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TRATAMOS TUDO POR TU

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Trabalho desenvolvido por SÓNIA MARQUES no âmbito da disciplina de Semiologia Tipográfica do mestrado em design da Universidade de Aveiro –2014/15, de redesenho para suporte papel do jornal P3.

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TRATAMOS TUDO POR TU

Faz o checkin e leva um cão contigo

Nos primavera sound

Pode um documentário sobre vacas mudar os nossos hábitos?

2.1.

Será que um dia vamos deixar de largar balões?

2.2.

2.3.

Recicla o café quer reduzir desperdicios e repovoar cidades.

2.4.

Se bebes 3/4 cafés por dia esta notícia é para ti

2.5.

A crise qualquer dia acaba-se

Primeira escola virtual de língua gestual portuguesa

2.6.

Como estão os mercados?

2.7.

Ganhem vergonha quer passar as denúncias para livro e criou campanha crowfunding

2.10.

Albert Rivera, o jovem politico “cool” que até pousou nu

2.9.

2.8.

Morreu Sá carneiro e então?

Áurea mata o cancro a sorrir: Vai doer mas vai passar

2.11.

3.5.

Na sombra dos Foxygen

3.4.

Cidade fora de lei

3.1.

Ideias inovadores de arquitectura e design postas à prova

3.2.

Uma Primavera inesquecível

3.3.

2.12.

Vendedores desonhos.

A ideia foi desenvolvida em parceria do hotel com a organização de resgate de animais e desde Julho do ano passado já conseguiram arranjar casa para mais de 20 cães. O programa de adopção de cães abandona-dos espera que a ideia se repita noutras ci-dades. Aliás, a associação que trabalha com este hotel já recebeu dezenas de chamadas de outros hotéis americanos para poderem pôr em prática a ideia.

Um hotel americano teve a ideia de dar um novo lar a cães que foram abandonados: os hóspedes podem adoptá-los, sem qual-quWWer custo. O conceito surgiu numa via-gem de avião – uma das voluntárias de uma associação de resgate de animais da cidade sentou-se ao lado de um dos empregados do hotel e falaram sobre as dificuldades de adopção destes animais. Foi aí que surgiu a ideia de os levar a passear no hotel, que sem-pre permitiu que os turistas pudessem levar os seus próprios animais de estimação. O processo é muito simples. Quando o cliente chega à recepção, vê um cão que está vesti-do com um casaco que diz “Adopta-me”. No Aloft, nome do hotel, existem mesmo espaços reservados para os cães, como a recepção e o telhado. Caso um hóspede queira levá-lo a passear pelo hotel, também o pode fazer.Se houver interesse na adopção, o hóspede tem de entrar em contacto com a Charlie’s Angels Animal Rescue, onde serão entrevis-tados para se perceber se estão aptos para cuidar do animal.

Na Carolina do Norte, nos EUA, existe um hotel que permte que os clientes adoptem cães que não têm dono.

leva um cão contigo faz o check-in e

1.

2.1.

Não tem (muitas) imagens que impressionam, ao contrário do que acontece com outros documentários que alertam para a realidade da criação de animais para consumo. São os números, apresentados em hora e meia, que mais chocam quem assiste a “Cowspira-cy — A Sustainability Secret”. Entre tentativas falhadas de chegar à fala com associações de defesa do ambiente, entrevistados que evitam questões incómodas e especialistas que sublinham o impacto altamente nocivo da exploração pecuária intensiva para a saúde da Terra, Kip Andersen e Keegan Kuhn criaram um documentário “que incentiva as pessoas a agir, sem ser impositivo”. A análise é de Rita Silva, presidente da Ani-mal há já 11 anos. “Tenho recebido dezenas de e-mails de pessoas, que me conhecem ou não, que depois de verem o filme ficaram mesmo mudadas, tiveram um clique”, diz em entrevista ao P3. No início de Janeiro, “Cowspiracy” foi exibido num cinema de Lisboa, com sessão dupla. A iniciativa partiu de Rita e do apresentador de televisão João Manzarra. A primeira é amiga de um dos realizadores do filme e desde que ouviu falar dele que o queria passar em Portugal. O segundo reconheceu o impacto que ver o documentário teve na sua vida: perante milhares de seguidores nas redes sociais, Manzarra assumiu uma nova dieta baseada em produtos de origem vegetal e vendeu a participação numa petisqueira da qual era sócio, por uma questão de consciência.

Sheila Teodoro foi uma das espectadoras no cinema do Saldanha Residence. Já tinha ouvi-do falar do filme, mas não sabia propriamen-te o que esperar. Como veterinária, a jovem tinha noção de algumas das consequências ambientais da agro-pecuária mas não estava preparada para os números [vê coluna da esquerda]: “Depois de ver os factos foi fácil mudar”. Sheila, que não come carne há perto de 20 anos, abandonou de vez os derivados de origem animal e o peixe. Sente-se bem com esta mudança alimentar — “hoje em dia é tão mais fácil ser-se vegano do que era há 20 anos” —, consequência assumida dos factos revelados por Kip e Keegan. “Para mim, faz todo o sentido, sobretudo depois de saber a percentagem de emissão de gases, o gasto de água na produção de lacticínios e o impacto nos oceanos”, enumera. A mesma reacção teve Raquel Graça, desig-ner freelancer de 30 anos: “Tu olhas para aqueles dados e pensas: tenho que fazer alguma coisa para contrariar isto”. Assim Raquel pensou, assim o fez: a carne deixou de fazer parte da dieta, bem como o leite de vaca. Reduziu o consumo de queijos e ovos e passou a comprar aqueles cuja origem conhe-ce, com a preocupação de optar por produtos locais — agir localmente para alcançar um impacto global. “Não sou defensora de radi-calismos, apenas de agir de forma sustentá-vel. É isso que tenho tentado fazer”, explica.

Chamam-lhe a conspiração da indústria da carne e revelam dados que a provam, alegam os realizadores.

Já exibido em Portugal, o documentário reabriu a discussão sobre a alimentação sustentável — e até já mudou hábitos.

Má distribuição dos alimentos produzidos

“Não seria necessário todos deixarmos de comer carne. Seria, isso sim, que todos deixássemos de comer tanta carne”, defende a jovem que vive no Porto. Opinião similar tem o presidente da Quercus, Nuno Sequeira, que acrescenta outros dados à discussão. A média anual de consumo de carne está, actualmente, nos 40 quilogramas por pessoa; na década de 60 do século XX, ficava-se pelos 25. “Mais do que discutir se devemos optar por um regime exclusivamente vege-tariano ou não, o documentário reitera que todos temos que fazer um esforço para alterar a nossa dieta alimentar”, acredita. Ao P3, o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) observou ser “fácil concordar” com a redução de inges-tão de proteínas de origem animal, mas que esta implicaria “enormes desafios”. “Será, sem dúvida, uma revolução global inevitá-vel para a civilização humana, tal como a conhecemos, poder sobreviver", remata. Até porque, de acordo com o filme, uma dieta ve-getariana reflecte-se numa diminuição de 50% da pegada de carbono de cada um na Terra. Há estimativas da Organização da ONU para a Alimentação e Agricultura (FAO) que vão ao encontro desta ideia: é produzida uma quantidade suficiente de alimentos, a nível mundial, para alimentar de forma satis-fatória toda a população terrestre. São é mal distribuídos — há 1.500 milhões de pessoas com excesso de alimentos. Podem 51% das emissões globais de gases com efeitos de estufa ter origem na pecuária e em todos os seus produtos derivados, um valor muito superior àquele da responsabi-lidade de todos os transportes combinados (13%)? Segundo dados da associação World Watch, sim. Mas para a FAO, a percentagem desce para os 18%. A discrepância pode explicar-se, sugere o presidente da Quer-cus, pelo facto de nas contas da FAO estar apenas considerada a produção e não o transporte, por exemplo.

ana maria henriques

2.1.

Portugal com elevada pegada

hídrica

A dupla de realizadores norte-americanos centrou-se, sobretudo, na realidade do seu país. Mas, e em Portugal? “A nossa realidade é comparável numa outra dimensão”, alega Rita Silva, concepção que o secretário-ge-ral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira, partilha. “A forma de alimentação dominante nos EUA é uma aberração em termos de carga calórica e de quantidade, levando aos graves problemas de obesidade que todos conhecem. Um exem-plo: num restaurante americano serve-se uma costeleta com 700 gramas, o que é impensá-vel em Portugal”, afirmou, remetendo para as declarações ao “Expresso”. Portugal é dos países europeus com maior pegada hídrica, aponta Nuno Sequeiro: 80% da água consumida é para efeitos de agricultura. A nível mundial, de acordo com o documentário, um terço da água doce da Terra é gasta na indústria da carne e dos lacticínios; o valor médio da União Europeia é ainda mais elevado, chegando aos 46%. Na introdução do filme, Kip conta como “Uma Verdade Inconveniente” (2006), do antigo vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, teve um impacto impressionante na sua vida. Os dados que o Prémio Nobel da Paz de 2007 revelou fizeram com que Kip se tornasse “obcecado pelo ambiente”: passou a reciclar absolutamente tudo, a usar a bicicleta como principal transporte, a tomar duches mais curtos e a fechar a torneira na hora de lavar os dentes. Achava que estava a fazer tudo que podia para “mudar o mundo” — afinal, parece que não. Estes gestos ajudam, claro, consi-dera Raquel. Mas, tal como o realizador de “Cowspiracy”, também a jovem se apercebeu que um banho mais curto “representava uma coisa mínima”. “Isso foi mesmo o choque maior”, confessa, porque “não tinha noção dos números”: 2500 litros de água são suficientes para dois meses de banhos de chu-veiro, mas apenas chegam para a produção de um hambúrguer. Ao não mencionar o impacto da pecuária nas alterações climáticas, Al Gore deixou Kip “desiludido”, que juntamente com Keegan trabalhou durante meses para perceber como o assunto está a ser tratado. Associações de defesa do ambiente de nível global recusa-ram-se a prestar esclarecimentos ou sequer a recebê-los. A Greenpeace — provavelmente a mais conhecida e mediática — foi uma das que declinou. Raquel sentiu-se “muito enga-nada”. “Tu achas que são elas que têm um papel importante em tentar mudar algumas

coisas e estão é a encobrir dados, a varrer para debaixo do tapete.” Kip e Keegan, que a meio das filmagens viram uma das fontes de financiamento retirar o apoio, recorreram a uma campanha de “crowdfunding” em 2014. Inicialmente pediram 54.000 dólares (47.600 euros), terminaram com mais de 117.000 ( perto de 103.000 euros). O DVD do documentário pode ser adquirido por perto de 18 euros

e a visualização online não chega aos 9 euros. Parte dos objectivos dos dois amigos — revelar a conspiração que acreditam existir na indústria agro-pecuária e pôr as pessoas a pensar sobre o assunto — parece ter sido alcançada.

2.1.

“Podemos festejar com balões, mas não os podemos largar.” É com este anúncio, no “site” da Clean Virginia Waterways, que se lança a discussão. Segundo os seus respon-sáveis, depois de serem lançados, os balões transformam-se em lixo e as preocupações ambientais crescem a cada ano que passa. Através da investigação ambiental, o problema passou para o foro político – com sucesso, devido aos cidadãos e ambientalis-tas preocupados. Segundo o site Jornalíssimo, em causa está a ideia apresentada por Jeff McWaters, um deputado republicano que quer impedir o lançamento de balões naquele estado. Segundo ele, estamos "apenas a tentar educar as pessoas”. No entanto, a proposta não foi aprovada pelo Senado da Virgínia que indicava que as coimas aplicadas poderiam reverter a favor de campanhas de reciclagem. Por cada balão (com hélio ou outro gás mais leve que o ar) a penalização seria de cinco dólares. Mas o alerta foi lançado. Está cientificamente provado, como dizem os investigadores do Aquário de Virgínia, que muitos animais, tanto em terra como no mar, acabam por morrer por causa dos balões. Ed Clark, do Centro da Vida Selvagem da Virgínia, constatou que os animais que mais sofrem com este problema são as tartaru-gas marinhas que acabam por confundir o objecto com uma alforreca e comem-nos, o que leva à morte. E não só. O perigo também existe para outros animais marinhos como golfinhos, tartarugas e baleias que já foram encontradas com balões alojados no estôma-go. Já os pássaros, por exemplo, ficam presos nos fios de “nylon” ou plástico.

De forma a ser criado um debate sobre os danos que os balões podem causar no ambiente, o estado da Virgínia, nos EUA, lançou o mote para a discussão sobre a proibição, ou não, do lançamento de balões.

será que um dia vamos deixar de

Mais de 50 dá multa

Na realidade, já existem cinco estados americanos — sendo a Virgínia um deles — onde é proibido lançar mais de 50 balões no espaço de uma hora. No entanto, são precisas mais medidas para combater os efeitos negativos desta prática. Para tal, um projecto para reduzir o impacto dos balões está a ser conduzido pelo depar-tamento ambiental da Virgínia através de marketing social, prevenção e educação dos cidadãos de modo a entenderem os riscos ambientais desta prática comum. Há outras entidades envolvidas, como a Clean Virginia Waterways, em parceria com a Virginia Aquarium and Marine Research Center, que estão a estudar os impactos ambientais e soluções para esta questão. Apelam aos moradores para, caso encontrem um balão, tirarem uma fotografia e indicarem o sítio onde o encontraram. Alertam, ainda, para o facto de se poder encontrar plásticos, elásticos e materiais como metal ou algodão dentro do balão. Cabe à pessoa deitar o balão ao lixo e reportar a situação no site. As associações ainda dão alternativas ao lançamento de balões como não os encher com hélio e deitá-los ao lixo, libertar balões em sítios fechados ou, em vez de se atirar os balões, rebentá-los. Segundo um dos direc-tores do Aquário de Virgínia, os balões são uma das três formas de lixo mais frequentes nas praias daquele estado.

bruna cunha

2.2.

quer reduzir desperdícios e repovoar cidades.

Pedro, Bojan e Patrícia querem reciclar as borras de café e transformá-las em cogumelos.

Mas o “Recicla o Café” é muito mais do que um projecto anti-desperdício. É uma estraté-gia para criar emprego e dar novas funções às cidades.

Têm o café como ponto de partida e o repovoamento das cidades como chegada. Pode parecer estranho à primeira leitura, mas rapidamente se entranha. Pedro Marques Alves e Bojan Balen trabalham na área de planeamento urbano na Holanda e, por lá, perceberam há muito que é nas cidades que se vai desenhar o futuro da produção agrícola, usando o desperdício do consumo alimentar como base para novas produções. Quando pensaram em criar um projecto a partir de desperdícios alimentares para ser implementa-do em Portugal foi fácil chegar ao produto sob o qual poderiam trabalhar: o café, bebida que se consome no país a um ritmo de 47 milhões de quilos por ano, e cujas borras são um subs-trato rico em nutrientes e minerais. O “Recicla o Café” quer aproveitar o des-perdício associado a esta bebida e produzir cogumelos a partir dele. No processo de passar água quente por café torrado e moído, 99% do café é desperdiçado e as borras aca-bam quase sempre no lixo. A ideia de Pedro e Bojan, desenvolvida com a bióloga Patrícia Santos, passa por aproveitar este substracto, muito presente em meios urbanos.

“Este projecto tem muito a ver com aquilo que é a nossa visão de cidade. Acreditámos que o futuro das cidades passa pela criação de sistemas mais sustentáveis e alguns autores têm defendido que também a agricultura passa pelas cidades. Que urbanidade e ruralidade vão conviver no mesmo território”, disse ao P3 o arquitecto Pedro Marques Alves. A ideia de transformar borras de café em cogumelos não é nova. O que distingue o “Recicla o Café”, esclarece o arquitecto, é a “adaptação da ideia ao território nacional” e a “dimensão cidade”. “Não é só um projecto que aborda a questão do desperdício, é um projecto que tem a ver com a economia das cidades, que quer combater o esvaziamento das funções das cidades, repovoá-las e redu-zir gastos energéticos”, desenvolve.

O trio quer levar a produção agrícola para dentro das cidades e criar um protótipo e um laboratório de pesquisa para o desenvolvi-mento de outras formas de transformação de desperdícios alimentares. “Queremos ter um edifício com características quase laboratoriais para que a produção seja feita com 100% de colheita garantida”, revelou Pedro Marques Alves, destacando que este espaço seria também uma forma de “promover emprego qualificado”. O “Reciclar o Café” pretende ainda delinear parcerias com restaurantes e cafés, já que 80% do café consumido em Portugal é bebido fora de casa. “Queremos que sejam nossos

parceiros neste projecto. Para a maioria deles, as borras de café são lixo ao fim do dia, mas vamos mostrar que podem ter um valor no futuro. A ideia é que os parceiros sejam bene-ficiados, ou podendo revender os cogumelos ou através de publicidade.” Este projecto está a concorrer ao desafio Ideias de Origem Portuguesa, da Fundação Calouste Gulbenkian, cujos finalistas serão anunciados a 20 de Abril. Mas a ideia, ressalva Pedro Alves, é para ter continuidade, independentemente do sucesso neste desafio: “Considerando o aumento da população mun-dial e o facto de nos mudarmos cada vez mais para as cidades, é cada vez mais importante pensar nestas estratégias.”

Um protótipo e um laboratório

bruna cunha

1% ACORDAR

99% ALIMENTAR

2.3.

SE BEBES 3 / 4 CAFÉS POR DIA, esta boa notícia é para ti

Beber café moderadamente – três a quatro por dia – pode reduzir o risco de doenças cardíacas. Quem o diz é uma equipa de investigadores do Samsung Hospital Kangbuk após um estudo realizado com mais de 25 mil funcionários

Um estudo do Samsung Hospital Kangbuk, na Coreia do Sul, realizado com mais de 25 mil funcionários concluiu que tomar três a quatro cafés por dia limpa as artérias e, assim, diminui o risco de doenças cardíacas. Os exames de saúde de rotina foram feitos a homens e mulheres, com idade média de 41 anos, e permitiram observar que esta bebida evita o entupimento das artérias, um conhe-cido factor de risco para doenças cardíacas, confirmaram cientistas sul-coreanos. Como o café é uma bebida que gera muita polémica devido aos verdadeiros efeitos que tem sobre a saúde do coração, o debate deve ser reaberto após a apresentação dos resultados do estudo na especializada revista científica”Heart”.

No entanto, Victoria Taylor investigador da British Heart Foundation, revela que as ilações retiradas desta larga amostra não garantem que o café tenha o mesmo efeito em toda a população. O café contém cafeí-na, estimulante, e outros compostos que po-dem ter efeitos nocivos em alguns indivíduos, pelo que Victoria Taylor afirma que é um risco qualquer generalização na sequência das conclusões do estudo sul-coreano. Este estudo destaca a eventual ligação do consumo de café e o menor risco de obstrução das artérias: a ingestão de café diminui a pro-babilidade de os consumidores acumularem depósitos de cálcio nas artérias coronárias e, por conseguinte, e reduz o risco de ateroscle-rose coronariana, uma causa de morte.

jéssica justo

2.4.

Não fosse a crise como é que se fazia dinheiro do nada?Como é que mantínhamos os salários ‘competitivos’ e o desemprego no nível ‘necessário’?

que se tudo o mais falhar vale-nos a Cristina (de manhã), a Sô Dona Fátima (à tarde) e o professor Marcelo (domingo à noite). O avô passava fome: ó filho é a crise! O pai ia descalço para o fabrico: o raça do diabo da crise! O filho não tem emprego a não ser a falsos recibos verdes: ó porra da crise! A ver se a puta da crise chega ao tempo da ne-ta, para a garota não perder a oportunidade de participar nesta velha tradição. Não fosse a crise como é que se fazia dinheiro do nada? Como é que mantínhamos os salários ‘competitivos’ e o desemprego no nível ‘necessário’? A rapaziada na ordem e os gregos no lugar deles, lá em baixo, caladinhos e agradecidos por não lhes priva-tizarmos as ilhas boas de praia todas e não os entregarmos ao partido nazi (em 67 não fomos tão meigos). Vá, bolinha baixa que no fundo no fundo a crise é linda. Vá lá, repitam comigo ‘‘guerra é paz! liberdade é escravatura! ignorância é força! obrigado senhor doutor!’’. Deus e os Nossos Senhores nos livrem do dia em que se acabe a crise!

É mais velha do que tu, do que os teus pais, do que os teus avós. Já foi das reservas do petróleo, do ‘crash’ bolsista, do bolha imo-biliária. As justificações são cada vez mais esotéricas: o crédito malparado, os juros do dívida, o mercado de futuros, a gripe aviária, o pulgão dos mirtilos... ‘whatever’ é o que vocês quiserem, o que eu sei é que é visita velha, com diferentes nomes e explicações diversas (cada vez mais complexas) mas com os resultados de sempre junto ao chão. Houve um tempo em que foi acontecimento, já passou por ser facto, depois mais parecia moda, mas por agora acho que já percebe-mos todos que é constante, permanência, modo de produção, ideologia. Vá lá, menos fita! O nosso capitalismo liberal é só escolhas e liberdade, não gostas de Coca-Cola, ‘con-some’ antes Pepsi. Pior estava a minha avó que dividia o burro com o vizinho! Tens o ordenado congelado desde que começaste a trabalhar: não te metas é no sindicato que isso é coisa ultrapassada, do antigamente. O contrato a prazo nunca mais dá à luz um sem termo: venera antes o Porsche Cayenne do ‘criador de emprego’. Saltitas de estágio em estágio em estágio em estágio sem nunca pousares: mete na Etv que os feiosos explicam-te como a ‘flexibilização’ é linda e necessária. A senhora do centro de emprego encolhe a frustração e os ombros: concentra-te antes nos lindos olhos do Mota Soares e em como o Primeiro fugir ao fisco é culpa do fisco. Uma chefe-de-serviço da Inspeção-Geral das Finanças tem 2,5 milhões de dólares na Suíça: ahh isso é lá da vida privada dela diz-nos a amiga do Schauble. O gestor de conta já desistiu de te impingir cartões e já só te quer ‘consolidar’ a dívida: isso é capaz de ser falta de empreendedoris-mo da tua parte, vai mas é ao ‘Shark Tank’.

O BES evaporou-se-te com as poupanças: queixa-te do governo, do Banco de Portugal e de Bruxelas, mas nunca (mas mesmo nunca) menciones o Ricardo. Ai achas indecente os rapazes da Assembleia fazerem os negócios de manhã e as leis que fiscalizam os negó-cios à tarde: tu queres é ‘gulag’ e Coreia do Norte. Andas fodido e mal pago e ainda por cima a rádio só dá dos The Gift para baixo, não stresses que qualquer dia o telhado do Conservatório abate e vacina-se logo a mú-sica para a próxima geração. Para os ricos ajudas e para o povinho valentes surras: ‘in-veste’ mas é no Euromilhões e na raspadinha

A CRISE qualquer dia

acaba-se

tiago matos

2.5.

Há já quem diga que a crise não é mais do que uma vingança dos mercados contra o Direito do Trabalho, ou seja, que o Direito foi longe demais na protecção de direitos e é um empecilho no caminho do capitalismo e das políticas neo-liberais. Assim se justificam as medidas de flexi-segurança adoptadas desde o início da crise, em especial a reforma laboral introduzida em 2012; a qual contri-buiu para a desconsideração da pessoa do trabalhador, do valor do tempo de trabalho e de vida, como defende o professor Jorge Leite, especialista em Direito do Trabalho. A juntar às regressões da Lei do Trabalho, uma novilíngua tem-se imiscuído no cenário laboral. Novilíngua que Orwell referia como linguagem criada para restringir e condicio-nar o pensamento, subvertendo, invertendo ou redefinindo a realidade; de modo a manipular as massas, com o objectivo de as convencer à subjugação. Que é como quem diz: controlar, mantendo toda a gente na linha de interesse de quem aplica essa tal novilíngua. A novilíngua da moda é concebida pelos próprios mercados. Enquanto trabalhador é-te exigido profissionalismo, quando não te dão as condições para tal. Fazem-te crer que se falhas é por culpa tua, porque te falta o tal talento e não estás a dar o teu melhor. Cha-mam-lhe inadaptação e podem despedir-te por isso, graças à reforma laboral de 2012 (flexi-segurança, dizem). E mais, se quiseres defender-te, não podes, pois a ideia de defenderes os teus direitos e entrares em conflito com a chefia é-te sempre negada e pode ser interpretada como ingrati-

dão ou falta de educação. Gostar de ser bem tratado é visto como sinal de comunismo e não queres levar com esse rótulo no trabalho, pois não? És só mais um a produzir a riqueza de outros e há mais na fila, se não quiseres. Fora do mercado laboral, a novilíngua dos mercados também tem dado o ar da sua graça. As empresas e corporações arranja-ram um bela forma de “responder” à crise. Usam as redes sociais como meio de difusão e publicidade e querem ensinar-te a “lidar com o desemprego”; como se a culpa da crise fosse tua ou como se se tratasse de um problema psicológico. Inventam esquemas como: DESEMPREGO - D de determinação, porque há que acreditar sempre(!); E de entusiasmo, porque é uma oportunidade de mudança; S de sorte, porque também é um factor e tens de te manter atento a todos os sinais que evidenciem uma oportunidade; E de experiência, e esta não se percebe; M de mobilização, porque tens mesmo é que te mexer; P de paciência, pois claro; R de rigor, porque deves empenhar-te na tarefa da procu-ra; E de ensinamentos, porque a situação de desemprego te dará grandes lições de vida; G de gestão, porque tens de te tornar um ver-dadeiro gestor, já que estás com o orçamento limitado e com “demasiado” tempo livre; e, por fim, O de orientação, porque tens de te orientar e se vires que não consegues, ou procuras ajuda psicológica ou uma empresa que te consiga orientar, como uma ETT. Que conveniente. Os mercados têm-se empenhado em atribuír todas as culpas ao indivíduo. Também a crise. Mas de onde vem mesmo a crise, afinal?

Enquanto trabalhador é-te exigido profissionalismo, quando não te dão as condições para tal. Fazem-te crer que se falhas é por culpa tua, porque te falta o tal talento e não estás a dar o teu melhor.carla prino

2.6.

A Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa é a primeira escola virtual do género e foi criada pela Associação de Surdos do Porto (ASP). O site está aberto a toda a gente e o registo na plataforma é gratuito. Após a autenticação, os conteúdos e os testes ficam acessíveis ao público e não é necessária qualquer qualificação específica para começar o curso de língua gestual.

O curso tem seis módulos que abordam temá-ticas como dactilologia, numerais, saudações, graus de parentesco, entre outras. O curso é gratuito e pode ser feito quantas vezes o utilizador entender, sem limites de tempo, pois as respostas dadas aos testes são guardadas e o aluno pode retomar o curso a qualquer altura.

Projeto quer continuar a crescer

Armando Baltazar, do Departamento de For-mação da ASP, explica que o projecto surgiu “para eliminar a barreira de comunicação entre os mundos surdo e ouvinte”. A Escola Virtual é, desta forma, um espaço comum às “duas comunidades que, vivendo, trabalhan-do, frequentando juntas no mesmo espaço estão tão ‘distantes’ e se encontram [na plataforma]”. O projecto foi criado com o apoio do BPI, através do prémio BPI Capacitar, e depende de apoios financeiros para continuar a evo-luir. Armando Baltazar clarifica que, “nesta fase, os conteúdos são mínimos e a intenção é ir aumentando gradualmente até se atingir um nível que permita a qualquer utilizador uma fluência linguística boa”. A adesão à E.V.L. Gestual Portuguesa tem superado as expectativas da ASP e promete continuar a crescer devido à facilidade e flexibilidade que o site oferece ao utilizador que se inscreve para frequentar o curso.

PRIMEIRA ESCOLA VIRTUAL DE LÍNGUA GESTUAL PORTUGUESA

está

a

A Associação de Surdos do Porto lançou, no início do mês, a primeira Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa. Plataforma pretende aproximar as comunidades surda e ouvintemaria joão monteiro2.7.

Deitada numa cama há várias horas, entre doresintermitentes e estranhas quando comparadas com o seu primeiro parto, testemunha um hospital em alvoroço, colado à rádio e ao arcaico aparelho de televisão.

O dia era de chuva, cenário mais que provável no início de Dezembro. Dormira repleta de ansiedade, iria fazer a primeira ecografia para ver o seu “rapaz gran-de”, assim descrito pelo médico. No entanto, como sempre, o destino trocou-lhe os planos. Com as águas rebentadas durante a madrugada só teve tempo de voar para a maternidade da sua terra. Deitada numa cama há várias horas, entre dores intermitentes e estranhas quan-do comparadas com o seu primeiro parto, testemunha um hospital em alvoroço, colado à rádio e ao arcaico aparelho de televisão. “Sá Carneiro morreu, mu-lher”, esclareceu alguém que em resposta teve um gemido em jeito de “e? Estou aqui cheia de dores em alegado trabalho de parto”. Dois dias depois, todas as personagens estavam bem mais calmas, mas as dú-vidas dos dois lados permaneceram. Afinal foi acidente ou atentado? E o “bebé grande, nasce ou nem por isso?”. Eis que eu finalmente tive coragem e mergulhei neste mundo de parto normal, sem ouvir um único “ai” da minha mãe coragem. No imediato foi-lhe dito que afinal era uma menina pequenina e que havia outra lá dentro, “atravessada”. “Não deixe morrer”, a resposta pronta de uma verdadeira mãe que entre dores, dúvidas, estranheza, pensou, apenas e só, na sua cria. À falta de condições hospitalares rumámos todos de imediato de S. João da Madeira ao Porto. Eu, minúscula, ao colo do bombeiro, a minha mãe e irmã em grande perigo de vida. Ali a ignorância teve o papel principal. Três horas depois do meu nascimento e a mais de 30 kms, estava a minha mãe preparada para um cesariana quando a minha gémea sai de pés. “Sinal de felicidade” rematou de imediato uma enfermeira aliviada pelo final feliz. Foram precisos quase 20 dias para termos alta, porque, à la lebre, quem vem à frente nem sempre vence. Precisei de incubar. Ainda hoje incubo sonhos, ideias e dúvidas. As mesmas que permanecem nos outros personagens desta história com 34 anos.

joana costa

2.8.

Deputado ao parlamento catalão pelo Cidadãos desde 2006, Albert Rivera ganhou notoriedade nos últimos meses.

O advogado que não defende a independência da Catalunha é o político com mais aprovação entre os eleitores espanhóis

Albert Rivera é de Barcelona mas não quer ver a Catalunha independente — e esta foi uma das razões que aproximou o advogado de 35 anos da política espanhola. À frente do Cidadãos (Ciutadans — Partit de la Ciutadania, no original catalão) há quase nove anos, tem ganho particular notoriedade e presença mediática nos últimos meses. É jo-vem, “não parece um político” e esta parece ser a sua hora: resultados surpreendentes nas últimas sondagens da Metroscopia (publica-das no “El País”) mostram que o presidente do C’s, partido percepcionado como de centro direita, é o político mais valorizado pelos eleitores espanhóis. À sua frente só está o rei Filipe VI. É presença frequente em programas de tele-visão e tertúlias políticas, tem uma imagem cuidada e saltou do domínio catalão para o nacional, passando para a frente do também jovem Pablo Iglesias, do Podemos, em termos de notoriedade e popularidade. Quando comparado com o líder do partido que vai à frente nas sondagens (27,7% dos espanhóis inquiridos manifestam intenção em votar no Podemos), Rivera admite que ambos fazem “nova política” e que se identifica em termos de geração. “Mas ele [Iglesias] faz [política] com ideias velhas, como intervencionismo”, critica, em entrevista ao “El Mundo”. As mesmas sondagens, publicadas no início de Fevereiro pelo diário “El País”, revelam que as intenções de voto no Cidadãos (12,2%) e no Podemos (27,7%) combinadas são superiores à soma das percentagens do Partido Popular, PP (20,9%), no poder, e do Partido Socialista Operário Espanhol, PSOE (18,3%). Há cada vez mais espanhóis à procura de alternativas às forças há muito estabelecidos, no poder rotativamente. “Há muita gente em Espanha que quer uma mudança (…), mas sensata”, resume em

entrevista ao “El Mundo”. O PP critica o C’s, reforçando a ideia de que se trata de um par-tido catalão ao qual os dirigentes políticos se devem referir como “Ciutadans” e não como “Ciudadanos”, sublinha o “El País”. Depois de centrarem os ataques no Podemos, de Pablo Iglesias, “os populares estão preocupados com o crescimento do Ciudadanos, que se move no seu campo e com os seus eleitores”. O partido que Albert Rivera Díaz lidera não defende a independência da Catalunha, antes uma Espanha unida — ainda que em diferen-tes moldes daqueles que hoje se verificam. A prioridade do C’s é pôr fim à corrupção, subli-nha sempre, através da “regeneração demo-crática”. No perfil de Twitter, apresenta-se com uma frase que não deixa dúvidas sobre o seu posicionamento — e do seu partido, fundado em 2005. “A Catalunha é a minha terra, a Espanha é o meu país e a União Europeia é o nosso futuro. Melhor juntos”. No próximo mês de Maio, o Cidadãos vai concorrer às eleições autárquicas em 500 localidades de toda a Espanha, extravasando os limites da fronteira da Catalunha. Rivera não avança, contudo, pelo menos para já, se será candidato às legislativas, previstas para o Outono, ou até à presidência da Catalunha: decisões só depois das primárias.

ALBERT RIVERA, O JOVEM POLÍTICO “COOL” QUE ATÉ JÁ

POSOU NU

ana maria henriques

2.9.

É na Internet que o C’s tem a sua maior ferramenta de propaganda — como Rivera afirma no vídeo ao lado — e os números das redes sociais reflectem a importância que conferem à rede “sem a qual o Cidadãos não existia”. No Facebook, Rivera tem mais de 127 mil seguidores; no Twitter, o número já ultrapassa os 200 mil. Praticamente todos os dias actualiza os dois perfis, respondendo a muitos dos comentários e partilhando foto-grafias. No Instagram aposta, sobretudo, em “selfies” e já vai em mais de 7 mil seguidores. Pela transparência que apregoa, Rivera faz questão de partilhar a sua agenda profissio-nal, disponível online, bem como entrevistas e outros vídeos da página de YouTube do Cidadãos. Há ainda uma “playlist” no Spotify com a sua identificação, para que eleitores e potenciais simpatizantes possam saber que tipo de música ouve. Em 2006, Rivera — então com 27 anos — posou nu para a campanha do C’s, aquando das eleições catalãs, naquilo que o “El País” chamou de “apelativo cartaz eleitoral”. Nesse mesmo ano, o partido conseguiu três deputados na assembleia da Catalunha, núme-ro que triplicou em 2012. O jovem é deputado ao parlamento catalão desde esse ano, bem como líder do C’s, cargo ao qual chegou por ter um nome começado pela primeira letra do

Seguido por milhares online

alfabeto (foi esta a forma que o partido encon-trou para eleger o seu presidente). Política à parte, muito se tem escrito sobre Rivera na imprensa espanhola. Desde artigos em que o advogado conta que investe em fatos Hugo Boss e tem um gosto particular por sapatos, até entrevistas nas quais fala (sempre pouco) da filha de quatro anos, Daniela, este é o novo político “cool” de Espanha, com um visual e uma atitude bem diferente de Pablo Iglesias. “Alguns dos jornalistas que seguem Rivera desde o início destacam o seu estilo e chamam-lhe o candidato ‘cool’, partilham as suas fotografias nas redes sociais e mostram como as mulheres seguem atentamente o que faz", escreve Silvia Taulés em “Albert Rivera: o candidato casadouro já tem namorada”, no “El Mundo”. Antigo campeão de natação e pólo aquático, não nega que a imagem é importante — “e não só na política”.

Quando questionado sobre possíveis coligações, antes ou depois de eleições, Rivera tem algu-mas condições, como as que apontou numa entrevista televisiva analisada pelo “El Periódico”. “Não podemos fazer parte de uma coligação com quem não tenha feito limpeza no seu próprio partido e governo”, assegurou, realçando uma vez mais aquele que diz ser o seu principal cavalo de batalha — a luta contra a corrupção. E a menos que o Podemos altere o programa eleitoral apresentado, “será difícil” chegar a acordo sobre uma eventual aliança. “Com esse programa regressaríamos à peseta”, critica. Reestruturação nos tipos de IVA, diminuição do número de câmaras municipais (de 8.000 para 1.000) e incentivos para “trabalhadores mais pobres” são algumas das ideias que Rivera parti-lhou na mesma entrevista. No caso do acesso a cuidados de saúde públicos, defendeu que estes devem existir para quem tenha “autorização de residência ou sejam cidadãos espanhóis” — o que exclui os imigrantes ilegais, à semelhança do que acontece, por exemplo, na Alemanha.

2.9.

GANHEM VERGONHAQUER PASSAR AS DENÚNCIAS PARA LIVRO E CRIOU CAMPANHA DE CROWDFUNDING

Criada há 2 anos, plataforma de denúncia de anúncios de emprego “sem vergonha” apresentou mais de 170 casos e promoveu petição pública.

“Ganhem Vergonha” quer reunir tudo num livro; para isso precisa de 3.950 €

Ofertas de estágios não remunerados com duração de muitos meses, pagamento de refeições em jeito de salário e estágios curriculares assim rotulados erradamente são apenas algumas das denúncias que a plata-forma “Ganhem Vergonha” torna públicas desde Março de 2013. Não faltam anúncios que pedem, grosso modo, que os candida-tos aceitem trabalhar de graça — ou com remunerações que roçam o ridículo. Em dois anos, a plataforma já recebeu mais de 2.000 denúncias e apresentou mais de 170 casos. Está na hora, diz Francisco Fernandes Ferrei-ra ao P3, de passar para outro nível e editar um livro que reúna todos estes exemplos. Se no início era o jovem de 32 anos quem recolhia os casos publicados, entre amigos e conhecidos, hoje são as pessoas que lhe fa-zem chegar denúncias. Umas mais concretas do que outras, com ou sem provas: Francisco tem “uns 200 e-mails por ler” e pouco tempo para actualizar o site, que lhe ocupa as horas em que não está a trabalhar. Procura partilhar duas denúncias por semana, mas

acaba por acumular casos e quem denuncia acaba por ficar impaciente. “Sinto que há uma pressão, por parte de quem acompanha o projecto, para que surjam mais conteúdos”, confessa ao P3. Foi também a pensar nas mais de 23 mil pessoas que seguem o “Ganhem Vergonha” — entre utilizadores registados no blogue, fãs nas redes sociais e subscritores — que Fran-cisco resolveu tentar editar um livro com o carimbo da plataforma, uma compilação em formato físico do que tem sido partilhado na Internet. A campanha de crowdfunding está online até 12 de Maio, no site português PPL, e o valor pedido é de 3.950 euros [vê vídeo em cima, de Luís Sá, com narração de Olivei-ra Geão e música de Cavalheiro]. Qualquer pessoa pode contribuir a partir dos três euros e as recompensas passam por agradecimen-tos no livro, versões em PDF ou em papel do mesmo e “merchandising”. Paradas existem várias denúncias, por falta de provas. Para um testemunho ser publicado

é preciso que o “Ganhem Vergonha” tenha meios e tempo para investigar. “O trabalho feito tenta seguir, ao máximo, a deontologia jornalística”, garante Francisco. Ainda assim, os e-mails das empresas mencionadas não deixam de chegar à caixa de correio do blogue, chegando até a insultar a escolha do próprio nome. “Sei que o nome é bastante panfletário — e se fosse hoje talvez até desse outro —, mas acho que ninguém tem a noção de como eu poderia ser mais populista do que sou.” Num eventual livro, o propósito será segmen-tar os casos concretos, catalogá-los como estágios não remunerados, falso voluntariado e ofertas abaixo do salário mínimo, por exem-plo. Há áreas nas quais se verificam mais denúncias, como é o caso do design e da comunicação, e isso também seria aborda-do. “Gostava de ter, por cada capítulo, uma análise feita pela plataforma e artigos de opinião de especialistas (…) Já tenho muitos nomes em mente mas nada fechado, ainda”, conta Francisco. .

Parte importante do “Ganhem Vergonha” é a petição pública pela regulação dos anúncios de oferta de emprego, que já conta com mais de 4.800 assinaturas e que foi, no fundo, o grande motor do projecto. O facto de Portugal ter “um sistema de procura e oferta de emprego desregulado e obsoleto”, como é apelidado no texto introdutório da petição, faz com que os candidatos não estejam protegidos. “Nada impede que quem quiser roubar portefólios ou construir base de dados à custa de anúncios falsos o faça”, aponta Francisco, o que torna as pessoas vulneráveis. Quem visita sites com este tipo de ofertas depara-se, frequente, com anúncios “que não respeitam a lei laboral”, razão pela qual esta plataforma comunitária luta pela inclusão das seguintes informações em todos eles, obrigatoriamente: nome do empregador, tipo de contrato e respectiva duração, salário associado ao cargo e horário a cumprir. Recentemente, a petição pública chegou à Assembleia da República, onde Francisco teve uma audiência com deputados de vários partidos. Estes comprometeram-se a analisar o tema “de forma séria” e mostraram preocu-pação pela “desregulação total”. Segundo o jovem, a deputada responsável pela petição pediu um parecer ao Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) sobre o assun-to. Neste portal do Estado, as normas são seguidas. No entanto, no sector privado, a regulamentação é inexistente. Assim se expli-ca que, em alguns sites, ofertas de emprego convivam com anúncios para compra e venda de bicicletas, ironiza.

Mais de 4.800 assinaturas em petição

ana maria henriques

2.10.

mãe chorou, a minha irmã chorou, o meu pai engoliu tudo.” Mas o cancro não é uma barreira na vida dela, não há um “antes de” e um “depois de”. Foi uma fase. Ponto. E foi para partilhar esta maneira de conviver com a doença, nunca deixando de “acreditar” e de “lutar”, que decidiu participar numa cam-panha fotográfica com doentes oncológicos, chamada “Despir o Preconceito”. Por dia, morrem em Portugal 70 pessoas vítimas de tumores malignos, avançou no se-gundo semestre de 2014 o Instituto Nacional de Estatística, acrescentando que apesar de este ser o número mais elevado de sempre, as perspectivas são de um aumento ainda mais significativo nos próximos anos. O cancro é a segunda causa de morte em Portugal, depois das doenças cerebro-cardiovasculares, e estima-se que, por ano, vitime 20 a 25 mil pessoas. Neste Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, 4 de Fevereiro, fica aqui um testemu-nho na primeira pessoa, escrito a partir de uma entrevista:

Tantos sorrisos espalhou nos últimos dois anos, enquanto combatia um cancro da mama, que, a dada altura, as amigas obriga-ram-na a ir a um psicólogo: “Elas achavam que estava a reagir bem demais.” Áurea Ferreira dá a cara pela doença e fá-lo sempre com um sorriso. É optimista por natureza. Por isso, quando descobriu um nódulo na mama direita e confirmou, pouco tempo depois, que a doença a tinha apanhado — como antes havia feito com a mãe e também com o pai — não caiu. Pelo menos, psicologicamente. A dor física foi diferente. “Cada pessoa rea-ge de uma maneira. Para mim, a quimio foi indiscritível... Mas pensava sempre: ‘Vai doer mas vai passar’, ‘vai doer mas vai passar’.” Enfermeira no Hospital de São João, no Porto, Áurea, agora com 39 anos, emocio-na-se, durante a entrevista, por uma única vez. Quando fala daquele que considera o pior momento de todo o processo: “Contar aos meus pais foi o mais difícil de tudo.” “Foi um dia ao jantar”, recorda. “A minha

andrés nieto porras

Aos 38 anos, um cancro da mama virou-lhe a vida do avesso. Foi operada, fez quimioterapia, depois radioterapia. Mas nunca deixou de combater: "É preciso acreditar todos os dias que o seguinte virá." Um testemunho optimista no Dia Mundial da Luta Contra o Cancro

"Nunca pensei na morte. Para mim, estava fora de questão. E nunca tive medo. Sempre pensei em ir em frente, acontecesse o que acontecesse. Os outros, o medo deles, foi o que mais me incomodou. A minha mãe teve cancro da mama, o meu pai teve cancro da bexiga. Quem sofre é quem está do outro lado. Quando se está dentro pode lutar-se. A doença muda algumas coisas em nós, mas para mim não há um antes do cancro e um depois do cancro. O que mudei foi passar a viver mais para mim. E deixei de esperar o que quer que seja. Tudo o que vier é bom, mas não tenho expectativas. Não vejo isto como uma fase negativa da minha vida, vejo como uma fase. Ponto. Aconteceu-me a mim como podia ter acontecido a qualquer pessoa. Porque não eu? Há quem pergunte “Porquê eu?”. Mas porque não pensar ao contrário? Ao fim e ao cabo isto não pode ser nenhum castigo divino, porque se fosse não havia crianças doentes nunca, não é? Sempre fui uma pessoa positiva e continuo a dizer que temos de ver o lado bom das coisas más — isso ajuda muito. Há uma coisa muito engraçada nesta doença: a gente decora datas, são como se fossem aniversários. No dia 19 de Dezembro de 2012, estava em casa a decorar bolachas de Natal para os meus primitos, e deu-me uma comichão na mama. Cocei e senti um nódulo. Tinha feito uma eco-grafia meses antes, mas com a história anterior da minha mãe na cabeça, liguei logo a uma amiga minha do hospital para desabafar. Disse-lhe que queria ir no dia seguinte fazer uma biópsia. O facto de ser enfermeira e conhecer bem os processos facilita as coisas. Fui ao serviço de oncologia no São João e fiz a biópsia. Passei o Natal sem contar a ninguém e só recebi os resultados no dia 26 de Dezembro. Estava a trabalhar. A médica liga-me e diz: 'Áurea...' E eu respondi logo: 'Não precisas de dizer mais nada, eu já desço.' A médica deu-me a notícia e as lágrimas caíram-me pela cara abaixo. Foram uns minutos. Depois disse: 'O que vamos fazer?'. Fui almoçar fora nesse dia, com uma amiga. Pensei e decidi logo que não queria ser operada no meu serviço, no meu hospital. Queria o meu momento, a minha privacidade. Contactei uma médica que tinha passado no São João e que dava consultas na Trindade. Marcamos logo a cirurgia. Ela deu-me todas as opções e eu decidi. Fui sempre eu a decidir. Não quis fazer mastectomia. Tirei o tumor e fiz pesquisa do gânglio sentinela para saber se tinha de fazer esvaziamento axilar. O meu maior medo era ter de o fazer. O braço fica muitas vezes com edema e era o direito, muito importante para o meu trabalho como enfermeira. Depois da operação há um tempo de espera dos resultados para ver se a quimio é precisa ou não. Já sabia que tinha de fazer radioterapia, mas quimioterapia tinha de esperar. O resultado era muito 'borderline', tinham dúvidas se era preciso fazer ou não quimioterapia. A única hipótese que tinha era fazer um exame chamado 'mammaprint', que se faz a toda a gente nos EUA, mas cá não. Claro que se pensa que pode não haver necessidade de fazer quimio... mas também se pensa que são 3700 euros por um exame. Decidi pagar — era o dinheiro que andava a juntar para fazer a minha viagem de sonho, a Buenos Aires. Foi tudo para Amesterdão, onde fazem esse exame. O resultado veio e concluiu que

tinha de fazer quimio e mais sessões do que aquelas que teria feito sem saber dos resultados. Foi a parte mais dolorosa de todas em termos físicos. Quando tento explicar o que senti digo às pessoas que se estivesse em cima da ponte naquele momento eu atirava-me. Isto é metafórico, atenção. Eu nunca pensei nisso, nem sequer pensei algum dia na morte. Nunca. Cada pessoa reage de uma maneira. Para mim a quimio foi indiscritível... Mas pensava sempre 'vai doer mas vai passar', 'vai doer mas vai passar'. A gente tem de acreditar em algo e eu sempre acreditei que ia correr bem. Em termos físicos abalei, mas em termos psicológicos não. À terceira semana de quimio caiu-me logo o cabelo. Mas essa questão nunca me incomodou. Eu tinha um cabelo muito comprido e adorava o meu cabelo. Nunca gostei de cabelos curtos. Mas sabia que não havia volta a dar. Então rapei, assim sem meios cortes. Comprei uma peruca, mas já tinha decidido optar pelos lenços. Com as pestanas e as sobrance-lhas foi diferente. A nossa expressão muda muito e isso custava-me. Mas fui fazendo uma colecção de pestanas postiças e pintava sobrancelhas. Não saía de casa sem me maquilhar. Crie a minha forma de lidar com a doença. Fui ao psicólogo uma só vez, as minhas amigas achavam que eu estava a reagir bem demais. O psicólogo disse que realmente fazia uma gestão das minhas necessidades muito boa. Eu afastei amigas próximas no primeiro impacto, sabia que não era bom para mim. Tinha de as consolar a elas às vezes. Desliguei muitos telefonemas. Sei que as pessoas chora-vam sem ser à minha beira. Afastei-me disso tudo. O mais difícil de tudo foi contar aos meus pais. Foi um dia ao jantar. A minha mãe chorou, a minha irmã chorou, o meu pai engoliu tudo. A famí-lia foi muito importante. Os amigos também. Tinha 38 anos quando isto aconteceu, Na altura falaram-me da possibilidade de fazer preservação de ovócitos porque não tinha filhos ainda. Ponderei durante um tempo, mas eu tinha um tumor hormonal e ia injectar-me de hormonas. Depois, quando acabasse o tratamento, ia ser mãe aos 43, 44, 45. Podia estar a querer ter um filho à custa da minha saúde. Pensei que se a questão se pusesse mais tarde eu teria outras alternativas para ser mãe e decidi não o fazer. Há que aceitar. Participei numa campanha, em 2013, o 'Despir o Preconceito', porque acho que ele ainda existe e muito. As pessoas ainda têm muito a coisa do "coitadinha". Não fazem por mal, mas os portugueses são muito melodra-máticos e põem muito negativismo nas coisas. Decidi participar nessa cam-panha para tentar combater essas ideias. Muita gente começou a acres-centar-me no Facebook e fazer-me perguntas. Era quase um consultório. O que digo sempre a quem está a passar por isto é: acreditem e lutem. É preciso acreditar todos os dias que o seguinte virá. E depois, muito impor-tante, nunca nos desvalorizarmos. Mesmo a nível físico. Continuo a dizer que tenho saudades minhas, é verdade. Tenho saudades do que conseguia fazer antes da doença. Ainda não recuperei toda a força dos braços, já parti colecções inteiras de louça, no meu trabalho tenho limitações. Ainda tenho de tomar uma pastilha todos os dias e vou a imensas consultas. Mas, mais uma vez, é viver dia a dia. Um dia de cada vez, sempre. Aos poucos chegarei lá."

2.11.

O melhor que se pode fazer pelo sonho de um jovem, com aspirações musicais ou literárias, é ser-se sincero. De outro modo, estarão apenas a lucrar dinheiro com um sonho.

SONHOS

Como tudo se alterou em quinze ou vinte anos. Sou um miúdo, com os meus vinte e sete anos, mas tenho a noção disso. Há duas décadas, editar um livro ou um disco era um privilégio apenas reservado, sobrema-neira, aos predestinados, ou, por outro lado, aos que muito se entregavam a uma paixão. Porventura, aos dois casos em apenas um. Entrega a uma paixão é trabalho. Trabalho árduo, onde se está disposto a abdicar do prazer por si, para ter horas de tormenta a aperfeiçoar algo que deveria sair de forma inata. O prazer de ouvir boa música ou ler grandes autores, confluindo em horas e horas de arranjos nos acordes ou na narrativa, para findarem em tentativa falhadas. Falhadas, não desperdiçadas, porque esses erros, a percep-ção deles e as opiniões e conselhos alheios, são o que fundamenta o aperfeiçoamento que vai encaminhando para o tal patamar de ex-celência, que era merecedor de publicação. Hoje, as coisas tornam-se substancialmente diferentes. A edição de livros ou álbuns de-mocratizou-se, mas num sentido nem sempre positivo. A diminuição dos custos associados à edição, seja de música ou livros, abriu uma caixa de pandora para muitos que, não tendo essa capacidade de sacrifício, têm um sonho. E aí surgem as vendedoras de sonhos, que para efeitos legais têm o nome de editoras. Na música como na literatura, existem as empresas, com o foco absoluto no ganho, que dispensaram a parte cultural, a que despoleta o raciocínio e encaminha para obras maiores, para fazerem desta área uma simples área de negócio, onde o lucro se encontra apenas associado ao lucro, sem nenhum tipo de preo-cupação artística.

Os escaparates estão sobrecarregados de música e livros totalmente vazios, que oferecem o entretenimento por si, sem nada mais que se possa de lá retirar. Em gran-de medida, isso transporta-se para outras áreas da nossa sociedade. Porém, existe algo de mais gravoso nesta situação, que é o aproveitamento dos sonhos alheios, para proveito próprio. Refiro-me, claro, às recentes editoras que surgiram para sugar o dinheiro das pessoas, através da fomentação da ideia que os jovens autores, pouco experimenta-dos na área da escrita e da música, já se encontram no patamar ideal de publicação. Existem casos em que isso é verdade, mas, nesses casos, não seria necessário às editoras solicitarem aos autores que pagassem a sua publicação, pois elas próprias, experimenta-das na área, saberiam que o retorno surgiria de forma natural. Há autores que existem pa-ra vender, outros que exigem para prestigiar o catálogo da marca. Em ambos os casos, é rentável, seja pelo lucro ou pela notoriedade. De outro modo, é apenas um aproveitamento. O melhor que se pode fazer pelo sonho de um jovem, com aspirações musicais ou lite-rárias, é ser-se sincero. Dizer que ainda não é momento, ou que, para sê-lo, é necessário aperfeiçoar detalhes. De outro modo, estarão apenas a lucrar dinheiro com um sonho, sabendo que os livros ou discos não vende-rão. Ou vender-se-ão pelo mesmo fenómeno que vende o José Rodrigues dos Santos e os cantores que saem das casas dos segredos: a fama.

jéssica justo

2.12.

O livro "City of Darkness Revisited" ("Ci-dade da Escuridão Revisitada") retrata um microcosmo da cidade-estado de Hong Kong chamado "Kowloon Walled City" ("Cidade Murada de Kowloon"), demolido em 1994. O autor Greg Girard, em colaboração com Ian Lambot, fotografou entre 1987 e 1990 a cidade de 30 mil habitantes, considerando o ambiente "hostil para com pessoas de fora, especialmente com aqueles que tentavam foto-grafar", contou ao P3. Tudo mudou depois do anúncio da intenção de demolição da cidade: "Os moradores compreenderam que era importante documentar os últimos dias e tornou-se mais fácil trabalhar." A Cidade Murada tinha a particularidade de viver na ausência de um sistema legal formal; entre 1949 e 1974, a acção policial era pratica-mente nula e o crime imperava: tráfico de droga, prostituição, jogo e actividade eco-nómica ilícita. Gangs disputavam território, bordéis e casas de ópio e eram frequentes os homicídios resultantes de duelos com nava-lhas. Um dos moradores comentou que "se não acontecesse nas ruas principais, ninguém se importava." A toxicodependência era um grave flagelo e os consumidores de ópio e de heroína que sucumbiam a doses mais pesadas eram depositados pelas famílias nas casas de banho públicas da Cidade Murada e mais tarde recolhidos pela 'Associação de Moradores de Kowloon'. O crime baixou após o ano de 74 devido à criação da 'Co-missão Independente Contra a Corrupção'. As condições de vida eram precárias: o aces-so a água potável era escassa, não havia qualquer controlo sanitário, a electricidade era feita através de ligações clandestinas, o li-xo nas ruas escuras e estretitas era abundante - a quantidade de ratos era tal que a esmaga-dora maioria dos moradores adoptava gatos como animais de estimação. Por volta dos anos 60, a população começou a aumentar e a construção em altura começou a fazer-se notar: a população construía andares no topo dos edifícios pré-existentes, colocando em risco o acesso de aviões ao Aeroporto Internacional Kai Tak. Apenas dois edifícios tinham elevador, em toda a cidade, embora as construções não apresentassem, após estabilização, menos de catorze andares. Dentro da sobrepopulada urbe a actividade económica era abundante; podiam encontrar--se fábricas de plásticos, metais e têxteis, mer-cearias, confeitarias, talhos, lojas de roupa e de conveniência, clínicas médicas e dentárias de baixo custo - com serviços practicados por pessoas sem licença de actividade e que não conseguiam exercer a profissão noutro local. Em 1986/87 deu início o processo de evacuação e realojamento de toda a popu-lação e em 1994, finalmente, a cidade foi de-molida, dando lugar ao Parque de Kowloon. "Acho que o que nos motivou foi em grande parte um interesse em apresentar a Cidade Murada como uma comunidade extraordiná-ria que funcionava dentro desta fenomenal

estrutura, mais do que apresentá-la como um bairro de lata, como era maioritariamente descrita. Quanto mais tempo uma pessoa pas-sava lá mais se apercebia de que o local era um exemplo de uma comunidade dentro de uma espécie de "edifício vivo" que era capaz de dar resposta às necessidades dos seus ha-bitantes. Em grande parte, esta capacidade de adaptação era o resultado das invulgares circunstâncias históricas da Cidade Murada: ficou fora da jurisdição da lei de Hong Kong e embora tecnicamente fosse uma parte da China sob controlo inglês, na realidade não era governada por ninguém." Hoje em dia, a "Walled City" é vista como um ícone, apesar de no passado ter sido um local desaconse-lhado e onde a maioria dos habitantes de Hong Kong nunca esteve presente. A primeira edição do livro foi lançada em 1993 e por se ter tornado popular entre estudantes de arquitectura foi reeditado em 1999. "Ao longo dos anos, a 'Walled City' influenciou, contra todas as expectativas, realizadores, arquitectos, urbanistas, designers de jogos de vídeo entre outros, inspirados na sua atmos-fera e na ideia de uma cidade sem planea-mento e sem o contributo de arquitectos ou urbanistas. Com o apoio de uma campanha [de crowdfunding] no Kickstarter, eu e o Ian pudemos revisitar o nosso arquivo fotográfico e contar com a colaboração de escritores e outros artistas inspirados pela Cidade Murada e publicar uma versão mais completa e actua-lizada do livro "City of Darkness Revisited".

CIDADE

3.1.

Cosentino Group, uma marca relacionada com design e arquitectura, vai organizar a nona edição de um concurso direcionado pa-ra jovens que querem desenvolver projectos relacionados com estas temáticas. Procura-se trabalho de pesquisa, reflexão e criatividade. O grupo incentiva, também, o respeito pelo ambiente através da reutilização de mate-riais, sempre que seja possível. Vão ser atribuidos três primeiros prémios de primeiro lugar, (três para a categoria de design, outros três para arquitectura). Cada prémio terá um valor de 1000 euros. Os trabalhos dos estudantes vão ser acom-panhados de modo a se ambientarem com o mundo do design e da arquitectura e vão ter a oportunidade de conhecer as tendências e a forma de trabalho de estudantes de outros países o que, segundo a empresa, “é de

POSTAS À PROVA

Ideias inovadoras de

Cosentino Group está a organizar a nona edição de um concurso que desafia estudantes destas áreas a mostrar o seu talento.

grande importância numa sociedade onde a competição e actividade profissional têm um foco cada vez mais internacional”. Em edições passadas houve temas tais como: o “design de uma cozinha outdoor”, “uma casa para um astrónomo” e ainda, uma “nova casa-de-banho para a escola de arqui-tectura de Madrid”. O Ténico de Lisboa está a colaborar com o projecto que foi apresentado dia 9 de Março. A ideia conta com o apoio de várias entidades de Espanha, EUA e Austrália. A competição fecha dia 1 de Junho e nesse mês é conhecida a decisão do júri na internet.

bruna cunha

3.2.

E sem nos darmos conta… passou. Pode dizer-se que é um sentimento profundo e nostálgico aquele que circunda. Fica uma impressão de que o tempo passou demasiado rápido, que se viveu num piscar de olhos, tudo porque foram horas incrivelmente bem gastas. Um festival que, no fundo, é uma experiência. É uma experiência onde os dias parecem mais curtos, não só porque realmente acordamos à uma da tarde, mas porque a música também os encurta, faz-nos pensar mais rápido e dar saltos no tempo. Jeff Mangum, aquando do concerto dos Neutral Milk Hotel, invocou que o que presenciáva-mos naquela altura devia ser guardado no coração e na memória. E tenho a certeza que foi o que as quase 70 mil pessoas que passaram no NOS Primavera Sound fizeram. A verdade é que de 5 a 7 de Junho o meu coração aumentou e os meus dias só tiveram oito horas. E quando achei que tudo aquilo passava, e me fugia por entre os dedos, toquei a minha guitarra fictícia e fiz força para nunca mais o esquecer. Pode parecer uma análise vaga e distorcida do que se passou. Mas é a minha e é verdadeira, tal e qual quando gostamos de alguém e é difícil escrever ou dizê-lo. A verdade é que me senti mais leve, não só por causa dos quilos que perdi recentemente, mas porque me tirou um peso que tinha em cima, não me perguntem qual. É aí que a minha ingenuidade musical dá os seus frutos, pois não se prende com aspectos espaciais da música, mas sim com os emocionais. É isso, este festival emocionou-me. E se é esta emoção que me está destinada, que venham mais. Que venham muitos. Para acabar este raciocínio, resta-me falar das pessoas. São o mais importante a seguir à mú-sica. E embora seja apologista da independência musical de cada um, é tudo criado para que se viva em conjunto. Com quem não conheces, com quem conheces ou até mesmo com quem acabaste de conhecer. E neste ponto tenho de admitir que fui contra tudo aquilo que a minha avó me ensinou. E nunca me soube tão bem.

A verdade é que de 5 a 7 de Junho o meu coração aumentou e os meus dias só tiveram oito horas. É isso, este festival emocionou-me. E se é esta emoção que me está destinada, que venham mais. Que venham muitosfrancisco pio correia

3.3.

A preto e branco, entre muitos jogos de sombra, Jonathan Rado, uma dos fundadores dos Foxygen, empresta-nos apontamentos na sua conta de Instagram. De ensaios, de retratos ilus-trados, das extravagâncias do colega Sam France, até de "polaroids" com a nova sensação Tobias Jesso Jr. Depois de muita quezília e intriga, os Foxygen voltaram a meter-se na máqui-na do tempo para resgatar aquele ambiente psicadélico da décadas de 60 e 70. "...And Star Power", editado em Outubro, foi o resultado, um "épico" (dois discos, 24 canções, colabo-rações de peso) "bizarro e desconcertante", avaliou o Ípsilon. Estavam confirmados para a edição do NOS Primavera Sound de 2013; vêm agora num formato com nove membros. Uma festa, portanto. Já vieram dizer que esta será a sua última digressão. Ver para crer dia 6 de Junho, no Parque da Cidade, Porto.

3.4.

Coube novamente ao Canal 180 a responsabilidade de produzir o vídeo oficial do cartaz do NOS Primavera Sound, que esta sexta-feira foi exibido durante a conferência de imprensa de apresentação do "line-up" realizada na Câmara Municipal do Porto. E, este ano, decidiram-se por uma abordagem 2D — convidaram dez ilustradores do Porto que, os últimos dez dias, trabalharam sem cessar para nos trazerem, a preto e branco, Antony Hegarty, FKA Twigs, Mac DeMarco, entre outros. São eles João Moreira, Leonor Cunha, Mário Meira, Cristiana Gouveia, Lourenço Providência, Nuno Kercadio Sarmento, José Guilherme Marques, Nuno Pinto, Maria Mónica e Inês Pinto. O vídeo completo, realizado por João Diogo Marques, está aqui.

ILUSTRARAM O NOS PRIMAVERA SOUND

3.5.

Black Keys, Sleater-Kinney, Run the Jewels e Interpol são apenas alguns dos nomes que se juntam a Strokes, Patti Smith e Ride. Festival realiza-se em Barcelona de 28 a 30 de Maio

Foi preciso descarregar uma aplicação e jogar um jogo. Um nome do cartaz é reve-lado a cada personagem que se combate. Não fomos longe no jogo mas descobrimos o cartaz da 15ª edição do Primavera Sound de Barcelona, que acontece de 28 a 30 de Maio. Black Keys, Belle and Sebastian, Sleater-Kinney, Run the Jewels e Interpol são alguns dos nomes confirmados. Não será de estranhar que alguns dos nomes anunciados nesta quarta-feira passem depois pelo Porto para a edição portuguesa do fes-tival, como já vem sendo habitual. O cartaz para o NOS Primavera Sound, que acontece no Porto de 4 a 6 de Junho, é anunciado em Fevereiro. Confirmado está já o regresso de Patti Smith que, quase quatro décadas de-pois, interpretará o álbum de culto "Horses", além de uma segunda actuação em formato acústico e "spoken word". Os britânicos Ride já estavam igualmente confirmados. Além destes, já se sabia que também os Strokes tinham viagem marcada para Bar-celona. O que não se sabia ainda era que a banda norte-americana se vai desdobrar igualmente em actuações em nome próprio, nomeadamente a de Albert Hammond Jr. e a de Julian Casablancas com os The Voidz.

A estes nomes juntam-se bandas como Black Keys, Belle and Sebastian, Sleater-Kinney, Run the Jewels, Interpol, Foxygen, The Replace-ments, the New Pornographers, alt-J ou Death From Above 1979. Destaque ainda para Antony Hegarty que apresentará canções novas, assim como para James Blake, que também dará a conhecer material novo. E depois há ainda: Panda Bear, DIIV, the Julie Ruin, Unknown Mortal Orchestra, Spiritualized, tUnE-yArDs, Twin Shadow, Perfume Genius, Mac DeMarco, Swans, Iceage, Jose Gonzalez, Dan Deacon, Sun Kil Moon, Fucked Up, Kelela, Ariel Pink, Mikal Cronin, Tyler, the Creator, Shabazz Pa-laces, Jon Hopkins, Caribou e Ex Hex, entre muitos outros. Não faltam os habituais, aqueles que não falham uma edição, entenda-se os Thee Oh Sees e os Shellac. De regresso estará também Thurston Moore e a sua banda.

cláudia carvalho

3.5.

As contas de cabeça começaram há semanas, quando foi conhecido o cartaz do Primavera Sound de Barcelona. Pois bem, esses dias terminaram. O cartaz da quarta edição do NOS Primavera Sound, que se realiza no Porto de 4 a 6 de Junho, foi conhecido esta sexta-feira 13 (que de 13 terá muito pouco) e inclui Interpol, The Replacements, Antony and The Johnsons, Belle & Sebastian, Underworld, Run The Jewels, FKA Twigs e muito mais. Vejamos. A Patti Smith (com "Horses" e em modo "spoken word") e Ride, artistas já anunciados oficial-mente, juntam-se assim o barítono Paul Banks e os seus Interpol, que, depois de umas aventu-ras a solo, regressaram aos discos no ano passado com "El Pintor". Teremos lições de história com os lendários The Replacements, arquitectos da ponte que fundou o indie rock da década de 90 ("sem eles, a música em 2015 poderia ser muito diferente", escreve-se no blog do "NME"), agora a arriscarem uma nova vida, e os Underworld, que nos levam numa visita de estudo a "dubnobasswithmyheadman", álbum lançado há 20 anos e que eliminou fronteiras na música electrónica (uma lição de história de techno ao vivo, portanto). Confirmados ainda o inconfundível Antony Hegarty, que se apresenta com os seus Johnsons para apontar canções certeiras ao coração (vai apresentar material novo em Barcelona), e os sempre ansiados Belle & Sebastian, acabadinhos de lançar o nono álbum de estúdio, "Girls in Peacetime Want to Dance". E mais regressos a caminho: o das aguerridas Babes in Toyland, que depois de um silêncio de vinte anos — actuaram no Imperial ao Vivo, em Gaia, em 1997 — prometem partir a loiça toda, e o de Mary Timony, ex-Helium, ex-Wild Flag, que está de volta, mais leve, com as Ex Hex. Também marcam presença os mestres do experimentalismo rock Einstürzende Neubauten, que em "Lament", lançado em Novembro, reproduzem a banda sonora da Primeira Guerra Mundial. E, claro, não poderia faltar a banda fetiche do festival, os Shellac de Steve Albini. Thurston Moore está de regresso com a sua banda, depois de ter passado por Portugal no Verão, tal como Sun Kil Moon, projecto do ex-Red House Painter Mark Kozelek.

Está ainda prometida uma viagem pelo que de melhor se fez na música nos últimos tem-pos. O hip-hop do "power duo" Killer Mike e El P, isto é, Run The Jewels e a pop futurista da menina-ovni FKA Twigs, que assinaram dois dos grandes marcos de 2014. O excên-trico Ariel Pink, super estrela independente, chega sem os seus Haunted Graffiti (assinou o primeiro trabalho a solo no ano passado com "Pom Pom") e o mestre da electrónica Dan Snaith, aqui Caribou, regressa a Portugal com o seu aclamado "Our Love". Mais boas notícias: teremos por cá novamente o "enfan-t-terrible" canadiano Mac DeMarco, a sen-sação soul Jungle, as canções orelhudas de Mikal Cronin, o noise visceral dos Health. E, na prata da casa, Manel Cruz, num concerto especial, em que passa em revista os vários

Na conferência de imprensa, que teve lugar na Câmara Municipal do Porto num evento que foi aberto ao público e onde o cartaz foi revelado através de um vídeo ilustrado (sabe mais sobre as imagens aqui), soube-se ainda que ao quarto ano o NOS Primavera Sound abre-se ainda mais a novos públicos. "Não é um festival dos 8 aos 80, é mais do que isso", nas pala-vras do presidente da câmara, Rui Moreira. Este ano, duas semanas antes do festival, o Parque da Cidade recebe o NOS Mini Primavera Sound, uma espécie de Primavera em "versão para crianças", perfeito para famílias. A ideia é manter a mesma "lógica musical", mas para os "mais pequenos", explicou Pedro Morei-ra da Silva, da NOS. E, à semelhança do ano passado, o Passeio das Virtudes acolhe os festivaleiros no Primavera nas Virtudes, de entrada livre. Os alinhamentos para ambos serão conhecidos em breve. Traçando um balanço da edição anterior (ver números à esquerda), o director do festival, José Barreiro, foi peremptório: "Conseguimos fazer deste festival um marco da cidade." A quarta edição do NOS Primavera Sound realiza-se de 4 a 6 de Junho no Parque da Cidade, Porto. Os passes gerais, à venda nos locais habituais e no site oficial, podem ser adquiridos pelo preço promocional de 90 euros até 25 de Fevereiro, passando depois para 105 euros.

Mais do que um festival do 8 aos 80

De Dan Deacon a Ariel Pink (e Manel Cruz)

Interpol, The Replacements, Antony and The Johnsons, Belle & Sebastian, Underworld, Run The Jewels e FKA Twigs são apenas alguns dos (muitos) destaques do cartaz do NOS Primavera Sound, que este ano tem um mini-festival para crianças.

projectos em que já esteve envolvido, o multi--instrumentista Bruno Pernadas e a Banda do Mar, do trio Fred Ferreira, Marcelo Camelo e Mallu Magalhães, a traçar um vaivém musical entre Portugal e Brasil. Já sabemos, pela amostra de 2013, que é obrigatório ver Dan Deacon ao vivo e, em 2015, teremos uma nova oportunidade de estar numa festa de electrónica alucinada no Primavera — ainda para mais, o desconcer-tante músico lança um novo álbum, "Gliss Riffer", este mês. E, nesta sexta-feira 13, uma prenda para quem em 2012 lamentou o can-celamento dos Death Cab For Cutie: os nor-te-americanos também têm viagem marcada para o Porto. Ah, mais uma: os californianos Foxygen, que no ano passado desmarcaram

as datas europeias. Damien Rice e José Gon-zález trazem o seu folk intimista, enquanto que, noutro universo, os veteranos do doom Electric Wizard, os fúnebres Pallbearer e os apocalípticos Pharmakon prometer puxar o volume ao máximo. E ainda o super-grupo indie The New Pornographers e os Spirituali-zed de Jason Pierce. O cartaz fica completo com os Giant Sand de Howe Gelb, o produtor Juan MacLean em formato "live", os efervescentes Viet Cong, e ainda Baxter Dury, Kevin Morby, The KVB, Marc Piñol, Movement, Ought, Roman Flügel, Twerps, Xylouris White, Yasmin Hamdan e Younghusband. O difícil será escolher, mas esses cálculos ficarão para depois, quando forem conhecidos os horários.

3.5.

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