nietzche e educação

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Nietzche e educação

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  • Nietzsche & a Educao Jorge Larrosa

    (Belo Horizonte: Autntica, 2002)

    Pedro Gontijo

    Se podemos dizer que os escritos de um filsofo tem feito estragos e

    milagres no pensamento ocidental no fim do sculo XX e neste incio de sculo

    XXI, este filsofo Nietzsche. Um destempero e arrogncia em ritmo e estilo que

    no permitem a simples indiferena. Ao mesmo tempo, se queremos ler algum

    que tem conseguido no tanto ser um fiel comentador (se que isto exista), mas

    muito mais, tem imprimido um estilo de leitura e trabalho a respeito de Nietzsche,

    temos o professor Jorge Larrosa da Universidade de Barcelona.

    Pois bem, um encontro com estas duas seletas figuras o que encontramos

    em Nietzsche & a Educao publicado pela Editora Autncia. Neste texto Jorge

    Larrosa, numa linguagem potica, num ritmo musical e, as vezes, por que no,

    numa teatralidade convida o leitor a pensar com ele e com Nietzsche. Pensar com

    ambos pois como ele mesmo enfatiza, j no interessa tanto o que Nietzsche

    escreveu, pois isto apenas objeto da histria da filosofia, mas sim o que podemos

    com Nietzsche ou a partir dele pensar. Este pensar e ser, portanto, no tanto

    seguir uma disciplina, mas muito mais uma indisciplina.

    Larrosa se prope a fazer uma leitura de algumas expresses limitadas ou

    como indica, trs motivos (em sentido musical desta palavra) de Nietzsche sob o

    ponto de vista do pensamento da educao.

    O texto organizado em trs partes: No primeiro, a partir de Nietzsche, o

    autor se prope a comentar sobre o papel da leitura na educao em nossos

  • tempos atuais. Entre outras, comenta como a leitura depende de que tipo de

    pessoa o leitor, aponta quais qualidades Nietzsche espera deste leitor e enfatiza o

    estilo deste filsofo como um mestre da leitura que quer leitores que no se

    acomodem e se lancem em direo ao desconhecido. Apresenta a escrita de

    Nietzsche como uma escrita que faz danar e mostra as caractersticas desta

    enquanto postula que o bom leitor o que possui sentidos afiados e que aprendeu

    a danar.

    No segundo motivo Larrosa articula uma srie de comentrios tratando da

    concepo de formao em Nietzsche, onde mostra como o filsofo destri as

    concepes humanistas, historicistas e da cultura de seu tempo. A expresso

    como se chega a ser como se funciona como provocao inicial e permanente

    que percorrer toda esta parte do texto.

    No terceiro motivo Larrosa como que apresenta uma histria da libertao

    da liberdade. Num primeiro momento relata a construo do ideal de homem

    moderno em Kant e depois apresenta as crticas a esta pretenso em Husserl, em

    Horkheimer e Adorno e, por fim, em Heidegger. Retomando Nietzsche a partir de

    Zaratustra, especificamente do texto intitulado As trs metamorfoses, chama a

    ateno a maestria e leveza de Larrosa ao tratar da terceira metamorfose a

    criana, que d muito que pensar e repensar sobre nossos conhecimentos, nossas

    prticas e nossas instituies pedaggicas.

    O autor ainda apresenta, ao final do livro, como que convidando ao leitor a

    continuar a conhecer Nietzsche, uma srie de sugestes bibliogrficas e de pginas

    na internet relacionadas a este.

  • O texto certamente proporciona um encontro com Larrosa e Nietzsche, mas

    no um encontro qualquer. Enxergando um Larrosa que o tempo todo est

    buscando um discurso meio indisciplinado misturado com dana, com msica,

    com pulsao, com vida, este encontro exigente e solicita espritos livres da tal

    liberdade, capazes de pensar por fbulas, gritar e fazer a vida e a educao como

    um se lanar rumo ao inesperado, ao desconhecido, ao inseguro, ao prazer.