a nulidade da citação

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A nulidade da citação de pessoa jurídica feita em nome de pessoa que não mais a representa A citação é o ato processual pelo qual se informa ao réu de que contra si foi proposta uma ação, concedendo-lhe oportunidade para manifestar-se e exercer seu direito de defesa, consoante prescreve o artigo 213 do Código de Processo Civil. Note-se que é a partir do ingresso do réu no processo que a relação jurídica processual se completa (autor-juiz-réu). Nesse passo, sem a citação tem-se que o processo inexiste , justamente porque o réu ficou impossibilitado de exercer um direito constitucionalmente assegurado – o direito de defesa. Assim, a citação, juntamente com a petição inicial, a jurisdição e a capacidade postulatória, constituem os pressupostos processuais de existência, os quais, acaso ausentes no processo, levam à sua extinção sem julgamento do mérito, conforme dispõe o artigo 267, inciso IV, do Código de Processo Civil. Trata-se de matéria de ordem pública que deve ser conhecida de ofício pelo juiz a qualquer tempo . Em relação às pessoas jurídicas, necessário anotar que são representadas em juízo, ativa e passivamente, por quem os respectivos estatutos designarem ou, sendo omissos, por seus diretores, segundo prevê o artigo 12, inciso VI, do Código de Processo Civil. Destarte, a citação dessas pessoas é feita em nome de seus representantes legais, que têm o dever de se manifestarem em juízo para, nessa qualidade, defenderem os interesses daqueles que representam. Observe-se que tais representantes legais não atuam em nome próprio, mas sim em nome de uma pessoa jurídica, que não tem existência física e, por essa razão, é impossibilitada de manifestar-se senão por meio de uma pessoa natural designada para isso. Nesse sentido, o digníssimo processualista Nelson Nery Junior afirma que "a representação processual é a relação jurídica pela qual o representante age em nome e por conta do representado. Seus atos aproveitam apenas ao representado, beneficiando-o ou prejudicando-o. O representante não é parte no processo". Portanto, sendo citado o representante legal, incumbe-lhe, por meio de um advogado, apresentar a devida contestação e outras defesas eventualmente necessárias a fim de impedir, modificar ou extinguir o direito do autor, ou, até mesmo, de reconhecer o pedido pleiteado, sendo-lhe lícito também transigir sobre ele, tudo no intuito de melhor atender aos interesses da pessoa jurídica.

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Nulidade no CPC

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A nulidade da citao de pessoa jurdica feita em nome de pessoa que no mais a representa A citao o ato processual pelo qual se informa ao ru de que contra si foi proposta uma ao, concedendo-lhe oportunidade para manifestar-se e exercer seu direito de defesa, consoante prescreve o artigo 213 do Cdigo de Processo Civil. Note-se que a partir do ingresso do ru no processo que a relao jurdica processual se completa (autor-juiz-ru). Nesse passo, sem a citao tem-se que o processo inexiste, justamente porque o ru ficou impossibilitado de exercer um direito constitucionalmente assegurado o direito de defesa. Assim, a citao, juntamente com a petio inicial, a jurisdio e a capacidade postulatria, constituem os pressupostos processuais de existncia, os quais, acaso ausentes no processo, levam sua extino sem julgamento do mrito, conforme dispe o artigo 267, inciso IV, do Cdigo de Processo Civil. Trata-se de matria de ordem pblica que deve ser conhecida de ofcio pelo juiz a qualquer tempo. Em relao s pessoas jurdicas, necessrio anotar que so representadas em juzo, ativa e passivamente, por quem os respectivos estatutos designarem ou, sendo omissos, por seus diretores, segundo prev o artigo 12, inciso VI, do Cdigo de Processo Civil. Destarte, a citao dessas pessoas feita em nome de seus representantes legais, que tm o dever de se manifestarem em juzo para, nessa qualidade, defenderem os interesses daqueles que representam. Observe-se que tais representantes legais no atuam em nome prprio, mas sim em nome de uma pessoa jurdica, que no tem existncia fsica e, por essa razo, impossibilitada de manifestar-se seno por meio de uma pessoa natural designada para isso. Nesse sentido, o dignssimo processualista Nelson Nery Junior afirma que "a representao processual a relao jurdica pela qual o representante age em nome e por conta do representado. Seus atos aproveitam apenas ao representado, beneficiando-o ou prejudicando-o. O representante no parte no processo". Portanto, sendo citado o representante legal, incumbe-lhe, por meio de um advogado, apresentar a devida contestao e outras defesas eventualmente necessrias a fim de impedir, modificar ou extinguir o direito do autor, ou, at mesmo, de reconhecer o pedido pleiteado, sendo-lhe lcito tambm transigir sobre ele, tudo no intuito de melhor atender aos interesses da pessoa jurdica. Todavia, importante frisar que a citao deve recair sobre o atual representante legal da pessoa jurdica, pois s ele tem poderes para agir, como se fosse ela prpria, perante qualquer juzo. No se pode falar em citao daquele que a representava no momento da realizao de um negcio jurdico, objeto de suposta demanda, se tal pessoa no mais a representa no momento da aludida citao. O representante legal da pessoa jurdica deve atuar em nome dela, defendendo-a, ou apenas manifestando-se, em relao a todos os atos por ela praticados, tenham sido praticados antes ou depois de sua nomeao, pois ao aceitar o encargo represent-la, disps-se a falar por ela desde sua constituio. No h que se confundir manifestao com responsabilidade, j que o representante legal apenas empresta sua voz e suas palavras pessoa que representa, mas no responsvel pelos atos que esta pratica, salvo se agiu com infrao da lei, do contrato social ou dos estatutos. Se o que se discute em juzo um negcio jurdico realizado, por exemplo, por diretor anterior, que naquele momento representava legalmente a pessoa jurdica, tal diretor poder ser responsabilizado por eventuais danos advindos desse negcio, mas citado para falar em nome da pessoa jurdica em juzo ser seu atual representante. Todos os atos processuais sero realizados pelo atual representante legal, sendo certo que, em caso de procedncia do pedido, cabe pessoa jurdica arcar com o pagamento de eventuais perdas e danos. Todavia, poder, em regresso, cobrar o ressarcimento pelos prejuzos causados de quem efetivamente realizou o negcio, se, como dito anteriormente, agiu com infrao da lei, do contrato social ou do estatuto.

Sentenas nulas e inexistentes: conceituao, anlise, abrangncia e repercusses no direito processual civil moderno

1.3. Vcios dos atos processuais Os atos processuais, em uma anlise estendida, so espcie do gnero ato jurdico, deste modo, apresentam como pressupostos de validade: o agente capaz, o objeto licito e a forma prescrita ou no defesa em lei.Utilizando-se da sistemtica adotada por Coutore, Humberto Theodoro Jnior[7] classifica os atos jurdicos, nos seguintes termos: atos inexistentes, atos absolutamente nulos e atos relativamente nulos. Adicionando a tal classificao os atos processuais meramente irregulares, os quais mesmo praticados com infringncia a regra formal podem atingir sua finalidade, a teor do art. 244 do Cdigo de Processo Civil.A conceituao de ato inexistente perpassa a noo daquele que no rene os mnimos requisitos de fato para a sua existncia como ato jurdico perfeito, uma vez que a inexistncia se situa no plano de validade do ato. Ademais, no se admite a considerao do ato inexistente como aquele inquinado por vcios, haja vista tratar-se, to somente, de um fato irrelevante para a ordem jurdica.Assim, tal ato inexistente no poder ser convalidado ou mesmo invalidado, diante de sua total inexpressividade perante a sistemtica jurdica, v. g., o Cdigo de Processo Civil contempla em seu art. 37, pargrafo nico, a hiptese de o advogado intentar a ao mesmo sem a juntada do instrumento do mandado, entretanto, fixa o prazo de 15 (quinze) dias para regularizao de tal situao, bem como em caso de ausncia a ratificao dos atos praticados, estes sero havidos por inexistentes, respondendo o advogado por perdas e danos.Outrossim, os atos absolutamente nulos so aqueles que no cumprem os requisitos mnimos de validade e, por conta disso, prejudicam o regular exerccio da tutela jurisdicional, por tratar-se de vicio insanvel. Sendo certo que apesar da mcula de nulidade, tal espcie de ato perdura exteriormente mesmo inapto para produzir efeitos jurdicos, at ser invalidado pelo juiz, independentemente de provocao da parte.Insta observar que o ato absolutamente nulo impassvel de convalidao pela parte, entretanto, existindo a possibilidade de repetio do ato considerado nulo, dever o juiz ordenar sua repetio, a teor do art. 249, caput, do Cdigo de Processo Civil: O juiz, ao pronunciar a nulidade, declarar que atos so atingidos, ordenando as providncias necessrias, a fim de que sejam repetidos, ou retificados.A titulo exemplificativo[8], caso exista inobservncia das prescries legais para a citao As citaes e as intimaes sero nulas, quando feitas sem observncia das prescries legais , tal ato ser considerado como absolutamente nulo, bem como nula de pleno direito a sentena que vier a ser prolatada no processo, caso este correr a revelia.Assim, a invalidade maculou irremediavelmente todo o processo, diante da irregularidade no momento de integrao das partes ao processo, restando prejudicado o julgamento, bem como a entrega da prestao jurisdicional. Sendo que, no exemplo colacionado, o ru revel poder a qualquer tempo intentar a decretao de nulidade de tal sentena, independente do teor do pronunciamento acerca do mrito, conforme ser demonstrado no decorrer do trabalho.Quanto aos atos relativamente nulos, estes apresentam algum defeito quanto aos pressupostos mnimos de formao, entretanto, so capazes de produzir efeitos processuais, caso a parte prejudicada no se insurja, uma vez que por constiturem nulidades relativas so passveis de anulao ou de convalidao.Nesse caso, juridicamente possvel a ratificao, expressa ou tcita, sendo silente a parte contrria, h condio suficiente para sua convalidao[9], conforme art. 245 do Cdigo de Processo Civil, haja vista tal categoria de ato jurdica no afrontar os interesses de ordem pblica.Isto posto, em ateno ao princpio da instrumentalidade do processo e as disposies do Cdigo de Processo Civil com base no sistema de nulidades, a nulidade relativa constitui a regra em nossa legislao processual civil, sendo, por conseqncia a nulidade absoluta, a exceo. E em decorrncia disso, atacvel por meios impugnativos especficos.1.4. Vcios do processoOs vcios de cunho processual apresentam-se em duas grandes categorias, segundo a classificao adotada por doutrinas majoritrias: erro in iudicando ou erro in judicando e o erro in procedendo.O primeiro conceitua-se como vcios eminentemente da atividade do juiz no momento de julgar o processo, ou seja, no momento da prolao da sentena ou mesmo de sua publicao, mculas podem ocorrer. Por exemplo, a sentena proferida por um juiz aposentado ou mesmo aquela prolatada sem a observncia dos ditames do art. 458 do Cdigo de Processo Civil[10] relatrio, fundamentao e parte dispositiva , ou mesmo a inexistncia da publicao do decisrio.Para a impugnao dos erros in iudicando a sistemtica processual civil enuncia vrias vias recursais taxativas embargos, apelao, entre outros , as quais objetivam dentro do mesmo processo a reforma, invalidao ou a integrao do ato viciado; ou, vias autnomas de impugnao, tais como a ao rescisria disposta no art. 485 do Cdigo de Processo Civil.Podendo o erro in iudicando ser atacado por mais de uma via de impugnao, cabendo ao interessado analisar o momento processual, bem como a medida mais efetiva para tal fim, a via autnoma ou a recursal, no prprio processo.Neste diapaso, o erro in procedendo conceitua-se como aquele que pode ocorrer no curso normal do processo, entretanto, nestes casos o juiz dever de ofcio declarar a nulidade do ato, uma vez que trata-se de matria de ordem pblica, por exemplo, os vcios que podem inquinar o ato citatrio ou o feito no ter sido saneado integralmente.Portanto, diante de uma citao nula ou mesmo inexistente cabe o juiz, em qualquer momento do processo, declarar a invalidade jurdica do ato, bem como ordenar que tal ato seja novamente praticando, em ateno a sistemtica processual vigente.

1.5 Citao A citao sob o prisma do Cdigo de Processo Civil, em seu art. 213, o ato privativo do juiz pelo qual se chama a juzo o ru ou o interessado a fim de se defender, o momento de formao da relao processual entre o autor, o ru e o juiz.Apesar de constituir um ato unitrio, a citao complexa, uma vez que possui determinadas formalidades imprescindveis, tais como expedio do mandado de citao, bem como a confirmao de que o demandado recebeu a informao para que a sentena tenha validade e eficcia.A citao reveste-se de tal importncia para o processo que como elemento instaurador da relao processual indispensvel para o exerccio dos direitos constitucionais do contraditrio e da ampla defesa, uma vez que ausente o ato citatrio contaminado de irreparvel nulidade estar todo o processo.E no s, a sentena proferida diante da nulidade absoluta do ato citatrio padecer do mesmo vcio, no chegando a formao da coisa julgada, diante de sua inexistncia do mundo jurdico, no sendo passvel de produzir efeitos jurdicos para as partes ou terceiros.Assim, o direito de ser citado para integrar a relao processual e torn-la, conseqentemente, vlida repousa na noo de que o ordenamento processual civil vigente estabelece sanes drsticas para a falta ou a nulidade de citao, pois, pune severamente o ru que age com contumcia: imposio da verdade dos fatos alegados pelo autor, julgamento antecipado da lide, entre outros.A importncia do ato reside na disposio expressa do caput do art. 214 do diploma processual civil que para a validade do processo indispensvel citao inicial do ru; enunciam em seus pargrafos as hipteses de convalidao do ato citatrio: o comparecimento espontneo do ru supre a falta de citao ou comparecendo o ru para argir a nulidade e sendo esta decretada, a citao considerar-se a realizada a partir do momento em que o ru ou advogado for intimado da deciso.Em relao s modalidades de citao, taxativamente, os arts. 221 e 222 do Cdigo de Processo Civil dispem: Art. 221. A citao far-se-: I - pelo correio; II - por oficial de justia; III - por edital. IV - por meio eletrnico, conforme regulado em lei prpria. (Includo pela Lei n 11.419, de 2006). Art. 222. A citao ser feita pelo correio, para qualquer comarca do Pas, exceto: (Redao dada pela Lei n 8.710, de 1993) a) nas aes de estado; (Includo pela Lei n 8.710, de 1993) b) quando for r pessoa incapaz; (Includo pela Lei n 8.710, de 1993) c) quando for r pessoa de direito pblico; (Includo pela Lei n 8.710, de 1993) d) nos processos de execuo; (Includo pela Lei n 8.710, de 1993) e) quando o ru residir em local no atendido pela entrega domiciliar de correspondncia; (Includo pela Lei n 8.710, de 1993) f) quando o autor a requerer de outra forma. (Includo pela Lei n 8.710, de 1993) (grifo nosso) Entretanto, a citao dever ser feita pessoalmente ao ru, ao seu representante legal ou ao procurador legalmente autorizado, a teor do art. 215 do Cdigo de Processo Civil, entretanto, diante da ausncia do ru, a citao poder ser feita na pessoa de seu mandatrio, administrador, feitor ou gerente, desde que a ao tenha sido originada de atos por eles praticados.Para os civis, a citao ser efetuada em qualquer lugar em que o ru for encontrado (art. 216 do Cdigo de Processo Civil), diferentemente o militar da ativa ser citado na unidade em que estiver servindo, caso no seja conhecida sua residncia ou nela no seja localizado. No obstante, os arts. 217 e 218 contm ressalvas em relao ao momento de realizao da citao: Art. 217. No se far, porm, a citao, salvo para evitar o perecimento do direito: I - (Revogado pela Lei n 8.952, de 1994) I - a quem estiver assistindo a qualquer ato de culto religioso; (Renumerado do Inciso II pela Lei n 8.952, de 1994) II - ao cnjuge ou a qualquer parente do morto, consangneo ou afim, em linha reta, ou na linha colateral em segundo grau, no dia do falecimento e nos 7 (sete) dias seguintes;(Renumerado do Inciso III pela Lei n 8.952, de 1994 III - aos noivos, nos 3 (trs) primeiros dias de bodas; (Renumerado do Inciso IV pela Lei n 8.952, de 1994 IV - aos doentes, enquanto grave o seu estado. (Renumerado do Inciso V pela Lei n 8.952, de 1994 Art. 218. Tambm no se far citao, quando se verificar que o ru demente ou est impossibilitado de receb-la. 1o O oficial de justia passar certido, descrevendo minuciosamente a ocorrncia. O juiz nomear um mdico, a fim de examinar o citando. O laudo ser apresentado em 5 (cinco) dias. 2o Reconhecida a impossibilidade, o juiz dar ao citando um curador, observando, quanto sua escolha, a preferncia estabelecida na lei civil. A nomeao restrita causa. 3o A citao ser feita na pessoa do curador, a quem incumbir a defesa do ru. (grifo nosso)

Outrossim, importante ressaltar que o requisito para a validade do processo no restritamente a citao, mas sim a citao vlida e eficaz, haja vista o Cdigo de Processo Civil em seu art. 247, taxativamente, disciplinar que as citaes realizadas sem observncia das prescries legais sero nulas. 1.6 Efeitos do ato citatrio Na seara dos efeitos da citao imperiosa a anlise de sua eficcia, uma vez que este instituto que ir permitir a competente delimitao entre a nulidade e a inexistncia do ato processual e suas conseqncias para a efetividade do processo, em face da nulidade ou inexistncia da sentena.Sendo a citao um ato de comunicao imprescindvel que a informao que a demanda foi intentada chegue ao destinatrio, objetivando que esse promova sua defesa, em ateno aos ditames processuais que salvaguardam a ampla defesa e o contraditrio, nos processos judiciais e administrativos.O ato citatrio somente se completa quando o demandado recebe efetivamente a informao de que em face dele foi intentada uma lide, uma vez que se visa o conhecimento por parte daquele que ocupa o plo passivo da demanda, frisando-se que o comparecimento espontneo do ru ou a prtica de algum ato processual tem o condo de convalidar eventual nulidade do ato, a teor do art. 214 do CPC.Por oportuno, colaciona-se o entendimento esposado por Teresa Wambier[11] apud Jos Maria Tesheiner: Pode-se dizer que a citao o ato mais importante do processo. concebvel processo sem demanda, no sem chamamento do ru a juzo. Para a validade do processo, diz o art. 214 do CPC, indispensvel a citao do ru. Sem ela a sentena que venha a ser proferida nula, dispensada a propositura de ao rescisria. Um dos raros casos em que se pode falar em sentena nula, pois, de regra, a sentena, no obstante o vcio de que esteja revestida, vlida, podendo apenas ser rescindida.

Entretanto, a citao eivada de nulidade passar a ser inexistente caso se acrescente a ausncia ou ru, ou seja, o fenmeno da revelia, presente os dois pressupostos referenciados inexistente ser a citao, haja vista que o objetivo maior de comunicao ao demandado no foi atingido.Certo que no houve uma transmudao do ato nulo em inexistente, to somente, a soma de nulidade e revelia tem o condo de produzir vcio insanvel diante da afronta aos princpios constitucionais que garantem a ampla defesa e o contraditrio ao requerido. O ato citatrio vlido e eficaz constitui pressuposto de existncia da relao processual, haja vista o disposto no caput art. 219 do Cdigo de Processo Civil: A citao vlida torna prevento o juzo, induz litispendncia e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrio. Concomitantemente, um dos efeitos da citao vlida a perfeita comunicao ao demandado que em face dele tramita um processo. Isto posto, caso o ato citatrio seja considerado inexistente, por contemplar nulidade e a revelia, a sentena proferida diante de tais circunstncias tambm ser, no se admitindo que ocorra o trnsito em julgado da deciso, haja vista que os atos que ferem a segurana jurdica, no so passveis de convalidao, conforme ser demonstrado.1.7 Ausncia de citao A existncia de vcios que veementemente elidem os princpios constitucionais do devido processo legal, do contraditrio e o da ampla defesa, possuindo esta caracterstica a ausncia ou nulidade da citao, sendo que as sentenas proferidas nessas situaes padecero de vcio insanvel, mesmo aps o trnsito em julgado, no caso das sentenas nulas. Apesar da existncia material da sentena, na seara jurdica se reflete, to-somente, a aparncia de provimento judicial vlido, discorrendo acerca da ausncia de citao, Tereza Arruda Alvim Wambier apud Cndido Rangel Dinamarco[12], assim dispe:Discute-se doutrinariamente se a sentena assim proferida nula ou inexistente. O fato , porm, que intil, no produz efeito algum. A propsito, o STF, que, a par de endossar tese da inexistncia, concluiu que uma sentena dada sem regular citao do ru portadora de nulidade absoluta, insuscetvel de ser sanada pelo trnsito em julgado; [...] Isto posto, diante da citao eivada de vcio, nula ou inexistente, a formao integral da relao processual estar prejudicada, uma vez que o ru no informado acerca da lide que contra ele foi aforada, no poder exercer a faculdade das defesas processuais e de mrito, as quais esto albergadas pelos princpios constitucionais da ampla defesa e do contraditrio. Haja vista a citao constituir o instrumento processual fundamental do Estado Democrtico de Direito para o exerccio da ampla defesa.Sendo o art. 214 do Cdigo de Processo Civil o fundamento do procedimento para a citao, classifica-se a ausncia ou mesmo a nulidade de citao como erro in procedendo, o qual poder ser alegado em qualquer fase processual ou aps o trnsito em julgado da sentena, uma vez que tal fenmeno processual no tem o condo de convalidar tais atos viciados.Especificamente no processo de conhecimento, a falta ou nulidade de citao do ru, caso a ao tenha corrido a revelia, poder ser alegada nas seguintes hipteses: petio simples antes da sentena de mrito, em recurso antes do trnsito em julgado da sentena, em ao rescisria antes da formao da coisa julgada.E assim, diante de uma citao viciada, culminar o processo em uma sentena juridicamente invlida, isto , o vcio de natureza insanvel e a mcula na sentena subsistiria mesmo aps o trnsito em julgado, no caso das sentenas nulas.Cumpre-se salientar que a doutrina esmia a tnue diferenciao existente entre o ato citatrio inexistente que representa a ausncia de citao e o ato nulo, que a mcula no ato citatrio.Nota-se que tal sentena inexistente, mesmo aps a precluso da oportunidade do manejo de recursos, por conta de vcios insanveis que a inquinam, sobrevive aos meios de impugnao endoprocessuais, uma vez que conforme entendimento doutrinrio e jurisprudencial, no transitaria em julgado a deciso oriunda de processo em que houve nulidade absoluta, isto , insanvel.A anlise estratgica do meio de impugnao cabvel em face da existncia de ausncia ou nulidade da citao relaciona-se com o momento processual, bem como com a possibilidade ou no de formao da coisa julgada.Superada a anlise dos pressupostos de validade dos atos processuais, em especial ateno, aos vcios na citao e ao conflito com o instituto da coisa julgada ou imutabilidade das decises, passamos a analisar o instituto processual que busca dirimir as conseqncias jurdicas de uma sentena contaminada por vcios, seja classificado como nula ou inexistente, nesse sentido a doutrina majoritria privilegia o instituto da querela nullitatis. Em comentrios acerca de tal instituto jurdico Gaio Jnior[13] preleciona, in verbis:Assim, o meio autnomo adequado de declarar que a sentena, ainda que materialmente existente, se faz ineficaz no plano jurdico, dada a existncia de um grave vcio de forma, como no caso da ausncia ou nulidade da citao no processo qual foi ela proferida, ser atravs da querela nullitatis ou actio nullitatis.No estar ela sujeita a qualquer prazo prescricional, [...], visto que sequer se operou a formao, de maneira completa, da relao jurdica processual, consoante as dices tanto de validade do prprio processo (art. 214, caput) como tambm os efeitos operados sobre a pessoa do ru (art. 263). Por oportuno, colacionamos o entendimento majoritrio do Superior Tribunal de Justia - STJ, que convalida os argumentos at aqui desenvolvidos, em Recurso Especial n 622.405-SP a Ministra Denise Arruda pondera acerca da aplicabilidade da querela nullitatis diante de vcios de citao, nos seguintes termos:

TRATA-SE DE INSTITUTO QUE AINDA SOBREVIVE NO DIREITO BRASILEIRO, SEGUNDO A RENOMADA DOUTRINA DE OVDIO BATISTA DA SILVA, CONFORME ARTIGO INTITULADO "SOBREVIVNCIA DA QUERELA NULLITATIS ", PUBLICADO NA REVISTA FORENSE V. 333 (JANEIRO/FEVEREIRO/MARO), RIO DE JANEIRO: EDITORA FORENSE, 1996, PGS. 115-121 , DO QUAL SE EXTRAEM OS SEGUINTES TRECHOS:"Calamandrei, em obra clssica a respeito do tema referente aos meios extraordinrios de impugnao sentena, confirma essa verdade, de resto amplamente conhecida e aceita pela doutrina, ao dizer: 'El concepto de nulidad de la sentencia en El derecho romano era un concepto jurdico: esto s, la sentencia nula era juridicamente inexistente' (La Casacin Civil, trad. de 1945, vol. 1. tomo 1, p. 47).Entretanto, pondera Calamandrei, esta inexistncia jurdica encontrava-se em oposio existncia material e sensvel, no mundo exterior, de um provimento judicial com toda a aparncia de uma sentena juridicamente vlida. Criava-se, ento, a necessidade de estabelecer-se um meio adequado de declarar que a sentena materialmente existente inexistia no plano jurdico.(...)Entre ns, o ilustre processualista e magistrado, Adroaldo Fabrcio, em estudo publicado na Rev. Ajuris, versando precisamente sobre a eventual existncia da querela nullitatis. proposta pelo ru revel no citado, chega a concluso idntica do jurista italiano: 'Subsiste em nosso direito, como ltimo resqucio da querela nullitatis insanabilis, a ao declaratria de nulidade, quer mediante embargos execuo, quer por procedimento autnomo, de competncia funcional do juzo do processo original. A sobrevivncia, em nosso direito, da querela nullitatis, em sua formao primitiva restrita aos vcios da citao inicial, corresponde a uma tradio histrica, cujo acerto, na moderna conceituao da relao jurdico-processual, adquire flagrante atualidade. Na evoluo do direito luso-brasileiro, a querela nullitatis evoluiu at os contornos atuais da ao rescisria, que limitou a antiga prescrio trintenria para o lapso qinqenal de decadncia. Todos os vcios processuais, inclusive os da sentena, uma vez transitada em julgado, passaram a ser relativos, e, desde que cobertos pela res iudicata, somente so apreciveis em ao rescisria, especfica desconstituio do julgado. Um deles, porm, restou indene transformao da querela nullitatis em ao rescisria: a falta de citao inicial, que permaneceu como nulidade ipso jure, com todo o vigor de sua conceituao absoluta de tornar insubsistente a prpria sentena transitada em julgado' (Rev. Ajuris, vol. 42, p. 24).Em tal caso, prossegue o jurista, 'a sentena existe, mas nula, podendo ser sua invalidade declarada mediante querela nullitatis, assim como pode ser rescindida segundo o art. 485, V, do CPC, ou ainda, neutralizada em sua execuo pela via dos embargos do executado' (p. 29).(...)Em nossa jurisprudncia, inmeros so os exemplos de reconhecimento da querela nullitatis, como foi o caso do acrdo que teve como relator o hoje Min. Sydney Sanches, ento Desembargador do Tribunal de Justia de So Paulo, onde ficou reconhecida a persistncia da querela nullitatis em nosso direito contemporneo (RJTJ-SP (Lex), 72-75). Tanto o STJ quanto o STF vm proclamando a persistncia da querela nullitatis no Direito brasileiro, como se v do acrdo da lavra do Min. Moreira Alves, proferido no RE n 96.374 (publicado na RTJ, vol. 110, p. 210).O STJ, por sua vez, proclamou, em acrdo de que foi relator o Min. Dias Trindade: 'Perdura a querela nullitatis insanabilis, solucionvel em via ordinria, quando constatada a inexistncia de citao do fiador para a execuo, de intimao da penhora sobre bem seu e da designao de datas para a arrematao' (Rev. do STJ, vol. 32, p. 449).Torna-se, portanto, evidente que a querela nullitatis, como de resto outros tantos institutos do direito medieval, como as aes cautelares, ressurgem no direito contemporneo, a demonstrar que as pretensiosas ambies do iluminismo racionalista dos sculos anteriores, em suas tentativas de reduzir o direito pura lei escrita, como se o legislador do processo fosse onipotente, encontram afinal seu ocaso, ao encerrar-se o sculo XX." (grifo nosso)No entanto, superada o reconhecimento da existncia jurdica do instituto da querela nullitatis, em relao s hipteses de cabimento, a doutrina possui opinies veementemente divergentes, colacionadas por Adriana Moreira Silveira Freitas e Ana Maria Suares Rocha[14], seno vejamos:H aqueles que adotam posio bastante liberal ( como Tereza Arruda Alvim Wambier, que considera seis hipteses de cabimento para esta ao), bem como outros que adotam posio bastante restritiva (como Aldroado Fabrcio Furtado, que considera apenas a hiptese de citao nula ou inexistente, aliada revelia do ru), ou ainda os que acreditam na prpria desnecessidade da querela nullitatis para a extirpao da sentena inexistente (como o caso de Liebman). Diante de todo o exposto, premente se faz a anlise detalhada dos vcios processuais que autorizam a utilizao pelos operadores de direito do instituto jurdico querela nullitatis, bem como da repercusso de tal instituto no ordenamento jurdico brasileiro diante da relativizao da coisa julgada.2. SENTENA 2.1 Conceituao A busca da prestao jurisdicional implica no dever do Estado de declarar a vontade intrnseca da lei em face do caso concreto, objetivando a justa soluo do litgio, sendo no processo de conhecimento a sentena o instrumento hbil para a consecuo do fim almejado, representando a sntese da funo jurisdicional e da entrega da tutela aos jurisdicionados.No momento de proferir a sentena o juiz realiza um ato de inteligncia e lgica, com grande vis de sua vontade e convencimento, haja vista o ato sentencial expressar uma ordem, um comando, representando lei entre as partes.Assim, constitui-se a sentena no processo de conhecimento como a verdadeira afirmao da vontade da lei em face da aplicao ao caso concreto, e, o juiz diante dos componentes imperativos da norma, a aplica a situao ftica em consonncia com o conjunto ftico-probatrio constante dos autos e de seu convencimento. Nas palavras do mestre Humberto Theodoro Jnior apud Pontes de Miranda[15], conceitua a sentena em um panorama poltico-social com os seguintes dizeres: emitida como prestao do Estado, em virtude da obrigao assumida na relao jurdico-processual (processo), quando a parte ou as partes vierem a juzo, isto , exercerem a pretenso tutela jurdica.Ressaltando o citado processualista, frisa-se que a lei 11.232/2005 introduziu o 1 no art. 162 do Cdigo de Processo Civil, alterando o antigo conceito de sentena, nos seguintes termos:Art. 162. Os atos do juiz consistiro em sentenas, decises interlocutrias e despachos. 1 Sentena o ato do juiz que implica alguma das situaes previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei. (grifo nosso)

Optou o legislador com a nova redao do supracitado artigo, em conceituar sentena como ato que tanto poder extinguir o processo sem resoluo de mrito (art. 267,Cdigo de Processo Civil) e com resoluo de mrito (art. 269, Cdigo de Processo Civil).Assim, a despeito da redao anterior, a sentena passou a ser definida com base em seu contedo, o qual vem expressa e taxativamente determinado na lei processual civil.Por derradeiro, objetivando esmiuar a temtica buscar-se- sistematizar as sentenas nulas e as inexistentes, com relevncia para suas caractersticas e pressupostos, bem como em ateno ao posicionamento doutrinrio majoritrio. 2.2 Da relativizao da coisa julgadaA prolao da sentena pelo Estado-juiz representa a efetiva entrega da prestao jurisdicional, bem como se traduz na escorreita aplicao da lei ao caso concreto, sendo de suma importncia que a soluo dada s partes seja permanente ou imutvel, para tanto a Constituio Federal de 1988 contempla o instituto jurdico da coisa julgada como um dos pilares do Estado Democrtico de Direito.Em consonncia com a expressa disposio do art. 467 do Cdigo de Processo Civil, denomina-se coisa julgada material a eficcia que tora imutvel e indiscutvel a sentena, no mais sujeita a recurso ordinrio ou extraordinrio. Em relaes aos efeitos da coisa julgada para os litigantes, conforme dispe o art. 468 do Cdigo de Processo Civil: A sentena, que julgar total ou parcialmente a lide, tem fora de lei nos limites da lide e das questes decididas.Importante ressaltar que o arcabouo de normas processuais diferencia coisa julgada material e coisa julgada formal, sendo que a primeira coaduna-se com a impossibilidade de impugnao da sentena proferida e sua conseqente reforma, diante da extrema precluso recursal, ao passo que a segunda refere-se, to somente, a imutabilidade do ato processual, do qual no caber mais recurso seja por precluso ou mesmo desistncia da parte.Entretanto, a coisa julgada material ou substancial representa, em sntese, a autoridade da coisa julgada, uma vez que a sentena tornar-se imutvel para as partes e terceiros, haja vista ser defeso as partes pugnar, seja no mesmo processo ou em outro, que a relao decidida seja reexaminada e novamente decidida por mero interesse subjetivo.No ordenamento jurdico brasileiro, a sentena de mrito, como relao jurdica, em princpio no produz seus regulares efeitos para as partes, enquanto sujeita a recurso, ou seja, antes de seu regular trnsito em julgado. Entende-se que o Estado, quando ainda caiba recurso em face do ato sentencial, ou seja, reexame da sentena, ainda no cumpriu de forma completa seu papel de compor as partes integrantes da lide, podendo, ainda, se pronunciar acerca da pretenso resistida.A coisa julgada tem como fundamento substancial a preservao da estabilidade e segurana sociais, sendo a imutabilidade das decises judiciais um fato de equilbrio social, assegurando as partes uma nica e definitiva resoluo para o conflito.Entretanto, em ateno a segurana jurdica, ou seja, as relaes extrnsecas das relaes jurdicas, chegar o momento em que no sero admissveis mais recursos diante de duas circunstncias: decurso do prazo ou ausncia de recurso para a deciso proferida.A legislao processual estipula prazo certo e preclusivo para todo recurso, e, inexistindo insurgncia da parte sucumbente ou depois de decididos todos os recursos interpostos, ausente a possibilidade de nova impugnao, a sentena tornar-se- imutvel e definitiva, passando de ato do magistrado expresso da vontade da lei, valendo como verdadeiro regramento para as partes envolvidas no litgio.Outrossim, diante da possibilidade jurdica de rescindibilidade da sentena, somente aps o decurso do prazo decadencial de 2 (dois) anos que se formar a coisa soberanamente julgada, conforme tratado o tema nas doutrinas processuais.Todavia, sendo a sentena impassvel de recurso diz-se que ocorreu o trnsito em julgado, tornando-se a sentena para as partes envolvidas, bem como para terceiros, ato jurdico imutvel, bem como imutveis sero seus efeitos jurdicos.Especificamente, quando a sentena de mrito transita em julgado, diante da precluso dos prazos recursais, recebe a denominao de coisa julgada formal. Ao passo que a coisa julgada material ou substancial ter lugar quanto imperatividade do comando emergente da sentena, o qual com o trnsito em julgado passa a valer entre as partes como lei, em ateno aos limites subjetivos da coisa julgada.Referindo-se ao instituto da coisa julgada e seus limites subjetivos, esses gozam de ampla proteo constitucional, in verbis:

Art. 5, inciso XXXVI - a lei no prejudicar o direito adquirido, o ato jurdico perfeito e a coisa julgada;

Consubstanciando o entendimento acima, o mestre Humberto Theodoro Jr afiliando-se ao posicionamento de Liebman[16] dispe acerca do fundamento da autoridade da coisa julgada e suas implicaes para as partes envolvidas no litgio:

Para o grande processualista, as qualidades que cercam os efeitos da sentena, configurando a coisa julgada, revelam a inegvel necessidade social, reconhecida pelo Estado, de evitar a perpetuao dos litgios, em prol da segurana que os negcios jurdicos reclamam da ordem jurdica., em ltima anlise, a prpria lei que quer que haja um fim controvrsia da parte. A paz social o exige. Por isso tambm a lei que confere sentena a autoridade da coisa julgada, reconhecendo-lhe, igualmente, a fora de lei para as partes do processo.To grande o apreo da ordem jurdica pela coisa julgada, que sua imutabilidade no atingvel nem sequer pela lei ordinria garantida que se acha a sua intangibilidade por preceito da Constituio Federal (art. 5, XXXVI). Complementarmente, tratando-se diretamente dos limites subjetivos da coisa julgada, evoca-se o disposto no art. 472 do Cdigo de Processo Civil:Art. 472. A sentena faz coisa julgada s partes entre as quais dada, no beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsrcio necessrio, todos os interessados, a sentena produz coisa julgada em relao a terceiros. (grifo nosso)Nesse diapaso, o mestre Cndido Rangel Dinamarco[17], esmiuando o regramento disposto no art. 472 do CPC, enuncia:A sentena faz coisa julgada entre as partes entre as quais dada, no beneficiando, nem prejudicando terceiros. Os vocbulos parte e terceiros, neste texto, so empregadas em sentido puro, para designar aquele que esteve e aquele que no esteve integrado relao processual em que foi dada a sentena.(grifo nosso) Nota-se que a integrao das partes na relao processual ou sua angularizao de sua importncia para a formao da coisa julgada, bem como para a produo dos efeitos subjetivos, os quais, por decorrncia lgica, s dizem respeito as partes envolvidas no processo.Assim, diante da ausncia do ato citatrio ou sua patente nulidade inadmissvel a formao da coisa julgada, tratando-se de uma sentena inexistente no mundo jurdico.Superado a conceituao da coisa julgada e de seus limites subjetivos, insta observar o fenmeno denominado relativizao da coisa julgada, a qual, em suma, aceita no ordenamento jurdico ptrio diante do embate de princpios, no podendo prevalecer a imutabilidade das decises judiciais em face de evidente nulidade absoluta no processo ou de atos no curso do processo, v.g., decorrente de ausncia de citao, a qual impediu que o ru conhecesse do processo e pudesse se defender em consonncia com os ditames constitucionais do contraditrio e da ampla defesa.Os Tribunais Superiores Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justia paulatinamente vem contemplando a possibilidade, frisa-se, em situaes extraordinrias, da relativizao da coisa julgada diante de patente mcula na sentena que possa ofender os prprios ditames constitucionais, em patente contrariedade aos argumentos que mnguam a possibilidade de tal relativizao sob o argumento de que haveria choque com as clusulas ptreas acerca da segurana jurdica, consagradas no texto constitucional de 1988.Outrossim, os argumentos totalmente contrrios a possibilidade de relativizao da coisa julgada, uma vez que a imutabilidade da deciso seria instituto insculpido entre as garantias fundamentais da Constituio Federal de 1988, alegam que a sentena s se aperfeioaria aps todo o processo, sobrepondo, assim, as nulidades absolutas tanto do processo como da sentena por terem sobrevivido por todos os procedimentos jurdicos.Entretanto, diante da moderna concepo social de justia, bem como da reprovabilidade de se manter no ordenamento jurdico sentenas patentemente viciadas, as sentenas nulas, imprescindvel faz-se a relativizao da coisa julgada para que tais provimentos judiciais errneos sejam extirpados da rbita jurdica.Em consonncia, o Ministro Relator Jos Delgado do Superior Tribunal de Justia, quando do julgamento do Recurso Especial n. 554.402 RS, posicionou-se pela possibilidade de retificao da sentena em face de erro gravssimo que possa afrontar os regramentos e garantias constitucionais, defendendo que diante de vcios absolutos no se admitiria o trnsito em julgado da deciso.Exemplificando o citado julgador, com base em sentenas proferidas em relaes de direito administrativo, que se houver ofensa a princpios como o da legalidade, da moralidade, da impessoalidade e da eficincia, estar-se-ia contrariando a prpria Constituio Federal de 1988; tais sentenas, segundo seus argumentos, nunca podero ter fora de coisa julgada e podero a qualquer tempo serem desconstitudas, pois praticam agresso ao regime democrtico, bem como a entrega da prestao jurisdicional.Ademais, conforme posicionamento doutrinrio[18] adotado no presente projeto de pesquisa admitindo-se a possibilidade de formao da coisa julgada, to somente, nas sentenas nulas, em relao a estas se deve contemplar a relativizao da coisa julgada para que a segurana jurdica seja preservada, pois, diante do embate entre princpios constitucionais dever prevalecer o que menos danos cause a ordem social, sendo aplicvel, para tanto, o manejo da querela nullitatis ou, em segundo plano, da ao rescisria.2.3 Sentenas nulasAs sentenas nulas so aquelas prolatadas diante de algum vcio de cunho processual, ou seja, um erro in procedendo, que representa no processo alguma mcula no solucionada pelo juiz de ofcio, a qual tem o condo de invalidar todo o processo, passando a sentena prolatada a padecer de nulidade.Acerca dos vcios que podem macular a sentena temos, primeiramente, os que se referem aos elementos essenciais da sentena dispostos no art. 458 do Cdigo de Processo Civil: Art. 458. So requisitos essenciais da sentena: I - o relatrio, que conter os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do ru, bem como o registro das principais ocorrncias havidas no andamento do processo; II - os fundamentos, em que o juiz analisar as questes de fato e de direito; III - o dispositivo, em que o juiz resolver as questes, que as partes Ihe submeterem. Uma vez que a sentena tenha sido proferida com ateno aos elementos acima enunciados ter validade e eficcia no mundo jurdico, ressaltando-se, entretanto, a existncia de nulidades de cunho processual, as quais podero ser absolutas, desde que previstas taxativamente em lei, ou decorram da falta de pressupostos processuais de existncia e validade do processo.A despeito da nulidade que inquina a sentena proferida diante de um vcio no processo, admite-se nesses casos que a coisa julgada seja formada, isto , que ocorra o trnsito em julgado da deciso, com a possibilidade de impugnao por meio de recursos, como a apelao, ou mesmo pelas vias processuais autnomas, tais como a ao rescisria.As sentenas nulas por causarem extrema insegurana jurdica devem ser extirpadas de nosso ordenamento jurdico, sendo o instrumento cabvel para tanto, conforme entendimento majoritrio da doutrina, a via autnoma de impugnao denominada ao rescisria, disciplinada no art. 485 do Cdigo de Processo Civil, operando-se em tais situaes a relativizao da coisa julgada.A ao rescisria tem prazo decadencial de 2 (dois) anos a partir do qual se forma a coisa soberanamente julgada, a qual, para grande parte da doutrina e jurisprudncia caracterizada por sua imutabilidade, em ateno a segurana jurdica das decises, preceituada na Constituio Federal de 1988.Entretanto, findo o prazo para a apresentao da ao rescisria, os vcios que inquinam as sentenas nulas no estaro automaticamente convalidados, defendendo, entretanto, Tereza Arruda Alvim Wambier[19] que tais sentenas restariam invulnerveis porque o nico meio para desconstitu-las a parte no mais se poder valer, nos seguintes termos:So estes trs, e no outros, os parmetros que devem ser levados em conta para que se possa afirmar algo juridicamente sustentvel, em sua integralidade: decorrido o binio decadencial, nada mais poder ser feito contra as sentenas rescindveis inclusive as nulas (que so meramente rescindveis, segundo nosso sistema de direito), no se confundido com as inexistentes (...) Importante ressaltar que em determinadas situaes nosso direito positivado contempla, alm do manejo da ao rescisria para a impugnao das sentenas nulas, a impetrao de mandado de segurana sob o fundamento legal insculpido no inc. LXIX do art. 5 da Constituio Federal de 1988:

Art 5. Omissis;(...)LXIX - conceder-se- mandado de segurana para proteger direito lquido e certo, no amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsvel pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pblica ou agente de pessoa jurdica no exerccio de atribuies do Poder Pblico; Diante da redao do citado inciso, a impetrao de mandado de segurana em face de atos de ilegalidade praticados pelo juiz seria cabvel para a impugnao de sentena nula, nas hipteses dos recursos cabveis no serem aptos para evitar leses eminentes ao direito da parte.Entretanto, pela sistemtica recursal adotada pelo Cdigo de Processo Civil, os atos judiciais devem ser atacados por meio de recursos ou aes autnomas impugnativas, cabendo, com ressalvas o manejo do mandado de segurana conforme disposies constitucionais.Isto posto, diferente o entendimento esposado pelo Superior Tribunal de Justia[20] que, v.g, no julgamento do Resp n. 893.477-PR[21], sob a relatoria do Ministro Nilson Naves, elegeu como via adequada para a impugnao da sentena nula a utilizao da querela nullitatis, concebendo como sinnimas as sentenas nulas e as inexistentes, bem como ressaltando que a utilizao de tal ao para atacar uma sentena injusta contribuiria para descaracterizar o instituto da coisa julgada, situao extraordinariamente aceita pelo Superior Tribunal de Justia nos casos de citao defeituosa ou inexistente.Sendo certo que a sentena que na viso da parte considerada injusta, no est apta a ser desconstituda sobre a falaciosa alegao de nulidade, uma vez que de tal vicio no padece, pois, ao apreciar o conjunto ftico probatrio dos autos o juiz deve pautar-se no princpio do livre convencimento motivado ou da persuaso racional[22].De fato, o ordenamento jurdico vigente adotou o sistema da persuaso racional para a valorao das provas, repudiando a possibilidade do livre convencimento do magistrado, princpios definidos nas ilustres palavras do professor Humberto Theodoro Jr[23] como:Enquanto no livre convencimento o juiz pode julgar sem atentar, necessariamente, para a prova dos autos, recorrendo a mtodos que escapam ao controle das partes, no sistema da persuaso racional, o julgamento deve ser fruto de uma operao lgica armada com base nos elementos de convico existentes no processo.Sem a rigidez da prova legal, em que o valor de cada prova previamente fixado na lei, o juiz, atendo-se apenas s provas do processo, formar seu convencimento com liberdade e segundo a conscincia formada. Embora seja livre o exame das provas, no h arbitrariedade, porque a concluso deve ligar-se logicamente apreciao jurdica daquilo que restoudemonstrado nos autos. E o juiz no pode fugir dos meios cientficos que regulam as provas e sua produo, nem tampouco s regras da lgica e da experincia.Ademais, o Cdigo de Processo Civil, em seu art. 131, preconiza a indicao na sentena dos motivos que lhe formaram o convencimento, in verbis:Art. 131. O juiz apreciar livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstncias constantes dos autos, ainda que no alegados pelas partes; mas dever indicar, na sentena, os motivos que lhe formaram o convencimento. (grifo nosso)Assim, desde que a sentena recorrida tenha atendido aos dispositivos legais, sendo amplamente fundamentada, ressaltando-se a exposio dos motivos pelos quais o pedido do Autor foi julgado naqueles termos, no se admite a relativizao da coisa julgada diante da alegao subjetiva de injustia.Portanto, a relativizao da coisa julgada excepcionalmente contemplada em nosso ordenamento jurdico, pelo Superior Tribunal de Justia, somente nas hipteses de coliso entre direitos ou princpios fundamentais, hiptese existente em casos de atos citatrios viciados ou inexistentes, nos quais o direito a ampla defesa, bem como ao exerccio do contraditrio foram negados parte integrante de plo passivo da demanda.Deste modo, as sentenas nulas sob pena de perpetuao de insegurana jurdica devem ser extirpadas de nosso ordenamento jurdico pelo manejo da ao autnoma denominada querela nullitatis.Ante todo exposto e em conformidade com o entendimento pacificado no Superior Tribunal de Justia, a querela nullitatis se mostra como a soluo mais adequada, em razo de seus pressupostos intrnsecos e extrnsecos, para decretao da nulidade do que a ao rescisria que se restringe a discutir situaes taxativamente previstas na lei processual, bem como apresenta prazo preclusivo para sua apresentao. 2.4 Sentenas inexistentesAs sentenas inexistentes so quelas prolatadas em processo juridicamente inexistente[24], em virtude de vcios intrnsecos ou extrnsecos, sendo que tais sentenas no podero produzir efeitos, bem como no h limite temporal pr-determinado para sua impugnao.A nulidade do processo fundamenta-se, preponderantemente, em face de nulidades absolutas, tais como ausncia de citao somada a revelia, a carncia de um dos pressupostos da sentena, bem como a formalidades da prolao do ato sentencial, tais como sua regular publicao, entre outros.Assim no tocante aos vcios intrnsecos, a sentena sem concluso ou sem a parte dispositiva sequer chegou a constituir o ato sentencial, sendo concebido como inexistente no mbito jurdico, raciocnio estendido aos captulos de uma sentena, haja vista que a inexistncia da sentena poder ser total ou parcial, entretanto, tais situaes regem-se por iguais normas.A parte dispositiva da sentena contm a deciso da causa, sendo, assim, o elemento essencial do julgado, uma vez que a sua ausncia acarreta a inexistncia de tal ato jurdico, pois deixou de haver a prolao da sentena.O ato sentencial maculado por vcios de natureza absoluta no produziro efeitos e nem tero eficcia, pois inexistem como atos jurdicos, bem como no haver a formao da coisa julgada, diante de sua total ineficcia perante o ordenamento jurdico.Em relao aos vcios extrnsecos, v.g, tem-se as sentenas prolatadas em processos no qual uma das condies da ao est ausente ou mesmo a sentena de mrito proferida diante da patente impossibilidade jurdica do pedido. E no s, tem-se como requisito processual de existncia a jurisdio, uma vez que sero inexistentes as sentenas prolatadas por juzes aposentados ou afastados.Colacionando exemplos de possibilidades de sentenas viciadas, ou seja, inexistentes, Tereza Arruda Alvim apud Rodrguez[25] cita as seguintes situaes, quanto as vcios extrnsecos que podem macular o ato sentencial: a sentena sem decisrio; a sentena sem condies materiais de produzir efeitos, porque incerta ou impossvel; sentena proferida por no juiz; a sentena pronunciada contra pessoa inexistente ou sem legitimidade para a causa; a sentena no assinada pelo juiz. Dos vcios extrnsecos que podem macular a sentena, ressalta-se o do ato citatrio, sendo a citao um dos pressupostos processual de existncia, como instrumento hbil para a formao da relao processual, com a integrao do ru a lide, conforme relatado em tpico prprio.Para a impugnao das sentenas nulas a doutrina majoritria defenda a aplicabilidade da ao declaratria de nulidade[26], do mandado de segurana[27] e da querela nullitatis[28], uma vez que entendem que tal pronunciamento no rescindvel, por constituir a sentena, que apresenta nulidade absoluta, como ato jurdico inexistente.2.5 Anlise comparativa entre sentenas nulas e inexistentesAs sentenas nulas e as inexistentes na perspectiva dos vcios citatrios, a despeito de apresentarem nulidade absoluta, possuem caractersticas peculiares que as diferenciam quanto aos meios impugnativos hbeis para extirp-las do ordenamento jurdico.Diante de uma sentena nula, mas na qual houve a formao da coisa julgada, defensvel o manejo da ao rescisria, bem como da querela nullitatis, sob uma tica de fungibilidade de tais institutos processuais, com detida ateno ao prazo decadencial de 2 (dois) anos existente para a ao rescisria, o qual inexiste para a apresentao da querela nullitatis tornando-a mais acessvel e indicada para tal intento.Cabendo a ressalva de que a rescindibilidade da coisa julgada dever ocorrer para que a nulidade absoluta que inquina a sentena no mais produza efeitos no mundo jurdico, haja vista que apesar de viciada a sentena nula poder produzir efeitos at ser formalmente declarada sua invalidade e ineficcia jurdica.Ao passo que o manejo da querela nullitatis, a qual no h prazo para a apresentao, formalmente se adapta melhor a tal intento, haja vista ser contemplada como ao autnoma de desconstituio da sentena proferida contra o revel no citado. Em relao a formao da coisa julgada, a doutrina unssona em contemplar que nas sentenas nulas passvel a formao de tal instituto jurdico, pois, apesar da nulidade absoluta, o ato sentencial poder produzir efeitos at o momento de sua impugnao formal seja por meios dos recursos tipificados no Cdigo de Processo Civil, seja mediante o manejo da querela nullitatis.Por derradeiro, tratando-se de sentenas inexistentes, diante do ato sentencial inexistente do ponto de vista jurdico inconcebvel que a coisa julgada possa ser formada, sendo assim, tal sentena no poder ser rescindida, cabendo, to somente, a apresentao da querela nullitatis para extirp-la do ordenamento jurdico.