o credo de jesus

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Crescimento Espiritual, amor a Deus e ao próximo A formação espiritual tem sido discutida pelos cristãos de toda parte. Finalmente, alguém se pergunta o que isso significava para Jesus. O Credo de Jesus explica a todos.” —Bill Hybels, Pastor sênior da Igreja Willow Creek O Credo de Jesus - Crescimento espiritual, amor a Deus e ao próximo é o livro principal do programa 40 Dias Vivendo O Credo de Jesus.

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Page 1: O Credo de Jesus
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Todas as citações bíblicas foram extraídas da Nova Versão Internacional (NIV), publicada pela Sociedade Bíblica Internacional.

Todos os direitos reservados.É proibida a reprodução total e parcial sem permissão escrita dos editores.

Scot McKnight

O Credo de JesusCrescimento espiritual, amor a Deus e ao próximo

Título do original em inglês: The Jesus Creed - Loving God, loving others

Copyright © 2004 Scot McKnight

Coordenação editorial: Walter Feckinghaus

Tradução: Renata Balarini Coelho

Revisão: Josiane Zanon Moreschi e Sandro Bier

Capa: Sandro Bier

Editoração eletrônica: Josiane Zanon Moreschi

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:

1. Amor : Virtude : Aspectos religiosos : Cristianismo 241.4

Editora Evangélica EsperançaRua Aviador Vicente Wolski, 353 - CEP 82510-420 - Curitiba - PR

Fone: (41) 3022-3390 - Fax: (41) [email protected] - www.esperanca-editora.com.br

Mcknight, Scot O credo de Jesus : crescimento espiritual, amor a Deus e ao próximo / Scot Mcknight ; tradução Renata Balarini Coelho. -- 1. ed. -- Curitiba, PR : Editora Evangélica Esperança, 2009.

Título original: The Jesus creed.BibliografiaISBN 978-85-7839-019-8

1. Amor - Aspectos religiosos - Cirstianismo 2. Deus - Amor I. Título

09-08531 CDD-241.4

Page 5: O Credo de Jesus

“Este livro é um raro e extraordinário banquete. Um estudioso bíblico de grande renome oferece o fruto do próprio estudo pessoal, da experiência de vida e das reflexões em momentos de oração. Trata-se de um livro es-crito com clareza, absolutamente prático e baseado em uma ampla varie-dade de sábias tradições (protestantes, católicas e judaicas). Não é preciso concordar com Scot McKnight quanto a todos os detalhes para perceber que o autor realizou um trabalho de verdadeiro valor. Sem dúvida, este livro levará muitos leitores para mais perto de Cristo e os fará mergulhar com mais profundidade na sabedoria da Palavra de Deus.”

—Scott Hahn, Ph.D., Professor das Sagradas Escrituras e de Teologia da Universidade Franciscana de Steubenville

“A formação espiritual tem sido discutida por cristãos de todo o mundo. Finalmente, alguém se pergunta o que isso significava para Jesus. O Credo de Jesus explica a todos.”

—Bill Hybels, Pastor sênior da Igreja Willow Creek Community

“Scot McKnight faz um convite irresistível ao crescimento espiritual in-tencional e apresenta um claro caminho a seguir. O Credo de Jesus é um livro tanto informativo quanto formativo e levará indivíduos e grupos a compreender, com maior profundidade, o coração de Jesus e o significa-do da formação espiritual.”

—Doreen L. Olson, Ministra executiva do Departamento de Formação Cristã da Igreja Evangélica Covenant

Depoimentos sobreO CREDO DE JESUS

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“Em um mundo de espiritualidade “pop” e manuais de autoajuda palia-tivos, O Credo de Jesus, de Scot McKnight, oferece estimulante investiga-ção e discernimento genuíno do que, de fato, dizem os evangelhos sobre o chamado de Jesus ao crescimento espiritual. Além disso, os manuais que acompanham cada capítulo ajudarão tanto indivíduos quanto grupos a avançarem da informação à formação, da leitura superficial à reflexão profunda das Escrituras – em suma, da disciplina espiritual desprovida de entusiasmo ao discipulado mais voltado aos princípios bíblicos.”

—George H. Guthrie, Benjamin Perry Professor da Bíblia da Universidade Union

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Para Kris

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INTRODUÇÃO ......................................................................................PREFÁCIO ...............................................................................................

PARTE UM ............................................................................................O Credo de JesusUma pessoa espiritualmente formada demonstra o amor que sente por Deus ao seguir Jesus e amar ao próximo.

PRÓLOGO ..............................................................................................

1 O Credo de Jesus .....................................................................................2 Orando o Credo de Jesus .........................................................................3 O Abba do Credo de Jesus ......................................................................4 O Credo de Jesus como uma mesa ............................................................5 Um Credo de amor santo ........................................................................6 Um Credo para o próximo ......................................................................

PARTE DOIS ...........................................................................................Histórias sobre o Credo de JesusUma pessoa espiritualmente formada aproveita as histórias de outras pessoas que amam a Jesus.

PRÓLOGO ..............................................................................................

7 João Batista: uma história de novos começos ...........................................8 José: uma história de reputação ...............................................................

ÍNDICE

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9 Maria: uma história de vocação .............................................................10 Pedro: uma história de conversão ........................................................11 João: uma história de amor .................................................................12 Mulheres: uma história de compaixão .................................................

PARTE TRÊS ..........................................................................................A sociedade do Credo de JesusUma pessoa espiritualmente formada vive com base nos valores do reino.

PRÓLOGO .............................................................................................

13 Uma sociedade de transformação ........................................................14 Uma sociedade de grãos de mostarda ..................................................15 Uma sociedade voltada à justiça ..........................................................16 Uma sociedade de restauração .............................................................17 Uma sociedade de alegria ....................................................................18 Uma sociedade com perspectiva ..........................................................

PARTE QUATRO ..................................................................................Vivendo o Credo de JesusUma pessoa espiritualmente formada ama a Jesus.

PRÓLOGO .............................................................................................

19 Crendo em Jesus .................................................................................20 Permanecendo em Jesus ......................................................................21 Rendendo-se a Jesus ............................................................................22 Sendo restaurado em Jesus ..................................................................23 Perdoando em Jesus ............................................................................24 Estendendo a mão em Jesus ................................................................

PARTE CINCO ......................................................................................Jesus e o Credo de JesusUma pessoa espiritualmente formada participa da vida de Jesus.

PRÓLOGO .............................................................................................

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25 No Jordão com Jesus ...........................................................................26 No deserto com Jesus ..........................................................................27 No monte com Jesus ...........................................................................28 Na última ceia com Jesus ....................................................................29 Na cruz com Jesus ...............................................................................30 No sepulcro com Jesus ........................................................................

AGRADECIMENTOS ...........................................................................

DICIONÁRIO DE TERMOS ................................................................

REFERÊNCIAS ......................................................................................

LEITURA RECOMENDADA ...............................................................

ÍNDICE215

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A primeira vez em que tive contato com o trabalho de Scot McKnight aconteceu por meio de minha esposa, Nancy. Certo dia, ela entrou pela porta e disse: “Conheci um homem na igreja que tem uma mente fabulosa. Com certeza, você precisa conhecê-lo.” Sempre que minha esposa se interessa por outro homem, minha curiosidade é aguçada. Por isso, combinei um almoço com ele.

Aquele primeiro encontro levou a uma série de conversas e foi o início de um relacionamento que continua até hoje ao longo de alguns milhares de qui-lômetros.

Scot tem o tipo de imaginação fértil que se estende desde a teoria da con-versão até o debate acerca da busca do Jesus histórico e ao ataque ofensivo do técnico dos Los Angeles Lakers, Phil Jackson, em uma única conversa! Ele se re-laciona bem com pessoas de todos os tipos. Suponho que chamar um estudioso de um cara normal seja um elogio desajeitado, mas não consigo pensar em uma expressão que descreva melhor Scot.

Acima de tudo, Scot tem muito amor por Jesus e o compromisso apaixonado de descobrir tudo o que se é capaz de aprender sobre a mensagem e o mundo de Jesus. Ele combina tais qualidades com o profundo desejo de colaborar para tornar o melhor de tal aprendizado acessível às pessoas que nunca obterão um diploma em línguas semíticas ou arqueologia bíblica.

Na época em que estive no seminário, David Hubbard (que era tanto presi-dente quando professor do Antigo Testamento) falava sobre como o aluno mé-dio de hoje tem acesso a mais informações do que Lutero ou Calvino na época em que edificaram seu aprendizado. Obviamente, o problema é que, nesta era de sobrecarga de informações, dispomos de uma quantidade de informações maior do que conseguimos processar passando, todos os dias, por nossa consciência,

INTRODUÇÃO

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desde e-mails inúteis até telas de alta definição e cabos de fibra ótica. Neste livro, não encontramos tal sobrecarga de informações, pois Scot consegue apresentá-las com adequada abrangência.

Em O Credo de Jesus, Scot dá um grande presente a todo seguidor de Jesus quando nos convida a voltar ao mundo em que Jesus viveu. Aprendemos, um passo por vez, o que significava ser um mestre judaico na Galileia do primeiro século. Nessas páginas, a identidade, as esperanças e os conflitos de José e Maria, João Batista e Simão Pedro são retratados de formas tanto novas quanto pro-fundamente esclarecedoras. Scot usa a própria compreensão com leveza. Des-cobrimos a importância do que significa lutar para ser um dos tsadiqim* ou Am ha-aretz* – não simplesmente em nome da informação, mas pela luz que lança sobre nosso chamado para seguir Jesus. Segundo as palavras de Garrison Keillor, Scot “coloca o feno em um local mais baixo onde os bodes podem alcançá-lo”.

Estou estusiasmado para que você dê início à jornada ao longo das páginas deste livro. Acredito que duas lacunas diminuirão à medida que você o ler. Uma delas é a distância entre você e Jesus. O mundo dele chegará mais perto do seu. Ao descobrir a verdadeira identidade e os conflitos das pessoas que cercavam Jesus, você descobrirá que está lendo sua própria história. Perceberá aquele pe-queno gestaltismo “A-há!” escapando por entre os lábios nas diversas vezes em que vier a compreender a dinâmica essencial em funcionamento nas narrativas do Evangelho.

A outra lacuna que será reduzida é o espaço entre a pessoa que você é agora e a pessoa que Deus criou para que você seja. Dallas Willard assinalou que todos nós estamos constantemente sendo espiritualmente formados para melhor ou pior, nossos desejos e nosso coração estão sendo moldados quer queiramos, quer não. Dentre outras coisas, Jesus é o maestro da formação espiritual. O Credo de Jesus é tanto um convite quanto um meio pelo qual você pode colocar seu espí-rito nas mãos do Senhor e sentar-se à mesa do Mestre. Basta de preliminares. É hora de ir ao que realmente importa!

John OrtbergPastor da Igreja Presbiteriana Menlo Park

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Não confessei nenhum credo até descobrir o credo pessoal de Jesus, ou seja, a confissão de fé do Senhor. De vez em quando, é claro, eu me pegava falando em alguma igreja, onde todos confessávamos o Credo dos Apóstolos ou o Credo Niceno.1 Mesmo assim, confessar um credo não era algo rotineiro para mim. Agora, começo cada dia com a recitação silenciosa do credo usado e ensinado por Jesus. Quando ele me vem à mente ao longo do dia, recito-o de novo. Para mim, é um lembrete suave do que significa viver.

Por todo o mundo, jovens e velhos estão perguntando sobre a formação espiritual. Perguntam o que significa viver diante de Deus no mundo atual. Em busca de orientação, voltam-se a autores modernos tão diversificados quanto Thomas Merton, Richard Foster e Dallas Willard. Voltam-se também a mestres espirituais clássicos que ensinaram a igreja por décadas – mestres como Santo Agostinho, Teresa de Ávila e Irmão Lawrence. Já me voltei tanto aos modernos quanto aos clássicos e me voltarei a eles novamente.

Contudo, esquecemos, algumas vezes, a fonte desses mestres espirituais. Às vezes, esquecemo-nos de voltar à fonte de suas ideias, a Jesus e às palavras dele quando procuramos saber o que significa ser uma pessoa espiritualmente forma-da. Peço-lhe que se volte para ele neste livro, descubra sua resposta para a maior pergunta referente à essência do crescimento espiritual.

Certa vez, um mestre judeu da Torá* (a Lei) perguntou a Jesus o que era mais importante para a formação espiritual. A resposta de Jesus virou a História de cabeça para baixo para os que desejavam segui-lo. Este livro é um convite para

1 Trata-se de uma declaração de fé cristã aceita pela Igreja Católica, pela Igreja Ortodoxa, pela Igreja Anglicana e pelas principais igrejas protestantes como a presbiteriana por exemplo. O nome está relacionado com o Primeiro Concílio de Niceia, no qual foi adotado, e com o Primeiro Concílio de Constantinopla, no qual foi aceita uma versão revista. (N. da T.)

PREFÁCIO

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você explorar a resposta que Jesus deu àquele homem. Eu a chamo de Credo de Jesus, e o que ele disse deveria dar forma a tudo o que dizemos sobre espiritua-lidade cristã. Tudo.

Nota ao leitor: no seguinte texto, muitos termos em itálico são explicados no Dicionário de termos no final deste livro. (Na primeira vez em que esses termos aparecem no texto, são marcados com um asterisco.) As fontes das citações, incluindo referências à Bíblia, podem ser encontradas em Referências. Cada capí-tulo pode ser compreendido sem a necessidade de ler as passagens do Evangelho listadas no início dos capítulos, mas se recomenda que cada leitura comece com as passagens bíblicas mencionadas.

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Uma pessoa espiritualmente formada demonstra o amor que sente por Deus

ao seguir Jesus e amar ao próximo.

PARTE UM

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Quando indagado por um mestre da lei acerca do ponto em que começa a formação espiritual, Jesus respondeu com o Credo de Jesus.

O Credo de Jesus define o que é formação espiritual. Trata-se da confissão de fé do próprio Senhor.

O CREDO DE JESUSOuça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Se-

nhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças.

O segundo é este: “Ame cada um o seu próximo como a si mesmo”.

Não existe mandamento maior do que estes.

Desse modo, Jesus complementa o Shemá do judaísmo (Dt 6.4-9) ao acres-centar Levítico 19.18, revelando que a formação espiritual consiste em amar a

Deus e ao próximo.

O primeiro princípio da formação espiritual é este: uma pessoa espiritual-mente formada ama a Deus e ao próximo.

Nos seis capítulos seguintes, exploraremos como começa a formação es-piritual com o amor a Deus e ao próximo. A formação espiritual consiste em

relacionamento – com Deus e com os outros.

PRÓLOGO

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LEITURA DOS EVANGELHOSMarcos 12.28-33; Lucas 9.57-62

Jesus sabe em que consiste a vida.Thomas à Kempis sabe: ele deseja estar em total comunhão com Deus. O Ir-mão Lawrence sabe: ele deseja conversar com Deus constantemente. John Wo-olman sabe: ele se esforça para fazer o que é correto em todas as situações. J. I. Packer sabe: ele anseia por ser inflamado com zelo santo por Deus. Richard Foster sabe: ele almeja a graça da transformação espiritual por meio das disci-plinas espirituais. Dallas Willard sabe: nesta existência física, ele tem fome de ser semelhante a Cristo. John Ortberg sabe: ele deseja ardentemente tornar-se a imagem de Cristo. Rick Warren sabe: ele tem sede de uma vida guiada pelos propósitos de Deus.

O que torna esses mestres espirituais tão atraentes para nós, hoje em dia, é o seguinte: eles sabem o que pretendem quando discutem “formação espiritual”. Sabem como é uma pessoa espiritualmente formada e anseiam por ver o mesmo acontecer na vida deles e na dos outros. Aprendo com eles diariamente e tenho uma noção muito profunda de que até minhas tentativas de resumir o “objetivo” deles não lhes fazem justiça.

No entanto, atrás desses mestres influentes, está Jesus, e ele também sabe. Sendo assim, as grandes questões são as seguintes: o que Jesus sabe (e diz)

sobre formação espiritual? De acordo com Jesus, como é uma pessoa espiritual-mente formada? Tais perguntas são diferentes das referentes às disciplinas espi-rituais que Jesus pratica e ensina. Essas questões permanecem em silêncio atrás das disciplinas e perguntam: para que servem?

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CAPÍTULO 1

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Jesus expressou sua opinião acerca da formação espiritual? Sim. E ele o faz ao transformar um credo – o que chamo de Credo de Jesus. E o Credo de Jesus torna-se claro (em quase todas as página dos quatro evangelhos) quando nos lembramos do contexto judaico de Jesus. Portanto, comecemos daqui. (A fim de ressaltar a importância desse credo para Jesus, eu me referirei à sua complemen-tação do Shemá como o Credo de Jesus ao longo do livro.)

O CREDO DO JUDAÍSMO

Diariamente, quando acorda ou se recolhe, o judeu praticante recita um cre-do em voz alta. Esse credo foi retirado da Bíblia, de um dos livros de Moisés, Deuteronômio 6.4-9, com outros dois textos. (Está completamente apresentado no Dicionário de Termos que se encontra no final do livro.) Esse sagrado credo judaico é chamado de Shemá* (ou Shema de acordo com alguns). Todo aquele que deseja compreender o que Jesus quis dizer com formação espiritual precisa meditar no Shemá do judaísmo. Trata-se da confissão de fé judaica da formação espiritual, e Jesus tanto a apreciava que, conforme veremos, modificou-a para seus seguidores:

Ouça (Shemá), ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Se-nhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças. Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sen-tado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar. Amarre-as como um sinal nos braços e prenda-as na testa. Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em seus portões.

De acordo com um especialista na religião judaica moderna, o Shemá “é a pri-meira ‘oração’ que as crianças [judias] aprendem a fazer” e “a expressão quintes-sencial da fé e do compromisso mais fundamental do judaísmo”.2

O Shemá expressa o que é mais importante para a formação espiritual: isola-do, YHWH* (tetragrama que indica o nome hebraico sagrado de Deus) é Deus de Israel, Israel é escolhido de Deus e Israel deve amar a Deus – de coração, alma e todas as forças. O Shemá esboça o estilo de vida de formação espiritual contido na Torá*: memorizar, recitar, ensinar e copiar a Torá e usar tzitzit (franjas nas bordas das vestes) para lembrarem a Torá. Existe uma promessa atrelada à vida baseada no Shemá: quando os judeus viviam de acordo com o Shemá, eram “abençoados” além do que podiam imaginar.

2Todasasreferênciasenotaspodemserencontradasnofimdolivro.Muitosdostermosemitálico(termos estes que são marcados com um asterisco na primeira vez em que aparecem no texto) pos-suem um verbete no Dicionário de Termosqueseencontranofinaldolivro.

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Alguém pode dizer, então, que o credo do judaísmo é o seguinte: ame a Deus vivendo segundo a Torá. Portanto, onde fica Jesus em um mundo de judaísmo que afirma um Shemá de amor a Deus com base na vida segundo a Torá?

O CREDO DE JESUSCOMO A PRIMEIRA COMPLEMENTAÇÃO

Como um bom judeu, Jesus recita, com devoção, o Shemá diariamente. Em uma fase posterior de sua vida, ele se depara com um mestre da lei que lhe pergunta: “De todos os mandamentos, qual é o mais importante?” Para um judeu, a per-gunta desse homem é a questão fundamental a respeito da formação espiritual. Ele está perguntando acerca da essência espiritual do judaísmo e acha que Jesus pode saber a resposta. E ele sabe. Jesus responde ao homem recitando o Shemá, mas adiciona algo e, assim, transforma um credo a fim de que possa moldar o cerne espiritual de seus seguidores. A isso, dou o nome de o Credo de Jesus.

O CREDO DE JESUS

Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças. [Até aqui, tudo certo. Trata-se de Deuteronômio 6.4s.]

[Agora, Jesus acrescenta um versículo de Levítico – 19.18.]

O segundo é este: “Ame cada um o seu próximo como a si mesmo.

Não existe mandamento maior do que estes.

Bem aqui, descobrimos o Credo de Jesus referente à formação espiritual. Con-forme afirma Thomas à Kempis, “se Jesus fala uma só palavra, sentimos grande alívio” (Imitação de Cristo, Editora Martin Claret, 2003) no Credo de Jesus. Para Jesus, tudo a respeito da formação espiritual está moldado em sua versão do She-má. Para ele, o amor a Deus e ao próximo é a essência. O amor, um termo quase indefinível, é incondicional para uma pessoa que incita e modela comportamen-tos a fim de ajudá-la a tornar-se o que Deus deseja. O amor, quando funciona adequadamente, é tanto emoção quanto vontade; afeto e ação.

Não podemos exagerar a importância do Shemá na formação espiritual ju-daica. Por isso, precisamos tomar nota de quando Jesus complementou-o. Com certeza, Jesus aceitou o Shemá, mas também o complementou. A pergunta, en-tão, que fazemos é a seguinte: Jesus está sugerindo apenas uma emenda sutil?

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Não. É preciso verdadeira coragem (ou “chutzpah”3) para adicionar algo ao sa-grado Shemá, mas tal complementação revela a essência do Credo de Jesus.

A maioria dos meus leitores sabe o Credo dos Apóstolos e tem noção do que aconteceria se eu acrescentasse algumas poucas linhas após “na vida eterna” – algo como: “e em sustentar a igreja local dando o dízimo dos rendimentos antes dos impostos!” Até mesmo em uma igreja civilizada, eu seria massacrado! A enfermeira me diria, na ambulância, ao levar-me para o hospital: “Não mexa com credos, querido”.

No entanto, Jesus faz exatamente isso. No lugar do Shemá “Ame a Deus e ao próximo”, o que Jesus acrescenta não é desconhecido do judaísmo. Ele não está criticando a doutrina judaica. Jesus está acrescentanto um toque pessoal ao judaísmo. Amar ao próximo é um ponto central para o judaísmo, mas não para o credo do judaísmo, o Shemá. Por isso, o que Jesus diz é judaico, mas a ênfase em amar ao próximo não é encontrada no credo do judaísmo da maneira que se encontra no Credo de Jesus. Tornar o amor pelos outros parte de sua própria versão do Shemá mostra que ele vê o amor ao próximo como algo fundamental para a formação espiritual.

Não basta apenas observar que Jesus complemente o Shemá do judaísmo. Há muito mais do que pode parecer à primeira passada de olhos. Quando o Shemá transforma-se no Credo de Jesus, torna-se pessoal. A fim de enxergarmos tal transformação, precisamos ir ao evangelho de Lucas para ver como Jesus explica o que significa amar a Deus, porque, para Jesus, amar a Deus significa segui-lo.

O SHEMÁ TORNA-SE PESSOAL NO CREDO DE JESUS

Regularmente, Jesus convida as pessoas a unirem-se a seu pequeno grupo de discípulos. Quando determinado homem ouve falar a respeito, voluntaria-mente se oferece para participar do grupo e, ao fazê-lo, acredita que amará a Deus com muito mais profundidade. O homem vai até Jesus e lhe faz um simples pedido: Senhor, quero amar a Deus e te seguir, mas “deixa-me ir primeiro sepultar meu pai. Jesus declara de repente: Deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos.4 Puxa! Tudo o que o homem está pedindo é uma oportunidade com, talvez, um pouco de atraso, mas, mesmo assim, uma oportunidade de amar a Deus de todo o coração. Jesus, porém, está redefinindo o significado de amar a Deus.

3 “Chutzpah”(pronuncia-se“rutzpá”)éumtermoiídichequesignifica“coragemarrogante”,“ousadiadescarada” ou “descaramento”. Costumava ser usada, em provérbios hebraicos, para referir-se à dis-posição de cometer erros, correr riscos e enfrentar o desconhecido para criar algo novo (N. da T.).

4 Essa passagem encontra-se em Lucas 9.59s (N. da T.).

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Com certeza, é preciso de um pouco de esforço para entender que Jesus está dizendo ao homem para não ir ao sepultamento do pai. No judaísmo, é muito importante enterrar o pai, com apenas uma exceção: “Aquele que estiver acompanhando o morto [aguardando o sepultamento] está isento de recitar o Shemá” (Mishná Berakot ).5 Até o sagrado Shemá é suspenso para enterrar o pai de alguém. Sendo assim, de que forma Jesus poderia pedir para um homem sim-plesmente faltar ao funeral do próprio pai? Um pouco de entendimento acerca dos costumes funerários esclarece a maneira como o Credo de Jesus funcionava com base na vida real. Esses costumes mostram como amar a Deus torna-se pessoal para Jesus.

Na época de Jesus, os enterros ocorriam em dois estágios. Em primeiro lugar, imediatamente depois da morte de um pai, a família (conduzida pelo filho mais velho) colocava o corpo em um caixão e, então, em um túmulo a fim de que o corpo pudesse decompor-se. A família sentava shiva* (pranteava em luto) duran-te sete dias. O corpo decompunha-se em aproximadamente um ano no túmulo. Então, em segundo lugar, os ossos eram retirados do túmulo e do caixão, colo-cados em um ossuário (uma caixa para ossos) e, depois, enterrados novamente – dessa vez, para sempre. Essa era a maneira como os bons judeus demonstravam respeito pelo pai, aplicavam o mandamento de honrar os pais e expressavar amor por Deus: seguindo a Torá.

Hoje em dia, muitos pensam que o contexto em que se deu o encontro de Jesus com esse homem situa-se entre o primeiro e o segundo funeral. Para início de conversa, é improvável que um membro da família sentando shiva* (após o primeiro sepultamento) estivesse de pé. Depois, é difícil imaginar Jesus opondo-se a essa obrigação mais do que sagrada. Se o encontro com Jesus ocorre entre o primeiro e o segundo sepultamento, é possível, então, que tenha ocorrido um intervalo de tempo de um ano antes de ele começar a seguir Jesus.

O homem está preso em um dilema criado pelo Credo de Jesus: será que ele deveria seguir Jesus ou (conforme entende) a Torá? Jesus convoca-o a se-gui-lo e, ao fazê-lo, equipara duas ações: amar a Deus equivale a estabelecer um relacionamento pessoal com Jesus. Usando outras palavras, o Shemá do judaísmo transforma-se no Credo de Jesus: alguém ama a Deus quando segue Jesus. Trata-se de uma interpretação revolucionária do Shemá e da essência da vida espiritual para Jesus.

Juntemos tudo agora: por ser um judeu comum, a formação espiritual, para Jesus, começa com o Shemá do judaísmo. Entretanto, Jesus revisa e complemen-5 De acordo com as tradições judaicas, desde o momento do falecimento até o enterro, é proibido

deixar o corpo desacompanhado. Sempre deve haver alguém com o corpo até o a hora do funeral. A pessoa designada para servir como “vigia” em honra ao falecido não pode estudar a Torá, mas deve recitar Salmos. Ainda que o enterro demore alguns dias, é proibido cumprimentar alguém, respon-der a um cumprimento perante o morto, comer ou fumar no local enquanto está de guarda. Contu-do, tal pessoa está isenta de recitar o Shemá e de qualquer outra obrigação da Torá (N. da T.).

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ta o Shemá de duas maneiras: amar ao próximo é acrescentado ao amar a Deus, e amar a Deus passa a significar seguir Jesus.

Esse é o Credo de Jesus, a base de tudo o que Jesus ensina a respeito de forma-ção espiritual. Jesus também sabe qual é a essência da vida, e esta baseia-se no amor – por Deus e pelo próximo. Conforme declara Rick Warren: “A vida sem amor realmente não tem nenhum valor”. E: “A melhor utilidade que se pode dar à vida é amar. A melhor expressão do amor é o tempo. O melhor momento para amar é agora” (Uma Vida com Propósitos, Editora Vida, 2005).

Também é tempo de colocar em prática esse amor aprendendo o Credo de Jesus.

O CREDO DE JESUS HOJE

Depois de ensinar a respeito de Jesus ao longo de 20 anos, cheguei à convicção de que a maneira mais historicamente precisa de apresentar o que Jesus ensina sobre formação espiritual é mostrar o Credo de Jesus. Jesus aprendeu a recitar o Shemá quando criança, e seus seguidores, por serem judeus, também o teriam recitado como de costume. Tenho todos os motivos para acreditar que seus se-guidores teriam dado continuidade a essa prática depois de conhecer Jesus, mas o teriam recitado de uma forma levemente alterada: teriam recitado o credo de “amar a Deus e ao próximo”, o que chamo de o Credo de Jesus.

Trocando em miúdos, Jesus deu a seus seguidores um credo, uma confissão de fé, a fim de moldar a formação espiritual de cada um deles. Esse credo, ou confissão de fé, também nos foi dado.

A fim de fazer uma experiência e adequar nossa vida ao princípio da forma-ção espiritual de Jesus, recomendo que cada um de nós memorize e depois repita o Credo de Jesus diariamente – para nos lembrarmos do que o Senhor requer de nós. O Credo de Jesus tornou-se um parceiro silencioso em minha vida: às vezes, quando me sento; às vezes, quando caminho; às vezes, quando me deito, mas sempre quando me levanto de manhã, recito, de maneira simples e em silêncio, para mim mesmo e diante de Deus, o Credo de Jesus.

Ele pontua minha manhã, estabelece o ritmo do meu dia e dirige-me rumo a um local confortável. Assim como uma confissão e não um mandamento, lembra-me, constantemente, de que o tudo o que eu vier a fazer ao longo do dia deverá basear-se em amar a Deus e ao próximo. Preciso desse lembrete.

Independentemente de nossas vocações, a formação espiritual, para Jesus, tem início com o Credo de Jesus. Ele convoca cada um de nós a oferecer-lhe nossas vocações a fim de que possamos, segundo as palavras de Parker Palmer,

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“deixar nossa vida falar”. Aquilo em que você será transformado será diferente daquilo em que eu serei transformado. Contudo, a vida que recebemos falará por nós aos outros – e essa vida deve estar moldada pelo Credo de Jesus.

Certo escriba pergunta para Jesus acerca da essência da formação espiritual, e Jesus lhe dá uma velha resposta com um giro revolucionário: amar a Deus e ao próximo, e amar a Deus seguindo-me. O escriba percebe que terá de reor-ganizar tudo.

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