estabilização da doença bipolar

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REVISTA BIPOLAR

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editorial

O sentido dos limites e o sentidodo equilíbrio é a melhor atitudepara a estabilidade emocional!

Este lema poderá proporcionar à maioria daspessoas a estabilização da doença Bipolar, inde-pendentemente da tipologia diagnosticada e ca-racterizada nesta revista com o tema:"Estabilização da Doença Bipolar".

Uma atitude atenta aos sinaisde crise (sentinela) poderá evitar umsurto "maníaco" ou eufórico assimcomo uma viragem para adepressão.

É um facto que sintomatologiadesta patologia, ainda, continua a ser descon-hecida da maioria das pessoas devido à insufi-ciente psicopedagógica, a nível nacional, tendoem vista a prevenção, habilitação e educaçãopara a saúde.

As pessoas diagnosticadas com as patologiasUnipolar e Bipolar, têm hoje acessibilidade auma variada gama de psicofármacos os quaisproporcionam menos recorrências, sofrimento e

crises, ou seja, uma maior estabilização.Contudo, é da maior importância para pessoas

com estas desvantagens, participarem em activi-dades no campo da Reabilitação Psicossocial,complementares ao diagnóstico e à terapêuticamedicamentosa, tendo em vista a aprendizagemde novas atitudes e práticas a fim de terem umavida mais saudável, qualidade de vida e ganhosde saúde.

A Associação ao longo de 15 anos de existên-cia, tem sido o guia e reduto afectivo para mi-lhares de pessoas com as patologias Unipolar eBipolar.

É gratificante constatar o respeito e consider-ação das entidades oficiais, instituições públicase privadas.

Ao longo dos anos foi possível implantar emPortugal, a maior associação da área da saúdemental, com resultados positivos, na promoçãoe consciencialização da Doença Unipolar eBipolar.

Este saldo positivo é fruto do empenho e de-dicação da pequena equipa de colaboradores evoluntariado social e do grande núcleo de diri-gentes que tiveram o engenho e a arte, para con-duzir os destinos da Associação com sentido doslimites e sentido do equilibrio…

Delfim Augusto Oliveira

Presidente da Direcção Nacional da ADEB

[email protected]

Índice

SÍNTESE DO ESTATUTO EDITORIALÖ Editoriais temáticos;

Ö Publicação de documentos técnicos e científicos sobre as doenças

mentais em geral, e em especial sobre a doença Unipolar e Bipolar;

Ö Informação pedagógica de modo a contribuir para a Reabilitação,

Educação e Prevenção daqueles que sofrem da doença Unipolar e

Bipolar;

Ö Entrevistas, artigos de opinião e documentários;

Ö Divulgação e testemunhos de pacientes e familiares;

Ö Relatório das actividades sociais desenvolvidas pela ADEB;

Ö Consultório jurídico abrangendo todos os ramos do Direito;

Ö Espaço para divulgação das potencialidades dos associados no

campo cultural, recreativo e social;

ESCREVA E DIVULGUE A REVISTA BIPOLAR

Estabilização da Doença Bipolar 3

Quando ter um filho leva a uma

tempestade de sentimentos 5

Missão - Qualidade de Vida 6

Hospitalização Psiquiátrica e

Internamento Compulsivo 8

Breve História da ADEB 11

Ser Psicólogo na Realidade Portuguesa 12

Fórum Sócio-Ocupacional 16

Winston Churchill - Biografia 18

A outra metade da garrafa - Testemunho 20

Livros e Guias 22

Aniversário da ADEB 22

Breves 23

Editorial

REVISTA BIPOLAR

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tema de capa

ESTABILIZAÇAO DA DOENÇA BIPOLAR

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COMO EVOLUI?

De que tipos de crises (acessos ou fases)sofrem as pessoas com Doença Bipolar? Comque frequência voltam a ter recorrências, a sofr-er novas crises? Algumas pessoas têm umnúmero igual de crises de euforia ou excitaçãoirritável (mania) e de depressão. Outras têm prin-cipalmente crises de um tipo, de depressão oude euforia. Em média, uma pessoa que sofre deDoença Bipolar tem quatro crises durante osprimeiros 10 anos da doença. Embora possahaver um intervalo de anos entre duas ou trêsprimeiras crises, a sua frequência é maior se nãose fizer o tratamento estabilizador apropriado.As crises podem corresponder às mudanças deestação em padrões variáveis, no “rebentar” e no“cair” da folha, no Inverno e no Verão. Algumaspessoas têm crises frequentes ao longo do ano,por vezes, mesmo, ciclos ininterruptos de euforiae depressão. As primeiras crises podem ser des-encadeadas por factores emocionais ou stress,mas à medida que a doença evolui, se a pessoanão fizer o tratamento estabilizador (preventivo),as crises podem surgir com maior frequência esem factores precipitantes dignos de relevo.

As crises podem durar dias, meses ou mesmoanos. Em média, sem tratamento, as fases demania e hipomania (euforia leve) durarampoucos meses, enquanto as depressões arras-tam-se muitas vezes por mais de seis meses. Hádesignações especiais para cada forma deevolução da Doença Bipolar:

Bipolar IA pessoa sofre crises de mania ou crises mistas (sintomas de

depressão e mania misturados) e, quase sempre, também temfases depressivas. As crises voltam a repetir-se excepto se fizer otratamento preventivo.

Bipolar IIA pessoa tem crises depressivas graves e fases leves de

elevação do humor (hipomania). As crises de elevação dohumor podem não ser identificadas ou referidas porque odoente se sente “acima do normal” com muita energia ealegria, sem perturbações óbvias. Se o tratamento for sópara a depressão, com uma medicação exclusivamentecom antidepressivos, não se verifica uma estabilização,podendo surgir crises frequentes e uma viragem do humor.

Ciclos RápidosA pessoa tem pelo menos quatro crises por ano, em qual-

quer combinação de fases de mania, hipomania, mistas edepressivas. Corresponde a uma evolução que atingeentre 5 e 15% dos doentes com Doença Bipolar. Pode, emalguns casos, resultar de uma terapêutica demasiadointensiva e prolongada com antidepressivos, em vez daadequada terapêutica de estabilização do humor.

COMO SE TRATA A

DOEN˙A BIPOLAR?

Naturalmente, as indicações que aqui ficamsão as essenciais para o reconhecimento dadoença pelo doente e os familiares, mas nãodevem levar a minimizar o papel do médicopsiquiatra, elemento chave no tratamento. Pelocontrário, o melhor conhecimento e reconheci-mento da doença e dos aspectos gerais do trata-mento visa permitir uma colaboração mais acti-va entre todos, doente, família, médico psiquia-tra, médico de família e outros técnicos de saúde(enfermeiro, psicólogo, técnico de serviçosocial).

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No tratamento da Doença Bipolar há que terem conta, por um lado, as fases agudas e, poroutro, a estratégia de prevenção das crises.Quando o doente sofre uma crise de depressão,de mania, hipomania, ou mista, precisa de sertratado na fase aguda com a terapêutica apropri-ada antidepressiva, anti-maníaca ou antipsicóti-ca, sendo necessária, em muitos casos, a hospi-talização no período crítico. Depois de tratada afase aguda e na continuidade do seu tratamento,inicia-se a terapêutica preventiva das crises paraevitar que voltem a ocorrer. Para que o tratamen-to seja eficaz é necessária uma medicação (tantopara a fase aguda como para a estabilização dadoença), acompanhada de uma educação dodoente e dos familiares (sobre a doença, osmedicamentos, a necessidade de aderir ao trata-mento, modificação de hábitos nocivos). Podeser benéfico um apoio psicológico para o doentee seus familiares (como lidar com os problemase o stress, etc).

A MEDICA˙ˆO?

Os medicamentos mais importantes no trata-mento dos sintomas da Doença Bipolar são osestabilizadores do humor e os antidepressivos.Mas o médico pode ter necessidade de receitaroutros medicamentos, como os antipsicóticos,os ansioliticos e os hipnóticos. Para a prevençãodas crises e a estabilização da doença são essen-ciais os medicamentos designados, com toda apropriedade, estabilizadores do humor. É impor-tante agora dar algumas informações sobreestes últimos medicamentos.

O QUE SˆO E QUAIS SˆO OS

ESTABILIZADORES DE HUMOR?

Os medicamentos estabilizadores do humorsão a base essencial da terapêutica preventivadas fases depressivas e eufóricas da DoençaBipolar. A sua descoberta e utilização revolucio-nou o tratamento da doença, permitindo amuitas pessoas o controle da PerturbaçãoBipolar através de uma prevenção das crises. Apar desta acção terapêutica essencial, os estabi-lizadores do humor também são utilizados parao tratamento das crises de mania, hipomania eestados mistos e podem atenuar os sintomas dedepressão.

Cada um destes três estabilizadores do humortem diferentes acções químicas no organismo.Se um não for eficaz no tratamento ou tiverefeitos adversos persistentes o médico tem apossibilidade de escolher outro, ou de combinardois em doses que permitam uma melhor tol-erância e eficácia. Há análises para determinar onível sanguíneo dos três estabilizadores dohumor, permitindo o controle correcto da doseem cada doente.

Prevenção, eis a palavra-chave. Os estabi-lizadores do humor (lítio, valproato, carba-mazepina) são a base de prevenção. Cerca de umterço das pessoas com Doença Bipolar ficamcompletamente livres de sintomas com amanutenção estabilizadora apropriada. A maior-ia das pessoas beneficia de uma grande reduçãono número e na gravidade das crises. O médicopoderá ter de fazer um acerto da medicação ouuma outra combinação terapêutica caso se con-tinuem a verificar crises de mania ou depressão.Caso a medicação não seja 100% eficaz, nãofique desencorajado: a informação rápida domédico sobre sintomas de instabilidade é essen-cial para um ajustamento terapêutico queprevina a eclosão de uma crise. O doente nuncadeve recear informar o médico sobre quaisquermudanças de sintomas, pois dessa informaçãoprecoce depende o controle da doença. Se sentirmudanças no sono, na energia (aumento oudiminuição), no humor (alegria excessiva, irri-tabilidade ou tristeza) e no seu comportamentoe relações com pessoas, será melhor contactarcom o médico sem demora.A manutenção da medicação é outro aspectoessencial. Os medicamentos controlam, mas nãocuram a Doença Bipolar. Ao parar a medicaçãoestabilizadora, mesmo depois de muitos anossem crises, há um sério risco de uma recaídapassadas algumas semanas ou meses. E, emalguns doentes, a retoma da medicação podenão se acompanhar dos mesmos bons resulta-dos anteriores. A decisão de interromper a med-icação caberá ao médico, em função de circun-stância que a tal aconselham, como é o caso deuma gravidez.4

tema de capa

Há, presentemente, estabilizadores do humor comprovada-mente eficazes:

Ö Lítio, comercializado, em Portugal, no medicamentoPriadel;Ö Divalproato de Sódio, comercializado nos medicamentosDiplexil R;Ö Valproato de Sódio e Ácido Valpróico comercializado comoDepakine Chrono;Ö Carbamazepina, com o nome comercial Tegretol;Ö Olanzapina, com o nome comercial Zyprexa;Ö Risperidona, com o nome comercial de Risperdal;Ö Quetiapina, com o nome comercial Seroquel e Alzen.

REVISTA BIPOLAR

Em qualquer período da nossa existência podeacontecer a doença mental. Contudo esta é maisprovável nas alturas de grandes desafios (soci-ais, mentais e/ou fisiológicos) como são os detransição entre estados de maturação. Emalguns de nós é mais difícil a puberdade, a pas-sagem para a vida adulta (no seu processo deautonomia) e envelhecer (na adaptação a umaperda de capacidades físicas e de exigências,mesmo sociais). A mulher tendo o privilégio depoder gerar uma vida enfrenta pelo menos maisdois períodos críticos: o da gravidez e parto e oda menopausa (na qual tal privilégio lhe é tira-do).

A gravidez leva geralmente a um bem estarpsicológico enquanto o corpo se modifica e"cede". O nascimento do filho leva a enfrentaruma nova realidade: a simbiose dos dois seres,mãe e filho, deixa de ser implícita para passar ater de ser explicita. O "jogo" passa a ser inter-acti-vo. Tal facto exige da mulher uma excepcionalabnegação e entrega, levando-a a sucessivosmovimentos de abdicação de si própria. A"Tristeza da maternidade" ou "Post-partum blues"é um distúrbio do humor que consiste em labili-dade emocional, frequentes sentimentos de tris-teza ainda que ligeira, de desamparo e crises dechoro. Tais episódios são geralmente de curtaduração (de cerca de uma semana) e aparecemgeralmente após o 3º dia a seguir ao parto. Estasituação observa-se em cerca de 50 a 80 % dasmulheres. É provável que a sua origem estejatambém ligada às alterações hormonais queocorrem neste período. Com efeito, este distúr-bio é mais frequente nas mulheres com históriade síndroma pré-menstrual (sensação de mal-estar físico e psicológico que se inicia geral-mente com a ovulação e se agudiza poucos diasantes do período menstrual).

Embora muito menos frequente (de 1 a 2 emcada 1000 partos) pode acontecer que a mulherque teve um filho desenvolva um quadro dedepressão grave que pode incluir diminuição deenergia, perda de auto-estima, irritabilidade esentimentos incapacidade e mesmo de culpabil-idade. Nalguns casos a sintomatologia psicóticaé mais severa e a mãe pode sentir que não seinteressa pelo bébé, que quer mal tanto a sicomo ao recém-nascido. Esta sintomatologiapode incluir ideias delirantes de que o bébé tem

anomalias graves, não nasceu ou de que estámorto. Quando existem alucinações a mãe pode"ouvir" vozes que lhe ordenam para fazer mal aobébé. O suicídio pode ocorrer nas psicoses puer-perais.

Se na situação de "Post-partum blues" é pos-sível encontrarmos alguma lógica antropológicana medida em que a mãe se recolhe e tenta com-pensar os sentimentos de tristeza e de desam-paro por um reforço da sua ligação ao bébé, jána situação de depressão grave e de psicosepuerperal tal não é possível e tais situações têmde ser encaradas como patológicas. Com efeitoos "Post-partum blues" evoluem geralmente paraa completa normalidade ao fim de sete a dezdias exigindo apenas alguma vigilância. Já adepressão grave deve ser tratada com o apoiofamiliar em ambulatório recorrendo ao uso deantidepressivos sedativos e apoio psicoterapêuti-co. A psicose puerperal além da instituição deterapêutica psicofarmacológica , requer a hospi-talização como medida de prevenção do suicídioe do infanticídio. A importância do diagnóstico edo tratamento precoce é ainda importante por severificar que o prognóstico é favorável quandoassim acontece. Pelo contrário quando o diag-nóstico e o tratamento da psicose puerperal tar-dam, além dos riscos inerentes, verifica-se umamaior tendência para a cronicidade de resistên-cia à terapêutica.

Assim o despiste, durante a gravidez, de fac-tores de risco para desenvolver uma psicosepuerperal deveriam ser sistematicamentepesquisados. Entre estes estão naturalmente osantecedentes pessoais de doença psiquiátricamas ainda outros factores como: - falta de moti-vação ou sentimentos ambivalentes em relação àgravidez; - precário suporte socio-económico; -antecedentes de perda precoce (p. ex: perda damãe na infância); - conflitos de identidade se-xual; - situação de conflito grave quer conjugal,quer familiar e a ausência física ou emocional dopai durante a gestação.

Vale a pena acrescentar que as situaçõesdescritas têm sido sub-diagnosticadas e queuma maior sensibilização pode realmente fazertoda a diferença em termos de evolução eprognóstico.

António SampaioAssistente Graduado de Psiquiatria do H.J.M.

TER UM FILHO LEVA A UMA TEMPESTADE DE SENTIMENTOSQuando

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A ideia do que é a saúde sempre esteve maisou menos associada ao que nós entendemos porbem-estar, ainda que este não tenha sido enten-dido sempre da mesma maneira. No que respei-ta à prestação dos cuidados de saúde,Hipócrates (460 a.C. - 377 a.C.) soube apresen-tar num dos seus belos aforismos o objectivo emrelação ao qual as tarefas dos profissionais sedeveriam nortear, rumo a um tratamento dignifi-cante das pessoas doentes: "Curar, algumasvezes; aliviar, frequentemente; dar apoio, sem-pre".

Apesar de os alicerces terem sido fundadosdesde a Antiguidade Grega por aquele filósofo damedicina, tais ensinamentos nem sempre encon-traram reverberação nas práticas de cuidados epolíticas de saúde, e a proposição de que o serhumano deveria ser compreendido e tratadocomo um todo, e não apenas à luz de umsomatório, permaneceu na penumbra ao longode vários séculos. Se procurarmos estudar aaplicação daquele princípio hipocrático nocampo da saúde mental, a forma como este tipode doentes foi discriminado e tratado ao longoda História - desde a simples exposição públicapara fins lúdicos, passando pela exorcização erituais de purificação religiosa, até à anomia dapessoa com sujeição a tratamentos fisicistas epor vezes contraproducentes - ilustra a incon-gruência que atravessou as diversas definiçõesde doença mental, com as suas devidas impli-cações nas abordagens da medicina e dasociedade.

Aparentemente menos problemática, a noçãode saúde sempre teve essa presença implícita,sobreposta pela preocupação com o patológico,o risco e a correcção, que ao fazer deslocar ofoco de atenção clínica de conceitos como aresiliência, o bem-estar e a promoção de saúde,se traduzia numa prática baseada mais na elim-inação de agentes patogénicos do que na acti-vação de agentes salutogénicos. A meradefinição negativa de saúde, ou seja, "como oestado em que não se está doente" foi em parteultrapassada pela concepção apresentada pelaOrganização Mundial de Saúde (OMS) em 1948,

que a descrevia como "o completo bem-estar físi-co, psicológico e social e não apenas a ausênciade enfermidade", numa síntese em que se faziamsentir as ideias prévias do senso comum e dapesquisa filosófica em torno da "felicidade",assim como o princípio holístico de que o todo émais que a soma das partes. A título ilustrativo,o facto de uma pessoa percorrer todos osserviços e consultas de especialidade hospita-lares sem que qualquer enfermidade lhe sejadiagnosticada, não é o equivalente de se estarconsiderando o seu bem-estar.

Uma nova visão de "estado de saúde" viria aser apresentada pelo Grupo da Qualidade deVida da OMS em 1994 como "a percepção doindivíduo sobre a sua posição na vida, no contex-to de cultura e sistema de valores nos quais estáinserido e em relação aos seus objectivos, expec-tativas, padrões e preocupações" - uma posiçãoque enfatiza tanto a natureza multidimensionaldo construto da qualidade de vida, como a suasubjectividade. Da teoria à prática, as unidadesque constituem a rede do serviço nacional desaúde deverão comprometer-se, no âmbito doscuidados que prestam, e sobretudo na coope-ração estabelecida entre si, com uma inter-venção direccionada mas consciente e participa-tiva de um quadro mais global do bem-estar dosutentes. Os hospitais, centros de saúde, insti-tuições privadas de solidariedade social, comu-nidades terapêuticas e centros de reabilitação,quando devidamente coordenados, facilitam oritmo dos processos de atendimento, evitandosobrecargas e listas de espera escusas, favore-cendo a abrangência daquelas áreas de saúdeque não raras vezes se esbatem ou se perdemnum regime especialista e que tornam aprestação de cuidados mais morosa e limitativa.

O grupo da OMS que em 1994 apresentouaquela definição lata e conciliadora de qualidadede vida, é também o autor de um questionário decem itens para a sua avaliação, o WHOQOL-100,que se encontra amplamente traduzido em maisde quarenta idiomas, encontrando-se actual-mente em curso o processo de validação destaescala para português de Portugal . Os domínios

MISSÃO:QUALIDADE DE

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de qualidade de vida contemplados por esteinstrumento são seis e apresentam-se no quadroà esquerda.

Tratando-se de um instrumento pioneiro nestepromissor paradigma de saúde, as suas impli-cações e utilidades na prossecução da melhoriada qualidade dos serviços de saúde prestadosaos utentes do sistema nacional são várias: podeser usado como auxiliar na prática clínica; comoforma de aperfeiçoar a relação entre os profis-sionais de saúde e o doente; como instrumentode avaliação e comparação de resposta a difer-entes tratamentos ou ainda, de uma forma geral,os serviços e as políticas de saúde. Elementoaglutinador das compreensões parcelares doestado de saúde, a integração do conceito dequalidade de vida no funcionamento e gestãodas unidades de saúde permitirá tão só saber seum indivíduo está melhor, mas também até queponto ele se sente bem.

Dos parâmetros de saúde delineados inicial-mente pela OMS derivaram três grandes objec-tivos missionários na prestação de cuidados desaúde: o controlo dos sintomas, a diminuição damortalidade e o aumento da expectativa de vida.Porque se trata efectivamente de uma missão,palavra derivada do latim missum e que signifi-ca "enviado", é então a altura de analisarmos seo caminho trilhado pelos profissionais de saúdese tem vindo a concretizar nessa tal "saúde", ouseja, numa tradução global positiva dascondições de existência de cada pessoa e da suarelação com o mundo. Ter uma vida de quali-dade não é (só) ter muitos anos para viver. OProfessor Marcelo Fleck, estudioso da qualidadede vida no Brasil, criticou recentemente umperíodo de tempo em que "na busca de acrescen-tar anos à vida, era deixada de lado a necessi-dade de acrescentar vida aos anos"…

Carlos CaronaPsicólogo

Quinta da Conraria, Coimbra

* Maria Cristina CANAVARRO, Adriano VAZ SERRA, Carlos CARONA, Luís QUINTAIS, MarcoPEREIRA, Mário SIMÕES,Manuel João QUARTILHO, Daniel RIJO,

Sofia GAMEIRO & Tiago PAREDES;Validação das versões dos instrumentos de avaliação da qualidade de vida da Organização

Mundial de Saúde; Universidade de Coimbra: Faculdade de Medicina e Faculdade dePsicologia e de Ciências da Educação.

QUALIDADE DEDomínio IFísico

Ö Dor e desconfortoÖ Energia e fadigaÖ Sono e repouso

Domínio IIPsicológico

Ö Sentimentos positivosÖ Pensamento, Aprendizagem, Memória eConcentraçãoÖ Auto-estimaÖ Imagem corporal e aparênciaÖ Sentimentos negativos

Domínio IIINível de IndependŒncia

Ö MobilidadeÖ Actividades da vida quotidianaÖ Dependência de medicação ou tratamentosÖ Capacidade de trabalho

Domínio IVRelaçıes Sociais

Ö Relações pessoaisÖ Suporte socialÖ Actividade sexual

Domínio VAmbiente

Ö Segurança física e protecçãoÖ Ambiente no larÖ Recursos financeirosÖ Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e quali-dadeÖ Oportunidades de adquirir novas informações e com-petênciasÖ Participação em/e oportunidades de recreio/lazerÖ Ambiente físico (poluição, ruído, trânsito, clima)Ö Transporte

Domínio VIAspectos espirituais / Religiªo /

Crenças Pessoais

Ö Espiritualidade / religião / crenças pessoais

VIDAREVISTA BIPOLAR

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HOSPITALIZAÇÃO PSIQUIÁTRICA

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As doenças psiquiátricas colocam, como sesabe, problemas assistenciais distintos das out-ras doenças. Tal fica a dever-se não a umanatureza qualitativamente diferente das doençasmentais em relação às outras doenças, mas aofacto de nas doenças psiquiátricas ficar afectadoo modo de pensar e agir da pessoa, de modomuito acentuado nos doentes mais graves.Acresce a esse facto que, em certos casos o/adoente apesar de estar gravemente perturbadonão se apercebe da sua situação, não toma cons-ciência de que está doente e recusa o tratamen-to psiquiátrico. Uma perturbação mental grave,que pode ocorrer numa agudização daesquizofrenia ou de outra psicose, sem o conve-niente tratamento psiquiátrico, pode ter conse-quências dramáticas para o próprio e para osoutros.

O que poderá acontecer se o/a doente, grave-mente afectado, em ruptura com a realidade nopensar e no agir, não for tratado? Poderá ocorreruma conduta de perigo para o próprio e para osoutros. Poderá agravar-se mais e mais umadoença que o tratamento a tempo e horas pode-ria suster, evitando uma deterioração da perso-nalidade.

A hospitalização psiquiátrica é um meio parainstituir um tratamento adequado quando éinviável a assistência habitual em regime de con-sultas, no ambulatório e na comunidade. Podeser indispensável, para repor o equilíbriopsíquico através do tratamento em regime deinternamento por um período de dias ou se-manas (raras vezes meses) na Clínica Hospitalar,permitindo um apoio reforçado de equipas demédicos psiquiatras, enfermeiros e outros técni-cos de saúde mental.

1. Hospitalização VoluntáriaPara a psiquiatria como para as outras espe-

cialidades médicas e cirúrgicas o ideal será sem-pre proceder a um tratamento com a anuência econcordância do paciente e da família. O doenteapercebe-se que está numa crise grave, que nãoé possível tratar sem ser hospitalizado. Procuraajuda, solicita a hospitalização; ou concorda como internamento hospitalar proposto pelo médico,na consulta ou na urgência. Será esta a solução

melhor, a que se deve proceder sempre que pos-sível. Uma hesitação em aceitar a proposta deinternamento, um não inicial, uma recusa até,poderão ser ultrapassadas, em muitos casos,com uma explicação paciente e um contacto po-sitivo da equipe de urgência, de modo a vencer abarreira e a teimosia. O doente pode acabar porcompreender que o internamento ser-lhe-á bené-fico, como em vezes anteriores, permitindo orepouso, o sono, a acalmia, a protecção, a vi-gilância médica e de enfermagem, enfim, a ava-liação e o controle da doença num prazo relativa-mente curto.

Mas numa percentagem significativa, anecessária hospitalização psiquiátrica não é pos-sível com o consentimento do/a doente. A recusaao tratamento é absoluta e sem solução, numasituação de gravidade e riscos. Terá de se pro-ceder, então, ao internamento compulsivo, paraassegurar o tratamento de que o doente tantocarece, sob pena de se criarem situações de peri-go.

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PSIQUIÁTRICA E INTERNAMENTO COMPULSIVO

22. Internamento Compulsivo(ou hospitalizaçªo involuntÆria)

Diz a lei 36/98, de 24 de Junho, que se odoente mental grave, por força da doença criaruma "situação de perigo para bens jurídicos, derelevante valor, próprios ou alheios, de naturezapessoal ou patrimonial e recuse submeter-se aonecessário tratamento médico pode ser interna-do em estabelecimento adequado"; e, ainda,caso "não possua o discernimento para avaliar osentido e alcance do consentimento, quando aausência do tratamento deteriore de forma acen-tuada o seu estado" (artº 12).

Dado haver uma limitação à liberdade dopróprio de decidir sobre os actos médicos ehavendo uma limitação da sua liberdade dedeslocação, por força da hospitalização compul-siva ou involuntária, no nosso sistema jurídico sócom a autorização do Tribunal esse procedimen-to pode ser legitimado. Mas, é bom que se diga,não deixa de ser um acto médico, precedido deuma avaliação clínica, para tratamento de umdoente, não uma medida de segurança, menosainda algo que se pareça com uma acto derepressão ou de polícia.

A intervenção judicial não torna a hospitaliza-ção compulsiva uma medida com finalidadesdiferentes da hospitalização voluntária. A inter-venção judicial tem uma função de garantia elegitimação das restrições acima referidas,visando o seu enquadramento legal, o seu con-trole e adequação. Sublinhe-se: o doente nãopassa a ser arguido num processo, antes, porqueprivado temporariamente do seu querer e poder,para ser tratado da doença que não reconhece,tem de ficar tutelado e protegido pela lei.

2.1. Procedimento de urgŒncia

Quando há fortes razões para um internamen-to compulsivo, coloca-se a necessidade de umaassistência médico-hospitalar rápida, para quesejam sustidos riscos iminentes, para os bensreferidos na primeira parte do artº 12. A lei per-

mite o procedimento de urgência (Secção IV)que, na prática, é utilizado para a grande maio-ria dos internamentos compulsivos.

Quem determina a condução do doente? Se severificarem os pressupostos acima referidos, asautoridades de polícia ou de saúde pública, ofi-ciosamente ou a requerimento, podem determi-nar, através de mandado, que o doente seja con-duzido ao serviço de urgência psiquiátrica maispróximo do local onde se encontra a pessoa (artº23).

Segundo os termos da lei o mandado écumprido pelas forças policiais, com o acompan-hamento sempre que possível dos serviços doestabelecimento referido no artigo seguinte.Infelizmente os serviços de psiquiatria e saúdemental, por carência de meios humanos e porprática inexistente, têm estado ausentes desteprocedimento, deixando às autoridades de polí-cia, em exclusivo, esta tarefa, que fica assimmais facilmente conotada como medida de segu-rança.

O doente é avaliado no serviço de urgênciapsiquiátrica, podendo ser confirmada pelo médi-co especialista a necessidade ou não do interna-mento compulsivo (artº 25). Caso o doente sejainternado, sem o seu consentimento, por decisãodo médico de urgência, o tribunal judicial seráimediatamente informado, devendo pronunciar-se no prazo máximo de 48 horas para decidir damanutenção ou não do internamento (artº 26).Depois seguir-se-ão os procedimentos legaispara a manutenção e controle do internamento,com avaliações clínico-psiquiátricas de doismédicos ao 5º dia, para decisão final, aos 2meses, e na alta, dada pelo director clínico dohospital, sendo sempre informado o tribunal.

Em qualquer momento o doente poderáaceitar a hospitalização voluntária, dispondo-sea um consentimento do internamento e trata-mento que lhe é proposto, o que faz cessar o"internamento compulsivo" (artº 8- 1).

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2.2. Procedimento gerais do inter-

namento compulsivo

É da maior conveniência que as pessoas inter-essadas em requer o internamento compulsivo,em particular os familiares do doente, sedebrucem sobre a lei, nomeadamente sobre osartigos 12º (já acima referido), 13º e 14º.

No artigo 13º estabelece-se que têm legitimi-dade para requerer o internamento compulsivo orepresentante legal do doente, qualquer pessoacom legitimidade para requerer a sua interdição,as autoridades de saúde pública (delegado desaúde) e o Ministério Público.

Caberá também a um médico que constateuma situação clínica que se enquadre dentro danecessidade de um eventual procedimento deinternamento compulsivo, que o comunique àautoridade de saúde pública.

No artigo 14º estabelece-se que o requerimen-to escrito deve ser dirigido ao tribunal compe-tente, devendo conter a descrição dos factos e apretensão do requerente, levando em anexo,sempre que possível, relatórios clínico-psiquiátri-cos e psicossociais de interesse para o juiz.

A decisão final para o internamento compulsi-vo, sem o procedimento de urgência explanadoacima, leva algumas semanas, sendo precedidopor uma avaliação por dois psiquiatras (artº15º),seguindo-se uma "sessão conjunta" (artº 19º) queprepara a decisão final de internamento compul-sivo ordinário, não urgente (artº 20).

Não sendo uma situação da máxima urgênciacompreende-se que a tónica seja posta na cuida-dosa avaliação com partilha de informação dodoente, dos familiares, dos médicos e dos ma-gistrados, antes da hospitalização compulsiva. Oideal seria que o doente fosse persuadido aaceitar o tratamento e internamento voluntáriosou, então, o tratamento compulsivo ambulatório(artº33), ficando a hospitalização para caso hajaincumprimento do tratamento ambulatório.

3. ConclusãoA hospitalização ou internamento psiquiátrico

é um meio para tratamento de doentes em esta-do de maior gravidade e que dificilmente sepoderiam compensar sem o internamento. Masse houver um bom acompanhamento pelaequipa de saúde mental, se o diagnóstico for pre-

coce e a intervenção terapêutica atempada, se sefizer um bom seguimento após a alta, se afamília apoiar e o doente compreender a neces-sidade do tratamento psiquiátrico, poderá orecurso à hospitalização ser diminuído ou evita-do.

Se houver lugar para uma hospitalização nãodeverá ser retardada. Será preferível que amesma seja proposta numa consulta normal enão numa urgência, indiciadora de uma maiorgravidade, com sofrimentos, perdas e riscos. Nasituação extrema fica o internamento compulsi-vo, sinal de um maior descontrole, de uma rup-tura com o tratamento, de sérios riscos para opróprio e os outros.

A melhoria na assistência médica, apoio,tratamento e reabilitação psicossocial dosdoentes com psicoses graves, são factores paraque o internamento compulsivo seja uma medi-da excepcional, a recorrer com menor frequên-cia, dado o melindre e complexidade a todos osníveis que envolve.

Dr. José Manuel JaraMédico Psiquiatra

Presidente do Conselho Científico e Pedagógico da ADEB

HOSPITALIZAÇÃO PSIQUIÁTRICA E INTERNAMENTO COMPULSIVO

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Inspirados no brilhante trabalho desenvolvidopela “Depression and Bipolar Support Alliance(DBSA - www.dbsalliance.org), no apoio aosdoentes depressivos e bipolares e familiares, nosEstados Unidos da América, um grupo dedoentes, familiares, médicos e técnicos de saúdemental sentiu a necessidade de fundar aAssociação de Apoio aos Doentes Depressivos eManíaco-Depressivos, (ADMD), em Portugal, em5 de Junho de 1991, por , tendo a escrituranotarial sido lavrada.21 de Agosto de 1991.

Está registada na Direcção Geral de AcçãoSocial com o n.º 18/93, em 19 de Fevereiro1991, como Instituição Particular deSolidariedade Social de utilidade publica, comfins de saúde.

A ADEB, tem como âmbito o território nacional,abrange doentes, familiares, médicos, psicólogos,enfermeiros e técnicos de serviço social e outrosprofissionais e tem como objectivos, nomeadamente:

Ö A reabilitação psicossocial com vista a desenvolver econservar o equilíbrio da pessoa com doença mental;

Ö Promover a acção médica especializada junto dacomunidade, e divulgando conhecimentos sobre asdoenças mentais;

Ö Apoiar a célula familiar, facultando informações paraa justa integração social do paciente bem como a suaestabilidade;

Ö Apoiar e orientar os utentes desempregados nainserção ou reinserção profissional, em cooperação comos centros de emprego;

Ö Apoiar o adolescente tendo em vista uma avaliaçãoe um encaminhamento que permita um diagnóstico pre-coce, de modo a prevenir o agravamento da doença epossibilitar mais ganhos de saúde;

Ö Criar um Fórum Sócio-Ocupacional permitindo àspessoas em reabilitação o desenvolvimento de com-petências e aptidões sociais, artísticas e vocacionais,cruciais a uma positiva recuperação e realização de umprojecto de vida;

Ö Implementar o Apoio Domiciliário Integrado, tendoem vista assistir e acompanhar a pessoa no domicíliovisando adquirir autonomia, recuperação de aptidõesessenciais para viver com saúde e qualidade de vida.

As duas faces em meia Lua, simbolizam a alegria e a tristeza, retratam a reali-dade nua e crua, de pessoas que sofrem das patologias Unipolar e Bipolar, numemblema a duas cores, pintado pela mãe natureza.Delfim Augusto Oliveira

HISTÓRIA DAASSOCIAÇÃO DE APOIO AOS DOENTES DEPRESSIVOS E BIPOLARES

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A Associação de Apoio aos DoentesDepressivos e Bipolares (ADE8) tem SedeNacional em Lisboa. Delegação na RegiãoNorte (Porto) e Delegação na Região Centro(Coimbra) e o propósito de criar, a médioprazo, núcleos no Alentejo (Évora) e noAlgarve (Faro).

A ADEB é, actualmente, a maior

Associação na área da Saúde Mental e a

única que presta apoio aos doentes

Unípolares e Bipolares e seus familiares, a

nível nacional.Quanto mais pessoas perceberem que as

perturbações do humor são doençaspassíveis de tratamento médico - e não umdefeito de carácter ou uma malformação dapersonalidade - mais poderemos minimizaros graves prejuízos humanos e económicosInevitavelmente associados a estas doenças.

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As raízes históricas da psicologia, como ciên-cia, remontam ao século XIX. Inicialmente, atendência prioritária foi advogar à mesma o carizlegítimo de Ciência, sendo que se procedeu àinstauração de cânones advindos da correntePositivista. Esta defendia a necessidade doobjecto de estudo (campo de estudo) ser mensu-rável, observável, sendo que este seria passívelde ser registado, bem como as conclusões/re-gistos se repetiriam sempre que as mesmascondições se encontrassem reunidas (Métodopositivo, experimental e métrico). Como seráfácil de deduzir, o objecto de estudo da psicolo-gia, o ser humano e suas características, nemsempre são passíveis de tal objectividade eassepsia. De qualquer forma, a psicologia con-seguiu demonstrar a sua eficácia, enquanto ciên-cia, recorrendo ao estudo do que é observável: ocomportamento (Psicologia Comportamental).Conquanto, outras características do serhumano, também e paralelamente, forma sendoestudadas, tal como, por exemplo, a análise demecanismos inconscientes (associação deideias, introspecção, entre outras). Tendopreenchido os requisitos para se poder legitimarcomo Ciência, na sua evolução, outras correntesforam ganhando relevo, tais como, o PsicologiaCognitiva, a Psicologia Social…

Desta forma, a psicologia foi imbuída de

carácter mundial, tendo-se bipartido em duasgrandes vertentes de investigação e desenvolvi-mento, a psicologia Americana e a psicologiaEuropeia. No que diz respeito a Portugal, surgeem 1912 o primeiro laboratório de psicologia,em Coimbra, através do Doutor Alves dosSantos. Desde já, poderá surgir a questão aoleitor: se já se implementou a psicologia desde1912, porque será que o papel do psicólogoainda se encontra tão difuso em Portugal? Éacerca desta temática que visará o próximoponto.

Actualmente, vivenciam-se tempos de notóriodesconforto, em termos individuais e/ou fami-liares, devido ao estado de crise económica dopaís, aos défices de empregabilidade, aos pro-blemas em lidar com os filhos, os idosos caren-ciados, em suma, estados de sofrimento psi-cológico. A afluência a e os pedidos de acompa-nhamento psicológico aumentam, sendo a pre-sença do psicólogo interpretada comonecessária, apesar de nem sempre ser possívelaceder aos imensos pedidos, especialmente nosector público, carenciado de técnicos, (tal comoadvoga o Conselho Nacional de Saúde Mental -2002) e saturado de listas de espera. Se não,vejamos, o povo português é dos que mais con-some, na Europa, anti-depressivos, drogas, bem

"Os hábitos são a vitória dotempo sobre a vontade"

Montaigne

O pensador: músculo e espírito (Rodin, 1880)

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como o índice de suicídio é dos mais elevados.Urge, desta forma, a necessidade de reconheceros psicólogos como detentores de conhecimentoválido e de seriedade, bem como de regulamen-tar e controlar o mesmo conhecimento e desem-penho. Relativamente a este último aspecto, aFederação Europeia das Associações dePsicólogos Profissionais, postula no meta códigode ética (Julho de 1995) a sua responsabilidadede assegurar o cumprimento dos princípiosdeontológicos e éticos das Associações filiadas.Porém, será que existe representatividade signi-ficativa de Associações Portuguesas nesteOrganismo? Existe, todavia, em grande minoria.O Sindicato Nacional dos Psicólogos, por exemp-lo, faz-se representar, apresentando diversas pro-postas ao mesmo. Será necessário caminhar nosentido de uma maior relevância neste âmbito.

Mesmo assim, em primeira instância, é minhaopinião a importância de primeiro regular aactividade dos psicólogos a nível Nacional,avaliando e denunciando todas as incongruên-cias existentes no exercício da psicologia, inde-pendentemente da corrente ou ramos. Em segui-da, far-se-á o levantamento de algumas situaçõestípicas do nosso país, deixando em abertofuturas contribuições para esta temática, vistoser necessário contrariarem-se os hábitos quevão anulando a vontade.

Começarei por referir que, desde o estadoembrionário de decisão da prossecução de estu-dos conducentes à finalização da licenciatura empsicologia, existem diversos défices. Na tran-sição do 3º ciclo para o ensino secundário, serianecessário uma melhor avaliação do plano cur-ricular que contempla o ensino da psicologia(com objectivo de prosseguir o estudo desta áreaa nível do ensino superior). Paralelamente, quemdeveria leccionar as respectivas disciplinas depsicologia? Os filósofos e os sociólogos, de facto,possuem uma visão um tanto ou quantoabrangente dos conceitos básicos da psicologia,todavia como relacioná-los e exemplificá-los coma prática? Não seria, também, necessário levar acabo uma selecção vocacional dos candidatos aoestudo superior de psicologia? Não se pretendeafirmar que mesmo assim não irão existir os"bons" e os "maus" profissionais em psicologia!Contudo, se é uma prática baseada na relação eenvolvência do saber "ouvir e observar", será que

escolhendo esta área como quinta ou sextaopção constitui o melhor prognóstico?Relativamente, aos planos curriculares e insti-tuições que leccionam este curso, deveria existiruma maior homogeneidade e legitimidade. Aquestão da Ordem dos Psicólogos poderia e de-veria intervir, também, nesta área (esta temáticaserá melhor abordada posteriormente), bemcomo no âmbito da qualificação.

Saberá o leitor que existem casos em Portugalque só porque um aluno frequentou umaFaculdade de Psicologia e de Ciências daEducação, podendo ser do curso de Ciências daEducação, consegue obter a Carteira Profissionalde Psicólogo? Bem como, por exemplo, do cursode Psicopedagogia Curativa? Basta para isso, apessoa recorrer a uma loja do cidadão, levandoalguns documentos, porém ninguém averigua asua certificação académica. Da mesma forma,existem profissionais, que através de pós-gradu-ações a nível de consulta psicológica, comduração de cerca de dois anos, são incentivados

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a exercerem psicoterapia. Este grau de especia-lização só é obtido através de supervisão conti-nuada (por norma, três anos), após a frequênciado curso de psicologia com duração de cincoanos (ao todo, oito anos). Será de referir que, porvezes, o que interessa é o lucro, visto a maiorprocura destas consultas, e não a qualidade eseriedade dos serviços prestados. Seria de todoútil efectuar um estudo do grau de satisfação daspessoas que acorrem às consultas de psicologia,bem como quanto ao próprio profissional que asfaculta. Neste âmbito, será, também, de referirque muitos psicólogos não dispõem decondições físicas (setting terapêutico) ade-quadas nos seus locais de trabalho paraexercerem um bom acolhimento e desenrolar daconsulta. Da mesma forma, vêm-se "obrigados" aprestar os seus serviços a um grande número deconsulentes num espaço de tempo diminuto, oque está em desacordo, também, com osparâmetros defendidos pela Lei de SaúdeMental, no que diz respeito aos direitos e deveresdos utentes.

O próprio regime, em que os técnicos destaárea prestam os seus serviços, é na maior partedas vezes mediante vínculos precários com aentidade patronal, (sendo que esta poderárescindir o contracto a qualquer momento) bemcomo mesmo em regime de voluntariado, nãoremunerado. Esta situação constata-se visto exis-tir uma grande oferta de psicólogos no mercado,paradoxal com as listas de espera existentes,que conduzem à exploração da "mão-de-obra"barata, mas especializada!!! Está comprovadoque esta situação de instabilidade leva a que osserviços prestados não sejam da melhor quali-dade. Agora, questiono o leitor, para além dospsicólogos, quem é prejudicado por esta situa-ção? As pessoas que solicitam os serviços dopsicólogo, em estados de sofrimento e debili-tação.

Visto este ponto já se estar a tornar longo, voutentar abreviar alguns parâmetros que nãogostaria de deixar de referir. Existem instituiçõesque não compreendem e privam os psicólogosda necessidade de formação contínua, (mesmoem termos de Doutoramento) tendo estes quetentar adaptar-se aos últimos dias de Colóquiosque, por acaso, por vezes contemplam o Sábado.Dentro do próprio núcleo da classe profissional

dos psicólogos, por vezes, existem discussõesem torno de assuntos minores, que conduzem àsua desfragmentação… Quiçá, devido aos tãoenfatizados "lobbies"? O Estado teima em nãodesbloquear vagas para psicólogos, demonstran-do-se, na maior parte das vezes, pouco receptivoa propostas elaboradas por Associações repre-sentativas desta classe profissional. Foi, porexemplo, o caso de um Secretário de Estado daSaúde face a propostas do Sindicato Nacionaldos Psicólogos que remetiam para a compartici-pação do Estado nas consultas de psicologia,bem como para a equiparação a estágios da car-reira de Técnico Superior de Saúde. De igualforma, já desde 2002 que as tabelas salariais depsicólogos a trabalhar em IPSS's (InstituiçãoParticular de Solidariedade Social) e emMisericórdias não são revistas, ajustadas, nemtão pouco aumentadas. No próximo ponto irãoser abordadas algumas formas de lidar e ultra-passar estas situações.

"A protecção da Saúde Mental efectiva-seatravés de medidas que contribuam para assegu-rar ou restabelecer o equilíbrio psíquico dos indi-víduos, para favorecer o desenvolvimento dascapacidades envolvidas na construção da per-sonalidade e para promover a integração críticano meio social em que vive", postula-se na Lei daSaúde Mental. Que medidas? Para além dasreferidas anteriormente, é importante referir acriação, de uma vez por todas, da Ordem dosPsicólogos, com vista a assegurar a prestação deserviços com qualidade e excelência, a uma me-lhor avaliação de desempenho e gestão de car-reira. Estas são constituídas por um acto legisla-tivo (lei ou decreto-lei), partilhando do "poder deadministrar" do Estado, bem como detendopoderes para disciplinar, tal como satisfazendo asua classe profissional, estabelecendo regrasdeontológicas e aplicando coercivamente opoder disciplinar, satisfazendo necessidadesespecíficas. Esta legislação é de exclusiva com-petência da Assembleia da República, sendo que,em Portugal, já foi apresentado o Projecto de Leipara a Ordem dos Psicólogos e seus estatutos,com o nº 506/IX/03, em fins de 2004.Perguntará, mais uma vez o leitor, só agora? Nãoexistem em Portugal desde 1912? Não.Anteriormente, aquando arquitectura e medicina

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dentária, já foi apresentada por uma outra asso-ciação de psicólogos, a APPORT, a mesma pro-posta. O facto de esta não ter tido qualquerefeito, especula-se que tenha tido relação com amudança de Governo. Actualmente, o Projectode Lei, apresentado pela Associação Pró-Ordemdos Psicólogos (APOP), ainda não foi aprovadovisto ter havido a dissolução da Assembleia daRepública, com posterior eleição de novoGoverno. Esperemos que a história não se repitanovamente, veremos quais as prioridades políti-cas! Obviamente, uma Ordem não acarretasomente benefícios. É necessário reflectir acercadeste aspecto, sendo que o deixo em aberto.Deixarei, também, em aberto as questões dodireito de trabalho e das contratações colectivas.

A Comunicação Social, para além de ser umimportante veículo de promoção da saúde men-tal, será de todo importante na promoção dopsicólogo, no diálogo Estado-Psicólogos.

Seria, também, necessário proceder-se anovos acordos com a Segurança Social, bemcomo com as Companhias de Seguros.

Uma outra vertente: tal como a psiquiatria de“ligação conjunto de actividades exercidas pelos

psiquiatras nos serviços não psiquiátricos”,porque não o psicólogo possuir também legiti-midade para tal? Bem como numa colaboraçãomais estreita e paralela com o psiquiatra da pes-soa a quem presta o seu serviço? Aspecto este,também, advogado pela Lei de Saúde Mental.

Desta forma, esperemos que o estado de des-orientação e crise de identidade da classe dospsicólogos conheça melhores dias! Que o hábitode laisser faire, laisser passer se desvaneça,levando à inovação, rumo à qualidade quer nasua dimensão estrutural, processual e de resul-tados.

Fontes de informação e bibliografia:- www.psicologia.com.pt

- www.snp.pt-www.ordemdospsicologos.pt

- Abreu, M. et al (1999); "O laboratório de psicologia experimental daUniversidade de Coimbra"; FPCE-Universidade de Coimbra;

- "La Communauté psychologique européenne: rétrospective e Prospective" inPsychologica ; Nº 15 ; Revista da FPCE - Universidade de Coimbra ; pag. 7-19.

- "Necessidades em psiquiatria de ligação no Hospital Geral" in PsiquiatriaClínica; Vol. 21; Nº 4; pag. 321-328.

- "O futuro dos departamentos de psiquiatria e saúde mental nos HospitaisDistritais" in Psiquiatria Clínica; Vol. 21; Nº 1; pag. 35-38.

Sónia Cherpe

REALIDADE PORTUGUESANA

FÓRUM SÓCIO-MIN

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Venha conhecer este novo espaço! O funcionamento do Mini-Forum assenta na participação de todos e r

HOR`RIO DO FÓRUM

Horas Segunda Terça Quarta Quinta Sexta

10h00 Atelier deArtesPlásticas

13h00

14h30

ActividadeCultural noExterior

Desenvolvimentode CompetênciasPessoais eSociais Oficina de

Artes eLetras

15h30GrupoMusical16h30 Grupo

Terapêutico

18h00 Sessões deMovimento eDança

Sessões deMovimento eDança

GRUPO TERAPÊUTICO

Programa de Intervenção em Grupo paraDoentes com Distúrbio de Humor tem comoobjectivo Geral a promoção e aceitação dadoença e adesão à terapêutica. Especificamentepretende-se:

Ö aumentar o leque de conhecimentos e informaçõessobre a doença e, particularmente, dos sinais de crise; Ö promover de competências de coping para lidar coma doença; Ö promover da interajuda, da partilha de experiênciase o aprofundamento das relações interpessoais no con-texto grupal;Ö melhorar o ajustamento psicossocial à doença,através da partilha de sentimentos e emoções associ-adas à doença.

Atendendo ao tipo de grupo e aos objectivospropostos estruturam-se 9 sessões semanaiscom a duração de duas horas cada.

O grupo é composto por 8 elementos e éfechado, permitindo um maior comprometimen-to e abertura entre os participantes.

ACTIVIDADE CULTURALNO EXTERIOR

A actividade Visitas no Exterior, enquadradano âmbito do programa do Mini fórum, terálugar todas as Segundas-feiras, a partir das14h30. Têm como objectivos promover, atravésde visitas a Museus, Jardins e demais espaçospúblicos, o prazer de conhecer algumas dasinúmeras formas de expressão de vida e criativi-dade. Pretende-se diversidade, e assim aprecia-remos, quer a beleza estática duma esculturanum Museu, quer o bucolismo das ovelhas noseu ambiente natural. Simultaneamente, quere-mos que a vida nos inspire e nos promova odesenvolvimento pessoal e a mudança, poiscomo dizia Andy Warthol, "Dizem sempre que otempo muda as coisas, mas na realidade somosnós próprios quem tem de as mudar." Façamo-lojuntos.

A Direcção da ADEB vem informartodos os seus associados da abertura do

Mini Fórum Sócio-Ocupacional.Este espaço encontra-se em funciona-mento de segunda a sexta-feira, onde

decorrem várias actividades tendo emvista a estabilidade emocional dos nos-

sos associados. Para participar bastapreencher uma ficha de inscrição e pagar

uma mensalidade, a título de donativo,que pode ir de 2,5� a 15� de acordo com

o rendimento.

DESENVOLVIMENTO DECOMPETÊNCIAS PESSOAIS E SOCIAIS

O objectivo desta actividade passa por ajudaros participantes a fazerem uma melhor auto-avaliação de si próprios e a determinar formasespecíficas de mudar os seus padrões de pen-sar, sentir e actuar.

Os participantes podem comparar as sua per-cepções com as que os outros têm de si, e a par-tir destas decidir o que fazer com esta infor-mação.

O programa engloba 21 sessões, divididas por 5 temas:

Ö Competências RelacionaisÖ Competências CriativasÖ Competências ProfissionaisÖ Competências para a Tomada de DecisãoÖ Competências para a Gestão do Tempo

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SÓCIO- OCUPACIONAL

enha conhecer este novo espaço! O funcionamento do Mini-Forum assenta na participação de todos e renova-se na experiência de cada um!

TÉCNICOS RESPONS`VEIS

Desenvolvimento de Competências Pessoais e Sociais -Ana Isabel Bastos;Sessões de Movimento e de dança - Manuela Cipriano;Grupo Musical - Luís Oliveira;Oficina de Artes e Letras - Carla Pires;Grupo Terapêutico - Sérgio Paixão e Ana Isabel Bastos;Actividade Cultural no Exterior - Ana Lambeck;Atelier de Artes Plásticas - Raquel Pedro;Coordenação da Directora Clínica - Ana Isabel Bastos;Direcção - Delfim Oliveira.

GRUPO MUSICAL

Como o nome da actividade indica, o objectivoé formar um grupo musical. Assim, nesteespaço, pode explorar temas populares por-tugueses desenvolvendo da música e canto.

Pode também ter contacto e iniciar a apren-dizagem de alguns instrumentos como a guitar-ra, o cavaquinho, a drambuca e outros.

Se tem gosto pela música e pelo cantoapareça.

ATELIER DE ARTESPLÁSTICAS

O atelier das artes plásticas integrado no mini-forúm sócio-ocupacional da Associação de Apoioaos Doentes Depressivos e Bipolares, ADEB,apresenta-se todas as semanas (Sexta-feira demanhã, das 10H às 12H).

Numa lógica de estimular os participantespara o processo criativo, este espaço de experi-mentação vai permitir o contacto com múltiplaspropostas artísticas nomeadamente no âmbitoda arte contemporânea, estimulando o interesseface aos materiais e técnicas.

Pretende-se, através de um conjunto de exercí-cios e actividades, atribuir ferramentas aos par-ticipantes para a melhoria das suas capacidadesde expressão e por conseguinte de comuni-cação. Acresce o facto do atelier desenvolveraspectos sensoriais e motores procurandoreforçar a compreensão do mundo que nosrodeia.

A arte é um veículo importante para o exercí-cio da imaginação e para a concretização dediversos projectos que impliquem a criatividadee a expressão individual e conjunta.

Através da pintura, desenho, colagem, entreoutras, vamos desafiar todos os interessados aparticipar neste atelier e a explorar uma áreaincontornável na terapia ocupacional. Não é fun-damental que os participantes tenham algumconhecimento prévio, pois o atelier está estrutu-rado por etapas, por forma a corresponder àsexpectativas de todos os interessados.

OFICINA DEARTES E LETRAS

As pessoas com a Doença Unipolar e Bipolartêm, na sua grande maioria, aptidões paradesenvolverem as suas capacidades artísticas ecriativas.

Neste sentido, foi publicada, pela ADEB, noano 2003, a primeira Antologia Poética, com oapoio e participação dos sócios destaAssociação.

É na sequência deste primeiro trabalho quesurge a "Oficina de Artes e Letras", que temcomo principal objectivo a motivação para aescrita e para o debate de temáticas literárias ecriativas.

A Oficina funciona todas as Quartas-Feiras,das 14h às 16h, na Sede da ADEB.

Os participantes poderão, neste espaço, apre-sentar os seus trabalhos, discutir questões lig-adas a actividades culturais e artísticas, assistirà projecção de filmes e debatê-los.

SESSÕES DEMOVIMENTO E DANÇA

Corpo são em mente sã. Todos já ouvimos osmédicos aconselharem qualquer pessoa apraticar exercício com regularidade. Além dosbenefícios físicos que tal actividade nos trás, obem-estar mental é seguramente mais uma dasvantagens, especialmente para pessoas com dis-túrbio mental.

A pratica de exercício físico provoca a liber-tação de endomorfinas e dopamina no cérebro -substâncias que nos dão uma sensação geral debem estar.

Nas aulas de movimento e dança pretende-seexplorar o conhecimento do próprio corpoatravés de movimentos simples que envolvemuma atenção à postura, ao peso do corpo e àrespiração. Pretende-se também dar espaço àcriatividade e desenvolver a expressão corporal.

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Winston Churchill nasceu em 1874, no seio deuma família bastante influente e com impli-cações políticas. Churchill desde cedo mani-festou a ambição de conquistar, à semelhança dopai, fama e fortuna. Contudo, enquanto criança ejovem, nunca revelou capacidades excepcionaisque fizessem antever o seu Brilhante PercursoPolítico.

Quando Churchill iniciou a sua carreira políti-ca, o império britânico era a maior influênciapolítica no mundo. Entre 1906 a 1922 desem-penhou funções de Subsecretário das Colónias,presidente do Ministério do Comércio e Ministrodo Interior. De 1924 a 1929 foi Ministro dasFinanças e durante a segunda guerra mundial foiPrimeiro-Ministro da Grã-Bretanha.

Enquanto escritor era exímio e capaz de umapersuasiva capacidade de retórica. Os seus dis-cursos e artigos eram fluentes e provocavam aestupefacção dos colegas. Este era incapaz dever outra solução para os problemas que nãofosse a sua. Contudo, a sua excessiva irritabili-dade, hostilidade e atitude crítica enfraquece-ram-no e isolaram-no politicamente.

Churchill foi considerado uma pessoa bril-hante mas impetuosa. Este nunca estava satis-feito consigo próprio, pelo que tentava incessan-temente fazer sempre mais, tendo-se dedicado avárias coisas ao mesmo tempo: escrevia livros,aprendia história, administrava o Ministério daGuerra e empreendia planos grandiosos emtodos os domínios.

A excitação relativamente a qualquer possibi-lidade que se lhe colocava e a dedicação àscausas que defendia foram uma constante nasua vida. As oscilações de humor resultaram eminstabilidade e imprudência em relação à vida eao dinheiro.

A sua extrema capacidade de trabalho faziacom que ficasse acordado toda a noite pois otempo era crucial e não podia ser desaproveita-do.

Churchill tinha períodos de euforia, bem comode depressão severa. Dr. Storr, seu médico ebiografo, relata a existência de episódicos dehumor depressivo, indispensável para o diagnós-tico de doença bipolar. Este enfatiza a profundi-dade e intensidade das fases depressivas deChurchill, sugerindo, também, o seu medo dosuicídio.

A exaustão, o sentimento de incerteza edesespero marcaram o período entre os seustrinta e um e os trinta e dois anos.

A maioria das suas depressões parecem tersido de ordem química ou metabólica, ocorriamsem razão aparente e subsistiam durante longosperíodos. Porém, durante o tempo em que lutoupelo poder estas parecem ter sido despoletadas,ou pelo menos coincidentes, com circunstânciasexternas, nomeadamente uma série dedecepções e derrotas judiciais.

Enquanto Primeiro-Ministro foi capaz de con-trolar melhor os impulsos maníacos, tendodespendido a sua inesgotável energia e entusias-mo na liderança do país durante a SegundaGuerra Mundial. Mesmo com sessenta e setentaanos ficava acordado maior parte da noite, sendocapaz de levar à exaustão os seus colaboradores,muitas vezes pessoas mais novas do que ele. Aosoitenta anos teve vários problemas de saúde,comia demais, bebia e fumava em excesso,todavia a sua vitalidade era incrível, tendo vividoaté à idade dos noventa anos.

Usando a terminologia psiquiátrica deKraepelin, Churchill seria descrito comociclotímico ou maníaco-depressivo. O seu tem-peramento instável constitui parte da herança deChurchill, o que suporta a teoria de que as per-turbações do humor são hereditárias e principal-mente de ordem bioquímica. Porém, nem todosos psiquiatras concordam com esta interpre-tação ou, pelo menos, com o ênfase, atribuídoaos determinantes hereditários

60 anos após o final da 2º Guerra Mundialrecordamos uma figura marcante do Século XX

Winston CHURCHILL

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biografia

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De acordo com o biografo de Churchill, a suacoragem agressiva e dominância não têm raízesnos antecedentes genéticos da sua família,sendo produto da sua determinação e decisãodeliberada. Para este, a actividade frenéticasurge como uma defesa contra a depressão sub-jacente. Esta é a explicação atribuída àsdepressões de Churchill, nomeadamente quandodeixou o Ministério da Marinha em 1915, quan-do perdeu o seu lugar no parlamento em 1922,e quando, em 1931 foi excluído do governo.

O modelo psicanalítico tradicional aplicado àdepressão, incluindo a depressão unipolar e abipolar, defende que os doentes depressivosdependem, caracteristicamente, de factoresexternos para manterem a sua auto-estima.Quando alguma coisa não corre como o espera-do, o depressivo entra em desespero. Segundoeste modelo, a depressão de Churchill corre-sponde à dificuldade de exprimir a raiva, sendoeste o motivo pelo qual as pessoas deprimem.Actualmente, o conceito psicanalítico dedepressão tem cedido lugar às teorias bioquími-cas modernas da elevação do humor edepressão, bem como do seu controlo atravésdo lítio.

A sua história familiar de depressão,depressão maníaca e alcoolismo susten-ta o diagnóstico de doença bipolar,transmitida essencialmente de formagenética e não tanto determinada peloambiente. O meio ajudou a moldar asua personalidade, mas não determi-nou inflexivelmente o percurso da suadepressão maníaca.

As teorias psicanalíticas revelam-seincapazes de explicar a notável capaci-dade de Churchill, a qual lhe permitiuvencer períodos ininterruptos dedepressão durante a velhice. Amaioria dos quimioterapeu-tas modernos teria consi-derado que as suasdepressões teriam dimin-uído espontaneamentede intensidade e desa-parecido com otempo.

Os doentes bipo-lares partilhamalguns aspectosde personali-dade, inde-pendente-

mente das condições económicas e estatutosocial da família de origem, bem como do meioprofissional a que pertencem. Estes traços resul-tam, em parte, da luta contra a flutuação dosníveis de energia. Contudo, nem todos osgrandes Homens possuem energia interna e nemtodos os doentes bipolares têm a capacidade in-telectual ou o talento organizacional deste líderCaso um doente bipolar reúna certas circunstân-cias, inteligência, bem como uma série de fac-tores sociais e culturais pode atingir grandesfeitos, isto quando comparados com sujeitoscom semelhante background, mas que não pos-suem a mesma energia e capacidade de trabal-ho.

Apesar do stress provocado pelo meio em queo sujeito está inserido, o uso profilático do car-bonato de lítio e os anti-depressivos podem pre-venir a instabilidade dos ciclos de humor.Contudo, atribuir exclusivamente o comporta-mento a alterações químicas poderá ser, tam-bém, muito redutor.

A bioquímica moderna, a genética e osestudos clínicos coloca-nos,

no caso de Churchill, pe-rante o diagnostico daDoença Bipolar, sendoque o tratamento pelo

lítio poderia ter contro-lado as suasoscilações de humor.

Tradução e adaptação da obra deDr. Fieve (1989) intitulada

Moodswing e editado pela BantamBooks.

biografia

Naturalmente que, sendo na altura um alunofinalista, a quem só faltava o trabalho de fim decurso para a conclusão da licenciatura, o dia-gnóstico de uma doença crónica do foropsiquiátrico, foi algo que me foi muito difícil deaceitar. O primeiro embate senti-o quando apósa minha primeira fase maníaca, me vi confronta-do com as reacções dos meus amigos e colegasque, por amizade, me interpelavam quando meviam em baixo. Tendo sido ao longo de toda aminha a vida alguém que tinha tido sempre umpercurso de sucesso quer a nível pessoal, quer anível escolar, senti-me pela primeira vez expostonas minhas fragilidades. A constatação de queas pessoas não me procuravam pelos meusméritos, mas por solidariedade, foi uma ver-dadeira tomada de consciência de que o meuproblema me era verdadeiramente incómodo.Depois de uma depressão profunda, com direitoa intenções suícidas, veio um período de estabil-idade. Até esta altura não sentia que a doençame tivesse dado nada que não fosse sofrimentoe dôr. No entanto não foi por isso que, desde odiagnóstico, deixei de seguir escrupolosamentea medicação que me era prescrita e de investircada vez mais no trabalho de autoconhecimentoque desenvolvia, quer em conjunto com o meumédico, quer individualmente. Iniciei a minhavida profissional de uma forma muito promisso-ra, numa empresa de referência no meu sectorde actividade. Mas se explosiva foi a minha alvo-rada na empresa, não o foi menos o seu ocaso.Tudo teve a duração que medeia entre duascrises. A procura do meu segundo emprego, foipara mim, em termos psicológicos, algo de ver-dadeiramente difícil. Não me refiro áquela difi-culdade que qualquer entrevistando sente quan-do vai a uma entrevista, mas ao facto de paramim ser particularmente penoso estar a tentarconvencer alguém a contratar-me, quando eupróprio não me contrataria. Mas lá consegui, erauma empresa pertencente a um gupo financeiro.Tudo correu às mil maravilhas até que essegrupo foi comprado por um outro. Essa alter-ação e toda a incerteza associada, despolotounovo episódio, com as inevitáveis consequên-cias. Passei momentos muito difíceis, masacabei por ser integrado em novas funções, ape-sar destas não terem grande correspondência

A OUTRA METADE D A

O que vos proponho, ao

longo deste testemunho,

é uma reflexão sobre o

crescimento que o meu

Eu fez, desde o momen-

to em que me foi dia-

gnosticada a doença.

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o meu testemunho

D A GARRAFAcom as minhas capacidades ou habilitações. Eraaquele trabalho que existe em todas as empresase que tem de ser feito, mas que ninguém querfazer. Nesta altura, comecei a sentir que todo otrabalho árduo que tinha vindo a efectuar sobrea minha personalidade, com o objectivo deaprender a viver bem com a minha doença, jácomeçava a dar os seus frutos. Não deixei que omeu orgulho me dominasse, o que me iria fatal-mente conduzir a um estado depressivo e tenteitirar o melhor partido daquela situação.Tratando-se de tarefas simples mas enfadonhas,tentei usar toda a minha criatividade para opti-mizar o trabalho que me tinha sido atribuído.Essa racionalização de processos permitiu umamelhor qualidade do trabalho apresentado e,simultâneamente, libertou-me tempo. Comeceientão a realizar, cumulativamente com o meutrabalho inicial, um outro tipo de trabalho maisinteressante. Mas mais do que tudo, o maisimportante foi o capital de confiança que isso megrangeou e que me deu coragem para ir ao mer-cado novamente à procura de emprego. Porquequando as pessoas acreditam e não põem emcausa as suas capacidades, arriscam-se a serbem sucedidas, uma nova oportunidade surgiu epara um lugar de grande responsabilidade.Novamente, a entrada na empresa foi muito boa.Mas, mais uma vez o meu orgulho, ou mais cor-rectamente, o meu orgulho ferido acumulado aolongo de anos de sofrimento, traíu-me sem con-templações. Comecei a trabalhar sem regra,desrespeitando o descanso e acumulando tensãoa olhos vistos. O resultado já o conhecem. Apósde um período de continuidade na empresa,negociei a minha saída da mesma com o objecti-vo de realizar um sonho antigo, constituir umaempresa minha. Entretanto realizei uma pós-graduação na minha actual área de trabalho e aminha empresa já é uma realidade há cerca deano e meio. Mas o propósito deste meu teste-munho não era de fazer um relato exaustivo daminha vida, alguns dos factos mencionados têmcomo objectivo a reflexão que vos queria propôr.É minha firme convicção que, se é verdade que adoença crónica que tenho, tem provocado disso-bores bastante complicados na minha vida, nãoé menos verdade que essa mesma doença e aaprendizagem que tive de fazer para saber viver

harmoniosamente em co-habitação com ela, meproporcionaram crescimentos que, de outraforma, ou só os viria a atingir mais tarde, ouentão nunca os teria atingido. O confronto pre-coce com a morte; com o sofrimento sufocantede quem já não espera nada da vida; com a ver-gonha e o embaraço dos actos do nosso eu adul-terado; com sofrimento e preocupação causadosaos que nos amam; com desespero provocadopelas situações de perda emprego, com ossobressaltos causados pelos recorrentes gastosexcessivos; com os danos provocados na nossaimagem; entre muitas outras situações, vão-nosdando ao longo da vida, uma noção muito maiscorrecta da dimensão real dos problemas, con-tribuindo para que consigamos, cada vez mais,ter o distanciamento suficiente para podermosavaliá-los e resolvê-los da melhor forma, sem nosentregarmos ao desespero e à ansiedade que sóservem para nos angustiar, não contribuindo emnada para a solução.

Esta relatividade do peso de cada aconteci-mento na nossa felicidade como indivíduos éparticularmente relevante no que diz respeito àinteracção que pode ter com algumas caracterís-ticas de personalidade. Estas interacçõesadquirem uma importância que pode ser muitomarcante nas nossas vidas, nomeadamente aonível das manifestações da doença. O maiordesafio não será, provavelmente, banirmos asnossas características de personalidade menosfavoráveis, o verdadeiro desafio é levá-las a umnível em que a sua presença não interfira com anossa qualidade de vida. Sinto que o trabalho deauto-conhecimento que tenho desenvolvido nosúltimos anos, me permite dizer que atingi nestedomínio um equilíbrio que me faz ter muita con-fiança no futuro. Finalmente gostaria de dizerque esse mesmo caminho me trouxe uma novaprespectiva acerca de cada acontecimento.Como era dito num velho anúncio de televisão:"para uns a garrafa está meio cheia, para outrosestá meio vazia". Hoje em dia, no ponto em queme encontro da minha caminhada, mesmo per-ante o mais difícil dos problemas que se medeparam, dou sempre comigo a olhar para a gar-rafa à procura da metade meia cheia.

Sócio nº 484

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REVISTA BIPOLARo meu testemunho

REVISTA BIPOLAR

Existem à venda na ADEB os seguintes livros:

“Ansiedade e Depressão” de Stuart A. Montgomery;

“Petalas Caídas, Sonhos e Vidas” da autoria dos sócios da

ADEB;

“A Manta” de António Sampaio e Nazaré Tojal;

“Perturbação Bipolar” de Francis Mark Mondimore;

"Depressões", de Peter Treppner;

"Uma Mente Inquieta", de Kay Redfield Jamison;

"A Psicologia da Depressão", de Lewis Wolpert;

"As Lógicas da Depressão", de Daniel Widlöcher;

"101 Respostas sobre a Depressão", de Drª Claude

Novikoff e Dr. Jean Pierre Olié;

"Razão Reencontrada", De Dr. José Manuel Jara;

"Ajuda-te pela Psiquiatria", de Frank S. Caprio;

"Era uma vez o Stress e a Depressão", de vários autores;

"Esquizofrenia", de Pedro Afonso;

"Mais Amor Menos Doença", de António Coimbra de

Matos;

"A Depressão: Como Lidar Com Uma Doença Do Nosso

Tempo", de Juan Antonio Vallejo-Nágera.

Associação de Apoio aos Doentes

Depressivos e Bipolares, ADEB

I P S S d e u t i l i d a d e p ú b l i c a c o m f i n s d e S a ú d e

Saú

de M

ental

Estig

ma &Estigma

& Saúde Mental

Doença BipolarO quê? Quem? Onde? Quando? Porquê?...

GUIASADEB

UM GUIA

Associação de Apoio aos Doentes

Depressivos e Bipolares, ADEB

e a Doença

IPSS d

e u

tili

dade p

úbli

ca c

om

fin

s de S

aúde

Lítioe a Doença Bipolar

Manual de Auto-Ajuda

Electrocunvulsivoterapia

Compreender a Doença Obsessivo-Compulsiva

Guia do Divalproato

Carbamazepina e a Doença Bipolar

livros e guias

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Colóquio sobre Saúde Mentale Prevenção em Saúde Mental

AGRADECIMENTOA ADEB agradece o apoio que nos foi concedi-

do pelo Laboratório:

Este apoio foi essencial à organização do 15ºAniversário da ADEB.

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O Movimento de Cidadãos Pró-CuidadosPaliativos e a Nutricia Clinical organizaram, nopassado dia 23 de Março, o 1.º EncontroNacional de Associações de Doentes, um eventonunca antes realizado em Portugal, que tevelugar no Centro de Congressos da Junqueira(antiga FIL).

Participaram cerca de 50 associações de todoo país das mais diferentes áreas como a UniãoHumanitária dos Doentes com Cancro, aAssociação de Apoio aos Doentes Depressivos e

Bipolares, Associação Nacional da EspondiliteAnquilosante, Sociedade Portuguesa deEsclerose Múltipla, Associação Portuguesa paraas Perturbações do Desenvolvimento e Autismo,Liga Portuguesa Contra a Epilepsia, LigaPortuguesa Contra o Cancro, AssociaçãoPortuguesa da Psoríase, Associação PortuguesaContra a Leucemia, entre muitas outras.

O objectivo desta iniciativa foi o de criar umfórum de discussão do associativismo emPortugal e contribuir para a crescente dinamiza-ção do sector que, muitas vezes, se debate comdificuldades de resposta, no dia-a-dia, às neces-sidades dos doentes e/ou associados.

No final do encontro os presentes tiveram aoportunidade de participar na Carta Nacionaldas Associações de Doentes, um documento cri-ado especificamente para este evento que, deforma segmentada e com a identificação dasnecessidades de cada uma das instituições pre-sentes, constituir-se-á uma primeira compilaçãodas dificuldades e necessidades que cadaAssociação sente no trabalho diário.Disponibilizar este documento para um conjuntode entidades governamentais de forma aesclarecer as mesmas sobre o importante papeldas associações portuguesas será um dosgrandes objectivos a atingir.

No âmbito do Programa do Pelouro de AcçãoSocial, organizado pela Divisão de Saúde eAcção Social a Câmara Municipal de Vila Francade Xira pretende promover um colóquio subordi-nado ao tema "Educação e Prevenção em SaúdeMental" em parceria com a equipa do Sr. Dr.António Fonte, do Hospital Júlio de Matos,Clínica da Encarnação (Infância), Clínica daJuventude (adolescentes), e a ADEB (família).Propõe-se para a data da realização, o dia 30 deJunho próximo no Clube Vilafranquense, das9:00h às 17;30h com os seguintes objectivos:

Ö Criar um espaço de reflexão e debate sobre a problemáticada Saúde Mental no Concelho;Ö Dar informação adequada aos técnicos para orientar eapoiar casos que se inserem nesta problemática;Ö Suprimir as conotações sociais negativas da doença men-tal;Ö Combater os falsos mitos, de que as doenças mentais nãosão doenças e "são uma questão de força de vontade";Ö Sensibilizar, educando os mais jovens sobre o problema dasaúde mental;Ö Sensibilizar e informar a comunidade em geral sobre osdistúrbios (mentais) que ocorrem na infância e/ou adolescência;Ö Reflectir sobre estratégias de intervenção local de acção/despiste, prevenção e encaminhamento de casos;Ö Reduzir os preconceitos e o estigma da doença mental;Ö "Devolver" a auto-estima e a estabilidade emocional aosindivíduos.

Primeiro Encontro Nacional reúniu mais de 50Associações de doentes em todo o País.

FIL (Junqueira) foi palco de iniciativa únicaem prol dos doentes portugueses

Um olhar atento e preocupado do Presidente daRepública sobre os problemas da saúde emPortugal, motivou ouvir 40 associações de pes-soas com doença crónica na área da deficiênciae doença mental.As reivindicações relacionadas são demonstrati-vas do quanto é fundamental e premente asAssociaciações forjarem a unidade à volta deuma organização representativa que faça valeros direitos das pessoas com Doença Crónica.Cabe ao Estado assumir o papel de regulador eprestador de cuidados de saúde tendo em vistamais ganhos de saúde com a colaboração eintervenção da sociedade civil.

Um novo olhar na promoçãoda deficiência e Saúde Mental

É importante salientar, em resumo, os temas abordados:

Ö Criação de um Estatuto Jurídico do Doente Crónico;Ö Implementação pelo SNS de um maior acesso às consultasde especialidade;Ö Protecção Social com reconhecimento de bonificação pordeficiência, de subsídio por ferquência em estabelecimento poreducação especial, subsidio mensal vitalício, subsídio deassistência a terceira pessoa, subsídio de dependência/pensãode sobrevivência;Ö Acesso aos seguros de vida, saúde, responsabilidade civile acidentes pessoais;Ö Descriminação positiva para igualdade de oportunidades naconcessão de documento multiusos;Ö Direito ao trabalho e ao emprego;Ö Direito à educação;Ö Direito ao apoio jurídico;Ö Adopção da Classificação Internacional da Funcionalidade,Incapacidade de Saúde.

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