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ANAIS I CONGRESSO INTERNACIONAL DE PSICOLOGIA

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O BURNOUT EM AGENTES PENITENCIÁRIOS DE UMA CIDADE DO INTERIOR

DO BRASIL

Tatiane Justo, Ana Maria T. Benevides-Pereira - Universidade Estadual de Maringá

A síndrome de burnout passou a ser reconhecida e difundida a partir do artigo do

médico e psiquiatra Freudenberger em 1974, nos Estados Unidos. O termo “burn-out” vem do

inglês para significar aquilo que deixou de funcionar por esgotamento de energia. É

caracterizado pela presença de sintomas de exaustão física, psíquica e emocional,

desumanisação no trato com colegas e/ou usuários de seus serviços, bem como pouca

realização pessoal no trabalho.

Alguns autores associam estresse e Burnout como sendo sinônimos, no entanto,

esta concepção apresenta-se inadequada. A síndrome de burnout é considerada como o

resultado final de tentativas malsucedidas do indivíduo em lidar com o estresse decorrente de

condições de trabalho percebidas como negativas, isto porque, muitas vezes, os profissionais

apesar de estarem sentindo-se estressados e insatisfeitos, são obrigados a continuarem

enfrentando as exigências que fazem parte da rotina do trabalho (Benevides-Pereira, 2002,

Gil-Monte & Peiró, 1997, Moreno-Jiménez, Oliver & Aragonese, 1991).

Qualquer profissional pode vir a sofrer desta síndrome (Maslach, Schaufeli &

Leiter, 2001), no entanto tem sido referenciada sua presença principalmente em profissionais

que trabalham diretamente no contato com outras pessoas, como por exemplo, médicos,

enfermeiros, professores, agentes de segurança pública, assistentes sociais e etc, pois, estas

profissões possuem uma filosofia humanista em seu trabalho, a qual exige uma relação direta,

contínua e altamente emocional com outras pessoas.

Segundo Maslach & Jackson (1986) há três dimensões características desta

Síndrome:

• Exaustão Emocional: sensação de não dispor mais de energia para o desenvolvimento de

suas atividades. Algumas das causas que podem levar à exaustão é a sobrecarga de trabalho, a

falta de autonomia e o conflito pessoal nas relações.

• A Desumanização (também denominada Despersonalização) é a dimensão característica

da síndrome de burnout e um elemento que a distingue do estresse. Originalmente apresenta-

se como uma maneira do profissional se defender da carga emocional derivada do contato

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direto com o outro. Devido a isso, desencadeiam-se atitudes insensíveis em relação às pessoas

no trabalho, ou seja, o indivíduo cria uma barreira para não permitir a influencia dos

problemas e sofrimentos alheios em sua vida. O profissional em burnout acaba agindo com

cinismo, rigidez ou até mesmo ignorando os sentimentos da outra pessoa.

• Reduzida Realização Pessoal no Trabalho: sentimento de insatisfação e insuficiência da

pessoa com ela própria e com a execução de seu trabalho, derivando daí, sentimentos de

incompetência e baixo auto-estima.

Os sintomas desta síndrome podem ser divididos em quatro categorias:

• Físicos: fadiga, distúrbios do sono, dores no pescoço, no ombro e no dorso, perturbações

gastrintestinais, baixa resistência imunológica, astenia, cansaço intenso, entre outros.

• Psíquicos: diminuição da memória, da capacidade de tomar decisões, fixação em idéias e

obsessão por determinados problemas, idéias fantasiosa ou delírios de perseguição, entre

outros.

• Emocionais: desânimo, perda de entusiasmo e alegria, ansiedade, depressão, irritação,

pessimismo, baixa alta estima, entre outros.

• Comportamentais: isolamento, perda de interesse pelo trabalho ou lazer, comportamento

menos flexível, perda de iniciativa, lentidão no desempenho das funções, absenteísmo,

aumento do consumo de bebidas alcoólicas, fumo e até mesmo drogas, entre outros.

No entanto, é importante ressaltar que nem todos estes sintomas, podem ou devem

estar presentes, pelo fato de que cada indivíduo, devido às suas características pessoais

(disposição genética, experiências anteriores, ambiente laboral e momento do processo), tende

a reagir de forma particular (Benevides-Pereira, 2000).

Os principais facilitadores ou desencadeantes do Burnout são:

• Características pessoais: pessoas obsessivas, altruístas, idealistas, empáticas.

• Características organizacionais: ambiente físico inadequado, normas institucionais rígidas,

burocráticas, recompensas insuficientes, segurança precária.

• Características do trabalho: tipo de ocupação que implique em atenção ou cuidados

diretos a outras pessoas; muito tempo de profissão levando a um desgaste ou pouco tempo

gerando insegurança; trabalho por turnos ou noturno, sobrecarga; relação conflituosa com

colegas/cliente; tipo de cliente beligerante, reinvidicativo; suporte organizacional insuficiente.

• Características sociais: suporte social e/ou familiar precário, pouco prestígio,

reconhecimento insuficiente, baixo status social.

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A síndrome de burnout apresenta-se hoje, como um dos grandes problemas

psicossociais que tem gerado grande interesse e preocupação por parte da comunidade

científica e também de entidades governamentais, empresariais e sindicais norte-americanas e

européias, devido a severidade de suas conseqüências, seja em nível individual como

organizacional. Alguns autores apontam que o burnout pode levar a séria deterioração do

desempenho do indivíduo no trabalho, comprometendo a qualidade do mesmo, afetando

também suas relações familiares e sociais (Schaufeli & Ezmann, 1998).

Desta forma, vários estudos tem sido realizados no sentido de verificar as

categorias profissionais mais propensas ao desenvolvimento do burnout e o perfil específico

de cada uma delas, no sentido de viabilizar formas de prevenção e/ou intervenção específicas

a cada contexto. No entanto, há muito pouco sobre os agentes penitenciários, em especial no

Brasil, sendo pioneira em nosso meio a investigação de Kurowski & Moreno-Jiménez (2002)

efetuada em Curitiba.

Trabalhar diretamente com presidiários predispõem os profissionais, incumbidos

desta tarefa, a virem a sofrer de burnout. Além do contato com internos agressivos, violentos,

perigosos, o grupo de trabalho vive a contradição de ter que cuidar de pessoas que podem vir

a ameaçar sua vida. Tem sido notícia, quase que diária, rebeliões em que, freqüentemente,

agentes são tomados como reféns e sofrem todo o tipo de constrangimento e tortura, quando

não perdem a própria vida. Sobrecarga de trabalho por equipes desfalcadas, cárceres com

lotação acima de sua capacidade, insegurança e medo fazem parte da rotina destes

profissionais. Não existe, no meio penitenciário, motivação ou estímulo para que o trabalhador sinta um mínimo de satisfação pelo trabalho que executa (Kurowsk & Moreno-Jiménezi, 2002, 215)

Este estudo foi realizado por solicitação de membros do Setor Penitenciário de

uma cidade do interior do Brasil, preocupados com o grupo de trabalhadores do sistema

carcerário. Assim sendo, teve como objetivo avaliar os níveis de estresse e burnout de um

grupo de agentes penitenciários.

Procedimentos Metodológicos

Após a análise e aprovação do projeto de pesquisa, foram distribuídos aos agentes

protocolos contendo: a) apresentação da equipe bem como dos procedimentos e objetivos da

investigação, b) termo de esclarecimento e consentimento na participação, c) questionário

para identificação da amostra, d) MBI–GS, Maslach Burnout Inventory (Maslach, Jackson &

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Leiter, 1996) e o ISE, Inventário de Sintomatologia de Estresse (Moreno-Jiménez &

Benevides-Pereira, 2000).

A participação foi voluntária e a desistência assegurada em qualquer momento do

processo.

Os resultados que se seguem foram discutidos com a direção da penitenciária no

sentido de viabilizar meios de prevenção e intervenção na instituição.

Resultados

a) Perfil do grupo estudado:

O grupo ficou composto por 40 (40%) dos 100 agentes penitenciários que

pertencem a uma unidade penitenciária brasileira. Destes, 39 (99%) eram do sexo masculino,

com idade média de 34.4 anos (variando entre 27 a 61 anos).

Na ocasião a maioria do grupo 37 (92.5%) mantinha um relacionamento afetivo

estável , e tinha entre 1 e 2 filhos (65%), sendo que 22,5% dos agentes penitenciários não

possuíam nenhum filho.

Dos 40 participantes 36 (90%) informaram possuir nível universitário, sendo que

destes, 17 (42.5%) possuíam pós-graduação. Os 4 (10%) demais haviam realizado o Ensino

Médio.

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a) Resultado do Instrumento ISE (Moreno-Jiménez & Benevides-Pereira, 2000)

A avaliação deste instrumento verifica a sintomotologia de estresse em três

dimensões:

1) Sintomas Físicos: cansaço crônico, desempenho inadequado, reações

somáticas, palpitações, náuseas, alergias, dores de cabeça, gastrite, úlceras.

2) Sintomas Psicológicos: ansiedade, frustração, raiva, absenteísmo,

sensação de “sem-saída.”

3) Sintomas Sócio-psicológicos: irritações, isolamento social, mau

relacionamento, atividade sexual.

Para os Sintomas Físicos (SF) a média encontrada foi de 11.29 (DP=6.73), para os

Sintomas Psicológicos foi de 13.55 (DP=7.26) e para a sintomatologia Sócio-Psicológica esta

foi de 8.43 (DP=5.24). Ao compararmos estes resultados com as médias estabelecidas para

este instrumento (ISE), percebemos que estes valores apresentam-se dentro do índice

moderado, ou seja, dentro da faixa considerada média.

Para que se tenha uma melhor dimensão da distribuição dos participantes no grupo

estudado, considerando-se as médias pertinentes aos padrões relativos a cada escala do

instrumento ISE (SF= 9 a 14; SP= 9 a 14; SSP= 5 a 9), obtém-se os resultados demonstrados

na tabela e gráfico a seguir:

Tabela 1 – Distribuição das Escalas do ISE

Alto Médio Baixo Total Valores

Escalas N % N % N % N %

SF 11 27.5 14 35 15 37.5 40 100

SP 17 42.5 10 25 13 32.5 40 100

SS 17 42.5 12 30 11 27.5 40 100

Legenda: SF:sintomas físicos, SP: sintomas psicológicos e SS: sintomas sociopsicológicos,

Ao comparar-se a freqüência da ocorrência destas três dimensões nos níveis alto,

médio e baixo, podemos perceber que o número de pessoas que revelavam altos valores em

sintomatologia psicológica e sócio-psicológica é superior aos outros dois grupos

separadamente.

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c) Resultado do instrumento MBI (Maslach, Jackson & Leiter, 1996)

Com a apreciação deste instrumento, é possível verificar a ocorrência das três

dimensões características da Síndrome de Burnout: Exaustão Emocional (EE),

Desumanização (DE) e Realização Profissional (RP). Segundo os autores, pode-se atribuir a

ocorrência da síndrome quando as duas primeiras dimensões encontram-se elevadas (EE e

DE) enquanto que a terceira rebaixada (RP).

O valor da média encontrada para Exaustão Emocional foi de 13.46 (DP=7.72)

a de Desumanização foi de 12.33 (DP=8.73) e para Realização Profissional (ou Eficácia

Profissional) foi de 26.68 (DP= 8.51).

Para que se tenha uma melhor dimensão destes resultados, uma vez que ainda

não contamos com padrões para nossa população, as médias foram ponderadas pelo número

de itens que compõe cada uma das dimensões. Para a escala de Realização Profissional, os

valores foram alterados pelo seu correspondente inverso para que avaliasse a reduzida

Realização Profissional como propõem os autores do instrumento. Desta forma, a média de

Exaustão Emocional foi de 2.63 (DP=1.54), para Desumanização foi de 2.47 (DP=1.75) e em

Reduzida Realização Pessoal no Trabalho, de 1.55 (DP=1.42).

No gráfico a seguir estes resultados podem ser melhor visualizados, denotando que

dentre as dimensões que compõem o instrumento, a sensação de esgotamento emocional

prevalece sobre as demais.

Gráfico 1 – Médias das Dimensões do MBI-GS

2,692,47

1,55

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

Média

EEDERRP

Legenda: EE=Exaustão Emocional; DE=Despersonalização e rRP=reduzida Realização Profissional

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d) Análise das Correlações entre variáveis sócio-demográficas com as dimensões do ISE e

MBI.

Foram efetuadas correlações entre as escalas dos instrumentos utilizados e

algumas variáveis pessoais e profissionais, no sentido de verificar qual a importância que

estas possuíam no desencadeamento de sintomas pertinentes ao estresse e Burnout.

• Interferência da Profissão na Vida Pessoal

Ao se investigar o sentimento de interferência da profissão na vida pessoal,

obteve-se 29 (72.5%) de respostas afirmativas para 10 (27.5%) negativas. Verificou-se que os

que responderam positivamente a esta questão, possuíam níveis mais elevados de

sintomatologia pertinente ao estresse e Burnout, com incremento nos níveis de Exaustão

Emocional, Sintomas Psicológicos e Sintomas Sócio-psicológicos. (EE, M=15,12:9.19,

T02.214, p=.033; SP, M= 14.97:9.40, t=2.8008, p=.009; SS, M=9.59, p=.004)

Este fato é indicativo de que, profissionais deste grupo, que sentiam suas vidas

influenciadas pela atividade que exerciam, sentiam-se mais esgotados emocionalmente, bem

como menos realizados, comparativamente com aqueles que não sentiam que a profissão

interferisse em sua vida pessoal.

• Desejo de mudar de profissão

Quando questionados sobre esta questão, 32 (80%) pessoas responderam

afirmativamente, ou seja, possuíam a intenção de se dedicar a outra atividade que não a de

Agente Penitenciário. Nos que responderam positivamente a questão, verificou-se níveis mais

elevados de sintomatologia de Burnout, principalmente em Exaustão Emocional e

Desumanização. (EE, M=15.01:7.25, t=4.369, p=.000; DE, M=14.07:5.38, t=4.149, p=.000)

Pode-se inferir, que os profissionais que se apresentavam esgotados com a atividade

desempenhada e que desejavam buscar outras alternativas e não conseguiam, realizavam um

sobreesforço psicológico para continuar trabalhando, o que podia estar acarretando

sentimentos negativos tanto para o profissional quanto para as pessoas assistidas por ele.

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. Sentimento de que a profissão é menos interessante do que quando a havia inicido

Esta questão revelou um número de 28 (70%) profissionais confirmando tal

alternativa ou seja, a profissão não continua sendo interessante e 11 (27.5%) responderam que

isto não é verdade, sendo que 1 pessoa (2.5%) não completou esta questão. Os que

responderam positivamente, apresentaram níveis elevados de sintomatologia pertencente a

estresse e Burnout, com um visível aumento nos níveis de Exaustão Emocional,

Desumanização, Sintomas Psicológicos e Sintomas Sócio-psicológicos (EE, M=16.09:8.00,

t=4.441, p=.000; DE, M=15.35:6.08, t=4.462, p=.000; SF, M=13.37:6.95, t=3.128, p=.003;

SP, M=15.33:9.85, T=2.369, p=.023; SS, M=9.85:5.46, t=2.671, p=.011). Isto demonstra que,

sentir a profissão menos interessante faz que com os níveis de estresse e burnout se elevem

quando comparados ao grupo que não apresenta estes mesmos sentimentos, elevando os

níveis de sintomatologia psicológica e relacional, influenciando negativamente na percepção

que possuem quanto ao ambiente de trabalho e principalmente os destinatários de suas

atividades.

As demais variáveis analisadas (Idade, Sexo, Companheiro(a) fixo(a), Tempo de

Serviço, Tempo desde as últimas férias, Duração das férias, Horas de trabalho e Prática de

esportes) não apresentaram diferenças entre as médias e nem correlação significativa com

nenhuma das escalas dos instrumentos utilizados.

Considerações Finais

Verificou-se que os índices de sintomatologia de estresse, apesar de apresentar

níveis moderados quando avaliados separadamente, revela-se de forma distinta ao aquilatar-se

o número de profissionais que se encontravam acima da faixa média. Cerca de 42% dos

servidores denotavam valores acima da faixa média, revelando sintomatologia psicológica e

sócio-psicológica em grau preocupante. O mesmo não ocorreu quanto à sintomatologia física.

Isto pode estar relacionado a características peculiares à profissão, que talvez não demande

grande esforço físico, mas alta carga tensional, o que pode estar contribuindo para a elevação

nos índices referentes à tensão emocional e prejuízo em aspectos relativos ao relacionamento

pessoal.

Com relação aos resultados obtidos por intermédio do MBI, observa-se que a

dimensão de Exaustão Emocional se evidencia como a mais elevada dentre as demais que

compõem a síndrome, seguida pela de Desumanização. No entanto, ao comparar-se os

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resultados aqui obtidos com os apresentados pelo manual do instrumento (Maslach, Jackson

& Leiter, 1996), nota-se semelhanças nos valores médios no que concerne à escala de

Exaustão. Todavia, a de Despersonalização revelada pelo grupo de agentes é bastante mais

elevada do que qualquer dos 9 grupos profissionais apresentados (média grupal de 1.63). O

índice médio da escala de Realização Pessoal no Trabalho dos examinandos aqui relatados,

denota ser inferior aos dos estudos apresentados pelo manual, indicando o sentimento de

reduzida eficácia profissional. O mesmo ocorre ao comparar-se os resultados desta

investigação (EE=2.63, DE=2.47 e RP=3.33) com o de Kurowski (EE=2.11, DE=1.57 e

RP=4.46), denotando a necessidade de um atendimento em nível interventivo nos

funcionários aqui estudados.

Os resultados relativos a Desumanização merecem especial atenção na medida em

que expressam um tratamento impessoal, cínico e muitas vezes irônico para com as pessoas às

quais se destina suas atividades ocupacionais - verifica-se quão grande são os transtornos que

atingem o ambiente de trabalho, o que se traduz em prejuízos tanto para a instituição, como

para o agente e os presos assistidos por ele.

Apreciando o baixo nível de Realização Profissional , evidencia-se os sentimentos

de inadequação, ineficácia e insatisfação para com o trabalho. Tal resultado talvez possa

lançar luz aos altos valores em Desumanização que poderia estar traduzindo uma forma

“paliativa”, porém inadequada, de enfrentamento desta ocorrência, seja por estes estarem se

sentindo esgotados ou pouco satisfeitos com a realização de seu trabalho.

Quanto às demais variáveis sócio-demográficas - sexo, idade, filhos e

companheiro estável - não foram encontradas correlações significativas entre estas e os níveis

de estresse e burnout, indicando uma não relação entre os mesmos. Se pensarmos na síndrome

enquanto um processo que se desenvolve no ambiente de trabalho, aliado a algumas

características individuais, poderemos perceber que é significativo a influências das variáveis

profissionais na determinação do burnout no presente estudo. Estes achados confirmam o

modelo teórico postulado por Maslach & Jackson (1986) em que, o burnout estaria

relacionado a características pertinentes ao trabalho, ao qual as influências deste contexto

atuariam como fatores de risco para a ocorrência da síndrome, mais que características sócio-

demográficas ou de vulnerabilidades pessoais.

Burnout e satisfação no trabalho relacionam-se mutuamente, pois se o profissional

sente-se realizado na atividade que exerce, menor será seu sofrimento. Vimos que aqueles

profissionais que se mostravam insatisfeitos com a atividade desenvolvida e que possuíam

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vontade de mudar de profissão apresentavam maiores índices de sintomatologia, seja para

estresse como para o burnout, evidenciando assim, o quanto é importante a satisfação com o

trabalho e quanto isto pode interferir negativamente na vida pessoal do profissional e no

próprio desempenho da atividade.

Frente aos dados expostos, algumas medidas foram propostas aos dirigentes da

instituição no sentido de procurar sanar, ou ao menos minimizar, os efeitos das dificuldades

detectadas. Também foi apresentado um projeto de aprendizagem no manejo de estresse,

visando primordialmente oferecer informações e medidas que possam vir a ser adotadas com

o objetivo de redução dos efeitos negativos que estes processos (estresse e burnout) podem

desencadear na vida destas pessoas. Considerando que a saúde mental no trabalho deve ser

priorizada, visando um resgate dos valores humanos e do significado do trabalho, este projeto

possuiu a pretensão de elevar o bem estar do indivíduo no trabalho, esperando que o reflexo

deste processo venha a repercutir favoravelmente na instituição de um modo geral, bem como

em outros âmbitos.

Finalmente, acredita-se que é de fundamental importância que sejam

desenvolvidos conhecimentos sobre burnout, de forma que suas causas, conseqüências e

possíveis formas de prevenção, possam ser transmitidas aos trabalhadores propensos a serem

acometidos por ela. Por outro lado, o que tem se observado, é que muitas das pessoas afetadas

por esta síndrome, culpabilizam-se pela situação em que se encontram, agravando

sobremaneira o problema, não se dando conta do papel desempenhado pela organização no

desencadeamento da mesma. O objetivo, portanto, foi de obter cada vez mais informações

sobre o burnout bem como tentar propiciar melhor qualidade de vida aos profissionais, e,

conseqüentemente, às pessoas atendidas por estes.

Referências

Benevides-Pereira, A.M.T. (2001). A saúde mental de profissionais de saúde mental: uma investigação da personalidade de psicólogos. EDUEM.

Benevides-Pereira, A.M.T. (org.) (2002). Quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Gil-Monte, P. & Peiró, J.M. (1997). Desgaste psíquico en el trabajo: el síndrome de quemarse. Madri: Síntesis.

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Kurowaki, C. & Moreno-Jiménez, B. (2000) A síndrome de burnout em funcionários de instituições penitenciáriaas. In.: Benevides-Pereira, A.M.T. (org.). (2002). Quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Maslach, C. & Jackson, S. (1986). Maslach Burnout Inventory, Manual. Palo Alto, University of California. Consulting Psychologists.

Maslach, C., Jackson, S. E. & Leiter, M. P. (1996). Maslach Burnout Inventory Manual. Palo Alto, C.A: Consulting Psychologist Press.

Maslach, C., Schaufeli, W.B. & Leiter, M.P. (2001). Job burnout. Annual Review of Psychology. 52, 397-422.Freudenberger, H.J. (1974). Staff Burn-Out. Journal of Social Issues, 30, 159-165,.

Moreno-Jiménez, B. Oliver, C. & Aragoneses, A. (1991). El “burnout”, una forma específica de estrés laboral. In.: Buela-Casal, G. & Caballo, V. Manual de psicología clínica aplicada. Madri: Siglo Veintiuno.

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