o desafio da inclusão digital
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O Desafio da Inclusão Digital
Marc Prensky, especialista norte-americano em educação e aprendizagem, trouxe-nos o
conceito de nativo/imigrante digital: enquanto que o primeiro consiste nas pessoas nascidas
dentro de um contexto de inserção tecnológica e que têm por característica uma familiarização
nata com a informática, o segundo teve o seu contato com as novas tecnologias acontecendo
gradualmente e, assim, apresentam suas raízes fincadas na era pré-computador e, deste modo,
não possuem uma desenvoltura tão espontânea com o mundo digital.
A discussão em certos países está em elaborar uma confluência entre os anseios da geração
digital na sala de aula e as possibilidades pedagógicas do educador nesse meio. O que se vê,
contudo, é um despreparo de cunho cultural por parte deste último. Outro especialista no
tema, Ian Jukes, elenca oito diferenças fundamentais de estilo entre os alunos e os professores
de hoje:
1. Estudantes digitais: recebem informações de múltiplas fontes
Professores analógicos: transmissão de informação lenta e controlada
2. Estudantes digitais: multitarefas
Professores analógicos: uma tarefa de cada vez
3. Estudantes digitais: preferência pelo aprendizado multimidiático
Professores analógicos: ensino através de manuais escolares em texto
4. Estudantes digitais: acesso aleatório às fontes de informação
Professores analógicos: programa de ensino disciplinado, lógico e sequencial
5. Estudantes digitais: conexão simultânea a várias pessoas
Professores analógicos: preferência pelas tarefas individuais
6. Estudantes digitais: aprendizagem “just-in-time”, movida pela curiosidade
Professores analógicos: aprendizagem “just-in-case”, movida pela contingência
7. Estudantes digitais: gratificação instantânea e competitiva pelo aprendizado
Professores analógicos: gratificação no final do período letivo
8. Estudantes digitais: aprendizado pela relevância subjetiva
Professores analógicos: aprendizado segundo o programa de ensino objetivo
Relação Conflituosa...Os imigrantes digitais pensam e gerenciam a
educação dos nativos digitais criando um problema de
base: embora o computador e a internet vêm
proporcionando uma metamorfose no imaginário dos
alunos e transformando o seu mundo, as escolas ainda
insistem num modelo engessado por normas de outrora
quando a biblioteca física, e não a virtual, reinava como
fonte de informação confiável. Num meio onde um
celular apresenta, via acesso à internet, um universo de
conhecimento – e de distração -, a escola tradicional
ganha o estigma de tolhedora do conhecimento e da
criatividade com o seu quadro, caderno e lápis. Será
verdade? À guisa de canal de comunicação,
aprendizagem, partilha, socialização, pesquisa e criação,
o computador não seria um sutil Leviatã moderno?
Jukes revela-nos um
problema cada vez mais evidente
no dia-a-dia das escolas, ou seja, o
crescente distanciamento entre os
profissionais de ensino e a classe
discente devido aos apelos
multimidiáticos da informática e a
linguagem supostamente
ultrapassada do ensino de hoje.
Contudo, seu colega Marc Prensky
sugere que o conflito extrapola a
sala de aula, tornando-se um
problema entre gerações.
Filhos da Era Digital
Prensky afirmou que as ferramentas eletrônicas são como extensões do cérebro das
crianças de hoje. Isto é, são o meio através do qual elas apreendem o mundo de modo
dinâmico. A sua adaptação ao computador e demais bugigangas eletrônicas é, além de
espontânea, autoinsuflada pela curiosidade que lhe é natural. Segundo a psicóloga Rosa Maria
Farah, da PUC de São Paulo, é indispensável nesta fase o acompanhamento dos pais a fim de se
evitar que o computador seja feito de babá. Uma das características mais interessantes dessa
geração é a sua maneira rápida na articulação das ideias aliada ao abandono da lógica linear em
seu raciocínio. A educadora da Universidade Federal de Juiz de Fora, Maria Teresa Freitas, é
otimista ao apontar a internet como promotora de leitura e pesquisa entre os jovens.
Outrossim, chats e blogs seriam responsáveis, estes pela elaboração e sofisticação da escrita,
aqueles pelo estímulo ao pensamento crítico e argumentativo do adolescente.
Todavia, não se vê nessa matéria unanimidade. A deformação do aprendizado
gramatical se encontra como um tema recorrente dos críticos do papel educativo do
computador. As abreviaturas e neologismos típicos dos chats e redes de relacionamento
têm recebido críticas de todos os lados, embora os internautas sejam entusiastas daquilo
que se costumou chamar de internetês. O preço de tal, digamos, liberdade criativa, é pago
nas provas escolares.
Um dos bastiões dessa turma é terem provado que a internet serve eficientemente
como fonte de pesquisa ao contrário do que se afirmava antes quando a imensidão da rede
e a sua malha intricada sugeria dificuldade para se trabalhar com temas específicos.
Segundo Geraldo Possendoro, especialista em Neurociência e Comportamento da
Universidade Federal de São Paulo, a relação com o computador modifica o cérebro das
crianças e adolescentes. Os videogames, por exemplo, valorizam a velocidade das respostas
e, consequentemente, estimulam o desenvolvimento cognitivo dos seus aficionados.
Nem Tudo são FloresEstar conectado pode equivaler a estar alienado.
Conceder força aos nativos digitais talvez seja o
mesmo que imaginar que um leopardo seja
domesticado porque se parece com um gato. Os
imigrantes desta era têm mais responsabilidade do
que se supõe para balizar as carências e excessos
que a informática promove. O pediatra Fábio Ancona
Lopez avisa que cada vez mais se percebe entre os
jovens um sintoma chamado de solidão cibernética.
A vastidão do espaço virtual aos poucos vai
desvelando a sua face insidiosa.
A psicóloga Andréa jotta Ribeiro,
da PUC-SP, alerta o risco de os pré-
adolescentes em especial se deixarem
seduzir pelo mundo virtual e abrirem
mão dos relacionamentos com
pessoas de carne e osso. Problemas
de aculturação podem ser
confundidos com cosmopolitismo
assim como aconselhamentos
paternos tendem a ser substituídos
por dicas duvidosas dadas por
desconhecidos.