p3 jorge madeira 65500

40
Tratamos tudo por tu Abril 2015 Cowspiracy: um documentário sobre vacas que até já mudou hábitos A crise qualquer dia acaba-se Se não fosse a crise, como é que se fazia dinheiro do nada? Esta ano avizinha-se uma primavera inesquecível NOS PRIMAVERA SOUND 2015

Upload: mestrado-em-design-ua

Post on 22-Jul-2016

229 views

Category:

Documents


10 download

DESCRIPTION

Trabalho desenvolvido por Jorge madeira no âmbito da disciplina de Semiologia Tipográfica do mestrado em design da Universidade de Aveiro –2014/15, de redesenho para suporte papel do jornal P3.

TRANSCRIPT

Page 1: P3 jorge madeira 65500

Tratamos tudo por tuAbril 2015

Cowspiracy: um documentário sobre vacas que até já mudou hábitos

A crise qualquer dia acaba-seSe não fosse a crise, como é que se fazia dinheiro do nada?

Esta ano avizinha-se uma primavera inesquecível

NOS PRIMAVERA SOUND 2015

Page 2: P3 jorge madeira 65500

Tratamos tudo por tu

um jornalpara quemnão gosta

de lerjornais

Page 3: P3 jorge madeira 65500

Check In Destaques

A Cidade Murada é uma cidadefora-da-lei

Áurea mata o cancro a sorrir

O livro "City of Darkness Revisited" retrata um microcosmo da cidade-estado de Hong Kong demolido em 1994.

É optimista por natureza. Por isso, quando descobriu um nódulo na mama, não caiu.

Pág. 4 Pág. 14 Pág. 26

Pág. 19

Pág. 29

Pág. 22

Pág. 8

Pág. 9

Pág. 17

Pág. 23

Pode um documentário sobre vacas mudar os nossos hábitos?

Novo filme da Pixar explora as emoções da adolescência

Já exibido em Portugal, o documentário reabriu a discussão sobre a alimentação sustentável — e até já mudou hábitos

NOS PRIMAVERA SOUND 2015

É um filme sobre o papel das emoções nas nossas vidas e como nos ligam às outras pessoas.

Isa Silva e Hugo Teixeira desenvolveram um veículo eléctrico, capaz de gerar energia própria e de proporcionar uma visão a 360º.

UOU: este carro futurista é eléctrico e português

Já não podemos largar balões?E a crise quando acaba?O que dizem os mercados?Morreu Sá Carneiro. E então?

Page 4: P3 jorge madeira 65500

Na Carolina do Norte, nos EUA, existe um hotel que permite que os clientes adoptem cães que não têm dono.

Faz o check-in e leva um cão contigoUm hotel americano teve a ideia de dar um novo lar a cães que foram abandonados: os hóspedes podem adoptá-los, sem qualquer custo. O conceito surgiu numa viagem de avião - uma das volun- tárias de uma associação de resgate de animais da cidade sentou-se ao lado de um dos empregados do hotel e falaram sobre as dificuldades de adopção destes animais. Foi aí que surgiu a ideia de os levar a passear no hotel, que sempre permitiu que os turistas pudessem levar seus próprios animais de estimação.O processo é muito simples. No Aloft, nome do hotel, existem es- paços reservados para os cães, como a recepção e o telhado. Caso um hóspede queira levá-lo a passear pelo hotel, também o pode fazer. Se houver interesse na adopão, o hóspede tem de entrar em contacto com Charlie’s Angels Animal Rescue, onde

serão entrevistados para se per- ceber se estão aptos para cuidar do animal. A ideia foi desenvol- vida em parceria do hotel com a organização de resgate de animais e desde Julho do ano passado já conseguiram arranjar casa para mais de 20 cães. O programa de adopção de cães abandonados espera que a ideia se repita noutras cidades. Aliás, a associação que trabalha com este hotel já recebeu dezenas de chamadas de outros hotéis americanos para poderem pôr em prática a ideia. /////Texto de Bruna Cunha.

Está aí a primeira Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa

aluno pode retomar o curso a qualquer altura.

Projeto quer continuar a crescerArmando Baltazar, do Departa- mento de Formação da ASP, explica que o projecto surgiu “para eliminar a barreira de comu- nicação entre os mundos surdo e ouvinte”. A Escola Virtual é, des- ta forma, um espaço comum às “duas comunidades que, vivendo, trabalhando, frequentando juntas no mesmo espaço estão tão ‘dis- tantes’ e se encontram [na pla- taforma]”. O projecto foi criado com o apoio do BPI, através do prémio BPI Capacitar, e depende de apoios financeiros para con-

tinuar a evoluir. Armando Bal- tazar clarifica que, “nesta fase, os conteúdos são mínimos e a intenção é ir aumentando gra- dualmente até se atingir um nível que permita a qualquer utilizador uma boa fluência linguística”. A adesão à Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa tem superado as expectativas da ASP e promete continuar a crescer devido à facilidade e flexi- bilidade que o site oferece ao utilizador que se inscreve para frequentar o curso. //////Texto de Maria João Monteiro.

A Escola Virtual de Língua Ges- tual Portuguesa é a primeira escola virtual do género e foi cria- da pela Associação de Surdos do Porto (ASP). O site está aberto a toda a gente e o registo na plataforma é gratuito. Após a autenticação, os conteúdos e os testes ficam acessíveis ao público e não é necessária qualquer qua- lificação específica para começar o curso de língua gestual. Tem seis módulos que abordam temá- ticas como dactilologia, numerais, saudações, graus de parentesco, entre outras. O curso é gratuito e pode ser feito quantas vezes o utilizador entender, sem limites de tempo, pois as respostas dadas aos testes são guardadas e o

A Associação de Surdos do Porto lançou a primeira Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa.

Imagem//PawPaws DogHotel Opens

Quando o cliente chega à recepção, vê um cão que está vestido com um casaco que diz “Adopta-me”.

2

Page 5: P3 jorge madeira 65500

Cosentino Group está a organizar a nona edição de um concurso que desafia estudantes destas áreas a mostrar o seu talento.

Cosentino Group, uma marca relacionada com design e arqui- tectura, vai organizar a 9ª edição de um concurso direcionado para jovens que querem desenvolver projectos relacionados com estas temáticas. Procura-se trabalho de pesquisa, reflexão e criativi- dade. O grupo incentiva, também, o respeito pelo ambiente através da reutilização de materiais, sem- pre que seja possível. Vão ser atribuidos três primeiros prémios de primeiro lugar, (três para a categoria de design, outros três para arquitectura). Cada prémio

terá um valor de 1000 euros. Os trabalhos dos estudantes vão ser acompanhados de modo a se ambientarem com o mundo do design e da arquitectura e vão ter a oportunidade de conhecer as tendências e a forma de tra- balho de estudantes de outros países que, segundo a empresa, “é de grande importância numa sociedade onde a competição e actividade profissional têm um foco cada vez mais internacio- nal”.Em edições passadas houve temas como “design de uma co- zinha outdoor”, “uma casa para

um astrónomo” e uma “nova casa- -de-banho para a escola de arqui- tectura de Madrid”. O Técnico de Lisboa está a colaborar com o projecto que foi apresentado dia 9 de Março. A ideia conta com o apoio de várias entidades de Es- panha, EUA e Austrália. A com- petição fecha dia 1 de Junho e nesse mês é conhecida a deci- são do júri na internet. Para participares e saberes mais informações, basta acederes ao site: http://www.cosentinodesig nchallenge.com. ////////Texto de Bruna Cunha.

Ideias inovadoras de arquitectura e

design postas à

Ideias inovadoras de arquitectura e

design postas à prova

3

Page 6: P3 jorge madeira 65500

A Cidade Murada é uma cidadefora-da-leiO livro "City of Darkness Revisited" retrata um microcosmo da cidade-estado de Hong Kong chamado "Kowloon Walled City" ("Cidade Murada de Kowloon"), demolido em 1994.

4

Page 7: P3 jorge madeira 65500

O autor Greg Girard, em colaboração com Ian Lambot, fotografou entre 1987 e 1990 a cidade de 30 mil habitantes, considerando o ambiente "hostil para com pessoas de fora, especialmente com aqueles que tentavam fotografar", contou ao P3. Tudo mudou depois do anúncio da intenção de demolição da cidade: "Os moradores compreenderam que era importante documentar os últimos dias e tornou-se mais fácil trabalhar." A Cidade Murada tinha a particularidade de viver na ausência de um sistema legal formal; entre 1949 e 1974, a acção policial era praticamente nula e o crime imperava: tráfico de droga, prostituição, jogo e actividade económica ilícita. Gangs dispu- tavam território, bordéis e casas de ópio e eram frequentes os homicí- dios resultantes de duelos com navalhas. Um dos moradores comentou que "se não acontecesse nas ruas principais, ninguém se importava." 5

Page 8: P3 jorge madeira 65500

O autor Greg Girard, em colaboração com Ian Lambot, fotografou entre 1987 e 1990 a cidade de 30 mil habitantes, considerando o ambiente "hostil para com pessoas de fora, especialmente com aqueles que tentavam fotografar", contou ao P3. Tudo mudou depois do anúncio da intenção de demolição da cidade: "Os moradores compreenderam que era importante documentar os últimos dias e tornou-se mais fácil trabalhar." A Cidade Murada tinha a particularidade de viver na ausência de um sistema legal formal; entre 1949 e 1974, a acção policial era praticamente nula e o crime imperava: tráfico de droga, prostituição, jogo e actividade económica ilícita. Gangs dispu- tavam território, bordéis e casas de ópio e eram frequentes os homicí- dios resultantes de duelos com navalhas. Um dos moradores comentou que "se não acontecesse nas ruas principais, ninguém se importava."

A toxicodependência era um grave flagelo e os consumidores de ópio e de heroína que sucumbiam a doses mais pesadas eram depositados pelas famílias nas casas de banho públicas da Cidade Murada e mais tarde recolhidos pela 'Associação de Moradores de Kowloon'. O crime baixou após o ano de 74 devido à criação da 'Comissão Independente Contra a Corrupção'. As condições de vida eram precárias: o acesso a água potável era escassa, não havia qualquer controlo sanitário, a electricidade era feita através de ligações clandestinas, o lixo nas ruas escuras e estretitas era abundante - a quantidade de ratos era tal que a esmagadora maioria dos moradores adoptava gatos como animais de estimação. Por volta dos anos 60, a população começou a aumentar e a construção em altura começou a fazer-se notar: a população construía andares no topo dos edifícios pré-existentes, colocando em risco o acesso de aviões ao Aeroporto Internacional Kai Tak. Apenas dois edifícios tinham elevador, em toda a cidade, embora as construções não apresentassem, após estabilização, menos de catorze andares.

Dentro da sobrepopulada urbe a actividade eco- nómica era abundante; podiam encontrar-se fábricas de plásticos, metais e têxteis, mercearias, confeitarias, talhos, lojas de roupa e de conveniência, clínicas médicas e dentárias de baixo custo - com serviços practicados por pessoas sem licença de activida- de e que não conseguiam exercer a profissão noutro local. Em 1986/87 deu início o processo de evacuação e realojamento de toda a população e em 1994, finalmente, a cidade foi demolida, dando lugar ao Parque de Kowloon. "Acho que o que nos motivou foi em grande parte um interesse em apre- sentar a Cidade Murada como uma comunidade extraordinária que funcionava dentro desta feno- menal estrutura, mais do que apresentá-la como um bairro de lata, como era maioritariamente des- crita. Quanto mais tempo uma pessoa passava lá

mais se apercebia de que o local era um exemplo de uma comunidade dentro de uma espécie de "edifício vivo" que era capaz de dar resposta às necessidades dos seus habitantes. Em grande parte, esta capacidade de adaptação era o resul- tado das invulgares circunstâncias históricas da Cidade Murada: ficou fora da jurisdição da lei de Hong Kong e embora tecnicamente fosse uma parte da China sob controlo inglês, na realidade não era goverada por ninguém."Hoje em dia, a "Walled City" é vista como um ícone, apesar de no passado ter sido um local desaconselhado e onde a maioria dos habitantes de Hong Kong nunca esteve presente. A primeira edição do livro foi lan- çada em 1993 e por se ter tornado popular entre estudantes de arquitectura foi reeditado em 1999.

'Walled City' influenciou, contra todas as expectativas, realizadores, arquitectos, urbanistas, designers de jogos de vídeo entre outros.

6

Page 9: P3 jorge madeira 65500

O autor Greg Girard, em colaboração com Ian Lambot, fotografou entre 1987 e 1990 a cidade de 30 mil habitantes, considerando o ambiente "hostil para com pessoas de fora, especialmente com aqueles que tentavam fotografar", contou ao P3. Tudo mudou depois do anúncio da intenção de demolição da cidade: "Os moradores compreenderam que era importante documentar os últimos dias e tornou-se mais fácil trabalhar." A Cidade Murada tinha a particularidade de viver na ausência de um sistema legal formal; entre 1949 e 1974, a acção policial era praticamente nula e o crime imperava: tráfico de droga, prostituição, jogo e actividade económica ilícita. Gangs dispu- tavam território, bordéis e casas de ópio e eram frequentes os homicí- dios resultantes de duelos com navalhas. Um dos moradores comentou que "se não acontecesse nas ruas principais, ninguém se importava."

A toxicodependência era um grave flagelo e os consumidores de ópio e de heroína que sucumbiam a doses mais pesadas eram depositados pelas famílias nas casas de banho públicas da Cidade Murada e mais tarde recolhidos pela 'Associação de Moradores de Kowloon'. O crime baixou após o ano de 74 devido à criação da 'Comissão Independente Contra a Corrupção'. As condições de vida eram precárias: o acesso a água potável era escassa, não havia qualquer controlo sanitário, a electricidade era feita através de ligações clandestinas, o lixo nas ruas escuras e estretitas era abundante - a quantidade de ratos era tal que a esmagadora maioria dos moradores adoptava gatos como animais de estimação. Por volta dos anos 60, a população começou a aumentar e a construção em altura começou a fazer-se notar: a população construía andares no topo dos edifícios pré-existentes, colocando em risco o acesso de aviões ao Aeroporto Internacional Kai Tak. Apenas dois edifícios tinham elevador, em toda a cidade, embora as construções não apresentassem, após estabilização, menos de catorze andares.

Dentro da sobrepopulada urbe a actividade eco- nómica era abundante; podiam encontrar-se fábricas de plásticos, metais e têxteis, mercearias, confeitarias, talhos, lojas de roupa e de conveniência, clínicas médicas e dentárias de baixo custo - com serviços practicados por pessoas sem licença de activida- de e que não conseguiam exercer a profissão noutro local. Em 1986/87 deu início o processo de evacuação e realojamento de toda a população e em 1994, finalmente, a cidade foi demolida, dando lugar ao Parque de Kowloon. "Acho que o que nos motivou foi em grande parte um interesse em apre- sentar a Cidade Murada como uma comunidade extraordinária que funcionava dentro desta feno- menal estrutura, mais do que apresentá-la como um bairro de lata, como era maioritariamente des- crita. Quanto mais tempo uma pessoa passava lá

mais se apercebia de que o local era um exemplo de uma comunidade dentro de uma espécie de "edifício vivo" que era capaz de dar resposta às necessidades dos seus habitantes. Em grande parte, esta capacidade de adaptação era o resul- tado das invulgares circunstâncias históricas da Cidade Murada: ficou fora da jurisdição da lei de Hong Kong e embora tecnicamente fosse uma parte da China sob controlo inglês, na realidade não era goverada por ninguém."Hoje em dia, a "Walled City" é vista como um ícone, apesar de no passado ter sido um local desaconselhado e onde a maioria dos habitantes de Hong Kong nunca esteve presente. A primeira edição do livro foi lan- çada em 1993 e por se ter tornado popular entre estudantes de arquitectura foi reeditado em 1999.

"Acho que o que nos motivou foi em grande parte um interesse em apresentar a Cidade Murada como uma comunidade extraordinária que funcionava dentro desta fenomenal estrutura”- Greg Girard

Capa do livro "City of Darkness” Revisited".

em 1994, finalmente, a cidade foi demolida, dando lugar ao Parque de Kowloon.

Walled City" é vista como um ícone, apesar de no passado ter sido um local desaconselhado

7

Page 10: P3 jorge madeira 65500

É mais velha do que tu, do que os teus pais, do que os teus avós. Já foi das reservas do petróleo, do ‘crash’ bolsista, do bolha imo- biliária. As justificações são cada vez mais esotéricas: o crédito malparado, os juros do dívida, o mercado de futuros, a gripe aviá- ria, o pulgão dos mirtilos, ‘whatever’ é o que vocês quiserem, o que eu sei é que é visita velha, com diferentes nomes e expli- cações diversas e cada vez mais complexas mas com os resultados de sempre junto ao chão. O nos- so capitalismo liberal é só es- colhas e liberdade, não gostas de Coca-Cola, ‘consome’ antes Pepsi. Pior estava a minha avó que dividia o burro com o vizinho!

Não fosse a crise como é que se fazia dinheiro do nada? Como é que mantínhamos os salários ‘competitivos’ e o desemprego no nível ‘necessário’?

Tens o ordenado congelado desde que começaste a trabalhar: não te metas é no sindicato que isso é coisa ultrapassada, do antiga- mente. O contrato a prazo nunca mais dá à luz um sem termo: ve- nera antes o Porsche Cayenne do ‘criador de emprego’. Saltitas de estágio em estágio em está- gio em estágio sem nunca pou- sares: mete na Etv que os feiosos explicam-te como a ‘flexibilização’ é linda e necessária. A senhora

do centro de emprego encolhe a frustração e os ombros: con- centra-te antes nos lindos olhos do Mota Soares e em como o Primeiro fugir ao fisco é culpa do fisco. Uma chefe-de-serviço da Inspeção- Geral das Finanças tem 2,5 milhões de dólares na Suíça: ahh isso é lá da vida pri- vada dela diz-nos a amiga do Schauble. O gestor de conta já desistiu de te impingir cartões e já só te quer ‘consolidar’ a dívida: isso é capaz de ser falta de em- preendedorismo da tua parte, vai mas é ao ‘Shark Tank’. O BES evaporou-se-te com as poupan- ças: queixa-te do governo, do Banco de Portugal e de Bruxelas, mas nunca (mas mesmo nunca) menciones o Ricardo. Ai achas indecente os rapazes da Assem- bleia fazerem os negócios de manhã e as leis que fiscalizam os negócios à tarde: tu queres é ‘gulag’ e Coreia do Norte. Andas fodido e mal pago e ainda por cima a rádio só dá dos The Gift para baixo, não stresses que qualquer dia o telhado do Conser- vatório abate e vacina- se logo a música para a próxima gera- ção. Para os ricos ajudas e para o povinho valentes surras: ‘inve- ste’ mas é no Euromilhões e na raspadinha que se tudo o mais falhar vale-nos a Cristina (de manhã), a Sô Dona Fátima (à tarde) e o professor Marcelo (do- mingo à noite). O avô passava fome: ó filho é a crise! O pai ia descalço para o fabrico: o raça do diabo da crise! O filho não tem emprego a não ser a falsos

A crise qualquer dia acaba-se!

Tens o ordenado congelado desde que começaste a trabalhar

Saltitas de estágio em estágio em estágiode estágio em estágio em estágio.

A ver se a puta da crise chega ao tempo da neta, para a garota não perder a oportunidade de participar nesta velha tradição.

recibos verdes: ó porra da crise! A ver se a puta da crise chega ao tempo da neta, para a garota não perder a oportuni- dade de participar nesta velha tradição. Não fosse a crise como é que se fazia dinheiro do nada? Como é que mantínhamos os salários ‘competitivos’ e o desem-

prego no nível ‘necessário’? A rapaziada na ordem e os gregos no lugar deles, lá em baixo, cala- dinhos e agradecidos por não lhes privatizarmos as ilhas boas de praia todas e não os entre- garmos ao partido nazi (em 67 não fomos tão meigos). Vá, bo- linha baixa que no fundo no fundo a crise é linda. Vá lá, repitam comigo ‘‘guerra é paz! liberdade é escravatura! ignorância é força! obrigado senhor doutor!’’.

Deus e os Nossos Senhores nos livrem do dia em que se acabe a crise!Texto de Tiago Matos Silva.

8

Page 11: P3 jorge madeira 65500

Há já quem diga que a crise não é mais do que uma vingança dos mercados contra o Direito do Trabalho, ou seja, que o Direito foi longe demais na protecção de direitos e é um empecilho no caminho do capitalismo e das políticas neo-liberais. Assim se justificam as medidas de flexi- -segurança adopta- das desde o início da crise, em especial a reforma laboral introduzida em 2012; a qual contribuiu para a desconsideração da pessoa do trabalhador, do valor do tempo de trabalho e de vida, como defende o professor Jorge Leite, espe- cialista em Direito do Trabalho.

A juntar às regressões da Lei do Trabalho, uma novilíngua tem-se imiscuído no cenário laboral. Novilíngua que Orwell referia como linguagem criada para restringir e condicionar o pensamento, subvertendo, invertendo ou redefinindo a realidade; de modo a manipular as massas, com o objectivo de as convencer à subjugação. Que é como quem diz: controlar, mantendo toda a gente na linha de interesse de quem aplica essa tal novilíngua.

A novilíngua da moda é concebida pelos próprios mercados. Enquanto trabalhador é-te exigido pro- fissionalismo, quando não te dão as condições para tal. Fazem-te crer que se falhas é por culpa tua, porque te falta o tal talento e não estás a dar o teu melhor. Chamam-lhe inadaptação e podem des- pedir-te por isso, graças à reforma laboral de 2012 (flexi-segurança, dizem). E mais, se quiseres defen- der-te, não podes, pois a ideia de defenderes os teus direitos e entrares em conflito com a chefia é-te sempre negada e pode ser interpretada como ingratidão ou falta de educação. Gostar de ser bem tratado é visto como sinal de comunismo e não queres levar com esse rótulo no trabalho, pois não?

Enquanto trabalhador é-te exigido profissionalismo, quando não te dão as condições para tal.

Os mercados têm-se empenhado em atribuír todas as culpas ao indivíduo. Também a crise. Mas de onde vem mesmo a crise, afinal?

D.E.S.E.M.P.R.E.G.O.

Fazem-te crer que se falhas é por culpa tua, porque te falta o tal talento e não estás a dar o teu melhor.

O que dizem os mercados?

És só mais um a produzir a riqueza de outros e há mais na fila, se não quiseres. Fora do mercado laboral, a novilíngua dos mercados também tem dado o ar da sua graça. As empresas e corpo- rações arranjaram um bela forma de “responder” à crise. Usam as redes sociais como meio de di- fusão e publicidade e querem ensinar-te a “lidar com o desemprego”; como se a culpa da crise fosse tua ou como se se tratasse de um grave problema psicológico.

Inventam esquemas como: DESEMPREGO - D de determinação, porque há que acreditar sempre; E de entusiasmo, porque é uma oportunidade de mudança; S de sorte, porque também é um factor e tens de te manter atento a todos os sinais que evidenciem uma oportunidade; E de experiência, e esta não se percebe; M de mobilização, porque tens mesmo é que te mexer; P de paciência, pois claro; R de rigor, porque deves empenhar-te na tarefa da procura; E de ensinamentos, porque a situação de desemprego te dará grandes lições de vida; G de gestão, porque tens de te tornar um gestor, já que estás com o orçamento limitado e com “demasiado” tempo livre; e, por fim, O de orientação, porque tens de te orientar e se vires que não consegues, ou procuras ajuda psicológica ou uma empresa que te consiga orientar, como uma ETT. Que conveniente. //////Texto de Carla Prino.

9

Page 12: P3 jorge madeira 65500

Livro de denúncias passou a livro e criou Campanha de crowdfunding

Ofertas de estágios não remunerados com duração de muitos meses, pagamento de refeições em jeito de salário e estágios curriculares assim rotu- lados erradamente são apenas algumas das de- núncias que a plataforma “Ganhem Vergonha” torna públicas desde Março de 2013. Não faltam anúncios que pedem, grosso modo, que os candi- datos aceitem trabalhar de graça — ou com remu- nerações que roçam o ridículo. Em dois anos, a plataforma já recebeu mais de 2.000 denúncias e apresentou mais de 170 casos. Está na hora, diz Francisco Fernandes Ferreira ao P3, de passar para outro nível e editar um livro que reúna todos estes exemplos. Se no início era o jovem de 32 anos quem recolhia os casos publicados, entre amigos e conhecidos, hoje são as pessoas que lhe fazem chegar denúncias. Umas mais concretas do que outras, com ou sem provas: Francisco tem “uns 200 e-mails por ler” e pouco tempo para ac- tualizar o site, que lhe ocupa as horas em que não está a trabalhar. Procura partilhar duas denúncias por semana, mas acaba por acumular casos e quem denuncia acaba por ficar impaciente.

“Sinto que há uma pressão, por parte de quem acompanha o projecto, para que surjam mais conteúdos”, confessa ao P3. Foi também a pen- sar nas mais de 23 mil pessoas que seguem o Ganhem Vergonha — entre utilizadores regis- tados no blogue, fãs nas redes sociais e subs- critores — que Francisco resolveu tentar editar um livro com o carimbo da plataforma, uma com- pilação em formato físico do que tem sido par- tilhado na Internet. A campanha de crowdfunding está online até 12 de Maio, no site português PPL, e o valor pedido é de 3.950 euros. Qualquer pessoa pode contribuir a partir dos três euros e as recompensas passam por agradecimentos no livro, versões em PDF ou em papel do mesmo e “merchandising”.

Paradas existem várias denúncias, por falta de provas. Para um testemunho ser publicado é preciso que o “Ganhem Vergonha” tenha meios e tempo para investigar. “O trabalho feito tenta seguir, ao máximo, a deontologia jornalís- tica”, garante Francisco. Ainda assim, os e-mails das empresas mencionadas não deixam de chegar à caixa de correio do blogue, chegando até a insultar a escolha do próprio nome.

“Sei que o nome é bastante panfletário — e se fosse hoje talvez até desse outro —, mas acho que ninguém tem a noção de como eu poderia ser mais populista do que sou.” Num eventual livro, o propósito será segmentar os casos con- cretos, catalogá-los como estágios não remu- nerados, falso voluntariado e ofertas abaixo do salário mínimo, por exemplo.

Portugal tem um sistema de procura e oferta de emprego desregulado e obsoleto”

Em dois anos, a plataforma já recebeu mais de 2.000 denúncias e apresentou mais de 170 casos.

Ganhem Vergonha” quer reunir denúncias num livro. Para isso precisa de 3.950 euros

“Ganhem Vergonha”

10

Page 13: P3 jorge madeira 65500

Há áreas nas quais se verificam mais denúncias, como é o caso do design e da comunicação, e isso também seria abordado. “Gostava de ter, por cada capí- tulo, uma análise feita pela pla- taforma e artigos de opinião de especialistas (…) Já tenho muitos nomes em mente mas nada fe- chado, ainda”, conta Francisco.

Parte importante do “Ganhem Vergonha” é a petição pública pela regulação dos anúncios de oferta de emprego, que já conta com mais de 4.800 assinaturas e que foi, no fundo, o grande motor do projecto.

O facto de Portugal ter “um sis- tema de procura e oferta de em- prego desregulado e obsoleto”, como é apelidado no texto intro- dutório da petição, faz com que os candidatos não estejam prote- gidos. “Nada impede que quem quiser roubar portefólios ou cons- truir base de dados à custa de anúncios falsos o faça”, aponta Francisco, o que torna as pessoas este tipo de ofertas depara-se, frequente, com anúncios “que não respeitam a lei laboral”, razão pela qual esta plataforma comu- nitária luta pela inclusão das se- guintes informações em todos eles, obrigatoriamente: nome do empregador, tipo de contrato e respectiva duração, salário asso- ciado e horário a cumprir. Recen- temente, a petição pública chegou à Assembleia da República, onde Francisco teve uma audiência com deputados de vários par- tidos. Estes comprometeram-se

Mais de

4.800 assinaturas em petição

OPINIÕES

a analisar o tema “de forma séria” e mostraram preocupação pela “desregulação total”. Segundo o jovem, a deputada responsável pela petição pediu um parecer ao Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) sobre o as- sunto. Neste portal do Estado, as normas são seguidas. No entanto, no sector privado, a regulamen- tação é inexistente. Assim se ex- plica que, em alguns sites, ofertas de emprego convivam com anún- cios para compra/venda de bi- cicletas, ironiza. ////Texto de Ana Maria Henriques.

11

Page 14: P3 jorge madeira 65500

Crónica

Vendedores de sonhos

Ricardo Alves Lopes é licenciado em Marketing, apaixonado pela escrita e enamorado pela vida.

Como tudo se alterou em quinze ou vinte anos. Sou um miúdo, com os meus vinte e sete anos, mas tenho a noção disso. Há duas décadas, editar um livro ou um disco era um privilégio apenas reservado, sobremaneira, aos predestinados, ou, por outro lado, aos que muito se entregavam a uma paixão. Porventura, aos dois casos em apenas um. Entrega a uma paixão é trabalho árduo, onde se está disposto a abdicar do prazer por si, para ter horas de tormenta a aperfeiçoar algo que deveria sair de forma inata. O prazer de ouvir boa música ou ler grandes autores, confluindo em horas e horas de arranjos nos

acordes ou na narrativa, para findarem em tentativa falhadas. Falhadas, não desperdiçadas, porque esses erros, a percepção deles e as opiniões e conselhos alheios, são o que fundamenta o aperfeiçoamento que vai enca- minhando para o tal patamar de excelência, que era merecedor de publicação. Hoje, as coisas tornam-se substancialmente diferentes. A edição de livros ou álbuns democratizou-se, mas num sentido nem sempre positivo. A diminuição dos custos associa- dos à edição, seja de música ou livros, abriu uma caixa de pandora para muitos que, não tendo essa capacidade de sacri- fício, têm um sonho. E aí surgem as vendedoras de sonhos, que para efeitos legais têm o nome de editoras. Na música como na literatura, existem as empresas, com o foco absoluto no ganho, que dispensaram a parte cultural, a que despoleta o raciocínio e encaminha para obras maiores, para fazerem desta área uma simples área de negócio, onde o lucro se encontra apenas asso- ciado ao lucro, sem nenhum tipo de preocupação artística.

Os escaparates estão sobre- carregados de música e livros totalmente vazios, que oferecem o entretenimento por si, sem nada mais que se possa de lá retirar. Em grande medida, isso transporta-se para outras áreas da nossa sociedade. Porém, existe algo de mais gravoso nesta situação, que é o aproveitamento dos sonhos alheios, para proveito próprio. Refiro-me, claro, às recentes editoras que surgiram para sugar o dinheiro das pes- soas, através da fomentação da ideia que os jovens autores, pouco experimentados na área da escrita e da música, já se en- contram no patamar ideal de pu- blicação. Existem casos em que isso é verdade, mas, nesses casos, não seria necessário às editoras solicitarem aos autores que pagassem a sua publicação, pois elas próprias, experimen- tadas na área, saberiam que o retorno surgiria de forma natural. Há autores que existem para vender, outros que exigem para prestigiar o catálogo da marca. Em ambos os casos, é rentável, seja pelo lucro ou pela notorie-

dade. De outro modo, é apenas um aproveitamento. O melhor que se pode fazer pelo sonho de um jovem, com aspirações musicais ou literárias, é ser-se sincero. Dizer que ainda não é momento, ou que, para sê-lo, é necessário aperfeiçoar detalhes. De outro modo, estarão apenas a lucrar dinheiro com um sonho, sabendo que os livros ou discos não venderão. Ou vender-se-ão pelo mesmo fenómeno que ven- de o José Rodrigues dos Santos e os cantores que saem das casas dos segredos: a fama.

12

Page 15: P3 jorge madeira 65500

13

Page 16: P3 jorge madeira 65500

Tantos sorrisos espalhou nos úl- timos dois anos, enquanto com- batia um cancro da mama, que, a dada altura, as amigas obri- garam-na a ir a um psicólogo: "Elas achavam que estava a reagir bem demais." Áurea Ferreira dá a cara pela doença e fá-lo sempre com um sorriso. É optimista por natureza. Por isso, quando desco- briu um nódulo na mama direita e confirmou, pouco tempo depois, que a doença a tinha apanhado — como antes havia feito com a mãe e também com o pai — não caiu. Pelo menos, psicologica- mente. A dor física foi diferente. Enfermeira no Hospital de São João, no Porto, Áurea, agora com 39 anos, emociona-se, durante a entrevista, por uma única vez. Quando fala daquele que consi- dera o pior momento de todo o processo: "Contar aos meus pais foi o mais difícil de tudo. Foi um dia ao jantar", recorda. "A minha mãe chorou, a minha irmã chorou, o meu pai engoliu tudo." Mas o cancro não é uma barreira na vi- da dela, não há um "antes de" e um "depois de". Foi uma fase. Ponto. E foi para partilhar esta maneira de conviver com a doen- ça, nunca deixando de "acreditar" e de "lutar", que decidiu partici- par numa campanha fotográfica com doentes oncológicos, cha- mada "Despir o Preconceito".

Aos 38 anos, um cancro da mama virou-lhe a vida do avesso. Foi operada, fez quimioterapia e radioterapia.

Áurea mata o cancro a sorrir///////////////////////////////////////////////////

Por dia, morrem em Portugal 70 pessoas vítimas de tumores ma- lignos, avançou no segundo se- mestre de 2014 o Instituto Nacional de Estatística, acrescentando que apesar deste ser o número mais elevado de sempre, as perspec- tivas são de um aumento ainda mais significativo nos próximos anos. O cancro é a segunda cau- sa de morte em Portugal, depois das doenças cerebro-cardiovas- culares, e estima-se que, por ano, vitime 20 a 25 mil pessoas. Neste Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, 4 de Fevereiro, fica aqui um testemunho na primeira pes- soa, a partir de uma entrevista.

"Cada pessoa reage de uma maneira. Para mim, a quimio foi indiscritível... Mas pensava sempre: 'Vai doer mas vai passar', 'vai doer mas vai passar'."

DESPIR O PRECONCEITO

"Nunca pensei na morte. Para mim, estava fora de questão. E nunca tive medo. Sempre pensei em ir em frente, acontecesse o que acontecesse. Os outros, o medo deles, foi o que mais me incomodou. A minha mãe teve cancro da mama, o meu pai teve cancro da bexiga. Quem sofre é quem está do outro lado. Quando se está dentro pode lutar-se. A doença muda algumas coisas

em nós, mas para mim não há um antes do cancro e um depois do cancro. O que mudei foi passar a viver mais para mim. E deixei de esperar o que quer que seja. Tudo o que vier é bom, mas não tenho expectativas. Não vejo isto como uma fase negativa da minha vida, vejo como uma fase. Ponto. Aconteceu-me a mim como podia ter acontecido a qualquer pessoa. Porque não eu? Há quem per- gunte “Porquê eu?”. Mas porque não pensar ao contrário? Ao fim e ao cabo isto não pode ser ne- nhum castigo divino, porque se fosse não havia crianças doentes nunca, não é? Sempre fui uma pessoa positiva e continuo a dizer que temos de ver o lado bom das coisas más — isso ajuda muito Há uma coisa muito engraçada nesta doença: a gente decora datas, são como se fossem aniver- sários. No dia 19 de Dezembro de 2012, estava em casa a decorar bolachas de Natal para os meus primitos, e deu-me uma comichão na mama. Cocei e senti um nódulo. Tinha feito uma ecografia meses antes, mas com a história anterior da minha mãe na cabeça, liguei logo a uma amiga minha do hos- pital para desabafar. Disse-lhe que queria ir no dia seguinte fazer uma biópsia. O facto de ser enfermeira e conhecer bem os processos facilita as coisas. Fui ao serviço de oncologia no São João e fiz a biópsia. Passei o Natal sem contar a ninguém e só recebi os resultados no dia 26 de Dezembro. Estava a trabalhar. A médica liga-me e diz: 'Áurea..' E eu respondi logo: 'Não precisas de dizer mais nada, eu já desço.' A médica deu-me a notícia e as lágrimas caíram-me pela cara abaixo. Foram uns minutos. Depois disse: 'O que vamos fazer?'. Fui almoçar fora nesse dia, com uma amiga. Pensei e decidi logo que não queria ser operada no meu serviço, no meu hospital. Queria o meu momento, a minha privacidade. Contactei uma médica que tinha passado no São João e que dava consultas na Trindade. Marcamos logo a cirurgia. Ela deu-me todas as opções e eu decidi.

Não quis fazer mastectomia. Tirei o tumor e fiz pesquisa do gânglio sentinela para saber se tinha de fazer esvaziamento axilar. O meu maior medo era ter de o fazer. O braço fica muitas vezes com edema e era o direito, muito importante para o meu trabalho como enfermeira. Depois da operação há um tempo de espera dos resultados para ver se a quimio é precisa ou não. Já sabia que tinha de fazer radioterapia, mas quimioterapia tinha de esperar. O resultado era muito 'borderline', tinham dúvidas se era preciso fazer ou não quimioterapia. A única hipótese que tinha era fazer um exame chamado 'mammaprint', que se faz a toda a gente nos EUA, mas cá não. Claro que se pensa que pode não haver necessidade de fazer quimio... mas também se pensa que são 3700 euros por um exame. Decidi pagar — era o dinheiro que an- dava a juntar para fazer a minha viagem de sonho, a Buenos Aires. Foi tudo para Amesterdão, onde fazem esse exame. O resultado veio e concluiu que

tinha de fazer quimio e mais sessões do que aque- las que teria feito sem saber dos resultados. Foi a parte mais dolorosa de todas em termos físicos. Quando tento explicar o que senti digo às pessoas que se estivesse em cima da ponte naquele momen- to eu atirava-me. Isto é metafórico, atenção. Eu nunca pensei nisso, nem sequer pensei algum dia na morte. Nunca. Cada pessoa reage de uma ma- neira. Para mim a quimio foi indiscritível... Mas pensava sempre 'vai doer mas vai passar', 'vai doer mas vai passar'. A gente tem de acreditar em algo e eu sempre acreditei que ia correr bem. Em termos físicos abalei, mas em termos psico- lógicos não. À terceira semana de quimio caiu-me logo o cabelo. Mas essa questão nunca me inco- modou. Eu tinha o cabelo muito comprido e adora- va o meu cabelo. Nunca gostei de cabelos curtos. Mas sabia que não havia volta a dar. Então rapei, assim sem meios cortes. Comprei uma peruca, mas já tinha decidido optar pelos lenços. Com as pestanas e as sobrancelhas foi diferente. A nossa expressão muda muito e isso custava-me. Mas fui fazendo uma colecção de pestanas postiças e pintava sobrancelhas. Não saía de casa sem me maqulhar. Crie a minha forma de lidar com a doen- ça. Fui ao psicólogo uma só vez, as minhas ami- gas achavam que eu estava a reagir bem demais. O psicólogo disse que realmente fazia uma gestão das minhas necessidades muito boa. Eu afastei amigas próximas no primeiro impacto, sabia que não era bom para mim. Tinha de as consolar a elas às vezes. Desliguei muitos telefonemas. Sei que as pessoas choravam sem ser à minha beira. Afastei-me disso tudo O mais difícil de tudo foi contar aos meus pais. Foi um dia ao jantar. A minha mãe chorou, a minha irmã chorou, o meu pai en- goliu tudo. A família foi muito importante. Os amigos também. Tinha 38 anos quando isto aconteceu, Na altura falaram-me da possibilidade de fazer preservação de ovócitos porque não tinha filhos ainda. Ponderei durante um tempo, mas eu tinha um tumor hormonal e ia injectar-me de hormonas. Depois, quando acabasse o tratamento, ia ser mãe aos 43, 44, 45. Podia estar a querer ter um filho

à custa da minha saúde. Pensei que se a questão se pusesse mais tarde eu teria outras alter- nativas para ser mãe e decidi não o fazer. Há que aceitar. Par- ticipei numa campanha, em 2013, o 'Despir o Preconceito', por- que acho que ele ainda existe e muito. As pessoas ainda têm muito a coisa do "coitadinha". Não fazem por mal, mas os portugue- ses são muito melodramáticos e põem muito negativismo nas coisas. Decidi participar nessa campanha para tentar combater essas ideias. Muita gente come- çou a acrescentar-me no Face- book e fazer-me perguntas. Era quase um consultório. O que digo sempre a quem está a passar por isto é: acreditem e lutem. É preciso acreditar todos os dias que o seguinte virá. E depois, muito importante, nunca nos des- valorizarmos. Mesmo a nível fí- sico. Continuo a dizer que tenho saudades minhas, é verdade. Tenho saudades do que conse- guia fazer antes da doença. Ainda não recuperei toda a força dos braços, já parti colecções inteiras de louça, no meu trabalho tenho limitações. Ainda tenho de tomar uma pastilha todos os dias e vou a imensas consultas. Mas, mais uma vez, é viver dia a dia. Um dia de cada vez, sempre. Aos poucos chegarei lá." ///// Texto de Mariana Correia Pinto.

14

Page 17: P3 jorge madeira 65500

Tantos sorrisos espalhou nos úl- timos dois anos, enquanto com- batia um cancro da mama, que, a dada altura, as amigas obri- garam-na a ir a um psicólogo: "Elas achavam que estava a reagir bem demais." Áurea Ferreira dá a cara pela doença e fá-lo sempre com um sorriso. É optimista por natureza. Por isso, quando desco- briu um nódulo na mama direita e confirmou, pouco tempo depois, que a doença a tinha apanhado — como antes havia feito com a mãe e também com o pai — não caiu. Pelo menos, psicologica- mente. A dor física foi diferente. Enfermeira no Hospital de São João, no Porto, Áurea, agora com 39 anos, emociona-se, durante a entrevista, por uma única vez. Quando fala daquele que consi- dera o pior momento de todo o processo: "Contar aos meus pais foi o mais difícil de tudo. Foi um dia ao jantar", recorda. "A minha mãe chorou, a minha irmã chorou, o meu pai engoliu tudo." Mas o cancro não é uma barreira na vi- da dela, não há um "antes de" e um "depois de". Foi uma fase. Ponto. E foi para partilhar esta maneira de conviver com a doen- ça, nunca deixando de "acreditar" e de "lutar", que decidiu partici- par numa campanha fotográfica com doentes oncológicos, cha- mada "Despir o Preconceito".

Por dia, morrem em Portugal 70 pessoas vítimas de tumores ma- lignos, avançou no segundo se- mestre de 2014 o Instituto Nacional de Estatística, acrescentando que apesar deste ser o número mais elevado de sempre, as perspec- tivas são de um aumento ainda mais significativo nos próximos anos. O cancro é a segunda cau- sa de morte em Portugal, depois das doenças cerebro-cardiovas- culares, e estima-se que, por ano, vitime 20 a 25 mil pessoas. Neste Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, 4 de Fevereiro, fica aqui um testemunho na primeira pes- soa, a partir de uma entrevista.

"Muita gente começou a acrescentar-me no Facebook e fazer-me perguntas. Era quase um consultório.”

"Nunca pensei na morte. Para mim, estava fora de questão. E nunca tive medo. Sempre pensei em ir em frente, acontecesse o que acontecesse. Os outros, o medo deles, foi o que mais me incomodou. A minha mãe teve cancro da mama, o meu pai teve cancro da bexiga. Quem sofre é quem está do outro lado. Quando se está dentro pode lutar-se. A doença muda algumas coisas

em nós, mas para mim não há um antes do cancro e um depois do cancro. O que mudei foi passar a viver mais para mim. E deixei de esperar o que quer que seja. Tudo o que vier é bom, mas não tenho expectativas. Não vejo isto como uma fase negativa da minha vida, vejo como uma fase. Ponto. Aconteceu-me a mim como podia ter acontecido a qualquer pessoa. Porque não eu? Há quem per- gunte “Porquê eu?”. Mas porque não pensar ao contrário? Ao fim e ao cabo isto não pode ser ne- nhum castigo divino, porque se fosse não havia crianças doentes nunca, não é? Sempre fui uma pessoa positiva e continuo a dizer que temos de ver o lado bom das coisas más — isso ajuda muito Há uma coisa muito engraçada nesta doença: a gente decora datas, são como se fossem aniver- sários. No dia 19 de Dezembro de 2012, estava em casa a decorar bolachas de Natal para os meus primitos, e deu-me uma comichão na mama. Cocei e senti um nódulo. Tinha feito uma ecografia meses antes, mas com a história anterior da minha mãe na cabeça, liguei logo a uma amiga minha do hos- pital para desabafar. Disse-lhe que queria ir no dia seguinte fazer uma biópsia. O facto de ser enfermeira e conhecer bem os processos facilita as coisas. Fui ao serviço de oncologia no São João e fiz a biópsia. Passei o Natal sem contar a ninguém e só recebi os resultados no dia 26 de Dezembro. Estava a trabalhar. A médica liga-me e diz: 'Áurea..' E eu respondi logo: 'Não precisas de dizer mais nada, eu já desço.' A médica deu-me a notícia e as lágrimas caíram-me pela cara abaixo. Foram uns minutos. Depois disse: 'O que vamos fazer?'. Fui almoçar fora nesse dia, com uma amiga. Pensei e decidi logo que não queria ser operada no meu serviço, no meu hospital. Queria o meu momento, a minha privacidade. Contactei uma médica que tinha passado no São João e que dava consultas na Trindade. Marcamos logo a cirurgia. Ela deu-me todas as opções e eu decidi.

Médica: “Áurea...”Eu respondi logo:“Não precisas de dizer mais nada”

Fui sempre eu a decidir

Fotografia // Histórias que inspiram - minhavidacontigo.com

Não quis fazer mastectomia. Tirei o tumor e fiz pesquisa do gânglio sentinela para saber se tinha de fazer esvaziamento axilar. O meu maior medo era ter de o fazer. O braço fica muitas vezes com edema e era o direito, muito importante para o meu trabalho como enfermeira. Depois da operação há um tempo de espera dos resultados para ver se a quimio é precisa ou não. Já sabia que tinha de fazer radioterapia, mas quimioterapia tinha de esperar. O resultado era muito 'borderline', tinham dúvidas se era preciso fazer ou não quimioterapia. A única hipótese que tinha era fazer um exame chamado 'mammaprint', que se faz a toda a gente nos EUA, mas cá não. Claro que se pensa que pode não haver necessidade de fazer quimio... mas também se pensa que são 3700 euros por um exame. Decidi pagar — era o dinheiro que an- dava a juntar para fazer a minha viagem de sonho, a Buenos Aires. Foi tudo para Amesterdão, onde fazem esse exame. O resultado veio e concluiu que

tinha de fazer quimio e mais sessões do que aque- las que teria feito sem saber dos resultados. Foi a parte mais dolorosa de todas em termos físicos. Quando tento explicar o que senti digo às pessoas que se estivesse em cima da ponte naquele momen- to eu atirava-me. Isto é metafórico, atenção. Eu nunca pensei nisso, nem sequer pensei algum dia na morte. Nunca. Cada pessoa reage de uma ma- neira. Para mim a quimio foi indiscritível... Mas pensava sempre 'vai doer mas vai passar', 'vai doer mas vai passar'. A gente tem de acreditar em algo e eu sempre acreditei que ia correr bem. Em termos físicos abalei, mas em termos psico- lógicos não. À terceira semana de quimio caiu-me logo o cabelo. Mas essa questão nunca me inco- modou. Eu tinha o cabelo muito comprido e adora- va o meu cabelo. Nunca gostei de cabelos curtos. Mas sabia que não havia volta a dar. Então rapei, assim sem meios cortes. Comprei uma peruca, mas já tinha decidido optar pelos lenços. Com as pestanas e as sobrancelhas foi diferente. A nossa expressão muda muito e isso custava-me. Mas fui fazendo uma colecção de pestanas postiças e pintava sobrancelhas. Não saía de casa sem me maqulhar. Crie a minha forma de lidar com a doen- ça. Fui ao psicólogo uma só vez, as minhas ami- gas achavam que eu estava a reagir bem demais. O psicólogo disse que realmente fazia uma gestão das minhas necessidades muito boa. Eu afastei amigas próximas no primeiro impacto, sabia que não era bom para mim. Tinha de as consolar a elas às vezes. Desliguei muitos telefonemas. Sei que as pessoas choravam sem ser à minha beira. Afastei-me disso tudo O mais difícil de tudo foi contar aos meus pais. Foi um dia ao jantar. A minha mãe chorou, a minha irmã chorou, o meu pai en- goliu tudo. A família foi muito importante. Os amigos também. Tinha 38 anos quando isto aconteceu, Na altura falaram-me da possibilidade de fazer preservação de ovócitos porque não tinha filhos ainda. Ponderei durante um tempo, mas eu tinha um tumor hormonal e ia injectar-me de hormonas. Depois, quando acabasse o tratamento, ia ser mãe aos 43, 44, 45. Podia estar a querer ter um filho

à custa da minha saúde. Pensei que se a questão se pusesse mais tarde eu teria outras alter- nativas para ser mãe e decidi não o fazer. Há que aceitar. Par- ticipei numa campanha, em 2013, o 'Despir o Preconceito', por- que acho que ele ainda existe e muito. As pessoas ainda têm muito a coisa do "coitadinha". Não fazem por mal, mas os portugue- ses são muito melodramáticos e põem muito negativismo nas coisas. Decidi participar nessa campanha para tentar combater essas ideias. Muita gente come- çou a acrescentar-me no Face- book e fazer-me perguntas. Era quase um consultório. O que digo sempre a quem está a passar por isto é: acreditem e lutem. É preciso acreditar todos os dias que o seguinte virá. E depois, muito importante, nunca nos des- valorizarmos. Mesmo a nível fí- sico. Continuo a dizer que tenho saudades minhas, é verdade. Tenho saudades do que conse- guia fazer antes da doença. Ainda não recuperei toda a força dos braços, já parti colecções inteiras de louça, no meu trabalho tenho limitações. Ainda tenho de tomar uma pastilha todos os dias e vou a imensas consultas. Mas, mais uma vez, é viver dia a dia. Um dia de cada vez, sempre. Aos poucos chegarei lá." ///// Texto de Mariana Correia Pinto.

15

Page 18: P3 jorge madeira 65500

///////////////////////////////////////Perguntas e Respostas

Cancro

O que é o cancro?A palavra cancro é utilizada para designar uma neoplasia maligna ou, se se usar a palavra tumor como sinónimo de neoplasia, para designar um tumor maligno. Às vezes usa-se também lesão maligna como sinónimo de neoplasia ou tumor maligno.

O cancro tem cura?De forma simplificada pode dizer-se que os doentes com cancros diagnosticados numa fase precoce são curáveis em quase 100% dos casos, geralmente através de cirurgia ou endoscopia. Em contrapartida, a doença cancerosa avançada não é curável, embora seja muitas vezes possível controlá-la através da sua transformação numa doença crónica, graças a tratamentos cada vez mais personalizados.

Quais são os principais factores?Tabaco, obesidade e sedentarismo

Qual a frequência da doença em Portugal?A possibilidade de desenvolver um cancro ao longo da vida é de 50%. A de morrer de doença ocológica é de 25%. Anualmente são diagnosticados 40 a 45 mil novos casos no país. Entre 20 e 25 mil morrem de doença oncológica, a segunda causa de morte em Portugal, depois das doenças cerebro-cardiovasculares.

Quais os cancros mais comuns em Portugal?Nas mulheres, o cancro da mama, colorretal, estômago e útero. Nos homens, cancro da pelo, próstata, pulmão, colorretal e estômago.

Fonte: IPATIMUP

Posso proteger-me contra o cancro?Existem vários factores de risco para a ocorrência de cancro que são bem conhecidos e controláveis. Evitando esses factores de risco, estaremos a diminuir as hipóteses de vir a desenvolver cancro

16

Page 19: P3 jorge madeira 65500

Morreu Sá Carneiro,e então?

O dia era de chuva, cenário mais que provável no início de Dezem- bro. Dormira repleta de ansieda- de, iria fazer a primeira ecografia para ver o seu “rapaz grande”, assim descrito pelo médico. No entanto, como sempre, o destino trocou-lhe os planos. Com as águas rebentadas durante a ma- drugada só teve tempo de voar para a maternidade da sua terra.Deitada numa cama há várias horas, entre dores intermitentes e estranhas quando comparadas com o seu primeiro parto, teste- munha um hospital em alvoroço, colado à rádio e ao arcaico apa- relho de televisão. “Sá Carneiro morreu, mulher”, esclareceu al- guém que em resposta teve um gemido em jeito de “e? Estou aqui cheia de dores em alegado tra- balho de parto”. Dois dias depois, todas as per- sonagens estavam bem mais calmas, mas as dúvidas dos dois lados permaneceram. Afinal foi acidente ou atentado? E o “bebé grande, nasce ou nem por isso?”.

Eis que eu finalmente tive cora- gem e mergulhei neste mundo de parto normal, sem ouvir um único “ai” da minha mãe coragem. No imediato foi-lhe dito que afinal era uma menina pequenina e que havia outra lá dentro, “atraves- sada”. “Não deixe morrer”, a res-- posta pronta de uma verdadeira mãe que entre dores, dúvidas, estranheza, pensou, apenas e só, na sua cria.

À falta de condições hospitala- res rumámos todos de imediato de S. João da Madeira ao Porto. Eu, minúscula, ao colo do bom- beiro, a minha mãe e irmã em

Deitada numa cama há várias horas, entre dores intermitentes e estranhas quando comparadas com o seu primeiro parto, testemunha um hospital em alvoroço, colado à rádio e ao arcaico aparelho de televisão.

Crónica

Joana Costa, jornalista "in between jobs" ("in english" dói menos) e autora do blogue Caramelo Repetido

grande perigo de vida. Ali a igno- rância teve o papel principal. Três horas depois do meu nascimen- to e a mais de 30 kms, estava a minha mãe preparada para um cesariana quando a minha gémea sai de pés. “Sinal de felicidade” rematou de imediato uma enfer- meira aliviada pelo final feliz. Foram precisos quase 20 dias para termos alta, porque, à la lebre, quem vem à frente nem sempre vence. Precisei de in- cubar. Ainda hoje incubo sonhos, ideias e dúvidas. As mesmas que permanecem nos outros perso- nagens desta história com 34 anos. ////Texto de Joana Costa

17

Page 20: P3 jorge madeira 65500

18

Page 21: P3 jorge madeira 65500

Chamam-lhe a conspiração da indústria da carne e revelam dados que a provam, alegam os realizadores.

Já exibido em Portugal, o documentário reabriu a discussão sobre a alimentação sustentável — e até já mudou hábitos

Pode um documentário sobre vacas mudar os nossos hábitos?

19

Page 22: P3 jorge madeira 65500

Kip Andersen e Keegan Kuhn, autores do documentário

Não tem (muitas) imagens que impressionam, ao contrário do que acontece com outros documen- tários que alertam para a realidade da criação de animais para consumo. São os números, apresen- tados em hora e meia, que mais chocam quem assiste a “Cowspiracy — A Sustainability Secret”. Entre tentativas falhadas de chegar à fala com associações de defesa do ambiente, entrevistados que evitam questões incómodas e especialistas que sublinham o impacto altamente nocivo da exploração pecuária intensiva para a saúde da Terra, Kip Andersen e Keegan Kuhn criaram um documentário “que incentiva as pessoas a agir, sem ser impositivo”. A análise é de Rita Silva, presidente da Animal há já 11 anos. “Tenho recebido dezenas de e-mails de pessoas, que me conhecem ou não, que depois de verem o filme ficaram mesmo mudadas, tiveram um clique”, diz em entrevista ao P3. No início de Janeiro, “Cowspiracy” foi exibido num cinema de Lisboa, com sessão dupla. A iniciativa partiu de Rita e do apresentador de televisão João Manzarra. A primeira é amiga de um dos realizadores do filme e desde que ouviu falar dele que o queria passar em Portugal. O segundo reconheceu o impacto que ver o documentário teve na sua vida: perante milhares de seguidores nas redes sociais, Manzarra assumiu uma nova dieta baseada em produtos de origem vegetal e vendeu a participação numa petisqueira da qual era sócio, por uma questão de consciência.

Sheila Teodoro foi uma das espectadoras no cinema do Saldanha Residence. Já tinha ouvido falar do filme, mas não sabia propriamente o que esperar. Como veterinária, a jovem tinha noção de algumas das consequências ambientais da agro-pecuária mas não estava preparada para todos os números. “Depois de ver os factos foi fácil mudar”. Sheila, que não come carne há perto de 20 anos, aban- donou de vez os derivados de origem animal e o peixe. Sente-se bem com esta mudança alimentar — “hoje em dia é tão mais fácil ser-se vegano do que era há 20 anos” —, consequência assumida dos factos revelados por Kip e Keegan. “Para mim, faz todo o sentido, sobretudo depois de saber a percentagem de emissão de gases, o gasto de água na produção de lacticínios e o impacto nos oceanos”, enumera. A mesma reacção teve Raquel Graça, designer freelancer de 30 anos: “Tu olhas para aqueles dados e pensas: tenho que fazer alguma coisa para contrariar isto”. Assim Raquel pensou,

assim o fez: a carne deixou de fazer parte da dieta, bem como o leite de vaca. Reduziu o consumo de queijos e ovos e passou a comprar aqueles cuja origem conhece, com a preocupação de optar por produtos locais — agir localmente para alcançar um impacto global. “Não sou defensora de radi- calismos, apenas de agir de forma sustentável. É isso que tenho tentado fazer”, explica.

Má distribuição dos alimentos produzidos“Não seria necessário todos deixarmos de comer carne. Seria, isso sim, que todos deixássemos de comer tanta carne”, defende a jovem que vive no Porto. Opinião similar tem o presidente da Quercus, Nuno Sequeira, que acrescenta outros dados à discussão. A média anual de consumo de carne está, actualmente, nos 40 quilogramas por pessoa; na década de 60 do século XX, ficava- -se pelos 25. “Mais do que discutir se devemos optar por um regime exclusivamente vegetariano ou não, o documentário reitera que todos temos que fazer um esforço para alterar a nossa dieta alimentar”, acredita. Ao P3, o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) observou ser “fácil concordar” com a redução de ingestão de proteínas de origem animal, mas que esta implicaria “enormes desafios”. “Será, sem dúvida, uma revolução global inevitável para a civilização humana, tal como a conhece-mos, poder sobreviver", remata. Até porque, de acordo com o filme, uma dieta vegetariana reflecte-se numa diminuição de 50% da pegada de carbono de cada um na Terra. Há estimativas da Organização da ONU para a Alimentação e Agricultura (FAO) que vão ao encontro desta ideia: é produzida uma quan- tidade suficiente de alimentos, a nível mundial, para alimentar de forma satisfatória toda a população terrestre. São é mal distribuídos — há 1.500 milhões de pessoas com excesso de alimentos. Podem 51% das emissões globais de gases com efeitos de estufa ter origem na pecuária e em todos os seus produtos derivados, um valor muito superior àquele da responsabilidade de todos os transportes com- binados (13%)? Segundo dados da associação World Watch, sim. Mas para a FAO, a percentagem desce para os 18%. A discrepância pode explicar-se, sugere o presidente da Quercus, pelo facto de nas contas da FAO estar apenas considerada a pro- dução e não o transporte, por exemplo.

Portugal com elevada pegada hídricaA dupla de realizadores norte-americanos centrou- -se, sobretudo, na realidade do seu país. Mas, e em Portugal? “A nossa realidade é comparável numa outra dimensão”, alega Rita Silva, concepção que o secretário-geral da Confederação dos Agri- cultores de Portugal (CAP), Luís Mira, partilha. “A forma de alimentação dominante nos EUA é uma aberração em termos de carga calórica e de quantidade, levando aos graves problemas de obesidade que todos conhecem. Um exemplo: num restaurante americano serve-se uma coste- leta com 700 gramas, o que é impensável em Portugal”, afirmou, remetendo para as declarações ao “Expresso”. Portugal é dos países europeus com maior pegada hídrica, aponta Nuno Sequeiro: 80% da água consumida é para efeitos de agricul- tura. A nível mundial, de acordo com o documen- tário, um terço da água doce da Terra é gasta na indústria da carne e dos lacticínios; o valor médio da União Europeia é ainda mais elevado, chegando aos 46%.

Na introdução do filme, Kip conta como “Uma Verdade Inconveniente” (2006), do antigo vice- -presidente dos Estados Unidos Al Gore, teve um impacto impressionante na sua vida. Os dados que o Prémio Nobel da Paz de 2007 revelou fizeram com que Kip se tornasse “obcecado pelo ambiente”: passou a reciclar absolutamente tudo, a usar a

bicicleta como principal transporte, a tomar duches mais curtos e a fechar a torneira na hora de lavar os dentes. Achava que estava a fazer tudo que podia para “mudar o mundo” — afinal, parece que não. Estes gestos ajudam, claro, considera Raquel. Mas, tal como o realizador de “Cowspiracy”, também a jovem se apercebeu que um banho mais curto “representava uma coisa mínima”. “Isso foi mesmo o choque maior”, confessa, porque “não tinha noção dos números”: 2500 litros de água são suficientes para dois meses de banhos de chuveiro, mas ape- nas chegam para a produção de um hambúrguer.

Ao não mencionar o impacto da pecuária nas alte- rações climáticas, Al Gore deixou Kip “desiludido”, que juntamente com Keegan trabalhou durante meses para perceber como o assunto está a ser tratado. Associações de defesa do ambiente de nível global recusaram-se a prestar esclarecimen- tos ou sequer a recebê-los. A Greenpeace — provavelmente a mais conhecida e mediática — foi uma das que declinou. Raquel sentiu-se “muito enganada”. “Tu achas que são elas que têm um papel importante em tentar mudar algumas coisas e estão é a encobrir dados, a varrer para debaixo do tapete.” Kip e Keegan, a meio das filmagens viram uma das fontes de financia- mento retirar o apoio, re- correram a uma campanha de “crowdfunding” em 2014. Inicialmente pediram 54.000 dólares (47. 600 euros), terminaram com mais de 117.000 (perto de 103.000 euros). O DVD do documentário pode ser adquirido por perto de 18 euros e a visualiza- ção online não chega aos 9 euros. Parte dos objec- tivos dos dois amigos — revelar a conspiração que acreditam existir na indústria agro-pecuária e pôr as pessoas a pensar sobre o assunto - parece ter sido alcançada. /////Texto de Ana Maria Henriques.

de acordo com o filme, uma dieta vegetariana reflecte-se numa diminuição de 50% da pegada de carbono de cada um na Terra.

20

Page 23: P3 jorge madeira 65500

Não tem (muitas) imagens que impressionam, ao contrário do que acontece com outros documen- tários que alertam para a realidade da criação de animais para consumo. São os números, apresen- tados em hora e meia, que mais chocam quem assiste a “Cowspiracy — A Sustainability Secret”. Entre tentativas falhadas de chegar à fala com associações de defesa do ambiente, entrevistados que evitam questões incómodas e especialistas que sublinham o impacto altamente nocivo da exploração pecuária intensiva para a saúde da Terra, Kip Andersen e Keegan Kuhn criaram um documentário “que incentiva as pessoas a agir, sem ser impositivo”. A análise é de Rita Silva, presidente da Animal há já 11 anos. “Tenho recebido dezenas de e-mails de pessoas, que me conhecem ou não, que depois de verem o filme ficaram mesmo mudadas, tiveram um clique”, diz em entrevista ao P3. No início de Janeiro, “Cowspiracy” foi exibido num cinema de Lisboa, com sessão dupla. A iniciativa partiu de Rita e do apresentador de televisão João Manzarra. A primeira é amiga de um dos realizadores do filme e desde que ouviu falar dele que o queria passar em Portugal. O segundo reconheceu o impacto que ver o documentário teve na sua vida: perante milhares de seguidores nas redes sociais, Manzarra assumiu uma nova dieta baseada em produtos de origem vegetal e vendeu a participação numa petisqueira da qual era sócio, por uma questão de consciência.

Sheila Teodoro foi uma das espectadoras no cinema do Saldanha Residence. Já tinha ouvido falar do filme, mas não sabia propriamente o que esperar. Como veterinária, a jovem tinha noção de algumas das consequências ambientais da agro-pecuária mas não estava preparada para todos os números. “Depois de ver os factos foi fácil mudar”. Sheila, que não come carne há perto de 20 anos, aban- donou de vez os derivados de origem animal e o peixe. Sente-se bem com esta mudança alimentar — “hoje em dia é tão mais fácil ser-se vegano do que era há 20 anos” —, consequência assumida dos factos revelados por Kip e Keegan. “Para mim, faz todo o sentido, sobretudo depois de saber a percentagem de emissão de gases, o gasto de água na produção de lacticínios e o impacto nos oceanos”, enumera. A mesma reacção teve Raquel Graça, designer freelancer de 30 anos: “Tu olhas para aqueles dados e pensas: tenho que fazer alguma coisa para contrariar isto”. Assim Raquel pensou,

assim o fez: a carne deixou de fazer parte da dieta, bem como o leite de vaca. Reduziu o consumo de queijos e ovos e passou a comprar aqueles cuja origem conhece, com a preocupação de optar por produtos locais — agir localmente para alcançar um impacto global. “Não sou defensora de radi- calismos, apenas de agir de forma sustentável. É isso que tenho tentado fazer”, explica.

Má distribuição dos alimentos produzidos“Não seria necessário todos deixarmos de comer carne. Seria, isso sim, que todos deixássemos de comer tanta carne”, defende a jovem que vive no Porto. Opinião similar tem o presidente da Quercus, Nuno Sequeira, que acrescenta outros dados à discussão. A média anual de consumo de carne está, actualmente, nos 40 quilogramas por pessoa; na década de 60 do século XX, ficava- -se pelos 25. “Mais do que discutir se devemos optar por um regime exclusivamente vegetariano ou não, o documentário reitera que todos temos que fazer um esforço para alterar a nossa dieta alimentar”, acredita. Ao P3, o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) observou ser “fácil concordar” com a redução de ingestão de proteínas de origem animal, mas que esta implicaria “enormes desafios”. “Será, sem dúvida, uma revolução global inevitável para a civilização humana, tal como a conhece-mos, poder sobreviver", remata. Até porque, de acordo com o filme, uma dieta vegetariana reflecte-se numa diminuição de 50% da pegada de carbono de cada um na Terra. Há estimativas da Organização da ONU para a Alimentação e Agricultura (FAO) que vão ao encontro desta ideia: é produzida uma quan- tidade suficiente de alimentos, a nível mundial, para alimentar de forma satisfatória toda a população terrestre. São é mal distribuídos — há 1.500 milhões de pessoas com excesso de alimentos. Podem 51% das emissões globais de gases com efeitos de estufa ter origem na pecuária e em todos os seus produtos derivados, um valor muito superior àquele da responsabilidade de todos os transportes com- binados (13%)? Segundo dados da associação World Watch, sim. Mas para a FAO, a percentagem desce para os 18%. A discrepância pode explicar-se, sugere o presidente da Quercus, pelo facto de nas contas da FAO estar apenas considerada a pro- dução e não o transporte, por exemplo.

Portugal com elevada pegada hídricaA dupla de realizadores norte-americanos centrou- -se, sobretudo, na realidade do seu país. Mas, e em Portugal? “A nossa realidade é comparável numa outra dimensão”, alega Rita Silva, concepção que o secretário-geral da Confederação dos Agri- cultores de Portugal (CAP), Luís Mira, partilha. “A forma de alimentação dominante nos EUA é uma aberração em termos de carga calórica e de quantidade, levando aos graves problemas de obesidade que todos conhecem. Um exemplo: num restaurante americano serve-se uma coste- leta com 700 gramas, o que é impensável em Portugal”, afirmou, remetendo para as declarações ao “Expresso”. Portugal é dos países europeus com maior pegada hídrica, aponta Nuno Sequeiro: 80% da água consumida é para efeitos de agricul- tura. A nível mundial, de acordo com o documen- tário, um terço da água doce da Terra é gasta na indústria da carne e dos lacticínios; o valor médio da União Europeia é ainda mais elevado, chegando aos 46%.

Na introdução do filme, Kip conta como “Uma Verdade Inconveniente” (2006), do antigo vice- -presidente dos Estados Unidos Al Gore, teve um impacto impressionante na sua vida. Os dados que o Prémio Nobel da Paz de 2007 revelou fizeram com que Kip se tornasse “obcecado pelo ambiente”: passou a reciclar absolutamente tudo, a usar a

bicicleta como principal transporte, a tomar duches mais curtos e a fechar a torneira na hora de lavar os dentes. Achava que estava a fazer tudo que podia para “mudar o mundo” — afinal, parece que não. Estes gestos ajudam, claro, considera Raquel. Mas, tal como o realizador de “Cowspiracy”, também a jovem se apercebeu que um banho mais curto “representava uma coisa mínima”. “Isso foi mesmo o choque maior”, confessa, porque “não tinha noção dos números”: 2500 litros de água são suficientes para dois meses de banhos de chuveiro, mas ape- nas chegam para a produção de um hambúrguer.

Ao não mencionar o impacto da pecuária nas alte- rações climáticas, Al Gore deixou Kip “desiludido”, que juntamente com Keegan trabalhou durante meses para perceber como o assunto está a ser tratado. Associações de defesa do ambiente de nível global recusaram-se a prestar esclarecimen- tos ou sequer a recebê-los. A Greenpeace — provavelmente a mais conhecida e mediática — foi uma das que declinou. Raquel sentiu-se “muito enganada”. “Tu achas que são elas que têm um papel importante em tentar mudar algumas coisas e estão é a encobrir dados, a varrer para debaixo do tapete.” Kip e Keegan, a meio das filmagens viram uma das fontes de financia- mento retirar o apoio, re- correram a uma campanha de “crowdfunding” em 2014. Inicialmente pediram 54.000 dólares (47. 600 euros), terminaram com mais de 117.000 (perto de 103.000 euros). O DVD do documentário pode ser adquirido por perto de 18 euros e a visualiza- ção online não chega aos 9 euros. Parte dos objec- tivos dos dois amigos — revelar a conspiração que acreditam existir na indústria agro-pecuária e pôr as pessoas a pensar sobre o assunto - parece ter sido alcançada. /////Texto de Ana Maria Henriques.

Kip conta que o filme “A Verdade Inconveniente” teve um impacto impressionante na sua vida e fez com que ficasse obsecado com o ambiente.

21

Page 24: P3 jorge madeira 65500

Será que um dia vamos deixar de largar balões?“Podemos festejar com balões, mas não os pode- mos largar.” É com este anúncio, no “site” da Clean Virginia Waterways, que se lança a discussão. Segundo os seus responsáveis, depois de serem lançados, os balões transformam-se em lixo e as preocupações ambientais crescem a cada ano que passa. Através da investigação ambiental, o pro- blema passou para o foro político – com sucesso, devido aos cidadãos e ambientalistas preocupados. Segundo osite Jornalíssimo, em causa está a ideia apresentada por Jeff McWaters, um deputado republicano que quer impedir o lançamento de balões naquele estado. Segundo ele, estamos "apenas a tentar educar as pessoas”. No entanto, a proposta não foi aprovada pelo Senado da Vir- gínia que indicava que as coimas aplicadas pode- riam reverter a favor de campanhas de reciclagem. Por cada balão (com hélio ou outro gás mais leve que o ar) a penalização seria de cinco dólares. Mas o alerta foi lançado. Está cientificamente provado, como dizem os investigadores do Aquário de Virgínia, que muitos animais, tanto em terra como no mar, acabam por morrer por causa dos balões. Ed Clark, do Centro da Vida Selvagem da Virgínia, constatou que os animais que mais sofrem com este problema são as tartarugas marinhas que acabam por confundir o objecto com uma al- forreca e comem-nos, o que leva à morte. E não só. O perigo também existe para outros animais marinhos como golfinhos, tartarugas e baleias que já foram encontradas com balões alo- jados no estômago. Já os pássaros, por exemplo, ficam presos nos fios de “nylon” ou plástico.

Mais de 50 dá multaNa realidade, já existem cinco estados americanos — sendo a Virgínia um deles — onde é proibido lançar mais de 50 balões no espaço de uma hora. No entanto, são precisas mais medidas para com- bater os efeitos negativos desta prática.

Para tal, um projecto para reduzir o impacto dos balões está a ser conduzido pelo departamento ambiental da Virgínia através de marketing social, prevenção e educação dos cidadãos de modo a enten- derem os riscos ambientais desta prática comum.Há outras entidades envolvidas, como a Clean Virginia Waterways, em parceria com a Virginia Aquarium and Marine Research Center, que estão a estudar os impactos ambientais e soluções para esta questão. Apelam aos moradores para, caso encontrem um balão, tirarem uma foto- grafia e indicarem o sítio onde o encontraram. Aler- tam, ainda, para o facto de se poder encontrar plásticos, elásticos e materiais como metal ou al- godão dentro do balão. Cabe à pessoa deitar o balão ao lixo e reportar a situação no site.

As associações ainda dão alternativas ao lança- mento de balões como não os encher com hélio e deitá-los ao lixo, libertar balões em sítios fechados ou, em vez de se atirar os balões, rebentá-los. Segundo um dos directores do Aquário de Virgínia, os balões são uma das três formas de lixo mais frequentes nas praias daquele estado. ////// Texto de Bruna Cunha.

De forma a ser criado um debate sobre os danos que os balões podem causar no ambiente, o estado da Virgínia, nos EUA, lançou o mote para a discussão sobre a proibição, ou não, do lançamento de balões.

Se encontrar um balão, tire foto. E indique o local onde se encontra.

22

Page 25: P3 jorge madeira 65500

Isa Silva e Hugo Teixeira desenvolveram um veículo eléctrico, capaz de gerar energia própria e de proporcionar uma visão a 360º.

O preço do UOU, com três rodas e capacidade para duas pessoas, começa nos 3500 euros

WOOW

UOU: este carro futurista é eléctrico e português

Português, económico e “100% eléctrico”, o UOU é um triciclo com uma capota transparente, pensado para cidades e para percursos turísticos. De as- pecto futurista, pode ser carregado numa tomada doméstica convencional e uma série de bateria confere-lhe uma autonomia de 40 quilómetros, de- pendendo do tipo de percurso e “da produção de energia do próprio utilizador”.

Isto porque o UOU possui um sistema de micro- -geração de energia, inspirado num processo semelhante utilizado no campismo, mas adaptado à mobilidade. “Criámos um sistema de ‘steps’, pa- recidos com os usados para desportos, que o uti- lizador pode calcar, recarregando as baterias do veículo em andamento”, revela Isa. Tudo para, su- blinham Isa Silva e Hugo Teixeira, “desenvolver um dos veículos eléctricos mais económicos do mercado”. Porquê UOU? “Nós queríamos que o veículo fosse recebido no mercado com espanto. E daí surgiu UOU, porque todas as pessoas a quem mostrávamos o projecto já concebido dizam “wow”. Acabou por ficar”, conta Isa, designer de 26 anos. A ideia é que este seja um “carro divertido”, inspirado em veículos futuristas. Daí que, do seu interior, condutor e passageiro tenham “visão a 360º”, carac- terística “óptima para o turismo”. Neste momento, apenas existe um destes carros construído e disponível para um “test drive” — que pode ser pedido online e realizado no Europarque, em Santa Maria da Feira. Há mais dez a serem produzidos, em Ovar, com componentes importados e nacionais, destinados a empresas. A partir do fim de Maio, vão poder ser vendidos ao público em geral.

UOU pode circular em cicloviasCom capacidade para duas pessoas e uma pequena área para bagagens, o preço oscila entre os 3500 e os 4000 euros. Uma vez que o UOU é conside- rado um velocípede, Isa e Hugo viram-se obrigados a limitar a velocidade, que não ultrapassa os 25 quilómetros por hora. “Como é mais vocacionado para percursos citadinos, não necessita de tanta velocidade, [esta] chega perfeitamente”, assegura Isa. A principal vantagem desta limitação é o facto de poder circular em ciclovias — “que, às vezes, coincidem com zonas de maior interesse turístico”. Este carro não tem mudanças, apenas um ace- lerador e um travão, e um guiador semelhante ao das bicicletas. Apesar do motor ter “apenas 250 watts — o valor por lei para um velocípede”, os criadores garantem que se comporta bem em subi- das, uma vez que “a força do binário é elevada”. “Se for uma subida muito íngreme, vai diminuir a velocidade, tem as mesmas limitações que os outros veículos eléctricos”, explicam. A capota de poliu- retano abre automaticamente e o UOU pode ser utilizado com a capota toda fechada, semi-aberta e completamente aberta. Outra das vantagens de um veículo como este, apontam Isa e Hugo, prende- -se com a manutenção. “Os motores eléctricos não têm muito desgaste mas nós assumimos a manu- tenção, mediante uma garantia”, dizem. Para já, a estratégia de Isa e Hugo passa pela exploração turística e a nível autárquico: “Os veículos podem ser inseridos num sistema de ‘car sharing’, para completar a rede de transportes públicos e dinamizar um pouco a mobilidade nos centros históricos.”/////Texto de Ana Maria Henriques.

23

Page 26: P3 jorge madeira 65500

Albert Rivera é de Barcelona mas não quer ver a Catalunha independente — e esta foi uma das razões que aproximou o advogado de 35 anos da política espanhola. À frente do Cidadãos (Ciutadans — Partit de la Ciutadania, no original catalão) há quase nove anos, tem ganho particular notoriedade e presença mediática nos últimos meses. É jovem, “não parece um político” e esta parece ser a sua hora: resultados surpreendentes nas últimas son- dagens da Metroscopia (publicadas no “El País”) mostram que o presidente do C’s, partido percep- cionado como de centro direita, é o político mais valorizado pelos eleitores espanhóis. À sua frente só está o rei Filipe VI. É presença frequente em programas de televisão e tertúlias políticas, tem uma imagem cuidada e saltou do domínio catalão para o nacional, passando para a frente do também jovem Pablo Iglesias, do Podemos, em termos de notoriedade e popularidade. Quando comparado com o líder do partido que vai à frente nas sondagens (27,7% dos espanhóis inquiridos manifestam intenção em votar no Podemos), Rivera admite que ambos fazem “nova política” e que se identifica em termos de geração. “Mas ele [Iglesias] faz [política] com ideias velhas, como intervencionismo”, critica, em entrevista ao “El Mundo”. As mesmas sondagens, publicadas no início de Fevereiro pelo diário “El País”, revelam que as intenções de voto no Cidadãos (12,2%) e no Podemos (27,7%) combinadas são superiores à soma das percentagens do Partido Popular, PP (20,9%), no poder, e do Partido Socia- lista Operário Espanhol, PSOE (18,3%). Há cada

Em 2006, Rivera com 27 anos, posou nu para cartazes do Cidadãos, aquando das eleições catalãs C'

É o político com mais aprovação entre os eleitores espanhóis.

vez mais espanhóis à procura de alternativas às forças há muito estabelecidos, no poder rotativa- mente. “Há muita gente em Espanha que quer uma mudança (…), mas sensata”, resume ementrevista ao “El Mundo”. O PP critica o C’s, reforçando a ideia de que se trata de um partido catalão ao qual os dirigentes políticos se devem referir como “Ciutadans” e não como “Ciudadanos”, sublinha o “El País”.

Depois de centrarem os ataques no Podemos, de Pablo Iglesias, “os populares estão preocupados com o crescimento do Ciudadanos, que se move no seu campo e com os seus eleitores”. O partido que Albert Rivera Díaz lidera não defende a inde- pendência da Catalunha, antes uma Espanha unida — ainda que em diferentes moldes daqueles que hoje se verificam. A prioridade do C’s é pôr fim à corrupção, sublinha sempre, através da “regeneração democrática”. No perfil de Twitter, apresenta-se com uma frase que não deixa dúvidas sobre o seu posicionamento — e do seu partido, fundado em 2005. “A Catalunha é a minha terra, a Espanha é o meu país e a União Europeia é o nosso futuro. Melhor juntos”. No próximo mês de Maio, o Cidadãos vai concorrer às eleições autárquicas em 500 localidades de toda a Espanha, extrava- sando os limites da fronteira da Catalunha. Rivera não avança, contudo, pelo menos para já, se será candidato às legislativas, previstas para o Outono, ou até à presidência da Catalunha: decisões só depois das primárias. Quando questionado sobre possíveis coligações, antes ou depois de eleições,

Rivera tem algumas condições, como as que apon- tou numa entrevista televisiva analisada pelo “El Periódico”. “Não podemos fazer parte de uma co- ligação com quem não tenha feito limpeza no seu próprio partido e governo”, assegurou, realçando uma vez mais aquele que diz ser o seu principal cavalo de batalha — a luta contra a corrupção. E a menos que o Podemos altere o programa elei- toral apresentado, “será difícil” chegar a acordo sobre uma eventual aliança. “Com esse programa regressaríamos à peseta”, critica. Reestruturação nos tipos de IVA, diminuição do número de câmaras municipais e incentivos para “trabalhadores mais pobres” são algumas das ideias que Rivera partilhou na mesma entrevista. No caso do acesso a cuida- dos de saúde públicos, defendeu que estes devem existir para quem tenha “autorização de residência ou sejam cidadãos espanhóis”, o que exclui os imigrantes ilegais, à semelhança do que acontece, por exemplo, na Alemanha. Seguido por milhares online

É na Internet que o C’s tem a sua maior ferramenta de propaganda — como Rivera afirma no vídeo ao lado — e os números das redes sociais reflectem a importância que conferem à rede “sem a qual o Cidadãos não existia”. No Facebook, Rivera tem mais de 127 mil seguidores; no Twitter, o número já ultrapassa os 200 mil. Praticamente todos os dias actualiza os dois perfis, respondendo

Albert Rivera, o jovem político “cool” que até já posou nu

a muitos dos comentários e partilhando fotografias. No Instagram aposta, sobretudo, em “selfies” e já vai em mais de 7 mil seguidores. Pela trans- parência que apregoa, Rivera faz questão de partilhar a sua agenda profissional,disponível online, bem como entrevistas e outros vídeos da página de YouTube do Cidadãos. Há ainda uma “playlist” no Spotify com a sua identificação, para que eleitores e potenciais simpatizantes possam saber que tipo de música ouve. Em 2006, Rivera — então com 27 anos — posou nu para a cam- panha do C’s, aquando das eleições catalãs, naquilo que o “El País” chamou de “apelativo cartaz elei- toral”. Nesse mesmo ano, o partido conseguiu três deputados na assembleia da Catalunha, número que triplicou em 2012. O jovem é deputado ao par- lamento catalão desde esse ano, bem como líder do C’s, cargo ao qual chegou por ter um nome co- meçado pela primeira letra do alfabeto (foi esta a forma que o partido encontrou para eleger o seu presidente). Política à parte, muito se tem escrito sobre Rivera na imprensa espanhola. Desde artigos em que o advogado conta que investe em fatos Hugo Boss e tem um gosto particular por sapatos, até entrevistas nas quais fala (sempre pouco) da filha de quatro anos, Daniela, este é o novo político “cool” de Espanha, com um visual e uma atitude bem diferente de Pablo Iglesias. “Alguns dos jor- nalistas que seguem Rivera desde o início destacam o seu estilo e chamam-lhe o candidato ‘cool’, par- tilham as suas fotografias nas redes sociais e mos- tram como as mulheres seguem atentamente o que faz", escreve Silvia Taulés em “Albert Rivera: o candidato casadouro já tem namorada”, no “El Mundo”. Antigo campeão de natação e pólo aquático, não nega que a imagem é importante — “e não só na política”. //////Texto de Ana Maria Henriques.

24

Page 27: P3 jorge madeira 65500

Albert Rivera é de Barcelona mas não quer ver a Catalunha independente — e esta foi uma das razões que aproximou o advogado de 35 anos da política espanhola. À frente do Cidadãos (Ciutadans — Partit de la Ciutadania, no original catalão) há quase nove anos, tem ganho particular notoriedade e presença mediática nos últimos meses. É jovem, “não parece um político” e esta parece ser a sua hora: resultados surpreendentes nas últimas son- dagens da Metroscopia (publicadas no “El País”) mostram que o presidente do C’s, partido percep- cionado como de centro direita, é o político mais valorizado pelos eleitores espanhóis. À sua frente só está o rei Filipe VI. É presença frequente em programas de televisão e tertúlias políticas, tem uma imagem cuidada e saltou do domínio catalão para o nacional, passando para a frente do também jovem Pablo Iglesias, do Podemos, em termos de notoriedade e popularidade. Quando comparado com o líder do partido que vai à frente nas sondagens (27,7% dos espanhóis inquiridos manifestam intenção em votar no Podemos), Rivera admite que ambos fazem “nova política” e que se identifica em termos de geração. “Mas ele [Iglesias] faz [política] com ideias velhas, como intervencionismo”, critica, em entrevista ao “El Mundo”. As mesmas sondagens, publicadas no início de Fevereiro pelo diário “El País”, revelam que as intenções de voto no Cidadãos (12,2%) e no Podemos (27,7%) combinadas são superiores à soma das percentagens do Partido Popular, PP (20,9%), no poder, e do Partido Socia- lista Operário Espanhol, PSOE (18,3%). Há cada

No Facebook, Rivera tem mais de 127 mil seguidores; no Twitter, o número já ultrapassa os 200 mil.

LUTA CONTRA A CORRUPÇÃO

vez mais espanhóis à procura de alternativas às forças há muito estabelecidos, no poder rotativa- mente. “Há muita gente em Espanha que quer uma mudança (…), mas sensata”, resume ementrevista ao “El Mundo”. O PP critica o C’s, reforçando a ideia de que se trata de um partido catalão ao qual os dirigentes políticos se devem referir como “Ciutadans” e não como “Ciudadanos”, sublinha o “El País”.

Depois de centrarem os ataques no Podemos, de Pablo Iglesias, “os populares estão preocupados com o crescimento do Ciudadanos, que se move no seu campo e com os seus eleitores”. O partido que Albert Rivera Díaz lidera não defende a inde- pendência da Catalunha, antes uma Espanha unida — ainda que em diferentes moldes daqueles que hoje se verificam. A prioridade do C’s é pôr fim à corrupção, sublinha sempre, através da “regeneração democrática”. No perfil de Twitter, apresenta-se com uma frase que não deixa dúvidas sobre o seu posicionamento — e do seu partido, fundado em 2005. “A Catalunha é a minha terra, a Espanha é o meu país e a União Europeia é o nosso futuro. Melhor juntos”. No próximo mês de Maio, o Cidadãos vai concorrer às eleições autárquicas em 500 localidades de toda a Espanha, extrava- sando os limites da fronteira da Catalunha. Rivera não avança, contudo, pelo menos para já, se será candidato às legislativas, previstas para o Outono, ou até à presidência da Catalunha: decisões só depois das primárias. Quando questionado sobre possíveis coligações, antes ou depois de eleições,

Rivera tem algumas condições, como as que apon- tou numa entrevista televisiva analisada pelo “El Periódico”. “Não podemos fazer parte de uma co- ligação com quem não tenha feito limpeza no seu próprio partido e governo”, assegurou, realçando uma vez mais aquele que diz ser o seu principal cavalo de batalha — a luta contra a corrupção. E a menos que o Podemos altere o programa elei- toral apresentado, “será difícil” chegar a acordo sobre uma eventual aliança. “Com esse programa regressaríamos à peseta”, critica. Reestruturação nos tipos de IVA, diminuição do número de câmaras municipais e incentivos para “trabalhadores mais pobres” são algumas das ideias que Rivera partilhou na mesma entrevista. No caso do acesso a cuida- dos de saúde públicos, defendeu que estes devem existir para quem tenha “autorização de residência ou sejam cidadãos espanhóis”, o que exclui os imigrantes ilegais, à semelhança do que acontece, por exemplo, na Alemanha. Seguido por milhares online

É na Internet que o C’s tem a sua maior ferramenta de propaganda — como Rivera afirma no vídeo ao lado — e os números das redes sociais reflectem a importância que conferem à rede “sem a qual o Cidadãos não existia”. No Facebook, Rivera tem mais de 127 mil seguidores; no Twitter, o número já ultrapassa os 200 mil. Praticamente todos os dias actualiza os dois perfis, respondendo

Em 2007, numa manifestação em Barcelona contra o independentismo catalão Albert Gea/Reuters

a muitos dos comentários e partilhando fotografias. No Instagram aposta, sobretudo, em “selfies” e já vai em mais de 7 mil seguidores. Pela trans- parência que apregoa, Rivera faz questão de partilhar a sua agenda profissional,disponível online, bem como entrevistas e outros vídeos da página de YouTube do Cidadãos. Há ainda uma “playlist” no Spotify com a sua identificação, para que eleitores e potenciais simpatizantes possam saber que tipo de música ouve. Em 2006, Rivera — então com 27 anos — posou nu para a cam- panha do C’s, aquando das eleições catalãs, naquilo que o “El País” chamou de “apelativo cartaz elei- toral”. Nesse mesmo ano, o partido conseguiu três deputados na assembleia da Catalunha, número que triplicou em 2012. O jovem é deputado ao par- lamento catalão desde esse ano, bem como líder do C’s, cargo ao qual chegou por ter um nome co- meçado pela primeira letra do alfabeto (foi esta a forma que o partido encontrou para eleger o seu presidente). Política à parte, muito se tem escrito sobre Rivera na imprensa espanhola. Desde artigos em que o advogado conta que investe em fatos Hugo Boss e tem um gosto particular por sapatos, até entrevistas nas quais fala (sempre pouco) da filha de quatro anos, Daniela, este é o novo político “cool” de Espanha, com um visual e uma atitude bem diferente de Pablo Iglesias. “Alguns dos jor- nalistas que seguem Rivera desde o início destacam o seu estilo e chamam-lhe o candidato ‘cool’, par- tilham as suas fotografias nas redes sociais e mos- tram como as mulheres seguem atentamente o que faz", escreve Silvia Taulés em “Albert Rivera: o candidato casadouro já tem namorada”, no “El Mundo”. Antigo campeão de natação e pólo aquático, não nega que a imagem é importante — “e não só na política”. //////Texto de Ana Maria Henriques.

25

Page 28: P3 jorge madeira 65500

Os estúdios de cinema de ani- mação da Pixar, nos Estados Uni- dos, estão a preparar a estreia, a 19 de Junho, do filme "Inside Out", cuja produção demorou cinco anos e aborda o mundo emocional adolecente. Riley, uma menina de 11 anos, é a protago- nista da nova longa metragem de animação, que explora as cinco emoções em batalha constante no interior da sua mente. As emo- ções de Riley são lideradas pela alegria, seguida por vezes pela tristeza, o medo, a repulsa ou a raiva. "É um filme sobre o papel das emoções nas nossas vidas e como nos ligam às outras pes- soas", explicou, numa entrevista à agência Efe, na sede dos estú- dios Pixar, na Califórnia, o rea-

lizador Pete Docter, assinalando que se trata de uma obra "muito pessoal". Explicou que a trans- formação pela qual passou a filha, Ellie, durante a adolescência, foi uma das fontes de inspiração deste filme, que se baseia também na sua "difícil experiência" pessoal nessa etapa da juventude."Os meus pais mudaram-se da Dina- marca quando eu tinha onze anos e foi muito difícil para mim", re- cordou Pete Docter, acrescen- tando que teve uma adolescên- cia triste, sentindo-se distanciado das outras crianças e passando grande parte do tempo fechado no quarto a desenhar.

O filme - criado por uma equipa de 250 pessoas - mostra a infân- cia feliz de Riley enquanto vive com a família no Estado de Minne- sota, nos Estados Unidos, e como as coisas se complicam quando a família decide mudar-se para São Francisco. De acordo com os estúdios, "Inside Out" é muito diferente das produções da Pixar criadas até agora, porque apre- senta de forma paralela o mundo real e o mundo que decorre no interior da mente de Riley. /////Texto de Lusa.

Inside Out: Novo filme da Pixar explora as emoções da adolescência

É um filme sobre o papel das emoções nas nossas vidas e como nos ligam às outras pessoas.

26

Page 29: P3 jorge madeira 65500

Beber café moderadamente – três a quatro por dia – pode reduzir o risco de doenças cardíacas. Quem o diz é uma equipa de investigadores do Samsung Hospital Kangbuk após um estudo realizado com mais de 25 mil funcionários.

Se bebes três a quatro cafés por dia, esta boa notícia é para ti

Um estudo do Samsung Hospital Kangbuk, na Coreia do Sul, rea- lizado com mais de 25 mil funcio- nários concluiu que tomar três a quatro cafés por dia limpa as arté- rias e, assim, diminui o risco de doenças cardíacas. Os exames de saúde de rotina foram feitos a homens e mulheres, com idade média de 41 anos, e permitram observar que esta bebida evita o entupimento das artérias, um conhecido factor de risco para doenças cardíacas, confirmaram cientistas sul-coreanos.

Como o café é uma bebida que gera muita polémica devido aos verdadeiros efeitos que tem sobre a saúde do coração, o debate deve ser reaberto após a apresen- tação dos resultados do estudo na especializada revista científica "Heart".

No entanto, Victoria Taylor inves- tigador da British Heart Founda- tion, revela que as ilações retira- das desta larga amostra não ga- rantem que o café tenha o mesmo efeito em toda a população. O café contém cafeína, estimulante, e outros compostos que podem ter efeitos nocivos em alguns in- divíduos, pelo que Victoria Taylor afirma que é um risco qualquer generalização na sequência das conclusões do estudo sul-coreano. Este estudo destaca a eventual ligação do consumo de café e o menor risco de obstrução das artérias: a ingestão de café dimi- nui a probabilidade de os consu- midores acumularem depósitos de cálcio nas artérias coronárias e, por conseguinte, e reduz o risco de aterosclerose corona- riana, uma causa de morte.//////Texto: Jéssica Justo | JPN

27

Page 30: P3 jorge madeira 65500

Têm o café como ponto de parti- da e o repovoamento das cida- des como chegada. Pode parecer estranho à primeira leitura, mas rapidamente se entranha. Pedro Marques Alves e Bojan Balen tra- balham na área de planea- mento urbano na Holanda e, por lá, per- ceberam há muito que é nas cidades que se vai desenhar o futuro da produção agrícola, usando o desperdício do consumo alimentar como base para novas produções. Quando pen- saram em criar um projecto a partir de desperdícios alimentares para ser implementado em Portugal foi fácil chegar ao produto sob o qual poderiam trabalhar:

O "Recicla o Café" quer apro- veitar o desperdício associado a esta bebida e produzir cogu- melos a partir dele. No processo de passar água quente por café torrado e moído, 99% do café é desper- diçado e as borras acabam quase sempre no lixo. A ideia de Pedro e Bojan, desen- volvida com a bióloga Patrícia Santos, passa por aproveitar este substracto, muito presente em meios urbanos. "Este projecto tem muito a ver com aquilo que é a nossa visão de cidade. Acreditámos que o futuro das cidades passa pela criação de sistemas mais sustentáveis e alguns au- tores têm defendido que também a agricultura passa pelas cidades. Que urbanidade e ruralidade vão conviver no mesmo território", disse ao P3 o arquitecto Pedro Marques Alves. A ideia de transformar borras de café em cogumelos não é

nova. O que distin- gue o "Recicla o Café", esclarece o arquitecto, é a "adaptação da ideia ao território nacional" e a "dimensão cidade". "Não é só um projecto que aborda a questão do desperdício, é um projecto que tem a ver com a economia das cidades, que quer combater o esvaziamento das funções das cidades, repovoá-las e reduzir gastos energéticos", desenvolve.

Um protótipo e um laboratórioO trio quer levar a produção agrícola para dentro das cidades e criar um protótipo e um laboratório de pesquisa para o desenvol- vimento de outras formas de transformação de desperdícios alimen- tares. "Queremos ter um edifício com características quase labo- ratoriais para que a produção seja feita com 100% de colheita garan- tida", revelou Pedro Alves, destacando que este espaço seria também uma outra forma de "promover empreg qualificado".

O "Reciclar o Café" pretende ainda delinear parcerias com restau- rantes e cafés, já que 80% do café consumido em Portugal é bebido fora de casa. "Queremos que sejam nossos parceiros neste projecto. Para a maioria deles, as borras de café são lixo ao fim do dia, mas vamos mostrar que podem ter um valor no futuro. A ideia é que os parceiros sejam beneficiados, ou podendo revender os cogumelos ou através de publicidade.” Este projecto está a concorrer ao desafio Ideias de Origem Portuguesa, da Fundação Calouste Gulbenkian, cujos finalistas serão anunciados a 20 de Abril. Mas a ideia, ressalva Pedro Alves, é para ter continuidade, independentemente do sucesso neste desafio: "Considerando o aumento da população mundial e o facto de nos mudarmos cada vez mais para as cidades, é cada vez mais importante pensar nestas estratégias." ////Texto de Mariana Correia Pinto

"Recicla o café" quer reduzir desperdícios e repovoar cidades

Pedro, Bojan e Patrícia querem reciclar as borras de café e transformá-las em cogumelos.

Recicla o Café" é muito mais do que um projecto anti-desperdício. É uma estratégia para criar emprego e dar novas funções às cidades

O café, a bebida que se consome no país a um ritmo de 47 milhões de quilos por ano, e cujas borras são um substrato rico em nutrientes e minerais.

28

Page 31: P3 jorge madeira 65500

ESPECIAL

NOS PRIMAVERA SOUND 2015

29

Page 32: P3 jorge madeira 65500

Black Keys, Sleater-Kinney, Run the Jewels e Interpol são apenas alguns dos nomes que se juntam a Strokes, Patti Smith e Ride. Festival realiza-se em Barcelona de 28 a 30 de Maio.

O Primavera Sound de Barcelona faz 15 anos e este é o cartaz

Foi preciso descarregar uma aplicação e jogar um jogo. Um nome do cartaz é revelado a cada perso- nagem que se combate. Não fomos longe no jogo mas descobrimos o cartaz da 15ª edição do Prima- vera Sound de Barcelona, que acontece de 28 a 30 de Maio. Black Keys, Belle and Sebastian, Sleater- -Kinney, Run the Jewels e Interpol são alguns dos nomes confirmados. Não será de estranhar que alguns dos nomes anunciados nesta quarta- -feira passem depois pelo Porto para a edição portu- guesa do festival, como já vem sendo habitual.

O cartaz para o NOS Primavera Sound, que acon- tece no Porto de 4 a 6 de Junho, é anunciado em Fevereiro. Confirmado está já o regresso de Patti Smith que, quase quatro décadas depois, inter- pretará o álbum de culto "Horses", além de uma segunda actuação em formato acústico e "spoken word". Os britânicos Ride já estavam igualmente confirmados. Além destes, já se sabia que também os Strokes tinham viagem marcada para Barcelona. O que não se sabia ainda era que a banda norte- -americana se vai desdobrar igualmente em actua- ções em nome próprio, nomeadamente a de Albert Hammond Jr. e a de Julian Casablancas com os The Voidz. A estes nomes juntam-se bandas como Black Keys, Belle and Sebastian, Sleater-Kinney, Run the Jewels, Interpol, Foxygen, The Repla- cements, the New Pornographers, alt-J ou Death From Above 1979.Destaque ainda para Antony Hegarty que apresentará canções novas, assim como para James Blake, que também dará a conhe- cer material novo. E depois há ainda: Panda Bear, DIIV, the Julie Ruin, Unknown Mortal Orchestra, Spiritualized, tUnE-yArDs, Twin Shadow, Perfume Genius, Mac DeMarco, Swans, Iceage, Jose

Gonzalez, Dan Deacon, Sun Kil Moon, Fucked Up, Kelela, Ariel Pink, Mikal Cronin, Tyler, the Creator, Shabazz Palaces, Jon Hopkins, Caribou e Ex Hex, entre muitos outros. Não faltam os habituais, aqueles que não falham uma edição, entenda-se os Thee Oh Sees e os Shellac. De regresso estará também Thurston Moore e a sua banda.

Cartaz Primavera Sound Barcelona 2015

30

Page 33: P3 jorge madeira 65500

SPIRITUALIZED

Coube novamente ao Canal 180 a responsabi-

lidade de produzir o vídeo oficial do cartaz do

NOS Primavera Sound, que esta sexta-feira foi

exibido durante a conferência de imprensa de

apresentação do "line-up" realizada na Câmara

Municipal do Porto. E, este ano, decidiram-se por

uma abordagem 2D — convidaram dez ilustradores

do Porto que, os últimos dez dias, trabalharam

sem cessar para nos trazerem, a preto e branco,

Antony Hegarty, FKA Twigs, Mac DeMarco, entre

outros. São eles João Moreira, Leonor Cunha, Mário Meira, Cristiana Gouveia, Lourenço Providência, Nuno Kercadio Sarmento,José Guilherme Marques, Nuno Pinto, Maria Mónica e Inês Pinto. O vídeo

completo, realizado por João Diogo Marques,

pode ser visto através do QR code baixo.

Eles Ilustraram o NOS Primavera Sound a preto e branco

31

Page 34: P3 jorge madeira 65500

UNDERWORLD

ANTONY AND THE

JOHNSONS

THE NEWPORNOGRAPHICSUNDERWORLD

FKA TWIGS

32

Page 35: P3 jorge madeira 65500

CARIBOU

BELLEAND SEBASTIAN

MAR DEMARCO

INTERPOL

33

Page 36: P3 jorge madeira 65500

NOS Primavera Sound 2015: ao quarto ano, o festival é para todos

Mais regressos a caminho

As contas de cabeça começaram há semanas, quando foi conhecido o cartaz do Primavera Sound de Barcelona. Pois bem, esses dias terminaram. O cartaz da quarta edição do NOS Primavera Sound, que se realiza no Porto de 4 a 6 de Junho, foi co- nhecido esta sexta- -feira 13 (que de 13 terá muito pouco) e inclui Interpol, The Replacements, Antony and The Johnsons, Belle & Sebastian, Under- world, Run The Jewels, FKA Twigs e muito mais. A Patti Smith (com "Horses" e em modo "spoken word") e Ride, artistas já anunciados oficialmente, juntam-se assim o barítono Paul Banks e os seus Interpol, que, depois de umas aventuras a solo, regressaram aos discos no ano passado com "El Pintor". Teremos lições de história com os lendários The Replacements, arquitectos da ponte que fundou o indie rock da década de 90 ("sem eles, a música em 2015 poderia ser muito diferente", escreve- -se no blog do "NME"), agora a arriscarem uma nova vida, e os Underworld, que nos levam numa visita de estudo a "dubnobasswithmyheadman", álbum lançado há 20 anos e que eliminou fronteiras na música electrónica (uma lição de história de techno ao vivo, portanto). Confirmados ainda o inconfundível Antony Hegarty, que se apresenta com os seus Johnsons para apontar canções certeiras ao coração (vai apresentar material novo em Barcelona), e os sempre ansiados Belle & Sebastian, acabadinhos de lançar o nono álbum de estúdio, "Girls in Peacetime Want to Dance".

As aguerridas Babes in Toyland, que depois de um silêncio de vinte anos — actuaram no Imperial ao Vivo, em Gaia, em 1997 — prometem partir a loiça toda, e o de Mary Timony, ex-Helium, ex-Wild Flag, que está de volta, mais leve, com as Ex Hex. Também marcam presença os mestres do expe- rimentalismo rock Einstürzende Neubauten, que em "Lament", lançado em Novembro, reproduzem a banda sonora da Primeira Guerra Mundial. E, claro, não poderia faltar a banda fetiche do festival, os Shellac de Steve Albini. Thuston Moore está de regresso com a sua banda, depois de ter passa- do por Portugal no Verão, tal como Sun Kil Moon, projecto do ex-Red House Painter Mark Kozelek.

Cartaz do Primavera Sound 2015

O evento situa-se no Parque da Cidade Imagem// Sapo.pt Primavera Sound

Interpol, The Replacements, Antony and The Johnsons, Belle & Sebastian, Under- world, Run The Jewels, FKA Twigs e muito mais.

NOS PRIMAVERA SOUND 2015

34

Page 37: P3 jorge madeira 65500

Ah, mais uma: os californianos Foxygen, que no ano passado desmarcaram as datas europeias. Damien Rice e José González trazem o seu folk intimista,

De Dan Deacon a Ariel Pink (e Manel Cruz)Está ainda prometida uma viagem pelo que de melhor se fez na música nos últimos tempos. O hip-hop do "power duo" Killer Mike e El P, isto é, Run The Jewels e a pop futurista da menina-ovni FKA Twigs, que assinaram dois dos grandes mar- cos de 2014. O excêntrico Ariel Pink, super estrela independente, chega sem os seus Haunted Graffiti (assinou o primeiro trabalho a solo no ano passado com "Pom Pom") e o mestre da electrónica Dan Snaith, aqui Caribou, regressa a Portugal com o seu aclamado "Our Love". Mais boas notícias: teremos por cá novamente o "enfant-terrible" cana- diano Mac DeMarco, a sensação soul Jungle, as canções orelhudas de Mikal Cronin, o noise vis- ceral dos Health. E, na prata da casa, Manel Cruz, num concerto especial, em que passa em revista os vários projectos em que já esteve envolvido, o multi-instrumentista Bruno Pernadas e a Banda do Mar, do trio Fred Ferreira, Marcelo Camelo e Mallu Magalhães, a traçar um vaivém musical entre Portugal e Brasil. Já sabemos, pela amostra de 2013, que é obri- gatório ver Dan Deacon ao vivo e, em 2015, teremos uma nova oportunidade de estar numa festa de electrónica alucinada no Primavera — ainda para mais, o desconcertante músico lança um novo álbum, "Gliss Riffer", este mês. E, nesta sexta-feira 13, uma prenda para quem em 2012 lamentou o cance- lamento dos Death Cab For Cutie: os norte-ame- ricanos também têm viagem marcada para o Porto. Ah, mais uma: os californianos Foxygen, que no ano passado desmarcaram as datas europeias. Damien Rice e José González trazem o seu folk intimista, enquanto que, noutro universo, os vete- ranos do doom Electric Wizard, os fúnebres Pall- bearer e os apocalípticos Pharmakon prometer puxar o volume ao máximo. E ainda Spiritualized a banda de Jason Pierce, e o super-grupo indie The New Pornographers. O cartaz fica completo com os Giant Sand de Howe Gelb, o produtor Juan MacLean em formato "live", os efervescentes Viet Cong, e ainda Baxter Dury, Kevin Morby, The KVB, Marc Piñol, Movement, Ought, Roman Flügel, Twerps, Xylouris White, Yasmin Hamdan e Younghusband. O difícil será escolher, mas esses cálculos ficarão para depois, quando forem conhecidos os horários.

Mais do que um festival do 8 aos 80 Na conferência de imprensa, que teve lugar na Câmara Municipal do Porto num evento que foi aberto ao público e onde o cartaz foi revelado atra- vés de um vídeo ilustrado (sabe mais sobre as imagens aqui), soube-se ainda que ao quarto ano o NOS Primavera Sound abre-se ainda mais a

Imagem// Twitter FKA TWIGS

FKA TWIGS

ANTONY AND THE JACKSONS

novos públicos. "Não é um festival dos 8 aos 80, é mais do que isso", nas palavras do presidente da câmara, Rui Moreira. Este ano, duas semanas antes do festival, o Parque da Cidade recebe o NOS Mini Primavera Sound, uma espécie de Primavera em "versão para crianças", perfeito para famílias. A ideia é manter a mesma "lógica musical", mas para os "mais pequenos", explicou Pedro Moreira da Silva, da NOS. E, à semelhança do ano passado, o Passeio das Virtudes acolhe os festivaleiros no Primavera nas Virtudes, de entrada livre. Os alinhamentos para ambos serão conhecidos em breve. Traçando um balanço da edição anterior (ver números à esquerda), o director do festival, José Barreiro, foi peremptório: "Conseguimos fazer deste festival um marco da cidade."

A quarta edição do NOS Primavera Sound realiza-se de 4 a 6 de Junho no Parque da Cidade, Porto. Os passes gerais, à venda nos locais habituais e no site oficial, podem ser adquiridos pelo preço promocional de 90 euros até 25 de Fevereiro, passando depois para 105 euros.

35

Page 38: P3 jorge madeira 65500

Francisco Pio CorreiaÉ licenciado em comunicação e escreve torto por linhas direitas.

Crónica

Uma primavera inesquecível

A verdade é que de 5 a 7 de Junho o meu coração aumentou e os meus dias só tiveram oito horas.

E sem nos darmos conta… passou. Pode dizer-se que é um sentimento profundo e nostálgico aquele que circunda. Fica uma impressão de que o tempo passou demasiado rápido, que se viveu num piscar de olhos, tudo porque foram horas incrivelmente bem gastas. Um festival que, no fundo, é uma expe- riência. É uma experiência onde os dias parecem mais curtos, não só porque realmente acordamos à uma da tarde, mas porque a música também os encurta, faz-nos pensar mais rápido e dar saltos no tempo.

Jeff Mangum, aquando do concerto dos Neutral Milk Hotel, invocou que o que presenciávamos naquela altura devia ser guardado no coração e na memória. E tenho a certeza que foi o que as quase 70 mil pessoas que passaram no NOS Primavera Sound fizeram. A verdade é que de 5 a 7 de Junho o meu coração aumentou e os meus dias só tiveram oito horas. E quando achei que tudo aquilo passava, e me fugia por entre os dedos, toquei a minha guitarra fictícia e fiz força para nunca mais o esquecer.

Pode parecer uma análise vaga e distorcida do que se passou. Mas é a minha e é verdadeira, tal e qual quando gostamos de alguém e é difícil escrever ou dizê-lo. A verdade é que me senti mais leve, não só por causa dos quilos que perdi re- centemente, mas porque me tirou um peso que tinha em cima, não me perguntem qual. É aí que a minha ingenuidade musical dá os seus frutos, pois não se prende com aspectos espaciais da música, mas sim com os emocionais. É isso, este festival emocionou-me. E se é esta emoção que me está destinada, que venham mais. Que venham muitos mais.

Para acabar este raciocínio, resta-me falar das pessoas. São o mais importante a seguir à música. E embora seja apologista da independência mu- sical de cada um, é tudo criado para que se viva em conjunto. Com quem não conheces, com quem conheces ou até mesmo com quem acabaste de conhecer. E neste ponto tenho de admitir que fui contra tudo aquilo que a minha avó me ensinou. E nunca me soube tão bem.

E quando achei que tudo aquilo passava, e me fugia por entre os dedos, toquei a minha guitarra fictícia e fiz força para nunca mais o esquecer.

Os dias. A experiência...

Aspectos espaciais da música

36

Page 39: P3 jorge madeira 65500

Para quem não gosta de ler jornaisLê mais em p3.publico.pt

Mais destaques para quem não gosta de ler jornais

Sudoku

Ficha técnica

Designer desenvolveu uma máquina de café cujas cápsulas são utilizadas na sua totalidade. Além de conterem café em pó, são revestidas a açúcar e, por isso, 100% comestíveis

Morada:

Telefone: DirectoSubdirector:

Companhia aérea japonesa anuncia avião à R2-D2 da Guerra das Estrelas. Este Dreamliner vai estrear-se nos céus pouco antes do novo filme da série.

Estas cápsulas de café são 100% comestíveis

Star Wars: Que a força voe convosco

Praça Coronel Pacheco, nº 15, 1º andar, sala 107 4050-453 Porto, Portugal(351) 22 615 10 00, Fax (351) 22 615 10 99Amilcar CorreiaPaulo Frias

Jornalistas:

Website:

Designer:

Ana Maria Henriques, Bruna Cunha, Jessica Justo, Joana Costa, Mariana Correia Pinto, Ricardo Alves Lopes

Bruno Ribeiro

Jorge Madeira 65500

Page 40: P3 jorge madeira 65500

Tratamos tudo por tu