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WWW.CUATRECASAS.COM NEWSLETTER I LABORAL 1/12 ÍNDICE NEWSLETTER LABORAL I JANEIRO, 2018 I LEGISLAÇÃO 2 II PORTARIAS DE EXTENSÃO 8 III JURISPRUDÊNCIA NACIONAL 9 IV JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL 11 NEWSLETTER I LABORAL

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WWW.CUATRECASAS.COM NEWSLETTER I LABORAL 1/12

ÍNDICE

NEWSLETTER LABORAL I JANEIRO, 2018

I LEGISLAÇÃO 2

II PORTARIAS DE EXTENSÃO 8

III JURISPRUDÊNCIA NACIONAL 9

IV JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL 11

NEWSLETTER I LABORAL

FFF

WWW.CUATRECASAS.COM NEWSLETTER I LABORAL 2/12

NEWSLETTER LABORAL

I LEGISLAÇÃO

Decreto-Lei n.º 156/2017 - Diário da República n.º 248/2017, Série I de 2017-

12-28

Fixa o valor da retribuição mínima mensal garantida para 2018

O presente Decreto-lei fixa o valor da retribuição mínima mensal garantida em € 580,00.

O Decreto-lei entrou em vigor no dia 1 de Janeiro de 2018.

Decreto-Lei n.º 2/2018 - Diário da República n.º 6/2018, Série I de 2018-01-09

Altera o regime contributivo dos trabalhadores independentes

O presente Decreto-lei vem introduzir alterações ao regime contributivo aplicável aos

trabalhadores independentes, previsto no Código dos Regimes Contributivos do Sistema

Previdencial de Segurança Social.

O diploma estabelece momentos distintos de produção de efeitos das alterações

introduzidas.

Os quadros infra reflectem as principais alterações introduzidas e respectivos momentos

de produção de efeitos.

A. Alterações cujos efeitos se produzem a partir de 1 de Janeiro de 2018:

Antes da Alteração Com a Alteração

Consideram-se Entidades

contratantes as pessoas

colectivas ou singulares com

actividade empresarial que no

mesmo ano civil beneficiem de

pelo menos:

80% do valor total da

actividade de trabalhador

independente

50% do valor total da actividade

de trabalhador independente

Taxa contributiva a cargo

das entidades contratantes 5%

10% nas situações em que a

dependência económica é

superior a 80%

7% nas restantes situações

B. Alterações cujos efeitos se produzem a partir de 10 de Janeiro de 2018:

Em Outubro de 2018, os trabalhadores independentes abrangidos pelo regime de

contabilidade organizada serão notificados da base de incidência contributiva apurada com

base no lucro tributável declarado para efeitos fiscais no ano de 2018, para exercício do

direito de opção previsto no n.º 2 do artigo 164.º.

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Principais alterações cujos efeitos se produzem a partir de 1 de Janeiro de 2019:

Matéria Alteração

Primeiro Enquadramento

O primeiro enquadramento no regime dos trabalhadores independentes produz efeitos

no primeiro dia do 12.º mês posterior ao do início de actividade.

Deixa de ser relevante o valor do rendimento anual para estes efeitos.

Data limite para

pagamento de

contribuições

Mensalmente e entre os dias 10 e 20 do mês seguinte àquele a que respeita.

Isenção de contribuir

(cumulação de

actividade)

Os trabalhadores independentes estão isentos da obrigação de contribuir

relativamente ao rendimento relevante mensal médio apurado trimestralmente de

montante inferior a 4 vezes o valor do IAS, quando acumulem actividade independente com actividade profissional por conta de outrem, desde que se

verifiquem cumulativamente as condições legalmente estabelecidas.

Não existia anteriormente um limite de rendimento isento para estes efeitos.

Rendimento relevante

O rendimento relevante do trabalhador independente passa a ser aferido

trimestralmente.

Base de incidência

contributiva

A base de incidência contributiva mensal corresponde a 1/3 do rendimento

relevante apurado em cada período declarativo, produzindo efeitos no próprio mês

e nos dois meses seguintes.

Quando se verifique a inexistência de rendimentos ou o valor das contribuições

devidas por força do rendimento relevante apurado seja inferior a € 20,00, é fixada

a base de incidência que corresponda ao montante de contribuições naquele valor.

Introduz-se um limite máximo para a base de incidência contributiva considerada

em cada mês - 12 vezes o valor do IAS -.

No caso dos trabalhadores independentes abrangidos pelo regime de contabilidade

organizada, a base de incidência mensal corresponde ao duodécimo do lucro

tributável, com o limite mínimo de 1,5 vezes o valor do IAS, sendo fixada em

Outubro para produzir efeitos no ano civil seguinte.

A base de incidência contributiva dos trabalhadores independentes com rendimento

relevante mensal médio apurado trimestralmente de montante igual ou superior a

4 vezes o valor do IAS, que acumulem actividade com actividade profissional por

conta de outrem corresponde ao valor que ultrapasse aquele limite.

Opção por fixação de

rendimento superior ou

inferior

No momento da declaração trimestral, o trabalhador independente pode optar pela

fixação de um rendimento superior ou inferior até 25 % aquele que resultar dos

valores declarados sem prejuízo dos limites legais. Esta opção deve ser efectuada

em intervalos de 5 %.

Determinação da base de

incidência contributiva

em situações especiais

No início da produção de efeitos do enquadramento ou no reinício de actividade e

até à primeira declaração trimestral, é fixado, como base de incidência contributiva,

o valor de € 20 salvo se já se encontrar fixada base de incidência aplicável ao

período.

Os trabalhadores independentes que vão exercer a respectiva actividade em país

estrangeiro e que optem por manter o seu enquadramento no regime geral dos

trabalhadores independentes, mantêm a última base de incidência fixada, nos casos

em que os rendimentos de trabalho independente não sejam declarados em

Portugal.

Taxa contributiva

As taxas contributivas são reduzidas:

- Trabalhadores independentes: 21,4%.

- Empresários em nome individual e dos titulares de estabelecimento individual de

responsabilidade limitada e respectivos cônjuges: 25,2%.

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Obrigação declarativa

Os trabalhadores independentes, quando sujeitos ao cumprimento da obrigação

contributiva, passam a ser obrigados a declarar trimestralmente:

i) O valor total dos rendimentos associados à produção e venda de bens;

ii) O valor total dos rendimentos associados à prestação de serviços.

Nesta declaração, são ainda identificados outros rendimentos necessários ao

apuramento do rendimento relevante dos trabalhadores independentes, nos termos

previstos na legislação regulamentar.

A declaração deve ser efectuada até ao último dia dos meses de Abril, Julho,

Outubro e Janeiro, relativamente aos rendimentos obtidos nos três meses

imediatamente anteriores.

Ocorrendo suspensão ou cessação da actividade, o trabalhador independente deve

efectuar a declaração trimestral no momento declarativo imediatamente posterior.

Revisão anual das

declarações

Os serviços da segurança social procederão, anualmente, à revisão das declarações

relativas ao ano anterior com base nas comunicações de rendimentos e notificarão

o trabalhador independente das diferenças apuradas.

O pagamento de contribuições resultante da revisão é considerado, para todos os

efeitos, como efectuado fora do prazo.

Portaria n.º 14/2018 - Diário da República n.º 8/2018, Série I de 2018-01-10

Regula os modelos de participação relativa a acidentes de trabalho

A presente Portaria vem fixar o seguinte modelo de participação relativa a acidentes de

trabalho, por parte dos empregadores, incluindo entidades empregadoras públicas que

tenham transferido a responsabilidade pela reparação de acidentes de trabalho e de

trabalhadores independentes ou de serviço doméstico:

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Para além da regulação do modelo de participação, a Portaria veio fixar os prazos para o

envio da informação sobre os acidentes de trabalho, a saber:

i) A informação a ser prestada pelo segurador deve ser enviada trimestralmente,

até ao último dia do mês a seguir ao fim do trimestre, e respeita às

participações de acidentes de trabalho recebidas no trimestre anterior;

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ii) A informação relativa a acidentes de trabalho para encerramento do processo

de recolha de informação estatística deve ser enviada pelo segurador no mês

de Setembro, relativamente aos acidentes de trabalho ocorridos até ao fim do

mês de Junho do ano anterior, e no mês de Fevereiro, relativamente aos

acidentes de trabalho ocorridos entre Julho e Dezembro de dois anos antes.

As informações supra referidas devem ser enviadas através de formato electrónico.

A Portaria produziu efeitos, retroactivamente, desde 27 de Novembro de 2017.

Portaria n.º 21/2018 - Diário da República n.º 13/2018, Série I de 2018-01-18

Procede à actualização anual do valor do indexante dos apoios sociais (IAS)

O valor do IAS para o ano de 2018 será de € 428,00.

A presente Portaria produziu efeitos a partir de 1 de Janeiro de 2018.

Portaria n.º 22/2018 - Diário da República n.º 13/2018, Série I de 2018-01-18

Procede à actualização anual das pensões de acidentes de trabalho para o ano de

2018

A presente Portaria vem actualizar as pensões de acidentes de trabalho, para o ano de

2018, num aumento de 1,8%.

Esta Portaria produziu efeitos a partir de 1 de Janeiro de 2018.

Portaria n.º 23/2018 - Diário da República n.º 13/2018, Série I de 2018-01-18

Procede à actualização anual das pensões e de outras prestações sociais

atribuídas pelo sistema de segurança social, das pensões do regime de protecção

social convergente atribuídas pela CGA e das pensões por incapacidade

permanente para o trabalho e por morte decorrentes de doença profissional, para

o ano de 2018

A presente Portaria vem proceder à actualização anual das pensões e de outras prestações

sociais atribuídas pelo sistema de segurança social, das pensões do regime de protecção

social convergente atribuídas pela Caixa Geral de Aposentações (daqui em diante, CGA) e

das pensões por incapacidade permanente para o trabalho e por morte decorrentes de

doença profissional, para o ano de 2018. Procede, ainda, à actualização da parcela

correspondente à actualização extraordinária das pensões atribuídas pelo sistema de

segurança social e das pensões do regime de protecção social convergente atribuídas pela

CGA.

As pensões estatutárias e regulamentares de invalidez e de velhice do regime geral de

segurança social e as pensões de aposentação, reforma e invalidez do regime de protecção

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social convergente, atribuídas anteriormente a 1 de Janeiro de 2017, são actualizadas,

pela presente Portaria, pela aplicação das percentagens seguintes:

i) 1,8 %, para as pensões de montante igual ou inferior a € 857,80;

ii) 1,3 %, para as pensões de montante superior a € 857,80 e igual ou inferior a

€ 2.573,40;

iii) 1,05 %, para as pensões de montante superior a € 2.573,40, sem prejuízo do

disposto no número seguinte.

A parcela das pensões de invalidez, velhice e sobrevivência do sistema de segurança social,

e das pensões de aposentação, reforma, invalidez e sobrevivência do regime de protecção

social convergente, correspondente à actualização extraordinária prevista no artigo 103.º

da Lei n.º 42/2016, de 28 de Dezembro, é actualizada pela aplicação da percentagem de

1,8 %.

As pensões de sobrevivência do regime geral, iniciadas anteriormente a 1 de Janeiro de

2017, são actualizadas por aplicação das respectivas percentagens de cálculo aos

montantes das pensões de invalidez e de velhice que lhes servem de base, bem como do

complemento social, sendo caso disso, segundo o valor que para ambos resulta da

aplicação das regras de actualização previstas nesta Portaria.

O valor das pensões provisórias de invalidez que esteja a ser concedido à data da entrada

em vigor da Portaria é fixado em € 207,01.

Esta Portaria produziu efeitos a partir de 1 de Janeiro de 2018.

Portaria n.º 25/2018 - Diário da República n.º 13/2018, Série I de 2018-01-18

Estabelece a idade normal de acesso à pensão de velhice em 2019

De acordo com esta Portaria, a idade normal de acesso à pensão de velhice em 2019 será

de 66 anos e 5 meses.

O factor de sustentabilidade aplicável ao montante estatutário das pensões de velhice do

regime geral de segurança social atribuídas em 2018, dos beneficiários que acedam à

pensão antes da idade normal de acesso à pensão em vigor nesse ano, é de 0,8550.

A presente Portaria produziu efeitos a partir de 1 de Janeiro de 2018.

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II PORTARIAS DE EXTENSÃO

Área de Actividade Diploma

Hotelaria e Restauração

Portaria n.º 385/2017 - Diário da

República n.º 248/2017, Série I de 2017-

12-28

Determina a extensão das alterações do

contrato colectivo de trabalho entre a

Associação da Hotelaria, Restauração e

Similares de Portugal (AHRESP) e o Sindicato

dos Trabalhadores e Técnicos de Serviços,

Comércio, Restauração e Turismo - SITESE

(Restauração e Bebidas).

Combustíveis

Portaria n.º 6/2018 - Diário da República

n.º 4/2018, Série I de 2018-01-05

Determina a extensão das alterações do

contrato colectivo de trabalho entre a ANAREC

- Associação Nacional de Revendedores de

Combustíveis e a FEPCES - Federação

Portuguesa dos Sindicatos do Comércio,

Escritórios e Serviços e outras.

Futebol

Portaria n.º 7/2018 - Diário da República

n.º 4/2018, Série I de 2018-01-05

Determina a extensão do contrato colectivo

entre a Liga Portuguesa de Futebol

Profissional e a Associação Nacional dos

Treinadores de Futebol.

Turismo

Portaria n.º 18/2018-Diário da República

n.º 12/2018, Série I de 2018-01-17

Determina a extensão do contrato colectivo

entre a Associação Portuguesa das Agências

de Viagens e Turismo - APAVT e o Sindicato

dos Trabalhadores da Marinha Mercante,

Agências de Viagens, Transitários e Pesca

(SIMAMEVIP).

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III JURISPRUDÊNCIA NACIONAL

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 26 de Outubro de 2017

Suspensão da Inscrição na Ordem dos Médicos Dentistas – Caducidade do Contrato de

Trabalho

No presente caso, a trabalhadora, na sequência do seu despedimento, intentou uma acção

judicial contra o seu empregador reclamando o reconhecimento da existência de contrato de

trabalho sem termo e a condenação do empregador nos termos legais.

Para tanto, alegou ter sido admitida, em Junho de 1999, para desempenhar as funções

inerentes à profissão de médica dentista, mediante retribuição que o empregador decidira,

unilateralmente, reduzir, concomitantemente com uma redução do seu horário de trabalho.

Em Agosto de 2014, o empregador comunicou à trabalhadora que esta estaria proibida de

prestar cuidados médicos a utentes particulares, passando as suas consultas a cingir-se a

sócios do empregador. A partir desta comunicação, o empregador deixou de marcar e

distribuir quaisquer consultas à trabalhadora, pelo que a mesma entendeu ter sido

tacitamente despedida.

O empregador sustentou que o contrato celebrado entre as partes era, afinal, de prestação

de serviços e que a trabalhadora abandonou as consultas, tendo, inclusivamente, deixado

incompletos e/ou defeituosos alguns tratamentos de colocação de próteses e implantes –

falhas que geraram queixas por parte dos utentes.

Já durante o processo, o empregador tomou conhecimento de que a inscrição da

trabalhadora na Ordem dos Médicos Dentistas estava suspensa desde 14 de Dezembro de

2013, facto que, no entendimento do empregador, determinaria a caducidade do contrato

e a prescrição do direito de acção.

O Tribunal da Primeira Instância decidiu que “a invocada caducidade do contrato ao abrigo

do art. 343.º do CT por via da suspensão da inscrição da A. na ordem profissional

respectiva não colhe como fundamento para a prescrição prevista no art. 337.º do CT.

O empregador recorreu para o Tribunal da Relação, que julgou improcedente o recurso

relativamente à inexistência de caducidade do contrato de trabalho aquando da suspensão

da inscrição da trabalhadora na Ordem, uma vez que, não obstante a suspensão, a

trabalhadora continuou a prestar serviço. Com efeito, de acordo com o Tribunal, “a

caducidade do contrato de trabalho só ocorre quando a impossibilidade de o trabalhador

prestar o seu trabalho é absoluta e definitiva”. Pelo contrário, a suspensão é, por definição,

temporária ou transitória.

Do entendimento do Tribunal da Relação relativamente à caducidade do contrato de

trabalho, recorreu o empregador para o Supremo Tribunal de Justiça.

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Contudo, o Supremo Tribunal de Justiça manteve o acórdão recorrido, atenta a

transitoriedade do regime de suspensão, e concluiu que o contrato celebrado entre as

partes não caducou em 2013 e, por conseguinte, não ocorreu a prescrição dos créditos

laborais peticionados.

Acórdão do Tribunal da Relação de Évora, de 6 de Dezembro de 2017

Instrutor do Processo Disciplinar – Nota de Culpa – Videovigilância – Meios de Prova

No caso em apreço, a trabalhadora, que exercia as funções de caixeira de 3.ª classe, foi

objecto de um processo disciplinar, que, baseado na existência de indícios de furto no

estabelecimento da empregadora, veio a culminar no seu despedimento com justa causa.

Sustentando a existência de uma ilegalidade no processo disciplinar, a trabalhadora

intentou acção judicial de impugnação do despedimento, invocando, entre outros

fundamentos, o facto de a prova produzida no processo se basear na análise de imagens

recolhidas por câmaras de videovigilância, instaladas no estabelecimento da empregadora,

e a sua utilização configurar um meio de prova proibido.

Na sua contestação, a empregadora sustentou que a instalação de câmaras de

videovigilância no seu estabelecimento estava devidamente autorizada pela Comissão

Nacional de Protecção de Dados (daqui em diante, CNPD) e se devia à ocorrência de um

assalto, meses antes, durante a noite. A instalação das câmaras tinha, pois, como fim

exclusivo, a segurança de pessoas e bens.

O Tribunal de Primeira Instância decidiu julgar parcialmente procedente a acção.

A trabalhadora interpôs recurso para o Tribunal da Relação de Évora, reiterando, no

essencial, a ilegalidade da utilização de câmaras de videovigilância no controlo da

actividade dos trabalhadores.

Quanto à utilização das imagens de videovigilância, e da alegada prova proibida, entendeu

o Tribunal da Relação de Évora que o sistema de videovigilância instalado não tinha como

função vigiar os trabalhadores, mas sim proteger os bens da empresa, sendo o controlo

da actividade dos trabalhadores apenas fortuito e consequente da captação dos balcões de

atendimento ao público. A questão essencial foi, para a Relação, uma outra: a de saber se

as imagens captadas pelo sistema podiam ser utilizadas como meio de prova de factos

susceptíveis de integrar o conceito de justa causa. Entendeu o Tribunal que o visionamento

das imagens permitiu apurar que era a trabalhadora a autora dos factos que estavam na

origem da discrepância entre as existências na loja e as respectivas vendas, pelo que a

sua obtenção e utilização como meio de prova eram compatíveis com a finalidade de

protecção de bens autorizada pela CNPD. O meio de prova utilizado era, por isso, legítimo

e passível de ser utilizado em processo disciplinar e judicial para provar factos ilícitos

praticados pela trabalhadora.

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Por fim, no que concerne à justa causa para o despedimento, considerou o Tribunal da

Relação de Évora que os factos praticados pela trabalhadora puseram irremediavelmente

em causa a manutenção da confiança entre esta e a empregadora – mais a mais, “dada a

natureza da actividade desta e o modo de prestação da actividade por parte daquela, em

que manuseia dinheiro”. Tendo sido provada a subtracção de dinheiro por parte da

trabalhadora, o Tribunal considerou culposa a sua actuação e, por isso, também aqui,

confirmou a sentença recorrida, julgando lícito o despedimento.

IV JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL

Acórdão do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, de 9 de Janeiro de 2018

Direito ao Respeito pela Intimidade da Vida Privada

Num caso semelhante ao apreciado pela Relação de Évora, o Tribunal Europeu dos Direitos do

Homem analisou a questão da admissibilidade da captação, pelo empregador, de imagens

recolhidas no local de trabalho e da sua utilização em processo disciplinar.

Com o objectivo de registar eventuais furtos, no estabelecimento, por parte de clientes ou

trabalhadores, o empregador – de nacionalidade espanhola - instalou câmaras de

videovigilância, em zonas visíveis e ocultas, sendo que nenhum dos trabalhadores tinha

conhecimento da existência das últimas.

Alegando uma violação do seu direito à privacidade, consagrado no artigo 8.º da

Convenção Europeia dos Direitos do Homem, as trabalhadoras que foram alvo de processo

disciplinar intentaram acção judicial contra o empregador, num processo que chegou ao

Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Assentando a sua fundamentação no mesmo

princípio, o Tribunal considerou que a vigilância encoberta, no local de trabalho, deve ser

entendida como uma intrusão considerável na vida privada dos trabalhadores. Nos termos

da legislação espanhola em matéria de protecção de dados, o empregador devia, por isso,

ter informado os titulares dos dados captados da recolha de imagens e consequente

armazenamento e tratamento.

Acrescentou o Tribunal que o tratamento de dados pessoais dos trabalhadores deve ser

reduzido ao mínimo indispensável, numa lógica de proporcionalidade, e que, no caso em

apreço, a instalação de câmaras de captação de imagens não foi proporcional. Com efeito,

refere o Acórdão que, ponderados os direitos em contradição (privacidade, de um lado, e

propriedade, de outro), os tribunais espanhóis não alcançaram um “justo equilíbrio entre

o direito das trabalhadoras ao respeito pela sua vida privada em virtude do artigo 8.º da

Convenção e o interesse do empregador na protecção do seu direito de propriedade”.

Por este motivo, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem condenou o Estado espanhol

a indemnizar as trabalhadoras.

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