a inexistência biológica versus a existência social de raças humanas_02-sergio-telma

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SRGIO D. J. PENA TELMA S. BIRCHAL

A inexistncia biolgica versus a existncia social de raas humanas: pode a cincia instruir o etos social?SRGIO D. J. PENA professor do Departamento de Bioqumica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais. TELMA S. BIRCHAL professora do Departamento de Filosoa da Universidade Federal de Minas Gerais.

N

INTRODUOo passado, a crena de que raas humanas possuam diferenas bio-

lgicas substanciais e bem demarcadas contribuiu para justicar discriminao, explorao e atrocidades. Recentemente, porm, os avanos da gentica molecular e o seqenciamento do genoma humano permitiram um exame detalhado da correlao entre a variao genmica humana, a ancestralidade biogeogrca e a aparncia fsica das pessoas, e mostraram que os rtulos previamente usados para distinguir raas no tm signicado biolgico. Pode parecer fcil distinguir fenotipicamente um europeu de um africano ou de um asitico, mas tal facilidade desaparece completamente quando procuramos evidncias dessas diferenas raciais no genoma das pessoas. Apesar disso, o conceito de raas persiste, qua construo social e cultural, como forma de privilegiar culturas, lnguas, crenas e diferenciar grupos com interesses econmicos diferentes (Azeredo, 1991). Neste artigo abordaremos aspectos do conito entre as vises biolgica e social de raa, inicialmente mostrando as evidncias cientcas que suportam a tese de que, do ponto de vista biolgico, raas humanas no existem (AAA, 1998). Em seguida, examinaremos a situao peculiar dos brasileiros, nos quais a ampla mistura de genes entre trs diferentes grupos continentais fundadores amerndios, europeus e africanos produziu uma fraca correlao de cor (um correlato de raa) com ancestralidade. Conseqentemente, no Brasil, a cor, socialmente percebida, tem pouca ou nenhuma relevncia biolgica. Passaremos, a seguir, discusso do relacionamento entre cincia e tica e defesa da seguinte tese: embora a

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cincia no seja o campo de origem dos mandamentos morais, ela tem um papel importante na instruo da esfera social, pois, ao mostrar o que no , ela liberta, ou seja, tem o poder de afastar erros e preconceitos. A seguir, pensaremos o problema da incorporao, pelo etos da sociedade, dos ensinamentos da gentica. Sobre esse ponto, argumentaremos a favor da idia de que o fato cientco da inexistncia das raas deve ser absorvido pela sociedade e incorporado a suas convices e atitudes morais, no sentido de reforar a oposio s armaes de diferentes formas de hierarquia entre povos ou grupos humanos. Terminamos sugerindo que uma postura coerente e desejvel seria a valorizao da singularidade de cada indivduo em substituio sua identicao como membro de grupos raciais ou de cor.

A INEXISTNCIA BIOLGICA DE RAAS HUMANAS: FATOS CIENTFICOS Origem recente do homem modernoO homem moderno, Homo sapiens sapiens, uma espcie muito jovem na Terra. Duas linhas de evidncia gentica sugerem sua origem nica e recente, na frica, h menos de 150.000 anos. A primeira a observao de que a diversidade gentica humana maior na frica do que em qualquer outro continente. A interpretao deste achado que as populaes mais antigas teriam tido mais tempo para acumular variabilidade gentica. As anlises logenticas fornecem a segunda linha de evidncia. A partir do trabalho seminal de Cann et al. (1987), praticamente todos os estudos baseados em DNA mitocondrial produziram uma rvore na qual a primeira bifurcao

separa populaes africanas de todas as outras populaes. As rvores logenticas construdas a partir de marcadores autossmicos, marcadores do cromossomo X e marcadores do cromossomo Y, apresentam topologias muito semelhantes do DNA mitocondrial (Batzer et al., 1994; Bowcock et al., 1994; Armour et al., 1996; Underhill et al., 2000; Kaessmann et al., 1999). Acredita-se que, ao redor de 100.000 anos atrs, alguns grupos humanos emigraram da frica para outros continentes, dizimando e substituindo em seu trajeto os homens de Neandertal (Homo sapiens neandertalensis) e outras populaes arcaicas de Homo sapiens. Neste cenrio, todos os seres humanos atualmente presentes na Terra compartilham um ancestral africano relativamente recente, e as diferenas morfolgicas que observamos nos humanos, hoje, so desenvolvimentos novos, tendo ocorrido apenas nos ltimos 50.000-40.000 anos. Em 2003, White et al. descreveram crnios fossilizados de homindeos encontrados em Herto, na Etipia, que foram datados radioisotopicamente entre 160.000 e 154.000 anos atrs. Esses homindeos de Herto, denominados Homo sapiens idaltu (idaltu quer dizer antigo na lngua afar da Etipia), so morfologicamente intermedirios entre fsseis africanos arcaicos e fsseis com morfologia moderna. Por isso, acredita-se que eles representem o ancestral imediato do Homo sapiens sapiens. A sua anatomia e antiguidade fornecem uma poderosa evidncia de que o surgimento do homem moderno recente e ocorreu na frica.

Variabilidade genmica humanaSubjacente enorme e facilmente visualizvel individualidade morfolgica humana, h uma individualidade bioqumica, molecular e genmica (Pena et al., 1995a). At a recente exploso metodolgica da gentica molecular, a anlise da variabilidade gentica humana era limitada ao estudo de poucos polimorsmos proticos, hoje

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coletivamente chamados de marcadores clssicos. Entretanto, apenas 3% do genoma humano expresso em produtos gnicos, e s aps o desenvolvimento da capacidade tcnica de estudar as variaes (polimorsmos) genticas diretamente pelo DNA foi possvel acessar as variaes genticas nos outros 97% no-expressos do genoma. Foi encontrada uma grande diversidade: dois genomas haplides humanos diferem em uma base a cada mil nucleotdeos. Isso signica que, entre dois indivduos quaisquer da populao, h pelo menos seis milhes de diferenas na seqncia genmica. Sabemos hoje que, com exceo dos gmeos monozigticos, todos os seres humanos possuem um genoma diferente e nico. Em 1972, Richard Lewontin decidiu fazer a partio da variabilidade humana para testar, cienticamente, a noo, at ento amplamente aceita, da existncia de raas humanas. Ele compilou da literatura cientca as freqncias allicas de 17 polimorsmos genticos clssicos (incluindo grupos sangneos, protenas sricas e isoenzimas) referentes a diferentes populaes. A partir desses dados, Lewontin agrupou as diferentes populaes em oito raas: africana, amerndia, aborgine australiana, mongolide, indiana, sul-asitica, ocenica e caucasiana. O resultado foi bastante surpreendente: 85,4% da diversidade allica observada nos polimorsmos estudados ocorria entre indivduos de uma mesma populao, 8,3% entre diferentes populaes de uma mesma raa e apenas 6,3% entre as chamadas raas. Para colocar tais dados em perspectiva, usemos um exemplo fantasioso: um cataclismo nuclear destruiu toda a populao da Terra, deixando ilesa apenas a populao de uma cidade de Minas Gerais. Nesse caso, 85% da diversidade humana total seria preservada! Os resultados de Lewontin foram amplamente conrmados por Barbujani et al. (1997), que estudaram 109 locos autossmicos neutros em populaes de todo o mundo e concluram que cerca de 85% da variabilidade gentica humana estava concentrada dentro das populaes.

Provavelmente, o maior estudo de variabilidade humana j realizado at o momento foi o de Rosenberg et al. (2002), que zeram a tipagem de 377 microssatlites autossmicos em 1.056 indivduos de 52 populaes denidas pela origem geogrca. Na amostra eles tinham um total de 4.199 alelos diferentes, 47% dos quais estavam presentes em todas as populaes apenas 7% dos alelos estavam presentes em somente uma populao, que, na quase totalidade das vezes, era a africana. Esses resultados so completamente compatveis com a origem recente do homem moderno na frica. Alm disso, os pesquisadores calcularam que 93-95% da variabilidade gentica estava contida dentro das populaes.

Caracteres morfolgicosAssim como no caso de marcadores genticos moleculares, tambm possvel fazer a partio da variabilidade humana usando caractersticas morfolgicas mtricas. Por exemplo, Relethford (1994) mostrou que apenas 11-14% da diversidade craniomtrica humana ocorre entre diferentes regies geogrcas e que 86-89% ocorrem entre indivduos de uma mesma regio. Quando esse mesmo autor fez a partio da variabilidade global da cor da pele, porm, ele observou um quadro diferente: 88% da variao ocorria entre regies geogrcas e apenas 12% dentro das regies geogrcas (Relethford, 2002)! A explicao que a cor da pele uma caracterstica gentica especial, porque muito sujeita seleo natural. Dois fatores seletivos contribuem para adaptar a cor da pele aos nveis de radiao ultravioleta (UV): a destruio do cido flico, quando a radiao ultravioleta excessiva, e a decincia da vitamina D3 (raquitismo), quando a radiao insuciente para a sntese na pele (Jablonski & Chaplin, 2000; 2002). Inmeros estudos mostram que h uma signicativa correspondncia geogrca entre os nveis de UV e o grau de pigmentao da pele das vrias populaes humanas.

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A cor da pele determinada pela quantidade do pigmento melanina na derme, que controlada por apenas quatro a seis genes, dos quais o mais importante parece ser o gene do receptor do hormnio melanotrpico (Sturm et al., 1998; Rees, 2003). Esse pequeno nmero de genes insignicante no universo dos cerca de 25.000 genes que existem no genoma humano. Da mesma maneira que a cor da pele, algumas outras caractersticas fsicas externas, como o formato da face, a grossura dos lbios e a cor e a textura do cabelo, so traos literalmente superciais. Embora no conheamos os fatores geogrcos locais responsveis pela seleo dessas caractersticas, razovel inferir que, assim como a pigmentao da pele, tais caracteres morfolgicos tambm espelhem adaptaes ao clima e outras variveis ambientais de diferentes partes da Terra. Assim como a cor da pele, as caractersticas morfolgicas humanas dependem da expresso de um nmero pequeno de genes e reetem a variao em apenas alguns milhares entre os bilhes de nucleotdeos no genoma humano. Em resumo, as diferenas icnicas de raas correlacionam-se bem com o continente de origem (j que so selecionadas), mas no reetem variaes genmicas generalizadas entre os grupos.

entre as raas putativas. As evidncias levam concluso de que raas humanas no existem do ponto de vista gentico ou biolgico.

COR E ANCESTRALIDADE DO BRASILEIRONo Brasil, apesar do mito da democracia racial, h um preconceito social que parece estar particularmente conectado com a aparncia fsica da pessoa (Nogueira, 1955) e que privilegia as caractersticas associadas ao continente europeu. A cor no Brasil corresponde ao termo em ingls race e baseada em uma avaliao fenotpica complexa, que leva em conta a pigmentao da pele e dos olhos, o tipo de cabelo e a forma do nariz e dos lbios (Telles, 2003). Aparentemente, a razo pela qual o termo Cor (com C maisculo para chamar a ateno para a sua natureza multifatorial) usado no Brasil ao invs de raa que ele enfatiza a natureza contnua dos fentipos (Telles, 2003). Com base nos critrios de autoclassicao do censo do IBGE de 2000, a populao brasileira era composta por 53,4% de brancos, 6,1% de pretos e 38,9% de pardos. O que representam estes nmeros em termos de ancestralidade gentica? Esta a pergunta a que temos tentado responder, usando as ferramentas da gentica molecular. Apresentaremos aqui uma breve sinopse dos nossos resultados, que j foram apresentados em detalhes em outras publicaes (Pena et al., 2000; Alves-Silva et al., 2000; Carvalho-Silva et al., 2001; Pena, 2002; Parra et al., 2003; Pena & Bortolini, 2004; Pena, 2005). Inicialmente, utilizamos marcadores genmicos de linhagem para mapear, na populao autodeclarada branca do Brasil, as distribuies geogrcas das ancestralidades amerndia, europia e africana (Pena et al., 2000). Para isso, amostras de DNA da populao do Norte, Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil foram estudadas com dois marcadores moleculares uniparentais: o

Concluso: inexistncia de raas do ponto de vista biolgicoComo vimos acima, trs linhas separadas de pesquisa molecular fornecem evidncias cientcas sobre a inexistncia de raas humanas. A primeira a observao de que a espcie humana muito jovem e seus padres migratrios demasiadamente amplos para permitir uma diferenciao e conseqentemente separao em diferentes grupos biolgicos que pudessem ser chamados de raas. A segunda o fato de que as chamadas raas compartilham a vasta maioria das suas variantes genticas. A terceira a constatao de que apenas 510% da variao genmica humana ocorre

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cromossomo Y, que estabelece linhagens paternas (patrilinhagens), e o DNA mitocondrial, que traa linhagens maternas (matrilinhagens). Nosso estudo revelou que a esmagadora maioria das linhagens paternas da populao branca do pas de origem europia (Pena et al., 2000; Carvalho-Silva et al., 2001), mas, surpreendentemente, as linhagens maternas no Brasil, como um todo, mostraram uma distribuio bem equilibrada entre as trs origens geogrcas: 33% das linhagens eram amerndias, 28% africanas e 39% europias (Pena et al., 2000; Alves-Silva et al., 2000). Como esperado, a freqncia relativa de cada um desses trs grupos logeogrcos variou consideravelmente entre as quatro regies brasileiras analisadas. A maioria das linhagens mitocondriais no Norte de origem amerndia (54%), enquanto a ancestralidade africana mais comum no Nordeste (44%) e a europia no Sul (66%). O Sudeste apresentou um equilbrio nas freqncias encontradas. De acordo com as freqncias regionais de haplogrupos genticos africanos e amerndios encontrados nos brasileiros brancos e pelas propores populacionais das vrias regies, podemos calcular (com base no censo de 2000) que, entre os 90.647.461 autoclassicados brancos do pas, h aproximadamente 30 milhes de descendentes de africanos (afrodescendentes) e um nmero equivalente de descendentes de amerndios, pelo menos pelo lado materno (Pena & Bortolini, 2004). Em seguida, exploramos as correlaes moleculares entre cor e ancestralidade em brasileiros, usando marcadores informativos de ancestralidade (MIAs), tambm chamados de marcadores populao-especcos. Nossos estudos demonstraram que, na populao brasileira analisada, o alto ndice de mistura gnica torna as caractersticas de aparncia fsica, como cor da pele, olhos, cabelos, formato dos lbios e do nariz, em pobres indicadores da origem geogrca dos ancestrais de um determinado indivduo. Em concluso, os nossos estudos demonstraram claramente que, no Brasil, a

cor avaliada fenotipicamente com base na pigmentao da pele e dos olhos, na textura do cabelo e no formato dos lbios e do nariz, tem uma correlao muito fraca com o grau de ancestralidade africana estimada por marcadores genmicos especcos (Parra et al., 2003). Individualmente, qualquer tentativa de previso torna-se muito difcil, j que pela inspeo da aparncia fsica de um brasileiro no podemos chegar a nenhuma concluso convel sobre o seu grau de ancestralidade africana. Em outras palavras, no Brasil, a cor, como socialmente percebida, tem pouca ou nenhuma relevncia biolgica.

A CONTRIBUIO DA CINCIA PARA A TICAPassemos, ento, a considerar uma outra questo: que tipo de ressonncia se pode esperar de semelhantes descobertas cientcas na esfera dos costumes e das convices das pessoas? Aqui se coloca, portanto, o problema da relao entre cincia e tica. Para pensar os termos dessa relao, tomemos como ponto de partida uma compreenso de cincia que, mesmo sendo discutvel, nos permite traar uma linha de demarcao entre o conhecimento cientco e outros tipos de discurso: as cincias pretendem ser um conhecimento do que , elas se ocupam com a pesquisa e apresentao da realidade. Embora ningum mais acredite, como os antigos positivistas, que a cincia comece com os fatos e seja simplesmente uma apresentao deles, verdade, porm, que os fatos constituem a referncia emprica das teorias cientcas. Assim, podemos armar que as cincias se voltam para a positividade das coisas. Tambm numa primeira aproximao, o campo da tica ou da moral pode ser definido de duas maneiras: a primeira, como o domnio dos costumes, dos hbitos (o vocbulo grego thos e o latino morus referem-se ambos aos costumes humanos, da falarmos da tica dos romanos ou da moral vitoriana). A segunda que mais nos

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interessa como um trabalho de reexo sobre os mesmos hbitos ou costumes. Neste ltimo sentido, temos a tica como disciplina losca ou losoa moral, que pergunta sobre as origens e o fundamento a consistncia, poderamos dizer dos costumes e, sobretudo, das normas que os regem. A tica articula fatos, normas e valores, pois a consistncia de uma norma ou prescrio avaliada, por um lado, em relao aos fatos conhecidos e, por outro, em relao aos valores ltimos que regem uma determinada sociedade. Em termos gerais, podemos compreender a tica como o domnio que institui o que deve ser, e que articula trs dimenses: os fatos, as normas e os valores. Denidos os dois domnios, como, ento, pensar a relao entre tica e cincia? Apresentamos aqui duas teses que pretendemos justicar com o que vem a seguir: 1) A compreenso da diferena de natureza entre tica e cincia fundamental para que se estabelea um dilogo fecundo entre elas e para a prestao de servios mtuos no se deve confundir o domnio das convices ticas (o que deve ser) com o das proposies cientcas (o que ); 2) Embora o conhecimento cientco no fundamente os valores, ele capaz de afastar erros e preconceitos, desempenhando assim um papel libertador no exerccio das escolhas morais. Voltemos um pouco na histria para compreender a diferena entre os domnios da cincia e da tica. Desde os gregos j se distinguia a esfera da ph sis a natuy reza com suas leis mais ou menos estveis daquela do thos os costumes humanos e sua variabilidade. No entanto, a prpria compreenso que os antigos tinham da natureza como uma realidade habitada por uma nalidade, como uma ordem csmica na qual o homem encontra o seu lugar possibilitava que, de alguma maneira, natureza e costumes pudessem espelhar-se reciprocamente. A natureza se torna o solo do qual se nutre a reexo tica, isso porque exigncias ticas se encontram, de alguma forma, realizadas de antemo na imagem de um cosmo harmnico, tal como repre-

sentado na losoa natural. Portanto, o imperativo tico dos antigos ser resumido na frase seguir a natureza. A partir do nascimento da cincia moderna, no sculo XVII, os dois campos se demarcam com clareza e se distinguem. Com o advento do mecanicismo, a imagem da natureza se transforma ao tornar-se objeto de uma cincia matemtica que, pouco a pouco, substitui a harmonia divina do cosmo por um conjunto de leis tanto mais objetivas e seguras quanto menos relacionadas aos anseios e esperanas do homem. sobre esse novo universo que escreve Pascal: o silncio eterno destes espaos innitos me apavora. A natureza no mais o campo gerador das normas. de Galileu uma frase que sintetiza o esprito de seu tempo, distinguindo os objetivos da religio, por um lado, dos da cincia, por outro: a inteno do Esprito Santo ensinar-nos como se vai ao cu e no como vai o cu. A ltima tarefa delegada cincia que, como descrio objetiva das leis da natureza, nada tem a ver com a salvao, com a busca da felicidade ou com o domnio do dever ser. Para isso esto a a religio e a losoa moral. Ainda, na frase de Galileu est implcita a demanda da cincia de constituir-se como uma esfera autnoma de investigao, no mais submetida ao saber losco ou religioso. A separao de campos, no entanto, nem sempre foi tranqila, e gerou uma relao tanto ou quanto conituosa, com tentativas de invases recprocas e renovada confuso dos domnios. Alm disso, desde os tempos de Galileu o cenrio mudou, o que faz com que a distino entre tica e cincia tenha que ser repensada. Assistimos atualmente a uma grande expanso das fronteiras da cincia para domnios antes reservados religio ou losoa moral. As relaes sociais, as emoes, a linguagem e a prpria conscincia so hoje campos de investigao cientca. No incio foram as cincias humanas, como a sociologia e a antropologia, que trataram de maneira objetiva, e segundo mtodos prprios, assuntos que at ento estavam fora do domnio das cincias. Mais recentemente, a biologia

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revela a base radicalmente corporal das chamadas funes superiores do homem; elas no so, portanto, inacessveis a um saber objetivo. Tomemos o exemplo do neurocientista Jean-Pierre Changeux que, a partir da perspectiva darwinista, arma a possibilidade de localizar, no crebro, os stios das regras morais sociabilidade, piedade e inibidores da violncia (Changeux & Ricoeur, 1998). Tudo isso est em curso em nossos dias, num grande empreendimento de objetivao e naturalizao do ser humano, que pode ser descrito e compreendido e at manipulado como qualquer outro objeto do mundo. Uma questo que advm da novidade : podemos fazer do conhecimento dos fatos, que nos vm das cincias, a base para as normas do agir? Ou, de forma mais radical: podem as cincias fundar a tica? Alguns respondero armativamente, como Antnio Damsio (1998): O conhecimento cientco pode constituir um pilar que ajude os seres humanos a resistir e a vingar. Escrevi este livro convicto de que o conhecimento em geral e o conhecimento neurobiolgico em particular tm uma funo importante a desempenhar no destino humano; convicto de que, se realmente o quisermos, o profundo conhecimento do crebro e da mente ajudar a alcanar a felicidade []. tentador e encorajador acreditar [] que a neurobiologia no s pode nos ajudar na compreenso e na compaixo da condio humana, mas que, ao faz-lo, pode nos ajudar a compreender os conitos sociais e contribuir para sua diminuio. Se zermos uma leitura pouco piedosa desse tipo de posio, diremos que ela acaba por armar que as cincias poderiam resolver o problema tico, pois gerariam as normas para a vida humana agora seguras, porque baseadas num conhecimento menos discutvel que o das teorias loscas. Ou seja, a tica seria traada no prolongamento das cincias: e conhecer o que se identicaria a conhecer o que deve ser. Contra a posio acima, assim radical-

mente colocada, lembremos a mais prudente armao de Galileu de que a cincia no nos ensina a ganhar os cus e a do lsofo David Hume que, no sculo XVIII, insiste em distinguir fatos e valores, situando os primeiros no reino do real e do existente, e os segundos no reino dos desejos e dos sentimentos. Mais recentemente, um insuspeito nome da sociobiologia, Edward Wilson, arma em entrevista: A constatao de que, em interao com o ambiente, nossos genes tm um papel fundamental na natureza humana no signica que certo comportamento seja bom ou ruim. Voc no pode atribuir valor a um trao gentico simplesmente pelo fato de que ele gentico. Seria o mesmo que argumentar que um comportamento mais tico que outro s porque ele est mais prximo da natureza. Seguindo esta premissa, algum poderia justicar atrocidades dizendo que a violncia est em nossos genes. Sobre os perigos de se fundar uma tica a partir de uma verdade cientca, alerta-nos o lsofo contemporneo Comte-Sponville (2000): Um regime que se apoiasse numa cincia verdadeira imaginemos, por exemplo, uma tirania dos mdicos nem por isto seria menos totalitrio a partir do momento em que pretendesse governar em nome de suas verdades, porque a verdade nunca governa, nem diz o que deve ser feito, nem proibido. A verdade no obedece [] e por isso que ela livre. Mas tampouco comanda, e por isto que ns o somos. verdade que morreremos: isso no condena a vida, nem justica o assassinato. Vejamos, ento, o que ocorre no tocante noo de raa. Ela se alimenta da experincia secular do confronto com o outro, cuja diferena se manifesta de forma sensvel, evidente, digamos, or da pele. O encontro com o outro, com o manifestamente diferente que deve ser compreendido, interpretado , gerou historicamente muitas espcies de etnocentrismo

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e projetos de dominao. No entanto, no necessariamente: bem antes das descobertas da gentica, um europeu do sculo XVI, Michel de Montaigne, escreve o mais belo elogio dos canibais do Brasil (Montaigne, 2000). Em seus Ensaios, a diferena manifesta entre os povos do Velho e do Novo Mundo no se traduz como inferioridade dos ltimos, nem como ausncia, nos canibais, de um carter de humanidade (Birchal, 2004). Os fatos da experincia esto, portanto, abertos a mltiplas interpretaes, o que caracteriza o domnio dos valores. Num outro nvel de discurso, a gentica hoje arma que o aparente e imediatamente manifesto a diferena de cor e de traos no o essencial nem o verdadeiro, exigindo uma reinterpretao da experincia, da mesma forma que, no sculo XVI, a astronomia fez com o aparente movimento do sol. O que nos leva segunda tese acima exposta: retomando a frase de ComteSponville, diremos que, se a verdade no governa, ou seja, se a cincia no o campo de origem dos mandamentos morais, ela liberta, pois tem o poder de afastar erros e preconceitos. Popperianamente falando, ela diz o que no , embora no diga o que deve ser. No caso em questo, a biologia diz o que no , afastando o equvoco da noo biolgica de raa e proibindo o recurso a uma fundamentao cientca do racismo, bem ao gosto de alguns. Na medida em que a tica, como vimos, lida com fatos, normas e valores, a cincia, entrando nas questes de fato e fornecendo novos elementos para a avaliao das normas e costumes, pode aproximar-se da moral neste plano. Ela no pode, no entanto, ser confundida com a origem ou a fonte dos mandamentos morais: o valor e a dignidade atribudos aos seres humanos, enquanto tais, independem das descobertas cientcas, encontrando sua origem na cultura e na histria. Caso contrrio, na hiptese imaginria de as descobertas cientficas apontarem para uma grande diferena gentica no interior da espcie humana, uma posio racista estaria justicada. Dito de outra maneira, embora por si s a cincia no seja capaz de gerar uma tica, ela traz elementos que

contribuem para a reexo tica e que ampliam o campo no qual podemos exercer nossa liberdade.

A VISO INDIVIDUAL DO HOMEMVimos acima que, do ponto de vista biolgico, estritamente cientco, raas humanas no existem. Vimos tambm que, independente de sua cor, a vasta maioria dos brasileiros tem simultaneamente um grau signicativo de ancestralidade africana, europia e amerndia. O genoma de cada brasileiro um mosaico altamente varivel e individual, formado por contribuies das trs razes ancestrais (Suarez-Kurtz & Pena, 2005). Assim, no faz sentido falar em afrodescendentes ou eurodescendentes, porque a maior parte dos brasileiros tem uma proporo signicativa de ascendncia africana, europia e amerndia. Alm disso, por causa da pobre correlao entre cor e ancestralidade, no faz sentido falar de populaes de brasileiros brancos ou de brasileiros negros. De forma que a nica maneira de lidar cienticamente com a variabilidade gentica dos brasileiros individualmente, como seres humanos nicos e singulares em seus genomas mosaicos e em suas histrias de vida. Do ponto de vista mdico, essa conscientizao nos levou a propor que o conceito de raa deveria ser banido da medicina brasileira (Pena, 2005). tica e socialmente, isso era o que Martin Luther King tinha em mente quando disse, em seu famoso discurso I have a dream, de 28 de agosto de 1963: I have a dream that my four children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character. Temos aqui um exemplo claro de uma descoberta cientca iluminando a esfera tica. Devemos ter em mente que o conceito de raa carregado de ideologia e sempre traz algo no explicitado: a relao de poder e dominao (Munanga, 2004). Assim, a idia social de raa txica e contamina a sociedade (Gilroy, 2000). As

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* Usamos a palavra racialista para designar quem cr na existncia de raas, em distino ao racista, que faz julgamentos de valor e estabelece hierarquias entre as raas.

raas existem porque esto nas cabeas das pessoas, e no esto nas cabeas das pessoas porque existem (Kaufman, 1999). Alm disso, reenfatizamos que, em especial no Brasil, a cor no tem um signicado biolgico relevante e est, literalmente, or da pele. A conscincia disso vem ento ao encontro do desejo utpico de uma sociedade no-racialista*, cega a cores, em que a singularidade do indivduo seja valorizada e celebrada. Em um artigo prvio, discutimos a relevncia das consideraes da inexistncia de raas humanas e da pobre correlao entre cor e ancestralidade genmica, para decidir quem se deveria beneciar da poltica de cotas no Brasil, e conclumos que a gentica deveria ter um papel informativo e no prescritivo (Pena & Bortolini, 2004). Naquela ocasio no discutimos o mrito

das aes armativas nem da poltica de cotas. Thomas Sowell (2004) mostrou em seu livro Afrmative Action Around the World que a experincia mundial com cotas tem tido como efeito aumentar o nvel de racializao da sociedade. Hoje, acreditamos que a cincia contribui efetivamente para uma posio prescritiva atuante em prol de uma sociedade no-racialista. Que isso possvel foi brilhantemente demonstrado por Paul Gilroy no seu excelente livro Against Race. ento nesse sentido que devemos concentrar nossos esforos. Ao implementar bem-intencionados programas de ao armativa para alavancar necessrias mudanas sociais, o governo precisa cuidar para no fomentar tenses e divises articiais e arbitrrias no povo do Brasil, pas onde, essencialmente, somos todos igualmente diferentes.

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