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FACULDADE METROPOLITANA SÃO CARLOS INSTITUTO DE PSICOLOGIA CRESCER PÓS GRADUAÇÃO EM ARTETERAPIA, EDUCAÇÃO E SAÚDE RAQUEL DE AZEVEDO DE SOUZA O DESENVOLVIMENTO DOS SENTIDOS NA CRIANÇA O PAPEL DO ARTETERAPEUTA UTILIZANDO MATERIAIS NATURAIS.

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Page 1: O Desenvolvimento dos Sentidos na Criança - O Papel do Arteterapeuta Utilizando Materiais Naturais - Monografia

FACULDADE METROPOLITANA SÃO CARLOSINSTITUTO DE PSICOLOGIA CRESCER

PÓS GRADUAÇÃO EM ARTETERAPIA, EDUCAÇÃO E SAÚDE

RAQUEL DE AZEVEDO DE SOUZA

O DESENVOLVIMENTO DOS SENTIDOS NA CRIANÇAO PAPEL DO ARTETERAPEUTA UTILIZANDO MATERIAIS NATURAIS.

Campos dos Goytacazes

2015

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RAQUEL DE AZEVEDO DE SOUZA

O DESENVOLVIMENTO DOS SENTIDOS NA CRIANÇAO PAPEL DO ARTETERAPEUTA UTILIZANDO MATERIAIS NATURAIS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentada à FAMESC / ISEC como requisito parcial à obtenção de certificado em Pós Graduação em Arteterapia.

Campos dos Goytacazes

2015

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RESUMO

Este trabalho foi organizado com a intenção de servir de subsídio a todos aqueles que quiserem aprender um pouco mais sobre ou trabalhar terapeuticamente a necessidade da conectividade do ser humano com o mundo por ele habitado, através do desenvolvimento saudável dos seus sentidos desde a infância, no intento de igualmente buscar o encontro da sua verdadeira essência com aquilo que realmente é importante ao longo da vida.

Palavras chave: desenvolvimento, essência, sentidos, educação, criança

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ABSTRACT

This work was organized with the intention of serving as a subsidy to those who want to learn a little bit more about or work therapeutically, the need of connectivity between human beings and the world inhabited by him, through the healthy development of their senses since childhood, in also intend to seek the meeting of their true essence, with what is really important throughout life.

Keywords: development, essence, directions, education, child.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................5

2 A IMPORTÂNCIA DA CONEXÃO ATRAVÉS DOS SENTIDOS.................7

3 O DESENVOLVIMENTO DOS SENTIDOS NA CRIANÇA........................11

4 CRIANÇAS COM SENSIBILIDADE E CRIATIVIDADE.............................29

5 ARTETERAPIA.........................................................................................32

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................41

7 REFERÊNCIAS.........................................................................................43

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1 INTRODUÇÃO

Certa noite eu tive um sonho que me marcou bastante, eu estava em uma

pequena creche, toda colorida e texturizada em suas superfícies, começando pelas

paredes, passando pelas maçanetas e móveis e seguindo até o chão seguindo

padrões de cores. E eu estava em meio a várias crianças pequenas e professoras

uniformizadas com roupas igualmente texturizadas, elas usavam aventais coloridos,

e cada uma estava responsável por uma sala que indicava um assunto diferente a

ser ensinado, como por exemplo música e culinária.

Tudo estava sinalizado e interligado, cada textura, assim como as cores e as

professoras, representavam coisas diferentes que combinadas entre si, eram

automaticamente associadas pelas crianças. Me senti como se estivesse em uma

escolinha do futuro.

Pouco tempo depois, tive um outro sonho que mais parecia um flash, e que

me chamou bastante atenção. Eu encontrava uma amiga da faculdade de

Cenografia, e realmente, uma semana depois eu a encontrei em um ponto de ônibus

indo para o trabalho, e pegamos o mesmo transporte. No caminho, ela foi me

contando que estava fazendo um curso de Pós Graduação em Arteterapia, pois sua

mãe era psicanalista e que a partir desta pós era possível trabalhar em vários

lugares com arte, inclusive escolas.

Eu naquela época, estava em uma fase de grande ebulição psíquica, havia

me dedicado um longo tempo a caminhada espiritual e resolvi me afastar um pouco,

mas não queria me distanciar de fazer o bem ao próximo. Pensava então, em dar

seguimento a algum projeto social que envolvesse crianças, e para isso, eu

precisava me capacitar.

E assim, da forma mais Junguiana possível, eu cheguei as portas de uma

Instituição de Ensino, para um Workshop de Iniciação.

Antes disso, eu já havia batido na porta de algumas Instituições e Escolas,

procurando voluntariados e oferecendo projetos paralelos de oficinas para crianças.

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Começado o curso, fui passando pelas etapas de desbloqueios e

redescobertas, e fui me aproximando cada vez mais do contato com a natureza, o

que influenciou muito nos meus trabalhos e me mostrou uma faceta que até então

eu nem imaginava que tinha, e isso foi aflorando cada vez mais.

Nessa mesma época, fiz uma viagem para um Sítio Sustentável em

Pirenópolis – GO, e tentei fazer uma sessão experimental de “Arteterapia” em um

Projeto Social para crianças carentes, da Prefeitura. Durante o processo, percebi

ainda mais a seriedade de se mobilizar este conteúdo em uma criança. E me senti

muito gratificada quando o tema da oficina que era “O que podemos fazer pelo meio

ambiente para ter um mundo melhor?”, e todas as crianças fizeram desenhos muito

semelhantes, uma árvore, um sol e algumas nuvens, mas uma das crianças, para

minha surpresa, fugiu completamente aos outros trabalhos, desenhou a Terra e os

planetas ao redor iluminados pelo sol.

Ao longo do curso, fui convidada por uma das colegas de turma, para fazer o

estágio em uma Instituição Infantil, o que tornou esse momento ainda mais

proveitoso, pela proximidade com este público, até então desconhecido para mim.

E assim tenho caminhado até aqui, plantando sementes com todo cuidado,

buscando harmonização e paz para a construção de um futuro seguro e feliz.

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2 A IMPORTÂNCIA DA CONEXÃO ATRAVÉS DOS SENTIDOS

Queremos o mundo porque ele é bonito, seus sons, seus cheiros e suas texturas, a presença sensorial do mundo como um corpo. Resumindo, por baixo da crise ecológica está a crise mais profunda do amor: que nosso amor tenha abandonado o mundo, que o mundo esteja desamado, é o resultado direto da repressão da beleza, de sua beleza e de nossa sensibilidade para ela. Para que o amor retorne ao mundo, é preciso, primeiramente, que a beleza retorne, ou estaremos amando o mundo só como uma obrigação moral: limpá-lo, preservar a natureza, explorá-lo menos.

(Hillman)

Há muitos anos atrás, os habitantes deste planeta, sempre em constante

transformação, deram início a um processo de conscientização dos limites das

capacidades da Terra e seus esgotamentos, sejam eles ecológicos, econômicos,

educacionais e políticos, entre outras coisas.

Esse processo fez com que houvesse uma reflexão crescente, porém ainda

pouco mobilizadora de grandes blocos de poder, além disso a superpopulação e as

tecnologias industriais que participam de uma irreversível degradação das principais

fontes, levam a crer que ainda existe muito a se caminhar em direção a algo

realmente funcional, mantenedor e menos exploratório.

Uma parte ainda insiste em se manter alheia a todas estas questões, pois de

alguma forma, elas ainda “não se encontram inseridas” nestes contextos, já uma

segunda parte, se concentra ainda em direcionar seus esforços para brinca de Deus

com a clonagem, a genética e os vírus, e uma terceira parte parece não se importar

com os dejetos nucleares e a poluição mundial, pois anualmente são lançados

nesse mercado, produtos que poluem a terra, o ar, a água e prejudicam a saúde

evidentemente. Segundo Alves (apud Duarte Jr. 2000 p.)

Acerca da anestesia que o mundo de hoje vem nos submetendo, é como se a língua, o nariz, os olhos, os ouvidos e o tato tivessem sido amortecidos e castrados. Assim, desatentos e deseducados, nossos sentidos vão se obliterando, enquanto seguimos na crença de que o único conhecimento importante é aquele de caráter abstrato

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produzindo exclusivamente em nosso cérebro, que tão só pensa e realiza cálculos sem se dar conta do mundo sensível ao derredor.

O ser humano convive hoje, com uma poluição diária em diversos níveis, e

somado a isso, encontra-se interconectado a uma rede de informações e vigilância.

As cidades, centros efervescentes de explosão emotiva, cultural e de

conhecimento, estão se deteriorando na mesma proporção de seu crescimento,

umas mais, outras menos, mas seus reflexos podem ser verdadeiramente “sentidos”

por quem mora ou frequenta áreas de extrema pobreza. Mas o que isso reflete na

vida dos seus habitantes? Eles passam a não ser mais extensão do lugar onde

moram, eles simplesmente pois não há mais sentido em passear por entre as ruas

não interagem mais com o ambiente natural em que vivem, pois não há mais sentido

em passear por entre as ruas do próprio bairro ou cidade e observar as mudanças

ou simplesmente com os canais sensoriais abertos para cores, sons e odores dos

lugares, já que não existe esse sentimento de lugar que se habita, como uma

extensão do corpo.

O que muito se vê, é que uma política distante destas questões mais

humanas e sua antológica dificuldade de administrar diversos serviços, atender um

grande número de pessoas, organizar, crescer e desenvolver espaços, fazendo com

que esta conta desague muitas vezes em desigualdades sociais e econômicas,

desemprego, inflação, violência e sujeira, como citamos anteriormente e isso vira um

ciclo fechado que se alimenta constantemente.

Outro ponto importante é que justamente devido a essas condições e

estressantes rotinas, grande parte daqueles que moram nessas grandes cidades,

ficam mergulhados neste transe psicológico. Basta pesquisar sobre a quantidade de

antidepressivos e doenças somatizadas por estas pessoas.

O mundo hoje, se encontra extremamente competitivo, e para sobreviver, o

homem deve se impor pela força, inteligência e pelo dinheiro. Ele deve permanecer

sempre o melhor, jovem, belo e rico. E assim o ‘Eu’ vai perdendo força e esquece

aquilo que é mais importante: ser feliz, amar, respeitar, aprender, compreender,

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desprezando referências que motivavam seus ancestrais e davam sentido à sua

existência.

Segundo Bohm (2003 apud Opermann) este modo de vida tem provocado

poluição, destruição do equilíbrio da natureza, o excesso por parte da população, a

desordem econômica e a política mundial, deste modo, Bohm afirma ainda que, a

fragmentação é agora muito difundida, não só ao longo da sociedade, mas também

em cada indivíduo, e isso está levando a uma confusão mental generalizada, o que

cria um série interminável de problemas e interfere com a nossa clareza de

percepção.

Essa degradação da qualidade de vida vem, em grande parte, de uma visão

fragmentada do mundo e da visão de curto alcance da humanidade atual. Assim,

diante destes problemas, sociólogos, economistas, analistas políticos entre outros

especialistas, se mostram impotentes para resolvê-los e até mesmo compreendê-

los.

Economia e ecologia entram em constante desacordo, devido ao fato de que

a natureza é cíclica, enquanto que os sistemas industriais são lineares. A economia

enfatiza a competição, a expansão e a dominação, a ecologia enfatiza a

cooperação, a conservação e a parceria.

Como forma de compensar a perda de um mundo que pulsava com o nosso sangue e respirava com a nossa respiração, nós desenvolvemos um entusiasmo por fatos - montanha de fatos, muito além de qualquer poder indivídual de pesquisa. Temos a esperança piedosa que esta acumulação acidental de fatos irão formar um todo significativo, mas ninguém sabe ao certo, porque nenhum cérebro humano pode possivelmente compreender que a gigantesca soma total dessa massa – produza conhecimento. Os fatos nos enterram. (JUNG apud SABINI, 2007, p.138)

O homem parece evoluir em alguns aspectos, mas antigamente quando ele

era selvagem e bárbaro, matava para se alimentar ou sobreviver, e hoje ele mata,

apesar de toda sua ‘evolução’, para dominar, para conquistar mercados, impor

ideias, impor uma religião, pelo descontrole emocional, uso de drogas, culto a

violência ou também pelo prazer em caçar animais selvagens e exóticos para serem

exibidos como troféus em seu meio. Dentre todas as espécies, o homem é a única

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que entra em guerra e mata seus semelhantes em nome da religião, do mercado

livre, do patriotismo e de outras ideias abstratas.

Atualmente percebemos crianças, jovens e adultos infelizes, que não se

sentem capazes, por não terem ultrapassado suas mais básicas e íntimas

dificuldades pessoais de adaptação e relacionamento em família ou em grupos.

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3 O DESENVOLVIMENTO DOS SENTIDOS NA CRIANÇA

A alimentação (...), além de nutrir o corpo com alimentos naturais e biológicos, é também se nutrir e alimentar de bons pensamentos, do que se lê, do que se vê, do que se fala, do que se toca, do que se faz, e de quanto de atividade física que se pratica. É a nutrição que se absorve do Ar, da Água, do Sol, do Verde das plantas e árvores, da Flores, da Beleza da Natureza ao nosso redor. É também a nutrição que vem dos relacionamentos, do trabalho que se gosta de fazer, dos desafios que se propõe a si mesmo, das conquistas e vitórias que se alcança. É a nutrição da Alma, através da incessante e fascinante busca pelo autoconhecimento, por descobrir quem somos e para que viemos, ficando atentos e nos nutrindo, de certa forma, dos sinais da vida para que trilhemos nosso caminho de forma consciente, despertos e inteiros.

(Malu Paes Leme)

Para compreender as diferentes experiências sensoriais se faz necessário

compreender primeiramente, como se dá o processamento sensorial no seu

desenvolvimento. A primeira infância é o período muito importante no qual a criança

traça os caminhos básicos das suas futuras capacidades e de todos os seus

processos mentais.

Uma criança não nasce com estratégias e conhecimento prontos para

perceber as complexidades dos estímulos vindos do ambiente que a cerca. Essa

habilidade vai se desenvolvendo durante a infância e com suas experiências vividas.

Os sentidos operam por meio dos sistemas e seus órgãos ou receptores

sensoriais que captam os estímulos vindos do ambiente, sejam eles internos ou

externos, e os transmitem ao cérebro para que sejam processados, organizados e

interpretados. Esses receptores podem ser relacionados a estímulos produzidos fora

ou dentro do organismo.

E embora este capítulo seja mais técnico do que reflexivo, é valoroso

ressaltar que em meio a esse desenvolvimento dos sentidos, a toda essa integração

sensorial a partir de seus sistemas fisiológicos, para o funcionamento da máquina

humana, há de ser ter olhos também para a qualidade desses estímulos, que

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certamente irão interferir na formação dessa criança. Ela precisa aprender a ler o

ambiente que vive, se desenvolver melhor de forma saudável, entender melhor o

que a cerca, a se alimentar melhor desde pequena entre tantas outras coisas, ou

seja, desenvolver os sentidos a seu favor. Citando Guerra (2009, p. 83):

Todos nós temos feedbacks instantâneos por meio do nosso corpo, dando-nos a temperatura correta das nossas vivências, segundo estivermos ou não vivendo aquilo que pregamos, conforme estejamos ou não sendo corretos, íntegros, primeiro conosco e depois com os outros.

Quando prestarmos atenção as nossas sensações instintivas, intuitivas e aos sinais que nosso corpo vai dando, também aprenderemos mais sobre nosso código pessoal de ética. Essas são as linhas orientadoras para se viver em paz.

Capra (2003), traz em um de seus livros, a colaboração de Michel Ableman,

que entre muitas coisas, é agricultor e educador, e considera que ‘uma profunda

nutrição espiritual’, dependente das relações interpessoais, locais, biológicas e

ecológicas.

Ao dirigir um Centro de Agricultura Urbana, em Fairview Gardens, palco ideal

para esse tipo de educação e desenvolvimento sensorial, ele enfatiza a necessidade

da criança desenvolver a observação. E é Ableman (ano 2003, p. 223 - 224) quem

comenta:

Eu tenho um segundo filho. Todas as noites nós o envolvemos no seu cobertor de lã favorito e percorremos, o mais lentamente possível toda a extensão da fazenda dando boa noite as galinhas, tocando as folhas dos aspargos, roçando o rosto em várias ervas e flores e passando silenciosamente pelos milhares de sapos que habitam o nosso tanque. Essas caminhadas noturnas não incluem nenhuma conversa nem explicação: não é preciso nenhuma leitura nem estudo para entender e aprender com a nossa experiência.

TATO

Segundo a neurocientista Lise Eliot (1999), o toque é o primeiro sentido a

emergir. Embriões com apenas cinco semanas e meia podem sentir o toque dos

lábios ou nariz, o que rapidamente se propaga por todo o corpo. Na nona semana, o

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queixo, pálpebras e os braços também podem sentir o toque, na décima semana, as

pernas, e na décima segunda semana, quase toda a superfície do corpo é sensível

ao toque.

Isso acontece porque as respostas iniciais aparecem apenas nos níveis mais

baixos do sistema nervoso central, como a medula espinhal e o tronco cerebral. De

acordo com Ayres (2005, p. 40):

A pele tem muitos tipos diferentes de receptores para receber sensações de tato, pressão, textura, calor ou frio, dor e movimento dos seus pêlos. Embora possamos não pensar muito sobre o papel da sensação do toque em nossas vidas, o sistema tátil é o nosso maior sistema sensorial, devido a extensão da pele e que desempenha um papel vital no comportamento humano, tanto físicamente quanto mentalmente.

Os núcleos do tronco cerebral que processam entradas táteis podem nos dizer que algo está tocando a pele e se algo é doloroso, frio, quente, molhado ou se está arranhando. Em geral, o tronco cerebral é concebido para detectar se um estímulo é sobre a pele ou sua forma. Esses detalhes são processados nas áreas sensoriais do córtex cerebral.

Funcionando como se o sistema nervoso fosse inteiro, e os circuitos neurais

mediassem o desenvolvimento da sensação de tato, começando nos níveis mais

baixos como citado e subindo até o tálamo e finalmente, até o córtex cerebral.

Segundo Ayres (2005, p. 40):

O sistema tátil é o primeiro sistema sensorial a se desenvolver no útero e é capaz de funcionar de forma eficaz quando os sistemas visual e auditivo estão apenas começando a se desenvolver. Por estas razões, o toque é muito importante para a organização neural global, e caso não esteja funcionando adequadamente, o sistema nervoso tende a tornar-se desequilibrado.

Apesar do tato ser um dos sentidos mais desenvolvidos no momento do

nascimento, os bebês precisam de um tempo para que algumas destas habilidades

amadureçam, como por exemplo discriminar a localização de um estímulo no corpo,

discriminar os diferentes tipos de estímulos que o toque pode proporcionar. Este

sistema também é responsável por ‘supervisionar’ outras sensações do corpo do

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bebê como temperatura, dor e a propriocepção, que é a sensação de

posicionamento e movimento do corpo. Citando Ayres (2005, p. 40):

A palavra propriocepção refere-se à informação sensorial provocada pela contração e alongamento dos músculos ao endireitar, puxar ou comprimir as articulações entre os ossos. Bainhas que cobrem os ossos também contêm proprioceptores. As sensações de seu próprio corpo ocorrem especialmente durante o movimento, mas eles também ocorrem enquanto estamos parados, pois os músculos e articulações enviam constantemente informações ao cérebro para nos dizer sobre a nossa posição. Porque há muitos músculos e articulações do corpo, e o sistema proprioceptivo é quase tão grande como o sistema táctil.

A propriocepção viaja da medula espinhal até o tronco cerebral e cerebelo, de forma que ele atinja os hemisférios cerebrais. Mais input proprioceptivo é processado em regiões do cérebro de forma inconsciente, e por isso raramente nota-se as sensações de músculos e articulações, a menos que deliberadamente preste-se atenção aos movimentos. Mesmo prestando um pouco de atenção, é possível sentir apenas uma pequena fração de toda a propriocepção que está presente durante o movimento.

A propriocepção ajuda o movimento, pois caso não houvesse este sentido, os movimentos corporais seriam mais lentos, desajeitados, e envolvendo mais esforços.

Crianças com propriocepção mal organizada geralmente tem um monte de problemas para fazer alguma coisa quando elas não podem vê-las com os olhos.

Experiências sensoriais iniciais, determinam a possível extensão da

sensibilidade tátil, isto é, quanto mais os bebês forem estimulados, melhor será o

seu desenvolvimento sensorial e cerebral durante a infância.

Pode-se dizer que o tato proporciona ao bebê as suas primeiras sensações

de prazer e também as primeiras desagradáveis. É igualmente através desse

contato corporal que, ao serem embalados por suas mães, os bebês reconhecem

quem lhes são próximos, chegando a demonstrar o seu estado emocional, pois

esses estímulos são percebidos em toda superfície do seu corpo, receptivo a

qualquer tipo de carícias, que o recém-nascido percebe os estímulos tácteis.

Lá pelo terceiro trimestre, essa integração permite o aparecimento de reflexos

mais sofisticados, como a resposta da origem, no qual o bebê gira a cabeça e abre a

boca em direção a um leve estímulo na bochecha.

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Segundo Eliot (1999), não é surpresa que os bebês são capazes de sentir

melhor usando suas bocas. A sensibilidade do toque se desenvolve da cabeça para

os pés, então a boca passa a ser a primeira região a se tornar sensitiva, e passa a

ser utilizada pelos bebês para explorar tudo, independente de ser algo grande, sem

gosto, pequeno ou perigoso, parecem não estar tão familiarizados com suas mãos

inicialmente, e apesar deles agarrarem os objetos, eles não tem com as mãos a

mesma atividade que eles parecem ter com a boca.

No entanto, mesmo antes do nascimento, os bebês já começam usando suas

mãos para tocar todas as partes do corpo, especialmente a face.

A neurocientista ainda comenta, que o bebê consegue perceber diferentes

texturas, mas não antes dos dezoito meses, quando ele já consegue diferenciar

entre as formas de um cubo inteiro e um cubo vazado.

Além dos estímulos exteriores, o contato humano parece ser essencial a esse

desenvolvimento, pois como qualquer outro mamífero, a perda da segurança e do

conforto de um toque parecem ter papel importante.

A lição a ser aprendida a partir de todos esses estudos é clara: as crianças prosperam em contato e contato físico, especialmente nos primeiros meses de vida. Em muitas culturas, as mães estão quase constantemente em contato com seus bebês, carregando-os em slings ou bolsas durante o dia e dormindo com eles de noite. Os pais nas sociedades ocidentais tradicionalmente não gastam tanto tempo em contato direto com seus bebês, mas há alguma evidência de que "bebês de três meses de idade", que são carregados em slings (...) por um par de horas extras por dia, gastam menos horas chorando. (ELIOT,1999, p.144)

Ainda segundo Eliot (1999, p.144):

A quantidade de toque, se ele está sendo carregado, massageado, acariciado, embalado, é claramente importante. Mas igualmente importante é o significado emocional do contato, pois para a maioria dos bebês, felizmente, o contato amoroso é o normal. É difícil para os pais para resistir segurar e tocar, explorando cada centímetro do corpo de seus bebês. Esses impulsos paternos e maternos muito potentes foram, sem dúvida, programados há muito tempo em nossa história evolutiva, considerando como eles são fundamentais para o crescimento ideal e desenvolvimento de nossas crianças. Porque o

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toque, mais do que qualquer outro sentido, tem acesso direto ao cérebro dos bebês, e assim, se oferece talvez a melhor oportunidade possível, e uma das mais fáceis, para moldar o seu emocional e bem estar mental.

O tato é o sentido mais importante para o recém-nascido, pois é o que está

proporcionalmente mais desenvolvido na primeira fase da vida, pois é através da

pele que o bebê detecta os estímulos agradáveis, como por exemplo as carícias e o

calor da sua mãe, e os que lhe são incômodos, como estar molhado ou com frio.

Ao fim de um determinado período de tempo, sobretudo quando já começa a

agarrar objetos, as mãos e a boca passam a ser uma das principais ferramentas

disponíveis para conhecer o que o rodeia. De fato, embora ainda sejam movimentos

desajeitados, o bebê tem a tendência para tocar tudo o que encontra ao seu

alcance, agarrar qualquer objeto acessível, movimentá-lo e levá-lo à boca para

chupar e morder, sendo através destas sensações que o bebê começa a conhecer o

mundo.

SISTEMA VESTIBULAR

Desde o nascimento, os recém-nascidos encontram conforto nessa sensação

de movimentos repetitivos, e isso acontece justamente pelo fato do desenvolvimento

do sistema vestibular, se iniciar desde o período embrionário.

A estimulação vestibular parece ser igualmente benéfica para os bebês, pois

eles choram menos quando estão sendo ninados, ou quando seus pais os mudam

de posição. Não é novidade, que eles amam serem carregados e ninados por seus

pais. Diferente dos outros sentidos, as sensações de equilíbrio e movimento são

inconscientes. Isso acontece porque essas funções estão abaixo do nível do córtex

cerebral. No entanto, é possível perceber que elas existem e podem ser

estimuladas.

O sistema vestibular representa um papel especial na manutenção da postura

do corpo como um todo e de suas partes, da cabeça, e também dos olhos. É

possível manter a suavidade do movimento e a manutenção do equilíbrio do corpo a

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partir do senso de gravidade pertencentes a esse sistema. Segundo Ayres (2005,

p.20):

Muitas teses são construídas em seu sistema nervoso antes do nascimento e são ativadas pelas sensações de gravidade e movimento e toque. Sem a integração que ocorre nesta atividade sensório simples, o desenvolvimento adequado seria impossível mais tarde na vida.

Segundo Eliot (1999) Quando o sistema vestibular e auditivo começam a se

desenvolver juntos, o primeiro se desenvolve mais rapidamente que o segundo,

muito provavelmente porque o desenvolvimentos de outras partes do sistema

nervoso, dependa deste início precoce das habilidades vestibulares. Segundo Eliot

(1999, p. 154):

O desenvolvimento mental é altamente cumulativo. Como um dos primeiros sentidos a amadurecer, o sistema vestibular fornece uma grande parte das primeiras experiências sensoriais de um bebê. Essas experiências provavelmente desempenham um papel fundamental na organização de outras habilidades sensoriais e motoras, que por sua vez, influenciam o desenvolvimento de habilidades emocionais e cognitivas superiores.

A estimulação vestibular aumentaria o desempenho mental e cerebral, a partir

do momento em que os bebês, muitas vezes parecem almejar essa estimulação

vestibular se balançando na forma de movimentos repetitivos. A auto estimulação

vestibular é tão evidente que, este impulso faz com que a maioria deles, entre os 6 e

8 meses, produzam estes movimentos: saltem, se balançem, balançem a cabeça e

balançem o corpo.

Estes movimentos diminuem o nível de excitação do bebê, e segundo Eliot

(1999), é justamente neste momento, que os bebês mostram maior estado de alerta

visual, pois durante estes períodos de alerta silencioso, eles tem um melhor

aprendizado, pois podem efetivamente absorver mais informações sobre o mundo

ao seu redor.

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De acordo com Capra (1996), uma vez que a cognição é tradicionalmente

definida como o processo do conhecer, todo ser humano deve ser capaz de

descrevê-la pelas interações de seu organismo com o meio ambiente, e isso muito

se entrelaça, com o desenvolvimento cognitivo. Citado por Capra (1996, pg 211):

Ora, o sistema vivo não só especifica essas mudanças estruturais, mas também especifica quais as perturbações que, vindas do meio ambiente, as desencadeiam.

Ao especificar quais perturbações vindas do meio ambiente desencadeiam suas mudanças, o sistema ‘gera um mundo’.

A cognição não é a representação de um mundo, que existe de maneira independente, mas, em vez disso, é uma contínua atividade de criar um mundo por meio do processo de viver.

Em seu livro na 25ª edição, a terapeuta ocupacional Jean Ayres (2005, p. 41-

42), discorre sobre a fisiologia do sistema vestibular de forma simples, segundo ela,

do outro lado do ouvido externo é o ouvido interno, que contém uma estrutura muito

complexa feita de osso. Esta estrutura é chamada de labirinto e contém ambos os

receptores auditivos e dois tipos de receptores vestibulares, este receptor responde

à força de gravidade, que puxa para baixo esses cristais para pressionar e mover

células semelhantes a pêlos, que então ativa as fibras nervosas do nervo vestibular,

que carrega a entrada sensorial vestibular aos núcleos vestibulares do tronco

cerebral.

Ainda segundo Ayres (2005, p. 41-42), como a gravidade está sempre

presente neste planeta, os receptores correspondentes estão sempre enviando

mensagens: quando a cabeça se inclina para um lado, quando se move para cima e

para baixo, ou se move em qualquer direção que muda a força da gravidade sobre

os cristais de carbonato de cálcio, a entrada vestibular dos receptores de gravidade

altera as informações no sistema vestibular, esta entrada sensorial muda sempre

que a cabeça muda a velocidade e o sentido de seu movimento. Até o 5 º mês no

útero, o sistema vestibular é bem desenvolvido, juntamente com a entrada sensorial

para o cérebro fetal. Durante a maior parte da gravidez, a mãe estimula o sistema

vestibular do seu feto com os movimentos de seu próprio corpo. As sensações

vestibulares, são processadas principalmente nos núcleos vestibulares e cerebelo,

assim, são enviados para baixo, tanto na medula espinhal quanto no tronco cerebral,

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onde servem a uma função integradora poderosa. Alguns impulsos são enviados a

partir do tronco cerebral para os hemisférios cerebrais. Os impulsos que vão para a

medula espinhal interagem com outros impulsos sensoriais e motores para ajudar na

postura, equilíbrio e movimento. Os impulsos que vão subindo a níveis superiores do

cérebro interagem com o tátil, impulsos proprioceptivos, visuais e auditivos, e vão

dar percepção do espaço, posição e posterior orientação dentro desse espaço.

OLFATO

Assim como nas sensações vestibulares, de uma forma inconsciente, o cheiro

tem um papel importante. Muitos odores e sabores aos quais as mães são expostas

durante a gravidez, passam para o embrião já durante o estágio fetal. O odor seria

referente ao sentido "químico", começando com uma excitação neuronal em

resposta a moléculas específicas no ambiente, pois ele é um componente

importante do apetite, e ajuda na escolha de alimentos. Ambos são

filogeneticamente sentidos primitivos. A habilidade de sentir o cheiro começa na

vigésima oitava semana de gestação. No entanto os neurônios olfatórios

desenvolvem-se muito antes, inclusive sua capacidade bioquímica para detectar

odores.

Entre os dois e os seis meses de gestação, a cavidade nasal é preenchida

com uma camada de tecido, que impede que produtos químicos alcancem os

receptores, possivelmente protegendo-os de uma estimulação prematura, dessa

maneira, juntamente com o amadurecimento do sistema olfatório fetal, a placenta se

torna altamente permeável durante o terceiro trimestre, permitindo que algumas

moléculas ultrapassem o líquido amniótico. Durante o terceiro trimestre, o feto

começa a sentir os cheiros trazidos aos seus receptores olfativos pela mucosa

nasal, através de moléculas de odor dissolvidas no próprio líquido amniótico.

Este processo pode ser muito vantajoso para o desenvolvimento do sistema

olfatório desde a barriga da mãe, pois dependendo do estilo de vida dela, este feto

pode estar exposto a um ambiente muito rico olfativamente falando, durante os

últimos dois ou três meses antes do nascimento. E justamente pelo fato do feto ter

Page 21: O Desenvolvimento dos Sentidos na Criança - O Papel do Arteterapeuta Utilizando Materiais Naturais - Monografia

20

esta capacidade de sentir estes odores no útero, isso vai ajudá-lo a reconhecer sua

mãe após o nascimento.

Estas áreas olfativas primárias se desenvolvem melhor no nascimento do que

algumas partes mais evoluídas do córtex cerebral, por isso mesmo que o olfato é um

dos sentidos mais importantes. Os recém-nascidos, provavelmente dependem mais

dele neste momento, do que em qualquer outro momento da vida.

Dentre os seus vários talentos olfativos, os recém-nascidos são capazes de

reconhecer o peito de sua mãe, não apenas pelo fato da amamentação, como um

recurso de sobrevivência, mas como mecanismo de reconhecimento daquela que é

sua genitora, dentre tantas outras mulheres, pois eles também aprendem a distinguir

o cheiro do peito de sua própria mãe, de outra mulher amamentando. Segundo Eliot

(1999, p. 159):

Embora ela tenha acabado de nascer, o sistema olfativo de Hanna é bastante maduro. Ele começou a se formar no início do período embrionário, progredindo, como todos os sentidos, de fora para dentro. Apenas cinco semanas após fertilização, uma fenda nasal aparece no rosto primitivo, gradualmente aprofundando-se e dividindo-se para formar verdadeiras narinas em sete semanas.

Em 11 semanas, os epitélios olfativos tornam-se abundantes e exteriormente maduros.

Segundo Eliot (1999), eles são capazes de discriminar o odor de mama de

mulheres diferentes muito melhor do que qualquer adulto. O odor do peito de uma

mulher amamentando é intrinsecamente atraente para recém-nascidos. E eles vão

além, preferem o peito de sua mãe ‘sujo’, em comparação com aquele que é lavado

imediatamente após o parto. O sentido do olfato é especialmente importante no

início da vida. Até visão e audição de um bebê são melhores desenvolvidas. Sua

percepção sensorial é, em grande parte restrita pelo que se encontra ao seu redor,

assim como o tato.

Embora o sentido do olfato apenas comece a funcionar plenamente por volta

do primeiro ano de vida, até então o recém-nascido também consegue cheirar, pois

reage ao virar a cabeça para trás quando se aproximam do seu nariz algumas

substâncias de odor forte, como se procurasse evitá-las.

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21

Apesar da tendência em se dizer que as sensações do olfato do bebê ainda

estão pouco desenvolvidas em relação às crianças, e sobretudo, em relação aos

adultos, existem evidentes exceções, já que basta a mulher aproximar o seu peito do

bebê para que este reconheça o odor do leite e reclame alimento.

Segundo o site Mediapedia (2012), o olfato é um sentido que participa em

vários aspectos da vida, tem grande influência no despertar da fome, na escolha de

alimentos, participa no processo digestivo, pois o odor agradável dos alimentos

estimula sensações salivares e gástricas, e chega a ter uma função protetora,

evitando com que a criança coma ou escolha alimentos estragados, adverte a

presença de fumaça, gases tóxicos nocivos e nos proporciona sensações

agradáveis e desagradáveis que influenciam a sua vida afetiva.

A relação entre cheiro e emoção pode ser entendida a partir da investigação

do processamento das informações olfativas pelo sistema sensorial. Ao sentir um

aroma, de imediato as amígdalas trabalham e relacionam aquele odor à ação que

está ocorrendo ou o que está sendo vivenciado naquele momento e desencadeia no

cérebro uma reação neurológica na memória, assim ao sentir o mesmo cheiro, a

memória afetiva é ativada, pois associa-se naturalmente aquela informação olfativa

a momentos e a pessoas importantes.

A ‘memória olfativa’ é um fenômeno que acontece porque o olfato está

diretamente ligado aos mecanismos fisiológicos que regem as emoções. Quando se

sente um cheiro, a informação passa pelas narinas e é processada no sistema

límbico, parte do cérebro responsável pela memória, sentimentos, reações

instintivas e reflexos. Segundo Ayres (2005, p.40):

O nariz fornece informações sobre a composição química das minúsculas partículas suspensas no ar que produzem odores. O olfato é o único sentido, cujos impulsos são processados diretamente através do sistema límbico (responsável pelas emoções e sentimentos), ou seja, não tem que passar pelos canais do tronco cerebral. E justamente por isso, é possível que o cheiro ative emoções diretamente e influencie o quanto algo é agradável ou não, apenas pelo modo como isto cheira.

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22

Ainda a respeito das emoções despertadas pelos cheiros, Osho (2005, p. 50)

coloca uma interessante reflexão:

Se o seu olfato não estiver funcionando muito bem, eu posso lhe dar uma flor, mas não posso lhe dar a fragrância. Se a sua mente não estiver funcionando totalmente, eu posso lhe dar a palavra, mas não o significado, porque o significado precisa ser detectado por você, decodificado por você. Eu posso lhe dar a flor porque isso não é problema, mas, como posso lhe dar a fragrância?

É por isso que, às vezes, o ser humano é acometido por lembranças de uma

situação passada na presença de determinados odores. De acordo com Ayres

(2005, p.20):

Outro sentido que é provavelmente bem organizado no nascimento é o sentido do olfato. Ela pode ter um papel importante durante o primeiro mês de vida. Como os sentidos de gravidade, movimento e toque, esse sentido apareceu no início da evolução dos animais assim como o homem evoluiu. O sentido do olfato não é desenvolvido e refinado na criança mais velha da mesma forma que a visão e a audição são.

PALADAR

Juntamente com o tato, o olfato e os sentidos vestibulares, a capacidade de

saborear surge no início do desenvolvimento, evidências sugerem que os fetos,

podem sentir diferentes sabores desde sua formação, o que gera importantes

consequências, como por exemplo, a preferência por determinados alimentos, e por

haverem essas evidências de sensibilidade a diferentes substâncias presentes no

líquido amniótico, também os ajuda, a reconhecer a mãe após o nascimento, pois

estas mesmas substâncias caracterizarão o leite materno. O paladar, torna-se

funcional durante o terceiro trimestre de gestação. De acordo com pesquisas de

Elliot (1996, p. 193):

Uma vez que um bebê começa em alimentos sólidos, o mundo do sabor vem totalmente à vida. E assim como os sabores que ele experimentou no leite materno estão ajudando a moldar suas preferências de gosto, o desenvolvimento desses encontros iniciais

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com alimentos pode ter um impacto profundo sobre os hábitos alimentares de que ele vai levar com ele ao longo da vida.

Ainda segundo a neurocientista Elliot (1999), assim como o cheiro, o gosto é

um dos sentidos químicos, que faz com que o sistema nervoso detecte moléculas

especificas no meio ambiente e converta essa informação em sinais elétricos

distintos. O sabor tem um grande impacto sobre a medula, pois ele ajuda a

desencadear vários reflexos do tronco cerebral, que são necessários na

alimentação, incluindo salivação, deglutição e movimentos da língua. Sabe-se

também que os bebês prematuros, de trinta e cinco semanas de gestação, são

capazes de perceber os gostos.

A informação gustativa, começa com a sensação na forma de impulsos

elétricos, uma vez que um estímulo ativa o impulso gustativo, estímulos diferentes

ativam esses receptores sensoriais. As células receptoras formam sinapses com os

neurônios, transmitindo esses impulsos até à área gustativa do córtex cerebral, por

isso são percebidos somente quando chegam ao cérebro.

Os estímulos químicos ativam os quimiorreceptores responsáveis pelas

percepções gustativas e olfativas, que são justamente os botões gustativos

presentes nas papilas da língua, e é através deste processo, que é possível

reconhecer os cinco gostos básicos: ácido, amargo, doce, picante e salgado. Ao

nascimento, os bebês já conseguem distinguir sabores agradáveis aos

desagradáveis, o que mais os atrai é o doce, em detrimento do azedo e do amargo,

o salgado, só irá provocar alguma reação no bebê após os 6 meses. Segundo

narrativa de Zel em seu blog pessoal, ao introduzir alimentos a educação de seu

filho (2012):

(...) pois quando começamos a introduzir o Otto ao mundo dos alimentos além da teta, havia uma preocupação em fazer do processo de se alimentar um prazer e também aprendizado sobre sabores e texturas. Fomos orientados pelo pediatra a iniciar com sucos coados de fruta (laranja, mamão) primeiro, depois frutas peneiradas (uma de cada vez, por 1 semana), depois legumes peneirados, e por último as carnes.

Expor a criança aos cheiros, texturas, sabores e cores dos alimentos puros ajuda a desenvolver a percepção sensorial de forma mais ampla, a criar memória gustativa / olfativa / tátil, deixar a criança

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PEGAR os alimentos, sentir a textura, morder, lamber e cuspir, cheirar, interagir e descobrir por si própria o que prefere.

A língua fornece informações sobre a composição química das partículas que

a tocam. O sabor, é uma fusão de várias sensações, e para senti-lo, o cérebro

interpreta não apenas os estímulos gustativos do paladar, como também os

estímulos olfativos e as sensações térmicas e tácteis, como por exemplo, o aumento

da sensibilidade a variedade de compostos amargos durante a infância. A respeito

deste assunto, Elliot (1999, p. 194) destaca:

Bebês de seis meses que foram alimentados com água e com açúcar tendem a beber mais dele do que bebês não expostos previamente a ele. Este efeito dura um tempo surpreendentemente longo, porque, mesmo que os pais parem de dar água com açúcar ao bebê de seis meses de idade, ela continuará a mostrar uma maior preferência por ele em dois anos.

Isso não significa que a educação dos filhos com pouco sal ou nada de doces na dieta, irá apagar seu desejo por esses gostos.

Como existem crianças mais sensíveis e outras mais seletivas, a

experimentação, acompanhada pelos pais deve se dar de forma a acostumá-las

gradualmente a comerem de tudo, seja saboreando os alimentos. O importante é

desfrutar deste sentido para aprender sobre o mundo e o que ele nos oferece como

fonte de vida, nos ajudando a escolher novas texturas, consistências e combinações

a partir da sua própria experiência pessoal.

AUDIÇÃO

A partir do terceiro mês, o feto já é capaz de distinguir alguns sons, como por

exemplo a fala. Assim como o feto é capaz de aprender sobre os cheiros familiares

antes do nascimento, ele também aprende sobre os sons, o que se torna

extremamente benéfico para seu desenvolvimento já chegar ao mundo exterior com

esta familiaridade.

Assim, embora o recém-nascido já consiga ouvir, apenas reage perante

determinados estímulos sonoros e não responde à maioria dos ruídos produzidos à

Page 26: O Desenvolvimento dos Sentidos na Criança - O Papel do Arteterapeuta Utilizando Materiais Naturais - Monografia

25

sua volta. Ao longo das primeiras semanas, a manifestação de qualquer som forte

pode assustá-lo, originando uma resposta muscular global de todo o corpo e, o

choro. No entanto, palavras pronunciadas com suavidade podem reconfortá-lo,

segundo Eliot (1996, p. 228), a voz das mães está no topo da lista de preferências,

especialmente quando ela fala no modo que pode ser chamado de “motherese” ou

“mamanhês” adaptando ao português.

De fato, deve-se conversar com os bebês desde muito cedo, pois é a melhor

maneira deles reconhecerem a voz humana, pois mesmo que não entenda as

palavras, familiariza-se com a linguagem. Ao longo dos primeiros meses de vida a

resposta do bebê aos sons, é bastante limitada.

Para Eliot (1996, p. 246), de acordo com suas pesquisas neurocientíficas, é

por volta dos 4 meses que o bebê começa a reagir claramente aos estímulos

sonoros, girando a cabeça diante de qualquer ruído, mesmo que em baixa

intensidade, sobretudo no caso de sons que reconheça, como por exemplo, os que

anunciam a hora da refeição, a chegada de um familiar... Aos 5 meses, responde

com os seus típicos balbuciares, quando falam com ele, e costuma virar-se quando

o chamam. Aos 8 meses, quando ouve uma voz conhecida volta com interesse a

cabeça à procura da sua origem. É igualmente nesta fase que começa a prestar

atenção aos ruídos que os seus brinquedos fazem e partir do primeiro ano de vida

ou talvez por volta dos 15 meses já se começa a interessar pelos sons ao longe,

reconhecendo a sua origem.

A audição se torna o principal acesso do bebê com o mundo não proximal, ou

seja, aquele mundo no qual ele não tem alcance imediato, além disso, outra

peculiaridade do sistema auditivo dos bebês, é que ele só é capaz de notar sons,

que aos olhos de um adulto seriam considerados muito altos, sendo assim os

estímulos auditivos preferidos são os mais complexos como músicas ou falas com

entonação alta. Enquanto a visão surge tardiamente e amadurece rapidamente, a

audição começa cedo e amadurece gradualmente, até a idade escolar evolui

gradualmente em paralelo ao desenvolvimento e eventual domínio da linguagem

pela criança.

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26

A experiência auditiva influencia diretamente a qualidade do desenvolvimento

auditivo, ela é importante para estruturar as conexões cerebrais que irão trabalhar

no processamento e compreensão de diferentes sons. Pesquisas sugerem que as

experiências da criança com a música e com a fala, por exemplo, não só influenciam

o desenvolvimento de seu sistema auditivo, como também são importantes para

estruturar altas funções cerebrais como a emoção, a linguagem e outras habilidades

cognitivas.

O cérebro dos bebês está preparado, desde antes do nascimento, para

responder a fala, e o simples ato de escutá-la seguidamente durante os primeiros

anos de vida é suficiente para refinar as estruturas neurais necessárias tanto para

compreender quanto para produzir todas as complexidades da linguagem falada.

O órgão principal do sentido da audição é o ouvido, sendo este extremamente

sensível a variações de pressão, captando ondas sonoras provenientes das mais

diversas fontes, e assim como o tato, a audição reage a pressões mecânicas. A

diferença reside na distância da origem desses estímulos. Enquanto que no tato, é

necessário o contato direto, a audição capta alterações de pressão a grandes

distâncias.

As ondas sonoras entram no canal auditivo, provocando vibrações no

tímpano, uma fina e rígida membrana que existe no interior do ouvido. Quando o

tímpano vibra, essas mesmas vibrações continuam o seu percurso e passam, assim,

para os ossículos do ouvido interno, onde são ampliadas. Os impulsos chegam

então a cóclea, onde as vibrações transformam-se em impulsos elétricos, que são

enviados até ao córtex cerebral, de forma a serem interpretados. De acordo com

Ayres (2005, pg.39) acerca da fisiologia do aparelho auditivo:

As ondas sonoras propagadas no ar, estimulam os receptores auditivos no ouvido interno a enviar impulsos para os seus centros do tronco cerebral. Estes centros processam estes impulsos, juntamente com os impulsos vindos do sistema vestibular, dos músculos e da pele. Os centros organizadores auditivos são muito parecidos aos centros de processamento visual, e assim os impulsos viajam para outras partes do tronco cerebral e cerebelo para a integração com outras sensações e mensagens motoras. A informação auditiva, que agora passa misturada a outras informações sensoriais, em seguida, passa para as várias partes dos hemisférios cerebrais.Se a informação auditiva não se misturasse com outros tipos de

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informação sensorial em cada nível do cérebro, teríamos problemas para dar sentido as informações vistas, mas fora do nosso alcance auditivo por exemplo.

Uma grande parte da integração vindas de primariamente de estímulos vestibulares e dos outros sentidos, fazem mais sentido quando chegam sem estarem associados ao som. Em cada nível do cérebro, a mensagem se torna mais clara e precisa. A parte mais complexa e complicada do processo é a equivalência de certos sons em sílabas e palavras.

É preciso ter em conta, que este processo ocorre naturalmente e numa

questão de poucas frações de segundo. Assim, é possível não só captar mas

também interpretar os variados sons que nos surgem no dia a dia.

VISÃO

O desenvolvimento inicial do aparelho visual, começa na quarta semana de

vida embrionária, e embora isso aconteça de forma precoce, ele é o único que não

recebe estimulação no útero, pois somente meses depois do nascimento o sistema

visual estará estruturado e funcionando como um todo, graças a rápida formação de

conexões neuronais no córtex visual. A visão ocupa mais espaço no cérebro do que

todos os outros sentidos juntos.

O desenvolvimento visual começa com a formação inicial do olho, mas apesar

deste início precoce, ele só estará funcionando plenamente vários meses após o

nascimento, o que tem ensinado a pesquisadores como Eliot (2005, p. 227) sobre os

mecanismos de desenvolvimento do cérebro em geral, segundo ela, sabe-se agora

que uma experiência a princípio intangível, pode então estimular e modificar a

estrutura cerebral, assim, evidências sugerem que o aspecto visual do

desenvolvimento mental, serve como um guia para entender cada aspecto, incluindo

funções ditas superiores como a emoção, a linguagem e inteligência.

Enquanto recém-nascidos ainda não podem ajustar o foco, e estão

impossibilitados de enxergar detalhadamente o mundo visual, o que irá mudar aos

poucos. Aos seis meses, por exemplo, suas habilidades visuais primárias como a

percepção de profundidade, visão de cores, acuidade visual, assim como os

movimentos dos olhos, estarão mais controlados, e em um ano, estas habilidades

Page 29: O Desenvolvimento dos Sentidos na Criança - O Papel do Arteterapeuta Utilizando Materiais Naturais - Monografia

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estarão quase que totalmente sintonizadas, revelando-lhe o universo visual para sua

gradual construção.

Para a terapeuta Ayres (2005, p.39), a explicação deste processo seria de

que a retina do olho enquanto receptor sensível a ondas de luz do ambiente, a

estimula a enviar através dessa entrada sensorial, os estímulos para os centros de

processamento visual no tronco cerebral, esta integração do tronco cerebral forma a

consciência básica de como é o ambiente e como são as coisas presentes neste

local. Os núcleos desta estrutura, em seguida, enviam os impulsos para outras

partes do próprio tronco cerebral e cerebelo a serem integrados com as mensagens

motoras que vão até os músculos que movem olhos e pescoço. Este é o processo

neural que nos permite seguir as críticas que se deslocam nos hemisférios cerebrais

para organização, refinamento e integração com outros tipos de sensações.

Algumas entradas atingem as zonas visuais do córtex cerebral onde ocorre a

discriminação fina e é preciso ver os detalhes visuais, com a ajuda de informações

vindas de outros sentidos. O funcionamento apropriado em todos os níveis do

cérebro e a integração de diversos tipos de sensações com a entrada visual são

necessárias para se ter o sentido de ambiente, o que equivaleria a leitura de um livro

no universo adulto.

Segundo o site Mediapedia (2012), especializado em pediatria, todo bebê

próximo a completar 1 mês, precisa de um período de tempo para responder bem

aos estímulos visuais, pois tem a visão turva e apenas consegue focar até a 30 cm

de distância, a mesma que separa os seus olhos do rosto da mãe durante a

amamentação, consegue ainda, durante este período, fixar e controlar seu olhar em

um objeto que chame atenção ou que brilhe em seu campo visual, e consegue,

distinguir o claro do escuro. Com 2 meses, movimenta melhor os olhos tanto na

direção horizontal como na vertical e fixa o olhar naquilo que lhe chama mais

atenção, já por volta dos 3 meses, o bebê já consegue focar, variar o foco de um

objeto ao outro, esteja ele perto ou longe, e aos 6 meses ainda não consegue

coordenar a musculatura ocular, o seu olhar costuma encontrar-se muitas vezes

desviado, mas algumas habilidades visuais primárias como percepção de

profundidade, de cor, acuidade visual e controle do movimento dos olhos, já estão

mais desenvolvidas, e por volta de 1 ano, tais habilidades estão em harmonia,

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revelando ao bebê um universo visual tridimensional, assim como o de um adulto, e

aos 3 anos, sua capacidade cromática está mais amadurecida, e a criança passa a

chamar as cores pelo nome.

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4 CRIANÇAS COM SENSIBILIDADE E CRIATIVIDADE

Uma pesquisadora norte americana chamada Elaine Aron, de formação

Junguiana, trabalha com crianças sensíveis a alguns anos, e juntamente com seu

marido também doutor e pesquisador em psicologia clínica Arthur Aron, desenvolveu

o conceito de “Highly Sensitive Person” (HSP) - pessoas altamente sensíveis, termo

aceito como traço de personalidade, aplicado a crianças e adultos, e com trabalhos

publicados no Jornal of Personality and Social Psychology, pertencente a American

Physicological Association.

Segundo Aron (2014), a pessoa altamente sensível, possui um sistema

nervoso sensível, capaz de se sobrecarregar facilmente em um ambiente altamente

estimulante, por ter uma leitura muito sutil ao seu redor. É encontrado em quase

vinte por cento das crianças e em quase cem por cento dos animais, pois assim

como eles, sentem o perigo e veem a consequência de uma ação antecipadamente.

Bombardeados por imagens e sons até ficarem exaustos, os HSP são

altamente sensitivos, o que não faz dessa condição uma doença ou uma síndrome,

e nem uma “superhabilidade”, mas nada os impede de aprender a lidar com isso e

se protegerem de determinadas situações.

Na definição do HSP, esses canais sensoriais naturalmente desenvolvidos,

são exemplos de comportamentos característicos refletidos nas dúvidas dos próprios

portadores, e Aron (2014) fornece como definição:

Você é facilmente dominado por coisas como luzes brilhantes, cheiros fortes, tecidos grosseiros ou sirenes próximas? Você fica agitado quando você tem muita coisa para fazer em um curto espaço de tempo? Você evita filmes violentos e programas de TV? Você durante dias muito ocupados, precisa se retirar para descansar, para uma sala escura, ou qualquer outro canto onde você tenha privacidade ou alívio de alguma situação? Você torna a organização como uma prioridade na sua vida para evitar situações esmagadoras ou perturbadoras? Você percebe ou desfruta de aromas delicados ou finos, gostos, sons ou obras de arte? Você tem uma vida interior rica e complexa? Quando você era criança, seus pais ou professores viam você como tímido?

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Mas isso não é regra, pois segundo ele, trinta por cento destas pessoas

consideradas pelos testes como altamente sensíveis, são extrovertidas, porém

podem ser comedidas na hora de agir, por estarem cientes das várias possibilidades

de uma mesma situação. Isso em uma cultura altamente competitiva e que prefere

os confiantes, pode se tornar um problema digno de rótulos. Segundo Aron:

Podem ser facilmente dominado por altos níveis de estimulação, impulsividade, e problemas emocionais alheios, faz com que eles possuam uma série de traços de personalidade fortes, com possibilidade de diferenciação entre ativo, intenso, exigente e persistente ou calmo, introspectivo, franco e exigente.

Mas existe a leitura positiva de que estes aspectos podem ser tidos como

qualidades e não como fraquezas, pois a sensibilidade produz crianças e adultos

altamente criativos e produtivos, parceiros, atenciosos, intuitivos e intelectualmente

dotados.

Nascer com um sistema nervoso que é altamente consciente e rápido para

reagir a tudo, torna as coisas mais fáceis nas horas de mudanças e reflexão, e se

pudéssemos ver dentro da mente de uma criança dessas, poderia-se aprender a

história toda do que está acontecendo – a criatividade, a intuição, a sabedoria

surpreendente e a empatia por todos os seres.

Para isso, devem ser tratadas com compreensão, pois segundo o feed-back

dos trabalhos de pesquisas e livros publicados, muitos adultos relatam ter tido uma

infância terrível, apesar dos seus pais terem as melhores das intenções, mas nessa

relação entre o muito sensível, ou tímido, ou muito ativo, fazia com que, no fundo,

eles não soubessem como criá-los, administrando necessidades especias,

compreendendo comportamentos, e corrigindo de maneira cuidadosa a não construir

adultos ansiosos ou envergonhados, e sim ajustados e criativos. Segundo anotações

de Rocha (2009 p.64):

A sensibilidade interna nos permite entrar em contato com nossos sentimentos e desconfortos internos. Já a sensibilidade externa nos possibilita a descoberta e criação.de falhas na informação dada ou adquirida. Ser sensível nos movimentos externos e internos é

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primordial para o início do processo criativo, onde percebemos a necessidade de uma resposta, solução e criação.

A Revista de Psicologia Personality and Individual Differences, publicou um

artigo em 2008 cujo objetivo era pesquisar a relação entre o processamento

sensorial e a facilidade de excitação (EOE), a dificuldade de excitação (LST) e a

sensibilidade estética (AES). Apesar do presente estudo ser dedicado ao

desenvolvimento sensorial infantil, foi de interesse assimilar o universo do tema, que

são as patologias cujos principais sintomas se encontram na classificação da

reatividade das crianças perante os estímulos e seu adequado desenvolvimento.

Os pesquisados em questão, foram alunos universitários submetidos a uma

classificação em escala, assim como padrões de mensuração para diagnóstico de

ansiedade, depressão, alexitimia e sintomas de autismo.

Segundo a pesquisa, diante dos dados apresentados, tanto a facilidade

quanto a dificuldade no processo de resposta sensorial foram relacionados ao

autismo, ansiedade, depressão e alexitimia. Já a sensibilidade estética encontrava-

se relacionada a atenção aos detalhes, ao pensamento voltado exageradamente

para o exterior, o que seria um sintoma da alexitimia.

Os resultados indicaram que aqueles que apresentaram fatores

predominantes de sensibilidade estética, são conceitualmente diferentes dos que

apresentaram facilidade ou dificuldade diante dos estímulos, ou seja, a sensibilidade

seria algo intrínseco a personalidade do indivíduo. Enquanto que aqueles

possuidores da dificuldade na resposta sensorial (LST) demonstraram dificuldades

em demonstrar reação perante a ansiedade, e ambos (LST e EOE) apesar de

apresentarem reação ao estímulo, tem dificuldade em demonstrar e prever a

ansiedade. Conclui-se neste estudo que alguns indivíduos, apesar de possuirem

características presentes em diagnósticos de determinadas patologias, sendo a não

resposta reativa uma delas, não são necessariamente insensíveis, mesmo

apresentado excitação em diferentes limiares.

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5 ARTETERAPIA

É um processo terapêutico decorrente da utilização de modalidades expressivas diversas, que servem a materialização de símbolos.

Estas criações simbólicas expressam e representam níveis profundos e inconscientes da psique, configurando um documentário que permite o confronto, no nível da consciência, destas informações, propiciando ‘insights’ e posterior transformação e expansão da estrutura psíquica.

(Philippini)

O QUE É ARTETERAPIA?

A Arteterapia não é a simples utilização de técnicas expressivas no ambiente

terapêutico, ela é um processo pelo qual imagens de conteúdos pessoais e

inconscientes, emergem a nível consciente.

Dentro de um perfil apresentado pelo paciente, procura-se ao longo do ciclo

diagnóstico, fornecer suportes e materiais adequados para que essa energia flua de

forma livre e plasme aquilo que está bloqueado no inconsciente.

Uma técnica só deverá ser utilizada quando ela fizer algum sentido no tema

que o indivíduo estiver trazendo, assim, haverão momentos em que será necessário

facilitar a liberação de conteúdos inconscientes, haverão outros em que será

necessário permitir a estruturação de conteúdos que já surgiram previamente, e o

paciente, através de suas respostas aos estímulos, estará inspirando o terapeuta a

utilização desta ou daquela técnica.

METODOLOGIA

Escolhidas as crianças para fazer parte do grupo, o trabalho prático começou

após as Anamneses com os pais, dando início ao Ciclo de Avaliação Terapêutica,

logo em seguida, foi a vez de começar a aplicar as técnicas de apresentação, para

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34

conhecê-las melhor e elas se conhecerem, já que eram novas na Instituição Pró-

Criança e nunca haviam participado de nenhuma atividade arteterapeutica.

Foram aplicados ao longo deste ciclo, o teste HTP, para entender um pouco

mais a fundo o universo delas e traçar o perfil diagnóstico do grupo, e foi

demonstrado que as crianças deveriam ser trabalhadas durante o ciclo de

Intervenção Arteterapêutica da seguinte forma, por ordem de relevância:

Identidade

Auto-estima

Flexibilidade

Segurança

Ansiedade

Para elaboração do plano de trabalho, foram desenvolvidas oficinas utilizando

os quatro tipos de elementos básicos presentes na natureza – terra, ar, água e fogo.

Paralelamente, foi dada ênfase ao reaproveitamento de materiais, a criação e

valorização de materiais oferecidos pela natureza.

O objetivo era que ao mesmo tempo em que as técnicas fossem trabalhadas,

desbloqueando os canais criativos e trazendo a tona seus conteúdos psíquicas, as

crianças se familiarizassem com componentes do planeta em que vivemos, tais

como folhas, pedras, conchas, poeira, vento, chuva e sol. Assim, aprendendo a

observar, a criar, a ficar em contato com as mudanças do mundo e a desenvolver

uma atitude de cuidado em relação à Terra, ao acostumarem- se a reciclar e a

utilizar esses materiais de forma artística.

Em dissertação de Mourão (2011), a fabricação de materiais alternativos em

artes, já se faz interessante como oficina de preparação de pigmentos e materiais

naturais para sua utilização em pinturas livres, onde são utilizados gravetos, caules

longos e uniformes para sua carbonização, e feitura de bastões de carvão para

desenho. Assim segundo Mourão, se dão as pesquisas de pigmentos: quanto mais

verde o jenipapo, mas forte será sua cor, da semente de urucum é extraída a cor

vermelha, do açafrão a cor laranja, e do carvão vegetal a cor preta.

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35

Segundo conclusões de Rodrigues (2011), em seu trabalho de conclusão de

curso, foram pesquisadas amostras de materiais naturais. Como aglutinantes, foram

considerados óleo de copaíba, linhaça, soja, girassol, ovos e banha de porco, o

aglutinante é responsável pela liga da tinta, unindo as partículas do pigmento dando-

lhe aspecto de viscosidade e brilho. Para os pigmentos, foram considerados terra

em diversas cores, arenosas e argilosas peneiradas, e o barro e tijolos moídos até

virarem pó, assim como a desidratação e trituração de vegetais e ervas até virarem

pó também. Segundo texto de Rodrigues (2011):

A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico, que caracteriza um modo particular de dar sentido às experiências das pessoas: por meio dele, o aluno amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a imaginação. Aprender arte envolve basicamente, fazer trabalhos artísticos, apreciar e refletir sobre eles. Envolve também, conhecer, apreciar e refletir sobre as formas da natureza e sobre as produções artísticas individuais e coletivas de distintas culturas e épocas.

Como bons exemplos temos a água, gel, óleo, folhas secas ou verdes,

sementes, casca de árvore, tinta terra, tinta tempero, tinta legumes, carvão, telha,

palito ou graveto, terra de diversos tons, areia (natural e colorida), algodão, tecido,

corantes naturais, flores, frutas, massinha comestíveis, massinha terra, argila, gelo,

pedra entre outros.

PLANO DE TRABALHO

1) Ar - Bola de Soprar + Estímulo + Colagem

2) Água - Sensibilização + Estímulo + Contorno do Corpo + Pintura

3) Terra - Sensibilização + Teia + Estímulo + Autodesenho

4) Água - Sensibilização + Estímulo + Pintura com barbante e olhos vendados

5) Ar - Sensibilização - Estímulo + Mandala de Areia - individual e em grupo

6) Terra - Sensibilização - Estímulo + Massinha modelar natural comestível +

elaboração história

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7) Fogo - Sensibilização - Estímulo + Escrever em um papel o que quer transformar

e queimar e depois desenhar o que sentiu

8) Fogo - Sensibilização - Estímulo + Mandala dos Desejos Comestível

9) Terra - Sensibilização - Estímulo + Argila em grupo

INTERVENÇÃO: LINGUAGENS UTILIZADAS

CONTAÇÃO HISTÓRIA

Ao utilizarmos a contação de histórias em uma oficina ou setting terapêutico,

temos uma gama de possibilidades de trabalho, pois elas nos trazem narrativas de

fenômenos universais, presentes no inconsciente coletivo. Essas narrativas

mobilizam conteúdos psíquicos, que uma vez acessados, podem mostrar caminhos

alternativos as dificuldades, podem levar a encontrar sua essência, ou simplesmente

um entendimento sobre outros pontos de vista, sobre determinados acontecimentos

da vida, comum a todos.

Para o trabalho terapêutico é preciso estar atento ao campo simbólico, ao seu

gênero, a cronologia a ser abordada e principalmente entrelaçá-lo dentro do

contexto das necessidades a serem trabalhadas.

Ao longo do estágio foram abordados duas histórias: “Deusa e Semente Viva

– menina e boneca de sementes germinadas” de Luciene Prado, que contava a

história de uma menina que cresceu em um sítio, e seu universo era brincar e

imaginar, numa vida inserida no contexto da natureza, desde a construção de seus

brinquedos, até a sua alimentação e convivência com seus familiares. E a outra

história era “A cigarra e a formiga” de Esopo, que dentro deste contexto da natureza,

falava sobre a identidade e a convivência no trabalho em grupo, importante para o

trabalho da Arteterapia.

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DESENHO

Desenhar pode ser reproduzir uma imagem observada, ou aquela que lhe

vem a mente sob livre interpretação de formas, imagens ou criando símbolos dentro

de um contexto no papel. Isso acontece muito com as crianças, pois ela parecem

não se importar com a aparência, para interpretação de seus rabiscos.

Ao desbloquear o ato de desenhar, permite-se a expressão de históricos

pessoais e conteúdos psíquicos. Além disso, o desenho é ordenador, trabalha a

objetividade, percepções espacial e luz e sombra, coordenação motora, delineadora

e de configuração.

Durante o estágio, foram elaboradas oficinas de desenho para respostas mais

objetivas frente a determinados estímulos e técnicas, como por exemplo na Técnica

do nome, aplicada na fase diagnóstica, na fase seguinte, de Intervenção do

Arteterapeuta, após a estimulo com uma contação de história, foi pedido um

desenho de livre interpretação, e ao final deste ciclo a Técnica do Autodesenho após

o estímulo de uma exposição sobre igualdade racial, objetivando trabalhar

autoestima e identidade.

RECORTE E COLAGEM

Em Arteterapia, são muitas as possibilidades do uso do papel ou qualquer

outro material que se possa trabalhar em duas dimensões. Quando se necessita de

inteireza, por se estar despedaçado, ele oferece formas de integrar aspectos

distintos do eu, onde cada parte vai oferecendo coerência ao todo, por isso, pode

ser considerada uma atividade estruturadora, integradora e ordenadora. A colagem

faz com que se recolha ou construam estruturas com resultados terapêuticos

positivos. Mostrando que a unidade só funciona com as partes articuladas, e o todo

é mais do que a simples soma das partes.

No estágio, foi aplicado o recorte e colagem no ciclo diagnóstico durante as

Técnicas de apresentação Outdoor e a elaboração de um “Cartaz do eu”, adaptando

a Técnica do outdoor, e no ciclo de Intervenção Arteterapêutica, após a contação de

história “A Cigarra e a Formiga” de Esopo, foi dado a opção de recorte e colagem

associado ao desenho.

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PINTURA

Através da pintura é possível criar superfícies e olhar de forma mais flexível a

sí mesmo e a tudo ao redor, para algo que até então estava difuso ou oculto de

nossa consciência através da exploração do jogo simbólico resultante do conteúdo

plasmado.

Por ajudar a abrir mão do controle, a pintura propicia o desbloqueio criativo e

o fluir dos processos, permitindo o desapego.

O importante é atingir o fluxo criativo, que é um estado alterado da

consciência em que o criador mergulha em sua profundidade psíquica, com bem

estar e fluência expressiva, em uma linguagem plástica que facilita a expressão

deste conteúdo psíquico a nível consciente.

Quando a pintura flui, amiúde o mesmo ocorre com a emoção, de forma que o

inusitado e a beleza possam conviver dentro de uma materialidade.

Um dos mais significativos aprendizados a se fazer com a pintura é deixar

fluir, sair, escorrer, extravazar, transbordar, abrir mão do controle.

No estágio, foi utilizada a pintura no ciclo de Intervenção Arteterapêutica,

associada a Técnica do contorno do corpo, onde foram confeccionadas tintas

naturais a partir de temperos em pó e café moído, pelos próprios alunos com o

objetivo de trabalhar o fluir e o despertar sensorial através do cheiro das tintas. E em

um segundo momento, foi utilizada durante a Técnica de pintura às cegas, após um

passeio ao ar livre nos jardins do Solar do Jambeiro – Niterói, cujo objetivo era

trabalhar a flexibilidade e a ansiedade.

CONSTRUÇÃO DE MANDALAS

Técnica estruturadora e criativa, seja através da escolha de materiais, seja

pela sua distribuição sobre a base a ser trabalhada.

A palavra mandala quer dizer círculo, e também tem outros significados como

círculo mágico, concentração de energia ou diagrama circular.

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Símbolo de totalidade, integração e harmonia, os antigos utilizavam mandalas

para diversos fins, mas na psicologia analítica é utilizada para o desenvolvimento

pessoal, pois trabalha aspectos físico, emocional, energético e de bem estar.

As mandalas oferecem toda uma gama de simbologias que estão ligadas

diretamente com os processos da fantasia, dos desejos, das motivações do

inconsciente do indivíduo que a representa.

A confecção de mandalas, através de sua capacidade estruturadora, vai

colocando no lugar certo aquilo que se encontra fora do lugar, pois são colocadas no

desenho sob forma de impressões sutis como o traço, formas, cores, símbolos entre

vários outros aspectos que podem surgir quando se faz uma mandala pessoal.

No estágio, a utilização de mandalas foi trabalhada no ciclo de Intervenção

Arteterapêutica, visando trabalhar o componente ordenador, e estruturador e sua

flexibilização, pois o material escolhido foi a areia, como as Mandalas dos monges

tibetanos que as constroem e depois destroem. Em outro momento foi utilizada a

técnica com pizzas, associando os ingredientes de cobertura a sentimentos que a

criança quisesse colocar nela, fosse para o seu próprio consumo, fosse para

oferecer a alguém.

MODELAGEM

A modelagem se define pelo ato de dar forma a alguma coisa. No caso

arteterapêutico, é comum utilizarmos a argila e as massas plásticas, mas também é

possível fazer massinhas comestíveis.

Trabalhar com este material, requer um pouco de habilidade, pois é preciso

formar estruturas tridimensionais, e mantê-las em equilíbrio.

Em três dimensões, podemos explorar modificações na forma do que foi

trazido à tona, estruturando, organizando e dando forma e volume.

A argila possui uma infinidade de recursos, e pode ser utilizada em

experiências livres, com volume e materiais mais concretos, mobiliza e ativa

conexões arquetípicas, e seu manuseio pode despertar energias ancestrais

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intensas. Ativa conteúdos inconscientes, pois é um material orgânico, vivo, úmido,

macio, que propicia trocas de temperatura, nos remete naturalmente as associações

e memórias muito antigas, e possui ainda elementos bioquímicos em sua

composição também presentes no corpo humano.

Durante o processo, é importante perceber o conteúdo se manifestando. O

movimento é próprio, já está lá. Seja algo novo e transformador ou mesmo algo

velho e obstruidor, é importante observar o comportamento durante o processo,

como são os gestos, as expressões, seu tom de voz, postura. O corpo parece

comunicar-se através da argila. Essa consideração cuidadosa é que permite à

consciência a sua assimilação.

Um trabalho no barro é o esforço de trazer à tona o que está por baixo de

tudo, é o que faz a ligação com o mais profundo.

Este tipo de material oferece um tipo de sensação diferente para o tato, mas não substitui a argila. (...) Podem ser feitas figuras que endurecem e podem ser pintadas. Mexer nessa massa, moldá-la, utilizando todos os tipos de ferramentas e equipamento, são atividades que oferecem boas experiências táteis e sensoriais.

(Violet Oaklander, 1980, p.96)

É possível trabalhar a modelagem, utilizando-se massa artesanal, que pode

ser comestível, com cheirinhos diferentes, se preparadas a partir de raízes, farinhas,

corantes ou temperos que também possuem coloração. A massinha possibilita uma

boa interação com o material, concentração para o desenvolvimento da atividade e

habilidade psicomotora. É uma atividade que aponta com clareza as distorções nas

proporções, as dificuldades na estruturação, os problemas no equilíbrio, insight’s

mais rápidos, estimula processos de autoconhecimento, em tempo e intensidade.

Indicações e propriedades terapêuticas, contribuir em atividade de

reabilitação motora, facilitar a transição do abstrato ao concreto, iniciar a percepção

de volume, iniciar a percepção de tridimensionalidade, ativar a percepção tátil,

contribuir em atividade de reabilitação motora.

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Para o estágio, foi trabalhado no ciclo de Intervenções Arteterapêuticas

massinhas comestíveis feitas a partir de farinha e raízes, associada a elaboração de

uma história, com o objetivo de trabalhar a flexibilidade, a ansiedade, o despertar

sensorial para cheiros, texturas e porque não dizer sabores diferentes.

PROGNÓSTICO

De acordo com os fatores apresentados e observados ao longo deste período

de estágio, recomenda-se que o grupo continue desenvolvendo atividades artísticas,

em especial JV, AG, acompanhados por outros arteterapeutas voluntários na

Instituição, de forma que seus canais sensoriais e criativos, possam ser trabalhados

de forma lúdica e infantilizada de acordo com suas idades.

É preciso que os pais também participem deste processo, pois mesmo em

casa, cada um, dentro da sua realidade, deve estar atento aos conteúdos e

vivências aos quais seus filhos são expostos, a que tipo de estímulos eles estão

tendo acesso, e principalmente que tudo seja feito sempre com muito amor e

carinho, para que eles se sintam apoiados em todos os momentos de seu

desenvolvimento.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente percebe-se muitas crianças, jovens e adultos infelizes, que

sentem-se incapazes, por não terem ultrapassado suas mais básicas e íntimas

dificuldades pessoais de adaptação, em um relacionamento em família ou em

grupos. Isso se deve muitas vezes, a desconexão do homem com suas próprias

raízes, o desequilíbrio do seu eixo, a perda de identidade e isso pode vir desde a

infância.

A construção desse ser em sua verdadeira essência, nos campos mental,

emocional e espiritual, é o que o fortalece e permite ultrapassar de forma serena

todas estas dificuldades que o mundo por si só impõe cada vez mais. Essa

construção, se deve em grande parte, a estimulação da leitura do mundo de uma

forma saudável, a capacidade de interação e integração com o os outros e com o

todo.

Desta forma, pesquisas no campo da neurociência, tem mostrado cada vez

mais que bebês e crianças quando adequadamente estimulados, se desenvolvem

melhor do ponto de vista sensorial e cerebral ao longo da vida.

Ë claro que isto depende muito da criação por parte dos pais e educadores,

do ambiente onde estas crianças se desenvolvem, das conexões com o mundo que

as cerca, e de como serão nutridos esses canais.

Quando se trabalha com atividades corporais e o equilíbrio por exemplo, está

se trabalhando diretamente o sistema vestibular, que interfere na manutenção da

postura do corpo como um todo e suas partes, da cabeça, e também dos olhos.

Quando se trabalha com cheiros e essências, associando a técnicas e exercícios

terapêuticos, trabalha-se com áreas olfativas primárias, que é um dos sentidos mais

importantes.

Até um feto pode ser estimulado, através de um comportamento saudável da

mãe, pois como já vivos, alguns sentidos se desenvolvem após poucos meses, com

o tato, o olfato e os sentidos vestibulares.A experiência auditiva, por exemplo,

Page 44: O Desenvolvimento dos Sentidos na Criança - O Papel do Arteterapeuta Utilizando Materiais Naturais - Monografia

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influencia diretamente a qualidade do desenvolvimento auditivo, e ela é importante

para estruturar as conexões cerebrais que irão trabalhar no processamento e

compreensão de diferentes sons, e para isso, o arteterapeuta pode trabalhar com

estimulação a auditiva através da musicoterapia.

Nascer com um sistema nervoso altamente consciente e rápido para reagir,

torna as coisas mais fáceis nas horas de mudanças e reflexão, da criatividade, da

intuição, da sabedoria, e de inúmeras possibilidades de integração, que quando bem

conduzidas, faz crer na possibilidade de diagnosticar e prevenir doenças, e no

impacto positivo disso no futuro dessas crianças.

Aqui foram feitas referência aos principais canais sensoriais, e suas funções

no desenvolvimento na primeira infância, mostrando que o arteterapeuta.

Diante destas considerações, este estudo pretende propor aos

arteterapeutas, utilizar como uma potente alavanca no desenvolvimento infantil,

associado aos pais e educadores, um trabalho, que vai além das técnicas, além de

conteúdos psíquicos, pois ele pode desenvolver estes canais a partir de

determinadas atividades, materiais naturais e técnicas associadas, no despertar da

busca da própria essência e de uma caminhada salutar, possibilitando esta

integração com suas principais fontes, seja da criança, seja do homem que precisa

enxergar sua criança interior.

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