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i Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Programa de estudos pós-graduados em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento Chronic Mild Stress: um estudo sobre a interação entre submissão ao protocolo de estressores, comportamento operante e privação Clarissa Moreira Pereira São Paulo 2009

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i

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Programa de estudos pós-graduados em Psicologia Experimental: Análise do

Comportamento

Chronic Mild Stress: um estudo sobre a interação entre submissão ao

protocolo de estressores, comportamento operante e privação

Clarissa Moreira Pereira

São Paulo

2009

ii

Clarissa Moreira Pereira

Chronic Mild Stress: um estudo sobre a interação entre submissão ao

protocolo de estressores, comportamento operante e privação

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, sob orientação da Profa. Dra. Tereza Maria de Azevedo Pires Sério.

Trabalho parcialmente financiado pela CAPES 2007 – 2008

São Paulo 2009

iii

Banca Examinadora

___________________________________________

___________________________________________

___________________________________________

iv

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos ou científicos, a reprodução total ou

parcial desta dissertação por processos de fotocópia ou eletrônicos.

Assinatura: _________________________________ Local e data: ________________

v

Agradecimentos

Agradeço, em primeiro lugar, à minha família. Aos meus pais, pelo apoio

incondicional em todos os momentos, pela confiança, e pela possibilidade de que tudo

isso se tornasse concreto. Vocês são a minha base, e é da segurança que tenho em vocês

e do orgulho que vocês me dão que tiro o que preciso para construir esse caminho. À

minha irmã, mais do que amiga durante este mestrado, companheira de coleta e de

conversas que, no fim das contas, nem deveriam ser tão interessantes assim pra alguém

que não é da área. Você foi espetacular! Ao Gui, por toda a nossa vida, por ser meu

pequeno, meu querido. Amo todos vocês mais do que qualquer coisa nesse mundo.

À minha família: meus tios e tias (e agregados, claro), primos e primas e avós,

tão queridos e importantes, tão carinhosos, atenciosos, cuidadosos. Pelo interesse pelo

que eu faço, por admirar os passos que eu dei até agora, e por confiar que os próximos

serão ainda mais significativos. Cada um tem sua infinita importância em minha vida, e

também em minha produção acadêmica, tenham certeza. Amo todos vocês, do meu

coração.

À querida Lucia, preciso agradecer. Pelo cuidado com meus lanches da tarde em

frente ao computador, por se preocupar com minha “sanidade” ao longo desse mestrado,

e por fazer parte de minha criação. Você não sabe o quanto é importante ter este tipo de

apoio. Obrigada pela vida toda!

À Téia, minha querida orientadora. Nos demos bem desde o início, mas tenho

certeza de que foi ao longo do caminho que percebi o quanto você é brilhante, e não

tenho palavras para agradecer esse aprendizado. Nunca vou esquecer.

A todos os professores do mestrado, pelas aulas e conversas no laboratório, e

pela competência e dedicação que têm pelo que fazem. À Paula Gioia em especial,

minha grande incentivadora da entrada no mestrado.

Aos queridíssimos funcionários, Neusa, Conceição, Maurício e Dinalva. Não

tenho nem dúvida de que o trabalho não seria o mesmo sem vocês. O que vocês fazem é

fenomenal, e espero que vocês saibam do tamanho do meu reconhecimento.

vi

Aos grandes amigos de mestrado, Ana Fonai, Campélia, Julia, Renata, Roberta,

Jazz, João, Ângelo, Rodrigo, Gabriel, Marcio, e outros tantos. Não teria sido a mesma

coisa se eu não tivesse conhecido pessoas como vocês.

À Paula Braga, um agradecimento especial. Pelas tantas coletas para mim, pelos

apuros que passou junto comigo, pelo companheirismo, pela amizade, pela afinidade, e

pela admiração que sinto por você. Foi muito bom ter encontrado uma colega assim,

que se tornou amiga para o resto da vida.

Ao meu amor, meu amigo, meu confidente, meu companheiro. Obrigada por

fazer do laboratório um lugar mais legal, por fazer de momentos de coleta divertidos,

por fazer da Análise do Comportamento uma inspiração, por fazer dos meus dias mais

leves, por me fazer mais feliz. Mateus, não conseguiria descrever tão bem o que sinto,

mas quero deixar registrada a gratidão que tenho por você. Fazer uma dissertação não é

fácil, mas se torna menos penoso quando alguém que já passou por tudo isso está ali pra

te apoiar. Você foi sempre cuidadoso, amoroso, inteligente. Tudo que eu precisava neste

momento, e que pretendo desfrutar pro resto da vida. Meu muito obrigada!

vii

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 01

O CMS - uma discussão sobre o modelo ................................................................

06

O CMS e o estudo do controle operante .................................................................

17

MÉTODO ................................................................................................................

33

Sujeitos ....................................................................................................................

33

Equipamento ...........................................................................................................

33

Procedimentos .........................................................................................................

34

Condições experimentais ........................................................................................ 34

1. Condição preparatória ................................................................................... 34

2. Acesso livre a alimento e água ......................................................................

38

3. Testes de ingestão e preferência de líquidos .................................................

38

4. Protocolo de estressores ................................................................................

38

5. Sessões operantes ..........................................................................................

40

Delineamento experimental ....................................................................................

41

a. Protocolo completo ....................................................................................... 42

b. Protocolo incompleto (sem privação) ........................................................... 44

c. Apenas privação ............................................................................................ 46

d. Privação específica ........................................................................................ 48

RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................

50

1. Peso e consumo de água e alimento .............................................................. 50

2. Testes de ingestão e preferência .................................................................... 92

3. Desempenho operante ................................................................................... 109

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 124

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 130

Anexo ...................................................................................................................... 134

viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Linha do tempo com indicação dos principais eventos ocorridos durante o estudo ..................................................................................................................................

41 Figura 2. Peso corporal de todos os sujeitos do experimento, pelos dias de vida de cada sujeito. As três linhas pontilhadas representam, aproximadamente e respectivamente, o período em que se iniciou a primeira condição de privação (para os sujeitos dos grupos PCO, PC, APO, AP, e sujeitos PAL e PAG), o período correspondente ao início do protocolo de estressores (para os sujeitos PCO, PC, PI, PIO) ou início da segunda condição de privação (para os sujeitos AP, APO, PAL e PAG) e o fim destes períodos ...

51

Figura 3. Peso corporal dos sujeitos dos grupos APO e AP, durante todo o experimento. A linha mais espessa representa a tendência, a linha contínua menos espessa o peso real e a linha pontilhada o peso referência. As linhas verticais pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação,início da segunda condição de privação e final desta ..........................................................................................................

56 Figura 4. Peso corporal do sujeito APO3, a partir do início da privação. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação ......

58

Figura 5. Porcentagem de redução do peso corporal após cada período de privação (painel da esquerda) e porcentagem de recuperação de peso após aproximadamente vinte e quatro horas de interrupção da privação (painel da direita), durante as duas condições de privação, para o sujeito APO3 ......................................................................

59

Figura 6. Valores percentuais de perda e recuperação de peso do sujeito APO3, para as seis semanas da segunda condição de privação, levando-se em conta o peso do sujeito anteriormente a esta condição. As linhas pontilhadas indicam o início e o fim desta condição. Os demais valores apresentados (da primeira condição de privação e do retorno a ela, ou seja, das semanas 1 a 13 e 20 a 22) se mantêm idênticos aos da Figura 5

60 Figura 7. Média do consumo diário água e alimento dos sujeitos dos grupos APO e AP, calculados semanalmente, a partir do início da aferição (painéis da esquerda). Quantidades consumidas de água e alimento por semana, para os mesmos grupos, a partir do início da aferição (painéis da direita). As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação e início e fim da segunda condição de privação ...........................................................................................................

61

Figura 8. Peso corporal dos sujeitos PAL e PAG, durante todo o experimento. A linha mais espessa representa a tendência, a linha contínua menos espessa o peso real e a linha pontilhada o peso referência. As linhas verticais pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação, início da segunda condição de privação e volta à primeira condição de privação .........................................................................................

64 Figura 9. Média do consumo diário água e alimento dos sujeitos PAG e PAL, calculados semanalmente, a partir do início da aferição (painéis superiores). Quantidades consumidas de água e alimento por semana, para os sujeitos PAG e PAL, a partir do início da aferição (painéis inferiores). As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação e início e fim da segunda condição de privação ...........................................................................................................

66

Figura 10. Peso corporal de todos os sujeitos do experimento, pelos dias de vida de cada sujeito. As duas curvas em destaque representam o peso dos sujeitos PAG e PAL. As três linhas pontilhadas representam, aproximadamente e respectivamente, o início da primeira condição de privação, e o início e término da segunda condição de privação .....

68

Figura 11. Peso dos sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO, durante todo o experimento. A linha mais espessa representa a tendência, e as linhas pontilhadas indicam, respectivamente, o início e final do protocolo de estressores ............................................................................

70 Figura 12. Peso corporal dos sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO, durante o protocolo de estressores, pelo dia da semana, nas seis semanas de duração do protocolo ......................

71

ix

Figura 13. Consumo médio de alimento e água, durante as seis semanas de submissão ao protocolo de estressores, para cada dia da semana, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO ......................................................................................................................................

72 Figura 14. Porcentagem de ganho ou perda de peso por semana, com relação ao peso do dia anterior ao início do protocolo, para todas as quintas-feiras (primeiro dia do ciclo) das seis semanas de protocolo de estressores, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO (painel da esquerda). Porcentagem de ganho ou perda de peso por semana, com relação ao peso do dia anterior ao início do protocolo, para todas as segundas-feiras das seis semanas de protocolo de estressores, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO (painel da direita). Cada barra indica o ganho (ou perda, no caso de valores negativos), em cada semana, com relação ao peso inicial (antes do início do protocolo) .........................................................

74 Figura 15. Consumos de água e alimento, aferidos diariamente, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO durante todo o experimento. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, o início e final do protocolo de estressores. Durante o protocolo de estressores não foi possível aferir os consumos em um dos dias da semana, pelo fato dos sujeitos estarem agrupados, e os espaços correspondentes a esses dias foram omitidos da Figura 15 .............................................................................................................................

76

Figura 16. Consumo médio diário de água e alimento (ml e mg), durante todo o experimento, dos sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, o início e final do protocolo de estressores .............................................

78 Figura 17. Peso corporal dos sujeitos dos grupos PCO e PC, durante todo o experimento. A linha mais espessa representa a tendência, a linha contínua menos espessa o peso real e a linha pontilhada o peso referência. As linhas verticais pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação, início do protocolo de estressores e final deste ..................................................................................

81

Figura 18. Peso do dia anterior ao início do protocolo e do dia seguinte ao seu término, dos sujeitos dos grupos PCO, PC, APO e AP, e porcentagem de redução do peso, comparando-se antes e depois deste período ......................................................................

82 Figura 19. Peso corporal do sujeito PCO1, a partir do início da privação, até o final do experimento. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ......................................................................................................................

84 Figura 20. Porcentagem de redução do peso corporal após cada período de privação (painel da esquerda) e porcentagem de recuperação de peso após aproximadamente vinte e quatro horas de interrupção da privação (painel da direita), durante a primeira condição de privação e durante o protocolo de estressores, para o sujeito PCO1 (painel da esquerda) ........................................................................................................................

85

Figura 21. Peso corporal dos sujeitos PCO1, PCO2, PCO3, PC1, PC2 e PC3, durante o protocolo de estressores, pelo dia da semana, nas seis semanas de duração do protocolo .

87

Figura 22. Média do consumo diário água e alimento dos sujeitos dos grupos PCO e PC, calculados semanalmente, a partir do início da aferição (painéis da esquerda). Quantidades consumidas de água e alimento por semana, para os mesmos grupos, a partir do início da aferição (painéis da direita). As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim do período correspondente ao protocolo de estressores ......

89 Figura 23. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, para os sujeitos do grupo APO e AP (painéis da esquerda). Proporção de sacarose ingerida, em mg, por mg do peso do sujeito (painéis da direita). As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação ...........

93

Figura 24. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, em média, para todos os sujeitos do grupo apenas privação (painel superior). Proporção de sacarose ingerida, em mg, por mg dos sujeitos, em média, para todos os sujeitos (painel inferior). As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação .................................................................................

95

x

Figura 25. Ingestão de sacarose e peso dos sujeitos dos grupos APO e AP, no dia do testes, aferidos semanalmente. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação .................................................................................

96 Figura 26. Consumo e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente para os sujeitos PAG e PAL, durante todo o experimento. As linhas tracejadas indicam, respectivamente, a semana inicial e final da segunda condição de privação ...............................................................................................................................

99 Figura 27. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ..................................................

101 Figura 28. Proporção de sacarose ingerida, em mg, por mg do sujeito PI3. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do período correspondente ao protocolo de estressores ......................................................................................................................

103 Figura 29. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, para os sujeitos PCO1, PCO2, PCO3, PC1, PC2 e PC3. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ....................

104 Figura 30. Ingestão de sacarose e peso dos sujeitos dos grupos PCO e PC, no dia do testes, aferidos semanalmente. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ...........................................................................................

107 Figura 31. Número de respostas de pressão à barra emitidas por sessão pelos sujeitos APO1, APO2 e APO3, em esquema concorrente água-sacarose, e preferência pela barra de sacarose. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação ...........................................................................................................

110 Figura 32. Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo da sessão experimental número 11, do sujeito APO2 (painel esquerdo). Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo da sessão experimental número 20, do sujeito APO2 (painel direito) .....................................

112

Figura 33. Número de respostas de pressão à barra emitidas por sessão pelo sujeito PIO, em esquema concorrente água-sacarose, e preferência pela barra de sacarose. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ....................

115 Figura 34. Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo das sessões experimentais números 12, 15 e 19, respectivamente, do sujeito PIO ......................................................................................................................................

117 Figura 35. Número de respostas de pressão à barra emitidas por sessão pelos sujeitos PCO1, PCO2 e PCO3, em esquema de reforçamento concorrente água-sacarose, e preferência pela barra de sacarose. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ...........................................................................................

119

Figura 36. Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo da sessão experimental número 8, dos sujeitos PCO1, PCO2 e PCO3 ................

122

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Número de ratos por caixa, desde o nascimento até o dia em que não ocorreram mais mortes ........................................................................................................

35

Tabela 2. Identificação da caixa de origem de cada um dos sujeitos experimentais .......... 37

Tabela 3. Distribuição dos estressores a cada hora do dia, pelos dias da semana, ao longo de uma semana (um ciclo) .........................................................................................

43

Tabela 4. Distribuição dos estressores a cada hora do dia, pelos dias da semana, ao longo de uma semana (um ciclo) ........................................................................................

45

Tabela 5. Distribuição dos períodos de privação a cada hora do dia, pelos dias da semana, ao longo de uma semana (um ciclo) ......................................................................

47

Tabela 6. Divisão dos sujeitos pelos arranjos das condições experimentais ......................

49

Tabela 7. Total de horas semanais dos períodos de privação a que os sujeitos eram submetidos e intervalo entre os períodos, nas duas condições de privação .........................

57

Tabela 8. Número de sessões em cada condição para todos os sujeitos que passaram pela condição operante ao longo de todo o experimento ............................................................

109

xii

Pereira, C. M. (2009). Chronic Mild Stress: um estudo sobre a interação entre submissão

ao protocolo de estressores, comportamento operante e privação. Dissertação de

Mestrado. Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Experimental: Análise do

Comportamento. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

RESUMO

O Chronic Mild Stress (CMS), ou estresse crônico moderado, é um modelo experimental

que tenta reproduzir, em laboratório, através do uso de um protocolo de estressores,

condições da vida real, em ratos, para estudo dos efeitos da exposição a esses estressores

no comportamento dos sujeitos. No presente estudo, pretendeu-se verificar se o protocolo

completo, e não apenas alguns estressores apresentados isoladamente (privação de água e

privação de alimento), seriam responsáveis pelos efeitos comumente descritos na

literatura (diminuição na ingestão e preferência por substância doce e no peso pela

submissão ao protocolo). Foi verificada também a interferência de sessões operantes em

esquema concorrente (água-sacarose) em todos os efeitos considerados. Os resultados

encontrados foram analisados com relação a (a) peso corporal, (b) consumo de alimento e

água, (c) ingestão de líquidos nos testes da gaiola viveiro e (d) desempenho em esquema

concorrente. Tanto a privação isoladamente quanto o protocolo incompleto (sem

privação) produziram efeitos no peso dos sujeitos, no consumo de alimento e água e na

ingestão e preferência de líquidos. Porém, a junção de ambos – o protocolo completo – se

mostrou crítica na produção dos resultados com relação a essas medidas. Alguns aspectos

do desempenho operante diferem a depender dos sujeitos estarem privados ou não

previamente às sessões, mas não diferem entre sujeitos que passam ou não pelo restante

dos estressores. Com relação aos resultados, duas sugestões são colocadas: (a) a

manipulação neonatal pode ser uma variável responsável pela não produção de todos os

efeitos do protocolo no comportamento dos sujeitos; e (b) a exposição prolongada à

sacarose pode ter efeitos similares à analgesia nos sujeitos, fazendo com que os possíveis

efeitos do protocolo de estressores não sejam produzidos. É levantado um ponto

considerado importante, a partir dos resultados: outras medidas, que não apenas a ingestão

de líquidos, devem ser consideradas para análise em estudos com o CMS.

Palavras-chave: protocolo de estressores, privação, comportamento operante,

manipulação neonatal, exposição à sacarose.

xiii

Pereira, C. M. (2009). Chronic Mild Stress: an experiment about the interaction among

submission to stress protocol, operant behavior and deprivation. Dissertação de Mestrado.

Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Experimental: Análise do

Comportamento. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

ABSTRACT

Chronic Mild Stress (CMS) is an experimental model that attempts to reproduce, in

laboratory, real life stressing conditions in rats, by using a stress protocol to study the

effects of the exposition to these stressors in the subjects’ behavior. In the present

experiment, the purpose was to identify if whole protocol, and not some of the stressor

stimuli specifically (water and food deprivation) are responsible for producing the effects

frequently described in literature (decreased sweet substance ingestion and preference and

body weight when submitted to the protocol). It was also verified the influence of operant

concurrent schedule sessions (water-sucrose) in all the effects considered. The results

were described on (a) body weight, (b) food and water consumption, (c) sucrose ingestion

and preference, and (d) concurrent schedule performance. Deprivation itself and

incomplete protocol (with no deprivation conditions) produced effects on body weight,

food and water consumption, and sucrose preference and ingestion. However, the two

together – complete protocol – showed itself to be critical to produce these results. Some

operant behavior features differ depending on whether the subjects are deprived or not

before the session, but they don’t among subjects that are submitted to the other stressors

(other than deprivation). According to these results, there are two possible suggestions:

(a) neonatal handling can be responsible for the inexistency of the common effects of the

protocol in the subjects’ behavior; and (b) the continuous exposure to sucrose can have

similar effects to analgesia, making it possible that effects of the protocol are not

produced. One issue is considered important, considering these results: measures, other

than just sucrose ingestion and preference, must be taken into account in CMS studies.

Key-words: stress protocol, deprivation, operant behavior, neonatal handling, exposure to

sucrose.

1

Modelos animais ou experimentais são tentativas de reprodução de fenômenos

comportamentais (ou fisiológicos) em determinadas espécies animais, no laboratório,

para posterior uso dos resultados obtidos na compreensão da espécie humana (Keehn,

1979; Willner, 1991). São, neste sentido, a “representação de uma realidade específica,

possível de ser manipulada, que permite a realização de análise para o seu melhor

conhecimento, inferindo dados e testando hipóteses” (Guimarães e Mázaro, 2004, p.

12).

Modelos animais de depressão podem, desta forma, ser utilizados para a

realização de estudos experimentais em laboratório, como uma tentativa de reproduzir,

em ambiente controlado, condições semelhantes às do ambiente real vistas como

relevantes para a produção de alterações comportamentais características da depressão,

propiciando diversas elucidações acerca do fenômeno estudado (Willner, Muscat e

Papp, 1992). Esses modelos podem servir de base para o estudo e esclarecimento de

diversos aspectos da depressão, como sua etiologia, por exemplo.

Para que o uso desses modelos seja validado, é necessário, pelo menos, que

comportamentos observados no laboratório com os sujeitos infra-humanos sejam

semelhantes aos que se observam na pessoa que apresenta as alterações

comportamentais descritas como constituintes da depressão.

Segundo Willner, Towell, Sampson, Sophokleous e Muscat (1987), apenas

alguns modelos animais da depressão atendem aos critérios de validade1 para que

possam ser considerados para estudo em laboratório. Um deles é o estresse crônico

moderado, ou chronic mild stress (CMS).

Segundo esse modelo, uma alteração comportamental geralmente descrita como

presente na depressão é a anedonia. Ela é caracterizada como a “redução na

sensibilidade a recompensas, que é usualmente detectada através da diminuição no

consumo de solução fraca de sacarose palatável” (Willner et al, 1992, p. 526). Mesmo

não aparecendo como foco nos modelos experimentais, conforme afirmam Willner et al

(1992), a anedonia seria de extrema importância na depressão, por estar tão

frequentemente presente nela. Ela pode ser produzida em ratos, no laboratório, através

da submissão desses animais a um conjunto de estressores moderados.

1 Estes critérios dizem respeito à possibilidade de uso do modelo em questão como ferramenta de entendimento e estudo de determinada condição humana, e são descritos na psicopatologia

2

Katz (1982) já havia considerado a importância do estresse no desenvolvimento

de alterações comportamentais descritas como “depressão”, em um estudo para

investigar alterações em sujeitos submetidos a uma série de estressores. Katz (1982)

pretendia investigar se alterações no padrão alimentar dos sujeitos poderiam ser

decorrentes de sua exposição a um conjunto de estressores aplicados de maneira

crônica. Seu experimento foi dividido em três estudos. Em todos eles, um protocolo de

estressores foi administrado por três semanas, composto de: (a) exposição dos sujeitos a

60 minutos de choques imprevisíveis; (b) 40 horas de privação de comida; (c) nado em

água gelada (4º C) por cinco minutos; (d) 40 horas de privação de água; (e) exposição

ao calor (40º C) por cinco minutos; (f) 30 minutos de movimento; (g) reversão do ciclo

noite/dia. Os estressores eram apresentados e trocados de maneira semirrandômica.

Os estudos diferiram entre si com relação às substâncias apresentadas aos

sujeitos nos testes de ingestão. Os testes consistiam na exposição dos sujeitos a uma

mamadeira, por períodos de 14 horas, que continha uma das três substâncias: água pura,

sacarina sódica ou sacarose. Tanto a sacarina quanto a sacarose são substâncias doces.

No entanto, a sacarina não é calórica, e a sacarose é. Portanto, foram utilizadas ambas

para verificar possíveis influências de regulações nutricionais na ingestão dos sujeitos.

Ao final do teste, media-se a quantidade restante na mamadeira, para que a ingestão

fosse monitorada. Todos os estudos contaram com grupos controle, formados por

sujeitos não submetidos ao protocolo de estressores.

Além do protocolo de estressores, alguns sujeitos tiveram a administração de

imipramina (um antidepressivo tricíclico – DMI) durante o experimento (diariamente,

nas três semanas de protocolo de estressores), para verificar seu efeito nas medidas de

ingestão.

Os resultados encontrados foram que, para todos os sujeitos submetidos aos

estressores, a ingestão das substâncias sacarose e sacarina diminuiu em relação aos

sujeitos controle. Para a solução de água pura, não houve alterações na ingestão. Estes

achados demonstraram que, tanto para a solução nutritiva (sacarose) quanto para a

solução não nutritiva (sacarina), os efeitos dos estressores na diminuição de ingestão

puderam ser verificados, o que possibilitou afirmar que as alterações na ingestão não

eram decorrentes de regulações nutricionais pelas diferenças de ingestão calórica a

depender de uma ou outra substância, mas sim da variável independente manipulada.

como critérios de a) validade aparente, b) validade preditiva e c) validade de construção teórica. Estes critérios serão mais pormenorizadamente descritos adiante.

3

A administração de imipramina reverteu os efeitos do protocolo de estressores,

aumentando novamente a ingestão das substâncias sacarose e sacarina para os animais

estressados. Para os sujeitos controle, o efeito deste antidepressivo foi de diminuir,

porém não significativamente, a ingestão das substâncias. O que isto quer dizer é que as

alterações de ingestão, para este grupo, quando comparadas às alterações para o grupo

que foi submetido ao protocolo de estressores, foram muito pequenas. No teste com

água pura, o antidepressivo não alterou a ingestão dos sujeitos.

A partir destes achados, Willner et al (1987) propuseram um estudo, com

extensões e modificações na investigação, que incluiram (a) redução na severidade dos

estressores utilizados2, para aproximar o modelo da “vida real”; (b) uso de duas garrafas

para o teste de preferência, e não apenas uma; (c) realização semanal dos testes, para um

maior acompanhamento do curso dos efeitos; (d) administração de um antidepressivo

para “reversão” também da preferência, e não apenas da ingestão, como feito por Katz

(1982), já que os autores propõem as duas medidas, ingestão e preferência (investigação

esta possível apenas com uso de teste com duas garrafas); e (e) exame dos níveis de

glicose no sangue, para investigar se diferentes níveis seriam responsáveis pelas

diferenças na ingestão de sacarose.

Os sujeitos usados no estudo foram ratos da linhagem Lister (o número de

sujeitos não foi especificado), e quatro diferentes experimentos foram propostos. Em

todos eles, sujeitos controle, não submetidos ao protocolo, também foram utilizados.

O protocolo de estressores variou para cada experimento. Nos experimentos 1 e

4, o protocolo de estressores consistiu de (a) privação de água e comida; (b) iluminação

contínua; (c) inclinação da gaiola em 30º; (d) agrupamento (outro sujeito na gaiola); (e)

gaiola suja; (f) exposição à temperatura reduzida (10º C). Nos experimentos 2 e 3, além

dos estímulos dos experimentos 1 e 4, foram também utilizados: (g) barulho branco

intermitente; (h) luz estroboscópica; (i) exposição a uma garrafa vazia após período de

privação de água; (j) acesso restrito à comida; (l) cheiro novo; (m) presença de um

objeto estranho na caixa (madeira ou plástico). Para o experimento 2, a intensidade dos

estressores foi sendo gradualmente aumentada com o decorrer das seis semanas. Para o

2 Com relação à redução na severidade dos estressores utilizados, vale aqui salientar que todos os estímulos implementados no protocolo de Willner et al (1987) não são estímulos tradicionalmente aversivos. Os estímulos adquirem tal propriedade pela cronicidade com que são apresentados aos sujeitos. Portanto, com relação ao estudo de Katz (1982), a atenuação ocorre principalmente considerando-se a qualidade dos estímulos.

4

experimento 3, os autores não especificam se houve ou não esta alteração na intensidade

do protocolo3.

O período de exposição dos sujeitos ao protocolo foi também variado: cinco, seis

e nove semanas, respectivamente, para os experimentos 1, 2 e 3; para o experimento 4,

não foi especificado o número de semanas.

Em todos os experimentos, foram examinados os efeitos da submissão ao

protocolo de estressores na ingestão e preferência por alguma das três substâncias em

relação à água pura: sacarina (experimento 1), sacarose (experimentos 2, 3 e 4) ou

solução salina (experimento 2). Nos experimentos 2, 3 e 4, foi administrado um

antidepressivo, para exame de seus efeitos sobre essas medidas (ingestão e preferência),

tendo sido no experimento 2 administrada também uma solução placebo, para a metade

dos sujeitos. No experimento 3, além disso, os níveis de glicose e corticosterona no

sangue dos sujeitos foram também medidos, para investigação dos efeitos do protocolo

sobre eles. No experimento 4, foi utilizada uma solução de sacarose “mais fraca”, ou

menos concentrada (0,6%), para exame de possíveis diferenças decorrentes da

concentração da substância utilizada.

Os testes de ingestão de líquidos foram realizados nas gaiolas viveiro dos

sujeitos, e sempre aconteciam após um período de privação de água e comida (quatro

horas para o experimento 1, e 23 horas para os outros experimentos). Esses testes

também foram realizados com os sujeitos controle. As garrafas eram sempre

contrabalanceadas entre os lados direito e esquerdo da gaiola (suas posições variavam a

cada teste), quando os testes eram realizados com duas mamadeiras. Para medidas de

ingestão e preferência antes do protocolo, os testes foram realizados da seguinte

maneira: duas garrafas eram colocadas na gaiola dos sujeitos, uma contendo água e a

outra contendo a solução de teste (sacarose, sacarina ou solução salina), 72 horas antes

do início de cada experimento, por um período de 48 horas, semanalmente. Para o

experimento 1, os testes aconteceram com apenas uma garrafa nas semanas 1 e 2 do

protocolo. Para todos os outros experimentos, o mesmo procedimento foi adotado

também durante o protocolo de estressores.

Dentre os resultados apresentados pelos autores, serão destacados, aqui, os que

dizem respeito à ingestão e preferência dos líquidos testados e aos efeitos do

antidepressivo administrado em alguns grupos de sujeitos. Os resultados referentes às

3 Os estressores serão descritos mais pormenorizadamente no método desta pesquisa.

5

medidas de glicose e corticosterona não serão apresentados, por não serem de interesse

direto no presente trabalho (já que, na presente pesquisa, as medidas utilizadas serão

semelhantes às primeiras, e não às últimas).

Para todos os sujeitos experimentais submetidos ao protocolo de estressores,

houve, durante o período de exposição ao protocolo, diminuição na ingestão da

substância doce (sacarose ou sacarina), mantendo-se a ingestão de água constante, em

relação à ingestão anterior ao protocolo. Desta forma, foi verificada diminuição da

preferência observada inicialmente por essas substâncias, já que a ingestão de água

passou a ser muito parecida com a de sacarose ou sacarina.

Nos experimentos 2 e 3, em que os animais receberam o antidepressivo tricíclico

após a terceira semana de protocolo de estressores, houve recuperação dos níveis

iniciais, tanto de ingestão quanto de preferência, após a segunda semana de

administração de DMI. Para os sujeitos que tiveram administração de placebo, ao invés

do antidepressivo, a ingestão e a preferência não foram alteradas.

Mudanças na ingestão durante o protocolo de estressores não foram identificadas

para os grupos em que foi testada a ingestão de solução salina (experimento 2). A

preferência pela solução salina ocorrida nas três primeiras semanas de estressores foi

mantida nas duas semanas subsequentes, em que o DMI foi administrado para o grupo

de sujeitos.

No experimento 4, quando comparadas as soluções de sacarose utilizadas, uma

menos concentrada e outra mais concentrada, foi verificada menor preferência pela

solução menos concentrada, mesmo antes do início do protocolo de estressores. Houve

pouca preferência dos sujeitos por esta substância, antes do início do protocolo, com

relação à água pura. Desta forma, afirmam Willner et al (1987) que o antidepressivo não

demonstrou ter efeito sobre esta preferência, já que os níveis baixos de ingestão da

substância encontrados foram semelhantes aos do grupo tratado com placebo.

Um aspecto colocado na conclusão se refere à comparação da ingestão de

substâncias calóricas e não calóricas feita no estudo. Por ter havido diminuição de

ingestão tanto para sacarose (calórica) quanto para sacarina (não calórica), Willner et al

(1987) apontam que tal diminuição não pode ser atribuida a uma regulação calórica,

assim como apontado por Katz (1982). Se a ingestão de substâncias numa certa

quantidade fosse controlada por uma carência nutricional, haveria diferenças nas

ingestões de ambas, ou seja, a substância calórica seria ingerida em maior quantidade.

Já que isto não ocorreu, a variável a que são atribuidos os resultados encontrados, mais

6

uma vez, é o protocolo de estressores. É possível afirmar, portanto, que, neste estudo, o

que pareceu ser importante na produção dos resultados foi o protocolo como um todo, e

não apenas um de seus componentes (no caso, a privação), já que diferenças por

regulações calóricas não foram encontradas.

As hipóteses levantadas para interpretar tais resultados são várias. A primeira

delas é que o protocolo de estressores pode ser responsável por uma diminuição da

palatabilidade dos estímulos. Porém, não há dados empíricos para tal hipótese, e Willner

et al (1987) dizem não poder ser afirmado nada com relação a isto. Uma segunda seria a

de que o “estresse” (ou o efeito do protocolo de estressores) impediria a habilidade dos

sujeitos de beber. No entanto, ela também é descartada, já que os consumos de água e

de solução salina se mostram pouco afetados pelo protocolo. Portanto, concluem que a

redução na preferência e na ingestão dos líquidos sacarose e sacarina “se deve à

redução de suas propriedades de recompensa, mais do que por mudanças sensoriais ou

motoras” (p. 363).

O CMS - uma discussão sobre o modelo

Diversos autores discutem a importância de estudos utilizando o CMS, já que

afirmam, entre outras coisas, que aspectos ainda pouco elucidados podem ser

esclarecidos com o uso do modelo (Argyropoulos e Nutt, 1997; Weiss, 1997;

Auriacombe, Reneric e Le Moal, 1997; De Vry e Schreiber, 1997; Porsolt, 1997).

Ao questionar a relevância de um modelo animal da depressão, Willner (1997a)

afirma que, para que se possa estudar uma alteração comportamental de forma que os

dados obtidos tenham validade, é necessário que (a) o estudo lide tanto com animais que

apresentem as alterações a serem tratadas quanto com animais que não as apresentem, e

(b) que estas alterações perdurem por certo período de tempo, para que seja possível que

um eventual tratamento a ser investigado seja aplicado.

Os estudos subsequentes que replicaram o procedimento proposto por Willner et

al, de 1987, demonstram a validade e confiabilidade do modelo.

A partir dos estudos listados em seu artigo, Willner (1997a) discute a validade

de construção teórica, a validade aparente e a validade preditiva4 do modelo.

A validade de construção teórica diz respeito à racional teórica do modelo, ou

4 A tradução dos termos foi adotada do trabalho de Dolabela (2004).

7

seja, a teoria na qual o modelo se apoia. Segundo Willner (1997a), esta validade

encontra-se presente no CMS, já que há correspondência entre a formulação teórica do

modelo e o que é produzido em laboratório.

A validade aparente diz respeito às similaridades encontradas entre o modelo

experimental e a alteração estudada (no caso, a depressão). Comparando-se algumas das

alterações presentes no CMS e o que é descrito como depressão pelo DSM-IV, é

possível encontrar as similaridades, que atestariam a validade aparente do modelo

(Willner, 1997a).

A validade preditiva, por sua vez, diz respeito à correspondência entre as

predições que podem ser feitas a partir do modelo, no laboratório, com as condições

reais a que ele se refere. Mais uma vez, o autor afirma ser o modelo válido, já que, por

exemplo, as previsões feitas quanto aos efeitos dos medicamentos em pacientes clínicos

são observadas nos sujeitos submetidos ao protocolo de estressores.

Neste artigo, o autor aborda, além dos três critérios já citados, um quarto critério,

a confiabilidade, que diz respeito à similaridade entre os efeitos produzidos em um

laboratório e em outros locais. O modelo, segundo Willner (1997a), mostrou-se também

confiável, já que, em sua revisão, afirma que diversos pesquisadores produziram os

mesmos efeitos em diversos laboratórios, mesmo contando com diferenças em alguns

detalhes do procedimento.

Mesmo assim, Willner (1997a) afirma que, em algumas das vezes em que se

aplicou o procedimento em diferentes laboratórios, os resultados esperados não foram

obtidos. Willner (1997a) levanta hipóteses sobre as possíveis variáveis responsáveis

pelas diferenças encontradas. Elas podem ser agrupadas em sete grande conjuntos: (1)

diferenças na linhagem dos animais ou diferenças no fornecedor de animais, (2)

diferenças na concentração de sacarose utilizada, (3) diferenças no momento de

realização dos testes, (4) diferenças na duração do agrupamento prévio ao experimento,

(5) diferenças na ingestão por diferenças no peso, (6) diferenças nas medidas utilizadas,

e (7) diferenças produzidas por terem sido realizados experimentos em diferentes

laboratórios.

Em primeiro lugar, diferenças de linhagem dos animais utilizados para estudos

mostraram-se, em alguns casos, determinantes das diferenças nos efeitos obtidos pela

aplicação do procedimento. Ainda, quando o fornecedor de animais para o laboratório

foi alterado, também ocorreram casos em que os efeitos não foram observados, o que

pode ser devido a diferenças genéticas (os animais serem de diferentes cepas) dentro de

8

uma mesma linhagem.

Um outro fator apontado deve-se a diferenças nas concentrações de sacarose

utilizadas. Segundo Willner (1997a), a depender da linhagem de animais, a

concentração ideal varia, o que pode interferir nos efeitos encontrados.

Em terceiro lugar, também foram observadas diferenças nos efeitos quando os

testes (medidas de ingestão e preferência) foram realizados em diferentes períodos do

dia. Então, a depender do momento, e não da condição a que estavam sendo

submetidos, a ingestão de cada uma das substâncias variava, para os sujeitos.

Como um quarto aspecto possível, a duração do período em que os sujeitos

foram mantidos junto com a mãe e os outros filhotes (antes de serem separados),

previamente ao início do experimento, também se mostrou uma variável relevante nos

resultados obtidos, tendo diferentes durações deste período demonstrado diferentes

efeitos do procedimento no comportamento de ingestão dos sujeitos. Se os sujeitos não

eram separados logo após o desmame, os resultados da submissão aos estressores

variava.

Uma quinta possibilidade para a produção de diferentes resultados foi o peso

corporal dos sujeitos. Os resultados mostraram uma relação entre os efeitos do estresse

e o peso dos sujeitos, em que quanto maior a perda de peso observada, menos o efeito

de diminuição na ingestão de sacarose foi encontrado. Ou seja, se os sujeitos perdiam

muito peso durante a exposição ao protocolo, menor era a diminuição na ingestão e na

preferência por sacarose. Além disso, a questão do peso ser relevante para a

demonstração dos efeitos foi colocada por outros autores, o que será detalhadamente

discutido quando este aspecto for descrito no presente trabalho.

Em sexto lugar, foi apontado que diferentes medidas dos efeitos do protocolo

foram usadas em diversos estudos, como a medida do valor reforçador de estimulação

intracraniana e atividade em campo aberto, ao invés das medidas ingestão e preferência

comumente utilizadas para investigar a produção de anedonia, portanto podendo ter

havido diferenças nos resultados pelo uso de diferentes medidas.

Por último, pelo fato de cada um dos estudos citados ter sido realizado em um

laboratório diferente, detalhes do procedimento podem ter sido mudados de um para o

outro e, em alguns casos, esta mudança ter sido determinante para a reprodução dos

efeitos esperados.

Com tais considerações, mesmo levando-se em conta algumas dificuldades de

reprodução dos resultados pela complexidade do procedimento, Willner (1997a) afirma

9

que o modelo CMS mostra-se válido e um dos mais confiáveis modelos da depressão.

Em 1997, um número da revista Psychopharmacology foi proposto para

discussão do CMS como modelo experimental. Willner escreveu um primeiro artigo,

supra relatado, e outros autores escreveram diversos artigos em resposta a ele. Ao final,

Willner, em resposta a esses artigos, respondeu cada uma das críticas feitas ao modelo e

o que, em sua concepção, poderia ser comentado a respeito de cada uma delas.

Moreau (1997), Di Chiara e Tanda, (1997), De Vry e Schreiber, (1997),

alegaram que o teste de ingestão de sacarose se mostrou uma medida ruim, já que

apontam haver relação dele com as alterações de peso apresentadas pelos sujeitos

submetidos ao estresse crônico. No entanto, Willner salienta que tal relação não existe,

já que estudos comprovaram não haver relação entre a diminuição de ingestão de

sacarose e a privação de alimento, mas sim entre esta perda de peso e o protocolo de

estressores.

Também apontado por alguns dos comentadores (por exemplo, Weiss, 1997) foi

o uso da medida ingestão de sacarose apenas, e não preferência de sacarose com relação

à água pura. A preferência, segundo eles, conferiria maior confiabilidade ao modelo, por

ser uma medida melhor (mais precisa) dos efeitos do protocolo, do que apenas a medida

ingestão. Porém, para Willner (1997b), há pouca diferença entre elas, sendo ambas

confiáveis, por produzirem resultados semelhantes. Sendo assim, sua opção em seus

estudos acaba por ser pela medida mais fácil de ser utilizada, que é o teste de ingestão

com apenas uma garrafa. Seu principal argumento é o de que a ingestão de água não se

altera, quando testado isoladamente da sacarose. Com isso, esta medida não seria

essencial para validar a medida dos efeitos do protocolo de estressores (anedonia),

conforme especificado por ele.

Willner (1997b), ressalta, ainda, que, mesmo não havendo diferenças

significativas entre uma medida e outra, ambas apresentam suas vantagens e

desvantagens (maior ou menor precisão na demonstração da anedonia, maior ou menor

facilidade de aplicação, entre outras). Segundo o autor, as três medidas da anedonia

comumente usadas (ingestão de sacarose, estimulação intracraniana e condicionamento

de preferência de lugar) é que garantem a consistência do modelo, já que para todas os

mesmos resultados são obtidos, e a razão de se utilizar mais frequentemente uma delas é

por sua maior facilidade de aplicação.

10

Em sua mais recente revisão do modelo, Willner (2005) fez um levantamento

dos trabalhos sobre o CMS realizados por mais de 60 diferentes grupos de estudos.

Ao descrever o modelo, afirma que, ao longo de mais de 10 anos de estudos,

foram publicados diversos estudos que replicaram o protocolo, e que demonstraram a

diminuição na ingestão e preferência por sacarose para os sujeitos submetidos aos

estressores (anedonia), além de outras alterações, para citar algumas: agressão,

mudanças no comportamento sexual e no comportamento de autocuidado.

Ao listar grande parte dos estudos publicados que utilizaram a ingestão e

preferência de solução doce (sacarose ou sacarina) como medida dos efeitos da

submissão ao protocolo de estressores, relata as semelhanças encontradas em todos os

procedimentos, mesmo que muitos deles tenham inclusive diferentes nomeações para o

protocolo: “‘estresse moderado crônico’, ‘estresse crônico moderado imprevisível’,

‘estresse subcrônico moderado imprevisível’, ‘estresse crônico ultramoderado’, e

‘estresse variado, variável crônico’” (Willner, 2005, p. 92). Além disso, reporta que,

mesmo com diferenças em detalhes do procedimento, todos os estudos relatam

diminuição na preferência ou na ingestão do líquido doce utilizado.

Alguns resultados às vezes contraditórios encontrados em alguns estudos são

atribuidos a funções de gênero, alterações endócrinas, diferentes linhagens, alterações

no estado nutricional, horário da medida (realização dos testes), entre outros, o que não

invalida o procedimento de maneira geral, como já havia sido apontado por Willner em

seus artigos de 1997 (a e b).

Outro aspecto da revisão que demonstra a confiabilidade do modelo é o fato de

que, dentre os mais de 100 estudos listados, a maior parte deles (mais de 70% dos

estudos) replicaram os resultados do autor, mesmo com diferenças em detalhes do

procedimento. Além disso, o modelo mostrou também validade, pois foi também

observada a eficácia no uso de antidepressivos para a reversão dos sintomas observados,

tendo apenas um estudo não demonstrado tal efeito, pelo pouco tempo de tratamento

realizado com os sujeitos.

Ao concluir seu artigo, Willner (2005) afirma que a consistência do modelo é

inegável, uma vez que “os efeitos do CMS são altamente replicáveis entre

laboratórios” (p. 103), atestando, portanto, a viabilidade e relevância de mais estudos

sobre ele.

Porém, ainda são formuladas algumas questões sobre aspectos considerados

pouco elucidados em relação a quais variáveis deveriam ou poderiam ser atribuidas as

11

mudanças decorrentes da submissão ao protocolo de estressores.

Com os objetivos de investigar os efeitos do peso corporal nas medidas de

ingestão de sacarose, e as possíveis diferenças nesta ingestão por diferenças na

concentração da substância, Matthews, Forbes e Reid (1995) submeteram ratos Lister ao

protocolo de estressores de Willner et al (1987).

Anteriormente à exposição ao protocolo, os sujeitos foram expostos a duas

garrafas, na gaiola viveiro, uma de sacarose a 0,9% e outra de água, por um período de

48 horas, em que o consumo era livre.

O protocolo de estressores foi implementado por 11 semanas, e os estressores

eram aplicados de forma sequencial, em ciclos de sete dias. Matthews et al (1995)

relatam não ter utilizado alguns estressores (redução da temperatura e objeto estranho),

que foram originalmente utilizados por Willner et al (1987), mas que, segundo eles,

foram também omitidos de estudos posteriores deste grupo, não comprometendo,

portanto, seu procedimento. Os estressores utilizados no experimento podem ser vistos

no Anexo 1.

Os testes de ingestão e preferência foram conduzidos, durante todo o

experimento, na gaiola viveiro dos sujeitos, e as garrafas foram contrabalanceadas a

cada teste. Previamente aos testes, os sujeitos eram privados de água e alimento por 21

horas, tanto antes quanto durante o protocolo. Durante o mesmo, este período

correspondia à implementação do estressor privação. O teste tinha a duração de uma

hora.

Além dos testes de ingestão e preferência conduzidos durante as oito semanas

iniciais de protocolo com sacarose a 0,9%, diferentes concentrações foram então

testadas: 0,7%, 2,4%, 7%, 13,6% e 34%. Cada concentração foi utilizada uma vez com

cada sujeito, sendo sua ordem de teste randomizada. Além disso, um intervalo de 48

horas entre os testes foi sempre mantido, já que neste momento a realização dos testes

não foi semanal (como durante as outras oito semanas de protocolo).

Os resultados foram que, com relação ao peso, a média dos grupos controle e

submetido ao estresse, inicialmente muito próxima, passou a diferir significativamente

após uma semana do início do protocolo. Para os sujeitos controle, o ganho de peso

continuou a ocorrer, enquanto que para os sujeitos submetidos ao protocolo o peso

quase não variou, ou seja, quase não houve ganho de peso durante este período.

A ingestão de sacarose, avaliada para a concentração 0,9% ingerida nos testes

realizados nas primeiras oito semanas de protocolo, também medida pela média para os

12

grupos, diminuiu nas semanas iniciais, mas chegou a aumentar, ao final das oito

semanas, para os sujeitos submetidos ao protocolo, enquanto que se manteve, com

poucas alterações, para o grupo controle.

Quando calculada a ingestão de sacarose com relação ao peso corporal dos

sujeitos, entretanto, não foi encontrada diferença entre o grupo submetido ao protocolo

o grupo controle. O cálculo era feito da seguinte forma: dividindo-se o peso do sujeito

pela quantidade consumida naquele teste uma razão era obtida. Então, as razões

poderiam ser comparadas, já que todas representavam números relativos, e não

absolutos. Ou seja, a ingestão de sacarose, em gramas, relativa ao peso corporal,

também em gramas, se manteve ao longo do experimento, mesmo com a submissão dos

sujeitos ao protocolo.

Com relação à preferência, foi observado um aumento para o grupo submetido

ao protocolo, principalmente nas três primeiras semanas de estressores, em comparação

aos sujeitos controle, em que a preferência se manteve.

Para as diferentes concentrações de sacarose não foram observadas diferenças

significativas entre os grupos, com relação ao consumo por grama, ao total consumido

ou à preferência por sacarose.

Matthews et al (1995) discutem, inicialmente, problemas que acreditam existir

nas medidas utilizadas em estudos com o modelo. Pelo fato de utilizarem ingestão, e

esta ser tão variável entre os diferentes experimentos, esta medida se mostra pouco

confiável, uma vez que não há consistência entre os resultados que são muitas vezes

comparados.

Porém, cabe aqui salientar que, mesmo utilizando este argumento, Matthews et

al (1995) ainda usam médias para representação dos resultados, e este questionamento

não é feito por eles. Se as medidas são tão variáveis, a média é uma forma de distorcer

mais ainda, e não deveria ser, portanto, utilizada. A variabilidade individual só seria,

portanto, um problema, pelo fato deles usarem a média.

Outro argumento levantado é o de que a preferência é uma medida muito mais

confiável do que a ingestão absoluta, e esta medida foi abandonada pelo grupo de

Willner no decorrer dos experimentos. Segundo Matthews et al (1995), a preferência

seria uma medida menos suscetível às influências de mudanças corporais e mudanças

nos padrões de ingestão.

Por terem utilizado diferentes concentrações de sacarose e, ainda assim, não

haver sido encontrada nenhuma diferença entre os sujeitos, Matthews et al (1995)

13

argumentam que não se pode afirmar nada sobre alterações na propriedade

recompensadora da substância, uma vez que a mudança na magnitude não alterou o

consumo.

Com relação ao peso corporal, Matthews et al (1995) criticam o fato de Willner

et al (1987) não terem dado conta deste aspecto. Argumentam que as mudanças no peso

são muito drásticas ao longo do procedimento e que, portanto, deveriam ser levadas em

conta na análise dos resultados. Seus resultados dão suporte ao fato de que o peso tem

papel fundamental nas alterações de ingestão. Segundo eles, é inegável que “ratos

maiores consomem mais sacarose” (p. 247), o que dá substância à afirmação de que

não é pelo estresse, mas pelas diferenças no peso corporal, que se dão as alterações de

ingestão reportadas pelos estudos com o modelo.

Finalmente, colocam que a comparação mais óbvia ainda não havia sido feita,

que seria a de implementar apenas o regime de privação do protocolo em um grupo de

sujeitos, para que se mostrasse possível a investigação da perda de peso em relação à

ingestão de sacarose. Portanto, este aspecto se mostra de extrema relevância, e por isto é

proposto como uma das variáveis a serem investigadas no presente estudo, o que será

detalhado mais adiante.

Forbes, Stewart, Matthews e Reid (1996), em estudo posterior, também colocam

que a privação é a variável crítica para a diminuição de ingestão e preferência das

substâncias doces quando há exposição ao protocolo.

No estudo realizado por eles, a relação do protocolo de estressores crônicos

moderados com a perda de peso corporal dos sujeitos foi também investigada, levando-

se em conta a hipótese de que a diminuição de ingestão observada na aplicação do

procedimento poderia ser secundária à perda de peso. Isto é, a diminuição da ingestão

de substâncias, como a sacarose, seria devida a uma diminuição na massa corpórea, e

não a alterações no valor de recompensa desses estímulos.

Quatro grupos de 20 sujeitos machos da linhagem Lister foram utilizados: um

grupo controle, não submetido aos estressores nem à privação, um grupo submetido ao

protocolo semelhante ao de Willner et al (1987), um grupo apenas de privação de

alimento, e um último grupo, em que o protocolo foi modificado, de modo a não ter

como estressores a privação de alimento e água. A distribuição dos grupos teve como

objetivo verificar se apenas a privação, e não o conjunto de estressores em si, era a

responsável pela diminuição da ingestão de sacarose.

Antes do início da aplicação dos estressores, todos os sujeitos foram expostos

14

por 48 horas a uma solução de sacarose a 0,9%, para adaptação, e o teste de ingestão e

preferência inicial foi então realizado, utilizando-se duas mamadeiras, uma com água e

outra com sacarose. Todos os testes subsequentes foram realizados da mesma maneira,

sempre após um período de 21 horas de privação de água e alimento, tal como previsto

no protocolo de Willner et al (1987). Além das condições de privação previstas para

testes, não havia nenhuma condição de privação de água nem de alimento (consumo

livre), a não ser para os grupos em que esta variável foi manipulada. Portanto, para o

grupo em que nenhuma privação foi estipulada, apenas por um período semanal de 21

horas de privação de água e alimento ocorreu durante o experimento5.

O protocolo de estressores teve a duração de seis semanas, e as medidas de

ingestão e preferência foram também realizadas durante esse período.

Os resultados encontrados mostraram relação entre a perda de peso e a

diminuição na ingestão de sacarose. Os grupos em que o peso corporal sofreu maiores

alterações (os grupos submetidos ao protocolo completo e o grupo de privação de

alimento) foram os grupos em que as maiores alterações na ingestão também ocorreram.

As diferenças entre esses grupos, porém, não foram apresentadas e, pela inspeção

gráfica dos resultados, apesar da afirmação dos autores, elas parecem não existir (as

curvas de ingestão e preferência para os grupos privação de alimento e protocolo

completo estão exatamente sobrepostas).

Para Forbes et al (1996), o fato do grupo submetido ao protocolo de estressores

modificado não ter apresentado alterações significativas na ingestão de sacarose dá

maior evidência ao papel da privação nos efeitos geralmente reportados nos estudos da

área. Ou seja, apenas a privação se mostrou suficiente para produção dos efeitos que se

afirmam ser decorrentes do protocolo completo (o que pôde ser constatado nos

resultados com o grupo em que esta variável foi isolada). Desta forma, Forbes et al

(1996) discutem que esses resultados colocam em dúvida se a variável independente é o

protocolo completo ou a privação de água e alimento, apenas.

A análise dos dados feita para discutir os efeitos dessas variáveis teve como base

a medida de ingestão de sacarose por grama de peso corporal, ou seja, uma medida

relativa do consumo em relação ao peso, assim como no estudo de Matthews et al

(1995). Portanto, a ingestão diminuida observada nos grupos privação não teria sido

5 Portanto, vale salientar que, mesmo sendo o grupo em que a privação seria isolada, ou seja, esta condição não seria imposta aos sujeitos, eles foram submetidos a um período semanal de privação.

15

devido aos estressores, mas devida à massa corporal diminuida dos sujeitos pela

restrição de acesso ao alimento e à água. Desta forma, Forbes et al (1996) afirmam ser a

diminuição de ingestão secundária à diminuição de peso, e não devido ao protocolo de

estressores a que os sujeitos foram submetidos. O grupo de sujeitos submetidos ao

protocolo completo teve resultados semelhantes, portanto, não pelo restante dos

estímulos estressores aplicados em conjunto, mas apenas pelo fato da privação estar

presente neste protocolo.

Na tentativa de esclarecer a relação do peso corporal com os efeitos do protocolo

de estressores (diferenças na ingestão de sacarose, por exemplo), o presente estudo se

propôs, também, a melhor examinar esta variável. Para isto, o peso de todos os sujeitos

do experimento foi aferido diariamente, a partir aproximadamente do 5º dia após seu

nascimento, e o controle das quantidades de alimento e água consumidos também foram

realizados.

O procedimento de manipulação neonatal, ou seja, de manipulação dos sujeitos

experimentais desde poucos dias após seu nascimento, foi avaliado levando-se em conta

os impactos que ele pode ter no comportamento dos sujeitos.

Silveira, Portella, Clemente, Bassani, Tabajara, Gamaro, Dantas, Torres, Lucion

e Dalmaz (2004), realizaram uma investigação sobre os possíveis efeitos da

manipulação neonatal no comportamento de consumo de comida (ração), ingestão de

glicose e solução salina líquidas, e consumo de comida doce dos sujeitos, já na fase

adulta. Seu estudo contou com grupos de sujeitos manipulados e não manipulados

durante o período após o nascimento, e os testes de consumo e ingestão, para todos os

sujeitos, quando adultos.

Os resultados encontrados por eles demonstram diferenças na ingestão do que

chamam de substância palatável (ou substância doce, no caso, a comida) entre ratos

manipulados e não manipulados. Os sujeitos manipulados ingeriram consideravelmente

maior quantidade da comida doce que os demais sujeitos, sendo o consumo para as

demais substâncias parecidos entre os grupos.

Com tais resultados Silveira et al (2004) afirmam que a manipulação neonatal,

considerada estressora por esses autores, produz alterações no sistema nervoso central

de ratos recém nascidos, alterações estas que persistem por toda a vida dos sujeitos.

Essas alterações, segundo eles, podem ser detectadas pelo maior consumo da comida

doce por esses sujeitos, em comparação aos sujeitos que não passaram por essas

situações.

16

Em estudo posterior, Silveira, Portella, Crema, Correa, Nieto, Diehl, Lucion e

Dalmaz (2008), novamente interessados nos efeitos da estimulação neonatal no

comportamento adulto de ratos, investigaram não somente esta estimulação, mas

também se a exposição de sujeitos a substâncias doces durante a infância, alteraria o

padrão de consumo apresentado na fase adulta.

Os resultados encontrados foram que, além da estimulação produzir as

diferenças já reportadas, a exposição à substância doce durante a infância produziria,

também, aumento no consumo dessa substância na fase adulta. Segundo Silveira et al

(2008), “é possível que ratos expostos à comida doce cedo na vida apresentem o efeito

de recompensa diminuido da ingestão de comida doce na fase adulta, precisando

ingerir maior quantidade para se sentirem melhor” (p. 881).

Em um estudo semelhante, Michaels e Holtzman (2006) investigaram a

possibilidade do abuso de substâncias na fase adulta ser advindo de condições

estressoras a que sujeitos fossem submetidos quando neonatos. Para tanto, propuseram

um estudo em que a manipulação neonatal seria realizada com os sujeitos, e a posterior

ingestão de sacarose seria avaliada.

Os resultados demonstraram haver relação entre a manipulação neonatal e a

maior ingestão de sacarose dos sujeitos na fase adulta, comparando-se sujeitos

submetidos a esta condição e sujeitos não submetidos a ela.

Portanto, esses resultados serão também aqui considerados, já que se propôs

tanto a exposição dos sujeitos à sacarose desde seu 90º dia de vida, bem como a

manipulação dos sujeitos desde aproximadamente seu 5º dia de vida.

Além disso, foram propostos grupos experimentais em que condições de

privação foram manipuladas. Alguns sujeitos foram submetidos aos estressores sem

privação, outros aos estressores com privação, e outros apenas à privação.

Com esses grupos de sujeitos, pretendeu-se avaliar se a privação, isoladamente,

produz os efeitos de diminuir ingestão e preferência de sacarose pelos sujeitos, ou seja,

se a privação, e não o conjunto completo de estressores, é responsável pela anedonia

descrita no modelo em questão.

Assim, a investigação do efeito isolado de um dos estressores do protocolo – a

privação – , do protocolo sem este estressor específico e do protocolo completo – da

interação entre os demais estressores e a privação – se tornou possível. Além disso, a

investigação dos efeitos do protocolo completo, do protocolo incompleto e apenas da

privação no peso dos sujeitos também foi realizada.

17

Investigações a respeito dos efeitos da privação no peso dos sujeitos já foram

realizadas. Tomanari, Pine e Silva (2003), por exemplo, realizaram um estudo em que

as privações hídrica e alimentar foram manipuladas, a fim de investigar os efeitos que

elas têm no peso corporal dos sujeitos. A privação imposta por eles era de quantidade

disponibilizada, ou seja, a restrição era por quantidade, e não por tempo de acesso.

Com relação aos resultados, Tomanari et al (2003) apontam que há uma relação

direta entre privação e peso corporal, ou seja, assim que é imposta uma restrição hídrica

ou alimentar ao sujeito, seu peso é reduzido. Além disso, ressaltam o fato de que

períodos de interrupção na privação podem ser responsáveis por diferenças na maneira

como o peso é recuperado pelo sujeito. Após terem passado por períodos de livre acesso

ao item privado entre períodos de privação, os sujeitos apresentaram maior dificuldade

na redução de peso, quando as restrições eram novamente impostas. Com isso, uma das

possibilidade levantada por eles foi a de que a história de privação, e não apenas a

privação momentânea, tem efeitos no ganho e perda de peso corporal dos sujeitos,

conforme será discutido no presente trabalho.

O CMS e o estudo do controle operante

Além de avaliar a privação como variável independente relevante, o presente

estudo se propôs a investigar se os efeitos desta variável poderiam ser alterados pelos

efeitos de outra variável, o controle operante.

Thomaz (2001) recorreu ao protocolo de estressores de Willner et al (1987) para

avaliar os possíveis efeitos da submissão a esses estímulos sobre o comportamento dos

sujeitos, buscando investigar se o que os autores chamavam de “sensibilidade à

recompensa” poderia ser entendido como valor reforçador de um estímulo. Partindo da

afirmação de Willner et al (1987) de que um dos efeitos do estresse moderado e crônico

sobre os sujeitos é a anedonia, definida como a perda de sensibilidade à recompensa,

Thomaz (2001) mediu também uma resposta operante de alguns de seus sujeitos

experimentais, a resposta de pressão à barra, de forma que a taxa de respostas para

obtenção de cada um dos estímulos reforçadores, água e sacarose, pudesse ser tomada

como uma medida do valor reforçador de cada um deles. Se a frequência de uma

resposta aumenta quando esta é seguida de um determinado estímulo, tal estímulo pode

ser definido, por este efeito, como estímulo reforçador. Então, alterações na taxa da

resposta poderiam refletir o valor reforçador deste estímulo.

18

Foram utilizados no trabalho 12 ratos machos e experimentalmente ingênuos,

divididos em dois grupos: sujeitos controle e sujeitos submetidos ao protocolo. Os

sujeitos submetidos ao protocolo, por sua vez, foram divididos outros dois subgrupos:

sujeitos que passariam por sessões operantes e sujeitos que não passariam por esta

condição.

O protocolo de estressores era assim composto: (a) privação de comida, (b)

inclinação da gaiola, (c) agrupamento, (d) gaiola suja, (e) barulho intermitente, (f) luz

estroboscópica, (g) exposição a uma garrafa de água vazia após um período de privação,

(h) acesso restrito à comida, (i) cheiro, (j) presença de um objeto estranho na gaiola, (l)

iluminação contínua. Este protocolo diferiu do proposto por Willner et al (1987). Não

houve exposição à temperatura reduzida (10ºC). Além disso, alguns dos sujeitos do

experimento de Thomaz (2001) diferiram dos sujeitos de Willner et al (1987) por uma

diferente história de privação de água. No estudo de Thomaz (2001), todos os sujeitos

que passaram por sessões operantes foram privados de água continuamente, para que

seu peso fosse mantido entre aproximadamente 80 e 85% de seu peso ad lib (peso

aferido quando o consumo de alimento e água era livre).

Desta forma, esses sujeitos, durante todo o experimento, e não apenas durante as

seis semanas de protocolo de estressores, passaram pela privação de água. Esta

exposição à privação pode ser relevante na produção dos resultados, já que a privação é

considerada uma variável crítica em alguns estudos já citados (Matthews et al, 1995;

Forbes et al, 1996) e, no estudo de Thomaz (2001), foi utilizada como procedimento de

manutenção do peso durante muito mais tempo do que quando apenas durante a

exposição ao protocolo de estressores.

Todos os sujeitos passaram pelos testes de ingestão e preferência, que

aconteciam da seguinte maneira: duas garrafas tipo mamadeira eram disponibilizadas,

ao mesmo tempo, para os sujeitos na gaiola viveiro, uma contendo água e outra

contendo uma solução de água com sacarose a 2%. A posição das garrafas era alterada a

cada teste, tendo sido realizados testes semanalmente, antes, durante e depois da

submissão dos sujeitos ao protocolo de estressores. A medida da ingestão e da

preferência (comparação da ingestão de um dos líquidos com o outro) era feita a partir

da quantidade restante nas garrafas, ao final do período de teste, comparando-se esta

quantidade com a inicial (de antes dos testes). Todos os testes foram realizados após

período de privação de água e alimento de 23 horas, para todos os sujeitos, mesmo os

que não passaram por protocolo ou por sessões operantes.

19

O grupo de sujeitos submetidos ao protocolo de estressores que não passou por

nenhuma sessão operante passou apenas pelos testes de ingestão e preferência de

líquidos, antes, durante e depois da exposição ao protocolo.

Para o outro grupo submetido ao protocolo de estressores, foram realizadas

também sessões operantes. Nas sessões operantes, respostas de pressão à barra foram

modeladas para todos os sujeitos do grupo, inicialmente. Em cada sessão, dois

conjuntos barra-bebedouro estavam presentes na caixa experimental, em paredes

opostas (um de frente para o outro) e a água pura foi usada como estímulo reforçador,

nesta fase inicial. A modelagem ocorreu para ambas as barras da caixa experimental (da

esquerda e da direita). Esta fase foi finalizada quando os sujeitos respondiam em ambas

as barras.

As sessões operantes passaram então a ser realizadas em esquema concorrente

água-sacarose. Esquemas concorrentes são esquemas “programados, simultaneamente,

para duas ou mais respostas” (Catania, p. 200, 1999). O esquema de reforçamento

utilizado nos componentes do esquema concorrente foi razão fixa. Um esquema de

reforçamento em razão fixa é um esquema “no qual o número de respostas por

reforçador é constante de um reforço para o outro” (Catania, p. 187, 1999).

A preferência por uma das barras – a relacionada à água e a relacionada à

sacarose – era medida pela taxa de respostas. Quando a sessão era finalizada com uma

taxa de respostas em uma das barras que indicasse preferência por esta, o lado em que

cada estímulo reforçador era liberado era trocado na sessão seguinte (ou seja, a barra

que antes correspondia à sacarose passava a ter liberação de água e vice versa). Se

houvesse preferência pela posição da barra, ou seja, o sujeito continuasse a responder

mais a um determinado lado, mesmo tendo havido a troca, a posição das barras era

mantida; se não (preferência novamente pelo estímulo, mesmo que do outro lado),

trocava-se novamente.

Essas sessões ocorreram antes da submissão dos sujeitos ao protocolo de

estressores e após o término deste. Todas as sessões duravam 60 minutos, e aconteciam

cinco dias na semana, sendo o sexto dia utilizado para o teste de preferência e ingestão

e, no sétimo dia, não eram realizadas sessões, já que os sujeitos sofriam alterações de

peso por conta dos testes6.

6 Não é especificada a quantidade da alteração em termos de porcentagem do peso.

20

Os resultados encontrados são referentes, principalmente, às diferenças entre os

dois grupos submetidos ao protocolo de estressores (o grupo que passou por sessões

operantes e o grupo que não passou por elas).

Quanto ao peso corporal dos sujeitos, Thomaz (2001) apresenta resultados que

mostram que, em comparação aos sujeitos que não passaram pelo protocolo de

estressores, todos os sujeitos submetidos a ele apresentaram perda de peso. A autora

ressalta que nenhum dos sujeitos controle, com os quais o peso dos sujeitos submetidos

ao protocolo de estressores foi comparado, passou por qualquer esquema de privação,

sendo sugerido, portanto, que este fator pode ter sido determinante na manutenção de

seu peso.

Para o grupo que foi submetido apenas ao protocolo de estressores, e não às

sessões operantes, foi verificada uma diminuição na ingestão total de líquidos (água e

sacarose) durante o protocolo, em comparação à ingestão de antes, tendo esta

diminuição se mantido após o término da exposição aos estressores. Além disso, a

preferência por sacarose apresentada pelos sujeitos antes da exposição aos estressores

diminuiu durante o protocolo. Mesmo assim, a quantidade ingerida de água não chegou

a ultrapassar a quantidade ingerida de água com sacarose, para todos os sujeitos. Após a

retirada dos estressores, esta preferência diminuida e a menor quantidade total de

ingestão se mantiveram, não voltando aos valores apresentados inicialmente (antes dos

estressores), semelhante ao que foi observado nos testes realizados durante o protocolo.

Para os sujeitos que, além de submetidos ao protocolo de estressores, tiveram

também sessões operantes antes e depois deste, foi verificada também a diminuição no

consumo total durante esta exposição. A preferência apresentou as mesmas alterações

relatadas para o outro grupo. Com o fim da exposição aos estressores e o reinício das

sessões de esquema concorrente, no entanto, aumentaram novamente a preferência por

sacarose e o consumo total de líquidos.

Quanto às taxas de respostas de pressão à barra emitidas pelos sujeitos que

passaram pelas sessões de esquema concorrente, constatou-se a preferência por água

com sacarose, já que a taxa foi superior nas barras associadas com sacarose. Mesmo

depois da submissão dos sujeitos ao protocolo, a taxa maior na barra correspondente à

sacarose se manteve.

Portanto, Thomaz (2001) afirma que a situação operante parece ter sido

determinante na recuperação dos valores de ingestão e preferência apresentados pelos

sujeitos. Para os sujeitos que passaram por esta situação, houve uma volta dos valores

21

de ingestão e preferência aos níveis que apresentavam antes da submissão dos sujeitos

aos estressores, o que não aconteceu para aqueles que não passaram por tal situação.

Sua discussão aponta para o fato de que uma situação de controlabilidade, em que o

sujeito opera sobre o ambiente produzindo as consequências, interfere nos efeitos de

uma situação de exposição aos estressores apresentados de maneira incontrolável, como

pôde ser observado em seus resultados. Mais ainda, a situação operante teria produzido,

pelo que foi observado na ingestão de líquidos pelos sujeitos, o mesmo efeito que o

medicamento antidepressivo utilizado por Willner et al (1987), a imipramina.

Uma das propostas de Thomaz (2001), ao analisar os dados de seu estudo, foi a

de que se propusesse um delineamento em que as sessões operantes ocorressem também

durante a exposição dos sujeitos ao protocolo de estressores, para investigar os efeitos

do desempenho operante sobre a submissão ao protocolo mais claramente.

Então, Dolabela (2004), também interessada nos efeitos do controle operante

sobre os sujeitos submetidos ao protocolo de estressores do CMS, propôs um

delineamento em que os sujeitos seriam expostos a um protocolo de estressores idêntico

ao de Thomaz (2001) e, ainda, submetidos às sessões operantes também durante essa

exposição, conforme havia sido sugerido por ela. Dolabela (2004) pretendia verificar se

seriam encontradas diferenças no peso corporal, no desempenho operante e na

preferência por água com sacarose em relação à água pura entre o grupo de sujeitos que

foram expostos às sessões operantes apenas antes e depois da submissão ao protocolo de

estressores e o grupo de sujeitos expostos a essas sessões antes, durante e depois dele.

Para isto, o estudo foi composto de três condições experimentais: (a) teste de

ingestão e preferência de líquidos; (b) esquema concorrente; e (c) protocolo de

estressores (assim como no estudo de Thomaz, 2001).

Foram sujeitos do experimento oito ratos da raça Mc Cowley, divididos em

quatro grupos, sendo um deles controle e três submetidos ao protocolo de estressores. O

grupo controle foi submetido apenas aos testes de ingestão e preferência. Dentre os

outros grupos, um grupo foi submetido aos testes e ao protocolo de estressores, outro

grupo foi submetido aos testes, ao protocolo, e também às sessões operantes antes e

após o protocolo de estressores, e o último grupo foi também submetido aos testes, ao

protocolo, às sessões operantes, porém não apenas antes e após, mas também durante a

exposição aos estressores.

22

Os testes de ingestão e preferência de líquidos ocorreram antes da exposição aos

estressores (pré-testes), durante a exposição e ao término desta. Todos os testes

ocorreram de forma idêntica aos testes realizados por Thomaz (2001).

O esquema concorrente envolveu duas fases, em que todas as sessões operantes

tiveram 20 minutos de duração cada. Na primeira, a resposta de pressão à barra foi

modelada e fortalecida. Na segunda fase, o esquema concorrente foi iniciado. O

procedimento adotado para as duas fases foi semelhante ao de Thomaz (2001), tendo

como única diferença a concentração de sacarose utilizada na segunda fase (8% para

Dolabela, 2004).

Para três dos sujeitos experimentais, as sessões operantes continuaram a ocorrer

durante o protocolo de estressores. Para os demais sujeitos que também foram expostos

às sessões operantes, estas aconteceram apenas antes e depois da exposição ao

protocolo.

O protocolo de estressores foi idêntico ao de Thomaz (2001) e, portanto, os

ciclos de sete dias durante seis semanas, os estressores apresentados e o esquema de

privação utilizado foram os mesmos.

Os resultados foram analisados quanto a três aspectos: perda e recuperação de

peso corporal, preferência e ingestão de líquidos e controle operante (esquema

concorrente).

Todos os sujeitos submetidos ao protocolo apresentaram perda de peso corporal,

mas para sujeitos que foram também submetidos às sessões operantes, a recuperação se

deu mais rapidamente (alguns dias antes) para todos os sujeitos, encerrado o protocolo.

Com relação à preferência e ingestão de água e água com sacarose, Dolabela

(2004) relata que, para todos os sujeitos que foram submetidos ao protocolo de

estressores, as quantidades ingeridas de ambos os líquidos apresentaram alterações, mas

nunca invertendo a preferência por sacarose, aferida antes da exposição aos estressores

(passando a ingerir maior quantidade de água do que de água com sacarose). Algumas

diferenças entre os sujeitos são apontadas por ela.

Para os sujeitos submetidos às sessões operantes antes, durante e depois da

exposição aos estressores, a redução na ingestão de líquidos parece ter sido menor do

que para os outros sujeitos (os sujeitos não submetidos a nenhuma sessão e os

submetidos às sessões apenas antes e depois). Portanto, Dolabela (2004) afirma que o

fato de terem passado por sessões operantes também durante a exposição ao protocolo

parece ter influência na ingestão total de líquidos pelos sujeitos.

23

Foi observado, como nos estudos de Thomaz (2001) e Willner et al (1987), que

houve uma redução na preferência por sacarose, para todos os sujeitos submetidos ao

protocolo de estressores, ainda que esta preferência se mantivesse. Porém, para os

sujeitos submetidos às sessões operantes antes, durante e após o protocolo, esta redução

aparece menor do que para o restante dos sujeitos.

Ao discutir seus resultados, Dolabela (2004), assim como Thomaz (2001),

aponta a hipótese que se refere à controlabilidade como fator determinante nas

diferenças encontradas entre sujeitos submetidos às sessões operantes e sujeitos apenas

expostos ao protocolo de estressores. Para ela, a controlabilidade propiciada pela

relação de contingência entre a resposta e a produção da consequência “pode ter

abrandado os efeitos da exposição aos estressores” (p. 79).

Replicando o trabalho de Dolabela (2004), Rodrigues (2005) propôs uma nova

investigação das relações entre a exposição ao protocolo de estressores e o controle

operante no comportamento dos sujeitos. Acrescentou ao estudo de Dolabela (2004)

dois aspectos: (a) medida da quantidade de alimento e água consumidos pelos sujeitos, e

(b) esquema concorrente de menor valor nas sessões operantes. Com relação ao

primeiro aspecto, tal medida propiciaria a análise da relação entre o peso, a quantidade

consumida e a exposição aos estressores. Para o segundo, caberia a análise dos efeitos

do custo de resposta (supostamente menor para menores valores da razão) envolvido

nos esquemas concorrentes.

Seus sujeitos foram 12 ratos da raça Mc Cowley, e as condições experimentais a

que foram submetidos foram semelhantes às de Dolabela (2004), tendo como diferença

a redução da razão para alguns sujeitos submetidos às sessões operantes. Seu

procedimento, também semelhante ao daquela autora, foi composto das seguintes

condições: testes de ingestão e de preferência de líquidos, sessões operantes em

esquema concorrente e protocolo de estressores.

Os resultados encontrados por Rodrigues (2005) foram também analisados com

relação ao peso dos sujeitos, à preferência e ingestão de líquidos e à submissão a

sessões de esquema concorrente por alguns dos sujeitos.

Quanto ao peso dos sujeitos, os resultados foram semelhantes aos de Thomaz

(2001) e Dolabela (2004), em relação à recuperação do peso. Para os sujeitos

submetidos às sessões operantes antes, durante e depois do protocolo de estressores,

esta recuperação foi mais rápida do que para sujeitos submetidos a essas sessões apenas

antes e depois do protocolo e, ainda, sujeitos não submetidos não voltaram ao peso ideal

24

(não houve completa recuperação). Não foram encontradas, entretanto, diferenças na

perda e recuperação de peso entre os sujeitos submetidos a diferentes valores de razão

para o esquema concorrente.

Em relação ao consumo de água e alimento serem interferentes na perda de peso,

Rodrigues (2005) aponta que, mesmo que as aferições realizadas não indiquem uma

redução importante neste consumo, o uso de privação de água e ração durante a

submissão ao protocolo pode ter provocado as alterações de peso observadas e, por isto,

não se pode afirmar seguramente sobre a relação entre os estressores e o emagrecimento

dos animais. Se os sujeitos fossem mantidos com consumo livre de água e alimento, os

resultados poderiam ser mais claros. Ele sugere, portanto, que outras medidas, com

isolamento dessas variáveis, poderiam produzir resultados mais objetivos sobre tal

relação. Levando em conta a importância desta manipulação, ela foi proposta no

presente estudo, e será melhor detalhada no procedimento.

Os testes de ingestão e preferência apresentaram semelhanças com os descritos

no trabalho de Dolabela (2004). Para todos os sujeitos expostos ao protocolo de

estressores, a ingestão total de líquidos e a preferência por sacarose diminuiram durante

este período, sendo esta mudança mantida após o término da exposição para os sujeitos

que não passaram pelas sessões operantes. Para os sujeitos que passaram pelas sessões,

a preferência e a ingestão total voltaram aos níveis iniciais, porém com diferença para

os sujeitos que passaram também pelas sessões operantes durante o protocolo de

estressores. Rodrigues (2005) afirma que, para esses sujeitos, a volta aos níveis iniciais

de ingestão e preferência se deu de forma mais rápida, sendo que para um dos quatro

sujeitos o efeito dos estressores não foi nem notado (não houve diminuição de ingestão

nem de preferência), o que ele discute também em termos de controlabilidade como

forma de evitar ou amenizar os efeitos da exposição aos estressores. Portanto, a analogia

feita, mais uma vez (levando em conta os trabalhos de Thomaz, 2001 e Dolabela, 2004)

é a de que os sujeitos que passaram em sua vida por uma situação em que seu

comportamento produz as consequências, mesmo quando submetidos também a uma

situação de estresse crônico incontrolável, são talvez “menos sensíveis” aos estímulos

que compõem o protocolo de estressores.

Quanto às sessões operantes, os resultados também corroboram os encontrados

por Thomaz (2001) e Dolabela (2004). Todos os sujeitos apresentaram maior taxa de

respostas na barra correspondente à sacarose, em praticamente todas as condições

experimentais. Houve uma redução na taxa de respostas à barra de liberação de sacarose

25

durante a exposição aos estressores, resultado este discutido por Rodrigues (2005) como

a produção de anedonia pela exposição aos estressores, conforme já descrito por

Willner et al (1987). Portanto, mesmo mantendo-se, a preferência por sacarose foi

diminuida, para todos os sujeitos expostos ao protocolo, conforme apontado pela

medida da taxa de respostas. Comparando-se esses resultados com a pergunta

inicialmente levantada por Thomaz (2001) sobre a possibilidade de chamar de valor

reforçador o que Willner et al (1987) chamaram de valor de recompensa, pode-se

afirmar, segundo o que aponta Rodrigues (2005), que as caracterizações são, pelo

menos, semelhantes, já que os autores apresentam resultados parecidos com relação às

medidas utilizadas.

Porém, conforme já observado, a volta da preferência aos níveis de linha de base

foi diferente para cada um dos grupos, e a discussão de Rodrigues (2005) mais uma vez

aponta para o fato do controle operante produzir certa “insensibilidade dos sujeitos” ou

“menor efeito” sobre eles do estresse a que foram submetidos.

Cardoso (2008), também preocupada com a relação entre o desempenho

operante e os efeitos da exposição ao protocolo de estressores, propôs uma investigação

com respeito ao tipo de esquema de reforçamento utilizado. Seu questionamento era se

existiriam possíveis diferenças nos resultados se o esquema de reforçamento fosse de

intervalo variável (VI), e não razão fixa (FR), conforme os estudos anteriores.

Foram utilizados no estudo seis ratos machos da linhagem Wistar, todos

experimentalmente ingênuos.

Um dos sujeitos foi utilizado como controle de peso, não tendo sido submetido a

nenhum dos estressores e nem à privação durante todo o experimento.

Um outro sujeito foi exposto ao protocolo, mas não passou por nenhuma

condição de privação previamente ou depois dele, sendo seu acesso à água e alimento

livre durante todo o experimento, exceto quando os estressores previstos eram

privações. Este sujeito foi proposto no trabalho para que se pudesse avaliar o

procedimento análogo ao de Willner et al (1987), em que nenhuma outra privação fosse

imposta, a não ser o que era previsto no protocolo. No presente estudo, a mesma

replicação é proposta, para o estudo da relação entre a privação e protocolo completo7.

Quatro sujeitos foram privados de água diariamente, desde o início do

experimento, e, durante o protocolo de estressores, a privação imposta foi exatamente a

7 As condições de privação e de conjunto de estressores serão melhor explicitados no método.

26

mesma utilizada por Willner et al (1987), tanto de água quanto de alimento. Isto quer

dizer que, diferente de Thomaz (2001), Dolabela (2004) e Rodrigues (2005), durante o

protocolo, o regime de privação em vigor anteriormente a ele não foi mantido, ou seja, a

privação diária de água não foi imposta, mas sim a privação prevista no protocolo

original de Willner et al (1987). Destes quatro sujeitos, dois passaram por sessões

operantes antes, durante e depois do protocolo e dois apenas antes e depois.

O estudo foi composto por condições experimentais semelhantes às de Thomaz

(2001), Dolabela (2004) e Rodrigues (2005). Inicialmente, os cinco sujeitos

experimentais foram expostos à ingestão livre de sacarose por duas sessões, e, então,

submetidos a testes de ingestão e preferência de líquidos semanalmente. Anteriormente

ao teste, os sujeitos não tinham acesso à água e alimento por 23 horas.

Além disso, quatro dos sujeitos foram submetidos antes do protocolo a 17

sessões operantes em esquema concorrente de intervalo variável água-sacarose. Durante

o protocolo, as sessões continuaram a ocorrer apenas para dois dos sujeitos, como dito

anteriormente, totalizando seis sessões (uma por semana). Após o término do protocolo,

sessões diárias continuaram a ocorrer para os sujeitos que passaram por esta condição,

num total de 15 sessões.

O esquema de reforçamento utilizado foi intervalo variável (VI), sendo iniciado

em 2 segundos, passando para 4 segundos e, finalmente, 10 segundos. Os valores eram

aumentados quando os sujeitos emitiam um maior número de respostas na barra

correspondente à sacarose por três sessões consecutivas.

Com relação ao peso corporal, Cardoso (2008) aponta que os sujeitos expostos

ao protocolo apresentaram perda de peso durante o mesmo, resultado semelhante ao de

Dolabela (2004) e Rodrigues (2005). Para os sujeitos submetidos também às sessões

operantes esta perda foi menor, principalmente para os sujeitos com operante também

durante o protocolo, comparando-se com o sujeito que não passou por essas sessões.

Além disso, para este sujeito, a recuperação do peso não ocorreu até o final do

experimento. Cardoso (2008) aponta também que, com relação ao consumo de água e

alimento, foi encontrado aumento para o sujeito submetido ao procedimento análogo ao

de Willner et al (1987) durante o protocolo, diminuindo novamente quando este foi

finalizado.

Nos testes de ingestão e preferência de líquidos, os sujeitos que passaram pela

condição operante antes, durante e depois do protocolo apresentaram preferência por

sacarose durante todo o experimento, tendo sido sua ingestão ainda maior durante o

27

protocolo. A ingestão de água foi sempre inferior à de sacarose, e foi observada uma

redução na ingestão total apenas na última semana do protocolo.

Para os sujeitos que passaram pelo operante apenas antes e depois do protocolo,

as maiores ingestões de sacarose em testes ocorreram também durante o mesmo, sendo

destacável que esta ingestão oscilou durante todo o experimento, diferindo do grupo

anterior. Mesmo assim, a ingestão de água também foi menor que a de sacarose em

todos os testes.

Um aspecto deste resultado que não fica claro na descrição chama atenção. O

consumo de água e alimento de antes, durante e depois é apresentado em médias diárias.

Pela inspeção gráfica dos dados, é possível constatar que, durante o protocolo de

estressores, o número de aferições foi menor (o que é observado pelo menor número de

pontos no gráfico, neste período). Então, mesmo consumindo em maior quantidade, os

momentos de acesso foram diferentes durante o período de exposição ao protocolo. Ou

seja, anteriormente ao protocolo, as aferições eram diárias, demonstrando que alimento

e água estiveram disponíveis durante a maior parte do tempo. Porém, durante o

protocolo, as aferições são muito menos frequentes, já que neste período as privações de

alimento e água passaram a ocorrer muito mais intensamente. Então, considerando-se o

tempo de acesso, o consumo poderia ser comparado? Se antes do protocolo o tempo de

acesso (ou dias em que o alimento e a água estavam disponíveis) era muito maior, os

sujeitos comiam em menor quantidade quando esses itens eram apresentados. Durante o

período do protocolo, os sujeitos, então, poderiam consumir mais em um único dia, já

que ficavam privados por muito mais tempo antes que pudessem ter acesso ao alimento

e à água.

Levando esses aspectos em consideração, parece necessária que uma análise do

consumo de alimento e água pelo período em que esses itens estejam disponíveis seja

feita, e o presente trabalho se propôs a isto.

Não há especificação se o sujeito submetido ao procedimento análogo ao de

Willner et al (1987) foi também privado anteriormente à realização dos testes. Para este

sujeito, a ingestão de água aumentou e a de sacarose diminuiu, durante o protocolo,

sendo a ingestão total menor nas três últimas semanas desta exposição do que no

restante do experimento. Houve também aumento da ingestão com a suspensão do

protocolo, o que pode ser observado pela inspeção gráfica dos resultados.

Para o esquema concorrente, foram realizadas 17 sessões operantes antes, seis

durante e 15 depois do protocolo.

28

Para os sujeitos que passaram pelas três condições (antes, durante e depois)

apenas para o menor valor do VI (2s) a taxa de respostas na barra correspondente à

sacarose foi maior. Com o aumento do valor do esquema (para 5s e depois para 10s), a

taxa de respostas nesta barra diminuiu, aumentando na barra correspondente à água

pura. Mesmo assim, ambas as taxas correspondentes à sacarose ainda foram maiores

que as correspondentes à água. Durante o protocolo, a taxa de respostas diminuiu mais

ainda para a barra de sacarose, passando a taxa para a barra de água a ser maior. Com a

suspensão do protocolo, esta alteração nas taxas se manteve para os dois sujeitos.

Para os sujeitos que passaram pelo operante apenas antes e depois do protocolo,

também o menor valor do VI apresentou a maior diferença na taxa de respostas entre as

duas barras (sacarose maior que água). Depois do término do protocolo, ambos os

sujeitos apresentaram sempre a preferência por água, demonstrada pela maior taxa de

respostas na barra correspondente.

Barr e Phillips (1998), também estudando a relação da taxa de respostas de

pressão à barra com a submissão ao protocolo de estressores, propuseram um

procedimento em que a razão progressiva seria usada para avaliar a anedonia

apresentada pelos sujeitos submetidos ao protocolo. As perguntas desses autores

referiam-se a dois principais pontos, a partir do uso desta medida: (1) se esta seria uma

medida mais sensível da anedonia, em comparação à medida consumatória geralmente

utilizada; e (2) se a anedonia poderia ser inferida através da medida do responder dos

sujeitos por sacarose, a partir da razão atingida (ou seja, modificações nesta razão pela

submissão ao protocolo).

Foram sujeitos do experimento 24 ratos machos, da linhagem Long-Evans.

Todos os sujeitos foram submetidos às mesmas condições experimentais. Após um

período de adaptação à sacarose a 7%8 (consumo livre), à caixa experimental (ainda sem

a barra), e ao drincômetro (os sujeitos lambiam um bico, que registrava as lambidas, na

caixa experimental, para ingerirem sacarose), a resposta de pressão à barra foi instalada,

sob esquema de reforçamento razão fixa (a cada certo número de sessões a razão foi

sendo aumentada). As sessões eram realizadas diariamente. Todos os sujeitos foram

submetidos à privação constante de água e alimento (20 horas por dia de privação de

água e alimento e, além disso, disponibilidade de 21 gramas de alimento por dia), para

manutenção de seu peso a 90% do peso ad lib.

8 Os autores afirmaram ser esta concentração a ideal, por propiciar o melhor consumo relativo por volume, comparando-se esta a outras concentrações.

29

Além do operante, testes nas gaiolas viveiro foram realizados, ao longo do

período de submissão dos sujeitos ao protocolo, e também ao final dele. Esses testes

consistiam em colocar na gaiola viveiro uma garrafa contendo sacarose, deixando-a por

uma hora e, após decorrido o tempo, retirando a garrafa e medindo a quantidade

ingerida. Os testes variaram em alguns aspectos: os primeiros foram realizados

utilizando-se sacarose numa concentração de 7%, enquanto os demais utilizaram 1%;

para alguns testes, o período de privação prévia foi de 20 horas, e, para outros testes, de

12 horas. Essas variações serão mais detalhadamente explicadas adiante.

Para o operante, após a modelagem, o esquema de reforçamento foi alterado de

razão fixa para razão progressiva (RP), passando as respostas a serem seguidas de

reforço a partir do seguinte número de emissões: 1, 3, 6, 10, 15, 20, 25, 32, 40, 50, 62,

77, 95, 118, 145. Portanto, a primeira resposta era reforçada, passando, então, a serem

exigida três respostas para a liberação do próximo reforço, seis para o próximo, e assim

sucessivamente. O número final atingido, na sequência descrita, era considerado o valor

denominado “break point” (Barr e Phillips, 1998, p. 592). Este valor era determinado

quando decorresse o período de uma hora sem que o próximo valor da razão (da

sequência) fosse atingido. O tempo de privação anterior às sessões operantes também

era de 20 horas (de água e alimento).

Todos os sujeitos passaram por seis sessões de RP, nas quais o critério de

estabilidade foi atingido por todos (três sessões em que a razão variasse

aproximadamente um break point). Após esta linha de base em que o break point foi

determinado para cada sujeito, foi iniciada a exposição ao protocolo de estressores. Os

estressores utilizados foram: (a) gaiola úmida, (b) inclinação da gaiola, (c) iluminação

contínua, e (d) barulho branco. Os estressores eram apresentados de maneira

semirrandômica, e os testes sempre eram realizados após pelo menos duas horas sem

que um estressor estivesse presente. Conforme já salientado, a privação era mantida

constante, tanto antes quanto durante e após a submissão ao protocolo, não sendo

prevista, portanto, sua implementação como estressor.

Durante os estressores, as sessões operantes foram realizadas a cada quatro dias,

começando do quarto dia de aplicação do protocolo, totalizando sete sessões (28 dias

desde o começo do protocolo). Os autores verificaram não haver diferenças no

responder dos sujeitos por sacarose a 7% em razão progressiva, ao compararem-se os

break points de antes e durante o estresse crônico. A hipótese levantada foi a de que a

magnitude do reforço (sacarose a 7%) poderia estar escondendo os supostos efeitos do

30

protocolo de estressores sobre o responder, ou seja, pela concentração ser muito alta,

seu valor reforçador não era alterado, nem após a submissão ao protocolo.

A partir daí, então, sessões de adaptação a uma nova concentração da substância

foram realizadas, em que os mesmos sujeitos do procedimento relatado anteriormente

tinham acesso livre por uma hora à sacarose a 1%. As sessões operantes subsequentes

passaram a ser semanais, pelas próximas três semanas, com a nova concentração de

sacarose.

Quando a concentração de sacarose utilizada nas sessões de RP foi de 7%,

conforme já descrito, não foram observadas alterações no break point atingido pelos

sujeitos. Ao mudar a concentração para 1%, foi observada uma diminuição nos break

points, ou seja, o valor da razão final atingida foi menor, porém para ambos os grupos, o

de sujeitos submetidos ao protocolo e o controle.

Após a investigação do responder em razão progressiva durante o protocolo, e da

ingestão de líquidos durante este mesmo período, para a privação prévia de 20 horas, foi

examinado, com os mesmos sujeitos, o efeito da privação de alimento e água no valor

reforçador da sacarose. Ao invés das 20 horas que permaneciam privados, o tempo de

acesso restrito à comida e água passou a ser de 12 horas. O protocolo de estressores

continuou em vigor, e os sujeitos foram, então, privados por este período, para a

realização testes de ingestão livre na gaiola viveiro e sessões operantes em RP.

Para esta nova condição de privação, os break points diminuiram mais ainda,

em comparação à condição anterior, e também para os dois grupos (com e sem

estressores). Para ambos os grupos, o submetido ao protocolo e o controle, as condições

de privação e concentração de sacarose foram sempre idênticas, ao longo de todo o

procedimento.

Barr e Phillips (1998) concluem, portanto, que alterações significativas na razão

final atingida são devidas a mudanças na concentração da substância (sacarose) e na

privação dos sujeitos, mas não devidas à submissão ou não dos sujeitos aos estressores,

já que não há diferenças deste grupo com relação ao grupo controle. Cabe aqui ressaltar,

porém, que os autores apresentam esses resultados como médias dos grupos, e não

como resultados individuais.

Para os testes na gaiola viveiro, com sacarose a 1%, no entanto, os animais

submetidos ao protocolo apresentaram a ingestão de sacarose menor que os animais

controle, tanto para a primeira quanto para a segunda condições de privação utilizadas

(20 horas e 12 horas, respectivamente). Para a concentração 7%, os resultados foram

31

diferentes: não houve efeito do protocolo, em comparação ao grupo controle, na

ingestão de sacarose dos sujeitos, para as duas condições de privação.

Ao discutir os resultados, Barr e Phillips (1998) afirmam que, mesmo que ocorra

diminuição da quantidade de sacarose ingerida pelos sujeitos quando são submetidos ao

protocolo de estressores, não ocorrem alterações na “quantidade de trabalho que eles

estão dispostos a realizar para receber uma quantidade fixa de uma solução de

sacarose a 1%” (p. 593). Comparando os resultados com os de Thomaz (2001),

Dolabela (2004) e Rodrigues (2005), pode-se dizer que, quando colocado numa situação

especialmente planejada para “produção” do reforço, ou seja, na situação operante

especialmente planejada, para os estudos, os sujeitos demonstraram pouca ou nenhuma

modificação do comportamento pela submissão ao protocolo de estressores.

Como afirmado por Barr e Phillips (1998), haveria, portanto, pouca ou nenhuma

alteração do que chamam de “motivação” dos sujeitos, mesmo após passarem pelos

estressores. Para eles, “trabalhar” para obter determinado estímulo é uma medida de

motivação, enquanto a medida de consumo livre é uma medida de valor de recompensa.

Portanto, seus resultados apontariam para a alteração de uma, mas não das duas

medidas.

Porém, diferente de Thomaz (2001), Dolabela (2004) e Rodrigues (2005), Barr e

Phillips (1998) parecem não levar em conta o papel do controle operante nos resultados

que obtêm. Barr e Phillips (1998) não tratam o controle operante em si como uma

possível variável independente que interage com a variável protocolo de estressores;

tratam-na, apenas, como variável dependente. Nos experimentos de Thomaz (2001),

Dolabela (2004), Rodrigues (2005) e Cardoso (2008), o controle operante foi

responsável pela não redução na ingestão de sacarose, quando os sujeitos foram

submetidos, além do protocolo de estressores, a esta condição.

Comparando-se esses resultados com os de Cardoso (2008), uma diferença se

mostra marcante: para Barr e Phillips (1998), mesmo não havendo diferenças na taxa de

respostas de pressão à barra, há diferenças na ingestão de sacarose realizada nos testes.

Para Cardoso (2008), o resultado é oposto: as alterações não ocorrem nos testes de

ingestão, mas sim na taxa de respostas. Considerando essas duas pesquisas, parece,

portanto, que o esquema operante em vigor é determinante na produção dos resultados

tanto referentes à própria taxa de respostas no esquema de reforçamento em vigor,

quanto ao comportamento de ingerir sacarose quando são realizados testes na gaiola

viveiro.

32

Levando as diferentes posições identificadas na literatura com relação ao papel

da privação no conjunto de estressores que compõem o protocolo e as possíveis

interações entre o controle operante e o protocolo de estressores na produção de

resultados que caracterizariam o CMS e, mais, as medidas utilizadas para representar

tais resultados, o presente estudo pretendeu:

a) investigar se diferenças na ingestão e preferência de líquidos são decorrentes de

algum esquema específico de privação: apenas a privação seria responsável pelas

alterações no peso, no consumo de água e alimento, na ingestão e preferência por

sacarose e na taxa de respostas de pressão à barra observadas nos estudos do CMS?; ou

todo o conjunto de estressores seria necessário para que elas sejam produzidas?

b) investigar se, a partir do arranjo de condições às quais os sujeitos são expostos

(protocolo completo, protocolo sem privação e apenas privação sem o restante dos

estressores), seria possível identificar diferenças nas medidas por conta dos sujeitos

passarem também por sessões operantes: há diferenças entre sujeitos que passam por

sessões operantes e sujeitos que não passam por essas sessões quando submetidos ao

protocolo completo? E quando submetidos apenas aos esquemas de privação do

protocolo? E quando submetidos ao protocolo sem privação?

33

MÉTODO

Sujeitos

Foram utilizados no estudo 18 ratos machos, experimentalmente ingênuos, da

linhagem Wistar, alojados individualmente a partir do desmame.

A divisão dos sujeitos foi feita em grupos experimentais, mais

pormenorizadamente descritos ao final desta sessão. Eles foram pesados diariamente, e

o consumo de água e alimento foi controlado, sendo o tempo de disponibilidade

variado, a depender do grupo ao qual o sujeito pertencia e da fase do experimento. As

condições de iluminação e temperatura às quais os sujeitos foram submetidos serão

indicadas na descrição do procedimento, por terem sido objeto de manipulação e

controle.

Equipamento

Balança. O equipamento utilizado para medida de peso dos sujeitos e do alimento foi

uma balança da marca Filizola, com precisão de 0,5 g.

Pipeta. Para medida das quantidades disponibilizadas e consumidas de água e água com

sacarose, pipetas com precisão milimétrica foram utilizadas.

Caixas experimentais. Caixas operantes, da marca Med Associates, medindo 27 cm x 28

cm x 30 cm, conectadas a uma interface para registro das sessões, foram utilizadas. As

caixas são equipadas com luz branca, uma ou duas barras (de medidas 2 cm x 4,5 cm), a

depender da fase em que os sujeitos estivessem, dispostas em paredes opostas, e um ou

dois dispositivos de entrega de reforço (água e água com sacarose), dispostos um ao

lado e abaixo de cada barra. Todas as caixas eram mantidas dentro de uma câmara de

isolamento acústico.

Estressores. Os equipamentos utilizados foram uma luz estroboscópica com regulador

de velocidade de flashes, aparelho de áudio com regulador de decibéis, serragem, 10

latas redondas com aproximadamente 7 cm de diâmetro e 1,5 cm de altura, desodorante

34

purificador de ar, timer para controle do ciclo luminoso. A ordem de apresentação dos

estressores será apresentada no item 3 do procedimento.

Gaiolas viveiro. Em cada uma delas um tipo diferente de gaiola foi utilizado, um deles

com medidas 20 cm x 25 cm x 21 cm, e o outro com medidas 20 cm x 30 cm x 21 cm.

Ambas as gaiolas eram feitas de material metálico. O primeiro tipo era especialmente

preparado para a implementação do protocolo de estressores (a prateleira de gaiolas é

própria para inclinação, um dos estressores). Além disso, caixas viveiro de material

plástico e dimensões 30 cm x 45 cm x 16 cm foram utilizadas, para alojamento dos

sujeitos para cruzamento (geração dos sujeitos do experimento) e período até o

desmame dos sujeitos experimentais.

Procedimentos

O procedimento do experimento será descrito, primeiramente, com a

apresentação das diferentes condições experimentais envolvidas e, em seguida, a

apresentação do delineamento experimental, especificando para as diferentes condições

às quais cada grupo de sujeitos foi exposto.

Condições Experimentais

1. Condição preparatória

Anteriormente ao início do experimento, alguns cuidados com os sujeitos foram

tomados. Primeiramente, o cruzamento para geração dos sujeitos experimentais foi feito

em sala isolada. O acompanhamento desta fase, bem como do momento desde o

nascimento até o desmame, merecem algumas observações.

a. Alojamento

Desde o cruzamento para geração dos sujeitos deste experimento, ratos (três

fêmeas e um macho por caixa) foram alojados em uma sala isolada, com temperatura e

ruído controlados, e mantidos nesta sala até que os sujeitos nascessem e atingissem a

idade para desmame (aproximadamente 30 dias). A caixa viveiro dos sujeitos utilizada

neste momento a caixa de material plástico, forrada com maravalha.

35

A partir de então, os sujeitos foram separados e alojados individualmente em

duas salas diferentes, ambas isoladas, em que apenas os sujeitos deste experimento eram

mantidos. Neste momento, o alojamento ocorreu nas caixas viveiro de material

metálico, sem maravalha.

A temperatura e luminosidade de ambas as salas foram controladas por exaustor

e timer, respectivamente. A temperatura foi aferida diariamente, através do uso de um

termômetro colocado dentro de cada sala, e mantida entre 20 e 25ºC, utilizando-se, para

isto, um aquecedor ou ventilador, conforme o necessário. O ciclo luminoso foi de 12

horas de claro e 12 horas de escuro, regulado por timer automático. Estas condições de

temperatura e iluminação estiveram presentes em todas as fases do experimento, exceto

durante a fase em que houve exposição ao protocolo de estressores, para a iluminação.

b. Cuidado materno

Duas caixas, com três ratas fêmeas e um rato macho em cada, foram utilizadas

para cruzamento. Após 10 dias, os machos foram retirados, e 10 dias depois, foi feita a

separação das seis fêmeas em três caixas. Aproximadamente um mês depois os ratos

que seriam sujeitos desta pesquisa nasceram.

Da quantidade de sujeitos nascidos, muitos não sobreviveram, o que pode ser

observado pelo registro do número de ratos por caixa na Tabela 1.

Tabela 1. Número de ratos por caixa, desde o nascimento até o dia em que não ocorreram mais

mortes.

Início 01-05 02-05 03-05 04-05 05-05 06-05 07-05

Caixa 1 20 - - 20 20 19 19 18

Caixa 2 20 18 17 15 14 14 14 14

Caixa 3 22 22 22 21 21 21 21 21

Total 62 60 59 56 55 54 54 53

Mais nenhuma morte a partir de então

Na caixa 2, claramente uma mãe cuidava mais dos filhotes do que a outra. Esta

mãe foi, então, marcada, e passou-se a acompanhar se esta observação se confirmava.

Com o passar dos dias, sempre que a pesagem ia ser realizada, o ninho estava de um dos

lados da caixa, e esta mãe amamentava todos os filhotes. Como nesta caixa foi possível

identificar claramente quais ratos pertenciam a qual ninhada (muitos dias de vida de

diferença), pôde ser constatado que a mãe cuidava não somente dos filhotes dela, mas

36

dos da outra mãe também. Interessante também a observação de que, assim que cada

filhote era pesado, a mãe buscava-os diretamente da mão da experimentadora, o que não

foi feito nenhuma vez pela outra mãe. Coincidentemente ou não, esta foi a caixa que

apresentou o maior número de mortes de recém nascidos, em comparação com as outras

duas caixas. Além disso, as mães não comeram todos os filhotes que morreram (alguns

foram encontrados mortos na caixa), o que aconteceu nas outras duas caixas.

Com aproximadamente 20 dias de vida dos filhotes, as mães da caixa 2

pareceram estar dividindo mais os cuidados de amamentação, o que era visível no

momento da pesagem. Além disso, os filhotes já estavam comendo ração, visto que a

quantidade de ração disponibilizada diminuiu muito, considerada a quantidade

normalmente consumida pelas duas ratas mães. Pode ser que, justamente pelo fato de

haver menos ratos para amamentar, e menos amamentação a ser feita, a segunda mãe

passou a ocupar esta função (os ratos precisavam de menos cuidados, já que já estavam

se alimentando por ração).

Similarmente, na caixa 1, uma das mães cuidava mais dos filhotes do que a

outra. Porém, parecia ser menos “cuidadora” do que a mãe da caixa 2. Esta mãe

demorava um pouco para pegar os filhotes e colocá-los no ninho, após a pesagem.

Nesta caixa 1, no entanto, no mesmo período, não houve divisão similar à da

caixa 2. A mesma rata era a que sempre estava amamentando os filhotes, a outra

permanecendo sempre sozinha do lado oposto da caixa.

Na caixa 3, ambas as mães faziam ninhos e cuidavam dos filhotes. Todas as

vezes em que a pesagem ia ser realizada, havia dois ninhos, um em cada canto da caixa,

com uma mãe em cada um deles.

Concluindo, pareceu que, quando as ratas dividiram o cuidado dos filhotes na

caixa, a taxa de mortalidade foi menor, visto a comparação entre a quantidade de

animais nascidos e sobreviventes em cada caixa. Além disso, com aproximadamente 20

dias de vida os ratos começaram a alimentação por ração e água, mesmo notando-se

ainda que a amamentação continuava para muitos deles, o que era observado no

momento da pesagem.

Na Tabela 2 é possível identificar de qual das três caixas cada um dos sujeitos

experimentais é proveniente. A descrição da identificação dos sujeitos será feita no

procedimento específico para cada grupo.

37

Tabela 2. Identificação da caixa de origem de cada um dos sujeitos experimentais.

Caixa 1 Caixa 2 Caixa 3

Sujeitos PIO, PAG, PAL

PCO1, PCO2, PCO3, PC1,

PC2, PC3, PI1, PI2, PI3

APO1, APO2, APO3,

AP1, AP2, AP3

c. Manipulação dos sujeitos

Desde dois a cinco dias de vida de todos os sujeitos, a pesagem foi realizada

diariamente. Inicialmente, como não era possível a distinção por sexo, todos os sujeitos

eram marcados e pesados. A marcação acontecia com solução violeta genciana 1%

Nalgon®, e cada sujeito de cada caixa era marcado em um ou mais lugares do corpo,

para sua identificação. A marcação era feita diariamente também, visto que as mães

lambiam os filhotes, e a marcação saía em boa parte.

Como o alojamento dos sujeitos era feito em caixa com maravalha,

permanecendo duas mães e seus filhotes em cada uma, era utilizada uma segunda caixa

no momento da pesagem. As mães eram primeiramente mudadas de caixa, e os sujeitos

eram pesados um a um, sendo então alojados junto às mães. Para a pesagem, a

experimentadora e um eventual auxiliar seguiam este procedimento: luvas de látex eram

colocadas, e as mãos enluvadas eram esfregadas na maravalha em que os ratos estavam,

para diminuir a possibilidade de que qualquer cheiro estranho ficasse nos ratos, o que

acreditava-se poder causar rejeição deles pelas mães. Uma quantidade de maravalha

também era colocada na balança, e os ratos não entravam diretamente em contato com

nenhum objeto que não a própria maravalha onde estavam.

Este procedimento todo durava aproximadamente 20 minutos para cada caixa,

sendo este, portanto, o período máximo que um filhote poderia permanecer diariamente

longe de sua mãe.

Um outro fator importante a ser salientado é que esses sujeitos, diferente dos

sujeitos utilizados nos experimentos sobre CMS realizados no mesmo laboratório aqui

citados, foram manipulados diariamente desde muito novos, muito antes do desmame.

Ambos os fatores, separação materna e manipulação, serão abordados com

maiores detalhes na sessão de resultados.

38

2. Acesso livre a alimento e água

Nesta condição, todos os sujeitos tiveram acesso livre a água e alimento, e seu

peso foi aferido diariamente. Foram medidas as quantidades de água e alimento

consumidas por cada sujeito, e a fase foi encerrada quando todos atingiram

aproximadamente 90 dias de vida, idade considerada adequada para o início de qualquer

procedimento de privação.

3. Testes de ingestão e preferência de líquidos

Para todos os sujeitos do experimento, os testes de ingestão e preferência de

líquidos foram realizados semanalmente. Os testes consistiram em expor os sujeitos, na

gaiola viveiro, a duas mamadeiras, uma contendo água e outra contendo água com

sacarose a 2%9. Após um período de uma hora, as mamadeiras eram retiradas, e a

quantidade consumida era medida, comparando-se os conteúdos de antes e depois do

teste em cada mamadeira (conteúdo restante do disponibilizado inicialmente).

A cada teste, os lados de apresentação das mamadeiras foram alternados. Desta

forma, diminuía-se a possibilidade de que o sujeito preferisse um lado, e não um dos

líquidos. Além disso, as garrafas eram sempre colocadas na mesma ordem:

primeiramente a da esquerda e, em seguida, a da direita. Desta forma, também o

momento de colocação foi alternado a cada teste.

Esses testes foram realizados antes do início, durante e depois do término do

protocolo de estressores. No total, 21 testes foram realizados, sendo 12 antes, seis

durante e três depois do término do protocolo.

4. Protocolo de estressores

O protocolo de estressores utilizado na presente pesquisa é similar ao de Willner

et al (1987), e é composto dos seguintes estressores:

a. inclinação da gaiola: a gaiola viveiro é inclinada em 30º para trás,

permanecendo assim por 7 ou 17 horas.

9 Esta concentração foi utilizada por ter sido verificada por Thomaz (2001) como a concentração suficiente para que os sujeitos ingerissem preferencialmente sacarose em relação à água.

39

b. luz estroboscópica: uma luz estroboscópica, localizada no chão da sala, que

dispara 300 flashes por minuto, era ligada por 2 ou 7 horas.

c. privação de comida: o alimento era retirado da gaiola, e os sujeitos

permaneciam em privação por períodos variados, de 24 a 43 horas.

d. privação de água: a água era retirada da gaiola, e os sujeitos permaneciam em

privação por períodos variados, de 17 a 44 horas.

e. gaiola suja: serragem molhada com água era colocada no chão da gaiola, e a

gaiola permanecia suja por 17 horas.

f. barulho intermitente: um ruído branco intermitente de 85 decibéis era ligado,

permanecendo por 3 ou 5 horas.

g. agrupamento: dois sujeitos eram colocados em uma mesma gaiola, tanto na

gaiola originalmente de um quanto na do outro, ou seja, a cada agrupamento da dupla, a

gaiola de um dos dois sujeitos era utilizada, por 17 horas.

h. objeto estranho na gaiola: um objeto de metal redondo de 7 cm de diâmetro e

1,5 cm de altura era colocado na gaiola viveiro e deixado por um período de 17 horas.

i. cheiro: um desodorante purificador de ar era colocado na sala, ficando lá por

17 horas. Por tratar-se de um desodorante de duração aproximada de 30 dias, a

intensidade do cheiro permanecia por todo o período.

j. iluminação contínua: a luz da sala permanecia acesa por até 19 horas seguidas.

l. garrafa de água vazia: exposição a uma garrafa de água vazia por uma hora,

após período de privação de água.

m. acesso restrito à comida: três pelotas de 1 grama, espalhadas pela gaiola

viveiro do sujeito, sendo disponibilizadas aos sujeitos após um período de privação de

comida.

Comparando-se com o protocolo de Willner et al (1987), apenas o estressor

temperatura reduzida (a temperatura da sala é diminuída para 10ºC) não foi utilizado

neste experimento, por dificuldades de sua aplicação no biotério do laboratório de

Psicologia Experimental da PUC-SP. Pelo fato de outros estudos, como por exemplo

Thomaz (2001), Dolabela (2004), Rodrigues (2005) e Cardoso (2008) (citados na

introdução) não terem utilizado este estressor e, mesmo assim, terem produzido

resultados semelhantes aos de Willner et al (1987), foi considerado que sua retirada do

protocolo implementado não traria prejuízos especiais ao presente estudo. Uma tabela

40

com o detalhamento dos estressores utilizados em cada estudo citado encontra-se no

Anexo 1.

Cada estressor era apresentado por um determinado período de tempo,

alternando-se com os outros, num ciclo de sete dias, durante seis semanas. Em

intervalos entre estressores, as sessões operantes foram realizadas para alguns sujeitos.

Os testes de ingestão e preferência por sacarose também ocorreram durante o período de

implementação do protocolo de estressores.

5. Sessões operantes

Todos os sujeitos que passaram pela condição operante passaram pelo

procedimento aqui denominado de “variação e seleção”. Neste procedimento, os

sujeitos eram colocados na caixa experimental, e o equipamento ficava ligado em modo

automático, de forma que qualquer resposta de pressão à barra ativava o mecanismo e,

desta forma, produzia o reforço. Nesta fase, foi utilizada água como estímulo

reforçador.

Após a aquisição da resposta de pressão à barra, sessões de fortalecimento da

resposta foram realizadas com cada sujeito, até que todos obtivessem o mesmo número

de reforçadores nesta condição.

Todas as sessões operantes foram realizadas em um horário específico, e todos

os sujeitos eram transportados para a sala experimental, mesmo os que não passavam

pelas sessões, a fim de isolar a interferência de variáveis como transporte e local de

alojamento durante esses períodos. A ordem de transporte e de sessão foi randomizada a

cada semana.

Além disso, a quantidade média de sacarose consumida pelos sujeitos que

passavam por sessões operantes era disponibilizada para os demais sujeitos, para que a

ingestão de sacarose nestas condições, em si, não se tornasse uma variável

possivelmente interferente, à qual apenas alguns dos sujeitos tivessem sido expostos.

O esquema de reforçamento utilizado foi idêntico ao de Thomaz (2001),

Dolabela (2004) e Rodrigues (2005). Então, após o fortalecimento da resposta em uma

barra, a segunda barra foi colocada na caixa, sendo então dispensada para pressões nesta

segunda barra a água com sacarose como estímulo reforçador. O esquema de

reforçamento para cada uma das barras foi gradualmente aumentado de CRF para FR2

e, depois, para FR4.

41

A cada duas sessões consecutivas em que houvesse preferência por uma das

barras, elas eram alternadas na sessão seguinte. Assim, quando um sujeito respondia

com frequência mais alta em uma das barras por duas sessões, na sessão subsequente

era feita a alternação, ou seja, o reforço que era liberado para pressões em uma delas

passava a ser liberado para pressões na outra. Após uma alternação, em que o sujeito

ficasse duas sessões com esta nova posição das barras, respondendo com preferência a

uma delas, a razão era aumentada.

As sessões foram realizadas semanalmente, no horário em que não havia

nenhum estressor programado. Cada sessão teve a duração de uma hora ou 200 reforços,

o que ocorresse primeiro.

A linha do tempo representada na Figura 1, semelhante à encontrada em

Tomanari et al (2003), sumariza todas as condições do experimento, em relação aos dias

de vida dos sujeitos experimentais.

Figura 1. Linha do tempo com indicação dos principais eventos ocorridos durante o estudo.

Delineamento experimental

Três arranjos diferentes de condições experimentais foram realizados no

presente estudo. Todos os três arranjos têm em comum a exposição dos sujeitos às três

primeiras condições descritas; eles diferiam entre si com relação ao protocolo de

estressores ao qual os sujeitos foram expostos e pela realização ou não de sessões

operantes; essas diferenças é que caracterizam os diferentes grupos de sujeitos

experimentais. Os arranjos, então, podem ser assim denominados e descritos:

Dias 1 2 5 28 32 57 88 89 91 119 122 169 211 236

Gaiolas individuais

Início aferição consumo

Início privação Início operante

Início testes

Ausência de aferição de consumo

Início pesagem

Protocolo de estressores

Fim do estudo

Nascimento

42

a. Protocolo completo

Neste arranjo, seis sujeitos foram submetidos ao protocolo de estressores supra

descrito. Desses seis sujeitos, três passaram também por sessões operantes.

Com aproximadamente 88 dias de vida, após passarem pelas condições

preparatória e de acesso livre à alimento e água, para os seis sujeitos, dois períodos de

privação semanal (de água e alimento) estiveram em vigor: 23 horas antes dos testes e

26 horas antes das sessões operantes; isso ocorreu durante 12 semanas anteriores ao

protocolo e durante as quatro semanas após seu término. Essas privações correspondem

aos períodos de terça-feira às 16 horas à quarta-feira às 15 horas e de domingo às 11

horas à segunda-feira às 13 horas. Durante o período de exposição ao protocolo, além

desses períodos de privação, os sujeitos foram submetidos aos demais períodos de

privação previstos no protocolo.

A Tabela 3 sumariza o protocolo de estressores completo, sua ordem de

apresentação e os momentos de realização dos testes e das sessões operantes. A célula

hachurada corresponde a uma hora de realização do teste.

Tabela 3. Distribuição dos estressores a cada hora do dia, pelos dias da semana, ao longo de uma semana (um ciclo).

Horas QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA

1 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/ Objeto estr

Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/

Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja

2 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/ Objeto estr

Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/

Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja

3 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/ Objeto estr

Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/

Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja

4 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/ Objeto estr

Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/

Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja

5 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/ Objeto estr

Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/

Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/

Gaiola suja

6 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/ Objeto estr

Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/

Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja

7 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/ Objeto estr

Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/

Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja

8 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/

Objeto estr Priv alimento/ Agrupamento Cheiro

Priv alimento e água/ Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/

Gaiola suja

9 Priv água/ Iluminação cont/ Priv alimento e água/ Objeto estr

Priv alimento/ Agrupamento Cheiro

Priv alimento e água/ Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/

Gaiola suja

10 Priv água/ Iluminação cont Priv alimento e água/ Objeto estr

Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/

Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja

11 Priv água/ Garr Vazia/ Luz estrobo

Priv alimento/ Inclinação Priv alimento/ Acesso restrito Priv alimento e água Priv alimento e água/

Iluminação cont Luz estrobo Priv alimento e água

12 Luz estrobo Priv alimento/ Inclinação Priv alimento/ Acesso restrito

Priv alimento e água Priv alimento e água/ Iluminação cont Luz estrobo Priv alimento e água

13 Luz estrobo Priv alimento/ Inclinação Barulho interm Priv alimento e água Operante Priv alimento e água

14 Luz estrobo Priv alimento/ Inclinação Barulho interm Priv alimento e água Priv alimento e água

15 Luz estrobo Priv alimento/ Inclinação Barulho interm Priv alimento e água Priv alimento e água

16 Luz estrobo Priv alimento/ Inclinação Barulho interm Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água/ Barulho int

17 Luz estrobo Priv alimento/ Inclinação Barulho interm Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água/ Barulho int

18 Priv alimento e água/ Objeto estr

Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/

Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja

Priv água/ Iluminação cont/ Barulho int

19 Priv alimento e água/ Objeto estr

Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/

Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja Priv água/ Iluminação cont

20 Priv alimento e água/ Objeto estr

Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/

Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja Priv água/ Iluminação cont

21 Priv alimento e água/ Objeto estr

Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/

Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja Priv água/ Iluminação cont

22 Priv alimento e água/ Objeto estr

Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/

Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja Priv água/ Iluminação cont

23 Priv alimento e água/ Objeto estr

Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/

Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja Priv água/ Iluminação cont

24 Priv alimento e água/ Objeto estr

Priv alimento/ Agrupamento Cheiro Priv alimento e água/

Iluminação cont Inclinação Priv alimento e água/ Gaiola suja Priv água/ Iluminação cont

43

44

b. Protocolo incompleto (sem privação)

Neste arranjo, quatro sujeitos foram submetidos, com aproximadamente 169 dias

de vida, ao protocolo de estressores supra descrito, com exceção de três estressores:

privação de alimento, privação de água e acesso restrito a alimento. Dos quatro sujeitos

nesta condição, um passou também por sessões operantes10.

Para três desses sujeitos, anteriormente ao início do protocolo, nenhuma

condição específica esteve prevista, além das três primeiras descritas (preparatória,

acesso livre e testes). Para o quarto sujeito, além das condições citadas, foram realizadas

sessões operantes, no mesmo período em que tais sessões ocorriam para os sujeitos de

outros arranjos também submetidos a elas.

Não foi planejada nenhuma condição para ocupar os períodos do protocolo

destinados à privação de água e/ou de alimento ou ao acesso restrito a eles.

A Tabela 4 sumariza o protocolo de estressores para esses sujeitos, sua ordem de

apresentação e os momentos de realização dos testes (célula hachurada) e das sessões

operantes.

10 Por ser proposto que o sujeito passasse por sessões operantes sem nenhuma privação prévia, esta condição teve apenas um sujeito a título exploratório.

Tabela 4. Distribuição dos estressores a cada hora do dia, pelos dias da semana, ao longo de uma semana (um ciclo).

Horas QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA

1 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja

2 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja

3 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja

4 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja

5 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja

6 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja

7 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja

8 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja

9 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja

10 Iluminação contínua Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja

11 Garrafa Vazia/ Luz estrobo

Inclinação Iluminação contínua Luz estrobo

12 Luz estrobo Inclinação Iluminação contínua Luz estrobo

13 Luz estrobo Inclinação Barulho interm Operante

14 Luz estrobo Inclinação Barulho interm

15 Luz estrobo Inclinação Barulho interm

16 Luz estrobo Inclinação Barulho interm Barulho interm

17 Luz estrobo Inclinação Barulho interm Barulho interm

18 Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja Iluminação cont/ Barulho interm

19 Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja Iluminação contínua

20 Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja Iluminação contínua

21 Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja Iluminação contínua

22 Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja Iluminação contínua

23 Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja Iluminação contínua

24 Objeto estranho Agrupamento Cheiro Iluminação contínua Inclinação Gaiola suja Iluminação contínua

45

46

c. Apenas privação

Para os seis sujeitos deste arranjo, além das condições iniciais (preparatória e

acesso livre), os períodos de privação de água e alimento prévios ao operante e ao teste

de ingestão e preferência também foram realizados a partir de aproximadamente 88 dias

de vida dos sujeitos. Então, também para estes sujeitos, durante as 12 semanas

anteriores ao protocolo e durante as quatro semanas após seu término, dois períodos de

privação semanal estiveram em vigor: 23 horas antes dos testes e 26 horas antes das

sessões operantes.

Neste arranjo, com aproximadamente 169 dias de vida, os seis sujeitos foram

submetidos apenas à privação de água e de alimento do protocolo de estressores supra

descrito. Portanto, passaram por todos os períodos de privação, tanto de água quanto de

alimento, previstos no protocolo, mas não pelo restante dos estressores. Desses seis

sujeitos, três passaram também por sessões operantes.

A Tabela 5 sumariza os períodos de privação durante as seis semanas em que os

sujeitos passaram pelas condições de privação do protocolo, sua ordem e os momentos

de realização dos testes e das sessões operantes. Para os demais períodos, em que outros

estressores estariam em vigor, nenhuma condição foi programada.

Tabela 5. Distribuição dos períodos de privação a cada hora do dia, pelos dias da semana, ao longo de uma semana (um ciclo).

Horas QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA

1 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água

2 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água

3 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água

4 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água

5 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água

6 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água

7 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água

8 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água

9 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água

10 Priv água Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água

11 Priv água Priv alimento Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv alimento e água

12 Priv alimento Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv alimento e água

13 Priv alimento Priv alimento e água Operante Priv alimento e água

14 Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água

15 Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água

16 Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água

17 Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água

18 Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água

19 Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água

20 Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água

21 Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água

22 Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água

23 Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água

24 Priv alimento e água Priv alimento Priv alimento e água Priv alimento e água Priv água

47

48

d. Privação específica

Dois sujeitos foram submetidos ao arranjo privação específica, um deles à

privação de água e outro à privação de alimento. Esses dois sujeitos, com 169 dias de

vida, foram submetidos a condições de privação similares às do grupo “apenas

privação”, porém, um deles foi submetido apenas aos períodos correspondentes à

privação de água e o outro, apenas aos períodos correspondentes à privação de alimento.

Previamente a este período, também para esses sujeitos, os dois períodos semanais de

23 e 26 horas foram implementados, para um deles apenas de água e, para o outro,

apenas de alimento.

Dada a variedade de condições e de arranjo de condições e, neste caso, de

grupos experimentais correspondentes, uma nomeação será aqui proposta para os

sujeitos submetidos a cada um dos arranjos, para que o relato dos resultados se torne

mais claro.

Os sujeitos do primeiro arranjo, protocolo completo, terão duas nomenclaturas

possíveis: protocolo completo com operante (PCO) ou apenas protocolo completo (PC).

Os sujeitos do arranjo apenas privação serão nomeados apenas privação com

operante (APO) ou apenas privação (AP).

Os sujeitos do arranjo protocolo incompleto, da mesma forma, terão dois tipos

de nomenclatura: protocolo incompleto com operante (PIO) ou apenas protocolo

incompleto (PI).

Os sujeitos do arranjo privação específica serão nomeados, respectivamente,

privação água (PAG) e privação alimento (PAL).

A Tabela 6 sumariza as condições e os nomes dos sujeitos do experimento.

49

Tabela 6. Divisão dos sujeitos pelos arranjos das condições experimentais.

Sujeitos Protocolo/ Privação Operante

Sujeito PCO 1

Sujeito PCO 2 Arranjo a

Sujeito PCO 3

Protocolo completo (com privação) Operante Antes, durante e

depois

Sujeito PC 1

Sujeito PC 2 Arranjo a

Sujeito PC 3

Protocolo completo (com privação) Sem operante -

Sujeito PI 1

Sujeito PI 2 Arranjo b

Sujeito PI 3

Protocolo incompleto (sem privação) Sem operante -

Arranjo b Sujeito PIO Protocolo incompleto (sem privação) Operante Antes, durante e

depois

Sujeito APO 1

Sujeito APO 2 Arranjo c

Sujeito APO 3

Apenas privação (sem protocolo) Operante Antes, durante e

depois

Sujeito AP 1

Sujeito AP 2 Arranjo c

Sujeito AP 3

Apenas privação (sem protocolo) Sem operante -

Sujeito PAG Privação específica de água - - Arranjo d

Sujeito PAL Privação específica de alimento - -

50

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para analisar os dados obtidos, serão levadas em conta as três variáveis

independentes aqui manipuladas: (a) o protocolo de estressores, (b) a produção de

determinadas consequências por determinada classe de respostas, em esquema de

reforçamento concorrente vista, aqui, como exposição à controlabilidade, e (c) a

privação, bem como a interação entre elas nos efeitos observados nas variáveis

dependentes (o comportamento esquema concorrente, a ingestão e preferência por

sacarose e, ainda, o consumo de água e alimento e o peso corporal dos sujeitos).

Os resultados estão divididos em sessões, em que os efeitos observados em cada

uma das variáveis dependentes são descritos, levando-se em conta as medidas utilizadas

para lidar com cada uma delas.

1. Peso e consumo de água e alimento

Desde aproximadamente cinco dias de vida, todos os sujeitos foram pesados

diariamente, conforme já descrito. Desta forma, a evolução do peso desses sujeitos pôde

ser acompanhada desde muito cedo, e em todas as etapas do experimento. A Figura 2

mostra a curva de peso dos sujeitos, pela sua idade (dias de vida), ao longo de todo o

experimento.

51

Figura 2. Peso corporal de todos os sujeitos do experimento, pelos dias de vida de cada sujeito.

As três linhas pontilhadas representam, aproximadamente e respectivamente, o período em que

se iniciou a primeira condição de privação (para os sujeitos dos grupos PCO, PC, APO, AP, e

sujeitos PAL e PAG), o período correspondente ao início do protocolo de estressores (para os

sujeitos PCO, PC, PI, PIO) ou início da segunda condição de privação (para os sujeitos AP,

APO, PAL e PAG) e o fim destes períodos.

Na Figura 2 é possível identificar que, antes do início de qualquer procedimento

de privação, o peso dos sujeitos é muito próximo, e a inclinação das curvas é muito

semelhante. O ganho de peso é menos acentuado até o 20º dia de vida, quando a

inclinação passa a ser muito maior, ou seja, os sujeitos passam, a partir de então, a

ganhar muito mais massa de um dia para o outro do que ganhavam até este dia. Mesmo

sendo possível identificar, já neste momento, diferenças entre os sujeitos, é a partir do

60º dia, aproximadamente, que essas diferenças se tornam mais visíveis.

Assim como no experimento de Tomanari et al (2003), realizado com ratos da

mesma linhagem, este período inicial (até o 20º dia) é marcado por uma menor

aceleração no ganho de peso. Dois aspectos relevantes podem ser aqui destacados:

quantidade de sujeitos por caixa e tipo de alimentação. Por haver vários sujeitos em

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

600

1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161 171 181 191 201 211 221 231 241

Peso (g)

Dias de vida

52

cada caixa, a amamentação de cada um deles poderia ser reduzida; a partir do momento

em que a amamentação deixa de ser a única fonte de alimentação (os sujeitos passam a

se alimentar também de ração), o ganho de peso se torna mais pronunciado.

Tomanari et al (2003) também atribuem esta diferença de ganho de peso nos

períodos citados ao fato dos sujeitos estarem agrupados, ou seja, muitos sujeitos no

mesmo ambiente e, portanto, menor disponibilidade de alimentação para cada um deles,

já que eram amamentados neste período. No presente experimento, o mesmo fator pode

ser apontado: é também a partir do momento em que os sujeitos passam a se alimentar

de ração e água que passam a ganhar maior peso. Além disso, a observação do

comportamento das mães em cada caixa permite algumas afirmações.

Conforme já salientado no procedimento descrito no presente trabalho, o fato de

uma mãe apresentar menos cuidado com os filhotes pode ter sido relevante no ganho de

peso deles, por tratar-se de duas ninhadas por caixa e, portanto, duas mães em cada uma

delas. Como a maioria dos sujeitos experimentais foram provenientes da caixa 2, em

que isto acontecia com maior frequência, esta afirmação se mostra possível.

É interessante notar, na Figura 2, que os sujeitos nascem com pesos muito

semelhantes, e que a evolução deste peso também se dá de maneira muito semelhante, o

que pode ser visto na inclinação das curvas, do primeiro ao vigésimo dia,

aproximadamente. Ainda assim, com o passar dos dias, os pesos se tornam muito

diferenciados, e alguns sujeitos se tornam muito mais “pesados” do que outros.

A partir da primeira linha pontilhada, para os sujeitos dos grupos PC (protocolo

completo, com e sem operante), AP (apenas privação, com e sem operante), e para os

sujeitos PAG (privação de água) e PAL (privação de alimento), dois períodos de

privação por semana se iniciaram neste momento. Para os sujeitos do grupo PI

(protocolo incompleto, com e sem operante), nenhuma privação ocorreu em nenhum

momento do experimento.

A partir da segunda linha pontilhada, o período de exposição ao protocolo de

estressores é iniciado para os sujeitos dos grupos PCO e PC. Para os sujeitos dos grupos

APO e AP e para os sujeitos PAL e PAG, essa linha indica o início da condição de

privação idêntica à do protocolo (para os dois últimos, apenas de alimento e de água,

respectivamente).

Para os sujeitos do grupo protocolo incompleto (com e sem operante), as duas

últimas linhas indicam o período de exposição ao protocolo, este sem nenhuma

condição de privação em vigor.

53

É possível observar, na Figura 2, que as diferenciações entre os pesos dos

sujeitos começam a aparecer quando a primeira condição de privação é imposta. Neste

momento, é possível observar que esta condição produz efeitos no peso dos sujeitos: a

aceleração das curvas é modificada, passando alguns sujeitos a ganhar menos peso do

que vinham ganhando até então. Portanto, pode-se afirmar que a privação, na primeira

condição em que é colocada aos sujeitos (dois períodos por semana), altera o ganho de

peso corporal. Conforme salientado, nem todos os sujeitos passaram por esta condição,

sendo possível observar, desta forma, que nem todas as curvas mostradas na Figura 2

apresentam a alteração descrita. O peso referência foi calculado levando-se em conta a

porcentagem de aumento de peso diária deste sujeito. Esta porcentagem foi aplicada ao

peso de cada sujeito antes do início da privação, e assim o cálculo foi feito.

No segundo momento, quando o período de exposição ao protocolo é iniciado,

mais uma vez é notada diferenciação entre os sujeitos. Esta diferenciação é também

possivelmente devida às diferenças nas condições a que os sujeitos foram submetidos

neste momento. Tanto o protocolo completo quanto a segunda condição de privação

parecem produzir impacto no peso dos sujeitos: é apenas o peso dos sujeitos do grupo

PI que não sofre alterações semelhantes neste período, sendo as curvas mantidas, de

uma forma geral, em aceleração constante (indicadas por setas). Mesmo assim, é

possível notar que, das curvas indicadas (peso desses sujeitos), há algum momento do

protocolo em que há uma queda no peso, que acaba sendo recuperada, porém sem trazer

o peso para a mesma altura que ele estava antes (as terceira e quarta curvas, de cima

para baixo): essas curvas terminam abaixo da altura que tinham quando iniciado o

protocolo.

Também o sujeito PAG, durante esta condição, não apresenta desaceleração no

peso. No entanto, seu peso oscila ao longo de todo o período. O peso deste sujeito é

indicado pela terceira seta na Figura 2.

Para os demais sujeitos, tanto os submetidos ao protocolo completo quanto os

submetidos apenas à privação, há alterações maiores durante este período.

Um ponto importante a ser salientado é a escolha do peso do sujeito PI2 para

cálculo do peso referência para os demais sujeitos, peso este que será apresentado ao

longo da descrição dos resultados. O peso deste sujeito corresponde à segunda linha na

Figura 2, de cima para baixo. Como é possível observar nesta Figura, o peso do sujeito

PI2 sofreu poucas alterações ao longo do experimento, e teve ganho constante até o

final das aferições. Este peso se parece muito com peso de sujeitos controle, que não são

54

submetidos às condições experimentais, e por isso serviu para o cálculo da estimativa de

ganho de peso para os demais sujeitos, que passaram pelas condições. O peso referência

foi calculado levando-se em conta o ganho de peso deste sujeito. A porcentagem de

aumento de peso diária deste sujeito foi aplicada ao peso de cada sujeito antes do início

da privação, e assim o cálculo foi feito.

As diferenças observadas entre os sujeitos em cada uma das condições a que

foram submetidos, destacadas aqui, é que fazem com que a análise dos resultados leve

em conta as diferentes manipulações propostas em cada um dos grupos. Os efeitos de

privação isoladamente, protocolo sem privação e ambos em conjunto (protocolo

completo) no peso corporal e no consumo de alimento e água serão, a partir de agora,

descritos em detalhes, já que essas variáveis se mostram relevantes nas alterações

observadas e foram, desta forma, separadas para análise.

a. Grupos apenas privação (com e sem operante)

Os sujeitos do grupo apenas privação foram divididos em sujeitos expostos ao

esquema de reforçamento concorrente (APO1, APO2, APO3) e sujeitos não expostos a

esta condição (AP1, AP2, AP3). Estes sujeitos passaram por duas condições de

privação, durante todo o experimento. Durante 12 semanas, na primeira condição, os

sujeitos foram submetidos a dois períodos de privação semanais. Depois, na segunda

condição, durante seis semanas, a uma alteração no esquema de privação, tornando-a

idêntica à do protocolo de estressores. Ou seja, mesmo não sendo submetidos a nenhum

dos outros estímulos programados no protocolo (ex., agrupamento, iluminação contínua,

objeto estranho na gaiola), as privações de água e alimento previstas nele foram

estipuladas para esses sujeitos. Concluida esta condição, novamente os dois períodos de

privação semanais vigoraram por novas três semanas, e, então, o experimento foi

encerrado. Portanto, para esses sujeitos, a variável descrita como crítica por Matthews et

al (1995) e Forbes et al (1996) no conjunto de estressores foi isolada, para investigação

de seus efeitos.

Um primeiro aspecto deve ser salientado com respeito ao regime de privação

aqui imposto. Os sujeitos não eram privados para que seu peso fosse mantido numa

faixa específica de peso, em relação ao peso ad lib. Portanto, a restrição era unicamente

imposta para que se pudesse avaliar, separadamente, os efeitos da privação, do

protocolo completo ou do protocolo incompleto. Desta forma, o regime restritivo difere

55

de outros aqui reportados, como os de Thomaz (2001), Dolabela (2004) e Rodrigues

(2005) e Tomanari et al (2003). Nos três primeiros, o regime de restrição era realizado

por tempo de acesso ao item restrito (no caso, água). Então, os sujeitos tinham acesso à

água por um certo período de tempo por dia. Em Tomanari et al (2003), com objetivos

semelhantes aos desta pesquisa com relação ao peso, a restrição era por quantidade: uma

determinada quantidade de um dos itens era disponibilizada por dia para os sujeitos.

Para todos, era mantido o acesso livre ao item não restrito (assim como no presente

experimento, para os sujeitos da condição privação específica – PAL e PAG).

Desta forma, qualquer comparação com esses estudos aqui colocada deverá levar

em conta ambas as diferenças: (a) o objetivo da restrição (explorar efeitos de determina

restrição ou atingir e manter determinado peso) e (b) o procedimento de restrição

(tempo de acesso diário ou quantidade disponível).

Na Figura 3 é possível observar o peso dos sujeitos dos grupos APO e AP

durante todo o experimento. Na coluna da esquerda estão os pesos dos sujeitos APO1,

APO2 e APO3, grupo que passou pelas duas condições de privação descritas e por

sessões em esquema concorrente, e na coluna da direita o peso dos sujeitos AP1, AP2 e

AP3, grupo que passou apenas pelas duas condições de privação. Conforme já descrito,

as linhas pontilhadas na Figura 3 indicam início de diferentes condições de privação

(primeira condição de privação e segunda condição de privação – início e término).

Na Figura 3, é possível observar que, desde o início da privação, o peso dos

sujeitos sofre alterações por conta desta condição. Para todos os sujeitos, assim que o

início da privação ocorre (após primeira linha pontilhada), a curva de peso apresenta

desaceleração com relação ao que vinha ocorrendo até então. Mesmo assim, como pode

ser observado na linha de tendência, não há, ao final desta primeira condição de

privação, para nenhum dos sujeitos, perda de peso corporal. Ao contrário, parece haver,

no final, um pequeno ganho de peso. Isto pode ser mais nitidamente observado para os

sujeitos APO3, AP2 e AP3.

56

Figura 3. Peso corporal dos sujeitos dos grupos APO e AP, durante todo o experimento. A linha

mais espessa representa a tendência, a linha contínua menos espessa o peso real e a linha

pontilhada o peso referência. As linhas verticais pontilhadas indicam, respectivamente, início da

primeira condição de privação, início da segunda condição de privação e final desta.

Na segunda condição de privação, ou seja, quando a privação passa a ser maior,

correspondendo à privação prevista no protocolo de estressores, o peso apresenta queda,

o que não havia acontecido antes. Vale aqui notar que a frequência dos períodos de

privação, nesta condição, passa a ser muito maior. Na Tabela 7 é apresentada uma

comparação entre os períodos de privação de água e de alimento para antes e depois e

para durante o período equivalente ao protocolo, por semana. O intervalo entre os

períodos é apresentado levando-se em conta o tempo decorrido entre o primeiro período

reportado e o período subsequente, e assim por diante.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

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550

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1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161 171 181 191 201 211 221 231

0

50

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150

200

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300

350

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1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161 171 181 191 201 211 221 231

0

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350

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500

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600

1 16 31 46 61 76 91 106 121 136 151 166 181 196 211 226

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

600

1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161 171 181 191 201 211 221 231

0

50

100

150

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350

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1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161 171 181 191 201 211 221 231

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

600

1 16 31 46 61 76 91 106 121 136 151 166 181 196 211 226

APO1

APO2

APO3

AP1

AP2

AP3

Peso (g)

Dias

57

Tabela 7. Total de horas semanais dos períodos de privação a que os sujeitos eram submetidos e

intervalo entre os períodos, nas duas condições de privação.

Antes e depois Durante

Total de horas

semanais Períodos

Intervalo entre os períodos

Total de horas

semanais Períodos

Intervalo entre os períodos

Privação água

49 horas 2 períodos (23 e 26 horas)

141 horas 86 horas 4 períodos (23, 20, 17, e 26 horas)

1 (teste), 6, 48 e 27 horas

Privação alimento

49 horas 2 períodos (23 e 26 horas)

141 horas 92 horas 3 períodos (24, 43 e 26 horas)

26, 22 e 27 horas

Portanto, a queda de peso apresentada pelos sujeitos durante a segunda condição

de privação (correspondente à privação do protocolo) pode ser atribuida a um dos

quatro fatores ou ao conjunto deles: (1) à duração total da privação durante uma

semana, que aumenta; (2) ao número de períodos de privação, que também aumenta; (3)

à duração de cada um deles (igual ou maior do que dos anteriores); e (4) aos intervalos

entre os períodos, que diminui.

Isto ocorre também para os sujeitos APO3, AP2 e AP3, sujeitos que vinham

ganhando peso na fase anterior do experimento. A queda menos notável ocorre para o

sujeito AP1, que parece ganhar peso no início dessa condição, apresentando ligeira

queda após este momento.

Outro aspecto importante a ser salientado, observando-se a Figura 3, refere-se à

semelhança entre os sujeitos que passaram por sessões em esquema concorrente e os

sujeitos que não passaram por esta condição. Mesmo havendo uma pequena diferença

entre os sujeitos APO3, AP2 e AP3 e os demais sujeitos com relação ao ganho de peso,

não há diferenças que possam ser atribuidas a esta condição, visto que um desses

sujeitos passou pelas sessões e outros dois não passaram. Portanto, pode-se afirmar que

as sessões em esquema de reforçamento concorrente não parecem interagir com a

condição de privação, modulando ou alterando os efeitos dessa condição, com relação

ao peso corporal.

Se for dado destaque às alterações de peso diárias apresentadas pelos sujeitos,

torna-se possível observar que, mesmo nos momentos de pequena variação na

58

inclinação da curva, alterações são notadas. Esta observação se aplica a todos os sujeitos

aqui apresentados (grupos APO e AP). Na Figura 4, correspondente ao peso do sujeito

APO3, a partir do início da privação, essas oscilações podem ser observadas.

250

300

350

400

450

500

550

88 98 108 118 128 138 148 158 168 178 188 198 208 218 228

Figura 4. Peso corporal do sujeito APO3, a partir do início da privação. As linhas pontilhadas

indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação.

Na Figura 4, é possível notar que, mesmo aumentando durante a primeira

condição de privação, o peso do sujeito APO3 sofre quedas e recuperações muito

frequentes. Mais interessante ainda é observar que, mesmo sofrendo quedas por conta

dos períodos de privação, a recuperação do peso se dá de maneira mais expressiva do

que sua perda, fato este a que pode ser atribuida a aceleração notada durante esta fase do

experimento. Durante a segunda condição de privação, quando os períodos de privação

ocorreram com maior frequência, é possível observar uma maior oscilação no peso.

Nesta condição, a recuperação do peso também ocorre após a queda, mas não é notada

aceleração durante toda a condição. Este fato pode ser devido ao tempo que o sujeito

tinha para recuperar o peso antes que um novo período de privação fosse iniciado (dada

a frequência com que os sujeitos eram privados). No entanto, as recuperações, nessa

condição de privação, parecem ser maiores do que as que ocorriam antes, o que pode ser

observado pela rapidez com que a curva atinge a altura referente ao peso anterior à

privação (ou até mesmo superior a este).

Dias

Peso (g)

59

As diferenças entre perda e recuperação de peso para as diferentes condições de

privação, e os diferentes períodos em cada condição, para o sujeito APO3, podem ser

observadas na Figura 5.

Figura 5. Porcentagem de redução do peso corporal após cada período de privação (painel da

esquerda) e porcentagem de recuperação de peso após aproximadamente vinte e quatro horas de

interrupção da privação (painel da direita), durante as duas condições de privação, para o sujeito

APO3.

É possível observar, na Figura 5, que há, na segunda condição de privação, um

aumento tanto na redução quanto na recuperação de peso. Desta forma, se há aumento

nos dois casos, levanta-se uma dúvida: como o peso apresenta perda, ao final desta

condição, para todos os sujeitos? Pode ser que, mesmo recuperando-se mais, o peso

final não atingisse o equivalente ao que foi perdido, em termos de porcentagem, já que o

cálculo aqui apresentado leva em conta as perdas e recuperações com relação ao dia

anterior. Ou seja, mesmo recuperando-se de um dia para o outro, o peso não conseguia

atingir o valor inicial, anterior ao início da segunda condição.

Se apresentados os valores de perda e recuperação do peso com relação ao peso

inicial (anterior à segunda condição de privação), isto pode ser notado.

Na Figura 6, os valores de perda de peso e recuperação de peso, para o sujeito

APO3, durante a segunda condição de privação, são apresentados, levando-se em conta

o peso do sujeito no dia anterior ao início desta condição.

0

2

4

6

8

10

12

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

24 horas

19 horas

24 horas privação alimento

0

2

4

6

8

10

12

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

Após 24 horas

Após 19 horas

Após 24 horas privação alimento

Porcentagem

Semanas

60

-20

-16

-12

-8

-4

0

4

8

12

16

20

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

Perda

Recuperação

Figura 6. Valores percentuais de perda e recuperação de peso do sujeito APO3, para as seis

semanas da segunda condição de privação, levando-se em conta o peso do sujeito anteriormente

a esta condição. As linhas pontilhadas indicam o início e o fim desta condição. Os demais

valores apresentados (da primeira condição de privação e do retorno a ela, ou seja, das semanas

1 a 13 e 20 a 22) se mantêm idênticos aos da Figura 5.

Pode ser observado na Figura 6 que, mesmo recuperando-se diariamente,

conforme mostrado na Figura 5, o peso, durante a segunda condição de privação, sofre

perdas consideráveis e, com relação ao peso anterior a esta condição, a recuperação não

chega a ocorrer. Portanto, mesmo apresentando uma recuperação diária no peso maior

do que anteriormente ao segundo período de privação, pelo fato da perda ser também

maior neste período, a curva de peso ao final demonstra queda, e não aumento.

Além das mudanças no peso corporal observadas para este período, mudanças

no padrão de consumo dos sujeitos também são notadas. Essas mudanças podem ser

analisadas levando-se em conta a Figura 7. Nela são apresentados o consumo total dos

sujeitos para o período de uma semana e a média de consumo diário, de alimento e de

água, desde o início da aferição11.

11 A partir do 57º dia de vida dos sujeitos, as aferições de consumo de água e alimento foram iniciadas para todos os sujeitos. Os dados de consumo de água só puderam ser utilizados a partir do 79º dia, já que, por problemas de vazamento nas mamadeiras, as aferições dos dias anteriores não foram precisas.

Porcentagem

Semanas

61

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

Alimento

Água

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

0

50

100

150

200

250

300

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

0

50

100

150

200

250

300

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26

0

50

100

150

200

250

300

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26

0

50

100

150

200

250

300

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26

0

50

100

150

200

250

300

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26

0

50

100

150

200

250

300

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26

Figura 7. Média do consumo diário água e alimento dos sujeitos dos grupos APO e AP,

calculados semanalmente, a partir do início da aferição (painéis da esquerda). Quantidades

consumidas de água e alimento por semana, para os mesmos grupos, a partir do início da

aferição (painéis da direita). As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira

condição de privação e início e fim da segunda condição de privação.

Semanas

Média (g ou ml) T

otal (g ou ml)

APO1

APO2

APO3

AP1

AP2

AP3

62

O consumo médio diário foi calculado levando-se em conta a disponibilidade do

alimento e da água. Então, se o alimento e a água estivessem disponíveis por três dias

na semana, somavam-se as quantidades consumidas e dividia-se por três. O consumo

semanal foi calculado somando-se a quantidade de alimento e de água consumidos ao

longo de uma semana, não importando quantos dias de disponibilidade tivessem havido

naquela semana.

Como é possível observar na Figura 7, o consumo médio de alimento, para todos

os sujeitos, aumenta durante o período de privação mais intensa. No entanto, o consumo

total diminui, também para todos eles, voltando aos valores próximos aos anteriores a

este período apenas quando ele termina.

Desta forma, pode-se dizer que, mesmo consumindo uma quantidade maior em

um menor período de tempo (aumento na média), os sujeitos consumiam menos

alimento no total. Isto quer dizer que, mesmo consumindo em maior “velocidade”, o

total consumido não chegava aos valores anteriores a este período, o que pode ser

responsável pela perda de peso observada.

Para o consumo de água, no entanto, não há tanta consistência entre os

consumos dos sujeitos com relação às alterações em cada condição. A média consumida

aumenta para todos eles, com exceção do sujeito APO1, durante a segunda condição de

privação. O total consumido, por sua vez, não apresenta um padrão de mudança, como

observado para o consumo de alimento: há queda, pelo menos inicialmente, para os

sujeitos APO1 e APO3; para os sujeitos APO2, AP1, AP2 e AP3, o consumo total se

mantém nas primeiras semanas de privação mais intensa, caindo apenas depois deste

período.

Levando esses resultados em consideração, e comparando-se com peso dos

sujeitos neste período, é possível afirmar que, considerando as mudanças no padrão de

consumo observadas, as alterações no peso dos sujeitos são produtos mais de alterações

no consumo de alimento do que das alterações no consumo de água.

De acordo com os resultados aqui encontrados para os grupos que foram

submetidos apenas à privação, dentre o conjunto de estressores do protocolo, pode-se

afirmar que a privação foi responsável por alterações no peso e no padrão de consumo

dos sujeitos, mesmo nas diferentes condições em que esteve em vigor (maior ou menor

frequência e duração dos períodos de privação em uma semana). Quanto a esta

afirmação, algumas colocações podem ser feitas: (a) períodos de privação infrequentes

(duas vezes por semana) alteram o peso, mas permitem que os sujeitos ganhem massa

63

durante esta condição (o que pode ser visto na aceleração da curva de peso durante este

período); (b) períodos de privação mais frequentes alteram de maneira mais

significativa o peso, fazendo com que os sujeitos não ganhem massa, mas sim

apresentem peso inferior ao que tinham antes (peso cai durante essa condição, em

relação à anterior); e (c) quanto mais frequentes os períodos de privação, maiores são as

alterações no padrão de consumo, principalmente de alimento, passando os sujeitos

privados a consumirem em maior “velocidade” do que o faziam anteriormente (ou seja,

assim que o alimento era disponibilizado, o sujeito comia muito mais do que na situação

anterior).

b. Sujeitos da condição privação específica (PAL e PAG)

Os sujeitos desta condição passaram por períodos de privação idênticos aos

períodos a que os outros sujeitos do experimento foram submetidos, no entanto, apenas

de um dos itens cada um: água ou alimento. Portanto, em todos os períodos em que os

demais sujeitos estiveram privados de água, o mesmo ocorreu com o sujeito PAG

(privação de água); em todos os períodos em que os demais sujeitos estiveram privados

de alimento, o mesmo ocorreu com o sujeito PAL (privação de alimento). Assim, as

duas condições de privação dos sujeitos PAG e PAL tiveram variação idêntica à dos

sujeitos AP e APO, porém, apenas para uma das privações específicas, água e alimento,

respectivamente.

Com a proposição desses sujeitos, foi possível comparar diferenças possíveis

relativas à qualidade da privação.

Algumas comparações entre os sujeitos PAL e PAG podem ser feitas,

principalmente considerando as possíveis diferenças entre eles, pelas diferentes

privações a que foram submetidos.

Entre os sujeitos PAL e PAG, a primeira comparação a ser feita é com relação

ao seu peso corporal. Vale lembrar que os sujeitos passaram por restrição hídrica ou

alimentar desde o início da privação para os demais sujeitos, ou seja, também passaram

pela primeira condição de privação (porém, neste caso, específica). Na Figura 8 estão os

pesos de ambos, PAG e PAL.

64

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

600

1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161 171 181 191 201 211 221 231

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

600

1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161 171 181 191 201 211 221 231

Figura 8. Peso corporal dos sujeitos PAL e PAG, durante todo o experimento. A linha mais

espessa representa a tendência, a linha contínua menos espessa o peso real e a linha pontilhada o

peso referência. As linhas verticais pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira

condição de privação, início da segunda condição de privação e volta à primeira condição de

privação.

É possível observar que o peso dos sujeitos parece muito semelhante até o início

da primeira condição de privação. A partir de então, muitas diferenças são encontradas

entre eles. Mesmo com oscilações após o início do regime de privação, o peso do sujeito

PAG apresenta aceleração durante todo o tempo, ficando muito próximo do peso

referência (peso provável que o sujeito atingiria se não fosse privado). No final do

PAG

Dias

Peso (g)

PAL

65

experimento, inclusive, seu peso real ultrapassa o peso referência. O peso do sujeito

PAL, no entanto, apresenta oscilações muito semelhantes ao que acontece com os

demais sujeitos, que foram privados de ambos, comida e água. Assim que a restrição é

iniciada, no 89º dia do estudo, seu peso começa a apresentar desaceleração no ganho,

atingindo a maior queda durante a segunda condição de privação, ou seja, fase em que

os períodos de privação se tornam mais frequentes.

No estudo de Tomanari et al (2003), é relatado o aumento no peso, quando água

e comida passam a ser novamente disponibilizados livremente, após um período em que

os sujeitos vinham sendo privados de um dos dois. Os dados mostrados no estudo

apontam que, mesmo tendo passado por um período de privação, quando esta é

suspensa, o peso dos sujeitos retorna a valores iguais ou até maiores que o peso anterior

ao início da privação. Ou seja, ultrapassando o ganho, no mesmo período, de peso dos

sujeitos não privados de nenhum item (sujeitos controle).

Para o sujeito PAL, este fenômeno parece ocorrer de maneira um pouco distinta.

Após o início da privação, este sujeito não mais passou por nenhuma semana em que

ficasse com acesso total e irrestrito ao alimento. Mesmo assim, após o início da segunda

condição de privação, o ganho de peso do sujeito é maior do que vinha ocorrendo até

então, mesmo passando ainda por períodos privação de alimento. Após o término a

segunda condição, na volta à primeira condição, este ganho continua ocorrendo. Este

período se assemelha ao que Tomanari et al (2003) descreveram para seus sujeitos: um

ganho maior que o que ocorria antes e maior do que para os sujeitos controle (o que

equivaleria, aqui, ao peso referência).

Para o sujeito PAG, ao contrário, no período correspondente à segunda condição

de privação parece ocorrer uma maior inclinação da curva em relação à primeira

condição de privação. Este fato pode ser bem observado ao se olhar para a curva de

tendência.

Além das diferenças na evolução de peso dos sujeitos durante as condições de

privação, diferenças no padrão de consumo também são observadas. A quantidade total

de água e alimento consumidas pelos sujeitos, ao longo de todo o experimento, são

mostradas na Figura 9.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

Alimento

Água

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

0

50

100

150

200

250

300

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

0

50

100

150

200

250

300

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

Figura 9. Média do consumo diário água e alimento dos sujeitos PAG e PAL, calculados semanalmente, a partir do início da aferição (painéis superiores).

Quantidades consumidas de água e alimento por semana, para os sujeitos PAG e PAL, a partir do início da aferição (painéis inferiores). As linhas pontilhadas

indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação e início e fim da segunda condição de privação.

Semanas

Média (g ou ml)

Total (g ou ml)

PAG PAL

66

67

Na Figura 9, é possível observar que o padrão de consumo durante todo o

experimento é muito diferente para os dois sujeitos.

Para o sujeito PAG, privado apenas de água, tanto a média quanto o consumo

total de alimento se mantêm constantes, durante todo o experimento. O total consumido

de água por semana também não parece sofrer alterações marcantes durante o

experimento, sendo notadas as maiores oscilações no início das aferições, um pequeno

aumento na primeira semana da segunda condição de privação e um aumento maior, na

terceira semana após a volta à primeira condição de privação, seguido de uma queda

(volta a valores próximos aos anteriores).

A média, no entanto, sofre alterações muito maiores durante a segunda condição

de privação. Há um aumento muito grande do consumo de água durante cada período

em que a água está disponível, o que se assemelha aos resultados já descritos para

outros sujeitos que passaram pela privação, mesmo que dos dois itens. O que ocorre é

que, mesmo tendo água disponível por menos tempo, quando ela é apresentada, o

sujeito consome muito mais em muito menos tempo, o que faz com que o consumo total

permaneça inalterado, mas a média suba marcadamente. Assim, pode-se afirmar que o

consumo total não diminuiu justamente por conta deste aumento no consumo médio:

apenas “compensando” os períodos de privação com um aumento no consumo, o sujeito

conseguiu manter o consumo total estável, ao longo das semanas de maior privação.

Para o sujeito PAL, privado apenas de alimento, o aumento no consumo médio

deste item, durante a segunda condição de privação, também é muito alto, como pode

ser observado no painel superior da Figura 9. A cada semana, esta média aumenta,

chegando a seu valor mais alto na última semana desta condição, decrescendo

novamente, quando o sujeito volta para a primeira condição de privação. O consumo

médio de água, no entanto, apresenta uma leve queda durante a segunda condição de

privação, voltando a aumentar após seu término.

Porém, mesmo com o aumento no consumo médio, este sujeito não mantém o

consumo total, o que é notado pela diminuição observada para o período correspondente

à segunda condição de privação, no painel inferior da Figura 9. Parece que, mesmo

consumindo mais comida em menores períodos de tempo, o sujeito não consome o

suficiente para “compensar” os períodos de privação e, além disso, tais alterações no

consumo de alimento são acompanhadas por uma queda no consumo médio e total de

água.

68

É interessante notar que, mais nitidamente para o sujeito PAG, não há

diminuição no consumo de um item pela privação do outro. Uma pequena queda no

consumo de água é observada para o sujeito PAL, quando a privação de alimento se

torna mais intensa.

Analisando os resultados, um primeiro ponto pode ser levantado: há, certamente,

diferenças nos efeitos de privação de água e privação de alimento. A privação de

alimento parece ser o fator mais importante se, por exemplo, for considerado o peso dos

sujeitos: oscilações no peso do sujeito PAL, privado de alimento, são muito próximas

das oscilações no peso dos sujeitos privados de ambos os itens. O peso do sujeito PAG,

privado apenas de água, no entanto, fica muito mais próximo do peso dos sujeitos não

privados de nenhum dos dois itens.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

600

1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161 171 181 191 201 211 221 231 241

Figura 10. Peso corporal de todos os sujeitos do experimento, pelos dias de vida de cada sujeito.

As duas curvas em destaque representam o peso dos sujeitos PAG e PAL. As três linhas

pontilhadas representam, aproximadamente e respectivamente, o início da primeira condição de

privação, e o início e término da segunda condição de privação.

Na Figura 10, são destacadas as curvas de peso dos sujeitos PAG e PAL, com

relação aos demais sujeitos do experimento. Com isso, fica nítida a diferença do

impacto de cada uma das privações no peso dos sujeitos.

A curva mais alta em destaque se refere ao peso do sujeito PAG, e a mais baixa

(mais próxima às demais curvas de sujeitos também submetidos a privações), ao peso

Dias

Peso (g)

69

do sujeito PAL. Conforme já salientado, é notada diferença entre a evolução de peso dos

sujeitos durante cada condição de privação.

A partir dos resultados obtidos, algumas afirmações podem ser feitas: a variável

aqui manipulada – a privação de alimento (neste caso, uma determinada programação

de períodos com e sem alimento disponível) produziu duas mudanças: (a) uma no

comportamento do sujeito – o padrão de consumo e (b) outra em seu peso. Os

resultados obtidos para o sujeito PAL são comparáveis ao que ocorreu para os sujeitos

APO e AP, indicando que a privação de alimento, e não a privação em geral, foi a

variável crítica na produção de tais resultados.

Assim, essas diferenças demonstram que, ao se programar um experimento em

que uma determinada privação seja utilizada para manutenção do peso dos sujeitos

abaixo do valor ad lib, para a condução de sessões operantes, por exemplo,

possivelmente a privação de água, para que esse resultado de diminuição no peso seja

obtido, deverá ser muito mais intensa do que a privação de alimento.

c. Grupos protocolo incompleto (com e sem operante)

Os sujeitos do grupo protocolo incompleto (PI1, PI2, PI3 e PIO) passaram por

todos os estressores previstos no protocolo, exceto as privações de água e alimento.

Portanto, antes e depois da exposição ao protocolo, nenhuma condição específica esteve

prevista, a não ser os testes de ingestão e preferência por sacarose e as sessões operantes

(para um dos sujeitos).

Com este grupo de sujeitos, mais uma vez a investigação do papel da privação

no conjunto de estressores foi proposta. Se os efeitos previstos do protocolo fossem

dependentes da privação como parte do conjunto estressores, este grupo de sujeitos

permitiria tal avaliação. Na Figura 11 é possível observar o peso dos sujeitos deste

grupo.

70

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

600

1 1121 314151 617181 91101111121131141151161171181191201211221231

0

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1 16 31 46 61 76 91 106 121 136 151 166 181 196 211 226

Figura 11. Peso dos sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO, durante todo o experimento. A linha mais

espessa representa a tendência, e as linhas pontilhadas indicam, respectivamente, o início e final

do protocolo de estressores.

O peso referência não foi calculado para os sujeitos que passaram pela condição

protocolo incompleto, já que ele se referia ao peso que os sujeitos teriam, caso não

passassem por nenhuma condição de privação. Isto aconteceu com todos os sujeitos

deste grupo, e por isto esse cálculo não foi feito para eles. Para esses sujeitos, apenas a

linha de tendência é colocada.

Algumas mudanças de peso ocorrem durante todo o experimento. Porém,

diferente do que ocorre para os grupos APO e AP, são oscilações menores, menos

frequentes, mantendo-se, durante todo o experimento, a aceleração nas curvas; ou seja,

o ganho de peso, mesmo sofrendo alterações localizadas, parece ter sido contínuo. Na

maioria dos casos, essas oscilações podem ser atribuidas a eventuais diminuições nos

consumos de água e alimento. Por exemplo, do dia 141 para o dia 142, o sujeito PIO

teve uma redução de peso de 415,5 g para 403 g, tendo ingerido neste período apenas

15,5 g de alimento, uma quantidade de alimento muito abaixo da média de seu consumo

diário. Porém, essas alterações não são específicas do período do protocolo de

estressores para nenhum dos quatro sujeitos. Portanto, observando-se apenas a Figura

PI2 Peso (g)

Dias

PI1

PIO PI3

71

11, parece não haver relação entre o protocolo de estressores incompleto (sem privação)

e alterações no peso dos sujeitos. Mais do que isto, parece não haver relação entre

nenhum estressor específico e a redução no peso dos sujeitos.

Para melhor avaliar esta relação, o peso durante as seis semanas de exposição ao

protocolo foi examinado. Com relação a este período, diferenças no peso de um dia para

o outro, se observadas, poderiam ser atribuidas a algum estressor específico. Levando

em conta esta possibilidade, o peso em cada dia da semana, nas seis semanas de

protocolo, pode ser visto na Figura 12.

Figura 12. Peso corporal dos sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO, durante o protocolo de estressores,

pelo dia da semana, nas seis semanas de duração do protocolo.

Observando a Figura 12, é possível perceber que, pelo menos para o sujeito PI1,

há um dia na semana em que seu peso parece sofrer alterações diferentes dos demais

dias. Na segunda-feira, comparando-se as barras das semanas 1, 2, 4 e 6, com as barras

dessas mesmas semanas para os demais dias, o peso do sujeito é menor. Neste dia, o

estressor implementado foi a iluminação contínua (iniciada no domingo). Portanto,

parece haver relação entre a perda de peso e este estressor, pelo menos mais nitidamente

para o sujeito PI1. Além deste sujeito, também para os sujeitos PI2 e PIO é percebida

queda do peso na segunda-feira, porém menos acentuada. Para o PI2, isto acontece nas

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Semana 1 Semana 2 Semana 3 Semana 4 Semana 5 Semana 6

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QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA

PI1

PI3

PI2

PIO

Peso (g)

Dia da semana

72

semanas 1, 2 e 5, e para o PIO, nas semanas 1 e 4. Para o sujeito PI3, não há nenhuma

relação entre a segunda-feira e uma possível queda no peso, portanto, entre a iluminação

contínua e a perda de peso. Assim, além da privação, pode ser afirmada uma possível

relação entre um estressor específico (a iluminação contínua) e a perda de peso dos

sujeitos, já que para esses sujeitos, que nunca foram privados, houve redução no peso no

dia em que este estressor era apresentado.

Mesmo assim, para todos os sujeitos, é possível constatar que o peso aumenta ao

longo das semanas, e que há semelhança neste aumento entre os diferentes dias. Além

da segunda-feira para os sujeitos PI1, PI2 e PIO, não há outro dia, especificamente, em

que o peso se mostre nitidamente maior ou menor do que o peso para os outros dias.

Avaliando oscilações de peso de uma semana para outra, para o sujeito PI1, da

terceira para a quarta semana, pode ser notada uma diminuição de peso em quatro dias

da semana (domingo, segunda, terça e quarta), e da quarta para a quinta semana, há uma

diminuição no peso em outros três dias da semana (quinta, sexta e sábado). Até então,

ao longo das semanas, era notada aceleração do peso, comparando-se as barras de uma

semana para a outra. Esta diminuição se inicia na segunda-feira da quarta semana, dia

crítico para a perda de peso deste sujeito, conforme já ressaltado, em que o peso de um

dia para o outro diminuiu 11,5g, correspondente a 2,26% do peso. Depois desta

diminuição, o peso voltou a aumentar, porém ainda gradativamente, o que é notado pelo

menor tamanho das barras de quinta-feira, sexta-feira e sábado da semana 5.

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QUI

SEX

DOM

SEG

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PI1 PI2 PI3 PIO

Alimento Água

Figura 13. Consumo médio de alimento e água, durante as seis semanas de submissão ao

protocolo de estressores, para cada dia da semana, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO.

Média

Sujeitos/ Dia da semana

73

Uma possibilidade é que esta diminuição pudesse ser atribuida ao consumo

nesses dias. Se o consumo de segunda-feira fosse muito menor do que nos outros dias, a

diminuição do peso poderia ser atribuida a este fato. Então o consumo médio para cada

dia da semana, ao longo das seis semanas do protocolo, é apresentado na Figura 13. O

sábado está omitido na Figura 13 por ser o dia correspondente ao agrupamento, em que

as aferições de consumo não eram realizadas.

É possível identificar, na Figura 13, que para os sujeitos PI1, PI2 e PI3, a

segunda-feira corresponde ao dia em que a média de consumo de alimento é menor.

Para o sujeito PIO, este dia é a quinta-feira. Com relação ao consumo de água, o mesmo

ocorre para os sujeitos PI1 e PI3: os menores consumos médios ocorrem na segunda-

feira e na quinta-feira.

Desta forma, pode-se supor que o estressor iluminação contínua altera o

consumo de água e alimento dos sujeitos, fazendo com que este seja menor.

Segundo Díaz e Bruner (2007), o padrão alimentar dos sujeitos é diferente a

depender do período do ciclo luminoso. Durante o período de escuro, os sujeitos comem

e bebem mais (o período de alimentação dura mais tempo), e com maior frequência

(menores intervalos entre um consumo e outro). Assim, considerando que a iluminação

contínua poderia produzir menor frequência no consumo (maiores intervalos entre um

consumo e outro), e menores quantidades consumidas (períodos mais curtos de

alimentação), a perda de peso devida a ela pode ser considerada.

O que pode ser aqui afirmado, com relação a este resultado, é que, novamente a

privação, não importando de que maneira ela é imposta, parece ser uma variável crítica

na produção de alteração no peso.

Para o sujeito PI2, é notada também uma diferença no peso da terceira para a

quarta semana. O peso, que vinha aumentando ao longo das três primeiras semanas,

começa a diminuir na sexta-feira da semana 4, ficando menor do que o peso da semana

anterior durante o restante dos dias (domingo, segunda, terça e quarta). Na quinta

semana, o peso volta a aumentar, como vinha acontecendo até então, sofrendo uma

pequena queda na segunda-feira da semana 5, chegando a atingir novamente valores

superiores aos anteriores na semana 6.

Para o sujeito PI3, diferentemente dos outros dois sujeitos, há apenas um dia

(quarta-feira) em que o peso da semana 4 cai com relação ao peso da semana 3. Para

este sujeito, a semana em que parece haver maior perda de peso é a última semana,

iniciando queda na sexta-feira, e caindo novamente no domingo e na segunda-feira. Para

74

este sujeito, porém, conforme já salientado, não há um dia específico em que o peso

sofre alterações. Da mesma forma, não é possível identificar uma semana crítica para

oscilações no peso.

Para o sujeito PIO, no entanto, a última semana apresenta diferenças marcantes

com relação às demais. Nesta semana, é possível observar que, comparando-se todos os

dias com a semana anterior, o peso se apresenta menor.

Levando-se em conta os resultados das oscilações de peso semanais, os sujeitos

PI1 e PI2 podem ser analisados a partir dos resultados reportados por Willner et al

(1987): a terceira semana aparece como a semana em que os efeitos dos estressores são

notados (a perda de peso observada no segundo painel da Figura 14, na semana 4,

corresponde à mudança da terceira para a quarta semana). Se o peso desses sujeitos for

levado em conta como medida dos efeitos dos estressores, isto se confirma no presente

estudo. Para os outros dois sujeitos, no entanto, não há a mesma relação.

Destacando-se essas oscilações ao longo das semanas, e levando-se em conta o

peso de cada sujeito com relação ao peso que apresentavam anteriormente ao início do

protocolo, é possível observar esta mesma relação, como mostra a Figura 14.

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Semana 2 Semana 3 Semana 4

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PI 1 PI 2 PI 3 PIO

Semana 5 Semana 6

Figura 14. Porcentagem de ganho ou perda de peso por semana, com relação ao peso do dia

anterior ao início do protocolo, para todas as quintas-feiras (primeiro dia do ciclo) das seis

semanas de protocolo de estressores, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO (painel da esquerda).

Porcentagem de ganho ou perda de peso por semana, com relação ao peso do dia anterior ao

início do protocolo, para todas as segundas-feiras das seis semanas de protocolo de estressores,

para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO (painel da direita). Cada barra indica o ganho (ou perda, no

caso de valores negativos), em cada semana, com relação ao peso inicial (antes do início do

protocolo).

Sujeitos

Percentual

75

Na Figura 14, olhando para a porcentagem de ganho ou perda de peso por

semana, para cada um dos sujeitos em relação a si mesmo, levando em conta tanto o

primeiro dia do ciclo (quinta-feira) quanto a segunda-feira (considerada o dia em que os

sujeitos perderam mais peso, com relação aos demais dias), ao longo das seis semanas, é

possível perceber a mesma relação anteriormente destacada.

O ganho de peso dos sujeitos, ao longo das seis semanas de protocolo, levando-

se em conta o primeiro dia do ciclo (painel da esquerda), parece muito semelhante,

principalmente se levarmos em conta que nenhum deles atinge ganho (ou perda) maior

que 5% de seu peso. Da primeira para a segunda semana, o sujeito PI3 apresenta uma

queda de peso inferior a 1%, a maior dentre todos os sujeitos para o período. No

entanto, na semana seguinte, a recuperação é observada, visto que o sujeito apresentou

peso 0,68% superior que na semana anterior. Isto confirma a afirmação de que, mesmo

oscilando conforme já descrito, os sujeitos continuam ganhando peso ao longo das seis

semanas do protocolo de estressores.

Com relação à segunda-feira, a mesma oscilação anteriormente destacada pode

ser observada: é da terceira para a quarta semana que ocorrem as reduções mais

marcantes para os sujeitos PI1 e PI2, e na última semana para os sujeitos PI3 e PIO (este

último com maior redução).

Além disso, é possível observar que, levando-se em conta os critérios de

variação de peso geralmente utilizados para procedimentos experimentais (redução a 20

a 25 do peso ad lib), o peso dos sujeitos varia muito pouco.

Com relação ao padrão de consumo dos sujeitos do grupo PI e sujeito PIO,

algumas observações podem ser feitas. Na Figura 15 são apresentados o consumo de

água e alimento, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO, ao longo de todo o experimento.

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Figura 15. Consumos de água e alimento, aferidos diariamente, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e

PIO, durante todo o experimento. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, o início e

final do protocolo de estressores. Durante o protocolo de estressores não foi possível aferir os

consumos em um dos dias da semana, pelo fato dos sujeitos estarem agrupados, e os espaços

correspondentes a esses dias foram omitidos da Figura 15.

Alimento (g) Á

gua (ml)

Dias

PI1

PI2

PI3

PIO

77

Na Figura 15, é possível observar os consumos de água e alimento para os

sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO, durante todo o experimento.

É possível observar que, mesmo não tendo passado por nenhuma condição de

privação durante todo o experimento, inclusive no período de exposição ao protocolo de

estressores, os sujeitos PI1, PI2 e PI3 apresentam uma mudança no padrão de consumo

durante este período (conforme já salientado). Há uma maior oscilação no consumo de

água, mais notável para os sujeitos PI1 e PI2, ocorrendo aumentos e diminuições

bruscas de um dia para o outro. Para o sujeito PI3, é observada uma queda no consumo

de água, assim que o protocolo é iniciado. Para o sujeito PIO, no entanto, as oscilações

observadas no consumo de água durante este período são muito semelhantes ao que

ocorreu antes e depois do protocolo.

Para o consumo de alimento, há, assim que o protocolo é iniciado, uma certa

queda no consumo diário, para os mesmos três sujeitos (PI1, PI2 e PI3), parecendo

depois dos primeiros dias (ao longo das seis semanas de protocolo) haver também maior

oscilação. Esta oscilação é menos notada após o término do protocolo para o sujeito

PI2, enquanto que para o sujeito PI1 a oscilação se mantém, mesmo com a suspensão

dos estressores. Para o sujeito PI3, a diminuição inicial no consumo de alimento é

seguida por um aumento. Com a suspensão do protocolo, este consumo parece retornar

ao padrão anterior a ele (anterior ao início do protocolo). Para o sujeito PIO, semelhante

ao que ocorreu com o consumo de água, não são observadas oscilações durante o

período de exposição ao protocolo de estressores.

Parece, portanto, haver uma relação entre a oscilação no consumo de água e

alimento e a submissão ao protocolo de estressores, já que para três dos sujeitos ela se

confirma. O único sujeito que não apresenta a mesma relação é o sujeito que, além do

protocolo de estressores, passou também por sessões operantes. Desta forma, pode ser

colocada aqui a hipótese de que a exposição a esquemas concorrentes (ou a

controlabilidade, conforme colocado por Thomaz, 2001, Dolabela, 2004, Rodrigues,

2005 e Cardoso, 2008), tem papel na produção de efeitos pela submissão ao protocolo.

Nesses estudos, no entanto, a mesma comparação não foi feita. Thomaz (2001) e

Dolabela (2004) não aferiram o consumo de alimento e água dos sujeitos ao longo de

seus experimentos. Rodrigues (2005) e Cardoso (2008), que realizaram tais aferições,

não contaram com um grupo de sujeitos que nunca passassem por nenhuma condição de

privação, como é o caso dos sujeitos aqui descritos. Desta forma, uma possibilidade é

levantada a partir dos resultados do presente estudo: a de que os possíveis efeitos da

78

controlabilidade sejam também medidos através do padrão de consumo de água e

alimento ao longo das semanas de submissão ao protocolo de estressores.

Mesmo assim, por ter sido feita a manipulação da variável “exposição ao

esquema concorrente” apenas com um sujeito, a possibilidade de que esta relação se

confirme deveria ser testada em estudos posteriores, que utilizassem um grupo maior de

indivíduos que passassem por esta situação.

O padrão de consumo durante todo o experimento também pode ser analisado

considerando-se as médias semanais de consumo de água e de alimento de cada sujeito.

A Figura 16 indica claramente as alterações de consumo observadas para os sujeitos,

durante o protocolo. Para os sujeitos PI1, PI2 e PI3, há, pelo menos nas primeiras duas

semanas de protocolo, uma queda no consumo médio de água. Esta queda inicial é

seguida por um aumento, que é visível nas duas últimas semanas de exposição ao

protocolo, aumento este também observado para o sujeito PIO. Após a suspensão do

protocolo, todos os sujeitos (com exceção do sujeito PI1, inicialmente) apresentam

aumento no consumo médio de água.

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Alimento

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

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Figura 16. Consumo médio diário de água e alimento (ml e g), durante todo o experimento, dos

sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, o início e final do

protocolo de estressores.

Médias

Semanas

PI1 PI2

PI3 PIO

79

Para o consumo de alimento, para todos os sujeitos, há uma queda na primeira

semana de exposição ao protocolo. Isto acontece inclusive para o sujeito PIO, que

passou também por sessões operantes.

As linhas horizontais, na Figura 16, foram traçadas levando-se em conta os

pontos mais alto e mais baixo dos consumos médios, durante as seis semanas de

protocolo. Essas linhas, a inferior principalmente com relação ao consumo de alimento e

a superior com relação ao consumo de água, indicam que os pontos mais baixos do

consumo médio, para todos os sujeitos, se localizam nas seis semanas de protocolo de

estressores, mais uma vez com exceção apenas do sujeito PIO.

Pode-se perceber que a apresentação do consumo em forma de médias ressalta

algumas oscilações encontradas no consumo absoluto, sendo assim interessante a

comparação entre as duas.

Matthews et al (1995) problematizaram a questão das medidas utilizadas nos

estudos com o CMS. Para eles, outras medidas, que não apenas a ingestão ou

preferência por substância doce deveriam ser levadas em conta, pelos problemas que

essas medidas podem trazer (muita variabilidade entre sujeitos, dificuldade em avaliar a

magnitude do valor do estímulo pelas não diferenças encontradas para diferentes

concentrações, entre outros). A partir dos resultados aqui encontrados, pode-se supor

que estudos que levassem o consumo de alimento e água em consideração como

possíveis variáveis dependentes a serem observadas para avaliar os efeitos da variável

independente protocolo de estressores poderiam produzir informações relevantes sobre

esses possíveis efeitos.

Para este grupo, então, pode ser afirmado que o peso diário sofreu pequenas

alterações, que poderiam ser atribuidas à submissão ao protocolo de estressores. Para

dois dos sujeitos, principalmente, um estressor específico (iluminação contínua) foi o

responsável por essas alterações, por produzir alterações no consumo de água e

alimento.

O consumo de alimento e água também parece demonstrar mudanças pela

exposição ao protocolo, sendo isto menos notável para o sujeito que passa também por

sessões operantes. Conforme ressaltado, este resultado aponta para uma possível relação

entre a controlabilidade (já descrita nos estudos de Thomaz, 2001; Dolabela, 2004;

Rodrigues, 2005; e Cardoso, 2008) e a produção ou não de efeitos pela submissão ao

protocolo de estressores. Desta forma, reafirma-se a sugestão já feita: parece ser

importante a realização de novas investigações, que elucidem os efeitos da submissão

80

ao protocolo, não apenas levando-se em conta as medidas de ingestão e preferência por

sacarose, mas também consumo de alimento e água.

d. Grupos protocolo completo (com e sem operante)

Os sujeitos do grupo protocolo completo passaram por todo o conjunto de

estressores, inclusive as privações de alimento e água. Dos seis sujeitos nesta condição,

três deles passaram pelas sessões operantes ao longo do experimento (PCO1, PCO2,

PCO3) e três deles não passaram por essas sessões (PC1, PC2, PC3).

Anteriormente ao início do protocolo, os sujeitos dos grupos PCO e PC também

passaram pela primeira condição de privação, idêntico ao que foi imposto aos sujeitos

dos grupos APO e AP. Dois períodos de privação semanais ocorriam, anteriormente às

sessões operantes e aos testes de ingestão e preferência (ver Tabela 7).

Desde o início da privação, a redução do peso pode ser observada, da mesma

forma que ocorre com os sujeitos dos grupos APO e AP. Mesmo sendo privados apenas

duas vezes por semana, antes do início do protocolo, o peso dos sujeitos é reduzido, e a

aceleração da curva é nitidamente menor do que até então, como é mostrado na Figura

17.

É interessante que, mesmo sofrendo restrição alimentar e hídrica antes do

protocolo, a tendência do peso dos sujeitos ainda é de aumento. Este resultado é

semelhante ao que foi apresentado para os sujeitos APO e AP e, desta forma, cabem

aqui também os comentários já colocados para esses sujeitos.

Durante o protocolo, no entanto, o peso de todos os sujeitos é reduzido. Neste

período, a restrição aumenta expressivamente (conforme mostrado na Tabela 7), e,

acompanhando tal aumento, o peso também diminui muito mais. Para todos os sujeitos,

o peso chega a ser reduzido tanto com relação ao peso de antes do início de qualquer

procedimento de privação quanto em relação ao peso imediatamente antes do início do

protocolo. Além disso, esta mesma redução é observada para os dois grupos, o grupo

que passa por sessões operantes e o grupo que não passa pelas sessões, o que sugere que

esta condição não produz diferenças com relação ao peso corporal, resultado este

semelhante ao encontrado na comparação dos grupos APO e AP.

81

Figura 17. Peso corporal dos sujeitos dos grupos PCO e PC, durante todo o experimento. A

linha mais espessa representa a tendência, a linha contínua menos espessa o peso real e a linha

pontilhada o peso referência. As linhas verticais pontilhadas indicam, respectivamente, início da

primeira condição de privação, início do protocolo de estressores e final deste.

Assim como para os sujeitos dos grupos APO e AP, as perdas e recuperações de

peso após períodos de privação ocorrem de maneiras diferenciadas antes, durante e

depois do protocolo, para todos esses sujeitos. Com relação à recuperação do peso após

a suspensão do protocolo, todos os sujeitos apresentam recuperação semelhante,

também independente de estarem ou não passando por sessões operantes. Além disso,

pode-se observar que, mesmo voltando a sofrer restrições hídrica e alimentar idênticas

às que vinham ocorrendo antes do protocolo (duas vezes por semana, anteriormente aos

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1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121131 141151 161 171 181191201211221231

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

600

PCO1

PCO2

PCO3

PC1

PC2

PC3

Peso (g)

Dias

82

testes e às sessões operantes), todos os sujeitos atingem o peso final apresentado antes

do início dos estressores, com exceção apenas do sujeito PCO2, que apresenta peso final

inferior ao que apresentava antes do início do protocolo.

Se comparadas as Figuras 3 e 17, em que são apresentados o peso dos sujeitos

dos grupos APO, AP, PCO e PC, respectivamente, é possível notar que durante o

período correspondente ao protocolo de estressores, a inclinação das curvas é muito

diferenciada. Isto pode ser visto observando-se a distância entre as curvas de peso dos

sujeitos e a curva de peso referência para esses períodos. Além disso, se comparados o

peso inicial (do início do protocolo) com o peso final (após sua suspensão), tem-se,

também, que as reduções de peso, para cada uma das condições (apenas privação e

protocolo completo) é diferenciada.

Para afirmar que a redução no caso dos sujeitos PCO e PC é maior durante o

protocolo, é apresentada a Figura 18.

300

325

350

375

400

425

450

PCO1 PCO2 PCO3 PC1 PC2 PC3 APO1 APO2 APO3 AP1 AP2 AP3

0

2

4

6

8

10

12

14

16Peso antes protocolo Peso após protocolo Percentual redução peso

Figura 18. Peso do dia anterior ao início do protocolo e do dia seguinte ao seu término, dos

sujeitos dos grupos PCO, PC, APO e AP, e porcentagem de redução do peso, comparando-se

antes e depois deste período.

Na Figura 18 os pesos dos sujeitos dos grupos APO, AP, PCO e PC do dia

anterior ao início do período correspondente ao protocolo e do dia seguinte ao seu

término são apresentados, bem como as porcentagens de redução de peso de todos os

sujeitos deste dia inicial para o peso após o fim.

Comparando-se as barras escura e clara, ou seja, o peso de antes e de depois do

período correspondente ao protocolo, para os grupos PCO e PC, e correspondente à

Peso (g)

Sujeitos

Redução no peso (%

)

83

segunda condição de privação, para os grupos APO e AP, é possível observar que a

redução de peso dos primeiros grupos é maior do que a dos segundos. Para os primeiros,

a diferença entre as barras é maior, principalmente para o sujeito PC. Isto é melhor

observado olhando-se para os pontos que indicam o percentual de redução: apenas o

sujeito APO3 ultrapassa a casa dos 10% de redução, apresentando peso 11,1% menor do

início para o final do período. Os demais sujeitos apresentam redução inferior a esta. Já

para os sujeitos dos grupos PCO e PC, apenas o sujeito PCO1 apresenta redução inferior

a 11%, tendo todos os outros (PCO2, PCO3, PC1, PC2, PC3) apresentado redução

superior a isto.

Um outro aspecto a ser destacado na observação da Figura 18 é a diferença entre

sujeitos que passaram por sessões operantes e sujeitos que não passaram por esta

condição. Com relação ao grupo que passou pelo protocolo completo, os sujeitos que

passaram também por sessões operantes apresentaram menor redução no peso do que os

sujeitos que não passaram. Para o grupo que passou pela segunda condição de privação,

a redução no peso é maior para os sujeitos que passaram também pelo operante. Desta

forma, é possível afirmar somente que o operante produz diferenças com relação à

redução no peso corporal dos sujeitos. No entanto, não há consistência aqui que

possibilite afirmar se esta condição produz maior ou menor redução no peso.

Observando a diferença entre os grupos com e sem operante na Figura 18, é

possível também ressaltar a importância da utilização de diversas formas de

demonstração de um mesmo dado. A diferença entre os sujeitos que passaram por

sessões operantes e sujeitos que não passaram por elas não havia ficado tão clara

comparando-se as Figuras 3 e 17.

Na Figura 19, é possível observar mais detalhadamente de que maneira isto

ocorre. Nesta Figura, o peso do sujeito PCO1 é mostrado a partir do início da primeira

condição de privação. O peso deste sujeito foi escolhido para ser aqui mostrado

aleatoriamente, já que as alterações para os demais sujeitos do grupo PCO e para os

sujeitos do grupo PC são muito semelhantes.

84

250

300

350

400

450

500

550

88 98 108 118 128 138 148 158 168 178 188 198 208 218 228

Figura 19. Peso corporal do sujeito PCO1, a partir do início da privação, até o final do

experimento. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de

estressores.

Para os sujeitos dos grupos PCO e PC, diferente do que ocorre com os sujeitos

dos grupos APO e AP, a redução no peso durante o protocolo de estressores é maior.

Apesar de apresentar variações muito semelhantes, cabendo para a Figura 19 a mesma

descrição da Figura 4, os sujeitos do grupo protocolo completo apresentam uma queda

no peso durante este período maior que os sujeitos do grupo apenas privação. Este

mesmo fato pode ser notado se observarmos a curva de porcentagem de perda e

recuperação de peso após período de privação. A porcentagem é mostrada na Figura 20.

Antes do protocolo, mesmo para os diferentes períodos de privação, a

porcentagem de redução do peso dos sujeitos variou de 5 a 8%. Durante o protocolo, no

entanto, esta redução aumenta um pouco, variando de 5 a 9%. Porém, para a

porcentagem de recuperação, a mudança é muito maior durante o protocolo, em relação

ao que ocorria antes. A variação que ficava aproximadamente entre 4 e 6% passa a

oscilar de 5 a 11%, ou seja, o sujeito recuperava muito mais peso após a privação,

durante a primeira condição de privação do que durante a segunda. Desta forma, mesmo

perdendo quase o mesmo percentual de peso, a pouca recuperação foi responsável por

uma diminuição do peso durante esta condição. Isto ocorre também para os outros

sujeitos do grupo, e para os sujeitos do grupo PC, o que indica que o desempenho

Peso (g)

Dias

85

operante, com relação ao peso corporal dos sujeitos, não apresentou influência notável

com relação a isto.

Figura 20. Porcentagem de redução do peso corporal após cada período de privação (painel da

esquerda) e porcentagem de recuperação de peso após aproximadamente vinte e quatro horas de

interrupção da privação (painel da direita), durante a primeira condição de privação e durante o

protocolo de estressores, para o sujeito PCO1 (painel da esquerda).

Há, aqui, alguns pontos importantes a serem observados. Em primeiro lugar, a

privação, mesmo quando apresentada isoladamente, produz efeitos de redução no peso

corporal e alteração no consumo de água e de alimento. Em segundo lugar, apenas o

restante do protocolo, sem a privação, também apresenta efeitos no peso dos sujeitos (o

que é observado nos resultados para os grupos PI e PIO) e no padrão de consumo desses

itens. Apesar de ser visivelmente mais notável a diferença no peso dos sujeitos PCO e

PC com relação ao peso dos sujeitos PI e PIO, há também diferença entre os primeiros e

os sujeitos APO e AP. No entanto, o que parece determinante na produção das maiores

alterações no peso e nos consumos de água e alimento aqui reportados não é nem uma

nem a outra coisa isoladamente, mas sim a interação entre eles, a privação e os demais

estressores.

Retomando a questão das medidas utilizadas para avaliar os efeitos do protocolo,

o peso se mostra, mais uma vez, uma medida relevante, como já havia sido apontado

por Willner (2005), Thomaz (2001), Dolabela (2004), Rodrigues (2005) e Cardoso

(2008).

Segundo Matthews et al (1995), uma comparação óbvia que deveria ser feita e

que, até então, não havia sido, seria entre dois grupos de sujeitos, um submetido ao

protocolo completo e outro apenas à privação envolvida do protocolo, para que então se

0

2

4

6

8

10

12

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

Após 24 horasApós 19 horasApós 24 horas privação alimento

0

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

24 horas19 horas24 horas privação alimento

Porcentagem

Semanas

86

pudesse constatar a relação entre mudanças no peso e o protocolo. No presente estudo,

tendo sido feita tal comparação, é possível afirmar que não apenas a privação, mas o

conjunto de estressores (quando incluindo a privação) é o que se mostra responsável

pela maior perda de peso.

Para as alterações no peso aqui descritas, foi encontrada diferença para sujeitos

que passaram e sujeitos que não passaram por sessões operantes. Nos estudos de

Thomaz (2001), Dolabela (2004), Rodrigues (2005) e Cardoso (2008), as alterações no

peso ocorreram para todos os sujeitos submetidos ao protocolo de estressores, não

havendo diferenças entre sujeitos que passaram por sessões em esquema concorrente e

sujeitos que não passaram por essas sessões. No entanto, nesses estudos, para sujeitos

que foram também submetidos às sessões operantes, a recuperação do peso se deu mais

rapidamente (alguns dias antes) para todos os sujeitos, em comparação aos que não

passaram por esta condição. No presente estudo, no entanto, os resultados apresentam-

se de maneira um pouco diferente: há diferenças, porém elas não são consistentes entre

sujeitos submetidos ao protocolo completo e sujeitos que passaram apenas pela segunda

condição de privação. Não há, portanto, como afirmar sobre uma relação entre a menor

perda de peso e a submissão a sessões operantes.

Vale aqui ressaltar que, nos estudos de Thomaz (2001), Dolabela (2004) e

Rodrigues (2005), os sujeitos foram submetidos à privação durante todo o experimento,

diariamente, com o objetivo de que o peso dos sujeitos se mantivesse entre 80 e 85% de

seu peso ad lib. Desta forma, a privação, nesses estudos, foi muito intensa (maior

frequência nos períodos de privação, pelo menos a privação de água) e duradoura do

que a privação do presente estudo. Portanto, algumas diferenças podem ser atribuidas a

essas diferenças na intensidade da privação.

Uma outra possibilidade com relação a esta diferença na recuperação do peso

dos sujeitos para o estudo de Thomaz (2001) se deve ao fato de que os sujeitos que

passaram pelas sessões operantes consumiram consideravelmente mais sacarose do que

os sujeitos que não passaram por esta condição. Isto ocorreu principalmente nos

momentos anterior e posterior à exposição ao protocolo (em que essas sessões

aconteciam diariamente). No estudo de Thomaz (2001), os sujeitos que passavam por

sessões operantes consumiam uma certa quantidade de sacarose a cada sessão, e os

sujeitos que não passavam por esta condição não consumiam. Desta forma, esta

ingestão calórica pode ter sido responsável pelo aumento de peso mais rápido

apresentado por esses sujeitos, quando eram submetidos às sessões após o término do

87

protocolo. Porém, nos estudos de Dolabela (2004) e Rodrigues (2005), esta variável foi

controlada (a sacarose foi dada também a sujeitos que não passaram pelas sessões

operantes), e o mesmo resultado reportado por Thomaz (2001) foi reportado por eles.

Assim, não há como afirmar que exista tal relação entre a recuperação de peso e o maior

consumo de sacarose.

Também para os sujeitos dos grupos PCO e PC, assim como para os sujeitos PI e

PIO, se comparados os dias da semana do protocolo com relação às variações de peso

apresentadas pelos sujeitos, é possível afirmar que há notadamente dias específicos em

que há maior redução ou aumento de peso. Isto pode ser observado na Figura 21.

250

270

290

310

330

350

370

390

410

430

450

QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA

Semana 1 Semana 2 Semana 3

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270

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330

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QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA

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270

290

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330

350

370

390

410

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450

QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA

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270

290

310

330

350

370

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430

450

QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA

Semana 4 Semana 5 Semana 6

250

270

290

310

330

350

370

390

410

430

450

QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA

250

270

290

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330

350

370

390

410

430

450

QUI SEX SAB DOM SEG TER QUA

Figura 21. Peso corporal dos sujeitos PCO1, PCO2, PCO3, PC1, PC2 e PC3, durante o

protocolo de estressores, pelo dia da semana, nas seis semanas de duração do protocolo.

Em quase todos os dias da semana, tanto com relação ao dia anterior quanto com

relação ao peso na semana anterior, os pesos vão sendo reduzidos. Em dois dias

Dia da semana

Peso (g)

PCO1

PCO2 PCO2

PCO3

PC1

PC2 PCO2

PC3

88

específicos (domingo e terça-feira), no entanto, pôde ser percebido o aumento no peso

desses sujeitos. Deve ser notado que, tanto de sábado para domingo quanto de segunda

para terça-feira, os estressores privação de alimento e privação de água não estavam

presentes. Previamente à pesagem, os sujeitos tinham acesso livre aos dois itens por 22

horas, de sábado para domingo, e por 20 horas, aproximadamente (já que dependia da

ordem em que as sessões operantes fossem realizadas, para os sujeitos do grupo PCO),

de segunda para terça-feira.

Isto ocorreu de maneira diferente para os sujeitos do grupo PI e PIO, que não

passaram por nenhum regime de privação. Enquanto o peso aumentava gradativamente

para os sujeitos do grupo PI e PIO, de semana a semana, com pequenas variações (já

salientadas), este diminuiu para os sujeitos dos grupos PCO e PC.

Comparando-se as variações de peso dos sujeitos dos grupos PI, PIO, PC e PCO,

pode-se concluir que o fator mais determinante das variações aqui encontradas foi a

privação de alimento e de água. Esta comparação pode ser feita entre as Figuras 12 e 20,

que mostram as variações diárias ao longo das seis semanas de protocolo de estressores,

para os grupos de sujeitos.

Em relação ao consumo durante todo o experimento, também para os sujeitos

dos grupos PCO e PC são encontradas alterações ao longo das diferentes fases do

estudo.

Antes do protocolo, o alimento e a água ficavam disponíveis por maiores

períodos, ou seja, os períodos de privação eram menos frequentes, assim como para os

sujeitos dos grupos APO e AP. Após o início do protocolo, os períodos de privação

passaram a ser muito mais frequentes, e os sujeitos passaram a ter acesso ao alimento e

à água por muito menos tempo. A diferença no consumo devida a este fato pode ser

observada na Figura 22.

Como para os sujeitos dos grupos APO e AP, o consumo médio diário foi

calculado levando-se em conta a disponibilidade do alimento e da água.

Durante os estressores, observa-se que a quantidade total é muito menor, já que

alimento e água estiveram disponíveis por muito menos tempo. No entanto, a média de

consumo para um dia é muito maior do que anteriormente a este período.

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26

Alimento

Água

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

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250

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

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300

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

Figura 22. Média do consumo diário água e alimento dos sujeitos dos grupos PCO e PC,

calculados semanalmente, a partir do início da aferição (painéis da esquerda). Quantidades

consumidas de água e alimento por semana, para os mesmos grupos, a partir do início da aferição

(painéis da direita). As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de

estressores.

Média (g ou ml) T

otal (g ou ml)

Semanas

PCO1

PCO2

PCO3

PC1

PC2

PC3

90

Cardoso (2008) discute a relação entre o consumo durante o protocolo e o peso

corporal dos sujeitos. Segundo ela, os sujeitos consumiam mais alimento e água durante

este período (média de consumo maior), mas mesmo assim emagreciam. No presente

experimento, também é possível observar que a média no consumo, durante o período

de exposição ao protocolo, é maior do que o que ocorria antes dele. No entanto, os

sujeitos não consomem mais do que consumiam antes, o que pode ser visto observando-

se o consumo total. Desta forma, pode ser levantada a questão referente à velocidade

com que os sujeitos privados consomem, quando o alimento e a água voltam a ser

disponibilizados: os sujeitos se alimentam mais rapidamente, ou seja, ingerem uma

quantidade maior em um menor período de tempo, durante os estressores, mas a

quantidade total consumida não é suficiente para manter o peso dos sujeitos, e por isso é

observada a queda do peso neste período.

Para os sujeitos do grupo protocolo completo, portanto, pode ser afirmado que

há redução no peso corporal dos sujeitos pelo regime de privação a que são expostos, o

que pode ser verificado pela alteração no peso mesmo antes do início do protocolo. No

entanto, durante o protocolo, esta redução parece maior, e duas possibilidades são

colocadas: a privação como responsável pela redução, já que aumenta expressivamente;

o conjunto de estressores como responsável pela redução.

Comparando-se os pesos dos sujeitos deste grupo (protocolo completo) com os

do grupo apenas privação, fica evidente o papel do conjunto de estressores na produção

do resultado: a redução é maior quando não apenas a privação, mas todo o protocolo, é

imposto ao sujeito. Há também diferenças entre os sujeitos que passaram e os que não

passaram pelas sessões operantes com relação ao peso corporal. Porém, por ter sido de

maior redução no peso para o grupo apenas privação e de menor redução para o grupo

protocolo completo, não há como afirmar que o operante altera o peso em uma única

direção.

Com relação ao consumo, é possível afirmar que há alterações ao longo do

experimento. Durante o protocolo de estressores, os sujeitos consomem menos alimento

e água, no total. No entanto, o consumo por períodos em que os itens estiveram

disponíveis aumentou consideravelmente. Desta forma, foi colocada a possibilidade de

que, pelo aumento na frequência dos períodos de privação, os sujeitos consumiam em

maior velocidade, quando alimento e água eram novamente disponibilizados.

91

Portanto, com relação ao peso e ao consumo de água e alimento, é possível

afirmar que:

a) a privação altera o peso corporal dos sujeitos;

b) a privação altera o padrão de consumo de água e alimento;

c) o protocolo de estressores sem a privação (incompleto) altera o peso corporal dos

sujeitos, porém em menor medida que a privação;

d) o protocolo de estressores sem a privação também altera o padrão de consumo de

água e alimento, porém em menor medida que a privação;

e) o protocolo completo é responsável pelas maiores alterações de peso e consumo de

água e alimento encontradas. Ou seja, o protocolo completo, e não apenas a privação e

nem apenas os demais estressores, é crítico na produção de alterações de peso e

consumo.

Além disso, com relação a diferenças entre sujeitos submetidos também a

sessões operantes e sujeitos não submetidos a elas, é possível afirmar que:

a) as sessões operantes produzem diferenças nas alterações de consumo de água e

alimento apresentada por sujeitos submetidos ao protocolo incompleto (sem privação);

g) a submissão a uma situação operante produz alterações na recuperação de peso dos

sujeitos que são submetidos tanto ao protocolo completo quanto apenas à privação, mas

uma relação direta não é observada.

92

2. Testes de ingestão e preferência

Os resultados obtidos nos testes de ingestão e preferência por sacarose foram

analisados levando-se em conta, tal como foi feito para peso e consumo, os diferentes

arranjos de condições experimentais aos quais foram submetidos os sujeitos. Além

disso, no caso específico desta variável dependente – ingestão e preferência por

sacarose – foi dada especial atenção às diferentes possibilidades de mensurar esta

variável, considerando as propostas apresentadas por Forbes et al (1996) e Matthews et

al (1995).

a. Grupos apenas privação (com e sem operante)

Em relação à ingestão e preferência por sacarose, seria investigada aqui a

possibilidade de que não o protocolo completo, mas apenas a privação, isolada dos

demais estressores, fosse responsável pela alteração que é geralmente observada em

sujeitos que são submetidos a ele. Conforme levantado por Matthews et al (1995) e

Forbes et al (1996), a diminuição de ingestão de sacarose observada no CMS seria

secundária à perda de peso, isto é, esta diminuição seria devida a uma diminuição na

massa corpórea dos sujeitos, e não a alterações no valor desses estímulos (produção de

anedonia). Então, se o peso fosse reduzido, mesmo não estando submetidos aos demais

estressores, os sujeitos apresentariam redução também na quantidade de sacarose

ingerida.

O cálculo apresentado por Matthews et al (1995) e Forbes et al (1996) para que

pudessem fazer tal afirmação foi o de ingestão relativa ao peso, ou seja, o quanto de

sacarose, em gramas, o sujeito ingeria, pelo quanto ele pesava, também em gramas.

Fazendo este mesmo cálculo, no presente experimento, não foi possível

encontrar esta relação. Comparando-se a ingestão demonstrada em números absolutos

com a ingestão demonstrada em números relativos (ingestão relativa ao peso), as curvas

são muito semelhantes, não aparecendo a diferença apontada por Matthews et al (1995)

e Forbes et al (1996). Esta semelhança pode ser observada na Figura 23, em que os

resultados dos testes realizados com todos os sujeitos dos grupos apenas privação (APO

e AP) são mostrados. Foram realizados, com esses sujeitos, 12 testes na primeira

condição de privação, seis testes na segunda condição de privação e três testes quando

houve retorno à primeira condição de privação.

93

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2030

4050

6070

8090

100

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2 21

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

0

1020

30

40

50

60

70

8090

100

0

0,025

0,05

0,075

0,1

0,125

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2 21

0

0,025

0,05

0,075

0,1

0,125

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2 21

0

0,025

0,05

0,075

0,1

0,125

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2 21

0

0,025

0,05

0,075

0,1

0,125

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2 21

0

0,025

0,05

0,075

0,1

0,125

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2 21

0

0,025

0,05

0,075

0,1

0,125

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

Figura 23. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, para

os sujeitos dos grupos APO e AP (painéis da esquerda). Proporção de sacarose ingerida, em g,

Consumo/ Peso (g)

Consumo de cada um dos líquidos (ml)

Preferência por sacarose (%

)

Semanas

APO1

APO2

APO3

AP1

AP2

AP3

94

por g do peso do sujeito (painéis da direita). As linhas verticais indicam, respectivamente, início

e fim da segunda condição de privação.

É possível perceber, na Figura 23, que a ingestão de sacarose, ao longo do

experimento, não parece sofrer alterações pelo aumento da privação na segunda

condição de privação. Para os sujeitos APO1 e AP3, há um aumento na primeira

semana deste período; para os sujeitos APO3, AP1 e AP2, há uma diminuição; a

ingestão para o sujeito APO2 se mantém, no primeiro teste da segunda condição de

privação (teste 13), diminuindo logo em seguida e aumentando novamente.

Apenas um resultado parece consistente para quase todos os sujeitos (com

exceção do sujeito APO1): após a volta à primeira condição de privação, a ingestão

absoluta de sacarose cai para os sujeitos do grupo apenas privação, mantendo-se,

mesmo assim, a preferência. Para o sujeito APO1, esta queda é notada apenas no

primeiro teste após a volta à primeira condição de privação, enquanto que para os

sujeitos APO2 e APO3 ela ocorre nos testes subsequentes a este. Não há como afirmar,

porém, que esses resultados são devidos ao regime de privação em vigor neste

momento: para todos os sujeitos, as alterações observadas não diferem de maneira

importante dos valores de consumo já observados anteriormente.

Também, na Figura 23, é possível observar que há uma semelhança grande entre

as curvas de volume absoluto consumido com relação às curvas de ingestão relativa ao

peso.

Uma possível suposição de que a diferença se deve a diferenças nas medidas não

se sustenta. Os resultados reportados por Matthews et al (1995) e Forbes et al (1996)

são apresentados em médias, tanto do peso dos sujeitos quanto da ingestão de todos

eles. Aqui, apresentando os resultados da mesma maneira, a mesma semelhança é

encontrada. Isto pode ser observado na Figura 24.

Na Figura 24, é possível notar que, ao apresentar os dados na forma de médias

para todos os sujeitos dos grupos APO e AP, as oscilações se tornam muito menos

perceptíveis e, portanto, muito mais facilmente negligenciáveis. De fato, observando a

Figura 24, parece não haver nenhuma alteração em ingestão, seja ela absoluta ou

relativa, com relação ao período de implementação da privação do protocolo.

95

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2 21

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Água

Saca ro s e

P re ferênc ia

0

0,025

0,05

0,075

0,1

0,125

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

Figura 24. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, em

média, para todos os sujeitos do grupo apenas privação (painel superior). Proporção de sacarose

ingerida, em g, por g dos sujeitos, em média, para todos os sujeitos (painel inferior). As linhas

verticais indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação.

Mesmo assim, não é possível constatar o que os autores afirmam em seus

estudos: a diferença entre as duas medidas. No entanto, sua afirmação se refere ao

argumento de que quando há perda no peso, o mesmo ocorre com a ingestão. Se

observarmos a Figura 25, em que são colocados o peso dos sujeitos deste grupo, ao

longo das semanas, e a ingestão apresentada nos testes, é possível constatar que, mesmo

havendo maiores reduções no peso por conta da segunda condição de privação, este

aumenta do início para o final do experimento.

Na Figura 25, são apresentados a ingestão de sacarose e o peso dos sujeitos, a

cada semana (peso no dia do teste correspondente), para os sujeitos APO e AP. É

possível constatar que, ao longo das seis semanas da segunda condição de privação, o

peso dos sujeitos é reduzido, não parecendo, no entanto, haver reduções na ingestão que

acompanhassem essa perda de peso.

Semanas

Média do consumo/ Peso (g)

Média do consumo de cada um

dos líquidos (ml)

Preferência por sacarose (%

)

96

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

250

300

350

400

450

500

550

Sacarose

Peso

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

250

300

350

400

450

500

550

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

250

300

350

400

450

500

550

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

250

300

350

400

450

500

550

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

250

300

350

400

450

500

550

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

250

300

350

400

450

500

550

Figura 25. Ingestão de sacarose e peso dos sujeitos dos grupos APO e AP, no dia do testes,

aferidos semanalmente. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim da segunda

condição de privação.

Portanto, não há como afirmar consistentemente a existência de relação entre o

peso e a ingestão de sacarose, da mesma forma que afirmam Matthews et al (1995) e

Forbes et al (1996), já que as alterações observadas no peso não são observadas na

ingestão. Ou seja, no presente experimento, medindo a relação a que se referem, não há

a queda observada por eles. Além disso, a ingestão relativa e a ingestão absoluta

apresentam-se idênticas.

Uma outra observação a ser feita com relação ao resultado nos testes de ingestão

e preferência, para os sujeitos dos grupos apenas privação, se refere à uma possível

diferença identificada entre o grupo com operante e o grupo sem esta condição.

Para o grupo APO, a curva de ingestão de sacarose parece demonstrar ligeira

aceleração, como se a ingestão fosse aumentando ao longo do tempo. Para o grupo AP,

Quantidade de sacarose (ml)

Peso (g)

Semanas

APO1

APO2

APO3

AP1

AP2

AP3

97

no entanto, esta aceleração não é notada, sendo possível constatar fenômeno semelhante

apenas para o sujeito AP2, mesmo que em menor escala.

Desta forma, parece que as sessões operantes, de alguma forma, influenciaram

na ingestão de sacarose ao longo do experimento. Algumas possibilidades para que isto

tenha acontecido podem ser colocadas.

Em seu artigo, Willner et al (1987) reportam o aumento na ingestão de sacarose

e sacarina para seus grupos controle (não submetidos ao protocolo de estressores). No

entanto, os autores não discutem este aumento, colocando apenas que há uma tendência

a este aumento com o passar do tempo. Pode ser que a própria exposição à sacarose,

portanto, aumente a ingestão apresentada pelos sujeitos. Não há, no entanto, argumento

que explique tal fenômeno.

Ainda, é difícil afirmar, aqui, que a exposição tenha aumentado a ingestão; se

isto fosse verdade, deveria ocorrer para todos os sujeitos, e não apenas para dois deles,

já que todos foram expostos à sacarose pelo mesmo tempo. Uma possibilidade é a de

que sujeitos que passaram pelo operante tenham ingerido maior quantidade de sacarose

do que os que não passaram. Para esses sujeitos, a quantidade média ingerida pelos que

estavam em sessão era disponibilizada. No entanto, nem todos os sujeitos consumiam

toda a sacarose disponibilizada, e esta diferença pode ter produzido as diferenças

encontradas. Desta forma, pode ter havido diferença na quantidade ingerida entre os

grupos.

Uma outra possibilidade a ser levada em consideração são os efeitos da

manipulação neonatal no comportamento de ratos adultos. Conforme salientado por

Silveira et al (2004), Silveira et al (2008) e Michaels e Holtzman (2006), a manipulação

neonatal pode ser considerada uma situação estressora. Esses autores, no entanto,

diferente de Willner et al (1987), colocam que tal situação de estresse faz com que os

sujeitos apresentem maior consumo de substância doce na vida adulta. Para Willner et

al (1987), o efeito é o oposto: a situação de estresse produz diminuição no consumo

deste tipo de substância. Há, então, uma contradição entre as duas concepções: em uma,

a medida do efeito do estresse é a diminuição no consumo; na outra, o aumento deste.

Para lidar com esta aparente contradição, será proposto aqui que se observem os

resultados dos experimentos, e não sua descrição. No caso de Silveira et al (2004),

Silveira et al (2008) e Michaels e Holtzman (2006), seus resultados indicam que há uma

relação entre a manipulação neonatal e o aumento no consumo. Portanto, não será

qualificada como situação estressora, no presente trabalho, a manipulação neonatal; será

98

atribuida a ela somente o efeito de aumento no consumo de substâncias doces pelos

sujeitos.

Desta forma, pode ser levantada a possibilidade de que a ingestão de sacarose,

para os sujeitos do presente experimento que apresentaram aumento desta, seja devida à

manipulação neonatal a que os sujeitos foram submetidos. No entanto, mais uma vez,

não se pode afirmar, pelo menos para este grupo, que esta relação se confirma, já que

todos os sujeitos passaram por esta situação, e mesmo assim apenas dois deles (APO2 e

APO3) apresentam-na de forma clara.

Portanto, é possível concluir que, com relação aos grupos apenas privação, os

resultados encontrados nos testes não demonstram haver relação entre esta e a

diminuição na ingestão e/ou preferência por sacarose. Entretanto, é possível constatar

uma diferença entre dois dos três sujeitos que passaram por sessões operantes e os

sujeitos que não passaram por esta condição. Para os primeiros, pareceu haver aumento

na ingestão de sacarose ao longo do experimento, o que não foi notado para os sujeitos

que não passaram pelas sessões.

b. Sujeitos da condição privação específica (PAL e PAG)

Como já foi dito, com a proposição desses sujeitos, foi possível comparar

diferenças possíveis relativas à qualidade da privação e, no caso dos testes, investigar se

a ingestão de sacarose estaria relacionada mais diretamente a uma das duas condições

de privação (alimento ou água).

Para os sujeitos da condição privação específica, a privação anterior aos testes

ocorria durante o mesmo período de tempo que para os demais sujeitos privados (23

horas), porém, para cada um deles, de apenas um dos itens, alimento ou água.

O que é possível observar nos testes de ingestão e preferência desses sujeitos é

que há muita semelhança na quantidade de sacarose ingerida e na preferência

apresentada ao longo do experimento, para ambos os sujeitos, um privado apenas de

água e o outro apenas de comida.

Como é possível observar na Figura 26, não há uma grande diferença entre a

ingestão de sacarose para os dois sujeitos. A preferência também se mantém constante

ao longo de todo o experimento.

99

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Água

S ac a rose

P re fe rênc ia

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Figura 26. Consumo e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente para

os sujeitos PAG e PAL, durante todo o experimento. As linhas tracejadas indicam,

respectivamente, a semana inicial e final da segunda condição de privação.

As oscilações observadas também apresentam alguma semelhança. Para os dois

sujeitos, há um aumento nas duas primeiras semanas correspondentes à segunda

condição de privação, com relação à ingestão imediatamente anterior a esta condição.

Em seguida (terceira semana), há uma diminuição, seguida de um novo aumento, que se

mantém até o final deste período. Após seu término, no entanto, a diminuição na

ingestão é observada apenas para o sujeito PAL, visto que a diminuição para o sujeito

PAG é pouco marcante, e ocorre apenas na segunda semana após o término do período.

Mesmo assim, nenhum dos dois sujeitos apresenta ingestão menor do que o que haviam

apresentado na primeira condição de privação: nenhum dos pontos, a partir do 13º teste,

é mais baixo do que os pontos anteriores.

Consumo de cada um dos líquidos (ml)

Preferência por sacarose (%

)

Semanas

PAG

PAL

100

Uma única alteração com relação à ingestão de água é observada: há ingestão em

quatro dos testes durante o período correspondente à maior privação, para o sujeito

PAL, que havia ingerido água anteriormente a este período apenas em um dos testes.

Após o período, isto não ocorre em mais nenhum dos testes. Ainda assim, como a

quantidade ingerida é muito pequena (não ultrapassa 1 ml de água em nenhum dos

testes), a preferência por sacarose é pouco afetada.

É interessante notar que o sujeito PAG, privado apenas de água, consome este

item apenas em um dos 21 testes (no 2º teste), consumindo sempre sacarose

preferencialmente, enquanto que o sujeito PAL, que nunca foi privado de água, chegou

a consumir este item em cinco dos 21 testes (10º, 14º, 15º, 17º e 18º), conforme já

relatado. Desta forma, é possível afirmar que a privação de um dos itens, não

importando a qualidade dele (se é água ou alimento), aumenta a ingestão de sacarose.

Vale aqui lembrar que a sacarose utilizada era diluida em água, ou seja, a sacarose

refinada era misturada à água, sendo sua concentração pequena, em comparação à

quantidade de água (2% de sacarose). Portanto, pode ser que a água ingerida na mistura

com a sacarose suprisse a falta deste item para o sujeito privado.

Com relação à comparação entre as curvas de ingestão absoluta e ingestão

relativa ao peso, também calculadas para os sujeitos PAL e PAG, não foi possível

encontrar as diferenças reportadas por Matthews el al (1995) e Forbes et al (1996).

Além disso, com relação às variações no peso desses sujeitos, fica claro que não há

diferenças na ingestão pelo aumento ou diminuição de peso. Assim como para os

sujeitos APO e AP, a relação feita por Matthews et al (1995) e Forbes et al (1996) não

se confirma: o peso do sujeito PAL diminuiu muito mais do que o peso do sujeito PAG

(ver Figura 8).

Portanto, pode-se concluir que a privação específica não produziu diferenças

entre a ingestão e preferência por sacarose apresentada pelos sujeitos. Conforme já

relatado por Willner et al (1987), não há diferenças na ingestão da substância doce por

regulações calóricas resultantes da privação a que os sujeitos são submetidos. No

presente estudo, pelos resultados encontrados para esses sujeitos, esta mesma afirmação

pode ser feita.

101

c. Grupos protocolo incompleto (com e sem operante)

Na Figura 27, são apresentados os resultados dos testes de ingestão e preferência

de líquidos para os sujeitos dos grupos PI (protocolo incompleto) e PIO (protocolo

incompleto com operante).

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2 21

0

10

20

30

40

50

60

70

8090

100

ÁguaSacarosePreferência

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2 21

0

10

20

30

4050

60

7080

90

100

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2 21

010

2030

4050

60

70

80

90

100

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

0

1020

30

4050

60

70

8090

100

Figura 27. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, para

os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do

protocolo de estressores.

Semanas

Consumo de cada um dos líquidos (ml)

Preferência por sacarose (%

) PI1

PI2

PI3

PIO

102

Como é possível observar na Figura 27, a preferência por sacarose, para os

quatro sujeitos, se mantém alta durante todo o experimento.

Entretanto, em um único teste, na última semana de estressores, esta preferência

se inverteu para o sujeito PI2. Este sujeito apresentou alteração na preferência ao longo

das seis semanas de estressores, o que é resultante do aumento na ingestão de água nos

testes, e não da diminuição na ingestão de sacarose.

Para o sujeito PI1, diferentemente, a ingestão durante as seis semanas aumentou

gradativamente, apresentando queda quando o protocolo foi suspenso.

Para o sujeito PI3, alterações na ingestão também pareceram mais evidentes

durante o protocolo de estressores, porém elas são inconsistentes (não se pode falar em

aumento ou diminuição).

Há, portanto, para os três sujeitos, oscilações que são observadas justamente no

período de exposição ao protocolo.

A mesma coisa ocorre com o sujeito PIO, só que em menor proporção: há queda

na preferência, durante este período, mas ela se mantém no mesmo patamar, que está

acima do ponto mais baixo atingido antes.

Para todos os sujeitos, parece haver aumento na ingestão de água nos testes,

também durante o protocolo.

A ingestão de sacarose, para os sujeitos do protocolo incompleto, é, em média,

muito menor (10ml) do que para os sujeitos dos demais grupos, que sofrem algum tipo

de restrição hídrica e alimentar (21ml). Esta diferença pode, portanto, ser atribuida à

privação a que os demais sujeitos são submetidos.

Com relação a possíveis diferenças entre os sujeitos pela submissão do sujeito

PIO à sessões operantes, isto pode ser afirmado. De maneira geral, a ingestão dos

sujeitos PI1 e PIO apresenta uma tendência de aumento ao longo do experimento.

Porém, ela é mais nítida para o segundo. Desta forma, é possível afirmar que as sessões

operantes foram responsáveis pela produção de diferenças entre os sujeitos.

Também com relação aos cálculos apresentados por Matthews et al (1995) e

Forbes et al (1996), as alterações na ingestão relativa e na ingestão absoluta apresentam-

se idênticas para este grupo. Apenas para ilustrar esta semelhança, na Figura 28 é

apresentado o cálculo, para o sujeito PI3.

103

0

0,025

0,05

0,075

0,1

0,125

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

Figura 28. Proporção de sacarose ingerida, em g, por g do sujeito PI3. As linhas verticais

indicam, respectivamente, início e fim do período correspondente ao protocolo de estressores.

Na Figura 28, assim como apresentado na Figura 23, não é possível notar

nenhuma diferença entre os cálculos (absoluto e relativo), no que diz respeito à ingestão

de sacarose, para este sujeito. Isto se repete para os demais sujeitos do grupo.

Portanto, com relação à condição de protocolo incompleto, pode-se afirmar que,

é possível identificar alterações na medida ingestão e preferência pela submissão dos

sujeitos ao protocolo, mesmo que sem a privação. Mais do que isso; diferente da

variável dependente anteriormente analisada, o peso, nesta, as alterações, mesmo que

pequenas, são visíveis. Mais uma vez, foi encontrado o aumento na ingestão da sacarose

ao longo do tempo, conforme já observado para alguns sujeitos da condição de apenas

privação. Para este grupo, também, ela pareceu ter relação com a exposição dos sujeitos

à condição operante: este aumento foi maior para o sujeito PIO (mesmo que apenas

sutilmente). Portanto, as mesmas possibilidades levantadas para os grupos APO e AP

podem ser levantadas para este sujeito.

d. Grupos protocolo completo (com e sem operante)

Para todos os sujeitos dos grupos PCO e PC (protocolo completo com e sem

operante, respectivamente), é possível observar que os sujeitos apresentam preferência

por sacarose durante todo o experimento, o que pode ser visto notando-se, na Figura 29,

que a linha pontilhada permanece sempre próxima ao valor 100%.

Semanas

Consumo/ Peso (g)

104

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2 21

0

10

20

30

4050

60

7080

90

100

ÁguaSacarosePreferência

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2 21

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2 21

01020304050

607080

90100

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2 21

0

10

20

30

40

50

60

70

8090

100

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Figura 29. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, para

os sujeitos PCO1, PCO2, PCO3, PC1, PC2 e PC3. As linhas verticais indicam, respectivamente,

início e fim do protocolo de estressores.

Fica nítido, ao se observar a Figura 29, que não há preferência no primeiro teste

para os sujeitos PCO2 e PCO3. Esta preferência vai sendo adquirida após o primeiro

contato com a sacarose, como havia sido já salientado em alguns estudos (Willner,

1987; Matthews et al, 1995; Forbes et al, 1996; Thomaz, 2001; Dolabela, 2004;

Rodrigues, 2005; Cardoso, 2008; entre outros) que propõem que um primeiro teste,

antes do início do experimento, deva ser feito, para que a “adaptação” à substância

ocorra. Aqui, esta importância é ressaltada pelo resultado encontrado para os dois

sujeitos.

Como também é possível observar na Figura 29, há diferenças entre os sujeitos

que passaram por sessões operantes e os que não passaram por esta condição. Para a

PCO1

PCO2

PCO3

PC1

PC2

PC3

Semanas

Consumo de cada um dos líquidos (ml)

Preferência por sacarose (%

)

105

ingestão absoluta, nota-se que há uma tendência de aumento ao longo do experimento

para os sujeitos do grupo PCO, ocorrendo isto também apenas para o sujeito PC1,

inclusive durante o período de estressores. Comparando-se os valores de sacarose

ingeridos na semana 1 com os valores consumidos na semana 13, para o sujeito PCO1,

isto fica claro: 14 ml e 26 ml. Na semana 1, o sujeito estava sendo submetido à primeira

condição de privação; na semana 13, ao protocolo de estressores. Esta diferença pode

ser devida a alguns fatores.

Um deles, já apontado para os sujeitos do grupo APO e para o sujeito PIO, é a

possibilidade de maior ingestão de sacarose pela submissão às sessões operantes. Em

estudo sobre a produção de analgesia pela ingestão de sacarose, Segato, Castro Souza,

Segato, Morato e Coimbra (1997), afirmaram que a ingestão prolongada de sacarose

pode fazer com que ratos se tornem menos sensíveis à dor. Os ratos foram submetidos a

testes de aumento de temperatura na cauda, e a latência com que os sujeitos removiam-

na, quando testados, era a medida da sensibilidade que apresentavam à dor. Os sujeitos

que ingeriam sacarose por um período prolongado apresentavam latências maiores, ou

seja, demoravam mais para remover a cauda, o que os autores interpretaram como

sensibilidade reduzida à dor. Os sujeitos que não passaram pela exposição à sacarose

apresentaram latências muito menores, por sua maior sensibilidade.

Portanto, se for considerado que os sujeitos que passaram por sessões operantes

tiveram uma maior exposição à sacarose, pode ser que esta exposição seja responsável

pela diferença aqui encontrada. Ou seja, os sujeitos que foram mais expostos à sacarose

ficaram menos sensíveis aos estímulos apresentados no protocolo do que os sujeitos que

não ingeriram a mesma quantidade da substância.

Mesmo assim, no presente estudo, se forem considerados o número de testes

previamente ao protocolo (ou à segunda condição de privação), já é possível afirmar que

houve maior exposição à sacarose de todos os sujeitos desde experimento (mesmo os

que não passaram por sessões operantes), em comparação aos sujeitos do experimento

de Willner et al (1987) e dos experimentos de Thomaz (2001), Dolabela (2004),

Rodrigues (2005) e Cardoso (2008). Esses últimos, mesmo tendo passado por um

número grande de sessões operantes antes do protocolo, passaram por apenas três testes

de ingestão livre. Portanto, a suposição colocada por Segato et al (1997), no presente

estudo, pode ser levada em conta para todos os sujeitos, e não apenas os que passaram

por sessões operantes.

106

Com relação às alterações na ingestão e preferência por sacarose durante o

protocolo, os resultados do presente estudo diferem em muito dos resultados relatados

por Thomaz (2001), Dolabela (2004), Rodrigues (2005) e Cardoso (2008). Nesses

estudos, os sujeitos que passavam pelo protocolo apresentavam diminuição na ingestão

e na preferência. Quando passavam também pela condição operante, esta diminuição

não era observada. Ou seja, nesses estudos, os sujeitos que eram submetidos ao

protocolo de estressores e também a sessões operantes não apresentaram diminuição na

ingestão e preferência nos testes realizados na gaiola viveiro, em comparação aos

sujeitos que não passaram por esta condição, os quais apresentaram grande diminuição

durante o protocolo, que foi mantida mesmo após sua retirada. A partir desses

resultados, foi colocado que a produção de consequência (ou situação de

controlabilidade) seria relevante na produção ou não do fenômeno descrito como

anedonia (diminuição na ingestão e preferência por sacarose).

Aqui, no entanto, não há diminuição (tanto em ingestão quanto em preferência)

em nenhuma das condições. Se houvesse diminuição na ingestão e preferência pelo fato

dos sujeitos serem submetidos ao protocolo completo, possíveis diferenças poderiam ser

observadas também com relação aos sujeitos terem ou não passado por sessões

operantes (os que passaram pelas sessões não apresentariam os mesmos efeitos do que

os que não passaram). Ou seja, se os sujeitos submetidos ao protocolo apresentassem

“anedonia”, os que passassem também por sessões operantes poderiam apresentar este

efeito de forma atenuada, ou não apresentá-lo (pelo fato já apontado por Thomaz, 2001;

Dolabela, 2004; Rodrigues, 2005 e Cardoso, 2008, de que a controlabilidade altera os

efeitos do protocolo na ingestão e preferência demonstrada pelos sujeitos).

Desta forma, não é possível afirmar, no presente estudo, que as sessões

operantes não tiveram o efeito esperado; é possível afirmar, apenas, que alguma outra

variável foi responsável pela não alteração dos valores de ingestão e preferência para

todos os sujeitos, tanto os que passaram quanto os que não passaram pelas sessões

operantes.

A variável a que esta diferença é atribuida é a manipulação neonatal. Os sujeitos

do presente estudo passaram pela condição de manipulação desde aproximadamente seu

5º dia de vida, enquanto que os sujeitos dos demais estudos só começaram a ser

manipulados após o desmame (com aproximadamente 30 dias de vida). Conforme já

salientado por Silveira et al (2004), Silveira et al (2008) e Michaels e Holtzman (2006),

a manipulação neonatal, independente de ser considerada estressora ou não, produz

107

efeitos de aumento no comportamento de ingestão dos sujeitos na fase adulta. Portanto,

ao manipular os sujeitos, os possíveis efeitos da submissão ao protocolo não puderam

ser observados, dado o efeito de aumento na ingestão produzido pela manipulação

neonatal.

Com relação ao cálculo relativo, feito também para todos os sujeitos deste

grupo, diferenças não são observadas, assim como descrito para os sujeitos dos grupos

apenas privação (APO e AP) e protocolo incompleto (PI e PIO).

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

250

300

350

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450

500

550

Sacarose

Peso

0

10

20

30

40

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

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350

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500

550

0

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

250

300

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550

0

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20

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40

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

250

300

350

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550

0

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30

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50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

250

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0

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

250

300

350

400

450

500

550

Figura 30. Ingestão de sacarose e peso dos sujeitos dos grupos PCO e PC, no dia do testes,

aferidos semanalmente. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim do

protocolo de estressores.

A respeito da relação entre diminuição de peso e diminuição na ingestão, este

grupo não apresenta o que foi descrito por Matthews et al (1995) e Forbes et al (1996).

Isto pode ser observado na Figura 30.

Quantidade de sacarose (ml)

Peso (g)

Semanas

PCO1

PCO2

PCO3

PC1

PC2

PC3

108

Nesta figura, é possível observar que, assim como já relatado, o peso dos

sujeitos diminui no período de exposição ao protocolo. No entanto, a ingestão de

sacarose, neste mesmo período, aumenta. Este aumento é mais nítido para os sujeitos do

grupo PCO, ocorrendo também, mais nitidamente ao final do protocolo, para os sujeitos

PC1 e PC3.

Portanto, é possível concluir que, para os sujeitos que passaram pelo protocolo

de estressores completo, não houve diminuição na ingestão e preferência por sacarose,

durante este período. Também para os sujeitos que passaram por esta condição, houve

diferenças entre sujeitos expostos a sessões operantes e sujeitos que não passaram por

elas. Para os primeiros, pareceu haver aumento progressivo na quantidade de sacarose

ingerida a cada teste. Com relação à medida de peso relativo ao consumo, não foi

encontrada a relação reportada por Matthews et al (1995) e Forbes et al (1996).

109

3. Desempenho operante – o comportamento de escolha em esquema concorrente

O desempenho operante, enquanto variável dependente, pode ser descrito em

termos da frequência de respostas dos sujeitos em cada uma das barras, em esquema

concorrente FR/água-FR/sacarose, ao longo de cada uma das sessões e ao longo do

experimento.

Apenas sete sujeitos passaram por sessões operantes: PCO1, PCO2, PCO3,

APO1, APO2, APO3 e PIO.

Todos os sujeitos iniciaram o procedimento de treino operante com apenas uma

barra na caixa, em que água era disponibilizada como reforçador, em esquema CRF.

Os procedimentos de treino ao bebedouro, modelagem e fortalecimento

ocorreram diferentemente para os sujeitos, tendo uns passado por menos sessões do que

os outros, como é sumarizado na Tabela 8.

Tabela 8. Número de sessões em cada condição para todos os sujeitos que passaram pela

condição operante ao longo de todo o experimento.

Sujeitos Variação e seleção Modelagem Fortalecimento

PCO 1 2 2 1

PCO 2 1 - 1

PCO 3 2 2 1

APO 1 2 1 1

APO 2 2 2 1

APO 3 2 1 1

PIO 2 1 7

Após a modelagem e fortalecimento, foi então iniciado o procedimento com

duas barras, uma com água como reforçador e a outra com sacarose, conforme descrito

no procedimento.

Os resultados do desempenho operante serão aqui descritos para cada um dos

grupos de sujeitos: apenas privação (APO), protocolo completo (PCO) e protocolo

incompleto (PIO), o último com apenas um sujeito.

110

a. Apenas privação (APO1, APO2 e APO3)

Os sujeitos do grupo apenas privação passaram por duas condições de privação

de água e alimento: uma primeira, com dois períodos de privação semanais, e uma

segunda, idêntica à privação imposta no protocolo de estressores (ver Tabela 8). Todos

os sujeitos deste grupo atingiram a razão 2 para o esquema de reforçamento (FR2).

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

600

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

0

20

40

60

80

100Barra água

Barra sacarose

Preferência

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

600

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

0

20

40

60

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100

0

50

100

150

200

250

300

350

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450

500

550

600

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

0

20

40

60

80

100

Figura 31. Número de respostas de pressão à barra emitidas por sessão pelos sujeitos APO1,

APO2 e APO3, em esquema concorrente água-sacarose, e preferência pela barra de sacarose. As

linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação.

Na Figura 31, são apresentados o número de respostas por sessão, para cada

barra, para os sujeitos APO1, APO2 e APO3, bem como a preferência pela barra de

Semanas

Número de respostas total em cada barra

Preferência pela barra sacarose (%

)

APO1

APO2

APO3

111

sacarose (calculada como o percentual de respostas na barra correspondente à sacarose,

com relação ao total de respostas – somando-se as duas barras).

Na Figura 31, é possível notar que, na primeira sessão em esquema concorrente,

os sujeitos ainda apresentaram maior número de respostas na barra de água. O sujeito

APO1, ainda na segunda sessão, também responde mais na barra correspondente à água.

Nas sessões subsequentes, os sujeitos APO1 e APO2 passaram a emitir maior

número de respostas na barra correspondente à sacarose, na maioria das sessões. Para o

sujeito APO2, em nenhuma outra sessão, além da primeira, o número de respostas na

barra que liberava água ultrapassa o da barra da sacarose. Para o sujeito APO1, isto

acontece em uma única sessão (sessão 15, terceira desde o início da segunda condição

de privação). Esta sessão foi uma sessão em que houve inversão do lado de

apresentação dos reforçadores, com relação à sessão anterior, o que pode ter sido

responsável pela diferença. Para esses dois sujeitos, é possível notar que, com o passar

das sessões, o número de respostas na barra em que pressões liberavam sacarose vai

aumentando, enquanto o oposto ocorre para a barra de água.

O sujeito APO3, no entanto, apresentou a maior variabilidade entre o número de

respostas em cada barra, respondendo ora mais frequentemente na barra correspondente

à sacarose, ora na barra correspondente à água. Para este sujeito, não há consistência na

preferência. A alternância apresentada por este sujeito será discutida adiante.

Com relação a possíveis diferenças durante o período correspondente à segunda

condição de privação, não parece haver interferência deste período especificamente na

taxa de respostas apresentada pelos sujeitos nas sessões em esquema concorrente.

A partir da sessão 16, o sujeito APO2 chega a emitir o número máximo de

respostas na barra correspondente à sacarose (um dos critérios para que a sessão fosse

encerrada). Uma suposição para este número de respostas maior na barra de sacarose ao

final do experimento é que houve, durante o estudo, aprendizagem de alguns padrões no

responder, para este sujeito. Por exemplo, o sujeito sempre iniciava as sessões

respondendo de maneira indiferente às duas barras (frequência muito parecida em

ambas). Após um determinado tempo, passava a responder apenas na barra

correspondente à sacarose. Com o passar das sessões, este comportamento passou a

ocorrer de maneira mais eficaz: o sujeito passava a responder apenas na barra

correspondente à sacarose mais rapidamente (como se logo “identificasse” esta barra),

ficando o maior tempo nesta barra, sendo, então, este tempo suficiente para emitir o

112

número de respostas necessário para o encerramento da sessão, e não emitindo número

alto de respostas na outra barra, pelo mesmo motivo.

Para este sujeito, portanto, a avaliação da relação entre privação e valor

reforçador da sacarose deve levar em conta padrões apresentados no responder, como o

destacado.

Este padrão pode ser observado comparando-se os dois painéis da Figura 32. O

painel da esquerda corresponde à sessão número 11 da Figura 31, e o painel da direita, à

sessão número 20.

0

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300

350

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500

110120130140150160170180190110011101120113011401150116011701180119012001210122012301240125012601270128012901300131013201330134013501

Sacarose

Água

0

50

100

150

200

250

300

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400

450

500

110120130140150160170180190110011101120113011401150116011701180119012001210122012301240125012601270128012901300131013201330134013501

Figura 32. Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo

da sessão experimental número 11, do sujeito APO2 (painel esquerdo). Frequência acumulada

de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo da sessão experimental número

20, do sujeito APO2 (painel direito).

No primeiro painel (esquerdo) é possível observar que o início da sessão é

marcado pela indiferença no responder entre as duas barras. Após aproximadamente 11

minutos, o sujeito passa a responder na barra em que as pressões produziam sacarose, e

responde muito pouco na outra barra. No painel da direita é possível perceber que isto

ocorre apenas para os dois primeiros minutos. Depois disto, o sujeito volta a responder,

eventualmente, na barra que liberava água, mas o maior número de respostas é,

certamente, na barra que liberava sacarose. Este padrão ocorreu em 50% das sessões em

esquema concorrente, para este sujeito.

Para os sujeitos APO1 e APO3, este mesmo padrão é encontrado em 50% e 44%

das sessões, respectivamente. Também para esses sujeitos, é possível supor que o

mesmo processo ocorre: o sujeito, inicialmente, responde às duas barras, ainda

indiferenciadamente. Assim que há contato com o reforço, o sujeito passa a responder

Tempo (s)

Frequência acumulada

113

com maior frequência na barra em que as pressões liberavam o estímulo de maior

magnitude reforçadora (no caso, a sacarose).

Com relação à variabilidade apresentada pelo sujeito APO3, parece haver dois

momentos, durante o estudo, para este sujeito: um primeiro momento de indiferença

entre as barras, e um segundo (a partir da sessão 13) em que esta indiferença diminui.

Uma hipótese para este fato é a de que o sujeito tenha preferido o lado de apresentação

do estímulo, ou seja, uma das barras especificamente, e não o reforçador liberado por

pressões a ela. Assim, quando ocorria alternação, o sujeito continuava pressionando a

barra que havia pressionado com mais frequência na sessão anterior, e, portanto, a

preferência se invertia. Desta forma, não é que o sujeito preferisse o lado da caixa; ele

continua na barra que liberava, antigamente, o reforçador “preferido” por ele, só que era

mais “lento” para perceber que, na sessão presente, havia diferença. Esta hipótese se

aplica às oito primeiras sessões em esquema concorrente (semanas 5 a 12), pois até

então, mesmo tendo ocorrido duas inversões, o sujeito sempre emitiu maior número de

respostas na barra da direita (em seis dessas sessões disponibilizando água, e nas outras

duas, sacarose).

A partir de então, com exceção das semanas 17 e 19, o sujeito passou a emitir

sempre maior número de respostas na barra correspondente à sacarose (vale salientar

que a sessão 17 correspondeu a uma sessão de troca de lado de apresentação dos

estímulos). Da mesma forma que nos testes de ingestão livre, em que o consumo vai

aumentando ao longo das semanas, parece ter havido, para este sujeito, um aumento na

preferência pela sacarose, nas sessões operantes. Porém, no segundo caso, este aumento

pode ser devido à maior lentidão na identificação de qual reforçador era liberado em

cada barra, por este sujeito.

Portanto, com relação ao desempenho em esquema concorrente dos sujeitos do

grupo APO, é possível afirmar que (a) os sujeitos, de maneira geral, apresentaram

preferência por sacarose como estímulo reforçador, demonstrada pelo maior número de

respostas de pressão à barra em que este estímulo era liberado; (b) parece existir, no

início de cada sessão, um padrão de “identificação” do lado de apresentação dos

reforçadores, indicado pela indiferença no responder a cada barra, inicialmente; (c) pode

ser que a resposta operante, em esquema de reforçamento concorrente, enquanto medida

do valor reforçador de um estímulo, não seja totalmente adequada, visto que, neste

esquema, o responder pode ficar sob controle de variáveis estranhas, como a posição da

barra (caso do sujeito APO3). Pode ser que outro esquema de reforçamento, que não

114

sofresse a influência da troca de lados, fosse mais adequado (a razão progressiva, por

exemplo).

b. Protocolo incompleto (sujeito PIO)

Este sujeito foi aqui proposto em caráter exploratório. O grupo protocolo

incompleto, por não passar por nenhuma condição de privação em nenhum momento ao

longo de todo o experimento, aparentemente impossibilitaria que sujeitos fossem

submetidos a sessões operantes, visto que não haveria, pelo menos deliberadamente,

nenhuma operação estabelecedora em vigor que estabelecesse o valor reforçador do

estímulo. Portanto, optou-se por utilizar, nesta condição, apenas um único sujeito, para

que a proposta de investigação da relação entre submissão ao protocolo, mesmo que

incompleto, e o desempenho operante, fosse possível.

Para todos os sujeitos, a partir de 180 respostas reforçadas em CRF em apenas

uma barra, com água como reforçador, iniciava-se o procedimento com duas barras.

Para o sujeito PIO, conforme pôde ser observado na Tabela 9, sete sessões foram

necessárias para que ele completasse esse total de respostas reforçadas em CRF (dada a

baixa taxa de respostas por sessão, o que será discutido adiante).

É interessante notar que, mesmo não passando por nenhum regime de restrição

nem hídrica nem alimentar, a resposta de pressão à barra foi instalada, e o sujeito PIO

manteve-se, ao longo de todo o experimento, pressionando constantemente a barra,

tanto por água quanto por sacarose (mais frequentemente pela segunda).

Porém, pelos critérios estabelecidos para mudança de esquema de reforçamento,

este sujeito permaneceu todo o experimento em reforçamento contínuo. Na Tabela 8, é

possível verificar que, para completar o critério de número de reforços em CRF, com

apenas uma barra, o sujeito demorou sete sessões. Além disso, pelo critério de mudança

para razão de reforçamento ser o de uma inversão no lado de apresentação das barras,

como este sujeito demorou muito mais para entrar no esquema concorrente, não houve

tempo para que a razão fosse aumentada antes do início do protocolo de estressores.

Depois do início desta condição, nenhum dos sujeitos teve o esquema alterado.

Portanto, este sujeito permaneceu o experimento todo em reforçamento contínuo.

Desta forma, a escala utilizada na Figura 33 é menor do que a escala utilizada na

Figura 31, já que o maior número de respostas possível de ser emitido, em uma das

115

barras, para este sujeito, era de 200 respostas (ou 200 reforços, no caso, já que as

respostas do sujeito estavam sob esquema de reforçamento contínuo).

0

50

100

150

200

250

300

350

400

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100Barra água

Barra sacarose

Preferência

Figura 33. Número de respostas de pressão à barra emitidas por sessão pelo sujeito PIO, em

esquema concorrente água-sacarose, e preferência pela barra de sacarose. As linhas verticais

indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores.

Na Figura 33, é possível notar que o sujeito PIO passou por sete sessões com

apenas uma barra, já que este sujeito demorou este número de sessões para atingir o

critério de número de respostas reforçadas, para que passasse para o esquema

concorrente.

Na sessão inicial em esquema concorrente, assim como os demais sujeitos que

passaram por sessões operantes, o sujeito PIO apresentou maior número de respostas na

barra de água. Nas sessões subsequentes, este sujeito passou a emitir maior número de

respostas na barra correspondente à sacarose, com exceção apenas da sessão de número

19 (a sessão seguinte à suspensão do protocolo de estressores).

Para este sujeito, a primeira sessão em que o protocolo de estressores havia sido

iniciado (sessão 13) apresenta queda no número de respostas de pressão à barra para a

barra de sacarose, bem como ligeiro aumento no número de respostas à barra

correspondente à água. Depois disto, o número de respostas para produção de sacarose

volta a aumentar, diminuindo novamente o número de respostas para produção de água.

Interessante notar que, mesmo emitindo menor número de respostas por sessão

ao longo de todo o experimento, o sujeito PIO, nunca privado de água ou alimento, não

somente aprendeu a resposta de pressão à barra, como respondeu por água e água com

sacarose em todas as sessões operantes. Muito frequentemente, após algumas respostas,

o sujeito dormia o restante da sessão. Mesmo assim, em pelo menos oito sessões, o

número de respostas à barra de sacarose ultrapassou 100 respostas. Na sétima sessão,

Semanas

Número de respostas total em

cada barra

Preferência pela barra sacarose (%

)

116

em que o sujeito respondia apenas por água (ainda não estava sob esquema

concorrente), este sujeito emitiu no total 61 respostas.

É possível afirmar, portanto, que o sujeito PIO emitiu respostas de pressão à

barra sem que nenhuma operação estabelecedora específica estivesse em vigor para que

isto ocorresse (ou, pelo menos, não deliberadamente). Para que isto pudesse ser

afirmado categoricamente, observações do ciclo alimentar do sujeito deveriam ser

realizadas. Assim, saber-se-ia, com certeza, o grau de privação do sujeito no momento

da sessão, levando-se em conta a última vez em que o sujeito tivesse consumido água

ou alimento, na gaiola viveiro. É sabido (Díaz e Brunner, 2007), por exemplo, que ratos

apresentam um padrão de alimentação cíclico, se alimentando a cada duas horas,

aproximadamente, durante o período de claro do ciclo luminoso, e bebendo a cada uma

hora, aproximadamente, durante o mesmo período (período este em que as sessões

operantes eram realizadas). Então, se assim que entrasse na caixa operante, o sujeito

tivesse há mais ou menos este tempo sem ingerir água, seria mais provável que a água

tivesse algum valor reforçador e que as respostas que a produzissem fossem evocadas

(resposta de pressionar a barra, neste caso), já que, neste momento. Como os valores de

intervalos de alimentação são variados de sujeito para sujeito, mas se mantém

constantes em cada sujeito (Díaz e Brunner, 2007), estudos que explorassem tal relação

poderiam, então, elucidar o papel de uma possível operação estabelecedora nos

resultados aqui encontrados, se analisados os ciclos para cada sujeito experimental.

Skinner (1953/2000) afirma que “... a magnitude do efeito reforçador de

alimento pode não depender do grau da privação. Mas a frequência da resposta que

resulta do reforço depende do grau de privação no momento em que a resposta for

observada”12 (p. 75). Nesta afirmação, Skinner diz que o efeito do reforço (alterar o

repertório, produzindo novas respostas, por exemplo) não depende do grau de privação

momentâneo, o reforço precisa ter seu valor estabelecido, senão não atuará como tal.

Tendo sido estabelecido seu valor, aumentos adicionais na privação não alteram a

modificação que ele produz. No entanto, a frequência momentânea de respostas

depende da privação, de forma que, em geral, maior a privação, maior a frequência.

Desta forma, levando em conta a afirmação de Skinner (1953/2000), dois pontos podem

ser sugeridos: (a) se houve a modelagem da resposta, ou seja, a resposta foi instalada,

uma modificação foi feita no repertório do organismo, é imprescindível que água tivesse

12 Ênfase adicionada.

117

algum valor reforçador neste momento. Por isto, possivelmente, seu valor tenha sido

naturalmente estabelecido, conforme apontado, já que nenhuma operação de privação

foi deliberadamente imposta ao sujeito pelas condições experimentais; e (b) sendo a

privação baixa, para este sujeito, a frequência de respostas, em cada sessão, também foi

baixa.

Pode ser que, para o sujeito PIO, mesmo não havendo operação ambiental (no

caso, privação) deliberadamente programada, em muitas sessões em esquema

concorrente às quais o sujeito foi submetido houve alteração do valor reforçador dos

estímulos água e sacarose, pelo próprio ciclo alimentar do sujeito.

Pode-se afirmar, também, que a operação de privação naturalmente imposta ao

sujeito, em algumas sessões, se mostrou maior do que em outras, ou seja, apresentou

variação de uma sessão para outra. Assim, houve também a modificação da frequência

da resposta de uma sessão para a outra, conforme descrito por Skinner (aumento da

frequência pelo aumento da operação em vigor – no caso, privação). Aqui, novamente, é

colocada a possibilidade de que estudos que monitorem o ciclo de alimentação do

sujeito se mostrem importantes, já que podem esclarecer as diferenças entre as taxas de

respostas de uma sessão para a outra, ou seja, esclarecer com maior precisão a relação

entre a privação naturalmente imposta e a taxa de respostas de pressão à barra.

A frequência acumulada de respostas por sessão, para este sujeito, é ilustrada na

Figura 34. Nesta Figura, é apresentada a frequência acumulada para as sessões de

números 12 (imediatamente anterior ao início do protocolo), 15 (terceira semana do

protocolo) e 19 (imediatamente após o término do protocolo).

0

50

100

150

200

250

300

12014016018011001120114011601180120012201240126012801300132013401

Sacarose

Água

0

50

100

150

200

250

300

12014016018011001120114011601180120012201240126012801300132013401

0

50

100

150

200

250

300

12014016018011001120114011601180120012201240126012801300132013401

Figura 34. Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo

das sessões experimentais números 12, 15 e 19, respectivamente, do sujeito PIO.

É possível observar, na sessão 12, um padrão muito comum deste sujeito:

responde até aproximadamente 40 minutos de sessão, dormindo o restante do tempo (o

Tempo (s)

Frequência acumulada

118

que pode ser notado na completa horizontalidade da curva a partir deste momento). Na

sessão 15, outro padrão é observado: pausas muito prolongadas ao longo de toda a

sessão, com momentos em que o responder retorna à velocidade que vinha tendo. Na

sessão 19, o sujeito dormiu praticamente o tempo todo, mas o interessante é que as

únicas respostas emitidas por ele foram à barra de liberação de água, e não de sacarose.

Para este sujeito, portanto, é possível concluir que, mesmo sem que nenhuma

operação de privação imposta pela experimentadora estivesse em vigor anteriormente às

sessões, o sujeito apresentou responder em quase todas as vezes em que foi exposto ao

esquema concorrente. É possível supor que há relação do papel reforçador dos estímulos

com a operação estabelecedora em vigor, conforme colocado.

Ainda, para este sujeito, é possível afirmar que, mesmo emitindo respostas de

pressão à barra, a frequência apresentada por ele é menor do que para os sujeitos

privados anteriormente às sessões, apresentando o PIO padrão de responder com pausas

ou finalizações antes do término das sessões (muitas vezes por dormir na caixa

experimental).

Portanto, para este sujeito, algumas considerações podem ser feitas com relação

ao seu desempenho em esquema concorrente: (a) mesmo sem nenhuma condição de

privação prevista, o sujeito adquiriu a resposta de pressão à barra por água; (b) além da

aquisição da resposta, houve manutenção, o que pôde ser constatado pela frequência

observada do responder em esquema concorrente; (c) a maior frequência de respostas

foi para a barra correspondente à sacarose, durante quase todo o experimento; e (d) o

protocolo de estressores não pareceu produzir alterações no desempenho operante do

sujeito.

c. Protocolo completo (PCO1, PCO2 e PCO3)

Os sujeitos do grupo protocolo completo passaram pelas mesmas duas condições

de privação do grupo apenas privação (Tabela 8), porém com a diferença de que, na

segunda condição, também os outros estímulos do protocolo foram aplicados a eles

(conjunto completo de estressores). Dos três sujeitos deste grupo, dois atingiram o valor

2 da razão para reforçamento (PCO1 e PCO3), e um, a razão 4 (PCO2).

Na Figura 35, são apresentados, também para esses sujeitos, o número de

respostas por sessão, para cada barra, bem como a preferência pela barra de sacarose.

119

Nesta figura, a escala do número de respostas é maior do que o que foi

apresentado para os sujeitos do grupo APO e para o sujeito PIO, pelo fato do sujeito

PCO2 ter sido submetido ao esquema de reforçamento FR4. Desta forma, o máximo de

respostas por sessão, para uma das barras, para este sujeito, era de 800 respostas (200

respostas reforçadas).

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100Barra água

Barra sacarose

Preferência

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Figura 35. Número de respostas de pressão à barra emitidas por sessão pelos sujeitos PCO1,

PCO2 e PCO3, em esquema de reforçamento concorrente água-sacarose, e preferência pela

barra de sacarose. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de

estressores.

É possível perceber, na Figura 35, que, também a partir da segunda sessão em

esquema concorrente (já na primeira, para o sujeito PCO3), o número de respostas na

Semanas

Número de respostas total em cada barra

Preferência pela barra sacarose (%

)

PCO1

PCO2

PCO3

120

barra cujas pressões produziam sacarose é maior. Esta preferência se mantém por todo o

experimento, não havendo nenhuma sessão em que o número de respostas de pressão à

barra correspondente à água fosse maior do que o número na barra correspondente à

sacarose.

Os três sujeitos, semelhante ao que foi descrito para o sujeito APO2, parecem

apresentar um aumento progressivo no número de respostas à barra que liberava

sacarose. Para o sujeito PCO3, o número máximo de respostas a esta barra é emitido já

na sessão de número 10 (sexta sessão em esquema concorrente), se mantendo até o final

do experimento.

O sujeito PCO2 foi mantido sob esquema de reforçamento até a quinta sessão

em esquema concorrente (sessão número 7), e pode ser observado que o sujeito vinha

obtendo o número máximo de reforços por sessão. Ao passar para o esquema de razão

2, a mesma coisa se repete. No entanto, na primeira sessão em que há aumento da razão

fixa para o valor 4, o número de respostas cai (sessão número 12). Na sessão seguinte,

correspondente à primeira semana do protocolo de estressores, esta taxa se mantém

baixa. Portanto, pelo menos para este sujeito, não há como afirmar uma possível relação

entre o protocolo e a queda na frequência de respostas de pressão à barra, já que houve,

também próximo a este momento, a mudança no esquema de reforçamento, o que

ocorreu junto com a primeira queda na taxa de respostas.

Para o sujeito PCO1, que não passou pelo aumento da razão anteriormente ao

início do protocolo de estressores, há também uma queda grande no número de

respostas de pressão à barra que liberava sacarose na primeira sessão após o início do

protocolo.

Para ambos, PCO1 e PCO2, esta frequência volta a aumentar na sessão

subsequente, não apresentando mais nenhuma queda semelhante até o fim do

experimento.

O sujeito PCO3, desde a primeira sessão em esquema concorrente, apresenta

preferência pela barra cujas pressões liberavam sacarose. Este sujeito responde com

uma frequência muito baixa na barra correspondente à água, havendo apenas duas

exceções ao longo de todo o experimento. A primeira delas, na sessão de número 10,

pode estar relacionada ao aumento na razão do esquema (de CRF para FR2) de

reforçamento. Nesta sessão, o mesmo número de reforçadores passou a ser produzido

pelo dobro de respostas de pressão à barra, e por isto o número de respostas pode ter

aumentado não somente na barra correspondente à sacarose, mas também na

121

correspondente à água. Porém, por não ter sido proporcional este aumento (barra

sacarose: de 200 para 400 respostas, e barra água: de 29 para 125 respostas), este fator

não parece ter sido o responsável pelo aumento. A segunda foi na sessão de número 20,

correspondente à segunda semana após a suspensão do protocolo de estressores. Não há

suposições com relação a este aumento.

Portanto, para os sujeitos do grupo PCO, submetidos às sessões em esquema

concorrente ao longo de todo o experimento e ao protocolo de estressores por seis

semanas, é possível afirmar que parece não ter havido nenhuma interferência do

protocolo com relação à taxa de respostas de pressão à barra, nas sessões operantes.

Conforme pôde ser observado na Figura 35, todos os sujeitos apresentam preferência

pela sacarose, e as eventuais quedas na taxa de respostas de pressão à barra que liberava

sacarose, ou os aumentos na barra que liberava água, não podem ser consistentemente

atribuidos ao período exposição ao protocolo, não podendo, então, ser feita tal relação.

Ao final do protocolo, para os três sujeitos, houve pelo menos uma sessão em

que o aumento na frequência de respostas de pressão à barra que liberava água ocorreu.

Para os sujeitos PCO2 e PCO3, isto ocorreu na sessão número 20; para o PCO1, na

sessão 21. Coincidentemente ou não, para os dois primeiros, esta foi uma sessão em que

houve troca dos lados de apresentação dos reforçadores. O padrão apresentado pelos

sujeitos, nessas sessões, foi o mesmo descrito anteriormente, para os sujeitos do grupo

APO.

Com relação à frequência de respostas ao longo das sessões, para os três sujeitos,

também foi possível encontrar o padrão de responder indiferenciado às duas barras, no

início das sessões. Isto ocorreu em 50, 55 e 41% das sessões, para os sujeitos PCO1,

PCO2 e PCO3, respectivamente.

Na Figura 36 são colocadas as frequências acumuladas de respostas de pressão

às duas barras, uma que liberava água e a outra sacarose, para os três sujeitos, em três

sessões em que este padrão de responder ocorreu.

Nesta figura, é possível observar que, pelo menos até o quinto minuto da sessão

experimental número 8, para os três sujeitos, o responder ocorre em ambas as barras.

Após este período, as frequência se diferenciam, sendo ao final muito maior para a barra

correspondente à sacarose.

122

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

110120130140150160170180190110011101120113011401150116011701180119012001210122012301240125012601270128012901300131013201330134013501

Sacarose

Água

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

110120130140150160170180190110011101120113011401150116011701180119012001210122012301240125012601270128012901300131013201330134013501

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

110120130140150160170180190110011101120113011401150116011701180119012001210122012301240125012601270128012901300131013201330134013501

Figura 36. Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo

da sessão experimental número 8, dos sujeitos PCO1, PCO2 e PCO3.

Também é possível observar que o responder apresenta padrões típicos do

responder em esquema de reforçamento de razão fixa: pequenas pausas após cada

reforçamento, seguidas novamente pelo responder. Para o sujeito PCO2, essas pausas se

apresentam maiores que para os outros sujeitos, visto que o esquema, para este sujeito,

era de razão 4, enquanto que para os outros dois, o esquema era de razão 2.

Portanto, é possível concluir que, para os sujeitos do grupo protocolo completo,

o desempenho em esquema concorrente não demonstrou ter sofrido efeitos pela

Tempo (s)

Frequência acumulada

PCO1

PCO2

PCO3

123

submissão desses sujeitos ao protocolo. Além disso, o responder típico do esquema de

razão foi demonstrado pelos sujeitos. Houve, também para esses sujeitos, conforme já

descrito para os sujeitos do grupo APO, um padrão de responder indiferenciado entre as

duas barras no início de algumas sessões, padrão este interpretado como o momento em

que não havia diferenciação entre lados em que os reforçadores eram liberados (os

sujeitos ainda não tinham “descoberto” em qual barra produziam o que).

124

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os aspectos investigados no presente estudo podem ser assim descritos:

a) Qual o papel da privação no conjunto de estressores? Ela é fundamental para que as

alterações geralmente observadas de diminuição na ingestão de líquidos, alterações no

peso corporal, no consumo de alimento e água e no desempenho em esquema

concorrente, durante e depois do protocolo, ocorram?

b) Qual o papel do desempenho operante, quando os sujeitos passam também por esta

situação, se levadas em conta as mesmas medidas? Se passam também por esta

condição, os sujeitos apresentam diferenças com relação aos sujeitos que não passam

por ela?

Para isto, algumas manipulações foram propostas. Em primeiro lugar, isolou-se a

privação como variável independente. Três grupos de sujeitos foram formados: um que

foi exposto à privação, isoladamente; outro que foi exposto à privação, em conjunto

com os demais estressores; e finalmente outro, que foi exposto a todos os outros

estressores, com exceção justamente da privação. Para os três grupos, uma parte dos

sujeitos foi também submetida às sessões operantes. Desta forma, a influência desta

condição nos efeitos previstos do protocolo (ou, no caso, da privação ou do restante do

conjunto de estressores) poderia ser avaliada.

Os efeitos de cada manipulação foram avaliados no peso corporal dos sujeitos,

consumo de alimento e água, ingestão de sacarose e água em testes livres, e

desempenho operante em esquema concorrente.

A partir dessas manipulações, os resultados obtidos demonstraram que tanto a

privação isoladamente quanto os demais estímulos do protocolo sem a privação

produzem efeitos nos sujeitos, porém é a junção (exposição a ambas) dessas variáveis

que se mostrou crítica.

Para os sujeitos que foram submetidos ao protocolo sem privação, o peso sofreu

pequenas alterações durante o protocolo. Para dois dos quatro sujeitos, essas alterações

parecem ser devidas a um estressor específico, a iluminação contínua. Segundo Díaz e

Bruner (2007), o padrão alimentar dos sujeitos é diferente a depender do período do

ciclo luminoso. Durante o período de escuro, os sujeitos comem e bebem mais, e com

maior frequência (menores intervalos entre um consumo e outro). Assim, considerando

que a iluminação contínua poderia produzir menor frequência no consumo (maiores

intervalos entre um consumo e outro), a perda de peso devida a ela pode ser

125

considerada. De fato, considerando o dia em que este estressor esteve em vigor, foi

possível constatar o menor consumo, principalmente de alimento, para três dos sujeitos

(PI1, PI2, PI3).

Os consumos de água e alimento, conforme já apontado, demonstraram

alterações pela submissão ao protocolo, mesmo que incompleto (sem a privação),

apresentando as maiores oscilações durante este período. Estas alterações foram

menores para o sujeito que passou também por sessões operantes.

Com relação à ingestão de líquidos e preferência por sacarose, medida mais

comumente utilizada para avaliar os efeitos do protocolo, nenhuma alteração foi

encontrada, para os sujeitos que passaram pelo protocolo incompleto (sem privação),

durante este período.

O desempenho operante (enquanto variável dependente) do sujeito que, além de

passar pelo protocolo incompleto, passou também pelas sessões demonstrou que,

mesmo sem nenhuma condição de privação prevista, há possibilidade de aquisição e

manutenção da resposta de pressão à barra por água. Além disso, o protocolo de

estressores não pareceu produzir alterações no desempenho operante do sujeito.

Desta forma, visto que alterações foram encontradas em algumas medidas e não

em outras, o presente estudo coloca a possibilidade de que novas investigações a

respeito do papel do protocolo (completo ou não) com relação aos seus efeitos levem

em conta não apenas a medida de ingestão e preferência por sacarose, mas também as

demais medidas (peso e consumo de alimento e água).

Para os sujeitos que foram submetidos apenas à privação, a relação entre o peso

e a privação se mostra diretamente proporcional: quanto mais frequentes e mais longos

os períodos de privação, maior a perda de peso (e menor sua recuperação). O padrão de

consumo de água e alimento também sofre influência da condição de privação imposta

aos sujeitos. Quando os períodos foram mais frequentes e duradouros, o consumo

aumentou de velocidade (consumiam mais rapidamente, assim que eram

disponibilizados alimento e água). Mesmo assim, este aumento na velocidade não é

suficiente para “compensar” a restrição imposta, visto que, mesmo consumindo mais em

menores intervalos de tempo, o consumo não atinge os valores de quando ocorria em

menor velocidade (a média de consumo para um dia é maior, mas o total consumido em

uma semana é menor).

Com relação aos testes de ingestão e preferência por sacarose, a privação não

demonstrou ter influências nesses resultados, visto que as diferentes condições de

126

privação a que os sujeitos foram submetidos não produziram diferenças na ingestão e

preferência apresentada nos testes. No entanto, houve diferença entre os sujeitos

privados que passaram por sessões operantes e os sujeitos privados que não passaram

por esta condição. Os primeiros aumentaram a quantidade de sacarose ingerida, com o

passar dos testes.

No desempenho em esquema concorrente, os sujeitos que passaram pela

privação isoladamente apresentaram preferência por sacarose, ao longo de todo o

experimento, demonstrada pela maior taxa de respostas nesta barra. A intensidade da

privação (resultado de mudanças efetuadas da primeira para a segunda condição) não

altera a preferência por sacarose na sessão.

Para os sujeitos submetidos ao protocolo completo, houve alteração no peso,

antes da exposição ao protocolo (primeira condição de privação). No entanto, durante a

exposição a ele, os efeitos de redução no peso foram maiores. Isto pôde ser constatado

ao compararem-se os pesos desses sujeitos com o peso dos sujeitos do grupo apenas

privação. Com relação ao peso, há diferenças sutis para sujeitos submetidos a sessões

operantes. Para os sujeitos que passaram por sessões operantes, a redução no peso é

menor do que para os que não passaram. Para os consumos de água e alimento, a

mesma alteração no padrão de velocidade de consumo encontrada para o grupo apenas

privação foi encontrada para o grupo de sujeitos do protocolo completo.

Nos testes de ingestão e preferência, não houve alteração pela submissão dos

sujeitos ao protocolo completo.

Da mesma forma, o desempenho operante não sofreu alterações pelo fato dos

sujeitos passarem pelo protocolo de estressores.

Além disso, dois sujeitos foram propostos para que se pudesse explorar a

diferença entre as privações de cada um dos itens, água e alimento, com relação à

ingestão e preferência por sacarose nos testes e o peso e o consumo de água e alimento

dos sujeitos.

Com relação ao peso, foi observada diferença com relação ao tipo de item

privado, água ou alimento. Para o sujeito privado apenas de água, não houve queda no

peso; para o sujeito privado apenas de alimento, esta queda foi muito semelhante à dos

sujeitos privados de ambos os itens. Com relação ao consumo, não há alterações no

consumo de um item pela privação do outro, para o sujeito privado de água. Para o

sujeito privado de alimento, no entanto, há queda também no consumo de água, item

disponível constantemente.

127

Com relação aos testes, não houve diferenças entre os sujeitos na quantidade de

sacarose ingerida pela qualidade da privação anterior. Portanto, conforme já salientado

por Willner et al (1987), a ingestão nos testes não se deve a uma regulação calórica, o

que seria observado se o sujeito privado de alimento ingerisse mais sacarose do que o

sujeito não privado deste item.

Parece, portanto, a partir das diferenças encontradas entre os sujeitos PAL e

PAG, que há uma contribuição crítica da privação de alimento na produção dos

resultados encontrados para os demais grupos (protocolo completo e apenas privação),

que foram submetidos à privação de ambos. Pode ser que a combinação a que foi

atribuida a diferença não seja, genericamente, privação + estressores; mas sim,

especificamente, privação de alimento + estressores.

Levando-se em conta os resultados do presente experimento, uma primeira

afirmação pode ser feita: os sujeitos não apresentaram as modificações na ingestão e

preferência por sacarose que foram apresentadas pelos sujeitos dos experimentos de

Willner et al (1987), Thomaz (2001), Dolabela (2004), Rodrigues (2005) e Cardoso

(2008). Nesses estudos, todos os sujeitos submetidos ao protocolo de estressores

apresentaram diminuição na ingestão de sacarose. No primeiro, esta diminuição foi

revertida pela aplicação de antidepressivos aos sujeitos; nos últimos, pela submissão dos

sujeitos à sessões operantes.

Os resultados do presente estudo indicam que, provavelmente, houve alguma

diferença entre este e os demais. Alguma variável aqui presente, que não presente nos

outros estudos, pode ter produzido as diferenças entre os resultados.

Uma primeira hipótese é a de que esta variável tenha sido a manipulação

neonatal.

Conforme descrito no procedimento deste estudo, os sujeitos foram pesados

desde aproximadamente cinco dias de vida. Foram, portanto, manipulados deste este

momento.

Silveira et al (2004), Silveira et al (2008) e Michaels e Holtzman (2006), em

artigos sobre a manipulação neonatal, concluiram que esta pode ser considerada uma

variável que, quando sujeitos são expostos a ela, produz alterações no comportamento

de sujeitos na idade adulta, com relação principalmente ao consumo de substâncias

doces. Para eles, a manipulação pode ser considerada um estressor e, passar por esta

situação, alteraria o valor de alguns estímulos. Esta alteração seria verificada medindo-

se o consumo desses estímulos para sujeitos que passassem e sujeitos que não

128

passassem por tal situação, já adultos. Porém, em seus estudos, essas alterações

ocorreram apenas com relação ao consumo de substâncias doces sólidas, e não com

relação ao consumo de substâncias doces líquidas. No presente estudo, no entanto, a

sacarose utilizada era dissolvida em água (concentração de 2%), tendo sido, mesmo

assim, encontrado resultado similar ao relatado por eles.

Portanto, a manipulação neonatal, no presente experimento, pode ter sido

responsável pela ausência do efeito de diminuição na ingestão de sacarose pela

submissão ao protocolo de estressores.

Há, aqui, um primeiro problema, que pode ser considerado um problema teórico.

Quando avaliam a produção de efeitos do estresse no comportamento dos sujeitos,

Silveira et al (2004), Silveira et al (2008) e Michaels e Holtzman (2006) consideram

que o estresse produz aumento na ingestão de substâncias doces, enquanto que Willner

et al (1987) dizem que o estresse diminui este consumo. Com relação a este problema,

será aqui apenas salientada a relação descrita pelos primeiros: a manipulação neonatal

produz maior consumo de substâncias doces. Esta relação será considerada

independentemente de como é feita sua interpretação (se é por estresse ou não).

Levando em conta, então, a possibilidade de que tal relação existe, ela pode ter sido

responsável pela produção dos resultados no presente experimento, no que se refere à

ingestão apresentada nos testes.

A segunda hipótese levantada é a de que a variável responsável pelas diferenças

entre o presente estudo e os estudos relatados foi a exposição dos sujeitos à sacarose.

Conforme também descrito no procedimento, os sujeitos passaram por 12 testes

de ingestão e preferência por sacarose anteriormente ao período de exposição ao

protocolo (completo ou incompleto), ou à segunda condição de privação. Além disso, os

sete sujeitos que passaram por sessões operantes também tiveram esta condição presente

durante as 12 semanas. Ainda, os sujeitos que não passaram pelas sessões em esquema

concorrente tiveram a quantidade média de sacarose ingerida pelos sujeitos nas sessões

operantes disponibilizada em suas gaiolas viveiro. Portanto, sua exposição à sacarose

foi de duas vezes por semana, durante 12 semanas, anteriormente à condição de

exposição à variável independente (protocolo completo ou incompleto ou privação).

Em estudo sobre a produção de analgesia pela exposição à sacarose, Segato et al

(1997) relataram que os sujeitos expostos por 14 sessões à sacarose apresentaram maior

resistência à dor do que sujeitos que não passaram por esta condição. Em seu estudo,

esta resistência foi medida pela latência com que os sujeitos retiravam sua cauda de um

129

compartimento que tinha a temperatura gradualmente aumentada. Para sujeitos expostos

a apenas uma sessão de ingestão de sacarose, o mesmo não ocorreu (sua resistência à

dor não foi alterada). Portanto, Segato et al (1997) afirmaram que, quando expostos à

sacarose por um grande período de tempo, os sujeitos passam a ter uma diferença na

resposta a alguns estímulos (no caso, o estímulo doloroso “temperatura alta”).

No presente experimento, pelo fato dos sujeitos terem sido expostos

continuamente durante um longo período à sacarose, os efeitos do protocolo podem ter

sido “atenuados” por esta exposição. É como se esses estímulos, por conta da analgesia

produzida pela sacarose, não produzissem o mesmo efeito que produziram em sujeitos

que não tiveram tal história com a substância.

No estudo de Thomaz (2001), foram realizadas apenas cinco exposições à

sacarose anteriormente ao protocolo (dois testes de adaptação e três testes de ingestão),

para os sujeitos que não passaram pelas sessões operantes. Para os sujeitos que

passaram por essas sessões, a exposição foi de 18 sessões. Em seu estudo, por haver

tamanha diferença entre a exposição à sacarose para sujeitos que passaram e sujeitos

que não passaram por sessões operantes, a mesma possibilidade de analgesia poderia ser

levantada. No entanto, nos estudos de Dolabela (2004) e Rodrigues (2005), além das

duas sessões de adaptação à sacarose, foram realizados 12 e 16 testes, respectivamente,

previamente ao protocolo. No caso desses estudos, a exposição prolongada à sacarose

ocorreu, não tendo produzido os mesmos resultados de analgesia. Portanto, esta

hipótese não se confirma.

Ambas as hipóteses aqui colocadas, no entanto, merecem investigação. O que o

presente estudo propõe, de acordo com os resultados, é apenas a possibilidade de que

exista tal relação.

É proposto, aqui, portanto, que o isolamento de cada uma dessas variáveis seja

feito, para que esclarecimentos a respeito do seu papel na produção ou não dos

resultados esperados pela exposição ao protocolo sejam possíveis. A avaliação da

relação entre o protocolo de estressores (completo ou incompleto) e a privação no peso,

consumo de água e alimento, ingestão e preferência por sacarose e desempenho em

esquema concorrente deve considerar o papel da manipulação neonatal e da exposição à

sacarose. É salientado que estudos futuros, que utilizem procedimentos similares, não

deixem de levar em consideração o possível papel dessas variáveis nos resultados

obtidos.

130

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134

ANEXO

135

Anexo 1 Tabela com resumo dos estressores utilizados nas pesquisas citadas na introdução

Privação Iluminação Temperatura

Estressores Experimento

Choque impre-visível

Nado em água gelada

Shaker

Ali-mento

Água

Acesso restrito ali-mento

Exposi-ção garrafa vazia após período privação

Rever-são ciclo noite-dia

Con-tínua

Inter-mitente

Inclina-ção da gaiola

Agrupa-mento*

Gaio-la suja Au-

mento (calor)

Dimi-nuição (frio)

Barulho intermi-tente

Luz estro-boscó-pica

Chei-ro

Objeto estra-nho

Confina- mento

Katz (1982) X X X X X X X

Willner et al (1987) - 1 X X X X X X X

** Willner et al (1987) - 2 X X X X X X X X X X X X X

Matthews et al (1995) X X X X X X X X X X X

Forbes et al (1996) X X X X X X X X X X X X

*** Barr & Phillips (1998) X X X X X

**** Thomaz (2001),Dolabela (2004),Rodrigues (2005)

X X X X X X X X X X X

***** Cardoso (2008), Pereira (2009)

X X X X X X X X X X X X

* O agrupamento diferiu em quantidade de sujeitos agrupados por experimento (2 a 5). ** Aumento gradual na intensidade dos estressores. *** Esquema de privação utilizado foi 20 horas diárias de privação de alimento + acesso restrito (21gramas por dia). **** Privação de água constante, a fim de manter o peso dos sujeitos entre 80 e 85% de seu peso ad lib. ***** Protocolo idêntico ao de Willner et al (1987) – 2, com diferença apenas na redução de temperatura, porém sem aumento na intensidade dos estressores.