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Londrina2013
NATANY DAYANI DE SOUZA ASSAI
PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA
ESTUDO SOBRE A SURDOCEGUEIRA: DIFICULDADES E PERSPECTIVAS
Londrina2013
ESTUDO SOBRE A SURDOCEGUEIRA: DIFICULDADES E PERSPECTIVAS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de Pós graduado em Educação Especial Inclusiva
Orientador: Profª Maiudes Carlos Lazari
NATANY DAYANI DE SOUZA ASSAI
Dedico este trabalho a minha família
AGRADECIMENTOS
A Profª Maiudes minha orientadora, que acompanhou e esteve me
auxiliando durante o curso.
Aos professores de todas as disciplinas que contribuíram para a
minha formação e me guiaram a conclusão dessa jornada.
Aos meus pais que me deram apoio incondicional, me incentivaram
em todos os momentos e são os grandes responsáveis pela pessoa que eu sou e
por essa conquista em especial.
“Não há barreiras que o ser humano não possa transpor.”
Helen Keller
ASSAI, Natany Dayani de Souza. Estudo sobre a surdocegueira: dificuldades de perspectivas. 2013. 41p. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós Graduação em Educação Especial Inclusiva) – Centro Educação a Distância, Universidade Norte do Paraná, Londrina, 2013.
RESUMO
A comunicação dos surdocegos e a falta de perspectiva são os grandes obstáculos a serem transpostos para seu desenvolvimento e aprendizagem. O presente trabalho visa conhecer a surdocegueira e suas peculiaridades a fim de compreender a forma como as pessoas surdocegas estruturam seu desenvolvimento e como ingressam nos grupos sociais. Para tanto, é necessário que se criem, tanto pela pessoa e sua família, quanto pelos profissionais da saúde e da escola, estratégias para desenvolver o seu potencial psicomotor visando a sua independência e facilitando sua inclusão, tanto na escola como na sociedade.
Palavras-chave: Educação especial. Inclusão. Surdocegueira. Comunicação.
ASSAI, Natany Dayani de Souza. Study on deafblindness: difficulties and Perspectives. 2013. 41p. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós Graduação em Educação Especial Inclusiva) - Centro Educação a Distância, Universidade Norte do Paraná, Londrina, 2013.
ABSTRACT
The communication of deafblind and lack of perspective are the major obstacles to be overcome for their development and learning. This study aims to know deafblindness and their peculiarities in order to understand how the deafblind people structure their development and how to join social groups. Therefore, it is necessary to create both the person and his family, as by health professionals and school strategies to develop their potential psychomotor seeking their independence and facilitating their inclusion, both in school and in society.
Key-words: Special education. Inclusion. Blindness. Communication.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Sistema Braille................................................................................28
Figura 2 – Alfabeto manual do Surdocego.....................................................29
Figura 3 – Meio de Comunicação TADOMA....................................................30
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – As matrículas no ensino regular / 2006...............................................18
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Causas da Surdocegueira................................................................21
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADefAV
AEE
CAA
PCS
Associação para Deficientes da Audiovisão
Atendimento Educacional Especializado
Sistema de Comunicação Aumentativa
Picture Communication Symbols (Símbolo de Comunicação Pictórica)
UNOPAR Universidade Norte do Paraná
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..............................................................................................13
2 DESENVOLVIMENTO............................................................................................15
2.1 Inclusão...............................................................................................................152.2 Surdocegueira..........................................................................................202.2.1 Tipos de Surdocegueira........................................................................202.2.2 Classificação.........................................................................................222.2.3 Princípios Orientadores na Educação dos Surdocegos.........................222.2.4 A orientação e Mobilidade da criança Surdocega...................................232.2.5 A comunicação do Surdocego...............................................................232.2.5.1 O guia-intérprete.................................................................................262.2.5.2 Meios de Comunicação......................................................................272.2.5.3 Metodologia utilizada com crianças surdocegas congênitas: Contribuição da abordagem coativa de Jan Van Dick...................................................................312.6 O papel da família na relação com um Surdocego......................................332.6.1 Mapas de Comunicação: Uma das formas de incluir família no processo educativo do Surdocego................................................................................35
3 CONCLUSÃO.........................................................................................................38
REFERÊNCIAS.........................................................................................................39
1 INTRODUÇÃO
A sociedade vigente tem como tendência, cada vez mais, observar a
importância do movimento de Inclusão Social, visto que esse movimento busca ir
muito além do atendimento aos portadores de deficiência; ele visa um modelo de
sociedade. (KOHLER,2008)
O atendimento educacional especializado, na atual legislação
educacional brasileira, engloba as ações pedagógicas específicas, voltadas a
inclusão escolar de alunos público alvo da Educação Especial, delimitados em três
grupos de alunos: com altas habilidades e superdotação, com transtorno global do
desenvolvimento, com deficiências. O atendimento especializado pode ser
desenvolvido nas Instituições Especiais, por Centros de AEE, e nas escolas
regulares, através das Salas de Recursos Multifuncionais (SRM), entendidas como
espaços na própria escola regular, destinados exclusivamente para o apoio
especializado aos alunos da Educação Especial, que frequentam a escola regular.
Os alunos surdocegos estão inseridos no grupo dos alunos com
deficiência, tendo assim o seu direito assegurado ao Atendimento educacional
especializado. A surdogueira é entendida na literatura especializada brasileira como
uma deficiência única, causada pela perda da visão e da audição,
concomitantemente. A forma como se apresenta irá depender da extensão de
comprometimento das perdas, podendo ser total ou parcial; afeta a comunicação, a
mobilidade, a interação e o acesso às informações. (GALVAO, MIRANDA, 2013)
Faz parte da realidade social considerar as pessoas com deficiência (no caso
deste estudo, pessoas com surdocegueira) como um grupo outsider no processo de
inclusão na escola, basicamente por ignorância, criando um preconceito que se
constitui, certamente, na mais difícil barreira a ser transposta pelas pessoas com
deficiência. (PCHEK, 2009)
Pensar na educação de crianças e jovens surdocegos ou com
múltiplas deficiências sensoriais como uma prática pedagógica de criação de
sentidos é uma tentativa constante de buscar respostas para as interrogações, que
indiquem o caminho para a transformação desses sujeitos para que se tornem
autônomos. (GOMES, 2004)
A comunicação para os surdocegos tem uma importância crucial em
várias áreas do seu desenvolvimento. Toda nossa aprendizagem, por exemplo,
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passa exclusivamente por uma comunicação adequada. Não podem aprender e
posteriormente ensinar se não for transmitida toda e qualquer mensagem de uma
forma clara e precisa, mas não menos potencializadora do pensamento. (GARCIA,
2000)
Essa autonomia, no sentido mais estrito de seu termo, é condição de
sobrevivência para os indivíduos de nossa sociedade. Ela pode levá-los a se
realizarem nas esferas econômica, psicológica, sociocultural e/ou política, pois
permite que esses indivíduos, se interroguem, reflitam e deliberem com liberdade e
responsabilidade. Essa é a ideia de cidadania que se encontra no cerne do discurso
educacional, em seus documentos oficiais e textos legais, parecendo haver um
consenso de que a educação deve visar a formação de um “cidadão autônomo”.
(GOMES, 2004)
O objetivo do presente trabalho é apresentar as dificuldades
encontradas pelos surdocegos no seu desenvolvimento e busca por uma relação de
melhor qualidade na sociedade.
Falar sobre eles é fácil. Conviver com eles é prazeroso. Basta apenas estar “despido” de pré-conceitos socialmente estabelecidos. Só é necessário creditar na capacidade dessas pessoas com eficiência. (KOEHLER,2008)
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2 DESENVOLVIMENTO
2.1 INCLUSÃO
Grandes e pequenas exclusões acontecem em diferentes espaços,
podem se apresentar em perspectivas diferenciadas que acabam se camuflando
diante do contexto, porém na medida em que os sujeitos iniciam um processo de
libertação, os fatos exclusivos são detectados e muitas vezes interferem na
caminhada dos grupos.
Por outro lado, a luta pela inclusão escolar e a divulgação de direitos
constitucionais de condições de acesso e permanência de crianças e jovens na
escola é crescente no atual contexto. (BENINCÁ; et. al., 2005)
A educação especial se organizou tradicionalmente como atendimento
educacional especializado substitutivo ao ensino comum, evidenciando diferentes
compreensões, terminologias e modalidades que levaram à criação de instituições
especializadas, escolas especiais e classes especiais. Essa organização,
fundamentada no conceito de normalidade/anormalidade, determina formas de
atendimento clínico-terapêuticos fortemente ancorados nos testes psicométricos
que, por meio de diagnósticos, definem as práticas escolares para os alunos com
deficiência. (MEC,2005)
No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência teve início na
época do Império, com a criação de duas instituições: o Imperial Instituto dos
Meninos Cegos, em 1854, atual Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Instituto dos
Surdos Mudos,em 1857, hoje denominado Instituto Nacional da Educação dos
Surdos – INES, ambos no Rio de Janeiro. No início do século XX é fundado o
Instituto Pestalozzi(1926), instituição e especializada no atendimento às pessoas
com deficiência mental; em 1954, é fundada a primeira Associação de Pais e
Amigos dos Excepcionais – APAE; e, em 1945, é criado o primeiro atendimento
educacional especializado às pessoas com superdotação na Sociedade Pestalozzi,
por Helena
Antipoff. (MEC,2005)
Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com deficiência
passa a ser fundamentado pelas disposições da Lei de Diretrizes e Bases da
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Educação Nacional – LDBEN, Lei nº 4.024/61, que aponta o direito dos
“excepcionais” à educação, preferencialmente dentro do sistema geral de ensino. A
Lei nº 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961, ao definir “tratamento especial” para
os alunos com “deficiências físicas, mentais, os que se encontram em atraso
considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados”, não promove a
organização de um sistema de ensino capaz de atender às necessidades
educacionais especiais e acaba reforçando o encaminhamento dos alunos para as
classes e escolas especiais. (BRASIL. MEC, 2005)
Devido a um sistema wducacional excludente, até esse momento os
portadores de necessidades especiais eram tratados como incapazes de serem
inseridos na sociedade de maneira igualitária.
O direito à inclusão então é assegurado na Constituição Federal de
1988, quando, em seu art. 205, garante que a educação é direito de todos, e em
seu artigo 208, inciso III, garante atendimento educacional especializado aos
portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino, ou seja,
estes alunos devem estar matriculados na rede regular, e se precisarem de ensino
especializado, que também seja realizado dentro da rede regular. (BRASIL, 1988)
A Resolução CNE/CEB Nº 2 vem para ratificar a Constituição ao
afirmar em seu artigo 2º que “os sistemas de ensino devem matricular todos os
alunos cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educando com
necessidades educacionais especiais” (2001, p. 68) e confirma em seu artigo 7º que
“o atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais deve ser
realizado em classes comuns do ensino regular” (2001, p. 71). Logo, todos devem
estar matriculados no ensino regular, e as escolas devem assegurar condições que
garantam uma educação de qualidade. (BRASIL, 1988)
O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei nº 8.069/90, no
artigo 55, reforça os dispositivos legais supracitados ao determinar que “os pais ou
responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de
ensino”.
A Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a
Declaração de Salamanca (1994) reforçam as disposições sobre princípios, políticas
e práticas na área das necessidades educacionais especiais.
A política Nacional de Educação Especial (1994) orienta acesso às
classes comuns quando o aluno especial possui condições de acompanhar as
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atividades do currículo comum ainda sem mudanças nas práticas educacionais para
proporcionar uma aprendizagem de forma a valorizar o potencial desses alunos,
mantendo a responsabilidade sob a ação da educação especial.
Segundo Battisti (2006) no ano de 1996, a LDB, Lei nº 9394 ajusta-
se à Legislação Federal, onde aponta que aos portadores de necessidades
especiais deve dar-se preferência na rede regular de ensino.
No artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar
aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às
suas necessidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram
o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas
deficiências; e assegura a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão
do programa escolar. Também define, dentre as normas para a organização da
educação básica, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante
verificação do aprendizado” (art. 24, inciso V) e “[...] oportunidades educacionais
apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições
de vida e de trabalho, mediante cursos e exames”(art. 37). (BRASIL. MEC, 2005)
A Convenção da Guatemala (1999), promulgada no Brasil pelo
Decreto nº 3.956/2001, afirma que as pessoas com deficiência têm os mesmos
direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas, definindo como
discriminação com base na deficiência toda diferenciação ou exclusão que possa
impedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades
fundamentais. Este Decreto tem importante repercussão na educação, exigindo uma
reinterpretação da educação especial, compreendida no contexto da diferenciação,
adotado para promover a eliminação das barreiras que impedem o acesso à
escolarização.
A acessibilidade, quando desenvolvida dentro de parâmetros legais,
éticos e morais, insistindo em oferecer importância fundamental ao desenvolvimento
pleno do ser humano poderá, de acordo com Garcia (2009), "em um médio prazo,
modificar as relações existentes atualmente, entre portadores de deficiência (sic) e
ambiente social circundante", passando o contexto social de "modelos
conservadores e excludentes a modelos inteligentes e includentes" (GARCIA, 2009).
Desde a publicação das citadas leis em 2002 e do reforço
representado pelo Decreto 5.296/2004 (Capítulo III - das condições gerais da
acessibilidade, arts. 8º e 9º), tornou-se obrigatória a adoção de normas técnicas
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básicas de eliminação de barreiras arquitetônicas em edifícios públicos,
equipamentos coletivos e via pública oferecendo melhoria na acessibilidade das
pessoas com mobilidade condicionada. É com este tipo de medidas que o Estado
pode acelerar a consciência social e a defesa dos direitos dos cidadãos com
necessidades especiais, entre elas as pessoas surdocegas.
A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Sinais – Libras
como meio legal de comunicação e expressão, determinando que sejam garantidas
formas institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da
disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos cursos de formação de
professores e de fonoaudiologia. (BRASIL. MEC, 2005).
No que se refere à educação, a Lei nº 10.172/2001, aprovando o
Plano Nacional de Educação, cuida, em seu capítulo 8, da Educação Especial,
tecendo um diagnóstico e traçando as diretrizes, objetivos e metas para o seu futuro:
"a oferta de educação especial poderá ser realizada de três formas: participação nas
classes comuns, sala especial e escola especial. (...) as salas e escolas especiais
devem ser apenas para aqueles que realmente não puderem ser atendidos nas
salas convencionais".
A situação atual da Educação Especial aponta para a inclusão como
um avanço porque em vez de focalizar a deficiência na pessoa, enfatiza o ensino e a
escola; busca formas e condições de aprendizagem, em vez de procurar no aluno a
origem do problema.
A TABELA 1 mostra o crescente aumento das matrículas do dos
alunos com deficiências no ensino regular.
TABELA 1: As matrículas da Educação Básica/2006
FONTE: (EDUCAÇÃO, 2008)
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E o resultado desta nova visão é que a escola deve prover recursos
e apoios pedagógicos para que o aluno obtenha sucesso escolar. Ao invés do aluno
ajustar-se aos padrões de “normalidade” para aprender, a escola deve ajustar-se à
“diversidade” dos seus alunos.
Em síntese, se a acessibilidade é um elemento indispensável para
que pessoas surdocegas usufruam determinados produtos e serviços, neste
contexto ela reveste-se, em termos normativos, de um caráter transversal.
Para agir, favoravelmente, em direção à implementação de uma escola
inclusiva, é necessário entender que a ação não se restringe apenas à sala de aula,
ao professor e ao aluno, mas transcende o espaço escolar, influencia e sofre
influência de vários outros sistemas. Diante disso, pressupõe-se uma mudança
estrutural do paradigma onde se sustenta a prática pedagógica na atualidade,
marcado predominantemente pela massificação das informações, por uma lógica
excludente que busca homogeneizar as ações pedagógicas, alienando do processo
educacional aqueles que não se encaixam nos padrões. (GALVÃO, MIRANDA,
2009)
Se a incapacidade é um problema de todos nós, a inclusão também
é um processo contínuo de construção comunitária – no sentido de criar as
condições de acesso aos ambientes educacionais. Tal percepção exige a partilha de
conhecimento e a relação cooperativa na gestão do ambiente educacional, sempre
considerando a diversidade e evitando a desconsideração da singularidade dos
aprendizes. Assim, para enxergarmos as condições de acessibilidade dos
diversos espaços educacionais, faz-se necessário um processo de diálogo
contínuo e a criação de uma rede de relações entre as diversas áreas de
atuação na comunidade. (INCLUSÃO,2007)
Um dos grandes desafios da inclusão é tratar todos em igualdade
de direitos a educação valorizando a diversidade no sentido em que cada um possa
contribuir com as suas especificidades. Nessa perspectiva, não seria diferente
quando o trabalho é com relação a inclusão do surdocego. Deve-se definir com
clareza que inclusão está sendo focalizada e qual o tipo que propiciaria as crianças
com necessidades especiais maiores benefícios para seu desenvolvimento e bem
estar.
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2.2 SURDOCEGUEIRA
A surdocegueira é uma deficiência sensorial que atinge de forma
total ou parcial dois dos principais órgãos do sentido: a visão e a audição. É uma
deficiência dupla cujo diagnóstico, tanto no Brasil como em muitos outros países,
está erroneamente atrelado ao diagnóstico da múltipla deficiência — ou
multideficiência, que associa a perda visual e auditiva a outros comprometimentos
físicos, emocionais e/ou mentais (AGASPAM, 2013).
Deficiência múltipla é quando uma pessoa apresenta mais de uma
deficiência, é uma condição heterogênea que identifica diferentes grupos de
pessoas, revelando associações diversas que afetam, mais ou menos intensamente,
o funcionamento individual e o relacionamento social”. As pessoas com deficiência
múltipla apresentam características específicas, individuais, singulares e não
apresentam necessariamente os mesmos tipos de deficiência, podem apresentar
cegueira e deficiência mental; deficiência auditiva e deficiência mental; deficiência
auditiva e autismo e outros. (AME, 2013)
A surdocegueira constitui uma deficiência única, não a união de
duas deficiências: auditiva e visual, e nem a junção de duas metodologias: uma para
os surdos e outra para os cegos. Ser surdocego não significa ser um surdo que não
vê e nem tampouco ser um cego que não ouve e sim uma pessoa que apresenta
uma combinação das perdas dos sentidos de distância. (CAMBRUZZI, 2007)
2.2.1 Tipos de Surdocegueira
A surdocegueira pode ser de vários tipos:
Cegueira Congênita e Surdez Adquirida
Cegueira e Surdez Adquirida
Surdez Congênita e Cegueira Adquirida
Baixa visão com Surdez Congênita ou Adquirida.
Cegueira e Surdez Congênita
Há mais de 70 enfermidades conhecidas causadoras da
surdocegueira, entre síndromes e doenças. (CHIARI, 2006)
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Heller & Kennedy (apud MAIA; ARÁOZ, 2001) referem como causas
da surdocegueira algumas Síndromes como: Alport, Down, Trisomia 13, Usher,
Goldenhard, Marshall, Stickler, Associação CHARGE, Duane, KID, Leber's, Norrie's,
Pierre-Robin.e descrevem outras causas pré-natais, natais e pós-natais descritas no
QUADRO 1.
QUADRO 1: Causas da Surdocegueira
Pré-Natal Natal Pós-Natal
- Prematuridade
- Eritroblastose Fetal
- Hidrocefalia
- Microcefalia
- Rubéola Congênita
-Cytomegalovirus
- Herpes
- Sífilis
- AIDS
- Toxoplasmose
- álcool e drogas
- Asfixia
- Traumas Cranianos
- Prematuridade
- Falta de oxigênio
- Icterícia
-Anomalias Congênitas Múltiplas
- Hidrocefalia
- Microcefalia
- Efeitos colaterais de
tratamentos como:
Oxigenoterapia e
Antibioticoterapia
– Meningite
- Acidentes
- AVC
- Trauma Craniano
- Sarampo
- Caxumba
- Diabetes
- Aparecimento tardio de Síndromes como por exemplo os distúrbios visuais na Síndrome de Usher que manifesta no nascimento apenas as dificuldades auditivas
FONTE: PRÓPRIA
Nas causas pré-natais, natais e pós-natais que acometem crianças
pequenas definindo a instalação das dificuldades antes da instalação da linguagem
a Surdocegueira é considerada pré- linguística, sendo o desenvolvimento da
comunicação muito prejudicado.
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2.2.2 Classificação
As pessoas que possuem surdocegueira podem ser classificadas
de duas formas: pré linguísticas e pós linguísticas. O surdocego o pré linguístico é
aquele que nasce surdocego ou adquire surdocegueira ainda bebê, antes da
aquisição de uma língua, apresentando graves perdas visuais e auditivas
combinadas. Essas pessoas apresentam dificuldades de compressão do universo
que as cerca, devido a ausência de luz e do som. Possuem a tendência de se
fecharem em si, isolando-se.
O surdocego pós-linguístico é aquele que apresenta uma deficiência
sensorial (auditiva ou visual) e adquire a outra após a aquisição de uma língua
(portuguesa ou de sinais) ou adquiri a surdocegueira , após já comunicar-se por
algum idioma , sem portar alguma deficiência anteriormente. (AME, 2013)
2.2.3 Princípios Orientadores na Educação dos Surdocegos
Educar um Surdocego, sendo este apenas Surdocego ou
apresentando outra deficiência associada, é um processo bastante complexo,
principalmente tratando-se da Surdocegueira pré-linguística. Sobretudo, no que se
refere à Surdocegueira pré e pós-linguísticas, estratégias educativas adequadas a
cada grupo e inseridas neste, a cada pessoa poderão não o ser para outra, dado
que cada pessoa é um ser único. (GARCIA, 2006)
No entanto, existem alguns princípios que são eficazes para a
intervenção no processo de desenvolvimento e aprendizagem do aluno surdocego.
São eles:
a) Atitude do Educador.
b) Ambiente de Educação/Aprendizagem.
c) Relações com o Surdocego.
A comunicação do aluno surdocego é determinante para a forma
como ele irá se desenvolver no futuro. Algumas pessoas surdocegas desde crianças
podem progredir na aquisição da cultura, outras conseguirão habilidades básicas de
socialização, mas todos necessitarão de apoio comunitário, especificamente
fornecendo intérpretes de seus sistemas de comunicação alternativos ou adaptados.
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É importante considerar a surdocegueira como uma deficiência a ser
tratada de uma maneira unitária para que possam serem supridas às necessidades
das pessoas, que de outro modo não conseguem entender o mundo que as rodeia.
São necessários trabalhos de inter-relação entre as áreas educacionais, de saúde,
de serviço social, lazer e trabalho para conseguir igualdade de oportunidades. (MAIA
e ARAÓZ,2001).
2.2.4 A orientação e mobilidade da criança surdocega
Todo programa para deficiente audiovisual deve dar ênfase ao
treinamento da orientação e mobilidade, senão não será um programa completo.
Este treinamento implica no uso sistemático e racional dos
movimentos e sentidos remanescentes para permitir uma locomoção adequada,
maior segurança e o máximo de independência que lhe for possível. Para tal, são
desenvolvidas atividades nos espaços interno e externo da escola e em outros
locais, considerando-se as necessidades de cada indivíduo, com o auxílio da
bengala e do guia vidente. A imagem corporal pode ser definida como o
conhecimento das partes do corpo, as funções que cada uma delas exerce e as
relações com o nosso ambiente espacial. (LOPES, 2013)
2.2.5 A comunicação do surdocego
A efetuação da comunicação na criança portadora, de surdocegueira
é bastante complexa e envolve aspectos como vínculo afetivo relação de segurança
e vínculo social. Segundo Van Ditk(1986) é preciso viabilizar as condições
específicas para promover o desenvolvimento da comunicação entre a criança
surdocega e o ambiente rompendo a barreira imposta pelo comprometimento dos
sentimentos distais. È importante ressaltar que qualquer tentativa de levar o aluno
surdocego a se comunicar será em vão se este não reestabelecer os pré requisitos á
sua efetivação.
Além de não poder valer-se dos sentidos de distância (visão e
audição) para captar informações reais do mundo, a criança surdocega pode
apresentar alguns problemas decorrentes de saúde, aspecto que pode vir a interferir
no processo de ensino e aprendizagem. Em ambos os casos o desafio é complexo:
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as crianças precisam desenvolver formas de comunicação inteligíveis com os seus
interlocutores, antecipar sucessos futuros ou o resultado de suas ações. Além
dessas questões, é importante que a criança esteja motivada a participar de
experiências externas, ainda que básicas, como alimentação, higiene, lazer etc. O
processo de aprendizagem ocorre por repetição e estimulação orientada em
contextos naturais, dado que a surdocegueira interfere na capacidade de
aprendizagem espontânea e na capacidade de imitação. ( CADER NASCIMENTO e
ABDALAH,2006)
A criança deverá adquirir informações sem dispor plenamente dos
sentidos da visão e audição que lhe propiciariam as informações necessárias para o
desenvolvimento da linguagem. Assim a aprendizagem passa a depender quase que
exclusivamente do sentido do tato, que oferece informações descontínuas, pela
natureza deste sentido, e mais difíceis de serem organizadas pela criança. Também
é destacada a importância do sentido do olfato como fonte de informações para a
criança surdocega e reforça a observação de que o movimento nas atividades é de
extrema importância pelo interesse que desperta e pelas informações que os
sistemas proprioceptivo e vestibular podem aportar.
A integração de todas as informações possíveis é prioritária, para
que as experiências obtidas auxiliem no desenvolvimento do tato que terá a máxima
importância no estabelecimento da comunicação alternativa necessária aos
surdocegos. (MAIA, ARÁOZ, 2001)
Quando faltam os sentidos de distância, o tato assume o papel de sentido-guia, sendo complementado elos sentidos remanescentes na exploração e no estabelecimento de contatos com o mundo exterior. (MYKLEBUST,1971)
O surdocego para seu desenvolvimento, depende do tato que é um
sentido que requer a proximidade permanente de outra pessoa, o que na maioria
das vezes não é fácil de conseguir, perde os estímulos mais comuns do convívio
social, necessitando de auxílio especializado que compreenda esta situação e o
ajude a providenciar meios de interação com as pessoas. Ele precisa aprender
meios de comunicação alternativos e todas as pessoas que estão junto a ele
também. (MAIA; ARAÓZ, 2001)
O fato de as crianças surdocegas apresentarem, freqüentemente,
comportamentos como: 1) dificuldades em elaborar a consciência da relação dos
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segmentos corporais em si e destes com objetos (fase comum a todas as
crianças); 2) limitações para o movimento e funcionamento do próprio corpo; 3)
insegurança pessoal; e, 4) atraso no desenvolvimento motor e afetivo, pode ser
atribuído à qualidade e quantidade das interações mantidas com o ambiente.
Afinal, enquanto as crianças normais usam a audição e a visão para direcionar sua
ação, e com isso aprendem, por exemplo, que seu comportamento e movimento
têm conseqüências determinadas e que objetos e crianças que não podem ser
vistos continuam a existir, a criança surdocega não possui condições para
responder e compreender as demandas do meio, precisando, por isso, que esses
aspectos lhes sejam ensinados. (CADER NASCIMENTO e ABDALAH, 2008).
A comunicação pode ser receptiva e expressiva. Muitas crinças
surdocegas não desenvolvem a fala, no entanto podem expressar-se. Podem
também receber as mensagens que lhes são transmitidas por outras vias
sensoriais.
Comunicação receptiva é um processo de recepção e
compreensão de mensagens. No caso da criança surdocega, por vezes é difícil
determinar a forma como ela recebe as mensagens.
Comunicação expressiva é uma forma como expressar desejos,
necessidade e sentimentos. A criança surdocega utiliza normalmente formas de
comunicação não-verbal tais como sorrisos, movimentos, mudanças de posição
que podem ser compreendidos por adultos familiarizados. A comunicação com
essas crianças exige dos adultos que trabalham com elas conhecimentos
específicos sobre esse tipo de comunicação. (SABERES, 2004)
A recepção das informações pela criança surdocega é diferente da
recepção do ouvinte e de alguns surdos. Com os ouvintes, a compreensão e a
elaboração de resposta envolvem um processo mais rápido, pelo fato de o canal de
comunicação ser o oral-auditivo. Os surdos, ao interagirem com pessoas ouvintes,
muitas vezes precisam realizar leitura orofacial da língua portuguesa. Esse
processo demanda um tempo maio para a elaboração e emissão de resposta. Em
ambos os casos, ouvinte e surdos, o tempo será bem mais organizado e a resposta
Serpa mais rápida que no caso da criança surdocega. Ela precisa selecionar as
formas de comunicação que utilizará para expressar-se (sinal, gestos, movimento
corporal e facial). Somente depois dessa seleção ela tentará emitir sua resposta
estímulo/assunto em pauta. Esse processo demanda de um tempo maior para
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organização, elaboração e emissão de resposta. Isso significa que o professor
deverá aguardar o tempo necessário para que a criança elabore e processe as
informações recebidas e tenha consciência da resposta à demanda do meio,
mediante a negociação dos significados presentes no contexto interativo.
A comunicação interiorizada quando mediada por um processo
dialógico tátil-corporal, maximiza as possibilidades de interação da criança
surdocega com seu ambiente. A comunicação tátil-corporal potencializará os
recursos de recepção e expressão comunicativa da criança surdocega. A presença
do guia-intérprete e do instrutor de língua de sinais constituirá no elo facilitador da
comunicação receptiva e expressiva do surdocego com o seu ambiente.
(SABERES,2004)
2.2.5.1 O guia-intérprete
Maia (2004), afirma que o trabalho educacional com a criança
surdocega precisa considerar: em que momento do desenvolvimento as perdas
aconteceram; o grau de comprometimento de cada perda; o acesso da criança ao
atendimento especializado e o uso funcional da tecnologia mais adequada para cada
caso. Decorrente desses aspectos, o processo de identificação da melhor forma de
comunicação, a ajuda na escolha e o estímulo ao uso das tecnologias, precisarão do
apoio de profissionais específicos que entendam sobre as formas de comunicação
da pessoa surdocega.
Esses profissionais na literatura específica são denominados guia-
intérprete ou instrutor-mediador, definidos por Farias e Maia (2007, p. 27) como:
[...] profissional guia-intérprete (quem faz a interpretação na forma predominante de comunicação do surdocego e é também o seu guia), esse profissional é necessário para a inclusão da pessoa surdocega pós-linguística (quem adquire a surdocegueira após a aquisição de uma língua), ou um instrutor mediador (quem faz a interpretação e a intermediação das informações com o meio e a pessoa surdocega) para pessoas que são surdocegas pré-linguísticas (quem adquire a surdocegueira antes da aquisição de uma língua), na qual a intermediação será a chave para o sucesso da aprendizagem e inclusão.
O papel do professor, intérprete ou guia-intérprete junto à criança
surdocega será o de suprir sua carência de funcionamento sensorial com estímulos
organizados e significativos, promovendo a construção de sua consciência e
26
imagem corporal, seu desenvolvimento motor e afetivo, e também sua autonomia
(Erikson, 2002).
As informações do mundo deverão chegar à criança de forma
estruturada e sistematizada, para que ela possa começar a construir seu mundo.
Esse procedimento a auxiliará na construção do conhecimento como um todo, uma
vez que a carência de informações sensoriais tão básicas como a visão e a audição
fazem com que cada criança, quando exposta a um estímulo, consiga absorver
apenas parte dessa informação. Apenas a repetição de estímulos em contextos
significativos poderá assegurar que ela venha a ser capaz de assimilar a
estimulação como um todo. (CADER NASCIMENTO e ABDALAH, 2008)
2.2.5.2 Meios de comunicação
Garcia (2000) fala de importância do guia intérprete para que a
pessoa surdocega consiga alcançar o mundo circundante. É imprescindível que o
guia intérprete conheça os meios de comunicação comumente utilizados, para que
possa comunicar-se eficazmente com o surdocego. Abaixo estão listados alguns
meios de comunicação mais utilizados.
a) CCTV: Apoio de Leitura
O CCTV amplia a figura até sessenta vezes o seu tamanho. Com
sua ajuda pode ler e escrever mesmo que a visão residual seja muito pobre.
b) BRAILLE:
A técnica Braille consiste-se de pontos em relevo que combinados
formam letras. Para escrevê-los usamos uma chapa, também chamada de reglete, e
um punção. Usamos também uma brailler - máquina de escrever constituída de seis
teclas. Uma característica importante da técnica Braille, é que ela independe de
materiais físicos como o reglete, o punção ou a brailler para ser comunicativa.
Apenas devemos entender que a técnica Braille constitui-se de "seis
pontos não obrigatoriamente em relevo" para estabelecer uma comunicação ou seja,
27
onde houver a possibilidade de trabalharmos "seis pontos" a técnica Braille estará
sendo usada e bem aceita.
FIGURA 1: Sistema Braille
FONTE: (OFINICA DE LIBRAS, 2013)
c) TELLETHOUCH - Aparelho de Conversação
Este aparelho tem teclado de uma máquina Braille e um teclado
normal. O teclado Braille assim como o teclado normal levantam na parte de trás do
aparelho uma pequena chapa de metal, a cela Braille, uma letra de cada vez. A
Tellethouch constitui-se, apesar de sua idade de criação, um dos principais meios de
interação do surdocego com outras pessoas.
Ao interlocutor do surdocego basta saber ler. Sabendo ler
pressionará as teclas normais da Tellethouch como se estivesse redigindo um texto
escrito qualquer.
d) TABLITAS DE COMUNICAÇÃO
Fabricadas em plástico sólido, representam em relevo as letras e os
números ordinários, assim como, caracteres do sistema Braille. As letras e os
números estão superpostos aos caracteres Braille. O dedo da pessoa surdocega é
levado de uma letra/número a outra(o) ou de um caractere à outro, estabelecendo
desta forma a comunicação.
28
e) DIÁLOGOS - Fala Escrita
O diálogo inclui uma máquina Braille/aparelho de escrita, uma
máquina de escrever eletrônica, um gravador e uma conexão telefônica.
A pessoa surdocega escreve na máquina Braille. O texto é impresso
no papel da máquina de escrever para a pessoa vidente ler e vice-versa. As
conversas podem ser estocadas na memória do aparelho se assim for desejado. A
pessoa que receber a conexão de telefone precisa dos diálogos, um teletexto, uma
impressora equipada com modem de um computador.
f) ALFABETO DATILOLÓGICO
Cada uma das letras do alfabeto corresponde a uma determinada
posição dos dedos da mão. Se trata do alfabeto manual utilizado pelas pessoas
surdas. Apenas que neste caso está adaptada à versão tátil.
FIGURA 2: Alfabeto Manual para Surdocego
FONTE: (OFICINA DE LIBRAS, 2013)
29
g) LETRAS DE FORMA
Método verdadeiramente simples. A única condição necessários para
que funcione é que nosso interlocutor conheça as letras maiúsculas do alfabeto: As
letras são impressas na palma da mão do surdocego, uma sobre a outra. O próprio
dedo indicador ou o dedo do surdocego é usado como caneta.
h) TADOMA
Quando falamos em tadoma, estamos nos referindo ao método de
vibração do ensino da fala. A criança que está sendo ensinada no tadoma tem que
colocar uma e inicialmente as duas mãos na face da pessoa que está falando. Com
bastante treino e prática a possibilidade de se comunicar através deste método
tende a ser grande sistema pictográfico.
FIGURA 3: Meio de comunicação TADOMA
FONTE: (OFICINA DE LIBRAS, 2013)
Os símbolos de comunicação pictóricas (PCS) fazem parte de um
Sistema de Comunicação Aumentativa (CAA) que refere-se ao recurso, estratégias e
técnicas que complementam modos de comunicação existentes ou substituem as
habilidades de comunicação existentes.
Em síntese, o sistema pictográfico consiste-se de símbolos, figuras,
etc, que significam ações, objetos, atividades que entre outras características podem
servir como símbolos comunicativos, tanto receptivamente quanto expressivamente.
30
2.2.5.3 Metodologia utilizada com crianças surdocegas congênitas: Contribuição da
abordagem coativa de Jan Van Dick
Aliado a soletração manual e as adaptações no sistema de
comunicação à literatura da área apontam os procedimentos da abordagem coativa
de Van Dijk (1986) como ferramentas básicas no desenvolvimento da comunicação
em surdocegos pré-lingüísticos. Esta proposta defende que as atividades propostas
precisam ser realizadas em conjunto com o estudante através do movimento coativo
ou mão sobre mão. Para tanto a relação afetiva entre professor e estudante
promoverá um ambiente no qual o surdocego sentir-se-á com uma margem de
segurança para poder participar das atividades.
Van Dijk (1986) reporta-se a seis fases do desenvolvimento da
comunicação, intituladas como: nutrição, ressonância,movimento coativo ,referência
não representativa, imitação e gesto natural. Estas fases constituem-se em um
processo dinâmico de incorporação de estímulos sociais, podendo ser sequenciais
ou cumulativas. O autor não aborda a utilização destas fases no processo de
aprendizagem da língua de sinais e da aprendizagem da leitura e escrita no contexto
da surdocegueira. A tarefa imposta por este estudo consistiu em ampliar o universo
da abordagem coativa para o acesso a língua de sinais e a leitura e escrita como
instrumentos básicos para o desenvolvimento futuro do surdocego.
A relação afetiva de apego e confiança, denominada também como
nutrição, entre o mediador e a criança marca o início da intervenção. Este momento
é fundamental, uma vez que viabilizará o processo de aproximação destinado à
tentativa de criar um vínculo afetivo com a criança e constituirá na base a partir da
qual as demais etapas serão introduzidas. (CADER NASCIMENTO e COSTA, 2003)
A segunda fase é denominada de fenômeno de ressonância e
consiste no movimento corpo a corpo, sendo que a forma do gesto corporal total
parte da criança. O processo consiste no mediador acoplar seu corpo ao da criança
realizando o mesmo movimento, estabelecendo através da ação corporal um
diálogo. Este diálogo é básico, pois a partir dele o mediador poderá introduzir sinais
indicativos marcando o início e o término do movimento, ampliando e
sistematizando-o.
31
O movimento mão sobre mão é a terceira fase e caracteriza-se pela
ampliação comunicativa. Para tanto, o mediador irá realizar ações junto à criança
ensinando-a a destreza tátil, isto é, possibilitando condições para ela explorar
objetos e o meio com as mãos de forma mais eficaz. Deste modo, as ações
precisam ser realizadas em conjunto através do contato lado a lado e de mão sobre
mão. Aos poucos é necessário introduzir o distanciamento físico, com vistas a tornar
o movimento e a ação da criança mais independentes e autônomos, em uma área
determinada (locomover-se da sala em direção ao banheiro), bem como ampliar a
exploração dos objetos e do meio de forma mais eficiente.
A imitação (quarta fase) consiste, primeiramente, na repetição,
pela criança, de um gesto, de uma ação ou de um movimento que ela própria acaba
de executar ou que realizaram na sua frente. Ocorre um jogo da persistência de um
estímulo recente e, por consequência, facilmente avivado no aspecto psicomotor.
O processo de imitação representa a continuação do movimento coativo. A diferença
entre eles consiste no fato de que, na imitação a criança realiza a ação após
demonstração; supõe-se a existência de percepções constituídas anteriormente a
partir de uma situação apresentada; enquanto no movimento coativo a ação é
simultânea (CADER NASCIMENTO e COSTA,2003).
A referência não-representativa visa propiciar a compreensão de
símbolos. Inicialmente, através do toque, a criança é levada a conhecer e
reconhecer as particularidades do corpo, nela e no outro. A partir do momento que a
criança conseguir reconhecer e localizar as partes do corpo, o mediador poderá
iniciar o uso de representações mais abstratas mediante o uso de objetos de
referência para indicar uma atividade ou identificar uma pessoa ou situação. Esta
fase permite à criança perceber que um objeto poderá desencadear uma atividade.
Para tanto, é importante que os objetos de referência utilizados, reduzidos ou
simplificados, retenham uma equivalência simbólica com o real e com a atividade a
ser desenvolvida.
A última fase abordada por van Dijk (1968) é o gesto natural. Esta
fase consiste na manifestação da expressão corporal do surdocego para identificar
objetos, pessoas ou situações. Em geral, um gesto natural coincide com o
significado particular que um certo objeto tem para a criança.
Conforme destaca Cader Nascimento e Costa (2003) os primeiros
gestos estabelecidos e utilizados na comunicação precisam imitar um jogo de
32
alternância entre o gesto natural desenvolvido pela criança e o sinal, de forma que a
criança possa acessar a informação e processá-la. Outro passo necessário é o nível
coativo dos gestos naturais ou dos sinais, uma vez que a configuração das mãos
pode representar um obstáculo para muitos surdocegos que apresentam
comprometimento motor.
Para o desenvolvimento desta abordagem na prática escolar, é
necessário um programa educacional cuidadosamente determinado. A organização
do ambiente de trabalho ajuda o surdocego a memorizar a disposição dos materiais
permanentes facilitando sua orientação e mobilidade no espaço da sala de aula. O
estabelecimento da rotina é fundamental porque viabilizará melhores condições para
a criança evocar, combinar e se orientar nas atividades do dia, podendo futuramente
antecipar as atividades mediante o objeto de referência da mesma. Para isto é
importante colocar estes objetos em um espaço definido (caixas de memória, mesa),
segundo a sequência das tarefas a serem desenvolvidas no dia, de tal forma que
quando a criança chegar à sala de aula possa tomar conhecimento da programação.
Após a realização da atividade, o objeto de referência é retirado do local, indicando
o fim da atividade (MCINNES, 1997).
2.6 O papel da família na relação com um surdocego
ARAÓZ e COSTA (2008) descrevem que os efeitos da presença
de uma criança excepcional na dinâmica familiar varia, dependendo do momento em
que acontecem e do grau de organização e ajustamento familiar. De todas as
maneiras, sempre existirá uma dificuldade de aceitação por parte dos pais porque
esta realidade implica a reorganização de valores e objetivos da família e que
sempre precisará de muita ajuda para conseguir este ajustamento.
Conviver numa família onde um dos filhos apresenta sérias dificuldades
requer mais esforço para os pais, irmãos e demais familiares. As atividades de
trabalho, lazer e relacionamento social são dificultadas na medida em que é
necessário dedicar muito tempo para o tratamento do filho, para a procura de
serviços especializados e no enfrentamento dos preconceitos.
Historicamente, os pais de crianças surdocegas se enfrentam com
atendimentos educacionais impróprios e distantes, necessitando enfrentar todas as
dificuldades que estas condições impõem às famílias já muito sensibilizadas e
33
desgastadas pelo forte impacto da surdocegueira nas suas vidas. A atenção que é
dispensada às famílias é fundamental para o bom desenvolvimento da criança
surdocega porque o desenvolvimento dela depende dos relacionamentos que ela
possa estabelecer com as pessoas, os pais e irmãos. (ALLEN,1997)
Por isso a necessidade que os pais e familiares, tenham um apoio
intensivo, onde cabe aos professores e equipe pedagógica apoiá-los, auxiliar no
desempenho de seu papel de pais e de forma alguma atribuir a eles o papel de
especialista.
Os programas de intervenção precoce desenvolvido em instituições ou
escolas especiais geralmente sofrem influência do o modelo médico o terapêutico do
atendimento individualizado da criança, efetivando muito pouco o trabalho conjunto
com a família e a escola.
O programa elaborado numa abordagem pedagógica ter como focos:
Escutar e acolher a criança e seus familiares:
Trabalhar a partir das possibilidades o potencialidades da criança, tendo em
vista o desenvolvimento integral;
Atender as necessidades especificas no contexto familiar e escolar;
Apoiar a relação dialógica e interações positivas mãe criança, criança-
criança, mãe-mãe
Respeitar a prioridade, os pontos de vista e a cultura familiar;
Valorizar os elementos psicoativos pela interação em brincadeiras jogos
sociais em grupo;
Desenvolver o programa em pequenos grupos valorizando o brincar, a troc
da experiência e a construção coletiva do conhecimento entre crianças e
familiares: recreação
Mobilizar a comunidade para atitudes positivas e apoio comunitário ás
crianças os familiares.
A criação de redes de apoio envolve relações compartilhadas entre
a família e a comunidade (pais, irmãos, tios, primos, vizinhos e amigos). Para a
inclusão da criança com deficiência muitos países têm adotado o modelo ecológico e
transdisciplinar com orientação domiciliar. (SABERES, 2004).
A avaliação do contexto escolar e familiar são os referenciais básicos
para a identificação das necessidades especificas e educativas especiais para
determinação de apoios específicos que a criança e a família possam necessitar.
34
Dessa forma, o professor especializado ou de apoio para inclusão
tem um papel importante na avaliação e identificação das necessidades especificas
e educativas especiais. Por meio de observação sistemática do desenvolvimento do
aluno e de sua s ações funcionais realizará , quando necessário, os
encaminhamentos o intercâmbio com a equipe de complementação e ou
suplementação das atividades pedagógicas: oftalmologista, fisioterapeuta,
fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo e assistente social existente na
comunidade. (SABERES, 2004)
A criança surdocega terá dificuldades quanto ao processo de
aprendizagem, mas com a participação efetiva de todos: família, sociedade e
professores, é possível oportunizar uma verdadeira interação e desenvolvimento, o
que pode representar para essa criança um futuro independente com uma melhor
qualidade de vida.
2.6.1 Mapas de Comunicação: Uma das formas de incluir a família no processo
educativo do surdocego
Um trabalho relevante realizado na AdefAV em São Paulo busca
sensibilizar pais e familiares, através dos chamados mapas de comunicação, como
estratégia de trabalho efetivo para a participação dos familiares no processo
educativo.
O atendimento é distribuído em 5 categorias: intervenção precoce (0 3
anos), atendimento individual, atendimento em grupo, educação e preparação para o
trabalho,orientação domiciliar. (CORMEDI, 2000)
É oferecido também o curso de Libras para a comunidade e curso de
formação de profissionais para trabalho com surdocegos.
São características dos programas pedagógicos:
Individualização, até mesmo nos atendimentos grupais
Significação: elaboração de programas funcionais com atividades que tenham
significado e sentido, diante do cotidiano do aluno.
Comunicação pré-linguística: Diante da dificuldade de compreender símbolos
ou representações linguísticas estruturadas é necessário desenvolvê-los
utilizando recursos como: pistas táteis, pistas olfativas, objetos
representativos.
35
Atuação adequada: Utilizando a metodologia de Van Dijk, os professores
conseguem atuar nas diferentes fases de comunicação dos alunos.
Ação com os pais: Com o objetivo de apoiá-los, sensibilizá-los e conscientizá-
los das dificuldades e potencialidades, fazem com que a família se torne apta
a participar junto à escola, do programa desenvolvido.
Os mapas de comunicação tem o objetivo de obter dados a respeito
do aluno para a realização do seu programa escolar e domiciliar. Detectar quais
aspectos são significativos para a família e tornar o programa mais próximo das
necessidades dos alunos e das suas necessidades. (COMERDI,2000)
A família é convidada para ir a escola e realizar o mapa de
comunicação. Todo o processo é desenvolvido de forma descontraída, lúdica, como
se fosse uma festividade para o aluno. A autora do Livro Del Oso, Dra. Maria Bove,
ressalta a importância desta festividade e da valorização do aluno.
É proposto aos convidados pensar em uma figura, com a qual eles
identificam o aluno e onde serão projetados os dados do mapa.
A figura é desenhada, muitas vezes, por um dos convidados, em um
grande papel. Nessa folha são escritos os dados levantados pelos convidados,
iniciando pela característica do aluno, o que ele gosta, o que não gosta, seus
medos, seus desejos e os desejos que os convidados têm em relação ao aluno,
seus sonhos e os sonhos que eles projetam para o aluno.
Os dados são escritos dentro de figuras que representam cada um
dos itens analisados:
Características do aluno: escritas dentro e ao redor da figura escolhida;
Gosta: rosto feliz,
Não gosta: rosto triste;
Medo: fantasma;
Desejo: estrela
Sonho: nunvens
O resultado final do processo é um bonito esquema que retrata o
aluno sob a visão de sua família, fornecendo à escola os dados necessários. Ao
término do mapa é elaborado um livro do aluno utilizando as figuras e um exemplar
é entregue a família. Com esses dados, a escola conhece a realidade do aluno em
36
sua casa e pode adequar a programação dele às necessidades e expectativas da
família.
A visualização do mapa dos aspectos positivos e potencialidades,
muitas vezes despercebidos, gera um efeito emocional no grupo. Nota-se reflexos
da diminuição da angústia e da ansiedade da família, no aumento de ânimo e
esperanças em relação à obtenção de resultados com o aluno.
Os educadores aproveitam os desejos difíceis de ser alcançados
para programar com a família todos os passos intermediários a serem vencidos, até
que o aluno seja capaz de realizar o que a família deseja. Com isso, elaboram-se
altas expectativas, trazendo para o momento imediato o que de concreto precisa ser
trabalhado pelo grupo e desenvolvimento do aluno.
A convocação, presença e participação da família tem a finalidade
de conscientizar a todos da interação da família, profissionais e escola para a
evolução e desenvolvimento do aluno surdocego.
37
3 CONCLUSÃO
Apesar de um considerável avanço no processo de inclusão, a
sociedade ainda não está preparada para incluir os surdocegos de forma a terem
uma condição igualitária. O preconceito, a falta de estrutura física, a falta de
conhecimento por parte da família, das pessoas que os rodeiam, dos próprios
profissionais na capacidade e potencial dos surdocegos é uma barreira a ser
transposta para a qualidade de vida dos mesmos.
O atendimento educacional prestado aos alunos com surdocegueira
são quase sempre fragmentados e isolados o que dificulta a sua inserção e
independência na sociedade. Colocar esses indivíduos em uma redoma intocável
apenas prejudica o seu desenvolvimento.
Para romper com esse isolamento, é preciso promover a criação de
redes de apoio que ajudem a conhecer, analisar e discutir as necessidades dos
alunos surdocegos, conhecendo os sistemas de comunicação que cada aluno
constrói, as possibilidades de intervenção pedagógica adequada a partir da
socialização desses sistemas (família, comunidade, escola) ampliando os limites e
superando os obstáculos.
O objetivo maior da educação de crianças com surdocegueira é o de
auxiliá-las a perceber o mundo, o que requer dos profissionais e pessoas que
convivam ao seu redor, o papel de facilitadores da aprendizagem, criando
oportunidades de experiências significativas. Acreditar e incentivar no potencial e
evolução dos surdocegos é a chave para elevar sua autoestima e fazê-los progredir.
As pessoas que convivem com alunos surdo-cegos (ao dizer alunos me refiro a pessoas que estão um processo de aprendizagem de uma ação, sem importar a idade destas pessoas), devem crer neles, em suas possibilidades. Se você acredita nele, ele tentará, se você não acredita, ele não fará. (SERPA,2002, p. 19)
38
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