nº 398 edição brasil

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COMO FINANCIAR SUA EMPRESA N º 398 Abril/2011 AméricaEconomia BRASIL www.americaeconomiabrasil.com.br www.americaeconomiabrasil.com.br N o 398 ABR./2011 R$ 8,90 ISSN 1414-2341 N o 398 A IS Como financiar sua empresa CFOs LATINO-AMERICANOS DÃO PISTAS E CONSELHOS PRECIOSOS PARA 2011 Ranking Multilatinas: Brasil domina a lista com quase 30 companhias VISITA DE OBAMA MUITO OBA-OBA E DECEPÇÃO PARA OS EMPRESÁRIOS

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AméricaEconomia: Revista de Economia e Negócios Latino-americana

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Page 1: Nº 398 Edição Brasil

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BRASIL www.americaeconomiabrasil.com.brwww.americaeconomiabrasil.com.br

No 398 ABR./2011 R$ 8,90

ISSN 1414-2341

No 398 A

IS

Como financiarsua empresaCFOs LATINO-AMERICANOS DÃO PISTAS E CONSELHOS PRECIOSOS PARA 2011

Ranking Multilatinas: Brasil domina a lista com quase 30 companhias

VISITA DE OBAMAMUITO OBA-OBA E DECEPÇÃO PARA OS EMPRESÁRIOS

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Page 4: Nº 398 Edição Brasil

nesta edição

4 AméricaEconomia Abril, 2011

Foto

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Seções Portal

Carta ao Leitor

Cartas/Índice de Empresas

Pistas

Negócio Fechado

Movimentos

Opinião – Mac Margolis

Ibiz

Clics

Opinião – Caio Megale

06 08 10 14 16 46 72 94 96 98

Debates Obama

Sem avanços na visita ao Brasil

Balança comercial brasileira

Momento bom para as commodities

Compasso de espera

As faces da reforma política

Energia nuclear

O futuro depois de Fukushima

Especial Sustentabilidade

Caminhos em prol do meio ambiente

5258646874

Negócios Ranking Multilatinas

Expansão no mercado global

Nicolas Fischer – CEO da Nivea

América Latina em foco

Os planos do Corpbanca

Banco chileno quer crescer na região

Dólares comestíveis

Alimentos pesam no bolso

Wikipedia

Emergentes são a bola da vez

Gastronomia

O novo cluster do Peru

183036384244

Finanças Especial CFOs

Perspectivas para 2011

Microfi nanças

Bancos miram a baixa renda

8288Foto de Capa: Aidon/GettyImages

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1

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1

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AE 398 nesta edicao2 V1.indd 2AE 398 nesta edic ao2 V1.indd 2 29.03.11 18:13:4629.03.11 18:13:46

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6 AméricaEconomia Abril, 2011

portal

LEIA NO PORTALEDIÇÃO: AINÁ VIETRO ([email protected])

www.americaeconomiabrasil.com.br

Siga o site da AméricaEconomia no Twitter: twitter.com/AEBrasil

Turismo em baixaFalta competitividade para o Brasil quando o assunto é

turismo. Problemas relacionados a questões como infra-

estrutura, violência, falta de mão de obra qualificada e au-

sência de investimentos falam mais alto que as belezas

do país. Um ranking sobre o setor foi divulgado em março

pelo Fórum Econômico Mundial. Entre os 139 participantes,

o Brasil ficou em primeiro lugar no quesito riqueza natural,

mas em 52o na classificação geral.

TV fechada O setor de TV por assinatura cresceu 30,2% nos últimos

12 meses, segundo a Anatel (Agência Nacional de Te-

lecomunicações). Nos dois primeiros meses de 2011, o

setor registrou 155,4 mil novos assinantes. Agora, 9,924

milhões de residências têm o serviço. O Distrito Federal

foi o destaque, com 33,1 domicílios com TV paga para

cada cem domicílios. São Paulo e Rio de Janeiro seguem

na lista, com 30 e 27,7 para cada cem casas com TV a

cabo, respectivamente, conforme o IBGE.

Suave aterrissagem O diretor-geral do FMI (Fundo Monetário Interna-

cional), Dominique Strauss-Kahn, questiona, em ar-

tigo para o site de AméricaEconomia, qual a melhor

forma de manter o dinamismo econômico e o au-

mento da qualidade de vida da população latino-

-americana. Strauss-Kahn ressalta que as econo-

mias da AL crescem rapidamente, mas surgem sinais

de superaquecimento que podem ser preocupantes,

como o aumento da inflação e o rápido crescimento

do crédito. Para que o boom não se transforme em

queda livre, a principal medida em curto prazo para

os responsáveis seria orientar as economias regio-

nais para uma suave aterrissagem. “A retirada do

estímulo macroeconômico adotado durante a crise

deve ser, provavelmente, o primeiro passo.”

O crescimento das economias da América Latina deve ser de até 3,9% em 2012. A informação está no relatório situação na América Latina, do grupo financeiro internacional BBVA. Conforme o estu-do, o aquecimento econômico não vai se manifestar da mesma forma em toda a região. Argentina e Venezuela, por exemplo, têm taxas de inflação elevadas e economia em expansão há alguns anos. Brasil, Chile e Peru poderiam ir pelo mesmo caminho caso o otimismo gerasse um investimento excessivo. Os países que têm maior margem de crescimento para os próximos anos, segundo os dados, são Colômbia e México.

Ascensão

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carta ao leitor

8 AméricaEconomia Abril, 2011

A pergunta que não quer calar

D iante de um cenário promissor e, ao mesmo tempo, assustador para

as corporações latino-americanas, que inclui queda vertiginosa do

dólar, inflação à espreita e crise econômica na Europa, ao lado de cresci-

mento expressivo dos países da região, expansão da classe média e aumen-

to do consumo, o desafio de que empresários e homens de negócio têm de

dar conta é como manter suas empresas capitalizadas e preparadas tanto

para driblar as dificuldades quanto para surfar na onda das benesses.

Nas grandes empresas, o profissional responsável por responder a essa

pergunta e trilhar caminhos rumo ao crescimento sustentável e de longo

prazo é o CFO (Chief Financial Officer). Este número de AméricaEconomia

traz, na reportagem de capa, as respostas de profissionais que atuam em

companhias de diferentes setores e países da América Latina. Estar atento

ao grau de endividamento e às oportunidades no crescimento dos fundos de

private equity, ter cautela com os custos do financiamento em dólar e avaliar

a possibilidade de emitir títulos globais no mercado internacional estão entre

as recomendações desses especialistas.

Não perca, ainda, a nova edição do Ranking das Multilatinas, com as

maiores multinacionais da região. Apesar de ter perdido o primeiro lugar no

pódio (que no ano passado ficou com a JBS) e certo fôlego, o Brasil mostra

sua força e mantém uma participação expressiva, com 27 empresas listadas.

E mais: uma entrevista exclusiva com Nicolas Fischer, o alemão que está

a fazendo a Nivea do Brasil decolar; a avalição dos empresários brasileiros

sobre a visita de Obama ao país; e um especial sobre empresas que estão

vestindo a camisa da sustentabilidade e criando soluções inovadoras para

seus negócios são outros temas desta edição.

Gostaria também de prestar uma homenagem ao colega Sidnei Basile,

falecido no último 16 de março, em São Paulo. Advogado por formação e

vice-presidente de Relações Institucionais da Editora Abril e também do Co-

mitê de Liberdade de Expressão da Sociedade Interamericana de Imprensa,

Sidnei teve sua trajetória pautada pela ética jornalística e pela luta incansá-

vel pela liberdade de imprensa. Com certeza, a imprensa nacional perde um

dos maiores expoentes da luta contra qualquer tipo de censura.

José Roberto Maluf

ASSINATURAS Central de Atendimento

Tel.: 55 11 3512-9492, de 2a a 6a feira, das 9h às 18h. Site: www.assineamericaeconomia.com.br. Atendimento: www. assineamericaeconomia.com.br/faleconosco. Cartas: Rua Ferreira de Araújo, 202 – 12o andar – CEP 05428-000 – São Paulo/SP Valores de assinatura: Por 1 ano: R$ 96,00 / Por 2 anos: R$ 170,90

Pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Exemplares anteriores: solicite diretamente ao jornaleiro.

Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora LTDA. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em reais, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigida monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque nominal, mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.

PUBLISHERJosé Roberto Maluf

CONTEÚDODiretora de Redação: Tatiana EngelbrechtEditora Executiva: Paula PachecoDiretora de Arte/Projeto Gráfi co: Janaína DinizRepórteres: Graziele Dal-Bó e Rosa SymanskiEditora do Site: Ainá VietroRevisão: Assertiva Produções EditoriaisProdução Gráfi ca: Eduardo KepplerColaboradores: Paulo James Woodward (assistente de arte), Francisco Lobo (infografi a) e Vértice Translate (tradução)

COMERCIALIZAÇÃO Diretor Comercial: Mauro Machado – [email protected] de Contas: Nagibe José Adaime – [email protected] Martinez – [email protected] Oliveira – [email protected]

MARKETINGMarcia Leonardi, Elisangela Silva e Rafael Borsanelli

ADMINISTRATIVO/FINANCEIRODiretor Executivo: Eduardo Colturato Gerente Financeiro: Edison Arduino

CIRCULAÇÃOGabriela Beraldo

Pré-impressão: First PressPeriodicidade: Mensal (Abril de 2011)CTP, impressão e acabamento: IBEP Gráfi ca

Circulação auditada por:

SPRING EDITORA-PRODUTORARua Ferreira de Araújo, 202, 7o andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666Site: www.springcom.com.brE-mail: [email protected]

AMÉRICAECONOMÍA INTERNACIONALDiretor: Elias Selman CarranzaVice-presidente Executiva: Gloria Landabur C.Diretor Editorial: Felipe Aldunate M.Editores: Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco e Carlos Tromben (Santiago), Karen Correa e Pamela Velasco (Guaiaquil)Diretor de Arte: Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografi a: Miguel CandiaDiretor Global de Marketing e Vendas: José A. SerranoChefe de Operações: Matías Agurto

AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE(Estudos e Projetos Especiais)Diretor: Jaime Contreras SoriaPesquisador Sênior: Andrés AlmeidaAnalista: Catherine Lacourt e Rodrigo Dorn

AMÉRICAECONOMIA.COMDiretor de Estratégia Digital: Rodrigo GuaiquilEditor: Lino Solis de Ovando

ESCRITÓRIOSBuenos Aires: +5411 4383-8410 Cidade do México: +5255 5254-2400 Costa Rica: +506 225-6861Lima: +511 610-7272 Miami: +305 648-9071 Panamá: +507 271-5327Santiago: +562 290-9400 Uruguai: +5982 901-9052

Chairman: Robert R. Paradise

BRASILwww.americaeconomiabrasil.com.br

AE 398 carta ao leitor2.indd 2AE 398 carta ao leitor2.indd 2 29.03.11 16:20:3729.03.11 16:20:37

Page 9: Nº 398 Edição Brasil

Relação com Investidores: (52.81) 8328.6167 [email protected]

Comunicação Corporativa: (52.81) [email protected] www.femsa.com

FEMSA é uma empresa líder na industria de bebidas, através de Coca-Cola FEMSA, na maior engarrafadora independiente mais grande de produtos Coca-Cola do mundo em términos de volume de vendas; em comércio ao detalhe através de FEMSA Comércio, operando OXXO, a maior rede de lojas de conveniência e de crescimento mais rápido na América Latina; e na cerveja, sendo o segundo acionista mais importante da Heineken, uma das cervejarias líderes do mundo com presença em mais de 70 países.

Na FEMSA damos vida a nossa �loso�a de gerar valor econômico e social simultâneamente em nove países.

AÇOES COM VALOR

153.800 153.800US$ 24.7

US $ 19.4Beneficiados com programas de vinculação comunitária.

Milhões investidos em programas de segurança ocupacional.

Empregos diretos na América Latina.

US$ 24.7US$ 24.7US$ 24.7US$ 24.7América Latina.153.800153.800153.800153.800

US$ 24.7US$ 24.7US$ 24.7

US $ 19.4US $ 19.4

Milhões investidos em programas de cuidado do meio ambiente.

US$ 24.7US$ 24.7

US $ 19.4US $ 19.4US $ 19.4US $ 19.4US $ 19.4US $ 19.4931.000

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Page 10: Nº 398 Edição Brasil

10 AméricaEconomia Abril, 2011

cartas índice de empresas

CORREÇÃONo “Especial Milionários” (AméricaEconomia no 397, março de 2011), há uma informação incor-reta. Jean-Paul Luksic não é filho do primeiro ca-samento de Andrónico pai. Na verdade, os filhos são Guillermo e Andrónico. Jean-Paul é filho do segundo matrimônio.

Os números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas em cada reportagem.

Accion International 93

Ágora Corretora 37

América Móvil 23

Amyris 56

Apple 19, 42

AUX Canadá 16

Avianca-Taca 22

Banchile Inversiones 37

Banco do Brasil 36

Banco do Chile 37

Banco do Nordeste 90

BID 49, 90

Banco Palmas 92

Banco Real 76

Banco Sol 91

Bang&Olufsen 96

BBVA 36

BCI 37

Bematech 24

Blue Tree 15

BM&FBovespa 14

Braskem 75

Brighpoint 19

Brightstar 19

BP 72

Brown-Forman 22

Bunge 81

Caja Popular Mex. 91

Camargo Corrêa 17

Cavo 17

CEF 91

Cemex 22

Cencosud 23

Chartis Seguros 54

Cinépolis 24

Coca-Cola 14, 77

Comscore 95

Concha y Toro 22

CorpBanca 36

Corret. Cereais do PR 60

Cosan 53

Deloitte 47

Democtenia 69

Direct Express 17

e-bit 46

Embalse 70

Emp. Púb. Medellín 83

Enersis 84

Estre Ambiental 17

Even 79

Facebook 43, 94

Falabella 23

Fasa 22

Femsa 19, 23

Ferreyros 84

Feter Vineyards 22

Fibria 17

F-Secure 47

Fukushima Daiichi 72

GC2000 Consultoria 15

General Electric 56

Google 43, 54

Grameen Bank 91

Grupo ACP 93

Grupo Beiersdorf 31

Grupo Casa Saba 22

Grupo EBX 16

Heinz 14, 17

Hi-5 94

IFC 84

IG 43

IM Trust 36

Invap 71

Itaú 91

Iveco 83

Jack Daniels 22

JBS 16, 22

Johnson&Johnson 76

Jones Lang La Salle 15

Kibon 79

KPMG 85

KSR 16

Laguna Verde 69

Lan 19

LLX 16

MAN 86

Manulife 16

Mapfre 76

Minibanco 93

Motorola 19

Multiplex 72

Natura 32, 81

Nielsen 32

Nivea 30

Nokia 19

Orkut 94

Oxil, Água e Solo 17

P&G 31, 33, 76

Panasonic 48

PepsiCo 49, 79

Petrobras 22, 53

Petropak 76

Philips do Brasil 80

Pirelli 15

Planner Corretora 35

Pollo Campero 23

PwC 50, 94, 80

Quepasa Corp 94

Quero Alimentos 17

Randon 84

RC Consultores 61

Rede Ceap 93

Resicontrol 17

Rigamonti 16

RIM 19

Ripley 23

Samsung 96

Santander 36, 91

Scotiabank 83

Select 94

SMU Corp 37

Sonda 24

Sonico 95

Spoleto 14

SucessPar 15

Supermercados D&S 37

Suzano 17

Taca 22

TAM 19

Tech Front 94

Tegma 17

Telefônica 47

Televisa 24

Tenaris 22

Tetra Pak 76

Tivit 83

Totvs 24

Unilever 78

Unimarc 37

Ventana Gold 16

Visa 48

Wella 31, 33

Wikipedia 42

Yucca Flat 71

Envie sugestões e comentários para a revista AméricaEconomia Brasil:

[email protected]

Fale com a redação:

CAPITALISMO 3.0Excelente artigo, que toca justamente no ponto de uma forte discussão que se gerou na comunidade on-line de RSE (Responsa-bilidade Social Empresarial) a propósito das práticas anti-RES por parte de empre-sas como DuPont, Pioneer e Adecco na Argentina. (“Capitalismo 3.0”, América-Economia no 396, fevereiro de 2011). FER-

NANDO LEGRAND, DA ARGENTINA

OBAMAPelo visto, nenhuma placa tectônica se moveu nem suavemente por conta da visi-ta do presidente americano. Tal como vo-cês disseram, foi uma viagem somente pa-ra mostrar vontade de ter atenção. (“Oba-ma: o Brasil Está na América Latina”, AméricaEconomia no 397, março de 2011). SANDRA PÉREZ, DE SANTIAGO, CHILE

AE 398 cartas ind empresas2 V2.indd 2AE 398 cartas ind empresas2 V2.indd 2 29.03.11 15:30:1129.03.11 15:30:11

Page 11: Nº 398 Edição Brasil

18851 -- Arquivo: 252008-18068-HW-AN- Schiphol Aviao-20.2x26.6-Amer Econom_pag001.pdf22:37:01 21/03/2011

Page 12: Nº 398 Edição Brasil

IWC.O futuro da relojoariadesde 1868.

Portuguesa Calendário Perpétuo.Ref.ª 5023: Há uma coisa que nãomuda nunca na IWC: o desejo de sercada vez melhor. E a procura desse

nível de perfeição não é pura coinci-

dência. As suas raízes remontam à nave-

gação marítima do século XVIII. Porque,para além das coordenadas astronômicas, osnavegadores e exploradores de Portugal precisa-

vam de tempo exato para melhorar a precisão desua navegação. Inicialmente, eles ficaram satisfeitoscom a invenção do cronógrafo. Mas não pormuito tempo. Na década de 1930, dois empresáriosportugueses com os nomes de Rodrigues eTeixeira estavam à procura de uma outra solução.Para eles, os grandes relógios de bolso eram poucopráticos. Eles queriam um relógio de pulsonuma caixa de aço inoxidável com as qualidades ea precisão de um relógio de observação. A IWCtornou tudo isso possível e usou o movimento dorelógio de bolso calibre 74 para adaptá-lo comorelógio de pulso para os marinheiros. Estabelecendoassim as bases para uma saga familiar destinadaa permanecer única na história da relojoaria.

Futuro assegurado.

A história da IWC começou algum tempo antes da criação desta obra-prima. Foi em 1868 que um relojoeiro e empresárioamericano, Florentino Ariosto Jones,de Boston, fundou a International WatchCompany, no nordeste da Suíça. Desdeentão, os engenheiros da empresadesenvolveram inúmeros relógios, tais

como o Grande Complicação, a linhaIngenieur, os modelos do relógio Portuguesa, afamília dos relógios Aviador, as séries Da

Vinci e Aquatimer. Probus Scafusia (a excelência comprovada de Schaffhausen) encerra em si estafilosofia. As muitas realizações e inovações técnicas,que têm suas or igens em Schaf fhausen,são impressionante testemunho disso há mais de140 anos.

Hoje, o relógio Portuguesa Calendário Perpétuovem com o maior movimento jamais construídopela IWC numa caixa com 44.2 mm. Olhar atravésdo vidro de safira e poder observar, logo de imediato,como o sistema de corda de trinquete Pellatonfunciona, gerando energia suficiente para setedias, visível no mostrador da reserva de marcha.

Uma obra-prima da mecânica garante interaçãoautomática de todas as 109 peças individuais.Com uma precisão extraordinária, os mostradorese os ponteiros são controlados e ativados de formaperfeitamente legível: em outras palavras,os segundos , m inu tos , ho ras ,data, dia da semana, mês e quatrodígitos para indicar o ano. Contudo,há pelo menos algo impressionante:6 315 840 000 para 1. Essaé a grandeza da relação de trans-missão entre o ponteiro dos segundos e a corrediça do século. Efetivamente,isto significa que um ponto no volanteabrangerá cerca de 1,6 milhão de qui-lômetros decurso de um ano, enquanto a corre-diça do século, depois de 25 228 800 000 vibra-ções, se deslocará apenas 26 graus no fim doséculo. Só desta forma foi possível aos engenheirosda IWC programar mecanicamente um calen-dário de uso mais fácil para o utilizador até o ano de2499. O seu mostrador perpétuo e exato das fasesda lua somente divergirá um dia do sincronismocom a própria lua, após 577 anos. Resumindo: umrelógio que já escreveu o futuro.

Movimentomanufaturado.

F.A.Jones.

Mecanismo de relógio mecânico IWC manufaturado |Corda automática Pellaton | Autonomiade marcha para 7 dias | Indicadorda reserva de marcha | Calendárioperpétuo (figura) | Indicaçãoperpétua das fases da lua | Vidrosafira antireflexo | Fundo trans-parente com vidro safira | Resistenteà água 3 bar | 18 quilates ouro vermelho

IWC. Engineered for men.

Para mais informações, contatar [email protected] Schaffhausen, Suíça. www.iwc.com

BASE PAGINA COMPLETA.indd 2 30/03/2011 12:30:38

Page 13: Nº 398 Edição Brasil

IWC.O futuro da relojoariadesde 1868.

Portuguesa Calendário Perpétuo.Ref.ª 5023: Há uma coisa que nãomuda nunca na IWC: o desejo de sercada vez melhor. E a procura desse

nível de perfeição não é pura coinci-

dência. As suas raízes remontam à nave-

gação marítima do século XVIII. Porque,para além das coordenadas astronômicas, osnavegadores e exploradores de Portugal precisa-

vam de tempo exato para melhorar a precisão desua navegação. Inicialmente, eles ficaram satisfeitoscom a invenção do cronógrafo. Mas não pormuito tempo. Na década de 1930, dois empresáriosportugueses com os nomes de Rodrigues eTeixeira estavam à procura de uma outra solução.Para eles, os grandes relógios de bolso eram poucopráticos. Eles queriam um relógio de pulsonuma caixa de aço inoxidável com as qualidades ea precisão de um relógio de observação. A IWCtornou tudo isso possível e usou o movimento dorelógio de bolso calibre 74 para adaptá-lo comorelógio de pulso para os marinheiros. Estabelecendoassim as bases para uma saga familiar destinadaa permanecer única na história da relojoaria.

Futuro assegurado.

A história da IWC começou algum tempo antes da criação desta obra-prima. Foi em 1868 que um relojoeiro e empresárioamericano, Florentino Ariosto Jones,de Boston, fundou a International WatchCompany, no nordeste da Suíça. Desdeentão, os engenheiros da empresadesenvolveram inúmeros relógios, tais

como o Grande Complicação, a linhaIngenieur, os modelos do relógio Portuguesa, afamília dos relógios Aviador, as séries Da

Vinci e Aquatimer. Probus Scafusia (a excelência comprovada de Schaffhausen) encerra em si estafilosofia. As muitas realizações e inovações técnicas,que têm suas or igens em Schaf fhausen,são impressionante testemunho disso há mais de140 anos.

Hoje, o relógio Portuguesa Calendário Perpétuovem com o maior movimento jamais construídopela IWC numa caixa com 44.2 mm. Olhar atravésdo vidro de safira e poder observar, logo de imediato,como o sistema de corda de trinquete Pellatonfunciona, gerando energia suficiente para setedias, visível no mostrador da reserva de marcha.

Uma obra-prima da mecânica garante interaçãoautomática de todas as 109 peças individuais.Com uma precisão extraordinária, os mostradorese os ponteiros são controlados e ativados de formaperfeitamente legível: em outras palavras,os segundos , m inu tos , ho ras ,data, dia da semana, mês e quatrodígitos para indicar o ano. Contudo,há pelo menos algo impressionante:6 315 840 000 para 1. Essaé a grandeza da relação de trans-missão entre o ponteiro dos segundos e a corrediça do século. Efetivamente,isto significa que um ponto no volanteabrangerá cerca de 1,6 milhão de qui-lômetros decurso de um ano, enquanto a corre-diça do século, depois de 25 228 800 000 vibra-ções, se deslocará apenas 26 graus no fim doséculo. Só desta forma foi possível aos engenheirosda IWC programar mecanicamente um calen-dário de uso mais fácil para o utilizador até o ano de2499. O seu mostrador perpétuo e exato das fasesda lua somente divergirá um dia do sincronismocom a própria lua, após 577 anos. Resumindo: umrelógio que já escreveu o futuro.

Movimentomanufaturado.

F.A.Jones.

Mecanismo de relógio mecânico IWC manufaturado |Corda automática Pellaton | Autonomiade marcha para 7 dias | Indicadorda reserva de marcha | Calendárioperpétuo (figura) | Indicaçãoperpétua das fases da lua | Vidrosafira antireflexo | Fundo trans-parente com vidro safira | Resistenteà água 3 bar | 18 quilates ouro vermelho

IWC. Engineered for men.

Para mais informações, contatar [email protected] Schaffhausen, Suíça. www.iwc.com

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Page 14: Nº 398 Edição Brasil

pistas

14 AméricaEconomia Abril, 2011

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PUBLICAMOS • A BM&FBovespa quer 200

novas empresas, chegando a 5 milhões de in-

vestidores individuais em dois anos. Para isso,

tem incluído campanhas de promoção nas

praias brasileiras com a divulgação das van-

tagens do mercado de ações. A expectativa é

tanta que novos concorrentes começaram a se

apresentar. A americana Bats (Better Alterna-

tive Trading System) anunciou, em fevereiro,

sua chegada ao Brasil. (“Pecados de Carnaval”,

AméricaEconomia, no 397, março 2011)

O NOVO • O presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, voltou a relativizar, em mea-dos de março, a concorrência que a compa-nhia poderá vir a sofrer com a criação de uma nova bolsa de valores no Brasil. Ele negou que a redução de algumas tarifas cobradas pela BM&FBovespa faça parte de um conjun-to de medidas para que a empresa se fortale-ça diante de um novo concorrente.

BM&FBovespa

PUBLICAMOS • A Coca-Cola lançou no mercado bra-

sileiro um tipo de garrafa PET feita parcialmente com

matéria-prima de origem vegetal. A chamada “Plant

Bottle” tem em sua composição até 30% de etanol

produzido a partir de cana-de-açúcar. (“Soluções para

a Mesa”, AméricaEconomia, no 393, novembro 2010)

O NOVO • A Coca-Cola e a Heinz anunciaram, no final de fevereiro, uma parceria estratégica que permite a produção de frascos com a tecnologia da “Plant Bottle” nas embalagens de ketchup Heinz. Os novos frascos PET são feitos parcialmente de insu-mos de cana-de-açúcar e têm uma menor depen-dência de recursos não-renováveis em comparação às garrafas de plástico PET tradicionais.

Embalagens

PUBLICAMOS • No Brasil, a rede Spoleto conta, atual-

mente, com um total de 255 lojas. “Adotamos um ritmo

de abrir 35 lojas por ano”, explica Edwin Júnior, gerente

de Expansão Internacional da Spoleto. (“Exterior à Vista”,

AméricaEconomia, no 396, fevereiro 2011)

O NOVO • No mercado de refeições rápidas, a rede de fast-food italiana Spoleto anunciou, no início de março, que pretende manter o mesmo ritmo de cres-cimento do ano anterior e abrir, até o fim deste ano, 35 unidades.

Spoleto

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Page 15: Nº 398 Edição Brasil

Abril, 2011 AméricaEconomia 15

PUBLICAMOS • A presença da

multinacional italiana na América

Latina completou 100 anos em

outubro. Além do Brasil, a empre-

sa possui indústrias na Argentina

e na Venezuela. Mesmo consoli-

dada e, segundo o chairman mun-

dial do grupo, Marco Tronchetti

Provera, “líder absoluta”, a Pirelli

incluiu a região no plano indus-

trial para 2011-2012. Afinal, a Amé-

rica Latina é responsável por 40%

da produção total da companhia.

(“Novas Fronteiras”, América Eco-

nomia no 394, dezembro 2010)

O NOVO • A Pirelli, que tem fá-brica em Santo André (SP), forta-leceu sua liderança no mercado latino-americano de pneus em 2010, tanto em participação de mercado quanto em resultado, conforme anunciou a empresa na segunda quinzena de março. O faturamento na América La-tina alcançou US$ 2,2 bilhões; um aumento de 20% em rela-ção a 2009. Argentina e Brasil colaboraram com cerca de 80% desse resultado.

Pirelli

PUBLICAMOS • O ramo de shopping no Brasil vem sofrendo transforma-

ções para se adaptar aos novos tempos de exuberância econômica. Hoje, há

quem aposte pesado no conceito outlet. Amplamente difundido nos EUA,

esse tipo de centro comercial privilegia lojas de marcas famosas, mas com

preços mais em conta. “Esse formato respeita condições diferenciadas para

poder oferecer ao consumidor produtos de qualidade, a preços mais acessí-

veis”, explica André Costa, diretor de locação da Jones Lang La Salle, que atua

na comercialização e consultoria de shopping. (“O Apogeu Ainda Está Longe”,

AméricaEconomia, no 397, março 2011).

O NOVO • São Paulo vai ganhar um novo outlet com lojas de grifes que vendem coleções antigas a preços mais baixos. Será o segundo empre-endimento do tipo no estado. A inauguração deve acontecer daqui a um ano. O centro de compras, cujo investimento inicial será de R$ 130 milhões, entre obras e recursos aportados por lojistas, é resultado de uma parceria entre a consultoria imobiliária Jones Lang La Salle, a consultoria GC2000 e a empresa de desenvolvimento imobiliário SuccesPar Real Estate.

Jones Lang La Salle

PUBLICAMOS • Outra rede hoteleira que não tem poupado

munição para crescer é a Blue Tree, da empresária Chieko Aoki.

No final de 2010, a empresa anunciou que planejava captar

R$ 680 milhões junto a investidores, com o objetivo de inaugu-

rar 45 empreendimentos nos próximos cinco anos. (“O Apogeu

Ainda Está Longe”, AméricaEconomia, no 397, março 2011)

O NOVO • Em breve, o Piauí receberá uma das mais concei-tuadas redes de hotéis do país, o grupo Blue Tree. O empre-endimento ainda não tem data prevista para ser lançado, mas tudo indica que a marca desembarcará na capital Teresina até o final deste semestre.

Blue Tree

Foto

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ação

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Page 16: Nº 398 Edição Brasil

16 AméricaEconomia Abril, 2011

negócio fechado

Foto

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EIKE BATISTA (II)

5% da LLX à MAMA LLX vendeu 5% de suas ações para a

gestora de fundos canadense Manulife

Asset Management (MAM), percentual

que corresponde a 34.772.230 ações

da empresa. O valor da transação não

foi revelado. O braço logístico do Grupo

EBX, do empresário Eike Batista, está

implantando o Complexo Industrial do

Superporto do Açu, no estado do Rio

de Janeiro, o maior empreendimento

porto-indústria da América Latina. A

operação deve ser iniciada em 2012.

VALOR: Não informado

JBS

100% da RigamontiA JBS assumiu o controle de

100% do capital da empresa

de embutidos Rigamonti, uma

das dez maiores do segmento

na Itália. A companhia brasilei-

ra detinha 70% da Rigamonti

desde dezembro de 2009. A

empresa italiana tem fatura-

mento bruto de 130 milhões de

euros por ano e é líder no setor

de bresaola, carne bovina seca

e curada, feita com cortes de

coxão mole, com forte consu-

mo na Itália. O valor da opera-

ção não foi informado.

VALOR: Não informado

EIKE BATISTA (I)

91% da Ventana GoldO empresário Eike Batista adquiriu o controle da mineradora canadense Ventana Gold, que detém ativos de ouro na Colômbia, por cerca de US$ 1,5 bilhão. A AUX Canadá, de Batista, já tinha 20% da empresa e, com a operação, passou a deter 91% do capital total. Com sede em Vancouver, a Ventana explora ativos minerais em 4,59 mil hectares na Colômbia.

VALOR: US$ 1,5 bilhão

AE 398 negocio fechado2.indd 2AE 398 negocio fechado2.indd 2 3/28/11 8:46:02 PM3/28/11 8:46:02 PM

Page 17: Nº 398 Edição Brasil

Abril, 2011 AméricaEconomia 17

Nova dona da QueroA Heinz, gigante americana do setor

alimentício, comprou 80% da brasilei-

ra Quero Alimentos, por um valor que,

embora não tenha sido revelado, é es-

timado em R$ 1 bilhão. Em comunica-

do, a Heinz afirmou que a Quero tem

vendas anuais de cerca de US$ 325

milhões. A operação deve fazer com

que as vendas da empresa na América

Latina dobrem em um ano.

VALOR: R$ 1 bilhão (estimado)

TEGMA

Diversifi cação de negócioA Tegma Gestão Logística, que presta

serviço de transporte para montado-

ras, adquiriu 80% do capital social da

Direct Express Logística Integrada, por

R$ 77,22 milhões. A Direct atua em lo-

gística e transporte para empresas de

comércio eletrônico. Pelo acordo, a

Tegma pode exercer a opção de com-

pra das ações ordinárias remanescen-

tes, representativas de 20% do capital

social da Direct.

VALOR: R$ 77,22 milhões

SUZANO

Lance final pela KSRA Suzano Papel e Celulose concluiu a compra da

KSR, maior distribuidora de papel do país, que

pertencia à Fibria. O valor da transação foi de

R$ 50 milhões e ainda pode ser ajustado após

a apuração final do capital de giro – o que deve

ocorrer até o dia 15 deste mês. Em comunicado,

a Suzano afirmou que a aquisição fortalecerá o

canal de distribuição e beneficiará diretamente

seus clientes.

VALOR: R$ 50 milhões

HEINZ

ESTRE AMBIENTAL

MeganegócioA Estre Ambiental comprou a Cavo Serviços e Sa-

neamento, do Grupo Camargo Corrêa, por R$ 610

milhões. A operação criou a maior empresa de ge-

renciamento de lixo do país, com faturamento pre-

visto para 2011 de R$ 1,13 bilhão. A Estre conta com 12

aterros sanitários e controla várias empresas, como

Resicontrol, Oxil, Água e Solo, e Estação Ecologia.

VALOR: R$ 610 milhões

AE 398 negocio fechado2 V1.indd 3AE 398 negocio fechado2 V1.indd 3 3/28/11 8:45:14 PM3/28/11 8:45:14 PM

Page 18: Nº 398 Edição Brasil

18 AméricaEconomia Abril, 2011

ESPECIAL Ranking Multilatinas

Escaladaregional

AE 398 Ranking_Multilatinas.indd 18AE 398 Ranking_Multilatinas.indd 18 3/29/11 12:30:26 AM3/29/11 12:30:26 AM

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Abril, 2011 AméricaEconomia 19

MAIS EMPRESAS, MAIS SETORES, MAIS CONTINENTES. AS MULTILATINAS AUMENTAM SUA EXTENSÃO TERRITORIAL E GANHAM PARTICIPAÇÃO NO MERCADO GLOBAL, COMO DEMONSTRA A NOVA EDIÇÃO DAS EMPRESAS MAIS GLOBAIS DA AMÉRICA LATINAAMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE

Ilust

raçã

o: P

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Otn

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E mbora seu nome seja desconhecido pela maioria dos usuários de telefo-nes celulares, é muito provável que o smartphone que você usa tenha si-do montado nas instalações da Brightstar, empresa fundada pelo eco-

nomista boliviano Marcelo Claure.Depois de um ano ruim como 2009, quando teve de fechar operações na

Índia e no Oriente Médio, a empresa, com sede em Miami, voltou a crescer com mais força e abriu novos mercados, como Rússia, África e China. A rede de distribuição da Brightstar compreende mais de 50 países, e, segundo analis-tas, a companhia é responsável por um em cada três aparelhos desenhados por Apple, Motorola, Nokia ou RIM que circulam na América Latina. A Brights-tar distribui não apenas os aparelhos, mas também o material de marketing.

O que aguarda Claure, o empresário multilatino de 2011, no futuro? Nada menos que o controle do mercado europeu, onde a Brightstar está envolvida em uma batalha sem quartel com sua arquirrival americana Brightpoint.

Outro caso relevante na operação das empresas latino-americanas de maior vocação global é o da Lan, a companhia aérea chilena que luta para consolidar sua fusão com a TAM. O anúncio da fusão foi uma das grandes notícias empresariais da América Latina em 2010, mas agora depende da de-cisão final da autoridade antimonopólio chilena, que acolheu a ação interpos-ta por um grupo de consumidores com relação às possíveis implicações anti-competitivas da operação.

APOSTAS GLOBAISAs 10 empresas com maior percentual de investimentos no exterior em 2010

Fonte: AE Intelligence

0 10 30 50 7020 40 60 80 90

LAB. BAGÓ 83,085,0

TENARIS 78,081,0

IMPSA (PESCARMONA)

73,078,0

LAN 70,276,4

BRIGHSTSTAR 69,076,0

GRUPO NAC. DE CHOCOLATES

69,971,6

GRUPO ALFA 70,071,0

CEMEX 64,067,7

AJEGROUP 62,067,3

CAMARGO CORRÊA CIMENTOS

67,066,0

% Investimento no exterior 2009% Investimento no exterior 2010

AE 398 Ranking_Multilatinas.indd 19AE 398 Ranking_Multilatinas.indd 19 3/29/11 12:31:20 AM3/29/11 12:31:20 AM

Page 20: Nº 398 Edição Brasil

20 AméricaEconomia Abril, 2011

ESPECIAL Ranking Multilatinas

RK2011

RK2010

EMPRESA ORIGEM SETORVENDAS

2010 (EM US$

MILHÕES)

VAR. VENDAS 2010-2009 %

EMPREGA-DOS 2010

LUCROS 2010 (EM US$ MILHÕES)

NO PAÍSES ONDE ESTÁ PRESENTE

ZONAS/ REGIÕES

1 4 BRIGHTSTAR EUA TELECOMUNICAÇÕES 4.130,0 18,0 3.600 - 46 82 1 GRUPO JBS BR ALIMENTOS 28.417,6 38,3 123.936 215 21 83 3 CEMEX MX CIMENTO 14.434,5 -4,7 46.500 -1.337,4 35 84 2 TENARIS AR SIDERURGIA 7.711,0 -5,4 22.591 1.127,4 11 55 6 LAN CL AVIAÇÃO 4.387,1 20,0 17.000 419,4 19 76 10 TELMEX MX TELECOMUNICAÇÃO 8.132,5 -10,8 74.769 1.245,7 9 37 5 GRUPO ALFA MX AUTOPEÇAS/PETROQ. 11.044,5 24,8 52.000 398,9 17 68 * IMPSA (PESCARMONA) AR ENERGIA 788,9 - 1.500 - 11 39 7 VALE BR MINERAÇÃO 49.949,0 79,3 60.036 18.047,1 38 9

10 9 CONST. NORBERTO ODEBRECHT BR ENGENHARIA 5.500,0 8,9 87.662 - 34 711 8 GERDAU BR SIDERURGIA 18.841,2 23,6 - 1.285,9 14 6

12 14 AJEGROUP PE BEBIDAS 1.127,0 15,0 9.800 - 16 413 11 GRUPO BIMBO MX ALIMENTOS 9.487,2 6,4 102.000 436,8 18 614 12 PETROBRAS BR PETRÓLEO 128.000,0 25,6 76.919 21.119,5 28 815 31 AVIANCA – TACA ES AVIAÇÃO 3.000,0 - 6.700 - 23 416 * LABORATORIOS BAGÓ AR FARMACÊUTICA 654,5 12,0 6.500 - 18 417 13 AMÉRICA MÓVIL MX TELECOMUNICAÇÕES 49.220,6 62,9 55.000 7.354,2 18 418 22 GRUPO NAC. DE CHOCOLATES CO ALIMENTOS 2.224,9 -1,6 28.200 172,1 11 419 45 GRUPO CASA SABA (FASA) MX VAREJO 4.100,0 - 11.922 52,3 4 2

20 15 MARFRIG BR ALIMENTOS 7.788,1 46,5 - 147,5 22 621 17 SUDAMERICANA DE VAPORES CL NAVAL 5.448,1 79,7 6.972 170,7 6 5

22 20 CENCOSUD CL VAREJO 11.822,2 12,4 101.392 632,5 5 123 16 CAMARGO CORRÊA CIMENTOS BR CIMENTO 1.663,2 10,9 4.751 - 4 124 28 BRASIL FOODS BR ALIMENTOS 12.741,8 128,5 120.000 224,1 25 524 19 INTEROCEÁNICA CL NAVAL 821,9 -6,5 2.918 47,0 4 426 21 MEXICHEM MX PETROQUÍMICA 2.953,7 25,7 - 299,1 15 427 37 VIÑA CONCHA Y TORO CL BEBIDAS 798,6 14,4 2.935 89,5 28 728 25 SONDA CL TECNOLOGIA 951,9 28,8 10.882 71,6 9 329 35 GRUMA MX ALIMENTOS 3.761,3 -2,7 19.646 41,9 14 730 18 EMBRAER BR AEROESPACIAL 5.216,2 -23,4 17.009 314,7 5 431 36 ARAUCO CL FLORESTAL/CELULOSE 3.788,4 36,1 34.803 694,0 10 6

32 43 FIBRIA BR CELULOSE 3.771,1 60,2 - 359,3 7 433 32 CMPC CL FLORESTAL 3.817,9 17,6 14.382 637,1 9 234 24 WEG BR MÁQUINAS 2.629,2 27,9 22.984 312,0 47 735 27 VOTORANTIM CIMENTOS BR CIMENTO 5.315,6 70,9 11.700 - 4 336 30 POLLO CAMPERO GU ALIMENTOS 400,0 33,3 5.150 - 13 637 26 PDVSA VE PETRÓLEO 95.529,9 27,4 91.949 6.650,1 10 538 44 TAM BR AVIAÇÃO 6.811,8 17,8 28.193 381,6 13 339 29 FALABELLA CL VAREJO 8.086,1 20,5 67.465 882,5 4 140 * GRUPO ARGOS CO CIMENTO 1.594,0 -0,5 16.000 - 6 341 41 GRUPO MODELO MX BEBIDAS 6.884,3 9,9 36.707 805,2 22 9

42 59 TIGRE BR MAT. CONSTRUÇÃO 1.280,0 57,1 - - 9 243 * SUZANO PAPEL E CELULOSE BR CELULOSE 2.709,1 19,4 - - 8 444 53 METALFRIO BR ELETRODOMÉSTICOS 470,2 27,3 - 40,1 6 445 46 P.I. MABE MX HIGIENE 280,0 27,3 - - 18 646 39 ARCOR AR ALIMENTOS 2.386,7 8,5 22.000 - 16 647 34 ITAÚ UNIBANCO BR BANCO 46.316,9 4,7 112.000 7.796,1 12 448 50 GRUPO TELEVISA MX COMUNICAÇÃO 4.684,9 16,9 24.362 622,2 8 349 38 GRUPO ELEKTRA MX VAREJO 3.726,3 13,8 37.498 17,5 8 350 33 FEMSA MX BEBIDAS 13.741,5 12,0 127.179 3.259,3 9 351 23 GRUPO CAMARGO CORRÊA BR CONSTR./ENGENHARIA 9.698,0 39,5 57.864 - 14 5

52 40 VITRO MX VIDRO 1.885,5 2,7 16.989 -111,3 10 553 42 ANDRADE GUTIERREZ BR ENGENHARIA/CONSTR. 10.895,3 142,1 18.293 - 13 754 60 ARTECOLA BR QUÍMICA 378,0 44,8 - - 6 255 * COPA AIRLINES PA AVIAÇÃO 1.411,1 12,6 4.772 212,1 7 656 47 MADECO CL FLORESTAL 338,8 -14,1 2.370 8,0 3 157 52 CIA. SIDERÚRGICA NACIONAL BR SIDERURGIA 8.300,6 31,6 16.974 1.677,0 3 358 56 NATURA BR COSMÉTICOS 3.082,9 30,6 6.260 446,6 9 459 * BEMATECH BR TECNOLOGIA 199,5 8,4 - 21,2 25 760 54 MARCOPOLO BR AUTOPEÇAS 1.779,2 50,6 20.016 178,0 7 561 55 GRUPO GLORIA PE ALIMENTOS 817,0 -8,9 1.600 75,8 6 2

62 49 LUPATECH BR ENGENHARIA 349,0 9,5 2.951 -43,8 38 663 * TOTVS BR TECNOLOGIA 677,9 19,4 - 82,7 19 564 * DHB COMPON. AUTOMOTIVOS BR AUTOPEÇAS 169,7 20,7 950 - 25 765 * CINÉPOLIS MX ENTRETENIMENTO 787,5 16,9 15.702 - 10 466 57 RIPLEY CL VAREJO 2.122,8 21,1 19.574 106,8 2 1

(*) Empresas que não estavam presentes no ranking de 2010

(-) Dados não informados pela empresa

AE 398 Ranking_Multilatinas V2.indd 4AE 398 Ranking_Multilatinas V2.indd 4 29.03.11 15:36:2729.03.11 15:36:27

Page 21: Nº 398 Edição Brasil

Abril, 2011 AméricaEconomia 21

ÍNDICE DECOBERTURA

% VENDAS 2010 2

% VENDAS 2009 2

% INVEST.2010 2

% TRABALHA-DORES 2010 1

% TRABALHA-DORES 2009 1

ÍND. POTENCIALCRESCIMENTO 2010

ÍNDICE DE GLOBALIZAÇÃO 2010

ENDEREÇO ELETRÔNICO (WWW.)

100,0 60,3 59,3 76,0 84,0 80,0 70,0 78,23 BRIGHSTARCORP.COM77,6 89,2 85,2 65,5 64,0 76,5 92,3 78,18 JBS.COM.BR96,3 75,6 79,8 67,7 65,8 64,0 80,0 77,71 CEMEX.COM71,9 80,4 83,1 81,0 71,7 73,0 77,0 76,99 TENARIS.COM

73,8 78,0 73,0 76,4 43,0 40,6 78,0 73,18 LAN.COM59,5 94,9 67,4 50,2 92,2 70,1 81,0 69,97 TELMEX.COM81,5 54,0 52,3 71,0 51,5 51,0 72,0 69,75 ALFA.COM.MX

65,7 84,0 78,0 78,0 65,0 63,0 58,5 68,99 IMPSA.COM89,9 33,6 32,9 49,8 27,1 25,0 94,0 67,19 VALE.COM87,2 70,5 68,8 56,0 48,6 49,0 67,0 66,25 ODEBRECHT.COM69,4 38,9 53,0 59,9 48,0 46,3 82,0 65,14 GERDAU.COM.BR72,7 78,0 76,0 67,3 74,0 73,0 47,0 64,03 AJEGROUP.COM71,6 55,0 54,6 60,1 52,7 51,0 69,0 63,82 GRUPOBIMBO.COM

83,8 34,5 29,0 31,0 19,9 16,7 99,3 61,29 PETROBRAS.COM.BR74,3 82,0 80,0 22,0 77,0 79,0 79,7 61,27 TACA.COM67,9 23,1 22,0 85,0 69,0 65,0 40,0 60,29 BAGO.COM67,9 36,0 63,9 33,0 70,0 68,7 87,0 60,18 AMERICAMOVIL.COM58,9 38,0 37,7 71,6 19,5 17,2 67,0 59,11 GRUPOCHOCOLATES.COM39,1 73,0 - 53,0 70,0 - 69,3 58,81 CASASABA.COM81,1 54,9 51,5 31,6 41,7 35,0 72,0 56,96 MARFRIG.COM.BR

58,3 93,4 90,3 37,4 63,0 68,0 52,0 54,12 CSAV.CL42,8 56,0 55,5 48,3 55,6 44,0 66,0 54,00 CENCOSUD.CL38,3 51,0 48,0 66,0 56,7 60,8 51,7 53,74 CAMARGOCORREA.COM.BR91,5 41,9 47,0 16,0 17,0 10,0 82,3 53,68 BRASILFOODS.COM

54,8 79,2 81,0 58,0 54,0 55,0 40,0 53,68 CCNI.CL64,6 76,2 76,2 30,1 70,0 72,0 57,0 53,67 MEXICHEM.COM.MX/83,3 81,5 83,2 19,4 13,4 14,6 69,0 52,67 CONCHAYTORO.COM54,4 55,3 55,0 42,0 79,5 77,3 49,0 51,66 SONDA.CL75,0 66,9 72,6 18,4 62,6 60,0 59,0 51,17 GRUMA.COM57,9 93,0 86,0 26,5 11,0 5,0 69,0 50,63 EMBRAER.COM.BR65,7 87,0 90,0 23,3 21,6 21,3 64,0 50,19 ARAUCO.CL67,3 44,0 40,0 28,0 4,0 2,0 77,0 49,76 FIBRIA.COM.BR55,1 72,5 70,0 30,0 33,0 30,5 63,5 49,62 CMPC.CL

96,2 26,5 21,4 19,2 14,9 10,7 65,0 48,64 WEG.COM.BR47,6 35,0 36,0 49,0 36,0 34,9 56,7 48,33 VOTORANTIM-CIMENTOS.COM

70 72,0 75,0 10,1 76,5 78,0 54,7 48,29 CAMPERO.COM67,5 95,2 94,4 5,2 5,6 6,1 77,0 48,24 PDVSA.COM76,2 31,3 30,8 9,0 8,3 5,6 87,0 48,00 TAM.COM.BR38,3 39,5 36,5 39,6 41,0 38,2 68,0 47,99 FALABELLA.CL49,1 44,0 50,1 32,1 35,0 31,5 67,5 47,60 ARGOS.COM.CO

78,7 47,0 40,9 15,6 2,9 3,0 72,0 47,01 GMODELO.COM.MX59,2 22,4 19,5 43,2 24,7 23,0 55,7 46,22 TIGRE.COM.BR72,3 71,0 - 10,2 5,2 - 69,0 45,84 SUZANO.COM.BR64,6 36,5 21,0 41,0 50,0 45,0 38,0 45,27 METALFRIO.COM.BR70,5 46,1 45,0 36,2 24,1 22,7 41,7 44,49 GPOMABE.COM.MX72,1 16,3 15,4 27,2 30,0 27,9 57,0 44,31 ARCOR.COM.AR

73,2 12,0 10,5 3,8 9,8 10,0 85,3 43,55 ITAU.COM50,6 16,8 14,9 22,1 11,0 10,5 78,0 42,93 TELEVISA.COM.MX47,6 15,0 14,9 28,4 17,6 21,0 72,0 42,90 ELEKTRA.COM.MX50,6 44,4 40,7 18,0 33,4 32,8 64,3 42,59 FEMSA.COM68,7 18,4 17,5 15,0 22,5 21,0 67,0 42,43 CAMARGOCORREA.COM.BR68,1 56,1 53,6 15,8 17,0 19,0 54,0 41,87 VITRO.COM.MX

67,3 25,2 15,4 7,5 9,7 5,2 75,0 41,70 ANDRADEGUTIERREZ.COM.BR47,0 28,0 17,0 29,8 21,0 18,7 53,7 39,35 ARTECOLA.COM.BR60,4 25,3 - 18,0 24,0 - 56,0 39,21 COPAAIR.COM32,6 58,6 61,5 17,0 50,7 46,2 55,5 39,20 MADECO.CL50,6 26,2 22,6 13,4 7,3 6,0 68,0 37,89 CSN.COM.BR63,1 7,2 6,9 7,6 26,7 23,0 65,0 37,79 NATURA.COM.BR

85,9 13,6 12,0 15,0 8,3 4,5 45,0 37,37 BEMATECH.COM57,3 18,0 15,0 11,3 31,6 29,3 53,0 35,71 MARCOPOLO.COM.BR45,3 16,3 19,0 14,2 24,0 22,0 61,0 35,65 GRUPOGLORIA.COM47,6 23,6 20,5 13,7 26,2 25,3 54,0 34,81 LUPATECH.COM.BR80,1 3,8 2,4 2,8 7,4 7,0 54,0 34,18 TOTVS.COM.BR

83,9 10,5 - 3,6 1,6 - 50,0 34,07 DHB.COM.BR53,6 5,0 4,0 7,5 6,0 4,6 66,0 33,87 CINEPOLIS.COM.MX24,6 27,0 26,0 28,2 29,0 26,9 49,0 33,68 RIPLEY.CL

(1) Número de funcionários que atuam fora do país de origem da empresa

(2) Fora do país de origem da empresa

AE 398 Ranking_Multilatinas.indd 21AE 398 Ranking_Multilatinas.indd 21 3/29/11 12:23:12 AM3/29/11 12:23:12 AM

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22 AméricaEconomia Abril, 2011

ESPECIAL Ranking Multilatinas

A indefinição, que refletiu no preço das ações, não impediu que a Lan subis-se uma posição no ranking das multilati-nas. Hoje, a companhia aérea é a quin-ta empresa mais globalizada da região. É superada apenas pelo grupo argenti-no Tenaris, pela fabricante de cimentos mexicana Cemex, pela brasileira de ali-mentos JBS e pela Brightstar.

O ranking, realizado anualmente, desde 2006, por AméricaEconomía In-telligence, procura medir, comparar e registrar o grau de internacionalização alcançado pelas grandes companhias da região. Para isso, é criado um índi-ce de cobertura baseado na quantidade

de países e diferentes regiões do mundo nos quais a empresa tem operações.

Estar em dez países em uma mesma região, como a América Latina, rende menos pontos que ter operações em dez países divididos entre Europa, África e Ásia, por exemplo. A metodologia me-de ainda a globalização dos ativos, dos investimentos e dos recursos humanos das empresas, levando em considera-

ção a porcentagem total destes que es-tá fora de seu país de origem. Isso, por exemplo, explica porque a Petrobras re-trocedeu um degrau no ranking. Apesar de ter operações petroleiras em muitos continentes, as enormes reservas petro-líferas descobertas no subsolo marinho das costas brasileiras fizeram com que muitos de seus recursos se concentras-sem novamente no Brasil. Para atender a essa demanda, a gigante do petróleo levantou US$ 70 bilhões nos mercados acionários em 2010, a maior emissão de ações da história mundial.

Por isso, quando o foco de cresci-mento de uma multilatina está no mer-cado local, ela acaba perdendo graus de globalização. E sobe à medida que seus investimentos se afastam de seu país de origem.

A maneira mais rápida de subir no ranking é por meio de operações de fu-sões e aquisições. O salto de dez posi-ções da companhia aérea colombiana Avianca foi por sua absorção da rival centro-americana Taca para formar o grupo Avianca-Taca (com o qual so-mou vários países à sua estrutura ope-racional). A mexicana Grupo Casa Sa-ba subiu 26 posições após a compra da cadeia de farmácias chilena Fasa.

Comportamento semelhante ocor-re com a chilena Concha y Toro, uma das marcas de vinhos mais reconheci-das em nível global. Apesar de ter es-critórios comerciais em quase todos os grandes mercados do planeta, todos os seus investimentos e operações esta-vam no Chile. Isso mudou com o anún-cio recente da aquisição, por US$ 238 milhões, da vinícola californiana Fet-zer Vineyards, ligada à Brown-Forman – conglomerado de bebidas alcoólicas dono da marca Jack Daniels. Embora essa aquisição ainda não esteja incor-porada à estrutura da empresa chilena, aumentou o indicador de Potencial de

À medida que aumenta a aposta de uma empresa multilatina no mercado local, ela perde graus de globalização

JOGO BONITOQuantidade de multilatinas no ranking, segundo a nacionalidade - 2010

Fonte: AE Intelligence0 10 255 2015 30

BRASIL

CHILE

COLÔMBIA

EUAOUTROS

MÉXICO

PERU

ARGENTINA

VENEZUELA

CAPACIDADE AERÓBICAAs 10 empresas com maior potencial para continuar crescendo em 2011

Fonte: AE Intelligence

VALE

49.9

49,0

018

.047

,10

Vendas 2010 (US$ milhões)

Lucros 2010 (US$ milhões)Índice de potencial de crescimento internacional

99,394,0 92,3

87,0 87,0 85,3 82,3 82,0 81,0 80,0

140.000 100

60

80

40

10

90

50

20

70

30

0

100.000

40.000US$

milh

ões

Base

100

120.000

60.000

80.000

20.000

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Abril, 2011 AméricaEconomia 23

Crescimento Internacional, que é on-de o modelo metodológico registra es-se tipo de operação. Com isso, conse-guiu avançar dez posições.

Como acontece nas indústrias de

alto dinamismo, neste ranking não avançar é o mesmo que retroceder. As empresas que não iniciaram operações em novos mercados (ou não mudaram a composição de seus investimentos

ou recursos humanos), privilegiando as praças internacionais, caíram de posição. A guatemalteca Pollo Cam-pero, que levou suas lojas de fast-food para China, Indonésia, Espanha e Es-tados Unidos, além de vários países da América Central, não desembarcou em novos mercados no último ano e, por isso, perdeu seis posições. O caso mais extremo é o da Ripley, cadeia de lojas chilena que foi uma das pionei-ras ao cruzar fronteiras rumo ao Pe-ru, em 1997. Depois disso, contudo, não se expandiu para outros países, como fizeram suas concorrentes Fala-bella e Cencosud.

O conceito de multilatina foi criado por AméricaEconomia em 1986, com o objetivo de destacar as empresas que co-meçavam a fazer negócios pelas Amé-ricas. Hoje, o conceito também se apli-ca a companhias que cruzam fronteiras além da região latino-americana. Das 66 empresas que estão neste ranking, 53 têm operações fora da América Latina. A maioria é brasileira. Dos novos desti-nos, a Ásia está entre os preferidos. Ao todo, 34 companhias iniciaram opera-ções no continente nos últimos anos.

MULTILATINAS INOVADORASDaquelas que se concentram apenas na região, há alguns padrões comuns. As chilenas, por exemplo, preferem cres-cer no bloco formado por Peru, Chile e Colômbia. As mexicanas têm uma pre-ferência especial por crescer nos Esta-dos Unidos, embora não sejam poucas as que se expandem para o restante da região. As mexicanas América Móvil e Femsa estão entre as que construíram corporações 100% latino-americanas e se beneficiaram do bom momento que vivem muitos de seus mercados.

O desafio é enorme, pois a Améri-ca Latina ainda está muito longe de ser o mercado unificado de 500 milhões de habitantes em que poderia se transfor-mar, caso os entraves comerciais, tribu-tários e burocráticos desaparecessem.

Uma boa notícia é o surgimento de empresas de alta tecnologia entre as multilatinas, dentre as quais predomi-

NEGÓCIOS PERMEÁVEISAs 10 empresas com maior cobertura internacional - 2010

Fonte: AE Intelligence

Nº de países

Zonas/Regiões

Índice de cobertura

50,0 100

40,0 80

25,0 50

País

es

Base

100

45,0 90

30,0 60

35,0 70

20,0 40

15,0 30

10,0 20

5,0 10

- 00

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8 8 87 7 7 7 75

9

35

47

25

3834

25 2528 28

96,3 96,291,5 89,9 87,2 85,9 83,9 83,8 83,3

PASSAPORTE CARIMBADOAs 10 empresas com maior % de trabalhadores no exterior - 2010

Fonte: AE Intelligence

N.D. - Não divulgado Nº de empregados 2010% de trabalhadores no exterior

80.000 100

40.000

60

60.00080

20.000

40

70.000

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N.D

84,079,5 77,0 76,5 74,0 71,7 70,0 70,0 70,0

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24 AméricaEconomia Abril, 2011

ESPECIAL Ranking Multilatinas

nam as fabricantes de cimento, as cer-vejeiras e outras empresas de setores tradicionais. Ao primeiro lugar conse-guido pela Brightstar, empresa de lo-gística que agregou à sua operação a fabricação de celulares para diferen-tes marcas, também se somou a chile-na Sonda, especializada em serviços de tecnologia para empresas, dona de operações importantes no México e no Brasil, além de outros países da região. As brasileiras Bematech e Totvs se-guem um caminho semelhante.

Outra novidade do ranking é a es-treia da mexicana Cinépolis, a tercei-ra maior cadeia de cinemas do mundo, com operações em muitos mercados da América Latina, além da Índia, on-de entrou em 2009. Apesar de haver de-butado no Brasil no ano passado, por ora, sua maior base de negócios ainda está no México.

Talvez estejamos no limiar de uma mudança no aparato produtivo na re-gião. Um estudo recente da universi-

MetodologiaPara medir o grau de globalização das empresas latino-ameri-canas, foram consideradas cinco variáveis principais, que ge-raram como resultado o Índice de Globalização.

As três primeiras englobam o conceito de Operações no Exterior, que inclui, em primeiro lugar, as exportações da matriz e as vendas das filiais, bem como sua porcentagem em relação à receita total das empresas, em dezembro de 2010.

Em segundo lugar, consideram-se os trabalhadores que operam nas filiais com relação ao total de trabalhadores que a empresa emprega.

Depois, considera-se a porcentagem de investimentos ou ativos que as empresas realizaram no exterior, sobre o total de investimentos (ou ativos), em dezembro de 2010. Essas três va-riáveis tiveram um peso de 50% no modelo final: 10%, 10% e 30%, respectivamente.

A quarta variável foi a Cobertura Geográfica, construída de acordo com a diversificação das operações no mundo.

Foram consideradas nove zonas econômicas, às quais foi atribuída uma ponderação segundo o grau de dificuldade que as multilatinas têm para chegar a cada lugar. As regiões foram América do Sul, América Central, América do Norte (México e Canadá), Estados Unidos, Europa, Ásia, África, Oceania e Orien-te Médio. Verificou-se em quantos países estava presente ca-

da uma delas. Com isso, construiu-se o indicador final, que te-ve um peso de 20%.

Finalmente, adicionou-se a variável chamada Potencial de Crescimento Internacional, que teve um peso de 30% e foi construída sobre três indicadores. O primeiro foi o tamanho da empresa, que teve um peso específico de 50%. O segundo foi a liquidez da empresa, que pesou 10%. O último foi o fator qualitativo de percepção (em base 100), que inclui os planos de investimentos, as recentes aquisições e os espaços que exis-tem para crescer no mercado global na área de cada empre-sa. Nesse item, a ponderação foi de 40%.

Em todos os casos em que não foi possível contar com al-guma informação, optou-se por estimativas, a fim de obter al-guns indicadores e, por isso, os fatores publicados devem ser considerados provisórios.

A coleta de dados foi feita por meio de uma pesquisa en-viada a mais de cem empresas da região, em fevereiro de 2011. Também foram usadas informações públicas dos sites das em-presas, superintendências e bolsas de valores, entre outras.

Os quatro fatores considerados foram expressos em base 100. Depois foi calculada a média com seus respectivos pon-deradores, gerando, assim, o índice de globalização das em-presas latino-americanas.

dade francesa Insead, financiado pela OCDE (Organização para a Coope-ração e Desenvolvimento Econômi-co), concluiu que há três setores de alta inovação nos quais as multilatinas po-deriam se destacar internacionalmen-te. “São eles o das telecomunicações, no qual as latino-americanas têm ino-vado com a gestão de pagamentos e a chegada aos mercados de recursos mais baixos; as tecnologias vinculadas ao meio ambiente, como foram os bio-combustíveis; e as chamadas indústrias criativas, que incluem moda, desenho industrial, cinematografia, produtos audiovisuais e o turismo cultural”, afirma Lourdes Casanova, autora do

A previsão para os próximosanos é otimista: as empresaslatino-americanas devem mantera estratégia de globalização

estudo. Este último foi o que permitiu à mexicana Televisa abrir passagem no mercado global com suas produções e assumir o controle da maior cadeia de TV em espanhol dos Estados Unidos.

O impulso globalizador de nossas corporações deve se manter durante os próximos anos. Em um mundo que ca-minha a diferentes velocidades, as em-presas latino-americanas estão ganhan-do poder de compra, enquanto os ativos em outros mercados do mundo se des-valorizam. É o destino: a crise financei-ra global gerada no mundo desenvolvi-do resultou em um cenário que favorece os investimentos internacionais e a con-quista de novas fronteiras.

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Abril, 2011 AméricaEconomia 25

EMPRESAS VOLTAM-SE AO MERCADO INTERNOPARA APROVEITAR CRESCIMENTO DO PIB EREDUZEM RITMO DE INTERNACIONALIZAÇÃOGIULIANO AGMONT, DE SÃO PAULO

Brasileirasperdem fôlego

CRESCIMENTO DO CONSUMO ENTRE BRASILEIROS MUDA FOCO DAS EMPRESAS

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26 AméricaEconomia Abril, 2011

ESPECIAL Ranking Multilatinas

O ranking multilatinas 2011 refle-te o bom momento econômico pelo qual passa a América La-

tina. Nunca a região experimentou um período tão pujante para os negócios, o que tem se traduzido em uma crescente expansão geográfica de suas principais companhias. Diante da maré favorável, os executivos dos grandes conglomera-dos da porção centro-sul do continente fecham cada vez mais contratos dentro e fora de seus países de origem. “As em-presas latinas ganharam relevância no cenário internacional. Hoje, com forta-lecimento, valor em bolsa e capacidade de endividamento a preços competiti-vos, elas estão apreciadas em relação a outras organizações mundiais, e valem mais em termos relativos”, constata o economista Reynaldo Passanezi, vice-presidente da Sobeet (Sociedade Brasi-leira de Estudos de Empresas Transna-cionais e da Globalização Econômica).

O índice de globalização expres-so no ranking multilatinas 2011 é o ter-mômetro dessa tendência. A maioria das companhias relacionadas na esca-

la de classificação elaborada por Amé-ricaEconomía Intelligence elevou sua in-ternacionalização em 2010 diante dos resultados de 2009. Porém, salvo ra-ras exceções, como as empresas Fibria e Brasil Foods, os grupos brasileiros perderam posições no ranking, mesmo ampliando sua atuação global. O que explica essa dança de cadeiras? Seria um mero reflexo da apreciação do real diante do dólar? Ou uma consequência natural das condições de mercado?

As respostas para essas perguntas estão longe de ser absolutas. Mesmo porque, a queda de posições no topo do ranking não foi abrupta, e tem mais a ver com a ascensão de outras companhias latinas, como a mexicana Telmex, a ar-

gentina Impsa e a peruana Ajegroup, que determinou o declínio de Vale, Odebrecht, Gerdau e Petrobras. Na par-te intermediária da lista, porém, compa-nhias como Marfrig, Camargo Corrêa, Embraer, Weg e Votorantim chegaram a perder mais de dez posições.

Na opinião do economista Evaldo Alves, professor de economia interna-cional da FGV-Eaesp (Escola de Admi-nistração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas), isso mostra que o levantamento pode, sim, ser in-terpretado como um sinal amarelo pa-ra as empresas brasileiras. “Não basta ir bem, é preciso ser melhor do que os concorrentes, o que inclui os vizinhos da América Latina. Na comparação com o Brasil, o México entra no mer-cado com produtos de maior densidade tecnológica”, sustenta Alves.

Segundo o professor da FGV, exis-te uma questão de estratégia em jogo. “A expansão dos grandes grupos brasi-leiros ocorre a partir de oportunidades em mercados decadentes, com aquisi-ções de empresas em dificuldades. Já chilenos e mexicanos, para citar dois exemplos, investem mais em eficiência e inovação tecnológica para conquistar novos mercados. As companhias bra-sileiras não podem cair em euforias triunfalistas. Elas precisam agir pre-ventivamente e ser ainda mais compe-titivas, sem esperar que a desaceleração econômica fique gritante para fazer is-so”, defende Alves. “O mundo está se transformando em um grande merca-do fracionado de partes e peças, com empresas oferecendo itens cada vez melhores e mais baratos. Esse é o prin-cipal nicho hoje e, por isso, a globaliza-ção tornou-se uma importante medida do sucesso”, completa.

“Não basta ir bem, é preciso ser melhor do que os concorrentes, o que inclui os vizinhos da América Latina”, diz Evaldo Alves, da FGV-Eaesp

A GERDAU FOI UMA DAS BRASILEIRAS QUE PERDERAM POSIÇÃO: DE 8O PARA 11O LUGAR Foto

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Abril, 2011 AméricaEconomia 27

MERCADO DOMÉSTICOA competitividade global é um desafio para os grupos brasileiros, mas as cir-cunstâncias econômicas de 2010 tam-bém ajudam a explicar as mudanças do ranking. No ano passado, o PIB (Pro-duto Interno Bruto) brasileiro cresceu 7,5%.“É difícil expandir-se internacio-nalmente em um país com um cená-rio tão favorável”, avalia Passanezi, da Sobeet.

O também economista Antonio Correa de Lacerda, professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) e da Fundação Dom Cabral, concorda: “As empresas se dedicaram mais ao mercado interno, o que acabou ofus-cando parte do investimento realiza-do além das fronteiras do país”. Para Lacerda, a apreciação cambial do re-al em relação ao dólar também pode ter contribuído para a queda das com-panhias do Brasil no ranking multilati-nas. “A política cambial jogou contra a internacionalização ao prejudicar as exportações, embora a desvalori-zação do dólar estimule as empresas a deixar de atuar no Brasil para buscar espaço no exterior”, explica o profes-sor da PUC.

Apesar dos impactos da alardea-da guerra cambial, o professor Eval-do Alves, da FGV, defende que o fenô-meno seja tratado como uma questão contingencial. “Ela é fruto do excesso de liquidez, já que a desvalorização do dólar já se tornou quase estrutural. As empresas terão de lidar com essa nova realidade. Como? Aumentando ainda mais sua eficiência, sua produtivida-de e sua atuação internacional”, con-sidera Alves.

Em relação ao peso do mercado in-terno na queda no ranking de globaliza-ção, Alves é mais comedido. “Os emer-gentes, em especial os Brics [Brasil,

Rússia, Índia e China], além de Coreia do Sul e do próprio México, jogam esse jogo. Equilibram sua atuação nos dois mercados, interno e externo. Todos en-frentaram a crise com medidas anticí-clicas em seus mercados e crescem no vácuo dos países desenvolvidos. A for-ça do mercado interno não pode com-prometer a expansão internacional”, acredita o especialista da FGV.

Passanezi acha que a globaliza-ção deve ser mais uma consequência do que uma meta para os grandes gru-pos latinos. Para ele, o que as empresas precisam é crescer, independentemen-te do mercado. “É claro que as oportu-nidades estão dentro e fora de seus paí-ses de origem, mas é preciso critério. A Fibria, por exemplo, tem de atuar on-de obtiver celulose barata, e o Brasil é um desses lugares. Não tem sentido ir para países onde sua matéria-prima é cara. O mesmo se aplica aos casos de Vale ou Embraer, que devem buscar condições vantajosas para produzir”, defende o vice-presidente da Sobeet. “A sobrevivência das empresas no lon-go prazo depende de sua inserção glo-bal, mas isso não significa estar em to-dos os países”.

Os desafios da América Latina, e do Brasil em particular, são proporcio-nais às oportunidades internacionais. Não se trata, na avaliação dos especia-listas, de competir com a China, que já mudou o eixo da economia mundial. “O Brasil nunca vai ser a China, o que vale tanto para virtudes quanto para defeitos”, destaca Lacerda, da PUC. O que ele quer dizer é que existem va-lores extraeconômicos que irão pesar a favor da América Latina. Isso se apli-ca às democracias, aos idiomas, à to-lerância étnica, racial e religiosa e ao respeito aos direitos humanos, além do forte crescimento econômico e do alto

A expansão dos grupos brasileiros ocorre a partir de oportunidades em mercados decadentes, por meio de aquisições de empresas com problemas

“ A escola de negócios No. do mundo”

– classificação mundial de 2010 do The Economist

Alcance global. Programas inovadores. Perspectivas diversas.

www.schulich.yorku.ca

Uma das dez melhores escolas de negócios do mundo

Schulich

A Schulich está considerada entre as melhores escolas de negócios do mundo pelo The Economist (#10 no mundo); Forbes (6a. melhor escola não-americana); Bloomberg Businessweek (9a. melhor escola de fora dos Estados Unidos) e The Aspen Institute, um celeiro de pensamento dos Estados Unidos (#1 no mundo em Liderança Social e de Meio Ambiente) em suas mais recentes pesquisas globais em Administração de Empresas. O MBA (Mestrado em Administração de Empresas) da Schulich é também classificado em 1o. lugar no Canadá pelo The Economist, Forbes e The Aspen Institute.

10

Leonardo Meira Salles De Paula (MBA ‘05) Gerente de Projetos McKinsey & Company São Paulo (Brasil)

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ESPECIAL Ranking Multilatinas

preço das commodities. “O Brasil é uma nação singular, muito diferente de re-giões da África e do Oriente Médio, por exemplo, que se tornaram áreas de risco para os negócios. Isso deve con-tinuar atraindo muitos investimentos para o país”, acredita o economista.

Para o vice-presidente da Sobeet, a estabilidade política e social, aliada ao potencial econômico, faz da Améri-ca Latina, de fato, um alvo importante de investimentos. Mas não da manei-ra frágil como já foi no passado, por-que as empresas latinas ganharam va-lor e estão fortalecidas. “Antes, mesmo as empresas mais fortes eram incorpo-radas por multinacionais estrangeiras que se instalavam na América Lati-na, como Cofap e Metal Leve. Ago-ra, os papéis se inverteram, por conta da musculatura dos conglomerados de nossa região”, diz Passanezi.

O economista tem levantamen-tos que dimensionam essa mudança. Ele traçou um comparativo de cinco empresas brasileiras com a média das cinco maiores companhias de seus res-pectivos setores, de 2002 para 2010, e chegou a resultados surpreendentes. A Petrobras valia 18% da média das top 5 do setor de óleo e combustível em 2002, passando a valer 123%. A Vale saltou de 32% para 106% entre as mi-neradoras. A Gerdau subiu de 18% pa-ra 96% no setor siderúrgico. E a Brasil Foods ascendeu de 35% para 241% na

área de alimentos. “Paralelamente, o custo de capital de terceiros diminuiu para essas empresas, com um spread muito mais atraente. O financiamen-to para elas é mais barato hoje”, expli-ca Passanezi.

Evidentemente, os números favorá-veis ao Brasil camuflam a falta de com-petitividade sistêmica do país, com problemas como juros altos, falta de infraestrutura, excesso de burocracia, tributação complexa e câmbio aprecia-do. Essas dificuldades neutralizam es-forços ligados a temas como inovação e sustentabilidade, que estão na pau-ta global. Mas é um quadro reversível,

Especialistas avaliam que

há tanto desafios quanto oportunidades internacionais

para as empresas

da América Latina

acredita Lacerda, principalmente com a continuidade do crescimento. “A in-ternacionalização é uma necessidade empresarial. Primeiro porque é uma forma de equilibrar dívidas em dóla-res, independentemente da variação cambial do real. Além disso, é uma maneira de estar mais próximo de ou-tros mercados. E, finalmente, facilita o acesso a financiamentos internacio-nais com condições melhores do que as brasileiras”, lista o economista.

As empresas brasileiras entre as 20 primeiras do ranking foram procu-radas, mas não quiseram comentar a queda de posição.

A PETROBRAS VOLTOU-SE AOS PROJETOS DO PRÉ-SAL NO LITORAL BRASILEIRO

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NEGÓCIOS Beleza

Vaidade brasileira: a arma da Nivea para crescer

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À FRENTE DA OPERAÇÃO LOCAL, O EXECUTIVO NICOLAS FISCHER TEM COMO META CONDUZIR O BRASIL

A NÚMERO 2 DO GRUPO AINDA EM 2011 E DOBRAR O TAMANHO DA EMPRESA EM CINCO ANOS. PARA ISSO,

CONTA COM O AUMENTO DOS CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO E O CRESCIMENTO DO CONSUMO NA BAIXA RENDA

GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO. FOTOS: PEDRO DIAS

A o assumir, nos últimos três anos, a lide-rança de crescimento dentro da Nivea, a América Latina tornou-se um dos focos

do Grupo Beiersdorf, holding que controla a mar-ca, para os próximos anos. Incluída no plano que criou uma nova unidade de negócios voltada es-pecialmente aos mercados emergentes, a região tem se destacado quando o assunto é o consumo de produtos cosméticos no mundo. O Brasil, por exemplo, já assumiu a terceira colocação mundial, atrás apenas de Estados Unidos e Japão. Para a Ni-vea, o cenário é positivo. A operação brasileira da empresa alemã persegue a segunda colocação no grupo em 2011, com uma projeção de crescimen-to de 15% para os próximos anos.

Em entrevista à AméricaEconomia, o presiden-te da operação da Nivea no Brasil, Nicolas Fischer, um alemão que construiu sua carreira atuando na América Latina, em empresas como Wella, P&G e na própria Nivea, revelou os planos da empresa para o país, a intenção de dobrar de tamanho até 2015 e o foco nos produtos direcionados aos cui-dados com a pele, segmento no qual detém uma boa posição mundial.

o assumir, nos últimos três anos, a lide-rança de crescimento dentro da Nivea, a

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NEGÓCIOS Beleza

manha, França e Itália]. Acreditamos que, em 2011, vamos conseguir passar os dois outros países e ficar em segundo. Se fa-larmos na operação do grupo como um todo, hoje somos o sexto país.

AE • Como você avalia o mercado de cosméticos na América Latina e no Brasil? Fischer • O Brasil é o terceiro maior mercado de cosméticos do mundo, atrás dos Estados Unidos e do Japão. Além disso, é bastante robusto e mui-to dinâmico. A área na qual a Nivea atua tem crescido a uma média de 8% ao ano. Eu estou falando do mercado de varejo, que mostrou ter dinamis-mo até nas categorias mais básicas, co-mo desodorante. Tem ocorrido um fe-nômeno muito interessante nos países emergentes. O padrão de consumo es-tá mudando, as pessoas estão deixando de comprar produtos mais simples pa-ra comprar outros, mais sofisticados, e isso tem nos ajudado. A América Lati-na é um mercado dinâmico também. Colômbia, Peru e Chile são os três paí-ses mais sólidos, com melhor situação macroeconômica, e onde o mercado de cosméticos tem crescido mais. Nos

últimos três anos, dentro da Nivea, a América Latina foi a região que mais cresceu. Em março, a Nivea criou uma nova unidade de negócios chamada Mercados Emergentes, que inclui Rús-sia, Oriente Médio, Turquia, Índia, África e América Latina. O Brasil é o maior país desse grupo.

AE • O que se vê aqui, no Brasil, ho-je, é uma tendência de fortalecimen-to da venda porta a porta. A Natura e a Avon já apostam nisso e, agora, o Boticário também entrou nesse mer-cado. A Nivea tem planos de investir nesse canal de distribuição? Como competir com tantas empresas no se-tor e um alto grau de informalidade? Fischer • No Brasil, e na América La-tina de um modo geral, a venda porta a porta é muito forte. Se você olhar pa-ra um país como o Peru ou a Colôm-bia, verá que eles têm muitos players importantes por lá também. Mas nós, como Nivea, sabemos que o nosso fo-co, a nossa especialidade, o que sabe-mos fazer e trabalhar, é com o merca-do de varejo. Nossa marca vai fazer 100 anos em 2011; e há 100 anos atuamos no varejo. Não temos intenção de mu-

AméricaEconomia • Em 2010, a ope-ração da Nivea no país registrou um crescimento de 13%. Quais são as me-tas para este ano? Nicolas Fischer • Sim, crescemos 13% em 2010. E nós temos um planejamen-to estratégico para os próximos cin-co anos, no qual queremos crescer a uma média de 15%, o que vai nos per-mitir dobrar o faturamento da empre-sa nesse período. Para isso, teríamos de ter crescido 13% no ano passado, o que conseguimos atingir. Agora, está come-çando um novo jogo, com outra estraté-gia, e conseguimos a aprovação da ma-triz para as estratégias dos próximos 5 anos, até 2015. De novo, a meta é do-brar de tamanho.

AE • E como vocês esperam crescer esses 15%? De onde virá a expansão? Fischer • O mercado já vai crescer 8%. Então, para fazer um parêntese, só cres-cendo ao ritmo de mercado, esse per-centual seria de 8%, o que já é difícil, porque existem muitos jogadores. Mas esse crescimento virá de várias coisas. Primeiro, da inovação, para ter um pro-duto adequado, moderno, contempo-râneo para o consumidor. Segundo, há ainda muitas regiões onde temos espa-ço, onde podemos melhorar a capilari-dade de nossa distribuição. E há algu-mas categorias de produtos em que a taxa de uso ainda não está muito alta, como a do protetor solar. No Brasil, ain-da temos um espaço muito grande para aumentar seu uso. Outra coisa que tam-bém temos no Brasil é o crescimento da classe emergente, que está começando a consumir mais e melhor. Ela está mu-dando de produtos mais básicos para itens mais sofisticados, o que nos ajuda-rá a alcançar esse crescimento.

AE • Quanto a operação brasileira re-presenta para o Grupo Beiersdorf? Fischer • Existem várias formas de ver isso. Podemos olhar só para a marca Ni-vea e podemos olhar para todas as mar-cas que o grupo possui. Se olharmos só para a Nivea, o Brasil é o quarto país do mundo em receita [atrás da matriz, Ale-

Participação de mercado

Segundo dados do Euromonitor International,

a Beiersdorf AG, controladora da Nivea, ocupa a

terceira posição no segmento de skin care no

Brasil, com 6,7% de market share, atrás de Natura

(21,8%) e Avon (20%). A empresa, no entanto,

prefere trabalhar com os dados da Nielsen,

na qual aparece como líder, com 25,3% de

participação de mercado no segmento de

varejo (que exclui a venda porta a porta).

Em beauty care, embora a companhia

afirme não ser o seu foco,

ela aparece em

10o lugar.

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dar isso porque está funcionando mui-to bem. O mercado é dinâmico, o porta a porta cresce muito, sem dúvida, mas o nosso canal de vendas também tem crescido muito. Felizmente, o espaço no Brasil é muito grande e possibilita a expansão em várias frentes.

AE • Com relação ao segmento de skin care, hoje, a Nivea ocupa a terceira posição, segundo o instituto de pes-quisa Euromonitor, atrás de Natura e Avon. Como vocês pretendem che-gar à liderança? Fischer • O Euromonitor inclui as mar-cas com venda porta a porta. Nós fo-camos apenas no varejo, então nós so-mos líderes, com 25% de market share, segundo a Nielsen [empresa de pesquisas de mercado]. Queremos reforçar isso ca-da vez mais, pois nós criamos esse mer-cado de varejo há 100 anos e queremos continuar como líderes. Para isso, va-mos apostar em lançamentos e novas tecnologias, como fizemos agora com o Nivea Body. Inovação no setor cos-mético é fundamental. As brasileiras gostam de produtos novos, mas tem de ser uma inovação relevante. Cerca de um terço de nossa linha é relançada to-dos os anos.

AE • Qual é o portfólio da Nivea aqui no Brasil? Fischer • Estamos com oito categorias, atuando em loções para corpo, produ-tos para o rosto, protetor solar, desodo-rante, linha masculina, sabonetes, pro-dutos para as mãos. Tudo o que tem a ver com skin care. Queremos estar ape-nas onde podemos agregar valor para o consumidor. Porque, quando olha-mos para o futuro, segundo o Euro-monitor, fala-se que mais ou menos 50% do crescimento do mercado virá de skin care. Será o segmento que mais vai crescer, então achamos que esta-mos bem posicionados.

AE • E a famosa latinha azul da Ni-vea, quanto representa das vendas? Fischer • Bom, isso eu sei, mas não pos-so falar. Nós não costumamos falar

O homem à frente da NiveaGraduado em Administração de Empresas em Berlim (Alema-

nha) e Vancouver (Canadá), Nicolas Fischer ingressou no Gru-

po Beiersdorf em 1992, exercendo funções na Alemanha, na

Colômbia e no Brasil, onde atuou como diretor administrativo e

financeiro, entre fevereiro de 1996 e março de 2001.

Em abril de 2001, mudou-se para o Chile, onde assumiu a

presidência da Wella. A partir de dezembro de 2002, esteve à

frente da gerência do Mercosul. O executivo retornou ao Brasil

em dezembro de 2004, pela P&G, onde atuou como diretor de

Marketing da categoria coloração de cabelo pelo Mercosul. Em

setembro de 2005, deixou a P&G para assumir a presidência da

BDF Nivea no Brasil, cargo que ocupa até hoje.

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NEGÓCIOS Beleza

de subcategorias. A latinha azul já não é o produto que mais vende, mas é um creme que tem uma venda boa. O carro-chefe são loções para o corpo. É o que mais sustenta a marca Nivea hoje em dia aqui no Brasil.

AE • No Brasil, a Nivea chegou a re-gistrar uma rotatividade de funcioná-rios na casa dos 30% seis anos atrás. Como está esse índice hoje e quais ações foram implementadas para re-duzir esse percentual?

Fischer • Essa é uma preocupação mui-to grande, porque você tem seus funcio-nários, treina-os bem e depois eles vão embora. É um custo muito alto para a empresa. A Nivea é uma empresa que preza muito pela continuidade. Olha-mos quais foram os pontos importantes para mudar isso, e eu diria que é preci-so ter transparência, comunicação clara dos objetivos, onde a empresa está e on-de quer chegar. Quando se tem clareza de onde você quer chegar, você consegue criar objetivos individuais para as pesso-

as e criar planos de carreira. Hoje, todo funcionário tem um plano de carreira, assinado pelo chefe. E ele tem os treina-mentos necessários para saber o que pre-cisa para atingir seu crescimento. Essas atividades têm ajudado muito. O índice de rotatividade hoje está em 12%. En-tão, na média, as pessoas ficavam três anos, e hoje em dia ficam quase 10 anos. Mas, para isso, você tem de desenvolver as pessoas e fazer com que elas tenham desafios. Nós, como empresa, temos a obrigação de oferecer isso a elas.

O padrão de consumo está mudando, as pessoas estão deixando de comprar produtos mais simples para comprar outros, mais sofisticados, e isso tem nos ajudado”

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AE • A empresa conta com apenas uma fábrica no Brasil, em Itatiba, no interior paulista. Existe a intenção de aumentá-la ou abrir mais unidades? Fischer • A fábrica é relativamente no-va, tem oito anos, e já foi projetada pa-ra aguentar esse crescimento. Foi cons-truída de forma modular, o que permite ampliar a capacidade quando for preci-so. Temos fábricas no México, no Chi-le e no Brasil, e elas atendem toda a América Latina. Estamos avaliando quais dessas fábricas vamos ampliar, em quais produtos e em qual momen-to. Nunca olhamos só o Brasil, mas sim a região como um todo. E cada fábrica é responsável por alguns tipos de pro-duto. O que eu posso dizer é que, para 2011, nós não teremos ampliação.

AE • Os produtos da Nivea vendidos no Brasil são produzidos nacional-mente ou alguns são importados? Co-mo está essa proporção? Fischer • A maioria vem do Brasil, sim. Eu diria que 60% do que é vendi-do aqui é produzido aqui.

AE • Você acredita que as últimas iniciativas da equipe econômica pa-ra restringir o acesso ao crédito po-dem refletir na disposição das pessoas de baixa renda em comprar cosméti-cos? Ou pode ocorrer um efeito inver-so, com as pessoas comprando menos produtos de maior valor agregado e se voltando para itens mais baratos, co-mo os cosméticos? Fischer • O país está em um bom cami-nho. Claro, sempre haverá alguns ajus-tes. De alguma forma, é até bom que haja um controle maior para segurar o crédito. O que nós vimos é que, no auge da crise, no primeiro semestre de 2009, tivemos nosso melhor semestre. Aí ve-mos que, geralmente, o consumidor, quando consegue comprar um carro, um apartamento ou algum produto da linha branca no crédito, fica com parte de seu orçamento mensal comprome-tido, pagando as parcelas. Se não con-segue comprar um apartamento, um carro, ele vai ter menor parte de seu di-

nheiro comprometido e vai para o con-sumo mais rápido, o consumo de cos-mético, por exemplo. Então, para o segmento de cosméticos, é melhor quan-do há menos crédito no mercado, por-que você não vende com crédito.

AE • Você sempre demonstrou inte-resse em ser um executivo global, tra-balhar fora da Alemanha, em diferen-tes países. Você acha que o brasileiro tem esse perfil global? Fischer • Eu acho que o executivo bra-sileiro está supercompetitivo em nível global. Vemos que, quando mandamos executivos brasileiros para trabalhar na matriz, em geral, eles se saem muito bem. Eles conseguem soluções rápidas. Infelizmente, ainda falta alguma coisa em algumas áreas. Por exemplo, na área de vendas, muitos não falam bem o in-glês, que seria uma coisa básica. Além disso, o brasileiro ainda é muito apega-do ao seu país. A maioria dos brasileiros sai do país, gosta da experiência, mas lo-go quer voltar.

AE • Existem rumores de que algu-mas empresas, como a P&G, com in-teresse nos países emergentes, teriam dito que a Nivea é uma companhia muito boa. Existe algum tipo de inte-resse em negociar a venda da opera-ção brasileira? Fischer • Bom, eu não seria a melhor pessoa para te dizer isso, mas desde que entrei na Nivea, em 1992, existem esses rumores. Nós temos nosso mercado, trabalhamos e funciona muito bem.

AE • Haverá alguma ação específica para o Brasil na comemoração do cen-tenário da empresa? Fischer • Estamos celebrando em nível global, com diversas atividades. Have-rá uma nova campanha de divulgação, que vai reforçar muito os valores da marca. Nossa marca nasceu com pro-dutos voltados aos cuidados com a pele, e a campanha vai focar nisso. Também teremos uma adaptação para o merca-do local, com ações na internet e nos pontos de venda.

Setor em

expansãoO otimismo da Nivea com

relação ao crescimento da

empresa não é à toa.

Segundo dados da Associação

Brasileira da Indústria de

Higiene Pessoal, Perfumaria e

Cosméticos (Abihpec), o setor

cresceu 12,6% em 2010 na

comparação com o ano

anterior, alcançando um

faturamento de R$ 27,5 bilhões.

E a estimativa para

2011 é de que essa expansão

mantenha o mesmo ritmo.

Modernização do parque

industrial, democratização do

consumo e maior acesso a

produtos pelas classes

D e E são apontados pelo

presidente da entidade, João

Carlos Basilio, como fatores

fundamentais para esse

crescimento. E ele não está

sozinho nesse coro. “O Brasil

tem, hoje, 14% do mercado

global de cosméticos, e as

perspectivas macro são

excelentes, já que a

preocupação com a qualidade

de vida está cada vez mais

forte. Aliado a isso, temos a

realidade da economia

brasileira, que está aquecida”,

completa Francisco Kops,

analista da Planner Corretora.

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36 AméricaEconomia Abril, 2011

NEGÓCIOS Finanças

MATÍAS RODO YURICEVIC, DE SANTIAGO

M ario Chamorro aparenta es-tar tranquilo para alguém que responde por um dos

bancos de melhor rendimento dos úl-timos tempos no Chile. O gerente-ge-ral do Corpbanca comanda, há vários anos, o braço financeiro do grupo con-trolado pelo empresário Álvaro Saieh. De fato, a instituição apresenta o segun-do maior crescimento em investimen-tos no sistema financeiro do Chile nos últimos sete anos. E quer continuar nesse ritmo. Para isso, acaba de apro-var um aumento de capital de US$ 670 milhões. Além disso, o Banco do Brasil – o maior do país em ativos, com US$ 452,431 bilhões – está mais perto de concretizar sua entrada no banco chi-leno, com 10% de participação.

Hoje, o plano do Corpbanca é pas-sar de uma participação em investimen-tos no sistema financeiro chileno de 7,3% (cerca de US$ 11 bilhões) para 10% no médio prazo. Mas a tarefa poderia elevar seu nível de risco, por se tratar de um mercado tão ajustado como o chi-leno. “A menos que baixem excessiva-mente os spreads e emprestem mais di-nheiro”, afirma Álvaro Pipino, diretor de estudos do IM Trust.

Além disso, o banco de Saieh en-frenta um concorrente forte: o BB-VA. A instituição financeira também tem um plano concreto para chegar a 10% de participação nesse mercado até 2015. Em dezembro de 2010, o banco espanhol detinha 7,27% dos investi-mentos no Chile.

O DESAFIO DE CHAMORRO SERÁ ENFRENTAR

O APETITE DO CONCORRENTE ESPANHOL

Decisão arriscadaO CORPBANCA E O BBVA PERSEGUEM O CRESCIMENTO DE PARTICIPAÇÃO NO SISTEMA BANCÁRIO DO CHILE. MAS UMA POSSÍVEL ALIANÇA COM O BANCO DO BRASIL PODERÁ FAZER A DIFERENÇA EM FAVOR DA INSTITUIÇÃO CHILENA

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Abril, 2011 AméricaEconomia 37

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tander, Banco de Chile, BCI e Corp-banca. Os investimentos aumentaram 12,2%, impulsionados por bens co-merciais e de consumo, afirma Rubén Catalán, analista do BCI. Os mesmos números são esperados para o Corp-banca. E 8,7% para 2012. A base estará no crescimento de sua carteira comer-cial (9,4% e 6,2%, respectivamente) e hipotecária (23,7% e 15,7% para os pró-ximos dois anos).

Mas Chamorro não deve se esque-cer de quem tem ao seu lado. O BBVA praticamente empata com ele em in-vestimentos. Ambos querem crescer no segmento varejista. “E têm espaço para

fazê-lo”, afirma Carola Saldías, analis-ta do Fitch Ratings.

O BBVA está investindo US$ 48 milhões em 2010-2011 (com o aumento de gastos de 20%) para ampliar a rede de atendimento e melhorar sua tecno-logia. O banco também poderia colocar suas fichas no varejo, por meio de uma possível aliança com a rede de super-mercados D&S. Se o plano se confir-mar, ficaria com 50% da divisão Pres-to (o processo estava em due diligence até o fechamento desta edição).

Por ora, quem tira mais proveito de sua carteira de investimentos é o Corp-banca, com lucro duas vezes maior que o do banco espanhol (US$ 102 milhões no ano passado). Mas é certo que o BBVA provisionou como adiantamento pou-co mais de US$ 83 milhões – o que afeta seus resultados do ponto de vista contá-bil – e seu plano de investimento aumen-ta seus gastos. Assim, o banco hispânico é um dos tantos obstáculos que Chamor-ro deve levar em conta na hora de colo-car seus planos em prática.

US$ 670 milhõesfoi o volume total de recursos aprovado

no aumento de capital do Corpbanca

Um impulso concreto que o Corp-banca terá é o aumento de capital, que, em grande parte, será destinado a tur-binar o volume de investimentos e fa-cilitar o acesso ao financiamento, após melhorar suas taxas de capitalização. “Ao aumentar a base de capital, o ban-co também poderá apoiar a internacio-nalização que está ocorrendo por parte de várias empresas chilenas dentro da região”, afirma Chamorro.

Por outro lado, o Corpbanca anun-ciou que vai capitalizar 25% de seus lucros e gerar sinergias com o Uni-marc, o braço varejista do Grupo Saieh, que possui 350 estabelecimen-tos, com vendas de US$ 2 bilhões. O banco irá participar do negócio finan-ceiro do Unimarc por meio da cria-ção da SMU Corp., que administrará o cartão de crédito do supermercado. Ao todo, 51% da empresa será do ban-co, e 49%, do varejista. “A ideia é che-gar a setores pouco bancarizados”, afir-ma Chamorro.

FATOR BRASILA possível chegada do Banco do Bra-sil – que obteve, em 2010, um lucro de US$ 6,994 bilhões, mais que o dobro dos US$ 3,4 bilhões de todos os bancos chilenos – talvez seja uma das grandes esperanças do Corpbanca. Por um la-do, daria-lhe respaldo internacional. Por outro, facilitaria o acesso ao enor-me crescimento das empresas brasilei-ras. “Muitas estão chegando ao Chile, por isso, a sociedade permitirá gerar novos negócios”, afirma Chamorro.

A analista do Banchile Inversio-nes, Claudia Benavente, afirma que o ingresso do BB poderia fornecer ao Corpbanca mais know-how no segmen-to comercial, que é “o foco do Banco do Brasil”.

Desde o governo do ex-presiden-te Lula, o BB tem a estratégia de partir para novos mercados para acompanhar o crescimento das empresas brasileiras, afirma Boris Molina, analista do San-tander em Nova York. “Busca-se uma oportunidade integral no Cone Sul”, diz Aloisio Lemos, analista da brasi-

leira Ágora Corretora. Prova disso é a compra de 51% do Banco Patagônia, na Argentina, por US$ 480 milhões.

O Corpbanca, que em 2010 teve um lucro de US$ 245 milhões – 46,7% a mais que no ano anterior –, estrutu-ra-se em três mercados: o banco ataca-dista, que atende empresas com vendas anuais superiores a US$ 30 milhões; fi-nanças e negócios de filiais no mercado de capitais; e imobiliário. Outra divi-são é a de empresas, para companhias com vendas entre US$ 2 milhões e US$ 30 milhões, e a de pequenas e médias empresas, com receita inferior a US$ 2 milhões.

A instituição também atua como banco varejista, com pessoa física, ban-co privado e consumer finance. Chamor-ro busca um balanço mais equilibrado entre ambos, aumentando a porcenta-gem de retail, em parte com as melhores perspectivas da economia, que abre es-paços para que mais pessoas se somem ao sistema, melhorando a rentabilida-de. “Considerando o ciclo do risco de crédito na economia, deveríamos ver esforços do banco em entrar mais em segmentos de receitas baixas, ao mes-mo tempo em que mantém o banco de clientes de altos rendimentos”, afirma Jorge Chang, diretor do Itaú Chile.

Para o Fitch Ratings, a estratégia dota o banco de um portfólio balancea-do em investimentos e receitas, com al-tos níveis de eficiência operacional.

O fato é que 2011 será um bom ano para o sistema. Já em 2010, os ban-cos no Chile registraram lucros de US$ 3,38 bilhões, 26% a mais que em 2009. Ao todo, 75,6% dos lucros se con-centraram em quatro entidades: San-

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38 AméricaEconomia Abril, 2011

NEGÓCIOS Câmbio

Dólarescomestíveis

O PREÇO DOS ALIMENTOS SOBE E PESA NO BOLSO DO CONSUMIDOR. A ALTA EXPÕE A DEBILIDADE DA MOEDA AMERICANA, A QUEDA DA OFERTA E A NECESSIDADE DE SE DISCUTIR A REGULAÇÃO DOS DERIVATIVOS FINANCEIROS BASEADOS EM COMMODITIES

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O aumento vigoroso dos pre-ços dos alimentos em todo o planeta, nos últimos meses,

tornou mais difícil para muita gen-te desfrutar suas refeições sem que o bolso reclame. Não é nenhuma gran-de surpresa: as commodities agrícolas retomaram a tendência de alta que já apresentavam em 2008, antes da crise econômica mundial. Mas, por que ago-ra? A abordagem convencional diz que, com a recessão para trás, isso é normal: a demanda por alimentos no mundo re-tomou o movimento crescente. E, por-tanto, os preços sobem.

No entanto, um argumento diferen-te começa a ganhar força. Nem China, nem Índia sofreram com a crise. Euro-pa (exceto Alemanha) e Estados Unidos continuam dentro dela. E nem os lati-no-americanos (excluindo o México) baixaram seu consumo. Então, quem, de imediato, está comendo mais? Nin-guém. O problema provém de três fato-res: a debilidade do dólar, a explosão do mercado desregulado de derivativos fi-nanceiros baseados em commodities e a

queda momentânea da oferta causada por problemas climáticos.

Com esse diagnóstico, o presidente da França, Nicolás Sarkozy, surpreen-deu a todos, recentemente, ao pedir uma “estratégia global destinada a as-segurar a estabilidade dos preços dos alimentos”. Sua proposta inicial in-cluiu a criação de fundos regionais com preços máximos e a regulamenta-ção agressiva do mercado de derivati-vos. De imediato, o presidente francês deparou-se com a oposição de Estados Unidos, Brasil, Canadá e Argentina, grandes exportadores, para quem a re-gulação dos preços resultaria em me-nos produção e mais problemas.

“A regulamentação das commodities não é a resposta”, sentenciou na oca-sião o ministro da Economia argenti-no, Amado Boudou.

Enrique Dentice, economista do Cime (Centro de Pesquisa e Medi-ção Econômica), da Universidade de San Martín, na Argentina, concorda: “Querem que regulemos o que culti-vamos e oferecemos. É o grito de uma

potência decadente”. Ele recorda que o continente europeu é parcialmente res-ponsável pela alta. “A Europa está mui-to envolvida na demanda por biocom-bustíveis”, afirma o especialista. Em sua opinião, o problema-base é que “a demanda não é constante, é crescente”.

Operador do Mercado de Futuros da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, Ricardo Baccarin concorda. “A de-manda é bastante inelástica”, afirma. E recorda que a soja, “nos últimos 11 anos, sextuplicou, enquanto os preços triplicaram”. Nesse contexto, “as coi-sas não voam pelos ares graças à res-posta tecnológica à subida dos preços, porque a terra disponível não aumen-tou tanto”.

O problema é que a tecnologia não atua de forma mágica e, de fato, pode-ria estar perto do limite de seu poten-cial. A oferta total de soja vem aumen-tando entre 15% e 20%, anualmente, mas “tudo indica que os rendimentos voltarão a ser decrescentes em escala, em algum momento do tempo”, afir-ma Dentice.

A REGULAÇÃO DAS COMMODITIES AGROPECUÁRIAS ENTROU NA PAUTA DE GOVERNOS EUROPEUS E DO BANCO MUNDIAL

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NEGÓCIOS Câmbio

ALTERNATIVASMas isso está no futuro. O que fazer agora? “Sou um amante do mercado, mas também sei o problema que está sendo gerado por esse crescimento des-comunal do preço dos alimentos”, afir-ma Jesús Valdés, especialista em finan-ças e acadêmico do Departamento de Estudos Empresariais da Universida-de Ibero-Americana. “Isso pode tra-zer grandes consequências aos países da região, sobretudo aos da América Central e Caribe.”

Diferentemente de outros especia-listas, Valdés acredita que a situação é bastante grave. “Valeria a pena, no curto prazo, manter um certo contro-le dos preços”, afirma. “Os países com altas taxas de desempre-go exportam fluxos de liqui-dez para os mercados emer-gentes, porque essa é uma maneira de ter um tipo de câmbio baixo e fortalecer sua reativação.” O dólar fraco e abundantíssimo, por outro lado, alimen-ta o mercado futuro de commodities, “além da ofer-ta e da demanda dos mer-cados físicos e, inclusive, da influência [de alta] dos biocom-bustíveis”. Isto é, especulação.

Baccarin, que também é secre-tário do Centro de Corretoras de Ce-reais, concorda que os bens alimentí-cios passaram a ser uma fonte de renda financeira. “No fim dos anos 1990, os fundos em matérias-primas gerencia-vam US$ 13 bilhões. Agora, gerenciam US$ 260 bilhões”, afirma. Não se tra-ta de quatro vilões em uma torre: “Is-so se origina em um público que cada vez mais exige o que se está chamando de investimentos temáticos. Trata-se de todos aqueles que têm determina-das coisas em sua carteira: metais pre-ciosos, petróleo, alimentos”. Para isso, utilizam-se de instrumentos financei-ros criados na última década: ações que expressam futuros. São os Exchan-ge Traded Funds (ETF). “Eles podem ser limitados?”, pergunta o corretor. “Sim,

podem ser limitados. O ponto central da discussão é: para onde irá esse di-nheiro? As pessoas poderiam tentar co-locá-lo em estoques físicos e, com isso, o remédio poderia acabar sendo pior que a doença”, responde.

O especialista coloca o dedo na fe-rida: “O que está por trás de todas es-sas operações é o fato de as pessoas não quererem ter dólares. Elas querem ter coisas”. Ou, melhor ainda, sentem-se mais seguras ganhando dinheiro na compra e venda de opções do que pou-pando em dólares. “Há 10 ou 15 anos,

nas. “No médio prazo, deveriam evitar o estalo de grandes problemas sociais entre seus compradores, o que afeta-ria as exportações para esses países.” Há uma solução de pernas curtas, co-mo afirma Baccarin: “Uma recessão na China solucionaria esse problema, no entanto, criaria outros”. Talvez terrí-veis. Pensando em uma medida transi-tória, Valdés é partidário de “garantir o que são bancos ou fundos de alimen-tos em âmbito regional”. No caso do México, “isso permitiria que quase 40% da população pobre tivesse aces-so aos alimentos se os preços continu-arem aumentando”.

O que acontece é que o plane-ta depende agora excessivamen-

te de acasos. “Em Sonora e Si-naloa [México], por causa do

forte inverno, quase 70% do amido branco para farinha se perdeu. E houve um re-plantio”, diz Valdés.

Sem sermos alarmis-tas, o mundo encontra-se em uma situação bastan-te difícil. Evidência dis-so são as declarações do

presidente do Banco Mun-dial, Robert Zoellick. Re-

centemente, ele enumerou nove medidas que o G-20 deve-

ria adotar daqui a um ano. A mais assombrosa foi o pedido de criação

de um sistema de informação em tem-po real sobre a existência de cereais.

Um caminho de reformas mais ati-vo é o concebido por Olivier De Schut-ter, relator especial das Nações Unidas sobre o Direito à Alimentação. Trata--se de impulsionar a produção sob todas as suas formas e, ao mesmo tempo, es-tabelecer normas para que as operações de derivativos se limitem a investidores “que baseiem suas atividades comer-ciais nas perspectivas relativas aos fun-damentos dos mercados, e não principal ou exclusivamente na obtenção de be-nefícios especulativos no curto prazo”. Não há solução fácil. Ou colocamos pão nas bocas, ou corremos o risco de viver com o coração na boca.

260bilhões de dólares

é a soma atual de recursos

gerenciados pelos fundos de

matérias-primas

a porcentagem dos operadores em mercados de futuros era de 70% de ar-bitradores e 30% de especuladores. Ho-je, é o contrário.”

REFORMA FINANCEIRA GLOBAL“São as consequências especulativas desse excesso de liquidez”, afirma Jesús Valdés. A solução do problema, em sua opinião, supõe a reforma, até agora fra-cassada, da arquitetura financeira glo-bal. O economista afirma que nações como Brasil e Argentina deveriam ser mais cautelosas em sua posição, em vez de confiar que preços demasiadamen-te altos não terão consequências exter- Fo

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42 AméricaEconomia Abril, 2011

NEGÓCIOS Tecnologia

Na onda dosemergentes

H á dez anos, o site Wikipedia entrava no ar. Em 15 de janeiro de 2001, o portal apareceu online, convidando pessoas do mundo todo

a escreverem juntas uma enciclopédia gratuita. Hoje o portal é um dos grandes sucessos da era da internet.

O Wikipedia é o quinto site mais acessado do mun-do. Está disponível em 270 idiomas, com aproximada-mente 17 milhões de artigos, consultados por mais de 400 milhões de pessoas todos os meses.

Jimmy Wales é o idealizador e homem de negócios por trás da Wikipedia. Aos 45 anos, o americano prevê que, até 2015, 1 bilhão de pessoas usarão o site mensal-mente. Como estratégia de crescimento, ele aposta nos mercados emergentes, como o Brasil, a Índia e a China.

O empresário é irredutível quanto à possibilidade de colocar anúncios nas páginas do site. E não disfarça o descontentamento com gigantes como a Apple, que, segundo ele, ameaçaria a liberdade na internet pelo fato de comercializar tantos aplicativos.

Recentemente, Wales recebeu, na Suíça, o prestigiado Prêmio Gottlieb Duttweiler, por sua contribuição à comunidade mundial. Mas a vida desse executivo não é feita só de boas notícias. No ano passado, ele teve de enfrentar acusações sobre o possível uso pessoal de dinheiro doado à Wikipedia. Ele, é claro, negou.

O portal é administrado pela Fundação Wikimedia, uma organização sem fins lucrativos que arrecada fundos para manter a Wikipedia e os novos projetos do grupo, como Wikiquote, Wikibooks e Wikiversity, entre outros. No total, são 12 portais wiki.

Wales falou por telefone com a AméricaEconomia.

WIKIPEDIA CHEGA AOS DEZ ANOS COMO O QUINTO SITE MAIS ACESSADO DO MUNDOE MIRA BRASIL, ÍNDIA E CHINA NA NOVA FASE DE EXPANSÃOSUZANA BIZERRIL CAMARGO, DE ZURIQUE

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Concorrência se mexe no BrasilNão é só a Wikipedia que quer tirar proveito do Brasil e de seus

estimados 80 milhões de internautas. O Google está adiantado

na execução de novos projetos para aproveitar a expansão da

banda larga no país. Atualmente, apenas 15% dos brasileiros têm

acesso à internet de alta velocidade. O processo será conduzido

por Fábio Coelho, que trocou o iG pelo comando do Google.

Quem também quer avançar no país é o Facebook, que, em

fevereiro, anunciou a abertura de um escritório no país, coman-

dado pelo ex-vice-presidente do Google, Alexandre Hohagen.

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AméricaEconomia • Você esteve no Brasil no ano passado. Qual a sua opinião sobre o país como mercado de internet? Jimmy Wales • A Wikipedia em por-tuguês é um dos nossos maiores sites. E, certamente, o Brasil é um merca-do gigantesco. A população está mui-to engajada na internet, buscando no-vas fontes de informação e troca de conhecimento. Obviamente, o Brasil é um país onde a economia está crescen-do. Então, ainda há muita gente pobre e sem acesso à internet, mas isso está mudando muito rapidamente e, a ca-da dia, há mais pessoas conectadas, o que faz com que este seja um cenário muito interessante para novas opor-tunidades.

AE • Qual a importância de oferecer conhecimento gratuito, principal-mente em países com problemas na área de educação, como o Brasil? Wales • A importância é grande. Ten-tamos, das mais diversas maneiras, re-duzir o custo do acesso à tecnologia e à informação para as pessoas. Isso é particularmente importante em econo-mias que estão crescendo mais rapida-mente, mas que ainda enfrentam mui-tos desafios.

AE • Há dez anos, você sonhou em oferecer uma enciclopédia gratuita e online. Esse sonho já está realizado? Wales • Em muitos idiomas esse sonho já se tornou realidade. Temos várias línguas em que há mais de 500 mil ar-tigos publicados online e, comprovada-mente, a qualidade é a mesma das enci-clopédias tradicionais. Mas meu sonho é uma enciclopédia gratuita para cada um dos habitantes de nosso planeta. Ainda estamos começando a trabalhar em muitos países, e algumas pequenas comunidades estão se estruturando pa-ra desenvolver enciclopédias nos idio-mas locais.

AE • Em quais idiomas a Wikipedia é mais popular e mais utilizada? Wales • O inglês é a língua mais aces-

sada e com o maior número de novos artigos adicionados diariamente. Mas, no geral, as línguas europeias são bas-tante bem-sucedidas, além da Wikipe-dia em japonês. No mundo inteiro, o si-te se tornou popular. Neste ano, vamos investir mais na Índia, onde abriremos o nosso primeiro escritório fora dos Es-tados Unidos.

AE • No plano estratégico para os próximos cinco anos, divulgado re-centemente pela Fundação Wikime-dia, uma das prioridades é ampliar o alcance do site. Em que regiões do mundo a Wikipedia ainda não se tor-nou uma ferramenta de uso diário pa-ra os internautas? Wales • Os principais lugares são a China, onde fomos bloqueados durante três anos e, por esta razão, estamos ain-da muito atrasados lá, além de Índia, sudeste asiático e África. Essas são re-giões onde ainda não temos muito con-teúdo nas línguas locais e agora se tor-naram prioridades para nós.

AE • Quantas pessoas estão envolvi-das na atualização do portal? Wales • Aproximadamente 100 mil pessoas trabalham todos os meses edi-tando a Wikipedia. Temos cerca de 3 a 4 mil profissionais realmente focados exclusivamente na Wikipedia.

AE • Qual é o custo para manter o si-te Wikipedia online? Wales • O orçamento deste ano da Fun-dação Wikimedia, a organização sem

fins lucrativos que administra a Wiki-pedia, é de US$ 20,4 milhões. O custo é baixo. Somos o quinto portal mais vi-sitado no mundo, com mais de 400 mi-lhões de acessos por mês. Entretanto, ainda somos uma empresa com orça-mento modesto.

AE • É muito difícil administrar um empreendimento tão grande como es-se por meio de uma fundação sem fins lucrativos? Wales • É sempre um desafio. Temos de levar muito a sério a captação de re-cursos, mas esse modelo tem funciona-do muito bem.

AE • Quem são os principais doado-res da Fundação Wikimedia? Wales • Entre os grandes contribuido-res está o Google, que, no ano passa-do, doou US$ 2 milhões. A maior par-te do dinheiro, porém, vem realmente de pessoas comuns. Durante o Annual Giving Campaign [campanha anual para arrecadação de fundos para o site], nossos usuários doam, em média, US$ 25.

AE • Muito se tem discutido sobre a qualidade e a precisão dos artigos pu-blicados na Wikipedia. Como você rebate essas críticas? Wales • Temos estudos acadêmicos pro-vando a qualidade de nossa enciclopé-dia se comparada a qualquer outra tra-dicional, por isso essas críticas não têm fundamento. Para mim, a veracidade e a qualidade da informação são as coisas mais importantes para a Wikipedia.

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NEGÓCIOS Restaurantes

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COM GASTÓN ACURIO NA VANGUARDA, A GASTRONOMIA SE TRANSFORMOU EM UM CLUSTER ECONÔMICO NO PERU. AGORA UMA NOVA GERAÇÃO DE CHEFS SONHA EM MODERNIZAR A CADEIA LOGÍSTICA COM NOVAS PROPOSTAS MARIA CRISTINA PEZET, DE LIMA

EM SENTIDO HORÁRIO, MARTÍNEZ

(RESTAURANTE CENTRAL), PESAQUE (MAYTA),

TSUMURA (MAIDO), SCHIAFFINO (MALABAR)

E BERCKEMEYER (OSADÍA): NOVA GERAÇÃO

MOVIMENTA O SETOR PERUANO

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P edro Miguel Schiaffino, de 34 anos, sempre esteve em conta-to com a natureza. Sua família

tinha uma chácara onde semeava e co-lhia vegetais. Ele praticava caça sub-marina. Por isso, cogitou estudar vete-rinária ou biologia. Mas os livros não eram a sua praia. Aos 17 anos, foi tra-balhar no restaurante Muelle Uno, em Lima, e depois decidiu estudar em No-va York. Hoje, é dono dos restaurantes Malabar, La Pescadería e Pachacamac, e se caracteriza pelas experiências com matérias-primas e sabores. “Uso ingre-dientes amazônicos, andinos e costei-ros, mas sempre procuro buscar minha personalidade e me diferenciar dos de-mais”, afirma Schiaffino.

Algo semelhante é o que procuram fazer Jaime Pesaque com o arroz (riso-tos, paellas e o prato tradicional peruano conhecido como tacu tacu) e Mitsuharu Tsumaru com a cozinha japonesa e ni-po-peruana (ou Nikkei). Ao lado de ou-tros nomes, como Virgilio Martínez, Ja-mes Berckemeyer, Sebastián Cavenecia e Rodrigo Pastor, eles formam uma no-va geração de chefs empresários que as-piram um lugar ao lado do consagrado Gastón Acurio.

Todos têm em torno de 30 anos e compartilham uma mistura de cosmo-politismo e rica tradição culinária lo-cal; passaram por algum Le Cordon Bleu na França, no Canadá ou no pró-prio Peru, ou por restaurantes famosos da Europa, como o Celler de Can Ro-ca, na Catalunha.

“Por mais que você tenha três es-trelas Michelin, é complicado cozi-nhar para o peruano, orgulhoso de sua comida e muito exigente”, afirma Virgilio Martínez, dono do restauran-te Central.

Apesar disso, esses artistas do pa-ladar não ficam restritos às tradições. Pesaque, por exemplo, oferece em seu restaurante Mayta, em Lima, um prato com peras grelhadas em chicha morada, com sorvete de gorgonzola e mousse de chocolate branco. Schiaffino, famo-so pelas experiências com ingredientes amazônicos, criou uma receita à base

de caracóis de rio com molho de chou-riço e purê de mandioca.

O setor gastronômico represen-ta um importante motor da economia peruana: move em torno de US$ 1,5 bilhão em vendas ao ano, em aproxi-madamente 77 mil restaurantes. “Nos próximos cinco anos, a quantidade chegará aos 100 mil, o que represen-tará um aumento de 100% em relação aos que funcionavam até 2009”, afirma Pedro Córdova, assessor da Socieda-de Peruana de Gastronomia (Apega). “Isso implicará também que se dupli-quem os postos de trabalho relaciona-dos à gastronomia, que hoje giram em torno de 320 mil.”

Como um bom cluster, a gastrono-mia não apenas envolve trabalhos de cozinha, mas também em infraestru-tura, fabricação de utensílios, móveis e maquinário, em uma longa cadeia lo-gística. É aí que Gastón Acurio, o mais famoso dos chefs peruanos, tem realiza-do a difícil tarefa de envolver todos os escalões no desenvolvimento da indús-tria. “Estamos trabalhando para que todos apareçam na foto, não apenas os cozinheiros”, disse durante o mais re-cente evento gastronômico internacio-nal Madrid Fusión, em janeiro.

Chefs como Virgilio Martínez aspi-ram ter terras onde cultivar, criar ani-mais e saber como eles foram cuida-dos, trabalhando com a denominação de origem das matérias-primas. Ou-tros, como Schiaffino, trabalham com as cooperativas amazônicas.

Acurio se esforça para difundir a marca Peru no exterior. “O próximo grande conceito no mundo, assim co-mo foi a cozinha japonesa nos últimos 30 anos, será a cozinha latino-america-na, e o Peru está na vanguarda”, afir-mou durante o Madrid Fusión.

EXPANSÃO INTERNACIONALSe Acurio já é uma marca interna-cional, presente em países da Améri-ca Latina (inclusive no Brasil, onde é proprietário do La Mar, em São Pau-lo), nos Estados Unidos e na Europa, a nova geração leva a internacionaliza-

ção com cautela. Alguns, como Cave-necia, sonham exportar suas marcas. “Alguns estrangeiros até vêm a Lima para fazer tours gastronômicos e já nos pedem para abrirmos restaurantes fo-ra”, afirma o chef.

Virgilio Martínez por ora está foca-do no Central. “Antes aspirava ter algo no exterior, mas agora não quero sair daqui. Gosto que o cliente veja o cozi-nheiro”, afirma.

O colega Jaime Pesaque abriu, em dezembro do ano passado, uma casa em Punta del Este, a Nuna. “A ideia não é apenas fazer comida, mas conso-lidar a marca Peru no exterior de uma forma benfeita. Para isso, precisamos exportar boas matérias-primas e chefs que sejam bons embaixadores.”

Alguns, como Pedro Miguel Schia-ffino, declaram-se críticos da interna-cionalização. A gastronomia peruana,

afirma, é valorizada por aqueles que estão no círculo gastronômico interna-cional, mas não se massificou: “Temos uma falta de restaurantes, livros, maté-rias-primas e exportação de chefs.”

“Se a Amazônia será a despensa do mundo em 50 anos, devemos traba-lhar por isso, mas focados nas tendên-cias atuais, como a utilização de pro-dutos orgânicos e a informação sobre a origem das matérias-primas e seu cui-dado e processamento”, afirma Marti-nez. Porque uma coisa é exportar recei-tas, mas outra, mais difícil, é estender uma cadeia logística de produtos espe-cíficos para o exterior.

1,5bilhão de dólares

é a receita anual dos 77 mil restaurantes

peruanos

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Comércio eletrônico

A febre dos sites de compras coletivas, que começou nos Estados Unidos, virou moda no e-com-

merce do Brasil em 2010. A internet nacional já conta com mais de 1,2 mil endereços que oferecem

descontos de até 70%. De acordo com o 23o Relatório WebShoppers, realizado pela e-bit (empre-

sa especializada em pesquisas sobre hábitos e tendências no comércio eletrônico), com apoio da

Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, entre os dias 10 e 14 de março deste ano, 61% dos consu-

midores virtuais afirmaram conhecer o conceito de compras coletivas. Dos que já compraram, 82%

pretendem aproveitar ofertas futuras nos próximos três meses. “Em pouco tempo, as compras co-

letivas ganharam espaço com uma velocidade impressionante dentro do e-commerce”, diz o dire-

tor de Marketing e Produtos da e-bit, Alexandre Umberti. A pesquisa mostra ainda que o comércio

eletrônico brasileiro teve desempenho acima do esperado no ano passado. O faturamento chegou

a R$ 14,8 bilhões, um crescimento de 40% em relação aos R$ 10,6 bilhões registrados em 2009.

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Força feminina

Que as mulheres estão ganhando cada vez mais espaço no mercado de trabalho já não é novida-de para ninguém. Agora, a consultoria Deloitte resolveu mensurar a importância delas para a economia. Segundo o estudo global The Gender Dividend: Making the Business Case for Inves-ting in Women, na América Latina, por exemplo, as mulheres no mercado de trabalho ajudaram a reduzir a taxa de pobreza das famílias para 26%. Em 2007, esse número chegava a 40%. Na Europa, elas compõem 45% da força de trabalho. As mulheres também desempenham um papel significativo na economia como mercado consu-midor crescente. Nos EUA, elas respondem por, aproximadamente, US$ 20 trilhões dos gastos to-tais dos consumidores e influenciam até 80% das decisões de compra. São ainda responsáveis pela aquisição de cerca de 50% de bens, como car-ros e computadores. Embora o cenário seja pro-missor, atualmente, apenas 3% de mil empresas multinacionais têm CEOs do sexo feminino. Mas, ao que tudo indica, esse número tende a crescer muito rapidamente. 2

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A F-Secure, empresa da área de se-

gurança em softwares e serviços, é

a nova parceira da Telefônica nos 13

países em que atua na América La-

tina. Como resultado do acordo, os

clientes de internet e banda larga móvel da Telefônica terão acesso

aos serviços de armazenamento e

proteção em dados e conteú-dos di-

gitais. Cerca de 145 milhões de usuá-

rios poderão aderir aos pacotes, ain-

da sem valores definidos, mas que

começarão a operar neste semestre.

“A parceria é um marco na estratégia

da F-Secure de impulsionar seu cres-

cimento na América Latina”, ressalta

Samu Konttinen (foto), vice-presi-

dente executivo da marca.

ANTIVÍRUS

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A cidade mineira de Extrema foi escolhida para abri-gar a terceira fábrica da Panasonic no Brasil. A uni-dade terá como foco a produção de eletrodomésti-cos da linha branca – refrigeradores e máquinas de lavar –, hoje importados de Taiwan. As máquinas devem começar a operar já no primeiro semestre de 2012. O presidente da Panasonic no país, Ma-sanobu Matsuda, adianta que o investimento será de R$ 200 milhões e o objetivo é atingir 10% da participação no mercado. Para conseguir atender a demanda, serão abertas 400 vagas de emprego direto. A localização estratégica de Extrema, no sul de Minas Gerais, influenciou a seleção, pois o mu-nicípio está em um ponto que facilita a distribuição dos produtos para as regiões Sul e Sudeste. A Pana-sonic possui outras duas fábricas no país, em São José dos Campos (SP) e Manaus (AM).

O Brasil foi o maior mercado da Visa, admi-

nistradora de cartões de créditos, na região

da América Latina e Caribe, em 2010. Se-

gundo dados da administradora, o cresci-

mento regional do volume de pagamentos

foi de 23,2% em 2010, totalizando US$ 270 bilhões. O Brasil obteve um crescimen-

to anual de 24,6%. O desempenho ficou

acima do México, que alcançou 16,8%. Nos

demais países da América Latina e Caribe,

a alta foi um pouco menor, 22,8%. O sólido

resultado foi impulsionado pelo crescimen-

to contínuo do volume de pagamentos e

transações processadas na região. “Esse

desempenho é o resultado de uma sólida

estratégia global de migrar as transações

feitas em dinheiro para a nossa rede global

de processamento”, afirma Eduardo Eraña,

presidente da Visa da região da América

Latina e Caribe.

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A cidade mineira de Extrema foi escolhida para abri-gar a terceira fábrica da Panasonic no Brasil. A uni-dade terá como foco a produção de eletrodomésti-cos da linha branca – refrigeradores e máquinas delavar – hoje importados de Taiwan As máquinas

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estratégia global

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Há menos de duas décadas, o México tornou-se um importador de sementes e óleo de girassol, com a queda dramática da área plan-tada. Mas a PespsiCo Alimentos decidiu apostar na retomada da cultura no país, que tem uma área-piloto para reintroduzir o cultivo. De acordo com Pedro Padierna Bartning, presidente da PepsiCo Alimentos para o México, América Central e Caribe, o projeto, que começou em fevereiro passado, prevê a partici-pação de 850 pequenos produtores. A meta é chegar a 50 mil hectares em sete anos. O Banco Interamericano de De-senvolvimento (BID) faz parte do projeto e entrou com US$ 5 milhões, além dos US$ 2,6 milhões financiados pela empre-sa. Esses recursos poderão ser usados no financiamento dos agricultores. Além disso, está assegurada a compra da colhei-ta por US$ 40 milhões. O volume colhido resultará em 40 mil toneladas de óleo para a Pepsico. Além da economia, essa es-tratégia atende a demanda generalizada diante do grave proble-ma de obesidade e diabetes que afeta o continente americano. “Ao utilizar o óleo de girassol, esperamos reduzir os níveis de gordura em nossas bolachas e botanas [tipo de snack mexicano]”, explica Bartning.

Parceria saudável

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Segundo a PricewaterhouseCoopers, muitas empresas familiares não estão fazendo provisiona-mentos adequados para o futuro. A consultoria fez uma pesquisa com cerca de 1.600 execu-tivos de empresas familiares, em 35 países, com o objetivo de saber como estão lidando com a crise econômica e como têm se preparado para o futuro. Sobre este último ponto, 53% dos entrevistados pela PwC responderam que esperam que o negócio se mantenha em família. E 48% não têm nenhum plano de sucessão, um percentual similar ao da última pesquisa, feita há dois anos. Dos que têm um plano de sucessão, só 50% já decidiram quem se encarregará do posto mais alto na companhia. “A definição de um novo líder é um processo que toma tempo, deve fazer parte das discussões do protocolo familiar”, comenta José Antonio Torres, diretor do Programa de Empresas Familiares da Câmara de Comércio de Lima. “A seleção do líder depen-de principalmente do tamanho da estrutura de governança da empresa.”

O Brasil será um dos países com mais condições

de contribuir para o desenvolvimento econô-

mico mundial sustentável. Essa foi a conclusão

do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel (foto),

durante almoço-debate do Lide (Grupo de Líde-

res Empresariais), realizado no final de março,

em São Paulo. Durante o evento, presidido por

João Doria Jr., Pimentel apresentou a 300 CEOs

presentes sua visão sobre o tema “Um Novo

Olhar sobre a Economia Brasileira”. A plateia de

executivos aproveitou para cobrar do ministro

medidas para aumentar a competitividade dos

produtos nacionais. Pimentel defendeu que a

diminuição do peso do custo Brasil e dos encar-

gos trabalhistas é fator-chave para essa melho-

ria. Sobre os produtos importados, ele criticou

os incentivos fiscais praticados por alguns esta-

dos, que beneficiam a importação com alíquota

reduzida de ICMS. “Dilma cobrou uma solução

rápida para esta questão. Essa ‘farra’ vai durar

pouco”, afirmou o ministro.

Laços de família

Brasil sustentável

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A escola brasileira Saga (School of Art, Game and Animation) e a americana Gnomon School of Visual Eff ects, com sede em Los Angeles, EUA, anunciaram uma sociedade que promete movimen-tar o cenário da computação gráfica e da animação 3D no país. A parceria re-sultará na criação de uma escola interna-cional de arte digital, que reunirá os me-lhores técnicos do mundo para habilitar profissionais nas principais tecnologias de animação e efeitos visuais usados em Hollywood. A escola abrirá as portas a partir de 2012. Será a primeira vez, em 14 anos de história, que a Gnomon School of Visual Eff ects terá uma unidade fora de Los Angeles. “Já recebemos o convite de escolas de todo o mundo para criar parcerias, mas nunca nos interessamos. Com a Saga, identificamos a mesma mo-tivação que a Gnomon sempre teve de ajudar as pessoas”, diz Alex Alvarez, fun-dador da Gnomon.

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DEBATES Comércio Exterior

Uma visita de

oba-oba

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Abril 2011 AméricaEconomia 53

DEPOIS DE MUITA BAJULAÇÃO DE EMPRESÁRIOS E DO GOVERNO BRASILEIRO, CHEGOU-SE À CONCLUSÃO DE QUE A VIAGEM DE BARACK OBAMA AO PAÍS SÓ DEIXOU PROMESSAS

IZABELLE TORRES, DE BRASÍLIA

O tamanho da recepção preparada pelo governo brasileiro e a expectativa de diver-sos setores em torno da visita do presidente americano Barack Obama destoaram dos resultados práticos do encontro. Apesar dos elogios ao Brasil e de uma lista

de boas intenções, lembrada em todos os discursos que fez durante os dois dias de viagem, o homem mais poderoso do mundo deixou o país sem dar sinais de que haverá mudanças concretas nos impasses em torno das barreiras comerciais. O saldo da simpática e persuasi-va retórica do presidente foi de algumas poucas brechas para futuras negociações, cujo su-cesso vai depender muito mais do esforço brasileiro, daqui para a frente.

Apesar da reclamação da presidente Dilma Rousseff quanto às elevadas tarifas cobra-das pelos Estados Unidos sobre as exportações brasileiras e à política de subsídios agrícolas americana, que coloca obstáculos ao preço competitivo dos nossos produtos, Obama nem sequer prometeu esforço para mudar o atual cenário. O presidente limitou-se a fazer afir-mações genéricas sobre a importância de manter boas relações com o Brasil.

O comportamento cauteloso é justificado. Qualquer novo rumo na política tributária vai depender do Congresso americano, onde Obama, do Partido Democrata, não tem a maioria dos votos. Também será fator importante a tentativa do governo dos EUA de mostrar que a viagem à America Latina – ocorrida em meio a críticas da imprensa internacional e ao cli-ma tenso em torno dos ataques à Líbia – teve como pano de fundo o trabalho de articulação em torno de parcerias que aumentem o número de empregos nos EUA.

Quem resumiu os perrengues nas negociações e arrancou aplausos da plateia duran-te a Cúpula Empresarial Brasil-Estados Unidos, promovida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com a participação de Obama, foi o presidente da Petrobras, José Ser-gio Gabrielli. Segundo o executivo, a dificuldade de enfrentar o protecionismo americano ao produto nacional se deve também ao fato de os brasileiros não saberem com quem ne-gociar nos EUA. “Temos uma situação em que a estrutura do Estado americano não tem instrumentos para valorar a relação sobre o fornecimento de petróleo. Nos EUA, o acer-to é entre empresas, não envolve governo. Ou seja, não temos com quem negociar no go-verno americano. A gente não sabe a quem deve apresentar propostas. Mas não acho que esse protecionismo de hoje vá permanecer por muito tempo”, diz.

ETANOL EM PAUTAO etanol e as barreiras impostas à entrada da produção made in Brazil nos EUA ocuparam parte das discussões entre empresários brasileiros e americanos durante o evento promo-vido pela CNI. Em meio às críticas aos obstáculos impostos ao Brasil, as perspectivas são pouco otimistas, tanto com relação a mudanças no tratamento recebido pelos exportadores brasileiros quanto ao etanol, pelo menos para a próxima década.

Na avaliação do presidente do Conselho de Administração da Cosan, Rubens Ometto, a taxação ao etanol é estranha quando comparada ao tratamento dado ao petróleo brasileiro. “Não dá para entender porque o etanol da nação amiga é extremamente taxado pelos Esta-dos Unidos, enquanto o petróleo circula livremente. Isso é injusto, está claro!”, reclama. O etanol brasileiro paga, nos EUA, uma sobretaxa de 54 centavos de dólar por galão.

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54 AméricaEconomia Abril, 2011

DEBATES Comércio Exterior

SOBRAM DÚVIDASApesar da choradeira em torno da alta tributação imposta ao etanol e da falta de respostas concretas de Obama aos plei-tos dos empresários, uma lista bem mais ampla de produtos aguarda uma ação do Estado para negociar a entrada em ter-ras americanas com preço competitivo. É o caso, por exem-plo, dos manufaturados e das proteínas animais.

“Há muita coisa na fila para negociação. O encontro abriu espaço para conversas. Mas e daí? Qual será o destino dessas promessas e desses acordos pouco específicos? São perguntas que o Brasil vai fazer daqui para a frente”, conclui Alberto Pfeifer, diretor-executivo do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal).

Apesar do encontro promovido em Brasília pela CNI, os empresários e executivos, inclusi-ve de companhias americanas, não se convenceram de que dias melho-res virão na relação comercial entre os dois países. Guilherme Leon, pre-sidente da Chartis Seguros, analisou o encontro com Obama: “Não se es-pera de um evento como esse que to-dos os problemas se resolvam, mas podemos acelerar um pouco mais a solução dos assuntos que estão en-caminhados”. Presidente do Google Brasil, Fábio Coelho analisa a situ-ação. “Os acordos assinados, ainda que genéricos, mostram o momento da economia brasileira e as oportu-nidades, finalmente, sendo vislum-bradas. Depois de tantos anos de um

Exportações do Brasil

R$ 7,6 bilhões

Exportações dos EUA

R$ 4,1 bilhões

Saldo: positivo para o

Brasil em R$ 3,5 bilhões.

Apesar da queda constante,

o saldo a favor das vendas

brasileiras se repete

nos cinco anos seguintes

Idas e vindas da balança comercialMomentos relevantes da relação entre Brasil e Estados Unidos

Exportações

do Brasil

R$ 10,8 bilhões

Exportações dos EUA

R$ 11,8 bilhões

Saldo: negativo

para o Brasil em

R$ 1 bilhão

Exportações do Brasil

R$ 13,338 bilhões

Exportações dos EUA

R$ 13 bilhões

Saldo: positivo para o Brasil

em R$ 338 milhões. A situação

a favor das vendas brasileiras

permanece até 2008, com

crescimentos discretos

1990

1999

2000

ENTRE OS EMPRESÁRIOS QUE SE ENCONTRARAM COM OBAMA

(ABAIXO), GABRIELLI (ACIMA) FOI UM DOS POUCOS CRÍTICOS

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Abril 2011 AméricaEconomia 55

afastamento relativo entre os dois países, fica claro que te-mos oportunidades na área de energia elétrica e infraestrutu-ra, inclusive digital. Espero que seja consolidada uma agen-da com mais foco.”

Na avaliação do cientista político e membro do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo, Christian Lohbauer, é possível ter esperança quanto ao futuro das relações comerciais entre os dois paí-ses. Mesmo sem resultados concretos, os sinais dados repre-sentam uma porta que se abriu. Essa abertura inicial vai tes-tar a competência do governo brasileiro para transformar protocolos de intenções em uma pauta específica de negocia-ções com os EUA. “Os elogios de Obama indicam que há in-teresses no nosso país. Mas, como eles são mais importantes para nossa agenda do que nós para a deles, cabe ao governo brasileiro aproveitar a brecha, trabalhar para reverter o qua-dro desfavorável de exportações e diversificar os produtos que entram nos EUA”, comenta. Ainda segundo Lohbauer, que também preside a CitrusBR (a associação da indústria de suco de laranja), “o governo anterior foi displicente com a im-portância real dos americanos para o Brasil e, graças a isso, acumulamos esse déficit histórico no saldo de exportações. É hora de aproveitar a brecha e tentar mudar essa realidade”, analisa, referindo-se aos US$7,7 bilhões de déficit brasileiro na balança comercial em 2010 (veja quadro abaixo).

Outro especialista, Tullo Vigevanni, integrante do Insti-tuto Nacional da Ciência e Tecnologia para Estudos dos Es-tados Unidos e professor da Universidade Estadual Paulista, pondera. “Não nos surpreende o fato de a visita não ter rendi-do resultados. O poder do presidente nesses casos é limitado. As regras em torno dos tributos não dependem dele. Os ne-gócios que envolvem a tentativa de criar mais vagas de em-pregos nos EUA precisam de conversas mais profundas. No aspecto econômico, houve apenas uma lista de intenções. No âmbito político, o resultado foi pífio. Os americanos não elaboraram nenhuma política que possa representar mudan-ças no tratamento dado ao Brasil”, analisa Vigevanni.

Acordos genéricos

Os presidentes Barack Obama e Dilma Rousseff assinaram dez acordos de cooperação bilateral. Nenhum prevê mudanças significativas nas relações entre os dois países, mas alguns foram percebidos como um ponto de partida para estreitar os laços. Veja abaixo os principais.

Formação de um grupo composto por representantes da área econômica dos dois países. O objetivo do colegiado será trabalhar para melhorar as relações comerciais dos dois países.

Empréstimo dos Estados Unidos no valor de R$ 1 bilhão para o Brasil financiar projetos de infraestrutura para o setor petrolífero.

Mudanças nas operações comerciais da aviação civil nos dois países. A intenção é aumentar os voos entre Brasil e Estados Unidos e reduzir o preço das passagens.

Intercâmbio entre os responsáveis pelos preparativos da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil. A relação envolve viagens para conhecer antigas sedes dos eventos e capacitação profissional dos brasileiros.

Exportações

do Brasil R$ 15,7 bilhões

Exportações dos EUA

R$ 20,1 bilhões

Saldo: negativo

para o Brasil em

R$ 4,4 bilhões

Exportações

do Brasil

R$ 19,4 bilhões

Exportações

dos EUA

R$ 27,2 bilhões

Saldo: negativo

para o Brasil

em R$ 7,7 bilhões2009

2010

LISTA LONGAObama deixou sem respostas muitas reclamações da presi-dente brasileira. Na conversa reservada, Dilma se referiu à guerra de desvalorização das moedas praticada pela política americana como “constrangimento cambial” e afirmou que é preciso rever medidas protecionistas que fecham as portas para produtos brasileiros, como a carne – em especial a de frango – e o etanol. Pleitos que continuaram sem soluções concretas e serão tratados, segundo as previsões mais otimis-tas, dentro de um dos acordos de cooperação bilateral assina-dos entre os dois presidentes (veja quadro acima).

Apesar de genérico, o tratado foi interpretado como um sinal distante de que alguma coisa pode evoluir nas divergên-cias tributárias referentes às exportações brasileiras. O texto prevê a formação de um grupo composto por ministros da área econômica das duas nações com o objetivo de “traba-lhar para melhorar as relações comerciais dos dois países”.

Se, por um lado, ainda é difícil avaliar os efeitos positivos concretos da passagem do presidente americano pelo Brasil, por outro, a abordagem feita por Obama e a forma como ele se referiu ao país amigo em seus discursos podem servir co-mo ponto de partida para uma real aproximação. É nessa brecha aberta pelos dois presidentes que se apegam empre-sários brasileiros à espera de um cenário melhor para nego-ciações. Nem que seja a longo prazo.

Fonte: Banco Central do Brasil

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56 AméricaEconomia Abril, 2011

DEBATES Comércio Exterior

Das divergências às convergências

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Diante de uma lista imensa de demandas brasileiras e da

impossibilidade de resolução dos conflitos de interesses

no curto prazo, a visita do presidente americano mos-

trou que os dois países se entendem bem, pelo menos

em dois assuntos: a ampliação do uso de biocombustí-

veis para o setor da aviação e a aquisição de petróleo

brasileiro do pré-sal pelos Estados Unidos. No primei-

ro caso, os dois presidentes parecem falar a mesma lín-

gua quanto ao compromisso de reduzir as emissões de

gases poluentes e, por consequência, a necessidade de

parcerias para expandir a produção dos biocombustí-

veis, em especial o bioquerosene usado em aviões.

A união de interesses das duas nações ganhou for-

ça com um acordo que ampliou o Memorando de En-

tendimentos, assinado entre os dois países em 2007,

e passou a incluir nele a previsão de um trabalho con-

junto para estimular o desenvolvimento do novo com-

bustível. “Foi natural e muito bem-vindo o apoio formal

dos dois governos em cooperar no desenvolvimento do

bioquerosene da aviação. A Amyris está comprometida

com esse processo, tanto na pesquisa e no desenvolvi-

mento dessas tecnologias nos laboratórios, quanto na

utilização da cana-de-açúcar como uma matéria-prima

sustentável para o bioquerosene”, avalia Joel Velasco,

vice-presidente da Amyris, empresa americana dedica-

da ao desenvolvimento da tecnologia.

A disposição demonstrada pelos dois presidentes na

defesa da energia limpa soou bem aos ouvidos dos em-

presários brasileiros e representantes do governo. Ain-

da mais no momento em que o Brasil faz as contas dos

investimentos da Petrobras no setor e calcula que as ci-

fras devam passar dos US$ 6 bilhões até 2012.

Para o presidente e CEO para América Latina da Ge-

neral Electric, Reinaldo Garcia, os EUA trabalham para

que até 2020 os americanos atinjam a meta de ter 20%

do combustível de aeronaves obtidos a partir de plan-

tas. Para o maior consumidor de querosene de aviação

do mundo, conseguir parcerias significa abrir uma por-

ta para adquirir independência em relação ao consu-

mo de petróleo. Já para o Brasil, o interesse de Obama

no desenvolvimento do biocombustível de aviação é a

chance de disputar espaço em um mercado estimado

em US$ 300 bilhões.

Os brasileiros também comemoraram a insistência

de Obama em anunciar que os EUA querem ser o maior

comprador do petróleo do pré-sal nos próximos anos.

A declaração de interesse comercial, no entanto, foi tra-

tada dentro da visão estratégica americana, já que o in-

cremento dos negócios com a Petrobras seria a chance

de tornar os EUA independentes dos produtores ára-

bes. Ou seja, não basta o país de Obama continuar com-

prando petróleo. O importante será saber quanto esse

interesse comercial pode influenciar numa pauta real

de negociações envolvendo outros aspectos da econo-

mia brasileira.

Por enquanto, há apenas a previsão de um jogo que

pode render vantagens para ambos os lados,. Na prática,

o anúncio só trará mudanças significativas para o Brasil

se as exportações de petróleo para os EUA tiverem um

aumento significativo.

OBAMA NÃO DEU IMPORTÂNCIA AO ALERTA FEITO POR DILMA SOBRE O CÂMBIO

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58 AméricaEconomia Abril, 2011

DEBATES Preços internacionais

ENRIQUETA MENON , DE SÃO PAULO

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O MINÉRIO DE FERRO

BRASILEIRO PODE SER UMA DAS

COMMODITIES BENEFICIADAS

PELAS TURBULÊNCIAS

INTERNACIONAIS

A BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA TEM BOAS CHANCES DE GANHAR REFORÇO NO ATUAL CENÁRIO DE INSTABILIDADE MUNDIAL, COM PROBLEMAS NO JAPÃO E NO ORIENTE MÉDIO

Um empurrão nas

A BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA TEM

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Abril, 2011 AméricaEconomia 59

ro, complexo soja (que inclui do grão ao farelo) e petróleo e seus derivados responderam por cerca de 30% das receitas das exportações brasileiras.

Mas, apesar da queda dos preços de alguns pro-dutos logo após os terremotos e o tsunami no Ja-pão, a expectativa é de que o Brasil passe com tran-quilidade pelos dias instáveis. Em um cenário mundial ainda nebuloso, diante do desconheci-mento do desfecho da crise nuclear no Japão, do ataque das forças de coalizão internacional na Lí-bia e dos desdobramentos econômicos desses acon-tecimentos, as previsões tendem a ser positivas pa-ra o Brasil, o maior parceiro comercial do japoneses na América do Sul. Poucos apostam em declínio das cotações internacionais.

O sinal amarelo que recai sobre o peso excessivo das commodities no saldo comercial brasileiro acendeu momentaneamente, diante da incerte-

za e da complexidade da economia global. A tragédia no Japão, a alta do petróleo (puxada pela crise no Norte da África e no Oriente Médio) e dúvidas quanto à recupe-ração mundial são fatores de amplificação da já elevada volatilidade dos preços de alimentos, minerais e petró-leo no mercado internacional.

Há razões para ficar de olho. Os produtos básicos, nos quais o Brasil é um dos maiores players mundiais, representam 70% das receitas externas, tornando o país cada vez mais dependente do cenário externo. No ano passado, dentre os dez principais produtos em receitas de exportação, nove eram commodities. Minério de fer-

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60 AméricaEconomia Abril, 2011

DEBATES Preços internacionais

“Entre os elementos capazes de contribuir para alavan-car as trocas comerciais está a necessidade de reconstrução da infraestrutura nas cidades destruídas pelo terremoto e pelo tsunami”, observa o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto Castro.

Os investimentos em obras de construção pesada e a in-tensa utilização de estruturas metálicas deverão se refletir no aumento das vendas de minério de ferro. Hoje, os japo-neses consomem cerca de 30% de todas as exportações de minério do Brasil. Além disso, outro efeito esperado é uma maior demanda do produto por parte da China, principal parceiro comercial dos japoneses. “O Japão deve comprar muito aço das siderúrgicas chinesas”, acrescenta o vice-pre-sidente da AEB.

Em outra frente, as exportações brasileiras deverão ser puxadas pela queda na produção de alimentos em território

japonês. “Mantemos as estimativas de crescimento das ven-das de carne de frango para o Japão que fizemos antes da catástrofe. Não há motivos para mudar as projeções”, afir-ma o presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra.

“Os preços estão dentro da normalidade, esse alimen-to é barato, e a parceria comercial entre os dois países é his-tórica”, argumenta o presidente da entidade. “Os japoneses priorizam a alimentação, e esse problema será o primeiro a ser resolvido por aquela nação. Portanto, o fluxo de nossos produtos para lá continuará acontecendo normalmente”, acrescenta Turra.

A Ubabef calcula que, neste ano, as exportações de carne de frango para o mercado japonês serão entre 5% e 7% supe-riores às de 2010. Segundo maior importador dessa proteína animal produzida no Brasil, o Japão importou, no ano pas-sado, 386 mil toneladas (US$ 902 milhões).

Situação semelhante é vislumbrada em relação ao Orien-te Médio, que compra um terço da carne de frango exporta-da pelas empresas brasileiras – 1,6 milhão de toneladas por ano. Individualmente, a Arábia Saudita é a campeã, em vo-lume (460 mil toneladas) e em valor (US$ 926 milhões). A Líbia, onde a situação se agravou com o ataque das forças de coalizão, praticamente não compra carne de frango do Bra-sil. “Estamos acompanhando com muita atenção os confli-tos no Oriente Médio e o desastre no Japão, mas, até agora, não houve interrupção das cargas para nenhum dos países envolvidos nas crises”, enfatiza Turra.

A opinião é compartilhada por Steve Cachia, analista de Commodities da Corretora de Cereais do Paraná (Cerealpar), para quem as revoluções no Oriente Médio, embora tenham pressionado para baixo os preços no curto prazo, no médio e

Os problemas políticos nos países produtores de

petróleo têm pressionadoo preço do combustível

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A PREVISÃO DE EXPORTAÇÃO DE FRANGO DEVE SE MANTER.

JÁ OS EMBARQUES DE MINÉRIO DE FERRO PARA RECONSTRUÇÃO

DO JAPÃO E DA LÍBIA (FOTO À DIREITA) DEVEM CRESCER

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Abril, 2011 AméricaEconomia 61

longo prazos trarão frutos aos exportadores brasileiros. “São economias grandes que, certamente, com o fim das ditadu-ras, vão melhorar a distribuição de renda e o poder aquisiti-vo de suas populações”, comenta.

Como em qualquer outra parte do mundo, a expectati-va, a partir de agora, é de que a primeira sobra de dinheiro no bolso se traduza em mais consumo de alimentos. “E isso significa soja, milho, óleo e farelo de soja”, explica Cachia. E os maiores produtores desses alimentos são Estados Uni-dos, Brasil e Argentina.

“Já houve uma explosão da demanda dos asiáticos, li-derados pela China. Em um futuro próximo, isso deverá se repetir no Oriente Médio. E quem pode responder mais ra-pidamente a esse movimento é o Brasil, com terras dispo-níveis para ampliar a produção agrícola”, ressalta o analis-ta da Cerealpar.

Análise pouco diferente tem o economista Fabio Silvei-ra, da RC Consultores. Segundo ele, o horizonte de desacele-ração do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mun-dial para este ano reforça a expectativa de que os preços internacionais das commodities ingressem em trajetória decli-nante nos próximos meses. A exceção é o petróleo, que deve-rá fechar 2011 com média de US$ 100 o barril – 25% acima do valor de 2010 (US$ 80 o barril). “O aumento no custo da principal fonte energética do planeta fatalmente enxugará a renda disponível de empresas e famílias em escala global e inibirá o consumo de bens e serviços”, explica. “O mundo se encontra sob forte pressão contracionista neste momento, por causa não apenas da continuidade de crises políticas no

As exportações na corda bamba

Até 2008, o mundo assistiu a um boom nos

preços das commodities agrícolas e minerais,

movimento que ajudou a economia brasileira,

com o aumento das exportações de produtos

primários. “Veio a crise econômica mundial, e

tudo despencou. Em meados do ano passado,

tudo voltou a subir, não só em função de espe-

culação, mas de alguns problemas climáticos

em regiões produtoras, como a seca na Rús-

sia, as perdas de safra nos Estados Unidos e os

efeitos da La Niña na Argentina”, conta o ana-

lista da Cerealpar, Steve Cachia. Em meados

de fevereiro, quando sobressaía o sentimen-

to de recuperação desses preços, viu-se o iní-

cio da onda de revoluções no Oriente Médio,

que culminou com a crise na Líbia. “E o merca-

do começou a despencar. É um momento de

incerteza. São vários fatores extras, além dos

tradicionais, influenciando as cotações. Muitos

vendem posição para fugir do risco, e isso coin-

cide com o início da colheita da safra no Brasil,

até surpreendentemente boa”, acrescenta o

analista de Commodities. “Agora é preciso que

o mercado tire o viés psicológico pessimista

provocado pelas crises recentes”, conclui.

4

Especialistas esperam que o Brasil aproveite a demanda que deverá surgir noOriente Médio democratizado

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62 AméricaEconomia Abril, 2011

DEBATES Preços internacionais

Oriente Médio e no Norte da África, mas também do incal-culável estrago sofrido pelo Japão”, sublinha o consultor.

Menos dúvidas existem quanto à cotação do petróleo no mercado internacional. Segundo Silveira, da RC Consulto-res, os preços seguirão altos, podendo superar US$ 120 o bar-ril – em razão da indefinição sobre o desfecho dos confron-tos no Oriente Médio e Norte da África, regiões relevantes na oferta global de energia fóssil.

Dificuldades maiores ou menores na avaliação do cená-rio global, o fato é que, nas próximas semanas, a especula-ção deverá continuar sendo a tônica da repercussão dos re-centes acontecimentos mundiais.

“O que o terremoto no Japão tem a ver com soja, milho e trigo? Nada, mas os mercados de commodities mudaram mui-to, e não apenas por fatores tradicionais, como clima, volu-me de produção e demanda, que determinam os preços, mas

a conjuntura externa também influencia”, diz Steve Cachia, da Cerealpar. Ele lembra que, além das bolsas, cooperativas e indústrias, hoje, existe presença maciça de fundos de investi-mentos operando esses mercados. “E, quando surgem incer-tezas, a primeira atitude desses investidores é a aversão ao ris-co. É isso o que derruba os preços em um primeiro momento, como aconteceu logo após o tsunami”, comenta o analista.

A instabilidade, porém, permanecerá, pelo menos quan-to às commodities agrícolas. A próxima safra agrícola impor-tante para abastecer o mundo é a dos Estados Unidos, onde os estoques estão bastante baixos. “Por enquanto, só sabe-mos que a colheita será em setembro. Até lá, a especulação vai correr solta. Será que haverá problemas climáticos? Qual-quer ameaça nesse sentido poderá levar os mercados a entrar em pânico”, conclui Cachia.

*Leia mais na página 98.

A TRAGÉDIA NO JAPÃO DEVE SE

TRADUZIR EM GANHOS PARA

FORNECEDORES. MAS, POR ENQUANTO,

O MOMENTO É DE ESPECULAÇÃO COM

AS COTAÇÕES INTERNACIONAIS

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Com plantações destruídas e alimentos contaminados, o Japão terá um peso maior na demanda por commodities

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DEBATES Política

Até quandoesperar?

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Abril 2011 AméricaEconomia 65

A NECESSIDADE DE FAZER A REFORMA POLÍTICA É UNÂNIME, EO AMBIENTE CRIADO PELO INÍCIO DE UM NOVO GOVERNO É PROPÍCIO. MAS POUCOS ACREDITAM QUE AGORA SERÁ DIFERENTE

KALINKA TAVARES, DO RIO DE JANEIRO

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D o jeito que está não pode con-tinuar. Isso é o que dizem po-líticos e especialistas quando

o tema é reforma política. O problema é como deveríamos estar. Aí as respos-tas são as mais diversas. Tantas, que fi-ca difícil saber – e mesmo acreditar – se haverá um consenso antes das eleições municipais de 2012. A presidente Dil-ma Rousseff (PT), assim como os presi-dentes do Senado Federal, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara dos Depu-tados, Marco Maia (PT-RS), dizem que o assunto é prioridade. E o início de um novo mandato presidencial pa-rece ser oportuno para se debater uma reforma, seja ela política, tributária ou previdenciária.

Na avaliação de Aldo Fornazieri,cientista político e diretor acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), a pró-pria história do país mostra que as coi-sas não funcionam assim. “Passado o primeiro ano de mandato, o tema das reformas vai para um segundo plano da agenda nacional”, diz. E completa: “A reforma política e as outras reformas exigem elevado grau de consenso pa-ra serem aprovadas no Congresso. O que falta é a construção dessas maio-rias parlamentares em torno de eixos programáticos consensuais. Sem isso, não haverá reformas”.

O tão alardeado acordo dá a impres-são de ser o grande impasse, já que os partidos parecem concordar em ape-nas dois pontos: a necessidade da re-forma e a participação popular nessas alterações. “Não se tem no parlamen-to uma maioria significativa em rela-ção ao conteúdo. Existe concordância sobre quais pontos a reforma política deve enfrentar, mas quando se desce para pontos concretos, por exemplo,

UMA DAS DIFICULDADES SERÁ

CHEGAR A UM CONSENSO NO

CONGRESSO NACIONAL

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66 AméricaEconomia Abril, 2011

DEBATES Política

o financiamento público de campa-nha, as divergências se multiplicam. Esse é um dos empecilhos para não ter havido uma reforma política até hoje no Brasil”, diz José Antônio Moroni, do Instituto de Estudos Socioeconômi-cos (Inesc) e coordenador da Platafor-ma dos Movimentos Sociais pela Refor-ma do Sistema Político.

Câmara e Senado instituíram co-missões para discutir os temas e apre-sentar em 180 dias e 45 dias, respecti-vamente, as propostas para os demais parlamentares de suas Casas. Proposi-ções essas que, após a tramitação exi-gida – no Senado ainda passará pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) –, serão votadas em plenário por todos os deputados e sena-dores. Ou seja, o grupo maior de par-lamentares deverá votar aquilo que os integrantes das comissões definiram como melhores propostas.

Isso significa que novos impasses podem ocorrer, especialmente se as mu-danças na Constituição tiverem a pre-tensão de abranger os mais diversos in-teresses. “Tal reforma não existirá. As alterações serão processuais. Não é pos-sível construir uma proposta abrangen-te de reforma política. O grau de dis-cordância entre os partidos e também dentro deles é muito grande. Por isso, a reforma avançará paulatinamente”, en-fatiza Fornazieri.

Os partidos, aliados do governo ou não, têm posições distintas sobre os te-mas em discussão. Há mesmo quem defenda que a instituição de duas co-missões para debater o assunto foi um

erro. “Aqui no Congresso é um equívo-co ter dois fóruns sobre o mesmo assun-to. Um na Câmara e outro no Senado. Isso deveria ser feito em uma comissão mista”, defende o presidente da Comis-são de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado, senador Pau-lo Paim (PT-RS).

O parlamentar acredita que a dife-rença de opiniões e de prazos das co-missões, aliada ao fato de 2012 ser ano de eleições municipais, inviabilizará a matéria. “É difícil que a reforma polí-tica aconteça, porque já começou mal com a criação de duas comissões”, cri-tica o senador.

Já para o deputado Almeida Lima

Muita gente viu, na última eleição, o candidato a depu-

tado federal Tiririca (PR-SP) ser eleito com o maior nú-

mero de votos do país e, assim, levar consigo compa-

nheiros de legenda com poucos votos para a Câmara.

Tudo de acordo com o sistema eleitoral vigente.

Porém, para o deputado Almeida Lima, essa não

é a vontade da população. O parlamentar defende o

sistema majoritário na circunscrição, o chamado “distritão”.

De acordo com esse sistema, os candidatos mais votados se-

riam os eleitos. Consenso? Nenhum. Para o senador Paulo

Paim, o Brasil deveria adotar a lista mista, na qual parte dos

candidatos seria eleita por voto distrital e parte por lista.

Outro tema que deve causar discussões acirradas é o fi-

nanciamento público de campanha. “O financiamento pú-

blico só se justifica se forem fechadas todas as torneiras do

financiamento privado, com graves punições para quem o

(PMDB-SE), presidente da Comissão Especial da Reforma Política da Câ-mara, apesar do atraso dos trabalhos na Casa, a proposta será apresentada dentro do prazo. “A comissão, em tem-po oportuno, apresentará uma propos-ta sem prejuízo do conteúdo. É preciso abrir o leque de discussões com a so-ciedade”, sublinha, ao se referir ao fa-to de que integrantes da comissão irão a cinco estados das cinco regiões brasi-leiras para dialogar com representantes da sociedade civil.

Mas a sociedade estaria prepara-da para participar dessas discussões? Sobre esse ponto, há divergências. To-dos concordam que a voz do povo pre-

Muita gente viu, na última eleição, o candidato a depu-

Amostras do impasse

Temas polêmicosAs pautas das comissões criadas na Câmara e no Senado englobam di-

versos temas, como fidelidade partidária, sistema eleitoral, financiamento

público de campanha, candidatura avulsa, suplência de senadores, reelei-

ção, coligação na eleição proporcional e voto facultativo. Porém, o mé-

todo para se discutir esses temas não é o mesmo, até porque cada Casa

tem um período para concluir os debates.

A Câmara elegeu alguns pontos prioritários: sistema eleitoral (onde en-

tra a discussão sobre voto distrital puro, lista fechada e voto distrital misto),

financiamento público de campanha, regulamentação do processo elei-

toral e institutos da democracia direta (plebiscito, referendo, revogação).

“Trabalhamos levando em conta os temas que entendemos ter suprema-

cia sobre os demais. Quando definirmos o ponto sobre o sistema eleitoral,

os outros ficarão mais fáceis de serem deliberados”, afirma o deputado Al-

meida Lima, da Comissão Especial da Reforma Política da Câmara.

Já a comissão do Senado aprovou o mandato de cinco anos para cargos

do Executivo; o fim da reeleição (a partir de 2014, uma vez que o mandato

foi estendido); a manutenção do voto obrigatório; a redução do número de

suplentes; a transferência da posse do presidente da República para 15 de

janeiro e a de prefeitos e governadores, para o dia 10 do mesmo mês.

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cisa ser considerada, mas nem todos concordam sobre quanto os brasileiros conhecem do sistema político. O que se vê é que, com escândalos como o “mensalão”, o caso Jaqueline Roriz, a criação de um novo partido (PSD) pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e tantos outros eventos, o eleitor olha mais para o aspecto geral, que envolve transparência, compromisso, morali-dade e responsabilidade.

FALTA DE INFORMAÇÃO“O eleitor tem opinião definida sobre alguns poucos temas da reforma polí-tica. Os detalhes da legislação política e partidária não são pontos que interes-sam diretamente a ele. Reforma políti-ca é um tema para especialistas e para a representação política”, garante o cien-tista político Aldo Fornazieri.

Osíris Barbosa de Almeida, diretor do Movimento de Combate à Corrup-ção Eleitoral (MCCE), concorda em parte. “É óbvio que esse debate não es-tá no dia a dia da sociedade. Mas, as-sim como o que aconteceu no movi-mento pela ficha-limpa, que começou sendo debatido por setores da impren-sa, da área política, do Judiciário e do Legislativo, o caminho deve ser o mes-

pratica”, avalia o cientista político Aldo Fornazieri. Paim

concorda: “A população não percebe que quem está pa-

gando as campanhas dos poderosos é ela mesma”.

Um candidato que gasta de R$ 30 milhões a R$ 40 mi-

lhões na campanha tem por trás alguém que está pagan-

do essa conta e que buscará o retorno depois. “Isso só vai

desaparecer no momento em que tivermos financiamen-

to público de campanha e uma fiscalização rígida para não

permitir o abuso do poder econômico”, declara.

mo para a reforma ganhar as ruas e en-trar no cotidiano das pessoas”, sugere.

De passo em passo, as conquistas que o Brasil obtém na política, apon-tam especialistas, não têm acompanha-do as registradas nas áreas econômica e social. “É um campo que tem avança-do pouco. Isso remonta a 1988, quando tivemos uma Constituição não exclusi-va, na qual a assembleia constituinte e o parlamento atuavam juntos. Outro aspecto é que avançamos pouco na de-mocracia direta e no sistema represen-tativo”, diz Moroni.

Na avaliação da Plataforma – que apresentou no fim de março um proje-to sobre o tema de iniciativa popular –, uma reforma política abrangente deve-ria englobar cinco eixos principais: o fortalecimento da democracia direta; o fortalecimento da democracia parti-cipativa (que envolve conselhos, confe-rências e ouvidorias); o aperfeiçoamen-to da democracia representativa – onde entra o debate sobre reforma eleitoral –; a democratização da informação e da comunicação; e a transparência e de-mocratização do Judiciário.

Os movimentos defendem que es-ses avanços sejam acompanhados de uma mudança cultural, seja por par-

A população desconhece como funciona o sistema político

brasileiro, o que vai dificultar a participação da sociedade

civil no processo de mudança

te dos eleitores, da sociedade como um todo, além dos próprios parlamentares. “A cultura política brasileira é machista, paternalista, pri-vada, e a associação do espaço público para interesses privados está presente tanto nas institui-ções quanto na própria socieda-de. Felizmente, alguns partidos e parlamentares perceberam que a re-forma política não é só uma reforma eleitoral. É a reforma do próprio exer-cício do poder. Mesmo aqueles que achavam que a reforma política é ape-nas eleitoral estão reconhecendo que a sociedade tem o direito de participar do debate”, declara Moroni.

É difícil fazer um prognóstico de como o parlamento vai funcionar e se a reforma vai ser aprovada no Congres-so. “A reforma só sai este ano se a socie-dade civil atuar. A Ordem dos Advoga-dos do Brasil (OAB), assim como outras instituições, tem importante papel, que é o de ser uma das vozes da sociedade civil”, diz Cláudio de Souza Neto, pre-sidente da Comissão Nacional de Estu-dos Constitucionais da OAB.

TIRIRICA, AGORA

DEPUTADO

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O INCIDENTE NO JAPÃO DEIXOU DÚVIDAS SOBRE O FUTURO DA ENERGIA NUCLEAR E O TAMANHO DA CAUTELA DOS PAÍSES QUE A UTILIZAM

RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES

O que você sentiria se, hoje, ao comprar seu primeiro celu-lar, recebesse um telefone-tijolo dos anos 1990, todo en-volto em fitas coloridas, acompanhado de uma advertên-

cia de que, se o aparelho cair, pode explodir e mandar para os ares parte de sua casa e a do vizinho? Seria muito assustador, não?

Embora o paralelo não seja exato, ele nos ajuda a entender por que a indústria nuclear atual pode produzir acidentes tão graves como o das seis centrais de Fukushima: a usina está obsoleta.

“Todo mundo sabe que as centrais japonesas funcionam mal, que estão mal localizadas; mas a população, depois disso, não vai mais querer saber de energia nuclear”, afirma o físico Manlio Co-viello, diretor da Unidade de Energia e Recursos da Cepal (Comis-são Econômica para a América Latina e o Caribe), em Santiago, que se define como um “nuclearista convencido”. “Podemos per-ceber que se tratava de um carro velho indo em direção a um bar-ranco, mas 99,9% das pessoas não sabem disso. Então, a questão nuclear não poderá ser tratada, por ora.”

Para Alfredo Sandoval Villalbazo, diretor do Departamento de Física e Matemática da Universidade Ibero-Americana, no Mé-xico, o que ocorreu no Japão nos obriga a “recalibrar tudo o que estamos fazendo”. Contudo, em vez de abandoná-la como opção, diz, o que se deveria fazer é aceitar a necessidade de acelerar os investimentos em energia nuclear para torná-la totalmente segu-ra. Isso implicaria “não usar reatores de 40 anos atrás, fabricados com materiais de propriedades medíocres, comparadas às dos na-nomateriais de hoje em dia, de maior resistência mecânica, isola-mento térmico e com melhor absorção de calor”.

O México possui uma única central nuclear – Laguna Verde, em Veracruz, sobre o Golfo – onde há dois reatores que geram 682,5 megawatts de eletricidade cada. Uma pesquisa da empresa Democ-tecnia, posterior à crise no Japão, mostrou que 69% dos entrevista-dos não acreditam que a segurança seja gerenciada corretamente ali, e 44% estimam que ela é mais insegura que outras centrais do mundo. A surpresa é que – ainda assim – apenas 32% afirmaram que, se dependesse apenas de sua vontade, a usina seria fechada.

A TRAGÉDIA JAPONESA LEVOU O MUNDO A “RECALIBRAR”

TUDO QUE ESTÁ SENDO FEITO NO AMBIENTE NUCLEAR

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DEBATES Energia

COMO ALIMENTAR O FAMINTOApesar dos discursos sobre abundância, a América Latina tem fome de energia, sobretudo o Brasil. Por isso, ainda com as enormes descobertas de petróleo e gás, o país tem um plano para construir oito centrais com grande potência de hoje até 2030. Essa é a intenção do mi-nistro de Minas e Energia, Edison Lo-bão. Poucos dias antes dos aconteci-mentos de Fukushima, ele assegurou que tentaria obter, neste ano, a aprova-ção para o início do processo de três a quatro usinas nucleares.

O Brasil possui duas centrais ope-racionais no estado do Rio de Janeiro, Angra I e II, às margens do Atlântico, que fornecem 2,5% de sua eletricida-de. Em mais quatro anos, terá uma ter-ceira, Angra III, em fase de constru-ção. E tudo parece indicar que, para a presidente Dilma Rousseff, os pla-nos continuarão em andamento. Aloi-zio Mercadante, ministro de Ciência e

Tecnologia, afirmou de maneira tácita: “Tenho a convicção de que, depois des-sa tragédia, haverá novos debates sobre o futuro da energia nuclear. Novos pro-tocolos de segurança irão aparecer, e o Brasil seguirá essa tendência.”

A Argentina é o terceiro país da re-gião em capacidade nuclear. O país ope-ra as centrais Atucha I, nos arredores de Buenos Aires, e Embalse, na província de Córdoba. Elas produzem 8% da ele-tricidade consumida no país. Em setem-bro, será inaugurada a terceira central, Atucha II. Antes, em junho, será licita-da uma quarta, Atucha III, que poderá ter duas usinas de 1.000 MW cada.

O governo argentino afasta os ris-cos. “O projeto de nossos reatores é di-ferente do japonês”, informou a Auto-

ridade Regulatória Nuclear argentina, por meio de um comunicado, após o ocorrido em Fukushima. Eles possuem “um circuito de moderação que permi-te acessar uma quantidade abundante de água durante as operações de refri-geração”. A isso se soma a impossibili-dade de tsunamis, embora não de ter-remotos, no caso de Embalse.

Fontes do setor indicam que o aci-dente em Fukushima terá reflexos no ti-po de tecnologia que será escolhida na licitação de Atucha III. Roberto Lavag-na, ex-ministro da Economia do gover-no de Néstor Kirchner, se opõe ao pro-jeto da nova central. Sobre Atucha II, ele assegura que “há especialistas que fizeram parte da Comissão de Energia Atômica que, consultados, afirmaram com estas palavras: ‘Colocá-la em fun-cionamento seria como utilizar hoje um Ford T’. Dizem que tudo mudou em matéria de centrais”. Ele se refere ao fa-to de que a construção da central “ficou

parada por mais de 20 anos, com várias peças embaladas e mantidas até que se decidisse o que fazer”. O assunto foi re-tomado sem muita discussão (incluin-do o Congresso), em 2007.

A ARTE DE NÃO PREVENIRNão é preciso ser apocalíptico. A Ar-gentina planeja concentrar três centrais nucleares a 120 quilômetros de sua ca-pital, que sofreu dois atentados terroris-tas nos anos 1990. A tecnologia detida pelo país parece garantir imprevistos.Um especialista da área, que prefere se manter anônimo, cita o caso de uma central de pesquisa que a Argentina vendeu à Austrália: “ela tem resistência para protegê-la do impacto de um avião de médio porte”.

Um fenômeno de negação ocorre com as usinas brasileiras Angra I e II. A Eletronuclear, agência que as opera, afirma que é praticamente inexistente a possibilidade de serem atingidas por um tsunami. Mas está equivocada. Em 2001, os pesquisadores Simon Day, do University College London, e Steven Ward, da Universidade da Califórnia, publicaram um artigo no Geophysical Re-search Letters, publicação da União Ame-ricana de Geofísica, mostrando os resul-tados de um modelo preditivo sobre o que aconteceria se o vulcão Cumbre Vie-ja, das Ilhas Canárias, entrasse em erup-ção e seu cone desabasse: um megatsu-nami se expandiria por todo o Atlântico. Ondas de 50 metros atingiriam a Flóri-da, nos Estados Unidos, e ondas de 40 metros assolariam a costa norte do Bra-sil. No sul, elas seriam de menor propor-ção, mas vale lembrar que o desastre de Fukushima teve origem devido a ondas de “apenas” 14 metros.

Mas, ainda que as centrais brasilei-ras e argentinas jamais sejam molhadas por uma gota de água salgada, a tecno-logia atual enfrenta um drama que cos-tuma ser ignorado: o depósito de seus resíduos. Nos dois países, os combus-tíveis nucleares queimados são arma-zenados nas próprias centrais. Esses materiais continuarão sendo radioati-vos durante 10 mil anos, o que significa

Depois do desastre no Japão, o governo brasileiro analisa com mais cautela

os futuros projetos de energia nuclear e fala em novos protocolos de segurança

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que deveriam ser depositados em luga-res mais estáveis e seguros.

Dawid Bartelt, diretor da ONG Heinrich Böll Stiftung, ligada ao Par-tido Verde alemão, afirmou, em entre-vista à revista Conjuntura Econômica, da Fundação Getulio Vargas, que o depó-sito definitivo para os resíduos nuclea-res produzidos nas usinas de Angra I e II ainda não existe: “Hoje, eles ficam em depósitos intermediários, galpões de concreto feitos dentro de rochas. O iní-cio do projeto para encontrar uma solu-ção definitiva está previsto para 2014, as obras vão começar em 2019, e o começo da operação é esperada para 2026”.

Quanto isso custará? Seguramente, menos que os US$ 11 bilhões gastos pe-los Estados Unidos, sob a forma de um subsídio indireto, para criar um depósi-to na mítica Yucca Flat, em Nevada.

A PROMESSA DO TÓRIOExistem pelo menos sete tipos de no-vos reatores nucleares, que superam os já existentes em termos de design. Al-guns são do tipo multicombustível e outros operam apenas com tório, ma-terial menos radioativo que o urânio e o plutônio tradicionais, mas três vezes mais abundante.

É justamente no tório onde se con-centram as pesquisas mais promissoras. Embora ele também utilize um pouco

de urânio, o faz em quantidades peque-nas. Como resultado, na maioria desses reatores os resíduos nucleares são em volume bem menor, risco radioativo e vida média (isto é, o tempo que demo-ram até ficarem inócuos). A isso, soma-se o fato de que não podem ser utiliza-dos para fazer armas nucleares.

A Índia já possui três deles, mas que funcionam por meio de um sistema in-tegrado não aconselhável para nossa re-gião, já que supõe a criação e o uso do perigosíssimo plutônio. Coviello, da Ce-pal, recorda que “o professor Rubbia es-tá impulsionando o tório e centrais safe-ty by design, nas quais os resíduos anuais serão tão grandes como uma xícara de café”. Ele se refere ao projeto do “am-plificador de energia” de Carlo Rubbia, prêmio Nobel de Física em 1989.

No entanto, no curto prazo, o da-no está feito. “As pessoas têm uma má percepção. E, se falamos agora sobre as bondades do tório, tanto faz, pois con-tinuarão nos olhando com estranheza”, afirma Coviello.

“Eu gosto da ideia do tório. Não po-demos fazer reatores proliferantes com ele. O ponto é que, agora, todo mundo se lembra do tório, mas o assunto dos custos não é menor”, afirma um cien-tista próximo à indústria nuclear ar-gentina, que prefere preservar o ano-nimato. E continua: “Se ouvirmos um

nuclearista, ele dirá que é mais barato. Se ouvirmos um antinuclearista, ele di-rá que é caro”.

A viabilidade da energia nuclear na América Latina, então, está em saber se as empresas que construirão as usi-nas e vão se responsabilizar pela ope-ração podem vender a energia produ-zida a um preço suficientemente bom para torná-la realmente segura e, ain-da assim, pagar os créditos bancários. E, terminado seu ciclo de vida, não dei-xar resíduos radioativos que precisem ser financiados pelos cidadãos.

Alguns acreditam que isso poderia ser feito por empresas que operam rea-tores menores, que se resfriam por con-vecção. Reatores para os quais a com-panhia argentina semi-estatal Invap criou uma tecnologia própria, chama-da Carem, que também existe nos Esta-dos Unidos. É uma decisão que precisa ser tomada por cada sociedade.

Países sísmicos e muito ensolarados, como Chile e México, poderiam obter energia bem menos perigosa investindo de US$ 5 bilhões a US$ 10 bilhões nas novas centrais para abandonar o car-vão e apostar em energias alternativas, pagando tarifas mais altas por elas. Que poderiam até ser nucleares, se as tecno-logias seguras conseguirem florescer.

JUNTAS, ANGRA I E II FORNECEM 2,5%

DA ENERGIA CONSUMIDA NO BRASIL

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opinião

72 AméricaEconomia Abril, 2011

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H á décadas, cenas de desastre nuclear assombram a imaginação coletiva. O medo é fruto natural de um caldo de cultura tóxica, engrossado por desastres

históricos, como o de Chernobyl, e alavancado à potência máxima pelas usinas da Hollywood. O grave acidente na estação nuclear de Fukushima Daiichi, provocado pelo ter-remoto de 9 graus de magnitude, seguido por um tsunami, nada tem a ver com as fantasias do Multiplex. Arrancou de casa centenas de milhares de japoneses, ameaçou espalhar radiação aos ventos e quase deixou de joelhos a terceira eco-nomia do planeta. Mas o pânico que se alastrou, e que ainda paira sobre o mundo, tem ligação íntima com essa cultura de espanto que mistura fatos, dúvidas e delírios. Pode-se chamá-lo de síndrome de Godzilla. Se não for contida, pode levar a um apagão de raciocínio, comprometendo o debate sobre como prover energia segura e limpa, de Berlim a Angra.

Para quem não se lembra, Godzilla é o lagarto mansinho do filme homônimo que toma um banho de radiação após a explosão de uma bomba de hidrogênio e transforma-se em carrasco de Tóquio. Foi um estrondo global, tanto que a 28a versão do filme deverá ser lançada em 2012. Mas, ao que tudo indica, o monstrengo já está à espreita. Ecologistas europeus e americanos tomaram as ruas para exigir uma moratória para a energia nuclear. A Alemanha já desligou da rede sete centrais nucleares antigas, enquanto reavalia o futuro da indústria. Congressistas de Brasília a Washington estudam adiar ou até abandonar a construção de mais usinas. Será o Japão o túmulo da brava indústria nuclear?

O grave acidente inspira todo cuidado, mas desativar centenas de reatores que funcionam há décadas sem inciden-tes seria uma tolice. São quase mil usinas em operação pelo

mundo e outras 222 em construção ou na prancheta – inclu-sive mais quatro no Brasil, além de Angra III –, segundo a Associação Nuclear Mundial.

Já houve acidentes, mas o único que provocou mortes foi o de Chernobyl, em 1986, onde uma usina capenga falhou, matando 31 pessoas, segundo dados oficiais. O “desastre” anterior, na central americana de Three Mile Island, em 1979, não matou ninguém, muito menos derreteu um buraco na terra até a China, como quis o filme A Síndrome da China.

Compare o histórico nuclear com o ciclo de extração de petróleo, esse sim o Godzilla das fontes energéticas. Basta lembrar da explosão da plataforma da BP, que matou 11 trabalhadores e derramou 4 milhões de barris no Golfo do México. Mas o Instituto Paul Scherrer, da Suíça, calcula que, entre 1969 e 2000, o pior momento da indústria, “graves acidentes” tenham matado 20 mil pessoas. É uma taxa de letalidade 18 vezes maior que a da energia nuclear. Já as usi-nas nucleares construídas na última década são 1.600 vezes mais confiáveis que aquelas dos anos 1970, e as da próxima geração serão ainda mais seguras, segundo a OCDE.

O pesadelo nuclear no Japão não acabou. Outros, cer-tamente, existirão e, por mais seguras que sejam as novas usinas, um único acidente atômico pode ser fulminante. Fundamental é avaliar a forma com que as nações, carentes de energia, lidam com desastres e se os governos estão aptos a responder à altura. Os japoneses, velhos conhecidos do monstro, deram um espetáculo de gerenciamento da crise. O Brasil pode estar salvo de terremotos e tsunamis, mas está pronto para uma emergência nuclear, com evacuação em massa pelo corredor acidentado de Angra dos Reis? Godzilla também usa terno.

MAC MARGOLIS é correspondente de longa data da revista Newsweek. Realiza reportagens sobre o Brasil, outros países da América Latina e os mercados emergentes, e já colaborou para diversas outras publicações, entre elas The Economist, The Washington Post e The Los Angeles Times.

A síndrome de Godzilla

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74 AméricaEconomia Abril, 2011

ESPECIAL Responsabilidade socioambiental

A hora de se tornarsustentável

COM O CRESCIMENTO ECONÔMICO DO BRASIL E MELHOR DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, AS EMPRESAS TÊM A OPORTUNIDADE DE ABRAÇAR O TEMA FEITO GENTE GRANDE

AINÁ VIETRO E GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO

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Abril, 2011 AméricaEconomia 75

O s holofotes do mundo estão voltados para o Brasil. Com um cres-cimento expressivo do Produto Interno Bruto (PIB), que chegou a 7,5% em 2010, ultrapassando economias tradicionais como França

e Reino Unido, classe média ascendente e renda em elevação, o país passa por uma nova experiência. Mas, se por um lado, as expectativas de expansão da economia são a aposta de uma maioria por aqui, por outro, é a oportuni-dade de as atenções mirarem outro foco: como aliar o aumento do consumo com um crescimento sustentável? Em nível mundial, as discussões sobre as mudanças climáticas não são novidade e, agora, vêm acompanhadas da pre-ocupação com o uso da biodiversidade.

Pesquisadores do setor discutem a necessidade de uma redução global de até 80% nas emissões de gases do efeito estufa até 2050, no sentido de estabi-lizar as emissões nos níveis atuais e manter o aumento médio de temperatu-ra em até 2°C até 2100. O investimento em energia renovável seria uma saída (veja a evolução dos investimentos nessa área no gráfico da página 78).

Segundo especialistas, os custos e riscos das alterações climáticas serão equivalentes à perda anual de, no mínimo, 5% do PIB global. Eles alertam também para que, se forem levados em conta ameaças e impactos mais am-plos, as estimativas desses danos poderiam aumentar para 20%, ou mais, do PIB mundial. E o Brasil, por sua importância econômica, pela liderança na geração de energia proveniente de fontes renováveis e por sua imensa biodi-versidade, pode – e deve – ter um papel protagonista na construção de uma economia global de baixo carbono.

“As metas de redução de emissões ainda estão em nível voluntário no Brasil, mas esse é o momento de as empresas se anteciparem a uma nova re-alidade que não vai tardar: a da obrigação. Quem já está dentro desse esque-ma, sairá na frente, sem dúvida”, analisa Bárbara Oliveira, coordenadora do Programa Sustentabilidade Global do Centro de Estudos em Sustentabilida-de (GVces), da Fundação Getulio Vargas. Para aprofundar a relação do mun-do corporativo com as questões socioambientais, o grupo criou, em 2009, a Plataforma de Empresas pelo Clima, que conta com a participação de 40 companhias brasileiras de diferentes segmentos, como energia, serviços, ali-mentação e construção, e com o apoio da embaixada britânica.

A consciência e a busca por maior competitividade em um mercado cada vez mais dinâmico têm tornado a questão socioambiental prioridade no pla-nejamento estratégico das empresas, bem como em seus orçamentos anuais.A Braskem, por exemplo, criou, em 2009, uma diretoria específica para a área, tendo à frente o executivo Jorge Soto. “Queremos ser os líderes globais da sustentabilidade na indústria química até 2020”, resume Soto. Os primei-ros passos já estão sendo dados. No ano passado, a empresa inaugurou, no

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76 AméricaEconomia Abril, 2011

ESPECIAL Responsabilidade socioambiental

Polo Petroquímico de Triunfo (RS), uma uni-dade industrial de eteno verde – obtido da ca-na-de-açúcar e usado na fabricação de plástico – com capacidade de produção de 200 mil to-neladas por ano.

Com investimento de R$ 500 milhões, a pe-troquímica estabeleceu uma série de parcerias para fornecimento de polietileno verde a clien-tes nacionais e internacionais, como Tetra Pak, Johnson&Johnson, P&G e Petropack. A em-presa estuda, agora, a implantação de uma no-va fábrica, desta vez de polipropileno verde (também usado para fabricar plástico), em lo-cal ainda não definido. A unidade, com previ-são de entrada em operação em 2013, deve re-ceber US$ 100 milhões em investimento e terá capacidade mínima de produção de 30 mil to-neladas por ano.

COM NOVA TECNOLOGIA,

GARRAFAS PET, DA

COCA-COLA (ACIMA),

TIVERAM O PESO

REDUZIDO EM ATÉ

21%. NA FOTO MENOR,

FÁBRICA DE ETENO

VERDE, DA BRASKEM, NO

RIO GRANDE DO SUL

NA PAUTA DE TODOSOutro setor que segue firme na busca de aliar sua marca ao respeito pelo meio ambiente é o bancário. Um dos pioneiros nesse sentido foi o Banco Real, incorporado em 2009 pelo espa-nhol Santander, que optou por manter as ações voltadas a essa área. Recentemente, especulou-se que a troca na presidência ocorrida no final do ano passado – Fábio Barbosa deixou o car-go para assumir o conselho de administração do banco, sendo substituído por Marcial Porte-la – afetaria a política da instituição.

Os rumores são negados pela diretora exe-cutiva de Desenvolvimento Sustentável, Ma-ria Luiza Pinto. “Continuamos trabalhando da mesma forma. O atual presidente ocupava, an-teriormente, o cargo de presidente do Conselho de Administração do Santander no Brasil, por-tanto, já acompanhava o nosso trabalho. Soma-do a isso, desde o início, tivemos o apoio da ma-triz, que também tem uma área dedicada a esse tema em nível global”, comenta.

A seguradora Mapfre é outra que conta com uma diretoria voltada aos temas socio-ambientais, ligada diretamente à presidência. “Em 2010, iniciamos, por meio do Programa Sustentabilidade na Cadeia de Valor, uma sé-rie de workshops em São Paulo, sobre sustenta-bilidade e sua aplicação prática em cada área e ambiente de trabalho dos colaboradores e for-necedores”, relembra Fátima Lima, diretora de Sustentabilidade e da Fundación Mapfre. Para

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Abril, 2011 AméricaEconomia 77

2011, a ideia é ampliar a ação para corretores e outros escritórios.

Para a Coca-Cola Brasil, o assunto também ganhou importância. A multinacional lançou a plataforma de sustentabilidade Viva Positi-vamente. Nela, foram alinhados compromis-sos de caráter ambiental, social e econômico. São sete fluxos de trabalho: água; embalagens sustentáveis; benefícios das bebidas; vida sau-dável; comunidade; clima e ambiente de traba-

Conservação remunerada

Colocar uma cifra nos recursos da natureza parece algo impensável. Pelo menos

era. A Fundação Boticário investe, há cinco anos, na remuneração de proprietá-

rios de terras próximas à represa Guarapiranga, em São Paulo, por meio do Proje-

to Oásis. Com recursos cedidos pela Mitsubishi Foundation, o Oásis contempla 13

proprietários. O local é estratégico por sua importância para a conservação dos

recursos hídricos que garantem o abastecimento de água para quase 4 milhões

de habitantes no município de São Paulo. O valor pago é de R$ 370 por hectare,

e o dono de terra que recebe a maior quantia ganha cerca de R$ 93 mil por ano.

“Queremos quebrar a lógica de que o incentivo sempre vem no sentido de des-

truir. É importante mostrarmos o outro lado”, afirma Malu Nunes, diretora exe-

cutiva da fundação. Em 2009, a iniciativa foi replicada no Paraná, com cerca de

133 produtores rurais das bacias dos rios Pirapó e Tibagi, na cidade de Apucara-

na, região central do estado. O pagamento, que varia de R$ 850 a R$ 7 mil por

ano, vem de recursos do próprio governo.

Investimento global em energia

renovável (por fonte/2008)

Grandes hidrelétricas

PCH (Pequenas Centrais Hidrelétricas)

Solar térmica

Biomassa e geotérmica

Biocombustíveis Solar fotovoltaica

Eólica

3% 4% 4%

9%

25%24%

31%

Fonte: Unep Sefi & Nef (2010)

lho; e energia. Marco Simões, vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil, acredita que é necessária a partici-pação de cada um dos colaboradores para que as ideias possam fluir.

Quando se fala em reciclagem, Simões co-menta que as embalagens de PET reduziram seu peso entre 8% e 21%, dependendo do volume, nos últimos anos. Outro exemplo é a minitam-pa para garrafas PET, com altura da tampa e

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78 AméricaEconomia Abril, 2011

ESPECIAL Responsabilidade socioambiental

do bocal menores que as tradicionais. Isso dimi-nui o consumo da resina derivada de petróleo. A Coca-Cola também lançou a PlantBottle na América Latina. Trata-se de uma embalagem feita de PET na qual o etanol da cana-de-açú-car substitui parte do petróleo utilizado como insumo. “Por ter origem parcialmente vegetal – 30% à base da planta –, a embalagem reduzi-

Universidades seguem o tom

A exigência da sociedade por negócios que estejam alinhados aos princípios da sustentabilidade tem

chamado a atenção das universidades brasileiras. Tanto que as instituições de ensino vêm aumen-

tado a oferta de cursos de graduação com cadeiras direcionadas às questões ambientais. A varie-

dade dos temas propostos nas aulas também tem se expandido. “As empresas vão demandar cada

vez mais profissionais com essa qualificação”, afirma Carlos Carneiro, coordenador do curso de En-

genharia Mecânica: Energias Renováveis e Tecnologia Não Poluente, criado em 2010 pela Anhembi

Morumbi. O currículo mescla disciplinas clássicas da Engenharia com outras, mais específicas, como

gestão energética e ambiental, tecnologias não poluentes e energias renováveis. A produção de ener-

gia mais limpa também foi o foco da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) ao lançar, há cinco

anos, o curso de Engenharia de Energias Renováveis e Ambiente, no campus de Bagé (RS). A gradua-

ção aborda questões como biomassa e eficiência energética, e a procura não é apenas por candida-

tos da região. “Os alunos de fora eram 90%, em 2010, e vinham desde São Paulo até locais mais dis-

tantes, como o Pará”, conta Cristine Schwanke, coordenadora do curso. Depois de formados, os alunos

têm um mercado vasto na própria região, onde três parques eólicos estão em construção.

Alternativa mais limpa Investimento global em energia renovável (US$ bilhões)

Fonte: Unep Sefi & Nef (2010)

2004 2005 2006 2007 2008 20090

18

38

73

118 122112

rá a dependência da empresa em relação aos re-cursos não-renováveis, além de diminuir em até 25% as emissões de CO².”

A Unilever também conta com projetos na área. Juliana Nunes, diretora de Assuntos Cor-porativos da multinacional, afirma que o deter-gente e o amaciante líquidos concentrados, lan-çados recentemente, utilizam menos água tanto

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Abril, 2011 AméricaEconomia 79

em sua formulação quanto no uso. Fora isso, a empresa investiu na substituição dos freezers de sorvetes Kibon por um novo equipamento, que utiliza o gás ecológico R290, que não agride a camada de ozônio e, portanto, não contribui pa-ra aumentar o efeito estufa.

“As empresas sabem que não dá mais para investir em um negócio sujo”, sentencia Bárba-ra, do GVces, da FGV.

Silvio Gava, diretor Técnico e de Sustenta-bilidade da Even, uma das principais constru-toras e incorporadoras do país, sabe bem disso. O setor é considerado um dos mais poluen-tes do planeta, e as empresas que nele atuamcorrem atrás para reverter a má fama. Estima-se que somente o cimento seja responsável por cerca de 5% das emissões mundiais de gases causadores do efeito estufa, duas vezes o que é atribuído à aviação. “Começamos a pensar em empreendimentos sustentáveis em 2006. De lá para cá, temos avançado muito. Mudamos nos-so sistema de madeira das portas. Agora, elas são todas certificadas”, conta Gava. Neste ano, a empresa recebeu a certificação Aqua para o empreendimento True Chácara Klabin, locali-zado na Zona Sul da capital paulista, pela ado-ção de práticas sustentáveis.

“Uma construção sustentável, certamente, terá um valor patrimonial mais alto ao longo do tempo do que uma convencional, justamente pela durabilidade e facilidade de manutenção,

Verde por inteiro

Em março, a PepsiCo apresen-

tou a primeira garrafa plásti-

ca produzida totalmente com

materiais naturais e 100% re-

ciclável. Entre as matérias-pri-

mas usadas na fabricação es-

tão aveia, batata, casca de pinus

e de laranja.

A companhia combinou pro-

cessos químicos e biológicos

e conseguiu criar uma estrutu-

ra molecular idêntica à do PET,

que tinha sua base no petró-

leo. O recipiente anterior che-

gava a consumir 17 milhões de

barris de petróleo por ano, con-

forme dados do Pacific Institu-

te, de 2006. “Essa inovação é

um avanço para a indústria de

bebidas e é resultado direto do

nosso compromisso com pes-

quisa e desenvolvimento”, afir-

mou Indira Nooyi, presidente

do Conselho de Administração

e Diretora da PepsiCo. A “gar-

rafa verde” começa a ser usada

em larga escala a partir de 2012,

mas ainda não há previsão de

sua chegada ao Brasil.

PERSPECTIVA DO TRUE

CHÁCARA KLABIN, DA

EVEN, EM SÃO PAULO,

QUE RECEBEU A

CERTIFICAÇÃO AQUA

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80 AméricaEconomia Abril, 2011

ESPECIAL Responsabilidade socioambiental

além do baixo custo operacional”, afirma Ma-noel Martins, coordenador executivo do proces-so Aqua na Fundação Vanzolini, desenvolvedo-ra da certificação no Brasil.

O fator sustentabilidade faz parte das práticas de empresas como a Philips do Brasil, por exem-plo. Ela optou por descontinuar a fabricação de lâmpadas automotivas no país, e, em dezembro de 2010, depois de uma profunda análise, encer-rou os trabalhos na fábrica do Recife, responsá-vel pela produção. Agora, o produto é importa-do da Philips Global (Ásia e Europa). “Abdicar de ter uma fábrica de incandescentes [com consu-mo maior de energia] é uma visão estratégica volta-da para a sustentabilidade, uma vez que esse é o primeiro e mais clássico produto da Philips”, afir-ma Walter Duran, diretor de Sustentabilidade da Philips do Brasil. Dessa forma, a companhia vol-ta o foco para produtos mais eficazes no que se re-fere à economia de energia. “Até 2012, esperamos que 30% do nosso faturamento ve-nha dos produtos verdes, e 50%, até 2015”, aponta Duran. Mas a gran-de surpresa, que deve começar nes-te ano, é a reciclagem de lâmpadas usadas. “É um processo eficaz, des-de que as lâmpadas sejam entregues inteiras, sem quebras, e o custo de recolhimento é alto.”

Essa preocupação das empresas em asso-ciar sua imagem a práticas mais responsáveis tem aumentado também a procura pela audi-toria de relatórios socioambientais. Segundo Rogério Gollo, líder em sustentabilidade da PricewaterhouseCoopers, a demanda cresce entre 20% e 25% ao ano e vem, principalmen-te, de setores ligados a consumo, energia, mi-neração e siderurgia. “E esse aumento é reflexo tanto de ações obrigatórias quanto das que fa-zem parte do planejamento estratégico da em-presa”, diz Gollo.

PRIMEIROS PASSOSO esforço das empresas com ações de sustenta-bilidade pode ser apenas o começo. A pesquisa O Consumidor Brasileiro e a Sustentabilidade, rea-lizada em 2010 pelos institutos Akatu e Ethos, mostra que 84% dos entrevistados não sabem o que é sustentabilidade. Apenas 16% apontam

HELIO MATTAR, DO AKATU: AS EMPRESAS

DEVEM SER MAIS TRANSPARENTES

COM OS CONSUMIDORES

Expectativa do consumidorPercentual de concordância com a frase:

As empresas sempre deveriam fazer mais do que está

estabelecido nas leis, buscando trazer mais benefícios

para a sociedade – 60%

As empresas deveriam cumprir as leis e fazer algumas coisas a mais

se isso trouxer vantagens para ela junto aos seus clientes – 25%

As empresas deveriam fazer apenas o que está

estabelecido nas leis – 13%

Não tem problema se as empresas não fizerem tudo o

que está escrito nas leis, pois é difícil cumprir todas as leis – 2%

Fontes: Instituto Akatu e Ethos

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Abril, 2011 AméricaEconomia 81

Pioneira no país

Poucas empresas conseguiram aliar seu nome tão for-

temente a ações sustentáveis como a Natura. Pioneira

nessa área no Brasil, a fabricante de cosméticos come-

çou a investir em produtos menos agressivos ao meio

ambiente ainda na década de 1980, quando lançou os

seus primeiros refis. Além de ser uma opção mais eco-

nômica, o refil consome em média 30% menos recursos

naturais do que a embalagem regular, e foi exatamente

nisso que a Natura apostou.

Para se ter uma ideia, o refil do blush e da base líqui-

da tem impacto ambiental 72% menor. Já o refil do ba-

tom impacta 71% menos o meio ambiente, enquanto o

do duo de sombras tem 68% menos consequências que

o produto regular. “O consumidor acabou adotando os

refis, primeiro, porque têm um custo menor, depois, cla-

ro, pela questão do meio ambiente”, conta Alessandro

Mendes, diretor de Desenvolvimento de Produtos da Na-

tura. Por conta disso, a venda desse item já representa

quase 20% do total de produtos comercializados pela

empresa. A última iniciativa da Natura na área de em-

balagens foi adotar o polietileno verde nas emba-

lagens da linha de sabonetes para as mãos Er-

va Doce. “Muitas vezes, as pessoas podem

achar que é fácil mudar uma embalagem,

mas é um processo delicado, que envol-

ve muito estudo. Temos de mostrar para

o nosso consumidor que, mesmo com

uma embalagem mais simples, pode-

mos oferecer um produto muito bom”,

completa o executivo.

a definição correta do termo. “As classes A e B têm mais compreensão do que as C e D, o que reflete o nível de escolaridade”, explica Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.

Ainda de acordo com o estudo, a internet é um dos caminhos que os consumidores adotam para trocar informações sobre as empresas. Ao todo, 17% dos entrevistados usam a web para sa-ber o que uma empresa está fazendo nesse sen-tido. Além disso, 85% esperam que as empresas façam mais do que apenas cumprir a lei. “Os consumidores têm pouca confiança nas empre-sas. Apenas 13% acreditam no que elas dizem”, ressalta Mattar. Para ele, as companhias preci-sam se preocupar não só em divulgar as ações, mas também em ser transparentes.

Por isso, empresas como a Bunge apostam em projetos e parcerias com ONGs. Entre os mais recentes, está o lançamento de uma linha de óleos especiais, com castanha-do-pará. “Es-te óleo possibilita uma renda extra para comu-nidades locais e indígenas do Mato Grosso e do Pará, que têm toda a atividade extrativista dentro de padrões aprovados pela Funai e pelo PNUMA (Programa da Nações Unidas para o Meio Ambiente)”, conta Michel Santos, gerente de Sustentabilidade da Bunge Brasil.

A empresa criou, ainda, a primeira emba-lagem biodegradável para margarinas no país. O recipiente, feito a partir de fontes renováveis, degrada-se no ambiente em até 180 dias após ser descartado. No campo da reciclagem, a Bunge trabalha ainda com o Soya Recicla. É um siste-ma de coleta de resíduos de óleo de cozinha que reduz impactos ambientais e permite a fabrica-ção de sabão e biodiesel.

85%dos consumidores

esperam que as empresas façam mais do que apenas cumprir a lei

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ESPECIAL Fontes de recursos

O ano da

AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE

LIQUIDEZCFOs LATINO-AMERICANOS FALAM SOBRE AS OPORTUNIDADES E OS DESAFIOS FINANCEIROS EM 2011

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Abril 2011 AméricaEconomia 83

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taxa de referência do FED (Banco Cen-tral dos EUA) durante 2011, há alguns investidores institucionais que especu-lam que o FED deixará de comprar Tí-tulos do Tesouro, o que poderia elevar as taxas. Esse possível aumento poderia ser em parte compensado por uma certa redução dos spreads corporativos.

Bernardo Hamacek (Iveco, Brasil) • O mercado de capitais na América Latina tem crescido. As condições econômi-cas, em geral, de alguns dos países da re-gião têm sido alavancadas pelos preços das commodities e pelo desenvolvimento dos seus mercados internos. No Brasil, o mercado interno tem suportado esse

crescimento. Vejo a continuidade do in-vestimento externo na região e a busca por nossos mercados.

AE • Qual estratégia você recomenda-ria para empresas que precisam buscar financiamento externo?

Freitas (Tivit, Brasil) • A elevação das taxas de juros internacionais está fa-zendo com que várias empresas olhem para fora. Embora não se tenha um ce-nário com grandes flutuações na taxa de câmbio, as empresas que não têm hedge [proteção] e estão expostas ao dó-lar deveriam procurar fazer hedge. Isso vale para as companhias que têm fatu-ramento doméstico e contam com dívi-das em dólares.

Óscar Herrera Restrepo (Empresas Públicas de Medellín, EPM, Colôm-bia) • Recomendaria observar primeiro o mercado de capitais, em vez de crédi-tos sindicalizados que ainda não foram reativados. Da mesma forma, a possibi-lidade de emitir títulos globais no mer-cado internacional denominados em moeda local é uma boa chance para ob-ter financiamento na mesma moeda da receita sem assumir risco cambial.

AméricaEconomia • Quais são suas perspectivas para o mercado de capi-tais latino-americano em 2011?

Paulo Sérgio Carvalho Freitas (Tivit, Brasil) • O preço das ações não está tão baixo, mas ainda assim a América La-tina continua atraente. O crescimen-to econômico deve continuar atraindo investidores do mundo todo. Além dis-so, os investimentos dos grandes fundos de private equity terão continuidade no país, o que demonstra o potencial do mercado brasileiro.

Javier Astaburuaga Sanjines (Femsa, México) • Do ponto de vista da liquidez, o setor corporativo passa por um bom momento. As empresas contam com ní-veis adequados de caixa e um ambiente de taxas de juros atraentes. A recupera-ção é incipiente, porém constante, mas existem pressões inflacionárias em mui-tos insumos e uma situação volátil do ponto de vista geopolítico.

Jorge Simino (Fundação Cesp, Bra-sil) • Vejo um ano complexo do pon-to de vista da valorização dos ativos. No caso do Brasil, passaremos por um ajuste fino na questão inflacionária. Na área de emissões de equities e de dívida, talvez tenhamos um ano de operações mais distribuídas, em comparação com 2009 e 2010.

Eduardo Gómez de la Torre Pratt (Sco-tiabank, Peru) • Em relação aos custos de financiamento em dólares, embora não se preveja um aumento drástico da

“A liquidez dos mercados latinos

permite que as empresas

financiem grande parte de suas

necessidades nos mercados locais”

Alfredo Erga, da Enersis (Chile)

A AMÉRICA LATINA CONTINUA NO FOCO DOS INVESTIDORES, DIZ FREITAS, DA TIVIT

A queda vertiginosa do dólar, a ameaça da inflação externa, os Bancos Centrais observan-

do o momento para intervir… Esse é o dia a dia de um CFO (Chief Financial Officer), responsável pelas finanças de uma empresa. Ouvimos os profissio-nais de grandes companhias da Amé-rica Latina, que contam quais são suas estratégias para tirar vantagem do atualmomento econômico.

2

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84 AméricaEconomia Abril, 2011

ESPECIAL Fontes de recursos

Alfredo Ergas (Enersis, Chile) • A li-quidez dos mercados latino-america-nos permite que as empresas financiem grande parte de suas necessidades nos mercados locais. Se, apesar disso, vo-cê precisar ir para o mercado externo, eu recomendaria que tivesse pressa e fe-chasse em taxa fixa.

Patricia Gastelumendi (Ferreyros, Peru) • Para chegar ao mercado inter-nacional, em busca de investimentos maiores, é indispensável ter uma cultu-ra de abertura ao público, o que pode ser feito por meio de relatórios de impren-sa periódicos, conferências telefônicas e outros meios que permitam aos diversos investidores ter um conhecimento do negócio no qual pretendem apostar.

Simino (Fundação Cesp, Brasil) • Acredito que seja preciso ter cuidado com o financiamento externo. Estamos perto de um momento de reajuste no ti-po de câmbio, embora o preocupante não seja o curto prazo.

Luís Antônio Oselame (Randon, Bra-sil) • Uma sugestão para as empresas é a International Finance Corporation (IFC), instituição internacional que atua como grande financiadora. A em-presa que recorrer ao financiamento da IFC conseguirá empréstimos a custos mais baixos, mas terá que se submeter a várias exigências da instituição, como governança corporativa e índice de in-dicadores de controle.

AE • Há alguma novidade em termos de instrumentos ou condições de fi-nanciamento que chame a atenção?

Freitas (Tivit, Brasil) • As pressões inflacionárias nesse início de ano me-recem a atenção no Brasil. O governo também anunciou corte de gastos, dis-se que não abrirá mão do controle da in-flação e não aceitará indexação de pre-ços. Portanto, as empresas devem estar preparadas para enfrentar essas taxas de juros mais altas neste ano.

Oselame (Randon, Brasil) • Existe uma modalidade nova, que são os bônus per-pétuos, sem data definida de resgate. No mercado internacional, os bônus perpétuos são lançados exclusivamente por empresas consideradas sólidas.

Hamacek (Iveco, Brasil) • No setor de caminhões e ônibus, acompanhamos com atenção a evolução dos programas do BNDES (Banco Nacional de Desen-volvimento Econômico e Social), im-prescindíveis para a expansão do mer-cado de bens de capital e, portanto, para o desenvolvimento do país.

AE • Quais são os principais focos de risco que você percebe para a gestão fi-

nanceira neste ano? Como se preparou para enfrentá-los?

Freitas, (Tivit, Brasil) • Os princi-pais riscos continuam sendo as ta-xas de juros e o crescimento mais moderado em relação a 2010. O mer-cado brasileiro deve estar prepa-rado para um crescimento econô-mico do PIB na casa dos 4,5%. Na Tivit, temos operações saudáveis e com forte geração de caixa e, mesmo diante de um cenário de menor cres-cimento do país, continuamos oti-mistas com a evolução constante do nosso negócio.

Astaburuaga (Femsa, México) • Atu-almente, os preços das matérias-pri-mas estão pressionados pela alta, em função dos elevados níveis de liquidez global. Continuaremos operando com prudência, movendo-nos na linha em que temos operado, avaliando oportu-nidades, de acordo com nossa estraté-gia de negócio.

Pratt (Scotiabank, Peru) • O agrava-mento da crise europeia, os efeitos do desastre no Japão, a escalada de violên-cia na África e no Oriente Médio e os potenciais efeitos recessivos que possam levar a um aumento contínuo no preço do petróleo. A melhor forma de se pre-parar é com mais liquidez que o usual, bem capitalizado, e ter um bom respal-do de prazos entre as obrigações e a re-cuperação dos investimentos.

Oselame (Randon, Brasil) • Uma coisa interessante é ser livre de endividamen-to. Quero dizer, o endividamento pode existir, mas com certo controle.

Hamacek (Iveco, Brasil) • O controle da inflação crescente, por meio do au-mento da taxa de câmbio e da contenção do crescimento econômico, é a maior preocupação. A dosagem desses me-canismos e a declarada intenção do governo de intervir em setores espe-cíficos da economia têm dificultado a projeção para 2011.

É PRECISO CUIDADO COM O FINANCIAMENTO

EXTERNO, DIZ SIMINO, DA CESP

“Para chegar ao mercado

internacional, é indispensável

a cultura de abertura ao

público”Patricia Gastelumendi, da

Ferreyros (Peru)

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Abril 2011 AméricaEconomia 85

AE • Há reformas regulatórias na área tributária ou de mercados de ca-pitais que você esteja acompanhando com especial atenção?

Ergas (Enersis, Chile) • A integração dos mercados de capitais latino-ameri-canos por meio do Mila (Mercado Inte-grado Latino-Americano) apresenta de-safios tributários para os mercados de Chile, Colômbia e Peru. Uma real inte-gração das bolsas permitirá aumentar a liquidez dos títulos acionários locais e gerar uma massa crítica relevante de in-vestidores institucionais. Portanto, é ur-gente resolver não apenas aspectos téc-nicos, como também tributários, em especial os referentes à tributação de di-videndos e ganho de capital.

“A melhor forma de se preparar é com mais

liquidez que o usual, bem capitalizado”

Eduardo Gómez de la Torre Pratt, do Scotiabank (Peru)

Em busca do Google latinoNos últimos cinco anos, os fundos de capital de risco e private

equity proliferaram na América Latina, graças ao crescente

interesse de investidores privados e institucionais

María Enrile, de Santiago

Eles começaram em seus próprios quartos, com os computadores

pessoais. Tinham pouco mais de 20 anos e, a princípio, ninguém

acreditou neles. Hoje, Larry Page e Sergey Brin são milionários e donos

do Google, a maior empresa da nova economia: uma aventura que não

teria sido possível sem a ativa indústria americana de capital de risco

(VC). Algo que, na América Latina, ainda está tomando força, junto do

private equity (PE), fundos que andam em busca de empresas paralisa-

das para colocá-las na corrida para o mercado.

Segundo a Associação Latino-Americana de Capital de Risco (Lavca,

na sigla em inglês), no ano passado, a região levantou fundos de US$ 8,1

bilhões, 122% a mais que em 2009. “Vemos mais investidores anjos, pes-

soas com dinheiro que decidem investi-lo em projetos inovadores”, afir-

ma Cate Ambrose, presidente da organização.

Em contraste com a América Latina, o capital subscrito por esse tipo

de fundo caiu 7% nos Estados Unidos e 32% na Europa, segundo a consul-

toria britânica Prequin. Um fato significativo, considerando que até cinco

anos atrás praticamente não havia capital de risco na região. Tudo come-

çou a mudar com a incipiente oferta de projetos inovadores, incubados

por admiradores latino-americanos de Page e Brin. “Os estudantes re-

cém-saídos da universidade não podiam aspirar o trabalho em grandes

multinacionais por causa da crise econômica global”, afirma Ariel Musle-

ra, diretor de Estratégia e Desenvolvimento de Produto da Lavca.

Muitos assumiram riscos pelo empreendimento, batendo em portas

de amigos e, os mais ousados, de indivíduos com capital e vontade de

apostá-lo. “No México, por exemplo, existem entre 15 e 20 famílias mi-

lionárias que investem seu dinheiro nesse tipo de projeto” afirma Víctor

Esquivel, sócio da KPMG México.

Segundo a Lavca, do total de arrecadação dos fundos, US$ 3,3 bilhões

correspondem a dois fundos, Southern Cross e Advent, que bateram re-

cordes históricos. O Brasil representou 46% das operações e 76% do ca-

pital subscrito, com um importante foco em biocombustíveis. O México

vem em segundo, seguido por Argentina e Chile. “A Argentina tem mais

pessoas empreendedoras, mas há menos facilidades. Já o Chile, por

exemplo, tem uma das regulamentações mais transparentes da Améri-

ca Latina”, afirma Muslera.

No entanto, diferentemente dos Estados Unidos, a região ainda preci-

sa avançar em aspectos tributários e regulatórios, como a existência de

mercados secundários de ações voltados às empresas pequenas e mé-

dias, para que a indústria realmente decole. Outro elemento prejudicial é

o fato de vivermos em uma cultura na qual o fracasso é castigado e o em-

preendedorismo gera desconfiança. “A tendência está mudando e, em-

bora esse capital continue sendo financiado por milionários ‘anjos’, au-

menta a criação de fundos de investimentos que confiam nos mercados

emergentes”, afirma Cate, da Lavca.

OSELAME, DA RANDON, RECOMENDA

CONTROLE DO ENDIVIDAMENTO

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86 AméricaEconomia Abril, 2011

ESPECIAL Fontes de recursos

Oselame (Randon, Brasil) • O princi-pal item neste governo é a reforma tri-butária, que deve ser colocada em práti-ca em um futuro próximo.

Simino (Fundação Cesp, Brasil) • Uma história que começou a circular é a desoneração da folha de pagamen-to das empresas. Não é a primeira vez que esse assunto é abordado, mas é a primeira vez que esse debate é trata-do com intensidade.

Hamacek (Iveco, Brasil) • Acompa-nhamos vários aspectos relacionados à reforma fiscal e tributária. A desone-ração dos bens de capital é de extrema relevância para o crescimento do país e da nossa indústria. As questões relacio-nadas ao Mercosul e as relações adua-neiras com o México são acompanha-das constantemente.

AE • Qual será a principal necessidade de investimentos contemplada por sua empresa em 2011? Quais serão as fontes para financiar esses investimentos?

Astaburuaga (Femsa, México) • Temos previstos investimentos em ativo fixo da ordem de US$ 900 milhões para nossas operações. Isso inclui aumento de capa-cidade na Coca-Cola Femsa, abertura de mais de mil lojas da Femsa Comércio e crescimento em nossos negócios estraté-gicos, como logística e refrigeração. No entanto, nossa capacidade de geração de fluxo nos deve permitir financiar esses investimentos quase inteiramente com nossos próprios recursos.

Ergas (Enersis, Chile) • Em manuten-ção de redes (negócio de distribuição elé-trica), o investimento está próximo dos

US$ 800 milhões. Do lado da geração, emitimos um título internacional em pe-sos colombianos por um valor equivalen-te a US$ 400 milhões – somos a primei-ra empresa colombiana a realizar uma emissão desse tipo.

Oselame (Randon, Brasil) • Para 2011, vamos investir R$ 270 milhões. Des-se total, cerca de R$ 100 milhões serão destinados à reposição dos ativos; R$ 110 milhões à modernização do parque fabril; e R$ 30 milhões ao sistema ERP (Enterprise Resource Planning). O res-tante será alocado em uma unidade fa-bril em Resende (RJ), um negócio que temos em parceria com a MAN Cami-nhões e Ônibus, com foco em usinagem, montagem de cubos de rodas e tambo-res, freios e submontagem de kits de sus-pensões. São investimentos próprios.

AE • Qual foi a principal transforma-ção na sua empresa, nos últimos anos?

Ergas (Enersis, Chile) • Acentuou-se aquilo que sempre se exigiu de um CFO: convicção e sangue frio. Estar atento ao que o mercado não espera e ser flexível. Os dinossauros se extinguiram por não se adaptarem... não porque não eram fortes. E não há paradigmas nas finan-ças: tudo pode acontecer.

Simino (Fundação Cesp, Brasil) • As-sistimos a grandes transformações. E elas foram bem relevantes na área de re-cursos de terceiros, que é o nosso negó-cio. Atualmente, vivemos em um am-biente de taxa de juros reais mais baixa, o que impõe um grande desafio para a gestão. Temos feito certa diversificação, como aplicar mais em renda variável, crédito privado (CDBs e debêntures), em vez de entrar em títulos do governo, que são remunerados pela taxa Selic.

Freitas (Tivit, Brasil) • Os objetivos são reduzir riscos, ter maior controle de des-pesas e também fluxo de informações constante entre áreas diversas da empre-sa, incluindo diretores e acionistas.

AS DECISÕES MACROECONÔMICAS DIFICULTAM AS PROJEÇÕES, DIZ HAMACEK, DA IVECO

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FINANÇAS Inclusão

A s microfinanças vêm tomando novos rumos no Brasil, o que tem aumentado a participação do sistema financeiro nacional e estrangeiro. Bancos comer-ciais regulados pelo Banco Central já percebem melhor a potencialidade eco-

nômica desse mercado, que começa a ser entendido como um conjunto de serviços fi-nanceiros básicos e dirigidos aos mais pobres.

Especialistas avaliam que somente o sistema financeiro é capaz de dar resposta à demanda desse público, por sua capilaridade e capacidade de oferecer um conjunto mais amplo de produtos e serviços de inclusão financeira, constituindo-se em um mo-delo mais próximo do praticado em outros países da região latino-americana.

“As entidades sem fins lucrativos cumpriram importante papel no surgimento das microfinanças no país, sobretudo no desenvolvimento do microcrédito”, afirma Eli Moreno, consultor independente na área há dez anos. “Porém, essas entidades se de-monstraram incapazes de se transformar em instituições financeiras plenas e atender às demandas microfinanceiras de seu público”, acrescenta Moreno.

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ANTES OFERECIDAS POR ONGS, AS MICROFINANÇAS, QUE INCLUEM SERVIÇOS COMO O MICROCRÉDITO, ENTRAM NA ESTRATÉGIA DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

ENRIQUETA MENON, DE SÃO PAULO

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OS MICROSSEGUROS COMEÇAM A GANHAR FORÇA

NAS FAVELAS BRASILEIRAS

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90 AméricaEconomia Abril, 2011

FINANÇAS Inclusão

ve de espaço para seu negócio ou até mesmo fazer um curso de especialização com dinheiro do microcrédito produtivo, não pode”, lamenta Gilio.

INCLUSÃO SOCIAL Reconhecidas mundialmente como ferramenta de inclusão financeira e desenvolvimento econômico e social, as microfi-nanças são ainda mais relevantes em um país como o Brasil, dada sua dimensão continental, o tamanho de sua popula-ção e as dificuldades que os pobres ainda enfrentam na hora de acessar serviços financeiros, como o crédito para alavan-car suas atividades econômicas.

Estima-se que o mercado nacional de microcrédito al-cance, hoje, 16 milhões de micro e pequenos negócios, geral-mente informais e excluídos do sistema formal de crédito. “É um mercado de crédito estimado em US$ 55 bilhões ao ano”, calcula Eli Moreno. Por outro lado, os micro e pequenos ne-gócios respondem por mais de 20% do Produto Interno Bru-

to (PIB) e 60% dos empregos e ocupações. “Esses dados evidenciam a importância desse segmento empresarial do ponto de vista econômi-co e social”, enfatiza.

O crédito de consumo popular, especialmente ali-mentado pelo crescente nú-mero de cartões private la-bels, ou seja, cartões de lojas ou de marcas (um dos pro-dutos das microfinanças), permitiu reduzir sensivel-mente os impactos da re-cente crise financeira mun-dial na economia brasileira. No entanto, há ainda um

papel importante para as microfinanças no Brasil: embora a maioria dos brasileiros tenha conta em banco, 39,5% ain-da não a têm, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econô-mica Aplicada (Ipea).

ESCALADA ECONÔMICA O atual panorama das microfinanças no Brasil também de-corre da melhoria das condições macroeconômicas. “O fu-turo é das camadas populares. Uma parcela representativa da baixa renda continuará migrando para a classe média, e qualquer empresa ou banco vai olhar para esses consumi-dores”, afirma Frederico Celentano, consultor especialista em microcrédito.

É o que já está acontecendo. Grandes bancos comerciais começaram uma escalada no sentido de ocupar o mercado das microfinanças. Mais avançadas estão as instituições pú-blicas. Além do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), institui-

Para o técnico do Fundo Multilateral de Investimentos(Fumin) do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),Ismael Gilio, o microcrédito – um dos vários elementos da in-dústria de microfinanças – atingiu maturidade suficientepara dar um salto no país. Desde os anos 1970, desenvolve-ram-se centenas de instituições voltadas às microfinanças – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Os-cips), cooperativas, bancos comunitários, sociedades de cré-dito ao microempreendedor (SCM), bancos públicos –, além do Programa Nacional do Microcrédito Produtivo Orien-tado (PNMPO). Seus recursos vêm dos 2% dos depósitos à vista que os bancos são obrigados a destinar, por lei, pa-ra o programa.

O Fumin-BID, que apoia várias iniciativas de microcré-dito no Brasil, quer avançar no desenvolvimento de micros-seguro e da microprevidência privada, mas aguarda as di-retrizes do governo da presidente Dilma Rousseff (PT) para a área. Ainda engatinhando no país – algumas empresas já oferecem apólices contra acidentes fatais que variam de R$ 3 a R$ 7 por mês para moradores de favelas, com indenizações que partem de R$ 10 mil –, o microsseguro ainda não conta com legisla-ção específica.

O produto pode benefi-ciar cerca de 40 milhões de brasileiros se ganhar dimen-são de seguro tradicional, protegendo a produção, in-clusive rural, não limitado ao seguro pessoal. “Cabe ao governo contribuir para os próximos passos no marco regulatório do microssegu-ro, priorizando o tema na agenda governista no Congresso Nacional”, completa Gilio. Alguns projetos de lei sobre o as-sunto já tramitam no Legislativo.

Gilio também vê futuro na microprevidência, pela qual o público de menor renda poderia contribuir regularmente para um plano de previdência privada, como fazem as clas-ses média e alta. “Da mesma forma, a micropoupança e o mi-croleasing podem ser traduzidos para o conceito micro. Se é possível adquirir uma Mercedes com leasing, por que não usá-lo também para financiar a compra de um pequeno equipa-mento?”, sugere o especialista do Fumin-BID em desenvol-vimento sustentável.

O atual conceito de microcrédito produtivo orientado deveria ser ampliado para que despesas com habitação po-pular, saúde e educação pudessem ser financiadas com esse tipo de recurso. “Se um microempreendedor quiser hoje ad-quirir uma cadeira de rodas, reformar o puxadinho que ser-

Hoje, já é possível encontrar apólices de

seguro para a baixa renda a partir de R$ 3 por mês, com indenizações que partem de R$ 10 mil. Em jogo, um

mercado potencial de 40 milhões de brasileiros

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As regras do jogo Ao contrário do que ocorre no Brasil, na maioria dos demais países da América Latina, o setor de microfinanças está submetido à regulação dos Bancos Centrais, como as demais instituições fi-nanceiras. Por isso, também pode captar pou-pança da população, abrir conta e prestar todos os serviços financeiros.

Aqui, o Banco Central é extremamente rigo-roso e nem todas as instituições reguladas – So-ciedades de Crédito ao Microempreendedor (SCM) e financeiras – estão autorizadas a captar depósitos. Somente bancos, como a Caixa Econô-mica Federal, e cooperativas de crédito podem prestar esses serviços financeiros à população.

Na Bolívia, por exemplo, o BancoSol – que é um banco – tinha em 2009 um total de 245.066 contas de depósito, e o PRODEM FFP (uma ONG que originou o BancoSol e hoje continua como um fundo privado) tinha 349.580 contas. No Mé-xico, a Caja Popular Mexicana – uma espécie de Caixa Econômica – somava 3.073.049 contas em 2009. Já a Fincomún, com 160.683, é uma orga-nização não bancária mexicana com autorização para captar recursos.

UMA DAS MODALIDADES DE CRÉDITO É O MICROLEASING, QUE PERMITE A COMPRA DE EQUIPAMENTOS PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

ção federal tradicional nesse mercado, a Caixa Econômica Federal deverá lançar, em breve, um programa voltado ao fi-nanciamento de escolas técnicas de nível médio, nos moldes do Programa de Financiamento Estudantil (Fies), focado nos universitários; e outro para promover a autonomia dos bene-ficiários do Bolsa-Família, por meio de empréstimos de cerca de R$ 200, para viabilizar microempreendimentos.

“A ideia é que os bancos estatais posicionem-se como precursores, empurrando os privados para o mesmo cami-nho”, afirma Claudia Forte, consultora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) na área de microfinanças.

“Finalmente, o sistema financeiro nacional entendeu a importância do agente de crédito e do aval solidário, e co-meça a adotar essas tecnologias criadas fora da banca tradi-cional”, afirma, referindo-se aos dois pilares da maior refe-rência internacional de microfinanças, o Grameen Bank, fundado pelo economista indiano Muhammad Yunus – No-bel da Paz em 2006.

Dentre as instituições financeiras privadas, Itaú e San-tander passam pela reorganização de suas divisões de micro-crédito, investindo sobretudo na criação de tecnologias pa-ra atrair essa clientela e atendê-la com menor custo, ressalta Celentano, especialista no assunto. Esse novo momento das microfinanças começa a se refletir na academia.

No âmbito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), também há projetos na área. O banco discute o que deve vir a ser a Universidade de For-mação do Agente de Crédito. Fo

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FINANÇAS Inclusão

NOVA PRÁTICA A mudança de mentalidade é necessária. É consenso que so-mente o sistema financeiro é capaz de criar os canais para atender a uma clientela como a brasileira, peculiar não ape-nas na quantidade, mas muito diversificada sócio, cultural e economicamente, avaliam os especialistas. Mas, para de-sempenhar esse papel no avanço das microfinanças no Bra-sil, os bancos tradicionais terão de superar sérios desafios para se igualar ao modelo de atendimento desenvolvido pe-las ONGs especializadas no assunto, sobretudo em relação a suas atitudes em finanças de proximidade, ressalta o con-sultor Eli Moreno.

E o motivo é evidente: no sistema financeiro, o crédito para micro e pequenos negócios, principalmente para empre-endedores de baixa renda, não teve o mesmo nível de cres-cimento em relação aos demais serviços microfinanceiros – transferências, pagamentos, recebimentos e outros. Essas características e potencialidades de cada um dos modelos são ainda percebidas como incongruências no país.

“No entanto, a integração entre as organizações especia-lizadas em microcrédito e as instituições bancárias tem sido o caminho mais promissor para a expansão das microfinan-

ças”, afirma Moreno. O exemplo mais conhecido é a parce-ria entre o Banco do Nordeste e o Instituto Nordeste Cida-dania, uma ONG fundada em 1996 e qualificada em 2003 pelo Ministério da Justiça como Oscip, contratada para ope-rar os programas de microfinanças urbanas (o Crediamigo) e rurais (o Agroamigo).

Juntos, os dois programas têm mais de 1,3 milhão de clientes ativos, a segunda maior carteira de microcrédito da América Latina. Promissoras também são as alianças entre bancos e agências estaduais de desenvolvimento, com pro-gramas de fomento que propiciam a expansão das organiza-ções de microcrédito.

Dinheiro paraleloNo Brasil, há várias experiências com moedas sociais que circulam localmente, emitidas por bancos comunitários apoiados pelo governo federal. Essas iniciativas contam com o incenti-vo da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), do Ministério do Trabalho.

Os bancos comunitários são organizações comunitárias sem fins lucrativos, que têm rela-ções contratuais com instituições bancárias (co-mo correspondentes e agentes de microcrédito, entre outros).

A rápida proliferação de moedas sociais cir-culantes locais – complementares e paralelas à oficial, o real – levou o Banco Central a acom-panhar o tema mais de perto. Segundo o Rela-tório de Inclusão Financeira do BC, divulgado no final de 2010, nos próximos anos, pelo me-nos 180 bancos comunitários estarão em fun-cionamento, atuando, simultaneamente, como alternativa de acesso a produtos e serviços fi-nanceiros, e como agente de promoção do de-senvolvimento local.

O Banco Palmas, uma rede de 55 dessas ins-tituições no Nordeste, define moeda social co-mo um “circulante local” que objetiva fazer com que o “dinheiro” (um cédula que funciona como um bônus) circule na própria comunidade, am-pliando o poder de comercialização local. “As-sim, os créditos em ‘reais’ podem ajudar no cres-cimento econômico do bairro ou do município, gerando novas riquezas. Mas são as moedas so-ciais que asseguram o desenvolvimento ao favo-recer que essa riqueza fique na própria comuni-dade”, informa o banco.

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Abril, 2011 AméricaEconomia 93

O secretário-adjunto de Política Econômica do Minis-tério da Fazenda, Gilson Bittencourt, acrescenta mais uma razão para a transição entre o modelo atual e o futuro. O Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO) realizou entre 2003 e 2010 um total de 12,2 mi-lhões de operações de microcrédito produtivo urbano, com empréstimos de R$ 13,7 bilhões. No mesmo período, o Pro-grama de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) assinou 14,3 milhões de contratos, com financiamento de R$ 61 bilhões. “Ou seja, embora muito maior que a popula-ção rural, os pobres das cidades recebem cerca de cinco ve-zes menos recursos”, sublinha.

Outro fator determinante para o incremento das microfi-nanças será a entrada mais incisiva das cooperativas no mi-crocrédito e na oferta de outros serviços.

O número de cooperativas de crédito, somado aos Postos de Atendimento Cooperativo, aumentou de 2.915 em 2002 para 4.319 em junho de 2010, período em que o número de associados saltou de 1,6 mi-lhão para 4,5 milhões, e as operações de crédito passa-ram de R$ 4,6 bilhões para expressivos R$ 27,8 bilhões.

A necessidade de ganhar escala e, sobretudo, de aco-lher um maior número de micro e pequenos negócios, será elemento-chave para que os sistemas cooperativos intensifiquem sua participa-ção no mercado das microfi-nanças, analisa Moreno.

CONCORRÊNCIAO novo modelo promete ge-rar concorrência entre as instituições financeiras que atuam nas microfinanças, in-clusive com a presença de bancos estrangeiros. Alguns gru-pos privados do exterior já estão apostando nesses negócios por aqui. No ano passado, o peruano ACP, proprietário do Mibanco, adquiriu 65% da Rede Ceap (Centro de Apoio ao Pequeno Empreendedor), entidade sem fins lucrativos com atuação no Maranhão, um dos estados mais pobres do país. A Accion International, líder global em microfinanças, as-sociou-se a um investidor privado brasileiro para criar a Ac-cion Microfinanças, uma Sociedade de Crédito ao Microem-preendedor (SCM), sediada em Manaus (AM).

Depois de 21 anos proporcionando empréstimos en-tre R$ 300 e R$ 20 mil a cerca de 30 mil clientes – a segun-da maior carteira no Brasil –, a Rede Ceap decidiu se tornar um banco especializado em microfinanças para atender à demanda da população. “Tínhamos esgotado nossa capaci-dade de expansão sozinhos. Com o ACP, estamos iniciando

a ampliação de nossos serviços por meio do microsseguro”, afirma Claudia Cismeiros, diretora executiva do Centro. A entidade submeterá, em breve, à aprovação do Banco Cen-tral um plano de negócios focado em seguro de microempre-endimentos. Outra ênfase da parceria é na orientação aos ne-gócios. “Mais do que capital de giro, os microempresários formais e informais necessitam de outros produtos e de ca-pacitação”, explica.

Na opinião da diretora executiva da Accion Microfinan-ças, Bettina Wittlinger de Lima, a atuação de instituições estrangeiras é salutar, porque introduz um caráter mais co-mercial nas microfinanças, até agora predominantemente praticadas com viés social. “Isso é muito positivo em termos de competição”, afirma.

A meta da Accion Microfinanças é conquistar em 2011 – primeiro ano de vida da SCM –, 1,2 mil clientes e emprestar R$ 1,2 milhão. Em cinco anos, o objetivo é chegar a 50 mil clientes no Amazonas e Pará, com prioridade para pequenos

e micronegócios.Um dos motivos pelos

quais a Accion Internatio-nal se instalou no Norte é o baixo número de institui-ções voltadas às microfi-nanças na região: 12 no to-tal. No Nordeste, são 36; no Sudeste, 50; e, em todo o Brasil, 147 instituições. Por enquanto, a Accion Micro-finanças vai se dedicar ape-nas ao microcrédito, mas Bettina defende que o Ban-co Central f lexibilize a le-gislação e permita às SCMs abertura de contas, captação de poupança e depósitos.

“Todo mundo fala em inclusão financeira no Brasil, mas o marco regulatório ainda proíbe a existência de bancos de nichos específicos, como ocorre no Peru, no México e na Bo-lívia”, afirma a executiva. Segundo ela, mesmo que os ban-cos múltiplos privados estejam entrando nesse mercado, difi-cilmente vão se dedicar aos pequenos negócios informais.

O secretário-adjunto de Política Econômica do Ministé-rio da Fazenda justifica: “Não dá para imaginar que, num sistema financeiro desenvolvido como o brasileiro, as insti-tuições de microfinanças não controladas pelo Banco Cen-tral venham a captar depósitos de poupança da população”. Bittencourt enfatiza que, aqui – ao contrário dos países vi-zinhos –, o desenvolvimento da indústria de microfinanças não acontecerá por fora do sistema financeiro formal. Um dos motivos é que os bancos se organizaram antes da forma-ção da rede de microfinanças, que surgiu nos anos 1970, sen-do, portanto, relativamente jovem.

Juntos, o Banco do Nordeste e o Instituto

Nordeste Cidadania têm operações de

microfinanças que somam 1,3 milhão de clientes

ativos; a segunda maior carteira da América Latina

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PATRICIA ZVAIGHAFT, DE SANTIAGO

AS EMPRESAS DE REDES SOCIAIS LATINO-AMERICANAS APOSTAM NOS SOCIAL GAMES PARA EXPANDIR OS NEGÓCIOS

deJogogentegrande

V ocê gostaria de se transformar em uma reconhecida designer de moda? Ser dona de uma loja e criar su-as próprias coleções? Ver como, pouco a pouco, seu

império no mundo fashion vai crescendo? Agora você pode fazer tudo isso, sem sair de seu escritório. Essa é a proposta do Satisfashion, um jogo online relançado no final de janeiro pela Quepasa, a rede social focada na comunidade latina.

A Quepasa Corp. segue o movimento de outras redes so-ciais ao apostar nos chamados social games para crescer em número de usuários e em receita financeira. Para isso, co-meçou a arrecadar fundos no mercado. Em dezembro pas-sado, conseguiu US$ 12,9 milhões após a venda de 1,7 mi-lhão de ações.

Parte dos recursos foi destinada à compra da brasilei-ra TechFront, que desenvolve jogos online para a plataforma Orkut, por meio da qual a empresa conseguiu, no início de janeiro, um acordo que envolveu o desembolso de aproxima-damente US$ 4 milhões.

“Grande parte das pessoas que usam redes sociais o faz para jogar. Na América Latina, há uma escassez de jogos relevantes para o público local”, afirma John Abbott, CEO da empresa. Hoje, a versão beta do Satisfashion pode ser en-

contrada no Orkut e na Quepasa, mas o desafio é estendê-lo a outras redes sociais, como Facebook e Hi5.

Para Abraham Llández, analista da Select, consultoria mexicana especializada em tecnologias de comunicação, os jogos colaboram para o sucesso das redes sociais: “É uma in-dústria que vem crescendo e tem obtido muito sucesso”.

Segundo a PricewaterhouseCoopers (PwC), o uso de jo-gos nas redes sociais é um dos fatores mais relevantes para o crescimento da internet, superando até o uso do e-mail. Rafa-el Ruano, sócio de consultoria da PwC Chile, diz que os social games ainda têm uma margem muito importante de cresci-mento nas redes sociais. O executivo prevê que, nos próxi-mos dois anos, eles terão altas entre 35% e 50% ao ano.

Uma das características dos jogos sociais é que eles de-mandam uma alta atenção por parte do usuário, já que essa é a única forma de continuar avançando. Segundo a Select, um usuário médio conecta-se mais de cinco vezes por dia. “Os jogos são uma forma de fidelizar o público”, diz Llández.

E é exatamente essa atenção que também permite o de-senvolvimento do negócio: o jogo pode ser acessado gratui-tamente, mas, para continuar avançando e obter mais reco-nhecimento, é preciso pagar. “É uma plataforma aberta, que

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pode ser acessada em qualquer rede social. Mas o negócio é a microtransação”, afirma Abbott. De acordo com o execu-tivo, na América Latina, quem joga em redes sociais gasta uma média mensal de US$ 10.

Segundo Ruano, da PwC Chile, o uso de jogos supõe, tanto para o produtor do jogo quanto para o site social, um ganho monetário importante, seja pela compra de tempos ou recursos para jogar, seja pela publicidade em torno do jogo.

GRANDES USUÁRIOSA América Latina tem condições ideais para o crescimen-to desse tipo de empreendimento. De acordo com a con-sultora americana Comscore, mais de 80% dos latino-americanos que se co-nectam à internet o fazem para acessar as redes sociais; acima dos 70% da mé-dia mundial.

A Sonico busca essa mesma oportu-nidade. A rede social foi desenvolvida pelo argentino Rodrigo Teijeiro, e atu-almente tem mais de 50 milhões de usu-ários. “Estamos desenvolvendo novas aplicações relacionadas a social games. O potencial é enorme”, afirma Teijeiro.

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Segundo a empresa, em 2010, a Quepasa aumentou em 255% a base de seguidores e chegou a 27,1 milhões de usuá-rios, principalmente no Brasil e no México. “A Quepasa con-seguiu uma participação importante no mercado hispano-americano”, afirma Llández. O motivo é a necessidade de comunicação dos imigrantes com suas famílias e amigos em seus países de origem.

Abbott, CEO da Quepasa, explica o crescimento prin-cipalmente com base nos concursos, que oferecem prêmios. “Conecte-se, jogue e ganhe” é o slogan. Até agora, a Quepasa apostou em distribuir jogos desenvolvidos por terceiros, como o Satisfashion. Com a compra da TechFront, terá o desafio de

desenvolver jogos próprios. O primei-ro, diz Abbott, deverá estar pronto no segundo trimestre.

Mas uma das lições da primeira onda de negócios digitais é que uma coisa é crescer em usuários, e outra é ganhar dinheiro. Sob esse aspecto, a Quepasa tem bons números. No ter-ceiro trimestre do ano passado, teve uma receita de US$ 2,7 milhões, um crescimento de 135% em relação ao período anterior.

80%dos latino-americanos usam a internet para

acessar as redes sociais

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opinião

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U ma das frases mais famosas do financista Warren Buffet diz que “é apenas quando a maré baixa que descobrimos quem está nadando pelado”. Essa ideia

ilustra bem a atual situação econômica da América do Sul. A região é notória produtora de commodities. Chile e Peru

produzem metais. Paraguai, Uruguai e Argentina, carnes e grãos. Venezuela e Bolívia, commodities energéticas (petróleo e gás natural). E o Brasil, um pouco de cada, com mais ênfase em minério de ferro, soja e petróleo.

Dessa forma, os países sul-americanos vêm se benefician-do enormemente do ciclo de alta dos preços internacionais desses produtos, que já dura quase 10 anos: de 2002 ao pri-meiro trimestre de 2011, o índice do Commodity Research

Bureau (CRB) – que faz uma média dos preços dos diversos tipos de commodities – subiu em termos reais nada menos que 80%! Que surpresa para os adeptos da antiga tese da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) de que os preços dos bens primários estavam condenados a cair sistematicamente ao longo do tempo.

Essa forte ajuda da conjuntura global tem feito com que o desempenho econômico de curto prazo dos diversos países de nosso continente seja positivo. Na média dos últimos anos, o crescimento econômico tem ficado entre 4% e 5% ao ano, o endividamento interno e externo vem caindo, e a inflação anual, com algumas exceções, permanece em um dígito.

Isso significa que os diversos países da região vêm con-duzindo uma boa política macroeconômica? A resposta é não. Voltando à frase de Buffet, as commodities funcionam como uma maré alta, que encobre inconsistências de gestão econômica preocupantes em alguns países. É o caso de Ar-gentina e Bolívia.

Apesar do bom crescimento recente, o governo não tem sido capaz de gerar um ambiente convidativo ao inves-timento produtivo privado, e, portanto, não há aumento do crescimento potencial de suas economias, que acabam ficando cada vez mais “viciadas” em commodities em alta. Na Argentina, os sinais de esgotamento dessa capacidade estão ficando claros, especialmente no campo energético. Apagões são frequentes, e a inflação, inevitável.

Por outro lado, Chile, Peru, Colômbia e Brasil continuam a experimentar expansão de investimentos e do comércio ex-terior, o que tende a gerar condições para que suas economias sigam firmes, ainda que o ciclo de commodities se reverta.

Será quando (e se) o preço das commodities cair, que descobriremos quem nada pelado, ou seja, a inconsistência e o populismo apresentarão sua conta. Essa realidade ainda não parece próxima. Por um lado, há uma clara tendência de aumento da demanda por commodities de países emergentes. Por outro, a catástrofe natural que se abateu sobre a economia japonesa exige um imenso esforço de reconstrução de suas estruturas, pressionando especialmente preços de metais e grãos, assim como as questões geopolíticas que envolvem os países no Norte da África e do Oriente Médio geram aumento do custo de petróleo e seus derivados.

Dessa forma, a alta das commodities tende a durar um bom tempo. É importante que a política econômica dos países be-neficiados aproveite esse movimento para construir as bases para o futuro, em vez de se tornar cada vez mais dependente da ajuda da conjuntura externa.

CAIO MEGALE é mestre em Economia pela PUC-Rio e economista do Itaú BBA ([email protected])

Preço das commodities e o futuro da América do Sul

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