Artes e Ofcios de Saberes Tradicionais

Notas de aula - Caio Csermak

05/09/2011

A maioria d@s alun@s de Cincias Sociais;

Na apresentao, a maioria d@s alun@s falou qual o interesse que levou a se matricular na matria. A maioria das respostas foi no sentido de falar no interesse e admirao pela cultura popular e pelos saberes tradicionais. Vrias pessoas ressaltaram a busca por um novo tipo de conhecimento, no encontrado em outras matrias feitas na UnB. @s alun@s estavam um pouco tmidos;

Comeou uma fala sobre o Encontro das 13 Avs. Jlia a filha de uma destas avs. A me dela no caracterizada no encontro como indigenuos, mas como native. Ainda assim, pensada como tradicional, principalmente pelo acesso a um discurso da mestiagem, de sua me ser afro-descendente, ter vivido muitos anos na Amaznia e ter tomado contato com as religies ayuhuasqueiras e com as razeiras;

O encontro das 13 avs rolou a primeira vez em Nova Iorque;

A gua ser o tema transversal do X Encontro das 13 Avs Nativas, que vai rolar em Braslia em outubro;

As avs esto fortemente ligadas a uma dimenso espiritual da cultura, ligadas s preces e rituais. Um dos objetivos do encontro, segundo Jlia, passar para outras geraes essa dimenso espiritual da cultura. A me dela fala do conselho das avs como uma semente que permita perdurar uma cultura de paz e espiritualidade;

Foi passado um vdeo do encontro das avs. O vdeo ressalta o aspecto cuidador das avs. Como elas cuidam de seu povo e de sua cultura. Eu acho que h uma questo de gnero a, de reproduzir um papel cuidador da mulher conectado a um ambientalismo falsamente simtrico, o que no discutido. No entanto, essas mulheres assumem este papel cuidador de um modo ativo, difcil estabelecer a fronteira entre reproduo e reinveno do papel feminino entre seus povos e entre um encontro global das avs que est ligado um ambientalismo que visa cuidar do mundo. Bom, acho que elas gostam de estar ali de qualquer jeito...

21/09/2011

Eliane grupo de Cacuri originrio do Maranho;

Quem entrava nos grupos de Cacuri queria ser pago profissionalizao dos grupos de cultura popular;

O Cacuri foi inventado pela dona Florinda, v de Eliane, em 1972 e introduzido nas festas do Divino. Mas a dana comeou mesmo no lava-pratos, com as mulheres mais velhas. A introduo de jovens no Cacuri comeou s nos anos 90;

Muitas msicas do Cacuri vinham do interior do Maranho, dos terreiros de Umbanda;

Foi dona Tet que introduziu os jovens no Cacuri. Dona Tet tambm incluiu o cavaquinho no Cacuri e disse que todo mundo tem banda, orquestra, se eu no botar pelo menos um cavaquinho, vo dizer que eu no tenho dinheiro pra pagar nem um cavaquinho. A todo mundo acha bonito.;

O Cacuri foi criado em 1972, no bairro Vila Saldanha, em So Lus. Existem os nomes dos criadores: seu Manoel e dona Filomena, mas parece haver uma disputa por isso entre dona Tet e dona Filomena;

Em So Lus existem mais de 120 grupos de Cacuri;

O Cacuri nasceu dentro da Festa do Divino, que uma festa muito disciplinada, com restrio bermudas, bebidas, etc;

O lava-pratos era a festa das senhoras que trabalhavam na festa;

A Eliane fala em como o Cacuri da famlia dela mais parecido com o original de que o de Dona Tet, que j colocou instrumentos como o cavaquinho e o violino no Cacuri. Mesmo pensando em uma brincadeira datada, uma tradio criada em 1972, h uma disputa sobre a autenticidade da tradio do Cacuri;

O Cacuri uma dana de forte presena feminina, as mulheres compem e tocam caixa, mas no comeo tudo era registrado no nome de seu Lauro;

Eliane fala que o jeito carcado de danar Cacuri novo, coisa de dona Tet e pra turista ver;

Eliane disse que se poderia se sustentar s do Cacuri, preferia, mas no d.

28/09/2011

Casimiro e lvaro Tucano;

Calendrio Tucano vrias enchentes de objetos e animais: enchente de tatu, cabea de ona, cabo de enxada, andorinhas, folhas, etc;

Os missionrios salesianos destruram as solenidades dos tucanos. Os padres chegaram por volta de 1850 e os salesianos em 1912. Os missionrios saquearam o conhecimento tucano, o Banco Central do conhecimento Tucano, segundo lvaro. Roubaram tambm flautas sagradas, que hoje esto espalhadas por museus do mundo: Manaus, Berlim, So Paulo;

Muito conhecimento foi perdido. Casimiro disse que no lembra de tudo, s metade, mas que pode refazer o resto;

Crtica severa Dilma e ao presidente da FUNAI;

Os antroplogos novos no partem para a porrada;

lvaro diz que os Tucanos esto cheios de militares, pastores, padres e antroplogos na regio dos Tucanos;

lvaro diz que h ndios padres, militares, feiras e pastores, que so importantes para o interesse nacional, mas que so analfabetos na tradio;

lvaro diz que preciso muita pacincia para formar novas lideranas. preciso tambm uma Universidade Indgena. H hoje mais de 5000 ndios com ensino superior. H profissionais ndios bons, mas para esse sistema. preciso criar nosso prprio sistema. As lideranas religiosas e das ONGs no so nossas lideranas. Mas h;a tambm ndios de bolso, como os que so pastores e padres, que no representam o conhecimento autntico dos indgenas. Eles no so necessrios para ns, assim como ndios capitalistas. Mas existem ndios que saem, estudam e voltam. O ndio est politizado, no h igreja, ONG, Estado ou FUNAI que mande em ns. Ns somos to acadmicos quanto vocs, vamso escrever nossa histria em nossa prpria lngua;

H mais de 3 tipos de ayuhuasca; O uso da ayuhuasca ainda feito pelos Tucanos, mesmo com o combate da igreja;

03/12/2011

lvaro se apropria muito bem da linguagem antropolgica, faz questo de mostrar que pode falar de igual pra igual;

Casimiro diz que as universidades deles eram diferentes, a universidade antiga a do falar, do ensinar cotidiano;

Cura cada pai tem uma especialidade de curar doenas. Curar doenas uma atividade do povo;

Mes recentes recebem ateno especial do curandeiro;

Os mdicos inventam doenas para os indgenas, mas o problema como a pessoa se alimenta, qual foi a sua educao;

Quando algo d errado a pessoa tem que se reunir com o curandeiro, tem que haver dilogo constante com ele;

Casimiro fala em evitar que os doentes deles tenham que ir ao hospital;

Embora existam muitos indgenas com ensino superior, eles no se interessam em estudar a cura indgena e em curar as doenas indgenas. Os indgenas agora vo a qualquer hospital e l so mal atendidos. Antes dos hospitais, os indgenas usavam plantas medicinais, mas isso est se perdendo. Casimiro diz ficar triste com tantos diplomas universitrios que no servem para nada;

Casimiro d o exemplo da picada de cobra. O mais seguro fica no mato, pois l que esto os remdios, mas os indgenas agora vo aos hospitais. Mas o hospital um lugar perigoso, pois pode ser que a enfermeira esteja poluda, que tenha tido relaes sexuais h pouco tempo, esteja menstruada ou seja me recente;

O desafio como tornar o conhecimento indgena sobre cura como algo respeitado e integrado ao sistema de sade pblica, em vez de um conhecimento marginalizado e explorado por empresas de sade, laboratrios e ONGs. Por que esta integrao sempre feita a partir da lgica do capital, como no caso do capitalismo verde?

lvaro conta como o conhecimento indgena roubado por pesquisadores, padres, ongueiros e etc. Eles perguntam ao caboclo e ao indgena o que aquilo, mas registram o conhecimento como deles, chegam na Rio+20 e dizem que a biodiversidade uma riqueza nossa, de toda a humanidade, que deve ser preservada e dividida. Mas dividida para quem? Ela indgena e foi roubada;

lvaro fala que os indgenas so conhecedores da cura, mas que tambm querem ir para o laboratrio, fazer pesquisa a partir do seu conhecimento;

As comunidades indgenas esto perdendo os seus territrios e, sem eles, no h cura e nem comida;

lvaro critica os ambientalistas: a floresta nossa, os ambientalistas mandes que comecem por consertar os seus lugares. Nossos antepassados j eram ambientalistas e ns tambm somos em nossa relao com a floresta;

lvaro fala que alm de professores, urgente ter mais pajs e curandeiros, por isso inclusive as mulheres podem se tornar pajs;

A ayuhusca e outras substncias so remdios quando cozidos at cristalizar. Isto porque os cristais do sol so de cura e poder, pois os curandeiros iam espiritualmente at o sol negociar com ele estes cristais e os traziam de l atravs do cozimento de algumas plantas at a cristalizao. Os padres, no entanto, proibiram isso;

Casimiro diz que os tucanos nunca tiveram o distrbio sexual de gostar da pessoa do mesmo sexo, pois arranjar o casamento um modo de resolver isso. O casamento entre os tucanos exogmico e o casamento endogmico deveria ser severamente punido, at com morte. No entanto, os padres falaram que no existia problemas nos casamentos serem endogmicos, mas os filhos destes casamentos so discriminados entre os tucanos.

17/11/2011

O Cavalo Marinho do Mesrte Biu ainda dana a noite toda, mas em encontros de grupos de Cavalo Marinho e sambadas. No entanto, nas festas da cidade, tocam coisa de meia hora e a comea um som mecnico co o qual eles no tem como competir. Com a profissionalizao e crescimento das festas municipais, bandas de forr com guitarra e msica eletrnica, muitos festejos da cultura popular no cabem mais neste formato de festa. Ficam, ento, dependentes das verbas pblicas, o que exige um outro tipo de profissionalizao.

07/11/2011

Lucely faz parte da quinta gerao da comunidade quilombola do Cedro, em Mineiros-MG, que foi fundada em 1830 pelo tatarav de Luceli; Lucely fala em como a relao com o poder da cura e sensibilidade das plantas perdeu-se no mundo acadmico;

Em agosto, ocorre no Cedro a Festa de Nossa Senhora da Abadia, que tem apresentaes de dana, capoeira e forr. A festa um dia de unio;

Muita gente da comunidade do Cedro mora na zona urbana, mas freqenta muito a comunidade; O foco o cerrado, mas Lucely disse que tambm utiliza espcies de outros ecossistemas;

No laboratrio da comunidade tem 90 frmulas adaptadas das receitas tradicionais, como na transformao das medidas, na qual o punhado se torna gramas. Tais receitas so feitas em parceria com a vigilncia sanitria;

No Cedro, se usa muitas plantas do cerrado como forma de alimentao preventiva de doenas, como o po feito com farinha de jatob, que expectorante;

Lucely diz que as plantas tm esprito e sentimento. preciso preparar o corpo e o esprito para entrar no cerrado e colher as plantas. Se no estamos bem, com uma energia boa, melhor nem colher a planta ou fazer o remdio. Para lidar com a cura preciso estar curado. Para curar o outro preciso antes curar a si. Se a energia no estiver boa, uma planta colhida para um remdio pode virar veneno. preciso fazer uma orao e pedir licena para entrar no mato, pois ali no a nossa casa, a casa de plantas e bichos; O recolhimento tem a ver com as fases da lua: casa e raiz na minguante e leo na lua cheia;

Para colher as plantas preciso levantar cedo. Folha e flor por volta das 6 da manh e raiz por volta das 10 da manh;

Cada folha do cerrado tem a forma de um rgo do corpo e isso se relaciona qual rgo aquela folha vai curar;

As mulheres mexem mais com as plantas;

Tem planta masculina e feminina. H tambm algumas plantas que s homem ou s mulher podem usar;

A v de Lucelt benzedeira. Ela no. Ela diz que preciso estar preparada, pois quem benze absorve o que h de ruim nas outras pessoas e depois tem que trabalhar para liberar aquilo; Todo ch tem que tomar umas 6 vezes ao dia e a validade dele fora da geladeira de cerca de 12 horas;

O barbatimo cicatrizante; congonha de bugre previne derrame e infarto; o angico vermelho expectorante; pimenta de macaco pra dor muscular e cimbra; cavalinha pra perda de cabelo e previne o envelhecimento; a sucupira boa pra infeco na garganta (s pode usar no mximo por 15 dias); o ip roxo curar 22 doenas; pacari bom pra gastrite; p de perdiz estimula a gravidez; acarioba bom pra memria; ch de melissa bom pra insnia; assa peixe bom de comer frito milanesa, tem bastante protena;

Pra fazer remdio bom deixar as coisas em infuso no vinho branco.

07/12/2011

Congado/Reinado da irmandade dos Arturo Contagem-MG; Jorge diz que a Mestra em Batuque da irmandade dos Arturo premiada pelo MINC, a Dona Tetata, tem 94 anos e filha mais velho do fundador da irmandade, Artur;

Jorge fala do respeito profundo que existe pelos mais velhos na irmandade dos Arturos. No s questes relativas s festas e ao Congado so decididas pelas lideranas da comunidade, mas at questes familiares; Festa de nossa Senhora do Rosrio no segundo fim de semana de outubro;

Festa da Abolio no segundo final de semana de maio; A festa da Abolio foi criada nos anos 70. Desde os anos 70 at 2008, a Princesa Isabel que era a reverenciada. Desde 2008, a nfase foi tirada da Princesa Isabel para o foco no negro, em Zumbi dos Palmares, em Chico Rei e na luta dos ancestrais negros, dos quilombos;

Jorge fala que hoje a viso da comunidade sobre a abolio mais real. Uma das causas a ida escola das pessoas da irmandade, o estudo da histria e a prpria reflexo que eles tiveram sobre o papel do negro na luta pela liberdade;

A festa da Abolio comea na sexta com o ritual do Candombe, que feito dentro da irmandade, no sai s ruas. o ritual de reverncia aos ancestrais; Outros grupos de Congado so convidados para a festa. A comida oferecida a todos pela comunidade;

A festa ocorre mesmo com a morte de um dos irmos da comunidade, pois a festa sagrada. Isso aconteceu esse ano;

Eles cantaram o Lamento Negro, cntico lindo cantado na festa da Abolio, quando todos param na porta da Igreja de Nossa Senhora do Rosrio. O cntico fala de como na poca da escravido os negros s iam na igreja para deixar os senhores brancos na porta. Hoje podem entrar e, ao cantar isso, entram, deixando oferendas no altar, como mandioca, milho e trigo. rezada ento a missa do negro;

Jorge diz que preciso celebrar a escravido, no pela assinatura da lei urea, mas pela resistncia do povo negro, pela luta pela liberdade;

A festa de Nossa Senhora do Rosrio maior que a festa da Abolio, pois dura o fim de semana mais a segunda-feira. No final da festa feita a coroao dos reis festeiros;

Jorge diz que antes eles no podiam nem realizar as festas nas ruas e que hoje recebem um certo reconhecimento da populao e da prefeitura;

Irmandade dos Arturos uma irmandade de Nossa Senhora do rosrio que existe desde os anos 60, mas que passou a ser administrada pelas pessoas negras dos Arturos apenas desde meados dos anos 80. pela irmandade que os Arturos participam dos editais das leis de Incentivo Cultura. O primeiro projeto aprovado e realizado foi para a realizao do livro CD Cantando e Reinando com os Arturos, feito pela Lei Rouanet e que compilou vrios materiais audiovisuais sobre os Arturos que estavam espalhados por a. Depois, os Arturos j conseguiram aprovar mais 3 projetos, sendo que um ainda aguarda a captao de recursos. Dois destes prmios foram para os mestres Conceio e Mrio; Jorge falou que muito difcil conseguir recursos, principalmente no estado de MG. Ele diz como os recursos tm que ser disputados com outros grupos que no so de cultura popular;

Jorge fala que hoje os Arturos contam com um bom apoio da prefeitura de Contagem;

Jorge disse que eles esto preservando suas tradies a qualquer custo;

O Congado dos Arturos j participou de um festival de Culturas Populares de Resistncia no Mxico; Jorge fala que nos Arturos eles conseguem uma organizao para participar de editais de incentivo cultura, mas que muitos outros grupos no, que nem acesso internet tm;

O Orkut deles salvemaria@yahoo.com.br