monografia final impressao yure 01.03.2015

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI URCA CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS CESA DEPARTAMENTO DE ECONOMIA CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS YURE EMANUEL DE MELO FEITOSA ARAUJO EVOLUÇÃO DAS PEQUENAS EMPRESAS FORMAIS DO SETOR COMERCIAL NAS CIDADES MÉDIAS CEARENSES ENTRE 2002 E 2012. CRATO/CE 2015

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Monografia apresentada ao colegiado de ciências econômicas da universidade regional do cariri para obtenção de bacharelado em ciências econômicas.

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  • UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI URCA

    CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS CESA

    DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

    CURSO DE CINCIAS ECONMICAS

    YURE EMANUEL DE MELO FEITOSA ARAUJO

    EVOLUO DAS PEQUENAS EMPRESAS FORMAIS DO SETOR

    COMERCIAL NAS CIDADES MDIAS CEARENSES ENTRE 2002 E 2012.

    CRATO/CE

    2015

  • YURE EMANUEL DE MELO FEITOSA ARAUJO

    EVOLUO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS FORMAIS DO SETOR

    COMERCIAL NAS CIDADES MDIAS CEARENSES ENTRE 2002 E 2012.

    Monografia apresentada ao Curso de

    Cincias Econmicas da Universidade

    Regional do Cariri URCA, como

    requisito para obteno do grau de

    bacharel em Economia, realizada sob

    orientao da professora Me. Maria

    Jeanne Gonzaga de Paiva.

    CRATO/CE

    2015

  • YURE EMANUEL DE MELO FEITOSA ARAUJO

    EVOLUO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS FORMAIS DO SETOR

    COMERCIAL NAS CIDADES MDIAS CEARENSES ENTRE 2002 E 2012.

    UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI URCA

    BANCA EXAMINADORA:

    _______________________________________________

    Prof Me. Maria Jeanne Gonzaga de Paiva

    (Orientadora)

    _______________________________________________

    Prof. Dr Francisco de O de Lima Jnior

    _______________________________________________

    Prof Me. Valria Feitosa Pinheiro

    MONOGRAFIA APROVADA EM: 20/01/2015

  • A meus pais, Hermano Araujo e Gorette

    Feitosa, minha irm Di Vldia Araujo, a

    Jeanne Paiva e a todos os leitores desta

    obra.

    Dedico

  • AGRADECIMENTOS

    Expresso meus inestimados agradecimentos a todos aqueles que contriburam

    diretamente ou indiretamente para a elaborao desta monografia, mas que minha

    reminiscncia me restringe a agradecer a:

    - Minha me, Gorette, pelos inestimveis esforos em me oferecer uma educao

    escolar de qualidade, dentre tantos outros aspectos, que me permitiu oportunidades de

    conhecimento que muitos no tm acesso.

    - Meu Pai, Hermano, que na resilincia de seu silncio e nas palavras, carregadas de

    sapincia, permitiu-me amadurecimento.

    - Minha irm, Di Vldia, pela tamanha ateno, apoio e ajuda quando requerida. Alm

    de me proporcionar referencial quanto tomada de decises assertivas.

    - A Jeanne, que me oportunizou crescimento intelectual, desde meu terceiro semestre,

    quanto passou a me orientar atravs de uma bolsa de iniciao cientfica.

    - Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNPQ, e a

    Universidade Regional do Cariri, por propiciarem as condies materiais para o

    desenvolvimento de minhas pesquisas.

    - Todos os meus professores, desde a mais tenra idade at a Universidade, que mesmo,

    preponderantemente, oferecendo-me um ensino informativo, me propiciaram

    conhecimento para deleitar-me no pensamento crtico.

    - Teixeira, por me propiciar conhecimentos filosficos da modernidade.

    - Todos meus colegas de estudo, sobretudo por propiciarem momentos de debate.

    - Adelia, que me oportuniza reflexes, e prazer pelo conhecimento da

    multidisciplinariedade, bem como a percepo dos fatos como oportunidades.

    - Lima Jnior, pelas contribuies na realizao das apresentaes da monografia i e ii.

  • A burguesia no pode existir sem

    revolucionar incessantemente os

    instrumentos de produo, por

    conseguinte, as relaes de produo e,

    com isso, todas as relaes sociais.

    Karl Marx e Friedrich Engels

    Manifesto do Partido Comunista

  • SUMRIO

    LISTA DE SIGLAS ........................................................................................................ 8

    LISTA DE GRFICOS ................................................................................................. 9

    LISTA DE MAPAS ...................................................................................................... 10

    LISTA DE QUADROS ................................................................................................. 11

    LISTA DE TABELAS .................................................................................................. 12

    RESUMO ....................................................................................................................... 13

    Palavras-Chave: Micro e pequenas empresas; cidades mdias cearenses; setor

    comercial. ....................................................................................................................... 13

    INTRODUO ............................................................................................................ 14

    1. ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA O CRESCIMENTO ECONMICO DO

    CEAR ENTRE 2002 E 2012. .................................................................................... 19

    1.1 Polticas de concentrao ou desconcentrao industrial no Cear? ............... 24

    1.2 Papel das cidades mdias cearenses no processo de crescimento econmico do

    Estado do Cear. ......................................................................................................... 28

    2.PAPEL DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO PROCESSO DE

    CRESCIMENTO ECONMICO. .............................................................................. 35

    2.1 Micro e Pequenas empresas na Teoria Econmica. ......................................... 40

    2.1.1 A economia ideal de Adam Smith: mercado atomizado de micro e

    pequenas empresas competitivas, mas sem poder. .................................................. 40

    2.1.2 Schumpeter e o engodo do poder: o empresrio como agente do

    desenvolvimento econmico. .................................................................................. 43

    2.1.3 Galbraith e o sistema de planejamento da tecnoestrutura: o decesso do

    empresrio. .............................................................................................................. 48

    2.1.4 A Evoluo do Capitalismo Moderno: tendncias da indstria moderna 56

    2.1.5 Pequeno e grande capital: vantagens relativas grande indstria. ........... 59

    2.1.6 Marx e a destruio inexorvel das pequenas empresas........................... 62

    2.2 Micro e pequenas empresas ps dcada de 1980, marco divisrio.................. 69

    2.3 Oportunidades s micro e pequenas empresas no sculo XXI. ....................... 73

    3.EVOLUO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS FORMAIS DO SETOR

    COMERCIAL NAS CIDADES MDIAS CEARENSES ENTRE 2002 E 2012. ... 77

    3.1 A atividade empreendedora nas cidades mdias cearenses, um breve relato. . 82

    3.1.2 Participao das micro e pequenas empresas na economia das cidades

    mdias cearenses entre 2002 e 2012. ...................................................................... 84

  • 3.1.3 Micro e pequenas empresas do setor comercial nas cidades mdias

    cearenses entre 2002 e 2012. ................................................................................... 91

    CONCLUSO ............................................................................................................... 97

    REFERNCIAS ......................................................................................................... 101

  • LISTA DE SIGLAS

    FDI Fundo de Desenvolvimento Industrial

    FPM Fundo de Participao Municipal

    GPR Gesto por resultados

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IPECE Instituto de Pesquisa e Estratgia Econmica do Cear

    MPE Micro e Pequenas Empresas

    MTE Ministrio do Trabalho e Emprego

    RAIS Relao Anual de Informaes Sociais

    REDESIM Rede Nacional para a Simplificao do Registro e da Legalizao de

    Empresas e Negcios.

    RMF Regio Metropolitana de Fortaleza

    SUS Sistema nico de Sade

    VA Valor Absoluto

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Participao Relativa das MPE no total de estabelecimentos, empregos e

    massa de remunerao nas cidades mdias cearenses entre 2002 e 2012. ..................... 85

  • LISTA DE MAPAS

    Mapa 1 - Representao cartogrfica das cidades mdias cearenses a partir da hierarquia

    dos centros urbanos REGIC 2008. ................................................................................. 79

    Mapa 2 - Mapa temtico da mdia percentual do nmero de empregados, empregos e

    massa salarial das cidades mdias cearenses entre 2002 e 2012. ................................... 89

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Medidas de apoio ao pequeno empreendedor pela Secretaria da Micro e

    Pequena Empresa para o ano de 2014. ........................................................................... 38

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Cidades mdias cearenses: Produto Interno Bruto, Valor Bruto Adicionado

    ao PIB do Setor Tercirio, Populao Total e Urbana. .................................................. 80

    Tabela 2 Nmero total de estabelecimentos, empregados e MS (massa salarial) do

    setor formal nas cidades mdias cearenses (2002-2012). ............................................... 83

    Tabela 3 - Participao mdia por porte de empresa no nmero de empresas, emprego e

    massa salarial das cidades mdias cearenses entre 2002 e 2012. ................................... 86

    Tabela 4 - Diviso percentual de empresas, empregados e massa salarial em MPE das

    cidades mdias cearenses entre 2002 e 2012. ................................................................. 90

    Tabela 5 - Rendimento nominal mdio e crescimento real anual dos rendimentos das

    micro e pequenas empresas nas cidades mdias cearenses entre 2002 e 2012 .............. 90

    Tabela 6 - Porcentagem de estabelecimentos, empregados e MS (massa salarial) de

    micro e pequenas empresas comerciais, em relao ao total de empresas deste porte, nas

    cidades mdias cearenses (2002-2012)........................................................................... 92

    Tabela 7 - Nmero de micro e pequenas empresas por setor de atividade nas cidades

    mdias cearenses entre 2002 e 2012. .............................................................................. 92

    Tabela 8 - Nmero de empregados nas micro e pequenas empresas por setor de

    atividade nas cidades mdias cearenses entre 2002 e 2012. ........................................... 93

    Tabela 9 - Massa salarial gerada em milhes de reais pelas micro e pequenas empresas

    por setor de atividade nas cidades mdias cearenses entre 2002 e 2012. ....................... 94

    Tabela 10 - Rendimento nominal per capita das micro e pequenas empresas por setor de

    atividade nas cidades mdias cearenses entre 2002 e 2012. ........................................... 94

    Tabela 11 - Participao mdia no nmero de empresas, emprego e massa salarial no

    setor comercial das cidades mdias cearenses por porte de empresa entre 2002 e 2012.

    ........................................................................................................................................ 95

    Tabela 12 - Participao relativa e absoluta do nmero de empresas, emprego e massa

    salarial por porte de empresa nas cidades mdias cearenses, comparativo entre os anos

    de 2002 e 2012. ............................................................................................................... 96

  • ARAUJO, Yure Emanuel de Melo Feitosa. Evoluo das micro e pequenas empresas

    formais do setor comercial nas cidades mdias cearenses entre 2002 e 2012.

    Monografia de graduao em economia. Crato/CE: Universidade Regional do Cariri

    URCA, 2015

    RESUMO

    Este trabalho trata de duas temticas principais, tanto das cidades mdias como das

    micro e pequenas empresas (MPE), tecendo uma correlao entre a participao das

    cidades mdias cearenses na atividade econmica do Estado do Cear e os contributos

    das micro e pequenas empresas para o crescimento econmico dessas cidades,

    estabelecendo um recorte setorial para o comrcio. Deste modo, o objetivo geral desta

    pesquisa restringe-se em verificar o impacto do crescimento econmico das cidades

    mdias cearenses com base na evoluo das micro e pequenas empresas comerciais

    entre os anos de 2002 a 2012. E, subdividindo entre os objetivos especficos: 1)

    descrever os elementos essenciais para o crescimento econmico do Cear entre 2002 e

    2012; 2) descrever o papel das micro e pequenas empresas para o processo de

    crescimento econmico do Estado do Cear; 3) verificar a evoluo das micro e

    pequenas empresas formais do setor comercial nas cidades mdias cearenses, abordando

    o crescimento do nmero de empresas, mo de obra empregada e massa salarial gerada

    entre os anos 2002 a 2012. Para auferir os dados, as cidades mdias cearenses foram

    classificadas a partir do REGIC (2008) como Capitais Regionais C e como Centros Sub-

    regionais A e B, com parmetro extrado de Lima Jnior (2014). Chegando-se as

    cidades do Crato Barbalha Juazeiro do Norte e Sobral (Capitais Regionais C);

    Crates, Iguatu e Quixad (Centros Sub-regionais A) e Itapipoca (Centro Sub-regional

    B). J as empresas foram classificadas a partir do nmero de empregados, sendo as

    micro e pequenas empresa aquelas com at 99 empregados na indstria e construo

    civil, e com at 49 empregados no comrcio, servios e administrao pblica. Os dados

    assinalam a importncia das MPE para a economia estudada, compondo 98,04% do

    total de empresas, 39% do mercado de trabalho e 33,59% da massa salarial total.

    Destaca-se a atividade comercial que representa a maioria dos estabelecimentos,

    empregos e massa salarial nas MPE. Compem 51,88% das MPE e 58% das novas

    MPE abertas; formam 43% do total de empregos nessas empresas e 48,73% dos novos

    postos de trabalho; representam 38,36% da massa salarial total e 40,11% da massa

    salarial adicional entre 2002 e 2012. Alm disto, chama ateno a participao das

    microempresas no setor comercial, uma vez que representam 89,59% das empresas,

    46,53% dos empregos e 40,73% da massa salarial. Ademais, percebe-se a

    preponderncia percentual da atividade econmica na cidade do Crajubar, responsvel

    por 51,77% do total de MPE, 54,94% dos empregados e de 52,18% da massa salarial

    gerada pelas MPE nas cidades mdias cearenses. Destarte, o crescimento das economias

    das cidades mdias cearenses denota uma multiplicao da atividade empreendedora, do

    qual h forte impulso do setor tercirio, com destaque para o comrcio, sobretudo, no

    que se refere s MPE. No obstante, neste estudo as MPE so enfatizadas como

    detentoras de um importante papel socioeconmico, na formao da base econmica

    local urbana, com um importante papel para a elevao da produtividade dos fatores de

    produo, fortalecimento do empreendedorismo e para o crescimento econmico.

    Palavras-Chave: Micro e pequenas empresas; cidades mdias cearenses; setor

    comercial.

  • 14

    INTRODUO

    A crise do sistema fordista de produo, que na dcada de 1960 passa a

    apresentar dificuldades em manter o nvel de crescimento econmico dos tempos ureos

    da economia mundial (dcadas de 1940/50), resultando no desequilbrio

    macroeconmico; dos interesses dos agentes econmicos, mediados pelo Estado em

    busca do bem estar social; crescimento do desemprego e o esfacelamento fordista a

    partir da crise do petrleo em 1973, que culmina no crescimento da taxa de juros da

    economia mundial e retroalimentando processos inflacionrios.

    As consequncias deste processo histrico resultam em mudanas de

    paradigmas, pautado na reestruturao produtiva, nos moldes do ps-fordismo, e tendo

    como finalidade a acumulao flexvel, que transforma a organizao das foras

    produtivas, capital, trabalho, tecnologias e utilizao de recursos naturais. As relaes

    territoriais tambm se modificam, buscando a modernizao estrutural para insero nos

    fluxos de capital que se expandem. Isto implica na valorizao do lugar, que se abre

    para os interesses hegemnicos, enquanto assiste sua transformao e perda de

    autonomia, ao mesmo tempo em que interage de maneira crescente com o mundo

    globalizado.

    As dinmicas do sistema capitalista de produo se potencializam pelas

    especificidades e virtuosidades de cada localidade, oportunizando novos investimentos

    atravs das caractersticas territoriais, que a partir da dcada de 1980 se coadunam com

    a acumulao flexvel. No entanto, as relaes sociais se modificam seguindo os

    ditames dos grupos hegemnicos de investimento e as dinmicas de acumulao. Com

    isso, os lugares perdem cada vez mais autonomia, sobretudo, diante a convergncia dos

    interesses das elites locais, instituies e organizaes aos interesses do capital.

    Desta forma, os capitais globais adentram no pas em busca de novos mercados,

    somando-se ao movimento desconcentrador da produo nacional, que migra entre

    regies em busca de menores custos unitrios. Enquanto que o Estado brasileiro,

    influenciado pelos fatores conjunturais da economia global adentra em uma crise

    financeira, sobretudo diante a elevao das taxas de juros a partir dos ditames da

    conjuntura internacional e consequentemente com crescimento do endividamento

    externo nacional, que deriva, dentre os quais, na reduo dos gastos pblicos e dos

    financiamentos a programas federais de gesto metropolitana, por exemplo, que conduz

  • 15

    corresponsabilizao de Estados e Municpios para fomento de iniciativas de

    crescimento econmico.

    Todos estes aspectos, a partir dos interesses estatais e da iniciativa privada,

    resultam em iniciativas em prol das cidades mdias. Novas Regies Metropolitanas so

    criadas, mesmo que sem caractersticas de metrpoles; cidades com capacidade de

    dinamizao local so eleitas pelos Governos Estaduais para se transformarem em polos

    de crescimento; multiplicam-se os investimentos nestas localidades, mudando

    estruturalmente os territrios, gerando empregos e rendas, e interferindo nas

    racionalidades dos agentes econmicos locais. As cidades so impelidas lgica do

    mercado e das mercadorias, onde muitos se beneficiam, enquanto outros so largados

    aos bolses de misria, preponderando a lgica do crescimento econmico.

    Diante disto, enfatiza-se o papel das micro e pequenas empresas, que passam a

    contribuir para o crescimento da produtividade local, sendo um meio utilizado para

    interiorizar o crescimento, atravs da insero na cadeia produtiva e da multiplicao do

    empreendedorismo, com apoio cada vez mais crescente das aes governamentais, para

    atenuao das disparidades econmicas e sociais, reduo da pobreza, oferta de

    emprego, sobretudo, aos desempregados e aos menos favorecidos (jovem, mulher, etc.),

    reduzindo a presso no mercado de trabalho, alm de contribuir no processo e

    terceirizao, a certo nvel de especializao de servios (atividades tercirias).

    Concomitantemente, visando insero no mundo globalizado e o aporte de

    capitais nacionais produtivos desconcentrados, o Cear identifica nas obras estruturantes

    da urbanizao e na indstria os elementos essenciais do crescimento econmico e das

    oportunidades para o fortalecimento da produo capitalista no Estado, valorizando a

    Regio Metropolitana de Fortaleza, que desde a dcada de 1950 passa a concentrar a

    atividade econmica, e de cidades interioranas com potencial, ficando a maioria

    impelida prpria sorte, e a dependncia de recursos estatais, como o Fundo de

    Participao Municipal (FPM).

    Deste modo, os eixos principais desse estudo se concentram nas cidades mdias

    e nas micro e pequenas empresas, como representantes das foras produtivas locais, que

    se valorizam, conforme o sistema capitalista, diante das mudanas de paradigmas da

    passagem do sistema fordista para o ps-fordista, e das repercusses sobre os Estados

    Nacionais.

    Todos estes aspectos, supracitados e que inspiram as palavras antecedentes, tm

    como principais suportes tericos Farah Jr. (2004); Chacon (2007); Elias e Pequeno

  • 16

    (2013); Oliveira Jr. (2010); Arajo (2013); etc. E, consubstanciam que o tema de

    monografia intitula-se como: Evoluo das micro e pequenas empresas formais do setor

    comercial nas cidades mdias cearenses entre 2002 e 2012.

    Deste modo, esta pesquisa utiliza como recorte espacial as cidades mdias

    cearenses, classificadas a partir do REGIC (2008) como Capitais Regionais C e como

    Centros Sub-regionais A e B, com parmetro extrado de Lima Jnior (2014, p.194). O

    autor supracitado reitera que este critrio alm de exceder as limitaes dadas pela

    utilizao nica no critrio populacional permite o estudo daquelas (cidades) capazes

    de articulao regional e intermediao entre cidades pequenas e centros maiores, tendo

    como referncia Spsito (2007).

    Assim, as cidades pesquisadas, so: Crato Barbalha Juazeiro do Norte e

    Sobral (Capitais Regionais C); Crates, Iguatu e Quixad (Centros Sub-regionais A) e

    Itapipoca (Centro Sub-regional B) Ver Mapa 1. A exemplo de Lima Jnior (2014, p.

    195) utiliza-se como uma nica cidade o aglomerado Crato Barbalha Juazeiro do

    Norte devido dinmica conjunta na polarizao e influncia exercida pelos centros

    conforme abaliza o REGIC 2008. No mbito da configurao urbana destes ncleos

    verificado a existncia de uma conurbao ligando os trs centros de cidades.

    No obstante, delimita-se um recorte temporal de 2002 a 2012, desta forma,

    tecendo uma anlise dos ltimos 10 anos de dados disponveis na base de dados

    utilizada (RAIS Relao Anual de Informaes Sociais). Por fim, a populao em

    estudo tange s micro e pequenas empresas formais do setor comercial, observando-se

    que estas empresas tm adquirido maior apoio e estmulo nas ltimas dcadas como

    aspecto de elevao da produtividade dos fatores de produo e fortalecimento das

    bases do empreendedorismo brasileiro para potencializar o crescimento econmico do

    pas. Concomitantemente, conforme Costa e Amora (2009), o setor tercirio tem

    apresentado importante crescimento no Estado do Cear, em funo dos empregos

    diretos do setor pblico e indiretos ligados ao comrcio e servios que se ampliaram

    ligados ao processo de industrializao.

    Considerando que o crescimento das micro e pequenas empresas est

    condicionado ao crescimento da economia, mas tambm o potencializa, e exposto as

    caractersticas anteriores da evoluo das cidades mdias cearenses, indaga-se: Quais as

    repercusses do crescimento econmico das cidades mdias cearenses na configurao

    setorial das micro e pequenas empresas formais entre os anos de 2002 a 2012?

  • 17

    Desta forma, dois eventos que ocorrem no Brasil so determinantes para a

    elaborao da pesquisa: o processo de restruturao produtiva que culmina no

    crescimento das cidades mdias brasileiras (que tem repercutido, sobretudo, nas cidades

    mdias cearenses no setor tercirio) e o papel das micro e pequenas empresas para a

    elevao da produtividade dos fatores de produo e fortalecimento das bases do

    empreendedorismo brasileiro. Tudo isto so elementos fundamentais para o crescimento

    econmico do pas.

    Neste sentido, descreve-se o objetivo geral da pesquisa como: verificar o

    impacto do crescimento econmico das cidades mdias cearenses com base na evoluo

    das micro e pequenas empresas comerciais entre os anos de 2002 a 2012.

    E subdividindo-o (objetivo geral) entre os objetivos especficos: 1) descrever os

    elementos essenciais para o crescimento econmico do Cear entre 2002 e 2012; 2)

    descrever o papel das micro e pequenas empresas para o processo de crescimento

    econmico do Estado do Cear; 3) Verificar a evoluo das micro e pequenas empresas

    formais do setor comercial nas cidades mdias cearenses, abordando o crescimento do

    nmero de empresas, mo de obra empregada e massa salarial gerada entre os anos

    2002 a 2012.

    Os dados utilizados na pesquisa sero preponderantemente da Relao Anual de

    Informaes Sociais (RAIS) extrados por acesso online base de dados estatsticos do

    Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE), por tanto, de origem secundria. Sendo as

    principais variveis o nmero de empresas, de trabalhadores e o rendimento mdio

    nominal em dezembro. A coleta dos dados, realizada de forma direta, feita por

    download no sistema DardoWeb, localizado no site do Ministrio do Trabalho e

    Emprego. Tabulando-os atravs do software excel 2010, organizando tabelas de dupla

    entrada, grficos (de linha) e cartogramas. Por fim, empregando na pesquisa mtodos de

    anlise tabular e descritiva, com auxlio de instrumental matemtico (mensurando

    crescimento, variao, porcentagem, etc.).

    Para elaborao dos mapas temticos ou cartogramas sero utilizados shapes

    geoprocessados pelo GISMAPS ou IBGE, e disponveis por acesso online, que so

    trabalhados com o software ArcMap 10.1, que possibilita o trabalho especfico na

    elaborao de mapas, dentre os quais os temticos.

    Por fim, as partes constitutivas da monografia, alm da introduo, concluso e

    referncias, dividem-se nos seguintes captulos: 1) Elementos essenciais para o

    crescimento econmico do Cear entre 2002 e 2012; 1.1) Polticas de concentrao ou

  • 18

    desconcentrao industrial no Cear?; 1.2) Papel das cidades mdias cearenses no

    processo de crescimento econmico do Estado do Cear; 2) Papel das micro e pequenas

    empresas no processo de crescimento econmico; 2.1) Micro e pequenas empresas na

    teoria econmica; 2.2) Micro e pequenas empresas ps dcada de 1980, marco

    divisrio; 2.3) Oportunidades s micro e pequenas empresas no sculo XXI.; 3.

    Evoluo das micro e pequenas empresas formais do setor comercial nas cidades mdias

    cearenses entre 2002 e 2012; 3.1) A atividade empreendedora nas cidades mdias

    cearenses, um breve relato. 3.1.2) Participao das micro e pequenas empresas na

    economia das cidades mdias cearenses entre 2002 e 2012. 3.1.3) Micro e pequenas

    empresas do setor comercial nas cidades mdias cearenses entre 2002 e 2012.

  • 19

    1. ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA O CRESCIMENTO ECONMICO

    DO CEAR ENTRE 2002 E 2012.

    Neste captulo, encontra-se um estudo sobre as vicissitudes do crescimento

    econmico do Estado do Cear, enfatizando os principais elementos estratgicos

    escolhidos pelos Governos cearenses para a insero do Estado na lgica capitalista de

    produo. Com este impulso, percorre-se um caminho entre a era dos coronis at o

    perodo focado nesta monografia, a saber, entre 2002 e 20121, estabelecendo assim um

    marco que se estende do processo inicial de modernizao do Estado at o perodo em

    que se aprofundam as transformaes econmicas e espaciais do Cear. Para tanto,

    focam-se as iniciativas em prol do desenvolvimento de polos de crescimento no interior

    do Estado, especificamente de cidades mdias, por consequncia enfatizando medidas

    de desconcentrao socioeconmica da Regio Metropolitana de Fortaleza.

    As bases para a insero do Estado do Cear na lgica capitalista de produo,

    sob bases modernas, iniciam-se, sobretudo, durante o domnio da elite empresarial na

    conduo estatal, mas com ntidas contribuies dos governos dos coronis. Deste

    modo, delimita-se que a evoluo poltica do Estado do Cear, durante 1960 a 2002, foi

    marcada pela hegemonia dos coronis at 1982 e aps governos civis (CAMPOS,

    2008), mas que, conforme Chacon (2007) se restringem a perodos comandados por

    coronis. O primeiro por coronis rurais modernizados (que longe de serem arcaicos e

    eminentemente rurais, j possuam um discurso afinado com a modernidade,

    sintonizados com os acontecimentos de seu tempo e com prticas polticas urbanas

    modernas) e o segundo por coronis urbanos modernos (comando dos empresrios

    locais).

    Os coronis modernizados produziram as condies necessrias ao surgimento e

    fortalecimento dos coronis urbanos modernos (empresrios), atravs da consolidao

    da produo capitalista do Estado, especialmente da Regio Metropolitana de Fortaleza

    (RMF), aceleraram o processo de urbanizao e valorizao cada vez maior da RMF e

    cidades mais urbanizadas do interior; criaram currais eleitorais e desmobilizaram o

    serto, que crescentemente, perdeu espao; a indstria se tornou o elemento essencial do

    crescimento econmico, cada vez mais concentrado na RMF. Em suma, nas dcadas de

    1 Neste perodo o Estado do Cear foi Governado por: Tasso Jereissati (que no ano de 2002 exerceu seu

    ltimo ano de Governo); Lcio Alcntara (2003-2006); Cid Gomes (2007-2011); Cid Gomes (inicia seu

    segundo mandado no ano de 2012).

  • 20

    1960 a 1980 a modernizao do Estado foi fundada na industrializao e o

    deslocamento da base do poder poltico do serto para a cidade, j com o apoio

    financeiro dos empresrios em troca de benefcios fiscais, creditcios e clientelistas do

    Governo do Estado (CHACON, 2007; GONDIM, 1995).

    J os coronis urbanos modernos ao adentrarem e conduzirem poltica do

    Estado atravs de um forte programa de Marketing e discursos pautados no ataque as

    velhas oligarquias, consideradas arcaicas e responsveis pelo atraso do Estado, propem

    modernizar o Estado, mas apenas do continuidade ao processo poltico iniciado com os

    governos anteriores, agora com a ideia de sustentabilidade, planejamento participativo,

    respeito ao meio ambiente e erradicao da pobreza, mas o que preponderava eram as

    leis do mercado (CHACON, 2007).

    Como atesta Chacon (2007), o discurso de modernidade escondeu na trajetria

    poltica do Cear um quadro de pobreza insistente e ao invs de um quadro slido de

    crescimento econmico ocorreu um boom de industrializao, nas bases da guerra

    fiscal, com subsdios, isenes, concesses, incentiva creditcia e garantias de

    infraestrutura, e ainda com um grande exrcito de reserva, sobretudo no serto, a preo

    abaixo do mercado do Sul e Sudeste, mas apesar disto os investimentos realizados no

    proporcionaram emprego e renda proporcionais. Alm disso, as parcerias com

    organismos internacionais de crdito conduziram as polticas para atendimento das suas

    diretrizes e no das necessidades locais.

    Por um lado, gerando endividamento estatal, mas por outro, compensao de

    desequilbrios no oramento, amortizao de dvidas (pautados na austeridade e nos

    ditames neoliberais) e grandes projetos de infraestrutura, porm, com reduzido impacto

    social, reduziu gastos com aes pblicas sob a responsabilidade do Estado,

    permanecendo como um dos piores bolses de pobreza do Nordeste (SOUSA, 2007).

    Nos governos precedentes a situao no se modificou, continuam-se os ditames

    da indstria como carro-chefe do crescimento do Estado, dos centros urbanos,

    concentrao socioeconmica em torno da RMF, apesar dos avanos no interior, mas

    com incentivos consolidao de cidades polo com capacidade de dinamizar as

    economias locais, e desta forma promover a interiorizao do

    desenvolvimento/desconcentrao.

    Considerada, h dcadas, como o fator de crescimento e acumulao regional, a

    indstria torna-se paradigma da superao das desigualdades regionais e do atraso de

    reas menos integradas aos fluxos de capitais e mercadorias, modifica a organizao

  • 21

    territorial das economias regionais a partir de suas necessidades de mudana no regime

    de acumulao e reestruturao antigas regies industriais esvaziam e perdem

    densidade de emprego e surgem novos espaos industriais em reas virgens (ELIAS e

    PEQUENO, 2013).

    J os discursos governamentais pautados nos conceitos de: crescimento com

    incluso social e sustentvel, desafios do semirido, sociedade pobre e desigual,

    concentrao em torno da RMF, interiorizao do desenvolvimento, desenvolvimento

    local, fortalecimento das especificidades locais, ampliao de servios e oportunidades

    de emprego e renda, planejamento participativo, etc. (CEAR, 2003; CEAR, 2007). E

    tendo como principais vetores da reestruturao econmica e territorial no Cear o

    agronegcio de frutas tropicais, a indstria vinda de outros Estados a partir de poltica

    estadual de incentivos fiscais e o turismo de praia, com ntida participao de cidades

    pequenas e de porte mdio, assim como de muitas novas relaes entre o campo e a

    cidade e de novas regionalizaes (ELIAS e PEQUENO, 2013).

    Assim, durante o perodo de 2003 a 2011 governaram o Estado do Cear Lcio

    Alcntara e Cid Gomes. O primeiro intitulando seu mandado de Cear Cidadania:

    Crescimento com Incluso Social e sob os auspcios de quatro eixos de atuao: Eixo 1

    Cear empreendedor (visando ampliar as oportunidades de emprego e renda,

    focando a competitividade e territrio; induo do crescimento econmico atravs do: i)

    fortalecimento das MPE; ii) atrao de investimentos; iii) implementao de uma

    poltica integrada de turismo, poltica agrcola com foco no agronegcio, irrigao e

    agricultura familiar e promoo da competitividade do comrcio); Eixo 2 - Cear Vida

    Melhor (melhorar a qualidade de vida buscando: elevao do padro dos servios

    sociais bsicos educao, sade, qualificao profissional, assistncia social,

    segurana, justia, cultura, esportes e lazer, saneamento bsico, habitao, proteo e

    preservao do meio ambiente); Eixo 3 Cear Integrao (promoo do

    desenvolvimento local e regional, para dinamizar a economia do Estado; e a partir desta

    proposta, desconcentrar o processo de urbanizao, minimizar disparidades entre a RMF

    e interior, e criar oportunidades de trabalho e renda de forma mais equilibrada); Eixo 4

    Estado a Servio do Cidado (Nova institucionalidade, buscando formas de melhorar

    a prestao de servio ao cidado). (CEAR, 2003).

    O segundo Governador citado acima, Cid Gomes, intitulou seu mandato de

    Novo Jeito de Fazer, com as seguintes orientaes estratgicas: Eixo 1 Economia

    para uma vida melhor (Superar o desafio de conjugar crescimento econmico com

  • 22

    gesto ambiental e sustentabilidade; atribuindo as bases do crescimento indstria,

    turismo sustentvel, modernizao do comrcio e servios, fortalecimento da agricultura

    familiar; inovaes com prioridade de fomento na educao superior, cincia e

    tecnologia; investir em infraestrutura de transporte, comunicao hdrica e

    fortalecimento do setor energtico; promover o desenvolvimento urbano regional para

    ordenamento territorial e reduzir desequilbrios de renda e riqueza regionais;

    complementar a infraestrutura existente, atrair investimentos privados, inclusive para o

    interior, capacitar recursos humanos e apoiar as MPE do Estado; incentivos fiscais

    redirecionados para interiorizar o crescimento econmico e gerar empregos; reduzir

    vulnerabilidade s secas e promover a adoo no meio rural e inovaes tecnolgicas,

    segurana alimentar e formao de capital social, cooperao e parcerias). (CEAR,

    2007).

    No Eixo 2 Sociedade Justa e Solidria (sob pilar da educao, em especial da

    educao bsica, para aumentar o ndice de desempenho, e da educao superior e

    profissionalizante em conectar jovens e adultos no mercado de trabalho, alm de

    garantir sade humanizada em igual nvel de prioridade; melhorar o sentimento de

    segurana, investir em servios de inteligncia e articulao da segurana federal e

    estadual, e aumento do efetivo policial e modernizao de equipamentos; melhorar o

    sistema penitencirio; ampliar assistncia jurdica integral e gratuita, com a ampliao

    de defensores pblicos; romper com o modelo poltico que perpetua pobreza:

    universalizando o Sistema nico de Sade SUS proteo bsica s crianas e

    adolescentes, fortalecimento da famlia, integrao de aes de ateno juventude,

    pessoa idosa e com deficincia, incluso produtiva e social da populao carente,

    polticas assistenciais de gerao de oportunidades de emprego, redes de economia

    solidria e empreendedorismo; democratizar o conhecimento, valorizao da identidade

    das regies; promoo do esporte; integrao com polticas nacionais, transferncias

    federais e cooperao dos municpios cearenses. (CEAR, 2007).

    Por fim, Eixo 3 Gesto tica, Eficiente e Participativa: pautando-se na tica

    moderna, elaborando um cdigo de tica para o servio pblico e constituio dos

    comits de tica para o servio pblico e constituio de comits de tica no mbito da

    administrao estadual; transparncia nas aes do Governo; relao

    Governo/sociedade, aperfeioando o processo democrtico; Participao na formulao

    e controle das polticas pblicas; adoo dos sistemas de gesto por resultados GPR;

    modernizar a gesto redesenhando processos: informatizao de servios, integrao de

  • 23

    sistemas, o que exige investimento elevado em tecnologia da informao e

    telecomunicaes, por exemplo, banda larga em todos os municpios; novos paradigmas

    de gesto pblica; modernizar a mquina de arrecadao, controle, mais investimentos

    em tecnologia, tcnicas, metodologias de arrecadao e fiscalizao, para aumento da

    arrecadao tributria, mas desonerando o setor privado; racionalizao e controle da

    qualidade dos gastos, para elevar a capacidade de investimentos (CEAR, 2007).

    Deste modo, considerando todos os aspectos anteriores, o Cear se abre cada vez

    mais s influncias exgenas e aos novos signos do presente, com clara reestruturao

    econmica e territorial, nos ltimos 25 anos, objetivando inserir-se na lgica da

    produo e do consumo globalizado (ELIAS e PEQUENO, 2013).

    Frente s exigncias da produo flexvel, desde a dcada de 1980 e

    destacadamente da dcada de 1990, esto em redefinio a dinmica de sua

    economia; as formas de gesto das empresas; o mercado de trabalho e a

    dinmica de organizao do seu territrio, criando as condies materiais

    para a maior solidariedade organizacional do Estado com o resto do mundo.

    [...] Verifica-se tambm ao longo destes ltimos decnios, a realizao de

    vrias obras de menor porte, atendendo s demandas de municpios visando

    criar condies favorveis chegada de investidores de diversos setores

    econmicos. (ELIAS e PEQUENO, 2013, p. 99).

    Mas, considerando que ambos os governos, Lcio Alcntara e Cid Gomes,

    pautaram-se na Gesto Pblica por Resultados GPR (MEDEIROS, ROSA e

    NOGUEIRA, 2009) observa-se que o grande desafio ainda persiste: promover uma

    estreita conexo entre o crescimento econmico e desenvolvimento econmico, ou seja,

    gerar emprego e renda, possibilitar maior distribuio da riqueza produzida e melhorar o

    padro social de vida da populao cearense (SOUSA, 2007, p. 669). Sobretudo,

    considerando que, ambos os governos buscavam o crescimento conciliando os

    interesses do setor privado e da sociedade, com equilbrio entre crescimento econmico

    e equidade social, com estabilidade macroeconmica e equilbrio fiscal. Neste jogo, as

    foras do mercado so privilegiadas, pois a poltica moderna subordina-se aos ditames

    do poder e da razo econmica (CEAR, 2003; CEAR, 2007).

    Corroborado por documento do IPECE (2008 e 2013), apesar dos avanos

    observados, no h dvidas sobre a necessidade de melhorias em diversas reas sociais

    para que a populao alcance uma condio social satisfatria, e que h espao para a

    melhoria do bem-estar da populao cearense.

  • 24

    Destaca-se, por exemplo, os esforos de ambos os governos na desconcentrao

    socioeconmica da RMF e interiorizao do desenvolvimento, seguindo os ditames da

    acumulao flexvel e reestruturao do capital globalizado, sobretudo, elegendo

    municpios polos com potencialidades de crescimento. Por exemplo, no Governo de

    Lcio Alcntara, Iguatu, Limoeiro do Norte, Sobral e Juazeiro do Norte (CEAR,

    2003) e no Governo de Cid Gomes os polos Sobral/Ibiapaba, tendo como polo o

    municpio de Sobral, do Cariri/Centro Sul com polos entre Juazeiro do Norte, Crato e

    Barbalha e da macrorregio Litoral/Leste Jaguaribe, com polo Limoeiro do Norte

    (IPECE, 2010), destacando-se os programas Cidades I e Desenvolvimento de Polos

    Regionais, Cidades do Cear II (CEAR, 2007), alm do fortalecimento dessas cidades

    como instrumento de dinamizao socioeconmica estadual entre 2012/2015 (CEAR,

    2011).

    Desta forma, considera-se que os principais elementos norteadores do

    crescimento econmico do Estado do Cear, fundando-se nos fatores urbanos e nos

    objetivos de abordagem deste estudo, concentrem-se na indstria, a partir da guerra

    fiscal promovida pelo Estado, a fim de atrair empresas de outras localidades, sobretudo

    do Sul e Sudeste brasileiro, com incentivos urbanizao como forma de dinamizar o

    mercado, e consolidao da Regio Metropolitana de Fortaleza como polo dinamizador

    do Estado, que propicia uma concentrao da atividade econmica, bem como dos

    incentivos a cidades interioranas com expressivo grau de urbanizao e de capacidade

    de integrao regional e dinamizao de mercados e atividades econmicas locais. Estes

    so os objetos de estudo do prximo item.

    1.1 Polticas de concentrao ou desconcentrao industrial no Cear?

    As duas ltimas dcadas marcam a mudana do processo produtivo industrial

    desenvolvido no/pelo Estado2. Ocorre a fluidez dos investimentos, devido

    globalizao, o que dispersa a indstria moderna espacialmente, rompendo prticas

    tradicionais e fortalece estratgias empresariais, mudando os processos tanto na RMF

    2 O resgate da indstria como macrovetor de crescimento seria impensvel, no atual contexto, sem a

    ao efetiva do Estado como catalisador e orientador dos fluxos de capitais. No caso especfico do Cear,

    a poltica intencional de governo visando a atrao de projetos industriais tem se efetivado pelo uso da

    sinergia da reestruturao produtiva na construo do novo espao industrial [para tanto], os

    estabelecimentos ficaram concentrados em poucos pontos do Estado, principalmente nos municpios da

    Regio Metropolitana (Fortaleza e Maracana), Juazeiro do Norte e Sobral (ELIAS e PEQUENO, 2013,

    p. 103-104).

  • 25

    como no interior, sobretudo em cidades de mdio porte, o que modifica a organizao

    espacial dos municpios (ELIAS e PEQUENO, 2013).

    Contudo, as polticas de desenvolvimento econmico so um marco do Estado

    do Cear desde a dcada de 1960, com destaque para os incentivos industrializao,

    ou seja, das polticas industriais, sobretudo do Fundo de Desenvolvimento Industrial

    (FDI) criado em 1979 pela Lei n 10.387, e tendo as principais modificaes nos anos

    de 1995, 2002 e 2003, devido s diferenas econmicas existentes entre os municpios

    da RMF e os localizados fora desta Regio. (PONTES, VIANA E HOLANDA, 2006).

    Mesmo intencionando a localizao de empresas industriais nos municpios fora

    da RMF, as alteraes implementadas foram acompanhadas de intensa concentrao de

    investimentos na RMF, especialmente em 2002. A poltica industrial do FDI, sobretudo

    no ano de 2003, tem revelado que a inteno de atrair empresas para uma maior abertura

    de postos de trabalho fora da RMF, se converteu na maior atrao de empresas de

    menor porte para o interior e de grande porte para a RMF. Ou seja, quanto maior o

    investimento por emprego maior a probabilidade da empresa se direcionar para a RMF.

    Logo, empresas intensivas em capital tendem a se instalar na RMF, e as intensivas em

    mo de obra no interior do Estado, devido fatores estruturantes (PONTES, VIANA E

    HOLANDA, 2006).

    Por outro lado, como atestam Irffi, Nogueira e Barreto (2009 - ?) a poltica

    industrial de atrao de empresas por meio de concesses fiscais e apoio infraestrutura

    praticada pelo Governo, sob o FDI, foi ineficaz em sua meta de gerar empregos, no

    apresentando impacto significante sobre o estoque total de empregos e nem sobre a

    variao do referido estoque durante o perodo de 2002 a 2005. No obstante, em

    alguns aspectos, o FDI-II [referindo-se as mudanas no ano de 2002] pode ser

    considerado o FDI mais ineficiente, visto que reduziu significativamente tanto o nmero

    de empresas instaladas no interior quanto o nmero de empregos (SILVA FILHO;

    QUEIROZ, 2009, p.332).

    Quando analisado o montante de investimentos observa-se que:

    [...] com o FDI I 71,1% dos investimentos foram concentrados na RMF e

    apenas 28,9% no Interior. No FDI II ocorreu um leve aumento da

    concentrao dos investimentos na RMF ficando com 72,4% contra 27,6 no

    Interior. Com o FDI III a concentrao dos investimentos aumenta para

    76,6% na RMF contra 23,4% no Interior do Estado. (SILVA FILHO;

    QUEIROZ, 2009, p.1).

  • 26

    Alm da concentrao na RMF dos investimentos h concentrao quando

    analisado a produo de bens no durveis (indstria txtil, de calados, e de alimentos

    e bebidas), em especial, e intermedirios (indstria qumica e metalrgica). Com

    predominncia da indstria na Regio Metropolitana de Fortaleza (regies de Fortaleza

    e Pacajus) com larga vantagem, e nas regies de Sobral, ao norte, e Cariri, ao sul do

    Estado. (PAIVA; CALVACANTE; ALBUQUERQUE, 2007; VIANNA et al, 2011).

    Com destaque para dois aspectos: 1) A superioridade numrica se reflete na

    superioridade do VA (Valor Absoluto) Industrial desses municpios. Os dez municpios

    que concentram 80,64% do total do parque fabril do Cear (dados de 2008), so

    responsveis por 76,18% de todo o VA Industrial do Estado; 2) Que esta concentrao

    tem crescido no perodo 2000-2008, tendo em vista que os dez maiores municpios que,

    em 2000, detinham 79,86% de todas as indstrias cearenses, em 2008, passaram a ter

    80,64% desses estabelecimentos (VIANNA, et al, 2011).

    Tudo isto consubstancia que se fala de interiorizao do desenvolvimento, mas

    apenas se observa a instalao de algumas indstrias em municpios com alta taxa de

    urbanizao, o sertanejo impelido a migrar [embora o sculo XXI mostre propenso

    inversa em muitos casos] em busca de melhores condies de vida. Os investimentos

    concentrados no meio urbano, na RMF, e no setor industrial, inclusive com proviso

    contnua de gua. Como resultado, concentrao de renda, populacional, investimentos

    na RMF, sobretudo, com o serto a padecer, cada vez mais desmobilizado. (CHACON,

    2007).

    Fatores influenciados pelos processos recentes relacionados ao dinamismo

    industrial cearense, atravs de: i) Projeto de modernizao pautado numa proposta de

    integrao irrestrita ao mercado e dinmica global, com um modelo poltico de

    interveno planejada na economia, levando a uma reestruturao territorial, garantindo

    fluidez e interconexo aos movimentos; ii) uso de incentivos fiscais e modernizao da

    infraestrutura, pelo Estado, para atrao de empresas, alm de parcerias com organismos

    internacionais; iii) impactos expressivos no processo de produo, trabalho e relaes

    territoriais que elevam a participao da indstria na economia; iv) fortalecimento dos

    ramos txtil, alimentos, confeces e calados, desde 1990, e ramos de insumos

    industriais, pela reduo dos custos e favorecimentos fiscais e locacionais; v) o processo

    ainda ocorre de maneira espacialmente seletiva, beneficiando territrios que oferecem

    ampliada acumulao do capital e que se adaptam mais progressiva e eficientemente aos

    interesses hegemnicos, e transformando-se em centros de expanso da produo

  • 27

    industrial e gerao de empregos formais (destacando-se a RMF, e os municpios

    interioranos de Sobral, Crato e Juazeiro do Norte), com diferentes densidades em cada

    localidade e assumindo caractersticas regionais particulares (ELIAS e PEQUENO,

    2013).

    Ressalta-se, porm, que diante os inmeros investimentos, privados e pblicos,

    no interior do Estado (explicitado no prximo item) cidades de mdio porte como

    Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, no Cariri; Sobral, na regio Norte; Iguatu, no

    Centro-Sul; e Quixad e Quixeramobim na regio Central passaram a funcionar como

    polos de irradiao do crescimento, descentralizando esse processo, antes concentrado

    na Regio Metropolitana de Fortaleza (RMF). E como atesta Chacon (2010 apud Dantas

    Jnior, 2010, p.1) A industrializao tambm tem se expandido para o Interior. No

    entanto, em menor proporo.

    Esse deslocamento espacial do capital, em algumas atividades produtivas, em

    direo ao interior sofre influncia, inclusive, das novas perspectivas do Estado, na

    montagem de um complexo petroqumico e siderrgico, que dinamiza ainda mais a

    reestruturao territorial, econmica e urbana no Cear3 - dispersando capitais da RMF

    de acordo com as possibilidades de desconcentrao espacial de capitais produtivos e

    tercirios para as cidades mdias e recentralizao dos nveis decisrios nas metrpoles

    - que se diferencia no s pela dimenso, mas pelas alteraes estruturais que tende a

    provocar mudanas significativas na base econmica e social do Estado. O ncleo da

    indstria de bens de capital requer: alta tecnologia e investimentos intensivos em

    capital, alm de mo-de-obra com maior nvel de instruo/qualificao e salarial. Com

    isto, garantindo expressivo investimento economia regional, mas reduzindo empregos

    diretos, dado a intensidade tecnolgica. Contudo, estimula-se criao de um entorno

    de indstrias de metal mecnico, que tende a intensificar os movimentos econmicos e a

    produzir relaes econmicas diversas, responsveis por diferentes formas de

    aglomerao, deslocamento e funcionalidade (ELIAS e PEQUENO, 2013, p. 89).

    Para tanto, continua-se crescendo com concentrao, ou seja, a puercia

    desconcentrao da RMF apresenta-se concentradora em polos de atrao (cidades de

    pequeno porte, com potencial dinamizador), historicamente presentes no crescimento

    3 Nesta perspectiva, observa-se a partir do Governo do Estado execues de aes e projetos no

    Complexo Industrial e Porturio do Pecm que buscam termeltricas, siderrgica, refinaria e zonas de

    processamento de exportaes alm do sonho de conseguir atrair para o Estado uma montadora de

    veculos (CINTRA, 2012), que h pelo menos sete anos no passa da fase de negociaes

    (MONTADORA, 2013).

  • 28

    econmico do Estado. Este fenmeno diz respeito Teoria dos Polos de Crescimento de

    Perroux, sucintamente, expressa que o crescimento no surge em toda parte ao mesmo

    tempo; manifesta-se com intensidades variveis, em pontos ou polos de crescimento;

    propaga-se, segundo vias diferentes e com efeitos finais variveis, no conjunto da

    economia. Desta forma, os polos so responsveis por alavancar o crescimento

    econmico e por promover spillovers nas regies circunvizinhas, apresentando-se como

    um centro hierarquizado, cujo polo o centro dinamizador e que impulsiona o

    crescimento econmico (PERROUX, 1967, apud SIMES; LIMA, 2009, p. 6-7).

    1.2 Papel das cidades mdias cearenses no processo de crescimento econmico

    do Estado do Cear.

    Alguns fatores repercutem no processo de crescimento das cidades mdias (bem

    como em outras variveis), a saber: 1) O processo de reestruturao do capital a partir

    da dcada de 1960 (FARAH JR. 2004; ALMEIDA, 2010; ELIAS e PEQUENO, 2013;

    OLIVEIRA JR. 2010); 2) Mudana na legislao que cria as Regies Metropolitanas,

    corresponsabilizando Estados, sobretudo, e municpios. (ARAJO, 2013; KLINK,

    2009); 3) Estratgia de crescimento e desafogamento da RMF, bem como reduo das

    disparidades entre interior e capital, transformando as cidades com potencial

    dinamizador em polos de crescimento - especificamente para as cidades mdias

    cearenses. (CARTAXO, 2009; BEZERRA e LIMA, 2010).

    O primeiro fator, reestruturao do capital4, a partir da dcada de 1960,

    influenciado pela queda da produtividade dos fatores de produo da economia

    (FARAH JR., 2004), a partir dos fatores enumerados por Pedrosa e Siqueira (2004, p.1)

    a tendncia decrescente da taxa de lucro decorrente do excesso de produo;

    o esgotamento do padro de acumulao taylorista/fordista de produo; a

    desvalorizao do dlar, indicando a falncia do acordo de Breeton woods; a

    crise do Welfare State ou do Estado de Bem-Estar Social; a intensificao

    das lutas sociais (com greves, manifestaes de rua) e a crise do petrleo que

    foi um fator que deu forte impulso a esta crise.

    Como consequncia: aparecimento de uma nova engenharia produtiva, baseada

    em novas tecnologias de produto e de processo; enfatizando-se a importncia da

    4 Este processo ser melhor aprofundado no item pequenas empresas ps-dcada de 1980, marco

    divisrio, sendo discorrido aqui o que necessrio a este item.

  • 29

    reestruturao na retomada do crescimento econmico; e maior flexibilidade, pedra

    angular do que parece constituir um novo paradigma industrial (LINS, 1993); bem

    como: promoo das foras produtivas locais; com maior organizao/gesto da

    produo e do trabalho (FARAH JR., 2004).

    Assim, os lugares se globalizam sob a expanso do capital, conforme as

    especificidades dos elementos componentes do territrio, que revela a globalizao

    como produtora de fragmentao. Por isso, a importncia crescente hoje do lugar.

    Assim, resulta tanto do impacto das foras externas/modernizantes, como da capacidade

    de suas virtualidades. Contudo, como objeto e sujeito da economia globalizada, um

    espao cada vez menos autnomo, no se fechando sobre si mesmo de forma

    independente do resto do mundo, com o qual interage permanentemente para a

    acumulao ampliada do capital (ELIAS e PEQUENO, 2013, p. 97).

    Nesta perspectiva que Oliveira Jr. (2010) observa as cidades mdias como

    resultado e condio das novas formas de reproduo e acumulao do capital,

    engendrados historicamente pela reestruturao produtiva e acumulao flexvel,

    tendendo desconcentrao de investimentos na rede urbana com novas estratgias

    locacionais do capital, direcionados aos territrios no-metropolitanos. Isto implica na

    transformao das cidades mdias, materializando os interesses e racionalidades

    hegemnicas, convocadas a promover o aprofundamento do mundo da mercadoria e

    ampliao dos mercados, imbudas a ostentar os cones e signos da modernizao

    contempornea (OLIVEIRA JR., 2010).

    Complementarmente, como mencionado a partir de Pedrosa e Siqueira (2004),

    em parte, os elementos agravantes da queda da produtividade dos fatores de produo

    da economia, e que repercutem na estrutura territorial das cidades mdias, foram o

    aumento do desemprego e a crise de 1973, esta repercutindo, dentre os quais, em um

    processo inflacionrio, e aumento da taxa de juros (FARAH JR., 2004).

    Tudo isto, tendo forte influncia sobre o segundo fator mencionado acima como

    centro de influncia para o crescimento das cidades mdias ou seja, o impacto da

    conjuntura internacional no Estado brasileiro, provocando uma crise, propiciou

    mudana da legislao que cria as Regies Metropolitanas, corresponsabilizando

    Estados, sobretudo, e municpios (ARAJO, 2013; KLINK, 2009). Conforme Arajo

    (2013), a elevao da taxa de juros foi o principal fator de crescimento do

    endividamento do Estado Brasileiro e de sua crise a partir da dcada de 1980.

  • 30

    Entre 1950 e 1980 o processo de urbanizao e econmico brasileiro culminam

    em uma crescente concentrao das atividades econmicas e da sua populao em

    poucas cidades, que cresceram caoticamente e desorganizadas. No entanto, os ajustes da

    passagem do fordismo para o ps-fordismo (acumulao flexvel) impacta a rede urbana

    brasileira, por exemplo, promovendo a separao territorial entre as sedes das empresas

    e suas unidades de produo/comercializao5, e centralizao econmica com

    desconcentrao territorial da produo e do consumo, resultando na diviso interurbana

    do trabalho e manifestando uma nova tendncia: aumento do ritmo demogrfico das

    cidades que ocupam papeis intermedirios na rede urbana, assim, de novas formas de

    assentamento humano, cada vez mais dispersas, refletindo e apoiando a urbanizao

    difusa (ELIAS e PEQUENO, 2013).

    Devido crise fiscal, os repasses da Unio para Estados e Municpios

    decresceram, culminando, por exemplo, no esfacelamento de vrias instituies de

    gesto metropolitana esta considerada como elemento-chave na consolidao do

    desenvolvimento do pas num perodo de surto industrial tambm influenciado pelo

    prprio processo de redemocratizao do pas na dcada de 1980, gerando

    questionamento sobre a estrutura fechada e pouco transparente da gesto metropolitana,

    e o surgimento de novos atores sociais, associando o tema regio metropolitana ao

    regime militar e no o pautando no processo constituinte de 1988. (KLINK, 2009).

    Desta forma, as regies metropolitanas que antes eram criadas pelo Governo

    Federal (pela Lei Complementar 14/1973, atinente a Constituio de 1967), passaram a

    ser responsabilidade dos Estados (atravs da Constituio de 1988), observando-se que

    sua criao se dava por unidades regionais bastante distintas (preponderantemente), no

    obedecendo a critrios claros, objetivos e consistentes, tanto na sua institucionalizao,

    quanto na definio dos municpios que as compem, favorecendo cidades de menor

    porte e sem caractersticas de metrpoles (RIBEIRO et al, 2011).

    5 Desta forma, durante o processo de industrializao e integrao do mercado nacional, ocorreram

    mudanas significativas nas cidades mdias do pas tendo seus mercados invadidos por produtos

    industrializados do Sudeste, mas com crescimento do setor tercirio, em funo dos empregos diretos do

    setor pblico e indiretos ligados ao comrcio e servios que se ampliaram culminando na modernizao

    da agricultura e centralizao da indstria no Sudeste brasileiro, por conseguinte decadncia da indstria

    nordestina. Para tanto, polticas pblicas de desenvolvimento regional iniciadas em 1960 (e considerando

    to somente o Estado do Cear) condicionaram Fortaleza a um elevado crescimento, o que exacerbou as

    disparidades regionais (populacionais e econmicas), por outro lado atraram fbricas de empresas

    nacionais e multinacionais para o Cear sob o prisma da guerra fiscal que se concentraram na Regio

    Metropolitana de Fortaleza, mas impactando tanto na ampliao e diversificao dos fluxos de pessoas,

    produtos e informaes de todo o Cear, e intensificando ainda mais o setor tercirio beneficiado pela

    instalao de equipamentos industriais e da agroindstria. (COSTA e AMORA, 2009).

  • 31

    Assim, e considerando to somente o Estado do Cear, bem como os planos

    governamentais de interiorizao do desenvolvimento, se cria, por exemplo, a Regio

    Metropolitana do Cariri no ano de 2009, em torno das cidades mdias Juazeiro do Norte

    e Crato, mesmo que estas no se caracterizem como metrpoles, comparativamente as

    grandes metrpoles brasileiras.

    Para tanto, o que interessa observar que as repercusses supracitadas

    consolidam uma trajetria de estratgias de crescimento em torno das cidades com

    potencial dinamizador em polos de crescimento, buscando a reduo das disparidades

    entre interior e capital, e fomento ao crescimento econmico do Estado, este sendo o

    papel desempenhado pelas cidades mdias cearenses para o crescimento econmico do

    Estado (CARTAXO, 2009; BEZERRA e LIMA, 2010).

    Identificando-se essas disparidades, sobretudo da concentrao populacional,

    urbana, industrial etc., na RMF, os discursos em torno da interiorizao do

    desenvolvimento foi um marco dos Governos cearenses. Analisando este contexto a

    partir da dcada de 1960 nos trabalhos de Chacon (2007); Cear (2003); Cartaxo

    (2009); Cear (2007); Bezerra e Lima (2010); Cear (2011), observa-se a escolha de

    cidades com potencial dinamizador para alavancar o processo de crescimento no interior

    cearense (aptas a partir da alta urbanizao e industrializao). Para tanto, apesar dos

    discursos e intenes as medidas implementadas no foram capazes de interiorizar o

    desenvolvimento, mas este mostra nos ltimos anos (sobretudo a partir do Governo de

    Cid Gomes 2007 a 2013) que as disparidades entre interior e capital tm decrescido,

    como atesta Chacon (2010 apud DANTAS JNIOR, 2010), mas de forma modesta.

    O que leva Dantas Jnior (2010, p.1) a afirmar:

    Mdias, porm dinmicas. Cidades do Interior cearense esto fazendo a

    diferena para o Cear crescer: Novas estradas, aeroportos e hospitais

    regionais, shopping centers, instituies de ensino, empreendimentos

    imobilirios, entre outras obras, esto modificando a face do Interior do

    Cear. Com a economia aquecida, cidades de mdio porte como Juazeiro do

    Norte, Crato e Barbalha, no Cariri; Sobral, na regio Norte; Iguatu, no

    Centro-Sul; e Quixad e Quixeramobim na regio Central, por exemplo,

    comeam a se consolidar como molas para o crescimento econmico do

    Estado.

  • 32

    As dinmicas demogrficas apontam alteraes na rede urbana cearense6, na

    estrutura intraurbana das cidades, a partir dos dados do Censo 2010, apesar da RMF ser

    aquela que mais cresceu, trs vezes mais que os sertes cearenses, por consequncia

    serem os municpios da RMF os que mais cresceram, e de remanescer o maior

    crescimento nos municpios perifricos Fortaleza. De outro modo, por exemplo,

    diminui o nmero de pequenos municpios com populao menor que 20 mil habitantes,

    com crescimento dos municpios com populao superior a 50 mil moradores; aumenta

    a populao dos municpios litorneos e consolidam-se centros regionais (ELIAS e

    PEQUENO, 2013).

    Assim, diante os incentivos/investimentos ao crescimento econmico, estas

    cidades tem apresentado significativo dinamismo no que se refere expanso do

    nmero de estabelecimentos, bem como dos empregos, dos servios e da infraestrutura.

    Os resultados mostram que as taxas de crescimento do emprego formal foram

    superiores s taxas de crescimento da populao, possibilitando melhoria no acesso aos

    postos de trabalho e renda. (BARBOSA et al, 2012).

    Destarte, parte-se do pressuposto que o processo de reproduo do capital,

    influenciado pela mudana de paradigmas a partir da reestruturao produtiva do capital

    na dcada de 1960 repercutiu sobre os incentivos s especificidades locais, buscando

    novos meios de manter o crescimento econmico, e apesar dos impactos que toda

    mudana promove no curto prazo, observou-se que os incentivos ao crescimento das

    economias das cidades mdias cearenses, restringindo-se somente a elas, se tornaram

    uma estratgia de crescimento econmico do Estado, em torno de polos de atrao, com

    intuito de interiorizar o desenvolvimento e diminuir as disparidades entre capital e

    interior, preponderando, contudo, as diretrizes para o processo de reproduo do capital.

    Para tanto, necessrio observar que este fenmeno observado internamente s

    cidades mdias, a partir de Oliveira Jr. (2010), resulta em cinco aspectos reflexivos,

    inerentes a: ofensiva do capital nas cidades mdias para maximizao dos interesses de

    6 Alguns destes fatores na escala regional, so: [...] disseminao de fragmentos onde o crescimento

    econmico vinculado ao macro vetor econmico da indstria em contraposio sua maior concentrao

    na metrpole e nas cidades de mdio porte; [...] ampliao da rea de influncia das cidades que assumem

    funes regionais, organizando espaos de seu entorno imediato; constituio de aglomerado urbano na

    regio sul do Estado; [Mesmo diante a] inexistncia da escala regional no mbito institucional associada

    forte centralizao da gesto a partir da capital; entre outros. Na escala urbana: [...] mobilidade urbana

    vinculada aos grandes eixos regionais que por vezes atravessam as cidades e noutras atraem o

    crescimento em sua direo; [...]; surgimento de reas favelizadas nas estradas da cidade, em especial

    naquelas que interligam a cidade polo regional s demais e aos prprios distritos que integram sua rea de

    influncia; [...]. (ELIAS e PEQUENO, 2013, p. 108).

  • 33

    grupos capitalistas; das nuances do discurso do desenvolvimento das cidades mdias; da

    vinculao entre os interesses de grandes grupos investidores e as elites locais; a

    redefinio do centro tradicional e o estranhamento da vida cotidiana na cidade.

    A ofensiva do capital nas cidades mdias denota [...] a territorializao dos

    processos econmicos hegemnicos [...] por meio de novas estratgias

    locacionais do capital [...] [em busca da] maximizao dos lucros, [...] de

    processos espaciais e sociais que se coadunam, aperfeioando a reproduo

    capitalista do espao, [...] induzindo prticas sociais contrrias potncia

    humana e, decerto, procuram inviabilizar formas de resistncia,[...] tanto nos

    momentos de trabalho [...] como no denominado tempo livre. [...] [Isso

    implica que o homem passa a] se realizar na condio de [...] um novo

    homem programado, [...] para suprir as necessidades veementes do capital.

    [...] Essas racionalidades terminam por conduzir a materializao das

    contradies do movimento do mundo nos lugares (OLIVEIRA JR., 2010, p.

    89, 90 e 91).

    No obstante, os discursos dos grandes capitalistas pela modernizao e

    desenvolvimento se intensifica, deslocando grupos investidores mais expressivos para

    as cidades mdias, e buscando mecanismos para anular o debate poltico, alm das

    contestaes do processo de reproduo e estruturao do espao urbano como meio de

    contradies e conflitos econmicos e sociais. As elites locais reproduzem esse discurso

    do moderno, interessadas na apropriao de benefcios, por exemplo, pela valorizao

    substancial da terra urbana disposta no entorno imediato das grandes estruturas do

    capital e sob suas posses, mas sem preocupao social (OLIVEIRA JR., 2010).

    A disputa poltica, que se coaduna com a modernidade, ou seja, como expresso

    de poder, acentua a escassez nas periferias e reafirma a lgica de mercado enquanto

    mediadora do processo de produo urbano, onde imensa maioria da populao se

    encontra subjugada. Assim, determinados interesses de grupos seletos com maior

    poder de influncia nos nveis decisrios podem sobressair-se, sendo manifestados

    efetivamente na produo da cidade, ignorando as prioridades estabelecidas a partir dos

    debates realizados e da participao popular. Reafirmam-se polticas pblicas para

    uma cidade fragmentada direcionada a interesses relevantes s elites locais, por

    consequncia, detrimento das reas perifricas de baixa renda da cidade, alm de

    aprofundarem a drenagem de renda regional para a cidade que centraliza os fluxos e

    fixos (centros estruturantes). O centro tradicional se transforma, com projetos

    revitalizantes e requalificantes, popularizando mercadorias e o pblico alvo. O centro

    continua concentrando fixos e fluxos, mas se altera quali/quantitativamente pela nova

    criao da expresso de centralidade (OLIVEIRA JR., 2010, p. 94).

  • 34

    Tudo isto consubstancia, a realizao dos interesses do capital, programando o

    humano (gostos, gestos, falseando sua realizao e felicidade, condicionados pelo

    consumo de mercadorias e transformando o tempo livre em tempo til ao capital,

    subvertidos por necessidades alheias e alienadas). As mercadorias se tornam cada vez

    mais descartveis, o que induz o consumo indiscriminado, aliado aos impulsos

    estimulados pela publicidade que programa os desejos, atribuindo qualidades superiores

    aos possuidores e inferiorizando os materialmente pobres. Isto implica no

    estranhamento da vida cotidiana na cidade. Logo, no s as cidades mdias se

    transformam pela reestruturao da acumulao do capital, mas seus habitantes, sua

    percepo do mundo, ou seja, os elementos e agentes que a compem (OLIVEIRA JR.,

    2010).

    Destarte, ao final deste captulo conclui-se que um dos incentivos norteadores do

    crescimento econmico do Estado do Cear beneficia as cidades interioranas com

    expressivo grau de urbanizao, elegendo aquelas com capacidade de integrao

    regional ou dinamizao de mercados e atividades econmicas locais. Por um lado

    objetivando aliviar a concentrao populacional na RMF, como tambm a concentrao

    econmica, de tal modo que a atividade econmica do Estado apresenta crescimento nas

    intituladas cidades polos. Para tanto, a RMF continua a ser o centro socioeconmico do

    Cear, apesar da maior ateno ofertada s cidades mdias, e dos incentivos para o

    fomento de ncleos de crescimento regional no espao cearense.

    Cnscio destes aspectos e objetivando um estudo acerca das micro e pequenas

    empresas, despende-se um esforo no prximo captulo para a pesquisa deste campo

    empresarial, conotando sua importncia socioeconmica.

  • 35

    2. PAPEL DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO PROCESSO DE

    CRESCIMENTO ECONMICO.

    Neste captulo, como o ttulo sugere, enfatiza-se o papel das micro e pequenas

    para o processo de crescimento econmico. Inicialmente, conjecturam-se as influncias

    da crise do sistema de produo fordista e a implementao do modo de produo

    toyotista como um paralelo para o crescimento dos incentivos e participao destas

    empresas na economia mundial, sobretudo por se tratar de uma transio marcada por

    uma crise econmica, no qual as micro e pequenas empresas surgem como um alento

    aos desempregados, por exemplo, motivados a abertura de uma empresa pela

    necessidade7.

    Concomitantemente, d-se ateno teoria econmica, buscando nas obras de

    Adam Smith (1985), em A Riqueza das Naes; de Schumpeter (1985), na Teoria do

    Desenvolvimento Econmico; Galbraith (1985), no Novo Estado Industrial; Marshall

    (1985), em Princpios de Economia (abordado internamente no subitem destinado a

    Galbraith); Hobson (1985), A Evoluo do Capitalismo Moderno; Steindl (1990), em

    Pequeno e Grande Capital e Marx (1984; 1996) em O capital, abordagens acerca das

    micro e pequenas empresas. Mais adiante se enumeram algumas oportunidades no

    sculo XXI para o campo empresarial em estudo, enfatizando que ao mesmo tempo em

    que as oportunidades se multiplicam as exigncias tambm se elevam, decretando

    maiores esforos na capacidade empresarial e tecnolgica.

    Com isto, e prosseguindo com parte da perspectiva do captulo anterior, ou seja,

    de promoo das foras produtivas locais e de flexibilizao da produo e processos,

    dentre outros, como consequncia da reestruturao produtiva do capital, que alm de

    influenciar o crescimento das cidades mdias brasileiras como disposto anteriormente

    elege as micro e pequenas empresas como um dos pilares para o fomento do

    crescimento econmico. Assim, culminando em novos paradigmas, e suprimindo os

    pressupostos da grande empresa industrial oligopolista, que comandou o processo de

    crise atravs do sistema fordista de produo (FARAH JR. 2004), para pautar-se no

    territrio e nas formas intermedirias de coordenao, onde a mobilizao dos atores

    locais, a formao de redes entre organismos e instituies locais e a maior cooperao

    entre empresas de um mesmo territrio ganham destaque como novas formas de

    7 Ressalta-se que atualmente a maioria dos empreendimentos so abertos por oportunidade (GEM, 2010).

  • 36

    interveno para o crescimento. (MULS, 2008). Assim, as grandes empresas e o Estado

    deixam de serem considerados os nicos suportes econmicos relevantes para a

    sociedade (GOMES et al, 2005).

    Para tanto, deve-se ressaltar que esta valorizao das formas de produo local,

    sob a gide da teoria do desenvolvimento local, por exemplo:

    [...] mais uma das expresses construdas pelo capitalismo como resposta

    terico-social e ideo-poltica para suas crises agravadas pela reestruturao

    produtiva, ps anos 1970 em todo o mundo. Assim, o desenvolvimento local

    vem para atender [...] ao neoliberalismo e atende s necessidades da

    reestruturao do capital em sua fase mundializada [... e] tem suas bases

    nesse contexto histrico [... em] bases neoconservadoras, ou seja, a

    compreenso [...] deve partir da compreenso das novas estratgias do

    capitalismo para suas crises extremamente agudizadas ps-crise de 1970 [...],

    pois a realidade dinmica [... e deve-se atravs dos] acontecimentos

    histricos estabelecer nexos e buscar compreender a realidade (ALMEIDA,

    2010, p.9/137).

    Contudo, neste processo se observa a crescente subordinao das micro e

    pequenas empresas ao grande capital pela revoluo do sistema dominante que no

    pode existir sem revolucionar incessantemente os instrumentos de produo, por

    conseguinte, as relaes de produo, e com isso, todas as relaes sociais (MARX E

    ENGELS, 2005, p. 43), mas que no conclui em sua desvalorizao, apesar de sua

    crescente dependncia, mesmo porque:

    [...] no a dinmica interna que peculiariza estas pequenas unidades

    produtivas, no sua dimenso que explica o papel que cumpre no sistema

    produtivo-comercial. O que esclarece sobre suas possibilidades e limites de

    desenvolvimento empresarial, o que se coloca como essencial, o lugar que

    ocupa na diviso organizativa deste sistema. (MONTAO, 2001, p. 11).

    Pensamento este corroborado por Farah Jr. (2004), ao intitular o ponto fraco das

    micro e pequenas empresas como sendo o fato de atuar sozinha e descolada das redes

    empresariais mundiais e no o de ser pequeno, assim, o ponto central de debate sobre

    este segmento de empresas que esta tende a operar isolada.

    Diante disso, notria a relevncia das MPE como fomentadoras do crescimento

    econmico, seja pela capacidade de gerar postos de trabalho e renda, contribuio na

    cadeia produtiva, fomento ao desenvolvimento tecnolgico, as inovaes, sobretudo

    aquelas ligadas ao produto, ao empreendedorismo, interiorizao do crescimento,

  • 37

    atenuao das disparidades econmicas e sociais, reduo da pobreza, oferta de

    emprego aos menos favorecidos (jovem, mulher, etc.) sendo, majoritariamente, a porta

    de entrada para o mercado de trabalho, dentre outras funes. Mas, urge a gerao de

    vnculos de cooperao entre empresas deste porte e maior aproximao com as redes

    empresariais mundiais, tudo isto sob as dependncias das instituies e de suas aes

    que vo do nvel local a nacional, bem como dos agentes econmicos, da sociedade,

    dos institutos fomentadores de capital humano, etc., para maior desenvolvimento da

    base empreendedora e potencializao de suas funes (ARAUJO e PAIVA, 2012).

    No obstante, considerando que na literatura especializada na temtica sobre as

    micro e pequenas empresas parece haver um consenso de que o crescimento do pas

    est condicionado ao fortalecimento das pequenas e mdias empresas (NETO et al,

    2013, p. 15) torna-se desnecessrio discorrer sobre todas as funes econmicas e

    sociais das micro e pequenas empresas, pois a hermenutica desta literatura (Conferir,

    por exemplo, Arajo e Paiva, 2012 para maior compreenso de suas funes), e mesmo

    o senso comum, atribui a este segmento papel relevante no processo de crescimento

    econmico, figurando inclusive como pilares do crescimento estadual (Conferir

    CEAR, 2003, 2007, 2011).

    Nesta perspectiva tem-se observado inmeros incentivos ao fomento do

    empreendedorismo brasileiro, como por exemplo, a criao da Secretaria da Micro e

    Pequena Empresa pela Lei N 12.792, de 28 de maro de 2013, com a finalidade

    especfica de apoio ao micro e pequeno empreendedorismo, sobretudo na formulao de

    polticas pblicas. Algumas de suas pretenses encontram-se no quadro 1.

  • 38

    Quadro 1 - Medidas de apoio ao pequeno empreendedor pela Secretaria da Micro e

    Pequena Empresa para o ano de 2014.

    Meta Finalidade

    Construo do portal Empresa

    Simples

    Permitir a abertura e fechamento de empresas no prazo

    mximo de cinco dias e reduzir o excesso de burocracia

    estatal para aumentar a produtividade e a lucratividade

    do segmento (PORTAL BRASIL, 2013, p.1), que

    estar disponvel no segundo semestre de 2014,

    disponibilizando todos seus servios via internet.

    Integra-se ao portal:

    O Redesim Para agilizar a abertura e fechamento de empresas.

    O simples internacional Regime alfandegrio diferenciado e simplificado para

    comrcio bilateral entre MPE da Amrica Latina.

    Inova Fcil

    Com informaes para aprimorar o gerenciamento

    profissional das micro e pequenas empresas, e

    publicao de pesquisas e solues de inovao.

    Crdireto

    Para emisso de certificado digital, encaminhando MPE

    a instituies financeiras para que essas possam

    oferecer linhas especiais de crdito.

    Concilia J Oferecer s MPE condies para resolver disputas e

    contendas judiciais com empresas e rgo pblicos.

    E outras medidas Por exemplo, pretenses de reduo de impostos do

    simples nacional (AFIF, 2014).

    Fonte: PORTAL BRASIL, 2013. Elaborao: Prpria.

    Alm da criao da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (lei complementar n

    123, de 14 de dezembro de 2006), que institui normas gerais relativas ao tratamento

    diferenciado e favorecido a ser dispensado s microempresas e empresas de pequeno

    porte no mbito dos Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos

    Municpios; Criao da Rede Nacional para a Simplificao do Registro e da

    Legalizao de Empresas e Negcios REDESIM (lei n 11.598, de 3 de dezembro de

    2007), que estabelece normas gerais de simplificao e integrao do processo de

    registro e legalizao de empresrios e pessoas jurdicas no mbito da Unio, dos

    Estados, do Distrito Federal e dos Municpios e Sanso da lei complementar n 128, de

    19 de dezembro de 2008, que tem como principal pressuposto a criao do

    Microempreendedor Individual.

    Deixando claro que inmeras so as dificuldades enfrentadas para a formulao

    de polticas pblicas voltadas as MPE, por exemplo: falta de estatsticas e conceitos que

    captem a realidade destas empresas; o problema das MPE serem numerosas,

  • 39

    heterogneas, dispersas e pequenas demais; as inadequaes, superposio e

    descoordenao de aes, muitas vezes sem continuidade; bem como da ausncia de

    enfoque de MPE enquanto empreendimento economicamente vivel, o que compromete

    a identificao e aproveitamento de oportunidades que levam a uma atuao sustentvel

    (associado ao paradigma segundo o qual, apenas grandes estruturas podem ser

    competitivas ao atual estgio do capitalismo). (LASTRES E CASSIOLATO, 2004).

    Alm disto, inadequao dos mecanismos e instrumentos s MPE, no apenas

    no Brasil, o aparato existente (para promoo, fomento e financiamento) foi estruturado

    para as grandes empresas, tentando-se enquadrar as micro, pequenas e mdias s

    exigncias destes sistemas. Deve-se alterar este paradigma de forma a adequ-lo ao

    perfil das MPE8 e no o contrrio, bem como parar de culp-las por no apresentarem

    condies para uso de polticas que foram desenhadas para outros padres (LASTRES

    et al, 2003).

    Em suma, o processo de reestruturao produtiva a partir da crise do sistema

    fordista de produo tem revelado incentivos s formas produtivas locais, com impacto

    direto sobre micro e pequenas empresas, que ao mesmo tempo recebe ateno estatal em

    forma de polticas pblicas, e objeto da reestruturao produtiva do capital, que

    responsabiliza o local pelas iniciativas de crescimento econmico, que busca andar

    com as prprias pernas eximindo, assim, grande parte da ateno estatal, que sujeita os

    agentes econmicos as leis do mercado9. Por outro lado, h crescente subordinao das

    micro e pequenas empresas s grandes, pela prpria dinmica da acumulao do capital,

    que tende h concentrao de capitais, mas que gera concorrncias, no qual o pequeno

    capital tem menor poder no mercado.

    Em conformidade a isto, o prximo item discorre a respeito de algumas das

    teorias econmicas que raciocinam sobre as micro e pequenas empresas com o intuito

    de mensurar o plano que este segmento empresarial ocupa na estrutura ideolgica da

    cincia econmica, se ocupando papel central ou secundrio. Adiantando-se a

    inexistncia de teorias especficas, mas postuladas indiretamente, ao que se

    convencionou a partir de Keynes intitular, do nvel macroeconmico.

    8 Muito embora as aes citadas anteriormente para criao de uma institucionalizao voltada s MPE

    objetivem alcanar este aspecto e tem apresentado avanos relevantes. 9Apesar do Governo brasileiro, ser exceo, por seguir ditames ps-keynesianos e no neoliberais,

    preponderantemente.

  • 40

    2.1 Micro e Pequenas empresas na Teoria Econmica.

    A abordagem das micro e pequenas empresas na teoria econmica significa o

    esforo da interpretao indireta, por vezes, haja vista que inexiste uma teoria

    econmica especfica micro e pequena empresa, uma vez que a preocupao desta

    cincia se mostra a nvel geral e no especfico, muito embora sua epistemologia seja

    indutiva, sobretudo no campo da teoria clssica e neoclssica, e que o campo

    microeconmico seja interno s empresas e famlias.

    Desta forma, os prximos subitens buscam o papel das micro e pequenas

    empresas nas teorias econmicas de Adam Smith (1985), em A Riqueza das Naes; de

    Schumpeter (1985), na Teoria do Desenvolvimento Econmico; Galbraith (1985), no

    Novo Estado Industrial; Marshall (1985), em Princpios de Economia (abordado

    internamente no subitem destinado a Galbraith); Hobson (1985), A Evoluo do

    Capitalismo Moderno; Steindl (1990), em Pequeno e Grande Capital e Marx (1984;

    1996) em O capital.

    2.1.1 A economia ideal de Adam Smith: mercado atomizado de micro e pequenas

    empresas competitivas, mas sem poder.

    A modernidade revela a economia como cincia10 a partir de Adam Smith11, com

    a publicao de A Riqueza das Naes em 1776, ou nas palavras de Fritsch (1985, p. 11

    - 12) o marco de incio do enfoque cientfico dos fenmenos econmicos ou a Bblia

    da irresistvel vaga livre-cambista do sculo XIX, que se apresenta como uma teoria do

    crescimento econmico, cuja riqueza teria relao direta com a produtividade do

    trabalho til ou produtivo e pela relao entre o nmero de trabalhadores empregados

    produtivamente e a populao total.

    Contudo, como esclarece Heilbroner (1996) A Riqueza das Naes no se trata

    de um livro original12, pois os postulados de Smith foram extrados de pensadores como

    10 Isto no significa que a economia inexistia no mundo antigo. 11 Muito embora este parea ser o discurso padro entre os economistas, pela estrita ligao entre Adam

    Smith e o mtodo cientfico econmico, e vastamente mencionado nas aulas iniciais da introduo

    economia (inicia-se o estudo econmico, propriamente dito, a partir dos clssicos, por consequncia de

    Adam Smith), a moderna cincia econmica, estritamente falando, tem pouco mais de trezentos anos.

    Foi fundada no sculo XVII por Sir William Petty (CAPRA, 2012, p. 191). 12 Corroborado por Capra (2012, p. 192) que expe que as ideias de Petty, por exemplo, foram essenciais

    a teoria de Smith, mas no somente a ele. Entre essas ideias a teoria do valor da fora de trabalho;

    distino entre preo e valor; noo de salrios justos; vantagens da diviso do trabalho; definio do

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    Locke, Steuart, Mandeville, Petty, Cantillon, Turgot, Quesnay e Hume, mas sua grande

    contribuio foi a amplitude na anlise no campo econmico, fundamentando-se na

    construo da modernidade13.

    Smith atenta em: pr a nu o mecanismo pelo qual a sociedade se mantm

    unida, levando-o a formular as leis do mercado, mostrando que os interesses e paixes

    particulares dos homens so orientados na direo mais benfica para o interesse da

    sociedade inteira, sob a regulao da competio, que conflita os interesses no mercado

    O mercado regula tanto os preos quanto a quantidade de mercadorias, de acordo

    com o arbtrio da demanda, tambm regula os rendimentos de cada um que coopera para

    a produo das mercadorias resultando em harmonia social (HEILBRONER, 1996,

    p. 53, 54 e 55).

    Preos eram dados, tanto os de venda como os de compra, o mesmo ocorrendo

    para salrios, juros, lucros (conduzidos a nveis de competio), tecnologia (estvel).

    No obstante, a economia comportava qualquer montante gerado pela oferta agregada,

    pois imperava neste sistema a lei de Say, em que, grosso modo, toda oferta gera sua

    prpria demanda. Assim, as implicaes naturais a que o sistema estaria submetido seria

    operar a pleno emprego de recursos, haja vista que tanto a fora de trabalho como os

    meios de produo seriam regulados pela prpria produo, tambm inexistia crises de

    produo, ocorridas apenas pontualmente devidas atividades especulativas dos

    comerciantes, havia livre mobilidade na entrada e sada de empresas no mercado, e

    inexistiam informaes privilegiadas, ou seja, informaes livres e perfeitas

    (MIGLIOLI, 2004).

    Presume-se, destes aspectos, a partir de Galbraith (1985, p. 48), que:

    Se o homem na chefia da firma no tinha poder para influir sobre os preos,

    custos, salrios ou juros, e se mesmo sua melhor produo era externamente

    determinada e seus lucros estavam sujeitos ao efeito nivelador da

    concorrncia, podia-se naturalmente ficar despreocupado no tocante a seu

    poder. Ele no tinha nenhum. At bom nmero de anos, no presente sculo

    conceito de monoplio; noes de quantidade de moeda e velocidade de circulao; sugeriu obras

    pblicas como remdio para