nordeste vinteum edição

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Edição Nº 30 — Ano III — Janeiro/2012 — Revista Nordeste VinteUm – Publicação sobre economia, política, cultura e educação — www.nordestevinteum.com.br ENTREVISTA AMAURY JR ANUNCIA NOVO LIVRO SOBRE PRIVATIZAÇÕES O Ano do Seu Lua R$ 10,50 30 Em 2012 comemora-se o centenário de Luiz Gonzaga. A Nordeste VinteUm conta a história deste que foi um dos maiores gênios da música popular brasileira

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Publicação sobre economia, política, cultura e educação

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r ENTREVISTA AMAURY JR ANUNCIA NOVO LIVRO SOBRE PRIVATIZAÇÕES

O Ano do

Seu Lua

R$ 10,50

30

Em 2012 comemora-se o centenário de Luiz Gonzaga. A Nordeste VinteUm conta a história deste que foi um

dos maiores gênios da música popular brasileira

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Auditório Celso Furtado do Banco do Nordeste, Centro Administrativo Getúlio Vargas, Passaré -­ Fortaleza/Ceará

Maiores informações: 85 3223.6652 / 85 3223.5653

CAAtiNGA20Rio

i Conferência Regional de Desenvolvimento Sustentável do

Bioma Caatinga – A Caatinga na Rio+20

ou pelo site: www.caatinganariomais20.org.br

14, 15 e 16 de março de 2012

Realização: PromoçãoApoio:

Nordeste xxInstituto de Difusão Social do Conhecimento

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14, 15 e 16 de março de 2012

“Gonzaga sintetiza em sua obra o espírito de uma região, da sociedade do Nordeste brasileiro; ele é, ao mesmo tempo, o meio de expressão desse espírito e o criador dessa expressão” (Elba Braga Ramalho, professora e pesquisadora de Música Popular Brasileira)

“Envergando a simbólica indumentária cangaceira, de chapéu de couro, gibão e alpercata, Gonzaga desafiou os smokings e vestidos de gala da Era do Rádio. Desbravou o País fazendo shows gratuitos para multidões em praças” (Tárik de Souza, historiador e crítico musical)

“Ele próprio é a fonte, cabeceira e nascente de suas criações. O sertão é ele. A paisagem pernambucana, águas, matos, caminhos, silêncio, gente viva e morta. Tempos idos nas povoações sentimentais voltam a viver, cantar e sofrer quando ele põe os dedos no teclado da sanfona. Luiz Gonzaga presta-nos uma colaboração viva, pessoal, humana” (Câmara Cascudo, historiador e folclorista)

“Falar do professor Luiz Gonzaga  para mim é uma coisa muito fácil e ao mesmo tempo muito difícil, porque ele representa muito para o Brasil. Para mim ele é um monumento nacional. E para o Nordeste, então, ele representa todo o sentimento, toda a dor da retirada, da seca, da partida... E toda a alegria do sacolejo dos forrós, também”. (Elba Ramalho, cantora e intérprete de músicas que fizeram sucesso na voz de Gonzagão)

“Fui um moleque feliz. No sertão, todo moleque que não vive no domínio de senhores perversos é feliz. Tem suas compensações, a pobreza. A liberdade ampla, a natureza imensa a sugerir uma grandeza que está longe de atingir”

“Estimulado pelas coisas do meu sertão, abri a sanfona e fiz soar um xote. Eufórico, sapequei uma toada, contei a história da asa branca e já o doutor tinha o monstro da música riscado no papel. Maravilhado com tanta versatilidade, abri mais uma vez a sanfona como derradeiro desafio; nasceu, então, o maior de todos os ritmos regionais brasileiros. Nasceu o Baião” (sobre o primeiro encontro com Humberto Teixeira, promovido pelo compositor Lauro Maia)

VISÃO DE MUNDO

Page 6: Nordeste VinteUM Edição

Sumário

17. Perfil – Dominguinhos

18. Caleidoscópio27. Artigo – Barros Alves

36. Saberes & Sabores42. 3º Milênio50. No Alpendre – Juarez Leitão

51. Sala de Reboco – Arievaldo Viana

56. Papo Cabeça – Presidenta da Ubes, Manuela Braga

66. Ateliê – Arievaldo Viana

Colunas

Edição Nº 30Ano III — Janeiro — 2012Revista Nordeste VinteUmPolítica, Economia, Cultura e Educaçãowww.nordestevinteum.com.br

Editora Assaré Ltda ME Rua Waldery Uchôa, 567 A Benfica, Fortaleza, Ceará CEP: 60020‑110 e‑mail: [email protected] (85) 3254.4469

Revista Nordeste VinteUm (85) 3223.6652 www.nordestevinteum.com.br

Diretor‑presidente Francisco Bezerra [email protected]

Diretor Administrativo Financeiro Orlando Júnior [email protected]

Diretor de Arte Claudemir Luis Gazzoni [email protected]

Diretor de Marketing e Negócios Rodrigo Nunes [email protected]

Diretor de Marketing, Vendas e Distribuição Pedro Paulo Boiczuk Rego [email protected]

Editor‑chefe Lucílio Lessa [email protected]

Editor de Cultura e Arte Barros Alves [email protected]

Editor de Arte Vladimir Pezzole [email protected]

Jornalistas André Teixeira, Georgea Veras, Karla Sousa e Samira de Castro [email protected]ária de Jornalismo Maura Nascimento [email protected] Luiz Gonzaga Xavier [email protected]

Assistente de Marketing e Vendas Mariana Leite [email protected]

Gerente de atendimento Bárbara Freitas [email protected]

Coordenador de comunicação Antonio Cardoso cardoso@@editoraassare.com.br

Revisor Francisco Pelúcio

Repórter fotográfico Paulo Rocha

Colaboradores Arievaldo Viana, Benedito Vasconcelos Mendes, Flamínio Araripe, Luiz Carlos Antero e Juarez Leitão

Impressão NewGraf Tiragem 25.000 exemplares

Nordeste VinteUm é uma publicação mensal da Editora Assaré Ltda ME. Não nos responsabilizamos por artigos assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, sendo estes últimos de inteira responsabilidade dos anunciantes. Todos os direitos reservados.

CAPA ILUSTRAÇÃO ARiEvAldo viAnA

Ícone da música nordestina, Luiz Gonzaga faria em dezembro 100 anos se

estivesse vivo

08

Entrevista20Com exclusividade, o jornalista Amaury Jr. anuncia “A Privataria Tucana II” para este ano

nordestevinteum.wordpress.com

Nordeste VinteUm

@nordestevinteum

www.nordestevinteum.com.br

Mídias sociais

Capa

Page 7: Nordeste VinteUM Edição

Carta do editorentre as figu-ras tidas como “imortais”, Luiz

Gonzaga do Nascimen-to, o Lua, tem lugar de destaque no imaginário do povo nordestino e brasileiro. Ícone da música nordestina, ele deixou discípulos e um legado de valor inesti-mável, que o caracteri-za como o maior repre-sentante das alegrias, dramas e injustiças do sertão. Em dezem-bro deste ano, Gonzagão, como também era conhecido, faria 100 anos se estivesse vivo. Não à toa, Nordeste VinteUm inicia 2012 com um relato sobre a trajetória do genial Rei do Baião.

Esta edição também traz entrevista com o jornalista Amaury Ribeiro Jr, autor do polêmico livro A Privataria Tucana. Nele, o jornalista denuncia o esquema de lavagem de dinheiro existente no País e os bastidores das privatizações durante a gestão do ex-presidente Fernando Hen-rique Cardoso. Entre publicadas e não publicadas, Amaury garante possuir mais de mil páginas com denúncias. São docu-mentos adquiridos em 12 anos de pesqui-sa, que servirão de base para uma nova publicação ainda este ano e estimulam a abertura de uma CPI para a apuração de crimes de corrupção.

Já em matéria sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), a denúncia é de que esta-dos do Nordeste são campeões na dispari-dade entre médicos da rede pública e pri-vada em todo o Brasil, segundo entidades de classe. Uma realidade que destoa dos investimentos em obras de infraestrutura. É o que aponta matéria sobre projetos bilionários em estados nordestinos a partir do Programa de Aceleração do Crescimen-to (PAC). Também nesta edição, confira a segunda parte da série Nordeste na caça ao desenvolvimento. Na pauta, o padrão liberal na década de 1990.

Boa leitura!

D

Economia38Nordeste é alvo de recursos públicos e deixa de ser o primo pobre do Brasil

Série Especial

28

Segunda matéria de série aborda o padrão liberal no ajustamento da economia à globalização na década de 1990

Guerra no Sertão

52A Revolução Federalista do Guanais ilustra nossas páginas nesta edição

44 Saúde Disparidade entre número de médicos na rede pública e rede privada afeta principalmente o Nordeste

58 Poder Local O Instituto Formação, no Maranhão, oportuniza a inclusão de jovens através da informação e do esporte

62 Educar 21 Governo federal e as tentativas para o combate à homofobia no ambiente escolar

Lucílio Lessa Editor‑chefe [email protected]

Page 8: Nordeste VinteUM Edição

Capa

100 anos do Rei do Baião

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Page 9: Nordeste VinteUM Edição

Luiz Lua Gonzaga, o Gonzagão, ícone da música nordestina, sanfoneiro danado de bom, tornou-se personalidade de estilo

inconfundível na história da Música Popular Brasileira em razão do talento que o fez único como músico, cantor e compositor. 2012

será de comemorações pela passagem do centenário de nascimento do inexcedível pernambucano quase cearense. Nordeste VinteUm começa

o ano prestando homenagem ao Rei do Baião.

Por BARRos ALVEs [email protected]

100 anos do Rei do Baião

uiz Gonzaga do Nascimento deu o ar da graça a este mun-do no dia 13 de dezembro de 1912, na Fazenda Caiçara, de propriedade do Coronel Ma-

nuel Aires. O cenário era a região serrana do Araripe, município de Exu, no estado de Pernambuco. Foi o segundo dos nove filhos nascidos da união entre o sanfoneiro Januá-rio José dos Santos e Dona Ana Batista, ape-lidada Santana.

O pai, além de ser conhecido tocador de sanfona na região, consertava instrumentos e era agricultor agregado na citada fazenda. Conta-se que o nome do futuro maioral da sanfona tem o significado místico de trípli-ce homenagem: a Santa Luzia, cujo dia 13 é a ela dedicado pelo hagiológio católico; e a São Luiz de Gonzaga. O sobrenome foi-lhe dado por conta do fato de que dezembro é o mês do nascimento de Jesus.

Na Exu onde nasceu Luiz Gonzaga,

faltavam escolas e sobrava violência entre Sampaios e Alencares, clãs que disputavam o poder no município do semiárido pernam-bucano. O menino, inteligente e atilado, não se conformou em apenas observar o pai consertar instrumentos. Logo “agregou-se” como ajudante do “Sinhô” Aires, um rábula pertencente à família dos proprietários.

Com o “sinhô” Aires aprendeu a ler e es-crever. Com o pai aprendeu a tocar a “oito baixos” e passou a ganhar uns trocados to-cando nas festas da redondeza. Namorador, logo se engraçou de uma cabrocha filha de um remediado da região. O pai de Nazare-na – este o nome da pretensa namorada – não aprovou a ousadia do rapaz e Gonzaga resolveu tomar satisfações. Para criar cora-gem, bebeu uns tragos de cachaça. Perdeu a garota e ganhou uma surra da mãe, Dona Santana. A sova mudou o curso da vida de Gonzaga, que irritado com a situação deci-diu dar adeus a Exu. Era o ano de 1929.

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Do Exército para a fama no cenário musical

L uiz Gonzaga prestou serviço militar no Exército, no Ceará e em Minas Gerais, onde foi tocador de bumbo. Era o início da década de 1930. Ganhou uns bons tro-cados e comprou uma sanfona Honner, de 80 baixos,

coisa de profissional. Ao dar baixa no Exército, rumou para Recife, capital do seu estado, cidade que ele não conhecia. O navio em que viajava fez pausa no Rio de Janeiro, e o sanfoneiro foi traído pelo espírito boêmio. Foi conhecer o Mangue, bairro onde se con-centrava a boemia da cidade.

Foi no Manque que conheceu o baiano Xavier Pinheiro, mú-sico, casado com a portuguesa Leopoldina, a Dina, os quais fare-jaram o talento do moço nordestino e o levaram para morar com eles no Morro de São Carlos. Ali começou a carreira do futuro Rei do Baião, com a ajuda do melhor acordeonista da época, o mineiro Antenógenes Silva. Este ministrava aulas de acordeon em uma escola aberta instalada no Bairro do Flamengo.

A essas alturas, Gonzaga já se apresentava com uma Scan-dali de 120 baixos nas rádios da Cidade Maravilhosa, centro propulsor da cultura musical brasileira. O repertório era vas-to: valsas, choros, foxtrotes. Foi um grupo de estudantes do Ceará, entre eles Armando Falcão, que se tornaria ministro da Justiça, quem estimulou Gonzaga a usar o acordeon para tocar músicas de estilo sertanejo.

Inicialmente ele estranhou a mudança, porque entendia que a sanfona era um instrumento citadino, inadequado para o tipo de música que se fazia no Nordeste. Para Gonzaga, então, “lá no sertão é só fole e o fole está para o acordeon como o pífano para a flauta”. Mas, finalmente, capitulou e compôs o “xamego” instrumental “Vira e Mexe”, ganhador do prêmio principal em programa de calouros comandado pelo compositor Ary Barroso. A sorte começou a sorrir para o ma-tuto do Exu.

O soldado Luiz Gonzaga posa com sanfona na banda de música do quartel do Exército da cidade de Juiz de Fora, em meados da década de 1930

1912

13 de dezembro, sexta-feira. Nasce Luiz Gonzaga do Nas-cimento, na Fazenda Caiçara, em Exu, situ-ada junto à Serra do Araripe, no estado de Pernambuco. Segun-do dos nove filhos do casal Januário José dos Santos, o Mestre Januário, sanfoneiro de 8 baixos afamado na região; e Ana Batista de Jesus, conhecida por Santana (foto).

1920

O filho do Mestre Januário recebe seu primeiro cachê ao tocar substituindo um sanfoneiro em festa tradicional na fazenda: 20$000 (vinte mil réis). Ainda adolescente, torna-se conhecido na circunvizinhança.

1926

Aos treze anos, Luiz Gonzaga compra a primeira sanfona, de oito baixos, na cidade de Ouricuri-PE, graças a empréstimo conce-dido pelo coronel Manoel Ayres de Alencar. Era uma Koch, igual a do Mestre Januário. Custou 120 mil réis. Quando saldou sua dí-vida, anunciou ao coronel Ayres que não iria mais trabalhar com ele, pois a partir de en-tão, seria sanfoneiro profissional.

Cronologia da vida de Luiz Gonzaga

Capela de São João Batista, em cujas festas do mês de maio mariano, e nas festas juninas, o menino Luiz Gonzaga se iniciou publicamente na música tocando tambor, pife e até sanfona de oito baixos.

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Gonzaga ganha fama nacional

inha início a década de 1940 quando Gonzaga foi con-vidado a trabalhar no programa “A Hora Sertaneja”, sob a liderança de Alfredo Ricardo do Nascimento, o Zé do

Norte, paraibano e pioneiro na divulgação da cultura nordesti-na. O programa ia ao ar na Rádio Transmissora, a atual Rádio Globo. Posteriormente trabalhou com a dupla de humoristas Genésio Arruda e Januário França. Estes o levaram para grava-ção em cena cômica de uma faixa do disco “A Viagem de Gené-sio”, por terem visto em Gonzaga um sanfoneiro versátil e capaz.

Gonzaga ganhava fama e gravava muitas músicas. O Rádio era o grande canal de divulgação dos artistas que se apresenta-vam em meados do século passado. Ele teve passagens pelas fa-mosas rádios Mayrink Veiga e Tamoio, contratado pelo compo-sitor pernambucano Fernando Lobo. Até aí Gonzaga somente puxava o fole. Apareceu-lhe, então, o primeiro parceiro letrista, o fluminense Miguel Lima.

Outros surgiram e Gonzaga teve que arrostar obstácu-los para gravar como cantor. E, como lembra o historiador da Música Popular Brasileira (MPB), Tárik de Souza, “para finalmente estrear como cantor, Gonzaga teve de ameaçar o diretor da gravadora onde era contratado, Vitorio Lattari,

da RCA”. Disse que se seu desejo não fosse aceito iria mudar-se para a concorrente Odeon e usa-

ria o nome do pai, Januário, caso continu-asse a ser vetado. Era 1945. Então lhe foi

aberta a porta e ele gravou a mazurca “Dança Mariquinha”, escrita em parce-

ria com Miguel Lima, que obteve al-gum sucesso. Mas, os grandes êxi-tos estavam para vir com “Penerô

Xerém” e “Cortando Pano”. Aí estava surgindo de fato o Rei do Baião.

TAsa Branca é uma das músicas de maior sucesso de Luiz Gonzaga e reconhecidamente um “hino” do povo nordestino

Vista parcial do povoado do Araripe, no muni-cípio do Exu (PE), onde Luiz Gonzaga viveu dos doze aos dezessete anos de idade, quando fugiu de casa para ingressar no Exército em Fortaleza (CE), em meados de 1930. O lugar seria fonte de inspiração perene da futura obra do Rei do Baião.

1929

Participa de um grupo de escoteiros e conhece Nazarena, por quem se apaixona e com quem namora às escondidas. Rejeita-do pelo pai da moça, de família importante, aproveita o dia da feira e, após uns goles de cachaça, vai tirar satisfações armado com uma faquinha. Leva uma surra da mãe, San-tana, e foge de casa para o Crato, no Ceará, onde vende sua sanfoninha de 8 baixos.

1930

Aumenta a idade para servir no Exército, em Fortaleza. Com o advento da Revolução de 1930, segue em missão militar pelo Brasil como soldado Nascimento. Mestre Januário consegue reaver a sanfona vendida no Crato por 80 mil réis, através de um amigo, o Sr. José Lindolfo.

1931

Após o término do tempo legal de ser-viço militar, Gonzaga decide permanecer no Exército, instituição que representou impor-tante papel na formação dele.

1933

Por não conhecer a escala musical, é re-provado em concurso para músico em uma unidade do Exército, em Minas Gerais. Vira tambor-corneteiro e ganha o apelido de Bico de Aço.

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Page 12: Nordeste VinteUM Edição

C

Parceria com Humberto Teixeira produz grandes sucessos

omo observa Vasco Mariz, foi por volta de 1946 que “apareceu no cenário da música popular brasileira o avassalador baião, trazido do Norte por Luiz Gon-

zaga e o advogado cearense de Iguatu, Humberto Teixeira. O êxito seria estrondoso pela valiosa contribuição rítmica que o baião apresentava, justamente em uma época na qual os rit-mos nacionais se amoleciam pela interpretação defeituosa de nossos cantores famosos e a crescente influência estrangeira”.

Com efeito, a associação de Luiz Gonzaga com Humberto Teixeira foi profícua na produção de grandes músicas que se popularizaram de modo extraordinário. Mariz insiste que a po-pularidade de Gonzagão foi sobretudo resultado dessa parceria com Teixera, compositor de belíssimas letras da música nor-destina. “O baião virou maré avassaladora no Brasil: Paraíba, Juazeiro, Baião de dois, Que nem jiló, divulgaram o ritmo nor-destino, que atravessaria fronteiras com caravanas musicais”, observa o historiador. A parceria com Humberto Teixeira ter-minou em 1950, mas logo apareceram outros importantes no-mes para dar continuidade ao trabalho de produção musical de Luiz Gonzaga, entre os quais destaca-se o médico pernam-bucano Zé Dantas, com quem Gonzaga compôs “A Dança da Moda”, “Xote das Meninas”, “Vozes da Seca” etc.

Gonzaga teve muitos parceiros. Ele trabalhou sua história musical com 275 parceiros letristas e compositores em 833 faixas de discos, sendo 127 de 78 RPM (rotações por minu-to), 114 regravações, 99 LPs. Os parceiros com os quais mais produziu foram João Silva (187 canções), Zé Dantas (152), Humberto Teixeira (133) e Onildo Almeida (120). Todavia, como lembra a pesquisadora da MPB e professora da Univer-sidade Estadual do Ceará, Elba Braga Ramalho, “Luiz Gonza-ga e Humberto Teixeira produziram até o final dos anos 1950 parte do repertório mais representativo da música nordestina em disco; no entanto, Zé Dantas também contribuiu em parte para a construção desse patrimônio”.

Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira Zé Dantas e Luiz Gonzaga

1936

Aprende a tocar sanfona de 120 baixos em Minas Gerais, com um soldado de polícia cha-mado Domingos Ambrósio. Para treinar, ad-quire uma sanfona de 48 baixos e aproveita as folgas da caserna para tocar em festas.

1938

Gonzaga é ludibriado por um caixeiro-viajante, a quem paga 500 mil réis em pres-tações mensais para adquirir uma sanfona branca, Honner, de 80 baixos. Foge do quar-tel, em Ouro Fino (MG), para ir a São Paulo com o objetivo de reaver a sanfona. Descobre que não vendiam sanfona no endereço que o caixeiro lhe dera. Acaba comprando uma san-fona igualzinha à que procurava, pelo preço de 700 mil réis.

1939

Dá baixa das Forças Armadas. Muda-se para o Rio de Janeiro, mesmo tendo comprado bilhetes para Recife. No Rio resolve conhecer o Mangue, bairro boêmio. Lá, com sua sanfo-na Honner branca, faz sucesso tocando valsas, tangos, choros, foxtrotes e outros ritmos da época. Através Xavier Pinheiro, músico amigo, Gonzaga vai morar no morro de São Carlos.

Retrato do jovem acordeonista Luiz Gonzaga, talvez com 27 anos de idade, no início da sua carreira artística (1939), quando ainda toca-va nos bares do Mangue do Rio de Janeiro. Observar a sanfona branca Honner 80 que ele comprara em São Paulo, capital, pouco antes de ser dispensado do Exército.

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O declínio, mas não o fimm fins da década de 1950 do século passado, em razão da grande pene-tração do mercado norte-americano

no País, especialmente com a popularização do rock and- roll, começou um certo declínio da popularidade do Rei do Baião e, conse-quentemente, da música nordestina. Segundo a professora Elba Braga Ramalho, o amigo e parceiro Humberto Teixeira, então deputado federal, “ainda ten-tou explorar a fama do baião, introduzindo as Caravanas de Cul-tura, que exportaram o gênero para a Europa e os Estados Uni-dos”, mas o esforço não foi suficiente, porque além do rock, “os interesses da classe média estavam voltados para a bossa nova”.

Mas, se no geral havia declínio da popularidade do baião, o mesmo não se podia dizer da fama do Rei do Baião, que con-tinuava a criar estratégias de audiência voltando-se para as populações nordestinas que migravam continuamente para os estados do Sul, do Sudeste e do Centro-oeste, especialmente para o Planalto Central, em razão da construção da nova capital federal. Gonzaga também empreendia turnês por todo o País e se gabava de conhecer todas as cidades brasileiras com mais de 4 mil habitantes. O sanfoneiro andarilho não deixou por menos e registrou as andanças em “Vida de Viajante”, que compôs com Hervê Clodovil, regravada com seu filho Gonzaguinha, poste-riormente com Fagner, e continua fazendo sucesso.

Em todos os aspectos, musicalmente Luiz Gonzaga não morreu apesar de ter falecido há 23 anos. Continua no co-ração do povo brasileiro e, em especial, das populações nor-destinas espalhadas por este Brasil afora. De fato, como bem expressa-se a professora Elba Braga Ramalho, “além do mais, Gonzaga perpetuou sua produção através de diferentes gera-ções de músicos e compositores. Ele desencadeou o processo de afirmação da música popular nordestina, através de seus seguidores, aqueles simples reprodutores de seu estilo e de seu conjunto típico, anônimos profissionais que deram vida a forrós nas mais distantes cidadezinhas, aqueles que têm pro-duzido um trabalho mais elaborado, conservando um sotaque musical do Nordeste, a exemplo de Dominguinhos”.

O Rei do Baião continua sua viagem de ritmos e sons nor-destinos na criatividade musical dos que se consideram seus legítimos sucessores e, sobretudo, na imaginação de quantos se deliciam com o som de sua sanfona choradeira e do seu vozeirão de cabra da peste.

E

1940

Modifica o repertório e consegue tirar nota máxima no programa Calouros em Desfile, de Ary Barroso, na Rádio Tupi, executando a mú-sica “Vira e Mexe”, um “xamego” (chorinho) do seu pé-de-serra. Depois vai trabalhar com Zé do Norte no programa “A Hora Sertaneja”, na Rádio Transmissora.

1941

5 de março. Primeira participação de Luiz Gonzaga em uma gravação da RCA Victor, como sanfoneiro da dupla Genésio Arruda e Januário França, na cena cômica “A Viagem de Genésio”. Seu talento chama a atenção de Ernesto Augusto Matos, chefe do setor de vendas da Victor.

14 de março. Grava, assinando pela pri-meira vez, como artista principal e exclusivo da RCA Victor. É publicada a primeira repor-tagem sobre Luiz Gonzaga na revista carioca Vitrine, com o título Luiz Gonzaga, o virtuoso do acordeon.

1944

O apelido Lua, invenção de Dino Sete Cor-das em razão do rosto arredondado de Gonza-ga, é divulgado pelo radialista Paulo Gracindo, na Rádio Nacional.

Selo do disco 78 rotações por minuto do xamego “Vira e Mexe”, uma das quatro músicas instru-mentais gravadas por Luiz Gonzaga em 14 de março de 1941, uma semana depois da sua estreia em estúdio de gravação acompanhando a dupla de humoristas Genésio Arruda e Januário França. Logo depois Luiz Gonzaga é contratado acordeo-nista exclusivo da RCA Victor.

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1945

11 de abril. Luiz Gonzaga grava o 25º disco de sua car-reira como sanfoneiro, e o primeiro como cantor, com as músicas “Dança Mariquinha”, mazurca de sua autoria com letra de Miguel Lima; e “Impertinente”, polca também de sua autoria, instrumental.

22 de setembro. Nasce Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, Gonzaguinha, fruto de um relacionamento com a cantora Odaléia Guedes.

Novembro. Afirma-se como intérprete com o lança-mento do 31º disco. Sucesso estrondoso da mazurca Cor-tando o Pano, parceria com Miguel Lima e Jeová Portella. Desejoso de encontrar o parceiro certo para expressar sua musicalidade sertaneja, Luiz Gonzaga procura o ce-arense Lauro Maia. Este apresenta-lhe o cunhado, tam-bém cearense, advogado e poeta, Humberto Teixeira. Era o mês de agosto. Esse encontro rendeu o primeiro trabalho, No meu pé de serra, xote que só seria gravado em novembro do ano seguinte.

1946

Outubro. O conjunto “Quatro Ases e um Coringa”, da Odeon, acompanhado pela sanfona de Luiz Gonza-ga, grava a segunda parceria de Gonzaga e Humberto Teixeira, a música “Baião”, sucesso nacional. Depois de receber a visita de Santana (sua mãe), Gonzaga volta à sua terra, Exu, após 16 anos de ausência. No retorno para o Rio, passa pela primeira vez no Recife, partici-pando de vários programas de rádio e muitas festas. Nesse momento conhece Sivuca, Nelson Ferreira, Ca-piba e Zé Dantas, estudante de medicina, músico por vocação, apaixonado pela cultura nordestina.

1947

Março. Luiz Gonzaga grava “Asa Branca”, que se tornaria um clássico da música brasilei-ra. É o terceiro trabalho em par-ceria com Humberto Teixeira. Nesse ano adota o chapéu de couro semelhante ao usado por Lampião, por quem tinha admiração. A direção da Rádio Nacional resistia a conceder-lhe permissão para se apresen-tar “como cangaceiro” nos programas. Mas a indumentária plasmava a identidade nordestina no cenário nacional. Em um domingo de julho, Gonzaga conhece na Rádio Nacional, a contadora Helena das Neves Cavalcanti, e a contrata para ser sua secretária. Rapidamente o namoro acontece.

1948

16 de junho. Luiz Gonzaga e Helena casam-se no Rio de Janeiro, e passam a morar, juntamente com a mãe de Helena, dona Marieta, no bairro de Caxambi.

1949

Gonzaga leva a esposa e sogra para conhecerem o Araripe, e sua terra Exu. Porém, interrompem a via-gem no Crato, por causa das desavenças e mortes entre os Sampaios e os Alencares, clãs rivais cuja vio-lência ameaçava sua própria família, ligada aos Alen-cares. Ele transfere os pais e irmãos para o Crato e providencia a mudança de sua família para o Rio de Janeiro.

1950

Janeiro. O médico Zé Dantas chega ao Rio, para fa-zer residência no Hospital dos Servidores.

Junho. Gonzaga lança a música “A Dança da Moda”, parceria com Zé Dantas. O baião vira febre nacional.

1951

Luiz Gonzaga é consagrado como “Rei do Baião”, e o advogado Humberto Teixeira o “Doutor do Baião”.

Maio. Gonzaga sofre um grave acidente de carro, jun-tamente com os músicos João André Gomes, apelida-do Catamilho, do zabumba; e Zequinha, do triângulo. Humberto Teixeira candidata-se a deputado federal, e recebe o apoio do parceiro.

No progra-ma “No Mundo do Baião”, Luiz Gonzaga coroou, com chapéu de couro, Carmélia Alves como Rainha do Baião. Ela inter-pretava o baião com a c o m p a n h a m e n t o de orquestra, e leva-va a música do Rei para as boates e am-bientes da elite. Luiz Gonzaga e Helena adotam uma meni-na: Rosa Maria.

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A cantora Marinês, pernambucana de nas-cimento e paraibana por naturalidade, liderou a Patrulha de Choque de Luiz Gonzaga, e depois participou do conjunto Luiz Gonzaga e Seus Cabras de Peste, de curta duração. Marinês é a primeira mulher artista luiz-gonzaguiana de origem nordestina, a primeira mulher a cantar forró no Brasil, e a primeira a se apresentar trajada de cangaceira em palco nacional.

Museu de Luiz Gonzaga, em Exú-PE

1952

Outubro. 71º disco da carreira e último 78 rpm com Humberto Teixeira. Hervê Cordovil é apresenta-do à Gonzaga por Carmélia Alves, e tornam-se par-ceiros.

1953

Catamilho é afastado por Gonzaga do seu conjun-to, e Zequinha o acompanha. Gonzaga contrata Jurai Nunes, o Cacau, para tocar zabumba; e Oswaldo Nu-nes Pereira, o Xaxado, para o triângulo. Mais tarde, por causa de sua baixa estatura, Xaxado seria apelidado de Salário Mínimo.

1954

Conhece Neném, mais tarde Dominguinhos, aos 14 anos, na cidade de Garanhuns. Nesse mesmo ano seu primo, o vaqueiro Raimundo Jacó é assassinado na re-gião do Araripe.

1955

Apresenta o trio formado por Marinês, Abdias e Chi-quinho, que ficou conhecido como Patrulha de Choque Luiz Gonzaga.

1956

Marinês é coroada Rainha do Xaxado na Rádio Mayrink Veiga. A cantora japonesa Keiko Ikuta grava as músicas “Baião de Dois” e “Paraíba”.

1960

11 de junho. Morre Santana, sua mãe, vitimada pela doença de Chagas, no Rio de Janeiro.

5 de novembro. Januário, sue pai, aos 71 anos, casa--se com Maria Raimunda de Jesus, 32 anos, no Exu. Gon-zaga participa, gratuitamente, da campanha de Jânio Quadros à Presidência da República.

1961

Gonzaguinha vai morar com o pai em Cocotá, Rio de Janeiro. Gonzaga torna-se maçom, e sofre outro aci-dente de carro que lhe desfigura o lado direito do rosto, ferindo gravemente o seu olho.

1962

11 de março - Morre Zé Dantas, aos 41 anos. Luiz Gon-zaga conhece João Silva, com quem formaria parceria.

1963

Gonzaga teve sua sanfona Universal, preta, rouba-da. Antenógenes Silva, seu amigo e afinador, lhe em-presta uma sanfona branca. A partir de então adota a cor branca para suas sanfonas e a inscrição “É do povo” em todos os seus instrumentos. Luiz Gonzaga conhece o poeta cearense Patativa do Assaré.

1964

Gonzaga compra terrenos em Exu, onde irá cons-truir o Parque Asa Branca.

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1980

Luiz Gonzaga canta para o Papa João Paulo II na capital cearense. Inicia, em parceria com Gonzagui-nha, turnê apresentando o show “Vida do Viajante”, que percorre várias cidades brasileiras. Lança no ano seguinte o álbum duplo da gravação do show.

1982

16 de maio. Em Paris, se apresenta na casa de es-petáculos Bobino, a convite da cantora amazonense Nazaré Pereira. Passa a assinar como Gonzagão quase todos os seus discos, forma como havia sido chamado por ocasião de sua turnê com Gonzaguinha.

1984

Recebe o primeiro disco de ouro com o LP “Dana-do de Bom”, no qual tinha João Silva por principal par-ceiro. Logo depois ganha um segundo disco de ouro. João Silva tornou-se, então, seu grande parceiro. Gon-zaga recebe o Prêmio Shell.

1985

Recebe o prêmio Nipper de Ouro, homenagem in-ternacional da RCA, além de dois discos de ouro pelo LP “Sanfoneiro Macho”.

1986

Participa do festival de música brasileira na França, Couleurs Brésil, evento que inaugura o programa dos anos Brasil-França 86-88. Apresenta-se na Grand Halle de La Villette para um público aproximado de 15 mil pes-soas. O LP “Forró de Cabo a Rabo”, deu a Luiz Gonzaga dois discos de ouro e um de platina.

1988

Junho. Divorcia-se de Helena e assume o relacio-namento com Edelzuíta Rabelo. Desliga-se definitiva-mente da RCA.

1989

Grava pela Copacabana Records seus últimos discos.

21 de junho. É internado no Hospital Santa Joana, no Recife.

2 de agosto. Luiz Gonzaga morre aos 76 anos de idade.

1968

Carlos Imperial, apresentador de programas de rádio e televisão, espalha o boato de que a banda The Beatles gravara a toada “Asa Branca”. Luiz Gonzaga conhece Edel-zuíta Rabelo, advogada, em uma festa junina em Caruaru.

1971

A Missa do Vaqueiro é celebrada pela primeira vez, em me-mória de Raimundo Jacó. Desde então passa a ser anualmente celebrada, tornando-se evento tradicional em Pernambuco.

1972

Gonzaga apresenta o espetáculo “Luiz Gonzaga volta para curtir”, no Teatro Tereza Rachel, no Rio, produzido por Capi-nam, para uma platéia formada maciçamente por estudantes. Nesse ano, rompe o contrato de 32 anos com a RCA Victor.

1973

Gonzaga é levado para a EMI-Odeon por Fernando Lobo, onde permanece por dois anos. Recebe o título de Cidadão Paulista.

1975

Luiz Gonzaga reencontra Edelzuíta, o grande amor da fase final de sua vida.

1976

Luiz Gonzaga assina novamente contrato com a RCA Victor.

1978

11 de junho. Morre o Mestre Januário.

1979

Outubro. Morre Humberto Teixeira.

A versatilidade de um artista que não abandona o sotaque nordestino

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A versatilidade de um artista que não abandona o sotaque nordestino

pernambucano de Garanhuns, José Domingos de Morais, nascido em 12 de fevereiro de 1941, foi por muito tempo tratado carinhosamente por todos de sua terra pelo apelido de Neném. O já famoso sanfoneiro Luiz Gonzaga conheceu o adolescente Neném em 1954, tocando com

seus dois irmãos em frente a um hotel, na cidade natal deles, onde o Rei do Baião estava hospedado. O talento dos garo-tos deixou Gonzaga impressionado e tão logo retornou ao Rio de Janeiro, enviou dinheiro e uma carta ao pai de Neném, convidando o Conjunto “Três Pinguins” – assim se chamava o grupo musical caruaruense – para uma temporada de apre-sentações na então capital da República e centro artístico do País. Era, como diz o rifão popular nordestino, o cavalo pas-sando selado para os garotos liderados por Neném.

Começou aí a aprendizagem do jovem que logo foi re-batizado por Gonzaga como Dominguinhos e que se tornou um discípulo à altura do mestre, consagrando-se também ele como um astro da música popular nordestina, dando-lhe uma feição citadina, moderna, sem, no entanto, descaracte-rizá-la em sua essência telúrica e sertaneja.

É o próprio Gonzaga quem depõe: “Quem urbanizou mesmo a música que eu criei foi Dominguinhos, êmulo meu, que se mantém fiel ao Nordeste. Eu vim com a linguagem do sertão, com uma mensagem autêntica nortista para a cidade grande. Dominguinhos, porém, veio com uma técnica muito avançada, com harmonias modernas, coisas que não amar-ram o público simples. Dominguinhos urbanizou o forró, le-vou-o para todas as classes, para os grandes centros urbanos, que é onde ele se apresenta...” E a pesquisadora da Música Popular Brasileira, Elba Braga Ramalho, complementa: “Do-minguinhos é versátil, pois, apesar do seu vasto campo de in-formações musicais recebidas nessa prática, sabe muito bem distinguir o que o faz o principal representante da música do sertão nordestino, além de Gonzaga”.

Com efeito, Dominguinhos é um dos mais exímios san-foneiros do Brasil, cuja versatilidade é por todos reconheci-da, pois mais do que aprender, o discípulo inovou a arte do mestre e deu à sanfona sotaques novos e diferentes. Sem abandonar o baião, simbologia musical do seu mestre, não deixou de incursionar em outros gêneros da música brasilei-ra. Dominguinhos consegue demonstrar que pouco importa o sotaque ou origens quando se trata de fazer boa música.

No universo dos sons e dos ritmos o que conta mesmo é

O

PERFIL

Dominguinhos

a sensibilidade, responsável pela emoção; e o talento, capaz de transformar ideias e conceitos em obras de arte. Enfim, um músico é a síntese de diferentes elementos como talento, inspiração, força de vontade, perseverança e oportunidade. Uma mistura que resulta em arranjos e harmonias. No caso de Dominguinhos, essa composição surgiu a partir da origem Nordestina, na luta por uma vida digna, do temperamento calmo e da disposição em assimilar novas informações. A isso se juntaram os temperos brasileiros tradicionais, as pitadas de sonhos modestos que habitam o mundo do povo.

Ao lado da identificação com as imagens, Dominguinhos exerce seu oficio tocando também outros ritmos. Talento e habilidade lhe garantiram autonomia para trilhar diversas ve-redas musicais, sem que, no entanto, isso tenha significado, em momento algum, abandono de suas raízes essencialmen-te nordestinas. Esses são os ingredientes mais constantes na trajetória de Dominguinhos. Tendo como pano de fundo um grande talento, eles compõem o quadro da vida de um dos importantes artistas brasileiros da atualidade.

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FACEPE financia pesquisas em parceria com empresas francesas

Programa Brasil Profissionalizado liberou R$ 175 mi em 2011

Funasa destina R$ 138,2 milhões para obras do PAC 2 na Paraíba

Com recursos do Programa Brasil Profissionalizado, instituições de ensino técnico e profissionalizante das redes estaduais de todo o País receberam em 2011 investimentos de R$ 175,3

milhões da União – sendo R$ 162 milhões para a instalação de laboratórios e mais R$ 13,3 milhões para mobiliário. A iniciativa é do Ministério da Educação (MEC) que, entre 2008 e 2011, investiu R$ 2,047 bilhões em formação de profissionais e na construção, compra de equipamentos e ampliação de escolas técnicas. Para 2012 a meta é que R$ 4,4 milhões sejam investidos na formação de professores das redes estaduais.

O estado da Paraíba vai receber R$ 138,2 milhões da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2). São 44 municípios beneficiados com os serviços, que envolvem obras de abastecimento de água, esgotamento sanitário e esgotamento sanitário/solução estática. o valor do investimento é o segundo maior anunciado para estados nordestinos, ficando atrás apenas da Bahia, que terá cerca de R$ 230,8 milhões.

A Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) lançou edital de cooperação científica com dois dos maiores institutos de pesquisa da França na área de Tecnologia da Informação e da Comunicação, o Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) e o Institut National de Recherche en Informatique et Automatique (INRIA). outras dezesseis fundações de amparo à pesquisa (FAPs) do Brasil integram a chamada. os recursos disponibilizados pela secretaria de Ciência e Tecnologia para o financiamento dessas pesquisas é de R$ 200 mil. Podem submeter projetos pesquisadores com vínculo empregatício com instituições de ensino superior (IES), centros e institutos de pesquisa e desenvolvimento públicos e privados com sede em Pernambuco.

verbas do FGTS para obras deinfraestrutura Urbana

Publicado em dezembro, o orçamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para 2012 viabiliza R$ 36 bilhões para investimentos em habitação e projetos de infraestrutura urbana. Desses, R$ 26 bilhões são para habitação e R$ 10 bilhões para saneamento básico e o programa pró‑transporte, que garantirá a infraestrutura viária especialmente nas cidades sede da Copa do Mundo de 2014.

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investimento de 45,9 para o Porto digital até o ano de 2014.

Recorde nas exportações brasileiras do agronegócio

Queda de juros beneficia pessoa física

Pernambuco vai receber R$ 45,9 milhões de reais em investimentos até 2014  para o Porto Digital. O orgão é voltado para o desenvolvimento de software. O crescimento pretendido vai englobar agora a economia criativa, com a chegada de empresas ligadas à animação, design, música, fotografia e jogos, todas tendo como base a tecnologia. A ampliação acontecerá no primeiro semestre deste ano. Os planos foram apresentados ao ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, em 5 de janeiro, durante sua visita a capital pernambucana. Além de verbas do governo, estima‑se que nos próximos três anos, 58% (R$ 26,5 milhões) das verbas venham de editais, projetos ou iniciativa privada.

Somando Us$ 94,59 bilhões, as exportações brasileiras do agronegócio registraram recorde em 2011. o valor foi 24% superior ao alcançado em 2010, quando atingiu a marca de Us$ 76,4 bilhões. O bom desempenho fez de 2011 o melhor ano para a balança comercial do

agronegócio desde 1997. A meta do governo federal para 2012 é ultrapassar Us$

100 bilhões, com estimativa de 5,7% de crescimento, segundo o

Ministério da Agricultura.

Pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) afirma que em dezembro a taxa média de juros cobrados em operações de crédito para pessoas físicas atingiu a menor variação desde 1995, ou seja, 6,58%. Isso representa uma redução de 0,09 ponto percentual sobre a variação de novembro – 6,67%. No ano, as pessoas físicas que tomaram empréstimo pagaram juros de 114,84%, taxa que é 2,18 pontos percentuais menor do que a do acumulado de 2011 até novembro (117,2%). Comparando com dezembro de 2010, quando o juro anual ficou em 119,97%, a queda foi de 4,28%. Entre as seis linhas de crédito para pessoas físicas consideradas pelo indicador, apenas os juros do cartão de crédito foram mantidos estáveis em 10,69% ao mês. Todos os demais itens tiveram redução em suas taxas.

Cultura tem recursos ampliados em mais de R$ 270 milhões para 2012

O Ministério da Cultura informou que terá este ano mais recursos do que em 2011. A expectativa é de um total de pouco mais de R$ 2 bilhões, o que representa R$ 270 milhões a mais que o ano passado. Esse orçamento não inclui os recursos da Lei Rouanet (de incentivo à cultura) – que permite a pessoas físicas ou jurídicas aplicarem parte do Imposto de Renda em ações culturais. o salto orçamentário foi gerado pelo fato de 99% do programado para 2011 terem sido utilizados. A verba será empregada na construção de pelo menos 400 praças de esporte e cultura em todo o País, além de incentivo à leitura com programas específicos. Serão ampliados ainda os investimentos em artes visuais, dança, teatro, música, e melhorias na infraestrutura das casas de espetáculos.

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Entrevista Amaury Ribeiro Jr.

Entrevista concedida ao jornalista Lucílio [email protected]

“A privatização foi o maior assalto ao patrimônio público

brasileiro”

pós virar fenômeno de venda com o livro A Privataria Tucana, no final de 2011, a despeito de todo o silêncio da grande mídia nacional, o vencedor de três prêmios Esso e quatro vezes vencedor do prêmio Vladimir Herzog, Amaury Ribeiro Jr, anuncia para este ano A Privataria Tucana II. A nova publicação promete colocar ainda mais lenha na fogueira que

consome a honorabilidade de tucanos de alta plumagem com mais denúncias de corrupção, embasada nas cerca de mil páginas de documentos que Amaury adquiriu em 12 anos de pesquisa, publicadas, em parte, na sua recente obra. Esta, inclusive, serviu de base para a solicitação de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito protocolada junto à Mesa Diretora da Câmara Federal, por parte do deputado Protógenes Queiroz. As denúncias são de lavagem de dinheiro e recebimento de propinas durante o processo de privatização no governo Fernando Henrique Cardoso.

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NORdESTE VINTEUM Quantas páginas de documentos com denúncias o senhor calcula possuir, entre publicadas e não publicadas?AMAURY RIBEIRO JR Mais de mil pá-ginas. Estamos sempre levantando novos documentos, trazendo-os à tona. Temos que nos documentar porque os caras vêm para a bri-ga com força, mas eu não tenho medo porque nunca perdi nenhum processo na justiça. Só no caso da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do Banestado (Banco do Estado do Paraná) foram 34 e eu ganhei todos. Estou sempre documentado, tranquilo. E a reação deles é muito fraca, demorada. Ou-tro dia mesmo veio a filha do José Serra (Verônica Serra) com uma nota na imprensa que desmente ela mesma. No ano passado, ela dis-se que representava o Oportunity (banco do Daniel Dantas), e agora não representa, disse que quem re-presenta é a irmã. Eles mesmos se desmentem, um negócio fraco de-mais, amador até. A oposição dos tucanos é constrangedora.

NVU Já está respondendo algum processo por conta de A Privataria Tucana?ARJ Por enquanto não chegou nada. Tem a ameaça de dois processos. Ameaça do PSDB. Mas pelo que o PSDB vai me processar? Eu não ataquei o PSDB. Se o partido me processar, se vier para cima de mim, vai “levar chumbo” que não vai se levantar. Vai sobrar para todo mun-do. Eu tenho arma contra todos. E esse livro não é partidário, tanto é que fala mal do PT e denuncia as falcatruas de todo mundo. Agora se eles vierem para cima, como estão falando que vão vir, pode deixar que a casa vai cair. Quem sabe a gente não faz o segundo livro daí?

NVU O que podemos esperar do próxi‑mo livro? Vai ser mais bombástico que o primeiro? O senhor tem uma previsão para lançamento?ARJ Do jeito que eles estão mani-pulando as coisas, vai ter que ser. Vamos ver se sai até o final do ano. Eu até estava trabalhando em outro

projeto de livro, mas essas pessoas começaram a me provocar. Uma questão muito esquisita, por exem-plo, é a tal da Lista de Furnas (um documento central sobre a distribui-ção de mensalão a tucanos). Recen-temente teve um depoimento em jornal de Belo Horizonte no qual um deputado (estadual) do PMDB (Antônio Júlio) disse que recebeu dinheiro sim e que a lista é verdadei-ra. Roberto Jefferson (ex-deputado federal) já havia dito isso. A (revista) Veja inclusive fez uma matéria, mas o que ela não disse é que o laudo final da Polícia Federal afirma que a Lista de Furnas é verdadeira. A Veja sempre tenta distorcer. A re-vista pegou o primeiro laudo, que era de uma xerox, e mandou fazer um laudo para tentar desqualificar. Mas o processo está no Ministério Público. O relatório final da Polícia Federal diz que houve mesmo esse pagamento de Furnas para o tuca-nato. Perceba que a Veja sempre cria uma contra informação para tentar desmistificar. Então esse negócio de Furnas é outra denúncia que está para explodir. Não vai ficar do jeito que eles querem.

NVU Finalmente, quem é o José Serra para o senhor?ARJ O Serra é um cara que pare-cia não ter nada com tudo isso, mas todas as pessoas envolvidas no caso têm uma ligação com ele: ou é genro, ou é filha, ou é ex-sócio, ou é primo. A figura dele mesmo não aparece. Ele mora numa casa que a filha comprou, o que já é estranhíssimo. A casa está no nome da Verônica, segundo o cartório e os documentos. Então embora ele não apareça, todas as pessoas envolvidas no livro são li-gadas a ele. E é sempre assim que acontece. Quando se vai investi-gar algo desse tipo, principalmen-te com políticos, não se encontra nada no nome deles. Mesmo com o Ricardo Teixeira (presidente da CBF), que é um amador, você en-contra coisas no nome do irmão. Então você deve procurar investi-gar as pessoas próximas. O Serra

O Serra é um cara que parecia não

ter nada com tudo isso, mas

todas as pessoas envolvidas no caso têm uma

ligação com ele: ou é genro,

ou é filha, ou é ex‑sócio, ou

é primo(...)Então embora

ele não apareça, todas as pessoas

envolvidas no livro são ligadas

a ele

José Serra, ex-ministro de Planejamento do governo FHC.

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não aparece diretamente, mas tem uma teia de pessoas ligadas a ele que aparecem em tudo.

NVU O senhor foi acusado de ter obtido os documentos de A Privataria Tucana de for‑ma ilícita. Houve algum desdobramento dessa acusação? ARJ Todos os documentos são le-gais. A questão é que há uns idio-tas dizendo: “Se é legal, por que ninguém havia ido atrás? Se qual-quer um pode obter é porque não tem importância”. Ué?! Não é isso. Tem que saber como pegar esses documentos. É um processo, tem investigação, um cartório tira os documentos. Isso tudo está explica-do no livro. Tanto é que eu mostro com documentos que as pessoas envolvidas já tinham tido seu sigilo quebrado em processo de justiça. O próprio Ricardo Sérgio de Oliveira (ex-diretor da Área Internacional do Banco do Brasil), o genro do Ser-ra (Alexandre Bourgeois) e outros citados no livro. Aquilo (denúncia em 2010 de que Amaury teria su-postamente encomendado a que-bra dos sigilos fiscais de alguns tu-canos) foi uma coisa que tentaram me envolver para inverter o jogo da campanha. Para você ter ideia, fui depor na Polícia Federal, dei qua-tro depoimentos, e nunca falei que tinha encomendado esses atos, só que a imprensa chegou ao cúmulo de mudar o depoimento que eu dei na Polícia Federal. Foi divulgado que eu havia confessado que tinha encomendado. Mudaram um de-poimento público e publicado. O que esperar dessas pessoas? En-tão foi uma coisa eleitoral e o in-diciamento não evoluiu, não virou denúncia. Foi tão eleitoral que um dia depois da eleição ninguém fa-lava mais nisso.

NVU Confirma que teve dificuldade em publicar denúncias antes? Em que veículo isso ocorreu? ARJ Algumas coisas eu já havia conseguido publicar, outras não. No jornal O Globo eu não conse-gui. As organizações Globo sempre foram beneficiadas com esses ne-

NVU diante dessa “resistência”, como avalia o engajamento da grande mídia no jogo dos tucanos? ARJ Muitos veículos adquiriram parte dos consórcios das empresas de telecomunicações. Eles sempre foram privilegiados. Temos o exem-plo de um processo que eu estou mexendo agora, o de privatização da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), uma novidade. Sobre isso posso adiantar que um grande veículo de comunicação devia bilhões a Light (distribuido-ra), e quando a Cemig comprou a Light essa dívida sumiu. Há outro processo que está em um trabalho que não é meu – mas já o vi e vai ser publicado em breve – envol-vendo um desses grandes veículos. Não vou citar o nome, mas é de um dos mais aguerridos em atacar a mim e a todo mundo. Trata-se de um documento apreendido na Operação Satiagraha, nos Estados Unidos, que mostra esse veículo como sócio do banco Oportunity, do Daniel Dantas. Precisa dizer mais alguma coisa? São sócios. Enfim, eles defendem ideologica-mente que são a favor de qualquer tipo de privatização, nem que não dê lucro, mas está bem claro no li-vro que o beneficiado na verdade

Para você ter ideia, fui depor

na Polícia Federal, dei quatro

depoimentos, e nunca falei

que tinha encomendado esses atos, só

que a imprensa chegou ao cúmulo

de mudar o depoimento que

eu deigócios. Mas consegui publicar uma matéria no Jornal do Brasil sobre o Ricardo Sérgio. Também publiquei muita coisa na (revista) ISTOÉ. Mas esses documentos apresenta-dos no livro são inéditos. Não havia publicado em lugar nenhum.

Os jornalistas Paulo Henrique Amorim e Amaury Ribeiro Jr em lançamento oficial do livro A Privataria Tucana, em São Paulo.

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não é o partido ou algum projeto político, e sim as pessoas do pró-prio partido. O que eu publiquei é uma coisa muito pequena perto do que vai vir à tona se for instaurada a CPI das privatizações.

NVU Como está o processo de instaura‑ção desta CPI?ARJ O deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) já protocolou mais de duzentas assinaturas. Mas já havia outros seis pedidos de CPI na frente, protocoladas. Vai ficar muito mal se o governo do PT não abrir essa CPI, até porque as mes-mas redes sociais que divulgaram o meu livro, vão fazer campanha para cobrar isso. Dia 6 de feverei-ro, um dia antes da abertura do Congresso, vai começar uma mar-cha pela CPI em Belo Horizonte, na Assembleia. Será o lançamento do meu livro e a abertura da cam-panha pela CPI. Tenho certeza que as mesmas redes sociais que impe-diram a mídia de ocultar e desqua-lificar o meu trabalho, vão estar atentas para pressionar a abertura da CPI. Elas estão comprometidas com essa ideia. Acho que teremos um painel igual ao das Diretas Já. Não vamos deixar esse negócio se transformar numa grande pizza, porque vai ficar muito feio para o País. Ninguém aguenta mais es-ses desaforos. Chegou a hora de apurar. Se os caras são inocentes, então porque estão com medo? Se não houver CPI, vai ficar muito claro que trata-se de um acordão igual ao da época do Banestado.

NVU E a posição do Ministério Público a partir das denúncias? Como acha que ele vai proceder nesse novo cenário?ARJ É o seguinte: já deveria ter sido aberto processo. Não sei o que está acontecendo. Já há fatos novos. O processo de privatização, na época, resultou em um processo criminal e dois de improbidade administrativa; um movido pelo procurador (da Re-pública) Luís Francisco; e o outro pelo Rogério Nascimento (procura-dor regional eleitoral). O processo do Rogério Nascimento, por sinal,

NVU Apesar de o senhor ter apresentado documentos que provam as suas denún‑cias, ainda há quem diga que esse ma‑terial não tem nenhuma conexão com o processo de privatização. ARJ Isso é de um cinismo, de uma hipocrisia sem precedentes. Quem especulou isso foi a Folha de São Paulo, mas ninguém teve coragem de assinar a matéria. Texto feito pelo dono do jornal. O Ricardo Sérgio, piloto dos consórcios das privatizações, recebe dinheiro da empresa que foi beneficiada no processo das telecomunicações, num paraíso fiscal, através de uma rede de doleiros sujos. Quer prova maior que essa? Ele recebe muita grana, muito dinheiro lá fora, da mesma rede de doleiros sujos do primo do Serra (Gregório Marin Preciado, empresário espanhol na-turalizado brasileiro), que levou o consórcio para o grupo espanhol Iberdrola. Então é uma hipocrisia muito grande.

NVU E o que acha das denúncias feitas (pela oposição) contra o governo? ARJ Se você analisar as denúncias que derrubaram o Antonio Palocci (ex-chefe da casa civil no Governo Dilma, acusado de suposto enri-quecimento ilícito), por exemplo, vai ver que ali não havia ligação com nada, mas eles afirmam que tinha. Esses cínicos, “serristas”, tucanos. Só que ficou muito feio para eles. Caiu no ridículo. Nin-guém leva a sério. Tem matéria que virou análise de vários soció-logos, antropólogos, cineastas, ou seja, de gente intelectual. Para se ter uma ideia, os livros lançados contra o Lula não têm base em nenhum documento, não possuem prova nenhuma. Um bando de coisas pessoais, rasteiras. E isso para eles tem valor. São cínicos, não têm argumento. Quem escre-veu que meu livro não prova nada é gente medíocre. E isso vai sujar ainda mais a página deles. Aí você pode me perguntar: “Por que eles estão falando que os documentos não provam nada?” Porque meu livro trata da posição de cada um

O deputado federal Protógenes

Queiroz já protocolou mais

de duzentas assinaturas. Mas já havia outros seis pedidos de CPI na frente,

protocoladas. Vai ficar muito mal se

o governo do PT não abrir essa CPI

foi muito bem estudado, muito bem estruturado, mas foi arquivado ano passado sem que fosse julgado, nem analisado. Foi assim que aca-bou. Se há fatos novos, é óbvio que o processo deve ser reaberto. Se não for aberto eu vou entrar com uma representação na Polícia Fe-deral e no Ministério Público para que abram as investigações. Qual-quer cidadão pode fazer isso.

Protógenes Queiroz, deputado federal

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desses veículos, do papel ridículo que eles tiveram na eleição. Eles tiveram que me engolir porque o livro é um sucesso, um dos mais vendidos em todo o País, fenô-meno editorial. As pessoas leem, acham um trabalho bem escrito, que trata de um problema de lava-gem de dinheiro numa linguagem que o povo tem elogiado, gente de todos os lugares. E virou febre no Nordeste; virou até música de cordel, ou seja, até os artistas po-pulares entenderam o livro; virou vídeo game, enfim, um fenômeno. Os caras que eu cito no livro são uns medíocres.

NVU Poderia citar algum desses críticos? ARJ Entre eles está o Merval Pe-reira (jornalista de O Globo), que foi meu diretor no Globo e hoje fica me acusando. No passado ele me elogiava, dizia que os melhores trabalhos no Globo eram meus. Coitado, publicou um livro de ar-tigos muito mal escrito. Meu filho de 8 anos escreve melhor que ele. Aquilo não tem parágrafo, não tem nada. Então ficam duas, três pes-soas falando mal, contra uma mul-tidão que me elogia, gente até do próprio PSDB, perplexa com tan-tos desmandos, tanta coisa errada. Então vamos abrir a CPI, vamos investigar tudo isso.

NVU Amaury, o livro A Privataria Tucana é fruto de 12 anos de pesquisa. Como foi esse processo?ARJ Começou no final da década de 1990, início do século, quan-do surgiram as primeiras notícias de que haveria cobrança de pro-pina nas privatizações. Na época, eu trabalhava no jornal O Globo e comecei a seguir o caminho des-se dinheiro. Em 2003 eu estava na ISTOÉ e escrevi sobre o caso Banestado, foi quando o Ricardo Sérgio moveu um processo con-tra mim. O Ricardo foi o grande artesão das privatizações, grande articulador tucano, ex-tesoureiro de campanha do José Serra e do Fernando Henrique Cardoso. Era ele quem pilotava os consór-

do) foi obrigado a entregar para o juiz todas as propinas que ele tinha recebido de grupos ligados às telecomunicações.

NVU Poderia fazer uma síntese da dinâ‑mica do Ricardo Sérgio de Oliveira como personagem chave no processo da priva‑tização tucana? ARJ Ele tinha o poder. Como nin-guém tinha como entrar com di-nheiro do próprio bolso, então usa-va-se o público, e o Ricardo Sérgio tinha o papel de direcionar a Previ (fundo de pensão do Banco do Bra-sil), como está nos processos de improbidade administrativa movi-dos pelo Ministério Público. Tinha um homem dele dentro da Previ, o presidente João Bosco Madeiro da Costa, então ele tinha o poder de negociar quem a Previ ia fechar. Esse era o primeiro papel dele. O outro papel que ele detinha era o de cadastrar. Para se habilitar nos consórcios, os grupos precisavam de carta fiança do Banco do Brasil, e quem dava a carta fiança tanto para o grupo dos Jereissati, quan-to para o Oportunity era o Ricardo Sérgio. Mas o processo dele vem de muito antes. Ricardo Sérgio, como diretor do Banco do Brasil, assinou uma portaria que abriu o duto do Banestado, permitindo o envio de dinheiro sujo para os ban-cos de Nova Iorque. Ele está den-tro das operações desde a época do Banestado. Documentalmente, tudo isso está provado.

NVU O livro também cita outros nomes. ARJ Sim, aparece, por exemplo, em documento, o pagamento do Carlos Jereissati (participante do consórcio que arrematou a Tele Norte Leste, antiga Telemar, hoje OI) ao Ricardo Sérgio, que era de fato o cara motor do consórcio. Teve também o caso da privatiza-ção da Companhia de Eletricida-de do Estado da Bahia (Coelba). O primo do Serra, articulador do grupo espanhol Iberdrola na priva-tização da estatal, pagou ao Ricar-do Sérgio, que favoreceu o grupo. E assim por diante. Em 2008, fui

cios. Quando a CPMI acabou em acordão, entrei com um processo para me defender, pois ele já mo-via um processo contra mim. Na realidade, pedi para o juiz obter os documentos necessários para eu provar que estava falando a verdade. E embora a CPMI tives-se feito um acordo, o Antero Paes de Barros (senador do PSDB, presidente da CPMI do Banesta-

Para se habilitar nos consórcios, os

grupos precisavam de carta fiança do

Banco do Brasil, e quem dava a

carta fiança tanto para o grupo dos

Jereissati, quanto para o Oportunity (banco do Daniel

Dantas) era o Ricardo Sérgio

Ricardo Sérgio, ex-diretor da Área Internacional do Banco do Brasil

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www.nordestevinteum.com.br Janeiro/201225

Page 26: Nordeste VinteUM Edição

seguir o dinheiro do banqueiro Daniel Dantas (Amaury denuncia uma sociedade entre Verônica Ser-ra, filha do ex-governador Serra, e Verônica Dantas, irmã de Daniel Dantas). Então foi um processo aprofundado. Penso em continuar o trabalho no próximo livro.

NVU Mas se os documentos são de uma CPI e o relator era do PT, por que essa investigação não ocorreu na época? Por que não foram tomadas as providências? ARJ Vamos lembrar o que aconte-ceu. O José Mentor (deputado pe-tista) assinou a CPI, e está dizendo por aí que o Antero Paes de Barros proibiu e dificultou os trabalhos. Mas não foi bem assim. Eu acho que começou a chegar muita coisa no PT também. Eles quiseram blin-dar o Henrique Meireles, que nem petista era, mas era o presidente do Banco Central. Aí começou a aparecer o Meireles operando com uma rede de doleiros sujos; come-çaram a aparecer as transações do Marcos Valério; começaram as do Duda Mendonça. O presidente do Banco do Brasil durante o governo (Cássio Casseb) era um cara que também operava com doleiro sujo. Este foi demitido. Veja: um banco estatal trabalhando com doleiro sujo. Mas o caso do Meireles foi blindado. Inclusive a matéria foi feita por colegas meus da ISTOÉ, a Sônia Filgueiras e o Weiller Diniz. Eles fizeram a matéria e ganharam o prêmio Esso de Economia, con-tando as transações nebulosas do presidente do Banco Central.

NVU No livro, o senhor afirma que go‑verno, oposição, narcotráfico, futebol, todos usam as mesmas lavanderias para lavagem de dinheiro. ARJ Há uma verdadeira lavande-ria no Brasil. Se o presidente do Banco Central usa um duto sujo como esse, o que esperar do mun-do? Quando eu quis fazer o livro, essa coisa da política não era a questão, mas acabou entrando. Minha questão era mostrar os me-canismos de lavagem de dinheiro e tentar coibir a sua entrada, bem

que entrava era dinheiro sujo, que saia por uma rota de doleiros e entrava por operações casadas na Bolsa. O livro explica isso muito bem. Mostra que o mesmo mé-todo usado pelo senhor Ricardo Teixeira, pelo senhor Paulo Maluf (deputado federal), pelo Fernan-do Beira Mar (traficante), é usado pelo tucanato. Eles tentam dar uma roupagem de sofisticação, mas é a mesma coisa. Operações até amadoras, ridículas. O que se precisa fazer é discutir a questão da lavagem de dinheiro. O mundo está preocupado com isso.

NVU O senhor acredita que na última década houve uma maior atenção a essa problemática dos paraísos fiscais? ARJ Pouco antes do ataque às torres gêmeas (Estados Unidos, 2001), todo mundo tinha dinheiro em paraíso fiscal e isso era sinô-nimo de impunidade. Aí descobri-ram que estavam lavando dinheiro de Serra Leoa (África Ocidental), dos diamantes; vieram então os atentados, e aí endureceram, cria-ram no mundo mecanismos para coibir essas operações de lavagem de dinheiro. O caso do Banestado é o maior de que se tem notícia e isso eu ouvia nos Estados Uni-dos. Fiquei seis meses lá em Nova Iorque, investigando. Trata-se do maior caso de lavagem de dinhei-ro do mundo. Então eu, policiais federais, os peritos federais, e a promotoria de Nova Iorque, con-seguimos desmontar e ver como é esse sistema de lavagem de di-nheiro mega milionário. Agora não se vai tomar medida? Tem que se mudar primeiro. Sobre esse ne-gócio de ficar entrando empresa offshore (termo em inglês, refe-rente a contas e empresas abertas em paraísos fiscais), está provado que é para ganhar dinheiro. Essas empresas são caixas postais, não são investidores que vêm para o Brasil. O meu livro explica exaus-tivamente e com exatidão essas operações e interações de dinhei-ro, justamente para fazer as pes-soas entenderem.

Há uma verdadeira lavanderia no Brasil.

Se o presidente do Banco Central

(Henrique Meireles, ex‑presidente) usa um duto sujo como

esse, o que esperar do mundo? Quando eu

quis fazer o livro, essa coisa da política não era a questão, mas acabou entrando

como mudar a legislação, a lei para lavagem de dinheiro, mudar essas questões para evitar esse tipo de crime. Isso faz mal para o País. Queria endurecer essas operações casadas na Bolsa de Valores, flexibilizadas no governo Fernando Henrique Cardoso com pretexto de atrair capital de in-vestidor. Na verdade, todo capital

Janeiro/2012 www.nordestevinteum.com.br26

Page 27: Nordeste VinteUM Edição

a tradição das festas populares bra-sileiras, inscreve-se com relevo a Folia dos Santos Reis, ainda pre-sente em várias regiões do Brasil,

especialmente no Centro-Oeste e estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. A no-menclatura com que os brincantes se auto-denominam é variada: Folia de Reis, Compa-nhia de Reis, Caravana de Reis, Guarda de Reis, Terno de Santos Reis, Terno de Adora-ção dos Três Reis, Grupo de Santos Reis etc. Reisado é a denomi-nação que se estabe-leceu para os grupos que festejam as perso-nagens bíblicas durante o período pós-natalino no Nordeste.

Com efeito, a festa deriva do relato bíblico da visitação dos três reis que levaram presentes ao Menino recémnasci-do, Salvador da humani-dade. Registra o autor do livro Legenda Aurea, do século XIII, sobre vidas de santos, que quando do nascimento do Senhor, foram a Jerusalém três magos, chamados em hebraico Apelio, Amerio e Da-masco; em grego estes seriam Galgalar, Mal-galat e Sarathim. Em latim são os magos Gas-par, Baltasar e Melquior, conforme nos legou a tradição católica. Homens justos e deten-tores de grande saber, por isso chamados magos, eles seriam descendentes de Balaão, profeta apontado como autor do anúncio, no Antigo Testamento, segundo o qual “uma es-trela se erguerá sobre Jacó e um Homem sai-rá de Israel”. Ou seja, na plenitude dos tem-pos nasceria o Filho de Deus.

Consoante ensina o folclorista Carlos Pe-

droso, as Folias de Reis ou Companhias de Santos são originárias de quatro fontes, quais sejam: o capítulo 2 do Evangelho de São Ma-teus; a Festa da Epifania, celebrada no dia 6 de janeiro; os “Autos” apresentados à porta das Igrejas, na Idade Média, especialmente o “Auto dos Reis Magos”, do século XVI, de autoria do poeta português Gil Vicente; e os presépios de São Francisco.

Essa crença é lembrada em veneração festiva em vários países do mundo cristão e,

entre nós, ganhou feição folclórica porque adentrou no imaginário popular com força mística e ga-nhou corpo nas expressões da re-ligiosidade do povo. Já nos come-ços do século XIX, Saint Hilaire dá conta de uma folia de reis (ou bandeiras do Divino, como chama Mello Morais Filho em Festas e Tradições Populares do Brasil) no sertão de Mato Grosso (Viagem às Nascentes do Rio São Francisco e pela Província de Goiás).

As Folias de Reis sempre prece-dem a Festa da Epifania e são realizadas nos dias hodiernos e por comunidades do interior do Brasil, notadamente em áreas rurais, so-bretudo as que praticam o catolicismo popu-lar. Herança que nos foi legada pelo coloni-zador português, os grupos são compostos de várias personagens tradicionais, como o capi-tão, o alferes e os palhaços, que representam os soldados de Herodes, destinados, segundo o relato bíblico, a matar o Menino Jesus. Es-tes, às vezes mascarados, costumam assustar as crianças durante a apresentação. Câmara Cascudo lembra que “essas folias têm versos próprios para pedir, agradecer e retirar-se, dando as despedidas”. A Festa dos Santos Reis encerra o ciclo dos festejos natalinos.

Essa crença é

lembrada em

veneração festiva

em vários países

do mundo cristão

Em Tese‑‑‑‑‑‑‑‑*Barros Alves

A folia dos Santos Reis

N

[email protected]

(*) Barros Alves é escritor, poeta e jornalista

www.nordestevinteum.com.br Janeiro/201227

Page 28: Nordeste VinteUM Edição

No vácuo e ausência das transformações estruturais historicamente requeridas, o Nordeste distanciou-se ao longo do tempo das possibilidades do planejamento e coordenação do desenvolvimento. Nesta segunda parte

da série “O Nordeste na caça ao desenvolvimento”, examinamos como, no ambiente contraditório das disparidades regionais, a região ingressou com o País na desastrosa era neoliberal e amargou as consequências da destrutiva política de exclusão do Estado e da privatização criminosa do

patrimônio público brasileiro — construído ao longo de décadas de labor de seu povo e transferido de modo fraudulento ao domínio privado pelas mãos

de uma quadrilha estruturada pelo tucanato.

Série Especial

Por Luiz Carlos [email protected]

Nordeste na caça ao desenvolvimento

O padrão liberal na década de 1990

Janeiro/2012 www.nordestevinteum.com.br28

Page 29: Nordeste VinteUM Edição

De acordo com uma corren-te dos estudiosos do tema que envolve a política econômica e a questão regional brasileira, os efeitos mais visíveis da opção adotada nos anos 1990 consisti-ram na perda de capacidade do Estado para intervir na economia em favor do (re) equacionamen-to do modelo de crescimento. A definição da intervenção estatal no rumo de um “estado mínimo” produziu duradouros efeitos co-laterais com resultados negativos ao tratamento das questões so-ciais e impulso do mercado inter-no — com graves repercussões na desigualdade entre regiões, suas economias e populações.

Nas opções de política eco-nômica, após uma trajetória que compreendeu décadas e a criação de instituições, políticas e ins-trumentos voltados para acelerar o desenvolvimento das regiões menos desenvolvidas, a coorde-nação estatal foi inoculada como dispositivo indutor de trajetórias de crescimento nas economias regionais, em uma ruptura com o desempenho precedente.

As taxas de crescimento dos PIBs (produtos internos brutos) regionais, (ver tabela), evidenciam a trajetória da política regional sob a coordenação estatal e o declínio do seu desempenho na vigência do modelo liberal.

As taxas de crescimento dos PIBs (produtos

internos brutos) regionais evidenciam

a trajetória da política regional sob

a coordenação estatal e o declínio do seu

desempenho na vigência do modelo liberal

o caso brasileiro — na contramão dos propósitos de inserção soberana do País e distanciando-se das saídas no padrão asiático — o ajuste da economia à globalização na década de 1990 obedeceu aos princípios eco-nômicos da tradição liberal, com o ocaso da coordenação estatal em face

da profunda crise fiscal e do endividamento, debilitando a capacidade nacional de enfrentar a desigualdade espacial do desenvolvimento.

NO padrão liberal na década de 1990

Taxas de Crescimento do Produto Interno Bruto, Total e per capita*Períodos Compreendidos entre 1960 e 2008

1960

1960

1970 1980 1990 2000 2008**

2008**

Fonte: dados brutos: IBGE e Bacen.* Taxas de crescimento obtidas por ajustamento de uma função exponencial. — * dados para 2000 a 2008.

1960 << — Auge da Política Regional — >> 1989Reformas

1990 << — Liberais — >> 2002Novo Ativismo

Fiscal 2003 << – >> 2008

<< Política Regional em 5 Décadas >>

Déc

adas

Per

iód

os

PIB TotalPIB per capita

BrasilNordeste

4,9%

8,5%

3,1% 2,8%3,7%

2,0%

5,8%

0,9% 1,3%2,4%

8,5%

3,5% 2,%3,3%

6,2%

1,5% 1,7%2,4%

3,0%

0,6%

6,4%

2,3 %

2,6%

4,7%3,8%

2,1 %

1,1%

3,7%

5,9%

4,3 %

2,8%

5,3%

3,6%

4,2 %

1,6%

4,2%

www.nordestevinteum.com.br Janeiro/201229

Page 30: Nordeste VinteUM Edição

Este diagnóstico do compor-tamento da economia nordestina no período 1960 - 2008 revela uma dinâmica de expansão em patamar semelhante à média na-cional, comparando-se a taxa de crescimento anual médio do PIB, no período, de 4,2% para o Nor-deste contra 4,3% para o Brasil e de 5,9% e 6,4% (auge), respecti-vamente. E uma fase (2003-2008, de “novo ativismo fiscal”) de maior recuperação, no qual o Nordeste exibe um desempenho (5,3%) su-perior ao do País (4,7%).

Na década de 1970, verifica-se a colheita dos estímulos das políti-cas de incentivos fiscais converti-dos em investimentos na indústria regional e suas repercussões no crescimento econômico, em um elevado patamar de 8,5% ao ano para o Nordeste e para o Brasil, no auge do chamado “milagre econô-mico” — momento no qual a con-centração da renda atingiu o pa-roxismo com graves repercussões sociais no País e nas suas regiões.

Entretanto, apesar dos inegá-veis avanços dos últimos 50 anos no País e na região, o Nordeste permaneceria — relativamente às demais regiões — com uma parti-cipação de longo prazo no produto nacional constante e bem inferior ao peso da sua população (próxima aos 30% do perfil nacional).

Em consequência, isso se re-fletiria, do ponto de vista macroe-conômico, na sua baixa produti-vidade e renda per capita regional média, que permaneceria abai-xo da metade da renda nacional (47%) — também mantida desde os anos 1950, e que se relaciona-ria, por sua vez, ao menor nível de poupança e investimento regional, e de remuneração.

Do mesmo modo que para ou-tras regiões do País, no Nordeste a mera expansão da atividade econô-mica não produziria em si modifi-cações substanciais nas estruturas sociais oriundas do seu deplorável

Resumidamente, os 12 anos (1990-2002) de experimentos li-beralizantes produziram taxas de expansão das economias regio-nais inferiores àquelas observa-das na fase de declínio (1980-89) do período desenvolvimentista da intervenção estatal na questão regional brasileira.

À medida que o modelo se aprofundou, as taxas rumaram ao declínio: nos anos iniciais da dé-cada de 1990 (entre 1990 e 1994) quando o modelo ainda não se consolidara, as taxas foram em mé-dia superiores às seguintes.

Constatar-se-ia de um modo geral mínima discordância entre os estudiosos da questão regional brasileira: é praticamente consen-sual a conclusão de que, até me-ados dos anos 1980, o processo

Apesar dos inegáveis avanços dos últimos 50 anos no País e na região, o Nordeste permaneceria com uma participação

no produto nacional bem inferior ao peso

da sua população (próxima aos 30% do

perfil nacional)

passado colonial, refletidas nos in-dicadores do mercado de trabalho restrito, desigual e precário; misé-ria e pobreza, analfabetismo e des-nutrição em “moderna” convivên-cia estrutural com a concentração da riqueza e da renda — fenôme-nos contemporâneos persistentes.

A mesma linha de análise in-forma também que, não obstante um comportamento produtivo médio positivo no período recen-te, a Região Nordeste permane-ceria com uma parcela constante no PIB nacional em torno dos 13% (1ver tabela abaixo).

PIB preço de mercado (1995-2009) (1)

Nordeste e Brasil

AnosPIB (Em R$ milhões) (%) Variação anual (%)

Nordeste Brasil NE/BR NE BR

1995 84.970 705.641 12,0 - -

1996 105.223 843.966 12,5 23,8 19,6

1997 116.981 939.147 12,5 11,2 11,3

1998 121.901 979.276 12,4 4,2 4,3

1999 132.577 1.065.000 12,4 8,8 8,8

2000 146.827 1.179.482 12,4 10,7 10,7

2001 163.465 1.302.135 12,6 11,3 10,4

2002 191.592 1.477.822 13,0 17,2 13,5

2003 217.037 1.699.948 12,8 13,3 15,0

2004 247.043 1.941.498 12,7 13,8 14,2

2005 280.545 2.147.239 13,1 13,6 10,6

2006 311.104 2.369.484 13,1 10,9 10,4

2007 347.797 2.661.345 13,1 11,8 12,3

2008 397.593 3.031.864 13,1 14,3 13,9

Fonte: Contas Regionais e Nacionais do Brasil 2008 – IBGE

Janeiro/2012 www.nordestevinteum.com.br30

Page 31: Nordeste VinteUM Edição

o atual século evidenciou-se a diferença entre os padrões de interven-ção estatal das décadas de 1960-80 e o da fase 1990-2002.

Neste último período, as tentativas de resolução da crise fiscal e financeira do Estado, aprofundaram, ao invés de reduzir ou conter, o potencial explosivo das dificuldades ocasionadas e de uma vasta pauta de reivindicações oriundas de diversificadas origens.

A política econômica determinou o baixo crescimento aos estados da Fede-ração, negando-lhes simultaneamente a capacidade de criar alternativas fiscais para a expansão das demandas agregadas estaduais. A política de câmbio e de juros elevados desfez continuamente os resultados do ajuste fiscal e a dívida pú-blica manteve-se em crescimento, promovendo uma instabilidade macroeco-nômica indiferente à “estabilidade de preços”.

Crises financeiras interna-cionais envolveram o México em 1995 e o Sudeste da Ásia (Hong Kong, Coreia do Sul, Tailândia e Indonésia) em 1998, as quais pro-vocaram vastos prejuízos ao Brasil em decorrência do novo modelo de total liberalização do movimen-to de entradas e saídas de capitais.

No ano 2000 a política fiscal destinada a uma nova e definitiva restrição aos gastos governamen-tais foi novamente “aprimorada”, travando de vez os investimentos econômicos e sociais. Surge a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que determinou aos estados uma rígida disciplina fiscal e o cumpri-mento de um regime de superávits fiscais limitador do gasto como ativador da demanda agregada — férrea disciplina não aplicável ao Banco Central.

Frustrou-se o processo de descentralização de recursos, le-gitimado na Constituição de 1988, pela via da crescente parcela reti-da pelo governo federal mediante a Desvinculação de Recursos da União (DRU) e pelo crescimento dos gastos improdutivos obrigatórios de estados e municípios com despesas da dívida (juros, encargos e amortizações).

O Nordeste acusou o golpe deste ambiente restritivo, que repercutiu sobre os instrumentos da política regional: os fundos fiscais – Finam (Fundo de In-vestimentos da Amazônia) e Finor (Fundo de Investimentos do Nordeste) – e os fundos constitucionais – FCO (Financiamento do Centro-Oeste), FNE (Fede-ração Nacional da Educação) e FNO (Fundo Constitucional de Financiamento

A ruptura da intervenção estatal e a

equação liberal (1990-2002)

de desconcentração produtiva e de convergência das rendas per capita regionais ainda estava em curso, como resultado dos efeitos favoráveis das políticas implemen-tadas nas décadas de 1960, 1970 e início dos anos 1980. Tais efeitos, contudo, tornaram-se mais eviden-tes após os impactos perversos da crise da dívida externa.

Com a criação de fortes restri-ções sobre a política econômica, ocorreu substancial redução da ca-pacidade de determinação do Esta-do sobre o crescimento econômico regional — e os sinais de redução das disparidades se tornaram gra-dualmente mais débeis.

Tanto o processo de descon-centração produtiva quanto a convergência das rendas per ca-pita regionais foram prejudicados e adicionalmente verificou-se o enfraquecimento dos laços os quais, não obstante suas contra-dições, integravam as diversas regiões do País em torno do mer-cado nacional.

A trajetória predominante no

país entre 1990‑2002 abdicou da coordenação

do crescimento, introduzindo na agenda nacional

um comprometedor processo de

privatizações e a deterioração dos

principais instrumentos e instituições da política regional

Com a criação de fortes restrições sobre a

política econômica, ocorreu substancial

redução da capacidade de determinação do Estado sobre o

crescimento econômico regional — e os sinais de redução

das disparidades se tornaram gradualmente

mais débeis

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Page 32: Nordeste VinteUM Edição

do Norte) – foram impactados em sua destinação de fomento à atividade econômica nas regiões marcadas pe-las assimetrias do desenvolvimento.

Tais dispositivos apresentaram uma significativa relevância — em es-pecial nos anos de 1960 e 1980 — no fomento aos incentivos, a exemplo do mecanismo 34/18, ao lado dos fundos fiscais, e uma ação preponderante so-matizada por organismos como Dnocs ( Departamento Nacional de Obras Contras as Secas), Codevasf ( Compa-nhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), Sudene (Superintendência do Desenvolvi-mento do Nordeste) e BNB (Bando do Nordeste). Sua vigência valorizou-se a partir das proposições dispostas na Constituição de 1988, que instituiu os fundos constitucionais, drenando mais recursos para as regiões.

No ciclo da intervenção governa-mental dos anos 1990, foram golpea-dos os fundamentos da coordenação de Estado para o desenvolvimento nacional que — não obstante as con-tradições e diferenças políticas e ide-ológicas entre os governos do perío-do 1960-80 — direcionava a geração de fundos públicos a políticas de gas-tos voltadas para a modernização das estruturas produtivas.

As crescentes receitas tributárias rumaram sobretudo para o pagamento de juros a credores nacionais e inter-nacionais da dívida pública — um dis-positivo ainda atual —, desviando-se o gasto público antes voltado para o es-tímulo de atividades produtivas.

A trajetória predominante no País entre 1990-2002 abdicou da coordenação do crescimento, in-troduzindo na agenda nacional um comprometedor processo de privati-zações e a deterioração dos principais instrumentos e instituições da política regional. O paroxismo das disparida-des regionais não se afirmou de modo generalizado porque se frustrou a ple-na realização da estratégia liberal.

Em suma, as novas formas de coordenação do Estado surgidas neste período (em especial com a nova abertura comercial, financeira e das privatizações) e as opções de política econômica (com o câmbio

A coordenação estatal e a

valorizado e os juros elevados) tor-naram mais agudas a crise fiscal e financeira do setor público.

No enfoque da questão regio-nal, o ambiente ocasionado pelas reformas institucionais favoreceu o acirramento da guerra fiscal entre unidades da federação e inviabili-zou os principais instrumentos de desenvolvimento regional, reduzin-do a capacidade de implementação de políticas setoriais necessárias ao desenvolvimento das regiões.

Os acordos realizados entre a União e os governos estaduais para a renegociação da dívida, os quais en-volveram as privatizações aceleradas de ativos públicos — empresas de te-lecomunicações, de saneamento e de transportes, e até os bancos estadu-ais —, geraram um elevado compro-metimento de receitas fiscais com o pagamento de dívidas contraídas.

Enfim, as amarras criadas pelo governo federal para conter a descen-tralização fiscal em curso retiraram dos governos estaduais a capacidade de execução do gasto público como elemento de ativação do crescimento econômico, acentuando adicional-mente as assimetrias regionais.

As amarras criadas pelo governo

federal para conter a descentralização fiscal retiraram dos governos estaduais

a capacidade de execução do gasto

público como elemento de ativação

do crescimento econômico

ênfase contemporâ-nea no aspecto da coordenação estatal

— essencial ao planeja-mento estratégico do de-senvolvimento na relação com a ruptura das estrutu-ras de atraso —, baliza-se desde as flutuações, nas últimas cinco décadas, das políticas e medidas do combate às desigualdades regionais, mediadas em es-pecial pela instabilidade do sistema político e por um gradual esvaziamento de nexos e identidades, objeti-vos, meios e instrumentos.

Decorreu daí um quadro de obstáculos ao planeja-mento sustentado de longo curso: a concentração espa-cial, a descontinuidade ad-ministrativa, a valorização do patrimonialismo, do fisio-logismo ou do clientelismo sobre as necessidades sociais na definição das metas, na incidência da frustração das políticas públicas em prejuí-zo do desenvolvimento.

questão regional no Século XXI

Janeiro/2012 www.nordestevinteum.com.br32

Page 33: Nordeste VinteUM Edição

Para Aristides Monteiro, coor-denador do Projeto Brasil em De-senvolvimento, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) classificar-se-iam dois conjuntos de recursos para o crescimento regional, questionados quanto aos fatores de coordenação, superposi-ção de ações, qualidade dos resul-tados, com recursos para:

(1) Estímulo à atividade produtiva (notadamente incentivos fis-cais e créditos subsidiados ao setor privado), os quais opera-riam com a lógica do empre-endedor privado, tornando-se instrumentos da maior con-centração de recursos para a industrialização nas principais regiões metropolitanas e, de modo secundário, nas demais capitais nordestinas. Tais ins-trumentos — que permitiriam a renovação industrial no Nor-deste — também propicia-riam a elevada concentração espacial da atividade produti-va regional.

(2) Ampliação do capital social (educação, saúde, assistência social, cultura etc), mais con-sistentes nas últimas décadas, mas ainda rebaixados quanto aos padrões médios nacionais.

Nos dois níveis concluir-se-ia que os volumes de recursos cresceriam significativamente. Entretanto, sua origem não os vincularia a um planejamento sistemático e teriam sua ênfa-se comprometida por circuns-

A coordenação estatal e a

eficiência, eficácia e impactos de médio e longo prazo quanto aos ins-trumentos que seriam previstos no orçamento público.

Nos últimos anos, acentuando-se com as mudanças promovidas pelas gestões do período 2003-2010, as transferências fiscais constitucio-nais, de rendas, com os programas compensatórios (bolsa família, entre outros) e previdenciários (aposen-tadorias e aumento real do salário mínimo) elevariam a capacidade de demanda local e acarretariam a di-namização de alguns setores eco-nômicos, a exemplo do comércio e serviços, somados à administração pública e à agropecuária enquanto maiores empregadores regionais no setor formal.

Reforça-se a tese segundo a qual uma política estratégica e coordena-da de desenvolvimento pode reduzir desigualdades nas transferências go-vernamentais voltadas às demandas sociais na região (Saúde, Educação etc), e aos recursos destinados à pro-moção do investimento produtivo, fomentando um patamar médio de gasto público aproximado ao do País.

Neste gasto público, o Nordeste participou de modo mais destacado em 2010 nos índices da indústria e comércio, e serviços. Entretanto, a distanciada participação da agricul-tura — fundamental na interação

A ênfase da política no momento atual requer o foco na coordenação das ações e instrumentos para o desenvolvimento, buscando eficiência,

eficácia e impactos de médio e longo prazo

questão regional no Século XXI

No gasto público, a Região Nordeste participa de modo mais destacado em 2010 nos índices da indústria, comércio

e serviços

tâncias pontuais, carentes de coordenação e articulação, eco-nômica e socialmente pulveriza-das, com uma débil atenção aos efeitos da concentração intrar-regional e interpessoal da pro-dução afortunada.

A ênfase da política no mo-mento atual, nessas condições e nesta concepção, passaria a requerer o foco na coordenação das ações e instrumentos para o desenvolvimento, buscando

www.nordestevinteum.com.br Janeiro/201233

Page 34: Nordeste VinteUM Edição

De um modo geral, os efeitos de curto prazo dos maiores investimen-tos tenderiam a beneficiar regiões mais ricas, fornecedoras imediatas dos insumos requeridos e com uma base produtiva e de bens de capital mais consistente. É, contudo, in-consistente a expectativa de que as repercussões desses investimentos concentrados deságuem por si e ao

FUnção oRçAMEnTáRiA Norte Nordeste Centro-oeste sudeste sul Total

Assistência Social 93.007.121 514.544.816 395.640.010 3.119.138.628 658.840.494 4.781.171.069Saúde 201.147.455 820.279.946 837.900.309 8.951.216.963 1.521.887.110 12.332.431.782Trabalho 173.699.671 845.154.402 1.107.356.010 8.234.758.678 1.388.514.061 11.749.482.821Educação 202.630.734 580.935.607 389.286.720 3.053.852.444 853.227.699 5.079533.203Cultura 44.663.478 51.952.252 128.468.467 1.354.538.956 141.730.863 1.721.354.015direitos da Cidadania 12.681.833 79.511.806 57.144.307 863.541.763 160.978.978 1.173558.686Urbanismo

Habitação 67.483.952 262.390.896 167.081.019 1.883.988.797 376.790.748 2.757.735.411Saneamento 8.181.698 19.982.230 16.257.784 180.562.380 35.844.558 260.828.650Gestão Ambiental

Ciência e tecnologia 31.424.794 180.102.451 96.988.655 2.321.455.769 338.305.280 2.968276.949Agricultura 1.375.089.084 1.026.556.013 573.457.719 5.028.801.864 838.857.315 8.842.761.995organização Agrária 1.008.181 2.720.801 5.552.847 14.299.404 7.456.203 31.037.437indústria 7.343.798.224 5.244.851.471 769.628.248 6.725.007.595 2.254.138.176 22.337.423.715Comércio e Serviço 11.081.384.542 2.579.842.885 1.493.775.518 14.344.761.958 5.770.953.161 35.270.718.063Comunicações 528.284 4.093.303 0 70.686.424 22.707.960 98.015.971Energia 3.902.653 98.603.374 7.574.622 293.572.997 17.149.072 420.802.719Transporte 140.895.117 198.102.069 156.298.152 2.491.089.477 301.971.996 3.288.356.812desporto e lazer 10.244.896 26.707.275 43.985.796 584.135.649 96.165.699 761.239.315Encargos Especiais

Total 20.791.771.715 12.536.331.598 6.246.396.183 59.515.409.747 14.785.519.371 113.875.428.613

Arrecadação Estimada 11.777.597.424 31.124.282.045 61.515.321.289 391.311.830.168 64.198.770.852 559.927.801.778

PREVISÃO DOS GASTOS TRIBUTARIOS 2010 - POR FUNÇÃO ORÇAMENTARIA- REGIONALIZADO

Gastos públicos regionalizados por Função - 2010*(2)

mento das operações nos últimos anos, no Nordeste.

No caso do BNDES, a forte concentração de recursos (de 61% em 2005 e 2006) no Sudeste voltou gradualmente em 2009 ao patamar de 53% verificado em 2004, man-tendo ainda o perfil que compreen-de mais da metade dos seus investi-mentos (3ver tabela).

longo prazo para as sub-regiões mais pobres, desde a ênfase intrarregio-nal nas áreas mais dinâmicas.

Entre os dispositivos relevantes destaca-se a atuação de instituições de desenvolvimento nacional e re-gional, a exemplo do BNDES (Ban-co Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o BNB, que mostram um (diferenciado) au-

produtiva em um desenvolvimento mais equânime —, revela um dese-quilíbrio entre os setores da econo-mia a requerer privilegiada atenção quanto ao planejamento estratégico e estrutural do desenvolvimento.

Este desequilíbrio se reduz no Sudeste quando se trata de indús-tria e agricultura, impulsionado pela histórica vitalidade da eco-nomia em sua precedência sobre as demais regiões, mas é bastan-

te acentuado no Nordeste onde a indústria chega a apresentar, no que se refere ao Sudeste e ao Total, uma relação invertida com relação ao setor comércio e servi-ços (2ver tabela abaixo).

* A preços correntes

Janeiro/2012 www.nordestevinteum.com.br34

Page 35: Nordeste VinteUM Edição

Entretanto, a elevação dos in-vestimentos de 7% para 16% no Nordeste, no período de 2004 a 2009 ainda está muito aquém dos recursos dedicados ao Sudeste. Além disso, ainda que duplicando esses recursos, a ênfase restrin-giu-se basicamente aos investi-mentos direcionados ao complexo de Suape, no litoral pernambuca-no, no rumo tacitamente compar-tilhado pelas empresas estatais, notadamente a Petrobras, e pelo governo federal.

O Nordeste já conheceu, em gestões passadas, mais aguda in-diferença. Entretanto, a atuação do BNDES, uma expressiva fonte nacional de recursos para o estí-mulo ao desenvolvimento, resiste ao reconhecimento das fortes de-

empenho das gestões iniciadas em 2003 quanto aos investimentos estruturantes na região, quando se destaca projetos de maior por-te, a exemplo da Transnordestina ou da integração entre as bacias do rio São Francisco e do Nordes-te Setentrional.

Esses investimentos sugerem expectativas de impacto sobre as sub-regiões menos desenvolvidas, com a geração de emprego e renda — em um horizonte que apresen-taria um panorama diferenciado dos programas estritamente com-pensatórios emergenciais e previ-denciários, sob o estímulo de uma dinâmica produtivamente susten-tada na economia regional.

Abre-se também, entre as ex-pectativas colaterais das maiores obras, a tendência às mudanças quanto aos fluxos migratórios nas dimensões inter e intra-regional, com repercussões sobre a estrutura produtiva no território nordestino. Em consequência, o quadro das disparidades regionais neste início do século XXI apresenta indicado-res de uma realidade que polemiza com o perfil observado na segunda metade do século passado.

mandas do PNDR (Política Nacio-nal de Desenvolvimento Regional) em sua capacidade de promover a atenção estratégica ao imenso po-tencial das ações voltadas para o desenvolvimento regional.

Quanto ao BNB, em um qua-dro que deve apresentar mudanças no período mais recente — os re-cursos do FNE (Fundo Constitu-cional para Desenvolvimento do Nordeste), tomando-se apenas o ano de 2009, foram da ordem de R$ 9 bilhões (4ver gráficos abaixo).

Examina-se ainda, noutro as-pecto, a necessária correção de rumo da referida e quase genera-lizada tendência intrarregional à concentração do dinamismo no litoral ou nas capitais nordestinas.

Por outro ângulo, é evidente o

Financiamento do FNE-Banco do Nordeste - 2009 (4)

Valor (R$ milhões) Operações (mil)Maranhão

Piauí

Ceará

Rio Grande do NorteParaíba

Pernambuco

Alagoas

Sergipe

Bahia14,7%

17,7%

5,0%

7,5%6,0%

15,2%

5,2%

4,8%

19,6%1.342

1.619

460

683548

1.384

473

437

1.792

Maranhão

Piauí

Ceará

Rio Grande do NorteParaíba

Pernambuco

Alagoas

Sergipe

Bahia11,6%

18,2%

8,2%

5,8%6,6%

10,8%

6,1%

4,2%

17,9%44

69

31

2225

41

23

16

68

Fonte: BNB

Financiamento do BNDES (2004-2009) (3)

Fonte: Contas Regionais e Nacionais do Brasil 2008 – IBGE

Desembolso Anual do Sistema BNDES - R$ milhões / (%)

região 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Norte 1.954,10 5% 1.615,80 3% 1.625,80 3% 3.460,90 5% 4.951,80 5% 11.213,50 8%Nordeste 2.737,30 7% 3.803,00 8% 4.836,20 9% 5.322,10 8% 7.627,20 8% 22.067,30 16%Sudeste 21.299,20 53% 28.739,80 61% 31.414,60 61% 37.581,30 58% 51.010,10 56% 71.660,40 53%Sul 8.682,80 22% 9.551,00 20% 9.782,60 19% 12.772,90 20% 17.407,60 19% 20.677,10 15%Centro Oeste 5.160,50 13% 3.270,60 7% 3.658,80 7% 5.754,70 9% 9.881,30 11% 10.738,10 8%TOTAL 39.833,90 100% 46.980,20 100% 51.318,00 100% 64.891,80 100% 90.877,90 100% 136.356,40 100%

A Série “Nordeste na caça ao desenvolvimento” prossegue na próxima edição de Nordeste Vinte e Um, em sua terceira parte, com O planejamento necessário: novos horizontes

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Page 36: Nordeste VinteUM Edição

[email protected]

ACAdEMIA PERNAMBUCANA dE LETRAs TEM UMA MULhER NA PREsIdêNCIA

Pela primeira vez em 110 anos de história, a Academia Pernambucana de Letras elege uma mulher como presidente. A escritora e antropóloga Fátima Quintas assume o lugar que antes pertencia a Waldenio Porto. Fátima, além de escritora, é pesquisa-dora da Fundação Joaquim Nabuco e coordena o Instituto de Tropicologia da Fundação Gilberto Freyre. Sua obra mais recente foi o livro de contos “Espelho duplo”.

O Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), administrado pelo Insti-tuto Brasileiro de Museus (Ibram) e vinculado ao Ministério da Cultura, completa 75 anos de criação neste mês (dia 13). Localizada no Rio de Janeiro, a instituição conta com um acervo de cerca de 70 mil itens, distribuídos em um espaço de 13 mil m². Há pinturas, esculturas e arte sobre papel, além de outras coleções, dentre elas, arte decorativa, arte popular brasileira e estrangeira, inclusive a africana e a indígena.

MUsEU NACIoNAL dE BELAs ARTEs CoMEMoRA 75 ANos

“7 tesouros de São Luís”A Bureau Internacional de Capitais Culturais (www.ibocc.org) e

a Prefeitura de São Luís divulgaram no início deste mês, em Barce-lona (Espanha), os sete tesouros do Patrimônio Cultural Material de São Luís. Os monumentos foram escolhidos através de votação po-pular com cerca de seis mil votos de todo o Brasil. A disputa abran-geu 32 pontos turísticos. Os escolhidos foram: Azulejaria, Convento das Mercês, Igreja da Sé, Palácio dos Leões, Praça Gonçalves Dias, Rua Portugal e Teatro Artur Azevedo. Neste ano, a capital do Ma-ranhão completa 400 anos. Com as escolhas, o município pretende aumentar o turismo cultural internacional para a cidade.

De 15 a 18 de abril será rea-

lizado em Natal-RN a VI Edição

do Festival Nordeste Culinária.

De caráter itinerante, o festival

tem como finalidade capaci-

tar pessoas interessadas em

ingressar no ramo gastronômi-

co, oferecendo aulas-show com

culinaristas e chefs renomados,

e trabalhando vários temas.

Mais informações no

www.nordesteculinaria.com.br.

Festival gastronômico

“Nordeste Culinária”

Janeiro/2012 www.nordestevinteum.com.br36

Page 37: Nordeste VinteUM Edição

MUsEU NACIoNAL dE BELAs ARTEs CoMEMoRA 75 ANos

Padre Neri Feitosa é uma personalidade das mais dignas da Igreja Católica Romana, sobretudo pela honestidade intelectual com que aborda temas de natu‑reza teológica e social. Tem‑se notabilizado como um pioneiro na defesa do Padre Cícero Romão Batista, o Patriarca do Juazeiro, contra quem as línguas equivocadas ou maledicentes já assacaram todas as diatribes que um candidato a santo pode sofrer. O “advocatus Dei” do Padim Ciço lança mais uma obra apologética sobre o santo nor‑destino, em coleção comemorativa do centenário de Juazeiro do Norte. “Padre Cícero e Juazeiro” é uma coletânea de textos escritos ao longo de vários anos. Percucientes incursões que colocam mais lenha na fogueira da polêmica que há muito envolve Padre Cícero, a Igreja e todo o povo romeiro, em razão das expectativas da fé que eles, os romeiros, professam e da inquebrantável crença de que “Meu Padim” é inquestiona‑velmente um santo.

Sobre o santo do Nordeste

A ColunA no Rio GRAnde do noRte

dicionário de lampeãoPaulo Medeiros Gastão, nordestino de quatro costados, é

mestre reconhecido em contações de histórias do cangaço, tendo sido idealizador e um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC). Do seu embornal de pesquisas já saíram preciosas jóias sobre fatos, coisas, bichos e gente desse mundo chamado Nordeste. Presentemente, mais uma obra da lavra de Paulo Gastão vem a lume, versando sobre o insuperável bandoleiro das caatingas, Virgulino Ferreira, o Lampeão. Trata-se de um perfil do famoso cangaceiro, suas características e manias, suas andanças e folganças, história e geografia do mitológico chefe cangaceiro, escrito em forma de vocabulário. “Lampeão de A a Z” é como está intitulado o trabalho com que o autor presenteia os leitores, sobretudo os apreciadores das estrepulias do Rei dos Cangaceiros.

A Coluna Prestes, movimento revolucionário de feição comunista que surgiu no Brasil na primeira metade do século passado, era formada por homens idealistas, valentes, guerreiros. Lutou por transformações políticas e sociais, mas não conseguiu a adesão das massas. Prestes foi cognominado “Cavaleiro da Esperança” por ter plantado essa semente de transformação social. Durante a longa marcha de mais de 25 mil quilômetros por todo o País, os guerrilheiros travaram combates com tropas do governo, coronéis oligarcas e seus jagunços no interior do Nordeste. Um desses combates se deu em São Miguel, no Rio Grande do Norte, em 29 de janeiro de 1926. Esta saga está contada – e muito bem contada – no livro “Os Revoltosos em São Miguel-1926”, de autoria do historiador potiguar Raimundo Nonato, agora reeditado com o excelente selo da Coleção Mossoroense, editada pela Fundação Vingt-Un Rosado.

Para aestante

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Page 38: Nordeste VinteUM Edição

Uma região em obras Economia

Estados campeões em investimentos89

62

Rio de Janeiro

São Paulo

ParáPernambuco

MaranhãoCeará Rondônia

51,145

4232,7 29,7

Não é novidade, nem para a grande mídia, que o Nordeste vem deixando de ser o primo pobre do Brasil. desde o Governo Lula que a região é aquinhoada de recursos públicos, além de alvo direto da política de transferência de renda, criticada por muitos adeptos da filosofia do

“ensinar a pescar o peixe”. Críticas a parte, a verdade é que o cenário é cada vez mais promissor para o desenvolvimento nordestino.

*(em bilhões de reais)

Pernambuco, Maranhão e Ceará, somados, ficam com R$ 119,7 bilhões

Por samira de [email protected]

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Uma região em obras mais recente notí-cia alvissareira é a de que o Nordeste possui três estados

campeões em volume de in-vestimentos nas obras de in-fraestrutura – Pernambuco, Maranhão e Ceará. São inicia-tivas que geram emprego e aju-dam a fazer a festa do comércio varejista. Problemas a superar, sobretudo nas áreas de saúde e educação, ainda há muitos. Mas as conquistas teimam em apon-tar os rumos do desenvolvimen-to regional.

No país em obras – são cerca de 1.010 espalhadas em todo o território, somando R$ 558 bilhões –, os estados nordestinos concentram projetos no valor de R$ 150,4 bilhões, ou seja, cerca de 27% do total. Per-nambuco, Maranhão e Ceará, somados, fi-cam com R$ 119,7 bilhões. Rio de Janeiro e São Paulo juntos abocanham R$ 151 bi-lhões, é bem verdade. Mas o fato de a região ter três estados entre os sete que mais vão receber projetos de infraestrutura já é uma conquista. Sobretudo comparando com anos de indiferença histórica de gestores públicos que decidiram, por conta própria, traçar um mapa de desenvolvimento industrial de Mi-nas Gerais para baixo no mapa brasileiro.

Engana-se quem pensa que essa verba toda vai apenas para os fabulosos estádios em construção nas subsedes da Copa de 2014. A maior parte dos recursos abrange obras nos setores de energia/combustíveis, transportes, energia elétrica, saneamento, telecomunicações e habitação. É o caso da Refinaria Premium 1, no Maranhão, orçada em R$ 40 bilhões. A Premium 2, no Ceará, que ainda está envolta em problemas com o terreno em áreas indígenas, está custando à Petrobras R$ 22 bilhões. A Abreu e Lima, em Pernambuco, aparece com R$ 21,1 bi-lhões. Todas elas incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

São empreendimentos de grande en-vergadura e que, segundo a economista

A

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Page 40: Nordeste VinteUM Edição

Tânia Bacelar, “quando prontos, devem mudar de vez a imagem do Nordeste tal qual vimos e ouvimos falar de nossos pais e avós”. A Pre-mium 1 prevê processar 600 mil barris/dia de petróleo em duas fa-ses. A refinaria cearense, por sua vez, 300 mil barris/dia e a Abreu e Lima, parceria da Petrobras com a estatal Petróleos de Venezuela (PD-VSA), 230 mil barris diários deste que ainda é o principal combustível mundial.

40 foram feitos. Nos canteiros, a ordem é acelerar para termi-nar tudo em 2013. O trecho en-tre Salgueiro e Missão Velha é o mais adiantado, segundo Tufi Daher Filho, presidente da em-presa Transnordestina Logística, concessionária da obra.

Uma das obras de infraes-trutrura mais antigas do País, a Transnordestina impressiona por seus números. Deverão ser con-sumidos 27,4 milhões de quilos de aço e 740 mil metros cúbicos de cimento (daria para erguer nove estádios como o Maracanã). As 25 frentes de obras contam

Entrando nos trilhosAinda sobre as obras, que vão em ritmo mais lento do que desejam governo e população, uma outra merece destaque: a Transnordes-tina. Lançada por Dom Pedro II, a superferrovia começou a sair do papel no governo Lula. Dos seus 1.728 quilômetros – ligando Eli-seu Martins, no Piauí, passando por Missão Velha e com ramal até Pecém, ambos no Ceará, para chegar em Suape (PE), só

Projetos que demandam mais investimentos para sua conclusão (em bilhões de reais)

Janeiro/2012 www.nordestevinteum.com.br40

Page 41: Nordeste VinteUM Edição

O s investimentos em infraestrutura no Nordeste, assim como em todo o Brasil, sofreram considerável declínio nas “décadas

perdidas”, ou seja, os anos 1980 e 1990. Este período ficou caracterizado pelo baixo crescimento econô‑mico, elevadas taxas de inflação e reduzidos investimentos públicos, que por sua vez, estiveram associados à crise do endividamento externo, segundo levantamento do Escritório de Estudos Téc‑nicos do Nordeste (Etene), ligado ao Banco do Nordeste (BNB).

Ao fazer um balanço de oito anos de governo, o então presidente Lula da Silva (PT) declarou que “o Nordeste, que só recebia atenção no período da seca, hoje é o berço de novas refinarias, estaleiros e grandes obras de infraestrutura, como a transposição do [Rio] são Francisco. o mesmo [ocorre] na Região Norte, onde estão em construção algumas das maiores, mais modernas e sustentáveis usinas hidrelétricas do mundo”, disse o ex‑presidente em discurso.

Como todo especialista gosta de lembrar, os avanços do governo petista só foram possíveis, em grande medida, graças à estabilidade monetária al‑cançada pelo Plano Real. Depois de controlar o dra‑gão da inflação, a União iniciou o processo de corte de gastos públicos, investindo apenas no essencial, em meados da década de 1990 até os anos 2000. Economizar para pagar juros da dívida era a receita dos tucanos. Com Lula e o seu PAC, o Brasil retomou a estratégia militar de colocar no papel os planos de metas. Grandes obras exigem planejamento e, obviamente, muito dinheiro em caixa.

Décadas perdidas

Concentração de máquinas

a frota atual de aproximadamente 285 mil máquinas utilizadas em obras de infraes-trutura no País, 23% estão em operação no

Nordeste. A informação – que reforça a região como um dos polos nacio-nais de investimento – consta em levantamento inédito enco-mendado pela Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção (Sobrate-ma). A pesquisa “Frota Brasil em Atividade” tem por base um universo pesquisado de 45 mil equi-pamentos e máquinas.

O estudo, na verdade, desdobra de um outro levantamento que mapeou as principais obras e investimentos em curso no Brasil. A liderança na concentração de máquinas ainda é do Sudeste, com 56% do total. As regiões Sul, Norte e Cen-tro-Oeste têm, respectivamente, 7%, 6% e 3%. “A expressiva presença de equipamentos no Nordes-te se deve à concentração de grandes obras em execução neste momento naquela região”, diz Afonso Mamede, presidente da Sobratema.

Ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva

com 10 mil operários. E as máquinas chegam a 1.500, entre tratores, escavadeiras e motonivela-doras. São equipamentos avaliados em nada me-nos do que R$ 300 milhões.

A ferrovia é, ao lado da transposição do São Francisco, um exemplo de como a infraestrutura era tratada no Brasil. Em 1877, ao visitar o Nordes-te durante uma seca terrível, o imperador Dom Pe-dro II prometeu ajudar a região. Entre as medidas sugeridas por uma comissão criada à época havia a abertura de um canal para levar água do Velho Chi-co às áreas castigadas por estiagens e a construção de uma ferrovia para interligar a região.

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Janeiro/2012www.nordestevinteum.com.br 41

Page 42: Nordeste VinteUM Edição

Tempo mundial pode mudar em 2012

Uma nova forma de marcar o tempo? Esta armadilha de átomos de estrôncio, parte principal de um relógio atômico, poderá mudar a forma como o mundo mede o tempo. O tem-po, tal como o conhecemos hoje, poderá não ser exatamente o mesmo tempo nos séculos que virão.

Tanto que os cientistas da área estão usando todo o seu tempo durante as festas de fim de ano para discutir uma nova definição da escala de tempo do mundo: o chamado Tempo Universal Coordenado (UTC).

E a principal questão em debate é o segundo bissexto - mais especificamente, a abolição do segundo bissexto.

milênio3º

Um dos maiores entraves à popularização dos veículos elétricos é a chamada “ansiedade da autonomia”.

Os motoristas parecem morrer de medo de que a carga da bateria não consiga levá-los até seu destino ou trazê-los de volta para casa.

Agora, cientistas da IBM afirmam ter resolvido um problema funda-mental que poderá levar à criação de uma bateria capaz de dar a um carro elétrico uma autonomia de 800 quilômetros – o dobro da autono-mia da maioria dos carros a gasolina ou etanol.

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=mudancas-tempo-mundial-segundo-bissexto&id=010130111230

http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2012/01/estudante-de-16-anos-desenvolve-aplicativo-que-condensa-paginas-da-web.html

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=bateria-ar-litio&id=010115120110

Estudante de 16 anos desenvolve aplicativo que condensa páginas da web

Bateria de ar-lítioCarros elétricos com

autonomia de 800 km

Uma ideia simples, mas muito útil: resumir textos da web em pontos importantes no seu iPhone. Criado por Nick D’Aloisio, um estudante britânico de 16 anos, o aplicativo Summly já atrai vários investidores da área de tecnologia, incluindo um dos homens mais ricos do mundo, Li Ka-Shing.

A fama veio depois que o programa foi escolhido pela Apple como o aplicativo da semana, tendo sido baixado cerca de 115 mil vezes. O motivo do sucesso é óbvio: o Summly facilita as buscas na rede, resumindo os resul-tados encontrados em pontos de maior relevância. Para isso, ele utiliza o histórico de pesquisa do usuário. Além disso, o download é gratuito.

O menino se reuniu com investidores do Vale do Silí-cio, e já pensa em licenciar ou vender a tecnologia. Entu-siasmado com a repercussão do aplicativo, ele declarou: “Ter o apoio da Apple tem sido incrível. Seis meses atrás, quando eu estava aprimorando a ideia, sabia que tinha potencial, mas a velocidade que as coisas têm tomado me surpreendeu”. O sucesso permitiu o encontro do estudan-te com o designer da Apple Jonathan Ive.

Entre provas da escola que frequenta em Wimbledon e reuniões com empresários, Nick, que desenvolveu o software em casa com o apoio dos pais e a ajuda do irmão de 12 anos, já pensa em abrir um escritório e contratar funcionários de várias partes do mundo. O menino pre-tende ir para a Universidade estudar Filosofia, mas não descarta seu futuro como desenvolvedor: “Tenho várias outras ideias, mas no momento só quero ver como o Summly pode crescer”, revelou.

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Curiosidades

O blog “Conversa Afiada”, do jornalista Paulo Henrique Amorim, conquistou em dezembro duas premiações do Top Blog, concurso cultural que reconhece e premia os blogs mais populares do País. O blog venceu o Top Blog Brasil da categoria “Política” e uma homenagem especial, “o Top of Blogs”, o mais pontuado, por ter sido o mais votado entre todos os 153 mil blogs concorrentes.

Com exclusividade a este colunista, a diretora executiva do Conversa Afiada, Geórgia Pinheiro, afirmou que a premiação foi importantíssima, visto que se avaliarmos, a página tem menos de dois anos no ar, e já chegou a marca de 10 milhões de acessos por mês, uma conquista para aqueles que estão na contra mão do PIG, o Partido da Imprensa Golpista. “é um reflexo do trabalho de uma equipe que, embora seja pequena, é muito aguerrida, assumindo o compromisso de todos os dias mostrar aquilo

que o PIG não mostra. Vejo esse prêmio como motivação para todos os blogueiros progressistas do Brasil”, diz Geórgia.

Com o objetivo de compreender o comportamento do usuário de redes sociais no Brasil, a E.Life, empresa especializada em monitoramento de mídias na internet, realiza a pesquisa “Hábitos e usos de Redes”. Ao responder as questões, você ainda pode ganhar um tablet Samsung Galaxy com tela de 7”. Em março de 2011, a E.Life divulgou resultado da pesquisa que apontou os usuários brasileiros como os que mais dedicam seu tempo nas redes sociais. Ainda de acordo com o estudo, 42,5% dos usuários passavam 41 horas por semana conectados às redes sociais, o que

significa um total de 6 horas por dia. Agora é participar e aguardar o resultado do questionário disponível no link abaixo.

partir desta edição, a blogosfera ganha este novo espaço para divulgação daquilo que acontece no ambiente virtual. Neste cenário, destaco as plataformas virtuais da Editora

Assaré a partir de seu portal. Lá estão disponíveis edições online, notícias de última hora e o diferencial que está na interação entre você leitor e os profissionais que fazem os principais veículos da Assaré. Além disso, há blogs, miniblogs e redes sociais, possibilitando uma proximidade ainda maior, seguindo o pensamento do papa do webdesign, David Siegel, ao afirmar que “é preciso parar de encarar a Internet como uma rede de computadores. Ela é uma rede de pessoas”.

Para conferir a nova estrutura virtual, é só acessar o site

www.editoraassare.com.br

Acesso mais prático e rápido aos conteúdos com Código QR

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Brasil na rede

AnTonio CARdoSo* [email protected]

http://www.conversaafiada.com.br/

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Projetado pelo arquiteto Frank Gehry, o Edifício Binóculos (Binoculars Building), construído entre 1985‑1991 para a agência de publicidade Chiat / Day (hoje TBWA \ Chiat Day \ ), é um edifício de escritórios comerciais, localizado próximo a Venice Beach em Los Angeles, Califórnia, onde a gigante da internet Google instalou em novembro de 2011 seus novos escritórios com mais de 500 empregados.

Binoculars Building

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*Antonio Cardoso, jornalista, é Assessor de Comunicação da Editora Assaré

— David Siegel, papa do webdesign

“É preciso parar de encarar a Internet como uma rede de computadores. Ela é uma rede de pessoas”

www.nordestevinteum.com.br Janeiro/201243

Page 44: Nordeste VinteUM Edição

Saúde

CadêAna Claudia e os filhos, Maria Clara (10 meses), Beatriz (9 anos), iarley (8) e Arlindo (6).

Janeiro/2012 www.nordestevinteum.com.br44

Page 45: Nordeste VinteUM Edição

Estados do Nordeste têm a maior disparidade entre médicos da rede pública e privada do País. Uma realidade que dificulta a vida

de famílias que necessitam do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo o Ministério da Saúde, para ampliar a oferta de médicos o governo federal visa formar mais 4,5 mil médicos a cada ano e

interiorizar a profissão no País. Um sonho distante, em que pese a atual situação da saúde pública no Brasil.

SPor Karla sousa

[email protected]

ão 5h da manhã de uma quarta-feira quando a dona de casa Ana Claudia da Silva Barbosa, moradora da periferia de Fortaleza-CE, arruma os quatro filhos e caminha por cerca de uma hora e meia para chegar ao posto de saú-de mais próximo de sua casa. O objetivo é encontrar um pediatra que possa

consultar o seu bebê de dez meses de vida, que está bem gripado. Ao chegar à unidade de saúde, por volta das 6h30min da manhã, Claudia já se depara com uma longa fila à espera de uma ficha para marcar consulta. Segundo ela, cada paciente só tem direito a uma consulta de cada vez, caso tenha outros filhos doentes precisam voltar outro dia.

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?o doutor

Apesar da espera, muitas vezes a dona de casa precisou voltar sem consultar os filhos devido à ausência de médicos. A situação conforme Clau-dia, já é comum, mas não deixa de ser revoltante. “Às vezes, preciso brigar para conseguir uma ficha e marcar uma consulta. No posto de saúde que frequento só trabalham dois pediatras, mas quan-do um sai de férias não fica ninguém no lugar, en-tão somos obrigadas a procurar outros postos bem mais distantes da nossa casa”, desabafa.

Claudia e o marido, que é pedreiro, têm ren-da mensal de um salário mínimo e para ela até o dinheiro gasto com o deslocamento de ônibus às unidades de saúde influencia no orçamento da família. Por isso, a dona de casa acredita que se existisse uma oferta maior de médicos no SUS, a realidade seria bem diferente.

A situação vivida pela família de Ana Claudia da Silva é a mesma de milhares de pessoas em todo o Brasil e é apenas um reflexo da disparidade que existe entre os médicos que atuam no sistema pú-blico e privado do País. Para se ter uma ideia, na Região Nordeste, enquanto há 9,62 médicos trabalhando no siste-ma privado a cada mil habitantes, 1,42 profissionais atuam no sistema público na mesma proporção. Essa realidade classifica a região como a que tem a maior presença de médicos por usuário na rede privada em comparação com a rede pública, tomando por base todas as regiões do País.

www.nordestevinteum.com.br Janeiro/201245

Page 46: Nordeste VinteUM Edição

O diagnóstico foi realizado em 2011 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em parceria com o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). O estudo propõe a criação de um índice para medir as disparidades de abastecimento do SUS e da rede particular. Chamado de Indicador de Desigualdade Público/Privado (IDPP), o índice corresponde à ra-zão entre o número de postos de

trabalho médico ocupado na rede privada por mil habitantes, sobre o número de postos ocupados na rede pública na mesma proporção.

No Brasil, essa razão é 3,9, o que significa que a presença médi-ca na rede privada é quase quatro vezes maior que na rede pública, considerando a população atendi-da por cada rede. O Censo 2011 contabilizou 371.788 médicos em outubro do ano passado, chegando

a uma razão de 1,95 médico para cada mil habitantes no País.

Nessa conta, aparecem as disparidades regionais. Apenas o Sudeste fica abaixo da média, in-dicando uma igualdade maior de abastecimento de médicos no SUS e na rede particular (2,31). O Nor-deste tem o índice mais elevado, chegando a 6,77. É seguido pelo Centro-Oeste (6,26), pelo Sul (5,9) e pelo Norte (5,26).

Bahia apresenta as maiores distorçõesE

Sistema privado:15,14 médicos

SUS: 1,25 médicos

* Número de médicos para cada 1.000 habitantes

SUS:0,98 médicos

Sistema privado:6,75 médicos

SUS: 1,36 médicos

Sistema privado:5,2 médicos

Bahia

Maranhão

Ceará

ntre os estados, a diferença sobe. A Bahia ilustra uma das distorções mais dramáticas do Nordeste. Quando se trata da popu-

lação usuária do SUS, conta-se apenas 1,25 postos ocupados por 1.000 habitantes, já na população usuária de planos de saú-de, o número de médicos ocupados por 1.000 habitantes salta para 15,14, ou seja, aqueles que só têm acesso à saúde pública — que representam 89,7% da po-pulação do estado baiano — contam com 12,11 vezes menos postos de tra-balho médico ocupados que seus vizi-nhos de planos de saúde.

Mas, apesar da Bahia apresentar o maior índice de disparidade entre os dois serviços, o estado do Maranhão é o que apre-senta a menor oferta no sistema público por usuários, 0,98 médicos a cada mil habitantes, ou seja, menos de um profissional disponível no SUS. O índice aumenta no sistema privado atin-gindo 6,75 médicos na mesma proporção.

O Ceará de Ana Claudia, aquela do início da matéria, ocupa a 21ª posição no ranking nacional, ofertando apenas 1,36 médicos por mil usuários no sistema público, ficando abaixo da média do Nordeste que é de 1,42. Por outro lado, a disparidade entre o setor privado não é tão grande, pois são ofertados apenas 5,2 mé-dicos na mesma proporção, atingindo um índi-ce de 3,8. O Ceará só fica à frente dos estados de Alagoas (que oferece 1,3 profissionais por mil habitantes), Bahia com 1,25 e Maranhão 0,98. O estado que apresenta a situação mais favorável da Região Nor-deste é o Rio Grande do Norte, ofertando 1,89 médicos por mil usuários e 9,8 profissionais no sistema privado.

Janeiro/2012 www.nordestevinteum.com.br46

Page 47: Nordeste VinteUM Edição

omo índice desejável para países em desenvolvimento popularizou-se um padrão

mínimo de 1 profissional médico para cada grupo de 1.000 habitan-tes. Essa relação “almejada”, atri-buída à Organização Mundial da Saúde, nunca foi explicada nem justificada, embora continue em-pregada. O mesmo ocorre com o parâmetro de 2,5 médicos por 1.000 habitantes, meta divulgada pelos Ministérios da Saúde e da Educação que, supostamente, toma como re-ferência países que em pouco se as-semelham ao Brasil, principalmente da União Europeia.

Segundo o neurocirurgião e pre-sidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Cid Célio Jayme Carvalhaes, o Brasil ilustra bem o problema. Para ele, a distribuição atual dos médicos por número de usuários no sistema público é per-versa e injusta com a população brasileira. Além disso, não existe política de Estado voltada para esse problema, qualificação de recursos nem condições de trabalhos para os profissionais. “Não é só uma ques-tão salarial, os médicos evitam tra-balhar no sistema público porque os

CDiferentes índices estipulados

postos de saúde não possuem estru-tura”, diz.

A consequência é um quadro pro-fissional reduzido, o que prejudica o atendimento. Que o diga o clínico ge-ral Saulo Abathi, há 16 anos no Siste-ma Único de Saúde. Diariamente, ele se divide entre dois expedientes no Centro de Saúde Evandro Aires, em Fortaleza, no Ceará, e à noite cum-pre plantões em dois outros postos

de saúde. A média de atendimentos que deveria fazer era de 16 por turno, porém a grande demanda o obriga a atender até 25 pessoas. À noite, o nú-mero de atendimentos aumenta para 30. Na ponta do lápis, Saulo Abathi re-cebe diariamente em torno de 70 pa-cientes, o que segundo ele, é bastante sacrificante tanto para o médico quan-to para as pessoas que querem ser bem atendidas na unidade de saúde.

pesar da realidade atual, o presi-dente da Fenam, Cid Carvalhaes, afirma que até 2016 o Brasil pode

chegar próximo aos parâmetros mun-diais, que é de 2,6 médicos a cada mil usuários. A expectativa é que até lá mais 16.800 médicos estejam forma-dos, o que dará uma proporção de 2,35

médicos por mil pessoas. Entretanto, ele informa que o aumento da oferta de médi-

cos no sistema público não é suficiente para suprir uma carência na rede, pois, atualmente,

há um déficit de R$ 45 bilhões na saúde do Brasil. “Há uma legislação vigente que determina que o governo federal destine 8% do orçamento para saúde, estados

12% e municípios 15%, porém essa quantia ainda não é suficiente para atender à demanda, pois as necessida-des do sistema são muito grandes”, afirma.

Para Cid Cavalhaes, antes de tudo, é preciso elabo-rar metas mais concretas, diretrizes bem elaboradas para a saúde, programas de grandes dimensões, inves-timento na atenção básica, ampliação do Programa de Saúde da Família (PSF), política de recursos humanos, Planos de Cargos Carreiras e Salários (PCCS), e planos plurianuais de acordo com a realidade de cada região. “O Brasil é um país de dimensões continentais, por isso é preciso desenvolver uma política que se adeque a cada região, e um padrão de acordo com as neces-sidades de cada estado. Enquanto isso não for feito a saúde do País ficará subfinanciada”, conclui.

Expectativa é positiva para 2016

Cid Carvalhaes

SUS: 1,36 médicos

1 médico 2,5 médicos

Países em desenvolvimento

1.OOO Habitantes

Países da UE e semelhantes ao Brasil

A

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Page 48: Nordeste VinteUM Edição

Salários baixos afastam os médicos do Sistema Público de Saúde

disparidade de oferta entre os médicos do sistema público e privado de saúde no Nordeste

está relacionada sobretudo à questão salarial. É o que relata o clínico geral Saulo Abathi, já citado nesta matéria. “Apesar de o sistema público ter suas vantagens quando o profissional é concursado, muitos não suportam en-frentar a falta de estrutura e a grande demanda de pacientes. Mas o prin-cipal motivo da migração de muitos médicos para o sistema privado são os baixos salários”, ressalta.

No Nordeste, apenas os estados do Maranhão e Ceará estão acima da média nacional de salários que é de R$ 1.946,91, equivalente a uma jornada de 20 horas de trabalho di-ário. A média salarial mais baixa da região e também do País é na Bahia R$ 723,81. A baixa remuneração oferecida e a precarização dos contratos de trabalho têm assustado os médicos em geral, obrigan-do-os muitas

reocupado com a qualidade dos cursos de Medicina em todo o País, o Ministério da Educação

deu início em novembro ao processo de supervisão dos cursos com baixo desempenho nas avaliações da pasta, suspendendo 514 vagas de 16 cursos de Medicina que tiveram nota 1 ou 2

no Conceito Preliminar de Curso (CPC). O indicador varia em uma escala

de 1 a 5 e é calculado com base no desempenho dos alunos no Exame Nacional de Desempenho de Estu-dantes (Enade) e em outros critérios como a infraestrutura e o corpo do-cente da instituição.

MEC fiscaliza cursos de Medicina

vezes a recusarem a possibilidade de atuar junto ao SUS.

Parcela significativa dos profis-sionais prefere manter consultórios próprios ou estar na rede privada. A estimativa das entidades médicas na-cionais é de que cerca de 190 mil mé-dicos mantêm algum tipo de vínculo com o serviço público (direto ou indi-reto), o que representa pouco menos que 55% dos profissionais em ativi-dade no País, ou seja, 350 mil.

Os médicos que são servi-dores concursados pelas secre-

tarias de Saúde reclamam que os salários estão defasados e não corres-pondem à responsabilidade, dedica-ção e preparo exigidos. Um levanta-mento informal feito pelas entidades médicas mostra, por exemplo, que a média do salário-base (sem gratifi-cações ou outros tipos de adicionais) pago ao profissional com contrato de 20 horas semanais fica em R$ 1.946,91. Os valores oscilam de R$ 723,81 a R$ R$ 4.143,67 (ver tabela

ao lado). De forma geral, os valores ficam aquém do piso para a catego-ria estabelecido pela Fenam que é de R$ 9.688. Na comparação direta, o salário-base mais baixo da relação obtida junto aos estados é 13 vezes menor que o mínimo

defendido pela Federação. O mon-tante mais alto na lista corresponde a menos da metade do piso nacional (42%). Já a média nacional encontra-da equivale a 20% do parâmetro pro-posto pelos sindicatos médicos, ou seja, é cinco vezes menor.

Segundo Cid Cavalhaes, a maio-ria dos médicos que atua no sistema público de saúde recebe um salário médio de R$ 6, 200 para trabalhar 62 horas semanais, ou seja, uma jornada de trabalho quase 50% maior do que a de qualquer outra profissão. “Quase todos os profissionais médicos do SUS precisam de um posto de trabalho adi-cional. A jornada diária de trabalho in-justa e a média de postos de trabalho por médicos no Brasil são de 3,2 para cada profissional”, diz.

A

P

Janeiro/2012 www.nordestevinteum.com.br48

Page 49: Nordeste VinteUM Edição

Fonte: *Levantamento informal a partir de dados fornecidos pelos sindicatos médicos e conselhos regionais de medicina apurados junto às secretarias estaduais de Saúde. Os valores não incluem acréscimos, como gratificações, anuênios, quinquênios, adicionais por insalubridade, etc.

**O cálculo levou em consideração os valores dos salários-base de 25 estados. Não foram considerados os valores do Acre, Pernambuco e Rio Grande do Sul por terem carga horária diferenciada, superior a 20 horas por semana.

Salários-base pagos aos médicos concursados com jornada

semanal de 20 horasEstadoRemuneração base por jornada de 20 h

Acre R$ 6.800,00 (jornada de 30h semanais)

Alagoas R$ 1.600,00Amapá R$ 3.056,00Amazonas R$ 1.000,00Bahia R$ 723,81Ceará R$ 2.678,10dist. Federal R$ 4.143,67E. santo R$ 2.149,47Goiás R$ 2.500,00Maranhão R$ 2.500,00,Mato Grosso R$ 1.292,04Mato G. do sul R$ 1.752,98Minas Gerais R$ 1.050,00Pará R$ 1.050,00Paraíba R$ 1.635,00Paraná R$ 2.685,56Pernambuco R$ 5.500,00 (plantão

semanal de 24 h)Piauí R$ 1010,00Rio de Janeiro R$ 1.500,00Rio G. do Norte R$ 1.447,87Rio G. do sul R$ 2.723,52 (jornada

de 30 h semanais)Rondônia R$ 3.300,00Roraima R$ 2.190,11santa Catarina R$ 1. 401,12são Paulo R$ 1.757,25sergipe R$ 1.428,00Tocantins R$ 2.875,00Média R$ 1.946,91

MEC fiscaliza cursos de Medicina

Ministério da Saúde res-salta que para diminuir a disparidade entre os pro-

fissionais do sistema público e privado e aumentar o interesse dos médicos para a atuação no SUS está desenvolvendo diver-sos programas de qualificação e melhorias dos serviços. Um deles é o Programa Nacional de Me-lhoria do Acesso e Qualidade da Atenção Básica (PMAQ) que pre-tende qualificar os processos de trabalho das equipes de saúde e fortalecer os processos de moni-toramento e avaliação.

Os municípios e equipes de Atenção Básica, ao aderirem a esse Programa, assumem com-promissos para a melhoria contí-nua da qualidade das suas ações, sendo posteriormente avaliados por meio de indicadores e padrões de qualidade que determinam o pagamento de um incentivo fi-nanceiro proporcional ao seu de-sempenho. Já aderiram ao PMAQ, 73% dos municípios brasileiros (4.069), com superação da meta nacional de 17.669 equipes par-ticipantes, definida para esse pri-meiro ciclo do Programa. Também serão realizadas pesquisas sobre a satisfação dos usuários e utiliza-ção dos serviços de atenção básica pela população.

O Ministério da Saúde tam-bém está instituindo o Programa de Avaliação para a Qualificação do Sistema Único de Saúde, por meio do qual será avaliado o de-sempenho dos sistemas de saúde componentes do SUS nas esferas municipal, estadual e federal e em territórios regionais, baseado em indicadores de saúde calculados com base nos sistemas de infor-mação em saúde.

Ainda de acordo com o órgão, o governo quer formar mais 4,5

Ministério atua com programas de incentivo

O

Os cursos que sofreram o corte de-terminado são de instituições privadas de Minas Gerais, de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Rondônia, do Tocantins, do Mato Grosso e do Maranhão. O Cen-tro Universitário do Maranhão (Uniceu-ma) obteve CPC 2 no Enade, e terá que cortar 11 de suas 55 vagas.

mil médicos a cada ano e interiori-zar a profissão no País. Para atrair médicos para atuarem em Unida-des Básicas de Saúde (UBS) onde há carência desses profissionais e melhorar a distribuição de médi-cos no Brasil, o Ministério da Saú-de, em parceria com o Ministério da Educação, instituiu o Programa Saúde em Todo Lugar, que dará um desconto na Dívida do Finan-ciamento Estudantil (Fies - 1% ao mês – no mínimo 1 ano) aos mé-dicos que trabalharem em áreas com dificuldade de provimento de médicos, e o Programa de Valori-zação dos Profissionais na Aten-ção Básica, que vai conceder até 20% de pontuação adicional na nota final das provas de residência aos egressos do curso de Medicina que optarem por atuar nos muni-cípios de extrema pobreza e em periferias das grandes metrópoles.

A bonificação já poderá ser utilizada nos exames que serão re-alizados em novembro de 2012. Além disso, está sendo ampliado o Telessaúde, programa que permite a troca de informações via internet entre médicos da Atenção Básica e médicos especialistas para segunda Opinião Formativa, Apoio Diagnós-tico e Tutoria à distância. Segundo relatório divulgado em março de 2010 pelo Ministério da Saúde, 50% dos deslocamentos de pacientes em tratamento de nove estados brasi-leiros foram reduzidos com a imple-mentação desse serviço.

www.nordestevinteum.com.br Janeiro/201249

Page 50: Nordeste VinteUM Edição

doutor Mateus passou pela vida com muito cuidado. An-tes de dar o primeiro passo do

dia sondava meticulosamente o terreno a pisar. Menino do interior veio para Fortaleza na adolescência para estudar, passando a morar numa “república” de estudantes com três outros compa-nheiros, nos quais deixou a mais funda impressão de parcimonioso nos gastos, econômico demais para o gosto deles, exageradamente agarrado aos seus ob-jetos. O pai era fazendeiro no interior e bem que podia prover seu rebento das necessidades básicas de um jovem, tais como dinheiro para as merendas, transporte, material de higiene e até, quem sabe, uma verba extra para uma senvergonhicezinha de vez em quando.

O estudante Mateus, entretan-to, dava outra destinação à mesada paterna: depositava quase tudo na Caixa Econômica. Chegou a vender o enxoval que a família lhe prepara-ra, toalhas, lençóis e colcha de cama, arrumando-se com uma rede velha rejeitada por um colega e dormia se cobrindo com jornais em grande penú-ria. Nunca tinha pasta de dentes nem sabonetes e vivia a fitar essas coisas dos companheiros, com a maior cara de pau. Era xingado, humilhado, receben-do apelidos nojentos que extrapolavam o recinto da quitinete e ganhavam o prédio todo, mas ele não ligava.

Quando veio o concurso para a Receita Federal todos se inscreveram num cursinho, menos ele que, quando os colegas retornavam, tomava de suas apostilas e virava a noite estudando. Foi o único que passou, alcançando por es-forço próprio, e sem gastar, aquele que era considerado um dos melhores em-pregos do serviço público no Brasil.

Poderia ter mudado de vida, ca-sado, constituído família, mas ele não quis nada disso. Queria continuar a morar na “república” e seguir do mes-mo modo, sem assumir nem o pitoco de pasta de dente do asseio matinal. Foi expulso, naturalmente, mas não se emendou. Obteve uma vaga na Casa do Estudante e por ali ficou até que

(*) JUAREZ LEITÃO é escritor, historiador e membro da Academia Cearense de Letras.

Mais um “causo” de JUAREZ LEITÃO

O AVARENTO

O soubessem de seu rico salário e tam-bém o enxotassem.

Economizava 98% do salário. Morava como um monge trapista, olhava por cima dos óculos para não estragar as lentes e se comprazia de ser chamado de mesquinho, muqui-rana e mão-de-vaca. Adquiriu muitos imóveis em vários bairros da Capital e, quando se aposentou, vivia de casa em casa cobrando os aluguéis de seus inquilinos, semanalmente. Isto mes-mo: exigia pagamento semanal, para não correr o risco de atrasos e acumu-lações de mensalidades.

Frequentador contumaz da Praça do Ferreira, ali fez amigos, por ser um homem gentil e inteligente, partici-pando da roda do cafezinho nos baixos do Edifício Sul-América, onde havia sempre um disposto a pagar por todos. Ele, é claro, nunca pagou uma rodada.

De repente sumiu da praça. Pas-sou meses sem aparecer e quando o fez assustou todos os companhei-ros. Estava irreconhecível. Magro, descabelado, palidez acentuada, um trapo humano.

Indagado sobre o que era aquilo, confessou com a maior naturalidade que estava com um câncer dos mais agressivos. Começara na próstata, mas já se irradiara por outros órgãos, num processo de metástase galopante.

Diante do olhar de piedade dos outros, disse que estava lutando por sua vida, tomando o leite da janaguba (ou janaúba), uma planta miraculosa que estava salvando muita gente já de-senganada, como ele. E, sem perder o costume da avareza, vociferou contra a exploração dos raizeiros do mercado São Sebastião, que estavam vendendo um litro do tal leite por dez reais, quan-do ele encontrara agora um fornecedor que o vendia por cinco. “É o roubo im-perante neste País!!!” – gritava a plenos pulmões, como se isso fosse importan-te àquela altura.

Um dos membros da roda, realista ao extremo, disse para o exaltado do-ente: “Mateus, você acha que se esse leite prestasse para alguma coisa, os

americanos não já o teriam descober-to e monopolizado? Olhe, o magnata norte-americano Nelson Rockefeller, um dos homens mais ricos do mun-do, acaba de morrer de câncer”.

Foi aí que uma sombra de tris-teza cobriu a face daquele pobre homem rico. O sujeito lhe roubara a última esperança.

Mas foi só por um momento. Porque, em seguida, já admitin-do a morte próxima, falou de seus haveres. Tinha 65 imóveis e muito dinheiro na Caixa. Era, de fato, um milionário. Mas não deixaria nada para instituições de caridade, ordens religiosas ou entidades culturais. Não confiava em administradores filantrópicos, uns larápios, segundo ele. Tinha dois sobrinhos, que se-riam seus herdeiros universais.

Os amigos se preocuparam em saber se esses herdeiros eram equi-librados, gente que daria bom em-prego à fortuna do Mateus.

— “O quê? Meus sobrinhos são uns raparigueiros, bebarrões e, ambos, têm o vício do jogo. Es-tourarão minha fortuna em menos de dois anos, tenho absoluta cons-ciência disso!”

— “Veja, Mateus – ponderou um dos ouvintes – que grande fu-rada. Você economizou a vida toda, se privando do conforto, de ter uma mulher e uma família, de ter viajado, conhecido o mundo, uma mansão, um belo carro, a degustação das mais finas comidas e dos melhores vinhos, para agora seus sobrinhos acabarem com tudo, na maior farra. Eles, os perdulários, é que vão desfrutar da felicidade que você nunca teve e go-zar o prazer de que você se privou”.

Foi aí que o avarento, sorrindo como se fosse um vitorioso, expli-cou sua filosofia de vida: “Engano seu e de quem pensar assim. O prazer que aqueles malandros vão ter de gastar meu dinheiro, nunca, nunca, estão entendendo? Nunca chegará a dez por cento do prazer que eu tive de juntar”.

Janeiro/2012 www.nordestevinteum.com.br50

Page 51: Nordeste VinteUM Edição

Quando Luiz Gonzaga deu os seus primeiros passos rumo ao sucesso, no início da década de 1940, recebeu a visita de um de seus irmãos, José Januário dos Santos, na época com 20 anos de idade. Aconselhado pela mãe, o Zé deixara o Nordeste em busca do irmão quase famoso para pedir alguma ajuda, pois a família padecia com os rigores de uma seca.

A relação entre Luiz e seu irmão José sempre foi tumultuada. A princípio Luiz estimulou o seu ingresso na carreira artística e até sugeriu que ele usasse o nome “Zé Gonzaga”, para que o público o identificasse de imediato como irmão do Rei do Baião. A medida que a carreira de Zé Gonzaga foi se firmando, Luiz, aconselhado por sua mulher Helena, proibiu o irmão de cantar suas músicas e até mesmo de usar o seu nome. Foi Paulo Gracindo quem fez finca‑pé e disse que manteria o nome Zé Gonzaga de qualquer jeito em seu programa na Rádio Nacional.

BRiGA dE iRMãoS – Briga de irmãos é coisa complicada. Segundo Zé Gonzaga, dona Santana saiu em sua defesa e até andou recolhendo velhas toadas para renovar o seu repertório musical. Os irmãos fizeram as pazes quando Luiz sofreu um grave acidente automobilístico e Zé Gonzaga gravou a música “Viva o Rei”, em sua homenagem.

Sala de RebocoPor Arievaldo Viana, da Academia Brasileira de Literatura de Cordel [email protected]

A FAMÍLIA “GONZAGA”

nESTA FoTo raríssima vemos o casal Januário e Santana tocando para a filharada. Ele no fole de oito baixos, ela no zabumba. Note‑se bem o casal Luiz Gonzaga e Helena entre os pares dançantes. Atrás deles aparece um bebê, pro‑vavelmente Rosinha, filha adotiva do casal. Zé Gonzaga está de chapéu de couro e parece que está dançando com uma de suas irmãs, Chiqui‑nha, que também utilizou o nome Gonzaga. Apenas Severino resolveu utilizar o nome de seu pai, mas foi uma jogada de marketing sugerida pelo próprio Luiz. É que Januário andou fazendo uma temporada de muito sucesso na Rádio Mayrink Veiga, ao lado de seis dos seus nove filhos. O grupo se chamava “Os sete Gonzagas” e gravou dois 78 RPM pela RCA, muito bem aceitos pelo público e pela crítica. Como Januário não quis prosseguir a carreira, o legado passou para Severino. Durante as décadas de 1960/70, muita gente achava que Severino Januário era o pai de Luiz Gonzaga.

Filhos de Januário e Santana* JoÃo JANUÁRIo (JoCA) : 17/09/1910 e 11/09/1947. Mor‑reu em São Paulo/SP e deixou dois filhos e adotou uma filha.* LUIZ GoNZAGA: 13/12/1912 e 02/08/1989. Morreu em Recife/PE e deixou dois filhos.* EFIGêNIA BATIsTA (GENI): 15/04/1915 e 23/04/2003. Mor‑reu no Rio de Janeiro/RJ e não teve filhos, mas criou dois filhos.* sEVERINo JANUÁRIo (SEVERINO JANUÁRIO): 04/10/1918 e 02/07/1988. Morreu no Crato/CE e deixou seis filhos.* JosÉ JANUÁRIo (ZÉ GoNZAGA): 15/01/1921 e 12/04/2002. Morreu no Rio de Janeiro/RJ e deixou um filho que reside no Rio.* RAIMUNdA JANUÁRIo (doNA MUNIZ): 25/06/1923 e 22/02/2011. Morreu no Rio de Janeiro/RJ e deixou seis filhos.* FRANCIsCA JANUÁRIo (ChIQUINhA GoNZAGA): 11/12/1925 e 15/03/2011. Morreu no Rio de Janeiro/RJ e deixou três filhos e adotou dois filhos.* MARIA do soCoRRo (doNA soCoRRo): 15/08/1927 e 02/12/1994. Morreu no Rio de Janeiro/RJ e deixou quatro filhos.* ALoÍsIo JANUÁRIo (ALoÍsIo): 13/05/1934. e 23/03/1985. Morreu no Rio de Janeiro/RJ e deixou três filhos.

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Por BARRos [email protected]

As Vilas de São Félix e Cachoeira, situadas no Recôncavo Baiano, foram cenário nos anos de 1832 e 1833 de um movimento federalista dos

mais violentos da história do Brasil, denominado Revolta do Guanais ou Revolução Federalista, em razão de suas aspirações liberais e republicanas

inscrevia-se entre os parti-dários dos ideais emancipa-cionistas republicanos que não se contentaram apenas com o processo independen-tista que separou o Brasil de Portugal, mas subordinou--o a uma forma de governo monárquica, administrativa-mente centralizadora, cujos poderes permaneciam nas mãos do jovem Imperador Dom Pedro I, filho do Rei de

Médico Francisco Sabino

A Revolução Federalista do

GUANAIS

A Revolta do Gua-nais configurou o embrião da grande

revolução que passou aos Anais da História com o nome de Sabinada, insurrei-ção autonomista ocorrida na mesma Bahia revolucionária do século XIX, por volta de 1837. Seu nome deve-se ao fato de que o líder do movi-mento chamava-se Bernardo Miguel Guanais Mineiro e

Guerra no Sertão

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Constitucionalismo da monarquia não contentava republicanos

omo se disse anterior-mente, o Brasil, após a formalização da indepen-

dência, continuava subordinado a parâmetros de governo que se assentavam nos moldes da mo-narquia portuguesa, até porque o que houve, de fato, foi uma su-cessão no poder, com a adoção de medidas autonomistas em razão da adoção de um modelo cons-titucional pioneiro na América Latina, uma vez que naquele mo-mento somente o Brasil estava praticando um regime político-administrativo fundado em uma Carta Constitucional.

Os partidários de Guanais Mineiro, no entanto, reivindica-vam algo mais do que uma mo-narquia constitucionalmente in-cipiente. Queriam a autonomia de uma República, com funda-mentos filosóficos assentados na Revolução Francesa e no exem-plo do Pacto das Colônias que estabeleceu a independência dos Estados Unidos da América do Norte, em 1776.

O Recôncavo Baiano apre-sentava-se naquele momento histórico, um ambiente propício para a conjuração, posto que ha-

C via insatisfação entre os proprietá-rios rurais e pessoas de poder eco-nômico e boa informação. Havia também, por influência de jovens brasileiros que estudavam na Eu-ropa, especialmente na França, a formação de sociedades secretas, que promoviam e estimulavam a população ao inconformismo com o status quo (expressão latina que designa o estado atual das coisas) da política vigente, quer em nível local quer em nível nacional.

A proporção que o governo do Império usava mecanismos de repressão ou de cooptação, lide-ranças oposicionistas se levanta-vam contra o sistema imperial. Crescia o sentimento nativista que fizera surgir sérias agitações na capital da província, Salva-dor, em 1831. Este preconizava a deportação dos portugueses juntamente com Dom Pedro I, que abdicara do trono em abril daquele ano e embarcara para Portugal. O espírito federalista que movera os líderes dos Esta-dos Unidos da América, aguça-va o espírito dos baianos. Esse sentimento fez surgir vários movimentos nativistas durante a Regência Trina Permanente.

Portugal, simbolicamente alcunhado “Defensor Perpé-tuo do Brasil”.

É certo que ao tempo em que foi deflagrada a Revol-ta do Guanais, o País vivia momento de transição, go-vernado por regências, uma vez que Pedro I havia abdi-cado em favor de seu filho menor de idade, depois co-roado como Dom Pedro II. Todavia, para os republica-nos, essas nuances políticas constituíam ocorrências de somenos importância para o quadro institucional brasi-leiro. Foi, portanto, arrima-do nesta instabilidade mo-mentânea que acirraram-se os ânimos dos baianos lide-rados por Bernardo Miguel Guanais Mineiro.

Para Guanais Mineiro e seus seguidores, era hora de intentar uma transformação substancial do regime de go-verno centralizador implan-tado na monarquia nascente, sob a Constituição de 1824, que considerava autoritária e antidemocrática. As mudan-ças em curso eram de fato su-perficiais e incipientes para os anseios dos revolucionários.

Foram os ideários da Conjuração Baiana – in-surreição autonomista cujo ideário estendeu-se por lon-gos anos, indo desaguar nas lutas da Independência, as quais culminaram com o desfecho em 2 de julho de 1823 – que ressoaram no espírito dos que fizeram a Revolta do Guanais. Estes se levantaram contra o go-verno Imperial sob as Re-gências, no intento de es-tabelecer uma república no Brasil. Senão no País intei-ro, pelo menos nos rincões da então província baiana.

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Pregação insurrecional sublevou o Recôncavo

m 1832, sob a liderança de Guanais Mineiro, as Vilas de São Félix e Ca-

choeira, no Recôncavo Baiano, estavam em avançado proces-so de mobilização e pregavam abertamente a sublevação con-tra o governo regencial. Havia um clima insurrecional em to-dos os lugares da região. Não apenas pessoas do povo aten-diam ao chamamento para a revolta, mas a pregação eman-cipacionista republicana alcan-çou grande parte dos proprietá-rios rurais e baianos abastados do Recôncavo e circunvizinhan-ça. Guanais e uma centena de partidários levantaram-se em armas e atacaram as guarnições imperiais da região.

A reação do governo regen-cial se fez imediata e precisa, sob o comando do Visconde de Pirajá, cujo nome de batismo era Joaquim Pires de Carvalho e Al-buquerque. Tratava-se de um se-nhor de Engenho que pontificava no interior baiano, tinha o apeli-

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do jocoso de coronel Santinho, e demonstrara grande capacidade bélica nas guerras em favor da Independência do Brasil.

Apesar do apoio recebido por parte dos proprietários, simpati-zantes da causa e de pessoas do povo dispostas a dar a vida pelos ideiais republicanos e pelo forte sentimento federalista, as forças lideradas por Guanais não pude-ram fazer frente à resistência do

poder constituído. O experiente Visconde de Pirajá adotou todas as medidas militares necessá-rias para debelar a revolta. Após três dias de lutas, os revoltosos se renderam e o líder insurreto, Guanais Mineiro, foi preso e en-viado para a clausura no Forte do Mar, verdadeiro bastião de forma circular erguido em uma ilha artificial para a defesa do porto de Salvador.

A capacidade de convencimento e o caso do chefe revolucionário

odavia, Guanais Mineiro revelou-se um articulador político de grande capacida-

de de convencimento. Mesmo pre-so, com as limitações próprias da condição carcerária, ele conseguiu uma proeza poucas vezes constatada na história das revoluções. Guanais convenceu os próprios oficiais que

faziam a sua guarda da correção de seus ideais.

Assim é que no dia 26 de abril de 1833, Guanais Mineiro conseguiu sublevar a fortificação onde estava confinado e, dali, bombardeou Salva-dor. Ergueram uma bandeira de três palas: branca, azul e branca e exigi-ram, sem sucesso, a negociação. Mas,

mais uma vez os revoltosos foram de-belados e este levante foi o “canto do cisne” do chefe revolucionário Gua-nais Mineiro que, desta feita, como castigo foi “exilado” para os confins dos sertões da Bahia, confinado em inóspito vilarejo onde, longe das in-flamações da capital, encerrou seus dias, deixando grande descendência.

Salvador aparece ao fundo, século XIX

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Visconde de PirajáJoaquim Pires de Carvalho e Albuquer-

que, primeiro barão e único visconde com grandeza de Pirajá, (Salvador, 1788 – Salvador, 29 de julho de 1848), muito conhecido no interior baiano por coronel Santinho, foi um nobre, senhor de engenho da Bahia e um dos principais heróis da guerra de Independência do Brasil. Descen-dente, por sua mãe, da Casa da Torre de Garcia d’Ávila, na Bahia. Irmão do visconde da Torre de Garcia d’Ávila e do barão de Jaguaripe, não sendo o primogê-nito, não teve direito a suceder no morgado da família, mas couberam-lhe outros bens.

Senhor de engenho muito politizado na Bahia, Jo-aquim Pires de Carvalho e Albuquerque, o coronel San-tinho foi o primeiro a se rebelar militarmente contra a ditadura do português Madeira de Melo. Arregimentou índios seminus, armados de arco e flecha, e com eles fechou a estrada das Boiadas, utilizada para o abasteci-mento da cidade de Salvador.

Foi também por influência de Santinho que seu ir-mão, Antônio Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, futuro Visconde da Torre de Garcia d’Ávila, abrigou na

Casa da Torre, soldados que haviam se rebelado contra o governo português da capital. Mili-

tarmente, era muito mais agressivo que o general Pedro Labatut, comandante maior da luta, e foi com seu apoio e o de outros senhores de engenho do Re-côncavo que as tropas coloniais foram capazes de vencer as forças de Madeira de Melo.

Devido a suas imensas demonstra-ções de patriotismo e de entrega pessoal

durante as lutas de Independência em rela-ção ao reino de Portugal, para formar o recém

proclamado Império do Brasil, o coronel Santinho recebeu o título nobiliárquico de Barão de Pirajá (5 de maio de 1826) e de Visconde de Pirajá (12 de outubro de 1826). Tornou-se amigo do Imperador Dom Pedro I.

Após a vitória de 2 de julho de 1823, sempre às custas de seus negócios e tirando dinheiro do próprio bolso, o coronel Santinho ainda dedicou todas as suas forças na luta contra as guerras civis que surgiram no Nordeste brasileiro e que intencionavam estabelecer nas provín-cias de lá o sistema republicano, separando-as do restan-te do Brasil. Entre estas, esteve a Sabinada e a Confede-ração do Equador.

Forte do Mar

O Forte de Nossa Senhora do Pópulo e São Marcelo, popularmente conhecido como Forte do Mar, localiza-se em Salvador, capital do estado da Bahia. Erguido sobre um pequeno banco de arrecifes a cerca de 300 metros da costa, fronteiro ao centro histórico da cidade, destaca-se por se encontrar dentro das águas, como o Forte Tamandaré da Laje, no Rio de Janeiro, e ser o único de planta circular no País, inspirado no Castelo de Santo Ângelo (Itália) e na Torre do Bugio (Portugal).

Cronologiada Revoltado Guanais• 28 de outubro de 1831, sublevação de intento republicano na localidade de Campo Grande;

• 24 de fevereiro de 1832, levante na Vila de Cacho-eira;

• Março de 1832, a Vila de São Félix se une à Vila de Cachoeira na insurreição;

• 26 e 27 de abril de 1833, no Forte do Mar, em Sal-vador.

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Papo‑cabeça 21 Bate‑pronto com

MANUELA BRAGA

Manuela Braga é pernambucana e presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES)

Nordeste VinteUm – No 390 Congresso da Ubes, realizado em dezembro, na capital federal, foram definidos os novos rumos do movimento estudantil secundarista para os próximos dois anos. Quais as prioridades?Manuela - Tivemos nos últimos anos avanços importantes no que se refe-re à educação. A retomada do ensi-no técnico e a ampliação do acesso à universidade são sem dúvida dois grandes exemplos. Mas ainda há mui-to o que transformar na educação e, sem dúvida, a reforma curricular do ensino médio é um grande desafio, além de maiores investimentos e ampliação do ensino técnico. Sobre o 390 congresso, mobilizamos mais de 4 milhões de estudantes. Saímos direto para o OcupeBrasilia, um movimento que todos os dias reunia estudantes diversos, movimentos sociais e par-lamentares em defesa da educação. Defendemos a aprovação de um Pla-no Nacional de Educação avançado, que responda ao novo momento de

crescimento do País. Conseguimos aprovar na Comissão de Educação do Senado a destinação de 50% do Fun-do Social do pré-sal para a educação.

NVU - Ao assumir a função de presidenta da Ubes, você ganhou destaque no centro do debate público do País em relação às políticas para a juventude. Como avalia essas políticas?Manuela - Vivemos um novo momen-to em relação às políticas públicas de juventude, no qual os jovens passam a ser reconhecidos como sujeitos de direitos e deveres, com acesso à uni-versidade e escolas técnicas (ainda que com muita exclusão, é verdade), acesso a emprego e moradia. Tivemos recentemente a 20 Conferência Nacio-nal de Juventude, um marco na cons-trução de Políticas Públicas, e temos em tramitação no Senado o Estatuto da Juventude, que será nossa maior conquista. Estamos caminhando a passos largos e temos novas perspec-

tivas de mudança de vida. NVU - Quais os principais desafios de sua gestão? Manuela - A aprovação de um Plano Nacional de Educação que correspon-da às expectativas dos estudantes e ao novo momento econômico que vive o Brasil, com investimento direto de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) em educação, reforma curricular do ensino médio e valorização dos profis-sionais em educação.

NVU - Como você enxerga o fato de uma jovem de 19 anos poder assumir a presi-dência da Ubes e jovens com quase 18 anos não poderem ser responsabilizados criminalmente como adultos? Manuela - Temos uma parcela signifi-cativa da população que ficou excluí-da e que vive excluída. Não podemos encontrar a solução aprisionando-a em presídios lotados, que em grande parte das vezes servem apenas para

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PrOJOvem AdOLeScente

mudAnçA nO FIeS 2012

As inscrições para o ProJovem Urbano 2012 já podem ser feitas. Os interessados – jovens que saibam ler e escrever e não tenham terminado o ensino fundamental (8ª série) – podem acessar o site do programa. O curso tem duração de 18 meses e oferece um auxílio de cerca de R$100 por mês para quem participar. Para fazer a sua inscrição no ProJovem Urbano 2012 acesse: www.projovemurbano.gov.br ou então ligue gratuitamente para o telefone 0800722 7777.

A partir de agora, os estudantes que se inscreverem no SISFIES 2012 não terão mais que efetuar o pagamento antecipado de taxa de matrícula, ou seja, o FIES 2012 dispensará o pagamento prévio de taxa de matrícula na instituição superior de ensino em que o estudante pretende utilizar o financiamento. As faculdades e universidades participantes do FIES 2012 estão proibidas de efetuar a cobrança. Se o interessado não formalizar a assinatura do contrato de financiamento estudantil, deverá efetuar o pagamento de todas as mensalidades e taxas devidas sem, contuto, pagar juros e multas.

marginalizar cada vez mais. Atuar na prevenção da violência e dar opor-tunidade para os jovens através da educação tem que ser o princípio nú-mero 1 para o desenvolvimento justo do Brasil. Todos os jovens são absolu-tamente capazes de mudar de vida e escrever uma nova história, desde que tenham oportunidade.

NVU – Como você avalia a posição dos jo-vens secundaristas sobre a questão am-biental? Acha que houve uma articulação desse segmento em relação, por exemplo, à aprovação do novo código florestal?Manuela - A pauta ambiental é algo que cada vez mais faz parte do cotidiano dos estudantes secundaristas. Em muitas escolas são feitos concursos de projetos e iniciativas ambientais. O novo código florestal se apresenta para grande parte dessa parcela como um marco na preservação ambiental. Pela primeira vez depois de décadas faz-se reformas profundas na legisla-ção ambiental, com proteção à Ama-zônia, nossa maior riqueza natural, com incentivo e apoio a pequenos agricultores e com normatização e ri-gidez às punições aos que “grilam ter-ra” e desmatam nossas florestas.

NVU - Manuela, há quem afirme que a Ubes não possui legitimidade para dialogar pe-los estudantes por estar ligada a articula-ções partidárias que apoiam o governo. O que você poderia dizer disso?Manuela - A União Brasileira dos Estu-dantes Secundaristas tem 63 anos de uma história inabalável na luta pela educação pública, gratuita e de qua-lidade e esteve em todos os grandes momentos de transformação do País como “O Petróleo é Nosso” e “Fora Collor”. Recentemente ocupamos a esplanada em defesa do PNE (Plano Nacional de Educação) e hoje ocupa-mos as ruas de diversos estados con-tra aumentos abusivos de passagens. A Ubes reúne estudantes das mais diversas tribos, estudantes partidá-rios e apartidários que se apresentam com ideologia de direita, es-querda, de centro, democra-tas, anárquicos,

enfim, das mais diversas opiniões. Essa é uma das mais importantes características da Ubes: garantir que todos os estudantes tenham espaço. Dessa forma a autonomia da Ubes é cada vez mais fortalecida. NVU - De zero a 10, qual a nota que você dá ao ensino público no País? Quais os cami-nhos a serem seguidos?Manuela - Há algumas décadas o Bra-sil adota como maneira de avaliação a adesão de notas com exames que avaliam os estudantes de forma inefi-ciente, portanto, não adotarei o mes-mo método aqui atribuindo nota para a educação. Ainda temos um caminho longo a percorrer, e no decorrer dele novos desafios vão surgir. Uma mu-dança radical da educação passa subs-tancialmente pela reforma do currículo escolar, a fim de nos preparar para o novo Brasil que vem sendo construído, com valorização dos profissionais em educação e o acesso universalizado. E isso só será possível com uma mudan-ça estrutural na educação.

NVU - A partir de episódios como o recente vazamento de questões do Enem em uma escola do Ceará, percebe-se, principalmente pela agressividade com o tema foi tratado nas redes sociais, que ainda há separatis-mo em relação aos jovens do Sul e Sudeste para com a Região Nordeste. Você, como nordestina, percebe isso?Manuela - É verdade que durante muito tempo nós, nordestinos, fomos tratados apenas como o povo da seca, que não tem acesso ao desenvolvimento. Mas o cenário que se forma no Brasil de hoje é outro. No último ano, o PIB que mais cresceu no País foi o de Pernambuco, um dos principais estados do Nordeste. Deixamos de ser a região que migra para o Sudeste e Sul para desenvolvermos a nossa região. Nosso povo, apesar das diversidades culturais e regionais, antes de tudo se identifica como brasileiro e, por isso, é identificado e admirado por ser um povo uno.

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Por André [email protected]

Desenvolver o caráter e preparar o indivíduo para a vida e o mercado de trabalho. Essas são as metas do Instituto Formação, Organização Não Governamental (ONG), sem fins lucrativos, com

sede no Maranhão. Desde 2003, oportunizando a inclusão de jovens através da informação e do esporte.

Desenvolvimento a partir

da formação Poder Local & Cidadania

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A pesar de objetivos nada modestos, o Ins-tituto Formação se de-clara exitoso ao longo

de oito anos de trabalho no Ma-ranhão e ramificações espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. A dife-rença da entidade em relação a maioria de outras instituições que trabalham o desenvolvimento pes-soal e coletivo, é que ele atua em áreas específicas do indivíduo, na busca por uma formação comple-ta, preparando a pessoa nos aspec-tos educativo, profissional e social.

O Formação foi fundado em 2003 por um grupo de educadores, militantes na área da educação bá-sica e da educação popular, com ex-periências em análise e elaboração de propostas de políticas públicas, desenvolvimento de projetos educa-tivos, produção de material didático, qualificação profissional de jovens e formação de professores.

Com um campo vasto de atua-ção, a linha que guia o trabalho da equipe é a construção de bases po-líticas e educacionais, como explica o secretário executivo e coordenador de comunicação do instituto, Fábio Cabral: “Nós buscamos a construção dessas bases efetivando políticas pú-blicas, especialmente nas comuni-dades mais pobres, sempre transver-salizando com a educação, cultura, esporte e comunicação”, diz.

O Formação é sediado na ca-pital maranhense, São Luiz, e seus

membros já semearam o trabalho em 115 municípios do estado. O foco fica no território Campos do Lagos, na Baixada Maranhense, região de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Maranhão, por-tanto, a área não foi escolhida à toa. “É lá onde se percebem os maiores resultados do instituto, especialmen-te na zona rural”, diz Fábio Cabral.

Para Fábio, o Formação fortalece a autoestima nas comunidades. “Sem essa confiança em si mesmo, fica di-fícil o processo de engrandecimento pessoal. Nós trabalhamos com pes-soas com baixa autoestima. E é essa a primeira mudança que temos que superar”. Ele se refere às pessoas da zona rural da baixada maranhense,

onde 70% da população recebem me-nos de um salário mínimo. Para se ter uma ideia, com a ajuda do  Formação a população local aumentou em 11% o número de graduandos e 6% o nú-mero de graduados, por exemplo.

“Parte dos universitários aplica o conhecimento adquirido na uni-versidade de São Luiz na própria comunidade, ou seja, eles voltam à sua comunidade para multiplicar o que aprenderam. Outros dissemi-nam os valores em outras cidades ou estados. Nisso tudo, fica a lição de superação”, diz Fábio. Ele afirma que, com isso, as pessoas mudaram o significado de “estar na roça”, ditado popular pejorativo que se refere a al-guém que está em má situação.

O Formação foi fundado em 2003 por um grupo de educadores, militantes na área

da educação básica e da educação popular, com experiências em análise e elaboração

de propostas de políticas públicas

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dinâmica de retorno dos ex-alunos para repassar co-nhecimentos, faz com que

muitos membros da entidade sejam “cria” do Formação. Como forma de retribuição, eles dão aula e dis-seminam educação e formação política. O jovem Alexssandro San-tos, de 26 anos, fez cursos de arte e cultura, esporte, lazer e educação comunicativa. Em 2007, foi monitor do Formação e desde 2010 é mem-bro do instituto na área de comu-nicação. Ele diz que o Formação clareou sua escolha profissional, e hoje estuda relações públicas na Universidade Federal do Mara-nhão, cursando o sexto semestre.

“Os cursos me ajudaram a ter uma formação política, uma visão crítica da sociedade. Quando se ad-quire conhecimento, a primeira coisa que se tem vontade de fazer é repas-sá-lo”, diz o jovem. Alexssandro foi “descoberto” pelo Formação quando a entidade mapeava jovens da baixa-da maranhense para desenvolvimen-to de um projeto voltado para o pú-blico de sua faixa etária, logo no ano de fundação do projeto. Ele queria desenvolver uma revista eletrônica sobre cultura, arte e comunicação. Desejo realizado. Alexssandro é um dos editores da revista COR (Cora-gem, Organizacão e Realização), com conteúdo ligado à formação po-

lítica para a juventude.O jovem ajuda ainda a encontrar

outros possíveis beneficiários. Para isso, também conta com ajuda dos telecentros. Por meio de redes so-ciais na internet, acessadas nas lan houses gratuitas, e consegue anga-riar seguidores não somente virtuais, mas parceiros nos estudos escolares, de arte, cultura e conjuntura política. Nesse aspecto, a rede de atuação do Formação, diz Alexssandro, funciona com sinergia. “Com os telecentros, nós ajudamos não só a democratizar a comunicação, mas também a con-seguir com que mais pessoas se edu-quem nesse sentido. É um trabalho que fortalece o outro”.

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Desdobramentos do projeto

acesso à comunicação e in-formação na internet é um dos direitos em pauta no For-

mação, e já alcançou resultados primo-rosos. Atualmente, 20% da população dos 115 municípios maranhenses onde atua o Formação têm acesso à in-ternet; em 2003, esse índice nas mes-mas cidades não passava de 1%.

A expansão do acesso foi possí-vel graças a 13 telecentros instala-dos em cidades com o menor IDH do Maranhão. Os telecentros são es-pécies de mini lan houses gratuitas. Os 13 prédios foram cedidos pelos municípios, já o serviço de acesso à internet foi desenvolvido em parce-ria com a telefonia Oi. A fundação Kellogg cedeu os equipamentos. Tudo adquirido por meio de nego-ciações conduzidas pelo Formação.

Retribuindo a formação

“Hoje esses jovens já produzem conteúdo

de grande qualidade, lido em todo o mundo por meio da internet”

FáBio CABRAlSecretário executivo e coordenador de comunicação do Formação

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“Os telecentros permitiram uma democratização mais radical. Lá você tem um laboratório on-line” , explica o secretário executivo Fábio Cabral. Com o maior acesso à internet entre a população, os alunos da região se capacitaram para produzir conteúdo de comunicação e lecionar aulas para uso do computador e navegação na internet. “Hoje esses jovens já produ-zem conteúdo de grande qualidade, lido em todo o mundo por meio da internet” , diz Fábio Cabral.

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P egando o embalo da onipresença do futebol de rua no Maranhão,

o  Formação transformou a mo-dalidade em uma forma de edu-cação e formação de jovens. O grupo enviou delegação com atletas do Nordeste brasileiro para um campeonato mundial de futebol de rua no Chile e outro na África do Sul. Este ocorreu de forma paralela à Copa do Mundo da Fifa em 2010. Sob comando de Diane Sousa, também egressa das salas de aula do Formação, agora eles se preparam para a Copa do Mundo de Futebol de Rua de 2014, no Brasil.

O objetivo da modalidade vai além do gol. No início de cada par-tida, as duas equipes determinam em consenso as regras do jogo. Não há categoria com divisão de equipes por idade nem por sexo. No futebol de rua, vale, por exemplo, garota adolescente jogar em mesmo time que um papai de 40, como a pró-pria Diane já fez. “Esse é um fute-bol integrador, sem discriminação do magrinho e do gordinho. É um movimento de inclusão no espor-te”, diz Fábio Cabral. “Os próprios jogadores fazem as regras e media-dores acabam apitando a partida, uma postura que exige ética. Dessa forma, trabalha-se a formação das pessoas com diversão”.

Diane já viajou e compartilhou experiências em três países estran-geiros com os torneios de futebol de rua e, agora, prepara a sua equi-pe, com jogadores de vários estados brasileiros, para a Copa do Mundo de Futebol de Rua de 2014. Fazer parte dessa seleção é o sonho de Eduardo Alves. “Que bom não exis-tir a questão da idade, pois em 2014 eu só vou ter 16 anos. No futebol

de rua, você precisa apenas saber jogar bola e respeitar o adversário, e nisso eu sou bom”, diz o estudante, hoje com 13 anos.

Eduardo e outros jovens viaja-ram em 2010 ao Chile, onde parti-ciparam de um torneio com equipes de vários países. Ele diz que essa foi

a maior experiência de sua vida. “Lá eles levam a sério a ideia de que o aprendizado é mais importante que a vitória na partida. Na verdade, a vitória mesmo é a amizade que se faz com todo o pessoal, mesmo os que falam outra língua. A gentileza é uma linguagem universal”.

Principais projetos do Formaçãol Entre os principais trabalhos promovidos pelo Formação está o Projeto Jovem cidadão, desenvolvido em parceria com o Instituto Kellogg. O projeto está previsto para ocorrer durante todo o ano de 2012 e tem como objetivo

impactar o desenvolvimento econômico e educacional das 115 cidades do Maranhão onde o instituto atua. Durante este ano, o trabalho em parceria promete aprimorar a capacitação do jovem no mercado de trabalho e envolvê-lo também em cursos educativos.

l Com o mapa da juventude do Maranhão, o Formação conseguiu com a Fundação das Nações Unidas para a Infância e Adolescência (Unicef) a elabo-ração e recursos financeiros para um segundo projeto que envolve atividades de educação com a juventude, que deve funcionar de forma complementar ao Projeto Jovem Cidadão em 2012. Para execução dos projetos, foram cria-dos os Centros de Ensino Médio e Educação Profissional (Cemps). Os Cemps funcionam como uma segunda escola para os jovens, que terão oportunida-de de acesso a cursos profissionalizantes.

Futebol como ferramenta de educação

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Homofobia. Segundo o dicionário, significa repulsa ou preconceito contra a homossexualidade ou aos homossexuais. O tema não é coisa apenas de adulto, e ganha cada vez mais destaque, tornando-se pauta nas rodas de conversas e

nas redes sociais. O governo federal já possui um olhar voltado para o trato da homofobia no ambiente escolar, mas ainda patina nas iniciativas.

Homofobiacontra a

Educação

Por Georgea [email protected]

Educar21

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partir de dados obtidos em 2011, o Ministério da Educação (MEC)

afirma que foram atendidos no ano anterior (2010) seis mil estu-dantes em todo o País no projeto Escola que Protege, voltado para a promoção e a defesa dos direitos de crianças e adolescentes, além do enfrentamento e prevenção das violências no contexto escolar. Foram alunos que passaram por alguma situação de violência na escola, em que está incluída tam-bém a homofobia.

Yago Alberto Santos da Silva, 19 anos, sabe bem o que é se sentir constrangido no ambiente escolar. Ele disse que sofreu bastante na es-cola devido a sua identidade sexu-al. “Viadinho, bicha e baitola” eram xingamentos constantes. Sentia-se ofendido e magoado. “Não tinha nem vontade de ir à escola na maioria das vezes”, desabafa. Yago lembra que as ofensas partiam dos meninos e a resposta dada aos in-sultos era um pedido de respeito.

“Eu pedia que eles me respeitassem porque

eu não os desres-peitava”, conta.

Atualmente,

A

Eu pedia que eles me respeitassem porque eu não os desrespeitava

Yago Alberto Santos da Silva

o Escola que Protege é a princi-pal arma do governo federal para prevenção e combate ao ciclo da violência contra crianças e adoles-centes no Brasil no âmbito escolar. Pretende-se capacitar os profissio-nais para uma atuação qualificada em situações de violência identifi-cadas ou vivenciadas na escola.

Em sua dinâmica de atuação, o projeto incentiva a discussão e o debate junto aos sistemas de ensi-no para que definam um fluxo de notificação e encaminhamento das situações de violência identifica-das ou vivenciadas na escola, junto à Rede de Proteção Social. Há ain-da a defesa da integração e articu-lação dos sistemas de ensino, dos profissionais da educação e, em es-pecial, dos Conselhos Escolares à Rede de Proteção Integral dos Di-

reitos de Crianças e Adolescentes.O projeto é baseado e inspira-

do em várias legislações e em ou-tros programas, como o Programa Brasil Sem Homofobia, criado em 2004, no primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Sil-va. O Brasil Sem Homofobia nas-ceu com o objetivo de promover a cidadania de gays, lésbicas, tra-vestis, transgêneros e bissexuais, a partir da equiparação de direitos e do combate à violência e à discri-minação homofóbica, respeitando a especificidade de cada um desses grupos populacionais.

Para atingir tal objetivo, o Pro-grama foi constituído de diferentes ações, dentre elas, a que previa a promoção de valores de respeito à paz e a não-discriminação por orien-tação sexual a partir da educação.

São metas: elaborar diretrizes que orientem os Sistemas de Ensi-no na implementação de ações que comprovem o respeito ao cidadão e a não-discriminação por orienta-ção sexual; fomentar e apoiar cur-so de formação aos professores na área da sexualidade; formar equi-pes multidisciplinares para avalia-ção dos livros didáticos, de modo a eliminar aspectos discriminatórios por orientação sexual e a supera-ção da homofobia; estimular a pro-dução de materiais educativos (fil-mes, vídeos e publicações) sobre orientação sexual e superação da homofobia, dentre outros.

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Uma nova chance para o kit anti-homofobia

m 2010 e 2011 o MEC bem que tentou, a partir do kit anti-homofobia,

distribuir às escolas públicas do País um material didático, con-tendo cartilha, cartazes, folders e cinco vídeos educativos, com o objetivo de combater a homo-fobia no ambiente escolar, mas a iniciativa gerou bastante dis-cussão e polêmicas alimentadas, principalmente, por parte da bancada evangélica no Congres-so Nacional. Em maio de 2011, a presidenta Dilma Rousseff sus-pendeu a distribuição dos kits. Na época, ela chegou a afirmar que não aceitava propaganda de opções sexuais.

A decisão da presidenta veio após a bancada evangéli-ca ameaçar endossar o pedido de instalação de uma Comis-são Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o então ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, que, naquele período, estava sendo questio-nado sobre o suposto aumento em 20 vezes do seu patrimônio entre 2006 e 2010, quando era deputado federal.

A discussão sobre o então kit, apelidado de “Kit Gay”, ga-nhou espaço nas redes sociais e blogosfera. Os contrários ao projeto diziam que o material iria ser distribuído não ape-nas aos jovens, mas também às crianças e seria um estímulo

à homossexualidade. O MEC, na época, esclareceu que o kit estava sendo pensado para o Ensino Médio e que seria vin-culado à formação dos profes-sores. Mas o argumento não foi suficiente para garantir a dis-tribuição dos kits. Ao suspen-der o projeto, Dilma chegou a afirmar ter assistido a um dos vídeos e disse não ter gostado do conteúdo.

Agora o MEC informa que o kit anti-homofobia terá uma nova chance. Ele irá passar pelo Comitê de Publicação do Minis-tério que irá analisar a qualida-de e objetivo do material produ-zido. Se receber o ok do Comitê, segue então para a sanção da presidenta, que poderá dar uma chance ao projeto ou então des-cartar de vez o material.

Yago, aquele do início da matéria, acredita que uma edu-cação voltada para o combate à homofobia iria ajudar a criar uma consciência de respeito ao próximo, e, muito prova-velmente, poderia evitar que outras pessoas passassem pela mesma situação que ele pas-sou na escola. O jovem não terminou os estudos, resolveu largar a escola ainda no 6º ano, preferindo apenas traba-lhar. “As ‘piadinhas” não pa-raram, elas continuam sendo feitas na rua. Nem ligo mais. Nem olho”, pontua.

E

O MEC esclareceu que o kit estava sendo pensado para o Ensino Médio e que seria vinculado à formação dos professores. Mas o argumento não foi suficiente para garantir a distribuição dos kits. Ao suspender o projeto, Dilma chegou a afirmar ter assistido a um dos vídeos e disse não ter gostado do conteúdo

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ara o educador e facilita-dor de aprendizagem e de mudanças, Luiz Rogério

Nogueira, a posição do Governo foi de prudência ao suspender o kit devido à repercussão negativa que o material teve. Em sua opi-nião, uma situação como essa, de combate a homofobia, não é de competência governamental, e sim familiar. “Os pais buscam criar seus filhos sem os valores básicos de convivência, entre os quais o respeito às diferenças. Não adianta a escola ensinar uma coi-sa e a família ensinar outra, e na maioria das vezes, quando a escola resolve debater o tema, alguns pais buscam a direção para cobrar esclarecimentos, alegando que a escola não pode, nem deve, falar sobre isso aos filhos”, atenta.

O educador esclarece que a escola tem duas funções bá-sicas: social e intelectual. Contudo lamenta que algumas ins-tituições de ensino estejam mais preocupadas com a função intelectual, deixando de lado a função de socializar, ensinar a conviver, a ser e a respeitar.

Questionado se as instituições de ensino devem capacitar seus professores para lidar com a homofobia, Luiz Rogério entende que não apenas os professores precisam se capacitar sobre o tema, mas os pais também. O ideal, ressalta, seria uma parceria entre a escola e a família, pois acredita que ajudaria e muito a vencer uma série de problemas que temos hoje. “Como nossos filhos vão aprender sobre o tema? Com certeza da pior forma possível. Urge uma conversa franca entre pais e filhos, professores e alunos, religiosos e fiéis sobre sexuali-dade”, destaca.

Luiz Rogério avalia que o preconceito nasce da igno-rância, da falta de informação, da hipocrisia e da exclusão. Como uma forma de preconceito, a homofobia também serve de incentivo ao bullying, pois conforme o educador, esse tipo de prática está enraizado exatamente na não aceitação das diferenças, banalizado como normal, causando cada vez mais vítimas, e pouco se tem feito para erradicar o que considera ser uma epidemia social.

Questionado se o fato de uma criança ou de um adolescen-te “tirar brincadeira” com um homossexual o torna homofóbico, Luiz Rogério alerta que tudo pode começar como uma “brinca-deira”, mas se a criança não for educada para a aceitação da diferença a tendência com o tempo é piorar. Permitindo isso, avisa, estamos “tolerando” e tolerar é obrigar a aceitar. “Preci-samos é aprender a aceitar as pessoas como elas são”, conclui.

TRAnSPoRTE ESColAR. Municípios atendidos pelo programa Territórios da Cidadania receberão recursos para a compra de veículos escolares do programa Caminho da Escola. Serão beneficiados 548 mu-

nicípios, que poderão renovar a frota e garantir o acesso e a permanên-cia dos alunos nas escolas da rede pública de educação básica. Foram selecionados municípios com menos

de 50 mil habitantes que não recebe-ram recursos do Caminho da Escola em

anos anteriores. Para receber os recursos, os prefeitos das cidades selecionadas precisam validar o termo de compromisso no Sistema Integrado de Monitoramen-to, Execução e Controle do Ministério da Educação (Simec).

CiênCiA SEM FRonTEiRAS. Brasil e França assinam memorando de entendimento que possibilitará a concessão de 10 mil bolsas de estudos a brasileiros em insti-tuições francesas no período 2012-2015. O acordo será celebrado no Palácio do Planalto entre os ministérios brasileiros da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação e o Ministério francês das Re-lações Exteriores e Européias, no âmbito do programa Ciência sem Fronteiras, busca desenvolver a ciência e a tecnolo-gia no Brasil por meio do intercâmbio de estudantes de graduação e de pós-gra-duação e da mobilidade internacional de estudantes e pesquisadores.

EdUCAção inClUSivA. Escolas públicas de educação básica, secretarias de educação e estudantes têm agora mais tempo para fazer a inscrição no prêmio Experiências Educacionais Inclusivas: a Escola Apren-dendo com as Diferenças. O prazo foi estendido até 16 de março de 2012. Nesta nova edição, serão premiados três traba-lhos de escolas, três de secretarias de edu-cação, três de estudantes dos anos finais do ensino fundamental e três de alunos de qualquer série do ensino médio. Um pro-jeto desenvolvido em escola da educação infantil receberá menção honrosa.

Na pontado

P

Escola tem a obrigação de socializar

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“Luiz Gonzaga” — Por Arievaldo Viana

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