nÍvel de estabilizaÇÃo do desempenho e padrÃo da ... · f676n 2015 fonseca, fabiano de souza...

100
Fabiano de Souza Fonseca NÍVEL DE ESTABILIZAÇÃO DO DESEMPENHO E PADRÃO DA VELOCIDADE DO OBJETO MÓVEL: EFEITOS SOBRE O CONTROLE VISUO-MOTOR NA INTERCEPTAÇÃO Belo Horizonte Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional - UFMG 2015

Upload: doandien

Post on 02-Feb-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Fabiano de Souza Fonseca

NÍVEL DE ESTABILIZAÇÃO DO DESEMPENHO E PADRÃO DA

VELOCIDADE DO OBJETO MÓVEL: EFEITOS SOBRE O

CONTROLE VISUO-MOTOR NA INTERCEPTAÇÃO

Belo Horizonte

Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional - UFMG

2015

Fabiano de Souza Fonseca

NÍVEL DE ESTABILIZAÇÃO DO DESEMPENHO E PADRÃO DA

VELOCIDADE DO OBJETO MÓVEL: EFEITOS SOBRE O

CONTROLE VISUO-MOTOR NA INTERCEPTAÇÃO

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Esporte da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Ciências do Esporte.

Área de concentração: Comportamento Motor

Orientador: Dr. Herbert Ugrinowitsch

Belo Horizonte

Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional - UFMG

2015

F676n

2015

Fonseca, Fabiano de Souza

Nível de estabilização do desempenho e padrão da velocidade do objeto móvel: efeitos sobre o controle visuo-motor na interceptação. [manuscrito] / Fabiano de

Souza Fonseca – 2015.

102f., enc.: il.

Orientador: Herbert Ugrinowitsch

Doutorado (tese) – Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Educação

Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

Bibliografia: f. 93-100

1. Capacidade motora - Teses. 2. Desempenho psicomotor – Teses. I. Ugrinowitsch, Herbert. II. Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de

Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. III. Título.

CDU: 796.015

Ficha catalográfica elaborada pela equipe de bibliotecários da Biblioteca da Escola de Educação Física,

Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais.

DEDICATÓRIA

Dedico esta tese aos meus avós (pais), Ana e Nozinho pelo amor incondicional

e devoção na difícil arte de educar que me permitiu chegar até aqui.

Para sempre na memória. Gratidão eterna...

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela luz, conforto, serenidade e força nos momentos mais difíceis

dessa caminhada.

Ao longo desses anos, recebi o apoio e o incentivo de várias pessoas. E eu

gostaria de agradecer sinceramente a todos aqueles que diretamente ou

indiretamente contribuíram para a minha formação acadêmica, profissional e

humana.

À Família Fonseca por ser essencial na minha formação como ser humano. Os

valores e princípios que aprendi com vocês em cada dia de convivência

mudaram uma perspectiva de vida. Serei eternamente grato a tudo que fizeram

por mim!

Obrigado Rafa! Quando eu fraquejei, você fez tudo ganhar sentido novamente.

Kris, obrigado pela sua paciência, amor, incentivo e assistência. A melhor

maneira de te agradecer será em forma de cuidado e amor em todos os dias

das nossas vidas. Te amo!

À Família Mousinho por me receber como um filho!

Ao Prof. Herbert Ugrinowitsch, meu agradecimento e gratidão. Obrigado por

aceitar o desafio, pelos conselhos e lições ao longo desses onze anos de

convivência. Quando tudo parecia desmoronar, você me trouxe de volta.

Obrigado por tudo!

Ao Prof. Rodolfo Benda, por me apresentar a área de Comportamento Motor e

ser o grande motivador na minha caminhada científica. Ao meu parceiro

Rodolfo, pela amizade, companheirismo, apoio e força. Os anos de convivência

renderam lembranças para toda a vida, mas acima de tudo: amizade e

lealdade.

Aos membros do GEDAM, em especial aos contemporâneos: Maria Flávia,

Lívia, Marcelão, Crislaine, Carlinhos, Tércio, Lucas Savassi, Cláudio, Suzi, Léo,

Silvana, Guilherme Van Keulen, Nádia, Thábata, Vitão e Márcio. Como é bom

fazer parte dessa família e ter vocês como irmãos acadêmicos! Obrigado por

serem elementos propulsores da minha formação acadêmica!

Thábata e Nádia, eu acredito em amizade incondicional por vocês! Não

importou a distância, o tempo, as reviravoltas da vida ou até mesmo alguns

erros. Quando fomos colocados à prova, a amizade prevaleceu e se fortaleceu.

Ao Prof. Israel Teoldo, pela prontidão e auxílio desde o primeiro contato. Sua

ajuda foi crucial para tornar possível a execução dos experimentos dessa tese.

Obrigado por abrir as portas do NUPEF e não medir esforços em me apoiar,

mesmo quando estava fora do Brasil.

Felippe Cardoso, obrigado apoio e suporte ao longo desse processo. Colhi o

melhor fruto de uma parceria acadêmica: um grande amigo. Mas não se

esqueça da sua dívida: você me deve uma visita!

Maicon Albuquerque, agradeço o auxílio durante as visitas à UFV e ajuda na

coleta de dados. Te devo essa parceiro!

A Danielle Campos que me deu todo o suporte durante o período de coleta de

dados na UFV. Sem palavras para agradecer a sua ajuda. Prepara... que você

vai longe Danita!

Ao Prof. Sérgio Tosi, por me receber de forma excepcional em Bauru, dedicar

seu tempo e reorganizar sua agenda para me ajudar. Sua colaboração foi

fundamental na construção dessa tese!

Ao Prof. Umberto Correa, pelas contribuições nas etapas de avaliações. Seus

questionamentos me fizeram refletir e buscar melhorar a qualidade do trabalho.

Ao Prof. Guilherme Lage, pelo apoio de sempre e referência que se tornou

dentro do GEDAM. Grande parte desse caminho foi modelando seus passos!

Ao Centro Universitário Cesmac, pelo apoio para conciliar a atuação

profissional e formação acadêmica. Prof. Douglas Apratto, sua

responsabilidade com a educação e seu amor pela instituição são

contagiantes.

Em especial aos amigos da PROAG: Prof. Mauro, Profa. Lucélia, Profa. Sônia,

Profa. Ana Lydia e demais membros. A amizade e o companheirismo de vocês

tornaram essa jornada possível. Vocês são minha referência de que ninguém

consegue nada sozinho.

Por fim, aos amigos docentes do Curso de Educação Física do CESMAC.

Obrigado pelo suporte durante o período de doutoramento. João, é bom ter

você de volta e por perto! Agradeço a amizade e parceria de sempre.

EPÍGRAFE

“Seja você quem for, seja qual for a posição social que você tenha na vida, a mais alta ou a mais baixa, tenha sempre como meta muita força, muita determinação e faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega lá...”

Ayrton Senna da Silva

RESUMO

O propósito deste estudo foi investigar os efeitos do nível de estabilização do desempenho e do padrão de velocidade do objeto móvel sobre o controle visuo-motor da interceptação. A investigação foi conduzida em três experimentos com dois grupos experimentais: estabilização e superestabilização do desempenho. O nível de estabilização do desempenho foi determinado a partir de critérios de desempenho durante a prática. Na fase de prática, os grupos praticaram uma sequência pré-determinada de toques em cinco sensores de forma a coincidir o toque no último sensor com a chegada de um estímulo visual que deslocava com velocidade constante (81,3 cm.s-1) e tempo total de 2250 ms. O estímulo visual simulava um objeto móvel durante o deslocamento para a zona de interceptação. Após a fase de prática, ambos os grupos foram testados durante a execução de interceptações diante de objetos móveis com diferentes padrões de velocidade. No experimento 1, os participantes executaram interceptações a objetos que se moviam em velocidade constante sob três condições: velocidade aumentada (91,5 cm.s-1), velocidade controle (81,3 cm.s-1) e velocidade reduzida (73,2 cm.s-1). O tempo total de deslocamento do objeto móvel em cada condição de velocidade foi 2000 ms, 2250 ms e 2500 ms, respectivamente. No experimento 2, as interceptações ocorreram diante de objetos móveis com padrão de velocidade variável, mas sem mudança no tempo total de deslocamento (2250 ms). Três condições de velocidade do objeto foram testadas: velocidade aumentada-reduzida (157 cm.s-1 e 41,41 cm.s-1), velocidade controle (81,3 cm.s-1), velocidade reduzida-aumentada (78 cm.s-1 e 88,90 cm.s-1). O experimento 3 também consistiu em interceptações a objetos com padrão de velocidade variável, porém o tempo total de deslocamento do objeto foi manipulado. As condições de velocidade e seus respectivos tempos totais na fase de teste foram: velocidade aumentada-reduzida (141,3 cm.s-1 e 37,27 cm.s-1 - 2000 ms), velocidade controle (81,3 cm.s-1 – 2250 ms) e velocidade reduzida-aumentada (85,8 cm.s-1 e 97,79 cm.s-1 - 2500 ms). A fase de teste dos três experimentos consistiu em 15 interceptações em cada condição de velocidade, distribuídas de forma pseudoaleatória. Os dados referentes ao erro temporal, à duração dos componentes das interceptações (tempo de reação e tempo parcial dos submovimentos) e ao comportamento visual foram analisados. Os resultados revelaram que a superestabilização propiciou melhor desempenho nas interceptações nos diferentes padrões de velocidade do objeto móvel. Além disso, foram encontrados indicativos que o controle visuo-motor da interceptação foi mediado pelo nível de estabilização do desempenho, independente do padrão de velocidade do objeto móvel. Os resultados mostraram que não houve mudança no controle visuo-motor das interceptações em função do padrão de velocidade do objeto. As interceptações parecem ter sido executadas pela combinação de controle preditivo e feedback corrente. Esses achados sugerem que a superestabilização do desempenho promove aquisição de competências que resultam maior eficiência na combinação de controle preditivo e feedback corrente nas interceptações a objetos que se deslocam com velocidade constante e variável. E ainda, o controle visuo-motor da interceptação não parece ser influenciado pelo padrão de velocidade do objeto móvel.

Palavras-chave: Nível de estabilização; Velocidade do objeto móvel; Controle visuo-motor; Interceptação; Feedforward; Feedback.

ABSTRACT

The purpose of this study was to investigate the effects of performance stabilization level and the speed pattern of moving objects on the visuomotor control of interception. The investigation was conducted in three experiments with two experimental groups: stabilization and superestabilization of performance. The level of performance stabilization was determined from a criteria of performance during the practice. In the practice phase, the groups practiced a pre-determined sequence of five sensors touches in order of touching the last sensor in accordance to the visual stimulus arrival that moved to a constant speed (81,3 cm.s-1) and total displacement time of 2250 ms. The visual stimulus simulates a moving object during displacement to the interception zone. After the practice phase, both groups were tested during execution of interceptions facing moving objects with different speed patterns. In experiment 1, participants performed interceptions with objects that moved at a constant speed under three conditions: increased speed (91,5 cm.s-1), control speed (81,3 cm.s-1) and decreased speed (73,2 cm.s-1). The total time of moving object displacement at each speed condition was 2000 ms, 2250 ms and 2500 ms, respectively. In experiment 2, interceptions occurred facing moving objects with variable speed, but with no change in the total displacement time (2250 ms). Three conditions of object speeds were tested: increased-decreased speed (157 cm.s-1 and 41,41 cm.s-1), control speed (81,3 cm.s-1), and decreased-increased speed (78 cm.s-1 and 88,90 cm.s-1). The experiment 3 also consisted in interceptions facing objects with variable speed pattern, but the total time of object displacement was manipulated. The speed conditions and their total times in testing phase were increased-decreased speed (141,3 cm.s-1 and 37,27 cm.s-1 - 2000 ms), control speed (81,3 cm.s-1 - 2250 ms), and decreased-increased speed (85,8 cm.s-1 and 97,79 cm.s-1 - 2500 ms). The test phase of the 3 experiments consisted in 15 interceptions in each speed condition, distributed in pseudo-random order. The data regarding the temporal error, the duration of movement components (reaction time and partial time of submovements) and visual behavior were analyzed. The results revealed that the superestabilization provided better performance in interceptions in different patterns of the moving object velocity. Moreover, were found indicating that the visuomotor control interception was mediated by the level of performance stabilization, regardless of the pattern of moving object speed. The results showed that there was no change in visuomotor control of interceptions as function of speed pattern. Interceptions seems to have been performed by combining predictive and online feedback control. These findings suggest that superestabilization of performance promotes acquisition of competences that lead to greater efficiency in combining predictive and online feedback control for interceptions of moving objects with constant and variable speed. Besides, the visuomotor control in interception does not appear to be influenced by the speed pattern of the moving object.

Keywords: Level of stabilization; Moving object’s speed; Visuomotor Control; Interception; Feedfoward; Feedback.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Desenho esquemático da atuação dos modelos internos no controle motor............................................................................................................... 24 Figura 2 - Ilustração do aparelho de timing coincidente em tarefas complexas......................................................................................................................... 40

Figura 3 - Sistema de rastreamento visual. ..................................................... 41

Figura 4 - Desenho experimental do experimento 1. ....................................... 43

Figura 5 - Representação das áreas para classificação da localização das fixações visuais. .............................................................................................. 47

Figura 6 - Desenho experimental do experimento 2. ....................................... 58

Figura 7 - Desenho experimental do experimento 3. ....................................... 69

Gráfico 1 – Média do erro constante no primeiro e último bloco da fase de prática................................................................................................................49

Gráfico 2 – Média do erro variável no primeiro e último bloco da fase de prática.. ........................................................................................................... 49

Gráfico 3 – Média da duração dos componentes da tarefa no primeiro e último bloco da fase de prática. ................................................................................. 50

Gráfico 4 – Média das fixações visuais por local da tarefa no primeiro e último bloco da fase de prática. ................................................................................. 51

Gráfico 5 – Média do erro constante nas diferentes velocidades do objeto móvel: controle (CONT), aumentada (AUM) e reduzida (RED) ....................... 52

Gráfico 6 - Média do erro variável nas diferentes velocidades do objeto móvel: controle (CONT), aumentada (AUM) e reduzida (RED) ................................... 53

Gráfico 7– Média da duração dos componentes da tarefa nas diferentes velocidades (AUM, CONT e RED). ................................................................. 54

Gráfico 8 – Número de fixações visuais por local da tarefa nas diferentes velocidades (AUM, CONT e RED). ................................................................. 55

Gráfico 9 – Média do erro constante no primeiro e último bloco da fase de prática. ............................................................................................................ 60

Gráfico 10 – Média do erro variável no primeiro e último bloco da fase de prática. ............................................................................................................ 60

Gráfico 11 – Média da duração dos componentes da tarefa no primeiro e último bloco da fase de prática .................................................................................. 61

Gráfico 12 – Média das fixações visuais por local da tarefa no primeiro e último bloco da fase de prática. ................................................................................. 62

Gráfico 13 – Média do erro constante nas diferentes velocidades do objeto móvel: controle (CONT), aumentada-reduzida (AUM-RED) e reduzida-aumentada (RED-AUM). ................................................................................. 63

Gráfico 14 – Média do erro variável nas diferentes velocidades do objeto móvel: controle (CONT), aumentada-reduzida (AUM-RED) e reduzida-aumentada (RED-AUM). .................................................................................................... 64

Gráfico 15 - Média da duração dos componentes da tarefa nas diferentes velocidades (AUM-RED, CONT e RED-AUM). ................................................ 65

Gráfico 16 - Número de fixações visuais por local da tarefa nas diferentes velocidades (AUM-RED, CONT e RED-AUM).. ............................................... 66

Gráfico 17– Média do erro constante no primeiro e último bloco da fase de prática.. ........................................................................................................... 71

Gráfico 18 – Média do erro variável no primeiro e último bloco da fase de prática ............................................................................................................. 71

Gráfico 19 – Média da duração dos componentes da tarefa no primeiro e último bloco da fase de prática. ................................................................................. 72

Gráfico 20 – Média das fixações visuais por local da tarefa no primeiro e último bloco da fase de prática. ................................................................................. 73

Gráfico 21 – Média do erro constante nas diferentes velocidades: controle (CONT), aumentada-reduzida (AUM-RED) e reduzida-aumentada (RED-AUM)......................................................................................................................... 74

Gráfico 22 – Média do erro variável nas diferentes velocidades: controle (CONT), aumentada-reduzida (AUM-RED) e reduzida-aumentada (RED-AUM)......................................................................................................................... 75

Gráfico 23 - Média da duração dos componentes da tarefa nas diferentes velocidades (AUM-RED, CONT e RED-AUM) ................................................. 76

Gráfico 24 - Número de fixações visuais por local da tarefa nas diferentes velocidades (AUM-RED, CONT e RED-AUM). ................................................ 77

Quadro 1 - Distribuição das diferentes velocidades do objeto móvel na fase de teste do experimento 1......................................................................................44

Quadro 2 - Distribuição das diferentes velocidades do objeto móvel na fase de teste do experimento 2. ................................................................................... 58

Quadro 3- Distribuição das diferentes velocidades do objeto móvel na fase de teste do experimento 3. ................................................................................... 69

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANOVA – Análise de Variância

AUM - Velocidade Aumentada

AUM-RED - Velocidade Aumentada-Reduzida

COEP/UFMG - Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de

Minas Gerais

CONT – Velocidade Controle

CR - Conhecimento de Resultados

EC – Erro Constante

EV - Erro Variável

GE – Grupo Estabilização

GS – Grupo Superestabilização

RED – Velocidade Reduzida

RED-AUM - Velocidade Reduzida-Aumentada

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TEN - Tentativas

Tpar - Tempo Parcial do Componente

TR – Tempo de reação

TT - Tempo Total

VEL – Velocidade

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................... 14 2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................... 17

2.1 O controle visuo-motor em ações de interceptação ............................... 17

2.2 Controle e regulação dos movimentos ................................................... 21

2.3 O padrão de velocidade do objeto móvel e o controle da interceptação 28

2.4 Efeitos do nível de estabilização do desempenho no controle da interceptação ............................................................................................... 33

3. OBJETIVOS ............................................................................................ 37

3.1 Objetivo Geral........................................................................................ 37

3.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 37 4. HIPÓTESES DE ESTUDO ....................................................................... 38

5. EXPERIMENTO 1 .................................................................................... 39

5.1 Método .................................................................................................. 39

5.1.1 Amostra .......................................................................................... 39

5.1.2 Instrumentos e tarefa ...................................................................... 39

5.1.3 Delineamento .................................................................................. 41

5.1.4 Procedimentos ................................................................................ 44

5.1.5 Análise dos dados ........................................................................... 45

5.2 Resultados ............................................................................................ 48

5.2.1 Síntese dos resultados .................................................................... 55 6. EXPERIMENTO 2 .................................................................................... 56

6.1 Método .................................................................................................. 56

6.1.1 Amostra .......................................................................................... 56

6.1.2 Instrumento e tarefa ........................................................................ 57

6.1.3 Delineamento .................................................................................. 57

6.1.4 Procedimentos ................................................................................ 59

6.1.5 Análise dos dados ........................................................................... 59

6.2 Resultados ............................................................................................ 59

6.2.1 Síntese dos resultados .................................................................... 66 7. EXPERIMENTO 3 .................................................................................... 67

7.1 Método .................................................................................................. 67

5.3.1 Amostra .......................................................................................... 67

5.3.2 Instrumento e tarefa ........................................................................ 68

5.3.3 Delineamento .................................................................................. 68

5.3.4 Procedimentos ................................................................................ 70

5.3.5 Análise dos dados ........................................................................... 70

7.2 Resultados ............................................................................................ 70

7.2.1 Síntese dos resultados .................................................................... 77 8. DISCUSSÃO ........................................................................................... 79

9. CONCLUSÕES ........................................................................................ 89

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 90

14

1. INTRODUÇÃO

As ações de interceptação são muito comuns em nosso cotidiano

particularmente quando desejamos fazer contato com algum objeto em

movimento (TRESILIAN, 2012). Agarrar um objeto para evitar sua queda,

rebater a bola durante uma partida de tênis ou golpear um inseto em pleno vôo

são exemplos de interceptações. As interceptações dependem da precisão

espaço-temporal, ou seja, o efetor deve alcançar o objeto móvel no local

correto e no momento exato (TRESILIAN, 2004, 2005). Para isso, o executante

necessita obter informações sobre o objeto (posição, direção, velocidade) e

organizar os movimentos baseados nessas informações para garantir uma

execução precisa (DAVIDS et al., 2002). Então, a integração entre mecanismos

perceptivos e motores, especialmente aqueles envolvidos no controle visuo-

motor, pode ser considerada essencial para o sucesso das interceptações.

De fato, tem sido bem estabelecido na literatura o papel crítico da

informação visual no planejamento e correções dos movimentos direcionados a

objetos (DESMURGET et al., 1998; SAUNDERS; KNILL, 2003, 2005). A

precisão dos movimentos guiados pela visão depende da captação apropriada

de informações através de movimentos oculares (LAND, 1999, 2009), o que

resulta em padrões específicos de comportamento ocular. A análise do

comportamento dos olhos e dos aspectos motores tem sido uma importante

ferramenta na busca pela compreensão dos mecanismos de controle visuo-

motor envolvidos na interceptação. A elucidação desses mecanismos tem sido

tema de intenso debate na literatura (PANCHUK; VICKERS, 2009;

KATSUMATA; RUSSELL, 2012; ZHAO; WARREN, 2015).

As proposições sobre como o Sistema Nervoso Central (SNC)

realiza a regulação das interceptações tem sido baseada em mecanismos de

controle preditivo (feedforward), feedback sensorial e na combinação entre eles

(SEIDLER; NOLL; THIERS, 2004; LA SCALEIA; ZAGO; LACQUANITI, 2015;

ZHAO; WARREN, 2015). No controle preditivo, é proposto que o SNC usa

modelos internos para a regulação adequada das interceptações

predominantemente por mecanismos de pré-programação (WOLPERT;

FLANAGAN, 2001; ZAGO et al., 2005, 2009). Por outro lado, no controle via

15

feedback corrente é sugerido que as ações de interceptação são

continuamente ajustadas usando informações provenientes do feedback visual

(DESSING et al., 2002; BASTIN; CRAIG; MONTAGNE, 2006). Há evidências

na literatura que dão suporte às duas formas de controle durante a

interceptação (DESSING et al., 2002; ZAGO et al., 2009). Têm sido também

encontrados resultados que sugerem a função complementar entre as formas

de controle, apontando para a regulação da interceptação a partir da

combinação do controle preditivo e feedback corrente (MÜLLER; ABERNETHY,

2006; BOSCO; MONACHE; LACQUANITI, 2012; DE LA MALLA; LÓPEZ-

MOLINER, 2015). Entretanto, não está claro na literatura como o controle

visuo-motor da interceptação é modificado em função do padrão de velocidade

do objeto móvel e nem a influência da prática nos mecanismos visuais e

motores que propiciam a precisão espaço-temporal da interceptação em

contextos variáveis.

Há que se considerar a característica dinâmica dos contextos que

envolvem as ações de interceptação (TRESILIAN, 2005; MERCHANT et al.,

2009). Mudanças sistemáticas na velocidade do objeto móvel são muito

comuns nesses contextos e podem ocasionar no deslocamento do objeto para

a zona de contato com distintos padrões, tais como, velocidade constante ou

variável. Nessas distintas situações, o controle visuo-motor deve ser

adequadamente modificado em função das características do padrão de

velocidade do objeto. Assim, o controle durante a interceptação pode ser

influenciado pelo padrão de velocidade do objeto móvel (LEE; PORT;

GEORGOPOULOS, 1997; DUBROWSKI; CARNAHAN, 2001; TEIXEIRA et al.,

2006a). Em contextos envolvendo objetos móveis em velocidade constante, há

resultados que apontam para o uso de controle via feedback corrente (LEE;

PORT; GEORGOPOULOS, 1997), mas também para a combinação do

controle preditivo e feedback (DUBROWSKI; CARNAHAN, 2001). Já nas

interceptações com objetos que se movem com velocidade variável, são

encontrados resultados que sugerem o controle preditivo (DUBROWSKI; LAM;

CARNAHAN, 2000) e também a associação de controle preditivo e feedback

corrente (TEIXEIRA et al., 2006a). As divergências desses resultados não

esclarecem como o controle visuo-motor na interceptação é modificado em

função do padrão de velocidade do objeto móvel.

16

Já em relação aos efeitos da prática no controle visuo-motor, há

também algumas lacunas que merecem ser investigados, como por exemplo,

compreender como as competências sensório-motoras necessárias à

interceptação são adquiridas ao longo da prática. Ao longo da prática,

competências sensório-motoras são adquiridas e culminam com a

consolidação de um conjunto de soluções adequadas para a tarefa. Quando

isso acontece, performances precisas e consistentes são observadas no

comportamento. Esse fenômeno é conhecido como estabilização do

desempenho (UGRINOWITSCH et al., 2014). Há evidências que o nível de

estabilização do desempenho alcançado durante a prática é capaz de modular

as competências adquiridas com a prática (UGRINOWITSCH et al., 2011,

2014; FONSECA et al., 2012). Nesse contexto, o nível de estabilização pode

ser entendido como o estado funcional do sistema motor que reflete seu grau

de competência para executar determinada tarefa. Alguns estudos têm

questionado se o nível de estabilização do desempenho está associado à

capacidade de executar ações de interceptação sob diferentes circunstâncias

ambientais (UGRINOWITSCH et al., 2011, 2014; FONSECA et al., 2012). Os

resultados demonstram os níveis mais avançados de estabilização possibilitam

maior capacidade de regulação das ações de interceptação em variadas

situações (UGRINOWITSCH et al., 2011; COUTO, 2012; FONSECA et al.,

2012). Porém, não está totalmente esclarecido como essas competências são

adquiridas e sua influência no controle visuo-motor na interceptação em

contextos dinâmicos.

Assim, com o intuito de elucidar como o controle visuo-motor da

interceptação é modificado em função do padrão de velocidade do objeto

móvel e como o nível de estabilização alcançado na prática modula o controle

visuo-motor das interceptações em contextos dinâmicos, o propósito dessa

tese foi investigar os efeitos do nível de estabilização do desempenho e do

padrão de velocidade do objeto móvel sobre o controle visuo-motor da

interceptação.

17

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 O controle visuo-motor em ações de interceptação

O movimento é considerado o principal meio de interação entre o ser

humano e o ambiente (MANOEL, 1994; WOLPERT; GHAHRAMANI;

FLANAGAN, 2001). O ambiente consiste em um contexto dinâmico onde as

pessoas usualmente devem interagir com objetos em deslocamento

(TRESILIAN, 2005; MERCHANT et al., 2009). Nessas situações, o indivíduo

pode agir de duas formas: evitando a colisão ou realizando uma interceptação

(TRESILIAN, 2005, 2012). As interceptações são compreendidas como

habilidades motoras cujo objetivo é realizar contato com o alvo móvel (objetos

que se deslocam no campo visual) usando um efetor (segmento corporal ou

implemento) (TRESILIAN, 2012).

As ações de interceptação são categorizadas em duas classes:

interceptações de captura e interceptações de rebatida do objeto móvel

(TRESILIAN, 2005; MERCHANT et al., 2009). Essas duas classes são comuns

em inúmeras atividades cotidianas e esportivas, tais como, agarrar um objeto

no ar para evitar sua queda ou rebater a bola durante a partida de tênis. Devido

ao seu papel crítico para o desempenho bem sucedido em diferentes contextos

e também para a adaptação do ser humano ao ambiente, as ações de

interceptação tem sido o foco de investigação em diversas áreas de

conhecimento (DAVIDS et al., 2002).

O sucesso da interceptação depende da precisão espaço-temporal,

ou seja, é necessário que o efetor atinja o objeto móvel no local correto

(coincidência espacial) e no momento exato (coincidência temporal)

(TRESILIAN, 2005). Esse processo de sincronização espaço-temporal

representa um grande desafio para o Sistema Nervoso Central (SNC). Isso

porque a interceptação não exige apenas a coordenação precisa dos

segmentos corporais envolvidos na ação, mas também depende da integração

ótima entre mecanismos perceptivos e motores para que os movimentos sejam

organizados adequadamente em sintonia com o objeto móvel (DAVIDS et al.,

2002; TRESILIAN, 2012). A complexidade desses processos de controle motor

18

durante a interceptação pode ser ilustrada usando como exemplo a rebatida do

tênis.

A precisão da rebatida depende da captação apropriada de

informações visuais relevantes sobre as propriedades do objeto móvel (bola em

aproximação), tais como sua distância, direção e velocidade. Em seguida, os

movimentos devem ser planejados combinando as informações visuais acerca

do ambiente e do próprio corpo. Por fim, os comandos motores devem ser

gerados e os movimentos regulados coordenadamente com a bola em

aproximação para o ponto de contato. Nesse exemplo, fica evidente que a

sincronização apropriada entre mecanismos visuais e motores é essencial para

desempenho bem sucedido da interceptação. Portanto, deve-se tentar integrar

o papel da visão com o controle de movimentos, pois o planejamento, a

organização e a regulação das ações de interceptação são dependentes desta

informação (DAVIDS et al., 2002).

A visão é um importante meio de obtenção de informação para nos

movermos pelo mundo e guiar nossas ações (GOODALE, 2014). Isso porque a

visão não é responsável somente pela obtenção de informação capaz de

propiciar a percepção de objetos, eventos e o nosso entendimento do mundo,

mas ela também é usada no planejamento e regulação dos movimentos

(GOODALE, 2011; 2014). Nas últimas três décadas têm crescido o número de

pesquisas com o intuito de aprofundar a compreensão do papel da visão no

controle dos movimentos (GOODALE, 2011).

Uma das formas de entender a atuação da visão no controle motor é

que existem dois sistemas visuais com distintas funções: “a visão para

percepção” e a “visão para a ação” (GOODALE; MILNER, 1992; GOODALE;

HUMPHREY, 1998; MILNER; GOODALE, 2008). Goodale e seus colegas têm

sugerido que a informação visual é processada no SNC por duas vias corticais

distintas, mas que estão em interação. A distinção de ambas acontece através

do mapeamento das projeções visuais oriundas do córtex visual primário,

denominadas de via visual ventral (visão para percepção) e via visual dorsal

(visão para a ação).

A via ventral tem como principal papel propiciar a construção das

representações visuais detalhadas do mundo e que nos permite reconhecer

objetos, atribuir significados, identificar eventos (GOODALE; MILNER, 1992;

19

MILNER; GOODALE, 2008). Além disso, a via ventral fornece a base

perceptiva para o controle motor off-line (controle antecipatório) que depende

das experiências passadas e armazenamento de informações (GOODALE,

2014). Já a via dorsal, tem função essencialmente centrada no controle de

movimentos, atuando no processo de transformação momento a momento da

informação visual em movimentos coordenados (GOODALE; MILNER, 1992;

MILNER; GOODALE, 2008).

O controle preciso dos movimentos guiados pela visão depende da

captação adequada de informações visuais através dos movimentos dos olhos

(LAND, 1999; TRESILIAN, 2012). Os movimentos oculares têm como principais

propósitos a estabilização da imagem na retina e o direcionamento do olhar

para outro objeto ou área de interesse (LAND, 1999, 2009). A estabilização da

imagem na retina propicia tempo para que os fotorreceptores (cones e

bastonetes) presentes na retina processem os estímulos luminosos, realizem a

transdução sensorial e enviem os sinais através do nervo ótico para as regiões

especializadas do córtex para processamento (WERNER; CHULAPA, 2014). Já

o direcionamento do olhar para outro objeto propicia maior acuidade visual

devido ao aumento no número de cones na região central da retina

denominada de fóvea (DUCHOWSKI, 2007; TRESILIAN, 2012; WERNER;

CHULAPA, 2014). Como a distribuição dos cones na retina diminui

consideravelmente da região da fóvea em direção à periferia, os olhos

necessitam se movimentar ativamente para direcionar a informação para a

fóvea (RODRIGUES, 2001; TRESILIAN, 2012). Em ações de interceptação que

possuem como particularidade a presença do objeto móvel, os executantes

devem ajustar continuamente os olhos a fim de adquirir informações relevantes

sobre o mesmo, estabilizar a imagem na retina e conseguir ótima acuidade

visual (DAVIDS et al., 2002). Essa necessidade resulta em padrões específicos

de comportamento dos olhos durante a execução dos movimentos.

O padrão de comportamento dos olhos consiste basicamente de três

movimentos oculares: fixações visuais, movimentos sacádicos e rastreamentos

visuais (DUCHOWSKI, 2007). Os movimentos sacádicos são movimentos

rápidos dos olhos com o intuito de posicionar o olhar em outra área de

interesse no campo visual (DUCHOWSKI, 2007; BLASCHECK et al., 2014).

Devido aos vários estímulos visuais, os olhos se movem muito rapidamente

20

durante os movimentos sacádicos e não há tempo para o processamento

visual. Esse fenômeno é denominado de supressão sacádica (DUCHOWSKI,

2007). Por outro lado, o processamento visual se torna possível se o olhar

estiver relativamente estacionário em um objeto ou área de interesse por um

período superior a 100 ms, ou seja, período mínimo para considerar como uma

fixação visual. Os movimentos de rastreamento são identificados quando os

olhos perseguem um objeto móvel com velocidade abaixo de 30º/s, pois em

velocidades superiores serão implementados movimentos sacádicos

(DUCHOWSKI, 2007; BLASCHECK et al., 2014). O estudo do comportamento

visual tem sido usado como ferramenta para investigação dos mecanismos de

controle visuo-motor em ações de interceptação (LAND; MCLEOD, 2000;

DAVIDS et al., 2002; RODRIGUES; VICKERS; WILLIAMS, 2002). Entender

como mecanismos visuais e motores são regulados pelo SNC durante a

interceptação tem sido um grande desafio para os pesquisadores.

Apesar da aparente complexidade do controle visuo-motor durante a

interceptação, a eficiência nas ações de interceptação demonstram a

capacidade do SNC de regular esses mecanismos. Por exemplo, em

modalidades como críquete e beisebol, as rebatidas exigem precisão espacial

de 2 cm e temporal de 2,5 ms, aproximadamente (REGAN, 1997; LAND;

MCLEOD, 2000; TRESILIAN, 2004). E mesmo assim, há evidências de atletas

de críquete capazes de desempenhar as rebatidas com precisão temporal

próxima de 4 ms (MCLEOD; JENKINS, 1991). Outros estudos demonstram que

sujeitos sem experiência no beisebol são capazes de executar rebatidas com

precisão temporal abaixo de 6 ms (BRENNER et al., 2012).

A explicação dessa capacidade do ser humano em executar

precisamente as ações de interceptação, bem como, a elucidação dos

mecanismos de controle visuo-motor envolvidos na interceptação tem sido

tema de intenso debate na literatura (PANCHUK; VICKERS, 2009; ZAGO et al.,

2009; KATSUMATA; RUSSELL, 2012; LA SCALEIA; ZAGO; LACQUANITI,

2015). As proposições explicativas do controle visuo-motor na interceptação

são baseadas em duas perspectivas: controle preditivo e controle via feedback

corrente. Essas perspectivas se diferenciam basicamente sobre o papel

desempenhado pela informação visual no planejamento e regulação dos

21

movimentos (DESSING et al., 2002; MERCHANT et al., 2009; ZAGO et al.,

2009; SARLEGNA; MUTHA, 2014) que serão discutidas a seguir.

2.2 Controle e regulação dos movimentos

A organização e regulação dos movimentos voluntários podem ser

descritas por um continuum, que se baseia essencialmente no controle via

mecanismos de feedback sensorial até mecanismos de feedforward (SEIDLER;

NOLL; THIERS, 2004). Esses mecanismos também podem ser combinados

para o controle de movimentos conhecido como controle ótimo (DESMURGET;

GRAFTON, 2000). As proposições explicativas sobre como as ações de

interceptação são reguladas pelo SNC se apoiam nesses distintos mecanismos

de controle.

A ideia central do controle preditivo é que os movimentos de

interceptação são organizados por pré-programação (feedforward) (ZAGO et

al., 2009; LA SCALEIA; ZAGO; LACQUANITI, 2015). A abordagem de controle

preditivo parte da premissa que o uso da informação visual para a regulação

on-line das interceptações rápidas torna-se inviável devido aos atrasos visuo-

motores. Esses atrasos são decorrentes dos processos de transdução

sensorial, condução neural, processamento central e ativação muscular (ZAGO

et al., 2009; WOLPERT; DIEDRICHSEN; FLANAGAN, 2011). Nesse sentido, o

tempo para realização de ajustes do movimento durante a execução é

considerado relativamente longo quando comparado à breve duração de

algumas ações de interceptações.

Por exemplo, o tempo necessário para fazer correções baseadas em

feedback visual pode variar de 150 e 250 ms (BRENNER; SMEETS; DE

LUSSANET, 1998; SAUNDERS; KNILL, 2003, 2005). Mas em esportes como

críquete e beisebol as interceptações são realizadas com movimentos

balísticos cuja duração é de aproximadamente 200 ms (LAND; MCLEOD, 2000;

TRESILIAN, 2004). A abordagem de controle preditivo considera que se as

interceptações fossem controladas baseadas em feedback visual nessas

situações, os movimentos seriam sempre atrasados em relação ao alvo. A

presença de modelos internos no SNC é vista como uma solução plausível

para solucionar os problemas de atrasos referentes ao processamento

22

sensorial, transmissão de sinais e ativação neuromuscular durante a

interceptação.

Baseado no paradigma de controle computacional, nas últimas

décadas tem emergido a proposição de que o SNC possui conhecimento sobre

as propriedades do corpo e sua relação com o meio externo, o que possibilita

simular internamente a dinâmica do controle sensório-motor (WOLPERT;

GHAHRAMANI; JORDAN, 1995; WOLPERT; KAWATO, 1998; ITO, 2008).

Essa simulação é mediada por representações denominadas de modelos

internos (KAWATO, 1999). Vários estudos apontam para a existência dos

modelos internos tanto nas análises em nível comportamental (FLANAGAN;

WING, 1997; ZAGO et al., 2004; AZEVEDO NETO; TEIXEIRA, 2009; LA

SCALEIA; ZAGO; LACQUANITI, 2015) quanto em nível neurofisiológico

(IMAMIZU et al., 2000, 2003; KAWATO et al., 2003). A proposição dos modelos

internos é um referencial teórico coerente na busca pela compreensão dos

mecanismos de controle motor (WOLPERT; GHAHRAMANI; JORDAN, 1995;

MIALL; JENKINSON; KULKARNI, 2004).

Wolpert e Ghahramani (2000) descrevem os modelos internos como

sendo sistemas neurais que simulam sistemas físicos fora do cérebro, e assim,

atuam na predição do comportamento do corpo e dos eventos externos. Os

modelos internos têm como principal função estimar as transformações

sensório-motoras a partir da relação causal entre os sinais de entrada (input) e

saída (output) ou o seu inverso (FLANAGAN; WING, 1997; KAWATO, 1999;

WOLPERT; FLANAGAN, 2001). Ou seja, os modelos internos são capazes

predizer as consequências de determinado comando motor considerando o

estado atual, bem como, inverter esse fluxo causal e estimar o comando motor

necessário para alcançar um estado desejado (WOLPERT; GHAHRAMANI;

JORDAN, 1995; KAWATO, 1999). Esses modelos são classificados em duas

categorias (modelo inverso e modelo forward) e serão detalhados a seguir.

Os modelos inversos utilizam como sinal de entrada o estado

desejado (objetivo do movimento) para produzir como saída os comandos

motores necessários para alcançá-lo (Figura 1) (MIALL; WOLPERT, 1996;

WOLPERT; KAWATO, 1998; CISEK, 2009). Desta forma, os modelos inversos

são considerados controladores do movimento que atuam a partir de

mecanismos de feedforward (WOLPERT; KAWATO, 1998; ITO, 2008). Essa

23

forma de controle é considerada determinante em situações que requerem a

execução de movimentos rápidos, ou seja, quando o tempo é relativamente

curto para a atuação do feedback sensorial (WOLPERT; FLANAGAN, 2001).

Por outro lado, essa forma de controle é vista como pouco efetiva em durante

movimentos rápidos em contextos dinâmicos (BASTIN; CRAIG; MONTAGNE,

2006). Devido ao tempo de atraso para o processamento de feedback sensorial

para a correção desses movimentos durante a sua execução, o desempenho

se torna dependente da capacidade do controlador em gerar comandos

motores precisos. Pois se os comandos motores enviados pelos modelos

inversos forem inadequados, não haveria tempo para ajustes dos movimentos

via feedback corrente (BASTIN; CRAIG; MONTAGNE, 2006). Essa possível

limitação pode ser compensada pela atuação em conjunto dos modelos

inversos e modelos forward (MIALL; WOLPERT, 1996; WOLPERT; KAWATO,

1998).

Os modelos forward têm como principal função a realização de

predições dos comandos motores gerados via modelo inverso, conforme

demonstrado na figura 1. Esses modelos usam a cópia eferente dos comandos

motores oriundos do modelo inverso e a informação sensorial sobre o estado

atual do sistema controlado (ex. posição e velocidade do membro executante)

para gerar predições do próximo estado (WOLPERT; GHAHRAMANI;

JORDAN, 1995; WOLPERT; KAWATO, 1998; KAWATO, 1999). Tais predições

incluem informações em vários níveis de detalhamento, tais como, o feedback

sensorial resultante do comando motor, os torques articulares que serão

produzidos e os efeitos do movimento no ambiente (MIALL; WOLPERT, 1996;

CISEK, 2009). Essa estimativa do estado futuro pode compensar os atrasos

decorrentes do processamento de feedback sensorial (DESMURGET;

GRAFTON, 2000). Isso é possível porque o modelo forward atua como

regulador do modelo inverso a partir de um mecanismo denominado de

feedback interno (figura 1). As informações para a recalibração do modelo

inverso são geradas com tempo relativamente curto, considerando os atrasos

decorrentes do processamento de feedback sensorial que chegam a 250 ms

(MIALL; WOLPERT, 1996). Além disso, essas funções dos modelos internos

no controle motor podem ser aprimoradas mediante a experiência (WOLPERT;

KAWATO, 1998; KAWATO, 1999; ITO, 2008).

24

Figura 1 - Desenho esquemático da atuação dos modelos internos no controle motor (adaptado de Miall e Wolpert, 1996).

As estimativas dos modelos inversos para a geração de comandos

motores adequados, quanto as predições dos modelos forward sobre as

consequências desses comandos são imprecisas nas primeiras tentativas de

prática (WOLPERT; KAWATO, 1998; KAWATO, 1999; ITO, 2008). Mas o

refinamento desses modelos internos, e consequentemente, o aperfeiçoamento

das suas funções são esperados com o decorrer das execuções (CISEK,

2009). A cada tentativa, as informações provenientes do feedback predito pelo

modelo forward e o feedback corrente são confrontadas, e assim, acarretam

em uma nova estimativa de estado em caso de discrepância entre as

informações (WOLPERT, 1997). Isso permite que o modelo forward se torne

gradativamente mais competente em suas predições ao longo das

oportunidades de prática (MIALL; WOLPERT, 1996; WOLPERT, 1997). O

aprimoramento do modelo forward tem implicações positivas também para o

modelo inverso. Como o modelo forward assume a função de traduzir as

informações de erro no estado do sistema provenientes do feedback sensorial

em erros de programação e enviá-las ao modelo inverso para recalibração, o

mesmo se torna mais competente em gerar comandos precisos com o decorrer

da prática (MIALL; WOLPERT, 1996). O refinamento do modelo inverso

propicia a execução precisa dos movimentos quando há restrições de

disponibilidade de tempo o uso do feedback sensorial (MIALL; WOLPERT,

1996), ou ainda reduzir a dependência das correções dos comandos motores

pelo feedback sensorial quando houver tempo para ajustes durante a

execução.

25

O controle via feedback corrente apresenta proposições na direção

oposta ao controle preditivo para explicar o controle visuo-motor, pois, assume

que o movimento do efetor é continuamente regulado exclusivamente por

mecanismos de feedback corrente (DESSING et al., 2002; SARLEGNA;

MUTHA, 2014). Em outras palavras, os comandos motores são gerados em

tempo real como consequência direta do monitoramento sensorial do

movimento. Nessa forma de controle, a execução bem sucedida não depende

da capacidade de antecipatória, já que propõe correções on-line no movimento

diante de mudanças na cinemática do objeto móvel. Assim, se houver falha no

planejamento e/ou caso ocorram mudanças repentinas no contexto que exijam

modificações para garantir a precisão, esses ajustes motores podem ser

realizados durante a execução (DESSING et al., 2002; MONTAGNE, 2005).

O controle via feedback corrente é visto como explicação plausível

especialmente para as ações de interceptações com durações relativamente

longas. Pois, ao invés de depender da precisão dos julgamentos prévios

especificados antes do movimento que são bastante susceptíveis a erros, o

controle através do feedback propõe o uso de informação visual atualizada de

forma constante sobre o objeto móvel, consequentemente, permite maior

adaptabilidade dos movimentos frente às mudanças na cinemática do mesmo

(MONTAGNE, 2005).

Embora possa ser observado um consenso emergente na literatura

de que o controle preditivo parece ser usado predominantemente em ações de

interceptações rápidas e o controle via feedback sensorial se aplica às

interceptações com durações longas, as divergências entre essas duas

abordagens explicativas para o controle visuo-motor na interceptação também

são evidentes (ZHAO; WARREN, 2015). Parte disso pode ser devido ao grande

número evidências que fornecem suportes tanto para ambas as formas de

controle. Por outro lado, a discrepância entre os resultados pode estar

associada aos distintos modelos experimentais adotados em cada abordagem

(PANCHUK; VICKERS, 2009).

A maioria dos estudos que usam como paradigma experimental a

oclusão visual para suportar o controle preditivo remove intencionalmente parte

da informação visual sobre objeto móvel. Já os estudos baseados na

abordagem de controle via feedback corrente, não incluem qualquer

26

informação que permita a pré-programação, o que pode induzir a regulação do

movimento predominantemente através de feedback corrente (PANCHUK;

VICKERS, 2009). As restrições metodológicas que são impostas nas

investigações podem determinar a forma de controle, e assim, dificultar ou

favorecer a predominância de uma forma de controle em detrimento a outra, ou

até mesmo anular possíveis efeitos complementares entre o controle preditivo

e via feedback corrente. As informações provenientes do feedback sensorial

podem auxiliar a recalibração dos modelos inversos pelo modelo forward em

situações em que não há restrições temporais impostas pelos atrasos sensório-

motores (MIALL; WOLPERT, 1996; WOLPERT; KAWATO, 1998). Isso sugere

a possibilidade de complementariedade entre o controle preditivo e via

feedback corrente no planejamento e regulação dos movimentos. Ou seja, a

possibilidade dos comandos motores serem gerados pelos modelos inversos

via pré-programação e o uso do feedback corrente para recalibrar esses

comandos quando necessário (TEIXEIRA et al., 2006a).

Alguns estudos que incluíram fontes de informações capazes de

propiciar a adoção do controle preditivo e/ou através de feedback têm

observado possíveis efeitos complementares. Müller e Abernethy (2006)

compararam o desempenho das rebatidas entre jogadores de críquete com

diferentes níveis de habilidade (qualificados e pouco qualificados). Os

jogadores executaram rebatidas sob três condições: oclusão da visão antes da

liberação da bola; oclusão da visão pouco antes do quique da bola e visão

completa do deslocamento da bola. Os resultados mostraram que os jogadores

de ambos os níveis de habilidade tiveram degradação do desempenho quando

a oclusão ocorreu antes da liberação da bola. Esse resultado sugere que a

ausência de informação prévia pode ter afetado o uso de controle preditivo, e

consequentemente, influenciado negativamente no desempenho. Além disso,

as informações visuais que antecederam o quique da bola parecem ter sido

usadas para guiar o movimento do pé, enquanto as informações prévias e

posteriores ao quique foram usadas para os ajustes do contato do taco com a

bola em ambos os grupos. No entanto, os jogadores com nível de habilidade

superior foram capazes de combinar as informações pré e pós quique da bola

para melhorar o desempenho. Os autores concluíram que a combinação do

controle preditivo e via feedback pode ter sido usada nas rebatidas: o controle

27

preditivo para guiar o planejamento a rebatida e o feedback sensorial para os

ajustes finais da rebatida. Resultados similares são vistos em outros estudos e

também sugerem a coexistência e combinação entre os mecanismos de

controle em ações interceptativas (PANCHUK; VICKERS, 2009; BOSCO;

MONACHE; LACQUANITI, 2012; DE LA MALLA; LÓPEZ-MOLINER, 2015).

Entretanto, o nível de complementariedade entre os mecanismos preditivos e

feedback corrente durante a interceptação ainda não está totalmente

esclarecido.

Em suma, há uma intensa discussão na literatura pela busca de

explicações sobre o controle visuo-motor em ações de interceptação. Essa

discussão tem sido centrada particularmente nas características específicas do

tipo de interceptação (rápidas e lentas) para explicar os mecanismos de

controle das ações de interceptação. Durante as interceptações rápidas, cuja

duração do movimento é relativamente curta em relação ao tempo de atraso

para processamento sensório-motor, tem sido evidenciada a atuação de

modelos internos preditivos para a geração de comandos motores sem a

necessidade de atuação do feedback corrente. Por outro lado, quando as

interceptações envolvem movimentos com durações mais longas, a regulação

dos movimentos pode ocorrer através do feedback corrente. Entretanto, têm

sido evidenciados possíveis efeitos complementares que sugerem a

associação entre esses mecanismos durante a interceptação. Ou seja, os

comandos motores podem ser gerados pelos modelos inversos por pré-

programação e em caso de necessidade de correções do movimento, o modelo

forward usaria informações do feedback corrente para recalibrar o modelo

inverso.

Essa discussão tem sido centrada particularmente nas

características específicas do tipo de interceptação (rápidas e lentas) para

explicar como o controle visuo-motor é regulado pelo SNC durante as ações de

interceptação. Porém, outros fatores são capazes de determinar o controle

visuo-motor durante as interceptações, tais como, as características

cinemáticas do objeto móvel e aspectos associados à experiência prática.

Ainda não está claro como o controle visuo-motor é modificado em função de

diferentes mudanças na velocidade do objeto móvel e nem a influência da

prática nos mecanismos visuais e motores durante a interceptação. Possíveis

28

efeitos desses fatores no controle visuo-motor durante a interceptação serão

abordados nas duas próximas seções.

2.3 O padrão de velocidade do objeto móvel e o controle da interceptação

O controle visuo-motor em ações de interceptação é afetado por

vários fatores perceptivos associados ao objeto móvel (BRENNER; SMEETS,

2015), dentre eles a sua posição (BROUWER; BRENNER; SMEETS, 2002;

WIJDENES; BRENNER; SMEETS, 2014), a sua distância da zona de contato

(DUBROWSKI; CARNAHAN, 2001; WIJDENES; BRENNER; SMEETS, 2013) e

a sua velocidade (BRENNER; SMEETS; DE LUSSANET, 1998; BROUWER;

BRENNER; SMEETS, 2000; DUBROWSKI; CARNAHAN, 2001). Deve ser

considerado que as interceptações muitas vezes são executadas em contextos

dinâmicos que tem como característica marcante as variações ambientais. Tais

variações frequentemente ocorrem em aspectos cinemáticos do objeto móvel,

como por exemplo, em sua velocidade. É comum em modalidades esportivas

como o tênis, os jogadores realizarem as rebatidas para interceptar bolas que

modificam constantemente a sua aceleração. Isso implica assumir que o

controle visuo-motor deve ser adequadamente ajustado em função da

velocidade ou aceleração do objeto móvel para garantir a precisão do

desempenho.

Na literatura há um considerável conjunto de evidências

demonstrando a que o controle da interceptação é regulado em consonância

com a velocidade do objeto móvel (BRENNER; SMEETS; DE LUSSANET,

1998; DUBROWSKI; CARNAHAN, 2001; TRESILIAN; OLIVER; CARROLL,

2003). Por exemplo, Tresilian e seus colegas têm consistentemente

demonstrado que os movimentos de interceptação são modulados pela

velocidade do alvo. Eles têm identificado uma relação entre a duração da

interceptação e a velocidade de deslocamento do alvo: interceptações com

durações breves e rápidas são observadas para alvos que se movem em alta

velocidade (TRESILIAN; LONERGAN, 2002; TRESILIAN; OLIVER; CARROLL,

2003; TRESILIAN; PLOOY, 2006). Resultados semelhantes também são

observados em interceptações envolvendo alvos móveis em velocidade

reduzida, porém com uma relação inversa: menores picos de velocidade,

29

menores tempos de movimento, iniciação tardia do movimento, além de maior

tempo para alcançar o pico de velocidade são observados em interceptações

com alvos móveis em baixa velocidade (DUBROWSKI; CARNAHAN, 2001).

Partindo do pressuposto que o controle da interceptação deve ser ajustado

precisamente para adequar à velocidade do objeto em deslocamento, uma

questão que pode ser levantada é se o controle visuo-motor na interceptação é

modificado em função das características do padrão de velocidade do objeto

móvel.

O deslocamento do objeto móvel para a zona de contato pode

ocorrer com diferentes padrões de velocidade, tais como, movendo-se em

velocidade constante ou variável. Quando o deslocamento ocorre sem qualquer

alteração da velocidade ao longo do percurso até a zona de contato assume-se

que o alvo se move com velocidade constante. Já quando a velocidade é

variável, o objeto modifica a sua velocidade no decorrer do percurso em função

da aceleração ou desaceleração do mesmo. Esses padrões distintos de

velocidade do objeto móvel parecem ter diferentes implicações no

planejamento e regulação da interceptação (LEE; PORT; GEORGOPOULOS,

1997; DUBROWSKI; LAM; CARNAHAN, 2000; DUBROWSKI; CARNAHAN,

2001; TEIXEIRA et al., 2006a).

Lee, Port e Georgopoulos (1997) verificaram que nas interceptações

direcionadas a alvos com velocidade constante ou aceleração constante, a

análise cinemática da mão exibiu vários picos até o momento da interceptação.

Esse padrão de comportamento sugere o uso do feedback corrente, já que os

submovimentos discretos corretivos podem estar associados à extração

contínua de informação visual sobre o alvo como forma de garantir a

coordenação precisa do movimento da mão com o alvo. Tais resultados

sugerem que o controle das ações interceptativas envolvendo alvos com

velocidade constante pode ser baseado na aquisição contínua de informação

visual sobre a cinemática do objeto móvel, consistente com o controle via

feedback corrente.

Porém, os resultados do estudo de Dubrowski e Carnahan (2001)

contrariam essa visão. Nesse estudo foram conduzidos três experimentos para

investigar e descrever o controle dos movimentos de interceptação diante de

alvos que se deslocavam com velocidade constante. Os participantes usaram o

30

cursor do mouse para acertar alvos que se moviam com diferentes velocidades

na tela do computador para uma zona de contato pré-estabelecida. No

experimento 1, foram manipuladas 6 velocidades do alvo: 40, 49, 61, 82, 124, e

256 mm/s que resultaram em diferentes tempos de deslocamento do alvo até a

zona de contato (1484, 1234, 984, 734, 484 e 234 ms), respectivamente. A

ordem de interceptação nas diferentes velocidades foi randomizada entre os

sujeitos. Os resultados indicaram que a regulação do movimento da

interceptação foi diretamente associada à velocidade de deslocamento do alvo.

À medida que a velocidade do alvo aumentava, maiores picos de velocidade da

mão e menores tempos de movimento, início mais rápido dos movimentos e

redução no tempo para o pico de velocidade foram observados. Resultados

semelhantes também foram observados no experimento 2 que envolveu a

manipulação da distância da interceptação e outras velocidades do alvo. Com

base nos resultados dos experimentos 1 e 2, os autores hipotetizaram que os

participantes poderiam ter usado o feedback sensorial para acertar os alvos

com velocidade constante e reduzida, similarmente ao que ocorre em tarefas

de rastreamento. Para testar essa hipótese, o experimento 3 foi conduzido com

o objetivo de comparar a cinemática da interceptação com uma tarefa de

rastreamento. Se os mecanismos entre as tarefas fossem similares, eles

esperavam encontrar um perfil cinemático semelhante entre as duas. Apesar

de algumas semelhanças gerais, foram observadas diferenças em vários

aspectos do controle. Os autores sugeriram que a programação e a regulação

parecem ser diferentes entre as ações de interceptação e rastreamento. Eles

propuseram que nas interceptações de objetos com velocidade reduzida e

constante, a regulação do movimento pode não ser baseada exclusivamente

em feedback corrente, mas também em controle preditivo. Tais suposições são

consistentes com a combinação do controle preditivo e feedback, e ainda,

sugerem a possibilidade de correções dos comandos motores gerados pelos

modelos inversos através de feedback sensorial quando não há restrições

temporais para o seu processamento.

Já em relação às interceptações de alvos com velocidade variável,

Dubrowski, Lam e Carnahan (2000) encontraram resultados que sugerem o

uso de controle preditivo. Foram conduzidos dois experimentos cujos

participantes tinham que interceptar alvos na tela do computador que mudavam

31

a velocidade durante o trajeto para a zona de contato. O alvo atingia o seu pico

de velocidade durante o primeiro terço, segundo terço ou o último terço do

deslocamento. No experimento 1, os participantes visualizaram o alvo nos

primeiros 316, 633, 950, 1267 ou 1583 ms do deslocamento antes de

desaparecer. No experimento 2, o alvo não podia ser visualizado na parte

inicial do seu percurso, mas os participantes puderam visualizá-lo nos últimos

316, 633, 950, 1267 ou 1583 ms antes da interceptação. O tempo total de

deslocamento foi o mesmo nas diferentes condições (1583 ms). Os resultados

indicaram que a visualização de períodos curtos da fase inicial do

deslocamento (316 ms) propiciou desempenho similar aos longos períodos de

visualização do alvo. Não houve diferença no desempenho entre as três

condições de velocidade variável do alvo quando a visão na fase final do

deslocamento foi disponibilizada (950, 1267 e 1583 ms). Assim, parece que a

visão da parte final da trajetória não foi necessária para o controle da

interceptação de alvos com velocidade variável. Tais resultados apontam para

o controle preditivo na regulação da interceptação de alvos com velocidade

variável. Ou seja, a participação de modelos internos capazes de guiar

precisamente a interceptação (ZAGO et al., 2005, 2009).

Teixeira et al. (2006a) investigaram o controle da interceptação

diante de objetos móveis com velocidade variada. A tarefa consistiu em acertar

um alvo móvel na tela do monitor com o cursor guiado por um manipulador.

Três condições de velocidade do alvo foram criadas: constante, reduzida,

aumentada. Na condição constante a velocidade foi de 8 cm/s e tempo total de

deslocamento 1500 ms. Nas condições de velocidade variada, a velocidade de

8cm/s foi subitamente aumentada ou reduzida em 50% da velocidade inicial (12

cm/s e 4 cm/s, respectivamente). As mudanças de velocidade ocorreram

quando restavam 800 ms para o alvo chegar na zona de interceptação. Os

pesquisadores manipularam a informação visual sobre o deslocamento do alvo

através de 4 situações experimentais: visão total, oclusão nos 200, 400 ou 600

ms que antecederam o momento da interceptação. Os resultados evidenciaram

que a oclusão visual não afetou a velocidade dos movimentos ou precisão

temporal, mas influenciaram a variabilidade. Os resultados revelaram que a

oclusão entre 400 e 600 ms antes do contato resultou em maior variabilidade

do erro em relação à visão total e oclusão em 200 ms. Parece que a ausência

32

de visão em momentos precedentes à interceptação reduziu os ajustes finos da

interceptação, que na visão total são realizados com base em feedback visual.

Os autores concluíram que esses achados suportam a ideia de que a

interceptação a alvos com velocidade variada é baseada em um modelo

interno, formado na porção inicial que precede a mudança de velocidade e que

pode ser atualizado por informação visual adicional sobre o deslocamento do

alvo. Em outras palavras, os resultados foram interpretados em favor de uma

possível combinação de controle preditivo e prospetivo nas interceptações a

alvos com velocidade variável.

Em suma, os resultados dos estudos acima não possibilitam uma

clareza sobre quais formas de controle são usadas na interceptação de alvos

com velocidade constante ou variada. Em situações que envolvem objetos com

velocidade constante, há resultados apontando para a regulação através de

feedback sensorial (LEE; PORT; GEORGOPOULOS, 1997), assim como para

a combinação de controle preditivo e feedback corrente (DUBROWSKI;

CARNAHAN, 2001). Já nas situações envolvendo objetos com velocidade

variável, são encontradas evidências de controle preditivo (DUBROWSKI; LAM;

CARNAHAN, 2000) e também da combinação de controle preditivo e feedback

corrente (TEIXEIRA et al., 2006a). Alguns pontos podem ser levantados, pois

parecem ter implicações importantes na busca de evidências mais conclusivas

a esse respeito.

Primeiramente, deve-se ressaltar que esses estudos não incluíram

medidas que permitissem fazer inferências mais robustas sobre como a

informação visual da cinemática do objeto móvel foi adquirida e usada para

guiar as interceptações (ex. análise das estratégias de busca visual). A análise

em conjunto do comportamento visual e do controle motor possibilita identificar

como o controle visuo-motor é influenciado pela cinemática do objeto móvel, e

assim, propiciar o entendimento dos mecanismos de controle envolvidos na

interceptação.

Além disso, não foram analisados nos estudos supracitados se o

controle da interceptação é definido somente pelo padrão de velocidade do

objeto móvel ou se elas também podem ser modificadas em função do tempo

total de deslocamento do objeto. O tempo disponível para a regulação dos

movimentos é considerado crucial para a regulação das interceptações,

33

especialmente diante de alvos com velocidade variável (TEIXEIRA; LIMA;

FRANZONI, 2005; TEIXEIRA et al., 2006b). É possível então supor que o

controle visuo-motor na interceptação a alvos móveis com velocidade

constante e variada seja passível de modificação em função do tempo total de

deslocamento. No presente estudo, os aspectos acima serão considerados

com o intuito de buscar evidências sobre como o controle visuo-motor na

interceptação é modificado em função do perfil de velocidade do objeto móvel.

Como o controle visuo-motor da interceptação em diferentes condições de

velocidade do objeto móvel pode depender do nível de aprendizagem do

executante, esse aspecto também será explorado neste estudo. Na próxima

seção serão apresentados os subsídios teóricos para possíveis influências do

nível de experiência no controle visuo-motor.

2.4 Efeitos do nível de estabilização do desempenho no controle da

interceptação

É consenso na literatura que a experiência prática auxilia a aquisição

de competências sensório-motoras que garantem o sucesso no desempenho

de habilidades motoras (LEE; SWANSON; HALL, 1991; CORRÊA et al., 2007;

UGRINOWITSCH; BENDA, 2011), pois através da prática acontece a

exploração de soluções para os problemas motores decorrentes da interação

entre o ser humano e o ambiente (TANI, 1999). Isto porque a prática

representa um processo de esforço consciente de organização, execução,

avaliação e modificação das habilidades motoras a cada tentativa (TANI, 1999;

BENDA, 2006; UGRINOWITSCH; BENDA, 2011). O envolvimento nesse

processo conduz a mudanças internas relativamente permanentes e promovem

melhora no desempenho motor (ROSE, 1997; SCHMIDT; WRISBERG, 2010).

Em outras palavras, a prática desencadeia uma sucessão de mudanças

comportamentais, na qual ocorre a passagem de um estado desorganizado,

com desempenho ineficiente e instável para um estado organizado, eficiente e

com desempenho estável (BENDA, 2006).

As primeiras tentativas de prática são marcadas pelo elevado

número de erros, ineficiência e instabilidade, tanto no padrão da habilidade

quanto no resultado da ação (TANI, 2000, 2005; BENDA, 2006; TANI et al.,

34

2014). Todavia, com o avanço da prática, a organização e a regulação dos

movimentos são aprimoradas, as interações entre os componentes da

habilidade são fortalecidas (padronização espaço-temporal) e ocorre a

consolidação de um conjunto de soluções adequadas para a tarefa (TANI,

2005; TANI et al., 2014), o que possibilita a reprodutibilidade de performances

com precisão e consistência. A coexistência de precisão e consistência é vista

como indicativo da ocorrência de um fenômeno comportamental denominado

de estabilização do desempenho (TANI, 2000, 2005; TANI et al., 2014).

A estabilização do desempenho tem sido proposta como uma etapa

do processo cíclico e contínuo de aquisição de competências (TANI et al.,

2014; CORRÊA et al., 2015). Nessa perspectiva, a estabilização do

desempenho parece refletir o estado funcional do sistema motor que denota as

competências adquiridas ao longo da prática (UGRINOWITSCH, 2003; TANI,

2005; TANI et al., 2014). De fato, a prática insuficiente para alcançar a

estabilização do desempenho pode não propiciar as competências necessárias

à adaptação das interceptações diante de perturbações (UGRINOWITSCH,

2003; UGRINOWITSCH et al., 2011). Por outro lado, a continuidade da prática

até níveis avançados de estabilização pode promover aquisição de

competências adicionais capazes de promover desempenho superior. Tem sido

então questionado, se o nível de estabilização do desempenho alcançado

durante a prática é capaz de influenciar na capacidade superar demandas

causadas por mudanças ambientais (ex. variações na velocidade do objeto

móvel durante a interceptação).

Na maioria dos estudos sobre essa temática, o nível de estabilização

do desempenho tem sido definido experimentalmente pelo estabelecimento de

critérios de desempenho (UGRINOWITSCH, 2003; UGRINOWITSCH et al.,

2011, 2014; FONSECA et al., 2012). Os critérios de desempenho implicam na

prática da tarefa até que determinado número de tentativas corretas seja

executado consecutivamente (conciliando-se precisão, consistência e

flexibildiade). Três níveis de estabilização do desempenho têm sido

manipulados: 1) pré-estabilização, que tem como critério a prática da tarefa em

quantidade insuficiente para alcançar a estabilidade; 2) estabilização, quando a

prática possibilita alcançar a estabilidade do desempenho; 3)

superestabilização, quando a tarefa é praticada em quantidade suficiente para

35

reproduzir a condição de estabilidade repetidas vezes (UGRINOWITSCH,

2003; PROFETA, 2009; UGRINOWITSCH et al., 2011, 2014; FONSECA et al.,

2012), mesmo diante de execuções que apresentam variabilidade no

desempenho. Essa variabilidade presente após a estabilização do desempenho

pode ter papel funcional importante que garante a flexibilidade do

comportamento, ou seja, propicia a capacidade de adaptação diante de

perturbações (BENDA, 2001; CORRÊA et al., 2015).

Os estudos realizados sob esse paradigma são consistentes em

demonstrar que o nível de estabilização do desempenho alcançado na prática

afeta o desempenho e o controle da interceptação inclusive diante mudanças

de velocidade do objeto móvel (COUTO, 2012; FONSECA et al., 2012;

UGRINOWITSCH et al., 2014). Ugrinowitsch e colaboradores têm conduzido

uma série de experimentos para investigar essa temática (UGRINOWITSCH,

2003; UGRINOWITSCH et al., 2011, 2014; FONSECA et al., 2012). No estudo

de Ugrinowitsch et al. (2014), três níveis de estabilização do desempenho

foram investigados: pré-estabilização, estabilização e superestabilização. Na

primeira fase do experimento, cada grupo praticou uma série de interceptações

de acordo com critério de desempenho pré-estabelecido para cada nível de

estabilização. Na segunda fase do experimento, foi estabelecida uma nova

velocidade de deslocamento do estímulo visual que simulava o objeto móvel a

ser interceptado, mas de maneira constante e previsível. Isso possibilitava que

os ajustes fossem planejados previamente ao início de cada execução. Os

resultados indicaram que os participantes do nível pré-estabilização

demoraram mais tempo que os níveis estabilização e superestabilização para

ajustar os movimentos adequadamente e assim garantir interceptações

precisas diante das mudanças de velocidade. Não foram verificadas diferenças

na interceptação entre os níveis estabilização e superestabilização.

Em conjunto, os resultados acima sugerem que alcançar a

estabilização do desempenho durante a prática favorece a organização da

interceptação quando ocorrem mudanças na velocidade do objeto móvel. A

natureza previsível das mudanças de velocidade do objeto desses dois estudos

pode ter contribuído para a ausência de diferença entre os níveis de

estabilização. Isto porque em outros estudos com o mesmo paradigma

experimental, mas envolvendo interceptações com objetos móveis com

36

velocidade variável e de natureza imprevisível, o nível superestabilização do

desempenho promoveu melhor desempenho na interceptação em comparação

ao nível estabilização (COUTO, 2012; FONSECA et al., 2012). Esses achados

indicam que a aquisição de competências sensório-motora continua após a

estabilização do desempenho. Dessa forma é plausível supor que o nível de

estabilização do desempenho pode afetar o controle da interceptação sob os

diferentes padrões de mudanças na velocidade do objeto móvel em situações

de imprevisibilidade. Suportes a essa suposição são encontrados no estudo de

Couto (2012).

Especificamente em relação à interceptação, somente um estudo foi

encontrado na literatura que investigou essa temática (COUTO, 2012). Os

resultados mostraram que a superestabilização do desempenho propiciou

melhor desempenho na interceptação e maior capacidade de ajustes dos

movimentos diante de objetos móveis que modificavam a velocidade após o

movimento ser iniciado em relação ao nível de estabilização. O desempenho

superior do nível superestabilização foi associado ao uso predominantemente

do feedback corrente. Como este tipo de tarefa depende do controle visuo-

motor, que altera em função de diferentes características dos estímulos visuais,

o desempenho deve sofrer efeito do comportamento visual e da estratégia de

controle.

Apesar dos indicativos na literatura que apontam para os possíveis

efeitos do nível de estabilização do desempenho sobre o controle durante a

interceptação, algumas questões ainda não estão totalmente esclarecidas,

dentre elas: 1) como o nível de estabilização do desempenho afeta o controle

visuo-motor durante a interceptação a objetos móveis? 2) as estratégias de

controle da interceptação frente a objetos móveis com diferentes padrões de

velocidade são modificadas em função do nível estabilização do desempenho

da mesma maneira?

37

3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Investigar a influência do nível de estabilização do desempenho e do

padrão de velocidade do objeto móvel sobre o controle visuo-motor da

interceptação.

3.2 Objetivos Específicos

1) Verificar a influência do nível de estabilização do desempenho sobre o

controle preditivo e feedback corrente da interceptação diante de objetos

móveis que se deslocam em velocidade constante.

2) Verificar a influência do nível de estabilização do desempenho sobre o

controle preditivo e feedback corrente da interceptação a objetos com

velocidade variável, mas sem alteração no tempo total de deslocamento.

3) Verificar a influência do nível de estabilização do desempenho sobre o

controle preditivo e feedback corrente da interceptação a objetos com

velocidade variável, mas com modificação no tempo total de deslocamento.

38

4. HIPÓTESES DE ESTUDO

Hipótese 1: A superestabilização do desempenho resultará em melhor

desempenho e maior eficiência no controle preditivo e feedback corrente das

interceptações em relação à estabilização do desempenho, independente do

padrão de velocidade do objeto móvel.

Hipótese 2: O controle visuo-motor será diferente durante as interceptações

diante de objetos com velocidade constante e variável. As interceptações

envolvendo objetos com velocidade constante serão reguladas

predominantemente a partir do feedback corrente e as interceptações a objetos

que se movem em velocidade variável serão reguladas pela combinação de

estratégias de controle preditivo e feedback corrente.

39

5. EXPERIMENTO 1

O experimento 1 foi conduzido para investigar os efeitos do nível

de estabilização do desempenho sobre o controle visuo-motor durante a

interceptação a objetos móveis que se deslocam em velocidade constante. E

ainda, analisar como o controle visuo-motor da interceptação é organizado

diante de objetos móveis com velocidade constante.

5.1 Método

5.1.1 Amostra

A amostra foi composta por 34 universitários de ambos os sexos

(masculino n=17; feminino n=17), destros, com faixa etária entre 18 e 35 anos

(média 21,3 ± 2,89) e inexperientes na tarefa. Todos os participantes

declararam ter visão normal ou corrigida e assinaram o termo de

consentimento livre e esclarecido. Todos os procedimentos foram aprovados

pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais -

COEP/UFMG (CAAE: 42616515.0.0000.5149 - Parecer: 1.018.866).

5.1.2 Instrumentos e tarefa

Foi utilizado um aparelho de timing coincidente de tarefas complexas

similar ao desenvolvido por Correa e Tani (2004) e previamente utilizado em

outros estudos (FONSECA et al., 2012; LEITE, 2014; TANI et al., 2014). O

aparelho é composto por uma canaleta com diodos luminosos e uma mesa de

resposta com sensores infravermelhos (FIGURA 1). A canaleta mede 1,83 m

de comprimento e possui 97 diodos luminosos (1 amarelo e 96 vermelhos). A

canaleta ficava posicionada à frente do executante com uma inclinação de 30º

em relação ao plano horizontal. A mesa de resposta com dimensões de 1,50 m

de largura x 0,20 de altura x 1,00 m de profundidade possui 6 orifícios

quadrados (0,11 m x 0,11 m) com sensores infravermelhos. Esses sensores

são capazes de registar o tempo de reação, os tempos parciais dos

movimentos entre os sensores e o erro temporal referente ao toque no último

40

sensor e o acendimento do diodo alvo (último diodo da canaleta). A precisão

das medidas dos sensores é 0,005s.

O microcomputador com um software específico conectado ao

aparelho permitia manipular o acendimento dos diodos na canaleta (estímulo

visual que simula o objeto móvel) e armazenar os dados capturados pelos

sensores infravermelhos.

Figura 2 - Ilustração do aparelho de timing coincidente em tarefas complexas.

O comportamento visual durante a interceptação foi avaliado com

um sistema de rastreamento visual (Mobile Eye Tracking - XG desenvolvido

pela Applied Science Laboratories, Bedford, MA, EUA), conforme ilustrado na

Figura 2. O equipamento é composto por um par de óculos com duas

microcâmeras acopladas que filmam simultaneamente o posicionamento do

olho e a cena que o participante está visualizando. O sistema detecta a posição

da pupila e a reflexão da córnea através de uma fonte de luz infravermelha na

superfície da córnea (RODRIGUES, 2001) com precisão de ± 1° de ângulo

visual nos campos horizontais e verticais. Os dados são registrados com

frequência de 30 Hz, e a partir desses dados, o sistema gera coordenadas

horizontais e verticais que permitem identificar a localização do olhar a partir da

41

análise quadro a quadro dos registros. A análise posterior desses dados

possibilitou determinar as fixações visuais por área específica do campo visual.

Os participantes realizaram uma tarefa de interceptação que

consistia em executar toques sequenciais nos sensores da mesa de resposta

(ordem pré-estabelecida) com o intuito de coincidir o toque no último sensor

com o acendimento do último diodo da canaleta (chegada do objeto móvel). Ao

comando “prepara” fornecido pelo experimentador, o primeiro diodo da

canaleta era aceso como sinal de alerta para o início da tarefa. Após um curto

intervalo (1 - 2s), o diodo amarelo se apagava e os diodos vermelhos acendiam

e apagavam em sequência, simulando um objeto em deslocamento na canaleta

em direção à mesa de resposta. O participante então realizava a sequência

pré-determinada de toques nos sensores (1-2-3-4-5) em sincronia com o objeto

móvel em deslocamento na canaleta. Os participantes foram solicitados a não

interromper o movimento após seu início. Ou seja, eles foram orientados a

regular a velocidade de movimento de acordo com o objeto móvel, porém,

evitando paradas no movimento durante a sua execução.

5.1.3 Delineamento

O experimento foi conduzido em um desenho experimental com

duas fases: prática e teste (FIGURA 3). Na fase de prática, os participantes

executaram a tarefa com velocidade constante e sem variação no tempo total

de deslocamento do objeto móvel (81,3 cm.s-1 e 2250 ms, respectivamente) até

alcançarem dois níveis de estabilização do desempenho. Os participantes

Figura 3 - Sistema de rastreamento visual.

42

foram divididos aleatoriamente em dois grupos experimentais (n=17): Grupo

Estabilização (GE) e Grupo Superestabilização (GS). Os níveis de

estabilização do desempenho foram definidos através de dois critérios de

desempenho distintos. O critério de desempenho estipulado para o GE foi

praticar a tarefa até realizar um bloco de três tentativas consecutivas com erro

absoluto menor ou igual a 30 ms. Já o critério de desempenho definido para o

GS foi executar a tarefa até alcançar seis blocos de três tentativas

consecutivas com erro absoluto menor ou igual a 30 ms. Os critérios de

desempenho foram criados com o objetivo de diferenciar os níveis de

estabilização do desempenho e foram previamente testados em outras

pesquisas com a mesma tarefa (UGRINOWITSCH, 2003; FONSECA et al.,

2012).

O número máximo de tentativas para alcançar o critério de

desempenho do GE foi de 150 tentativas. Os participantes do GS tiveram o

mesmo número de tentativas para alcançar o primeiro bloco do critério de

desempenho. Após alcançarem o primeiro bloco, eles tiveram mais 200

tentativas para alcançar os cinco blocos restantes. Os participantes que não

alcançaram os critérios definidos para seus respectivos grupos não foram

incluídos nas análises descritivas e estatísticas.

Aproximadamente dez minutos após o término da fase de prática foi

conduzida a fase de teste para verificar o efeito da variável independente

manipulada na primeira fase no controle visual e na estratégia de controle com

diferentes velocidades constantes. Nessa fase do experimento, os participantes

realizaram interceptações com constantes mudanças na velocidade de

deslocamento do objeto móvel (FIGURA 3). Em tentativas pseudoaleatórias,

ocorreram duas variações na velocidade do estímulo visual: aumento ou

redução em sua velocidade em comparação à fase de prática. Nas duas

condições, o deslocamento do objeto móvel ocorreu sempre em velocidade

constante.

Na condição de velocidade aumentada (AUM), a velocidade do

objeto móvel foi maior em comparação à fase de prática e o tempo total de

deslocamento menor (91,50 cm.s-1 e 2000 ms, respectivamente). Na condição

de velocidade reduzida (RED), a velocidade do objeto móvel foi menor e o

43

tempo total de deslocamento maior em relação à fase de prática (73,20 cm.s-1 e

2500 ms, respectivamente).

Figura 4 - Desenho experimental do experimento 1.

GE: Grupo Estabilização; GS: Grupo Superestabilização; TEN: tentativas; VEL: Velocidade; TT: Tempo Total; AUM: Velocidade Aumentada; CONT: Velocidade Controle; RED: Velocidade Reduzida.

A fase de teste contou com 45 tentativas, sendo que estas foram

distribuídas de forma pseudo-aleatória entre as diferentes velocidades (AUM,

CONT e RED). Foram realizadas 15 interceptações em cada condição de

velocidade, apresentadas no Quadro 1. Para a distribuição das tentativas foi

estabelecido que cada condição de velocidade não fosse apresentada mais

que duas vezes consecutivas.

44

Quadro 1 - Distribuição das diferentes velocidades do objeto móvel na fase de teste do experimento 1.

Velocidade Aumentada (AUM); Velocidade Controle (CONT) e Velocidade Reduzida (RED). AUM – Velocidade (91,5 cm.s

-1) e tempo total (2000 ms). CONT – Velocidade (81,3 cm.s

-1) e

tempo total (2250ms); RED – Velocidade (73,2 cm.s-1

) e tempo total (2500ms).

5.1.4 Procedimentos

A coleta de dados foi realizada individualmente em sala reservada

sem interferência externa e com luminosidade controlada. Os participantes

foram recebidos pelo experimentador na sala de coleta de dados e

acomodados confortavelmente. Em seguida, receberam informações sobre o

caráter da pesquisa e os procedimentos de coleta de dados. Após a assinatura

do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), os mesmos foram

acomodados em uma cadeira em frente ao aparelho para os preparativos finais

para o início da coleta.

Foram fornecidas informações sobre o sistema de rastreamento

visual e o equipamento foi confortavelmente ajustado e o procedimento de

calibração realizado junto aos participantes. A calibração do equipamento foi

realizada utilizando nove pontos posicionados ao longo da canaleta e campo

visual, de modo que os participantes pudessem visualizar esses pontos sem a

necessidade de movimentar a cabeça. A coleta só foi iniciada após o

esclarecimento de todas as dúvidas em relação ao experimento e à tarefa. A

45

calibração do sistema de rastreamento visual foi conferida periodicamente

como forma de garantir a precisão das medidas.

Após todas as tentativas do experimento, os participantes receberam

conhecimento de resultados (CR) qualitativo verbal da seguinte maneira sobre

a precisão das interceptações: erro entre 0 e 30 ms “Ok, você acertou!”; erro

entre 31 e 50 ms “Você foi um pouco adiantado!” ou “Você foi um pouco

atrasado!”; erro entre 51 e 100 ms o CR foi “Você foi adiantado!”, ou “Você foi

atrasado!” e erro maior que 100 ms o CR foi “Você foi muito adiantado!”, ou

“Você foi muito atrasado!”. Foi atribuído “adiantado” quando o toque no último

sensor foi anterior ao acendimento do diodo alvo e “atrasado” quando o toque

no último sensor foi posterior ao acendimento do diodo alvo.

5.1.5 Análise dos dados

Foram utilizadas como variáveis dependentes, medidas de

desempenho, controle motor e comportamento visual, conforme descritas a

seguir:

Medidas de desempenho:

› Erro Constante (EC): indica a precisão temporal do desempenho

e a direção do erro, ou seja, representado pela diferença entre o

toque no último sensor e o acendimento do último diodo, além de

indicar se a resposta foi adiantada ou atrasada.

› Erro variável (EV): representa a consistência do desempenho

durante a execução da tarefa, indicado pela variabilidade do

comportamento obtida pelo desvio padrão do EC.

Medidas de controle da interceptação:

› Tempos parciais dos componentes (Tpar): se refere à duração de

cada sub-movimento que constitui a ação de interceptação além

do tempo de reação (TR). O TR foi considerado o período de

tempo entre apagar o diodo de alerta e a perda de contato com o

sensor inicial e os Tpar dos sub-movimentos foram definidos pelo

intervalo de tempo do toque entre cada sensor da mesa resposta.

46

Medidas de comportamento visual:

› Número de fixações visuais por local da tarefa: quantidade de

fixações visuais (permanência dos olhos relativamente estáticos

por um tempo superior a 100 ms) em cada área específica do

campo visual durante a interceptação.

Para definir a classificação da localização das fixações visuais, o

campo visual foi dividido em áreas específicas da tarefa: primeiro terço da

canaleta (1), segundo terço da canaleta (2), terceiro terço da canaleta (3),

mesa de resposta (4) e espaço (5), conforme ilustrado na figura 4.

O software de análise dos resultados do sistema foi programado

para identificar as fixações visuais a cada tentativa, definida pelo intervalo de

tempo compreendido entre o apagar do primeiro diodo e o acendimento do

último diodo. Após as identificações das fixações nos vídeos (quadro de início e

quadro de fim) em cada tentativa pelo software, foi conduzida a classificação

da sua localização por área da tarefa.

O sistema de rastreamento visual indica a localização do olhar nos

vídeos através de um cursor. Portanto, a partir de uma análise quadro a quadro

foi possível identificar a localização espacial das fixações identificadas pelo

software do sistema de rastreamento. Marcadores reflexivos foram

posicionados na canaleta para demarcar as áreas específicas da tarefa

(FIGURA 4) e facilitar a classificação da localização das fixações. Para efeitos

de avaliação da localização das fixações durante a execução da tentativa,

foram analisados os quadros compreendidos no intervalo de tempo entre o

apagar do primeiro diodo e acendimento do último diodo. Correlações intra e

inter-avaliadores foram realizadas para garantir a confiabilidade dos dados. Os

percentuais de concordância foram de 94% na avaliação intra-avaliadores e

91% na avaliação inter-avaliadores. Essas concordâncias foram superiores aos

valores preconizados para a validade dos dados que equivalem a 85%.

47

1) 1

o terço da canaleta; 2) 2

o terço da

canaleta; 3) 3o terço da canaleta; 4) mesa

de resposta; 5) espaço.

Os dados foram organizados em média e desvio-padrão, e em

seguida, foram testados os pressupostos de normalidade, homocedasticidade e

esfericidade. Os dados foram tratados através de análises de variância

(ANOVA), sendo que as comparações entre as variáveis e o número de

medidas repetidas foram definidas conforme a fase do experimento e propósito

da análise. Para detalhamento das diferenças e interações detectadas pelas

ANOVAS foi utilizado o post-hoc de Tukey.

Na fase de prática, foram realizadas comparações intergrupos no

início e final da prática. Para isso, foi conduzida uma ANOVA two-way (2

grupos x 2 blocos) para as medidas de desempenho (erro constante e erro

variável). Nas medidas de número de fixações por área da tarefa, as

comparações foram conduzidas através de uma ANOVA three-way (2 grupos x

2 blocos x 5 locais). Já para as medidas de tempos parciais dos componentes,

as comparações foram realizadas também através da ANOVA three-way (2

grupos x 2 blocos x 6 componentes).

Figura 5 - Representação das áreas para classificação da localização das fixações visuais.

48

Na fase de teste, foram realizadas comparações intergrupos nas

diferentes condições de velocidades. Nas medidas de desempenho (erro

constante e erro variável), as análises foram feitas através da ANOVA two-way

(2 grupos x 3 velocidades). As análises das medidas de número de fixações

por área da tarefa foram feitas através de uma ANOVA three-way (2 grupos x 3

velocidades x 5 locais). Outra ANOVA three-way (2 grupos x 3 velocidades x 6

componentes) foi conduzida para as medidas de tempos parciais dos

componentes. Foi adotado nível de significância de 5% (p≤0,05) em todas as

análises realizadas no estudo.

5.2 Resultados

Fase de Prática

Medidas de Desempenho

Os resultados referentes ao erro constante dos grupos durante a

fase de prática são apresentados no gráfico 1. Como já era esperado, houve

uma melhora da precisão de ambos os grupos do início para o fim da prática. A

ANOVA two-way (2 grupos x 2 blocos) detectou diferença significativa no fator

blocos [F(1, 32)=45,541, p=0,00001]. Os participantes apresentaram maior

precisão no último bloco da fase de prática em comparação ao primeiro bloco

(p<0,0001). Não foi detectada diferença significante entre os grupos [F(1,

32)=0,02342, p=0,87933] e nem interação significante [F(1, 32)=0,03583,

p=0,85105].

49

Gráfico 1 – Média do erro constante no primeiro e último bloco da fase de prática. * indica diferença entre os blocos (p<0,0001).

No gráfico 2 são apresentados os resultados referentes ao erro

variável dos grupos durante a fase de prática. Os dados evidenciaram um

aumento da consistência do desempenho dos grupos ao longo da prática. A

ANOVA two-way (2 grupos x 2 blocos) detectou diferença significativa entre os

blocos [F(1, 32)=68,382, p=0,00001]. A consistência do desempenho no último

bloco da prática foi maior em relação ao primeiro bloco (p<0,0001). Não foram

evidenciadas diferenças significantes intergrupos [F(1, 32)=0,02545,

p=0,87425] e nem interação significante entre grupos e blocos [F(1,

32)=0,02720, p=0,87005].

Gráfico 2 – Média do erro variável no primeiro e último bloco da fase de prática. * indica diferença entre os blocos (p<0,0001).

50

Medidas de Controle da Interceptação

No gráfico 3 são apresentados os resultados dos tempos dos

componentes da tarefa na etapa inicial e final da fase de prática. A ANOVA

three-way (2 grupos x 2 blocos x 6 componentes) não detectou diferença entre

os grupos [F(1, 384)=1,2691, p=0,26064], porém evidenciou diferença entre os

componentes [F(5, 384)=43,078, p=0,0001] e os blocos [F(1, 384)=30,602,

p=0,00001]. O teste de Tukey identificou que as durações do TR e Tpar

reduziram do primeiro para o último bloco da prática (p<0,000009). A ANOVA

detectou ainda interação significativa entre componentes e blocos [F(5,

384)=3,8644, p=0,00198]. O teste de Tukey evidenciou uma redução no TR,

Tpar1 e Tpar2 do primeiro para o último bloco da prática (p<0,05). Não houve

interações significantes entre grupos e componentes [F(5, 384)=1,2815,

p=0,27103], grupos e blocos [F(1, 384)=0,96888, p=0,32558] e grupos, blocos

e componentes [F(5, 384)=1,1912, p=0,31276].

Gráfico 3 – Média da duração dos componentes da tarefa no primeiro e último bloco da fase de prática. * indica redução na duração dos componentes da tarefa na prática - a duração do TR, Tpar1 e Tpar2 diminuiu entre o primeiro e último bloco da prática (p<0,05).

Medidas de Comportamento Visual

Os resultados referentes ao número de fixações visuais nos

diferentes locais da tarefa durante a fase de prática são apresentados no

gráfico 4. A ANOVA three-way (2 grupos x 2 blocos x 6 locais) não detectou

51

diferença entre os grupos [F(1, 320)=0,26395, p=0,60777] e blocos [F(1,

320)=0,69700, p=0,40442]. Contudo foi detectada diferença significativa no

número de fixações visuais nos diferentes locais da tarefa [F(4, 320)=37,833,

p=0,0001]. O teste de Tukey evidenciou redução no número de fixações na

parte inicial do deslocamento do objeto (primeiro terço da canaleta) e aumento

no trecho final de deslocamento (terceiro terço da canaleta) ao longo da fase

de prática (p<0,00004 e p<0,00001, respectivamente). Não houve interação

significante entre grupos e locais [F(4, 320)=0,28715, p=0,88624], grupos e

blocos [F(1, 320)=0,20209, p=0,65335]. Contudo a ANOVA identificou interação

significativa entre locais e blocos [F(4, 320)=23,125, p=0,00000] e grupos,

locais e blocos [F(4, 320)=3,2824, p=0,01174]. O teste de Tukey revelou que o

número de fixações no primeiro bloco da prática foi similarmente distribuído

entre os locais da tarefa para o GE e GS (p>0,05). Mas somente o GS reduziu

o número de fixações no primeiro terço da canaleta do início para o fim da

prática (p<0,00008). Ambos os grupos aumentaram o número de fixações no

trecho final de deslocamento do objeto móvel do início para o fim da prática

(p<0,005 e p<0,00004, respectivamente).

Gráfico 4 – Média das fixações visuais por local da tarefa no primeiro e último bloco da fase de prática. * indica diferença no número de fixações por local da tarefa na etapa inicial e final da prática – somente o GS reduziu as fixações no trecho inicial do deslocamento, mas ambos os grupos aumentaram as fixações no trecho final do deslocamento; as fixações no trecho final foram em maior número que nos demais locais (p<0,05).

52

Fase de Teste

Medidas de Desempenho

O gráfico 5 se refere aos resultados da precisão dos grupos nas

diferentes condições de velocidade do objeto móvel na fase de teste. A ANOVA

two-way (2 grupos x 3 velocidades) detectou diferença significativa entre as

velocidades [F(2, 64)=139,26, p=0,0001], mas nenhuma diferença intergrupos

foi verificada [F(1, 32)=3,6708, p=0,06435]. O post-hoc identificou uma piora na

precisão das interceptações durante a AUM e RED em comparação à CONT

(p<0,0001). A ANOVA também detectou interação significativa [F(2,

64)=11,924, p=0,00004]. O post-hoc evidenciou que o GS apresentou maior

precisão no desempenho em comparação ao GE durante as velocidades AUM

(p<0,001) e RED (p<0,04).

Gráfico 5 – Média do erro constante nas diferentes velocidades do objeto móvel: controle (CONT), aumentada (AUM) e reduzida (RED). * indica diferença entre as velocidades: a precisão em RED e AUM foi menor em relação a CONT e a precisão em AUM e RED foi diferente (p<0,0001). ** indica diferença entre os grupos: o GS foi mais preciso que o GE em AUM e RED (p<0,04).

Os resultados da consistência dos grupos nas diferentes velocidades

do objeto móvel na fase de teste são representados no gráfico 6. A ANOVA

53

two-way (2 grupos x 3 velocidades) detectou diferença significativa entre os

grupos [F(1, 32)=7,3290, p=0,01080] e entre as velocidades [F(2, 64)=3,4186,

p=0,03885]. O post-hoc revelou que o GS foi mais consistente que o GE

(p<0,0008), e também que a consistência durante a velocidade AUM foi maior

em comparação à velocidade RED (p<0,05). Não houve interação significante

[F(2, 64)=0,01013, p=0,98993].

Gráfico 6 - Média do erro variável nas diferentes velocidades do objeto móvel: controle (CONT), aumentada (AUM) e reduzida (RED). * indica diferença entre as velocidades: a consistência durante a AUM foi maior em relação à RED (p<0,05). ** indica diferença entre os grupos – GS foi mais consistente que o GE (p<0,0008).

Medidas de Controle da Interceptação

No gráfico 7 são apresentados os resultados dos tempos dos

componentes da tarefa nas três velocidades durante a fase de teste. A ANOVA

three-way (2 grupos x 3 velocidades x 6 componentes) não detectou diferença

entre os grupos [F(1, 576)=1,5228, p=0,21770], porém encontrou diferença nos

componentes [F(5, 576)=167,02, p=0,0001] e velocidades [F(2, 576)=90,919,

p=0,0001]. O teste de Tukey identificou durações menores do TR e tempos

parciais durante a velocidade AUM e durações maiores na velocidade RED em

54

comparação à velocidade CONT (p<0,00002). A ANOVA encontrou ainda

interação significativa entre grupos e componentes [F(5, 576)=7,4991,

p=0,00001] e componentes e velocidades [F(10, 576)=49,694, p=0,0001]. O

teste de Tukey revelou redução no Tpar5 durante a velocidade AUM e aumento

no Tpar5 durante a RED (p<0,00003). E ainda, o GS demonstrou menor TR em

comparação ao GE (p<0,00003). Não houve interações significantes entre

grupos e velocidades [F(2, 576)=0,69906, p=0,49747], grupos, componentes e

velocidades [F(10, 576)=0,65099, p=0,77001].

Gráfico 7– Média da duração dos componentes da tarefa nas diferentes velocidades (AUM, CONT e RED). * indica diferença entre o Tpar5 da velocidade CONT e o Tpar 5 da velocidade AUM e RED (p<0,00003). ** indica que menor TR do GS em relação ao GE (p<0,00003).

Medidas de Comportamento Visual

O gráfico 8 apresenta os resultados referentes ao número de

fixações visuais dos grupos em cada local da tarefa nas três velocidades

durante a fase de teste. A ANOVA three-way (2 grupos x 3 velocidades x 6

locais) detectou diferença entre os grupos [F(1, 480)=7,7803, p=0,00549], os

locais [F(4, 480)=378,96, p=0,0001] e as velocidades [F(2, 480)=8,1460,

p=0,00033]. O post-hoc evidenciou que o GS apresentou maior número de

fixações que o GE (p<0,005). O número de fixações na parte final do

deslocamento do objeto (terceiro terço da canaleta) foi superior aos demais

locais (p<0,00001), assim como o número de fixações na parte inicial do

deslocamento (primeiro terço da canaleta) foi superior à parte intermediária

(segundo terço da canaleta) (p<0,002). Por fim, também foi verificado que o

número de fixações durante a velocidade AUM foi menor em relação à

velocidade CONT e RED (p<0,02 e p<0,0002, respectivamente). A ANOVA não

55

detectou interação significante entre grupos e velocidades [F(2, 480)=0,43920,

p=0,64481] e grupos, locais e velocidades [F(8, 480)=0,43544, p=0,89977].

Mas houve interação significativa entre grupos e locais [F(4, 480)=15,409,

p=0,00001] e locais e velocidades [F(8, 480)=8,7160, p=0,00001]. O teste de

Tukey detectou que o GS apresentou maior número de fixações que o GE no

trecho final do deslocamento do objeto móvel (p<0,00001). Durante a

velocidade AUM, o número de fixações no trecho final do deslocamento do

objeto móvel foi menor em relação à velocidade CONT e RED (p<0,0002).

Gráfico 8 – Número de fixações visuais por local da tarefa nas diferentes velocidades (AUM, CONT e RED). * indica que o número de fixações no trecho inicial do deslocamento foi superior ao trecho intermediário e também que o número de fixações no trecho final de deslocamento do objeto foi maior que nos demais locais (p<0,00001). ** indica o maior número de fixações do GS em relação ao GE no trecho final de deslocamento do objeto móvel (p<0,00001).

5.2.1 Síntese dos resultados

Os dois níveis de estabilização do desempenho (estabilização e

superestabilização) resultaram em melhora na precisão e consistência do

desempenho. O aprimoramento do desempenho dos grupos foi acompanhado

por redução na duração dos componentes da tarefa (tempo de reação e sub-

movimentos) durante a prática, especialmente para os componentes iniciais da

interceptação (TR, Tpar1 e Tpar2). O número de fixações no primeiro bloco da

prática foi similarmente distribuído entre os locais da tarefa para o GE e GS.

Todavia, pôde ser verificado que ao longo da prática, o GE e GS aumentaram o

número de fixações visuais no trecho próximo à zona de interceptação (parte

final do deslocamento do objeto). E ainda, o GS reduziu a quantidade de

fixações no local onde se iniciava o deslocamento do objeto móvel (trecho

inicial do deslocamento) do início par ao fim da fase de prática.

56

O GS apresentou desempenho superior em comparação ao GE

durante as interceptações a alvos móveis que se deslocamento em velocidade

constante. O GS demonstrou interceptações mais precisas mesmo quando

ocorreram mudanças na velocidade do objeto (AUM ou RED) e foi mais

consistente que o GE ao longo do teste. Também foi verificado menor TR e

maior número de fixações visuais do GS em relação ao GE durante o teste. O

maior número de fixações do GS em relação ao GE ocorreu no trecho final do

deslocamento do objeto móvel.

Os ajustes diante das mudanças de velocidade ocorreram no

componente final da interceptação (Tpar5). Durante a velocidade aumentada, a

duração do Tpar5 reduziu e diante da velocidade reduzida a duração do Tpar

aumentou. O número de fixações no trecho final do deslocamento foi maior que

nos demais locais. O aumento da velocidade do objeto resultou em menor

número de fixações no trecho final de deslocamento do objeto móvel em

relação à condição de velocidade controle e reduzida.

6. EXPERIMENTO 2

No experimento 2 foram investigados os efeitos do nível de

estabilização do desempenho sobre o controle visuo-motor durante a

interceptação a objetos móveis com velocidade variável, mas sem mudanças

no tempo total de deslocamento. Foi também analisado como o controle visuo-

motor da interceptação é organizado diante objetos que se deslocam com

velocidade variável, mas sem qualquer alteração no tempo total de

deslocamento.

6.1 Método

6.1.1 Amostra

Os participantes do experimento 2 (n=34) foram diferentes do

experimento 1. A amostra foi constituída de indivíduos de ambos os sexos

(masculino n=18; feminino n=16) e a idade média da amostra foi de 22,11 ±

2,08. Apesar dos participantes serem diferentes do experimento anterior, a

57

amostra foi composta por indivíduos com as mesmas caraterísticas em ambos

os experimentos. Os procedimentos e critérios para a seleção dos participantes

foram os mesmos.

6.1.2 Instrumento e tarefa

Os instrumentos e a tarefa foram idênticos ao experimento 1.

6.1.3 Delineamento

Os mesmos procedimentos adotados na fase de prática do

experimento 1 para definição dos grupos experimentais (GE e GS) foram

conduzidos no presente experimento. Contudo, a fase de teste foi conduzida

para verificar o efeito da variável independente manipulada na primeira fase no

controle visual e na estratégia de controle com diferentes velocidades variáveis,

mas sem modificação do tempo total de deslocamento. Neste experimento, os

participantes executaram interceptações envolvendo objetos móveis com

velocidade variável. Duas combinações de velocidade do objeto foram

manipuladas, mas sem qualquer alteração no tempo total de deslocamento

(FIGURA 4). Na primeira combinação, o deslocamento do objeto ocorreu

inicialmente com velocidade aumentada e na parte final a velocidade foi

reduzida (AUM-RED). Mais especificamente, a velocidade do objeto móvel foi

88,90 cm.s-1 nos 2/3 iniciais do deslocamento e 78 cm.s-1 no 1/3 final. Na

segunda combinação, esse procedimento foi invertido. Assim, o deslocamento

do objeto móvel ocorreu inicialmente com velocidade reduzida e na parte final a

velocidade foi aumentada (RED-AUM). Nessa condição, a velocidade do objeto

móvel foi 157 cm.s-1

nos 2/3 iniciais do deslocamento e 41,41 cm.s-1

no 1/3

final. Com essas combinações de velocidade, o tempo total de deslocamento

do objeto móvel em todas as tentativas foi mantido o mesmo (2250 ms).

58

Figura 6 - Desenho experimental do experimento 2.

GE: Grupo Estabilização; GS: Grupo Superestabilização; TEN: tentativas; VEL: Velocidade; TT: Tempo Total; AUM-RED: Velocidade Aumentada-Reduzida; CONT: Velocidade Controle; RED-AUM: Velocidade Reduzida-Aumentada.

Assim como no experimento 1, a fase de teste consistiu em um total

de 45 tentativas distribuídas de forma pseudoaleatória. Os participantes

executaram 15 interceptações em cada condição de velocidade, distribuídas

conforme o Quadro 2.

Quadro 2 - Distribuição das diferentes velocidades do objeto móvel na fase de teste do experimento 2.

Velocidade Aumentada-Reduzida (AUM-RED); Velocidade Controle (CONT); Velocidade

Reduzida-Aumentada (RED-AUM). AUM-RED – Velocidade (157 cm.s-1

e 41,41 cm.s-1

); CONT – Velocidade (81,3 cm.s

-1); RED-AUM – Velocidade (78 cm.s

-1 e 88,90 cm.s

-1). O tempo total de

deslocamento do objeto foi igual em todas as tentativas (2250 ms).

59

6.1.4 Procedimentos

Os procedimentos foram os mesmos adotados no experimento 1.

6.1.5 Análise dos dados

Como a tarefa e o delineamento dos experimentos foram similares,

foram adotadas as mesmas medidas e procedimentos de análise dos dados do

experimento 1.

6.2 Resultados

Fase de Prática

Medidas de Desempenho

A precisão dos grupos durante a prática pode ser verificada no

gráfico 9. A ANOVA two-way (2 grupos x 2 blocos) encontrou diferença

significativa entre os blocos [F(1, 32)=55,996, p=0,00001]. A precisão dos

grupos foi aprimorada do primeiro bloco para o último bloco da prática

(p<0,0001). Não houve diferença entre os grupos [F(1, 32)=0,00000,

p=0,99876] e nem interação significante entre grupos e blocos [F(1,

32)=0,03560, p=0,85154].

60

Gráfico 9 – Média do erro constante no primeiro e último bloco da fase de prática. * indica diferença entre os blocos (p<0,0001).

Quanto à consistência do desempenho dos grupos (gráfico 10), a

ANOVA two-way (2 grupos x 2 blocos) mostrou diferença significativa entre

blocos [F(1, 32)=54,828, p=0,00001], evidenciando uma melhora da

consistência do desempenho ao longo da prática (p<0,0001). Não foi detectada

diferença entre os grupos [F(1, 32)=0,01944, p=0,88998] e nem interação

significante entre os dois fatores [F(1, 32)=0,02269, p=0,88121].

Gráfico 10 – Média do erro variável no primeiro e último bloco da fase de prática. * indica diferença entre os blocos (p<0,0001).

61

Medidas de Controle da Interceptação

São apresentados no gráfico 11, os resultados referentes aos

tempos dos componentes da tarefa na etapa inicial e final da prática. A ANOVA

three-way (2 grupos x 2 blocos x 6 componentes) não detectou diferença entre

os grupos [F(1, 384)=0,80727, p=0,36949], mas foram encontradas diferenças

entre os componentes [F(5, 384)=60,983, p=0,0001] e os blocos [F(1,

384)=60,085, p=0,00001]. O teste de Tukey revelou que o TR e os tempos

parciais dos sub-movimentos reduziram do primeiro para o último bloco da fase

de prática (p<0,000009). A ANOVA detectou também interação significativa

entre componentes e blocos [F(5, 384)=3,8644, p=0,00198]. O teste de Tukey

evidenciou reduções temporais no TR, Tpar1 e Tpar2 do primeiro para o último

bloco da prática (p<0,05). Não foram verificadas interações significantes entre

grupos e componentes [F(5, 384)=1,0723, p=0,37523], componentes e blocos

[F(5, 384)=1,3637, p=0,23711], grupos e blocos [F(1, 384)=1,1922, p=0,27557]

e grupos, blocos e componentes [F(5, 384)=0,30307, p=0,91095].

Gráfico 11 – Média da duração dos componentes da tarefa no primeiro e último bloco da fase de prática. * indica redução na duração dos componentes da tarefa na prática - a duração do TR, Tpar1 e Tpar2 reduziu entre o primeiro e último bloco da prática (p<0,05).

Medidas de Comportamento Visual

No gráfico 12 estão os resultados do número de fixações visuais nos

diferentes locais da tarefa durante a fase de prática. A ANOVA three-way (2

62

grupos x 2 blocos x 6 locais) não detectou diferença entre os grupos [F(1,

320)=0,09908, p=0,75314] e blocos [F(1, 320)=0,01101, p=0,91650]. Mas foi

detectada diferença no número de fixações nos diferentes locais [F(4,

320)=38,462, p=0,0001]. O teste de Tukey revelou maior número de fixações

no primeiro terço da canaleta em relação ao segundo terço (p<0,0005).

Também foi verificado que o número de fixações no terceiro terço da canaleta

foi maior que os demais locais (p<0,00001). Não houve interação significante

entre grupos e locais [F(4, 320)=0,63014, p=0,64132], grupos e blocos [F(1,

320)=0,20673, p=0,64965]. Mas a ANOVA encontrou interação significativa

entre locais e blocos [F(4, 320)=29,843, p=0,0001] e grupos, locais e blocos

[F(4, 320)=2,7786, p=0,02702]. O teste de Tukey revelou que a quantidade de

fixações no primeiro bloco da prática foi distribuída similarmente entre os locais

da tarefa para o GE e GS (p>0,05) e somente o GS reduziu o número de

fixações no primeiro terço da canaleta do início para o fim da prática (p<0,01).

Mas ambos os grupos aumentaram o número de fixações no terceiro terço da

canaleta do início para o fim da prática (p<0,0002 e p<0,00004,

respectivamente).

Gráfico 12 – Média das fixações visuais por local da tarefa no primeiro e último bloco da fase de prática. * indica diferença no número de fixações por local da tarefa na etapa inicial e final da prática – somente o GS reduziu as fixações no trecho inicial do deslocamento, mas ambos os grupos aumentaram as fixações no trecho final do deslocamento; as fixações no trecho final foram em maior número que nos demais locais (p<0,01).

63

Fase de Teste

Medidas de Desempenho

Os resultados referentes à precisão dos grupos nas diferentes

condições de velocidade do objeto móvel são apresentados no gráfico 13. A

ANOVA two-way (2 grupos x 3 velocidades) não identificou diferença

significativa entre os grupos [F(1, 32)=1,3872, p=0,24756], mas encontrou

diferença significativa entre as velocidades [F(2, 64)=197,80, p=0,0001]. O

post-hoc de Tukey revelou que o erro constante na velocidade controle (CONT)

foi menor em relação à velocidade aumentada-reduzida (AUM-RED) e

reduzida-aumentada (RED-AUM) e a precisão durante a velocidade

aumentada-reduzida (AUM-RED) foi maior em relação à velocidade reduzida-

aumentada (RED-AUM) (p<0,0001). Foi identificada ainda interação

significativa [F(2, 64)=4,6974, p=0,01249]. O post-hoc revelou que o GS foi

mais preciso que o GE na velocidade RED-AUM (p<0,03).

Gráfico 13 – Média do erro constante nas diferentes velocidades do objeto móvel: controle (CONT), aumentada-reduzida (AUM-RED) e reduzida-aumentada (RED-AUM). * indica diferença entre as velocidades: a precisão na CONT foi maior que nas demais e a precisão durante a AUM-RED foi maior em relação à RED-AUM (p<0,0001). ** indica diferença entre os grupos na condição RED-AUM: o GS foi mais preciso que o GE (p<0,03).

64

Os resultados referentes à consistência do desempenho dos grupos

nas diferentes velocidades do objeto móvel (CONT, AUM-RED e RED-AUM)

são apresentados no gráfico 14. A ANOVA two-way (2 grupos x 3 velocidades)

revelou diferença significativa entre os grupos [F(1, 32)=14,552, p=0,00059] e

as velocidades [F(2, 64)=4,0140, p=0,02279]. O post-hoc identificou que o GS

foi mais consistente que o GE (p<0,0007) e a consistência durante a RED-AUM

foi menor em comparação às demais velocidades (p<0,04). A ANOVA também

revelou interação significativa [F(2, 64)=5,4154, p=0,00672]. O post-hoc

evidenciou que o GS foi mais consistente que o GE durante a RED-AUM

(p<0,0002).

Gráfico 14 – Média do erro variável nas diferentes velocidades do objeto móvel: controle (CONT), aumentada-reduzida (AUM-RED) e reduzida-aumentada (RED-AUM). * indica diferença entre as velocidades: a condição RED-AUM foi diferente das demais (p<0,04). ** indica diferença entre os grupos na velocidade RED-AUM: o GS foi mais consistente que o GE (p<0,0002).

65

Medidas de Controle da Interceptação

Os resultados dos tempos dos componentes da tarefa nas três

velocidades durante a fase de teste estão representados no gráfico 15. A

ANOVA three-way (2 grupos x 3 velocidades x 6 componentes) detectou

diferença entre os grupos [F(1, 576)=6,1845, p=0,01317], componentes [F(5,

576)=171,40, p=0,0001] e velocidades [F(2, 576)=28,411, p=0,00001]. O teste

de Tukey revelou durações mais curtas dos componentes do GS em relação ao

GE (p<0,01) e durações mais longas dos componentes durante a velocidade

RED-AUM em comparação à velocidade CONT (p<0,00002). A ANOVA não

detectou interação significante entre grupos e componentes [F(5, 576)=1,3725,

p=0,23285], grupos e velocidades [F(2, 576)=0,04589, p=0,95515] e grupos,

componentes e velocidades [F(10, 576)=0,39563, p=0,94869]. Porém foi

identificada interação significativa entre componentes e velocidades [F(10,

576)=3,4644, p=0,00019]. O teste de Tukey revelou aumento no Tpar5 durante

a velocidade RED-AUM em comparação à velocidade CONT (p<0,02).

Gráfico 15 - Média da duração dos componentes da tarefa nas diferentes velocidades (AUM-RED, CONT e RED-AUM). * indica diferença entre o Tpar5 da velocidade CONT e o Tpar 5 da velocidade RED-AUM. ** indica que menores durações dos componentes do GS em relação ao GE (p<0,01).

Medidas de Comportamento Visual

No gráfico 16 estão demonstrados os resultados referentes ao

número de fixações visuais nos diferentes locais da tarefa durante nas três

velocidades na fase de teste. A ANOVA three-way (2 grupos x 3 velocidades x

6 locais) detectou diferença entre os grupos [F(1, 480)=6,6035, p=0,01048],

66

locais [F(4, 480)=176,55, p=0,0001], mas não foi verificada diferença entre as

velocidades [F(2, 480)=0,25253, p=0,77694]. O teste de Tukey revelou que o

GS apresentou maior número de fixações que o GE (p<0,01). O número de

fixações na parte final do deslocamento do objeto (terceiro terço da canaleta)

foi superior aos demais locais (p<0,00001), assim como o número de fixações

na parte inicial do deslocamento (primeiro terço da canaleta) foi superior à

parte intermediária (segundo terço da canaleta) (p<0,04). A ANOVA não

detectou interação significante entre grupos e velocidades [F(2, 480)=0,40205,

p=0,66917], locais e velocidades [F(8, 480)=1,2466, p=0,26983] e grupos,

locais e velocidades [F(8, 480)=0,58160, p=0,79330]. Houve interação

significativa entre grupos e locais [F(4, 480)=6,7047, p=0,00003]. O teste de

Tukey detectou que o número de fixações realizadas pelo GS foi maior que o

GE no trecho final do deslocamento do objeto móvel (p<0,00001).

Gráfico 16 - Número de fixações visuais por local da tarefa nas diferentes velocidades (AUM-RED, CONT e RED-AUM). * indica que o número de fixações no trecho inicial do deslocamento foi superior ao trecho intermediário e também que o número de fixações no trecho final de deslocamento do objeto foi maior que nos demais locais (p<0,00001). ** indica o maior número de fixações do GS em relação ao GE no trecho final de deslocamento do objeto móvel (p<0,00001).

6.2.1 Síntese dos resultados

Como já era esperado, os diferentes níveis de estabilização do

desempenho propiciaram aumento da precisão e consistência das

interceptações. A melhora do desempenho ocorreu mediante redução no

tempo de reação e sub-movimentos iniciais que constituíam a ação de

interceptação (Tpar1 e Tpar2). A quantidade de fixações no primeiro bloco da

prática foi distribuída similarmente entre os locais da tarefa para o GE e GS

p>0,05. Mas ambos os grupos aumentaram as fixações no local próximo à

zona de interceptação (trecho final da aproximação do objeto) do início para o

67

fim da prática. Todavia, somente o GS reduziu o número de fixações na parte

inicial do deslocamento do objeto móvel ao longo da prática.

O GS apresentou melhor desempenho que o GE durante a

interceptação a alvos móveis com velocidade variável, particularmente quando

o deslocamento ocorreu com combinação de velocidade reduzida e

aumentada. As durações do TR e sub-movimentos da interceptação foram mais

curtas para o GS em relação ao GE, bem como, o número de fixações visuais

no trecho final do deslocamento do objeto móvel foi maior para o GS em

comparação ao GE.

Foi verificado que durante o deslocamento do objeto com a

combinação de velocidade reduzida-aumentada, a duração do componente

final (Tpar5) aumentou em relação à velocidade controle. O número de fixações

no trecho final do deslocamento foi maior que nos demais locais.

7. EXPERIMENTO 3

O propósito do experimento 3 foi investigar a influência do nível de

estabilização do desempenho sobre o controle visuo-motor durante a

interceptação a objetos móveis com velocidade variável e alteração no tempo

total de deslocamento. Foi também analisado como o controle visuo-motor da

interceptação é organizado diante de objetos móveis com velocidade variável,

mas que modificam o tempo total de deslocamento.

7.1 Método

5.3.1 Amostra

Os participantes do experimento 3 (n=34) foram diferentes dos

experimento 1 e 2. Participaram do experimento indivíduos de ambos os sexos

(masculino n=24; feminino n=10) e a idade média da amostra foi de 23,22 ±

2,50. Apesar dos participantes serem diferentes dos experimentos anteriores, a

amostra foi constituída por indivíduos com as mesmas caraterísticas. Os

procedimentos e critérios para a seleção dos participantes foram idênticos.

68

5.3.2 Instrumento e tarefa

Os instrumentos e a tarefa foram os mesmos utilizados nos

experimentos 1 e 2.

5.3.3 Delineamento

Os procedimentos adotados na fase de prática dos experimentos 1 e

2 para definição dos grupos experimentais (GE e GS) foram os mesmos

utilizados no presente experimento. Já a fase de teste foi conduzida para

verificar o efeito da variável independente manipulada na primeira fase no

controle visual e na estratégia de controle com diferentes velocidades variáveis,

mas com alteração do tempo total de deslocamento. Neste experimento, os

participantes executaram interceptações envolvendo objetos com velocidade

variável, assim como no experimento 2. Similarmente ao experimento 2, duas

combinações de velocidade do objeto móvel foram manipuladas. Todavia, o

tempo total de deslocamento também foi manipulado (FIGURA 5). Na primeira

combinação, o deslocamento do objeto ocorreu inicialmente com velocidade

aumentada e na parte final a velocidade foi reduzida (AUM-RED) e o tempo

total de deslocamento foi menor. Assim, a velocidade do objeto foi 141,2 cm.s-1

nos 2/3 iniciais do percurso e 37,27 cm.s-1 no 1/3 final e o tempo total do

deslocamento foi 2000 ms. Na segunda combinação, o padrão de velocidade

foi o inverso. A parte inicial do percurso do objeto móvel ocorreu com

velocidade reduzida e a parte final com velocidade aumentada (RED-AUM),

sendo que o tempo total de deslocamento foi maior. Nessa condição, a

velocidade do objeto móvel foi 85,8 cm.s-1 nos 2/3 iniciais e 97,79 cm.s-1 no 1/3

final, mas com tempo total de deslocamento de 2500 ms.

69

Figura 7 - Desenho experimental do experimento 3.

GE: Grupo Estabilização; GS: Grupo Superestabilização; TEN: tentativas; VEL: Velocidade; TT: Tempo Total; AUM-RED: Velocidade Aumentada-Reduzida; CONT: Velocidade Controle; RED-AUM: Velocidade Reduzida-Aumentada.

A fase de teste consistiu em um total de 45 tentativas distribuídas de

forma pseudoaleatória. (QUADRO 3). Os participantes executaram 15

interceptações para cada condição de velocidade, distribuídas conforme o

Quadro 3.

Quadro 3- Distribuição das diferentes velocidades do objeto móvel na fase de teste do experimento 3.

Velocidade Aumentada-Reduzida (AUM-RED); Velocidade Controle (CONT); Velocidade

Reduzida-Aumentada (RED-AUM). AUM-RED – Velocidade (157 cm.s-1

e 41,41 cm.s-1

) e tempo total (2000 ms); CONT – (81,3 cm.s

-1) e tempo total (2250 ms); RED-AUM –

Velocidade (78 cm.s-1

e 88,90 cm.s-1

) e tempo total (2500 ms).

70

5.3.4 Procedimentos

Os procedimentos de coleta de dados foram os mesmos adotados

nos experimentos 1 e 2.

5.3.5 Análise dos dados

Como a tarefa e o delineamento dos experimentos são similares,

foram utilizadas as mesmas medidas e procedimentos de análise dos dados

dos experimentos 1 e 2.

7.2 Resultados

Fase de Prática

Medidas de Desempenho

Na análise da precisão dos grupos durante a prática (gráfico 17), a

ANOVA two-way (2 grupos x 2 blocos) detectou diferença entre os blocos [F(1,

32)=45,037, p=0,00001]. Os grupos se tornaram mais precisos do primeiro para

o último bloco da prática (p<0,0001). Não foi verificada diferença na

comparação intergrupos [F(1, 32)=0,10309, p=0,75025] e nem na interação

entre grupos e blocos [F(1, 32)=0,24286, p=0,62552].

71

Gráfico 17– Média do erro constante no primeiro e último bloco da fase de prática. * indica diferença entre os blocos (p<0,0001).

Em relação à consistência do desempenho (gráfico 18), a ANOVA

two-way (2 grupos x 2 blocos) também encontrou diferença entre os blocos

[F(1, 32)=96,006, p=0,00001], sendo que os grupos melhoraram a consistência

do primeiro para o último bloco da prática (p<0,0001). Não foi encontrada

diferença intergrupos [F(1, 32)=0,04974, p=0,82494] e nem interação

significante [F(1, 32)=0,07145, p=0,79095].

Gráfico 18 – Média do erro variável no primeiro e último bloco da fase de prática. * indica diferença entre os blocos (p<0,0001).

72

Medidas de Controle da Interceptação

No gráfico 19 estão demonstrados os resultados dos tempos dos

componentes da tarefa na parte inicial e final da prática. A ANOVA three-way (2

grupos x 2 blocos x 6 componentes) não detectou diferença entre os grupos

[F(1, 384)=0,04542, p=0,83134], mas encontrou diferenças entre componentes

[F(5, 384)=47,852, p=0,0001] e blocos [F(1, 384)=15,723, p=0,00009]. O teste

de Tukey identificou menores durações do TR e tempos parciais no primeiro

bloco da prática em comparação ao último bloco (p<0,000008). A ANOVA não

detectou interações significantes entre grupos e componentes [F(5,

384)=0,67736, p=0,64084], grupos e blocos [F(1, 384)=0,14142, p=0,70708] e

grupos, blocos e componentes[F(5, 384)=1,0864, p=0,36735]. Mas houve

interação significativa entre componentes e blocos [F(5, 384)=3,7056,

p=0,00275]. O teste de Tukey revelou redução no TR e Tpar3 do primeiro para

o último bloco da prática (p<0,05).

Gráfico 19 – Média da duração dos componentes da tarefa no primeiro e último bloco da fase de prática. * indica redução na duração dos componentes da tarefa na prática - a duração do TR e Tpar3 reduziu entre o primeiro e último bloco da prática (p<0,05).

Medidas de Comportamento Visual

Os resultados do número de fixações visuais nos diferentes locais da

tarefa dos grupos durante a fase de prática estão demonstrados no gráfico 20.

A ANOVA three-way (2 grupos x 2 blocos x 6 locais) não detectou diferença

entre os grupos [F(1, 320)=0,64901, p=0,42107] e os blocos [F(1,

73

320)=0,17807, p=0,67332]. Porém, foi detectada diferença no número de

fixações entre os diferentes locais da tarefa [F(4, 320)=37,463, p=0,0001]. O

teste de Tukey revelou que houve maior número de fixações no primeiro terço

da canaleta em relação ao segundo terço (p<0,0005), e ainda, o número de

fixações no terceiro terço da canaleta foi maior que nos demais locais

(p<0,00001). Não houve interação significante entre grupos e blocos [F(1,

320)=0,03679, p=0,84801]. Mas a ANOVA encontrou interação significativa

entre grupos e locais [F(4, 320)=5,6306, p=0,00022], locais e blocos [F(4,

320)=32,386, p=0,0001] e grupos, locais e blocos [F(4, 320)=3,2965,

p=0,01146]. O teste de Tukey revelou que número de fixações na parte inicial

do deslocamento do objeto no bloco inicial da prática foi maior que no trecho

intermediário de deslocamento, mesa de resposta e espaço (p<0,05), porém

igual ao trecho final de deslocamento para ambos os grupos (p>0,05). Houve

ainda redução no número de fixações no primeiro terço da canaleta e aumento

no terceiro terço da etapa inicial para a final da prática (p<0,00001). Além

disso, os grupos reduziram as fixações no primeiro terço da canaleta (p<0,009

e p<0,00004, respectivamente) e aumentaram as fixações no terceiro terço da

canaleta do início para o fim da prática (p<0,02 e p<0,00004, respectivamente).

Por fim, o GS apresentou maior número de fixações no terceiro terço da em

comparação ao GE na parte final da prática (p<0,00005).

Gráfico 20 – Média das fixações visuais por local da tarefa no primeiro e último bloco da fase de prática. * indica diferença no número de fixações por local da tarefa na etapa inicial e final da prática – as fixações no trecho inicial foram em maior número que no trecho intermediário do deslocamento e ambos os grupos reduziram as fixações no trecho inicial e aumentaram no trecho final do deslocamento; as fixações no trecho final foram em maior número que nos demais locais (p<0,01). ** indica maior número de fixações do GS em relação ao GE no 3º terço da canaleta ao final da prática (p<0,00005).

74

Fase de Teste

Medidas de Desempenho

O gráfico 21 se refere aos resultados da precisão dos grupos nas

diferentes condições de velocidade do objeto na fase de teste. A ANOVA two-

way (2 grupos x 3 velocidades) revelou diferença significativa entre os grupos

[F(1, 32)=14,748, p=0,00055] e as velocidades [F(2, 64)=14,160, p=0,00001]. O

post-hoc identificou que o GS apresentou maior precisão em relação ao GE

(p<0,0006) e a precisão durante a AUM-RED foi menor em comparação à

CONT (p<0,0004). A ANOVA também revelou interação significativa [F(2,

64)=4,5113, p=0,01469]. O post-hoc evidenciou que o GS apresentou maior

precisão que o GE durante a AUM-RED (p<0,001), além de demonstrar

precisão semelhante durante as velocidades CONT e AUM-RED (p>0,09). Por

outro lado, a precisão do GE foi pior durante a AUM-RED em relação à CONT

(p<0,0007).

Gráfico 21 – Média do erro constante nas diferentes velocidades: controle (CONT), aumentada-reduzida (AUM-RED) e reduzida-aumentada (RED-AUM). * indica diferença na precisão do GE nas velocidades AUM-RED e CONT (p<0,0007). ** indica diferença na precisão dos grupos na velocidade AUM-RED: o GS foi mais preciso que o GE (p<0,001).

75

Os resultados da consistência dos grupos nas diferentes velocidades

do objeto móvel na fase de teste estão ilustrados no gráfico 22. A ANOVA two-

way (2 grupos x 3 velocidades) revelou diferença significativa entre os grupos

[F(1, 32)=14,139, p=0,00068]. Não foi verificada diferença entre as velocidades

[F(2, 64)=2,7973, p=0,06845]. O post-hoc detectou que o GS foi mais

consistente que o GE (p<0,0008). A ANOVA também revelou interação

significativa [F(2, 64)=3,8713, p=0,02588]. O post-hoc evidenciou que o GS

apresentou desempenho mais consistente que o GE durante a AUM-RED

(p<0,004). E ainda, o GE demonstrou desempenho menos consistente na

AUM-RED em relação à CONT (p>0,08).

Gráfico 22 – Média do erro variável nas diferentes velocidades: controle (CONT), aumentada-reduzida (AUM-RED) e reduzida-aumentada (RED-AUM). * indica diferença na consistência do desempenho do GE nas velocidades AUM-RED e CONT (p<0,008). ** indica diferença na consistência dos grupos na velocidade AUM-RED: o GS foi mais consistente que o GE (p<0,004).

Medidas de Controle da Interceptação

São apresentados no gráfico 23, os resultados dos tempos dos

componentes da tarefa dos grupos nas três velocidades durante a fase de

76

teste. A ANOVA three-way (2 grupos x 3 velocidades x 6 componentes)

detectou diferença entre os grupos [F(1, 576)=7,6126, p=0,00598],

componentes [F(5, 576)=180,31, p=0,0001] e velocidades [F(2, 576)=205,33,

p=0,0001]. O teste de Tukey revelou que o GS apresentou durações mais

curtas dos componentes em relação ao GE (p<0,005). E ainda, foram

verificadas durações mais longas dos componentes durante a velocidade RED-

AUM e mais curtas durante a velocidade AUM-RED em relação à velocidade

CONT (p<0,00002). A ANOVA detectou também interação significativa entre

grupos e componentes [F(5, 576)=6,8816, p=0,00001], componentes e

velocidades [F(10, 576)=70,824, p=0,0001] e grupos, componentes e

velocidades [F(10, 576)=2,6539, p=0,00358]. Não houve interações

significantes entre grupos e velocidades [F(2, 576)=2,0433, p=0,13054]. O teste

de Tukey revelou que o GS apresentou menor Tpar2 e maior Tpar5 em relação

ao GE (p<0,009). E ainda, identificou redução no Tpar4 e Tpar5 durante a

velocidade AUM-RED e aumento na velocidade RED-AUM (p<0,03) em relação

à velocidade controle. O post-hoc detectou ainda que o GS apresentou maior

Tpar5 em relação ao GE na velocidade RED-AUM (p<0,00003).

Gráfico 23 - Média da duração dos componentes da tarefa nas diferentes velocidades (AUM-RED, CONT e RED-AUM). * indica diferença no Tpar4 e Tpar5 da velocidade CONT e velocidades AUM-RED e RED-AUM (p<0,03). ** indica que o GS apresentou menores duração dos componentes em relação ao GE (p<0,005).

Medidas de Comportamento Visual

O gráfico 24 se refere aos resultados do número de fixações visuais

por local da tarefa dos grupos nas três velocidades ao longo da fase de teste. A

ANOVA three-way (2 grupos x 3 velocidades x 6 locais) detectou diferença

entre os grupos [F(1, 480)=6,6035, p=0,01048], locais [F(4, 480)=176,55,

77

p=0,0001], porém não foi verificada diferença entre as velocidades [F(2,

480)=0,25253, p=0,77694]. O teste de Tukey identificou que o GS apresentou

maior número de fixações que o GE (p<0,01). O número de fixações na parte

final do deslocamento do objeto (terceiro terço da canaleta) foi superior aos

demais locais (p<0,00001), assim como o número de fixações na parte inicial

do deslocamento (primeiro terço da canaleta) foi superior à parte intermediária

(segundo terço da canaleta) (p<0,04). A ANOVA não detectou interação

significante entre grupos e velocidades [F(2, 480)=0,40205, p=0,66917], locais

e velocidades [F(8, 480)=1,2466, p=0,26983] e grupos, locais e velocidades

[F(8, 480)=0,58160, p=0,79330]. Mas houve interação significativa entre grupos

e locais [F(4, 480)=6,7047, p=0,00003]. O teste de Tukey detectou que o GS

apresentou número de fixações maior que o GE no último trecho do

deslocamento do objeto (p<0,00002).

Gráfico 24 - Número de fixações visuais por local da tarefa nas diferentes velocidades (AUM-RED, CONT e RED-AUM). * indica que o número de fixações no trecho inicial do deslocamento foi superior ao trecho intermediário e também que o número de fixações no trecho final de deslocamento do objeto foi maior que nos demais locais (p<0,04). ** indica o maior número de fixações do GS em relação ao GE no trecho final de deslocamento do objeto (p<0,00002).

7.2.1 Síntese dos resultados

No experimento 3, os dois níveis de estabilização do desempenho

também resultaram em melhora da precisão e consistência das interceptações

durante a prática. Houve redução no tempo de reação e sub-movimento

(Tpar3) ao longo da prática. O número de fixações na parte inicial do

deslocamento do objeto móvel no bloco inicial da prática foi maior que no

trecho intermediário de deslocamento, mesa de resposta e espaço, porém igual

ao trecho final de deslocamento para ambos os grupos. As fixações dos grupos

78

aumentaram no local próximo à zona de interceptação (parte final da

aproximação do objeto) do início para o fim da prática. Porém, o GS realizou

mais fixações no trecho final do deslocamento do objeto móvel que o GE no

último bloco da fase de prática.

O GS demonstrou melhor desempenho que o GE durante a

interceptação a alvos móveis com velocidade variável com variações na

restrição temporal, particularmente quando o deslocamento ocorreu com

combinação de velocidade aumentada e reduzida e com menor tempo total. O

GS demonstrou durações mais curtas no Tpar2 e mais longas no Tpar5 em

comparação ao GE. O GS apresentou ainda, maior número de fixações visuais

no trecho final do deslocamento do objeto em relação ao GE.

Os ajustes na interceptação durante as duas combinações de

velocidade do objeto móvel, variaram em função do tempo total de

deslocamento. Durante a velocidade AUM-RED (tempo total menor), foram

verificadas durações mais curtas do Tpar4 e Tpar5. Por outro lado, diante da

velocidade RED-AUM (tempo total maior), foram observadas as durações mais

longas do Tpar4 e Tpar5. O número de fixações no trecho final do

deslocamento foi maior que nos demais locais.

79

8. DISCUSSÃO

O presente estudo teve como propósito investigar a influência do

nível de estabilização do desempenho e das características do padrão de

velocidade de deslocamento do objeto móvel sobre o controle visuo-motor da

interceptação. Os resultados mostraram que ambos os fatores, o nível de

estabilização e a característica do padrão da velocidade de deslocamento

influenciam o desempenho, o mecanismo de controle e as estratégias de busca

visual utilizadas. Mais especificamente, a primeira hipótese testada foi que o

grupo superestabilização (GS) apresentaria desempenho superior em relação

ao grupo estabilização (GE) durante as interceptações independentemente do

padrão de velocidade do objeto móvel. Assumindo que a continuidade da

prática até o nível de superestabilização do desempenho pode promover

aquisição adicional de competências sensório-motoras (FONSECA et al., 2012;

UGRINOWITSCH et al., 2014), o melhor desempenho do GS estaria associado

à maior eficiência no controle visuo-motor nos diferentes padrões de velocidade

do objeto móvel. Já a segunda hipótese de estudo considerava que as

estratégias de controle envolvidas na interceptação seriam determinadas pelas

características do padrão de velocidade do objeto móvel. Assim, interceptações

envolvendo objetos com velocidade constante seriam executadas

predominantemente via feedback corrente. Por outro lado, as interceptações

diante de objetos que se movem em velocidade variável seriam reguladas pela

combinação de estratégias de controle preditivo e feedback corrente. Em uma

análise global, os resultados dos três experimentos fornecem evidências que

confirmam parcialmente a primeira hipótese e a segunda hipótese.

Os resultados do experimento 1 mostraram que o GS apresentou

desempenho superior ao GE durante as interceptações envolvendo objetos

móveis com velocidade constante, tanto em condições de velocidade

aumentada e quanto em condições de velocidade reduzida. Os resultados do

experimento 2 também evidenciaram melhor desempenho do GS em relação

ao GE nas interceptações a objetos móveis com velocidade variável,

particularmente quando a condição de velocidade representou maior grau de

exigência aos grupos (velocidade reduzida-aumentada). Na condição de menor

exigência (velocidade aumentada-reduzida), atingir o nível de estabilização foi

80

suficiente para obter bom desempenho. Já no experimento 3, os resultados

também revelaram melhor desempenho do GS em relação ao GE durante as

interceptações aos objetos com velocidade variável, mais especificamente, na

condição de velocidade aumentada-reduzida que envolvia menor tempo total

de deslocamento do objeto móvel. Novamente, na condição de maior exigência

o GS teve melhor desempenho. Ou seja, a prática até a superestabilização do

desempenho propiciou maior eficiência nas interceptações, conforme previsto

pela primeira hipótese de estudo, mas os resultados foram observados

principalmente na situação de maior exigência para o sistema visuo-motor.

Atingir o nível de superestabilização do desempenho propiciou

capacidade diferenciada para lidar com problemas motores decorrentes das

mudanças de velocidade no objeto móvel que requerem modificações precisas

nos movimentos para garantir o sucesso na interceptação. De fato, há

evidências demonstrando que a superestabilização do desempenho propicia

maior capacidade de executar interceptações diante de modificações na

velocidade do objeto móvel (FONSECA, 2009; COUTO, 2012; FONSECA et al.,

2012). Contudo, talvez os aspectos mais importantes que o presente estudo

pode ajudar a esclarecer são os motivos que levaram à superioridade do grupo

superestabilização em relação ao grupo estabilização nas interceptações a

objetos móveis com os distintos padrões de velocidade. Essa é uma lacuna

que ainda não está totalmente esclarecida na literatura. A análise dos

resultados relacionados ao controle visuo-motor deste estudo pode fornecer

indicativos para elucidar essa questão.

Era esperado que durante a fase de prática, o controle visuo-motor

da interceptação fosse aprimorado. Isto porque, a prática é capaz de

desencadear mudanças em mecanismos de controle, e consequentemente,

possibilitar a ocorrência da estabilização do desempenho (TANI, 1999; BENDA,

2006; TANI et al., 2014). Então, a identificação de diferenças no controle visuo-

motor entre os grupos ainda durante a prática pode fornecer evidências sobre

as competências sensório-motoras que são adquiridas pelos dois níveis de

estabilização do desempenho testados.

Os resultados da fase de prática dos três experimentos foram

consistentes em mostrar que os dois níveis de estabilização do desempenho

promoveram mudanças no controle visuo-motor da interceptação. A fase inicial

81

da prática, marcada pela imprecisão e inconsistência do desempenho, também

foi caracterizada pela distribuição similar das fixações entre os trechos de

deslocamento do objeto móvel (parte inicial, intermediária e final da canaleta).

Esse comportamento sugere que as primeiras tentativas das interceptações

foram reguladas via feedback corrente. O controle feedback sensorial é

caraterizado pelo monitoramento visual contínuo do objeto em deslocamento

para a regulação do movimento (DESSING et al., 2002; BASTIN; CRAIG;

MONTAGNE, 2006; SARLEGNA; MUTHA, 2014). Porém, essa estratégia de

controle foi modificada com o decorrer do processo de aprendizagem,

observada pela redução no tempo de reação e na diminuição no número de

fixações visuais no trecho inicial do percurso do objeto móvel (GS -

experimentos 1, 2 e 3; GE - experimento 3). Além disso, o número de fixações

visuais no trecho final do deslocamento do objeto aumentou para ambos os

grupos. No geral, esses resultados revelam que quando a estabilização do

desempenho foi alcançada, as interceptações foram executadas mediante a

combinação de estratégias de controle preditivo e feedback corrente. O baixo

número de fixações visuais no trecho inicial e intermediário do deslocamento e

a redução no tempo de reação são indicativos de pré-programação. Já o maior

número de fixações próximo à zona de contato aponta para um

acompanhamento visual contínuo na fase final da interceptação, o que pode

representar a predominância do uso de feedback corrente nesta parte do

percurso do objeto.

Mas os resultados mais interessantes dessa análise foram as

evidências de possíveis efeitos do nível de estabilização no controle visuo-

motor ao final da fase de prática. Avaliando somente os resultados referentes

aos erros temporais, o GE e GS apresentaram desempenho semelhante no

último bloco da prática. A ausência de diferença entre os grupos já era

esperada devido aos critérios de desempenho adotados. Como o critério de

desempenho envolvia a execução de três tentativas consecutivas em uma faixa

de erro relativamente estreita (±30 ms), é provável que esse procedimento

tenha nivelado o desempenho dos grupos no último bloco de prática. Fato este

que também já ocorreu em outros estudos que utilizaram esse mesmo

procedimento metodológico para diferenciar os níveis de estabilização

(FONSECA et al., 2012; UGRINOWITSCH et al., 2014).

82

Apesar da semelhança em relação à precisão temporal e

consistência, a análise do comportamento visual dos experimentos 1 e 2

evidenciou que somente o GS reduziu o número de fixações no primeiro terço

da canaleta do início para o final da prática. No experimento 3, ambos os

grupos reduziram as fixações no primeiro terço da canaleta, porém, o GS

realizou maior número de fixações que o GE no terceiro terço da canaleta ao

final da prática. Esses achados sugerem os grupos atingiram o mesmo patamar

desempenho ao final da prática, mas com processos de controle do movimento

distintos. A distinção no comportamento visual entre os grupos ainda na fase

de prática pode ser interpretada como os primeiros sinais de efeitos do nível de

estabilização do desempenho no controle visuo-motor da interceptação, o que

pode auxiliar no entendimento sobre como as competências sensório-motoras

são adquiridas com a experiência, o que explica as diferenças dos estudos

encontrados anteriormente.

A utilização de menor quantidade de informação visual pelo GS na

etapa inicial da interceptação indica o aprimoramento da capacidade preditiva

proporcionada pela prática até a superestabilização do desempenho. A

capacidade preditiva está associada à atuação de modelos internos nos

processos de controle do movimento (WOLPERT; KAWATO, 1998; ITO, 2008).

Os modelos internos simulam internamente a dinâmica do controle sensório-

motor sem a necessidade de participação de feedback sensorial (WOLPERT;

GHAHRAMANI; JORDAN, 1995; KAWATO, 1999). Esses modelos atuam

essencialmente na predição das consequências dos comandos motores a partir

do estado atual (modelo forward) ou na predição dos comandos motores

necessários a partir do estado desejado (modelo inverso). Um dos

pressupostos dessa abordagem teórica é que os modelos internos são

formados e ajustados com o decorrer da prática (WOLPERT; GHAHRAMANI;

JORDAN, 1995; KAWATO, 1999; ITO, 2008). Com a prática, o modelo forward

se torna gradativamente mais eficiente em realizar predições das

consequências dos comandos motores (CISEK, 2009), através do confronto

entre as informações do feedback predito e do feedback real. A cada execução

é gerada uma nova estimativa de estado, que realimenta o próprio modelo

forward. Como o modelo forward possui informações referentes à ação

realizada, o mesmo é capaz de se tornar mais competente em suas predições

83

futuras com a prática (MIALL; WOLPERT, 1996; WOLPERT, 1997). Além

disso, tem sido proposto que o modelo forward usa as informações de erro do

estado atual do sistema provenientes do feedback sensorial para calibrar o

controlador (modelo inverso) (MIALL; WOLPERT, 1996; WOLPERT; KAWATO,

1998). Com o decorrer das tentativas de prática, é esperado que o modelo

inverso se torne mais competente em gerar comandos precisos de acordo com

o estado desejado (MIALL; WOLPERT, 1996).

Essa proposição justifica a gradativa redução da participação da

visão na parte inicial da interceptação, especialmente para o GS (experimento

1 e 2). Se a prática leva à formação e ao refinamento dos modelos internos, é

esperado o aprimoramento da competência preditiva com o avanço da prática,

principalmente com a sua continuidade após a estabilização do desempenho.

Isso implica em reduzida necessidade do uso da visão no planejamento e

controle inicial da interceptação, pois com o progresso da aprendizagem o

controle ocorre prioritariamente por pré-programação através dos comandos

motores gerados pelo modelo inverso (ZAGO et al., 2009; WOLPERT;

DIEDRICHSEN; FLANAGAN, 2011; LA SCALEIA; ZAGO; LACQUANITI, 2015).

Os resultados da fase de prática do experimento 1 e 2 fornecem evidências na

direção dessa premissa. A análise dos tempos parciais vão ao encontro da

estratégia visual utilizada, pois não houve aumento do tempo parcial dos

últimos componentes, o que evidenciaria o controle via feedback corrente.

Esses achados corroboram o estudo de Profeta (2010), que mesmo usando

uma tarefa com características distintas da interceptação também verificou

efeitos da superestabilização do desempenho no controle preditivo. Assim, a

superestabilização do desempenho parece ter potencializado a capacidade de

regular o movimento através de pré-programação, especialmente na fase inicial

da interceptação.

O maior número de fixações na parte final da ação observado no GS

ao final da prática em relação ao GE no experimento 3 aponta para a

predominância de participação da visão na regulação dos ajustes finais da

interceptação. Esse comportamento pode estar associado ao desenvolvimento

de competências relacionadas à capacidade de regulação dos movimentos

baseadas no feedback visual, ou seja, possíveis indícios de aprimoramento do

controle via feedback corrente decorrentes da prática até a superestabilização

84

do desempenho. Isso porque o controle do movimento baseado em feedback

corrente prevê a participação ativa da visão na regulação dos movimentos

(DESSING et al., 2002; MONTAGNE, 2005; SARLEGNA; MUTHA, 2014).

Esses achados são consistentes com o estudo de Couto (2012) que

previamente demonstrou que a superestabilização do desempenho é capaz de

melhorar o controle de ações de interceptação via feedback corrente, mas são

contrários aos dados do tempo parcial, conforme citado anteriormente. Uma

possível explicação é que os comandos motores gerados pelo modelo inverso

não necessitaram ser corrigidos na fase final da interceptação através do

feedback visual, o que também sugere o aperfeiçoamento da capacidade

preditiva com o processo de aprendizagem.

Em suma, as diferenças observadas entre os grupos no

comportamento visual durante a interceptação ainda na fase de prática

fornecem os primeiros sinais que o nível de estabilização pode influenciar o

controle visuo-motor da interceptação, mais precisamente, afetar os

mecanismos associados à combinação do controle preditivo e feedback

corrente. Porém, as evidências mais fortes para essa proposição e confirmação

da primeira hipótese do estudo foram verificadas na fase de testes, quando as

interceptações foram executadas sob diferentes padrões de velocidade do

objeto móvel.

Na fase de teste, o GS teve desempenho superior ao GE nos três

experimentos. No experimento 1, essa superioridade do GS foi verificada nas

interceptações aos objetos móveis com velocidade constante, tanto em

velocidade reduzida quanto em velocidade aumentada. No experimento 2, o

melhor desempenho do GS foi observado diante de objetos móveis com

velocidade variável e sem mudança no tempo total de deslocamento. Mais

especificamente, durante a combinação de velocidade reduzida-aumentada. Já

no experimento 3, o desempenho do GS foi superior também sob

circunstâncias de velocidade variável do objeto móvel, mas com modificação

do tempo total de deslocamento. Isso ocorreu na combinação de velocidade

aumentada-reduzida quando houve redução no tempo total de deslocamento

do objeto para a zona de contato. Esses achados estão em consonância com

estudos prévios que tem verificado melhor performance nas interceptações

85

após a prática até um nível de superestabilização do desempenho (COUTO,

2012; FONSECA et al., 2012).

Entretanto, um dos pontos mais importantes deste estudo é auxiliar

na elucidação dos mecanismos de controle afetados pelo nível de estabilização

do desempenho e também mapear as competências sensório-motoras que são

aprimoradas com a continuidade da prática até a superestabilização. Alguns

comportamentos interessantes relativos ao controle visuo-motor da

interceptação foram identificados em associação com o melhor desempenho do

GS nos três experimentos. Primeiramente, pôde ser observado que os grupos

parecem ter usado uma mesma estratégia de controle nas interceptações

(combinação de controle preditivo e feedback corrente) nos diferentes padrões

de velocidade do objeto, corroborando os achados de estudos prévios

(MÜLLER; ABERNETHY, 2006; TEIXEIRA et al., 2006a; DE LA MALLA;

LÓPEZ-MOLINER, 2015). No geral, as interceptações foram realizadas com

pequeno número de fixações visuais em sua etapa inicial, mas com maior

número de fixações na fase final da ação. Esse comportamento é tipicamente

característico da combinação do controle preditivo para iniciar o movimento e

feedback corrente no seu final, o que aponta para a interação entre um modelo

interno preditivo e a informação visual adicional para os ajustes dos comandos

gerados por esse modelo quando necessário.

Tem sido proposto que a interação entre o modelo original e a

informação visual adicional pode ser importante para garantir a precisão

espaço-temporal das interceptações (TEIXEIRA et al., 2006a). Na presença de

erros de predição dos modelos internos, a informação visual possibilita

correções precisas do movimento previamente planejado (TEIXEIRA et al.,

2006a). Então, a diferença observada no desempenho pode ter ocorrido devido

à maior eficiência do GS na combinação desses mecanismos. Diante dos

objetos com velocidade constante (experimento 1) foi verificado menor tempo

de reação e maior número de fixações na etapa final da interceptação do GS

em relação ao GE. Quando as interceptações envolveram objetos com

velocidade variável (experimentos 2 e 3), os resultados mostraram durações

mais breves nos tempos parciais dos componentes (TR e sub-movimentos)

aliadas com maior número de fixações na etapa final da interceptação do GS

em relação ao GE.

86

Considerando os resultados do experimento 1, a superestabilização

do desempenho pode ter promovido aprimoramento da capacidade preditiva. O

GS apresentou menor tempo de reação e maior número de fixações na fase

final da interceptação em relação ao GE. Apesar do monitoramento visual mais

evidente do GS na parte final da interceptação, não foram encontradas

diferenças entre os grupos na duração dos últimos sub-movimentos da

interceptação (Tpar4 e Tpar5), que indicariam correções mais pronunciadas

momentos antes do contato. Isso leva a crer que a diferença no desempenho

nas interceptações durante a velocidade aumentada e reduzida foi devido à

predição mais eficiente do GS em relação ao GE. Esses resultados fortalecem

as evidências encontradas na fase de prática que já apresentavam indicativos

dos efeitos da superestabilização na aquisição de competências preditivas.

O padrão de velocidade variável do objeto móvel nos experimentos 2

e 3 tem como particularidade a exigência de correções nas interceptações com

a ação em andamento. A mudança da velocidade do objeto durante o

deslocamento para a zona de interceptação pode causar erros se os

movimentos não forem compensados. Assim, o padrão de velocidade variável

induz a ativação de mecanismos de feedback para produzir as correções da

itnerceptação (TEIXEIRA; LIMA; FRANZONI, 2005; TEIXEIRA et al., 2006b).

Se a capacidade de regular apropriadamente a interceptação baseada no

feedback corrente foi exigida nesses dois experimentos, as diferenças entre os

grupos podem estar relacionados às competências envolvidas no controle via

feedback corrente.

O desempenho superior do GS em relação ao GE foi observado sob

duas condições distintas de combinação da velocidade, ou seja, durante a

velocidade reduzida-aumentada (experimento 2) e velocidade aumentada-

reduzida (experimento 3). Embora as combinações de velocidades sejam

opostas, elas possuem um aspecto em comum: o tempo relativamente curto

para realização dos ajustes. Nas duas situações em que o GS apresentou

melhor desempenho, o tempo disponível para correções foi reduzido. O tempo

para realizar correções após o início da interceptação pode ser considerado

fundamental para a precisão espaço-temporal, especialmente devido aos

problemas de atrasos decorrentes da transdução sensorial, processamento

87

neural, condução neural e ativação muscular (TEIXEIRA et al., 2006b; ZAGO et

al., 2009; WOLPERT; DIEDRICHSEN; FLANAGAN, 2011).

De fato, a redução no tempo disponível para implementação de

correções em virtude da manipulação da combinação de velocidade

(experimento 2) ou do tempo total de deslocamento do objeto (experimento 3)

parecem ter afetado negativamente a precisão temporal dos grupos. Os erros

foram maiores quando o tempo para os ajustes foi reduzido, como por

exemplo, nas condições de velocidade reduzida-aumentada (experimento 2) e

aumentada-reduzida (experimento 3). Apesar da maior exigência nessas

condições devido à disponibilidade de tempo para as correções das

interceptações após as mudanças na velocidade do objeto, o GS demonstrou

desempenho superior ao GE. Os resultados também revelaram durações mais

curtas nos tempos parciais dos componentes (TR e sub-movimentos)

associadas com maior número de fixações na etapa final da interceptação do

GS em comparação ao GE.

Embora os resultados dos experimentos 2 e 3 tenham também

evidenciado o uso da combinação de estratégias de controle preditivo e

feedback corrente, diferentemente do experimento 1, não foram encontradas

evidências de efeitos do nível de estabilização nos mecanismos relacionados à

competência preditiva. Isso pode ser explicado pelas diferentes características

do padrão de velocidade do objeto entre os experimentos. Como na

interceptação envolvendo objetos com velocidade variável requerem o

envolvimento predominantemente do feedback corrente, seria pouco provável

encontrar diferença em relação à competência preditiva. Por outro lado, os

achados dos experimentos 2 e 3 fornecem fortes indícios que o nível de

estabilização do desempenho modulou a eficiência do controle mediante

feedback corrente da interceptação a objetos com velocidade variável,

especialmente quando o tempo para implementação de correções foi reduzido.

A explicação para esses resultados pode ser atribuída à influência

do nível de estabilização do desempenho nos atrasos visuo-motores típicos do

controle através do feedback corrente. Os atrasos sensório-motores são

apontados como um dos maiores problemas do controle através do feedback

corrente (ZAGO et al., 2009; WOLPERT; DIEDRICHSEN; FLANAGAN, 2011).

Esses atrasos podem variar entre 150 e 250 ms (BRENNER; SMEETS; DE

88

LUSSANET, 1998; SAUNDERS; KNILL, 2003, 2005). Isso significa que as

correções nos movimentos não podem ser realizadas instantaneamente em

resposta às mudanças ambientais ou detecção de erros motores. Porém, tem

sido demonstrado que a experiência prévia pode minimizar os efeitos negativos

dos atrasos visuo-motores durante o controle via feedback sensorial (MCLEOD,

1987; LE RUNIGO; BENGUIGUI; BARDY, 2005). Por exemplo, há evidências

de que sujeitos com maior nível de experiência são mais precisos durante a

interceptação de objetos que se movem com velocidade variável (aceleração e

desaceleração) em comparação aos sujeitos pouco experientes. O

desempenho superior foi atribuído aos menores atrasos visuo-motores dos

sujeitos mais experientes em relação aos sujeitos menos experientes, o que

aumenta a possibilidade de correções bem sucedidas na interceptação durante

a sua execução (LE RUNIGO; BENGUIGUI; BARDY, 2005). Portanto, a

superestabilização do desempenho pode ter potencializado os mecanismos de

controle via feedback corrente de forma a minimizar os problemas de atrasos

visuo-motores, e assim, parece ter possibilitado maior eficiência nas correções

da interceptação quando a restrição temporal foi maior.

89

9. CONCLUSÕES

O presente estudo foi conduzido para investigar a influência do nível

de estabilização do desempenho e do padrão de velocidade do objeto móvel

sobre o controle visuo-motor da interceptação. Compreender como o nível de

estabilização do desempenho modula o controle visuo-motor durante a

interceptação em contextos dinâmicos e como o controle visuo-motor da

interceptação é modificado diante de diferentes padrões de velocidade do

objeto móvel ainda é um desafio na literatura sobre o tema.

Os achados deste estudo permitem concluir o nível de estabilização

do desempenho alcançado na prática afeta o controle visuo-motor da

interceptação de objetos móveis em contextos dinâmicos. A prática até a

superestabilização do desempenho proporciona aquisição de competências

sensório-motoras que melhora a eficiência da combinação de estratégias de

controle preditivo e prospetivo na interceptação, e consequentemente, resulta

em desempenho superior durante as ações de interceptação,

independentemente do padrão de velocidade do objeto móvel. Ou seja, a

superestabilização resulta em aprimoramento dos mecanismos de controle via

pré-programação e feedback corrente. As estratégias de busca visual quando a

superestabilização do desempenho é alcançada podem fornecer indicativos

ainda durante o processo de aprendizagem de aprimoramento desses

mecanismos.

Além disso, o padrão de velocidade do alvo móvel não influencia o

controle visuo-motor nas ações de interceptação. Os resultados aqui

encontrados sugerem que as interceptações na presença de objetos móveis

com velocidade constante ou variada são realizadas pela combinação de

estratégias de controle preditivo e feedback corrente. Além disso, essa forma

de controle não parece ser modificada diante de mudanças no padrão de

velocidade do objeto móvel, mesmo quando ocorrem modificações no tempo

total de deslocamento durante a aproximação para a zona de contato.

90

REFERÊNCIAS

AZEVEDO NETO, R. M.; TEIXEIRA, L. A. Control of interceptive actions is based on expectancy of time to target arrival. Experimental Brain Research, v. 199, n. 2, p. 135–143, 2009.

BASTIN, J.; CRAIG, C.; MONTAGNE, G. Prospective strategies underlie the control of interceptive actions. Human Movement Science, v. 25, n. 6, p. 718–732, 2006.

BENDA, R. N. Variabilidade e processo adaptativo na aquisição de habilidades motoras. 2001. Universidade de São Paulo, 2001.

BENDA, R. N. Sobre a natureza da aprendizagem motora: mudança e estabilidade ... e mudança. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 20, n. 5, p. 43–45, 2006.

BLASCHECK, T.; KURZHALS, K.; RASCHKE, M.; BURCH, M.; WEISKOPF, D.; ERTL, T. State-of-the-art of visualization for eye tracking data. EuroVis, p. 63–82, 2014.

BOSCO, G.; MONACHE, S. D.; LACQUANITI, F. Catching what we can’t see: Manual interception of occluded fly-ball trajectories. Plos One, v. 7, n. 11, p. e49381, 2012.

BRENNER, E.; SMEETS, J. B. J. How people achieve their amazing temporal precision in interception. Journal of Vision, v. 15, n. 3, p. 1–21, 2015.

BRENNER, E.; SMEETS, J. B. J.; DE LUSSANET, M. H. Hitting moving targets. Continuous control of the acceleration of the hand on the basis of the target’s velocity. Experimental Brain Research, v. 122, n. 4, p. 467–474, 1998.

BRENNER, E.; VAN DAM, M.; BERKHOUT, S.; SMEETS, J. B. J. Timing the moment of impact in fast human movements. Acta Psychologica, v. 141, n. 1, p. 104–111, 2012.

BROUWER, A. M.; BRENNER, E.; SMEETS, J. B. Hitting moving objects: the dependency of hand velocity on the speed of the target. Experimental Brain Research, v. 133, n. 2, p. 242–8, 2000.

BROUWER, A. M.; BRENNER, E.; SMEETS, J. B. J. Hitting moving objects: is target speed used in guiding the hand? Experimental Brain Research, v. 143, p. 198–211, 2002.

CISEK, P. Internal models. In: BINDER, M. D.; HIROKAWA, N.; WINDHORST, U. (Ed.). Encyclopedia of Neuroscience. [s.l.] Springer, 2009. p. 2009–2012.

CORRÊA, U. C.; BARROS, J. A. D. C.; MASSIGLI, M.; GONÇALVES, L. A.; TANI, G. A prática constante-aleatória e o processo adaptativo de

91

aprendizagem motora: efeitos da quantidade de prática constante. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 21, n. 4, p. 301–314, 2007.

CORRÊA, U. C.; BENDA, R. N.; UGRINOWITSCH, H.; LUSTOSA DE OLIVEIRA, D.; FREUDENHEIM, A. M.; TANI, G. Different faces of variability in the adaptive process of motor skill learning. Nonlinear Dynamics, Psychology, and Life Sciences, v. 19, n. 4, p. 465–487, 2015.

CORREA, U. C.; TANI, G. Aparelho de timing coincidente em tarefas complexasSão Paulo, 2004. .

COUTO, C. R. Efeitos do nível de estabilização do desempenho na adaptação a perturbações imprevisíveis inseridas após o início do movimento. 2012. Universidade Federal de Minas Gerais, 2012.

DAVIDS, K.; SALVESBERGH, G.; BENNETT, S. J.; VAN DER KAMP, J. Interceptive actions in sport: information and movement. London: Routledge, 2002.

DE LA MALLA, C.; LÓPEZ-MOLINER, J. Predictive plus online visual information optimizes temporal precision in interception. Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance, v. 41, n. 3, p. 1–10, 2015.

DESMURGET, M.; GRAFTON, S. Forward modeling allows feedback control for fast reaching movements. Trends in cognitive sciences, v. 4, n. 11, p. 423–431, 2000.

DESMURGET, M.; PÉLISSON, D.; ROSSETTI, Y.; PRABLANC, C. From eye to hand: planning goal-directed movements. Neuroscience and Biobehavioral Reviews, v. 22, n. 6, p. 761–788, 1998.

DESSING, J. C.; BULLOCK, D.; PEPER, C. L. E.; BEEK, P. J. Prospective control of manual interceptive actions: comparative simulations of extant and new model constructs. Neural Networks, v. 15, n. 2, p. 163–79, 2002.

DUBROWSKI, A.; CARNAHAN, H. Control strategies when intercepting slowly moving targets. Journal of Motor Behavior, v. 33, n. 1, p. 37–48, 2001.

DUBROWSKI, A.; LAM, J.; CARNAHAN, H. Target velocity effects on manual interception kinematics. Acta Psychologica, v. 104, n. 1, p. 103–118, 2000.

DUCHOWSKI, A. T. Eye tracking methodology: theory and practice. London: Springer, 2007.

FLANAGAN, J. R.; WING, A. M. The role of internal models in motion planning and control: evidence from grip force adjustments during movements of hand-held loads. The Journal of Neuroscience, v. 17, n. 4, p. 1519–28, 1997.

92

FONSECA, F. D. S.; BENDA, R. N.; PROFETA, V. L. D. S.; UGRINOWITSCH, H. Extensive practice improves adaptation to unpredictable perturbations in a sequential coincident timing task. Neuroscience Letters, v. 517, n. 2, p. 123–127, 2012.

FONSECA, F. S. Os efeitos do nível de estabilização do desempenho na adaptação a perturbações perceptivas imprevisíveis. 2009. Universidade Federal de Minas Gerais, 2009.

GOODALE, M. A. Transforming vision into action. Vision Research, v. 51, n. 13, p. 1567–1587, 2011.

GOODALE, M. A. How (and why) the visual control of action differs from visual perception. Proceedings of the Royal Society B, v. 281, p. 01–09, 2014.

GOODALE, M. A.; HUMPHREY, G. K. The objects of action and perception. Cognition, v. 67, p. 181–207, 1998.

GOODALE, M. A.; MILNER, A. D. Separate visual pathways for perception and action. Trends in Neurosciences, v. 15, n. 1, p. 20–25, 1992.

IMAMIZU, H.; KURODA, T.; MIYAUCHI, S.; YOSHIOKA, T.; KAWATO, M. Modular organization of internal models of tools in the human cerebellum. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 100, n. 9, p. 5461–5466, 2003.

IMAMIZU, H.; MIYAUCHI, S.; TAMADA, T.; SASAKI, Y.; TAKINO, R.; PÜTZ, B.; YOSHIOKA, T.; KAWATO, M. Human cerebellar activity reflecting an acquired internal model of a new tool. Nature, v. 403, n. 6766, p. 192–195, 2000.

ITO, M. Control of mental activities by internal models in the cerebellum. Nature Reviews, v. 9, n. 4, p. 304–13, 2008.

KATSUMATA, H.; RUSSELL, D. M. Prospective versus predictive control in timing of hitting a falling ball. Experimental Brain Research, v. 216, n. 4, p. 499–514, 2012.

KAWATO, M. Internal models for motor control and trajectory planning. Current Opinion in Neurobiology, v. 9, p. 718–727, 1999.

KAWATO, M.; KURODA, T.; IMAMIZU, H.; NAKANO, E.; MIYAUCHI, S.; YOSHIOKA, T. Internal forward models in the cerebellum: fMRI study on grip force and load force coupling. Progress in Brain Research, v. 142, p. 171–188, 2003.

LA SCALEIA, B.; ZAGO, M.; LACQUANITI, F. Hand interception of occluded motion in humans: a test of model-based versus on-line control. Journal of Neurophysiology, v. 114, n. 3, p. 1577–1592, 2015.

93

LAND, M. F. Motion and vision: why animals move their eyes. Journal of Comparative Physiology, v. 185, n. 4, p. 341–352, 1999.

LAND, M. F. Vision, eye movements, and natural behavior. Visual Neuroscience, v. 26, n. 1, p. 51–62, 2009.

LAND, M. F.; MCLEOD, P. From eye movements to actions: how batsmen hit the ball. Nature Neuroscience, v. 3, n. 12, p. 1340–5, 2000.

LE RUNIGO, C.; BENGUIGUI, N.; BARDY, B. G. Perception-action coupling and expertise in interceptive actions. Human Movement Science, v. 24, n. 3, p. 429–445, 2005.

LEE, D.; PORT, L.; GEORGOPOULOS, A. P. Manual interception of moving targets. Experimental Brain Research, v. 116, p. 421–433, 1997.

LEE, T. D.; SWANSON, L. R.; HALL, A. L. What is repeated in a repetition? Effects of practice conditions on motor skill acquisition. Physical Therapy, v. 71, n. 2, p. 150–156, 1991.

LEITE, C. M. F. Efeitos da organização da prática variada sobre a adaptação motora a perturbações previsíveis e imprevisíveis. 2014. Universidade Federal de Minas Gerais, 2014.

MANOEL, E. J. Desenvolvimento motor: implicações para a Educação Física Escolar I. Revista Paulista de Educação Física, v. 8, n. 1, p. 82–97, 1994.

MCLEOD, P. Visual reaction time and high-speed ball games. Perception, v. 16, n. 1, p. 49–59, 1987.

MCLEOD, P.; JENKINS, S. Timing accuracy and decision time in high-speed ball games. International Journal of Sport Psychology, v. 22, n. 3, p. 279–295, 1991.

MERCHANT, H.; ZARCO, W.; PRADO, L.; PÉREZ, O. Behavioral and neurophhysiological aspects of target interception. In: STERNAD, D. (Ed.). Progress in Motor Control. Chicago: Springer, 2009. 629p. 201–220.

MIALL, R. C.; JENKINSON, N.; KULKARNI, K. Adaptation to rotated visual feedback: a re-examination of motor interference. Experimental Brain Research, v. 154, n. 2, p. 201–210, 2004.

MIALL, R. C.; WOLPERT, D. M. Forward models for physiological motor control. Neural Networks, v. 9, n. 8, p. 1265–1279, 1996.

MILNER, A. D.; GOODALE, M. A. Two visual systems re-viewed. Neuropsychologia, v. 46, n. 3, p. 774–785, 2008.

MONTAGNE, G. Prospective control in sport. International Journal of Sport Psychology, v. 36, n. 2, p. 127, 2005.

94

MÜLLER, S.; ABERNETHY, B. Batting with occluded vision: an in situ examination of the information pick-up and interceptive skills of high- and low-skilled cricket batsmen. Journal of Science and Medicine in Sport, v. 9, n. 6, p. 446–458, 2006.

PANCHUK, D.; VICKERS, J. N. Using spatial occlusion to explore the control strategies used in rapid interceptive actions: predictive or prospective control? Journal of Sports Sciences, v. 27, n. 12, p. 1249–1260, 2009.

PROFETA, V. L. D. S. Nível de estabilização na resposta a perturbações imprevisíveis: efeitos sobre o feedback corrente e o feedforward. 2009. Universidade Federal de Minas Gerais, 2009.

REGAN, D. Visual factors in hitting and catching. Journal of Sports Sciences, v. 15, n. 6, p. 533–558, 1997.

RODRIGUES, S. T. O movimento dos olhos e a relação percepção-ação. In: TEIXEIRA, L. A. (Ed.). Avanços em Comportamento Motor. São Paulo: Movimento, 2001. p. 122–146.

RODRIGUES, S. T.; VICKERS, J. N.; WILLIAMS, A. M. Head, eye and arm coordination in table tennis. Journal of Sports Sciences, v. 20, n. 3, p. 187–200, 2002.

ROSE, G. J. A multi level approach to the study of motor control and learning. Boston: Allyn and Bacon, 1997.

SARLEGNA, F. R.; MUTHA, P. K. The influence of visual target information on the online control of movements. Vision Research, v. 110, p. 144–154, 2014.

SAUNDERS, J. A.; KNILL, D. C. Humans use continuous visual feedback from the hand to control fast reaching movements. Experimental Brain Research, v. 152, n. 3, p. 341–352, 2003.

SAUNDERS, J. A.; KNILL, D. C. Humans use continuous visual feedback from the hand to control both the direction and distance of pointing movements. Experimental Brain Research, v. 162, n. 4, p. 458–473, 2005.

SCHMIDT, R. A.; WRISBERG, C. A. Aprendizagem e performance motora: uma abordagem da aprendizagem baseada no problema. 4a. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

SEIDLER, R. D.; NOLL, D. .; THIERS, G. Feedforward and feedback processes in motor control. NeuroImage, v. 22, n. 4, p. 1775–1783, 2004.

TANI, G. Criança e movimento: o conceito de prática na aquisição de habilidades motoras. In: KREBS, R. J.; COPPETTI, F.; BELTRAME, T.; ULSTRA, M. (Ed.). Perspectivas no estudo do desenvolvimento infantil. Santa Maria: SIEC, 1999. p. 121–139.

95

TANI, G. Processo adaptativo em aprendizagem motora: o papel da variabilidade. Revista Paulista de Educação Física, n. 3, p. 55–61, 2000.

TANI, G. Processo adaptativo: uma concepção de aprendizagem motora além da estabilização. In: TANI, G. (Ed.). Comportamento motor: aprendizagem e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 60–67.

TANI, G.; CORREA, U. C.; BASSO, L.; BENDA, R. N.; UGRINOWITSCH, H.; CHOSHI, K. An adaptive process model of motor learning: insights for the teaching of motor skills. Nonlinear Dynamics, Psychology, and Life Sciences, v. 18, n. 1, p. 47–65, 2014.

TEIXEIRA, L. A.; CHUA, R.; NAGELKERKE, P.; FRANKS, I. M. Use of visual information in the correction of interceptive actions. Experimental Brain Research, v. 175, n. 4, p. 758–763, 2006a.

TEIXEIRA, L. A.; CHUA, R.; NAGELKERKE, P.; FRANKS, I. M. Reprogramming of interceptive actions: time course of temporal corrections for unexpected target velocity change. Journal of Motor Behavior, v. 38, p. 467–477, 2006b.

TEIXEIRA, L. A.; LIMA, E. D. S.; FRANZONI, M. M. The continuous nature of timing reprogramming in an interceptive task. Journal of Sports Sciences, v. 23, n. 9, p. 943–950, 2005.

TRESILIAN, J. R. The accuracy of interceptive action in time and space. Exercise and Sport Sciences Reviews, v. 32, p. 167–173, 2004.

TRESILIAN, J. R. Hitting a moving target: perception and action in the timing of rapid interceptions. Perception and Psychophysics, v. 67, n. 1, p. 129–149, 2005.

TRESILIAN, J. R. Sensorimotor control and learning: an introduction to the behavioral neuroscience of action. London: Palgrave Macmillan, 2012.

TRESILIAN, J. R.; LONERGAN, A. Intercepting a moving target: effects of temporal precision constraints and movement amplitude. Experimental Brain Research, v. 142, n. 2, p. 193–207, 2002.

TRESILIAN, J. R.; PLOOY, A. Systematic changes in the duration and precision of interception in response to variation of amplitude and effector size. Experimental Brain Research, v. 171, n. 4, p. 421–35, 2006.

TRESILIAN, R.; OLIVER, J.; CARROLL, J. Temporal precision of interceptive action: differential effects of target size and speed. Experimental Brain Research, v. 148, n. 4, p. 425–38, 2003.

UGRINOWITSCH, H. Efeito do nível de estabilização do desempenho e do tipo de perturbação no processo adaptativo em aprendizagem motora. 2003. Universidade de São Paulo, 2003.

96

UGRINOWITSCH, H.; BENDA, R. N. Contribuições da aprendizagem motora: a prática na intervenção em educação física. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 25, n. spe, p. 25–35, 2011.

UGRINOWITSCH, H.; BENDA, R. N.; CORRÊA, U. C.; TANI, G. Extensive Practice Improves Adaptation to Predictable Perturbations in a Sequential Coincidente Timing Task. American Journal of Life Sciences, v. 2, n. 2, p. 90–95, 2014.

UGRINOWITSCH, H.; DOS SANTOS-NAVES, S. P.; CARBINATTO, M. V; BENDA, R. N.; TANI, G. Motor skill adaptation depends on the level of learning. World Academy of Science, Engineering and Technology, v. 77, p. 956–960, 2011.

WERNER, J. S.; CHULAPA, L. M. The new visual neurosciences. Cambridge: MIT Press, 2014.

WIJDENES, L. O.; BRENNER, E.; SMEETS, J. Comparing online adjustments to distance and direction in fast pointing movements. Journal of Motor Behavior, v. 45, n. 5, p. 395–404, 2013.

WIJDENES, L. O.; BRENNER, E.; SMEETS, J. B. J. Online Manual Movement Adjustments in Response to Target Position Changes and Apparent Target Motion. Motor Control, v. 18, p. 44–54, 2014.

WOLPERT, D. M. Computational approaches to motor control. Trends in Cognitive Sciences, v. 1, n. 6, p. 209–216, 1997.

WOLPERT, D. M.; DIEDRICHSEN, J.; FLANAGAN, J. R. Principles of sensorimotor learning. Nature Reviews Neuroscience, v. 12, p. 1–13, 2011.

WOLPERT, D. M.; FLANAGAN, J. R. Motor prediction. Current Biology, v. 11, n. 18, p. R729–R732, 2001.

WOLPERT, D. M.; GHAHRAMANI, Z. Computational principles of movement neuroscience. Nature Neuroscience, v. 3, n. Suppl, p. 1212–1217, 2000.

WOLPERT, D. M.; GHAHRAMANI, Z.; FLANAGAN, J. R. Perspectives and problems in motor learning. Trends in Cognitive Sciences, v. 5, n. 11, p. 487–494, 2001.

WOLPERT, D. M.; GHAHRAMANI, Z.; JORDAN, M. I. An internal model for sensorimotor integration. Science, v. 269, p. 1880–1892, 1995.

WOLPERT, D. M.; KAWATO, M. Multiple paired forward and inverse models for motor control. Neural Networks, v. 11, n. 7-8, p. 1317–1329, 1998.

ZAGO, M.; BOSCO, G.; MAFFEI, V.; IOSA, M.; IVANENKO, Y. P.; LACQUANITI, F. Internal models of target motion: expected dynamics overrides

97

measured kinematics in timing manual interceptions. Journal of Neurophysiology, v. 91, n. 4, p. 1620–1634, 2004.

ZAGO, M.; BOSCO, G.; MAFFEI, V.; IOSA, M.; IVANENKO, Y. P.; LACQUANITI, F. Fast adaptation of the internal model of gravity for manual interceptions: evidence for event-dependent learning. Journal of Neurophysiology, v. 93, n. 2, p. 1055–1068, 2005.

ZAGO, M.; MCINTYRE, J.; SENOT, P.; LACQUANITI, F. Visuo-motor coordination and internal models for object interception. Experimental Brain Research, v. 192, n. 4, p. 571–604, 2009.

ZHAO, H.; WARREN, W. H. On-line and model-based approaches to the visual control of action. Vision Research, v. 110, p. 190–202, 2015.

98

ANEXOS

99

ANEXO A – Parecer de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Federal de Minas Gerais – COEP/UFMG