notas - santos, boaventura. direitos humanos, democracia e desenvolvimento

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NOTAS – Boaventura de Sousa Santos – Direitos Humanos Contradição: o conceito de Direitos Humanos hoje é hegemônico, ninguém é contra. Mas, a maioria da população não é sujeito de direitos humanos, é objeto dos discursos de DH. Será que os DH promovem a dignidade desses que são objeto de seu discurso? Podem os DH aspirar a essa dignidade? É necessária uma luta pelos Direitos Humanos contra hegemônicos. 2 perguntas: 1 – Porque há tanto sofrimento injusto que não conta como violação de DH? 2 – Não haverá outras linguagens de dignidade humana que não sejam os Direitos Humanos? BSS afirma que os DH não são um conceito não universal, mas um discurso e um projeto conceitual que adquiriu proeminência num contexto de competição com vários outros conceitos e linguagens. Para BSS, em nome dos Direitos Humanos, se violaram muitos Direitos Humanos. Assim como muitas destruições da democracia são feitas em nome da democracia. Noção Darwiniana: dentre várias linguagens em competição, a vencedora foi os Direitos Humanos. Haviam várias linguagens e conceitos que serviram como libertação para diversos povos ao longo da história. E outras linguagens que houve e ainda há (nacionalismo, socialismo, comunismo, movimentos de libertação – que nunca usaram a expressão direitos humanos). Se há mérito na linguagem dos DH não pode ser apenas o fato de terem prevalecido sobre outras linguagem, precisa ter um mérito intrínseco. A vitória dos Direitos Humanos é, para uns, uma vitória e um progresso, para outros, uma derrota e um regresso. Não pensarmos os DH ao longo da sua história, para quais fins foram utilizados? Pensamos, em geral, sua genealogia à Revolução Francesa e a Revolução Americana. Mas há uma dupla genealogia. Os DH foram construídos para vigorar do lado metropolitano, não vigoravam para as Colônias, onde viviam 4/5 da população mundial.

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Notas sobre a conferência do Prof. Boaventura de Sousa Santos quando do recebimento do título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Brasília. Conferência que deu origem ao livro Direitos Humanos, Democracia e Desenvovimento.

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NOTAS Boaventura de Sousa Santos Direitos Humanos

Contradio: o conceito de Direitos Humanos hoje hegemnico, ningum contra. Mas, a maioria da populao no sujeito de direitos humanos, objeto dos discursos de DH.Ser que os DH promovem a dignidade desses que so objeto de seu discurso? Podem os DH aspirar a essa dignidade? necessria uma luta pelos Direitos Humanos contra hegemnicos.2 perguntas:1 Porque h tanto sofrimento injusto que no conta como violao de DH?2 No haver outras linguagens de dignidade humana que no sejam os Direitos Humanos? BSS afirma que os DH no so um conceito no universal, mas um discurso e um projeto conceitual que adquiriu proeminncia num contexto de competio com vrios outros conceitos e linguagens.Para BSS, em nome dos Direitos Humanos, se violaram muitos Direitos Humanos. Assim como muitas destruies da democracia so feitas em nome da democracia.Noo Darwiniana: dentre vrias linguagens em competio, a vencedora foi os Direitos Humanos. Haviam vrias linguagens e conceitos que serviram como libertao para diversos povos ao longo da histria. E outras linguagens que houve e ainda h (nacionalismo, socialismo, comunismo, movimentos de libertao que nunca usaram a expresso direitos humanos).Se h mrito na linguagem dos DH no pode ser apenas o fato de terem prevalecido sobre outras linguagem, precisa ter um mrito intrnseco.A vitria dos Direitos Humanos , para uns, uma vitria e um progresso, para outros, uma derrota e um regresso.

No pensarmos os DH ao longo da sua histria, para quais fins foram utilizados? Pensamos, em geral, sua genealogia Revoluo Francesa e a Revoluo Americana. Mas h uma dupla genealogia.Os DH foram construdos para vigorar do lado metropolitano, no vigoravam para as Colnias, onde viviam 4/5 da populao mundial.(Ernst Bloch filsofo alemo) Pelo sculo XVIII a ideia dos DH competia tambm com a noo de Utopia, a aspirao de uma sociedade melhor. A noo de Direito est mais prxima e adequada ideologia do individualismo burgus e a sociedade burguesa. Com a burguesia assumindo tambm o poder poltico a partir das revolues, o direito torna-se apenas o direito do Estado.BSS leitura contra hegemnica dos DH. Anlise de 3 tenses, contradies dentro da teoria e da prtica dos DH:A) Razo do Estado VS Razo dos Direitos // ou // Continuidade dos DH VS Descontinuidade dos EstadosInmeras violaes por parte de Estados de Exceo e Estados Coloniais.

B) Igualdade VS Reconhecimento das DiferenasO conceito de DH foi todo construdo em cima da igualdade perante a Lei (no de igualdade econmica, social, etc.). Os direitos econmicos e sociais vieram com as lutas ao longo do sculo XX.Temos o direito de ser iguais quando a diferena nos fragiliza e direito a ser diferentes quando a igualdade nos trivializa. H que se buscar certo equilbrio.NECESIDADE DE JUSTIA HISTRICA: indgenas so minoria porque foram feitos minoria. Quanto menor forem, maior a necessidade de justia histrica, pois maior foi o genocdio.

C) Direito ao desenvolvimento VS Direito autodeterminao, direito sade, direito ambientalDireito ao desenvolvimento: comeou na frica, nos anos 60. No havia um direito coletivo ao desenvolvimento. Esses povos estavam atados ao subdesenvolvimento, pois eram produtores de produtos primrios (agrcolas, minrios), com seus preos fixados por aqueles que os consumiam (pases desenvolvidos), no pelos produtores TROCA DESIGUAL.Naquela altura havia alternativa ao modelo capitalista, desenvolvimento socialista.Resposta dos Pases Desenvolvidos: de direito ao desenvolvimento passa-se ao Dever de Desenvolvimento, Desenvolvimento Capitalista e apenas um determinado tipo de desenvolvimento capitalista. Consenso de Washington, Reagan, Thatcher, desmoronamento do modelo sovitico e o modelo neoliberal.

Novo Desenvolvimentismo: governos progressistas como na Venezuela (fins da dcada de 90) e no Brasil (anos 2000) chegaram ao poder. Surgem num contexto em que aquela Troca Desigual se inverte, e os produtos primrios comeam a ter um grande valor.As velhas oligarquias, com o advento desses governos, perde poder poltico, porm cresce em poder econmico. Ao mesmo tempo, esse poder econmico facilmente se transforma em poder poltico.Caractersticas mais ou menos gerais entre os pases da Amrica Latina que representam esse novo desenvolvimento:1) Desenvolvimento com distribuio de renda.2) Estado adquire centralidade novamente

Rui Mauro - Brasil: capacidade de ser uma potncia regional. Disputa com os EUA, no no espao global, mas no espao regional. Mantm a hegemonia americana no mbito global, mas cava um espao de autonomia regional.Autor indica avanos e retrocessos, por exemplo, no caso brasileiro. Promove um desenvolvimento preocupado com distribuio de renda, mas o mesmo tempo no e responsabiliza por severas violaes de DH como no caso da Vale do Rio Doce ou da construo pela empresa OAS de uma estrada na Bolvia, defendida pelo governo brasileiro por atender a interesses produtivos do pas.Aponta tambm os perigos do modelo desenvolvimentista adotado na Amrica Latina, que no parece medir com rigor seus custos. Especialmente no tocante a atrocidades cometidas contra a sade pblica com o uso indiscriminado de agrotxicos, contra os povos indgenas, quilombolas e ribeirinhos ameaados pela expanso das fronteiras agrcolas, contra o meio ambiente e at mesmo contra outros pases.Estamos a viver situaes de autoritarismo que ocorrem em sistemas democrticos. Autoritarismo nas relaes sociais, o que BSS chama de fascismo social. Fascismo desenvolvimentista onde os direitos humanos so desdenhados em nome do desenvolvimentismo.

Luta pelos DH contra hegemnicos luta civilizatria.1) Estamos no princpio do sculo XXI a lutar por novos direitos fundamentais; Novamente, necessria a defesa dos direitos fundamentais, pois os direitos econmicos e sociais (antes pensados irreversveis) so reversveis como estamos observando na Europa atualmente.Centralidade dos direitos coletivos em contraposio aos direitos individuais (e ao mesmo tempo torna-se uma luta pelos direitos coletivos).Complexidade: dentro de cada luta (direitos no campo, indgenas, ambientais, da cidade) precisam ser enxergadas todas as outras lutas.