newsletter setembro 2013

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Edição # 26 5 de Setembro Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro,Janice Lemos, Ruben Mama e Vanessa Cabanelas/ Layout & design: Ticha / Editor : Ruben Manna Propriedade da JA! Justiça Ambiental , Av:Mao Tse Tung no 549, 1o andar MaputoTel: 21496668 Foto:D.Ribeiro REDD: o Bom, o Mau e o Feio Muito se deve rir o governo à custa das Organizações da Sociedade Civil... Aposto que de tanto sermos motivo de troça, um novo género de comédia rico em anedotas e adivinhas parvas deve estar em voga em certas instituições públicas nacionais. Mas falemos primeiro das coisas sérias e boas, que embora escassas merecem gozar de prioridade, e deixemos as tristezas e a ironia que gostamos de reservar aos hipócritas para último. É lá que ela pertence. Foram dois dias intensos e riquíssimos em troca de experiências e saberes os que vivemos a 26 e 27 de Agosto em Maputo. Todos aqueles que tiveram oportunidade de participar no workshop internacional sobre mecanismos REDD que promovemos aqui na capital, e que foi aberto ao público, poderão certamente dizer que saíram dele muito mais conhecedores do que é o REDD e do porquê que não devemos aceitar a implementação de mais projetos REDD em África. Os representantes das associações camponesas de vários pontos do país que estiveram presentes, manifestaram em várias ocasiões o seu apreço pelo conhecimento que lhes foi passado, o que nos deixa extremamente orgulhosos, pois oportunisticamente, é com base na pouca informação de que estes dispõem que muitas vezes os proponentes destes e outros projetos os aliciam e ludibriam. Os convidados internacionais e os depoimentos com que nos brindaram, enriqueceram imenso o workshop e deram peso e volume à mensagem que nós e algumas outras organizações da sociedade civil há muito tentámos passar. Terminado o workshop, na nossa avaliação preliminar, apesar da teimosia e relutância em aceitarem os factos que lhes apresentámos, concluímos que era de enaltecer a presença dos diversos funcionários de distintos ministérios e direcções nacionais do nosso governo, bem como a forma participativa e despretensiosa como a maioria se fez representar. Mas independentemente de quão “no escuro” algumas destas pessoas poderiam estar em relação à agenda do dia do governo para quem trabalham, hoje, sabendo que enquanto na Malhangalene discutíamos de forma bastante aberta o REDD, e que alguns quarteirões abaixo (em Conselho de Ministros) o executivo aprovava sorrateiramente o Regulamento dos Procedimentos para a Aprovação de projectos REDD+, a mensagem é outra: vocês e/ou aqueles para quem vocês trabalham, mais uma vez, foram profundamente infelizes. Vocês são hipócritas e esta é a prova cabal disso. E ainda têm coragem de vir insinuar que incidentes como o que aconteceu em Palma o mês passado com a directora do CTV são fruto da falta de diálogo entre as OSCs e o governo (como se nós fossemos a parte culpada)! Para depois fazerem isto? Mas que grande “lata”! Podiam ao menos ter nos dito... Havia Directores Nacionais de vários Ministérios na sala. Custanos a crer que ninguém sabia que o REDD estava na agenda do dia do Conselho de Ministros. Uma triste coincidência e certamente tópico para mais uma ou duas piadas que por esta hora já devem estar “batidas” nos gabinetes de alguns ministérios. Gostaríamos de poder dizer que quem ri por último ri melhor, mas sabemos que infelizmente tal não acontecerá. Ninguém mais vai rir. O que acontecerá é bastante mais triste. Enquanto vocês se riem agora, mais tarde chorarão aqueles em nome de quem vocês tomaram essa decisão. Aqueles para quem vocês deviam trabalhar. Será que então pesarvosá a consciência? Mas há mais e pior... Avaliando mais atentamente o workshop e o que nele se debateu, não podemos deixar de colocar na mesa uma pergunta que pode parecer absurda mas que fazemos questão de fundamentar o porquê de a estarmos a colocar: Será que os nossos ilustres Ministros têm uma ideia real do que é o REDD e de qual o papel que Moçambique desempenhará neste mecanismo?

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Newsletter mensal da organização não governamental moçambicana Justiça Ambiental

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Page 1: Newsletter Setembro 2013

Edição # 26 5 de Setembro

Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro,Janice Lemos, RubenMama e Vanessa Cabanelas/ Layout & design: Ticha / Editor : RubenManna

Propriedade da JA! Justiça Ambiental , Av:Mao­ Tse­ Tung no 549, 1o andar ­Maputo­Tel: 21496668 Foto:D.Ribeiro

REDD: o Bom, o Mau e o Feio

Muito se deve rir o governo à custa das Organizações daSociedade Civil... Aposto que de tanto sermos motivo de troça,um novo género de comédia rico em anedotas e adivinhasparvas deve estar em voga em certas instituições públicasnacionais. Mas falemos primeiro das coisas sérias e boas, queembora escassas merecem gozar de prioridade, e deixemosas tristezas e a ironia que gostamos de reservar aos hipócritaspara último. É lá que ela pertence.Foram dois dias intensos e riquíssimos em troca deexperiências e saberes os que vivemos a 26 e 27 de Agostoem Maputo. Todos aqueles que tiveram oportunidade departicipar no workshop internacional sobre mecanismos REDDque promovemos aqui na capital, e que foi aberto ao público,poderão certamente dizer que saíram dele muito maisconhecedores do que é o REDD e do porquê que nãodevemos aceitar a implementação de mais projetos REDD emÁfrica.Os representantes das associações camponesas de váriospontos do país que estiveram presentes, manifestaram emvárias ocasiões o seu apreço pelo conhecimento que lhes foipassado, o que nos deixa extremamente orgulhosos, poisoportunisticamente, é com base na pouca informação de queestes dispõem que muitas vezes os proponentes destes eoutros projetos os aliciam e ludibriam.Os convidados internacionais e os depoimentos com que nosbrindaram, enriqueceram imenso o workshop e deram peso evolume à mensagem que nós e algumas outras organizaçõesda sociedade civil há muito tentámos passar.Terminado o workshop, na nossa avaliação preliminar, apesarda teimosia e relutância em aceitarem os factos que lhesapresentámos, concluímos que era de enaltecer a presençados diversos funcionários de distintos ministérios e direcçõesnacionais do nosso governo, bem como a forma participativa edespretensiosa como a maioria se fez representar. Masindependentemente de quão “no escuro” algumas destaspessoas poderiam estar em relação à agenda do dia dogoverno para quem trabalham, hoje, sabendo que enquantona Malhangalene discutíamos de forma bastante aberta oREDD, e que alguns quarteirões abaixo (em Conselho deMinistros) o executivo aprovava sorrateiramente oRegulamento dos Procedimentos para a Aprovação deprojectos REDD+, a mensagem é outra: vocês e/ou aquelespara quem vocês trabalham, mais uma vez, foramprofundamente infelizes. Vocês são hipócritas e esta é a provacabal disso.E ainda têm coragem de vir insinuar que incidentes como o

que aconteceu em Palma o mês passado com a directora doCTV são fruto da falta de diálogo entre as OSCs e o governo(como se nós fossemos a parte culpada)! Para depoisfazerem isto? Mas que grande “lata”! Podiam ao menos ter­nos dito...Havia Directores Nacionais de vários Ministérios na sala.Custa­nos a crer que ninguém sabia que o REDD estava naagenda do dia do Conselho de Ministros.Uma triste coincidência e certamente tópico para mais umaou duas piadas que por esta hora já devem estar “batidas”nos gabinetes de alguns ministérios. Gostaríamos de poderdizer que quem ri por último ri melhor, mas sabemos queinfelizmente tal não acontecerá. Ninguém mais vai rir. O queacontecerá é bastante mais triste. Enquanto vocês se riemagora, mais tarde chorarão aqueles em nome de quem vocêstomaram essa decisão. Aqueles para quem vocês deviamtrabalhar.Será que então pesar­vos­á a consciência?Mas há mais e pior...Avaliando mais atentamente o workshop e o que nele sedebateu, não podemos deixar de colocar na mesa umapergunta que pode parecer absurda mas que fazemosquestão de fundamentar o porquê de a estarmos a colocar:

Será que os nossos ilustres Ministros têm uma ideia realdo que é o REDD e de qual o papel que Moçambiquedesempenhará neste mecanismo?

Page 2: Newsletter Setembro 2013

Quando o MICOA foi convidado a pronunciar­se sobre umponto do debate, Paula Panguene recusou­se a fazê­loafirmando humildemente que estava lá para aprender e quelamentava que este encontro não tivesse tido lugar mais cedo(Agora entendemos o porquê do “mais cedo”...). Ora, se aDirectora Nacional de Gestão Ambiental não está à vontadepara tecer comentários sobre o REDD, penso que é justoassumirmos que o MICOA não fez bem o seu trabalho decasa.O que por sua vez nos conduz à pergunta óbvia:Vocês realmente acham normal que alguém nos venha pagar para proteger as nossas florestas? Acreditam mesmo naboa vontade dessas companhias? Se sim, vocês são terrivelmente ingénuos, se não, gananciosos e inconsequentes.Seja como for, mais uma vez provaram não ter arcaboiço para lidar sozinhos com este tipo de questões. Podiam terpedido o nosso apoio (de verdade, não por mero exercício democrático), mas não... vocês não precisam de ninguém.Vocês sabem tudo... menos quais os aspectos positivos do REDD.

“Mas quais são os aspectos positivos do REDD? Certamentehaverá alguns...”

É que, a julgar pelo que disse a Directora Nacional de GestãoAmbiental do MICOA no primeiro dia do workshop, não meparece que o governo saiba muito bem onde nos está a meter.

Uma vez aprovado o decreto, a coisa muda de figura.Agora perguntámos­vos nós: Então quais são osaspectos positivos do REDD?

Se o MICOA não sabe bem o que é o REDD, quem informoue aconselhou o Conselho de Ministros? Com base em quê éque este decreto de lei foi aprovado? Nem precisam deresponder.A Rede Contra o REDD em África (NRAN) passou os doisdias do workshop a explicar aos presentes o porquê de serimperativo dizer não ao REDD e a ouvir dos membros dogoverno presentes a mesma questão recorrentemente:

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Declaração de Maputo da NRAN(No REDD In Africa Network)sobre o REDD

O NO REDD em África, reunido em Maputo, Moçambique, nos dias 26 e 27 de Agosto de 2013 durante um semináriointernacional sobre o REDD com participantes de Moçambique e outros países de África, América do Norte e América do Sul,deliberou sobre as implicações de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal (REDD) em África e, porextensão, no Sul global.

Reconhecemos a decisão da reunião realizada na Tunísia em Março de 2013, em que se decidiu sobre a necessidadede uma Plataforma Não­REDD para educar e informar as comunidades e os governos dos países em desenvolvimento sobre osimpactos negativos do REDD em todas as suas formas.

Reconhecemos o facto de que os governos africanos foram emboscados por ofertas e promessas de financiamento dodesenvolvimento que adviriam do REDD e, que por conseguinte adoptaram esta sem a aplicação de pensamento crítico e semefectuar as consultas necessárias.

Agradecemos a participação de membros do governo e representantes de vários departamentos governamentais emcontribuir para o diálogo sobre o REDD. No entanto, notamos a infeliz posição por estes expressa de se manterem inflexíveis naadopção do REDD, apesar do reportório de factos contrários ao seu benefício.Nós abaixo­assinado, notamos e expressamos o seguinte:1. O REDD foi basicamente concebido como um escape para os poluidores de países industrializados poderem continuar apoluir enquanto assumem que a poluição é compensada com florestas noutros lugares;2. O REDD não reduz as emissões e é apenas um projeto de comércio de carbono;3. O REDD não detém o desmatamento, mas adia, desloca ou efectivamente incentiva a conversão de florestas em plantaçõesde monoculturas de árvores;4. O REDD e projetos do tipo REDD levam ao deslocamento de comunidades dependentes da floresta, e à servidão, aoassassíno, à repressão e a outras violações dos Direitos Humanos;5. Grande parte das terras e florestas Africanas foram já vendidas no âmbito de projetos REDD ou estão em vias de seremleiloadas a interesses privados;6. O REDD recompensa empresas madeireiras e agro­negócios;7. Projetos de REDD foram rapidamente implementados pelos governos de países em desenvolvimento com poucaoportunidade para consulta interna e local, com a promessa de financiar o desenvolvimento;8. O REDD representa uma grande ameaça para a segurança da terra, água e alimentação em África, pois é um plano deusurpação de terra à escala continental.Com base no acima disposto e outras considerações, no Workshop declarou­se o seguinte:1. Os governos devem tomar medidas para proteger as nossas florestas do desmatamento e da degradação, e fazê­lo semesperar créditos de carbono;2. Indústrias e países poluidores devem parar as emissões nos seus países, e não desviar a carga para outros;3. A procura e o excesso de consumo são as principais causas de desmatamento e devem ser reduzidas para níveissustentáveis;4. Os governos devem melhorar a fraca e ineficaz governação do sector florestal e garantir que as comunidades que dependemde florestas são devidamente consultadas, e que foi obtido o seu consentimento em relação a acções que envolvem as suasflorestas e os seus recursos florestais;5. Os governos devem facilitar e apoiar uma nova via de desenvolvimento que não tenha a conversão florestal como premissa;6. Os governos devem considerar alternativas de desenvolvimento baseadas nas capacidades históricas das comunidadeslocais, e apenas colaborar com os investidores em projetos elaborados pelos próprios governos, ao invés de aceitar projectos dedesenvolvimento concebidos por outras entidades em benefício dos seus próprios interesses;7. Os governos africanos têm o dever de proteger os recursos das suas nações e os seus cidadãos do perigo da recolonização.

“Quando é que nós saberemos dizer NÃO? ” do mestre Malangatana

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Animais na BoladaNos últimos tempos, tem­se verificado, em Maputo e naMatola, um aumento quase exponencial na população decães, fruto de criações, aliás, comércios de fundo de quintal,que não respeitam as regras básicas da fisiologia, genética,nutrição e reprodução animal.Factores, como a história médica do animal, higiene econdições do ambiente, consanguinidade, idade da mãe,alimentação, etc, são ignorados, resultando em ninhadaspouco homogéneas, com pouca tipicidade da raça e comsaúde débil.As redes sociais da internet contribuiram para odesenvolvimento deste tipo de comércio e, possivelmente,foram o ponto de partida, para a geração de um mundo denegócios ilícitos, baseados na exploração de animais decompanhia, unindo grupos de pessoas em pequenasorganizações. Nestas, gera­se o seguinte ciclo vicioso deexploração de cães:

1. Criação/reprodução em fundos de quintal;2. Venda irresponsável de animais, ainda em fase deamamentação, sem cuidados veterinários;3. Divulgação e prática de procedimentos médico­cirúrgicos(ex: amputação do pavilhão auricular [corte de orelha] ecaudectomias [corte de cauda] sem qualquer técnica cirúrgica,e, ainda por cima, sem qualquer tipo de anestesia, comgrande sofrimento dos animais, administração de esteróidesanabolizantes, etc) executados por “pseudo­veterinários”, semqualquer formação;4. Importação, venda e compra particular de produtosfarmacêuticos veterinários;5. Treinos de agressividade;6. Organização de lutas de cães e apostas;7. Cuidados “pseudo­veterinários especializados” emtratamentos pós lutas.A página de Facebook “Animais na Bolada”, é apenas um dosexemplos disponíveis online, onde alguns grupos promovemqualquer um destes negócios.Animais de raça Pit Bull têm sido dos principais alvos destesgrupos sedentos de dinheiro, vestidos de ganância e despidosde ética e de respeito pelos animais.

O seu conceito de superioridade, enquanto humanos,relativamente a outras espécies, está enraizado, levando­os acrer que têm direitos sobre os animais. Denota­se ao mesmotempo, um sentimento de amor pelos animais, deturpado einsano. Onde, se criam animais de estimação como membrosde família, fazendo­os parte do dia­a­dia das suas vidas e dosseus filhos; partilhando com eles momentos de lazer, comobrincadeiras no jardim, em casa, passeios na rua e na praia;partilhando álbuns de fotografias suas e destes momentoscom amigos e em redes sociais, para, de um momento para ooutro, transformarem os seus fiéis amigos e companheiros emautênticas máquinas mortíferas, com o objectivo de fazerdinheiro fácil e de angariação de status social!

De mascote das crianças, estes animais passam a serobjectos da ambição humana e são, então, submetidos aactos crueis e dolorosos, como a amputação do pavilhãoauricular, alteração dos dentes caninos e lutas fatais emarenas.

A saúde psíquica dos animais que sobrevivem é entãoafectada, o seu comportamento, confiança e auto­estima sãoalterados. Este é, possivelmente, o ponto de partida, aorigem e o motivo de muitos dos acidentes que ocorrem,posteriormente com estes animais. Aqui está, em parte, aorigem dos ataques súbitos a pessoas do círculo deconvivência destes animais.

Mas, é importante avaliar também o impacto destas vivênciasnos filhos destes “criadores”, que têm por estes animais, umsentimento de carinho e adoração. Que exemplos setransmitem a estas crianças? Que sentimentos se geramnelas ao ver os seus animais voltar para casaensanguentados e cheios de cicatrizes? Qual será o reflexodestas imagens na sua formação intrínseca?

A base da resolução destes problemas, que são, narealidade, bem mais preocupantes do que possam parecer,está na elaboração de leis e sua implementação; no controlofiscal do comércio de animais e de medicamentos e napunição daqueles que exercem este tipo de actividade semque para tal estejam habilitados.

O Estatuto da Ordem dos Médicos Veterinários deMoçambique (Lei no 13/2011, Boletim da República, I Série,de 21 de Julho de 2011), determina explicitamente, que sóum Médico Veterinário, registado na Ordem, é que estáautorizado a executar qualquer um destes actos veterinários:qualquer intervenção cirúrgica, a prescrição demedicamentos, incluindo a venda ou dispensa demedicamentos veterinários e biológicos.

Apesar de existirem muitas prioridades no nosso país, é maisque altura do Conselho Municipal, pôr um fim ao comércio deanimais nas ruas (a lei já foi publicada) e às lutas de animais;há que pôr fim também à venda de medicamentosveterinários a particulares e há que identificar e punir os queexercem a profissão veterinária sem que, para tal, tenhamtido formação veterinária, pondo em risco a saúde animal ecriando uma concorrência desleal à classe veterinária.

Enquanto estas medidas não forem tomadas, estamos demãos atadas e os direitos dos animais estão presos por umacorrente num fundo de um quintal qualquer...

“The greatness of a nation and its moralprogress can be judged by the way in which itsanimals are treated.” Mahatma Gandhi

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Poluição das Águas no Rio Rovubwe em TeteLenta, lentamente, se vai cavando a sepultura dos pacatoshabitantes da Província de Tete. É a negligência de umaempresa chamada Interwest que dissimuladamente vaipreparando a estes moçambicanos o seu leito final, colocandodesavergonhadamente a vida e saúde de muitos em perigo.Da área onde esta empresa vocacionada em higiene elimpeza desempenha as suas actividades em Moatize, sai,soterrado, um tubo em direção ao rio Rovubwe. Antes dedesaguar no rio, o despejo ainda passa por uma vala aberta aescassos metros deste afluente do Zambeze, mas a funçãodessa vala é para nós uma incógnita. Segundo os popularescom quem falámos, este sistema de tubagem é utilizado paradespejar no rio excrementos humanos que resultam dalavagem dos vários WC portáteis da empresa, que servem aoperação mineira de Moatize.“Você quer saber deste tubo que sai água porquê? Quer beber?!” – Perguntou em tom de ironia uma senhora. “A água quesai ali é de sujidade, não beba.” – Disse­nos antes de nosmostrar o circuito percorrido pela tubagem desde a fábrica atéao Rio.Perto do local onde é feito o despejo da vala, muitoscontinuam a tomar banho e a lavar as suas roupas. Talacontece ao longo de todo o Rovubwe até este encontrar oZambeze e por aí adiante.

A INsegurança do EstadoRui Vasconcelos Caetano, Diretor da Associação de Apoio e Assistência Jurídica às Comunidades (AAAJC) em Tete deixouQuarta­feira alguns dos presentes no 4º Fórum da Plataforma AGIR em Maputo estupefactos. Falando sobre o impacto damineração nas comunidades da sua província no contexto da necessidade por mais transparência nos negócios da indústriaextrativa, Rui relatou que na semana passada, em virtude da ida a Tete de uma comitiva da ONG Brasileira Justiça Nos Trilhos(um dos maiores opositores da Vale na América do Sul), ele e outro funcionário da AAAJC receberam em suas casas e a altashoras da noite, uma “visita” surpresa dos Serviços de Informação e Segurança do Estado, cujo intuito era o de dissuadir aAAAJC de levar a ONG Brasileira a visitar as comunidades impactadas pela mineração na província.De acordo com o activista, um dos homens do SISE chegou mesmo a dizer: “Vocês devem pensar nas vossas famílias”...A que ponto chegamos?Afinal o SISE é um guardião do estado, do governo ou de agendas de funcionários do governo ou de terceiros? Porque se nãoestá ao serviço do estado e consequentemente dos Moçambicanos e serve outros interesses, permitam­nos que vos digamos:Nós moçambicanos, precisamos sim de quem nos proteja, mas não da verdade que a todo o custo vocês tentam encobrir...Aparentemente precisamos de quem nos proteja de vocês.

MICOA versus SOCIEDADE CIVIL

Após várias tentativas para contactar e apelar para aintervenção do Ministério para Coordenação de AcçãoAmbiental (MICOA), por esta instituição do Estado ser aresponsável por zelar e regular as questões ambientais donosso país, e conforme diz a sua Visão ¨Liderar o país naprodução de um ambiente saudável, no alcance de umaelevada qualidade de vida e um desenvolvimento social,ambiental e económico equilibrado¨; e missão de ¨Coordenara implementação da Estratégia Ambiental para oDesenvolvimento Sustentável de Moçambique para aredução da pobreza absoluta, promovendo o uso sustentáveldos recursos naturais, a melhoria da qualidade do ambiente,o crescimento económico e a equidade social¨; a JustiçaAmbiental (JA), enviou algumas cartas alertando edenunciando alarmantes irregularidades e violaçõescometidas por empresas operando no país, com particularatenção para o município da Matola , em termos de severadanificação do meio ambiente que consequentementerepresenta também um perigo e um atentado à saúdepública, pois os impactos provocados são extremamentenegativos e nocivos, como resultado das actividades dessasempresas e indústrias, pois está provado com base emestudos levados a cabo anteriormente, que os níveis depoluição em certas zonas da Matola estão acima dospadrões ou níveis estabelecidos e permitidos pelaOrganização Mundial de Saúde!Infelizmente todas as cartas enviadas nunca tiveramrespostas da parte do Micoa! Esta atitude é preocupante!Finalmente no dia 28 de Agosto a JA foi recebida pelaMinistra do MICOA onde pode­se apresentar directamente aspreocupações e juntos analisar as possibilidades de umtrabalho em conjunto (proposta do Ministério), não apenaspara a identificação das constantes violações, mas acima detudo, saber como podemos garantir que estas irregularidadesnão aconteçam, pondo em causa não só a qualidade domeio ambiente, mas também e acima de tudo a saúdepública da população que tem sido constantemente agredidapor tais investimentos e impactos derivados das suasactividades de produção.

A população questiona­se se este será um preço justo a pagarpelas tal melhoria de condições de vida de que falavamgoverno e empreendedores quando chegaram os mega­projectos, mas que, em termos práticos não tocam a todos. Amaldição dos recursos é esta... temos dito.

“Nonviolence is a weapon of the strong.”Mahatma Gandhi

Page 6: Newsletter Setembro 2013

Como tentativa de fuga, o governo também acusou asociedade civil de apenas usar mecanismos internacionaispara expor as preocupações e procurar as soluções, ao quefoi respondido que a sociedade civil não tem outra saída ouopção, pois internamente são ignorados e como resultadodisso os mecanismos internacionais de certa forma temconseguido algumas acções e respostas positivas parasolucionar as preocupações do povo, porque esperar porsoluções e intervenção interna, ficaria­se eternamente àespera e mergulhados em problemas que há soluções paraeles, mas apenas não há vontade e interesse para resolvê­las. Claramente que se não houvessem conflitos deinteresses certamente que tais problemas já teriam sidosolucionados ou se calhar nem surgiriam como resultado dostais projectos de desenvolvimento, que de sustentável só têmo nome. Até porque as prioridades da agenda ambiental dogoverno são interessantes, bonitas e sugestivas, mas é penaque termina por aí, porque de forma prática a realidade éoutra, no terreno as coisas são diferentes e, tanto noambiente como na vida da população não se reflectem taisprioridades.

O encontro, cuja agenda principal era apresentar de formadirecta as preocupações não só da Justiça Ambiental, mastambém as preocupações de outras organizações dasociedade civil, sendo como nossa maior preocupação a faltade intervenção contra a empresa MOZAL, com as suasconstantes irregularidades e “ Bypasses” sem explicação quejustifiquem a real necessidade do mesmo.A sociedade civil tem o direito de viver num ambiente são,e violações desta natureza não podem acontecer. Se nãofor o MICOA, a quem devemos recorrer para apresentartais preocupações?Mas a Mozal não é a única ! Apesar do nosso pedido deencontro com a Ministra fosse mais focalizado nos problemasde poluição da Matola, aproveitou­se a oportunidade, paralevantar outros pontos e questões sobre os vários projectos(megaprojectos), com particular atenção para o projectoIndiano da exploração de Carvão em Chirodzi na província deTete, com pouco tempo de vida ainda mas cujas actividades játem um elevado número de violações e irregularidades, entreelas a mina que já está operacional e a explorar o carvão, semsequer as comunidades terem sido reassentadas, estandoestas sujeitas a todo tipo de impactos negativos na saúde,pois vivem a menos de 2 Kms da área de exploração, sujeitasa respirar a poeira que advêm desta exploração, pois a mina éa céu aberto e o método de exploração e extracção do carvãoenvolve constante uso e explosão de dinamite!Fora estes problemas graves que são sobejamenteconhecidos, o mais preocupante e inaceitável é o facto destamina ter sido oficialmente inaugurada pelo Presidente daRepública sem que o Estudo de Impacto Ambiental tenha sidoaprovado pelo MICOA.Já no dia 29 do mesmo mês, realizou­se uma reunião entre oMinistério para a Coordenação da Acção Ambiental e asOrganizações da Sociedade Civil cujas actividades e áreas deactuação tinham na componente ambiental uma atençãomuito especial. Estiveram presentes neste encontro, paraalém dos vários representantes dos diferentes sectores dogoverno, as organizações da sociedade civil de diferentesprovíncias. Tal encontro, que tinha como um dos seusobjectivos a troca de experiências, a busca de sinergias e umareflexão sobre mecanismos de trabalho em conjunto ecomplementaridade, assim como a avaliação do programa deapoio ao sector do ambiente financiado pelo AGIR.Importa aqui referir que foram várias as intervenções tanto dasorganizações assim como do governo.Em parte, as organizações da sociedade civil, viram oencontro como sendo uma oportunidade para finalmente assuas inquietações e preocupações serem respondidas, pois jáhá muito tempo que se esperava por esta oportunidade, umavez que por outras vias as portas das instituições do estadoencontram­se fechadas. Por outro lado, o governo, nos seusdiferentes sectores, tentava justificar­se e em muitos casosacusava a sociedade civil de não procurar dialogar ou tentarusar outros mecanismos disponíveis para obtenção derespostas e posterior intervenção. Uma tentativa clara e nãorealista de fuga de responsabilidade, chegaram até ao pontode dizer que não (re)conheciam certas organizações, tanto deforma física assim como psicológica ( não se compreeendeumuito bem o sentido e o que se pretendia dizer com estaúltima afirmação!?).

Por exemplo: Utilizar os recursos de forma sustentável epromover qualidade ambiental, fortalecer o quadroinstitucional e promover a educação ambiental, são algumasdas prioridades estabelecidas, mas que de forma prática nãosão reflectidas no dia­a­dia do povo moçambicano, razãopela qual existem projectos a funcionarem sem estudos deimpacto ambiental; irmãos a viverem em condiçõesinaceitáveis em locais como Cateme, 25 de Setembro,Chirodzi e Cassoca; oleiros marginalizados e enganados; omeio ambiente a ser constantemente degradado; policias aperseguir a população intimidando e agredindo; violação dodireito à livre circulação; população constantemente a serroubada das suas terras, o seu único meio de subsistência;um governo cada vez mais arrogante, agressivo e opressor,sente­se todos os dias os nossos direitos como sereshumanos a serem violados, o constante empobrecimento dascomunidades, etc, etc...Tudo isto como resultado dos tais projectos ditos como

de “desenvolvimento”.A pergunta que fica no ar é a seguinte: onde está asustentabilidade deste desenvolvimento?Bem, interessa referir que com estes dois encontros chegou­

se à conclusão que há certamente a necessidade detrabalhar juntos, isto é, entre as Organizações da SociedadeCivil (OSC) e o MICOA, criando um fórum que seria ummecanismo de articulação entre ambos para juntos arranjarformas de resolver os graves problemas que se temdesenvolvido como resultado dos vários projectos que só temcriado impactos negativos tanto no ambiente como napopulação no geral e principalmente nas comunidadesdirectamente afectadas como resultado desses mesmosprojectos. Assim sendo, ficou também acordado que devemse realizar pelo menos 2 reuniões anuais entre as duaspartes (OSC e MICOA).Esperamos nós que esta interacção traga de factoresultados mais positivos em benefício do povo, …poruma maior Justiça Social, Ambiental e Económica...épossível !

Page 7: Newsletter Setembro 2013

"Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último riofor poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro."Indios Cree

O cão é um mamífero canideo e talvez o mais antigo animaldomesticado pelo ser humanao. Teorias postulam que surgiudo lobo cinzento no continente asi]atico há mais de 100 000anos. Actualmente existe uma grande diversidade de raçascaninas, as quais variam em pelagem e tamanho,classificadas em diferentes grupos ou categorias.A expectativa de vida varia entre dez e vinte anos, o cão é umanimal social que, na maioria das vezes, aceita o seu donocomo o "chefe da matilha" e possui várias característicascomo, um excelente olfato possuindo 32 vezes mais nervosolfativos que o de um ser humano , a audição é outro sentidobastante desenvolvido no canino, que, diferente do serhumano, ouve sons de alta frequência e baixo volume, e aindasão capazes de ouvir a uma distância quatro vezes superior a

do ser humano, é um corredor vigoroso, relativamente dócile leal, inteligente e com boa capacidade de aprendizagem.Deste modo, o cão pode executar um grande número detarefas úteis, como guarda, a caça, pastor de rebanhos etc.Os cães possuem ainda o instinto natural de saberem o quedevem ou não comer.A afeição e a companhia deste animal são alguns dosmotivos da famosa frase: "O cão é o melhor amigo dohomem", já que não há registro de amizade tão forte eduradoura entre espécies distintas quanto a de humanoe cão.A forma de comunicação mais conhecida dos cães é o latido,apesar de também chorarem,rosnarem, uivarem etc.

No Egito Antigo, os cães eram reverenciados comoconhecedores dos segredos do outro mundo, na GréciaAntiga , os cães eram relacionados aos deuses da cura, comtemplos que abrigavam dezenas deles para que os doentespudessem ser levados até lá e terem suas feridas lambidas.De todos os animais que conhecemos, o cão é o que maisuniu a nós. Para o cão o tempo parou. A sua alma, incólumeao século nervoso das bombas atômicas e viagensinterplanetárias, não conhece nem malícia nem falsidade.Com a mesma alegria natural, ele nos acompanha nachuva torrencial e no forte calor: sempre o amigo maisfiel do homem.

Fonte e mais informação: http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A3o

Novo Protesto dos Oleiros em MoatizeNo dia 31 de Agosto a comunidade de oleiros em Moatizevoltou a manifestar­se pacificamente. Fizeram­no por meio deuma marcha, na qual apelaram a uma maior celeridade dosistema judicial a fim de resolverem o diferendo que os opõe àVale Moçambique. Recorde­se que a 17 de Julho o TribunalJudicial do Distrito de Moatize declarou­se incompetente parajulgar o caso, tendo remetido o mesmo ao Tribunal Judicial daProvíncia de Tete.Passado mais de um mês da audiência de Moatize, e face àpromessa inicial de que o caso seria tratado com a máximadiligência, membros da comunidade afirmaram quesubmeterão uma única carta ao tribunal a fim de apurar oestado do processo, e ameaçam que caso o silêncio sobre omesmo persista, retaliarão face à violação dos seus direitosusando todos os meios à sua disposição.Refira­se que a Polícia da República de Moçambique,incumbida de acompanhar a marcha, acabou porincompreensivelmente interrompê­la. Da autoria de Fungai Caetano