edição nº 262

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18 de junho 2013 • Ano XXII • n.º 262 • QuInZenAL GRATuITo dIReToRA AnA duARTe • edIToRA-eXeCuTIVA AnA moRAIs Academias manifestam-se em setembro se Governo não ceder A decisão foi unânime. As associações de estudantes presentes no último Encontro Nacional de Direções Associativas (ENDA) do ano letivo, em Vila Real, dizem que se “esgotou a paciência”. Por isso, prometem levar a cabo uma manifestação nacional já em setembro, se a tutela não ouvir as reivindicações dos estudantes do ensino superior. I MOSTRA GASTRONÓMICA Para dinamizar o Mercado D. Pedro V, a Associação de Mercados promoveu uma mostra de sabores @ Mais informações em acabra.net PÁG. 12 Entre os dias 17 e 26 de junho, o Comité do Património Mundial da UNESCO vai reunir no Cam- boja para decidir sobre a classifi- cação da Universidade de Coim- bra, da Alta e da Rua da Sofia como Património da Humanida- de. As expectativas já são muitas e sempre positivas, naquela que é uma das consagrações mais re- conhecidas internacionalmente. Desde o início que a cidade se juntou em torno desta candida- tura, por meio de parcerias entre várias entidades. Alta e Sofia a caminho do património CANDIDATURA UNESCO No sábado, milhares de profes- sores marcharam em Lisboa pela defesa da Escola Pública e pelo di- reito ao trabalho. Questões como a mobilidade especial, aumento do horário laboral na função pública e anúncios de despedimentos são al- gumas da contestações desta clas- se. Os vários casos de greve ao exa- me de ontem, 17, representam este descontentamento. Protestos dos professores na capital MANIFESTAÇÃO A Secção Experimental de Yoga da AAC celebra 30 anos “Repensar a ideia de Autonomia” joRnAL unIVeRsITáRIo de CoImbRA acabra Carlos Camponez “Museus no Centro” Direcção Regional de Cultura do Centro cria rede de intercâmbio em sete museus, entre a Guarda e as Caldas da Rainha. Projeto pretende dinamizar as instituições e atrair públicos mais variados. PÁG. 2 e 3 PÁG. 10 e 11 PÁG. 8 PÁG. 6 PÁG. 5 PÁG. 16

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Edição nº 262 do Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

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18 de junho 2013 • Ano XXII • n.º 262 • QuInZenAL GRATuITo dIReToRA AnA duARTe • edIToRA-eXeCuTIVA AnA moRAIs

Academias manifestam-se em setembro se Governo não cederA decisão foi unânime. As associações de estudantes presentes no último Encontro Nacional de Direções Associativas (ENDA) do ano letivo, em Vila Real, dizem que se “esgotou a paciência”. Por isso, prometem levar a cabo uma manifestação nacional já em setembro, se a tutela não ouvir as reivindicações dos estudantes do ensino superior.

I MostRA GAstRoNóMIcAPara dinamizar o Mercado D. Pedro V, a Associação de Mercados promoveu uma mostra de sabores

@Mais informações em acabra.net

PÁG. 12

Entre os dias 17 e 26 de junho, o Comité do Património Mundial da UNESCO vai reunir no Cam-boja para decidir sobre a classifi-cação da Universidade de Coim-bra, da Alta e da Rua da Sofia como Património da Humanida-de. As expectativas já são muitas e sempre positivas, naquela que é uma das consagrações mais re-conhecidas internacionalmente. Desde o início que a cidade se juntou em torno desta candida-tura, por meio de parcerias entre várias entidades.

Alta e Sofia a caminho do património

candidatura unEScO

No sábado, milhares de profes-sores marcharam em Lisboa pela defesa da Escola Pública e pelo di-reito ao trabalho. Questões como a mobilidade especial, aumento do horário laboral na função pública e anúncios de despedimentos são al-gumas da contestações desta clas-se. Os vários casos de greve ao exa-me de ontem, 17, representam estedescontentamento.

Protestos dos professores na capital

ManifEStaçãO

A Secção Experimental de Yoga da AAC celebra 30 anos

“Repensar a ideia de Autonomia”

joRnAL unIVeRsITáRIo de CoImbRA

acabraCarlos Camponez

“Museus no Centro” Direcção Regional de Cultura do Centro cria rede de intercâmbio em sete museus, entre a Guarda e as Caldas da Rainha. Projeto pretende dinamizar asinstituições e atrair públicos mais variados.

PÁG. 2 e 3PÁG. 10 e 11

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2 | a cabra | 18 de junho de 2013 | terça-feira

DEstAquE

A reunião do Comité do Património Mundial no Camboja, a decorrer des-

de o dia 17 até ao dia 26, vai di-tar a decisão da candidatura da Universidade de Coimbra (UC), Alta e Rua da Sofia a Patrimó-nio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura - UNESCO. As expectativas são altas para aque-la que é a consagração de edifí-cios e espaços como toda a Alta universitária, os antigos colégios

da Rua da Sofia, a Associação Académica de Coimbra, o Jardim Botânico, o Mosteiro de Santa Cruz, entre outros.

Depois da oficialização da can-didatura pelo Estado português, em janeiro de 2012, já foram re-alizadas inúmeras iniciativas de promoção e divulgação da candi-datura, que contou com a parce-ria e apoio de várias entidades da cidade. A Agência de Promoção da Baixa de Coimbra (APBC) foi uma das estruturas que contri-

buiu em termos de promoção e divulgação nesta ação. “Colabo-rámos com algumas iniciativas e esperamos continuar, é essa nossa vontade, e o que nos pa-rece é que esta candidatura é muito importante para a Baixa de Coimbra, a par da Alta. É uma mais-valia, sem dúvida”, explica o presidente da APBC, Armindo Gaspar.

Também já aconteceram as visitas das entidades oficiais de avaliação, como o Conselho In-

ternacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS). Dessa visita, realizada entre os dias 17 e 23 de setembro do ano passado, saiu uma avaliação já muito positiva sobre o “Bem” (património can-didato). O curador da candidatu-ra e ex-pró reitor da UC, Raimun-do Mendes da Silva, explica que, no parecer que a ICOMOS deixou depois da visita, se ressaltam “três coisas muito importantes: reconhecimento pelo valor exce-cional universal; a candidatura e

o “Bem” têm todas as condições intrísecas para ser património mundial; e reconhecimento de todas as medidas de proteção que foram propostas no dossier de candidatura, isto é, todas as con-dições oficiais para que a classifi-cação como património mundial da Humanidade seja positiva”.

Para além da área candidata, existe um perímetro alargado a toda a zona envolvente – a zona de proteção – que abrange, prin-cipalmente, a parte histórica de

A dias de se conhecer a decisão do comité do Património Mundial da uNEsco, coimbra já se prepara para ser classificada como património da Humanidade. Entre atividades de promoção e divulgação, já tudo foi feito para mostrar a cidade ao mundo. Por Ana Duarte e João Martins

A ideia de uma história à espera da consagração

Para Fernanda Cravidão, deverá haver um “interface” entre a Alta e a Baixa no que toca a requalificações

candidatura dE cOiMBra a PatriMÓniO MundiaL da unEScO

camilo soldado

d.r.

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DEstAquE

Coimbra. Aí, a candidatura tem de cumprir determinados parâ-metros, nomeadamente no que toca às medidas de proteção e o Plano Diretor Municipal (PDM), que tem de sofrer alterações. A maioria deste trabalho já está fei-to, no entanto, Raimundo Men-des da Silva reconhece que há medidas de proteção que não se implementam de um dia para o outro. Contudo, neste momento, a UNESCO e a ICOMOS já con-cordaram com aquelas que fo-ram apresentadas. “O PDM está a ser revisto, vai ser criada uma comissão de peritos para avaliar as questões do impacto visual e isso demora tempo a fazer. A UNESCO pode, por uma questão de precaução, dizer para se es-perar mais um ano”, esclarece o curador.

Requalificação e financimentoVários edificíos que estão paten-tes na candidatura encontram--se, neste momento, em estados um tanto degradados. A docente de Património Cultural e Turis-mo da Faculdade de Letras da UC (FLUC), Fernanda Cravidão, aponta a área da Rua da Sofia como uma das principais a re-cuperar. Para além disso, afirma que a recuperação do patrimó-nio não pode ser apenas nestes lugares [zona candidata], “tem de ser todo o conjunto”. Dá o exemplo da recuperação da Alta como forma de interface com a Baixa – unir esforços para a re-qualificação dos dois sítios, mes-mo que um deles não esteja na candidatura. Esta “tem de ser uma política não de caráter tão municipal mas uma política geral do país, para a recuperação dos centros históricos”, acrescenta ainda. O investigador do Centro de Estudos Sociais (CES) e do-cente da Faculdade de Economia da UC, Carlos Fortuna, corrobora a opinião de Fernanda Cravidão, acrescentando que a zona “do Mondego é um dos recursos mais escandalosamente desaproveita-dos da cidade”.

Atrair fundos estruturais e in-vestidores é fulcral na parte da requalificação do património. O impacto que esta candidatura pretende ter, em primeiro lugar, “é uma atenção sobre o ‘Bem’”, diz Mendes da Silva. O curador espera que, consequentemente, isso atraia fundos “quer oficiais, quer nacionais”, bem como “re-ceitas próprias ou de investido-res privados”. “A candidatura foi muito importante para definir este plano e é muito importante para dar entusiasmo aos inves-tidores e às entidades públicas”, remata.

Impactos na cidade“O reconhecimento de Coimbra como património UNESCO po-derá servir de estímulo para a restauração, a hotelaria ou o co-mércio e o artesanato, por um lado, mas também para museus, espaços verdes, equipamentos

culturais e desportivos indica Carlos Fortuna. Estes poderão ser os principais impactos que a cidade pode vir a sofrer. Para além disso, a chegada de mais e mais turistas, bem como novos estudantes estrangeiros pode também vir a acontecer. “Mais atividade económica” e “mais prestígio” são, segundo Raimun-do Mendes da Silva, algumas consequêncais que podem advir daí.

A uma primeira vista, Coim-bra apresenta-se como uma ci-

dade relativamente pequena, e pode julgar-se que não tem as condições necessárias à receção de muitos turistas. No entanto, Fernanda Cravidão afirma que “[a cidade] já tem uma oferta de equipamentos e infraestruturas hoteleiras que permitem acolher um número considerável de tu-ristas” e que deve considera-se toda a zona envolvente da cidade – como, por exemplo, a Figueira

da Foz ou Montemor-o-Velho -, e não apenas o seu núcleo.

Para contrariar o mito das “ci-dades pequenas”, Carlos Fortuna considera que “são aquelas em que é maior o impacto de uma ação deste género”. “São essas as cidades que se ‘engrandecem’ de forma mais sensível com a valori-zação internacional dos seus pa-trimónios”, adita.

Por ser pequena, Raimundo Mendes da Silva vê Coimbra como uma cidade repleta de ele-mentos que a possam congregar e que sejam motivadores, espe-cialmente na altura da decisão a ser tomada no Camboja. E isso é um fator importante para unir a cidade em torno de uma causa. “Não se trata de uma candidatura que vai classificar a universidade. É uma candidatura congregado-ra. Esta mais-valia de ser um pro-jeto congregador pode ter efeitos benéficos em todas as áreas da cidade e na própria qualidade de vida das pessoas”, acrescenta o curador.

Alterações na vida urbanaNão são só os edifícios que po-dem vir a solfrer alterações. Tam-bém a vida quotidiana da cidade vai ser moldada à imagem de

uma cidade considerada patri-mónio mundial da Humanidade - benefício que, antes de tudo, é, nas palavras do professor da FEUC, “de natureza simbólica e representacional dos lugares”.

A classificação, segundo a pro-fessora da FLUC, pode vir a me-lhorar a qualidade de vida das populações. Para além disso, as requalificações que vão ser fei-tas “levam progressivamente a novos comércios, por um lado,e à recuperação de algum comér-cio tradicional, com uma outra

roupagem, por outro”, explana Fernanda Cravidão. Ademais, as modificações estruturais podem ainda trazer mais população, “que dá mais vida à cidade”. “Isso pode melhorar a auto-estima [de Coimbra] e em termos ambien-tais, estéticos e económicos, na-turalmente que é uma questão sempre positiva”, adianda ainda a docente de Património Cultural e Turismo.

O investigador do CES vê este reconhecimento como um “’tex-to’ sobre a história, a memória e a cultura desta cidade”. “Texto” que “deve ser lido como “pretex-to” para um ativo envolvimento da cidade – quer dizer, de todos nós – consigo mesma”, reitera Carlos Fortuna. Desta forma, os desafios à criatividade das en-tidades que se envolvem nesta candidatura são postos à prova, para tentarem captar mais aten-ção, tanto a nível nacional como internacional. No entanto, Carlos Fortuna alerta: “[a consagração] não será uma solução redentora para as dificuldades que Coimbra revela. Não o é em nenhuma das cidades património. Essa solução não existe. Constrói-se. Criativa e democraticamente”.

Até ao fecho da edição, o Jornal A CABRA não conseguiu contac-tar o presidente da Câmara Mu-nicipal de Coimbra, João Paulo Barbosa de Melo. No entanto, em declarações dadas à UCV, em janeiro de 2012, o presidente vê esta candidatura como um “selo mundial de qualidade”. “Não são só os edifícios e ruas [a candi-datarem-se]. É, sobretudo, uma ideia de Portugal que passou por Coimbra e daqui para o mundo”, acresenta, na mesma entrevista.

Mapa da área candidata juntamente com o área de proteção (área envolvente)

“Para além da área candidata, existe um perímetro alargadoa toda a zona envolvente”

“O presidente da CMC vê esta candidatura como um “selo mundial de qualidade”

d.r.

4 | a cabra | 18 de junho de 2013 | terça-feira

ENsINo suPERIoR

O que leva os alunos a cometer fraude?Estudar os vários tipos de fraude no ensino superior é a premissa para um estudo inovador saído da uc. Apostar na prevenção torna-se mais importante que defender medidas punitivas

Pagar por trabalhos. Colocar o nome de um colega num trabalho onde não participou. Levar cábulas para frequências e exames. Usar as novas tecnologias para passar à cadeira. São exemplos de práticas resultantes de um estudo em cur-so intitulado “A ética dos alunos e a tolerância de professores e insti-tuições perante a fraude académi-ca no ensino superior” promovido pelo Centro de Estudos Sociais (CES).

Com uma amostra representati-va de oito mil alunos portugueses, o estudo estende-se a Espanha e ao Brasil com números experimen-tais. Os dados recolhidos no país constituem uma amostra inédita. “Não há estudos com essa abran-gência em Portugal, inquirimos mais alunos nas maiores univer-sidades e nas áreas científicas em que há mais inscritos”, explica o investigador e professor da Facul-dade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), Paulo Peixo-to. Entre os três países, Portugal é o que aparenta ser o menos fraudu-lento.

Para além dos inquéritos, rea-lizaram-se painéis com os alunos de forma a ouvi-los e recolher in-formação qualitativa. Depois, en-traram as respostas dos docentes e instituições. Inquiriram-se profes-sores para apurar o que pensavam sobre as fraudes cometidas pelos alunos e foram analisados os regu-lamentos disciplinares ou códigos de ética para ver que medidas as instituições aplicam. “O primeiro nível para evitar a fraude académi-ca é conhecer as diferentes práticas de fraude e como elas são percecio-nadas pelos alunos”, frisa o coorde-nador do projeto, Filipe Almeida.

Com uma equipa de investigação multidisciplinar nascida na FEUC, e numa conversa entre colegas, o projeto ganhou forma em março de 2010 motivado pela falta de uma análise científica do tema. A apre-sentação dos resultados finais está já agendada para 23 e 24 de janeiro do próximo ano, num seminário de conclusão no sítio onde surgiu a ideia. As áreas que se cruzam, entre outras, são a da sociologia, economia e ciências da educação. A investigadora Ana Seixas juntou--se ao projeto, já que havia desen-volvido uma tese de doutoramento sobre o ensino superior, mais pro-

priamente no estudo das práticas pedagógicas e do insucesso escolar.

Extensão a outras realidadesA decisão de alargar o estudo a ou-tros países partiu da vontade das instituições e da acessibilidade a colegas que lá lecionavam. “A dada altura, se quiséssemos continuar, podíamos aumentar a rede, mas isso prejudicaria o tempo de con-clusão do estudo. Havia muita gen-te que estava interessada que este estudo fosse aplicado nas suas ins-

tituições”, explana Paulo Peixoto.Há práticas que os alunos não re-

conhecem como fraude. “Pergun-támos também aos alunos quais os instrumentos mais adequados para evitar os níveis de fraude e, curiosa-mente, os alunos tendem a apontar medidas mais punitivas”, ressalva o investigador. Contudo, o objetivo do estudo é pensar a fraude a prio-ri, numa perspetiva de prevenção antes da punição. “O lado didático do projeto é prioritário em relação à punição. Estamos mais centrados nas questões da prevenção”, escla-

rece Filipe Almeida.

Envolvimento da comunidade académica“As formas de fraude que mais se praticam são as que, de alguma maneira, os alunos veem cometer pelos professores, faz parte de uma cultura de pares. As pessoas fazem aquilo que veem fazer”, confessa Paulo Peixoto. Recorde-se os dois casos de ministros alemães que perderam o diploma por plágio, um dos tipos de fraude académica.

Ainda assim, esta pode ser uma tendência que vem de outros graus de ensino e que tende a perpetuar--se na vida profissional. “Muitos alunos dizem que cometem fraude no ensino superior porque já era uma prática que traziam do secun-dário”, explica o sociólogo. “As pes-soas cometem fraude na vida e nas profissões porque foi assim que se safaram”, partilha Paulo Peixoto, usando o conhecido exemplo do “chico esperto”.

Punições previstasA adaptação dos regulamentos internos das universidades por-tuguesas a medidas que punam a fraude e outros advêm do Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior, de 2007. “A UC tem um regulamento disciplinar dirigido

aos alunos que não é completo”, acusa Paulo Peixoto. O investiga-dor acredita que os regulamentos deveriam abranger casos de fraude de professores e da própria insti-tuição, alargando a prevenção a toda a comunidade.

De alguns exemplos consultados nos regulamentos disciplinares da UC, Universidade do Porto, Uni-versidade de Lisboa, Universidade de Aveiro, Universidade de Évora, entre outros, verifica-se uma uni-formização das sanções previstas para o caso de fraude. Nestes casos não se encontra prevista a expul-são. Por sua vez, exemplos como a Universidade Católica Portu-guesa ou a Universidade Lusíada preveem a expulsão do aluno que cometa infração disciplinares. As semelhanças de todos os exemplos enunciados encontram-se na ine-xistência do mesmo tipo de regras aplicadas a professores e a institui-ções.

A aplicabilidade do estudo resi-de na possibilidade de mapear as respostas institucionais à fraude académica em Portugal. E, a par da prevenção, avaliar “até que pon-to essas respostas estão alinhadas com os motivos e os inibidores que os alunos reconhecem como sendo os mais importantes na fraude”, remata o coordenador do estudo, Filipe Almeida.

rafaela carvalho

Investigar o que motiva os estudantes do Ensino Superior a cometer fraude académica foi o mote de um estudo promovido pelo CES

Situações em que há mais predisposição para a fraude:

- Alunos que já têm essas práticas nos ensinos secundário e básico- Estudantes-trabalhadores ou com um elevado número de atividades extracurriculares- Alunos repetentes ou com acumulados insucessos- Unidades curriculares com altos níveis de reprovação- Homens (comparativamente com as mulheres)

Situações em que há menos predisposição para a fraude:

- Contextos em que há grande interação entre alunos e professores- Alunos com bom aproveitamento escolar

Tipos de fraude mais comuns:

- Colocar nome de um colega num trabalho sem a sua participação- Comprar trabalhos- Apresentar o mesmo trabalho em várias unidades curriculares

DADOS inTErMéDiOS

Liliana CunhaAna Morais

18 de junho de 2013 | terça-feira | a cabra | 5

ENsINo suPERIoR

o movimento associativo nacional tomou uma decisão unânime em ENDA. se a resposta nula da tutela persistir, há manifestação nacional marcada para setembro

“O sistema de ensino está na si-tuação em que está e o movimento associativo decidiu por unanimidade entrar em protesto”, anuncia o pre-sidente da Direção-geral da Asso-ciação Académica de Coimbra (DG/AAC), Ricardo Morgado. Reunido em Encontro Nacional de Direções Associativas (ENDA) no último fim--de-semana em Vila Real, o movi-mento associativo nacional decidiu passar à ação, já que se queixam de que as suas propostas e políticas não têm sido aplicadas. O protesto de-cidido avança em setembro a nível nacional, se as reivindicações não forem escutadas.

Em comunicado conjunto publi-cado após o fim do encontro, as as-sociações dizem não ter encontra-do “eco num Secretário de Estado mudo, cego e insensível para com o movimento associativo e, mais gra-vemente, para com os estudantes e demasiadas vezes para com todo o setor que é suposto tutelar”. Os diri-gentes de algumas das maiores asso-ciações do país partilham o mesmo sentimento: está “esgotada a paci-ência”. “Os estudantes apresentam

propostas mas que vêm a esbarrar numa falta de diálogo, de interlo-cutores que fazem com que o nosso trabalho tenha sido dificultado”, explica o presidente da Associação Académica da Universidade do Mi-nho, Carlos Videira. Da parte da Fe-deração Académica do Porto, Rúben Alves afirma que não houve “porta aberta para verdadeiramente ouvi-rem as nossas soluções na secretaria de estado do ensino superior e por outros membros do governo”. Rúben Alves lembra ainda que Passos Coe-

lho havia prometido ao movimento associativo uma reunião em período pré-eleitoral que “nunca se chegou a realizar”.

Evolução de um anoTodos concordaram na deliberação de levar a cabo uma manifestação nacional, decisão um tanto inédita, já que as últimas ações decididas passaram por uma petição contra o regulamento de atribuição de bolsas no primeiro ENDA do ano letivo; uma declaração de princípios sobre o

desemprego no ENDA de dezembro e um comunicado para comemorar o Dia do Estudante em março, numa altura em que já se haviam discutido os cortes do Orçamento do Estado 2013.

“É importante rever e redirecionar outro caminho no sentido das nossas propostas serem tidas em conta. Se isso não acontecer estas associações terão uma palavra a dizer nessa ma-nifestação que poderá acontecer”, frisa o dirigente da Associação Aca-démica da Universidade de Trás-os-

-Montes e Alto Douro (AAUTAD), Sérgio Martinho. O “ponto a salien-tar” de Sérgio Martinho relaciona-se com o agrado de Ricardo Morgado por parte da AAC, já que “há muitos anos que não saía uma posição con-junta reivindicativa desta forma pelo movimento associativo”, ressalva.

Atualização da propinaEm Vila Real houve ainda tempo para a discussão sobre a atualização da propina nas diversas Instituições de Ensino Superior (IES). A Uni-versidade do Minho (UM) tomará a decisão a 1 de julho, mas Coimbra, Évora, Algarve, Porto e Vila Real já decidiram o que fazer. A Universida-de de Coimbra foi a única que atua-lizou o valor da propina. “Na UTAD foi conseguido isso de forma muito trabalhosa, mas com o comprometi-mento de conseguir juntar esforços na contenção de custos e alternati-vas de receita própria”, aclara Sérgio Martinho.

“Tudo indica que a proposta do reitor da UM será o aumento para os 1066 euros”, lamenta Carlos Videira. No entanto, os alunos têm organiza-do um calendário reivindicativo que conta já com um abaixo-assinado. “Em Coimbra a propina subiu e isto acaba por debilitar as IES e a entra-da de estudantes nas mesmas”, frisa o dirigente da AAUTAD.

“É um ENDA que marca um outro ciclo que vai começar agora a ser tra-balhado e em discordância completa com este governo”, finaliza o pre-sidente da DG/AAC. Já está criada uma comissão para definir os moldes desta manifestação nacional.

com Ana Morais

Direções associativas avançam com manifestação se não forem ouvidas

Ruído da Latada é causa da queda do brasão no mosteiroDepois do pedidode dois estudosindependentes em novembro, confirma-se a relação do ruído da Festa das Latas com a queda do brasão no Mosteiro de santa-clara-a-Velha

As conclusões dos estudos pedi-dos pela Direção Regional da Cul-tura do Centro (DRCC) foram en-viadas na última sexta-feira, 14, ao presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), João Paulo Barbo-sa de Melo, e ao presidente da Dire-ção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Ricardo Morgado. Em causa está a prova de que o ruído provocado nas noites da Festa das Latas em 2012 fez cair um

brasão de pedra no topo do Mosteiro de Santa-Clara-a-Velha.

Alicerçada por cimento e ferros depois da sua última restauração em 1940, a pedra caiu três dias de-pois do final das noites do Parque no dia 20 de outubro. A presidente da DRCC, Celeste Amaro, em decla-rações, na altura, ao jornal Público, estava segura de que os espetáculos que se dão no Parque da Canção têm “vindo a provocar danos no monu-mento” e prometia levar “o caso até às últimas consequências”. Sete me-ses depois a confirmação está dada e os dispositivos instalados no local, bem como os testes de monitoriza-ção mostraram que os sons exterio-res danificam a estrutura com mais de 400 anos.

“Falei com um dos professores que fez o relatório e ele estava tam-bém abismado com a conclusão porque pensava que só o som não fazia mal nenhum”, explica Celeste Amaro. O professor em causa esteve

dentro do mosteiro na noite de oito para nove de maio deste ano, noite essa em que atuou o Dj Hardwell na Queima das Fitas 2013 e afirmou a Celeste Amaro que “o medidor de som e o ponteiro saltavam” com as vibrações.

Sem ter ainda nenhuma reação por parte da DG/AAC e da CMC, a diretora diz ter a “certeza que ne-nhum deles vai responder, mas nes-te momento estão aferidos os deci-béis possíveis para não degradar o mosteiro e não afetar inclusivamen-te as pessoas que lá estão a ouvir”. Questionado face às conclusões, Ri-cardo Morgado acredita que, mesmo “não entendendo nada de pedras, de monumentos, o ruído pode ter con-tribuído e não terá sido o único fator para que tenha caído a pedra”.

Continuidade da festa não está em causa“Temos limitadores desde há dois anos e foram colocados pela CMC.

As autoridades estão a monitorizar tudo isso”, assegura o presidente da DG/AAC. No entanto, os limi-tadores não impediram a queda do brasão. “Sei que tenho de ter uma reunião com a AAC antes da La-tada. Ninguém quer que deixe de haver Queima das Fitas, é a maior festa que Coimbra tem, mas, agora só desde que cumpram aquelas re-gras”, aponta Celeste Amaro.

O excesso de decibéis terá nova-mente de ser controlado na Festa das Latas. Por parte da DG/AAC, Ricardo Morgado predispõe-se a “entrar em diálogo e arranjar solu-ções que permitam não interferir com a população vizinha, nem com os monumentos” - porém, sem “pôr em causa a Festa das Latas e a Quei-ma das Fitas”, que afirma serem as festas mais “marcantes de Coimbra e da academia”, e que em dias de festa, é normal “para os estudantes, para a cidade e para o país haver ru-ído”.

Liliana Cunha

catarina carvalho

d.r.

Liliana Cunha

O último ENDA do ano lectivo realizou-se na UTAD nos dias 14, 15 e 16 de Junho

Enda

6 | a cabra | 18 de junho de 2013 terça-feira

cuLtuRA

Yoga: 30 anos a promover o bem-estaros 30 anos da secção Experimental de Yoga da AAc comemoram-se sem esquecer “a filosofia de bondade e descoberta pessoal”. A evolução tem sido crescente e os participantes também. Por Ana Morais

Ao lado das antigas Cantinas Verdes, uma porta abraça-da por um arco-íris pintado

na parede, e uma tímida placa onde pode ler-se “yoga” convidam-nos a entrar. Entramos e deixamos os sa-patos à porta - na sala de meditação só está de pés descalços. Uma sala estreita e despojada, em que as pare-des brancas são interrompidas pelas várias janelas que deixam espreitar a natureza, é preenchida pelos col-chões de quem aceitou o convite. Em posição de Lótus, tem início a meditação. Sentir o corpo e valorizar todas as sensações é o mote de come-ço, já de olhos fechados e boca entre-aberta com um ligeiro sorriso nos lábios. As posições evoluem a vários ritmos, mas sempre interiorizando a necessidade de sentir o nosso corpo. Testando o equilíbrio e a flexibilida-de, o que mais interessa é a atitude com que se encaram os exercícios.

Desde há 30 anos que este é o espí-rito da Secção Experimental de Yoga (SEY) da Associação Académica de Coimbra (AAC). Um grupo de ami-gos que tinha em comum a paixão pelas artes orientais, ia-se encon-trando nos jardins e nos corredores da AAC ou por salas emprestadas para praticar yoga. Luís Trindade, um dos fundadores ainda hoje liga-dos à SEY, conta que apesar de na altura “ser estranho algumas artes e práticas orientais, havia uma von-tade instituída, foi a ‘new age’, uma época interessante pela descoberta dos estudantes”. Margarida Lima, outra das fundadoras e a orientadora da sessão descrita, explica a vontade que havia de “fazer uma coisa dife-rente, um yoga aberto, em que se pu-desse experimentar todas as corren-tes e escolas que apareciam”. Ainda assim, a também professora univer-

sitária explica que havia uma grande vontade de “promover o bem-estar e o desenvolvimento pessoal”.

A SEY conta hoje com 60 inscri-ções oficiais. Contudo, como as prá-ticas são de entrada livre, “qualquer pessoa pode chegar e experimentar naquele dia e continuar ou não”, ex-plica Luís Trindade. “É um local de prática aberto”, é assim que Luís ca-rateriza a secção. Quanto ao aniver-sário simbólico, o membro-fundador brinca para desvalorizar o número: “30 anos, para nós, pequeninos hu-manos, é muito tempo, mas para a idade do cosmos é um cisco ou um micro cisco”. Todavia essas três dé-cadas permitiram já uma evolução. Margarida Lima explica que a SEY “tem crescido mas mantendo a filo-sofia original de bondade, descober-ta pessoal, e também de abertura e de aceitação da diferença”, e isso é notório pela diversidade de pratican-tes que chegam à secção.

“É um trabalho mais interior e pessoal, e nesse sentido a secção nunca se expôs muito”, admite Luís Trindade, apesar de reforçar o con-vite a todos os interessados para os horários das sessões: segundas, ter-ças, quartas e quintas, das 18h30 às 20h, sessões de yoga; e às terças das 20h15 às 21h, sessões zen.

Entre a meditaçãoO ano passado em época de exames, Diego Costa apercebeu-se da exis-tência da SEY e desde então tem marcado presença nas sessões. Hoje admite as mais-valias que esta secção lhe trouxe: “o conhecimento do pró-prio corpo, o equilíbrio, a postura, a respiração. E tem aumentado muito a minha concentração, o que é óti-mo nos exames”. Já Rita Coimbra, outra das praticantes, vem à SEY há

cerca de dez anos e confessa: “tenho aprendido muito, os professores são muito diferentes e aprendemos um bocadinho de cada um deles”. A pre-sidente cessante, Viviane Carrico, na SEY desde 2006, atualmente fora do país, confessa a forte ligação que ain-da detém. “ A secção proporciona à academia e à cidade o conhecimento e prática desta arte milenar”, atesta.

Comemorações de aniversárioJá com atividades realizadas no equi-nócio da Primavera, chega o solstício de verão, a 21 de junho, celebrado com uma tertúlia com antigos pra-ticantes de yoga, com a presença de Pedro Choy, outro dos fundadores e hoje reconhecido pela prática de acupuntura, na Cafetaria do Museu, às 21h30. “Uma conversa entre pes-soas em que o yoga tenha deixado a marca no seu trabalho do dia-a--dia”, explana Luís. No dia seguinte, 22, haverá oficinas de meditação, na sala de práticas, e ainda um concerto chamado de “tantra mântrico”, com a banda Guerreiros da Luz.

Quase duas horas depois dos exer-cícios práticos de yoga, os últimos minutos são guardados para o re-laxamento. Deitados no chão e de olhos fechados somos invadidos pelo poderoso som de uma taça tibetana. A voz suave e agradável de Margari-da transporta-nos. E somos levados para o centro das nossas sensações. Depois de sentirmos cada parte do nosso corpo, o despertar é mais agra-dável. Aos poucos voltamos e somos desafiados a encarar as coisas como se fosse a primeira vez, sem ideias feitas. A sessão termina, mas a calma incutida pela meditação continua. É assim com a SEY há 30 anos.

com Daniel Alves da SilvaAo lado das antigas Cantinas Verdes é a sala de meditação da SEY

Mostra de Teatro Universitário regressa com novidadesA 24 de junho inicia-se a II Mostra de teatro universitário que este ano acontece em dois palcos e traz à cidade uma companhia estrangeira

O Teatro Académico de Gil Vicen-te (TAGV) organiza novamente a Mostra de Teatro Universitário, que decorre entre os dias 24 e 28 de ju-nho. Pelo segundo ano consecutivo,

o TAGV promove o teatro feito pelos estudantes, num evento que reúne os grupos de teatro universitário co-nimbricenses, e que conta também com a presença de um grupo de tea-tro universitário espanhol.

A iniciativa alarga-se este ano ao palco do Teatro da Cerca de São Bernardo (TCSB), que irá também acolher alguns espetáculos da pre-sente edição. “O TAGV contactou--nos porque sabia que dois dos espectáculos da Mostra estrearam aqui [no TCSB]”, explica o respon-sável pela administração do TCSB, Pedro Rodrigues. Referindo-se ao “projecto H”, do Teatro dos Estu-dantes da Universidade de Coimbra

(TEUC) e à “Manhã”, do Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC), pensados e “construídos neste teatro”, tendo sido estreados por lá, acrescenta Pedro Rodrigues. Mostra-se, ainda, agradado por haver mais uma edi-ção e considerando esta “uma boa iniciativa para a cidade”.

A Mostra tem também a partici-pação do Thíasos (Grupo de Teatro do Instituto de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Univer-sidade de Coimbra), que traz à sala principal do TAGV a comédia “Lí-sistrata”, de Aristófanes. O Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC) apresenta o seu

exercício final de curso, “Aquário”, uma criação colectiva dos forman-dos com a coordenação de Catarina Lacerda. A novidade deste ano é a inclusão da Compañia de Teatro Noite Bohemia, do Instituto Ramon Menéndez Pidal (Zalaeta), da Coru-nha, que interpreta “Una tragedia de Eurípides”. A vinda do grupo espanhol justifica-se pela aposta no crescimento da Mostra, que se pretende um evento de referência no teatro universitário em Portugal. Relativamente aos preços serão in-feriores ao ano passado e vão ter o preço único de 3 euros por espetá-culo.

Decorrem também dois deba-

tes no café-teatro, “Mulheres em Cena”, sobre o papel da mulher na cultura tradicional e “Como dar for-ma ao Caos”, que se foca no teatro universitário. O diretor do TAGV, Fernando Matos de Oliveira, expli-ca, quanto ao teatro universitário, que o seu estudo “contribuiu para o desenvolvimento do teatro em Por-tugal, mais do que noutros países europeus”. A existência do teatro universitário mantém-se apesar da adversidade económica enfrentada pelas companhias. Contudo, o dire-tor do TAGV reconhece que o mes-mo conseguiu estabelecer-se graças a “abertura de cursos de artes na universidade”.

Maria João GomesDaniel Alves da Silva

daniel alves da silva

18 de junho de 2013 | terça-feira | a cabra | 7

DEsPoRto

Espadas estão de volta a Coimbracom tradição em coimbra, a esgrima volta a atrair. Depois de uma tentativa infértil de trazer a atividade à AAc, o grupo reconstituiu-se numa outra associação da cidade

Há menos de 100 anos aconte-cia o último duelo no país entre um republicano e um monárquico, ambos da capital, por motivos de honra. Desde então que as espa-das apenas se gladiam no desporto, sem qualquer intuito de resolver conflitos. É assim na esgrima. Es-pada, florete e sabre, três objetos agora usados apenas na desporti-va, deixam para trás as histórias de honra resolvidas a sangue.

“Quando se pensa em esgrima pensa-se na antiga aristocracia, mas a esgrima democratizou-se muitíssimo. E hoje encontramos pessoas de todas as classes sociais e proveniências”. Quem o diz é o co-ordenador da mais recente Secção de Esgrima, formada em Coimbra, da Associação Cristã da Mocidade (ACM), Pedro Bingre, para apre-sentar um grupo heterogéneo de esgrimistas. “A esgrima em Coim-bra tem uma larga história”, conta Pedro, apesar de ressalvar que esta secção não herdou nenhum desses antigos participantes.

Desde outubro de 2012 que um conjunto de amigos, integrado por Pedro Bingre, começou a idealizar esta secção, mas só em março deste ano é que se formalizou enquanto

Secção de Esgrima. Depois de ha-ver uma tentativa de recuperar esta secção na Associação Académica de Coimbra (AAC), o cenário mais acessível foi recuperar a sala de ar-mas (termo da gíria) da ACM.

Problemas orçamentais com a antiga Secção de Esgrima da AAC parecem ter sido o impedimento, apesar de Pedro Bingre explicar que não conseguiram apurar mais detalhes relativos a esta situação. Também o presidente do Conse-lho Desportivo, Miguel Franco, reconhece: “é um processo antigo, surgem muitos e não me consigo recordar”. Ainda assim, Pedro ex-plica que após a tentativa de recu-perar a secção na AAC foi pedido o pagamento de “uma dívida bas-tante avultada” à Federação Portu-guesa de Esgrima, o que constituiu um impedimento, devido à falta de meios financeiros. Por outro lado, Miguel Franco explica que o projeto apresentado ao Conselho Desportivo para a recuperação des-ta secção era “vago” e “não tinha a viabilidade financeira devidamente comprovada”. Contudo, o presi-dente do Conselho Desportivo re-conhece a lacuna de uma secção de esgrima numa “AAC tão eclética”.

Um grupo heterogéneoNo entanto, o grupo que ansiava a formação da Secção de Esgrima encontrou uma alternativa, a ACM. Desde então que em quarta-feira de treino, o tilintar do choque das es-padas é o som mais presente num dos pavilhões da associação. De-pois dos treinos de aquecimento, os esgrimistas realizam uma ‘pull’ (um minicampeonato), em que to-dos combatem contra todos e num ambiente de diversão. O que inte-ressa não são os pontos, mas sim

a evolução e a precisão dos movi-mentos.

Estudantes dos três ciclos, profis-sionais, atletas de várias nacionali-dades e idades distintas constituem o ainda pequeno grupo da secção. Em português e inglês, o coordena-dor dá as indicações para o decor-rer do treino. A mais recente atleta é Alice Torres. Teve conhecimento deste grupo através do Facebook e desde a última quarta-feira que é presença no treino, depois de uma viagem de Aveiro até Coimbra. “Es-tão todos muito empenhados em que isto funcione, é um grupo bas-tante engraçado, daí ter aderido”, explica Alice, que já tinha praticado florete há cerca de 15 anos.

Entre uma pausa de um combate, José Fernandes e Bárbara Ormon-de, ambos estudantes, contam com orgulho o evoluir da secção, uma vez que acompanham o processo desde início. José praticou esgrima na infância e agora reconhece que “gostava de continuar e até entrar nas competições”. Já Bárbara, a mais nova do grupo, tinha vonta-de de experimentar este desporto e andou em busca de um local para o fazer, até que chegou a Pedro. Hoje reconhece que a “heterogeneidade do grupo contribuiu” para a sua evolução.

Sem financiamento externo, a gestão é feita a partir das próprias quotas. Já federados e com convi-tes para participar em campeona-tos, Pedro Bingre explica que no final do corrente ano esta será já uma possibilidade, “não tanto para ganhar prémios mas sim para ga-nhar experiência”. Mas o objetivo é trazer mais pessoas para a secção já que, afinal de contas, como confes-sa Pedro, “este não é um desporto para elites”.

Ana Morais

A sala de armas recuperada na ACM é a mais recente Secção de Esgrima

Um ‘hobby’ de custos e dedicação elevadosA celebrar os 20 anos do seu primeiro campeonato europeu,o Radiomodelismo da AAc apresenta, apesar das perspetivas preocupantes, uma situação regular

Fundada em abril de 1991, a Secção de Radiomodelismo da As-sociação Académica de Coimbra (SRAAC) apresenta-se como um polo quase único na dinamização e prática do radiomodelismo na cida-de. Com um historial de vinte e dois anos, muitos são os registos da par-ticipação em provas de competição europeias e mundiais.

O atual tesoureiro da SRAAC, Carlos Lobo, contextualiza o surgi-mento da secção com o “arranque do radiomodelismo em Portugal”

e a importância da realização do campeonato europeu de radiomo-delismo em 1993, em Coimbra. “Numa pontuação de zero a 10, ti-vemos 9.8 na organização, foi o me-lhor resultado de sempre”, adianta.

Situado no Estádio Universitário, o local da pista de radiomodelismo é o mesmo desde a sua fundação. Da pista todo o terreno, que apenas permite a prática de modalidades nessa área, houve a passagem para o asfalto, que passou a acomodar pilotos das cinco áreas em que a secção atualmente se inscreve. “Fi-zemos uma primeira pista, que não foi muito bem conseguida a nível de traçado, entretanto fizemos a atual”, esclarece Carlos Lobo.

É assim que, no ano 2000, é construído o miniautódromo de velocidade, que permite a prática de modalidades como 1:8 pista, 1:10/200 e também a realização de provas com carros elétrico, na cate-goria 1:10 elétrico pista. O tesourei-ro da SRAAC valoriza a passagem de diversos atletas pelo clube, com

destaque para as participações de Miguel Matias e Carlos Durães em provas de âmbito nacional e inter-nacional.

Como sócia-fundadora, a SRAAC é um dos 27 clubes membros da Fundação Portuguesa de Radiomo-delismo Automóvel. Com cerca de cinquenta sócios, dos quais menos de cinco são estudantes, são muitos os que permanecem por dedicação. Carlos Lobo explica que alguns membros da direção do passado, inclusive da primeira equipa de 1991, tiveram que regressar para assumir cargos diretivos.

O tesoureiro da SRAAC lamenta a falta de interesse dos mais jovens, particularmente do público univer-sitário, e sublinha a necessidade de atrair mais sócios para a sobrevi-vência da secção. “Há a necessida-de que uma direção se mantenha durante algum tempo, para que haja estabilidade, aqui isso não se consegue”, acrescenta.

Desprovida dos patrocínios que desde a sua fundação a financia-

vamn, a SRAAC sustenta-se através de uma rigorosa gestão dos fundos acumulados ao longo dos anos. “Te-mos uma ‘almofada’ muito grande que vamos gastando, mas quando acabar não temos outra alternativa senão fechar a porta”, alerta o Car-los Lobo.

Com um financiamento do Con-selho Desportivo da Associação Académica de Coimbra, que atinge pouco mais de mil euros por ano, o dirigente desportivo queixa-se também das limitações que são impostas na área do autofinancia-mento. “Como estamos agarrados à ‘camisola’ não podemos fazer publicidade, a lei não o permite”, acresce.

Realizado no passado sábado, 16, o Campeonato Nacional de Escala 1/5 não trouxe um feliz resultado aos atletas da AAC. Gonçalo Almei-da não pôde comparecer e Jaime Almeida, o único piloto a participar terminou em 12º lugar, num con-junto de treze atletas que se incon-travam inscritos.

João Valadão

ana morais

ana morais

rafaela carvalho

8 | a cabra | 18 de junho de 2013 | terça-feira

cIDADEi MOStra dE GaStrOnOMia dE cOiMBra

Do vinho à urtiga, se enche a barriga Dinamizar o mercado D. Pedro V, atrair novos públicos e proporcionar aos visitantes uma nova visão do mercado, foram alguns dos objetivos da I Mostra de Gastronomia. De coimbra e arredores, vários expositores trouxeram algumas das iguarias que caraterizam a sua riqueza gastronómica. Por João Valadão

Pão caseiro, crepes de beldroegas, queijadas de Pereira e vinhos regionais foram alguns dos produtos que preencheram as bancas do Mercado D.Pedro V

Realizada no passado sábado, dia 15, a I Mostra de Gastro-nomia de Coimbra trouxe ao

mercado D. Pedro V um conjunto de dezoito expositores, com uma diver-sa gama de sabores de vários locais da região centro.

Organizada pela Associação de Mercados de Coimbra, o evento in-clui-se num conjunto de atividades que tem vindo a ser realizado no últi-mo ano, no âmbito de um esforço de dinamização do comércio tradicional da cidade. A representante da Asso-ciação de Mercados de Coimbra, Ana Simões, comenta que a feira resulta “de um esforço de três meses” e que contou com o apoio fundamental da Confraria dos Sabores de Coimbra, que também colaborou na realização

de contactos com outras confrarias de renome.

Em dia de santos populares, a I Mostra de Gastronomia tornou-se um local privilegiado para provar algumas especialidades da cozinha portuguesa e outros produtos menos presentes nas refeições. O cozinheiro dos Serviços de Ação Social do Ins-tituto Politécnico de Coimbra, Antó-nio Neves, é um dos expositores que se destaca pela novidade dos seus produtos. Bolos e outras doçarias preenchem a sua banca, rodeadas por um conjunto de diversas flores comestíveis. A exposição consiste em produtos de urtiga e beldroega, que António confeciona no âmbito de projetos paralelos nos quais parti-cipa. “As pessoas não estão habitua-

das a este tipo de produtos silvestres, mas aos poucos vou-lhes incutindo o gosto”, explica o cozinheiro. Os be-nefícios para a saúde, a riqueza bio-lógica do produto e a facilidade em arranjá-lo em terrenos baldios são algumas das vantagens que a banca-da de António Neves oferece.

Também presente na mostra, e provador das diversas iguarias ofe-recidas pelas bancas, esteve o pre-sidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), João Paulo Barbo-sa de Melo. O autarca explana a re-levância deste tipo de eventos para a divulgação do comércio tradicional

junto dos cidadãos: “os comercian-tes organizaram-se e isso é muito importante”. O presidente da CMC acrescenta que é preciso que “o mer-cado seja um sítio onde nos sintamos bem, assim ficamos satisfeitos e vol-tamos”. Contudo, o autarca apresen-ta-se reticente quanto à realização deste tipo de eventos como solução para a crise que aflige o comércio tradicional na cidade. “Estas iniciati-vas têm um ato simbólico, ajudam as pessoas a virem cá, mas não se pode esperar que a salvação vá ser orga-nizar eventos destes todos os dias”, conclui.

Uma cidade pouco aderenteMaria Preciosa Vale, presidente da Confraria dos Sabores, conta que o objetivo principal é “divulgar a cozi-nha tradicional e conventual, da for-ma mais genuína possível”. Movido pelo lema de “promover, defender e divulgar”, o grupo conimbricense, constituído unicamente por mulhe-res, participa regularmente em even-tos de dinamização da gastronomia conventual.

A opinião de que Coimbra é uma cidade com pouca aptidão para a realização de eventos dinamizado-res da gastronomia conventual e do mercado tradicional parece gerar consenso entre os vários participan-tes da mostra. Maria Preciosa Vale mostra-se surpreendida pelo núme-ro de pessoas que afluiu ao mercado: “para Coimbra, que não é muito ade-rente, até veio um número significa-tivo”. Também Ana Simões valoriza a realização da I Mostra de Gastro-nomia, num contexto que propor-ciona poucas oportunidades para a promoção do comércio tradicional. Sobre uma futura realização da fei-ra, a representante dos comerciantes espera que o evento se posso repetir, de forma a garantir também a dina-mização do próprio espaço.

Para além do grupo de dezoito ex-positores que estiveram presentes, a mostra contou com a participação de grupos de artesanato e musicais, que preencheram o dia com diversas atuações. Entre o variado número de expositores que estiveram presentes contam-se a Confraria dos Sabores de Coimbra, a Confraria Gastronó-mica “As Sainhas”, a Confraria de Vinho de Lamas, a Confraria da Do-çaria Conventual de Tentúgal ou a Confraria Enogastronómica Sabores Do Botaréu.A mostra contou com a presença de dezoito expositores

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18 de junho de 2013 | terça-feira | a cabra | 9

cIêNcIA & tEcNoLoGIA

Maior longevidade requer mudança de paradigmao enquadramento demográfico português conhece, hoje, novos contornos. A esperança média de vida aumenta, a taxa de natalidade não assegura renovação e a taxa de mortalidade diminui. o país está envelhecido e é preciso adequar as políticas às novas realidades. Por Rita Abreu e carolina Varela

Com o passar dos anos, um leque de fatores tem sido res-ponsável pelo aumento da es-

perança média de vida. A melhoria das condições de bem-estar, acom-panhada dos progressos da medici-na e da assistência médica está na origem do aumento da longevidade da sociedade portuguesa.

Os dados do Instituto Nacional de Estatística apontam para uma esperança média de vida em torno dos 82,43 anos para as mulheres e 76,47 anos para os homens – valo-res referentes ao triénio 2009-2011. A realidade atual contrasta em larga medida com o panorama dos anos de 1960, altura em que “a esperança média de vida era de apenas 61 anos para os homens e 67 anos para as mulheres”, lembra o presidente do Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra (CHUC), José Martins Nunes. A esperança média de vida à nascença tem conhecido um cami-nho crescente nos últimos anos, sen-do sempre superior nas mulheres.

“A evolução da medicina e a pos-sibilidade de tratar doenças exis-tentes, bem como a possibilidade de prevenção de aparecimento de doenças graves tem permitido às pessoas viverem mais tempo e com maior qualidade de vida”, ressalta a especialista em genética médica do Centro Genética Clínica (CGC), Pu-rificação Tavares. A especialista sa-lienta que o aumento da esperança média de vida “não tem sido acom-panhado por um aumento da popu-lação, contrariamente ao que seria de esperar. Apesar de se viver mais tempo, a natalidade tem decrescido, facto que resulta numa população envelhecida”.

Novas demografiasO aumento da proporção de idosos – pessoas de 65 ou mais anos de idade – e a diminuição da percenta-gem de jovens – pessoas com idade inferior a 15 anos – no conjunto da população, traçam a estrutura atual do país. O índice sintético de fecun-didade e os saldos migratórios são, também, variáveis determinantes na definição da sociedade. Em 2009 registou-se uma média de 1,32 filhos por mulher, sendo que o valor neces-sário à substituição de gerações é de 2,1. Também nos saldos migratórios os valores de saída têm superado os de entrada, deixando o país com um saldo negativo.

O investigador do Centro de Es-tudos Sociais (CES), André Brito Correia, alerta para a alteração das realidades demográficas que “têm colocado uma série de questões para as quais a sociedade portuguesa não parece preparada”. Num contexto

demográfico muito diferente do que marcava a sociedade de há meio século atrás, torna-se imperativo “equacionar formas diferentes de ver a relação entre formação, traba-lho, tempo de lazer e o modo como as gerações se relacionam entre si”, não hesita o investigador do CES.

O aumento de pessoas idosas, que caracteriza atualmente o país, resul-ta numa redução da população ativa e crescente procura de cuidados de saúde. Purificação Tavares observa que estes fatores “têm grande im-pacto nas contas públicas, princi-palmente na saúde, uma vez que a

tónica continua a ser o tratamento e não a prevenção”.

André Brito Correia frisa, tam-bém, a necessidade de colmatar o que considera que tem sido “um grande desfasamento entre as di-nâmicas demográficas dos últimos anos e aquilo que se verifica a nível económico, social e político”.

Novos paradigmasO cenário social e demográfico do país reconhece no envelhecimento demográfico um processo contínuo, que apesar de poder conhecer algu-mas atenuantes e uma certa desace-

leração, nunca pode ser extinto.José Martins Nunes cita o relató-

rio anual do Conselho da Europa so-bre a “Evolução demográfica recente na Europa”: “a população portugue-sa irá diminuir nas próximas duas décadas, dado que, embora aumente a esperança de vida, o número de nascimentos está a cair a uma velo-cidade superior à europeia. Os por-tugueses serão menos um milhão em 2050 e a população estará ainda mais envelhecida, havendo perto de 2,5 idosos por cada jovem”.

Segundo o mesmo relatório, pre-vê-se que a população idosa dupli-

que ao longo dos próximos 40 anos, podendo em 2050 ser superior a 32 por cento do total da população resi-dente em Portugal, e a população jo-vem registar menos de 13 por cento.

Com vista à atenuação dos proble-mas decorrentes do envelhecimento demográfico, o presidente do con-selho de administração do CHUC aponta a “criação de condições de incentivo a políticas de preservação de boa saúde, estilos de vida sau-dáveis e de apoio às organizações que se dedicam ao apoio de idosos”. Quanto à importância do crescimen-to da natalidade, acredita que “pode ser incentivado através do aumento do abono de família, da licença de parto, dos subsídios de nascimentos e aleitação, de um maior apoio da legislação laboral às futuras mães e até penalização fiscal dos celibatá-rios e casais sem filhos”.

Determinação genéticaO tempo de vida dos indivíduos re-laciona-se, entre outros fatores, com condições genéticas. “Existe uma re-lação entre o comprimento dos teló-meros (regiões terminais dos nossos cromossomas) e a longevidade. Fo-ram também descritos outros genes que parecem influenciar a longevi-dade”, determina a geneticista do CGC.

O fator genético pode ter um pa-pel neutro, protetor ou ser um fator de risco acrescido. “A presença de determinadas alterações genéticas aumenta o risco de se desenvolver uma doença. Já se fazem testes ge-néticos para atuar especificamente sobre o risco de doenças para cada um”, avança Purificação Tavares.

O meio ambiente assume um peso preponderante na temática da longevidade. A especialista do CGC acrescenta que “a interação do meio ambiente com hábitos que as pes-soas têm e com os fatores genéticos são determinantes”.

A manipulação genética do tempo de vida tem sido alvo de múltiplas pesquisas. “O aumento da longe-vidade celular não é sinónimo de saúde. Os mecanismos de proteção de erros, que evitam, por exemplo, o aparecimento de cancros não são mantidos”, acusa a geneticista. Con-clui que “as tentativas de manipula-ção genética deveriam ter em conta a prevenção de doenças e o aumento da qualidade de vida e não apenas a longevidade”.

Ter conhecimento antecipado de doenças que se podem manifestar mais tarde na vida de cada um e a possibilidade de atuar com antece-dência sobre o seu aparecimento são duas das conquistas basilares da his-tória da humanidade.

arquivo - rafaela carvalho

Estima-se que em 2050 haja cerca de 2,5 idosos por cada jovem

10 | a cabra | 18 de junho de 2013 | terça-feira

MusEus No cENtRo

Uma nova rede, “Museus no Centro”, integra ago-ra os museus de Avei-

ro, Guarda, Dr. Joaquim Manso (Nazaré), José Malhoa, Cerâmica (Caldas da Rainha), Francisco Tavares Proença Júnior (Castelo Branco) e Santa Clara-a-Velha (Coimbra).

Após terem sido entregues à sua tutela, a Direção Regional de Cultura do Centro (DRCC) de-senvolveu um projecto de agre-gação que pretende “criar novas dinâmicas quer através da atra-ção de públicos quer através do cumprimento da função social e cultural dos próprios museus”, explica o diretor de serviços de Bens Culturais, Artur Côrte-Real.

O objetivo é transportar para todos os museus um modelo que o Mosteiro de Santa Clara-a-Ve-lha (MSCAV) tem vindo a desen-volver ao longo dos últimos anos. Organizar sessões de cinema, te-atro, música, e muitas outras ati-vidades pedagógicas e culturais com o intuito de criar uma pro-gramação mais jovem e atrativa.

Celeste Amaro, diretora da DRCC, é perentória: “uma expo-sição vê-se uma vez, se não hou-ver esta dinâmica as pessoas não voltam”. Também a coordena-dora do MSCAV, Lígia Gambini, compreende esta necessidade de dinamizar os espaços históricos e quebrar um paradigma ins-tituído. “Os museus já não são aqueles espaços sombrios dedi-cados apenas a eruditos, mas sim abertos à maioria da população”, confessa.

Também por essa razão, a

DRCC pretende desenvolver um maior trabalho de divulgação em plataformas online e integrar neste novo projeto a criação de lojas e cafetarias, bem como alar-gar os horários de visita. “Esta é uma tentativa de reaproximar os museus das pessoas, de os tornar espaços de lazer, de fazer fruir as cafetarias, os relvados, os edifí-cios e os monumentos”, afirma Lígia Gambini.

Intercâmbio de experiênciasA rede “Museus no Centro” reve-la-se então uma oportunidade de união de esforços entre as diver-sas entidades nela englobadas. “A ideia é captar aquilo que cada museu sabe fazer melhor e levar esse conhecimento aos outros para que esta dinâmica cultural se torne mais rica, abrangente e concertada - onde a experiência específica de cada espaço enri-queça também os outros”, reitera a coordenadora do MSCAV.

Assim, técnicos arqueológi-cos do MSCAV ou técnicos de pintura do Museu José Malhoa poderão dirigir oficinas pedagó-gicas em qualquer um dos outros museus. A DRCC pretende ainda que as exposições sejam itine-rantes rentabilizando os recur-sos económicos disponíveis. Foi também criado um passaporte para o público de forma a que a visita a cada um dos museus seja registada, permitindo descontos e garantindo uma prenda sur-presa no final. “São visitas que se complementam e que no fundo espelham a riqueza da nossa cul-

tura”, reitera Lígia Gambini.Segundo Celeste Amaro, um

dos principais objetivos é tornar os museus “cada vez mais auto-sustentáveis”, o que implica um aumento do público. E, de acor-do com os dados estatísticos da DRCC, este projeto que é agora divulgado, mas que tem estado em fase de experimentação des-de janeiro, permitiu aos museus integrados um aumento de visi-tantes. De um total de 16 908 vi-sitantes anuais em maio de 2012, o conjunto dos museus teve um acréscimo para 26 508 em maio de 2013, um aumento de cerca de dez mil visitantes.

Artur Côrte-Real explica: “es-tes projetos são medíveis e, por-tanto, não há nada abstrato. Daqui a um ano já fizemos uma primeira apreciação de aumento de públicos e de aumento de re-ceita.”

No entanto, os responsáveis da DRCC acreditam que o proje-to ainda tem um longo caminho a percorrer. Deste acréscimo de visitantes ficam excluídos o Mu-seu Joaquim Manso na Nazaré e o Museu da Guarda cujas condi-ções atuais são, na opinião de Ce-leste Amaro, o principal entrave ao desenvolvimento. “Pretende-mos encerrar o museu da Nazaré, que está sem condições de aber-tura ao público e nada apelativo, e refazê-lo no promontório”, con-firma a diretora.

Cultura como um produto vendívelNum momento marcado pela cri-se económica, onde os cortes na

cultura são cada vez mais acen-tuados, é necessário, na opinião de Celeste Amaro, descobrir no-vas formas de angariar receitas. “Promover a cultura hoje tem que ser como vender um produ-to, vender um museu tem a mes-ma ciência e o mesmo ‘marke-ting’ que vender outro produto”, confessa a diretora.

Os três responsáveis deixam ainda bem claro que um museu não é apenas as atividades e ex-posições que este alberga. “O mu-seu vive também com o trabalho de investigação e com o trabalho de conservação”, declara Artur

Côrte-Real. Por isso mesmo, o diretor de

serviços de Bens Culturais de-fende a necessidade de “inverter a ideia de que quando se vai a um museu não se paga”. No seu ponto de vista “contribui-se para a manutenção de uma memória”. Lígia Gambini reforça: “é eviden-te que a cultura deve ser acessí-vel, mas a gratuitidade completa leva a que também muitas vezes não se valorize os espaços”.

com Juliana Pereira

A Direção Regional de cultura do centro transporta o modelo do Mosteiro de santa clara-a-Velha para a rede “Museus no centro” criada no início deste ano. cinema, música, teatro, oficinas pedagógicas e exposições itinerantes unem agora sete museus da região centro de Portugal, da Guarda às caldas da

Rainha, de forma a tornar estes espaços mais apelativos, com um aumento de público e de receitas. Por Rafaela carvalho e sónia Mendes

“Uma exposição vê-se uma vez, se não houver dinâmica as pessoas não voltam” Lígia Gambini

Património museológico em intercâmbio

18 de junho de 2013 | terça-feira | a cabra | 11

MusEus No cENtRo

fotomontagem por catarina carvalho

12 | a cabra | 18 de junho de 2013 | terça-feira

PAís

JJúlio Ferreira é professor há 13 anos. Acompanhado pela filha, veio de Faro pelo que

diz ser “um imperativo ético”. Está a contrato há tantos anos quantos exerce a profissão e está em Lisboa para “lutar pela escola pública de qualidade” mas também pela “esta-bilidade no emprego”.

No dia 15 de junho os professores voltaram à rua, desta feita como in-terlúdio de uma jornada maior. De-pois da greve às avaliações segue-se

a greve ao exame de Português. Em causa está a mobilidade especial, controversa medida que o Minis-tério da Educação e Ciência quer aplicar.

Se o nome estiver no mapa, saiu de lá um autocarro em direção a Lisboa com mais ou menos ante-cedência, conforme a distância. De norte a sul do país, para percorrer a Avenida da Liberdade, juntam--se cerca de 50 mil professores, alegam os sindicatos. “Só da região

do Porto vieram 11 autocarros”, afirma José Machado, professor de Filosofia e Psicologia em Gaia, na Escola Secundária António Sérgio. Docente há 32 anos, José Machado viu serem investidos 12 milhões de euros na modernização da escola para agora “mandarem os profes-sores para a rua, fecharem os cur-sos e aumentarem os horários de trabalho”.

Na última deslocação da classe profissional a Lisboa, um despiste de um transporte de animais vivos na autoestrada fez com que quem viesse do centro e norte do país se atrasasse. Este sábado, pelo cami-nho, houve quem gracejasse e inda-gasse o que é que o ministro Crato poderia mandar desta vez.

Os primeiros autocarros a chegar ao Marquês fizeram-no por volta do meio-dia. Ali ao lado, o Parque Eduardo VII fazia lembrar o Jamor em questões de farnel, houvesse razões para festejar. Bombos, api-tos, buzinas, cânticos e a inevitável “Grândola”: tudo é válido na altura de demonstrar o descontentamen-to.

Marcada para as 15 horas, urgia começar a marcha. Os 27 graus à sombra com outros tantos ao sol faziam o alcatrão queimar nos pés. Então, do Marquês aos Restaura-

dores, passaram 30 minutos – isto à cabeça da manifestação. Quanto à cauda, eram já 16 horas e ainda haviam bandeiras a abandonar o Marquês.

“Vou fazer as greves todas”Professora de Educação Física há 25 anos, Bela Afonso vem de Braga pois “há razões mais do que sufi-cientes” para se manifestar. A mo-bilidade especial e o aumento de 35 para 40 horas laborais são apenas dois dos motivos que a levaram à capital e que a levaram também a fazer greve ontem, 17, à vigilância do exame de Português. E acres-centa: “vou fazer as greves todas”.

Os Restauradores não encheram na totalidade, sobejavam espa-ços ao sol e a sombra da avenida mostrava-se mais convidativa. Lá à frente, ao pé do palco, o mar de bandeiras teve que ser afastado para deixar que as televisões fizes-sem o seu trabalho.

Também de Braga vem Manuel Silva, professor de Mecanotecnia. Com 36 anos de serviço e no qua-dro há 33, esta não é a primeira presença em manifestações da classe. “Estou em vias de ir para o desemprego, como todos”, motivo que o leva a ir para rua.

P. prefere não ser identificada. Professora na Brandoa, efetiva há duas décadas, faz questão de ir a todas as manifestações. O marido, que está ao lado, “é solidário, ape-sar de não ser professor, também vem a todas”. Quanto às revindi-cações, P. exemplifica que por cada turma de testes são lhe ocupadas cinco a seis horas na correção. Da sua escola vieram poucos professo-res, afirma, “mas também vieram pessoas já reformadas”.

Ministério com falta de ética

José Machado acredita que o au-mento do horário de trabalho vai prejudicar a qualidade do ensino público. “Vai prejudicar os jovens e os desempregados, porque os con-tratados vão para a rua e os efetivos irão para a mobilidade”, antevê. Contra o Ministério que acusa de falta de ética, o professor de Filoso-fia garante que de 81 conselhos de turma agendados desde do dia sete, nenhum se realizou.

Cinco e meia e a multidão co-meça a dispersar. Mário Nogueira já discursou e é hora de arrumar as bandeiras. A grande maioria dirige-se para a beira-rio, onde os aguardam os autocarros para os le-var de volta.

Os exames do nosso descontentamentoMilhares de docentes manifestaram-se em Lisboa este sábado, 15, pelo direito à “estabilidade no emprego”, contra a mobilidade especial e contra o aumento da carga horária. Reivindicações da classe que marchou do Marquês aos Restauradores. Por camilo soldado, em Lisboa

Professores de norte a sul do país rumaram a Lisboa para se manifestar contra as medidas do Governo e os ataques à educação pública

d.r.

Até agora os professores beneficiavam de um estatuto na função pública que os isentava do regime de mobilidade especial. A transição sugere-se numa situação em que os trabalhadores, na sequência da reestruturação de serviços, não são necessários. Ainda há os que optem voluntariamente por esta transição em certos períodos temporais. Atualmente, aqueles que desejem passar para o grupo apenas mantêm o salário inteiro nos primei-ros dois meses. nos dez meses seguintes passam a receber apenas 66,7 por cento da remuneração, e depois ficam reduzidos a metade do salário. no entanto, a lei não prevê um limite para que os funcionários fiquem na mobilidade especial. Para os professores a situação nunca antes prevista faz com que, se não ficarem colocados em nenhuma escola ou se não tiverem horário letivo suficiente, se vejam forçados a entrar nesta transição por via da falta de trabalho.

A reivindicação cresce porque a alteração da lei querida pela tutela tem de estar pronta até ao final deste mês. Tiram-se os professores de um regime próprio onde, caso não lhes seja atribuído um horário zero (seis tempos letivos), terá de concorrer a uma escola no mesmo concelho e se mesmo assim não conseguir, acaba por ficar na escola em funções de substituição temporária ou exercer outros trabalhos de apoio. neste momento, e segun-do a Fenprof, estão cerca de 14 mil professores em risco.

Por Liliana Cunha

O qUE é A MObiLiDADE ESPECiAL?

O Conselho Europeu reu-niu-se em Cimeira no dia 22 de maio e convergiu as

suas temáticas na urgência de se-rem feitos progressos nos domí-nios da energia. As empresas do setor apontam como falhas nas estratégias europeias: a diminui-ção drástica dos investimentos em grandes projetos de infraes-truturas capazes de dar resposta a picos de consumo, a ausência de um quadro regulamentar pre-ciso, e o peso muito relativo da política energética comum. Situ-ações que na ótica das empresas podem por em causa a segurança de abastecimento energético da Europa.

Desde 2008 que a União Eu-ropeia (UE) tem uma política comum integrada de energia e alterações climáticas. Em 2007, a Comissão propôs uma estraté-gia designada “Pacote energia-

-clima: três vintes até 2020”, que foi aprovada em 2008 pelo Conselho e Parlamento Europeu. Esta estratégia europeia definiu objetivos para 2020, como a re-dução de CO2 em 20 por cento e aproveitar 20 por cento do total de energia para consumo da UE, de proveniência renovável. Ape-sar destes objetivos serem obri-gatórios, a estratégia define um terceiro objetivo facultativo: o aumento da eficiência energética em 20 por cento.

“A falha de abastecimento é uma questão extremamente gra-ve e que pode por em causa dinâ-micas económicas”, prenuncia-se a deputada do Partido Ecologista “Os Verdes”, Heloísa Apolónia,

defendendo que o investimento deveria descentralizar-se dos gi-gantes do setor, sendo a aposta uma produção mais localizada. Porém, a eurodeputada do Par-tido Social Democrata, Maria da Graça Carvalho, defende que “não há uma falta visão euro-peia”. “O que se passa é que co-meça a ser preciso definir o pós 2020”, esclarece relativamente às queixas das empresas do se-tor.

A deputada com assento no Parlamento Europeu, considera que “os elevados investimen-tos exigidos pela construção de uma qualquer central ou linha energética requerem tempo”, e é portanto urgente “definir o rumo a seguir, para dar também uma segurança ao setor empresarial e ao setor industrial”. Nesse sen-tido, Maria da Graça Carvalho acredita que é necessário prepa-rar “não só o 2030 mas também o 2050”.

Na mensagem transmitida na semana que antecedeu a Cimei-ra, e segundo o jornal francês “Le Fígaro”, as empresas desejam ainda que o mercado do carbono seja mais compreensível, menos dispendioso e mais eficaz, em es-pecial no confere às licenças de emissão. As indústrias que mais consomem energia e que mais emitem, enfrentam então as apertadas medidas da UE, obri-gando a enveredar pela desloca-lização das centrais de produção, que vão abrir noutros locais, sem essas restrições. Trata-se muita das vezes de centrais de gás de ciclo combinado (CGG), que são também vítimas do desenvolvi-mento do Gás de Xisto na Amé-rica do Norte.

Gás de XistoO gás, quatro vezes mais barato do outro lado do Atlântico do que na Europa, per-

mite aos Estados Unidos expor-tarem quantidades enormes de carvão. Estas servem para ali-mentar as centrais de produção de eletricidade da Europa, a pre-ços muito mais competitivos do que os do gás para as CGG.

Contudo, quando questionada a hipótese de exploração deste gás no contexto europeu, a pre-sidente do Conselho Diretivo do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), Teresa Ponce de Leão, assevera: “o que é possí-vel nos EUA pode não ser possí-vel na Europa. Temos que apos-tar em soluções em locais onde existem recursos que possam ser aproveitados”. O elemento que, nas palavras da eurodeputada social-democrata, vem “baralhar o cenário internacional” fez os EUA deixarem de consumir car-vão, tornando o seu preço nos mercados mais baixo, e obrigan-

do a Europa a consumir muito mais carvão do que antes.

Ilhas de energiaA diminuição drástica dos inves-timentos em grandes projetos inviabiliza, no imediato, as ambi-ções de ter uma Europa coberta de uma rede elétrica, por exem-plo. “Existem ilhas do ponto de vista energético, a Península Ibé-rica tem uma ligação muito ténue com a França”, confir-ma

Maria Graça de Carvalho. Na questão da diversifi-cação de fontes ou “’mix’ energético”, como vem de-finido na estratégia do “pa-cote clima-ambiente”, as di-retivas em relação ao gás e a gasodutos prendem-se com a não dependên-cia de nenhum país fornecedor ou país de trân-sito. Apesar da grande diversi-d a d e de fon-tes da Penín-

sula Ibérica, como o gasoduto

da Argélia e os oito portos de gás lique-

feito, a não ligação por gasoduto à França não é

favorável aos restantes es-tados membros, sobretudo os do norte europeu (dependentes do abastecimento russo).

Outra das situações que tem prejudicado a UE em termos de política energética é a não concretização de um acordo internacional com as restantes potências mundiais. “A Europa tem estado sozinha nesta luta”, confirma Maria de Carvalho. “Reduzir o nuclear, apostar for-te nas energias renováveis e um acordo internacional verdadei-ramente eficaz” - são alguns dos ponto definidos por Heloísa Apolónia como fundamentais em termos futuros. Opinião partilhada pela eurodeputa-da e pela presidente do LNEG.

18 de junho de 2013 | terça-feira | a cabra | 13

MuNDo

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Estratégias energéticas europeias precisam-seFalta de investimentos, fraco desenvolvimento dos recursos renováveis e concorrência norte-americana são alguns dos problemas que assombram as políticas energéticas da união Europeia. o isolamento da Europa neste combate tem-se revelado prejudicial no contexto internacional. Por António cardoso

“A falha de abastecimento é uma questão grave que põe em causa dinâmicas económicas”

“O que é possível nos EUA pode não ser possível na Europa”, declara Teresa Ponce de Leão

O futuro”

14 | a cabra | 18 de junho de 2013 | terça-feira

ARtEsC

INE

MA

“ ”Esquecido

De

Joseph KosinsKi

Com

Tom Cruise

morgan Freeman

olga KurylenKo

2013

oblíviocrítica dE ManuEL rOBiM

No que à relação entre pro-fundidade e proximida-de diz respeito, um filme

pode e deve obter o máximo dessa equação, tanto quanto o argumen-to o permitir. No caso de “Obli-vion”, a conta é efectuada de uma forma copiosamente oca, uma vez que no final o sentimento que fica, apesar de verdadeiro e lógico, peca pela indiferença.

Joseph Kosinski, realizador de “Tron:Legacy” (2010), em parceria com os produtores de “Rise of The Planet of the Apes” (2011), traz-nos um ‘sci-fi thriller’ carregado de vi-suais fortes e destemidos, cenários apocalípticos originais e noções de desertificação aprumadas. No meio de tudo isto, encontramos Jack Harper (Tom Cruise), um dos últimos seres humanos que habi-tam a face da Terra, anos depois de um surto alienígena ter destruído a Lua e ocupado o planeta. O tra-balho de Jack é simples: um pouco como Wall-E, ele está encarregado

de limpar destroços deixados pelos drones, assim como de os reparar caso avariem, ou sejam atacados pelos Scavs, essa malta extra--terrestre, agora mais terrestre do que os próprios humanos. Com a companhia da sua parceira de tra-balho Vica (Andrea Riseborough), ambos executam as tarefas perante inquestionável liderança de uma senhora conhecida como Sally (Melissa Leo), que apenas vêem através de intercomunicador.

Mas Jack lembra-se de coisas, memórias assolam a sua gaveta ce-rebral, deixando-o irrequieto. Ima-gens de uma rapariga que conhe-ceu em tempos, não sabe de onde nem compreende quando, mas lembra-se dela. Tudo atinge um pico quando Jack, numa das suas pequenas missões, resgata uma ra-pariga identica à dessa mesma me-mória (Olga Kurylenko), correndo o risco de alterar o rumo da própria subsistência da espécie humana.

O ponto forte deste filme é sem

dúvida a sua premissa, a sua ideia, mas de facto tudo isto nunca che-ga a ser suficiente para suportar o prato principal. As possíveis influ-ências para o realizador – “Blade Runner”, “Star Wars”, “Moon”, entre outros – são facilmente iden-tificáveis. E isso não seria mau, se não tivessem sido tão levianamen-te adaptadas. Apesar de cenários e sequências interessantes, a ideia nunca chega a amadurecer o sufi-ciente, desta forma desperdiçan-do actores com personagens de enorme potencial, como é também o caso de Morgan Freeman, que nunca chega a ter a preponderân-cia necessária – ou então tem-na de uma forma ironicamente robó-tica.

Apesar de deixar ideias interes-santes no ar, esta experiência cien-tífica de Kosinski cai em seco e não faz eco. Fica na retina uma aborda-gem demasiado complicada e com fios soltos, que se puxados irão ori-ginar um nó ainda maior.

VE

r

Miranda July já se ha-via sagrado, no pas-sado ano de 2005,

um caso de estudo auspicioso com “Eu, Tu e Todos os que Conhecemos”. Pois bem, “O Futuro” veio agora mostrar que esta é, seguramente, uma das mais talentosas senhoras da escrita e realização do cine-ma independente.

Sophie (July) e Jason (Ha-mish Linklater), na casa dos 30, decidem adotar Paw-Paw, um gato com uma esperança de vida de seis meses, que, se se adaptar ao casal, pode ain-da prolongar-se por mais cin-co anos. O hospital veterinário exige, contudo, uma espera de um mês, até que o felino res-

gatado recupere totalmente da sua pata esquerda e possa ser levado para casa.

July empurra-nos, assim, para uma estranha forma de introspeção pela vida do casal, quando estes se apercebem de que Paw-Paw pode condicio-nar as suas vidas para sempre e só têm um mês para ser livres e descobrir o sentido das suas vidas. Sophie desiste de ensi-nar dança a crianças e aventu-ra-se no desafio do YouTube “30 Days, 30 Dances”. Por sua vez, Jason larga o trabalho de técnico informático a partir de casa e torna-se ativista am-biental, por impulso.

Este mês de autodescoberta só vem, porém, intensificar o

sentimento de que, enquanto casal, o seu relacionamento persiste apenas por mera e ingénua comodidade. Afinal, contrariamente ao que diz a sabedoria popular, antes mal acompanhado do que só.

“O Futuro” é uma espécie de murro no estômago; um retrato de uma sociedade pré--niilista que não sabe nem tem muito por que viver. Prima pela sua estranheza, consegue ser bizarro, até, e é altamente imprevisível. Mas desafia o es-petador e a sua sensibilidade de uma forma rara, como já poucos o fazem. É isso que o torna especial.

tiaGO MOta

De

miranDa July

eDitora

DvD ColeCção fnaC/leoparDo

2011

“o Futuro” que não o é

fIlME

Artigo disponível na:

18 de junho de 2013 | terça-feira | a cabra | 15

FEItAs

oUVIr lEr

JoGAr

Não se trata de reacender a velha discussão entre a devoção à DC Comics e o amor pela Marvel

(até porque, convenhamos, um milio-nário vestido de morcego ou um extra-terrestre com uns ‘colants’ azuis estão a anos luz dos recursos meta-narrativos de Deadpool ou da construção das per-sonagens de X-Men). Mas é isto que “Injustice: Gods Among Us” deixa bem claro, a incapacidade da Warner Bros superar ou até mesmo acompanhar o passo da inovação dos diferentes títulos da Marvel.

Obra dos NetherRealm Studios, os criadores da recente saga de “Mortal Kombat”, “Injustice: GAU” é o que pro-mete ser: um jogo de luta. Nem mais, nem menos. Um verdadeiro produto pronto a figurar em qualquer arcada de salão de jogos. A perpetuação do velho modelo do frente, murro, murro, pon-tapé e, de quando em quando, um ou outro bloqueio (que, refira-se, se tornou bem mais complicado neste esquema de jogabilidade). Pelo meio, qualquer derivação ou acção original – o velho hadouken, portanto – continua legada a combinações complexas de teclas, que mais que se patentear como um grande perigo à integridade física do nosso ad-versário, representam um teste à nossa capacidade de memorização e reacção.

A grande premissa do modo ‘single-

player’, a história que pretende colar todos os momentos de luta e gerar uma componente diegética no jogo resulta numa narrativa tosca e inconsistente, onde, perante o assassínio de Lois Lane, o Super-Homem tenta criar uma nova ordem mundial para combater o mal. Encontra resistência num grupo insur-gente, criado pelo Batman. Algo com-pletamente diferente dos episódios da “Guerra Civil”, da Marvel (...).

É, de resto, desta variedade de capítu-los que vão surgindo os diferentes per-sonagens jogáveis – que ainda são bas-tantes –, onde, para lá das personagens óbvias, figuram um Nightwing, uma Harley Quinn ou até mesmo um Sines-tro. É, porém (admirem-se!) Aquaman que mais surpreende na possibilidade de jogabilidade e na fluidez de movi-mentos.

Os cenários também estão lá todos, a entrada do Daily Planet, os vários pisos da Batcave ou uma Atlantis pronta a ruir, e onde a interacção com os objec-tos garante possibilidades de exponen-ciar a experiência de jogo, a impolidez de detalhas mal acabados está lá sempre para nos recordar a evidência da bidi-mensionalidade do jogo.

Resumindo, “Injustice: GAU” é mais um jogo de luta, mas um sucesso em to-das as festas...

cividade”

jOãO Miranda

inêS aMadO da SiLva

Gancho”

Quer lhe chamemos Regu-la, Bellini ou Tiago, exis-te, neste MC oriundo do

Catujal, uma característica que disparou deliciosamente desde 2002, até aos dias de hoje: o Ego. “Gancho” não é mais do que o ego de Regula a olear a narrativa do dia a dia de um barbeiro, que cresceu a fazer ‘rap’, com a ambi-ção de quem usa as lâminas para talhar barras de ouro.

Regula já não é novo no mo-vimento Hip-Hop: estreou-se na sua “1ª Jornada” em 2002 e fo-ram precisos 3 anos para o “Tira--Teimas”; aproveitou para lançar os MC’s da sua zona nas mixtapes Kara Davis vol. 1 (2007) e Vol.2 (2009), tendo deixado os fãs de ‘rap’ “tuga” a salivar por um ter-ceiro álbum que reflectisse toda a evolução registada nas mixtapes.

“Gancho” é um disco de exal-tação do ego (egotrip), de um Regula de ‘flow’ maduro a relatar o seu quotidiano que incluem os

negócios ilegais, as festas, as desilusões amorosas e as suas riva-lidades. O estilo não é novo e se olhamos para o disco de 2012 de NGA como referência mais fresca da abordagem egotrip, consta-tamos que em “Gancho”, Don Gula vai mais longe, não se limi-tando a fazer colagens de “punchlines”.

Tanto nos álbuns, como nas mixtapes, estivemos sempre na presença de um MC bem acompanhado. A ‘crew’ Show No Love apadrinhada em Kara Davis, Xeg ou mesmo o inevitável Sam The Kid, mantêm a sua residência neste disco, revelando a importân-cia dos amigos para Regula, como é exemplo “Rosas”, numa ho-menagem aos malogrados Mascarenhas, GQ e Snake.

A produção mostra um pouco da viragem de Regula na sua sonoridade. Os instrumentais são quase na sua totalidade elec-trónicos, minimalistas e com notória influência do “Dirty South” americano, embora e curiosamente, o único instrumental pro-duzido por um americano (Andrew Dalton) para o tema “Casa-nova”, tenha um estilo vincadamente Dancehall. Conta também com Sam The Kid, DJ Ride no ‘scratch’ e a revelação Holly-Hood a confirmar o seu talento também nos instrumentais.

“Gancho” é a cara de Regula, é tudo o que tínhamos ouvido an-teriormente com mais agressividade, mais confiança e a ocupar um espaço no ‘rap’ “tuga” que só tinha um gerente. Fala aí patrão!

Fala aí Patrão!

De

regula

eDitora

superbad reCords

2013

carLOS Braz

De

agustina Bessa-luís

eDitora

guimarães (BaBel)

2012

A evocação da essência

plataforma Disponíveis

XboX360 e ps3

eDitora

Warner bros

2013

o triunfo do banal

Artigos disponíveis na:

GUErrA DAS CAbrAS

A evitar

Fraco

Podia ser pior

Vale a pena

A Cabra aconselha

A Cabra d’Ouro

injustice: Gods among us - Xbox 360”“

““De Agustina Bessa-Luís, uns di-

zem ser uma autora séria e di-fícil. Outros dizem que a sua

escrita soa como algo de barroco, com-plicado. Cividade é um exemplo con-densado e representativo das caracte-rísticas singulares do tempo, espaço e personagens na obra de Agustina, cate-gorias estas que se unem para a criação de um imaginário único que remonta à realidade rural portuguesa no início do século XX, na qual a obra da autora está absolutamente radicada. Por isto, Civi-dade é também um bom princípio para se iniciar a leitura de Agustina e contra-riar preconceitos fáceis.

Esta pequena novela de 76 páginas re-monta ao início da carreira da maior es-critora portuguesa viva. Cividade – que quer dizer «cidade» ou «citânia» - data de 1951, sendo uma das suas primeiras obras, caracterizada por essa evocação embrionária das origens da própria au-tora. No entanto, a publicação aconte-ceu apenas no final de 2012.

O título da obra refere-se a um monu-mento localizado nos arredores de Vila do Conde, perto de onde Agustina terá passado os seus verões enquanto crian-ça. A acção decorre maioritariamente na aldeia de Corvos, tomando a quinta abandonada que a escritora lembra da infância o nome de Solar dos Cavaleiros. Este é também o espaço em que cresce a protagonista, Rita, de onde sai para estudar mas ao qual retorna por falta

de talento. O sítio que abandona para casar mas ao qual, velha e viúva, regres-sa, nunca deixando de sonhar e efabu-lar aquilo que havia deixado na aldeia de Corvos, que representa, para uma mulher a quem nunca foi permitido ter nada, aquilo que é verdadeiramente seu: a terra e a infância.

Com a morte do marido opressor, Rita visita a velha tia Braselisa. A caminho de casa da tia, Rita lembra a infância passada no mosto da pobreza dura da qual foge, no Portugal rural represen-tado pela agricultura e, no imaginário de Agustina, pelas mulheres fortes que marcam as suas histórias. O ponto for-te de Cividade é, como na restante obra de Agustina, a tradução em palavras do mais singular pensamento de cada personagem, do mais pequeno traço de personalidade, da intenção unicamente retratada, com a mestria incomparável da autora.

Num certo sentido, evocar a Cividade é também trazer à lembrança a funda-ção da cidade e da civilização; e fazê-lo - na literatura, em especial – é sempre evocar também o seu maior feito, a lín-gua, e o que há de mais embrionário no Homem. Só que, para Agustina, evocar o mais embrionário parece ser evocar esse mundo brutal e maravilhoso, nos-talgicamente quase perdido, da rurali-dade portuguesa, com todo o manancial de interpretação humana que ele pode oferecer – e que mais nenhum pode.

19 a 29

FluXo ConTrolado pelo ideal

O Teatro da Cerca de São Bernardo recebe a Circolando, na sua última apresentação - para já - da peça “Areia”. A companhia que comummente atua com um alargado circuito de colaboradores, traz--nos uma interpretação quase singular.

O intérprete e diretor artístico, André Braga, vive num areal. Ele é consumido e consome a areia que o rodeia. Numa área que se pode coordenar através de cinco pontos fulcrais, distinguidos em três: pe-las construções de areia, similares a miniaturas de rochas sedimen-tares de zonas áridas como o Grand Canyon, outro por uma cadeira com pouco de pernas e outro pela posição do músico Tó Trips (do grupo musical Dead Combo), com uma caixa quadrada a seus pés. Da guitarra parte o andamento, da cadeira parte o movimento.

O espaço pertence a uma consciência na qual a palavra é nula tan-to quanto a apatia. O seu senhor é a ideia e a areia. Repartida em três capítulos finalizados por um epílogo, que estabelece (a)normalidade.

O capítulo principia-se com o auxílio do vídeo, um nevoeiro no-turno que estabelece a libertação dessa consciência própria. O ator debate-se com a areia, tanto quanto a quer, como exaspera tanto quanto o tem. Há uma sequência de explosões emocionais, que vão dar lugar à nova. A semente da ideia é a luz desareada in vitro. Entre o apegar e desapegar da formulada, sem ela, pelo balançar do pên-dulo, se vê que o homem sem ideia não é mais do que a sua própria sombra. Ao reemergir apropriado pelas suas mãos revestidas em vermelho, o êxtase da novidade rapidamente se perde, quebrando o cerne e devolvendo-o à areia, mostrando a ciclicidade. A sonoridade criada por Trips, que controla as emoções do criador-escravo, ajuda a perpetuar as da audiência.

Por Maria João Gomes

16 | a cabra | 18 de junho de 2013 | terça-feira

soLtAsuMA IDEIA PARA o ENsINo suPERIoRcRItIc’ARtE

Carlos Camponez • professor da faCuldade de letras da universidade de Coimbra

repensar a iDeia De autonomia

Recordo, sentado na minha se-cretária do Diário de Lisboa, um editor e um jornalista que

se digladiavam, entre argumentos a roçarem as vias de facto, porque o primeiro pedira ao segundo para lhe «vender melhor» a sua proposta de reportagem. O jornalista sentiu-se chocado, adiantando que não tinha de vender coisa nenhuma e que o único juízo editorial aceitável era aferir do interesse público da sua proposta. Na altura, os empresários começavam a fazer passar nas redações a ideia que os meios de comunicação social eram um negócio e, como tal, teriam de ser geridos como as outras empresas. Quando olho para trás, não posso dei-xar de ver a altercação entre aqueles dois jornalistas, ocorrida nos finais dos anos 80, como um prenúncio do que viria a transformar-se na autonomia dos jornalistas e, por consequência, do que se está a passar hoje nas Universidades.

Entre o estatuto social dos jorna-listas e dos professores universitá-rios não deixo de encontrar alguns paralelismos. Ambos partilham de um espaço de liberdade, de

d.r.

culturaporcá

CinemaAMSCAV • 21h301€ C/ DeSContoS

18JUN

“palombella rossa”

teAtroColégio DA trinDADe

20h00 • entrADA liVre

JUl

músiCaMSCAV • 17h00

10€

21JUN

CinemaAMSCAV • 21h30 1€ C/DeSContoS

2JUl

“as Férias de sr.huloT”

CinematAgV • 21h30 4€ C/DeSContoS

JUl

“nouTro país”

8

músiCaAqui bASe tAngo • 23h30

entrADA liVre

JUN

monodeer

22

músiCaFnAC • 17h00entrADA liVre

30JUN

ultraleve

JUN

d.r.

WorkShopoMt

VárioS horárioS • 30€

JUN

“WorKshop de Férias - eXpressão dramáTiCa”

24 a 28

CinematAgV • 21h30 4€ C/DeSContoS

JUl

“os nossos Filhos”

1

teAtrooMt • VárioS horárioS

4€

“Cândido – ou o opTimismo”noiTe de Fados

3 a 6“arruinados i”

Por Joana Guimarães e Daniel Alves da Silva

investigação e de pensamento, assente em valores de respon-sabilidade e função social de referência para as sociedades contemporâneas. Jornalistas e professores fundam nesses valores a sua autonomia profissional e, por isso, veem-se, cada um à sua manei-ra, como uma elite, muito embora sejam assalariados como o comum dos trabalhadores.

Porém, basta olhar para o encur-tamento do espaço de investigação, para a submissão dessa investigação a uma racionalidade instrumental, para a sobrevalorização da sua liga-ção às empresas e a objetivos de utili-dade e operacionalidade; basta olhar para os ‘rankings’ e para os critérios que os determinam, para as crescen-tes tarefas de gestão a desempenhar pelos docentes, para a necessidade de construir currículos talhados para responder às solicitações de forma-ção profissional e de empregabilida-de; talvez isto baste para perceber-mos o quanto as Universidades não só têm vindo a estar sub-metidas aos ditames do merca-do como se estão a transformar nisso mesmo: mercado.

Sempre considerei que as análi-ses sobre o Novo Capitalismo, o Capitalismo Imaterial e o capital do conhecimento des-curaram os efeitos sobre a au-tonomia daquelas profissões que, supostamente, deveriam estar mais protegidas, nomeadamente as liga-

das ao conhecimento à comunica-ção e à informação. O que se está

a passar hoje no jornalismo e nas Universidades parece dar--me razão.

Por certo que a defesa da autonomia e da liberdade dos

jornalistas, como também agora dos docentes universitários, foi invocada muitas vezes em nome de corporativismos ultrapassa-

dos e de interesses serôdios que nada tinham a ver com os valores sociais de referência que lhe davam senti-do. Mas não é menos verdade que as críticas a esses corporativismos escondem interesses que mais não visam do que desarticular algumas das instituições que mais contribuí-ram para a construção das sociedades contemporâneas.

Não vale a pena retomar a discus-são sobre as implicações que esta mercadorização do saber e do co-nhecimento terá para as Universida-des e, em particular, para as Letras e as Ciências Sociais e Humanas. Mas, talvez, mais do que lamen-tarmos a liberdade e a autono-mia perdidas, nos tenhamos de concentrar em repensar nos fundamentos dessa autonomia e nas razões dessa perda. Este parece-me ser o debate mais urgente e, paradoxalmente, ausen-te da Universidade. Não vale a pena pensar em autonomia enquanto dei-xarmos que sejam apenas outros a dizer quem somos e a definir o que seremos; enquanto não dissermos o quanto estamos dispostos a bater--nos por ela, pela Universidade e pela ideia de sociedade a que aspiramos. E ainda, a universidade deveria pro-mover a realização de seminários/workshops direcionados para estes investigadores, que permitem desen-volver e alargar as suas competências e competitividade: escrita de projetos de investigação ganhadores, apresen-tações orais de sucesso, comunica-ção com o público e com os ‘media’, oportunidades e desenvolvimento de ‘networking’, propriedade intelectual, inovação, etc.

Em conclusão, uma maior integra-ção e participação destes dois ele-mentos da comunidade universitária contribuirá para uma Universidade mais eficaz, mais jovem, e melhor.

18 de junho de 2013 | terça-feira | a cabra | 17

soLtAs

Muitos há que em Coim-bra encontrarão a pessoa que se torna-

rá cônjuge, até que a morte nos separe, ouvir-se-á nos votos, também não exageremos, dir--se-á em surdina, acrescentado--se, num sussurro, não é preciso tanto dramatismo. Pelos declives acidentados da Lusa Atenas flo-rescerão sentimentos, a maior parte deles, contudo, não tão eté-reos como os que descritos pela bem-intecionada perenidade das juras. Serão os tais mais eféme-ros, decerto, coisas da espuma dos dias, da espuma das noites, amores intensos e fugazes, adu-bados por outras espumas e pelo próximo ‘kalash’.

Por outro lado, há quem veja em Coimbra um espécie de lugar mágico, de aura romântica aden-sada, sob a égide da capa negra e dos acordes chorosos do fado. Ainda há nela quem veja o local de amores de perdição, baptiza-dos pelas lágrimas que dariam o

seu nome a quintas, serão tais sortudos os afilhados de Pedro e Inês. Não é como se Coimbra, rica como só ela nessas mariqui-ces, não tenha espaço para tais episódios de paixão assolapada. Mas existem por estas mesmas ruelas episódios mais vistosos do que a discreta rotina de dois mais-que-tudos.

Os meandros do amor supér-fluo, ou de engate, dir-se-ia, em linguagem corrente e de decoro duvidoso, são por demais berran-tes e complexos. Talvez porque o terreno onde tal modalidade se pratica é pantanoso e acidenta-do, no qual os cumes da vitória vivem lado a lado com os buracos da humilhação. Entre nós, meros mortais, vivem mestres na arte de gerir tão sensíveis topografias, homens e mulheres dotados da mais profunda sapiência relativa à doutrina do olha-desolha-olha--fixa-desolha-olha-o-resto-fica--à-imaginação-do-caro-leitor.

Por esta cidade, como todas as

outras, mestres e aprendizes vão tentando a sua sorte, aperfeiço-ando a sua técnica, pincelando de base as bochechas, respirando nuvens de pó de arroz. Salpican-do-se com a sua melhor água de colónia, disparando aerossóis para as axilas, quando não para outras partes. Enquanto isso, as

pedras continuam vermelhas, tingidas pelo sangue de Inês, e a fonte dos amores ainda brota, conta a lenda, pelas lágrimas que chorou. Enquanto isso, também a voz do Zeca ainda ecoa pelas ruas infestadas de patchóli, oh Coimbra do Mondego, dos amo-res que ele cá teve, e que outros

tiveram e terão. Talvez Coimbra seja uma

moeda de inspiração cardio--metafórica e por aqui convivam estas duas facetas, uma polida e brilhante, a outra enferrujada e obscura. Talvez por aqui an-demos, atirando moedas ao ar, sem saber o que encontraremos na próxima esquina, se nos que-daremos inebriados de patchóli ou encadeados pelo reflexo das águas da fonte. Talvez estas coi-sas do coração não sejam assim tão simples, possivelmente não serão, uma moeda nunca foi boa metáfora para nada, quanto mais para coisas tão complexas. Talvez seja tudo diferente e não tenha-mos de escolher entre o cinismo da obscuridade e a fé absurda no cliché. E quiçá as moedas tenham mais de dois lados, vá-se lá saber. Quiçá, quiçá, quiçá. *Por escolha do autor este tex-to não segue as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

ENtRE A ARREGAçA E o cALHAbéPor bacharel Jorge Gabriel

DEscuLPEM Lá, MAs EstE FIM-DE-sEMANA VI“o AMoR AcoNtEcE”

sEM PENsARPor Luiz Ruffato MIcRo-coNto

Para M.R.

Batiam à porta? Padre Ma-nuel acordou assustado, consultou o despertador,

uma e meia da manhã. Apurou os ouvidos e do fundo do corredor vieram novas pancadas, pum-pum--pum. Então, levantou-se, ainda zonzo, vestiu a calça jeans, colocou a camisa amassada jogada sobre a cadeira e, não encontrando os chi-nelos de dedo, caminhou os pés descalços pelo cimento grosso.

Havia dois anos instalara-se na-quela comunidade pobre em Caria-cica, na periferia da Grande Vitória. Formara-se no seminário redento-rista da Igreja da Glória, em Juiz de Fora, e em seguida fez o mestrado em Teologia, em Petrópolis, escre-vendo uma dissertação, bastante elogiada, sobre práticas evangélicas no mundo contemporâneo. Mas es-tava insatisfeito. Queria mergulhar na vida, ajudar o próximo. Queria compartilhar suas vivências de ca-çula de uma família enorme, criado solto feito bicho, mas salvo pela fé em uma sociedade mais justa, ali-cerçada em sólidos valores cristãos.

No percurso, alguns passos ape-nas entre a cama desconfortável, que ocupava metade do minúsculo quarto da casa paroquial, e a porta da frente, padre Manuel tentou adi-vinhar quem estaria buscando sua assistência àquela hora da madru-gada. Provavelmente alguém que necessitava de uma extrema-un-ção, embora raras as demandas por esse sacramento, agora os doentes morriam em hospitais, longe dos parentes. Cada vez mais as pessoas, escravas do egoísmo, renunciavam à experiência da dor provocada pela

ausência do ente querido, como se, agindo assim, livrassem-se do luto, momento reservado à reflexão so-bre nossa própria finitude.

Deschaveou a porta e a brisa fresca roçou seu rosto exausto, ser-penteando pelo cômodo abafado e quente, constituído por poltrona e sofá de três lugares, napa amarela exibindo enormes rasgos. No lado de fora entreviu dois homens, pro-tegidos pela semiescuridão da rua, as lâmpadas dos postes destroça-das por mãos vândalas. Pensou em acender a luz da sala, mas a voz fina do mais baixo, Padre Manuel?, ateou um arrepio que perpassando todo seu corpo imobilizou-lhe o braço, Sim, em que posso ajudá--lo?, a respiração sôfrega.

Vou direto ao ponto, disse, en-quanto o colega permanecia ao seu lado estático, longínquo, qua-

se alheio. Nós fomos contratados para matar o senhor. Padre Manuel sentiu as pernas bambearem e a ca-beça zonzeou. Me matar?, indagou, tentando não demonstrar pânico. O senhor está incomodando com esse negócio de denunciar traficante, delatar policial... Faço apenas meu trabalho, gaguejou, e o suor come-çou a minar em seu sovaco, sua tes-ta, seus pés. Sinceramente, não me interessa a opinião do senhor. Eu não penso, me pagam, eu executo.

Padre Manuel levou a mão ao bolso da camisa procurando o maço de cigarros, gesto inconsciente pois abandonara o vicio há mais de cin-co anos. O homem continuou: Me mandaram matar o senhor, aqui estou. Mas veja o meu lado. Minha mãe é católica, de ir à missa todo domingo, põe aqueles véus na ca-beça, confessa, comunga... Nunca

matei um padre, fiquei chateado de ter de pegar esse serviço, mas devo uns favores aí... Então, de coração, com a maior boa vontade, queria pedir uma coisa... Pega umas mu-das de roupa, a gente espera, leva o senhor pra rodoviária em Vitória, põe num ônibus pra bem longe, e acabou... Eu perco a empreitada, mas fico em paz com minha cons-ciência... O padre mirou o mais alto, que mantinha-se calado, olhos mergulhados na treva. O outro re-tomou, Ele não concorda não, mas é meu parceiro, já quebrei muito galho dele, então chegamos a um acerto. Mas não temos muito tem-po. Se o senhor não fizer o que es-tou falando, infelizmente fico sem escolha.

Então, padre Manuel, afastando--se da porta, deixou o corpo arriar sobre o sofá estragado.

natural de Minas Gerais, Luiz Fernando ruffato é um escritor de referência na literatura con-temporânea brasileira. nasceu em 1961. Formou-se em Jorna-lismo, mas antes de exercer o ofício de jornalista e assessor de imprensa, trabalhou como ven-dedor de pipocas, operário têxtil e torneiro mecânico. Em 1998, “Histórias de remorsos e ran-cores”, primeiro livro do autor, lançou-o no mundo da literatura. A sua obra é composta por ro-mances, ensaios, contos e poesia. Luiz ruffato considera que atingiu o ponto mais alto da sua carreira aquando a edição de “Eles eram muitos cavalos”, em 2001. O ro-mance foi premiado pela APCA- Associação Paulista de Críticos de Arte –e pela Fundação bi-blioteca nacional, com o prémio Machado de Assis. Contou com oito edições “standard” e duas edições “de bolso”. Foi ainda traduzido para francês, italiano, espanhol e português (de Portu-gal). O autor de “Estive em Lis-boa e lembrei de você” (2009), garante que adora Portugal e que tem grandes amigos no país.

Daniela Gonçalves

LUiz rUFFATO

52 AnOS

ilustração por joão pedro fonseca

d.r.

18 | a cabra | 18 de junho de 2013 | terça-feira

oPINIão

Cartas à diretorapodem ser

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Cartas à Diretora

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Da oBrigação De responDere Sara rOcHa*

fico espantada com a ligeireza com que são feitas tais declarações, tão desprovidas de interesse genuíno em conhecer as verdadeiras causas dos problemas dos estudantes

“Peço a palavra. Permitam-me

a solenidade de evocar palavras quentes da história de Coimbra, os dias de hoje assim o pedem, e porque urge reabilitar o valor do acto de respondere.

Lidas as declarações feitas acerca da qualidade da alimen-tação dos Serviços de Acção So-cial da Universidade de Coimbra (SASUC) na edição passada d’A Cabra, fui interpelada, não pela necessidade de reagir, mas pela obrigação de responder. Fiquei a saber que os representantes dos estudantes fizeram um grande esforço de diagnóstico: apalpa-ção do pulso estudantil via Fa-cebook. Não conheço a amostra, mas a conclusão é rematada por “motivos pessoais” dos estudan-tes. Já para a administração dos SASUC, as filas são, afinal, impu-táveis à fraca memória dos “fula-

nos”. Falei no inquérito a outros: ninguém ouviu falar em tal con-sulta, mas toda a gente tinha uma palavra a dizer sobre o assunto. Tratam-nos como bichos, alguém me disse. Bichos.

Entretanto lá batutei umas interjeições com os braços, se-guidas da gravidade de quem dá conta que o que leu é para ser levado a sério. Perguntam-me como ainda me surpreendo. Não posso habituar-me, tenho de pre-venir-me contra a amargura do cinismo e a dormência do “vai-se andando”. Fico honestamente es-pantada com a ligeireza com que são feitas tais declarações, tão desprovidas de interesse genuíno em conhecer as verdadeiras cau-sas dos problemas quotidianos dos estudantes que mais direc-tamente dependem do trabalho dos SASUC.

Gradualmente têm fechado cantinas, aumentaram os pre-ços das refeições e residências, e foi-se naturalizando o uso da resposta “sabe como é, as coisas não estão fáceis, não nos deixam facilitar”. Sei, sei como é. Por isso mesmo, não aceito essa resposta. E ainda gostava que me explicas-sem como é isso de “facilitar” um direito. Desconheço. Mais que a privação material e as provações que daí decorrem, o que dói é a dimensão da ausência do reco-nhecimento humano, a experi-ência dilacerante da igualdade traída. Retomo a solenidade: a nossa dignidade obriga-nos a proclamar bem alto uma alter-nativa de solidariedade: ou há universidade para todos ou não há para ninguém. Ou somos to-dos gente ou então, a cada um de nós, resta-nos aceitar sermos

bichos. Aí, remanesce o atestado de invalidez precoce para a felici-dade, pois que decidimos, afinal, aspirar apenas à manutenção do escorrer dos dias, aceitando em sofrimentos mudos perder, a cada dia, um pouco mais de dig-nidade, coisa que é, simplesmen-te, fazer uso da nossa capacidade em responder, da nossa liberda-de.

*Por escolha do autor este tex-to não segue as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.*estudante não bolseira da Fa-culdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e habitante numa resi-dência dos Serviços de Accção Social da UC

Em Manual de Pintura e Ca-ligrafia, 1977, lemos que “Es-crever não é outra tentativa de destruição mas antes a tentativa de reconstruir tudo pelo lado de dentro, medindo e pesando todas as engrenagens, as rodas denta-das, aferindo os eixos milimetri-camente, examinando o oscilar silencioso das molas e a vibração rítmica das moléculas no interior dos aços”. É, justamente, nes-ta tentativa de reconstruir tudo pelo lado de dentro que José Saramago manifesta o seu génio literário. Abandonando o registo sintático canónico e usando uma linguagem e um ritmo próprios da narração oral, acompanhados de constantes exercícios metafic-cionais, o escritor não desvenda apenas o modo como (se) cons-trói o romance. A grande preocu-pação é, também e essencialmen-te, (tentar) descobrir “o que é isto de ser-se um ser humano”, como confessa em entrevista à Revista Bravo, em 1999. Não se estra-nha, por conseguinte, que toda a ficção saramaguiana se paute por uma ideologia intensa, já notória nas crónicas e em alguns poemas.

Não raro, pois, de modo diver-so mas sempre fascinante, José Saramago conduz o leitor a re-flexões sobre a parcialidade do modo como o passado histórico (laico e religioso) tem vindo a ser transmitido ou sobre a forma como os mais elementares direi-tos humanos são constantemente violados. Através do diálogo en-tre diversas fontes, José Sarama-go constrói esse outro diálogo,

entre História e ficção, porque, afinal, como escreve em Levan-tado do Chão, “tudo isto pode ser contado doutra maneira” (p. 14). Nesta outra maneira, o poder do Homem supera hereticamente o poder divino e o valor do herói anónimo supera o valor daque-les a quem a História concedeu honras de primeiro plano. Assim, nos universos saramaguianos, os credores da admiração e do res-peito do narrador são sempre as figuras marginais à História, ou, em termos mais gerais, os pobres e os desfavorecidos. Em última instância, o que autor e narrador nunca esquecem é que “faltando os homens, o mundo pára”, por-que, afinal, é a sua vontade que “segura as estrelas” (Memorial do Convento, pp. 66, 124).

*Por escolha do autor este tex-to não segue as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.*Centro de Literatura Portugue-sa/Faculdade de Letras da Uni-versidade de Coimbra

18 de junho de 2013 | terça-feira | a cabra | 19

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José saramago: “tuDo isto poDe ser ContaDo Doutra maneira”

ana PauLa arnaut*

nesta tentativa de reconstruir tudo pelo lado de dentro que josé Saramago manifesta o seu génio literário

eDitorial

E eis que chega o final do ano le-tivo – época de exames à parte. É a “época baixa” do movimento asso-ciativo, fecha-se a loja mais cedo e começa-se já a fazer o balanço.

Mas o ano não acaba sem antes se realizar mais um Encontro Nacional de Direções Associativas (ENDA). Neste último fim-de-semana, des-taca-se da discussão, que teve lugar em Vila Real, a marcação de uma manifestação de cariz nacional, em resposta a um silêncio constante da parte da tutela. Houve ainda es-paço para o assunto da atualização da propina, que está já decidido na Universidade de Coimbra.

Olhando para o que foram as ações reivindicativas deste ano por Coimbra – e talvez um pouco por todo o país – chegou-se à conclusão de que a tentativa de agendamento

de reuniões, vulgo “ações de gabinete”, são ineficazes.

Os dirigentes associativos dizem ter encontrado “eco num Secretário de Estado mudo, cego e insensível para com o movimento associativo”. É verdade, na medida em que este governo iniciou o mandato, pouco ou nada se destacou ou apareceu, para responder perante aqueles de direito – os estudantes, representa-dos pelas suas associações (bem ou mal).

Outra das conclusões tardias foi a de uma paciência extenuada. Já há muito tempo que a comunidade es-tudantil alerta os dirigentes associa-tivos para esse facto. Em 2012/2013 presenciou-se o agravamendo das desistências no ensino superior, acompanhado de um ataque brutal

àquilo que era o chamado Estado--providência e, mais diretamen-te, ao bolso dos nossos pais. Para além disso, fecharam-se cantinas e negaram-se bolsas. Porque é que as direções associativas do país só se aperceberam agora que a paciência esgotou? É que a nossa já acabou há algum tempo.

Mas ainda bem que a epifania aconteceu, porque assim podem começar a planear o calendário rei-vindicativo do próximo ano letivo. Em setembro teremos manifesta-ção nacional (finalmente), onde os estudantes de todo o país estarão reunidos.

Já se viu que a política dos co-municados e das petições não leva a lado nenhum (as últimas ações saídas de reunião em ENDA), ainda por cima, quase todas levadas a cabo

numa altura em que o Orçamento do Estado de 2013 já fazia aplicar profundos cortes nas Instituições de Ensino Superior. Depois de uma uma petição contra o regulamento de atribuição de bolsas, uma parca comemoração de uma data como o Dia do Estudante, a 24 de março, - leitura de (mais) um comunicado -, e uma declaração de princípios so-bre o desemprego, eis que se fez luz e se pensou em agir de forma a que a tutela ouça as vontades dos estu-dantes. Tentou-se chegar à fala pe-los meios mais cordiais e burocráti-cos. Não deu resultado. O passo que se deveria ter tomado logo de segui-da era o de uma ação reivindicativa forte, consistente e que reunisse em si o movimento estudantil nacional.

Por Ana Duarte

Porque é que as direções associativas do país só se aperceberam agora que a paciência esgotou? É que a nossa já acabou há algum tempo“

mais vale tarDe Do que nunCa

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ida

de

uma eterniDaDe De ouro por ClauDia Carvalho silva

Dos céus cinzentos, destaca-se o ouro.

Destaca-se a garra, a luta persis-tente. E é no cenário escuro que so-bressai o poder de sonhar.

Não há como desistir dos sonhos quando o panorama enegrece e quando daí surge o antídoto para os nocivos dias que correm.

Já diziam que “um sonho sonha-do junto é realidade” e é quando os sonhos de mudança se tornam parti-lhados que deixam de ser meras di-mensões inatingíveis, feitos de ma-téria suave, frágeis linhas douradas de pensamento, delicados fragmen-tos da nossa imaginação para se tor-narem em algo capaz de bradar aos céus e fazer as nuvens tempestuosas dispersarem.

Mas o silêncio é de ouro. Áureo, tal como a estátua que vive silencio-samente o seu destino imortalizado.

E a escolha é de cada um de nós: agarrar-se ao pesadelo ou deixar o sonho brilhar alto.

200 x 100

Promover a filosofia do bem-estar e desenvolvimento pessoal aceitando a diferença, através do envolvimento do trabalho do corpo e do espírito, é o mote da SEY. Atualmente com 60 inscritos, a evolução tem-se no-tado pelo número de presenças nas sessões de meditação. Há 30 anos no seio da Associação Académica de Coimbra (AAC), a secção tem pro-movido o enraizamento desta práti-ca milenar na cidade e na academia. Numa AAC que se prima pela tradi-ção, a SEY inova pelo seu cariz filo-sófico e que muitos julgam esotérico, através da oferta a toda a comunida-de de uns minutos de relaxamento e meditação, em dias cada vez mais agitados.A.M.

Por muito que a DG/AAC afir-me que os limitadores de som no Parque da Canção foram colocados pela Câmara Municipal de Coim-bra e tenha havido monitorização dos mesmos, a queda do brasão não é indiferente a ninguém. Celes-te Amaro estava certa quando atri-buiu a causa ao som excessivo da Latada. Sete meses depois prova-se que o exagero dos sintetizadores dos DJ faz mossa no monumento e na “saúde pública” de quem re-side à volta. Ricardo Morgado diz que não percebe do assunto, nem “de pedras nem de monumentos”. Só quer que as Festas académicas continuem. Se não cair mais nada entretanto ficam todos bem.l.C.

Anunciar as medidas mais gravo-sas na pasta da Educação, no final do ano letivo, foi sem sombra de dúvida uma estratégia “quase” in-teligente definida pelo Ministério. Os anúncios de despedimentos e o aumento da carga horária, a esta altura do campeonato remetiam para um impedimento reativo, por parte dos docentes, condicionado pelas avaliações e pelos exames, que os atiravam contra os pais e os estudantes. Felizmente, os tribu-nais deram direito a quem o devia, e os professores puderam vir para a rua lutar contra um dos maiores ataques dos últimos anos à Escola Pública. Enfim, sucessivos “erros cratos”.A.C.

Secção Experimental de Yoga (SEY) DG/AAC Nuno Crato

joRnAL unIVeRsITáRIo de CoImbRA

acabra.netMais informação disponível em

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