o direito a viver em família -...

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B _ i ACIDI REVISTA Nº80 MAIO 2010 O DIREITO A VIVER EM FAMíLIA ACIDI junto DAs ComunIDADes LISBOA CIDADE DA TOLERâNCIA semInárIos meDIA, ImIgrAção e DIversIDADe COMUNICAR COM OS JORNALISTAS Reunificação familiaR

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B_iACIDIrevista Nº80

MaiO 2010

O DIreItO A vIver em fAmílIA

ACIDI junto DAs ComunIDADes lIsbOA CIDADe DA tOlerânCIA

semInárIos meDIA, ImIgrAção e DIversIDADe COmunICAr COm Os jOrnAlIstAs

Reunificação familiaR

B_i 2ACIDI REVISTA Nº 80 MAIO 2010

O Reagrupamento Familiar representa hoje um dos pilares fundamentais da política de imigração europeia.Segundo dados divulgados num estudo publicado pelo Observatório da Imigração, sobre Reunificação Familiar eImigraçãoemPortugal,areunificaçãofamiliaréaprincipalviadeentradadaimigraçãoparaaUniãoEuropeia.Em2002,representavamaisde75%dosfluxosdeentradaanuais,eautilizaçãodestafiguralegaltendeaaumentaràmedidaquevãocrescendoasdificuldadesdemigraçãolegalporoutrasvias.

OReagrupamentoFamiliaré,actualmente,emtodaaUniãoEuropeia,umdireitodosimigrantes,conferidoporlei,verificadascertascondiçõesqueoregulamentamemcadaumdosEstados-membros.

Comoexercíciodestedireitoconsolidam-seosprojectosdevidademuitoscidadãosque,nabuscademelhorescondiçõesdevidaparasieparaassuasfamílias,contribuemcomoseutrabalhoparaamelhoriadascondiçõesdevidadetodosnós.

Masoexercíciodestedireitoexpressatambémumaoutradimensãomaisabrangente.Trata-sedoprincípiogeraldodireitoàvidaemfamília-afamíliacomoalicerce-e,especialmente,dosdireitosdascriançasdeviveremcomosseuspaisebeneficiaremdoseupapelessencialparaasuaeducaçãoeformação.

Defenderossuperioresinteressesdascriançasétambémgarantirascondiçõesparaqueascriançaspossamcrescernoseiodassuasfamílias,desdequeestasofereçamascondiçõesdesegurançaebem-estaressenciaisaoseuplenodesen-volvimento.

Neste sentido Portugal representa um bom exemplo quer na dimensão legislativa quer na sua aplicação.TestemunhodissosãoosGabinetesdeApoioaoReagrupamentoFamiliar(GARF)nosCentrosNacionaisdeApoioaoImigrantedeLisboa,PortoeExtensãodeFaro,cujarazãodeseréprecisamenteajudarosimigrantesnocumprimentodosrequisitosnecessáriosàreconstituiçãodasuavivênciafamiliar,queodesafiodaimigraçãoemmuitoscasosinterrompeu.

rosário farmhouse

Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural

A família como alicerce

e D I t O r I A l

Segundo dados divulgados num estudo publicado pelo Observatório da Imigração, sobre Reunificação Familiar e Imigração em Portugal, a reunificação familiar é a principal via de entrada da imigração para a União Europeia.

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o DIreItoA vIver em fAmílIA

Em entrevista nesta edição do B-i, Lucinda Fonseca, in-vestigadora do Centro de Estudos Geográficos (CEG) da Universidade de Lisboa, explica que, num contexto de crise, a entrada de imigrantes por via laboral tende

a ser menor, colocando em maior destaque a entrada e perma-nência de cidadãos estrangeiros por via da reunificação fami-liar. Por outro lado, acrescenta, para além de viver em família ser um direito que assiste a todo o ser humano, a concretização efectiva desse direito é benéfica tanto para os directamente vi-sados como para os cidadãos em geral. A generalidade da inves-tigação sobre esta matéria aponta para o facto de a reunificação familiar ter um efeito muito positivo na integração dos cida-dãos estrangeiros.

NACIONALIDADE HOMENS MULHERES AMBOS

BRASIL 2.285 3.638 5.923 UCRÂNIA 640 1.131 1.771 CABO VERDE 782 929 1.711 CHINA 505 582 1.087 MOLDÁVIA 308 598 906 ANGOLA 379 426 805 GUINÉ-BISSAU 200 233 433 S. TOMÉ E PRINCIPE 193 221 414 ÍNDIA 104 181 285 RÚSSIA 70 125 195 PAQUISTÃO 67 110 177 MARROCOS 40 70 110 TOTAL GLOBAL 5.889 8.777 14.666

Títulos de residência emitidos em 2009 ao abrigo do reagrupamento familiar (dados

provisórios do SEF)

O DIreItO A vIver em fAmílIA

Reunificação familiaR

E, de facto, é do mais elementar bom senso a argumentação de que um ser humano que vive em família tem maiores pro-babilidades de ter uma vida equilibrada do que quem que se encontre num país estrangeiro rodeado de desconhecidos. O artigo 98º da Lei de Estrangeiros estabelece que os cidadãos com autorização de residência válida em Portugal têm direito ao reagrupamento familiar. Tratou-se de uma Lei consensual, cuja implementação tem vindo a ser reconhecida, designada-mente pelo MIPEX (Migrant Integration Policy Index), que coloca Portugal em segundo lugar no que respeita à reunifi-cação familiar, logo a seguir à Suécia, numa lista de 28 países europeus. No CNAI de Lisboa, o Gabinete de Apoio ao Reagrupamento Familiar (GARF) desdobra-se em esforços para funcionar como facilitador em processos que por vezes podem ser complexos, o mesmo acontecendo no CNAI do Porto e na Extensão de Faro. Uma tarefa que, conforme sublinha o relatório sobre a avalia-ção das metas do Plano para a Integração dos Imigrantes (PII), tem sido facilitada pelo cumprimento dos prazos previstos na Lei pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).

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e n t r e v I s t A

Areunificaçãofamiliartornou-seumaimportanteviadeentradadeimigran-tes.Estaéumatendênciaquevaiper-manecer?Penso que sim. Por um lado, as dificulda-des para a imigração de natureza laboral são cada vez maiores e, num contexto de crise, maiores ainda. Para além disso, há nitidamente uma regulação de natureza económica, que no caso português é evi-dente, que faz com que tendencialemente as pessoas venham menos à procura de trabalho. Verificamos isso quando com-paramos a evolução do produto interno bruto e a evolução dos fluxos migrató-rios. Há sempre alguns desfasamentos, mas em termos genéricos há ciclos que

A reunIfICAção fAmIlIAr e A ImIgrAção são neCessárIAs para o desenvolvimento de portugal

se demarcam claramente quando analisa-mos as duas coisas. Ora, num contexto de crise e de maior controlo, a entrada pela via laboral tende a ser menor. Por outro lado, os que já cá estão, e alguns que vinham com um projecto de regresso, vendo as dificuldades de voltar a entrar, têm maior propensão a ficar e a estimular a vinda da família. Portanto, por esses dois motivos, creio que é uma tendência que vai continuar. Portugal, sendo um país de imigração recente no contexto europeu, tem vindo a aproximar-se dos padrões europeus. E se olharmos para a evolução dos números, verifica-se que a reunificação familiar tem vindo a crescer.

Apresençada família éum factordeintegraçãoimportante...Sem dúvida nenhuma. É muito impor-tante para os imigrantes e seus fami-liares e contribui ainda positivamente para o processo de integração, devido às representações que a sociedade portu-guesa tem dos imigrantes. Isto acontece por várias razões. Uma é a estabilidade, o bem-estar, pois o direito de viver em família é um direito fundamental e naturalmente melhora as condições de vida de qualquer pessoa. Mas há tam-bém vantagens em termos económicos, porque tratando-se de uma população em idade activa, estar a família junta, e haver a oportunidade de um rendimento

l u C I n D A f O n s e C A

luCInDA fonseCA, InvestIgADorA Do Centro De estuDos geográfICos (Ceg)

DA unIversIDADe De lIsboA, publICou em 2005, AtrAvés Do observAtórIo

DA ImIgrAção, o estuDo “reunIfICAção fAmIlIAr e ImIgrAção em portugAl.

CInCo Anos mAIs tArDe regressA Ao temA nestA entrevIstA, reAfIrmAnDo

que A reunIfICAção fAmIlIAr, pArA Além De responDer A um DIreIto

funDAmentAl De toDo o ser humAno, tem umA InfluênCIA DeCIsIvA nA

IntegrAção Dos ImIgrAntes.

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duplo, é facilitador. E daí que uma das alterações que propusemos foi que fosse introduzida na legislação, e felizmente foi, a possibilidade de os cônjuges pode-rem trabalhar. Isso é fundamental, sobre-tudo para famílias de baixos recursos. Deste modo, têm acesso a outro tipo de bens e de serviços e a uma vida melhor. Por outro lado, também sabemos que o isolamento, devido à falta do apoio que vem da família e de uma rede social mais ampla, dá origem a alguma instabilida-de emocional, sobretudo em populações que vivem muitas vezes em condições de pobreza. Há, por exemplo, a procura de refúgio no álcool, que provoca algumas situações de conflito, que detectámos

quando fizemos o estudo. Havendo mais equilíbrio e bem-estar, é evidente que isso se traduz numa melhoria das condições de vida da família e do seu relaciona-mento com outros imigrantes e com a população nativa.

A reunificação familiar acaba com omitodasmigrações“temporárias”.Issofoijátotalmenteinteriorizadonospaí-sesdeacolhimento?É um facto que a migração familiar é tanto mais importante quanto mais anti-ga e mais numerosa é a comunidade já instalada. Embora o projecto migratório seja muitas vezes visto como temporário, sabemos o que aconteceu na Europa

com a crise dos anos 70. Pensava-se que os trabalhadores eram “convidados” e haveria um regresso e o que aconteceu é que aumentaram os fluxos para a Europa. Mudou a composição, diminuindo o número de homens em idade activa, mas aumentou o número de mulheres e crianças. Isso claro que se traduziu num aumento dos fluxos ao abrigo da reunifi-cação familiar. Mas houve também cada vez mais a constituição de famílias mis-tas, resultantes de casamentos entre imi-grantes e membros da população nativa ou de outras comunidades, e por essa via também se alargou o potencial de reuni-ficação familiar. Essa tendência verificou-se na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá, em todo o mundo.

O DIreItO A vIver em fAmílIA

Reunificação familiaR

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Háfaixasetáriasmaispropensasàreu-nificaçãofamiliardoqueoutras...À medida que aumenta a idade, claro que será menor a propensão para a reunifi-cação familiar. Contudo, há diferenças importantes que, além da dimensão das comunidades de cada origem geográfica e do tempo de permanência em Portugal, reflectem também diferenças culturais no domínio religioso e dos papéis sociais e das dependências entre géneros.

Quando as famílias se reagrupam nopaís de destino, há uma redefiniçãodospapéisdecadaumdosmembros?Há alterações muito relevantes. Uma delas prende-se com a integração das mulheres no mercado de trabalho. Quem vem mais frequentemente ao abrigo da reunificação familiar ainda continuam a ser as mulheres. Há situações muito diferentes consoante as comunidades, que têm por base diferenças culturais extremamente relevantes, que reflectem também os papéis dos géneros na família nos países de origem. Quando se dá a migração, as mulheres têm de trabalhar. Seja na economia formal, seja na eco-nomia informal, isso é imprescindível. Ora isso implica uma redefinição do seu papel, porque a mulher passa a ter uma função económica fundamental. Permite-lhe ainda alargar o seu campo relacional para fora da família e tornar-se mais independente, embora isso tenha um preço, porque a actividade profis-

sional não reduz a responsabilidade que tem na educação dos filhos, no trabalho doméstico, etc. A isso acresce essa nova função económica, que sem dúvida lhe permite uma maior autonomia e o con-tacto com outros modelos de organização familiar, e por essa via um processo de aproximação à sociedade de acolhimento.

Que apreciação faz do actual enqua-dramento que a Lei portuguesa dá aestamatéria?Relativamente à situação anterior, o avanço é notável por vários motivos. Antes de mais, porque termina a dife-renciação entre o reagrupamento e a reunião familiar, e isso é extremamente importante porque elimina a restrição de acesso ao mercado de trabalho para os cônjuges que entraram no país ao abri-go da reunião familiar. Depois, porque reduz o tempo necessário à obtenção de uma autorização de residência autónoma, diminuindo a dependência directa do cônjuge que patrocina a reunificação. Essa mudança é fundamental, já que em caso de divórcio as pessoas ficavam numa situação de irregularidade, por-que a autorização de permanecerem no país estava associada à existência desse vínculo familiar. Por outro lado, tam-bém, se terminou com a diferença entre o casamento e a união de facto. E no contexto actual, com uma definição de família progressivamente menos fixa, essa também me parece uma questão relevan-te. Para além disso, os direitos que são atribuídos, em termos de trabalho, repre-sentam um avanço significativo e são um contributo essencial para o processo de integração. A reunificação fazia-se de forma irregular, as pessoas vinham de qualquer maneira. Mas, ao tornar mais acessível a vinda ao abrigo do estatuto do reagrupamento familiar, diminuíram os casos de indocumentação, e melhorou o acesso aos direitos e a uma integração plena na sociedade portuguesa.

Oestudoquefezsobreestamatériaéde2005.Oquepoderiaseractualmen-temodificadoouacrescentado?Gostaria de analisar a evolução e o que se passou entretanto, os efeitos da nova lei, as tendências que se verificaram em termos da reunificação familiar das dife-rentes comunidades. Houve grandes alte-rações ao nível das comunidades mais numerosas. Hoje em dia, os brasileiros são a principal comunidade e em segun-do lugar vêm os ucranianos. É uma situ-ação completamente diferente daquela que se verificava quando estávamos a fazer o estudo, mas há também uma outra tendência importante, o aumento dos casamentos mistos, que envolvem cônjuges com origens diferentes. Este fenómeno é uma questão extremamente interessante, é um sinal de integração. E o nascimento de crianças descendentes destas novas famílias é muito relevante. É importante também perceber as diferen-ças entre as comunidades em termos das estratégias da reunificação e a melhoria das condições de vida dos imigrantes no processo de integração em geral. Isso só se consegue com uma análise mais exaus-tiva e com trabalho de campo, na medida em que os dados estatísticos disponíveis são insuficientes. De qualquer modo, no estudo de 2005 construímos alguns cenários de evolução para o fenómeno da reunificação familiar, para tentar funda-mentar algumas das alterações legislativas que propúnhamos no sentido de facilitar a reunificação das famílias. Temia-se, em alguns quadrantes, que essa nova abertura à reunificação familiar fosse provocar uma avalanche de imigrantes e por isso aventurámo-nos a construir alguns cenários evolutivos. É interessante verificar, olhando para os números de que dispomos, que o número de pessoas que pediram o estatuto de residente ao abrigo da reunificação familiar, desde que fizemos o estudo, se aproxima muito do cenário que apresentámos para uma situação de crise.

e n t r e v I s t A

O DIreItO De vIver

em fAmílIA é um

DIreItO funDAmentAl

e nAturAlmente

melhOrA As COnDIções

De vIDA De quAlquer

pessOA.

7

Areunificaçãofamiliaréumfenómenobenéficoparaopaísdeacolhimento?É um fenómeno estrutural, que se vai manter, e em relação ao qual uma maior abertura só tem vantagens, porque é uma forma de combate às entradas e às permanências em situação irregular, que têm problemas gravíssimos que afectam os imigrantes, as suas famílias e a coesão da sociedade portuguesa. Por outro lado, a reunificação familiar e a imigração são necessárias para o desenvolvimento de Portugal. E essa era também uma das recomendações que fazíamos no estudo: Além de ser um direito fundamental dos imigrantes, também é positivo para Por-tugal, tendo em conta o envelhecimento da população portuguesa e o contributo cada vez mais significativo dos imigrantes para o número de crianças que vão nas-cendo. A questão demográfica é relevante mas, para além disso, os imigrantes tam-bém aumentam o potencial produtivo nacional, porque se trata de população jovem e em idade activa. A imigração é,

por conseguinte, uma variável importan-te do desenvolvimento regional descen-tralizado, devendo ser tida em conta em estratégias de coesão territorial. Gostaria muito de insistir neste ponto, porque a imigração poderá constituir um elemento revitalizador das regiões onde o processo de envelhecimento assume proporções mais graves. Além disso, a integração também será muito mais fácil. No in-terior do país temos muitas habitações desocupadas, bons equipamentos, temos por exemplo escolas fechadas porque não há crianças, etc.

É preciso encorajar a dispersão daimigração? Exactamente. Encorajar a dispersão e facilitar a atracção das pessoas por estes territórios, dando-lhes mesmo incentivos e apoios e promovendo a sua valorização, investindo nos jovens, nas crianças e no aproveitamento das suas capacida-des. Trata-se de uma população jovem, produtiva, frequentemente com qualifi-

A ImIgrAçãO é umA

vArIável ImpOrtAnte

DO DesenvOlvImentO

regIOnAl

DesCentrAlIzADO,

DevenDO ser tIDA em

COntA em estrAtégIAs

De COesãO terrItOrIAl.

cações profissionais superiores à média da população que reside nessas regiões, uma característica que por via do enve-lhecimento se acentua, porque há aqui um efeito etário. Isto poderia funcionar como um factor de dinamização muito relevante, porque há uma enorme falta de capital humano e os imigrantes podem trazê-lo. Por outro lado, a menor dimen-são dos lugares facilita uma interacção positiva com as comunidades locais.

O DIreItO A vIver em fAmílIA

Reunificação familiaR

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e n t r e v I s t A

A reunificação familiar é uma via deentrada de imigrantes cada vez maisimportante.Issosente-senoGARF?Sente-se muito. Quando as pessoas con-seguem regularizar a sua situação e ter al-guma estabilidade, começam a pensar em trazer a família, porque a família é a base, o pilar para a integração do imigrante no país de acolhimento, que o motiva tam-bém para o trabalho que está a desem-penhar. Uma vez que tenham condições para isso, a tendência é os imigrantes re-correrem ao Gabinete de Apoio ao Rea-grupamento Familiar. Assim, esta é uma importante via de entrada, porque acaba por vir o cônjuge, os filhos, etc. Nem sempre acontece, mas por vezes há famí-lias numerosas, sobretudo provenientes de África ou da Ásia.

toDos os ImIgrAntes sentem necessidade de trazer a sua família

Comofuncionaumpedidodereagru-pamentofamiliar?No GARF, nós acompanhamos dois di-ferentes tipos de casos de reagrupamen-to. As pessoas que têm residência em Portugal, se tiverem um familiar no país de origem, têm de apresentar um pedido junto do Serviço de Estrangeiros e Fron-teiras (SEF). E, uma vez que a família está fora do país de origem, quem apresenta o pedido é o titular do direito de reagrupa-mento familiar, o requerente que está em território nacional. Por outro lado, se a pessoa tiver o familiar em Portugal, como frequentemente acontece com os cida-dãos brasileiros, que entram em Portugal isentos de visto, tanto o requerente como o próprio familiar podem efectuar o pe-dido junto do SEF. Em ambos os casos, o

SEF irá por sua vez emitir uma decisão. Os que têm o familiar fora de Portugal, após o deferimento do SEF, efectuam então um pedido de visto de residência no consulado de Portugal do país onde se encontra a residir esse familiar. Também acompanhamos os casos de cidadãos na-cionais que já adquiriram a nacionalidade portuguesa e têm familiares que não são portugueses. Esses estão dispensados de apresentar o pedido no SEF, efectuando o pedido de visto de curta duração na Sec-ção Consular portuguesa do país onde se encontra o familiar.

Emtodoesteprocesso,ondeintervémoGARF?O GARF intervém a partir do momen-to em que a pessoa recorre ao Centro

heIDI pInto é A meDIADorA-gestorA, no CnAI lIsboA, Do gAbInete De

ApoIo Ao reAgrupAmento fAmIlIAr (gArf), CujA mIssão é A InformAção,

ACompAnhAmento e DesbloqueAmento De proCessos De CIDADãos

estrAngeIros que pretenDem reAgrupAr A suA fAmílIA em portugAl.

portuguesA De orIgem guIneense, veIo estuDAr pArA portugAl muIto

CeDo, Aos seIs Anos, mAs ConsIDerA não ter pAssADo As DIfICulDADes que

vê AtrAvessArem muItos ImIgrAntes que reCorrem Ao gArf. ApesAr DIsso,

ContA, os prImeIros tempos forAm DIfíCeIs, DevIDo à DIstânCIA DA fAmílIA,

Ao ClImA e Ao fACto De ter sentIDo AlgumA DIsCrImInAção.

DepoIs De Alguns Anos num ColégIo Interno Do porto, veIo pArA lIsboA,

onDe ConCluIu o ensIno seCunDárIo e reAlIzou umA lICenCIAturA em

relAções InternACIonAIs, seguIDA De umA pós-grADuAção em relAções

InternACIonAIs AfrICAnAs.

h e I D I p I n t O

9

Nacional de Apoio ao Imigrante (CNAI) e chega ao nosso gabinete com um recibo que comprova que já deu entrada um pedido de reagrupamento familiar no posto consular, se for cidadão português, ou no SEF. Vemos a data em que o pedi-do foi feito e analisamos a situação, para podermos fazer o acompanhamento de todo o processo. Quando não há resposta aos pedidos efectuados, intervimos com pedidos de informação ou, conforme os casos, pedidos de urgência, por vezes em situações dramáticas. Quando o pedido é indeferido pelo SEF, o GARF efectua alegações; quando é indeferido pelos pos-tos consulares, ajudamos os requerentes a elaborarem os pedidos de reapreciação. Por outro lado, muitos postos consulares, quando indeferem os pedidos, não noti-ficam as pessoas, que por vezes não che-gam a conhecer os motivos. Nesses casos, o GARF envia um pedido de exposição dos motivos de indeferimento ao consu-lado. Actualmente, como há muitas pes-soas que estão a adquirir a nacionalidade portuguesa, o GARF também efectua muitos pedidos de convolação de vistos. Isto é, outrora os requerentes davam a entrada do pedido no SEF e depois então efectuavam o pedido de visto de residên-cia no consulado de Portugal no país onde está o familiar. Mas se entretanto adquirirem a nacionalidade portuguesa, o GARF ajuda os cidadãos a elaborarem uma carta ao Posto Consular para ser feito o aproveitamento de todos os actos, diligências e pareceres já efectuados pelo cidadão e pelas instituições envolvidas no processo, bem como de toda a docu-mentação já apresentada ou entregue, relativamente a si e à sua família. Ou seja, um pedido de convolação do visto de residência em visto de curta duração, uma vez que a pessoa já adquiriu a nacio-nalidade portuguesa. Este é um trabalho de acompanhamento que perdura até o familiar chegar a Portugal.

Éumtrabalhoquepodesermoroso...Pode demorar. Quando os pedidos dão entrada no SEF, este organismo tem três meses para emitir uma decisão. Por vezes, há processos mais complexos e o SEF tem necessidade de prorrogar esse prazo por mais três meses, num total de seis meses. Mas a partir do momento que chega aos

seis meses, se a pessoa não tiver uma res-posta, nós enviamos um pedido de cer-tificação de deferimento tácito. O SEF então notifica a pessoa e tem de comuni-car a decisão ao Ministério dos Negócios Estrangeiros no prazo de 48 horas. Em alguns Postos Consulares é que essa de-mora é maior, temos casos de processos que aguardam resposta há 2 anos.

Pode-sefalarnum“tipodepessoa”quesedeslocaaestegabinete?Apesar de serem pessoas de diferentes cul-turas, que é um ponto fundamental, são pessoas humildes, que entram com um ar bastante fragilizado. Dá a sensação de que entram com um pé atrás, acreditando que não vão conseguir aquilo que pretendem. Mas vêm para se informar e por vezes

tODOs Os ImIgrAntes,

A pArtIr DO mOmentO

em que COmeçAm A

trAbAlhAr,

sentem neCessIDADe

De trAzer Os seus

fAmIlIAres.

O DIreItO A vIver em fAmílIA

Reunificação familiaR

B_i 10ACIDI REVISTA Nº 80 mAIO 2010

e n t r e v I s t A

saem do gabinete muito mais motivados e felizes, com um sorriso largo e bastan-te esperançadas. Acho que este gabinete transmite esse sentimento. Geralmente, a grande maioria dos imi-grantes que pretendem reagrupar a sua família são homens, apesar de não poder-mos generalizar totalmente. Depois de terem alguma estabilidade, querem trazer a esposa e os filhos. A maioria são pesso-as em idade activa, de uma faixa etária entre os trinta e quarenta anos. Todos os imigrantes, a partir do momento em que começam a trabalhar, sentem necessidade de trazer os seus familiares.

Quaistêmsidoasnacionalidadesquemaissolicitamoreagrupamentofami-liar?Os pedidos têm evoluído, consoante as entradas de imigrantes. Antigamente, os imigrantes que vinham ao Gabinete eram maioritariamente ucranianos, o que tinha a ver com o facto de esta ser a maior comunidade imigrante em Portugal. Actualmente, quem mais pro-cura o nosso Gabinete são os cidadãos da Índia, Nepal, seguidos dos da Ucrânia e da China. Em termos dos PALOP, os que mais nos solicitam são os guineenses, que recentemente têm aparecido em maior número do que os cabo-verdianos. Têm aparecido também muitos imigrantes provenientes da África Ocidental: Guiné-Conakri, Senegal, Nigéria... Julgo que isto tudo tem directamente a ver com a entrada dos imigrantes em Portugal, e não com alguma propensão especial de uma determinada nacionalidade para recorrer ao nosso gabinete. A excep-ção talvez sejam os cidadãos brasileiros que querem trazer a família. Como têm maior facilidade e estão isentos de visto, recorrem directamente ao SEF e passam menos por este gabinete.

Referiuqueporvezessurgemsituaçõesmaiscomplicadas...Temos muitas situações felizes, mas tam-

bém outras que são muito dramáticas. Tivemos, por exemplo, uma cidadã gui-neense que fez o pedido de reagrupamen-to para uma filha, que está na Guiné, e já não a via há muitos anos. O processo demorou bastante tempo e ela acabou por se deslocar à Guiné para perceber o que se passava no consulado de Portugal. Poucos dias depois, soubemos que fale-ceu. Foi muito triste, porque era um caso que já acompanhávamos há cerca de um ano e meio. Levou para a Guiné várias cartas elaboradas por este gabinete, preparámos tudo com ela, e tínhamos esperança que viesse já com a filha. Entretanto, este pedido de reagrupamen-to acabou por ficar suspenso. Agora esta criança está sem a mãe e as dificuldades são muito maiores. Mas temos também situações muito felizes. Por vezes, os cidadãos da Índia vão ao seu país visitar a esposa e após o regresso vão ao gabinete pedir urgência, porque a esposa está grá-vida e querem acompanhar o nascimento do filho! Há estas situações felizes e há situações muito tristes também. Mas, na sua maioria, posso dizer que, quando se deslocam ao gabinete, os imigrantes saem com um ar completamente diferente daquele com que entraram. Claro que quem recorre a nós quer uma resposta, uma decisão final. Mas se houver algum feedback, alguma informação que seja, é já um motivo de satisfação.

ComqueinstituiçõesoGARFinteragehabitualmente?Com o Ministério dos Negócios Estran-geiros, através da Direcção do Serviço de Vistos e Circulação de Pessoas, onde nos é fornecido apoio relativamente aos pedi-dos. Também com os postos consulares, havendo por vezes necessidade de efectu-ar contactos por carta e por telefone, para processos cuja demora é maior. Temos também uma boa relação com o SEF, que tem procurado cumprir os prazos e quando necessário emite a certificação de deferimento tácito.

A equIpA DO gArf

AJúliaCruzédeorigemcabo-

verdiana,aMarianaKasyanovade

origemucranianaeeusoudeorigem

guineense,emboraastrêstenhamos

jánacionalidadeportuguesa.Éuma

experiênciafantásticatrabalharnesta

equipaqueprocurafazertudooque

forpossívelparasolucionaroscasos

eparaconseguiromaiornúmerode

deferimentospossível.Éumtrabalho

muitointeressante.

OSNÚMEROSDOGABINETEAtendimentos em 2009: 7.593 Atendimentos em 2008: 6.925

Principais países de origem: Índia, Nepal, Bangladesh, Ucrânia, Guiné-Bissau, China,

Senegal, Guiné-Conacry.

CNAILisboaRua Álvaro Coutinho, 14

1150 - 025 Lisboa Tel.: 21 810 61 00 Fax: 21 810 61 17

E-mail: [email protected]ário: De 2ª a 6ª das 8h30 às 18h30

CNAIPortoRua do Pinheiro, 9

4050-484 PortoTel.: 22 207 38 10 Fax: 22 207 38 17E-mail: [email protected]ário: De 2ª a 6ª das 8h30 às 16h30

ExtensãodoCNAIemFaro

LojadoCidadãoMercado Municipal, 1º Piso

Largo Dr. Francisco Sá Carneiro 8000-151 Faro

E-mail: [email protected] Horário: 2ª a 6ª, das 8h30 às 19h00

Sábado das 9h00 às 13h00

11

francisco silva guIné-bIssAu

Francisco Silva é guineense de origem, da região de Calequisse.

Começou por imigrar para o Senegal, onde aprendeu as diversas

vertentes do seu ofício: Desde pintura e estuques a colocação

de pladur e colocação de tectos falsos, o importante sempre foi

haver trabalho. Em Portugal há cerca de 18 anos, começou por

se instalar sozinho no Prior Velho e passou muito tempo a fazer

economias enquanto a família esperava na Guiné.

Há cerca de três anos, já com nacionalidade portuguesa e

proprietário de um apartamento na Amadora, decidiu que tinha

condições para trazer a família e iniciou o processo junto do Gabinete de Apoio ao

Reagrupamento Familiar do CNAI de Lisboa. Foi um processo que demorou cerca de

um ano, ao fim do qual Francisco pode instalar a mulher e os seis filhos em Portugal.

Actualmente, estão todos a estudar, embora os mais velhos ajudem nas obras. A vida

está muito difícil, afirma, e é difícil assegurar o sustento desta família numerosa. Apesar de tudo, reconhece, não tão difícil como na Guiné, onde

faltam muitos bens e serviços essenciais e, sobretudo, falta trabalho. Aqui, apesar da pobreza, sempre se vive melhor. Feitas as contas, não tem

dúvidas de que fez bem em se instalar com a família em Portugal.

malkit singh ínDIA

Malkit Singh ouviu falar pela primeira vez em Portugal ao ler o

jornal na sua terra natal, o Punjab, no Norte da Índia. E apesar

de não conhecer ninguém no nosso país, o desejo de conhecer

o mundo e a vontade de encontrar trabalho trouxe-o a Lisboa

em 2002. Depois de uma carreira militar no exército indiano

e de alguma experiência na agricultura, começou a trabalhar

nas obras. Após alguns problemas de saúde causados por um

acidente de trabalho, continua no mesmo ramo, mas como tra-

balhador independente. Em Janeiro de 2010, ao fim de quase

um ano de diligências, conseguiu trazer para Portugal a mulher, a filha de 20 anos e o

filho de 19. Para já, e até ver, os pais ficaram no Punjab.

Actualmente a família mora em Lisboa, nas imediações do Hospital de S. José. A

prioridade para os filhos é dominar um pouco melhor o português, porque até agora a

barreira da língua tem-lhes tornado mais difícil a integração no mercado laboral. Depois, acredita, ser-lhes-á mais fácil conseguir um trabalho

numa loja, num restaurante ou em qualquer outra actividade que possa surgir.

trAzer A fAmílIA De outros ContInentes

O DIreItO A vIver em fAmílIA

Reunificação familiaR

B_i 12ACIDI REVISTA Nº 80 mAIO 2010

Esta iniciativa, intitulada “Lisboa, Cidade da Tolerância”, decorreu no Centro de Lisboa, cidade onde se concentra o maior número de imigrantes em Portugal. Apostando numa política de maior

proximidade às comunidades imigrantes, enquanto princípio fundamental do ACIDI, a Alta Comissária, acompanhada pelo seu Gabinete, dedicou três dias ao contacto directo com os interlocutores privilegiados no acolhimento e integração dos imigrantes, desde organismos da Administração Pública Local, Projectos Escolhas, Centros Locais de Apoio à Integração de Imigrantes (CLAII) e outros parceiros estratégicos. Durante três dias, o gabinete instalado na Praça da Figueira prestou informação aos cidadãos sobre as mais variadas ques-tões relacionadas com imigração. Do vasto programa, desta-caram-se dois momentos chave: A visita guiada pelo Centro de Lisboa, com a presença da Alta Comissária e de todos os líderes religiosos das comunidades residentes em Portugal, e o Balanço Final da iniciativa, nas instalações da Câmara Municipal de Lisboa, no Palácio do Machadinho, com a pre-sença do Presidente da Autarquia.

rosário farmhouse AltA ComIssárIA pArA A ImIgrAção e DIálogo InterCulturAl

As saídas do ACIDI Junto das Comunidades

têm como principal objectivo responder

a um dos princípios chave do ACIDI, que

é o Princípio da Proximidade. Talvez seja

o princípio com o qual mais me identifico

neste meu mandato, porque vim do terreno,

vim de um contacto muito próximo com os

imigrantes. E como agora, enquanto Alta Comissária, nem sempre estou

tão perto, é necessário algumas vezes programarmos iniciativas como

esta para estar no terreno, para poder conhecer melhor a realidade. Isso

permite reunir os parceiros, reunir os projectos Escolhas da zona, os

Centros Locais de Apoio ao Imigrantes, as associações de imigrantes, a

sociedade civil.

Neste ACIDI Junto das Comunidades em Lisboa, fomos um pouco mais

longe e resolvemos juntar também os líderes religiosos. Portugal tem

uma realidade muito original nesta matéria, porque apesar de a sua

História nem sempre ter sido uma História de tolerância, o que é certo

é que actualmente vivemos um clima de tolerância, de diálogo, de

uma relação muito harmoniosa entre todas as religiões. Isso foi visível

na presença dos seus líderes, que se quiseram juntar a nós para fazer

uma descoberta pelo centro antigo da cidade de Lisboa, aquele centro

que tem mais marcas da interculturalidade, mais marcas das várias

religiões presentes, e que agora tem uma presença tão distinta de várias

comunidades que aproveitaram esta zona para actualmente terem as

suas actividades e as suas vivências.

É por isso que toda esta zona da Mouraria, da Praça da Figueira, do

centro antigo da cidade, nos traz este desafio da interculturalidade, que

Lisboa tem sabido agarrar como uma enorme oportunidade e Câmara

Municipal de Lisboa tem feito esforços, nas diversas iniciativas que tem

levado a cabo, para aproveitar este potencial e transformá-lo em mais-

valia.

ACIDI junto DAs ComunIDADes lIsbOA CIDADe DA tOlerânCIA De 19 A 21 De AbrIl reAlIzou-se A InICIAtIvA ACIDI junto DAs ComunIDADes, A quIntA DesDe A tomADA De posse DA AltA

ComIssárIA pArA A ImIgrAção e DIálogo InterCulturAl, rosárIo fArmhouse.

A C I D I

13

OquesepretendeucomestavisitaàcidadedeLisboa?Esta visita realizou-se no âmbito da iniciativa ACIDI Junto das Comunidaes, numa parceria com o Programa Escolhas. A visita foi organizada com o objectivo de mostrar, por um lado, as transformações que foram ocorrendo na cidade de Lisboa e algumas marcas simbólicas da tentativa de transformar espaços que chegaram até nós com uma conotação histórica de intol-erância para um momento novo, uma outra visão da cidade. O que parece importante é perceber que as pessoas se vão ap-ropriando do espaço, que é o que faz a cidade, e ver como os diferentes espaços vão convivendo.

ALisboaantigaéumacidadeemtransformação?A cidade congrega e atrai pessoas de geografias muito difer-entes, fazendo uma nova geografia. A cidade é diversidade, mas também é sempre imperfeita, sempre incompleta, tumultuosa, inacabada, sempre em construção e sempre a ser de alguma forma reciclada. O caso do Martim Moniz é disto exemplo: Uma grande praça que foi construída onde uma parte da ci-dade tinha sido demolida, e que hoje precisa de ser repensada, redesenhada, para dar resposta a exigências e a uma dinâmica que se criou à sua volta e a que não responde actualmente.

Falaramnapossibilidadederoteirosgastronómicos...Como elemento de contacto, de agregação e de conhecimen-to do Outro, o estômago acaba por ser um factor de ligação, porque na tradição do Mediterrâneo (mar que une a Europa, África e Ásia) é à mesa que discutimos, que pensamos, que se ri e se fazem negócios. As populações que agora fazem parte da grande cidade de Lisboa podem fazer a diferença na recon-strução deste espaço (Martim Moniz). Aqui há a possibilidade de criar restaurantes, mais lugares de encontro, para nos dar-mos a conhecer. A partilha começa claramente pelo estômago e a partir daí virá muito mais.

António Costa presIDente DA CâmArA munICIpAl De lIsboA

Quero agradecer à Senhora Alta

Comissária a visita que fez a esta zona

da cidade de Lisboa. A cidade e toda

a sua história fazem parte da nossa

identidade e a zona antiga, com os seus

novos residentes, está a ser percorrida por

novos passos e novas realidades, com um grande dinamismo. E por isso,

como tenho reafirmado, nós não só queremos como necessitamos de

imigrantes na cidade de Lisboa.

vIsItAr A lIsbOA DA tOlerânCIA

o prImeIro DIA Do “ACIDI junto DAs ComunIDADes” InCluIu umA vIsItA guIADA pelo Centro De lIsboA. os guIAs DestA

vIsItA, os professores De geogrAfIA DulCe pImentel e nuno soAres, DA fACulDADe De CIênCIAs soCIAIs e humAnAs DA

unIversIDADe novA De lIsboA, explICArAm AlgumAs DAs trAnsformAções reCentes.

B_i 14ACIDI REVISTA Nº 80 mAIO 2010

f O r m A ç ã O

No âmbito dos Seminários Media, Imigração e Diversidade, organizados pelo ACIDI e pelo Centro

Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas (CENJOR) realizou-se no dia 9 de Abril, em Lisboa, o encerramento do último de quatro seminários dedica-dos a esta temática.O Seminário contou com o lançamen-to de uma nova ferramenta, uma Lista de Profissionais Imigrantes, que é uma base de dados de contactos de imi-grantes plenamente integrados no nosso país que se mostraram disponíveis para serem consultados nas suas diferentes áreas de trabalho. A lista foi elaborada pela Organização Internacional para as Migrações e pelo ACIDI, com os objecti-vos de facilitar o contacto com as comu-nidades imigrantes e espelhar a sua repre-sentatividade na sociedade Portuguesa.Para fazer um balanço da iniciativa e simultaneamente um debate sobre as boas práticas de jornalismo, o painel de convidados integrou José Alberto Carvalho, da RTP, Cândida Pinto, da SIC, Simone Duarte, Editora Executiva do Público, Maria do Rosário Lira, Directora-Adjunta da RDP e Carlos Raleiras, responsável do programa “Gente como Nós”, do ACIDI, emitido na TSF. O debate contou ainda com Roberto Carneiro como moderador e com o jornalista Adelino Gomes, do Conselho Científico da organização dos

semInárIos media, imigração e diversidade

Seminários. O programa integrou ainda a Peça de Teatro “Vento de Leste” com a actriz Natasha Marjanovic. Os seminários, que tiveram lugar em Faro, Coimbra, Porto e Lisboa, contaram com a participação de cerca de 100 jor-nalistas portugueses e estrangeiros, prove-nientes dos vários media: jornais, revistas e rádiosnacionais e regionais, televisões, agências de notíciasmedia étnicos entre outros.

Adelino gomes jornAlIstA Do públICo

Estes seminários, que atraíram jornalistas nacionais, regionais, da imprensa local, e também investigadores e elementos das associações de imigrantes, tiveram como objectivos a sensibilização para a delica-deza desta matéria e, por outro lado, for-necer alguns instrumentos que facilitem a vida do jornalista. Como jornalista,

acho essencial a formação profissional. E neste sector, que é um sector específico para o qual nós não fomos formados nem sequer sensibilizados, é evidente que con-sidero isto precioso. Temos em Portugal centenas de milhares de imigrantes. É uma riqueza imensa em termos de expe-riências profissionais e de competências que estão escondidas.

josé Alberto Carvalho DIreCtor De InformAção DA rtp

Esta foi uma boa oportunidade para os jornalistas saírem da redacção e para ouvirem e testemunharem por si próprios aquilo que desafia muitas vezes os nossos preconceitos. As questões que têm a ver com a segregação, a discriminação e os preconceitos em Portugal são muitís-simo importantes. Nós temos alguma tendência para repetir as coisas e não reflectir sobre o que fazemos. E quando a sociedade está a mudar de uma forma tão acentuada e tão radical em Portugal,

15

monica goracci Chefe De mIssão DA oIm em portugAl

seja por causa do envelhecimento, seja por causa da imigração, seja por causa da crise, seja por causa da evolução tecnoló-gica, etc, precisamos de nos questionar a nós próprios. Aquilo que fazia sentido antes não tem necessariamente de fazer sentido hoje. O meu testemunho sobre as acções do ACIDI é que elas têm sido extraordinariamente positivas, pessoal-mente e profissionalmente.

roberto Carneiro CoorDenADor Do observAtórIo DA ImIgrAção

A imigração é uma matéria muito deli-cada, muito complexa, que envolve mui-tos preconceitos na sociedade portu-guesa. E é uma matéria frequentemente muito pouco compreendida e estudada. Pensámos que seria bom que os jornalis-tas que tratam desta área tivessem melhor acesso a fontes de informação, soubessem melhor com quem falar para esclarecer as coisas. Este quarto seminário coroa uma

série de seminários com uma participa-ção muito grande e um grande interesse de todas as partes.

Cândida pintojornAlIstA DA sIC

Estes debates são importantes porque obrigam-nos a reflectir sobre o que anda-mos a fazer no dia-a-dia. Esta paragem para pensar sobre estes problemas, que são problemas importantes, pode impe-dir que se cometam erros em trabalhos futuros. (...) Acho que hoje há uma maior ponderação nestas matérias do que existia há dez ou quinze anos, também porque surgiram muitos casos dramáti-cos com péssimos resultados, com reper-cussões muito frustrantes. Portanto, acho que nos últimos anos se aprendeu muito.

A ideia da base de dados de contactos de

profissionais imigrantes surgiu do facto de

notar que em particular na televisão, mas

também na imprensa e nos media em geral,

muitas vezes não existe conhecimento

de fontes, de pessoas que possam

participar em debates, em programas,

ou simplesmente dar testemunhos em

algumas áreas que achamos importantes.

A televisão é um pouco o espelho da nossa

sociedade. Por isso, pretendeu-se facilitar o

acesso à televisão de pessoas de diferentes

backgrounds, países e origens, e ter estas

pessoas a falar de temas que vão além da

imigração. Uma pessoa não é só imigrante,

não tem só o seu percurso migratório

como característica, tem o seu trabalho,

a sua personalidade, os seus estudos, e

contribui para o desenvolvimento da vida

do país. Portanto, procurou-se identificar

imigrantes nas várias áreas, que possam

dar o seu testemunho e que possam intervir

em coisas que têm interesse comum. Há

poucos imigrantes a dar testemunhos em

áreas que não sejam necessariamente

ligadas à imigração. Pretende-se realmente

mostrar que a sociedade é composta por

vários tipos de pessoas, que vêm de vários

países, e que de facto contribuem para o

desenvolvimento do país.

B_i 16ACIDI REVISTA Nº 80 mAIO 2010B_i ACIDI REVISTA Nº 80 MAIO 2010 16B_i

DIversIDADe CulturAl reDe ClAII promove oDIA munICIpAl DO ImIgrAnte

Querazõeslevaramàcriaçãodo“DiaMunicipaldoImigrante”emAveiro?Este dia resulta do facto de ter decor-rido em Aveiro, durante mais de meio ano, um conjunto de acções integra-das num projecto de “Promoção da Interculturalidade a nível Municipal”, designado “Aveiro+Intercool”, que envolveram as associações de imigrantes e outras entidades correlacionadas e pre-ocupadas com as questões da integração dos imigrantes no tecido social, cultural e económico do Concelho. Sendo a

claii

“promover A InterCulturAlIDADe A

nível munICIpAl” foI o DesAfIo que

o ACIDI lAnçou à reDe De Centros

loCAIs De ApoIo à IntegrAção De

ImIgrAntes (ClAII) em 2009, AtrAvés

Do fInAnCIAmento De 24 projeCtos

Ao AbrIgo Do funDo europeu pArA A

IntegrAção De nACIonAIs De pAíses

terCeIros (feInpt).

Foi neste contexto que muitas autarquias e entidades da socie-dade civil dinamizaram mais de uma centena de actividades

em vários concelhos do país, nos domí-nios da Educação, Mercado Trabalho, Acolhimento Inicial de Imigrantes, Sensibilização da Opinião Pública, Participação na Vida Local e outras.A iniciativa que terminou a 31 de Março, culminou, em muitos concelhos, com a celebração do “Dia Municipal do Imigrante”, como foi o caso de Aveiro, com o projecto “Aveiro+Intercool”, onde o CLAII dinamizado pelo Centro Social e Paroquial Vera Cruz, em par-ceria com a Câmara Municipal, insti-tuíram mesmo o dia, que ocorreu a 28 de Março como resultado do projecto, garantindo assim a sua sustentabilidade em anos vindouros.

Câmara Municipal de Aveiro um dos parceiros formais do “Aveiro+Intercool”, coube-lhe a responsabilidade de agili-zar todo o processo com vista à insti-tucionalização do “Dia Municipal do Imigrante”.

QualaimportânciadestediaparaoConcelho,dopontodevistadasuainstitucionalizaçãoanívelmunicipal?A formalização de um dia Municipal é uma das formas de objectivamente dar visibilidade às questões dos imigrantes,

testemunhO DA vereADOrA DOs AssuntOs sOCIAIs e CulturAIs DA CâmArA munICIpAl De AveIrO, mArIA DA luz nOlAsCO

1717

garantindo deste modo a sua celebração nos anos subsequentes. Todo o executi-vo camarário, em reunião de Câmara, aprovou a institucionalização deste dia, reforçando a importância de congregar esforços ao nível do poder local para facilitar os processos de integração desta população. Por outro lado, trata-se tam-bém de uma maneira de gerar oportuni-dades de promover as diferentes formas de expressão cultural, dos diversos povos que escolheram Aveiro para viver, traba-lhar e educar os seus filhos.

ConcelhoEntidade responsável pelo CLAII

Iniciativa Data de realização

AlmadaCentro Soc. e Paroq. N. Sra. Conceição

Feira Gastronómica Multicultural 20/02/10

Leiria Amigrante Maio Intercultural Maio 09

Macedo Cavaleiros CM Dia Distrital Diálogo Intercultural 25/03/10

Maia Socialis Dia Municipal Diálogo Intercultural 14/03/10

Montijo CM Diveespressões 20/03/10

Nazaré Confraria N. Sra. Nazaré Mostra Cultural Nós Todos 12/03/10

Oeiras CMOeiras – Território Multicultural – Festas Concelho

31/05/0913/06/09

Ponta Delgada AIPA Festival o Mundo Aqui 07 e 08/11/09

Portalegre Cáritas D. C. B. Portalegre Dia Municipal Diálogo Intercultural 24/05/09

Santarém CM “Festa de Verão 14/11/09

Seixal CM Dia Municipal Comunidade Migrante 26/04/09

Sesimbra CM Cem Diferenças, Sem Diferenças 13 a 20/06/09

Valongo CM Festival pela Interculturalidade 31/10/09

Vila Real Santo António Cruz Vermelha Portuguesa Festa Entreculturas 17 e 18/10/09

Queimpactoteveasuacriaçãojuntodasinstituiçõesedostécnicos,noqueserefereaoolharsobreaimigração?O impacto deste dia revestiu-se de gran-de relevância, e destacamos o facto da programação do sarau e das exposições terem sido propostas e executadas pelas associações e instituições locais, refle-xo do sentimento de apropriação desta iniciativa e da oportunidade da criação do Dia Municipal. A riqueza das apre-sentações em palco, os momentos de verdadeiro entusiasmo da assistência e o

número de pessoas envolvidas, propor-cionaram momentos de cor e de musi-calidade, onde a diversidade possibilitou “viagens” de (inter)conhecimento.

Quaisasmais-valiasparaofuturo?A mais valia essencial é a garantia da repetição deste dia e, certamente, com a aprendizagem agora feita, conseguirmos que a “festa” do Imigrante venha para as ruas da cidade e conviva no espaço público, envolvendo mais parceiros e repensando novas formas de valorizar a interculturalidade que se manifesta noutros domínios do quotidiano, tais como a gastronomia, artesanato, música, dança, expressão plástica e outras áreas às quais iremos dar atenção e visibili-dade. Portugal só tem de estar convicto de que estas comunidades são um forte enriquecimento do nosso património humano.

Outros CLAII que em conjunto com os parceiros

locais (câmaras municipais, associações de

imigrantes e outros) promoveram a celebração

de iniciativas equivalentes, noutros concelhos do

país.

B_i 18ACIDI REVISTA Nº 80 mAIO 2010B_i ACIDI REVISTA Nº 80 MAIO 2010 18

escolhas

evAA Arte e A CulturA COmO veíCulOs De InClusãO sOCIAl

O Projecto quer ser uma espécie de laboratório em que se discutam e apurem formas de o mundo artístico se aproximar dos territórios mais vulne-ráveis da cidade de Lisboa. A dimensão social da

prática artística, como instrumento de mediação e reflexão, vai ser tratada por pessoas das mais diversas origens, desde filóso-fos a padres, passando pela academia, por pessoas que traba-lham no terreno, cineastas e protagonistas da alta cultura, que se vão juntar para partilharem pontos de vista e boas práticas. O projecto, que arranca em Maio, vai estender-se até Dezembro, altura em que será lançada uma compilação de todos os registos de áudio e vídeo recolhidos ao longo destes meses, que ficará como uma obra de referência sobre investi-gação e prática artística na área da exclusão e inclusão social. No âmbito do projecto serão realizadas conferências que pre-tendem fomentar um debate teórico e transversal sobre estes temas, incentivando o diálogo entre artistas e investigadores de áreas diversificadas, sobre a sua capacidade conjunta de media-rem práticas contra a exclusão. Serão também promovidos fóruns organizados por investigadores com experiência artísti-ca. Pretende-se que sejam espaços para potenciar a colaboração entre teóricos e criadores, que aí apresentarão publicamente os seus trabalhos e divulgarão perspectivas emergentes nesta área. Finalmente, durante este período, serão ainda dinamizadas sete residências artísticas, em sete bairros da cidade de Lisboa, nomeadamente junto dos projectos Escolhas PISCJA (Bairro do Armador), Nu Kre (Cova da Moura), + Skillz (Bairro Alto), Anos Ki ta Manda (Bairro 6 de Maio), Sementes

(Olaias), Escolhas VA (Vale da Amoreira) e Contacto Cultural (Intendente). Estes espaços, para além de serem lugares de reflexão e de terem por objectivo levar novas competências aos jovens dessas comunidades, servirão também para criar novas peças artísti-cas, que representem um contributo seu para a cidade. Esta ideia parte com a ambição de se constituir como uma pesquisa não estandardizada, com uma orientação metodológica desti-nada à acção, mas também parte com o propósito de reflectir sobre as práticas artísticas nesta área, que não são imunes à contaminação da contemporaneidade, à quebra de distâncias e de territorialidades, à transformação, modificação e constantes mutações que alteram em várias escalas a geografia social.

exClusão De vAlor ACresCentADo ou sImplesmente

evA, é umA InICIAtIvA IntegrADA no progrAmA ofICIAl

Do Ano europeu De lutA ContrA A pobrezA e exClusão

soCIAl, lAnçADA pelo progrAmA esColhAs em pArCerIA

Com o Clube português De Artes e IDeIAs.

19

Esta sessão, realizada pelo Gabinete de Apoio Técnico às Associações de Imigrantes (GATAI) em parce-ria com o Centro Local de Apoio à Integração de Imigrantes (CLAII) de Sesimbra, contou com a pre-

sença de aproximadamente 15 pessoas que se reuniram para… conversar sobre o associativismo imigrante!As “Conversas sobre Associativismo Imigrante” consistem na organização, ao nível local, de sessões de informação e debate sobre o associativismo imigrante em Portugal, a sua contextua-lização legal e social, direitos e deveres, mais-valias e constran-gimentos, numa perspectiva de incentivo à organização dos cidadãos imigrantes pela via associativa.A organização dos cidadãos pela via associativa, ou seja, pela via mais formal, é uma forma potencialmente sólida e consis-tente de consolidar interesses partilhados, realizar pressão orga-nizada, conceder respostas sustentadas a necessidades específi-cas, aceder a apoios por parte do Estado ou outras entidades, aceder a direitos reconhecidos a pessoas colectivas, promover

19

CONvErsas sObrE O AssOCIAtIvIsmO ImIgrAnte

associações

espaços de solida-riedade e partilha, entre muitos outros. É de salientar a presença, nestas ses-sões, de dirigentes associativos cuja experiência nesta área lhes permite transmitir aos parti-cipantes quais os desafios inerentes à constituição de uma asso-ciação. Mais do que a sua mera constituição, o desafio maior será, certamente, o da realização de um trabalho útil, capaz de responder às necessidades manifestadas pelas comunidades que visam apoiar, reconhecido perante outras entidades parceiras.As “Conversas sobre Associativismo Imigrante” têm sido uma das estratégias de promoção do associativismo imigrante, tendo em vista o seu fortalecimento e dinamismo.

no DIA 13 De mArço, DeCorreu nAs InstAlAções Do Centro ComunItárIo DA quIntA Do ConDe, mAIs umA sessão

“ConversAs sobre o AssoCIAtIvIsmo ImIgrAnte”.

B_i 20ACIDI REVISTA Nº 80 mAIO 2010B_i

AssoCIAções De ImIgrAntes

AssinAturA de protocolos de ApoioDecorreu no dia 26 de Março, no auditório do CNAI de Lisboa, a cerimónia anual

de assinatura dos protocolos de apoio financeiro às associações de Imigrantes.

A cerimónia contou com a presença da Alta Comissária para a Imigração e

Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse, e do Ministro da Presidência, Pedro

Silva Pereira.

O Governo atribuiu 525.968 euros a associações de imigrantes para

desenvolverem no terreno projectos de integração, de um total de 800.000

euros previstos para 2010, mantendo o valor de 2009.

Segundo o Ministro da Presidência, foram abrangidas 30 associações que

apresentaram projectos e, numa fase posterior, outras poderão vir a associar-

se a este programa, destinado a promover a integração dos imigrantes, criar

igualdade de oportunidades e lutar contra o insucesso e abandono escolar, bem

como valorizar a diversidade cultural.

Pedro Silva Pereira sublinhou que estas associações fazem um trabalho

meritório na promoção da diversidade e da identidade cultural das

comunidades que representam, mas também ao nível das condições de

integração, sobretudo no combate ao abandono e insucesso escolar. O Ministro

frisou, também, que as políticas públicas devem apostar na parceria com as

associações, que hoje em dia são parceiras do Governo em praticamente todas

as respostas da política pública para a integração dos imigrantes, seja na quarta

geração do Programa Escolhas, seja no funcionamento dos centros de apoio

nacionais e locais de acolhimento aos imigrantes.

presIDênCIA espAnholA DA ue

pedro silvA pereirA em conferênciA sobre imigrAção As políticas portuguesas de integração social são internacionalmente reconhecidas e um exemplo

singular num momento em que aumentam os relatos de racismo e xenofobia em vários países europeus,

afirmou o ministro da Presidência no dia 16 de Abril. Pedro Silva Pereira falava à agência Lusa depois de

participar, na cidade espanhola de Saragoça, numa conferência ministerial europeia sobre Imigração,

organizada pela presidência espanhola da União Europeia (UE). O governante referiu haver vários

países que reportam uma situação de maior tensão social e de fractura política a propósito do tema da

imigração. Pelo contrário, referiu, Portugal apresenta um exemplo singular e diferente, com políticas de

integração de imigrantes internacionalmente reconhecidas.

Intervindo perante os responsáveis europeus, Pedro Silva Pereira considerou que seria um erro

desinvestir nas políticas sociais de imigração, no contexto da crise económica e dos programas de

estabilidade e crescimento. Pelo contrário, afirmou, apesar do ambiente de crise e do seu impacto no

emprego e nas medidas de contenção da despesa, não deve haver qualquer desatenção nas políticas de

integração dos imigrantes, porque elas são muito importantes para promover a coesão social e manter

o ambiente de paz social.

21

breves

ACIDI e Cgtp-In

AssinAturA de protocolo de cooperAção O ACIDI e a Confederação Geral dos Trabalhadores Intersindical (CGTP-IN)

assinaram um protocolo de cooperação no dia 13 de Abril, nas instalações do

Centro Nacional de Apoio ao Imigrante de Lisboa, numa sessão que contou

com a presença da Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural,

Rosário Farmhouse, e com o Secretário Geral da CGTP-IN, Manuel Carvalho

da Silva.

A sindicalização dos imigrantes consiste na defesa dos seus direitos laborais

mas é igualmente um meio de integração social na sociedade portuguesa.

Nesse sentido, o Plano para a Integração dos Imigrantes (Resolução do

Conselho de Ministros n.º 63/2007, de 3 de Maio) integra uma medida

específica que visa o incentivo, em articulação com as associações sindicais,

da participação sindical.

português pArA toDos

divulgAção de referenciAis

No âmbito das actividades do Programa Português para Todos (PPT), decorreu, no dia 24 de Março, no Centro Nacional de Apoio ao Imigrante em Lisboa,

uma sessão pública de divulgação dos referenciais integrados no projecto “Português para falantes de outras línguas”. Este projecto é desenvolvido em

parceria com a Agência Nacional para a Qualificação (ANQ), a Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular (DGIDC) e o Instituto do Emprego

e Formação Profissional (IEFP). O evento resultou de uma iniciativa do ACIDI, tendo como parceiras as três instituições responsáveis pela edição dos

referenciais destinados, em particular, aos profissionais com responsabilidades ao

nível do ensino da língua portuguesa junto de cidadãos falantes de outras línguas.

Os referenciais relativos ao nível de proficiência A (Utilizador elementar) e B

(Utilizador independente) foram apresentados pelas suas autoras (Maria José

Grosso, Ana Tavares e Marina Tavares, da Faculdade de Letras da Universidade

de Lisboa). Os referenciais técnicos relativos a quatro sectores (Engenharia e

Construção Civil, Comércio, Hotelaria e Serviços de Beleza) foram apresentados

pelo IEFP, entidade responsável pela execução destas acções

B_i 22ACIDI REVISTA Nº 80 mAIO 2010

hospItAl De s. joão

primeiro lugAr multi-religioso em hospitAis portugueses

ConferênCIA

os imigrAntes e A pArticipAção políticA No dia 9 de Abril realizou-se, no auditório do Centro Nacional de Apoio ao

Imigrante do ACIDI, a conferência “Acesso Formal aos Espaços Políticos: A

Participação eleitoral dos Imigrantes em Portugal”. Esta iniciativa foi uma

das actividades do projecto de investigação “Acesso Formal aos Espaços

Políticos no Contexto Local: Eleitores e Eleitos nos Municípios e Freguesias

Portuguesas”, desenvolvido pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade

de Coimbra em colaboração com o Cesnova/Migrações da Faculdade de

Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e financiado

pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Os resultados deste projecto foram apresentados e discutidos por alguns dos

investigadores que nele participaram: Clemens Zobel, Carlos Elias Barbosa

e Fernando Ruivo, do Centro de Estudos

Sociais, e Margarida Marques, do Cesnova/

Migrações.

Do programa constou um painel de

reflexão, moderado por Joana Sousa

Ribeiro (CES) e com a participação de

Rosário Farmhouse, Alta-Comissária

para a Imigração e Diálogo Intercultural,

Jorge Miguéis, Director para a área da

Administração Eleitoral da Direcção-Geral

da Administração Interna, e Hélder Vaz,

Director-Geral da Comunidade dos Países

de Língua Portuguesa.

Segundo refere o jornal Público de 4 de Abril, o primeiro lugar multi-religioso

em hospitais portugueses será construído no Hospital de São João, no Porto,

devendo estar pronto até ao final de 2011. Futuramente, servirá também

de modelo para espaços semelhantes a construir em outros hospitais.

O projecto, segundo a mesma notícia, inclui sete pequenos lugares de

oração para diferentes credos como cristianismo (protestante e ortodoxo,

uma vez que os católicos já têm uma capela), judaísmo, islão, budismo ou

hinduísmo. O oratório dos muçulmanos está orientado para Meca, conforme

estabelece o Islão. Conforme refere o arquitecto, Abrunhosa de Brito, cada

um dos lugares tem um símbolo específico de uma determinada religião ou

orientação religiosa. No caso das minorias cristãs, os ortodoxos terão um

oratório próprio, tendo em conta o peso e a dimensão da imigração de Leste

em Portugal.

A notícia refere também que o secretário de Estado da Saúde, Oscar

Gaspar, anunciou a intenção de incorporar um espaço com este perfil nos

equipamentos a construir, bem como nos que venham a ser reformulados

em breve. O coordenador da capelania católica, padre José Nuno, referiu que

esta iniciativa é a concretização de um conceito que possibilita que cada

tradição religiosa se “sinta em casa”, destacando também a sua importância

pedagógica, no sentido de construir uma sociedade inclusiva.

novos DesAfIos Do jornAlIsmo

conferênciA internAcionAl dos mediA chineses nA europA Lisboa acolheu, pela primeira vez, o encontro dos órgãos de comunicação social chineses presentes

na Europa. Mais de 300 participantes representando mais de 70 meios de comunicação estiveram

presentes nesta IX Conferência Internacional dos Media Chineses na Europa, que se realizou

em Almada no dia 10 de Abril. Centrado nas novas tendências no que diz respeito ao novos

meios de comunicação, o encontro abordou também as questões de gestão que se colocam no âmbito dos meios de comunicação em língua chinesa e ainda a

responsabilidade social destes meios perante as comunidades chinesas locais, num ambiente de crise económica.

Para além da multiplicidade dos média chineses representados, destacou-se a presença de dois prestigiados conferencistas de duas universidades da República

Popular da China, os professores Gao Gang (Universidade Popular da China) e Yi Zhongtian (Universidade de Xiamen), que abordaram matérias relacionadas com

as novas práticas do jornalismo na actualidade. Estiveram ainda presentes destacadas individualidades da República Popular da China e da comunidade chinesa

em Portugal.

Ao mesmo tempo esteve patente ao público uma exposição de mais de 80 fotografias sobre a “Expo Shanghai - 2010”, com destaque para os Pavilhões de Portugal

e da Republica Popular da China. A conferência e a exposição foram organizadas pela Associação dos Média Chineses na Europa, organismo fundado em 1998 que

agrega 47 membros por toda a Europa.

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EVENTO DESCRIÇÃO DATA LOCAL HORA

Encontro Internacional Reunião do Conselho Transatlântico das Migrações Dias 5, 6 e 7 Maio Bellagio, Itália

Inauguração CLAII Inauguração do CLAII de Guimarães Dia 10 Maio Guimarães 12h00

Visita ao CNAIVisita ao CNAI da Ministra Sueca para a Integração e Igualdade, Dr.a Nyamko Sabuni

Dia 17 Maio CNAI Lisboa 10h00

Oficina de Educação InterculturalOficina de Educação Intercultural, no âmbito da Bolsa de Formadores, para professores das escolas envolvidas na Prova da Nacionalidade e nos cursos de Língua Portuguesa para Estrangeiros

Dia 19 Maio Évora 10h00 às 18h00

Teatro Antestreia da Peça de Teatro “Porta Cigana” Dia 19 Maio

PEIAssinatura dos Protocolos do Projecto Promoção Empreendedorismo Imigrante

Dia 20 Maio CNAI Lisboa 14h30

ACIDIComemoração do Dia Mundia da Diversidade Cultural para o Diálogo e Desenvolvimento

Dia 21 Maio CNAI Lisboa 11h00

Inauguração CLAII Inauguração CLAII de Loulé Dia 25 Maio 11h00

Semana “Encontro de Culturas”

Exposição “Diversidade Cultural”, Torneio Desportivo e Conferência sobre os temas “Integração dos Imigrantes e dos seus Descendentes”, “Educação e Mercado de Trabalho” e “Perspectivas e formas de acção para o desenvolvimento dos PALOP”.

Dias 24 a 29 Maio Universidade de Aveiro

Projecto de Mediação Intercultural no Atendimento em Serviços Públicos

Apresentação dos resultados da avaliação do Projecto, Lançamento do Caderno n.º 4 de Apoio à Formação: Mediação Intercultural, Assinatura de protocolos para a continuação do Projecto.

Dia 25 (a confirmar) Maio CNAI Lisboa a confirmar

roteIros De sAúDe

promover A sAúde dos imigrAntesA Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, a Câmara Municipal de Lisboa e o ACIDI, com o Co-financiamento do Alto

Comissariado da Saúde e um conjunto vasto de parceiros promoveram mais uma vez os “Roteiros de Saúde para Todos

os Imigrantes”, de 5 a 17 de Abril de 2010. Este ano, a iniciativa abrangeu a zona geográfica de Benfica, Carnide e S.

Domingos de Benfica e os temas incidiram sobre a A Saúde Respiratória, com ênfase para a Tuberculose e a a Saúde

Materno Infantil.

Os Roteiros de Saúde são um programa de promoção da Saúde direccionado a todos os Imigrantes, estejam ou não com a

situação regularizada.

Estes roteiros de saúde pretendem abordar a equidade no acesso, a importância do acompanhamento das grávidas e

do desenvolvimento das crianças, a utilização adequada dos recursos, a racionalidade do uso aos serviços de saúde por

parte dos imigrantes, a necessidade da promoção da saúde no campo das questões respiratórias entre outras questões

relacionadas com o tema.

Para levar a cabo as estratégias em promoção da saúde tornam-se fundamentais as parcerias que incluem diferentes actores sociais. Cada parceiro contribui com

o seu saber e estrutura para uma maior eficácia e resultados deste programa. A informação pode ser vista no site criado para o efeito, em www.scml.pt/roteiros

que sintetiza os objectivos, os parceiros envolvidos, todas as actividades a desenvolver, os suportes de comunicação criados especificamente para o efeito, a

formação e os contactos, além de outros elementos necessários a uma boa compreensão deste programa.

Foram ainda criados especificamente folhetos, cartazes e um passaporte com todas as informações relacionadas com as temáticas, nomeadamente: Saúde

Respiratória e Saúde Materno Infantil e um folheto institucional.

agenda

breves

agenda

B_i ACIDI REVISTA Nº 80 mAIO 2010

fAmilles, migrAtion et créAtivité

Autores: Régine Schelles e outros Edição: Erès (2009)

Num mundo onde as deslocações abrangem tanto as ideias como os homens e as mulheres que as transportam, poderá a experiên-cia migratória das famílias vindas de outras paragens esclarecer as mutações da matriz familiar que afecta as sociedades ocidentais contemporâneas? Esta edição interroga a experiência vivida das famílias e os seus modelos culturais, assim como as mesti-

çagens que resultam do seu confronto com a sociedade de acolhimento. Os autores evocam o facto de estas situações propiciarem a criatividade e o dinamismo social e económico das famílias, levando frequentemente ao estabelecimento de processos de transformação individuais e colectivos.

cross-border mArriAge migrAtion in globAl context

Autor: Lucy Williams Edição: Palgrave Macmillan (2010)

A investigação sobre casamentos transfronteiriços é uma área em expansão, mas até agora este fenómeno foi sobretudo estudado de um ponto de vista de comunidades ou regiões restritas. Recorrendo a uma vasta bibliografia sobre o tema, “Global Marriage: Cross-Border Marriage Migration in Global Context” pretende criar pontes entre as análises globais e locais. O livro dá ênfase ao papel das políticas na evolução das tendências, destacando a forma como os prota-gonistas negoceiam os papéis sociais e de género através de fronteiras, tradições e costumes. Assim, os temas chave desta obra são a iniciativa individual, as diversas experiências e a violên-cia que por vezes enfrentam estes imigrantes através do casamento.

migrAtion And diAsporA in contemporAry europeAn cinemA

Autor: Yosefa Loshitzky Edição: Indiana University Press (2010)

“Screening Strangers: Migration and Diaspora in Contemporary European Cinema” desafia a no-ção utópica de uma “Nova Euro-pa” pós-nacional, centrando-se nos fluxos de imigrantes e refu-giados que alguns vêem como uma ameaça potencial à identi-dade europeia, uma preocupação ampliada pela retórica da guerra à Al-Qaeda, os bombardeamen-tos do metro de Londres e os distúrbios dos subúrbios pari-

sienses. Abrindo uma janela cinéfila sobre estas questões, o autor estabelece padrões na representação e negociação da identidade europeia em vários filmes europeus do final do século XX e início do XXI, incluindo “Besieged”, de Bertoluc-ci, “Dirty Pretty Thinghs”, de Stephen Frears e “La Haine”, de Mathieu Kassovitz.

genre et trAvAil migrAnt

Coordenação: Philippe Rygiel Edição: Publibook (2009)

Género, mulher, imigração, tra-balho e papel tradicional são as palavras chave em torno das quais se elaboram os artigos aqui reunidos. Qual é o impacto da imigração na esfera domés-tica? A entrada num mercado de trabalho estrangeiro, numa sociedade desconhecida, será um motivo de fragilidade, ou, pelo contrário, constitui o fundamen-to da emancipação? E que tipos de trabalho estão reservados aos

imigrantes? No interior da sociedade de acolhimento, em que medida as suas competências são reconhecidas e/ou desvalorizadas? Quais são as suas expectativas de ascen-são social e de participação no espaço público? Analisando as oportunidades e os constrangimentos das mulheres imigrantes no mercado de trabalho, os autores destes arti-gos sublinham as dinâmicas contraditórias da imigração feminina.

“nÓs”

domingos: rtp2 às 9h50

segundA A sextA: rtp1 às 6h05

O mês de Maio começa no NÓS com a promoção do FestIN, o Festival de cinema dos países de língua portuguesa. Em entrevista, a directora do festival, a jornalista Adriana Niemeyer, irá falar desta iniciativa. Poderá ainda conhecer

a história da brasileira Natália Cerqueira, que apesar de ter apenas 18 anos tem uma carreira reconhecida na área de voltige, dando a conhecer esta modalidade na Sociedade Hípica Portuguesa. O NÓS fez ainda a cobertura da mais recente iniciativa “ACIDI junto das Comunidades”, que se realizou em Lisboa. Finalmente, para além do concerto da banda Anunamanta, na Quinta da Regaleira, serão apresentados dois programas temá-ticos: Um sobre gastronomia, onde se poderá rever as receitas que mais sucesso têm tido no programa, e outro sobre as mais diversas profissões que exercem os imi-grantes em Portugal.

“ g e n t e c o m o n Ó s ”

A o s d o m i n g o s n A t s f, d e p o i s d A s 1 3 h 0 0

O “Gente Como Nós” vai continuar a abrir janelas para o mundo e a experimentar sabores vindos do Brasil, do Leste Europeu e da Ásia… Vamos ter reportagens em lojas e restaurantes típicos. Negócios conduzidos pelos próprios imigrantes, que servem para unir culturas e mostrar o que cada comunidade tem de melhor. Estes espaços, para além de servirem os hábitos de consumo, a cultura e as tradições das comunidades imigrantes, alimentam também o encan-to e a curiosidade dos próprios portugueses…

cultura

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O ACIDI, I.P. prossegue atribuições da Presidência do Conselho de Ministros, regulado pelo D.L.

nº. 167/2007, de 3 Maio

ACIDI, I.P.

LISBOARua Álvaro Coutinho, nº 14-16 1150-025 Lisboa

Tel.: 218 106 100 Fax: 218 106 117LINHA SOS IMIGRANTE: 808 257 257 / 21 810 61 91

[email protected]

www.acidi.gov.pt

B_iDirecção

Rosário FarmhouseAlta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural

Coordenação da ediçãoElisa Luis

RedacçãoJogo de Letras - João van Zeller

[email protected]

DesignBuilding Factory

Jorge Vicente_Fernando [email protected]

Colaboraram nesta edição Ana Correia, Catarina Reis Oliveira, Inês Rodrigues, Isabel Cunha, Luís Pascoal

Kattia Hernandez, Paula Moura, Susana Antunes, Tatiana GomesVasco Malta

Fotografia de capaRaquel Pimenta

ImpressãoOffsetmais, Artes Gráficas, S.A.

Tiragem6.000 exemplares

Depósito Legal11111111111111111111111111111111111111