monte mor urbano contemporaneo urbanizacao extensiva

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REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.111, p.09-18, jul./dez. 2006 9 O QUE É O URBANO, NO MUNDO CONTEMPORÂNEO * Roberto Luís Monte-Mór ** RESUMO Conceitos centrais da vida contemporânea, tais como política, civilização e cidadania, derivam da forma e organização da cidade. A cidade expressa a divisão socioespacial do trabalho, e Henri Lefebvre propõe pensar sua transformação a partir de um continuum que se estende da cidade política ao urbano, onde se completa a dominação sobre o campo. A efetiva passagem da cidade ao urbano foi marcada pela tomada da cidade pela indústria, trazendo a produção – e o proletariado – para o espaço do poder. A cidade, lócus do excedente, do poder e da festa, cenário privilegiado da reprodução social, ficou, assim, subordinada à lógica da indústria. Sofreu, então, um duplo processo: sua centralidade implodiu sobre si mesma e sua periferia explodiu sobre o entorno sob a forma de tecido urbano, que acabou por carregar consigo o germe da pólis e da civitas. Assim, a práxis urbana, antes restrita à cidade, re-politizou todo o espaço social. No Brasil, o urbano teve sua origem na política ao mesmo tempo concentradora e integradora dos governos militares, que deram seqüência à centralização e expansionismo varguista e à interiorização desenvolvimentista juscelinista. Hoje, o urbano-industrial impõe-se virtualmente a todo o espaço social, na urbanização extensiva dos nossos dias. Palavras-chave: cidade; Lefebvre; urbano; urbanização extensiva. ABSTRACT Contemporary life central concepts such as politics, civilization and citizenship, derive from the city form and organization. A city conveys labor socio-spatial division, thus Henri Lefebvre proposes to think its transformation on the basis of a continuum that extends from the political city to the urban environment, when and where it completes its countryside domination. The city’s transformation into urban environment was marked by an industrial takeover that brought power to production and to working class. The city, as the surplus, power and fiesta locus, as well as a privileged scenario of social reproduction, was thus subordinated to the industrial logics. The city thus experienced a double process: its centrality imploded upon itself and its outskirts exploded upon the surrounding areas through the urban tissue, which carries within it the polis and civitas germ. Therefore, the urban praxis, formerly restricted to the city, has now re-politicized the social space as a whole. In Brazil, urban environment had its origin in the military government concentrating and integrating politics that followed Vargas’s centralization and expansionism, and Kubitschek’s developmental interiorizing. Today, the urban- industrial process virtually imposes itself on all social space through the extended urbanization of our days. Key words: city; Lefebvre; urban environment; extended urbanization. *Este artigo foi publicado originalmente em inglês na revista Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.21, n.3, maio/jun. 2005. **Arquiteto, mestre em Planejamento Urbano e Rural pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ph.D. em Planejamento Urbano, University of California - Los Angeles, 2004. Professor Adjunto do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). [email protected] Artigo recebido para publicação em abril/2007. Aceito para publicação em abril/2007.

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urbanização extensiva

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  • REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.111, p.09-18, jul./dez. 2006 9

    Roberto Lus Monte-Mr

    O QUE O URBANO, NO MUNDOCONTEMPORNEO*

    Roberto Lus Monte-Mr **

    RESUMO

    Conceitos centrais da vida contempornea,tais como poltica, civilizao e cidadania,derivam da forma e organizao da cidade.A cidade expressa a diviso socioespacial dotrabalho, e Henri Lefebvre prope pensar suatransformao a partir de um continuum quese estende da cidade poltica ao urbano, ondese completa a dominao sobre o campo. A efetiva passagem da cidade ao urbano foimarcada pela tomada da cidade pelaindstria, trazendo a produo e oproletariado para o espao do poder.A cidade, lcus do excedente, do poder e dafesta, cenrio privilegiado da reproduosocial, ficou, assim, subordinada lgica daindstria. Sofreu, ento, um duplo processo:sua centralidade implodiu sobre si mesma esua periferia explodiu sobre o entorno sob aforma de tecido urbano, que acabou porcarregar consigo o germe da plis e da civitas.Assim, a prxis urbana, antes restrita cidade, re-politizou todo o espao social.No Brasil, o urbano teve sua origem na polticaao mesmo tempo concentradora e integradorados governos militares, que deram seqncia centralizao e expansionismo varguista e interiorizao desenvolvimentista juscelinista.Hoje, o urbano-industrial impe-sevirtualmente a todo o espao social, naurbanizao extensiva dos nossos dias.

    Palavras-chave: cidade; Lefebvre; urbano;urbanizao extensiva.

    ABSTRACT

    Contemporary life central concepts such aspolitics, civilization and citizenship, derive fromthe city form and organization. A city conveyslabor socio-spatial division, thus Henri Lefebvreproposes to think its transformation on the basisof a continuum that extends from the politicalcity to the urban environment, when and whereit completes its countryside domination. Thecitys transformation into urban environmentwas marked by an industrial takeover thatbrought power to production and to workingclass. The city, as the surplus, power and fiestalocus, as well as a privileged scenario of socialreproduction, was thus subordinated to theindustrial logics. The city thus experienced adouble process: its centrality imploded uponitself and its outskirts exploded upon thesurrounding areas through the urban tissue,which carries within it the polis and civitasgerm. Therefore, the urban praxis, formerlyrestricted to the city, has now re-politicized thesocial space as a whole. In Brazil, urbanenvironment had its origin in the militarygovernment concentrating and integratingpolitics that followed Vargass centralizationand expansionism, and Kubitscheksdevelopmental interiorizing. Today, the urban-industrial process virtually imposes itself on allsocial space through the extended urbanizationof our days.

    Key words: city; Lefebvre; urban environment;extended urbanization.

    *Este artigo foi publicado originalmente em ingls na revista Cadernos de Sade Pblica, Rio de Janeiro, v.21, n.3,maio/jun. 2005.

    **Arquiteto, mestre em Planejamento Urbano e Rural pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ph.D.em Planejamento Urbano, University of California - Los Angeles, 2004. Professor Adjunto do Departamento de CinciasEconmicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). [email protected]

    Artigo recebido para publicao em abril/2007. Aceito para publicao em abril/2007.

  • O que o Urbano, no Mundo Contemporneo

    10 REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.111, p.09-18, jul./dez. 2006

    INTRODUOA relao entre cidade e campo situa-se, histrica e teoricamente, no centro

    das sociedades humanas. A dominao da cidade sobre o campo, como resultado dadiviso entre trabalho intelectual e trabalho manual e atravs do comando do mercadosobre as atividades de produo, fato que marcou as sociedades humanas desdetempos remotos, e particularmente as sociedades capitalistas industriais modernas emque nos inserimos.

    Os adjetivos urbano e rural, todavia, referentes cidade e ao campo, ganharamautonomia apenas recentemente e dizem respeito a uma gama de relaes culturais,socioeconmicas e espaciais entre formas e processos derivados da cidade e do campo,sem, no entanto, permitirem a clareza dicotmica que os caracterizava at o sculopassado. Ao contrrio, cada vez mais as fronteiras entre o espao urbano e o rural sodifusas e de difcil identificao. Pode-se supor que isso acontece porque hoje essesadjetivos carecem da sua referncia substantiva original, na medida em que tanto acidade como o campo no so mais conceitos puros, de fcil identificao oudelimitao. O que so hoje as cidades de Belo Horizonte, So Paulo, Rio de Janeiro,Bela Vista de Minas ou qualquer outra cidade grande, mdia ou mesmo pequena noBrasil contemporneo ou no mundo? Onde comeam e onde terminam? De outraparte, o que o campo na atualidade? A cooperativa agrcola da Cotia ou a Barretosdo peo boiadeiro em So Paulo? Povoados e distritos distantes como Milho Verde, oua periferia das cidades, chamada rea rural? Ou, ainda, as grandes fazendas, asagroindstrias, os acampamentos do MST, no Nordeste, no cerrado ou na Amaznia?Em qualquer caso, a definio dos limites e da natureza, tanto do campo como dacidade, cada vez mais difusa e difcil.

    Legalmente, no Brasil, as cidades so definidas pelos permetros urbanos dassedes municipais, e os territrios e populaes considerados urbanizados incluem ospermetros das vilas, sedes dos distritos municipais. Entretanto, as reas urbanizadasenglobam amplas regies circunvizinhas s cidades cujo espao urbano integrado seestende sobre territrios limtrofes e distantes em um processo expansivo iniciado nosculo XIX e acentuado de forma irreversvel no sculo XX.

    Por outro lado, as cidades, ou o espao poltico e sociocultural formado apartir delas, vm se tornando os centros da organizao da sociedade e da economia.Na escala mundial, poucas cidades organizam e comandam grandes blocos deinteresses e reordenam o espao econmico global1; nas escalas local, regional enacional, as cidades definem as formas de organizao da populao e a localizaodas atividades econmicas, referenciam identidades sociais e definem as formas vriasde constituio comunitria.

    De fato, alguns dos conceitos centrais da vida contempornea derivam da cidade,tanto em sua forma espacial quanto em sua organizao social. Da idia grega de plisvem o conceito de poltica, enquanto do latim civis e civitas vm cidado, cidadania,

    1Uma vasta literatura discute as cidades mundiais e globais; ver Friedmann (1988) e Sassen (1991).

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    cidade, e mesmo civilizao.2 Tambm se origina do latim o sentido de urbano, comdupla conotao: de urbanum (arado) vem o sentido de povoao, a forma fsica daocupao do espao de vida delimitado pelo sulco do arado dos bois sagrados quemarcava o territrio da produo e de vida dos romanos; da sua simplificao semnticaoriginaram-se urbe e urbs, este ltimo termo referindo-se a Roma, cidade-imprio, centrodo mundo e, assim, desaparecido at as grandes cidades da era moderna.3

    Cidade e campo, elementos socioespaciais opostos e complementares, constituema centralidade e a periferia do poder na organizao social. As cidades garantem adiversidade e a escala da vida social, bem como a competio e a cooperao,caractersticas da vida humana contempornea. Os campos, por sua vez, to diversosentre si, garantem, tambm, diversidades dentro da sua homogeneidade extensiva e desuas escalas de produo, quando tomados de forma abrangente. Contm, do mesmomodo, processos de competio e cooperao, mesmo que gerenciados pelas cidades elimitados pela auto-suficincia relativa que ainda mantm.

    A cidade, na viso histrica dominante na economia poltica, constitui o resultadodo aprofundamento da diviso socioespacial do trabalho em uma comunidade.4 Esseaprofundamento resulta de estmulos provocados pelo contato externo e da aberturapara outras comunidades, envolvendo processos regulares de troca, baseados nacooperao e na competio. Implica, assim, de um lado, um sedentarismo e umahierarquia socioespacial interna comunidade e, de outro, movimentos regulares debens e pessoas entre comunidades. Localmente, exige uma estrutura de poder sustentadapela extrao de um excedente regular da produo situada no campo. Assim, a cidadefaz emergir uma classe dominante que extrai e controla esse excedente coletivo medianteprocessos ideolgicos, acompanhados, certamente, do uso da fora.

    Segundo Paul Singer (1973), a cidade o modo de organizao (scio)espacialque permite classe dominante maximizar a extrao regular de um mais-produto docampo e transform-lo em garantia alimentar para a sua sustentao e para a de umexrcito que garanta a regularidade dessa dominao e extrao. Posto dessa forma,estabelece-se, assim, o que Henri Lefebvre (1969; 1999) denominou cidade poltica,

    2At recentemente, o reconhecimento de uma civilizao implicava a existncia de civis, da cidade, e, assim, ospovos nativos brasileiros e norte-americanos, considerados seminmades e que no construram cidades duradouras, eramconsiderados no-civilizados, em oposio s civilizaes dos Maias, Astecas e Incas, que produziram cidades cujas runasperduraram. Abordagens etno-histricas, antropolgicas e arqueolgicas recentes questionam, entretanto, a pertinnciadessas classificaes, enquanto a geografia contempornea discute o prprio sentido da cidade como uma construoposterior chamada Revoluo Agrcola. Ver, entre outros, Ericson (2001), Fausto (2000), Roosevelt (1994) e Soja (2000).

    3O termo urbano foi resgatado apenas no sculo XVI em portugus, segundo Houaiss, Villar e Franco (2001), parase referir a cidade-imprio, e particularmente no sculo XVII cidade-sede do Imprio Britnico em construo, segundo oWebsters Lexicon (LEXICON, 1987), sendo que mesmo a palavra city (vinda do francs cit e do latim civitas) se imps nalngua inglesa a partir do centro financeiro de Londres, generalizando-se no perodo vitoriano em contraposio ao campo.Raymond Williams (1973; 1983) mostra que a palavra city apareceu no sculo XIII de forma paradigmtica referindo-se acidades ideais ou bblicas (em lugar de borough ou town) e qualificando representaes do poder: cidade provincial, cidade-catedral etc. Para uma breve discusso dos conceitos de polis, civitas e urbs, ver Cardoso (1990) e Carpintero (1998).

    4A hiptese, muito heterodoxa e sistematicamente rejeitada, da precedncia da cidade sobre o campo, foiinicialmente apresentada por Jane Jacobs (1969) com base em descobertas arqueolgicas da cidade de atal Huyuk. Hoje,a discusso desta precedncia vem ganhando peso com novas pesquisas arqueolgicas envolvendo, entre outras, a lendriaJeric. Ver Soja (2000).

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    ou seja, a cidade que mantm seu domnio sobre o campo (com a conseqente extraodo mais-produto, ou excedente) a partir do controle apenas poltico. Nesse contexto, aproduo centrada no campo, e a cidade, espao no-produtivo privilegiado dos poderespoltico e ideolgico, retira do excedente produzido no campo as condies de reproduoda classe dominante e de seus servidores diretos, militares e civis, que a habitam.5

    Lefebvre prope, entretanto, que se pense um continuum da cidade poltica zona crtica (o urbano), passando pela cidade mercantil e pela cidade industrial.A primeira passagem marcada pela entrada da praa de mercado no interior das muralhasdas cidades controladas por mosteiros ou castelos. Incentivadas pelas feiras locais e regionais(em mltiplas escalas, mesmo internacionais) de artigos de luxo, as elites gradativamentepermitiram a entrada da burguesia nascente no espao do poder, logo deslocando acentralidade do poder dos palcios e mosteiros para a praa de mercado, consolidando aeconomia de mercado, que teve nas cidades seu espao privilegiado.6

    Assim, a cidade mercantil, lugar central para onde os excedentes regionais eramvoluntariamente trazidos e comercializados, resulta da entrada da burguesia na cidade e desua eventual conquista. Os burgos mercantis deram novo sentido e fora cidade poltica,transformando-a em centro mercantil. A relao entre campo e cidade teve, ento, suaprimeira inflexo, e a extrao do mais-produto no era mais apenas possibilitada pelacoero poltico-ideolgica e militar, mas tambm por um movimento voluntrio do campoem direo capacidade articuladora da cidade como lcus do mercado. A inflexo docampo cidade foi, portanto, marcada pela economia: a produo do campo s se realizavana praa de mercado, modificando e ampliando a dominao da cidade sobre o campo.

    Cabe ressaltar, ainda, a sinergia da vida urbana na cidade mercantil, lugar centralde inovao e provimento dos bens e servios para produo no campo e, tambm,espao privilegiado da vida em comunidade, onde a diviso do trabalho aprofunda-se pormeio das especialidades e complementaridades que ali se desenvolvem.

    1 A CIDADE INDUSTRIAL, A RELAO ENTRE CIDADE E CAMPOE O SURGIMENTO DO URBANO

    A segunda transformao e efetiva passagem da cidade em direo ao urbanofoi marcada pela entrada da indstria na cidade, processo longo na histria ocidental,como enfatiza Singer (1973). Na verdade, a urbanizao, tal como hoje entendida,iniciou-se com a cidade industrial. At o surgimento da indstria fabril e sua concentraonas cidades e metrpoles europias, o processo de urbanizao restringia-se a algumaspoucas cidades onde o poder e/ou o mercado se concentravam. Poucas eram asaglomeraes humanas que na atualidade poderiam ser denominadas cidades no perodoque antecedeu a Revoluo Industrial. A populao que vivia em cidades no ultrapassava20% em quase todos os pases (DAVIS, 1970), e a cidade significou condio fundamental

    5Considerando as novas abordagens citadas acima, a cidade sempre foi mais produtiva do que o campo, o quegarantiu de fato seu domnio, sendo que muitas vezes ela produziu o seu espao rural a posteriori.

    6Lewis Mumford (1965) descreve com brilhantismo a passagem da praa de mercado economia de mercado, emseu livro A Cidade na Histria.

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    para o desenvolvimento da indstria, concentrando a populao consumidora, ostrabalhadores e as condies gerais de produo7 para instalao das empresas fabris,presentes (ou criadas) apenas em algumas cidades, como at recentemente no Brasil.

    A cidade industrial foi, assim, marcada pela entrada da produo no seio doespao do poder, trazendo com ela a classe trabalhadora, o proletariado. A cidade passoua no mais apenas controlar e comercializar a produo do campo, mas tambm atransform-la e a ela agregar valor em formas e quantidades jamais vistas anteriormente.O campo, at ento predominantemente isolado e auto-suficiente, passou a dependerda cidade para sua prpria produo, das ferramentas e implementos aos bens de consumode vrios tipos, chegando hoje a depender da produo urbano-industrial at para alimentose bens de consumo bsico. Para Lefebvre (1999), essa inflexo significa a subordinaototal do campo cidade.

    Na cidade industrial, h tambm uma transformao radical. A indstria impe cidade sua lgica centrada na produo, e o espao da cidade, organizado como lcusprivilegiado do excedente econmico, do poder poltico e da festa cultural, legitimadocomo obra e regido pelo valor de uso coletivo, passa a ser privatizado e subordinado aovalor de troca. Segundo Lefebvre, a cidade se transforma, tambm, em produto industrial,segundo as mesmas leis econmicas que regem a produo. O espao privilegiado dareproduo da sociedade fica, ento, subordinado lgica do industrialismo e snecessidades da indstria e, como tal, deve reunir as condies de produo necessrias.Entre estas, com destaque, est a reproduo coletiva da fora de trabalho, sintetizadapela habitao e por demandas complementares.8 O espao urbanizado passa a seconstituir em funo das demandas colocadas ao Estado no sentido de atender tanto produo industrial quanto, e particularmente, s necessidades da reproduo coletivada fora de trabalho. As grandes cidades industriais estendem-se, assim, sobre suasperiferias de modo a acomodar as indstrias, seus provedores e trabalhadores, gerandoamplas regies urbanizadas no seu entorno: as regies metropolitanas.

    A cidade, no entanto, lcus da trade do excedente coletivo, do poder poltico e dafesta, no poderia desaparecer, pois representa e sintetiza a sociedade que a gerou. Lefebvre(1999) descreve metaforicamente o que acontece: a cidade industrial sofre um duploprocesso: o de imploso e o de exploso. A imploso se d na cidadela sobre si mesma,sobre a centralidade do excedente/poder/festa que se adensa e reativa os smbolos dacidade ameaada pela lgica (capitalista) industrial.9 A exploso incide sobre o espao

    7As condies gerais da produo, um conceito marxista resgatado por tericos urbanos neomarxistas (LOJKINE,1981; TOPALOV, 1979), abrangem: proviso, pelo Estado, de aparato legal que garanta as relaes de propriedade privadae livre circulao de mercadorias (incluindo terra e fora de trabalho), servios de transporte e comunicaes, e a provisoda infra-estrutura bsica e servios para o capital industrial e financeiro, assim como para a reproduo da fora de trabalho.

    8Manuel Castells (1983) desenvolveu uma influente abordagem de inspirao neomarxista em que definiu aespecificidade do espao urbano dentro do sistema econmico capitalista como o lcus privilegiado da reproduo da forade trabalho, tornada possvel pela concentrao dos meios de consumo coletivo. Castells sofreu diversas crticas, de Lojkine(1981), Topalov (1979) e outros autores, que chamaram a ateno para o fato de que a funo do urbano no sistemacapitalista transcendia a reproduo da fora de trabalho, constituindo-se tambm em lcus privilegiado das j referidascondies gerais da produo.

    9Isso explica, em parte, no atual processo de industrializao, a nfase na revitalizao de reas centrais, espaossimblicos do poder poltico e do resgate de valor de uso das elites, mais ou menos estendidos ao conjunto da populao.

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    circundante, com a extenso do tecido urbano, forma e processo socioespacial quecarrega consigo as condies de produo antes restritas s cidades, estendendo-as aoespao regional imediato e, eventualmente, ao campo longnquo, conforme asdemandas da produo (e reproduo coletiva) assim o exijam. O tecido urbano sintetiza,dessa maneira, o processo de expanso do fenmeno urbano que resulta da cidadesobre o campo e, virtualmente, sobre o espao regional e nacional como um todo.

    2 A URBANIZAO CONTEMPORNEA: seu carter extensivoe outras implicaes

    O que , ento, o urbano no mundo contemporneo, esse tecido que nascenas cidades e se estende para alm delas, sobre o campo e as regies? O urbano,entendido dessa forma, uma sntese da antiga dicotomia cidadecampo, um terceiroelemento na oposio dialtica cidadecampo, a manifestao material e socioespacialda sociedade urbano-industrial contempornea, estendida, virtualmente, por todo o espaosocial. Lefebvre (1999) usa a expresso sociedade urbana como sntese dialtica(e virtual) da dicotomia cidadecampo, superada na etapa contempornea do capitalismoque ele alcunha sociedade burocrtica de consumo dirigido (LEFEBVRE, 1991). O urbano,ou o espao urbano-industrial contemporneo, metfora para o espao social (re)definidopela urbanizao, estende-se virtualmente por todo o territrio atravs do tecido urbano,essa forma socioespacial herdeira e legatria da cidade que caracteriza o fenmenourbano contemporneo e a sociedade urbana.

    O tecido urbano prolifera, estende-se, corri os resduos de vida agrria. Estas palavras, o tecidourbano, no designam, de maneira restrita, o domnio edificado nas cidades, mas o conjuntodas manifestaes do predomnio da cidade sobre o campo. Nessa acepo, uma segundaresidncia, uma rodovia, um supermercado em pleno campo, fazem parte do tecido urbano.(LEFEBVRE, 1999, p.17).

    No entanto, a cidade industrial que transbordou sobre as regies circundantesdeu origem a uma nova forma de urbanizao que, ao mesmo tempo, estendeu e integroutambm a prxis sociopoltica e espacial prpria do espao urbano-industrial ( qualLefebvre chamou de prxis urbana) ao espao social como um todo. medida que otecido urbano se estendeu sobre o territrio, levou com ele os germes da plis, da civitas,da prxis poltica urbana que era prpria e restrita ao espao da cidade. A luta polticapelo controle dos meios coletivos de reproduo que caracterizam a cidadaniacontempornea e os movimentos sociais urbanos que emergiram nos anos setentamostraram que a luta pela cidadania estava latente nas cidades e nas reas urbanas. Adcada de 1980, no entanto, mostrou que esses movimentos haviam se estendido paraalm desses limites, atingindo todo o espao social. Os movimentos sociais perderam aadjetivao de urbanos conforme passaram a abranger populaes rurais e tradicionais,como ndios, seringueiros, trabalhadores sem terra, entre outras.

    Assim, a questo urbana havia se transformado na questo espacial em si mesma,e a urbanizao passou a constituir uma metfora para a produo do espao socialcontemporneo como um todo, cobrindo potencialmente todo o territrio nacional embases urbano-industriais. Por outro lado, a politizao prpria do espao urbano, agora

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    estendida ao espao regional, refora preocupaes com a qualidade da vida quotidiana,o meio ambiente, enfim, com a reproduo ampliada da vida. O industrial passou a ser,ao menos virtualmente, submetido a limitaes do urbano e por exigncias da reproduo.Nesse contexto, a re-politizao da vida urbana torna-se a re-politizao do espao social:

    A problemtica do espao, a qual subsume os problemas da esfera urbana (a cidade e suasextenses) e da vida cotidiana (consumo dirigido), deslocou a problemtica da industrializao.(LEFEBVRE, 1991, p.89).

    Tenho chamado de urbanizao extensiva10 esta materializao sociotemporaldos processos de produo e reproduo resultantes do confronto do industrial com ourbano, acrescida das questes sociopolticas e cultural intrnsecas plis e civitas, quetm sido estendidas para alm das aglomeraes urbanas ao espao social como umtodo. essa espacialidade social resultante do encontro explosivo da indstria com acidade o urbano que se estende, com as relaes de produo (e sua reproduo),por todo o espao onde as condies gerais de produo (e consumo) determinadaspelo capitalismo industrial de Estado impem-se sociedade burocrtica de consumodirigido, carregando, no seu bojo, a reao e a organizao polticas prprias da cidade.Essa a realidade a sociedade urbana que se coloca hoje como virtualidade eobjetividade no Brasil, constituindo-se em condio para a compreenso do espaosocial contemporneo.

    33333 A URBANIZAO EXTENSIVA URBANIZAO EXTENSIVA URBANIZAO EXTENSIVA URBANIZAO EXTENSIVA URBANIZAO EXTENSIVA NO BRAA NO BRAA NO BRAA NO BRAA NO BRASILSILSILSILSILCONTEMPORNEOCONTEMPORNEOCONTEMPORNEOCONTEMPORNEOCONTEMPORNEO11

    Diante desse quadro, j se pode falar de uma sociedade virtualmente urbanano Brasil. A urbanizao brasileira intensificou-se na segunda metade do sculo XX,quando o capitalismo industrial ganhou momento no Pas e dinamizou a economia apartir da consolidao das grandes cidades industriais, particularmente So Paulo, ogrande plo industrial do Brasil. A transformao de uma economia agroexportadora emuma economia centrada na substituio de importaes para o mercado interno redefiniua cidade industrial como plo de dinamizao e de transformaes seletivas no espaoe na sociedade brasileira.

    A cidade industrial originou-se no Brasil a partir de duas vertentes principais,no necessariamente excludentes entre si: a primeira, a transformao da cidade poltica,tradicional sede do aparelho burocrtico de Estado e espao de comando das oligarquiasrurais ligadas economia agroexportadora, em cidade mercantil, marcada pela presenado capital exportador e/ou da concentrao de comrcio e servios centrais de apoio satividades produtivas rurais em centro de produo industrial; a segunda, a criao e/oucaptura de pequenas cidades como espaos de produo monoindustrial por grandes

    10O termo urbanizao extensiva, apesar de sua inspirao claramente lefebvriana ao pretender resgatar aspectoscentrais do pensamento de Lefebvre sobre o fenmeno urbano, mais particularmente aliando dimenso socioespacial oelemento poltico implcito na praxis urbana, de minha total responsabilidade e no foi utilizado por Lefebvre. Para outrasdefinies do termo, ver Monte-Mr (1994; 1997; 2003).

    11Partes do texto, neste item, foram apresentadas em Monte-Mr (2004).

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    indstrias. Apenas essas cidades industriais, grandes, mdias ou pequenas(monoindustriais), reuniam as condies exigidas pelo capitalismo industrial, em que oEstado regulava as relaes entre capital e trabalho, fazia investimentos em infra-estrutura,garantia os meios de consumo coletivo, enfim, criava as condies gerais de produopara a indstria. Essas condies de produo estavam restritas ao que Milton Santos(1994) denominou arquiplago urbano, evidenciando o carter fragmentrio edesarticulado da sociedade urbana brasileira. Nesse contexto, a cidade industrial erapea central da dinmica capitalista, articulando-se com cidades comerciais e centrosurbanos que canalizavam a produo para sua rea de influncia e controle. Era tambmnessas cidades, e apenas nelas, que se concentravam as possibilidades de acesso sfacilidades da vida moderna, cidadania, urbanidade e modernidade.

    O tecido urbano, no Brasil, teve sua origem na poltica territorial ao mesmotempo concentradora e integradora dos governos militares, em seqncia centralizaoe expansionismo do perodo Vargas e s aes de interiorizao do desenvolvimento doperodo juscelinista. O velho binmio Energia e Transporte transformou-se, nos anossetenta, em investimentos em infra-estrutura (rodovias, hidreltricas), comunicaes,servios financeiros, entre outros. Os capitais internacionais que demandaram o Brasilassociaram-se construo civil, ao latifndio subsidiado e agroempresa, que constituamalguns dos acordos das elites econmicas nacionais e regionais para apoio ao militarismo(inter)nacional. Atravs do tecido urbano, estenderam-se o (aparato do) Estado, alegislao (trabalhista e previdenciria), redes de comunicaes e servios urbanos esociais (produo e consumo), potencialmente por todo o Pas, dos centros dinmicos sfronteiras de recursos naturais.

    A partir dos anos setenta, a urbanizao estendeu-se virtualmente ao territrionacional, integrando os diversos espaos regionais centralidade urbano-industrial queemanava de So Paulo, desdobrando-se na rede de metrpoles regionais, cidades mdias,ncleos urbanos afetados por grandes projetos industriais, atingindo, finalmente, aspequenas cidades nas diversas regies, em particular onde o processo de modernizaoganhou uma dinmica mais intensa e extensa. J no h mais problema agrrio, agorase trata do problema urbano em escala nacional, dizia de forma quase panfletria oeconomista e socilogo Francisco de Oliveira, na SBPC de 1978, em seu texto conhecidocomo o ovo de Colombo da urbanizao brasileira (OLIVEIRA, 1978, p.74). De fato, aofinal daquela dcada, as relaes capitalistas virtualmente j haviam sido estendidas atodo o espao nacional.

    a essa urbanizao que ocorreu para alm das cidades e reas urbanizadas,e que carregou com ela as condies urbano-industriais de produo (e reproduo)como tambm a prxis urbana e o sentido de modernidade e cidadania, que tenhochamado de urbanizao extensiva. A urbanizao extensiva atingiu nos ltimos30 anos praticamente todo o Pas: estendeu-se a partir das regies metropolitanas,articulando-se aos centros industriais, s fontes de matrias-primas, seguindo a infra-estrutura de transportes, energia e comunicaes, criando e estendendo as condiesde produo e os meios de consumo coletivo necessrios ao consumo da produoindustrial fordista que se implantava no Brasil com o milagre brasileiro. Ao final do

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    Roberto Lus Monte-Mr

    sculo XX, o urbano se fazia presente em todo o territrio nacional, com destaque paraas fronteiras amaznica e do centro-oeste, onde a produo do espao j se dava apartir de uma base urbano-industrial que emanava dos centros metropolitanos e de seusdesdobramentos sobre as regies agrrias articuladas base agroindustrial do Pas.

    nesse sentido amplo que se pode falar de uma urbanizao extensiva que seimpe no espao brasileiro para muito alm das cidades, integrando espaos rurais eregionais ao espao urbanoindustrial mediante a expanso da base material requeridapela sociedade e pela economia contemporneas e as relaes de produo que so(ou devem ser) reproduzidas pela prpria produo do espao. Neste contexto,multiplicam-se as fronteiras (urbanas), tanto internamente e nas franjas das aglomeraesquanto nos espaos regionais e rurais incorporados lgica urbano-industrial dominante.A urbanizao extensiva caminha, assim, ao longo dos eixos virios e redes decomunicao e de servios em regies novas, como a Amaznia e o Centro-Oeste,mas tambm em regies velhas, como o Nordeste, em espaos residuais das regiesmais desenvolvidas, nas ilhas de ruralidade no interior mineiro ou paulista. Em todaparte, a lgica urbano-industrial impe-se ao espao social contemporneo, no urbanodos nossos dias.

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