obrig. iii - 2012 - impressao

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OBRIGAES III ROTEIRO DE AULAS 2012DOS ATOS UNILATERAIS Os Atos Unilaterais como Fontes de Obrigaes O direito romano, seguindo a classificao de Gaio, nas Institutas, Institutas de (Gai Institutionum Commentarii Quattuor), escrito por volta de 161 d.C., considerava que obrigao era decorrente ou do contrato ou do delito. Vel ex contractum nascitur vel ex delicto. Essa classificao constava tambm das Institutas de Justiniano. Em outra passagem do Digesto Gaio acentuou com maior profundidade as fontes das obrigaes admitindo outras causas menos precisas, com o passar do tempo estas causas ficaram definidas como quase contrato e quase delito. As fontes das obrigaes passaram a ser, desse modo, o contrato o quase contrato o delito e o quase delito. A gesto de negocio era considerada um quase contrato, enquanto o delito era o ato ilcito doloso e o quase delito o ato ilcito culposo. Essa noo estendeu-se ao direito moderno de origem romanista, sendo adotada por vrios Cdigos Civis da Europa, como o Cdigo Civil Francs em 1804 o Italiano em 1865, o Espanhol em 1889, o Alemo em 1896, bem como pelas ordenaes do reino. Na atualidade a lei a fonte mais ascendente das obrigaes que emanam diretamente da vontade do Estado, como a obrigaes de pagar alimentos, pagar tributos, votar, observar as normas sociais de conduta, trnsito etc. Outra fonte importante de obrigaes so os contratos, vindo depois s declaraes unilaterais da vontade e depois os atos ilcitos, dolosos e culposos. O Cdigo Civil de 2002 disciplinou os atos unilaterais de vontade no ttulo VII, contemplando: a Promessa de Recompensa, a Gesto de Negcio, o Pagamento Indevido e o Enriquecimento sem Causa. Os Ttulos ao Portador foram deslocados para o capitulo II do Ttulo VIII arts. 804 a 809, que disciplinam os Ttulos de Crditos

DA PROMESSA DE RECOMPENSA - CC Arts. 854/860 Conceito a promessa feita mediante anncio pblico de recompensa a quem desempenhe certa prestao, a publicidade pressuposto do vnculo jurdico. Natureza Jurdica Simples oferta de contrato, somente obriga no momento em que a oferta aceita. Negcio jurdico unilateral obriga desde o momento em que se torna pblica, independentemente de aceitao. No campo doutrinrio, tem sido objeto de controvrsia a natureza jurdica da promessa de recompensa. Para a primeira corrente, ela constitui simples oferta de contrato, endereada ao pblico tendo como alvo pessoas indeterminadas. O vinculo obrigatrio no se forma antes da efetiva aceitao da oferta. Para segunda corrente, a promessa de recompensa, constitui negocio jurdico unilateral que obriga aquele que emite a declarao unilateral de vontade desde o momento que ela se torna publica independentemente de qualquer aceitao. Segundo Caio Mario a primeira teoria deve ser rejeitada, pois a promessa de recompensa, no simples proposta de contrato, o promitente vincula-se obrigatoriamente ainda que o aceitante tenha executado o trabalho desinteressadamente, agido sem o intuito de obter a recompensa. Portanto, o nosso CC acolheu a segunda teoria, a promessa de recompensa obrigatria, por constituir obrigao resultante de declarao unilateral de vontade, formando-se o vinculo com a manifestao unilateral da vontade do proponente, visto que a promessa dirigida a pessoa indeterminada, firmando-se o instituto no conceito tico do respeito palavra dada. O artigo 854 do CC contempla que, aquele que, se comprometer por anncios pblicos compensar ou gratificar outrem que preencha certa condio ou desempenhe certo servio contrai a obrigao de cumprir o prometido. Requisitos Alm do disposto no art. 104 do CC observa os requisitos especficos:

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Publicidade, que pode ser feita por qualquer veculo capaz de alcanar o pblico alvo, inclusive com a fixao de cartazes, distribuio de boletins ou oralmente num recinto, num auditrio; Capacidade do promitente; Licitude do objeto. Caractersticas O promitente se obriga a partir do momento em que a promessa se torna pblica, com possibilidade de retratao. Arrependimento do promitente o promitente no pode furtar-se ao pagamento da recompensa sob o argumento de ter perdido o interesse, porm, poder se retratar se o fizer em tempo hbil e com emprego da mesma publicidade, art. 856 do CC, no obstante sendo a promessa a termo, retratao no cabe. Caso ocorra a retratao de forma legal, o candidato que tiver se empenhado para realizar a exigncia da promessa e realizar despesas de boa f ter direito a indenizao, seguindo o nosso Cdigo a orientao do Cdigo Suo. A recompensa somente poder ser exigida mediante o preenchimento de todos os requisitos contidos na promessa. Revogabilidade da Promessa Art. 856 Cc. Prazo determinado: a promessa irrevogvel. Prazo indeterminado: pode ser revogada. Realizao por Mais de uma Pessoa art. 857 CC OBS.: Promessa de recompensa declarada em concurso pblico: art. 859 CC. Outros casos de declarao unilateral de vontade: Ato pelo qual algum promete dotao especial de bens livres para criar uma fundao. Testamentos. Exposio de objetos em uma vitrina, com preos fixos. Aparelhos pblicos que prope negcios. Catlogos, com preos estabelecidos para vigorar por determinado tempo. No desaparece a obrigao com a morte do promitente, todavia, se aos herdeiros deste no mais interessar a efetividade da promessa, devem revog-la veiculando a

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revogao pelo meio de propaganda utilizada quando da promessa. O mesmo ocorre sobrevindo a incapacidade do promitente, para que cesse a eficcia da promessa necessrio que se faa a revogao com a mesma publicidade quando foi feita a promessa. A promessa de recompensa formulada em concursos pblicos reveste-se de certas peculiaridades, pelo que o CC 2002 lhe dedicou disciplina especial. Nos concursos em que se visa a obteno de trabalhos literrios, cientficos e artsticos, exige-se muita dedicao dos candidatos. No podendo o promitente retirar ad libitum, arbitrariamente a promessa. Impe a lei fixao de prazo, enquanto este no sobrevir, a promessa irrevogvel. Sendo o prazo requisito essencial nos concursos pblicos. Outro requisito essencial de que os concorrentes se obrigam a aceitar o veredicto da pessoa ou do jri nomeado para fazer o julgamento. DA GESTO DE NEGCIO Arts. 861/876 CC Generalidades Para muitos autores e inmeros cdigos contemporneos negam a gesto de negcios status de contrato, porque faltalhe o acordo de vontades, fundamental para a formao do contrato; desta forma, como o pagamento indevido e o enriquecimento sem causa, a gesto de negocio se coloca entre os quase contratos, isto , fenmeno anlogo ao contrato quase ex contracto, segundo a classificao do direito romano, Conceito Na gesto de negcios uma pessoa cuida dos interesses de outra, sem que esta tenha conhecimento da ao do gestor; porm, a gesto deve ser de boa-f e presumidamente do agrado do favorecido pela gesto devendo, inobstante, ao final aprovar a gesto feita, ratificando os atos praticados pelo gestor. Definio Segundo Clvis, gesto de negcios a atuao desenvolvida por uma pessoa que, espontaneamente e sem mandato, trata de negocio de outrem, consiste na administrao oficiosa de negcios alheios, feita sem procurao. Elementos

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Duas pessoas configuram essa relao contratual: o Gestor negotiorum gestor, e o dono do negcio dominus negotii. Na gesto de negcios, os atos so praticados pelo gestor no interesse do Dominus negotii, subordinado a ratificao, caso em que preponderam as normas inerentes ao mandato. Caractersticas do Instituto a) o gestor no se acha oficialmente autorizado para tratar do negcio nem tem obrigao de faz-lo; b) o gestor no foi credenciado pelo dominus para tratar do negcio deste; c) o negcio tem de ser alheio; d) o gestor age segundo interesse e vontade do dominus; e) a gesto deve ser motivada por necessidade imperiosa e urgente. Art. 861 do CC. Esse instituto se assemelha ao mandato tcito. Distingue-se, porm, do mandato em geral, porque neste h prvio acordo entre os contratantes enquanto que na gesto no. A interveno do gestor ocorre espontaneamente e sem o consentimento do dono do negocio que desconhece a gesto. Relao entre Gesto e Mandato Tcito A responsabilidade do mandatrio mais restrita que a do gestor; O mandatrio obriga o mandante nos limites do mandato conferido, independentemente de ratificao, ao passo que o gestor s obriga o dono do negcio se este ratificar a gesto, pelo que se equipara a gesto a pratica de excesso de mandato art. 665 do CC; No mandato, o terceiro no tem ao contra o mandatrio que se ateve aos termos do mandato, na gesto, mesmo contratando gestor em nome do dono do negocio, ele gestor que responde perante os terceiros, se o dono do negocio no ratificar a gesto; O mandato pode ser remunerado, enquanto que a gesto sempre gratuita. O negotiorum gestio, tambm se equipara com a comisso mercantil, mas distinguem-se os dois contratos porque na comisso se aplicam as disposies do mandato mercantil. Comunicao do Gestor ao Dono do Negcio Logo que possvel o gestor comunicara ao dono do negocio da gesto realizada.

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Recebendo a comunicao do gestor, o dono do negocio poder tomar as seguintes decises: a) Desaprovar a gesto art. 874 do CC; b) Aprova-la expressa ou tacitamente, convertendo-se a gesto em mandato expresso ou tcito. c) Aprova-la na parte j realizada e desaprovando-a para o futuro; d) Constituir procurador, que assumira o negcio na situao em que este se achar, extinguindo-se a gesto; e) Assumir pessoalmente o negcio, extinguindo a gesto. Feita a comunicao pelo gestor devera este aguardar resposta do dono do negcio antes de tomar qualquer outra providencia, exceto se imperiosa. Falecendo o dono do negcio, o gestor se ater s instrues dos herdeiros, art. 865 do CC. Obrigaes das Partes (do gestor). A atuao deve ser: 1 Deve administrar o negcio com toda a diligncia. 2 Responder por caso fortuito, nas seguintes hipteses: a) Contra a vontade do dono, real ou presumida art. 862 CC. b) Quando executa operaes arriscadas art. 868 CC. c) Quando preterir interesses do dono em favor dos seus prprios. 3 Levar a cabo o negcio iniciado art. 865 CC. 4 Comunicar ao dono gesto que assumiu, aguardando-lhe a resposta se da espera no resultar perigo iminente. Responder, tambm, se colocar substituto e este praticar falta, ainda que seja pessoa idnea. A responsabilidade do gestor e mais acentuada que a do mandatrio, porque no est autorizado, para tratar do negcio. Havendo mais de um gestor a responsabilidade solidria. Quando o dono aproveitar-se da gesto, ser obrigado a indenizar ao gestor as despesas necessrias que tiver feito e dos prejuzos que por motivo da gesto houver sofrido. Obrigao do Dono do Negcio Se o dono do negocio aceitar a gesto reembolsar ao gestor das despesas necessrias ou teis que tiver feito, com os juros legais desde o reembolso; respondendo pelos prejuzos que o gestor sofrera por causa da gesto e far frente s

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obrigaes que o gestor assumiu em nome do dono do negcio perante terceiros. Respondera o dono do negcio, embora no ratifique a gesto, nos termos do art. 871 do CC, quando o gestor paga alimentos ao qual o dono do negcio estava obrigado. Despesas feitas pelo gestor para realizao de enterro nos moldes dos costumes do lugar, podem ser cobradas da pessoa obrigada. Os romanos j conheciam esse direito, como actio funerria, utiliter gestum. Ex.: advogado que com seu dinheiro paga imposto devido pelo seu cliente. Ex.: fazendeiro que na ausncia do vizinho intervem no manejo da fazenda medicando animais ou reconstruindo ponte, suprindo situaes de emergncia. Ex.: pagamento de alimentos devidos pelo dono do negcio. Da Ratificao do Dono do Negcio Retroage ao dia do comeo da gesto e produz todos os efeitos do mandato art. 873 do CC. Se os negcios alheios forem conexos ao do gestor e tal sorte que no possam ser geridos separadamente, o gestor tornar-se- scio daquele cujos interesses agenciar juntamente com os seus, art. 875 do CC. Nessa hiptese o beneficiado s responder pelas vantagens que lograr. Locus regit actum, o gestor deve responder pelos seus atos onde os praticou forum gestae administrationes. Das Provas A gesto de negcio pode ser provada de qualquer modo, seja qual for o valor do litgio. Utilidades do Instituto Muito embora o Instituto da Gesto de negcio coloque o gestor sob o crivo potestativo do dono do negocio, na maioria das hipteses possveis cominando-lhe inmeras penalidades e responsabilidades possveis, alm de ser ato de mera liberalidade e gratuidade intrnseca, o instituto pode abranger todos os atos suscetveis de procurar para outrem uma vantagem qualquer, embora sejam atos jurdicos, atos materiais, tais como salvamento, cuidados com feridos, alimentos, despesas de enterro entre tantas hipteses plausveis. Extino da Gesto A gesto de extingue:

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Pela plena consecuo do gestor e aprovao do dono do negcio; pela desaprovao por parte do dono do negocio; pela consecuo por parte do gestor, mesmo com a desaprovao do dono do negcio, nas hipteses previstas em lei, ex.: alimentos. DO PAGAMENTO INDEVIDO Arts. 876/883 CC. Definio Segundo Orlando Gomes, o pagamento indevido fonte de obrigao, em face do princpio da eqidade, pelo qual no se permite o ganho de um, em detrimento de outro, sem causa justificada. Assim sendo, atravs da ao de "in rem verso", o prejudicado pode retornar ao status quo ante. O pagamento indevido uma modalidade de enriquecimento sem causa, ou seja, a primeira espcie da qual a segunda gnero. No Direito Civil Ptrio, o Legislador no estabeleceu teoria do enriquecimento sem causa um preceito especfico, mas sim genrico e de forma difusa. O que foi estabelecido foi uma regulamentao do pagamento indevido de forma ampla. O nus da prova de quem paga indevidamente, isto , para algum que alega o pagamento indevido, fundamental provar o erro em que incidiu, pois aquele que deliberadamente efetua um pagamento indevido, apenas comete uma liberalidade, no configurando, assim, o enriquecimento sem causa. Alm do erro, outro item de fundamental importncia na caracterizao do pagamento indevido, a inexistncia de causa que justifique a aquisio e a ausncia de outra forma de ao capaz de obter a reparao do direito. Desta forma conclui-se que o prejudicado pelo pagamento indevido, para invocar o restabelecimento da situao anterior, deve fazer prova substancial do erro quanto ao pagamento, da inexistncia de causa que justifique o seu empobrecimento e o enriquecimento de quem recebeu o pagamento, bem como da inexistncia de outra forma de ao que possa restituir o seu direito, pois a inobservncia de tais requisitos resultar no fracasso da futura demanda. Como foi exposto acima, o pagamento efetuado, sem que ocorra erro ou coao, ser uma mera liberalidade, e, assim sendo, no h que se falar em repetio, por lhe faltar causa. No pagamento voluntrio, no qual o pagador est consciente da inexistncia da dvida, ocorre apenas liberalidade, que causa

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jurdica suficiente para sustentar o ato, tal como se passa na doao comum. Entretanto, conforme ensina Aliomar Baleeiro, atualmente, em se tratando de obrigao tributria, a lei assegura a repetio do indbito, sem exigir a prova do erro cometido pelo contribuinte, conforme prescreve o art. 165 do CTN, por ser inadmissvel, em matria tributria, presumir vontade do contribuinte recolher tributo por simples liberalidade. Origens Segundo Washington de Barros, os Romanos j consagravam o pagamento indevido como modalidade de enriquecimento ilcito, cujos requisitos eram o pagamento, ser este devido, o erro do "solvens", a boa f de quem recebeu e que o indevido no fizesse incorrer na pena do dobro aquele que o negasse. Ainda sobre os requisitos exigidos pelos Romanos, cabe observar que no caso de m f por parte do "accipiens", o caso era de "condictio furtiva". Caio Mrio da Silva Pereira, da mesma forma, cita que os Romanos tentaram desenvolver princpios referentes aplicao da teoria do enriquecimento indevido com base na equidade, mas, no entanto, eles no conseguiram atribuir a esta modalidade de obrigao o desenvolvimento desejado, cabendo aos legisladores contemporneos a evoluo e o aprimoramento do instituto. Entre os Romanos, o pagamento indevido era uma espcie de enriquecimento ilcito, no qual o lesado podia contar com a ajuda de um processo chamado de "condictio indebiti" por via do qual obtinha restituio do que indevidamente havia pago. As "condictiones" eram usadas em dois casos: 1) por aqueles que pagavam supondo dever, e, portanto, tinham o direito de repetir o que pagaram; 2) aqueles que pagavam por causa inexistente ou em razo de evento futuro, que no se consumou. No primeiro caso ocorria a "condictio indebiti", e na segunda hiptese a "condictio ob rem". Outras formas de "condictiones" eram conhecidas pelos Romanos, entretanto, no tinham como pressuposto a existncia de um pagamento indevido. Entre as "condictiones", existem as "condictio sine causa" que os Romanos, usavam nos casos em que as partes, num mesmo negcio, tiveram o propsito de realizar atos distintos, ocorre que um pensou estar efetuando um

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emprstimo, e o outro, quando recebeu o suposto emprstimo pensou tratar-se de uma doao. Havia ainda a "condictione causa data non secuta", onde a repetio de coisa dada em funo de causa futura, mas que no se realizava. Segundo o Professor Orlando Gomes, alm das "condictio indebiti" e "condictio ob rem", havia as "condictio ob causam finitam" e a "condictio ob turpem causam". Conforme citao do jurisconsulto baiano, a primeira "pela qual a obrigao de restituir a prestao recebida decorrida do desaparecimento da causa que a justificava, seja pela anulao seja pela resoluo do contrato, legtima, no fundo, uma ao de repetio do pagamento". J a segunda, "se aquele que recebeu a prestao a aceitou para fim ilcito ou imoral, constituindo a aceitao fato proibido por lei, quem a cumpriu pode pleitear restituio. Mas, se deu alguma coisa para obter tais fins, no ter direito repetio. Est excluda tambm quando a torpeza dos dois. Direito Comparado Vrias legislaes aliengenas regulam o assunto de modo diverso, conforme exemplifica o Professor Washington de Barros, ao citar como exemplo o Cdigo Suo que trata do tema como sendo causa geradora das obrigaes. J o Cdigo Alemo considera-o uma relao de direito, enquanto os chilenos, espanhis e franceses entendem tratar-se de um quase contrato. Todavia, o Professor Caio Mrio da Silva Pereira cita que tanto o Legislador suo quanto o alemo, generalizaram uma teoria ampla, denominada enriquecimento indevido, na qual assinalam todas as ocasies em que faltando ou vindo a faltar causa que justifique a aquisio, fica assegurado o dever de restituio. Caio Mrio tambm cita que o Cdigo Italiano de 1942 criou a "ao geral de enriquecimento", disponvel ao lesado, quando no dispuser de outra forma de ressarcimento ou no exista outro modo de reaver o que perdeu. Cita ainda que os Soviticos, os Mexicanos e os Japoneses seguiram o mesmo caminho dos Italianos. Por sua vez, os Franceses e Espanhis aderiram tese de Justiniano, segundo a qual o pagamento realizado indevidamente cria uma obrigao de devoluo, que se assemelha dvida oriunda do contrato. E, finalmente, explica que os Austracos e Portugueses, no desenvolveram a

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teoria do pagamento indevido, como fizeram os demais, mas garantiram ao que pagou por erro o direito restituio. O Jurista supracitado, ao mencionar o posicionamento do Legislador Brasileiro, afirma que o nosso Cdigo Civil seguiu os passos da Legislao Austraca e Portuguesa, pois atribui um trecho especfico do Cdigo para tratar do assunto, onde no enumerou todas as hipteses cabveis, parecendo admitir que algum pudesse enriquecer com a pobreza de outrem, mas graas ao trabalho da doutrina e da jurisprudncia, foram acrescentadas vrias outras incidncias que consolidaram a aplicao do pagamento indevido como realizado hoje em dia. Elementos Caracterizadores Todo aquele que recebeu o que lhe no era devido fica obrigado a restituir. A mesma obrigao incumbe ao que recebe dvida incondicional, antes de cumprida a condio. Ao que voluntariamente pagou o indevido, no entanto, incumbe a prova de t-lo feito por erro. Todavia, fica isento de restituir pagamento indevido quele que, recebendo-o por conta de dvida verdadeira, inutilizou o ttulo, deixou prescrever a ao ou abriu mo das garantias que asseguravam seu direito; mas o que pagou dispe de ao regressiva contra verdadeiro devedor e seu fiador. O pagamento indevido cria para o accipiens um enriquecimento sem causa, e, portanto, gera para o solvens uma ao de repetio para reaver o pagamento indevido. Para que fique caracterizado o pagamento indevido, necessrio se faz presena de alguns pressupostos. Primeiramente, necessria a existncia de um pagamento. Em seguida, deve-se provar inexistncia de causa jurdica que justifique o pagamento, pois se no h vnculo preexistente, falta razo que justifique a obrigao do pagamento pelo lesado. Finalmente, o lesado deve demonstrar que cometeu um erro ao efetuar o pagamento. Assim sendo, uma vez reunidos os trs pressupostos, estaro caracterizados o pagamento indevido. Necessrio frisar que estes elementos devem ser comprovados pelo solvens para que obtenha sucesso em sua demanda. Um exemplo tpico ocorre quando vrios credores pretendem receber um pagamento de um nico devedor. Este por sua vez, sem ter certeza de quem o verdadeiro credor, opta por pagar a um dos credores. Posteriormente, verifica-se

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que o verdadeiro credor outro diverso daquele que recebeu. Portanto, verifica-se o erro, a inexistncia de causa jurdica e o pagamento. Assim sendo, o devedor tem direito a repetio do pagamento. mister que, alm de necessitar provar todos os elementos caracterizadores acima mencionados, o solvens, no deve dispor de outro tipo de ao para que possa se valer da repetio. Vale lembrar, ainda, que somente em se tratando de matria tributria, no h necessidade de prova quanto ao erro, pois a liberalidade no se presume em matria de tributo. Efeitos do Pagamento Indevido Quando se trata de valor pecunirio pago indevidamente, uma vez demonstrado os elementos caracterizadores do pagamento indevido, haver condenao do accipiens na restituio do valor pago. Todavia, para que haja restituio, em se tratando de coisa, necessrio se faz que esta mesma coisa ainda esteja no patrimnio de quem a recebeu. Caso tenha sido alienada, o acccipiens ser condenado a restituir o valor equivalente. No segundo caso, ou seja, quando ocorre transferncia de um bem imvel, e o accipiens j a vendeu a um terceiro de boa-f, este estar acobertado pela ao reivindicatria. Orlando Gomes enumera cinco hipteses de alienao de imvel recebido indevidamente em pagamento, seno vejamos: 1, o accipiens o aliena de boa-f, por ttulo oneroso; 2, aliena-o de boa-f, por ttulo gratuito; 3, aliena-o de m-f, por ttulo oneroso; 4, a m-f do terceiro adquirente; 5, de m-f agem o alienante e o adquirente, seja em negcio a ttulo oneroso, seja a ttulo gratuito. Na primeira hiptese, o accipiens fica obrigado a entregar ao solvens, o preo que recebeu do adquirente. Caso a alienao tenha se dado a ttulo gratuito, o accipiens fica obrigado a assistir na ao reivindicatria aquele que entregou por erro de pagamento. Alienou-se de m-f a ttulo oneroso, alm de restituir o valor, responde por perdas e danos. Quando houve m-f por parte do terceiro adquirente e do alienante, o lesado tem direito de reivindicao, sendo que nesta ltima

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hiptese, entendemos ser cabvel, tambm uma indenizao por perdas e danos. Conforme previso do Cdigo Civil, em seu artigo 248, comentado com brilhantismo pelo Ilustre Jurista Baiano, estas so as principais conseqncias oriundas do pagamento indevido. Como se pode observar, em todas elas h que se verificar o enriquecimento de algum, o empobrecimento de outrem, a relao de causalidade entre o empobrecimento e o enriquecimento e a inexistncia de uma causa que justifique tal fato. Modernamente, outro caso em que tem cabimento repetio de indbito, est previsto no Cdigo de Defesa do Consumidor, Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990, art. 42, pargrafo nico, onde est disposto o seguinte: Da Cobrana de Dvidas Art. 42. Na cobrana de dbitos o consumidor inadimplente no ser exposto a ridculo, nem ser submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaa. Pargrafo nico. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito repetio do indbito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correo monetria e juros legais, salvo hiptese de engano justificvel. Ausncia de Direito Restituio Da mesma forma que regulamentou as causas em que o pagamento indevido e os seus efeitos, o Cdigo Civil indica os casos em que o pagamento indevido no confere direito restituio, conforme previsto no art. 880 CC. Fica isento de restituir pagamento indevido quele que, recebendo-o por conta de dvida verdadeira, inutilizou o ttulo, deixou prescrever a ao ou abriu mo das garantias que asseguravam seu direito; mas o que pagou dispe de ao regressiva contra o verdadeiro devedor e seu fiador. A primeira exceo regra geral do art. 876 do Cdigo Civil ocorre quando o accipiens inutilizou o ttulo da dvida, deixou prescrever a ao ou abriu mo das garantias que asseguravam seu direito. Quando o credor recebe de boa-f o pagamento de dvida verdadeira, normalmente inutiliza o ttulo ou deixa de preocupar-se com a dvida, mesmo que o pagador no seja o verdadeiro devedor. Em rigor recebeu o indevido, pois quem pagou nada lhe devia. Mas ao ser inutilizado o ttulo, foi tambm inutilizada a prova do seu direito. Portanto, o accipiens seria

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prejudicado se tivesse que restituir ao solvens aquilo que este ltimo lhe pagou por descuido. Neste caso, seria injusta a restituio, pois o credor ficaria, literalmente, no prejuzo. Por isso, em observncia ao mesmo princpio da equidade, a Lei assegura ao que pagou, o direito de ao regressiva contra o verdadeiro devedor ou contra seu fiador. Do mesmo modo ocorre quando o accipiens demonstra que a dvida estava prescrita ou que as garantias da mesma dvida estavam extintas. A segunda exceo ocorre quando o pagamento se destinava a solver obrigao natural. Est esculpida no art. 882 do Cdigo Civil. No se pode repetir o que se pagou para solver dvida prescrita, ou cumprir obrigao natural. Em princpio, urge definir o que vem a ser obrigao natural. Destarte, nos utilizaremos os ensinamentos do Mestre Silvio Rodrigues, ao citar Colin et Capitant, in litteris: A obrigao natural uma obrigao despida de sano. O credor no pode executar o devedor. Este ltimo fica, portanto, livre de cumpri-la ou no; negcio entre ele e sua conscincia. Apenas uma vez que ele reconheceu a existncia de sua obrigao, ela se transforma em obrigao civil perfeita e, desde ento, o pagamento que faz ao credor vlido e no pode ser repetido. Diante da exposio supra, fica fcil concluir que no h como se admitir in casu a ao de repetio. Finalmente, a ltima exceo ocorre quando pagamento visa a obter fim ilcito, conforme estabelecido no art. 883 da Lei Substantiva Civil. Art. 883 - No ter direito repetio aquele que deu alguma coisa para obter fins ilcitos, imorais, ou proibido por lei. Pelo que se subtrai do texto do artigo supra, verifica-se que o Legislador teve o cuidado de aplicar o princpio de que ningum pode ser protegido alegando a sua prpria torpeza. Desta forma, o ordenamento jurdico no acolhe os atos que por ventura abalem sua estrutura por no estarem ajustados moral a aos bons costumes. Exemplo clssico o do indivduo que suborna outro para praticar ato ilegal. Se o subornado no pratica o ato, preferindo embolsar o produto do suborno, no h que se falar em repetio.

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DA AO DE IN REM VERSO A ao de repetio se baseia no princpio da equidade, que significa dizer que no permitido a ningum se locupletar, sem causa, custa de terceiros. Assim, caso o solvens no disponha de outro meio para obter a restituio, o direito lhe assegura o uso da ao de in rem verso. Segundo a doutrina do Professor Orlando Gomes, a ao de enriquecimento ter cabimento, toda vez que, existindo direito de pedir a restituio de bem adquirido sem uma justa causa, o lesado no disponha de outra ao para resgatar seu direito. Destarte conclui-se que a relao jurdica processual decorrente do enriquecimento sem causa tem como sujeito ativo da ao de in rem verso o solvens, o que sofreu prejuzo, o lesado, ou ainda seus herdeiros. J no plo passivo deve figurar o accipiens, o que auferiu riqueza indevida ao seu patrimnio ou seus respectivos sucessores. A actio in rem verso de natureza pessoal, haja vista que sua finalidade consiste na reparao de um dano sofrido. Diante do exposto, conclui-se que o enriquecimento sem causa tem como fator condicionante o locupletamento injusto, porque a lei impe o dever de restituir aquilo que foi recebido indevidamente, ou seja, uma obrigao legal, decorrente da lei. O nexo da causalidade configura-se quando o enriquecimento e o empobrecimento so resultantes de um mesmo ato desprovido de causa debendi. Pressupostos da Ao de In Rem Verso A ao de enriquecimento tem como pressupostos bsicos o enriquecimento por parte do accipiens -, o empobrecimento por parte do solvens - autor, um nexo de causalidade entre os dois fatos, ausncia de causa que justifique o enriquecimento e o empobrecimento e a inexistncia de qualquer outra ao para socorrer a vtima. Como enriquecimento do ru, podemos entender o aumento patrimonial ou quando recebendo uma prestao de servios, deixa de efetuar gastos que seriam efetuados para se alcanar o resultado desejado. Todavia, segundo o entendimento de Silvio Rodrigues, o fato tambm pode ser caracterizado pela omisso de uma despesa, e, assim, cita como exemplo o caso em que uma pessoa se aproveita de uma

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sentena prolatada em razo de ao proposta por outrem em posio idntica a sua, poupando os gatos judiciais e advocatcios que deveria fazer. Sobre o empobrecimento do autor, fcil entender que este ser representado pela diminuio do seu patrimnio ativo, ou pelo incremento de seu passivo, como no caso da cobrana de tributo indevido, ou ainda, no caso da pessoa que pagou valor superior ao devido, quando da aquisio de um produto. (Lei n. 8.078/90, art. 42, pargrafo nico) Quanto relao de causalidade, na seara do direito, esta relao entendida como sendo a certeza inequvoca de que a ocorrncia de um fato ocasionou, por si s, uma conseqncia. Assim, para que a ao de in rem verso seja cabvel, mister a ocorrncia de relao de causalidade ente o enriquecimento de uma e o empobrecimento de outra parte. O derradeiro pressuposto para eficcia da ao de "in rem verso", justamente a inexistncia de outra ao para socorrer a vtima. A encontramos o fundamento de seu carter subsidirio, ou seja, se o ordenamento jurdico vigente oferece uma ao que ir socorrer o prejudicado de forma direta, no h porque buscar alternativas indiretas. Silvio Rodrigues menciona que Franois Gor, demonstrou que no oferecido ao prejudicado optar entre a ao de enriquecimento e a de responsabilidade civil, haja vista que nesta ltima est implcita a idia de culpa, o que no ocorre na primeira. Isto , se o enriquecimento fruto do dolo ou da culpa, a ao adequada a de responsabilidade civil; se no houve dolo ou culpa, a ao a de in rem verso. Posicionamento Final O enriquecimento sem causa a conseqncia do pagamento indevido, pois sem a ocorrncia do pagamento, no h que se falar em enriquecimento. Este foi o entendimento dos Romanos, ou seja, os mentores da idia inicial, bem como foi o entendimento lgico dos legisladores ao tratar desta obrigao em seus respectivos ordenamentos jurdicos, ao estabelecer o princpio da equidade, como sendo princpio de justia universal. A ocorrncia de variaes com relao ao tratamento dado matria nas diversas legislaes espalhadas pelo mundo fruto da diversidade de culturas, de costumes e at mesmo de raciocnio lgico, no que diz respeito ao tratamento dado a esta modalidade de obrigao, no momento da elaborao da Lei.

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No que diz respeito legislao civil brasileira, coube doutrina e jurisprudncia aparar as arestas do instituto, at chegar ao entendimento que predomina o meio jurdico contemporneo. Observamos que alguns doutrinadores, como Caio Mrio da Silva Pereira, afirmam que, necessrio desenvolver o instituto com autonomia e disciplina legal prpria, e observa que, deveria haver previso legal para a hiptese em que ocorre a diminuio patrimonial do lesado atravs de ato de obstar a que nele tenha entrada um objeto ou valor cuja aquisio era seguramente prevista. Temos a ousadia de discordar de tal posicionamento, uma vez que esta hiptese pode ser encarada como uma questo de lucro cessante, cuja regulamentao encontra espao em nosso Cdigo Civil, quando trata das perdas e danos nos artigos 402, 403 e 404. Portanto, no vislumbro a necessidade de se tratar da matria no captulo especfico sobre enriquecimento sem causa. Interessante tambm a necessidade de que se comprove o erro do solvens, a relao de causalidade entre o empobrecimento deste com o enriquecimento do accipiens, reforada pela ausncia de causa que justifique tal fato, alm da necessidade de outra forma de ao que no a de in rem verso para retornar a situao ao seu status quo ante. Observamos tambm que, contemporaneamente, no que tange a sua rea de aplicao, o instituto encontra mais uso na seara do direito tributrio, que, alis, nos pareceu ser a nica hiptese em que h uma exceo com relao dispensa da prova do erro por parte do solvens, pela simples observncia da inadmissibilidade da presuno de vontade de recolher tributos por simples liberalidade, como bem observou o Professor Aliomar Baleeiro. Tambm verificamos a previso de utilizao da ao de repetio no Cdigo de Proteo e Defesa do Consumidor, em seu art. 42, pargrafo nico, onde est embutida uma clusula penal, pois estabelece que aquele consumidor que pagou em excesso tem direito repetio do indbito por valor igual ao dobro do que pagou. Finalmente, verificamos que a partir do artigo 880 do Cdigo Civil, o legislador seguiu a regra romana para regular as causas de excluso da repetio, ou seja, a condictio ob turpem causam e a condictio ob causam finitam.

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DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA Arts. 884/886 CC Conceito Segundo o Dicionrio Jurdico da Academia Brasileira de Letras Jurdicas, diz-se do enriquecimento ilcito ser "o acrscimo de bens que, em detrimento de outrem, se verificou no patrimnio de algum, sem que para isso tenha havido fundamento jurdico". Entende, tambm, que enriquecimento ilcito, enriquecimento indbito, enriquecimento injusto e enriquecimento sem causa so sinnimos. Outros doutrinadores tambm entendem dessa forma. Limongi Frana, defendendo essa idia e conceituando o enriquecimento sem causa, assim se expressa: Enriquecimento sem causa, enriquecimento ilcito ou locupletamento ilcito o acrscimo de bens que se verifica no patrimnio de um sujeito, em detrimento de outrem, sem que para isso tenha um fundamento jurdico. Carlos Valder do Nascimento diz que o pagamento indevido insere-se no contexto do enriquecimento sem causa, o que no se coaduna com a conscincia jurdica, que consagra a moralidade como valor supremo da sociedade. Para Acquaviva enriquecimento ilcito o aumento de patrimnio de algum, pelo empobrecimento injusto de outrem. Consiste no locupletamento custa alheia, justificando a ao de in rem verso. Por outro lado, entende que enriquecimento sem causa no o mesmo que enriquecimento ilcito, e assim o define: o proveito que, embora no necessariamente ilegal, configura o abuso de direito, ensejando uma reparao. O princpio do enriquecimento sem causa ou enriquecimento ilcito expresso na frmula milenar nemo potest locupletari, jactura aliena, ningum pode enriquecer sem causa. Consiste no locupletamento custa alheia, justificando a ao de in rem verso. Iure naturae aequum est, neminem cum alterius detrimento et iniuria fieri locupletiorem justo, por direito natural, que ningum enriquea em dano e prejuzo de outrem. O enriquecimento compreende todo aumento patrimonial e todo prejuzo que se evite. O empobrecimento, toda diminuio efetiva do patrimnio ou a frustrao de vantagem legtima. Entre o enriquecimento de uma pessoa e o empobrecimento de outra necessrio que haja um vinculo, ou

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seja, um nexo causal, fazendo com que o primeiro enriquea a custa do segundo. Consiste, como geralmente ocorre na deslocao de um valor de um patrimnio para outro. Para que se configure o enriquecimento sem causa necessrio saber se a vantagem patrimonial foi conseguida atravs de um ato ilcito, de uma causa ou razo injusta. Quando ocorre uma doao, por exemplo, entende-se que aquele que recebeu a doao enriquece na medida em que o doador empobrece, porm esse enriquecimento justo, uma vez que possui uma causa legtima. Entretanto, quando se fala de causa injusta, o enriquecimento vedado pela Justia. Existindo casos neste sentido, a Justia se manifesta de forma a fazer com que seja restitudo o que foi recebido por injusta causa. Porm, essa manifestao da ordem jurdica ocorre somente a partir do momento em que o prejudicado reage, promovendo os meios de obter a restituio. O actio in rem verso um dos meios de obter a restituio. Entretanto, s sobreviver ao de enriquecimento ilcito no havendo outro remdio no ordenamento jurdico processual, como por exemplo, a ao de nulidade do negcio jurdico. Nessa idia se estriba o art. 886 do CDIGO CIVIL Brasileiro. Art. 886 No caber a restituio por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios para se ressarcir do prejuzo sofrido. A restituio devida tanto para a pessoa que recebeu sem causa jurdica quanto para a pessoa que recebeu em razo de outra causa que no se realizou ou de uma causa que deixou de existir (Venosa, 2002:208). o que disciplina o art. 885, do CDIGO CIVIL: Art. 885 - A restituio devida, no s quando no tenha havido causa que justifique o enriquecimento, mas tambm se esta deixou de existir. Para alguns doutrinadores enriquecimento sem causa pode ser considerado fonte autnoma das obrigaes. Neste sentido o posicionamento de ORLANDO GOMES, quando diz: No a lei que, direta ou indiretamente, faz surgir obrigao de restituir. No vontade do enriquecido que a produz. O fato condicionante o locupletamento injusto. Evidentemente, o locupletamento d lugar ao dever de restituir, porque a lei assegura ao prejudicado o direito de exigir a

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restituio, sendo, portanto, a causa eficiente da obrigao do enriquecimento, mas assim para todas as obrigaes que se dizem legais. Requisitos do Enriquecimento sem Causa A doutrina identifica alguns requisitos para que se configure o enriquecimento sem causa, a saber: a) ausncia de justa causa; b) locupletamento; c) nexo causal entre o enriquecimento e o empobrecimento. Do mesmo entendimento Orlando Gomes quando afirma que h enriquecimento ilcito quando algum, s expensas de outrem, obtm vantagem patrimonial sem causa, isto , sem que tal vantagem se funde em dispositivo de lei ou em negcio jurdico anterior. Para ele so necessrios os seguintes elementos: a) o enriquecimento de algum; b) o empobrecimento de outrem; c) o nexo de causalidade entre o enriquecimento e o empobrecimento; e d) a falta de causa ou causa injusta. Para Caio Mrio so cinco os requisitos, segundo a doutrina francesa: 1) o empobrecimento de um e correlativo enriquecimento de outro; 2) ausncia de culpa do empobrecido; 3) ausncia do interesse pessoal do empobrecido; 4) ausncia da causa; 5) subsidiariedade da ao de locupletamento (de in rem verso), isto , ausncia de uma outra ao pela qual o empobrecido possa obter o resultado pretendido. Enriquecimento sem Causa no Direito Romano A teoria do enriquecimento sem causa foi construda sob o alicerce das condictiones, presentes no direito Romano, de onde surgiram os conceitos fundamentais. Segundo o entendimento de Washington de Barros, os romanos j consagravam o pagamento indevido como modalidade de enriquecimento ilcito. Os requisitos para a configurao do pagamento indevido nesta poca eram: ser o pagamento devido, o solvens ter agido com erro e quem recebeu, ter recebido de boa-f.

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Os romanos tentaram, com base na equidade, desenvolver princpios relacionados com a teoria do enriquecimento indevido, porm no conseguiram, cabendo aos legisladores contemporneos a evoluo e o aprimoramento do instituto. Nesta poca surgem as condictiones, atravs das quais as pessoas podiam reaver o prejuzo por pagamento errneo. O objetivo dos romanos, com as condictiones era justamente combater situaes injustas, que no eram amparadas por lei, entre elas o enriquecimento ilcito. Desta forma, aquele que locupletasse com a coisa alheia seria obrigado a restitu-la a seu dono. Os contratos, em Roma, possuam uma forma abstrata e para diminuir o rigor desse abistratismo, surgem formas tcnicas para evitar o enriquecimento sem causa. nesse momento que entra o papel do pretor. Quando um caso particular era merecedor de proteo, o pretor concedia a condictio. Vejamos, a seguir, algumas condictiones: 4.1 A condictio indebiti A condictio indebiti era a principal e mais antiga condio do direito romano. Era a condictio que sancionava a obrigao resultante da indebiti solutio (pagamento indevido). Ela ocorria quando algum pagava alguma coisa por erro, porm sempre com a inteno de liberar-se de uma obrigao, que na verdade no existia. Configurava-se a condictio indebiti quando houvesse a presena dos seguintes requisitos: a) Que tenha havido o cumprimento de uma obrigao que era suposta pelo sujeito uma solutio, isto , o cumprimento de prestao para extinguir uma suposta relao obrigacional; b) que essa solutio fosse indevida, ou seja, que entre solvens e accipiens nunca tivesse existido relao obrigacional, ou se j existiu, que j estivesse extinta; ou ainda, que a prestao realizada no fosse objeto da relao obrigacional existente; c) que no cumprimento da obrigao ocorresse erro de fato escusvel d) o accipiens deveria estar de boa-f. Se estivesse de m-f a ao seria outra (condictio furtiva); e) que a solutio no se referisse a uma obrigao que embora no existisse, a ao, em caso de o ru falsamente

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negar a dvida, fosse o dobro do valor que realmente se devia, ou a obrigao fosse eliminvel por meio de exceo perptua. Como a boa-f era uma exigncia, o acipiente accipiens s responderia pelo que efetivamente enriqueceu com o pagamento indevido. Neste sentido o posicionamento de Silvio de Salvo Venosa: Nem sempre o empobrecimento do solvens igual ao enriquecimento do accipiens. O enriquecimento por parte do accipiens pode ser superior ao empobrecimento; por exemplo, quando a coisa produz frutos, o accipiens dever restituir no apenas a coisa, mas tambm seus frutos. Por outro lado, o enriquecimento pode ser inferior ao empobrecimento, como, por exemplo, o accipiens vende a coisa obtida por preo inferior a seu valor. Nesse caso, o accipiens no ter de devolver mais do que o verdadeiro enriquecimento. Condictio causa data non secuta Outra forma de condictio que era aplicada visando restituio de coisa dada em troca de outra coisa que no o foi, ou em troca de um servio e esse no foi executado. Por exemplo, algum recebia uma quantia em dinheiro "dote", mas o casamento no se realizava. Condictio ob injustam causam Esta condictio era aplicada aos casos em que alguma coisa era concedida por uma causa contrria ao direito, como, por exemplo, cobrana de juros alm do estipulado ou ento a restituio de uma coisa recebida com violncia. Em ambos os casos a finalidade era a restituio. Condictio ob turpem causam Visava restituio quando alguma pessoa recebia uma prestao com final imoral. Por exemplo, uma pessoa que recebesse uma quantia para matar outra pessoa. Esta condictio era concedida mesmo que o accipiens tivesse executado a prestao imoral. Condictio sine causa Era utilizado naqueles casos em que uma pessoa dava outra uma quantia em dinheiro ou coisa para a obteno

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de finalidade que no existia ou que no se podia realizar, ou, ainda, para objetivo que viesse a falhar. TEORIA GERAL DOS CONTREATOS CONVENO E CONTRATO Um contrato uma espcie de conveno, e necessrio preliminarmente compreender o sentido e alcance das convenes. Para POTHIER, uma CONVENO ou um PACTO, posto que os dois so sinnimos, o consentimento de duas ou mais pessoas para formar entre si algum compromisso, ou para resolver um existente, ou para modific-lo. Entretanto a conveno ou pacto destinado a formar entre duas ou mais pessoas alguma obrigao, ou ento, resolver ou modificar alguma outra relao jurdica precedente, denominase contrato. No devemos definir o contrato estritamente como o fazem os intrpretes do Direito Romano, conventio nomem hbeas a jure civil vel causam; mas deve ser definida uma conveno pela qual as duas partes reciprocamente ou apenas uma delas, promete a se obrigar uma para com a outra a dar alguma coisa, ou a fazer ou no fazer alguma coisa. A autonomia da vontade e liberdade de criar a relao jurdica que legitimam o negcio jurdico; relevante, assim, prometer e obrigar, pois somente as promessas que fazemos com a inteno de cumprir, e especialmente de conceder a quem as fazemos o direito de exigir seu cumprimento, legitimam o contrato ou conveno. Para SAVIGNI, que se ope idia restrita de contrato, tomada como espcie do gnero conveno, ensina que: o contrato um concurso de mais de uma pessoa em um acordo, uma declarao de vontade bilateral, pela qual se determinam as relaes jurdicas. Tal distino tradicional no Direito francs, pouco prosperou noutros sistemas, sendo certo que entre ns as duas expresses so utilizadas como sinnimas. O contrato, no mais antigo Direito Romano, tinha o condo de submeter o devedor ao jugo do credor, a pessoa do devedor era a garantia do adimplemento da obrigao assumida, tinha um carter penal, pois a pessoa do devedor ficava vinculada na obrigao, o contrato era o ato constitutivo da obligatio o nexum como fonte de obrigao. Aps muito

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tempo que se transformou a responsabilidade de pessoal para patrimonial no universo contratual. Foi a partir deste perodo que o Direito Romano comeou a distinguir os contratos dos pacta e da conventio, somente os contratos eram essencialmente protegidos pelas aes. Na Idade-Mdia essa distino do contrato da conventio e a proteo do contrato com aes nas determinadas formas contemplado pelo Direito Romano foi suplantado pelo sistema Feudal, que era econmico e poltico, fazendo concesses e criando o Instituto do Precrio, concedendo o direito a quem lhes suplicava. Foi a igreja, atravs dos canonistas, que manteve a noo de contrato, reforando o conceito e dignificando o seu sentido, polindo a noo Romana de Contrato e afastando a distino clssica de contractus e conventios. O contrato assumiu, na concepo crist, o carter de um instituto decorrente da f jurada, fundado no cumprimento do que se prometera a Deus e a Igreja, aboliu-se a distino entre pactos nus e contratos. Com isso os canonistas chegaram ao mesmo objetivo atingido pelos partidrios da autonomia da vontade e da liberdade de contratar. Na teoria clssica toda a estrutura do contrato assenta na vontade individual, vontade de construir a relao jurdica e se obrigar, base da fora obrigatria do contrato, as partes se obrigam e a lei tutela os direitos e as obrigaes assumidas, tornando o contrato obrigatrio com o respaldo de ao coercitiva. A autonomia da vontade prevalece at os dias atuais e os contratantes tm liberdade de contratar, o Estado interfere somente para assegurar a socializao do direito, aspecto inexorvel da Sociedade contempornea, o dirigismo contratual somente visa assegurar o equilbrio nas relaes jurdicas e garantir os fundamentos ticos, morais, o equilbrio e a boa f, que devem nortear as relaes jurdicas de uma Sociedade que se rege pelo Estado Social e Democrtico de Direito.

DISTINO DE CONTRATO COM: 1 Policitao como mencionamos acima, o contrato um concurso de vontades de duas ou mais pessoas, envolvendo um comprometimento mtuo ou a promessa de uma das partes e aceitao da outra. Enquanto a policitao a promessa que

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ainda no foi aceita por aquele a quem feita. Pollicitatio est solius offerentis promissum. 2 - Atos Coletivos Estes se compe de uma pluralidade de declaraes de vontades e voltadas para o mesmo fim, precisamente por que h confluncia de interesses. 3 - Atos Conjuntos ou Unilaterais Coletivos - Se formam pela soma de vrias declaraes de vontades, emitidas conjuntamente, mas no se confundem com contratos. No mais, pois, do que negcio jurdico bilateral. tambm ato unilateral, a declarao de uma assemblia de que resulta vontade de uma pessoa jurdica. Para que seja tomada preciso que os participantes consintam singularmente a prpria vontade, para formao da vontade do grupo. O CONTRATO NO DIREITO ROMANO Formas de Classificao no Direito Romano do perodo de Gaio e de Justiniano. No sistema de Gaio as obrigaes eram classificadas em quatro categorias: aut enin re contrahitur obligatio, aut verbis, aut litteris e aut consensu. O critrio dessa classificao, segundo Serpa Lopes, no se fundava no modo pelo qual os contratos se aperfeioavam, mas no elemento de que em cada contrato dependia a submisso. As obrigaes re eram contratos destinados transferncia de uma coisa; na aut verbis, eram obrigaes decorrentes de uma estipulao denominada de verbis, por que dependia do pronunciamento de certas palavras que determinavam extenso da obrigao; nas litterarum, eram as obrigaes decorrentes do nomem transcriptionem, nos quirgrafos e nos sngrafos. As obrigaes verbais e literais denominavam-se de formais. As quaie consensu fiunt representavam as obrigaes resultantes dos contratos de venda, locao, sociedade e mandato, obrigatrio para as partes na proporo da vontade, as quais dispensavam forma escrita ou verbal. Justiniano, alterando as categorias de Gaio, constituiu os contratos da seguinte forma: 1. contratos verbais, nos quais no s o consentimento, mas a forma era da substncia; 2. os contratos literais, exigindo, alm do consentimento a escritura;

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3. os contratos reais exigindo a entrega da coisa, mediante consentimento; 4. os contratos consensuais, nos quais o simples consentimento era necessrio para form-los. Os interpretes do direito romano, acrescentaram, ainda, os contratos inominados ao lado dos nominados. Conceito. O contrato se desenvolveu por mais de mil anos de contnuas transformaes. Foram vrios direitos romanos que se conjugou numa base norteadora, isso porque o imprio atravessou os tempos, preservando em suas bases gerais o extraordinrio monumento jurdico, os contratos dos primeiros tempos apresentavam fisionomia diversa daquela caracterizada nos perodos clssico e justinianeu. Contrato = pacto + formas configuravam o acordo de vontades no direito romano, para formar obrigaes. Inicialmente havia muita rigidez, prevaleciam s formas nos primeiros tempos, flexibilizadas posteriormente em benefcio da autonomia da vontade, do contedo das declaraes das partes. Nas Institutas de Gaio o contrato sinnimo de negcio contractus = negotium contractum. Foi no perodo do direito de Justiniano e seus comentadores que a palavra contractus empregada com o sentido de conveno na formao de vinculo jurdico obrigacional. O contrato no direito romano sempre foi mantido sob rigorosa forma, o formalismo significava muito para o povo romano, a forma era uma caracterstica daqueles tempos. Um verdadeiro apego s palavras. Os contratos formais no direito antigo eram realizados por pactos acompanhados de formalidades, que os transformavam em contratos, sob trs formas diferentes: - pelo bronze e pela balana per aes et libram o mais antigo dos contratos solenes do direito romano nexum contrato semelhante a mancipatio. O nexo o contrato solene que na origem era empregado para realizao de um emprstimo em dinheiro, posteriormente a forma foi empregada para tornar obrigatria qualquer conveno que vinculasse valores pecunirios.

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- por meio de palavras trocadas verba entre credor e devedor configurava-se a conveno que no obrigava por si mesma. Na poca clssica a stipulatio um contrato indeterminado, abstrato, comprometimento verbal entre o credor e devedor. - por meio de letras litterae atravs de inscrio em um registro privado, pelo credor, configura a conveno e sem esta solenidade no gerava efeitos jurdicos. Os romanos observavam trs requisitos para a validade dos contratos e consideravam com vcios os contratos com a ausncia desses requisitos: - requisitos: consentimento vlido capacidade objeto. - vcios de consentimento: erro violncia dolo. Os romanos classificavam os contratos de maneira lgica e simples: - formais: per aes et libram stipulatio litterae. - no formais: convenes destitudas de qualquer formalidade. - consensuais: venditio locatio mandatum societas. - reais: a) de direito estrito: mutum; pignus anticrese; b) de boa f: fidcia = confiana - comodatum depositum. Quanto a natureza jurdica: concretos. abstratos. - nominados. - inominados. - de direito estrito. - de boa f. - unilaterais. - bilaterais = perfeitos e imperfeitos. Contratos Nominados: O contrato consistia em relaes jurdicas constitudas por obrigaes exigveis mediante aes civis. O Direito Romano conheceu quatro categorias de contratos: 1 - Consensuais (Consensu Obligationes obligatio consensu contrahitur) forma-se pelo Simples consentimento das partes, Nudo Consensu, a obrigao nascia pela livre conveno e no pela entrega da coisa. Institutas de Gaio: Emptio Venditio Locatio-Conductio rei=coisa, operarum, operis faciendi=obra Mandatum sinalagmtico imperfeito - Societas. 2 - Reais - (rei Obligationes) Os que exigiam para a sua perfeio a entrega prvia da coisa. O mutum, - o Comodatum, - o Depositum, o Pignus. 3- Literais Caracterizavam-se pela forma escrita. Sua validade dependia da forma escrita.

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4 - Verbais Exigiam o emprego de formas verbais solenes, palavras sacramenatis determinadas. Formalismo total. Os Contratos comutativos Inominados eram assim chamados por no terem designao prpria. Esses contratos so distribudos em quatro classes: Do ut des, factio ut facias, factio ut des, do ut facias. Tipos: a) Dou para que ds (Do ut des) Coisa por coisa. b)- Dou para que faas (Do ut facias) Coisa para obrigao de fazer. c)- Fao para que ds (factio ut des) Obrigao de fazer por dar. d) Fao para que faas (Factio ut facias) Obrigao de fazer para fazer. Espcies: troca = permutatio precrio = precarium estimato = aestimatum. Exemplo de contrato inominado = troca de escravos. PACTOS NO DIREITO ROMANO Os pacta adjecta ou pactos acrescentados, so acordos que modificavam os efeitos normais de um contrato. Duas espcies: a) aumentativos ad augendam obligatinem; b) diminutivos ad minuendam obligationem. Os pacta legtima pactos que emanavam da lei - dos reis ex lege lex no baixo imprio sinnimo de constituio imperial. Os pactos legtimos so acordos de vontades que no eram considerados contratos, eram assegurados por aes de direito estrito, denominadas por Justiniano de condictio ex lege. So trs espcies: o compromisso, a promessa de doao, a promessa de constituio de dote. Os pacta Praetria Pactos que emanavam dos pretores, so certas convenes sancionadas pelos pretores, mediante uma ao in factum cgnita causam. Havia trs espcies de pactos pretorianos: receptum argentarri = o acordo em que uma pessoa se compromete a pagar a dvida de outra, sanciona pela actio recepticia; receptum arbitrii, o acordo feito com compromisso entre litigantes, que optam por um rbitro ao invs de um juiz; receptum nautarum, cauponum et stabulariorum, o acordo expresso ou tcito feito pelos hospedeiros, capites de navios e donos de

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estbulos, assumindo a responsabilidade pelos objetos depositados em seus cuidados. Os Nuda Pacta Pactos que no tinham ao que assegurasse o seu direito. Geravam o que hoje chamada de Obrigao Natural. O jurisconsulto Paulo firma: ex nuda pacta non nascitur actio. No direito romano as fontes das obrigaes eram cinco: - a Lei - que atribua s obrigaes de acordo com o Status ou situao jurdica que a pessoa ocupava dentro do sistema do direito romano. - O Contrato que criava obrigaes pela iniciativa das partes. - O Quase Contrato: declaraes unilaterais, gesto de negcios, pagamento do indevido, tutela, legado e indiviso. - O Delito que teve vrias fases: 1. vingana privada: regulamentada e no regulamentada; 2. composies voluntrias; 3. composies legais; 4. represso pelo Estado. - O Quase Delito obrigationes quasi ex delicto exemplos: processo mal julgado pelo Juiz, objeto jogado ou que casse de prdio e causasse danos pedestre, objeto suspenso sobre via pblica e prejuzos causados por preposto terceiros. O Direito Romano muito atento s formalidades sofreu influncia dos povos germnicos, que trouxeram a idia de um direito essencialmente no qual existia o sistema das Ordlias. O direito no era necessariamente escrito. Era pblico por excelncia. No Direito Romano havia as provas legais como: Mo no Fogo, Lutas, etc. Alm das idias da Igreja, idias medievais, havendo assim forosamente uma evoluo no prprio Direito Romano. Para os germnicos, a palavra era importante, no se exigindo tanto as provas escritas e as formalidades especficas. Para a Igreja, o contrato decorria da f jurada. Isto caracterizou muito depois no Direito Civil, quando passou a exigir-se o juramento antes do testemunho. A promessa era sagrada e a mentira punida por Deus. A palavra sagrada influenciou o Princpio da Autonomia da Vontade, o Querer que determinou a criao do contrato. O juiz ao decidir, devia se ater aos termos do contrato, por que era fruto da vontade das partes. A autonomia da vontade se ligava e identificava com o Liberalismo Econmico a economia era interpretada

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de forma mais abstrata e menos voltada realidade, o contrato traduzia vinculao econmica e no social. O Romantismo sobressaiu-se na poca, sendo que o realismo s fora difundido mais tarde. Passou-se posteriormente para o Dirigismo Contratual, no qual foram consagradas as idias dos burgueses. O dirigismo impera em todas as esferas, evoluindo juntamente com a prpria sociedade, evoluindo o direito privado parem princpios constitucionais que priorizam os fundamentos da funo social do contrato. O dirigismo se divide em: a) Compressivo ou Restritivo - quando se proibi a insero de uma certa clusula nos contratos. Ex. juros de 20% ao ano. Pagamento de um emprstimo em moeda estrangeira. b) Expansivo quando se impem aos contratantes, obrigaes no por eles criadas, e sim em conseqncia de lei. Ex. Pagamento de 13. Salrio, frias, etc. c) Cdigo de Defesa do Consumidor. PRESSUPOSTOS E REQUISITOS DO CONTRATO Os elementos para validade do contrato, dividem-se em: a) Extrnsecos tambm chamados pressupostos. b) Intrnsecos tambm chamados requisitos. Os pressupostos so as condies sob as quais se desenvolvem ou podem desenvolver-se o contrato e agrupamse, segundo BETTI, em trs categorias: 1 Os sujeitos do contrato; 2 O objeto do contrato; 3 A situao dos sujeitos em relao ao objeto. Em conseqncia disso, todo o contrato pressupe: 1 Capacidade das partes; 2 Idoneidade do objeto; 3 Legitimao para realiz-lo. Estes elementos devem estar presentes no momento em que o contrato se realiza ou alcana vigor. Mas no bastam. A lei exige outras condies para que o contrato possa cumprir sua funo econmico-social tpica. So os requisitos elementos intrnsecos indispensveis validade de qualquer negcio jurdico e, por conseguinte do contrato. So eles:

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1 O consentimento. 2 A forma. Para alguns se incluiria mais a causa, estabelecida em meios absolutos. Capacidades das Partes A capacidade pode ser: a) Natural Inerente a toda pessoa humana, pois todo. Homem pela sua prpria natureza, dela dotado. b) Legal Que considera a pessoa dentro de certas condies exigidas pela lei, suficiente a ser reputada uma vontade normal e apta a produzir os efeitos aos quais tende. A capacidade legal atinge tanto as pessoas fsicas como as jurdicas. c) Geral Aptido geral para a prtica de todos os contratos, a qual se presume por ser regra. d) Especial exigida concretamente para a prtica de um determinado ato jurdico. Incapacidade das Partes Pode se: absoluta e relativa. a) Absoluta - Envolve a nulidade absoluta do contrato, resultando da a impossibilidade igualmente absoluta da ratificao. b) Relativa Gera anulabilidade, suscetvel, portanto de ratificao e poder convalidar-se no tempo. Idoneidade do Objeto Em primeiro lugar, as coisas como objetos dos contratos, devem estar In comercio. Em segundo lugar, precisam ser pelo menos determinveis, se no forem determinadas. 1 Venda de coisa alheia - Clovis Bevilaqua manifesta-se contra a validade de um tal contrato. Carvalho Santos, conciliando com o disposto no art. 1.268 do C.C., embora participando da nulidade, aceita a validade do contrato, quando o vendedor se obrigue a adquirir a propriedade do seu legtimo dono. A maioria dos juristas entende vlida a venda de coisa alheia, no no sentido de desapropriao do legtimo dono, seno de responder por perdas e danos o que a tal se obrigou, caso no lhe seja possvel transferir o domnio depois de adquirir.

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2 Coisas Litigiosas tambm no podem ser objeto de prestao. O adquirente de um bem litigioso e de cujo litigo teve conhecimento fica sujeito a perd-lo, se o transmitente for condenado a restituir. 3 Pacto Sucessrios No pode ser objeto de contrato a herana de pessoa viva. Art. 426 CC. Contudo o fato da morte figurar no contrato como condio suspensiva ou resolutiva de um negcio jurdico, no motivo para considerlo um pacto proibido. 4 Coisas futuras Tambm podem ser objeto de prestao. H duas formas especficas de contratos dessa espcie: a) Emptio spei alea risco total, vontade das partes tem por objetivo uma esperana, a qual se falhar, no desfaz o contrato e obriga o contratante a realizar o preo convencionado. Arts. 458/461. Ex.: Contrato de lanamento de uma rede de pesca por X valor, independente do resultado, o contratante deve pagar o preo combinado. b) Emptio rei speratae - risco parcial, as partes tomam em considerao o objeto esperado, enquanto possa vir a existir, resultando da a validade do contrato. Ex.: Contrato de lanamento de uma rede de pesca por X valor, desde que o mnimo de peixes esperados previstos no negcio sejam pescados. Legitimao Modernamente a doutrina distingue capacidade de legitimao. A distino vem do direito processual. Pode algum ser capaz, mas no ter legitimidade Ad causam. A legitimao divide-se: a) Direta cristaliza-se na competncia de toda pessoa capaz de regular seus prprios interesses, dispondo de seus direitos e contraindo obrigaes. b) Indireta existe quando o ato praticado por algum investido dos poderes necessrios a sua realizao. Os interesses de uma pessoa, neste caso, so dispostos por outra que adquire legitimidade para agir, porque lhe delegada pela lei ou pelo prprio interessado. Configura-se pela representao. (os que receberam mandato). c) Real quando efetivamente houver legitimidade.

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d) Aparente - quando havendo erro comum, algum figura como titular de direitos e interesses que no lhe correspondem. e) Ativa - quando algum legtimo ativo para fazer uma transao. f) Passiva caracteriza-se pela inexistncia de uma relao com a coisa ou com a pessoa. Ex.: compra de coisa prpria. Consentimento O termo empregado em diversos sentidos. Para uns o acordo de vontades. Para outros, cada um consente por si. Para uns terceiros, significa o consentimento de ambos. Na acepo lata, o consentimento cristaliza-se com a integrao das vontades distintas. Na acepo restrita, designa a vontade de cada parte. Integradas as vontades, d-se o acordo. A comunicao condio necessria da formao do consentimento, pertencendo proposta e aceitao categoria das declaraes receptcias ou recipiendas de vontade. Para concluso do contrato, preciso intercmbio das duas declaraes precedido de negociaes preliminares. Estes contatos preliminares podem ser: Epistolares, telegrficos, Internet, telefnicos ou mesmo verbais. destitudo de valor jurdico o consentimento ou declarao dada em gracejo ou brincadeira. a) Vis absoluta a declarao em que de todo falta vontade, como aquela que se consegue mediante coao fsica. O ato nulo. b) - Vis compulsiva Apenas torna anulvel o contrato por vcio de consentimento. (erro, dolo, coao moral). Classificao das Declaraes A manifestao da vontade nos contratos, verifica-se mediante declaraes receptcias e pode ser: a) Verbal, escrita ou simblica. b) Direta ou indireta. c) Expressa, tcita ou presumida. Consentimento pelo Silncio Muito se tem discutido se o silncio obriga. Soluo simplista encontra apoio no aforismo do Direito Cannico: Qui tacet, consentire videtur (Quem cala consente). Entretanto no Direito Romano: Qui tacet non atque fatetur, sed

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tamen verum est eum non negare (Quem cala nem sempre consente, mas tambm certo que no nega). Modernamente, o silncio significa consentimento quando, quem cala tem obrigao de falar: 1- Por presuno legal; 2- Por anterior acordo das partes em que lhe dem alcance de aceitao. Segundo Cunha Gonalves, a aceitao do silncio, deve ser circunstnciado, vale dizer, vontade positiva ou negativa, conforme as circunstncias. Ex.: de consentimento pelo silncio. - Na locao a reconduo tcita. Na doao pura, quando o donatrio, no prazo fixado pelo doador, fica calado. Forma Requisito essencial validade dos negcios jurdicos em geral, a forma pela qual devem ser realizados livre. Para os contratos, vigora o princpio da forma livre. Os contratos formais ou solenes devem ser estipulados pela forma prescrita na lei; para terem sua validade. Nulo, o contrato de compra e venda de bem imvel superior a certa quantia, se no for celebrado mediante escritura pblica. Para ter validade contra terceiros, dever ser levado transcrio imobiliria. Sintetizando: Forma Regra geral Forma livre, podendo a Lei exigir formalidades e solenidades. Ad probationem tantum - Escrita Com vantagens para prova - Presumida At prova em contrrio - Lei do lugar onde o contrato foi feito - Lei dos Registros Pblicos e legislao geral pertinente. CAUSA DO CONTRATO Correntes doutrinrias discutem se a causam deve ser includa nos contratos. No direito brasileiro a causa no foi acolhida diretamente. A corrente objetiva, unilateral, olha a vontade da lei elementos singulares do negcio. A corrente subjetiva causa o elemento subjetivo do negcio. A causa remota no de todo estranha ao negcio. Na orientao das teorias revisionistas a causa quando resulta de estado de necessidade, de perigo e desespero, ignorncia, entre outras e isto resultar em ganho excessivo para o outro contratante motivo de reviso ou resoluo do contrato. Ver arts. 156/157 CC. Das trs coisas que se deve distinguir em todo contrato

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Devemos distinguir nos contratos s as coisas que so de sua essncia, e aquelas que lhe so acidentais. muito mais exata a distino que vrios jurisconsultos do sculo XVI fizeram, pois identificam trs coisas distintas em todo contrato: a) - as que lhe so essenciais; b) - as que so apenas de natureza do contrato; c) - aquelas que lhe so puramente acidentais. As coisas que so da essncia do contrato so aquelas sem as quais o contrato no pode subsistir: faltando uma delas, j no h contrato, ou ser outra espcie de contrato. essencial, por exemplo, que em todo contrato de venda exista uma coisa que seja vendida, e que exista um preo pelo qual foi vendida: por isso que, se eu lhe vendi uma coisa que ignorssemos que j no existia, no h contrato (L. 57, D. de contr. empt.), uma vez que no h contrato de venda sem uma coisa que tenha sido vendida. Igualmente, se eu lhe vendo uma coisa pelo preo que ela foi vendida a meu pai, de cuja sucesso a herdei, e d-se que a referida coisa no foi vendida a meu pai, mas apenas lhe foi dada, no h contrato, j que no existe um preo, o que essencial em todo o contrato de venda. (Teoria Clssica). Nos exemplos acima falta de uma das coisas que so da essncia do contrato impede que exista qualquer tipo de contrato; s vezes essa ausncia muda sua natureza. Por exemplo, sendo da essncia do contrato de venda a existncia de um objeto ou do preo, que consista em uma quantia em dinheiro que o comprador pague, ou se obrigue a pagar ao vendedor, se, pelo contrato que fao com voc, eu lhe vendo meu cavalo em troca de um determinado livro, que voc se compromete a me dar pelo preo de tal animal, esse tratado no conter simplesmente um contrato de venda, visto no ser possvel existir contrato de venda sem preo, o qual consiste em uma quantia em dinheiro; mas o tratado no , por isso, nulo, pois contm outra espcie de contrato, a saber, um contrato de troca ou permuta. Da mesma maneira, sendo da essncia do contrato de venda, na verdade, no precisamente que o vendedor se obrigue a transferir ao comprador a propriedade da coisa vendida, caso seja seu proprietrio, mas que, sendo seu proprietrio, no a detenha; se ns contratarmos que eu lhe venda uma propriedade por um determinado valor, ou por uma certa renda que voc se obriga a pagar-me, e eu me obrigo a

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dar-lhe pleno uso dessa propriedade com a condio, porm, de que ela continuar sendo minha, esta conveno no conter um contrato de venda, pois ir contra a essncia do contrato, porque o vendedor est retendo para si a propriedade, mas encerrar um contrato de arrendamento, conforme disse Labeo na Lei 80 pargrafo 3., Nemo potest videri rem vendidisse de cujus dominio id agitur, ne ad emptorem transeat; sed aut locatio est, aut aliud genus contractus. Sendo igualmente da essncia dos contratos de emprstimo, de mandato e de depsito que sejam gratuitos, se lhe empresto uma casa com a condio de que voc me pagar certo valor pelo seu uso, isso no ser um contrato de emprstimo, e sim uma outra espcie de contrato, a saber, um contrato de aluguel. Pela mesma razo, se, ao aceitar o mandato que me tivesse dado, ou o depsito de uma coisa que me tivesse confiado, eu lhe tivesse exigido uma certa quantia como recompensa pelo cuidado que eu deveria ter com os objetos a mim confiados, ou pela gesto de seus interesses, o contrato no seria nem um contrato de depsito nem de mandato, mas igualmente um contrato de aluguel, pelo qual eu estaria alugando meus servios para a gesto de seus negcios ou para a guarda de seu depsito. As coisas que so somente da natureza do contrato so aqueles que, sem ser da essncia do contrato, fazem parte dele, ainda que as partes contratantes no tenham convencionado sobre tais coisas, isto , sobre se esto compreendidas ou subentendidas no contrato, levando em considerao que so de sua natureza. Essas coisas ocupam um lugar intermedirio entre as coisas que so da essncia do contrato, aquelas que lhe so acidentais e as que diferem destas e aquelas. Diferem das coisas que so da essncia do contrato pelo fato de ser possvel ao contrato subsistir sem elas, e por ser possvel exclu-las do contrato por acordo entre as partes. E diferem das coisas acidentais ao contrato naquilo em que fazem parte dele sem ter sido expressamente combinadas; as explicaes sobre isso sero dadas com exemplos. No contrato de venda, a obrigao de garantia que o vendedor contrata junto ao comprador de natureza do contrato de venda, visto que, ao vender, o vendedor contrata essa obrigao para com o comprador, mesmo que as partes contratantes no se tenham explicado sobre isso e no contrato no se expresse uma s

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palavra sobre este particular. Mas, sendo essa obrigao da natureza e no da essncia do contrato de venda, este pode subsistir sem essa obrigao; e se pelo contrato houve concordncia em que o vendedor no est obrigado a dar garantia da coisa vendida, o convnio ser vlido e o contrato no deixar de ser um verdadeiro contrato de venda, por mais que o vendedor no esteja obrigado a garantir a coisa vendida. Tambm de natureza do contrato de venda que, to logo o contrato receba sua perfeio pelo consentimento das partes, a coisa vendida fique a risco do comprador mesmo antes da entrega, e que se vier a se perder sem culpa do vendedor, a perda recaia sobre o comprador, que no estar, portanto, desobrigado do pagamento; mas, como isso s da natureza e no da essncia do contrato de venda, pode-se ao contratar convencionar o contrrio. da natureza do contrato de emprstimo para uso que a pessoa que pediu emprestado seja responsvel pela mais leve falta cometida quanto coisa que lhe foi emprestada. Contrata esta obrigao com aquela que empresta, pela prpria natureza do contrato, e sem que as partes se expliquem sobre isso ao contratar. Mas como essa obrigao da natureza e no da essncia do contrato de emprstimo para uso, poder ser concluda por uma clusula do contrato, combinando-se que aquele que recebe a coisa emprestada fique obrigado, somente por sua boa-f, conservao dessa coisa, sem ser responsvel pelos acidentes que ocorram por sua negligncia, mas sem malcia. da natureza desse contrato, tambm, que a perda da coisa emprestada, caso ocorra por motivo de fora maior, recaia sobre aquele que emprestou essa coisa. Mas, como isso da natureza e no da essncia do contrato, possvel por meio de uma clusula contratual responsabilizar por esse risco aquele que toma emprestado, at que tenha devolvido a coisa. Uma infinidade de outros exemplos poderia ser apresentada sobre as diferentes espcies de contratos. As coisas acidentais ao contrato so aquelas que, no sendo da natureza do contrato, s mediante uma clusula especial podem vir nele contidas. Exemplo: o prazo concedido pelo contrato para o pagamento da coisa ou do valor devido: a faculdade que se concede de pagar esse valor em vrias parcelas, a de pagar tal outra coisa em substituio quela que se recebe, ou de pagar

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em mos de outra pessoa que no as do credor, e outras semelhantes, so coisas acidentais ao contrato porque no vm nele contidas, seno quando so estipuladas por alguma clusula acrescentada a este. No contrato de venda de uma renda, a obrigao pela qual o vendedor se torna responsvel pela solvncia dos direitos, enquanto dure a renda, uma coisa acidental ao contrato, pois o vendedor no contratou essa obrigao por ser da natureza do contrato, mas a contrata somente em virtude de uma clusula particular nele acrescida, que aquela chamada clusula de produzir e fazer valer, essa clusula, embora bastante comum nos contratos de venda de renda, deve ser expressa e no suprida. Muitos outros exemplos poderiam ser aduzidos sobre este particular. CLASSIFICAO CLSSICA DOS CONTRATOS: A diviso que o Direito Romano antigo faz dos contratos, em contratos inominados, em contratos bonae fidei e em contratos stricti juris, no se admite entre ns. Conceituao: Toda conveno em sua formao bilateral ou plurilateral, por existirem mais de uma vontade envolvidas na negociao. Muda nos efeitos, podendo ser bilateral ou unilateral. No podemos confundir a bilateralidade da obrigao contratual com a bilateralidade do consentimento, o consentimento prestado de modo bilateral para a formao do contrato e a natureza efetivamente bilateral ou unilateral est vinculada eficcia do ato negocial, relao jurdica criada pelas partes. AS DIVISES ADMITIDAS EM NOSSO DIREITO SO AS SEGUINTES: Contratos sinalagmticos ou bilaterais, e contratos unilaterais. Os sinalagmticos ou bilaterais so aqueles pelos quais cada uma das partes contratantes se compromete para com a outra, as partes so credores e devedores recprocos. A clusula resolutiva tcita e a exceptio inadimplenti contractus so peculiares dos contratos bilaterais. Tais so os contratos de venda, aluguel etc. Os unilaterais so aqueles pelos quais s uma das partes contratantes se obriga para com a outra, sendo os

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efeitos desta modalidade contratual ativos de um lado e passivos do outro, como no caso de emprstimo de dinheiro. Entre os contratos sinalagmticos ou bilaterais distinguem-se aqueles que o so de uma maneira imperfeita. Os contratos perfeitamente sinalagmticos ou bilaterais so aqueles nos quais a obrigao contratada por cada um dos contratantes igualmente uma obrigao principal desse contrato; tais so os contratos de venda, por exemplo, a obrigao que o vendedor contrata de entregar a coisa e a que o comprador contrata de pagar o preo so igualmente obrigaes principais do contrato de venda. Os contratos sinalagmticos imperfeitos so aqueles em que s a obrigao de uma das partes constitui a obrigao principal do contrato; so os contratos de mandato, de depsito, de emprstimo para uso, de amortizao. Nesses contratos, a obrigao que o mandatrio contrata, de prestar contas de sua incumbncia, ou aquelas contratadas pelo depositrio, pelo que toma emprestado, ou pelo credor, no so mais que obrigaes incidentes, s quais do lugar aps o contrato os gastos feitos pela outra parte para execuo do mandato ou para a conservao da coisa dada a ttulo de emprstimo, de depsito ou de amortizao. Enquanto a ao nascida de obrigao principal se chama actio directa, aquela que nasce dessas obrigaes incidentais chamada actio contraria. Contratos que so formados pelo simples consentimento das partes contratantes, aqui chamados consensuais, tais como a venda, o aluguel, o mandato etc., e contratos nos quais necessrio que intervenha algo mais do que o consentimento, como os contratos de emprstimo de dinheiro, de emprstimo para uso, de depsito, de amortizao, que pela natureza do contrato exigem a entrega da coisa que objeto dessas convenes. Estes so os chamados contratos reais. Contratos interessados ou onerosos de uma e outra parte, contratos de beneficncia e contratos mistos. Os contratos interessados de uma e outra parte so aqueles feitos por interesse e utilidade recproca de ambas as partes; so os contratos de venda, de troca ou de permuta, de alugul, de construo, de renda, de sociedade e uma infinidade de outros.

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Os contratos de beneficncia so aqueles feitos para utilidade apenas de uma das partes contratantes; so os de emprstimo para uso de emprstimo para consumo, de depsito e o de mandato. Os contratos mistos so aqueles por meio dos quais a parte que confere um benefcio outra exige dela alguma coisa que esteja condicionada ao valor daquilo que lhe foi dado; tais so as doaes feitas sob qualquer incumbncia ou responsabilidade imposta ao donatrio. Os contratos interessados de uma e outra parte se subdividem em contratos comutativos e contratos aleatrios. Os contratos comutativos so aqueles pelos quais cada uma das partes contratantes d e recebe, ordinariamente, o equivalente quilo que ela d, como no contrato de venda: o vendedor deve dar a coisa vendida e receber o valor equivalente, e o comprador deve dar o valor e receber a coisa vendida que seu equivalente. Esses contratos so distribudos em quatro classes: Do ut des, factio ut facias, factio ut des, do ut facias. Os contratos aleatrios so aqueles pelos quais um dos contratantes, sem dar nada por sua parte, recebe alguma coisa da outra, no por generosidade, mas pelo preo do risco que correu; todos os jogos so contratos desta natureza, assim como as apostas e os contratos de seguros. Contratos principais e contratos acessrios. Os contratos principais so aqueles que intervm por eles prprios, ao passo que os acessrios servem para assegurar a execuo de outro contrato, como os contratos de fiana. 1. Os contratos considerados em si mesmos: No que tange a natureza da obrigao temos os contratos: unilaterais e bilaterais, arts. 476/477 CC.; onerosos e gratuitos, como a locao e a doao; comutativos e aleatrios, arts. 481 e 458 CC.; paritrios e por adeso. No que tange forma: contratos consensuais se aperfeioam pela simples anuncia das partes, no dependem de outro ato, compra e venda de coisas mveis em geral; contratos solenes, para estes contratos a lei, para a sua formao, forma especfica, casamento, compra e venda de imveis, arts. 1.533/1.536; 108 e 1.245 CC; contratos reais, estes somente se aperfeioam com a entrega da coisa, como o comodato, mtuo, depsito, penhor e arras.

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No que tange a denominao: contratos nominados previstos em lei tm nomen jris e servem de base para a elaborao dos contratos, modelos ou tipos de regulamentao especfica em lei. Enquanto que os contratos inominados que se afastam dos modelos previstos em lei, no possuem previso legal especfica, mas atendem ao disposto no art. 104 e 425 CC, se desenvolvem dentro das liberdades privadas. No que tange ao objeto dos contratos: alienao de bens; transmisso de uso e gozo; de prestao de servios e de contedo especial. No que tange a durao dos contratos temos: os instantneos so de execuo imediata, como a troca e a compra e venda mediante a entrega dos objetos e pagamentos no ato; e os de durao, que se estendem no tempo, seja a prestao ou a contraprestao e ou ambas. No que tange a pessoa do contratante os contratos podem ser: pessoais nos quais a pessoa do contratante considerada pelo outro contratante como motivo principal para a celebrao do contrato; impessoais nesta modalidade a pessoa do contratante juridicamente indiferente. 2. Contratos reciprocamente considerados: os principais existem por si s, no dependem de outro contrato para atingirem seus jurdicos e legais efeitos; acessrios so dependentes de outro contrato, sua existncia jurdica firmada no contrato principal, como a fiana. CLASSIFICAO DOS CONTRATOS. 1 Bilaterais (sinalagmticos) e Unilaterais 2 Onerosos e Gratuitos 3 Comutativos e Aleatrios 4 Paritrios e de Adeso, tipo e necessrio. 5 Consensuais e Reais 6 Solenes e No Solenes 7 Tpicos e Atpicos 8 Instantneos e de Durao 9 Principais e Acessrios 10 Pessoais e Impessoais 11 - Civis, Mercantis e de Consumo 12 Causais e Abstratos 13 - Misto 14 - Auto Contrato

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QUANTO NATUREZA DA OBRIGAO: 1 BILATERAIS (SINALAGMTICOS) E UNILATERAIS Bilaterais Ambas as partes assumem obrigaes. bilateral desde a sua formao, as partes devem cumprir suas obrigaes nos termos avenados, o contratante que no cumpre com suas obrigaes no tem direito de exigir o implemento das obrigaes do outro, pelo princpio da equidade, cabendo aplicao da exceptio non adimpleti contractus, art. 476 CC., . Temos ainda os Bilaterais imperfeitos, aqueles que so unilaterais no incio e bilaterais posteriormente, durante a sua execuo. Ex.: o comodato, que ao ser devolvido, haveria despesas a serem ressarcidas ao comodatrio pelo comodante, por melhorias necessrias feitas na coisa. Unilateral Apenas uma das partes assume obrigaes, de forma que os efeitos so ativos de um lado e passivos do outro, configurando-se a ausncia de contraprestao. Ex.: comodato. de uma importncia a distino entre ambos, porque variam os efeitos do ato, conforme o ajuste seja unilateral ou bilateral. Assim, a Exceptio non adimpleti contractus, art. 476/477, peculiar s convenes sinalagmticas. Tambm a clusula resolutiva tcita, prevista nos artigos supra inerente ao contrato bilateral e estranha ao unilateral. Finalmente, conforme seja bilateral ou unilateral, o contrato variar por sua vez a soluo da lei quanto aos riscos advindos da fora maior ou do caso fortuito, art. 392 CC. 2 ONEROSOS E GRATUITOS Onerosos diz-se que quando uma das partes sofre um sacrifcio patrimonial, ao qual corresponde uma vantagem que pleiteia, assim trazem vantagens para ambos os contraentes e ocorre uma equivalncia subjetiva entre a prestao e a contraprestao, a equivalncia atribuda pelas partes e existe liberdade em contratar, portanto liberdade de ser fixado o preo, mas essa liberdade deve ser exercida espontaneamente e sem configurar as hipteses dos arts. 156/157 do CC. Gratuitos tambm denominados de benficos quando somente uma das partes sofre um sacrifcio patrimonial, enquanto a outra, apenas obtm um benefcio, no

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h contraprestao, como ocorre na doao pura e simples. As conseqncias e os efeitos so significativos nas duas modalidades, os contratos gratuitos podero ser anulados por ao Pauliana, mesmo na ausncia de m f, art. 158 CC, ao contrrio do que ocorre nos contratos onerosos, em que alm da insolvncia do devedor necessrio que o outro contratante tenha conhecimento deste estado, art. 159, CC. A exegese dos contratos benficos sempre restrita. 3 COMUTATIVOS E ALEATRIOS CC arts. 458/461. Comutativos A relao entre vantagem e sacrifcio subjetivamente equivalente, havendo certeza quanto s prestaes, os contratantes podem verificar imediatamente essa equivalncia e cada parte contratante. Os contratos comutativos so onerosos e bilaterais e a extenso das prestaes de ambas as partes so conhecidas desde a celebrao do contrato. Convm salientar que a equivalncia entre as prestaes subjetiva e no objetiva, nos ensinamentos de Orlando Gomes. Importante observar que essa equivalncia subjetiva no poder ser muito desigual, face ao que dispe o arts. 156/157, CC., quando essas condies estejam presentes. Aleatrios alea do latim, que significa risco, este contrato coloca uma ou ambas as partes numa condio de risco, fazendo com que aquela parte que assume a alea conte com a sorte para que o resultado do negcio seja vantajoso. H incerteza para as partes sobre a vantagem esperada, o resultado do contrato ser sujeito ao risco futuro e incerto ou da coisa embora existente, colocada sob risco. tipicamente um contrato de sorte. Ex.: seguros, safra, rifas. O trao caracterstico o risco que poder ser total ou parcial, dependendo da conveno entre as partes: emptio spei e emptio rei speratae. Contrato Misto H tambm entre o comutativo e o aleatrio um contrato misto. Ex.: Vendo cavalo de corrida. Recebo R$ 50.000,00 em dinheiro e 50% da renda da primeira corrida que ele fizer. Sendo a Segunda parte do pagamento aleatria. Contratos condicionais e aleatrios nos contratos condicionais ambas as partes podero ter lucro ou perda. A eficcia do contrato condicional est vinculada na dependncia

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de evento futuro e incerto. Os contratos aleatrios se aperfeioam desde o incio, configurada a possibilidade do risco de a prestao de uma das partes no vir a existir na forma esperada, desenvolvendo-se o risco na extenso das vantagens ou perdas que os contratantes experimentaro no curso do contrato. 4 PARITRIOS E DE ADESO, TIPO E NECESSRIO. Contratos paritrios caracterizados pela igualdade exercida pelas partes no ato da formao do contrato, prevalea autonomia da vontade na fase da puntuazione, estabelecendo em comum acordo as clusulas contratuais e as obrigaes reciprocamente avenadas, as divergncias so eliminadas por transigncia mtua e o contrato se forma pelas declaraes livres e coincidentes de duas ou mais vontades. Os contratos de adeso, tipo e necessrio so caracterizados pela ausncia de liberdade na conveno, so contratos apresentados parte aderente j pronto, no assistindo ao oblato a possibilidade de negociao. Nos contratos de adeso encontramos modalidades mais flexveis, nos quais as partes tm pequena margem de transigncia e outras mais rgidas necessrias em que o oblato s vezes nem a opo de se abster do negcio tem. Podemos afirmar que nos contrato de adeso autonomia de vontade do aderente se resume mera anuncia da proposta do policitante, que em regra permanente e ostensiva. Nestas modalidades temos: vendas de grandes sociedades, financiamentos bancrios, transporte, fornecimento de energia eltrica, gs, combustvel, etc. Caractersticas dos contratos de adeso: Proposta permanente e geral ao pblico interessado; oferta uniforme e pr-estabelecida, clusulas contratuais firmadas unilateralmente pelo proponente e a aceitao pura e simples do oblato. H superioridade econmica de um dos contratantes, que detm uma condio especial de fato ou de direito, o que lhe assegura o predomnio no segmento especfico. A predeterminao unilateral das clusulas contratuais e a uniformidade rgida das condies gerais configuram o contrato de adeso.

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5 CONSENSUAIS E REAIS. Consensuais para sua validade a lei no exige mais do que o simples acordo de vontades Se perfaz pelo simples consentimento das partes. Tornam-se perfeitos e acabados por efeito exclusivo da integrao das duas declaraes de vontade. Reais Para sua perfeio, alm do consenso das partes, faz-se necessria tradio efetiva da coisa, antes da entrega do objeto se configura apenas uma promessa de contratar, assim no basta vontade das partes para formar o contrato, como ocorre nos consensuais, preciso efetivar a tradio, por ser um requisito essencial sua constituio. Devemos salientar que existem autores dissonantes nesta doutrina, entre eles: Planiol, Josserand, Colin, Carrara, Capitant. Para estes autores a exigncia da tradio no se trata de configurao de contrato real, defendem que a entrega do objeto um mero pressuposto da exigibilidade da obrigao de restituir. Quanto forma: 6 SOLENES E NO SOLENES: Solenes Exigem para a sua validade, uma solenidade, uma forma especial estabelecida em lei, que dever ser observada na celebrao do contrato, sob pena de incidir no disposto do art. 166 CC. A exigncia legal um pressuposto validade do contrato. Ex.: escritura de compra e venda de imvel; o casamento, etc. No Solenes Os de forma livre, feitos particularmente, podem ser desenvolvidos pelas partes contratantes sem observar qualquer regra especial, na esteira da autonomia privada, devendo apenas se ater ao disposto no art. 104 CC. E aos dispositivos cogentes da legislao. Quanto designao. 7 TPICOS E ATPICOS: Tpicos ou nominados Designa os contratos esquematizados na lei, com denominao prpria, formando espcies definidas, so regulados por normas jurdicas, encontramos vinte e trs tipos no CC. Atpicos ou inominados So os contratos que no se acham especificados, regulados, mas que so permitidos e so

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lcitos em virtude do princpio da autonomia privada. No so disciplinados expressamente no CC ou em leis esparsas, autorizadas pelo art. 425, CC. Os particulares podero desenvolver os contrato