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MODELAGEM MATEMÁTICA: UMA METODOLOGIA ALTERNATIVA DE ENSINO

DA GEOMETRIA NA PERSPECTIVA DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO PARA

OS ALUNOS DO 9° ANO

Maria Leni Maran1

Amarildo de Vicente2

Resumo: Este artigo apresenta os resultados da proposta de intervenção efetuada com alunos do 9ª ano de uma escola pública. Neste trabalho foram desenvolvidas atividades nos pressupostos da modelagem matemática explorando conceitos matemáticos relacionados mais especificamente à geometria e sua aplicabilidade na construção civil, utilizando o espaço físico escolar como ambiente de aprendizagem na construção de modelos matemáticos, como planta baixa e maquete da escola. Para a elaboração desta proposta considerou-se o sentimento de rejeição e de dificuldades que os alunos apresentam pela matemática e a possibilidade de amenizar os problemas de ensino aprendizagem desta disciplina utilizando a Modelagem Matemática como metodologia alternativa para o ensino de geometria no 9º ano. A problemática partiu de situações do cotidiano que promoveram a percepção dos alunos quanto à relevância da Matemática e sua aplicabilidade, nas mais diversas situações, despertando no aluno o interesse e o gosto pelo conhecimento matemático. Os resultados obtidos com a aplicação das atividades mostraram que os alunos melhoraram o desempenho, passando a gostar mais das aulas de Matemática contribuindo para uma aprendizagem mais efetiva. Palavras-chaves: Geometria. Modelagem Matemática. Metodologia Alternativa. INTRODUÇÃO

O grande desafio de ensinar Matemática hoje é despertar no aluno o gosto e

o interesse pelo saber Matemático, pois esta ciência carrega consigo o estigma de

ser difícil e abstrata, o que torna o seu aprendizado improdutivo, gerando com isso,

desmotivação e desinteresse dos alunos. Esse mau desempenho escolar perante a

Matemática se deve na maioria dos casos à abordagem tradicional e fragmentada

que se dá aos conteúdos. O professor expõe os mesmos sem demonstrar relação

com a realidade, enche o quadro de exercícios repetitivos, privilegiando cálculos e

memorizações de regras e fórmulas, ou seja, uma Matemática sem vida e sem

1Pós-Graduação em Fundamentos da Matemática, Graduação em Licenciatura Plena em Ciências-Habilitação

Matemática, Professora da Rede Pública Estadual do Paraná. 2Graduação em licenciatura Plena em Matemática, Doutorado em Engenharia de Produção, Professor do CCET

da UNIOESTE – Campus de Cascavel.

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significado para o aluno, o que não contribui para a construção do seu

conhecimento. Diante disso, há necessidade de buscar novas metodologias ou

estratégias mais dinâmicas e interativas, que oportunizem, de fato, um ensino

aprendizagem da Matemática contextualizada, significativa e motivadora.

Diante da rejeição e dificuldades de aprendizagem que os alunos apresentam

pela matemática e na tentativa de amenizar os problemas de ensino aprendizagem

desta disciplina, busca-se desenvolver uma nova abordagem metodológica que

colabore para aquisição dos conhecimentos matemáticos, em especial os conteúdos

de geometria. Nesta abordagem não se prioriza a memorização, mas sim uma

aprendizagem mais sólida, por meio de atividades concretas relacionadas a

realidade do aluno, despertando o gosto e o interesse pelos conteúdos de

Matemática, utilizando a Modelagem Matemática como contribuição para tornar as

aulas mais interessantes e significativas.

A fim de cumprir o objetivo do trabalho proposto, durante a intervenção

pedagógica buscou-se desenvolver, por meio da Modelagem Matemática, conteúdos

de geometria, partindo de situações problemas do cotidiano que promovam a

percepção da relevância da Matemática perante a sua aplicabilidade nas mais

diversas situações, despertando no aluno o interesse e o gosto pela Matemática,

oportunizando assim a construção do conhecimento Matemático.

FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Historicamente a Matemática tem sido a vilã das disciplinas escolares, sendo

responsável pelo grande número de reprovações e do baixo rendimento escolar,

constatados pelos exames nacionais que servem como indicativo de avaliação da

qualidade de ensino no nosso país.

A Matemática é vista pelos alunos como a mais difícil e a menos atraente das

disciplinas escolares. Mal se dão conta de que todos fazem uso da mesma em

várias situações do dia a dia que estão repletas de conceitos matemáticos, situando-

os no tempo e no espaço, de acordo com suas necessidades básicas; desde as

mais elaboradas que exigem os cálculos mais estafantes, como dos engenheiros ou

investidores financeiros, às mais corriqueiras das tarefas domésticas, como a

passadeira no ato de dobrar a roupa de forma adequada.

O insucesso de uma grande parte dos alunos em matemática é atribuído a

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inúmeros fatores, entre os quais se destacam as metodologias e conteúdos muitas

vezes inadequados, que reduzem a motivação dos alunos e em pouco contribuem

para a aprendizagem.

Diante desse quadro é essencialmente importante que o professor reflita

sobre suas práticas pedagógicas, buscando quais metodologias ou qual a

metodologia seria a mais adequada a determinados conteúdos, para que não

aconteça apenas um repasse, e sim a aprendizagem dos mesmos. É necessário que

o conhecimento matemático contribua na formação do aluno, tornando-o um cidadão

reflexivo, crítico, criativo e transformador da sua realidade.

Por meio da Modelagem pretende-se apresentar uma alternativa pedagógica

que possibilite aos professores atuar efetivamente na aprendizagem dos alunos,

objetivando o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas. Pretende-se

ainda propiciar o aprendizado concreto dos conteúdos de Matemática, ultrapassando

o ensino de técnicas de resolução, promovendo uma participação ativa do aluno no

seu processo de construção do conhecimento.

Acredita-se que através da Modelagem Matemática é possível se

desvencilhar das abordagens tradicionais, tornando as aulas mais dinâmicas e

eficientes, despertando no aluno o interesse e o gosto pela aprendizagem

matemática.

Por ser a matemática um dos conhecimentos tão necessários e importantes

devido a sua presença em larga escala no cotidiano das pessoas, é contraditório o

fato dos alunos não gostarem da matemática escolar, de apresentarem dificuldades

de aprendizagem, de sentirem antipatia e até rejeição pela mesma, que

consequentemente implica no baixo rendimento, reprovação e evasão escolar.

Está-se atravessando um momento de grandes mudanças sociais provocadas

pelos avanços científicos e tecnológicos, e a deficiência na capacidade de pensar

matematicamente e de utilizar os conhecimentos desta disciplina compromete

seriamente qualquer projeto de desenvolvimento de um país. Em virtude disso, faz-

se necessário buscar novas metodologias de ensino que corresponda a esta

modernização, focalizando uma formação para a cidadania dos indivíduos, que

propiciem a sua ação e reflexão a respeito das situações da realidade.

Perante essa necessidade de reestruturação nos métodos utilizados no

ensino da Matemática, com vistas na melhoria do seu processo de ensino e

aprendizagem, tem-se desenvolvido investigações por meio de diferentes tendências

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metodológicas, que segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná,

(SEED, 2008, p.64), são: “Resolução de problemas, Modelagem Matemática, Mídias

Tecnológicas, Etnomatemática, História da Matemática. e Investigações

Matemáticas”. Dentre elas, elegemos a Modelagem Matemática como objeto do

nosso estudo.

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação

Básica do Estado do Paraná:

A modelagem matemática tem como pressuposto a problematização de situações do cotidiano. Ao mesmo tempo em que se propõe a valorização do aluno no contexto social, procura levantar problemas que sugerem questionamentos sobre situações de vida [...] por meio da modelagem matemática, fenômenos diários, sejam eles físicos, biológicos e sociais, constituem elementos para análises críticas e compreensões diversas do mundo (SEED, 2008, p.64).

A ideia de modelagem para Biembengut e Hein (2000) sugere a imagem de

um escultor modelando argila que através da técnica, intuição e criatividade produz

um objeto. Esse objeto é um modelo que representa uma coisa real ou imaginária.

Dependendo do contexto, a palavra modelo possui vários significados Segundo

Dicionário da Língua Portuguesa o termo modelo significa uma representação de

alguma coisa, um padrão ideal a ser atingido, ou um tipo especifico dentro de uma

série.

O ser humano sempre recorreu a modelos para interpretar fenômenos

naturais e sociais. A noção de modelo está presente em quase todas as áreas de

conhecimento: Arte, Arquitetura, Moda, Economia, Física, Química, Medicina,

Matemática e outras. Na Ciência, em especial na matemática, a noção de modelo é

fundamental. Seja qual for o problema, em geral quando quantificado, a sua

resolução requer uma formulação detalhada: o modelo matemático. Mas o que é um

modelo matemático?

Biembengut & Hein (2000, p.12) denominam como “um conjunto de símbolos

e relações matemáticas que procura traduzir, de alguma forma, um fenômeno em

questão ou problema de situação real”

Para Bassanezi (2010, p.174) “um modelo matemático é um conjunto

consistente de equações ou estruturas matemáticas, elaborado para corresponder a

algum fenômeno – este pode ser físico, biológico, social ou psicológico”. De maneira

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geral, podemos dizer que um modelo é uma representação simplificada de algum fenômeno

ou situação real.

Para se chegar ao modelo, segundo D’Ambrósio (1986, p.65), “é necessário

que o indivíduo faça uma análise global da realidade na qual tem sua ação, onde

define estratégias para criar o mesmo”. E a determinação do tipo de modelo a ser

utilizado dependerá da situação analisada, das variáveis selecionadas e dos

recursos disponíveis. Esse processo exige do modelador o domínio e

desenvolvimento de conhecimentos matemáticos, e conforme Biembengut & Hein

(2007, p.46) “os modelos matemáticos sempre serão tão bem elaborados quanto de

Matemática dispuser o modelador.” Pois só assim poderá se utilizar dos conceitos e

procedimentos a serem explorados na criação do modelo matemático para

representar uma situação problema.

A Modelagem Matemática vem cada vez mais sendo estudada e utilizada por

professores que buscam novas metodologias visando aproximar a realidade do

aluno aos conhecimentos matemáticos, a partir da construção de modelos coerentes

com a situação real. Mas afinal, o que é Modelagem Matemática?

Para D’Ambrósio (1986, p.11) “Modelagem é um processo muito rico de

encarar situações reais, e culmina com a situação efetiva do problema real e não

como uma simples resolução formal de um problema artificial.”

Para Bassanezi (2010, p.16) “a modelagem matemática consiste na arte de

resolver problemas da realidade em problemas matemáticos e resolvê-los

interpretando suas soluções na linguagem do mundo real”

Na visão de Burak,

A Modelagem Matemática constitui-se em um conjunto de procedimentos cujo objetivo é estabelecer um paralelo para tentar explicar, matematicamente os fenômenos presentes no cotidiano do ser humano, ajudando-o a fazer predições e a tomar decisões (BURACK, 1992, p.62).

Para Barbosa, (2000, p.161) “a modelagem é um ambiente de aprendizagem

no qual os alunos são convidados a problematizar e investigar, por meio da

matemática, situações com referência na realidade”.

Para Biembengut & Hein

Modelagem matemática é o processo que envolve a obtenção de um

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modelo. Este, sob certa óptica, pode ser considerado um processo artístico, visto que, para se elaborar um modelo, além de conhecimento de Matemática, o modelador precisa ter uma dose significativa de intuição e criatividade para interpretar o contexto, saber discernir que conteúdo matemático melhor se adapta e também ter senso lúdico para jogar com as variáveis envolvidas (2000, p.12).

De acordo com Biembengut & Hein (2000, p.13), “Genericamente, pode-se

dizer que matemática e realidade são dois conjuntos disjuntos e a modelagem é um

meio de fazê-los interagir”. Essa interação, que permite representar um fenômeno

através da linguagem matemática (modelo matemático), envolve uma série de

procedimentos, que foram agrupados por Biembengut & Hein (2000, p.13), em três

etapas, subdivididas em subetapas:

1) Interação (reconhecimento da situação problema e familiarização com o

assunto a ser modelado – referencial teórico). Nesta etapa, a situação a ser

estudada será esboçada e para torná-la mais clara deverá ser feita uma pesquisa

sobre o assunto escolhido de modo direto (através de bibliografia especializada,

entre outros) ou indireto, in loco (através da experiência em campo, de dados

experimentais obtidos com especialistas da área).

2) Matematização (formulação do problema – hipótese e resolução do

problema em termos do modelo). Esta é a fase mais complexa e desafiadora, onde

se começa a estabelecer hipóteses para a solução do problema. É nesta fase que se

dará a tradução da situação problema para a linguagem matemática. Assim, a

intuição e a criatividade e a experiência acumulada são elementos indispensáveis.

3) Modelo matemático (interpretação da solução e validação do modelo –

avaliação). É nesta fase que é feita a interpretação do modelo sugerido, quanto a

sua validação. O modelo concluído deverá corresponder à situação-problema

apresentada, caso contrário, deverá ser retomado na segunda etapa.

Para o desenvolvimento de uma atividade com modelagem matemática,

Burak (2004), sugere cinco etapas, dentre elas, escolha do tema; pesquisa

exploratória; levantamento dos problemas; resolução dos problemas e o

desenvolvimento do conteúdo matemático no contexto do tema e análise crítica das

soluções.

Essas etapas devem sempre ser encaminhadas levando-se em consideração

os dois princípios propostos pelo autor: o interesse do grupo e a obtenção de

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informações e dados do ambiente, onde se encontra o interesse do grupo. Durante

todo o processo da Modelagem, é muito importante a postura do professor, pois

assume o papel de mediador.

Sobre as razões para a inclusão de Modelagem no currículo, muito se tem

discutido. Conforme Blum,(1995, Apud BARBOSA, 2003, p.3).

Em geral, são apresentados cinco argumentos: - Motivação: os alunos sentir-se-iam mais estimulados para o estudo de matemática, já que vislumbrariam a aplicabilidade do que estudam na escola; - Facilitação da aprendizagem: os alunos teriam mais facilidade em compreender as ideias matemáticas, já que poderiam conectá-las a outros assuntos; - Preparação para utilizar a matemática em diferentes áreas: os alunos teriam a oportunidade de desenvolver a capacidade de aplicar matemática em diversas situações, o que é desejável para moverem-se no dia-a-dia e no mundo do trabalho; - Desenvolvimento de habilidades gerais de exploração: os alunos desenvolveriam habilidades gerais de investigação; - Compreensão do papel sociocultural da matemática: os alunos analisariam como a matemática é usada nas práticas sociais.

Segundo Bassanezi (2010, p.37), “Apesar de todos os argumentos favoráveis

ao uso da modelagem matemática, muitos colocam obstáculos, principalmente

quando aplicada em cursos regulares”, tais como:

- Dificuldade de cumprir programas pré-estabelecidos nos cursos regulares,

como a modelagem é um processo demorado isto pode não acontecer.

- Alguns professores de matemática colocam em dúvida se é de sua

competência, ensinar a resolver problemas estabelecendo conexões com outras

áreas.

- O uso da modelagem foge da rotina do ensino tradicional e o aluno não

acostumado a essa abordagem, pode-se perder ou tornar-se indiferente.

- Na modelagem o aluno passa ser o centro do processo de ensino-

aprendizagem, ou seja, ele é responsável pelos resultados obtidos e pela dinâmica

do processo, de modo que a aula poderá caminhar num ritmo mais lento.

- A formação heterogênea de uma classe pode ser um obstáculo na relação

dos conhecimentos teóricos adquiridos com a situação prática em estudo.

- O tema escolhido pode não ser interessante e motivador para todos.

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- Os professores não se sentem habilitados a desenvolver a modelagem em

seus cursos, por falta de conhecimento do processo ou por medo de se encontrarem

em situações embaraçosas quanto às aplicações de matemática em áreas que eles

desconhecem.

- Os professores alegam falta de tempo para estudo sobre temas fora da

matemática e preparação das aulas que envolvem o tema em estudo.

Biembengut e Hein (2000, p.28) colocam que “a Modelagem, metodologia de

ensino aprendizagem que parte de uma situação/tema e, sobre os quais se

desenvolve questões que tentarão ser respondidas mediante o uso de ferramental

matemático”, mas consideram que, “apresenta o inconveniente de não sabermos,

inicialmente, por onde o modelo passará” o que pode comprometer o currículo oficial

estabelecido legalmente.

Diante disso, devem ser feitas algumas adaptações que tornem possível a utilização da modelagem matemática como metodologia de ensino aprendizagem sem, contudo, perder a linha mestra que é o favorecimento à pesquisa e posterior criação de modelos pelos alunos, e sem desrespeitar as regras educacionais vigentes. (idem, p.28)

Através das pesquisas bibliográficas dos autores supracitados percebe-se

que os professores que buscam novos caminhos para melhorar o processo ensino-

aprendizagem da Matemática têm na modelagem matemática um recurso de grande

potencial, considerando que o método permite realizar atividades interativas,

dinâmicas e significativas, onde através da intuição e criatividade o objetivo é levar o

aluno a aprender e a fazer modelos matemáticos. O professor deixa de ser o

detentor do conhecimento e passa ser o mediador, o instigador do melhor caminho

que possibilite a apropriação do conhecimento pelos próprios alunos, e através

dessa prática cooperativa possa aprender junto com eles.

A modelagem matemática como estratégia de ensino pode ser um meio para

despertar no aluno o interesse por conteúdos matemáticos que ainda desconhece e

confirmar aqueles que ele já sabe.

PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS

Com a finalidade de dar significado aos conteúdos matemáticos, através de

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um processo de interação entre professor e aluno, em que ambos possam

problematizar, e através de um ambiente colaborativo, refletir e construir

conhecimentos matemáticos, foi utilizada a Modelagem Matemática como

metodologia alternativa a ser desenvolvida neste trabalho de intervenção

pedagógica.

Na implementação da unidade didática, em primeira instância foi feita uma

pesquisa investigativa com abordagem quantitativa e qualificativa e os instrumentos

de coleta de dados foram um questionário aplicado aos alunos e através da

observação da professora.

A aplicação foi realizada no Colégio Estadual Léo Flach – Ensino

Fundamental e Médio - localizado no Bairro Padre Ulrico de Francisco Beltrão. O

público alvo foram alunos do 9º ano “C” do ensino fundamental do turno vespertino.

Neste trabalho foram desenvolvidas atividades com conceitos matemáticos

relacionados à geometria e seus desdobramentos compatíveis com o conteúdo

programático da série em questão. Os conteúdos foram trabalhados de acordo com

a necessidade, fazendo assim um paralelo entre o conhecimento científico e a

prática. Utilizou-se como referencial as etapas sugeridas pelos autores Biembengut

& Hein, que nortearam o trabalho e os encaminhamentos em sala de aula. A unidade

didática contou com atividades diversificadas, tendo como objetivo a construção de

modelos matemáticos em especial a construção da planta baixa e da maquete do

prédio escolar.

Para a avaliação dos resultados da proposta pedagógica foi aplicado um pré-

questionário e um pós-questionário, visando confrontar e verificar possíveis

alterações no processo ensino aprendizagem de matemática em relação aos

conteúdos de geometria.

RELATO DA EXPERIÊNCIA

A implementação ocorreu com os alunos do 9º ano “C” do período vespertino

do colégio Estadual Léo Flach e contou com a participação de 32 alunos. Todos os

alunos eram moradores do Bairro Padre Ulrico de Francisco Beltrão. Ressalta-se

que alguns deles são de classe média baixa e de baixa renda, e que a grande

maioria são carentes, não só no aspecto financeiro, como também no afetivo,

oriundos de famílias desestruturadas e com baixa escolaridade. A falta do

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acompanhamento efetivo e afetivo dos familiares impacta no desempenho das

atividades escolares, dificultando os processos de ensino e aprendizagem.

O que se observou inicialmente em relação ao comportamento dos alunos em

sala de aula foi o alto grau de desinteresse; alguns apáticos a tudo, outros inquietos

e falantes com muita dificuldade de concentração; também havia alguns bastante

agressivos, antissociais e sem noção de limites. Apenas uma minoria apresentava

alguma perspectiva de futuro acreditando que estudar é o melhor caminho para se

obter sucesso profissional e realização pessoal. Diante do exposto é passível de

entender a grande dificuldade de aprendizagem que esses alunos apresentam,

principalmente em Matemática. Este fato justifica também os resultados do IDEB,

considerado como o mais baixo do município. Além das notas não serem muito

satisfatórias, o que mais pesa são os fatores, reprovação e evasão escolar.

Antes de iniciar as atividades foi aplicado um questionário para a avaliação

diagnóstica sobre a relação dos alunos com a matemática e o conhecimento prévio

que eles tinham a respeito dos conteúdos a serem trabalhados. Sobre os resultados

quanto à disciplina, grande maioria respondeu gostar de Matemática, mas que

tinham muita dificuldade de compreendê-la e muitos não conseguiam relacioná-la

com situações do cotidiano. Quanto aos conteúdos relacionados ao trabalho ficou

muito evidente o pouco conhecimento que eles tinham a respeito desses.

Após a avaliação diagnóstica, iniciou-se então a primeira atividade da

Unidade Pedagógica, que consistiu de questionamentos orais, com o objetivo de

induzi-los a refletirem sobre a importância da Matemática no cotidiano das pessoas.

A seguir foi dividida a turma em 6 grupos de 4 ou 5 elementos, para que

respondessem aos questionamentos. Foi estipulado um tempo para realização da

atividade, orientando que discutissem e chegassem a um consenso e que todos

deviam registrar as conclusões em seus cadernos.

Dos seis grupos apenas dois conseguiram concluir no tempo determinado e

de forma satisfatória. Nos demais grupos, percebeu-se que eles não tinham

estratégia de grupo, falavam paralelamente, desrespeitavam os colegas e por vezes

até a professora, e poucos participavam da discussão em questão. Fez-se

necessário, muitas intervenções para a conclusão da tarefa.

Na hora da apresentação dos grupos, mais uma frustração: devido às

respostas mal elaboradas e sem muita coerência ao que era proposto por parte de

dois grupos, os demais fizeram “piadinhas”, o que gerou uma indisciplina

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generalizada. Diante do exposto, cogitou-se com a Direção e Pedagogos sobre a

mudança de turma para implementação, mas discutindo o problema com a Direção

considerou-se conveniente insistir e dar mais uma semana de tempo, pois talvez

diante desse quadro, seria essa turma que realmente precisava trabalhar

diferentemente da forma usual com que eles estavam habituados.

Depois de uma boa reflexão sobre os resultados não satisfatórios, a

professora proponente enfrentou o desafio de colocar em prática aquilo que havia

proposto fazer. Com o auxílio da equipe pedagógica conversaram com a turma antes

de aplicar a próxima atividade. Explicou-se novamente como seria a postura da

professora e qual deveria ser a deles na condução das próximas atividades. Foi

explicado também que no final de cada atividade eles seriam avaliados e quais

seriam os critérios de avaliação tanto individual como coletivamente e que dessa

forma a aprendizagem só poderia ocorrer de forma colaborativa.

No seguimento das atividades foi proposto aos alunos fazer o levantamento

das formas geométricas presentes no espaço escolar. Foram determinados alguns

ambientes e foi orientado que cada aluno elaborasse o registro das formas

observadas: sala de aula, ginásio de esportes, refeitório, biblioteca e sala de

informática.

Durante o passeio os alunos se empenharam nos registros de todas as

formas geométricas que avistavam. Em alguns momentos houve discussão entre

eles que recorreram à professora para esclarecer se era ou não era determinada

forma geométrica, principalmente quando se tratava de um sólido geométrico.

Aproveitou-se o momento para exemplificar as figuras planas e os sólidos

geométricos. Por exemplo, na biblioteca, através dos objetos como o aro do

ventilador, o acento das cadeiras e o globo terrestre para exemplificar a

circunferência, o círculo, o cilindro e a esfera.

Eles observaram também que a estrutura dos telhados do ginásio de esportes

e das passarelas de acesso aos blocos era composta de muitos triângulos e que os

quadriláteros era a forma poligonal mais presente em quase todos os ambientes,

com exceção do telhado. Voltando à sala de aula, os grupos se reuniram e fizeram

um relatório detalhado das formas geométricas observadas em cada espaço

visitado. No final foi solicitado que cada grupo socializasse as informações com os

demais grupos. Diferentemente da 1ª atividade, a maioria dos alunos participaram

ativamente demonstrando muito interesse e satisfação na realização desta atividade.

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Nessa atividade a fala de dois alunos chamou a atenção. -“Olhar matematicamente

esse ginásio... Nunca tinha pensado nisto!” - “Engraçado né, eu também nunca

enxerguei matemática aqui. Agente vem aqui só pra fazer física e jogar bola”.

A atividade seguinte teve início com a apresentação do recorte de vídeo:

Matemática na Construção – “A matemática em toda parte” - parte 2. Os alunos

assistiram atentamente demonstrando curiosidade e interesse pelas explicações e

demonstrações da aplicabilidade de vários conceitos de matemática na área da

construção civil. A turma foi organizada em grupos para debaterem e responderem

algumas questões referentes ao vídeo. Durante o debate os alunos solicitaram para

assistir ao vídeo novamente para esclarecer alguns pontos que não tinham

observado na primeira vez que assistiram. Dois grupos precisaram assistir três

vezes para concluírem as suas observações, sendo que não havia entrosamento e

colaboração de todos os integrantes, tendo mais dificuldades e levando mais tempo

pra finalizar a tarefa. No encerramento desta atividade cada grupo apresentou suas

conclusões e com a mediação da professora foi elaborada uma resposta conjunta

para cada questão onde todos registraram individualmente em seus cadernos.

Durante a apresentação ainda havia alguns resquícios de indisciplina já observado

na primeira atividade. Casos isolados e contornados.

Na sequência das atividades propôs-se o desafio, para cobrir uma superfície

plana, e questionou-se sobre quais combinações de ladrilhos com formato poligonal

regular era possível se formar. Para resolver este desafio, eles precisavam construir

polígonos regulares e montar o preenchimento de uma superfície plana,

experimentando e manipulando os mesmos, com o propósito de perceberem quais

deles e que combinações poderiam ser utilizadas para recobrir superfícies. Para

fazer este experimento foi necessário primeiro ensinar os alunos a construírem os

polígonos regulares. Utilizando régua, compasso e transferidor, os alunos seguiam

as orientações passo a passo da professora no quadro, desenhando um triângulo

equilátero, um quadrado, um pentágono regular, um hexágono regular e um

octógono regular. Essa tarefa de construção foi muito cansativa para a professora,

pois a todo o momento era solicitada devido à dificuldade que eles tinham de

manipular os instrumentos de desenho geométrico. Mas ao mesmo tempo produtiva

para os alunos. Eles demonstravam satisfação ao concluir cada desenho. Ao final de

cada figura desenhada foram estimulados a medirem os ângulos internos de cada

polígono. No final das aulas alguns alunos vinham expressar o seu contentamento

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em relação a aula, dizendo: “Valeu professora, a sua aula hoje estava muito boa!”

“Parabéns professora! Obrigado por dar aulas tão interessantes e gostosas!”.

Foram utilizadas seis aulas só para a aprendizagem da construção dos

modelos em sala de aula e mais nove aulas no laboratório de ciências para a

construção e reprodução dos modelos em papel cartão coloridos, recorte,

manipulação e experimentação das possibilidades de ladrilhamento de uma

superfície plana. Ao final de cada experimentação bem sucedida os alunos faziam a

colagem montando um painel com vários mosaicos representando as possíveis

combinações de ladrilhamento com polígonos regulares. Alguns grupos também

colaram as combinações que não satisfaziam as condições para um revestimento de

encaixes perfeitos. Em dois grupos houve uma discussão porque eles pensavam

que a combinação dos polígonos, octógono, pentágono e hexágono era possível, só

não estavam se encaixando bem porque alguém não tinha recortado o modelo

direito, e por causa da falta de capricho de um, todos perderiam nota. Aproveitou-se

o momento para instigar que investigassem em todos os ladrilhamentos já formados,

se havia alguma regularidade em relação aos ângulos em torno de um ponto nos

encaixes dos vértices desses polígonos. A partir dessa orientação eles perceberam

que existia uma condição matemática que possibilitava os encaixes perfeitos: a

soma dos ângulos internos ao redor de cada vértice do ladrilhamento precisa ser

igual a 360º. Portanto a soma dos ângulos internos ao redor do vértice formado pelo

octógono, pentágono e hexágono era 363º, e essa diferença de 3º é que não

permitia o encaixe perfeito entre eles.

Dos seis grupos formados, dois não apresentaram todas as possibilidades

encontradas pelos demais e um não justificou o motivo de não terem conseguido

formar combinações com quatro tipos de polígonos regulares. Durante a

apresentação dos grupos é que foi possível fazer essa verificação. O

desenvolvimento desta atividade foi trabalhoso e demandou bastante esforço e

dedicação em todos os sentidos, iniciando com a organização dos materiais e

finalizando com a avaliação.

Ao finalizar esta primeira parte foi possível observar alguns avanços de

relacionamento, de disciplina e de predisposição para a aprendizagem apresentados

pelos alunos. Esses são indicativos dos efeitos positivos que essa metodologia de

trabalho proporcionou.

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A segunda parte da unidade didática teve início com a turma dividida em

grupos. Foi proposto que enumerassem os procedimentos de cada etapa de uma

construção segundo a ordem de relevância para o grupo e que relacionassem os

profissionais envolvidos nas mesmas. Foi uma atividade bem motivadora, pois os

alunos demonstraram muito interesse e durante as discussões expressaram seus

desejos de planejar e construir a sua casa própria. Alguns começaram a esboçar a

planta de sua casa. Os alunos participaram e empenharam-se na realização da

atividade. A maioria foi criteriosa em enumerar as etapas pensando em todos os

detalhes, iniciando com a aquisição, documentação e preparo do terreno, até a

decoração, ajardinamento e limpeza. Ao final todos apresentaram e com a

mediação da professora que através de um consenso foi feito um relatório final das

etapas e todos fizeram o registro em seus cadernos. Um aluno comentou: “Esse eu

vou guardar para quando construir minha casa”.

A atividade seguinte iniciou-se através de um diálogo relacionando a atividade

anterior em que os profissionais de cada etapa da construção no desempenho de

suas funções fazem uso de alguns conhecimentos matemáticos. O objetivo dessa

conversa inicial foi de motivá-los para abordar grandezas e medidas como um dos

conhecimentos mais importantes e muito utilizados por esses profissionais.

Em seguida foi realizado o desafio do “olhômetro”. Cada aluno participou

individualmente dando o seu palpite sobre as dimensões do piso da sala de aula e o

mesmo foi registrado no quadro. Em seguida, com o auxílio da trena e de dois

alunos, foi conferida a medida correta sendo considerado vencedor, no caso foram

três alunos, os que mais se aproximaram da resposta certa. Este desafio foi uma

das atividades mais fáceis de aplicar até o momento. Demorou menos de uma aula

para realizá-la e foi muito dinâmica e motivadora para os alunos.

Após esse desafio, os alunos foram organizados em grupo e utilizando

unidades de referência não convencionais como passo e palmo, realizaram algumas

medidas como: largura da sala, comprimento do quadro, altura da porta,

comprimento da mesa do professor, largura da carteira do aluno, comprimento das

janelas. Os alunos fizeram as estimativas com devidos registros e quando todos os

grupos terminaram essa atividade foi feito a socialização dos resultados fazendo o

registro de cada grupo no quadro, acrescentando a medida correta de cada objeto

medido. Entrou em discussão, neste momento, a importância de alguns aspectos

históricos, destacando a necessidade de se ter um sistema padronizado de medidas.

Page 16: MODELAGEM MATEMÁTICA: UMA METODOLOGIA ALTERNATIVA DE

Esta atividade foi muito produtiva, houve a participação ativa dos alunos em todos os

momentos.

A atividade seguinte teve inicio com a apresentação do vídeo “Unidade de

Medidas”, com o objetivo de reforçar e ampliar o conceito sobre padrão de medidas,

e motivar os alunos para o estudo das unidades de medidas de superfícies. Os

alunos assistiram atentamente demonstrando curiosidade e interesse pelas

explicações e demonstrações sobre conceitos de grandezas e medidas.

A turma foi organizada em grupos para debaterem e responderem algumas

questões referentes ao vídeo. Durante o debate os alunos solicitaram para assistir

ao vídeo novamente para esclarecer alguns pontos que não tinham observado na

primeira vez que assistiram. Para conclusão da atividade cada grupo apresentou

suas conclusões e com a mediação da professora foi elaborada uma resposta

conjunta para cada questão onde todos registraram individualmente em seus

cadernos. Durante a apresentação houve alguns momentos de discussão e estresse

entre alguns integrantes de grupos diferentes, pois novamente a dificuldade de

elaboração de uma resposta adequada para os questionamentos provocou essa

situação. Diante desta situação fez-se necessário, algumas intervenções de forma

bem incisiva para mediar essa discussão. Os alunos envolvidos tiveram prejuízo de

nota na avaliação da atividade nos quesitos: participação e respeito. Diante da

situação apresentada, percebeu-se que era preciso mudar os critérios de

distribuição dos componentes nos grupos, pois a escolha democrática praticada até

então, colaborou para a formação de grupos homogêneos com habilidades muito

parecidas e que aqueles que apresentavam dificuldades de aprendizagem e de

relacionamento eram discriminados pelos demais.

Na próxima atividade foram retomados alguns pontos da atividade anterior e

desafiado os alunos a confeccionarem o metro quadrado em papel pardo, subdividi-

lo em decímetros quadrados e em centímetros quadrados. Esta atividade foi

desenvolvida na sala de multiuso do colégio por apresentar um espaço maior e mais

apropriado para essa atividade. Durante a construção os alunos participaram

ativamente com muito empenho, colaborando e compartilhando alguns materiais que

eram insuficientes para todos os grupos.

Após a construção do metro quadrado os alunos fizeram e apresentaram um

relatório escrito da atividade explicando o que é e o que representa um metro

quadrado, citando e exemplificando algumas situações de aplicações corriqueiras, e

Page 17: MODELAGEM MATEMÁTICA: UMA METODOLOGIA ALTERNATIVA DE

também fazendo as relações centesimais existente entre os submúltiplos e o metro

quadrado. Pelos relatórios apresentados, verificou-se que o trabalho contribuiu para

a compreensão e construção dos conceitos relacionados à medida de superfícies.

Na sequência foi organizado e proposto aos grupos que utilizassem os quadrados

confeccionados para medirem a área de algumas superfícies pré-selecionadas e

organizadas pela professora. Cada dois grupos mediram duas superfícies iguais

para fazer a comparação e validação dos modelos. Durante a execução desta tarefa

houve a necessidade do auxílio de mais dois profissionais da escola no

acompanhamento e controle dos alunos durante as medições em alguns ambientes

menos movimentados do espaço físico escolar. Esta foi mais uma atividade que

exigiu organização e disciplina para que se tivesse um desempenho satisfatório.

A próxima atividade iniciou-se desafiando os alunos que a partir da fórmula do

retângulo deduzissem a área do triângulo, do paralelogramo, do losango e do

trapézio. Para deduzir as fórmulas das áreas desses polígonos foi orientado que

usassem sempre o mesmo procedimento: desenhar o polígono no papel

quadriculado com as medidas indicadas e recortá-lo de maneira que se possa

compor um retângulo, e assim, através da fórmula da área do retângulo, deduzir a

fórmula dos demais polígonos indicados. Ao final cada grupo apresentou as fórmulas

encontradas relatando e demonstrando os procedimentos. Com a mediação da

professora foi comparado, analisado e validado os resultados encontrados

elaborando um relatório final relacionando cada figura geométrica com sua fórmula

de área. Cada aluno registrou os dados encontrados para posterior utilização. Foi

uma atividade muito interessante e envolvente, pois todos os alunos participaram

ativamente e através da resolução de algumas situações problemas demonstraram

que perceberam a importância e o significado desses conceitos.

Dando sequência à implementação, iniciou-se a terceira parte da unidade

propondo que os alunos fizessem um estudo sobre planta baixa, pesquisando na

internet, em jornais, revistas e panfletos de construtoras, para escolherem o

desenho de uma planta baixa, juntamente com a representação de sua planta alta e

que fizessem o recorte delas a fim de terem noção de como fariam a próxima

atividade. Como a maioria dos alunos são carentes, e para garantir a realização da

atividade, o material necessário para a pesquisa foi organizado e fornecido pela

professora e pela escola. Para complementar e enriquecer esta atividade os alunos

assistiram ao vídeo: Arquiteto e Engenheiro Civil, da série “Qual é a sua profissão”

Page 18: MODELAGEM MATEMÁTICA: UMA METODOLOGIA ALTERNATIVA DE

em que os profissionais atuantes falam de suas profissões, da importância e quais

conceitos matemáticos são utilizados no exercício de suas funções. Para avaliar a

atividade foi proposto um questionário referente ao vídeo. Pelas respostas

apresentadas percebeu-se que entenderam a aplicação dos conceitos de escalas e

medidas, pois conseguiram exemplificar situações reais em que se utilizam os

mesmos.

Na sequência foi proposto para que desenhassem a planta baixa da sala de

aula, utilizando as escalas: 1:50 e 1:100. Nesta atividade os alunos apresentaram

certa dificuldade para traçar as paredes e manusear os esquadros e também nas

representações da espessura, deixando-as perpendicular e paralela. Mas com a

mediação e auxílio da professora as dificuldades foram superadas.

A seguir cada grupo fez, em sala de aula, o esboço da planta baixa de um dos

blocos, que foi assim definido por sorteio: Grupo 1 e Grupo 6 - Bloco 1 – onde fica a

administração, o pedagógico, a biblioteca e os laboratórios do colégio. Grupo 2 –

Bloco 2 – 1º piso – Salas de aula. Grupo 3 – Bloco 3 – 2º piso – Salas de aula.

Grupo 4 – Bloco 4 - Cozinha e refeitório. Grupo 5 – Bloco 5 – Ginásio de esportes.

Depois se deslocaram até os ambientes estipulados anteriormente e fizeram as

medições necessárias com devidos registros e posteriormente elaboraram a planta

baixa de um bloco da estrutura do colégio, utilizando a escala 1:100.

Após elaboração da planta baixa na escala 1:100 foi comparada com a planta

real do projeto na escala 1:200 e feitas as devidas conversões das medidas para

validar os resultados obtidos. A professora auxiliou na correção e avaliação dos

resultados. Dois grupos precisaram refazer os desenhos, pois além de estarem com

algumas medidas desproporcionais não consideraram a espessura das paredes que

era de 3 mm, (medida da espessura do isopor prensado, que foi o material escolhido

para a confecção das paredes da maquete). Para esta atividade foi utilizado papel

milimetrado, o que facilitou muito o desenho das retas paralelas e perpendiculares

como também maior precisão nas medidas. Foi uma atividade muito trabalhosa e

envolvente, exigindo muita interação professora/alunos. Os grupos se mostraram

interessados e participativos, dialogando, refletindo, analisando e buscando

soluções para as dúvidas que surgiam.

A quarta parte da unidade iniciou-se com o estudo dos triângulos através de

pesquisas, vídeos e experimentações. Este estudo visou a percepção da presença

do triângulo retângulo no dia a dia e a importância de sua aplicabilidade nas

Page 19: MODELAGEM MATEMÁTICA: UMA METODOLOGIA ALTERNATIVA DE

estruturas que exigem rigidez e sustentação, como a tesoura dos telhados e a

travessa usada nos portões, por exemplo. Na sequência os alunos foram

encaminhados ao laboratório de informática onde pesquisaram na internet sobre: a

função do telhado; os tipos de telhas ou outras coberturas mais usadas e a

inclinação recomendada pelos fabricantes de coberturas de telhado. Depois dessa

pesquisa foram propostas algumas situações problemas relacionadas à inclinação

do telhado, utilizando conceitos envolvendo o triângulo retângulo como: Teorema de

Pitágoras e relações trigonométricas.

Finalizado o estudo dos principais conceitos geométricos necessários para a

construção de uma obra, na quinta e última parte da unidade, foi proposto aos

alunos que utilizassem a planta baixa elaborada anteriormente e confeccionassem a

maquete da mesma. Cada grupo construiu a maquete de um dos blocos

previamente definidos no momento da elaboração da planta baixa. Para a confecção

da maquete foram utilizadas placas de isopor para a base, isopor prensado para as

paredes, papel micro ondulado para o telhado, palitos de churrasco para as colunas

das passarelas, palitos de picolés para os portões e grades, tesoura, estilete, colas

para isopor e para madeira, cartolina, tintas guache e outros. Pelo aspecto dinâmico

e interativo, esta atividade exigiu muita disposição da professora, sendo solicitada

em muitos momentos pelos grupos para auxiliar na resolução dos problemas que

surgiam. Dois dos seis grupos terminaram no tempo previsto e de maneira

satisfatória; quatro grupos precisaram retocar ou refazer a representação das portas

e janelas assim como o acabamento na pintura das paredes; dois precisaram

também refazer a estrutura do telhado, pois não calcularam corretamente a sua

inclinação. Percebia-se nitidamente a desproporcionalidade no telhado da maquete

de um deles, como eles mesmos avaliaram criticamente: “Tá mais parecido com o

“Chalé” (comparando com uma casa de danças do município) do que com o nosso

Colégio”. Foi necessário retomar alguns conteúdos estudados e através de uma

situação real como essa, aproveitou-se o momento para refletir com os alunos sobre

a importância e a aplicabilidade dos mesmos, reforçando e dando significado aos

conceitos abordados.

Concomitante ao trabalho de intervenção escolar, a unidade didática

elaborada pela professora PDE, foi disponibilizada no Grupo de Trabalho em Rede

(GTR), para que os professores participassem, analisassem e dessem suas

contribuições.

Page 20: MODELAGEM MATEMÁTICA: UMA METODOLOGIA ALTERNATIVA DE

No encerramento das atividades, houve a exposição da maquete e dos

trabalhos realizados no projeto para a comunidade escolar no laboratório de ciências

do colégio.

RESULTADOS

O questionário investigativo teve a finalidade de comparar o comportamento

perante a Matemática e o conhecimento dos alunos antes e depois da intervenção

pedagógica. De um conjunto de dez questões, alguns dos resultados mais

relevantes do questionário, estão apresentados nos gráficos a seguir.

A questão inicial perguntou o que os alunos achavam da disciplina de

Matemática, as respostas correspondem ao apresentado no Gráfico 1.

Gráfico 1 – Gosto pela disciplina de Matemática

Conforme o gráfico percebe-se que no início apenas dois responderam que

gostam da Matemática e que ela é a disciplina favorita e no final o índice subiu para

dez; dezoito alunos responderam inicialmente que gostam, mas sentem dificuldades

de aprender, e no final o número baixou para dezessete. Este quadro praticamente

não mudou. Quanto a não gostar e não conseguir aprender, antes oito alunos

respondeu esta questão e no término da intervenção o número de alunos caiu para

um ponto, o medo e a aversão foram solucionados.

Das disciplinas curriculares a mais apreciada pelos alunos é Artes, mas eles

consideram a Matemática importante e conseguem justificar dizendo que:

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Gosto muito. É minha

disciplina favorita.

Gosto, mas tenho

dificuldade de aprender.

Não gosto e não consigo aprender.

Tenho medo e aversão pela

mesma.

Antes

Depois

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Aluno 1 - Ela é importante para toda a vida, pois tudo o que fazemos tem

matemática envolvida.

Aluno 2 - Porque em tudo você vai usar a matemática por mais que você não

perceba.

Aluno 3 - Ela é importante para todo dia, por exemplo, no trabalho, nas tarefas

domésticas e no planejamento pessoal.

Aluno 4 - Sim, porque em qualquer atividade que vamos fazer e em qualquer

lugar a matemática está presente.

Aluno 5 - Sim, porque usamos diariamente. Precisamos saber matemática

porque ela é muito importante para as nossas escolhas.

Aluno 6 - Acho importante, pois a matemática está em toda a parte, por onde

olhamos a matemática está presente.

Essas são algumas das respostas mais significativas dadas pelos alunos.

Quanto aos conteúdos matemáticos mais difíceis os dados coletados estão

expressos no Gráfico 2

Gráfico 2 – Conteúdos matemáticos mais difíceis

No gráfico percebe-se que os alunos mudaram bastante de opinião entre o

antes e o depois do processo de intervenção, o que a princípio consideravam difícil,

ao final acabou sendo menos difícil e vice e versa. Isto leva a concluir que o

processo de ensino aprendizagem é dinâmico podendo reverter à posição negativa

0

2

4

6

8

10

12

14

16

As operações com números

reais

As equações A geometria Tudo

Antes

Depois

Page 22: MODELAGEM MATEMÁTICA: UMA METODOLOGIA ALTERNATIVA DE

de acordo com o enfoque, ou seja, conforme a abordagem que se dá aos conteúdos.

Nesse caso a modelagem matemática contribuiu para a mudança constatada.

Gráfico 3 – Refere-se sobre as formas geométricas que compõem a bandeira

nacional brasileira.

De acordo com o gráfico percebe-se que inicialmente apenas três alunos

responderam corretamente todas as formas e ao final o número aumentou

significativamente para 29 alunos.

Pelas respostas dadas no primeiro questionário ficou muito evidente o pouco

conhecimento que eles tinham a respeito dos conteúdos relacionados ao trabalho

proposto. Para se ter uma ideia da defasagem dos conhecimentos básicos em

geometria, os únicos quadriláteros que eles conseguiam citar eram: quadrado e

retângulo, e ainda não diferenciavam um do outro. Eles se referiam a circunferência,

ao círculo e a esfera como “redondo”, e a maioria das demais formas geométricas

eles praticamente desconheciam.

CONCLUSÃO

A avaliação dos resultados da proposta pedagógica apresentou os dados

coletados junto aos alunos e o procedimento adotado nas aulas. A aplicação do pré-

0

5

10

15

20

25

30

Responderam correto as

três formas

Responderam correto duas

formas

Responderam apenas uma

forma correta

Responderam todas

incorretas

Não responderam

Antes

Depois

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questionário e do pós-questionário confrontou as possíveis alterações no processo

ensino aprendizagem de Matemática em relação aos conteúdos trabalhados. Os

avanços observados são indicativos dos efeitos positivos que essa metodologia de

ensino e aprendizagem pode proporcionar.

Mostrou-se que por meio da Modelagem Matemática é possível aplicar e

atribuir significado aos conteúdos matemáticos, incentivando a pesquisa,

promovendo a habilidade em formular e resolver problemas, estimulando a

criatividade e o espírito de cooperação, demonstrando a utilidade desta disciplina,

possibilitando a conexão da Matemática com a realidade vivida, oportunizando

assim, através destes objetivos a construção do conhecimento matemático.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Jonei Cerqueira; CALDEIRA, Ademir Donizeti; ARAÚJO, Jussara de Loiola. Org. Modelagem Matemática na Educação Brasileira: pesquisas e práticas educacionais. Recife: SBEM, 2007.

BARBOSA, Jonei Cerqueira. Modelagem Matemática na sala de aula. Perspectiva, Erechim (RS), v. 27, n. 98, p. 65-74, junho/2003. Disponível em: http://www.uefs.br/nupemm/perspectiva.pdf. Acesso em 19/05/2012.

BASSANEZI, Rodnei Carlos. Ensino – aprendizagem com modelagem matemática: uma nova estratégia. São Paulo: Contexto, 2010.

BIEMBENGUT, Maria Salett; HEIN, Nelson. Modelagem Matemática no Ensino. São Paulo: Contexto, 2000.

BURAK, Dionisio. Modelagem Matemática e a sala de aula. In: ENCONTRO PARANAENSE DE MODELAGEM EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 2004, Londrina. Anais Londrina: UEL, 2004. 1 CD-ROM.

______________. Modelagem matemática: ações e interações no processo de ensino aprendizagem. 1992. 329f. Tese. (Doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, 1992.

D”AMBRÓSIO, Ubiratan. Da realidade à ação: reflexões sobre educação e matemática- São Paulo: Summus.

PARANÁ, SEED. Diretrizes Curriculares da Rede Pública da Educação Básica do Estado do Paraná – Matemática. Curitiba, 2008.