natal - a magia de tudo renovar

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    ISSCCAAInstituto Superior de Superiores Cincias Complementares e

    Artes AplicadasCORROIOSjos gil vicente da beira

    com PROPOSTAS para vriasRECR(I)EAES

    a PARTIR da re/CR(E)IAO do

    AUTODA VISITAO

    (DO VAQUEIRO)de

    GIL VICENTE

    um desafio para a re/cr(e)iao de uma/spea de teatro

    ISSCCAAInstituto Superior de Superiores Cincias Complementares e Ar-tes Aplicadas

    CORROIOS1989 12 - 2012 12

    penedo gordo beja - dezembro de 1989amora - seixal - corroios - junho de 1996

    corroios - 2012

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    ISSCCAAInstituto Superior de Superiores Cincias Complementares e Ar-

    tes AplicadasCORROIOSjos gil vicente da beira

    AUTO DA VISITAO

    uma adaptao perversamente livre doMONLOGO DO VAQUEIRO

    O PRIMEIRO AUTO DEGIL VICENTE em 8 de JUNHO de 1502representado na cmara de D. Mariano nascimento do futuro D. Joo III

    H 510 anos - ()ERA uma POCA em que sedescobr(em)iam NOVOS MUNDOS e NOVOS

    CAMINHOSe se abr(em)iam as portas para o(RE)NASCIMENTO dum MUNDO NOVO

    OU

    penedo gordo beja - dezembro de 1989amora - seixal - corroios - junho de 1996

    corroios - 2012

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    ficha tcnicattulo NATAL NA MINHA RUA

    - A MAGIA DE TUDO RENOVAR- ou a actualizao doAUTO DA VISITAO DE GIL VICENTE

    autor jos gil vicente da beira

    composio e arranjogrfico

    C 486-66c + hp 550 + winword

    tradautor e auteditor JORAGA data da 1 escrita Dezembro de 1989

    escrita final e im-presso Outubro - Dezembro de 2012nota 1: e @ - todos os direitos reservados ao abrigo

    da lei, de todas as leis vigentes em todos ospases, mesmo daquelas que no existem

    nota 2: Este texto, concretamente o que se situa entreas pp. 29 e 44, j foi representado pelo GRUPOAMADOR DE TEATRO - CONTRA MISRIAS, noNATAL de 1995, servindo por assim dizer deensaio geral, para a representao que poderfazer-se em Dezembro de 1996.

    Foi encenado e orientado por Ftima Borges,com a interveno de Lara - Gil Vicente, PauloMrtires - D. Manuel, Claudine - Rainha Velha,Ana Sofia - Rainha D. Maria, Joo Pedro - Pa-

    jem, Clara - 1 Arauto, Lgia - 2 Arauto; e osjograis: Filipa, Carla, Marta, Tnia, Slvia, AnaRita, Raquel e Sara.

    Edio especial em1996

    Com reviso e aprovao da COMISSO DODECNIO da ESCOLA SECUNDRIA JOO DEBARROS CORROIOS, para implementar umCONCURSO para o aparecimento de uma ou v-

    rias peas sobre o 10 ANIVERSRIO da Escola,durante o ano lectivo de 1996/97 e decidir so-bre a oportunidade de promover a representa-o completa desta pea, bem como da edioe divulgao deste trabalho.

    Edio de 2012 ISSCCAA Corroios www.joraga.net

    http://www.joraga.net/http://www.joraga.net/http://www.joraga.net/http://www.joraga.net/
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    5NATALa magia de tudo renovar...ou a perversidade inocente de se muda-

    rem as pocas e as personagens...

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    Notas para uma APRESENTAO:

    ... e eis que, subitamente, o Natal acon-tece em Junho, por arte e magia de umtal Gil Vicente que alguns dizem que eraourives, mas talvez no o tivesse sido, evai ficar na histria como o fundador doteatro em Portugal! E este outro golpe

    de teatro de Mestre Gil: ser fundador deuma coisa que sempre existiu..., antes edepois, mas talvez nunca tenha atingidoum tal nvel, tanto em quantidade, comoem variedade e em diversos nveis dequalidade, centrado num s Mestre...

    ... foi, diz-se, to inesperada e espont-nea esta representao - apresentao -iniciao - apario de Gil Vicente e doteatro literrio portugus que se atreveua irromper pelo palcio e pela cmara darainha D. Maria a dentro, sem que senti-nelas ou armas ou pajens ou aias o con-seguissem parar...

    Era esta rainha D. Maria a venturo-sa esposa do rei Venturoso o Senhor D.Manuel I, que h dois dias tinha dado luz o que viria a ser D. Joo III, e por issoo poeta e dramaturgo genial decretou NA-TAL...

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    Diz-se tambm, que ...por ser cou-

    sa nova em Portugal, a rainha velha gos-tou tanto desta representao, que pediuao autor que isto mesmo lhe representas-se s matinas do NATAL, endereado aonascimento do Redemptor; e porque asubstncia era mais desviada, em lugardisto fez a seguinte obra.que foi o AUTO

    PASTORIL CASTELHANO, endereado sMatinas do Natal.

    Destas palavras parece podermosconcluir que, devido interveno da ra-inha velha, amos ficando sem o brilhan-te improviso original que abriu as portas

    da literatura ao teatro e a Gil Vicente. Va-leu-nos a aposta de Gil Vicente que, pararesponder ao pedido da rainha velha deci-diu fazer outro Auto mais adaptado sMatinas do Natal!

    Parece podermos inferir tambmque os reis e rainhas a esto para impe-dir que o NATAL possa acontecer em Ju-nho ou no Carnaval!... como pode passarpela pobre cabea de algum tresloucadopoeta, artista ou fingidor!!! Ateno por-tanto senhores artistas e actores ou auto-res...: nada de subverses perversas! ONATAL no no dia oito ou no dia seis doms de Junho! Muito menos no CARNA-

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    VAL! Com coisas srias no se brinca. Osreis, as rainhas, os presidentes e os mi-

    nistros e os deputados democraticamenteeleitos e as autoridades que podem de-cretar que a subverso, a revoluo e asgreves tm de ser devidamente autoriza-das e organizadas..., e a seriedade do risoa retratar a angstia, a misria, os ansei-os e carncias de toda uma multido tem

    de ser prvia e devidamente aprovada e afesta do choro e da revolta, deve ser s-bia e atempadamente transformada emmanifestaes espontneas de jbilo ealegria maduramente ensaiadas e organi-zadas... e autorizadas!

    Mas, ainda por aquelas palavras quefomos roubar introduo do Auto, fica-mos sem saber ao certo quem a rainhavelhaque se vai tornar a padroeira e pa-trona de Gil Vicente e lhe faz a inespera-da encomenda para as Matinas do Natal!?Aqui, uns dizem que poderia ser a me deD. Manuel, pois na mesma introduoaparece, como estando presente, a rainhaD. Beatriz, que afinal nunca teve o ttulode rainha mas de Infanta. Afinal, pelomenos o que vai ficar como voz corren-te, que a rainha velhaser, sem dvi-da a Rainha D. Leonor, viva de D. JooII, a fundadora das Misericrdias e que

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    vai ficar tambm como co-fundadora doteatro atravs do gnio que foi Gil Vicen-

    te. Mas a verdade que esta ilustre Se-nhora no consta do elenco das ilustresfiguras que estavam presentes na primei-ra representao, como podemos ler nabreve introduo ao Auto da Visitao.

    Quando me atrevi a adaptar / ac-tualizar este Auto do Vaqueiro estamos(estvamos) em 1989. Era Dezembro.Havia Feiras e celebraes de Natal portodas as Escolas e pelos povoados... Co-mo pano de fundo j decorriam as cele-braes dos quinhentos anos dos DESCO-BRIMENTOS. Bartolomeu Dias j em1487/88 tinha dobrado o que para ele foi

    o CABO DAS TORMENTAS e logo se trans-formou, para El-Rei D. Manuel, no CABODA BOA ESPERANA para as suas aspira-es de rei venturoso e afortunado e setransformou em ADAMASTOR tremendo etemeroso ameaador, para logo se trans-formar em tmido e atormentado gigante

    de pedra de corao empedernido pelatraio da sua Dris, a Thetis bem ama-da, pela mo do raro gnio de Cames!Enfim, minha grandssima estaturaNeste remoto Cabo converteramOs Deuses; e, por mais dobradas mgoas,Me anda Thetis cercando destas guas.

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    Estamos agora em 1995. Faltamdois anos, 1997, para celebrarmos os 500

    anos da partida de Vasco da Gama no quese chamou a Descoberta do Caminho Ma-rtimo para a ndia, mas que no foi Des-coberta nenhuma. A verdadeira Descober-ta foi a passagem a Sueste feita por Bar-tolomeu Dias (1487/88) que passou asTormentas para descobrir o Cabo da Boa

    Esperana. Vasco da Gama, em 1497, steve que seguir os caminhos j navegadosde um e outro lado do vasto Continenteque era a frica que no se sabia at on-de se estendia, mas nunca tinham sidoseguidos de modo contnuo e para fazeruma concorrncia arrasadora aos mono-

    plios dos mercadores de Gnova e Vene-za...Em 1495, h quinhentos anos, pa-

    rece estar oficialmente reconhecido que jse tinham feito as Descobertas das Am-ricas do Norte, do Centro e do Sul. Insis-te-se em que a Descoberta do Brasil sem 1500, e feita por Pedro lvares Ca-bral, mas h quem diga que as trs Am-ricas foram alcanadas desde 1448, cin-quenta anos antes de Cristvo Colombo,na sua terceira viagem (1498) permitirque se declarasse Descoberta a Amri-ca!!! (Ver quadro, p. 37 e Bibliografia, p. 38.)

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    Quem h a que seja capaz de nosdesvendar estes mistrios intricveis da

    histria, em que a verdade s declaradaquando e como convm aos que se consi-deram donos da histria, do mundo e daverdade...?

    por isso que nos parece importan-te e adequado, neste enquadramento his-

    trico, recriar a primeira pea de Gil Vi-cente que afinal no deve ser a sua pri-meira pea, mas uma reconstituio dasua primeira pea.

    E queremos referir-nos ao enqua-dramento histrico de h quinhentosanos, em que s verdade aquilo que de-

    cidem os poderosos: - as Amricas estodescobertas em 1448? ou de certeza quej se conhecem oficialmente em 1495? ous so descobertas em 1498 com Cris-tvo Colombo? ou verdade que s em1500 que Pedro lvares Cabral descobreo Brasil? O que a verdade? O que acon-teceu, ou aquilo que ficou registado aosabor dos cronistas que estavam ao servi-o dos que mandavam?

    E agora? O que a verdade? Aquiloque acontece? Ou aquilo que decididopelos governos mais poderosos e pelostribunais? Quem matou Kennedy, o John?

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    A CIA? Um tresloucado? Um grupo? Quemimpediu que saibamos a verdade?

    Quem matou o Kennedy, o Bob?Quem matou a ex-mulher de O.J. o

    julgamento do sculo que manteve LosAngeles, a Amrica e o Mundo em sus-pense, desde Julho de 1994 at sen-tena: not guilt-no culpado em Ou-tubro de 1995!!! ?

    A quem cabe de facto a honra e gl-ria dos Descobrimentos? De quem o mri-to da Descoberta do Caminho Martimopara a ndia? A Vasco da Gama que co-mandou a sua realizao? A D. Manuel Ique o enviou? Ao seu tio D. Joo II, oPrncipe Perfeito que o adaptou como filho

    e sucessor depois de ter perdido tragica-mente o seu filho e herdeiro e de ter as-sassinado o Duque de Viseu seu cunhadoe irmo de D. Manuel? J vem tudo pre-parado desde a clebre Escola de Sagresdo Infante D. Henrique que nunca existiue a quem se fica a dever a glria de terempreendido a saga dos Descobrimen-tos!!!? Mais importante do que ele tersido o seu irmo, o infante D. Pedro, por-ventura o nosso Marco Plo, viajante dasSete Partidas e genial diplomata que cor-reu o Mundo em busca denovas do Pres-tes Joo? Ou fica-se a dever tudo, entoa D. Joo I, o Rei de Boa Memria exalta-

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    do por Ferno Lopes, que o consideraquase uma sombra do seu Condestvel do

    Reino Nuno lvares Pereira? Ou mais doque a ele, o Mestre da Avis, tudo se fica adever a sua esposa D. Filipa de Lencastreque educou para a vida e para o Mundo anclita gerao?

    Afinal no vem tudo j preparadodesde as sbias determinaes do fraco

    rei, o Formoso, D. Fernando que permiteo fim da 1 Dinastia e quase deitava oReino a perder? Ou vamos atribuir todosos louros j ao Rei Lavrador, o D. Dinis e Rainha Santa Isabel e aos seus celebra-dos pinhais de Leiria como smbolo deuma viso do Futuro que no era possvel

    prever?A temos a Histria e os seus mist-

    rios... as suas verdades!!!

    neste ano de 1995, no decorrerdas Celebraes do 5 Centenrio dosDescobrimentos que afinal vm j desde1927 (1427, Diogo de Silves ter chegadoaos Aores Ocidentais e Centrais! abrindoa a poca das Descobertas!) e continua ahaver 500 anos para celebrar at muitolonge no ano 2000 (Magalhes morre em1521, sem acabar a sua Viagem de Cir-cum-navegao!).

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    Vamos fingir que estamos a cele-brar, desde h oito anos, os verdadeiros

    quinhentos anos de algo importante comoa Descoberta da passagem a Sudeste dafrica dobrada por Bartolomeu Dias entrefinais de 1487 e princpios de 1488.

    Isto permite-nos ficar ansiosos pelacelebrao dos quinhentos anos da Via-gem de Vasco da Gama, l para Abril /

    Maio de 1997!!! (em 2012 j vo 115!)

    Para celebrar tudo isto, parece-nosoportuno apostarmos na re/criao, evo-cao daquele Auto da Visitao ou doVaqueiro que mudou aquele Natal do anode 1502 para o dia oito de Junho!!!

    Quatrocentos e noventa e trs anosdepois, (em 2012, 510) e seguindo o pe-dido da velha rainhavamos pedir ao au-tor que isso mesmo lhe representasse sMatinas do Natal, endereado ao Nasci-mento do Redentormas, como eviden-te, ns vamos tentar situ-lo a quinhen-tos anos de distncia, a viver os proble-mas que nos rodeiam em finais de 1995,ou 2012...

    A partir de quadros evocativos doNatal que devem estar espalhados por di-versos locais, Prespios com figuras tradi-

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    cionais, desenhos e pinturas, reconstru-es estilizadas da Gruta de Belm com a

    sua manjedoira onde, de tempos a tem-pos, podero entrar figuras animadas afazer de figuras fixas!!!... S. Jos/s, Vir-gem/s, Menino/s Jesus/es, um/ns Bur-ro/s, uma/s Vaquinha/s... uns reis Magosque podem ser sucessivos grupos de Gas-par/es, Baltazar/es e Belchior/es... pasto-

    res e pastoras, ovelhas, carneiros e cor-deiros... quanto baste...

    ...e assim, temos o ambiente preparado para agrande celebrao!!!

    Em vez das figuras do Prespio tra-dicional delicadamente colocadas naquelecenrio que ser uma gruta, um curral de

    recolha de animais, uma estrumeira......pode-se, de vez em quando, porartes mgicas, mudar as figuras em Reise Rainhas - mes e Rainhas - velhas e In-fantas, transformando aquele curral emcmara real onde, D. Maria, acompanhadado seu real esposo D. Manuel I, por sua

    vez acompanhado de sua me a InfantaD. Beatriz, que por sua vez est ao ladoda rainha velha, D. Leonor, a das Miseri-crdias, a viva do imortal Prncipe Per-feito D. Joo II que, apesar de j desapa-recido, ali podemos pr como evocao,para que tudo fique completo...

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    ... e a partir daqui, depois da trans-formao das figuras tradicionais em figu-

    ras histricas, nada nos impede de viajarpelas diversas pocas e figuras... e, por-que no, colocar ali as figuras ilustres eno s, da nossa actualidade real, realistae risvel ou possivelmente ridcula?!!!

    Com esta contribuio, pretende-mos que a Escola que se descobre como

    Cultural, objecto e agente de Cultura,neste Natal de 1995, a cinco passos da vi-ragem do milnio, que nos abre insuspei-tadas portas de um possvel reNascimentode um Mundo Novo; (ou em 2012) nestapoca em que a Escola toma conscinciade entidade integrante e interveniente na

    Sociedade em transformao, sem ignoraras razes Culturais que lhe do identida-de...

    ...vamos, senhoras e senhores,re/criar, para recrear, o Auto da Visitaoou o Auto do Vaqueiro de Mestre Gil Vi-cente.

    Para que seja devidamente conse-guido, antes, vamos ficar com uma pano-rmica, do Homem - Gil Vicente, daOBRA, da sua poca e da Bibliografia...

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    GIL VICENTE

    Algumas NOTAS sobre a1. VIDA

    2. OBRA e Dados histricos3. POCA - os Reinados de GV

    4. Algumas datas sobre os DESCO-BRIMENTOS

    So elementos, que parecem indis-

    pensveispara uma possvel LEITURA ACTUAL

    de GV e dos seus AUTOS...

    1 - GIL VICENTE - VIDA ....................... 1882. - OBRAS DE GIL VICENTE ................... 25

    3. POCA ......................................... 2994. - OS DESCOBRIMENTOS: Algumasdatas e nomes para referncias... .......... 3365 BIBLIOGRAFIA usada........................ 35

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    1 - GIL VICENTE - VIDA

    O que se pode dizer da vida desteHomem?!...Como acontece com grande nmerode nomes ilustres da nossa Literatu-ra e da nossa Histria, pouco se sa-be, ao certo, da vida de Gil Vicente.Costuma ser divertido discutir-se se

    ser o mesmo mestre Vicente, ouri-ves artista, que assina a clebrecustdia de Belm.Mais importante do que isso, sertil ter em conta alguns dados maisimportantes da poca em que eleviveu, para o podermos situar noespao e no tempo.

    Gil Vicente ter nascido entre 1460,1465, ou 1470.Onde? Muitas terras reivindicam asua naturalidade sob os mais diver-sos pretextos. Em Guimares? NaBeira? Na Covilh? No possvel

    saber. Os do futebol teimam emconsiderar que de Barcelos que jproduziu outros fenmenos como ogalo e a Rosa Ramalho!Claro que tambm pode ser de Lis-boa, ou pode ser considerado comoum dos muitos portugueses, j, na-quele tempo!, oriundos da provn-

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    cia, que se vai tornar famoso juntoda corte, em Lisboa.

    A Imprensa de Gutenberg data de1450, e, embora s para muito pou-cos, como agora, desde essa altura,s existe e tem valor o que fica re-gistado pela escrita!

    Viveu em pleno a poca urea dosDescobrimentos, tendo ele prprio asua poca urea, no reinado de D.Manuel I, o rei Venturoso e/ou Afor-tunado que, no s realizou o sonhomximo dos Descobrimentos, comopde reinar em paz!!!, reinstalandoo absolutismo que havia de ser umdos factores que haviam de travar a

    dinmica, possivelmente utpica,lanada pela generosidade e genia-lidade dos Homens de Quinhentos,do Renascimento, do Humanismo,de toda uma Revoluo no sistemae mtodos do conhecimento e damaneira de estar no Mundo!!!

    Ter morrido cerca de 1536, emvora, onde possivelmente jaz, se-pultado no mosteiro de S. Francisco.Mais um dado incerto!!!Morre entretanto, j afastado dosfavores da Corte; e j com a ansia-

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    da Inquisio, afanosamente pedidapelo seu pupilo D. Joo III, que

    nascera com o seu nascimento parao teatro!, a chegar com toda a suacorte de injustias, julgamentossumrios, arrogncia, prepotncia,abusos discricionrios, crimes...Mais um factor a travar a caminha-da que a Humanidade tinha enceta-

    do!!!

    Viveu, pois, nos reinados de D. JooII (1455, rei de 1481 a 1495 - teriaGV 35? 25 anos)!, a quem chama odomado (no sentido de estimado,querido); e viveu sobretudo na cor-

    te de D. Manuel (1469 - rei de 1495a 1521 - a plenitude da maturidadede GV); e viveu ainda no reinado deD. Joo III, no nascimento de quemvai representar o Auto da Visitao(1502 e rei de 1521 a 1557), masdurante o qual entra em declnio e afastado da corte!

    De qualquer maneira, estes so osdados suficientes para nos permitirperceber que vive em cheio a tran-sio da Idade Mdia para o Renas-cimento com todo o seu cortejo deambiguidades e confuses!... viveu,

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    em posio privilegiada a empol-gante aventura do auge dos Desco-

    brimentos com o incio do estabele-cimento da expanso colonial!Assiste assim reinstalao do po-der absoluto em Portugal aps aesperanosa e eufrica experinciadas Cortes com a presena do Povo(vide Revoluo de 1383/85); e,

    nos ltimos anos, vai viver a sinis-tra espera da chegada oficial da In-quisio a Portugal, que finalmen-te autorizada no ano da sua mor-te!!!

    Com isto, podemos talvez ver o

    Mestre Gil Vicente e a sua Obra,com todas as suas marcas de umapoca de transio, como possivel-mente a nossa e muitas outras.

    Por um lado, ainda vive, mesmoque j fortemente contestada e re-jeitada pelas elites, toda a ingenui-

    dade, espontaneidade e refinadamalcia da Idade Mdia, com toda asua iluminada obscuridade teocn-trica e o seu predomnio do religiosoe das crendices, sustentada pelasegurana da infalibilidade do Ma-gister dixit tanto para a Religio

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    como para a Cincia; com toda amagia das tradies sociais rurais, e

    espontaneidade da linguagem popu-lar analfabeta!...Vivendo, ao mesmo tempo, a pas-sagem para o Renascimento, Classi-cismo, Humanismo, com as suas re-ferncias mitolgicas alargadas;com o exerccio do seu poder crtico

    sobre os problemas sociais e religio-sos. Podemos assistir, com ele, transio possivelmente perigosa eviolenta da contestao da CinciaDogmtica do princpio da Autorida-de, para a grande aventura da Cin-cia Experimental. Ou seja, ao apa-

    recimento de um Novo Esprito Ci-entfico, baseado na dvida, na in-vestigao e na prova.

    alis, este novo esprito cientfico,que anima, ainda hoje, passadosquinhentos anos, os pioneiros doprogresso da Humanidade que, co-

    mo diz Carl Sagan, obedece a duasregras fundamentais.A primeira consiste em tomar cons-cincia de que no existem verda-des absolutas ou sagradas. Todas asasseres devem ser cuidadosa-mente examinadas com esprito cr-

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    tico. Os argumentos de Autoridadedeixam de ter valor. Nada provam.

    Segunda complementar desta.Tudo aquilo que esteja em contradi-o com os factos tem de ser rejei-tado ou revisto. No se pode con-fundir aquilo que gostaramos quefosse, com aquilo que na realida-de.

    Como se verificou, muitas vezes, aolongo dos tempos, aquilo que pare-cia bvio e evidente, estava e esterrado; e o inslito e inesperado, verdadeiro... ver (um sculo maistarde) a famosa frase de Galileu(1564 - 1642): E pur si muove.

    Mesmo que no tenha sido pronun-ciada no clebre dia 21/22-06-1633, nem por isso deixa de seruma terrvel verdade e um violentoprotesto, ainda actual, contra toda aforma de autoritarismo e arrognciadas Doutrinas e das Cincias insta-ladas nos seus cmodos dogmatis-mos.

    Enfim, Gil Vicente fica na Histriada Literatura, como o fundador doTeatro Portugus de nvel literrio.Fundador e pioneiro e genial mestreem praticamente todas as verten-

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    tes, como actor, encenador, e autorde valiosa, variada e contestada

    obra... inicia a sua obra de come-digrafo com o Monlogo do Vaquei-ro ou Auto da Visitao que ele pr-prio representou, dois dias aps onascimento do que havia de ser orei D. Joo III, e vai deixar-nos pelomenos, mais de quatro dezenas de

    peas teatrais, coligidas mais tardepor seu filho Lus, divididas em Au-tos, Mistrios religiosos, Milagres,Moralidades e Tragicomdias...

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    2. - OBRAS DE GIL VICENTE

    e alguns dados histricos para possvel enqua-dramento no CONTEXTO...Ano Gil Vicente

    (GV e n obras 1-49) / Dados da poca (DE)

    1450 DE Aparecimento da IMPRENSA de Gutenberg.1460 GV 65?70? - Nascimento de Gil Vicente1481 DE Morte de D. Afonso V, o Africano. Reina D.

    Joo II.

    148384

    Lutas de D. Joo II com a nobreza. Execuo do Duquede Bragana em vora, e D. Diogo, duque de Viseu,irmo do futuro rei D. Manuel I, cunhado do rei, apunhalado pelo prprio rei. A rainha D. Leonor (a Ra-inha Velha de Gil Vicente) funda um Hospital em Cal-das da Rainha (futuro das Misericrdias).

    1487 DE Bartolomeu Dias dobra o Cabo da Boa Es-perana.

    1489 DE Primeira impresso de um livro em Lisboa.?

    1490DE Morte do prncipe herdeiro D. Afonso, filho de D.

    Joo II, que entretanto casara com D. Isabel, fi-lha dos reis catlicos de Espanha. Foi um pro-fundo golpe para o rei e para o seu sonho deunificao ibrica...

    1492 DE Cristvo Colombo chega Amrica, lan-ando a confuso da chegada ndia peloOcidente...

    1494 DE Tratado de Tordesilhas que divide o Mundo entre Por-tugal e Espanha, de plo a plo, por um meridiano

    imaginrio a 370 lguas a Ocidente do Arquiplago deCabo Verde. Hbil manobra dos enviados de D. Joo IIque detm conhecimentos nicos sobre a existncia da

    Amrica e do Brasil... cartografia... e mtodos de ori-entao...O Breviarium Bracarense, fica a marcar o aparecimen-to da imprensa em Portugal...

    1495 DE Aclamao de D. Manuel I que dois anosdepois casa com a viva de seu primo (D.Afonso) D. Isabel, pretendendo dar conti-

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    nuidade ao sonho Ibrico do Prncipe Per-feito...

    1497 DE Partida da Armada de Vasco da Gama paraa ndia... em Maio / Julho.1498 DE Chegada de Vasco da Gama a Calecut.

    D. Leonor funda as Misericrdias.1500 DE Descoberta oficializada do Brasil.

    D. Manuel casa com a infanta D. Maria deCastela.Diogo de Gouveia reitor na Universidadede Paris...

    1502 1 Monlogo do Vaqueiro ou Auto da Visitao(c)

    2 Auto Pastoril Castelhano (c)DE Aparecimento do segundo Dirio da segun-

    da viagem de Vasco da Gama ndia...1503 3 Auto dos Reis Magos (c)1504 4 Auto de S. Martinho (c)1506 Sermo feito rainha D. Leonor (c)

    1507 DE Na ndia, Afonso de Albuquerque conquistaOrmuz

    1509 5 Auto da ndia (1519?) (p)6 Auto da Sibila Cassandra (c)

    DE Afonso de Albuquerque empreende a for-mao do imprio portugus na ndia

    1510 7 Auto da F (bilingue)8 Auto da Fama (1521?) (p)

    1511 9 Auto dos Quatro Tempos (c)1512 10 O Velho da Horta (p)

    11 Auto dos Fsicos (c)DE Mais de 1200 portugueses embarcam para a ndia e

    muitos por l ficam...

    1513 DE Clebre embaixada de D. Manuel ao PapaLeo X...

    1514 12 Exortao da Guerra (1513?) (p)

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    DE Construo da Torre de Belm...1515 13 Quem tem Farelos (1505?) (bilingue)

    1516 DE Cancioneiro Geral de Garcia de Resende...1517 14 Auto da Barca do Inferno (1512?) (p)1518 15 Auto da Barca do Purgatrio (p)

    16 Auto da Alma (1508?) (p)1519 17 Auto da Barca da Glria (c)

    DE Ferno Magalhes atravessa o estreito que fica com oseu nome...

    1520 DE Obra da Gerao Humana18 Auto de Deus Padre, Justia e Misericrdia

    1521 DE Morte de D. Manuel e aclamao de D. JooIII

    19 Cortes de Jpiter (p)20 Comdia de Rubena (bilingue)

    Romance morte de D. ManuelOrao dos Grandes depois de enterradoEl-ReiRomance Aclamao de D. Joo III

    Palavras dos Senhores ao Beijar da Mo1522 21 Pranto de Maria Parda (p)1523 Trovas ao Conde de Vimioso

    22 Farsa de Ins Pereira (p)23 Auto Pastoril Portugus

    1524 24 Frgua de Amor (bilingue)25 Comdia do Vivo (1514?) (c)

    1525 26 O Juiz da Beira (bilingue)

    27 Auto das Ciganas (1521?) (c)28 Tragicomdia de D. Duardos (c)

    DE Nascimento de Cames (a data mais pro-vvel)

    1526 29 Templo de Apolo (bilingue)30 Auto da Feira (p)

    1527 31 Comdia sobre a Divisa da Cidade de Co-imbra (bil.)

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    32 Auto das Fadas (bil.)33 Nau de Amores (bil.)

    34 Farsa dos Almocreves (1526?) (p)35 Tragicomdia Pastoril da Serra da Estrela(p)

    36 Breve Sumrio da Histria de Deus (segui-do de...)

    37 Dilogo dos Judeus sobre a Ressurreio(p)

    38 Auto da Festa (p)

    Trovas a D. Joo III1529 39 Triunfo do Inverno (c)40 O Clrigo da Beira (p)

    1530 DE Tremor de terra em Lisboa e em 1531DE Pedido da Inquisio em Portugal

    1531 Fala de Gil Vicente aos Frades de S. Fran-cisco em Santarm, defendendo os cristosnovosCarta de Gil Vicente sobre a atitude dosfrades

    41 Jubileu dos Amores (representado em Bru-xelas em castelhano)

    42 Auto da Lusitnia (bil.)1533 43 Romagem de Agravados (p)

    44 Aderncia do Pao (desaparecido?)45 Vida do Pao (desaparecido)46 Auto de Amadis de Gaula (c)

    DE Andr de Gouveia eleito Reitor da Universida-de de Paris...

    1534 47 Auto da Cananeia (p)48 Auto da Mofina Mendes (p)

    1536 49 Floresta de Enganos (bil.)Estabelecimento da Inquisio em Portu-gal.Morte de Gil Vicente (?)

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    3. POCAOs primeiros reinados da 2 Dinastia e osReis com quem Gil Vicente viveu.Mais alguns dados histricos da POCAVICENTINA para uma possvel compreen-so do que passava h 500 anos e comotentativa para tentar perceber a nossa...

    D. Joo I Dcimo rei de Portugal, d incio segunda Dinas-tia, aps a primeira srie que comeara em AfonsoHenriques e terminou com D. Fernando e a crise de1383/85.Viveu de 1357 a 1433. Reinou de 1385 (Cortes de Coim-bra) a 1433.Filho bastardo de El-rei D. Pedro e de Teresa Loureno.Em 1364, ainda menor de sete anos investido comoMestre de Avis, com a formao religiosa, militar e culturalinerentes a esta funo.

    Foi protagonista com lvaro Pais, Joo das Re-grase Nuno lvares Pereira da Crise de1383/85. A as lutas com Castela, o Cerco de cincomeses de Lisboa, a aclamao como rei nas Cortesde Coimbra, a Batalha de Aljubarrota, o casamentocom D. Filipa de Lencastre, matriz fecunda danclita gerao de altos infantesdonde sobres-saem o futuro rei, D. Duarte, D. Henrique, D.Fernando e D. Pedro, o das sete partidas...

    D. Duarte Reinou de 1433 a 1438. Filho mais velho e herdeirode D. Joo I e D. Filipa de Lencastre, nasceu em 31de Outubro de 1391. Reinou breves cinco anos masdeu continuidade obra de seu pai e deixou o ca-minho preparado para o seu sucessor como provaaLei Mentalpublicada pelo seu filho D. Afonso V.Deixou-nos obras literrias como Ensinana debem Cavalgar Toda a Sela e Leal Conselheiro.Ficou marcado pelo envolvimento nas desastrosasempresas de Ceuta e de Tnger, onde ficou o seu

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    irmo D. Fernando.Aconteceu, durante o seu reinado o escndalo do

    Conclio de Basileia, a continuao do Cisma doOcidente com a existncia do Papa de Roma e dode Avinho e depois, at diviso da Igreja portrs Papas...

    D. AfonsoV

    1438 - 1481. Tendo nascido em 1432, foi logo pro-clamado Rei com apenas seis anos e idade devido morte prematura do pai alanceado pelo desastrede Tnger e vtima da peste endmica do Reino.Este perodo marcado por uma grave crise e pelaguerra civil. Esta crise acalmada durante a re-

    gncia sbia, de sete anos, de D. Pedro, em nomedo rei menino, (1438 - 1445) logo reacendida em1446 indo culminar com o trgico desfecho da Ba-talha de Alfarrobeira, em 1449, onde morre o tioregente D. Pedro, pai de D. Isabel, com quem D.Pedro tinha casado...Por sua vez, estes vm a ser pais de infanta SantaD. Joana, e de D. Joo II que vir a ser o PrncipePerfeito...

    Reinado desastroso de trinta e dois anos, salvo,pela positiva, pelo continuado trabalho do seu tioD. Henrique que continuava a saga dos Descobri-mentos, e por fortuitas vitrias em frica que lhevaleram o cognome de Africano...Deu-se, em 1453, a queda de Constantinopla e o terrorda ameaa do Gro-Turco... Foi feliz na expedio africa e chegou a ser senhor de Ceuta, de Alccer-Seguer, Arzila e Tnger o que lhe deu o direito deacrescentar ao ttulo de Rei de Portugal e dos Algar-

    ves, o de DAqum e dAlm - Mar em frica. Apesardisto, este tumultuoso reinado, tambm o prembulodo sculo ureo da Cultura Portuguesa da Renascena,que se vai manifestar nos reinados de D. Joo II, D.Manuel, e mesmo D. Joo III que haviam de produzirum Gil Vicente, Pedro Nunes, Garcia de Orta, AntnioFerreira, D. Joo de Castro, Lus de Cames...

    D. Joo II Nasceu em 1455 e reinou de 1481 a 1492. O Prn-cipe Perfeito, como ficou conhecido na histria, vaidar continuidade grande Obra de seus tios, os in-

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    fantes D. Henrique e D. Pedro, desvirtuada pelosdesvarios aventureiristas de seu pai D. Afonso V, a

    ele se deve o empenhamento de Portugal, comonao e Governo, no grandioso empreendimentodos Descobrimentos, como um projecto solidamen-te baseado em estudos rigorosos, escolas de inves-tigao e registos, e em dados cientficos, continu-ada depois na explorao sistemtica, programadae rigorosamente orientada... como empresa pionei-ra e genial, de interesse nacional e de toda a Hu-manidade, na linha das grandes exploraes actu-ais do Espao e do Cosmos.

    Reinado de grandes convulses internas, vai serpreciso dominar as ambies da Nobreza, sada dahipottica Revoluo de 1383/85.Senhor de uma excepcional Cultura, inteligncia esentido de governo poltico, este rei, filho de pri-mos..., tendo-se empenhado, desde os dezasseisanos, nos negcios do reino, e sobretudo no em-preendimento dos Descobrimentos, que o seu pai,na sua inrcia, felizmente lhe confiava..., determi-

    nou o desenvolvimento dos estudos da Geografia,Cosmografia, Astronomia e Matemtica, e outrasreas de Cultura at ento obscuras universalmen-te...Dispondo de um escol de experientes navegadores,pilotos, marinhagem, tcnicos e sbios nas cinciasda Geografia e arte de marear, cosmgrafos, car-tgrafos, matemticos e navegadores..., procurou,por exemplo, localizar o famoso Prestes Joo que,depois de grandes e impressionantes viagens, foi

    identificado como o Negus da Abissnia por Pro daCovilh que, no regresso das suas viagens, ali ficoucativo at morte, mas s depois de ter feito che-gar a D. Joo II todas as informaes que haviamde abrir os caminhos para a Grande Viagem daDescoberta do Caminho Martimo para a ndia, quehavia de permitir o Encontro da Humanidade na sua diver-sidade de Culturas, Raas e Credos...A sua escola de pajens - onde, alm da educaonos servios internos da Corte e de intenso treino

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    desportivo de futuros cavaleiros, com equitao,manejo de armas, jogos de tavolado, caa de mon-

    te e falcoaria, inclua aprendizagem de maneirascortess, msica, dana, com especial interessepor estudos de cartografia, rudimentos de astro-nomia para navegao pelas estrelas, prtica deinstrumentos de bordo como astrolbios, leitura etraa de cartas eportulanos... Era nesse tempo, eparece que poder ser nos tempos de hoje, consi-derada o modelo de ESCOLA inserida no magodos problemas do Homem do Meio, tentando res-ponder s principais questes do seu tempo e vira-

    da para o Futuro...Lisboa era o centro vital da Europa e do Mundo Ci-vilizado. Era pioneira da Astronomia Nutica, Mes-tra da construo naval e arte de navegar, comgrande prtica de tabelas e de instrumentos nuti-cos, trato de comrcio e de convvio com povosbrbaros e exticos - tudo isto forado ao mais ri-goroso sigilo para evitar a concorrncia alheia...Mantinha contacto com sbios de todo o Mundo, e

    por ironia, assim foi o rei que se estabeleceu comosenhor absoluto e promotor da tremenda Inquisi-o em Portugal...Deixou enfim, tudo preparado para a Grande Via-gem, cujos louros viriam coroar o Rei Venturoso ouAfortunado ...

    D. ManuelI

    Nasceu em 1469 e reinou de 1495 a 1521. (Curioso binmio de26 mais 26 anos !).

    D. Manuel I, Duque de Beja, primo e cunhado deD. Joo II, irmo do Duque de Viseu, assassinado

    pelo prprio rei para pr termo a mais uma conspi-rao, considerado herdeiro do trono, por termorrido desastrosamente, da queda de um cavalo,o prncipe D. Afonso, nico filho varo de D. JooII, que se casara entretanto com D. Isabel, filhados reis catlicos de Espanha, os seus adversriosmais directos na saga dos Descobrimentos, so-nhando a realizao da unificao da Pennsula sobo comando de Portugal, que abriria os caminhos doMundo a descobrir...

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    este sonho que D. Manuel vai prosseguir, casan-do logo com D. Isabel, a viva do seu primo, em

    1497, que entretanto morre de parto, antes queseja conhecido o xito retumbante da gloriosa Via-gem de Vasco da Gama ndia.Casa depois, em segundas npcias, com a InfantaD. Maria, irm de D. Isabel, de quem ter dez fi-lhos, a comear pelo prncipe herdeiro que vir aser D. Joo III. o nascimento deste que vai servirde pretexto a Gil Vicente para dar a conhecer aspossibilidades do seu gnio como comediante ehomem de Teatro...

    D. Manuel casou ainda, no fim da vida, com a in-fanta de Castela D. Leonor, de quem ter a filha D.Maria, j no ano da sua morte, em 1521.E pode ser este o resumo do reinado do Rei Venturoso ouAfortunado que, merc das circunstncias, pde reinar emregime de puro absolutismo, herdando uma Nobreza dcile temerosa, devido interveno dura e inflexvel do Prn-cipe Perfeito! e herdando todas as condies e impulsos jdados para as grandes realizaes que permitiriam agrande glria do seu reinado e o fulgor deslumbrante dasua Corte...Este deslumbramento! no ter afectado somenteo rei e a sua corte, mas com certeza o povo quegovernava e que somos... Perteno a um gnerode portugueses / Que depois de estar a ndia des-coberta / Ficaram sem trabalho. Isto veio a dizerFernando Pessoa, disfarado de lvaro de Campos,in Opirio, estncia 27, que termina assim: A mor-te certa./ Tenho pensado nisto muitas vezes.Mas, j na estncia 13, tinha dito o poeta que es-

    crevia no Canal de Suez: Eu acho que no vale apena ter / Ido ao Oriente e visto a ndia e a Chi-na.; e na 14, Por isso tomo pio. um remdio. /Sou um convalescente do Momento. / Moro no rs-do-cho do pensamento / E ver passar a Vida faz-me tdio....Ser esta a leitura do Poeta da Mensagem do scu-lo XX, sobre o grande Rei Venturoso ou Afortunadoe os grandes acontecimentos de Quinhentos?

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    D. JooIII

    Nasceu em 1502 e reinou de 1521 a 1557. Sauda-do logo a dois dias do seu nascimento por Gil Vi-

    cente com o Monlogo do Vaqueiro ou Auto da Visi-tao, no dia 8 de Junho de 1502, ainda nos Paosdo Castelo de Lisboa, na cmara da Rainha partu-riente, perante o rei e toda a sua corte, bem po-demos dizer que, com o futuro D. Joo III, nasciatambm o teatro portugus, como diz Hernni Ci-dade e Carlos Selvagem no 6 volume da CulturaPortuguesa.Coube a este rei dar continuidade epopeia dosDescobrimentos que vinha sendo preparada desde

    o incio da segunda Dinastia especialmente pelostrabalhos desenvolvidos pelo Infante D. Henrique epor seu irmo o Infante D. Pedro, os da nclita ge-rao, mas tratava-se agora de consolidar o vastoimprio onde nunca o sol se punha, e pr cobroaos desmandos da cobia, do desgoverno e dosabusos que se cometiam longe das vistas e do po-der imediato do Rei.Pode dizer-se que o imprio e a expanso portu-

    guesa atingiam o seu auge, bem como a Culturado Renascimento fazia florir os nomes e as Obrasmais ilustres e, afinal, todo este esplendor, j es-tava minado pelo vrus da destruio.Estvamos no sculo em que Rabelais, logo no seuincio, concebera os homens em seu triunfo olmpi-co, engendrando no seio das prprias deusas ossuper-homens que imporiam ao mundo inteiro oimprio da sua lei, inventando a abadia deThlme; e em 1572, cantava Cames nos seus

    Lusadas a Ilha dos Amores onde Gama e os seusArgonautas, depois de dominarem as foras da Na-tureza, fruram a satisfao dos apetites nos frutosabundantes, nas cores variadas, nos encantos dasNinfas e descobriam a insacivel curiosidade da in-teligncia, na viso da Mquina do Mundo - oCosmos mostrado por Ttis em ante-Viso apon-tando assim o AMOR UNIVERSAL como META e so-luo para os problemas da Humanidade.

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    Mal floria a Idade de Oiro, e j se viam os Sinaisque a fariam murchar, denunciados por Cames,

    S de Miranda, Gil Vicente, Joo de Barros... D. Jo-o de Castro.Marcam o reinado deste rei, o abandono daspra-as-fortesdo Norte de frica por inteis e dispen-diosas... O estabelecimento da Inquisio em Por-tugal e a Vinda da Companhia de Jesus...Comea o descalabro do Imprio do Oriente ondetinham sido enviados Governadores e Vice-Reis n-tegros e enrgicos como Vasco da Gama, Nuno daCunha, D. Joo de Castro...

    Expande-se a Colonizao em frica, Angola e Mo-ambique e sobretudo a colonizao do imenso ter-ritrio do Brasil desde o Recife ao Rio da Prata...Este Rei veio a morrer sem herdeiro directo, dei-xando como sucessor um neto de trs anos: o De-sejado, D. Sebastio, que levaria o reino ao de-sastre de Alccer Quibir e perca da independn-cia em 1580, quando Cames, na agonia, se la-mentava: Ao menos, morro com a Ptria.

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    4. - OS DESCOBRIMENTOS: Algu-mas datas e nomes para refern-cias...

    1394 Infante D. Henrique (5 filho de D. Joo I e Filipa de Lencastre.(04/03/1394 - 1460)

    1411 Organiza a frota e toma parte importante na tomada de Ceuta1419 Redescobrimento portugus de Porto Santo1420 Madeira1427 Diogo de Silves ter chegado aos Aores Ocidentais

    1432 Descoberta e colonizao metdica dos Aores1434 Gil Eanes chega ao Bojador, Serra Leoa1441 O Infante envia Anto Gonalves ao Rio do Ouro1443 Pode dizer-se que incentivada a descoberta da Costa de fri-

    ca a Sul do Bojador, - Arguim - foz de Senegal - Rio do Ouro -Cabo Verde... Cabo dos Mastros... (com o interregno de Alfar-robeira... e intrigas da Corte...)

    1448 Descoberta das Amricas do Norte, Centro e Sul (provveis)1454 Bula de Nicolau V ao Infante outorgando-lhe em exclusivo a

    posse, ocupao e apropriao de todas as terras, portos, ilhase mares de frica...

    1460 Morte do Infante D. Henrique1460? 1465? 1470 - Nascimento de Gil Vicente

    1487 Bartolomeu Dias descobre a passagem do Sueste - Cabo da BoaEsperana

    1494 Tratado de Tordesilhas1495 Descoberta das Amricas... j confirmadas.1498 Cristvo Colombo, 3 viagem, ao Continente americano1519 Ferno Magalhes realiza a Viagem de Circum - navegao

    1536 Morte de Gil Vicente

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    5 BIBLIOGRAFIA usadaAutores Ttulos e Ed.SELVAGEM, Carlos e CIDA-DE, Hernni

    CULTURA PORTUGUESA, Empresa Nacionalde Publicidade, Ed. especial patrocinadapela Direco - Geral da Educao Perma-nente, 1971, em especial os volumes: 2,3, 4, 5 e 6, dos 18 da coleco.

    REM DIOS, Mendes dos(Reviso, Prefcio e notas)

    OBRAS DE GIL VICENTE, Tomo I, 1907,Tomo II, 1912, Tomo III, 1914, volumesXI, XV e XVII da Coleco Subsdios para oEstudo da Histria da Lngua Portuguesa,Coimbra, Frana Amado, Editor.

    QUADROS, Antnio (Intro-duo, organizao e biobi-bliografia)

    OBRA PO TICA DE FERNANDO PESSOA,POESIAS DE LVARO DE CAMPOS, Publi-caes Europa Amrica, Mem Martins,!985?, 86?

    SOARES, Albano Monteiro(Estudo, Anlise, Notas, Vo-cabulrio e Questionrios)

    FARSA DE IN S PEREIRA DE GIL VICENTE,Porto Editora, Porto, 1976.

    SARAIVA, Antnio Jos GIL VICENTE E O FIM DO TEATRO MEDIE-VAL, Livraria Bertrand, 3 ed., 1981, comprefcio de Paris de Outubro de 1965 ecujo ensaio serviu de tese de doutoramen-

    to, publicado em 1942.SARAIVA, Antnio Jos(Apresentao e leitura)

    TEATRO DE GIL VICENTE, Portuglia Edito-ra, 5 Ed. s/d.

    KEIL, Lus AS ASSINATURAS DE VASCO DA GAMA,UMA FALSA ASSINATURA DO NAVEGADORPORTUGUS, CRTICAS, COMENTRIOS EDOCUMENTOS, da Academia Nacional deBelas Artes, Conservador do Museu Nacio-nal de Arte Antiga, Lisboa, 1934.

    Vrios Verbo Ed. ENCICLOP DIA LUSO BRASILEIRA DE CUL-

    TURA, Ed. Verbo, especialmente nos te-mas Descobrimentos, Infante D. Henri-que...

    SARAIVA, Antnio Jos GIL VICENTE E O FIM DO TEATRO MEDIE-VAL, Bertrand, 3 ed., Lisboa 1983

    CRUZ, Duarte Ivo IINTRODUO HIST RIA DO TEATROPORTUGUS, Guimares Editores. Lis-boa,1983

    SARAIVA, Antnio Jos A CULTURA EM PORTUGAL teoria e His-tria Livro II primeira poca: A Forma-o edio de GRADIVA PuBLICAES,

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    Ld , Maro de 1991

    Ser longa a lista de dados para perceber plena-mente o CONTEXTO de um pequeno AUTO de GilVicente, mas no pretendem ser seno algumaspistas de LEITURA, para perceber a sua OBRA, oRenascimento, o que fomos e o que SOMOS CO-MO POVO.

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    39AUTOda

    VISITAO

    ou

    AUTOdo VAQUEIROde

    GIL VICENTEcom PROPOSTA

    para a re/cr(e)iaoe vrias recreaesdo mesmo AUTO

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    O espao onde vai acontecer estarepresentao deve ser, se possvel ao ar

    livre, ou num espao suficientementeamplo onde j esteja armado, em lugarde destaque, um Prespio tradicional comas figuras tradicionais, que rapidamentese podem retirar, transformando o ditoprespio - curral de animais - onde o Me-nino nasceu, numa Cmara real onde ter

    nascido o mui alto e excelente Prncipe D.Joo, o terceiro em Portugal...

    Para maior impacto de toda esta re-presentao, pode ser que os actores eencenadores queiram optar por fazer umcenrio mais complexo, deixando o ditoPrespio, por exemplo do lado direito; econstruindo uma recriao da possvelcmara real do lado esquerdo, ficando es-se cenrio e figuras, representadas poractores ou fabricadas, desde o princpioat ao fim.

    Assim, ficaria um equivalente espa-

    o central, entre as duas cenas de Nasci-mentos, - o real, que dizem ter sido o do Nasci-mento do Redentor: um curral com manjedoira eanimais, mais o Jos, Maria e o Menino...; numtempo em que faria frio e neve e se celebra emDezembro, prximo do dia mais curto do ano emLuz solar, e teria sido no ano um da nossa Era,mas devia ter sido no ano zero!; e o outro mesmoreal, uma cmara de um palcio real, onde teria

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    nascido o excelente Prncipe que nos vai brindarcom a Inquisio, e aconteceu a seis de Junho de

    1502, num tempo em que j faria calor com aaproximao do Vero, a quinze dias do maior diacom Luz solar do ano, da mesma Era! - para asoutras possveis re / criaes e re / crea-es!!!

    Criadas pois as condies ideais quetero levado muito tempo e muito traba-

    lho a preparar mas deve-se fingir de talmaneira que tudo isto parece ter apareci-do de um modo mais ou menos improvi-sado,

    entra um arauto, que pode ser umpajem ou um escriba, ou um cronista co-mo Ferno Lopes, ou at talvez umexemplar conselheiro real como apareceem quase todas as histrias que metemreis e rainhas e prncipes e princesas..., etalvez seja conveniente ir acompanhadopor uma dama que pode ser uma aia ouconfidente da rainha..., ou uma condessaou duquesa ou at marquesa estudiosa e

    letrada, o que era uma raridade no tem-po, mas com a presena de dotes que soe foram sempre intemporais, porquesempre sedutores!!!...

    e anuncia(m):

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    AUTO DA VISITAO

    e, sem mais, l ou lem a introdu-o do anunciado Auto no possvel Portu-gus antigo que nos resta para dar a ideiaque feita pelo prprio Gil Vicente.

    Porquanto a obra de devao

    seguinte procedeu de hua visitao,que o autor fez ao parto da muito es-clarecida Rainha Dona Maria, e nasci-mento do muito alto e excelente Prin-cipe Dom Joo, o terceiro em Portugaldeste nome; se pe aqui primeira-mente a dita Visitao, por ser a pri-

    meira coisa, que o autor fez, e que emPortugal se representou, estando omui poderoso Rei Dom Manoel, e aRainha (...) D. Beatriz sua me, e aSenhora Duquesa de Bragana, sua fi-lha, na segunda noite do nascimentodo dito Senhor. E estando esta com-

    panhia assim junta, entrou um va-queiro, dizendo:(In Obras de Gil Vicente, com reviso prefcio e notas de Men-des dos Remdios, Tomo Terceiro, Frana Amado - Editor, Co-imbra, 1914.)

    Esta a introduo que aparececomo introduo a este Auto de Gil Vicen-te.

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    Quem a fez? O autor, ou o seu filhoLus, que depois da sua morte tratou de

    editar as suas obras, em 1562, vinte e talanos depois da morte do pai e j com osesbirros da Inquisio a tentarem impedi-la, no fosse a interveno da j viva dosenhor D. Joo III!? Que erros tem? Por-que chama Rainha me de D. Manuelque nunca teve esse ttulo? por isso que

    nos atrevemos a tirar as aspas e apresen-tar de novo a mesma INTRODUO jcom emendas permitidas pelas obras con-sultadas e estudos feitos.

    Porquanto a obra de devaoseguinte procedeu de hua visitao,

    que o autor fez ao parto da muito es-clarecida Rainha Dona Maria (a se-gunda esposa do Rei D. Manuel), enascimento do muito alto e excelentePrincipe Dom Joo, o terceiro em Por-tugal deste nome; se pe aqui primei-ramente a dita Visitao, por ser a

    primeira coisa, que o autor fez, e queem Portugal se representou, estandoo mui poderoso Rei Dom Manoel, e aRainha (que seria D. Leonor a rainhavelha, viva de D. Joo II, o PrncipePerfeito, e a Infanta) D. Beatriz suame, e a Senhora Duquesa de Bra-gana, sua filha, na segunda noite do

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    nascimento do dito Senhor. E estandoesta companhia assim junta, entrou

    um vaqueiro, dizendo:

    Feitas estas pequenas mas subver-sivas alteraes, o vaqueiro no entra,que ns no deixamos, e faltam ainda ou-tras APRESENTAES.

    Apresentado o cenrio em que teracontecido este Auto da Visitao para ce-lebrar o nascimento do muito alto e exce-lente Prncipe Dom Joo, falta-nos apre-sentar o cenrio onde ter nascido o Re-dentor da Humanidade.

    O nascimento de Jesus, S. Lucas, 2,8 e pode ir at 20 com os anjos e pasto-res).

    E aconteceu, naqueles dias, quesaiu um decreto da parte de CsarAugusto, para que todas as pessoasse recenseassem.

    (Este primeiro recenseamentofoi feito sendo Cirnio presidente daSria.)

    E todos iam recensear-se, cadaum sua prpria cidade.

    E subiu, tambm, Jos da Gali-leia, da cidade de Nazar, Judeia,

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    cidade de David, chamada Belm(porque era da casa de David),

    A fim de alistar-se com Maria,sua esposa, que estava grvida.

    E aconteceu que, estando ali, secumpriram os dias em que ela haviade dar luz.

    E deu luz o seu filho primog-nito, e envolveu-o em panos, e dei-

    tou-o numa manjedoura, porque nohavia lugar para eles na estalagem.

    Esto feitas as APRESENTAESdos NATAIS que aconteceram no passado.Um que ter acontecido em seis de Junhode 1502; e o outro que, por no se saber,

    se celebra na noite de 24 para 25 de De-zembro dum suposto ano UM.

    E a APRESENTAO para a nossa RE-PRESENTAO?

    Em finais do sculo XX ou j no li-miar ou em pleno sculo XXI, no NATALdeste ano (2012), no pas ou na cidadeou na vila ou aldeia ou bairro ou escolaou zona em que vivemos... possvel su-por vrias situaes, tal como Mestre Gilfaria, se se visse na emergncia de pre-parar cuidadosamente um brilhante im-proviso para fazer uma representao...para divertir... criticar... e pr a pensar...

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    to ilustre Assembleia... como esta cor-te aqui reunida.

    (De repente, ltima hora, tudo,cenrios e figurantes, e tudo o que elessimbolizam, pode mudar subitamente, edeixar campo livre para a criatividade eimprovisao!!!. Podem tambm manter-se os dois cenrios fixos, e aproveitar o

    espao livre, central para a recriao oupara a recreao. Para os artistas querepresentam e para os artistas que ou-vem, assistem ou participam..., fica umvasto campo para o sonho, para a fanta-sia e para a arte.)

    (Entra finalmente um ARAUTO quej no o apresentador e vai ter o encar-go de apresentar estas e outras represen-taes e ANUNCIA:)

    Senhoras e senhores!Meninos e Meninas!Alunos e professores!

    Assessores e funcionriosE outros auxiliares!Ilustres autoridades!Visitas e convidados!Senhores espectadorese presentes nesta sala...

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    Tenho eu grande prazerE grande honra tambm

    De poder anunciarQue o cenrio vai mudarNada mudando afinalDaquilo que esto a ver!...

    (Deve dar algum tempo para que seinteriorize o ESPANTO geral que se gerou

    na sala e... solenemente anuncia:)

    que agora vai entrarPerante o espanto geralQue ora deve acontecerEm cada um que nos vE nos ouve, est bem claro,

    Um tal Mestre Gil VicenteQue na Era de QuinhentosSe atreveu a ApresentarL no palcio realOnde paria a RainhaUma Comdia mui sriaQue a todos fazia rir...E transformava os Senhores,Reis, Rainhas e Infantes,Infantas e Servidores,em personagens de Drama,de Tragdia, de Teatro...Para que, ao verem-se em ce-naSe rissem dos prprios actos

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    Que vo vivendo na vida...

    E rindo de si e dos outrosDepois se vo transformarDe acordo com os princpiosE os valores que defendiamOu descobremQuando falam e discursamMas logo deles se esquecem

    Quando agem e decidem...Assim, Senhoras, SenhoresE todos os espectadores...,

    O Menino que ali vedesNo Jesus, nem Joo...O que vai ser o terceiro

    Desse nome em PortugalL para ano vinte e umDo sculo dcimo sexto Manuel ou MalaquiasOu Jos ou AntnioDuma Era de QuinhentosA Regressar ao FuturoDesta Era que vivemos...

    Nossa Senhora Maria.Tambm o a RainhaA esposa j segundaDo grande Rei Venturoso,Como todas as MariasMesmo sem ter esse nome...

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    S. Jos D. ManuelOu outro nome qualquer

    Como o Rei afortunadoQue reinou em PortugalNaquele tempo cobiadoEm que ouro era a granel...

    Depois, no resto dos quadros,Com anjos reis e pastores

    E Infantas e DuquesasE com burros e vaquinhasE ovelhas e carneirosPodeis ver os figurantesDo teatro que a vidaDesse tempo e deste tempo...

    Podem aparecer Cames,

    Joo de Barros, Albuquer-que/s,D. Teresa/s; e Urraca/sD. Ins/es, Isabel/eisou outros nomes que tais...S/s de Miranda, os Ca-bral/ais,

    Vasco/s da Gama, D. Pedro/s,Os Infante/s D. Henrique/s,...E at o/s Desejado/sD. Sebastio - EncobertoQue vai aparecer prazenteiroNum dia de nevoeiro!!!

    Mas para qu buscar figuras

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    De passado to distante?

    Podeis ali ver sentadosOu de p em pose erectaNo espao de sobejoDeste palco que a vidaE a infinda imaginaoAs figuras do presenteQue governam o Pas

    A Escola ou a CidadeA Vila ou a Freguesia.Homens, mulheres e crianasRodando a roda da vidaEm constante corrupio...

    Ou virando o bico ao pregoO palco passa para a

    Onde est a assistnciaE, por arte ou por magia,Os actores deixam de o serE todos aqui presentesSo os actores a viverAs suas vidas de sempreVulgares e habituais

    Com mil mentiras e truquesE gestos lassos, banais...

    E assim vamos cena... cena, cena, SenhoresEntrem em cena os actoresAnunciem-se os autoresQue o Auto vai comear

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    Com a cena mais banalQue acontece afinal

    Aos milhares, todos os diasEm toda a roda do Mundo...Uma mulher vai ser meDar luz uma crianaQue ao dar o primeiro gritoUm vagido intraduzvelTem pela frente uma vida

    Onde cabe toda a esperana...

    o momento, senhoras,Senhores e espectadoresDe aparecer Gil VicenteO prprio, em carne e osso...No se deixem enganar

    Pelos disfarces que trazSeja Homem ou MulherPois a arte do Teatro fazer o que lhe aprazComo quem e quando qui-ser...

    Vem agora disfaradoDe Pastor ou de VaqueiroEntrando qual furacoPelas portas do PalcioDEl-Rei Manuel, o primeiroQue olhava o seu herdeiroAcabado de nascerE em breve viria a ser

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    Em Portugal o terceiroCom esse nome Joo...

    E entrando aos tropeesTemperados com uns pala-vresCom empurres e punhadasEntre dadas e levadasLogo fica deslumbrado

    Quando o deixam descansadoPor ser louco sem consertoOlhando tanta riqueza,Tanta beleza afinal...Como pode viver bemA Nobreza em Portugal...

    A est.Entra oVAQUEIRO

    No se deixem enganarMinhas senhoras, senhores

    com este falar estranhopois ele fala castelhano

    uma lngua vicentinade raiz tambm latina

    um portugus mal faladoque no h em nenhum lado:

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    Pardiez! siete arrepelones

    Me pegaron la entrada,Mas yo di una puada uno de los rascones.Empero, si yo tal supiera,No viniera,Y si viniera, no entrra,Y si entrra, yo mirra

    De manera,Que ninguno no me diera.

    Mas andar, lo hecho, es he-cho:Pero todo bien mirado,Ya que entr, neste abrigado,

    Todo me sale en provecho.Rehulgome en ver estas co-sas,Tan hermosas,Que est hombre bobo en ve-llas:Volas yo; pero ellas,De lustrosas,A nosotros son daosas.

    (Falla Rainha)Si es aqui adonde vo?

    Dios mantenga si es aqui:Que yo no s parte de mi,Ni deslindo donde est.

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    Nunca vi cabaa tal,En especial

    Tan notable de memoria:Esta debe ser la gloriaPrincipalDel paraiso terrenal.

    que sea, o que no sea,Quiero decir que vengo,

    No diga que me detengoNuestro consejo e aldea.Enviame saber ac,Si es verdQue pari Vuestra Nobreza?Mi f si; que Vuestra AltezaTal est,

    Que seal dello me d.Muy alegre y placentera,

    Muy ufana y esclarecida,Muy prehecha y muy lucida,Mas mucho que dantes era.Oh qu bien tan principal,Universal!

    Nunca tal placer se vi!Mi fe, saltar quiero yo.He, zagal!Digo, dice, salt mal?

    Quien quieres que no revienteDe placer y gasajado!De todos tan deseado

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    Este prncipe excelenteOh qu Rey tiene de ser

    A mi verDebiamos pegar gritos:Digo que nuestros cabritosDende ayerE no curan de pacer.

    Todo el ganado retoza,Toda laceria se quita;Com esta nueva benditaTodo el mundo se alboroza.Oh que alegria tamaa!La montaaY los prados florecieron,Porque ahora se complieronEn esta misma cabaa

    Todas las glorias de Espaa.Qu gran placer sentir

    La gran corte castellana!Cuan alegre e cuan ufanaQue vuestra madre estar,Y todo el reino monton!Con razon.Que de tal rey procediEl mas noble que naci:Su pendonNo tiene comparacion.

    Qu padre, qu hijo y qumadre!

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    Oh qu aguela y qu aguelos!Bendito Dios de los cielos,

    Que le di tal madre y padre!Qu tias, que yo me espanto!Viva el prncipe logrado!Quel es bien aparentado!Juri Sanjunco santo.

    Si me ora vagra espacio,Y de prisa no veniera,Juri nos que yo os dieraCuenta de su generacio.Ser rey don Juan tercero,Y herderoDe la fama que dejaronEn el tiempo que reinaron,El segundo y el primero,

    Y aun los outros que passa-ron.

    Quedronme all detrasUnos treinta compaeros,Porquerizos y vaqueros,Y aun creo que son mas;Y traen para el nacidoEsclarecidoMil huevos y leche aosadas,Y un ciento de quesadas;Y han traidoQuesos, miel, lo que han po-dido.

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    Quirolos ir llamar:Mas segun yo vi las seas,

    Hanles de mesar las greasLos rascones al entrar.

    Entrro certas figuras de pastorese offerecro ao Principe os ditos presen-tes. E por ser cousa nova em Portugal,gostou tanto a Rainha velha desta repre-

    sentao, que pedio ao autor que istomesmo lhe representasse s matinas doNatal, endereado ao nacimento do Re-demptor; e porque a substancia era muidesviada, em lugar disto fez a seguinteobra.

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    E logo a seguir vem o

    Auto Pastoril Castelhanoendereado s Matinas do Natal

    O AUTO PASTORIL CASTELHANO um auto emque entra um Gil, um pastor inclinado vida con-templativa e anda sempre solitrio... logo apareceoutro, o Braz, que o repreende disso... Aparecen-do de seguida o Lucas, o Silvestre, o Gregrio e

    o Mateus...No o vamos introduzir aqui... porque j chega detranscrever Gil Vicente.Vamos us-lo s em mmica para ser percebido spor quem j o conhece e despertar interesse aosque o no conhecem para o virem a ler...

    Trata-se agora de dar uma devida encena-o a esta parte final do AUTO DA VISITAOque, em vez de apontar para um final desinteres-sante e confuso, com desfiles e pequenas repre-sentaes e declamaes mais ou menos bem im-provisadas, ser, ter de ser, um primeiro pontoculminante num grfico que est ainda em cres-cendo.

    Trata-se, portanto, fundamentalmente, de

    conseguir organizar o caos, a confuso, o movi-mento delirante em perfeita sintonia com o Cos-mos que gera a vida, a estabilidade e a perptuarenovao no ciclo permanente patente nas esta-es e na sucesso sempre renovada do dia e danoite e da morte e da VIDA.

    Assim, ao mesmo tempo que comea umdesfile, estilo procisso, cortejo de homenagem,

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    que se encaminha e desfila perante o futuro ReiD. Joo III e a famlia real; e em que tudo pos-

    svel, a variedade de presentes, o seu simbolismo,a dana, a mmica o canto, representaes e de-clamaes individuais e em grupos, uns grandes,outros pequenos...

    ...paralelamente, e com muitos dos mes-mos personagens que j desfilaram e vo desfilarperante o Rei, passam-se cenas semelhantes oudiametralmente opostas do outro lado do Prespiopropriamente dito diante do Deus Menino.

    Estudar os presentes, o seu simbolismo erepresentatividade; e que podem ser tudo, deanimais a objectos a gestos e formas simbli-cas..., preparar quem e a forma como so levadose apresentados... ser todo um trabalho colectivode um grupo coeso e dinmico que tem de estarem sintonia com o seu meio social, com o ambien-

    te e com as preocupaes dominantes de todauma regio e duma gerao...

    o momento do espectculo global. Sepossvel, os actores e grupos de actores, ho-dedescobrir a forma de fazer passar toda a assistn-cia diante dos dois recm-nascidos que nascem,um em Belm de Lisboa, outro em Belm de Judno Oriente...

    Ainda durante este desfile, ao mesmo tem-po, e depois de terem desfilado provavelmentepelos dois prespios, no espao central, mas semo ocuparem, e mais inclinados para o lado do Pre-spio que curral de animais, em Belm de Jud,vai-se organizando o grupo que ter representadoem 1502 o Auto Pastoril Castelhano.

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    boca da cena, senta-se o pastor sonhador, o Gil,inclinado vida contemplativa, que sucessiva-

    mente e simultaneamente vai sendo rodeado pe-los restantes personagens do Auto: o Braz, o Lu-cas, o Silvestre, o Gregrio e o Mateus...Representam s atravs de mmica. Embora s opossa entender bem quem o conhece, ser impor-tante fazer passar o essencial para todos percebe-rem um pouco o Auto Pastoril Castelhano.

    Para que tudo isto entre numa dinmica de

    apoteose contida e ainda em crescendo, toda estasucesso de cenas, quadros e desfiles e represen-taes simultneas, tero como suporte, um, doisou trs Grupos Corais - Orquestra, que vo, unsaps outros, cantando os Cnticos de Natal maistradicionais, religiosos, profanos e em vrias ln-guas..., alguns dos quais aparecem em anexo nofinal deste trabalho.

    medida que o palco se vai esvaziando,pois as pessoas regressam aos seus lugares, por-que o espectculo vai continuar, ou recomear...,os cnticos vo cedendo lugar msica de fundo,e por sua vez, vai tambm chegando ao fim a si-mulao do Auto Pastoril Castelhano mimado pe-los seis pastores...

    Nesta altura, dum lado e doutro, sobretudodo lado de Belm Ocidental, aparece o Rei D. Ma-nuel a cumprimentar e a felicitar o Mestre Gil Vi-cente que Vaqueiro, e a sua esposa que confia omenino a uma ama, e a Duquesa de Bragana...Jos e Maria, vo timidamente esboar uns brevesagradecimentos ao autor e aos intervenientes... eao pblico.

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    Tudo isto , evidentemente, sempre muitoaplaudido pelo pblico, mesmo que se tenham de

    fazer cartazes para saberem o qu e quando o de-vem fazer...!!! (Talvez seja importante avisar in-sistentemente que deve rir e rir bastante...)

    Assim a pouco e pouco, vo saindo todos, eno espao Central, que nesse momento j estpraticamente livre, aparece muito solene e dignaa Rainha Velha a falar com Gil Vicente..., e em-bora o pblico ainda no tenha percebido bem o

    que se passa, pois pensa que vai, como os outros,receber os aplausos do pblico, A Rainha Velhapede com um gesto o silncio e a ateno do res-peitvel pblico, pois a sua ida ali :

    - Para felicitar o Sr. Gil Vicente por istoser cousanova em Portugal... e a desafi-lo para novasaventuras...

    Fala a Rainha Velha, D. Leonor:Senhor, Mestre Gil Vicente,Ainda que de VaqueiroDisfarado se apresentee representeEste auto GenialCousa nova em Portugal...

    Eu, a viva dEl-Rey,Que foi o Prncipe PerfeitoE teve o nome JooO Segundo em Portugal...Como av deste MeninoQue vai ser Joo Terceiro

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    Que no neto verdadeiroPorque o nosso filho herdeiro

    Tragicamente morreuEscolhendo como filhoD. Manuel o VenturosoQue o sonho realizouDe chegar ao OrienteE pai deste meu netoque o no como se sabe...

    Eu, a Velha RainhaComo o povo me nomeia,Estou aqui para dizerEm seu nome e no do PovoE em meu nome para valer,Que o que est a acontecer,

    Neste espao, neste tempo qualquer coisa de novoNunca vista em Portugal...E tem de ter, fatal,Ressonncia universal!

    Senhor Mestre Gil Vicente,No acha, que este Auto,Aqui, ora, apresentado,Fica um tanto deslocadoDiria: mal empregadoOu talvez exageradoPerder tempo a alimentarOs anseios e esperanasDe um povo que j viveu

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    Os mil sonhos que so-nhou...???

    J chegou ao OrienteA ndia, j conquistou...J chegou a OcidenteE as Amricas tomou...

    Vir aqui, para exigirDesta criana nascida

    Que v inda mais AlmDo que j foi este povoPela mo e por vontadeDEl-Rei D. Joo SegundoPara Alm do Mar sem fun-do?..E j foi at ndia

    Pelo sonho e pelo mandoDEl-Rei, D. Manuel I?!!!

    No ser exigir muito?No ser o querer demais?

    Senhor Mestre, Gil Vicente,Oua bem o meu conselhoDe sbia Velha RainhaQue mui sofreu e viveu...No esbanje o seu talentoEm apostas sem futuroPedindo a este meninoAcabado de nascerQue faa todos os sonhos

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    Que um Povo tem para vi-ver...

    Isto aqui realizadoCheio de esperana idealDe um povo pequeno e sque se lanou para o Mar...Faa-o, sou eu que peo,Prs Matinas do Natal

    Endereado ao nascimentoDo Divino RedentorQue veio para salvarOs Povos de todo o MundoFazendo deles um s PovoA abarcar o Cosmo todo...

    Fala ento o Mestre Gil, disfarado de Va-queiro:

    Isso que pedis, Senhora tarefa de tal montaQue no posso, por meu mal,Dar VOS resposta cabal...

    Para fazer este AutoEu fui buscar o teatroque o Povo sabe fazer...

    Mas depois do que eu j fizE a Arte sabe fazerCom cincia e inteligncia

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    Prudncia e ponderao...Uma Obra dessa Arte

    A buscar a soluoPara os novos problemasDe toda uma gerao...Que depois de achar a ndiaficou assim deslumbrado,pasmado e desempregadosem nada o que fazer!!!

    Para arriscar tal empresa?!!!S se o Povo a encontrarCom todo o seu CabedalE experincia acumuladaDe novo reanimadaCom a fora do FuturoQue medra na Juventude...

    Isso que estais a pedirDe repetir este AutoNas Matinas do NatalNo final deste MilnioO segundo UniversalQue anuncia o terceiroA comear em dois mil...

    Isso que estais a pedirNo a mim, Senhora,Rainha de PortugalQue me o deveis pedir...Essa loucura UtopiaDeveis pedi-la, Senhora,

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    Aos jovens de PortugalAos jovens de todo o Mundo...

    Aos que esto nesta salaE a todos que por elesVo ouvir esta mensagem...

    Aquilo que fui capazDe inventar para o NatalQue Vossa Alteza pediu

    J vistes ali mimadoPor aquele Gil sonhadorE seus amigos pastores...

    O que agora me pedisNo j da minha arteNo vos posso responder...

    Talvez a Arte, que ArteTenha a resposta devida...

    Dirigi as vossas falasPara o Povo desta salaE prs outros que no esto...

    Esses vos respondero...

    (Sai Gil Vicente e a Rainha pelasportas do fundo que no tm mais o quefazer e dizer e entra o arauto e a suacompanheira para que a Festa conti-nue...)

    Meus amigos,

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    Adaptao do AUTO DA VISITAO de Gil Vicente - NATAL - a magia de tudo RENOVAR...

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    esta a questo:Quereis ficar a espera

    Que venha o rei ou governoA dizer-vos que fazer?!!!Ou que venha o Encobertonum dia de nevoeirotrazer-vos a salvao?!!!Quereis eleger deputadosQue vos dem soluo

    Daquilo que pretendeis...Ou vamos ns procur-laE dar a resoluoquilo que nos aflige...Procurar a LiberdadeA possvel IgualdadeA irm Fraternidade

    A simples Felicidade...?A possvel nesta vida?!!!

    Vamos ento funo...

    J temos erros que cheguemde gnios e salvadoresque ora se enganam no verbo

    Penso, logo existo...Ora: existo, logo penso...ou ento o erro outroe trocaram o pronome:...uni-vosem vez de unidos...Dizer: vs, em vez de ns um erro muito caro

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    que fez perder geraes!!!

    Ali, no mesmo lugarem vez daqueles personagensque l estavam e no estopodeis agora ver outroscom a luz da imaginao...

    Est vazio o palco, agora,

    para que nele caiba tudoo que quisermos...A vida toda teatroonde ns representamoscada um o seu papel...

    O palco no ali!... a na assistncia!!!...

    No. Isso no verdade...O palco fora, na rua,na escola, no trabalho,no emprego, em nossa casa...no trabalho e no descansoem frias e fora delas...

    Vamos ali pr entopara rir e pra choraraqueles que mais estimulama nossa imaginao...Aqueles que at aparecemem sonhos e pesadelose ao vermos televisoquer os queiramos ou no

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    Adaptao do AUTO DA VISITAO de Gil Vicente - NATAL - a magia de tudo RENOVAR...

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    So presidentes, ministros,

    deputados, secretrios...o nosso da Educao...O Conselho Directivo...ou ento o da Gesto...Alunos e professores...

    Enfim:

    O NOSSO RETRATOPOSTO ALI NO TEATROpara aprendermos no palcoa pisar forte na VIDA...

    Ento, depois de se decidir enfim, se opalco fica vazio ou fica cheio... E se fica

    cheio, com quem ou/e com o qu... po-dem ento seguir-se uma ou vrias repre-sentaes, mais ou menos glosando oMonlogo do Vaqueiro, adaptado s maisdiversas circunstncias, com maior oumenor oportunidade...

    Vamos criticar a Escola? Vamos personali-zar mais ou menos?

    A ttulo de sugesto, fica aqui um registopara que o improviso possa parecer mes-mo a srio...

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    Entra ento um personagem quepode ser um estudante ou um professor

    ou uma professora, ou uma funcionria oufuncionrio da escola, ou at um convida-do ou convidada, conforme o resultado doconcurso que tinha sido lanado uns me-ses antes para representar este papel e osanteriores...

    E pode at ir destrajado de Gil Vi-cente que ia destrajado de Vaqueiro... oudaquilo que a fantasia e as circunstnciasindicarem... ou pode ir tal e qual costumaandar na vida real, porque afinal, na vidareal que a maior parte das pessoas an-dam mascaradas... ento, para sermos di-ferentes e chamar a ateno, vamos ali

    representar parecendo que andamos navida real...

    Chega ao palco depois de ter atra-vessado toda a plateia aos tropees, comempurres de um e outro lado... e as in-tervenes e interjeies inerentes a to

    difcil quo arrojada tarefa... barafustan-do..., implicando..., respondendo..., de-fendendo-se..., interpelando..., e, sem-pre... sempre... saudando e cumprimen-tando e agradecendo respeitvel as-sembleia, sobretudo se das assembleias

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    que esto habituadas a pagar e tm como qu...

    ... e, mesmo de papel na mo, seno teve tempo de o decorar, diz:

    Eu vim aqui, a mandadode meu senhor, Mestre Gil,de Vicente apelidado,que no pde vir, coitado!,

    porque ficou sem ceitil...e j esticou o pernilvai para uns quinhentos anos!e jaz prali sepultadoesquecido e desprezadona cripta de S. Franciscoem vora que cidade

    Patrimnio Universal!!!De pedras e de muralhasDe templos e catedraisPois as gentes!? pouco importam...Passam... Desaparecem...

    Esse senhor, Mestre Gil,Mandou-me certo recadoDe saber, de perguntar,- Quem pergunta no ofende! -De saber se ainda haviaPor aqui algum dobradoDesses que vinham da ndiaOu das costas do Brasil?!!!

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    -St visto. s penria?! -Disse-me ele meio a rir!

    - Agora, quem faz teatroNo querido da rainha,Nem de reis nem de ministros...

    Pr fazer tem de pagarE no fim, a agradecer,Leva dois chutos no cu

    E uma sapatada...Bem feita que para aprenderA no meter o narizAonde no chamado!!!

    - Mas no era encomendado?- Era. A pea. No a cabea.

    ... e tentando depois decalcar, maisou menos o AUTO muito bem improvisa-do por Gil Vicente, na cmara da mui al-ta e nobre rainha D. Maria, no dia oito deJunho de mil quinhentos e dois, dois diasaps o nascimento do mui alto nobre eexcelente prncipe dom Joo que havia de

    ser o terceiro desse nome em Portugal, eque, para nossa salvao e redeno, noshavia de trazer a Santa Inquisio...

    Por Deus! gente estimada,Levei ali entradaUns dez ou doze encontresDaqueles que so guardies

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    De vossas altas senhorias...Mas eu dei uma punhada

    A um desses figuresFanfarresQue os outros debandarame andam por a aos sacesPelos sales procura dos chefes...A gritar: - Aqui ladres!

    Oh! mas se eu soubesseQue s a minha presenaTanto engodo vos causavaEu no entraraNem tal coisa pela cabeaMe passara...E se passasse e viesse

    E prevenido viesseEu havia de arranjarDepois de muito bem olharA maneira de passarPor dentro sem pararDe vagar, discretamente,Sem que ningum me topasse

    ou arriasse...Mas vamos. O feito feitoE vendo bem o que vejoDesde que entrei nesta salaToda vestida de galaVejo-me s rodeadoDe figuras de alto apreo

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    Tanto que eu nem mereoPisar sequer a entrada!!!

    Ver tantas damas formosasTantos Doutores e DoutorasTanto Mestre doutoradoEm Cincia, Educao...Tanto saber ilustradoIluminado!!!

    Fica tonto o corao...E, ao ver tanto canudoFico at a pensarS, c para os meus botesSe estamos no NatalOu se me terei enganadoE estamos no Entrudo

    Ou se ter chegado o VeroOu s estamos no Outono?!

    (E dirigindo-se nobre Assembleiaou ao seu representante maior:...)

    Ser aqui o lugar?Ser isto que eu procuro?Sero as pessoas certasPara eu representarO papel que encomendaram?OH! Valha-me a Virgem Santa!Que eu no tenho mo em mimNem sei o que hei-de dizer! verdade!!!

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    Nunca vi Escola igual!Parece uma catedral

    A maior que eu j viNos reinos de PortugalE nos mundos que corri!Mas,Quer seja, quer no sejaQuero dizer ao que venhoNo digam que esqueci

    O recado que trazia...Valha-me Santa Maria!Querem ver que se varreuDa cabea aquele recadoQue as gentes l do meu bairroDa rua e da freguesiaDo concelho e da cidade...

    E at da minha aldeia...... ...Com tanta fora e empenhoMe encarregaram de darA to ilustre Assembleia!?Varreu-se-me da ideia!??No.A incumbncia que tenho

    Das gentes da minha aldeia de ver com estes doisCom os olhos da cara e da menteCom toda a arte e engenhoS verdadeO que se diz por a...

    E o que dizem? Dizem tal...

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    Dizem bem... E dizem mal...Dizem com grande mistrio

    Que agora o ministrioChamado de EducaoVai trazer a soluoQue vai salvar PortugalDo atraso universalQue sua sina e condoDesde que foi ao Ceilo

    Para a ndia descobrir...E j estava descoberta...E como era grande e rica!Duma cultura infinita...Desde ento, e por m sinaDiz o poeta engenheiroQue disse que aprendia

    Com o poeta pastor- O Guardador de rebanhos -Que descoberto esse atalhoDo ouro e das riquezasMuitos de ns portuguesesFicmos sem ter trabalhoDe puxar pela cabea!Vivemos dos rendimentosE dos melhores sentimentos...Somos povo de poetasQue sem o ficam s petas!!!

    Mas vejo que me enganei...Ao ver tudo isto aquiParece que estou a entrar

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    No Olimpo terrealTo real

    Que nem um palcio real.So salas e so salesLaboratrios, balces,Pavilhes

    Para correr e saltarE cantos para aprenderDe tudo um pouco e do muitoE muito de algum pouco

    Para fazer especialistasDo presente e do futuro...

    Que vejo eu afinal?Uma Escola to sabidaTo sbia e instrudaTo dotada e to felizQue quem entra logo diz:- Isto gente esclarecidaDa mais culta e eruditaDo pas...Nunca tal aconteceuDesde que o mundo apareceuE, por issoCantemos louvores ao cus!

    Graas a Deus!!!Vamos cantar e bailarQue apareceu a cu abertoEm dia de nevoeiroAquele que estava encobertoE j se chamou Roberto

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    E at Veiga SimoE j se chamou Cardia

    Mas agora se diz GriloOu outro nome de bichoE veio pra nos salvarDa ignorncia ancestralProverbialQue vista por um canudoMuita vez sem contedo!!!

    Mas agora que chegadoO que foi mais desejadoEm PortugalVamos dormir descansadosE sonhar mesmo acordadosVivendo como nababos.

    Vamos l ver se quem Este prncipe excelente.Vamos l ver se sabemosQuem somos e o que somos...Que valemos?Vamos l ver se verdadeOu no passa de mentiraO sucesso apregoadoE mostrado ao UniversoE UE.Vamos l fazer a provaSe o Sistema EscolarFunciona como o SolarCom o Sol que lhe d vidaSempre, sempre em movimento

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    Com razes no passadoE os olhos sempre em frente

    Como um Regresso ao FuturoA assumir tudo o que somosPara sermos o que queremos...

    tempo de festejarO sucesso que j temosE mostrar que j sabemos

    Danar, cantar e saltar...Pois ns vamos descobrirE mostrarAo mundo que est pra virQue pode viver, sorrirE acharTudo o que h para encontrar

    E usarTudo o que nos devido...

    uma festa to giraQue toda a terra se agitaE a Natureza gritaDe prazer e alegria...At, no campo, os cabritos

    Saltam, pulam e do gritosE deixaram de comer...O feito de tal montaQue oszagais ficam aflitosE prudentesPem alerta os sentidos.

    Pois que nova ser esta?

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    Que ter acontecidoPois bem certo e sabido

    Que todos esto em Festa.A alegria tamanhaQue as montanhase os prados floresceram...Pois aqui aconteceramTais faanhasQue todos emudeceram...

    Que prazer no vo sentirTodos quantos isto viremE ouviremE a mudana sentiremDo passado pr provir...Salta alegre o coraoCom razo

    Pois nasceu de novo a esperanaDe vivermos a mudanaCom seguranaQue d vida toda a Vida.

    Que pais! Que filhos! Que mes!Que avs! Que avs! E que netos!

    Que professores! Professoras!Que ministros! Secretrios!...

    Que instalaes e espaos!...

    Tudo isto um espantoQue no cabe neste canto!

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    Quem h a que no canteEsta mudana que vem

    Transformar a nossa vidaEm Alegria! hora de encantamentoCelebrar este momentoQue vem a, quem diriaEncher (nos) de contentamento!

    Se agora tivesse tempoE vs pacincia de ouvirTudo o que est para virNas asas do pensamentoDesta mudana a devir...Eu nunca mais acabavaE deixavaDe contar o j sabido

    AcontecidoE sonhavaTransformar o Mundo AntigoLivrando-o de todo o malCom que nos pode chagar.

    Um Mundo nunca sonhadoSem muros e sem fronteirasOnde cassem barreirasDe tudo o que impede o sonhoDe voar, realizar...O mundo com tiraniaOnde reina a hipocrisiaA prepotncia, arrognciaO atraso, a ignorncia

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    Bania-o para bem longePara ficar distncia

    Como da noite pr dia...Eu dariaFim a toda a intolerncia!

    E como sinal de esperanaDesses tempos que ho-de virE ns vamos descobrirE com as mos construir...Vamos fazer uma danaNuma roda sem findarE cantarDe mo na moOlhos nos olhosAs canes mais inspiradasDo Natal

    E do nosso cancioneiroPra dizer ao Mundo inteiro:Somos ns os construtoresDo Mundo que h-de vir...

    E ento, pra comear,Pra tudo ser a preceitoE de tudo ter proveitoMandemos agora entrarOs meus trinta companheiros...Sero talvez inda mais...Os padeirosOs futuros engenheirosE doutoresE tambm os lavradores

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    Que ho-de cuidar a terraCom amor e com carinho

    Tcnicos, comerciantesPais e mes, jovens amantesQue constroem o futuro...Estes sero os primeirosQue aqui vo apresentarE a danarNos vo mostrar, sem dinheiro,

    Sem interesse,O que o Mundo tem pra darNo futuroConstrudo no saberE no Amor....

    ... e vai entrando o nmero possvel de

    representantes de todas as profisses etrabalhadores do presente e do futuro,tentando mostrar o que uma Escola deviafazer para preparar a juventude para oMundo que os espera... at contadores dehistrias e declamadores... danarinos,artistas do palco e do circo... poetas... en-

    fim... um estmulo para todos os presen-tes, se possvel, passarem pelo palco oupelo espao onde s costumam passar osactores..., fazendo circular tudo at o pal-co ser plateia e a plateia teatro...

    A lista das actividades e performance quese poder realizar a partir daqui infin-

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    dvel e incontvel... e aplicvel a qual-quer circunstncia e espao.

    Jos Gil Vicente da BeiraPenedo Gordo, Natal de 1989Amora, Corroios, Natal de 1995, Junho de 1996.

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    85...PARA UMA PARTICIPAO NUM ESPECT-CULO TOTAL...

    LISTA de alguns provrbios, representa-es ou AUTOS,

    CANES, poemas, textos, contos e...

    DE NATAL

    que pretendem ser sugestes para a par-ticipao de todas as Turmas?

    /Anos?/Grupos?/Clubes...no final da PEA...

    um desafio para a criao de can-

    es ou ??? sobre o 10 aniversrioda

    ESCOLA SECUNDRIAJOO DE BARROS

    CORROIOS

    28/11/1986 - 28/11/1996... logo que possvel tentaremos fazer uma

    separata com a maior parte deste material edo que nos sugerirem at finais de Outubro...

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    alguns PROVRBIOS DA POCA DO NATAL- Pelo Santo Andr (30/11), agarra o porco pelo p. Beira Baixa- Quem apanha a azeitona antes de Santo Andr, fi-ca o azeite no p.

    Beira Baixa

    - Em Dezembro lenha e dorme.- Tudo lembra no seu tempo, at o nabo no Adven-to.- Tudo se quer no seu tempo, at o nab