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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO NULIDADES NA CITAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO ROBERTA BASTOS BITTENCOURT RADEL Itajaí, outubro de 2006.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

NULIDADES NA CITAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO

ROBERTA BASTOS BITTENCOURT RADEL

Itajaí, outubro de 2006.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

NULIDADES NA CITAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO

ROBERTA BASTOS BITTENCOURT RADEL

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Msc Silvio Noel de Oliveira J unior

Itajaí, outubro de 2006.

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AGRADECIMENTO

A todas as pessoas queridas que me incentivaram a nunca desanimar perante as dificuldades da

vida, que contribuíram para que hoje eu pudesse estar concluindo mais esta etapa da minha vida.

Em especial a minha família e os amigos que conquistei durante todo estes anos.

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DEDICATÓRIA

Ao meu amor, Dinor Rodrigo Radel, quem mais me estimulou e batalhou para a realização deste

sonho. Homem que escolhi para compartilhar todos os momentos da vida, uma pessoa

admirável, de personalidade forte, determinado, mas que ao mesmo tempo sabe conquistar as

pessoas que ama, com quem para sempre vou querer estar e de quem espero nossa primeira

filha.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, 01 de novembro de 2006.

Roberta Bastos Bittencourt Radel Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Roberta Bastos Bittencourt Radel,

sob o título Nulidade na Citação no Processo do Trabalho, foi submetida em

01/11/2006 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Rosane

Maria Rosa, Jefferson Custódio Próspero e Silvio Noel de Oliveira Junior, e

aprovada com a nota 10,0 (dez).

Itajaí, 01 de novembro de 2006.

Silvio Noel de Oliveira Junior Orientador e Presidente da Banca

[Professor Título Nome] Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ART. Artigo

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CC Código Civil Brasileiro de 2002

CPC Código de Processo Civil

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

Nº Número

STJ Superior Tribunal de Justiça

TST Tribunal Superior do Trabalho

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Ação conexa

É aquela que está de tal modo ligada a outra, ainda que diversas, que a reunião

dos dois feitos se torna imperiosa, para não haver julgamentos contraditórios.

Anulabilidade

Qualidade daquilo que é anulável, está presente no contrato celebrado com erro

essencial por parte de um dos contratantes; o ato vai surtindo efeitos como se

válido fosse, mas pode ser anulado no prazo da lei, pelo contratante induzido a

erro.

Cominar

Impor a pena à infração praticada; ameaçar com pena por infração de

procedimento legal.

Citação

Ato processual pelo qual é chamado a juízo a pessoa contra a qual é proposta a

ação ou que nela tem interesse.

Convalidar

Tornar o ato jurídico válido e produzindo efeitos.

Demanda

Lide; processo; litígio. A demanda começa com o ingresso em juízo, mas não se

concretiza o litígio entre as partes se não houver contestação, a partir da qual o

autor e réu passam a ser litigantes.

Intimação

Ciência que se dá a alguém, pela autoridade judicial, para que faça ou deixe de

fazer algo.

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Incompetência relativa

Ausência de competência para apreciação e julgamento de um feito, que pode ser

modificada por consenso entre as partes.

Incompetência absoluta

Ausência de competência para apreciação e julgamento de um feito, mas que não

pode ser modificada por acordo tácito ou expresso das partes.

Intrínseco

Que é inerente; interior; próprio; essencial.

Jurisdição

Poder que tem o magistrado de aplicar o direito, que o Estado lhes confere para

dirimir litígios ou impor o preceito legal entre particulares e entre estes o próprio

Estado.

Mandado

Ato escrito de autoridade pública competente, judicial ou administrativa,

determinando a prática de ato ou diligência.

Norma dispositiva

Limita-se a declarar o direito, autorizar condutas ou atuar em casos duvidosos ou

omissos.

Nulidade relativa

Ocorre em irregularidades que podem ser sanadas, nas quais não há cominação

de nulidade.

Nulidade absoluta

Ocorre nos casos expresso em lei e na violação de dispositivos de ordem pública,

como na citação irregular ou na incompetência absoluta, o que leva a nulidade do

ato e do próprio processo.

Notificação

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Ato de levar um fato ao conhecimento de uma pessoa, no processo trabalhista

serve tanto para citação como para intimação da parte.

Omissão

Abstenção; ato de omitir, de deixar de fazer algo.

Subsidiariedade

Aplicado para resolver os conflitos aparentes de norma, ou seja, quando dois

preceitos legais parecem incidir sobre um fato.

Sanção

Efeito do cumprimento ou descumprimento da norma contratual ou legal.

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SUMÁRIO

SUMÁRIO........................................................................................... X

RESUMO.......................................................................................... XII

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ......................................... ............................................. 3

DAS NULIDADES ...................................... ........................................ 3 1.1 CONCEITO DE NULIDADE........................... ...................................................3 1.1.1 NULIDADE DO ATO E NULIDADE DO PROCESSO ....................................................4 1.2 TIPOS DE NULIDADES............................. .......................................................5 1.2.1 NULIDADE ABSOLUTA ........................................................................................6 1.2.2 NULIDADE RELATIVA .........................................................................................7 1.2.3 ANULABILIDADE ...............................................................................................9 1.2.4 ATOS INEXISTENTES........................................................................................10 1.3 PRINCÍPIOS QUE DEVEM SER CONSIDERADOS FRENTE ÀS NULIDADES..............................................................................................................................11 1.3.1 PRINCÍPIO DA INSTRUMENTABILIDADE DAS FORMAS ...........................................11 1.3.2 PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE OU CONSEQÜENCIALIDADE .....................................13 1.3.3 PRINCÍPIO DO INTERESSE DE AGIR ....................................................................14 1.3.4 PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL .............................................................15 1.3.5 PRINCÍPIO DO APROVEITAMENTO DA PARTE VALIDA DO ATO ...............................15 1.3.6 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ..............................................................................15 1.4 ATO PROCESSUAL................................. ......................................................16 1.4.1 ATOS DA PARTE ..............................................................................................18 1.4.2 ATOS DO JUIZ .................................................................................................19 1.4.3 ATOS DO ESCRIVÃO OU CHEFE DE SECRETARIA .................................................20 1.5 ATO JURÍDICO ................................... ...........................................................21 1.6 ATO ILÍCITO.................................... ...............................................................23

CAPÍTULO 2 ......................................... ........................................... 24

DA CITAÇÃO ......................................... .......................................... 24 2.1 CONCEITO DE CITAÇÃO ............................ ..................................................24 2.2 TIPOS DE CITAÇÃO ............................... .......................................................26 2.2.1 CITAÇÃO POR CORREIO ...................................................................................26 2.2.2 CITAÇÃO POR MANDADO .................................................................................29 2.2.3 CITAÇÃO POR EDITAL ......................................................................................32 2.2.4 CITAÇÃO POR HORA CERTA .............................................................................34 2.2.5 CITAÇÃO POR CARTA PRECATÓRIA ...................................................................37 2.2.6 CITAÇÃO POR CARTA ROGATÓRIA ....................................................................38

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2.3 EFEITOS DA CITAÇÃO ............................. ....................................................39 2.3.1 PREVENÇÃO DO JUÍZO .....................................................................................40 2.3.2 INDUÇÃO DE LITISPENDÊNCIA ...........................................................................41 2.3.3 LITIGIOSIDADE DA COISA .................................................................................42 2.3.4 CONSTITUIÇÃO EM MORA DO DEVEDOR .............................................................44 2.3.5 INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO ........................................................................45

CAPÍTULO 3 ......................................... ........................................... 47

DAS NULIDADES NA CITAÇÃO ........................... .......................... 47 3.1 TEORIA DAS NULIDADES DOS ATOS PROCESSUAIS...... ........................47 3.2 COMPARECIMENTO ESPONTÂNEO DO RÉU ............... .............................47 3.3 COMPARECIMENTO DO RÉU PARA ALEGAR A NULIDADE NA CITAÇÃO..............................................................................................................................49 3.4 NULIDADE DA CITAÇÃO QUANDO HÁ MÁ-FÉ DO EMPREGAD O ............51 3.5 CITAÇÃO NO PROCESSO DE EXECUÇÃO TRABALHISTA.... ...................51 3.5.1 RECURSO CABÍVEL PARA APONTAR A NULIDADE NO PROCESSO DE CONHECIMENT O..............................................................................................................................53 3.5.1.1 Recurso ordinário .......................... .........................................................54 3.5.1.2 Embargos à execução ........................ ....................................................57

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... ............................... 61

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ...................... .................... 63

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RESUMO

O presente trabalho abordou as peculiaridades decorrentes

da nulidade na citação no processo trabalhista, o qual está subsidiariamente

vinculado às normas do processo civil, quando sua forma não estiver

expressamente determinada na legislação trabalhista.

O objetivo do presente trabalho de conclusão de curso foi

demonstrar que a existência de vícios no direito processual trabalhista se

submete aos princípios específicos que regulam a matéria nesta Justiça

Especializada e podem fulminar o próprio processo e sua continuidade, mormente

quando a nulidade decorre do ato formal da citação do réu ou interessado, cuja

inexistência não pode ser suprida.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o estudo das

nulidades na citação no processo do trabalho.

O seu objetivo institucional foi o de produzir a presente

Monografia para a obtenção do título de Bacharel em Direito, pela Universidade

do Vale do Itajaí.

O objetivo da investigação foi pesquisar e analisar atos

processuais capazes de gerar nulidades na citação no processo do trabalho.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando do conceito

de nulidade, do ato jurídico e nulidade do processo, bem como dos princípios

norteadores da matéria no processo do trabalho, além disso, foi tratado do ato

processual, dos atos da partes, do juiz, dos seus auxiliares, do ato jurídico e do

ato ilícito.

No Capítulo 2, tratou-se especificamente da citação e das

formas utilizadas no processo do trabalho e seus efeitos.

No Capítulo 3, tratou-se finalmente das nulidades na citação

com abordagem das teorias que orientam a matéria e das formas como são

supridas, bem como da nulidade na citação decorrente de ato ilícito (nulo) e do

ato inexistente com seus respectivos recursos cabíveis para suprimento judicial.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre Nulidade na Citação no Processo do Trabalho.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

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� Na Justiça do Trabalho, a nulidade do ato processual implica em anulabilidade do processo em todo o seu conteúdo a partir do momento da sua efetivação nos autos, não se aproveitando os atos posteriores.

� A citação é o ato processual pelo qual a parte toma conhecimento do processo e na Justiça do Trabalho deve ser realizada somente pelo correio e na pessoa do representante legal da empresa demanda.

� A nulidade na citação se estabelece quando ela não for feita conforme determina a legislação para o caso específico, não cabendo recurso através de agravo de instrumento ou agravo de petição.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo. 1

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente 2, da Categoria 3, do Conceito Operacional 4 e da

Pesquisa Bibliográfica 5.

1 Base lógica da dinâmica da Pesquisa Científica que consiste em pesquisar e identificar as partes

de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral. (PASOLD, Luiz César. Prática da pesquisa jurídica , 8º ed. Santa Catarina. Editora OAB SC, 2003. p. 238.)

2 Explicação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa. (PASOLD, Luiz César. Prática da pesquisa jurídica , 2003. p. 241.)

3 Palavra ou expressão estratégica à elaboração e ou à expressão de uma idéia. (PASOLD, Luiz César. Prática da pesquisa jurídica , 2003. p. 229.)

4 Definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas. (PASOLD, Luiz César. Prática da pesquisa jurídica , 2003. p. 229.)

5 Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. (PASOLD, Luiz César. Prática da pesquisa jurídica , 2003. p. 239.)

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CAPÍTULO 1

DAS NULIDADES

1.1 CONCEITO DE NULIDADE

Para uma melhor compreensão acerca do tema que será

apresentado, faz-se necessário à apresentação de alguns conceitos que norteiam

o processo do trabalho.

Entende-se por nulidade a realização de um ato processual

sem observância da forma prevista em lei, o que pode levar a aplicação de uma

sanção.

Theodoro Junior:

No que toca à violação da forma legal, é onde mais se mostra importante a teoria das nulidades processuais, dado o caráter instrumental do processo e da indispensabilidade da forma para se alcançar seus desígnios. 6

Nascimento entende como nulidade uma sanção privativa de

um ato jurídico, quando não observada a forma prescrita em lei:

[...] A sua função, no entanto, não é propriamente assegurar o cumprimento das formas, mas dos fins a que as formas se destinam e que podem ser atingidos também por outros meios. É certo que o problema da nulidade refere-se ao de conformidade ou desconformidade com um modelo legal7

No mesmo entendimento Martins, diz que havendo violação

da forma incorrerá uma penalidade imposta por lei:

6 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . 32º ed. Rio de Janeiro.

Editora Forense, 2000, p. 249. 7 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 21º ed. São

Paulo. Editora Saraiva, 2002, p.372.

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4

Nulidade é a sanção determinada pela lei, que priva o ato jurídico de seus efeitos normais, em razão do descumprimento das formas mencionadas na norma jurídica.8

A nulidade foi inclusa, genericamente, na legislação

processual civil brasileira na redação dada ao art. 244 do CPC, por força da Lei nº

5.869/73, com a seguinte redação:

Art. 244. Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz considerará valido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade.

Numa interpretação do artigo acima, verificamos que o ato

processual deve observar a forma quando prevista em lei, porém se este atingir

sua finalidade poderá ser decretada sua validade. O legislador adotou atitude de

maior flexibilidade, onde não havendo imposição de nulidade quanto à forma do

ato, desde que, de outra forma atingir sua finalidade, não há motivo para

decretação da nulidade. Este assunto será estudado adiante, quando se verificar

o Princípio da Instrumentabilidade.

1.1.1 Nulidade do ato e nulidade do processo

É imprescindível destacar a diferença existente entre a

Nulidade do Ato e a Nulidade do Processo. A primeira vicia apenas aquele ato,

que por falta de observância a forma legal atinge os que dele sucederem. A

segunda ocorre quando não foram preenchidos os pressupostos processuais,

requisitos indispensáveis para a validade da relação processual entres as partes.

Acerca da diferenciação, ensina Greco Filho:

A nulidade do ato vicia individualmente por falta de um de seus elementos, atingindo os que dele são conseqüência. [...] a nulidade do processo não se refere a atos individualmente, mas a

8 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. 23º ed. São Paulo. Editora Atlas, 2005, p.182.

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5

requisitos de validade da própria relação processual que une o autor, juiz e réu.9

Theodoro Junior, assim define:

A nulidade pode atingir toda a relação processual ou apenas um determinado ato do procedimento. Há nulidade do processo, quando se desatende aos pressupostos de constituição válida a desenvolvimento regular da relação processual, ou quando existe impedimento processual reconhecido, ou então pressuposto negativo concernente ao litígio. [...] Como o ato processual não tem vida autônoma, pois forma um tecido ou uma cadeia com os diversos atos que integram o procedimento, incumbe ao juiz, ao pronunciar a nulidade, declarar que atos são atingidos.10

É entendimento de Nascimento:

A nulidade de um ato processual não implica a nulidade de todo processo. Seria desperdício considerar ineficaz todo o processo, em grande prejuízo para a economia e celeridade processual. Dai por que “a nulidade do ato não prejudicará senão os posteriores que dele dependam ou sejam conseqüência” (CLT, art. 798 11). Os atos anteriores são preservados. 12

Assim sendo, o juiz deverá indicar os atos que sofreram a

nulidade, o que poderá acabar com todos os subseqüentes ao ato viciado se

deles dependerem.

1.2 TIPOS DE NULIDADES

A doutrina majoritária classifica as nulidades processuais ou

vícios do ato, como nulidade absoluta, nulidade relativa, anulabilidade e atos

inexistentes.

9 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 14º ed. São Paulo. Editora

Saraiva, 2000. p. 44. 10 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 251. 11 Art. 798 da CLT: A nulidade do ato não prejudicará senão os posteriores que dele dependam ou

sejam conseqüentes. 12 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 374.

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6

Na primeira, nulidade absoluta, os vícios processuais são

insanáveis quando comprometem todo o processo, nas demais os vícios

processuais são sanáveis, ou seja, quando o ato praticado irregularmente puder

ser remediado pela parte que o praticou, ou ratificado o ato já praticado pelo juiz.

1.2.1 Nulidade absoluta

A nulidade absoluta é a violação da norma de interesse

público, não dispõe do interesse da parte, sendo este vício insanável por

comprometer todo o processo, pode e deve ser reconhecida de ofício pelo juiz em

qualquer grau de jurisdição.

Nesse sentido Greco Filho diz que:

A nulidade absoluta resulta da violação de norma tutelar de interesse público, do interesse da distribuição da justiça, como, por exemplo, a falta de uma das partes essenciais da sentença [...] A nulidade absoluta pode e deve ser reconhecida de ofício, em qualquer grau de jurisdição. 13

Theodoro Júnior classifica a nulidade absoluta como ato

absolutamente nulo, entendendo que:

O ato absolutamente nulo já dispõe da categoria de ato processual; não é mero fato como o inexistente; mas sua condição jurídica mostra-se gravemente afetada por defeito localizado em seus requisitos essenciais.[...] Compromete a execução normal da função jurisdicional e, por isso, é vício insanável. [...] Comprovada a ocorrência de nulidade absoluta, o ato deve ser invalidado, por iniciativa do próprio juiz, independentemente de provocação da parte interessada. 14

Especificamente a respeito de nulidade absoluta da citação

Theodoro Junior manifesta-se:

[...] ato nulo, embora insanável, não possa ser suprido por outro de igual efeito. Assim a citação nula, ou mesmo inexistente, pode

13 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 43. 14 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 250.

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7

ser suprida pelo comparecimento do réu ao processo. Mas este comparecimento não dá eficácia a citação, mas sim a substitui e os efeitos produzidos são do próprio comparecimento e só atuam a partir dele, gerando inclusive a reabertura do prazo de defesa. 15

Para Martins:

A nulidade absoluta é ditada por fins de interesse público. Não tendo as partes poder de disposição desse interesse, que é determinado por normas de interesse público, sua infringência acarretará nulidade absoluta. [...] Quando a existência da nulidade pode ser declarada de ofício pelo juiz, fundado em norma de interesse público, de ordem pública absoluta, ainda que as partes estejam de acordo com o ato praticado, há nulidade absoluta. A nulidade absoluta compromete todo o processo. 16

O mesmo autor indica como exemplo as regras de

competência funcional, que se não observadas irão determinar a nulidade

absoluta, eis que o processo não poderá ser apreciado por juízo incompetente

para tal. “A incompetência absoluta pode ser decretada de ofício pelo juiz (art. 113

do CPC17)” 18, por retratar norma de interesse público.

1.2.2 Nulidade relativa

A nulidade relativa do ato constitui-se quando o ato

processual, mesmo que descumprindo a forma prevista, cumpri sua finalidade e

as partes não requerem sua nulidade. “Em síntese, pode-se dizer que as

nulidades relativas ocorrem quando se violam faculdades processuais da parte

(cerceamento do direito ao contraditório e ampla defesa)”. 19

15 THEODORO JUNIOR, p. 251. 16 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 184. 17 Art. 113. do CPC. A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser alegada,

em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente de exceção. 18 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 184. 19 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p.251.

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Na definição de Greco Filho a nulidade relativa deve ser

decretada de oficio pelo juiz, entretanto a parte poderá abrir mão desta

decretação, que visa sua proteção no processo, e aceitar a situação dando

prosseguimento à demanda.

A nulidade relativa decorre de violação de norma cogente de interesse da parte. Deve ser declarada de ofício pelo juiz, mas a parte pode expressamente abri mão da norma instituída em sua proteção, impedindo a decretação e aceitando a situação e prosseguimento do processo. 20

O mesmo autor utiliza-se do exemplo de vicio na intimação

por publicação para esclarecer a aceitação da violação da norma, eis que a lei

atribui nulidade (art. 236, § 1º do CPC 21), “deve decretar sua nulidade mandando

refazê-la; pode a parte, todavia, dar-se por intimada e sem reclamação praticar o

ato devido, suprindo o vicio”. 22

No mesmo entendimento segue Martins:

Ocorre nulidade relativa quando o interesse da parte for desrespeitado e a norma descumprida tiver por base o interesse da parte e não o interesse público, sendo o vício sanável. 23

Theodoro Junior, assim define:

A nulidade relativa ocorre quando o ato, embora viciado em sua formação, mostra-se capaz de produzir seus efeitos processuais, se a parte prejudicada não requerer sua invalidação. 24

Destarte, estão apto a produzir efeitos os atos relativamente

nulos que forem ratificados ou as partes não requisitarem sua anulação. Sendo

assim, à parte que silencia consente a validação do ato viciado. 20 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 43. 21 Art. 236, § 1º do CPC. É indispensável, sob pena de nulidade, que da publicação constem os

nomes das partes e de seus advogados, suficientes para sua identificação. 22 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 43. 23 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 384. 24 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 251.

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9

Porém, caso a parte prejudicada se oponha à validação do

ato viciado, deverá manifestar-se na primeira oportunidade em que couber falar

em audiência ou nos autos. Apontado no art. 795 da CLT a seguinte redação:

Art. 795 - As nulidades não serão declaradas senão mediante provocação das partes, as quais deverão argüi-las à primeira vez em que tiverem de falar em audiência ou nos autos. 25

Assim manifesta Saad:

O nosso processo trabalhista admite, por força do que dispõe no caput do artigo sob análise, a convalidação do ato nulo se o interessado não fizer a argüição da nulidade opportuno tempore. É a preclusão ou a perda do momento processual próprio para que determinado ato se realize. 26

“No entanto, cabe ao juiz declarar ex officio as nulidades

fundadas em incompetência de foro (CLT, art. 795, § 1º 27)” 28, esta é uma

condição que independe da argüição das partes. Assim, a nulidade que pode ser

declarada, de ofício, pelo juiz é a de incompetência da Justiça do Trabalho ou em

razão da matéria ou da pessoa. 29

1.2.3 Anulabilidade

A anulabilidade é um vicio que decorre da violação da norma

dispositiva, o qual somente poderá ser decretada sua anulabilidade por

provocação da parte interessada. Justamente por se tratar de interesse disponível

da mesma, o juiz não declarar de oficio sua invalidação ou mandar repeti o ato,

porém a parte não reagindo ao ato este passará a ser válido, como argumenta

Pinto Martins:

25 Decreto Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, denominada Consolidação das Leis do Trabalho. 26 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho comentada. 38º ed. Atual, e rev.

e ampl. Por José Eduardo Duarte Saad, Ana Maria Saad Castello Branco. São Paulo. Editora LTr, 2005, p. 676.

27 Art. 795, §1º. da CLT. Deverá, entretanto, ser declarada ex officio a nulidade fundada em incompetência de foro. Nesse caso, serão considerados nulos os atos decisórios.

28 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. p.373. 29 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho comentada. , p. 676.

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Na anulabilidade, o vício é decorrente de violação de norma dispositiva. O ato só pode ser anulado mediante provação do interessado. O juiz não pode, de ofício, mandar suprir ou repetir o ato, justamente porque está na esfera de disposição da parte. 30

O autor explica sua colocação através da incompetência do

juízo em razão do lugar, onde, caso a parte não se manifestar no prazo legal, o

juízo passará a ser competente, haja vista ser poder dispositivo da parte tendo a

necessidade de sua provocação para a decretação da incompetência. “Na

anulabilidade, o ato se convalida se não impugnado pela parte. Exemplo: a parte

deve manifestar sobre a nulidade na primeira vez em que tiver de falar nos autos”. 31

No mesmo sentido, Greco Filho:

A anulabilidade resulta de violação de norma dispositiva. Somente se decreta mediante provação da parte no momento devido, sob pena de preclusão. Esse momento é a primeira oportunidade que a parte tem de falar nos autos. 32

Se à parte não argüir a anulabilidade do ato, este será

convalidado e seu direito precluso.

1.2.4 Atos inexistentes

O ato inexistente é um simples fato, irrisório ao ordenamento

jurídico, pois não reúne os requisitos para ser ato jurídico e não produz efeitos

jurídicos. “O ato inexistente não produzirá efeitos em época alguma, não tendo

nenhuma validade”. 33

Assim argumenta Theodoro Junior:

30 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 185. 31 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 185. 32 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 43. 33 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 184.

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Ato inexistente é o que não reúne os mínimos requisitos de fato para sua existência como ato jurídico, do qual não apresenta nem mesmo a aparência exterior. [...] Com relação ao ato juridicamente inexistente, não se pode sequer falar de ato jurídico viciado, pois o que há é um simples fato, de todo irrelevante para a ordem jurídica. Falta-lhe um elemento material necessário a sua configuração jurídica. Assim, por exemplo, é inexistente o ato falsamente assinado em nome de outrem. [...]. 34

Na mesma linha e raciocínio, segue Martins:

O parágrafo único do art. 37 35 do CPC dispõe que serão considerados inexistentes os atos não ratificados em 15 dias, se o juiz der a parte o prazo para regularizar a procuração nos autos. Não regularizada a procuração, a sanção é a inexistência dos atos praticados a partir de determinado momento. [...] O ato inexistente não produzirá efeitos em época alguma, não tendo nenhuma validade. 36

Ficou evidenciado que o ato inexistente não será

considerado validado no ordenamento jurídico, uma vez que não se trata de ato

jurídico. Os atos jurídicos serão abordados mais à frente.

1.3 PRINCÍPIOS QUE DEVEM SER CONSIDERADOS FRENTE ÀS NULIDADES

1.3.1 Princípio da instrumentabilidade das formas

Todo ato formal deve observar a forma prescrita em lei,

quando houver, porém se o ato realizado, mesmo que de forma diversa a norma,

tiver alcançado sua finalidade poderá ser validado.

Manifesta Greco Filho:

34 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 250. 35 Art. 37 do CPC. Sem instrumento de mandato, o advogado não será admitido a procurar em

juízo. Poderá, todavia, em nome da parte, intentar ação, a fim de evitar decadência ou prescrição, bem como intervir, no processo, para praticar atos reputados urgentes. Nestes casos, o advogado se obrigará, independentemente de caução, a exibir o instrumento de mandato no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável até outros 15 (quinze), por despacho do juiz.

36 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos de petições, recursos, sentenças e outros. p. 184.

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Se o ato, ainda que praticado de maneira diversa da preconizada na lei, alcançar sua finalidade e não prejudicar a parte, deverá ser mantido, evitando-se repetição inútil. 37

Theodoro Junior, assim entende:

[...] o ato só se considera nulo e sem efeito, se, além de inobservância da forma legal, não tiver alcançado a sua finalidade. 38

Ainda, Martins:

O ato processual deve se ater à observância das formas, porém, se de outro modo o ato atingir sua finalidade, haverá validade do ato praticado. 39

Amaral Santos esclarece acerca do princípio da

instrumentabilidade:

[...] Quer dizer que as formas não têm valor intrínseco próprio, mas são estabelecidas como, meio para atingir a finalidade do ato. Portanto, a necessidade de sua observância deve ser medida pela possibilidade de ter atingido o mesmo fim sob outra forma. 40

Num mesmo entendimento Wambier ensina:

[...] Por regra geral, não existe forma para os atos processuais, exceto quando expressamente previsto pela norma, e ainda assim, ou seja, mesmo quando há expressa exigência de forma, serão tidos como válidos os atos praticados de outro modo se sua finalidade especial foi alcançada. 41

37 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 44. 38 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 252. 39 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 186. 40 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de Direito Processual Civil . 23º ed. São Paulo.

Editora Saraiva, 2004, p. 281. 41 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil . 5º. São Paulo. Editora

Revista dos Tribunais, 2002, p. 166.

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O princípio da instrumentabilidade somente poderá ser

aplicado quando da observância do não cumprimento da forma legal do ato, tiver

alcançado sua finalidade, se não causou prejuízo à parte não há necessidade de

refazê-lo. Pinto Martins na obra Direito Processual do Trabalho exemplifica, se o

réu não foi citado, mas compareceu em audiência para apresentar a defesa, o ato

processual atingiu sua finalidade, ainda que de outra forma.

1.3.2 Princípio da causalidade ou conseqüencialidad e

Os atos estão diretamente ligados ao procedimento, porém

são independentes, gerando efeitos que podem ser individualizados. O princípio

da causalidade está previsto no art. 248 do CPC, por força da Lei nº 5.869/73

dispõe:

Anulado o ato, reputam-se de nenhum efeito todos os subseqüentes, que dele dependam; todavia, a nulidade de uma parte do ato não prejudicará as outras, que dela sejam independentes.

Na presente redação, observa-se que os atos posteriores

aquele anulado perderão seu efeito, se deste dependerem, mas se o ato for

independente do anulado não será invalidado.

Acerca do Princípio da Causalidade Greco Filho ensina que:

Os atos processuais pertencem todos a uma unidade logicamente concatenada que é o procedimento. Todavia, guardam sua individualidade, identificando-se perfeitamente uns dos outros. De outro lado, a seqüência legal impõe uma ordem e uma relação de interdependência entre certos atos. Daí, decretada a nulidade de um ato, também serão considerados de nenhum efeito os subseqüentes que dele dependam. 42

Martins, assim esclarece:

Para haver nulidade, deve existir uma causa e um efeito. Os atos devem ser interdependentes. [...] Só os atos posteriores e que não

42 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 45.

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sejam conseqüência do ato considerado nulo, desde que dele não dependam, poderão ser aproveitados. (art. 248 do CPC). 43

Ao decretar a nulidade o juiz irá informar os atos a qual se

estende.

1.3.3 Princípio do interesse de agir

O princípio do interesse de agir dispões que não ocorrerá

nulidade do ato se a parte não argüir. Nesse sentido, Martins afirma:

Não haverá nulidade se a parte prejudicada não a argüir. O § 1º do art. 249 do CPC determina que “o ato não se repetirá, nem se lhe suprirá a falta quando não prejudicar a parte”. “Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados, desde que não resultem prejuízo a defesa” (parágrafo único do art. 250 do CPC). “Quando a lei prescrever determinada forma, sob pena de nulidade, a decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu causa” (art. 243 do CPC). 44

Para Greco Filho:

Quem deu causa à nulidade não pode requere-la, nem se repetirá o ato em favor de quem não sofreu prejuízo. 45

Para o autor o problema não é só de falta de interesse, mas

também de lealdade, “decretar a nulidade a favor de quem lhe deu causa seria

beneficiar o autor”. 46

43 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 187. 44 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 187. 45 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 45. 46 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 45.

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1.3.4 Princípio da economia processual

Visando o bom resultado da atuação do juízo, e por

economia dos atos processuais praticados, aproveita-se a parte válida do ato para

gerar a economia processual na demanda.

Greco Filho entende:

Um dos fundamentos da conservação dos atos não atingidos é a economia processual, devendo, o quanto possível, evitar-se a repetição inútil. 47

Ensina Martins:

A não observância da forma legal anula apenas os atos que não possam ser aproveitados, desde que não resultem prejuízo à parte”. 48

1.3.5 Princípio do aproveitamento da parte valida d o ato

O princípio do aproveitamento da parte valida do ato busca a

celeridade e economia processual, no qual ao decretar a nulidade do ato o juiz

mencionará os atos a que ela se estende.

Segundo Martins:

Não se anula todo o processo se houver a possibilidade de se aproveitar um ato válido praticado no processo. 49

1.3.6 Princípio da legalidade

As nulidades deverão observar a forma prevista em lei,

quando houver, caso o ato praticado viole a forma prevista será determinada uma

47 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 45. 48 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 186. 49 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petiç ões, recursos, sentenças e outros. p. 186.

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penalidade para o mesmo. Para a aplicação deste princípio os atos seguirão as

formas que estão determinadas pela lei. Como elucida Martins:

As nulidades dependerão do que estiver previsto em lei para que sejam observadas as formas nela previstas. 50

O autor utiliza-se do exemplo de que o processo será nulo

quando o Ministério Público não for intimado no processo quando há necessidade

de sua intervenção para o seguimento do feito, nesse caso o juiz deverá anular o

processo a partir da intimação do Ministério Público, que não havia sido intimado.

1.4 ATO PROCESSUAL

Importante definir o que vem a ser ato processual, para que

se possam determinar regras para a sua validação.

Assim, o ato processual é aquele praticado na relação

processual, no qual consiste na manifestação de vontade no processo, cujo

objetivo final é a conclusão da lide.

Conforme Nascimento:

[...] ato é manifestação de vontade que emana das pessoas vinculadas a relação jurídica processual, à qual se destina. 51

Amaral Santos, assim entende:

São atos processuais os atos que têm importância jurídica para a relação processual, isto é, aqueles atos que têm por efeito a constituição, a conservação, o desenvolvimento, a modificação ou cessação da relação processual. 52

Num mesmo entendimento, Wambier tem como ato

processual aquele que busca gerar efeitos dentro do processo, ressalta que os

50 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 186. 51 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 361. 52 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de Direito Processual Civil . p. 279.

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atos processuais não são apenas atribuições das partes, que todos os sujeitos da

relação processual fazem parte deste, pois tem um único objetivo que é a

extinção do processo. Vejamos como manifesta Wambier:

[...] toda manifestação de vontade humana que tem por fim criar, modificar, conservar ou extinguir a relação jurídica processual [...]. 53

Greco Filho expõe elementos que compõe os atos

processuais, como segue:

[...] Há necessidade, pois, de que haja: a) a manifestação de vontade de um dos sujeitos do processo – juiz, partes ou auxiliares; b) a previsão de um modelo na lei processual; c) a constituição, modificação ou extinção da relação processual, quer no seu aspecto intrínseco, que é a própria existência do vinculo que une Autor, Juiz e Réu, quer no seu aspecto extrínseco, que é o procedimento, o conjunto lógico e sucessivo de atos na lei. 54

Para Martins diz que os atos processuais terão um único fim,

a sentença:

Os atos processuais, como o próprio nome diz, são os praticados no curso do processo, não são atos que decorrem do contrato. Exemplo: petição inicial, contestação, laudo pericial, sentença, recurso etc. 55

Theodoro Junior, assim entende:

O processo, enquanto relação jurídica processual tendente a um objetivo, a composição da lide, compõe-se de atos processuais que buscam diretamente o seu fim. [...]. 56

53 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil . p. 164. 54 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 06. 55 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 166. 56 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 192.

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No seguinte tópico veremos a classificação dos atos

processuais e quais as atribuições de cada um, ainda verificar-se-á em qual ato

se localiza a citação, que é um dos objetos de estudos deste trabalho.

1.4.1 Atos da parte

A doutrina sustenta que os atos das partes são aqueles que

têm por objetivo um resultado final favorável para uma das partes no processo,

são praticados pelo autor ou réu, pelas partes intervenientes no processo ou

Ministério Público. Amaral Santos acredita que “os atos das partes podem ser

postulatórios, dispositivos, instrutórios e reais”. 57

Nessa linha elucida Theodoro Junior:

Consideram-se atos da parte os praticados pelo autor ou réu, pelos terceiros interveniente ou pelo Ministério Público, no exercício de direito ou poderes processuais, ou para cumprimento de ônus, obrigações ou deveres decorrentes da relação processual. 58

Os atos das partes estão regulados no Código de Processo

Civil em seu artigo 158 com a seguinte redação:

Art. 158. Os atos das partes, consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais de vontade, produzem imediatamente a constituição, a modificação ou a extinção de direitos processuais.

Parágrafo único. A desistência da ação só produzirá efeito depois de homologada por sentença. 59

Na redação do caput artigo acima se observa que os atos

consistem numa declaração de vontade unilateral ou bilateral, na qual produzem

efeitos imediatos no processo. Porém, o parágrafo único do mesmo artigo trata da

exceção.

57 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de Direito Processual Civil . p. 284. 58 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 197. 59 Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, denominado Código de Processo Civil.

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Também entende Greco Filho:

Os atos das partes, por conseguinte, correspondem ao ônus estabelecidos pelo direito processual, e ela os praticam com o fim de obter uma situação favorável, tendo em vista o resultado final que é a expectativa de vencer a demanda. 60

Ressalta ainda, Greco Filho, que a citação é um ato da

parte, onde “proposta a ação, tem o autor o ônus, entre outros, de proporcionar os

meios para a citação do réu”. 61 A citação no processo será abordada no próximo

capítulo.

Assim também entende Wambier:

São os atos processuais das partes aqueles não praticados por agentes da jurisdição, onde se busca a obtenção de alguma conseqüência favorável, seja para o encaminhamento do processo, seja para a conquista de um bem da vida. 62

No seguinte item trataremos dos atos do juiz, subdivisão do

ato processual.

1.4.2 Atos do juiz

Os atos praticados pelo juiz são todos aqueles que

conduzem o processo para seu ápice – a sentença. Nesse sentido pensa

Theodor Junior:

[...], o juiz está dotado de duas espécies de poderes: o de dar solução à lide, e o de conduzir seu feito segundo o procedimento legal, resolvendo todos os incidentes que surgirem até o momento adequado à prestação jurisdicional. 63

O mesmo autor entende que os atos do juiz podem ser

divididos em atos decisórios propriamente ditos e atos executivos. “Nos primeiros,

60 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 13. 61 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 13. 62 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil . p. 168. 63 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 200.

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visa-se a preparar ou obter a declaração da vontade concreta da lei frente ao

caso sub judice 64. Já nos atos executivos, procura-se a realização efetiva da

mesma vontade, através de providencias concretas sobre o patrimônio do

devedor, para satisfação do direito do credor (atos, por exemplo, que ordenam a

penhora, a arrematação, a adjudicação etc.).” 65

Greco Filho chama a atenção ao dizer que:

[...] os atos do juiz não são exclusivamente sentenças,

decisões ou despachos. Ele também pratica como as

partes, atos materiais ou reais, [...]. 66

Wambier vai mais além sobre os atos processuais do juiz:

[...] quem mais pratica os atos processuais, pois a ele compete a

ordenação da marcha procedimental, a solução das questões

que, passo a passo, vão se apresentado, a presidência na

colheita da prova, e o pronunciamento definitivo sobre a lide

posta. [...]. 67

O Código de processo Civil na redação do art. 162 68

determina quais são os atos do juiz, que consiste em: a) sentença, ato pelo qual o

juiz põe termo ao processo; b) decisões interlocutórias, ato pelo qual o juiz resolve

questão incidental no curso do processo; c) despachos, todos os demais atos

praticados no processo.

1.4.3 Atos do escrivão ou chefe de secretaria

O escrivão ou chefe de secretaria auxilia o juiz no

andamento do processo, desde o ato inicial até o seu encerramento, sendo

responsável pela integridade do mesmo.

64 GUIMARAES Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. São Paulo. Editora Rideel,

1995, p. 510. SUB JUDICE – (Latim) Questão que está sob exame, pendente de decisão judicial. 65 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 200. 66 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 15. 67 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil . p. 170. 68 Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, denominado Código de Processo Civil.

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Entende Theodor Junior que o escrivão ou chefe de

secretaria “se encarrega especificamente dos atos de documentação,

comunicação e movimentação do processo”. 69

Segundo Greco Filho:

[...] o escrivão é órgão de apoio indispensável à administração da justiça, cabendo-lhe a atividade documental do processo. 70

Wambier tem como atos do escrivão aqueles praticados por

ele, escrivão, e por seus auxiliares juramentados:

O código, do art. 166 o 171, traça regras burocráticas que o escrivão deve seguir para a atuação (encapamento de petições e documentos apresentados pelo autor, quando da propositura da demanda), bem como para a seqüência lógica dos atos procedimentais [...]. 71

Ressalta-se que os atos do escrivão ou chefe de secretaria

presumem fé pública, ou seja, os fatos são verdadeiros, até que se prove em

contrário. Dispõe o § 4º do art. 162 do CPC 72 que “Os atos meramente

ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de despacho,

devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando

necessários”.

1.5 ATO JURÍDICO

Constitui-se ato jurídico as declarações de vontade que

vislumbram efeitos no ordenamento jurídico, observam-se também que para que

o ato jurídico produza seus efeitos, este, tem que ser lícito.

Pereira entende:

69 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 205. 70 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 16. 71 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil . p. 174. 72 Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, denominado Código de Processo Civil.

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[...] Não são todas as ações humanas que constituem atos jurídicos, porém apenas as que traduzem conformidades com a ordem jurídica, [...] os atos jurídicos produzem resultados consoantes com a vontade do agente, [...]. 73

Em uma divisão mais específica Pereira destaca o ato

jurídico stricto sensu 74 como uma categoria “constituída de uma declaração de

vontade dirigida no sentido da obtenção de um resultado”. 75

O mesmo autor ainda esclarece que no ato jurídico stricto

sensu também ocorre da manifestação de sua vontade, mas seus efeitos são

gerados independentemente de sua vontade.

Para Gomes:

Já os atos jurídicos em sentido estrito são ações humanas lícitas mas vinculadas, de sorte que ao agente não cabia a liberdade de pratica-las ou não, e seus efeitos já se acham adredemente definidos em lei. 76

Gomes ainda faz uma divisão dos atos jurídicos stricto

sensu, que podem ser atos materiais e participações. “Os atos materiais são

expressão de simples atuação da vontade, manifestações do comportamento

humano, nas quais o elemento intencional é irrelevante, eis que não tem

finalidade de produzir um evento psíquico na mente de outrem” [...] “As

participações são declarações de vontade, sem intento negocial, que visam a

produzir in mente alterius um evento psíquico. [...]”. 77

Para melhor compreensão do ato jurídico, veremos no

próximo item o ato ilícito.

73 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instruções de Direito Civil. 19º ed. Rio de Janeiro. Editora

Forense, 1999, p. 302. 74 GUIMARAES Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. p. 509. STRICTO SENSU –

(latim) No sentido Literal, estrito, exato, que não admite interpretação extensiva. 75 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instruções de Direito Civil. p. 303. 76 GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil . 18º ed. Rio de Janeiro. Editora Forense, 2001,

p. 254. 77 GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil . p. 253.

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1.6 ATO ILÍCITO

Configura-se como ato ilícito aquele que é praticado em

contrariedade com a lei, podendo este ato ser uma ação ou omissão que causar

dano à outra pessoa.

Pereira acredita que as ações “contravenientes as

determinações legais vão integrar a categoria dos atos ilícitos” [...] “os atos ilícitos

sujeitam a pessoas que os comete a conseqüências que a ordem legal lhes impõe

[...]”. 78

Ainda num mesmo entendimento, Gomes conclui:

Ato ilícito é, assim, a ação ou omissão culposa com a qual se infringe, direta e imediatamente, um preceito jurídico do Direito Privado, causando-se dano a outrem. [...] O conceito de ato ilícito implica a conjunção dos seguintes elementos: a) a ação, ou omissão, de alguém; b) a culpa do agente; c) violação de norma jurídica de Direito Privado; d) dano a outrem. 79

No próximo capítulo, como resultado da pesquisa, serão

expostos sobre os aspectos na citação, sua finalidade, tipos de citação e seus

efeitos no processo, com maior enfoque no processo do trabalho.

78 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instruções de Direito Civil. p. 302. 79 GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil . p. 488.

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CAPÍTULO 2

DA CITAÇÃO

2.1 CONCEITO DE CITAÇÃO

Entende-se por citação quando o réu ou interessado é

chamado ao processo para defender-se de uma ação proposta contra ele para,

querendo, apresentar defesa.

No tocante ao conceito, Nascimento ensina:

Citação é o chamamento do réu a juízo, para defender-se no processo. A etimologia da palavra “citação” provém de cieo, que significa mover, iniciar, chamar. A citação é, assim, um ato de comunicação ao demandado, de que contra ele, por meio de petição inicial ou termo de reclamação verbal, foi iniciado um processo e é também, ao mesmo tempo, uma incitação para que compareça perante o órgão jurisdicional, para apresentar contestação. 80

Mais especificamente sobre o processo do trabalho, ainda

leciona:

No processo trabalhista, a citação independe de qualquer participação do juiz; é automática, feita pela secretaria ou cartório, salvo casos especiais. 81

Observa-se que no processo trabalhista, para que haja

celeridade na solução da lide, a citação é realizada automaticamente pela

secretaria ou cartório.

Do mesmo modo, Martins interpreta:

80 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 393. 81 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 393.

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Citação é o ato de dar noticia ao réu de que existe contra ele uma ação, para que, se quiser, apresente sua defesa. Intimação é “o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do processo, para que faça ou deixe de fazer alguma coisa” (art. 234 82 do CPC). A notificação, em sentido amplo, é um ato em que se dá conhecimento a uma pessoa de alguma coisa ou fato. [...]. A CLT usa indiscriminadamente do termo notificação, tanto condizente à citação, como para intimação e mesmo para a própria notificação, [...]. 83

Cumpre ressaltar que o processo trabalhista utiliza-se da

expressão notificação tanto para a citação, intimação como a própria notificação.

Para Almeida:

Citação, como se sabe, é o chamamento de alguém a juízo para defender-se em ação contra si proposta ou ver-se-lhe instaurada execução. 84

No mesmo entendimento, Greco Filho:

A citação é o ato de chamamento do réu a juízo e que o vincula ao processo e seus efeitos. A citação é um ato solene, de modo que a falta de alguma de suas formalidades legais a torna nula, anulando conseqüentemente todos os atos que se seguirem. 85

Para o autor, a citação é ato solene que vincula o réu ou

interessado ao processo e consequentemente seus efeitos, tornando-se nulo o

ato na falta de seu pressuposto.

Exata é a definição de Theodoro Junior:

82 Art. 234 do CPC. Intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do

processo, para que faça ou deixe de fazer alguma coisa. 83 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 176. 84 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso Prático de Processo do Trabalho . 11 ed. São Paulo.

Editora Saraiva, 1999, p. 144. 85 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 29.

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Conforme definição legal, “citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se defender” (art. 213 86). Sem a citação do réu, não se aperfeiçoa a relação processual e torna-se inútil e inoperante a sentença. Daí dispor o art. 214 87 que, “para a validade do processo, é indispensável a citação inicial do réu”. 88

Para que o réu ou interessado habilite-se no processo, sua

citação tem que ser válida, ou seja, realizada de acordo com as prescrições

legais, sob pena de nulidade, conforme prevê o art. 247 do CPC, por força da Lei

5.869/73, com a seguinte redação:

Art. 247. As citações e as intimações serão nulas, quando feitas sem observância das prescrições legais.

Assim, também entende Wambier:

[...] É, pois, ato de cientificação, de comunicação ao réu, para que possa ele exercer o direito defesa, direito este constitucionalmente assegurado (Constituição Federal, art. 5º, LV 89). 90

Para o autor, a inexistência da citação no processo não

surtirá efeito na sentença, haja vista, não ter sido proporcionado ao réu ou

interessado a oportunidade a defesa, qual está assegurada por lei.

2.2 TIPOS DE CITAÇÃO

2.2.1 Citação por correio

A citação no processo do trabalho, normalmente é realizada

por correio quando o réu ou interessado reside em local onde há serviço de

86 Art. 213 do CPC. Citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se

defender. 87 Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, denominado Código de Processo Civil. 88 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 227. 89 Art. 5 – LV da CRFB/88. Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados

em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

90 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil . p. 312.

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entrega dos correios, a fim de acelerar a comunicação dos atos do processo,

como informar data, horário e local da audiência, a qual deverá ser marcada após

cinco dias da citação, e ainda evitar vícios na citação.

Acerca do assunto explana Martins:

[...] Ao receber a petição inicial o funcionário da secretaria da vara, dentro de 48 horas, deverá remeter a segunda via da peça vestibular, ou do termo, ao reclamado, notificando-o ao mesmo tempo, para comparecer à audiência, que será a primeira desimpedida, depois de cinco dias (art. 841 91 da CLT). [...] A comunicação pelo correio é uma forma mais rápida da comunicação dos atos processuais, evitando, inclusive, possibilidade de fraudes por parte dos oficiais de justiça ou suborno em relação a estes. [...] No processo do trabalho a citação ou qualquer outra notificação é feita pelo correio, não sendo necessário que o réu seja comerciante ou industrial, domiciliado no Brasil. [...] 92

No mesmo sentido observa Nascimento:

[...] a citação é feita por via postal. A secretaria ou cartório remete para o endereço mencionado na petição inicial ou termo de reclamação verbal pelo correio uma “notificação”, dando ciência da instauração do processo, informando dia e local da audiência, que a própria secretaria designa ao receber a inicial, e comunicando a parte que deve comparecer à audiência acompanhada de no máximo três testemunhas. Além da notificação, é enviada cópia da petição inicial ou do termo de reclamação verbal, para que o demandado possa tomar conhecimento dos fatos alegados e preparar sua defesa. 93

Cumpre ressaltar que a lei fixa um prazo de 48 horas para

devolução da notificação postal pelo correio quando o réu ou interessado não for

91 Art. 841 da CLT. Decreto Lei 5.452/43. Recebida e protocolada a reclamação, o escrivão ou

secretário, dentro de 48 (quarenta e oito) horas, remeterá a segunda via da petição, ou do termo, ao reclamado, notificando-o ao mesmo tempo, para comparecer à audiência do julgamento, que será a primeira desimpedida, depois de 5 (cinco) dias.

92 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos de petições, recursos, sentenças e outros. p. 176.

93 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 393.

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encontrado ou recusar o recebimento. Assim vejamos no texto do art. 774 § único

CLT, por força do Decreto Lei 5.452 de 1 de maio de 1943:

Art. 774 - Parágrafo único. Tratando-se de notificação postal, no caso de não ser encontrado o destinatário ou no de recusa de recebimento, o Correio ficará obrigado, sob pena de responsabilidade do servidor, a devolvê-la, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, ao Tribunal de origem.

Dessa maneira alude Almeida:

Adotada pela Consolidação das Leis do Trabalho quanto pelo Código de processo Civil, a citação postal, como o próprio nome já deixa entrever, é feita pelo Correio, através de registro postal com franquia. No caso de não ser encontrado o destinatário ou na recusa de recebimento, está o Correio, obrigado, por força da lei, a devolver a citação postal no prazo de quarenta e oito horas (CLT, art. 774, parágrafo único). 94

Acerca do processo do trabalho o mesmo autor especifica:

Por outro lado, ainda no processo do trabalho, não há necessidade da carta (notificação postal) ser entregue diretamente ao destinatário (exigência estabelecida no CPC, art. 223, parágrafo único 95, para o citando), podendo ser simplesmente depositada na caixa de correspondência, ou ainda entregue na portaria – o ônus da prova de que não foi entregue a quem de direito recai sobre o próprio destinatário. 96

Insta salientar que em matéria trabalhista a citação poderá

ser recebida por qualquer pessoa lotada no local da citação, ou ainda apenas ser

depositada na caixa de correspondência, sendo que caberá ao réu ou interessado

comprovar que a mesma não foi entregue no destino.

94 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso Prático de Processo do Trabalho . p. 145. 95 Art 223 § único do CPC. A carta será registrada para entrega ao citando, exigindo-lhe o carteiro,

ao fazer a entrega, que assine o recibo. Sendo o réu pessoa jurídica, será válida a entrega a pessoa com poderes de gerência geral ou de administração.

96 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso Prático de Processo do Trabalho . p. 145.

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Greco Filho apresenta as situações em que a citação não

poderá ser realizada pelo correio:

[...] a citação pelo correio pode ser feita, em geral, para qualquer Comarca do País, exceto: a) nas ações de estado; b) quando for ré pessoa incapaz; c) quando for ré pessoa de direito público; d) nos processos de execução; e) quando o réu residir em local não atendido pela entrega domiciliar de correspondência; f) quando o autor a requer de outra forma. 97

De modo sucinto Wambier coloca:

Na citação pelo correio, o escrivão ou chefe da secretaria remeterá ao réu uma carta de citação, contendo obrigatoriamente cópia da petição inicial e do despacho do juiz, além da advertência de que a ausência de contestação resulta em presunção de veracidade dos fatos narrados na inicial. [...] Também é obrigatória a menção ao prazo para resposta, e o endereço do juízo e cartório. A falta de qualquer desses requisitos torna nula a citação. 98

Em síntese, a citação por correio é a forma mais célere e

segura de notificar o réu ou interessado para que tome conhecimento do

processo.

2.2.2 Citação por mandado

Caso o réu ou interessado residir em local aonde não chegar

o serviço dos correios, a citação será realizada por oficial de justiça, o qual

certificará o recebimento através da assinatura da pessoa que o recebeu.

Com esse entendimento explana Nascimento:

Se o demandado reside em local sem distribuição postal de correspondência pelo correio, a notificação é feita mediante diligencia do oficial de justiça, que certifica o seu recebimento,

97 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 31. 98 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil . p. 316.

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colhendo a assinatura da pessoa que o atendeu como recibo de entrega. 99

Em sentido contrário Martins entende que a citação por

mandado somente é determinada na fase de execução, vejamos:

No processo do trabalho, só se determina a citação por Oficial de Justiça na fase de execução, como menciona o art. 880 100 da CLT, que também não precisa ser pessoal. 101

Na mesma corrente segue Almeida:

A Consolidação das leis do Trabalho, ao contrário do Código de Processo Civil, só estabelece, expressamente, a citação por oficial de justiça na fase executória (art. 880, § 2º 102). [...] na eventualidade do demandado encontra-se em perímetro interurbano, fora do alcance do serviço postal, ou mesmo tentando opor embargos à regular citação, poderá o juiz determinar que esta se faça por oficial. 103

Greco Filho alude que a citação por mandado deverá

preencher alguns requisitos:

A citação real é feita por mandado, pelo oficial de justiça, o qual, dirigindo-se a residência do réu, dar-lhe-á conhecimento da ação, entregando-lhe a contrafé, que é a cópia da petição inicial. O mandado deverá conter os requisitos do art. 225 do CPC. [...] 104

Vejamos o texto do art. 225 do CPC:

99 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 394. 100 Art. 880 da CLT. O juiz ou presidente do tribunal, requerida a execução, mandará expedir

mandado de citação ao executado, a fim de que cumpra a decisão ou o acordo no prazo, pelo modo e sob as cominações estabelecidas, ou, em se tratando de pagamento em dinheiro, incluídas as contribuições sociais devidas ao INSS, para que pague em quarenta e oito horas, ou garanta a execução, sob pena de penhora.

101 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos de petições, recursos, sentenças e outros. p. 177.

102 art. 880 § 2 da CLT. A citação será feita pelos oficiais de diligência. 103 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso Prático de Processo do Trabalho . p. 146. 104 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 30.

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Art. 225. O mandado, que o oficial de justiça tiver de cumprir, deverá conter:

I - os nomes do autor e do réu, bem como os respectivos domicílios ou residências;

II - o fim da citação, com todas as especificações constantes da petição inicial, bem como a advertência a que se refere o art. 285, segunda parte, se o litígio versar sobre direitos disponíveis;

III - a cominação, se houver;

IV - o dia, hora e lugar do comparecimento;

V - a cópia do despacho;

VI - o prazo para defesa;

VII - a assinatura do escrivão e a declaração de que o subscreve por ordem do juiz.

Entende Wambier que:

Somente nos caso em que for inadequada a citação pelo correio, ou quando frustrada esta, a citação se dará por oficial de justiça, em cumprimento a mandado para tanto expedido. 105

A respeito da citação por mandado sintetiza Theodoro

Júnior:

Para realizar o ato citatório, oficial de justiça deve portar o competente mandado, documento que o legitima a praticar a citação, que, por sua vez, depende sempre de prévio despacho do juiz. É, portanto, o mandado o documento que habilita o oficial a atuar em nome do juiz na convocação do réu para integrar o pólo passivo da relação instada pelo autor. 106

105 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil . p. 317. 106 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 230.

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Dessa forma, o juiz determinará a citação por mandado nos

casos em que não for possível a concretização da citação por correio, ou na fase

de execução do processo trabalhista.

2.2.3 Citação por edital

A citação por edital é realizada quando o réu ou interessado

não é localizado ou cria embaraços ao recebimento da citação postal, porém

antes da citação por edital, no processo trabalhista, costuma-se fazer a citação

por mandado, através do oficial de justiça.

Nascimento assim define:

Quando o demandado está em lugar incerto e não sabido, deve ser citado por edital, inserto em jornal oficial ou no jornal que publica o expediente forense, à falta de órgão de imprensa, o edital é afixado na sede da Vara. Também nos casos de ocultação ou embaraço, criados pelo demandado, a citação é por edital (CLT, art. 841, § 1º). 107

Vejamos o texto do art. 841 § 1º CLT, por força do Decreto

Lei 5.452 de 1 de maio de 1943:

Art. 841 § 1º - A notificação será feita em registro postal com franquia. Se o reclamado criar embaraços ao seu recebimento ou não for encontrado, far-se-á a notificação por edital, inserto no jornal oficial ou no que publicar o expediente forense, ou, na falta, afixado na sede da Junta ou Juízo.

A comprovação da notificação é feita mediante a juntada aos

autos do aviso de recebimento, emitido no registro postal com franquia (art. 841, §

1º, CLT), no entanto, o Enunciado nº 16 do TST, dispõe que:

107 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 394.

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Presume-se recebida a notificação quarenta e oito (quarenta

e oito) horas depois de sua postagem. O seu não recebimento ou a entrega após

o decurso desse prazo constitui ônus de prova do destinatário. 108

O referido enunciado autoriza o encaminhamento da

notificação por via postal simples, divergindo do texto legal da CLT, assim caberá

ao réu ou interessado comprovar que a notificação não foi recebida ou entregue.

Dessa forma também exprime Martins:

A notificação será feita em registro postal com franquia (§ 1 do art. 841 da CLT). Se o reclamado criar embaraços da notificação postal, ou não for encontrado, faz-se a notificação por edital, [...] antes de passar a notificação por edital, costumam determinar que o oficial de justiça faça a notificação, inclusive com a presença do reclamante, [...]. 109

O mesmo autor comenta a respeito do procedimento

sumaríssimo:

No procedimento sumaríssimo, não será admitida a citação por edital (art. 852 – B, II, da CLT). Como a lei não admite citação por edital, ela só poderá ser feita pelo correio ou por meio de oficial de justiça. Logo, não se aplica nessa parte o § 1º do art. 841 da CLT, ao prever que, se o reclamado não for encontrado ou criar embaraços ao recebimento da comunicação processual, a citação será feita por edital. Objetiva-se certeza no procedimento. 110

Para Almeida a Consolidação das Leis do Trabalho é clara

ao prever a citação por edital em casos específicos, vejamos:

A Consolidação das leis do trabalho, no seu art. 841, § 1º, prevê expressamente a citação por edital, sempre que o reclamado criar

108 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho comentada. p. 886. 109 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 178. 110 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 178.

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embaraços ao seu recebimento ou estiver em local incerto e não sabido. [...]. 111

Na mesma linha de raciocínio, Greco Filho entende que

procede a citação por edital nos casos em que o réu é pessoa incerta, ou se

incerto, ignorando ou inacessível for o lugar em que se encontrar. [...]. 112

Esclarecendo o mesmo entendimento, Wambier comenta:

[...] Somente se admite a citação por edital se o autor demonstrar ter esgotado as tentativas de localizá-lo, pois sempre será preferível a citação real. 113

Observa-se que a citação por edital somente é utilizada

depois de esgotados os meios de citar o réu ou interessado através do correio,

quando não localizado ou encontrar em local incerto ou ainda quando este causar

embaraços ao recebimento da citação por correio.

2.2.4 Citação por hora certa

O processo trabalhista é omisso quanto à citação por hora

certa que trata o Código de processo Civil, porém nada impede sua aplicação

subsidiária aos casos especiais.

Partindo da idéia, leciona Nascimento:

A lei trabalhista não prevê citação por hora certa. Nada impede, no entanto, que o juiz, segundo as necessidades de cada caso concreto e de acordo com o seu prudente arbítrio, utilize-se desse instrumento previsto na legislação processual civil, que é de aplicação subsidiária. 114

Em um mesmo sentido, Martins:

111 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso Prático de Processo do Trabalho . p. 146. 112 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 33. 113 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil . p. 317. 114 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 395.

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Não existe, porém, citação por hora certa no processo do trabalho. Da citação postal passa-se diretamente para a citação por edital (§ 1º, art. 841 da CLT), sem se fazer a citação por hora certa de que se fala o CPC (arts. 227 a 229), pois inexiste omissão na CLT. 115

Prevê os artigos 227 a 229 do CPC, por força da Lei

5.869/73:

Art. 227. Quando, por três vezes, o oficial de justiça houver procurado o réu em seu domicílio ou residência, sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar a qualquer pessoa da família, ou em sua falta a qualquer vizinho, que, no dia imediato, voltará, a fim de efetuar a citação, na hora que designar.

Art. 228. No dia e hora designados, o oficial de justiça, independentemente de novo despacho, comparecerá ao domicílio ou residência do citando, a fim de realizar a diligência.

§ 1o Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará informar-se das razões da ausência, dando por feita a citação, ainda que o citando se tenha ocultado em outra comarca.

§ 2o Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé com pessoa da família ou com qualquer vizinho, conforme o caso, declarando-lhe o nome.

Art. 229. Feita a citação com hora certa, o escrivão enviará ao réu carta, telegrama ou radiograma, dando-lhe de tudo ciência.

Mais expressivo ainda o esclarecimento de Almeida:

A Consolidação das leis do Trabalho é inteiramente omissa a respeito desta espécie de citação, estabelecida nos arts. 277 a 299 do Código de Processo Civil. Entretanto, por força do que dispõe o art. 769 da Consolidação das leis do Trabalho, e na inexistência de qualquer incompatibilidade com os princípios

115 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 178.

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gerais do processo trabalhista, inequívoca sua aplicação subsidiária. 116

A respeito da citação por hora certa Greco Filho ensina:

[...] Se por três vezes o oficial de justiça houver procurado o réu em seu domicílio ou residência e não o encontrar, havendo suspeita de que esteja ocultando-se, deverá intimar a qualquer pessoa da família ou a qualquer vizinho, que, no dia imediato, voltará, em hora marcada, para efetivar a citação. [...]. 117

O mesmo ressalta Wambier:

Trata-se de citação realizada por oficial de justiça, mas também sem a certeza jurídica de que o réu foi cientificado da propositura da ação. [...] Na hora por ele mesmo designada, o oficial de justiça retornará ao endereço do réu. [...]. 118

Assim também entende Theodoro Junior:

Quando, por malícia do réu, o oficial de justiça não conseguir encontra-lo para dar-lhe pessoalmente a ciência do ato de cuja pratica foi incumbido, permito o Código que a citação se faça de forma ficta ou presumida, sob a denominação de citação por hora certa (art. 227). 119

Nota-se que a citação por hora certa é determinada pelo juiz

quando o oficial de justiça, por várias oportunidades, não conseguir cumprir o

mandado, sendo então marcado data e horário para que seja efetivada a citação.

Como vimos anteriormente, este tipo de citação não está previsto no processo

trabalhista, mas dependendo do caso poderá ser determinado, desde que não

seja incompatível com as normas do trabalho.

116 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso Prático de Processo do Trabalho . p. 146. 117 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 33 118 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil . p. 318. 119 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 231.

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2.2.5 Citação por carta precatória

Nos casos em que o réu ou interessado residir em local

onde não é competência da Vara ou Juízo de Direito em que foi proposta a ação,

a citação é procedida mediante carta precatória.

Num melhor entendimento Martins ensina:

A citação por carta (arts. 200 e 201 120 do CPC) é feita quando a pessoa que deva ser citada encontra-se em local fora da jurisdição territorial da Vara ou do Juízo de Direito. [...] A carta precatória normalmente é expedida nos demais casos, principalmente quando a prova deva ser feita fora da jurisdição do juízo, como no caso de oitiva de testemunhas que residam fora desta jurisdição (art. 410, II, 121 do CPC) ou até mesmo para a realização de prova pericial, mas também poderá ser enviada para citação do réu. [...]. 122

Nascimento sintetiza o conceito:

Se o demandado reside em circunscrição onde a Vara não tem competência, a citação é feita por carta precatória, e, se reside no estrangeiro, por carta rogatória. [...] A citação, no processo trabalhista, diante do sistema adotado, não precisa ser necessariamente pessoal. [...] Basta a entrega da notificação postal ou por oficial no endereço indicado e está perfeita e acabada. [...]. 123

Assim também elucida Almeida:

120 Art. 200 do CPC. Os atos processuais serão cumpridos por ordem judicial ou requisitados por

carta, conforme hajam de realizar-se dentro ou fora dos limites territoriais da comarca.

Art. 201 do CPC. Expedir-se-á carta de ordem se o juiz for subordinado ao tribunal de que ela emanar; carta rogatória, quando dirigida à autoridade judiciária estrangeira; e carta precatória nos demais casos.

121 Art. 410 do CPC. As testemunhas depõem, na audiência de instrução, perante o juiz da causa, exceto: II - as que são inquiridas por carta.

122 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos de petições, recursos, sentenças e outros. p. 179.

123 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 395.

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Dá-se a citação por carta precatória sempre que o reclamado residir em outra localidade sobre a qual o juízo processante não possua jurisdição. 124

Do mesmo modo, Greco Filho:

Se o réu não se encontrar na comarca e tiver domicílio certo fora dos limites territoriais da jurisdição do juiz, a citação far-se-á por carta precatório ou carta rogatória. [...] 125

Em suma no processo trabalhista a citação, mesmo que por

carta precatória, não necessita ser entregue pessoalmente, bastando à entrega

no endereço indicado. A citação por carta precatória não é utilizada tão somente

para a citação do réu ou interessado, mas também para oitiva de testemunhas e

realização de provas periciais.

2.2.6 Citação por carta rogatória

A carta rogatória possui o mesmo objetivo que a carta

precatória, porém está é encaminhada quando o réu, interessado ou testemunha

residir no estrangeiro. A carta será remetida para a autoridade judicial do

estrangeiro. Isso demonstra Martins:

A citação por carta (arts. 200 e 201 do CPC) é feita quando a pessoa que deva ser citada encontra-se em local fora da jurisdição territorial da Vara ou do Juízo de Direito. [...] A carta rogatória será a comunicação processual dirigida à autoridade judiciária estrangeira. [...]. 126

Assim também ressalta Almeida:

124 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso Prático de Processo do Trabalho . p. 146. 125 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 31. 126 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 179.

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Ocorre a citação por rogatória quando o reclamado residir no estrangeiro. Sua aplicação no processo do trabalho é manifestada. 127

Nascimento ensina:

Se o demandado reside em circunscrição onde a Vara não tem competência, a citação é feita por carta precatória, e, se reside no estrangeiro, por carta rogatória. [...] A citação, no processo trabalhista, diante do sistema adotado, não precisa ser necessariamente pessoal. [...] Basta a entrega da notificação postal ou por oficial no endereço indicado e está perfeita e acabada. [...]. 128

Na mesma corrente Greco Filho:

Se o réu não se encontrar na comarca e tiver domicílio certo

fora dos limites territoriais da jurisdição do juiz, a citação far-se-á por carta

precatório ou carta rogatória. [...]. 129

2.3 EFEITOS DA CITAÇÃO

A citação válida resulta efeitos, os quais estão elencados no

art. 219 do CPC, por força da lei 5.869/73, vejamos:

Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição.

Para um melhor entendimento observamos o que nos ensina

Greco Filho:

127 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso Prático de Processo do Trabalho . p. 147. 128 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 395. 129 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 31. 132 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 34.

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Conforme dispõe o art. 219 do Código de Processo Civil, a citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui o devedor em mora e interrompe a prescrição. Dos efeitos acima relacionados são processuais o tornar provento o juízo e induzir litispendência; são efeitos do direito material a constituição do devedor em mora e a interrupção da prescrição. 132

Observa-se então que são efeitos materiais à mora e a

interrupção da prescrição, sendo efeitos processuais a prevenção do juízo e a

litispendência.

No mesmo caminho segue Theodoro Junior:

Na sistemática de nosso direito processual civil, a citação válida produz os seguintes efeitos (art. 219). A prevenção, a litispendência e a litigiosidade são considerados efeitos processuais da citação; a constituição em mora e a interrupção da prescrição, efeitos materiais. Os efeitos processuais pressupõem perfeita regularidade do ato citatório. Já os materiais operam sua eficácia, mesmo quando a citação for ordenada por juiz incompetente (art. 219 caput, segunda parte). 133

Analisaremos individualmente abaixo cada efeito da citação

válida no processo.

2.3.1 Prevenção do juízo

A fixação da competência de um juízo em face de outros

juízos, que também teriam competência para julgar a causa, chama-se

prevenção. Por igual observa Greco Filho:

Tornar prevento o juízo significa a fixação da competência de um juízo em face de outros juízos que também seriam em tese competentes. A prevenção, fixando a competência de um, exclui a dos demais. A regra se aplica, por exemplo, no caso de ações conexas, que poderiam ser reunidas em um só juízo (v. art. 105). [...] Contudo, no caso de ações conexas que correm perante juizes que tem a mesma competência territorial (diversas varas

133 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 235.

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dentro de uma comarca), a prevenção é determinada não pela citação válida, mas pelo primeiro despacho dado pelo juiz em qualquer delas (art, 106). 134

O instituto da prevenção, ao fixar a competência de um juízo

automaticamente excluirá a competência dos demais.

Dessa forma dispõe os artigos 105 e 106 do CPC, por força

da lei 5.869/73:

Art. 105. Havendo conexão ou continência, o juiz, de ofício ou a

requerimento de qualquer das partes, pode ordenar a reunião de ações

propostas em separado, a fim de que sejam decididas simultaneamente.

Art. 106. Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro lugar.

Por melhor observa Theodoro Junior:

Consiste a prevenção na fixação da competência de um juiz em face de outros, quando vários são os que teriam igual competência para a causa. O método aplica-se aos casos de conexão entre várias ações, que poderiam ser atribuídas a diversos juizes. Aquele que realizou primeiro a citação em uma das causas tem a sua competência preventa para as demais [...] Há, porém, um caso em que a prevenção opera antes mesmo da citação: é o da concorrência de competência entre juizes que tem a mesma competência territorial (titulares de diversas varas de uma comarca), quando então, basta o despacho da inicial para tornar provento o juiz. 135

2.3.2 Indução de litispendência

Com a ocorrência da litispendência, a mesma questão não

poderá ser objeto de discussão em processo idêntico, ou seja, com o mesmo

pedido e as mesmas partes, até que o primeiro processo seja extinto.

134 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 34. 135 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 235.

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Dessa forma nos ensina Greco Filho:

[...] A litispendência é o fato processual da existência de um processo em andamento e que produz como efeito negativo a impossibilidade de haver outro processo idêntico. O segundo processo, se já instaurado, deve ser extinto e, se não instaurado, deve ser rejeitado (v. art. 267, V 136) 137

Por igual observa Theodoro Junior:

Consiste a litispendência em tornar completa a relação processual trilateral em torno da lide. Por força da litispendência, o mesmo litígio não poderá voltar a ser objeto, entre as partes, de outro processo, enquanto não se extinguir o feito pendente [...]. 138

Resta dizer que havendo litispendência, sendo instaurado

um novo processo com o mesmo pleito e as mesmas partes, este deverá ser

extinto pelo juízo.

2.3.3 Litigiosidade da coisa

O bem jurídico disputado entre as partes em litígio, estará

vinculado ao processo até seu julgamento, não sendo permitido as partes alterá-

lo, nem aliená-lo, correndo em pena de atentado ou frade a execução.

Assim é o entendimento de Theodoro Junior:

Pelo fenômeno da litigiosidade, o bem jurídico disputado entre as partes se torna vinculado à sorte da causa, de modo que, entre outras conseqüências, não é permitido aos litigantes alterá-lo (arts. 879 – 881), nem aliená-lo, sob pena de atentado ou fraude á execução [...]. 139

A legislação prevê o atentado no art. 879 e seguintes do

CPC, por força da Lei 5.869/73: 136 Art. 267, V do CPC. quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa

julgada. 137 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 34. 138 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 235. 139 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 236.

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Art. 879. Comete atentado a parte que no curso do processo:

I - viola penhora, arresto, seqüestro ou imissão na posse;

II - prossegue em obra embargada;

III - pratica outra qualquer inovação ilegal no estado de fato.

Art. 880. A petição inicial será autuada em separado, observando-se, quanto ao procedimento, o disposto nos arts. 802 e 803.

Parágrafo único. A ação de atentado será processada e julgada pelo juiz que conheceu originariamente da causa principal, ainda que esta se encontre no tribunal.

Art. 881. A sentença, que julgar procedente a ação, ordenará o restabelecimento do estado anterior, a suspensão da causa principal e a proibição de o réu falar nos autos até a purgação do atentado.

Parágrafo único. A sentença poderá condenar o réu a ressarcir à parte lesada as perdas e danos que sofreu em conseqüência do atentado.

Dessa forma, do atentado resultará na obrigação da parte

restabelecer ao estado que se encontrava anteriormente.

Para Greco Filho, o bem jurídico objeto de discussão,

poderá ser alienado, pois a legitimidade das partes não será alterada, porém a

execução da sentença irá alcançar este bem, mesmo que em mãos de terceiros:

Quando o bem material sobre o qual litigam as partes é coisa infungível, a citação válida o vincula definitivamente ao processo e seu resultado. Isto não quer dizer que a coisa litigiosa se torna inalienável, mas sim que qualquer alteração jurídica em sua titularidade é irrelevante e ineficaz para o processo. Assim, a alienação da coisa litigiosa não altera a legitimamente das partes, que continuam a demanda como partes principais; a execução da sentença vai alcançar a coisa, ainda que em mãos de terceiros,

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porque a eventual alienação se considera em fraude de execução (art. 592, V 140, c/c o art. 593, I). 141

A fraude a execução está emanada no art. 593 do CPC, por

força da Lei 5.869/73:

Art 593 do CPC. Considera-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens:

I - quando sobre eles pender ação fundada em direito real;

II - quando, ao tempo da alienação ou oneração, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à insolvência;

III - nos demais casos expressos em lei.

No caso de fraude a execução, resultará na ineficácia do ato

de disposição, sendo que o bem jurídico, mesmo que em mãos de terceiros

continuará sujeito aos efeitos da sentença proferida pelo juízo.

2.3.4 Constituição em mora do devedor

Ocorrerá mora ao devedor quando este não cumprir com

sua obrigação, podendo ocorrer a partir do vencimento ou da citação, como bem

observa Greco Filho:

[...] fica o devedor, com a citação, em mora, isto é, em situação de descumprimento da obrigação. Duas são as situações possíveis; ou a dívida é liquida e certa, e neste caso a mora ocorre a partir do vencimento, ou a dívida será declarada no próprio processo, ficando o devedor em mora a partir da citação, porque esta é a ultima oportunidade para que o réu deixe de opor-se ao cumprimento da obrigação ainda sem ônus. Se resistir e vier a perder a demanda, arcará com os efeitos da mora a partir da citação, inclusive os juros legais. [...] 142

140 Art. 592 do CPC. Ficam sujeitos à execução os bens: V - alienados ou gravados com ônus real

em fraude de execução. 141 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 35. 142 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 35.

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Do mesmo modo entende Theodoro Junior:

Quando a mora não é ex re, ou de pleno direito (a que decorre do simples vencimento da obrigação) (art. 960 do Código Civil), a citação inicial apresenta-se como equivalente da interpelação, atuando como causa de constituição do devedor em mora (mora ex persona). Trata-se, portanto, de um efeito material da citação. 143

Partindo da idéia, verifica-se que se tratando de dívida

liquida e certa a mora do devedor ocorrerá a partir do vencimento desta, sendo a

dívida declarada no processo, a mora correrá a partir da citação do devedor, pois

está será a ultima oportunidade de manifestar-se quanto ao não pagamento da

obrigação.

2.3.5 Interrupção da prescrição

A citação interrompe a prescrição, ainda que esta tenha sido

ordenada por juiz incompetente. Dessa maneira entende Greco Filho:

[...], a citação interrompe a prescrição, em consonância, aliás, com o art. 172, I do Código Civil. Se a citação, contudo, demorar a efetivar-se não por culpa do autor, a prescrição considerar-se-á interrompida a partir da propositura da ação. Isso acontece se o autor promove a citação do réu propiciando os elementos para que se efetive nos dez dias seguintes ao despacho que a determinou, prazo esse que pode ser prorrogado até noventa dias. Se ainda nesses prazos não se concretizar a citação, a prescrição não será considerada interrompida, podendo o juiz, em se tratando de direitos não patrimoniais, decreta-la de ofício e de imediato, comunicando-se ao réu o resultado do julgamento. [...]. 144

Quando ocorre a interrupção da prescrição, os prazos

decorridos são abandonados e novos prazos recomeçam a ser contados da data

em que ocorreu a interrupção.

143 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 236. 144 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 36.

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No mesmo sentido, Theodoro Junior:

O Código Civil, em seu art. 172, nº I, considera a citação do devedor como fato hábil a interromper a prescrição, ainda que ordenada por juiz incompetente. Trata-se, pois, de outro efeito de natureza material do ato citatório. 145

É entendimento sumulado pelo TST no que concerne a

interrupção da prescrição:

Súmula 268. A ação trabalhista, ainda que arquivada,

interrompe a prescrição somente em relação aos pedidos idênticos. 146

No processo trabalhista a prescrição somente será

interrompida em relação aos pedidos idênticos em outra demanda.

No último capitulo desta monografia será abordada a

especificidade da nulidade na citação no processo do trabalho, bem como seus

efeitos e entendimento jurisprudencial.

145 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 236. 146 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho comentada. p. 896.

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CAPÍTULO 3

DAS NULIDADES NA CITAÇÃO

3.1 TEORIA DAS NULIDADES DOS ATOS PROCESSUAIS

Os atos processuais, assim como os demais atos jurídicos,

podem apresentar vícios que os tornem nulos, anuláveis ou inexistentes.

Em matéria de direito processual, a nulidade é praticada no

decorrer do processo, o qual geralmente é proveniente da inobservância da forma

pela qual o ato deveria ter sido realizado. Ressalta-se que o conceito de forma

aqui analisado, corresponder ao modo pelo qual o ato jurídico observa os

requisitos da forma legal preconizada em lei, para que o ato seja válido no

ordenamento jurídico.

Desta forma, a teoria das nulidades dos atos processuais

tem sua base construída segundos os Princípios moderadores das nulidades, cujo

objetivo maior é a instrumentabilidade das formas, o qual foi tratado

especificamente no primeiro capítulo.

3.2 COMPARECIMENTO ESPONTÂNEO DO RÉU

O comparecimento espontâneo do réu ou interessado em

juízo supre a falta da citação, dessa forma não ocorre à nulidade.

Assim é o pensamento de Martins:

A falta da citação é suprida pelo comparecimento

espontâneo do réu a juízo (§ 1º do art. 214 do CPC) [...]. 147

147 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 181.

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Conforme prevê o art. 214 § 1º do CPC, por força da Lei

5.869/73, para a validade do processo é indispensável à citação inicial do réu ou

interessado, entretanto o seu comparecimento espontâneo supre a falta da

citação, vejamos:

Art. 214. Para a validade do processo é indispensável a citação inicial do réu.

§ 1o O comparecimento espontâneo do réu supre, entretanto, a falta de citação.

Por igual observa Almeida:

[...] A nulidade, pois, decorrente da ausência de citação inicial, é insuprível, anulando na initio a ação, exceto se o réu espontaneamente comparecer a juízo, hipótese em que o seu comparecimento supre a ausência de citação. 148

Da mesma forma entende Greco Filho:

[...] Todavia, ato nulo não supre ou se sana. O que ocorre é a substituição do ato formal de se levar ao réu o conhecimento da demanda, a citação, pelo conhecimento espontâneo reconhecido pelo comparecimento do demandado para responder. [...]. 149

A citação é um ato formal, porém a sua falta é substituída

quando o réu ou interessado tiver conhecimento da lide, sendo assim o ato

suprido com o seu comparecimento espontâneo para responder em juízo.

Para Wambier a citação objetiva cientificar o réu ou

interessado de que foi proposta uma demanda contra ele, vejamos:

Embora a citação seja ato processual que apresenta requisitos específicos, sua finalidade essencial é de dar ciência ao réu que a demanda foi proposta. Se por outro modo a ciência chegou ao

148 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso Prático de Processo do Trabalho . p. 144. 149 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 29.

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destinatário, e pó isso houve o comparecimento espontâneo, não há necessidade de se realizar a citação, a falta estará suprida. 150

Conforme Theodoro Junior o dispositivo legal é claro no que

diz respeito ao suprimento da citação quando do comparecimento espontâneo do

réu:

Assim é que dispõe o art. 214 § 1º, que a falta ou nulidade da citação se supre pelo “comparecimento espontâneo do réu”. 151

Destarte, observa-se que a nulidade da citação será suprida

quando o réu ou interessado comparecer espontaneamente em juízo para

defender-se.

3.3 COMPARECIMENTO DO RÉU PARA ALEGAR A NULIDADE NA CITAÇÃO

O réu ou interessado poderá comparecer em audiência

apenas para alegar a nulidade da citação, o qual, em razão da nulidade, será

decretado novo prazo de cinco dias para que o réu apresente defesa. Não será

necessária a repetição do ato citatório, uma vez que o comparecimento importa

em conhecimento da demanda.

Com relação ao exposto, ensina Wambier:

Mas o réu pode comparecer apenas para alegar a nulidade da citação. A nulidade pode ocorrer tanto porque a modalidade escolhida não corresponde aos pressupostos fáticos, como, por exemplo, o réu não se encontrar em local incerto e ter sido escolhida a citação por edital, como também quando, embora certa a modalidade, tenha faltado algum dos requisitos exigidos em lei. Nessa circunstanciam, cumpre ao juiz analisar o vício da citação e decretar sua nulidade, considerando-se como realizada a citação na data em que o réu ou seu advogado tiverem sido intimados da decisão que decretou a nulidade, para só então

150 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil . p. 314. 151 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil . p. 228.

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abrir-se o prazo para resposta, sem necessidade de nova citação. 152

Assim entende Greco Filho:

Se, contudo, o comparecimento espontâneo não foi pleno e perfeito, o réu poderá comparecer apenas para argüir a nulidade da citação, e, no caso de ser ela decretada, considera-se feita da data da intimação da decisão que decretou o vício, não havendo necessidade de repetir-se a diligencia, porque o comparecimento importa em conhecimento, ainda que incompleto. Decretada a nulidade os prazos serão devolvidos ao réu. 153

Acerca do comparecimento do réu para argüir a nulidade da

citação vejamos o que dispõe o art. 214 § 2º do CPC, por força da Lei 5.869/73:

Art. 214. § 2º. Comparecendo o réu apenas para argüir a nulidade e sendo

esta decretada, considerar-se-á feita a citação na data em que ele ou seu

advogado for intimado da decisão.

Para Martins:

Nesse último caso, decretada a nulidade, em razão da nulidade da citação, é marcada nova audiência inicial, dentro de cinco dias, saindo ciente o reclamado da nova designação. Nessa nova audiência, o reclamado deverá apresentar sua contestação, seguindo o processo seu tramite normal. 154

Observa-se então que, comparecendo o réu para alegar a

nulidade da citação, a audiência inicial será remarcada, abrindo-se prazo para

que este conteste a inicial, sem prejuízo de incorrer a revelia.

152 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil . p. 315. 153 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 30. 154 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 181.

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3.4 NULIDADE DA CITAÇÃO QUANDO HÁ MÁ-FÉ DO EMPREGAD O

Ocorrerá nulidade da citação quando o empregado

demandante, que ainda trabalha na empresa demanda, a qual interpôs

reclamação trabalhista, agir de má-fé ao receber a citação e não levar ao

conhecimento do empregador.

Partindo da idéia alude Nascimento:

Se o próprio empregado demandante, de má-fé, recebe e esconde a notificação, não a levando ao conhecimento do empregador, e conhecemos casos, assim, há vício de citação, que o juiz deve reconhecer. Cabe, também, responsabilidade civil por perdas e danos, da pessoa culposa ou dolosamente tiver recebido e ocultado a notificação, prejudicando a defesa. 155

Da mesma forma entende Martins:

Caso a notificação seja recebida pelo próprio reclamante, que ainda labora na empresa e aquele não a entregue a reclamada, proporcionando a revelia desta, poderá ser anulada a citação, desde que haja prova nesse sentido, principalmente ao se verificar quem assinou o recibo de entrega do correio. 156

3.5 CITAÇÃO NO PROCESSO DE EXECUÇÃO TRABALHISTA

A citação da execução no processo trabalhista difere da

citação no processo de conhecimento, uma vez que nesta, via de regra, realiza-se

por correio, sendo que no processo de execução deve ser feita mediante oficial de

justiça, muito embora a lei não exija a pessoalidade.

Após a liquidação da sentença, o juízo mandará expedir

mandado de citação para que o executado pague a dívida em 48 horas ou

garanta a execução, sob pena de penhora.

155 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 396. 156 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p. 177.

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Assim nos ensina Martins:

Iniciada a execução, o executado será citado para cumprir espontaneamente a sentença ou o acordo, da forma como estabelecida na decisão. Poderá haver na sentença a determinação do modo e as cominações a serem cumpridas pelo executado. Nesse caso, devem ser observadas as referidas determinações. A citação poderá ser requerida pela parte ou determinada de ofício pelo juiz. [...] No mandado, deverá constar, ainda, que o executado terá 48 horas para o pagamento da condenação ou garantia da execução, sob pena de penhora (art. 880 157 da CLT) [...]. 158

Também entende Almeida:

Transitada em julgado a decisão, fixado o quantum da condenação, revestida estará a sentença de todos os requisitos fundamentais para a execução, que se inicia com a citação do executado para o cumprimento do julgado. 159

A citação na execução será realizada por oficial de justiça,

porém a lei não faz exigência à pessoalidade. Vejamos o que elucida Eduardo

Gabriel Saad:

A citação do executado é pessoal e feita por oficial de justiça. É o que, imperativamente, exige o § 2º, do artigo sob análise. Assim, em virtude dessa norma específica, no processo de execução trabalhista não é aplicável o art. 8º, da lei n. 6.830, o qual prevê a citação pelo correio, com aviso de recepção. Por conseqüência, incorrendo a citação postal por oficial de justiça, a execução será

157 Art. 880 da CLT. O juiz ou presidente do tribunal, requerida a execução, mandará expedir

mandado de citação ao executado, a fim de que cumpra a decisão ou o acordo no prazo, pelo modo e sob as cominações estabelecidas, ou, em se tratando de pagamento em dinheiro, incluídas as contribuições sociais devidas ao INSS, para que pague em quarenta e oito horas, ou garanta a execução, sob pena de penhora.

158 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos de petições, recursos, sentenças e outros. p 665.

159 ALMEIDA, Amador Paes de. CLT comentada: legislação, doutrina e jurisprudênci a. São Paulo. Editora Saraiva, 2003, p. 472.

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considerada nula, podendo ela ser assim considerada ex officio. [...]. 160

Esclarece Martins:

A citação na execução é feita pelos oficiais de justiça. Não se diz que ela deve ser pessoal. O importante é a citação ser feita no endereço do executado. Na execução a citação será feita em relação ao executado e não na pessoa de seu advogado, como se verifica do art. 880 da CLT. 161

Destarte, por existir norma específica quanto à citação do

executado em processo trabalhista, não é cabível citação por correio com aviso

de recebimento, está deverá proceder por oficial de justiça, restando como

alternativa a citação pelo correio já admitida no nosso ordenamento jurídico.

Se o executado, procurado por duas vezes no período de 48

horas, não for localizado, a citação passará diretamente para a citação por edital.

3.5.1 Recurso cabível para apontar a nulidade no pr ocesso de conhecimento

Existem dois momentos em que o executado poderá atacar

a nulidade na citação no processo de conhecimento, sendo eles na intimação da

sentença que proferiu sua revelia, ou quando citado para execução, ambas

deverão ser argüidas na primeira oportunidade em que o executado tiver de falar

no processo.

Tem-se que a citação pode ser nula, quando não observada

a norma jurídica prevista, como nos casos em que é realizada fora do horário de

expediente forense, ou em domingo ou feriado.

Vejamos o que nos ensina Teixeira Filho:

Quando falamos em citação nula, estamos pressupondo uma citação que existiu, que houve, a despeito de ter sido realizada

160 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho comentada. p. 785. 161 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos

de petições, recursos, sentenças e outros. p 665.

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com violação da norma tuteladora de interesse público, do que decorre a invalidade do ato. [...]. 162

Podendo também, ser a citação, inexistente, caso em que é

considerada como não realizada, ou porque o mandado não foi expedido, ou se

expedido, foi entregue para pessoa diversa da que deveria ter sido citada.

Para Saad anula-se o processo de execução quando o

executado não for regularmente citado. 163

Insta salientar que Teixeira Filho leciona acerca da matéria:

O que nos parece essencial assinalar, para efeito de caracterizar a inexistência jurídica da citação, é a particularidade de o réu não haver, efetivamente, tomado conhecimento da existência da ação – e pode produzir a conseqüente prova disso. 164

3.5.1.1 Recurso ordinário

Caberá recurso ordinário, no prazo de 8 dias 165, quando o

réu tiver conhecimento do processo somente no momento em que for intimado da

sentença que decretou sua revelia.

Dessa forma conclui Teixeira Filho:

[...] todavia, em que o réu foi citado para o processo de conhecimento, mas foi intimado da sentença, não se pode admitir que venha a alegar, somente nos embargos à execução, a falta daquele ato, pois o momento oportuno para faze-lo era o do recurso ordinário, que interpôs ou deveria ter interposto da mencionada sentença.

Embora o processo seja, também aqui, inexistente, pela falta de citação, deveria o réu ter alegado o vício em grau de recurso,

162 FILHO, Manoel Antonio Teixeira. Execução no Processo do Trabalho. 8º ed. São Paulo.

Editora LTr. 2004. p. 323. 163 SAAD. Eduardo Gabriel. Direito Processual do Trabalho . 4º ed. São Paulo. Editora LTr. ANO

p. 321. 164 FILHO, Manoel Antonio Teixeira. Execução no Processo do Trabalho. p. 323. 165 Art. 895, “a” da CLT. das decisões definitivas das Juntas e Juízos, no prazo de 08 (oito) dias;

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porquanto foi intimado da sentença proferia da sua revelia. Não nos parece ser por outro motivo que a lei exige a intimação do revel, conforme já afirmamos (CLT, art. 852). Convém insistir neste ponto: porque razão o processo do trabalho, ao contrario do processo civil, determina que o réu revel seja intimado da sentença, a não ser, exatamente, para que possa, em grau de recuso ordinário, alegar a inexistência do processo cognitivo? Por aí se vê ser inconciliável com o processo do trabalho a regra do art. 741, I, 166 do CPC, que concede ao devedor o direito de alegar, em seus embargos, a “nulidade” (rectius: inexistência) do processo de conhecimento por falta de citação. [...]. 167

Julgado do TRT 12ª Região:

NULIDADE DE CITAÇÃO. EXECUÇÃO. PRECLUSÃO. Na fase de execução não pode o executado pretender o reconhecimento de vício na citação do processo de conhecimento, o que só é possível mediante recurso ordinário. 168

Verifica-se na observância do julgado que o recurso

adequado para requerer a nulidade na citação no processo de conhecimento será

o ordinário, impetrado quando o réu for intimado da sentença.

Em síntese, Martins esclarece:

A falta ou nulidade de citação de que fala o inciso I do art. 741 do CPC não pode ser alegada nos embargos, pois o revel foi intimado da sentença (art. 852 169 da CLT), embora tenha deixado correr o processo sem qualquer defesa. O que se admite é o revel apresentar recurso ordinário da citação na execução, caso tenha sido intimada pessoa diversa do devedor. 170

166 Art. 741 do CPC. Na execução contra a Fazenda Pública, os embargos só poderão versar

sobre: I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia. 167 FILHO, Manoel Antonio Teixeira. Execução no Processo do Trabalho. p. 326. 168 BILÉSSIMO, Dilnei Ângelo. Acórdão 9215/2003 – TRT 12º Região . Publicado no DJ/SC em

25-09-2003. 169 Art. 852 da CLT. Da decisão serão os litigantes notificados, pessoalmente, ou por seu

representante, na própria audiência. No caso de revelia, a notificação far-se-á pela forma estabelecida no § 1º do art. 841.

170 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho – Doutrina e prática forense Modelos de petições, recursos, sentenças e outros. p 691.

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Destarte, a nulidade na citação poderá ser alegada pelo réu,

em grau de recurso ordinário, quando este vier a tomar conhecimento do

processo através da intimação da sentença, o qual foi decretado revel, devendo

fazer prova de que inexistiu sua citação na fase de conhecimento, eis que fora

citada pessoa diversa dele.

Decidi o TRT 12ª Região a respeito da citação do réu:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. A matéria que constitui o objeto da peça de recurso ordinário não pode atuar como fundamento para a sua negativa de seguimento, porquanto implica a apreciação, pelo Juiz de primeiro grau, de matéria inserta na competência do Tribunal. RECURSO ORDINÁRIO. CITAÇÃO INICIAL. DESNECESSIDADE DE SER REALIZADA NA PRÓPRIA PESSOA DO RÉU. A citação inicial, assim como as demais intimações, deve ser entregue no endereço do réu, não exigindo. 171

Conforme já analisado em tópicos anteriores, a citação

inicial não precisa ser concretizada na própria pessoa do réu, bastando que seja

entregue a pessoa lotada no local do endereço da empresa ré, se for o caso, ou

simplesmente deixada na caixa de correspondência; cabendo ao réu o ônus da

prova do não recebimento da citação.

No julgado em análise, o réu impetrou recurso ordinário

alegando a nulidade da citação inicial, na primeira oportunidade que teve

conhecimento do processo interposto contra ele, ou seja, na intimação da

sentença que decretou sua revelia.

Assim prevê a Súmula 16 do TST:

Presume-se recebida a notificação 48 (quarenta e oito) horas depois de sua postagem. O seu não-recebimento ou a entrega após o decurso desse prazo constitui ônus de prova do destinatário.

171 WAMBIER, Sandra Márcia. Acórdão 3539/2006 – TRT 12ª Região. Publicado no DJ/SC em

22-03-2006.

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Tem entendido acerca do assunto o TRT 12ª Região:

AÇÃO RESCISÓRIA. NOTIFICAÇÃO INICIAL. VALIDADE. Não procede o pleito rescisório diante da ausência de prova inequívoca do não-recebimento de vício da notificação inicial, efetuada nos termos do art. 841, § 1º, da CLT. 172

Observando o que dispõe a decisão acima, cabe ao réu o

ônus da prova do não recebimento da citação, eis que não o fazendo a citação

será válida.

3.5.1.2 Embargos à execução

Caso o réu, somente venha a tomar conhecimento do

processo quando for citado para execução, sendo este o primeiro momento em

que soube do processo, caberá a ele, interpor embargos à execução

fundamentado em nulidade da citação no processo de conhecimento.

Entende Teixeira Filho:

[...], é perfeitamente justificável que se conceda a ele a possibilidade de argüir, nos embargos que vier a oferecer a execução, a inexistência do próprio processo cognitivo, pela falta de citação, porquanto, como sublinhamos há pouco, somente ao ser citado para a execução é que ficou sabendo do ajuizamento da ação. É elementar que, inexistindo o processo, inexistirá tudo o que nele tenha sido produzido, como o (aparente) titulo executivo, representado pela sentença condenatória. 173

Vejamos o entendimento do egrégio TRT 12ª Região:

NULIDADE PROCESSUAL. REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO CONTRA O SÓCIO. A decisão que redireciona a execução contra os sócios da empresa deve ser adequadamente fundamentada. Outrossim, uma vez aplicada a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, a penhora de bens integrantes do patrimônio do sócio deve ser procedida da sua

172 AVELAR, Maria do Céo de. Acórdão 9152/2006 – TRT 12ª Região . Publicado no DJ/SC em

11-07-2006. 173 FILHO, Manoel Antonio Teixeira. Execução no Processo do Trabalho. p. 324.

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citação pessoal para pagar a dívida ou nomear bens a penhora para a garantia da execução. O não cumprimento dessas formalidades implica o vilipêndio dos arts. 5º, LIV, e 93, IX, da Carta Constitucional, mormente porque ninguém pode ser privado dos seus bens sem o devido processo legal. 174

Conforme se observa acima, o réu precisa que ser intimado

pessoalmente para pagar a dívida ou nomear bens à penhora, sendo que a não

observância das formalidades previstas em lei gerará nulidade; cabendo ao réu

impetrar embargos a execução.

Para Saad:

Se o Reclamado vem a tomar ciência da demanda já na fase de executória, mas antes da penhora, parece-nos inobjetável seu direito de defender-se, mediante uma execução de pré-executividade, postulando a nulidade de todos os atos processuais desde a petição vestibular ou do termo de reclamação se formulada verbalmente.

Como já tivemos oportunidade de ressaltar o §1º, do art. 841 da CLT, estatui que a notificação do reclamado “será feita em registro postal com franquia” e o Enunciado n. 16, do E. Tribunal Superior do Trabalho estabelece que se presume recebida a notificação por via postal, depois de 48 horas de sua expedição.

Com certeza, a Vara do Trabalho não deixará de acolher a questionada execução se a respectiva petição for instruída com certidão da Empresa de Correios e Telégrafos informando que, efetivamente o Reclamado não recebera a notificação. 175

Decidi o TRT 12ª Região:

EXECUÇÃO TRABALHISTA. CITAÇÃO NULA. Em decorrência do disposto no art. 248 do Código de Processo Civil cuja redação consigna que "anulado o ato, reputam-se de nenhum efeito todos os subseqüentes que dele dependam", uma vez declarada a nulidade da citação para pagar ou garantir a execução, mesma

174 BALBINOT, Geraldo José. Acórdão 13215/2006 – TRT 12ª Região . Publicado no DJ/SC em

09-10-2006, p. 59. 175 SAAD. Eduardo Gabriel. Direito Processual do Trabalho . p. 962.

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sorte deve seguir a penhora determinada visando a compelir a parte a cumprir aquela ordem judicial. 176

Analise que, no caso em epígrafe, ficando comprovada a

falta de citação na execução os atos posteriores serão nulos, cabendo ao réu

pleitear a nulidade na citação através de embargos à execução.

Os embargos à execução estão previsto no art. 884 da CLT,

o qual prescreve que garantida a execução ou penhorados os bens, terá o

executado cinco dias para apresentar embargos, diferentemente do processo civil,

cujo prazo para opor embargos é de dez dias 177. Diz ainda em seu parágrafo

primeiro que a matéria de defesa está restrita as alegações de cumprimento da

decisão ou do acordo, quitação ou prescrição da dívida. Porém é entendimento

doutrinário que este seja aplicado subsidiariamente com o art. 741 do CPC, eis

que a CLT não impõe restrição a sua interpretação.

Assim observa Saad:

Na execução, a matéria de defesa abrange, apenas, alegações de cumprimento da decisão ou do acordo, quitação ou prescrição da dívida (artigo em epigrafe, § 1º). Dando-se ao preceito interpretação ampla, verifica-se que ele não impede a aplicação à execução trabalhista, do art. 741, do CPC. De conseguinte, podem os embargos ser recebidos, quando a execução se fundar em sentença, se o devedor alegar: falta ou nulidade da citação, no processo de conhecimento, [...]. A falta de citação só é alegável por quem não fez qualquer intervenção em todo o processo de conhecimento e cujo curso foi inteiramente a sua revelia. Só nessa hipótese o incidente provoca a nulidade de todo o processo, desde a peça inicial do processo de conhecimento. [...]. 178

No mesmo sentido entende Almeida:

Em que pese a matéria restrita assinalado no § 1º do art. 884 da Consolidação das Leis do Trabalho, é geralmente aceita a

176 WANBIER, Sandra Márcia. Acórdão 6729/2002 – TRT 12ª Região. Publicado no DJ/SC em

07-05-2003. 177 Art. 738 do CPC. O devedor oferecerá os embargos no prazo de 10 (dez) dias, contados: 178 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho comentada. p. 800.

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aplicação subsidiária do Código de Processo Civil (arts. 741 e 744) [...]. 179

Assim, apesar dos limites impostos pelo artigo 884 da CLT

para as matérias passíveis de alegação nos embargos à execução, verifica-se

que através da aplicação do disposto no artigo 795 da CLT caput, deve-se

apontar a nulidade da citação, em quaisquer dos casos acima analisados, na

primeira vez que a parte tiver que falar em audiência ou nos autos, sob pena de

preclusão.

No curso do trabalho verificou-se que a expressão citação e

intimação possuem significados distintos quando submetidas aos preceitos do

Código de Processo Civil, sendo a primeira o chamamento do réu ou interessado

ao processo para, querendo, defender-se de uma demanda interposta contra ele

e intimação o ato pelo qual se dá ciência do andamento do processo ou para que

se cumpra determinada ordem judicial.

No processo do trabalho, ante o princípio da simplificação,

utiliza-se da expressão notificação para ambos os sentidos, abrangendo assim

tanto a citação quanto a intimação e a própria notificação. Ainda, citação no

processo trabalhista não tem necessidade de ser entregue diretamente ao

destinatário ou representante legal da empresa demandada, diferentemente do

processo civil.

Outro ponto que se diferencia do processo civil é o recurso

cabível para apontar a nulidade na citação, no processo trabalhista o recurso será

o ordinário quando a parte revel somente vier a tomar conhecimento do processo

quando for intimado da sentença. E embargos à execução no momento em que o

réu for citado para execução, sendo este o primeiro momento em que soube do

processo interposto contra ele.

179 ALMEIDA, Amador Paes de. CLT comentada: legislação, doutrina e jurisprudênci a. p. 473.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como podemos analisar no estudo elaborado acerca das

nulidades na citação, o processo trabalhista possui algumas distinções do

processo civil que fazem com que a Justiça do Trabalho seja mais célere na

solução de suas demandas.

Para preparação da presente monografia, foram levantadas

algumas hipóteses visando uma delimitação do tema e uma seqüência lógica de

raciocínio.

A primeira hipótese apontou que na Justiça do Trabalho a

nulidade do ato processual implica em anulabilidade de todo o processo a partir

do momento da sua efetivação, não se aproveitando os atos posteriores a este.

No decorrer da pesquisa, verificou-se que esta hipótese não se confirma, eis que

se o ato nulo não gerar prejuízo as partes, poderá ser aproveitado no processo,

sendo desnecessário a repetição do mesmo.

Na segunda hipótese, colocou-se em questão que a citação

na Justiça do Trabalho deve ser realizada somente pelo correio e na pessoa do

representante legal da empresa demandada, o que não se confirmou, haja vista

que a citação, inicialmente, é realizada pelo correio com aviso de recebimento,

porém não sendo concretizada no prazo de 48 horas, esta poderá ainda ser

realizada por mandado, edital, hora certa, carta precatória ou rogatória, como se

verificou no decorrer do trabalho.

Convém ainda destacar que a citação no processo

trabalhista não tem necessidade de ser entregue diretamente ao destinatário ou

representante legal da empresa demandada, podendo ser apenas depositada na

caixa de correspondência ou entregue ao porteiro, por exemplo, eis que o ônus da

prova do não recebimento recai ao próprio destinatário, diferentemente da regra

estabelecida no processo civil.

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Cumpre ressaltar ainda, que o processo trabalhista utiliza-se

da expressão notificação tanto para a citação, que é o chamamento da parte ao

processo, como para intimação, que é o ato pelo qual se da ciência as partes do

andamento processual ou para que seja cumprida alguma determinação judicial.

Por fim, a terceira hipótese restou confirmada parcialmente.

No primeiro ponto, a nulidade na citação se estabelece quando não for feita

conforme determinação legal para o caso específico, desde que esta não possa

ser suprida sem causar dano às partes.

Em segundo ponto, observou-se que da nulidade na citação

caberá recurso, porém o recurso cabível não será o agravo de instrumento ou

agravo de petição, eis que são recursos próprios do processo de execução

trabalhista.

O recurso adequado para apontar ou atacar a nulidade será

o recurso ordinário, quando a parte revel somente vier a tomar conhecimento do

processo quando for intimado da sentença. Ou, caberão embargos à execução no

momento em que o réu for citado para execução, sendo este o primeiro momento

em que soube do processo interposto contra ele.

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