o desenvolvimento de líderes e a gestão de talentos p3

96

Click here to load reader

Upload: nguyenanh

Post on 09-Jan-2017

227 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • EDI

    O

    BRASILEIRA

    NO

    VEM

    BRO-D

    EZEMBRO

    2015

    REVISTA PROFISSIONAL DO EXRCITO DOS EUA NOVEMBRO-DEZEMBRO 2015

    CENTRO DE ARMAS COMBINADAS, FORTE LEAVENWORTH, KANSAS

    O Desenvolvimento de Lderes e a Gesto de Talentos p3

    Gen Ex Raymond T. Odierno, Exrcito dos EUA

    Mascarenhas, o Lder da Vitria p10 Gen Ex (Res) Paulo Cesar de Castro, Exrcito Brasileiro

    A Reforma do Conselho de Segurana da ONU p30

    Eduarda Passarelli Hamann

    [5][12][32]

  • Novembro-Dezembro 2015 MILITARY REVIEW

    Foto da Capa: Cerimnia promovida pela MINUSTAH celebra o Dia dos Peacekeepers com soldados brasileiros (Porto Prncipe, 29 Mai 2013).ONU/Audrey Goillot

    10 Mascarenhas, o Lder da VitriaGen Ex (Res) Paulo Cesar de Castro, Exrcito Brasileiro

    Entre as armas que triunfaram na Segunda Guerra Mundial perfilam-se as da Fora Expedicionria Brasileira (FEB), comandada pelo General de Diviso Joo Baptista Mascarenhas de Moraes. Nesse contexto e luz da doutrina de liderana militar, este artigo destaca atitudes, iniciativas e decises do General Mascarenhas e demonstra que o nclito chefe militar desponta como paradigma de lder, exemplo para a atual e futuras geraes de combatentes.

    A R T I G O S

    3 O Desenvolvimento de Lderes e a Gesto de TalentosA Vantagem Competitiva do Exrcito

    Gen Ex Raymond T. Odierno, Exrcito dos EUA

    Estamos diante de um ponto crucial estratgico da histria do Exrcito dos EUA. Nossa prioridade nmero um deve continuar a ser o desenvolvimento de nossa vantagem competitiva: nossos lderes. O Exrcito deve desenvolver lderes que sejam geis, adaptveis e inovadores; que tenham xito em condies de incerteza e caos; e que sejam capazes de visualizar, descrever, dirigir, liderar e analisar operaes em ambientes complexos e contra inimigos adaptveis.

    Foto: Um helicptero do 1/168o Batalho de Apoio de Aviao, da Guarda Nacional do Estado de Washington, sobrevoa o esturio de Puget, exibindo a bandeira, como parte da celebrao da Declarao de Independncia dos EUA, em Seattle, 4 Jul 14.(Sgt Adolf Pinlac, Guarda Nacional do Estado de Washington)

    Cover 2

    [12][12][12][12][5][5][5][5][5][5]

  • 1MILITARY REVIEW Novembro-Dezembro 2015

    ndice Novembro-Dezembro 2015Tomo 70 Nmero 6

    18 As Operaes Globalmente Integradas no Chifre da frica por meio dos Princpios do Comando de MissoGen Bda Wayne W. Grigsby Jr., Exrcito dos EUA Cel Todd Fox, Exrcito dos EUA Ten Cel Matthew F. Dabkowski, Exrcito dos EUA CF Andrea N. Phelps, Marinha dos EUA

    Esta discusso aborda os ajustes efetuados pela Fora-Tarefa Conjunta Combinada Chifre da frica e ressalta algumas das mudanas necessrias em relao poltica dos EUA. Os princpios de inovao e organizao podem ser relevantes para outras Foras conjuntas combinadas que atuem com recursos limitados, em espaos vastos, ao lado de diferentes tipos de parceiros em aes unificadas e em ambientes complexos.

    30 A Reforma do Conselho de Segurana da ONUViso de Mundo e Narrativas do Brasil

    Eduarda Passarelli Hamann

    Este artigo contextualiza a estratgia brasileira pela reforma do Conselho de Segurana da ONU como parte de uma viso de mundo; identifica alguns padres na tentativa de promover a implementao desta viso; discute algumas das credenciais do Brasil para justificar o argumento de que, na nova ordem mundial, o pas deve assumir papis mais centrais e relevantes; e, por fim, elenca alguns dos desafios que requerem maior ateno do Estado brasileiro, no curto e mdio prazos, a fim de fortalecer a proposta do Brasil de aperfeioar o sistema e de alcanar mais espao em um CSNU reformado.

    45 Comandantes e ComunicaoTen Cel David Hylton, Exrcito dos EUA

    A comunicao o trabalho do comandante. Se ele no reconhecer a importncia da comunicao, aceit-la ou apoi-la, deixar de utilizar uma ferramenta essencial, o que, em alguns casos, pode significar o fracasso da misso.

  • Novembro-Dezembro 2015 MILITARY REVIEW2

    THE PROFESSIONAL JOURNAL OF THE U.S. ARMY

    Novembro-Dezembro 2015 Tomo 70 Nmero 6Professional Bulletin 100-15-11/12Authentication no. 1526102

    Comandante, Centro de Armas Combinadas: General Robert B. BrownEditora-Chefe da Military Review: Coronel Anna R. Friederich-MaggardEditor-Chefe das Edies em Ingls: William M. DarleyEditor-Chefe, Edies em Lnguas Estrangeiras: Miguel SeveroGerente de Produo: Major Steven MillerAdministrao: Linda Darnell

    Edies Ibero-AmericanasAssistente de Traduo: Emilio MenesesDiagramador/Webmaster: Michael Serravo

    Edio Hispano-AmericanaTradutora/Editora: Albis ThompsonTradutor/Editor: Ronald Williford

    Edio BrasileiraTradutor/Editor: Shawn A. SpencerTradutora/Editora: Flavia da Rocha Spiegel Linck

    Assessores das Edies Ibero-americanasOficial de Ligao do Exrcito Brasileiro junto ao CAC/EUA e Assessor da Edio Brasileira: Cel Luiz Henrique Pedroza MendesOficial de Ligao do Exrcito Chileno junto ao CAC/EUA e Assessor da Edio Hispano-Americana: Ten Cel Jorge Len Gould

    Military Review Publicada pelo CAC/EUA, Forte Leavenworth, Kansas, bi-mestralmente em portugus, espanhol e ingls. Porte pago em Leavenworth Kansas, 66048-9998, e em outras agncias do correio.

    A correspondncia dever ser endereada Military Review, CAC, Forte Leavenworth, Kansas, 66027-1293, EUA. Telefone (913) 684-9338, ou FAX (913) 684-9328; Correio Eletrnico (E-Mail) [email protected].

    A Military Review pode tambm ser lida atravs da internet no Website: http://www.militaryreview.army.mil/. Todos os artigos desta revista constam do ndice do Public Affairs Information Service Inc., 11 West 40th Street, New York, NY, 10018-2693.

    As opinies aqui expressas pertencem a seus respectivos autores e no ao Departamento de Defesa dos EUA ou seus elementos constituintes, a no ser que a observao especfica defina a autoria da opinio. A Military Review se reserva o direito de editar todo e qualquer material devido s limitaes de seu espao.

    Military Review Edio Brasileira (US ISSN 1067-0653) (UPS 009-356) is published bimonthly by the U.S. Army, Combined Arms Center (CAC), Ft. Leavenworth, KS 66027-1293.

    Periodical paid at Leavenworth, KS 66048, and additional maling offices. Postmaster send corrections to Military Review, CAC, Truesdell Hall, 290 Stimson Ave., Ft. Leavenworth, KS 66027-1293.

    Mark A. MilleyGeneral, United States Army Chief of Staff

    Official:

    Gerald B. OKeefeAdministrative Assistant to the Secretary of the Army

    55 A Justificativa para uma Estratgia Nacional de Informaes

    Cel Dennis Murphy, Exrcito dos EUA, Reserva, e Ten Cel Daniel Kuehl, Fora Area dos EUA, Reserva

    Os Estados Unidos desenvolveram vrias estratgias nacionais, incluindo uma para o compartilhamento de informaes. Ironicamente, contudo, ainda no existe uma estratgia nacional para o contedo das informaes. Embora exista, provavelmente, uma variedade de razes para isso, inteno dos autores recomendar tal estratgia.

    70 As Companhias de Tradutores e Intrpretes do ExrcitoUm Recurso Desperdiado

    Cap Jessica L. Cook, Exrcito dos EUA

    Este artigo proporciona um breve histrico do programa de tradutores e intrpretes do Exrcito. Da, explica os pontos fracos que limitam a sua eficcia. Finalmente, mostra por que a implantao de trs recomendaes ajudaria o programa a atingir todo o seu potencial.

    77 NDICE ANUAL 2015

    http://usarmy.leavenworth.tradoc.mbxmailto:[email protected]://www.militaryreview.army.mil/

  • 3MILITARY REVIEW Novembro-Dezembro 2015

    O Desenvolvimento de Lderes e a Gesto de TalentosA Vantagem Competitiva do ExrcitoGen Ex Raymond T. Odierno, Exrcito dos EUA

    H 240 anos que o Exrcito dos Estados Unidos da Amrica (EUA) tem sido uma das mais importantes instituies a desen-volver e fornecer comandantes e militares de carter, que servem de forma abnegada nao. Defendemos a liberdade em 1775. Reafirmamos nosso compromisso com essa liberdade em 1812, demonstrando, assim, ao mundo que os EUA perdurariam. Conservamos esta nao unida durante a Guerra Civil. A inventividade, o herosmo e o esprito indomvel dos nossos militares foram demonstrados na Primeira e na Segunda Guerra Mundial. Seja no Vietn, na Coreia, no Panam, no Oriente Mdio ou em qualquer outro lugar onde nossos militares tenham sido empregados, excelentes comandantes do Exrcito influenciaram, de forma nica, o mundo ao seu redor, constituindo a vantagem competitiva de nossa nao para enfrentar os muitos desafios de segurana que encaramos.

    Estamos, hoje, diante de um ponto crucial estra-tgico na histria do Exrcito dos EUA. Apesar da

    Participantes dos concursos de Sargento Instrutor do Ano 2014 e Sargento de Peloto de Instruo Individual Avanada se preparam para subir ao palco durante a cerimnia de premiao realizada em 12 Mai 15, no Forte Jackson, Carolina do Sul. (1o Sgt Brian Hamilton, Com Soc, 108o Comando de Instruo)

  • Novembro-Dezembro 2015 MILITARY REVIEW4

    profundidade da experincia que adquirimos em quase quatorze anos de conflito contnuo, precisamos nos assegurar de que nossa nao e nosso Exrcito estejam preparados para futuros desafios de seguran-a. A velocidade da instabilidade no mundo maior do que nunca hoje em dia, com um crescente nmero de Estados em via de fracassar que, potencialmente, pem em risco os interesses dos EUA. A tecnologia e as armas, que eram, outrora, ferramentas exclusi-vas dos Estados, hoje chegam s mos de indivduos descontentes e grupos rebeldes. O volume e veloci-dade do intercmbio de informaes, a ascenso das megacidades, as tendncias urbansticas e demogrfi-cas e a enorme quantidade de conexes entre pessoas e sociedades levaram a distrbios sociais, polticos e de segurana sbitos, imprevisveis e instveis.

    A histria demonstra que no possvel prever o futuro com algum grau razovel de preciso, mas podemos afirmar, com total segurana, que recorrero ao Exrcito repetidas vezes. Trabalhando com nossos parceiros e aliados, o Exrcito dos EUA continuar a fazer o que sempre fez: mostrar o caminho como o alicerce da Fora Conjunta dos EUA, reunindo grupos diversos para solucionar problemas aparentemente insolveis.

    Ao implementarmos The Army Operating Concept: Win in a Complex World (O Conceito Operacional do Exrcito: Vencer em um Mundo Complexo, em tra-duo livre), nossa prioridade nmero um deve conti-nuar a ser o desenvolvimento de nossa vantagem com-petitiva: nossos lderes1. O Exrcito deve desenvolver lderes que sejam geis, adaptveis e inovadores; que tenham xito em condies de incerteza e caos; e que sejam capazes de visualizar, descrever, dirigir, liderar e analisar operaes em ambientes complexos e contra inimigos adaptveis. Isso no acontecer por acaso. algo que requer programas deliberados, direcionados e contnuos de desenvolvimento de lderes, firmemente baseados em nossos valores essenciais e tica profissio-nal. Exige, ainda, processos institucionais que maxi-mizem o desempenho dos profissionais do Exrcito por meio de rigorosos programas de ensino e de um excepcional processo de gesto de talentos. Devemos ento, reunir esses lderes em equipes coesas por meio do adestramento rduo e realista, que reproduza, integralmente, a complexidade do futuro ambiente operacional.

    A Base da Liderana do Exrcito dos EUA

    Muitos analistas observaram as diferenas mar-cantes entre a arte e a cincia da liderana. Os profis-sionais diro que a liderana um processo evolutivo, em que as habilidades desejadas se desenvolvem com o tempo. Entretanto, ainda que as demandas mudem, nossos valores essenciais permanecem constantes. Nossos valores e qualidades essenciais so centrais nossa tica profissional. No decorrer dos ltimos quatro anos, enfatizei, continuamente, a importncia de lderes competentes e de carter, comprometidos com a defesa da nao. A competncia, o compro-misso e o carter so os princpios fundamentais que fortalecem a confiana: a confiana entre os militares; a confiana entre os lderes e os liderados; a confian-a entre militares, comandantes e a instituio; e a confiana entre a instituio do Exrcito e o pblico norte-americano2.

    Em sua essncia, a tica profissional do Exrcito dos EUA est fundamentada na Constituio e nas palavras dever, honra e pas. Nosso dever defender nosso pas e liderar nosso recurso mais precioso: nossos militares. Precisamos faz-lo com honra e integridade, muitas vezes em meio s condies mais difceis e caticas. Ao ingressarem nas Foras Armadas, os militares levantam a mo direita e juram apoiar e defender a Constituio dos Estados Unidos da Amrica contra todos os inimi-gos, estrangeiros e nacionais3. Ao longo da histria do pas, os norte-americanos fizeram enormes sacrifcios para cumprir esse compromisso. O juramento serviu como base para as prticas de desenvolvimento de lde-res por geraes e nos orientar em meio infinidade de complexidades que encontraremos no futuro.

    O Conceito Operacional do Exrcito dos EUA o alicerce intelectual de uma iniciativa progressiva, que guiar a mudana e possibilitar solues em toda a Fora. Embora algumas solues ainda no existam, comeamos hoje com a mudana de nossa mentalidade. Se existe um requisito geral para a futura fora, o de que temos de manter um foco preciso no desenvolvi-mento de lderes que sejam hbeis em otimizar o de-sempenho de indivduos, equipes e organizaes. Esses lderes do Exrcito precisam pensar de maneira crtica e criativa, acolher a inovao e a mudana, e promover a colaborao focalizada, para impulsionar o desenvolvi-mento da Fora do futuro.

  • 5MILITARY REVIEW Novembro-Dezembro 2015

    LDERES E GESTO DE TALENTOS

    O desenvolvimento de lderes o mais importante fator a contribuir para moldar o Exrcito do futuro. Para colocar isso em perspectiva, muitos dos lderes do Exrcito do futuro os sargentos, tenentes e capites que se destacaro na prxima dcada ainda esto no ensino fundamental e mdio, ao passo que os capi-tes de hoje estaro frente de batalhes e brigadas. Continuamos a adaptar nosso ensino profissional mi-litar e a desenvolver as tticas, ferramentas e tcnicas de que precisaro. Portanto, a tarefa mais importante, atualmente, formar os processos e estratgias de gesto, para capacitar os lderes de amanh a obter xito no mundo incerto, ambguo e complexo que, sem dvida, enfrentaro.

    A Estratgia de Desenvolvimento de Lderes do Exrcito dos EUA

    A Estratgia de Desenvolvimento de Lderes do Exrcito (Army Leader Development Strategy ALDS) 2013 fornece um guia para desenvolver os lderes do Exrcito para os desafios diante de nossa nao4. O desenvolvimento de lderes um processo deliberado,

    contnuo e progressivo, que transforma militares e funcionrios civis em lderes de carter profissionais, competentes e comprometidos. A ALDS identifica as competncias e atributos esperados de todo lder oficiais da Ativa e da Reserva, oficiais especialistas e sargentos, assim como civis por meio do Modelo de Requisitos de Liderana do Exrcito5. O desenvolvimen-to de lderes obtido a partir da sntese da instruo, do ensino e da experincia, realizada ao longo de toda a carreira. promovido nos domnios institucional (escolas e cursos), operacional (misses atribudas) e de autodesenvolvimento (atividades selecionadas), sendo reforado pelos relacionamentos entre pares e de de-senvolvimento. Essa estratgia deve comear por atrair aqueles que tenham potencial de liderana; por identifi-car e avaliar, desde cedo, talentos, habilidades, atributos e condutas singulares; e, em seguida, por proporcionar um conjunto de instruo, ensino e experincia ao longo da carreira em nossas organizaes e unidades operacio-nais. Precisamos estimular talentos para garantir que o Exrcito dos EUA retenha, desafie e inspire os melhores e mais brilhantes jovens oficiais e sargentos, com mais

    O Gen Raymond Odierno, ento Comandante do Exrcito dos EUA, apresenta sua perspectiva durante a discusso de capites na Confe-rncia Solarium de 2015, 26 Fev 15, Forte Leavenworth, Kansas.

    (20 Sgt Mikki L. Sprenkle, fotgrafo do Gab Cmt Ex)

  • Novembro-Dezembro 2015 MILITARY REVIEW6

    experincia em combate, para liderar a Fora no futuro. Devemos complementar esses esforos incentivando e apoiando nossos lderes a buscar o autodesenvolvimento continuamente.

    O Domnio InstitucionalO domnio institucional representa um podero-

    so componente do programa de desenvolvimento de lderes do Exrcito dos EUA. nessa esfera que ns estabelecemos as expectativas e uma base de entendi-mento para nossos lderes. Como gestores da profisso, devemos sempre nos aperfeioar e nos adaptar, e esta-mos instituindo vrias novas iniciativas para apoiar esse esforo. Nossa estratgia comea com a formao para os aspirantes a oficial e continua ao longo da carreira, at o grau hierrquico de oficial-general. Da mesma forma, nosso Corpo de Graduados desenvolve lderes desde a instruo bsica inicial e intermediria at o curso da Sergeants Major Academy, para subtenentes.

    Estamos evoluindo e transformando esse processo, preparando-nos para um futuro mais complexo. Uma das maneiras pelas quais estamos implantando essa transformao mediante a criao da Universidade do Exrcito dos EUA, The Army University, que conferir rigorosos padres e credenciais acadmicos aos nossos programas de ensino profissional militar existentes. A Universidade do Exrcito dos EUA, The Army University, ter vrios impactos na iniciativa de ensino, mas uma de suas caractersticas mais importantes possibilitar o reconhecimento pleno, pela autoridade civil competente, de muitos dos atuais programas edu-cacionais do Exrcito como cursos do ensino superior e registrar esses crditos em um histrico acadmico geral para todo militar e servidor civil. Isso permitir que os profissionais do Exrcito busquem suas metas educacionais ao mesmo tempo que servem nao e que recebam todos os crditos pelas disciplinas j concludas.

    The Army University o prximo passo lgico na contnua profissionalizao do Exrcito dos EUA, que teve incio com sua transformao em uma Fora total-mente composta de voluntrios, em 1973. Essa inicia-tiva rene todos os programas educacionais existentes do Comando de Instruo e Doutrina do Exrcito dos EUA (U.S. Army Training and Doctrine Command TRADOC) em uma nica estrutura universitria, com o objetivo de promover maior rigor acadmico,

    melhorar a integrao interna e fortalecer a colabora-o externa com muitas das melhores universidades e faculdades do pas. The Army University amplia a capacidade dos militares do Exrcito para integrar sua formao militar e civil e receber crditos acadmicos vlidos pelo seu investimento educacional. Com isso, possibilita o crescimento e o desenvolvimento ao longo da carreira de servio. Tambm apoia a Fora como um todo, o Total Army, com maiores oportunidades educacionais para os militares de seus componentes da Reserva e da Guarda Nacional. Alm disso, as opor-tunidades de credenciamento geradas pela The Army University ajudaro os militares durante seu servio ativo e ao efetuarem a transio para a vida civil, por meio do programa Soldiers for Life, ou seja, soldados para a vida toda6.

    Em vrios eventos de intercmbio entre lderes do Exrcito dos EUA como o Army Senior Leader Development Program, para os oficiais-generais; as sesses de conferncia ao estilo do Projeto Solarium para os oficiais subalternos e graduados; e os fruns realizados por toda a Fora o Sergeant Major of the Army* [*Encarregado de todas as praas e assessor do Comandante do Exrcito dos EUA N. do T.] e eu escutamos a necessidade de inserir o pensamento cr-tico em todos os currculos da Fora. medida que o Exrcito dos EUA for adotando a filosofia de Comando de Misso, esse tipo de aprendizagem se tornar cada vez mais importante. O Comando de Misso confere poder de deciso aos subordinados em todos os es-cales, incentivando-os a pensar de maneira crtica e criativa e a tomar a iniciativa: entender, visualizar, descrever, dirigir, liderar e avaliar7. Os comandantes do Exrcito criam as condies para a execuo do Comando de Misso ao estabelecerem culturas de confiana dentro de suas organizaes e gerarem um entendimento compartilhado por meio de uma inten-o do comandante claramente expressa.

    Como parte de nosso maior investimento na formao que estimular esse tipo de pensamento crtico, estamos ampliando o acesso e as oportunidades para o estudo em programas de ps-graduao civis; treinamento na indstria; bolsas em universidades e instituies de pesquisa; e misses interagncias. Triplicamos o nmero de bolsas acadmicas ps-guer-ra para coronis e lanamos o Programa Avanado de Planejamento e Polticas Estratgicas, que permite que

  • 7MILITARY REVIEW Novembro-Dezembro 2015

    LDERES E GESTO DE TALENTOS

    oficiais selecionados cursem o doutorado nas melhores universidades do pas8. Estamos identificando e de-senvolvendo lderes com uma mentalidade estratgica no comeo da carreira, dando incio a programas de ampliao de experincias para oficiais subalternos, in-termedirios e superiores; graduados; e civis. Esses pro-gramas oferecem a oportunidade de analisar questes estratgicas e aplicar o entendimento a problemticas atuais e futuras. Em cada um dos centros de excelncia do TRADOC, estamos atualizando os programas de instruo para nossos comandantes de nvel ttico e se-lecionando os melhores instrutores. O domnio institu-cional a base de nosso programa de desenvolvimento de lderes, e continuaremos a investir nele apesar dos desafios oramentrios.

    O Domnio OperacionalNo domnio operacional, estamos atualizando nosso

    treinamento vivo, virtual e construtivo para capacitar comandantes subalternos a adquirir competncia ttica e tcnica; capites, majores e tenentes-coronis

    a aprimorar suas habilidades em comandar unidades e organizaes; e comandantes mais antigos a desen-volver e implementar planos e polticas estratgicas. Estamos desenvolvendo comandantes adaptveis, que possam guiar a mudana conferindo autonomia aos subordinados ao mesmo tempo que administram riscos e incentivando a confiana mtua e o entendimento compartilhado em todas suas organizaes.

    No estamos abandonando nossa experincia dos ltimos quatorze anos; na verdade, ela o nosso ponto de partida. A Fora operacional tem assistido implementao de Foras regionalmente alinhadas, o que possibilita que nossos comandantes continuem engajados intelectual e internacionalmente com aliados e parceiros em todo o mundo. Acreditamos que o futuro ser ainda mais complexo e estamos nos preparando para ele com uma estratgia abrangente de treinamento da Fora total e de desenvolvimento de lderes.

    No Centro Multinacional Conjunto de Aprestamento em Grafenwoehr e Hohenfels, na

    Militares da 3a Brigada de Combate, 25a Diviso de Infantaria, durante exerccio de adestramento, 08 Mai 13, quartel de Schofield, no Hava. O exerccio teve como foco o pensamento crtico e as habilidades tticas.

    (Sgt Brian Erickson, 3a Brigada de Combate, Com Soc, 25a Diviso de Infantaria)

  • Novembro-Dezembro 2015 MILITARY REVIEW8

    Alemanha, estamos adaptando e investindo em nosso modelo de adestramento para aumentar os exerc-cios conjuntos e multinacionais de vrios escales com nossos aliados e parceiros, o que especialmente importante neste momento para a Organizao do Tratado do Atlntico Norte (OTAN). Nossos centros de adestramento para o combate na Alemanha, no Forte Irwin (Califrnia) e no Forte Polk (Louisiana) reproduzem ambientes de ao decisiva extremamen-te complicados, com ameaas hbridas que refletem as complexidades que o pas enfrenta, incluindo Foras guerrilheiras, insurgentes, criminosas e convencio-nais com capacidades quase equiparadas, misturadas em um ambiente dinmico. Estamos incorporando componentes diversos em rodzios, incluindo Foras Especiais, interagncias, multinacionais e Foras Singulares com o objetivo de adestrar a Fora como um todo a operar no atual ambiente de domnios mltiplos. Os centros de adestramento para o comba-te, como um teste de liderana, aprimoram as habi-lidades de nossos oficiais e graduados nesse campo, ao mesmo tempo que avaliam seu desempenho e desenvolvimento. Ao desafi-los continuamente no adestramento, obrigando-os a planejar para o desco-nhecido e imprevisto, exploramos nossos sucessos no domnio operacional.

    O Domnio do AutodesenvolvimentoAo mesmo tempo que evoluem por meio do ensino

    (domnio institucional) e do adestramento e operaes (domnio operacional), nossos lderes devem, sempre, buscar desenvolver-se (domnio do autodesenvolvi-mento), para serem aprendizes para a vida toda. No domnio do autodesenvolvimento, estamos incor-porando avaliaes de 360 em nossos processos de orientao por mentores e aconselhamento. O feedback multidimensional um importante componente do desenvolvimento de lderes holstico. Ao incentivar que pares, subordinados e superiores contribuam com suas opinies, os lderes se tornam mais autoconscien-tes. Uma abordagem de 360 se aplica igualmente a co-mandantes de grupo de combate, peloto e companhia e a comandantes de escalo elevado. A disposio em buscar uma opinio franca facilita o crescimento da liderana, e a responsabilidade de todo comandante, militar e civil fornec-la aos que a buscam.

    O crescimento no campo do autodesenvolvimento

    tambm vem ocorrendo por meio do maior acesso a misses diversificadas mais cedo e com maior fre-quncia ao longo da carreira. Os comandantes, de todos os escales, so incentivados a buscar o desen-volvimento pessoal e profissional por meio de misses interagncias, formao militar, credenciamento civil e formao acadmica civil. Estamos fornecendo aos nossos militares as ferramentas e recursos necessrios, como o portal GoArmyEd e auxlio-estudo, para que busquem oportunidades de autodesenvolvimento9. Em suma, nosso programa estruturado de autodesen-volvimento estimula o crescimento e desenvolvimento individual, aproveitando e complementando, ao mes-mo tempo, os domnios institucional e operacional.

    Estamos implementando essa estratgia a par-tir de uma posio de vantagem, com a Fora mais experiente em combate que o Exrcito j teve. Aproveitamos nossa experincia na conduo de ope-raes complexas com parceiros conjuntos, interorga-nizacionais e multinacionais para cumprir objetivos tticos, operacionais e estratgicos no terreno. O desenvolvimento de lderes envolve investir em nosso recurso mais valioso: as pessoas.

    A Gesto de TalentosA gesto de talentos e o desenvolvimento de

    lderes esto intrinsecamente ligados. A gesto de talentos considera as habilidades, conhecimentos, atributos e condutas individuais dos profissionais do Exrcito e o potencial que eles representam. O Exrcito busca selecionar, desenvolver e efetiva-mente empregar lderes completos com base nos talentos que possuem talentos oriundos no apenas da experincia profissional, como tambm de misses diversificadas, do estudo em instituies de ps-graduao civis e do ensino profissional militar. Ampliaremos a progresso de carreira, oferecendo aos lderes a oportunidade de diversificar seu desen-volvimento profissional e de aumentar seu valor para a organizao.

    Ao formarmos equipes coesas, compostas de in-divduos com um alto desempenho e com os talentos certos, criamos um Exrcito mais forte. Ao mesmo tempo, estamos transformando nossos sistemas de avaliao para identificar, mensurar e acompanhar, mais efetivamente, os indicadores sociais, cognitivos e fsicos necessrios para analisar o desempenho e

  • 9MILITARY REVIEW Novembro-Dezembro 2015

    LDERES E GESTO DE TALENTOS

    o potencial. Por fim, valorizamos a diversidade em nossa fora de trabalho e acolhemos as dimenses culturais e demogrficas variadas de nosso pas. Empenhamo-nos, deliberadamente, em atrair e reter os melhores talentos, com uma ampla variedade de origens e perspectivas pessoais e profissionais, ad-vindas de nossas diferenas culturais, atributos e experincias.

    Como Manter a Vantagem do Exrcito

    Conforme continuarmos a avanar nos prximos anos, os conflitos evoluiro, e o Exrcito dos EUA precisa evoluir junto. Ainda que no possamos prever a trajetria de tal evoluo com segurana, podemos ter a certeza de que os lderes do Exrcito do futuro deve-ro ter habilidades bem desenvolvidas de pensamento crtico e criativo, que os permitam tomar decises

    efetivas e bem informadas em meio ao caos. Essas deci-ses exigiro conhecimentos tticos, intuio cultural e um profundo entendimento do contexto estratgico. Sincronizaremos a Estratgia de Desenvolvimento de Lderes do Exrcito dos EUA com o novo Conceito Operacional do Exrcito, continuando a desenvolver os grandes lderes do futuro. Nossa nao continua a enviar seus mais distintos cidados para preencher nossas fileiras, cabendo a ns a sria responsabilidade de sermos efetivos guardies dessa confiana. Esses militares e civis so talentosos, corajosos e ticos, possibilitando-nos cumprir qualquer tarefa, enfrentar qualquer desafio e defender nossa nao quando e onde nos necessitarem.

    A fora de nossa nao o nosso Exrcito. A fora de nosso Exrcito so os nossos militares. A fora de nossos militares so as nossas famlias. E isso que nos faz um Exrcito Forte!

    Referncias

    1. U.S. Army Training and Doctrine Command (TRADOC) Pamphlet (TP) 525-3-1, The U.S. Army Operating Concept: Win in a Complex World (Fort Eustis, VA: TRADOC, 2014) http://www.tradoc.army.mil/tpubs/pams/tp525-3-1.pdf. Acesso em 14 mai. 2015. Em outubro de 2014, o Exrcito dos EUA publicou seu Conceito Operacional como referencial fundamental para capacitar os lderes a se adaptarem ao ritmo de mudana. O Conceito Operacional do Exrcito descreve como as futuras tropas do Exrcito, operando como parte da Fora Conjunta e atuando junto a parceiros interorganizacionais e multinacionais, iro evitar conflitos, configurar ambientes de segurana e vencer em um mundo complexo. Nessa iniciativa, a renovao da nfase no desenvolvimento de lderes de extrema importncia, medida que os desafios de segurana diante de nosso pas se multiplicarem.

    2. Army Doctrine Reference Publication 1, The Army Profes-sion (Washington, D.C.: U.S. Government Printing Office [GPO], June 2013), 1-5.

    3. U.S. Army Center of Military History website, Oaths of Enlistment and Oaths of Office, http://www.history.army.mil/html/faq/oaths.html. Acesso em 14 mai. 2015.

    4. U.S. Army, Army Leader Development Strategy (ALDS) 2013 (Washington, DC: Department of the Army, 2013), http://usacac.army.mil/cac2/CAL/repository/ALDS5June%202013Record.pdf. Acesso em 5 mai. 2015.

    5. Army Doctrine Publication (ADP) 6-22, Army Leadership (Washington, D.C.: U.S. GPO, August 2012), p. 5.

    6. U.S. Army website, Soldier for Life, http://soldierforlife.army.mil/. Acesso em 14 mai. 2015.

    7. ADP 6-0, Mission Command (Washington, D.C.: U.S. GPO, May 2012), p. iv.

    8. U.S. Army Combined Arms Center website, School of Advanced Military Studies (SAMS), http://usacac.army.mil/organi-zations/cace/cgsc/sams. Acesso em 14 mai. 2015.

    9. GoArmyEd website, https://www.goarmyed.com/. Acesso em 14 mai. 2015.

    O General de Exrcito Raymond T. Odierno o 38o Chefe do Estado-Maior do Exrcito dos EUA (equivale ao Comandante do Exrcito). Ao longo de mais de 38 anos de servio, comandou unidades em todos os escales, de peloto ao teatro de operaes, tendo servido na Alemanha, na Albnia, no Kuwait, no Iraque e nos EUA. Formou-se pela Escola de Guerra do Exrcito dos EUA e bacharel em Engenharia pela Academia Militar de West Point, mestre em Engenharia de Efeitos Nucleares pela North Carolina State University e mestre em Estudos Estratgicos e de Segurana Nacional pela Escola de Guerra Naval.

    http://www.tradoc.army.mil/tpubs/pams/tp525-3-1.pdfhttp://www.tradoc.army.mil/tpubs/pams/tp525-3-1.pdfhttp://www.history.army.mil/html/faq/oaths.htmlhttp://www.history.army.mil/html/faq/oaths.htmlhttp://usacac.army.mil/cac2/CAL/repository/ALDS5June%202013Record.pdfhttp://usacac.army.mil/cac2/CAL/repository/ALDS5June%202013Record.pdfhttp://soldierforlife.army.milhttp://soldierforlife.army.milhttp://usacac.army.mil/organizations/cace/cgsc/samshttp://usacac.army.mil/organizations/cace/cgsc/samshttps://www.goarmyed.comhttp://www.tradoc.army.mil/tpubs/pams/tp525-3-1.pdf.http://www.history.army.mil/html/http://oaths.htmhttp://army.mil/cac2/CAL/repository/ALDS5Junehttp://202013Record.pdfhttp://army.mil/http://usacac.army.mil/organizations/cace/cgsc/sams.https://www.goarmyed.com/

  • Novembro-Dezembro 2015 MILITARY REVIEW10

    Mascarenhas, o Lder da VitriaGen Ex (Res) Paulo Cesar de Castro, Exrcito Brasileiro

    A doutrina do Exrcito Brasileiro (EB) resume nos verbos ser, saber e fazer os pilares bsicos da liderana militar1. O primeiro refere-se ao senso moral, o segundo, proficincia profissional e o terceiro, a atitudes adequadas. O modelo de requi-sitos da liderana no Exrcito dos Estados Unidos da Amrica reafirma aqueles mesmos verbos: ser, saber e fazer2. O Exrcito Norte-Americano aborda o tema sob a forma de atributos e competncias, conceitos contem-plados, tambm, pela doutrina do EB. Em sntese, tenho afirmado que o lder militar deve:

    ser exemplo de soldado e cidado; saber conquistar e conduzir coraes e mentes; fazer o que tem que ser feito.Entretanto, reflexes sobre o tema tm-me con-

    duzido, invariavelmente, a um quarto verbo, o querer. Convenci-me que, l das profundezas da alma do sol-dado, emerge uma deciso que s a ele pertence: querer ser lder militar.

    2015 o ano em que se comemora o septuagsimo aniversrio do Dia da Vitria. Entre as armas que triunfaram na Segunda Guerra Mundial perfilam-se as da Fora Expedicionria Brasileira (FEB), comandada pelo General de Diviso Joo Baptista Mascarenhas de Moraes. Nesse contexto e luz da doutrina de lide-rana militar, este artigo destaca atitudes, iniciativas e decises do General Mascarenhas e demonstra que o nclito chefe militar desponta como paradigma de lder, exemplo para a atual e futuras geraes de combatentes.

    A Resposta ao Convite3 - Lio de Soldado

    25/H1Urgente 9 VIII 1943CifradoGeneral Mascarenhas So Paulo.Consulto prezado camarada se aceita coman-do de uma das divises que constituiro Corpo

    Expedicionrio pt Impe-se resposta urgente porque caso afirmativo far estgio Estados Unidos pta) General Eurico Dutra Ministro da Guerra.

    Esse radiograma foi entregue, a 10 de agosto de 1943, ao comandante da 2 Regio Militar (RM), em sua pr-pria residncia. Como se v, a resposta foi imediata:

    General Dutra Rio Urgentssimo De So Paulo 20-40 10 VIII 1943 17,15345 Muito honrado e com satisfao respondo afirmativamente consulta Vossa Excelncia acaba fazer-me vg em rdio 25/H1.a)General Mascarenhas de Moraes Comandante 2 RM.

    Ato contnuo e confidencialmente, o General (Gen) Mascarenhas relatou o ocorrido sua esposa que o apoiou sem pestanejar: Estou de pleno acordo.

    Tudo transcorrera a exemplo da artilharia-re-vlver de Mallet, prpria dos que se destacam pelo esprito militar, senso de cumprimento do dever e dedicao integral ao servio da ptria, atributos comuns ao Patrono e a Mascarenhas. Este havia assumido em maro de 1943 o comando da 2 RM e, tambm sem perda de tempo, intensificara a instru-o da tropa, em face da possibilidade de preparao de um corpo expedicionrio, decidida pelo governo naquele mesmo ms. Um comandante com viso de futuro iria liderar a FEB.

    Sua mensagem ao Ministro Dutra foi clara, simples e concisa: quero liderar uma diviso de infantaria expe-dicionria. Quero comandar em combate!

    Os Primeiros DesafiosMascarenhas passou velozmente da deciso ao.

    Deixou o comando em So Paulo a 17 de agosto e viajou para o Rio de Janeiro a fim de iniciar o preparo

  • 11MILITARY REVIEW Novembro-Dezembro 2015

    MASCARENHAS DE MORAES

  • Novembro-Dezembro 2015 MILITARY REVIEW12

    de sua tropa. Para tal, enfrentou e superou obstculos de toda a sorte no mbito governamental e no seio do prprio Exrcito.

    Manejando as armas da burocracia, brasileiros pouco dignos dedicaram-se a vil ao retardadora. Os eventos que se seguem e suas datas bem ilustram o que o determinado General enfrentou.

    Apenas a 07 de outubro foi designado para organizar e instruir a 1 Diviso de Infantaria Expedicionria (1 DIE). Contudo, as unidades permaneceram no mbito de seus comandos re-gionais. Segundo expressou-se o prprio General Mascarenhas: medida insensata!

    Os entraves continuaram a surgir, visto que o de-creto de sua exonerao do comando da 2 RM s foi assinado a 22 de outubro, e sua designao oficial como Comandante da 1 DIE, apenas a 28 de dezembro, poucos dias antes do regresso do General de viagem frica e Itlia.

    Preparar a FEB significou mobilizar unidades, concen-tr-las no Rio de Janeiro, dot-las de efetivos similares aos das norte-americanas e adestr-las segundo a doutrina do Exrcito Norte-Americano. Em outras palavras, realizar rpida, eficiente, eficaz e efetiva transformao na cultura militar vigente.

    Consciente dos obstculos a vencer, o General Mascarenhas aproveitou viagem do Ministro da Guerra aos EUA e submeteu-se com pleno xito, em hospital par-ticular, a delicada cirurgia, fato no noticiado pela mdia. Essa cirurgia acentua a firme disposio de um general combatente de querer liderar expedicionrios no teatro de operaes. Na solido do comando, viveu momentos de rara tenso, sem permitir que contaminassem o moral da tropa que preparava. Ele fez o que tinha que ser feito.

    A Presena Junto TropaOnde est a bateria, est o seu capito, ensinava

    Salomo da Rocha. Mais do que ensinar, permaneceu

    Chegada dos pracinhas brasileiros na cidade italiana de Massarosa, Itlia, Set 1944.Durval Jr.

  • 13MILITARY REVIEW Novembro-Dezembro 2015

    MASCARENHAS DE MORAES

    at a morte junto sua subunidade, a 4 Bateria do 2 Regimento de Artilharia a Cavalo. Em Canudos, naquele 4 de maro de 1897, tombou abraado a seus canhes4.

    Mascarenhas observou fielmente a magnfica lio de Salomo da Rocha. Transformou-a em: Onde est a divi-so, est o seu general. Autntico lder, tinha conscincia de que deveria embarcar para a Itlia com o primeiro escalo da FEB. Junto com seus comandados, decidiu enfrentar os riscos da travessia do Atlntico, infestado de submarinos inimigos. Assim no pensava o General Dutra, o que obrigou o comandante da 1 DIE a argu-mentar obstinadamente at demover o Ministro e, assim, embarcar no navio-transporte General Mann, na noite de 30 de junho para 1 de julho. Mascarenhas afirmou que sua presena a bordo atestava a dignidade de seu coman-do5. Uma vez mais, fez o que tinha que ser feito.

    [...] O que me leva mesmo ao front o fato de que eu gosto muito de estar l, de estar perto dos solda-dos. Eles me do coragem e me rejuvenescem6. Essas palavras pertencem ao General Santos Cruz, coman-dante da brigada de interveno das Naes Unidas no Congo, desde julho de 2013. Este chefe militar retoma a doutrina de Salomo da Rocha: onde est sua brigada, est seu general7.

    A presena junto tropa indispensvel ao exerc-cio da liderana em qualquer escalo, to vlida na era do conhecimento quanto fora na era industrial. Assim se fortalece o moral de comandados e de comandantes e se conquistam e se conduzem coraes e mentes.

    A Verdade e a Solido do Comando8Imagine-se a dura realidade de um comandan-

    te, recm-chegado ao teatro de operaes (TO), ao se deparar com situaes vexatrias: a decepo das autoridades norte-americanas com o estado sanitrio da tropa; a imprestabilidade dos uniformes, agasalhos e calados; e, at mesmo a alimentao, quase toda norte-americana.

    Restou-lhe recorrer a seu superior no TO, o Gen Mark Clark, comandante do V Exrcito. Na solido do comando, o Gen Mascarenhas precisou vencer aquelas dificuldades logsticas e seus desdobramentos morais. Jamais deixou transparecer seus sentimentos ntimos, o que teria afetado negativamente o moral de sua tropa. Manteve a f na misso. Providenciou para que o trei-namento fsico e a ordem unida fossem intensificados, a par de promover solenidades cvico-militares, como

    as dos dias do Soldado e da Ptria. Simultaneamente, a 1 DIE recebia armamento, munio, viaturas, equi-pamentos, material de comunicaes e outros itens, novidades s ento apresentadas aos expedicionrios.

    Naquele contexto, foi possvel instruir, adestrar, realizar exerccios-testes e empregar em combate o primeiro escalo da FEB. Os escales seguintes paga-riam elevado preo por sua preparao incompleta. Com o tempo e a experincia adquirida em sucessivas operaes, entretanto, converteram-se em guerreiros veteranos.

    O Gen Mascarenhas tinha plena conscincia da ver-dade, de suas causas e consequncias. Simultaneamente, sabia que sua misso consistia em enfrentar os obstcu-los, venc-los e conduzir sua diviso vitria. Posto prova desde a chegada Itlia, mostrou-se equilibrado sob tenso, decidiu, superou os obstculos e, como j demonstrara no Brasil, foi exemplo de soldado e de cidado brasileiro.

    As Armadilhas da IndignidadeTodo comandante espera que o inimigo prepare

    armadilhas e instrui sua tropa para evit-las e neutra-liz-las. Inesperado e surpreendente foi constatar que alguns oficiais so capazes de macular a honra militar e tramar contra o prprio comandante.

    O carter, a integridade e a estatura moral do Gen Mascarenhas superaram a ambio, a indignidade e a mesquinhez de alguns durante a campanha da Itlia, em duas oportunidades.

    A primeira armadilha moral foi ativada quando da visita do Ministro Dutra Diviso, em outubro de 1943. A trama9 consistiu em convencer o Ministro da convenincia de reestruturar a fora expedicionria designando o Gen Zenbio para o comando da 1 DIE e atribuindo ao Gen Mascarenhas o comando geral da FEB. Dutra parece no ter concordado, mas seus auto-res levaram a proposta ao comando norte-americano, por intermdio do Gen Wooten10.

    A 1 DIE, ainda incompleta, sequer entrara em linha e, pior ainda, o Gen Mascarenhas s tomou cincia da indignidade por intermdio do Gen Clark que o consultou sobre a ideia em apreo. Ante a firmeza da opinio contrria do surpreso Mascarenhas, Clark, igualmente firme, apoiou-o e disse-lhe que em assuntos da FEB, o desejo do Gen Mascarenhas era (tambm) a sua vontade11.

  • Novembro-Dezembro 2015 MILITARY REVIEW14

    O episdio evidenciou os slidos vnculos afetivos j ento estabelecidos entre o comandante brasilei-ro liderado e o norte-americano, seu lder. O interrelacionamento no campo de batalha forjara laos de mtua confiana, lealdade, respeito, camaradagem e f na misso, indispensveis vitria militar, objetivo de ambos.

    A segunda armadilha foi articulada12, maquiaveli-camente, no Rio de Janeiro. Apresentou-se ao Ministro da Guerra que concordou sob o nome de rodzio, a proposta de substituio de todos oficiais que comple-tassem seis meses na Itlia. O Gen Mascarenhas sequer foi consultado e, para agravar to repugnante trama, o rodzio seria executado s vsperas da Ofensiva da Primavera. Vale dizer, a experincia adquirida em combate e a intensa instruo ministrada durante a defensiva de inverno seriam lanadas na lata do lixo em prol de ambies pessoais inqualificveis.

    Mascarenhas s se deu conta da armadilha quando soube de que fora pedido transporte areo norte-ame-ricano para executar a indigna manobra. O General, ao receber ordem formal do Gen Dutra13, adiou sine die sua execuo. A autorizao de transporte areo dependia do comandante do V Exrcito, j ento o Gen Truscott. Imediatamente, este general convo-cou uma reunio com o Gen Crittenberger, Cmt IV Corpo de Exrcito (IV CEx), e o Gen Mascarenhas. Os norte-americanos mostraram-se abismados e os trs concordavam quanto insensatez e ao absurdo que o rodzio representava. A soluo acordada foi atender, to somente, aos pedidos de transporte areo que, a cri-trio do general brasileiro, contribussem para o xito da misso da FEB.

    O Gen Mascarenhas aproveitou, discreta e habil-mente, aquela oportunidade para repatriar alguns ofi-ciais, por motivos de sade ou de inadaptao. Deixou para as futuras geraes duas lies de ouro: o lder faz o que tem que ser feito, doa a quem doer. O lder orien-ta-se pela misso, custe o que custar.

    A F na MissoEm Porretta Terme, vale do Reno, instalou-se o

    posto de comando avanado (PC Avcd) da 1 DIE. A rea foi alvo constante dos fogos da artilharia pe-sada alem durante toda a defensiva de inverno. O Gen Crittenberger insistiu, inmeras vezes, para que Mascarenhas o recuasse, sugesto sempre recusada

    pelo determinado general brasileiro. Argumentava que, quando se movimentasse, haveria de ser para a frente, no para a retaguarda14.

    A par de denotar coragem fsica pessoal, a loca-lizao do PC Avcd contribua para encorajar seus comandados, com eles compartilhar os riscos da guerra e fortalecer-lhes o moral. Entre diversas visitas, em Porretta Terme Mascarenhas recebeu o Marechal Sir Alexander, comandante do teatro de operaes do Mediterrneo. Almoaram juntos, sob constante bom-bardeio inimigo. sada, o Marechal agradeceu ao Gen brasileiro a salva de 21 tiros que providenciara junto aos alemes, visto que ele, como marechal, s tinha direito a 18 tiros15. O respeito e a confiana recproca fortaleceram-se aps aquele episdio vivido pelos dois chefes militares, soldados de corpo e alma.

    O Gen Mascarenhas tinha f na misso, seu objetivo estava frente, a vitria.

    A Conquista de Coraes e MentesA histria das armas brasileiras foi enriquecida no

    Vale do Serchio pelas vitrias de Massarosa, Camaiore e Monte Prano. Naquela zona de ao, a FEB sofreu seu primeiro insucesso, a tentativa de conquistar Castelnuovo di Garfagnana. Enquanto o Destacamento FEB, sob o comando do Gen Zenbio, atuava no Serchio, Mascarenhas desdobrava-se entre a supervi-so do combate e as aes consequentes da chegada do grosso de sua Fora. Cabia-lhe estacionar, instruir, adestrar, armar, fardar, equipar, alimentar e atualizar a doutrina das unidades recm-desembarcadas alm de, simultaneamente, receber e visitar autoridades milita-res e civis aliadas e brasileiras.

    Consideraes estratgico-operacionais levaram o Gen Clark a promover a FEB ao primeiro time do V Exrcito, o que implicou sua rocada para o vale do Reno, frente na qual o combate se afigurava mais desafiador. Nela, de novembro de 1944 a fevereiro de 1945, nossos pracinhas conduziram a defensiva de inverno, o que no os poupou de aes ofensivas preliminares como os frustrados ataques a Monte Castelo, dois sob comando norte-americano e outros dois sob comando brasileiro.

    Naquela frente montanhosa, com chuva, lama e neve, o Gen Mascarenhas tornou-se, de fato, coman-dante de uma diviso de infantaria expedicionria em combate, sem descurar de sua responsabilidade

  • 15MILITARY REVIEW Novembro-Dezembro 2015

    MASCARENHAS DE MORAES

    como comandante da FEB. Refletiu e mudou seu estilo de comando. Sentiu o amargo impacto emocional dos reveses ante Monte Castelo, mas reagiu como o lder em que todos confiavam: intensificou a instruo; providenciou o material ainda no recebido; pre-parou animicamente seus homens; adotou medidas disciplinares; centralizou o planejamento; ouviu seu estado-maior; garantiu a seu comando superior que a DIE tinha capaci-dade ofensiva; recebeu ordens para participar da Ofensiva do IV Corpo; aprovou a ordem de ope-raes e Monte Castelo caiu em mos brasileiras.

    A memorvel vitria de 21 de fevereiro de 1945 empolgou os combatentes e a populao brasileira. Havia sido a primeira manobra planejada e executada pela 1 DIE. O Gen Mascarenhas recebeu efusivos cumprimentos do Gen Crittenberger que destacou o meticuloso plano de Estado-Maior, a excelente superviso do campo de batalha, a disciplina de fogo e coordenao com a 10 Diviso de Infantaria de Montanha (10 DI Mth), vizinha da 1 DIE16.

    Mascarenhas inspecionou as tropas dois dias aps a conquista do Castelo:

    Eram visveis o seu orgulho e alegria pelos resultados alcanados. Algumas praas, no podendo conter seu entusiasmo, correram desabridamente ao seu encontro aos gritos de Viva o General! Se no lhe ergueram novos urras, foi porque o bravo chefe [...] limitou-se a cumpriment-los com um leve aceno, enquanto galgava as ltimas escarpas entre grupos que se erguiam, respeitosos, sua aproximao17.

    O Gen Mascarenhas havia conquistado coraes e mentes de seus comandantes norte-americanos e, principalmente, de seus liderados.

    O Dilogo dos Generais conquista de Monte Castelo, seguiu-se a de

    Castelnuovo, ratificao do valor ofensivo da 1 DIE e ltimo ataque coordenado da chamada Ofensiva do IV Corpo.

    Aps breve atitude defensiva, o Gen Mascarenhas foi alertado (27 de maro) sobre a ofensiva seguinte, da qual participariam todas as foras aliadas presentes na Itlia. Recebida a misso, planejou-a e observou que se reservara papel assaz secundrio aos brasileiros. Em 8 de abril, deveriam comparecer ao PC IV CEx todos os comandantes de diviso e expor seus planos para aquela operao de grande envergadura.

    Na oportunidade, o Gen Hays, Cmt 10 DI Mth, mostrou-se apreensivo com o pesado encargo ofensivo que recebera. Era tudo o que Mascarenhas esperava. Exps seus planos e sugeriu que o limite entre a DIE e a 10 de Montanha fosse alterado, pelo que caberia aos brasileiros conquistar Montese. Seguiu-se o seguinte dilogo entre os altos chefes militares18:

    Gen Hays: Tem o comandante da diviso brasi-leira a certeza de tomar Montese?.

    Gen Mascarenhas: Sim, tenho. Mas quero tam-bm saber se o General Hays tem a certeza de aprovei-tar o sucesso brasileiro sobre Montese.

    O Gen Truscott Jr., direita, recebido pelo Gen Mascarenhas de Moraes, esquerda, acompanha-dos pelo intrprete, Maj Vernon A. Walters, na Itlia, 11 Dez 44.

    National WWII Museum

  • Novembro-Dezembro 2015 MILITARY REVIEW16

    Aplausos da assistncia acolheram a sugesto do nosso General19. Palco da mais rdua e sangrenta vitria brasileira, Montese foi conquistada em 14 de abril, tendo nossa gente suportado intenso fogo inimigo durante os extenuantes dias seguintes.

    O Gen Mascarenhas imps-se no seio de seus pares e demonstrou plena confiana nos valores morais e na competncia profissional da fora que liderava.

    Apoio de Fogo Versus Rapidez20Em Montese, a 1 DIE iniciou o aproveitamen-

    to do xito e apossou-se, sucessivamente, de Zocca (21 Abr) e de Vignola (22 Abr). A 23, foi recebida a deciso do Cmt IV CEx de iniciar a perseguio. Ao Gen Mascarenhas incumbia deslocar-se, o mais rpido possvel, para noroeste, a fim de impedir a passagem de foras inimigas para o norte do rio P. Em outras palavras, haviam mudado o tipo de operao e a direo de emprego. Rapidez passou a ser fator preponderante para qualquer linha de ao.

    O Gen Mascarenhas convocou imediata reunio para a prpria noite de 23 de abril, em seu PC Avcd, desdobrado em C. Grotti, pouco ao norte de Zocca. Eis que, ento, o Gen Zenbio, o Gen Cordeiro de Farias e alguns oficiais do estado-maior ouviram de seu coman-dante que, naquele contexto, a rapidez preponderava sobre o apoio de fogo, pelo que, considerando que os regimentos de infantaria no haviam recebido at ento suas viaturas orgnicas, caberia artilharia transportar nossos infantes nas viaturas tratoras dos obuseiros.

    Essa soluo primou pela criatividade, ousadia, adaptabilidade e assuno de riscos. Executou-a, eficaz-mente, o Gen Cordeiro, Cmt Artilharia Divisionria, tendo os artilheiros organizado modelar servio de transporte.

    Ao saber da iniciativa do Gen Mascarenhas, o Gen Crittenberger perguntou-lhe: Onde o senhor apren-deu a tomar aquela deciso?

    Aqui na guerra, sob a orientao de meus chefes (Mascarenhas)

    O senhor certamente aprendeu em seu Pas, ao longo de sua carreira militar, adquirindo a indispens-vel cultura profissional de que os chefes se valem nos momentos difceis (Crittenberger)21.

    A perseguio foi vigorosamente executada e coroada pela manobra de CollechioFornovo, notvel feito das armas brasileiras que redundou na rendio

    incondicional da 148 DI alem e de remanescentes da Diviso Itlia, inclusive os respectivos generais coman-dantes (29 e 30 de abril).

    Lder e liderados fizeram o que tinha que ser feito e, uma vez mais, deram provas de serem exemplos de soldados.

    O Carter e a GratidoDe regresso terra natal, o vitorioso comandante

    da FEB foi alvo de calorosas homenagens, expresses legtimas da gratido nacional. Condecoraes no lhe faltaram, nacionais e estrangeiras. Entretanto, a glria do General Mascarenhas simplesmente incomodava aqueles que vaidosamente se consideravam a cpula do Exrcito; no queriam lhe ceder um lugar, nem aceita-vam conviver com ele22. O invicto comandante trans-formara-se em estorvo23 para a administrao militar.

    Eis porque, aps 47 anos em servio ativo e cons-ciente de sua situao no Exrcito, o General pediu transferncia para a reserva, oficialmente publicada em agosto de 1946.

    A Assembleia Constituinte, prontamente, a tudo e a todos respondeu. Em setembro do mesmo ano, manifestou, uma vez mais, o elevado respeito e a sin-cera gratido do povo brasileiro, concedendo ao Gen Div Mascarenhas de Moraes honras de marechal do Exrcito. Desde ento, Mascarenhas recolheu-se sua residncia e vida privada, mantendo distncia das lides polticas e militares.

    Entretanto, a Nao no condenara ao ostracismo o comandante de seus pracinhas e, muito menos, pres-cindia de seus servios e experincia mpar. Eis que, em sesso solene de 12 de outubro de 1951, foi investido pelo Congresso Nacional no posto de marechal e rever-teu ao servio ativo, em carter vitalcio.

    O lder reafirmara seu slido carter e recebera a medalha suprema, a gratido da nao brasileira.

    ConclusoAs comemoraes do septuagsimo aniversrio da

    vitria aliada na Segunda Guerra Mundial permitem refletir sobre a significativa contribuio de nossas for-as armadas para a causa aliada. Ensejam, igualmente, reavivar os feitos da Fora Expedicionria Brasileira no teatro do Mediterrneo.

    Nos campos de instruo brasileiros e nos cam-pos de batalha italianos, tornaram-se exponenciais

  • 17MILITARY REVIEW Novembro-Dezembro 2015

    MASCARENHAS DE MORAES

    O Gen Ex Paulo Cesar de Castro graduado pela Academia Militar das Agulhas Negras, na arma de Artilharia. ps-graduado pela Escola de Comando e Estado-Maior, pela Escola de Guerra Naval (EGN) e pela Escola Superior de Guerra, do Exrcito Argentino. Comandou, como coronel, o 21 Grupo de Artilharia de Campanha; como Gen Bda, a ECEME; como Gen Div, a 4 Regio Militar e a 4 Diviso de Exrcito. Como Gen Ex, foi chefe do Departamento de Educao e Cultura do Exrcito at 11 de maio de 2011, quando foi transferido para a reserva. Atuou nas operaes Rio-92, Rio, Minas Gerais e Ouro Preto, todas de garantia da lei e da ordem. doutor em Cincias Navais pela EGN e doutor em Cincias Militares pela ECEME.

    os atributos de liderana do Gen Div Joo Baptista Mascarenhas de Moraes. Este artigo procurou demonstrar que ele: foi e exemplo de soldado e de cidado; soube conquistar e conduzir coraes e

    mentes; fez o que tinha que ser feito; e quis ser lder militar.

    A homenagem maior que as geraes atuais e futuras podem lhe render seguir o seu exemplo.

    Referncias

    1. BRASIL, Estado-Maior do Exrcito. Manual de Campanha C 20-10, Liderana Militar, 2 ed. N 3-3. BRASLIA: Estabelecimen-to General Gustavo Cordeiro de Farias, setembro de 2011.

    2. USA, Estado-Maior do Exrcito. Publicao Doutrinria do Exrcito (em traduo livre) ADP 6-22, de agosto de 2012, in Army Leader Development Strategy, pag. 7. WASHINGTON, 2013.

    3. MORAES, Marechal J. B. Mascarenhas de. Memrias. 2 ed. Pag. 131. RIO DE JANEIRO: Biblioteca do Exrcito, 1984.

    4. Disponvel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Salomo_da_Rocha. Acesso em 11 de junho de 2015.

    5. MORAES, Marechal J. B. Mascarenhas de. Memrias. 2 ed. Pag. 143. RIO DE JANEIRO: Biblioteca do Exrcito, 1984.

    6. CLUBE MILITAR, Revista. N 453, pg. 20. RIO DE JANEI-RO: 2015. Idem: REVISTA ISTO , 14 de maio de 2014.

    7. O General Santos Cruz permanece no comando ainda quando redijo este par

    8. MORAES, Marechal J. B. Mascarenhas de. A FEB pelo seu Comandante. 2 ed. Pag.31. RIO DE JANEIRO: Estabelecimento General Gustavo Cordeiro de Farias, julho de 1960.

    9. MEIRA MATTOS, General. O Marechal Mascarenhas de Moraes e sua poca. Volume I, pag.160. RIO DE JANEIRO: Biblio-teca do Exrcito Editora, 1983.

    10. Comandante das Foras Areas dos EUA no Atlntico Sul, cujo comando era sediado em Natal, Rio Grande do Norte. O Gen Wooten integrou a comitiva do Ministro Dutra.

    11. MORAES, Marechal J. B. Mascarenhas de. Memrias. 2 ed. Volume I. Pag. 199 e seguintes. RIO DE JANEIRO: Biblioteca do Exrcito, 1984.

    12. MEIRA MATTOS, General. O Marechal Mascarenhas de Moraes e sua poca. Volume I, pag.161 e 162.

    RIO DE JANEIRO: Biblioteca do Exrcito Editora, 1983.13. MORAES, Marechal J. B. Mascarenhas de. Memrias. 2 ed.

    Volume I. Pag. 239 e seguintes. RIO DE JANEIRO: Biblioteca do Exrcito, 1984.

    14. WALTERS, Vernon. Silent Missions in MEIRA MATTOS, General. O Marechal Mascarenhas de Moraes e sua poca. Volu-me I, pag.142. RIO DE JANEIRO: Biblioteca do Exrcito Editora, 1983.

    15. Idem, pag. 156.16. CRITTENBERGER, Willis D. Major-general, comandante do

    IV Corpo de Exrcito. Em: 26 de fevereiro de 1945. In: - MO-RAES, Marechal J. B. Mascarenhas de. A FEB pelo seu Comandante. 2 ed. Pag.157. RIO DE JANEIRO: Estabelecimento General Gusta-vo Cordeiro de Farias, julho de 1960.

    17. CASTELLO BRANCO, Manoel Thomaz. O Brasil na II Guerra Mundial. RIO DE JANEIRO: Biblioteca do Exrcito Editora, 1960.

    18. MORAES, Marechal J. B. Mascarenhas de. A FEB pelo seu Comandante. 2 ed. Pag.190 a 208. RIO DE JANEIRO: Estabeleci-mento General Gustavo Cordeiro de Farias, julho de 1960.

    19. O Gen Meira Mattos confidencia que Mascarenhas j levava esta carta na manga ao partir para a reunio com o Gen Crittenberger. Ob. cit. pgina 178.

    20. MORAES, Marechal J. B. Mascarenhas de. A FEB pelo seu Comandante. 2 ed. Pag.220 a 246. RIO DE JANEIRO: Estabeleci-mento General Gustavo Cordeiro de Farias, julho de 1960.

    21. MEIRA MATTOS, General. O Marechal Mascarenhas de Moraes e sua poca. Volume I, pag.186 e 187. RIO DE JANEIRO: Biblioteca do Exrcito Editora, 1983.

    22. Idem, Volume 2, pag. 235.23. Idem, Ib.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Salom

  • Novembro-Dezembro 2015 MILITARY REVIEW18

  • 19MILITARY REVIEW Novembro-Dezembro 2015

    As Operaes Globalmente Integradas no Chifre da frica por meio dos Princpios do Comando de MissoGen Bda Wayne W. Grigsby Jr., Exrcito dos EUA Cel Todd Fox, Exrcito dos EUA Ten Cel Matthew F. Dabkowski, Exrcito dos EUA CF Andrea N. Phelps, Marinha dos EUA

    No documento Capstone Concept for Joint Operations: Joint Force 2020 (Conceito Fundamental para Operaes Conjuntas: Fora Conjunta 2020, em traduo livre), o Chefe da Junta de Chefes de Estado-Maior focaliza o ambiente de segurana do futuro e como ele afetar o modo pelo qual as Foras dos Estados Unidos da Amrica (EUA) operam. Observa que, embora o mundo esteja se en-caminhando rumo a uma maior estabilidade de modo geral, nossos inimigos vm se tornando potencialmen-te mais perigosos, conforme muitos vo obtendo acesso a armas letais e dispositivos destrutivos1. Para prepa-rar a Fora Conjunta, o Chefe da Junta de Chefes de

    Estado-Maior discute um conceito denominado opera-es globalmente integradas, em que os componentes da Fora Conjunta, posicionados globalmente, unem-se, rapidamente, entre si e com outros parceiros da misso, para integrar capacidades de maneira dinmica atravs de domnios, escales, fronteiras geogrficas e filiaes organizacionais2.

    Em vrios aspectos, a Fora-Tarefa Conjunta Combinada Chifre da frica (Combined Joint Task Force Horn of Africa CJTF-HOA), que faz parte da nica presena militar permanente dos EUA no continente africano, est concretizando essa viso atualmente. Baseada em Camp Lemonnier, no Djibuti, no Golfo de den, a CJTF-HOA conduz atividades de cooperao em segurana no teatro de operaes (TO) que capacitam entidades regionais africanas a neutrali-zar organizaes extremistas violentas. A CJTF-HOA facilita o acesso regional e a liberdade de movimento para as Foras norte-americanas e executa a resposta

    O C Alte Alex Krongard, da Marinha dos EUA, Subcomandante da Fora-Tarefa Conjunta Combinada Chifre da frica, e o Cel Youssouf Idjihadi, Chefe do Estado-Maior do Exrcito Nacional de Desenvolvimento (Arme nationale de dveloppement AND) de Comores firmam acordo de aquisio e servios em 06 Jul 14, no quartel-general do AND em Kaadani.

    (Com Soc, CJTF-HOA)

  • Novembro-Dezembro 2015 MILITARY REVIEW20

    a crises, quando assim exigido3. Tendo por cenrio a frica Oriental um mosaico de diversas naes e povos, com vastos recursos, mas necessidades tremen-das as solues, nesse caso, no so padronizadas. Entre janeiro de 2014 e abril de 2015, a CJTF-HOA mudou, fundamentalmente, sua forma de operar e sua estrutura, a fim de cumprir sua misso.

    Esta discusso aborda os ajustes efetuados, mais ou menos em sequncia cronolgica, e ressalta algumas das mudanas necessrias em relao poltica dos EUA. Concentra-se, especificamente, na rea de operaes (A Op) da CJTF-HOA: Burundi, Djibuti, Eritreia, Etipia, Qunia, Ruanda, Seychelles, Somlia, Tanznia e Uganda. Os princpios de inovao e organizao podem ser relevantes para outras Foras conjuntas combinadas que atuem com recursos limitados, em espaos vastos, ao lado de diferentes tipos de parcei-ros em aes unificadas e em ambientes complexos. Entretanto, a inteno no estabelecer um modelo reutilizvel para organizar parcerias complexas. Em vez disso, este artigo descreve como um comandante usou de seu critrio para aplicar princpios do Comando de Misso de modo que pudesse criar solues especiais para problemas singulares.

    Formao de Rede de Contatos dentro da Equipe de Ao Unificada e junto a Organizaes de Apoio

    O estado-maior norte-americano da CJTF-HOA inclui integrantes do Exrcito, da Marinha, da Fora Area e do Corpo de Fuzileiros Navais. Aps quatorze anos de conflitos persistentes, a maioria de seus milita-res j serviu em vrias misses operacionais, incluindo misses anteriores no Chifre da frica. Certamente, sua experincia coletiva em operaes de contrainsur-gncia e construo nacional de um valor inestimvel. Alm disso, mais da metade do estado-maior nor-te-americano da fora-tarefa oriunda do Componente da Reserva, reforando os conhecimentos especializa-dos militares do comando com anos de experincia civil em reas como o comrcio, a construo, a consultoria, a educao, o direito e a poltica4.

    Alm do pessoal designado, a CJTF-HOA tem se empenhado em ampliar sua rede conjunta (parceiros do Departamento de Defesa dos EUA) mediante o estabelecimento de relacionamentos informais com as Foras de Operaes Especiais em sua A Op. Os

    relacionamentos resultantes so simbiticos. Em particular, enquanto as Foras de Operaes Especiais tticas tm autoridades e capacidades especiais, a CJTF-HOA conta com excelente acesso a agentes de li-gao e decisores de alto escalo. Isso permite que todas as partes executem suas misses individuais de maneira mais efetiva.

    No obstante, o ambiente complexo e dinmico da frica Oriental exige mais que um esforo unilateral ou que um conjunto de esforos bilaterais, uma reali-dade compartilhada pelo Presidente Barack Obama em seu discurso durante a cerimnia de formatura da Academia Militar dos EUA, em 2014. Primeiro, o presidente lembrou plateia que os EUA so o pas ao qual o mundo recorre para pedir ajuda durante aes de socorro em desastres (ex.: o tufo nas Filipinas) ou ataques terroristas (ex.: os sequestros realizados pelo grupo Boko Haram na Nigria)5. Expressou, em seguida, a necessidade que os EUA tenham uma estratgia de longo prazo para se opor a esses tipos de ameaa estratgia essa que requer que a liderana norte-americana atue por meio de parcerias como for-ma de enfrentar e derrotar extremistas violentos:

    Precisamos formular uma estratgia que se equipare a essa ameaa difusa que amplie nosso alcance sem um envio de tropas que sobrecarregue nossas Foras Armadas ou incite o ressentimento dos habitantes locais. Precisamos de parceiros para combaterem os terroristas conosco6.

    Os EUA no podem lutar contra o terrorismo sozinhos; nenhum pas pode. preciso que as naes cooperem como equipes por meio da ao unificada, que definida da seguinte forma: sincronizao, coor-denao e/ou integrao das atividades de entidades governamentais e no governamentais com as opera-es militares para obter a unidade de esforos7.

    Com cerca de 2 mil militares norte-americanos servindo em uma A Op com quase a metade do tamanho do territrio continental dos EUA, a CJTF-HOA um exemplo no apenas com respeito a nmeros, mas tambm com respeito a autoridades. O Departamento de Estado dos EUA est frente das operaes norte-americanas na frica Oriental, enquanto o Departamento de Defesa desempenha um papel de apoio. Conforme observado no documento Post Management Organization Handbook (Guia da

  • 21MILITARY REVIEW Novembro-Dezembro 2015

    CHIFRE DA FRICA

    Organizao Administrativa de Posto, em traduo livre), do Departamento de Estado dos EUA, o chefe de misso (COM, na sigla em ingls) tem autoridade sobre todos os funcionrios do poder executivo no pas anfitrio, exceto os que estejam sob o comando de um comandante militar da rea norte-americana8 e todos os rgos do poder executivo com funcionrios no pas anfitrio devem manter o chefe de misso plenamente informado em todos os momentos de suas atividades atuais e planejadas9. Em outras palavras, embora a CJTF-HOA no trabalhe diretamente para os embai-xadores e chargs daffaires (encarregados de negcios) em sua A Op, essas autoridades civis norte-americanas acabam controlando a capacidade da Fora-Tarefa para desempenhar misses de cooperao em segurana no TO, e ela tem de acatar as ordens emitidas.

    Isso envolve uma mudana de mentalidade para muitos dos militares que participaram de operaes comandadas pelas Foras do Departamento de Defesa em outras partes do mundo, notadamente no Iraque e

    no Afeganisto. Alm disso, a maioria dos militares da CJTF-HOA nunca pisou dentro de uma embaixada dos EUA, e muito menos se familiarizou com as funes de suas vrias sees. Tendo isso em mente, a CJTF-HOA trabalhou estreitamente com os chefes de misso em sua A Op, a fim de estabelecer e preencher funes de oficiais de ligao dentro das embaixadas. Com oficiais de ligao em Burundi, em Djibuti, na Etipia, no Qunia, em Seychelles, na Unidade da Somlia (localizada em Nairbi, no Qunia), em Uganda, e na misso diplomtica dos EUA junto Unio Africana (localizada em Adis Abeba, na Etipia), a CJTF-HOA ampliou seu conhecimento institucional e se tornou mais capaz de responder s preocupaes e necessida-des das equipes de pas das embaixadas dos EUA10.

    Da mesma forma, por uma prisma multinacional, a CJTF-HOA tem o privilgio de ter um forte con-tingente de oficiais incorporados de estado-maior e de ligao das Foras Armadas de pases parceiros alocados ao seu quartel-general em Camp Lemonnier.

    Cadetes assistem a uma apresentao do Gen Bda Wayne W. Grigsby Jr., Comandante da Fora-Tarefa Conjunta Combinada Chifre da frica, 27 Dez 14, na Academia Militar Conjunta, em Arta, Djibuti. Grigsby discutiu os seis princpios do Comando de Misso e apresen-tou a perspectiva da CJTF-HOA sobre a importncia de preparar um melhor lder e desenvolver os companheiros de equipes conjuntas, interagncias, intergovernamentais e multinacionais.

    (Fora Area, 2o Sgt Carlin Leslie)

  • Novembro-Dezembro 2015 MILITARY REVIEW22

    Esses oficiais cujas funes foram estabeleci-das por termos de compromisso entre as Foras Armadas de pases africanos e o Comando da frica dos EUA (USAFRICOM) fornecem um grau de entendimento que seria impossvel obter de outra forma. Com a representao de Burundi, Comores, Djibuti, Frana, Itlia, Japo, Qunia, Coreia do Sul, Espanha, Uganda, Reino Unido e Imen, as diferen-tes perspectivas e contatos dos oficiais incorporados de estado-maior e de ligao estrangeiros ajudam a assegurar que a cooperao entre Foras militares, com respeito ao adestramento, atenda s necessidades legtimas de uma maneira adequada ao pblico-alvo. Com sua rede formada, a CJTF-HOA pode maximi-zar pequenos componentes, reforados por integran-tes da equipe de ao unificada, para obter resultados proporcionalmente maiores, especialmente em apoio misso da Unio Africana na Somlia11.

    Com frequncia, a CJTF-HOA se v operando em situaes em que a defesa, a diplomacia e o desen-volvimento so integrados. Tradicionalmente, essas funes so relegadas ao Departamento de Defesa, Departamento de Estado e Agncia dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), respectivamente. Entretanto, no nvel tti-co, esses papis se tornam, muitas vezes, indistintos, j que nossos parceiros normalmente interagem com um nico indivduo ou organizao norte-americana que, na realidade, representa todos os trs. Nessas circuns-tncias, ter conscincia das capacidades de parceiros e os relacionamentos pessoais para acess-las algo inestimvel. Em uma poca de recursos reduzidos, formar uma rede de contatos e operar junto equipe de ao unificada, e por meio dela, j deixou de ser apenas uma ideia interessante: algo imperioso.

    Capacitao do Estado-Maior: Princpios de Comando de Misso do Exrcito dos EUA

    Ainda que necessrio, criar uma forte rede com os parceiros de ao unificada no o suficiente. Em par-ticular, com grupos pequenos de pessoal espalhados na A Op, desafiador manter a unidade de esforos e propsito. Assim, a CJTF-HOA se concentra em prin-cpios de Comando de Misso para conferir poder de deciso a seus integrantes e avanar rumo ao estado final da misso. A CJTF-HOA aplica os princpios

    de Comando de Misso do Exrcito dos EUA para guiar as operaes, empenhando-se em desenvolver equipes coesas com base na confiana mtua, criar um entendimento compartilhado, fornecer uma inten-o do comandante clara, exercer a iniciativa disci-plinada, utilizar ordens de misso [e] aceitar riscos prudentes12. Quando se incentiva o uso dessa doutri-na por todo o estado-maior, todos os nveis da orga-nizao podem obter a agilidade ttica, que permite que a CJTF-HOA se movimente mais rpido que seus adversrios.

    Para muitos militares designados para a CJTF-HOA, os princpios do Comando de Misso do Exrcito dos EUA so algo novo. A utilizao desses princpios estimulou o estado-maior da Fora-Tarefa a conduzir atividades de cooperao em segurana no TO de maneira efetiva e eficiente e a capacitar seus parceiros. Na CJTF-HOA, comum ver, diariamente, equipes de planejamento operacional com integrantes oriundos de diferentes pases colaborando e compar-tilhando conhecimentos culturais, normas sociais e costumes. Essa execuo descentralizada, baseada em parcerias, no apenas desenvolve uma profundidade em todo o estado-maior, como tambm melhora, de maneira eficiente, o entendimento entre parceiros, permitindo que o comandante tome decises bem informadas sobre uma variedade de questes por toda a A Op.

    Lder de Equipe

    Inteligncia Militar

    Ocial de Ligao

    Estrangeiro

    OcialEncarregadode Assuntos

    do PasOcial de Ligao da CJTF-HOA

    PesquisaSociocultural

    Assuntos Civis

    Figura 1 Estrutura da Clula de Ao de Fuso

  • 23MILITARY REVIEW Novembro-Dezembro 2015

    CHIFRE DA FRICA

    Reorganizao para Corresponder ao Ambiente: Clulas de Ao de Fuso

    A utilizao do Comando de Misso pela CJTF-HOA coerente com os principais elementos das operaes globalmente integradas, que incluem flexibilidade no estabelecimento e emprego da Foras Conjuntas13. Como afirma o Capstone Concept for Joint Operations: Joint Force 2020:

    Nos prximos anos, ser menos provvel que os desafios de segurana correspondam ou at mesmo se assemelhem s divises geogrficas ou funcionais existentes. Assim, possvel que as futuras Foras Conjuntas se organizem cada vez mais em torno dos prprios desafios de segurana especficos14.

    Nesse aspecto, o futuro j chegou na CJTF-HOA.At novembro de 2014, havia um nico oficial en-

    carregado por cada pas na A Op da CJTF-HOA. Cada um deles interagia com sees de estado-maior, com oficiais de ligao, com o USAFRICOM e seus componentes e com funcionrios da embai-xada dos EUA. Embora proporcionasse uma grande profundidade de conhecimentos a oficiais individualmente, essa es-trutura era vulnervel aos rodzios de pessoal e tinha uma capacidade limitada. Portanto, o Comandante da CJTF-HOA, Gen Bda Wayne W. Grigsby Jr., do Exrcito dos EUA, criou uma estrutura de equipe interdisciplinar, com base em sua experincia na Fora Internacional de Assistncia Segurana no Afeganisto. A estru-tura inovadora achatou a organizao do esta-do-maior (reduziu as camadas hierrquicas) e

    possibilitou maior compartilhamento de informaes, a comunicao aberta e a alocao oportuna e precisa de pessoal nos planos horizontal e vertical15.

    Essa reorganizao formou seis equipes volta-das a pases diferentes (Burundi, Djibuti, Etipia, Qunia, Somlia e Uganda), denominadas clulas de ao de fuso (fusion action cells FAC). Um tenente-coronel ou major (ou grau hierrquico equivalente nas outras Foras Singulares) ficava frente de cada equipe de seis especialistas funcionais, incluindo, notadamente, um oficial de ligao do pas relevante (veja a figura 1). Em vez de haver um nico oficial encarregado por cada pas, uma equipe de sete pessoas trabalhava em prol de objetivos em comum, criando um entendimento compartilhado sobre tal pas.

    Buscando tirar proveito de seus oficiais de ligao estrangeiros, a CJTF-HOA aprimorou ainda mais essa iniciativa, transferindo a maioria das atividades

    Figura 2 Estrutura da Colmeia

    Fora-Tarefa Conjunta

    Combinada Chifre da

    frica

    Etipia

    Qunia

    Somlia

    Burundi

    Djibuti

    Uganda

    Lder de Equipe

    Inteligncia Militar

    Ocial de Ligao

    Estrangeiro

    OcialEncarregadode Assuntos

    do PasOcial de Ligao da CJTF-HOA

    PesquisaSociocultural

    Assuntos Civis

    Lder de Equipe

    Inteligncia Militar

    Ocial de Ligao

    Estrangeiro

    OcialEncarregadode Assuntos

    do PasOcial de Ligao da CJTF-HOA

    PesquisaSociocultural

    Assuntos Civis

    Lder de Equipe

    Inteligncia Militar

    Ocial de Ligao

    Estrangeiro

    OcialEncarregadode Assuntos

    do PasOcial de Ligao da CJTF-HOA

    PesquisaSociocultural

    Assuntos Civis

    Lder de Equipe

    Inteligncia Militar

    Ocial de Ligao

    Estrangeiro

    OcialEncarregadode Assuntos

    do PasOcial de Ligao da CJTF-HOA

    PesquisaSociocultural

    Assuntos Civis

    Lder de Equipe

    Inteligncia Militar

    Ocial de Ligao

    Estrangeiro

    OcialEncarregadode Assuntos

    do PasOcial de Ligao da CJTF-HOA

    PesquisaSociocultural

    Assuntos Civis

    Lder de Equipe

    Inteligncia Militar

    Ocial de Ligao

    Estrangeiro

    OcialEncarregadode Assuntos

    do PasOcial de Ligao da CJTF-HOA

    PesquisaSociocultural

    Assuntos Civis

  • Novembro-Dezembro 2015 MILITARY REVIEW24

    de planejamento da cooperao em segurana no TO para um ambiente ostensivo conhecido como Colmeia (veja a figura 2), em que as clulas foram dispostas em uma sala grande e aberta, sem paredes ou compartimentos. Dentro da Colmeia, os oficiais de ligao estrangeiros se sentam ao lado de militares do EUA e parceiros africanos, a fim de adquirir maior entendimento de questes da frica Oriental, plane-jar atividades de cooperao em segurana no TO e estabelecer a confiana. Cada clula pode desempe-nhar o planejamento de longo prazo e a coordenao de atividades de cooperao em segurana no TO (ex.: instruo de combate a dispositivos explosivos improvisados em Burundi ou desenvolvimento e anlise de lies aprendidas em Uganda), destinadas a identificar e mitigar deficincias na regio, em vez de apenas concentrar-se em tarefas administrativas (ex.: envio de solicitaes dos sistemas automatizados de autorizao de pessoal e aeronaves).

    Dentro da Colmeia, equipes coesas interagem dia-riamente e no apenas quando necessrio com seus oficiais de ligao estrangeiros da frica Oriental, com as demais equipes e, ainda, com as coalizes regionais

    s quais suas naes africanas pertenam. Os oficiais de ligao estrangeiros ajudam a CJTF-HOA a entender as culturas e costumes dos pases com os quais as Foras dos EUA tm uma parceria, alm de oferecer um en-tendimento das ameaas e preocupaes de segurana a partir de uma perspectiva africana.

    Incentivo Transparncia: Ambientes Ostensivos

    A incluso de oficiais de ligao estrangeiros como integrantes permanentes da Colmeia trouxe tona a necessidade de operar o mximo possvel em um am-biente ostensivo. Essa uma mudana fundamental de cultura para muitos militares, acostumados a trabalhar em ambientes com classificao sigilosa em outros tea-tros de operaes. Essa iniciativa levou os integrantes do estado-maior da CJTF-HOA a aprender como com-partilhar informaes com os pases parceiros e suas respectivas coalizes regionais, trazendo novas pers-pectivas e fontes de informaes para o planejamento e execuo de atividades de cooperao em segurana no TO. Alm disso, o ambiente ostensivo tem ajudado a simplificar as comunicaes com os parceiros, tornando

    O Cel Dan Taylor, Diretor de Assistncia Fora de Segurana da Fora-Tarefa Conjunta Combinada Chifre da frica, dirige-se Colmeia, 17 Jul 15, em Camp Lemonnier, no Djibuti. A Colmeia uma organizao de estado-maior nica, composta de militares dos EUA, da frica Oriental e da Europa, divididos nas chamadas clulas de ao de fuso, que trabalham juntas para planejar projetos que envolvam a cooperao militar e apoiar as iniciativas de segurana em pases parceiros por toda a regio do Chifre da frica.

    (Fora Area, Cb Nesha Humes)

  • 25MILITARY REVIEW Novembro-Dezembro 2015

    CHIFRE DA FRICA

    a CJTF-HOA mais apta a responder s suas necessida-des. Ao comunicar o propsito das atividades, o estado final pretendido para os eventos e os recursos dispon-veis para cumprir as misses, a CJTF-HOA mantm a transparncia e fortalece os relacionamentos.

    Sem dvida, a mudana para um ambiente ostensi-vo no tem sido fcil, gerando certa desconfiana por parte dos militares norte-americanos. No obstante, ao aceitar os riscos prudentes de operar em um ambiente de colaborao ostensivo, a CJTF-HOA est abrindo canais de comunicao com os pases da regio, refor-ando o compromisso com o compartilhamento de me-lhores prticas entre as naes, gerando um sentido de camaradagem e estabelecendo o respeito e a confiana mtua entre todos os parceiros. Considerando o fato de que as operaes globalmente integradas exigem o esta-belecimento de parcerias, a flexibilidade e a agilidade, a mudana da CJTF-HOA para um ambiente ostensivo parece ser um passo no caminho certo.

    Sincronizao de Atividades: Conferncia de Planejamento da Cooperao em Segurana no Teatro de Operaes da frica Oriental

    A conduo de operaes de estado-maior em um ambiente aberto, sem barreiras fsicas, incentivou o dilogo e o intercmbio de ideias entre as clulas. No decorrer das discusses, a liderana da Colmeia reconheceu a necessidade de compreender e alinhar atividades, exerccios e conferncias em toda a regio do Chifre da frica, com o objetivo de criar um quadro operacional comum geral (common operating pictu-re COP) de cooperao em segurana no TO. Cada clula de ao de fuso criou um quadro operacional comum especfico para seu respectivo pas, com base nas atividades de cooperao em segurana no TO e interaes da CJTF-HOA com os principais lderes locais. Entretanto, esses quadros continham apenas um pequeno subconjunto das atividades de defesa, diplomacia e desenvolvimento que ocorriam por toda a frica Oriental. Esses quadros operacionais comuns eram bilaterais em funo da natureza das interaes entre os integrantes norte-americanos da equipe e cada pas da frica Oriental. Portanto, o panorama geral de cooperao em segurana no TO no estava sendo captado, levando possibilidade de perda de oportuni-dades ou duplicao de esforos.

    Com o objetivo de remediar esse problema, a CJTF-HOA realizou a Conferncia de Planejamento da Cooperao em Segurana no Teatro de Operaes da frica Oriental em janeiro de 2015, reunindo representantes do USAFRICOM e seus componentes, do Departamento de Estado dos EUA, da Agncia dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional e do meio acadmico16. Esse frum de colaborao ali-nhou atividades complementares do governo dos EUA por toda a frica Oriental, mediante uma combina-o de apresentaes estruturadas e dilogo aberto. O evento promoveu o planejamento da cooperao em segurana no TO para todos os envolvidos. Reforou a segurana regional ao oferecer um entendimento da diplomacia, ao mesmo tempo que identificou e miti-gou deficincias nas capacidades dos parceiros com respeito defesa e ao desenvolvimento, a partir de uma perspectiva regional. As avaliaes fornecidas pelos participantes demonstraram que a conferncia foi um sucesso. O evento culminou com o dia de visitantes ilustres, quando embaixadores dos EUA, encarregados de negcios e subchefes de misso de toda a regio se reuniram para discutir questes e solues para uma frica Oriental segura.

    Explorao de Interesses em Comum: Seo de Sincronizao Regional

    Ao preparar-se para a Conferncia de Planejamento da Cooperao em Segurana no Teatro de Operaes da frica Oriental, a CJTF-HOA comeou a reconhe-cer a importncia de entender as coalizes regionais s quais diversos pases africanos pertencem. Por exemplo, todos os pases localizados na A Op da CJTF-HOA pertencem Unio Africana, uma coalizo que super-visiona o emprego de mantenedores da paz burundi-neses, djibutienses, etopes, quenianos e ugandenses na Somlia. A Unio Africana uma entidade regional com considervel influncia, ligando seus integrantes por meio de iniciativas e acordos. Da mesma forma, Burundi, Qunia, Ruanda, Tanznia e Uganda formam a Comunidade da frica Oriental, uma organizao que visa a ampliar e aprofundar a cooperao entre Estados parceiros nos campos poltico, econmico e social, entre outros17.

    Na qualidade de entidade regional, a Comunidade da frica Oriental promove os interesses em comum de

  • Novembro-Dezembro 2015 MILITARY REVIEW26

    seus pases membros. Compreender sua misso propor-ciona um inestimvel entendimento sobre a regio. Ao considerar esses vnculos regionais, a liderana da CJTF-HOA se deu conta de que ter um conjunto de relaciona-mentos bilaterais entre os EUA e cada nao no seria suficiente, ou eficiente, para apoiar seus parceiros mi-litares africanos, porque as diferentes Foras Armadas no atuavam de forma independente com respeito a questes de segurana que atravessavam fronteiras.

    Ao perceber a importncia dos relacionamentos dentro das vrias coalizes e organizaes africanas, a liderana da CJTF-HOA comeou a estud-los. Essas organizaes regionais so apresentadas visualmente na matriz da esquerda, na figura 3, em que o quadrado preenchido indica que o pas da linha correspondente faz parte da organizao especificada na coluna. Por exemplo, ao analisar a primeira linha (que corresponde a Burundi), todas as colunas foram selecionadas, com exceo das duas ltimas (IGAD e SADC), indicando que aquele pas integra apenas as primeiras seis organi-zaes regionais.

    Embora a filiao a uma mesma organizao j seja algo interessante, fazer parte de vrias organizaes ao mesmo tempo chama ainda mais a ateno, porque implica um alinhamento mais prximo entre os pases

    em questo. A ttulo de ilustrao, a matriz da direita, na figura 3, apre-senta os dados originais permutados (ou reor-denados) com base nos resultados do modelo de blocos (blockmodeling) um mtodo analtico da sociologia computacional destinado a identificar as estruturas ocultas das redes18. Embora os deta-lhes dessa anlise estejam alm do escopo deste artigo, vale ressaltar um importante resultado. Especificamente, todos os pases situados na A Op da CJTF-HOA esto vinculados, de modo geral, pela Unio

    Africana, pelo Mercado Comum da frica Oriental e Austral, pela Comunidade da frica Oriental e pela Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento. Os Estados do sudoeste (Burundi, Qunia, Ruanda, Tanznia e Uganda) compartilham outras filiaes que indicam a existncia de um bloco sub-regional. Tratar a A Op como um todo no le-varia em considerao essa nuana. Ser importante entender esse alinhamento sub-regional subjacente, quando os planejadores da CJTF-HOA desejarem criar atividades multilaterais de cooperao em segu-rana no TO para produzir efeitos regionais.

    Por isso, a CJTF-HOA criou a Seo de Sincronizao Regional (Regional Synchronization Branch RSB), para atuar junto s clulas de ao de fuso dos diferentes pases e utilizar os relacio-namentos j estabelecidos na regio. Para reforar a interao com seus parceiros europeus, a liderana da CJTF-HOA designou um oficial britnico para chefiar a Seo de Sincronizao Regional, com o apoio de ofi-ciais de ligao estrangeiros e de outros integrantes do estado-maior do quartel-general. Essa Seo busca en-tender e interagir com organizaes regionais dentro da A Op, ajudando a configurar as atividades bilaterais de cooperao em segurana no TO a fim de obter efeitos

    Dados Originais Dados PermutadosBurundi

    DjibutiEritreiaEtipiaQuniaRuanda

    SeychellesSomlia

    TanzniaUganda

    Burundi

    DjibutiEritreiaEtipia

    QuniaRuanda

    SeychellesSomlia

    TanzniaUganda

    UA

    COM

    ESA

    EAC

    EASF

    ECG

    LCIC

    GLR

    IGA

    DSA

    DC

    UA

    COM

    ESA

    EASF

    IGA

    DEA

    CEC

    GLC

    ICG

    LRSA

    DC

    UA - Unio AfricanaCOMESA - Mercado Comum da frica Oriental e AustralEAC - Comunidade da frica OrientalEASF - Fora de Alerta da frica Oriental

    ECGLC - Comunidade Econmica dos Pases dos Grandes LagosICGLR - Conferncia Internacional da Regio dos Grandes LagosIGAD - Autoridade Intergovernamental para o DesenvolvimentoSADC - Comunidade para o Desenvolvimento da frica Austral

    Figura 3 Organizaes Regionais e Pases Membros

  • 27MILITARY REVIEW Novembro-Dezembro 2015

    CHIFRE DA FRICA

    regionais. Os pases formam especialistas para instruir seus prprios militares (formao de multiplicadores), assim como militares de pases vizinhos. A Seo de Sincronizao Regional incentiva os parceiros da coali-zo atuantes na regio (ex.: Equipe Britnica de Apoio Paz frica Oriental) a utilizarem programas de instruo semelhantes ao treinarem as Foras Armadas de pases individuais. Trabalhar continuamente para fortalecer as organizaes regionais existentes, compos-tas por pases da frica Oriental, algo essencial para a segurana e estabilidade, e a CJTF-HOA est compro-metida com esse esforo.

    Ampliao do Problema: Uma Abordagem Multilateral

    As clulas de ao de fuso dos diferentes pases e a Seo de Sincronizao Regional reconhecem que, para cumprir a misso da CJTF-HOA e imple-mentar a estratgia de segurana de longo prazo dos EUA, preciso atuar atravs de fronteiras e de ma-neira multilateral. Entretanto, as autoridades legais e fiscais norte-americanas que regem as atividades de cooperao em segurana no TO da frica Oriental atualmente so bilaterais, o que limita a habilidade da CJTF-HOA para estabelecer capacidades interoper-veis na regio. As interaes de pas a pas so apenas um componente das iniciativas mais amplas necessrias para continuar a promover a defesa, a diplomacia e o desenvolvimento por toda a frica Oriental.

    Assim, os EUA precisam desenvolver uma aborda-gem regional complementar com respeito diplomacia e cooperao em segurana, com autoridades legais e fiscais, que permitam a alocao direta dos recursos re-levantes a organizaes multinacionais e capacitao e adestramento multinacional em manuteno da paz. Essa assertiva endossada pelo Presidente Obama na Diretriz Poltica Presidencial 23, que preconiza a coor-denao transfronteiria de programas [e] o apoio a organizaes regionais19. Mais recentemente, a neces-sidade de os EUA estabelecerem autoridades regionais foi o principal tema das discusses de 09 Dez 14 entre a Unio Africana e o USAFRICOM em Adis Abeba, na Etipia, durante as quais Grigsby relatou as dificulda-des em transferir veculos protegidos contra embosca-das e resistentes a minas a militares ugandenses:

    Desde que os primeiros mantenedores da paz ugandenses e burundineses chegaram a

    Mogadcio, h uma necessidade premente de viaturas blindadas. O governo dos EUA iden-tificou veculos protegidos contra embosca-das e resistentes a minas (MRAP, na sigla em ingls) que no estavam mais sendo utilizados no Afeganisto e os levou para Mogadcio, a fim de transferi-los para a Fora de Defesa Popular de Uganda []. Entretanto, antes de serem transferidos, precisavam de alguns reparos. Quando tempo acha que isso deveria levar? Um ms? Oito semanas? Um ano? Que tal outro indicador? Mais um militar morto ou ferido? Dois? Vinte? Sinceramente, no tenho como info