sistemas penitenciÁrios histÓricos

Upload: ricardo-prezzi

Post on 08-Jul-2018

233 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/19/2019 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS HISTÓRICOS

    1/14

    OS MODELOS PENITENCIÁRIOS NO SÉCULO XIX

    Fernanda Amaral de Oliveira∗∗∗∗ 

    Resumo: Este artigo possui como objetivo apresentar alguns modelos de sistema penitenciário adotados

    em países Europeus e nos Estados Unidos, no século XIX. Tal explanação se faz necessária para

    compreendermos as discussões que aconteceram no Brasil quanto ao tipo de prisão e pena que deveria

    vigorar em nosso país. Ainda faremos uma descrição de como eram nossas prisões desde o período

    colonial e o que foi alterado nestas, com a formulação de nossa primeira Constituição Brasileira, em

    1824, e o Código Criminal, em 18311. 

    Palavras-Chave: sistema penitenciário; cadeia pública; século XIX. 

    Abstract: This article has as objective to present some penitentiary’s system models adopted in

     European Countries and in the United States in the 19th century. Such explanation makes itself necessary

    to comprehend the discussions which happened on Brazil about the kind of prison and punish that should

    work in our country. We still will make a description about how were our prisons since the Colonial

    Period and what was changed in these, with the formulation of our first Brazilian's Constitution, in 1824,

    and the Criminal Code in 1831. 

    Keywords: penitentiary system; public prison; century XIX.

    ∗ Bacharel em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Bolsista CNPQ de Apoio técnico apesquisa.1

     O presente artigo foi apresentado pela primeira vez como comunicação científica no Seminário Nacionalde História da Historiografia: historiografia brasileira e modernidade, ocorrido na cidade de Mariana –MG entre os dias 01 a 03 de agosto de 2007.

  • 8/19/2019 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS HISTÓRICOS

    2/14

    Em fins do século XVIII e início do XIX, conjuntamente com as transformações

    da sociedade americana e européia, a partir da revolução industrial, o sistema

    penitenciário e as formas de reclusão dos criminosos passaram a ser discutidas

    intensamente. Estas se deram tanto no campo teórico quanto na prática com a aplicação

    de modelos correcionais em alguns presídios, como por exemplo, o de Filadélfia e o

    Arburn em Nova York.

    Uma mudança significativa do sistema prisional foi a privação da liberdade,

    onde o indivíduo encarcerado perderia toda a sua liberdade por um determinado tempo.

    Assim as penas dadas a um infrator passaram a ser quantificadas através do tempo,

    impondo-o ficar recluso da vida social durante um período julgado suficiente para

    reparar o mal feito à sociedade.

    Além do cerceamento da liberdade quantificada através do tempo, a alteração

    revolucionária nas penitenciárias, sem dúvida nenhuma, foi o encarceramento do interno

    em celas separadas. Segundo Foucault, o preso deveria ser isolado do mundo exterior, a

    tudo o que motivou a infração, às cumplicidades que o facilitaram2, e dos outros

    detentos, a fim de evitar qualquer tipo de complô e revolta. A pena deveria ser

    individual e individualizante, justificando assim o isolamento do encarcerado de

    qualquer outra pessoa.

    1.1  OS MODELOS PENITENCIÁRIOS DOS ESTADOS UNIDOS E EUROPA

    1.1.1  FILADÉLFIA OU PENSILVÂNIA

    Este modelo prisional foi adotado no presídio da cidade de Filadélfia, nos

    Estados Unidos, em 1790, por William Penn. A característica principal deste regime se

    pautava na reclusão total do preso, ou seja, o cumprimento da pena isolado de todas as

    pessoas durante todo o período de sua condenação3.

    2  FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. História da violência nas prisões. 33ª ed. Tradução de Raquel

    Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 2007. p. 199.3  SÁ, Geraldo Ribeiro de. A prisão dos excluídos: origens e reflexões sobre a pena privativa deliberdade. Juiz de Fora: UFJF, 1996. pp. 93-94.

  • 8/19/2019 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS HISTÓRICOS

    3/14

     

    Imagem I

    Litografia da Penitenciária de Cherry Hill, Filadélfia.

    This institution known as "Cherry Hill State Prison" at Philadelphia, is the modelprison of "The Pennsylvania System of Prison Discipline" or "Separate System" as it iscalled to distinguish it from "The Congregate." Each convict occupies a single cell /From a drawing by convict No. 2954 [Samuel Cowperthwaite]. (Philadelphia: P. S.Duval & Co., 1855). 17 x 25 cm. (6.5 x 10 in.)4 

    4

      Litografia da Penitenciária de Cherry Hill, localizada na cidade de Filadélfia, Pensilvânia. Foi nestepresídio que o modelo de Willian Penn foi experimentado. A imagem foi retirada de Library Company ofPhiladelphia Wainwright Lithograph Collection , em 02 de junho de 2007.

  • 8/19/2019 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS HISTÓRICOS

    4/14

     

    Imagem II

    Planta da Penitenciária de Cherry Hill, Filadélfia

    Planta da Penitenciária de Cherry Hill5.

    Segundo Rusche e Kirchheimer, tal modelo se baseava nos princípios dos

    Quaker, que defendiam a idéia de que a religião era a única e suficiente base da

    educação, assim a reclusão dos presos aliado a leitura da bíblia, único objeto permitido

    dentro das celas, poderia levá-lo a uma reflexão e ao arrependimento de seus pecados6.

    O trabalho no modelo pensilvânico não se fazia permitido para que não dispersá-

    se o indivíduo de sua reflexão. Usando as palavras de Michel Foucault, o isolamento

    absoluto (...) não se pede a requalificação do criminoso ao exercício de uma lei comum,

    mas à relação do indivíduo com sua própria consciência e com aquilo que pode

    5  Os números marcados na planta representam respectivamente: 1) “torre” de fiscalização; 2)corredor;3)Celas; 4)pátio pequeno; 5) Administração. Retirado de, MIGNOT, Claude. L’architecture au XIXe 

    siecle. França: Fribourg-Paris, Lê Moniteur, 1983. p.217.6 RUSCHE, Georg & KIRCHHEIMER, Otto. Punição e estrutura social. 2ª edição. Tradução de GizleneNeder. Rio de Janeiro: Revan, 2004. p. 179.

  • 8/19/2019 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS HISTÓRICOS

    5/14

    iluminá-lo de dentro7 . De tal modo, podemos concluir que no regime adotado na

    Filadélfia, as únicas operações da correção do indivíduo foram a consciência e a

    arquitetura que isolava o indivíduo de todo contato com outro ser humano.

    1.1.2  AURBURN

    O modelo Aurbuniano surgiu em 1821, na cidade de Nova York, na prisão de

    Arbun, daí o seu nome. A diferença marcante deste sistema para o pensilvânico foi a

    adoção do trabalho como objeto regenerador do indivíduo. Os internos seguiam um

    silêncio absoluto e constante, onde trabalhavam no horário diurno em oficinas e a noite

    ficavam recolhidos em suas selas individuais. O silêncio era imposto à base do chicote.

    A alimentação e o trabalho eram realizados em salões com a presença de todos

    os detentos, os guardas e os chicotes, isto porque o silêncio absoluto deveria ser

    mantido a qualquer custo. Segundo Foucault, a prisão de Aurburn deveria ser um

    microcosmo de uma sociedade perfeita onde os indivíduos estão

    isolados em sua existência moral, mas onde sua reunião se efetua num

    enquadramento hierárquico estrito, sem relacionamento lateral, só se podendo

    fazer comunicação no sentido vertical. (...) A coação é assegurada por meios

    materiais, mas sobretudo por uma regra que se tem que aprender a respeitar e

    é garantida por uma vigilância e punições8.

    Por tanto, a convivência em um “ambiente social”, mas respeitando a hierarquia somadacom as regras que deveriam ser seguidas, além da vigilância constante prepararia os

    indivíduos ao regresso a sociedade.

    João Farias Júnior nos relata como um preso no regime auburniano agia:

    7 FOUCAULT, Michel. Op. cit. p. 201.8 Ibidem, p. 200.

  • 8/19/2019 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS HISTÓRICOS

    6/14

    a) o condenado ingressava no estabelecimento, tomava banho, recebia

    uniforme, e após o corte de barba e do cabelo era conduzido à cela, com

    isolamento durante a noite; b) acordava às 5:30 horas, ao som da alvorada; c)

    o condenado limpava a cela e fazia sua higiene; d) alimentava-se e ia para as

    oficinas, onde trabalhava até tarde, podendo permanecer até às 20 horas nomais absoluto silêncio, só se ouvia o barulho das ferramentas e dos

    movimentos dos condenados; e) regime de total silêncio de dia e de noite; f)

    após o jantar o condenado era recolhido; g) as refeições eram feitas no mais

    completo mutismo, em salões comuns; h) a quebra do silêncio era motivo de

    castigo corporal. O chicote era o instrumento usado para quem rompia com o

    mesmo; i) aos domingos e feriados o condenado podia passear em lugar

    apropriado, com a obrigação de se conservar incomunicável9.

    Se em alguns aspectos Aurburn lembra Filadélfia, em outros elas são

    completamente divergentes. Em Filadélfia o isolamento total e a leitura da Bíblia eram

    “o carro chefe”, enquanto em Aurburn, o trabalho e o contato com outros detentos, mas

    mantidos sobre um silêncio absoluto eram o foco central.

    1.1.3 

    IRLANDÊS

    A maioria das prisões européias, após o “sucesso” obtido nas prisões

    americanas, adotaram o sistema filadelfiano depois de um longo debate no Primeiro

    Congresso Internacional de Prisões, ocorrido em Frankfurt, no ano de 1846. Países

    como a Alemanha, França, Bélgica e Holanda foram os primeiros a colocar o regime em

    prática em suas penitenciárias10.Em contra partida a estes países, na Irlanda surgiu um novo modelo que

    poderíamos considerar como um aperfeiçoamento dos dois modelos americanos já

    citados. Seu idealizador foi Walter Crofton, que no ano de 1853, elaborou um sistema

    com quatro fases a serem percorridas pelo condenado, desde sua entrada na

    9 FARIAS JÚNIOR, João. In: SÁ, Geraldo Ribeiro de. Op.cit. p. 94.10 RUSCHE, Georg & KIRCHHEIMER, Otto. Op cit. p. 189.

  • 8/19/2019 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS HISTÓRICOS

    7/14

     penitenciária até a liberdade total. São passos progressivos, de conquista cada vez

    mais ampla de liberdade11.

    A primeira fase pode ser considerada como “cópia” do modelo da Pensilvânia,

    onde o interno ficaria recluso o tempo todo dentro de sua sela, a fim de refletir sobre

    seus delitos. Deveria ficar recluso em torno de oito a nove meses.

    A próxima, o detento passaria a trabalhar em um regime diurno, coletivo e em

    silêncio, com um rigoroso controle e vigilância, além do regime noturno recolhido em

    sela individual. Este modelo segue a proposta aurboniana.

    A terceira, acrescida por Crofton, transferiria o interno a prisões intermediárias,

    com um sistema de vigilância mais branda, onde o detento teria a permissão para

    conversar, andar por uma distância determinada e com o trabalho sendo realizado no

    campo. Estas mudanças tinham a intencionalidade de preparar o individuo para o

    regresso à vida na sociedade.

    E a quarta fase, e última, antes do retorno ao meio social, permitia ao detento

    viver em uma comunidade livre, onde receberia uma liberdade condicional, até o final

    do cumprimento de sua pena e liberdade definitiva.

    1.1.4 

    PANÓPTICO DE BENTHAM

    O modelo panóptico proposto por Bentham, na realidade, não pode ser

    considerado como um exemplo de penitenciária como o de Auburn e Pensilvânia, e sim

    um arquétipo que poderia ser, e foi, adotado por outras prisões que seguiam os modelos

    de Filadélfia e de Auburn, por se tratar mais de um modelo de arquitetura do que um

    sistema prisional em si.Sua arquitetura deveria ter uma forma radial, com celas dispostas na periferia e

    uma torre no centro, de onde seria observado todos os internos. Devido a sua estrutura

    geométrica, a luz solar conseguiria penetrar em abundância em seu interior. Esta

    claridade favoreceria a observação dos detentos realizadas da torre central, mas sem que

    estes soubessem de onde viria a vigília de seus algozes. Abaixo podemos observar

    11 SÁ, Geraldo Ribeiro de. Op. cit. p. 97.

  • 8/19/2019 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS HISTÓRICOS

    8/14

    imagens da penitenciária francesa, Petite Roquette, onde foi seguido à arquitetura do

    princípio panóptico.

    Imagem III

    Litografia da Penitenciária Petite Roquette

    Hippolyte Lebas, Maison dês jeunes détenus de la Petite Roquette, Paris, 1826-36, détruiteen 1974 (Musée du XIXe siècle, Paris)12.

    12 MIGNOT, Claude. Op. Cit. p.216.

  • 8/19/2019 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS HISTÓRICOS

    9/14

     

    Imagem IV

    Planta da Penitenciária Petite Roquette

    Maison de jeunes détenus de la Petite Roquette,

    Paris, plan du rez-de-chaussée (Gourlier, Choixd’édifices publics…, t.II, pl. 25)13.

    Segundo Michael Focault, o sistema panóptico induz ao detento um estado

    consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento automático do

     poder 14, ou seja, o interno tem a consciência que todos os seus atos estão sendo

    monitorados, mesmo não vendo quem os controla facilitando a vigilância do presídio.

    Bentham formulou o princípio de que o poder deveria ser sempre visível e inverificável.Visível, pois o detento através de sua janela consegue enxergar a torre “que tudo vê” e

    inverificável, já que nunca tem a certeza se está sendo observado.

    Em nosso trabalho só focamos o sistema panóptico quanto presídio, por ser o

    tema estudado, mas cabe aqui uma ressalva, visto que este sistema quando formulado

    por Bentham, não fora de uso exclusivo das penitenciárias, tendo sido adotado para

    manicômios, oficinas de trabalho e locais de estudo. Foucault procurou chamar a

    13

     Idem.14 FOUCAULT, Michel. Op. cit. p.166. O  poder  descrito pelo autor faz referência ao corpo de agentespenitenciários que possui a função de manter a ordem nos presídios.

  • 8/19/2019 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS HISTÓRICOS

    10/14

    atenção para a crueldade deste modelo, ao servir de  zoológico real15 onde o animal é

    substituído pelo homem, a distribuição individual pelo grupamento específico e o rei

     pela maquinaria de um poder furtivo.  O modelo panóptico foi adotado por diversas

    instituições desde o seu desenvolvimento, no início do século XIX até meados do século

    XX.

    1.2  O MODELO DAS PRISÕES NO BRASIL

    O modelo das prisões brasileiras existentes até meados do século XIX ainda

    remontavam as coloniais. A Cadeia Pública dividia o mesmo prédio com a Câmara

    Municipal, possuindo dois pavimentos, sendo o primeiro ocupado pela cadeia e o

    segundo pela Câmara.

    O interior das prisões possuía alguns compartimentos, como as enxovias, salas e

    celas onde ficavam os presos – homens, mulheres, negros e galés. Para penetrar no seu

    interior, era necessário descer por escadas de mão móveis. Havia as salas-livres,

    indicadas pela Justiça para o cumprimento de prisão fora do cárcere, e as salas fechadas

    ou salas fortes para guardarem presos. Ainda existia uma sala denominada de segredo 

    ou moxinga, onde eram realizados interrogatórios - podendo ser aplicado torturas -, de

    presos que tivessem cometidos crimes graves16. Além das prisões comuns existia o

    aljube, destinada ao encarceramento de pessoas que cometeram crimes eclesiásticos ou

    de lesa-majestade.

    Para uma melhor elucidação de como era a estrutura arquitetônica das Casas da

    Câmara e Cadeia observemos os desenhos da fachada e plantas do andar térreo da

    cadeia da cidade Mariana, MG.

    15 Expressão cunhada pelo autor. FOUCAULT, Michel. Op. cit. p.168.16 Ver BARRETO, Paulo Thedim. Análise de alguns documentos relativos à Casa de Câmara e Cadeia de

    Mariana. Rio de Janeiro: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1966, n° 16.Disponível em < http://www.iphan.gov.br/revistadopatrimonio>. Ver também, ROMEIRO, Adriana &BOTELHO, Angela Vianna. Dicionário histórico das Minas Gerais. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

  • 8/19/2019 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS HISTÓRICOS

    11/14

     

    Imagem V

    Desenho da frente da antiga Casa de Câmara e Cadeia de Mariana

    Códice Matoso, da Coleção Félix Pacheco. Biblioteca Municipal de São Paulo17.

    Imagem VI

    Plantas do pavimento térreo e do sobradoda antiga Casa de Câmara e Cadeia de Mariana.

    Códice Matoso, da Coleção Félix Pacheco.Biblioteca Municipal de São Paulo.

    17 Retirado de: BARRETO, Paulo Thedim. Op. Cit.

  • 8/19/2019 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS HISTÓRICOS

    12/14

     

    A grande diferença existente do período colonial para o império quanto às

    prisões, não se tratava da arquitetura, mas sim de sua administração. No século XVIII,

    a cadeia era parte constitutiva do poder municipal. Era a ela que recorria a Câmara,

    com seus oficiais, para recolher criminosos e todo tipo de transgressores18 

     (...). Com a

    Independência do Brasil, e a formulação da primeira Constituição do país, a primeira lei

    referente às prisões surgiu. O Artigo 179 § 21 da Constituição dizia assim:

     As cadeias serão seguras, limpas, e bem arejadas, havendo diversas

    casas para separação dos réus, conforme suas circunstâncias, e natureza dos

    seus crimes.

    Em 1831 com a criação do Código Criminal, alguns pontos ficaram ainda mais

    definidos, principalmente quanto à pena de prisão - que anteriormente só “jogava” o

    preso dentro das selas. Com as idéias vindas de fora do país, a partir das reformulações

    penais nos Estados Unidos e na Europa, o cerceamento da liberdade passou a ser ocritério para as punições. Vejamos alguns artigos presentes no Código.

     Art. 46 – A pena de prisão com trabalho obrigará aos réus a

    ocuparem-se diariamente no trabalho que lhes for destinado dentro do

    recinto das prisões, na conformidade das sentenças e dos regulamentos

     policiais das mesmas prisões.

     Art. 47 – A pena de prisão simples obrigará aos réus a estaremreclusos nas prisões públicas pelo tempo marcado nas sentenças.

     Art. 48 – Estas penas de prisão serão cumpridas nas prisões

     públicas que oferecerem maior comodidade e segurança, e na maior

     proximidade que for possível dos lugares dos delitos devendo ser designadas

     pelos juízes nas sentenças.

     Art. 49 – Enquanto se não estabelecerem as prisões com as

    comodidades e arranjos necessários para o trabalho dos réus, as penas de

     prisão com trabalho serão substituídas pela de prisão simples,

    18 SALLA, Fernando. As prisões em São Paulo: 1822-1940. São Paulo: Annablume, Fapesp, 1999. p. 36.

  • 8/19/2019 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS HISTÓRICOS

    13/14

    acrescentando-se em tal caso a esta a sexta parte do tempo por que aquelas

    deveriam impor-se.

    Em contra partida, o Código Criminal não determinou nenhuma medida quanto

    ao funcionamento das prisões. Pelo artigo 10 § 9, do Ato adicional, as Assembléias

    Legislativas Provinciais deveriam legislar sobre a construção de prisões e casas de

    correção e também sobre o regime nelas a ser adotado.

    Os arranjos quanto ao funcionamento do estabelecimento, o tipo de trabalho, sua

    rotina e disciplina eram encarados como essenciais para que a pena de prisão pudesse

    atingir os alvos regenerativos desejados. À força policial confiou-se a tarefa de

    determinar alguns dos aspectos do funcionamento das prisões (forma de inspeção,sistema de classificação, castigos disciplinares, rações e formas de seu fornecimento).

    Aos governos provinciais, e, portanto por decisão local, coube a escolha do regulamento

    a ser seguido19. Na realidade, muitos desses aspectos e determinações do “novo”

    sistema penal não foram postos em prática.

    BIBLIOGRAFIA:

    BARRETO, Paulo Thedim. Análise de alguns documentos relativos à Casa de Câmara eCadeia de Mariana. Rio de Janeiro:  Revista do Patrimônio Histórico e Artístico

     Nacional, 1966, n° 16. Disponível em < http://www.iphan.gov.br/revistadopatrimonio>

    FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir . História da violência nas prisões. 33ª ed.Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 2007.

    MIGNOT, Claude. L’architecture au XIX e siecle. França: Fribourg-Paris, Lê Moniteur,1983.

    ROMEIRO, Adriana & BOTELHO, Angela Vianna.  Dicionário histórico das MinasGerais. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

    RUSCHE, Georg & KIRCHHEIMER, Otto. Punição e estrutura social.  2ª edição.Tradução de Gizlene Neder. Rio de Janeiro: Revan, 2004.

    19 Ibidem, pp.46-47.

  • 8/19/2019 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS HISTÓRICOS

    14/14

    SÁ, Geraldo Ribeiro de.  A prisão dos excluídos: origens e reflexões sobre a penaprivativa de liberdade. Juiz de Fora: UFJF, 1996.

    SALLA, Fernando.  As prisões em São Paulo:  1822-1940. São Paulo: Annablume,Fapesp, 1999.