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O ALZHEIMER SOBRE O OLHAR DA NEUROPSICOLOGIA E NEUROLOGIA. ¹Edilaine Bernardes DE SÁ RESUMO O presente trabalho foi realizado para verificar se as avaliações neuropsicológicas e neurológicas são excludentes diante do diagnóstico da demência de Alzheimer (DA). Demência que atua de maneira progressiva e irreversível provocando declínio em certas funções intelectuais, podendo afetar diretamente a vida laboral e social do indivíduo. É atualmente a causa mais comum de demência no mundo. Ao perceber os primeiros sinais desta doença muitas pessoas procuram ajuda médica que solicita uma bateria de exames, dentre eles as avaliações neuropsicológica e neurológica. Mas a final qual a importância destas avaliações para o diagnóstico de DA? Muitas pessoas se questionam se é necessário realizar ambas as avaliações. Muitas vezes devido ao custo optam por realizar uma determinada avaliação, ou por achar desnecessário a realização das duas avaliações. Ao término desta pesquisa se pode concluir que ambas tem um papel relevante diante do diagnóstico de Alzheimer, sendo complementares seus objetos de investigação. A avaliação neuropsicológica avalia aspectos cognitivos enquanto que a avaliação neurológica investiga áreas cerebrais comprometidas ou preservadas. Palavras chave: Alzheimer, Neuropsicologia, Neurologia, Avaliação. ABSTRACT The present project was made to check if neuropsychological and neurological assessments are excluding faced with diagnosis of Alzheimer’s disease (AD). Such type of dementia acts in progressive and irreversible condition causing decline in certain intellectual functions, it may affect the working and social life of the person. At present, it is the most common cause of dementia in the world. When noticed the first signs of 1

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O ALZHEIMER SOBRE O OLHAR DA NEUROPSICOLOGIA E

NEUROLOGIA.

¹Edilaine Bernardes DE SÁ

RESUMO

O presente trabalho foi realizado para verificar se as avaliações

neuropsicológicas e neurológicas são excludentes diante do diagnóstico da demência de

Alzheimer (DA). Demência que atua de maneira progressiva e irreversível provocando

declínio em certas funções intelectuais, podendo afetar diretamente a vida laboral e

social do indivíduo. É atualmente a causa mais comum de demência no mundo. Ao

perceber os primeiros sinais desta doença muitas pessoas procuram ajuda médica que

solicita uma bateria de exames, dentre eles as avaliações neuropsicológica e

neurológica. Mas a final qual a importância destas avaliações para o diagnóstico de DA?

Muitas pessoas se questionam se é necessário realizar ambas as avaliações. Muitas

vezes devido ao custo optam por realizar uma determinada avaliação, ou por achar

desnecessário a realização das duas avaliações. Ao término desta pesquisa se pode

concluir que ambas tem um papel relevante diante do diagnóstico de Alzheimer, sendo

complementares seus objetos de investigação. A avaliação neuropsicológica avalia

aspectos cognitivos enquanto que a avaliação neurológica investiga áreas cerebrais

comprometidas ou preservadas.

Palavras chave: Alzheimer, Neuropsicologia, Neurologia, Avaliação.

ABSTRACT

The present project was made to check if neuropsychological and neurological

assessments are excluding faced with diagnosis of Alzheimer’s disease (AD). Such type

of dementia acts in progressive and irreversible condition causing decline in certain

intellectual functions, it may affect the working and social life of the person. At present,

it is the most common cause of dementia in the world. When noticed the first signs of

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this disease, many people seek medical attention which request a battery of medical test,

neuropsychological and neurological assessments are among them. But, what is the

advantage about these medical exams to the AD diagnosis? Many people ask

themselves if it is necessary to undergo both exams. Many times due to the cost they

choose to undergo only one of them or by thinking that undergoing both are

unnecessary. At the end of this research it is able to realize that both medical exams are

important for Alzheimer’s diagnosis, being complementary its investigation objectives.

Neuropsychological exam evaluates cognitive aspects; meanwhile neurological exam

evaluates compromised or preserved cerebral areas.

Key words: Alzheimer, Neuropsychology, Neurology.

¹ Discente do curso de Psicologia da Faculdade de Ensino Superior– FASIPE. Sinop-

MT- Brasil. E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

A doença de Alzheimer foi diagnosticada pela primeira vez em 1906 pelo Dr.

Alois Alzheimer e desde então apresenta grande incidência na população. É atualmente

a causa mais comum de demência no mundo. Segundo a OMS pelo menos 35,6 milhões

de pessoas no mundo sofrem com problemas decorrentes de demência mental e a

estimativa é que até 2030 esse número aumente para 65,7 milhões.

Com o desenvolvimento desta demência podemos observar no indivíduo um

progressivo e irreversível declínio em certas funções intelectuais, podendo afetar

diretamente sua vida social. Muitas pessoas que buscam atendimento médico saem da

consulta com várias indicações de exames para serem feitos e nem sempre estas

solicitações são seguidas à risca. No caso específico da Doença de Alzheimer dois

exames são solicitados e por não perceber a real importância desses exames, ou por

parecerem desnecessários, perda de tempo e dinheiro, os pacientes acabam por escolher

um ou outro. O presente trabalho apresenta as diferenças nas avaliações

neuropsicológicas e neurológicas da doença de Alzheimer e como são realizadas.

Procuraremos assim verificar qual a importância de cada uma destas avaliações para a

formação de um diagnóstico mais preciso em relação à doença de Alzheimer. Também

foram levantados dados históricos desta doença que é atualmente a causa mais comum

de demência no mundo. Nas posteriores sessões debatido sobre o que é esta doença,

quais são seus principais sintomas e principalmente o que diferencia a avaliação

neuropsicológica da avaliação neurológica.

2.1. ALZHEIMER E SUA HISTÓRIA

A demência chamada Alzheimer foi diagnosticada pela primeira vez em 1902

pelo psiquiatra e neuropatologista Alois Alzheimer (1864 -1915). A paciente que

recebeu o primeiro diagnóstico desta demência foi Auguste D, que a partir dos 51 anos,

começou a demonstrar sintomas delirantes como ciúmes intensos em relação ao marido,

desorientação no tempo e no espaço, problemas de linguagem e perda de memória.

Estes sintomas continuaram a agravar-se progressivamente passados quatro anos e

meio, que se encontrava em fase avançada de demência, não encontrando uma cura, a

paciente veio a óbito aos 55 anos apresentando um quadro grave da doença.

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Para descobrir as causas da doença de Auguste, Dr. Alzheimer realizou a

autopsia da paciente fazendo um exame atomopatológico, realizado após o óbito. Este

exame é realizado através de uma análise minuciosa de tecidos ou órgãos, que são

estudados para buscar possíveis alterações. Através deste exame Alois Alzheimer

observou lesões no interior dos neurônios e uma grande acumulação de placas senis

(que são depósitos esféricos de β-amilóide (Aβ), associadas à função intelectual ocupam

grandes volumes de substância cinzenta cerebral acometida) nos espaços extracelulares.

Este conjunto de alterações mais tarde recebeu o nome doença de Alzheimer.

O Alzheimer é uma doença que atinge o cérebro de forma progressiva,

desenvolve-se lenta, mas continuamente, provocando a morte das células cerebrais e por

consequência atrofiando o cérebro, ocasionando prejuízo progressivo das funções

intelectuais, das habilidades de pensar, raciocinar e memorizar.

A demência segundo o DSM-IV: é um conjunto de déficits cognitivos e de

comprometimentos. Indivíduos com Alzheimer apresentam algumas alterações

características que são: uma marcante redução no volume cerebral, particularmente no

hipocampo, região importante do sistema límbico, responsável pela regulação das

emoções. Estas alterações dificultam a comunicação entre os neurônios o que acaba

afetando as sinapses.

MIOTTO (2012) estas alterações inicialmente começam afetando a memória, a

linguagem e o comportamento, com o tempo afetam outras funções mentais, acabando

por gerar a completa perda de autonomia nos doentes. A forma como esta doença atua é

diferenciada, variando de pessoa para pessoa, assim não é pré-determinada por um

conjunto de sintomas. Dependendo da idade, qualidade de vida, escolaridade, dentre

outros, pode evoluir de forma rápida ou de forma mais lenta.

O fator genético de acordo com SMITH (1999) é considerado atualmente como

coadjuvante. Pois para a autora o fator genético é apenas uma pequena porção se

comparado com os demais fatores. Tais como agentes etiológicos, a toxicidade a

agentes infecciosos, ao alumínio, a radicais livres de oxigênio, etc.

2.2. NEUROLOGIA E ALZHEIMER

Segundo LENT (2013) a neurologia é uma área da medicina tradicionalmente

caracterizada por um pensamento racional e pela precisão em definir o local do sistema

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nervoso atingido pelas enfermidades. Até pouco tempo não dispunha de muitos exames

que pudessem confirmar um diagnóstico, além de poucas formas de tratamento. Nas

últimas décadas ocorreu grande avanço nestes quesitos. Segundo Cowan e

Kandel(2001), a maior parte desses avanços está diretamente ligada aos avanços na

tecnologia incluindo o aprimoramento dos métodos para rastrear as conexões entre as

diferentes partes do cérebro, visualizar neurônios individuais e registrar sua atividade,

além de estudar o funcionamento de neurotransmissores.

2.2.1. NEUROLOGIA NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO

Segundo MIOTTO (2012) durante estágios leves ou iniciais da demência

Alzheimer pode-se observar que as alterações de ressonância magnética são discretas, e

são encontrados alguns resultados controversos sobre a esperada redução no volume do

hipocampo e as alterações nos parâmetros de espectroscopia de prótons. Esta

controvérsia tem estimulado novos estudos destinados a um diagnóstico diferencial mais

preciso entre: (a) pacientes com pré-demência (comprometimento cognitivo leve) (b)

pacientes com uma forma pré-clínica da D.A (assintomática) e pacientes no estágio

inicial da D.A.

A neurologia na atualidade segundo LENT (2013) utiliza de métodos avaliativos

para chegar ao possível diagnóstico de pacientes DA. Somente um médico com

especialização em neurologia pode realizar estes métodos avaliativos nos pacientes, pois

estas avaliações são de extrema importância para um diagnóstico preciso. Este

neurologista deve realizar a avaliação baseando-se na anamnese obtida com o paciente e

com familiares, exame físico e neurológico, resultados laboratoriais e de imagem

cerebral. Utiliza-se de métodos como a neuroimagem, tomografia computadorizada,

ressonância nuclear magnética, SPECT e PET,os exames laboratoriais: hemograma

completo.

2.2.2. ALGUNS INSTRUMENTOS NEUROLOGIA

O PET e SPEC são utilizados para verificar se há redução bilateral e

frequentemente assimétrica do fluxo sanguíneo e do metabolismo em regiões temporais

ou têmporo parietais. Também podem diferenciar sujeitos idosos normais (ou com

comprometimento cognitivo leve) de pacientes com DA. Sendo ambos de grande

importância para o diagnóstico.

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A ressonância magnética funcional (FMRI) pode visualizar a atividade neuronal

ou durante o repouso ou em associação com uma tarefa que ativa regiões específicas do

cérebro. O método mais comum é dependente de oxigênio no sangue de nível que mede

alterações no fluxo sanguíneo, com base em mudanças na deoxihemoglobina.

Demonstra mínimas alterações, possibilitando uma imagem detalhada do cérebro.

Tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) de crânio –

Estes exames são necessários para afastar outras causas de demência. Nas fases iniciais

da D.A, nas quais a amnésia é habitualmente a manifestação mais importante, a RM de

alta resolução pode mostrar atrofia da formação hipocampal, particularmente do córtex

entorrinal, onde se têm observado as alterações neuropatológicas mais precoces da

doença. É possível que RM possa detectar alterações nestas mesmas regiões ainda mais

precocemente

ESPECTROSCOPIA POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA (ERM) do

hipocampo pode, portanto ser considerada um instrumento importante por permitir

conhecer a composição de metabolitos de amostra(s) de tecido nervoso normal e

patológico in vivo e de modo não invasivo, permitindo uma melhor compreensão dos

mecanismos fisiológicos e fisiopatológicos com objetivos clínicos e de pesquisa.

Eletroencefalografia (EEG) tem uso estabelecido como método diagnóstico

auxiliar nas demências, principalmente quando o diagnóstico permanece aberto após as

avaliações clínicas iniciais.

2.2.3. EXAME CLÍNICO

Muitas vezes o paciente não consegue fornecer detalhes sobre seus sintomas,

assim é de fundamental importância que os familiares estejam presentes no momento da

consulta médica para relatar os sinais de anormalidade que tenham observado. Após a

entrevista médica detalhada, o paciente será submetido ao exame físico tradicional, com

ênfase no sistema neurológico, que pode não apresentar alterações na fase inicial.

Segundo os autores STOHR E KRAUS (2009) uma das formas de fazer um

diagnóstico diferencial da D.A é através da EEG (eletroencefalografia clínica) que

assume grande importância no diagnóstico diferencial, mostrando quais são as

estruturas alteradas. As alterações eletroencefalográficas encontradas na demência de

Alzheimer apresentam evolução menos característica do que outras demências. A

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variabilidade dos traçados aumenta de acordo com o grau de atrofia cerebral. São

exemplos de alterações encontradas na EEG de um indivíduo com DA: aparecimento de

discretas alterações gerais, aumento progressivo da gravidade das alterações, focos de

retardamento.

2.3. NEUROPSICOLOGIA

A palavra neuropsicologia foi empregada pela primeira vez no ano de 1913, mas

o seu estudo ganhou maior desenvolvimento a partir dos anos 40, através dos trabalhos

do psicólogo canadense, DONALD OLDING HEBB (1904 -1985). No ano de 1949

Hebb propôs a teoria do funcionamento do córtex cerebral baseado nas conexões

neuronais alteráveis. Assim HEBB sugeriu uma “teoria para a memória com base na

plasticidade sináptica”. Em resumo a teoria, aceita que a transferência de mensagens

entre os neurônios pode ser regulada, não sendo um fenômeno rígido e imutável, mas

algo modificável dependendo das circunstâncias. Desta forma o armazenamento de

memória não consistiria na modificação das propriedades dos neurônios, nem muito

menos implicaria na presença de circuitos considerados determinados e imutáveis, mas

“o traço mnésico estaria ligado à formação e à persistência de uma rede de conexões

entre as células, embora nenhuma delas contenha a informação necessária à restituição

da lembrança”. (SANVITO, 1991, p. 89). Podemos entender diante do pensamento de

HEBB que podemos melhorar o processamento das informações mentais mesmo

havendo o comprometimento nas células neuronais. Podemos estimular o cérebro do

paciente para este realizar mais conexões sinápticas, assim não deixando o cérebro se

deteriorar rapidamente.

Segundo CUNHA (1993) inicialmente, a avaliação neuropsicológica pretendia

chegar à identificação e localização de lesões cerebrais focais. Atualmente, baseiam-se

na localização dinâmica de funções, tendo por objetivo a investigação das funções

corticais superiores, como, por exemplo, a atenção, a memória, a linguagem, percepção,

entre outros.

Já LURIA (1902-1977), Alexander Romanovich Luria, famoso neuropsicólogo

russo, investigou as funções superiores nas suas relações com os mecanismos cerebrais

e desenvolveu a noção do sistema nervoso funcionando como um todo, considerando o

ambiente social como determinante fundamental dos sistemas funcionais responsáveis

pelo comportamento humano. Luria afirmava que as funções psíquicas do homem são

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produtos de uma larga evolução, possuem uma estrutura complexa e estão sujeitas a

modificações em seus elementos constitutivos. Os sistemas funcionais não podem ser

localizados senão dinamicamente, em constelações de trabalho, com a ajuda de

diferentes neurônios. Segundo LURIA,

Toda atividade mental humana é um sistema funcional

complexo efetuado por meio de uma combinação de estruturas

cerebrais funcionando em concerto, cada uma das quais dá a sua

contribuição particular para o sistema funcional como um todo.

(LURIA, 1981, p. 23).

2.3.1. AVALIAÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E SEUS OBJETIVOS

“As avaliações utilizadas pela neuropsicologia têm o objetivo de investigar quais

as funções cognitivas que estão preservadas e quais estão comprometidas” (MIOTTO,

2012). Para a realização desta avaliação o profissional deve recorrer de instrumentos

como testes, baterias e escalas validados pelo Conselho Federal de Psicologia. Estes

devem ser específicos para avaliação das funções cognitivas. O profissional

neuropsicólogo irá investigar através destes o desempenho de habilidades cognitivas

como percepção, atenção, linguagem, raciocínio, abstração, memória, aprendizagem,

processamento da informação, visuoconstrução, executivas e habilidades motoras. Estas

avaliações são realizadas unicamente pelo profissional psicólogo que tenha

especialização em neuropsicologia.

Segundo a definição de LEZAK (2005), “Avaliação Neuropsicológica é o

método para investigação do funcionamento cerebral através do estudo

comportamental”. Tendo como objeto central de estudo o cérebro e não o

comportamento como a avaliação psicológica. Assim seus objetivos são

fundamentalmente fazer um diagnóstico diferencial, verificar se há presença ou não de

alguma disfunção cognitiva. Localizar alterações discretas, a fim de detectar as

disfunções ainda em estágios precoces. Contribuir para o planejamento do tratamento e

no acompanhamento da evolução dessa doença em relação aos tratamentos que estão

sendo ministrados no paciente. Com base nesta avaliação é possível decidir por qual

tipo de intervenção seguir.

Na avaliação neuropsicológica consegue-se identificar quais são as áreas

neuropsicológicas que possam estar em comprometimento ou atuando de forma

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adequada. Segundo MIOTTO (2012) existem alguns critérios que são analisados para

chegar a um quadro de DA, são eles: comprometimento da memória, déficits cognitivos,

comprometimento de pelo menos duas funções cognitivas: a) linguagem, b) Praxias, c)

Gnosias, d) funções executivas. Assim o profissional deve estar atento para com estes

critérios escolher testes que consigam rastrear o funcionamento dessas funções.

Dependendo das particularidades do paciente o profissional terá que adaptar suas

testagem, escolhendo instrumentos acessíveis ao paciente, por exemplo, diante de um

teste que exija leitura do enunciado, se o paciente não souber ler, não conseguirá realizar

as tarefas solicitadas. Assim terá influência no resultado da testagem. Segundo ZANINI

(2010) outro fator que pode interferir na testagem é o gênero, no qual podemos observar

que mulheres apresentam melhor desempenho nas habilidades verbais e os homens em

contrapartida em tarefas matemáticas. Também a idade do paciente e a escolaridade

podem influenciar, sendo a que pessoas com nível de escolaridade mais elevados são

mais tolerantes aos sinais do envelhecimento mental.

2.3.2. COMO É FEITA A AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

A avaliação neuropsicológica pode ser subdividida em detalhada e breve,

dependendo da demanda de tempo e do paciente pode ser escolhido pelo profissional a

que mais se adapte a situação.

O que é uma avaliação detalhada e o que é uma avaliação breve? A avaliação

detalhada é uma avaliação mais demorada, implica na aplicação de várias técnicas e de

tempo útil maior. Uma avaliação neuropsicológica detalhada deve incluir o exame das

funções cognitivas e emocionais (LEZAK, 2004). Uma avaliação detalhada inclui a

aplicação de vários testes, para que se avalie adequadamente. Estes testes devem avaliar

várias áreas, para fornecer uma visão ampla tanto dos aspectos emocionais do paciente,

quanto dos aspectos cognitivos. De acordo com ZANINI (2010) a avaliação

neuropsicológica detalhada é recomendada especialmente nos estágios iniciais de

demência em que os testes breves podem ser normais ou apresentar resultado limítrofe.

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E a avaliação breve por outro lado como o nome já diz, dispõem de um

tempo menor para sua aplicação, são testes mais simples de serem ministrados. Uma das

vantagens da avaliação cognitiva breve, é que ela permite uma diferenciação entre

depressão e a demência em pacientes idosos psiquiátricos ambulatoriais que apresentam

queixas de memória, proporcionando dados para a organização de um protocol Simples,

racional e de baixo custo para o atendimento da população em serviços de saúde

pública. São exemplos de avaliação neuropsicológica breve: o mini- exame estado

mental, o NEUROPSILIN, A escala de avaliação de demência (DRS),Teste do Desenho

do relógio (Clock Drawing Test - TDR),teste de fluência verbal, questionário de

Pfeffer(QPAF). Já a Escala de Inteligência de Adultos de Wechsler (WAIS) e o teste da

reprodução visual de figuras da escala de memória de Wechsler, são instrumentos de

avaliação detalhada, também a utilização de várias escalas combinadas, formando uma

bateria de testes, pode ser considerada uma forma detalhada.

2.3.3. O MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL (MEEM)

Elaborado por FOLSTEIN et al (1975), é o instrumento mais utilizado para

avaliar as funções cognitivas por ser rápido e de fácil aplicação, apenas necessita de um

roteiro para sua aplicação, que não ultrapassa 10 minutos. Deve ser utilizado com o

objetivo de identificar um possível comprometimento não descartando uma avaliação

mais detalhada, pois, apesar de avaliar vários domínios (orientação espacial, temporal,

memória imediata e de evocação, cálculo, linguagem, repetição, compreensão, escrita e

cópia de desenho), não tem caráter diagnóstico, mas sim pra indicar funções que

precisam ser investigadas. É utilizado pelos neuropsicólogos como um dos primeiros

instrumentos a serem aplicados. A folha de aplicação deste teste é encontrada

facilmente na internet devido ao seu caráter mais investigativo do que diagnóstico.

2.3.4. BATERIA DE AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA BREVE

(NEUROPSILIN)

Esta bateria foi criada por FONSECA (2009) o qual desenvolveu um

instrumento de avaliação neuropsicológica breve. Construído com todo rigor

metodológico, e utilizando procedimentos teóricos e empíricos com a finalidade de

garantir uma ampla fonte de evidências de validade. Seu objetivo é fornecer um perfil

neuropsicológico breve através da avaliação de habilidades cognitivas: orientação

temporo-espacial, atenção, percepção, memória de trabalho, memória verbal episódica-

semântica, memória visual de curto prazo, memória visual de longo prazo, memória

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prospectiva, habilidades aritméticas, linguagem, praxias e funções executivas, por

meio de 32 tarefas. Permitindo assim identificar quais funções estão preservadas e

quais estão deficitárias. É considerado breve, pois tem duração de 30 a 40 minutos,

variando de paciente para paciente, dependendo das funções cognitivas estarem

preservadas ou mais comprometidas.

2.3.5. ESCALA DE AVALIAÇÃO DE DEMÊNCIA (DEMENTIA RATING

SCALE – DRS)

A escala de avaliação de demência (DRS) tem sido utilizada de maneira

sistemática pelo grupo de neurologia cognitiva e do comportamento (GNCC) do

departamento de neurologia da faculdade de medicina de são Paulo (FMUSP) na

avaliação de pacientes com demência há 15 anos. O DRS contém sub-escalas que

possibilita o acesso parcial das áreas comprometidas e preservadas que pode auxiliar na

complementação da avaliação neuropsicológica, alertando para áreas que devem ser

avaliadas mais profundamente. A presença das sub-escalas também permite a análise da

progressão ou não da doença. É um instrumento que permite o acesso a um número

maior de informações a respeito do paciente e sua doença, em diferentes graus. De

intensidade, além de auxiliar no diagnóstico diferencial. Avalia a atenção,

iniciativa/perseverança, construção, conceituação e memória.

2.3.6. TESTE DESENHO DO RELÓGIO

Teste do Desenho do relógio (ClockDrawing Test - TDR). Originalmente

descrito na avaliação da disfunção do lobo parietal, avalia de forma simples, as funções

viso-espaciais, linguagem, capacidade de planejamento, praxia, memória, habilidade

visuoconstrucional e função executiva. Este teste é basicamente focado no desenho de

um relógio mostrando o horário solicitado. Contendo os ponteiros, horas e minutos.

2.3.7. TESTE DE FLUÊNCIA VERBAL

Verifica a existência de prejuízo de memória semântica e nas estratégias de

busca, relacionadas à função executiva. Consiste em solicitar à pessoa que fale o maior

número possível de animais em 1(um) minuto. Este teste conclui se há presença de

declínio cognitivo.

2.3.8. QUESTIONÁRIO DE PFEFFER (QPAF)

É uma escala de 11 questões aplicada ao acompanhante ou cuidador da pessoa

idosa discorrendo sobre a capacidade desse em desempenhar determinadas funções. As

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respostas seguem um padrão: sim é capaz (0); nunca o fez, mas poderia fazer

agora (0); com alguma dificuldade, mas faz (1); nunca fez e teria dificuldade agora (1);

necessita de ajuda (2); não é capaz (3). A pontuação de seis ou mais sugere maior

dependência. A pontuação máxima é igual a 33 pontos. Esta escala tem como objetivo

verificar a presença de declínio cognitivo e o grau deste. Quanto mais elevado o escore

maior a dependência de assistência.

2.3.9. ESCALA WECHSLER DE INTELIGÊNCIA PARA ADULTOS - BATERIA

WAIS – III

A aplicação da bateria WAIS –III é indicada. Nesse caso, com a finalidade

primordial da avaliação da memória e da inteligência de pessoas com DA, medindo o

grau de deterioração. É útil em apontar declínios nas áreas intelectual, funções

executivas, linguagem e memória. Trata-se de um teste bastante completo

(Compreensão Verbal, Organização Perceptual, Memória de Trabalho e Velocidade de

Processamento, QIs Verbal, de Execução e Total). Sua aplicação demanda de um tempo

maior, em média de 90 a 120 minutos, sendo considerado um instrumento detalhado.

3. CONCLUSÕES

Observou-se que a avaliação neurológica é baseada em exames e instrumentos

que avaliam os aspectos físicos da doença, assim verificando quais as áreas do sistema

cerebral se encontram comprometidas, o que estas alterações implicam, quais medidas

podem ser tomadas para amenizar o progresso biológico destas disfunções. Enquanto

que a avaliação neuropsicológica avalia aspectos cognitivos, verifica quais as áreas da

cognição foram prejudicadas, o que estas alterações podem afetar no comportamento e

na vida social.

Diante dos dados analisados anteriormente se pode verificar que as avaliações

neurológicas e neuropsicológicas tem suas especificidades, cada qual avalia um objeto

em especial. A avaliação Neurológica tem como objetivo avaliar quais as células

cerebrais estão afetadas e quais estão preservadas, se ocorreu redução no volume

cerebral ou se há alterações neuroquímicas nos neurotransmissores. Em contrapartida a

avaliação neuropsicológica avalia as funções cognitivas, verificando se essas

encontram-se preservadas ou estão comprometidas.

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Concluindo que as avaliações neuropsicológicas e neurológicas são

complementares para o diagnóstico do paciente com Alzheimer. No entanto quando for

solicitado ao paciente que realize ambas as avaliações fica claro que ambas as

avaliações são necessárias para fornecer um diagnóstico preciso. Um diagnóstico

fidedigno ajuda na execução de um tratamento para retardar o progresso desta

demência, o que pode fornecer uma melhor qualidade de vida para o paciente, uma vez

que a cura para tal doença ainda não foi confirmada.

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