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ANAIS I CONGRESSO INTERNACIONAL DE PSICOLOGIA
V SEMANA DE PSICOLOGIA DA UEM ISSN 1679-558X
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O BURNOUT EM AGENTES PENITENCIÁRIOS DE UMA CIDADE DO INTERIOR
DO BRASIL
Tatiane Justo, Ana Maria T. Benevides-Pereira - Universidade Estadual de Maringá
A síndrome de burnout passou a ser reconhecida e difundida a partir do artigo do
médico e psiquiatra Freudenberger em 1974, nos Estados Unidos. O termo “burn-out” vem do
inglês para significar aquilo que deixou de funcionar por esgotamento de energia. É
caracterizado pela presença de sintomas de exaustão física, psíquica e emocional,
desumanisação no trato com colegas e/ou usuários de seus serviços, bem como pouca
realização pessoal no trabalho.
Alguns autores associam estresse e Burnout como sendo sinônimos, no entanto,
esta concepção apresenta-se inadequada. A síndrome de burnout é considerada como o
resultado final de tentativas malsucedidas do indivíduo em lidar com o estresse decorrente de
condições de trabalho percebidas como negativas, isto porque, muitas vezes, os profissionais
apesar de estarem sentindo-se estressados e insatisfeitos, são obrigados a continuarem
enfrentando as exigências que fazem parte da rotina do trabalho (Benevides-Pereira, 2002,
Gil-Monte & Peiró, 1997, Moreno-Jiménez, Oliver & Aragonese, 1991).
Qualquer profissional pode vir a sofrer desta síndrome (Maslach, Schaufeli &
Leiter, 2001), no entanto tem sido referenciada sua presença principalmente em profissionais
que trabalham diretamente no contato com outras pessoas, como por exemplo, médicos,
enfermeiros, professores, agentes de segurança pública, assistentes sociais e etc, pois, estas
profissões possuem uma filosofia humanista em seu trabalho, a qual exige uma relação direta,
contínua e altamente emocional com outras pessoas.
Segundo Maslach & Jackson (1986) há três dimensões características desta
Síndrome:
• Exaustão Emocional: sensação de não dispor mais de energia para o desenvolvimento de
suas atividades. Algumas das causas que podem levar à exaustão é a sobrecarga de trabalho, a
falta de autonomia e o conflito pessoal nas relações.
• A Desumanização (também denominada Despersonalização) é a dimensão característica
da síndrome de burnout e um elemento que a distingue do estresse. Originalmente apresenta-
se como uma maneira do profissional se defender da carga emocional derivada do contato
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direto com o outro. Devido a isso, desencadeiam-se atitudes insensíveis em relação às pessoas
no trabalho, ou seja, o indivíduo cria uma barreira para não permitir a influencia dos
problemas e sofrimentos alheios em sua vida. O profissional em burnout acaba agindo com
cinismo, rigidez ou até mesmo ignorando os sentimentos da outra pessoa.
• Reduzida Realização Pessoal no Trabalho: sentimento de insatisfação e insuficiência da
pessoa com ela própria e com a execução de seu trabalho, derivando daí, sentimentos de
incompetência e baixo auto-estima.
Os sintomas desta síndrome podem ser divididos em quatro categorias:
• Físicos: fadiga, distúrbios do sono, dores no pescoço, no ombro e no dorso, perturbações
gastrintestinais, baixa resistência imunológica, astenia, cansaço intenso, entre outros.
• Psíquicos: diminuição da memória, da capacidade de tomar decisões, fixação em idéias e
obsessão por determinados problemas, idéias fantasiosa ou delírios de perseguição, entre
outros.
• Emocionais: desânimo, perda de entusiasmo e alegria, ansiedade, depressão, irritação,
pessimismo, baixa alta estima, entre outros.
• Comportamentais: isolamento, perda de interesse pelo trabalho ou lazer, comportamento
menos flexível, perda de iniciativa, lentidão no desempenho das funções, absenteísmo,
aumento do consumo de bebidas alcoólicas, fumo e até mesmo drogas, entre outros.
No entanto, é importante ressaltar que nem todos estes sintomas, podem ou devem
estar presentes, pelo fato de que cada indivíduo, devido às suas características pessoais
(disposição genética, experiências anteriores, ambiente laboral e momento do processo), tende
a reagir de forma particular (Benevides-Pereira, 2000).
Os principais facilitadores ou desencadeantes do Burnout são:
• Características pessoais: pessoas obsessivas, altruístas, idealistas, empáticas.
• Características organizacionais: ambiente físico inadequado, normas institucionais rígidas,
burocráticas, recompensas insuficientes, segurança precária.
• Características do trabalho: tipo de ocupação que implique em atenção ou cuidados
diretos a outras pessoas; muito tempo de profissão levando a um desgaste ou pouco tempo
gerando insegurança; trabalho por turnos ou noturno, sobrecarga; relação conflituosa com
colegas/cliente; tipo de cliente beligerante, reinvidicativo; suporte organizacional insuficiente.
• Características sociais: suporte social e/ou familiar precário, pouco prestígio,
reconhecimento insuficiente, baixo status social.
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A síndrome de burnout apresenta-se hoje, como um dos grandes problemas
psicossociais que tem gerado grande interesse e preocupação por parte da comunidade
científica e também de entidades governamentais, empresariais e sindicais norte-americanas e
européias, devido a severidade de suas conseqüências, seja em nível individual como
organizacional. Alguns autores apontam que o burnout pode levar a séria deterioração do
desempenho do indivíduo no trabalho, comprometendo a qualidade do mesmo, afetando
também suas relações familiares e sociais (Schaufeli & Ezmann, 1998).
Desta forma, vários estudos tem sido realizados no sentido de verificar as
categorias profissionais mais propensas ao desenvolvimento do burnout e o perfil específico
de cada uma delas, no sentido de viabilizar formas de prevenção e/ou intervenção específicas
a cada contexto. No entanto, há muito pouco sobre os agentes penitenciários, em especial no
Brasil, sendo pioneira em nosso meio a investigação de Kurowski & Moreno-Jiménez (2002)
efetuada em Curitiba.
Trabalhar diretamente com presidiários predispõem os profissionais, incumbidos
desta tarefa, a virem a sofrer de burnout. Além do contato com internos agressivos, violentos,
perigosos, o grupo de trabalho vive a contradição de ter que cuidar de pessoas que podem vir
a ameaçar sua vida. Tem sido notícia, quase que diária, rebeliões em que, freqüentemente,
agentes são tomados como reféns e sofrem todo o tipo de constrangimento e tortura, quando
não perdem a própria vida. Sobrecarga de trabalho por equipes desfalcadas, cárceres com
lotação acima de sua capacidade, insegurança e medo fazem parte da rotina destes
profissionais. Não existe, no meio penitenciário, motivação ou estímulo para que o trabalhador sinta um mínimo de satisfação pelo trabalho que executa (Kurowsk & Moreno-Jiménezi, 2002, 215)
Este estudo foi realizado por solicitação de membros do Setor Penitenciário de
uma cidade do interior do Brasil, preocupados com o grupo de trabalhadores do sistema
carcerário. Assim sendo, teve como objetivo avaliar os níveis de estresse e burnout de um
grupo de agentes penitenciários.
Procedimentos Metodológicos
Após a análise e aprovação do projeto de pesquisa, foram distribuídos aos agentes
protocolos contendo: a) apresentação da equipe bem como dos procedimentos e objetivos da
investigação, b) termo de esclarecimento e consentimento na participação, c) questionário
para identificação da amostra, d) MBI–GS, Maslach Burnout Inventory (Maslach, Jackson &
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Leiter, 1996) e o ISE, Inventário de Sintomatologia de Estresse (Moreno-Jiménez &
Benevides-Pereira, 2000).
A participação foi voluntária e a desistência assegurada em qualquer momento do
processo.
Os resultados que se seguem foram discutidos com a direção da penitenciária no
sentido de viabilizar meios de prevenção e intervenção na instituição.
Resultados
a) Perfil do grupo estudado:
O grupo ficou composto por 40 (40%) dos 100 agentes penitenciários que
pertencem a uma unidade penitenciária brasileira. Destes, 39 (99%) eram do sexo masculino,
com idade média de 34.4 anos (variando entre 27 a 61 anos).
Na ocasião a maioria do grupo 37 (92.5%) mantinha um relacionamento afetivo
estável , e tinha entre 1 e 2 filhos (65%), sendo que 22,5% dos agentes penitenciários não
possuíam nenhum filho.
Dos 40 participantes 36 (90%) informaram possuir nível universitário, sendo que
destes, 17 (42.5%) possuíam pós-graduação. Os 4 (10%) demais haviam realizado o Ensino
Médio.
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a) Resultado do Instrumento ISE (Moreno-Jiménez & Benevides-Pereira, 2000)
A avaliação deste instrumento verifica a sintomotologia de estresse em três
dimensões:
1) Sintomas Físicos: cansaço crônico, desempenho inadequado, reações
somáticas, palpitações, náuseas, alergias, dores de cabeça, gastrite, úlceras.
2) Sintomas Psicológicos: ansiedade, frustração, raiva, absenteísmo,
sensação de “sem-saída.”
3) Sintomas Sócio-psicológicos: irritações, isolamento social, mau
relacionamento, atividade sexual.
Para os Sintomas Físicos (SF) a média encontrada foi de 11.29 (DP=6.73), para os
Sintomas Psicológicos foi de 13.55 (DP=7.26) e para a sintomatologia Sócio-Psicológica esta
foi de 8.43 (DP=5.24). Ao compararmos estes resultados com as médias estabelecidas para
este instrumento (ISE), percebemos que estes valores apresentam-se dentro do índice
moderado, ou seja, dentro da faixa considerada média.
Para que se tenha uma melhor dimensão da distribuição dos participantes no grupo
estudado, considerando-se as médias pertinentes aos padrões relativos a cada escala do
instrumento ISE (SF= 9 a 14; SP= 9 a 14; SSP= 5 a 9), obtém-se os resultados demonstrados
na tabela e gráfico a seguir:
Tabela 1 – Distribuição das Escalas do ISE
Alto Médio Baixo Total Valores
Escalas N % N % N % N %
SF 11 27.5 14 35 15 37.5 40 100
SP 17 42.5 10 25 13 32.5 40 100
SS 17 42.5 12 30 11 27.5 40 100
Legenda: SF:sintomas físicos, SP: sintomas psicológicos e SS: sintomas sociopsicológicos,
Ao comparar-se a freqüência da ocorrência destas três dimensões nos níveis alto,
médio e baixo, podemos perceber que o número de pessoas que revelavam altos valores em
sintomatologia psicológica e sócio-psicológica é superior aos outros dois grupos
separadamente.
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c) Resultado do instrumento MBI (Maslach, Jackson & Leiter, 1996)
Com a apreciação deste instrumento, é possível verificar a ocorrência das três
dimensões características da Síndrome de Burnout: Exaustão Emocional (EE),
Desumanização (DE) e Realização Profissional (RP). Segundo os autores, pode-se atribuir a
ocorrência da síndrome quando as duas primeiras dimensões encontram-se elevadas (EE e
DE) enquanto que a terceira rebaixada (RP).
O valor da média encontrada para Exaustão Emocional foi de 13.46 (DP=7.72)
a de Desumanização foi de 12.33 (DP=8.73) e para Realização Profissional (ou Eficácia
Profissional) foi de 26.68 (DP= 8.51).
Para que se tenha uma melhor dimensão destes resultados, uma vez que ainda
não contamos com padrões para nossa população, as médias foram ponderadas pelo número
de itens que compõe cada uma das dimensões. Para a escala de Realização Profissional, os
valores foram alterados pelo seu correspondente inverso para que avaliasse a reduzida
Realização Profissional como propõem os autores do instrumento. Desta forma, a média de
Exaustão Emocional foi de 2.63 (DP=1.54), para Desumanização foi de 2.47 (DP=1.75) e em
Reduzida Realização Pessoal no Trabalho, de 1.55 (DP=1.42).
No gráfico a seguir estes resultados podem ser melhor visualizados, denotando que
dentre as dimensões que compõem o instrumento, a sensação de esgotamento emocional
prevalece sobre as demais.
Gráfico 1 – Médias das Dimensões do MBI-GS
2,692,47
1,55
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
Média
EEDERRP
Legenda: EE=Exaustão Emocional; DE=Despersonalização e rRP=reduzida Realização Profissional
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d) Análise das Correlações entre variáveis sócio-demográficas com as dimensões do ISE e
MBI.
Foram efetuadas correlações entre as escalas dos instrumentos utilizados e
algumas variáveis pessoais e profissionais, no sentido de verificar qual a importância que
estas possuíam no desencadeamento de sintomas pertinentes ao estresse e Burnout.
• Interferência da Profissão na Vida Pessoal
Ao se investigar o sentimento de interferência da profissão na vida pessoal,
obteve-se 29 (72.5%) de respostas afirmativas para 10 (27.5%) negativas. Verificou-se que os
que responderam positivamente a esta questão, possuíam níveis mais elevados de
sintomatologia pertinente ao estresse e Burnout, com incremento nos níveis de Exaustão
Emocional, Sintomas Psicológicos e Sintomas Sócio-psicológicos. (EE, M=15,12:9.19,
T02.214, p=.033; SP, M= 14.97:9.40, t=2.8008, p=.009; SS, M=9.59, p=.004)
Este fato é indicativo de que, profissionais deste grupo, que sentiam suas vidas
influenciadas pela atividade que exerciam, sentiam-se mais esgotados emocionalmente, bem
como menos realizados, comparativamente com aqueles que não sentiam que a profissão
interferisse em sua vida pessoal.
• Desejo de mudar de profissão
Quando questionados sobre esta questão, 32 (80%) pessoas responderam
afirmativamente, ou seja, possuíam a intenção de se dedicar a outra atividade que não a de
Agente Penitenciário. Nos que responderam positivamente a questão, verificou-se níveis mais
elevados de sintomatologia de Burnout, principalmente em Exaustão Emocional e
Desumanização. (EE, M=15.01:7.25, t=4.369, p=.000; DE, M=14.07:5.38, t=4.149, p=.000)
Pode-se inferir, que os profissionais que se apresentavam esgotados com a atividade
desempenhada e que desejavam buscar outras alternativas e não conseguiam, realizavam um
sobreesforço psicológico para continuar trabalhando, o que podia estar acarretando
sentimentos negativos tanto para o profissional quanto para as pessoas assistidas por ele.
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. Sentimento de que a profissão é menos interessante do que quando a havia inicido
Esta questão revelou um número de 28 (70%) profissionais confirmando tal
alternativa ou seja, a profissão não continua sendo interessante e 11 (27.5%) responderam que
isto não é verdade, sendo que 1 pessoa (2.5%) não completou esta questão. Os que
responderam positivamente, apresentaram níveis elevados de sintomatologia pertencente a
estresse e Burnout, com um visível aumento nos níveis de Exaustão Emocional,
Desumanização, Sintomas Psicológicos e Sintomas Sócio-psicológicos (EE, M=16.09:8.00,
t=4.441, p=.000; DE, M=15.35:6.08, t=4.462, p=.000; SF, M=13.37:6.95, t=3.128, p=.003;
SP, M=15.33:9.85, T=2.369, p=.023; SS, M=9.85:5.46, t=2.671, p=.011). Isto demonstra que,
sentir a profissão menos interessante faz que com os níveis de estresse e burnout se elevem
quando comparados ao grupo que não apresenta estes mesmos sentimentos, elevando os
níveis de sintomatologia psicológica e relacional, influenciando negativamente na percepção
que possuem quanto ao ambiente de trabalho e principalmente os destinatários de suas
atividades.
As demais variáveis analisadas (Idade, Sexo, Companheiro(a) fixo(a), Tempo de
Serviço, Tempo desde as últimas férias, Duração das férias, Horas de trabalho e Prática de
esportes) não apresentaram diferenças entre as médias e nem correlação significativa com
nenhuma das escalas dos instrumentos utilizados.
Considerações Finais
Verificou-se que os índices de sintomatologia de estresse, apesar de apresentar
níveis moderados quando avaliados separadamente, revela-se de forma distinta ao aquilatar-se
o número de profissionais que se encontravam acima da faixa média. Cerca de 42% dos
servidores denotavam valores acima da faixa média, revelando sintomatologia psicológica e
sócio-psicológica em grau preocupante. O mesmo não ocorreu quanto à sintomatologia física.
Isto pode estar relacionado a características peculiares à profissão, que talvez não demande
grande esforço físico, mas alta carga tensional, o que pode estar contribuindo para a elevação
nos índices referentes à tensão emocional e prejuízo em aspectos relativos ao relacionamento
pessoal.
Com relação aos resultados obtidos por intermédio do MBI, observa-se que a
dimensão de Exaustão Emocional se evidencia como a mais elevada dentre as demais que
compõem a síndrome, seguida pela de Desumanização. No entanto, ao comparar-se os
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resultados aqui obtidos com os apresentados pelo manual do instrumento (Maslach, Jackson
& Leiter, 1996), nota-se semelhanças nos valores médios no que concerne à escala de
Exaustão. Todavia, a de Despersonalização revelada pelo grupo de agentes é bastante mais
elevada do que qualquer dos 9 grupos profissionais apresentados (média grupal de 1.63). O
índice médio da escala de Realização Pessoal no Trabalho dos examinandos aqui relatados,
denota ser inferior aos dos estudos apresentados pelo manual, indicando o sentimento de
reduzida eficácia profissional. O mesmo ocorre ao comparar-se os resultados desta
investigação (EE=2.63, DE=2.47 e RP=3.33) com o de Kurowski (EE=2.11, DE=1.57 e
RP=4.46), denotando a necessidade de um atendimento em nível interventivo nos
funcionários aqui estudados.
Os resultados relativos a Desumanização merecem especial atenção na medida em
que expressam um tratamento impessoal, cínico e muitas vezes irônico para com as pessoas às
quais se destina suas atividades ocupacionais - verifica-se quão grande são os transtornos que
atingem o ambiente de trabalho, o que se traduz em prejuízos tanto para a instituição, como
para o agente e os presos assistidos por ele.
Apreciando o baixo nível de Realização Profissional , evidencia-se os sentimentos
de inadequação, ineficácia e insatisfação para com o trabalho. Tal resultado talvez possa
lançar luz aos altos valores em Desumanização que poderia estar traduzindo uma forma
“paliativa”, porém inadequada, de enfrentamento desta ocorrência, seja por estes estarem se
sentindo esgotados ou pouco satisfeitos com a realização de seu trabalho.
Quanto às demais variáveis sócio-demográficas - sexo, idade, filhos e
companheiro estável - não foram encontradas correlações significativas entre estas e os níveis
de estresse e burnout, indicando uma não relação entre os mesmos. Se pensarmos na síndrome
enquanto um processo que se desenvolve no ambiente de trabalho, aliado a algumas
características individuais, poderemos perceber que é significativo a influências das variáveis
profissionais na determinação do burnout no presente estudo. Estes achados confirmam o
modelo teórico postulado por Maslach & Jackson (1986) em que, o burnout estaria
relacionado a características pertinentes ao trabalho, ao qual as influências deste contexto
atuariam como fatores de risco para a ocorrência da síndrome, mais que características sócio-
demográficas ou de vulnerabilidades pessoais.
Burnout e satisfação no trabalho relacionam-se mutuamente, pois se o profissional
sente-se realizado na atividade que exerce, menor será seu sofrimento. Vimos que aqueles
profissionais que se mostravam insatisfeitos com a atividade desenvolvida e que possuíam
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vontade de mudar de profissão apresentavam maiores índices de sintomatologia, seja para
estresse como para o burnout, evidenciando assim, o quanto é importante a satisfação com o
trabalho e quanto isto pode interferir negativamente na vida pessoal do profissional e no
próprio desempenho da atividade.
Frente aos dados expostos, algumas medidas foram propostas aos dirigentes da
instituição no sentido de procurar sanar, ou ao menos minimizar, os efeitos das dificuldades
detectadas. Também foi apresentado um projeto de aprendizagem no manejo de estresse,
visando primordialmente oferecer informações e medidas que possam vir a ser adotadas com
o objetivo de redução dos efeitos negativos que estes processos (estresse e burnout) podem
desencadear na vida destas pessoas. Considerando que a saúde mental no trabalho deve ser
priorizada, visando um resgate dos valores humanos e do significado do trabalho, este projeto
possuiu a pretensão de elevar o bem estar do indivíduo no trabalho, esperando que o reflexo
deste processo venha a repercutir favoravelmente na instituição de um modo geral, bem como
em outros âmbitos.
Finalmente, acredita-se que é de fundamental importância que sejam
desenvolvidos conhecimentos sobre burnout, de forma que suas causas, conseqüências e
possíveis formas de prevenção, possam ser transmitidas aos trabalhadores propensos a serem
acometidos por ela. Por outro lado, o que tem se observado, é que muitas das pessoas afetadas
por esta síndrome, culpabilizam-se pela situação em que se encontram, agravando
sobremaneira o problema, não se dando conta do papel desempenhado pela organização no
desencadeamento da mesma. O objetivo, portanto, foi de obter cada vez mais informações
sobre o burnout bem como tentar propiciar melhor qualidade de vida aos profissionais, e,
conseqüentemente, às pessoas atendidas por estes.
Referências
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Maslach, C. & Jackson, S. (1986). Maslach Burnout Inventory, Manual. Palo Alto, University of California. Consulting Psychologists.
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Moreno-Jiménez, B. Oliver, C. & Aragoneses, A. (1991). El “burnout”, una forma específica de estrés laboral. In.: Buela-Casal, G. & Caballo, V. Manual de psicología clínica aplicada. Madri: Siglo Veintiuno.
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