stj - nulidade da decisão - ausência de fundamentação

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  • 8/18/2019 STJ - Nulidade da decisão - Ausência de fundamentação

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     Superior Tribunal de Justiça 

    AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 836.281 - RS (2016/0009003-8) 

    RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURAAGRAVANTE : ALEX SANDER ALVES BOSCAINI

    ADVOGADOS : MARITANIA DALLAGNOLGUILHERME RODRIGUES CARVALHO BARCELOS EOUTRO(S)

    AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DOSUL

    EMENTA

    PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO EM RECURSOESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 381, II E III, DO CPP.ACÓRDÃO IMPUGNADO. AUSÊNCIA DEFUNDAMENTAÇÃO. ACOLHIMENTO INTEGRAL AOSFUNDAMENTOS DO PARECER MINISTERIAL.VIOLAÇÃO AO PRIMADO DA EXIGÊNCIA DEFUNDAMENTAÇÃO DO ATO JUDICIAL. AGRAVOCONHECIDO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. DEMAISTEMAS PREJUDICADOS.

    DECISÃO

    Trata-se de agravo em recurso especial interposto por ALEX SANDERALVES BOSCAINI, contra inadmissão, na origem, de recurso especial fundamentado na

    alínea "a" do inciso III do artigo 105 da Constituição Federal, manejado contra acórdão doTribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, assim ementado:

    "APELAÇÃO CRIMINAL. DELITO DO ART. 359-C DO CÓDIGOPENAL EXISTÊNCIA DE PROVA CLARA DE TER O AGENTEASSUMIDO OBRIGAÇÃO CONSCIENTE DA IMPOSSIBILIDADE DECUMPRIR DENTRO DOS DOIS ÚLTIMOS QUADRIMESTRES DE SEUMANDATO. SENTENÇA CONDENATÓRIA MANTIDA.APENAMENTO CORRETAMENTE ESTABELECIDO. RECURSODEFENSIVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO". (fl. 1502)

    Foram, então, opostos embargos de declaração, os quais foram rejeitados, por meio de aresto assim sumariado:

    "EMBARGOS DECLARATÓRIOS. OMISSÃO.FUNDAMENTAÇÃO. TRANSCRIÇÃO DE PARECER MINISTERIAL.PACIFICADO O ENTENDIMENTO QUANTO A SEREM VÁLIDAS ASDECISÕES FUNDAMENTADAS NO PARECER MINISTERIAL, DESDEQUE A REFERIDA FUNDAMENTAÇÃO SEJA ADEQUADA AOJULGAMENTO DA CAUSA. PRETENSÃO DE REDISCUSSÃO DEMÉRITO. IMPOSSIBILIDADE NESTA VIA. EMBARGOSDESACOLHIDOS". (fl. 1566)

    Em seu recurso especial, às fls. 1578/1612, sustenta o recorrente negativade vigência ao artigo 619 do Código de Processo Penal, sob o argumento de que o TribunalDocumento: 58884764 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 05/04/2016 Página 1 de 17

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     Superior Tribunal de Justiça 

    de origem, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não teria se manifestadoadequadamente sobre as teses defensivas, proceder que implicaria em negativa de

     prestação jurisdicional.Além disso, aponta ofensa aos artigos 458 do Código de Processo Civil,

    381, incisos II e III, do Código de Processo Penal, e 93, inciso IX, da Constituição Federal,ao fundamento de que o acórdão recorrido seria nulo por ausência de fundamentação.

     Neste sentido, pondera que o Tribunal não teria lançado mão de fundamentação própria,limitando-se a reproduzir, na íntegra, parecer do órgão da acusação, proceder este que, noseu entender, ofenderia o contraditório e a ampla defesa, ante a ausência de enfrentamentodas teses defensivas, devidamente articuladas no petitório de apelação.

    Por fim, aduz contrariedade ao artigo 359-C do Código Penal, sob oentendimento de seria imprescindível à configuração do tipo em comento o dolo específicode contrair despesas cuja ausência do pagamento seria sabida, o que não ocorre no caso emapreço. Desse modo, entende que "ausente o elemento subjetivo do tipo penal, não haveriaque se cogitar da própria perfectibilização de suposto crime, sob pena de incorrer-se emum retorno à responsabilidade objetiva, desconcatenada das vertentes constitucionais do

     processo penal e dos princípios constitucionais da presunção de inocência e do in dubio pro réu".

    O Tribunal de origem, entretanto, negou seguimento ao recurso, às fls.1679/1689, em decisão fundamentada nos seguintes termos:

    "A inconformidade não reúne condições de ser admitida.Inicialmente, cumpre consignar que a alegação de ofensa ao artigo 93,

    inciso IX, da Lei Maior foi deduzida em sede imprópria. No modelo recursalresultante da reforma operada no Poder Judiciário pelo legisladorconstituinte, que cindiu a instância extraordinária, o contenciosoconstitucional rende ensejo à interposição de recurso extraordinário  para oSupremo Tribunal Federal, esgotando-se a função do recurso especial para oSuperior Tribunal de Justiça na tutela da autoridade e unidade do direitofederal consubstanciado na lei comum. Assim, argüições nesse sentido só podem ser objeto de recurso extraordinário, dirigido ao Supremo TribunalFederal, a quem compete a guarda da Lei Maior. Nunca, porém, de recursoespecial.

    Acerca da apontada negativa de  prestação  jurisdicional, cabe destacarque, mesmo com a finalidade de  prequestionamento, os embargos dedeclaração são cabíveis, tão somente, na restrita hipótese de que trata o art.619 do Código de Processo Penal.

    Por isso que a negativa de  prestação  jurisdicional nos embargosdeclaratórios somente se configura quando, na apreciação do recurso, oTribunal de origem insiste em omitir pronunciamento sobre questão quedeveria ser decidida, e não foi.  Não é esse o caso dos autos, merecendoregistro, nesse  passo, a circunstância de que não está o órgão  julgadorcompelido a refutar todos os argumentos exarados pelas partes, mormente seresultam implicitamente repelidos  por incompatibilidade com osfundamentos contidos na decisão hostilizada, tidos  por suficientes  parasolução da quaestio .

    Desse modo, porquanto fundamentada a decisão, não se configura aapontada contrariedade ao artigo 619 do Código de Processo Penal, masmera inconformidade do recorrente pelo fato de a decisão impugnada não teracolhido a tese recursal de que, para o deslinde da causa, deveriam ter sidoexaminados os temas questionados, confundindo negativa de  prestação

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     jurisdicional com não acolhimento da pretensão.Mesmo que superado tal óbice, quanto à alegação de ausência de

    fundamentação da decisão recorrida, a  jurisprudência do Superior Tribunalde Justiça tem o entendimento de não ser nula a decisão em que o julgador

    adotacomo razões de

    decidira sentença de  primeiro grau ou o

     pronunciamento do Ministério Público, conforme precedentes jurisprudenciais:

    (...)

    Assim, como o Colegiado fundamentou  parte da decisão com  base no parecer do Ministério Público, atendeu a questão proposta dentro dos limitesdo suficiente e consoante o exigido  pelo sistema legal, não havendo comoadmitir a irresignação por afronta ao dispositivo supramencionado.

    Atinente à alegação de atipicidade do fato pela ausência do elementosubjetivo do tipo (dolo específico), verifica-se que tal implica reapreciaçãodo conjunto  probatório, providência incompatível com a via excepcionalmanejada, a teor da Súmula 07 do Superior Tribunal de Justiça, que incide a

    inviabilizar o seguimento do recurso.Além disso, como bem ponderou o Ministério Público, 'o delito disposto

    no artigo 359-C do Código Penal é crime formal que prescinde de qualquerresultado naturalístico ou existência de dolo específico. Assim, descabe aalegação do recorrente de que seria necessário,  para a tipicidade, o doloespecífico' (fl. 1493/verso).

    Assim sendo, embora o esforço do recorrente, o Superior Tribunal deJustiça consolidou orientação no sentido de que 'É assente que cabe aoaplicador da lei, em instância ordinária, fazer um cotejo fático probatório afim de analisar a existência de  provas suficientes a embasar o decretocondenatório ou a ensejar a absolvição, porquanto é vedado, na via eleita, o

    reexame de  provas, conforme disciplina o enunciado 7 da Súmula destaCorte'.Portanto, a  presente insurgência, ao  buscar a reversão do julgado, faz

    incidir a Súmula n. 07/STJ - 'A pretensão de simples reexame de prova nãoenseja recurso especial' -,  pois não se trata de revaloração do conjuntofático-probatório, mas de pretensão ao reexame de prova".

    Em seu agravo, às fls. 1728/1764, o recorrente afirma que "não se busca orevolvimento (reexame) da matéria fático-probatória constante nos autos, mas, tãosomente, revaloração dos elementos constantes do próprio acórdão vergastado - e nadecisão que rejeitou os aclaratórios - vez que a decisão recorrida se encontra em amplodescompasso com as normas tidas por violadas".

    Lado outro, quanto à impossibilidade de discussão de matéria constitucionalem sede especial, pontua que "apenas e tão somente fez menção a tais dispositivosconstitucionais", mas que "eles não são o centro do debate", além do que, no seu entender,"a  posição acima exarada se encontra, ademais, num claro descompasso de paradigmas,como se o princípio do contraditório não devesse permear a legislação infraconstitucional,

     bem assim a interpretação-aplicação do direito".Outrossim, no que tange à apontada ofensa ao artigo 619 do Código de

    Processo Penal, afirma que, diversamente do que entendeu a decisão agravada, "há, naespécie, clara afronta ao artigo 619 do CPP,  porquanto pesa, no caso, clara negativa na

     prestação jurisdicional por parte da Corte Gaúcha, vez que presentes diretas omissões

    apontadas que acabaram por não serem sanadas, questões sobre as quais deveria,necessariamente, ter se manifestado o Regional".

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    Além disso, quanto à harmonia do acórdão recorrido com a jurisprudênciadeste STJ, o recorrente alega que "o acórdão recorrido acabou por colacionar

     jurisprudência do STF, e do STJ, as quais, no entanto, tomadas em sede de habeas corpus ,não refletem o posicionamento de ambas as Cortes". Ademais, acrescenta que o caso em

    apreço seria distinto, porquanto o acórdão baseou-se integralmente no parecer do MP,situação não albergada pela jurisprudência das Cortes Superiores.

    É o relatório.A insurgência merece prosperar. Inicialmente, denota-se que o recorrente impugnou a contento todos os

    fundamentos existentes na decisão que inadmitiu o recurso especial, sendo inaplicável, portanto, a exegese prevista no enunciado 182 da Súmula deste Tribunal Superior. Dessaforma, suplanta-se o agravo, a fim de analisar diretamente o petitório de recurso especial.

    E neste, o recorrente logra êxito.Com efeito, no que toca à aventada ofensa ao artigo 381, incisos II e III, do

    Código de Processo Penal, denota-se que a interpretação dada pelo Tribunal de origem ànorma em apreço não se coaduna com o entendimento jurisprudencial deste SodalícioSuperior. Isso  porque, colhe-se dos autos que, interposta apelação defensiva contra asentença condenatória de primeiro grau, o relator do feito, ao apreciar o processado perantea Câmara Julgadora, utilizou-se, como razões de decidir, da íntegra do parecer doMinistério Público atuante em segundo grau de jurisdição, nos seguintes termos:

    2. Traduz, o  parecer das fls. 1334/1348, meu entendimento acerca doque ora é submetido à Câmara. Por isso, e também como forma de evitaçãode despicienda tautologia - o que admitido, inclusive,  pelo SupremoTribunal Federal e  pelo Superior Tribunal de Justiça, disso exemplos os

     julgamentos dos HC 102903/PR (STF)e

    244963/SP (STJ)-, é

    quede

    dito parecer transcrevo, valendo-me da fundamentação ad relationem , integrandoao voto, com vênia da ilustrada Procuradora de Justiça, Dra. Sílvia Cappelli,que o lavrou, o que segue, in verbis :

    “O recurso não deve ser provido.Alex Sander Alves Boscaini, ex-prefeito de Viamão foi condenado na

    forma do artigo 359-C do Código Penal, porque nos dois últimosquadrimestres do último ano de seu mandato, assumiu obrigações que não poderiam ser  pagas no mesmo exercício financeiro nem no exercíciofinanceiro seguinte,  pela ausência de suficiente disponibilidade de caixa para serem saldadas.

    Alega a defesa ausência de dolo e insuficiência probatória para alicerçaro decreto condenatório, entretanto, a materialidade do delito estácomprovada pelos documentos das fls. 56 a 878 e pela prova oral carreadaaos autos.

    O ex-prefeito admitiu ter autorizado as despesas, alegando, no entanto,que se faziam necessárias para a administração do município e o bem estarda população.

    Afirmou o ex-mandatário: '...Juíza instrutora: O que o senhor tem a dizersobre essas imputações que pesam aqui contra o senhor, são verdadeiras ounão? Interrogando: Olha tive conhecimento dos fatos; são verdadeiras, elasestão no processo e a gente está convocado aqui  pra tirar as dúvidas que

    forem necessárias'.O  perito do Ministério Público, Michel Vince Von Grol esclareceu otrabalho realizado que concluiu que o ex-prefeito assumiu dez obrigações

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    que não poderiam ser pagas no mesmo exercício financeiro.Segundo relata a denúncia, da análise dos documentos colacionados na

    investigação, frutos e objeto da análise Departamento de AssessoramentoTécnico do Ministério Público Estadual, verificou-se a existência de dez

    fatosnos

    quaiso réu

    teriadeixado impagos em 31 de dezembro de 2008:

    1º FATO (fls. 104/108) Na data de 05/05/2008 (fl. 105), o Prefeito Municipal de Viamão, Sr.

    Alex Sander Alves Boscaini, agindo na condição de Prefeito Municipal,autorizou a assunção de obrigação através da aquisição de 10 armários deaço  para vestiário,  pelo valor total de R$ 3.580,00,  junto à empresáriaindividual Áurea Bauer Olesko.

    Do montante total empenhado no exercício de 2008, no recursovinculado 0001 - LIVRE, restou sem pagamento no mesmo exercíciofinanceiro e sem contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa para oexercício seguinte o valor de R$ 3.580,00, procedendo-se à inscrição emrestos a pagar processados.

    (...)'Na data do nascimento da referida obrigação (05/05/2008), esta despesa

    de caráter novo não dispunha de disponibilidade de caixa para suacobertura. Conforme cálculo projetado com  base no último mês defechamento anterior à assunção da despesa (30/04/2008), verifica-se umadisponibilidade de caixa projetada negativa  para a data de 31/12/2008,conforme segue:

    (...)

    2º FATO (fls. 714/717)

    Em 15/05/2008 (fl. 716), o Prefeito Municipal de Viamão, Sr. Alex

    Sander Alves Boscaini, autorizou a aquisição de 1 notebook para o gabinetedo Prefeito,  pelo valor total de R$ 1.050,00,  junto à empresária individualCristiane Moraes Fernandes. Do montante total empenhado no exercício de2008, no recurso vinculado 0001 - LIVRE, restou sem pagamento no mesmoexercício financeiro e sem contrapartida suficiente de disponibilidade decaixa para o exercício seguinte valor de R$ 1.050,00, procedendo-se àinscrição em restos a pagar processados.

    (...)

     Na data do nascimento da referida obrigação (15/05/2008), tal despesade caráter novo não dispunha de disponibilidade de caixa para suacobertura. Conforme cálculo projetado com  base no último mês defechamento anterior à assunção da despesa (30/04/2008), verifica-se uma

    disponibilidade de caixa projetada negativa  para a data de 31/12/2008,conforme segue:

    (...)

    3º FATO (fls. 372/390; 547/564)

     Na data de 20/05/2008 (fl. 375/377), o Prefeito Municipal de Viamão,Sr. Alex Sander Alves Boscaini, firmou contrato tendo como objeto aaquisição de 4.000m2 de  pedra granito irregular,  pelo valor total de R$310.990,00,  junto ao empresário individual Valdenir Inácio de FragaSilveira. Do montante total empenhado no exercício de 2008, no recursovinculado 0001 -LIVRE, restou sem pagamento no mesmo exercício

    financeiro e sem contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa para oexercício seguinte o valor de R$ 310.990,00, procedendo-se à inscrição emrestos a pagar.

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     Superior Tribunal de Justiça 

    (...)

     Na data do nascimento da referida obrigação (20/05/2008), tal despesade caráter novo não dispunha de disponibilidade de caixa para suacobertura. Conforme cálculo projetado com  base no último mês defechamento

    anteriorà assunção da despesa (30/04/2008), verifica-se uma

    disponibilidade de caixa projetada negativa  para a data de 31/12/2008,conforme segue:

    (...)

    4º FATO (fls. 51/70)

     Na data de 28/05/2008 (fls. 54/56), o Prefeito Municipal de Viamão, Sr.Alex Sander Alves Boscaini, firmou contrato tendo como objeto a execuçãode obras de infra-estrutura em pavimentação com pedra irregular e redes dedrenagem pluvial nas ruas Planalto e Campos Real,  pelo valor total de R$83.768,00,  junto à empresa Radan Transporte e Obras Ltda. Do montantetotal empenhado no exercício de 2008, no recurso vinculado 0001 -LIVRE,

    restou sem pagamento no mesmo exercício financeiro e sem contrapartidasuficiente de disponibilidade de caixa para o exercício seguinte o valor deR$ 28.820,93, procedendo-se à inscrição em restos a pagar.

    (...)

     Na data do nascimento da referida obrigação (28/05/2008), tal despesade caráter novo não dispunha de disponibilidade de caixa para suacobertura. Conforme cálculo projetado com  base no último mês defechamento anterior à assunção da despesa (30/04/2008), verifica-se umadisponibilidade de caixa projetada negativa  para a data de 31/12/2008,conforme segue:

    (...)

    5º FATO (fls. 612/615) Na data de 26/06/2008 (fl. 613), o Prefeito Municipal de Viamão, Sr.

    Alex Sander Alves Boscaini, autorizou a aquisição de chapas decompensado e lona de PVC  para uso em  palco para o evento arraial daalegria, pelo valor total de R$ 3.194,44, junto à empresa Madeireira TarumãLtda. Do montante total empenhado no exercício de 2008, no recursovinculado 0001 - LIVRE, restou sem pagamento no mesmo exercíciofinanceiro e sem contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa para oexercício seguinte o valor de R$ 3.194,44, procedendo-se à inscrição emrestos a pagar.

    (...)

     Na data do nascimento da referida obrigação (26/06/2008), tal despesade caráter novo não dispunha de disponibilidade de caixa para suacobertura. Conforme cálculo projetado com  base no último mês defechamento anterior à assunção da despesa (31/05/2008), verifica-se umadisponibilidade de caixa projetada negativa  para a data de 31/12/2008,conforme segue:

    (...)

    6º FATO (fls. 718/720)

     Na data de 16/07/2008 (fl. 719), o Prefeito Municipal de Viamão, Sr.Alex Sander Alves Boscaini, autorizou a aquisição de 14 armários de aço

     para vestiário, pelo valor total de R$ 6.286,00, junto à empresária individualÁurea Bauer Oleszko. Do montante total empenhado no exercício de 2008,no recurso vinculado 0001 - LIVRE, restou sem pagamento no mesmo

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    exercício financeiro e sem contrapartida suficiente de disponibilidade decaixa para o exercício seguinte o valor de R$ 6.286,00, procedendo-se àinscrição em restos a pagar.

    (...)

     Nadata

    do nascimento dareferida

    obrigação (16/07/2008), tal despesade caráter novo não dispunha de disponibilidade de caixa para suacobertura. Conforme cálculo projetado com  base no último mês defechamento anterior à assunção da despesa (30/06/2008), verifica-se umadisponibilidade de caixa projetada negativa  para a data de 31/12/2008,conforme segue:

    (...)

    7º FATO (fls. 616/626, 684/701)

     Na data de 29/07/2008 (fls. 618/620 e fls. 686/687), o PrefeitoMunicipal de Viamão, Sr. Alex Sander Alves Boscaini, firmou contratotendo como objeto a execução de complemento de rede de 1000 milímetros

    com extensão de 3m, galeria pré-moldada de 2,20x1,70m com escavação de7m de profundidade com estaqueamento nas laterais da escavação e reaterrode valas da rede e galeria localizado dentro da quadra de esporte da EscolaEstadual Minuano,  pelo valor total de R$ 7.870,00,  junto à empresa OsilelEdificações e Instalações Ltda. Do montante total empenhado no exercíciode 2008, no recurso vinculado 0001 - LIVRE, restou sem pagamento nomesmo exercício financeiro e sem contrapartida suficiente dedisponibilidade de caixa para o exercício seguinte o valor . de R$ 7.122,38, procedendo-se à inscrição em restos a pagar.

    (...)

     Na data do nascimento da referida obrigação (29/07/2008), tal despesa

    de caráter novo não dispunha de disponibilidade de caixa para suacobertura. Conforme cálculo projetado com  base no último mês defechamento anterior à assunção da despesa (30/06/2008), verifica-se umadisponibilidade de caixa projetada negativa  para a data de 31/12/2008,conforme segue:

    (...)

    8º FATO (fls. 86/97)

     Na data de 27/08/2008 (fls. 90/92), o Prefeito Municipal de Viamão, Sr.Alex Sander Alves Boscaini, firmou contrato tendo como objeto a aquisiçãode 2000m2 de  blocos de concreto intertravados,  pelo valor total de R$66.000,00,  junto à empresa ICA Indústria de Concreto Armado Ltda. Do

    montante total empenhado no exercício de 2008, no recurso vinculado 0001-LIVRE, restou sem pagamento no mesmo exercício financeiro e semcontrapartida suficiente de disponibilidade de caixa para o exercícioseguinte o valor de R$ 52.800,00, procedendo-se à inscrição em restos a pagar.

    (...)

     Na data do nascimento da referida obrigação (27/08/2008), tal despesade caráter novo não dispunha de disponibilidade de caixa para suacobertura. Conforme cálculo projetado com  base no último mês defechamento anterior à assunção da despesa (31/07/2008), verifica-se umadisponibilidade de caixa projetada negativa  para a data de 31/12/2008,

    conforme segue:(...)9º FATO (fls. 192/202)

    Documento: 58884764 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 05/04/2016 Página 7 de 17

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     Superior Tribunal de Justiça 

     Na data de 03/09/2008 (fl. 198), o Prefeito Municipal de Viamão, Sr.Alex Sander Alves Boscaini, firmou aditivo contratual tendo como objeto aexecução de obras de infra-estrutura em pavimentação com pedra irregular eredes de drenagem pluvial nas ruas Planalto e Campos Real, pelo valor totalde R$ 20.942,00,

     juntoà empresa

    OsilelEdificações e Instalações Ltda. Do

    montante total empenhado no exercício de 2008, no recurso vinculado 0001-LIVRE, restou sem pagamento no mesmo exercício financeiro e semcontrapartida suficiente de disponibilidade de caixa para o exercícioseguinte o valor de R$ 17.799,39, procedendo-se à inscrição em restos a pagar.

    (...)

     Na data do nascimento da referida obrigação (03/09/2008), tal despesade caráter novo não dispunha de disponibilidade de caixa para suacobertura. Conforme cálculo projetado com  base no último mês defechamento anterior à assunção da despesa (31/08/2008), verifica-se umadisponibilidade de caixa projetada negativa  para a data de 31/12/2008,

    conforme segue:(...)

    Ressalte-se que a inicial acusatória não escolheu aleatoriamente ouexemplificativamente os fatos incriminados. Originam-se do levantamentorealizado  pelo Departamento de Assessoramento Técnico do MinistérioPúblico (fls. 821 e ss.) que utilizando metodologia e critérios consentâneoscom a doutrina   e  jurisprudência, pois, consabido que o rigor das normasfiscalistas nem sempre levam em conta a realidade das finanças municipais

     Não prosperam, igualmente, os argumentos defensivos de atipicidade daconduta  pela ausência de dolo,  pois sabia o administrador público que não poderia assumir obrigações nos dois últimos quadrimestres de seu mandato

    eletivo que não pudessem ser satisfeitas naquele exercício  para nãocomprometer a administração futura.Para melhor entendimento dos fatos em exame, convém rememorar as

    fases da despesa pública, consoante o estabelecido na Lei n. 4.320/64:1. Empenho  - Sendo emitido o empenho, o Estado se obriga ao

    desembolso financeiro, desde que o fornecedor do material ou prestador dosserviços atenda a todos os requisitos legais de autorização ou habilitação de pagamento.

    2. Liquidação  - A liquidação do empenho consiste na verificação dodireito adquirido  pelo credor, tendo  por  base os títulos e documentoscomprobatórios do respectivo crédito.

    3. Pagamento: é o último momento da despesa e resulta na extinção da

    obrigação. Quando o pagamento deixa de ser efetuado no próprio exercíciofinanceiro, procede-se, então, a inscrição em Restos a Pagar.

    Portanto, a despesa empenhada e não paga até o final do exercíciofinanceiro (em 31 de dezembro) é conceituada como Restos a Pagar,conforme o que dispõe o art. 36 da Lei nº 4.320/64:

    Art. 36. Consideram-se Restos a Pagar as despesas empenhadas e não pagas até o dia 31 de dezembro, distinguindo-se as  processadas das não processadas.

    Parágrafo único –  Os empenhos que correm à conta de créditos comvigência plurienal, que não tenham sido liquidados, só serão computadoscomo Restos a Pagar no último ano de vigência do crédito.

      Posteriormente, a Lei Complementar n.º 101/2000 estabeleceu nosartigos 1.º, § 1.º e 42:Art. 1.º -  Esta Lei Complementar estabelece normas de finanças

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     Superior Tribunal de Justiça 

     públicas voltadas  para a responsabilidade na gestão fiscal, com amparo noCapítulo II do Título VI da Constituição.

    § 1.º - A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada etransparente, em que se  previnem riscos e corrigem desvios capazes de

    afetaro equilíbrio das

    contas públicas, mediante o cumprimento de metas de

    resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições noque tange a renúncia de receita, geração de despesas com  pessoal, daseguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações decrédito, inclusive  por antecipação de receita, concessão de garantia einscrição em Restos a Pagar.

    Art. 42. É vedado ao titular de Poder ou órgão referido no art. 20, nosúltimos dois quadrimestres do seu mandato, contrair obrigação de despesaque não possa ser cumprida integralmente dentro dele, ou que tenha parcelasa serem pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente disponibilidadede caixa para este efeito.

    Parágrafo único.  Na determinação da disponibilidade de caixa serão

    considerados os encargos e despesas compromissadas a pagar até o final doexercício.

    Configurada esta situação, ou seja, a assunção de obrigações de despesas pelo gestor público ordenador de despesas, titular de mandato comatribuição para assumir obrigação em nome do ente público que representa –  nos últimos oito meses de seu mandato, que não possam ser cumpridas nessemesmo  período temporal, incorrerá em ato de improbidade administrativa,uma vez que a Lei de Responsabilidade Fiscal remete a infringência aosseus dispositivos à Lei n.º 8.429/92 e, também, em crime contra as finanças públicas, devido à alteração trazida ao Código Penal  pela Lei n.º10.028/2000 que, complementou a legislação fiscalista:

    Art. 359-C. Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos doisúltimos quadrimestres do último ano do mandato ou legislatura, cujadespesa não possa ser  paga no mesmo exercício financeiro ou, caso reste parcela a ser  paga no exercício seguinte, que não tenha contrapartidasuficiente de disponibilidade de caixa: (Incluído  pela Lei nº 10.028, de2000)

    Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.(Incluído  pela Lei nº10.028, de 2000)

    Como recorda Greco, a lei, nesse dispositivo, ocupa-se em precaver queatos de gestores públicos não venham a comprometer, por falta de recursos,o mandato de seus sucessores. Trata-se das denominadas heranças fiscais,que imobilizam os governos no início do mandato,  por terem de  pagar

    dívidas e/ou assumir compromissos financeiros deixados pelo antecessor .Além disso, é necessário apontar que esse conjunto de normas de rigor

    fiscal, tão elogiadas quando de seu advento, poucos o sabem, faziam  partedas obrigações assumidas pelo Brasil junto ao FMI e ao Banco Mundial paraque fazer juz aos financiamentos daqueles órgãos . No entanto, como afirmouo Des. Nelson Monteiro Pacheco a respeito da Lei Complementar n.°101/2000 na ap. cível n.° 70005496229:

    (...) Firmados estes pontos iniciais, é importante novamente gizar que aLC nº 101/2000 está a exigir, mormente  por suas impressionantesimplicações potenciais, interpretação conforme com os preceitos que devemorientar a atuação do administrador público, designadamente a atenção ao

     princípio da proporcionalidade, evitando-se posturas e sanções draconianas.Com efeito, se  bem interpretada e escoimada de suas múltiplas atecnias,antes de servir como uma  perigosa dieta radical, poderá operar com  belo e

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    consistente estímulo ao fomento da transparência e do planejamento, daausteridade e da democratização dos vários controles de gestão pública.Avultam mais do que nunca as tarefas dos agentes fiscalizadores, emespecial os Tribunais de Contas, a serem exercidas prudencialmente. Com aLRF temos uma notável chance de que os orçamentos, doravante, venham ase tornar  peças reais e se convertam em  pilares de uma nova e melhorrealidade, onde, a  pouco e  pouco, somente haja lugar  para os  bons ehonestos administradores públicos  (...).

    Convém lembrar que o crime previsto no art. 359-C, do Código Penalindepende de qualquer resultado naturalístico ou existência de doloespecífico, pois se trata de delito formal que depende de mero dolo genérico, portanto, as alegações de inexistência de dolo ou má-fé terçada pela defesanão vicejam, assim como, pelo mesmo motivo, não lhe isenta a alegação deque não houve prejuízo ao município.

     A esse respeito Stocco, comentando o tipo subjetivo do art. 359-C doCódigo Penal anota que o elemento subjetivo do tipo é o dolo simples;

    vontade livre e consciente de assumir obrigação no último ano do mandatoou legislatura.

     Não se exige uma particular intenção do agente, mas deve ele saber quea despesa não possa ser  paga no mesmo exercício financeiro ou caso reste parcela a ser  paga no exercício seguinte, que não tenha contrapartidasuficiente de disponibilidade de caixa .

    É o que ocorre no presente caso, dessa forma foi correta a condenaçãodo réu.

     Nesse sentido, há precedentes dessa Colenda Câmara:(...)Finalmente, a pena aplicada na sentença condenatória deve ser mantida,

     pois seus vetores de aplicação foram devidamente valorados. A pena foiadequadamente fixada, conforme as circunstâncias  judiciais do art. 59 doCódigo Penal, pautando-se  pelos critérios da necessidade e suficiência da pena para reprovação e prevenção do crime.

    Anote-se que a sentença reconheceu a prática de nove crimes, apontandoa aplicação do acréscimo correspondente a 2/3, quantitativo necessário àreprovação e  prevenção do crime, vez que  para a  jurisprudência sãosuficientes em torno de sete a oito fatos para a fixação em grau máximo pelacontinuidade delitiva.

     Confira-se a respeito:(...)"

    3. Ante ao exposto, nego provimento ao apelo. (fls. 1504/1529) 

     Neste contexto, denota-se que a Corte a quo , ao apreciar o recurso deapelação aviado pela defesa, utilizou-se da inteireza do parecer do Ministério Públicodaquele Estado, atuante em segundo grau, sem agregar qualquer fundamento próprio,mínimo que fosse, proceder este que não se coaduna com o imperativo da necessidade defundamentação adequada das decisões judiciais, e que se afasta do entendimento adotadonesta Corte Superior a respeito do tema.

    De fato, este Tribunal Superior admite a técnica de fundamentaçãodenominada  per relationem  ou aliunde , hipótese em que o ato decisório se reporta a outradecisão ou manifestação existente nos autos e as adota como razão de decidir. Não

    obstante, em respeito ao postulado constitucional da necessidade da motivação adequada esuficiente das decisões judiciais, previsto no artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal,

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    exige-se do magistrado certa dose de fundamentação própria, concreta, ainda que sucinta, arespeito das alegações trazidas pela parte no corpo do recurso aviado, situação inocorrentein casu , já que o Tribunal utilizou-se tão somente e exclusivamente do parecer ministerial,sem agregar, uma linha sequer que fosse, de fundamentação própria.

    A respeito desta temática, colhe-se do teor do voto vencedor, por mim proferido, nos autos do Habeas Corpus  nº 247.368/SP, cujo aresto restou publicado em 26de fevereiro do corrente ano, as seguintes considerações:

    Pela leitura do excerto transcrito, que é tudo quanto firmado para decidiro apelo, não vejo, data venia , decididas a contento, as irresignaçõessuscitadas.

     Não é  possível conceber que um Tribunal de cassação apenas ratifiqueos termos da decisão dos juízes monocráticos e do parecer do Procuradoriade Justiça.

    Por esse tom, com a devida vênia dos julgadores da instância ordinária,

    introduzo o exame da questão afirmando que a exigência constitucional prevista no art. 93, inciso IX, da Constituição Federal, quis  justamenteafastar do cenário judicial decisões dessa natureza.

    Com efeito, o apuro da garantia fundamental em exame obrigareconhecer que no processo dialético-democrática da  persecução  penal in juditio   tudo que for idealizado em desfavor do acusado deve  passar pelocrivo da fundamentação eficiente,  porque não é possível conceber respostasvazias e sem lastro na pretensão dos sujeitos processuais.

    Por isso que a exigência de motivação das decisões judiciais traz em si aobrigatoriedade ética da comprovação dos dados que eventualmentesustentem determinado provimento, de modo a extrair um mínimo deesforço do julgador na análise das ponderações das partes.

    Ao ensejo, o magistério lapidar de Antonio Magalhães Gomes Filho, bem explicita substrato da garantia fundamental:

    "Pela ordem de importância, e diante da exigência constitucional, o primeiro requisito da motivação é o da integridade: ao sublinhar que todasas decisões serão fundamentadas, a Constituição não somente estabelece aregra de extensão desse dever a qualquer tipo de  provimento jurisdicional,mas igualmente prescreve que 'todo' o provimento deve ser justificado.

     Não é difícil constatar, com efeito, que, salvo raras exceções, a prolaçãode um provimento concreto exige do juiz uma atividade decisória complexa,em que se apresentam múltiplas questões particulares, que devem ser antes eseparadamente solucionadas, de forma a se chegar à decisão sobre o tema

    controvertido. À vista disso, não se pode conceber uma fundamentação emque não estejam justificadas todas as opções adotadas ao longo desse percurso decisório, sob pena de frustrar-se o imperativo constitucional, principalmente se consideradas as funções de garantia que consagra.

    Assim, levando em conta o antes ressaltado vínculo entre motivação edecisão, o parâmetro  para aferir-se o requisito de integridade é dado  pelasexigências de  justificação que surgem a cada deliberação  parcial, poissomente pode ser considerada completa a motivação que cobre toda a áreadecisória. Em outros termos, devem ser necessariamente objeto de justificação todos os elementos estruturais de cada particular decisão, comoa escolha e interpretação da norma, os diversos estágios do procedimento deverificação dos fatos, a qualificação  jurídica destes etc.,  bem como oscritérios (jurídicos, hermenêuticos, cognitivos, valorativos) que presidiramas escolhas do  juiz em face de cada um desses componentes estruturais do

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     procedimento decisório.” ( In A Motivação das Decisões Penais, São Paulo:RT, 2001, págs. 174/175)

     Mais à frente, na mesma obra, o Ilustre professor preconiza:“Em consequência, será incompleta a motivação sempre que no seu

    textonão se apresentem

     justificadasas variadas escolhas que são

    necessárias para se chegar à conclusão, segundo as características estruturaisdo provimento examinado.

    Ou, como ressalta Michele Massa, falta motivação sempre que esta nãose concretiza na integral  justificação da decisão, seja pela não-atenção aomomento justificativo relacionado a um ou mais pontos do dispositivo, seja pela ausência de menção ao valor dos elementos probatórios  por meio dosquais se chegou à decisão, ou sobre o porquê os dados fornecidos pela provaforam valorados de determinado modo, ou, ainda, sobre as razões do nãoatendimento de uma específica e motivada postulação das partes.

    Esta última referência traz à tona aspecto especial da falta de integridadedo discurso justificativo, relacionado à antes apontada exigência de

    dialeticidade da motivação.Como observado, a estruturo dialética do processo não pode deixar de

    refletir no julgamento, na medida em que as atividades dos participantes docontraditório só têm significado se forem efetivamente consideradas nadecisão. Daí a correspondente exigência de que a motivação possua umcaráter dialógico, capaz de dar conta da real consideração de todos os dadostrazidos à discussão da causa pelas partes.” (Obra citada, págs. 187/188)

    A hipótese dos autos clarifica uma situação em que o  julgadorsimplesmente desconsidera o atuar da defesa  por uma simplória motivaçãode que estariam certos os argumentos da sentença e do ato opinativo do Parquet .

    Simplesmente tudo se resumiu a uma tábula rasa: a sentença estáintegralmente  perfeita, como também o  parecer do Ministério Público.Como dito acima, a exigência do artigo 93, inciso IX, da ConstituiçãoFederal, encoraja a maior concretismo.

    Sobre esse aspecto, é remansosa a jurisprudência deste Tribunal Superior deJustiça:

    "PENAL E PROCESSO PENAL.  HABEAS CORPUS . 1.IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DO RECURSO PRÓPRIO. NÃOCABIMENTO. 2. ACÓRDÃO QUE APENAS PRESERVA A SENTENÇAE RATIFICA O PARECER. FUNDAMENTAÇÃO  PER RELATIONEM  .CARÊNCIA DE FUNDAMENTOS PRÓPRIOS. MOTIVAÇÃO QUE NÃOINDIVIDUALIZA O JULGADO. ILEGALIDADE. 3. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.

    (...)

    2. Embora seja admitida  pelo Superior Tribunal de Justiça,  bem como pelo Supremo Tribunal Federal, a denominada fundamentação  perrelationem, tem-se que,  para a validade do referido expediente, éimprescindível que a Corte local enfrente minimamente os argumentosapresentados  pelas partes.  Nessa linha de raciocínio, conquanto se admitaque o magistrado reenvie a fundamentação de seu decisum a outra peçaconstante do processo, e ainda que se permita que a motivação dos julgados

    seja sucinta, deve-se garantir, tanto às  partes do processo, quanto àsociedade em geral, a  possibilidade de ter acesso e de compreender as

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    razões  pelas quais determinada decisão foi tomada. (...)Na hipótese dosautos, o julgado colegiado não atende ao comando constitucional, porquantonão apresenta de forma mínima os fundamentos que ensejaram oafastamento das  preliminares suscitadas  pela defesa e a manutenção dacondenação do acusado, de modo que o reconhecimento de sua nulidade émedida que se impõe.(HC 277.765/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI,QUINTA TURMA, julgado em 17/11/2015, DJe 26/11/2015).

    3.  Habeas corpus   não conhecido. Ordem concedida de ofício, paraanular o acórdão recorrido na  parte relativa ao recurso defensivo,determinando ao Tribunal de origem o efetivo exame das alegaçõesapresentadas nas razões recursais da defesa".

    (HC 266.558/SP, Rel. Min. REYNALDO SOARES DA FONSECA,QUINTA TURMA, DJe 29/02/2016)

    "PROCESSUAL PENAL.  HABEAS CORPUS . HOMICÍDIOQUALIFICADO. CONDENAÇÃO. APELAÇÃO JULGADA. PRESENTEWRIT  SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. VIA INADEQUADA. NULIDADE DO ACÓRDÃO. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO.MENÇÃO À SENTENÇA CONDENATÓRIA. FALTA DE JUSTAPRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. FLAGRANTEILEGALIDADE. INEXISTÊNCIA. HABEAS CORPUS NÃOCONHECIDO.

    1. Por se tratar de habeas corpus   substitutivo de recurso especial,inviável o seu conhecimento, restando apenas a avaliação de flagranteilegalidade.

    2. Não há cogitar nulidade do acórdão  por ausência de fundamentação,ou ofensa ao artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal, se o Colegiado

    estadual, ao motivar o decisum de apelação, além dos fundamentospróprios, reporta-se à ratio decidendi   da sentença condenatóriaanteriormente prolatada, ou mesmo ao  parecer do Ministério Público,valendo-se da denominada fundamentação per relationem ou aliunde .

    3. A jurisprudência tem admitido que decisões  judiciais louvem-se emexcertos do édito condenatório e das manifestações do processo, desde quehaja um mínimo de fundamentos, com transcrição de trechos das  peças àsquais há indicação ( per relationem ), o que ocorreu na espécie.

    4.  Habeas corpus  não conhecido".(HC 342.633/RS, Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,

    SEXTA TURMA, DJe 02/02/2016)

    "PROCESSO PENAL.  HABEAS CORPUS . TRÁFICO ILÍCITO DEENTORPECENTES. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO.FALSIDADE IDEOLÓGICA. CONDENAÇÃO. APELAÇÃO JULGADA.PRESENTE WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. VIAINADEQUADA. ACÓRDÃO IMPUGNADO. AUSÊNCIA DEFUNDAMENTAÇÃO. NUANÇAS DO CASO. NÃO APRECIAÇÃO.MERO ARGUMENTO DE VALIDADE. ASSUNÇÃO AOSFUNDAMENTOS DA SENTENÇA. FALTA DE DIALETICIDADE.VIOLAÇÃO AO PRIMADO DA EXIGÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃODO ATO JUDICIAL. FLAGRANTE ILEGALIDADE. OCORRÊNCIA. HABEAS CORPUS   NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE

    OFÍCIO.(...)2. A teor do artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal, as decisões do

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    Poder Judiciário devem ser motivadas, a  ponto de conter o substrato dacausa e as particularidades defendidas pelas partes, de modo a viabilizar, deum lado, o exercício do duplo grau de  jurisdição, e, de outro, o controle político do cumprimento da função judicante.

    3. Na espécie,existe

    manifesta ilegalidade pois, a pretexto deapreciar

    orecurso de apelação da defesa, o acórdão vergastado apenas se constituiu emtábula rasa, somente concluindo nos termos dos argumentos da decisãocondenatória, sem sequer destacar o contexto da pretensão recursal, ex vi do princípio do tantum devolutum quantum appellatum.

    4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, a fim deanular o acórdão proferido pelo Tribunal de origem, para que seja refeito o julgamento, promovendo-se a fundamentação do decisum de modo aenfrentar os argumentos elencados no recurso defensivo".

    (HC 43.576/BA, Rel. Ministro  NEFI CORDEIRO, Rel.  p/ AcórdãoMinistra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, DJe10/04/2015)

    " HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. RESSALVA DO ENTENDIMENTO PESSOAL DARELATORA. CRIME DO ART. 155, 4.º, INCISOS I E IV, DO CÓDIGOPENAL. NULIDADE DO ACÓRDÃO QUE JULGOU O RECURSO DEAPELAÇÃO. CONDENAÇÃO MANTIDA PELO TRIBUNAL A QUOMEDIANTE ADOÇÃO GENÉRICA DOS FUNDAMENTOSCONSIGNADOS NA SENTENÇA CONDENATÓRIA E NO PARECERMINISTERIAL. AUSÊNCIA DE TRANSCRIÇÃO DAS RAZÕES DEDECIDIR ACOLHIDAS. FUNDAMENTAÇÃO INSUFICIENTE. NULIDADE CONFIGURADA. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM DE

     HABEAS CORPUS  CONCEDIDA DE OFÍCIO.(...)3. Segundo entendimento desta Corte Superior de Justiça, não é nula a

    decisão que transcreve os trechos  pertinentes da sentença condenatória oudo  parecer ministerial quando essas  peças, devidamente motivadas,examinam todas as teses defensivas.

    4. No caso dos autos, contudo, o Tribunal de origem não se desoneroudo dever constitucional de fundamentação previsto no art. 93, inciso IX, daConstituição da República. Limitou-se, em evidente ofensa ao  princípio doduplo grau de  jurisdição, a fazer referência genérica aos fundamentos dasentença condenatória e aos argumentos do parecer ministerial, sem apontaros trechos cuja concordância permitia afastar as alegações defensivas e sem

    agregar fundamentos próprios que, ainda que concisos, justificassem odesprovimento do recurso, tornando impossível às partes, à sociedade comoum todo, e a esta Corte Superior avaliar as razões em tese incorporadas àdecisão. Precedentes.

    5. Ordem de habeas corpus não conhecida.  Habeas corpus  concedido,de ofício, para declarar a nulidade do acórdão impugnado e determinar quese  proceda a novo julgamento do recurso de apelação n.º0004969-69.2010.8.26.0564, nos termos explicitados no voto."

    (HC 239.221/SP, Rel. Min. LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, DJe22/08/2014)

    " HABEAS CORPUS . NULIDADE. JULGAMENTO DA APELAÇÃO.ACÓRDÃO QUE NÃO EXAMINA AS NUANÇAS DO CASO PENAL.MERO ARGUMENTO DE VALIDADE. ASSUNÇÃO AOS

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    FUNDAMENTOS DA SENTENÇA E AO PARECER MINISTERIAL.FALTA DE DIALETICIDADE. CONSTRANGIMENTO. VIOLAÇÃO AOPRIMADO DA EXIGÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DO ATOJUDICIAL.

    1. Ateor

    doart.

    93, IX, da Constituição Federal, é imperioso que asdecisões do Poder Judiciário sejam motivadas, a ponto de conter o substratoda causa e as particularidades defendidas pelas partes, de modo a viabilizar,de um lado, o exercício do duplo grau de jurisdição, e, de outro, o controle político do cumprimento da função judicante.

    2. Na espécie, o ato coator, a pretexto de apreciar o recurso de apelaçãoda defesa, apenas se constituiu em tábula rasa, pois apenas concluiu seremirretocáveis os argumentos da decisão condenatória e  perfeitos osfundamentos do  parecer ministerial, sem destacar o contexto da  pretensãorecursal, ex vi do princípio do tantum devolutum quantum appellatum.

    3. Ordem concedida para anular o julgamento da apelação e determinarnovo exame daquele recurso, de forma fundamentada."

    (HC 208.873/SP, de minha relatoria, SEXTA TURMA, DJe 24/03/2014)

    "PENAL E PROCESSUAL PENAL.  HABEAS CORPUS  SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. NULIDADE.JULGAMENTO DA APELAÇÃO. ACÓRDÃO QUE NÃO EXAMINA OSARGUMENTOS LANÇADOS NAS RAZÕES RECURSAIS. ASSUNÇÃOAOS FUNDAMENTOS DA SENTENÇA E AO PARECERMINISTERIAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO.AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DO ATO JUDICIAL.

    - As decisões do Poder Judiciário devem ser suficientemente motivadas,a fim de viabilizar, de um lado, o exercício do duplo grau de jurisdição, e,

    de outro, o controle  político do cumprimento da função judicante, ex vi doart. 93, IX, da Carta da República.-  Na espécie, configurado constrangimento ilegal consubstanciado no

    ato coator do Tribunal de Justiça que ao  julgar apelação da defesa nãoenfrenta os argumentos trazidos nas razões recursais - manutenção dodecreto condenatório -, apenas concluindo serem irreparáveis osfundamentos da decisão de  primeiro grau e do  parecer ministerial, emconfronto com o princípio do tantum devolutum quantum appellatum.

     Habeas corpus   não conhecido. Ordem concedida de ofício a fim deanular o julgamento da apelação e determinar o seu novo exame  peloTribunal de Justiça do Estado de São Paulo Ante o exposto, não conheço do presente habeas corpus. Contudo, concedo a ordem de ofício a fim de anular

    o julgamento da apelação e determinar o seu novo exame, de formafundamentada, pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo."

    (HC 105.546/SP, Rel. Min.  NEFI CORDEIRO, Rel.  p/ Acórdão Min.MARILZA MAYNARD (DESEMBARGADORA CONVOCADA DOTJ/SE), SEXTA TURMA, DJe 11/09/2014)

    " HABEAS CORPUS. WRIT   SUBSTITUTIVO DE RECURSOPRÓPRIO. IMPOSSIBILIDADE. NÃO CONHECIMENTO.FLEXIBILIZAÇÃO EM CASOS EXCEPCIONAIS DE MANIFESTOCONSTRANGIMENTO ILEGAL QUE AFETE A LIBERDADE DELOCOMOÇÃO. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. TENTATIVA. FALTA

    DE FUNDAMENTAÇÃO. ACÓRDÃO. ART. 93, INCISO IX, DACONSTITUIÇÃO FEDERAL.(...)

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    5. A mera chancela da r. sentença ou do  parecer ministerial,absolutamente desprovida de manifestação do Juízo revisional, quando do julgamento da apelação, configura nulidade do acórdão  por ausência defundamentação, em manifesta afronta ao art. 93, IX, da ConstituiçãoFederal.

    6.  Habeas corpus   não conhecido. Ordem concedida de ofício para,reconhecendo a nulidade do acórdão recorrido, determinar a realização denovo julgamento  pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,devidamente fundamentado."

    (HC 235.037/SP, Rel. Min. OG FERNANDES, SEXTA TURMA, DJe22/04/2013)

    "PROCESSO PENAL.  HABEAS CORPUS . ROUBO DUPLAMENTECIRCUNSTANCIADO. JULGAMENTO DO RECURSO DE APELAÇÃO.ACÓRDÃO QUE ADOTA COMO RAZÕES DE DECIDIR MOTIVAÇÃOCONTIDA NA SENTENÇA DE PRIMEIRO GRAU E EM PARECER DO

    MINISTÉRIO PÚBLICO. FUNDAMENTAÇÃO PER RELATIONEM   NÃOCONFIGURADA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DO ACÓRDÃO. NULIDADE ABSOLUTA RECONHECIDA. ORDEM CONCEDIDA.

    1. A necessidade de motivação das decisões  judiciais se  justifica namedida em que só podem ser controladas ou impugnadas se as razões que as justificaram forem devidamente apresentadas, razão  pela qual, ante ainteligência do art. 93, IX, da Carta Maior, se revelam nulas as decisões judiciais desprovidas de fundamentação autônoma.

    2. As Cortes Superiores de Justiça têm consolidado entendimento jurisprudencial no sentido de não se afigurar desprovido de motivação o julgamento colegiado que ratifica as razões de decidir adotadas na sentença

    de primeiro grau, desde que haja a sua transcrição no acórdão, utilizando-seda denominada fundamentação per relationem.3.  In casu , porém, a simples remissão empreendida pelo Desembargador

    Relator no voto condutor do acórdão prolatado em sede de apelação, não permite aferir quais foram as razões ou fundamentos da sentençacondenatória ou do  parecer ministerial incorporados à sua decisão, não se podendo constatar, ainda, se satisfatoriamente rechaçadas todas as alegaçõesformuladas pela defesa no mencionado apelo, exsurgindo, daí, a nulidade do julgado. Precedentes: HC n.º 219572/SP, DJe de 05/11/2012 e HC n.º210981/SP, DJe de 21/11/2011.

    4. Ordem de habeas corpus  concedida para, reconhecendo a nulidade doacórdão hostilizado  por falta de motivação, determinar que seja realizado

    novo julgamento da Apelação Criminal n.º 0047834-73.2005.8.26.0050, promovendo-se a devida fundamentação do decisum ."

    (HC 220.562/SP, Rel. Min. ALDERITA RAMOS DE OLIVEIRA(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/PE), SEXTA TURMA,DJe 25/02/2013)

    A propósito, confira-se o entendimento do Pretório Excelso:

    " HABEAS CORPUS   - ACÓRDÃOS PROFERIDOS EM SEDE DEAPELAÇÃO E DE EMBARGOS DECLARATÓRIOS - IMPUTAÇÃO DEROUBO DUPLAMENTE QUALIFICADO - DECISÕES QUE NÃOANALISARAM OS ARGUMENTOS SUSCITADOS PELA DEFESA DORÉU - EXIGÊNCIA CONSTITUCIONAL DE MOTIVAÇÃO DOS ATOS

    Documento: 58884764 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 05/04/2016 Página 16 de 17

  • 8/18/2019 STJ - Nulidade da decisão - Ausência de fundamentação

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     Superior Tribunal de Justiça 

    DECISÓRIOS - INOBSERVÂNCIA -  NULIDADE DO ACÓRDÃO -PEDIDO DEFERIDO EM PARTE. A FUNDAMENTAÇÃO CONSTITUIPRESSUPOSTO DE LEGITIMIDADE DAS DECISÕES JUDICIAIS. - Afundamentação dos atos decisórios qualifica-se como pressupostoconstitucional de validade e

    eficáciadas decisões emanadas do Poder

    Judiciário. A inobservância do dever imposto  pelo art. 93, IX, da CartaPolítica,  precisamente  por traduzir grave transgressão de naturezaconstitucional, afeta a legitimidade  jurídica do ato decisório e gera, demaneira irremissível, a conseqüente nulidade do pronunciamento  judicial.Precedentes. A DECISÃO JUDICIAL DEVE ANALISAR TODAS ASQUESTÕES SUSCITADAS PELA DEFESA DO RÉU. - Reveste-se denulidade o ato decisório, que, descumprindo o mandamento constitucionalque impõe a qualquer Juiz ou Tribunal o dever de motivar a sentença ou oacórdão, deixa de examinar, com sensível  prejuízo para o réu, fundamentorelevante em que se apóia a defesa técnica do acusado". (HC 74073,Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Primeira Turma, DJ 27-06-1997)

     Nesses termos, é forçoso o reconhecimento da ilegalidade do acórdãorecorrido, razão pela qual ele deve ser anulado, a fim de que a Corte a quo se manifestenovamente sobre os  pedidos formulados pela defesa em sede de apelação, desta vez,fundamentando devidamente sua compreensão sobre os fatos, nos termos preceituados

     pela Carta Magna, em seu artigo 93, inciso IX.Por fim, restam prejudicados os demais temas aventados no corpo do

    recurso especial, tendo em vista a nulificação do aresto proferido em sede de apelaçãocriminal.

    Ante o exposto, com fundamento no enunciado 568 da Súmula desta Corte

    Superior, conheço do agravo e dou provimento ao recurso especial  para anular oacórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, a fim de queseja refeito o julgamento, promovendo-se agora fundamentação do decisum   de modo aenfrentar os argumentos elencados no recurso defensivo.

    Publique-se.Intime-se.

    Brasília, 1º de abril de 2016.

    Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURARelatora

    Documento: 58884764 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 05/04/2016 Página 17 de 17