um caminho para a paz -...

24
B _ i ACIDI revista Nº85 OUtUBrO 2010 Sheik Munir e Padre Feytor Pinto eM entreviSta CaSa do BraSil teM nova Sede Diálogo inter-religioso uM CaMinho Para a Paz

Upload: lamkhanh

Post on 02-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

B_iACIDIrevista Nº85

OUtUBrO 2010

Sheik Munir e Padre Feytor Pinto eM entreviSta

CaSa do BraSil teM nova Sede

Diálogo inter-religioso

uM CaMinho Para a Paz

No momento em que celebramos o 1º Centenário da República, parece-nos particularmente oportuno abordar o tema do diálogo inter-religioso, na dimensão dos crentes e dos não crentes, que muitas vezes se estabelece com alguma crispação rela-tivamente a matérias de cidadania.

O princípio constitucional da liberdade religiosa pressupõe um profundo respeito pelas convicções individuais de cada cidadã e cidadão, deixando-lhe o espaço necessário ao exercício da sua prática religiosa ou laica. Vivemos num mundo onde a religião desempenha, muitas vezes, mais o papel de cultura e de força civilizadora do que propriamente de credo.

A expressão da convicção religiosa de cada indivíduo não deve ser cerceada nem imposta a quem dela não partilha. Este equilíbrio, muitas vezes frágil, é, no entanto, essencial à convivência pacífica e exige um esforço permanente de diálogo que, infelizmente, muitas vezes é substituído por atitudes intolerantes com resultados trágicos.

Ao longo da história temos tido regimes que oprimem a liberdade religiosa e o diálogo com as religiões, quer por força de uma religião “monopolista”, que se confunde com o Estado, não dando qualquer liberdade à prática religiosa de outras confissões, quer pela existência de um ateísmo oficial imposto unilateralmente pelas autoridades.

Estas convicções extremistas foram causa de muitos conflitos violentos que contaminaram as atitudes sociais, mesmo nos países com regimes democráticos consolidados e que historicamente protagonizaram a vanguarda na defesa dos direitos humanos.

A crescente islamofobia, desenvolvida tanto em alguns países da Europa como nos Estados Unidos da América, obriga-nos a um maior aprofundamento do diálogo inter-religioso e ao combate a todo o preconceito nesta matéria, como forma de garantir condições para o exercício pleno da liberdade religiosa.

Esta é, aliás, uma dimensão integrada no ACIDI que, desde 2007, tem consigo a Estrutura de Missão para o Diálogo com as Religiões, assegurando a continuidade da actuação na promoção desta temática através do conhecimento das diversas culturas e religiões e da construção de uma atitude de respeito mútuo e de afecto pela diversidade, quer dentro das fronteiras nacionais, quer na relação de Portugal com o mundo.

Ao celebrarmos 100 anos da República e neste ciclo da consciência cívica nacional, queremos continuar juntos na construção da paz, mobilizando novas “ferramentas” para aprender a dialogar, continuando a valorizar o melhor de “nós” e do “outro”, e tendo a capacidade de seguir caminhos diferentes mas não opostos, nesta que é uma responsabilidade individual e comunitária.

Mahatma Gandhi dizia que as religiões são como caminhos diferentes convergindo para um mesmo ponto. Que interessa usarmos itinerários diferentes, desde que cheguemos ao mesmo objectivo?

B_i 2aCiDi REVISTA Nº 85 OUTUBRO 2010

Diálogo inter-religioso, um caminho para a Paz

e D I t o r I A l

Mahatma Gandhi dizia que as religiões são como caminhos diferentes convergindo para um mesmo ponto. Que interessa usarmos itinerários diferentes, desde que cheguemos ao mesmo objectivo?

rosário Farmhouse

alta Comissária para a imigração e Diálogo intercultural

3

ii Plano Para a integração doS iMigranteS (Pii) Entrada Em vigor Saiu no dia 17 de Setembro de 2010 em Diário da República, a Resolução de Conselho de Ministros

nº74/2010, que aprova o II Plano para a Integração dos Imigrantes, demonstrando o objectivo

do governo de dar continuidade a uma nova geração de políticas sociais, concretizando

compromissos sectoriais do Estado. Este Plano inclui 90 medidas e abrange uma intervenção em

17 áreas, quatro delas novas - diversidade, interculturalidade, idosos imigrantes e imigrantes em

situação de desemprego.

O novo PII assenta na avaliação do Plano anterior e na identificação das necessidades de

intervenção para o período 2010-2013, beneficiando do contributo de todos os ministérios e

da participação da sociedade civil, em especial através das associações de imigrantes ou que

trabalham com imigrantes.

A par da responsabilização do Estado, o PII assume-se como um elemento estratégico de

impulso à participação da sociedade civil, seja através de iniciativas próprias, seja em parceria

com políticas públicas.

A proposta do Plano para 2010-2013 tinha sido já apresentada pelo Ministro da Presidência,

durante a reunião do Conselho Consultivo para os Assuntos da Imigração (COCAI), que decorreu

no auditório do ACIDI, no dia 27 de Julho. Nesta sessão, o Ministro da Presidência, Pedro Silva

Pereira, conheceu ainda o relatório final de execução do Plano para a Integração dos Imigrantes

(2007-2009), que previa a concretização de 122 Medidas, a cargo de 13 ministérios. O relatório

concluiu que a taxa de execução do PII anterior foi cerca de 81%, sendo que em muitos domínios

foi possível ultrapassar as metas propostas.

breves

ProjeCto-Piloto de MediadoreS MuniCiPaiS rEnovação dE Protocolos No dia 30 de Setembro realizou-se, no Auditório do Centro Nacional de Apoio ao Imigrante

(CNAI), a cerimónia de assinatura de Renovação dos Protocolos no âmbito do Projecto-Piloto

para Mediadores Municipais junto das Comunidades Ciganas, lançado em Outubro de 2009 pelo

ACIDI, através do Gabinete de Apoio às Comunidades Ciganas (GACI).

A iniciativa surgiu na sequência da análise positiva feita nos últimos anos pelo ACIDI à actuação

dos mediadores em contextos multiculturais, tendo como objectivos melhorar o acesso das

comunidades ciganas a serviços e equipamentos locais e promover a comunicação entre a

comunidade cigana e a comunidade envolvente, com vista à prevenção e gestão de conflitos.

O Projecto-Piloto visa colocar mediadores nos serviços das câmaras municipais ou em iniciativas

promovidas por estas, no âmbito de um programa de formação em contexto de trabalho. Os

mediadores integrados no Projecto foram seleccionados sob proposta dos municípios.

Um ano volvido sobre o arranque do projecto, que permitiu pôr em prática um modelo

experimental de intervenção que incluiu a formação e colocação de mediadores municipais

em 15 municípios, os resultados obtidos são muito animadores. Participam actualmente no

Projecto-Piloto os seguintes municípios: Amadora, Aveiro, Beja, Coimbra, Idanha-a-Nova,

Lamego, Moura, Paredes, Peso da Régua, Seixal, Sines, Sintra e Setúbal.

Mais informações em:

www.ciga-nos.pt

Diálogo inter-religioso

uM CaMinho Para a Paz

B_i 4aCiDi REVISTA Nº 85 OUTUBRO 2010

o P I N I Ã o

A pluralidade advinda da glo-balização afecta não apenas o âmbito económico e so-cial, mas igualmente o po-

lítico, cultural e também religioso. Nos nossos dias as pessoas nascem e crescem num mundo onde se cruzam, dialogam e interagem - por um lado, o ateísmo, a descrença e/ou a indiferença religiosa – e, por outro lado, várias religiões, antigas e novas, que se entrecruzam e se interpe-lam. Quando se fala de diálogo pressupõe-se, de imediato, a existência de diferenças e diferentes. Este pressuposto implica tanto o reconhecimento da identidade de cada um dos dialogantes quanto a capacidade de encontro e diálogo.As diferenças culturais enquadradas pela diversidade religiosa fazem hoje parte da realidade das sociedades ocidentais. Muitos serviços do Estado e particulares tornaram-se, por isso, locais de interacção com cidadãos que seguem padrões, valo-res e comportamentos diferentes dos da maioria mas que requerem uma contex-tualização diferente para serem correcta-mente interpretados. Estudar a religiosidade dos portugueses e dos imigrantes radicados em Portugal, as suas crenças, práticas, experiências e pertenças religiosas é primordial para aprofundar o conhecimento em termos da diversidade cultural europeia e testar o pluralismo religioso.

PreSSuPoStoSpara o Diálogo inter-religioso

estuDAr A

relIgIosIDADe Dos

Portugueses e

Dos ImIgrANtes

rADICADos em

PortugAl, As suAs

CreNçAs, PrátICAs,

exPerIêNCIAs

e PerteNçAs

relIgIosAs, é

PrImorDIAl.

o DIálogo

INter-relIgIoso

Como mIssÃo Do ACIDI

A importância da promoção do diálogo inter-religioso e da tolerância na socieda-de portuguesa encontra-se bem patente no art.º 3.º do DL n.º 167/2007 de 3 de Maio, que cria o Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, I.P. (ACIDI, I.P.):

“1 – O ACIDI, I.P., tem por missão (…) promover o diálogo entre as diversas (…) religiões.2 – São atribuições do ACIDI, I. P.:d) Combater todas as formas de discriminação em função da … religião, através de acções positivas de sensibilização, educação e formação (…) e) Promover a interculturalidade, através do diálogo (…) inter-religioso, com base no respeito pela Constituição, pelas leis e valorizando a diversidade cultural num quadro de respeito mútuo (…)j) Promover acções de sensibilização da opinião pública e a realização de estudos sobre (…) diálogo inter-religioso;m) Promover o diálogo com as religiões através do conhecimento das diferentes culturas e religiões e da construção de uma atitude de respeito mútuo e de afecto pela diversidade, quer dentro das fronteiras nacionais, quer na relação de Portugal com o mundo.”

5

A Resolução do Conselho de Ministros n.º 74/2010 de 17 de Setembro, que aprova o Plano para a Integração dos Imi-grantes (2010 -2013), constituído por 90 medidas, concretizando compromissos sectoriais do Estado, continua a assumir como grande finalidade a plena integra-ção dos imigrantes. Neste II Plano, desta-cam-se duas novas áreas de intervenção: a da promoção da diversidade e intercultu-ralidade e a dos idosos imigrantes.Todo este esforço tem sido alvo de refe-rências muito positivas a nível interna-cional, conforme o comprova o MIPEX

— Índex de Políticas de Integração de Migrantes (2007) e mais recentemente, em 2009, o Relatório de Desenvolvi-mento Humano das Nações Unidas, que classifica Portugal no 1.º lugar em políti-cas de integração dos imigrantes. Nesse relatório, as iniciativas de Portugal nesta área são reconhecidas como de vanguar-da, com o nosso país a ser alvo da melhor classificação na atribuição de direitos e serviços aos estrangeiros residentes. A identificação da Liberdade Religiosa como uma das áreas chave no acolhimen-to e integração dos imigrantes afigura a

sua importância enquanto parte das polí-ticas públicas neste âmbito.Deste modo, com o objectivo de dar continuidade ao desenvolvimento das li-nhas de acção contidas na Resolução do Conselho de Ministros, e atendendo à actualidade e importância do tema, a ní-vel nacional, europeu e mundial, o Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, I.P. (ACIDI, I.P.), conside-ra ser fundamental desenvolver trabalho nesta área.

As DIFereNçAs CulturAIs

eNquADrADAs PelA DIversIDADe

relIgIosA FAzem hoje PArte DA

reAlIDADe DAs soCIeDADes oCIDeNtAIs.

Diálogo inter-religioso

uM CaMinho Para a Paz

TEMPLO HINDU DE LISBOA

MESQUITA CENTRAL DE LISBOA

B_i 6aCiDi REVISTA Nº 85 OUTUBRO 2010

e N t r e v I s t A

“Para eu reSPeitar o outro,tenho de o conhecer”

sozinhos, à procura de melhor emprego, legalizaram-se, começaram a trabalhar e a ter as suas actividades. Mais tarde, aper-ceberam-se que tendo actividade e tendo aqui uma certa estabilidade, tinham con-dições para trazer as suas famílias. Ao contrário das que anteriormente referi, estas pessoas tiveram alguma dificuldade na integração, não por ser um ambien-te diferente, mas por causa da língua. Por isso, verificamos que há famílias de origens específicas que frequentam uma determinada mesquita, onde se relacio-nam com pessoas que falam a mesma língua.

A Mesquita de Lisboa tem diversas actividades de apoio social... Temos dado apoio social a pessoas mais desfavorecidas. Uma vez por ano, damos o rancho no mês do Ramadão. E notá-mos que este ano houve um acréscimo de 200 % devido à crise que afectou muito as pessoas. Estamos a falar de pes-

o Sheik david Munir é o iMã da

MeSquita Central da CoMunidade

iSlâMiCa de liSBoa. neSta entreviSta,

aBorda aS origenS da CoMunidade

e a aCtual lei da liBerdade

religioSa, inSiStindo que, Para

verdadeiraMente reSPeitar o

outro, é PreCiSo CoMeçar Por

ConheCê-lo.

Sheik david Munir

Quais são as origens da Comunidade Islâmica de Lisboa? A Comunidade Islâmica de Lisboa foi fundada com esse nome em 1968 por muçulmanos que vieram das ex-colónias, de Moçambique e também da Guiné. Quando se aperceberam que o número estava a crescer, acharam que era pos-sível fundar uma instituição com esta designação. Como foi em 1968, antes do 25 de Abril e das independências, não se justificava que o nome fosse Comunidade Islâmica de Portugal por-que as ex-colónias também eram Portugal e havia comunidades nas cidades de Moçambique e da Guiné-Bissau. Quando se deu o 25 de Abril, a comu-nidade cresceu. Muitos muçulmanos, quando vieram para Portugal, vieram sem nada, ou quase. Estes muçulma-nos imigraram para Portugal porque em Moçambique havia uma integração com a cultura portuguesa e a integração em Portugal foi fácil. Quando vieram para

Portugal tinham mil e uma dificulda-des económicas e sociais, mas uma das preocupações era ter um espaço para as orações. Houve lugares provisórios, desde as embaixadas de alguns países islâmicos, casas particulares, etc. Com a preocupação de ter um espaço próprio, foi solicitado ao Governo um terreno para a construção da mesquita e foi-nos dado este espaço onde estamos. Ao longo dos anos, os muçulmanos que chegaram foram comprando ou alugando casas em localidades onde também havia muçul-manos e existia um lugar de culto. Esta foi uma segunda etapa para os muçulma-nos. A primeira foi ter uma certa estabi-lidade económica e social, a segunda fase foi, quando houve esta estabilidade, uma preocupação em conviver com os outros muçulmanos. A comunidade está a cres-cer. Agora temos também muçulmanos que vieram não das ex-colónias, mas do Magreb, do Oriente, dos países árabes, da Índia, do Paquistão. Inicialmente vieram

7

Que apreciação faz da actual Lei da Liberdade Religiosa? Os responsáveis das religiões minoritárias conhecem a Lei da Liberdade Religiosa de cor, porque é a eles que se destina. Como todas as leis do nosso país, é aplicada muito lentamente. As pessoas que trabalham na Administração Pública deveriam conhecê-la melhor, pois vão conhecendo alguns aspectos através da comunicação social e não há nenhuma comunicação interna para que todos os serviços, dos mais diversos ministérios, a conheçam melhor e tornem menos buro-crática a sua aplicação. Esta lei trouxe alguns avanços, por exemplo no que toca aos dias festivos das religiões minoritárias mas apenas com o tempo poderemos usufruir do conjunto das suas normas. Por exemplo, já fiz um casamento civil e religioso na mesquita. Mas, vendo a burocracia que isso implica, aconselho a que as pessoas façam o casamento civil lá

soas com problemas sérios, muitas vezes jovens numa situação de muita necessi-dade. Temos para além disso aquelas pes-soas que apoiamos regularmente, e vimos também que essas pessoas solicitam um acréscimo no apoio. Houve dois factores que originam esse aumento, o desempre-go e as famílias carenciadas com maior número de pessoas. Temos também aju-dado um número crescente de pessoas a pagar algumas dívidas, como despesas de farmácia, rendas em atraso, água e elec-tricidade, etc. Por outro lado, damos um subsídio mensal a cerca de uma centena de pessoas, que varia entre os 60 e os 180 ou 200 euros por mês, dependendo dos casos. Houve também um aumento das pessoas que precisam desse subsídio men-sal. O grupo de pessoas que gere estes apoios cresceu e aprendeu muito com as actividades organizadas ao longo de vinte e tal anos. Actualmente, contamos com novos reforços de voluntários que são pessoas sensíveis, e com pessoas com uma certa disponibilidade financeira que estão dispostas a ajudar no que podem. Para além destas actividades, temos palestras e conversas, ao fim de semana, para que os jovens possam participar e tirar as suas dúvidas.

fora e venham fazer o casamento religio-so na mesquita. É muito difícil e muito complicado fazer o casamento civil e religioso, são precisos muitos papéis e um vaivém da mesquita para a conservatória. Seria necessário facilitar mais. No caso dos cidadãos nacionais, não há razão para não o fazer. Provavelmente, no futuro, as coisas poderão ser muito mais fáceis mas ainda não o são. Um exemplo é o registo de uma criança com um nome muçul-mano. A Comunidade tem de passar um documento a atestar que os pais são muçulmanos ou que o nome é de origem islâmica. Ora, no Islão o nome não tem de ter uma origem árabe, tem de ser um nome com um bom significado. Temos irmãos da Guiné, por exemplo, que têm muitos nomes que são culturalmente aceites, só que são mal escritos e mal pronunciados, também por influência colonial. Há um nome próprio, em árabe, Muhammad, mas estamos habitu-ados a dizer Maomé, Maomed, Mamude, Mamadou, porque para os portugueses do tempo colonial era mais fácil. Mas se é possível pôr o nome original, como deve ser, porque é que complicam? Quando se diz que o nome tem de ser “genuina-mente português”, é um conceito muito amplo. Noutros países da Europa, quan-do a pessoa quer pôr um nome, seja qual ele for, nem sequer pedem documentos. Claro que tem de haver uma certa orien-tação, o nome tem de ter um bom signi-ficado para que a criança fique satisfeita com o nome quando crescer.

A lei deveria ser melhor regulamenta-da ou é necessária outra lei? A lei deveria ser melhor regulamentada. A Lei da Liberdade Religiosa faz-me lem-

quANDo FAlAmos DAs relIgIões AbrAâmICAs há

muItA CoIsA em Comum, mAs tAmbém há muItA

CoIsA que DIverge. exIstem tAmbém PoNtos em

Comum Com o hINDuísmo e o buDIsmo.

Diálogo inter-religioso

uM CaMinho Para a Paz

MESQUITA CENTRAL DE LISBOA

B_i 8aCiDi REVISTA Nº 85 OUTUBRO 2010

brar aquelas ocasiões em que há feriados próximos de fins-de-semana e o Governo decreta tolerância de ponto, só que as pessoas nunca sabem quem tem direito à tolerância de ponto e quem não tem. Há muçulmanos que não conseguem exercer os seus direitos porque as pessoas não estão informadas, mesmo ao nível dos funcionários públicos. Assim, para um muçulmano a nova Lei da Liberdade Religiosa, no nosso dia-a-dia, não trouxe ainda muitas vantagens em relação à situ-ação que existia anteriormente. Quais têm sido as iniciativas no que respeita ao diálogo com outras reli-giões? Ultimamente, não tem havido tantas iniciativas. O 11 de Setembro foi o momento em que as pessoas começa-ram a olhar melhor para os outros e houve um despertar que fez com que quisessem conhecer melhor as outras religiões e as outras culturas. Então, houve várias iniciativas de diálogo inter-religioso. A Comunidade Islâmica parti-cipa sempre e, quando organiza, sempre convida. Quando temos qualquer inicia-tiva de diálogo inter-religioso, não é só inter-religioso, é também intercultural. Quando nós organizamos, convidamos todos, temos o cuidado de não deixar ninguém de fora. Temos tido encontros oficiais, outro tipo de encontros em que cada um toma a palavra e, ainda, aque-les encontros em que convidamos um representante de cada confissão para falar sobre um determinado tema. O último encontro foi sobre a Compaixão.

Quais são os grandes aspectos de entendimento com as outras religiões? Quando falamos das religiões abraâmicas

há muita coisa em comum, mas também há muita que diverge. Existem também pontos em comum com o Hinduísmo e o Budismo. Mas é muito difícil, ou mesmo impossível, eu querer que o outro seja como eu sou, como também o outro querer que eu seja como ele é. Para haver um melhor entendimento, é preciso eu respeitar o outro. Mas para eu respeitar o outro, tenho de o conhecer. Um aspecto importante é visitar o lugar de culto dele e perceber porque é que as coisas se fazem daquela forma. Este vaivém com as outras confissões, com os outros lugares de culto, é muito importante. Se alguém quer conhecer o Cristianismo tem de conhecer a religião, a cultura cristã e os cristãos. O mesmo se passa com o Islão. Quando eu vejo um cris-tão que decide queimar o Alcorão, um cristão com uma certa responsabilidade espiritual, como aconteceu recentemen-te nos Estados Unidos, pergunto-me que exemplo ele está a dar. Mas se eu conhecer bem o Cristianismo, consigo perceber que se trata apenas de um cris-tão, isoladamente, que não tem nada a ver com o Cristianismo. Invertendo a situação, se fosse um muçulmano que quisesse queimar a Bíblia, a comunicação social chamar-lhe-ia um fundamentalista islâmico. Com isto pretendo dizer que não posso chegar a uma conclusão vendo um acto isolado de um seguidor de uma outra religião. Quando um muçulmano tem um acto isolado contra os preceitos da sua própria religião, as pessoas não podem chegar à conclusão de que aquilo é o Islão. Por isso é que digo que posso participar em todos os encontros inter-religiosos e interculturais mas o mais importante é conhecer o outro.

Em Portugal, a integração da comuni-dade islâmica tem sido mais pacífica do que em outros países da Europa... É muito simples: A comunidade islâmica portuguesa nunca teve um problema de integração. É uma questão que não faz sentido colocar, seria como questionar a integração em Portugal dos timorenses cristãos. Mesmo aqueles muçulmanos que vieram do Oriente, e que ao con-trário dos outros tiveram o problema da língua, estão integrados. Costumo dizer que quem não concorda com a lei civil deste país, tem uma solução: imigra.

Como vêem os portugueses, em geral, a existência de uma comunidade muçulmana de portugueses? Penso que hoje há mais abertura, mais curiosidade. A nossa comunidade é exemplar na Europa. As autoridades que lidam com a imigração nos outros países querem aprender connosco e têm-nos visitado nesse sentido.

Como vê a recente polémica sobre a construção da mesquita em Nova Iorque? Não tenho acompanhado muito o pro-cesso, mas quem está à frente desse projecto é o Imã Feisal, que já esteve em Portugal várias vezes e que conheço muito bem. Ele já esteve uma vez com o nosso Primeiro-Ministro, tem organi-zado vários encontros e está à frente da iniciativa Muslim Leaders of Tomorrow (MLT), composta por muçulmanos que vivem no Ocidente. Se o Imã Feisal está à frente desse projecto, não há nenhum receio de fundamentalismo nem de fana-tismo, há uma abertura enorme para o diálogo com as outras religiões. Será um espaço universal e não só de muçulma-nos.

Mais informações sobre a Comunidade Islâmica de Lisboa: www.comunidadeislamica.pt

A NossA ComuNIDADe é exemPlAr NA euroPA. As

AutorIDADes que lIDAm Com A ImIgrAçÃo Nos

outros PAíses querem APreNDer CoNNosCo e

têm-Nos vIsItADo Nesse seNtIDo.

9

“Se SoMoS uM PaíS de aColhiMento, teMoS que acolher cada peSSoa coMo ela é.”

por três razões: primeiro, o seu ADN, a origem da família, etc.; em segundo lugar, o ambiente; e em terceiro lugar, as situações de acaso que marcam as nossas vidas. Portanto, num diálogo inter-reli-gioso, é necessário ter em consideração tudo isto.

Sendo o respeito um ponto de partida, quais são as outras condições necessárias? O diálogo inter-religioso será muito mais do que o respeito pela religião. E aí estamos muito longe de o conseguir porque diálogo inter-religioso supõe que cada um tem elementos que oferece ao outro e recebe, do outro, elemen-tos. Isto é diálogo, dar e receber. Ora, o que nós encontramos hoje em dia nas religiões é a brutal dificuldade de dialogar. Não há um diálogo. Mesmo entre cristãos, é dificílimo um diálogo

o Padre vítor Feytor Pinto Foi o PriMeiro PreSidente do

SeCretariado entreCulturaS e é, aCtualMente, reSPonSável Pela

Paróquia do CaMPo grande, eM liSBoa, e Coordenador da PaStoral

da Saúde. neSta entreviSta, aBorda aS queStõeS relaCionadaS CoM

o diálogo inter-religioSo, deStaCando que o reSPeito é o Ponto

de Partida FundaMental.

padre vítor Feytor pinto

Foi o primeiro presidente do Secretariado Entreculturas. Na altura, o diálogo inter-religioso era já uma preocupação? Se falamos de “Entreculturas”, sobretudo tendo em consideração que o país estava naquela altura a receber muitos migran-tes, é natural que haja religiões diferentes. E se somos um país de acolhimento, temos que acolher cada pessoa como ela é. Gostaria de fazer uma pequena consideração sobre uma coisa essencial: Temos de ter consciência que o ser humano é um ser social mas não só. É um ser complexo, bio, psico, espiritual, cultural, religioso, também. Assim sendo, qualquer pessoa transporta consigo a sua dimensão espiritual e religiosa. E temos consciência de que cada um dos imigran-tes em Portugal transporta a sua religião. Então, acolhemo-lo como ele é porque não temos de mudar a pessoa quando

ela é acolhida num ambiente que não é o seu. Pode ser judeu, muçulmano, budis-ta, protestante. Cada um transporta a sua fé, e não digo apenas ideologia porque é muito mais do que uma ideologia. A ide-ologia situa-se ao nível do pensamento, a fé refere-se à prática religiosa. Temos também de considerar que alguns dos migrantes, como alguns dos autóctones, não têm fé nenhuma, ou consideram que não têm religião nenhuma mas pelo menos têm uma certa religião da natu-reza, de valores, que exigem uma grande atenção e um grande respeito. É por isso que a segunda nota que gosta-ria de deixar é que, numa relação normal entre pessoas, o ponto de partida ao nível religioso é o respeito profundo pela religião de cada um. Um dia, conversava com um homem que admiro muito, o médico João Lobo Antunes, e ele dizia-me que cada pessoa tem a fé que tem

Diálogo inter-religioso

uM CaMinho Para a Paz

B_i 10aCiDi REVISTA Nº 85 OUTUBRO 2010

o P I N I Ã o

inter-religioso. Há um convívio, há uma proximidade, chamamos a isso ecume-nismo, uma relação ecuménica. Mas não há, de facto, um diálogo de dar e de rece-ber. Recentemente, por exemplo, o Papa esteve em Inglaterra. Houve convívio, houve, sem dúvida, troca de impressões para receber do outro os valores que o outro tem e dar ao outro os valores que eu tenho, para em conjunto crescermos, como comunidade. É extremamente difí-cil e, com algumas religiões, é pratica-mente impossível. Vou dar um exemplo muito concreto: é impensável que o judaísmo ou o islamismo celebrem um culto dentro de uma capela católica, por hipótese. Como também nós não vamos para a mesquita fazer orações. Portanto, há circunstâncias onde, de facto, a pró-pria relação estabelece barreiras. Mas, tudo isto, nós temos de respeitar profun-damente e ensaiar cada vez mais aquilo que nos une, tentando superar cada vez melhor aquilo que nos separa.

Existe um núcleo de valores comuns que nos une? Eu iria citar o núcleo de valores que o Papa João XXIII um dia definiu de uma maneira muito bonita. Chamou-lhes “os pilares da paz”. Se nós conseguíssemos, na vida colectiva, respeitarmos e viver-mos estes pilares seríamos uma sociedade muito bonita. Eles são a Verdade, como fundamento. Trocamos muitas vezes a verdade pela conveniência. A Justiça, como regra. Em vez de praticarmos a

Justiça, justificamos as nossas injustiças. A Liberdade, como dinâmica. É verdade que temos de ser livres, mas a minha liberdade tem de ser confrontada com o bem comum e eu tenho de me sacrificar pelo bem comum. E finalmente o Amor, como grande objectivo, como grande dinâmica. E, como diz o Erich Fromm, “amar é eu sair de mim para ir ao encon-tro de outros e fazer esses outros felizes”. Portanto, quando amo é para o outro ser feliz, não é para eu ser feliz à custa do outro. Se respeitarmos estes quatro grandes valores estamos a construir a paz, a harmonia e o normal convívio na diferença. Vou recorrer agora ao decreto que criou o Entreculturas, de cuja introdução cons-tam os valores sociais indispensáveis. São eles a Tolerância, a Convivência, o Diálogo e a Solidariedade. Eu acrescento um elemento, de que na altura ainda não se falava: a verdadeira Cidadania, onde todos somos iguais como cidadãos. Com estes valores nós temos uma socie-dade bonita. Mas quem é que aceita a tolerância? Até no simples problema do desporto isso não acontece, quanto mais noutros aspectos.

Mesmo assim, julga que se tem percorrido um caminho desde a fundação do Entreculturas até hoje? Estive dez anos à frente do Secretariado Entreculturas, no Ministério da Educação, onde gostei imenso de traba-lhar. Na altura, foi o ministro Roberto Carneiro que sonhou com a sua criação, juntamente com um homem excepcional, o Pedro d’Orey da Cunha, que tinha tido uma experiência fabulosa nesta área nos Estados Unidos e nos trouxe todo o seu saber. Foi uma experiência muito interes-sante. Penso que se fez muito e que agora se continua a fazer muito. O ACIDI, sob todas as suas lideranças, tem feito um tra-balho magnífico, a continuação daquilo que nós fazíamos no Entreculturas. No

Entreculturas centrámo-nos no problema da igualdade na Escola e aí foi possível que qualquer criança, independentemen-te de estar legalizada ou não, pudesse participar no ciclo escolar. Foi uma con-quista. Houve uma conquista semelhante que se conseguiu depois, no Ministério da Saúde, no sentido de nunca deixar de assistir ninguém independentemente da sua situação. Julgo que isto é aten-ção à pessoa dentro de um quadro de cidadania, a igualdade entre os cidadãos em pontos fulcrais como a Saúde e a Educação. Como dizia Maria de Lourdes Pintassilgo, um Governo quando está a gerir um país tem de ter três grandes preocupações e ajudar a solucioná-las: Educação, Saúde e Trabalho. Este é o universo em que nos movemos e penso que o ACIDI está a fazer um trabalho fundamental, que tem de ser cada vez mais apoiado.

Que apreciação faz da Lei da Liberdade Religiosa? O actual enquadramento jurídico é suficiente? Eu direi que nunca é suficiente porque todo um trabalho de legislação tem de ser feito etapa a etapa. E penso que os documentos que vão saindo não são documentos que ficam para a eterni-dade, são documentos que têm de ser permanentemente revistos a partir da prática. O Padre António Leite, professor de Direito Canónico, disse uma vez em relação ao Código de Direito Canónico: “No dia em que este Código foi aprova-do, começou a estar desactualizado”. E é verdade. A lei está parada, a vida conti-nua. Existem sempre experiências novas que vale a pena incluir no quadro legal. No caso concreto da Lei da Liberdade Religiosa, podemos ir muito mais longe, sobretudo estimulando muito mais o diálogo entre as religiões porque não basta o respeito pela religião do outro. É necessário, depois, para além do respeito pela religião do outro, um tratamento

NumA relAçÃo NormAl

eNtre PessoAs, o

PoNto De PArtIDA Ao

Nível relIgIoso é o

resPeIto ProFuNDo

PelA relIgIÃo De CADA

um.

11

igual. E este último é um conceito muito discutível que obrigará a repensar cons-tantemente. Quando nasceu a nova Lei da Liberdade Religiosa candidataram-se a ser inscritas, como religiões, grupos com sete ou oito pessoas. Estes não podem ser reconhecidos como religiões. Efectivamente, a certa altura, tudo isto terá de ser reavaliado, estudado para saber o que são as grandes religiões e o que são pequeninas expressões de natu-reza também religiosa, mas que não têm o vulto das grandes religiões. Havendo respeito pelas minorias, também se exige o chamado respeito pelas maiorias, o que é extremamente importante, embora as maiorias não possam esmagar as mino-rias, tendo que respeitar sempre as outras expressões. O diálogo que permite esse respeito mútuo é o maior desafio que nos é posto.

Os católicos têm uma responsabilidade especial neste diálogo? Claro que têm. Na área da Saúde, onde estou a trabalhar, depois de cinco anos intensos, foi possível criar um novo esta-tuto que consagra a liberdade religio-sa e o diálogo entre religiões. Para o Cristianismo, uma posição dialogante e de humildade é essencial porque senão não somos cristãos. O tempo do prose-litismo já lá vai. Quem o declarou clara-mente foi o Papa Paulo VI, que efectiva-mente condena o proselitismo e pede o respeito inter-religioso e o ecumenismo.

No diálogo inter-religioso, qual é o papel dos não crentes? Os não crentes têm de ser respeitados. O exemplo dos hospitais é interessante. Em 1982, antes de começar a trabalhar na Pastoral da Saúde, achei que devia passar um ano a visitar hospitais no mundo. Fui ao Estados Unidos, Bélgica, França, Itália, Alemanha, conhecer hospitais e ver o que se fazia por lá, também neste

aspecto da religião e do diálogo inter-religioso. Fui surprendido em Bruxelas, no Hospital de S. Lucas da Universidade de Lovaina, com um sistema muito inte-ressante: Cada doente, ao chegar ao hos-pital, tinha de preencher uma ficha onde constava a religião. E o impresso, para quem não tinha qualquer religião, per-guntava se gostaria de ter um assistente espiritual que o acompanhasse. Não era um psicólogo, era um assistente espiri-tual, uma pessoa tecnicamente preparada para um não crente ser também apoiado. Isto porque, tal como comecei por dizer, todos somos espirituais. E, a par dos cui-dados médicos, psicológicos, da atenção às relações sociais, é preciso estarmos também atentos à cultura, à vida espi-ritual e à religião que a pessoa tem. E quando se diz que não se tem religião, é uma forma de dizer que se tem uma reli-gião diferente, isto é, não se estrutura nas religiões existentes. Valia a pena também, nesta área, conhecer as palavras. O que é um ateu? O que é um agnóstico? O que é um descrente? São coisas completamente diferentes. Há dias, tive acesso a um livro escrito por um amigo meu, Jean Rogues, cónego da Catedral de Notre Dame e professor da Sorbonne, intitulado “La Foi d’un Agnostique Chrétien” (A Fé de um Agnóstico Cristão). Como subtítulo e entre parêntesis, esclarece que “um agnóstico é aquele que está permanen-temente à procura”. O próprio cónego de Notre Dame diz que é um agnóstico cristão, que está à procura.

Conhece, fora de Portugal, experiências de diálogo inter-religioso com as quais pudéssemos aprender? Penso que os Estados Unidos são fantás-ticos neste aspecto. Voltando à área da Saúde, conheci diversos hospitais lá. Por exemplo, na cidade de New Bedford, o hospital tem uma capelania que tem ao mesmo tempo três confissões religiosas: católicos, protestantes e judeus. Tem três

capelães e uma estrutura de oito fun-cionários, todos em relação uns com os outros e em relação com as paróquias ou comunidades locais. Quando chega alguém que é protestante e encontra o padre católico, este chama o colega. É um trabalho em conjunto interessan-tíssimo. Uma outra experiência, são os capelães dos hospitais da Europa. Nós temos uma organização europeia que tem 14 confissões religiosas diferentes, dentro do quadro dos países da União Europeia. Ainda recentemente, houve um encontro em Londres sobre o diálogo entre religi-ões no campo da acção hospitalar e da assistência aos doentes. Estas são experi-ências muito concretas e não se tem tido medo delas. Não somos inimigos, somos companheiros de caminho. E, à medida que avançamos, a certa altura compreen-demos que o Deus é o mesmo, apenas mudamos de nome.

O que pensa da polémica sobre a construção de uma mesquita em Nova Iorque perto do local onde se situaram as Torres Gémeas? Todos estarão de acordo em que, se for uma provocação, é inadmissível. Realmente, no Ground Zero, tendo sido a Al-Qaeda, que fez o atentado, como assumiu, acto de um fundamentalismo radical, ir ali criar uma mesquita parece não ser outra coisa que uma provocação.

DIálogo INter-

relIgIoso suPõe

que CADA um tem

elemeNtos que

oFereCe Ao outro,

e reCebe Do outro

elemeNtos. Isto

é DIálogo, DAr e

reCeber.

Diálogo inter-religioso

uM CaMinho Para a Paz

B_i 12aCiDi REVISTA Nº 85 OUTUBRO 2010

e N t r e v I s t A

o diálogo inter-religioSo, deSaFioS da actualidadeem diálogo inter-religioso deveria ser intolerável tolerar.

antes muito bem definidas. Hoje em dia, vemos organismos como a ONU a delinear estruturas de mediação que ultrapassaram a definição mais estrita de religião para passar para o de civilização. A iniciativa Aliança de Civilizações, de que Jorge Sampaio é o Alto-representante do Secretário-Geral da ONU, é disso o máximo exemplo.O desafio primordial é, na actualidade política e social, o do conhecimento livre, onde o respeito esteja sempre presente. Trata-se de uma diplomacia de gostos e de sensibilidades que não se comporta segundo regras estabelecidas mas que deve ter como base o olhar na construção de um futuro em que, queiramos ou não, todos estaremos na mesma “casa comum”.O diálogo inter-religioso é um campo onde urge olhar despudoradamente para as memórias, os antagonismos e as diver-

(direCtor da liCenCiatura e do MeStrado eM CiênCia daS religiõeS da

univerSidade luSóFona)

paulo MendeS pinto

Entrados que estamos em pleno século XXI, as sociedades euro-peias descobriram que o diálo-go entre, e com as religiões, é

da maior importância a diversos níveis. Após um longo período do século XX em que os Estados, sobretudo europeus, se habituaram a não lidar com o universo das religiões – talvez porque muitas vezes se julgou que a religião estaria cada vez mais confinada apenas à esfera familiar – e, após uma fase de voluntarismo e de aproximação gerida e fomentada por actores religiosos bastante empenhados mas isolados, estamos perante uma nova fase em que muito da evolução social pode passar por um são convívio entre as religiões, resultado de uma planifica-ção e de uma necessidade socialmente assumida. Seguindo recentes discursos de dois dos mais importantes líderes mundiais,

Barack Obama e Durão Barroso, é cada vez mais claro para as sociedades pós-modernas e pós-industriais que será no campo das instituições religiosas que muito do apoio social se realizará, assim como da própria segurança e até da finança.No sentido desta tomada de consciência, o olhar dos Estados está já a evoluir para um mais marcado espaço de encontro e de complementaridade em que todas as partes já perceberam que é apenas num equilíbrio simbiótico que o futuro se pode construir. Do universo da boa vontade, deslocamo-nos para o mundo da utilidade, onde toda a sociedade está implicada, sejam os indivíduos religiosos ou não. De facto, o diálogo entre as religiões está a deixar de ser um trabalho interior às próprias religiões para assumir dimensões cívicas que transbordam essas linhas,

13

gências. Não se pode esperar que as religiões se esvaziem das suas identidades, dos seus objectivos e das suas missões. O tempo do “politicamente correcto” deve dar lugar a uma era de pragmatismo em que se procurem os denominadores comuns, não a anulação das especifici-dades.Acima de tudo, o diálogo implica um novo desafio: isso mesmo, o “diálogo”. Isto é, deixar falar e, por consequência,

ouvir. E, nesse processo de ouvir, de escutar, o que temos como resultado ime-diato é o conhecimento. Quantas vezes se criam ideias feitas, apriorismos, lugares-comuns porque construímos toda uma teia de visões que são erradas, frustres, simplistas e preconceituosas?Conhecer é, acima de tudo, dar esse espaço fundamental da afirmação da identidade. Enquanto ouvimos, estamos a exteriorizar que temos um interlocutor.

o DIálogo eNtre As relIgIões está A DeIxAr

De ser um trAbAlho INterIor às PróPrIAs

relIgIões PArA AssumIr DImeNsões CívICAs que

trANsborDAm essAs lINhAs, ANtes muIto bem

DeFINIDAs.

Diálogo inter-religioso

uM CaMinho Para a Paz

Estamos a dar-lhe direito de ser. E, aqui, o diálogo já é muito mais que diálogo: é respeito e, já não, simplesmente tolerân-cia. Toleramos o que somos obrigados a aceitar. Mas o desafio vai mais longe: não se deve aceitar por imposição, por neces-sidade, mas sim como parte natural da postura de uma sociedade que reconhece que tem partes diferentes.

AFRICANOS EM PORTUGAL EM FÁTIMA

B_i 14aCiDi REVISTA Nº 85 OUTUBRO 2010

No âmbito do seu projecto Interculturalidade – Cidade do Sol, financiado pelo Fundo Europeu para a Integração de Nacionais de Países Terceiros (FEINPT), a Comoiprel e a Câmara Municipal

de Moura, através do Centro Local de Apoio à Integração de Imigrantes (CLAII), em parceria com o ACIDI, a Paróquia de Moura, a Cáritas Diocesana de Beja e alguns CLAII da Rede (Beja, Évora, Sines, Setúbal), concretizaram a I Festa dos Povos de Moura, que teve lugar em Abril deste ano. Enquanto oportunidade de encontro entre imigrantes e autóctones, a Festa dos Povos de Moura teve a virtualidade de representar, no mesmo altar, vários líderes de religiões dife-rentes – acolhidos pelo Pároco de Moura e Bispo da Diocese de Beja – e, no mesmo palco, manifestações culturais desde o Leste da Europa até ao Continente Africano e Brasil, acolhidos pelos diversos cantadores de Moura. O almoço colectivo com sabores do mundo consagrou, depois, a trilogia essencial: Fé – Cultura/Identidade – Integração/Partilha.Na sua dimensão ecuménica, esta Festa contou com a par-ticipação da Igreja Católica Apostólica Romana, as Igrejas Presbiteriana, Adventista do 7º. Dia, Greco-Católica e Ortodoxa, cuja celebração incluiu a leitura de Evangelhos, Leituras, Orações e Cânticos que foram respeitados por todos os participantes (cerca de 300 pessoas). Foram momentos altos desta celebração a oração conjunta do Pai Nosso e o momen-to de oferendas, colorido pelos diversos grupos de jovens dos vários países: Guiné, Cabo-Verde, São Tomé e Príncipe, Brasil, Roménia e Portugal (Alentejo). Esta ocasião levou ao altar um pão – afinal, o alimento universal de todos os Povos -, incluindo a sua carga simbólica também apropriada pelas diversas religiões.

FeSta doS PovoS de MourauM exeMplo de boa prática no âMbito do diálogo inter-religioSo

Finalmente, o cântico sacro/pagão a Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Moura, pelo Grupo Coral Ateneu de Moura, transportou-nos a uma dimensão mística indecifrável, plural, controversa e unificadora – que foi cantada colectivamente, senão na perspectiva da Fé, na perspectiva materna que lhe está associada.É neste paradoxo e mistério que a vida dos imigrantes e dos emigrantes se movimenta: a nossa igualdade e transcendência no campo espiritual, da fé, das crenças e dos valores, e da identidade. O processo de inclusão dos imigrantes, quiçá de todos nós, passa, inevitavelmente, por esta união, partilha e sentimento de pertença, numa dimensão intangível – e que precisamos TODOS e TODAS de trabalhar e fazer crescer.

claii

antónia vilar Baião e toda a equipa do Claii de Moura

15

escolhas

Depois do sucesso e da grande adesão do Muda o Bairro 2009, o Escolhas quer continuar a ser agente de inovação e sustentabilidade nas comunidades locais onde está presente. A ideia

é, mais uma vez, incentivar os jovens destinatários a não esperarem que as mudanças venham de fora mas experimen-tarem ser eles próprios a provocar e facilitar a sua chegada. Para isso, são convidados a sentirem-se co-responsáveis pelos espaços onde habitam e a participarem activamente no seu melhoramento, apresentando propostas de intervenção enquadradas em dois eixos principais: Reabilitação Urbana e Ambiente e Ecologia. As propostas, que deverão fazer prova da sua viabilidade, têm de se destinar a áreas onde existam projectos do Escolhas e devem ter como objectivo “fomentar a participação juvenil, reforçar a imagem interna e externa dos territórios e dos públicos envolvidos e possibilitar a dinamização de parcerias locais que contribuam para a melhor execução do projecto” e que complementem o financiamento, que será atribuído pelo Programa, às sete propostas finalistas. Recorde-se que na edição do ano passado concorreram 120 projectos, dos quais 10 foram seleccionados para financiamento. Para além das ideias e da angariação de fundos ou outros apoios que permitam cobrir os custos não suportados pelo prémio do concurso, os jovens são também responsáveis por tratar de todo o processo logístico e formal necessário à realização destes melhoramentos, que vai desde a obtenção das autorizações necessárias, até à eventual

mobilização de outros voluntários que se possam e queiram juntar a eles. Na edição do ano passado as ideias premiadas incluíram, entre outras, a pintura de fachadas, a construção de uma escultura urbana, de espaços verdes, de desporto e de lazer e a reabilitação de um túnel de passagem.

Mais informações sobre o concurso: http://mudaobairro.wordpress.com

Muda o Bairrocriatividade, iMaginação e participaçãoo ConCurSo de ideiaS lançado Pelo PrograMa eSColhaS eStá de volta Para MaiS uMa edição. o deSaFio é lançado

a todoS oS jovenS, doS ProjeCtoS de norte a Sul do PaíS, que queiraM Meter MãoS à oBra e renovar aS SuaS

CoMunidadeS.

B_i 16aCiDi REVISTA Nº 85 OUTUBRO 2010

C A s A D o b r A s I l

CaSa do BraSil nova Sede eM liSboa

aulas de samba, aulas de forró e aulas de inglês, o jornal Sabiá, o centro de docu-mentação e o espaço de Internet. Agora também trabalha aqui mais gente porque com este movimento todo da nova sede passámos a ter muitos voluntários que se juntaram às cinco pessoas que trabalham connosco: uma pessoa no GIP (Gabinete de Inserção Profissional), duas no atendi-mento e duas advogadas.

Como é um dia típico na Casa do Brasil? A Bolsa de Emprego (o GIP) trabalha o dia inteiro e tem sempre pessoas. Mas no Atendimento Geral há a tendência para aparecerem durante toda a tarde, em especial no horário pós-laboral. As pesso-as começam a aparecer por volta das 15h. Os fins do dia ficam muito animados, uns dias com samba, noutros dias com o forró, há as aulas de inglês e as aulas de capoeira começam em Outubro, tudo em horário pós-laboral.

a nova Sede da CaSa do BraSil, no Bairro alto, eM liSBoa, Foi oFiCialMente

inaugurada no dia 23 de SeteMBro. Segundo o PreSidente da aSSoCiação,

guStavo Behr, eSte eSPaço, que eStará aBerto à Partilha CoM o MoviMento

aSSoCiativo, deu uM novo alento a todoS oS SóCioS. a CeriMónia de

inauguração Pretendeu taMBéM hoMenagear o eMBaixador do BraSil,

CelSo Souza, que Foi uM grande deFenSor da CauSa da nova Sede da CaSa

do BraSil.

guStavo beher

O que é a Casa do Brasil? A Casa do Brasil é uma associação de imigrantes brasileiros fundada em 1992 que actua em três áreas: a área cultural, a área de apoio aos cidadãos brasileiros e uma área de activismo, que consiste em transformar aquilo que as pessoas nos contam, as suas dificuldades, em diálogo com as entidades oficiais brasileiras e portuguesas.

Como surgiu a nova sede? Foi uma luta de muitos anos, que eu conheço em especial das últimas direc-ções, mas que já vem das direcções do passado. Foi uma coisa boa que conse-guimos mas foi uma batalha grande à qual demos muita atenção. Recebemos em todo o processo um grande apoio do Embaixador do Brasil, que acarinhou muito esta ideia e foi defensor de nossa causa junto à Câmara Municipal de Lisboa, até que conseguimos este espaço cedido pela autarquia.

O que vai ser agora possível fazer de novo? Esta sede é bem maior, tem muitos mais metros quadrados, tem quatro andares em vez de um. O espaço criou logo de início muitas mais-valias. Na outra sede, por exemplo, não podíamos ter activida-des como capoeira e não conseguíamos ter várias actividades ao mesmo tempo o que, aqui, se torna possível. É evidente que um bom espaço como este poten-cia muito tudo aquilo que conseguimos fazer. Temos já uma grande lista de acti-vidades que pretendemos organizar no futuro e que na outra sede não seriam possíveis. Por outro lado, o espaço para além de ser maior, é um espaço mais bonito.

Que actividades que existem neste momento? As actividades que já temos e que vêm da outra sede são o Atendimento Geral, o Apoio Jurídico, a Bolsa de Emprego,

17

No que respeita ao apoio, as necessidades dos imigrantes têm evoluído? A Casa do Brasil continua a ser muito procurada para dar apoio na regulari-zação. Houve evoluções, em função do momento que o país vive. Começam a aparecer mais pessoas desempregadas, procurando ajuda, e para isso existe o GIP. Existem também pessoas que vêm perguntar sobre o retorno, o que é uma coisa nova. E problemas de trabalho sempre existiram mas há uma nova pre-ocupação quanto ao desemprego, face há uns três anos atrás. Por outro lado, perante o crescimento económico do Brasil, os brasileiros vêem o Brasil com outros olhos, e também Portugal, de uma maneira geral, olha para o Brasil de uma forma diferente. É verdade que aqui existem problemas de emprego mas as pessoas também têm pensado mais em regressar por esse motivo.

Esta é uma associação com múltiplas vocações... O impulso inicial que traz as pesso-as aqui é para resolver problemas. As pessoas vêm procurar o Atendimento, a Bolsa de Emprego, o Apoio Jurídico para tentar encontrar solução para a sua situação. Depois, as aulas de dança são muito mais heterogéneas, vêm pessoas de todas as origens, muitos portugueses e estrangeiros de outras nacionalidades, é uma actividade muito intercultural. No futuro, a porta estará aberta para outras actividades, como a dança contempo-rânea ou o teatro, com parcerias com outros grupos. Vamos também passar a ter apoio psicológico. Na outra sede, considerávamos que não havia um espaço que garantisse uma boa privacidade mas aqui já o temos. É um serviço que vai entrar em funcionamento brevemente. A Casa do Brasil já foi uma associação muito mais cultural do que depois se tornou, e isso aconteceu como resposta àquilo que as pessoas começaram a pre-cisar. Por isso sempre tivemos essas duas vertentes em paralelo, a cultural e a de apoio às pessoas. O que se pretende aqui é continuar a fazer tudo o que se faz de atendimento e apoio e usar esta sede para potenciar mais ainda a área da cultura. É este desafio que nos espera porque esta casa é claramente muito apropriada para actividades culturais, até pela zona onde se situa - o Bairro Alto.

Casa do Brasil de Lisboa www.casadobrasil.info

Rua Luz Soriano, 42

1200 - 248 LISBOA

Telefone: 21 340 00 00

Fax: 21 340 00 01

Horário: dias úteis das 15h00 às 21h00

estA seDe é bem

mAIor, tem muItos

mAIs metros

quADrADos, tem

quAtro ANDAres em

vez De um. o esPAço

CrIou logo De INíCIo

muItAs mAIs-vAlIAs.

estA CAsA é

ClArAmeNte muIto

AProPrIADA PArA

ACtIvIDADes CulturAIs,

Até PelA zoNA oNDe se

sItuA, o bAIrro Alto.

B_i 18aCiDi REVISTA Nº 85 OUTUBRO 2010

PréM

ioS

de

jorn

aliS

Mo

201

0

ac

idi

diS

tin

gu

e

pr

oFi

SS

ion

aiS

d

a c

oM

un

ica

çã

o S

oc

ial

Prémio lido por milhões de chineses

A reportagem sobre jovens da comunidade chinesa que foi capa da Pública em 31 de Maio de 2009 valeu à autora, Francisca Gorjão Henriques, o prémio Imprensa Escrita. O trabalho, “Do Império do Meio para o meio de Lisboa”, será traduzido para mandarim e publicado pelas agências noticiosas Xinhua (a maior do mundo) e China News, que contam com milhares de milhões de leitores.A iniciativa da tradução é do jornal Europe Weekly-Portugal, dirigido por Liang Zhan, um chinês residente em Lisboa há mais de uma década.

O ACIDI promoveu a cerimónia de entrega dos Prémios de Jornalismo 2010 no dia 17 de Setembro. No evento, apresentado pela actriz Cláudia Semedo, estiveram presentes o Ministro dos Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão, e a Alta Comissária para a Imigração e

Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse, a par de outros parceiros estratégicos do ACIDI com um papel activo na promoção da diversidade cultural.Com o objectivo de distinguir os melhores trabalhos jornalísticos na área da diversi-dade cultural, o ACIDI organiza anualmente o Prémio de Jornalismo, um projecto que se enquadra na sua missão de sensibilização da opinião pública em matéria de imigração e diálogo intercultural. Nesta edição, sob o lema Diversidade Cultural, foram premiados os melhores trabalhos realizados em 2009 por profissionais da comunicação social nas seguintes categorias: Prémio Imprensa Escrita, Prémio Órgãos de Informação Regionais e Locais, Prémio Multimédia, Prémio Rádio, Prémio Meios Audiovisuais, Prémio Media Étnicos e Prémio Diálogo Intercultural. O júri foi constituído por Roberto Carneiro, coordenador do Observatório da Imigração, Isabel Ferin, investigadora do Instituto de Estudos Jornalísticos da Universidade de Coimbra, e por Fernando Cascais, director do CENJOR (Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas).

O CORO DO ACIDI ACTUOU NESTA OCASIÃO ACTUAçÃO DE CELINA PEREIRA

19

Prémio Órgãos de Informação Regionais e Locais

Carina Leal, pela rubrica “Vida de Imigrante”, publicada no Diário de Coimbra.

Prémio Meios Audiovisuais

Susana André, Pedro Cardoso e Ricardo Sant’Ana, pelo trabalho “Primeira Casa”, apresentado na SIC (Grande Reportagem).

Menção Honrosa Meios AudiovisuaisPedro Coelho, Mário Cabrita e Ricardo Tenreiro, pelo trabalho “Bela Vista, 180 dias depois”, apresentado na SIC (Grande Reportagem).

Prémio Imprensa Escrita

Francisca Gorjão Henriques, pela peça “Do Império do Meio para o meio de Lisboa”, publicada no Jornal Público (Revista Pública).

Menção Honrosa Imprensa Escrita Ricardo Fonseca, pela peça “O outro Brasil”, publicada na Revista Visão.

Menção Honrosa Imprensa Escrita Teresa Campos, pela peça “Partir Muros: turmas só com alunos ciganos nem sempre são polémicas - é o que acontece quando se procura a integração”, publicada na Revista Visão.

Menção Honrosa Multimédia Otília Leitão, pela crónica “Postal de Lisboa”, publicado em A Semana Online.

Prémio Diálogo InterculturalEx-aequo para:

Conceição Queiroz, João Paulo Delgado e Miguel Freitas pelo trabalho “Música no Coração”, apresentado na TVI; e Margarida Metello, pelo trabalho “Esta é a nossa rua”, apresentado na RTP.

CARINA LEAL

CONCEIçÃO QUEIROZ FRANCISCA GORJÃO HENRIQUESMARGARIDA METELLO

OTÍLIA LEITÃO

SUSANA ANDRÉ

B_i 20aCiDi REVISTA Nº 85 OUTUBRO 2010

Rosário Farmhousealta-CoMiSSária Para a iMigração e diálogo interCultural

O ACIDI valoriza muito o papel dos jor-nalistas na construção de uma sociedade mais plural e na construção da coesão social. Hoje queremos estar com os jor-nalistas a celebrar a diversidade e mostrar que a opinião pública também gosta de ouvir falar na diversidade cultural pela positiva, gosta de ser informada com rigor, com seriedade, pois as coisas boas também podem ser notícia.

Jorge LacãoMiniStro doS aSSuntoS ParlaMentareS

Gostaria de louvar o Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural pela iniciativa de lançar mais uma edição do Prémio de Jornalismo. Quero agra-decer também a todos os jornalistas que participaram neste concurso de âmbito nacional o empenho e a qualidade dos seus meritórios trabalhos que vimos aqui publicamente reconhecer. (...) Um dos desafios que certamente hoje se colocam à sociedade portuguesa e, em particular,

aos profissionais da comunicação social, consistirá na reflexão sobre o modo como os media representam as minorias.

Roberto Carneiro PreSidente do júri

A mobilidade humana não pode ser para-da. O mundo está cada vez mais aberto. A sociedade portuguesa tem séculos e séculos de convivência intercultural e multicultural e o Português é universal. Somos todos iguais e todos queremos as mesmas coisas. Quero cumprimentar os jornalistas pelos seus actos de coragem de, por vezes na contracorrente, afirma-rem os valores em que acreditam. Quero também agradecer a todos pela sua parti-cipação. Foi muito difícil fazer a escolha, pois havia um número significativo de candidatos muito bons.

Isabel Ferin MeMBro do júri

Há dez anos que fazemos o percurso de monitorizar os meios de comunicação e temos um grande prazer em perceber como o jornalismo adquiriu competên-cias nesta área e há tantas pessoas que se

dedicaram a tratar temas tão delicados como a imigração e os direitos huma-nos, a integração e a diversidade, tanto relativamente aos imigrantes, como aos ciganos portugueses. É com muito prazer que considero que houve uma aquisição de competências e também uma sensibi-lização de todos os jornalistas e dos meios de comunicação. (...) Esta é uma vitória não só dos jornalistas e da comunicação em geral, mas da sociedade portuguesa.

Fernando CascaisMeMBro do júri

Quero, primeiro, saudar todos os que concorreram. Em segundo lugar, sau-dar os vencedores dos prémios. E, em terceiro lugar, saudar a iniciativa do ACIDI pela ideia que teve em alargar os prémios, dando a possibilidade de estes contemplarem todos os canais em que nós exercemos. O CENJOR existe para que as competências profissionais do jor-nalismo se desenvolvam. É com bastante satisfação que por vezes somos convida-dos para participar em júris de prémios de jornalismo. E, quando isso acontece, temos a possibilidade de observar que há bom jornalismo neste país. Como membro deste júri, queria saudar todos aqueles que tiveram a sensibilidade e a competência para saber tratar estes assun-tos com trabalhos de bom jornalismo.

21

ConFerênCia MetroPoliS 2010EsPEcialistas PortuguEsEs PrEsEntEs Em HaiaSob o tema “Justiça e Migração: Paradoxos da Pertença”, a XV Conferência do Projecto Internacional Metropolis vai decorrer de 4 a 8 de Outubro, no Centro de

Conferências do Fórum Mundial de Haia, na Holanda. Numa das mais emblemáticas reuniões mundiais de discussão das políticas migratórias, Portugal vai

organizar quatro dos 60 workshops que decorrem paralelamente às sessões plenárias, e durante as quais são esperados entre 800 a 1000 representantes de alto

nível.

O Projecto Internacional Metropolis consiste numa rede internacional de investigadores, decisores políticos e organizações não governamentais que comungam

de uma visão - desenvolver e implementar políticas de migração e diversidade, alicerçadas nos dados empíricos da investigação no terreno.

Neste contexto, o Migration Policy Group organizou um dos workshops em conjunto com o British Council: “Index da Política de Integração dos Migrantes: Novas

Formas de Pesquisa, Elaboração de Políticas e Protecção”, para o qual convidou a Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural a apresentar uma

conferência. Rosário Farmhouse vai também moderar o workshop português “Condições de Habitação e Integração dos Imigrantes: Desafios e Políticas”. Estarão

ainda presentes Lucinda Fonseca, professora do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, o investigador da Universidade de British Columbia-

Okanagan (Canadá) Carlos Teixeira, e os investigadores do Centro de Estudos Sociais da

Universidade de Coimbra, José Carlos Marques, Pedro Góis e Maria João Guia.

Mais informações: www.metropolis.net

breves

FeStival todoS lisboa dE todo o mundo A segunda edição do Festival TODOS, uma iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa (Gabinete Lisboa Encruzilhada de Mundos e da Academia de Produtores

culturais), decorreu de 16 a 19 de Setembro no Largo do Martim Moniz, em Lisboa, e na zona envolvente. O ACIDI esteve representado no Martim Moniz através

de um stand com materiais de informação disponibilizados aos imigrantes. A Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse,

participou na sessão de abertura.

O Festival TODOS – Caminhada de Culturas é uma

iniciativa que, nas suas diversas vertentes, apela ao

convívio dos habitantes daquela zona da capital, a maioria

imigrantes. Mas sobretudo promove a divulgação dos

hábitos e costumes do país de origem daqueles que fizeram

do Martim Moniz o local mais multicultural de Lisboa –

com um comércio próprio, sons, cheiros, e sabores raros de

encontrar no mesmo espaço em Portugal.

Além das mercearias e lojas com artigos do país dos

proprietários, que convidaram os visitantes a entrar

na sua cultura, os quatro dias do evento foram uma

verdadeira mostra de artes. Da escrita ao cinema, da dança

à fotografia ou à música, com concertos de Fado, Músicas

dos Balcãs, sonoridades da China e do continente africano.

As ruas receberam também o Teatro Popular, eternizado

por William Shakespeare, a energia do Grupo Desportivo

da Mouraria, enquanto o Largo do Intendente foi palco de

Circo Cigano. Quatro dias, cinco continentes, um bairro de

Lisboa.

B_i 22aCiDi REVISTA Nº 85 OUTUBRO 2010

SeMinário imigração E rEsultados EscolarEs na árEa dE lisboa

MaChete

imigrantEs são os HEróisEm Machete, o novo filme do consagrado realizador Robert Rodríguez, os

heróis são latino-americanos que entram ilegalmente no território dos

Estados Unidos e a maioria dos vilões são brancos americanos. Este é um

filme provocador com uma alta dose de sangue e humor, um pouco ao estilo

de Quentin Tarantino, tendo a imigração como tema de fundo. O anti-herói

de Rodríguez, o mercenário mexicano Machete, é interpretado por Danny

Trejo, um actor secundário veterano que tem aqui o seu primeiro papel como

protagonista principal ao lado de grandes figuras de Hollywood como Robert

De Niro, Steven Seagal, Don Johnson, Jessica Alba e Michelle Rodríguez.

Este elenco de luxo traz ao cinema uma sátira sobre a realidade da fronteira

entre os Estados Unidos e o México, marcada pelo tráfico de droga, forças

de segurança abusivas e políticos corruptos. Cenas violentas, diálogos

sarcásticos e perseguições de automóveis típicas dos anos 70 dão vida a um

filme que, sendo de entretenimento, funciona como uma sátira radical a

problemas muito reais e da maior actualidade.

No dia 15 de Outubro decorre no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa o

seminário “Imigração e Resultados Escolares na Área Metropolitana de Lisboa”, no qual serão

apresentados os resultados do projecto (In)Sucesso Escolar dos Descendentes de Imigrantes,

desenvolvido no âmbito do CIES-ISCTE e coordenado por Teresa Seabra. O objectivo desta

pesquisa passou por aferir quais os efeitos que são produzidos por características do aluno

(como o sexo, a nacionalidade dos pais ou a classe social) nos seus resultados escolares, através

da análise das classificações conseguidas nas provas nacionais do ensino básico.

A sessão será comentada por Mariano Enguita (Universidade de Salamanca) e Jordi Garreta

(Universidade de Lleida) e incluirá um debate no qual intervirão responsáveis pela área da

educação de várias autarquias da Área Metropolitana de Lisboa.

A sessão decorre na tarde de 15 de Outubro (14h30-17h), no auditório B203 do Edifício II do

ISCTE-IUL.

Mais informações em: http://cies.iscte.pt/projectos/

23

Coro do aCidiEstrEia fora dE Portas No âmbito do Encontro Intercultural promovido pela Câmara Municipal de Cascais, e a convite da

autarquia, o Coro do ACIDI actuou no Teatro Gil Vicente, em Cascais, no dia 26 de Setembro. Ficou assim

marcada a estreia deste Coro numa cerimónia pública e ao lado de outros grupos corais.

Para assinalar o evento, deram ainda voz a esta iniciativa o próprio Coro da Câmara Municipal de

Cascais, o Coro das Mulheres do Batuque (Associação Voz de África) e o Coro do Grupo Cultural do Ballet

Manbôf de AFAÍJE – Associação dos Filhos e Amigos da Ilha de Jeta.

Desde a sua formação, em Outubro de 2009, o Coro do ACIDI tinha apenas actuado em eventos internos

e por ocasião de visitas públicas ao Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (CNAI). A participação

no Encontro Intercultural de Cascais deu a conhecer, fora de portas, estas vozes que promovem a

multiculturalidade.

Centro de doCuMentação do aCidi

novo EsPaço Em funcionamEnto O Centro de Documentação do ACIDI, situado no Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (CNAI), em Lisboa,

mudou de instalações, ocupando agora um espaço dedicado especificamente ao seu funcionamento e onde

todos os interessados em matérias relacionadas com a imigração, integração de imigrantes, diálogo intercul-

tural e áreas próximas, como os direitos humanos ou o racismo, têm ao seu dispor um acervo bibliográfico com

mais de dois milhares de referências.

Constituído por dissertações, livros colectivos, artigos científicos, documentos oficiais e outras fontes, o catá-

logo procura reflectir, também ao nível temático, a diversidade de abordagens praticada no estudo destes domínios. Os visitantes do Centro de Documentação poderão

contar com o apoio de uma equipa plenamente disponível para orientar as suas pesquisas.

agendabreves

agenda

EVENTO DESCRIÇÃO DATA LOCAL HORA

Religiões e MigraçõesConferência Internacional Religiões e Migrações na Europa do Sul

30 Setembro - 1 Outubro Faculdade de Letras, Universidade do Porto 9h30-18h30

MetropolisEncontro da Conferência Metropolis Internacional

4-8 Outubro Haia, HolandaTodo o dia

SeminárioSeminário “Imigração e Resultados Escolares na A.M. Lisboa”

15 Outubro CIES-ISCTE, Lisboa 14h30-17h

Seminário Seminário “Migrações Internacionais: Brasileiros no Mundo”

18 Outubro CIES-ISCTE, Lisboa 9h-19h15

ACIDI Junto das Comunidades Ciganas Iniciativa ACIDI Junto das Comunidades 25-26 Outubro BragaTodo o dia

B_i aCiDi REVISTA Nº 85 OUTUBRO 2010

facEs of tHE otHEr: a contribution to intEr-rEligious rElations and dialoguE

Autores: The Group “Thinking Together” Edição: World Council of Churches (2008)

Como poderemos, no contexto da diversidade religiosa, exprimir convicções comuns e explorar questões centrais presentes em todas as tradições religiosas? As pessoas de diferentes confissões religiosas, que constituem um grupo de reflexão multi-religoso, intitulado “Thinking Together”, centraram-se na reflexão de algu-mas das questões fulcrais relacio-nadas com fé e religião. Este livro

inclui uma história ocorrida no seio de cada uma dos grupos religiosos representados, que reflecte sobre a maneira como nessa tradição os crentes encararam a forma de olhar o “outro”. Os autores esperam que estas histórias contribuam para novas leituras das diversas dimensões religiosas, aju-dando-nos a criar espaço para o “outro”, enquanto parceiro digno de respeito.

muslim and cHristian undErstanding

Coordenação: Waleed El-Ansary, David Linnan Edição: Palgrave Macmillan (2010)

Muslim and Christian Understan-ding relata e explora a experiên-cia da iniciativa A Common Word Between Us and You”, um diálogo continuado e de alto nível inicia-do por académicos islâmicos na sequência da polémica interven-ção do Papa em Regensburg em 2007. Os autores centram-se, nas suas contribuições, na importân-cia do desenvolvimento de um diálogo conducente à paz entre as comunidades islâmicas e cristãs,

que representam mais de metade da população mundial e partilham entre si o amor a Deus e o respeito pelo Outro. Esta obra é, assim, um conjunto pertinente de ensaios que exploram as questões morais e teológicas do diálogo de ci-vilizações.

dictionnairE géoPolitiquE dE l’islamismE

Autores: Antoine Sfeir e outros Edição: Bayard Centurion (2009)

Este é um dicionário completo sobre o islamismo, que esclare-ce os fundamentos e o conjunto das correntes e actores em cada país do mundo. O autor reuniu os melhores especialistas interna-cionais para estabelecer este con-junto inédito, que permite uma visão global sobre o Islão. Trata-se de uma obra que aborda tanto o fenómeno do islamismo radical como o da existência pacífica, e maioritária, dos crentes de rosto

humano, que se integram nas sociedades de acolhimento e reconhecem as regras e leis de cada país insistindo, con-tudo, para que sejam tidas em conta as suas identidades. Antoine Sfeir é director dos Cahiers de l’Orient e presidente do Centre D’études et de Réflexions sur le Proche-Orient.

cultura

O ACIDI, I.P. prossegue atribuições da Presidência do Conselho de Ministros, regulado pelo D.L.

nº. 167/2007, de 3 Maio

ACIDI, I.P.

LISBOARua Álvaro Coutinho, nº 14-16 1150-025 Lisboa

Tel.: 218 106 100 Fax: 218 106 117LINHA SOS IMIGRANTE: 808 257 257 / 21 810 61 91

[email protected]

www.acidi.gov.pt

B_iDirecção

Rosário FarmhouseAlta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural

Coordenação da ediçãoElisa Luis

RedacçãoJogo de Letras

[email protected]

DesignBuilding Factory

[email protected]

Colaboraram nesta edição Ana Correia, Camila Cardoso Ferreira, Catarina Reis Oliveira, Inês Rodrigues,

Luís Pascoal, Margarida Caseiro, Paula Moura, Susana Antunes, Tatiana Gomes

CapaIlustração: Planeta Tangerina

ImpressãoOffsetmais, Artes Gráficas, S.A.

Tiragem6.000 exemplares

Depósito Legal...

Promouvoir lE dialoguE intErrEligiEux: manifEstE Pour un contrat d’alliancE

Autores: Maxime Joinville-Ennezat e outros Edição: Chronique Sociale (2009)

Três grandes religiões reivindicam a herança de Abraão: Judaísmo, Cristianismo e Islão. Três reli-giões que marcam a consciência e o comportamento de milhões de seres humanos. Todas têm um lugar considerável na História do mundo. Todas se reclamam do mesmo Deus e reconhecem uma aliança entre Deus e a humanidade. Os autores argumentam que os descendentes de Abraão po-deriam beneficiar da experiência laica e aproximar-se com base na sua identidade comum. Como os convidar a ter um diálogo mais construtivo? Como chegar a um modelo de coabitação mais eficaz? São estas as questões que o livro coloca, procurando chegar às respostas mais adequadas.

Programa nós

domingos: rtP2 às 9H50 sEgunda a sExta: rtP1 às 6H05

O Programa Escolhas marca o início deste mês de Outubro no programa Nós. Pedro Cativelos e Kadidja Pinto Monteiro rece-bem Pedro Calado, que falará sobre este programa que tem proporcionado tantas e diferentes escolhas aos jovens que mais necessitam delas. Tudo isto acompanhado por muitas reportagens e histó-rias de vida. O resto do mês será dedicado às diferentes comunidades que se espalham um pouco por todo o país. Acompanhe o programa Nós todos os Domingos deste mês de Outubro e descubra mais sobre a Comunidade de Leste,

a Comunidade Africana, a Comunidade Chinesa e a Comunidade Cigana. Junte-se a Nós!

a PlacE on EartH: tHE limits of an EtHic-cEntric intEr-rEligious dialoguE

Autor: Derek Suchard Edição: VDM Verlag (2009)

Com as relações entre as religiões a assumir um destaque cada vez maior, o diálogo inter-religioso tem ganho uma crescente urgên-cia. Depois de um percurso con-siderável e anos de congressos, seminários, encontros e contactos entre as diversas fés - tanto posi-tivos como negativos -, o autor considera que o diálogo parece ter estagnado numa via sem saída, à medida que as religiões atingem o limite daquilo que é negociá-

vel. Isto põe em questão, acrescenta, o próprio conceito de “diálogo” e o seu potencial como meio de conseguir a tão procurada paz entre as religiões num mundo cheio de confli-tos religiosos. Assim, este livro aborda as causas profundas dessa suposta estagnação, especialmente no que respeita às religiões abraâmicas.