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C âm pus de P res iden te P ruden te Curso de Graduação em Geografia (Licenciatura e Bacharelado) Convênio: UNESP/INCRA/Pronera Parceria: Escola Nacional Florestan Fernandes DINÂMICA TERRITORIAL E CONFLITUALIDADE NAS ÁREAS DE HORTOS FLORESTAIS O CASO DO HORTO FLORESTAL BELA VISTA IPERÓ - SP LUCIA DE FÁTIMA COSTA DE ALBUQUERQUE Monografia apresentada ao Curso Especial de Graduação em Geografia (Licenciatura e Bacharelado), do Convênio UNESP/INCRA/Pronera, para a obtenção do título de Licenciado e Bacharel em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Luís Antônio Barone Monitor: Hellen Carolina Gomes Mesquita da Silva Presidente Prudente 2011

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Page 1: Curso de Graduação em Geografia (Licenciatura e ... · agentes da Prefeitura Municipal de Iperó/SP, ... de Assuntos Penitenciários e da Divisão Regional Agrícola de ... trem,

Câmpus de Presidente Prudente

Curso de Graduação em Geografia (Licenciatura e Bacharelado) Convênio: UNESP/INCRA/Pronera

Parceria: Escola Nacional Florestan Fernandes

DINÂMICA TERRITORIAL E CONFLITUALIDADE NAS

ÁREAS DE HORTOS FLORESTAIS – O CASO DO HORTO

FLORESTAL BELA VISTA – IPERÓ - SP

LUCIA DE FÁTIMA COSTA DE ALBUQUERQUE

Monografia apresentada ao Curso Especial de

Graduação em Geografia (Licenciatura e

Bacharelado), do Convênio UNESP/INCRA/Pronera,

para a obtenção do título de Licenciado e Bacharel em

Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Luís Antônio Barone

Monitor: Hellen Carolina Gomes Mesquita da Silva

Presidente Prudente

2011

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DINÂMICA TERRITORIAL E CONFLITUALIDADE NAS

ÁREAS DE HORTOS FLORESTAIS – O CASO DO HORTO

FLORESTAL BELA VISTA – IPERÓ - SP

LUCIA DE FÁTIMA COSTA DE ALBUQUERQUE

Monografia apresentado ao Curso Especial de

Graduação em Geografia (Licenciatura e

Bacharelado), do Convênio UNESP/INCRA/Pronera,

para a obtenção do título de Licenciado e Bacharel em

Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Luís Antônio Barone

Monitora: Hellen Carolina Gomes Mesquita da Silva

Presidente Prudente

2011

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Lúcia de Fátima Costa de Albuquerque

DINÂMICA TERRITORIAL E CONFLITUALIDADE NAS

ÁREAS DE HORTOS FLORESTAIS – O CASO DO HORTO

FLORESTAL BELA VISTA – IPERÓ – SP

Monografia apresentada como pré-requisito para

obtenção do título de Bacharel em Geografia da

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita

Filho”, submetida à aprovação da banca examinadora

composta pelos seguintes membros:

Presidente Prudente, novembro de 2011

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“Era ele que erguia casas

Onde antes só havia chão

Como um pássaro sem asas

Ele subia com as casas

Que lhe brotavam das mãos”

Operário em construção –

Vinicius de Moraes

Dedico este trabalho ao meu pai, José Virgínio de

Albuquerque, (in memorian). Por sua luta,

determinação e exemplo. Ele não sabia ler e escrever,

igual a tantos brasileiros. Mas não foi um analfabeto

político.

E dedico também ao MST, por ter proporcionado a

mim, e a muitas outras companheiras e companheiros,

enxergar a luta de classes e a possibilidade de

superação da sociedade capitalista.

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AGRADECIMENTOS

Aos militantes do MST, em especial aos que atuam no estado de São Paulo, que me

apoiaram de diversas maneiras, possibilitando a conclusão deste desafio.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Luis Antonio Barone, pela valiosa contribuição e orientação,

para a conclusão desta monografia.

À todos os monitores, monitoras, secretários do Cegeo, pela paciência e disposição em

ajudar em todos os momentos. Em especial à Yamila Goldfarb, à Hellen Carolina Gomes

Mesquita da Silva e Ronaldo Desidério, por terem me acompanhado, durante o processo

de construção deste trabalho.

A turma Milton Santos pela convivência e mutua ajuda.

A todas as educadoras e educadores, que ministraram as disciplinas, por terem

compartilhado o conhecimento.

A todas as pessoas que de uma ou outra forma contribuíram para realização deste trabalho,

pois se não fosse por sua contribuição e de tantas outras pessoas este trabalho não seria

realizado.

A toda a minha família e amigos, em especial a minha mãe Maria Osita, por toda a força,

apoio e dedicação nos momentos mais difíceis, durante estes cinco anos de curso.

Ao meu filho Igor, por ser a alegria da minha vida.

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RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso visa compreender os processos de produção

social do espaço nas áreas de hortos florestais do estado de São Paulo, através do resgate

histórico de todos os assentamentos, tendo como foco o caso do Horto Florestal Bela Vista,

onde há uma expansão da área urbana sobre a área do assentamento, ficando claro que,

mesmo após a legalização dos mesmos, ainda existem desafios a serem enfrentados e quais

os desdobramentos e as possibilidades de resistência das famílias no atual processo de luta

pela Reforma Agrária no estado de São Paulo.

Palavras-Chaves: Hortos Florestais; Assentamentos Rurais; MST; Luta e resistência.

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SUMÁRIO

Introdução

1 – A produção social do espaço nas áreas de Hortos: a ferrovia, o eucalipto e os

assentamentos.

1.1 – A conquista da terra nas áreas de Hortos florestais em São Paulo

2 – A espacialização da luta pela Reforma Agrária na região de Sorocaba

3 – O município de Iperó e os assentamentos

3.1 – A conquista do Assentamento Ipanema e Bela Vista

3.2 – A ocupação urbana na área social do assentamento

3.3 – A territorialização do presídio na área do assentamento

3.4 – A ampliação da zona industrial

Considerações finais

Referências

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INTRODUÇÃO

O objetivo dessa pesquisa é analisar a transformação de hortos florestais

implantados pela Cia. Paulista de Estradas de Ferro em assentamentos para trabalhadores

rurais. No estado de São Paulo, existem em torno de 19 assentamentos em áreas de Hortos

Florestais, que abrigam mais de 1800 famílias assentadas, (ITESP, 2011). Os Hortos são

áreas que pertenciam a Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e a extinta Ferrovia Paulista

S/A, (FEPASA). No caso deste trabalho, estudaremos espacialmente o Horto Bela Vista,

(Iperó, SP), cuja dinâmica enfrenta conflitos derivados da expansão das áreas urbanas do

município.

Após a privatização da FEPASA e da RFFA, estas áreas foram transferidas para o

Estado, devido ao pagamento de dívidas da União para com o Estado. Hoje estas áreas se

encontram sobre a responsabilidade do Itesp – Fundação Instituto de Terras de São Paulo,

(ITESP, 2009). Algumas destas áreas de Horto, já estavam ocupadas pelos sem terra e

sendo reivindicadas para a reforma agrária. Os assentamentos da região nordeste do estado

de São Paulo foram criados nos anos de 1984 e 1985, (Itesp, 2011) o restantes dos Hortos

do estado só foram legalizados a partir de 1998 a 1999, como resultado do processo de luta

pela terra.

A estrutura agrária brasileira abrigou um elevado número de conflitos

pela posse da terra, que envolveu atores sociais os mais diversos...e tratar

da questão agrária brasileira implica referir-se a uma herança marcada

pela concentração fundiária, que ainda perdura...conjugada com o poder

político e econômico da classe patronal rural e seus segmentos

adjacentes. (LEITE, 2005, p117).

Os conflitos agrários no Brasil estão relacionados a um conjunto de fatores

macroestruturais, como por exemplo, as formas de dominação e ocupação territorial da

sociedade capitalista. Esses conflitos se manifestam em todo o país e é no território que se

dão as disputas fundiárias.

Os conflitos sociais no campo brasileiro não são exclusividade da sociedade

contemporânea, são marcas do desenvolvimento e do processo de ocupação do campo do

país. Os povos indígenas foram os primeiros a serem expropriados de seus territórios,

simultaneamente aos índios vieram os escravos negros, com a organização de vários

Quilombos. Nesses processos de luta pela terra no Brasil houve também os Colonos nas

fazendas de café, os colonos das usinas de cana, Canudos, Contestado, Trombas e

Formoso, os atingidos por barragens, as Ligas Camponesas, mais recentemente o MST e

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muitos outros movimentos sociais, os assentamentos estão inseridos neste processo de luta

pela reforma agrária no Brasil, síntese de todos esses processos históricos.

A ausência de uma definição clara e de um encaminhamento

efetivo de uma política agrária pelas agências governamentais fez

com que a implementação de assentamentos rurais, na grande

maioria dos casos, tenha sido resultado das contundentes ações

políticas de trabalhadores rurais sem terra, organizados em torno

diversos movimentos sociais e sindicais (BERGAMASCO, 2003,

p70).

O assentamento Horto Bela Vista está localizado em um destes assentamentos do

estado de São Paulo, no município de Iperó, onde é notória a expansão da área urbana

sobre a área do assentamento. Existe uma pressão dos poderes locais no sentido de

arrecadar áreas do assentamento para o município, para a construção de indústrias,

despejando assim as famílias assentadas.

Segundo Fernandes (2008) a territorialização dos assentamentos ocorre em meio a

situações conflituosas. No caso dos Hortos Florestais, vários interesses estão em disputa,

tanto de empresas, como de prefeituras, do setor de turismo rural e também para

construção de condomínios urbanos Essa disputa territorial é comum em todas essas áreas.

Essa pesquisa propõe aprofundar neste elemento, na tentativa de desvendar, quais

são esses interesses e quais as possibilidades existentes para potencializar a organização e

luta pela conquista definitiva destes territórios. A análise do Assentamento Horto Bela

Vista, é uma parte deste todo.

No primeiro capítulo será feita uma contextualização da questão dos Hortos

Florestais, onde trataremos do processo de ocupação e conquista destes espaços no estado

de São Paulo. No segundo capítulo, será abordada a luta pela terra na região de Sorocaba e

o processo de organização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

No terceiro capítulo será realizada uma análise da dinâmica territorial

estabelecida, da implantação do assentamento Horto Bela Vista (Iperó, SP), frentes às

políticas de expansão urbana sobre a área de assentamento, bem como discutir quais são as

perspectivas e possibilidades de desenvolvimento das famílias assentadas e do próprio

assentamento. Dessa forma esta pesquisa vem no intuito de expressar as dinâmicas

decorrentes da ocupação, através da luta pela terra e da conquista e resistência na mesma.

Pretendemos analisar as diferentes transformações ocorridas nestas áreas, com

base no conceito de produção social do espaço, entendendo este partir da perspectiva

Lefebvriana, sabendo que a produção está relacionada à categoria trabalho, diferenciando a

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configuração espacial, como produto da territorialização capitalista e da configuração

espacial produzida pela luta de classes.

As informações colhidas se dão no contexto de nossa trajetória pessoal, enquanto

militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, ( MST), e assentados do

Horto Bela Vista. Essa experiência pessoal foi acrescida de outras informações levantados

através de entrevistas com dirigentes sindicais, dirigentes do MST, técnicos do Itesp,

agentes da Prefeitura Municipal de Iperó/SP, outros assentados do Assentamento Bela

Vista, moradores da ocupação/bairro Bela Vista, IPeró/SP, ex-detento do sistema prisional

de São Paulo.

Além disso, foram consultados o Plano Diretor do Município de Iperó, como

também uma bibliografia específica que trata dos Hortos do Estado de São Paulo, textos

sobre a questão agrária e dos assentamentos. Foram utilizados também dados da Secretaria

de Assuntos Penitenciários e da Divisão Regional Agrícola de Sorocaba (relatório LUPA).

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Capítulo 1 – A produção social do espaço nas áreas de Hortos: a ferrovia,

o eucalipto e os assentamentos.

O capitalismo se reproduz através da produção social do espaço. A configuração

espacial é resultado da obra idealizada e concretizada neste espaço e essa produção não se

concretiza sem a relação com a categoria trabalho, segundo Lefebrve. Percebe-se que as

transformações ocorridas no espaço geográfico sempre ocorreram, porém com mais

intensidade na sociedade capitalista, por conta da necessidade de gerar novos produtos

destinados ao consumo: café, trem, eucalipto e assentamentos estão inseridos nesta lógica

pré-determinada. Segundo Lefebrve:

Este, [o espaço], que é o lugar da reprodução das relações de produção,

(que se sobrepõe à reprodução dos meios de produção), é

simultaneamente ocasião e instrumento duma planificação (ordenamento

do território), duma lógica do crescimento. A prática social do

capitalismo implica e contém saber, lógica (busca, coerência), uma

ideologia da coesão e das contradições à escala local. (LEFEBRVE,

1973, p17)

A produção do eucalipto nas áreas de Hortos Florestais está diretamente

relacionada com a economia cafeeira, ocorrida no estado de São Paulo, a partir do século

XV. A implantação das estradas de ferro contribuiu com a expansão da cultura cafeeira e

da colonização do interior do estado de São Paulo. Conforme a CPTM (2004), em 1856, o

Barão de Mauá obteve a concessão para construir e explorar por uma ferrovia ligando

Santos à Jundiaí. Em 1860, foram aprovados os estatutos da Estrada de Ferro Santos à

Jundiaí, denominadas posteriormente de São Paulo Railway Company Limited. Após

grandes dificuldades de implantação, em 1867 houve a inauguração da estrada. Essa

ferrovia foi determinante para o transporte de passageiros e o escoamento da produção

cafeeira e outros produtos agrícolas no Estado, sendo que contribuiu para o

desenvolvimento da produção agrícola capitalista do interior da Província de São Paulo e

do Porto de Santos, o qual se tornou um grande pólo de circulação de mercadorias e

principalmente do café produzido em São Paulo (KUHL, 1998).

Segundo Santos (2001) a configuração espacial deste período se enquadra na

lógica de implantação do Meio Técnico Científico Informacional (MTCI), que resultou na

configuração espacial do território brasileiro no século XXI.

Esta implementação tecnológica, gerou uma disparidade entre as regiões e

estados. Sendo que, o estado de São Paulo passa a ser predominantemente industrial, e

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também detentor de grande estrutura, que beneficia a circulação de mercadorias para a

sociedade capitalista. Porém, toda essa produção social, era dependente dos países

desenvolvidos, (Europa, EUA), e na maior parte voltada para a exportação.

Figura 1: Vias férreas instaladas no Estado de São Paulo em 1935.

Fonte: Giesbrecht (2004)

Esta figura, apresenta as linhas férreas,instaladas em 1935. A linha tronco,em destaque,é

da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Observa-se, que os Hortos Florestais,se localizam,

nesta mesma região.

Em 1870 iniciou-se a construção da Paulista. Muitas outras linhas foram

inauguradas posteriormente: a) Jundiaí a Campinas; b) o prolongamento até Rio Claro; c)

Santa Bárbara em 1875; d) Limeira e Rio Claro em 1876; e) a linha de Cordeirópolis até as

margens do Rio Mogi-Guaçu; f) e, em 1880, chegou até Porto Ferreira.

A plantação de café havia devastado grande parte das reservas de mata atlântica

existente, portanto havia pouca madeira para abastecer a ferrovia, então a Companhia

Paulista de Estradas de Ferro (CPEF), resolveu investir na produção de eucalipto para a

produção de dormentes, sendo este o primeiro projeto de plantio de eucalipto desenvolvido

no Brasil, outra importância do eucalipto foi a necessidade de combustível para abastecer

as locomotivas.

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O cultivo do eucalipto foi implantado a partir de 1903, em Jundiaí, seguido de

outros projetos, os quais resultaram em Hortos Florestais: Aimorés em Bauru, Bebedouro,

Bela Vista em Iperó, Boa Sorte em Restinga, Brasília em Cabrália, Córrego Rico em

Jaboticabal, Descalvado, Camacuã em Ipeúna, Guarani em Pradópolis, Loreto em Araras,

São Carlos, Sumaré, Mogi Mirim, Tatu em Limeira, Rio Claro, Bueno de Andrade e

Monte Alegre, em Araraquara.

O elevado consumo de madeira utilizado pelas locomotivas levou a diretoria da

empresa a preocupar-se com o abastecimento de lenha, pelo desmatamento causado,

lançando as bases para o que viria a constituir o Serviço Florestal da Companhia Paulista,

dirigido pelo agrônomo Edmundo Navarro de Andrade (MARTINI, 2004). Em 1904 o

agrônomo Edmundo Navarro de Andrade, responsável pelo Serviço Florestal da Cia.

Paulista, instalou os primeiros experimentos para determinar uma essência florestal capaz

de fornecer madeira e lenha combustível para suprir as necessidades da ferrovia. Após seis

anos de estudos comparativos entre essências exóticas e nativas realizados no Horto

Florestal de Jundiaí, chegou-se a conclusão de que o eucalipto era a essência que deveria

ser plantada em larga escala (ANDRADE, 1961).

A partir desses resultados, a Paulista iniciou a implantação de florestas adquirindo

propriedades rurais para a expansão da cultura do eucalipto. Desde o período experimental

até o final de 1940, Navarro de Andrade havia implantado dezessete hortos florestais ao

longo das linhas férreas da Companhia. Além de atender as necessidades da empresa, nos

hortos florestais foram realizadas pesquisas de melhoramento genético florestal e

propostas bem sucedidas de uso do eucalipto na indústria de construção, mobiliário e

celulose (ANDRADE, 1961).

A produção de eucalipto, já era bastante utilizada para a produção de madeira, em

outros países, devido a seu rápido crescimento e rusticidade, isso levou Navarro de

Andrade a considerá-las como potencial recurso madeireiro para a Cia Paulista de Estradas

de Ferro, que necessitava de lenha, dormentes, postes e mourões.

Por volta de 1930, já se notava que a paisagem agrícola se modificara, e os

eucaliptos eram facilmente notados. Há estimativas de que em 1941, ano da morte de

Edmundo, havia cerca de 24 milhões de árvores plantadas pela Cia. Paulista no estado de

São Paulo. Já em 1960, esse número era de 46,5 milhões. As plantações paulistas serviam

de exemplo para outros estados brasileiros, como Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio

de Janeiro. Entretanto, nessa época já se encontravam plantas de eucalipto por todo o

Brasil.

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Tabela 1: Dados dos hortos implantados pela Companhia Paulista de Estradas de

Ferro

Ordem Nome Município Implantação

(Ano) Área (ha)

1 Boa Vista Campinas 1906 1008,95

2 Loreto Araras 1909 566,92

3 Navarro de

Andrade Rio Claro 1909 2222,80

4 Tatu Limeira 1915 620,68

5 Camaquan Ipeúna 1917 1397,33

6 Sumaré Sumaré 1918 172,18

7 Cordeirópolis Cordeirópolis 1918 259,60

8 Bebedouro Bebedouro 1927 1356,59

9 Vergel Mogi-Mirim 1929 1207,86

10 Córrego Rico Jaboticabal 1935 436,68

11 Ibitiúva Pitangueiras 1936 743,50

12 São Carlos São Carlos 1936 942,70

13 Brasília Cabrália Paulista 1936 1863,40

14 Tapuia Rincão 1937 58,90

15 Descalvado Descalvado 1937 358,10

16 Aurora Descalvado 1938 540,70

17 Guarani Pradópolis 1938 4219,92

18 Aimorés Bauru 1940 5197,66

19 Boa Sorte Restinga 1940 2867,70

20 Bela Vista Iperó 1938 1034,95

21 Bueno de

Andrade Araraquara Sem informação Sem informação

22 Monte Alegre Araraquara Sem informação Sem informação

Fonte: Itesp (2010)

Esta tabela apresenta dados dos hortos florestais implantados pela Cia. Paulista de

Estradas de Ferro. O desenvolvimento da tração elétrica e da tração diesel diminuiu a

importância da lenha como combustível, no entanto, os hortos continuaram importantes

como unidades de produção.

Ocorre que o desenvolvimento pouco racional do traçado e bitola das linhas, a

política de incentivo ao transporte rodoviário, as crises da produção cafeeira e a

obsolescência de algumas empresas resultaram na superação do transporte ferroviário. A

necessidade de manutenção do serviço e o fim do privilégio de exploração das estradas de

ferro pelas suas empresas fundadoras, fez com que o Estado assumisse esse sistema de

transporte, já em decadência nas décadas de 40 e 50. O Governo Federal assume em 1947

as linhas da São Paulo Railway, passando a ser administrada pela Rede Ferroviária Federal

S/A (RFFSA), empresa ligada ao Ministério dos Transportes, que englobou as estradas de

ferro então operadas pela União. Em 1971 o Governo do Estado de São Paulo cria a

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Ferrovias Paulistas S/A (FEPASA), incorporando as cinco Companhias então operantes no

Estado – Estradas de Ferro: Sorocabana; Paulista; Estrada de Ferro Araraquara; e Estrada

de Ferro São Paulo & Minas.

Não há muita informação a respeito do destino dado aos Hortos Florestais.

Martini, (2004), afirma, em suas pesquisas que, documentos referentes aos hortos da

Paulista desapareceram e que os registros documentais são quase inexistentes no horto

florestal de Rio Claro. Com a denominação de Malha Paulista, a FEPASA foi incorporada

a RFFSA em 1998 e privatizada no mesmo ano. Parte do patrimônio imóvel, incluindo

Hortos Florestais, foi repassado ao Governo de São Paulo, que os recebeu por meio do

Decreto nº 45.083/2000 mediante dação em pagamento (SÃO PAULO, 2006).

Em meados do século XX, a produção madeireira alcançou níveis incalculáveis,

ao mesmo tempo em que ocorria a instalação, em números crescentes, de fábricas de pasta

mecânica de celulose e papel no Brasil. Nesta época, já haviam sido plantados em nosso

território, 470 mil hectares de eucalipto, 80% desse total no Estado de São Paulo,

principalmente nas áreas da FEPASA. (Oliveira, 2006, pg 33). Porém, com o

desenvolvimento tecnológico implantado no Brasil, a partir do ano de 1950, esse meio de

transporte é substituído pelo automóvel, com a implementação dos grandes projetos de

desenvolvimento, de estradas e Rodovias, (Santos, 2001). Neste período da

industrialização brasileira, as ferrovias já não fazem mais o transporte de passageiros e sim

de mercadorias. Essas estatais são privatizadas e há o fechamento das usinas de

beneficiamento de madeira. Por conseqüência disto ás áreas de Hortos acabam sendo

abandonadas, e todas permanecem com a plantação de eucalipto. Desde o ano de 1980,

algumas destas áreas são ocupadas pelos sem terra e reivindicadas para a reforma agrária.

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Figura 2 - Transporte de cargas efetuado pela ALL

Fonte: Lucia de Fatima Costa de Albuquerque- 2011

Esta imagem, mostra a atual forma de utilização dos trens, pela empresa América

Latina Logística, principalmente para o transporte de commodities agrícolas, de

combustíveis, de madeira e de produtos industrializados. (consulta site ALL em 29 de

julho de 2011)

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1.1 – A conquista da terra nas áreas de Hortos florestais em São Paulo

Os assentamentos nas áreas de horto florestal estão inseridos no processo mais

geral da luta pela terra no Estado de São Paulo e no Brasil:

“As lutas sociais que levaram à constituição dos assentamentos rurais no

estado de São Paulo emergiram de uma pluralidade de relações de

trabalho e conflitos pela posse da terra. Trata-se, por exemplo, da luta de

posseiros, arrendatários, parceiros e sitiantes atingidos por barragens, ou

seja, de trabalhadores que disputaram áreas rurais por eles já ocupadas”.

(BERGAMASCO, et al., 2003, p76)

Como exemplo disto, temos os posseiros em Andradina na década de 80, e outros

fatores também foram decisivos na estruturação dos movimentos de luta pela terra:

“Em outros casos os assentamentos originaram-se da organização

sindical de trabalhadores rurais assalariados temporariamente no corte de

cana...Há ainda a luta de trabalhadores rurais sem terra que

perambulavam pelo Estado, e que, a partir dos anos oitenta, passaram a

procurar nos movimentos sociais politicamente organizados, um caminho

para a fixação no campo”. (BERGAMASCO, et al, 2003, p76)

Das experiências da ocupação em Andradina, e do assentamento na fazenda

Primavera, surgiram novos grupos de famílias, de outras cidades na região de Campinas,

que ficaram acampadas no trevo da Bosch, parte destas famílias, foram assentadas no

município de Sumaré, numa área da Fepasa, onde, as prefeituras de Sumaré e Hortolândia,

tinham interesse, em fazer um loteamento, residencial urbano, (experiências

contemporâneas). É neste momento, que se iniciam os conflitos, nas áreas de Hortos

Florestais, no Estado de São Paulo. A conquista do Horto de Sumaré, precedeu, em alguns

meses, a conquista da área, de uma fazenda experimental, no município de Porto Feliz.

A seguir, destacaremos brevemente, algumas informações sobre estes

assentamentos, nas áreas denominadas de Horto Florestal, no estado de São Paulo:

a) Assentamento Sumaré I e II

Os assentamentos de Sumaré I e II, são importantes, para analisar os impactos nas

relações de poder político locais, pois as 52 famílias, se organizaram através do MST, do

(MAB), Movimento dos Atingidos por Barragens, no sindicato rural, em partidos políticos,

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na administração local, no estabelecimento de convênios com a Unicamp e a Embrapa.

Apesar do pequeno número de famílias, as atividades culturais, políticas e sociais

evidenciaram que, os programas de reforma agrária, podem desencadear processos sócio-

culturais, consideráveis.

O assentamento de Sumaré Área I, constituído em março de 1984, atingiu em

meados dos anos 90, uma significativa intensificação da produção, com a introdução da

horticultura irrigada. Neste processo, foram constituídos os mecanismos institucionais, de

financiamento da produção, para os assentados rurais no estado de São Paulo, o desafio

agora era a comercialização:

“No final da década de 80, as linhas de crédito para os

assentamentos de reforma agrária ainda não haviam sido delineadas.

Mas restavam algumas alternativas para a obtenção de recursos.”

(BERGAMASCO et al., 1996, 78).

Nos anos de 1984 e 1985, o Governo Montoro criou a legislação sobre a

destinação das áreas para a Reforma agrária. Esse elemento, contribuiu para os primeiros

assentamentos no estado de São Paulo, inclusive nas áreas de Hortos Florestais. Um fator

determinante, para os assentamentos nos Hortos Florestais, foi a privatização da FEPASA,

a partir de 1998. Por conta deste fato, estas áreas perderam sua função social, e o governo

Mário Covas, que desenvolvia uma política de assentamentos, assentou mais famílias.

Neste período, vários Hortos Florestais foram ocupados pelo MST, num momento de

efervescência da luta pela terra, sendo este último elemento, determinante para a

concretização dos assentamentos, no estado de São Paulo. (BERGAMASCO, 1996).

O assentamento Sumaré I, conta com 26 lotes, tendo uma área total de 237,58 ha

e teve início no ano de 1984. Em 1983, um grupo de 47 famílias, a maioria participante das

Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) de Hortolândia, ocupou a área da Usina Tamoios,

localizada no município de Araraquara. Era um período de forte crise econômica, o que

gerou o fechamento de muitos postos de trabalho, nas áreas industriais, dos municípios de

Campinas e Sumaré. Essa primeira ocupação, não obteve êxito, apesar de parte da terra da

Usina Tamoios, haver sido penhorada pelo governo estadual. Foram despejados, mas as

famílias, decidiram pela continuidade do movimento, e realizaram uma nova ocupação,

agora no Horto Florestal de Loreto, em Araras.

Montaram dois acampamentos na área, e novamente foram notificados, sobre a

existência de liminar de desocupação do horto, solicitada pela Ferrovia Paulista S/A

(FEPASA). As famílias exerceram uma resistência pacífica, sentando, em círculo, no chão,

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porém, não houve acordo e tiveram que desocupar a área. Os ocupantes e os apoiadores do

movimento, realizaram então, uma caminhada a pé até a cidade, carregando uma cruz de

madeira, a mesma. que haviam colocado no centro do acampamento no horto.

Foram aplaudidos pela população local, e quando chegaram à paróquia de Araras,

já contavam com cerca de 300 manifestantes. Iniciou-se, a seguir, um período de

negociação com o governo estadual, até que, por meio de um Protocolo de Intenções entre

a FEPASA e a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, foram beneficiadas 26

Bergamasco O Protocolo de Intenções assumia o compromisso de que a medida que os

contratos existentes com terceiros de exploração do horto fossem vencendo, a área

remanescente seria paulatinamente incorporada a área do projeto de assentamento.

Durante todo o processo de arrecadação da terra e implantação do assentamento,

as famílias contaram com o apoio das Pastorais, de Sindicatos, da Central Única dos

Trabalhadores (CUT), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do

Partido dos Trabalhadores (PT), apenas para mencionar algumas das entidades que

participaram desse acontecimento histórico.

As explorações agrícolas se modificaram ao longo do tempo com o plantio na fase

inicial de gêneros básicos (arroz, feijão e milho) modificando para café, olerícolas e mais

recentemente fruticultura.

O assentamento Sumaré II tem 27 lotes e ocupa uma área total de 179,59 ha, teve

início em 1985. Em meados de 1985, um grupo de 44 famílias, ocupou o Horto Boa Vista,

localizado no Município de Sumaré. Foram despejados, porém, mediante negociações

entre a Ferrovia Paulista S/A (FEPASA), que possuía o domínio da terra, e a Secretaria da

Agricultura e Abastecimento, firmou-se um acordo que as famílias permaneceriam na

referida área por um período de dois anos, sendo posteriormente transferidas para o Horto

Florestal de Sumaré, onde já havia sido implantado o Projeto de Assentamento Sumaré I.

Instalou-se, então, o assentamento em fase emergencial. Em 1987, 29 famílias

foram beneficiadas com um lote no Horto Florestal de Sumaré, iniciando o Projeto Sumaré

II em área definitiva, sob a responsabilidade do Departamento de Assentamento Fundiário

(DAF).

A maioria das famílias era composta por desempregados dos municípios vizinhos,

mas com um histórico de trabalho agrícola em outras regiões e Estados. Os agricultores

contaram com o apoio das Pastorais, dos Sindicatos e do Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra (MST). As famílias permanecem até o ano de 2000 num módulo de 2,0

ha de lote agrícola e 2,0 ha de lote da agrovila. Neste ano, com a privatização da Fepasa,

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foram disponibilizadas áreas, para expansão dos lotes com os módulos variando de, 2,9 a

7,0 há, (somando a área da agrovila e do lote agrícola). As principais explorações são

goiaba de mesa, mandioca de mesa, quiabo e milho verde.

As políticas estaduais de recuperação e ocupação das terras adquiriram maior

consistência a partir de 1995, quando a reestruturação do Departamento de Assentamento

Fundiário (DAF) permitiu uma intervenção governamental mais intensa visando atender a

demanda social de acesso a terra, no pontal do Paranapanema e ocupação dos Hortos

Florestais.

Os hortos florestais com origem ferroviária vêm sendo utilizados para a execução

da política de assentamentos do Estado, desde a década de 1980. Na região de Araraquara

o período de consolidação do primeiro assentamento em horto florestal ocorreu em julho

de 1985 na Fazenda Monte Alegre localizada na tríplice divisa dos municípios de

Araraquara, Motuca e Matão. Segundo Fernandes (2006) a implantação do PA Monte

Alegre ocorre em um contexto de abertura política do país, com promessas e iniciativas do

governo no campo da reforma agrária. Regionalmente, sucede o movimento de maio de

1984 na cidade de Guariba, onde ocorre um movimento insurrecional dos trabalhadores

agrícolas denominados “boias-frias”.

Algumas famílias de trabalhadores rurais e “boias-frias” apoiados pelo Sindicato de

Trabalhadores Rurais de Araraquara que negociou com o Governo do Estado a ocupação

das terras então pertencentes à Secretaria da Agricultura, por meio de inúmeras incursões e

negociações sucessivas foram ocupando toda a área da antiga Fazenda Monte Alegre.

O mesmo ocorreu no Horto Guarani, município de Pradópolis, Estado de São

Paulo, onde ocorreram várias incursões na década de 1980. Porem, com a ocupação

definitiva por trabalhadores rurais em 1992.

A destinação de terras públicas para assentamento de famílias de trabalhadores

rurais sem-terra é contemplada na política agrária paulista, que tem objetivos claros,

estabelecidos a partir da edição da Lei 4957/1985, apresentada no Anexo II, cujo Artigo 1º

diz:

Art. 1º - O Estado desenvolverá planos públicos de valorização e

aproveitamento de seus recursos fundiários, para: I - promover a efetiva

exploração agropecuária ou florestal de terras, que se encontrem ociosas,

subaproveitadas ou aproveitadas inadequadamente; II - criar

oportunidades de trabalho e de progresso social e econômico a

trabalhadores rurais sem terras ou com terras insuficientes para a garantia

de sua subsistência.”

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De acordo com ITESP (1998), o projeto de assentamento, estabelece uma ação de

reordenamento fundiário sobre uma área, com a redivisão de uma unidade de produção

concentrada, originando a criação de novas unidades familiares de produção. Os hortos

florestais implantados pela Cia. Paulista vêm sendo utilizados para a execução da política

agrária e fundiária do Estado, sendo uma exceção o horto de Rio Claro, tombado em 1977 pelo

CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e

Turístico. O horto florestal de Rio Claro, hoje Floresta Estadual Navarro de Andrade, foi

implantado no ano de 1909, (Itesp 1998).

b) Projeto de Assentamento Ibitiúva

O Horto Ibitiúva, foi ocupado em 1998 pelos Sem Terra, organizadas por sindicatos

de trabalhadores rurais ligados à FERAESP, (Federação dos Empregados Rurais Assalariados

do Estados de São Paulo). As famílias são oriundas das regiões de Pitangueiras, Sumaré e

Bebedouro. A comissão de seleção aprovou o assentamento de 43 famílias, com base na Lei

4957/1985. Este assentamento localiza-se no município de Pitangueiras, este horto foi

implantado em 1936 pela Cia. Paulista de Estadas de Ferro e transformado em assentamento

rural pelo ITESP em julho de 1999. Possui área total de 725,01 ha, sendo composto por 43

lotes familiares de 8,5 ha, totalizando 367,09 ha de área agrícola, 174,20 ha de áreas destinadas

à reserva florestal legal e preservação permanente e 151,00 ha de área destinada para manejo

florestal.

c) Projeto de Assentamento Reage Brasil

O horto Reage Brasil, foi ocupado no ano de 1998, por famílias de trabalhadores

rurais sem-terra, organizadas por sindicatos de trabalhadores rurais, ligados à FERAESP. As

famílias, são provenientes da região de Sumaré, e também famílias que moravam na região de

Bebedouro. O assentamento se localiza no município de Bebedouro, e tem 84 lotes.

Este horto, instalado no ano de 1927, é convertido para assentamento rural, em

setembro de 1998. Com área total de 1.296,30 ha, é composto por 83 lotes familiares de 8,5 ha,

totalizando 3975,17 ha de área agrícola, 263,42 ha de áreas destinadas à reserva florestal legal

e preservação permanente, e 295,73 há, de área destinada para manejo florestal. Principais

culturas: cana-de-açúcar, seringueira, manga, laranja, limão, mandioca, poncã, café, arroz,

milho, feijão, pastagem, gado de leite para consumo e alguns bovinos de corte, pomares

domésticos, etc.

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d) Projeto de assentamento Córrego Rico

Assim como os outros, este horto de Jaboticabal, foi ocupado em março de 1998, por

famílias de trabalhadores rurais sem-terra, originárias, principalmente, dos municípios de

Guariba e Pradópolis, onde trabalhavam na colheita de cana ou laranja. Essas famílias foram

organizadas por sindicatos de trabalhadores rurais ligados à FERAESP. Foram assentadas 47

famílias.

No período da ocupação, a floresta plantada, já tinha sido explorada, restando apenas

a área de dois lotes, com restos de exploração de madeira, pois o horto estava arrendado para

uma empresa de celulose e papel. Este horto florestal, foi implantado em 1935, pela Cia.

Paulista de Estradas de Ferro e convertido para assentamento, em setembro de 1998, com área

total de 468,08 ha, é composto por 47 lotes familiares de 7,7 ha, totalizando 361,80 ha de área

agrícola e 97,02 há, de áreas destinadas à reserva florestal legal e preservação permanente.

e) Projeto de Assentamento Boa Sorte

O horto Boa Sorte, foi ocupado em janeiro de 1998, por famílias de trabalhadores

rurais sem-terra, organizadas, pelo Sindicato dos Sapateiros de Franca. As famílias são

provenientes dos municípios de Franca e Restinga, muitas desempregadas, do setor calçadista.

Antes do assentamento definitivo, em setembro de 1998, as famílias passaram por 3

reintegrações de posse, das áreas que ocuparam. Foram assentadas, 159 famílias, após

trabalhos de uma comissão de seleção, conforme Lei 4957/1985. O assentamento é organizado

em duas agrovilas, concentrando membros ligados ao MLST, na agrovila I, e MST, na agrovila

II.

O assentamento Boa Sorte, localiza-se no município de Restinga, foi implantado em

setembro de 1998, com área total de 2979,07 ha, é composto por 159 lotes familiares de 12,50

ha, totalizando 1974,17 ha de área agrícola e 875,67 ha de áreas destinadas à reserva florestal

legal e preservação permanente.

f) Projeto de Assentamento Araras I

Este assentamento, é composto de seis lotes, com uma área total de 82,73 há. O

processo de assentamento, teve início no ano de 1984 e está localizado no município de

Araras.

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A área destinada ao Projeto de Assentamento Araras I, (parte do Horto Florestal

de Loreto), pertencia a Ferrovia Paulista S/A (FEPASA). Em 1983, um grupo de famílias,

que havia ocupado a Usina Tamoios, em Araraquara, realizou outra ocupação, agora no

referido horto. Os agricultores foram despejados, porém, iniciou-se um período de

negociação, com o governo estadual, resultando, na assinatura de um Protocolo de

Intenções, entre a FEPASA e a Secretaria da Agricultura e Abastecimento, que previa a

implantação de projeto de assentamento rural, em duas áreas de hortos: Sumaré e Loreto,

(Itesp, 2011)

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), vinculado à

Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia, e o IAF, foram às entidades responsáveis pela

elaboração de projeto técnico, para viabilizar o assentamento. As famílias, foram

cadastradas, com o apoio de políticos locais, do Sindicato de Trabalhadores Rurais de

Araras, e da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado de São Paulo

(FETAESP), sendo que os interessados, em geral, eram grupos já organizados

previamente. Esse projeto, representou a primeira experiência, de instauração de Comissão

de Seleção, nos moldes da Lei Nº 4.957, de 30.12.85, que ainda estava em processo de

aprovação, pois o início do assentamento, foi em 1984, (Doc, arq. DAF/ITESP, 2011)

g) Projeto de Assentamento Araras I I

O assentamento Araras II, tem 14 lotes, em uma área total de 208,99 há, e tem

como data de inicio, o ano de 1984. A história do Projeto de Assentamento Araras II, está

atrelada a do Projeto Araras I. A área, localizada no Horto Florestal de Loreto, que

pertencia a Ferrovia Paulista S/A (FEPASA), foi também destinada, pelo Governo do

Estado de São Paulo, para implantação de assentamentos rurais. O Instituto de Assuntos

Fundiários (IAF), instaurou, então, um processo de seleção dos agricultores, com a

participação do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Araras. Não houve conflito

fundiário, e a seleção ocorreu em grupos previamente organizados.

h) Araras III - Pequenos produtores

Este assentamento, é composto por 46 de Lotes, e ocupa uma área total de 367,87

há, teve início em 1997. Do mesmo modo que Araras I e Araras II, a Ferrovia Paulista S/A

(FEPASA), era a antiga proprietária da área localizada no Horto Florestal de Loreto, que

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foi destinada a implantação, do assentamento Araras III. Um grupo de famílias,, ocupou a

terra, porém a FEPASA, conseguiu judicialmente, a reintegração de posse da área.

As famílias, ficaram então, acampadas no assentamento Araras II, em espaço cedido, por

um beneficiário do projeto. Ocorreu uma segunda ocupação, que marcou o início de um

processo de negociação, com o Governo do Estado de São Paulo.

Foram três anos de acampamento, até a regularização do projeto em 03/09/98.

i) Projeto de desenvolvimento sustentável - PDS Araras IV

Este assentamento tem 30 lotes, e ocupa uma área total de 40,18ha, teve início no

ano de 2004. A área destinada ao Projeto de Assentamento Araras IV, também pertencia à

extinta Fepasa. A referida área foi, ocupada por um grupo de famílias, chamadas “sem-

teto” em 2003, que pleitearam junto à Prefeitura Municipal, o parcelamento da área, para a

realização do loteamento urbano. Sendo esta área, de propriedade da Fundação ITESP,

iniciaram tratativas, para discussão de um Projeto de Assentamento diferenciado,

concluindo os trabalhos, apenas em maio de 2005. Este Projeto, tem características

diferenciadas em função do seu módulo, que através de estudo técnico, mostra-se voltado

para uma agricultura intensiva, com enfoque nas atividades de, fruticultura e hortaliças.

j) Projeto de assentamento Cordeirópolis

Este assentamento tem 21 lotes, as famílias que estão assentadas hoje no Projeto

de Assentamento de Cordeirópolis, iniciaram sua luta pela conquista da terra, com uma

ocupação no Município de Estiva Gerbi, no ano de 1997. Seguiram posteriormente para o

Município de Mogi-Guaçu, ocupando a Fazenda Campininha, de propriedade do Instituto

Florestal.

As famílias sofreram liminar da justiça para desocupação da área da Fazenda e

encaminharam-se para a Rodovia SP 340 (Município de Espírito Santo do Pinhal). Porém,

sem expectativa naquela localidade, dirigiram-se para uma Chácara, no Bairro do Itaqui,

quando um pretenso proprietário, ofereceu a Chácara, dizendo ser dele. E por fim, as

famílias descobriram que o mesmo, não era o verdadeiro dono, e que tinha a intenção de se

apropriar da Chácara, usando as famílias. Esta situação perdurou por 90 dias

aproximadamente.

Diante das dificuldades nas negociações com o Instituto, o grupo se dividiu em

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dois, um ocupou o Horto de Cordeirópolis, em novembro de 1998, e o outro, o Horto de

Camaquan, (Ipeúna), pois as famílias ouviram rumores, de que os hortos da extinta Fepasa,

seriam repassados ao Estado, para fins de Reforma Agrária. Houve a ocupação da Sede do

horto, e em três dias, aconteceu uma investida da Polícia Militar sobre as famílias que ali

se encontravam.

As lideranças argumentaram que aquelas terras, estavam destinadas à Reforma

Agrária, e que estavam em negociação com a Fundação ITESP, para buscar uma solução.

Esta negociação, durou cerca de 3 meses, oficializando-se por fim, a criação do Projeto de

Assentamento de Cordeirópolis. Cabe frisar que, foram ao todo, cerca de 14 mudanças de

áreas, até o assento das famílias em Cordeirópolis.

k) Projeto de assentamento Vergel

Este assentamento, tem 90 lotes e ocupa uma área total de 1.217,81 há. Teve

início em 1998, se localiza no município de Mogi Mirim. No ano de 1996, foram

realizadas reuniões, através do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Sumaré e Sindicato

de Alimentação de Mogi Mirim. Estas reuniões, culminaram com a mobilização de 250

famílias de trabalhadores rurais, cortadores de cana, oriundos de diversas cidades, como

Conchal, Sumaré, Campinas, Estiva Gerbi, Mogi-Guaçu, com o intuito de ocupar terras

devolutas e com potencial para a Reforma Agrária.

O horto Vergel, foi ocupado por um grupo de famílias, no dia 12 de outubro de

1997, onde realizou-se uma negociação, com, o então, responsável pelos hortos da Fepasa,

Sr. Marcondes. Daí, essas famílias se organizaram novamente e montaram uma Comissão,

batizada de Comissão dos Hortos do Estado de São Paulo, que visitaram todos os hortos do

Estado de São Paulo, que estavam sob tutela da extinta Fepasa.

Esta Comissão, se reuniu com o Secretário de Justiça, para discutir sobre a

implantação de Projetos de Assentamento nestas áreas. Em 8 de setembro de 1998, teve

início o Projeto de Assentamento Horto Vergel, em caráter provisório. Hoje, 90 famílias

estão regularmente assentadas neste Projeto.

l) Projeto de assentamento Camaquã

O assentamento tem 47 lotes, ocupa uma área total de 1.372,41 há, e teve início

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também no ano de 1998, está localizado no município de Ipeúna.

As famílias, que estão assentadas hoje no Projeto de Assentamento de Camaquã,

faziam parte do mesmo grupo, que ocupou a Fazenda Campininha, situada em Mogi-

Guaçu.

Não encontrando resposta, para seus anseios e sofrendo pressões para desocupar a

Fazenda, o grupo de deslocou, para uma propriedade em São Carlos e logo depois se

dirigiram ao Município de Rio Claro, após saberem de rumores, acerca da utilização de

Hortos da Fepasa, para Assentamentos Rurais. Já ocupando o horto de Camaquã, em

Ipeúna, em 14 de setembro de 1997, lideranças procuraram a Fundação ITESP, em São

Paulo, com o apoio da CUT Rural, e iniciou-se o processo de cadastramento das 58

famílias ali presentes. A topografia revelou 47 lotes agrícolas, e algumas famílias ficaram

em uma lista de espera, e com algumas desistências, assumiram os lotes.

m) O Horto Tatu – Limeira – Pré-Assentamento Elizabete Teixeira

Este Horto, foi ocupado no ano de dois mil e sete, com 250 famílias, organizadas

pelo MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Este Horto, ocupa uma área

de 744 hectares, localizada no km 137 da rodovia Anhanguera. Mesmo não sendo um

assentamento legalizado, já existe a produção agrícola e a comercialização dos produtos,

através do programa do governo federal, o PAA - Programa de Aquisição de Alimentos

chamado de “Doação Simultânea”. Este programa, consiste na entrega de produtos da roça

à entidades sociais, como hospitais, escolas e outros sem fins lucrativos. Após a entrega,

ocorre a recepção das verbas, com preços tabelados equivalentes aos do Ceagesp.

Neste projeto de assentamento, que é denominado de Comuna da Terra, em geral

localizados próximo à centros urbanos, há uma diminuição no tamanho lote, que não deve

ser inferior a três ha de terra.

No caso desta ocupação, há um grande litígio, ou seja, uma disputa jurídica e

política pela conquista da área, com a prefeitura de Limeira, pois ela ocupa também, de

forma ilegal, uma área de aproximadamente 100 ha de terra, deste Horto Florestal, sendo

eles: um estande de tiro das policias, uma cadeia, uma pista de motocros, um clube de

aeromodelismo, uma pista de kartismo e uma área de laser para fins de semana, esta última

tem um cunho social, pois nela as famílias de Limeira, fazem passeios nos fins de semanas

e feriados. Ocorre que, em função desses usos, a prefeitura reivindica a totalidade da área,

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para promover outros projetos de urbanização, e como o urbano, na sociedade capitalista

se sobrepõe ao rural, independentemente do agronegócio, o despejo foi realizado.

“Sempre apostamos e incentivamos a produção agrícola interna de alimentos

variados, esta casada com um toque de embelezamento, ou seja, que a

comunidade seja produtiva, mas também bonita, florida, em algumas datas

especiais – dia da árvore do índio (nativo), dia do trabalhador rural, plantamos

coletivamente, inclusive com a participação dos sem-terrinhas do Elizabete e

até de apoiadores estudantis, algumas dezenas de árvores nativas, produzimos

bem a mandioca, o guandu, batata doce um pouco de amendoim, maracujá e ate

feijão embora esta terra ainda não esteja propicia para o cultivo sobretudo dos

dois últimos citados ,plantamos coletivamente em meados de 2007, mais de mil

e quinhentos mudas de bananeiras, doadas de um dos assentamentos do estado

de São Paulo, o Sumaré 1, situado no município de Sumaré, onde há também

bastante horticultura.” (entrevista com S. A. realizada em janeiro de 2008.)

Em função desta disputa, entre o MST e a prefeitura, é que no dia 29 de

novembro de 2007, ocorreu um despejo violento no acampamento, amparado por uma

liminar de despejo, fundamentada em dois documentos de intenção de compra da área,

datados do anos de 1983 e 1996. Ambos não consolidados devido a prefeitura, em nenhum

dos momentos, ter efetivado pagamentos de valores quaisquer.

O despejo aconteceu no dia vinte e nove de novembro de 2007, se caracterizando

como um dos despejos mais violentos do estado de São Paulo, a área foi reocupada com

129 famílias e foram retomadas as negociações com o Incra. Após várias reuniões, ficou

decidido assentar as famílias, em módulos com apenas 0,8 ha de terra. Porém a área ainda

está em letígio, entre a prefeitura e o MST.

n) Projeto de Assentamento horto Guarani

Assentamento situado na região de Ribeirão Preto (SP), no município de

Pradópolis, com uma área total de 4.190,22 hectares, com área agrícola de 3.080,39

hectares. Está dividido em 273 lotes agrícolas, com área média de 11,38 (onze vírgula

trinta e oito) hectares, sendo 213 lotes no município de Pradópolis, e 60 (sessenta), no

município de Guatapará.

As famílias permaneceram acampadas, por oito anos, tendo sido o primeiro nessa

região, foi denominado de acampamento do Horto Florestal Guarany (Fazenda da Fepasa),

com 750 famílias.

Abaixo, segue o mapa de localização dos assentamentos, acima descritos,

localizados na região norte do estado de São Paulo, e na região sudeste, próximos a

grandes centros, como a cidade de Campinas, Sorocaba, Ribeirão Preto.

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Vários conflitos ocorreram, desde os períodos das ocupações, até o assentamento

definitivo das famílias. E hoje o desafio, é resistir nestas áreas, a territorialização depende,

das formas de organização, e também da combinação de vários fatores, como: a produção,

comercialização, geração de renda, a educação, formação técnica, a organização política,

apoio do Estado e dos poderes locais, que também são determinantes, na resistência que se

impõe, na atualidade da questão da reforma agrária.

o) Projeto de Assentamento Terra Nossa - Pederneiras

Este assentamento, localizado no município de Pederneiras, mas que, também é

muito próxima do município de Bauru, é também, resultado de intensas conflitualidades,

entre os sem terra, a empresa Votorantim que arrendava a área para produção de eucalipto,

e grilheiros que se diziam proprietários da terra. Os acampados sofreram vários despejos,

durante o período que permaneceram na área. A primeira ocupação, ocorreu em janeiro de

2003, organizados pela FAF (Federação da Agricultura familiar), da CUT (Central Única

dos Trabalhadores) e do movimento Terra Nossa.

O INCRA tomou posse da área no ano de 2007, são 344 famílias assentadas, com

produção diversificada, a área do Horto é de 5.199,01ha.

p) Projeto de Assentamento Monte Alegre

O assentamento Monte Alegre, se originou no ano de 1985, organizado através da

mobilização, do Sindicato dos Trabalhadores, a primeira ocupação, ocorreu na fazenda

Monte Alegre. Sendo este o núcleo1 do referido assentamento. Esta área, era utilizada pela

Companhia Agrícola Imobiliária e Colonizadora – C. A. I. C.

Posteriormente, outras ocupações foram realizadas nesta área de Horto florestal.

Isto resultou na formação de seis núcleos, compreendendo um total de 366 famílias.

Contando com o Horto Silvânia, e Horto Bueno de Andrade, totalizam-se 416 famílias.

Sendo que, o primeiro núcleo, se formou em 1985 e o último em 1998. Estes

assentamentos são coordenados pelo Itesp.

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Tabela 2: Informações dos assentamentos implantados pelo Estado em hortos

florestais da antiga Cia. Paulista

Assentamento Localidade Ano Nº lotes Área (ha)

1 Sumaré 1 Sumaré fev/84 26 237,58

2 Sumaré 2 Sumaré ago/85 39 179,59

3 Araras I Araras set/84 6 82,73

4 Araras II Araras set/84 14 208,99

5 Camaquã Ipeúna jan/98 47 1.372,41

6 Cordeirópolis Cordeirópolis ago/98 21 261,76

7 Vergel Mogi Mirim set/98 90 1.217,81

8 Guarani Pradópolis out/98 274 4.190,22

9 Reage Brasil Bebedouro out/98 84 1.296,30

10 Boa Sorte (17 de Abril) Restinga out/98 159 2.979,07

11 Córrego Rico Jaboticabal out/98 47 468,08

12 Ibitiúva Pitangueiras dez/98 43 725,01

13 Bela Vista Iperó 1999 31 887,88

14 Terra Nossa Pederneiras 2005 344 5.197,66

15 Horto Bueno de Andrade Araraquara 95/98 31 535,75

16 Horto Silvania Matão 98 19 405,40

17 Horto Monte Alegre 1 Motuca 85 49 726,00

18 Horto Monte Alegre 2 Motuca 85 62 857,70

19 Horto Monte Alegre 3 Araraquara 85/86 76 1.099,56

20 Horto Monte Alegre 4 Motuca 95/98 49 673,35

21 Horto Monte Alegre 5 Motuca 91 34 483,76

22 Horto Monte Alegre 6 Araraquara 97 96 1.253,94

total 1.633

Fonte: Itesp (2010)

A tabela 2 apresenta a instalação de assentamentos rurais em áreas de antigos hortos

florestais implantados pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Nessas áreas estão

assentadas aproximadamente 1633 famílias, regulamentadas pelas diretrizes da política agrária

e fundiária estadual, realizado após replanejamento e parcelamento das áreas de produção,

conservação e preservação ambiental, estradas, moradia e núcleo de serviços (ITESP, 2011).

Tabela 3 - Outros tipos de classificação rural

Nome Local Ano Nº lotes Área

23 Peq.produtores Araras 3 Araras dez/97 46 367,87

24 PDS Araras 4 Araras 2005 30 40,18 25 Pré-assentamento Horto Tatu Limeira 2007 129 744

total 205

Fonte: Itesp (2010)

Estas áreas são processos diferentes dos assentamentos, apesar de estarem em áreas

de Horto, têm outro tipo de classificação.

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Fonte: Itesp, 2010.

Este mapa, contém informações sobre os municípios, onde estão localizados os

assentamentos, nota-se que estão bem próximos as vias férreas, na malha leste do Estado

de São Paulo, há uma concentração de assentamentos na região nordeste e Sudeste do

Estado. Estão faltando os assentamentos dos municípios de Pederneiras e Araraquara, que

são respectivamente: Terra Nossa, Monte Alegre e Bueno de Andrade, pois o mapa foi

elaborado antes da chegada das informações sobre os mesmos.

Estes assentamentos foram criados, basicamente, em dois contextos políticos, na

década de 1984 e 1985, os assentamentos no horto de Sumaré e de Araras, e o restante

ocorreram a partir de 1998, são dois períodos diferentes porque os primeiros, ocorreram

num momento de crise do capitalismo na América Latina, refletindo em todo o território

brasileiro, na chamada década perdida.

O governo do estado de São Paulo, era Franco Montoro. Neste período, em que já

havia movimentos, lutando pela Reforma Agrária, ainda sem um articulação nacional. O

que muda, em relação a década de 90, onde havia um efervescência da luta pela terra, e

pela reforma agrária, com várias ocupações de terra em todo o Brasil. No governo Mario

Covas, e no Brasil, o presidente Fernando Henrique Cardoso, com implementação das

políticas neoliberais, desemprego e desigualdades sociais.

Hoje, estes assentamentos, enfrentam diversos problemas, que correspondem aos

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mesmos enfretamentos da questão agrária da atualidade, de uma forma mais geral. Mas

existem as particularidades. No caso do assentamento, Bela Vista, Cordeirópolis e

Silvania, estão localizados muito próximos da cidade, o que, de uma certa forma, facilita

pela possibilidade de comercialização, de acesso as infra-estruturas urbanas, mas por

outro, há uma disputa. Geralmente, estão próximos a área de expansão urbana, disputa com

as imobiliárias, assédio para venda do lote, disputas com prefeitos, etc.

O restante dos hortos, são mais afastados das cidades, nestes casos, a disputa

territorial se dá com o agronegócio da cana, que almeja a ampliação da área de produção.

Há um problema, que de certa forma, é um impedimento: principalmente nos

assentamentos da região norte do estado: existem, ainda, muitos tocos nos lotes, os quais o

Itesp, não realizou a destoca, por conta, da pouca quantidade de horas-máquina, que o

Itesp ofereceu. Considerando que, o orçamento do Itesp, é baixo, e, este trabalhado é

realizado pela empresa CODASP.

Existem também, grandes indústrias que assediam os assentamentos, com o intuito

de inserir, o que eles denominam de, produção integrada. O plantio do eucalipto, é outro

elemento produtivo, que pode reviver nestes assentamentos. Durante vários anos, foi esse

tipo de exploração. Ainda existe retirada ilegal de madeira, por madeireiras, por indivíduos

de fora do assentamento, e até casos de assentados, que também retiram ou plantam, por

conta do preço da madeira e da facilidade de comercialização, pois há um demanda de

madeira, principalmente no comércio ilegal.

Por outro lado, se fizéssemos um levantamento da produção, em todos estes

territórios, verificaríamos que, apesar das contradições, existe uma produção agrícola

diversificada.

Nos assentamento da região nordeste, há uma matriz tecnológica de produção, em

grande escala. Processo esse, que tem mudado, por conta, das políticas públicas

implementadas. Atualmente, os programas do governo, contribuíram para o fortalecimento,

e a diversificação da produção agrícola. São vários produtos, com bons preços, com base

nos preços do CEAGESP. É notável, uma mudança nos parâmetros produtivos, através do

programa do PAA.

A maioria destes assentamentos, foram consolidados, através da luta organizada

pelo MST. Na época do governo Mario Covas, várias lideranças e coordenações, que

através de negociações, conquistaram as áreas, exatamente nos 12 hortos onde o MST teve

mais influências, que foram repassados da Rede Ferroviária para o Estado de São Paulo. O

governo do estado, tem uma concessão de uso.

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No ano de 2006, o governo federal lança uma medida provisória, onde todos os

móveis, e imóveis da rede ferroviária, são repassados para o governo federal. Nesse

contexto, entram os hortos florestais, principalmente, onde estão localizados os 12

assentamentos.

Por conta desta emenda, se inicia uma disputa, entre o INCRA e o Itesp, para

determinar, quais destes órgãos governamentais, coordenariam estas áreas, que se

encontravam em poder do Itesp. Neste sentido, foi organizado todo um processo, liderado

pelos movimentos, para conscientizar as famílias assentadas, da importância e necessidade

da federalização dos hortos, ou seja, repassar para o INCRA, que é a instituição

responsável pela Reforma Agrária, visto que, toda a política, (assistência técnica,

convênios, horas máquinas, créditos, etc.), destinada a questão agrária, que vem do

governo federal, passa pelo Itesp, retorna para o governo federal, para poder ser

implementada concretamente, então o Itesp funciona como, um mediador destes espaços.

A federalização, agilizaria estes processos. As políticas viriam de forma mais

direta, assim como as reivindicações, daí a importância de conscientizar as famílias. Para

tanto, foi montada a comissão de negociação dos hortos, com as seguintes entidades:

Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (Feraesp)

Federação da Agricultura Familiar (FAF), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST), Organização das Mulheres Assentadas e Quilombolas do Estado de São Paulo

(Omaquesp) e MLST-Movimento de Libertação dos Sem Terra. Estas organizações,

representam as famílias assentadas nos hortos florestais. (depoimento de N. B.,

representante da Comissão dos Hortos, em julho de 2011).

Esta coordenação, é composta por 30 pessoas, ocorreram várias reuniões, na

Superintendência do Patrimônio da União, que tem a posse, de todos os hortos, segundo N.

B., representante do MST na Comissão:

“Foi um processo intenso e longo de organização e luta pela

federalização, ou seja o retorno às origens destes assentamentos,

conseguimos federalizar os assentamentos dos hortos Guarani, Córrego

rico, Boa Sorte e Vergel” (entrevista realizada com N. B., em julho de

2011)

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Este processo envolveu vários deputados progressistas, conforme a notícia relatada abaixo:

“A deputada Ana Perugini (PT) esteve, no dia 18/3, com Cácio Antonio

Ramos, responsável pelo Controle Interno da Inventariança da extinta

Rede Ferroviária Federal (RFFSA), no Rio de Janeiro, para tratar sobre a

federalização de 12 hortos florestais paulistas, de responsabilidade da

Fundação Itesp. O encontro é mais um passo da deputada para conseguir

que as áreas, antes pertencentes à RFFSA, retornem para a União e,

consequentemente, ao Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra),

responsável pela Reforma Agrária no país.” (notícia extraída do jornal da

assembléia legislativa do Estado de São Paulo em 19 de março de 2009).”

Quando ocorreu o processo de transferência destas áreas para o Itesp, houveram

muitos problemas com o leilão da madeira, dificuldades com a assistência técnica, também

por conta do orçamento, que não corresponde a demanda necessária, para o

desenvolvimento dos assentamentos. Então, as políticas implementadas pelo Itesp, são

mínimas, como: distribuição de calcário, fornecimento de mudas, e de horas-máquina,

nesse caso, de forma muito incipiente, e a prestação de serviço de destoca, é terceirizado,

sendo realizado pela CODASP, uma empresa estatal que, além da destoca, realiza a

melhora nas estradas.

Com relação a resistência, em termos de perspectiva de organização, existe uma

diferença, em relação aos assentamentos federais e estaduais, por conta de que, não há

uma unidade organizativa, são vários movimentos e sindicatos, ligados a CUT, a

agricultura familiar, com disputas sindicais, muito focadas na lógica governamental.

Existem disputas internas, pela direção deste espaços, existem algumas cooperativas,

várias associações, sem uma estrutura organizativa mais estadual.

A comissão dos Hortos, é a única que cumpre o papel de articular os Hortos, e que

trouxe algumas conquistas, como, o aumento do crédito moradia, o repasse das

informações, etc. Há uma intervenção muito intensa do Itesp, os técnicos têm o controle

dentro dos assentamentos.

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Capitulo 2 – A espacialização da luta pela Reforma Agrária na região de Sorocaba

A cidade de Sorocaba, é o grande pólo centralizador desta região, é a 4ª região

administrativa do estado de São Paulo, considerada como capital regional, com

desenvolvimento da indústria, comércio, sistema bancário, setor de serviços entre outros,

conta com uma população de 650 mil habitantes, (www.sorocaba.sp.gov.br/, consulta

realizada em maio de 2011).

“Também foi importante referência na luta pela Reforma Agrária, na

formação de militantes que contribuíram em outras regiões do Estado.

Nesta região ocorreram várias ocupações de latifúndios, envolvendo

famílias Sorocabanas e também da região de Campinas. (depoimento de

M. R., liderança do assentamento, junho de 2010).

Segundo M. R., a ocupação mais antiga da região, foi na cidade de Porto Feliz, com

um total de 150 famílias. Este assentamento, tem o apoio da prefeitura do município e

estão avançando, na questão da produção e comercialização. Após esta luta, ocorreu a

ocupação da fazenda Ipanema, com 800 famílias, esta ocupação destacou-se no estado,

pela mobilização de militantes e envolvimento de apoios, de diferentes setores da

sociedade, como igrejas, sindicatos, universidades. Porém, foi um momento de intensa

disputa, principalmente com o setor imobiliário, com o IBAMA, com os fazendeiros e

poderes locais. Com resistência e organização, conseguiram o assentamento para as 150

famílias, que não desistiram. (Itesp, 2011).

No ano de 1996, no município de Itapetininga, foi organizada outra ocupação de

uma fazenda, com 300 famílias, a qual, se transformou no assentamento Carlos Lamarca.

Estas famílias, permaneceram acampadas durante 8 anos, sofrendo despejos e mudando de

área, até conquistarem uma área, na divisa de Itapetininga e Sarapuí. Este é um dos

assentamentos que têm mais organização, com atividades culturais, religiosas e

associações e também participação organizada no MST.

A ocupação do Horto Bela Vista, ocorreu no ano de 1998, com aproximadamente

100 famílias. Em 1999, foi organizada uma ocupação maior, de caráter estadual, chamada

Nova Canudos, contando com mais de 1000 famílias. O acampamento ocorreu, na fazenda

Capuava, um latifúndio da cana, no município de Porto Feliz. Após o despejo, este

acampamento permaneceu no km 100 da rodovia Castelo Branco, em frente ao

assentamento de Porto Feliz. Posteriormente, este acampamento foi transferido para a

região Iaras, onde foram assentados.

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No ano 2000, foi organizado o acampamento Liberdade. Em 2003, foi organizado

o acampamento Pátria livre, com 100 famílias; também o acampamento Josué de Castro,

com 300 famílias. E, por último, o acampamento Eldorado dos Carajás, com 180 famílias,

estas, vindas de Araçariguama.

Vários latifúndios foram reivindicados, e todas essas ocupações, sofreram vários

despejos. Porém todas as famílias que resistiram nas lutas, foram assentadas.

Figura 3 - Foto de criança em assembléia no Acampamento Nova Canudos

Fonte: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, 2011.

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Figura 4: Foto de assembléia realizada no Acampamento Nova Canudos

Fonte: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Estas fotos, foram tiradas pelo fotógrafo João Zinclar, durante assembléia realizada no

Acampamento Nova Canudos, na regional de Sorocaba, este acampamento teve um caráter de luta

estadual, pois as famílias eram oriundas de vários municípios do estado de São Paulo, se

caracterizando como uma das maiores ocupações organizada pelo MST nesta região. Este

Acampamento forjou vários militantes que contribuíram com o MST em outras regiões de São

Paulo e do Brasil.

Nestas lutas, organizadas todas pelo MST, a atuação dos aliados da reforma

agrária foi imprescindível, sindicatos, PT, igreja, na pessoa dos padres mais progressistas,

(como no caso do padre Benedito da zona leste de Sorocaba), radio comunitária, fórum dos

lutadores do povo, representantes de bairros, grupos de pessoas que eram aliados às

bandeiras de luta, do MST e da reforma agrária.

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“Nesse período de efervescência e ascenso da luta por Reforma Agrária

as bandeiras de luta prioritárias eram: o latifúndio, a ALCA, os

transgênicos, a dívida externa, basta de FHC, fora pedágio. Haja visto

que neste período a crise enfrentada no Brasil era intensa como resultado

da política neoliberal do governo de Fernando Henrique Cardoso, com

altas taxas de desemprego, privatizações, e subordinação da economia

brasileira ao capital estrangeiro e investimento no modelo norte

americano do agronegócio”. (depoimento de M. R., 2010)

Este contexto, segundo Oliveira, não trouxe mudanças estruturais na distribuição

das terras no Brasil, se caracterizando por uma manutenção da concentração latifundiária e

uso intenso de maquinário na produção da monocultura para exportação, às denominadas

commodities do agronegócio:

O Brasil, caracteriza-se por ser um país que apresenta elevadíssimos

índices de concentração da terra. No Brasil estão os maiores latifúndios

que a história da humanidade já registrou. Alguns acreditam que a

modernização conservadora transformou os grandes proprietários de

terra, que agora produzem de forma moderna e eficiente, tornando seu

latifúndios em propriedade produtiva, por esses mitos é que 132 milhões

de hectares de terra estão concentradas em mão de pouco mais de 32 mil

latifundiários” (OLIVEIRA, 2004, p56)

Este elemento da modernização aparece diariamente na grande mídia televisiva e

nos jornais, destacando o “desenvolvimento” no campo brasileiro, através do aumento da

produtividade, da qualidade dos produtos e da geração de emprego e avanço tecnológico, o

que não se sabe e não está nas entrelinhas da informação é sobre as mortes por estafa nos

cortes de cana, sobre o trabalho escravo, as péssimas condições de trabalho dos

assalariados rurais, e que boa parte de produção é destinada à exportação.

Nesta região, foi organizado pelo MST, o Fórum de Apoio à Reforma Agrária de

Sorocaba e região, abrangendo as cidades de Itapetininga, Tatuí, Votorantin, Piedade,

Boituva, Mairinque, Sorocaba e Salto. Porém, a repressão aos movimentos sociais também

foi intensa, principalmente por parte do poder judiciário de Sorocaba, agindo sempre de

forma truculenta, com a tropa de choque em vários momentos da luta, e por outro lado,

não agilizando os processos de desapropriação dos latifúndios e o assentamento das

famílias.

A grande imprensa também cumpriu importante papel como formadora de opinião

contraria ao MST. Outro elemento a ser destacado, foi o processo de criminalização e

prisão da militância. Foi nesta região que seis militantes do MST ficaram presos por

aproximadamente 1 ano e dois meses, nas penitenciárias do estado.

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Na fazenda Ipanema, em Iperó, aconteciam incêndios criminosos, nos quais eram

acusados os assentados. E, nesse contexto, surge a Associação dos Plantadores

Biodinâmicos, trazendo mais legitimidade para as famílias assentadas. Essa associação,

também teve o compromisso de combater o pacote tecnológico da revolução verde

implementada no Brasil pelos órgãos governamentais. A associação vem com uma outra

proposta de produção, discutindo inclusive a questão dos jovens e da mulher camponesa.

A exploração mineral e produção de eucalipto, sempre foi uma ponta de lança do

capital, nesta região. O poder judiciário sempre agiu muito rápido, contra os Sem Terra:

agilizando os despejos, e criminalizando a militância.

É uma região de base eleitoral do PSDB, no caso de Sorocaba, na última eleição

para prefeito, o PSDB, venceu com mais de 70% dos votos. Os governos estaduais, de

Jose Serra, e de Geraldo Alckmim, sempre tiveram muita influência em Sorocaba e Iperó,

não admitindo qualquer tipo de luta social. Porém, apesar de todos esses contratempos,

várias ocupações, foram organizadas.

É notável, que o número de famílias assentadas, é bem menor do que o número de

famílias acampadas. Essa redução se dá, pela desistência das famílias, pois são vários anos,

com despejos, e grandes dificuldades enfrentadas até a conquista definitiva da terra,

conforme as tabelas a seguir:

Tabela 4 - Ocupações realizadas na regional Sorocaba

Ano Local Acampamento Nº

famílias

1 1986 Caic – Porto Feliz Caic 150

2 1987 Capão Alto Itapetininga 50

3 1992 Fazenda Ipanema – Iperó Ipanema 800

4 1996 Itapetininga Carlos Lamarca 300

5 1998 Horto Bela vista – Iperó Bela Vista 100

6 1999 Fazenda Capuava- P. Feliz Nova Canudos 1.000

7 2000 Castelo Branco Liberdade 100

8 2003 Sorocaba Pátria Livre 100

9 2003 Alumínio Josué de Castro 300

10 2004 Sorocaba Eldorado dos Carajás 180

11 2008 Acampamento Santa Maria

da Conquista

Área da CPFL –

Itapetininga

50

(Número aproximado) 3.130

Fonte: (entrevista realizada com M. R. – MST Sorocaba, junho de 2010)

Esta tabela faz um levantamento histórico aproximado das ocupações ocorridas na

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Regional do MST de Sorocaba, os números são aproximados, pois para elaborá-la foi

preciso resgatar na memória dos vários militantes que contribuíram em todos essas lutas.

As famílias que resistiram dos 5 últimos acampamentos foram assentadas na região de

Iaras.

Tabela 5 - Assentamentos

Ano Nome Nº lotes

1 1986 Caic – Porto Feliz 84

2 Capão Alto - Itapetininga 18

3 1998 Carlos Lamarca - Sarapuí 67

4 1994 Ipanema - Iperó 151

5 1999 Bela Vista - Iperó 31

6 2007 23 de maio - Itapetininga 46

Total 397

Fonte: Itesp (2010)

Nota-se nesta tabela que a quantidade de famílias se reduziu bastante em relação ao

número de famílias acampadas, isto por conta dos inúmeros despejos sofridos nos

acampamentos e das condições um tanto precária nos acampamentos, pressões exercidas

sobre os Sem Terra, violência. O desafio é como desenvolver estes assentamentos para que

permaneçam na terra, cultivando e produzindo.

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Capítulo 3 - O município de Iperó e os assentamentos

No período colonial, no contato entre os terrenos antigos do planalto Atlântico

Paulista, com as colinas da Depressão Periférica, surgiram núcleos urbanos de

importância, como sítios de parada obrigatória de antigas tropas, e descanso para as

boiadas em trânsito, assim como, para os boiadeiros e capatazes procedentes de

latifúndios, estabelecidos nos altiplanos do Paraná.

A Real Fábrica de Ferro da Ipanema, tinha como força de trabalho, os escravos

africanos, especialistas no manuseio do ferro fundido, muitos escravos morreram, por

conta das péssimas condições de trabalho, com a abolição da escravatura e o fechamento

da fábrica, os sobreviventes formaram os primeiros bairros de população mais pobre no

município. Neste período houve uma pequena distribuição da terra para a colonização, essa

distribuição foi feita entre os pequenos grupos de fazendeiros, que se tornaram os criadores

de gado, plantadores de cana, de laranja e também agricultura de subsistência, os escravos

e outros trabalhadores da Real Fábrica ficaram á margem deste processo.

No ano de 1927, veio a construção da ferrovia que ainda hoje atravessa o

município de leste a oeste, com intenso transporte de madeira, cabos de aço, em poder da

ALL – América Logística Logística. Antes da chegada da ferrovia, a fazenda BelaVista, era

um posto de bandeirantes, local dos antigos faxinais, onde os animais eram tratados antes

de seguirem para o comércio das feiras de muares em Sorocaba.

Parte dos trabalhadores da ferrovia, era composta por imigrantes europeus,

(Canateli, 2000, pg. 65), e também nordestinos e mineiros retirantes, em busca de

melhores condições de vida, ainda existem descendentes destes, no município. A vinda da

ferrovia, acaba por substituir o comércio de muares. Logo, a fazenda Bela Vista é

destinada ao plantio de eucalipto, para abastecer a ferrovia.

Em 1960, o município é emancipado, e neste período de ditadura militar, chega no

município o projeto de Aramar, propagando o município como a capital da tecnologia,

enquanto que, os trabalhadores vivem uma situação desfavorável, com péssimas condições

de saúde, educação, moradia, péssimas condições de trabalho nas olarias da região e

baixos salários nas indústrias, que se instalaram no município. As condições de educação

eram péssimas, tanto que, com o processo mais recente de forte industrialização, a força de

trabalho especializada e com formação técnica, na sua maioria, são oriundos de outras

cidades, como Sorocaba, São Paulo ( Sindicato dos Metalúrgicos de Iperó).

Na década de 80 há uma intensificação da produção da cana no Brasi,l e em Iperó

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também aumenta a área, com esse tipo de cultivo, em 2008 eram 1800 hectares, a criação

de gado e plantação de laranja também ocupavam vasto espaço na zona rural do município.

O avanço da luta pela terra, neste período, no Brasil trouxe também as ocupações

de terras nesta região. A ocupação da fazenda Ipanema é fruto deste processo. E com a

chegada dos assentamentos, aumenta a diversidade, na produção agrícola do município. O

milho ocupa mais de 900 hectares, a mandioca, que não existia anteriormente, ocupa mais

de 90 hectares, entre outros produtos comercializados pelos assentados.

Mais recentemente, o conjunto de núcleos urbanos, desta região, comportaram

uma forte industrialização, em meados do século XX. Sobretudo nas cidades de

Votorantim, Sorocaba, Itu, Salto, Indaiatuba, Campinas e Iperó.

O leque de ferrovias procedentes de Jundiaí e Mairinque, teve grande

importância no passado, para garantir o desenvolvimento das cidades. Agora, próximas a

grandes rodovias e artérias interligadoras. Nessa ordem de idéias e constatações, a pequena

cidade de Iperó, cresceu no entorno de uma estação da antiga Sorocabana (FEPASA). Hoje

a ferrovia transporta carga ao cruzar os arredores de Iperó.

O município de Iperó está inserido na 4ª região administrativa de Sorocaba, com

área de 170,94 Km². Localiza-se a uma latitude 23º21’01” Sul e uma longitude 47º41’19”

Oeste, estando a uma altitude de 590 metros. Sua população, estimada pelo IBGE ( censo

de 2010), é de 28.300 habitantes. Quanto a localização hidrográfica, está na abrangência da

bacia do Rio Sorocaba. O clima incidente é o subtropical. As cidades mais próximas de

Iperó são as vizinhas Araçoiaba, Boituva, Capela do Alto, Porto Feliz, Sorocaba e Tatuí,

(Plano Diretor, 2006, p05)

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Figura 5: localização da 4ª Região Administrativa de Sorocaba e municípios

limítrofes de Iperó

Fonte: Plano Diretor do Município, 2006, pg.6

Esta imagem, foi extraída do Plano Diretor do município, para facilitar a

localização geográfica do mesmo, na região administrativa de Sorocaba.

Iperó, faz parte do comitê da bacia hidrográfica do Sorocaba e Médio Tietê. Tem

parte do seu território, ocupada por assentamentos do Incra e do Itesp, como também a

instalação do presídio Estadual “Odon Ramos Maranhão”, e um Centro de Detenção

Provisória, (CPD). Segundo o poder local;

“Esses equipamentos estaduais de grande porte trazem riscos à

comunidade pela velocidade de veículos de escoltas que atravessam a

cidade, invasão de terras e migração de famílias de presos” (Plano Diretor

do Município, 2006).

O município, tem atividades econômicas mista, sem prevalência de alguma

atividade específica. A proximidade de importantes eixos de transporte, como a Rodovia

Castelo Branco, conduz às vocações do município, colocando-se como áreas prioritárias,

para o turismo ecológico, a extração mineral, (a mais antiga atividade extrativista do

município, rica em minérios e argilas), e o desenvolvimento imobiliário, logística,

indústria.

Existe, por parte do governo municipal, uma proposta de transformação da

cidade, em um modelo de cidade-jardim. O plano estratégico de desenvolvimento do

município abrange, três elementos estruturadores sócio-ambientais, em seu espaço físico:

-integração sócio-econômica: Parque IPERÓ;

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-Integração regional-estadual-nacional: Floresta Nacional de Ipanema;

-Integração regional e estadual: distrito industrial, turismo, desenvolvimento

imobiliário.

(Plano Diretor do Município, 2006)

No caso do desenvolvimento imobiliário, a proposta é investir na construção civil,

com proposta de construção de condomínios de lazer e recreação para a classe média.

Nessa proposta de desenvolvimento regional e local, em nenhum momento, é citado

alguma proposta com relação as famílias assentadas, haja visto que o número de

Declaração de Produtor Rural, (DAP), seja de mais de 400 DAPs, (Casa da Agricultura de

Iperó, CATI, 2011). As poucas propostas que existem, são direcionadas à agricultura

familiar, desconsiderando, assim, os assentamentos.

Sendo que não existe nenhuma proposta para os pequenos produtores do

município. Isso deixa claro as dificuldades inerentes ao desenvolvimento da reforma

agrária, pois as infra-estruturas conquistadas pelas lutas dos assentados, são arrecadadas

pela prefeitura no caso da cesta básica, no período da ocupação, no caso da conquista de

dois tratores, elaborados por um emenda de parlamentares e a tentativa de expansão da

área industrial sobre a área do assentamento.

Alguns dados sobre a questão agrícola no município de Iperó

Segundo dados da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São

Paulo, no município de Iperó, existiam 549 moradias rurais em 2008. As culturas perenes

ou permanentes, neste mesmo ano, ocupavam uma área de 733,2 hectares, as culturas

anuais ou temporárias, ocupavam em 2008, um total de 2.934,8 hectares.

No caso da cana-de-açúcar, a área ocupada em 2008 era de 1.782,7 hectares, a

área de citros era de 651,5 há e eucalipto, 481, 9 há. As pastagens ocupavam uma área de

4.377 há, enquanto que a área de reflorestamento era de 484,9 hectares, a vegetação

natural que era de 4.789,3 há em 1996, em 1998 diminuiu para 2005,2 há, (projeto LUPA,

2007 – 2008).

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Tabela 6- Culturas

Atividades 2008 Hectares

Culturas perenes 733,2

Culturas anuais 2934,8

Pastagens 4377

Reflorestamento 484,9

Vegetação natural 2005,2

Fonte: Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, 2005/2007.

Tabela 7 – Perfil da produção temporária, em hectares

Atividades Hectares (2008)

Cana 1782,70

Milho 920,30

Feijão 63,8

Mandioca 91,70

Área da culturas anuais 2934,80

Fonte: Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, 2005/2007

Tabela 8 – Culturas perenes

Culturas perenes 733,2

Laranja 488

Tangerina 157,7

Pomar doméstico 22,4

Fonte: Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, 2005/2007.

Estas tabelas, mostram os principais produtos agrícolas, produzidos no município,

no ano de 2005 e 2007. Nota-se, que, os assentamentos trouxeram uma diversificação na

produção agrícola, do município. Boa parte desta produção é comercializada nesta região.

Com um pouco mais de incentivo, e projetos, a tendência é aumentar a produção, e

contribuir mais concretamente, no abastecimento de diversos produtos na região.

A monocultura da cana, ocupa grande parte da área agrícola do município. Porém

com a vinda dos dois assentamentos, percebe-se também o aumento da área plantada com

culturas diversificadas, como milho, feijão e pomares. Nesse sentido se faz necessário criar

espaços de organização da produção e de comercialização, criando estratégias para o

desenvolvimento da produção familiar. Mas, além da política contrária à questão agrária,

dos poderes locais, ainda enfrentamos a falta de políticas, mais efetivas, voltadas para o

desenvolvimento dos assentamentos, e das famílias assentadas. Os órgãos Estaduais e

Federais, representados pelo Itesp e o Incra, são os responsáveis pela implementação

destas políticas.

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Mapa 2 – uso e ocupação das terras em Iperó

Fonte: Prefeitura Municipal de Iperó - 2009

Este mapa, traz informações sobre as diferentes formas de uso, e ocupação das

terras no município de Iperó. Nota-se, que, grande parte do território está ocupado, com a

reserva de mata atlântica no município. É onde está localizada a Floresta Nacional de

Ipanema e também está localizado o Centro Experimental de Aramar, onde existe

experiências com enriquecimento de urânio, para gerar combustível para o submarino

nuclear (Plano Diretor, 2011). Percebe-se, que, a área de agricultura e paisagem, ocupa a

maior parte do território municipal. Sendo assim, deveriam haver mais políticas públicas,

direcionadas a esse setor, por parte do governo federal, estadual e municipal. Pois o

município, ainda mantém muito, da sua vocação agrícola do passado. E com a chegada dos

assentamentos, este fator se intensificou, diversificando mais ainda o setor agrícola

municipal.

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3.1 - A conquista do Assentamento Ipanema

A fazenda Ipanema, é um complexo que abriga diversos projetos governamentais,

os quais foram se sucedendo, desde a época do Brasil colônia, até os dias atuais.

Inicialmente, foi instalada nesta área, a Real Fábrica de Ferro São João do

Ipanema, criada pela carta régia de 4 de dezembro de 1810, pertencente à coroa portuguesa

e acionista de São Paulo, Rio de janeiro e Bahia. Foi considerada o berço da siderurgia

nacional, onde se fabricavam, de enxadas a engenhos, de utensílios domésticos a armas e

munições, inclusive enviadas para a guerra da tríplice aliança.

Essa indústria esteve funcionando durante todo o império: hoje é tombada como

patrimônio histórico. Está área hoje é coordenada pelo IBAMA. Parte desta área foi

destinada ao CENEA – Centro nacional de Engenharia Agrícola, e o Centro Experimental

Aramar, (onde são desenvolvidos sistemas técnicos e científicos, ligados a propulsão

nuclear, com enriquecimento de urânio). O restante da área está destinada ao INCRA, para

o assentamento das famílias sem terra.

O fato topográfico constituído pelo morro isolado de Ipanema, é uma exceção

topográfica, em todo o corpo da Depressão Periférica Paulista, na Serra de Ipanema. Nota-

se a presença isolada de penetrações antigas de rochas vulcânicas, que garantiram a

permanência local, de um morro resistente, em face da muito ampliada desnudação, que

criou a Depressão Periférica Paulista. Nesta área do morro de Ipanema, existe hoje, a

Floresta nacional de Ipanema, (FLONA), sob a coordenação do Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade, (ICMBio), e um assentamento com 150 famílias (Flona,

2010).

O assentamento Ipanema é dividido em três núcleos, (área I, II e III),

adiministradas, pelos Ministérios da Marinha, do Desenvolvimento Agrário e do Meio

Ambiente. O ministério da marinha administra a área onde está localizado o Centro

Experimental Aramar, onde é realizado o enriquecimento de urânio para o abastecimento

de submarino. O MMA administra a área da Floresta Nacional de Ipanema, (FLONA); e o

MDA, a área do assentamento. O assentamento foi legalizado através de uma portaria do

INCRA, no ano de 1995, com 150 famílias assentadas.

A disputa territorial por esta área foi intensa. Na década de 90 o governo Collor

extinguiu o Centro de Engenharia Agrícola, (CENEA), onde existia uma escola de aviação

agrícola para treinamentos e cursos da Empresa Brasileira de Pequena Agropecuária,

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(EMBRAPA), pertencente ao Ministério da Agricultura. Isso se deu no período da “caça

aos marajás”. Após esse processo, parte da área foi destinada a RA e outra parte para a

Marinha do Brasil. Neste período, a luta pela terra no Estado de São Paulo era intensa e o

MST descobriu a situação desta área e organizou a primeira ocupação no dia 16 de maio de

1992. Mas, no ano de 1992, aconteceu no Rio de Janeiro a ECO/92 e, neste encontro, toda

a área foi destinada para o MMA, numa estratégia da direita de não assentar as famílias

acampadas. Através do decreto 530, foi criada a FLONA, em 20 de maio de 1992. Neste

mesmo período, o IBAMA entra com a reintegração de posse, para despejar o

acampamento.

Quando da ocupação, houve muita discriminação, por parte da população local, e

dos poderes instituídos, (prefeituras, comércio, proprietários de terra). O prefeito

municipal era proprietário de terra, e sua posição, era contrária ao assentamento das

famílias. A discriminação ainda persiste, ela apenas diminuiu, por conta do

desenvolvimento, e da integração entre os assentados e os moradores da cidade.

“Atualmente, a prefeitura municipal é comandada pelo Partido da Social

Democracia Brasileira, (PSDB). O prefeito é empresário do ramo da indústria,

apesar deste fato, tem realizado poucos investimentos neste setor, e também na

agricultura. Segundo a sua avaliação, o município não tem vocação agrícola.

O planejamento da prefeitura é transformar Iperó, em uma “cidade-

jardim”, ampliando, assim o investimento no turismo, nos condomínios fechados e

a ausência de programas par a melhoria das condições de vida das populações mais

pobres. O governo municipal cria empecilhos aos pequenos comerciantes, com

uma política governamental direcionada para a classe média. A proposta de

expansão urbana atinge parte da área rural do município. Tanto o assentamento

Ipanema, quanto o HBV, perderam parte de sua área para o município, através de

ocupações de famílias sem Teto.”

(depoimento do vereador S. N., 2010)

Alguns acontecimentos foram importantes, no processo de territorialização do

assentamento Ipanema. A Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (EZALQUE),

em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), criou um programa agroflorestal,

garantindo uma agricultura menos impactante ao meio ambiente. O assentamento serviu

com um filtro do desenvolvimento urbano, possibilitando a preservação ambiental. Outro

elemento é a produção agrícola diversificada, pequenos animais, hortifruti, leite, entre

outros.

O Programa Aquisição de Alimentos do Governo Federal, (PAA), tem contribuído

bastante para aumentar a produção nos assentamentos Bela Vista e Ipanema, porém o nível

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de produtividade, ainda é baixo, faltam produtos, a base da agropecuária no assentamento

Ipanema é gado de leite e de corte, frutas, verduras e legumes.

Figura 6: Assentado trabalha na sua produção agrícola, no assentamento

Ipanema

Fonte: Antonio da Silva pinto, Itesp, 2011.

Esta imagem, mostra o assentado, trabalhando na sua plantação,no assentamento

Ipanema.

Internamente, existem vários projetos, ligados a questão do meio ambiente como,

projeto de recuperação da mata ciliar, já implantado pela Esalque. Recuperação do

Ribeirão do Ferro, programa de microbacias, entre outros.

Existe uma proposta de se construir um condomínio fechado, próximo a área do

assentamento, o prefeito municipal é empresário, e pretende arrecadar parte da área dos

assentamentos, para ampliação da zona industrial, desterritorializando os assentados, e

criando áreas urbanas, na Bela Vista e na Ipanema.

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3.2 - O Assentamento Horto Bela Vista

“ O meu lugar é caminho

de Ogum e Iançã,

lá tem samba até de manhã

uma ginga em cada andar

o meu lugar é cercado de luta e suor

esperança num mundo melhor”

O meu lugar – Arlindo Cruz

Figura 7: Jardim e casa no lote 10

Fonte: Lucia de Fatima Costa de Albuquerque, 2011

Esta imagem, traz uma visão do assentamento Horto Bela Vista, com base

no conceito de lugar, entendido como uma dimensão do cotidiano, onde se estabelecem

relações subjetivas e identidades (Yi Fu Tuan). Jjá Milton Santos, trata do conceito de

Lugar, como o espaço onde se dão as contradições, onde as forças agem, como espaço da

incorporação da hegemonia, mas sendo também o espaço das possibilidades. Esta imagem

também é produto de uma proposta do MST de embelezamento dos assentamentos, através

da construção de jardins e da produção agrícola organizada, hortas medicinais, árvores

frutíferas e melhora das condições ambientais.

A fazenda Bela Vista, como era chamada antes do assentamento, tinha uma área

de 1.027,30 hectares. Destes, 405,30 ha pertenciam à área de reserva florestal e o restante

da área tinha plantação de cana e criação de gado, funcionando como uma fazenda, com

um suposto proprietário, (Itesp, 2005).

A área foi destinada à FEPASA e plantada com eucalipto, pela empresa Ripasa,

até o ano de 1995, quando as ferrovias foram privatizadas. Durante esse período, existia

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uma usina de tratamento de dormentes, para abastecimento das construções das vias

férreas do estado. Hoje o barracão e os espaços nas proximidades estão contaminados com

o produto químico utilizado para o tratamento de dormentes, o pentaclorafenol, produto

altamente cancerígeno.

Nesta área foram organizadas três ocupações, com uma média de 130 famílias. As

famílias ficaram um ano neste processo de luta, sofreram três reintegrações de posse até

conquistarem o assentamento no ano de 1999.

A configuração espacial do Assentamento é complexa. Na área social do

assentamento, existe uma ocupação urbana, com aproximadamente 100 famílias. Sendo

que como a área,ainda não foi legalizada, novas famílias, sem teto,tem feito moradias, no

local.

Existe também um presídio, com capacidade para abrigar 1.218 detentos, mas

que já conta com uma população carcerária de 1.847, (SAP, 2011). Além das indústrias

instaladas nas proximidades do assentamento. Percebe-se aí que a disputa territorial é

intensa, conforme é possível observar no mapa a seguir:

Mapa 3 - Assentamento Horto Bela Vista – Iperó - SP

Fonte: Itesp, 2011

Este mapa, mostra a complexidade do assentamento. Com a distribuição dos lotes

entre o Presídio, a ocupação urbana e as indústrias.

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O assentamento tem mais de 11 anos de existência, e conta, hoje com 31 famílias,

cada uma delas com uma média de 6 há. A maioria dos lotes tem pomar, hortas, criação de

suínos, galinha caipira, milho e principalmente mandioca, banana e gado de leite.

Os assentados, estão inseridos no programa do governo federal de incentivo a

produção agrícola, o Programa Doação Simultânea, uma das modalidades da CONAB,

(Companhia Nacional de abastecimento), e no programa Compra Direta, um convênio com

a Prefeitura de Guarulhos, abaixo foto no dia da entrega dos produtos.

Figura 8 – Criança Assentada próxima as caixas dos produtos

Fonte: Antonio da Silva Pinto (2011)– Itesp - Sorocaba

Esta foto, foi tirada, no momento da entrega dos produtos para oprograma Compra

Direta, da prefeitura de Guarulhos. Ela traz em seu bojo a esperança em um mundo, onde as

crianças tenham a garantia do alimento de qualidade, tenham espaço para brincar, educação de

qualidade, acesso a saúde, moradia digna e concretamente possam crescer e desenvolver todas as

possibilidades do ser humano.

Com o passar do tempo, a população do assentamento tem aumentado, os filhos

dos assentados vão constituindo novas famílias e consolidando suas moradias no

assentamento. Além disso, existe também a vinda de outras pessoas da família, em busca

da moradia. A proximidade da cidade, faz com que a população jovem, continue morando

no P.A. Bela Vista. Porém, a maioria, trabalha nas indústrias próximas.

A particularidade do assentamento é a sua localização geográfica, (ver mapa),

pois fica à aproximadamente 5 km do centro da cidade. Alguns assentados e filhos dos

assentados trabalham na cidade. Há uma disputa instaurada. Por um lado, o MST

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reivindica a ampliação do assentamento para organizar uma área comunitária para

construir infra-estruturas necessárias ao desenvolvimento do assentamento, como escola,

agroindústria, biblioteca, brinquedoteca para as crianças, e espaço de comercialização dos

produtos. Por outro lado, a prefeitura reivindica parte da área para aumentar a zona

industrial.

Figura 9: Imagem de satélite: Horto Bela Vista – Iperó – SP

Fonte: Google Earth (2011)

Esta imagem de satélite, mostra a configuração espacial da área do assentamento.

No ano de 2002, foi criada pelo MST a Associação José Guilherme Esteca Duarte

dos produtores Biodinâmicos, no intuito de diversificar a produção de alimentos orgânicos

no assentamento, sem o uso de agrotóxicos, e também possibilitar o acesso a tecnologia,

como caminhões, tratores. Essa associação trouxe algumas conquistas para o

assentamento, principalmente no sentido de conscientizar os assentados e as assentadas na

necessidade de produzir alimentos saudáveis e que contribuam com a preservação do meio

ambiente.

Hoje a produção agrícola é bem diversificada, com hortifruticultura, inclusive

com um tanque de resfriamento de leite instalado em um dos lotes. As dificuldades são: o

endividamento dos assentados, a falta de infra estruturas necessárias como uma área social,

espaços para comercialização e agroindústria, falta de escola, cursos de capacitação,

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negociação das dívidas, entre outros.

Figura 10 - Assentada mostrando seus produtos

Fonte: Antônio da Silva Pinto (Itesp,2011)

Esta foto, foi tirada no dia da entrega dos produtos, para o programa Compra Direta. Um

convênio entre o Itesp, e a Prefeitura Municipal de Guarulhos, este convênio, faz parte do

Programa Fome Zero.

Segundo L. A., Diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Iperó, o setor da

agricultura do município, historicamente, tem sido muito pouco privilegiado. Mesmo no

plano diretor do município, as propostas não contemplam a demanda existente. Para

incentivar e melhorar as condições dos pequenos produtores e dos assentados, será

necessário a instalação de uma escola técnica, com cursos tanto para a agricultura, quanto

para a indústria, pois há uma demanda de formação para os assentados e trabalhadores

rurais. Os programas de comercialização do governo federal estão contribuindo para a

geração de renda neste setor. A agricultura tem potencial para abastecer o mercado de Iperó

e cidades vizinhas, como Sorocaba, que é o grande mercado consumidor, com mais de

586.625 mil habitantes (censo IBGE, 2010). O potencial do turismo rural também pode

contribuir para o desenvolvimento do campo.

Hoje são aproximadamente 400 DAPS (Declaração Anual dos Produtores),

(entrevista com L. A., realizada em maio/2011), e com uma boa diversidade de produtos,

então é necessário que existam políticas, para avançar na produção diversificada de

alimentos. Ainda segundo sindicalista, existe um potencial agrícola no município, porém a

prefeitura marginaliza assentados, excluindo-os das atividades/reuniões/conselhos

realizados. Fica claro que, a agricultura não é prioridade do governo municipal. O

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orçamento deste ano, para a agricultura é de aproximadamente 60 mil Reais, (L.A. 2011).

Figura 11: Assentada mostrando a sua Nota Fiscal do Produtor

Fonte: Antônio da Silva Pinto (Itesp,2011)

Assentada do Horto Bela Vista, mostrando com orgulho, a sua nota fiscal do produtor.

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3.3 – A ocupação urbana na área social do assentamento

Os primeiros moradores da ocupação urbana, da área social do assentamento,

foram os trabalhadores que migraram do norte de Minas, para trabalhar na usina de

tratamento de dormentes, e na serraria, as quais tinham como função abastecer de

dormentes os trilhos da Ferrovia Paulista, instalada no Estado de São Paulo, a partir de

1935, além dos trabalhadores advindos das fazendas municipais. (entrevista realizada com

I. A. em julho de 2009). No ano de 1980 já havia uma média de 30 famílias vivendo nesta

área e trabalhando na usina da Bela Vista, ocorre que com a privatização da ferrovia,

ocorreu também o fechamento da usina de beneficiamento e, não tendo trabalho, as

famílias partiram em busca de outras oportunidades.

Com o fechamento da usina e da serraria, os operários foram trabalhar na

construção civil, nas indústrias, no presídio, e em outras obras municipais, por conta do

analfabetismo e pouca formação técnica. Destes operários, permaneceram em torno de 6

famílias. (entrevista realizada com I. A. em julho de 2009).

Quando houve a ocupação dos Sem Terra, a área foi reivindicada. Pois, havia

poucas famílias, oriundas da usina. E ainda existiam 30 casas construídas, as quais foram

distribuídas entre os sem terra, Porém, quando os assentados acessaram o crédito moradia,

construíram suas casas nos lotes. Sendo assim, as casas ficaram vazias, de forma que

foram ocupadas, pelos moradores sem teto, oriundos da Bahia, de Minas Gerais,

Pernanbuco, e também pelos Sem Teto do município de Iperó. Outras casas foram

construídas nos espaços vazios, aumentado assim, o número de moradias, e de famílias.

Hoje existe uma quantidade aproximada de 100 famílias, e como a área não está

legalizada, outras famílias continuam estabelecendo moradia no local. (entrevista realizada

com A. M. em julho de 2011).

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Figura 12: residência na área social do assentamento

Fonte: Lucia de Fatima Costa de Albuquerque- 2011

Figura 13: Casas antigas, da usina e casas novas construidas

Fonte: Lucia de Fatima Costa de Albuquerque, 2011

Estas fotos revelam, algumas casas antigas, do período do funcionamento da

usina,e da estação de trem, e novas construções, edificadas, por conta da entrada de outras

famílias. Algumas casas foram reformadas. Como a foto foi tirada, em um dia de trabalho,

percebe-se, a presença de poucos moradores. Aos finais de semana, o local é bem mais

agitado.

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Esta área, hoje ocupada pelos sem teto, estava destinada a ser a área social do

assentamento, onde eram realizadas as assembléias, e reuniões diversas. Havia a

perspectiva da construção de pontos comerciais e outras atividades culturais. Por um

tempo houve conflitualidade entre os assentados e os moradores da vila, pois as casas que

estavam vazias foram sendo ocupadas. Inclusive o escritório, onde eram realizadas as

reuniões dos assentados com o MST, e dos assentados com o Itesp. As atividades da

secretaria de saúde e da pastoral da criança, também eram realizadas neste local. A igreja,

onde eram realizadas as celebrações, e outras atividades culturais, como: festas,

casamentos, assembléias, também foi ocupada pelos sem teto. Hoje não existe mais área

social no assentamento.

Com o passar do tempo estes atritos entre sem terra e sem teto foram superadas.

Fato interessante nisso, foi a apoio dos assentados, quando o ITESP veio com a liminar de

despejo dos Sem Teto, e a tropa policial para despejá-los. Os assentados fizeram contato

com advogado e outras lideranças políticas, foi organizada uma barreira com pneus, os

quais foram queimados para impedir a entrada da polícia. Foi um dia de luta pela moradia.

No entanto, como o bairro ainda não é legalizado, chegam famílias

continuamente. Tem aumentado o consumo de drogas e de álcool, principalmente entre os

jovens, assim como problemas com violência. No ano de 2009, uma gangue de outro

bairro invadiu a Bela Vista, atirando em várias casas e assustando as crianças. Não houve

vítimas, mas algumas famílias mudaram-se. Neste ano, um homem drogado invadiu duas

casas atirando contra as crianças, este drogado, foi dominado pelos moradores, foi

linchado, e veio a falecer posteriormente.

Outro problema são os casos de roubo nas casas, e nas plantações do

assentamento. O assentamento tem que achar uma melhor forma de conviver, tanto com os

moradores da Bela Vista, quanto com o presídio, que é vizinho dos assentados.

A área da ocupação, ainda não está legalizada, pois há um impasse entre a

Prefeitura, o Itesp e o assentamento. Segundo o Itesp, o prefeito quer destituir dois lotes: o

lote 13 e 14, para ampliar a zona industrial, que fica ao lado do assentamento. O prefeito

afirma que se os assentados saírem, ele regulariza a ocupação, pois pelo Itesp, a área já

está liberada, só no aguardo das questões burocráticas que depende da prefeitura. (Itesp,

2011).

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3.3 – A territorialização do presídio na área do assentamento

Progressivamente, a população carcerária tem aumentado no Brasil, segundo L.

M., um ex-presidiário que viveu 31 anos e 10 meses, no cárcere, e hoje se transformou em

um escritor:

“O presídio, é o espaço da formação da criminalidade. No

Brasil não existe impunidade para os pobres, haja visto que as

cadeias estão lotadas de pobres, e principalmente de pretos.

Exemplos desta impunidade e intolerância, são os casos da

Candelária, de Carandiru e até de Eldorado dos Carajás.”

(depoimento de L. M. em março/2011)

No estado de São Paulo, existem 149 unidades prisionais. A população carcerária

em dezembro de 1995, no estado de São Paulo era de 55.0021, em 2006, subiu para

144.430, (www.sap.sp.gov.br, consulta em julho de 2011). Ou seja, em 11 anos, a

população cresceu mais que o dobro. A cada ano que passa, a população aumenta, como se

fosse uma bomba relógio prestes a explodir.

No caso do Presídio em questão, explodiu no mês de maio de 2006. Foram dias de

tensão e muita movimentação de pessoas: esposas dos detentos, advogados (as),

ambulâncias, polícia, etc. Esta rebelião aconteceu de forma articulada a outras que

ocorreram no Estado. O principal item reivindicado era a questão da superlotação. Os

presos iniciaram com a queima de colchões e depois fizeram alguns refêns e avançaram

sobre outros espaços do presídio.

A resposta a rebelião, também se deu de forma violenta: dois helicópteros

sobrevoavam o presídio, soltando bombas durante dois dias, enquanto outras frentes

policiais, foram organizando o cerco aos detentos. A ambulância do Posto de saúde, à todo

momento, saia com os feridos e voltava para retirar mais feridos. Não houve informação

sobre o número de feridos ou de mortos; a tropa de choque conseguiu abafar a rebelião,

todos os presos foram transferidos, pois grande parte do presídio, ficou destruída, e teve

que ser reconstruída. Neste caso, o assentamento também é refém da violência, pois

existem sete lotes que são vizinhos do presídio. Já ocorreram fugas, e grande circulação de

pessoas de várias origens. Por outro lado, há também a circulação intensa de policiais.

De uma certa forma, os assentados aprenderam a conviver com o presídio, e com

toda a movimentação de pessoas em torno do mesmo. Há casos de comercialização de

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produtos, do assentamento, para as visitantes dos presos. O lote de número 12, durante um

período, serviu como alojamento para as esposas dos detentos.

Se houvesse algum acordo ou convênio, os assentados poderiam destinar parte de

sua produção para o presídio. Essa é uma possibilidade que já foi discutida, porém ainda

não se efetivou. Embora esteja no discurso, do atual governo estadual (2011-2014).

Depende da SAP e dos assentados se organizarem, essa é uma possível forma de

convivência, além do relacionamento com presos que estão em liberdade condicional e

saem para trabalhar no município.

A capacidade do presídio é de 1218 detentos, porém hoje a população carcerária é

de 1847 presos (www.sap.sp.gov.br, consulta em julho de 2011). Segundo o Itesp,

(entrevista, junho de 2011), a área do presídio já estava separada. Antes da demarcação do

P. A., o presídio já estava em construção. A área foi desafetada, (quando tira-se de uma

finalidade para outra), sendo reservada pelo Itesp, em 1999, quando da distribuição dos

lotes. Além do presídio, recentemente, foi construído um CDP – Centro de Detenção

Provisória, com capacidade para mais de 800 detentos. Sendo assim, a tendência é o

aumento da população carcerária.

Figura 14 - Guarita e muro do presídio

Fonte: Lucia de Fatima Costa de Albuquerque, 2011

Esta imagem, mostra a proximidade do presídio com o assentamento. O projeto de

construção deste presídio é anterior à criação do assentamento Horto Bela Vista. Neste local existe

um problema concreto, pois o esgoto é despejado no lote do assentado.

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Figura 15: Fachada do Presídio Odon RamosMaranhão

Fonte: Lucia de Fatima Costa de Albuquerque, 2011

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3.5 - A ampliação da zona industrial

Segundo o Dieese, o número de trabalhadores na metalurgia na região de

Sorocaba é de 44 055 mil, (Folha Metalúrgica, maio de 2011). E segundo o Sindicato dos

Metalúrgicos, esse número cresceu depois da presidência Lula. Nos planos econômicos de

FHC, o número de metalúrgicos ficou abaixo de 20 mil. O crescimento industrial da cidade

de Sorocaba, também refletiu no crescimento industrial, no município de Iperó.

Segundo A. N., do Sindicato dos Metalúrgicos de Iperó, hoje existem

aproximadamente 67 indústrias. As indústrias são: metalúrgicas, téxteis, de móveis,

olarias, químicas, entre outras.

Antes de 1990, o município de Iperó, tinha uma economia basicamente agrária,

até a vinda do Centro Experimental de Aramar, neste mesmo ano. O que antes era uma

economia agrícola, passou a ser uma cidade mais industrializada. A maior parte da

arrecadação de impostos vem da indústria, com o retorno do Imposto sobre produtos

industrializados, (IPI).

Recentemente, houve um processo de modernização das máquinas, outras

indústrias vieram e, nesse período, muitos agricultores saíram do campo para trabalhar nas

indústrias da cidade. Segundo L. A., sindicalista, a maior parte da força de trabalho da

indústria veio do campo:

Até os meus 21 anos trabalhei na agricultura, a minha família produzia

para a subsistência e para a comercialização, meu pai sempre foi da roça,

mas meu irmão mais velho foi trabalhar na indústria e eu posteriormente

também, pois em 1995 a realidade da agricultura era muito adversa, a

gente vendia os produtos na feira, mas as vezes investia mais na produção

e ganhava menos, as vezes vendia para o atravessador a preço de banana.

(L. A., entrevista em: junho de 2011)

Ainda, segundo L. A., ocorreram vários problemas, no processo de abertura das

indústrias, como questões eleitorais, favorecimento político de campanha, recursos,

atrativos fiscais.

As indústrias, do município, estão construídas na área do Horto Florestal Bela

Vista. A princípio, as indústrias foram ocupando a área ilegalmente, (Itesp, 2011). Através

de negociações com o Estado, foram dados os decretos de desapropriação, e

posteriormente pagas para o Estado, através de precatórios. (entrevista com L. A, realizada

em 25/06/11). Segundo o mesmo informante, existem partes da área a serem regularizadas,

daí a justificativa da falta de estrutura, como sinalização, acostamento, lombadas.

Um problema constante são os acidentes de trânsito, que ocorrem, por toda a

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avenida, que atravessa as indústrias, e o assentamento. Ocorreram vários acidentes com as

trabalhadoras, trabalhadores e transeuntes, que circulam pela avenida; a pé, de bicicleta, de

moto e de carro. Inclusive com casos fatais.

Outro elemento a ser analisado, é a localização geográfica privilegiada. A

proximidade com Sorocaba, com a Rodovia Castello Branco e com a cidade de São Paulo.

Parte da produção industrial de Iperó, é destinada às grandes indústrias de Sorocaba.

Se houve um grande aumento de empresas industriais na cidade,entre 1995 e

2004, houve, ao contrário, um arrefecimento desse ritmo, com apenas 01 indústria vindo

para o município, desde 2005. Apesar disso, o governo municipal, tenta colocar a

população contra os assentados, que não vem mais indústrias por falta de espaço, pois os

assentados não querem liberar os lotes 13 e 14, a ampliação da zona industrial. (discurso

proferido em uma assembléia na Bela Vista, em 2009). Existem outros determinantes,

segundo um informante,

“O prefeito municipal é empresário, tem relação com a Fiesp e com os

lideres do PSDB em São Paulo. Nos últimos seis anos o número de

indústrias não aumentou, por questões políticas. Quanto mais indústrias,

mais disputa de mão de obra” ( L. A., entrevista realizada e maio de

2011)

Ainda segundo L. A.,sindicalista, o atual prefeito, Marco Antonio Vieira de

Campos, eleito no primeiro mandato, no ano de 2005, como industrial, não pretende

ampliar as oportunidades, de emprego, para não perder força de trabalho.

O “boom” industrial se deu nos governos de 1997 a 2000, e de 2001 a 2004,

(Prefeito Marcos Andrade). A situação econômica do município, é reflexo da

modernização técnica, da indústria. Esse crescimento, fez aquecer o comércio,tem

aumentado gradativamente, o número de lojas, no centro da cidade. A área da construção

civil, também está em desenvolvimento, e tem abarcado vários operários: pedreiros,

serventes, marceneiros, etc. Fato que, a procura por estes tipos de trabalhadores, é

constante e intensa. Por conta da construção de condomínios residenciais, reforma nas

indústrias, e na construção de lojas, além das moradias urbanas e rurais.

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Figura 16: Imagem de satélite das indústrias

Fonte: Google Earth (2011)

Nesta imagem é possível, observar as indústrias, e a proximidade com outros

bairros e do centro da cidade.

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Considerações finais

De acordo com o trabalho de conclusão de curso realizado, pude perceber que,

apesar de todo o avanço da produção do espaço, às margens do capitalismo no campo,

através de seus investimentos no agronegócio, da manutenção da estrutura fundiária

desigual, concentrada nos grandes latifúndios e da expropriação e expulsão das famílias do

campo, resultando num processo de proletarização dos trabalhadores sem terra. Existe

ainda, uma parcela dos camponeses, que se reproduzem, através da luta pela terra e por

melhores condições de vida e trabalho, se utilizando, de diversas estratégias de

sobrevivência.

Compreendemos que, mesmo após a conquista da terra, é preciso resistir, através da

organização e da luta, o que nos leva a refletir, sobre a teoria de que, o capitalismo se

desenvolve de forma desigual, conforme defende Niel Smith.

A efetivação dos assentamentos, nas áreas de Horto Florestal, só foi possível, por

conta de uma conjuntura política, de fortalecimento da luta pela Reforma Agrária, no

Brasil. No caso do Estado de São Paulo, os embates, na sua maioria, ocorrem com a

monocultura da cana, do eucalipto, da laranja, indústria, especulação imobiliária,

prefeituras conservadoras, e inclusive grandes corporações, nacionais e internacionais.

Os Hortos Florestais, eram áreas de domínio, da produção de eucalipto, para

abastecer a ferrovia, no intuito de melhorar a circulação da produção cafeeira.

Contribuindo assim, com a formação do capitalismo, daquela época. A instalação dos

assentamentos, como produto das disputas territoriais, constitui um exemplo de que, é

preciso fazer o enfrentamento, a este modelo de apropriação e de produção social do

espaço. Para pleitear novos usos, através da quebra do monopólio da terra, buscando

estabelecer, novas formas de sobrevivência e de resistência, atendendo a uma parcela das

famílias, que vêm no campo, uma possibilidade de trabalho, de moradia, de forma mais

digna. Fazendo com que, apesar das dificuldades enfrentadas para permanecer no lote, é

notório, o número de famílias envolvidas neste processo, assim como a diversidade na

produção de alimentos, expressa nos diversos lugares.

O combate a produção da monocultura do eucalipto e da cana, também é um fator

importante a ser analisado, constituindo uma nova configuração espacial, construída pelas

trabalhadoras e trabalhadores, em oposição à produção do espaço capitalista.

Concretamente os fatores determinantes desta nova configuração são:

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- a construção de agrovilas ou de moradias no lote, com a participação em associações,

cooperativas, movimentos sociais;

- Melhora nas condições de vida e de trabalho, que em muitos casos eram assalariados

rurais, ou urbanos, desempregados, modificando as condições de trabalho que antes

existiam;

- Melhora nas infraestruturas básicas, como estradas, energia elétrica, (avanço da rede de

energia elétrica, construção de postos de saúde, igrejas, barracões, tratores;

de equipamentos comunitários, entre outros; d) modifica as relações de trabalho

préexistentes;

- Há uma interlocução maior, entre o campo e a cidade, através de uma dinâmica no

aumento da circulação de mercadorias e de pessoas e do aumento da demanda dos bens e

serviços.

Tendo claro que, estes são os principais pontos positivos aqui resgatados, as

deficiências também são variadas, como falta de unidade e organização entre os

assentamentos e assentados, dificuldades de gestão, ausência de formação técnica e

educação ambiental, no processo formativo dos trabalhadores, limites ambientais ao

desenvolvimento agrícola ou potencialidades naturais. De forma que, sem orientação,

podem ser desperdiçadas ou destruídas pelo próprio trabalho, são apenas alguns dos

desafios a serem superados.

Esta pesquisa mostra, ainda que muito incipiente, a complexidade existente, mesmo

posteriormente à conquista do assentamento, pois a propriedade da terra, é condição sine

qua non, da produção e reprodução da sociedade capitalista, além do trabalho alienado.

Existem conflitos de interesses, o assentamento Horto Bela Vista é exemplo destes

conflitos, a sua configuração espacial já demonstra a complexidade e que mesmo depois da

conquista, podem ocorrer perdas, neste caso, por conta da expansão urbana, da

especulação imobiliária, o assentamento convive com um presídio, uma ocupação urbana,

na qual o número de moradores dobrou no período de 2 anos e da expansão da zona

industrial sobre a área do assentamento.

Só através da organização, das trabalhadoras e trabalhadores, pelos movimentos

sociais que reivindiquem dos poderes: as políticas públicas e programas que possibilitem a

reprodução digna, da população assentada, de transformar os territórios conquistados em

espaços de esperança e dignidade. As demandas são várias, no campo da educação, da

saúde, da produção, mas mesmos assim, a pesquisa proporcionou, visualizar as

transformações que ocorreram nestes territórios.

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É factível que, a Reforma Agrária ainda é necessária, mas só ela não transformará a

realidade injusta que está posta, tanto no campo, quanto nas cidades, nas periferias

urbanas, e nas desigualdades sociais. Só com a superação, da sociedade capitalista e

consolidação, de um modo de produção social que traga, justiça e emancipação da classe

trabalhadora.

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Bibliografia

Entrevistas:

Maria Rodrigues dos Santos – Assentada no Horto Bela Vista

Sergio Antonio Nery – Assentado no Assentamento Ipanema, Vereador e

Presidente da câmara Municipal de Iperó.

Aparecido Nonato Nunes – Coordenador sindical do Sindicato dos Metalúrgicos

de Iperó.

Luis Alberto Antunes Popsti – Diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Iperó.

Luiz Alberto Mendes, autor de Memórias de um sobrevivente.

Irades Aparecida Albieri, coordenadora da usina de produção de dormentes da

FEPASA.

Edmir Domingues dos Santos, neto de Samuel Domingues dos Santos, ferroviário

nascido em 1915, descendente de tropeirista que viveu na cidade de Iperó no

século XIX.

Mariana Barbosa da Silva e Antonio Vicente da Silva, assentados no Horto Bela

Vista.

Afonso Moreira, ex- funcionário da usina de dormentes e morador do bairro Bela

Vista.

Neusa Botelho, representante da Comissão dos Hortos

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