newsletter março 2013

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Edição # 20: 5 de Março 2013 Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro,Janice Lemos, Jeremias Vunjanhe, Ruben Manna, Sílvia Dolores e Vanessa Cabanelas/ Layout & design: Ticha / Editor : Ruben Manna Propriedade da JA! Justiça Ambiental Rua Marconi, no 110, 1o andar MaputoTel: 21496668 Email:[email protected], [email protected] Foto:D.Ribeiro Papo da Praça O Reino Imaginário de Techobanine Só pode ser coincidência...Essa Techobanine de que falam os jornais decerto que não é a nossa Techobanine. Não pode ser! Se fosse, a concessão do tal porto de águas profundas teria de ter sido feita de acordo com as nossas leis, mas como tal não é o caso, essa Techobanine só pode ser parte do Reino Imaginário de um Rei demente qualquer. Apesar das claras semelhanças, uma vez que a nossa Techobanine também é junto à costa, existem claras diferenças. A primeira, como já expus, é que no Reino Imaginário de Techobanine não ministérios, nem parlamentos, nem assembleias, nem democracia... O regime é absolutista, quem manda é o Rei, e se o Rei decide que quer fazer um porto para impressionar os outros monarcas da região, não há protocolos a seguir, estudos a elaborar ou consultas a fazer, está decidido! Aqui em Moçambique, felizmente que não é assim, ainda bem que não vivemos nesse imaginário Reino de Techobanine nem somos súbditos desse autocrata. A segunda diferença, é que pelo que leio sobre essa outra Techobanine, não me parece que haja nada de especial na área onde dizem que vão construir o tal porto, a nossa Techobanine, pelo contrário, encontrase no coração de duas reservas naturais (a Reserva Natural de Elefantes de Maputo e a Reserva Especial Marinha da Ponta d´Ouro), o que logicamente impossibilita a construção de uma infraestrutura dessa natureza. E ainda bem... Imaginem só se para agradar o Botswana, o Zimbabwe e a África do Sul começássemos a construir portos de águas profundas em Reservas Naturais. Seria ridículo não? Se eu fosse um ilustre membro da corte desse Rei insano, mesmo tendo em conta que nessa Techobanine não há elefantes, nem hipopótamos, nem crocodilos, nem golfinhos, nem tubarões baleia, nem tartarugas, nem um dos dez maiores recifes de coral do mundo, ao contrário do que há na nossa Techobanine, perguntarlheia se tivesse oportunidade: “Excelência, você pensa?” Qual a importância da Reserva Especial de Maputo (REM)? A (REM) protege um dos mais valiosos habitats de África Austral.A zona é extremamente rica em termos de flora, com uma vasta gama de habitats e um remarcável valor de biodiversidade, sendo considerada uma zona endémica segundo o Centro Global de Diversidade de plantas de Maputaland. Segundo o Centro de Diversidade de Plantas de Maputaland a Reserva Especial de Maputo é de interesse por várias razões: Situase numa parte significativa deste centro de endemismo de plantas, uma das quatro de África Austral, ocupa uma posição estratégica do limite sul dos trópicos e contém espécies das zonas temperadas do sul; Apresenta uma surpreendente variedade de combinação de comunidades de plantas, ecossistemas e Terras húmidas de significado internacional; entre outras. Relativamente à fauna, a REM apresenta uma grande população de mamíferos, uma população acima de 300 elefantes,a única na Província de Maputo.Suspeitase que esta população constitua um grupo genético muito particular. Além do elefante (Loxodonta africana), podemse encontrar os seguintes mamíferos: chango (Redunca arundinum), cudo (Tragelaphus strepsiceros), piva (Kobus ellipsiprymnus), changane (Neotragus moschatus)e hipopótamo (Hippopotamus amphibius), entre outros. Foram identificadas cerca de 337 espécies de aves incluindo o Stanley bustard e o Pel's fishing owl; em termos de ictiofauna foram encontradas pelo menos 3 espécies endémicas; a fauna marinha é muito diversa, inclui várias espécies de baleias, golfinhos, tartarugas marinhas e inumeráveis espécies de peixes.A reserva contém uma considerável população de crocodilos do Nilo, a maior a sul de Gorongosa.

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Newsletter mensal da organização não governamental moçambicana Justiça Ambiental

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Page 1: Newsletter Março 2013

Edição # 20: 5 de Março 2013

Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro,Janice Lemos,Jeremias Vunjanhe, Ruben Manna, Sílvia Dolores e Vanessa Cabanelas/Layout & design: Ticha / Editor : Ruben Manna

Propriedade da JA! Justiça Ambiental Rua Marconi, no 110, 1o andar ­Maputo­Tel: 21496668 E­mail:[email protected], [email protected] Foto:D.Ribeiro

Papo da PraçaO Reino Imaginário de Techobanine

Só pode ser coincidência...Essa Techobanine de que falam osjornais decerto que não é a nossa Techobanine. Não pode ser!Se fosse, a concessão do tal porto de águas profundas teriade ter sido feita de acordo com as nossas leis, mas como talnão é o caso, essa Techobanine só pode ser parte do ReinoImaginário de um Rei demente qualquer.Apesar das claras semelhanças, uma vez que a nossaTechobanine também é junto à costa, existem clarasdiferenças.

A primeira, como já expus, é que no Reino Imaginário deTechobanine não há ministérios, nem parlamentos, nemassembleias, nem democracia... O regime é absolutista, quemmanda é o Rei, e se o Rei decide que quer fazer um portopara impressionar os outros monarcas da região, não háprotocolos a seguir, estudos a elaborar ou consultas a fazer,está decidido! Aqui em Moçambique, felizmente que não éassim, ainda bem que não vivemos nesse imaginário Reino deTechobanine nem somos súbditos desse autocrata.A segunda diferença, é que pelo que leio sobre essa outraTechobanine, não me parece que haja nada de especial naárea onde dizem que vão construir o tal porto, a nossaTechobanine, pelo contrário, encontra­se no coração de duasreservas naturais (a Reserva Natural de Elefantes de Maputoe a Reserva Especial Marinha da Ponta d´Ouro), o quelogicamente impossibilita a construção de uma infraestruturadessa natureza. E ainda bem...

Imaginem só se para agradar o Botswana, o Zimbabwe e aÁfrica do Sul começássemos a construir portos de águasprofundas em Reservas Naturais. Seria ridículo não?

Se eu fosse um ilustre membro da corte desse Rei insano,mesmo tendo em conta que nessa Techobanine não háelefantes, nem hipopótamos, nem crocodilos, nem golfinhos,nem tubarões baleia, nem tartarugas, nem um dos dezmaiores recifes de coral do mundo, ao contrário do que há nanossa Techobanine, perguntar­lhe­ia se tivesse oportunidade:“Excelência, você pensa?”Qual a importância da Reserva Especial de Maputo(REM)?A (REM) protege um dos mais valiosos habitats de ÁfricaAustral.A zona é extremamente rica em termos de flora, comuma vasta gama de habitats e um remarcável valor debiodiversidade, sendo considerada uma zona endémicasegundo o Centro Global de Diversidade de plantas deMaputaland.Segundo o Centro de Diversidade de Plantas de Maputalanda Reserva Especial de Maputo é de interesse por váriasrazões: Situa­se numa parte significativa deste centro deendemismo de plantas, uma das quatro de África Austral,ocupa uma posição estratégica do limite sul dos trópicos econtém espécies das zonas temperadas do sul;Apresenta uma surpreendente variedade de combinação decomunidades de plantas, ecossistemas e Terras húmidas designificado internacional; entre outras.Relativamente à fauna, a REM apresenta uma grandepopulação de mamíferos, uma população acima de 300elefantes,a única na Província de Maputo.Suspeita­se queesta população constitua um grupo genético muito particular.Além do elefante (Loxodonta africana), podem­se encontraros seguintes mamíferos: chango (Redunca arundinum), cudo(Tragelaphus strepsiceros), piva (Kobus ellipsiprymnus),changane (Neotragus moschatus)e hipopótamo(Hippopotamus amphibius), entre outros.Foram identificadas cerca de 337 espécies de aves incluindoo Stanley bustard e o Pel's fishing owl; em termos deictiofauna foram encontradas pelo menos 3 espéciesendémicas; a fauna marinha é muito diversa, inclui váriasespécies de baleias, golfinhos, tartarugas marinhas einumeráveis espécies de peixes.A reserva contém umaconsiderável população de crocodilos do Nilo, a maior a sulde Gorongosa.

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Qual a Relação Entre Barragens e Cheias?Moçambique depara­se novamente com uma grave situaçãode cheias, e mais uma vez, o nosso governo alega queprecisamos de construir mais barragens para nosprecavermos e protegermos. Como tal, somos mais uma vezforçados a questioná­los: Há dados científicos que sustentemessa alegação?Desde os primórdios que existem cheias. Elas fazem parteintegrante do fluir natural de vários rios, e o Zambeze, maiorrio de Moçambique e o orgulho do Este de África é um deles,um rio pulsante. Ou seja, é normal que anualmente o rio tenhaépocas de enchente, e mesmo que haja cheiasocasionalmente, mas a recorrência de grandes cheias podeser atribuída a vários factores. No entanto, a história diz quetanto no passado como nos dias que hoje correm, asbarragens são uma resposta inadequada para oscrescentes problemas de cheias.

Analisemos então as alegações do governo, que afirma quepodemos construir barragens com o propósito de evitarmos enos protegermos de cheias. Ora, se esse fosse o caso,teríamos de construir barragens que tivessem grandesreservatórios, sempre disponíveis para receber águasexcessivas durante a época de enchente, ou durante umaeventual cheia. Mas sejamos honestos, para isso aconteceras albufeiras das barragens teriam de estar vazias. Por maisidiota que possa soar, só um reservatório vazio pode albergarágua, e se a função da barragem é a proteção contra ascheias, então, como já foi dito, a barragem tem de tercapacidade de armazenar água, e a única maneira de garantirisso é mantendo o seu reservatório vazio. Todavia, nenhumabarragem foi alguma vez construída exclusivamente para essepropósito, e esse é exatamente o principal problema. Comotal, tais alegações por parte do governo denotam falta deconhecimento e de entendimento de como as barragens sãoconstruídas e quais os seus principais desígnios.

É verdade que pequenas e médias represas podem ajudar aregular as épocas de enchente anuais, armazenando nassuas albufeiras algum do caudal de água excedente depois defortes precipitações. As grandes barragens, por seu turno, sãonormalmente projetos multiusos, cujos propósitos muitasvezes entram em conflito e onde os interesses financeiros epolíticos obrigam frequentemente a que se mantenham asalbufeiras cheias a fim de se maximizar a produção deeletricidade, em detrimento de mantê­las vazias para acolhera água de eventuais cheias. Na realidade, vários são os casosdocumentados de cheias que foram agravadas porqueoperadores de barragens decidiram reter água e deixar oreservatório encher, e quando as chuvas continuaram depoisdo reservatório estar cheio, estas tiveram de abrirdesmesuradamente as suas comportas para evitar que a águagalgasse o paredão da barragem.Sem um ambiente físico saudável, o funcionamento doecossistema é ameaçado e o padrão de sedimentos, vital para

Não tenha dúvidas, as barragens não são a solução paranos proteger ou evitar cheias, e se alguém afirma ocontrário, esse alguém não faz a mínima ideia do queestá a falar.

para a sobrevivência e crescimento dos diversosecossistemas, é quebrado. Vários estudos, incluindo um daOrganização das Nações Unidas para a Alimentação e aAgricultura (FAO), demonstram que após a construção deuma barragem há 2 a 16 vezes mais erosão do que estavaoriginalmente estimado.Para tornar as coisas piores, sempre que se criam estruturasde controlo nos rios como barragens, o falso sentido desegurança dado pelo “enorme muro de cimento” encorajafrequentemente as pessoas a estabelecerem­se nasplanícies aluviais, e como o fluir e o regime natural dos rios écontrolado pela gestão das barragens, as populaçõesperdem a noção das oscilações sazonais do caudal dos riose permanecem nas planícies aluviais o ano todo. Posto isto,quando ocorrem cheias, as consequências são muito maisnefastas e sérias do que se nenhuma estrutura de controloexistisse e as planícies tivessem permanecido virgens. Paramais, a progressiva perda de sedimentação reduz acapacidade das barragens reterem as águas de cheias, econsequentemente, ano após ano, o risco para aqueles quepermanecem nas planícies aluviais aumenta. Para alémdisso, o consequente decréscimo na produtividade do soloem virtude dessa perda de sedimentação, aumenta adesflorestação, que por sua vez reduz a absorção da águadas cheias.Não nos podemos esquecer que as mudanças climáticas eseus impactos e danos tornarão as barragens cada vez maisperigosas, uma vez que vários estudos de mudançasclimáticas preveem um aumento na variabilidade do clima ena frequência e seriedade de fenómenos meteorológicosextremos. Com o agravar das mudanças climáticas as cheiastornar­se­ão, não só consequência de fortes precipitações,de cada vez mais frequentes ciclones que aumentarão orisco de impactos de cheias derivados da contingencialabertura de comportas descontroladas, mas também umaameaça para a integridade estrutural das barragens.Por incrível que pareça, a maioria dos indivíduos einstituições que tomam essas decisões, ignora a ciênciae todos os conselhos de especialistas e peritos, bemcomo a voz da experiência das comunidades. Assimsendo, ficam reunidos todos os ingredientes para odesastre.

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Escrito nas entrelinhas de SenaE agora senhoras e senhores? – perguntam certamente aVale Moçambique e a Rio Tinto ao nosso governo, à luz dasduas semanas de interrupção na circulação da linha de Senaque deixou as suas minas de carvão no país num preocupanteestado de... chamemos­lhe obstipação.De acordo com a Rádio Moçambique, o Ministro dosTransportes e Comunicações, Paulo Zucula, afirmou estaquinta­feira (21/02/2013) ao presenciar em Mutarara, Tete, oinício das obras de emergência que aliviarão as “dores” dascompanhias mineiras, que em 4 dias a circulação ferroviáriaseria retomada com algumas limitações. Ora, hoje é dia 28 eapesar do dia ainda não ter terminado, os principais órgãosnoticiosos do país ainda não dão a questão como resolvida.Seja como for, estamos convictos que nos próximos dias tudoestará solucionado. Sabemos muito bem que os problemasque mexem com o bolso dos “donos do país” são resolvidostchap­tchap, mesmo que para que isso aconteça algunsmilhares de desgraçados país a fora tenham de suster arespiração debaixo de água só mais um bocadinho...Mas não é para a hierarquia de prioridades do nosso governoque pretendemos chamar a vossa atenção. O quepretendemos sim, é acautelar­vos que estas contrariedadesno escoamento do carvão colocam o governo sob enormepressão, e apelar a esse executivo que se mantenha firme eque encare esta adversidade como uma oportunidade dedemonstrar que é coerente, competente e tem pulso. Passo aexplicar...Logicamente e com razão, nem a Vale nem a Rio Tintoreconhecerão este conserto como um problema solucionado.Estas companhias, cujo volume de negócios se presume quetenha um peso significativo no orçamento do país (uma vezque tais valores não são do conhecimento público),certamente que pressionarão o governo a fim de obtergarantias que este cenário não se volte a repetir. Ou seja, anosso ver, esta é para aqueles que fazem lobby para essasempresas, uma oportunidade de ouro para sugerirem que sevolte a colocar o dossier de navegabilidade do Zambeze emcima da mesa. Não porque não haja outras alternativas(algumas delas até já estão em construção como a linhaférrea Moatize–Nacala), mas pura e simplesmente porque talreduziria substancialmente os seus custos de transporte.Dada a conhecida proximidade desses lobistas com opoder instituído, toda a nossa apreensão é pouca.Aos que conhecem o nosso trabalho e têm vindo a seguir esta“novela” nos últimos anos, escusado será dizer que, em nossaopinião, chumbar o projeto de navegabilidade do Zambeze foidas decisões mais integras e sensatas que o governo tomounos últimos tempos e à qual temos fé que se mantenha fiel.Aos que, por outro lado, não estão a par desta trama, eis umabreve narração:

Quando o EIA foi apresentado, a JA deu o seu parecercriticando vários aspectos do estudo, entre os quais a suaanálise convenientemente omissa a eventuais impactossecundários e a já habitual falta de congruência dos dadoscientíficos apresentados pela consultora.Em 2012, o já mencionado Ministro dos Transportes eComunicações, Paulo Zucula, anunciou em entrevista a umórgão de comunicação social internacional que o Ministériopara a Coordenação da Ação Ambiental (MICOA)reprovara o projeto."De quatro em quatro anos temos problemas com o rioZambeze, que sai das margens e mata pessoas, e sevamos dragar e alargar as margens, vamos ter maisproblemas" – afirmou então o Ministro".

" Em 2009, a Riversdale (que então detinha a concessãoda mina de Benga agora propriedade da Rio Tinto) propôsao governo a vegabilidade do Zambeze com a finalidadede transportar carvão de Moatize até ao delta do rio.A JA opôs­se desde início à proposta e participou nosprocessos de consulta pública conduzidos pela Impacto,queentretanto fora incumbida de elaborar o Estudo de ImpactoAmbiental do projeto.

Governo Japonês Mostra­se Aberto a Discutir oProSavanaEm função do trabalho que estas têm vindo a desenvolver naárea, a Justiça Ambiental e a União Nacional deCamponeses visitaram Tóquio a convite das Organizaçõesda Sociedade Civil Japonesa a fim de iniciar um diálogo como Governo Japonês sobre o Programa Prosavana. Dada adimensão do programa e a escassa informação que temcaracterizado o mesmo, a Justiça Ambiental tem vindo aacompanhar o processo de implementação do ProSavanacom alguma preocupação.

Embora posteriormente tivéssemos solicitado ao MICOA adocumentação referente ao seu chumbo do projeto, estanunca nos foi facultada, deixando no ar a ideia de que esteveto fora feito em prol de outras agendas, provavelmente asdas outras barragens propostas para o Zambeze. Mas essa éoutra história...Sobre a atual situação do transporte de carvão, arriscamo­nos até a dizer mais: Talvez este revés possa ser, não umaoportunidade para aqueles que querem ver carvão a descer oZambeze, mas uma oportunidade para o governo negociarcom essas empresas mineiras um ainda maior investimento(mesmo que comparticipado) na infraestrutura ferroviárianacional, de modo a que num futuro próximo esta possamelhor servir, não só estes e outros eventuais projetos, masquiçá a necessidade que Moçambique tem à muito de ummeio de transporte condigno, seguro e de preço acessível.Entre outras mais valias, o comércio, a indústria e o turismonacionais beneficiariam imenso do “encurtar” de distânciasque tal investimento traria, e mais importante ainda, permitiriaa Moçambique dar um pequeno mas importante passo rumoa um plano de desenvolvimento mais diversificado, menosdependente de projetos “sujos”, e com uma esperança devida certamente maior.

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De acordo com os documentos disponíveis (ProSavana ­TEC), este programa inspira­se no PRODECER ou ProCerrado, implementado em parceria pela Agência deCooperação Internacional do Japão (JICA) e o Brasil. Ainformação publicada em alguns orgãos de comunicação veioa suscitar ainda mais dúvidas sobre o ProSavana e osimpactos deste nas comunidades de camponeses na área doprojecto. Em alguns artigos publicados no Brasil pode­se lerque o governo de Moçambique está a oferecer uma área de 6milhões de hectares para que os agricultores brasileirosplantem soja, algodão e milho no norte do país. Numaentrevista televisiva o deputado do PSDB do Paraná, LuízNishimori, convida os jovens agricultores brasileiros quequeiram trabalhar em África, a adquirir terra em Moçambiquepara agricultura.Estas e outras informações documentadas levantam váriasquestões que são agravadas pelo facto dos proponentes doProSavana em momento algum terem procurado apresentar eexpor o Programa à sociedade civil moçambicana. Até aomomento, e apesar de algumas questões terem sidocolocadas à equipa de implementação nas escassasoportunidades, mais especificamente nos dois encontrosagendados por organizações da sociedade civil em que estesparticiparam apenas como convidados, as vagas respostasdadas em nada contribuiram para esclarecer as inúmeras

preocupações e dúvidas, rementendo para o Plano Directortodos os detalhes. Algumas das questões colocadas estavamrelacionadas com a possibilidade de reassentamento decomunidades da área do projecto, com os beneficios doprojecto para os milhares de camponeses da área, com o usode pesticidas, fertilizantes inôrganicos e organismosgeneticamente modificados no programa. Todas elaspermanecem sem resposta.No sentido de obter resposta a algumas destas preocupaçõese de partilhar com o Governo Japonês as preocupações dasociedade civil moçambicana, a União Nacional deCamponeses (UNAC) e a Justiça Ambiental (JA!) deslocaram­se ao Japão onde se encontraram com representantes dogoverno japonês (Ministério das Relações Exteriores do Japãoe a Agência Japonesa de Cooperação Internacional ­ JICA) eOrganizações da Sociedade Civil japonesas.A equipa foi constituída pelo presidente da UNAC, AugustoMafigo e o pessoal técnico das duas Organizações nacionaisacima mencionadas. Após terem visitado a Província deHokkaido para troca de experiências e discussão deproblemas comuns entre os camponeses da UNAC e deHokkaido, particularmente no que respeita à produção deadubos orgânicos, a JA! e a UNAC tiveram uma reunião nosescritórios centrais do Ministério das Relações Exteriores, emTóquio, com os representantes desta instituição e da JICA.Neste encontro, os representantes do governo japonês

comprometeram­se a levar a cabo um diálogo aberto,democrático e transparente com as Organizações daSociedade Civil dos três países envolvidos no ProSavana,nomeadamente Japão, Brasil e Moçambique. Em relação aoestabelecimento de agricultores brasileiros em Moçambique,estes afirmaram não existir nenhum acordo neste sentido eque o Programa pretende aproveitar a experiência do Brasilno que se refere à tecnologia de produção agrícola e que oProSavana não seria a réplica do projecto do Cerradobrasileiro. Com estas afirmações, os representantes dogoverno japonês contrariam algumas das informaçõesoficialmente documentadas e publicadas sobre o ProSavana.Durante a visita, a equipa teve a oportunidade de apresentarno parlamento japonês o posicionamento das duasinstituições e partilhar as preocupações destas e outrasorganizações da sociedade civil moçambicana a algunsdeputados e Organizações da Sociedade Civil.Neste encontro, a JA! apelou ao governo japonês quereconsidere o modelo escolhido, que assuma que oPrograma tem sido mal conduzido em Moçambique, sem adevida inclusão e participação dos camponeses da área emquestão e da sociedade civil em geral, e que considere aspreocupações e questões da sociedade civil moçambicanapara redifinir a sua actuação no programa.A visita terminou com a realização de um seminário naUniversidade de Tokyo em que participaram académicos,Organizações da Sociedade Civil (OSC) e representantes daJICA, e onde as OSC japonesas manifestaram total apoio esolidariedade aos camponeses moçambicanos e prometeramdialogar com o governo japonês de modo a clarificar osaspectos referidos nas posições da JA! e da UNAC.Nota­se aqui uma mudança de discurso por parte do governoJaponês, na medida em que os seus últimospronunciamentos omitem forçosamente aspectosrelacionados com o cerrado brasileiro, o que demonstra defacto que o PRODECER, ao contrário daquilo que estáoficialmente escrito, foi um projecto que não atingiu osucesso desejado. Esta conclusão é sustentada pelosurgimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais SemTerra (MST) no cerrado após a implementação do projeto epelo facto de, ainda hoje, a região depender da importaçãode alimentos.Esperamos que esta visita tenha contribuido para, de algumaforma, criar uma maior consciência sobre os potenciaisimpactos deste imenso programa na vida dos camponesesda área do corredor de Nacala, e que através das váriasreuniões e contactos tenha sido possível demostrar que,apesar de para muitos ser apenas um vasto programa de“desenvolvimento agrícola”, para os camponsesesmoçambicanos o ProSavana pode representar a perda dasterras de que dependem directamente.Conforme nos foi prometido, aguardamos pelopronunciamento dos representantes do ProSavanarelativamente às questões colocadas, incluindo umesclarecimento cabal do papel de cada um dos paísesenvolvidos no programa. Esperamos que haja transparência,respeito e responsabilidade para com os moçambicanos, poisse este programa é realmente para melhorar a vida dosnossos camponeses, exigimos que estes sejam envolvidosdesde o início e que lhes sejam proporcionadasoportunidades para que possam de facto melhorar a suaprodução agrícola, para que beneficiem de capacitação,tecnologia, mercados e vias de acesso, assegurando sempreque não serão apenas afastados para dar lugar aos “patrões”donos da tecnologia, do dinheiro e portanto das terras eoportunidades.

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http://compromissoconsciente.blogspot.com/2012/08/matanca­das­baleias­na­dinamarca­ilhas.htmlEm Taiji, no Japão, são de forma igualmente brutalassassinados centenas de golfinhos e baleias, isto aconteceano após ano, para consumo apesar dos inúmeros protestose vários estudos existentes evidenciando que a carne éimprópria para consumo humano devido aos elevadosíndices de mercúrio, um elemento tóxico.Para mais informação:http://www.seashepherd.org/desert­seal/seal­cull­facts.htmlhttp://www.Namíbian.com.na/index.php?id=28&tx_ttnews%5Btt_news%5D=98635&no_cache=1Para assinar a petição:http://www.avaaz.org/en/petition/The_Seals_Of_Nam_End_the_seal_hunt_in_Namíbia/?aWfzBab&s=1

Na Dinamarca, as ilhas Faroé constituem um outro palco deum sangrento espetáculo, todos os anos são brutalmenteassassinadas centenas de baleias piloto, numa cerimóniaselvática, um ritual de passagem de criança a adulto, ofestival Grindadáp.

"De todas as espécies a humana é a mais detestável.Pois o Homem é o único ser que inflige dor por esporte,sabendo que está causando dor." ­ Mark Twain

O segredo Sangrento da NamíbiaA Reserva de Cape Cross na Namibia, uma área protegidaonde vive uma das maiores populações mundiais de focas, éo cenário de uma das mais crueis matanças de focas bebés(Cape Fur seals)de que há registo. Esta chacina é feita comtodas as devidas autorizações e inclusive com proteção militarproporcionada pelo Governo.

É absolutamente proibido fotografar ou filmar este evento, eenquanto em outras partes do mundo a violação desta regradá direito a cadeia, na Namíbia, agir em defesa dos direitosdestas focas bebés pode resultar na morte por espancamentonas mãos daqueles que lá trabalham.Perante o Governo da Namíbia, o negócio é todoabsolutamente legítimo, os “desgraçados” que fazem otrabalho sujo de espancar as focas bebés até à morte são,como sempre, os miseráveis que menos ganham com isso.Sem querer minimizar de forma alguma o acto bárbaro quepraticam conscientemente durante cerca de 4 meses por ano,ano após ano, na maioria dos casos esta é a sua única fontede renda.A matança ocorre anualmente a partir de Junho/Julho,mediante autorização do Ministério da Pesca e RecursosMarinhos. Todos os anos são brutalmente espancadas cercade 90.000 focas bebés, que depois do brutal espancamento,quer estejam ainda vivas ou já mortas, tanto faz, sãoesfaqueadas e sangradas para de seguida serem esfoladas.O cenário é demasiado cruel, demasiado desumano eirracional. Estas focas bébés são brutal e impiedosamenteespancadas perante o olhar e o chamamento desesperadodas suas mães. Sangue jorra por todos os lados, vomitamleite materno... até sucumbirem.Para além das focas bébés, cerca de 6.000 a 7.000 machosadultos são mortos a tiro e castrados todos os anos pelaspropriedades afrodisíacas do seu pénis.Tudo isto se passa numa Reserva visitada por milhares deturistas precisamente pelo estatuto de reserva que tem. Mas ogoverno da Namíbia utiliza esse estatuto enganosamente, enum local onde supostamente esta espécie deveria serprotegida e onde milhares de turistas vão inocentementevisitá­la no seu habitat natural, com certeza crentes que a suavisita contribuirá de alguma forma para a continuidade do localcomo acontece em muitas outras reservas e parques, nacalada da madrugada as focas são barbaramente espancadasaté à morte.Continuidade da espécie, perpetuação do massacre.....E tudo isto para quê? Que justificação se poderáapresentar para uma barbaridade destas?

Os titulares das autorizações justificam a carnificina com oslucros das peles, o Governo da Namíbia refugia­se emjustificações como o controle da população de focas que,segundo eles, tem impactos negativos sobre a pesca, eainda pelo número de empregos que esta indústria acolhe. OGoverno da Namíbia recebe cerca de 120.000 USD destamatança, enquanto o principal empresário envolvido, quedetém o monopólio deste negócio, adquire acima de 3.25milhões de doláres americanos. Esse empresário, HatemYavuz, celebrou em 2008 um contrato exclusivo com oGoverno da Namíbia para a aquisição de todas as peles defoca, válido até 2019.As peles destas focas bebés cruelmente assassinadas sãoenviadas para a Túrquia onde são processadas e vendidasdepois à China e à Rússia.Este não é de forma alguma um caso isolado, váriasatrocidades como esta ocorrem pelo mundo a fora, e apesardo generalizado discurso bonito e sensível às questõesambientais, apesar de estar na moda a questão do ambientee a proteção de animais e plantas, continuamos atestemunhar actos destes...

Page 6: Newsletter Março 2013

"Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último riofor poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro."Indios Cree

Porco­espinhoO porco­espinho é um mamífero pequeno e tranquilo, mas quase nenhum bicho se atreve a chegar perto dele. Está sempre emalerta e ao notar qualquer sinal de perigo, encolhe­se e enrola­se como uma bola. Então, vira­se de costas para o rival, pois aparte traseira do seu corpo tem mais espinhos, e começa a andar de ré. Quando se encosta no adversário, os seus espinhoslongos e duros soltam­se e o porco­espinho aproveita a oportunidade para fugir.No entanto, isso acontece muito esporadicamente. O porco­espinho costuma viver solitário e protegido em tocas perto deplantas e pedras. À noite, passeia em busca de alimentos como raízes, folhas, ratos, ovos e animais mortos, emitindo roncoscomo um porco, razão pela qual tem esse nome. Quando come plantas venenosas, segrega uma saliva espumosa e lambe ocorpo, um outro truque de defesa contra predadores.Os porcos­espinhos só se encontram na época de acasalamento, quando as fémeas se exibem encolhendo os espinhos eerguendo a cauda. Cerca de 100 dias depois, nascem os bebés, fofos e com pêlos macios. Como eles não têm qualquerproteção, ficam no ninho com a mãe por três semanas. Durante esse tempo os pêlos crescem, endurecem e viram espinhos. Sóentão é que estão prontos para sair com a mãe, para aprenderem a procurar comida e a defenderem­se sozinhos.O porco­espinho tem o corpo coberto por mais de 5 mil espinhos duros, que cobrem a parte de cima do seu corpo, chegando aatingir 35 centímetros de comprimento e sendo mais claros e macios na parte anterior deste. Podem­se encontrar porcos­espinhos nos Continentes Asiático, Africano e também na Nova Zelândia.As patas com garras ajudam o porco­espinho a escalar árvores e escavar o solo. Pesam entre 2 a 30 quilos, medem entre 60 a120 cm, a cauda chega a atingir cerca de 50 cm e vivem cerca de 15 anos.http://www.recreio.com.br/licao­de­casa/o­porco­espinho­nasce­com­pelos­macios­que­endurecem­saiba­tudo­sobre­esse­bichoMST ocupa três fazendas de produção de eucalipto na BahiaAção liderada por mulheres faz parte de jornada da Via CampesinaSALVADOR O núcleo baiano do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocupou ontem três fazendas deeucalipto no extremo sul do estado: uma da Veracel Celulose, no município de Itabela, e duas da Suzano Celulose no municípiode Teixeira de Freitas.De acordo com os organizadores da ação, 1.200 mulheres participam da invasão em Itabela e outras 200 nas duas áreas deTeixeira de Freitas. A atividade é a primeira da "Jornada Nacional de Luta das Mulheres da Via Campesina".O alvo do MST tem sido as empresas de celulose a quem acusam de promover "intensa destruição da biodiversidade". Aorganização reivindica que os grupos empresariais doem faixas de terra para a reforma agrária. Conforme Márcio Matos, um doscoordenadores estaduais do MST, a empresa Fíbria foi a única do ramo de celulose que já fechou um acordo com oscamponeses. "As ocupações são por tempo determinado, para pressionar as empresas a bater o martelo", completou.Segundo o MST, 22 propriedades onde há plantação eucalipto foram ocupadas na Bahia em quatro anos. As empresas nãoinformaram se pedirão reintegração de posse. (A Tarde)