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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Programa de estudos pós-graduados em Psicologia Experimental: Análise do
Comportamento
Chronic Mild Stress: um estudo sobre a interação entre submissão ao
protocolo de estressores, comportamento operante e privação
Clarissa Moreira Pereira
São Paulo
2009
ii
Clarissa Moreira Pereira
Chronic Mild Stress: um estudo sobre a interação entre submissão ao
protocolo de estressores, comportamento operante e privação
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, sob orientação da Profa. Dra. Tereza Maria de Azevedo Pires Sério.
Trabalho parcialmente financiado pela CAPES 2007 – 2008
São Paulo 2009
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Banca Examinadora
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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos ou científicos, a reprodução total ou
parcial desta dissertação por processos de fotocópia ou eletrônicos.
Assinatura: _________________________________ Local e data: ________________
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Agradecimentos
Agradeço, em primeiro lugar, à minha família. Aos meus pais, pelo apoio
incondicional em todos os momentos, pela confiança, e pela possibilidade de que tudo
isso se tornasse concreto. Vocês são a minha base, e é da segurança que tenho em vocês
e do orgulho que vocês me dão que tiro o que preciso para construir esse caminho. À
minha irmã, mais do que amiga durante este mestrado, companheira de coleta e de
conversas que, no fim das contas, nem deveriam ser tão interessantes assim pra alguém
que não é da área. Você foi espetacular! Ao Gui, por toda a nossa vida, por ser meu
pequeno, meu querido. Amo todos vocês mais do que qualquer coisa nesse mundo.
À minha família: meus tios e tias (e agregados, claro), primos e primas e avós,
tão queridos e importantes, tão carinhosos, atenciosos, cuidadosos. Pelo interesse pelo
que eu faço, por admirar os passos que eu dei até agora, e por confiar que os próximos
serão ainda mais significativos. Cada um tem sua infinita importância em minha vida, e
também em minha produção acadêmica, tenham certeza. Amo todos vocês, do meu
coração.
À querida Lucia, preciso agradecer. Pelo cuidado com meus lanches da tarde em
frente ao computador, por se preocupar com minha “sanidade” ao longo desse mestrado,
e por fazer parte de minha criação. Você não sabe o quanto é importante ter este tipo de
apoio. Obrigada pela vida toda!
À Téia, minha querida orientadora. Nos demos bem desde o início, mas tenho
certeza de que foi ao longo do caminho que percebi o quanto você é brilhante, e não
tenho palavras para agradecer esse aprendizado. Nunca vou esquecer.
A todos os professores do mestrado, pelas aulas e conversas no laboratório, e
pela competência e dedicação que têm pelo que fazem. À Paula Gioia em especial,
minha grande incentivadora da entrada no mestrado.
Aos queridíssimos funcionários, Neusa, Conceição, Maurício e Dinalva. Não
tenho nem dúvida de que o trabalho não seria o mesmo sem vocês. O que vocês fazem é
fenomenal, e espero que vocês saibam do tamanho do meu reconhecimento.
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Aos grandes amigos de mestrado, Ana Fonai, Campélia, Julia, Renata, Roberta,
Jazz, João, Ângelo, Rodrigo, Gabriel, Marcio, e outros tantos. Não teria sido a mesma
coisa se eu não tivesse conhecido pessoas como vocês.
À Paula Braga, um agradecimento especial. Pelas tantas coletas para mim, pelos
apuros que passou junto comigo, pelo companheirismo, pela amizade, pela afinidade, e
pela admiração que sinto por você. Foi muito bom ter encontrado uma colega assim,
que se tornou amiga para o resto da vida.
Ao meu amor, meu amigo, meu confidente, meu companheiro. Obrigada por
fazer do laboratório um lugar mais legal, por fazer de momentos de coleta divertidos,
por fazer da Análise do Comportamento uma inspiração, por fazer dos meus dias mais
leves, por me fazer mais feliz. Mateus, não conseguiria descrever tão bem o que sinto,
mas quero deixar registrada a gratidão que tenho por você. Fazer uma dissertação não é
fácil, mas se torna menos penoso quando alguém que já passou por tudo isso está ali pra
te apoiar. Você foi sempre cuidadoso, amoroso, inteligente. Tudo que eu precisava neste
momento, e que pretendo desfrutar pro resto da vida. Meu muito obrigada!
vii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 01
O CMS - uma discussão sobre o modelo ................................................................
06
O CMS e o estudo do controle operante .................................................................
17
MÉTODO ................................................................................................................
33
Sujeitos ....................................................................................................................
33
Equipamento ...........................................................................................................
33
Procedimentos .........................................................................................................
34
Condições experimentais ........................................................................................ 34
1. Condição preparatória ................................................................................... 34
2. Acesso livre a alimento e água ......................................................................
38
3. Testes de ingestão e preferência de líquidos .................................................
38
4. Protocolo de estressores ................................................................................
38
5. Sessões operantes ..........................................................................................
40
Delineamento experimental ....................................................................................
41
a. Protocolo completo ....................................................................................... 42
b. Protocolo incompleto (sem privação) ........................................................... 44
c. Apenas privação ............................................................................................ 46
d. Privação específica ........................................................................................ 48
RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................
50
1. Peso e consumo de água e alimento .............................................................. 50
2. Testes de ingestão e preferência .................................................................... 92
3. Desempenho operante ................................................................................... 109
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 124
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 130
Anexo ...................................................................................................................... 134
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Linha do tempo com indicação dos principais eventos ocorridos durante o estudo ..................................................................................................................................
41 Figura 2. Peso corporal de todos os sujeitos do experimento, pelos dias de vida de cada sujeito. As três linhas pontilhadas representam, aproximadamente e respectivamente, o período em que se iniciou a primeira condição de privação (para os sujeitos dos grupos PCO, PC, APO, AP, e sujeitos PAL e PAG), o período correspondente ao início do protocolo de estressores (para os sujeitos PCO, PC, PI, PIO) ou início da segunda condição de privação (para os sujeitos AP, APO, PAL e PAG) e o fim destes períodos ...
51
Figura 3. Peso corporal dos sujeitos dos grupos APO e AP, durante todo o experimento. A linha mais espessa representa a tendência, a linha contínua menos espessa o peso real e a linha pontilhada o peso referência. As linhas verticais pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação,início da segunda condição de privação e final desta ..........................................................................................................
56 Figura 4. Peso corporal do sujeito APO3, a partir do início da privação. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação ......
58
Figura 5. Porcentagem de redução do peso corporal após cada período de privação (painel da esquerda) e porcentagem de recuperação de peso após aproximadamente vinte e quatro horas de interrupção da privação (painel da direita), durante as duas condições de privação, para o sujeito APO3 ......................................................................
59
Figura 6. Valores percentuais de perda e recuperação de peso do sujeito APO3, para as seis semanas da segunda condição de privação, levando-se em conta o peso do sujeito anteriormente a esta condição. As linhas pontilhadas indicam o início e o fim desta condição. Os demais valores apresentados (da primeira condição de privação e do retorno a ela, ou seja, das semanas 1 a 13 e 20 a 22) se mantêm idênticos aos da Figura 5
60 Figura 7. Média do consumo diário água e alimento dos sujeitos dos grupos APO e AP, calculados semanalmente, a partir do início da aferição (painéis da esquerda). Quantidades consumidas de água e alimento por semana, para os mesmos grupos, a partir do início da aferição (painéis da direita). As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação e início e fim da segunda condição de privação ...........................................................................................................
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Figura 8. Peso corporal dos sujeitos PAL e PAG, durante todo o experimento. A linha mais espessa representa a tendência, a linha contínua menos espessa o peso real e a linha pontilhada o peso referência. As linhas verticais pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação, início da segunda condição de privação e volta à primeira condição de privação .........................................................................................
64 Figura 9. Média do consumo diário água e alimento dos sujeitos PAG e PAL, calculados semanalmente, a partir do início da aferição (painéis superiores). Quantidades consumidas de água e alimento por semana, para os sujeitos PAG e PAL, a partir do início da aferição (painéis inferiores). As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação e início e fim da segunda condição de privação ...........................................................................................................
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Figura 10. Peso corporal de todos os sujeitos do experimento, pelos dias de vida de cada sujeito. As duas curvas em destaque representam o peso dos sujeitos PAG e PAL. As três linhas pontilhadas representam, aproximadamente e respectivamente, o início da primeira condição de privação, e o início e término da segunda condição de privação .....
68
Figura 11. Peso dos sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO, durante todo o experimento. A linha mais espessa representa a tendência, e as linhas pontilhadas indicam, respectivamente, o início e final do protocolo de estressores ............................................................................
70 Figura 12. Peso corporal dos sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO, durante o protocolo de estressores, pelo dia da semana, nas seis semanas de duração do protocolo ......................
71
ix
Figura 13. Consumo médio de alimento e água, durante as seis semanas de submissão ao protocolo de estressores, para cada dia da semana, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO ......................................................................................................................................
72 Figura 14. Porcentagem de ganho ou perda de peso por semana, com relação ao peso do dia anterior ao início do protocolo, para todas as quintas-feiras (primeiro dia do ciclo) das seis semanas de protocolo de estressores, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO (painel da esquerda). Porcentagem de ganho ou perda de peso por semana, com relação ao peso do dia anterior ao início do protocolo, para todas as segundas-feiras das seis semanas de protocolo de estressores, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO (painel da direita). Cada barra indica o ganho (ou perda, no caso de valores negativos), em cada semana, com relação ao peso inicial (antes do início do protocolo) .........................................................
74 Figura 15. Consumos de água e alimento, aferidos diariamente, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO durante todo o experimento. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, o início e final do protocolo de estressores. Durante o protocolo de estressores não foi possível aferir os consumos em um dos dias da semana, pelo fato dos sujeitos estarem agrupados, e os espaços correspondentes a esses dias foram omitidos da Figura 15 .............................................................................................................................
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Figura 16. Consumo médio diário de água e alimento (ml e mg), durante todo o experimento, dos sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, o início e final do protocolo de estressores .............................................
78 Figura 17. Peso corporal dos sujeitos dos grupos PCO e PC, durante todo o experimento. A linha mais espessa representa a tendência, a linha contínua menos espessa o peso real e a linha pontilhada o peso referência. As linhas verticais pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação, início do protocolo de estressores e final deste ..................................................................................
81
Figura 18. Peso do dia anterior ao início do protocolo e do dia seguinte ao seu término, dos sujeitos dos grupos PCO, PC, APO e AP, e porcentagem de redução do peso, comparando-se antes e depois deste período ......................................................................
82 Figura 19. Peso corporal do sujeito PCO1, a partir do início da privação, até o final do experimento. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ......................................................................................................................
84 Figura 20. Porcentagem de redução do peso corporal após cada período de privação (painel da esquerda) e porcentagem de recuperação de peso após aproximadamente vinte e quatro horas de interrupção da privação (painel da direita), durante a primeira condição de privação e durante o protocolo de estressores, para o sujeito PCO1 (painel da esquerda) ........................................................................................................................
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Figura 21. Peso corporal dos sujeitos PCO1, PCO2, PCO3, PC1, PC2 e PC3, durante o protocolo de estressores, pelo dia da semana, nas seis semanas de duração do protocolo .
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Figura 22. Média do consumo diário água e alimento dos sujeitos dos grupos PCO e PC, calculados semanalmente, a partir do início da aferição (painéis da esquerda). Quantidades consumidas de água e alimento por semana, para os mesmos grupos, a partir do início da aferição (painéis da direita). As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim do período correspondente ao protocolo de estressores ......
89 Figura 23. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, para os sujeitos do grupo APO e AP (painéis da esquerda). Proporção de sacarose ingerida, em mg, por mg do peso do sujeito (painéis da direita). As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação ...........
93
Figura 24. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, em média, para todos os sujeitos do grupo apenas privação (painel superior). Proporção de sacarose ingerida, em mg, por mg dos sujeitos, em média, para todos os sujeitos (painel inferior). As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação .................................................................................
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Figura 25. Ingestão de sacarose e peso dos sujeitos dos grupos APO e AP, no dia do testes, aferidos semanalmente. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação .................................................................................
96 Figura 26. Consumo e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente para os sujeitos PAG e PAL, durante todo o experimento. As linhas tracejadas indicam, respectivamente, a semana inicial e final da segunda condição de privação ...............................................................................................................................
99 Figura 27. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ..................................................
101 Figura 28. Proporção de sacarose ingerida, em mg, por mg do sujeito PI3. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do período correspondente ao protocolo de estressores ......................................................................................................................
103 Figura 29. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, para os sujeitos PCO1, PCO2, PCO3, PC1, PC2 e PC3. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ....................
104 Figura 30. Ingestão de sacarose e peso dos sujeitos dos grupos PCO e PC, no dia do testes, aferidos semanalmente. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ...........................................................................................
107 Figura 31. Número de respostas de pressão à barra emitidas por sessão pelos sujeitos APO1, APO2 e APO3, em esquema concorrente água-sacarose, e preferência pela barra de sacarose. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação ...........................................................................................................
110 Figura 32. Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo da sessão experimental número 11, do sujeito APO2 (painel esquerdo). Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo da sessão experimental número 20, do sujeito APO2 (painel direito) .....................................
112
Figura 33. Número de respostas de pressão à barra emitidas por sessão pelo sujeito PIO, em esquema concorrente água-sacarose, e preferência pela barra de sacarose. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ....................
115 Figura 34. Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo das sessões experimentais números 12, 15 e 19, respectivamente, do sujeito PIO ......................................................................................................................................
117 Figura 35. Número de respostas de pressão à barra emitidas por sessão pelos sujeitos PCO1, PCO2 e PCO3, em esquema de reforçamento concorrente água-sacarose, e preferência pela barra de sacarose. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ...........................................................................................
119
Figura 36. Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo da sessão experimental número 8, dos sujeitos PCO1, PCO2 e PCO3 ................
122
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Número de ratos por caixa, desde o nascimento até o dia em que não ocorreram mais mortes ........................................................................................................
35
Tabela 2. Identificação da caixa de origem de cada um dos sujeitos experimentais .......... 37
Tabela 3. Distribuição dos estressores a cada hora do dia, pelos dias da semana, ao longo de uma semana (um ciclo) .........................................................................................
43
Tabela 4. Distribuição dos estressores a cada hora do dia, pelos dias da semana, ao longo de uma semana (um ciclo) ........................................................................................
45
Tabela 5. Distribuição dos períodos de privação a cada hora do dia, pelos dias da semana, ao longo de uma semana (um ciclo) ......................................................................
47
Tabela 6. Divisão dos sujeitos pelos arranjos das condições experimentais ......................
49
Tabela 7. Total de horas semanais dos períodos de privação a que os sujeitos eram submetidos e intervalo entre os períodos, nas duas condições de privação .........................
57
Tabela 8. Número de sessões em cada condição para todos os sujeitos que passaram pela condição operante ao longo de todo o experimento ............................................................
109
xii
Pereira, C. M. (2009). Chronic Mild Stress: um estudo sobre a interação entre submissão
ao protocolo de estressores, comportamento operante e privação. Dissertação de
Mestrado. Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Experimental: Análise do
Comportamento. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
RESUMO
O Chronic Mild Stress (CMS), ou estresse crônico moderado, é um modelo experimental
que tenta reproduzir, em laboratório, através do uso de um protocolo de estressores,
condições da vida real, em ratos, para estudo dos efeitos da exposição a esses estressores
no comportamento dos sujeitos. No presente estudo, pretendeu-se verificar se o protocolo
completo, e não apenas alguns estressores apresentados isoladamente (privação de água e
privação de alimento), seriam responsáveis pelos efeitos comumente descritos na
literatura (diminuição na ingestão e preferência por substância doce e no peso pela
submissão ao protocolo). Foi verificada também a interferência de sessões operantes em
esquema concorrente (água-sacarose) em todos os efeitos considerados. Os resultados
encontrados foram analisados com relação a (a) peso corporal, (b) consumo de alimento e
água, (c) ingestão de líquidos nos testes da gaiola viveiro e (d) desempenho em esquema
concorrente. Tanto a privação isoladamente quanto o protocolo incompleto (sem
privação) produziram efeitos no peso dos sujeitos, no consumo de alimento e água e na
ingestão e preferência de líquidos. Porém, a junção de ambos – o protocolo completo – se
mostrou crítica na produção dos resultados com relação a essas medidas. Alguns aspectos
do desempenho operante diferem a depender dos sujeitos estarem privados ou não
previamente às sessões, mas não diferem entre sujeitos que passam ou não pelo restante
dos estressores. Com relação aos resultados, duas sugestões são colocadas: (a) a
manipulação neonatal pode ser uma variável responsável pela não produção de todos os
efeitos do protocolo no comportamento dos sujeitos; e (b) a exposição prolongada à
sacarose pode ter efeitos similares à analgesia nos sujeitos, fazendo com que os possíveis
efeitos do protocolo de estressores não sejam produzidos. É levantado um ponto
considerado importante, a partir dos resultados: outras medidas, que não apenas a ingestão
de líquidos, devem ser consideradas para análise em estudos com o CMS.
Palavras-chave: protocolo de estressores, privação, comportamento operante,
manipulação neonatal, exposição à sacarose.
xiii
Pereira, C. M. (2009). Chronic Mild Stress: an experiment about the interaction among
submission to stress protocol, operant behavior and deprivation. Dissertação de Mestrado.
Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Experimental: Análise do
Comportamento. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
ABSTRACT
Chronic Mild Stress (CMS) is an experimental model that attempts to reproduce, in
laboratory, real life stressing conditions in rats, by using a stress protocol to study the
effects of the exposition to these stressors in the subjects’ behavior. In the present
experiment, the purpose was to identify if whole protocol, and not some of the stressor
stimuli specifically (water and food deprivation) are responsible for producing the effects
frequently described in literature (decreased sweet substance ingestion and preference and
body weight when submitted to the protocol). It was also verified the influence of operant
concurrent schedule sessions (water-sucrose) in all the effects considered. The results
were described on (a) body weight, (b) food and water consumption, (c) sucrose ingestion
and preference, and (d) concurrent schedule performance. Deprivation itself and
incomplete protocol (with no deprivation conditions) produced effects on body weight,
food and water consumption, and sucrose preference and ingestion. However, the two
together – complete protocol – showed itself to be critical to produce these results. Some
operant behavior features differ depending on whether the subjects are deprived or not
before the session, but they don’t among subjects that are submitted to the other stressors
(other than deprivation). According to these results, there are two possible suggestions:
(a) neonatal handling can be responsible for the inexistency of the common effects of the
protocol in the subjects’ behavior; and (b) the continuous exposure to sucrose can have
similar effects to analgesia, making it possible that effects of the protocol are not
produced. One issue is considered important, considering these results: measures, other
than just sucrose ingestion and preference, must be taken into account in CMS studies.
Key-words: stress protocol, deprivation, operant behavior, neonatal handling, exposure to
sucrose.
1
Modelos animais ou experimentais são tentativas de reprodução de fenômenos
comportamentais (ou fisiológicos) em determinadas espécies animais, no laboratório,
para posterior uso dos resultados obtidos na compreensão da espécie humana (Keehn,
1979; Willner, 1991). São, neste sentido, a “representação de uma realidade específica,
possível de ser manipulada, que permite a realização de análise para o seu melhor
conhecimento, inferindo dados e testando hipóteses” (Guimarães e Mázaro, 2004, p.
12).
Modelos animais de depressão podem, desta forma, ser utilizados para a
realização de estudos experimentais em laboratório, como uma tentativa de reproduzir,
em ambiente controlado, condições semelhantes às do ambiente real vistas como
relevantes para a produção de alterações comportamentais características da depressão,
propiciando diversas elucidações acerca do fenômeno estudado (Willner, Muscat e
Papp, 1992). Esses modelos podem servir de base para o estudo e esclarecimento de
diversos aspectos da depressão, como sua etiologia, por exemplo.
Para que o uso desses modelos seja validado, é necessário, pelo menos, que
comportamentos observados no laboratório com os sujeitos infra-humanos sejam
semelhantes aos que se observam na pessoa que apresenta as alterações
comportamentais descritas como constituintes da depressão.
Segundo Willner, Towell, Sampson, Sophokleous e Muscat (1987), apenas
alguns modelos animais da depressão atendem aos critérios de validade1 para que
possam ser considerados para estudo em laboratório. Um deles é o estresse crônico
moderado, ou chronic mild stress (CMS).
Segundo esse modelo, uma alteração comportamental geralmente descrita como
presente na depressão é a anedonia. Ela é caracterizada como a “redução na
sensibilidade a recompensas, que é usualmente detectada através da diminuição no
consumo de solução fraca de sacarose palatável” (Willner et al, 1992, p. 526). Mesmo
não aparecendo como foco nos modelos experimentais, conforme afirmam Willner et al
(1992), a anedonia seria de extrema importância na depressão, por estar tão
frequentemente presente nela. Ela pode ser produzida em ratos, no laboratório, através
da submissão desses animais a um conjunto de estressores moderados.
1 Estes critérios dizem respeito à possibilidade de uso do modelo em questão como ferramenta de entendimento e estudo de determinada condição humana, e são descritos na psicopatologia
2
Katz (1982) já havia considerado a importância do estresse no desenvolvimento
de alterações comportamentais descritas como “depressão”, em um estudo para
investigar alterações em sujeitos submetidos a uma série de estressores. Katz (1982)
pretendia investigar se alterações no padrão alimentar dos sujeitos poderiam ser
decorrentes de sua exposição a um conjunto de estressores aplicados de maneira
crônica. Seu experimento foi dividido em três estudos. Em todos eles, um protocolo de
estressores foi administrado por três semanas, composto de: (a) exposição dos sujeitos a
60 minutos de choques imprevisíveis; (b) 40 horas de privação de comida; (c) nado em
água gelada (4º C) por cinco minutos; (d) 40 horas de privação de água; (e) exposição
ao calor (40º C) por cinco minutos; (f) 30 minutos de movimento; (g) reversão do ciclo
noite/dia. Os estressores eram apresentados e trocados de maneira semirrandômica.
Os estudos diferiram entre si com relação às substâncias apresentadas aos
sujeitos nos testes de ingestão. Os testes consistiam na exposição dos sujeitos a uma
mamadeira, por períodos de 14 horas, que continha uma das três substâncias: água pura,
sacarina sódica ou sacarose. Tanto a sacarina quanto a sacarose são substâncias doces.
No entanto, a sacarina não é calórica, e a sacarose é. Portanto, foram utilizadas ambas
para verificar possíveis influências de regulações nutricionais na ingestão dos sujeitos.
Ao final do teste, media-se a quantidade restante na mamadeira, para que a ingestão
fosse monitorada. Todos os estudos contaram com grupos controle, formados por
sujeitos não submetidos ao protocolo de estressores.
Além do protocolo de estressores, alguns sujeitos tiveram a administração de
imipramina (um antidepressivo tricíclico – DMI) durante o experimento (diariamente,
nas três semanas de protocolo de estressores), para verificar seu efeito nas medidas de
ingestão.
Os resultados encontrados foram que, para todos os sujeitos submetidos aos
estressores, a ingestão das substâncias sacarose e sacarina diminuiu em relação aos
sujeitos controle. Para a solução de água pura, não houve alterações na ingestão. Estes
achados demonstraram que, tanto para a solução nutritiva (sacarose) quanto para a
solução não nutritiva (sacarina), os efeitos dos estressores na diminuição de ingestão
puderam ser verificados, o que possibilitou afirmar que as alterações na ingestão não
eram decorrentes de regulações nutricionais pelas diferenças de ingestão calórica a
depender de uma ou outra substância, mas sim da variável independente manipulada.
como critérios de a) validade aparente, b) validade preditiva e c) validade de construção teórica. Estes critérios serão mais pormenorizadamente descritos adiante.
3
A administração de imipramina reverteu os efeitos do protocolo de estressores,
aumentando novamente a ingestão das substâncias sacarose e sacarina para os animais
estressados. Para os sujeitos controle, o efeito deste antidepressivo foi de diminuir,
porém não significativamente, a ingestão das substâncias. O que isto quer dizer é que as
alterações de ingestão, para este grupo, quando comparadas às alterações para o grupo
que foi submetido ao protocolo de estressores, foram muito pequenas. No teste com
água pura, o antidepressivo não alterou a ingestão dos sujeitos.
A partir destes achados, Willner et al (1987) propuseram um estudo, com
extensões e modificações na investigação, que incluiram (a) redução na severidade dos
estressores utilizados2, para aproximar o modelo da “vida real”; (b) uso de duas garrafas
para o teste de preferência, e não apenas uma; (c) realização semanal dos testes, para um
maior acompanhamento do curso dos efeitos; (d) administração de um antidepressivo
para “reversão” também da preferência, e não apenas da ingestão, como feito por Katz
(1982), já que os autores propõem as duas medidas, ingestão e preferência (investigação
esta possível apenas com uso de teste com duas garrafas); e (e) exame dos níveis de
glicose no sangue, para investigar se diferentes níveis seriam responsáveis pelas
diferenças na ingestão de sacarose.
Os sujeitos usados no estudo foram ratos da linhagem Lister (o número de
sujeitos não foi especificado), e quatro diferentes experimentos foram propostos. Em
todos eles, sujeitos controle, não submetidos ao protocolo, também foram utilizados.
O protocolo de estressores variou para cada experimento. Nos experimentos 1 e
4, o protocolo de estressores consistiu de (a) privação de água e comida; (b) iluminação
contínua; (c) inclinação da gaiola em 30º; (d) agrupamento (outro sujeito na gaiola); (e)
gaiola suja; (f) exposição à temperatura reduzida (10º C). Nos experimentos 2 e 3, além
dos estímulos dos experimentos 1 e 4, foram também utilizados: (g) barulho branco
intermitente; (h) luz estroboscópica; (i) exposição a uma garrafa vazia após período de
privação de água; (j) acesso restrito à comida; (l) cheiro novo; (m) presença de um
objeto estranho na caixa (madeira ou plástico). Para o experimento 2, a intensidade dos
estressores foi sendo gradualmente aumentada com o decorrer das seis semanas. Para o
2 Com relação à redução na severidade dos estressores utilizados, vale aqui salientar que todos os estímulos implementados no protocolo de Willner et al (1987) não são estímulos tradicionalmente aversivos. Os estímulos adquirem tal propriedade pela cronicidade com que são apresentados aos sujeitos. Portanto, com relação ao estudo de Katz (1982), a atenuação ocorre principalmente considerando-se a qualidade dos estímulos.
4
experimento 3, os autores não especificam se houve ou não esta alteração na intensidade
do protocolo3.
O período de exposição dos sujeitos ao protocolo foi também variado: cinco, seis
e nove semanas, respectivamente, para os experimentos 1, 2 e 3; para o experimento 4,
não foi especificado o número de semanas.
Em todos os experimentos, foram examinados os efeitos da submissão ao
protocolo de estressores na ingestão e preferência por alguma das três substâncias em
relação à água pura: sacarina (experimento 1), sacarose (experimentos 2, 3 e 4) ou
solução salina (experimento 2). Nos experimentos 2, 3 e 4, foi administrado um
antidepressivo, para exame de seus efeitos sobre essas medidas (ingestão e preferência),
tendo sido no experimento 2 administrada também uma solução placebo, para a metade
dos sujeitos. No experimento 3, além disso, os níveis de glicose e corticosterona no
sangue dos sujeitos foram também medidos, para investigação dos efeitos do protocolo
sobre eles. No experimento 4, foi utilizada uma solução de sacarose “mais fraca”, ou
menos concentrada (0,6%), para exame de possíveis diferenças decorrentes da
concentração da substância utilizada.
Os testes de ingestão de líquidos foram realizados nas gaiolas viveiro dos
sujeitos, e sempre aconteciam após um período de privação de água e comida (quatro
horas para o experimento 1, e 23 horas para os outros experimentos). Esses testes
também foram realizados com os sujeitos controle. As garrafas eram sempre
contrabalanceadas entre os lados direito e esquerdo da gaiola (suas posições variavam a
cada teste), quando os testes eram realizados com duas mamadeiras. Para medidas de
ingestão e preferência antes do protocolo, os testes foram realizados da seguinte
maneira: duas garrafas eram colocadas na gaiola dos sujeitos, uma contendo água e a
outra contendo a solução de teste (sacarose, sacarina ou solução salina), 72 horas antes
do início de cada experimento, por um período de 48 horas, semanalmente. Para o
experimento 1, os testes aconteceram com apenas uma garrafa nas semanas 1 e 2 do
protocolo. Para todos os outros experimentos, o mesmo procedimento foi adotado
também durante o protocolo de estressores.
Dentre os resultados apresentados pelos autores, serão destacados, aqui, os que
dizem respeito à ingestão e preferência dos líquidos testados e aos efeitos do
antidepressivo administrado em alguns grupos de sujeitos. Os resultados referentes às
3 Os estressores serão descritos mais pormenorizadamente no método desta pesquisa.
5
medidas de glicose e corticosterona não serão apresentados, por não serem de interesse
direto no presente trabalho (já que, na presente pesquisa, as medidas utilizadas serão
semelhantes às primeiras, e não às últimas).
Para todos os sujeitos experimentais submetidos ao protocolo de estressores,
houve, durante o período de exposição ao protocolo, diminuição na ingestão da
substância doce (sacarose ou sacarina), mantendo-se a ingestão de água constante, em
relação à ingestão anterior ao protocolo. Desta forma, foi verificada diminuição da
preferência observada inicialmente por essas substâncias, já que a ingestão de água
passou a ser muito parecida com a de sacarose ou sacarina.
Nos experimentos 2 e 3, em que os animais receberam o antidepressivo tricíclico
após a terceira semana de protocolo de estressores, houve recuperação dos níveis
iniciais, tanto de ingestão quanto de preferência, após a segunda semana de
administração de DMI. Para os sujeitos que tiveram administração de placebo, ao invés
do antidepressivo, a ingestão e a preferência não foram alteradas.
Mudanças na ingestão durante o protocolo de estressores não foram identificadas
para os grupos em que foi testada a ingestão de solução salina (experimento 2). A
preferência pela solução salina ocorrida nas três primeiras semanas de estressores foi
mantida nas duas semanas subsequentes, em que o DMI foi administrado para o grupo
de sujeitos.
No experimento 4, quando comparadas as soluções de sacarose utilizadas, uma
menos concentrada e outra mais concentrada, foi verificada menor preferência pela
solução menos concentrada, mesmo antes do início do protocolo de estressores. Houve
pouca preferência dos sujeitos por esta substância, antes do início do protocolo, com
relação à água pura. Desta forma, afirmam Willner et al (1987) que o antidepressivo não
demonstrou ter efeito sobre esta preferência, já que os níveis baixos de ingestão da
substância encontrados foram semelhantes aos do grupo tratado com placebo.
Um aspecto colocado na conclusão se refere à comparação da ingestão de
substâncias calóricas e não calóricas feita no estudo. Por ter havido diminuição de
ingestão tanto para sacarose (calórica) quanto para sacarina (não calórica), Willner et al
(1987) apontam que tal diminuição não pode ser atribuida a uma regulação calórica,
assim como apontado por Katz (1982). Se a ingestão de substâncias numa certa
quantidade fosse controlada por uma carência nutricional, haveria diferenças nas
ingestões de ambas, ou seja, a substância calórica seria ingerida em maior quantidade.
Já que isto não ocorreu, a variável a que são atribuidos os resultados encontrados, mais
6
uma vez, é o protocolo de estressores. É possível afirmar, portanto, que, neste estudo, o
que pareceu ser importante na produção dos resultados foi o protocolo como um todo, e
não apenas um de seus componentes (no caso, a privação), já que diferenças por
regulações calóricas não foram encontradas.
As hipóteses levantadas para interpretar tais resultados são várias. A primeira
delas é que o protocolo de estressores pode ser responsável por uma diminuição da
palatabilidade dos estímulos. Porém, não há dados empíricos para tal hipótese, e Willner
et al (1987) dizem não poder ser afirmado nada com relação a isto. Uma segunda seria a
de que o “estresse” (ou o efeito do protocolo de estressores) impediria a habilidade dos
sujeitos de beber. No entanto, ela também é descartada, já que os consumos de água e
de solução salina se mostram pouco afetados pelo protocolo. Portanto, concluem que a
redução na preferência e na ingestão dos líquidos sacarose e sacarina “se deve à
redução de suas propriedades de recompensa, mais do que por mudanças sensoriais ou
motoras” (p. 363).
O CMS - uma discussão sobre o modelo
Diversos autores discutem a importância de estudos utilizando o CMS, já que
afirmam, entre outras coisas, que aspectos ainda pouco elucidados podem ser
esclarecidos com o uso do modelo (Argyropoulos e Nutt, 1997; Weiss, 1997;
Auriacombe, Reneric e Le Moal, 1997; De Vry e Schreiber, 1997; Porsolt, 1997).
Ao questionar a relevância de um modelo animal da depressão, Willner (1997a)
afirma que, para que se possa estudar uma alteração comportamental de forma que os
dados obtidos tenham validade, é necessário que (a) o estudo lide tanto com animais que
apresentem as alterações a serem tratadas quanto com animais que não as apresentem, e
(b) que estas alterações perdurem por certo período de tempo, para que seja possível que
um eventual tratamento a ser investigado seja aplicado.
Os estudos subsequentes que replicaram o procedimento proposto por Willner et
al, de 1987, demonstram a validade e confiabilidade do modelo.
A partir dos estudos listados em seu artigo, Willner (1997a) discute a validade
de construção teórica, a validade aparente e a validade preditiva4 do modelo.
A validade de construção teórica diz respeito à racional teórica do modelo, ou
4 A tradução dos termos foi adotada do trabalho de Dolabela (2004).
7
seja, a teoria na qual o modelo se apoia. Segundo Willner (1997a), esta validade
encontra-se presente no CMS, já que há correspondência entre a formulação teórica do
modelo e o que é produzido em laboratório.
A validade aparente diz respeito às similaridades encontradas entre o modelo
experimental e a alteração estudada (no caso, a depressão). Comparando-se algumas das
alterações presentes no CMS e o que é descrito como depressão pelo DSM-IV, é
possível encontrar as similaridades, que atestariam a validade aparente do modelo
(Willner, 1997a).
A validade preditiva, por sua vez, diz respeito à correspondência entre as
predições que podem ser feitas a partir do modelo, no laboratório, com as condições
reais a que ele se refere. Mais uma vez, o autor afirma ser o modelo válido, já que, por
exemplo, as previsões feitas quanto aos efeitos dos medicamentos em pacientes clínicos
são observadas nos sujeitos submetidos ao protocolo de estressores.
Neste artigo, o autor aborda, além dos três critérios já citados, um quarto critério,
a confiabilidade, que diz respeito à similaridade entre os efeitos produzidos em um
laboratório e em outros locais. O modelo, segundo Willner (1997a), mostrou-se também
confiável, já que, em sua revisão, afirma que diversos pesquisadores produziram os
mesmos efeitos em diversos laboratórios, mesmo contando com diferenças em alguns
detalhes do procedimento.
Mesmo assim, Willner (1997a) afirma que, em algumas das vezes em que se
aplicou o procedimento em diferentes laboratórios, os resultados esperados não foram
obtidos. Willner (1997a) levanta hipóteses sobre as possíveis variáveis responsáveis
pelas diferenças encontradas. Elas podem ser agrupadas em sete grande conjuntos: (1)
diferenças na linhagem dos animais ou diferenças no fornecedor de animais, (2)
diferenças na concentração de sacarose utilizada, (3) diferenças no momento de
realização dos testes, (4) diferenças na duração do agrupamento prévio ao experimento,
(5) diferenças na ingestão por diferenças no peso, (6) diferenças nas medidas utilizadas,
e (7) diferenças produzidas por terem sido realizados experimentos em diferentes
laboratórios.
Em primeiro lugar, diferenças de linhagem dos animais utilizados para estudos
mostraram-se, em alguns casos, determinantes das diferenças nos efeitos obtidos pela
aplicação do procedimento. Ainda, quando o fornecedor de animais para o laboratório
foi alterado, também ocorreram casos em que os efeitos não foram observados, o que
pode ser devido a diferenças genéticas (os animais serem de diferentes cepas) dentro de
8
uma mesma linhagem.
Um outro fator apontado deve-se a diferenças nas concentrações de sacarose
utilizadas. Segundo Willner (1997a), a depender da linhagem de animais, a
concentração ideal varia, o que pode interferir nos efeitos encontrados.
Em terceiro lugar, também foram observadas diferenças nos efeitos quando os
testes (medidas de ingestão e preferência) foram realizados em diferentes períodos do
dia. Então, a depender do momento, e não da condição a que estavam sendo
submetidos, a ingestão de cada uma das substâncias variava, para os sujeitos.
Como um quarto aspecto possível, a duração do período em que os sujeitos
foram mantidos junto com a mãe e os outros filhotes (antes de serem separados),
previamente ao início do experimento, também se mostrou uma variável relevante nos
resultados obtidos, tendo diferentes durações deste período demonstrado diferentes
efeitos do procedimento no comportamento de ingestão dos sujeitos. Se os sujeitos não
eram separados logo após o desmame, os resultados da submissão aos estressores
variava.
Uma quinta possibilidade para a produção de diferentes resultados foi o peso
corporal dos sujeitos. Os resultados mostraram uma relação entre os efeitos do estresse
e o peso dos sujeitos, em que quanto maior a perda de peso observada, menos o efeito
de diminuição na ingestão de sacarose foi encontrado. Ou seja, se os sujeitos perdiam
muito peso durante a exposição ao protocolo, menor era a diminuição na ingestão e na
preferência por sacarose. Além disso, a questão do peso ser relevante para a
demonstração dos efeitos foi colocada por outros autores, o que será detalhadamente
discutido quando este aspecto for descrito no presente trabalho.
Em sexto lugar, foi apontado que diferentes medidas dos efeitos do protocolo
foram usadas em diversos estudos, como a medida do valor reforçador de estimulação
intracraniana e atividade em campo aberto, ao invés das medidas ingestão e preferência
comumente utilizadas para investigar a produção de anedonia, portanto podendo ter
havido diferenças nos resultados pelo uso de diferentes medidas.
Por último, pelo fato de cada um dos estudos citados ter sido realizado em um
laboratório diferente, detalhes do procedimento podem ter sido mudados de um para o
outro e, em alguns casos, esta mudança ter sido determinante para a reprodução dos
efeitos esperados.
Com tais considerações, mesmo levando-se em conta algumas dificuldades de
reprodução dos resultados pela complexidade do procedimento, Willner (1997a) afirma
9
que o modelo CMS mostra-se válido e um dos mais confiáveis modelos da depressão.
Em 1997, um número da revista Psychopharmacology foi proposto para
discussão do CMS como modelo experimental. Willner escreveu um primeiro artigo,
supra relatado, e outros autores escreveram diversos artigos em resposta a ele. Ao final,
Willner, em resposta a esses artigos, respondeu cada uma das críticas feitas ao modelo e
o que, em sua concepção, poderia ser comentado a respeito de cada uma delas.
Moreau (1997), Di Chiara e Tanda, (1997), De Vry e Schreiber, (1997),
alegaram que o teste de ingestão de sacarose se mostrou uma medida ruim, já que
apontam haver relação dele com as alterações de peso apresentadas pelos sujeitos
submetidos ao estresse crônico. No entanto, Willner salienta que tal relação não existe,
já que estudos comprovaram não haver relação entre a diminuição de ingestão de
sacarose e a privação de alimento, mas sim entre esta perda de peso e o protocolo de
estressores.
Também apontado por alguns dos comentadores (por exemplo, Weiss, 1997) foi
o uso da medida ingestão de sacarose apenas, e não preferência de sacarose com relação
à água pura. A preferência, segundo eles, conferiria maior confiabilidade ao modelo, por
ser uma medida melhor (mais precisa) dos efeitos do protocolo, do que apenas a medida
ingestão. Porém, para Willner (1997b), há pouca diferença entre elas, sendo ambas
confiáveis, por produzirem resultados semelhantes. Sendo assim, sua opção em seus
estudos acaba por ser pela medida mais fácil de ser utilizada, que é o teste de ingestão
com apenas uma garrafa. Seu principal argumento é o de que a ingestão de água não se
altera, quando testado isoladamente da sacarose. Com isso, esta medida não seria
essencial para validar a medida dos efeitos do protocolo de estressores (anedonia),
conforme especificado por ele.
Willner (1997b), ressalta, ainda, que, mesmo não havendo diferenças
significativas entre uma medida e outra, ambas apresentam suas vantagens e
desvantagens (maior ou menor precisão na demonstração da anedonia, maior ou menor
facilidade de aplicação, entre outras). Segundo o autor, as três medidas da anedonia
comumente usadas (ingestão de sacarose, estimulação intracraniana e condicionamento
de preferência de lugar) é que garantem a consistência do modelo, já que para todas os
mesmos resultados são obtidos, e a razão de se utilizar mais frequentemente uma delas é
por sua maior facilidade de aplicação.
10
Em sua mais recente revisão do modelo, Willner (2005) fez um levantamento
dos trabalhos sobre o CMS realizados por mais de 60 diferentes grupos de estudos.
Ao descrever o modelo, afirma que, ao longo de mais de 10 anos de estudos,
foram publicados diversos estudos que replicaram o protocolo, e que demonstraram a
diminuição na ingestão e preferência por sacarose para os sujeitos submetidos aos
estressores (anedonia), além de outras alterações, para citar algumas: agressão,
mudanças no comportamento sexual e no comportamento de autocuidado.
Ao listar grande parte dos estudos publicados que utilizaram a ingestão e
preferência de solução doce (sacarose ou sacarina) como medida dos efeitos da
submissão ao protocolo de estressores, relata as semelhanças encontradas em todos os
procedimentos, mesmo que muitos deles tenham inclusive diferentes nomeações para o
protocolo: “‘estresse moderado crônico’, ‘estresse crônico moderado imprevisível’,
‘estresse subcrônico moderado imprevisível’, ‘estresse crônico ultramoderado’, e
‘estresse variado, variável crônico’” (Willner, 2005, p. 92). Além disso, reporta que,
mesmo com diferenças em detalhes do procedimento, todos os estudos relatam
diminuição na preferência ou na ingestão do líquido doce utilizado.
Alguns resultados às vezes contraditórios encontrados em alguns estudos são
atribuidos a funções de gênero, alterações endócrinas, diferentes linhagens, alterações
no estado nutricional, horário da medida (realização dos testes), entre outros, o que não
invalida o procedimento de maneira geral, como já havia sido apontado por Willner em
seus artigos de 1997 (a e b).
Outro aspecto da revisão que demonstra a confiabilidade do modelo é o fato de
que, dentre os mais de 100 estudos listados, a maior parte deles (mais de 70% dos
estudos) replicaram os resultados do autor, mesmo com diferenças em detalhes do
procedimento. Além disso, o modelo mostrou também validade, pois foi também
observada a eficácia no uso de antidepressivos para a reversão dos sintomas observados,
tendo apenas um estudo não demonstrado tal efeito, pelo pouco tempo de tratamento
realizado com os sujeitos.
Ao concluir seu artigo, Willner (2005) afirma que a consistência do modelo é
inegável, uma vez que “os efeitos do CMS são altamente replicáveis entre
laboratórios” (p. 103), atestando, portanto, a viabilidade e relevância de mais estudos
sobre ele.
Porém, ainda são formuladas algumas questões sobre aspectos considerados
pouco elucidados em relação a quais variáveis deveriam ou poderiam ser atribuidas as
11
mudanças decorrentes da submissão ao protocolo de estressores.
Com os objetivos de investigar os efeitos do peso corporal nas medidas de
ingestão de sacarose, e as possíveis diferenças nesta ingestão por diferenças na
concentração da substância, Matthews, Forbes e Reid (1995) submeteram ratos Lister ao
protocolo de estressores de Willner et al (1987).
Anteriormente à exposição ao protocolo, os sujeitos foram expostos a duas
garrafas, na gaiola viveiro, uma de sacarose a 0,9% e outra de água, por um período de
48 horas, em que o consumo era livre.
O protocolo de estressores foi implementado por 11 semanas, e os estressores
eram aplicados de forma sequencial, em ciclos de sete dias. Matthews et al (1995)
relatam não ter utilizado alguns estressores (redução da temperatura e objeto estranho),
que foram originalmente utilizados por Willner et al (1987), mas que, segundo eles,
foram também omitidos de estudos posteriores deste grupo, não comprometendo,
portanto, seu procedimento. Os estressores utilizados no experimento podem ser vistos
no Anexo 1.
Os testes de ingestão e preferência foram conduzidos, durante todo o
experimento, na gaiola viveiro dos sujeitos, e as garrafas foram contrabalanceadas a
cada teste. Previamente aos testes, os sujeitos eram privados de água e alimento por 21
horas, tanto antes quanto durante o protocolo. Durante o mesmo, este período
correspondia à implementação do estressor privação. O teste tinha a duração de uma
hora.
Além dos testes de ingestão e preferência conduzidos durante as oito semanas
iniciais de protocolo com sacarose a 0,9%, diferentes concentrações foram então
testadas: 0,7%, 2,4%, 7%, 13,6% e 34%. Cada concentração foi utilizada uma vez com
cada sujeito, sendo sua ordem de teste randomizada. Além disso, um intervalo de 48
horas entre os testes foi sempre mantido, já que neste momento a realização dos testes
não foi semanal (como durante as outras oito semanas de protocolo).
Os resultados foram que, com relação ao peso, a média dos grupos controle e
submetido ao estresse, inicialmente muito próxima, passou a diferir significativamente
após uma semana do início do protocolo. Para os sujeitos controle, o ganho de peso
continuou a ocorrer, enquanto que para os sujeitos submetidos ao protocolo o peso
quase não variou, ou seja, quase não houve ganho de peso durante este período.
A ingestão de sacarose, avaliada para a concentração 0,9% ingerida nos testes
realizados nas primeiras oito semanas de protocolo, também medida pela média para os
12
grupos, diminuiu nas semanas iniciais, mas chegou a aumentar, ao final das oito
semanas, para os sujeitos submetidos ao protocolo, enquanto que se manteve, com
poucas alterações, para o grupo controle.
Quando calculada a ingestão de sacarose com relação ao peso corporal dos
sujeitos, entretanto, não foi encontrada diferença entre o grupo submetido ao protocolo
o grupo controle. O cálculo era feito da seguinte forma: dividindo-se o peso do sujeito
pela quantidade consumida naquele teste uma razão era obtida. Então, as razões
poderiam ser comparadas, já que todas representavam números relativos, e não
absolutos. Ou seja, a ingestão de sacarose, em gramas, relativa ao peso corporal,
também em gramas, se manteve ao longo do experimento, mesmo com a submissão dos
sujeitos ao protocolo.
Com relação à preferência, foi observado um aumento para o grupo submetido
ao protocolo, principalmente nas três primeiras semanas de estressores, em comparação
aos sujeitos controle, em que a preferência se manteve.
Para as diferentes concentrações de sacarose não foram observadas diferenças
significativas entre os grupos, com relação ao consumo por grama, ao total consumido
ou à preferência por sacarose.
Matthews et al (1995) discutem, inicialmente, problemas que acreditam existir
nas medidas utilizadas em estudos com o modelo. Pelo fato de utilizarem ingestão, e
esta ser tão variável entre os diferentes experimentos, esta medida se mostra pouco
confiável, uma vez que não há consistência entre os resultados que são muitas vezes
comparados.
Porém, cabe aqui salientar que, mesmo utilizando este argumento, Matthews et
al (1995) ainda usam médias para representação dos resultados, e este questionamento
não é feito por eles. Se as medidas são tão variáveis, a média é uma forma de distorcer
mais ainda, e não deveria ser, portanto, utilizada. A variabilidade individual só seria,
portanto, um problema, pelo fato deles usarem a média.
Outro argumento levantado é o de que a preferência é uma medida muito mais
confiável do que a ingestão absoluta, e esta medida foi abandonada pelo grupo de
Willner no decorrer dos experimentos. Segundo Matthews et al (1995), a preferência
seria uma medida menos suscetível às influências de mudanças corporais e mudanças
nos padrões de ingestão.
Por terem utilizado diferentes concentrações de sacarose e, ainda assim, não
haver sido encontrada nenhuma diferença entre os sujeitos, Matthews et al (1995)
13
argumentam que não se pode afirmar nada sobre alterações na propriedade
recompensadora da substância, uma vez que a mudança na magnitude não alterou o
consumo.
Com relação ao peso corporal, Matthews et al (1995) criticam o fato de Willner
et al (1987) não terem dado conta deste aspecto. Argumentam que as mudanças no peso
são muito drásticas ao longo do procedimento e que, portanto, deveriam ser levadas em
conta na análise dos resultados. Seus resultados dão suporte ao fato de que o peso tem
papel fundamental nas alterações de ingestão. Segundo eles, é inegável que “ratos
maiores consomem mais sacarose” (p. 247), o que dá substância à afirmação de que
não é pelo estresse, mas pelas diferenças no peso corporal, que se dão as alterações de
ingestão reportadas pelos estudos com o modelo.
Finalmente, colocam que a comparação mais óbvia ainda não havia sido feita,
que seria a de implementar apenas o regime de privação do protocolo em um grupo de
sujeitos, para que se mostrasse possível a investigação da perda de peso em relação à
ingestão de sacarose. Portanto, este aspecto se mostra de extrema relevância, e por isto é
proposto como uma das variáveis a serem investigadas no presente estudo, o que será
detalhado mais adiante.
Forbes, Stewart, Matthews e Reid (1996), em estudo posterior, também colocam
que a privação é a variável crítica para a diminuição de ingestão e preferência das
substâncias doces quando há exposição ao protocolo.
No estudo realizado por eles, a relação do protocolo de estressores crônicos
moderados com a perda de peso corporal dos sujeitos foi também investigada, levando-
se em conta a hipótese de que a diminuição de ingestão observada na aplicação do
procedimento poderia ser secundária à perda de peso. Isto é, a diminuição da ingestão
de substâncias, como a sacarose, seria devida a uma diminuição na massa corpórea, e
não a alterações no valor de recompensa desses estímulos.
Quatro grupos de 20 sujeitos machos da linhagem Lister foram utilizados: um
grupo controle, não submetido aos estressores nem à privação, um grupo submetido ao
protocolo semelhante ao de Willner et al (1987), um grupo apenas de privação de
alimento, e um último grupo, em que o protocolo foi modificado, de modo a não ter
como estressores a privação de alimento e água. A distribuição dos grupos teve como
objetivo verificar se apenas a privação, e não o conjunto de estressores em si, era a
responsável pela diminuição da ingestão de sacarose.
Antes do início da aplicação dos estressores, todos os sujeitos foram expostos
14
por 48 horas a uma solução de sacarose a 0,9%, para adaptação, e o teste de ingestão e
preferência inicial foi então realizado, utilizando-se duas mamadeiras, uma com água e
outra com sacarose. Todos os testes subsequentes foram realizados da mesma maneira,
sempre após um período de 21 horas de privação de água e alimento, tal como previsto
no protocolo de Willner et al (1987). Além das condições de privação previstas para
testes, não havia nenhuma condição de privação de água nem de alimento (consumo
livre), a não ser para os grupos em que esta variável foi manipulada. Portanto, para o
grupo em que nenhuma privação foi estipulada, apenas por um período semanal de 21
horas de privação de água e alimento ocorreu durante o experimento5.
O protocolo de estressores teve a duração de seis semanas, e as medidas de
ingestão e preferência foram também realizadas durante esse período.
Os resultados encontrados mostraram relação entre a perda de peso e a
diminuição na ingestão de sacarose. Os grupos em que o peso corporal sofreu maiores
alterações (os grupos submetidos ao protocolo completo e o grupo de privação de
alimento) foram os grupos em que as maiores alterações na ingestão também ocorreram.
As diferenças entre esses grupos, porém, não foram apresentadas e, pela inspeção
gráfica dos resultados, apesar da afirmação dos autores, elas parecem não existir (as
curvas de ingestão e preferência para os grupos privação de alimento e protocolo
completo estão exatamente sobrepostas).
Para Forbes et al (1996), o fato do grupo submetido ao protocolo de estressores
modificado não ter apresentado alterações significativas na ingestão de sacarose dá
maior evidência ao papel da privação nos efeitos geralmente reportados nos estudos da
área. Ou seja, apenas a privação se mostrou suficiente para produção dos efeitos que se
afirmam ser decorrentes do protocolo completo (o que pôde ser constatado nos
resultados com o grupo em que esta variável foi isolada). Desta forma, Forbes et al
(1996) discutem que esses resultados colocam em dúvida se a variável independente é o
protocolo completo ou a privação de água e alimento, apenas.
A análise dos dados feita para discutir os efeitos dessas variáveis teve como base
a medida de ingestão de sacarose por grama de peso corporal, ou seja, uma medida
relativa do consumo em relação ao peso, assim como no estudo de Matthews et al
(1995). Portanto, a ingestão diminuida observada nos grupos privação não teria sido
5 Portanto, vale salientar que, mesmo sendo o grupo em que a privação seria isolada, ou seja, esta condição não seria imposta aos sujeitos, eles foram submetidos a um período semanal de privação.
15
devido aos estressores, mas devida à massa corporal diminuida dos sujeitos pela
restrição de acesso ao alimento e à água. Desta forma, Forbes et al (1996) afirmam ser a
diminuição de ingestão secundária à diminuição de peso, e não devido ao protocolo de
estressores a que os sujeitos foram submetidos. O grupo de sujeitos submetidos ao
protocolo completo teve resultados semelhantes, portanto, não pelo restante dos
estímulos estressores aplicados em conjunto, mas apenas pelo fato da privação estar
presente neste protocolo.
Na tentativa de esclarecer a relação do peso corporal com os efeitos do protocolo
de estressores (diferenças na ingestão de sacarose, por exemplo), o presente estudo se
propôs, também, a melhor examinar esta variável. Para isto, o peso de todos os sujeitos
do experimento foi aferido diariamente, a partir aproximadamente do 5º dia após seu
nascimento, e o controle das quantidades de alimento e água consumidos também foram
realizados.
O procedimento de manipulação neonatal, ou seja, de manipulação dos sujeitos
experimentais desde poucos dias após seu nascimento, foi avaliado levando-se em conta
os impactos que ele pode ter no comportamento dos sujeitos.
Silveira, Portella, Clemente, Bassani, Tabajara, Gamaro, Dantas, Torres, Lucion
e Dalmaz (2004), realizaram uma investigação sobre os possíveis efeitos da
manipulação neonatal no comportamento de consumo de comida (ração), ingestão de
glicose e solução salina líquidas, e consumo de comida doce dos sujeitos, já na fase
adulta. Seu estudo contou com grupos de sujeitos manipulados e não manipulados
durante o período após o nascimento, e os testes de consumo e ingestão, para todos os
sujeitos, quando adultos.
Os resultados encontrados por eles demonstram diferenças na ingestão do que
chamam de substância palatável (ou substância doce, no caso, a comida) entre ratos
manipulados e não manipulados. Os sujeitos manipulados ingeriram consideravelmente
maior quantidade da comida doce que os demais sujeitos, sendo o consumo para as
demais substâncias parecidos entre os grupos.
Com tais resultados Silveira et al (2004) afirmam que a manipulação neonatal,
considerada estressora por esses autores, produz alterações no sistema nervoso central
de ratos recém nascidos, alterações estas que persistem por toda a vida dos sujeitos.
Essas alterações, segundo eles, podem ser detectadas pelo maior consumo da comida
doce por esses sujeitos, em comparação aos sujeitos que não passaram por essas
situações.
16
Em estudo posterior, Silveira, Portella, Crema, Correa, Nieto, Diehl, Lucion e
Dalmaz (2008), novamente interessados nos efeitos da estimulação neonatal no
comportamento adulto de ratos, investigaram não somente esta estimulação, mas
também se a exposição de sujeitos a substâncias doces durante a infância, alteraria o
padrão de consumo apresentado na fase adulta.
Os resultados encontrados foram que, além da estimulação produzir as
diferenças já reportadas, a exposição à substância doce durante a infância produziria,
também, aumento no consumo dessa substância na fase adulta. Segundo Silveira et al
(2008), “é possível que ratos expostos à comida doce cedo na vida apresentem o efeito
de recompensa diminuido da ingestão de comida doce na fase adulta, precisando
ingerir maior quantidade para se sentirem melhor” (p. 881).
Em um estudo semelhante, Michaels e Holtzman (2006) investigaram a
possibilidade do abuso de substâncias na fase adulta ser advindo de condições
estressoras a que sujeitos fossem submetidos quando neonatos. Para tanto, propuseram
um estudo em que a manipulação neonatal seria realizada com os sujeitos, e a posterior
ingestão de sacarose seria avaliada.
Os resultados demonstraram haver relação entre a manipulação neonatal e a
maior ingestão de sacarose dos sujeitos na fase adulta, comparando-se sujeitos
submetidos a esta condição e sujeitos não submetidos a ela.
Portanto, esses resultados serão também aqui considerados, já que se propôs
tanto a exposição dos sujeitos à sacarose desde seu 90º dia de vida, bem como a
manipulação dos sujeitos desde aproximadamente seu 5º dia de vida.
Além disso, foram propostos grupos experimentais em que condições de
privação foram manipuladas. Alguns sujeitos foram submetidos aos estressores sem
privação, outros aos estressores com privação, e outros apenas à privação.
Com esses grupos de sujeitos, pretendeu-se avaliar se a privação, isoladamente,
produz os efeitos de diminuir ingestão e preferência de sacarose pelos sujeitos, ou seja,
se a privação, e não o conjunto completo de estressores, é responsável pela anedonia
descrita no modelo em questão.
Assim, a investigação do efeito isolado de um dos estressores do protocolo – a
privação – , do protocolo sem este estressor específico e do protocolo completo – da
interação entre os demais estressores e a privação – se tornou possível. Além disso, a
investigação dos efeitos do protocolo completo, do protocolo incompleto e apenas da
privação no peso dos sujeitos também foi realizada.
17
Investigações a respeito dos efeitos da privação no peso dos sujeitos já foram
realizadas. Tomanari, Pine e Silva (2003), por exemplo, realizaram um estudo em que
as privações hídrica e alimentar foram manipuladas, a fim de investigar os efeitos que
elas têm no peso corporal dos sujeitos. A privação imposta por eles era de quantidade
disponibilizada, ou seja, a restrição era por quantidade, e não por tempo de acesso.
Com relação aos resultados, Tomanari et al (2003) apontam que há uma relação
direta entre privação e peso corporal, ou seja, assim que é imposta uma restrição hídrica
ou alimentar ao sujeito, seu peso é reduzido. Além disso, ressaltam o fato de que
períodos de interrupção na privação podem ser responsáveis por diferenças na maneira
como o peso é recuperado pelo sujeito. Após terem passado por períodos de livre acesso
ao item privado entre períodos de privação, os sujeitos apresentaram maior dificuldade
na redução de peso, quando as restrições eram novamente impostas. Com isso, uma das
possibilidade levantada por eles foi a de que a história de privação, e não apenas a
privação momentânea, tem efeitos no ganho e perda de peso corporal dos sujeitos,
conforme será discutido no presente trabalho.
O CMS e o estudo do controle operante
Além de avaliar a privação como variável independente relevante, o presente
estudo se propôs a investigar se os efeitos desta variável poderiam ser alterados pelos
efeitos de outra variável, o controle operante.
Thomaz (2001) recorreu ao protocolo de estressores de Willner et al (1987) para
avaliar os possíveis efeitos da submissão a esses estímulos sobre o comportamento dos
sujeitos, buscando investigar se o que os autores chamavam de “sensibilidade à
recompensa” poderia ser entendido como valor reforçador de um estímulo. Partindo da
afirmação de Willner et al (1987) de que um dos efeitos do estresse moderado e crônico
sobre os sujeitos é a anedonia, definida como a perda de sensibilidade à recompensa,
Thomaz (2001) mediu também uma resposta operante de alguns de seus sujeitos
experimentais, a resposta de pressão à barra, de forma que a taxa de respostas para
obtenção de cada um dos estímulos reforçadores, água e sacarose, pudesse ser tomada
como uma medida do valor reforçador de cada um deles. Se a frequência de uma
resposta aumenta quando esta é seguida de um determinado estímulo, tal estímulo pode
ser definido, por este efeito, como estímulo reforçador. Então, alterações na taxa da
resposta poderiam refletir o valor reforçador deste estímulo.
18
Foram utilizados no trabalho 12 ratos machos e experimentalmente ingênuos,
divididos em dois grupos: sujeitos controle e sujeitos submetidos ao protocolo. Os
sujeitos submetidos ao protocolo, por sua vez, foram divididos outros dois subgrupos:
sujeitos que passariam por sessões operantes e sujeitos que não passariam por esta
condição.
O protocolo de estressores era assim composto: (a) privação de comida, (b)
inclinação da gaiola, (c) agrupamento, (d) gaiola suja, (e) barulho intermitente, (f) luz
estroboscópica, (g) exposição a uma garrafa de água vazia após um período de privação,
(h) acesso restrito à comida, (i) cheiro, (j) presença de um objeto estranho na gaiola, (l)
iluminação contínua. Este protocolo diferiu do proposto por Willner et al (1987). Não
houve exposição à temperatura reduzida (10ºC). Além disso, alguns dos sujeitos do
experimento de Thomaz (2001) diferiram dos sujeitos de Willner et al (1987) por uma
diferente história de privação de água. No estudo de Thomaz (2001), todos os sujeitos
que passaram por sessões operantes foram privados de água continuamente, para que
seu peso fosse mantido entre aproximadamente 80 e 85% de seu peso ad lib (peso
aferido quando o consumo de alimento e água era livre).
Desta forma, esses sujeitos, durante todo o experimento, e não apenas durante as
seis semanas de protocolo de estressores, passaram pela privação de água. Esta
exposição à privação pode ser relevante na produção dos resultados, já que a privação é
considerada uma variável crítica em alguns estudos já citados (Matthews et al, 1995;
Forbes et al, 1996) e, no estudo de Thomaz (2001), foi utilizada como procedimento de
manutenção do peso durante muito mais tempo do que quando apenas durante a
exposição ao protocolo de estressores.
Todos os sujeitos passaram pelos testes de ingestão e preferência, que
aconteciam da seguinte maneira: duas garrafas tipo mamadeira eram disponibilizadas,
ao mesmo tempo, para os sujeitos na gaiola viveiro, uma contendo água e outra
contendo uma solução de água com sacarose a 2%. A posição das garrafas era alterada a
cada teste, tendo sido realizados testes semanalmente, antes, durante e depois da
submissão dos sujeitos ao protocolo de estressores. A medida da ingestão e da
preferência (comparação da ingestão de um dos líquidos com o outro) era feita a partir
da quantidade restante nas garrafas, ao final do período de teste, comparando-se esta
quantidade com a inicial (de antes dos testes). Todos os testes foram realizados após
período de privação de água e alimento de 23 horas, para todos os sujeitos, mesmo os
que não passaram por protocolo ou por sessões operantes.
19
O grupo de sujeitos submetidos ao protocolo de estressores que não passou por
nenhuma sessão operante passou apenas pelos testes de ingestão e preferência de
líquidos, antes, durante e depois da exposição ao protocolo.
Para o outro grupo submetido ao protocolo de estressores, foram realizadas
também sessões operantes. Nas sessões operantes, respostas de pressão à barra foram
modeladas para todos os sujeitos do grupo, inicialmente. Em cada sessão, dois
conjuntos barra-bebedouro estavam presentes na caixa experimental, em paredes
opostas (um de frente para o outro) e a água pura foi usada como estímulo reforçador,
nesta fase inicial. A modelagem ocorreu para ambas as barras da caixa experimental (da
esquerda e da direita). Esta fase foi finalizada quando os sujeitos respondiam em ambas
as barras.
As sessões operantes passaram então a ser realizadas em esquema concorrente
água-sacarose. Esquemas concorrentes são esquemas “programados, simultaneamente,
para duas ou mais respostas” (Catania, p. 200, 1999). O esquema de reforçamento
utilizado nos componentes do esquema concorrente foi razão fixa. Um esquema de
reforçamento em razão fixa é um esquema “no qual o número de respostas por
reforçador é constante de um reforço para o outro” (Catania, p. 187, 1999).
A preferência por uma das barras – a relacionada à água e a relacionada à
sacarose – era medida pela taxa de respostas. Quando a sessão era finalizada com uma
taxa de respostas em uma das barras que indicasse preferência por esta, o lado em que
cada estímulo reforçador era liberado era trocado na sessão seguinte (ou seja, a barra
que antes correspondia à sacarose passava a ter liberação de água e vice versa). Se
houvesse preferência pela posição da barra, ou seja, o sujeito continuasse a responder
mais a um determinado lado, mesmo tendo havido a troca, a posição das barras era
mantida; se não (preferência novamente pelo estímulo, mesmo que do outro lado),
trocava-se novamente.
Essas sessões ocorreram antes da submissão dos sujeitos ao protocolo de
estressores e após o término deste. Todas as sessões duravam 60 minutos, e aconteciam
cinco dias na semana, sendo o sexto dia utilizado para o teste de preferência e ingestão
e, no sétimo dia, não eram realizadas sessões, já que os sujeitos sofriam alterações de
peso por conta dos testes6.
6 Não é especificada a quantidade da alteração em termos de porcentagem do peso.
20
Os resultados encontrados são referentes, principalmente, às diferenças entre os
dois grupos submetidos ao protocolo de estressores (o grupo que passou por sessões
operantes e o grupo que não passou por elas).
Quanto ao peso corporal dos sujeitos, Thomaz (2001) apresenta resultados que
mostram que, em comparação aos sujeitos que não passaram pelo protocolo de
estressores, todos os sujeitos submetidos a ele apresentaram perda de peso. A autora
ressalta que nenhum dos sujeitos controle, com os quais o peso dos sujeitos submetidos
ao protocolo de estressores foi comparado, passou por qualquer esquema de privação,
sendo sugerido, portanto, que este fator pode ter sido determinante na manutenção de
seu peso.
Para o grupo que foi submetido apenas ao protocolo de estressores, e não às
sessões operantes, foi verificada uma diminuição na ingestão total de líquidos (água e
sacarose) durante o protocolo, em comparação à ingestão de antes, tendo esta
diminuição se mantido após o término da exposição aos estressores. Além disso, a
preferência por sacarose apresentada pelos sujeitos antes da exposição aos estressores
diminuiu durante o protocolo. Mesmo assim, a quantidade ingerida de água não chegou
a ultrapassar a quantidade ingerida de água com sacarose, para todos os sujeitos. Após a
retirada dos estressores, esta preferência diminuida e a menor quantidade total de
ingestão se mantiveram, não voltando aos valores apresentados inicialmente (antes dos
estressores), semelhante ao que foi observado nos testes realizados durante o protocolo.
Para os sujeitos que, além de submetidos ao protocolo de estressores, tiveram
também sessões operantes antes e depois deste, foi verificada também a diminuição no
consumo total durante esta exposição. A preferência apresentou as mesmas alterações
relatadas para o outro grupo. Com o fim da exposição aos estressores e o reinício das
sessões de esquema concorrente, no entanto, aumentaram novamente a preferência por
sacarose e o consumo total de líquidos.
Quanto às taxas de respostas de pressão à barra emitidas pelos sujeitos que
passaram pelas sessões de esquema concorrente, constatou-se a preferência por água
com sacarose, já que a taxa foi superior nas barras associadas com sacarose. Mesmo
depois da submissão dos sujeitos ao protocolo, a taxa maior na barra correspondente à
sacarose se manteve.
Portanto, Thomaz (2001) afirma que a situação operante parece ter sido
determinante na recuperação dos valores de ingestão e preferência apresentados pelos
sujeitos. Para os sujeitos que passaram por esta situação, houve uma volta dos valores
21
de ingestão e preferência aos níveis que apresentavam antes da submissão dos sujeitos
aos estressores, o que não aconteceu para aqueles que não passaram por tal situação.
Sua discussão aponta para o fato de que uma situação de controlabilidade, em que o
sujeito opera sobre o ambiente produzindo as consequências, interfere nos efeitos de
uma situação de exposição aos estressores apresentados de maneira incontrolável, como
pôde ser observado em seus resultados. Mais ainda, a situação operante teria produzido,
pelo que foi observado na ingestão de líquidos pelos sujeitos, o mesmo efeito que o
medicamento antidepressivo utilizado por Willner et al (1987), a imipramina.
Uma das propostas de Thomaz (2001), ao analisar os dados de seu estudo, foi a
de que se propusesse um delineamento em que as sessões operantes ocorressem também
durante a exposição dos sujeitos ao protocolo de estressores, para investigar os efeitos
do desempenho operante sobre a submissão ao protocolo mais claramente.
Então, Dolabela (2004), também interessada nos efeitos do controle operante
sobre os sujeitos submetidos ao protocolo de estressores do CMS, propôs um
delineamento em que os sujeitos seriam expostos a um protocolo de estressores idêntico
ao de Thomaz (2001) e, ainda, submetidos às sessões operantes também durante essa
exposição, conforme havia sido sugerido por ela. Dolabela (2004) pretendia verificar se
seriam encontradas diferenças no peso corporal, no desempenho operante e na
preferência por água com sacarose em relação à água pura entre o grupo de sujeitos que
foram expostos às sessões operantes apenas antes e depois da submissão ao protocolo de
estressores e o grupo de sujeitos expostos a essas sessões antes, durante e depois dele.
Para isto, o estudo foi composto de três condições experimentais: (a) teste de
ingestão e preferência de líquidos; (b) esquema concorrente; e (c) protocolo de
estressores (assim como no estudo de Thomaz, 2001).
Foram sujeitos do experimento oito ratos da raça Mc Cowley, divididos em
quatro grupos, sendo um deles controle e três submetidos ao protocolo de estressores. O
grupo controle foi submetido apenas aos testes de ingestão e preferência. Dentre os
outros grupos, um grupo foi submetido aos testes e ao protocolo de estressores, outro
grupo foi submetido aos testes, ao protocolo, e também às sessões operantes antes e
após o protocolo de estressores, e o último grupo foi também submetido aos testes, ao
protocolo, às sessões operantes, porém não apenas antes e após, mas também durante a
exposição aos estressores.
22
Os testes de ingestão e preferência de líquidos ocorreram antes da exposição aos
estressores (pré-testes), durante a exposição e ao término desta. Todos os testes
ocorreram de forma idêntica aos testes realizados por Thomaz (2001).
O esquema concorrente envolveu duas fases, em que todas as sessões operantes
tiveram 20 minutos de duração cada. Na primeira, a resposta de pressão à barra foi
modelada e fortalecida. Na segunda fase, o esquema concorrente foi iniciado. O
procedimento adotado para as duas fases foi semelhante ao de Thomaz (2001), tendo
como única diferença a concentração de sacarose utilizada na segunda fase (8% para
Dolabela, 2004).
Para três dos sujeitos experimentais, as sessões operantes continuaram a ocorrer
durante o protocolo de estressores. Para os demais sujeitos que também foram expostos
às sessões operantes, estas aconteceram apenas antes e depois da exposição ao
protocolo.
O protocolo de estressores foi idêntico ao de Thomaz (2001) e, portanto, os
ciclos de sete dias durante seis semanas, os estressores apresentados e o esquema de
privação utilizado foram os mesmos.
Os resultados foram analisados quanto a três aspectos: perda e recuperação de
peso corporal, preferência e ingestão de líquidos e controle operante (esquema
concorrente).
Todos os sujeitos submetidos ao protocolo apresentaram perda de peso corporal,
mas para sujeitos que foram também submetidos às sessões operantes, a recuperação se
deu mais rapidamente (alguns dias antes) para todos os sujeitos, encerrado o protocolo.
Com relação à preferência e ingestão de água e água com sacarose, Dolabela
(2004) relata que, para todos os sujeitos que foram submetidos ao protocolo de
estressores, as quantidades ingeridas de ambos os líquidos apresentaram alterações, mas
nunca invertendo a preferência por sacarose, aferida antes da exposição aos estressores
(passando a ingerir maior quantidade de água do que de água com sacarose). Algumas
diferenças entre os sujeitos são apontadas por ela.
Para os sujeitos submetidos às sessões operantes antes, durante e depois da
exposição aos estressores, a redução na ingestão de líquidos parece ter sido menor do
que para os outros sujeitos (os sujeitos não submetidos a nenhuma sessão e os
submetidos às sessões apenas antes e depois). Portanto, Dolabela (2004) afirma que o
fato de terem passado por sessões operantes também durante a exposição ao protocolo
parece ter influência na ingestão total de líquidos pelos sujeitos.
23
Foi observado, como nos estudos de Thomaz (2001) e Willner et al (1987), que
houve uma redução na preferência por sacarose, para todos os sujeitos submetidos ao
protocolo de estressores, ainda que esta preferência se mantivesse. Porém, para os
sujeitos submetidos às sessões operantes antes, durante e após o protocolo, esta redução
aparece menor do que para o restante dos sujeitos.
Ao discutir seus resultados, Dolabela (2004), assim como Thomaz (2001),
aponta a hipótese que se refere à controlabilidade como fator determinante nas
diferenças encontradas entre sujeitos submetidos às sessões operantes e sujeitos apenas
expostos ao protocolo de estressores. Para ela, a controlabilidade propiciada pela
relação de contingência entre a resposta e a produção da consequência “pode ter
abrandado os efeitos da exposição aos estressores” (p. 79).
Replicando o trabalho de Dolabela (2004), Rodrigues (2005) propôs uma nova
investigação das relações entre a exposição ao protocolo de estressores e o controle
operante no comportamento dos sujeitos. Acrescentou ao estudo de Dolabela (2004)
dois aspectos: (a) medida da quantidade de alimento e água consumidos pelos sujeitos, e
(b) esquema concorrente de menor valor nas sessões operantes. Com relação ao
primeiro aspecto, tal medida propiciaria a análise da relação entre o peso, a quantidade
consumida e a exposição aos estressores. Para o segundo, caberia a análise dos efeitos
do custo de resposta (supostamente menor para menores valores da razão) envolvido
nos esquemas concorrentes.
Seus sujeitos foram 12 ratos da raça Mc Cowley, e as condições experimentais a
que foram submetidos foram semelhantes às de Dolabela (2004), tendo como diferença
a redução da razão para alguns sujeitos submetidos às sessões operantes. Seu
procedimento, também semelhante ao daquela autora, foi composto das seguintes
condições: testes de ingestão e de preferência de líquidos, sessões operantes em
esquema concorrente e protocolo de estressores.
Os resultados encontrados por Rodrigues (2005) foram também analisados com
relação ao peso dos sujeitos, à preferência e ingestão de líquidos e à submissão a
sessões de esquema concorrente por alguns dos sujeitos.
Quanto ao peso dos sujeitos, os resultados foram semelhantes aos de Thomaz
(2001) e Dolabela (2004), em relação à recuperação do peso. Para os sujeitos
submetidos às sessões operantes antes, durante e depois do protocolo de estressores,
esta recuperação foi mais rápida do que para sujeitos submetidos a essas sessões apenas
antes e depois do protocolo e, ainda, sujeitos não submetidos não voltaram ao peso ideal
24
(não houve completa recuperação). Não foram encontradas, entretanto, diferenças na
perda e recuperação de peso entre os sujeitos submetidos a diferentes valores de razão
para o esquema concorrente.
Em relação ao consumo de água e alimento serem interferentes na perda de peso,
Rodrigues (2005) aponta que, mesmo que as aferições realizadas não indiquem uma
redução importante neste consumo, o uso de privação de água e ração durante a
submissão ao protocolo pode ter provocado as alterações de peso observadas e, por isto,
não se pode afirmar seguramente sobre a relação entre os estressores e o emagrecimento
dos animais. Se os sujeitos fossem mantidos com consumo livre de água e alimento, os
resultados poderiam ser mais claros. Ele sugere, portanto, que outras medidas, com
isolamento dessas variáveis, poderiam produzir resultados mais objetivos sobre tal
relação. Levando em conta a importância desta manipulação, ela foi proposta no
presente estudo, e será melhor detalhada no procedimento.
Os testes de ingestão e preferência apresentaram semelhanças com os descritos
no trabalho de Dolabela (2004). Para todos os sujeitos expostos ao protocolo de
estressores, a ingestão total de líquidos e a preferência por sacarose diminuiram durante
este período, sendo esta mudança mantida após o término da exposição para os sujeitos
que não passaram pelas sessões operantes. Para os sujeitos que passaram pelas sessões,
a preferência e a ingestão total voltaram aos níveis iniciais, porém com diferença para
os sujeitos que passaram também pelas sessões operantes durante o protocolo de
estressores. Rodrigues (2005) afirma que, para esses sujeitos, a volta aos níveis iniciais
de ingestão e preferência se deu de forma mais rápida, sendo que para um dos quatro
sujeitos o efeito dos estressores não foi nem notado (não houve diminuição de ingestão
nem de preferência), o que ele discute também em termos de controlabilidade como
forma de evitar ou amenizar os efeitos da exposição aos estressores. Portanto, a analogia
feita, mais uma vez (levando em conta os trabalhos de Thomaz, 2001 e Dolabela, 2004)
é a de que os sujeitos que passaram em sua vida por uma situação em que seu
comportamento produz as consequências, mesmo quando submetidos também a uma
situação de estresse crônico incontrolável, são talvez “menos sensíveis” aos estímulos
que compõem o protocolo de estressores.
Quanto às sessões operantes, os resultados também corroboram os encontrados
por Thomaz (2001) e Dolabela (2004). Todos os sujeitos apresentaram maior taxa de
respostas na barra correspondente à sacarose, em praticamente todas as condições
experimentais. Houve uma redução na taxa de respostas à barra de liberação de sacarose
25
durante a exposição aos estressores, resultado este discutido por Rodrigues (2005) como
a produção de anedonia pela exposição aos estressores, conforme já descrito por
Willner et al (1987). Portanto, mesmo mantendo-se, a preferência por sacarose foi
diminuida, para todos os sujeitos expostos ao protocolo, conforme apontado pela
medida da taxa de respostas. Comparando-se esses resultados com a pergunta
inicialmente levantada por Thomaz (2001) sobre a possibilidade de chamar de valor
reforçador o que Willner et al (1987) chamaram de valor de recompensa, pode-se
afirmar, segundo o que aponta Rodrigues (2005), que as caracterizações são, pelo
menos, semelhantes, já que os autores apresentam resultados parecidos com relação às
medidas utilizadas.
Porém, conforme já observado, a volta da preferência aos níveis de linha de base
foi diferente para cada um dos grupos, e a discussão de Rodrigues (2005) mais uma vez
aponta para o fato do controle operante produzir certa “insensibilidade dos sujeitos” ou
“menor efeito” sobre eles do estresse a que foram submetidos.
Cardoso (2008), também preocupada com a relação entre o desempenho
operante e os efeitos da exposição ao protocolo de estressores, propôs uma investigação
com respeito ao tipo de esquema de reforçamento utilizado. Seu questionamento era se
existiriam possíveis diferenças nos resultados se o esquema de reforçamento fosse de
intervalo variável (VI), e não razão fixa (FR), conforme os estudos anteriores.
Foram utilizados no estudo seis ratos machos da linhagem Wistar, todos
experimentalmente ingênuos.
Um dos sujeitos foi utilizado como controle de peso, não tendo sido submetido a
nenhum dos estressores e nem à privação durante todo o experimento.
Um outro sujeito foi exposto ao protocolo, mas não passou por nenhuma
condição de privação previamente ou depois dele, sendo seu acesso à água e alimento
livre durante todo o experimento, exceto quando os estressores previstos eram
privações. Este sujeito foi proposto no trabalho para que se pudesse avaliar o
procedimento análogo ao de Willner et al (1987), em que nenhuma outra privação fosse
imposta, a não ser o que era previsto no protocolo. No presente estudo, a mesma
replicação é proposta, para o estudo da relação entre a privação e protocolo completo7.
Quatro sujeitos foram privados de água diariamente, desde o início do
experimento, e, durante o protocolo de estressores, a privação imposta foi exatamente a
7 As condições de privação e de conjunto de estressores serão melhor explicitados no método.
26
mesma utilizada por Willner et al (1987), tanto de água quanto de alimento. Isto quer
dizer que, diferente de Thomaz (2001), Dolabela (2004) e Rodrigues (2005), durante o
protocolo, o regime de privação em vigor anteriormente a ele não foi mantido, ou seja, a
privação diária de água não foi imposta, mas sim a privação prevista no protocolo
original de Willner et al (1987). Destes quatro sujeitos, dois passaram por sessões
operantes antes, durante e depois do protocolo e dois apenas antes e depois.
O estudo foi composto por condições experimentais semelhantes às de Thomaz
(2001), Dolabela (2004) e Rodrigues (2005). Inicialmente, os cinco sujeitos
experimentais foram expostos à ingestão livre de sacarose por duas sessões, e, então,
submetidos a testes de ingestão e preferência de líquidos semanalmente. Anteriormente
ao teste, os sujeitos não tinham acesso à água e alimento por 23 horas.
Além disso, quatro dos sujeitos foram submetidos antes do protocolo a 17
sessões operantes em esquema concorrente de intervalo variável água-sacarose. Durante
o protocolo, as sessões continuaram a ocorrer apenas para dois dos sujeitos, como dito
anteriormente, totalizando seis sessões (uma por semana). Após o término do protocolo,
sessões diárias continuaram a ocorrer para os sujeitos que passaram por esta condição,
num total de 15 sessões.
O esquema de reforçamento utilizado foi intervalo variável (VI), sendo iniciado
em 2 segundos, passando para 4 segundos e, finalmente, 10 segundos. Os valores eram
aumentados quando os sujeitos emitiam um maior número de respostas na barra
correspondente à sacarose por três sessões consecutivas.
Com relação ao peso corporal, Cardoso (2008) aponta que os sujeitos expostos
ao protocolo apresentaram perda de peso durante o mesmo, resultado semelhante ao de
Dolabela (2004) e Rodrigues (2005). Para os sujeitos submetidos também às sessões
operantes esta perda foi menor, principalmente para os sujeitos com operante também
durante o protocolo, comparando-se com o sujeito que não passou por essas sessões.
Além disso, para este sujeito, a recuperação do peso não ocorreu até o final do
experimento. Cardoso (2008) aponta também que, com relação ao consumo de água e
alimento, foi encontrado aumento para o sujeito submetido ao procedimento análogo ao
de Willner et al (1987) durante o protocolo, diminuindo novamente quando este foi
finalizado.
Nos testes de ingestão e preferência de líquidos, os sujeitos que passaram pela
condição operante antes, durante e depois do protocolo apresentaram preferência por
sacarose durante todo o experimento, tendo sido sua ingestão ainda maior durante o
27
protocolo. A ingestão de água foi sempre inferior à de sacarose, e foi observada uma
redução na ingestão total apenas na última semana do protocolo.
Para os sujeitos que passaram pelo operante apenas antes e depois do protocolo,
as maiores ingestões de sacarose em testes ocorreram também durante o mesmo, sendo
destacável que esta ingestão oscilou durante todo o experimento, diferindo do grupo
anterior. Mesmo assim, a ingestão de água também foi menor que a de sacarose em
todos os testes.
Um aspecto deste resultado que não fica claro na descrição chama atenção. O
consumo de água e alimento de antes, durante e depois é apresentado em médias diárias.
Pela inspeção gráfica dos dados, é possível constatar que, durante o protocolo de
estressores, o número de aferições foi menor (o que é observado pelo menor número de
pontos no gráfico, neste período). Então, mesmo consumindo em maior quantidade, os
momentos de acesso foram diferentes durante o período de exposição ao protocolo. Ou
seja, anteriormente ao protocolo, as aferições eram diárias, demonstrando que alimento
e água estiveram disponíveis durante a maior parte do tempo. Porém, durante o
protocolo, as aferições são muito menos frequentes, já que neste período as privações de
alimento e água passaram a ocorrer muito mais intensamente. Então, considerando-se o
tempo de acesso, o consumo poderia ser comparado? Se antes do protocolo o tempo de
acesso (ou dias em que o alimento e a água estavam disponíveis) era muito maior, os
sujeitos comiam em menor quantidade quando esses itens eram apresentados. Durante o
período do protocolo, os sujeitos, então, poderiam consumir mais em um único dia, já
que ficavam privados por muito mais tempo antes que pudessem ter acesso ao alimento
e à água.
Levando esses aspectos em consideração, parece necessária que uma análise do
consumo de alimento e água pelo período em que esses itens estejam disponíveis seja
feita, e o presente trabalho se propôs a isto.
Não há especificação se o sujeito submetido ao procedimento análogo ao de
Willner et al (1987) foi também privado anteriormente à realização dos testes. Para este
sujeito, a ingestão de água aumentou e a de sacarose diminuiu, durante o protocolo,
sendo a ingestão total menor nas três últimas semanas desta exposição do que no
restante do experimento. Houve também aumento da ingestão com a suspensão do
protocolo, o que pode ser observado pela inspeção gráfica dos resultados.
Para o esquema concorrente, foram realizadas 17 sessões operantes antes, seis
durante e 15 depois do protocolo.
28
Para os sujeitos que passaram pelas três condições (antes, durante e depois)
apenas para o menor valor do VI (2s) a taxa de respostas na barra correspondente à
sacarose foi maior. Com o aumento do valor do esquema (para 5s e depois para 10s), a
taxa de respostas nesta barra diminuiu, aumentando na barra correspondente à água
pura. Mesmo assim, ambas as taxas correspondentes à sacarose ainda foram maiores
que as correspondentes à água. Durante o protocolo, a taxa de respostas diminuiu mais
ainda para a barra de sacarose, passando a taxa para a barra de água a ser maior. Com a
suspensão do protocolo, esta alteração nas taxas se manteve para os dois sujeitos.
Para os sujeitos que passaram pelo operante apenas antes e depois do protocolo,
também o menor valor do VI apresentou a maior diferença na taxa de respostas entre as
duas barras (sacarose maior que água). Depois do término do protocolo, ambos os
sujeitos apresentaram sempre a preferência por água, demonstrada pela maior taxa de
respostas na barra correspondente.
Barr e Phillips (1998), também estudando a relação da taxa de respostas de
pressão à barra com a submissão ao protocolo de estressores, propuseram um
procedimento em que a razão progressiva seria usada para avaliar a anedonia
apresentada pelos sujeitos submetidos ao protocolo. As perguntas desses autores
referiam-se a dois principais pontos, a partir do uso desta medida: (1) se esta seria uma
medida mais sensível da anedonia, em comparação à medida consumatória geralmente
utilizada; e (2) se a anedonia poderia ser inferida através da medida do responder dos
sujeitos por sacarose, a partir da razão atingida (ou seja, modificações nesta razão pela
submissão ao protocolo).
Foram sujeitos do experimento 24 ratos machos, da linhagem Long-Evans.
Todos os sujeitos foram submetidos às mesmas condições experimentais. Após um
período de adaptação à sacarose a 7%8 (consumo livre), à caixa experimental (ainda sem
a barra), e ao drincômetro (os sujeitos lambiam um bico, que registrava as lambidas, na
caixa experimental, para ingerirem sacarose), a resposta de pressão à barra foi instalada,
sob esquema de reforçamento razão fixa (a cada certo número de sessões a razão foi
sendo aumentada). As sessões eram realizadas diariamente. Todos os sujeitos foram
submetidos à privação constante de água e alimento (20 horas por dia de privação de
água e alimento e, além disso, disponibilidade de 21 gramas de alimento por dia), para
manutenção de seu peso a 90% do peso ad lib.
8 Os autores afirmaram ser esta concentração a ideal, por propiciar o melhor consumo relativo por volume, comparando-se esta a outras concentrações.
29
Além do operante, testes nas gaiolas viveiro foram realizados, ao longo do
período de submissão dos sujeitos ao protocolo, e também ao final dele. Esses testes
consistiam em colocar na gaiola viveiro uma garrafa contendo sacarose, deixando-a por
uma hora e, após decorrido o tempo, retirando a garrafa e medindo a quantidade
ingerida. Os testes variaram em alguns aspectos: os primeiros foram realizados
utilizando-se sacarose numa concentração de 7%, enquanto os demais utilizaram 1%;
para alguns testes, o período de privação prévia foi de 20 horas, e, para outros testes, de
12 horas. Essas variações serão mais detalhadamente explicadas adiante.
Para o operante, após a modelagem, o esquema de reforçamento foi alterado de
razão fixa para razão progressiva (RP), passando as respostas a serem seguidas de
reforço a partir do seguinte número de emissões: 1, 3, 6, 10, 15, 20, 25, 32, 40, 50, 62,
77, 95, 118, 145. Portanto, a primeira resposta era reforçada, passando, então, a serem
exigida três respostas para a liberação do próximo reforço, seis para o próximo, e assim
sucessivamente. O número final atingido, na sequência descrita, era considerado o valor
denominado “break point” (Barr e Phillips, 1998, p. 592). Este valor era determinado
quando decorresse o período de uma hora sem que o próximo valor da razão (da
sequência) fosse atingido. O tempo de privação anterior às sessões operantes também
era de 20 horas (de água e alimento).
Todos os sujeitos passaram por seis sessões de RP, nas quais o critério de
estabilidade foi atingido por todos (três sessões em que a razão variasse
aproximadamente um break point). Após esta linha de base em que o break point foi
determinado para cada sujeito, foi iniciada a exposição ao protocolo de estressores. Os
estressores utilizados foram: (a) gaiola úmida, (b) inclinação da gaiola, (c) iluminação
contínua, e (d) barulho branco. Os estressores eram apresentados de maneira
semirrandômica, e os testes sempre eram realizados após pelo menos duas horas sem
que um estressor estivesse presente. Conforme já salientado, a privação era mantida
constante, tanto antes quanto durante e após a submissão ao protocolo, não sendo
prevista, portanto, sua implementação como estressor.
Durante os estressores, as sessões operantes foram realizadas a cada quatro dias,
começando do quarto dia de aplicação do protocolo, totalizando sete sessões (28 dias
desde o começo do protocolo). Os autores verificaram não haver diferenças no
responder dos sujeitos por sacarose a 7% em razão progressiva, ao compararem-se os
break points de antes e durante o estresse crônico. A hipótese levantada foi a de que a
magnitude do reforço (sacarose a 7%) poderia estar escondendo os supostos efeitos do
30
protocolo de estressores sobre o responder, ou seja, pela concentração ser muito alta,
seu valor reforçador não era alterado, nem após a submissão ao protocolo.
A partir daí, então, sessões de adaptação a uma nova concentração da substância
foram realizadas, em que os mesmos sujeitos do procedimento relatado anteriormente
tinham acesso livre por uma hora à sacarose a 1%. As sessões operantes subsequentes
passaram a ser semanais, pelas próximas três semanas, com a nova concentração de
sacarose.
Quando a concentração de sacarose utilizada nas sessões de RP foi de 7%,
conforme já descrito, não foram observadas alterações no break point atingido pelos
sujeitos. Ao mudar a concentração para 1%, foi observada uma diminuição nos break
points, ou seja, o valor da razão final atingida foi menor, porém para ambos os grupos, o
de sujeitos submetidos ao protocolo e o controle.
Após a investigação do responder em razão progressiva durante o protocolo, e da
ingestão de líquidos durante este mesmo período, para a privação prévia de 20 horas, foi
examinado, com os mesmos sujeitos, o efeito da privação de alimento e água no valor
reforçador da sacarose. Ao invés das 20 horas que permaneciam privados, o tempo de
acesso restrito à comida e água passou a ser de 12 horas. O protocolo de estressores
continuou em vigor, e os sujeitos foram, então, privados por este período, para a
realização testes de ingestão livre na gaiola viveiro e sessões operantes em RP.
Para esta nova condição de privação, os break points diminuiram mais ainda,
em comparação à condição anterior, e também para os dois grupos (com e sem
estressores). Para ambos os grupos, o submetido ao protocolo e o controle, as condições
de privação e concentração de sacarose foram sempre idênticas, ao longo de todo o
procedimento.
Barr e Phillips (1998) concluem, portanto, que alterações significativas na razão
final atingida são devidas a mudanças na concentração da substância (sacarose) e na
privação dos sujeitos, mas não devidas à submissão ou não dos sujeitos aos estressores,
já que não há diferenças deste grupo com relação ao grupo controle. Cabe aqui ressaltar,
porém, que os autores apresentam esses resultados como médias dos grupos, e não
como resultados individuais.
Para os testes na gaiola viveiro, com sacarose a 1%, no entanto, os animais
submetidos ao protocolo apresentaram a ingestão de sacarose menor que os animais
controle, tanto para a primeira quanto para a segunda condições de privação utilizadas
(20 horas e 12 horas, respectivamente). Para a concentração 7%, os resultados foram
31
diferentes: não houve efeito do protocolo, em comparação ao grupo controle, na
ingestão de sacarose dos sujeitos, para as duas condições de privação.
Ao discutir os resultados, Barr e Phillips (1998) afirmam que, mesmo que ocorra
diminuição da quantidade de sacarose ingerida pelos sujeitos quando são submetidos ao
protocolo de estressores, não ocorrem alterações na “quantidade de trabalho que eles
estão dispostos a realizar para receber uma quantidade fixa de uma solução de
sacarose a 1%” (p. 593). Comparando os resultados com os de Thomaz (2001),
Dolabela (2004) e Rodrigues (2005), pode-se dizer que, quando colocado numa situação
especialmente planejada para “produção” do reforço, ou seja, na situação operante
especialmente planejada, para os estudos, os sujeitos demonstraram pouca ou nenhuma
modificação do comportamento pela submissão ao protocolo de estressores.
Como afirmado por Barr e Phillips (1998), haveria, portanto, pouca ou nenhuma
alteração do que chamam de “motivação” dos sujeitos, mesmo após passarem pelos
estressores. Para eles, “trabalhar” para obter determinado estímulo é uma medida de
motivação, enquanto a medida de consumo livre é uma medida de valor de recompensa.
Portanto, seus resultados apontariam para a alteração de uma, mas não das duas
medidas.
Porém, diferente de Thomaz (2001), Dolabela (2004) e Rodrigues (2005), Barr e
Phillips (1998) parecem não levar em conta o papel do controle operante nos resultados
que obtêm. Barr e Phillips (1998) não tratam o controle operante em si como uma
possível variável independente que interage com a variável protocolo de estressores;
tratam-na, apenas, como variável dependente. Nos experimentos de Thomaz (2001),
Dolabela (2004), Rodrigues (2005) e Cardoso (2008), o controle operante foi
responsável pela não redução na ingestão de sacarose, quando os sujeitos foram
submetidos, além do protocolo de estressores, a esta condição.
Comparando-se esses resultados com os de Cardoso (2008), uma diferença se
mostra marcante: para Barr e Phillips (1998), mesmo não havendo diferenças na taxa de
respostas de pressão à barra, há diferenças na ingestão de sacarose realizada nos testes.
Para Cardoso (2008), o resultado é oposto: as alterações não ocorrem nos testes de
ingestão, mas sim na taxa de respostas. Considerando essas duas pesquisas, parece,
portanto, que o esquema operante em vigor é determinante na produção dos resultados
tanto referentes à própria taxa de respostas no esquema de reforçamento em vigor,
quanto ao comportamento de ingerir sacarose quando são realizados testes na gaiola
viveiro.
32
Levando as diferentes posições identificadas na literatura com relação ao papel
da privação no conjunto de estressores que compõem o protocolo e as possíveis
interações entre o controle operante e o protocolo de estressores na produção de
resultados que caracterizariam o CMS e, mais, as medidas utilizadas para representar
tais resultados, o presente estudo pretendeu:
a) investigar se diferenças na ingestão e preferência de líquidos são decorrentes de
algum esquema específico de privação: apenas a privação seria responsável pelas
alterações no peso, no consumo de água e alimento, na ingestão e preferência por
sacarose e na taxa de respostas de pressão à barra observadas nos estudos do CMS?; ou
todo o conjunto de estressores seria necessário para que elas sejam produzidas?
b) investigar se, a partir do arranjo de condições às quais os sujeitos são expostos
(protocolo completo, protocolo sem privação e apenas privação sem o restante dos
estressores), seria possível identificar diferenças nas medidas por conta dos sujeitos
passarem também por sessões operantes: há diferenças entre sujeitos que passam por
sessões operantes e sujeitos que não passam por essas sessões quando submetidos ao
protocolo completo? E quando submetidos apenas aos esquemas de privação do
protocolo? E quando submetidos ao protocolo sem privação?
33
MÉTODO
Sujeitos
Foram utilizados no estudo 18 ratos machos, experimentalmente ingênuos, da
linhagem Wistar, alojados individualmente a partir do desmame.
A divisão dos sujeitos foi feita em grupos experimentais, mais
pormenorizadamente descritos ao final desta sessão. Eles foram pesados diariamente, e
o consumo de água e alimento foi controlado, sendo o tempo de disponibilidade
variado, a depender do grupo ao qual o sujeito pertencia e da fase do experimento. As
condições de iluminação e temperatura às quais os sujeitos foram submetidos serão
indicadas na descrição do procedimento, por terem sido objeto de manipulação e
controle.
Equipamento
Balança. O equipamento utilizado para medida de peso dos sujeitos e do alimento foi
uma balança da marca Filizola, com precisão de 0,5 g.
Pipeta. Para medida das quantidades disponibilizadas e consumidas de água e água com
sacarose, pipetas com precisão milimétrica foram utilizadas.
Caixas experimentais. Caixas operantes, da marca Med Associates, medindo 27 cm x 28
cm x 30 cm, conectadas a uma interface para registro das sessões, foram utilizadas. As
caixas são equipadas com luz branca, uma ou duas barras (de medidas 2 cm x 4,5 cm), a
depender da fase em que os sujeitos estivessem, dispostas em paredes opostas, e um ou
dois dispositivos de entrega de reforço (água e água com sacarose), dispostos um ao
lado e abaixo de cada barra. Todas as caixas eram mantidas dentro de uma câmara de
isolamento acústico.
Estressores. Os equipamentos utilizados foram uma luz estroboscópica com regulador
de velocidade de flashes, aparelho de áudio com regulador de decibéis, serragem, 10
latas redondas com aproximadamente 7 cm de diâmetro e 1,5 cm de altura, desodorante
34
purificador de ar, timer para controle do ciclo luminoso. A ordem de apresentação dos
estressores será apresentada no item 3 do procedimento.
Gaiolas viveiro. Em cada uma delas um tipo diferente de gaiola foi utilizado, um deles
com medidas 20 cm x 25 cm x 21 cm, e o outro com medidas 20 cm x 30 cm x 21 cm.
Ambas as gaiolas eram feitas de material metálico. O primeiro tipo era especialmente
preparado para a implementação do protocolo de estressores (a prateleira de gaiolas é
própria para inclinação, um dos estressores). Além disso, caixas viveiro de material
plástico e dimensões 30 cm x 45 cm x 16 cm foram utilizadas, para alojamento dos
sujeitos para cruzamento (geração dos sujeitos do experimento) e período até o
desmame dos sujeitos experimentais.
Procedimentos
O procedimento do experimento será descrito, primeiramente, com a
apresentação das diferentes condições experimentais envolvidas e, em seguida, a
apresentação do delineamento experimental, especificando para as diferentes condições
às quais cada grupo de sujeitos foi exposto.
Condições Experimentais
1. Condição preparatória
Anteriormente ao início do experimento, alguns cuidados com os sujeitos foram
tomados. Primeiramente, o cruzamento para geração dos sujeitos experimentais foi feito
em sala isolada. O acompanhamento desta fase, bem como do momento desde o
nascimento até o desmame, merecem algumas observações.
a. Alojamento
Desde o cruzamento para geração dos sujeitos deste experimento, ratos (três
fêmeas e um macho por caixa) foram alojados em uma sala isolada, com temperatura e
ruído controlados, e mantidos nesta sala até que os sujeitos nascessem e atingissem a
idade para desmame (aproximadamente 30 dias). A caixa viveiro dos sujeitos utilizada
neste momento a caixa de material plástico, forrada com maravalha.
35
A partir de então, os sujeitos foram separados e alojados individualmente em
duas salas diferentes, ambas isoladas, em que apenas os sujeitos deste experimento eram
mantidos. Neste momento, o alojamento ocorreu nas caixas viveiro de material
metálico, sem maravalha.
A temperatura e luminosidade de ambas as salas foram controladas por exaustor
e timer, respectivamente. A temperatura foi aferida diariamente, através do uso de um
termômetro colocado dentro de cada sala, e mantida entre 20 e 25ºC, utilizando-se, para
isto, um aquecedor ou ventilador, conforme o necessário. O ciclo luminoso foi de 12
horas de claro e 12 horas de escuro, regulado por timer automático. Estas condições de
temperatura e iluminação estiveram presentes em todas as fases do experimento, exceto
durante a fase em que houve exposição ao protocolo de estressores, para a iluminação.
b. Cuidado materno
Duas caixas, com três ratas fêmeas e um rato macho em cada, foram utilizadas
para cruzamento. Após 10 dias, os machos foram retirados, e 10 dias depois, foi feita a
separação das seis fêmeas em três caixas. Aproximadamente um mês depois os ratos
que seriam sujeitos desta pesquisa nasceram.
Da quantidade de sujeitos nascidos, muitos não sobreviveram, o que pode ser
observado pelo registro do número de ratos por caixa na Tabela 1.
Tabela 1. Número de ratos por caixa, desde o nascimento até o dia em que não ocorreram mais
mortes.
Início 01-05 02-05 03-05 04-05 05-05 06-05 07-05
Caixa 1 20 - - 20 20 19 19 18
Caixa 2 20 18 17 15 14 14 14 14
Caixa 3 22 22 22 21 21 21 21 21
Total 62 60 59 56 55 54 54 53
Mais nenhuma morte a partir de então
Na caixa 2, claramente uma mãe cuidava mais dos filhotes do que a outra. Esta
mãe foi, então, marcada, e passou-se a acompanhar se esta observação se confirmava.
Com o passar dos dias, sempre que a pesagem ia ser realizada, o ninho estava de um dos
lados da caixa, e esta mãe amamentava todos os filhotes. Como nesta caixa foi possível
identificar claramente quais ratos pertenciam a qual ninhada (muitos dias de vida de
diferença), pôde ser constatado que a mãe cuidava não somente dos filhotes dela, mas
36
dos da outra mãe também. Interessante também a observação de que, assim que cada
filhote era pesado, a mãe buscava-os diretamente da mão da experimentadora, o que não
foi feito nenhuma vez pela outra mãe. Coincidentemente ou não, esta foi a caixa que
apresentou o maior número de mortes de recém nascidos, em comparação com as outras
duas caixas. Além disso, as mães não comeram todos os filhotes que morreram (alguns
foram encontrados mortos na caixa), o que aconteceu nas outras duas caixas.
Com aproximadamente 20 dias de vida dos filhotes, as mães da caixa 2
pareceram estar dividindo mais os cuidados de amamentação, o que era visível no
momento da pesagem. Além disso, os filhotes já estavam comendo ração, visto que a
quantidade de ração disponibilizada diminuiu muito, considerada a quantidade
normalmente consumida pelas duas ratas mães. Pode ser que, justamente pelo fato de
haver menos ratos para amamentar, e menos amamentação a ser feita, a segunda mãe
passou a ocupar esta função (os ratos precisavam de menos cuidados, já que já estavam
se alimentando por ração).
Similarmente, na caixa 1, uma das mães cuidava mais dos filhotes do que a
outra. Porém, parecia ser menos “cuidadora” do que a mãe da caixa 2. Esta mãe
demorava um pouco para pegar os filhotes e colocá-los no ninho, após a pesagem.
Nesta caixa 1, no entanto, no mesmo período, não houve divisão similar à da
caixa 2. A mesma rata era a que sempre estava amamentando os filhotes, a outra
permanecendo sempre sozinha do lado oposto da caixa.
Na caixa 3, ambas as mães faziam ninhos e cuidavam dos filhotes. Todas as
vezes em que a pesagem ia ser realizada, havia dois ninhos, um em cada canto da caixa,
com uma mãe em cada um deles.
Concluindo, pareceu que, quando as ratas dividiram o cuidado dos filhotes na
caixa, a taxa de mortalidade foi menor, visto a comparação entre a quantidade de
animais nascidos e sobreviventes em cada caixa. Além disso, com aproximadamente 20
dias de vida os ratos começaram a alimentação por ração e água, mesmo notando-se
ainda que a amamentação continuava para muitos deles, o que era observado no
momento da pesagem.
Na Tabela 2 é possível identificar de qual das três caixas cada um dos sujeitos
experimentais é proveniente. A descrição da identificação dos sujeitos será feita no
procedimento específico para cada grupo.
37
Tabela 2. Identificação da caixa de origem de cada um dos sujeitos experimentais.
Caixa 1 Caixa 2 Caixa 3
Sujeitos PIO, PAG, PAL
PCO1, PCO2, PCO3, PC1,
PC2, PC3, PI1, PI2, PI3
APO1, APO2, APO3,
AP1, AP2, AP3
c. Manipulação dos sujeitos
Desde dois a cinco dias de vida de todos os sujeitos, a pesagem foi realizada
diariamente. Inicialmente, como não era possível a distinção por sexo, todos os sujeitos
eram marcados e pesados. A marcação acontecia com solução violeta genciana 1%
Nalgon®, e cada sujeito de cada caixa era marcado em um ou mais lugares do corpo,
para sua identificação. A marcação era feita diariamente também, visto que as mães
lambiam os filhotes, e a marcação saía em boa parte.
Como o alojamento dos sujeitos era feito em caixa com maravalha,
permanecendo duas mães e seus filhotes em cada uma, era utilizada uma segunda caixa
no momento da pesagem. As mães eram primeiramente mudadas de caixa, e os sujeitos
eram pesados um a um, sendo então alojados junto às mães. Para a pesagem, a
experimentadora e um eventual auxiliar seguiam este procedimento: luvas de látex eram
colocadas, e as mãos enluvadas eram esfregadas na maravalha em que os ratos estavam,
para diminuir a possibilidade de que qualquer cheiro estranho ficasse nos ratos, o que
acreditava-se poder causar rejeição deles pelas mães. Uma quantidade de maravalha
também era colocada na balança, e os ratos não entravam diretamente em contato com
nenhum objeto que não a própria maravalha onde estavam.
Este procedimento todo durava aproximadamente 20 minutos para cada caixa,
sendo este, portanto, o período máximo que um filhote poderia permanecer diariamente
longe de sua mãe.
Um outro fator importante a ser salientado é que esses sujeitos, diferente dos
sujeitos utilizados nos experimentos sobre CMS realizados no mesmo laboratório aqui
citados, foram manipulados diariamente desde muito novos, muito antes do desmame.
Ambos os fatores, separação materna e manipulação, serão abordados com
maiores detalhes na sessão de resultados.
38
2. Acesso livre a alimento e água
Nesta condição, todos os sujeitos tiveram acesso livre a água e alimento, e seu
peso foi aferido diariamente. Foram medidas as quantidades de água e alimento
consumidas por cada sujeito, e a fase foi encerrada quando todos atingiram
aproximadamente 90 dias de vida, idade considerada adequada para o início de qualquer
procedimento de privação.
3. Testes de ingestão e preferência de líquidos
Para todos os sujeitos do experimento, os testes de ingestão e preferência de
líquidos foram realizados semanalmente. Os testes consistiram em expor os sujeitos, na
gaiola viveiro, a duas mamadeiras, uma contendo água e outra contendo água com
sacarose a 2%9. Após um período de uma hora, as mamadeiras eram retiradas, e a
quantidade consumida era medida, comparando-se os conteúdos de antes e depois do
teste em cada mamadeira (conteúdo restante do disponibilizado inicialmente).
A cada teste, os lados de apresentação das mamadeiras foram alternados. Desta
forma, diminuía-se a possibilidade de que o sujeito preferisse um lado, e não um dos
líquidos. Além disso, as garrafas eram sempre colocadas na mesma ordem:
primeiramente a da esquerda e, em seguida, a da direita. Desta forma, também o
momento de colocação foi alternado a cada teste.
Esses testes foram realizados antes do início, durante e depois do término do
protocolo de estressores. No total, 21 testes foram realizados, sendo 12 antes, seis
durante e três depois do término do protocolo.
4. Protocolo de estressores
O protocolo de estressores utilizado na presente pesquisa é similar ao de Willner
et al (1987), e é composto dos seguintes estressores:
a. inclinação da gaiola: a gaiola viveiro é inclinada em 30º para trás,
permanecendo assim por 7 ou 17 horas.
9 Esta concentração foi utilizada por ter sido verificada por Thomaz (2001) como a concentração suficiente para que os sujeitos ingerissem preferencialmente sacarose em relação à água.
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b. luz estroboscópica: uma luz estroboscópica, localizada no chão da sala, que
dispara 300 flashes por minuto, era ligada por 2 ou 7 horas.
c. privação de comida: o alimento era retirado da gaiola, e os sujeitos
permaneciam em privação por períodos variados, de 24 a 43 horas.
d. privação de água: a água era retirada da gaiola, e os sujeitos permaneciam em
privação por períodos variados, de 17 a 44 horas.
e. gaiola suja: serragem molhada com água era colocada no chão da gaiola, e a
gaiola permanecia suja por 17 horas.
f. barulho intermitente: um ruído branco intermitente de 85 decibéis era ligado,
permanecendo por 3 ou 5 horas.
g. agrupamento: dois sujeitos eram colocados em uma mesma gaiola, tanto na
gaiola originalmente de um quanto na do outro, ou seja, a cada agrupamento da dupla, a
gaiola de um dos dois sujeitos era utilizada, por 17 horas.
h. objeto estranho na gaiola: um objeto de metal redondo de 7 cm de diâmetro e
1,5 cm de altura era colocado na gaiola viveiro e deixado por um período de 17 horas.
i. cheiro: um desodorante purificador de ar era colocado na sala, ficando lá por
17 horas. Por tratar-se de um desodorante de duração aproximada de 30 dias, a
intensidade do cheiro permanecia por todo o período.
j. iluminação contínua: a luz da sala permanecia acesa por até 19 horas seguidas.
l. garrafa de água vazia: exposição a uma garrafa de água vazia por uma hora,
após período de privação de água.
m. acesso restrito à comida: três pelotas de 1 grama, espalhadas pela gaiola
viveiro do sujeito, sendo disponibilizadas aos sujeitos após um período de privação de
comida.
Comparando-se com o protocolo de Willner et al (1987), apenas o estressor
temperatura reduzida (a temperatura da sala é diminuída para 10ºC) não foi utilizado
neste experimento, por dificuldades de sua aplicação no biotério do laboratório de
Psicologia Experimental da PUC-SP. Pelo fato de outros estudos, como por exemplo
Thomaz (2001), Dolabela (2004), Rodrigues (2005) e Cardoso (2008) (citados na
introdução) não terem utilizado este estressor e, mesmo assim, terem produzido
resultados semelhantes aos de Willner et al (1987), foi considerado que sua retirada do
protocolo implementado não traria prejuízos especiais ao presente estudo. Uma tabela
40
com o detalhamento dos estressores utilizados em cada estudo citado encontra-se no
Anexo 1.
Cada estressor era apresentado por um determinado período de tempo,
alternando-se com os outros, num ciclo de sete dias, durante seis semanas. Em
intervalos entre estressores, as sessões operantes foram realizadas para alguns sujeitos.
Os testes de ingestão e preferência por sacarose também ocorreram durante o período de
implementação do protocolo de estressores.
5. Sessões operantes
Todos os sujeitos que passaram pela condição operante passaram pelo
procedimento aqui denominado de “variação e seleção”. Neste procedimento, os
sujeitos eram colocados na caixa experimental, e o equipamento ficava ligado em modo
automático, de forma que qualquer resposta de pressão à barra ativava o mecanismo e,
desta forma, produzia o reforço. Nesta fase, foi utilizada água como estímulo
reforçador.
Após a aquisição da resposta de pressão à barra, sessões de fortalecimento da
resposta foram realizadas com cada sujeito, até que todos obtivessem o mesmo número
de reforçadores nesta condição.
Todas as sessões operantes foram realizadas em um horário específico, e todos
os sujeitos eram transportados para a sala experimental, mesmo os que não passavam
pelas sessões, a fim de isolar a interferência de variáveis como transporte e local de
alojamento durante esses períodos. A ordem de transporte e de sessão foi randomizada a
cada semana.
Além disso, a quantidade média de sacarose consumida pelos sujeitos que
passavam por sessões operantes era disponibilizada para os demais sujeitos, para que a
ingestão de sacarose nestas condições, em si, não se tornasse uma variável
possivelmente interferente, à qual apenas alguns dos sujeitos tivessem sido expostos.
O esquema de reforçamento utilizado foi idêntico ao de Thomaz (2001),
Dolabela (2004) e Rodrigues (2005). Então, após o fortalecimento da resposta em uma
barra, a segunda barra foi colocada na caixa, sendo então dispensada para pressões nesta
segunda barra a água com sacarose como estímulo reforçador. O esquema de
reforçamento para cada uma das barras foi gradualmente aumentado de CRF para FR2
e, depois, para FR4.
41
A cada duas sessões consecutivas em que houvesse preferência por uma das
barras, elas eram alternadas na sessão seguinte. Assim, quando um sujeito respondia
com frequência mais alta em uma das barras por duas sessões, na sessão subsequente
era feita a alternação, ou seja, o reforço que era liberado para pressões em uma delas
passava a ser liberado para pressões na outra. Após uma alternação, em que o sujeito
ficasse duas sessões com esta nova posição das barras, respondendo com preferência a
uma delas, a razão era aumentada.
As sessões foram realizadas semanalmente, no horário em que não havia
nenhum estressor programado. Cada sessão teve a duração de uma hora ou 200 reforços,
o que ocorresse primeiro.
A linha do tempo representada na Figura 1, semelhante à encontrada em
Tomanari et al (2003), sumariza todas as condições do experimento, em relação aos dias
de vida dos sujeitos experimentais.
Figura 1. Linha do tempo com indicação dos principais eventos ocorridos durante o estudo.
Delineamento experimental
Três arranjos diferentes de condições experimentais foram realizados no
presente estudo. Todos os três arranjos têm em comum a exposição dos sujeitos às três
primeiras condições descritas; eles diferiam entre si com relação ao protocolo de
estressores ao qual os sujeitos foram expostos e pela realização ou não de sessões
operantes; essas diferenças é que caracterizam os diferentes grupos de sujeitos
experimentais. Os arranjos, então, podem ser assim denominados e descritos:
Dias 1 2 5 28 32 57 88 89 91 119 122 169 211 236
Gaiolas individuais
Início aferição consumo
Início privação Início operante
Início testes
Ausência de aferição de consumo
Início pesagem
Protocolo de estressores
Fim do estudo
Nascimento
42
a. Protocolo completo
Neste arranjo, seis sujeitos foram submetidos ao protocolo de estressores supra
descrito. Desses seis sujeitos, três passaram também por sessões operantes.
Com aproximadamente 88 dias de vida, após passarem pelas condições
preparatória e de acesso livre à alimento e água, para os seis sujeitos, dois períodos de
privação semanal (de água e alimento) estiveram em vigor: 23 horas antes dos testes e
26 horas antes das sessões operantes; isso ocorreu durante 12 semanas anteriores ao
protocolo e durante as quatro semanas após seu término. Essas privações correspondem
aos períodos de terça-feira às 16 horas à quarta-feira às 15 horas e de domingo às 11
horas à segunda-feira às 13 horas. Durante o período de exposição ao protocolo, além
desses períodos de privação, os sujeitos foram submetidos aos demais períodos de
privação previstos no protocolo.
A Tabela 3 sumariza o protocolo de estressores completo, sua ordem de
apresentação e os momentos de realização dos testes e das sessões operantes. A célula
hachurada corresponde a uma hora de realização do teste.
Tabela 3. Distribuição dos estressores a cada hora do dia, pelos dias da semana, ao longo de uma semana (um ciclo).
Horas QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA
1 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/ Objeto estr
Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/
Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja
2 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/ Objeto estr
Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/
Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja
3 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/ Objeto estr
Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/
Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja
4 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/ Objeto estr
Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/
Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja
5 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/ Objeto estr
Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/
Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/
Gaiola suja
6 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/ Objeto estr
Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/
Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja
7 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/ Objeto estr
Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/
Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja
8 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/
Objeto estr Priv alimento/ Agrupamento Cheiro
Priv alimento e água/ Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/
Gaiola suja
9 Priv água/ Iluminação cont/ Priv alimento e água/ Objeto estr
Priv alimento/ Agrupamento Cheiro
Priv alimento e água/ Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/
Gaiola suja
10 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/ Objeto estr
Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/
Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja
11 Priv água/ Garr Vazia/ Luz estrobo
Priv alimento/ Inclinação Priv alimento/ Acesso restrito Priv alimento e água Priv alimento e água/
Iluminação cont Luz estrobo Priv alimento e água
12 Luz estrobo Priv alimento/ Inclinação Priv alimento/ Acesso restrito
Priv alimento e água Priv alimento e água/ Iluminação cont Luz estrobo Priv alimento e água
13 Luz estrobo Priv alimento/ Inclinação Barulho interm Priv alimento e água Operante Priv alimento e água
14 Luz estrobo Priv alimento/ Inclinação Barulho interm Priv alimento e água Priv alimento e água
15 Luz estrobo Priv alimento/ Inclinação Barulho interm Priv alimento e água Priv alimento e água
16 Luz estrobo Priv alimento/ Inclinação Barulho interm Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água/ Barulho int
17 Luz estrobo Priv alimento/ Inclinação Barulho interm Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água/ Barulho int
18 Priv alimento e água/ Objeto estr
Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/
Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja
Priv água/ Iluminação cont/ Barulho int
19 Priv alimento e água/ Objeto estr
Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/
Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja Priv água/ Iluminação cont
20 Priv alimento e água/ Objeto estr
Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/
Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja Priv água/ Iluminação cont
21 Priv alimento e água/ Objeto estr
Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/
Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja Priv água/ Iluminação cont
22 Priv alimento e água/ Objeto estr
Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/
Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja Priv água/ Iluminação cont
23 Priv alimento e água/ Objeto estr
Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/
Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja Priv água/ Iluminação cont
24 Priv alimento e água/ Objeto estr
Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/
Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja Priv água/ Iluminação cont
43
44
b. Protocolo incompleto (sem privação)
Neste arranjo, quatro sujeitos foram submetidos, com aproximadamente 169 dias
de vida, ao protocolo de estressores supra descrito, com exceção de três estressores:
privação de alimento, privação de água e acesso restrito a alimento. Dos quatro sujeitos
nesta condição, um passou também por sessões operantes10.
Para três desses sujeitos, anteriormente ao início do protocolo, nenhuma
condição específica esteve prevista, além das três primeiras descritas (preparatória,
acesso livre e testes). Para o quarto sujeito, além das condições citadas, foram realizadas
sessões operantes, no mesmo período em que tais sessões ocorriam para os sujeitos de
outros arranjos também submetidos a elas.
Não foi planejada nenhuma condição para ocupar os períodos do protocolo
destinados à privação de água e/ou de alimento ou ao acesso restrito a eles.
A Tabela 4 sumariza o protocolo de estressores para esses sujeitos, sua ordem de
apresentação e os momentos de realização dos testes (célula hachurada) e das sessões
operantes.
10 Por ser proposto que o sujeito passasse por sessões operantes sem nenhuma privação prévia, esta condição teve apenas um sujeito a título exploratório.
Tabela 4. Distribuição dos estressores a cada hora do dia, pelos dias da semana, ao longo de uma semana (um ciclo).
Horas QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA
1 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja
2 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja
3 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja
4 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja
5 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja
6 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja
7 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja
8 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja
9 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja
10 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja
11 Garrafa Vazia/ Luz estrobo
Inclinação Iluminação contínua Luz estrobo
12 Luz estrobo Inclinação Iluminação contínua Luz estrobo
13 Luz estrobo Inclinação Barulho interm Operante
14 Luz estrobo Inclinação Barulho interm
15 Luz estrobo Inclinação Barulho interm
16 Luz estrobo Inclinação Barulho interm Barulho interm
17 Luz estrobo Inclinação Barulho interm Barulho interm
18 Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja Iluminação cont/ Barulho interm
19 Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja Iluminação contínua
20 Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja Iluminação contínua
21 Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja Iluminação contínua
22 Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja Iluminação contínua
23 Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja Iluminação contínua
24 Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja Iluminação contínua
45
46
c. Apenas privação
Para os seis sujeitos deste arranjo, além das condições iniciais (preparatória e
acesso livre), os períodos de privação de água e alimento prévios ao operante e ao teste
de ingestão e preferência também foram realizados a partir de aproximadamente 88 dias
de vida dos sujeitos. Então, também para estes sujeitos, durante as 12 semanas
anteriores ao protocolo e durante as quatro semanas após seu término, dois períodos de
privação semanal estiveram em vigor: 23 horas antes dos testes e 26 horas antes das
sessões operantes.
Neste arranjo, com aproximadamente 169 dias de vida, os seis sujeitos foram
submetidos apenas à privação de água e de alimento do protocolo de estressores supra
descrito. Portanto, passaram por todos os períodos de privação, tanto de água quanto de
alimento, previstos no protocolo, mas não pelo restante dos estressores. Desses seis
sujeitos, três passaram também por sessões operantes.
A Tabela 5 sumariza os períodos de privação durante as seis semanas em que os
sujeitos passaram pelas condições de privação do protocolo, sua ordem e os momentos
de realização dos testes e das sessões operantes. Para os demais períodos, em que outros
estressores estariam em vigor, nenhuma condição foi programada.
Tabela 5. Distribuição dos períodos de privação a cada hora do dia, pelos dias da semana, ao longo de uma semana (um ciclo).
Horas QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA
1 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água
2 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água
3 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água
4 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água
5 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água
6 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água
7 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água
8 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água
9 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água
10 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água
11 Priv água Priv alimento Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv alimento e água
12 Priv alimento Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv alimento e água
13 Priv alimento Priv alimento e água Operante Priv alimento e água
14 Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água
15 Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água
16 Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água
17 Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água
18 Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água
19 Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água
20 Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água
21 Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água
22 Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água
23 Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água
24 Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água
47
48
d. Privação específica
Dois sujeitos foram submetidos ao arranjo privação específica, um deles à
privação de água e outro à privação de alimento. Esses dois sujeitos, com 169 dias de
vida, foram submetidos a condições de privação similares às do grupo “apenas
privação”, porém, um deles foi submetido apenas aos períodos correspondentes à
privação de água e o outro, apenas aos períodos correspondentes à privação de alimento.
Previamente a este período, também para esses sujeitos, os dois períodos semanais de
23 e 26 horas foram implementados, para um deles apenas de água e, para o outro,
apenas de alimento.
Dada a variedade de condições e de arranjo de condições e, neste caso, de
grupos experimentais correspondentes, uma nomeação será aqui proposta para os
sujeitos submetidos a cada um dos arranjos, para que o relato dos resultados se torne
mais claro.
Os sujeitos do primeiro arranjo, protocolo completo, terão duas nomenclaturas
possíveis: protocolo completo com operante (PCO) ou apenas protocolo completo (PC).
Os sujeitos do arranjo apenas privação serão nomeados apenas privação com
operante (APO) ou apenas privação (AP).
Os sujeitos do arranjo protocolo incompleto, da mesma forma, terão dois tipos
de nomenclatura: protocolo incompleto com operante (PIO) ou apenas protocolo
incompleto (PI).
Os sujeitos do arranjo privação específica serão nomeados, respectivamente,
privação água (PAG) e privação alimento (PAL).
A Tabela 6 sumariza as condições e os nomes dos sujeitos do experimento.
49
Tabela 6. Divisão dos sujeitos pelos arranjos das condições experimentais.
Sujeitos Protocolo/ Privação Operante
Sujeito PCO 1
Sujeito PCO 2 Arranjo a
Sujeito PCO 3
Protocolo completo (com privação) Operante Antes, durante e
depois
Sujeito PC 1
Sujeito PC 2 Arranjo a
Sujeito PC 3
Protocolo completo (com privação) Sem operante -
Sujeito PI 1
Sujeito PI 2 Arranjo b
Sujeito PI 3
Protocolo incompleto (sem privação) Sem operante -
Arranjo b Sujeito PIO Protocolo incompleto (sem privação) Operante Antes, durante e
depois
Sujeito APO 1
Sujeito APO 2 Arranjo c
Sujeito APO 3
Apenas privação (sem protocolo) Operante Antes, durante e
depois
Sujeito AP 1
Sujeito AP 2 Arranjo c
Sujeito AP 3
Apenas privação (sem protocolo) Sem operante -
Sujeito PAG Privação específica de água - - Arranjo d
Sujeito PAL Privação específica de alimento - -
50
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para analisar os dados obtidos, serão levadas em conta as três variáveis
independentes aqui manipuladas: (a) o protocolo de estressores, (b) a produção de
determinadas consequências por determinada classe de respostas, em esquema de
reforçamento concorrente vista, aqui, como exposição à controlabilidade, e (c) a
privação, bem como a interação entre elas nos efeitos observados nas variáveis
dependentes (o comportamento esquema concorrente, a ingestão e preferência por
sacarose e, ainda, o consumo de água e alimento e o peso corporal dos sujeitos).
Os resultados estão divididos em sessões, em que os efeitos observados em cada
uma das variáveis dependentes são descritos, levando-se em conta as medidas utilizadas
para lidar com cada uma delas.
1. Peso e consumo de água e alimento
Desde aproximadamente cinco dias de vida, todos os sujeitos foram pesados
diariamente, conforme já descrito. Desta forma, a evolução do peso desses sujeitos pôde
ser acompanhada desde muito cedo, e em todas as etapas do experimento. A Figura 2
mostra a curva de peso dos sujeitos, pela sua idade (dias de vida), ao longo de todo o
experimento.
51
Figura 2. Peso corporal de todos os sujeitos do experimento, pelos dias de vida de cada sujeito.
As três linhas pontilhadas representam, aproximadamente e respectivamente, o período em que
se iniciou a primeira condição de privação (para os sujeitos dos grupos PCO, PC, APO, AP, e
sujeitos PAL e PAG), o período correspondente ao início do protocolo de estressores (para os
sujeitos PCO, PC, PI, PIO) ou início da segunda condição de privação (para os sujeitos AP,
APO, PAL e PAG) e o fim destes períodos.
Na Figura 2 é possível identificar que, antes do início de qualquer procedimento
de privação, o peso dos sujeitos é muito próximo, e a inclinação das curvas é muito
semelhante. O ganho de peso é menos acentuado até o 20º dia de vida, quando a
inclinação passa a ser muito maior, ou seja, os sujeitos passam, a partir de então, a
ganhar muito mais massa de um dia para o outro do que ganhavam até este dia. Mesmo
sendo possível identificar, já neste momento, diferenças entre os sujeitos, é a partir do
60º dia, aproximadamente, que essas diferenças se tornam mais visíveis.
Assim como no experimento de Tomanari et al (2003), realizado com ratos da
mesma linhagem, este período inicial (até o 20º dia) é marcado por uma menor
aceleração no ganho de peso. Dois aspectos relevantes podem ser aqui destacados:
quantidade de sujeitos por caixa e tipo de alimentação. Por haver vários sujeitos em
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161 171 181 191 201 211 221 231 241
Peso (g)
Dias de vida
52
cada caixa, a amamentação de cada um deles poderia ser reduzida; a partir do momento
em que a amamentação deixa de ser a única fonte de alimentação (os sujeitos passam a
se alimentar também de ração), o ganho de peso se torna mais pronunciado.
Tomanari et al (2003) também atribuem esta diferença de ganho de peso nos
períodos citados ao fato dos sujeitos estarem agrupados, ou seja, muitos sujeitos no
mesmo ambiente e, portanto, menor disponibilidade de alimentação para cada um deles,
já que eram amamentados neste período. No presente experimento, o mesmo fator pode
ser apontado: é também a partir do momento em que os sujeitos passam a se alimentar
de ração e água que passam a ganhar maior peso. Além disso, a observação do
comportamento das mães em cada caixa permite algumas afirmações.
Conforme já salientado no procedimento descrito no presente trabalho, o fato de
uma mãe apresentar menos cuidado com os filhotes pode ter sido relevante no ganho de
peso deles, por tratar-se de duas ninhadas por caixa e, portanto, duas mães em cada uma
delas. Como a maioria dos sujeitos experimentais foram provenientes da caixa 2, em
que isto acontecia com maior frequência, esta afirmação se mostra possível.
É interessante notar, na Figura 2, que os sujeitos nascem com pesos muito
semelhantes, e que a evolução deste peso também se dá de maneira muito semelhante, o
que pode ser visto na inclinação das curvas, do primeiro ao vigésimo dia,
aproximadamente. Ainda assim, com o passar dos dias, os pesos se tornam muito
diferenciados, e alguns sujeitos se tornam muito mais “pesados” do que outros.
A partir da primeira linha pontilhada, para os sujeitos dos grupos PC (protocolo
completo, com e sem operante), AP (apenas privação, com e sem operante), e para os
sujeitos PAG (privação de água) e PAL (privação de alimento), dois períodos de
privação por semana se iniciaram neste momento. Para os sujeitos do grupo PI
(protocolo incompleto, com e sem operante), nenhuma privação ocorreu em nenhum
momento do experimento.
A partir da segunda linha pontilhada, o período de exposição ao protocolo de
estressores é iniciado para os sujeitos dos grupos PCO e PC. Para os sujeitos dos grupos
APO e AP e para os sujeitos PAL e PAG, essa linha indica o início da condição de
privação idêntica à do protocolo (para os dois últimos, apenas de alimento e de água,
respectivamente).
Para os sujeitos do grupo protocolo incompleto (com e sem operante), as duas
últimas linhas indicam o período de exposição ao protocolo, este sem nenhuma
condição de privação em vigor.
53
É possível observar, na Figura 2, que as diferenciações entre os pesos dos
sujeitos começam a aparecer quando a primeira condição de privação é imposta. Neste
momento, é possível observar que esta condição produz efeitos no peso dos sujeitos: a
aceleração das curvas é modificada, passando alguns sujeitos a ganhar menos peso do
que vinham ganhando até então. Portanto, pode-se afirmar que a privação, na primeira
condição em que é colocada aos sujeitos (dois períodos por semana), altera o ganho de
peso corporal. Conforme salientado, nem todos os sujeitos passaram por esta condição,
sendo possível observar, desta forma, que nem todas as curvas mostradas na Figura 2
apresentam a alteração descrita. O peso referência foi calculado levando-se em conta a
porcentagem de aumento de peso diária deste sujeito. Esta porcentagem foi aplicada ao
peso de cada sujeito antes do início da privação, e assim o cálculo foi feito.
No segundo momento, quando o período de exposição ao protocolo é iniciado,
mais uma vez é notada diferenciação entre os sujeitos. Esta diferenciação é também
possivelmente devida às diferenças nas condições a que os sujeitos foram submetidos
neste momento. Tanto o protocolo completo quanto a segunda condição de privação
parecem produzir impacto no peso dos sujeitos: é apenas o peso dos sujeitos do grupo
PI que não sofre alterações semelhantes neste período, sendo as curvas mantidas, de
uma forma geral, em aceleração constante (indicadas por setas). Mesmo assim, é
possível notar que, das curvas indicadas (peso desses sujeitos), há algum momento do
protocolo em que há uma queda no peso, que acaba sendo recuperada, porém sem trazer
o peso para a mesma altura que ele estava antes (as terceira e quarta curvas, de cima
para baixo): essas curvas terminam abaixo da altura que tinham quando iniciado o
protocolo.
Também o sujeito PAG, durante esta condição, não apresenta desaceleração no
peso. No entanto, seu peso oscila ao longo de todo o período. O peso deste sujeito é
indicado pela terceira seta na Figura 2.
Para os demais sujeitos, tanto os submetidos ao protocolo completo quanto os
submetidos apenas à privação, há alterações maiores durante este período.
Um ponto importante a ser salientado é a escolha do peso do sujeito PI2 para
cálculo do peso referência para os demais sujeitos, peso este que será apresentado ao
longo da descrição dos resultados. O peso deste sujeito corresponde à segunda linha na
Figura 2, de cima para baixo. Como é possível observar nesta Figura, o peso do sujeito
PI2 sofreu poucas alterações ao longo do experimento, e teve ganho constante até o
final das aferições. Este peso se parece muito com peso de sujeitos controle, que não são
54
submetidos às condições experimentais, e por isso serviu para o cálculo da estimativa de
ganho de peso para os demais sujeitos, que passaram pelas condições. O peso referência
foi calculado levando-se em conta o ganho de peso deste sujeito. A porcentagem de
aumento de peso diária deste sujeito foi aplicada ao peso de cada sujeito antes do início
da privação, e assim o cálculo foi feito.
As diferenças observadas entre os sujeitos em cada uma das condições a que
foram submetidos, destacadas aqui, é que fazem com que a análise dos resultados leve
em conta as diferentes manipulações propostas em cada um dos grupos. Os efeitos de
privação isoladamente, protocolo sem privação e ambos em conjunto (protocolo
completo) no peso corporal e no consumo de alimento e água serão, a partir de agora,
descritos em detalhes, já que essas variáveis se mostram relevantes nas alterações
observadas e foram, desta forma, separadas para análise.
a. Grupos apenas privação (com e sem operante)
Os sujeitos do grupo apenas privação foram divididos em sujeitos expostos ao
esquema de reforçamento concorrente (APO1, APO2, APO3) e sujeitos não expostos a
esta condição (AP1, AP2, AP3). Estes sujeitos passaram por duas condições de
privação, durante todo o experimento. Durante 12 semanas, na primeira condição, os
sujeitos foram submetidos a dois períodos de privação semanais. Depois, na segunda
condição, durante seis semanas, a uma alteração no esquema de privação, tornando-a
idêntica à do protocolo de estressores. Ou seja, mesmo não sendo submetidos a nenhum
dos outros estímulos programados no protocolo (ex., agrupamento, iluminação contínua,
objeto estranho na gaiola), as privações de água e alimento previstas nele foram
estipuladas para esses sujeitos. Concluida esta condição, novamente os dois períodos de
privação semanais vigoraram por novas três semanas, e, então, o experimento foi
encerrado. Portanto, para esses sujeitos, a variável descrita como crítica por Matthews et
al (1995) e Forbes et al (1996) no conjunto de estressores foi isolada, para investigação
de seus efeitos.
Um primeiro aspecto deve ser salientado com respeito ao regime de privação
aqui imposto. Os sujeitos não eram privados para que seu peso fosse mantido numa
faixa específica de peso, em relação ao peso ad lib. Portanto, a restrição era unicamente
imposta para que se pudesse avaliar, separadamente, os efeitos da privação, do
protocolo completo ou do protocolo incompleto. Desta forma, o regime restritivo difere
55
de outros aqui reportados, como os de Thomaz (2001), Dolabela (2004) e Rodrigues
(2005) e Tomanari et al (2003). Nos três primeiros, o regime de restrição era realizado
por tempo de acesso ao item restrito (no caso, água). Então, os sujeitos tinham acesso à
água por um certo período de tempo por dia. Em Tomanari et al (2003), com objetivos
semelhantes aos desta pesquisa com relação ao peso, a restrição era por quantidade: uma
determinada quantidade de um dos itens era disponibilizada por dia para os sujeitos.
Para todos, era mantido o acesso livre ao item não restrito (assim como no presente
experimento, para os sujeitos da condição privação específica – PAL e PAG).
Desta forma, qualquer comparação com esses estudos aqui colocada deverá levar
em conta ambas as diferenças: (a) o objetivo da restrição (explorar efeitos de determina
restrição ou atingir e manter determinado peso) e (b) o procedimento de restrição
(tempo de acesso diário ou quantidade disponível).
Na Figura 3 é possível observar o peso dos sujeitos dos grupos APO e AP
durante todo o experimento. Na coluna da esquerda estão os pesos dos sujeitos APO1,
APO2 e APO3, grupo que passou pelas duas condições de privação descritas e por
sessões em esquema concorrente, e na coluna da direita o peso dos sujeitos AP1, AP2 e
AP3, grupo que passou apenas pelas duas condições de privação. Conforme já descrito,
as linhas pontilhadas na Figura 3 indicam início de diferentes condições de privação
(primeira condição de privação e segunda condição de privação – início e término).
Na Figura 3, é possível observar que, desde o início da privação, o peso dos
sujeitos sofre alterações por conta desta condição. Para todos os sujeitos, assim que o
início da privação ocorre (após primeira linha pontilhada), a curva de peso apresenta
desaceleração com relação ao que vinha ocorrendo até então. Mesmo assim, como pode
ser observado na linha de tendência, não há, ao final desta primeira condição de
privação, para nenhum dos sujeitos, perda de peso corporal. Ao contrário, parece haver,
no final, um pequeno ganho de peso. Isto pode ser mais nitidamente observado para os
sujeitos APO3, AP2 e AP3.
56
Figura 3. Peso corporal dos sujeitos dos grupos APO e AP, durante todo o experimento. A linha
mais espessa representa a tendência, a linha contínua menos espessa o peso real e a linha
pontilhada o peso referência. As linhas verticais pontilhadas indicam, respectivamente, início da
primeira condição de privação, início da segunda condição de privação e final desta.
Na segunda condição de privação, ou seja, quando a privação passa a ser maior,
correspondendo à privação prevista no protocolo de estressores, o peso apresenta queda,
o que não havia acontecido antes. Vale aqui notar que a frequência dos períodos de
privação, nesta condição, passa a ser muito maior. Na Tabela 7 é apresentada uma
comparação entre os períodos de privação de água e de alimento para antes e depois e
para durante o período equivalente ao protocolo, por semana. O intervalo entre os
períodos é apresentado levando-se em conta o tempo decorrido entre o primeiro período
reportado e o período subsequente, e assim por diante.
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1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161 171 181 191 201 211 221 231
0
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1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161 171 181 191 201 211 221 231
0
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1 16 31 46 61 76 91 106 121 136 151 166 181 196 211 226
APO1
APO2
APO3
AP1
AP2
AP3
Peso (g)
Dias
57
Tabela 7. Total de horas semanais dos períodos de privação a que os sujeitos eram submetidos e
intervalo entre os períodos, nas duas condições de privação.
Antes e depois Durante
Total de horas
semanais Períodos
Intervalo entre os períodos
Total de horas
semanais Períodos
Intervalo entre os períodos
Privação água
49 horas 2 períodos (23 e 26 horas)
141 horas 86 horas 4 períodos (23, 20, 17, e 26 horas)
1 (teste), 6, 48 e 27 horas
Privação alimento
49 horas 2 períodos (23 e 26 horas)
141 horas 92 horas 3 períodos (24, 43 e 26 horas)
26, 22 e 27 horas
Portanto, a queda de peso apresentada pelos sujeitos durante a segunda condição
de privação (correspondente à privação do protocolo) pode ser atribuida a um dos
quatro fatores ou ao conjunto deles: (1) à duração total da privação durante uma
semana, que aumenta; (2) ao número de períodos de privação, que também aumenta; (3)
à duração de cada um deles (igual ou maior do que dos anteriores); e (4) aos intervalos
entre os períodos, que diminui.
Isto ocorre também para os sujeitos APO3, AP2 e AP3, sujeitos que vinham
ganhando peso na fase anterior do experimento. A queda menos notável ocorre para o
sujeito AP1, que parece ganhar peso no início dessa condição, apresentando ligeira
queda após este momento.
Outro aspecto importante a ser salientado, observando-se a Figura 3, refere-se à
semelhança entre os sujeitos que passaram por sessões em esquema concorrente e os
sujeitos que não passaram por esta condição. Mesmo havendo uma pequena diferença
entre os sujeitos APO3, AP2 e AP3 e os demais sujeitos com relação ao ganho de peso,
não há diferenças que possam ser atribuidas a esta condição, visto que um desses
sujeitos passou pelas sessões e outros dois não passaram. Portanto, pode-se afirmar que
as sessões em esquema de reforçamento concorrente não parecem interagir com a
condição de privação, modulando ou alterando os efeitos dessa condição, com relação
ao peso corporal.
Se for dado destaque às alterações de peso diárias apresentadas pelos sujeitos,
torna-se possível observar que, mesmo nos momentos de pequena variação na
58
inclinação da curva, alterações são notadas. Esta observação se aplica a todos os sujeitos
aqui apresentados (grupos APO e AP). Na Figura 4, correspondente ao peso do sujeito
APO3, a partir do início da privação, essas oscilações podem ser observadas.
250
300
350
400
450
500
550
88 98 108 118 128 138 148 158 168 178 188 198 208 218 228
Figura 4. Peso corporal do sujeito APO3, a partir do início da privação. As linhas pontilhadas
indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação.
Na Figura 4, é possível notar que, mesmo aumentando durante a primeira
condição de privação, o peso do sujeito APO3 sofre quedas e recuperações muito
frequentes. Mais interessante ainda é observar que, mesmo sofrendo quedas por conta
dos períodos de privação, a recuperação do peso se dá de maneira mais expressiva do
que sua perda, fato este a que pode ser atribuida a aceleração notada durante esta fase do
experimento. Durante a segunda condição de privação, quando os períodos de privação
ocorreram com maior frequência, é possível observar uma maior oscilação no peso.
Nesta condição, a recuperação do peso também ocorre após a queda, mas não é notada
aceleração durante toda a condição. Este fato pode ser devido ao tempo que o sujeito
tinha para recuperar o peso antes que um novo período de privação fosse iniciado (dada
a frequência com que os sujeitos eram privados). No entanto, as recuperações, nessa
condição de privação, parecem ser maiores do que as que ocorriam antes, o que pode ser
observado pela rapidez com que a curva atinge a altura referente ao peso anterior à
privação (ou até mesmo superior a este).
Dias
Peso (g)
59
As diferenças entre perda e recuperação de peso para as diferentes condições de
privação, e os diferentes períodos em cada condição, para o sujeito APO3, podem ser
observadas na Figura 5.
Figura 5. Porcentagem de redução do peso corporal após cada período de privação (painel da
esquerda) e porcentagem de recuperação de peso após aproximadamente vinte e quatro horas de
interrupção da privação (painel da direita), durante as duas condições de privação, para o sujeito
APO3.
É possível observar, na Figura 5, que há, na segunda condição de privação, um
aumento tanto na redução quanto na recuperação de peso. Desta forma, se há aumento
nos dois casos, levanta-se uma dúvida: como o peso apresenta perda, ao final desta
condição, para todos os sujeitos? Pode ser que, mesmo recuperando-se mais, o peso
final não atingisse o equivalente ao que foi perdido, em termos de porcentagem, já que o
cálculo aqui apresentado leva em conta as perdas e recuperações com relação ao dia
anterior. Ou seja, mesmo recuperando-se de um dia para o outro, o peso não conseguia
atingir o valor inicial, anterior ao início da segunda condição.
Se apresentados os valores de perda e recuperação do peso com relação ao peso
inicial (anterior à segunda condição de privação), isto pode ser notado.
Na Figura 6, os valores de perda de peso e recuperação de peso, para o sujeito
APO3, durante a segunda condição de privação, são apresentados, levando-se em conta
o peso do sujeito no dia anterior ao início desta condição.
0
2
4
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8
10
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
24 horas
19 horas
24 horas privação alimento
0
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
Após 24 horas
Após 19 horas
Após 24 horas privação alimento
Porcentagem
Semanas
60
-20
-16
-12
-8
-4
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
Perda
Recuperação
Figura 6. Valores percentuais de perda e recuperação de peso do sujeito APO3, para as seis
semanas da segunda condição de privação, levando-se em conta o peso do sujeito anteriormente
a esta condição. As linhas pontilhadas indicam o início e o fim desta condição. Os demais
valores apresentados (da primeira condição de privação e do retorno a ela, ou seja, das semanas
1 a 13 e 20 a 22) se mantêm idênticos aos da Figura 5.
Pode ser observado na Figura 6 que, mesmo recuperando-se diariamente,
conforme mostrado na Figura 5, o peso, durante a segunda condição de privação, sofre
perdas consideráveis e, com relação ao peso anterior a esta condição, a recuperação não
chega a ocorrer. Portanto, mesmo apresentando uma recuperação diária no peso maior
do que anteriormente ao segundo período de privação, pelo fato da perda ser também
maior neste período, a curva de peso ao final demonstra queda, e não aumento.
Além das mudanças no peso corporal observadas para este período, mudanças
no padrão de consumo dos sujeitos também são notadas. Essas mudanças podem ser
analisadas levando-se em conta a Figura 7. Nela são apresentados o consumo total dos
sujeitos para o período de uma semana e a média de consumo diário, de alimento e de
água, desde o início da aferição11.
11 A partir do 57º dia de vida dos sujeitos, as aferições de consumo de água e alimento foram iniciadas para todos os sujeitos. Os dados de consumo de água só puderam ser utilizados a partir do 79º dia, já que, por problemas de vazamento nas mamadeiras, as aferições dos dias anteriores não foram precisas.
Porcentagem
Semanas
61
0
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10
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
Alimento
Água
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26
Figura 7. Média do consumo diário água e alimento dos sujeitos dos grupos APO e AP,
calculados semanalmente, a partir do início da aferição (painéis da esquerda). Quantidades
consumidas de água e alimento por semana, para os mesmos grupos, a partir do início da
aferição (painéis da direita). As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira
condição de privação e início e fim da segunda condição de privação.
Semanas
Média (g ou ml) T
otal (g ou ml)
APO1
APO2
APO3
AP1
AP2
AP3
62
O consumo médio diário foi calculado levando-se em conta a disponibilidade do
alimento e da água. Então, se o alimento e a água estivessem disponíveis por três dias
na semana, somavam-se as quantidades consumidas e dividia-se por três. O consumo
semanal foi calculado somando-se a quantidade de alimento e de água consumidos ao
longo de uma semana, não importando quantos dias de disponibilidade tivessem havido
naquela semana.
Como é possível observar na Figura 7, o consumo médio de alimento, para todos
os sujeitos, aumenta durante o período de privação mais intensa. No entanto, o consumo
total diminui, também para todos eles, voltando aos valores próximos aos anteriores a
este período apenas quando ele termina.
Desta forma, pode-se dizer que, mesmo consumindo uma quantidade maior em
um menor período de tempo (aumento na média), os sujeitos consumiam menos
alimento no total. Isto quer dizer que, mesmo consumindo em maior “velocidade”, o
total consumido não chegava aos valores anteriores a este período, o que pode ser
responsável pela perda de peso observada.
Para o consumo de água, no entanto, não há tanta consistência entre os
consumos dos sujeitos com relação às alterações em cada condição. A média consumida
aumenta para todos eles, com exceção do sujeito APO1, durante a segunda condição de
privação. O total consumido, por sua vez, não apresenta um padrão de mudança, como
observado para o consumo de alimento: há queda, pelo menos inicialmente, para os
sujeitos APO1 e APO3; para os sujeitos APO2, AP1, AP2 e AP3, o consumo total se
mantém nas primeiras semanas de privação mais intensa, caindo apenas depois deste
período.
Levando esses resultados em consideração, e comparando-se com peso dos
sujeitos neste período, é possível afirmar que, considerando as mudanças no padrão de
consumo observadas, as alterações no peso dos sujeitos são produtos mais de alterações
no consumo de alimento do que das alterações no consumo de água.
De acordo com os resultados aqui encontrados para os grupos que foram
submetidos apenas à privação, dentre o conjunto de estressores do protocolo, pode-se
afirmar que a privação foi responsável por alterações no peso e no padrão de consumo
dos sujeitos, mesmo nas diferentes condições em que esteve em vigor (maior ou menor
frequência e duração dos períodos de privação em uma semana). Quanto a esta
afirmação, algumas colocações podem ser feitas: (a) períodos de privação infrequentes
(duas vezes por semana) alteram o peso, mas permitem que os sujeitos ganhem massa
63
durante esta condição (o que pode ser visto na aceleração da curva de peso durante este
período); (b) períodos de privação mais frequentes alteram de maneira mais
significativa o peso, fazendo com que os sujeitos não ganhem massa, mas sim
apresentem peso inferior ao que tinham antes (peso cai durante essa condição, em
relação à anterior); e (c) quanto mais frequentes os períodos de privação, maiores são as
alterações no padrão de consumo, principalmente de alimento, passando os sujeitos
privados a consumirem em maior “velocidade” do que o faziam anteriormente (ou seja,
assim que o alimento era disponibilizado, o sujeito comia muito mais do que na situação
anterior).
b. Sujeitos da condição privação específica (PAL e PAG)
Os sujeitos desta condição passaram por períodos de privação idênticos aos
períodos a que os outros sujeitos do experimento foram submetidos, no entanto, apenas
de um dos itens cada um: água ou alimento. Portanto, em todos os períodos em que os
demais sujeitos estiveram privados de água, o mesmo ocorreu com o sujeito PAG
(privação de água); em todos os períodos em que os demais sujeitos estiveram privados
de alimento, o mesmo ocorreu com o sujeito PAL (privação de alimento). Assim, as
duas condições de privação dos sujeitos PAG e PAL tiveram variação idêntica à dos
sujeitos AP e APO, porém, apenas para uma das privações específicas, água e alimento,
respectivamente.
Com a proposição desses sujeitos, foi possível comparar diferenças possíveis
relativas à qualidade da privação.
Algumas comparações entre os sujeitos PAL e PAG podem ser feitas,
principalmente considerando as possíveis diferenças entre eles, pelas diferentes
privações a que foram submetidos.
Entre os sujeitos PAL e PAG, a primeira comparação a ser feita é com relação
ao seu peso corporal. Vale lembrar que os sujeitos passaram por restrição hídrica ou
alimentar desde o início da privação para os demais sujeitos, ou seja, também passaram
pela primeira condição de privação (porém, neste caso, específica). Na Figura 8 estão os
pesos de ambos, PAG e PAL.
64
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50
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1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161 171 181 191 201 211 221 231
Figura 8. Peso corporal dos sujeitos PAL e PAG, durante todo o experimento. A linha mais
espessa representa a tendência, a linha contínua menos espessa o peso real e a linha pontilhada o
peso referência. As linhas verticais pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira
condição de privação, início da segunda condição de privação e volta à primeira condição de
privação.
É possível observar que o peso dos sujeitos parece muito semelhante até o início
da primeira condição de privação. A partir de então, muitas diferenças são encontradas
entre eles. Mesmo com oscilações após o início do regime de privação, o peso do sujeito
PAG apresenta aceleração durante todo o tempo, ficando muito próximo do peso
referência (peso provável que o sujeito atingiria se não fosse privado). No final do
PAG
Dias
Peso (g)
PAL
65
experimento, inclusive, seu peso real ultrapassa o peso referência. O peso do sujeito
PAL, no entanto, apresenta oscilações muito semelhantes ao que acontece com os
demais sujeitos, que foram privados de ambos, comida e água. Assim que a restrição é
iniciada, no 89º dia do estudo, seu peso começa a apresentar desaceleração no ganho,
atingindo a maior queda durante a segunda condição de privação, ou seja, fase em que
os períodos de privação se tornam mais frequentes.
No estudo de Tomanari et al (2003), é relatado o aumento no peso, quando água
e comida passam a ser novamente disponibilizados livremente, após um período em que
os sujeitos vinham sendo privados de um dos dois. Os dados mostrados no estudo
apontam que, mesmo tendo passado por um período de privação, quando esta é
suspensa, o peso dos sujeitos retorna a valores iguais ou até maiores que o peso anterior
ao início da privação. Ou seja, ultrapassando o ganho, no mesmo período, de peso dos
sujeitos não privados de nenhum item (sujeitos controle).
Para o sujeito PAL, este fenômeno parece ocorrer de maneira um pouco distinta.
Após o início da privação, este sujeito não mais passou por nenhuma semana em que
ficasse com acesso total e irrestrito ao alimento. Mesmo assim, após o início da segunda
condição de privação, o ganho de peso do sujeito é maior do que vinha ocorrendo até
então, mesmo passando ainda por períodos privação de alimento. Após o término a
segunda condição, na volta à primeira condição, este ganho continua ocorrendo. Este
período se assemelha ao que Tomanari et al (2003) descreveram para seus sujeitos: um
ganho maior que o que ocorria antes e maior do que para os sujeitos controle (o que
equivaleria, aqui, ao peso referência).
Para o sujeito PAG, ao contrário, no período correspondente à segunda condição
de privação parece ocorrer uma maior inclinação da curva em relação à primeira
condição de privação. Este fato pode ser bem observado ao se olhar para a curva de
tendência.
Além das diferenças na evolução de peso dos sujeitos durante as condições de
privação, diferenças no padrão de consumo também são observadas. A quantidade total
de água e alimento consumidas pelos sujeitos, ao longo de todo o experimento, são
mostradas na Figura 9.
0
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Alimento
Água
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25
30
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
0
50
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250
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
Figura 9. Média do consumo diário água e alimento dos sujeitos PAG e PAL, calculados semanalmente, a partir do início da aferição (painéis superiores).
Quantidades consumidas de água e alimento por semana, para os sujeitos PAG e PAL, a partir do início da aferição (painéis inferiores). As linhas pontilhadas
indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação e início e fim da segunda condição de privação.
Semanas
Média (g ou ml)
Total (g ou ml)
PAG PAL
66
67
Na Figura 9, é possível observar que o padrão de consumo durante todo o
experimento é muito diferente para os dois sujeitos.
Para o sujeito PAG, privado apenas de água, tanto a média quanto o consumo
total de alimento se mantêm constantes, durante todo o experimento. O total consumido
de água por semana também não parece sofrer alterações marcantes durante o
experimento, sendo notadas as maiores oscilações no início das aferições, um pequeno
aumento na primeira semana da segunda condição de privação e um aumento maior, na
terceira semana após a volta à primeira condição de privação, seguido de uma queda
(volta a valores próximos aos anteriores).
A média, no entanto, sofre alterações muito maiores durante a segunda condição
de privação. Há um aumento muito grande do consumo de água durante cada período
em que a água está disponível, o que se assemelha aos resultados já descritos para
outros sujeitos que passaram pela privação, mesmo que dos dois itens. O que ocorre é
que, mesmo tendo água disponível por menos tempo, quando ela é apresentada, o
sujeito consome muito mais em muito menos tempo, o que faz com que o consumo total
permaneça inalterado, mas a média suba marcadamente. Assim, pode-se afirmar que o
consumo total não diminuiu justamente por conta deste aumento no consumo médio:
apenas “compensando” os períodos de privação com um aumento no consumo, o sujeito
conseguiu manter o consumo total estável, ao longo das semanas de maior privação.
Para o sujeito PAL, privado apenas de alimento, o aumento no consumo médio
deste item, durante a segunda condição de privação, também é muito alto, como pode
ser observado no painel superior da Figura 9. A cada semana, esta média aumenta,
chegando a seu valor mais alto na última semana desta condição, decrescendo
novamente, quando o sujeito volta para a primeira condição de privação. O consumo
médio de água, no entanto, apresenta uma leve queda durante a segunda condição de
privação, voltando a aumentar após seu término.
Porém, mesmo com o aumento no consumo médio, este sujeito não mantém o
consumo total, o que é notado pela diminuição observada para o período correspondente
à segunda condição de privação, no painel inferior da Figura 9. Parece que, mesmo
consumindo mais comida em menores períodos de tempo, o sujeito não consome o
suficiente para “compensar” os períodos de privação e, além disso, tais alterações no
consumo de alimento são acompanhadas por uma queda no consumo médio e total de
água.
68
É interessante notar que, mais nitidamente para o sujeito PAG, não há
diminuição no consumo de um item pela privação do outro. Uma pequena queda no
consumo de água é observada para o sujeito PAL, quando a privação de alimento se
torna mais intensa.
Analisando os resultados, um primeiro ponto pode ser levantado: há, certamente,
diferenças nos efeitos de privação de água e privação de alimento. A privação de
alimento parece ser o fator mais importante se, por exemplo, for considerado o peso dos
sujeitos: oscilações no peso do sujeito PAL, privado de alimento, são muito próximas
das oscilações no peso dos sujeitos privados de ambos os itens. O peso do sujeito PAG,
privado apenas de água, no entanto, fica muito mais próximo do peso dos sujeitos não
privados de nenhum dos dois itens.
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1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161 171 181 191 201 211 221 231 241
Figura 10. Peso corporal de todos os sujeitos do experimento, pelos dias de vida de cada sujeito.
As duas curvas em destaque representam o peso dos sujeitos PAG e PAL. As três linhas
pontilhadas representam, aproximadamente e respectivamente, o início da primeira condição de
privação, e o início e término da segunda condição de privação.
Na Figura 10, são destacadas as curvas de peso dos sujeitos PAG e PAL, com
relação aos demais sujeitos do experimento. Com isso, fica nítida a diferença do
impacto de cada uma das privações no peso dos sujeitos.
A curva mais alta em destaque se refere ao peso do sujeito PAG, e a mais baixa
(mais próxima às demais curvas de sujeitos também submetidos a privações), ao peso
Dias
Peso (g)
69
do sujeito PAL. Conforme já salientado, é notada diferença entre a evolução de peso dos
sujeitos durante cada condição de privação.
A partir dos resultados obtidos, algumas afirmações podem ser feitas: a variável
aqui manipulada – a privação de alimento (neste caso, uma determinada programação
de períodos com e sem alimento disponível) produziu duas mudanças: (a) uma no
comportamento do sujeito – o padrão de consumo e (b) outra em seu peso. Os
resultados obtidos para o sujeito PAL são comparáveis ao que ocorreu para os sujeitos
APO e AP, indicando que a privação de alimento, e não a privação em geral, foi a
variável crítica na produção de tais resultados.
Assim, essas diferenças demonstram que, ao se programar um experimento em
que uma determinada privação seja utilizada para manutenção do peso dos sujeitos
abaixo do valor ad lib, para a condução de sessões operantes, por exemplo,
possivelmente a privação de água, para que esse resultado de diminuição no peso seja
obtido, deverá ser muito mais intensa do que a privação de alimento.
c. Grupos protocolo incompleto (com e sem operante)
Os sujeitos do grupo protocolo incompleto (PI1, PI2, PI3 e PIO) passaram por
todos os estressores previstos no protocolo, exceto as privações de água e alimento.
Portanto, antes e depois da exposição ao protocolo, nenhuma condição específica esteve
prevista, a não ser os testes de ingestão e preferência por sacarose e as sessões operantes
(para um dos sujeitos).
Com este grupo de sujeitos, mais uma vez a investigação do papel da privação
no conjunto de estressores foi proposta. Se os efeitos previstos do protocolo fossem
dependentes da privação como parte do conjunto estressores, este grupo de sujeitos
permitiria tal avaliação. Na Figura 11 é possível observar o peso dos sujeitos deste
grupo.
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1 1121 314151 617181 91101111121131141151161171181191201211221231
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1 16 31 46 61 76 91 106 121 136 151 166 181 196 211 226
Figura 11. Peso dos sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO, durante todo o experimento. A linha mais
espessa representa a tendência, e as linhas pontilhadas indicam, respectivamente, o início e final
do protocolo de estressores.
O peso referência não foi calculado para os sujeitos que passaram pela condição
protocolo incompleto, já que ele se referia ao peso que os sujeitos teriam, caso não
passassem por nenhuma condição de privação. Isto aconteceu com todos os sujeitos
deste grupo, e por isto esse cálculo não foi feito para eles. Para esses sujeitos, apenas a
linha de tendência é colocada.
Algumas mudanças de peso ocorrem durante todo o experimento. Porém,
diferente do que ocorre para os grupos APO e AP, são oscilações menores, menos
frequentes, mantendo-se, durante todo o experimento, a aceleração nas curvas; ou seja,
o ganho de peso, mesmo sofrendo alterações localizadas, parece ter sido contínuo. Na
maioria dos casos, essas oscilações podem ser atribuidas a eventuais diminuições nos
consumos de água e alimento. Por exemplo, do dia 141 para o dia 142, o sujeito PIO
teve uma redução de peso de 415,5 g para 403 g, tendo ingerido neste período apenas
15,5 g de alimento, uma quantidade de alimento muito abaixo da média de seu consumo
diário. Porém, essas alterações não são específicas do período do protocolo de
estressores para nenhum dos quatro sujeitos. Portanto, observando-se apenas a Figura
PI2 Peso (g)
Dias
PI1
PIO PI3
71
11, parece não haver relação entre o protocolo de estressores incompleto (sem privação)
e alterações no peso dos sujeitos. Mais do que isto, parece não haver relação entre
nenhum estressor específico e a redução no peso dos sujeitos.
Para melhor avaliar esta relação, o peso durante as seis semanas de exposição ao
protocolo foi examinado. Com relação a este período, diferenças no peso de um dia para
o outro, se observadas, poderiam ser atribuidas a algum estressor específico. Levando
em conta esta possibilidade, o peso em cada dia da semana, nas seis semanas de
protocolo, pode ser visto na Figura 12.
Figura 12. Peso corporal dos sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO, durante o protocolo de estressores,
pelo dia da semana, nas seis semanas de duração do protocolo.
Observando a Figura 12, é possível perceber que, pelo menos para o sujeito PI1,
há um dia na semana em que seu peso parece sofrer alterações diferentes dos demais
dias. Na segunda-feira, comparando-se as barras das semanas 1, 2, 4 e 6, com as barras
dessas mesmas semanas para os demais dias, o peso do sujeito é menor. Neste dia, o
estressor implementado foi a iluminação contínua (iniciada no domingo). Portanto,
parece haver relação entre a perda de peso e este estressor, pelo menos mais nitidamente
para o sujeito PI1. Além deste sujeito, também para os sujeitos PI2 e PIO é percebida
queda do peso na segunda-feira, porém menos acentuada. Para o PI2, isto acontece nas
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QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA
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QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA
Semana 1 Semana 2 Semana 3 Semana 4 Semana 5 Semana 6
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QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA
PI1
PI3
PI2
PIO
Peso (g)
Dia da semana
72
semanas 1, 2 e 5, e para o PIO, nas semanas 1 e 4. Para o sujeito PI3, não há nenhuma
relação entre a segunda-feira e uma possível queda no peso, portanto, entre a iluminação
contínua e a perda de peso. Assim, além da privação, pode ser afirmada uma possível
relação entre um estressor específico (a iluminação contínua) e a perda de peso dos
sujeitos, já que para esses sujeitos, que nunca foram privados, houve redução no peso no
dia em que este estressor era apresentado.
Mesmo assim, para todos os sujeitos, é possível constatar que o peso aumenta ao
longo das semanas, e que há semelhança neste aumento entre os diferentes dias. Além
da segunda-feira para os sujeitos PI1, PI2 e PIO, não há outro dia, especificamente, em
que o peso se mostre nitidamente maior ou menor do que o peso para os outros dias.
Avaliando oscilações de peso de uma semana para outra, para o sujeito PI1, da
terceira para a quarta semana, pode ser notada uma diminuição de peso em quatro dias
da semana (domingo, segunda, terça e quarta), e da quarta para a quinta semana, há uma
diminuição no peso em outros três dias da semana (quinta, sexta e sábado). Até então,
ao longo das semanas, era notada aceleração do peso, comparando-se as barras de uma
semana para a outra. Esta diminuição se inicia na segunda-feira da quarta semana, dia
crítico para a perda de peso deste sujeito, conforme já ressaltado, em que o peso de um
dia para o outro diminuiu 11,5g, correspondente a 2,26% do peso. Depois desta
diminuição, o peso voltou a aumentar, porém ainda gradativamente, o que é notado pelo
menor tamanho das barras de quinta-feira, sexta-feira e sábado da semana 5.
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QUI
SEX
DOM
SEG
TER
QUA
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DOM
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QUA
QUI
SEX
DOM
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TER
QUA
QUI
SEX
DOM
SEG
TER
QUA
PI1 PI2 PI3 PIO
Alimento Água
Figura 13. Consumo médio de alimento e água, durante as seis semanas de submissão ao
protocolo de estressores, para cada dia da semana, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO.
Média
Sujeitos/ Dia da semana
73
Uma possibilidade é que esta diminuição pudesse ser atribuida ao consumo
nesses dias. Se o consumo de segunda-feira fosse muito menor do que nos outros dias, a
diminuição do peso poderia ser atribuida a este fato. Então o consumo médio para cada
dia da semana, ao longo das seis semanas do protocolo, é apresentado na Figura 13. O
sábado está omitido na Figura 13 por ser o dia correspondente ao agrupamento, em que
as aferições de consumo não eram realizadas.
É possível identificar, na Figura 13, que para os sujeitos PI1, PI2 e PI3, a
segunda-feira corresponde ao dia em que a média de consumo de alimento é menor.
Para o sujeito PIO, este dia é a quinta-feira. Com relação ao consumo de água, o mesmo
ocorre para os sujeitos PI1 e PI3: os menores consumos médios ocorrem na segunda-
feira e na quinta-feira.
Desta forma, pode-se supor que o estressor iluminação contínua altera o
consumo de água e alimento dos sujeitos, fazendo com que este seja menor.
Segundo Díaz e Bruner (2007), o padrão alimentar dos sujeitos é diferente a
depender do período do ciclo luminoso. Durante o período de escuro, os sujeitos comem
e bebem mais (o período de alimentação dura mais tempo), e com maior frequência
(menores intervalos entre um consumo e outro). Assim, considerando que a iluminação
contínua poderia produzir menor frequência no consumo (maiores intervalos entre um
consumo e outro), e menores quantidades consumidas (períodos mais curtos de
alimentação), a perda de peso devida a ela pode ser considerada.
O que pode ser aqui afirmado, com relação a este resultado, é que, novamente a
privação, não importando de que maneira ela é imposta, parece ser uma variável crítica
na produção de alteração no peso.
Para o sujeito PI2, é notada também uma diferença no peso da terceira para a
quarta semana. O peso, que vinha aumentando ao longo das três primeiras semanas,
começa a diminuir na sexta-feira da semana 4, ficando menor do que o peso da semana
anterior durante o restante dos dias (domingo, segunda, terça e quarta). Na quinta
semana, o peso volta a aumentar, como vinha acontecendo até então, sofrendo uma
pequena queda na segunda-feira da semana 5, chegando a atingir novamente valores
superiores aos anteriores na semana 6.
Para o sujeito PI3, diferentemente dos outros dois sujeitos, há apenas um dia
(quarta-feira) em que o peso da semana 4 cai com relação ao peso da semana 3. Para
este sujeito, a semana em que parece haver maior perda de peso é a última semana,
iniciando queda na sexta-feira, e caindo novamente no domingo e na segunda-feira. Para
74
este sujeito, porém, conforme já salientado, não há um dia específico em que o peso
sofre alterações. Da mesma forma, não é possível identificar uma semana crítica para
oscilações no peso.
Para o sujeito PIO, no entanto, a última semana apresenta diferenças marcantes
com relação às demais. Nesta semana, é possível observar que, comparando-se todos os
dias com a semana anterior, o peso se apresenta menor.
Levando-se em conta os resultados das oscilações de peso semanais, os sujeitos
PI1 e PI2 podem ser analisados a partir dos resultados reportados por Willner et al
(1987): a terceira semana aparece como a semana em que os efeitos dos estressores são
notados (a perda de peso observada no segundo painel da Figura 14, na semana 4,
corresponde à mudança da terceira para a quarta semana). Se o peso desses sujeitos for
levado em conta como medida dos efeitos dos estressores, isto se confirma no presente
estudo. Para os outros dois sujeitos, no entanto, não há a mesma relação.
Destacando-se essas oscilações ao longo das semanas, e levando-se em conta o
peso de cada sujeito com relação ao peso que apresentavam anteriormente ao início do
protocolo, é possível observar esta mesma relação, como mostra a Figura 14.
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PI 1 PI 2 PI 3 PIO
Semana 2 Semana 3 Semana 4
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PI 1 PI 2 PI 3 PIO
Semana 5 Semana 6
Figura 14. Porcentagem de ganho ou perda de peso por semana, com relação ao peso do dia
anterior ao início do protocolo, para todas as quintas-feiras (primeiro dia do ciclo) das seis
semanas de protocolo de estressores, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO (painel da esquerda).
Porcentagem de ganho ou perda de peso por semana, com relação ao peso do dia anterior ao
início do protocolo, para todas as segundas-feiras das seis semanas de protocolo de estressores,
para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO (painel da direita). Cada barra indica o ganho (ou perda, no
caso de valores negativos), em cada semana, com relação ao peso inicial (antes do início do
protocolo).
Sujeitos
Percentual
75
Na Figura 14, olhando para a porcentagem de ganho ou perda de peso por
semana, para cada um dos sujeitos em relação a si mesmo, levando em conta tanto o
primeiro dia do ciclo (quinta-feira) quanto a segunda-feira (considerada o dia em que os
sujeitos perderam mais peso, com relação aos demais dias), ao longo das seis semanas, é
possível perceber a mesma relação anteriormente destacada.
O ganho de peso dos sujeitos, ao longo das seis semanas de protocolo, levando-
se em conta o primeiro dia do ciclo (painel da esquerda), parece muito semelhante,
principalmente se levarmos em conta que nenhum deles atinge ganho (ou perda) maior
que 5% de seu peso. Da primeira para a segunda semana, o sujeito PI3 apresenta uma
queda de peso inferior a 1%, a maior dentre todos os sujeitos para o período. No
entanto, na semana seguinte, a recuperação é observada, visto que o sujeito apresentou
peso 0,68% superior que na semana anterior. Isto confirma a afirmação de que, mesmo
oscilando conforme já descrito, os sujeitos continuam ganhando peso ao longo das seis
semanas do protocolo de estressores.
Com relação à segunda-feira, a mesma oscilação anteriormente destacada pode
ser observada: é da terceira para a quarta semana que ocorrem as reduções mais
marcantes para os sujeitos PI1 e PI2, e na última semana para os sujeitos PI3 e PIO (este
último com maior redução).
Além disso, é possível observar que, levando-se em conta os critérios de
variação de peso geralmente utilizados para procedimentos experimentais (redução a 20
a 25 do peso ad lib), o peso dos sujeitos varia muito pouco.
Com relação ao padrão de consumo dos sujeitos do grupo PI e sujeito PIO,
algumas observações podem ser feitas. Na Figura 15 são apresentados o consumo de
água e alimento, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO, ao longo de todo o experimento.
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Água
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1 16 31 46 61 76 91 106 121 136 151 166 181 196 211 226
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3040
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6070
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90100
110120
130
140150
160
Figura 15. Consumos de água e alimento, aferidos diariamente, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e
PIO, durante todo o experimento. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, o início e
final do protocolo de estressores. Durante o protocolo de estressores não foi possível aferir os
consumos em um dos dias da semana, pelo fato dos sujeitos estarem agrupados, e os espaços
correspondentes a esses dias foram omitidos da Figura 15.
Alimento (g) Á
gua (ml)
Dias
PI1
PI2
PI3
PIO
77
Na Figura 15, é possível observar os consumos de água e alimento para os
sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO, durante todo o experimento.
É possível observar que, mesmo não tendo passado por nenhuma condição de
privação durante todo o experimento, inclusive no período de exposição ao protocolo de
estressores, os sujeitos PI1, PI2 e PI3 apresentam uma mudança no padrão de consumo
durante este período (conforme já salientado). Há uma maior oscilação no consumo de
água, mais notável para os sujeitos PI1 e PI2, ocorrendo aumentos e diminuições
bruscas de um dia para o outro. Para o sujeito PI3, é observada uma queda no consumo
de água, assim que o protocolo é iniciado. Para o sujeito PIO, no entanto, as oscilações
observadas no consumo de água durante este período são muito semelhantes ao que
ocorreu antes e depois do protocolo.
Para o consumo de alimento, há, assim que o protocolo é iniciado, uma certa
queda no consumo diário, para os mesmos três sujeitos (PI1, PI2 e PI3), parecendo
depois dos primeiros dias (ao longo das seis semanas de protocolo) haver também maior
oscilação. Esta oscilação é menos notada após o término do protocolo para o sujeito
PI2, enquanto que para o sujeito PI1 a oscilação se mantém, mesmo com a suspensão
dos estressores. Para o sujeito PI3, a diminuição inicial no consumo de alimento é
seguida por um aumento. Com a suspensão do protocolo, este consumo parece retornar
ao padrão anterior a ele (anterior ao início do protocolo). Para o sujeito PIO, semelhante
ao que ocorreu com o consumo de água, não são observadas oscilações durante o
período de exposição ao protocolo de estressores.
Parece, portanto, haver uma relação entre a oscilação no consumo de água e
alimento e a submissão ao protocolo de estressores, já que para três dos sujeitos ela se
confirma. O único sujeito que não apresenta a mesma relação é o sujeito que, além do
protocolo de estressores, passou também por sessões operantes. Desta forma, pode ser
colocada aqui a hipótese de que a exposição a esquemas concorrentes (ou a
controlabilidade, conforme colocado por Thomaz, 2001, Dolabela, 2004, Rodrigues,
2005 e Cardoso, 2008), tem papel na produção de efeitos pela submissão ao protocolo.
Nesses estudos, no entanto, a mesma comparação não foi feita. Thomaz (2001) e
Dolabela (2004) não aferiram o consumo de alimento e água dos sujeitos ao longo de
seus experimentos. Rodrigues (2005) e Cardoso (2008), que realizaram tais aferições,
não contaram com um grupo de sujeitos que nunca passassem por nenhuma condição de
privação, como é o caso dos sujeitos aqui descritos. Desta forma, uma possibilidade é
levantada a partir dos resultados do presente estudo: a de que os possíveis efeitos da
78
controlabilidade sejam também medidos através do padrão de consumo de água e
alimento ao longo das semanas de submissão ao protocolo de estressores.
Mesmo assim, por ter sido feita a manipulação da variável “exposição ao
esquema concorrente” apenas com um sujeito, a possibilidade de que esta relação se
confirme deveria ser testada em estudos posteriores, que utilizassem um grupo maior de
indivíduos que passassem por esta situação.
O padrão de consumo durante todo o experimento também pode ser analisado
considerando-se as médias semanais de consumo de água e de alimento de cada sujeito.
A Figura 16 indica claramente as alterações de consumo observadas para os sujeitos,
durante o protocolo. Para os sujeitos PI1, PI2 e PI3, há, pelo menos nas primeiras duas
semanas de protocolo, uma queda no consumo médio de água. Esta queda inicial é
seguida por um aumento, que é visível nas duas últimas semanas de exposição ao
protocolo, aumento este também observado para o sujeito PIO. Após a suspensão do
protocolo, todos os sujeitos (com exceção do sujeito PI1, inicialmente) apresentam
aumento no consumo médio de água.
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Alimento
Água
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Figura 16. Consumo médio diário de água e alimento (ml e g), durante todo o experimento, dos
sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, o início e final do
protocolo de estressores.
Médias
Semanas
PI1 PI2
PI3 PIO
79
Para o consumo de alimento, para todos os sujeitos, há uma queda na primeira
semana de exposição ao protocolo. Isto acontece inclusive para o sujeito PIO, que
passou também por sessões operantes.
As linhas horizontais, na Figura 16, foram traçadas levando-se em conta os
pontos mais alto e mais baixo dos consumos médios, durante as seis semanas de
protocolo. Essas linhas, a inferior principalmente com relação ao consumo de alimento e
a superior com relação ao consumo de água, indicam que os pontos mais baixos do
consumo médio, para todos os sujeitos, se localizam nas seis semanas de protocolo de
estressores, mais uma vez com exceção apenas do sujeito PIO.
Pode-se perceber que a apresentação do consumo em forma de médias ressalta
algumas oscilações encontradas no consumo absoluto, sendo assim interessante a
comparação entre as duas.
Matthews et al (1995) problematizaram a questão das medidas utilizadas nos
estudos com o CMS. Para eles, outras medidas, que não apenas a ingestão ou
preferência por substância doce deveriam ser levadas em conta, pelos problemas que
essas medidas podem trazer (muita variabilidade entre sujeitos, dificuldade em avaliar a
magnitude do valor do estímulo pelas não diferenças encontradas para diferentes
concentrações, entre outros). A partir dos resultados aqui encontrados, pode-se supor
que estudos que levassem o consumo de alimento e água em consideração como
possíveis variáveis dependentes a serem observadas para avaliar os efeitos da variável
independente protocolo de estressores poderiam produzir informações relevantes sobre
esses possíveis efeitos.
Para este grupo, então, pode ser afirmado que o peso diário sofreu pequenas
alterações, que poderiam ser atribuidas à submissão ao protocolo de estressores. Para
dois dos sujeitos, principalmente, um estressor específico (iluminação contínua) foi o
responsável por essas alterações, por produzir alterações no consumo de água e
alimento.
O consumo de alimento e água também parece demonstrar mudanças pela
exposição ao protocolo, sendo isto menos notável para o sujeito que passa também por
sessões operantes. Conforme ressaltado, este resultado aponta para uma possível relação
entre a controlabilidade (já descrita nos estudos de Thomaz, 2001; Dolabela, 2004;
Rodrigues, 2005; e Cardoso, 2008) e a produção ou não de efeitos pela submissão ao
protocolo de estressores. Desta forma, reafirma-se a sugestão já feita: parece ser
importante a realização de novas investigações, que elucidem os efeitos da submissão
80
ao protocolo, não apenas levando-se em conta as medidas de ingestão e preferência por
sacarose, mas também consumo de alimento e água.
d. Grupos protocolo completo (com e sem operante)
Os sujeitos do grupo protocolo completo passaram por todo o conjunto de
estressores, inclusive as privações de alimento e água. Dos seis sujeitos nesta condição,
três deles passaram pelas sessões operantes ao longo do experimento (PCO1, PCO2,
PCO3) e três deles não passaram por essas sessões (PC1, PC2, PC3).
Anteriormente ao início do protocolo, os sujeitos dos grupos PCO e PC também
passaram pela primeira condição de privação, idêntico ao que foi imposto aos sujeitos
dos grupos APO e AP. Dois períodos de privação semanais ocorriam, anteriormente às
sessões operantes e aos testes de ingestão e preferência (ver Tabela 7).
Desde o início da privação, a redução do peso pode ser observada, da mesma
forma que ocorre com os sujeitos dos grupos APO e AP. Mesmo sendo privados apenas
duas vezes por semana, antes do início do protocolo, o peso dos sujeitos é reduzido, e a
aceleração da curva é nitidamente menor do que até então, como é mostrado na Figura
17.
É interessante que, mesmo sofrendo restrição alimentar e hídrica antes do
protocolo, a tendência do peso dos sujeitos ainda é de aumento. Este resultado é
semelhante ao que foi apresentado para os sujeitos APO e AP e, desta forma, cabem
aqui também os comentários já colocados para esses sujeitos.
Durante o protocolo, no entanto, o peso de todos os sujeitos é reduzido. Neste
período, a restrição aumenta expressivamente (conforme mostrado na Tabela 7), e,
acompanhando tal aumento, o peso também diminui muito mais. Para todos os sujeitos,
o peso chega a ser reduzido tanto com relação ao peso de antes do início de qualquer
procedimento de privação quanto em relação ao peso imediatamente antes do início do
protocolo. Além disso, esta mesma redução é observada para os dois grupos, o grupo
que passa por sessões operantes e o grupo que não passa pelas sessões, o que sugere que
esta condição não produz diferenças com relação ao peso corporal, resultado este
semelhante ao encontrado na comparação dos grupos APO e AP.
81
Figura 17. Peso corporal dos sujeitos dos grupos PCO e PC, durante todo o experimento. A
linha mais espessa representa a tendência, a linha contínua menos espessa o peso real e a linha
pontilhada o peso referência. As linhas verticais pontilhadas indicam, respectivamente, início da
primeira condição de privação, início do protocolo de estressores e final deste.
Assim como para os sujeitos dos grupos APO e AP, as perdas e recuperações de
peso após períodos de privação ocorrem de maneiras diferenciadas antes, durante e
depois do protocolo, para todos esses sujeitos. Com relação à recuperação do peso após
a suspensão do protocolo, todos os sujeitos apresentam recuperação semelhante,
também independente de estarem ou não passando por sessões operantes. Além disso,
pode-se observar que, mesmo voltando a sofrer restrições hídrica e alimentar idênticas
às que vinham ocorrendo antes do protocolo (duas vezes por semana, anteriormente aos
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PCO1
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PCO3
PC1
PC2
PC3
Peso (g)
Dias
82
testes e às sessões operantes), todos os sujeitos atingem o peso final apresentado antes
do início dos estressores, com exceção apenas do sujeito PCO2, que apresenta peso final
inferior ao que apresentava antes do início do protocolo.
Se comparadas as Figuras 3 e 17, em que são apresentados o peso dos sujeitos
dos grupos APO, AP, PCO e PC, respectivamente, é possível notar que durante o
período correspondente ao protocolo de estressores, a inclinação das curvas é muito
diferenciada. Isto pode ser visto observando-se a distância entre as curvas de peso dos
sujeitos e a curva de peso referência para esses períodos. Além disso, se comparados o
peso inicial (do início do protocolo) com o peso final (após sua suspensão), tem-se,
também, que as reduções de peso, para cada uma das condições (apenas privação e
protocolo completo) é diferenciada.
Para afirmar que a redução no caso dos sujeitos PCO e PC é maior durante o
protocolo, é apresentada a Figura 18.
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325
350
375
400
425
450
PCO1 PCO2 PCO3 PC1 PC2 PC3 APO1 APO2 APO3 AP1 AP2 AP3
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6
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12
14
16Peso antes protocolo Peso após protocolo Percentual redução peso
Figura 18. Peso do dia anterior ao início do protocolo e do dia seguinte ao seu término, dos
sujeitos dos grupos PCO, PC, APO e AP, e porcentagem de redução do peso, comparando-se
antes e depois deste período.
Na Figura 18 os pesos dos sujeitos dos grupos APO, AP, PCO e PC do dia
anterior ao início do período correspondente ao protocolo e do dia seguinte ao seu
término são apresentados, bem como as porcentagens de redução de peso de todos os
sujeitos deste dia inicial para o peso após o fim.
Comparando-se as barras escura e clara, ou seja, o peso de antes e de depois do
período correspondente ao protocolo, para os grupos PCO e PC, e correspondente à
Peso (g)
Sujeitos
Redução no peso (%
)
83
segunda condição de privação, para os grupos APO e AP, é possível observar que a
redução de peso dos primeiros grupos é maior do que a dos segundos. Para os primeiros,
a diferença entre as barras é maior, principalmente para o sujeito PC. Isto é melhor
observado olhando-se para os pontos que indicam o percentual de redução: apenas o
sujeito APO3 ultrapassa a casa dos 10% de redução, apresentando peso 11,1% menor do
início para o final do período. Os demais sujeitos apresentam redução inferior a esta. Já
para os sujeitos dos grupos PCO e PC, apenas o sujeito PCO1 apresenta redução inferior
a 11%, tendo todos os outros (PCO2, PCO3, PC1, PC2, PC3) apresentado redução
superior a isto.
Um outro aspecto a ser destacado na observação da Figura 18 é a diferença entre
sujeitos que passaram por sessões operantes e sujeitos que não passaram por esta
condição. Com relação ao grupo que passou pelo protocolo completo, os sujeitos que
passaram também por sessões operantes apresentaram menor redução no peso do que os
sujeitos que não passaram. Para o grupo que passou pela segunda condição de privação,
a redução no peso é maior para os sujeitos que passaram também pelo operante. Desta
forma, é possível afirmar somente que o operante produz diferenças com relação à
redução no peso corporal dos sujeitos. No entanto, não há consistência aqui que
possibilite afirmar se esta condição produz maior ou menor redução no peso.
Observando a diferença entre os grupos com e sem operante na Figura 18, é
possível também ressaltar a importância da utilização de diversas formas de
demonstração de um mesmo dado. A diferença entre os sujeitos que passaram por
sessões operantes e sujeitos que não passaram por elas não havia ficado tão clara
comparando-se as Figuras 3 e 17.
Na Figura 19, é possível observar mais detalhadamente de que maneira isto
ocorre. Nesta Figura, o peso do sujeito PCO1 é mostrado a partir do início da primeira
condição de privação. O peso deste sujeito foi escolhido para ser aqui mostrado
aleatoriamente, já que as alterações para os demais sujeitos do grupo PCO e para os
sujeitos do grupo PC são muito semelhantes.
84
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300
350
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450
500
550
88 98 108 118 128 138 148 158 168 178 188 198 208 218 228
Figura 19. Peso corporal do sujeito PCO1, a partir do início da privação, até o final do
experimento. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de
estressores.
Para os sujeitos dos grupos PCO e PC, diferente do que ocorre com os sujeitos
dos grupos APO e AP, a redução no peso durante o protocolo de estressores é maior.
Apesar de apresentar variações muito semelhantes, cabendo para a Figura 19 a mesma
descrição da Figura 4, os sujeitos do grupo protocolo completo apresentam uma queda
no peso durante este período maior que os sujeitos do grupo apenas privação. Este
mesmo fato pode ser notado se observarmos a curva de porcentagem de perda e
recuperação de peso após período de privação. A porcentagem é mostrada na Figura 20.
Antes do protocolo, mesmo para os diferentes períodos de privação, a
porcentagem de redução do peso dos sujeitos variou de 5 a 8%. Durante o protocolo, no
entanto, esta redução aumenta um pouco, variando de 5 a 9%. Porém, para a
porcentagem de recuperação, a mudança é muito maior durante o protocolo, em relação
ao que ocorria antes. A variação que ficava aproximadamente entre 4 e 6% passa a
oscilar de 5 a 11%, ou seja, o sujeito recuperava muito mais peso após a privação,
durante a primeira condição de privação do que durante a segunda. Desta forma, mesmo
perdendo quase o mesmo percentual de peso, a pouca recuperação foi responsável por
uma diminuição do peso durante esta condição. Isto ocorre também para os outros
sujeitos do grupo, e para os sujeitos do grupo PC, o que indica que o desempenho
Peso (g)
Dias
85
operante, com relação ao peso corporal dos sujeitos, não apresentou influência notável
com relação a isto.
Figura 20. Porcentagem de redução do peso corporal após cada período de privação (painel da
esquerda) e porcentagem de recuperação de peso após aproximadamente vinte e quatro horas de
interrupção da privação (painel da direita), durante a primeira condição de privação e durante o
protocolo de estressores, para o sujeito PCO1 (painel da esquerda).
Há, aqui, alguns pontos importantes a serem observados. Em primeiro lugar, a
privação, mesmo quando apresentada isoladamente, produz efeitos de redução no peso
corporal e alteração no consumo de água e de alimento. Em segundo lugar, apenas o
restante do protocolo, sem a privação, também apresenta efeitos no peso dos sujeitos (o
que é observado nos resultados para os grupos PI e PIO) e no padrão de consumo desses
itens. Apesar de ser visivelmente mais notável a diferença no peso dos sujeitos PCO e
PC com relação ao peso dos sujeitos PI e PIO, há também diferença entre os primeiros e
os sujeitos APO e AP. No entanto, o que parece determinante na produção das maiores
alterações no peso e nos consumos de água e alimento aqui reportados não é nem uma
nem a outra coisa isoladamente, mas sim a interação entre eles, a privação e os demais
estressores.
Retomando a questão das medidas utilizadas para avaliar os efeitos do protocolo,
o peso se mostra, mais uma vez, uma medida relevante, como já havia sido apontado
por Willner (2005), Thomaz (2001), Dolabela (2004), Rodrigues (2005) e Cardoso
(2008).
Segundo Matthews et al (1995), uma comparação óbvia que deveria ser feita e
que, até então, não havia sido, seria entre dois grupos de sujeitos, um submetido ao
protocolo completo e outro apenas à privação envolvida do protocolo, para que então se
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
Após 24 horasApós 19 horasApós 24 horas privação alimento
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
24 horas19 horas24 horas privação alimento
Porcentagem
Semanas
86
pudesse constatar a relação entre mudanças no peso e o protocolo. No presente estudo,
tendo sido feita tal comparação, é possível afirmar que não apenas a privação, mas o
conjunto de estressores (quando incluindo a privação) é o que se mostra responsável
pela maior perda de peso.
Para as alterações no peso aqui descritas, foi encontrada diferença para sujeitos
que passaram e sujeitos que não passaram por sessões operantes. Nos estudos de
Thomaz (2001), Dolabela (2004), Rodrigues (2005) e Cardoso (2008), as alterações no
peso ocorreram para todos os sujeitos submetidos ao protocolo de estressores, não
havendo diferenças entre sujeitos que passaram por sessões em esquema concorrente e
sujeitos que não passaram por essas sessões. No entanto, nesses estudos, para sujeitos
que foram também submetidos às sessões operantes, a recuperação do peso se deu mais
rapidamente (alguns dias antes) para todos os sujeitos, em comparação aos que não
passaram por esta condição. No presente estudo, no entanto, os resultados apresentam-
se de maneira um pouco diferente: há diferenças, porém elas não são consistentes entre
sujeitos submetidos ao protocolo completo e sujeitos que passaram apenas pela segunda
condição de privação. Não há, portanto, como afirmar sobre uma relação entre a menor
perda de peso e a submissão a sessões operantes.
Vale aqui ressaltar que, nos estudos de Thomaz (2001), Dolabela (2004) e
Rodrigues (2005), os sujeitos foram submetidos à privação durante todo o experimento,
diariamente, com o objetivo de que o peso dos sujeitos se mantivesse entre 80 e 85% de
seu peso ad lib. Desta forma, a privação, nesses estudos, foi muito intensa (maior
frequência nos períodos de privação, pelo menos a privação de água) e duradoura do
que a privação do presente estudo. Portanto, algumas diferenças podem ser atribuidas a
essas diferenças na intensidade da privação.
Uma outra possibilidade com relação a esta diferença na recuperação do peso
dos sujeitos para o estudo de Thomaz (2001) se deve ao fato de que os sujeitos que
passaram pelas sessões operantes consumiram consideravelmente mais sacarose do que
os sujeitos que não passaram por esta condição. Isto ocorreu principalmente nos
momentos anterior e posterior à exposição ao protocolo (em que essas sessões
aconteciam diariamente). No estudo de Thomaz (2001), os sujeitos que passavam por
sessões operantes consumiam uma certa quantidade de sacarose a cada sessão, e os
sujeitos que não passavam por esta condição não consumiam. Desta forma, esta
ingestão calórica pode ter sido responsável pelo aumento de peso mais rápido
apresentado por esses sujeitos, quando eram submetidos às sessões após o término do
87
protocolo. Porém, nos estudos de Dolabela (2004) e Rodrigues (2005), esta variável foi
controlada (a sacarose foi dada também a sujeitos que não passaram pelas sessões
operantes), e o mesmo resultado reportado por Thomaz (2001) foi reportado por eles.
Assim, não há como afirmar que exista tal relação entre a recuperação de peso e o maior
consumo de sacarose.
Também para os sujeitos dos grupos PCO e PC, assim como para os sujeitos PI e
PIO, se comparados os dias da semana do protocolo com relação às variações de peso
apresentadas pelos sujeitos, é possível afirmar que há notadamente dias específicos em
que há maior redução ou aumento de peso. Isto pode ser observado na Figura 21.
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QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA
Semana 1 Semana 2 Semana 3
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QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA
Semana 4 Semana 5 Semana 6
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QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA
Figura 21. Peso corporal dos sujeitos PCO1, PCO2, PCO3, PC1, PC2 e PC3, durante o
protocolo de estressores, pelo dia da semana, nas seis semanas de duração do protocolo.
Em quase todos os dias da semana, tanto com relação ao dia anterior quanto com
relação ao peso na semana anterior, os pesos vão sendo reduzidos. Em dois dias
Dia da semana
Peso (g)
PCO1
PCO2 PCO2
PCO3
PC1
PC2 PCO2
PC3
88
específicos (domingo e terça-feira), no entanto, pôde ser percebido o aumento no peso
desses sujeitos. Deve ser notado que, tanto de sábado para domingo quanto de segunda
para terça-feira, os estressores privação de alimento e privação de água não estavam
presentes. Previamente à pesagem, os sujeitos tinham acesso livre aos dois itens por 22
horas, de sábado para domingo, e por 20 horas, aproximadamente (já que dependia da
ordem em que as sessões operantes fossem realizadas, para os sujeitos do grupo PCO),
de segunda para terça-feira.
Isto ocorreu de maneira diferente para os sujeitos do grupo PI e PIO, que não
passaram por nenhum regime de privação. Enquanto o peso aumentava gradativamente
para os sujeitos do grupo PI e PIO, de semana a semana, com pequenas variações (já
salientadas), este diminuiu para os sujeitos dos grupos PCO e PC.
Comparando-se as variações de peso dos sujeitos dos grupos PI, PIO, PC e PCO,
pode-se concluir que o fator mais determinante das variações aqui encontradas foi a
privação de alimento e de água. Esta comparação pode ser feita entre as Figuras 12 e 20,
que mostram as variações diárias ao longo das seis semanas de protocolo de estressores,
para os grupos de sujeitos.
Em relação ao consumo durante todo o experimento, também para os sujeitos
dos grupos PCO e PC são encontradas alterações ao longo das diferentes fases do
estudo.
Antes do protocolo, o alimento e a água ficavam disponíveis por maiores
períodos, ou seja, os períodos de privação eram menos frequentes, assim como para os
sujeitos dos grupos APO e AP. Após o início do protocolo, os períodos de privação
passaram a ser muito mais frequentes, e os sujeitos passaram a ter acesso ao alimento e
à água por muito menos tempo. A diferença no consumo devida a este fato pode ser
observada na Figura 22.
Como para os sujeitos dos grupos APO e AP, o consumo médio diário foi
calculado levando-se em conta a disponibilidade do alimento e da água.
Durante os estressores, observa-se que a quantidade total é muito menor, já que
alimento e água estiveram disponíveis por muito menos tempo. No entanto, a média de
consumo para um dia é muito maior do que anteriormente a este período.
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Alimento
Água
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Figura 22. Média do consumo diário água e alimento dos sujeitos dos grupos PCO e PC,
calculados semanalmente, a partir do início da aferição (painéis da esquerda). Quantidades
consumidas de água e alimento por semana, para os mesmos grupos, a partir do início da aferição
(painéis da direita). As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de
estressores.
Média (g ou ml) T
otal (g ou ml)
Semanas
PCO1
PCO2
PCO3
PC1
PC2
PC3
90
Cardoso (2008) discute a relação entre o consumo durante o protocolo e o peso
corporal dos sujeitos. Segundo ela, os sujeitos consumiam mais alimento e água durante
este período (média de consumo maior), mas mesmo assim emagreciam. No presente
experimento, também é possível observar que a média no consumo, durante o período
de exposição ao protocolo, é maior do que o que ocorria antes dele. No entanto, os
sujeitos não consomem mais do que consumiam antes, o que pode ser visto observando-
se o consumo total. Desta forma, pode ser levantada a questão referente à velocidade
com que os sujeitos privados consomem, quando o alimento e a água voltam a ser
disponibilizados: os sujeitos se alimentam mais rapidamente, ou seja, ingerem uma
quantidade maior em um menor período de tempo, durante os estressores, mas a
quantidade total consumida não é suficiente para manter o peso dos sujeitos, e por isso é
observada a queda do peso neste período.
Para os sujeitos do grupo protocolo completo, portanto, pode ser afirmado que
há redução no peso corporal dos sujeitos pelo regime de privação a que são expostos, o
que pode ser verificado pela alteração no peso mesmo antes do início do protocolo. No
entanto, durante o protocolo, esta redução parece maior, e duas possibilidades são
colocadas: a privação como responsável pela redução, já que aumenta expressivamente;
o conjunto de estressores como responsável pela redução.
Comparando-se os pesos dos sujeitos deste grupo (protocolo completo) com os
do grupo apenas privação, fica evidente o papel do conjunto de estressores na produção
do resultado: a redução é maior quando não apenas a privação, mas todo o protocolo, é
imposto ao sujeito. Há também diferenças entre os sujeitos que passaram e os que não
passaram pelas sessões operantes com relação ao peso corporal. Porém, por ter sido de
maior redução no peso para o grupo apenas privação e de menor redução para o grupo
protocolo completo, não há como afirmar que o operante altera o peso em uma única
direção.
Com relação ao consumo, é possível afirmar que há alterações ao longo do
experimento. Durante o protocolo de estressores, os sujeitos consomem menos alimento
e água, no total. No entanto, o consumo por períodos em que os itens estiveram
disponíveis aumentou consideravelmente. Desta forma, foi colocada a possibilidade de
que, pelo aumento na frequência dos períodos de privação, os sujeitos consumiam em
maior velocidade, quando alimento e água eram novamente disponibilizados.
91
Portanto, com relação ao peso e ao consumo de água e alimento, é possível
afirmar que:
a) a privação altera o peso corporal dos sujeitos;
b) a privação altera o padrão de consumo de água e alimento;
c) o protocolo de estressores sem a privação (incompleto) altera o peso corporal dos
sujeitos, porém em menor medida que a privação;
d) o protocolo de estressores sem a privação também altera o padrão de consumo de
água e alimento, porém em menor medida que a privação;
e) o protocolo completo é responsável pelas maiores alterações de peso e consumo de
água e alimento encontradas. Ou seja, o protocolo completo, e não apenas a privação e
nem apenas os demais estressores, é crítico na produção de alterações de peso e
consumo.
Além disso, com relação a diferenças entre sujeitos submetidos também a
sessões operantes e sujeitos não submetidos a elas, é possível afirmar que:
a) as sessões operantes produzem diferenças nas alterações de consumo de água e
alimento apresentada por sujeitos submetidos ao protocolo incompleto (sem privação);
g) a submissão a uma situação operante produz alterações na recuperação de peso dos
sujeitos que são submetidos tanto ao protocolo completo quanto apenas à privação, mas
uma relação direta não é observada.
92
2. Testes de ingestão e preferência
Os resultados obtidos nos testes de ingestão e preferência por sacarose foram
analisados levando-se em conta, tal como foi feito para peso e consumo, os diferentes
arranjos de condições experimentais aos quais foram submetidos os sujeitos. Além
disso, no caso específico desta variável dependente – ingestão e preferência por
sacarose – foi dada especial atenção às diferentes possibilidades de mensurar esta
variável, considerando as propostas apresentadas por Forbes et al (1996) e Matthews et
al (1995).
a. Grupos apenas privação (com e sem operante)
Em relação à ingestão e preferência por sacarose, seria investigada aqui a
possibilidade de que não o protocolo completo, mas apenas a privação, isolada dos
demais estressores, fosse responsável pela alteração que é geralmente observada em
sujeitos que são submetidos a ele. Conforme levantado por Matthews et al (1995) e
Forbes et al (1996), a diminuição de ingestão de sacarose observada no CMS seria
secundária à perda de peso, isto é, esta diminuição seria devida a uma diminuição na
massa corpórea dos sujeitos, e não a alterações no valor desses estímulos (produção de
anedonia). Então, se o peso fosse reduzido, mesmo não estando submetidos aos demais
estressores, os sujeitos apresentariam redução também na quantidade de sacarose
ingerida.
O cálculo apresentado por Matthews et al (1995) e Forbes et al (1996) para que
pudessem fazer tal afirmação foi o de ingestão relativa ao peso, ou seja, o quanto de
sacarose, em gramas, o sujeito ingeria, pelo quanto ele pesava, também em gramas.
Fazendo este mesmo cálculo, no presente experimento, não foi possível
encontrar esta relação. Comparando-se a ingestão demonstrada em números absolutos
com a ingestão demonstrada em números relativos (ingestão relativa ao peso), as curvas
são muito semelhantes, não aparecendo a diferença apontada por Matthews et al (1995)
e Forbes et al (1996). Esta semelhança pode ser observada na Figura 23, em que os
resultados dos testes realizados com todos os sujeitos dos grupos apenas privação (APO
e AP) são mostrados. Foram realizados, com esses sujeitos, 12 testes na primeira
condição de privação, seis testes na segunda condição de privação e três testes quando
houve retorno à primeira condição de privação.
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0,125
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
Figura 23. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, para
os sujeitos dos grupos APO e AP (painéis da esquerda). Proporção de sacarose ingerida, em g,
Consumo/ Peso (g)
Consumo de cada um dos líquidos (ml)
Preferência por sacarose (%
)
Semanas
APO1
APO2
APO3
AP1
AP2
AP3
94
por g do peso do sujeito (painéis da direita). As linhas verticais indicam, respectivamente, início
e fim da segunda condição de privação.
É possível perceber, na Figura 23, que a ingestão de sacarose, ao longo do
experimento, não parece sofrer alterações pelo aumento da privação na segunda
condição de privação. Para os sujeitos APO1 e AP3, há um aumento na primeira
semana deste período; para os sujeitos APO3, AP1 e AP2, há uma diminuição; a
ingestão para o sujeito APO2 se mantém, no primeiro teste da segunda condição de
privação (teste 13), diminuindo logo em seguida e aumentando novamente.
Apenas um resultado parece consistente para quase todos os sujeitos (com
exceção do sujeito APO1): após a volta à primeira condição de privação, a ingestão
absoluta de sacarose cai para os sujeitos do grupo apenas privação, mantendo-se,
mesmo assim, a preferência. Para o sujeito APO1, esta queda é notada apenas no
primeiro teste após a volta à primeira condição de privação, enquanto que para os
sujeitos APO2 e APO3 ela ocorre nos testes subsequentes a este. Não há como afirmar,
porém, que esses resultados são devidos ao regime de privação em vigor neste
momento: para todos os sujeitos, as alterações observadas não diferem de maneira
importante dos valores de consumo já observados anteriormente.
Também, na Figura 23, é possível observar que há uma semelhança grande entre
as curvas de volume absoluto consumido com relação às curvas de ingestão relativa ao
peso.
Uma possível suposição de que a diferença se deve a diferenças nas medidas não
se sustenta. Os resultados reportados por Matthews et al (1995) e Forbes et al (1996)
são apresentados em médias, tanto do peso dos sujeitos quanto da ingestão de todos
eles. Aqui, apresentando os resultados da mesma maneira, a mesma semelhança é
encontrada. Isto pode ser observado na Figura 24.
Na Figura 24, é possível notar que, ao apresentar os dados na forma de médias
para todos os sujeitos dos grupos APO e AP, as oscilações se tornam muito menos
perceptíveis e, portanto, muito mais facilmente negligenciáveis. De fato, observando a
Figura 24, parece não haver nenhuma alteração em ingestão, seja ela absoluta ou
relativa, com relação ao período de implementação da privação do protocolo.
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20
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Água
Saca ro s e
P re ferênc ia
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Figura 24. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, em
média, para todos os sujeitos do grupo apenas privação (painel superior). Proporção de sacarose
ingerida, em g, por g dos sujeitos, em média, para todos os sujeitos (painel inferior). As linhas
verticais indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação.
Mesmo assim, não é possível constatar o que os autores afirmam em seus
estudos: a diferença entre as duas medidas. No entanto, sua afirmação se refere ao
argumento de que quando há perda no peso, o mesmo ocorre com a ingestão. Se
observarmos a Figura 25, em que são colocados o peso dos sujeitos deste grupo, ao
longo das semanas, e a ingestão apresentada nos testes, é possível constatar que, mesmo
havendo maiores reduções no peso por conta da segunda condição de privação, este
aumenta do início para o final do experimento.
Na Figura 25, são apresentados a ingestão de sacarose e o peso dos sujeitos, a
cada semana (peso no dia do teste correspondente), para os sujeitos APO e AP. É
possível constatar que, ao longo das seis semanas da segunda condição de privação, o
peso dos sujeitos é reduzido, não parecendo, no entanto, haver reduções na ingestão que
acompanhassem essa perda de peso.
Semanas
Média do consumo/ Peso (g)
Média do consumo de cada um
dos líquidos (ml)
Preferência por sacarose (%
)
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Sacarose
Peso
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300
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500
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Figura 25. Ingestão de sacarose e peso dos sujeitos dos grupos APO e AP, no dia do testes,
aferidos semanalmente. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim da segunda
condição de privação.
Portanto, não há como afirmar consistentemente a existência de relação entre o
peso e a ingestão de sacarose, da mesma forma que afirmam Matthews et al (1995) e
Forbes et al (1996), já que as alterações observadas no peso não são observadas na
ingestão. Ou seja, no presente experimento, medindo a relação a que se referem, não há
a queda observada por eles. Além disso, a ingestão relativa e a ingestão absoluta
apresentam-se idênticas.
Uma outra observação a ser feita com relação ao resultado nos testes de ingestão
e preferência, para os sujeitos dos grupos apenas privação, se refere à uma possível
diferença identificada entre o grupo com operante e o grupo sem esta condição.
Para o grupo APO, a curva de ingestão de sacarose parece demonstrar ligeira
aceleração, como se a ingestão fosse aumentando ao longo do tempo. Para o grupo AP,
Quantidade de sacarose (ml)
Peso (g)
Semanas
APO1
APO2
APO3
AP1
AP2
AP3
97
no entanto, esta aceleração não é notada, sendo possível constatar fenômeno semelhante
apenas para o sujeito AP2, mesmo que em menor escala.
Desta forma, parece que as sessões operantes, de alguma forma, influenciaram
na ingestão de sacarose ao longo do experimento. Algumas possibilidades para que isto
tenha acontecido podem ser colocadas.
Em seu artigo, Willner et al (1987) reportam o aumento na ingestão de sacarose
e sacarina para seus grupos controle (não submetidos ao protocolo de estressores). No
entanto, os autores não discutem este aumento, colocando apenas que há uma tendência
a este aumento com o passar do tempo. Pode ser que a própria exposição à sacarose,
portanto, aumente a ingestão apresentada pelos sujeitos. Não há, no entanto, argumento
que explique tal fenômeno.
Ainda, é difícil afirmar, aqui, que a exposição tenha aumentado a ingestão; se
isto fosse verdade, deveria ocorrer para todos os sujeitos, e não apenas para dois deles,
já que todos foram expostos à sacarose pelo mesmo tempo. Uma possibilidade é a de
que sujeitos que passaram pelo operante tenham ingerido maior quantidade de sacarose
do que os que não passaram. Para esses sujeitos, a quantidade média ingerida pelos que
estavam em sessão era disponibilizada. No entanto, nem todos os sujeitos consumiam
toda a sacarose disponibilizada, e esta diferença pode ter produzido as diferenças
encontradas. Desta forma, pode ter havido diferença na quantidade ingerida entre os
grupos.
Uma outra possibilidade a ser levada em consideração são os efeitos da
manipulação neonatal no comportamento de ratos adultos. Conforme salientado por
Silveira et al (2004), Silveira et al (2008) e Michaels e Holtzman (2006), a manipulação
neonatal pode ser considerada uma situação estressora. Esses autores, no entanto,
diferente de Willner et al (1987), colocam que tal situação de estresse faz com que os
sujeitos apresentem maior consumo de substância doce na vida adulta. Para Willner et
al (1987), o efeito é o oposto: a situação de estresse produz diminuição no consumo
deste tipo de substância. Há, então, uma contradição entre as duas concepções: em uma,
a medida do efeito do estresse é a diminuição no consumo; na outra, o aumento deste.
Para lidar com esta aparente contradição, será proposto aqui que se observem os
resultados dos experimentos, e não sua descrição. No caso de Silveira et al (2004),
Silveira et al (2008) e Michaels e Holtzman (2006), seus resultados indicam que há uma
relação entre a manipulação neonatal e o aumento no consumo. Portanto, não será
qualificada como situação estressora, no presente trabalho, a manipulação neonatal; será
98
atribuida a ela somente o efeito de aumento no consumo de substâncias doces pelos
sujeitos.
Desta forma, pode ser levantada a possibilidade de que a ingestão de sacarose,
para os sujeitos do presente experimento que apresentaram aumento desta, seja devida à
manipulação neonatal a que os sujeitos foram submetidos. No entanto, mais uma vez,
não se pode afirmar, pelo menos para este grupo, que esta relação se confirma, já que
todos os sujeitos passaram por esta situação, e mesmo assim apenas dois deles (APO2 e
APO3) apresentam-na de forma clara.
Portanto, é possível concluir que, com relação aos grupos apenas privação, os
resultados encontrados nos testes não demonstram haver relação entre esta e a
diminuição na ingestão e/ou preferência por sacarose. Entretanto, é possível constatar
uma diferença entre dois dos três sujeitos que passaram por sessões operantes e os
sujeitos que não passaram por esta condição. Para os primeiros, pareceu haver aumento
na ingestão de sacarose ao longo do experimento, o que não foi notado para os sujeitos
que não passaram pelas sessões.
b. Sujeitos da condição privação específica (PAL e PAG)
Como já foi dito, com a proposição desses sujeitos, foi possível comparar
diferenças possíveis relativas à qualidade da privação e, no caso dos testes, investigar se
a ingestão de sacarose estaria relacionada mais diretamente a uma das duas condições
de privação (alimento ou água).
Para os sujeitos da condição privação específica, a privação anterior aos testes
ocorria durante o mesmo período de tempo que para os demais sujeitos privados (23
horas), porém, para cada um deles, de apenas um dos itens, alimento ou água.
O que é possível observar nos testes de ingestão e preferência desses sujeitos é
que há muita semelhança na quantidade de sacarose ingerida e na preferência
apresentada ao longo do experimento, para ambos os sujeitos, um privado apenas de
água e o outro apenas de comida.
Como é possível observar na Figura 26, não há uma grande diferença entre a
ingestão de sacarose para os dois sujeitos. A preferência também se mantém constante
ao longo de todo o experimento.
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Água
S ac a rose
P re fe rênc ia
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Figura 26. Consumo e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente para
os sujeitos PAG e PAL, durante todo o experimento. As linhas tracejadas indicam,
respectivamente, a semana inicial e final da segunda condição de privação.
As oscilações observadas também apresentam alguma semelhança. Para os dois
sujeitos, há um aumento nas duas primeiras semanas correspondentes à segunda
condição de privação, com relação à ingestão imediatamente anterior a esta condição.
Em seguida (terceira semana), há uma diminuição, seguida de um novo aumento, que se
mantém até o final deste período. Após seu término, no entanto, a diminuição na
ingestão é observada apenas para o sujeito PAL, visto que a diminuição para o sujeito
PAG é pouco marcante, e ocorre apenas na segunda semana após o término do período.
Mesmo assim, nenhum dos dois sujeitos apresenta ingestão menor do que o que haviam
apresentado na primeira condição de privação: nenhum dos pontos, a partir do 13º teste,
é mais baixo do que os pontos anteriores.
Consumo de cada um dos líquidos (ml)
Preferência por sacarose (%
)
Semanas
PAG
PAL
100
Uma única alteração com relação à ingestão de água é observada: há ingestão em
quatro dos testes durante o período correspondente à maior privação, para o sujeito
PAL, que havia ingerido água anteriormente a este período apenas em um dos testes.
Após o período, isto não ocorre em mais nenhum dos testes. Ainda assim, como a
quantidade ingerida é muito pequena (não ultrapassa 1 ml de água em nenhum dos
testes), a preferência por sacarose é pouco afetada.
É interessante notar que o sujeito PAG, privado apenas de água, consome este
item apenas em um dos 21 testes (no 2º teste), consumindo sempre sacarose
preferencialmente, enquanto que o sujeito PAL, que nunca foi privado de água, chegou
a consumir este item em cinco dos 21 testes (10º, 14º, 15º, 17º e 18º), conforme já
relatado. Desta forma, é possível afirmar que a privação de um dos itens, não
importando a qualidade dele (se é água ou alimento), aumenta a ingestão de sacarose.
Vale aqui lembrar que a sacarose utilizada era diluida em água, ou seja, a sacarose
refinada era misturada à água, sendo sua concentração pequena, em comparação à
quantidade de água (2% de sacarose). Portanto, pode ser que a água ingerida na mistura
com a sacarose suprisse a falta deste item para o sujeito privado.
Com relação à comparação entre as curvas de ingestão absoluta e ingestão
relativa ao peso, também calculadas para os sujeitos PAL e PAG, não foi possível
encontrar as diferenças reportadas por Matthews el al (1995) e Forbes et al (1996).
Além disso, com relação às variações no peso desses sujeitos, fica claro que não há
diferenças na ingestão pelo aumento ou diminuição de peso. Assim como para os
sujeitos APO e AP, a relação feita por Matthews et al (1995) e Forbes et al (1996) não
se confirma: o peso do sujeito PAL diminuiu muito mais do que o peso do sujeito PAG
(ver Figura 8).
Portanto, pode-se concluir que a privação específica não produziu diferenças
entre a ingestão e preferência por sacarose apresentada pelos sujeitos. Conforme já
relatado por Willner et al (1987), não há diferenças na ingestão da substância doce por
regulações calóricas resultantes da privação a que os sujeitos são submetidos. No
presente estudo, pelos resultados encontrados para esses sujeitos, esta mesma afirmação
pode ser feita.
101
c. Grupos protocolo incompleto (com e sem operante)
Na Figura 27, são apresentados os resultados dos testes de ingestão e preferência
de líquidos para os sujeitos dos grupos PI (protocolo incompleto) e PIO (protocolo
incompleto com operante).
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ÁguaSacarosePreferência
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100
Figura 27. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, para
os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do
protocolo de estressores.
Semanas
Consumo de cada um dos líquidos (ml)
Preferência por sacarose (%
) PI1
PI2
PI3
PIO
102
Como é possível observar na Figura 27, a preferência por sacarose, para os
quatro sujeitos, se mantém alta durante todo o experimento.
Entretanto, em um único teste, na última semana de estressores, esta preferência
se inverteu para o sujeito PI2. Este sujeito apresentou alteração na preferência ao longo
das seis semanas de estressores, o que é resultante do aumento na ingestão de água nos
testes, e não da diminuição na ingestão de sacarose.
Para o sujeito PI1, diferentemente, a ingestão durante as seis semanas aumentou
gradativamente, apresentando queda quando o protocolo foi suspenso.
Para o sujeito PI3, alterações na ingestão também pareceram mais evidentes
durante o protocolo de estressores, porém elas são inconsistentes (não se pode falar em
aumento ou diminuição).
Há, portanto, para os três sujeitos, oscilações que são observadas justamente no
período de exposição ao protocolo.
A mesma coisa ocorre com o sujeito PIO, só que em menor proporção: há queda
na preferência, durante este período, mas ela se mantém no mesmo patamar, que está
acima do ponto mais baixo atingido antes.
Para todos os sujeitos, parece haver aumento na ingestão de água nos testes,
também durante o protocolo.
A ingestão de sacarose, para os sujeitos do protocolo incompleto, é, em média,
muito menor (10ml) do que para os sujeitos dos demais grupos, que sofrem algum tipo
de restrição hídrica e alimentar (21ml). Esta diferença pode, portanto, ser atribuida à
privação a que os demais sujeitos são submetidos.
Com relação a possíveis diferenças entre os sujeitos pela submissão do sujeito
PIO à sessões operantes, isto pode ser afirmado. De maneira geral, a ingestão dos
sujeitos PI1 e PIO apresenta uma tendência de aumento ao longo do experimento.
Porém, ela é mais nítida para o segundo. Desta forma, é possível afirmar que as sessões
operantes foram responsáveis pela produção de diferenças entre os sujeitos.
Também com relação aos cálculos apresentados por Matthews et al (1995) e
Forbes et al (1996), as alterações na ingestão relativa e na ingestão absoluta apresentam-
se idênticas para este grupo. Apenas para ilustrar esta semelhança, na Figura 28 é
apresentado o cálculo, para o sujeito PI3.
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0,025
0,05
0,075
0,1
0,125
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Figura 28. Proporção de sacarose ingerida, em g, por g do sujeito PI3. As linhas verticais
indicam, respectivamente, início e fim do período correspondente ao protocolo de estressores.
Na Figura 28, assim como apresentado na Figura 23, não é possível notar
nenhuma diferença entre os cálculos (absoluto e relativo), no que diz respeito à ingestão
de sacarose, para este sujeito. Isto se repete para os demais sujeitos do grupo.
Portanto, com relação à condição de protocolo incompleto, pode-se afirmar que,
é possível identificar alterações na medida ingestão e preferência pela submissão dos
sujeitos ao protocolo, mesmo que sem a privação. Mais do que isso; diferente da
variável dependente anteriormente analisada, o peso, nesta, as alterações, mesmo que
pequenas, são visíveis. Mais uma vez, foi encontrado o aumento na ingestão da sacarose
ao longo do tempo, conforme já observado para alguns sujeitos da condição de apenas
privação. Para este grupo, também, ela pareceu ter relação com a exposição dos sujeitos
à condição operante: este aumento foi maior para o sujeito PIO (mesmo que apenas
sutilmente). Portanto, as mesmas possibilidades levantadas para os grupos APO e AP
podem ser levantadas para este sujeito.
d. Grupos protocolo completo (com e sem operante)
Para todos os sujeitos dos grupos PCO e PC (protocolo completo com e sem
operante, respectivamente), é possível observar que os sujeitos apresentam preferência
por sacarose durante todo o experimento, o que pode ser visto notando-se, na Figura 29,
que a linha pontilhada permanece sempre próxima ao valor 100%.
Semanas
Consumo/ Peso (g)
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ÁguaSacarosePreferência
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01020304050
607080
90100
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90
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Figura 29. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, para
os sujeitos PCO1, PCO2, PCO3, PC1, PC2 e PC3. As linhas verticais indicam, respectivamente,
início e fim do protocolo de estressores.
Fica nítido, ao se observar a Figura 29, que não há preferência no primeiro teste
para os sujeitos PCO2 e PCO3. Esta preferência vai sendo adquirida após o primeiro
contato com a sacarose, como havia sido já salientado em alguns estudos (Willner,
1987; Matthews et al, 1995; Forbes et al, 1996; Thomaz, 2001; Dolabela, 2004;
Rodrigues, 2005; Cardoso, 2008; entre outros) que propõem que um primeiro teste,
antes do início do experimento, deva ser feito, para que a “adaptação” à substância
ocorra. Aqui, esta importância é ressaltada pelo resultado encontrado para os dois
sujeitos.
Como também é possível observar na Figura 29, há diferenças entre os sujeitos
que passaram por sessões operantes e os que não passaram por esta condição. Para a
PCO1
PCO2
PCO3
PC1
PC2
PC3
Semanas
Consumo de cada um dos líquidos (ml)
Preferência por sacarose (%
)
105
ingestão absoluta, nota-se que há uma tendência de aumento ao longo do experimento
para os sujeitos do grupo PCO, ocorrendo isto também apenas para o sujeito PC1,
inclusive durante o período de estressores. Comparando-se os valores de sacarose
ingeridos na semana 1 com os valores consumidos na semana 13, para o sujeito PCO1,
isto fica claro: 14 ml e 26 ml. Na semana 1, o sujeito estava sendo submetido à primeira
condição de privação; na semana 13, ao protocolo de estressores. Esta diferença pode
ser devida a alguns fatores.
Um deles, já apontado para os sujeitos do grupo APO e para o sujeito PIO, é a
possibilidade de maior ingestão de sacarose pela submissão às sessões operantes. Em
estudo sobre a produção de analgesia pela ingestão de sacarose, Segato, Castro Souza,
Segato, Morato e Coimbra (1997), afirmaram que a ingestão prolongada de sacarose
pode fazer com que ratos se tornem menos sensíveis à dor. Os ratos foram submetidos a
testes de aumento de temperatura na cauda, e a latência com que os sujeitos removiam-
na, quando testados, era a medida da sensibilidade que apresentavam à dor. Os sujeitos
que ingeriam sacarose por um período prolongado apresentavam latências maiores, ou
seja, demoravam mais para remover a cauda, o que os autores interpretaram como
sensibilidade reduzida à dor. Os sujeitos que não passaram pela exposição à sacarose
apresentaram latências muito menores, por sua maior sensibilidade.
Portanto, se for considerado que os sujeitos que passaram por sessões operantes
tiveram uma maior exposição à sacarose, pode ser que esta exposição seja responsável
pela diferença aqui encontrada. Ou seja, os sujeitos que foram mais expostos à sacarose
ficaram menos sensíveis aos estímulos apresentados no protocolo do que os sujeitos que
não ingeriram a mesma quantidade da substância.
Mesmo assim, no presente estudo, se forem considerados o número de testes
previamente ao protocolo (ou à segunda condição de privação), já é possível afirmar que
houve maior exposição à sacarose de todos os sujeitos desde experimento (mesmo os
que não passaram por sessões operantes), em comparação aos sujeitos do experimento
de Willner et al (1987) e dos experimentos de Thomaz (2001), Dolabela (2004),
Rodrigues (2005) e Cardoso (2008). Esses últimos, mesmo tendo passado por um
número grande de sessões operantes antes do protocolo, passaram por apenas três testes
de ingestão livre. Portanto, a suposição colocada por Segato et al (1997), no presente
estudo, pode ser levada em conta para todos os sujeitos, e não apenas os que passaram
por sessões operantes.
106
Com relação às alterações na ingestão e preferência por sacarose durante o
protocolo, os resultados do presente estudo diferem em muito dos resultados relatados
por Thomaz (2001), Dolabela (2004), Rodrigues (2005) e Cardoso (2008). Nesses
estudos, os sujeitos que passavam pelo protocolo apresentavam diminuição na ingestão
e na preferência. Quando passavam também pela condição operante, esta diminuição
não era observada. Ou seja, nesses estudos, os sujeitos que eram submetidos ao
protocolo de estressores e também a sessões operantes não apresentaram diminuição na
ingestão e preferência nos testes realizados na gaiola viveiro, em comparação aos
sujeitos que não passaram por esta condição, os quais apresentaram grande diminuição
durante o protocolo, que foi mantida mesmo após sua retirada. A partir desses
resultados, foi colocado que a produção de consequência (ou situação de
controlabilidade) seria relevante na produção ou não do fenômeno descrito como
anedonia (diminuição na ingestão e preferência por sacarose).
Aqui, no entanto, não há diminuição (tanto em ingestão quanto em preferência)
em nenhuma das condições. Se houvesse diminuição na ingestão e preferência pelo fato
dos sujeitos serem submetidos ao protocolo completo, possíveis diferenças poderiam ser
observadas também com relação aos sujeitos terem ou não passado por sessões
operantes (os que passaram pelas sessões não apresentariam os mesmos efeitos do que
os que não passaram). Ou seja, se os sujeitos submetidos ao protocolo apresentassem
“anedonia”, os que passassem também por sessões operantes poderiam apresentar este
efeito de forma atenuada, ou não apresentá-lo (pelo fato já apontado por Thomaz, 2001;
Dolabela, 2004; Rodrigues, 2005 e Cardoso, 2008, de que a controlabilidade altera os
efeitos do protocolo na ingestão e preferência demonstrada pelos sujeitos).
Desta forma, não é possível afirmar, no presente estudo, que as sessões
operantes não tiveram o efeito esperado; é possível afirmar, apenas, que alguma outra
variável foi responsável pela não alteração dos valores de ingestão e preferência para
todos os sujeitos, tanto os que passaram quanto os que não passaram pelas sessões
operantes.
A variável a que esta diferença é atribuida é a manipulação neonatal. Os sujeitos
do presente estudo passaram pela condição de manipulação desde aproximadamente seu
5º dia de vida, enquanto que os sujeitos dos demais estudos só começaram a ser
manipulados após o desmame (com aproximadamente 30 dias de vida). Conforme já
salientado por Silveira et al (2004), Silveira et al (2008) e Michaels e Holtzman (2006),
a manipulação neonatal, independente de ser considerada estressora ou não, produz
107
efeitos de aumento no comportamento de ingestão dos sujeitos na fase adulta. Portanto,
ao manipular os sujeitos, os possíveis efeitos da submissão ao protocolo não puderam
ser observados, dado o efeito de aumento na ingestão produzido pela manipulação
neonatal.
Com relação ao cálculo relativo, feito também para todos os sujeitos deste
grupo, diferenças não são observadas, assim como descrito para os sujeitos dos grupos
apenas privação (APO e AP) e protocolo incompleto (PI e PIO).
0
10
20
30
40
50
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
250
300
350
400
450
500
550
Sacarose
Peso
0
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20
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40
50
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
250
300
350
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500
550
0
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50
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
250
300
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500
550
0
10
20
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40
50
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
250
300
350
400
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500
550
0
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50
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
250
300
350
400
450
500
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0
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30
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
250
300
350
400
450
500
550
Figura 30. Ingestão de sacarose e peso dos sujeitos dos grupos PCO e PC, no dia do testes,
aferidos semanalmente. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim do
protocolo de estressores.
A respeito da relação entre diminuição de peso e diminuição na ingestão, este
grupo não apresenta o que foi descrito por Matthews et al (1995) e Forbes et al (1996).
Isto pode ser observado na Figura 30.
Quantidade de sacarose (ml)
Peso (g)
Semanas
PCO1
PCO2
PCO3
PC1
PC2
PC3
108
Nesta figura, é possível observar que, assim como já relatado, o peso dos
sujeitos diminui no período de exposição ao protocolo. No entanto, a ingestão de
sacarose, neste mesmo período, aumenta. Este aumento é mais nítido para os sujeitos do
grupo PCO, ocorrendo também, mais nitidamente ao final do protocolo, para os sujeitos
PC1 e PC3.
Portanto, é possível concluir que, para os sujeitos que passaram pelo protocolo
de estressores completo, não houve diminuição na ingestão e preferência por sacarose,
durante este período. Também para os sujeitos que passaram por esta condição, houve
diferenças entre sujeitos expostos a sessões operantes e sujeitos que não passaram por
elas. Para os primeiros, pareceu haver aumento progressivo na quantidade de sacarose
ingerida a cada teste. Com relação à medida de peso relativo ao consumo, não foi
encontrada a relação reportada por Matthews et al (1995) e Forbes et al (1996).
109
3. Desempenho operante – o comportamento de escolha em esquema concorrente
O desempenho operante, enquanto variável dependente, pode ser descrito em
termos da frequência de respostas dos sujeitos em cada uma das barras, em esquema
concorrente FR/água-FR/sacarose, ao longo de cada uma das sessões e ao longo do
experimento.
Apenas sete sujeitos passaram por sessões operantes: PCO1, PCO2, PCO3,
APO1, APO2, APO3 e PIO.
Todos os sujeitos iniciaram o procedimento de treino operante com apenas uma
barra na caixa, em que água era disponibilizada como reforçador, em esquema CRF.
Os procedimentos de treino ao bebedouro, modelagem e fortalecimento
ocorreram diferentemente para os sujeitos, tendo uns passado por menos sessões do que
os outros, como é sumarizado na Tabela 8.
Tabela 8. Número de sessões em cada condição para todos os sujeitos que passaram pela
condição operante ao longo de todo o experimento.
Sujeitos Variação e seleção Modelagem Fortalecimento
PCO 1 2 2 1
PCO 2 1 - 1
PCO 3 2 2 1
APO 1 2 1 1
APO 2 2 2 1
APO 3 2 1 1
PIO 2 1 7
Após a modelagem e fortalecimento, foi então iniciado o procedimento com
duas barras, uma com água como reforçador e a outra com sacarose, conforme descrito
no procedimento.
Os resultados do desempenho operante serão aqui descritos para cada um dos
grupos de sujeitos: apenas privação (APO), protocolo completo (PCO) e protocolo
incompleto (PIO), o último com apenas um sujeito.
110
a. Apenas privação (APO1, APO2 e APO3)
Os sujeitos do grupo apenas privação passaram por duas condições de privação
de água e alimento: uma primeira, com dois períodos de privação semanais, e uma
segunda, idêntica à privação imposta no protocolo de estressores (ver Tabela 8). Todos
os sujeitos deste grupo atingiram a razão 2 para o esquema de reforçamento (FR2).
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
0
20
40
60
80
100Barra água
Barra sacarose
Preferência
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
0
20
40
60
80
100
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
0
20
40
60
80
100
Figura 31. Número de respostas de pressão à barra emitidas por sessão pelos sujeitos APO1,
APO2 e APO3, em esquema concorrente água-sacarose, e preferência pela barra de sacarose. As
linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação.
Na Figura 31, são apresentados o número de respostas por sessão, para cada
barra, para os sujeitos APO1, APO2 e APO3, bem como a preferência pela barra de
Semanas
Número de respostas total em cada barra
Preferência pela barra sacarose (%
)
APO1
APO2
APO3
111
sacarose (calculada como o percentual de respostas na barra correspondente à sacarose,
com relação ao total de respostas – somando-se as duas barras).
Na Figura 31, é possível notar que, na primeira sessão em esquema concorrente,
os sujeitos ainda apresentaram maior número de respostas na barra de água. O sujeito
APO1, ainda na segunda sessão, também responde mais na barra correspondente à água.
Nas sessões subsequentes, os sujeitos APO1 e APO2 passaram a emitir maior
número de respostas na barra correspondente à sacarose, na maioria das sessões. Para o
sujeito APO2, em nenhuma outra sessão, além da primeira, o número de respostas na
barra que liberava água ultrapassa o da barra da sacarose. Para o sujeito APO1, isto
acontece em uma única sessão (sessão 15, terceira desde o início da segunda condição
de privação). Esta sessão foi uma sessão em que houve inversão do lado de
apresentação dos reforçadores, com relação à sessão anterior, o que pode ter sido
responsável pela diferença. Para esses dois sujeitos, é possível notar que, com o passar
das sessões, o número de respostas na barra em que pressões liberavam sacarose vai
aumentando, enquanto o oposto ocorre para a barra de água.
O sujeito APO3, no entanto, apresentou a maior variabilidade entre o número de
respostas em cada barra, respondendo ora mais frequentemente na barra correspondente
à sacarose, ora na barra correspondente à água. Para este sujeito, não há consistência na
preferência. A alternância apresentada por este sujeito será discutida adiante.
Com relação a possíveis diferenças durante o período correspondente à segunda
condição de privação, não parece haver interferência deste período especificamente na
taxa de respostas apresentada pelos sujeitos nas sessões em esquema concorrente.
A partir da sessão 16, o sujeito APO2 chega a emitir o número máximo de
respostas na barra correspondente à sacarose (um dos critérios para que a sessão fosse
encerrada). Uma suposição para este número de respostas maior na barra de sacarose ao
final do experimento é que houve, durante o estudo, aprendizagem de alguns padrões no
responder, para este sujeito. Por exemplo, o sujeito sempre iniciava as sessões
respondendo de maneira indiferente às duas barras (frequência muito parecida em
ambas). Após um determinado tempo, passava a responder apenas na barra
correspondente à sacarose. Com o passar das sessões, este comportamento passou a
ocorrer de maneira mais eficaz: o sujeito passava a responder apenas na barra
correspondente à sacarose mais rapidamente (como se logo “identificasse” esta barra),
ficando o maior tempo nesta barra, sendo, então, este tempo suficiente para emitir o
112
número de respostas necessário para o encerramento da sessão, e não emitindo número
alto de respostas na outra barra, pelo mesmo motivo.
Para este sujeito, portanto, a avaliação da relação entre privação e valor
reforçador da sacarose deve levar em conta padrões apresentados no responder, como o
destacado.
Este padrão pode ser observado comparando-se os dois painéis da Figura 32. O
painel da esquerda corresponde à sessão número 11 da Figura 31, e o painel da direita, à
sessão número 20.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
110120130140150160170180190110011101120113011401150116011701180119012001210122012301240125012601270128012901300131013201330134013501
Sacarose
Água
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
110120130140150160170180190110011101120113011401150116011701180119012001210122012301240125012601270128012901300131013201330134013501
Figura 32. Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo
da sessão experimental número 11, do sujeito APO2 (painel esquerdo). Frequência acumulada
de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo da sessão experimental número
20, do sujeito APO2 (painel direito).
No primeiro painel (esquerdo) é possível observar que o início da sessão é
marcado pela indiferença no responder entre as duas barras. Após aproximadamente 11
minutos, o sujeito passa a responder na barra em que as pressões produziam sacarose, e
responde muito pouco na outra barra. No painel da direita é possível perceber que isto
ocorre apenas para os dois primeiros minutos. Depois disto, o sujeito volta a responder,
eventualmente, na barra que liberava água, mas o maior número de respostas é,
certamente, na barra que liberava sacarose. Este padrão ocorreu em 50% das sessões em
esquema concorrente, para este sujeito.
Para os sujeitos APO1 e APO3, este mesmo padrão é encontrado em 50% e 44%
das sessões, respectivamente. Também para esses sujeitos, é possível supor que o
mesmo processo ocorre: o sujeito, inicialmente, responde às duas barras, ainda
indiferenciadamente. Assim que há contato com o reforço, o sujeito passa a responder
Tempo (s)
Frequência acumulada
113
com maior frequência na barra em que as pressões liberavam o estímulo de maior
magnitude reforçadora (no caso, a sacarose).
Com relação à variabilidade apresentada pelo sujeito APO3, parece haver dois
momentos, durante o estudo, para este sujeito: um primeiro momento de indiferença
entre as barras, e um segundo (a partir da sessão 13) em que esta indiferença diminui.
Uma hipótese para este fato é a de que o sujeito tenha preferido o lado de apresentação
do estímulo, ou seja, uma das barras especificamente, e não o reforçador liberado por
pressões a ela. Assim, quando ocorria alternação, o sujeito continuava pressionando a
barra que havia pressionado com mais frequência na sessão anterior, e, portanto, a
preferência se invertia. Desta forma, não é que o sujeito preferisse o lado da caixa; ele
continua na barra que liberava, antigamente, o reforçador “preferido” por ele, só que era
mais “lento” para perceber que, na sessão presente, havia diferença. Esta hipótese se
aplica às oito primeiras sessões em esquema concorrente (semanas 5 a 12), pois até
então, mesmo tendo ocorrido duas inversões, o sujeito sempre emitiu maior número de
respostas na barra da direita (em seis dessas sessões disponibilizando água, e nas outras
duas, sacarose).
A partir de então, com exceção das semanas 17 e 19, o sujeito passou a emitir
sempre maior número de respostas na barra correspondente à sacarose (vale salientar
que a sessão 17 correspondeu a uma sessão de troca de lado de apresentação dos
estímulos). Da mesma forma que nos testes de ingestão livre, em que o consumo vai
aumentando ao longo das semanas, parece ter havido, para este sujeito, um aumento na
preferência pela sacarose, nas sessões operantes. Porém, no segundo caso, este aumento
pode ser devido à maior lentidão na identificação de qual reforçador era liberado em
cada barra, por este sujeito.
Portanto, com relação ao desempenho em esquema concorrente dos sujeitos do
grupo APO, é possível afirmar que (a) os sujeitos, de maneira geral, apresentaram
preferência por sacarose como estímulo reforçador, demonstrada pelo maior número de
respostas de pressão à barra em que este estímulo era liberado; (b) parece existir, no
início de cada sessão, um padrão de “identificação” do lado de apresentação dos
reforçadores, indicado pela indiferença no responder a cada barra, inicialmente; (c) pode
ser que a resposta operante, em esquema de reforçamento concorrente, enquanto medida
do valor reforçador de um estímulo, não seja totalmente adequada, visto que, neste
esquema, o responder pode ficar sob controle de variáveis estranhas, como a posição da
barra (caso do sujeito APO3). Pode ser que outro esquema de reforçamento, que não
114
sofresse a influência da troca de lados, fosse mais adequado (a razão progressiva, por
exemplo).
b. Protocolo incompleto (sujeito PIO)
Este sujeito foi aqui proposto em caráter exploratório. O grupo protocolo
incompleto, por não passar por nenhuma condição de privação em nenhum momento ao
longo de todo o experimento, aparentemente impossibilitaria que sujeitos fossem
submetidos a sessões operantes, visto que não haveria, pelo menos deliberadamente,
nenhuma operação estabelecedora em vigor que estabelecesse o valor reforçador do
estímulo. Portanto, optou-se por utilizar, nesta condição, apenas um único sujeito, para
que a proposta de investigação da relação entre submissão ao protocolo, mesmo que
incompleto, e o desempenho operante, fosse possível.
Para todos os sujeitos, a partir de 180 respostas reforçadas em CRF em apenas
uma barra, com água como reforçador, iniciava-se o procedimento com duas barras.
Para o sujeito PIO, conforme pôde ser observado na Tabela 9, sete sessões foram
necessárias para que ele completasse esse total de respostas reforçadas em CRF (dada a
baixa taxa de respostas por sessão, o que será discutido adiante).
É interessante notar que, mesmo não passando por nenhum regime de restrição
nem hídrica nem alimentar, a resposta de pressão à barra foi instalada, e o sujeito PIO
manteve-se, ao longo de todo o experimento, pressionando constantemente a barra,
tanto por água quanto por sacarose (mais frequentemente pela segunda).
Porém, pelos critérios estabelecidos para mudança de esquema de reforçamento,
este sujeito permaneceu todo o experimento em reforçamento contínuo. Na Tabela 8, é
possível verificar que, para completar o critério de número de reforços em CRF, com
apenas uma barra, o sujeito demorou sete sessões. Além disso, pelo critério de mudança
para razão de reforçamento ser o de uma inversão no lado de apresentação das barras,
como este sujeito demorou muito mais para entrar no esquema concorrente, não houve
tempo para que a razão fosse aumentada antes do início do protocolo de estressores.
Depois do início desta condição, nenhum dos sujeitos teve o esquema alterado.
Portanto, este sujeito permaneceu o experimento todo em reforçamento contínuo.
Desta forma, a escala utilizada na Figura 33 é menor do que a escala utilizada na
Figura 31, já que o maior número de respostas possível de ser emitido, em uma das
115
barras, para este sujeito, era de 200 respostas (ou 200 reforços, no caso, já que as
respostas do sujeito estavam sob esquema de reforçamento contínuo).
0
50
100
150
200
250
300
350
400
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100Barra água
Barra sacarose
Preferência
Figura 33. Número de respostas de pressão à barra emitidas por sessão pelo sujeito PIO, em
esquema concorrente água-sacarose, e preferência pela barra de sacarose. As linhas verticais
indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores.
Na Figura 33, é possível notar que o sujeito PIO passou por sete sessões com
apenas uma barra, já que este sujeito demorou este número de sessões para atingir o
critério de número de respostas reforçadas, para que passasse para o esquema
concorrente.
Na sessão inicial em esquema concorrente, assim como os demais sujeitos que
passaram por sessões operantes, o sujeito PIO apresentou maior número de respostas na
barra de água. Nas sessões subsequentes, este sujeito passou a emitir maior número de
respostas na barra correspondente à sacarose, com exceção apenas da sessão de número
19 (a sessão seguinte à suspensão do protocolo de estressores).
Para este sujeito, a primeira sessão em que o protocolo de estressores havia sido
iniciado (sessão 13) apresenta queda no número de respostas de pressão à barra para a
barra de sacarose, bem como ligeiro aumento no número de respostas à barra
correspondente à água. Depois disto, o número de respostas para produção de sacarose
volta a aumentar, diminuindo novamente o número de respostas para produção de água.
Interessante notar que, mesmo emitindo menor número de respostas por sessão
ao longo de todo o experimento, o sujeito PIO, nunca privado de água ou alimento, não
somente aprendeu a resposta de pressão à barra, como respondeu por água e água com
sacarose em todas as sessões operantes. Muito frequentemente, após algumas respostas,
o sujeito dormia o restante da sessão. Mesmo assim, em pelo menos oito sessões, o
número de respostas à barra de sacarose ultrapassou 100 respostas. Na sétima sessão,
Semanas
Número de respostas total em
cada barra
Preferência pela barra sacarose (%
)
116
em que o sujeito respondia apenas por água (ainda não estava sob esquema
concorrente), este sujeito emitiu no total 61 respostas.
É possível afirmar, portanto, que o sujeito PIO emitiu respostas de pressão à
barra sem que nenhuma operação estabelecedora específica estivesse em vigor para que
isto ocorresse (ou, pelo menos, não deliberadamente). Para que isto pudesse ser
afirmado categoricamente, observações do ciclo alimentar do sujeito deveriam ser
realizadas. Assim, saber-se-ia, com certeza, o grau de privação do sujeito no momento
da sessão, levando-se em conta a última vez em que o sujeito tivesse consumido água
ou alimento, na gaiola viveiro. É sabido (Díaz e Brunner, 2007), por exemplo, que ratos
apresentam um padrão de alimentação cíclico, se alimentando a cada duas horas,
aproximadamente, durante o período de claro do ciclo luminoso, e bebendo a cada uma
hora, aproximadamente, durante o mesmo período (período este em que as sessões
operantes eram realizadas). Então, se assim que entrasse na caixa operante, o sujeito
tivesse há mais ou menos este tempo sem ingerir água, seria mais provável que a água
tivesse algum valor reforçador e que as respostas que a produzissem fossem evocadas
(resposta de pressionar a barra, neste caso), já que, neste momento. Como os valores de
intervalos de alimentação são variados de sujeito para sujeito, mas se mantém
constantes em cada sujeito (Díaz e Brunner, 2007), estudos que explorassem tal relação
poderiam, então, elucidar o papel de uma possível operação estabelecedora nos
resultados aqui encontrados, se analisados os ciclos para cada sujeito experimental.
Skinner (1953/2000) afirma que “... a magnitude do efeito reforçador de
alimento pode não depender do grau da privação. Mas a frequência da resposta que
resulta do reforço depende do grau de privação no momento em que a resposta for
observada”12 (p. 75). Nesta afirmação, Skinner diz que o efeito do reforço (alterar o
repertório, produzindo novas respostas, por exemplo) não depende do grau de privação
momentâneo, o reforço precisa ter seu valor estabelecido, senão não atuará como tal.
Tendo sido estabelecido seu valor, aumentos adicionais na privação não alteram a
modificação que ele produz. No entanto, a frequência momentânea de respostas
depende da privação, de forma que, em geral, maior a privação, maior a frequência.
Desta forma, levando em conta a afirmação de Skinner (1953/2000), dois pontos podem
ser sugeridos: (a) se houve a modelagem da resposta, ou seja, a resposta foi instalada,
uma modificação foi feita no repertório do organismo, é imprescindível que água tivesse
12 Ênfase adicionada.
117
algum valor reforçador neste momento. Por isto, possivelmente, seu valor tenha sido
naturalmente estabelecido, conforme apontado, já que nenhuma operação de privação
foi deliberadamente imposta ao sujeito pelas condições experimentais; e (b) sendo a
privação baixa, para este sujeito, a frequência de respostas, em cada sessão, também foi
baixa.
Pode ser que, para o sujeito PIO, mesmo não havendo operação ambiental (no
caso, privação) deliberadamente programada, em muitas sessões em esquema
concorrente às quais o sujeito foi submetido houve alteração do valor reforçador dos
estímulos água e sacarose, pelo próprio ciclo alimentar do sujeito.
Pode-se afirmar, também, que a operação de privação naturalmente imposta ao
sujeito, em algumas sessões, se mostrou maior do que em outras, ou seja, apresentou
variação de uma sessão para outra. Assim, houve também a modificação da frequência
da resposta de uma sessão para a outra, conforme descrito por Skinner (aumento da
frequência pelo aumento da operação em vigor – no caso, privação). Aqui, novamente, é
colocada a possibilidade de que estudos que monitorem o ciclo de alimentação do
sujeito se mostrem importantes, já que podem esclarecer as diferenças entre as taxas de
respostas de uma sessão para a outra, ou seja, esclarecer com maior precisão a relação
entre a privação naturalmente imposta e a taxa de respostas de pressão à barra.
A frequência acumulada de respostas por sessão, para este sujeito, é ilustrada na
Figura 34. Nesta Figura, é apresentada a frequência acumulada para as sessões de
números 12 (imediatamente anterior ao início do protocolo), 15 (terceira semana do
protocolo) e 19 (imediatamente após o término do protocolo).
0
50
100
150
200
250
300
12014016018011001120114011601180120012201240126012801300132013401
Sacarose
Água
0
50
100
150
200
250
300
12014016018011001120114011601180120012201240126012801300132013401
0
50
100
150
200
250
300
12014016018011001120114011601180120012201240126012801300132013401
Figura 34. Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo
das sessões experimentais números 12, 15 e 19, respectivamente, do sujeito PIO.
É possível observar, na sessão 12, um padrão muito comum deste sujeito:
responde até aproximadamente 40 minutos de sessão, dormindo o restante do tempo (o
Tempo (s)
Frequência acumulada
118
que pode ser notado na completa horizontalidade da curva a partir deste momento). Na
sessão 15, outro padrão é observado: pausas muito prolongadas ao longo de toda a
sessão, com momentos em que o responder retorna à velocidade que vinha tendo. Na
sessão 19, o sujeito dormiu praticamente o tempo todo, mas o interessante é que as
únicas respostas emitidas por ele foram à barra de liberação de água, e não de sacarose.
Para este sujeito, portanto, é possível concluir que, mesmo sem que nenhuma
operação de privação imposta pela experimentadora estivesse em vigor anteriormente às
sessões, o sujeito apresentou responder em quase todas as vezes em que foi exposto ao
esquema concorrente. É possível supor que há relação do papel reforçador dos estímulos
com a operação estabelecedora em vigor, conforme colocado.
Ainda, para este sujeito, é possível afirmar que, mesmo emitindo respostas de
pressão à barra, a frequência apresentada por ele é menor do que para os sujeitos
privados anteriormente às sessões, apresentando o PIO padrão de responder com pausas
ou finalizações antes do término das sessões (muitas vezes por dormir na caixa
experimental).
Portanto, para este sujeito, algumas considerações podem ser feitas com relação
ao seu desempenho em esquema concorrente: (a) mesmo sem nenhuma condição de
privação prevista, o sujeito adquiriu a resposta de pressão à barra por água; (b) além da
aquisição da resposta, houve manutenção, o que pôde ser constatado pela frequência
observada do responder em esquema concorrente; (c) a maior frequência de respostas
foi para a barra correspondente à sacarose, durante quase todo o experimento; e (d) o
protocolo de estressores não pareceu produzir alterações no desempenho operante do
sujeito.
c. Protocolo completo (PCO1, PCO2 e PCO3)
Os sujeitos do grupo protocolo completo passaram pelas mesmas duas condições
de privação do grupo apenas privação (Tabela 8), porém com a diferença de que, na
segunda condição, também os outros estímulos do protocolo foram aplicados a eles
(conjunto completo de estressores). Dos três sujeitos deste grupo, dois atingiram o valor
2 da razão para reforçamento (PCO1 e PCO3), e um, a razão 4 (PCO2).
Na Figura 35, são apresentados, também para esses sujeitos, o número de
respostas por sessão, para cada barra, bem como a preferência pela barra de sacarose.
119
Nesta figura, a escala do número de respostas é maior do que o que foi
apresentado para os sujeitos do grupo APO e para o sujeito PIO, pelo fato do sujeito
PCO2 ter sido submetido ao esquema de reforçamento FR4. Desta forma, o máximo de
respostas por sessão, para uma das barras, para este sujeito, era de 800 respostas (200
respostas reforçadas).
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100Barra água
Barra sacarose
Preferência
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Figura 35. Número de respostas de pressão à barra emitidas por sessão pelos sujeitos PCO1,
PCO2 e PCO3, em esquema de reforçamento concorrente água-sacarose, e preferência pela
barra de sacarose. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de
estressores.
É possível perceber, na Figura 35, que, também a partir da segunda sessão em
esquema concorrente (já na primeira, para o sujeito PCO3), o número de respostas na
Semanas
Número de respostas total em cada barra
Preferência pela barra sacarose (%
)
PCO1
PCO2
PCO3
120
barra cujas pressões produziam sacarose é maior. Esta preferência se mantém por todo o
experimento, não havendo nenhuma sessão em que o número de respostas de pressão à
barra correspondente à água fosse maior do que o número na barra correspondente à
sacarose.
Os três sujeitos, semelhante ao que foi descrito para o sujeito APO2, parecem
apresentar um aumento progressivo no número de respostas à barra que liberava
sacarose. Para o sujeito PCO3, o número máximo de respostas a esta barra é emitido já
na sessão de número 10 (sexta sessão em esquema concorrente), se mantendo até o final
do experimento.
O sujeito PCO2 foi mantido sob esquema de reforçamento até a quinta sessão
em esquema concorrente (sessão número 7), e pode ser observado que o sujeito vinha
obtendo o número máximo de reforços por sessão. Ao passar para o esquema de razão
2, a mesma coisa se repete. No entanto, na primeira sessão em que há aumento da razão
fixa para o valor 4, o número de respostas cai (sessão número 12). Na sessão seguinte,
correspondente à primeira semana do protocolo de estressores, esta taxa se mantém
baixa. Portanto, pelo menos para este sujeito, não há como afirmar uma possível relação
entre o protocolo e a queda na frequência de respostas de pressão à barra, já que houve,
também próximo a este momento, a mudança no esquema de reforçamento, o que
ocorreu junto com a primeira queda na taxa de respostas.
Para o sujeito PCO1, que não passou pelo aumento da razão anteriormente ao
início do protocolo de estressores, há também uma queda grande no número de
respostas de pressão à barra que liberava sacarose na primeira sessão após o início do
protocolo.
Para ambos, PCO1 e PCO2, esta frequência volta a aumentar na sessão
subsequente, não apresentando mais nenhuma queda semelhante até o fim do
experimento.
O sujeito PCO3, desde a primeira sessão em esquema concorrente, apresenta
preferência pela barra cujas pressões liberavam sacarose. Este sujeito responde com
uma frequência muito baixa na barra correspondente à água, havendo apenas duas
exceções ao longo de todo o experimento. A primeira delas, na sessão de número 10,
pode estar relacionada ao aumento na razão do esquema (de CRF para FR2) de
reforçamento. Nesta sessão, o mesmo número de reforçadores passou a ser produzido
pelo dobro de respostas de pressão à barra, e por isto o número de respostas pode ter
aumentado não somente na barra correspondente à sacarose, mas também na
121
correspondente à água. Porém, por não ter sido proporcional este aumento (barra
sacarose: de 200 para 400 respostas, e barra água: de 29 para 125 respostas), este fator
não parece ter sido o responsável pelo aumento. A segunda foi na sessão de número 20,
correspondente à segunda semana após a suspensão do protocolo de estressores. Não há
suposições com relação a este aumento.
Portanto, para os sujeitos do grupo PCO, submetidos às sessões em esquema
concorrente ao longo de todo o experimento e ao protocolo de estressores por seis
semanas, é possível afirmar que parece não ter havido nenhuma interferência do
protocolo com relação à taxa de respostas de pressão à barra, nas sessões operantes.
Conforme pôde ser observado na Figura 35, todos os sujeitos apresentam preferência
pela sacarose, e as eventuais quedas na taxa de respostas de pressão à barra que liberava
sacarose, ou os aumentos na barra que liberava água, não podem ser consistentemente
atribuidos ao período exposição ao protocolo, não podendo, então, ser feita tal relação.
Ao final do protocolo, para os três sujeitos, houve pelo menos uma sessão em
que o aumento na frequência de respostas de pressão à barra que liberava água ocorreu.
Para os sujeitos PCO2 e PCO3, isto ocorreu na sessão número 20; para o PCO1, na
sessão 21. Coincidentemente ou não, para os dois primeiros, esta foi uma sessão em que
houve troca dos lados de apresentação dos reforçadores. O padrão apresentado pelos
sujeitos, nessas sessões, foi o mesmo descrito anteriormente, para os sujeitos do grupo
APO.
Com relação à frequência de respostas ao longo das sessões, para os três sujeitos,
também foi possível encontrar o padrão de responder indiferenciado às duas barras, no
início das sessões. Isto ocorreu em 50, 55 e 41% das sessões, para os sujeitos PCO1,
PCO2 e PCO3, respectivamente.
Na Figura 36 são colocadas as frequências acumuladas de respostas de pressão
às duas barras, uma que liberava água e a outra sacarose, para os três sujeitos, em três
sessões em que este padrão de responder ocorreu.
Nesta figura, é possível observar que, pelo menos até o quinto minuto da sessão
experimental número 8, para os três sujeitos, o responder ocorre em ambas as barras.
Após este período, as frequência se diferenciam, sendo ao final muito maior para a barra
correspondente à sacarose.
122
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
110120130140150160170180190110011101120113011401150116011701180119012001210122012301240125012601270128012901300131013201330134013501
Sacarose
Água
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
110120130140150160170180190110011101120113011401150116011701180119012001210122012301240125012601270128012901300131013201330134013501
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
110120130140150160170180190110011101120113011401150116011701180119012001210122012301240125012601270128012901300131013201330134013501
Figura 36. Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo
da sessão experimental número 8, dos sujeitos PCO1, PCO2 e PCO3.
Também é possível observar que o responder apresenta padrões típicos do
responder em esquema de reforçamento de razão fixa: pequenas pausas após cada
reforçamento, seguidas novamente pelo responder. Para o sujeito PCO2, essas pausas se
apresentam maiores que para os outros sujeitos, visto que o esquema, para este sujeito,
era de razão 4, enquanto que para os outros dois, o esquema era de razão 2.
Portanto, é possível concluir que, para os sujeitos do grupo protocolo completo,
o desempenho em esquema concorrente não demonstrou ter sofrido efeitos pela
Tempo (s)
Frequência acumulada
PCO1
PCO2
PCO3
123
submissão desses sujeitos ao protocolo. Além disso, o responder típico do esquema de
razão foi demonstrado pelos sujeitos. Houve, também para esses sujeitos, conforme já
descrito para os sujeitos do grupo APO, um padrão de responder indiferenciado entre as
duas barras no início de algumas sessões, padrão este interpretado como o momento em
que não havia diferenciação entre lados em que os reforçadores eram liberados (os
sujeitos ainda não tinham “descoberto” em qual barra produziam o que).
124
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os aspectos investigados no presente estudo podem ser assim descritos:
a) Qual o papel da privação no conjunto de estressores? Ela é fundamental para que as
alterações geralmente observadas de diminuição na ingestão de líquidos, alterações no
peso corporal, no consumo de alimento e água e no desempenho em esquema
concorrente, durante e depois do protocolo, ocorram?
b) Qual o papel do desempenho operante, quando os sujeitos passam também por esta
situação, se levadas em conta as mesmas medidas? Se passam também por esta
condição, os sujeitos apresentam diferenças com relação aos sujeitos que não passam
por ela?
Para isto, algumas manipulações foram propostas. Em primeiro lugar, isolou-se a
privação como variável independente. Três grupos de sujeitos foram formados: um que
foi exposto à privação, isoladamente; outro que foi exposto à privação, em conjunto
com os demais estressores; e finalmente outro, que foi exposto a todos os outros
estressores, com exceção justamente da privação. Para os três grupos, uma parte dos
sujeitos foi também submetida às sessões operantes. Desta forma, a influência desta
condição nos efeitos previstos do protocolo (ou, no caso, da privação ou do restante do
conjunto de estressores) poderia ser avaliada.
Os efeitos de cada manipulação foram avaliados no peso corporal dos sujeitos,
consumo de alimento e água, ingestão de sacarose e água em testes livres, e
desempenho operante em esquema concorrente.
A partir dessas manipulações, os resultados obtidos demonstraram que tanto a
privação isoladamente quanto os demais estímulos do protocolo sem a privação
produzem efeitos nos sujeitos, porém é a junção (exposição a ambas) dessas variáveis
que se mostrou crítica.
Para os sujeitos que foram submetidos ao protocolo sem privação, o peso sofreu
pequenas alterações durante o protocolo. Para dois dos quatro sujeitos, essas alterações
parecem ser devidas a um estressor específico, a iluminação contínua. Segundo Díaz e
Bruner (2007), o padrão alimentar dos sujeitos é diferente a depender do período do
ciclo luminoso. Durante o período de escuro, os sujeitos comem e bebem mais, e com
maior frequência (menores intervalos entre um consumo e outro). Assim, considerando
que a iluminação contínua poderia produzir menor frequência no consumo (maiores
intervalos entre um consumo e outro), a perda de peso devida a ela pode ser
125
considerada. De fato, considerando o dia em que este estressor esteve em vigor, foi
possível constatar o menor consumo, principalmente de alimento, para três dos sujeitos
(PI1, PI2, PI3).
Os consumos de água e alimento, conforme já apontado, demonstraram
alterações pela submissão ao protocolo, mesmo que incompleto (sem a privação),
apresentando as maiores oscilações durante este período. Estas alterações foram
menores para o sujeito que passou também por sessões operantes.
Com relação à ingestão de líquidos e preferência por sacarose, medida mais
comumente utilizada para avaliar os efeitos do protocolo, nenhuma alteração foi
encontrada, para os sujeitos que passaram pelo protocolo incompleto (sem privação),
durante este período.
O desempenho operante (enquanto variável dependente) do sujeito que, além de
passar pelo protocolo incompleto, passou também pelas sessões demonstrou que,
mesmo sem nenhuma condição de privação prevista, há possibilidade de aquisição e
manutenção da resposta de pressão à barra por água. Além disso, o protocolo de
estressores não pareceu produzir alterações no desempenho operante do sujeito.
Desta forma, visto que alterações foram encontradas em algumas medidas e não
em outras, o presente estudo coloca a possibilidade de que novas investigações a
respeito do papel do protocolo (completo ou não) com relação aos seus efeitos levem
em conta não apenas a medida de ingestão e preferência por sacarose, mas também as
demais medidas (peso e consumo de alimento e água).
Para os sujeitos que foram submetidos apenas à privação, a relação entre o peso
e a privação se mostra diretamente proporcional: quanto mais frequentes e mais longos
os períodos de privação, maior a perda de peso (e menor sua recuperação). O padrão de
consumo de água e alimento também sofre influência da condição de privação imposta
aos sujeitos. Quando os períodos foram mais frequentes e duradouros, o consumo
aumentou de velocidade (consumiam mais rapidamente, assim que eram
disponibilizados alimento e água). Mesmo assim, este aumento na velocidade não é
suficiente para “compensar” a restrição imposta, visto que, mesmo consumindo mais em
menores intervalos de tempo, o consumo não atinge os valores de quando ocorria em
menor velocidade (a média de consumo para um dia é maior, mas o total consumido em
uma semana é menor).
Com relação aos testes de ingestão e preferência por sacarose, a privação não
demonstrou ter influências nesses resultados, visto que as diferentes condições de
126
privação a que os sujeitos foram submetidos não produziram diferenças na ingestão e
preferência apresentada nos testes. No entanto, houve diferença entre os sujeitos
privados que passaram por sessões operantes e os sujeitos privados que não passaram
por esta condição. Os primeiros aumentaram a quantidade de sacarose ingerida, com o
passar dos testes.
No desempenho em esquema concorrente, os sujeitos que passaram pela
privação isoladamente apresentaram preferência por sacarose, ao longo de todo o
experimento, demonstrada pela maior taxa de respostas nesta barra. A intensidade da
privação (resultado de mudanças efetuadas da primeira para a segunda condição) não
altera a preferência por sacarose na sessão.
Para os sujeitos submetidos ao protocolo completo, houve alteração no peso,
antes da exposição ao protocolo (primeira condição de privação). No entanto, durante a
exposição a ele, os efeitos de redução no peso foram maiores. Isto pôde ser constatado
ao compararem-se os pesos desses sujeitos com o peso dos sujeitos do grupo apenas
privação. Com relação ao peso, há diferenças sutis para sujeitos submetidos a sessões
operantes. Para os sujeitos que passaram por sessões operantes, a redução no peso é
menor do que para os que não passaram. Para os consumos de água e alimento, a
mesma alteração no padrão de velocidade de consumo encontrada para o grupo apenas
privação foi encontrada para o grupo de sujeitos do protocolo completo.
Nos testes de ingestão e preferência, não houve alteração pela submissão dos
sujeitos ao protocolo completo.
Da mesma forma, o desempenho operante não sofreu alterações pelo fato dos
sujeitos passarem pelo protocolo de estressores.
Além disso, dois sujeitos foram propostos para que se pudesse explorar a
diferença entre as privações de cada um dos itens, água e alimento, com relação à
ingestão e preferência por sacarose nos testes e o peso e o consumo de água e alimento
dos sujeitos.
Com relação ao peso, foi observada diferença com relação ao tipo de item
privado, água ou alimento. Para o sujeito privado apenas de água, não houve queda no
peso; para o sujeito privado apenas de alimento, esta queda foi muito semelhante à dos
sujeitos privados de ambos os itens. Com relação ao consumo, não há alterações no
consumo de um item pela privação do outro, para o sujeito privado de água. Para o
sujeito privado de alimento, no entanto, há queda também no consumo de água, item
disponível constantemente.
127
Com relação aos testes, não houve diferenças entre os sujeitos na quantidade de
sacarose ingerida pela qualidade da privação anterior. Portanto, conforme já salientado
por Willner et al (1987), a ingestão nos testes não se deve a uma regulação calórica, o
que seria observado se o sujeito privado de alimento ingerisse mais sacarose do que o
sujeito não privado deste item.
Parece, portanto, a partir das diferenças encontradas entre os sujeitos PAL e
PAG, que há uma contribuição crítica da privação de alimento na produção dos
resultados encontrados para os demais grupos (protocolo completo e apenas privação),
que foram submetidos à privação de ambos. Pode ser que a combinação a que foi
atribuida a diferença não seja, genericamente, privação + estressores; mas sim,
especificamente, privação de alimento + estressores.
Levando-se em conta os resultados do presente experimento, uma primeira
afirmação pode ser feita: os sujeitos não apresentaram as modificações na ingestão e
preferência por sacarose que foram apresentadas pelos sujeitos dos experimentos de
Willner et al (1987), Thomaz (2001), Dolabela (2004), Rodrigues (2005) e Cardoso
(2008). Nesses estudos, todos os sujeitos submetidos ao protocolo de estressores
apresentaram diminuição na ingestão de sacarose. No primeiro, esta diminuição foi
revertida pela aplicação de antidepressivos aos sujeitos; nos últimos, pela submissão dos
sujeitos à sessões operantes.
Os resultados do presente estudo indicam que, provavelmente, houve alguma
diferença entre este e os demais. Alguma variável aqui presente, que não presente nos
outros estudos, pode ter produzido as diferenças entre os resultados.
Uma primeira hipótese é a de que esta variável tenha sido a manipulação
neonatal.
Conforme descrito no procedimento deste estudo, os sujeitos foram pesados
desde aproximadamente cinco dias de vida. Foram, portanto, manipulados deste este
momento.
Silveira et al (2004), Silveira et al (2008) e Michaels e Holtzman (2006), em
artigos sobre a manipulação neonatal, concluiram que esta pode ser considerada uma
variável que, quando sujeitos são expostos a ela, produz alterações no comportamento
de sujeitos na idade adulta, com relação principalmente ao consumo de substâncias
doces. Para eles, a manipulação pode ser considerada um estressor e, passar por esta
situação, alteraria o valor de alguns estímulos. Esta alteração seria verificada medindo-
se o consumo desses estímulos para sujeitos que passassem e sujeitos que não
128
passassem por tal situação, já adultos. Porém, em seus estudos, essas alterações
ocorreram apenas com relação ao consumo de substâncias doces sólidas, e não com
relação ao consumo de substâncias doces líquidas. No presente estudo, no entanto, a
sacarose utilizada era dissolvida em água (concentração de 2%), tendo sido, mesmo
assim, encontrado resultado similar ao relatado por eles.
Portanto, a manipulação neonatal, no presente experimento, pode ter sido
responsável pela ausência do efeito de diminuição na ingestão de sacarose pela
submissão ao protocolo de estressores.
Há, aqui, um primeiro problema, que pode ser considerado um problema teórico.
Quando avaliam a produção de efeitos do estresse no comportamento dos sujeitos,
Silveira et al (2004), Silveira et al (2008) e Michaels e Holtzman (2006) consideram
que o estresse produz aumento na ingestão de substâncias doces, enquanto que Willner
et al (1987) dizem que o estresse diminui este consumo. Com relação a este problema,
será aqui apenas salientada a relação descrita pelos primeiros: a manipulação neonatal
produz maior consumo de substâncias doces. Esta relação será considerada
independentemente de como é feita sua interpretação (se é por estresse ou não).
Levando em conta, então, a possibilidade de que tal relação existe, ela pode ter sido
responsável pela produção dos resultados no presente experimento, no que se refere à
ingestão apresentada nos testes.
A segunda hipótese levantada é a de que a variável responsável pelas diferenças
entre o presente estudo e os estudos relatados foi a exposição dos sujeitos à sacarose.
Conforme também descrito no procedimento, os sujeitos passaram por 12 testes
de ingestão e preferência por sacarose anteriormente ao período de exposição ao
protocolo (completo ou incompleto), ou à segunda condição de privação. Além disso, os
sete sujeitos que passaram por sessões operantes também tiveram esta condição presente
durante as 12 semanas. Ainda, os sujeitos que não passaram pelas sessões em esquema
concorrente tiveram a quantidade média de sacarose ingerida pelos sujeitos nas sessões
operantes disponibilizada em suas gaiolas viveiro. Portanto, sua exposição à sacarose
foi de duas vezes por semana, durante 12 semanas, anteriormente à condição de
exposição à variável independente (protocolo completo ou incompleto ou privação).
Em estudo sobre a produção de analgesia pela exposição à sacarose, Segato et al
(1997) relataram que os sujeitos expostos por 14 sessões à sacarose apresentaram maior
resistência à dor do que sujeitos que não passaram por esta condição. Em seu estudo,
esta resistência foi medida pela latência com que os sujeitos retiravam sua cauda de um
129
compartimento que tinha a temperatura gradualmente aumentada. Para sujeitos expostos
a apenas uma sessão de ingestão de sacarose, o mesmo não ocorreu (sua resistência à
dor não foi alterada). Portanto, Segato et al (1997) afirmaram que, quando expostos à
sacarose por um grande período de tempo, os sujeitos passam a ter uma diferença na
resposta a alguns estímulos (no caso, o estímulo doloroso “temperatura alta”).
No presente experimento, pelo fato dos sujeitos terem sido expostos
continuamente durante um longo período à sacarose, os efeitos do protocolo podem ter
sido “atenuados” por esta exposição. É como se esses estímulos, por conta da analgesia
produzida pela sacarose, não produzissem o mesmo efeito que produziram em sujeitos
que não tiveram tal história com a substância.
No estudo de Thomaz (2001), foram realizadas apenas cinco exposições à
sacarose anteriormente ao protocolo (dois testes de adaptação e três testes de ingestão),
para os sujeitos que não passaram pelas sessões operantes. Para os sujeitos que
passaram por essas sessões, a exposição foi de 18 sessões. Em seu estudo, por haver
tamanha diferença entre a exposição à sacarose para sujeitos que passaram e sujeitos
que não passaram por sessões operantes, a mesma possibilidade de analgesia poderia ser
levantada. No entanto, nos estudos de Dolabela (2004) e Rodrigues (2005), além das
duas sessões de adaptação à sacarose, foram realizados 12 e 16 testes, respectivamente,
previamente ao protocolo. No caso desses estudos, a exposição prolongada à sacarose
ocorreu, não tendo produzido os mesmos resultados de analgesia. Portanto, esta
hipótese não se confirma.
Ambas as hipóteses aqui colocadas, no entanto, merecem investigação. O que o
presente estudo propõe, de acordo com os resultados, é apenas a possibilidade de que
exista tal relação.
É proposto, aqui, portanto, que o isolamento de cada uma dessas variáveis seja
feito, para que esclarecimentos a respeito do seu papel na produção ou não dos
resultados esperados pela exposição ao protocolo sejam possíveis. A avaliação da
relação entre o protocolo de estressores (completo ou incompleto) e a privação no peso,
consumo de água e alimento, ingestão e preferência por sacarose e desempenho em
esquema concorrente deve considerar o papel da manipulação neonatal e da exposição à
sacarose. É salientado que estudos futuros, que utilizem procedimentos similares, não
deixem de levar em consideração o possível papel dessas variáveis nos resultados
obtidos.
130
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Privação Iluminação Temperatura
Estressores Experimento
Choque impre-visível
Nado em água gelada
Shaker
Ali-mento
Água
Acesso restrito ali-mento
Exposi-ção garrafa vazia após período privação
Rever-são ciclo noite-dia
Con-tínua
Inter-mitente
Inclina-ção da gaiola
Agrupa-mento*
Gaio-la suja Au-
mento (calor)
Dimi-nuição (frio)
Barulho intermi-tente
Luz estro-boscó-pica
Chei-ro
Objeto estra-nho
Confina- mento
Katz (1982) X X X X X X X
Willner et al (1987) - 1 X X X X X X X
** Willner et al (1987) - 2 X X X X X X X X X X X X X
Matthews et al (1995) X X X X X X X X X X X
Forbes et al (1996) X X X X X X X X X X X X
*** Barr & Phillips (1998) X X X X X
**** Thomaz (2001),Dolabela (2004),Rodrigues (2005)
X X X X X X X X X X X
***** Cardoso (2008), Pereira (2009)
X X X X X X X X X X X X
* O agrupamento diferiu em quantidade de sujeitos agrupados por experimento (2 a 5). ** Aumento gradual na intensidade dos estressores. *** Esquema de privação utilizado foi 20 horas diárias de privação de alimento + acesso restrito (21gramas por dia). **** Privação de água constante, a fim de manter o peso dos sujeitos entre 80 e 85% de seu peso ad lib. ***** Protocolo idêntico ao de Willner et al (1987) – 2, com diferença apenas na redução de temperatura, porém sem aumento na intensidade dos estressores.