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"MORAL E DIREITO: REFLEXÕES SOBRE ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS" GOMES, Fabio de Medina da Silva. Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014, ISSN 2316-266X, n.3, v. 18, p. 248-268 248 "MORAL E DIREITO: REFLEXÕES SOBRE ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS" Fabio de Medina da Silva Gomes 1 Resumo No presente estudo utilizou-se o método de observação direta, visando entender a relação de trabalho doméstico remunerado em Niterói, em especial com atenção ao papel do judiciário na administração de conflitos entre empregadores e trabalhadoras domésticas. Essa pesquisa é exemplar para o estudo das relações entre os espaços de privacidade e a esfera pública no Brasil. O trabalho de campo realizado inclui observação de dezoito audiências sobre trabalho doméstico e muitas conversas com donas-de-casa, trabalhadoras domésticas, advogados, juízes e sindicalistas. No judiciário, percebe-se um elevado número de acordos. Além das interrelações entre fato e norma, foi explorada a questão da dádiva-retribuição nesse tipo específico de contrato. Por fim, o campo trouxe questões de gênero. Pretende-se, assim, uma compreensão ampla sobre esse tipo de relação na cidade de Niterói. Palavras-Chave: Trabalho Doméstico Remunerado, Administração Institucional de Conflitos, Dádiva, Gênero, Judiciário. Resumen Para el presente estudio por el método de la observación directa, con el fin de entender la relación entre el trabajo doméstico remunerado en Niterói, en particular en atenccíon con el papel del poder judicial en la administración de los conflictos entre empleadores y trabajadores domésticos. Esta pesquisa es ejemplar para el estudio de las relaciones entre los espacios de la vida privada y la esfera pública en Brasil. El trabajo de campo incluyó la observación de dieciocho audiencias sobre el trabajo doméstico y de muchas conversaciones con ama de casa, trabajadoras domésticas, labogados, jueces, y sindicalistas. En el poder judicial, se ve un gran número de acuerdos. Además de las interrelaciones entre la realidad y la norma, se exploró el tema del don-retribuición en este contrato en particular. Por último, el campo ha incorporado las cuestiones de género. De este modo, se pretende um entendimento ampliado de este tipo de relación en la ciudad de Niterói. Palabras-clave: Trabajo Domestico Remunerado, Administración Institucional de Conflictos, Don, Género, Judicatura. INTRODUÇÃO 1 Pós-Graduando Strictu Sensu do Programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional da Universidade Federal Fluminense, e-mail: [email protected]

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"MORAL E DIREITO: REFLEXÕES SOBRE ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS" – GOMES, Fabio de Medina da Silva.

Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,

ISSN 2316-266X, n.3, v. 18, p. 248-268

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"MORAL E DIREITO: REFLEXÕES SOBRE ADMINISTRAÇÃO DE

CONFLITOS"

Fabio de Medina da Silva Gomes1

Resumo

No presente estudo utilizou-se o método de observação direta, visando entender a

relação de trabalho doméstico remunerado em Niterói, em especial com atenção ao

papel do judiciário na administração de conflitos entre empregadores e trabalhadoras

domésticas. Essa pesquisa é exemplar para o estudo das relações entre os espaços de

privacidade e a esfera pública no Brasil. O trabalho de campo realizado inclui

observação de dezoito audiências sobre trabalho doméstico e muitas conversas com

donas-de-casa, trabalhadoras domésticas, advogados, juízes e sindicalistas. No

judiciário, percebe-se um elevado número de acordos. Além das interrelações entre fato

e norma, foi explorada a questão da dádiva-retribuição nesse tipo específico de contrato.

Por fim, o campo trouxe questões de gênero. Pretende-se, assim, uma compreensão

ampla sobre esse tipo de relação na cidade de Niterói.

Palavras-Chave: Trabalho Doméstico Remunerado, Administração Institucional de

Conflitos, Dádiva, Gênero, Judiciário.

Resumen

Para el presente estudio por el método de la observación directa, con el fin de entender

la relación entre el trabajo doméstico remunerado en Niterói, en particular en atenccíon

con el papel del poder judicial en la administración de los conflictos entre empleadores

y trabajadores domésticos. Esta pesquisa es ejemplar para el estudio de las relaciones

entre los espacios de la vida privada y la esfera pública en Brasil. El trabajo de campo

incluyó la observación de dieciocho audiencias sobre el trabajo doméstico y de muchas

conversaciones con ama de casa, trabajadoras domésticas, labogados, jueces, y

sindicalistas. En el poder judicial, se ve un gran número de acuerdos. Además de las

interrelaciones entre la realidad y la norma, se exploró el tema del don-retribuición en

este contrato en particular. Por último, el campo ha incorporado las cuestiones de

género. De este modo, se pretende um entendimento ampliado de este tipo de relación

en la ciudad de Niterói.

Palabras-clave: Trabajo Domestico Remunerado, Administración Institucional de

Conflictos, Don, Género, Judicatura.

INTRODUÇÃO

1 Pós-Graduando Strictu Sensu do Programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional da Universidade Federal Fluminense, e-mail: [email protected]

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Essa pesquisa é uma pesquisa empírica e interdisciplinar, envolvendo direito e

antropologia. Utilizo elementos do método da observação direta. Quero expor aqui

algumas explorações que, mais tarde, serão usadas na minha dissertação. Nela, eu

pretendo entender o papel dos juízes do trabalho do município de Niterói, Estado do Rio

de Janeiro, na administração do conflito entre empregadores e trabalhadoras domésticas.

Neste artigo, tentei fugir da tentação de uma simples narrativa ou de um simples resumo

dos textos clássicos do direito ou da antropologia.

O trabalho foi construído em quatro partes. Na primeira, escrevo sobre o meu

interesse pela questão. Em seguida, mostro a importância da empiria para o estudo do

direito. Após, demonstro como tem sido o meu trabalho de campo e que apontamentos

posso fazer. No último momento, pretendo ressaltar como devo prosseguir com a

pesquisa.

Utilizei-me do instrumental trazido por Charles Wright Mills (2009). A

linguagem clara desse autor, aliada às suas considerações me despertaram muito

interesse. A partir da sua leitura, quis cada vez mais me afastar da postura do cientista

social clássico, que encara as ciências sociais como um ofício. Guardei, sobretudo, a

ideia de que a metodologia interrompe os estudos. Essas linhas a seguir não são menos

do que aquilo vivido por mim em dois meses de pesquisa. Como mencionei, tentei me

afastar de modelos metodológicos rígidos, evitei o chamado fetiche de método, me

importei, sobretudo, com minhas experiências e percepções.

As minhas experiências pessoais são importantes nesse estudo. Aliás, são o

centro dessa pesquisa. Os meus arquivos guardam, além da minha escrita em

treinamento, meu hábito de refletir. As várias ideias, observações cotidianas, planos

incompletos que seguem estão devidamente catalogados no meio caderno de campo.

POR QUE PESQUISAR O SERVIÇO DOMÉSTICO REMUNERADO E AS

VARAS DO TRABALHO?

Durante todo o ano de 2012, me dediquei a um projeto de extensão da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Centro de Referência de Mulheres da Maré

(CRMM). O CRMM é fruto de articulações entre a Universidade e o Governo Federal, e

tem por meta coibir e prevenir a violência contra a mulher, nos termos da Lei nº.

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11.340/2006, a Lei Maria da Penha. Essa norma criou uma ampla rede de proteção,

criando, inclusive, os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.

O Centro se organiza em duas frentes de atendimento para aquela Comunidade

da Vila do João (região do Complexo da Maré). Como preparação, nós, os bolsistas de

extensão, tínhamos reuniões de treinamento e estudos de casos. Eu adquiri leituras sobre

gênero nesses encontros com profissionais de diversas áreas, entre elas, direito,

psicologia, serviço social, pedagogia, artes, letras, geografia e sociologia. O foco dos

estudos era promover o resgate da cidadania feminina.

Além de oficinas sociais, espaço privilegiado de debates, existe o atendimento

interdisciplinar. As mulheres são atendidas por uma equipe de dois profissionais. Os

atendimentos sempre eram realizados por profissionais de áreas diferentes (direito,

serviço social e psicologia), para garantir a interdisciplinaridade. Eu gostava muito dos

atendimentos, era um grande laboratório para compreender a realidade local. Muito

embora o centro da atenção do serviço fosse violência doméstica, os problemas mais

recorrentes não eram dessa ordem, versavam sobre pensão alimentícia, guarda de

menores, direitos do trabalho e previdenciário. O desrespeito no trabalho era uma

constante. Observava também a precarização das ocupações e das profissões femininas.

Como trabalho para o Congresso de Extensão da UFRJ, realizei um

levantamento de todos os atendimentos individuais no período de janeiro de 2011 a

março de 2012. Na ocasião, foram analisados todos os registros de 327 mulheres, o total

de mulheres atendidas no período. A quantidade de mulheres com problemas nas

relações de trabalho era muito grande. Isso me levou a questionar sobre a importância

de reflexões sobre as articulações entre gênero e trabalho. Em muitos atendimentos

percebia, na prática, acompanhando relatos de vida daquelas mulheres, as conexões

entre relações sociais de sexo e condições de trabalho.

Certo tempo depois dessa experiência no CRMM, escolhi o tema da minha

dissertação de Mestrado. Mesmo sem poder utilizar os dados pesquisados em 2012,

pretendo estudar um assunto muito visto nos atendimentos, o trabalho doméstico. A

inspiração da minha pesquisa atual é orientada, sobretudo, por minhas experiências em

diversos atendimentos, oficinas sociais e reuniões. Não raro atendia mulheres

procurando ajuda porque “trabalhou em casa de família” e não recebeu “tudo o que

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deveria”. Muitas não queriam “colocar a patroa na justiça”, uma vez que “eram quase da

família”. Outras já procuraram advogados, já procuraram o judiciário, já tinham

audiência marcada, mas pediam para ver no site do Tribunal Regional do Trabalho

alguns detalhes. Muitas não confiavam em seus advogados.

Na minha mente vinham várias questões sobre as quais eu não poderia refletir

naquele momento de atendimento. As regras jurídicas não falavam sobre sentimentos,

“ser quase da família” era expressão usada pelas mulheres e sem sinônimos entre os

juristas. Os livros de direito não se importavam com isso. Como se comporta essa

mulher, empregada doméstica, diante da figura do juiz? O que a fez procurar a justiça,

mesmo se sentindo “da família”? O judiciário possui algum mecanismo especial para

“resolver”2 esse tipo conflito? Como eram as audiências nesse tipo de conflito? Quais

eram os papeis dos juízes, advogados e partes nesses processos? Eles falavam de

emoções? Ou apenas de indenizações em dinheiro?

Qual era, enfim, a posição das trabalhadoras domésticas? Inegável a lembrança

das frágeis fronteiras entre a casa e a rua, nesse caso. Como veremos adiante, a relação

de trabalho doméstico é muito peculiar. Esse tipo de relação é um bom exemplo para

explicar a indefinição dos espaços privado e público no Brasil. Uma relação de cuidado

e afeto pelo qual se paga. E o mais interessante: não há nenhum questionamento moral

sobre essa situação. (DAMATTA,1985) Certo tempo mais tarde, as aulas de

Antropologia do Direito no mestrado significaram oportunidade de revisitar essas

perguntas pelo método do trabalho de campo.

A ANTROPOLOGIA E O DIREITO

Escolhi, para fazer a presente pesquisa, o método de observação direta

ensinado na Antropologia. O atual debate sobre a empiria na pesquisa do direito ressalta

a importância da pesquisa de campo. Roberto Kant de Lima (2008) explica o atual

sistema de produção e reprodução do saber jurídico. O autor problematiza o uso de

práticas profissionais no campo acadêmico, enfatizando a chamada lógica do

contraditório. Essa lógica consiste em uma oposição infinita de teses, sempre

contraditórias, só se resolvendo pela intervenção de um terceiro dotado de autoridade

2Naquele tempo eu acreditava que o judiciário resolvia, e não administrava conflitos.

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externa à disputa. Esse terceiro escolhe uma das posições entre as que se opõe. Não

apenas teses, mas inclusive os fatos, são objeto de controvérsia. Prevalece o argumento

de autoridade.

A lógica do contraditório contrasta com o atual modelo de construção do

conhecimento científico. Nesse, procede-se pela construção lenta de consensos, até ser

esse conhecimento contrariado por um processo de revolução científica, produzindo

nova legitimidade. A direção desse processo não é dada por um terceiro, mas pelos

próprios contendedores. Esses agem demonstrando que seus argumentos são

convincentes. Prevalece a autoridade do argumento.

O Direito pode aprender com a antropologia, visto que esta constrói seu

conhecimento pela interlocução com autores que participam do campo estudado. Por

isso, privilegiei o método empírico. Tanto durante a relação de trabalho quanto durante

as audiências percebi que os discursos oficiais não se traduziam em realidade. Afastei-

me, inclusive, da forma de realização de algumas pesquisas empíricas no direito, elas

não têm outro papel, senão confirmar o que já se sabe. A minha pesquisa pretende trazer

a luz paradoxos sensivelmente ocultos, além de promover o diálogo entre esses dois

campos do saber.

Com o prosseguimento da pesquisa, percebo que os valores e as práticas

informadas como oficiais no campo do direito têm poucas conexões com a realidade.

Amparando-me em outras referências para comparação, valendo-me de minuciosa

descrição e da repetição dos dados do campo, o intento é dar visibilidade a uma teoria

diferente da oficial, que orienta práticas e rituais. Em outras palavras, trata-se da

descrição detalhada e interpretação do fenômeno observado, explicitando-se as

categorias nativas e as usadas por mim. (LIMA, 2010)

Por fim, ratifico a necessidade de entender o direito, sem olhar para o

referencial dos códigos, da lei ou da jurisprudência. O enfoque é o contrataste entre o

que de fato ocorre e o que os “operadores do direito” e cidadãos dizem que fazem, veem

acontecer e sentem, todos os dias. (LIMA, 2010) Algum tempo depois da minha

experiência naquele Centro de Referência, já cursando o mestrado, percebi a

possibilidade de responder a algumas das minhas dúvidas usando o trabalho de campo.

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O instigante entrelace entre intimidade e dinheiro, entre a casa e a rua, voltava a minha

mente.

As questões levantadas por Roberto Damatta (1981) sobre ressocialização e

abandono de preconceitos também foram levados em conta. Estou tentando, espero que

com algum êxito, absorver costumes do universo social dessa relação de trabalho

doméstico. Transformar o familiar em exótico, e o exótico em familiar, tem significado

todo um esforço de questionamento sobre os dados extraídos do campo. Por que tanta

referência aos afetos nesse campo? Por que tamanha quantidade de acordos?

O CAMPO

NO SINDICATO

No dia 7 de novembro de 2013, fui ao Sindicato dos Empregados Domésticos em

Niterói. O sindicato funciona numa sala pequena no centro de Niterói. A base territorial

do sindicato é Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e toda a Região dos Lagos.

Assim que cheguei, sentei-me numa antessala e esperei minha vez de conversar

com a presidente do sindicado. Ouvi uma história de duas senhoras. Uma

provavelmente empregada doméstica. Ela conversava com sua amiga. Falavam sobre a

pressão de quem trabalha em “casa de família” e como o médico receitou remédios

antidepressivos. Essa amiga estava preocupada com o fato de a estarem “fazendo pensar

com a vontade dos outros”. Segundo essa amiga, ela deveria ir ao médico e tentar que

ele lhe passasse um remédio mais fraco. A administração de antidepressivos era assunto

comum entre as mulheres do CRMM.

PARA ALÉM DA EC 72/2013: DIARISTA OU EMPREGADA DOMÉSTICA?

Durante a conversa com a presidente, obtive importantes indicações sobre o

que pesquisar quando eu fosse às varas do trabalho de Niterói. Existiam dificuldades

práticas que poderiam ser percebidas durante as audiências. A primeira questão

colocada por ela parece ser de muita importância, era o reconhecimento de vínculo de

emprego. Numa relação de trabalho dentro de casa há dificuldade de encontrar

testemunhas que atestem haver uma relação de continuidade, como requerido pelos

tribunais.

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Essa questão da dificuldade de comprovação do vínculo empregatício remete,

inevitavelmente, a reflexões sobre a Emenda Constitucional nº 72 de 2013 (EC

72/2013). Essa Emenda tratou de aumentar o rol de direito dos empregados domésticos,

para incluir: o direito a duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e

quarenta e quatro semanais, remuneração do serviço extraordinário em cinquenta por

centro à do normal, reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho,

entre outros, muitos dos quais dependendo de futuras regulamentações.

Para alguns, a EC72/2013 pode ser entendida como positivação necessária para

garantir o trabalho decente, adequadamente remunerado, exercido em condições de

equidade e segurança, como objetivado pelo Programa Nacional de Direitos Humanos

(Decreto nº 7.177, de 2010). Mas, por outro lado, a própria jurisprudência da Justiça do

Trabalho tem dificultado a comprovação do vínculo de emprego. Cuida-se de um debate

antigo entre a diferença do termo não-eventual, constante no Artigo 3º da Consolidação

das Leis do Trabalho e do termo natureza contínua, segundo o Artigo 1º da Lei 5.859 de

1972. (ALEMÃO, 1998)

Entre nós, fluminenses, temos que o Tribunal Regional do Trabalho da

Primeira Região (do Estado Rio de Janeiro) publicou a Súmula nº 193. Essa súmula

limitou o reconhecimento de vínculo de emprego apenas aos trabalhadores domésticos

que prestam serviço três vezes por semana. Essa questão suscita controvérsias dentro da

Justiça do Trabalho.

Coloca-se a questão das leis, no caso da EC 72/2013, e da realidade, a

dificuldade em comprovar o vínculo de emprego. Como notado, o direito vai além das

normas positivas. Essas imbricações entre a lei e a realidade, foram objeto de estudo de

Clifford Geertz (2000). Segundo ele, a hermenêutica jurídica sofre influências dessa

relação entre as normas jurídicas e os costumes/crenças. De um lado não basta o

conhecimento da lei e de outro não adiantam apenas entender a jurisprudência.

Necessita-se um ir e vir entre o fato e a lei. Os processos de representação que ocorrem

nos tribunais são base de toda a cultura.

3 Súmula nº 19 - Trabalhador doméstico. Diarista. Prestação laboral descontínua. Inexistência de vínculo empregatício. A prestação laboral doméstica realizada até três vezes por semana não enseja configuração do vínculo empregatício, por ausente o requisito da continuidade previsto no art. 1º da Lei 5.859/72.

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Apesar desse debate não ser suscitado em muitas audiências4, esse é debate é

importante para entender a grande quantidade de acordos. Os advogados das

trabalhadoras domésticas receiam não conseguir provar o vínculo de emprego.

Enquanto que, por sua vez, os empregadores têm medo de que seja provado o vínculo

de emprego. Isso já me disseram alguns advogados nas salas de audiências, ou nas salas

de espera dos tribunais.

Nesse sentido, o saber local5 criou três categorias nativas: a diarista6, a

empregada doméstica e a doméstica. A primeira não tem vinculo de emprego, tendo

poucos direitos. São profissionais autônomas. A empregada tem o vínculo de emprego,

com mais direitos. Podendo ter ou não a sua formalização do contrato de emprego, sua

carteira assinada7 pelo empregador. A última categoria nativa é simplesmente

doméstica, ela identifica tanto a diarista quanto a empregada doméstica. É uma forma de

se referir ao trabalho doméstico remunerado de qualquer espécie. Embora essas

diferenciações apresentem alguma certeza, na prática, não há essa certeza, devido à

dificuldade de comprovação do vínculo empregatício.

COMO SE INDENIZA O CARINHO, O CUIDADO E O AFETO DE QUEM ERA

“QUASE DA FAMÍLIA”?

No sindicato, apontam como são insuficientes as indenizações. Eu me pergunto

como indenizar quem “trabalhou para a família”. Trata-se de um contrato de trabalho

com a peculiaridade do afeto. Nele, uma parte paga para que a outra tenha o cuidado

com a casa, com as crianças e idosos. O judiciário, definitivamente, não está preparado

para entender essas questões.

Mais uma vez refletimos sobre as imbricações entre a lei e a realidade, como

quer Geertz (2000). Segundo muitos autores, uma das características do vínculo de

4 Como se verá mais adiante, as partes estão mais interessadas no acordo do que em qualquer discussão, mesmo o debate sobre vinculo empregatício. Esse fato me causou estranhamento. 5 Na obra de Geertz (2000), o saber local engloba o direito, a crença, costumes, tradições,... 6 Interessante o uso do termo diarista no campo estudado. Os livros de Direito do Trabalho definem diarista como uma forma de pagamento (ALEMÃO, 1998; BARROS, 2007). Diarista seria aquele que recebe por dia de trabalho. Esse vocábulo foi ressignificado para denotar a doméstica sem carteira anotada, como eu ouvi muitas vezes no campo. 7 Termo escutado repetidamente em campo.

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emprego é a subordinação. O contratante, empregador, tem a faculdade de direcionar e

intervir na execução da prestação do serviço. (ALEMÃO, 2000) O direito, como aponta

Arnaldo Sussekind (2010), entende a subordinação jurídica como adstrita às faculdade

de direção e fiscalização, sem qualquer tipo de submissão por uma vinculação social.

Delgado (2009) acentua que a vinculação da subordinação não deve incluir elemento

subjetivo. Esses manuais comumente se referem ao trabalho doméstico elencando

direitos e deveres, explicando as verbas indenizatórias devidas, mas sem menções a

categorias como afeto e cuidado.

Todas essas referências do parágrafo acima ressaltam a inconsistência do

direito em entender a realidade. É incoerente a ideia do trabalho doméstico como apenas

um vínculo jurídico, sem o elemento social de afeto. A ausência desse debate cria a

imagem de um conflito que pode ser administrado apenas se discutindo sobre valores,

indenizações em dinheiro. A questão que se coloca é exatamente essa.

“MAS ELA QUE NÃO TEM ESCOLARIDADE, MAL SABE LER, AGORA

TEM DIREITOS IGUAIS AOS MEUS?” O DESPRESTÍGIO

A presidente comentou, por último que essas empregadas-diaristas são vistas

com desprestigio pelas suas patroas. Muitos acordos são feitos no sindicato, antes de

serem homologados diante do juiz. A presidente do sindicato contou que muitas patroas

falam que não deveriam pagar “tanto dinheiro” uma vez que não se trata de

“profissional qualificado”, “muitas possuem baixa escolaridade”. O desprestigio é

frequente.

Outras questões foram levantadas, como a falta de proteção quanto a acidentes

de trabalho e problemas ligados à previdência social. A presidente do sindicato

apresentou um dado que achei interessante: o fato da maioria das empregadas-diaristas

serem de mães solteiras. Segundo ela, ainda, certos acordos judiciais são prejudiciais às

domésticas. Trata-se de uma questão vista cotidianamente no meu campo nas Varas do

trabalho e que me trazem muitas reflexões. Prefiro fazer maiores apontamentos sobre

essa problemática na sessão seguinte.

NAS VARAS DO TRABALHO DE NITERÓI

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Juiz do Trabalho: - Tem acordo? Vocês aceitam um acordo de R$

695? Olha lá, conforme for instruindo vai ficar mais distante para os

dois lados!

Advogado da Reclamada: Nós aceitamos R$ 500.

Juiz do Trabalho: - A senhora aceita? (se dirigindo a empregada). O

seu processo é de pequeno valor e isso daqui pode ir até o TST. Acho

melhor aceitar.

Empregada: - Não sei. (fala muito baixa).

Advogado da Reclamante: Se for de 750 nós aceitamos.

Juiz do Trabalho: - A senhora aceita? (se dirigindo a empregada).

Empregadora: - Não sei. (fala muito baixa).

Juiz do Trabalho: - Então eu vou deixar vocês quinze minutos lá fora,

pensando sobre o acordo. Enquanto isso eu vou fazendo outra

audiência. Quando voltarem, eu quero um acordo.

(Passado o tempo as partes retornam para a sala de audiência)

Juiz do Trabalho: - Então, fecharam o acordo?

Advogado da Reclamante: Sim, R$ 875,00.

Durante toda essa audiência, a Reclamante e a Reclamada não se

entreolhavam. Esse acordo foi homologado sem problemas pelo juízo. Essa foi uma das

muitas audiências assistidas durante a minha pesquisa. Resolvi trazê-la para enfatizar a

questão do acordo nessas audiências. Segundo muitas conversas com vários advogados

trabalhistas no campo, além de alguns juízes, o número de acordos na Justiça do

Trabalho é elevado. Nos processos onde são partes as domésticas os valores das

indenizações são pequenos e, muitas vezes, a polêmica do vínculo pode estender a

discussão até as instâncias superiores. Esse quadro leva todos os contendentes a

preferirem o acordo. Quase todos, diria. A exceção, repetidamente vista em campo, é da

própria empregada doméstica. Mas de fato, a doméstica pretende acordar? E acordar, o

quê? O afeto pode ser acordado?

Antes de continuar com as minhas indagações, prefiro explicar como procedi

para explorar esse campo. Para compreender o que ocorre nos tribunais, resolvi visitar o

site do Tribunal Regional do Trabalho e buscar as audiências de domesticas. Faço isso

uma vez por mês. Listo todas as audiências sobre domésticas, nas varas de Niterói, e

tento ir à maior parte possível. Assim tenho procedido de novembro de 2013 a fevereiro

de 2014, totalizando dezoito audiências sobre emprego doméstico, em todas as sete

Varas do Trabalho de Niterói. Assinale-se que, durante o recesso forense, do final de

dezembro ao início de janeiro, não houve audiências.

Tal como assinalado por Geertz (2000), cada sociedade tem suas leis e elas se

ajustam aos seus costumes. Interessa-nos abordar como o direito não é o que parece ser

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e como os costumes estão em conjunto com as regras jurídicas criando uma realidade

que não corresponde ao “dever ser” da lei. Assim, os direitos que deveriam ser

irrenunciáveis, segundo o direito do trabalho, são renunciados em prol de um acordo. E,

em oposição aquilo que é dito, em prol da própria ritualística.

A primeira coisa que eu faço é anotar todas as audiências de domesticas do mês

(é disponibilizado no site). Tirei fotos dos processos também, para ter informações

como idade, raça, etc. Em vez de ir apenas às audiências sobre domesticas, eu resolvi

ficar uma manhã ou uma tarde toda nas salas de audiências. A minha ideia foi entender

qual o desenrolar cotidiano das audiências em geral e contrastar com as das domésticas.

Após as audiências, eu saio e tento conversar com a trabalhadora.

ACORDO COMO FORMA DE ADMINISTRAR CONFLITOS? O PAPEL DO

JUIZ

O mecanismo das audiências é bem burocrático, tudo se desenrola em torno do

acordo. Como os valores das ações das domésticas são pequenos, pois elas recebem

menos que outras ocupações e a comprovação do vínculo é algo complicado, é muito

comum os próprios juízes começarem com a frase: "Tem acordo?". Os acordos são

comuns também em outras categorias, mas nas domésticas é de quase a totalidade das

que eu vi. Das dezoito audiências presenciadas, em apenas uma não houve acordo.

O que aconteceu? Quantas vezes aconteceu? Percentual

Não houve acordo. 01 5,5%

Houve acordo. 08 44,4%

Audiência adiada por iniciativa

do juiz, ausência do advogado

ou das partes.

09 50 %

Total 18 100%

Fonte: Autor

Os acordos se colocam como forma especial e privilegiada de administrar esses

conflitos. Shelton Davis (1973) esclarece três proposições gerais vistas em várias

sociedades sobre dívida e contrato. Segundo ele, em toda a sociedade há um corpo de

categorias culturais, de regras/códigos, definindo direitos e deveres entre os homens.

Quando essas regras são rompidas surgem disputas, conflitos. As sociedades elaboram

meios institucionalizados para administrar conflitos, nos quais as regras jurídicas são

reafirmadas e/ou redefinidas. A resolução institucional de conflitos é objeto de estudo

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da Antropologia do Direito. Cabe-nos perguntar qual a forma de resolução de conflitos

está-se utilizando nesse caso.

Empregada: - Meu advogado não veio, sentia muito medo do juiz,

daquela posição, de tudo. Me sentia (sic) desamparada, mas Deus

estava comigo. E Deus sabe que eu estava limpa diante dele.

Longe de um acordo entre as partes, trata-se de uma dinâmica em que a figura

do juiz é muito presente. Os acordos não se dão entre as partes, livremente. Os juízes

propõem valores desde o começo das audiências. Em muitas, a primeira frase do juiz é

“Tem proposta de acordo?” Há verdadeira preocupação entre todos, advogados,

empregadores, juízes em fazer um acordo. Enquanto isso, a trabalhadora doméstica

pouco opina. Geralmente elas têm dúvidas sobre se o acordo é benéfico. Contudo, é

sempre chamada pelo juiz. “A senhora aceita a proposta?” A resposta quase sempre é:

“Não sei”. Comumente se houve o juiz retrucar: “Mas, olha... tem certeza....?” Assisti a

uma audiência onde o juiz falou para o advogado da doméstica. “O senhor é mais

instruído do que ela. Explique a ela as razões da necessidade desse acordo”. E o fim da

história se repete com a aceitação do acordo pela trabalhadora.

A figura de liderança se exerce de forma peculiar nessa relação. A diferença

social de escolaridade e renda entre os juízes e a empregada doméstica é acentuada. Isso

gera toda uma situação de receio. Repetidas vezes, nas conversas com as trabalhadoras

domésticas depois das audiências, elas demonstraram medo do juiz. Trata-se de uma

relação que contrasta muito com o observado por Pierre Clastres (2003) em sociedades

ditas arcaicas sul-americanas. Nessas sociedades, ser um líder, ser responsável por

administrar conflitos significava sempre se despojar de seus bens quando requerido. O

líder era reconhecido pelo seu aspecto sempre empobrecido na tribo. Não raro os líderes

deixavam seu posto, de tão penoso. Cuidava-se de sociedades sem esse tipo de poder

político. E ainda assim, muito coesas.

Presenciei a atuação de juízes muito ríspidos com todo mundo nas outras

audiências, mas falando muito pausadamente e querendo explicar tudo para a

doméstica. Numa posição de infantilizar a trabalhadora, como se ela não entendesse o

que acontecia. Além disso, eles chamavam atenção das domésticas "para elas cobrarem

mais" dos seus advogados. Muitos advogados faltam à audiência e aí não tem acordo. O

que é um problema nesse sistema. Cheguei a ouvir de certo Juiz sobre a necessidade de

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se neutralizar a figura do advogado. Determinada juíza fala abertamente, “não

homologar acordo menor do que as verbas rescisórias”. Mas eu não tenho como afirmar

tratar-se de uma postura uníssona. Fato é que alguns juízes expressamente se preocupam

com isso.

O acordo é algo muito interessante, eles não se importam mérito, ou seja, não

importa se trabalhou tantos dias, se gozou férias, se recebeu Aviso Prévio, 13º, nada.

Isso não é nem mencionado. O que importa é o "chute" que as partes decidem como

valor, respeitado as verbas rescisórias. A doméstica geralmente não opina nesse valor,

quem opina é o juiz, o advogado da doméstica, o advogado do empregador e o

empregador. Em certa audiência, a empregada doméstica, antes de firmar o acordo,

queria falar sobre as férias. “As férias que estão aí, ...” Imediatamente foi interrompida

pelo juiz. “Isso nós não vamos falar. Primeiro vamos ver se temos acordo.”

O costume dessa dinâmica é muito forte. Certo dia, porém, houve uma

audiência que me chamou atenção. No começo daquela audiência, o juiz perguntou se

as partes já haviam chegado com um acordo. O advogado da empregadora propôs um

acordo, mil e quinhentos reais, parcelados em seis vezes. Enquanto os advogados e o

juiz conversavam, a doméstica se dirigiu à empregadora. “Esquece eles. Olha para mim,

vamos ver um valor entre nós. Um valor pequeno desses dividido em seis vezes!?” A

empregadora retrucou. “Você sabe que eu não posso mais”. Por fim, estabeleceram o

acordo de mil e seiscentos reais, parcelado em quatro vezes. O que mais me chamou

atenção nessa história toda foram alguns advogados que assistiam àquela audiência

comigo. Eles esperavam a hora das suas audiências. Segundo eles, era “um absurdo as

pessoas discutirem valores de acordo sem a opinião de seus advogados ou do juiz” e

“um desrespeito ela falar que o valor era pequeno”.

Por fim, assevere-se ainda, haver acordos estipulados de forma tão rápida que

se torna um desafio para minha pesquisa. Alguns advogados já levam acordos feitos

antes das audiências. Os juízes apenas homologam. Como ouvi recentemente de uma

juíza para os advogados, “a qualquer hora que vocês trouxerem um acordo aqui, eu

homologo. Faço audiências de segunda à quinta”.

OS SENTIMENTOS NO CONTRATO DO CUIDADO

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Eu: - Como foi pra vocês estarem aqui? O que você sentiu agora na

audiência?

Empregada: - Eu tive que entrar na justiça porque meu pai morreu e

minha mãe estava com câncer. Mas a gente era amiga, sabe?

Confidente. Ela tem uma filha de dois anos que eu amo. Queria muito

ligar para eles, ver ela (sic) novamente.

Advogado da Empregada: - Agora que você fechou o acordo é bem

capaz dela te chamar para trabalhar lá de novo.

Esse diálogo é uma conversa minha com uma doméstica e seu advogado após

audiência. Como extensivamente observado no campo, desde o primeiro dia, de modo

diferente de outros contratos de trabalho, a prestação devida pela trabalhadora

doméstica é o cuidado. Nessa relação, no espaço da casa é incluído um elemento da rua.

O espaço da intimidade recebe o componente da negociação.

A obra de Marcel Mauss (1974) pode nos ajudar a entender essa relação

específica da doméstica com seu empregador. De forma distinta de outros contratos de

trabalho, quem contrata uma doméstica não espera apenas alguém para passar a roupa,

varrer a casa ou limpar as janelas. Espera-se, para além, o afeto, o cuidado e a

dedicação. Desenvolvem-se, naturalmente, muitas amizades. Mas cabe uma pergunta.

Seria uma relação realmente desinteressada? Mauss estudou diversas etnografias de

Boas, Malinowski, Radcliffe-Brown, entre outros. Ele desenvolveu uma teoria sobre a

importância da retribuição e da dádiva, tanto nas sociedades arcaicas quanto nas nossas

sociedades.

A noção de aliança é o fio condutor na obra desse autor. A dádiva produz

alianças religiosas, econômicas, políticas, matrimônios, e um sem-número de outros

tipos de relação. Por dádiva ele compreende uma imensidão de tipos de prestações,

entre elas, comunhões, heranças, esmolas, hospitalidade. Existe toda uma obrigação em

dar e também em receber. Chega a citar ocasiões em que pessoas, de determinadas

sociedades, empobreciam-se com doações que tinham a obrigação moral de prestar. E

faziam isso na expectativa de que aquele que recebeu seus bens o retribuísse em

determinado momento. Não existe dádiva sem esperança de retribuição. A retribuição-

dádiva não ocorre apenas com as coisas, mas havia a circulação de mulheres, títulos,

festas, valores morais e a própria alma do doador. A doação possui forte identidade

religiosa para muitas sociedades.

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Mauss pensa de outra forma o contrato social, para ele a coesão de determinada

sociedade não depende de um acordo entre indivíduos racionais, mas antes, depende de

regras de organização social herdadas das sociedades ditas primitivas. Ele reformula a

própria noção de contrato. Mauss reflete sobre as indagações de seu tio, Émile

Durkheim, sobre a importância da religião para a economia, concluindo pelo sistema de

dar-retribuir como aspecto importante da economia das sociedades contemporâneas.

A obra desse autor ajuda a maiores reflexões sobre essa relação de trabalho

doméstico. Em todas as minhas conversas com as domésticas, o elemento “família”,

“casa”, “amizade”, “acolhimento”, “traição” são frequentes. Certa vez, conversando

com uma empregadora doméstica extremamente angustiada ouvi o seguinte: “Não se

pode mais ter empregada. Não se pode mais confiar em ninguém. Eu tive câncer, estou

fazendo diálise, e pior que da diálise foi a traição.” Explicou que o pagamento o

estipulado em juízo não seria um problema. “A gente pede para família, dinheiro não é

problema, mas ela me traiu. Ela podia ter pedido. Esse dinheiro não trará benção para

ela.” Nesse caso, segundo a empregadora, a doméstica teria recebido as verbas devidas e

não teria assinado o Termo de Rescisão de Contrato de Trabalho, uma vez que a

confiança reinava.

O marcante dessa relação é que há a obrigação de retribuir o cuidado e a

confiança com o cuidado e a confiança. Assim, o conflito se estabelece quando não há

retribuição. Existe uma obrigação moral na retribuição. Segundo um advogado, “para a

doméstica procurar o judiciário precisa de um problema na relação com a patroa.” Ele

prossegue, “geralmente, trata-se de um dinheiro que não foi emprestado, ou de um doce

que a empregada viu, mas a patroa não a deixou comer. Aí a doméstica continua

trabalhando lá até achar outro lugar. Em seguida, ela procura advogado e vai à juízo.”.

Entre nós, Roberto Damatta (1985) traz o par estrutural casa e rua. Explica a

casa como espaço das relações subjetivas, e a rua como a esfera pública. Identifica ainda

como elo entre a casa e a rua, o outro mundo, espaço da mística e da religião. Duas

éticas, a da casa e a da rua são preservadas. Não se verifica contraposição entre elas. A

relação da empregada doméstica com seu patrão significa a fala com subordinados

usando idioma da casa. Nesse sentido, tenho observado muito no trabalho de campo

como esses dois códigos se conectam sem maiores questionamentos. Um código do

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afeto, da moral e outro da subordinação e do trabalho. Assim, uma empregada torna-se

quase da família.

Em outras sociedades, como a americana, a conexão entre intimidade e

dinheiro pode ser problemática. Segundo Viviana Zelizer (2011), nos Estados Unidos, a

concomitância da condução de atividades econômicas e das relações de pessoalidade é

reputada por muitos como incompatível. Existe toda uma crença que a

intersubjetividade corrompe a economia e vice-versa. Esse argumento é geralmente

usado pelos tribunais americanos. A autora faz alusão à tese de que intimidade e

negociação fazem partes de mundos hostis que não devem misturar-se. O contato entre

os mundos traz contaminação moral, segundo essa ótica.

Assim, continua Zelizer (2011), a interseção entre dinheiro e intimidade gera

conflitos e corrupção. Alguns, no entanto, debatem a possibilidade da propriedade de

doação remunerada de óvulos, a compra de atendimento aos idosos e, por fim, o

pagamento de salários às donas de casa. Para a autora, é surpreendente o não

reconhecimento do convívio entre transações íntimas e monetárias. Pais pagam para as

babás, pais adotivos pagam por seus bebes, pais dão mesadas aos filhos, conjugues

divorciados pagam pensão. Assim, a autora constrói toda uma teoria para negar essa

idéia de mundos hostis.

No Brasil e no meu campo de pesquisa, podemos perceber um quadro bem

diferente. A intimidade e a economia se misturam sem nenhum constrangimento. Todas

as trabalhadoras domésticas que conversaram comigo se referiram, de várias formas, a

sentimentos. Para além de um simples contrato, elas sempre se referem a uma doação

em forma de dedicação, afeto, cuidado. É uma relação menos racional do que pensam os

manuais jurídicos.

E OS TRABALHADORES DOMÉSTICOS HOMENS? ELES EXISTEM?

Durante a pesquisa, outra questão é latente, a ausência de trabalhadores

domésticos homens postulando em juízo. A explicação para isso é simples, como é

notório, a quantidade de homens no serviço doméstico é mínima, se comparado a de

mulheres. O trabalho doméstico é feminino. Além disso, curiosamente, durante as

audiências sobre domésticas, vejo muito poucos homens na posição de empregadores.

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Geralmente, predomina a figura da patroa. Esses dados são de extrema importância na

pesquisa, contudo, a problemática envolvendo trabalho e gênero é ampla. Pretendo

trazer aqui apenas algumas reflexões que podem ser usadas na interpretação do trabalho

de campo.

Muito embora a filosofia feminista seja de longa data, o papel da mulher na

sociedade é retratado por Simone de Beauvoir (1949). Para ela, os homens adotaram

como padrão o masculino, chamando-o de natureza humana. Enquanto isso, as mulheres

foram definidas como diferentes desse padrão, logo, o homem é definido como ser

humano e a mulher como fêmea. Ela chamou atenção para dois perigos distintos. O

primeiro é o da mulher se tornar passiva frente ao papel social esperado. O outro é

querer ser como os homens, sem perceber as especificidades de ser mulher.

Um dos importantes elementos comuns dos autores feministas é a negação de

uma essência comum e natural do masculino e do feminino. Nesse sentido, uma das

mais importantes áreas de atenção dos estudos de gênero é a divisão sexual do trabalho.

Essas análises afirmam uma maior inserção da mulher no mercado de trabalho por meio

de relações de hierarquia muito específicas. As novas gestões de controle do trabalho e

as novas tecnologias criaram condições da mencionada colocação no mercado de

trabalho. Contudo, essa inserção se deu sob a lógica da precarização. Hirata e Kergoat

(1994) consideram as relações de sexo e de classe como elementos constitutivos da

experiência humana, edificando relações sociais.

As autoras questionam a concepção masculina do operário. As concepções

mais tradicionais ignoram o sexo dos trabalhadores e colocam as operarias como grupo

sem identidade própria. Trata-se da invisibilidade do trabalho feminino. A classe

trabalhadora não é assexuada. Neves (1988) explora essa temática da divisão sexual do

trabalho ao estudar a relação entre reprodução e produção. A importância de autores

como Magda Neves está em superar a naturalização de uma antiga dicotomia. Segundo

esse pensamento, os homens seriam responsáveis pelo trabalho produtivo assalariado,

ligados diretamente ao espaço público. Enquanto isso, as mulheres seriam responsáveis

pelos trabalhos de casa, domésticos, não remunerados e tidos como improdutivos.

Alijadas da esfera pública se dedicariam a vida privada e à reprodução.

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Para essas autoras a expressão reprodução complementa a palavra produção,

além disso, é uma categoria importante que significa o cuidado de todo o serviço de

casa, incluindo a educação de filhos. O trabalho reprodutivo pode ser remunerado

(como o realizado pela empregada doméstica) ou o não remunerado (como realizado

pelas mulheres do lar). É muito forte sua importância para a própria manutenção do

sistema capitalista, não devendo ser invisibilizado social ou economicamente.

Hildete Pereira de Melo (1998), em estudo publicado pelo IPEA, analisou o

serviço doméstico remunerado no Brasil. No ano de 1995, o Brasil contava com cinco

milhões de mulheres (e apenas trezentos e cinqüenta mil homens) envolvidos no

trabalho doméstico. Quase vinte por cento da População Economicamente Ativa (PEA)

feminina estava no chamado trabalho doméstico. Essa colocação específica no mercado

de trabalho constitui culturalmente o lugar da mulher. Esse lugar é considerado

ocupação menor e é distante do circuito mercantil. Não há exigência de qualificação.

Trata-se de um refúgio de mulheres com baixa escolaridade e sem treinamento. Outro

dado importante levantado pela autora é, mesmo nesse segmento, o fato dos

rendimentos masculinos serem maiores.

A autora optou por uma perspectiva histórica sobre a problemática. Durante a

escravidão existiam escravos domésticos, encarregados de afazeres do lar. A figura da

escrava doméstica é uma constante no Brasil do Século XIX. Ela convivia com a

possibilidade de contratar meninas para o trabalho doméstico. Com o tempo, a

industrialização e a urbanização, transformaram a ajuda em serviço doméstico, realizado

em troca de moradia e alimentação, para população das migrantes oriundas do campo.

Essa ideia perdurou até os anos cinquenta do século passado, sobretudo nas Regiões

Norte e Nordeste. (MELO, 1998)

Marcio Pochmann (2012) demonstra como a participação relativa do trabalho

doméstico no total da ocupação urbana diminuiu sensivelmente de 1900 até 2009. Se

em 1900 esse percentual era de 53,1%, em 1960 era de 26,1%%, e, por fim, em 2009

era de apenas 7,8%. Em 2012, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

(PNAD), o trabalho doméstico remunerado era ocupação de 6,3 milhões de pessoas (ou

seja 6,7% dos brasileiros e brasileiras economicamente ativos). A disparidade de gênero

no serviço doméstico remunerado permanece até os dias atuais. Assinalo que dessas 6,3

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milhões de pessoas, apenas 492 mil são homens. Temos que, nessa ocupação, quase

95% são mulheres.

Fato é que, até a presente data não encontrei nenhuma audiência envolvendo

homem empregado doméstico. Talvez, se minha pesquisa fosse em alguma região

turística, por exemplo Angra dos Reis ou Campos do Jordão, conseguiria assistir

audiências de caseiros. Ocorre que, como na maioria das vezes se trata de casa de

veraneio, a relação dos caseiros com as famílias não é cotidiana, o que o distancia muito

do tipo de vínculo observado nessa pesquisa. O que eu consigo perceber na minha

pesquisa nas varas de Niterói é exatamente essa ausência de empregados domésticos

homens postulando em juízo, denunciando tratar-se de ocupação eminentemente

feminina. A divisão sexual do trabalho doméstico é de tema de profunda relevância.

Infelizmente, o judiciário ainda não entendeu o caráter diferencial do conflito advindo

dessa relação.

PLANEJAMENTOS FUTUROS E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os próximos passos da pesquisa consistem em visitar espaços onde as

empregadoras domésticas se concentram, no sindicato dos empregadores domésticos. O

sindicato dos empregadores é uma inovação necessária por conta da Emenda

Constitucional 72/2013. Essa emenda permitiu aos empregadores e empregados

domésticos o reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho. Para

tanto, há um sindicato estadual dos empregadores domésticos, contando com um

escritório na Barra da Tijuca e um em Niterói.

Além disso, pretendo conversar com os juízes. Já estou fazendo um movimento

nesse sentido. Já tenho conversado com quatro juízes do trabalho de Niterói, todos tem

sido muito solícitos. O intuito é saber para além das representações sobre empregadas e

empregadores, é ter mais imagens de formas de administrar esse conflito.

Por fim, deixo aos leitores uma história contada por um juiz do trabalho de

Niterói. Esse juiz afirmou para mim que a intimidade sobrepõe-se ao dinheiro. Trata-se

de uma audiência sobre emprego doméstico. Duas mulheres de aproximadamente

setenta anos. Um vínculo de trabalho estabelecido durante quarenta anos. Ocorre o

seguinte: a patroa ficou viúva e resolveu casar pela segunda vez com um rapaz de vinte

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anos, surfista. A família, e isso inclui a empregada doméstica, se opõem à união. Depois

de demitida sem justa causa, com todas as verbas indenizatórias corretamente pagas, a

empregada vai ao juízo contra a patroa. O advogado da empregada era pago pelas filhas

da patroa.

Empregadora: - Essa mulher é uma megera. Como ela pode fazer isso?

Empregada: - Ave Maria Cheia de Graça, o senhor... (rezando)

Juiz do Trabalho: - Mas a senhora está com todas as verbas

indenizatórias pagas. Férias, horas extras, 13º Salário,... Está tudo

pago. O que a senhora quer?

Empregada: Eu quero uma casinha.

Juiz do Trabalho: - Vou propor um acordo que o advogado da

Reclamada vai me matar. Mas, vamos fazer um acordo de R$ 100

mil?

Empregadora: - Eu vou fazer um cheque desse valor. Eu pago para

nunca mais ter que olhar para essa mulher...

Juiz do Trabalho: - A senhora não quer parcelar? É um cheque único

de R$ 100 mil, se ele voltar a multa será enorme!

Empregadora: - Não vou parcelar! Não quero mais olhar para essa

mulher.

Dessa história, não sei os detalhes dos acontecimentos, nem entendo os

sentimentos envolvidos. Entretanto, é evidente que a administração de conflitos

advindos de uma relação tão complexa, como a do trabalho doméstico, deve levar em

consideração duas questões. A primeira é o desejo das partes do reconhecimento moral

que se agiu certo. A outra é a moralidade do julgador. Ou seja, as moralidades não se

separam do direito e devem sim ter papel central nos estudos sobre administração de

conflitos.

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