o desafio da inclusão

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26 ensino superior SHUTTERSTOCK inclusão O desafio da por Svendla Chaves Censo do ensino superior indica que, apesar do crescimento, ainda é baixo o percentual de jovens universitários e revela o que ainda falta para colocar na faculdade o potencial contingente de brasileiros CAPA CENSO ais de sete milhões de candidatos estão inscritos para realizar no fi- nal de outubro o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) – o que signifi- ca que esse é o número de brasileiros em potencial para entrar numa faculdade em 2014. Na prática, no entanto, o ingresso de- verá ser bem menor, se acompanhar o cres- cimento médio apontado pelo mais recente Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educa- cionais Anísio Teixeira (Inep). Em 2012, os ingressos somaram 2,7 milhões de alunos, aumento de 17% em relação ao ano anterior e de 92% na década. Embora os índices de crescimento pa- reçam altos, a demanda reprimida também é: ainda há muito a ser feito para garantir que ao menos 33% dos jovens brasileiros estejam numa universidade em 2020, con- forme meta do Plano Nacional de Educação (PNE), que tramita no Congresso. Hoje esse índice gira em torno de 15%. Estudo da Organização para a Coopera- ção e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que, apesar de as taxas de escolariza- M

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inclusãoO desafio da

por Svendla Chaves

Censo do ensino superior indica que, apesar do crescimento, ainda é baixo o percentual de jovens universitários e revela o que ainda falta

para colocar na faculdade o potencial contingente de brasileiros

CAPA CENSO

ais de sete milhões de candidatos estão inscritos para realizar no fi-nal de outubro o Exame Nacional

do Ensino Médio (Enem) – o que signifi-ca que esse é o número de brasileiros em potencial para entrar numa faculdade em 2014. Na prática, no entanto, o ingresso de-verá ser bem menor, se acompanhar o cres-cimento médio apontado pelo mais recente Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educa-cionais Anísio Teixeira (Inep). Em 2012, os ingressos somaram 2,7 milhões de alunos,

aumento de 17% em relação ao ano anterior e de 92% na década.

Embora os índices de crescimento pa-reçam altos, a demanda reprimida também é: ainda há muito a ser feito para garantir que ao menos 33% dos jovens brasileiros estejam numa universidade em 2020, con-forme meta do Plano Nacional de Educação (PNE), que tramita no Congresso. Hoje esse índice gira em torno de 15%.

Estudo da Organização para a Coopera-ção e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que, apesar de as taxas de escolariza-

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inclusãoção do ensino superior terem aumentado nos últimos anos no país, o percentual de pessoas entre 25 e 34 anos que havia concluído a gra-duação em 2011 (13%) continuava muito abai-xo da média da OCDE (39%). O organismo é formado pelos países mais industrializados e também alguns emergentes como México, Chile e Turquia. “Até a Bolívia tem propor-cionalmente mais jovens universitários do que o Brasil”, lembra Oscar Hipólito, reitor da Anhembi Morumbi. “Se não houver um sistema arrojado que realmente coloque o ensino superior como prioridade, não vamos atingir a meta do PNE em 2020”, alerta.

Um plano efetivoPara Gilberto Garcia, presidente da Câ-

mara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), a meta esta-belecida no PNE é “matemática” demais, não considerando as peculiaridades do país. “Seria importante definir exatamente qual o passivo existente. Já temos uma quebra na passagem do ensino fundamental para o ensino médio. Os cursos técnicos também estão crescendo bastante” Para o conselhei-ro, não há uma causa única para a situação brasileira. “Não faltam esforços públicos e privados para ampliar o número de alunos na universidade”, comenta.

Nos resultados do censo, o Inep enfatiza que “a proporção de ingressantes para cada

dez mil habitantes, na maioria das áreas do conhecimento, é superior à média dos paí-ses da OCDE”. Um dos pontos realçados é a área de engenharia, produção e construção, que apresentou 18,8 ingressantes para cada dez mil habitantes brasileiros em 2012, con-tra a média de 15,3 na OCDE. Esse dado vi-ria ao encontro da significativa demanda do mercado por profissionais de engenharia.

A força das particularesO censo confirma a forte presença das

instituições de ensino particulares na edu-cação superior: 73% das matrículas de 2012 foram realizadas na rede privada, totalizan-do mais de cinco milhões de alunos (veja gráfico na página seguinte). Apesar da grande-za, o setor ainda não é visto com o mesmo prestígio da rede pública.

Segundo Paulo Cardim, reitor do Centro Universitário Belas Artes, uma certa anti-patia com as escolas privadas em todas as esferas de governo está entre as razões que impedem a expansão no Brasil. “Quando o governo não consegue expandir as univer-sidades públicas, sufoca o ensino particular para que também não tenhamos crescimen-to”, lamenta o reitor.

Cardim cita como exemplo o papel do Exame Nacional de Desempenho de Estu-dantes (Enade) na avaliação e consequen-te financiamento dos cursos. “Quando

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O desafi o da inclusão

ensino superior28

uma escola recebe nota abaixo de 3, perde o acesso ao Fundo de Financiamento Es-tudantil (Fies) e ao Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior (Proies), fi cando praticamente impedida de funcio-nar. Só que muitas vezes o que faltou foi comprometimento dos alunos, que não são responsabilizados por isso”. Para o reitor, o governo aparece muito mais como fi scal do que como incentivador da qualidade.

Em apenas seis estados o número de estudantes matriculados em instituições públicas é maior que nas particulares: Acre, Pará, Roraima, Tocantins, Santa Catarina e Paraíba. O consultor em ensino superior Celso Frauches sinaliza que o volume de potenciais alunos no Nordeste brasileiro com certeza supera a oferta de vagas (veja gráfi co na página ao lado). “Esse quadro não se espelha em matrículas em razão do viés econômico da região”, explica Frauches, ressaltando o fi nanciamento como um dos problemas ainda a ser equacionado para in-cluir mais alunos no ensino superior.

Para Gilberto Garcia, a expansão de vagas nem sempre tem sido bem equa-cionada entre todas as regiões. “É preciso uma indução política mais estudada da distribuição das vagas no país. O censo do Inep deve ser um instrumento para isso, com uma ampla análise científi ca dos da-dos”, sugere o conselheiro.

Problema anteriorAs etapas do ensino no Brasil servem

como marcos para que se avaliem as la-cunas no avanço da educação. Mais de 90% das crianças entre seis e 14 anos es-tão matriculadas no ensino fundamental. Na próxima faixa etária, de 15 a 17 anos, já aparecem distorções no desenvolvimento escolar: embora o número de matriculados seja maior que 80%, pouco mais de 50% es-tão no ensino médio.

Outra janela de fuga aparece nos dados do Enem. Em 2012, o índice de abstenção na prova chegou a 28% – ou seja, boa parte dos inscritos sequer comparece ao exame. “O número de alunos que fazem Enem nun-ca vai coincidir com os ingressantes no

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O desafi o da inclusão

Doença fatal: o consultor Carlos Monteiro diz que a evasão é o maior obstáculo para o crescimento das matrículas

ensino superior enquanto a nota do exame não for obrigatória no processo seletivo das instituições particulares”, assinala Suli de Moura, diretora acadêmica da Faculdade Santa Marcelina (Fasm). A professora des-taca dois segmentos de alunos que interfe-rem nos números: aqueles que não aderem ao Enem, pois querem estudar em uma ins-tituição que não utiliza este dado no proces-so seletivo, e os que realizam o Enem e não conseguem pontuação para ingressar em universidade pública – e não têm condições fi nanceiras de ingressar em particular.

“O censo mostra mais de 2, 7 mil ingres-santes. Supondo-se que todos fi zeram o Enem (o que não é verdade) a taxa de suces-so seria 64%. A questão é para onde vai esse um terço que não ingressou”, salienta Carlos Monteiro, consultor educacional da CM. “Os próximos anos devem revelar um maior nú-mero de estudantes no exame que, por sua vez, está cada vez mais seletivo em razão da própria concorrência entre os estudantes.”

Os grandes vilõesAlém dos jovens que não ingressam no

ensino superior, dois outros dados são re-levantes para entender a baixa formação acadêmica no Brasil: as taxas de evasão e o

tempo de permanência dos estudantes nas classes universitárias. O número de alu-nos que abandona o curso ou leva muitos anos para se formar é signifi cativo e pode ter efeito também no equilíbrio fi nanceiro das instituições. Segundo o consultor Cel-so Frauches, comparando-se o número de concluintes com ingressantes, o Brasil tem um desempenho muito fraco, não conse-guindo evitar a evasão. “Nossos resulta-dos estão abaixo do obtido pelos países de mesmo porte na América do Sul e também pelos demais componentes do BRICS”, afi rma Frauches.

Segundo os dados do Inep, ingressaram no ensino superior brasileiro 1,5 milhão de estudantes em 2002. Considerando um pe-ríodo médio de formação de cinco anos, se-ria de esperar que boa parte deles estivesse terminando a graduação em 2007 – mas o número de concluintes no ano foi 806 mil. E a tendência se mantém: os ingressos em 2007 chegaram quase a 2,2 milhões; os for-mados em 2012, menos de 1,1 milhão.

Carlos Monteiro diz que a evasão é a mais terrível doença organizacional das ins-tituições brasileiras, tornando-se o maior obstáculo para o crescimento das matrícu-las. Em 2012 foram 2,8 milhões de ingres-

Na hora de pagar a conta

Diversas opções oferecem aos estudantes de menor renda a possibilidade de ingressar na rede privada. se o Prouni já se tornou bem conhecido pela população, os sistemas de fi nanciamento, no entanto, ainda são muitas vezes desconhecidos ou temidos pelos candidatos, que têm receio de contrair dívidas com a formação superior. “As instituições de ensino levaram um tempo até entender que o fi nanciamento é uma das principais formas, se não a principal, para o crescimento do setor. A próxima barreira que precisamos quebrar é disseminar a informação aos potenciais alunos”, afi rma carlos Furlan, diretor executivo da Ideal Invest, responsável pelo crédito universitário PraValer. De acordo com ele, ao se levar em consideração que 60% dos inscritos no enem não pagaram a taxa de inscrição, uma prerrogativa para quem não tem renda ou vem de escola pública, é possível concluir que quase dois terços do total dos estudantes que pleiteiam uma vaga na faculdade têm problema fi nanceiro para pagar um curso superior. Assim, uma das formas mais efi cientes para alavancar o acesso é oferecer algum tipo de fi nanciamento. oscar hipólito concorda que uma das grandes difi culdades dos alunos para ingressar na universidade é fi nanceira. o reitor lembra que faltam recursos aos estudantes não apenas para pagar a mensalidade do curso, mas para todos os gastos necessários nesse período. “o fi nanciamento tem de prever também a permanência do aluno no sistema”, defende hipólito, que é contra o mecanismo de bolsas não restituíveis. “essa medida não resolve, pois encarece o sistema. o melhor a fazer é oferecer fi nanciamento que o aluno deva restituir. No chile, por exemplo, mais de 90% dos alunos do ensino superior têm seus estudos fi nanciados”, conta.

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santes e 1 milhão de concluintes. Supondo--se evasão zero, haveria crescimento de 1,8 milhão de alunos e estaríamos próximos de nove milhões de matrículas. “No entanto, o censo mostra apenas 7,3 milhões. Resulta-do: o sistema cresceu apenas 300 mil, pois o restante ‘ninguém sabe, ninguém viu’”, ironiza Monteiro.

Onde vão parar todos esses estudantes que não se graduam? Por que desistem ou prolongam os cursos? O maior índice de eva-são é nos primeiros meses. Vários especialis-tas afirmam que a questão financeira não é o fator preponderante nesse caso. “Nas pes-quisas internas o item ‘não tenho condições financeiras’ aparece em primeiro lugar, mas quando o aluno realmente gosta do curso e quer ser um profissional da área ele consegue recursos”, conta Suli.

É uma relação custo-benefício. Quando há quebra de expectativas do aluno e de sua família com o curso e com a instituição de ensino, seja por atendimento ruim ou por disciplinas que não parecem atrativas, a impressão é de se estar desperdiçando recursos. Recursos que são valiosos demais, considerando a situação econômica da maior parte das famílias brasileiras.

Se a dificuldade de permanência se apresentasse somente no setor privado, se-ria mais fácil detectar os motivos de evasão, mas o problema também atinge a rede pú-blica. “É preciso levar em conta a questão vocacional; os alunos se desencantam com o curso com o tempo. Antes as áreas eram mais definidas, e os nossos jovens estão cada vez mais imaturos para tomar decisões referentes à carreira”, explica Garcia.

Os cursos de bacharelado interdiscipli-nar, ainda em desenvolvimento, têm sido uma alternativa na redução da evasão. Cur-sos mais curtos, como os de tecnologia, tam-bém ajudam a manter os jovens nas salas de aula. Nesse quadro, as instituições particula-res precisam estar atentas ao orçamento. A evasão impacta o planejamento financeiro das escolas, que se programam para atender aos ingressantes. Também o prolongamento do curso causa prejuízos, afetando a eficácia do sistema. “Essas são questões de gestão e acompanhamento”, conclui Hipólito.

Carlos Monteiro acredita que as insti-tuições estão se profissionalizando, enten-dendo o aluno como cliente e dando mais atenção ao atendimento, considerando os diversos aspectos que contribuem para a evasão, e indica outro ponto a ser trabalha-do. “A questão financeira é apenas uma das variáveis dessa realidade. O desencanto, a falta de expectativa e as metodologias ultra-passadas são condicionantes importantes a serem trabalhados”, recomenda.

Qualidade na baseUma barreira relevante tanto para o in-

gresso quanto para a permanência dos estu-dantes na formação superior é a deficiência escolar. Muitos jovens não conseguem obter pontuação nos processos seletivos ou, quando passam, têm dificuldades para acompanhar os estudos na universidade, em razão do descompasso entre o ensino médio e o superior.

“O que tenho observado nas últimas duas décadas é que os jovens que vêm das escolas públicas não se acham capazes de competir com os egressos das particulares, que estariam mais bem preparados”, conta Celso Frauches. O especialista aponta que a formação docente é uma grande dificulda-de no incremento da educação básica, com evasão nos cursos de licenciatura, professo-res mal pagos e sem plano de carreira, que não são cobrados no compromisso com os resultados. “Falta empenho do governo na qualidade da formação docente. Também há problemas de remuneração e ambiente de trabalho”, denuncia.

Frauches não parece esperançoso quan-to à solução desses entraves, afirmando que a dificuldade está no fato de o ensino básico ser de responsabilidade de estados e muni-cípios – o governo federal teria de intervir para avaliar a qualidade do trabalho que vem sendo feito.

As soluções de longo prazo também são uma reivindicação de Paulo Cardim. Para ele, os governos precisam trabalhar com planejamento e gestão na educação, em horizontes de 15 a 20 anos. “Não podemos ficar sujeitos a improvisações e interesses momentâneos de um ou outro governo.”

Questão de currículo: de acordo com Gilberto Garcia, do CNE, a evasão também revela a imaturidade dos jovens em pensar a carreira

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CAPA CENSO EAD

mbora ainda seja responsável por apenas 15,8% do total de matrículas na graduação, a educação a distân-

cia (EAD) está alavancando o crescimento no ensino superior. As matrículas presen-ciais cresceram 3,1% em 2012, segundo o Censo do Inep, enquanto que na modalidade a distância o aumento foi de 12,2%. Nos in-gressos, a expansão foi de 15,1% e 25,7%, res-pectivamente. Mesmo com taxa signifi cativa de evasão, a EAD apresentou crescimento bastante destacado também nos concluintes, de 15,0%, contra 1,3% da presencial.

O Inep avalia que a modalidade deve se-guir a tendência de expansão e destaca que a oferta, assim como na educação presencial, “é acompanhada por todos os processos de regulação e supervisão inerentes ao ensino superior no Brasil.” No entanto, o cresci-mento da EAD esbarra justamente na forte regulação do MEC, o que ocasiona muita concentração nesse mercado, com poucas instituições oferecendo a modalidade.

Os requisitos para desenvolvimento do setor dividem opiniões. Para o consultor Celso Frauches, o MEC não está apare-lhado para avaliar a educação a distância

no Brasil. “Hoje há muitos cursos que não oferecem qualidade, e também ainda exis-te preconceito do mercado”. Já a diretora acadêmica da Faculdade Santa Marcelina (Fasm), Suli de Moura, acredita que a EAD seja uma saída para o país melhorar o índice dos jovens que frequentam o ensino univer-sitário, mas também considera importante uma revisão na forma como a modalidade está sendo conduzida.

Um dos empecilhos ao aumento do número de alunos na modalidade está na ausência de fi nanciamento público. A co-ordenadora de Ensino a Distância da Or-ganização Educacional Barão de Mauá, Márcia Aparecida Figueiredo, que também é representante da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), reafi rma a importância da EAD para a inclusão de alunos. “Como podemos ampliar o número de estudantes matriculados se apenas 12,6% das instituições são públicas, e o MEC não concede o benefício do Fies para os alunos na modalidade a distância?”.

No momento em que o governo liberar o fi nanciamento público para esse modelo, espera-se um salto quantitativo enorme em

Considerada uma saída para expandir o acesso, EAD esbarra na burocratização e falta de fi nanciamento

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matrículas. De acordo com o diretor executi-vo da Ideal Invest, Carlos Furlan, no caso do crédito universitário PraValer a educação a distância é encarada da mesma forma que o estudo presencial. Nesse sentido ele aponta uma demanda crescente na modalidade.

Os queridinhos do BrasilAlém do crescimento galopante do ensino

a distância, outras atividades vêm ganhando a preferência dos estudantes. É o caso dos cursos de tecnologia, que apresentaram ex-pansão de 8,5% em relação a 2011, chegando a 13,5% das matrículas na educação superior. Nos cursos de bacharelado, o aumento foi de 4,6% e nos de licenciatura, de 0,8%.

Foi a primeira vez que o número de in-gressos na graduação tecnológica superou o das licenciaturas, chegando a quase 20% dos alunos que entraram no ensino superior em 2012, contra 17,9% das licenciaturas. O presi-dente da Câmara de Ensino Superior do Con-selho Nacional de Educação (CNE), Gilberto Garcia, assinala que o crescimento dos tecnó-logos se dá principalmente na área de servi-ços – e essa tendência deve ser mantida. Se até recentemente a figura do tecnólogo não estava consolidada e havia preconceito se o profissional não fosse bacharel, hoje as neces-sidades do mercado mudaram essa situação.

As licenciaturas passam por uma alavan-cagem na educação a distância, representan-do 40,4% das matrículas nessa modalidade. Garcia ressalta, no entanto, que não há como aumentar o número de alunos de licenciatu-ra sem que se resolva a situação profissional do professor no Brasil, incluindo a questão salarial. “Embora o governo federal venha fazendo certo esforço para incentivar a for-mação de professores, isso não compensa o atraso histórico que temos no país, de des-prestígio e desvalorização dos professores, especialmente os de ensino básico.”

Administração, direito e pedagogia continuam sendo os cursos preferidos dos brasileiros, representando cerca de 30% das matrículas, dos ingressos e dos con-cluintes. Em números arredondados, uma em cada sete mulheres que está na facul-dade cursa pedagogia. A cada profissional graduado em física no Brasil em 2012, se

formaram 49 administradores.“Há redução na formação de professores

nas áreas mais técnicas, como matemática, física e química. Isso afeta o ensino funda-mental, que precisa ser priorizado. É neces-sário pensar no Brasil no médio prazo, pois o resultado leva no mínimo 15 anos para ser alcançado”, declara o reitor do Centro Uni-versitário Belas Artes, Paulo Cardim.

Foi com o objetivo de melhorar essa proporção, despertando as vocações docen-tes e científicas dos jovens, que o governo federal lançou no final de setembro o pro-grama Quero ser professor, quero ser cientista. A iniciativa vai oferecer bolsas a estudantes da educação básica que queiram desenvol-ver atividades com ênfase em matemática, física, química e biologia.

Suli lembra que sempre haverá maior procura pelos cursos que estão na moda, que proporcionam um maior salário para o início de carreira, embora nem sempre as institui-ções estejam preparadas para oferecer es-sas graduações. “Por outro lado, enquanto o governo não mudar a política de salário dos professores, teremos este cenário: sobram vagas para os cursos de licenciatura e faltam professores nas escolas”, aponta Suli.

Embora o Inep comemore o aumento dos ingressantes nas áreas de engenharia, produ-ção e construção, o número ainda é insufi-ciente. Carlos Monteiro lembra que, até 2015, o Brasil vai precisar de 300 mil engenheiros, mas o país ainda não está conseguindo for-mar a quantidade de profissionais necessá-rios para a área. De acordo com a Federação Nacional dos Engenheiros, os estudantes não estão terminando o curso e os que terminam não buscam uma especialização.

“Nossa realidade é cristalina: faltam en-genheiros e falta qualificação. Este é o mo-mento para se repensar os currículos, não só das engenharias, para que se tornem uma via de mão dupla entre a academia e o mercado”, aconselha Monteiro. A verda-de translúcida é completada pelo pensa-mento do reitor da Universidade Anhembi Morumbi, Oscar Hipólito. “Se quisermos efetivamente mudar algo em nosso país, precisamos de mais profissionais com nível superior”, conclui. (Svendla Chaves)

Revisão da EAD: para Suli de Moura, da Fasm, o investimento no modelo de ensino a distância pode ser uma saída para o gargalo da inclusão

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