o anglo resolve a prova da 1 fase da...

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É trabalho pioneiro. Prestação de serviços com tradição de confiabilidade. Construtivo, procura colaborar com as Bancas Exami- nadoras em sua tarefa árdua de não cometer injustiças. Didático, mais do que um simples gabarito, auxilia o estudante em seu processo de aprendizagem. A 1ª fase selecionar á para a 2ª todos os candidatos que conseguirem rendimento igual ou superior a 50% do va- lor total desta prova, at é o limite de 8 vezes o número de vagas do grupo. Sempre que o número de candidatos sele- cionados para determinado curso for inferior a tr ês vezes o número de vagas oferecidas, a seleção se completar á se- gundo crit ério de ordem decrescente de notas, at é atin- gir-se esse limite. Este fascí culo de O Anglo Resolve apresenta a resolução co- mentada desta prova de 1ª fase da UNICAMP, que consta de tr ês propostas de Redação e doze quest ões discursivas. O Vestibular da Unicamp seleciona também candidatos aos cursos de Medicina e Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Estadual). O ANGLO RESOLVE A PROVA DA 1ª FASE DA UNICAMP

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É trabalho pioneiro.Prestação de serviços com tradição de confiabilidade.Construtivo, procura colaborar com as Bancas Exami-nadoras em sua tarefa árdua de não cometer injustiças.Didático, mais do que um simples gabarito, auxilia oestudante em seu processo de aprendizagem.

A 1ª fase selecionará para a 2ª todos os candidatos queconseguirem rendimento igual ou superior a 50% do va-lor total desta prova, até o limite de 8 vezes o número devagas do grupo. Sempre que o número de candidatos sele-cionados para determinado curso for inferior a três vezeso número de vagas oferecidas, a seleção se completará se-gundo critério de ordem decrescente de notas, até atin-gir-se esse limite.Este fascículo de O Anglo Resolve apresenta a resolução co-mentada desta prova de 1ª fase da UNICAMP, que constade três propostas de Redação e doze questões discursivas.O Vestibular da Unicamp seleciona também candidatosaos cursos de Medicina e Enfermagem da Faculdade deMedicina de São José do Rio Preto (Estadual).

OANGLO

RESOLVE

A PROVADA 1ª FASE

DAUNICAMP

RedaçãoNos últimos anos, o mundo conheceu fatos como a dissolução de fronteiras entre países (conseqüên-

cia da globalização da economia), ou a relativização da autonomia nacional (como no caso da prisão dePinochet na Inglaterra). Conheceu também movimentos pró descriminalização das drogas e do aborto,revelando a fragilidade dos limites entre hábito e transgressão. Têm sido freqüentes as contestações deoutras fronteiras, como no debate sobre a legalização da união civil de homossexuais. Assim, as últimasdécadas do século XX se caracterizaram pela relativização dos limites que antes separavam categoriascomo loucura e sanidade, público e privado, nacional e estrangeiro, entre outras. Tais fatos têm conse-qüências consideráveis na visão que o homem contemporâneo constrói de si mesmo, do mundo e da pró-pria vida.

As três alternativas de redação e algumas das questões desta prova estão relacionadas a esses fatos, queafetam qualquer indivíduo, seja na forma de informação externa, seja na forma de experiência pessoal.

ORIENTAÇÃO GERAL

Há três temas sugeridos para redação. Você deve escolher um deles e desenvolvê-lo conforme o tipo detexto indicado, segundo as instruções que se encontram na orientação dada para cada tema. Assinale noalto da página de resposta o tema escolhido.

Coletânea de textos:

Os textos foram tirados de fontes diversas e apresentam fatos, dados, opiniões e argumentos relaciona-dos com o tema. Eles não representam a opinião da banca examinadora: são textos como aqueles a quevocê está exposto na sua vida diária de leitor de jornais, revistas ou livros, e que você deve saber ler ecomentar. Consulte a coletânea e utilize-a segundo as instruções específicas dadas para cada tema. Nãoa copie.Ao elaborar sua redação, você poderá utilizar-se também de outras informações que julgar relevantespara o desenvolvimento do tema escolhido.

ATENÇÃO: SE VOCÊ NÃO SEGUIR AS INSTRUÇÕES RELATIVAS AO TEMA QUE ESCOLHEU, SUAREDAÇÃO SERÁ ANULADA.

TEMA A

Um dos temas dominantes de nossa época é o fim das fronteiras — científicas, geográficas, eco-nômicas, de comunicação. Foram ultrapassados até mesmo os limites da ficção científica nas pesquisassobre genoma e sobre a estrutura do universo e da matéria. No campo das comunicações, as novidadessão diárias. Para muitos, vivemos sob o signo da globalização. Para outros, as conquistas da huma-nidade não são comuns a todas as pessoas. Paradoxalmente, continuam persistindo, e até se aprofun-dando, as lutas por identidades (culturais, de gênero, de etnia, etc.).

Tomando como referência a coletânea abaixo, escreva uma dissertação sobre o tema:

1. Bárbaro, adj. e s. Do gr. bárbaros, “estrangeiro, não grego [...]; relativo a estrangeiros, a bárbaros;semelhante à linguagem, aos costumes dos bárbaros; bárbaro, incorrecto (em referência a erros contrao bom uso do idioma grego); grosseiro, não civilizado, cruel”; pelo lat. barbaru- “bárbaro, estrangeiro(= latino para os Gregos); bárbaro, estrangeiro (todos os povos, à excepção dos Gregos e Romanos); bár-baro, inculto, selvagem; bárbaro, incorrecto (falando da linguagem)”. Pela comparação com o sânscritobarbarah, “gago”, esloveno brbrati, brbljatati, sérvio brboljiti, “patinhar, chafurdar”, lituano birbti, “zum-bir”, barbozius, “zumbidor”, verifica-se estarmos na presença de onomatopeias, das quais podemos apro-ximar o latim balbus (cf. Boisacq, 144-145), donde em português balbo e bobo (q.v.s.v. balbuciar); [...](José Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 2ª. ed., Lisboa, Confluência, 1967.)

Um paradoxo da modernidade: eliminação de fronteiras, criação de fronteiras.

3UNICAMP/2001 – 1ª FASE ANGLO VESTIBULARES

2. Assim, acreditei por muito tempo que esta aldeia, onde não nasci, fosse o mundo inteiro. Agora que co-nheci realmente o mundo e sei que ele é feito de muitas pequenas aldeias, não sei se estava tão engana-do assim quando era menino. Anda-se por mar e por terra da mesma forma que os rapazes do meu tempoiam às festas nas aldeias vizinhas, e dançavam, bebiam, brigavam e voltavam para casa arrebentados.[...] é necessário ter-se uma aldeia, nem que seja apenas pelo prazer de abandoná-la. Uma aldeia sig-nifica não estar sozinho, saber que nas pessoas, nas plantas, na terra há alguma coisa de nós, que, mesmoquando se não está presente, continua à nossa espera. Mas é difícil ficar sossegado. [...] Essas coisas sósão compreendidas com o tempo, com a experiência. Será possível que, aos quarenta anos e com o tantode mundo que conheci, não saiba ainda o que é minha aldeia? (Cesare Pavese, A lua e as fogueiras, SãoPaulo, Círculo do Livro, p. 10-11.)

3. O movimento do qual eu participo não está vinculado ideologicamente a nada. Nossas ações não sãoespecialmente dirigidas contra os Estados Unidos, mas contra as multinacionais. Entre elas, as que pro-duzem organismos geneticamente modificados, os transgênicos. São empresas americanas, mas tambémeuropéias. Para nós, elas são todas iguais. A forma como a agricultura geneticamente modificada temsido imposta aos países europeus não nos deixa outra alternativa senão reagir. [...] O McDonald’s é osímbolo da uniformização da comida e da cultura americana no mundo. (José Bové, líder camponêsfrancês, em entrevista à ISTOÉ, 30/08/2000, p. 10-11.)

4. — Por que me matais? — Como! Não habitais do outro lado da água? Meu amigo, se morásseis deste lado, eu seria um

assassino, seria injusto matar-vos desta maneira; mas, desde que residis do outro lado, sou um bravo, eisso é justo. (Pascal, Pensamentos, § 293, São Paulo, Abril Cultural, Col. Os Pensadores.)

5. Cem anos passados, aquele destino trágico, que confrontou algozes e vítimas no maior “crime danacionalidade” perpetrado, parece ter-se alastrado, como maldição, para todo o território do país. Oincêndio de Canudos espalhou-se por todo o campo e cidades. O vento levou as cinzas para muito longe,fora de qualquer controle. O grande desencontro de tempos dá-se hoje, simultaneamente, em muitosespaços. Essa a grande herança dos modernos. As muitas figuras em que se multiplicam e dispersam oscondenados de Canudos, em plena era de globalização, continuam a vagar sem nomes, sem terra, semhistória: são quase 60 milhões de pobres, párias e miseráveis esquecidos do Brasil (que é este gigante quedorme, enquanto seus filhos — os mais novos e os mais antigos — agonizam nas ruas e estradas?).(F. Foot Hardman, “Tróia de Taipa, Canudos e os Irracionais”. In Morte e Progresso: a CulturaBrasileira como apagamento de rastros, São Paulo, Unesp, 1998, p. 132.)

6. O apartheid brasileiro pode ir a juízo, imaginem. A associação nacional dos shoppings deve ir àjustiça a fim de impedir pobres de perturbar seu comércio. Na origem da demanda judicial estaria o pas-seio de 130 pobres pelo shopping Rio Sul, organizado por uma tal Frente de Luta Popular. Talvez sejailegal a perturbação do comércio. Na tradição brasileira das famílias proprietárias, pobres nas proximi-dades sempre perturbam. Como dizem os economistas, há um case aí. O apartheid no tribunal! (ViníciusTorres Freire, “Crioulos no limite”, Folha de S. Paulo, 27/08/2000, p. A 2.)

7. Se os senhores fossem todos alienistas e eu lhes apresentasse um caso, provavelmente o diagnósticoque os senhores me dariam do paciente seria a loucura. Eu não concordaria, pois enquanto esse homempuder explicar-se e eu sentir que podemos manter um contato, afirmarei que ele não está louco. Estarlouco é uma concepção extremamente relativa. Em nossa sociedade, por exemplo, quando um negro secomporta de determinada maneira, é comum dizer-se: “Ora, ele não passa de um negro”, mas se um bran-co agir da mesma forma, é bem possível dizerem que ele é louco, pois um branco não pode agir daquelaforma. Pode-se dizer que um homem é diferente, comporta-se de maneira fora do comum, tem idéiasengraçadas, e se por acaso ele vivesse numa cidadezinha da França ou da Suíça, diriam: “É um fulanooriginal, um dos habitantes mais originais desse lugar”. Mas se trouxermos o tal homem para a RuaHarley, ele será considerado doido varrido. Se determinado indivíduo é pintor, todo mundo tende a con-siderá-lo um homem cheio de originalidades, mas coloque-se o mesmo homem como caixa de um bancoe as coisas começarão a acontecer... (C. G. Jung, “As conferências de Tavistock”. In Fundamentos de psi-cologia analítica, Petrópolis, Vozes, 1972, p. 56.)

8. Pergunta: — O e-mail aproxima as pessoas? Resposta: — Isso é ilusão. Marcel Proust escreveu 21 volumes de cartas. Você as lê e percebe que ele asescrevia para manter as pessoas à distância. Ele não queria se aproximar. Com o e-mail acontece amesma coisa. Acho até que ele potencializa esse aspecto. Essa história de comunidade global, com todomundo falando com todo mundo, é lixo ideológico. Em vez de o sujeito estar num bar, conversando comseus amigos, ele passa horas no computador, mandando mensagens eletrônicas para pessoas que, emmuitos casos, nem conhece. Essa é uma forma de solidão. Não houve aproximação. (Walnice NogueiraGalvão, entrevista a Elio Gaspari, Folha de S. Paulo, 27/08/2000, p. A 15.)

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TEMA B

Ser ou não ser, eis a questão. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Situações-limite são uma constante, tendo sido retomadas tanto pela literatura como pela sabedoria popular.

TEMA C

Quando a imaginação do mundo se depara com uma tragédia humana tão dolorosa quanto a deElián, o menino refugiado de 6 anos que sobreviveu a um naufrágio apenas para afundar no atoleiropolítico da Miami cubano-americana, ela instintivamente procura penetrar nos corações e mentes decada um dos personagens do drama. Qualquer pai ou mãe é capaz de imaginar o que o pai de Elián,Juan Miguel González, vem sofrendo, na cidade natal de Elián, Cárdenas — a dor de perder seu filhoprimogênito; logo depois, a alegria de saber de sua sobrevivência milagrosa, com Elián boiando até pertoda Flórida numa câmara de borracha.

A seguir, o abalo de ouvir da boca de um bando de parentes com os quais não tem relação algumae de pessoas que lhe são totalmente estranhas a notícia de que estavam decididos a colocar-se entre ele eseu filho.Talvez também sejamos capazes de compreender um pouco do que se passa na cabeça de Elián,virada do avesso. Trata-se, afinal de contas, de um garoto que viu sua mãe mergulhar no oceano escuroe morrer. Durante um tempo muito longo depois disso, seu pai não esteve a seu lado.

Assim, se Elián agora se agarra às mãos daqueles que têm estado a seu lado em Miami, se os seguraforte, como se segurou à câmara de borracha, para salvar sua vida, quem pode culpá-lo por isso? Se er-gueu uma espécie de felicidade provisória à sua volta, em seu novo quintal na Flórida, devemos compre-ender que é um mecanismo de sobrevivência psicológica, e não um substituto permanente de seu amorao pai. [...]

Elián González virou uma bola de futebol política, e — acredite na palavra de alguém que sabe oque é isso — a primeira conseqüência de virar uma bola de futebol é que você deixa de ser visto como serhumano que vive e sente. Uma bola é um objeto inanimado, feita para ser chutada de um lado a outro.Assim, você se transforma naquilo que Elián se tornou, na boca da maioria das pessoas que discutem oque fazer dele: útil, mas, em essência, uma coisa, apenas.

Você se transforma em prova da mania de litígio de que sofrem os Estados Unidos, ou do orgulho epoder político de uma comunidade imigrante poderosa em nível local. Você vira palco de uma batalhaentre a vontade da turba e o estado de direito, entre o anticomunismo fanático e o antiimperalismo ter-ceiro-mundista.

Você é descrito e redescrito, transformado em slogan e falsificado até quase deixar de existir, para oscombatentes que se enfrentam aos gritos. Transforma-se numa espécie de mito, um recipiente vazio noqual o mundo pode derramar seus preconceitos, seu ódio, seu veneno.

Tudo o que foi dito até agora é mais ou menos compreensível. O difícil é imaginar o que se passa nacabeça dos parentes de Elián em Miami. A família consangüínea desse pobre menino optou por colocarsuas considerações ideológicas de linha dura à frente da necessidade óbvia e urgente que Elián tem deseu pai. Para a maioria de nós, que estamos de fora, a escolha parece ser desnaturada, repreensível.[...]

Quando os parentes de Miami dão a entender que Elián sofrerá “lavagem cerebral” se voltar para ca-sa, isso apenas nos faz pensar que eles são ainda mais bitolados do que os ideólogos que condenam.(Salman Rushdie, “Elián González se transformou numa bola de futebol política”, Folha de S. Paulo,07/04/2000, p. A 3, com pequenas adaptações.)

ATENÇÃO: AO ASSINAR A CARTA, USE INICIAIS APENAS, DE FORMA A NÃO SE IDENTIFICAR.

Suponha que você seja ou o juiz que decidiu pela volta do menino Elián a Cuba, ou um parentede Elián que lutou por sua permanência nos Estados Unidos, ou o pai de Elián, que lutou por sua voltaa casa. Colocando-se no lugar de uma dessas pessoas, e considerando os pontos de vista expressos notexto abaixo, escreva uma carta a Elián, mas para ser lida por ele quinze anos depois desses aconte-cimentos, tentando convencê-lo de que a posição que você assumiu foi a melhor possível.

Pensando nisso, escreva uma narrativa em primeira pessoa, na qual o narrador não seja o pro-tagonista da ação. Considere os aspectos abaixo, que constituirão um roteiro para sua narrativa, aqual pode corresponder a diferentes situações, como um drama familiar, uma questão de ordem psi-cológica, uma aventura, etc.:

• uma situação problemática, de cuja solução depende algo muito importante;• uma tentativa de solução do problema, pela escolha de um dos caminhos possíveis, todos arrisca-

dos: ultrapassar ou não ultrapassar uma fronteira;• uma solução para o problema, mesmo que origine uma nova situação problemática.

5UNICAMP/2001 – 1ª FASE ANGLO VESTIBULARES

REDAÇÃO

Tema A: Dissertação

Ao enfocar as principais transformações vividas pela humanidade nesta virada de século, o temaA da prova de redação explora a questão do maior paradoxo criado por tais mudanças: vive-se nummomento em que limites, regras, fronteiras aparentemente tendem a desaparecer, quando, na verdade,são substituídos por outros.

Abordam-se, para tanto, instâncias diferentes, que deveriam ser percebidas pelo candidato: por umlado, focaliza-se a relação entre nações, a globalização da economia, a queda de hábitos consagradospela convivência humana; por outro, o indivíduo, a sua identidade, o estabelecimento de novos marcospara a sua inserção num mundo que tende à padronização das relações.

Ao dinamismo com que se transforma o mundo e tudo aquilo que isso implica corresponde a expec-tativa de uma crescente aproximação entre os homens, com o estabelecimento de um comportamentomais padronizado. No sentido oposto a esse movimento, seja pela resistência que exercem as desigual-dades sociais, sempre remanescentes de qualquer processo mundial, seja pela inerente condição dohomem de se mostrar sujeito de seus atos, observa-se, também, a fundação de pilares contrários a ondaglobalizada, o que garante a sobrevivência do indivíduo em meio ao processo avassalador que o toca.

Deve-se levar em conta, ainda, que o discurso sobre a globalização não a supõe como causadora dedesigualdades, não a considera contraditória em si mesma, geradora de uma padronização de valoresque, oriundos da preponderância econômica, impõem-se verticalmente, dos “impérios” do centro à peri-feria do terceiro mundo. Eis a contradição: globaliza-se tudo, e ao mesmo tempo não se globaliza nada.

A Banca da UNICAMP fornece uma coletânea de textos relacionada ao tema, da qual o candidatopode extrair algumas informações para construir sua argumentação.

Da leitura desses textos, depreendem-se as seguintes idéias:

1. O texto 1, argumento de consenso, ocupa-se apenas em definir o termo bárbaro, que é traduzi-do como “estrangeiro”, “incorreto”, “grosseiro”, “não civilizado” e “inculto”, dentre outros. Comouma espécie de preâmbulo aos demais textos da coletânea, essas definições levam o candidatoa considerar as possíveis conotações assumidas pelo termo por diferentes grupos sociais.

2. Construído em primeira pessoa, o texto 2 apresenta reflexões do indivíduo sobre a realidade queo cerca, levando-o a duas constatações principais: a) a aldeia que o narrador conhecia era a repre-sentação integral do mundo; b) o mundo, de fato, não era uma única aldeia, mas a reunião demuitas aldeias, havendo a possibilidade de conhecê-las sem que houvesse fronteiras que as sepa-rassem. Mesmo diante dessas considerações, o narrador não consegue resolver seu principalquestionamento: saber a que aldeia pertence, dentre as muitas que conhece.

3. O líder camponês José Bové critica a globalização afirmando que, atualmente, ela representa aimposição de um modelo preestabelecido — no caso, a cultura americana, exemplificada notexto pelo McDonald’s.

4. Neste texto, a idéia central reside na questão da diferença. O mundo não é um só, as aldeias sãodiferentes, portanto, de lugar para lugar, variam os valores e as concepções de mundo. Mataralguém da própria aldeia significa uma injustiça, um assassinato; matar alguém de outra aldeiapode ser considerado um ato de bravura e de heroísmo.

5. Valendo-se do exemplo histórico de Canudos, o texto revela que, passados cem anos do conflito,“em plena era da globalização”, o país ainda apresenta um número imenso de excluídos.

6. A partir de um fato ocorrido neste ano, a entrada — “inaceitável” — de moradores de favelas noshopping Rio Sul, localizado na região nobre da Cidade Maravilhosa, verifica-se que o apartheidsobreviveu ao tempo. O direito de “ir” e “vir”, garantido pela Constituição, não se aplica aos mar-ginalizados do país.

7. Percebe-se que as possibilidades de ação de um ser são limitadas por suas condições físicas,econômicas e sociais. Uma forma de manifestação qualquer ou mesmo a adoção de um posi-cionamento diante da realidade pode ser considerada uma “loucura”, “inaceitável” ou “original”,dependendo do cargo que se exerce, do local que se habita, da raça a que se pertence.

8. Em entrevista a Elio Gaspari, Walnice Nogueira Galvão afirma que não vê o e-mail como umfator de aproximação das pessoas, uma vez que as relações humanas dependem de um contatodireto, sem a mediação de quaisquer fronteiras, sejam elas expressas através de computadoresou cartas.

6 UNICAMP/2001 – 1ª FASE ANGLO VESTIBULARES

Tema B: Narração

Para a análise do tema narrativo proposto, levaremos em conta a publicação A Redação noVestibular da UNICAMP quanto ao significado dos elementos constitutivos da estrutura narrativa:

• Enredo: “... resultado da atuação de personagens em determinados cenários durante certosperíodos de tempo...”

O candidato deveria perceber que parte de um fato narrativo: há uma situação problemática queexige ação de personagens para que “algo importante” tome corpo e seja determinante de um desfecho.

O modo como as ações narrativas se encadearão terá como fundamento básico a evidência de queexistem alguns caminhos possíveis, porém todos envolvem alto risco.

Por fim, o desfecho narrativo vincula-se a um aspecto desta nossa modernidade: o imediatismo.Isto é, vários fatores estão a exigir um leque de ações humanas que buscam solucionar questões pre-sentes, mesmo que as conseqüências futuras sejam nefastas.

• Narrador: “… conta a história em um texto narrativo (...), é através dele que tomamos conhe-cimento do enredo, das características das personagens, da descrição dos cenários, etc. (...), sefor em primeira pessoa depende de sua atuação dentro do enredo.”

Desta vez, a Banca fixou um narrador em primeira pessoa, mas que não protagoniza as ações. Issosignifica que o candidato poderia assumir como narrador de sua história uma personagem que, porrelatar sem compromisso, opinaria livremente sobre a matéria narrada, faria digressões ou mesmo seeximiria de detalhamentos, uma vez que sua posição assim o permite.

• Personagens: “Você certamente já imaginou fisicamente algumas delas (...), como represen-tações de pessoas (...), sua caracterização é bem mais complexa, devendo levar em conta tam-bém aspectos psicológicos de tipos humanos.(...) Ou seja, como acontece com as pessoas, o com-portamento delas é em grande parte determinado por tais características psicológicas.”

O candidato deveria levar em conta que a Banca parte do pressuposto de que as ações das perso-nagens deverão desenvolver-se numa situação-limite, portanto que tem a instabilidade como aspectomais evidente. Nesse sentido, toma vulto a configuração psicológica humana: se houver estabilidadeemocional, pode-se pensar em soluções efetivas. Caso não haja, as intenções podem perder-se num marde tentativas de solução, ou mesmo provocar conseqüências desastrosas.

• Cenário: “... o cenário não é apenas um palco onde as ações se desenrolam, mas deve integrar-se aos demais elementos da narrativa.”

No presente tema, o cenário tem função primordial e, em termos ficcionais, permite desdobramen-tos dos mais expressivos. O candidato poderia trabalhar com o conceito de “fronteira” na sua acepçãodenotativa — região que divide territórios — ou nas mais diversas significações conotativas, todas elasligadas ao contexto das “situações-limite”.

• Tempo: “... atenção para o fato de que acontecimentos e ações têm, necessariamente, umaduração.”

Aqui também a proposta permite ao candidato trabalhar com inventividade com este elementochamado tempo narrativo. Em termos de ações, se há uma situação problemática de momento, signifi-ca que há algum elemento causador passado; soluções racionais, responsáveis ou imediatistas, proje-tam uma configuração futura dentro do universo narrativo.

Ainda quanto a esse tópico, o foco narrativo também permite soluções inventivas. Resumidamentepoderíamos dizer que, já que o narrador não é protagonista das ações, seu tempo de vida pode ser um,e o tempo da narrativa, outro.

Tema C: Carta

No exame deste ano, na proposta de discurso argumentativo em forma de carta, notam-se duassituações incomuns:

1. O tema é de amplitude internacional (normalmente se circunscreve ao contexto Brasil);2. Há três possibilidades de escolha do remetente (normalmente há um único remetente que pode

escolher para qual de dois destinatários escrever).

O traço principal da proposta é que a carta deve ser escrita para ser lida somente decorridos quinzeanos do acontecimento. Supõe-se que encontrará então um leitor já amadurecido, capaz de refletir sobreas verdadeiras motivações do remetente. Assim, o emissor — seja ele o juiz responsável pelo caso, sejaum parente do garoto Elián residente nos Estados Unidos, ou seu próprio pai —, embora escreva aindano calor dos acontecimentos, procurará com certeza justificar a atitude que assumiu e analisar o episó-dio buscando desmontar seus componentes para denunciar tudo aquilo que lhe pareça ter sido pura

7UNICAMP/2001 – 1ª FASE ANGLO VESTIBULARES

exploração política e pessoal e ressaltar o que houve de relevante para a vida feliz do garoto. O objeti-vo é convencer Elián do acerto e da conveniência da atitude tomada em relação ao caso.

Sendo assim, haveria três caminhos a seguir:

a) O juiz como remetente É possível que ele evoque a manutenção do pátrio poder como o mais prestigioso dos argumen-tos para embasar sua decisão de devolver Elián a Cuba a fim de viver com seu pai, que, agoracasado novamente, tem um segundo filho legítimo e um núcleo familiar estável.

b) Um parente de Elián como remetente O mais provável é que esse parente baseie a justificativa de sua atitude no desejo da mãe deElián de fixar residência em Miami, onde supostamente teria melhores condições de vida, semas limitações decorrentes do regime político cubano.

c) O pai de Elián como remetentePoderá valorizar os laços sangüíneos que o prendem inquestionavelmente ao filho, além da de-terminação de viver numa terra em que se fincam suas raízes pessoais, familiares e culturais.

É importante ressaltar que a escolha do remetente implica, além de uma adequada linha argu-mentativa, um tom lingüístico apropriado e verossímil.

8 UNICAMP/2001 – 1ª FASE ANGLO VESTIBULARES

QuestõesEm 1566, Copérnico anunciava, em sua obra Sobre as revoluções das órbitas celestes:“[...] no primeiro livro descrevo todas as posições dos astros, assim como os movimentos que atribuo àTerra, a fim de que este livro narre a constituição geral do Universo”. (Adaptado de José Gaos, História denuestra idea del mundo. Fondo de Cultura Económica, 1992, p. 146.)

a) Em que a obra de Copérnico significou uma revolução na forma como se via o mundo comparada àda Idade Média?

b) Como o telescópio, inventado por Galileu em 1610, ajudava a confirmar as teses de Copérnico?c) Relacione o estudo da astronomia com as grandes navegações desse período.

a) Com sua obra, Copérnico rompeu com a visão teocêntrica cristã predominante na Europa Ocidentalmedieval, estruturada no geocentrismo, ao conceber o heliocentrismo.

b) A invenção do telescópio permitiu observações celestes que confirmaram as teses de Copérnico.c) O estudo da astronomia estimulou as grandes navegações ao oferecer a possibilidade do desenvolvi-

mento de técnicas de orientação em alto-mar. As próprias navegações, por sua vez, iriam exigir umdesenvolvimento ainda maior da astronomia.

Uma jogadora de vôlei do Brasil nas Olimpíadas de Sidney fez esta declaração à imprensa: “Agora va-mos pegar as cubanas, aquelas negas, e vamos ganhar delas” (O Estado de S. Paulo, 27/09/2000).Aindasegundo o jornal: “A coordenadora do Programa dos Direitos Humanos do Instituto da Mulher Negraclassifica as palavras da atacante como preconceituosas e alerta as autoridades para erradicarem essetipo de comportamento, combatendo o racismo”.

a) Compare os processos de colonização ocorridos em Cuba e no Brasil, apontando suas semelhanças.b) Qual a atividade econômica predominante em Cuba e no Nordeste brasileiro durante a colonização e

suas relações com o comércio internacional?c) Qual a condição social dos negros no Brasil depois do fim da escravidão?

a) A aplicação da política mercantilista pelas Coroas ibéricas no continente americano deu origem àgrande empresa agroexportadora de gêneros tropicais. O sistema produtivo, baseado no binômio lati-fúndio-escravidão, levou à ocupação dos territórios brasileiro e cubano e ao genocídio das populaçõestribais.

b) A principal atividade econômica era a exploração da cana-de-açúcar, que estava vinculada ao pactocolonial monopolista, o que permitiu o acúmulo de capitais nas mãos da burguesia mercantil européia.É bom lembrar que a atividade açucareira predominou em Cuba somente a partir do século XIX. Va-le lembrar que nesse período tal atividade esteve ligada a capitais norte-americanos, e não europeus.

c) Apesar de a Lei Áurea (13/5/1888) decretar a extinção da escravidão no país, em nenhum momentoo pós-1888 representou para a maioria dos negros brasileiros a integral incorporação à sociedade,tampouco fez deles usufruidores das conquistas dos demais cidadãos.Dessa forma, a condição social do negro — liberto, porém discriminado — contribuiu para a atualmarginalização na qual se encontra grande parte da população negra brasileira.

Fronteira é não apenas a divisão jurídica e adminis-trativa entre dois territórios, mas é também delimi-tação do lugar de cada um na sociedade. A fotogra-fia abaixo, de 1870, mostra um proprietário de ter-ras e cinco outros homens, negros e mulatos.a) Quais são as evidências, no registro fotográfico,

da fronteira existente entre o proprietário de ter-ras e os outros homens?

b) Quais são as relações de trabalho dominantesnesse período no Brasil?

c) Caracterize uma região brasileira representativadessas relações de trabalho.

Fonte: Militão Augusto de Azevedo, 1870.

QUESTÃO 01

QUESTÃO 02

QUESTÃO 03

RESOLUÇÃO:

RESOLUÇÃO:

9UNICAMP/2001 – 1ª FASE ANGLO VESTIBULARES

a) As fronteiras sociais referidas na questão evidenciam-se no vestuário, nas diferenças raciais e no po-sicionamento dos personagens retratados. As roupas do proprietário de terras, branco, que é o únicohomem calçado da foto, demonstram sua condição de membro da classe dominante aristocrática,contraposta à dos trabalhadores, negros e mestiços, subordinados pela escravidão ou pela parceriae a semi-servidão. Ressalta-se ainda que o senhor se coloca à frente dos demais, numa postura decomando típica da elite detentora do poder social.

b) Ao contrário do que normalmente se pensa, na década de 1870 as relações de trabalho escravistasjá não eram predominantes no Brasil — como mostram estes dados do censo de 1872:População livre . . . . . . . . . . . . . 8 601 000População escrava . . . . . . . . . . 1 510 000População total . . . . . . . . . . . . 10 111 000% de escravos sobre o total . . . . . . . . 15%

Nesse período, coexistiam no país o sistema de trabalho livre (seja assalariado, seja semi-servil) e otrabalho escravo. Este, no entanto, era ainda predominante em algumas regiões.

c) O Sudeste brasileiro, no desenrolar do século XIX, foi caracterizado pelo desenvolvimento da ativi-dade cafeeira. Essa região, como outras em outros momentos de nossa História, foi marcada pelo lati-fúndio monocultor, tendo sua produção exportada para o mercado europeu e, neste caso específico,também para o norte-americano. Em relação à mão-de-obra dominante, em 1870 os escravos aindaeram a maioria nos cafezais.Já os principais centros urbanos, principalmente a cidade do Rio de Janeiro, caracterizavam-se pelopredomínio da mão-de-obra livre.

O mapa abaixo representa uma proposta de divisão econômica do espaço mundial.

a) Caracterize os dois blocos de países de acordo com a divisão proposta.b) Qualquer proposta de divisão tem suas deficiências e limitações. O mundo é demasiado complexo

para ser simplesmente dividido, em termos econômicos, entre Norte e Sul. Escolha um país daEuropa ou da Ásia que tenha características diferentes das do bloco em que está colocado e jus-tifique sua opção.

a) A questão é baseada em um mapa que passou a ser muito utilizado nos últimos anos (após o fim daOrdem da Guerra Fria), mostrando o mundo dividido em dois blocos: o Norte, formado pelos paísesricos ou desenvolvidos, e o Sul, composto pelas nações pobres ou subdesenvolvidas. Essa propostanão obedece a um critério de posição geográfica, pois, cartograficamente, a divisão em hemisférios,feita pela linha do Equador, não é levada em conta. O bloco Norte caracteriza-se pela predominância de países altamente industrializados, com elevadaurbanização, alta renda e boas condições de vida da população. Já o bloco Sul seria composto pornações mais pobres, em sua maior parte não-industrializadas, com baixa urbanização e base eco-nômica agromineradora. Alguns países desse grupo apresentam características um pouco diferen-tes, pois têm industrialização crescente (embora dependente dos interesses internacionais), explosãoda urbanização (sempre acompanhada de graves distorções sociais) e padrão socioeconômico umpouco superior ao do grupo de países subdesenvolvidos tradicionais.

b) Dentre os inúmeros exemplos que comprovariam as deficiências e as limitações dessa proposta dedivisão do mundo, escolhemos os seguintes:• AAlbânia é o país mais pobre do continente europeu, com uma base econômica quase totalmente

agrária, baixa urbanização e péssimas condições de vida.• A Coréia do Sul, país asiático, inclui-se entre os países do bloco Sul, mas apresenta elevada indus-

trialização, alta urbanização e população com bom padrão socioeconômico.

10 UNICAMP/2001 – 1ª FASE ANGLO VESTIBULARES

RESOLUÇÃO:

RESOLUÇÃO:

QUESTÃO 04

O Projeto Auger (pronuncia-se ogê) é uma iniciativa científica internacional, com importante partici-pação de pesquisadores brasileiros, que tem como objetivo aumentar nosso conhecimento sobre os raioscósmicos. Raios cósmicos são partículas subatômicas que, vindas de todas as direções e provavelmenteaté dos confins do universo, bombardeiam constantemente a Terra. O gráfico abaixo mostra o fluxo(número de partículas por m2 por segundo) que atinge a superfície terrestre em função da energia dapartícula, expressa em eV (1 eV = 1,6 × 10–19J). Considere a área da superfície terrestre 5,0 × 1014 m2.

a) De acordo com o gráfico, para uma energia de 1016 eV, o fluxo F vale:

Para um intervalo de tempo de um dia (86400s) e considerando-se a área da superfície ter-restre 5 × 1014m2, tem-se:

b) Chamando-se de ER a energia do raio cósmico citado:

ER = 3 ⋅ 1020 ⋅ 1,6 ⋅ 10–19 = 48JA energia cinética EB de uma bola de tênis de massa 0,06kg com velocidade de 144km/h(40m/s):

Comparando-se as duas:

O tamanho dos componentes eletrônicos vem diminuindode forma impressionante. Hoje podemos imaginar com-ponentes formados por apenas alguns átomos. Seria estaa última fronteira? A imagem a seguir mostra doispedaços microscópicos de ouro (manchas escuras) conec-tados por um fio formado somente por três átomos deouro. Esta imagem, obtida recentemente em um microscó-pio eletrônico por pesquisadores do Laboratório Nacionalde Luz Síncrotron, localizado em Campinas, demonstraque é possível atingir essa fronteira.

ER = 1EB

= 48J0,06 × 402

2=

mv2

2EB =

nº partículas = 4,32 × 1012∴nº partículas

5 ⋅ 1014 ⋅ 8640010–7 =

nº partículas

área ⋅ ∆tF =

10–7 partículas

m2 ⋅ sF =

a) Quantas partículas com energia de 1016 eV atingema Terra ao longo de um dia?

b) O raio cósmico mais energético já detectado atingiu aTerra em 1991. Sua energia era 3,0 × 1020 eV. Compa-re essa energia com a energia cinética de uma bolade tênis de massa 0,060kg num saque a 144km/h.

10–5

10–7

10–9

10–11

10–13

10–15

1014 1015 1016 1017 1018 1019 1020

Energia (eV)

Flu

xo (

par

tícu

las

m–2

s–1 )

11UNICAMP/2001 – 1ª FASE ANGLO VESTIBULARES

QUESTÃO 05

RESOLUÇÃO:

QUESTÃO 06

a) Calcule a resistência R desse fio microscópico, considerando-o como um cilindro com três diâmetros atô-micos de comprimento. Lembre-se que, na Física tradicional, a resistência de um cilindro é dada por

R = ρ onde ρ é a resistividade, L é o comprimento do cilindro e A é a área da sua secção trans-

versal. Considere a resistividade do ouro ρ = 1,6 × 10–8 Ωm, o raio de um átomo de ouro 2,0 × 10–10 me aproxime π ≅ 3,2.

b) Quando se aplica uma diferença de potencial de 0,1V nas extremidades desse fio microscópico, mede-se uma corrente de 8,0 × 10–6 A. Determine o valor experimental da resistência do fio. A discrepânciaentre esse valor e aquele determinado anteriormente deve-se ao fato de que as leis da Física do mundomacroscópico precisam ser modificadas para descrever corretamente objetos de dimensão atômica.

a) De acordo com o modelo enunciado, representamos abaixo os três átomos de ouro.

Calculando-se a resistência do condutor filiforme:

∴ R = 150Ω

b) Utilizando-se a definição de resistência elétrica:

∴ Rexperimental = 12.500Ω

As fronteiras entre real e imaginário vão se tornando cada vez mais sutis à medida que melhoramosnosso conhecimento e desenvolvemos nossa capacidade de abstração. Átomos e moléculas: sem enxergá-los podemos imaginá-los. Qual será o tamanho dos átomos e das moléculas? Quantos átomos ou molécu-las há numa certa quantidade de matéria? Parece que essas perguntas só podem ser respondidas com ouso de aparelhos sofisticados. Porém, um experimento simples pode nos dar respostas adequadas a essasquestões. Numa bandeja com água espalha-se sobre a superfície um pó muito fino que fica boiando. Aseguir, no centro da bandeja adiciona-se 1,6 × 10–5 cm3 de um ácido orgânico (densidade = 0,9 g/cm3),insolúvel em água. Com a adição do ácido, forma-se imediatamente um círculo de 200 cm2 de área, cons-tituído por uma única camada de moléculas de ácido, arranjadas lado a lado, conforme esquematiza afigura abaixo. Imagine que nessa camada cada molécula do ácido está de tal modo organizada queocupa o espaço delimitado por um cubo. Considere esses dados para resolver as questões a seguir.

a) Qual o volume ocupado por uma molécula de ácido, em cm3? b) Qual o número de moléculas contidas em 282 g do ácido?

a) Cada molécula ocupa o volume de um cubo. O volume total das moléculas deve corresponderao volume total do ácido.Vácido = 200cm2 × h

h = altura da camada = aresta do cuboVácido = 1,6 × 10–5cm3 = 200cm2 × h

Vmolécula = (8 × 10–8cm)3 = 512 × 10–24cm3

= 8 × 10–8cm1,6 × 10–5cm3

200cm2h =

Adiçãode ácido

RUi

= =⋅10

8 10

1

6

RLA

= ⋅ = ⋅ ⋅ ⋅⋅

ρ 1 6 1012 106 4 10

810

20,,

––

L

L = 6 ⋅ r = 6 ⋅ 2 ⋅ 10–10 = 12 ⋅ 10–10m

A = πr2 = 3,2 ⋅ (2 ⋅ 10–10)2 = 6,4 ⋅ 10–20m2

*LA

12 UNICAMP/2001 – 1ª FASE ANGLO VESTIBULARES

RESOLUÇÃO:

QUESTÃO 07

RESOLUÇÃO:

b) Volume de 282g de ácido

1 molécula ——— 512 × 10–24cm3

N ——— 313cm3

Entre o doping e o desempenho do atleta, quais são os limites? Um certo “β-bloqueador”, usado no trata-mento de asma, é uma das substâncias proibidas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), já queprovoca um aumento de massa muscular e diminuição de gordura. A concentração dessa substância noorganismo pode ser monitorada através da análise de amostras de urina coletadas ao longo do tempode uma investigação. O gráfico mostra a quantidade do “β-bloqueador” contida em amostras da urinade um indivíduo, coletadas periodicamente durante 90 horas após a ingestão da substância. Este com-portamento é válido também para além das 90 horas. Na escala de quantidade, o valor 100 deve serentendido como sendo a quantidade observada num tempo inicial considerado arbitrariamente zero.

a) Depois de quanto tempo a quantidade eliminada corresponderá a do valor inicial, ou seja, duasmeias vidas de residência da substância no organismo?

b) Suponha que o doping para esta substância seja considerado positivo para valores acima de1,0 × 10–6 g/mL de urina (1 micrograma por mililitro) no momento da competição. Numa amostra co-letada 120 horas após a competição, foram encontrados 15 microgramas de “β-bloqueador” em 150 mLde urina de um atleta. Se o teste fosse realizado em amostra coletada logo após a competição, o resul-tado seria positivo ou negativo? Justifique.

100

80

60

40

20

0

Qu

anti

dad

e

Tempo em horas0 20 40 60 80

25

14

100

80

60

40

20

0

Qu

anti

dad

e

Tempo em horas0 20 40 60 80

= 0,61 × 1024 = 6,1 × 1023 moléculas313

512 × 10–24N =

= 313cm3282g

0,9g (cm3)–1

m

dV =

13UNICAMP/2001 – 1ª FASE ANGLO VESTIBULARES

QUESTÃO 08

a) O gráfico mostra que, para uma quantidadeeliminada igual a 1/4 ou 25% da inicial, o tempoé igual a 60 horas.

b) Após 120 h, temos:

m0 30h→ 30h→ 30h→ 30h→

↑ ↓

240µg 120µg 60µg 30µg 15µg

240µg ——— 150 mL

Conclusão: o resultado seria positivo.

c

gmL

g mL g mL= =240150

1 6 1 0µ µ µ, / , /

m016

m08

m04

m02

RESOLUÇÃO:

Desde 1995 alguns estados norte-americanos estão excluindo o ensino da teoria de evolução biológicados seus currículos escolares alegando, entre outras razões, que ninguém estava presente quando a vidasurgiu na Terra. Alguns cientistas defendem a teoria da evolução argumentando que, se é necessário “verpara crer”, então não poderemos acreditar na existência dos átomos, pois estes também não podem servistos.(Adaptado da ISTOÉ, 25/08/1999.)

a) Apresente três evidências que apóiam a teoria da evolução biológica.b) A mutação gênica é considerada um dos principais fatores evolutivos. Por quê?

a) Poderiam ser citadas três das seguintes evidências:• existência de fósseis;• semelhanças moleculares entre espécies;• existência de estruturas vestigiais;• semelhanças anatômicas;• semelhanças no desenvolvimento embrionário.

b) A mutação gênica, por ser fonte de novos genes, contribui para a existência de variabilidadedentro dos grupos biológicos, sobre a qual age a seleção natural.

Existem mecanismos que normalmente impedem a troca de genes entre espécies distintas. Nos últimosanos, porém, as fronteiras entre as espécies vêm sendo rompidas com a criação de organismos transgê-nicos.A introdução de soja e de outras plantas transgênicas tem gerado muita polêmica, pois, apesar de seusinúmeros benefícios, não há ainda como avaliar os riscos que os organismos transgênicos apresentam.a) Cite dois mecanismos que impedem a troca de genes entre espécies distintas.b) Defina um organismo transgênico.c) Indique um benefício decorrente da utilização de organismos transgênicos e um possível risco para o

ambiente ou para a saúde humana.

a) Poderiam ser citados dois dos mecanismos abaixo:• incompatibilidade na anatomia dos órgãos genitais;• ausência de homologia entre os cromossomos;• diferenças nos padrões de comportamento que precedem o acasalamento;• ciclos reprodutivos em épocas diferentes do ano;• mecanismos, em vegetais, que impedem a fertilização;• inviabilidade do zigoto;• infertilidade do híbrido interespecífico.

b) Organismos transgênicos são aqueles que receberam um ou mais genes de outras espécies,por meio de técnicas de manipulação genética.

c) Possíveis benefícios:• produção de vegetais resistentes a pragas, a herbicidas, à seca; em conseqüência, incre-

mento da produção de alimentos;• obtenção de organismos produtores de substâncias importantes para o homem, como, por

exemplo, hormônios;• produção de vegetais “enriquecidos” por substâncias, como vitaminas, por exemplo.

Possíveis riscos:• transmissão acidental de genes indesejáveis para outras espécies;• eventual diminuição da biodiversidade, por meio da homogeneização de culturas;• alergias decorrentes de reações a novas substâncias presentes no alimento;• possível aumento da resistência de bactérias patogênicas a antibióticos.

A tabela abaixo fornece as áreas, em hectares, ocupadas com transgênicos em alguns países do mundo,nos anos de 1997 e 1998:

Fonte: O Estado de S. Paulo, 18/07/1999.

14 UNICAMP/2001 – 1ª FASE ANGLO VESTIBULARES

QUESTÃO 09

QUESTÃO 10

QUESTÃO 11

RESOLUÇÃO:

RESOLUÇÃO:

PAÍS 1997 1998

Estados Unidos 8,1 × 106 20,5 × 106

Argentina 1,4 × 106 4,3 × 106

Canadá 1,3 × 106 2,8 × 106

Outros países 2,0 × 105 3,4 × 105

Considerando apenas o que consta nessa tabela, pergunta-se:a) Qual era a área total, em hectares, ocupada com transgênicos em 1997? b) Qual foi o crescimento, em porcentagem, da área total ocupada com transgênicos de 1997 para

1998?

a) A1997 = (8,1 + 1,4 + 1,3 + 0,2) × 106 = 11,0 × 106

Resposta: 11,0 × 106

b) A1998 = (20,5 + 4,3 + 2,8 + 0,34) × 106 = 27,94 × 106

Logo,

Portanto, o crescimento em porcentagem foi de 154%.Resposta: 154%

Um terreno tem a forma de um trapézio retângulo ABCD, conforme mostra a figura, e as seguintesdimensões: AB

—= 25m, BC

—= 24m, CD

—= 15m.

a) Se cada metro quadrado desse terreno vale R$50,00, qual é o valor total do terreno? b) Divida o trapézio ABCD em quatro partes de mesma área, por meio de três segmentos paralelos ao

lado BC. Faça uma figura para ilustrar sua resposta, indicando nela as dimensões das divisões nolado AB.

a) Atrapézio = Atriângulo + Aretângulo

Atrapézio =

Atrapézio = 120 + 360 = 480Valor total do terreno: 480 ⋅ 50,00 = 24000,00Resposta: R$ 24000,00

b) No item (a), observamos que a área do triângulo é 1/4 da área do trazézio, e assim a figura pedi-da é:

Resposta:

24

510 5 5

B

D C

A

15

24

510 5 5

10 242

15 24⋅ + ⋅

B

D C

AE 1510

15

24

25

B

D C

A

AA

1998

1997

27 9411 0

2 54= =,,

,

15UNICAMP/2001 – 1ª FASE ANGLO VESTIBULARES

RESOLUÇÃO:

RESOLUÇÃO:

QUESTÃO 12

ComentáriosFiel a seu modelo, a UNICAMP versão 2001 explora, em três temas específicos e em algumas ques-

tões, o assunto globalização nas suas variadas manifestações/relativização da autonomia nacional esuas conseqüências para as sociedades em geral e para o homem em particular.

As coletâneas para os temas A e C oferecem várias possibilidades de abordagem, com textos apro-priados, cujas idéias podem ser transformadas em argumentos convincentes para qualquer posiciona-mento, sem cercear a contribuição pessoal de cada candidato. Com adequação, a trama criada pelos tex-tos serve de parâmetro para o debate em que os temas se inserem.

As propostas de narração e de argumentação conduzem o candidato a criar a “máscara” de quemescreve (temas B e C) e do interlocutor (tema C) com sutileza, como deve ser um exercício de escritaprazeroso.

Assunto instigante, pertinente e atual, instruções claras, coletânea bem montada, opções de tiposde texto, encaminhamento inteligente e sensível das propostas são expressões concretas de um planomaior, de um projeto de ensino de língua: valorização da leitura e da escrita como atividades neces-sárias à consolidação do pacto de cidadania.

A Unicamp manteve suas perspectivas de enfatizar a abordagem de questões sociais relevan-tes na evolução histórica nacional e a preocupação com a interdisciplinaridade — componentes ade-quados à avaliação de uma visão crítica dos candidatos. Observa-se a necessidade de concessõesnesta avaliação, considerando-se a amplitude de alguns temas exigidos e os limites de tempo e es-paço para a resolução das questões.

Considerando-se a dificuldade de fazer uma avaliação utilizando uma questão única, a bancaexaminadora pode ser parabenizada. Abrangente e tratando de tema fundamental para o entendi-mento do mundo atual, a questão 4 permite avaliar conhecimentos essenciais requeridos peloextenso programa de Geografia.

Duas questões inteligentes e bem formuladas verificam se o candidato domina os códigos uti-lizados na expressão das leis das ciências físicas.

Seriam ótimas questões para uma prova de 2ª fase.

As duas questões de Biologia propostas pela Unicamp estão de acordo com o esperado, já queabordam assuntos relacionados a temas bastante atuais.

As duas questões foram bem elaboradas, avaliando o raciocínio lógico dos candidatos. As per-guntas apresentadas nos itens de cada questão foram interligadas, destacando-se o fato de a bancaexaminadora ter se utilizado da contextualização e da interdisciplinaridade, nos enunciados.

Redação

História

Geografia

Física

Química

Biologia

Matemática

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