostas do meio para o final da sessão.
Na sessão 14, não houve uma inversão na posição de apresentação dos estímulos e
verificou-se uma taxa de respostas maior na barra correspondente à água com sacarose. Na
sessão 15, inverteu-se novamente a posição de apresentação dos estímulos novamente
houve uma taxa de respostas maior na barra correspondente à água com sacarose.
Nota-se, de maneira semelhante aos resultados observados antes da submissão ao
protocolo de estresse que, independentemente do lado em que se apresentavam os
estímulos (água e água com sacarose), o sujeito tendeu a emitir uma taxa maior de
respostas do lado correspondente ao estímulo água com sacarose.
Verifica-se, portanto, que a partir da sessão 05, o sujeito passou a ter um padrão de
respostas que indicaria preferência pela água com sacarose, preferência essa também
observada antes da submissão ao protocolo de estresse. Este padrão se explicaria pelo
controle diferencial exercido pelo maior valor reforçador do estímulo água com sacarose,
em relação ao estímulo água.
Sujeito 07
FIGURA10: Taxa acumulada de respostas do sujeito 06 nas quatro últimas sessões (12, 13, 14 e 15) da fase operante após a submissão aos estressores.
0
500
10001500
2000
2500
30003500
4000
4500
1
142
283
424
565
706
847
988
1129
1270
1411
1552
1693
1834
1975
2116
2257
2398
2539
2680
2821
2962
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 13
0500
100015002000
25003000350040004500
1
106
211
316
421
526
631
736
841
946
1051
1156
1261
1366
1471
1576
1681
1786
1891
1996
2101
2206
2311
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 12
0
500
10001500
2000
2500
30003500
4000
4500
1
144
287
430
573
716
859
1002
1145
1288
1431
1574
1717
1860
2003
2146
2289
2432
2575
2718
2861
3004
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 14
0500
100015002000
25003000350040004500
1
106
211
316
421
526
631
736
841
946
1051
1156
1261
1366
1471
1576
1681
1786
1891
1996
2101
2206
2311
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 15
61
A Figura 11 mostra o total de respostas do sujeito 07 na barra correspondente à
água com sacarose e o total de respostas na barra correspondente à água, por sessão, antes
e depois da submissão do sujeito ao protocolo de estresse.
Nota-se que nas sessões 01 e 02 anteriores à submissão ao protocolo de estresse, o
sujeito apresenta maior taxa de respostas na barra da esquerda, independentemente do
estímulo a ela correspondente. A partir da sessão 03, verifica-se que o sujeito tende a
apresentar uma taxa maior de respostas na barra correspondente à água com sacarose,
independentemente do lado em que este estímulo é apresentado.
Parece que o lado de apresentação dos estímulos exerce algum controle sobre o
desempenho do sujeito, uma vez que, quando há mudança nesse, em determinadas sessões
(02, 05, 07, 09, 10, 12, 13, 14, e 16), a taxa de respostas na barra correspondente à água
com sacarose tende a decrescer. De qualquer maneira, a taxa de respostas na barra
referente a este estímulo só é menor que na referente à água nas sessões 14 e 17, resultado
esse que parece dever-se à alternação no lado de apresentação dos estímulos.
Ainda, observa-se que nas últimas sessões antes da submissão aos estressores, o
sujeito apresentou aproximadamente 4000 respostas.
Após a exposição ao protocolo de estresse, observa-se que o sujeito tende a
apresentar maiores taxas de respostas nas barras correspondentes à água com sacarose por
quatro sessões, independentemente do lado em que este estímulo é apresentado. Nas
sessões 06, 08, 09, 10, 11, 13 e 15, também se verifica maior taxa de respostas nas barras
correspondentes à água com sacarose.
Nas sessões 05, 07, 10, 12 e 14, em que há uma alteração no lado de apresentação
dos estímulos, a taxa de respostas na barra correspondente à água com sacarose tende a
decrescer e, com exceção da sessão 10, ficar menor que a correspondente à água. Parece,
FIGURA 11: Total de respostas do sujeito 07 nas barras correspondentes à água e à água com sacarose por sessão. O espaço em branco indica o intervalo no qual o sujeito foi submetido aoao protocolo de estresse. O ponto azul escuro indica a água com sacarose na direita e o ponto azul claro na esquerda. O ponto vermelho indica a água na direita e o laranja na esquerda.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35
sacarose
água
SUJEITO 07
62
no entanto, ser este um efeito da alternação do lado de apresentação dos estímulos, pois,
em uma sessão adicional, com os estímulos sendo apresentados do mesmo lado, a taxa de
respostas na barra correspondente à água com sacarose tende a ser maior que a taxa de
respostas na barra correspondente à água.
Também, observa-se que o sujeito, nas duas primeiras sessões após a submissão ao
estresse, apresentou, aproximadamente, 3000 respostas.
A Figura 12 mostra a taxa acumulada de respostas do sujeito 07 nas sessões 01, 02,
03 04, 05 e 06 de medida de preferência na fase operante antes da submissão ao protocolo
de estresse.
Na sessão 01, com água correspondente à barra da direita e água com sacarose
correspondente à barra da esquerda, o sujeito apresenta uma taxa de respostas maior na
barra da esquerda. Na sessão 02 houve, então uma mudança na posição de apresentação
dos estímulos e o sujeito continuou apresentando uma maior taxa de respostas na barra do
lado esquerdo. Na sessão 03, manteve-se a mesma posição de apresentação dos estímulos
que na sessão 02 e o sujeito passou a apresentar maior taxa de respostas na barra do lado
direito, correspondente à sacarose. As mesmas posições de apresentação dos estímulos
mantiveram-se na sessão 04 e a taxa de respostas na barra da direita permaneceu mais alta.
Na sessão 05, então, inverteram-se os lados de apresentação dos estímulos, a água
correspondeu à barra da direita e a sacarose à barra da esquerda. O sujeito apresentou,
então, maior taxa de respostas na barra da esquerda. Invertendo-se novamente os lados de
apresentação dos estímulos na sessão 06 – água com sacarose na direita e água na esquerda
– o sujeito apresentou, então maior taxa de respostas na barra da direita, correspondente à
água com sacarose.
FIGURA 12: Taxa acumulada de respostas do sujeito 07 nas sessões 01, 02, 03, 04, 05 e 06 na fase operante antes da exposição ao protocolo de estresse.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1 380 759 1138 1517 1896 2275 2654 3033 3412
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 01
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
181
361
541
721
901
1081
1261
1441
1621
1801
1981
2161
2341
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 02
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1 342 683 1024 1365 1706 2047 2388 2729 3070
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 03
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
244
487
730
973
1216
1459
1702
1945
2188
2431
2674
2917
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 04
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
241
481
721
961
1201
1441
1681
1921
2161
2401
2641
2881
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 05
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
278
555
832
1109
1386
1663
1940
2217
2494
2771
3048
3325
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 06
63
Nota-se, então, no sujeito 07, desde as primeiras sessões de medida de preferência
pelo estímulo reforçador, uma taxa mais alta de respostas na barra correspondente à água
com sacarose. Na sessão 02, na qual houve uma mudança na posição de apresentação dos
estímulos água e água com sacarose, a taxa de respostas foi maior na barra da esquerda,
correspondente à água. Pode ter ocorrido, nesta sessão, uma influência do lado no
desempenho do sujeito, pois na sessão anterior, esse também apresentou maior taxa de
respostas do lado esquerdo então correspondente à água com sacarose.
Na sessão 03, na qual os estímulos foram apresentados do mesmo lado que na
sessão 02, o sujeito apresentou, então, maior taxa de respostas do lado direito,
correspondente à água com sacarose. Nas sessões 04, 05 e 06 o sujeito permaneceu
apresentando maior taxa de respostas do lado correspondente à água com sacarose, mesmo
nas sessões nas quais houve uma mudança na posição de apresentação dos estímulos
(sessões 05 e 06).
Nota-se, ainda, que nas duas primeiras sessões, o número total médio de respostas
apresentadas pelo sujeito foi de aproximadamente 1000 respostas por sessão, enquanto que
nas sessões 03, 04 e 05, o sujeito deu aproximadamente 2500 respostas por sessão e na
sessão 06 o número de respostas é de aproximadamente 4000.
A Figura 13 mostra a taxa acumulada de respostas do sujeito 07 nas sessões 13, 14,
15 16, 17 e 18 da fase operante de medida de preferência pelo estímulo reforçador antes da
submissão ao protocolo de estresse.
Na sessão 13, nota-se uma taxa de respostas maior na barra (esquerda)
correspondente à água com sacarose. Na sessão 14, com a mudança dos lados
correspondentes aos estímulos – água com sacarose na barra da direita e água na barra da
FIGURA 13: Taxa acumulada de respostas do sujeito 07 nas sessões seis últimas sessões (13, 14, 15, 16, 17 e 18) na fase operante, antes da submissão ao protocolo de estresse.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
261
521
781
1041
1301
1561
1821
2081
2341
2601
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 13
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
337
673
1009
1345
1681
2017
2353
2689
3025
3361
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 14
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
272
543
814
1085
1356
1627
1898
2169
2440
direita-sacaroseesquerda-água
SESSÃO 15
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
45001
257
513
769
1025
1281
1537
1793
2049
2305
2561
2817
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 16
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
372
743
1114
1485
1856
2227
2598
2969
3340
direita-sacaroseesquerda-água
SESSÃO 17
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
308
615
922
1229
1536
1843
2150
2457
2764
3071
3378
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 18
64
esquerda, não se observa uma taxa de respostas maior na barra correspondente à água com
sacarose, mas nota-se um aumento na taxa de respostas nesta barra do meio para o final da
sessão. Na sessão seguinte (15), sem a mudança dos lados de apresentação dos estímulos,
observa-se uma taxa de respostas maior na barra correspondente à água com sacarose.
Na sessão 16, há uma inversão nos lados de apresentação dos estímulos – água com
sacarose na barra da esquerda e água na barra da direita e observa-se uma taxa de respostas
maior na barra correspondente à água com sacarose. Na sessão 17, então, muda-se o lado
de apresentação dos estímulos – água com sacarose na barra da direita e água na barra da
esquerda, e não se observa uma taxa de respostas maior na barra correspondente à água
com sacarose. Nota-se, da mesma maneira que na sessão 14, um aumento na taxa de
respostas nesta barra (direita) do meio para o final da sessão.
Na sessão 18, sem ter havido mudança no lado de apresentação dos estímulos,
observa-se uma taxa de respostas maior na barra (direita) correspondente à água com
sacarose.
Nota-se, de maneira semelhante ao sujeito 06, que independentemente do lado em
que se apresentam os estímulos (água na direita e água com sacarose na esquerda ou água
com sacarose na direita e água na esquerda), o sujeito tende a apresentar uma taxa maior de
respostas do lado correspondente ao estímulo água com sacarose.
Nas sessões 14 e 17, que foram sessões nas quais houve uma mudança na posição
de apresentação dos estímulos, parece que o lado exerceu ainda algum controle sobre o
desempenho do sujeito, ficando a preferência pelo estímulo água com sacarose mais clara
nas sessões seguintes (15 e 18).
Observa-se ainda, que nas sessões 13, 14, 15, 16, 17 e 18 o sujeito deu,
aproximadamente de 3000 a 4000 respostas por sessão.
65
Os dados das seis últimas sessões desta fase indicariam, portanto, uma preferência
pela água com sacarose, de ambos os sujeitos, em uma situação operante, de esquema
concorrente FR15 – FR15.
Após as seis semanas de submissão ao protocolo de estresse, o sujeito 07 foi
novamente submetido à medida de preferência pelo estímulo reforçador em um esquema
concorrente FR15 – FR15, com água em um dos lados e água com sacarose do outro, para
que se pudessem verificar possíveis efeitos da submissão ao protocolo de estresse na
preferência pelo estímulo reforçador água com sacarose.
A Figura 14 mostra a taxa acumulada de respostas do sujeito 07 nas quatro
primeiras sessões da fase operante de medida de preferência pelo estímulo reforçador após
a submissão ao protocolo de estresse.
Na sessão 01, a barra da direita correspondeu à sacarose e a barra da esquerda à
água. O sujeito apresentou maior taxa de respostas na barra da direita. Na sessão 02,
mudou-se a posição de apresentação dos estímulos – água na direita e água com sacarose
na esquerda – e o sujeito apresentou maior taxa de respostas na barra da esquerda.
Na sessão 03, inverteu-se novamente a posição de apresentação dos estímulos –
água com sacarose na direita e água na esquerda – e a maior taxa de respostas
correspondeu à barra da esquerda. Somente no final da sessão houve um aumento na taxa
de respostas na barra da direita. Na sessão 04 mantiveram-se, então, as posições de
apresentação dos estímulos e a maior taxa de respostas correspondeu à barra da direita.
Observou-se, portanto, desde as primeiras sessões, uma aparente preferência pelo
estímulo água com sacarose, além de uma influência da posição dos estímulos quando da
FIGURA 14: Taxa acumulada de respostas do sujeito 07 nas primeiras sessões (01, 02, 03 e 04) da fase operante após exposição ao protocolo de estresse.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
45001
167
333
499
665
831
997
1163
1329
1495
1661
1827
1993
2159
2325
2491
2657
2823
2989
3155
3321
3487
3653
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 01
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
174
347
520
693
866
1039
1212
1385
1558
1731
1904
2077
2250
2423
2596
2769
2942
3115
3288
3461
3634
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 02
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
167
333
499
665
831
997
1163
1329
1495
1661
1827
1993
2159
2325
2491
2657
2823
2989
3155
3321
3487
3653
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 03
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
124
247
370
493
616
739
862
985
1108
1231
1354
1477
1600
1723
1846
1969
2092
2215
2338
2461
2584
2707
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 04
66
mudança dessa (03). Em uma segunda sessão com os estímulos apresentados do mesmo
lado, o sujeito apresenta maior taxa de respostas na barra correspondente à água com
sacarose (sessão 04).
A Figura 15 mostra a taxa acumulada do sujeito 07 nas cinco últimas sessões (11,
12, 13, 14 e 15) da medida de preferência pelo estímulo reforçador após a submissão aos
estressores.
Na sessão 11, observa-se que o sujeito apresenta maior taxa de respostas na barra
correspondente à água com sacarose (esquerda). Na sessão seguinte (12), trocou-se a
posição e apresentação dos estímulos – água com sacarose na direita e água na esquerda e a
maior taxa de respostas deu-se na barra da esquerda. Não se observa aumento significativo
da taxa de respostas na barra correspondente à água com sacarose conforme ocorreu nas
sessões 15 e 18 da medida de preferência pelo estímulo reforçador antes da submissão ao
protocolo de estresse.
Na sessão 13, não se altera a posição de apresentação dos estímulos e verifica-se
maior taxa de respostas na barra da direita, correspondente à água com sacarose.
Na sessão 14, altera-se novamente a posição de apresentação dos estímulos – água
com sacarose na esquerda e água na direita – e se observa maior taxa de respostas na barra
da direita. Novamente, de maneira semelhante à sessão 12, não se observa aumento
significativo na taxa de respostas na barra da esquerda, apesar de verificar-se um pequeno
aumento nessa no final da sessão.
Na sessão 15, sem haver alteração na posição de apresentação dos estímulos,
observa-se maior taxa de respostas na barra correspondente à água com sacarose.
FIGURA 15: Taxa acumulada de respostas do sujeito 07 nas últimas sessões (11, 12, 13, 14 e 15) da fase operante, após a exposição aos estressores.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
208
415
622
829
1036
1243
1450
1657
1864
2071
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 11
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
369
737
1105
1473
1841
2209
2577
2945
3313
3681
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 12
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
245
489
733
977
1221
1465
1709
1953
2197
direita-sacarose
esquerda-água
SESSÃO 13
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
45001
250
499
748
997
1246
1495
1744
1993
2242
2491
2740
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 14
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1
221
441
661
881
1101
1321
1541
1761
1981
2201
2421
direita-água
esquerda-sacarose
SESSÃO 15
67
Nota-se que o sujeito tende a apresentar maiores taxas de respostas na barra
correspondente à água com sacarose, independentemente do lado que essa se apresenta a
ele. Exceção ocorre nas sessões nas quais há uma mudança na posição de apresentação dos
estímulos – em uma sessão apresenta-se a água na barra da direita e a água com sacarose
na barra da esquerda, observa-se maior taxa de respostas na barra correspondente à água
com sacarose e na sessão seguinte apresenta-se a água com sacarose na barra da direita e a
água na barra da esquerda e nota-se uma maior taxa de respostas na barra correspondente à
água. Observa-se, então, maior taxa de respostas na barra correspondente à água com
sacarose na segunda sessão com os estímulos apresentados na mesma posição. Exemplo
disso são as sessões 13 e 15.
O resultados observados na fase operante de medida de preferência pelo estímulo
reforçador parecem demonstrar que os sujeitos 06 e 07 apresentam preferência pelo
estímulo água com sacarose e que, portanto, este teria maior valor reforçador que a água
nestas condições.
Após a submissão ao Chronic Mild Stress, aparentemente, o desempenho do sujeito
06 tem uma alteração.
O sujeito 06 parece não preferir o estímulo água com sacarose nas primeiras 04
sessões. Talvez o sujeito estaria, nestas sessões, entrando novamente em contato com os
dois estímulos reforçadores e apresentando preferência pelo lado direito. O sujeito
apresentou preferência pela água com sacarose na quinta sessão. Assim, parece que o CMS
tem o efeito de diminuir o valor reforçador do estímulo também em uma medida operante.
No entanto, diferentemente do que ocorre nos testes de consumo de líquido, em que a
preferência dos sujeitos pela água com sacarose mantém-se baixa após o término da
apresentação dos estressores, a exposição contínua à condição operante parece produzir o
68
efeito de restabelecimento da preferência pela água com sacarose, tanto na situação
operante quanto nos testes de consumo de líquido.
Quanto ao sujeito 07, não se observa uma mudança na preferência pela água com
sacarose desde as primeiras sessões de medida de preferência operante após o CMS. Nota-
se, por outro lado, um efeito do CMS nos resultados relativos aos testes de consumo de
líquido. Nesses, observa-se uma diminuição no consumo total de líquido e na preferência
pela água com sacarose com a apresentação crônica dos estressores suaves, a qual tende a
voltar a aumentar com o término da submissão ao estresse e o início da fase operante.
Nesse sentido, parece que a submissão a uma medida operante de preferência pelos
mesmos estímulos reforçadores que são utilizados nos testes de consumo de líquido
interfere nestes últimos, no sentido de aumentar a preferência pela água com sacarose.
69
DISCUSSÃO
Alterações de peso
Em relação ao controle de peso dos sujeitos, não se observou uma diminuição a
menos de 80% do peso ad lib no peso dos sujeitos submetidos a estresse. Dado que esta é
uma redução usual em muitos estudos, não se deveria atribuir à diminuição de peso, em si,
os resultados decorrentes da submissão ao protocolo de estresse.
Poder-se-ia supor que o peso dos sujeitos (05, 06, 07 e 08) diminuiu por causa da
privação de água (que foi mantida) e por causa de um consumo menor de líquido que os
testes demonstraram. Assim, embora se possa dizer que os sujeitos consumiram menos
líquido e diminuíram a preferência por água com sacarose como efeito do estresse, não se
poderia dizer que o efeito do estresse é decorrente da perda de peso. Pode-se, ainda, estar-
se diante de outro efeito do estresse: diminuição de peso decorrente de uma provável
diminuição do consumo de alimento/ água cotidiano. No presente trabalho, entretanto, não
foram realizadas medidas de consumo de água e comida cotidianos que permitiriam uma
afirmação a respeito deste outro efeito, mas esta poderia ser uma questão a se investigar.
Testes semanais de consumo de líquido
Os resultados de Willner e cols. (1987) mostraram um decréscimo no consumo de
água com sacarose e de água, nos sujeitos submetidos aos estressores em comparação aos
animais do grupo controle, já nas primeiras três semanas de teste. Notou-se, no estudo
destes autores, ainda, que o consumo de água não foi maior que o consumo de água com
sacarose em nenhum dos testes, apesar do decréscimo do consumo dos dois líquidos.
Em relação à preferência, os autores (1987) afirmam ter observado uma mudança a
partir da quarta semana de submissão aos estressores. A preferência pela água com
70
sacarose nos animais estressados teria sido significativamente reduzida em relação aos
sujeitos do grupo controle. Estes últimos teriam, ainda, apresentado um aumento no
consumo de e na preferência por água com sacarose no decorrer das semanas.
Willner e cols. (1987) não apresentaram resultados individuais dos sujeitos ou uma
comparação intra sujeitos: realizaram uma análise de preferência com base na porcentagem
de água com sacarose consumida pelos sujeitos no decorrer dos testes semanais, tomando
por base (100%) o consumo total de líquido dos sujeitos por teste, e apresentaram os
resultados comparando o grupo experimental com o grupo controle. Nos resultados são
apresentados apenas o consumo de água com sacarose no teste realizado antes da
submissão aos estressores e a partir da terceira semana de estresse, quando a porcentagem
de consumo de água com sacarose dos sujeitos submetidos ao estresse foi próxima de 80%
daquilo que era consumido antes desta submissão, decrescendo até aproximadamente
60/70% a partir da quarta, até a sétima semana. Nesse sentido, parece ter havido também
uma redução na porcentagem de consumo de água com sacarose nestes sujeitos, quando se
comparou seu consumo antes da submissão ao protocolo de estresse e a partir da terceira
semana de apresentação dos estressores. Segundo Willner e cols. (1987) observou-se,
ainda, que a redução na quantidade de consumo de líquido e na preferência por sacarose
manteve-se por um período de 2 a 4 semanas após o término da exposição aos estressores,
naqueles sujeitos que não foram submetidos ao tratamento crônico com
desmetilemipramina (DMI). Nos sujeitos para os quais se administrou continuamente DMI,
por duas semanas, notou-se um aumento no consumo de água com sacarose e a
reinstalação da preferência
Os resultados obtidos com os sujeitos 05 e 08, no presente estudo, indicam uma
diminuição no consumo total de líquido (de 39 ml para 08 ml para o sujeito 05 e de 46 ml –
71
para 15 ml para o sujeito 08) e na preferência por água com sacarose (22% do consumo em
relação aos testes 01, 02 e 03 para o sujeito 05 e 37,5% para o sujeito 08/ de 87% de
consumo de água com sacarose para 62,5% para o sujeito 05 e de 91,3% para 71,4% para o
sujeito 08), e uma manutenção dessa diminuição após o término da exposição aos
estressores, e, portanto, assemelham-se aos de Willner e cols. (1987) em relação ao grupo
de sujeitos submetidos ao protocolo de estresse.
Os resultados dos testes de consumo de líquido semanais dos sujeitos 06 e 07, até o
término na exposição ao protocolo de estresse (teste 10) e, portanto, antes da submissão à
fase operante, assemelham-se aos dos sujeitos 05 e 08 e, portanto, aos obtidos por Willner
e cols. (1987) com os sujeitos submetidos ao estresse, pois a submissão ao protocolo de
estresse também produziu um decréscimo no consumo de líquido (de 28 ml para 10 ml
para o sujeito 06 e de 33 ml para 09 ml para o sujeito 07) e na preferência pela água com
sacarose (32,8% do consumo de água com sacarose em relação aos testes 01, 02 e 03 para
o sujeito 06 e 26,4% para o sujeito 07/ de 83,6% de consumo de sacarose para 58,8% para
o sujeito 06 e de 78,8% para 62,5% para o sujeito 07).
Vale considerar que, no presente estudo, não foi realizada uma medida por grupo.
Os resultados obtidos nos testes semanais de consumo de líquido foram analisados
individualmente, por sujeito. Supôs-se, neste estudo que outra medida de porcentagem,
tendo por base o consumo antes do estresse, poderia facilitar a análise dos dados, no que se
refere à análise de preferência por um estímulo. Willner e cols. (1987) compararam a
preferência dos sujeitos submetidos ao estresse com a do grupo controle e mostraram
grande diferença na preferência entre os dois grupos. Ao se analisar individualmente a
preferência pelos estímulos, comparando-se consumo durante o estresse com consumo
antes do estresse, no presente estudo, observou-se que a porcentagem de consumo tendo-se
72
como base (100%) o consumo total de líquido por teste não mostrava claramente uma
diminuição na preferência, pois o consumo de água nos testes (principalmente a partir do
teste 06 – conforme observado na Figura 03) já foi muito baixo e, portanto, mesmo
diminuindo a quantidade que a água com sacarose, esta não poderia diferenciar-se, em
mililitros, de maneira relevante.
Verificou-se, então, no presente estudo, que o consumo total de líquido e a
preferência pela água com sacarose decresceram com a submissão ao protocolo de estresse,
principalmente após a quarta semana de exposição, para todos os sujeitos (05, 06, 07e 08),
replicando-se o fenômeno observado por Willner e cols. (1987) com o grupo de sujeitos
estressados.
Poder-se-ia supor que a passagem por uma situação na qual a consequência
depende da resposta do sujeito interferiria nos efeitos do estresse sobre os resultados nos
testes de consumo de líquido durante a submissão aos estressores, cuja apresentação
independia das respostas dos sujeitos. A passagem por uma situação de dependência entre
resposta e consequência poderia, por exemplo, evitar a diminuição do consumo de água
com sacarose no decorrer das semanas de exposição aos estressores. Esta suposição se
apóia na afirmação de Seligman (1975) de que sujeitos que foram submetidos a choques
“controláveis” não se tornavam “desamparados”, isto é, uma vez aprendida a relação
resposta-consequência, os sujeitos continuam a emitir repostas que produzem as
consequências.
Medida operante de preferência e testes de consumo de líquido
Dois sujeitos do presente estudo (06 e 07) passaram por uma contingência na qual o
responder produziu água com sacarose ou água,, na fase operante, em esquema concorrente
FR15 – FR15: por 05 semanas, o comportamento destes sujeitos produziu,
73
diferencialmente, reforçadores. Esta contingência parece não ter sido condição para mudar
o desempenho dos sujeitos em relação ao consumo de água e água com sacarose durante o
estresse, nas situações de teste. Parece importante considerar, no entanto, que se observou
claramente preferência pelo estímulo reforçador água com sacarose na condição operante,
antes da exposição ao CMS. Nesta condição, a água com sacarose teve maior valor
reforçador (o sujeito trabalhou mais por este estímulo) que a água, o que foi coerente com
o desempenho de beber do sujeito nos testes de consumo de líquido semanais.
No primeiro teste de consumo de líquido, o consumo de água com sacarose dos
sujeitos 05 e 08 foi próximo ao da água, tanto em comparação com os outros dois testes
antes da submissão ao protocolo de estresse quanto em comparação aos sujeitos 06 e 07,
que já haviam tido contato com estes dois estímulos na fase operante. Aparentemente,
portanto, o contato prévio com os estímulos pode ter interferido neste teste. Nos dois testes
posteriores, no entanto, os sujeitos 05 e 08 apresentaram maior consumo de água com
sacarose, o que sugere que um contato com o estímulo no teste foi suficiente para
estabelecer a preferência pela água com sacarose.
Um outro estudo no qual houvesse uma exposição contínua de sujeitos a uma
situação operante durante a submissão aos estressores, poderia produzir resultados mais
claros sobre o efeito da submissão ao Chronic Mild Stress sobre o desempenho operante e
do desempenho operante sobre o consumo de água e de água com sacarose nos testes de
consumo de líquido.
Neste estudo observou-se que o baixo consumo de líquido e a preferência por água
com sacarose tendem a permanecer bem abaixo da linha de base (próximos ao que se
74
observa nos três últimos testes – 08, 09 e 10 – realizados nas três últimas semanas de
exposição aos estressores), nos sujeitos 05 e 08, mesmo após o final do protocolo de
estresse (testes 11, 12 e 13). No presente estudo, não se submeteu os sujeitos a tratamento
com drogas (como fez Willner e cols.) , mas os sujeitos 06 e 07 foram novamente
expostos, ao final de seis semanas de protocolo de estresse, à medida operante de
preferência pelo estímulo reforçador.
Nos sujeitos 06 e 07, após o término da exposição aos estressores e, portanto, após
o início da (segunda) fase operante, observou-se um aumento no consumo total de líquido,
principalmente de água com sacarose, e um aumento na preferência por água com
sacarose. Nesse sentido, parece que o efeito da submissão à fase operante depois do
estresse foi semelhante ao efeito da droga antidepressiva (DMI), de aumentar o consumo
de água com sacarose e reinstalar a preferência por este estímulo nos testes semanais de
consumo de líquido conduzidos na gaiola viveiro. Ou seja, diferentemente do observado
quanto à interferência da contingência operante anterior ao estresse sobre o efeito do CMS,
a submissão a uma condição operante depois do estresse parece ter produzido efeitos no
sentido de reverter o decréscimo no consumo de água com sacarose produzido pela
submissão aos estressores.
Medida operante de preferência pelo estímulo reforçador
Em relação aos resultados da fase operante de medida de preferência pelo estímulo
reforçador antes da submissão ao Chronic Mild Stress, os sujeitos 06 e 07 tiveram uma
clara preferência pelo estímulo água com sacarose e, portanto, este estímulo poderia ter
maior valor reforçador que a água nesta condição, dada a grande diferença nas taxas de
75
respostas nas barras correspondentes à água com sacarose em comparação à da água, uma
vez superado um controle inicial pela posição da barra sobre o responder.
Supondo-se que um esquema concorrente FR-FR fornece uma medida de
preferência por um estímulo reforçador e que se pode afirmar que o valor reforçador de um
estímulo pode ser inferido da taxa de respostas que têm como consequência este estímulo,
considera-se que o estímulo que controla a maior taxa de respostas é aquele que tem maior
valor reforçador. Assim, parece ser possível afirmar, com base nos dados acima descritos,
que a submissão ao protocolo de estresse produziu o efeito de diminuição do valor
reforçador da água com sacarose nas primeiras sessões após esta experiência, pelo menos
para o sujeito 06.
Para o sujeito 07, observou-se também uma preferência pela água com sacarose nas
sessões anteriores à submissão aos estressores. Nas sessões posteriores, o sujeito 07, desde
o início, mostrou ter preferência pela água com sacarose. Nesse sentido, parece que a
exposição ao protocolo de estresse não teria produzido efeito, em relação à medida
operante, neste sujeito. Uma pergunta que teria que ser feita é se a diminuição na
preferência por água com açúcar nos testes durante o estresse, para este sujeito, significou
ou não uma diminuição no valor reforçador da água com sacarose. Ou se a mera exposição
a uma situação em que antes o sujeito produzia o estímulo reforçador água com sacarose
teria sido suficiente como uma espécie de operação estabelecedora que aumentaria o valor
reforçador do estímulo água com sacarose. Ou ainda se, para este sujeito, a diferença na
concentração de água com sacarose, na sessão operante, seria a diferença entre um
estímulo reforçador de valor mais baixo (água com 2% de sacarose) para um estímulo
reforçador com maior valor (água com 8% de sacarose).
76
Parece relevante considerar que a preferência pelo estímulo água com sacarose foi
demonstrada, no presente estudo, no esquema concorrente FR15 – FR15, com uma
concentração de 8% de sacarose, enquanto que a concentração de sacarose no estímulo
água com sacarose utilizado nos testes semanais de consumo de líquido conduzidos na
gaiola viveiro, foi de 2%. A maior concentração de sacarose na condição operante pode ter
influenciado o desempenho dos sujeitos (neste caso parece que do sujeito 07 mais do que
do 06), intervindo, portanto, sobre a preferência pela água com sacarose medida na
condição operante utilizada. Pode, também, ter interferido no desempenho posterior dos
sujeitos 06 e 07, no efeito produzido pelo CMS, nos testes de consumo de líquido, quando
aparentemente os animais do operante se diferenciam.
Em relação a esta questão, seria importante fazer outros estudos que utilizassem
medidas operantes outras de preferência por estímulo reforçador.
Independência entre apresentação dos estressores e respostas dos sujeitos
Durante a fase de submissão ao Chronic Mild Stress (CMS), os estressores foram
apresentados aos sujeitos segundo um protocolo, independentemente do comportamento
desses. Segundo Seligman (1975), a independência entre uma resposta do sujeito e as
consequências ambientais, caracteriza uma situação de “incontrolabilidade”. Nesse sentido,
pode-se afirmar que a submissão dos sujeitos do presente estudo ao protocolo de estresse
colocou-os em uma situação de incontrolabilidade.
De maneira diferente, na fase operante, a apresentação dos estímulos água e água
com sacarose dependia do responder dos sujeitos. Assim, durante a fase operante houve
uma condição de dependência entre resposta e consequência.
Considerando-se os experimentos de Desamparo Aprendido com ratos (Hunziker,
1981) que demonstram que o efeito da “incontrolabilidade” nestes animais é uma
77
aprendizagem lenta, quando se lida com uma resposta aprendida anteriormente, pode-se
supor que a submissão aos estressores independentes das respostas do sujeitos poderia
deixar mais lento o controle da resposta do sujeito pelo estímulo reforçador que
anteriormente a controlava. Isto pode ter ocorrido com o sujeito 06, que demorou cinco
sessões, após a submissão aos estressores, para voltar a apresentar maior taxa de respostas
nas barras correspondentes à água com sacarose. Para o sujeito 07, apesar das taxas mais
altas de repostas ocorrerem nas barras correspondentes à água com sacarose, nota-se que a
taxa total de respostas é mais baixa nas duas primeiras sessões operantes pós-estresse
(comparada com as sessões antes do estresse), o que poderia indicar um rebaixamento
geral nos valores reforçadores de ambos os estímulos - água e água com sacarose - nestas
sessões.
Esta mudança no desempenho dos sujeitos observada nas cinco primeiras sessões
operantes após a submissão ao estresse, para o sujeito 06 e nas duas primeiras para o
sujeito 07, poderia talvez ser mais bem investigada se houvesse sujeitos submetidos
somente à condição operante, durante as treze semanas nas quais foi realizado o presente
estudo, sem serem submetidos ao protocolo de estresse; e sujeitos submetidos à condição
operante nas quatro semanas anteriores ao início do protocolo de estresse e então
submetidos novamente à condição operante, após seis semanas, por mais três semanas, sem
terem sido submetidos aos estressores. O padrão de respostas destes sujeitos no decorrer
das semanas indicaria uma possível interferência do tempo sobre a taxa de respostas dos
sujeitos que indicariam o valor reforçador dos estímulos e a preferência pela água com
sacarose.
A submissão a uma situação de independência entre resposta e consequência faz,
ainda, com que os sujeitos fiquem com uma atividade mais lenta (Hunziker, 1981). Assim,
78
uma outra questão que fica é a de se a queda no consumo de água com sacarose e de água
nos testes de consumo de líquido semanais durante a exposição aos estressores (para os
sujeitos 06 e 07) e durante e após a submissão aos estressores (sujeitos 05 e 08) seria
consequência da baixa de atividade geral do sujeito, efeito da exposição a estressores
independentes da resposta dele. No presente trabalho, não há uma medida de atividade
conduzida na gaiola viveiro, que pudesse indicar a diminuição da atividade do sujeito
como produto da submissão aos estressores. Um estudo que fizesse este tipo de medida
poderia responder a esta questão e talvez indicar uma outra variável de controle sobre o
consumo de líquido e a preferência por água com sacarose, além da diminuição no valor de
recompensa do estímulo conforme sugerido por Willner e cols. (1987).
De qualquer maneira, não se pode afirmar que houve indício de desamparo
aprendido nestes sujeitos: parece não haver um efeito cognitivo (os sujeitos 05 e 08 não
param de beber, apesar de beber menos e o sujeito 06 e 07 voltam a pressionar a barra) e
não parece ter havido déficit motivacional (a diminuição na taxa de respostas dos sujeitos
06 e 07 é muito baixa e aparentemente os ratos não ficaram "emocionalmente" diferentes).
79
Desamparo Aprendido e Chronic Mild Stress
Segundo Hunziker (1997), apesar da definição de depressão encontrada na
literatura médica, apresentar classificações e listagens de sintomas, como humor
deprimido, perda de prazer/ interesse, passividade, falta de entusiasmo etc, o analista do
comportamento deveria identificar as relações entre as respostas do indivíduo deprimido e
os eventos que ocorrem no ambiente. Assim, dever-se-ia analisar funcionalmente o
repertório comportamental deste indivíduo.
Ferster (1973) considera que a depressão poderia ser definida como uma falta de
estímulos reforçadores. Nesse sentido, o indivíduo deprimido emitiria uma freqüência
baixa de respostas, principalmente aquelas seguidas por conseqüências reforçadoras.
Em algumas situações (como por exemplo a morte de alguém querido, separação
conjugal e perda de emprego) os estímulos reforçadores são suprimidos do ambiente, o que
explicaria a baixa freqüência de respostas, isto é, a freqüência de respostas diminui porque
estímulos anteriormente reforçadores tornam-se indisponíveis. Mas há situações nas quais
a falta de estímulos reforçadores seria decorrente da baixa (ou ausência) emissão de
repostas, ou seja, os reforçadores estão disponíveis, mas o sujeito não emite as respostas
que os produziriam. De qualquer maneira, a falta de reforçamento parece ser o aspecto
crucial da depressão.
Pode-se, então, identificar que contingências poderiam produzir a baixa freqüência
de respostas. Ferster (1973) aponta a extinção como um exemplo. Alguns reforçadores
disponíveis no passado podem tornar-se inacessíveis (como nos exemplos citados acima) e
conseqüentemente as respostas que os produziam diminuem de freqüência. Se essas
respostas não forem substituídas pelo indivíduo por outras que poderiam ser reforçadas,
será mantido o quadro de baixo reforçamento.
80
Hunziker (1995) considera que a extinção não seria o único processo que produziria
depressão e afirma que a proposta do desamparo aprendido (Seligman, 1977) aponta que
há situações, que não a extinção, que podem ensinar ao indivíduo que aspectos do
ambiente (como os reforçadores) não estão sob seu controle (não podem ser produzidos
por suas respostas). Conforme apresentado anteriormente, o modelo do desamparo
aprendido (Seligman, 1977) sugere que um indivíduo que passa por uma condição na qual
eventos aversivos (como choques) ocorrem independentemente de suas respostas,
aprenderia que não há relação entre suas respostas e o que ocorre no ambiente, o que pode
ser generalizado para contingências reforçadoras posteriores. Assim, o indivíduo passaria a
emitir menos respostas e, portanto, a ser menos reforçado.
O modelo do Chronic Mild Stress (CMS) proposto por Willner e cols. (1987) parece
sugerir uma outra explicação para a baixa nos reforçadores. O efeito do acesso a eventos
aversivos independentes das respostas dos sujeitos não produziria um déficit na
aprendizagem da relação entre resposta e conseqüência e sim uma diminuição no valor de
recompensa destas conseqüências.
O presente trabalho demonstrou que o que os autores (1987) consideram uma
diminuição no “valor de recompensa” do estímulo, aparentemente é sinônimo de
diminuição no “valor reforçador” do estímulo. Nesse sentido, a baixa na freqüência de
respostas não seria decorrente da aprendizagem de independência entre estímulos do
ambiente e respostas, e sim do fato de que os estímulos reforçadores deixariam de sê-lo e,
conseqüentemente, não aumentariam a probabilidade futura de ocorrência das respostas
que os antecederam. Assim, as respostas deixariam de ser emitidas porque os estímulos
que produzem não mais teriam valor reforçador para mantê-las.
Severidade dos estressores e analogias
81
O modelo do desamparo aprendido (Seligman, 1975) parece referir-se, ou, ser
análogo, a casos nos quais a depressão humana é desencadeada por eventos que ocorrem
independentemente do que o sujeito faz (incontroláveis), como por exemplo a morte de um
ente querido, demissão no emprego, dificuldades financeiras, etc. Esses fatos, além de
gerarem extinção, parecem poder ter também o efeito de diminuir a emissão de outras
respostas, mantidas por outros reforçadores, o que caracterizaria um quadro de depressão.
Diferentemente do desamparo aprendido (Seligman, 1975), o modelo do CMS
(Willner e cols., 1987) não se refere a eventos extremamente aversivos e, portanto, parece
não ser análogo àquilo que é proposto por Seligman (1975). Uma outra diferença consiste
no fato de que os autores (1987) não propõem um modelo de depressão e sim de anedonia.
Uma contribuição do CMS (Willner e cols., 1987) parece ir além da
.“incontrolabilidade”ou da aversividade dos estímulos apresentados. Os autores utilizaram
estressores “suaves”, isto é, que isoladamente ou por um período curto de tempo, mesmo
que “incontroláveis”, não têm efeito sobre o valor reforçador20 de um estímulo. Portanto,
além da “incontrolabilidade”, a cronicidade e a variabilidade de estímulos parecem ser
variáveis importantes. Traçando-se um paralelo com a vida diária de humanos, o CMS
parece uma tentativa de investigar, em situação controlada de laboratório, os efeitos do
estresse diário ou, se a anedonia pode ser produzida pelo estresse diário. Análogos aos
estressores apresentados cronicamente aos ratos, seriam o trânsito, a poluição visual,
auditiva e química, as refeições em diferentes horários, o sono dificultado por uma obra na
rua, a inconsistência nos horários do sono, os pequenos imprevistos na vida familiar,
social, afetiva e profissional, etc, os quais ocorrem de maneira crônica, variável e
“incontrolável” aos indivíduos.
20 Os resultados do presente trabalho parecem permitir que o termo “valor de recompensa” utilizado pelosautores (1987) possa ser substituído por “valor reforçador”.
82
Aparentemente, o modelo do CMS (Willner e cols., 1987) propõe que o contato
crônico, “incontrolável” e variável com esses (ou alguns desses) eventos estressores que,
de maneira aguda e isolada parecem não ter efeito sobre o homem, poderia produzir
pessoas “insensíveis” a conseqüências anteriormente reforçadoras.
Parece relevante notar que o efeito dos estressores crônicos e suaves sobre o valor
reforçador do estímulo não é observado quando o estímulo tem alto valor reforçador (como
água com 30% de sacarose). Nesse sentido, não se poderia afirmar que o CMS afetaria
aspectos da vida aparentemente de grande valor reforçador (como por exemplo, talvez, o
nascimento de um filho ou uma promoção no emprego). Parece referir-se mais claramente
àquelas pessoas que aparentemente não são “afetadas” pelas conseqüências decorrentes de
respostas como ler um livro, passear no parque, brincar com o filho, almoçar com os
amigos, sair com os amigos, um bom desempenho num dia de trabalho, ouvir música, ir ao
teatro, ir ao cinema, visitar um amigo, engajar-se num hobby, viajar, etc. Aparentemente, o
CMS propõe que o estresse crônico e suave diminui o valor reforçador destes estímulos e,
conseqüentemente, estas respostas diminuem de freqüência. A “perda de prazer” e a “falta
de reatividade a estímulos prazerosos” encontrados na definição médica da melancolia
talvez refiram-se a esta diminuição do valor reforçador do estímulo em decorrência do
CMS.
Os resultados do presente trabalho parecem apresentar, ainda, uma outra implicação
relevante. Eles indicam que a exposição à condição operante parece ter o mesmo efeito da
droga antidepressiva utilizada por Willner e cols. (1987). Isso indicaria que a submissão a
uma condição na qual respostas dos sujeitos produzem consequências reforçadoras e que,
portanto, as consequências são dependentes da resposta (diferentemente da situação de
estresse, na qual os eventos aversivos independiam da resposta do sujeito) pode reverter o
efeito da diminuição do valor reforçador do estímulo.
83
Estes resultados indicariam, portanto, uma possibilidade de tratamento de pessoas
expostas ao estresse ou de pessoas deprimidas que não a terapia medicamentosa, pois,
aparentemente, os efeitos da exposição crônica aos estressores suaves poderiam ser
revertidos pela submissão (também crônica) do indivíduo a uma condição na qual as suas
respostas produzam um estímulo reforçador, talvez num ambiente diferente daquele no
qual houve a presença de estressores.
84
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Laboratory: History and Rationale. Em: J. D. Maser e M. E. P. Seligman (Editores)
Psychopatology: Experimental Models. San Francisco: W. H. Freeman and Company
Backer, A. G. (1976). Learned Irrelevance and Learned Helplessness: Rats Learn that
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