novo jornal 262 - primeiro caderno

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JORNALISMO DE REFERÊNCIA. Director Gustavo Costa Edição Nº 262 - 25 de Janeiro de 2013 ROAMING PRÉ-PAGO DA UNITEL O PRÓXIMO MAIS PRÓXIMO ATÉ NO ESTRANGEIRO Carrega o teu Unitel antes de viajar. Carregamento mínimo recomendado: 1.250 UTT Para activar envia SMS ON para o 19 130 ECONOMIA Orçamento Novas estratégias males antigos >> P. 08 1.º CADERNO Kuando-Kubango A nova coqueluche do Executivo >> P. 14 Luanda 200 Kwanzas - Províncias 250 Kwanzas MUTAMBA 437 Anos Luanda e os Kalús >> P. 06-07 CAN 2013 FNLA Há 40 anos Palancas amestradas presas por um fio Auto-flagelação soma e segue na liderança de Ngonda Assassinato de Amílcar Cabral envolto em mistério >>P. 15 >>P. 20 >>P. 28 ANOS NESTA EDIÇÃO Gustavo Costa, Isabel Bordalo, Manuel António, Vitor Silva, Jacques dos Santos, Luís Fernando, Tandala Francisco, Filomeno Manaças, António Tomás, António Bilrero, Dina Cortinhas, Graça Campos, Adolfo Maria, Rui Falcão e Adalberto da Costa Júnior, escreveram sobre o Novo Jornal.

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JORNALISMO DE REFERÊNCIA.

Director Gustavo Costa Edição Nº 262 - 25 de Janeiro de 2013

ROAMING PRÉ-PAGO DA UNITELO PRÓXIMO MAIS PRÓXIMOATÉ NO ESTRANGEIRO

Carrega o teu Unitel antes de viajar.Carregamento mínimo recomendado:1.250 UTT

Paraactivar envia

SMS ONpara o

19 130

ECONOMIAOrçamentoNovas estratégiasmales antigos>> P. 08

1.º CADERNOKuando-KubangoA nova coqueluchedo Executivo >> P. 14

Luanda 200 Kwanzas - Províncias 250 Kwanzas

MUTAMBA437 AnosLuandae os Kalús>> P. 06-07

CAN 2013

FNLA

Há 40 anos

Palancas amestradas presas porum fio

Auto-flagelaçãosoma e seguena liderança de Ngonda

Assassinato de Amílcar Cabralenvolto em mistério

>>P. 15

>>P. 20

>>P. 28

ANOSNESTA EDIÇÃO

Gustavo Costa, Isabel Bordalo, Manuel António, Vitor Silva, Jacques dos Santos,

Luís Fernando, Tandala Francisco, Filomeno Manaças, António Tomás, António Bilrero,

Dina Cortinhas, Graça Campos, Adolfo Maria,Rui Falcão e Adalberto da Costa Júnior,

escreveram sobre o Novo Jornal.

02 25 Janeiro 2013

Cinco anos depois de terem sido acrescentadas, com o surgimento do Novo Jornal, novas “sementes da di-ferença” à liberdade, este semanário orgulha-se de se ter imposto como um marco de referência no jornalis-mo angolano pós-Independência.O Novo Jornal nasceu depois de um tempo em que a liberdade escure-cia cedo e as botas enfurecidas das sentinelas da censura insistiam em fazer prolongar o silêncio das vozes da diferença. O Novo Jornal nasceu depois de um tempo em que a liber-dade de imprensa, titubeante, contra os extremismos de vozes raivosas de

ambos os lados da contenda militar, soube também dar o seu contributo para o fim da guerra civil. O Novo Jornal partiu de um tempo em que as persianas da liberdade estavam maquilhadas com um fal-so pluralismo porque persistiam em agarrar-se ao cobertor do unani-mismo e corroíam, a céu aberto, a diversidade, ofuscando a existência do Outro. O Novo Jornal partiu de um tempo em que as liberdades cívicas não foram oferecidas mas antes conquistadas, tendo-se imposto, com dignidade, como um laboratório de ideias e de

olhares diferenciados, que fizeram da sua marca uma seiva vivificante e incontornável para um exercício saudável da liberdade de imprensa e da democracia no nosso país. O Novo Jornal provou que é possível manter viva a independência edito-rial de uma publicação com recurso a uma linguagem civilizada, embo-ra não isenta de críticas e reparos intelectualmente honestos. O Novo Jornal soube, desta forma, afirmar-se como um projecto editorial inde-pendente, dotado de personalidade própria. O Novo Jornal ao longo dos seus cinco anos de existência soube provar que era possível acabar com “o descon-solo, a vileza medíocre e cinzenta” e trazer uma fragrância de ar fresco à imprensa angolana. E trouxe-a!Mais do que um “lay out” ao esti-lo dos melhores jornais do mundo, concebido pela criatividade da EDI-TANDO – a agência que procedeu à sua concepção gráfica - também ao

sementes da diferença

Dossier

Gustavo costa

Director

25 Janeiro 2013 03

Novo Jornal tem plena consciência de que também tem defeitos de chaparia e não se envergonha de reconhecer que aqui e ali, como outras publicações de nomeada, incorreu em alguns atrolepos

estilo de outras publicações de refe-rência, o Novo Jornal fez a estreia do sistema de cadernos por edição. Com o Novo Jornal veio também o tratamento diferenciado de temas como a economia e a cultura, a análi-se e a investigação para a qual contri-buiu, de forma notável, a Associação Tchiweka de Documentação – ATD. O Novo Jornal impôs-se de forma irrequieta e incómoda sem nunca, porém, ter caído na sabujice sensa-cionalista ditada pelos ditames do mercado. O Novo Jornal soube esta-belecer como regras sacramentais o cruzamento de informação, o respei-to pelo contraditório, o equilíbrio em vez da fulanização, o nome próprio em vez do pseudónimo e a pluralida-de em vez do monolitismo.O Novo Jornal impôs-se também, e desde logo, como um produto inova-dor num segmento de mercado virgem porque era o primeiro, no domínio da comunicação social, ancorado num grupo económico – a ESCOM – que

não hesitou em apresentar à socieda-de o seu bilhete de identidade. Essa aliança não impediu que o Novo Jornal se impusesse contra a amorfia de uma elite de intelectuais acríticos, que assumidamente decidiu demitir-se do seu papel e das suas responsa-bilidades, numa tristonha reedição, como diria Lénine, dos “Idiotas Inú-teis” do século passado e do século presente… O Novo Jornal impôs-se porque ao mesmo tempo que não se compro-mete com as elites predadoras, não deixa de defender a promoção e o crescimento de uma burguesia na-cional patriótica, empenhada no en-riquecimento espiritual e material da população através de um sistema de distribuição da riqueza, que não sen-do igualitarista, com equidade chega e sobra para todos: ricos, pobres e re-mediados.O Novo Jornal, no entanto, jamais se assumiu ou se assumirá como um poço de virtudes. Cometeu erros e pe-

cados? Sem dúvida! Mas porque não quer ter a pretensão e, muito menos a petulância de ser “o senhor abso-luto”, o Novo Jornal tem plena cons-ciência de que também tem defeitos de chaparia e não se envergonha de reconhecer que aqui e ali, como ou-tras publicações de nomeada, incor-reu em alguns atropelos. Despido de quaisquer preconceitos, o Novo Jornal soube, no entanto, assumir as suas fraquezas e falhas, tendo sempre noção das suas limita-ções, agravadas pela pobreza e temor de uma paisagem social onde, para desgraça dos jornalistas, as fontes de informação tendem a apresentar-se cada vez mais embaciadas, quando não se escondem por detrás da câma-ra escura…O Novo Jornal não pode deixar de re-conhecer que poderá ter sido injusto na avaliação do comportamento de certas figuras públicas ou menos ri-goroso em certas investigações mas, em todos estes casos, com modéstia

e humildade, soube e saberá sempre dar a mão à palmatória.Nesta matéria, o Novo Jornal, em cir-cunstância alguma, se sentiu ou se sentirá diminuído mas não deixará também de se orgulhar de se ter man-tido fiel à sua linha editorial, revelan-do-se sempre avesso à arrogância e ao espírito de auto-suficiência, não cedendo a manipulações, não resva-lando para assassinatos de carácter, nem se embriagando com um vede-tismo gratuito.Resistindo a todo o tipo de pressões ou tentativas de mercantilização da consciência dos seus profissionais, o Novo Jornal jamais, porém, preten-deu colocar-se em bicos de pés como se se tratasse de uma publicação eivada de pureza, pois, como escre-veu o romancista britânico Graham Green, “ a pureza queima como o vitríolo”…O Novo Jornal impôs-se porque lon-ge de ser um produto panfletário ou uma caixa de ressonância de poderes

ocultos, não ficou nunca indiferente à falsificação das regras do mercado em vários domínios da nossa socie-dade. O Novo Jornal impôs-se porque quis fazer parte do leque de freios democráticos indispensáveis para travar apetites totalitários, abusos de poder, alucinações oposicionistas ou “primaveras pueris”.O Novo Jornal impôs-se porque quis afirmar-se como um dos veículos promotores do livre exercício da ci-dadania entre todos os angolanos, sem quaisquer distinções. O Novo Jornal impôs-se porque mesmo submetido aos objectivos e às ló-gicas comerciais que sustentam os grupos empresariais envolvidos na comunicação social, soube fazer da notícia um bem social e não uma mera mercadoria. Ou, como diria Eduardo Meditischs, impôs-se por-que a abordagem do jornalismo no Novo Jornal pretendeu ser sempre “uma forma social de produção de conhecimento”.Temo-lo conseguido? Por raiar o absolutismo e a soberba, seria de-masiado pretensioso responder pela afirmativa mas, no Novo Jornal ninguém é ingénuo para ignorar o potencial de conflitualidades que pode estar subjacente na coabita-ção entre os grupos económicos que sustentam a comunicação social e os jornalistas, enquanto agentes defen-sores da liberdade de imprensa. O Novo Jornal, acusado gratuita-mente de ser um projecto sujeito ao lápis vermelho da censura dos pa-trões, provou, ao longo dos seus cin-co anos de existência, porém, que é possível delimitar, de forma clara, as fronteiras entre os vários interesses em jogo. Por essa razão, a presença agora de um outro grupo económico – a WYDE CAPITAL – por detrás do Novo Jornal alguma vez pôs em causa a sua auto-nomia editorial e o direito do público a ser informado pelos seus jornalis-tas. Dispondo de total autonomia nesta matéria, à equipa de jornalistas do Novo Jornal só resta arregaçar man-gas e preparar-se para os gigantescos desafios que terá que enfrentar nos próximos cinco anos. Porque as “sementes da diferença”, que corresponderam ao lançamento, a 25 de Janeiro de 2008, do Novo Jor-nal, configuram agora um espaço de liberdade onde se diz o que se pen-sa. Um espaço que não se preenche apenas com sorrisos mas onde várias cabeças travam divergências saudá-veis e indispensáveis em redacções pluralistas.Cinco anos depois, falta alguma coisa? Falta muito! Falta sobretudo agregar agora novos valores, valores mais ousados e escalar novas monta-nhas. Para quê? Para continuar a de-safiar e a lançar sobre o futuro novas “sementes da Liberdade”…

As sementes da diferença configuram agora um espaço de liberdade onde se diz o que se pensa.Um espaço que não se preenche apenas com sorrisos mas onde várias cabeças travam divergência saudáveis e indispensáveis em redacções pluralistas

JORNALISMO DE REFERÊNCIA.

Director Gustavo Costa

ECONOMIARecursos naturaisO carvão e o futuro

>> P.11

1.º CADERNODossierVenda ambulanteem causa

>> P. 02

Luanda 200 Kwanzas - Províncias 250 Kwanzas

Edição nº 247 - 12 de Outubro de 2012

Integração Regional

Guiné Bissau

África do sul

Sonangol

Cobre da Tanzâniana rota do CFB

Alta tensão nos quartéis

Influência de Vicentena corda bamba

>> P. 21

>> P. 27

MUTAMBAAmérico de CarvalhoPrecursor históricoda luta pela Independência>> P. 06

>> P. 18

Ana Dias Lourençono BM

Vai para Washington

Maboque na Hor@gá

“Acordo de cavalheiros”entre Zuma e Montalanthe?

>> P. 26

>> P. 19

A ex-ministra do Planeamento do governo cessante foi indicada pelo Presidente José Eduardo dos Santos para assumir o assento reservado a Angola no Board do Banco Mundial, em Washington.

>> P. 31

04 25 Janeiro 2013

Dossier

Já lá vão cinco anos desde que apareceu o primeiro número do Novo Jornal (NJ), em 2008. Por coin-cidência foi um ano quase inteiro que passei em Luanda. Posso assim dizer que sou leitor do Novo Jornal desde o primeiro número. Em 2009, escrevi a primeira crónica no NJ e, como devo ter lido ou pelo menos fo-lheado todos os números publicados desde então, estou à vontade para falar sobre os feitos, erros, dificul-dades, desafios desta publicação. E seja qual for o balanço que faça tenho de reconhecer que o NJ tem sido a contribuição mais séria para a compreensão da história do presen-te angolano. Em 2008, já havia os semanários, que, mesmo na sua condição de marginalidade, eram as únicas fon-tes informativas que acrescentavam alguma diversidade no panorama jornalístico nacional. E isso num contexto, se quisermos, de um pon-to de vista mais estrutural, de dois processos que decorriam simultane-amente. Por um lado, uma reorgani-zação do político que já antecipava uma vitória estrondosa do MPLA no pleito de Setembro – verdadeiro re-trocesso no processo de formação de uma sociedade plural. Por outro, um processo de consolidação da econo-mia empresarial, que, consequente-mente, favoreceu quer a compra dos semanários existentes, quer a fun-dação de outros por parte de alguns grupos empresariais. E foi como resultado desses dois pro-cessos que surgiram os dois sema-nários de referência: O País e o NJ. O primeiro seguiu uma trajectória mais ou menos esperada, em que os interesses do grupo controlam em grande medida o escopo da infor-mação. O segundo fez um percurso totalmente diferente: uma redacção que sempre vincou pela diversidade de pontos de vista, independente-mente dos interesses do grupo. E acho que a trajectória do NJ nestes

5 anos é uma lição importante so-bre a relação entre independência redactorial e os constrangimentos financeiros. Não estou a dizer que o NJ seja um o exemplo mais acabado de isenção jornalística (embora tenha de reco-nhecer que sendo eu provavelmente o mais irreverente dos comentado-res que passaram pelo NJ nunca me foi colocado qualquer tipo de limite sobre o que devo ou não escrever). Não. Mas o Novo Jornal tem cultiva-do um ambiente de crítica sobre os conteúdos publicados que eu nunca vi em parte nenhuma. Na minha qua-lidade de leitor consciente já escrevi várias vezes aos directores, o Victor Silva, e, sobretudo, o Gustavo Costa, a comentar textos em que achei que o jornal estava a perder acutilância. E o que já se fez várias vezes foi en-volver outros jornalistas num debate sobre como é que escolhem pontos de vista, sobre que terminologias se usam para se falar de certas coisas. Se um dia estas conversas fossem tornadas públicas seriam uma gran-de lição sobre os modos como se produz verdade jornalística e sobre como esta verdade jornalística só pode ser alcançada através do deba-

te, da troca de ponto de vistas diver-gentes e da auto-crítica.Com todos os erros (e aqui erro no sentido pedagógico, pois lembro-me o jornalista Manuel António dizer-me uma vez que em jornalismo é preciso liberdade para se errar), com todas as dificuldades (de formação humana, num país em que a univer-sidade nem sequer forma licencia-dos com qualidade suficiente para preencher as vagas de uma redacção cultural), eu acho que o NJ é uma aposta ganha. E a aposta foi, quan-do mais, oferecer aos leitores um espaço de diversidade de opiniões. E isso não é coisa pouca, num país em que estamos habituados a que os jornais sejam ou contra ou a favor do governo. O NJ veio, pois, ocupar este meio termo, nem a favor nem contra, constituindo-se como um veiculo em que várias sensibilidades do país encontraram espaço para expressar livremente as suas opiniões. E isso só mostra a destreza em que o colectivo do NJ soube posicionar-se perante a política real angolana, onde ainda existem muitos traços de autoritarismo, que se traduzem nos limites que se impõem aos jornalistas em relação ao acesso à informação. E isso, nos últimos tempos, já sem ne-cessidade de se recorrer à violência. O poder tornou-se mais sedutor, e agora existem os prémios milioná-rios que servem também para dis-ciplinar os jornalistas. O jornalista é assim levado a produzir certo tipo de material, mais complacente em relação ao poder, na esperança de um dia vir a ganhar um tão cobiçado prémio. E nisso também o NJ vincou a sua posição; não só não ganhou os mais variadíssimos prémios, dentro e fora do país, como ainda conta com uma redacção que não se preza parti-cularmente pela sua proximidade às posições do poder. Pela diversidade, só resta dizer, pa-rabéns, Novo Jornal, e muitos anos de vida. *Antropólogo

o Novo Jornal tem cultivado um ambiente de crítica sobre os conteúdos publicados que eu nunca vi em parte nenhuma

António tomás*

Parabéns novo Jornal

Estatuto conquistado

Solicitou-me o Director do Novo Jornal que debitasse algumas linhas a propósito do quinto aniversário da publicação da qual é, de algum tempo a esta parte, o timoneiro, convite ao qual acedi com prazer.Leio sempre que possível o jornal e acompanho o esforço dos seus pro-fissionais – ao qual rendo merecido tributo - para firmarem a publi-cação como uma opção de leitura no universo da imprensa angolana, um estatuto que considero já conquistado com toda a justiça.São os leitores que fazem essa justiça, daí a persistência do projecto editorial Novo Jornal neste percurso de cinco anos num mercado em que, tendo em conta as suas características, não é fácil uma publica-ção vingar.As dificuldades vão desde os custos de produção, a luta pelo mercado de publicidade e, não menos importante, a distribuição do produto final.Curvo-me diante de opiniões mais abalizadas, mas tenho para mim que é mais comple- xo, mais custoso e mais difícil montar e fazer perdurar um jornal do que uma rádio ou uma estação de televisão. Os avan-ços no domínio da técnica e da tec-nologia tornaram hoje mais fácil as empreitadas au-diovisuais.Para os jornais a história é outra.Por isso há que brindar a este quinto ani-versário e dar os parabéns à equipa por aju-dar a contribuir para o plura-lismo de im-prensa, para o pluralismo de linhas editoriais e, por via disso, para o reforço da democracia angolana.Tenho para mim que a sociedade é um mercado aberto de realização de ideias, entendidas estas como projectos. É na diversidade de pro-jectos editoriais, ancorados obviamente nos modernos princípios do jornalismo, onde a ética e a deontologia devem constituir sem rendição a nossa bússola de orientação, que acredito vamos fundar uma comunicação social angolana forte, capaz de contribuir para o desenvolvimento do país, capaz de assegurar o exercício saudável da cidadania.Auguro que o Novo Jornal, surgido no mundo das gentes embrulha-do no manto da expectativa de vir a tornar-se um diário, continue a servir os leitores com brio e profissionalismo e seja “militante” de um jornalismo responsável, que contribua para o reforço dos valores de coesão política e social da nação angolana e para o progresso do país.

*Director adjunto do Jornal de Angola

Parlamentares vão sentar-seem cima de 59 milhões de dólares

JORNALISMO DE REFERÊNCIA.

Director Gustavo Costa

ECONOMIABPPHSonangol criabanco para habitação>> P. 06

1.º CADERNODossierLepra preocupa>> P. 02

Luanda 200 Kwanzas - Províncias 250 Kwanzas

Edição nº 249 - 26 de Outubro de 2012

Guiné -Bissau

Bloco 4

Valente pontapé-de-saída!

Presidenciais

Militares não calamas armas

Alta tensãono alto mar

>> P. 24

MUTAMBAMário Tendinha“Vento leste”histórias para o futuro >> P. 06

Fundo Soberanoinveste 356 milhõesem Londres

Debates televisivosaquecem Quénia e Ghana

>> P. 06

Sai BMW e entra Jaguar>> P. 30

Angola é o elomais fracodo grupo A

CAN-2013

>> P. 06>> P. 29

Economia >> P. 05

Filomeno mAnAçAs

25 Janeiro 2013 05

Um dos méritos do Novo Jornal, quiçá o mais nobre, tem-se centrado na formação dos jornalistas, esforço nem sempre devidamente compreendido

obrigatório ler PEDiu-mE o GustAvo costA - um amigo que prezo e, em grande medi-da, responsável também pela minha chegada ao jornalismo nos finais da década de 70 – comentários da alma sobre o “seu” Novo Jornal (NJ) que esta sexta-feira, 25 de Janeiro, chega à idade feliz dos 5 primeiros anos de presença no mercado.É claro que não lhe chamou “comen-tários da alma” ao que aqui hei-de deixar dito, tendo-me antes proposto “um artigo de análise” sobre os efeitos do surgimento do NJ na imprensa an-golana. A escolha daqueles termos pertence-me em absoluto e quis, com eles, esta-belecer desde logo uma fronteira e um caminho: que, na verdade, não entra-rei pelo movediço terreno da avaliação em profundidade da obra, a meu ver incontestavelmente conseguida, de ter o NJ semana a semana nas bancas, sem no essencial defraudar os leitores que fidelizou. Opinarei na minha dupla condição de leitor e colega ligado a outro jornal – ou, se preferirem, na ordem invertida de colega/concorrente e depois leitor – mas sempre com a certeza, vista a pele que vista, de o fazer com a hones-tidade que ampara sempre os meus ac-tos, os públicos por maioria de razão. Devo começar por dizer que o nasci-mento do NJ em 2008 encontrou-me a viver uma espécie de ano sabático, retirado da azáfama das Redacções, depois da minha experiência de anos no Jornal de Angola e antes ainda nos Estúdios Centrais da RNA e no Emissor Regional do Uíge. Escrevia livros, car-tas, ofícios para manter de pé a causa a que me consagrara, a da Anemia Falciforme, e uma infinidade de ou-tros rabiscos úteis e ligeiros, mas nada do ritmo impetuoso das notícias e da informação pública de uma maneira geral.Tinha, pois, tempo para dedicar às coi-sas. E o Novo Jornal chegou-me às mãos com a “missão” de me converter em seu leitor inveterado. Porque, clara-mente, representou desde o número inaugural uma pedrada no charco, num mercado em que infelizmente se tinha caminhado muito depressa na arte de pontapear o jornalismo e suas regras, substituindo o interesse públi-co dos factos e fenómenos pela nojice do insulto e da devassa do cidadão. Foi um alívio ver surgir numa praça inquinada valores que se julgavam enterrados para sempre. Senti aquele resgate do lado profissional e útil do

jornalismo em Angola como uma espé-cie de vitória pessoal, porque tanto o Vitor Silva como o Gustavo que davam vida ao projecto tinham sido meus ve-lhos camaradas de banca no Jornal de Angola, eles como efectivos na secção dos desportos e eu colaborador desse mesmo pedaço da agitada Redacção daqueles tempos.Portanto, se há méritos a isolar do conjunto da obra NJ, destaco com bastante vigor o arranque fulguroso, que teve o condão de estabelecer no-vos caminhos e, melhor do que isso, fixar uma fasquia que condicionaria todos os outros que surgissem depois. Sei do que falo porque no mesmo ano, quando recebi o honroso convite para ajudar a estruturar o semanário O PAÍS que entraria para o mercado onze me-ses depois do NJ, a primeira grande re-ferência comparativa foi a produção do jornal que agora apaga cinco velas. Disse a mim mesmo e à minha determi-nada equipa: “se não quisermos fazer papel de idiotas, ou somos como eles ou os superamos, muito abaixo é que não vai dar”. E foi assim que O PAÍS nasceu forte-mente condicionado pela existência do NJ, estabelecendo-se a feroz e sau-dável concorrência que “numa boa” le-vamos ao limite todas as sextas-feiras desde então. Não entramos em histe-rias quando o Novo Jornal surge com uma manchete de fazer inveja e nós ficámos relativamente aquém, e acre-ditamos que o mesmo acontece nas se-manas em que somos nós os “heróis”. Ainda por cima, tratando-se de “furos” jornalísticos que só valem pela sua carga de cuidado e profissionalismo, nunca tresandando a uma vontade infantil de bater recordes ou de obter vitórias obsessivas. Sinto que há um respeito a delimitar os nossos campos de actuação e isso, na minha visão e modo de estar no jornalismo, é o único elemento que verdadeiramente conta. Ganham com isso os leitores, claramente, e aquilo que poderia acirrar uma disputa sem regras, acabou por se converter numa espécie de complementaridade cida-dã. Basta-me isso como angolano que se esfalfa por um país melhor. Como última consideração, devo dizer que o NJ se tornou de leitura obrigató-ria. Consegui-lo quando se tem apenas 5 anos de uma vida longa, é encoraja-dor. Parabéns, pois, ao Gustavo Costa e aos colegas todos que acreditaram no projecto desde o início ou a ele se juntaram mais tarde. * Director do “País”

luís FernAndo* mAnuel António*

“chamem-me o que quiserem”

o HEnriquE montEiro, jornalista emérito, crítico frontal, corajoso e, por isso, incómodo, chato e des-mancha-prazeres, não me condenará nem tomará por plágio que use o título das suas acutilantes, saborosas e sempre actuais crónicas no «Expresso» como mote de uma viagem iniciada em Abril de 2009 com o Novo Jornal à ilharga durante 24 horas em cerca de 1.500 dias.Ao Vítor Silva e Gustavo Costa, que casuisticamente me tiraram do desemprego, fiz questão de salientar que «o Novo Jornal era a única publicação, em Ango-la, onde me sentiria jornalista inteiro».Queria eu dizer-lhes que o Novo Jornal, do qual era assíduo leitor, me abria a portas ao exercício do jorna-lismo que aprendera com alguns dos grandes mestres -- no «Diário Popular», primeiro, onde transitei da Tipografia para a Redacção e, depois, em a «A Bola», duas verdadeiras universidades do mais distinto jor-nalismo em língua portuguesa da segunda metade do séc. XX.Este primeiro lustro do Novo Jornal encontrou algu-ma esteva e escalracho pelo caminho, agruras e dis-sabores, mas também militância e devoção dos seus operários, porque todos, sem excepção, e a seu modo, fomos e somos intérpretes da nobre arte de produzir e dar à estampa a Informação. Com virtudes e os defei-tos próprios de uma sociedade onde, a despropósito e descaradamente, o sapato alto substitui o chinelo e a ânsia de botar figura nos transforma, não raras vezes, em figurões de um analfabetismo funcional que raia as fronteiras do risível. Dirão os puristas, mailos acérrimos defensores de um jornalismo politicamente asséptico, unívoco, que não fica bem falar de nós e que menos bem fica ainda aproveitarmos a efeméride para destaparmos as fraquezas do jornalismo que temos no País e que o melhor seria fazer de conta e assobiar para o lado em nome da receita que privilegia os interesses de casta.Escrever sobre o Novo Jornal, aqui e agora, obriga-me, por dever de consciência, numa recorrência que não me cansa, a voltar ao jornalismo que praticamos, fruto do que aprendemos nas nossas universidades, que é onde reside a raiz de quase todos os males que afectam a profissão, as quais produzem fornadas de doutores da mula russa, de vocabulário «facebokea-no», incapazes de dividir uma oração ou de distinguir o sujeito do predicado e, o que é mais grave, incutem-lhes arrogância em lugar de humildade, o que leva a que alguns de nós vistam a toga e se armem, sor-rateiramente, em juízes de causa militante, própria, confundindo um simples auto de notícia com a guer-ra das Malvinas ou um vocábulo benigno com uma poção de estricnina.É tempo de se olhar para as doenças que afectam o crescimento saudável do nosso jornalismo que, por força de um escalonamento socioeconómico profun-damente desequilibrado vê reduzidas as fontes de in-formação e o acesso aos centros onde palpita a notícia devido à impossibilidade, por exemplo, de comer um prato quente por dia em restaurantes que usam guar-danapos de pano.Temos um jornalismo onde a especialidade não expri-

me qualidade ou saber, mas a necessidade de preen-cher espaço, muitas vezes com bacoradas que enver-gonham aqueles que da profissão preservam a honra e dignidade. Tocamos vários instrumentos ao mesmo tempo e não dominamos nenhum na perfeição.O jornalismo angolano vê-se obrigado a viver em movimento centrípeto ao redor dos centros de no-tícias. Olha o fumo, vê a lava, cheira o enxofre mas, raramente consegue abeirar-se da boca do vulcão. Muito menos vislumbra o magma. Atingimos um es-tádio em que os maus professores são tão perniciosos quanto os falsos médicos, pois, se uns molestam os pacientes os outros matam uma profissão e inibem o crescimento personalizado e sério de um dos pilares da Democracia.Existe entre nós uma escola libertina, que confunde li-berdade com responsabilidade, que é desrespeitadora, preconceituosa, que assassina caracteres e lambes as botas ao dono.Tenho escrito, por diversas vezes, que não conheço ou-tro lugar no mundo onde a Liberdade de Imprensa seja tão vilipendiada pelos próprios jornalistas como aqui.Se incumbe à governação vigiar a competência de quem lecciona para que aumente o grau de exigência dos formandos, aos jornalistas cabe a defesa do prin-cipal sustentáculo da profissão, a Liberdade, através de uma prática ético/deontológica que abomine a ca-lúnia, a falsidade, a encomenda e o desrespeito pelos valores de cidadania e do Estado de DireitoMas este e outros pressupostos apreendem-se na esco-la.As nossas Universidades não podem ser fábricas de di-nheiro para enriquecimento de nababos. Tem de haver exigência; tem de se pugnar pela qualidade; e tem de se impor rigor na selecção daqueles cuja responsabilidade é, e sempre será, participar activamente na formação das gerações vindouras.Um dos méritos do Novo Jornal, quiçá o mais nobre, tem-se centrado na formação dos jornalistas, esforço nem sempre devidamente compreendido por quem espaventa o canudo como se nele estivesse contida toda a ciência do mundo, mas que a evidência dos resultados demonstra ter sido a estratégia adequada para a afirmação de um projecto ímpar no universo da Imprensa angolana, cujos resultados, por demais evi-dentes, pessoal e editorialmente, são sufragados por uma plêiade de leitores atentos, críticos, parceiros de «rout» e os grandes juízes da nossa forma de fazer e entender o jornalismo. Para aqui chegarmos suámos as estopinhas, sacrifi-cámo-nos imenso e fomos capazes de ultrapassar os escolhos que nos podiam garrotar a esperança. Não vencemos porque, no jornalismo, os combates não se esgotam. São feitos de labuta diária, sem quartel, pelo povo e em nome do povo, exemplo de vontade de boa Justiça que ainda hoje vinca as sentenças ju-diciais no País.Este primeiro lustro, de muitos outros que nos espe-ram, é, confiemos, apenas mais um degrau de uma aliciante caminhada em defesa de um jornalismo li-vre, independente, intelectualmente capaz e respon-sável. *Editor Desportivo

Dossier

06 25 Janeiro 2013

o pretexto ”infantil” para apagar 5 velinhasO tempo voou. E, de repente, vamos assistir ao fim do primeiro lustro do Novo Jornal - minha companhia se-manal pelos cafés da cidade. Agora, encerrado este primeiro ciclo, em que, habitualmente, as taxas de mortalidade costumam ser elevadas, surgem as próximas dificuldades, os permanentes desafios, as condições éticas do trabalho jornalístico e mui-tos etc. … O projecto jornalístico, mas também – necessariamente - cívico e cultural que em determinada altura da minha vida também abracei a convite do amigo Gustavo Costa, em comple-mento de outras actividades que vou mantendo discretamente noutros órgãos de Comunicação Social, no-meadamente no Jornal de Angola e na Rádio Luanda Antena Comercial

(a TPA “fechou a porta ao Jazz”) tem sido vivido exaltadamente.Ao pedido do meu velho e dilecto amigo, diria também “compagnon de route” Carlos Sérgio Monteiro Fer-reira, Cassé, com quem partilho há imensos anos a paixão da música e o amor às letras, não poderia recusar. O que penso destes últimos anos do “nosso” Semanário?Quando vivemos hoje, no século XXI, e num novo quadro neste país é - mais do que nunca- necessário de-fender a Democracia e, neste escopo, as suas relações com a “comunicação de massas”; maka antiga e terreno para longas e intermináveis discus-sões, muito longe do apaziguamen-to. Serão variáveis independentes? Existirão sinergias nesta relação? É apenas a ponta do “iceberg”.

Este Cassé, obrigou-me a regressar à minha profissão de bibliotecário, a mexer em papéis antigos, a vol-tar à política, que há bué se afas-tou de mim, a reflectir, mas vou fazer mais como?O jornalismo, com a panóplia de funções e características que hoje lhe são atribuídas, designadamen-te como instrumento fundamental, como “catalisador” de difusão de informação no seu lato sensu, é cada vez mais relevante nas democracias modernas, pois possibilita, entre muitas outras coisas, a interpretação de factos, a avaliação de argumentos e também a promoção de condutas e acções racionalmente perspectiva-das, motivadas.O papel do jornalista - profissão muitas vezes exercida em condições

e m o c i o -nais excepcionalmente difíceis (como a dos médicos e de outros trabalhadores da saúde) é ou-tra maka interminável, sobretudo na perspectiva do chamado “Jornalismo público”: designadamente, interlo-cutores das instituições políticas ou agentes de ampliação da voz dos ci-dadãos e daqueles que não têm voz? Eis a questão.Mas, regressemos, ao Novo Jornal, que tem mantido preocupação com a verdade dos factos e a objectividade jornalística e evitado fazer eco de ru-

uma publicação de angolanos voltada para os angolanosEntrAmos, com este número, no quinto ano de vida do “Novo Jornal” e é com o mesmo sentimento de ale-gria que neste momento envolve na-turalmente o grupo de profissionais que o constitui, que me associo às co-memorações da efeméride. Como seu colaborador, fiel embora não muito assíduo, sinto-me na obrigação de, neste momento, tecer algumas con-siderações sobre o papel que vem de-sempenhando no cenário da comuni-cação social angolana neste período.Começarei por afirmar que o “Novo Jornal” é, sem dúvida, uma publica-ção completamente voltada para os problemas do país e dos angolanos, apresentando um perfil adequado e consentâneo com quem se compro-mete, como ele se comprometeu, a contribuir para o fortalecimento de uma informação plural e responsá-vel.A sua postura política independentis-ta e a dos seus mais importantes co-laboradores e ainda a exclusividade utilizada na abordagem de determi-

nados temas, tornam-no num projec-to sério e militante da construção da democracia na informação angolana que - esperemos bem que sim -, tem o seu destino traçado mas demora, por variadas razões, em impor-se.Hoje, qualquer reflexão no âmbito jornalístico e da comunicação no ge-ral terá forçosamente de se inscrever na agenda das liberdades e, portanto, no seu aspecto político, contraditório e construtivista. Aqui entre nós e no que compete ao sempre discutido conceito da verdadeira liberdade de imprensa e dos interesses que muitas vezes a condiciona, uma das mais po-lémicas e escorregadias questões que se afloram, é a da isenção.Neste âmbito, parece-me que qual-quer tentativa para eleger o órgão que no nosso país melhor interpreta este princípio que surge, regra geral, nos textos consagrados como preceitos fundamentais e obrigatórios das li-nhas editoriais das várias publicações, vai-nos levar inevitavelmente às dou-trinas adoptadas pelo “Novo Jornal”.

Apesar de serem visíveis lacunas no seu formato (refiro-me, por exemplo, à ausência de um mais forte jornalis-mo de investigação, à acutilância na reportagem de cariz político e com po-líticos e à permanente crítica literária, teatral e de outras artes, como forma de apoio à cultura nacional), não me parece excessivo afirmar que o “Novo Jornal” tem o mérito de estar a aproxi-mar a população leitora da “revolução social” que o periódico vem fomentan-do, encontrando-se em posição pio-neira em relação à afirmação de uma identidade jornalística contra o con-servadorismo e a bajulação gratuita, descarada e gravosamente utilizada no nosso meio. Por isso, conscientemente e sem qualquer outro sentimento que não seja o da justiça a motivar as minhas palavras, considero o “Novo Jornal” uma pedra fundamental no processo de criação do jornalismo moderno em Angola.Não posso deixar de mencionar que o meu envolvimento com o “Novo

Jornal” possibilitou a redescoberta do Gustavo Costa e de todas as suas potencialidades. Deu-me o ensejo de apreciar semanalmente a erudição do Manuel António, de me surpreen-der com o talento do Adebayo Vunge e da Aoani D’Alva e de vitoriar agora, o regresso de Carlos Ferreira, o nosso “Cassé”, ao lugar que lhe pertence. A metamorfose operada no trabalho de Isabel João é também digna do meu realce. Deste pessoal como de todos os ou-tros não citados não tenho a anotar quaisquer atitudes ambíguas ou au-sência de rigor deontológico no seu comportamento, pelo que julgo esta-rem em condições de cumprir com o compromisso formativo do leitor, de modo lúcido e didático, que é inerente à profissão de jornalista. Por tudo o que fica dito, parabéns “Novo Jornal”, saúde e um bem-hajam a todos os seus responsáveis e colabo-radores.*Escritor e presidente da Associação chá de caxinde

JACQues dos sAntos*

Não me parece excessivo afirmar que o “Novo Jornal” tem o mérito de estar a aproximar a população leitora da “revolução social”

Jerónimo Belo *

O massacre que o colonialismo não conseguiu esconder

JORNALISMO DE REFERÊNCIA.

Director Gustavo Costa

ECONOMIACimentoGrupo Heidelbergaterra em Benguela >> P. 05

1.º CADERNOFechoJornal Continentenão paga salários>> P. 23

Luanda 200 Kwanzas - Províncias 250 Kwanzas

Edição nº 259 - 4 de Janeiro de 2013

>> P. 02

Venezuela em «suspense»

Preparação para o CAN

Em foco

República Centro Africana

Diferenças políticasentre Angola e Ghana

Rebeldes próximoda conquista do poder

>>P. 22

>>P. 16

>>P. 19

>>P. 20

Hugo Chavez em Cubacom a vida por um fio

Angola - Zâmbia amanhã, em Joanesburgo

>> P. 07

Fanatismo mata

Dezasseis mortos na Cidadela

MUTAMBABESA CulturaEntrevista com Leonor Sá Machado>> P. 06

“Dossier” sobre a Baixa de Cassanje

>> P. 08

mores sem base, publicitan-do afirmações claramente imparciais, grosseiras e interesseiras.Espero, e espero mesmo, que

continue a assegurar a quali-dade dos seus profissionais e colaboradores, alguns dos quais muito diferenciados, e a continuação de um jornalismo com ética e que este “Jornalis-mo ético” seja a grande meta do Novo Jornal, a sua utopia. E ago-

ra, meu Caro Cassé, recorro ao Ca-marada Paulo Freire, o pedagogo dos oprimidos, para te dizer- com ele- que “ o utópico não é o irreali-zável, a utopia não é o idealismo, é a dialéctica dos actos de denunciar a estrutura desumanizante e anun-ciar a estrutura humanizante. Por esta razão, a utopia é também um compromisso histórico”. E agora eu acrescento, à guisa de conclusão: compromisso histórico com a verda-de, a ética, a liberdade e a democra-cia. É muito, é impossível? Tentem regressar à longa noite colonial…Um abraço, meu Caro Cassé. Diz ao Gustavo que vou continuar a escre-ver sobre Jazz. Xê minino não fala política!

*Jornalista cultural e crítico de JAZZ

25 Janeiro 2013 07

Espero, e espero mesmo, que continue a assegurar a qualidade dos seus profissionais e colaboradores, alguns dos quais muito diferenciados, e a continuação de um jornalismo com ética e que este “Jornalismo ético” seja a grande meta do Novo Jornal, a sua utopia

Dias intermináveis de escrita e de reescritatEr umA visão cosmopolita do mundo e da sociedade, pensar o país sem particularismos nem sectarismos, afirmando em si-multâneo a identidade angola-na, é uma tarefa necessária, mas difícil, que a publicação semanal NOVO JORNAL vem realizando desde há cinco anos.Certamente não foi o acaso que determinou o aparecimento de um grupo de jornalistas que de-senharam um projecto e o execu-taram. De facto, como em todos os fenómenos que às sociedades humanas digam respeito, tem de haver um quantum de condições para que eles surjam.No caso deste hebdomadário, parece evidente que estavam reunidas em Angola, particularmente em Luanda, as condições políticas, económicas e sociais para o seu aparecimento em 2008. Durante trinta e três anos da Angola independente tinham-se desenrolado acontecimentos marcantes, alternadamente de esperança e de trauma: a euforia da independência em 1975 e as expectativas que esta suscitara nas populações; a feroz ditadura instaurada logo com a indepen-dência e os mitos que criara; a guerra civil; as tréguas e a ilusão da paz em 1992; a retomada do conflito armado; o seu fim em 2002; a esperança na paz e na de-mocracia então renascidas. Em simultâneo, crescera uma bur-guesia que se tornou detentora de poderosos meios económicos, também milhares de angolanos tinham adquirido formação uni-versitária no país ou no estran-geiro e Angola começava a dar passos no crescimento económi-co (embora de modelo desequili-brado e profundamente desigual na distribuição da riqueza e na vertente social). Todos esses factores eram favo-ráveis para que a sociedade civil se tornasse mais desperta para as exigências de um estado mo-derno e o sector intelectual fosse menos seguidista que o dos alvo-res da independência, mais críti-co e desejando maior debate de ideias, aspirando a uma moder-nidade, tanto tempo arredia do país e de muitos que o dirigiam.

Assim, parece lógica a congre-gação de vontades que levou ao nascimento do NOVO JORNAL. No entanto, no impulso de vários movimentos sociais, culturais e políticos é importante o papel do indivíduo (toda a história da humanidade o demonstra). No caso da criação deste jornal e para o seu êxito contribuiram de-cisivamente alguns jornalistas de mérito (que não nomeio aqui em particular, mas são conhecidos pela sua verve e competência).O NOVO JORNAL tornou-se uma publicação de referência pelos assuntos que aborda e maneira como os trata, pela diversificada colaboração que reune, provinda de intelectuais de valor, pela fres-cura e frontalidade de algumas das suas crónicas. È relevante o seu contributo para o debate nacional que se vai instaurando e para o florescer de um pensa-mento isento de preconceitos de qualquer tipo e onde predomi-nem as concepções modernas do mundo e da sociedade. Para quem sempre pugnou pela liberdade do povo angolano e pelo progresso do país, é gratifi-cante verificar como estão cria-das novas condições de debate e de expressão e como, dos sec-tores mais esclarecidos da socie-dade, estão brotando indivíduos de grande consciência cívica e de saber, que se batem por uma Angola de progresso. Neste movi-mento se insere o NOVO JORNAL, cujos responsáveis e colaborado-res saúdo patrioticamente.* Antigo militante do mPlA a trabalhar em lisboa como co-mentador da rDP-áfrica

dinA CortinhAs*

Graficamente precursor Há cinco Anos Atrás nAsciA o Novo Jornal e eu sorria de contentamento, em Luanda. Porque ver nascer um novo projecto editorial é, seguramente, para todos e em todos os mercados um momento úni-co de expectativa e de esperança. Por essa altura, tal como hoje, Angola fazia parte do meu universo pro-fissional, embora de forma diferente. Por isso, meses antes, tive o grato privilégio de ser convidada, pelo Victor Silva, a apresentar, com a mi-nha equipa de então (Editando – Edição & Comunica-ção) uma proposta gráfica e também editorial (mas aqui só e apenas ao nível do nome e da estruturação das rubricas que haveriam de o vir a compor) para um novo jornal semanário que haveria de arrancar em Luanda em Janeiro de 2008. Na altura, apenas nos disseram que o vermelho deve-ria fazer parte integrante da marca, que teríamos de projectar três cadernos diferenciados (Primeiro Ca-derno, Economia e Mutamba) e que se pretendia um produto arejado, em linha com as tendências internacionais ao nível do que era então o design gráfico para os jornais de referência. E a partir daí começou uma aventu-ra que em termos gráficos envolveu pessoas que muito admiro e que fi-zeram do Novo Jornal um produto único e precursor no mercado an-golano e no panorama dos jornais que nele se publicavam à data. Das pessoas envolvidas então, faço questão de recordar o João Mar-ques, excelente designer gráfico com quem levei por diante vários trabalhos (alguns dos quais para Angola) e que hoje se dedica de forma brilhante ao mundo da fo-tografia; o Jorge Ribeiro, actual director criativo da Exame Angola, que assegurou de forma eficaz e deveras pedagógica a formação de uma equipa na qual poucos sabiam o que era paginar num computa-dor; e o Mateus Fula, que ainda hoje permanece como o chefe de produção do Novo Jornal, e que liderou de forma brilhante uma jovem equipa de designers angolanos que hoje dão cartas quer no Novo Jornal quer noutros projectos editoriais que entretanto surgiram e se reformularam. Obviamente que o trabalho destes três profissionais só foi possível porque toda a equipa estava deveras motivada e empenhada em ver nascer e fortalecer um semanário diferente, para melhor em qualidade imagética é certo mas também editorial, pois todos sabiam que do cruzamento destes dois pontos nasce-ria um produto do qual se haveriam de orgulhar. E assim foi, parece-me, pois cinco anos volvidos e com alguma turbulência a bordo, como é característico da vida de todos os mercados, de todas as empresas e de todos os projectos, o Novo Jornal aí está: vivo e reple-to de interesse. Publicado semana após semana, sem interrupções, e dando à estampa temas de interesse e de reflexão a todos os seus leitores, com um design gráfico que se mantém actual.

Pediram-me que neste artigo fizesse referência a uma espécie de cinco virtudes e outras tantas não virtu-des, por se comemorar justamente o quinto aniversá-rio. Mas não sei se o consigo fazer porque na verdade enumeradas uma a uma as virtudes podem ser mais e as não virtudes muito menos. Não que o Novo Jornal seja perfeito e um produto editorial e graficamente intocável. Obviamente que não. Mas porque ele representa a modernidade onde, em 2008, ela não existia. Representa a qualidade. Re-presenta a ousadia. Representa o profissionalismo. Representa o empenho e o vestir da camisola de uma equipa (desde os accionistas, à Direcção, aos jornalis-tas, aos fotógrafos, aos gráficos e a todos os restantes colaboradores) por um projecto no qual muitos não acreditavam. Tudo isto feito por um conjunto de bons profissionais angolanos, quer em termos editoriais quer em ter-mos gráficos, alguns dos quais já não fazem parte da

equipa que o publica semanal-mente, mas que para sempre ficarão ligados a este símbolo precursor da moderna impren-sa angolana.Hoje, em termos gráficos, e ainda que com algumas alte-rações e a merecer um lifting rejuvenescedor – daqueles que não rebentam com o ADN, com a imagem nem com o carácter – continuo a rever nas edições que se publicam semanalmen-te os princípios que nos norte-aram no desenvolvimento do projecto gráfico: páginas arejadas, que convi-dam à leitura; fotografias que atraem o olhar; títulos curtos e incisivos; diferentes tipos de letra; separação clara entre as partes que compõem uma boa peça jornalística (o título e os antetítulos quando existem, o lead e o corpo da mesma,

assim como os destaques, as caixas, as perguntas e as respostas); demarcação clara das peças que inte-gram cada uma das páginas; organização gráfica que, embora e desejavelmente não sendo geométrica, não confunde nem distrai o leitor. E continuo a ver a Economia e a Cultura separadas, o que verdadeiramente me agrada porque sem cada uma delas a vida é muito menos interessante. Infe-lizmente, na versão impressa deixei de ver a cor e a separação clara entre os três cadernos, característica inovadora que tão bem caiu no mercado. Que o futuro a curto e médio prazo seja capaz de os recuperar, é o desejo que expresso e que muito gostaria de ver con-cretizado em 2013, para assinalar da melhor forma a comemoração destes desafiantes e muito estimulan-tes cinco anos de vida do Novo Jornal.*Directora, à época, da Editando – a agência que elaborou a concepção gráfica do novo Jornal e ac-tual directora da uAnDA – comunicação e relações Públicas em Angola

o Novo Jornal tornou-se uma publicação de referência pelos assuntos que aborda e maneira como os trata

AdolFo mAriA*

Não que o Novo Jornal seja perfeito e um produto editorial e graficamente intocável. obviamente que não. Mas porque ele representa a modernidade onde, em 2008, ela não existia. Representa a qualidade

08 25 Janeiro 2013

Nove meses após ter cessado funções como director, eis-me, novamente, nas páginas do Novo Jornal, a publicação de que fui fundador e que até hoje não se envergonha de ser o que se propôs desde o início: a referência do novo jor-nalismo que se produz em Angola!Volto não mais para assinar o Edito-rial, nem noticias, reportagens ou en-trevistas, mas desta vez para recordar um percurso que já leva cinco anos e que, em tão pouco tempo, pode ser considerado compensador, pesem embora os contratempos próprios de qualquer caminhada, onde a meta, à partida, parece tão fácil de atingir, mas escolhos vários obrigam a es-forços suplementares para a atingir, numa passada só ao alcance dos ven-cedores, já que os derrotados ficam pelo caminho.Curiosamente, nove meses é também o tempo normal de gestação de um ser humano o que torna mais interessante este meu “regresso”. Será que nasceu um “outro” Novo Jornal, trinta e seis semanas depois da minha saída da di-recção?Por ser a pessoa menos apropriada para o fazer, deixo a responsabilidade aos leitores que, mais desapaixonadamen-te, estarão em melhores condições de encontrar a resposta.Não posso esconder que, neste inter-regno, várias foram as pessoas que se me dirigiram questionando o posicio-namento do jornal, seja por ocasião da campanha para as eleições gerais, seja mais recentemente na acalorada disputa na comunicação social sobre as relações entre Angola e Portugal, quando a turma ressabiada emergiu do esgoto e se comportou pior que as kitatas da baixa luandense ou da rua das Pretas, ignorando origens, rasgan-do códigos e éticas, atrás de um prato de lentilhas, mesmo que servido em bandeja babada de cuspo que largam e que lhes permite, hoje, reclamarem ser a voz do dono. A minha condição de fundador e ex-director remetia-me ao papel de mero ouvidor, preferindo o silêncio e reser-vando-me, tal como agora, a reflexões internas, só quebradas, circunstancial-mente, em rodas de amigos.A longa amizade que me liga ao Gus-tavo Costa, que nos conduziu a estar-mos juntos na linha de largada deste projecto de imprensa, não significa unanimismos que, aliás, são visíveis nas diferentes mais de 220 edições que

victor silva*

Dossier

tempos de mudança

A adaptação do jornal aos novos conteúdos de média, além das questões internas da impressão e distribuição, será dos maiores desafios do Novo Jornal

dirigimos juntos e até nos escritos que cada um produzia.Logo, um jornal por ele dirigido tem de ser, necessariamente, diferente, por muitos que sejam os pontos de vista que comungamos sobre o papel dos jornalistas e dos órgãos de comunica-ção social. Haverá lugar, sempre, para opiniões diferentes que nada têm a ver com dogmas ideológicos, como supor que a figura de director-geral seja o “prolongamento da filosofia marxista-leninista que entrou em contra-mão com o modelo de organização empre-sarial”. A figura do CEO é só das mais disputadas no mundo empresarial moderno e sobre isso parece, sim, uma bizarria quem dela não quer abrir mão, mesmo quando douradamente aco-

modado… (Xé menino, não fala polí-tica…)A minha saída da direcção e do jornal abriu um novo ciclo, iniciado por uma nova administração e uma nova direc-ção. É assim a vida, que abre e fecha ciclos à mesma velocidade da dinâmica das sociedades ou mesmo das empre-sas, entre outras.Durante os cinco anos deste projecto inovador e vencedor (um pouco de imodéstia faz bem ao ego) viveram-se vários sub-ciclos, um dos quais foi particularmente interessante quando a administração decidiu desacelerar nos investimentos e o jornal viveu quase que em auto-gestão!Parecia que, na época, tinham sido desenterrados o fervor, o magnetismo

e o romancismo das revoluções, com a malta a reviver utopias e a querer pro-var que podia “viver sem eles” (os do-nos)!!!...Interessante também porque se fize-ram coisas bonitas, muito bonitas mes-mo, como por exemplo a parceria com a Associação Tchyweka que permitiu a publicação de uma série extraordi-nária dos acontecimentos que faziam cinquenta anos e que têm a ver com a nossa História e o percurso que nos conduziu a sermos hoje um país inde-pendente e soberano!Outra beleza desse período de “auto-gestão” foi termos ido aos trinta e cinco anos das independências de todos os países africanos de língua portuguesa, com excepção da Guiné-Bissau, cujo dossier sempre foi acompanhado ao pormenor nas páginas do jornal des-de a sua fundação! Foi uma odisseia e tanto, levar as nossas equipas de repor-tagem às diversas capitais dos PALOP, sem que a administração tivesse larga-do “algum”. Ter visto, por coincidência, o Venâncio Rodrigues e o Ampe Rogério descerem no aeroporto do Sal e aí permanece-rem, praticamente sozinhos, à espera do avião no dia seguinte para a Praia (eu segui para Havana) apimentou esse momento mágico que vivíamos, então, no Novo Jornal.Um jornal de referência, que marca o antes e o depois, por muito que isso reanime úlceras em estômagos calci-nados pelo veneno da inveja e a dor de cotovelo.E um arrebatador de prémios, mesmo e se esse não fosse o propósito quanto arregaçámos as mangas e fundámos o jornal! São tantos que até se perde a

conta, não valendo aqui citá-los com receio de omitir algum. Nacionais, con-tinentais e mundiais! Aká!O Novo Jornal “modelou” a concorrên-cia, o que faz com que tenha obrigações acrescidas junto da opinião pública e desafios maiores quando confrontado com o surgimento de novas publica-ções de formato e estilos diferentes.Uma “pecha” do projecto continua a ser a ausência do “online” que, embora prevista, nunca conseguiu “descolar”, obrigando a utilizar um meio alternati-vo que tem obtido um grande sucesso a todos os níveis.Sabia o leitor que, mesmo não estando “online”, o Novo Jornal chega anteci-padamente, por exemplo, às mãos de José Manuel Durão Barroso, presiden-te da União Europeia, de Madeleine Albrigth, a primeira mulher a assumir a Secretaria de Estado do Governo dos Estados Unidos da América ou a Uni-versidade de Stanford, também nos EUA, onde é “religiosamente” consul-tado e guardado! E que em Cabinda, os serviços de inteligência se interrogam como é possível que alguns cidadãos possuam uma cópia do jornal, antes mesmo dele sair em Luanda?A adaptação do jornal aos novos con-teúdos de média, além das questões internas da impressão e distribuição, será dos maiores desafios do Novo Jor-nal agora que entra no seu quinto ano de publicação, para se manter como a referência do novo jornalismo que se pratica em Angola!Da parte que me toca, fica a grata ima-gem de ter sido o seu fundador!Parabéns!

* Primeiro Director do Novo Jornal

25 Janeiro 2013 09

É também comum o Novo Jornal surgir com inúmeros furos jornalísticos, especialmente direccionados a adivinhar as mexidas palacianas!

adalberto costa Júnior*

inspirado no “exPresso”… A criAção de um novo projecto jor-nalístico, neste caso de um novo se-manário, é sempre um acontecimento relevante para uma cidade, para uma região, ou mesmo para um país. No nosso caso, surgiu primeiro o mujim-bo de que novos projectos estariam a ser lançados, tendo em perspectiva os desafios futuros e a necessidade de alguns dos novos poderes econó-micos internos e não só, procurarem demarcar espaços de opinião.Na verdade, nos últimos anos, gran-des movimentações foram operadas no campo da comunicação social pública e privada. Foram efectuados investimentos milionários no sector da comunicação social, toda ela. Na imprensa escrita desde 2008 surgi-ram pelo menos cinco novos títulos, uma nova televisão e também novas rádios apareceram com o Estado a mediar esta competição de modo não muito leal. Diria como que a brincar, que sur-giram duas novas televisões e que se fechou um dos canais estatais! Aprovou-se muita legislação de maneira a restringir a liberalização de algumas áreas de comunicação, nomeadamente aquela radiofónica e televisiva. Mas atenção, pois existem por ai exemplos que podem fazer jurispru-dência e obrigar o governo a con-ceder forçosamente alguns alvarás. Seria bastante interessante abrir de facto o sector da comunicação social a criatividade e competitividade do empresariado nacional. O Novo Jornal surgiu em força em 2008! Em força porque movimentou um conjunto de quadros de refe-rência consolidada e naturalmente, foi notícia! Surgiu no início formal-mente ligado a ESCOM, pertencente ao Grupo Espirito Santo. Estariam garantidas as necessárias condições para enfrentar com alguma tranqui-lidade a fase subsequente ao seu surgimento.O projecto jornalístico foi-se afir-mando ao longo destes cinco anos e posso mesmo dizer, que se distin-guiu. Fiquei sempre com a impressão que o Expresso terá inspirado o mo-delo, pela formatação dos cadernos e alguma filosofia de conteúdos.Interessante dizer que respondia então pela área da comunicação da ESCOM uma minha antiga colega de turma na Escola Comercial e Indus-trial de Benguela, Carolina Dala, nos

longínquos anos pós independên-cia, altura marcadamente revolucio-naria. Creio mesmo que ela foi o primeiro pivot da televisão em Benguela. Fi-quei orgulhoso ao reencontra-la, uma angolana, com responsabili-dades de chefia numa holding de referência. Se faço um olhar crítico, e importa referir que uma crítica pode ser po-sitiva ou negativa, verifico que ge-ralmente o Novo Jornal procura ter a opinião dos diferentes actores políti-cos. Tem uma boa revisão dos textos. Também procuram com regularidade ouvir o porta-voz da UNITA e este é de opinião que o jornal tem sido fiel na transcrição das suas declarações. Isto é bom pois a nossa praça vai de mal a pior nos maus hábitos da cen-sura, de se efectuarem cortes lá onde não convém. Também muito positi-vo o Dossier, procurando oferecer ao leitor uma visão sob diferenciados ângulos da temática escolhida. Positiva a oferta de conteúdos eco-nómicos oferecendo aos leitores e aos empresários informação diferen-ciada de âmbito económico. Falando em matéria de capas, notou-se uma elevada presença das faces governa-tivas. A UNITA habitualmente tem as honras do centro da primeira página quando a notícia é negativa. É também comum o Novo Jornal sur-gir com inúmeros furos jornalísticos, especialmente direccionados a adivi-nhar as mexidas palacianas! Qual o jornalista que deita fora a oportuni-dade de uma boa antecipação?Olhando para os colaboradores, vejo-os de peso, mas seria talvez muito interessante compor mais o grupo. Juntar mais uma cores e tentar com-por um arco-íris, ganhando o jornal na abrangência das temáticas. Para fechar o olhar de retrospectiva críti-ca, mais uma constatação: com ex-cepção do correspondente de Malan-ge, todos os outros encontram-se na faixa litoral urbana, o que certamen-te tem como consequência um maior percentual de informação direccio-nada a esta linha que de algum modo atira para segundo plano o interior do país. Termino dando os Parabéns pelos 5 anos, augurando longa existência, pautando sempre pelo pluralismo, cada vez mais raro.*vice-Presidente do Grupo Parla-mentar da UNitA

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Director Gustavo Costa

ECONOMIARefriangoAposta no Índico>> P. 04

1.º CADERNODossierCriminalidadefeminina alta>> P. 02

Luanda 200 Kwanzas - Províncias 250 Kwanzas

Edição nº 253 - 23 de Novembro de 2012

Parlamento

Segundo a Forbes

Kangamba renuncia

Crise na RDC

MUTAMBAAna G. MarquesA dança contemporâneana temporada de 2012>> P. 06

Água dura tanto bate até que fura...

Rebeldes do M23entraram em Goma

>>P. 31

>>P. 06

>>P. 25

Mãozinha de preconceitosDe vários chefes de Estado

Novo Jornal destapa folha de salários

>>P. 08

Conselho de Administração nas mãos de Ramos da Cruz

>> P. 10

Emídio Rangel e as traquinicesda justiça portuguesa

>> P. 28

Isabel dos Santos entre os 40 mais ricos de África

O ministro ou o Presidente?

JORNALISMO DE REFERÊNCIA.

Director Gustavo Costa

ECONOMIAEnsinoAcademia BAIvira universidade>> P. 11

1.º CADERNODossierAumentam os casos de cancro da mama>> P. 02

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Edição nº 252 - 16 de Novembro de 2012

Guiné-Bissau

EUA

Gala de beneficiência

Parqueamento na Baía

Excessos despromovemcomandante da Africom

MUTAMBASérgio PiçarraO desnorte da BandaDesenhada em Angola>> P. 06

Elton John e Grey Gooseunidos contra o VIH

Preços “pornográficos”geram abaixo-assinado

>>P. 31

>>P. 28

>>P. 13

Quem manda no Kilamba?

Xi JinpingCorrupção na agenda do novo timoneiro do Partido Comunista da China

>>P. 24

Aumenta pressão sobre jornalistas

>> P. 06

Desencontrados

>> P. 30

JORNALISMO DE REFERÊNCIA.

Director Gustavo Costa

ECONOMIAHP AngolaTecnologia egrandes negócios>> P. 06

1.º CADERNODossierOs 37 anos de Independência>> P. 02

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Edição nº 251 - 9 de Novembro de 2012

Sonangol

China

Guiné-Bissau

A rendição da guarda

MUTAMBAFilipe ZauO ensino e a educação>> P. 06

Reforma deixa militares com um pé atrás

>> P. 22

>>P. 28

Eleições americanas

O MUNDO QUERIA OBAMA

Caso Quim Ribeiro contaminado

>> P. 12

Ordem dos advogados põe Tonet na ordem

>> P. 26

>>P. 30

Venda de diesel à Siriasob a lupa dos EUA

JORNALISMO DE REFERÊNCIA.

Director Gustavo Costa

ECONOMIAEmpresas PúblicasUm raio-X para memória futura>> P. 05

1.º CADERNODossierO diade finados>> P. 02

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Edição nº 250 - 2 de Novembro de 2012

Tributo

Moçambique

Tarefa ciclópica do ministérioda Energia e Águas

Furacão

«É Luanda» reavivaAndré Mingas

Dhlakama reabreferidas na Gorongosa

>> Mutamba

MUTAMBAJacques dos Santos“Ler é uma festa»>> P. 06

Correratrás do prejuízo

Sandy lança o caosna América

>> P. 28

>> P. 25

>>P. 24

>> Entrevista na página 08

Dramaturgia de Mena Abrantesarrebata Prémio Nacional da Cultura

Literatura

>> P. 15

Guiné-BissauGoverno expulsadelegado da RTP

Uma lupa para o florescimento do PaísA todos quantos integram o Novo Jor-nal, por ocasião do seu 5. aniversário, apresento os mais sinceros parabéns e votos de que continuem a pugnar por uma informação cada vez mais séria, isenta, responsável e credível, fazen-do valer o princípio e o direito consti-tucional de livre acesso à informação, contribuindo para a formação dos nossos compatriotas e para o reforço da democracia plural no nosso queri-do País, que todos amamos e que to-dos queremos ver desenvolvido.O “Novo Jornal” desde cedo mostrou ser diferente de muitos, por muitas e diferentes razões. Desde logo porque alguns dos seus fundadores e profis-sionais ao seu serviço, são quadros da Informação, com excelente formação e longos anos de “tarimba”, sendo, por isso mesmo, jornalistas de facto, com perspicácia, savoir-faire, experi-ência e amor à profissão, sem precon-ceitos e defensores acérrimos de uma informação cujo objectivo único seja o de apresentar os factos, despidos de maquilhagens com interesses ínvios ou com objectivos inconfessos como é co-mum ver-se em muito do que se produz na nossa comunicação social.Esse esforço, perceptível a quem, como nós, lê o vosso semanário, en-tusiasma-nos, enquanto partícipes do processo de construção do edifício da comunicação e faz-nos acreditar que as insuficiências e deformações que vamos constatando são passíveis de correcção e que quanto maior e me-lhor for a formação de todos quantos se pretendem jornalistas, maiores e melhores serão os níveis de qualidade dos serviços que prestarão à socieda-de. Essa convicção advém do facto de constatar, diariamente, que existe, em todas as áreas da Comunicação Social, imensos quadros ávidos de aprender e de fazer cada vez melhor o seu trabalho de informar.Sem complexos, é legítimo reconhecer que o vosso exemplo constitui o rumo a seguir, não obstante sabermos que o percurso é longo e que temos de ser persistentes no sentido da valorização da “classe jornalística” e do serviço que esta presta à sociedade.A Comunicação Social, no seu todo, vive do que a própria sociedade pro-duz. Naturalmente, como em qual-quer outra área profissional, existem bons e maus jornalistas, o que facilita a destrinça entre uns e outros. Os bons continuarão o seu rumo, fruto do re-

conhecimento daqueles que acom-panham a sua trajectória, os outros (há imagem do que tem acontecido com muitos) ficarão pelo caminho, à procura de culpados para a sua frus-tração, incapacidade e falta de discer-nimento para distinguir “informação” de “opinião”.A abertura à Comunicação Social Privada trouxe consigo o mesmo fe-nómeno que verificámos aquando da democratização das Federações Desportivas. Muitos, porque tinham alguns kuanzas excedentes, entende-ram “abocanhar” aquelas instituições. Fizeram-no, mas foi passageiro.Hoje, a apetência para a criação de títulos, não para melhorar os níveis de informação, mas, em imensos casos, para servirem de meio de protecção de outros interesses que nada têm a ver com o objecto social desses Órgãos, é visível a olho nú. Neste emaranhado de interesses, ainda vai havendo espaço para o reinado da mediocridade, mesmo que de maneira efémera. Ou seja, ainda vai havendo espaço para uns quantos “achistas”, como diria o João Melo, e outros quan-tos “fetichistas”, mascarados de Jorna-listas, que tudo vêm, tudo sabem, tudo adivinham, mas que em nada acertam. Não deve ser fácil para os defensores da linha editorial, manter o “Novo Jornal” longe dessa realidade. Mas, é por saber dessa dificuldade, que admiro, cada vez mais, esse e alguns outros projectos que vão pugnando por uma informa-ção isenta, equidistante e balanceada pelo contraditório, valorizando o facto em detrimento da opinião de quem os deve relatar.Por isso mesmo, permitam-me que lhes sugira (ao Novo Jornal e a todos os títulos que apostaram na melhoria da qualidade do Jornalismo Angolano) um melhor e maior aproveitamento dos jovens que as nossas Universidades e outras instituições vão formando, no domínio da Comunicação Social, ofere-cendo-lhes emprego, sempre que pos-sível, e evitando que sejam inoculados por vírus que os deformem à nascença.Estou convicto de que teremos o “Novo Jornal” por muitos e muitos anos a servir-nos de lupa para que vejamos melhor o florescimento do nosso País e possamos sentir o aroma da felicidade do nosso Povo.Bem hajam, todos os Responsáveis, Jornalistas e Funcionários do “Novo Jornal”.* secretário de informação do mPLA

rui Pinto de andrade*

10 25 Janeiro 2013

cinco anos depois o que mudou no mundo?O 11 de Setembro de 2001 tornou os primeiros anos do novo milénio na década da ameaça do terrorismo islâmico. Contra ele se fizeram guerras, enquanto a economia do mundo entrava em colapso. Dois acontecimentos nucleares para perceber o que foram os últimos cinco anos

2008, ano de lançamento do novo Jornal, marca um ponto de viragem num mundo em convulsões, desde que os atentados do 11 de Se-tembro de 2001 nos EUA mudaram a concepção de segurança interna e colocaram o terrorismo islâmico no mapa.George W. Bush prometeu um mundo mais seguro, quando a 29 de Janeiro de 2002 discursou sobre o Estado da Nação, altura em que declarou guer-ra ao terrorismo e traçou um eixo do mal, composto pelo Irão, Iraque e Coreia do Norte, países que tinham programas nucleares.Mas Bush filho, não só não venceu a guerra contra o terrorismo, como tornou o mundo mais inseguro ao fomentar a intolerância contra o mundo muçulmano. Enquanto a administração norte-americana se

embrenhava em guerras no Afega-nistão e Iraque, a 15 de Setembro de 2008, a falência do Lehman Brothers fez eclodir a maior crise financeira e económica mundial, que começou a germinar um ano antes com a der-rocada do mercado de empréstimos imobiliários de risco (o crédito do subprime). A crise desencadeou uma espiral de desemprego que se man-tém até hoje.À crise financeira, juntou-se a mul-tiplicação de focos de instabilidade no Iraque, Paquistão (que se tornou, a par do Iémen, um celeiro do terro-rismo islâmico) e Afeganistão, numa receita que conduziu a um momento histórico: a 4 de Novembro de 2008, os eleitores norte-americanos ele-gem, pela primeira vez, um negro para a Presidência dos EUA, Barack Obama.2008 foi também o ano em que a guerrilha das FARC (Forças Armadas da Colômbia) sofreram um duro re-vés, quando o exército colombiano liberta a franco-colombiana Ingrid Betancourt, ex-candidata à presi-dência daquele país sul-americano, depois de passar seis anos em cativei-ro na selva. A operação liberta outros 14 reféns.Com poucos meses de vida, o Novo Jornal testemunhou, em directo, as mudanças no tabuleiro do xadrez político, tornando-se parte activa na difusão dos acontecimentos que mu-daram o mundo.

caça ao Homem e atentadoSMas para perceber as mudanças ocor-ridas em 2008, é preciso recuar aos acontecimentos de 2007. No Iraque do pós-guerra, os atentados e mas-sacres sucedem-se, aumentando a contabilidade de civis mortos, bem como de militares das forças interna-cionais, em particular dos EUA, que se revelam incapazes de pacificar o país, após a queda de Saddam Hus-

sein em 2003.A caça ao líder da Al-Qaida, Osama Bin Laden, autor dos atentados do 11 de Setembro que mataram 2.996 pessoas nos EUA, centrava-se nas montanhas agrestes do Afeganistão e, no vizinho Paquistão, a Adminis-tração norte-americana, perdia um velho aliado, Pervez Musharraf, e um importante pivot na luta contra o terrorismo, que pôs a nu os métodos utilizados pela CIA. Contra ordens judiciais, o serviço de espionagem norte-americano admi-te em 2007 ter destruído vídeos que documentam os interrogatórios a suspeitos de terrorismo ligados à Al-Qaida e um ex-agente revela o uso de técnicas de tortura durante as inqui-rições. O Congresso americano pede explicações sobre o caso. O Presidente George W. Bush recusa-se a comentar a polémica, mas as técnicas usadas pela CIA entram na ordem do dia.Após passar vários anos no exílio, a ex-primeira ministra Benazir Bhutto regressa ao Paquistão para dispu-tar as eleições legislativas de 8 de Janeiro, mas, a 27 de Dezembro, é assassinada, durante uma acção de campanha. É o seu marido, Asif Ali Zardari, que assume o comando do Partido do Povo do Paquistão, que é eleito Presidente em Setembro de 2008 e assume o cargo ocupado por Musharraf. Os EUA perdem um aliado e influência no Paquistão, que se tor-na num terreno fértil para os talibans e ao mesmo tempo num campo de recrutamento da Al-Qaida. Os aten-tados sucedem-se e a instabilidade no Paquistão agudiza-se, irradiando para os países vizinhos.Em Novembro de 2008, uma série de atentados em Mumbai, reivindicados por um grupo denominado «Mujahe-dines de Deccan”, espalham o terror pela capital financeira da Índia. Nova Deli e Washington atribuem o ataque, que fez 163 mortos e mais de 300 fe-

ridos, a um grupo islâmico com base no Paquistão.

Por QUe no te callaS?Regressando a 2007, no Irão, o Pre-sidente Mahamoud Ahmadinejad anuncia, em Novembro, que o país alcançara um marco no desenvolvi-mento do seu programa nuclear, ao colocar em funcionamento três mil centrifugadoras de enriquecimento de urânio. E, a 10 de Novembro, numa reunião da 17ª Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo, em Santiago de Chile, o rei de Espanha, Juan Carlos I, manda calar o Presi-dente da Venezuela, quando Hugo Chávez chama o então primeiro-mi-nistro espanhol José Maria Aznar de “fascista”. O “por que no ta callas?” correu mundo e abriu uma crise nas relações políticas, diplomáticas e económicas entre a Venezuela e Es-panha. 2007 não foi, de resto, um bom ano para Hugo Chávez. O Presidente vene-zuelano assume, a 10 de Janeiro o seu terceiro mandato, mas a sua proposta para a reforma constitucional – que lhe permitiria disputar a reeleição in-definidamente – é derrotada num re-ferendo popular. Em 2012, volta a ser reeleito, mas a quarta operação a um cancro na zona pélvica impede-o de tomar posse a 10 de Janeiro de 2013.A 28 de Outubro, Cristina Kirchner torna-se a primeira Presidente da Argentina, ao ser eleita com 45% dos votos à primeira volta, sucedendo ao seu marido, Néstor Kirchner. Cristina terá como grande desafio o controlo da inflação e elege como prioridade a conclusão dos julgamentos iniciados no governo Kirchner contra integran-tes da última ditadura militar.2007 também coloca Myanmar, anti-ga Birmânia, no mapa. Um protesto contra o aumento nos preços dos combustíveis transforma-se na maior

Dossier

ISABEL COSTA BORDALO*

25 Janeiro 2013 11

ano de lançamento do novo jornal, marca um ponto de viragem num mundo em convulsões, desde que os atentados do 11 de Setembro de 2001 nos EUA mudaram a concepção de segurança interna e colocaram o terrorismo islâmico no mapa

manifestação pró-democracia no país em 20 anos. No dia 24 de Setem-bro, cerca de 5000 monges budistas vão para as ruas protestar contra a junta militar que governa há mais de quatro décadas naquela que ficou conhecida como a Revolução do Aça-frão. O governo reage e expõe, uma vez mais, a violência do regime. Pelo menos, 31 pessoas morrem.Um ano depois, é a Tailândia que sal-ta para as primeiras páginas, quando a 2 de Dezembro, a Corte constitucio-nal ordena a dissolução do partido no poder, por corrupção, depois de oito dias de manifestações contra o go-verno, que levaram ao encerramento de dois aeroportos. Mais de 350 mil passageiros ficaram bloqueados.

FIdel cede o Poder Em França, a 6 de Maio de 2007, o candidato conservador Nicolas Sarkozy, de 52 anos, é eleito Presi-dente e promete reformar o gene-roso sistema de benefícios sociais do país, desencadeando uma greve geral no sistema de transportes. E, a 25 de Novembro, a morte de dois adolescentes durante uma perse-guição policial provoca uma onda de violência num subúrbio de Paris. Durante dois dias consecutivos, ata-ques deixam um rasto de dezenas de carros queimados e estabeleci-mentos destruídos.Na Irlanda do Norte, os principais partidos católico e protestante che-gam a acordo para a divisão do po-der, pondo termo a três décadas de conflito do IRA (Exército de Liber-tação Irlandês), que fizeram, pelo menos, 3.500 mortos.Em Portugal, o desaparecimento de Madeleine McCain, de quatro anos, de um complexo turístico na região do Algarve emociona o mundo. Os pais da menina inglesa chegam a encontrar-se com o Papa Bento XVI em Roma, pouco antes de se torna-rem suspeitos. E os sistemas de aler-ta para o desaparecimento de meno-res são revistos em todo o mundo.Em Fevereiro de 2008, Fidel Castro, já doente, resigna e cede o poder ao irmão Raúl, abrindo caminho a mudanças constitucionais que, nos anos seguintes, começam a ser im-plementadas em Cuba. Apesar da re-signação, George W. Bush não retira as sanções impostas a Cuba.A China é alvo de dois grandes acon-tecimentos em 2008. Em Maio, a província de Sichuan é devastada por um terramoto, de 7,8 graus na escala de Ritcher, que provoca 80 mil mortos. Mas fecha o ano em grandeza, ao organizador em Agos-to, com grande pompa, os Jogos Olímpicos de Pequim, que tornaram o norte-americano Michael Phelps num fenómeno ao conquistar oito medalhas de ouro, vencendo todas as provas que disputou. *editora de sociedade

crise económica alastra à europa e ameaça dólarUm dos acontecimentos que abala-ram o mundo em 2007 foi o ataque na Universidade Técnica de Virginia (nos EUA), o maior massacre a tiro na história do país, que resultou na morte de 33 pessoas. A discussão que se gerou na altura deu lastro ao debate desencadeado pelo mas-sacre no liceu de Columbine, no Colorado, em 1999, onde morreram 15 pessoas, mas não teve conse-quências. Se há realidade no mundo que não mudou, nestes últimos cinco anos, foi esta. Os tiroteios nos EUA con-tinuaram a ocorrer e 2012 foi um ano particularmente dramático, com um saldo de 48 mortos em três ataques, o último dos quais numa escola primária de Newtown, onde morreram 20 crianças e sete adul-tos. Só depois do massacre de Newtown, a 14 de Dezembro de 2012, é que o Presidente dos EUA encara com determinação a guerra contra as armas e lança uma proposta para o controlo da venda de armas auto-máticas, dias antes da tomada de posse do seu segundo mandato.Barack Obama também pouco con-seguiu mudar na guerra contra o fundamentalismo islâmico que pôs o mundo ocidental e o muçulma-no de costas voltadas, apesar do discurso conciliador do Cairo, pro-ferido um ano depois de ser eleito, durante uma visita ao Egipto, em 2009, uma das primeiras como Pre-sidente dos EUA.Obama não conseguiu grandes avanços na pacificação do Iraque e Afeganistão, assistiu ao recrudesci-mento da violência no Paquistão, não fechou a prisão de Guantána-mo, como prometeu quando tomou posse, e continua a lidar com um país ainda não restabelecido da crise financeira de 2008, havendo quem prognostique que o dólar vai colapsar em breve. No último relatório do LEAP (La-boratório Europeu de Antecipação Política), este “think tank” prevê sérias dificuldades para a economia norte-americana e sugere mesmo como provável o colapso do dólar, devido à incapacidade do país em pagar a dívida e de os seus credores se irem confrontar com a inevita-bilidade de terem de deixar cair a moeda americana.O LEAP sublinha como irreal a apos-ta dos EUA em pensar que o resto do mundo estará sempre disponível para “manter a respiração artifi-cial” à sua economia e admite que essa condição está a chegar ao fim, nomeadamente, com o fracasso da sua estratégia para descredibilizar as outras moedas, o que conduzirá,

admite este laboratório de análise europeu, ao colapso final da eco-nomia norte-americana e do dólar, provavelmente já em 2013.

morte do InImIGo nº 1A grande conquista do Presidente norte-americano foi a morte de Osama bin Laden, o inimigo núme-ro 1 da América, no dia 2 de Maio de 2011, durante a Operação Lança de Neptuno, levada a cabo por um comando especial, em coordenação com a CIA, no refúgio onde o líder da Al-Qaida vivia, no Paquistão. O cadáver de bin Laden foi lançada ao mar, para evitar que a sua cam-pa se transformasse num local de romaria, e as relações entre os dois países ficaram mais tensas por a operação ter sido realizada sem o conhecimento do Paquistão.A América também estremeceu, em 2010, quando o WikiLeaks divulgou grandes quantidades de documen-tos confidenciais do governo dos EUA, com forte repercussão mun-dial. A organização, criada com o objectivo de divulgar na internet documentos secretos, deu a noção que o mundo tinha paredes de vi-dro, mas depressa foi estrangulada financeiramente e o seu líder, o australiano Julian Assange, enfren-ta um processo judicial, por prática de crimes sexuais na Suécia, que o mantém refém na embaixada do Equador em Londres.A crise na zona Euro e a Primavera Árabe foram os dois grandes acon-tecimentos dos últimos cinco anos. A primeira pôs vários países euro-peus à beira da bancarrota, como a Grécia, Irlanda e Portugal, que ti-veram de pedir ajuda externa, e ou-tros, como Espanha e Itália, à beira do resgate. O desemprego nestes países acelerou e a discussão sobre o Euro ainda não acabou, apesar das garantias de que a moeda europeia

é para manter. Esta semana, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, anun-ciou a realização de um referendo sobre a saída da União Europeia, se vencer as eleições de 2013. Notícia que irritou os restantes líderes po-líticos europeus, que acusaram Ca-meron de jogar um jogo perigoso.Em contraste com o cenário previs-to para os EUA, o LEAP sublinha no seu último relatório que o espaço europeu e a sua moeda única, o Euro, se revelarão como um espaço de segurança económica por se ter preparado melhor, com os distintos planos de austeridade, para o em-bate.A Primavera Árabe, em 2011, que eclodiu na Tunísia, após manifes-tações populares, alastrou-se aos países vizinhos do norte de África, provocando a queda dos regimes da Tunísia, Egipto e Líbia, e es-tendeu-se ao médio oriente, onde confrontos entre o governo e for-ças rebeldes se mantêm na Síria. As redes sociais, como o Facebook e o Twitter, sobressaíram como protagonistas na Primavera Árabe. Ao permitiram furar a censura e os bloqueios à liberdade de expres-são, ajudaram os manifestantes a organizar-se e deixaram claro que as paredes erguidas para suster a informação, na era digital, deixa-ram de ser eficazes. Basta um tele-móvel para abrir buracos.

o PolÍtIco maIS Bem SUcedIdoA Noruega, país pacifista, acorda na manhã de 22 de Julho de 2011 para o difícil drama do terrorismo interno, quando Anders Breivik, um militante da extrema-direita, faz detonar uma carrinha com explosivos no centro de Oslo e ruma à ilha de Utoya, onde decor-ria um acampamento de verão do movimento da Juventude Social-

Democrata, partido do governo. O balanço dos mortos cifra-se em 77. O governo e a população reagem, abraçando os valores do multicul-turalismo, que Breivik quis des-truir.Na Rússia, um duplo ataque sui-cida perpetrado por mulheres no metro de Moscovo, em hora de ponto, faz 38 mortos e centenas de feridos. O ataque foi perpetrado por mulheres ligadas a grupos re-beldes do norte do Cáucaso.No Brasil, uma mulher sobe ao car-go de Presidente, depois de Lula da Silva, nos seus dois mandatos, catapultar o país no panorama po-lítico internacional. Dilma Rousseff herda uma economia pujante le-gada pelo Presidente que a revista Times considerou uma das 100 pes-soas mais influentes do mundo em 2010 e que chegou a ser considera-do o “político mais bem-sucedido do seu tempo”. E tem pela frente dois grandes desafios: O Mundial de Futebol de 2014 e os Jogos Olím-picos de 2016, para os quais iniciou o processo de pacificação das fave-las, com o objectivo de desmantelar os grupos de narcotráfico e tornar o Rio de Janeiro mais seguro para os milhões de visitantes esperados. Nestes últimos cinco anos, vários desastres naturais assolaram o pla-neta. Num ano marcado por sismos em vários países, 2010, um terra-moto sacudiu o Haiti, provocando 230 mil mortos, 300 mil feridos e três milhões de desalojados e, em 2011, um sismo seguido de tsuna-mi, causa 13.333 mortos e 16 mil desaparecidos no Japão. Danos na central nuclear de Fukushima colocam o Japão sobre ameaça de um desastre nuclear e desencadeia um debate mundial sobre a energia nuclear.As alterações climáticas são alvo de atenção em todo o mundo, mas a conferência da ONU em Copenhaga para a aprovação de um plano de defesa do planeta para substituir o Protocolo de Quioto revela-se um fiasco. Os mais de 15 mil delega-dos, incluindo chefes de Governo de 191 países não se entendem e as decisões fundamentais, como um compromisso sobre a redução das emissões de gases de efeito de estu-fa, são relegadas para a conferência do Rio de Janeiro, em 2012, e, no Rio+20, são novamente adiadas.No termo de 2012, a Palestina al-cança uma importante vitória ao ver aprovado o estatuto de observa-dor das Nações Unidas, equivalente a um reconhecimento indirecto do Estado Palestiniano por parte da comunidade internacional. I.c.B.

Dossier 2008,

12 25 Janeiro 2013

Dossier

“Antes” e “depois”

Graça Campos*

Lembro-me bem: com os convida-dos atentos a Victor Silva, que apre-sentava o novo título jornalístico, um outro Victor, o Aleixo, que esta-va sentado umas três ou quatro filas adiante, virou-se para mim e falou alto o suficiente para que outras pes-soas ouvissem: “ ó Graça estás lixado. O reinado do Semanário chegou ao fim!”.Como a generalidade dos presentes, suponho, o V. Aleixo ficou impressio-nado com o Novo Jornal. Um jornal totalmente colorido e com um grafismo irrepreensível não é coi-sa a que os nossos olhos já se tives-sem acostumado em Angola.Como o V. Aleixo, um experimenta-do homem de imprensa, eu também decifrei uma outra mensagem “im-pregnada” no exemplar que tinha em mãos: a força financeira do Novo Jor-nal. Em Janeiro de 2007 não estava ao alcance de qualquer um Imprimir um jornal de três cadernos a côres na Lito Tipo. Naquele fim de tarde marcaram presença no Chê, a antiga casa de trânsito da Endiama que o “Lucas” transformou num dos espaços mais solicitados e onde se fazia a apre-sentação do novo título, todas as pessoas que “contam” em Luanda: empresários bem sucedidos, ban-queiros e bancários, gestores de grandes empresas. Enfim, estava lá toda essa gente que decide quando e onde pôr a publicidade que sustenta os jornais. Por isso, aquela observação do V Aleixo soava aos meus ouvidos como uma advertência, mas também a certeza de que com o surgimento do Novo Jornal começariam dias difíceis para a concorrência, sobretudo para o Semanário Angolense, que até ali reinava soberano.Depois de meia taça de vinho, que emborquei a muito custo, sai sorra-teiramente do Chê. Durante a noite reflecti imenso e no do seguinte, às 8h30, já estava reu-nido com o Severino e o Candembo para, juntos, ajustarmos o Semaná-rio Angolense à nova realidade. O encontro durou pouco mais de 10 minutos mas no final concluímos que não havia que subtrair ou adicionar uma vírgula que fosse ao “Código ge-nético” do jornal. O SA continuaria ousado, perspicaz e, sobretudo, sem medo nenhum de in-comodar ou perturbar os poderosos.

As semanas seguintes provariam que não alterar nada foi uma decisão muito feliz. O Semanário Angolense continuava tranquilamente na lide-rança dos jornais de fim de semana, sem nenhum concorrente por perto a pressionar-lhe os calcanhares.Embora nunca lhe tivesse feito qual-quer sombra ou o tomasse como um modelo a imitar às cegas, é ao Novo Jornal a quem o Semanário Ango-lense deve algumas das mais impor-tantes decisões que tomou. Alterar o formato, o grafismo, o tipo de papel em que era impresso e outros esforços de modernização foram claramente inspirados pelo NJ.Até Maio de 2010, altura em que o Se-manário Angolense mudou de mãos, não se tinha concretizado a “premoni-ção” do Victor Aleixo. Até ali o jornal esteve permanentemente à frente dos seus concorrentes, fidelizando milha-res de leitores semanas após semanas.Mas o SA foi buscar ao Novo Jornal inputs que lhe tornaram mais fácil a vida. Separar a notícia da opinião é outro terreno em que o exemplo do NJ inspirou o SA e outros jornais. Semana após semana era encorajador consta-tar, nas colunas do NJ, que o jornal não se furtava a dar a opinião. Mas ela estava circunscrita ao editorial.Por isso, não é favor nenhum registar aqui que o surgimento do Novo Jornal marcou um “antes” e um “depois” na imprensa angolana.* Primeiro director do “Semanário Angolense”

(...) É ao Novo Jornal a quem o Semanário Angolense deve algumas das mais importantes decisões que tomou

25 Janeiro 2013 13

JORNALISMO DE REFERÊNCIA.Director Victor Silva - Director Adjunto Gustavo Costa - Edição nº 214 - 24 de Fevereiro 2017 - Luanda 200 Kwanzas - Províncias 250 Kwanzas

MUTAMBACarnavalTroféudobrado

>> P. 10

ECONOMIA EUA Transparênciacerca petrolíferas>> P.08

1.º CADERNOPacote eleitoralOposição prepara boicote>> P. 08

Álvaro Sobrinhoilibado

Zangado chora...

Kilamba às escuras

Justiça portuguesa

Mateus Pelé

Sem água

>> P. 02

GRECIA estoirou!

Umvulcão adormecido

>> P. 23

>> P. 06

>> P. 11

DETERMINAÇÃO PRESIDENCIAL

GUINÉ-EQUATORIAL

MANUEL ANTÓNIO e AMPE ROGÉRIOEnviados especiais

>> P. 23

carta de um parceiroUm concorrente? Não. Um parcei-ro é a classificação certa. Embora o semanário A Capital e o Novo Jornal, que agora completa mais um ano de existência, persigam os mesmos ob-jectivos e actuem no mesmo sector enquanto agentes económicos há uma multiplicidade de aspectos pelos quais ambas as publicações se com-pletem. Ou seja, o mercado jornalístico ango-lano, hoje, não pode dar-se ao luxo de prescindir da existência de um ou de outro título: cada um, a seu modo, ocupa o seu espaço e faz-se semanal-mente uma referência no universo jornalístico angolano.Não é de agora que olho para as coi-sas sob essa perspectiva. Quando a primeira edição do Novo Jornal saiu à rua, já lá estávamos, nós, a lutar há uns quantos anos no mercado. Se, por um lado, trata-se de uma publi-cação mais jovem, comparada com o Semanário A Capital, por outro lado olho para ela com a deferência com que se deve tratar os mais velhos. E a razão é simples. Afinal, à frente do Novo Jornal estão profissionais que têm de anos de jornalismo o mesmo número de anos de idade ostentado por aqueles que dirigem, eu próprio incluído, o A Capital. Nomes como Victor Silva, hoje de fora do projec-to, e Gustavo Costa, actual director, influenciaram a opção de jovens da minha geração pelo jornalismo. Têm, ambos, um percurso profissional invejável. Não são, apenas, directores de jornais, ou figuras de destaque do jornalismo escrito. São, sobretudo, referências do jornalismo angolano.Parece, agora, mais fácil entender a razão pela qual olho para os dois se-manários, portanto, para o Novo Jor-nal e para o A Capital, como parceiros e não como concorrentes. Ademais, a própria estrutura editorial do Novo Jornal é determinante para que as coisas assim sejam. É um semanário generalista, mas dá enfoque à cober-tura de assuntos de natureza política e económica. É, nesta segunda particularidade, que acho uma das maiores virtudes deste grande parceiro que é o Novo Jornal. O seu caderno de economia é deveras bem concebido. Engloba, nas suas diversas edições, informa-ção variada sobre a vida económica nacional, mas também, vez ou outra, traz análises pertinentes muito ao estilo de António Freitas, jornalista económico que se ocupou, nos pri-

meiros anos da publicação, da edição das páginas de economia.A editoria de política também não fica atrás. Aprecio, aqui, os furos re-gularmente apresentados pelo Novo Jornal. Falo, claro, das matérias pu-blicadas em primeira mão, denun-ciando uma relação privilegiada entre o director do jornal e as suas fontes de informação. Acredito, muito sinceramente, que isso é consequência do tempo. Ve-jamos o facto de muitas das figuras hoje em cargos importantes da vida pública nacional serem contemporâ-neos dos jornalistas fundadores do Novo Jornal com os quais mantêm, inclusive, relações privilegiadas. Mas há que destacar, ainda, a quali-dade de algumas colunas publicadas neste periódico. A começar pela “Pa-lavra na Hor@gá”, do seu director, assistimos a uma espécie de desfile es-tático de textos gramaticalmente bem escritos e ricos em conteúdos produ-zidos por Fernando Pacheco e outros, embora houvesse, pelo meio, alguns plagiadores cujo crivo da direcção do jornal foi suficiente para afastá-los de cena.Sugere a decência que não se deve cri-ticar alguém em sua própria casa. Mas o Gustavo Costa orientou-me a que, ao escrever essas linhas, não olhasse apenas para os aspectos positivos. É o próprio dono de casa quem sugeriu que o achincalhasse dentro das suas 46 páginas quando, na verdade, não há muito por criticar. Devo, no en-tanto, dizer que a quali-dade de impressão, hoje disponível no mercado, não se compadece com o actual perfil gráfico do Novo Jornal. Se pretende fazer mu-danças, a direcção desta iniciativa edi-torial deveria come-çar por aí, mudan-do o seu layout, modernizando-o e nivelando-o a ou-tras publicações nacionais que hoje oferecem uma aparência mais arejada e mais convi-dativa para a leitura. O tratamento c o n f e r i d o à fotografia também

carece de redefinição. Estão, no Novo Jornal, enquadrados fotógrafos, cujo trabalho, porém, é insípido por conta de um tratamento editorial que me-nospreza justamente o uso de uma boa imagem. Por fim, entendo que se deve imprimir mais criatividade aos títulos das maté-rias, de um modo geral, mas em parti-cular aos de capa. Embora não estejam errados, os títulos aos quais recorrem os profissionais do Novo Jornal estão mais para a velha escola de jornalismo, mais para trabalhos expeditos pelas agências de notícias que propriamen-te para um semanário.Longe de ser um exercício de imo-déstia, as considerações acima são, apenas, resultado das apreciações de alguém que respeita a publicação, que todas as semanas não hesita em sacar dos seus tostões para a adquirir, não apenas por obrigações profissionais, mas também por puro prazer de leitu-ra. Não me tenho desiludido. Pelo con-trário. Nessa sarjeta em que se está a transformar o jornalismo angolano, é reconfortante saber que há gente que nos acompanha na tentativa de fazer diferente, embora haja ventos fortes a soprar contra. Mas essas são, como diz o outro, mágoas de outro rosário. Parabéns ao Novo Jornal e que a agi-lidade dos directores e a persistência dos accionistas sejam predicados su-ficientes para ultrapassar esses tem-pos críticos difíceis de manejar, hoje vividos pela generalidade da imprensa privada. *Director da capital

Tandala FranCisCo *

Dias intermináveis de escrita e de reescritaO convite surgiu inesperado, mas mereceu resposta rápida. Era im-possível recusar o desafio. Ir até Luanda dar formação e apoiar o lançamento de um novo projecto jornalístico, independente, de referência em Angola. Estávamos em Dezembro de 2007 e o semanário Novo Jornal tinha encontro marcado com os leitores para meados de Janeiro de 2008. Cumpridas as formalidades, fez-se o caminho. Dia 05 de Janeiro aterrava em Luanda. Dois dias depois pousava na redacção do Novo Jornal, na Rainha Ginga. Arrancava uma nova fase da mi-nha vida profissional – seis meses de formação “on job”, na redac-ção. Um semestre a apoiar e tam-bém a aprender com os responsá-veis editoriais do projecto – Vítor Silva, director, Gustavo Costa, director-adjunto, e António Frei-tas, Chefe de Redacção. Depois, à nossa frente, uma re-dacção esmagadoramente com-posta por gente nova, com todos os defeitos e virtudes destas si-tuações. Inexperiente, mas com uma vontade genuína de apren-der, de agarrar a profissão, de avançar, de trabalhar para afir-mar e consolidar o projecto. Tudo era novo. Novo por ser o Novo Jornal. Inovador por incorporar, então, novos conceitos para a imprensa angolana, designadamente em matéria de grafismo e de trata-mento, organização e apresen-tação dos três cadernos de cada edição: Primeiro, Economia e Mutamba. Foram dias cheios, in-termináveis, de escrita, reescri-ta, de revisão de textos, de muita pressão (em especial nas noites de fecho – às quintas-feiras). E eu ali, sentado não só ao lado, mas do lado do novo jornalismo angolano. Não foi tarefa fácil. Para um viciado em jornalismo de agência noticiosa – esse jornalis-mo que muitos vêem com pouca alma. Despido de emoções. Mas vergado ao rigor dos factos. E foi esse o caminho seguido e aceite. Ajudar a conhecer e a aplicar as regras do jornalismo, puro e duro nas tarefas de todos os dias. Rigor, isenção, pluralismo, in-dependência na abordagem dos

temas, simplicidade na escrita, em português, o respeito e a im-portância das fontes e a aplicação obrigatória de práticas que têm tanto de básico como de essencial na profissão, nomeadamente, o recurso ao contraditório sempre que estejam em causa questões de carácter e bom nome de pes-soas e instituições, públicas e privadas. Tudo isto num país que tinha saído há seis anos de uma longa guerra. Houve, sobretudo, uma profunda preocupação (em para-lelo com a qualidade dos textos e imagens): Escrever para as pesso-as, sobre assuntos do dia-a-dia, que lhes estão próximos, que as preocupam, mobilizam, estimu-lam, despertam. O jornalismo e os jornais são fei-tos por pessoas, para as pessoas, nunca contra as pessoas. E assim começou esta aventura que já ultrapassou as 250 edições. Só mais dois apontamentos sobre o NJ (como gosto de o tratar). Re-gressado a Lisboa nunca deixei de seguir as edições semanais (entram-me pela porta da caixa de email). Ao longo deste tempo vi, com al-guma frequência e satisfação, o Novo Jornal ser qualificado como “semanário independente ango-lano” em muitos despachos de agências noticiosas internacio-nais que acompanham a socie-dade angolana, designadamente a France Presse. E só quem anda nesta vida do jornalismo sabe o significado e o valor incalculável de ser tratado como independen-te. Embora muito jovem, o NJ já viu dois dos seus redactores con-quistarem o prestigiado Prémio CNN Multichoice de Jornalismo Africano, na categoria de notícias gerais em língua portuguesa. Um (pequeníssimo) pedaço do cami-nho está cumprido, com dificul-dades passadas e presentes. Mas com a certeza de que o futu-ro vai ser longo, com rumo certo e muito trabalho. O prestígio só agora começou. Mas o jornalis-mo de referência em Angola tem um modelo a seguir. Longa vida, Novo Jornal. * membro de equipa de forma-dores oriunda de Portugal

anTónio Bilreio*

Nas próximas jornadas parlamentares

Depois Da Comissão Permanen-te do Conselho de Ministros ter reunido em 2011, com a presença do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, para a imple-mentação do Programa Integrado para o Desenvolvimento Rural e de Combate à Pobreza, a província do Kuando-Kubango acaba de rece-ber outra vez uma presença consi-derável de membros do Executivo, que apresentaram o plano de de-senvolvimento estratégico para a província no período 2013/2017.Em 2011, o Programa Integrado para o Desenvolvimento Rural e Combate à Pobreza contemplava acções e projectos concretos em todos os municípios, nos domínios da saúde, da educação, do sanea-mento básico, do abastecimento de energia e água às populações, da construção de diversas infraes-truturas, vias de acesso e comuni-cações, bem como da agropecuária e do comércio rural.Na quarta-feira, o plano apre-sentado pelo governador Higino Carneiro destacou a agricultura empresarial, vias de comunicação, desminagem, turismo e explora-ção de recursos minerais como as prioridades da região.Nomeado na última remodelação governamental, Higino Carneiro acabou de visitar todos os municí-pios que encontram sérios proble-mas em vários domínios.

O programa de 2011 previa a re-dução do índice de pobreza, o aumento da assistência médica e medicamentosa e o incremento da taxa de frequência escolar, através da construção de 121 novas esco-las com capacidade para cerca de 500 alunos.Previa ainda o assentamento de 150 mil pessoas, de entre as quais ex-militares, nos municípios de Mavinga e do Rivungo, e o apoio às actividades de natureza produtiva para a criação de emprego.Pela constatação de Higino Carnei-ro durante uma visita ao interior da província, segundo uma fonte do executivo local, ainda há muito trabalho para fazer. Recentemente, Higino Carneiro reconheceu, em Menongue, ser difícil construir naquela provín-cia, devido à ausência de vias de comunicação, principalmente, nos municípios do interior, facto que, em parte, provoca atrasos na con-clusão de algumas obras.“Viemos à província com uma equipa bastante representativa do Executivo e recolhemos a opinião de cada um dos integrantes da de-legação ministerial, no sentido de melhorar os aspectos que se mos-traram necessários, de modo que se alinhem o mais possível com o plano nacional”, disse o ministro do Planeamento, Job Graça Graça que chefiou a delegação.

Higino Carneiro “arrasta”executivo para o Kuando-Kubango

14 25 Janeiro 2013

Política

a UNiTa promeTeU criar condições para o alcance da paz para todos e aprovou os dois tipos de estratégias e medidas de política, anunciou esta semana o seu líder Isaías Samakuva. Samakuva, que discursava na ceri-mónia de tomada de posse dos no-vos responáveis da sua organização, esclareceu que as primeiras medidas visam obrigar o executivo a respeitar o angolano, a cumprir a lei e honrar os compromissos. “As segundas visam reestruturar a UNITA para ela continuar a mere-cer a confiança dos cidadãos, como defensora intransigente das aspira-ções e interesses dos angolanos, em particular dos mais desfavorecidos”, ajuntou.O líder do principal partido da oposi-ção destaca, entre as medidas apro-vadas, as acções para acabar com a pobreza e a exclusão social e o con-trolo da Comunicação Social Pública, pelo Partido –Estado. “A iniciativa legislativa para a consa-gração do quadro jurídico institucio-nal da organização e funcionamento do poder local. As medidas para se terminar com o vício das fraudes eleitorais em Angola e aquelas que visam forçar o Estado a cumprir as suas obrigações relativas aos desmo-bilizados”, referiu. No Plano interno, Samakuva desta-cou a necessidade de reestruturar o partido de forma a corresponder às exigências do momento. “O momento exige que o nosso Parti-do se organize de modo a que aqueles extractos da sociedade que, devido à propaganda enganosa e exclusivista do MPLA, ainda têm receios da UNI-TA sintam que ela é hoje o estuário de todas as forças que lutam verda-deiramente pela democracia e que busca organizar-se todo ele, como Partido exclusivamente vocacionado para governar para todos”, desafiou.

D.F.

UNiTa prepara reestruturação

Vice-presidente do mpLa quer bons temas para melhoria da qualidade de vida do povo

o ViCe-presiDeNTe Do mpLa, Roberto de Almeida, aconselhou quarta-feira, em Luanda, que o Grupo Parlamentar do MPLA se-leccione, para as próximas jorna-das, temas que visem a melhoria da qualidade de vida do povo, com realce para o apoio à criança, a mulher, a juventude, o idoso, os antigos combatentes e veteranos da pátria, bem como outras po-líticas nacionais de desenvolvi-mento. A agenda das jornadas, que ter-minam hoje, inscreve temas como “conceitos e fontes das re-ceitas públicas”, “classificação e estrutura das despesas públicas”, “qualidade da despesa pública e causas do seu crescimento” e fun-cionamento do Sistema Integrado

de Gestão Financeira do Estado e a sua relação com a execução da Programação Financeira”, todos agendados para esta sexta-feira. “Os deputados devem acompa-nhar e dar uma atenção especial ao processo em curso de reorga-nização e consolidação das finan-ças públicas do país, tornando-as mais robustas e seguras”, disse Roberto de Almeida. O político afirmou que esse acom-panhamento tem de ser feito em linha com a evolução que o país vai evidenciando nos vários do-mínios. Por isso, considerou pertinente a realização desta actividade, que tem no centro dos debates os pro-cedimentos para a elaboração do Orçamento e da Conta Geral do

Estado, pois vai preparar melhor os deputados para o acompanha-mento do desempenho da acção do Executivo no domínio da ges-tão das finanças públicas. Deste modo, sublinhou que os deputados poderão contribuir com sugestões técnicas para a obtenção de resultados positivos pelo Executivo, bem como para o reforço de uma boa governação. A este respeito, lembrou as pala-vras do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, no seu discurso de investidura, segun-do as quais a “consolidação do Estado e das suas instituições apresenta-se, neste contexto, como a garantia da estabilidade política, da paz e das liberdades democráticas”.

Lucas Ngonda

Tenta ocupar bastião de Ngola Kabangu

25 Janeiro 2013 15

a poLíCia NaCioNaL dispersou os apoiantes da FNLA de Lucas Ben-ghy Ngonda, quando estes preten-diam ocupar, nas primeiras horas quinta-feira 24, as instalações des-te partido, situada na rua Samuel Bernardo às Ingombotas, distrito urbano de Luanda.Segundo um dos militantes, que não quis ser identificado disse que, “quando eram precisamente 8h00 da manhã desta quinta-feira 24, mais de dez homens apareceram aqui e nos mandaram sair das insta-lações para trocarem os cadeados, só que nós não aceitamos. Fomos aos arames com eles e, outros liga-ram para a polícia nacional”. Ainda a fonte, reconheceu que ti-veram a pronta intervenção dos ho-mens da farda azul que dispersaram os “insurgentes”, “infelizmente não fizeram nenhuma detenção, para nós deveria ser detido um deles e responder em tribunal por criarem arruaças”, disse. “Os insurgentes apareceram aqui com a orientação do irmão Lucas Ngonda, que não sabe o que fazer. Mas um homem que quer reunificar o partido parte em confusão? Assim não vai a lado nenhum. Se querem a sede que se encontra na rua Samuel

Bernardo devem faze-lo de forma pacífica ou seja negociar com a di-recção verdadeira e não com intru-sos que defendem interesses incon-fessos”, disse a fonte. Com mais esta crise provocada pe-los apoiantes de Lucas Ngonda, a reconciliação na FNLA fica cada vez mais distante. Ngola Kabango que também se con-sidera líder deste partido histórico, no ano transacto chegou a reconhe-cer, que, está a revitalizar a FNLA e, “vou trabalhar com todos para nos reafirmarmos como um partido ac-tuante na vida política de Angola. Questionado na altura sobre a for-ma como vai revitalizar a FNLA, disse que “terá que haver um novo congresso”. Afirmando que “ainda não digo nada sobre uma eventual candi-datura à presidência do partido, sublinhou que o último congresso foi em 2011 e, estatutariamente, há congressos de quatro em quatro anos”.A respeito do actual presidente da FNLA, Lucas Ngonda, que o subs-tituiu por decisão judicial, Ngola Kabango descreveu-o como “um homem sem palavra”.

DomiNgos Cazuza

Casa-Ce no Kwanza Norte denuncia perseguições o seCreTário exeCUTiVo da Con-vergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), na província do Kwanza-Norte, António Francisco Hebo, denunciou recentemente, na cidade de Ndala-tando que, apesar de um crescimen-to massivo da organização, os seus militantes estão a ser perseguidos.O responsável, que acusa militantes e dirigentes do partido no poder, exemplificou, dizendo que os dis-centes e docentes são as principais vítimas, incluindo os candidatos aos concursos públicos do ano transacto nos sectores da saúde e educação.No município de Samba-Cajú, in-dicou o responsável, “o primeiro secretário municipal da JMPLA fez reprovar todos os seus alunos” filia-dos na CASA-CE.

As conversas de ameaças e promes-sas foram gravadas em vários tele-móveis dos partidários da CASA-CE, que constituiu uma comissão que se deslocará, nos próximos dias, ao município citado para exigir trans-parência por parte do director de um estabelecimento de ensino, cujo nome omitiu, e do chefe de Reparti-ção Municipal de Educação.As escutas serão igualmente repro-duzidas e encaminhadas ao grupo parlamentar da respectiva coligação eleitoral para discussão no corres-pondente nível, prometeu o diri-gente político.António Hebo referiu, por outro lado, que já foram acusados, numa reunião do Conselho Provincial de Auscultação e Concertação Social (CPACS) do Kwanza-Norte, como

sendo os financiadores dos grupos de delinquentes locais, assim como os mentores junto da população para a destruição de bens públicos.“Quais são as percentagens que as empresas que exploram a madeira e a areia no Kwanza-Norte deixam para a província?”, questionou Je-sus Mbote Cassua Duas Horas, re-presentante no CPACS. As questões, que não foram respondidas, causa-ram um mal-entendido ao chefe do executivo local, notou.O assunto preocupa o mais recente partido político no país pelo facto de os habitantes dos municípios de Bonlongongo e Quiculungo conti-nuarem a “ser enterrados em cai-xões de bordões”.

isaías soares, em Ndalatando

FNLa diz que há forças externas que pretendem acabar com o partidoNo KwaNza-NorTe, o secretário provincial da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), Fer-nando Caculo Manuel, mostrou-se apreensivo pelo incumprimento glo-bal do acórdão do Tribunal Constitu-cional por algumas instituições.Em declarações ao telefone, a partir do município de Cazengo, o político disse que há margem no programa do líder da organização, Lucas Ngon-da, em facilitar a harmonização e coesão interna, que tem conseguido êxitos. “Mas há questões que estão a alimentar a desunião partidária”, evidenciou.Em algumas localidades do país e da região do Kwanza-Norte, em parti-cular, muitas bandeiras da organiza-ção política da FNLA continuam a ser hasteadas pelos aderentes de Ngola Kabangu, assim como permanecem nas comissões provinciais e munici-pais eleitorais os membros indicados e que são contrários ao pensamento da actual direcção. “O que está a alimentar essa coragem é a existência de comissários, de elementos que não cumprem as di-rectrizes do partido autorizado pelo Tribunal. Esta prática tem estado a alimentar, a encorajar a disparidade no partido”, acautelou Fernando Ca-culo Manuel.Segundo aquele político, os órgãos

de justiça angolanos deveriam fa-zer cumprir as decisões tomadas, exemplificando, com a presença no parlamento anterior de “indivíduos” que não obedeciam às ordens da di-recção “legal” da Frente Nacional de Libertação de Angola, práticas que têm de “acabar”.“Gostaríamos de gritar bem alto que o tribunal faça cumprir as suas duas decisões (acórdãos 109 e 110), por-que foi o tribunal que determinou, com base nos estatutos do partido e nos resultados do congresso de 2004, que o irmão Kabangu não era a pessoa ideal para dirigir o partido”,

apelou aquele responsável.Em relação ao crescimento de mili-tantes do partido nos 10 municípios do Kwanza-Norte, Fernando Caculo Manuel recusou-se a revelar, temen-do represálias por parte de indivídu-os do governo ligados ao partido no poder. “Ainda não estamos realmente em verdadeira democracia. Os nossos jovens, os nossos militantes, as nos-sas mamãs, uma vez conhecido que são militantes da FNLA, já não têm a possibilidade de serem professores, enfermeiros, enfim”, lamentou.

isaías soares, em malanje

Findo o prazo estipulado pelo PR, nenhum resultado foi apresentado pela comissão de inquérito criada para a apurar as causas dos incidentes da vigíliado fim de ano, organizada pela IURD

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Detectados mais de dez processosfalsos

Em Tóquio

Bairro do Grafanil

Universidade Agostinho Neto e Ryukuku assinam acordos de cooperação

Jovem morre baleada em frente de casa

Sociedade

DEsDE quE comEçou o período de inscrições no Campus da Universidade Agostinho Neto, no Camama, já foram detectados mais de 10 casos de docu-mentação falsa. Os casos têm sido en-tregues à Polícia Nacional, através da Brigada de Segurança Escolar, instala-da no local, que, por sua vez, tem dado o devido tratamento e seguimento aos processos, como esclareceu ao Novo Jornal o vice-reitor em exercício para os assuntos académicos, Agatângelo dos Santos Eduardo. O Campus Universitário recebe dia-riamente mais de dois mil candidatos que querem ingressar no ensino supe-rior. Com uma capacidade de resposta para apenas quatro mil 483 vagas, as centenas de alunos que se candidatam têm como preferência os cursos que se agrupam nas ciências sociais, como a sociologia, psicologia, economia, an-tropologia, história, ciências políticas e direito.

No acto de inscriçãoUmA DelegAção da Universi-dade Agostinho Neto, encabe-çada pelo seu magnífico reitor, Orlando da Mata, assinou na segunda-feira, dia 21, em Tóquio, um acordo de cooperação com a universidade Ryukuku do Japão. A novidade foi avançada ao NJ pelo vice-reitor em exercício para os assuntos académicos, Agatân-gelo dos Santos Eduardo, tendo afirmado que, numa primeira fase, o convénio vai permitir a possibilidade de intercâmbio dos estudantes das duas universida-des nas mais diversas áreas do saber. Este acordo, segundo a fonte, vai permitir que estudantes da Uni-versidade Agostinho Neto possam ir ao Japão e fiquem por lá cerca de seis meses ou um ano, inseri-dos na Universidade Ryukuku, onde vão Uma delegação da Universidade Agostinho Neto, encabeçada pelo seu magnífico reitor, Orlando da Mata, assinou na segunda-feira, dia 21, em Tó-quio, um acordo de cooperação com a universidade Ryukuku do Japão. A novidade foi avançada ao NJ pelo vice-reitor em exercí-cio para os assuntos académicos, Agatângelo dos Santos Eduardo, tendo afirmado que, numa pri-meira fase, o convénio vai permi-tir a possibilidade de intercâmbio dos estudantes das duas universi-dades nas mais diversas áreas do

saber. Este acordo, segundo a fonte, vai permitir que estudantes da Uni-versidade Agostinho Neto possam ir ao Japão e fiquem por lá cerca de seis meses ou um ano, inseri-dos na Universidade Ryukuku, onde vão obter, fundamental-mente, formação no domínio das tecnologias, já que o Japão é uma potência neste ramo. O mesmo vai acontecer com os discentes da universidade Ryukuku que terão a possibilidade de vir a Angola e passar uma temporada a estudar

a realidade do país, nos domínios cultural e linguístico. Agatângelo dos Santos Eduardo referiu ainda que este acordo vai proporcionar uma interacção muito estreita entre professores das duas universidades e a elabo-ração de projectos em conjunto de pesquisa e mútua partilha de informações, resultados e ideias nos diferentes domínios do ensi-no. Paralelamente a este protocolo, Agatângelo dos Santos Eduardo avançou que será rubricado esta

sexta-feira, dia 25, um outro pro-tocolo de cooperação tripartido, em Aruja, Tanzânia, que abrange três universidades (Agostinho Neto, Universidade Dar Es Sala-an, da Tanzânia, e a Universidade Nacional Tecnológica da Norue-ga). Este acordo de cooperação visa a participação num projecto conjunto entre as três unidades académicas do ensino superior e tem por objectivo a formação de mestres e doutores nas áreas das ciências e das engenharias dos petróleos. DOMINGOS BENTO

UmA Jovem, de 20 anos, morreu na tarde de segunda-feira, dia 21, após ser baleada na barriga, em frente de sua casa, no bairro do Grafanil, rua do Colho. Um colega também foi balea-do, mas sobreviveu aos ferimentos.A jovem, que se chamava Katiana Camoço Pinto e era conhecida por (Beba), foi morta cerca das 12h00, segundo o pai, Francisco Pinto, quando um grupo de jovens, não identificados, faziam cobranças aos automobilistas que circulavam pela rua do Colho, em Viana. “Um dos automobilistas, que circula-va com uma viatura de marca Toyota

Hilux branca, desceu quando viu que os rapazes estavam a cobrar dinheiro para deixá-los passar, foi até à sua viatura, tirou uma arma, fez dispa-ros à queima-roupa, pelo menos seis vezes, contra os jovens que faziam cobranças e meteu-se em fuga, dei-xando a minha filha e o seu colega de escola baleados”, relatou o pai de Katiana Pinto. Segundo Eduardo Camoço, tio da jo-vem, a sua sobrinha, minutos antes de morrer, estava à porta da sua re-sidência a conversar com um colega de escola, conhecido por Decas, e que também levou um tiro na barriga,

mas está fora do perigo.Já a sua sobrinha não teve tanta sor-te. A bala entrou pela barriga, atra-vessou o corpo e saiu pelas costas. “Ela foi socorrida, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no momento em que chegou ao pronto-socorro da cidade”, lamentou.Até à manhã de terça-feira, dia 22, ninguém foi preso. No entanto, o comandante de divisão da Polícia de Viana, de forma arrogante, recusou-se a prestar esclarecimentos, encami-nhando o Novo Jornal para o Coman-do Provincial de Luanda.

GaSpar FauSTINO

18 25 Janeiro 2013

25 Janeiro 2013 19

os funcionários do hospital do prenda, entre médicos, enfer-meiros e técnicos de diagnóstico e terapêutica, reclamam por falta de pagamento das horas acresci-das aos bancos de urgência e dos subsídios nocturnos e de turno, desde setembro do ano passado. segundo informações dos tra-balhadores, que preferem não se identificar, este mês, o mi-nistério das finanças orientou que, na rubrica das despesas correntes do hospital (água luz e a manutenção), se deveria retirar o adicional para motivar os funcionários, mas o hospital não respeitou esta orientação. “ao não respeitar esta directi-va, pensamos que o hospital incorreu em erro. devia cumprir a directiva para salvanguadar o bom ânimo dos profissionais”, frisam.os funcionários foram informa-dos que o salário deste mês foi processado, apenas com o su-bídio de janeiro, e estão preocu-pados por, até agora, não haver qualquer informação credível sobre os outros meses. “um problema é não ter sido pago. agora, o outro problema é saber se vão pagar com retro-activos ou não. o ministério das finanças descarta essa responsa-bilidade, alegando que os hos-pitais têm rubricas necessárias para poderem compen-sar este trabalho. os outros hospitais fizeram isso, só o prenda é que não. porquê? a gente não sabe”, notam. para os trabalha-dores, a falta de pagamento dos subsídios de turno e nocturnos para enfermeiros e técni-cos de diagnóstico

e terapêutica (análises clínicas e raio x) e as horas acrescidas dos bancos de urgência para os médicos causaram um nível de absentismo muito elevado. “se vierem às 9h00 não encon-tram nenhum médico. estamos a faltar, porque, por exemplo, se eu tiver que observar quatro pa-cientes numa hora, quando não somos pagos, atendemos me-nos, porque estou lá de corpo, mas a mente não, por não estar motivado. sabe-se que a classe técnica executa e a médica pres-creve. quando não há motivação, é grave, há um grande esforço”, afirmou um médico.os trabalhadores invocam o cumprimento da lei, alegando que, se é uma directiva, do pon-to de vista legal, que autoriza os hospitais a gerirem as rúbricas para compensar os funcinários, não há motivos para que a direc-ção do hospital não cumpra com esta orientação. ”nós corremos riscos, abandonamos as nossas casas, as nossas famílias, então, é necessário que esta questão seja resolvida”, rematam. sobre as causas do atraso no pa-gamentos dos subsídios, o direc-tor clínico do hospital do pren-da, josé van-dúnem, garantiu que está ultrapassada, uma vez que os salários de janeiro já fo-

ram processados com o subsídio do mês de janeiro.questionado se os outros meses serão pagos com os retro-activos, respondeu: “o estado atrasa, mas não deve a nin-guém. esta é uma questão que está sob controlo, até do ministro, não há razões para se preci-pitarem com isso”. maria campos

funcionários reclamam faltade subsídioshá quatro meses

os trabalhadores do semaná-rio Continente decretaram, nesta quarta-feira, dia 23, a paralisação dos serviços no jornal, sem um prazo determinado para o seu termo.Em causa está a violação por parte da entidade patronal do caderno reivin-dicativo, apresentado no dia 30 do pretérito mês, onde estão identifica-das as principais reivindicações dos trabalhadores.Para além da falta de pagamento de salários há cinco meses, os funcioná-rios não usufruíram dos subsídios de Natal, de férias e do décimo terceiro. Entre os principais pontos do cader-no reivindicativo, constam ainda a entrega dos cabazes, o respeito pela honra e dignidade e a cessação ime-diata das ameaças constantes aos trabalhadores, bem como os despe-dimentos anárquicos.Depois da comissão de trabalhadores ter fornecido o caderno reivindica-tivo à direcção do jornal, a adminis-tração terá respondido com apenas cinco pontos, comprometendo-se a liquidar os respectivos ordenados, num prazo de 15 dias, a contar desde o dia 7, prazo que terminou no dia 22 de Janeiro.Os sócios encontram-se de costas vi-radas devido ao destino incerto que se deu ao valor da venda de 20% das acções a um sócio ainda não identi-ficado.Neste momento, os trabalhadores são impedidos de ter acesso às insta-lações da empresa, conforme contou um profissional daquele periódico.Hermenegildo Manuel, primeiro editor do jornal, disse que respeita-ram todos os trâmites legais, desde a apresentação do caderno reivin-dicativo à entidade patronal, bem como as reuniões de consenso com a comissão criada pela direcção para resolver a situação.“A direcção prometeu cumprir, num prazo de 15 dias, e até ao momento não conseguiu resolver nada. Decre-támos a greve até que os nossos in-teresses estejam resolvidos”, frisou o jornalista, acrescentando que os tra-balhadores tomaram conhecimento de uma circular que convocava a comissão para uma reunião, o que não caiu bem aos olhos dos trabalha-dores.Disse ainda que o certo é que estão em greve devido à falta de vontade por parte da direcção do jornal. “So-mos jornalistas e, quando tentamos reivindicar os nossos direitos, o sócio maioritário trata-nos como analfa-betos. Há colegas que começaram a trabalhar no jornal em condições lastimáveis e hoje mereciam maior

Paralisação coloca sócios de “costa viradas”Jornal Continente

Hospital do Prenda

respeito e consideração, como serem sócios naturais”, sustentou igual-mente o membro da comissão reivin-dicativa.O número dois, do artigo 51, da Constituição da República, proíbe o empregador de provocar a paralisa-ção total ou parcial da empresa, bem como a interdição do acesso aos lo-cais de trabalho pelos trabalhadores ou situações similares, como meio

de influenciar soluções de conflito laboral. De acordo com a mesma fonte, há uma série de anomalias que se cons-tata neste processo, por isso, os tra-balhadores pensam endereçar uma carta ao Ministério da Comunicação Social, Ministério da Administração Pública, Emprego e Segurança Social e à Procuradoria Geral da República.

FErNaNDo GUELENGUE

Hermenegildo Manuel foi mais longe, ao garantir que, caso a en-tidade empregadora não resolva a situação com que se debatem há cerca de um mês, será retido o título do jornal.“Em função das respostas judi-ciárias que recebemos, o jornal nunca poderá sair à rua sem que ultrapassem este problema”, alertou, justificando que, no momento em que o jornal tirou a primeira edição do ano, todos os trabalhadores se encontravam a gozar férias.

Outra fonte ligada a este jornal confirmou haver interesses por parte do sócio maioritário em de-negrir, sobretudo, a imagem dos dirigentes do país, particular-mente os “Bentos”: Bento Bento e Bento Kangamba.“Os artigos que aparecem no jor-nal a manchar o bom nome de entidades não são feitos pelos jornalistas, mas sim por um staff do jornal. Estamos preocupados em ouvir o contraditório, embo-ra cumpramos com as ordens da casa”, denunciou. F.g.

Henrique miguel “Riquinho”, sócio maioritário, com 50%, Wal-taer Daniel, Jamba Lima e uma terceiro elemento, que terá com-prado cerca de 20%, são os pro-prietários do Continente.O administrador geral do jornal, Walter Daniel, encontra-se como

enviado especial no CAN2013 na África do Sul. São cerca de 34 os trabalhadores do título, incluindo jornalistas. “Os demais funcionários, que se diz serem mais de 40, são das empresas pessoais de Riquinho”, contou Hermenegildo Manuel. F.g.

título será retido

os sócios

Terminou ontem, 24, uma formação sobre litigação junto da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos e do Tribunal Africano, ministrada a advogados e defensores de direitos humanos angolanos e moçambicanos, em Luanda, pela a AJPD, com o apoio da OSISA

20 25 Janeiro 2013

Texto JORGE MONTEZINHO

Fotos ARQUIVO NJ

“Fui o primeiro a consultar o arquivo da Pide-Dgs em Portugal, que tinha acabado de ser tornado público e fui o primeiro investigador a mergulhar na vastíssima documentação... sobre Amilcar Cabral”

Entrevista

Amílcar Lopes Cabral, nasceu em Bafatá, na Guiné-Bissau, a 12 de Se-tembro de 1924 e foi morto em Cona-cri, a 20 de janeiro de 1973. Filho de pai cabo-verdiano e mãe guineense, cresceu em Cabo Verde onde viveu até completar o curso liceal. Tendo conseguido uma bolsa de estudos, formou-se em agronomia no Ins-tituto Superior de Agronomia, em Lisboa, Portugal. Contratado como adjunto dos Serviços Agrícolas e Florestais da Guiné, pelo Ministério do Ultramar, regressou a Bissau em 1952, onde por causa do seu traba-lho, percorreu grande parte do país e se apercebeu dos problemas sociais existentes.Em 1959, juntamente com Aristides Pereira, com o irmão Luís Cabral, Fernando Fortes, Júlio de Almeida e Elisée Turpin, Amílcar Cabral funda o partido clandestino Partido Africa-no para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Quatro anos mais tarde, o partido estabelece uma delegação na cidade de Conacri, ca-pital da República de Guiné-Crona-cri. A 20 de janeiro de 1973, Amílcar Cabral é assassinado em Conacri, por membros de seu próprio partido. Quase vinte anos depois da edição da sua obra, mantém a leitura que fez na altura sobre o assassinato

de Amílcar Cabral?Vinte anos depois, não sei se escre-veria exactamente a mesma coisa, porque, entretanto, houve vários testemunhos, principalmente de-poimentos de várias personalidades, que decidiram falar sobre a morte de Cabral. Mas, há vinte anos, fiz todos os possíveis e falei com todas as pessoas que me foi possível e con-sultei todas as fontes que na altura estavam disponíveis. Fui o primeiro a consultar o arquivo da PIDE-DGS em Portugal, que tinha acabado de ser tornado público e fui o primeiro investigador a mergulhar na vastís-sima documentação que a PIDE-DGS foi recolhendo sobre o PAIGC e so-bre Amílcar Cabral. Como repórter, fui a todos os locais, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Senegal, Guiné-Conacri. Considero que fiz o trabalho mais exaustivo que era possível fazer na-quela época. É evidente que o meu livro, editado em 95, não é uma tese definitiva, nem nunca me passou pela cabeça que fosse um trabalho definitivo, daí o próprio título ter um ponto de interrogação: «Quem Mandou Matar Amílcar Cabral?» E esse ponto de interrogação fala por si. É uma pergunta que eu fiz e que na altura me pareceu ainda não ter uma resposta suficientemente só-

lida e consistente. Por isso decidi manter esse ponto de interrogação, que atravessa as mais de 300 pági-nas do livro.

Na sua obra, apesar de não afas-tar outras hipóteses, diz que terão sido os guineenses os autores do assassinato. Refere também que a PIDE teve diversas oportunidades para matar Cabral mas que nunca o fez. Poderemos alguma vez ex-cluir a mão portuguesa por trás do assassinato de Cabral?No meu livro trabalho quatro hipóte-ses e uma dela é a tensão existente dentro do PAIGC entre o sector gui-neense e os dirigentes de origem cabo-verdiana. Mas não esqueço as outras hipóteses explicativas: a PIDE; a própria acção do sector mi-litar, que por várias vezes tentou as-sassinar Cabral (aliás, visitei o antigo quartel general do PAIGC em Conacri e pude ver os sinais ainda bem pa-tentes do bombardeamento feito pelo comando português ao quartel e à casa de Cabral durante a opera-ção «Mar Verde», em Dezembro de 1970); e também a quarta hipótese, com a possibilidade do envolvimen-to do próprio Sékou Touré (havendo sinais da sua participação, directa ou indirecta, em toda a trama que

levou à morte de Cabral). Não tenho dúvidas que houve várias tentativas do poder colonial em tentar matar Cabral, os arquivos da PIDE estão recheadas de conspirações para ani-quilar o líder do PAIGC. Mas, do pon-to de vista histórico, não foi a “mão portuguesa” a mais determinante em toda a trama que desembocou no 20 de Janeiro de 1973.

Altos QuADRos Do PAIGCRECusARAm ColAboRAR NA INvEstIGAçãoQuais foram as maiores dificulda-des que teve de ultrapassar quan-do estava a fazer a investigação para o seu livro?Houve três dificuldades grandes e uma delas ainda se mantém. A pri-meira, as reticências que encontrei quando tentei falar com dirigen-tes e responsáveis guineenses do PAIGC. Ao todo falei com mais de meia centenas de pessoas durante a minha investigação. Na Guiné, falei inclusivamente com o então presi-dente Nino Vieira, mas houve altos quadros do PAIGC guineense que se recusaram a falar comigo e não qui-seram colaborar na minha investiga-ção. Essa atitude foi absolutamente oposta por parte das autoridades cabo-verdianas. Estive duas vezes em Cabo Verde e não houve nin-guém que não tivesse colaborado comigo ou aceitado dar a sua ver-são dos acontecimentos. A segunda dificuldade com que me deparei foi na Guiné-Conacri. Gostaria de ter re-colhido mais a versão das autorida-des de Conacri, mas sabemos como funcionam os países sob ditadura, por isso não encontrei tudo o que gostaria. Touré já tinha morrido, os seus colaboradores tinham sido di-zimados em sucessivas levas e ajus-tes de contas e tirando alguns livros que encontrei e consultei não me foi possível desenvolver essa linha de investigação. A terceira dificuldade continua por superar e tem a ver com o acesso aos arquivos franceses. A Guiné-Conacri foi uma antiga coló-nia francesa e não tenho dúvidas de que a França sempre acompanhou aquilo que se passava no interior do país. Não me passa pela cabeça que os serviços secretos franceses não tenham acompanhado de perto o que se passou em Conacri em 1973. Tentei obter várias autorizações em Paris para aceder aos arquivos, mas nunca consegui. A resposta oficial é que ainda não passou o prazo fixado na lei francesa para disponibilizar

JOSÉ PEDRO CASTANHEIRA, jornalista do semanário Expresso

“Foram guineenses do PAIGC que

JOSÉ PEDRO CASTANHEIRA, português, jornalista do se-manário Expresso e autor de uma das primeiras obras so-bre o assassinato do funda-dor do PAIGC – “Quem Man-dou Matar Amílcar Cabral?”.

essa informação. Esses arquivos, do meu ponto de vista, serão importan-tes para apurar toda a verdade.

Apesar de Cabral nunca ter assu-mido qualquer papel de herói, foi complicado lidar, no terreno, com o ‘mito’ de Amílcar Cabral? ou seja, havia o medo de mexer com o ‘mito’?Todos os heróis acabam por transfor-mar-se em mitos e com Cabral isso aconteceu, não só devido à sua en-vergadura intelectual e política, ao papel que desempenhou em termos políticos, militares e diplomáticos, mas sobretudo devido às condições misteriosas em que morreu. O papel do jornalista é, respeitando a figura e o legado de Cabral, tentar também ser o mais rigoroso possível, inde-pendentemente das leituras e das opções políticas e ideológicas que se façam. Ainda hoje Cabral tem muito de mito. Procurei encarar e investi-gar a sua morte de forma indepen-dente e com os instrumentos típicos do jornalismo moderno.

mas, sentiu o peso desse mito quando falou com as várias tes-temunhas que aparecem no seu livro?À medida que os anos passam, as pessoas conseguem falar de uma forma menos apaixonada e mais fria e objectiva. Quando comecei a minha obra, só tinham decorrido vinte anos sobre e morte de Cabral. Hoje, creio que muitas das pessoas que abordei falariam de uma forma diferente. E digo isto com conheci-mento de causa. Falei na altura com o então Presidente Aristides Perei-ra, e o que ele me disse ficou muito aquém do que viria a dizer anos mais tarde na entrevista que concedeu ao meu amigo José Vicente Lopes. Essa sua entrevista traz, inclusive, muita informação decisiva e que ajuda a esclarecer o que aconteceu em Concari. Foram os anos que pas-saram que possibilitaram a Aristides Pereira ter uma atitude mais serena e mais descomprometida perante a história. Penso, aliás, que ele quis dar o seu contributo para a história e não quis morrer sem esclarecer esse caso particularmente delicado da vida do PAIGC. De facto, o tempo ajuda, assim como ajuda as pessoas deixarem de desempenhar certos cargos. Percebo perfeitamente que as pessoas tenham atitudes diferen-tes consoante as responsabilidades históricas que em cada momento

têm para com os seus povos e países. Não estou a fazer nenhuma crítica a Aristides Pereira, estou a dizer que entendo a sua atitude. Mas gostaria de sublinhar que sem a minha inves-tigação e o meu livro, a maior parte da literatura posterior não seria possível. Pode ser imodéstia minha, mas considero o meu livro o primeiro trabalho minimamente sério e inde-pendente sobre a morte de Amílcar Cabral.

A hERANçA DE IvA CAbRAlQue análise faz à herança de Ca-bral? Como explica que Cabo verde tenha tido uma ditadura durante 15 anos e que a Guiné-bissau ain-da hoje não tenha encontrado o caminho para a democracia está-vel? seria este o espólio que Cabral desejaria?Não sei se Cabral defendia a demo-cracia como solução para a Guiné e Cabo Verde, uma democracia plura-lista e representativa. Não conheço o suficiente a sua obra, mas creio que não era esse o modelo que ele de-fenderia. Os principais contributos teóricos de Cabral não se encontram nessa matéria mas sim na estratégia da luta de libertação e na aliança en-tre a Guiné-Bissau e Cabo Verde para colher vantagens na luta contra o colonialismo e para a independência desses dois povos. Talvez seja essa a principal novidade da estratégia de Cabral. O que não se pode é acu-sar Cabral por aquilo que aconteceu nos dois países após a independên-cia – designadamente na Guiné. Não se pode estabelecer uma relação de causa/efeito entre os contributos teóricos de Cabral e o que acontece na Guiné, onde ainda hoje não há um Estado digno desse nome. O que me parece importante subli-nhar é que ainda antes do início da luta armada na Guiné, e ao longo dos anos de luta conduzi-da por ele, foram inúmeras e in-sistentes as propostas de Cabral para uma solução política do problema colonial. Isso é esque-cido muitas vezes, mas é uma das suas componentes estratégi-cas mais importantes. Já disse, e continuo a pensar, que se Cabral não tivesse sido assassinado o 25 Abril teria sido diferente. Prova-velmente teria sido possível uma negociação entre Portugal e o PAIGC e se essa negociação, que ele propôs durante toda a sua vida, se tivesse realizado, ter-se-ia encontrado uma solução dife-

rente para a guerra colonial. Não nos podemos esquecer que 1973 e 1974 foram anos de intensas iniciativas políticas e diplomáticas que ainda não foram totalmente estudadas. É conhecido, por exemplo, o projec-to de Spínola de chegar à fala com Cabral através de Senghor. Como é conhecida a negociação de Londres em Março de 1974, envolvendo um emissário português e uma delega-ção de cúpula do PAIGC, negociação que só não prosseguiu porque se deu o 25 de Abril, uma vez que haveria uma segunda ronda em Maio de 74. Se Cabral não tivesse sido assassina-do penso que seria possível encetar uma negociação séria entre as auto-ridades portuguesas e o PAIGC sobre o futuro político e a independência, principalmente da Guiné. E se hou-vesse essa negociação, seguramente haveria outras também sobre Mo-çambique e Angola. Estou firme-mente convencido que isso teria sido possível, porque há vários sinais que nos demonstram que começava a haver vontade política, principal-mente das autoridades militares, de ensaiar a procura de uma solução política para a guerra colonial. Nesse contexto, a figura de Cabral era fun-damental, porque era reconhecido e respeitado como principal líder dos três movimentos de libertação das colónias.

Essas tentativas de negociação não ilibam o Estado português do seu assassinato?Não, porque o governo português não actuava a uma só voz. Pode, quando muito, ilibar uma compo-nente militar, a que acabaria por derrubar o Estado Novo e a ditadura.

Não nos podemos esquecer que o 25 de Abril tem a sua géne-se na Guiné. A maior parte dos militares que estiveram mais envolvidos na conspiração e que depois ocuparam cargos de res-ponsabilidade, nasceram para a política enquanto cumpriam missões militares na Guiné. Foi a sua tomada de consciência da impossibilidade de uma solução militar para a guerra colonial que os levou a procurar uma so-lução política, isso para mim é absolutamente claro. A partir de 1970, e do fracasso da Operação Mar Verde, há a tomada de cons-ciência que a guerra da Guiné não tem solução militar. A partir daí, com a crescente supremacia militar do PAIGC no terreno e

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«Ainda hoje Cabral tem muito de mito. Procurei encarar e investigar a sua morte de forma independente e com os instrumentos típicos do jornalismo moderno»

assassinaram Amílcar Cabral”com o crescente apoio político in-ternacional, há uma alteração subs-tancial na percepção dos comandos militares, que tomam consciência que só conseguem evitar a derrota militar, no terreno, através de uma negociação política. Ou seja, são as próprias condições da guerra que obrigam os militares portugueses a tentar encontrar uma saída airosa e necessariamente política.

uma última questão. Quarenta anos após o assassinato, acha que alguma vez se saberá quem man-dou matar Amílcar Cabral?Acho que já começamos a ter res-postas. O meu livro abria caminhos claros e acho que apresentei alguns elementos que permitiam ao leitor valorizar mais algumas das hipóte-ses do que outras. Desde então têm aparecido outras obras, dando mais peso a uma das hipóteses. E o já re-ferido livro/entrevista de Aristides Pereira põe, para mim, um ponto final sobre o assunto. A leitura que Aristides Pereira faz reforça, de for-ma clara, uma das hipóteses que eu próprio desenvolvi, que era a de um conflito interno no PAIGC entre uma parte substancial dos combatentes guineenses e os cabo-verdianos. Os elementos fornecidos por Aristides Pereira reforçam essa suposição. Acho que a versão histórica mais correcta é a que sugere uma tenta-tiva de parte de alguns sectores gui-neenses de obter a supremacia na liderança política e militar do PAIGC, que no essencial era protagonizada por cabo-verdianos.

E sékou touré, também esteve en-volvido?Sobre o próprio Touré não posso afir-mar, mas seguramente que alguns dos seus homens de confiança terão instigado e dado apoio aos homens que estiveram envolvidos na cons-piração. Não podemos esquecer que os assassinos foram recebidos por Touré na própria noite do assassina-to. Eram todos guineenses e a maior parte deles foram passados pelas armas. Um dos grandes mistérios é saber o que foi feito do relatório de inquérito organizado pelo PAIGC e o que foi feito das cassetes contendo as gravações dos interrogatórios aos suspeitos. Tudo isso desapareceu e estou convencido que esse material nunca mais será encontrado. “Expresso das Ilhas” Cabo Verde

«Se Cabral não tivesse sido assassinado penso que seria possivel encetar uma negociação séria entre as autoridades portuguesas e o PAIGC, negociação que só não prosseguiu porque se deu o 25 de Abril, uma vez que haveria uma segunda ronda em Maio de 74.»

Opinião

ideias - é possivélaprender a criar?

O Mali como foco inicialJOÃO DEMBA

ACADEMIA

ideia, criatividade, inovação, antecipa-ção, oportunidade, empreendedorismo, ape-sar de palavras com significados diferentes, são obrigatórias nos dias que correm se qui-sermos sobreviver no actual e cada vez mais competitivo mercado local e global. Na es-cola, universidade, família, igreja, desporto, enfim, estes termos são usados com maior incidência. Enganam-se aqueles que pensam que estes termos são propriedade de músi-cos, artistas plásticos, escritores, designers, estilistas, publicitários, etc, etc. Enganam-se também,aqueles que pensam que a capacidade de criar de ideias, de ser criativo, de inovar, de empreender, de antecipar, de aproveitar as oportunidades, são dons naturais, conce-didos por Deus, logo a nascença. Aconselha-mos a mudar de crença com brevidade, pois o tempo não espera por nin-guém. Entretanto, admitimos que por um lado, existam pes-soas com mais habilidades, mais capacidades, mais talen-tosas do que outras - Leonel Messi; Usein Bolton; Steve Jobes; Bill Gates; Hi-tler; Betov são bons exemplos. Apesar do dom, ainda assim, exercitar, exercitar, exercitar, em determinada fase, também foi a palavra de ordem para estes notáveis indivíduos. Por outra, também é verdade que a capacidade de criar ideias, inovar, anteci-par, empreender, podem ser apreendidas de forma sistemática – Miguel Lutonda; Koby Briant; Bealtes… fazem parte deste grupo de pessoas. Se para os que nasceram com este dom natural, exercitar foi a palavra de ordem, imagine você que não nasceu com dom, pretende atingir a excelência e desta-car-se em alguma actividade? Ou exercita, ou exercita. Exercitar = Preparação é a palavra de ordem. Alguns estudiosos, defendem que “SE EXERCITAMOS ALGUMA ACTIVIDADE, POR 4 HORAS AO DIA, DURANTE 10 ANOS, FACILMENTE ATINGIMOS O SUCESSO/PER-FEIÇÃO”. Não é tarefa fácil, pois exige muita entrega, exercício, disciplina e foco no ob-jectivo. Ao longo de toda a história da hu-manidade, poucos foram os estudiosos em Marketing e Comunicação, que conseguiram apresentar de forma sistemática, as técnicas para criação de Ideias/conceito ademais, inovadoras, originais, atraentes, que fala-se a linguagem da pessoa ou pessoas, a quem se pretendia tornar comum uma mensagem. James Webb Young, notável publicitário americano, foi o mais elucidativo a borda-gem deste tema. Para o autor, uma nova

ideia, nada mais é, do que a combinação de velhos elementos. Complicou? O que é ideia? Que elementos são estes? Que combinação é esta? Como ocorre a combinação? Ideia, é representação mental que a mente forma de qualquer coisa. Esta definição não se esgota aqui. Para J. Young, o que interessa saber, não é onde procurar ideia, mas sim, como exercitar o cérebro através de um método pelo qual se pode criar ideias. O autor propôs o seu método para criação de ideias com base no seguinte pro-cesso: 1. Colecta de matéria-prima; Tem a ver com a nossa capacidade de reter na mente a maior quantidade possível e diversificada de infor-mação obtida na escola, vivência, viagens, televisão, conversas, desde a mais terna ida-de... 2. Elaboração das matérias no intelecto;

Tem a ver com a habilida-de e capacidade de apre-endermos, encontrarmos lógica e significado das coisas, bem como capaci-dade de falar-mos destas mesmas matérias, com outrem. 3. Incubação; Fase em que algumas informações ou intenções começam a ser descartadas, dando prioridade a outras, que estejam mais próximas daquilo que pretendemos

alcançar. 4. Estágio Eureka; Etapa em que acontece a combinação de dados e informa-ções no subconsciente da pessoa. É fase em que a ideia começa a nascer e a ganhar corpo propriamente dito. Não é fácil falar desta etapa. Provavelmente estudiosos da psicologia poderão explicar melhor como ocorre este fenómeno no subconsciente do indivíduo. 5. A ideia; Nesta fase acontece o nascimento da ideia como tal e pronta para utilização prática. A capacidade de aprender a criar ideias, inovar, empreender, é interior a qualquer indivíduo, independente da sua origem, estado físico, psíquico, religião, ida-de, etc, etc. A criação de ideias, a criativida-de, oempreendedorismo, durante muito tempo e nos dias de hoje, com realce, são elementos que justificam a existência de Agências de Publicidade, Assessores de Imprensa; Con-sultores de Marketing e Comunicação no geral.Sem criatividade ou ideias, estas áreas de ne-gócios poderão desaparecer, tal como muitas, actualmente no abismo. Todavia está, tende a alastrar-se também em todas as áreas da vida. Comente em joao.demba©gmail.com.

após ter transbOrdadO para a Argélia, a guerra do Mali vai envolver a qualquer momento outros países vizinhos. Na verdade, a ocupação jihadista do norte maliano é sequência de ope-rações anteriores na Mauritânia e Niger, sobre-tudo pela Aqmi (Al Qaida do Magreb Islamico), ela própria resultado de metamorfose no salafis-mo argelino.Estas origens multinacionais são semelhantes às da própria Al Qaida inicial. No caso maliano, as facilidades decorrentes do vazio militar e ad-ministrativo em extensas áreas do deserto, con-tribuíram para criar o “santuário” dos montes Tiberine, no extremo norte, juntando-se-lhe as reivindicações autonomistas ou independentis-tas tuaregues.Foi um movimento com esta base comunitária, o Movimento Nacional de Libertação de Azawad (MNLA), que desencadeou a rebelião ao atacar um quartel do exercito maliano no norte, em 17 de janeiro de 2012. Outro movimento com forte presença tuaregue foi entretanto criado, com maior capacidade de mobilização e propondo a instauração da Sharia (lei corânica) em todo o Mali, ao invés da separação. É o Ansar Dine (De-fensores da Fé), hoje a principal força rebelde, presente nas cidades de Gao, Kidal e Tomboctu, centro histórico de alto impacto em toda a Áfri-ca do Oeste.O MNLA foi militarmente derrotado pela aliança do Ansar Dine com a Aqmi e o Mujao (Movimen-to pela Unicidade e Jihad na Africa do Oeste), formação apontada ás vezes como dissidência da Aqmi, outras vezes como seu prolongamen-to. Na verdade, uma das características do mo-vimentos criado por Bin Laden é a flexibilidade, ou seja, mesmo dissidentes com planos táticos diferentes podem prosseguir no uso do mesmo símbolo islamista.A brigada que atacou o campo de gás de In Ame-nas seria uma dessas demonstrações.O exército maliano, desde sempre com efetivos e material insuficientes para proteger um territó-rio imenso foi, alem disso, abalado por um golpe de estado contra as instituições democráticas vigentes no Mali há cerca de 20 anos. A Consti-tuição maliana foi assim alvejada por dois inimi-gos: os jihadistas e os golpistas.A CEDEAO promoveu a criação de um executivo provisório mas a junta militar permaneceu ame-açadora, até que os jihadistas voltaram a atacar no centro do país, em 10 de janeiro ultimo.O apelo do Presidente interino do Mali, Dion-counda Traoré à França, foi decidido após esse ataque, dada a fragilidade militar interna, a ex-trema lentidão no envio de forças da CEDEAO e as hesitantes tramitações da ONU.Esta, previa apoio militar internacional no ter-reno a partir de setembro deste ano. Espera-se agora a chegada ao Mali, antes de final do mês, de dois mil soldados dos estados membros da CEDEAO e sua entrada em operações cerca de uma semana depois. Atualmente, as ações aére-as e terrestres dos franceses, restabeleceram as

posições anteriores à ofensiva jihadista do co-meço do mês em curso e enfraqueceram pontos importantes da logística do Ansar Dine, Mujao e Aqmi nas três cidades que ocupam no norte.A reconquista desse norte vai depender dos efetivos africanos em volume suficiente e do continuo apoio aéreo, logístico e de operações especiais pontuais, da França. Guerra prolonga-da em perspectiva.Os jihadistas possuem armamento importante, capturado nos arsenais líbios durante a insurrei-ção anti-kadafista e têm boas ligações às redes comercias clandestinas que oferecem munições e combustível em toda a sub-região, com longo currículo na matéria, incluindo os conflitos da Libéria, Serra Leoa e Costa do Marfim. Alguns chamam-lhe “rede mandinga” à qual Aqmi acrescenta vias próprias, serviço muito aprecia-do pelos seus aliados do Ansar Dine.A aliança jihadista tem mostrado varias vezes capacidade para alterar a localização dos campos de batalha. A ofensiva contra as proximidades de Mopti e a operação em In Amenas são só dois exemplos. Assim, a pergunta agora é onde será o próximo ataque fora do Mali, antes ou durante o avanço das forças franco-oeste africanas. Na Mauritânia possuem várias células “adorme-cidas” porque a repressão do governo de Nou-akchott é ao mesmo tempo severa e cautelosa. Neste caso, não participando da força da CEDE-AO. Situação diferente prevalece no Niger, país que coloca um batalhão naquela força e acolhe des-tacamentos do Tchad para, em conjunto, atra-vessar a fronteira e retomar Gao em nome do governo maliano. A Aqmi executou no Niger algumas arrojadas operações, como o rapto de técnicos das minas de urânio, alguns dos quais permanecem em seu poder, provavelmente nos montes Tiberine ou proximidades. Mas acima de tudo, o partido dirigente no Níger é membro da Internacional Socialista e o Presi-dente Issoufou é não só muito ouvido por Fran-çois Hollande, como tem amizades solidas no PS francês, construídas durante seu período de es-tudante e exilado em Paris. Alvo claro da Aqmi.O Senegal, pela sua repercussão externa é outro alvo possível e a Guiné-Bissau faz parte da zona de risco. A Aqmi não esqueceu a prisão, há al-guns anos em Bissau, de militantes seus acusa-dos do assassinato de turistas franceses na Mau-ritânia. A instabilidade bissau-guineense é outro atrativo. A não ser que os influentes traficantes do norte maliano intercedam em favor dos ho-mólogos de Bissau Tudo isto só para mencionar o Oeste africano e sem esquecer o Oeste europeu, onde podem agir células organizadas da Al Qaida ou grupos simpatizantes espontâneos, como já ocorreu em Espanha, Reino Unido e França.Uma das características do islamismo político é suscitar vocações de martírio e, em África, ata-ca numa linha contínua desde o Atlântico e o Mediterrâneo até ao mar Vermelho e ao Índico.

JOnuEl GOnçAlvEs

Rota Meridional

22 25 Janeiro 2013

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África

No priNcípio de Janeiro deste ano, os rebeldes islâmicos no norte do Mali que incluem o Ansar ed-Di-ne (Defensores da Fé), o Movimen-to para a Unidade e Jihad na África Ocidental (MUJAO), o al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI), e o Mo-vimento Nacional para a Libertação do Azawad conhecido por Movimen-to Touregue, lançaram novos ata-ques contra posições do governo de Bamako, animados pelos sucessos do ano anterior. O exército maliano abandonou posições sem grande re-sistência, tendo os rebeldes, que até então se tinham mantido confina-dos no norte do país, começado uma movimentação para o sul e ocupado a cidade de Konna, situada 650 qui-lómetros da capital, Bamako. Segundo fontes de inteligência oci-dentais, as forças islâmicas pode-riam controlar esta última cidade em quarenta e oito horas se a sua ofensiva não fosse parada, o que significaria o seu controlo quase efectivo do país. Dado que o Mali tem fronteiras longas e praticamen-te sem qualquer controlo com sete outros países africanos, e estando apenas a 3.000 km da França, anti-ga potência colonial, este agrava-mento da situação militar provocou reacções internas e externas e ape-los angustiantes de assistência da parte das autoridades de Bamako, nomeadamente do presidente in-terino, Dioncounda Traoré. Apesar dos esforços de organização e do material recentemente adquirido, o exército maliano continua sem capacidade operacional para fazer frente aos rebeldes islâmicos.A reacção de Paris não se fez espe-rar e o presidente François Hollande ordenou uma intervenção militar imediata para parar o avanço islâ-mico. No último fim de semana avi-ões franceses de combate Rafale e helicópteros Gazelle realizaram uma dúzia de operações. Nesta segunda-feira, cerca de 200 soldados france-ses do Regimento de Infantaria 21, apoiados por seis helicópteros de combate e aviões de reconhecimen-to, recuperaram as localidades de Diabaly e Douentza. Os ataques islâmicos teriam sido provocados pela falta de progresso no processo de negociações para um solução política do conflito. O grupo Ansar ed-Dine renunciou ao seu compromisso anterior de pôr fim às hostilidades e romper com as organizações terroristas, por con-siderar que o governo de Mali não estava preparado para satisfazer as

Uma missão difícil mas necessária?Intervenção francesa no Mali

«Com este forcing militar, os grupos islâmicos pretenderiam igualmente aumentar a pressão sobre o governo para forçá-lo a um compromisso dentro dos seus termos»

suas exigências, nomeadamente a aplicação da Sharia na região sob seu controle e uma maior autono-mia desta.A posição titubeante da comunida-de internacional sobre o desdobra-mento de forças militares no Mali, mesmo depois do Conselho de Segu-rança das Nações Unidas ter aprova-do a Resolução 2085, que autoriza o envio de uma Missão de Apoio In-ternacional Liderada Africanamen-te no Mali (AFISMA), incentivou os rebeldes a serem mais ousados na sua oposição ao regime de Bamako. Não só o exército maliano carece de formação para poder estar na van-guarda das operações, mas também considerações logísticas e responsa-bilidades financeiras ainda devem ser clarificadas. Mesmo depois da Comunidade Económica dos Esta-dos da África Ocidental (CEDEAO) ter disponibilizado 3.300 soldados, continuava a especular-se que a operação do seu desdobramento só aconteceria possivelmente em Se-tembro próximo. Com este “forcing” militar, os gru-pos islâmicos pretenderiam igual-mente aumentar a pressão sobre o governo para forçá-lo a um compro-misso dentro dos seus termos. Ao aumentarem a sua área de controlo militar, eles estariam interessados em criar uma nova dinâmica num processo negocial, que Bamako aceita em princípio, mas que parece condenado pela diferença de opini-

ões sobre a questões importantes como a laicidade do Estado e do grau de autonomia a ser concedido à região norte do Mali, sob controlo dos rebeldes. No sábado passado, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, que participou numa reunião de emergência da CEDEAO em Abidjan, capital da Côte d´Ivoire, disse aos líderes africanos que era chegada a hora dos seus pa-íses assumirem as operações milita-res no Mali “tão cedo quanto possí-vel”. A França não parece disponível em continuar a liderar este proces-so, mesmo com os actuais apoios africanos e do ocidente, temendo eventuais dificuldades militares no terreno perante as forças islâmicas e possíveis reacções anti-coloniais por parte de alguns sectores em África que não se sentem confortá-veis com mais esta intervenção es-trangeira em território africano. A União Europeia (UE) nomeou o general de brigada francês François Lecointre como comandante de uma missão para enviar 250 instrutores militares ao Mali, em Fevereiro. Por outro lado, vai disponibilizar 50 mi-lhões de euros para assistir as forças da CEDEAO e adicionalmente des-bloquear 250 milhões de euros em ajuda para o Mali, montante que ti-nha sido congelado depois do golpe militar de Março de 2012. A União Europeia ofereceu-se também para organizar uma reunião ministerial

de apoio internacional e do grupo de acompanhamento da situação no Mali a 5 de Fevereiro próximo. Entretanto, os estados membros da CEDEAO comprometeram-se em enviar 5 800 soldados para o Mali e decidiram nomear o major-general Shehu Usman Abdulkadir da Ni-géria e o brigadeiro Yaye Garba do Níger como Comandante e Coman-dante -adjunto da AFISMA, respec-tivamente, uma operação militar que poderá custar mais de 500 mi-lhões de dólares. Uma reunião de doadores internacionais está agen-dada para 29 de Janeiro próximo, em Addis Abeba, capital da Etiópia, para discutir como realizar tal finan-ciamento. Cerca de 150 soldados da Nigéria, Togo, Benin e Chade já che-garam a Bamako no domingo.Não obstante o sucesso inicial da in-tervenção militar francesa no norte do Mali, observadores notam que o conflito poderá não ser tal fácil de acabar. Aos insurgentes não parece faltarem meios financeiros, dado que existirem indicações segundo as quais eles estariam a receber fun-dos secretos de várias monarquias árabes do Golfo que, paradoxalmen-te, estão convencidas que subsidiar os movimentos radicais islâmicos em franjas distantes do mundo mu-çulmano seria uma medida pragmá-tica para evitar o eventual derrube dos seus regimes. Neste contexto, só a persistência de considerações contra uma possível propagação de movimentos islâ-micos radicais na África Ocidental com implicações na Europa poderia continuar a mobilizar os apoios e as forças necessárias para reverter o quadro militar no Mali, tendo a França como a ponta e lança desse esforço.

José C. Neto

24 25 Janeiro 2013

África

união africana pode desbloquear governo de consenso

reforma militar

participaçãoqualitativa

Guiné-Bissau mulheres reivindicam

CEDEAO ACELERA

NA úLtimA cimeira da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), em Abidjan, na Costa do Marfim, consagrada essencialmente à crise maliana, o presidente da Comissão da or-ganização encarregada de velar pela transição política na Guiné-Bissau, Kadré Désiré Ouedraogo, do Burquina Faso, anunciou a convocação, com carácter de ur-gência, de uma reunião, em Abu-ja, sede da CEDEAO, para acelerar a reforma do sector de Defesa e

Segurança guineense. Esta reforma é considerada cru-cial para restabelecer a legalida-de e a estabilidade, assim como para assegurar a justiça, e lutar contra a impunidade e contra o tráfico de droga. Em Bissau, a de-cisão da CEDEAO é interpretada como um sinal de que a Nigéria quer ver-se livre o mais rapida-mente possível do problema gui-neense, que comporta elevados custos financeiros. Com efeito, Lagos é que tem mais homens na

missão militar e policial da CEDE-AO na Guiné, a ECOMIB, de mais de 600 efectivos, e que substituiu a MISSANG. Em Novembro último, a CEDEAO e o Governo de transição assinaram um acordo prevendo o desembol-so por Abuja de 63 milhões de dólares para a implementação da reforma. Porém, as autoridades de Bissau deparam-se com sérias dificuldades para garantir os 10 por cento do Fundo de Pensões, indispensável ao arranque da re-

forma. Além disso, a própria filosofia da reforma já está a ser adulterada no sector da Segurança. A Guar-da Nacional, que devia estar sob autoridade do Ministério do In-terior, encontra-se na prática sob as ordens da chefia militar, e tem nas suas fileiras elementos jovens vindos das Forças Armadas, onde teriam sido admitidos sem antes terem prestado juramento da ban-deira. F.L.P.

As ORGANizAçõEs empenhadas na promoção da mulher na Gui-né-Bissau querem aproveitar a revisão constitucional, prevista neste período de transição, para fazerem aprovar no Parlamento medidas conducentes a maior participação feminina na políti-ca. Pretendem nomeadamente a introdução de cota feminina obrigatória nas listas dos par-tidos concorrentes às futuras eleições. Nos debates realizados estes dias pelas associações e Ongs fe-mininas nos media audiovisuais, na perspectiva da celebração do Dia da Mulher Guineense, em 30 de Janeiro, a reivindicação mais recorrente é a favor da tomada em consideração da questão do gênero nas reformas políticas que irão anteceder as próximas eleições gerais, ainda sem data. Activistas femininas estão actu-almente em concertação para ultimar um documento com propostas neste sentido que pretendem ver introduzidas na Constituição, em particular na legislação eleitoral e na lei dos partidos políticos. Odete Seme-do, uma conhecida intelectu-al guineense, considera que o objectivo das mulheres não se limita apenas a um “aumento qualitativo da presença feminina na política”, o que já é um dado adquirido. “Queremos sobretudo uma par-ticipação qualitativa na esfera de decisão”, indicou esta pro-fessora de Literatura e Cultura guineense e antiga governante, que colabora com a Plataforma Política das Mulheres, criada em 2009. Reconhece que a maio-ria dos partidos políticos está aberta a acolher mais mulheres, mas estas “continuam a não pesar nos orgãos directivos”. F.L.P.

Em alguns mEios políticos gui-neenses existem fortes expectativas de que a próxima cimeira da União Africana em Addis-Abeba, na última semana deste mês, poderá ser deci-siva para o rumo da transição políti-ca no país, pelo facto desta reunião incluir na sua agenda o exame do relatório da missão de avaliação da situação política e de segurança, que trouxe cerca de uma dúzia de altos funcionários de cinco organizações internacionais à Guiné-Bissau em meados de Dezembro último. Em Bissau, espera-se que a organiza-ção continental adopte recomenda-ções claras, designadamente no que respeita aos passos seguintes a dar para o restabelecimento da ordem legal e da estabilização durável, uma vez que a comunidade internacional já possui uma posição mais harmo-nizada sobre a sua intervenção no território. Nesta ordem de ideias, aguarda-se que a UA se pronuncie formalmen-te sobre o tão propalado Governo de consenso, que inclua as forças políti-cas contrárias ao golpe de Estado de 12 Abril de 2012, nomeadamente o ex-partido governamental, o PAIGC. Na semana passada, este partido ru-bricou o Pacto e o Acordo Político de Transição, documentos que regem este período de excepção, embora sob a reserva de sua posterior revisão. A adesão do PAIGC ao pacto foi en-carada como uma evolução positi-va, capaz de gerar os compromissos internos necessários aos entendi-mento entre o poder de transição e os seus opositores. Porque, como

afirmou um dirigente local, “sem o pacto o país pára e todos perdem”, enquanto um político é de opinião que “ninguém está interessado em prolongar o isolamento do país e a sua estagnação”. Contudo, existe uma clara indefi-nição, para não dizer ambiguidade, sobre quem toma a iniciativa, bem como sobre as modalidades e prazos de implementação desta medida. O Presidente de transição, Serifo Nha-madjo, um dissidente do PAIGC que se juntou ao golpe, é favorável a este cenário, mas é refém dos militares, pelo que descartou qualquer decisão sua neste assunto e remeteu os inte-ressados para o Fórum dos Partidos Políticos, um conglomerado de par-

tidos e personalidades quase todos sem representação parlamentar, que se colaram aos militares golpistas e ocupam os principais cargos neste regime de transição, que arriscam-se a perder, na eventualidade da consti-tuição de um novo Executivo. Outra matéria que a conferência dos chefes de Estado e de Governo da UA poderá ajudar a agilizar é a questão de saber se a reforma do sector da Defesa e Segurança (ler artigo nes-ta página) deve ser retomada antes ou depois das próximas eleições. A maioria dos guineenses é favorável à realização desta reforma antes das consultas eleitorais, por considerar que sem umas Forças Armadas sub-metidas ao poder político, não é pos-

sível garantir, nem eleições transpa-rentes e pacíficas, nem uma justiça isenta. Embora a contribuição dos parceiros externos seja incontornável na bus-ca de solução para a crise, no entanto é aos actores políticos nacionais que compete a última palavra. Assim, tanto a formação do Governo in-clusivo, como a articulação entre a reforma do sector da Defesa e Segu-rança e as eleições gerais, deverão ter uma resposta definitiva na pró-xima sessão da Assembleia Nacio-nal Popular, o Parlamento, prevista para Fevereiro, em data ainda por determinar. Fernando Lopes pereira, correspondente em Bissau

25 Janeiro 2013 25

AbdelmAlek SellAl, primeiro-ministro da Argélia, confirmou a morte de 37 reféns estrangeiros, nove argelinos e de 29 militantes is-lamistas como resultado do seques-tro do campo de gás natural de In Amenas. Algumas das vítimas ainda estão por identificar. Segundo o governante, “Havia um canadiano entre os militantes. Era ele quem coordenava o ataque”.Uma fonte da área de segurança argelina disse aos meios de comu-nicação que, durante a ofensiva do exército argelino, foram encontra-dos documentos nos corpos de dois militantes islamitas que os identifi-cavam como sendo cidadãos cana-dianos.Na operação militar que levou o Governo argelino a recuperar a au-toridade sobre o complexo, foram detidos três terroristas e salvo 25 reféns. Sete funcionários interna-cionais continuam oficialmente desaparecidos. Uma grande quanti-

dade de explosivos e armamento foi encontrada e segundo Sellal, a ofen-siva militar tornou-se inevitável por

essa razão, objectivo dos rebeldes era fazer explodir as instalações. “Numerosos estrangeiros foram

mortos com uma bala na cabeça”, disse o primeiro-ministro, acres-centando ainda que no total eram

790 funcionários a trabalhar no lo-cal, dos quais 134 eram estrangei-ros de 26 nacionalidades. O cam-po de gás natural de In Amenas é explorado em regime de joint-venture pela argelina Sonartach, a petrolífera britânica BP e a Statoil da Noruega.Segundo o chefe do governo arge-lino sete reféns japoneses foram mortos e três ainda estão desapa-recidos. Os rebeldes, que terão en-trado no país a partir do Norte do Mali, eram originários da Tunísia, Egipto, Mali, Mauritânia e Niger, além de se encontrarem entre eles, alguns argelinos. O ataque foi reivindicado pelo fa-moso jihadista argelino, Mokhtar Belmokhtar, um senhor da guerra do Sara que consegue escapar as au-toridades internacionais há mais de 30 anos e um dos fundadores da Al-Qaida do Magreb Islâmico (AQMI), que deixou o movimento em outu-bro para lançar o seu próprio grupo.

No SeguimeNto de conversa-ções entre o Parlamento e o Go-verno santomenses, no sentido de se reforçar a força militar no país, o Primeiro-ministro Ga-briel Costa reuniu-se com os embaixadores de Angola em São Tomé e de França, residen-te no Gabão, com o objectivo de intensificar a cooperação com estes dois países.O encontro, que decorreu no Palácio do Governo, em São Tomé, foi, segundo o embaixa-dor angolano, uma cortesia do chefe do Governo do país. Min-gas acrescentou ainda que a «diplomacia económica e a de-fesa para estabilidade» estão a ser analisadas, no âmbito da cooperação bilateral. O diplo-mata e o governante passaram em revista a parceria entre os dois países, nos mais diversos domínios. A delegação francesa foi com-posta pelo embaixador Jean François Desmazières, pelo Ge-neral Comandante das Forças

Francesas no Gabão e pelo adi-do de Defesa de França em São Tomé e Príncipe e no Gabão. Gabriel da Costa foi empossa-do a 11 de Dezembro do ano passado, na mesma cerimónia que conferiu posse aos dez mi-nistros que constituem o novo Governo do arquipélago. O actual Executivo foi nomeado pelo Presidente da República

são-tomense, Pinto da Costa, na sequência da Moção de Censura ao anterior, encabeçado por Pa-trice Trovoada.Em Dezembro, Eduardo Mingas manteve um encontro com a ministra dos Negócios Estran-geiros e das Comunidades, Natália Umbelina, com quem abordou também, a cooperação bilateral.

AS chuvAS provocArAm a morte de 35 pessoas desde Outubro em Moçambi-que, onde a previsão de agravamento da situação atmosférica faz temer a subida das águas do rio Limpopo em zonas ri-beirinhas de cinco distritos da província de Gaza, no sul do país. Segundo o Insti-tuto Nacional de Gestão de Calamidades moçambicano, revelou na quarta-feira, 23, quatro pessoas morreram nos últi-mos dias na região.Os distritos de Mabalane, Guijá, Chókwè, Chibuto e Xai Xai são os mais ameaça-dos, segundo informações da Direcção Nacional de Águas, citada pela imprensa moçambicana.A maior parte das mortes terão sido ocasionadas por arrastamento, princi-palmente de crianças, afogamento na travessia de rios, desabamento de casas, electrocução, descargas eléctricas e ata-ques de crocodilos, segundo a ministra da administração estatal, Carmelita Na-machulua. O mau tempo deixou já cen-tenas de pessoas desalojadas e o número total de afectados ronda os 37 mil.A imprensa local aponta que em Ma-balane, distrito da província de Gaza, duas pessoas morreram esmagadas pelo desmoronamento da sua casa. 89 resi-

dências informais, com paredes feitas de lama, desabaram também na localidade de Combumune. Um bebé morreu nas mesmas circunstâncias em Guijá e outra criança morreu afogada num poço, no distrito de Mandlakazi, informam ain-da.Na localidade de Chigubo, por onde pas-sa o rio Changane, afluente do Limpopo, mais de 150 habitações desabaram e no distrito de Massingir, três localidades estão isoladas e duas escolas primárias ficaram inundadas.

havia canadianos entre os sequestradores

cooperaçãocom Angola reforçada

chuvascontinuam a matar

Argélia

São Tomé e Príncipe Moçambique

O Reino Unido revelou ontem que os ocidentais na cidade de Bengasi, na Líbia correm um risco “real e iminente” e apelou aos seus cidadãos que abandonem a cidade de imediato. A Alemanha e a Holanda fizeram pediram o mesmo

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MundoEl País suspende edição impressa com imagem falsa de Chávez

Obama defende o estadosocial na tomada de posse

O jOrnal EsPanhOl «El País» suspendeu ontem a distribuição da edição impressa, na qual tinha publicado uma imagem exclusiva, mas falsa, do Presidente da Vene-zuela, Hugo Chávez, hospitalizado há cerca de mês e meio em Cuba. O «El País» explicou o erro no sítio do jornal, numa nota pu-blicada às 06h37 (mesma hora em Luanda), ou seja, depois da distribuição da primeira edição impressa do diário. “Depois de ter constatado que a imagem fornecida não era a de Hugo Chávez, o «El País» sus-pendeu a distribuição do jornal e procedeu à expedição de uma nova edição para os pontos de venda”, de acordo com a direc-ção do diário, o que não impediu que o diário chegasse às mãos de muitos espanhóis. “O texto que acompanhava a

foto sublinhava que o «El País» não tinha conseguido verificar de forma independente as cir-cunstâncias, o local e a data em que a foto tinha sido feita”, su-blinhou. A imagem de um homem, entu-bado numa cama de hospital, permaneceu no sítio do diário durante cerca de 30 minutos. A direcção do «El País» acrescen-tou que a imagem foi fornecida pela agência noticiosa espanhola Gtres Online, identificada como sendo de Chávez. Hugo Chávez está hospitalizado há sete semanas em Cuba, onde foi operado devido ao reaparecimen-to de um cancro na zona pélvica. A verdadeira situação de Chávez tem sido mantida em segredo, de-sencadeando vários rumores so-bre as hipóteses de sobrevivência do presidente da Venezuela.

De acordo com a conta na rede social Twitter do ministro da In-formação venezuelano, Ernesto Villegas, a foto terá sido tirada do vídeo de uma intervenção cirúr-gica de outra pessoa, e publicada no sítio de partilha de imagens

Bouture.“Devido a este incidente, a edição impressa do jornal de 24 de janei-ro poderá não estar disponível em alguns quiosques, tanto em Espa-nha, como no estrangeiro”, disse o ‘El País’.

BaraCk OBama tomou posse, segunda-feira, para o segundo mandato como Presidente dos Estados Unidos, com um apelo para a unidade de todos os nor-te-americanos, elevação do de-bate político e a defesa veemente do Estado social. No seu discurso de tomada de posse no Capitólio, em Washing-ton, Obama defendeu que “as escolhas difíceis para reduzir o custo dos cuidados de saúde e do défice”, não podem deixar desprotegidas as próximas gera-ções. “Os compromissos que fazemos uns com os outros – através do Medicare e Medicaid [progra-mas de assistência de saúde para idosos e mais pobres, respectiva-mente] e Segurança Social – não tolhem a nossa iniciativa, fortale-cem-nos. Não nos tornam uma na-

ção de dependentes, libertam-nos para tomar os riscos que tornam grande este país”, disse o 44.º Pre-sidente dos Estados Unidos.

Para assistir à tomada de posse pública de Barack Obama, num dia de frio glacial na capital norte-americana, perto de 600 mil pes-

soas afluíram à enorme alameda (National Mall) em frente ao Ca-pitólio, que tem uma extensão de mais de três quilómetros.O número fica muito aquém dos 1,8 milhões de pessoas que lota-ram a alameda e as ruas de Wa-shington quando em 2008 Obama tomou posse como primeiro presi-dente afro-americano da História do país.Eleito em novembro de 2012, Oba-ma já tinha prestado juramento domingo na Casa Branca, numa cerimónia reservada a familiares, amigos e colaboradores.A cerimónia de segunda-feira fi-cou marcada por uma polémica em torno da actuação de Beyonce, com a cantora norte-americana a ser acusada de ter cantado em playback o hino nacional, recor-rendo a uma gravação feita na véspera.

Um PartidO de extrema-direita in-diano começou a distribuir milhares de facas às mulheres de um estado no oeste do país, para as ajudar a defenderem-se em caso de agres-são, depois da a morte de uma es-tudante violada por seis homens em Dezembro, em Nova Deli, ter choca-do o país. Um número estimado de 21 mil fa-cas deverá ser distribuído pelo Shiv Sena em todo o estado de Maha-rashtra, com capital em Bombaim, o principal bastião do partido conhe-cido pela sua atitude agressiva.A distribuição das facas começou na quarta-feira à noite em Bombaim, dia do aniversário do fundador do partido, Bal Thackeray, que morreu em Novembro.“Da mesma forma que se corta os legumes, corta-se a mão da pessoa que vos tocar”, justificou um dos seus partidários Ajay Chowdhary, incentivando, desta forma, as mu-lheres a levarem na mala uma faca com uma lâmina de sete centíme-tros.A 16 de dezembro, uma estudante de 23 anos, que voltava do cinema com o namorado, foi brutalmente atacada e violada por seis homens dentro de um autocarro, em Nova Deli. A jovem morreu 13 dias de-pois num hospital de Singapura. O crime gerou uma onda de indigna-ção na Índia, com centenas de ma-nifestações a exigir a mudança da legislação e penas severas para os violadores.Na quarta-feira, uma comissão foi nomeada pelo Governo indiano para rever a legislação sobre crimes sexu-ais. Recomenda-se penas mais du-ras para os agressores, mas a pena de morte é rejeitada.

Para se defenderem de tentativasde violação

Partidode extrema-direita indiano distribui facas às mulheres

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A Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, prometeu quarta-feira que os Estados Unidos vão usar a Internet e as redes sociais na sua luta contra a Al-Qaida e outros grupos extremistas islâmicos

Paralelos Por Isabel Costa Bordalo

má companhiaO PartidO do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o Likud, de direita, manteve-se o mais votado, em eleições le-gislativas realizadas terça-feira, mas enfraquecido pelos avanços do partido centrista Yesh Atid, indicavam as sondagens à boca das urnas. Projecções divulgadas pelo Canal 2 da televisão israelita no fecho das urnas às 20h00 davam o Li-kud a conquistar 31 dos 120 lu-gares do Knesset, o parlamento de Israel, seguido pelo Yesh Atid, com 19 assentos, pelo Partido Trabalhista, de centro-direita, com 17 mandatos e pelo parti-do religioso de extrema-direita “Casa dos Judeus”, com 12 luga-res no parlamento.O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, deve manter-se na chefia do Governo, apesar do mau resultado da sua lista nas eleições legislativas, que o deve forçar a aliar-se a um novo partido centrista. Segundo a agência noti-ciosa AFP, a lista comum formada pelo Likud, de Netanyahu, e pelo Israel Beiteinou, do seu ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, o ultra-nacionalista Avigdor

CUBa rEalizOU com sucesso mais de 5.100 transplantes de rim desde Fevereiro de 1970, conquista que coloca o país ao lado das nações desenvolvidas, disse um especialista esta quar-ta-feira.Do total de transplantes rea-lizados ao longo dos últimos 42 anos, todos gratuitos, 397 foram efectuados com dadores vivos, afirmou Alexander Mar-mol Sonora, líder do programa de coordenação de transplantes no Ministério da Saúde Pública, citado pela agência oficial chi-nesa Xinhua.Os dadores vivos foram sobre-tudo familiares próximos dos pacientes, como pais ou irmãos,

os únicos que as autoridades cubanas aceitam para esse tipo de transplante.Nove centros de saúde reúnem condições para realizar trans-plantes com dado-res vivos, dos quais cinco se localizam na capital, Havana, explicou Marmol Sonora.De acordo com o mesmo responsável, o recém-inaugura-do Centro de Enge-nharia Celular e de Transplante de Órgãos e Tecidos vai elevar a qualidade do programa nacional de transplante de órgãos na ilha, por via da realização de estudos

de histocompatibilidade princi-palmente ao nível do transplan-te renal e da medula óssea.As investigações internacionais provam que é quatro vezes mais

barato realizar um transplante renal do que manter o pacien-te sob um tratamen-to assente na diálise, o qual custaria cerca de 20.000 dólares nor te-americanos (15.020 euros) por ano, acrescentou o

médico.Isto quando os cidadãos cuba-nos têm acesso gratuito a trans-plantes renais, realçou Marmol Sonora.

Mais de 5.100 intervenções gratuitas

Partido do primeiro-ministro israelita perde 10 deputados

transplantes de rins colocam Cuba entre as nações mais desenvolvidos

netanyahu vence eleiçõesmas tem de negociar governo

O ministrO das Finanças japonês surpreendeu esta semana com uma declaração sobre o direito à morte dos doentes idosos. Surpreender não é bem o termo, ten-do em conta que Taro Aso há anos vem assombrando o Japão com a sua conduta imprópria para um homem de Estado. Ainda assim a última tirada do ex-pri-meiro-ministro japonês, que regressa à política activa após ser derrotado nas urnas em 2009, é difícil de compreen-der. Mesmo que a sua carreira esteja recheada de gaffes e declarações infe-lizes que levaram os media japoneses, em 2008, a compararem-no, em dis-parates, ao então Presidente dos EUA, George W. Bush, depois de uma série de declarações públicas que causaram embaraços internos e externos.Uma das declarações públicas mais conhecidas foi proferida em 2001. Na qualidade de ministro da Economia, Aso disse que queria fazer do Japão um país tão bem-sucedido que levasse os judeus mais ricos a quererem viver ali. Já em Outubro de 2005, durante a cerimónia de abertura do Museu Nacional de Kyushu, onde está bem patente a forma como outras culturas asiáticas influenciaram o Japão, Taro manifestou-se satisfeito por o país ter “uma cultura, uma civilização, uma linguagem e um grupo étnico”, esque-cendo-se que representa uma nação com vários grupos étnicos.Taro Aso levou esta semana a sua disle-xia mental mais longe e, um mês depois de tomar posse da pasta das Finanças, teorizou sobre os custos “desnecessá-rios para o país” que os cuidados de saúde para doentes idosos implicam. Aso defendeu mesmo que a estes do-entes devia ser permitido morrer rapi-damente para aliviarem a pesada carga financeira que representa o seu trata-mento na economia japonesa.A declaração de Aso não foi gratuita. O ministro das Finanças proferiu estas frases, citadas pelo jornal britânico «The Guardian», durante uma reunião do conselho nacional dedicada às re-formas da segurança social e ao orça-mento da saúde.Num dos países onde a esperança média de vida é das mais elevadas do mundo, onde os casamentos e a nata-lidade decresceram abruptamente e onde um quarto da população de 128 milhões de pessoas tem mais de 60 anos, o “problema só será resolvido” se se “deixar os idosos morrer rapida-mente”, segundo Aso.“Que Deus não permita que sejam for-çados a viver quando querem morrer.

Eu iria acordar sentindo-me incrivel-mente mal por saber que o tratamento era totalmente pago pelo Governo”, justificou o ministro que toma conta das finanças do Japão.Mas não se pense que Taro Aso quer o mal dos outros. Ele próprio, que já vai nos 72 anos, recusa assistência médi-ca se ficar gravemente doente e já deu instruções à família para que não lhe sejam ministrados tratamentos que lhe prolonguem a vida.“Não preciso desse tipo de cuidados”, afirmou com o mesmo desassombro com que, em Outubro de 2008, rea-giu aos media japoneses, depois de noticiarem que Aso foi visto 32 vezes, no mês de Setembro, a sair de restau-rantes e bares de hotéis de luxo, onde teria jantado e bebido. “Não vou mu-dar o meu estilo de vida. Felizmente, tenho o meu dinheiro e posso pagar isso”, afirmou Aso, muito criticado, inclusive pelo seu partido, pela vida faustosa que levava, em contraste com o seu antecessor, Yasuo Fukuda, que apenas jantou fora sete vezes, du-rante o primeiro mês de mandato. É certo que Aso tem dinheiro para jantar fora todos os dias em hotéis de luxo, mas expõe-se a que a sua vida seja escrutinada, como aconteceu em 2008, e o seu passado remexido, bem como o da sua família. A forma como enriqueceu saltou para as primeiras páginas dos jornais, com alegações de que as minas de carvão da sua família, a Aso Mining Company, ganharam di-nheiro à custa de trabalho escravo, ao forçarem prisioneiros de guerra dos Aliados a trabalharem de graça, em 1945, quando chegou ao fim a segun-da grande guerra mundial. Segundo os jornais ocidentais, 300 prisioneiros, incluindo 197 australia-nos (dois deles morreram), 101 britâ-nicos e dois holandeses trabalharam nas minas da família de Aso, haven-do fotografias, tiradas em Agosto de 1945, de uma força australiana sub-nutrida nas minas. Os jornais reporta-ram ainda que 10 mil coreanos foram obrigados a trabalhar na Aso Mining Company, entre 1939 e 1945, sobre severas e brutais condições, muitos deles morreram ou foram feridos en-quanto recebiam ordenados miserá-veis.Só à luz destes acontecimentos se consegue enquadrar uma tese como a que agora Aso defende para salvar a segurança social do seu país. Mas a receita revela um profundo desprezo pela vida humana de um homem que, nem num bar, deve ser boa compa-nhia.

Lieberman, só conseguiu 32 ou 33 deputados, dos 120 que tem o parlamento (Knesset), quando antes tinha 42.O grande e inesperado vencedor foi o partido centrista Yesh Atid, lançado há cerca de um ano pelo ex-jornalista Yair Lapid, que conseguiu eleger 18 ou 19 depu-tados, o que o torna a segunda maior formação política israelita, à frente do Partido Trabalhista, que elegeu 17 dos seus candida-tos.Perante esta perda, Netanyahu

já se disponibilizou para for-mar “um Governo o mais amplo possível”, ao discursar aos seus apoiantes, em Telavive.Lapid, um recém-chegado à po-lítica, também já defendeu “um Governo o mais amplo possível”.Um analista da rádio militar dis-se que Netanyahu deveria ser obrigado a entregar um dos três principais ministérios -- Defesa, Negócios Estrangeiros ou Finan-ças - a Lapid.Os resultados definitivos só se-rão anunciados dentro de uma semana.Numa primeira reação palesti-niana, o negociador Saeb Erakat, afirmou à agência noticiosa AFP que “os resultados da eleição israelita são um assunto inter-no israelita”, mas adiantou que “qualquer que seja a natureza da coligação governamental, ela deve pretender a paz e seguir a via de uma solução com dois Es-tados, para restaurar a credibi-lidade do processo de paz”.A taxa de participação nas eleições foi de 66,6 por cento, uma ligeira alta

em relação ao verificado nas legislativas de 2009, quando foi de 65,27 por cento, indicou a comissão eleitoral.

«Apesar dos pesares» apuramento é possível

Nada estádecidido

É difícil eNteNder tanta asneira nesta 7.ª incursão da selecção nacio-nal de futebol pelos palcos da maior e mais representativa manifestação desportiva do Continente. Sendo o futebol uma ciência aberta, ele não é, como alguns poderão pensar, coisa de somenos importância, acessível nas suas inúmeras variáveis, algu-mas de natureza intrinsecamente científica, a tocadores de reco-reco, curiosos, ou mais preocupantemente aos chico-espertos.Aquilo que vimos fazer à nossa selec-ção, e no fazer estão, acima de tudo, os intérpretes e quem lhes deu a tác-tica e preparou para esta competição, brada aos céus!Não pretendo insinuar com a excla-mação que Angola teria de encarar a sua participação neste CAN 2013 como séria candidata e que o mais equivaleria a derrota. Nada disso. O que me levou a ficar imensamen-te estupefacto foi, acima de tudo, a ideia de jogo à qual se juntam as op-ções, prévias ou no andamento das duas partidas, em matéria de escalo-namento dos jogadores.Poucos sabiam como é que Angola se iria apresentar neste CAN. Isto por-que, dos jogos passados, incluindo os da eliminatória que nos conferiu o apuramento, diante do Zimbabwe, não foi possível determinar com exac-tidão o que ia na cabeça de Gustavo Ferrín, um técnico com experiência na lide com «teenagers», mas a quem foi confiada missão de trabalhar com jogadores maduros, com vícios e muitas manhas. Mal comparado, é o mesmo que pedir a um professor de instrução primária que leccione ma-temática aplicada a universitários de 5.ºano! Bondam as más experiências conhecidas pelo mundo fora…Pegando na ideia de jogo, a variável mais controversa e penalizante, um sujeito fica basbaque ao ver uma equipa, num repente, mudar uma fi-losofia que não é apenas da selecção como do próprio futebol angolano, assumindo o luxo, raro nos dias de hoje, de se apresentar com dois pon-tas-de-lança de raiz sem o necessário suporte na retaguarda, capaz de ali-mentar, com a assiduidade necessá-ria, os dois avançados.Que treinador é este que usa uma es-pécie de ferrolho e meio da zona de construção de jogo (Dedé e Pirolito) e pranta mais dois médios/ala com a dupla missão de defender e produzir

MesMo perdendo Ango-la, que não depende de si, continua com a janela do apuramento aberta. Sem fa-zer grandes contas, apenas aquelas à nossa moda, e a que estamos infelizmente habituados, o cenário é sim-ples de descrever:Para as Palancas Negras se apurarem para os quartos-de-final têm de vencer Cabo Verde, este domingo, e Mar-rocos perder ou empatar com a África do Sul.Quaisquer outros desfechos equivalem ao bilhete de re-gresso, num grupo onde a África do Sul confirmou o favoritismo, Marrocos, e, de forma muito particular e saudável, Cabo Verde, che-gam ao último jogo a discutir o apuramento.

28 25 Janeiro 2013

DesportoConfrangedora incompetência

Contasà nossa moda

Texto de manuel antónio

Fotos de ampe rogério Enviados especiais

ao CAN 2013 com o patrocínio da CoSal

jogo ofensivo, sendo previsível que estariam mais obrigados a pisar os espaços recuados?Ah… Ferrín pensou que Miguel era o Marcelo (Real Madrid) e Lunguinha o nosso Daniel Alves (Barcelona)! Vai daí seja o que Deus quiser…Mesmo assim, onde está o maestro, o que marca o compasso e faz correr a bola? Dedé? Pirolito?Um seleccionador, seja qual for, não deve inventar um sistema que vá contra a filosofia dominante no fute-bol do país e muito menos contra as características dos jogadores. Antes pelo contrário: deve aproveitar as rotinas e as sinergias e moldá-las à selecção por forma a obter o máximo rendimento com a matéria-prima de que dispõe, cuja escolha e responsa-bilidade são exclusivamente suas.Não sabe o nosso seleccionador que Angola sempre jogou com um ponta-de-lança? O que mudou então? Há craques escondidos que justificam esta aventura? E esses craques são Geraldo ou Guilherme Afonso, para só referir as principais novidades?Contra Marrocos as Palancas Negras só acertaram mais ou menos o passo na segunda parte, depois de saírem Guilherme Afonso e Lunguinha, pas-sando a jogar apenas com um homem postado na área adversária; frente à África do Sul foi um deus-nos-acuda durante toda a primeira parte, regis-

tando-se melhorias quando entra-ram Djalma Campos e Gilberto, man-tendo-se em campo o perigo público n.º 1, Lunguinha, e o jogador que, juntamente com Geraldo,passou os 180 minutos da nossa participação a fingir que «anda mas não anda», como dizem os brasileiros: Guilher-me Afonso!Para que a luz continue a aluminar valeu-nos o resultado do Marrocos-Cabo Verde, segundo jogo do dia, após o nosso desastre, o mesmo é dizer, a confirmarem-se os nossos desejos e contrariando o ditado, que a sorte protegeu quem menos tem feito por a merecer.«Apesar dos pesares» Angola, que não depende de si própria, pode deixar pelo caminho equipas melhor organizadas como demonstram ser Cabo Verde e Marrocos. Basta que ganhe o jogo de depois de amanhã, em Durban e que Marrocos não ven-ça a África do Sul para que o futebol nacional escreva uma história misti-ficadora daquela que está a ser a nos-sa realidade neste CAN 2013 onde, independentemente das asneiras de manual parece haver o «clima» que faltou a Lito Vidigal que, nesta altura da prova, em 2012, fez muito melhor e conseguiu muito melhores resulta-dos do que aqueles que se registam sob o comando de Ferrín. Mas… foi despedido.

Formação

Benfica celebra protocolocomcolégio caju em luandao sport Lisboa e Benfica assinou ontem em Luanda um protocolo com o Colégio Caju, que visa a criação de um projecto de formação de-nominado “Geração Benfica – Escola de Futebol CAJU”.Com a assinatura do presente protocolo, a Escola de Fute-bol Geração Benfica – CAJU – Talatona, compromete-se a formar talentos de futebol, contando para esse efeito com a presença de técnicos especializados do Sport Lis-boa e Benfica, vindos de Por-tugal, conjuntamente com técnicos do Colégio Caju.O projecto “Geração Benfica – Escola de Futebol CAJU” tem como objectivo formar no decurso do ano 2013 cer-ca de 400 alunos com idades compreendidas entre os 5 e os 16 anos. O protocolo foi assinado pelo Director-Geral do Centro de Formação e Treino Caixa Futebol Campus, Armando Jorge Carneiro, em represen-tação do Presidente do Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD, Luís Filipe Vieira, e pela Directora do Colégio Caju,

Irene Ba-rata.

defesa, com a particularida-de de assumir com maior frequência a ajuda ao meio-campo. A nenhum

dos dois, porém, se podem apontar culpas nos dois golos sofridos. Antes pelo contrário. Se mais não aconteceram a eles se deve.

LUnGUinHa (1) – Atribuí-mos um ponto acima do «pés-simo» porque respeitamos o seu esforço, sem resulta-

dos, sublinhe-se, que despendeu. Os dois golos sofridos saíram da sua zona de acção, em especial o primeiro, com o marcador a surgir completamente isolado na área. Frente a Marrocos foi um dó de alma vê-lo a ser rabiado por Assaidi, ten-do sido substituído, tardiamente, por Marcos Airosa, quando Gustavo Ferrín acordou. Inesperadamente voltou a ser titular diante da África do Sul e repetiu a péssima prestação do primeiro jogo. Aos 5 minutos entregou a bola a adversário e lançou o pânico na nossa defesa; aos 8 minutos travou em falta o seu opositor, ocasionando um «livre» que quase deu golo; aos 30 minutos esqueceu-me de marcar o seu espa-ço e a África do Sul fez o primeiro golo; e aos 50 minutos não estava onde era suposto estar e teve de ser Dany Massunguna a varrer a zona e o adversário tendo sido admoesta-do com um cartão amarelo. E não é que Lunguinha, o grande vilão das aspirações da equipa, terminou a segunda partida!

GeraLdo (2) – É o representante de um forte e influente grupo de pressão que vê nele uma es-

pécie de Messi em ponto pequeno, única razão, não entendível, mas, plausível, para ter ganho o lugar a Djalma Campos. Os que vêm nele qualidade para representar a selecção nacional são os mesmos que fizeram a cabeça de Job ao apelidá-lo de «Puto Maravilha»,

lamá o herói… lunguinha o vilão

invenções, teimosiaou desconhecimento?

É injUsto CULpar exclusivamente os jogadores pelas exibições diante de Marrocos e África do Sul. Injusto, porque se limitaram a interpretar as ideias do seu treinador, nos dois jogos completamente destrambe-lhadas.Apesar desta importante e justificada premissa deve enaltecer-se o esforço dos jogadores que cumpriram os mínimos e apontar aqueles cujas exibições estiveram aquém do que sabem, ou que se presumia serem sabedores.No cômputo dos 180 minutos dos jogos já escoados apenas três «Palancas» justificam nota positiva, sendo que um deles, Lamá, tem de ser cotado muito acima da confran-gedora mediania.Numa pontuação de zero a dez seleccionámos os três melhores e os três piores nos jogos frente a Marrocos e África do Sul, que nos merecem as seguintes notas e comentários:

LaMÁ(9) – Se Angola ainda pode aspirar ao apuramen-to a ele o deve. Frente a Mar-rocos realizou duas espec-

taculares intervenções, a remates para golo, aos 4 e 9 minutos. Na segunda partida, diante da África do Sul, e já depois de ter sofrido o primeiro golo, sem culpas, voltou a brilhar, aos 64 minutos, evitando o 2-0, caindo de imediato em cima de Lunguinha, o «passador» de ser-viço. Refreou os ímpetos e deu-lhe um abraço de alento, que não serviu de nada.

danY Mas-sUnGUna (7) – Foi um dos bombeiros de serviço na defesa, mas não conseguiu apagar os

fogos todos. Foi quem mais sofreu com o desacerto de Lunguinha, pois a ele competiu fazer as dobras ao seu companheiro. E dobrou-o vezes sem conta, tendo forçado o cartão amarelo, frente à África do Sul, aos 50 minutos, numa das incursões pela auto-estrada que sempre foi o lado esquerdo da nossa defensiva.

bastos (7) – Esteve ao nível do seu companheiro da zona central da

25 Janeiro 2013 29

os «mais» e os«menos» Ferrín anda aos papéis

Ampe Rogério

quando se trata, tão-só, de um jogador com algum potencial, que, se conseguir fazer a sua «travessia do deserto» sem traumas, pode recuperar o seu verdadeiro estatuto no futebol nacional e na selecção. Para que conste, e pelo que Geraldo evidenciou nas duas partidas em que foi titular, a razão está do lado do Curitiba, que o dispensou a um clube da II Divisão, e de todos os treinadores que passaram pelas Palancas Negras, em particular Lito Vidigal, que foi imolado por não o ter convocado para o CAN disputado na Guiné Equatorial/Gabão. É um jogador mediano, imberbe, que não trouxe valor à selecção. Quando saiu, no primeiro jogo, a equipa me-lhorou substancialmente, tal como aconteceu frente aos sul-africanos, com a entrada de Djalma, que deveria ser o titular indiscutível. E a propósito do jogador do FC Porto emprestado a um clube turco da I Divisão, não vale a pena argumentar com o seu estado físico, com lesões e outras escapatórias que tais, pois, um jogador que provou estar apto para fazer os segundos 45 minutos diante da África do Sul é porque, pelo menos, nesta importante partida, estava apto para jogar o tempo todo. O resto é conversa para boi dormir…

GUiLHerMe (2) – Foi convocado, à última hora, por ser um atleta alto e possante. Mas o futebol

não é… basquetebol. Independen-temente de corporizar um sistema contraproducente, imposto pelo visionário Gustavo Ferrín -- Angola não tem «fontes de alimentação», nem escola, para se dar ao luxo de usar dois pontas-de-lança – que acabou por matar a veia goleadora de Manucho, um dos melhores marcadores dos CAN’s, com quem chocou várias vezes na ária adver-sária, não mostrou ser possuidor de qualidades para justificar a titulari-dade. Teve nos pés a possibilidade de Angola poder sair do primeiro jogo, com Marrocos, na posição de vencedora, mas, trapalhão, falhou, aos 47 minutos, um lance incrível, sem o guarda-redes na baliza. Atrapalhou mais a acção de Manucho, um ponta-de-lança com credenciais, impedindo-o, inclusive, de chegar a bolas que podiam ter como destino o fundo da baliza adversária.Todos os restantes atletas, nos quais se inclui a prestação injus-tamente breve de Marco Airosa no cômputo dos 180 minutos, justifi-cam nota 5.

estava na Cara que a equipa que acabou o jogo com Marro-cos deveria iniciar o jogo com a África do Sul. Por duas razões nucleares. Em primeiro lugar porque Marco Airosa deu à de-fesa a segurança que nunca teve com Lunguinha e, depois, por-que era de esperar que a África do Sul, sedenta de uma vitória, encarasse o jogo com redobrado empertigamento, no que pode-ria, e devia ser travada pela ex-periência de Gilberto e o reforço do meio-campo.A haver alterações, exigia-se a entrada de Djalma Campos para formar o tridente atacante tão comum nas Palancas Negras e soberbamente desenvolvido por Gilberto, Manucho e Flávio.Mas, Ferrín, que substituíra Lun-guinha diante de Marrocos para segurar o empate, decidiu contra a lógica e contra os interesses da nossa selecção manter aquela que é a sua equipa predilecta, com Geraldo, Guilherme Afonso e Lunguinha em campo.O resultado viu-se e já faz parte da história. O que ainda não é parte do acervo deste CAN é a análise que terá de fazer-se sobre quem decidiu que assim teria de ser, não dando a mais pequena justi-ficação para as suas inquietantes e descabidas opções que pro-duziram um empate e uma derrota. Para o treinador uruguaio a responsabi-lidade do nosso desaire tem de di-vidir-se c o m

a equipa de arbitragem e, em particular, com o 4.º árbitro.Mentira!A culpa é toda do seleccionador nacional e das suas opções, na convocatória e na ideia de jogo.Porque é que rendeu um lateral direito por outro lateral direito (Lunguinha/Marcos Airosa) no jogo com Marrocos? Para des-cansar o titular? Não… para de-fender o resultado. Ora, se assim foi, para quê insistir no pior dos dois? Por pressão? A pedido de várias famílias?Por que bulas insistiu nos dois pontas-de-lança se se via a olho nu que Guilherme Afonso atra-palhava mais do que ajudava no jogo ofensivo, sendo responsá-vel, inclusive, por um dos melho-res marcadores dos dois últimos CAN’s, Manucho, permanecer em Branco? Fezada? «Desarrincan-ço»? Teimosia? Invenção? Desco-nhecimento?Escolha-se a carapuça que me-lhor se ajuste, sendo certo que uma delas se serve a na perfeição ao comportamento de Gustavo Ferrín.Seja qual for o motivo, tanta acu-mulação de erros obriga a que se questione o seu papel no futuro – estamos a falar das trevas que eventualmente nos esperam du-

rante os próximos dois anos… --, seja qual for o destino que as Palancas Negras, aju-dadas, ou, por mérito próprio, consigam desenhar, depois de

amanhã, em Durban, frente a Cabo Verde.

Será responsável, como se insiste por aí, da necessária revolução que é urgente imprimir ao futebol angola-

no?Uma treta…

A ideia de virar do aves-so o pensamento domi-

nante continuará a ser remetida para as calendas. Por va-

riadíssimas razões, de entre as quais se in-

clui a evidência de que as nossas principais equipas cada vez mais se reforçam no estrangeiro, e, ainda, porque Ferrín está a fazer a demonstração, neste CAN, de que não é o homem certo para meter mãos à empreitada.

Em foco

À terceira foi de vez. Poupado em Angola onde esteve detido sob a suspeita de envolvimento em trá-fico de armas, perdoado pelo presi-dente Umaru Yardua da Nigéria que solicitara ao presidente José Edu-ardo dos Santos a sua extradição, Henry Okah, militante e activista do MEND, Movimento para a Eman-cipação do Delta do Níger, não teve a mesma sorte na África do Sul. O mais independente sistema judicial destes três gigantes africanos não foi pelos ajustes.Na segunda-feira, um tribunal de Joanesburgo, onde estava detido a pedido das autoridades nigerianas declarou-o culpado num atentado à bomba ocorrido em Lagos a 1 de Outubro de 2010, e do qual 13 pes-soas morreram, 36 ficaram feridas e vários bens acabaram destruídos. Sobre ele pesavam treze acusações tendo sido achado culpado em to-das elas. Henry Okah foi incialmente detido a 3 de Setembro de 2007 no aeropor-to internacional de Luanda quando regressava para a África do Sul, país onde tem residência. Com ele foi detido o cidadão ganense Eduard Atatah, contra quem não foi feita

poupado em angola e na nigériaculpabilizado na áfrica do sul

Henry Okah

30 25 Janeiro 2013

nenhuma acusação. Ambos estive-ram detidos na cadeia de Viana, ar-redores de Luanda. Na altura, Henry Okah negou qual-quer ligação ao Movimento de Eman-cipação do Delta do Níger, o que se veio a provar não ser verdade.Henry Okah alegou também que tinha vindo a Angola à procura de oportunidades de negócio que não se consumaram. Após a sua deten-ção, o MEND tomou como ridículas as acusações de que ele estava ligado à sua causa. Entretanto a 23 de Se-tembro do mesmo ano, o MEND sus-pendeu o cessar-fogo que observava desde em Maio, depois da eleição do presidente Yardua, alegando que o novo governo não tinha sido capaz de honrar os compromissos que ha-viam acordado.Contra a sua vontade e contra os ar-gumento dos seus advogados, que na altura escreveram ao ministro das Relações Exteriores e ao secretário do Presidente para as Relações Ex-teriores, Henry Okah foi extradita-do para a Nigéria em Fevereiro de 2008.João Gourgel e Paulo Rangel, advo-gados contratados por Henry Okah, pediram ao então ministro das Re-

lações Exteriores de Angola, João Miranda para que o governo obser-vasse alguma ponderação no trata-mento do caso.O apelo dos advogados foi despo-letado por despachos da imprensa nigeriana que vinculavam o presi-dente José Eduardo dos Santos a promessas que teria feito ao presi-dente nigeriano segundo as quais Okah seria extraditado. Na altura, o gabinete do presidente José Eduar-do dos Santos recusou-se a comen-tar o que ia pela imprensa nigeria-na.O presidente José Eduardo dos San-

tos foi igualmente citado pelo staff de Yar’ Adua como tendo dito que se tratando de um cidadão estrangei-ro, no caso nigeriano, Henry Okah não pode ser julgado em Angola por questões políticas.João Gourgel e Paulo Rangel, os advogados constituídos por Henry Okah escreveram ao ministro João Miranda observando entre outros que não existia nenhum tratado de extradição entre Angola e a Nigéria, pelo que desaconselhavam qualquer decisão neste sentido. De resto o próprio porta-voz do pre-sidente nigeriano, Olusegun Ade-niyi disse à imprensa que o facto de não existir nenhum acordo de ex-tradição entre os dois países poderia vir a dificultar o processo.Remetida com cópias ao presidente do Tribunal Supremo, juiz Cristiano André e Carlos Alberto Fonseca, As-sessor diplomático do presidente de Angola, a carta referia-se ainda aos riscos que o seu cliente correria na eventualidade de ser extraditado para a Nigéria, país onde se apli-ca a pena de morte. Uma decisão desta natureza chocaria contra o procedimento observado em casos do género, ou seja, não se extradita

ninguém para um país que aplica a pena de morte, sugeriram os seus advogados.Extraditado e ouvido em tribunal, Okah beneficiou da condescendên-cia do presidente Yardua que num gesto de boa vontade autorizou a sua saída para a África do Sul em tratamento médico. Acto contínuo, e para surpresa do governo nigeria-no, Okah ameaçou processar o go-verno de Angola. A ameaça nunca foi adiante.Em Outubro de 2010, o governo do presidente Goodluck intentou um processo contra Okah a quem acu-sou de ser o mentor de um antenta-do que tinha feito 13 mortos.Após uma maratona de dois anos, os quais incluíram recursos, Okah foi achado culpado. De acordo com o juiz Neels Claassen, o estado fez prova de todas as acusações que ti-nha contra ele. Ao todo, a acusação chamou 36 testemunhas. No ter-mo da sessão, o procurador Shaun Abrahams disse que a África do Sul nunca será um refúgio de crimino-sos. A sentença será proferida na se-gunda-feira. Okah arrisca-se a uma pena de 26 anos de cadeia. Tomás Vieira

A Endiama vai passar a sede da En-diama Mining, uma subsidiária que se responsabiliza exclusivamente pela produção e prospecção de diamantes, para o Dundo (Lunda-Norte). Final-

mente! Fazia algum sentido ter os recursos diamantíf-eros localizados, maioritariamente, no Leste do país, e a Endiama ter todas as suas estruturas de topo em Luanda? Não fazia... Francisco Queiroz, ministro da Geologia e Minas, percebeu o alcance do prob-lema. E decidiu em conformidade. Agora é tempo de outras empresas públicas darem o exemplo. Porque só criando estruturas atractivas (sejam elas económicas ou não) noutras regiões, fora de Luanda, será possível desenvolver todo o país. Nem La Palice diria melhor.

DesceOs atrasos em relação as transferências bancárias para organismos do Estado no exterior continuam a ser uma dor de cabeça. Tanto é assim que algumas rep-resentações diplomáticas têm visto a sua imagem manchada por não honrarem os seus com-promissos. Tal é, por exemplo, o caso da embaixada de Angola na Argentina cujos funcionários não recebem os ordenados há três meses. Também por falta de dinheiro, que deveria ser transferido pelo Ministério dirigido por carlos lopes, as autoridades daquele país cortaram os telefones, o pagamento das rendas de casa regista atrasos preocupantes e alguns hospi-tais fecharam as portas aos funcionários da nossa em-baixada. Nada gratificante…

sobea procuraDoria Geral Da república emitiu um longo comu-nicado, denominado “Processo de In-quérito Preliminar – Relatório Final” relativo a uma noticia do semanário Continente, a propósito do chamado caso “Diamantes de Sangue”. Ao contrário do que é habitual e comum nas nossas instituições, que normalmente se ficam pelo silêncio, sem que o cidadão comum tenha acesso a qualquer tipo de informação. Para o bem e para o mal, esta atitude é um bom exemplo de como não se deve demorar a responder a quaisquer dúvidas que deixam lastro e desconfiança no comum dos cidadãos. Resposta imediata, sólida e fundamentada, sem deix-ar margem para quaisquer dúvidas.

“Tem-se agredido violentamente as nos-sas pobres irmãs zungueiras acusadas de produzir lixo pela cidade, o que não é verdade, uma vez que o governo não apresenta políticas concretas para esta problemática, e, como tal, é o principal culpado”, justificou.Helda Santos, que recentemente foi no-meada secretária nacional para o Am-biente da UNITA, não se fica pelas crí-ticas e avança soluções: “É preciso um plano Nacional de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, onde o governo colo-que à disposição da cidade um compac-tador solar que funciona a energia solar e que, no local, consegue incinerar o lixo depositado, que também é um acumula-dor de energia biológica”, defendeu, su-gerindo igualmente a criação de uma fá-brica de reciclagem e de tratamento de águas residuais. Na opinião da ambientalista, a cidade capital tem sofrido uma grande crise em matéria de gestão de resíduos sólidos.

Numa altura em que se fala tanto em consolidar a reconciliação nacional, não admira que o projecto não vá para a frente. Se depender do Fnla para

que o processo se conclua com êxito, estamos fadados ao fracasso. Sem paciência para diálogos e sedento de poder, Lucas Ngonda tenta, não pessoalmente, mas delegando tarefas, ocupar a sede do partido. Não con-segue porque militantes apoiantes de Ngola Kabango já lá estavam e de lá não saíram. Chamou-se a polícia, dispersou-se a confusão, ninguém foi preso e a coisa continua na mesma. Se não há paz entre eles, há de haver paz com os outros?

N.º 263 - 01 Fevereiro 2013

Economia

Capanda: quais são os

verdadeiros problemas?

Mutamba

Livro angolano será

homenageado em Havana

tempo para o Fim-De-semana em luanDa

Nº 262/013

seXta sÁbaDo DominGo

contactos: Tel:

Fax:E-mail: [email protected]

222 393 700222 372 417927 955 587

222 393 703222 372 603927 955 588

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222 396 238

Máx./Mín. 34°/23° 34°/ 23° 35°/24°

Fecho

Na próxiMa sEMaNa

cartoon

a aMbiENtalista Helda Santos afir-mou esta semana, em Luanda, que é ur-gente que se crie um Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos nas cida-des, que deve contar com a participação de todos os cidadãos.Helda Santos, que fez estas declarações no âmbito do Dia Nacional do Ambiente, que se comemora a 31 de Janeiro, afir-mou não ser muito difícil perceber que Luanda é uma cidade com grandes pro-blemas, no que aos resíduos sólidos diz respeito.“Salta à vista de todo o mundo que Luan-da está dentro de um grande contentor de lixo. O angolano vive no lixo, come no li-xo, dorme no lixo e morre no lixo. Por to-da a cidade, vimos ruas transformadas em aterros sanitários, como no caso do bair-ro do São Paulo, mesmo no centro da ci-dade capital”.Esta activista ambiental considera que se tem agredido “violentamente e de forma injusta” as zungueiras, acusadas de se-rem as principais culpadas pelo aumento de resíduos sólidos na capital, desviando a atenção dos verdadeiros responsáveis.

Helda Santos

lixo à mesa

“Um relatório lançado recentemente pe-lo Banco Mundial afirma que até 2025 a população urbana tende a aumentar na produção de resíduos até 70 por cento, o que causará um aumento substancial nos custos do tratamento destes resídu-os nos países mais pobres”.“Os níveis actuais são de 1,2 mil milhões de toneladas por ano, que poderá cres-cer para 2.2 mil milhões por ano, o que poderá ser um risco para países pobres, nos quais Angola está incluído”, frisou a ambientalista.Helda Santos conclui, afirmando que o ambiente em Angola “é doente” e que precisa de políticas sérias para que se possa sair do estado em que estamos.O acto central nacional do 31 de Janei-ro vai voltar a decorrer na província do Kwanza-Sul, onde há um ano foi lança-do o projecto “casas ecológicas”, com o apoio do Banco Espírito Santo (BESA), o banco “Planeta Terra”. ana marGoso

Quintiliano dos Santos