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MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE METABÓLITOS SECUNDÁRIOS DURANTE E APÓS A GERMINAÇÃO EM Erythrina velutina DIÊGO AUGUSTO AZEVEDO DA SILVA Macaíba/RN Agosto de 2020 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS - UAECIA ESCOLA AGRÍCOLA DE JUNDIAÍ - EAJ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FLORESTAIS Nº 084

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MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE

METABÓLITOS SECUNDÁRIOS DURANTE E APÓS A

GERMINAÇÃO EM Erythrina velutina

DIÊGO AUGUSTO AZEVEDO DA SILVA

Macaíba/RN

Agosto de 2020

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS - UAECIA ESCOLA AGRÍCOLA DE JUNDIAÍ - EAJ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FLORESTAIS

Nº 084

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DIÊGO AUGUSTO AZEVEDO DA SILVA

MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE METABÓLITOS

SECUNDÁRIOS DURANTE E APÓS A GERMINAÇÃO EM Erythrina velutina

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Florestais da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, como parte das exigências para

obtenção do título de Mestre em Ciências Florestais (Área

de Concentração em Ciências Florestais - Linha de

Pesquisa: Sementes, propagação e fisiologia de espécies

florestais).

Orientador:

Prof. Dr. Eduardo Luiz Voigt

Macaíba/RN

Agosto de 2020

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iii

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Rodolfo Helinski - Escola

Agrícola de Jundiaí – EAJ

Silva, Diego Augusto Azevedo da.

Mobilização de reservas e perfil preliminar de metabólitos

secundários durante e após a germinação em Erythrina velutina /

Diego Augusto Azevedo da Silva. - 2020.

56f.: il.

Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias

Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais, Macaíba, RN,

2020.

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Luiz Voigt.

1. Germinação da Semente - Dissertação. 2. Estabelecimento da

Plântula - Dissertação. 3. Espécie Pioneira - Dissertação. 4.

Mobilização de Reservas - Dissertação. 5. Mulungu - Dissertação.

I. Voigt, Eduardo Luiz. II. Título.

RN/UF/BSPRH CDU 631.53.02

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iv

MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE METABÓLITOS

SECUNDÁRIOS DURANTE E APÓS A GERMINAÇÃO EM Erythrina velutina

DIÊGO AUGUSTO AZEVEDO DA SILVA

Dissertação julgada para obtenção do título de Mestre em Ciências Florestais (Área

de Concentração em Ciências Florestais - Linha de Pesquisa: Sementes, propagação e

fisiologia de espécies florestais) e aprovada pela banca examinadora em 27 de agosto de

2020.

Banca Examinadora

Prof. Dr. Eduardo Luiz Voigt

DBG/CB/UFRN

Presidente

Prof. Dr. Sidney Carlos Praxedes

UAECIA/UFRN

Examinador interno

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ferreira da Silva

UAST/UFRPE

Examinador externo à Instituição

Macaíba/RN

Agosto de 2020

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v

Dedico esta dissertação a minha mãe, pelo apoio

incondicional em todos os momentos difíceis. Este

trabalho é dedicado à mulher mais importante da

minha vida.

DEDICO

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vi

AGRADECIMENTOS __________________________________________________________________________

Agradeço a CAPES/CNPq e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte pela

estrutura e pelos materiais necessários para realização da pesquisa.

Ao Professor Eduardo Luiz Voigt, que com muita paciência e dedicação foi um guia

para o meu crescimento profissional e pessoal, levarei para toda a vida o seu amor ao

trabalho.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais de UFRN.

À Danilo Flademir, uma pessoa incrível e dedicada, sempre disposto a ajudar, muito

obrigado pela ajuda no planejamento, nas coletas e ensaios.

Agradeço imensamente à professora Raquel Giordani, à Ivanice Bezerra e à Daisy

Sotero pelo acolhimento e ajuda.

À equipe do laboratório de estudos em Biotecnologia vegetal, em especial à Ana

Paula, Herley Carlos, Thadeu Martins, John Santos, Jackson Fernandes e Vinicius Cruz.

Agradeço aos meus queridos amigos Alberto Cappellini, Marcos Junior, Stephano Tomaz e

Radan Elvis.

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vii

RESUMO GERAL

__________________________________________________________________________

MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE METABÓLITOS

SECUNDÁRIOS DURANTE E APÓS A GERMINAÇÃO EM Erythrina velutina

Considerando o potencial medicinal de Erythrina velutina Willd., uma espécie arbórea nativa

da Caatinga, o objetivo deste trabalho foi caracterizar a mobilização de reservas em paralelo

com o conteúdo de metabólitos secundários durante a germinação da semente e o

estabelecimento da plântula. Assim, sementes foram escarificadas, desinfetadas e

semeadas entre folhas de papel Germitest® e cultivadas sob condições controladas. Em

seguida, plântulas foram transferidas para água destilada em hidroponia e cultivadas em

casa de vegetação. Em uma curva de tempo, o crescimento da plântula, a mobilização das

reservas e o conteúdo de açúcares solúveis e aminoácidos livres, bem como o perfil

preliminar de metabólitos secundários foram acessados nos cotilédones durante e após a

germinação. A germinação incluiu os estágios de semente embebida e protrusão da

radícula, enquanto o estabelecimento abrangeu emergência do hipocótilo, abertura do

gancho plumular, expansão das folhas cordiformes, da primeira e da segunda folha

trifoliolada. As sementes apresentaram 20% de amido, 14,5% de proteínas de reserva,

11,6% de lipídeos neutros e 5,7% de açúcares não redutores em base de massa seca. As

reservas majoritárias foram mobilizadas de forma sincrônica e mais intensa a partir da

abertura do gancho plumular, ao passo que os açúcares solúveis foram utilizados a partir da

emergência do hipocótilo. A atividade de amilases, lipases e proteases ácidas aumentou a

partir da expansão das folhas cordiformes, coincidindo com o acúmulo de aminoácidos livres

e com a mobilização de amido, lipídeos e proteínas, respectivamente. Por cromatografia em

camada delgada, sugere-se a presença de terpenos e de ácidos fenólicos ao longo do

experimento. Os resultados indicam a ocorrência de flavonoides a partir da germinação e na

expansão das folhas cordiformes. Durante todo o experimento, foi evidenciada a presença

de alcaloides, principalmente na semente embebida. O esclarecimento destes processos

pode auxiliar na compreensão das estratégias utilizadas por E. velutina para a colonização

do ambiente como espécie pioneira da Caatinga, bem como em qual estágio de

desenvolvimento pode-se obter em maior variedade e quantidade os metabolitos

secundários.

Palavras-chave: Espécie pioneira, estabelecimento da plântula, germinação da semente,

mobilização de reservas, mulungu.

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viii

GENERAL ABSTRACT

__________________________________________________________________________

MOBILIZATION OF RESERVES AND PREMILINARY PROFILE OF SECONDARY

METABOLITES DURING AND AFTER GERMINATION IN Erythrina velutina

Considering the medicinal potential of Erythrina velutina Willd., a woody species native to the

Caatinga, the aim of this work was to characterize the mobilization of reserves in parallel with

the content secondary metabolites during seed germination and seedling establishment.

Hence, seeds were scarified, surface-sterilized, planted between towel paper sheets and

cultivated under controlled conditions. Then, seedlings were transferred to distilled water in

hydroponics and cultivated in a greenhouse. In a time-course experiment, seedling growth,

reserve mobilization and the content of soluble sugars and free amino acids, as well as the

preliminary profile of secondary metabolites were assessed in the cotyledons during and

after germination. Germination included the stages of imbibed seed and radicle protrusion,

whereas establishment encompassed hypocotyl emergence, plumule hook opening, and the

expansion of cordiform leaves, first trifoliate leaf and second trifoliate leaf. Seeds contained

20% starch, 14,5% storage proteins, 11,6% neutral lipids and 5,7% non-reducing sugars in

dry weight basis. The major reserves were synchronically and intensely mobilized from apical

hook opening, while non-reducing sugars were utilized from hypocotyl emergence. The

activity of amylases, lipases and acid proteases increased from cordiform leaf emergence,

coinciding with the mobilization of starch, lipids and proteins, respectively. By thin layer

chromatography, it was possible to verify the presence of terpenes and phenolic acids during

the experiment. The results indicate the occurrence of flavonoids from seed germination and

at the expansion of cordiform leaves. Throughout the experiment, it was evidenced the

presence of alkaloids, mainly in the imbibed seed. The elucidation of these processes may

help in understanding the strategies used by E. velutina to colonize the environment as a

Caatinga pioneer species.

Keywords: mulungu, pioneer species, reserve mobilization, seed germination, seedling

establishment.

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ix

SUMÁRIO __________________________________________________________________________

Página 1.INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1

2.OBJETIVOS ................................................................................................................. 3

3. REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................ 5

3.1. A Caatinga ........................................................................................................... 5

3.2. Espécies florestais medicinais ............................................................................. 7

3.3 Erythrina velutina Wild .......................................................................................... 7

3.4. Metabolitos secundários. ..................................................................................... 9

3.5. Germinação da semente e estabelecimento da plântula. .................................. 11

4. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 14

4.1. Material vegetal ................................................................................................. 14

4.2. Lipídeos neutros (LN) ........................................................................................ 14

4.3. Proteínas solúveis (PS) ..................................................................................... 15

4.4. Metabólitos solúveis .......................................................................................... 15

4.5. Amido ................................................................................................................ 15

4.6. Atividades enzimáticas ...................................................................................... 16

4.7. Cromatografia de camada delgada (CCD) ......................................................... 16

4.8. Delineamento experimental e análise estatística ............................................... 17

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................. 19

5.1. Resultados ........................................................................................................ 19

5.2. Discussão .......................................................................................................... 25

6. CONCLUSÕES .......................................................................................................... 31

7. AGRADECIMENTOS ................................................................................................. 33

8. LITERATURA CITADA .............................................................................................. 35

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x

LISTA DE FIGURAS __________________________________________________________________________

Figura 1. Mapa das Áreas Suscetíveis à Desertificação e Núcleos de Desertificação. Fonte:

Amaro, Galvão e Maracajá (2017) ......................................................................................... 3

Figura 2. Estrutura básica dos alcaloides eritrínicos (A) e das subclasses dienoide (B),

alcenoide (C) e lactônica (D). Fonte: Feitosa (2014). ............................................................. 8

Figura 3. Conteúdo de amido (a), lipídeos neutros (b) e proteinas solúveis (c) nos

cotilédones de E. velutina ao longo da germinação da semente e do estabelecimento da

plântula.. .............................................................................................................................. 15

Figura 4. Conteúdo de AST (a) e ANR (b) e AALT (c) nos cotilédones de E. velutina ao longo

da germinação da semente e do estabelecimento da plântula. ............................................ 16

Figura 5. Atividade de amilases (a), lipases (b) e proteases ácidas (c) nos cotilédones de E.

velutina ao longo da germinação da semente e do estabelecimento da plântula ................. 17

Figura 6. Cromatografia em camada delgada de extratos etanólicos obtidos a partir de

cotilédones de E. velutina ao longo da germinação da semente e do estabelecimento da

plântula. Revelação foi feita com reagente da vanilina para detecção de saponinas e

terpenos..................................................................................................................................18

Figura 7. Cromatografia em camada delgada de extratos etanólicos obtidos a partir de

cotilédones de E. velutina ao longo da germinação da semente e do estabelecimento da

plântula. Revelação foi feita com Natural A para detecção de flavonoides e ácidos

fenólicos..................................................................................................................................19

Figura 8. Cromatografia em camada delgada de extratos etanólicos obtidos a partir de

cotilédones de E. velutina ao longo da germinação da semente e do estabelecimento da

plântula. Revelação realizada com Dragendorff para detecção de alcaloides.......................19

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LISTA DE ABREVIATURAS __________________________________________________________________________

AALT – Aminoácidos livres totais

ANR – Açúcares não redutores

AST – Açúcares solúveis totais

CCD – Cromatografia de camada delgada

DETER – Detecting Deforestation in Real Time

LN – Lipideos neutros

MS – Massa seca

MEV – Mevalonato

MEP – Metileritritol fosfato

OPDA – 12-oxo-fitodienoico

PMDBBS – Projeto Monitoramento do Desmatamento dos Biomas Brasileiros por Satélite

PS – Proteinas solúveis

PROBIO – Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica

PRODES – Monitoring Brazilian Amazon Forest by Satellite

RFOs – Oligossacarídeos da série rafinose

UV – radiação ultravioleta

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xiii

Introdução

_____________________________

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1

1. INTRODUÇÃO

__________________________________________________________________________

A Caatinga é um bioma exclusivo brasileiro, que ocupa predominantemente o

semiárido nordestino. Este bioma é dominado por espécies arbóreas e arbustivas de

pequeno porte com características xerofíticas, apresentando patrimônio biológico

diversificado com ocorrência de espécies endêmicas (PINHEIRO e NAIR, 2018). Estima-se

que a Caatinga está reduzida em 50% da sua área original devido à pressão antrópica,

especialmente envolvendo atividades extrativistas (DANTAS et al., 2014). De fato, o

desflorestamento visando o uso de áreas para práticas agrícolas tem resultado na

fragmentação da vegetação sob a forma de mosaico, em diferentes estágios de

regeneração natural (RODRIGUES et al., 2018).

Com relação à diversidade vegetal da Caatinga, a família Fabaceae se destaca com

374 espécies já catalogadas (Flora do Brazil, 2020). Tendo em vista o processo de

degradação do bioma, espécies desta família vêm recebendo atenção por causa do seu

papel ecológico como pioneiras (RODRIGUES et al., 2018). Além disso, elas têm sido

estudadas pelo seu potencial medicinal e, devido ao risco de redução populacional, vêm

sendo recomendadas para programas de conservação (SANTOS et al., 2017).

Dentre as espécies de Fabaceae nativas da Caatinga, Erythrina velutina Willd.,

popularmente conhecida como mulungu, tem sido estudada pelo seu potencial medicinal. É

uma árvore heliófita, decídua e pioneira, comum em formações secundárias e recomendada

para plantios mistos com fins de repovoamento (CARVALHO, 2008). Em E. velutina,

destaca-se a produção de metabólitos secundários com propriedades farmacológicas, que

são principalmente atribuídas aos alcaloides eritrínicos (RAMBO et al., 2019) Os alcaloides

têm sido caracterizados como compostos nitrogenados básicos derivados de aminoácidos

(ANISZEWSKI, 2015). Embora muitos trabalhos tenham isolado e caracterizado alcaloides

produzidos por plantas, poucos trabalhos buscam compreender inter-relações entre o uso

de reservas e a acumulação de alcaloides durante a germinação da semente e o

estabelecimento da plântula (RAMIREZ-ESTRADA et al., 2016).

Page 15: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

2

Objetivo

_____________________________

Page 16: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

3

2. OBJETIVO

__________________________________________________________________________

O trabalho tem como objetivo caracterizar a mobilização das reservas em paralelo

com conteúdo de metabólitos secundários nos cotilédones de E. velutina ao longo dos

estágios iniciais do seu desenvolvimento e verificar se alterações no metabolismo de

reservas podem ser relacionadas à acumulação de alcaloides.

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4

Revisão de literatura

_____________________________

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5

3. REVISÃO DE LITERATURA

__________________________________________________________________________

3.1. A Caatinga

O bioma Caatinga ocupa 10% de todo território brasileiro e corresponde a cerca de

1,4% de toda região árida do mundo. Com aproximadamente 1.300.000 km2 de extensão,

está distribuído em sete Estados, sendo considerado um bioma único do Brasil (AGUIAR et

al., 2010; TOMASELLA et al., 2018). A Caatinga é caracterizada pelo seu clima semiárido,

com intensa radiação solar e alto potencial de evaporação, tendo registros pluviométricos

entre 800 e 1500 mm por ano, com precipitações anuais que duram de 3 a 5 meses.

Contudo, estiagens prolongadas são registradas a cada três ou quatro décadas, podendo se

estender por até 5 anos sem chuvas significativas (TOMASELLA et al., 2018).

Este bioma é dominado por espécies arbóreas e arbustivas de pequeno porte com

características xerofíticas, as quais apresentam estratégias para sobreviver aos longos

períodos de estiagem, adaptando-se através de mudanças morfológicas e fisiológicas que

possibilitam o melhor aproveitamento da água, bem como a redução da transpiração.

Algumas espécies possuem modificações foliares, outras em período de seca perdem todas

as folhas para minimizar a transpiração, dentre outras estratégias. Muitas destas espécies

adaptadas são endêmicas da Caatinga (SANTOS et al., 2014; PINHEIRO e NAIR, 2018).

A biodiversidade entra em contraste com a recorrente devastação que ocorre na

Caatinga, pois cerca de 50% do seu território original já foi devastado. Para melhor

compreensão da extensão dos impactos e a proteção desse habitat único, foram criados

programas como o PRODES (Monitoring Brazilian Amazon Forest by Satellite), DETER

(Detecting Deforestation in Real Time), PROBIO (Projeto de Conservação e Utilização

Sustentável da Diversidade Biológica) e o PMDBBS (Projeto Monitoramento do

Desmatamento dos Biomas Brasileiros por Satélite). Mesmo com essas iniciativas, é

crescente o desmatamento e a fragmentação das áreas remanescentes, devido à pressão

antrópica, especialmente envolvendo atividades extrativistas (DANTAS et al., 2014;

MIRANDA et al., 2018). Após 500 anos de ocupação desordenada e desmatamento

contínuo, os remanescentes florestais apresentam distribuição da vegetação sob a forma de

mosaico, em diferentes estágios de regeneração natural (RODRIGUES et al., 2018;

TOMASELLA et al., 2018).

A região semiárida brasileira tem como uma de suas principais fontes de energia a

utilização da biomassa florestal, compreendendo cerca de 10 milhões m³ de madeira

utilizados por ano. Combinada com a retirada da madeira para produção do carvão se

encontra a queimada da área para implantação de pasto ou plantações, o que intensifica os

impactos causados na região, agravados pela falta de fiscalização e de planos de manejo

Page 19: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

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sustentável, não havendo tempo para a vegetação se recuperar, causando grandes danos a

todo o ecossistema (ALTHOFF et al., 2018). Outra consequência é a desertificação do

ambiente (Figura 1), que já afeta mais de 15% da área total explorada, ocasionando a perda

permanente da diversidade da fauna e flora (SANTOS et al. 2017).

FIGURA 1. Mapa das áreas suscetíveis à desertificação e núcleos de desertificação no bioma Caatinga. Fonte: Amaro, Galvão e Maracajá (2017)

Segundo Amaro (2017), a população dessas áreas tem uma grande dependência

dos recursos naturais para o consumo de subsistência, tendo em vista que, além do uso da

madeira as outras partes das plantas também são utilizadas, em especial para fins

medicinais. Assim, as espécies da Caatinga vêm sendo utilizadas para o tratamento de

enfermidades, sendo esse conhecimento passado através das gerações.

3.2. Espécies florestais medicinais

Page 20: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

7

Há muito tempo, as plantas são utilizadas pelo homem para a manutenção da saúde.

Atualmente, este conhecimento popular é bastante difundido, principalmente em pequenas

comunidades e em áreas rurais. A população utiliza tanto as espécies nativas, como as

exóticas para a cura e o tratamento de diversas enfermidades. Dentre os diversos usos,

destacam-se as espécies utilizadas como calmantes, cicatrizantes, anestésicas e anti-

inflamatórias, para as mais diversas dores e enfermidades. Somente nos últimos anos que

foram intensificados os estudos da composição química, seus efeitos e aplicações do ponto

de vista farmacêutico. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 3,5

bilhões de pessoas de países em desenvolvimento fazem uso de plantas medicinais. Dentre

as drogas farmacêuticas, 25% são obtidas de compostos de origem vegetal e destes, 85%

são de espécies já utilizadas pela população (OLIVEIRA 2010).

Muitas plantas medicinais vêm sendo caracterizadas quanto ao seu potencial

farmacológico, apresentando ação bactericida, anti-inflamatória, antioxidante e cicatrizante

(RIBEIRO et al. 2014). As espécies medicinais têm seu uso frequente feito através de

infusão de partes da planta, em especial, de suas folhas, casca, sementes e raízes; também

são feitas outras preparações, como lambedores, sumos, raspas ou pó, cataplasma, óleo,

tinturas, suco e látex com água (LOBO et al. 2010; RIBEIRO et al. 2014; PENIDO et al.,

2016; SANTOS et al., 2018). Diversas espécies da família Fabaceae que ocorrem na

Caatinga vêm sendo exploradas para o uso medicinal e comercial, incluindo Amburana

cearenses, Anadenanthera colubrina e Hymenaea courbaril, as quais são usadas para o

tratamento de problemas respiratórios (CORDEIRO; FELIX, 2014; PENIDO et al., 2016),

Machaerium hirtum e Senna obtusifolia, empregados no tratamento de verminoses e diarreia

(CORDEIRO; FELIX, 2014) e E. velutina, que possui propriedades anti-inflamatórias,

anticonvulsivantes, calmantes e anestésicas (PEREIRA et al., 2014).

3.3. Erythrina velutina Wild.

Com relação à diversidade vegetal da Caatinga, a família Fabaceae se destaca com

89 gêneros, 374 espécies, 4 subespécies e 83 variedades (Flora do Brazil, 2020). Tendo em

vista o processo de degradação do bioma, espécies desta família vêm recebendo atenção

por causa do seu papel ecológico como pioneiras (RODRIGUES et al., 2018). Além disso,

espécies de Fabaceae têm sido estudadas devido ao seu potencial medicinal e, por causa

do risco eminente de redução populacional, vêm sendo recomendadas para programas de

conservação (SANTOS et al., 2017).

As espécies do gênero Erythrina são encontradas em regiões tropicais e

subtropicais, possuindo cerca de 115 espécies, das quais 70 são nativas da América. No

Brasil, podem ser encontradas oito espécies de Erythrina: E. mulungu, E. velutina, E. crista-

galli, E. falcata, E. verna, E. speciosa, E. poeppigiana e E. fusca. Dentre estas espécies, E.

Page 21: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

8

velutina, popularmente conhecida como mulungu, suinã, canivete ou corticeira, tem sido

estudada pelo seu potencial medicinal. É uma árvore heliófita, decídua e pioneira, comum

em formações secundárias e recomendada para plantios mistos com fins de repovoamento

(CARVALHO, 2008).

E. velutina possui copa aberta e arredondada, o seu tronco apresenta acúleos, com

altura de 6 a 12 m. Suas folhas são compostas trifolioladas, alternas, de folíolos cartáceos,

medindo de 3 a 12 cm de comprimento. Possui flores de cor vermelho coral, grandes,

dispostas em panículas racemosas com raque pulverulenta, que se formam com a árvore

totalmente despida de folhagem. Seus frutos são do tipo legume deiscente, com vagem

medindo de 5 a 8 cm de comprimento, contendo sementes reniformes, brilhantes, bicolores,

denominadas miméticas, de coloração vermelha-escura e vermelha-alaranjada,

subquadrangulares ou oblongas, com um hilo curto de posição mediana (CARVALHO, 2008;

PALUMBO et al., 2016).

A floração da espécie ocorre entres os meses de julho e fevereiro. A frutificação vai

até março, com a dispersão das sementes e frutos por zoocoria, principalmente pela ação

das aves. As sementes do mulungu apresentam dormência física, conferindo

impermeabilidade tegumentar à água, sendo necessário tratamento para quebra da

dormência. O método mais difundido para esta espécie é a escarificação mecânica, com lixa

de papel (CARVALHO, 2008; PALUMBO et al., 2016).

De acordo com Pereira, et al. (2014), E. velutina é utilizada na ornamentação, no

paisagismo, na arborização de ruas. As flores maceradas servem como corantes para

tecido; sua madeira produz lenha de baixo poder calorífico, com maior utilização na

fabricação de palitos de fósforo, jangadas, estacas, mourões de cerca, tamancos,

brinquedos e caixotes de madeira; devido a sua alta porosidade e pouco peso, ela não é

utilizada para confecção de móveis. A casca, as sementes e as flores tem ampla utilização

na medicina popular, em especial na Região Nordeste do Brasil. Infusões da casca da

árvore apresentam ação sudorífica, calmante e emoliente, enquanto que o seu fruto seco

possui ação anestésica local e extratos hidroalcoólicos do ritidoma e de flores possuem

atividade ansiolítica, antinociceptiva e anticonvulsivante (ALVES et al., 2008; PEREIRA, et

al., 2014).

E. velutina produz compostos secundários com propriedades farmacológicas,

incluindo alcaloides, catequinas, flavonoides, fenóis, saponinas, taninos, triterpenoides e

xantonas (RAMBO et al., 2019). As propriedades farmacológicas de E. velutina vêm sendo

principalmente atribuídas aos alcaloides eritrínicos que esta espécie produz (RAMBO et al.,

2019). Estes compostos estão presentes em casca, flores, folhas e sementes, como a

eritravina e a 11-hidroxi-eritravina, que foram isoladas das cascas e folhas de E. mulungu

(FLAUSINO Jr., 2007). Outro grupo que está presente em sementes de E. velutina é o dos

Page 22: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

9

alcaloides indólicos, por exemplo a hipaforina (N, N-dimetiltriptofana), isolada a partir de

extrato metanólico (OZAWA et al., 2008).

3.4. Metabolitos secundários

As plantas possuem mecanismos complexos para defesa contra agentes bióticos e

abióticos. Estes mecanismos incluem a produção de substâncias chamadas metabólitos

secundários ou especializados. Essas substâncias conferem à planta resistência contra

herbivoria, doenças, promovem atração de agentes polinizadores, interação com os

microrganismos simbióticos e resistência a agentes abióticos (HAMMOND-KOSACK e

JONES, 2015). Já foram descobertos cerca de 100.000 metabólitos secundários de plantas

e estima-se que aproximadamente 4.000 novos estão sendo descobertos a cada ano. Os

terpenoides, também citados como terpenos ou isoprenoides, são o maior grupo de

substâncias produzidas pelas plantas, compreendendo mais de um terço de todos os

compostos conhecidos. O segundo maior grupo é o formado pelos alcaloides, que

compreendem muitas drogas e venenos (BRANDÃO et al., 2017).

Os terpenos possuem o difosfato de isopentenila (IPP) e difosfato de dimetilalila

(DMAPP) como precursores. Sua biossíntese pode ocorrer por duas vias metabólicas

distintas, a via do mevalonato (MEV) ou a via do metileritritol fosfato (MEP) (ALICANDRI et

al., 2020). Vários terpenoides apresentam ação alelopática, permitindo uma interação com o

meio ambiente ou conferindo toxicidade como proteção contra herbivoria, microorganismos

e/ou patógenos (KARUNANITHI; ZERBE, 2019). Os terpenos, também desempenham

funções primárias essenciais como precursores de hormônios vegetais (giberelinas,

citocininas, ácido abscísico, brassinosteróides e estrigolactonas), pigmentos fotossintéticos

(carotenoides), carreadores de elétrons (ubiquinona e plastoquinona) e principais

componentes de estruturas de membrana (fitoesteróis) (ALICANDRI et al., 2020).

As saponinas são glicosídeos de esteroides ou de terpenos policíclicos. Formadas

por uma estrutura que possui uma parte lipofílica (triterpeno ou esteroide) e outra parte

hidrofílica (açúcares) (REHAN et al., 2020). São substâncias que desempenham diversos

papéis biológicos, incluindo ação alelopática, anti-inflamatória e hemolítica. A presença

destes metabólitos pode influenciar o comportamento alimentar, desenvolvimento e causar

mortalidade a insetos e outros microrganismos, conferindo proteção à planta (HUSSAIN et

al., 2019). Em estudo realizado por Shi et al. (2019), é relatado o potencial farmacêutico

atribuído as saponinas presentes em Panax ginseng por possuírem ação no sistema

nervoso central, proporcionando melhoria na memoria e aprendizado, além da utilização no

tratamento de doenças neurológicas e ação anticancerígena.

Os alcaloides constituem um vasto grupo de metabólitos com grande diversidade

estrutural, representando cerca de 20% das substâncias naturais descritas. Em uma

Page 23: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

10

definição geral, os alcaloides são substâncias nitrogenadas de origem vegetal, possuem

ação farmacológica, encontradas predominantemente nas angiospermas (BRANDÃO et al.,

2017). Várias espécies de plantas, animais e microrganismos produzem alcaloides, como

rãs, formigas (feromônios), borboletas (defesa), bactérias, esponjas, fungos, aranhas

(neurotoxina do veneno) e organismos marinhos (KUTCHAN et al., 2015).

Desde a antiguidade, há relatos da utilização de extratos de plantas que contêm

alcaloides para fabricação de poções e venenos. A utilização do ópio, por exemplo, data de

1400-1200 a.C. no leste do Mediterrâneo e esta prática foi difundida por toda Arábia e

Europa; assim, novas formas de decocção e infusão foram descobertas. O uso destas

substâncias marcou eventos importantes na história da humanidade. Na execução do

filósofo Sócrates por meio da ingestão do chá de cicuta (Conium maculatum); a rainha

Cleópatra usava extratos de Hyoscyamus que continham atropina, para dilatar suas pupilas

e parecer mais atraente para seus rivais políticos do sexo masculino (ANISZEWSKI, 2015;

KUTCHAN et al., 2015); já durante o Império Romano, a esposa do imperador Augusto,

Lívia, arquitetava o assassinato dos inimigos políticos do marido, onde adicionava beladona

(Atropa beladona L.) aos alimentos nos banquetes oferecidos; os índios da bacia

amazônica utilizam o extrato seco da planta conhecida como “curare” (Chondodendron

tomentosum L.) em flechas usadas na pesca, caça e em guerras.

Os alcaloides podem ser encontrados nas plantas sob a forma de sais de ácidos

orgânicos, como malato, acetato e citrato, ou ainda associados com outras substâncias,

como taninos (MOREIRA et al., 2018). A síntese dos alcaloides ocorre no retículo

endoplasmático e o seu acúmulo, nos vacúolos. Sendo necessário um substrato, que é

obtido a partir de blocos de construção do metabolismo secundário, por exemplo acetil-

coenzima A (acetil-CoA), ácido chiquímico, ácido mevalônico e 1-desoxixilulose 5-fosfato

(WANG et al., 2018; ANISZEWSKI, 2015).

Os alcaloides podem ser classificados em verdadeiros, quando são sintetizados a

partir de aminoácidos aromáticos ligados ou não a uma proteína e possuem um nitrogênio

no anel heterocíclico; protoalcaloides, contendo um átomo de nitrogênio que não pertence a

um sistema heterocíclico, sendo aminas simples; e pseudoalcaloides, que são compostos

nitrogenados não derivados de aminoácidos, com átomo de nitrogênio em anel heterocíclico,

ou não, possuindo todas as características dos alcaloides verdadeiros, mas provém do

metabolismo de terpenos ou do acetato (ANISZEWSKI, 2015).

O gênero Erythrina caracteriza-se pela presença de alcaloides eritrínicos. Este grupo

de alcaloides apresenta uma estrutura tetracíclica e podem ser classificados em três

principais subclasses, os alcaloides dienoides, alcenoides e lactônicos. Os alcaloides

dienoides possuem um sistema conjugado de dieno no anel A e B, dupla ligação entre os

carbonos 1 e 2 e entre os carbonos 6 e 7, os alcenoides têm uma ligação 1,6 dupla no anel

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11

A e os alcaloides lactônicos possuem um anel de lactona em vez do anel de benzeno

(FAHMY et al., 2019).

Figura 2. Estrutura básica dos alcaloides eritrínicos (A) e das subclasses dienoide (B), alcenoide (C) e lactônica (D). Fonte: Feitosa (2014)

3.5. Germinação da semente e estabelecimento da plântula

A germinação da semente pode ser descrita como um evento fisiológico que se inicia

com a absorção de água e a reativação do metabolismo, culminando com a protrusão da

radícula (BEWLEY et al. 2013). O processo germinativo é dependente de agentes internos e

externos; os internos podem ser divididos entre hormônios e substâncias inibidoras não

hormonais, enquanto os externos incluem disponibilidade de água, temperatura adequada,

luz e oxigênio (NORONHA et al., 2018; YANG; BENNING, 2018). Durante a germinação e

principalmente ao longo do estabelecimento, as reservas de carboidratos, lipídios e

proteínas são mobilizadas, dando suporte para o desenvolvimento da plântula. Estes

compostos de reserva e seus produtos de degradação são utilizados principalmente como

fontes de carbono e de nitrogênio, fornecendo energia e subsidiando a síntese de novas

proteínas, aminoácidos e metabólitos secundários (ARAGÃO et al., 2015; DANTAS et al.,

2008a).

Em condições ideais, o processo de embebição é trifásico; na fase I, as sementes

secas absorvem água pelo gradiente de potencial hídrico (Ψ), iniciando a reativação do

metabolismo; na fase II, há um decréscimo na absorção de água pelo embrião e são

Page 25: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

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reiniciados e/ou intensificados processos metabólicos, incluindo respiração, reparo do DNA,

transcrição e tradução. A fase III, por sua vez, é marcada pela retomada na absorção de

água, que permite a expansão do embrião e a protrusão da radícula (TAIZ et al., 2017;

BEWLEY et al., 2013). A partir deste momento, inicia-se o estabelecimento da plântula,

evento marcado pela mobilização das reservas majoritárias, que fornecem precursores

biossintéticos e energia metabólica para a plântula em desenvolvimento até que ela possa

realizar a fotossíntese e se torne autotrófica (GOMMERS; MONTE, 2017).

Dentre as reservas de carbono, os açúcares não redutores como a sacarose e os

oligossacarídeos da série rafinose (RFOs), que consistem em uma molécula de sacarose

ligada a uma ou mais moléculas de galactose, são uma fonte inicial de açúcares para

produção de energia durante a germinação (HELLMANN et al., 2008). Os RFOs são

hidrolisados pela ação α-galactosidases e a sacarose liberada, por sua vez, pode ser

degradada por duas vias, uma catalisada pelas invertases e a outra pela sacarose sintase.

As hexoses resultantes podem ser oxidadas para a produção de ATP (BUCHANAN et al.,

2015).

O amido consiste na principal reserva de carboidrato de muitas sementes e é

estocado sob a forma de grânulos nos amiloplastos. Pelo menos em sementes de cereais, o

amido é degradado principalmente pela via hidrolítica, envolvendo a ação de α e a β-

amilases, enzimas desramificadoras e maltases. Os açúcares liberados por este processo

são transferidos dos tecidos de armazenamento para os tecidos em crescimento, nos quais

atuam como fontes de carbono e energia (BEWLEY et al., 2013; DANTAS et al. 2008a). Os

lipídeos, por sua vez, são as principais reservas de carbono em sementes oleaginosas, nas

quais correspondem a misturas de triacilgliceróis estocados em corpos lipídicos. A

mobilização destas reservas se inicia com a hidrólise pela ação das lipases, seguida do

metabolismo do glicerol e dos ácidos graxos. Enquanto o glicerol pode ser consumido via

glicólise no citosol, os ácidos graxos são degradados via β-oxidação e ciclo do glioxilato nos

glioxissomos. Os ácidos orgânicos oriundos dos glioxissomos são utilizados pela

gliconeogênese no citosol, permitindo a formação de açúcares que também podem ser

transportados para e utilizados pelos tecidos em crescimento (BUCHANAN et al., 2015).

As proteínas de reserva são a principal fonte de aminoácidos para a síntese de

novas proteínas e outras substâncias nitrogenadas, incluindo alguns metabólitos

secundários. Em sementes de dicotiledôneas, as proteínas de reserva são armazenadas

nos vacúolos de armazenamento de proteínas. A hidrolise destas reservas é realizada pela

ação de proteases, incluindo as endopeptidases que clivam as ligações peptídicas internas,

dando origem a cadeias polipeptídicas menores; as aminopeptidases, que hidrolisam a partir

do último aminoácido no terminal amino; e as carboxipeptidases, que realizam a hidrolise a

partir do terminal carboxila. Ao final da hidrólise, os aminoácidos resultantes podem ser

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13

convertidos em amidas e transportados para os tecidos em crescimento (TAN-WILSON;

WILSON, 2011).

Aspectos bioquímicos e fisiológicos da composição das reservas e sua mobilização

nas sementes durante a germinação e o estabelecimento da plântula em espécies florestais

ainda são pouco estudados. A maior parte das informações conhecidas sobre os processos

de mobilização de reservas são oriundas de experimentos realizados com espécies

cultivadas (CORTE et al. 2006).

Material e Métodos

_____________________________

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14

4. MATERIAL E MÉTODOS

__________________________________________________________________________

4.1. Material vegetal

Sementes de E. velutina foram coletadas de cinco indivíduos localizados na região

de Acari (RN), beneficiadas manualmente, acondicionadas em sacos de papel pardo e

mantidas em refrigerador. Estas sementes foram escarificadas mecanicamente com lixas,

lavadas com detergente diluído 1:500 por 30 s e enxaguadas em água corrente. Em

seguida, as sementes foram desinfetadas com etanol 70% (v/v) por 30 s e NaClO 0,25%

(m/v) por 3 min, lavadas três vezes e embebidas por 2 h em água destilada estéril. A

semeadura foi realizada entre folhas de papel toalha, do tipo Germitest®, dispostas na forma

de rolos e as sementes foram incubadas sob condições controladas (radiação

fotossinteticamente ativa de 80 μmol m-2s-1, fotoperíodo de 12 h e 28 ± 2°C) por até nove

dias.

As plântulas foram transferidas para água destilada contida em vasos plásticos com

capacidade para 1 L e estes sistemas hidropônicos foram cultivados em casa de vegetação

por até oito dias, realizando-se coletas periódicas de acordo com estágios fisiológicos

discretos. A germinação foi caracterizada no estágio de semente embebida (estágio I) e no

de protrusão da radícula (estágio II). Durante o estabelecimento da plântula, foi possível

caracterizar a emergência do hipocótilo (estágio III), a abertura do gancho plumular (estágio

IV), a expansão do par de folhas cordiformes (estágio V) e a expansão da primeira folha

trifoliolada (estágio VI) e o da segunda (estágio VII). Nas coletas, os cotilédones foram

pesados, acondicionados em envelopes de papel alumínio e congelados a -20°C até a

realização das determinações bioquímicas.

4.2. Lipídeos neutros (LN)

A quantificação dos LN foi realizada pelo método gravimétrico (SOXHLET, 1879).

Amostras de cotilédones com aproximadamente 200 mg de massa seca (MS) foram

maceradas em gral e pistilo e os LN foram extraídos com 8 mL de n-hexano a 60°C, durante

5 h, com agitação em vórtex a cada hora. O sobrenadante foi transferido para tubos do tipo

Falcon previamente pesados. Após a evaporação do n-hexano em estufa a 80°C, a massa

de LN foi calculada a partir da diferença entre a massa inicial e a final dos tubos e foi

expressa em mg cotilédone-1.

4.3. Proteínas solúveis (PS)

Para obter uma fração enriquecida em proteínas de reserva, amostras congeladas de

cotilédones com 300 a 500 mg foram maceradas em 1,5 mL de tampão Tris-HCl 100 mM pH

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15

7,0 contendo NaCl 500 mM e 2-mercaptoetanol 2 mM. Os homogenatos foram centrifugados

a 10.000 xg por 10 min, os sobrenadantes foram reservados e os precipitados foram

extraídos com 1 mL do tampão de extração por mais duas vezes. Os sobrenadantes foram

combinados, totalizando 3,5 mL de extrato por amostra. Todos os procedimentos foram

realizados a 4 ºC. As PS foram determinadas de acordo com o método de Bradford (1976),

utilizando uma curva-padrão de albumina sérica bovina, e o conteúdo de PS foi expresso em

mg cotilédone-1.

4.4. Metobólitos solúveis

Para extrair os metabólitos solúveis, amostras com 300 a 500 mg de cotilédones

congelados foram fragmentadas com bisturi e extraídas com 4 mL de etanol 80% (v/v) a 60

°C por 30 min. Depois da coleta dos sobrenadantes, os resíduos foram re-extraídos com 4

mL de etanol 80% (v/v) e uma última vez com mais 6 mL de etanol 80% (v/v) nas mesmas

condições. Os sobrenadantes foram coletados e reunidos, rendendo 14 mL de extrato por

amostra. Os açúcares solúveis totais (AST) foram mensurados pelo método da antrona

(MORRIS, 1948), empregando D-glicose como padrão. Os açúcares não redutores (ANR)

foram quantificados por uma modificação do método da antrona (VAN HANDEL, 1968),

utilizando uma curva-padrão de sacarose. Os aminoácidos livres totais (AALT) foram

estimados pelo método da ninidrina (YEMM; COOKING,1954), tendo como base uma curva

padrão de L-glutamina. Os conteúdos de AST, ANR e AALT foram expressos em μmol g-1

MS.

4.5. Amido

O amido foi extraído a partir dos resíduos obtidos após a extração dos metabólitos

solúveis (AALT, AST e ANR). Estes resíduos foram macerados com 1,5 mL de HClO4 30%

(v/v) e os macerados foram centrifugados a 10.000 xg por 10 min. Os sobrenadantes foram

coletados, enquanto os precipitados foram extraídos com 1 mL de HClO4 30% (v/v) por mais

duas vezes. Os sobrenadantes foram reunidos, perfazendo 3,5 mL de extrato por amostra.

Estes procedimentos foram realizados a 4 °C. O amido foi quantificado pelo método da

antrona (MORRIS, 1948), utilizando D-glicose como padrão. Os valores calculados foram

multiplicados por 0,9 para conversão em amido (McCrEADY et al., 1950) e os resultados

foram expressos em mg cotilédone-1.

4.6. Atividades enzimáticas

As lipases foram extraídas a partir de amostras de cotilédones congelados com 300

a 500 mg, as quais foram maceradas com 1,5 mL de tampão fosfato de potássio 50 mM pH

7,5 contendo 2-mercaptoetanol 0,01% (v/v). Depois de centrifugação a 10.000 xg por 20

Page 29: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

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min, os sobrenadantes foram coletados e utilizados como fontes de enzimas. Todos os

procedimentos foram feitos a 4 °C. A atividade de lipases foi determinada por meio da

hidrólise de 4-nitrofenil-palmitato, gerando 4-nitrofenol no meio de reação (MARRIOTT e

NORTHCOTE, 1975). A atividade foi calculada utilizando 4-nitrofenol como padrão e

expressa em μmol g-1 MS min-1.

As amilases foram extraídas de amostras congeladas de cotilédones com 300 a 500

mg por maceração com 1,5 mL de tampão acetato de potássio 100 mM pH 6,0 adicionado

de CaCl2 5 mM. Após centrifugação a 10.000 xg por 20 min, os sobrenadantes foram

reservados e usados como fontes de enzimas. Estes procedimentos foram conduzidos a 4

°C. A atividade das amilases foi determinada pela liberação de açúcares redutores no meio

de reação, tendo como substrato o amido solúvel (ELARBI et al., 2009). A concentração de

açúcares redutores foi quantificada com o reagente do 3,5-dinitro-salicilato (DNS) (Miller,

1959), usando uma curva-padrão de D-glicose, e a atividade foi expressa em μmol g-1 MS

min-1.

Para extrair as proteases ácidas, amostras com 300 a 500 mg de cotilédones

congelados foram maceradas com 1,5 mL de tampão tris-HCl 50 mM pH 7,2 suplementado

com 2-mercaptoetanol 2 mM. Os homogenatos foram centrifugados a 10.000 xg por 20 min

e os sobrenadantes foram usados como extratos enzimáticos. Estes procedimentos foram

realizados a 4 °C. A atividade de proteases ácidas foi mensurada pela liberação de

aminoácidos no meio de reação a partir de caseína como substrato (Beevers, 1968). A

concentração de aminoácidos livres foi dosada pelo método da ninidrina (Yemm;

Cooking,1954), utilizando como padrão a L-glutamina e a atividade foi expressa em μmol g-1

MS min-1.

4.7. Cromatografia de camada delgada (CCD)

Inicialmente, 180 mg de cotilédones congelados foram solubilizados em 1,8 mL

etanol 70% (v/v) na proporção de 1:10. Estas amostras foram mantidas em ultrassom por 30

min a 45 ºC para a extração. Em seguida, as amostras foram centrifugadas a 16.000 xg por

10 minutos a 25 ºC, o sobrenadante foi transferido para um novo tubo e o resíduo foi secado

em speedvac por 5:30 h. A massa final da amostra foi determinada por gravimetria e

solubilizada em etanol 70% (v/v), em volume fixo de 300 µL. Estas amostras foram

submetidas a cromatografia de camada delgada (CCD) (IZMAILOV e SHAIBER, 1939),

sendo aplicadas em cromatoplacas de sílica gel 60GF254 de fase normal. A fase móvel foi

composta por acetato de etila, ácido fórmico, ácido acético e água na proporção de

10:1,1:1,1:2,6 (v/v/v/v). Após a eluição e observação em luz UV a 254nm, a revelação foi

feita com reagentes para detecção de metabólitos secundários, incluindo Dragendorff,

Natural A e Vanilina.

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4.8. Delineamento experimental e análise estatística

O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado (DIC). Os

tratamentos consistiram de sete estágios fisiológicos (estágio I - semente embebida; estágio

II - protrusão da radícula; estágio III - emergência do hipocótilo; estágio IV - abertura do

gancho plumular; estágio V - expansão de folhas cordiformes; estágio VI - primeira folha

trifoliolada e estágio VII – segunda folha trifoliolada), com coletas de cotilédones em cada

um desses estágios representativos. A parcela experimental (repetição) consistiu de um

vaso contendo uma plântula e cada tratamento foi representado por três para a análise de

metabólitos secundários ou cinco repetições para as demais análises. Os resultados foram

avaliados por estatística descritiva, utilizando média e desvio padrão.

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Resultados e Discussão

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_____________________________

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

__________________________________________________________________________

5.1. Resultados

Nas sementes de E. velutina, foram encontrados conteúdos significativos de LN,

amido, ANR e PS. Quando estes conteúdos foram calculados como porcentagem de MS, foi

possível verificar que o amido foi a reserva majoritária de carbono, perfazendo

aproximadamente 20% da semente. O segundo maior conteúdo de reservas de carbono foi

o de lipídeos, equivalente a cerca de 11,6%. Como esperado, os ANR foram as reservas

minoritárias de carbono, representando em torno de 5,7% da semente. A fração enriquecida

em proteínas de reserva permitiu estimar que cerca de 14,5% da MS da semente

correspondeu a este tipo de reserva.

Na semente embebida (estágio I), o conteúdo de amido (Figura 3a) foi equivalente a

40,7 mg cotilédone-1, o qual se manteve praticamente inalterado até a abertura do gancho

plumular (estágio IV). A mobilização do amido foi mais rápida entre a abertura do gancho

plumular e a emergência das folhas cordiformes (estágio V), uma vez que o conteúdo desta

reserva decaiu 64% durante este período. Em comparação, a mobilização do amido foi mais

lenta a partir de então até a expansão da segunda folha trifoliolada (estágio VII), tendo em

vista que o conteúdo de amido foi igual a 14,4 mg cotilédone-1 no estágio V e diminuiu para

9,1 mg cotilédone-1 no final do experimento.

Figura 3. Conteúdo de amido (a), lipídeos neutros (b) e proteínas solúveis (c) nos cotilédones de E. velutina ao longo da germinação da semente e do estabelecimento da plântula. As coletas foram feitas em estágios fisiológicos discretos, incluindo semente embebida (estágio I), protrusão da radícula (estágio II), emergência do hipocótilo (estágio III), abertura do gancho plumular (estágio IV) e expansão das folhas cordiformes (estágio V), da primeira folha trifoliolada (estágio VI) e da segunda folha trifoliolada (estágio VII). Os pontos representam a média e as barras verticais representam o desvio padrão de cinco repetições.

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O conteúdo inicial de LN (Figura 3b) foi equivalente a 24,1 mg cotilédone-1,

observado na semente embebida. A mobilização dos lipídeos de reserva se iniciou a partir

da abertura do gancho plumular e foi mais intensa até a expansão da primeira folha

trifoliolada, considerando que o conteúdo de LN diminuiu cerca de 82,4% neste intervalo. No

entanto, o conteúdo destas reservas se manteve praticamente inalterado da expansão da

primeira folha trifoliolada até o último estágio fisiológico estudado.

A semente embebida apresentou um conteúdo de PS (Figura 3c) de 35,5 mg

cotilédone-1, o qual se manteve estável até a abertura do gancho plumular. A degradação

das proteínas de reserva foi mais rápida até a expansão das folhas cordiformes, seguindo o

padrão de mobilização verificado para o amido. Ao final do experimento, restaram apenas

3,2% do conteúdo inicial de PS, de forma que as proteínas foram as reservas mais

intensamente mobilizadas durante o estabelecimento da plântula.

Embora a mobilização das reservas majoritárias de carbono (amido e lipídeos de

reserva) tenha ocorrido de forma mais intensa a partir do estágio IV, a utilização dos

açúcares teve seu início no estágio anterior, durante a emergência do hipocótilo. De fato, o

conteúdo de AST (Figura 4a) e ANR (Figura 4b) na semente embebida foi de 558,4 e 172,3

μmol g-1 MS, respectivamente, mantendo-se quase inalterado até o estágio III. Entre a

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21

emergência do hipocótilo e a abertura do gancho plumular, o conteúdo de AST e ANR teve

decréscimo de 50 e 69,5%, nesta ordem, evidenciando a utilização destes metabólitos. A

partir do estágio IV até o estágio VII, não foi possível constatar alterações significativas no

conteúdo de AST e ANR.

Diferente dos açúcares solúveis, o conteúdo de AALT aumentou nos cotilédones

durante a germinação e o estabelecimento das plântulas (Figura 4c). O conteúdo de AALT

foi de 2,37 μmol g-1 MS nas sementes embebidas e aumentou 2,6 vezes na protrusão

radicular (estágio II). Coincidentemente, os AALT foram acumulados quando a hidrólise das

proteínas de armazenamento foi intensificada (Figura 5c). De fato, o conteúdo desses

metabólitos aumentou 3,7 vezes do estágio II para V e diminuiu 27% do estágio V para VII

(Figura 4c).

Figura 4: Conteúdo de AST (a), ANR (b) e AALT (c) nos cotilédones de E. velutina ao longo da germinação da semente e do estabelecimento da plântula. Os pontos representam a média e as barras verticais representam o desvio padrão de cinco repetições.

Page 35: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

22

A atividade de amilases nos cotilédones apresentou um padrão bifásico de aumento

(Figura 5a). Na semente embebida, a atividade mensurada foi de 6,39 μmol g-1 MS min-1, a

qual aumentou progressivamente até a emergência do hipocótilo, alcançando 11,61 μmol g-1

MS min-1. No entanto, a atividade de amilases foi intensificada a partir da abertura do

gancho plumular até a expansão da segunda folha trifoliolada, atingindo 31,86 μmol g-1 MS

min-1. Embora a atividade destas enzimas tenha aumentado em paralelo com a degradação

do amido (Figura 5a), é curioso que ela tenha se mantido alta mesmo nos estágios mais

tardios do estabelecimento da plântula, quando o conteúdo de amido se manteve mais

baixo.

A atividade das lipases durante a germinação e o estabelecimento da plântula

corrobora o padrão de mobilização verificado para os LN (Figura 5b), segundo o qual a

atividade enzimática na semente embebida (estágio I) foi de 22,45 μmol g-1 MS min-1, tendo

um aumento de 493% entre abertura do gancho plumular (estágio IV) e a emergência das

folhas cordiformes (estágio V). Ao final do estabelecimento, com a expansão da segunda

folha trifoliolada (estágio VII), foi verificada a atividade enzimática ainda mais elevada,

chegando a 211,27 μmol g-1 MS min-1.

Figura 5. Atividade de amilases (a), lipases (b) e proteases ácidas (c) nos cotilédones de E.

velutina ao longo da germinação da semente e do estabelecimento da plântula. Os pontos

representam a média e as barras verticais representam o desvio padrão de cinco repetições.

Page 36: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

23

Em contrate ao verificado com as outras hidrolases, a atividade das proteases ácidas

foi de apenas 0,068 μmol g-1 MS min-1 no início do experimento, ocorrendo um aumento de

14 vezes entre os estágios I a VI e posteriormente uma diminuição de 48% do estágio VI ao

VII (Figura 5c), este padrão de aumento condiz com a diminuição dos conteúdos de PS e o

acúmulo de AALT nos cotilédones de E. Velutina.

Após a realização da CCD, as cromatoplacas foram coradas com diferentes

reveladores. O perfil cromatográfico obtido por coloração com vanilina sugeriu a presença

de saponinas (bandas marrons - 1) e terpenos (bandas violetas - 2) (Figura 6) (WAGNER;

BLADT, 1996). Até o estágio IV, foi possível observar a presença de bandas características

de saponinas, as quais não estão presentes nos estágios posteriores. Além disso, foi

possível perceber a presença de pelo menos três bandas majoritárias de terpenos ao longo

da germinação da semente e do estabelecimento da plântula.

Figura 6. Cromatografia em camada delgada de extratos etanólicos obtidos a partir de cotilédones de E. velutina ao longo da germinação da semente e do estabelecimento da plântula. A revelação foi feita com reagente da vanilina para detecção de saponinas (bandas marrons - 1) e terpenos (bandas violetas - 2).

Page 37: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

24

O reagente Natural A foi utilizado para detecção de flavonoides (bandas amarelas -

1), ácidos fenólicos (bandas azuis - 2) e clorofilas (bandas vermelhas - 3) (Figura 7)

(WAGNER; BLADT, 1996). Uma banda amarela foi detectada a partir do estágio II, enquanto

outra banda surgiu a partir do estágio V, ambas permanecendo presentes até o final do

experimento, indicando a presença de flavonoides. Três bandas azuis foram observadas em

todos os estágios, evidenciando a presença de ácidos fenólicos. Coincidindo com a

aquisição da cor verde pelos cotilédones, foi possível visualizar uma banda vermelha do

estágio V até o estágio VII, correspondente às clorofilas.

Figura 7. Cromatografia em camada delgada de extratos etanólicos obtidos a partir de cotilédones de E. velutina ao longo da germinação da semente e do estabelecimento da plântula. A revelação foi feita com Natural A para detecção de flavonoides (bandas amarelas - 1), ácidos fenólicos (bandas azuis - 2) e clorofilas (bandas vermelhas - 3).

A partir da revelação da CCD com o reagente Dragendorff (Figura 8), foram

detectadas bandas características que sugerem a presença de alcaloides. Apenas no

estágio I foi possível observar a presença de quatro bandas distintas. Uma banda majoritária

permaneceu presente durante todo o experimento e uma banda minoritária foi passível de

ser observada nos estágios III e V.

Page 38: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

25

Figura 8. Cromatografia em camada delgada de extratos etanólicos obtidos a partir de cotilédones de E. velutina ao longo da germinação da semente e do estabelecimento da plântula. A revelação foi realizada com Dragendorff para detecção de alcaloides, dentre os quais compostos azotados heterocíclicos e aminas terciárias aparecem como precipitados alaranjados.

5.2. Discussão

As sementes de espécies cultivadas são comumente classificadas de acordo com o

conteúdo de reservas majoritárias em amiláceas, aleuro-amiláceas, oleaginosas e aleuro-

oleaginosas (MARCOS-FILHO et al. 2015). Tendo em vista que as sementes de E. velutina

apresentam cerca de 20% de amido, 14,5% de proteínas e 11,6% de lipídeos em base de

MS, elas não se adequam perfeitamente a este sistema de classificação, pois apresentam

conteúdos balanceados destas reservas. Embora o conteúdo de lipídeos verificado neste

estudo tenha coincidido com aquele encontrado por outros autores (AURÉLIO et al. 1998;

CARVALHO et al. 2011), houve discrepância em relação ao conteúdo de proteínas, pois

Aurélio et al. (1998) e Carvalho et al. (2011) encontraram conteúdo de aproximadamente

39%, muito superior ao encontrado neste trabalho. Esta discrepância possivelmente se deve

à metodologia utilizada para a mensuração das proteínas, já que estes autores mediram o

conteúdo de nitrogênio total pelo método de Kjeldahl, enquanto o método empregado no

presente trabalho reflete o conteúdo de uma fração enriquecida em proteínas de reserva

(BARROS-GALVÃO et al. 2016).

Segundo os resultados deste trabalho, o amido foi a reserva mais frequente nas

sementes de E. velutina. Em comparação, Carvalho et al. (2011) inferiram que

aproximadamente 10% da MS da semente é composta por carboidratos digestíveis.

Novamente, discrepâncias nos conteúdos mensurados refletem a metodologia empregada,

uma vez que neste estudo o amido foi quantificado pelo método químico de McCready et al.

(1950) e Carvalho et al. (2011) estimaram o conteúdo de carboidratos digestíveis por

subtração de outros compostos determinados. Apesar disso, o conteúdo ANR, estimado

Page 39: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

26

neste trabalho em 5,7% da MS da semente, condiz com aqueles previamente determinados

em sementes de outras espécies, os quais variam entre 2 e 6% em base de MS segundo

Black et al. (2006).

Durante a germinação da semente de E. velutina, não foi verificada mobilização

significativa das reservas majoritárias, considerando que os conteúdos de amido (Figura 4a),

LN (Figura 3b) e PS (Figura 3c) se mantiveram praticamente inalterados da semente

embebida (estágio I) à protrusão da radícula (estágio II). Estes resultados corroboram a

noção de que a mobilização de reservas é um processo primordialmente pós-germinativo

(BEWLEY et al. 2013). De forma semelhante à E. velutina, não houve diminuição do

conteúdo de amido e proteínas em Caesalpinia peltophoroides (CORTE et al. 2006), assim

como não foi constatada a utilização do amido em Enterolobium contortisiliquum

(VERONESI et al. 2014) ou o consumo de proteínas em Aniba rosaeodora (LIMA et al. 2008)

ao longo da germinação. Assim sendo, é possível que a germinação de sementes de E.

velutina tenha sido sustentada pela utilização das reservas contidas no eixo embrionário, as

quais não foram determinadas. No entanto, alguns trabalhos demonstram que a mobilização

de reservas majoritárias pode ser iniciada antes do estabelecimento da plântula em algumas

espécies florestais. Por exemplo, há degradação de amido durante as fases I e II da

embebição em sementes de Caesalpinia pyramidalis (DANTAS et al. 2008a) e Schinopsis

brasiliensis (DANTAS et al. 2008b).

Curiosamente, as reservas majoritárias de carbono e nitrogênio foram mobilizadas de

forma sincrônica nos cotilédones de E. velutina durante o estabelecimento da plântula

(Figura 3). De fato, os processos de mobilização do amido (Figura 3a), dos lipídeos (Figura

1b) e das proteínas de reserva (Figura 3c) foram mais expressivos desde a abertura do

gancho plumular (estágio IV) até a emissão da primeira folha trifoliolada (estágio VI),

indicando possível interdependência destes processos. Estes resultados contrastam com

aqueles previamente descritos para outras espécies florestais, pois a degradação dos

lipídeos e das proteínas de reserva ocorre de forma simultânea nos cotilédones de

Caesalpinia peltophoroides (CORTE et al. 2006), Anacardium occidentale (VOIGT et al.

2009) e Morinda citrifolia (PAULA et al. 2016), mas não é acompanhada pela mobilização do

amido. É possível que estas diferenças nos perfis de utilização das reservas estejam

relacionadas ao fato de que as sementes de E. velutina apresentam conteúdos balanceados

de amido, lipídeos e proteinas, enquanto que as sementes de C. peltophoroides (CORTE et

al. 2006), A. occidentale (VOIGT et al. 2009) e M. citrifolia (PAULA et al. 2016) podem ser

consideradas oleaginosas. Em espécies oleaginosas, a degradação dos lipídeos está

comumente associada à acumulação de amido nos tecidos de armazenamento, como

resultado da gliconeogênese. Pelo menos em A. occidentale (VOIGT et al. 2009) e M.

Page 40: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

27

citrifolia (PAULA et al. 2016), possivelmente ocorre conversão de lipídeos em amido durante

o estabelecimento da plântula.

A utilização dos açúcares solúveis ocorreu mais precocemente, em relação às

reservas majoritárias, nos cotilédones de E. velutina, pois o conteúdo de AST (Figura 4a) e

ANR (Figura 4b) diminuiu a partir da emergência do hipocótilo (Estágio III). Dentre os

açúcares solúveis depositados em sementes, os ANR têm sido considerados reservas

minoritárias, os quais correspondem à sacarose e aos oligossacarídeos da família da

rafinose. Aos ANR são comumente atribuídas as funções de manutenção do estado vítreo e

estabilização das membranas em sementes durante a dessecação, bem como o

fornecimento inicial de energia durante a germinação (BEWLEY et al. 2013; ROSENTAL et

al. 2014). Embora não tenha sido constatada a utilização dos ANR nos cotilédones de E.

velutina durante a germinação, estes compostos, juntamente com os AST, provavelmente

atuaram como fontes acessíveis de energia durante os momentos iniciais do processo de

estabelecimento. De forma semelhante, os açúcares solúveis também sustentam o

estabelecimento inicial de C. peltophoroides (CORTE et al. 2006) e M. citrifolia (PAULA et al.

2016).

O processo de degradação das reservas envolve a ação de diversas enzimas, dentre

elas as lipases e as amilases, que participam do processo de hidrólise, dando início à

conversão das reservas majoritárias de carbono em açúcares, que podem ser transportados

para as partes da plântula em desenvolvimento (BEWLEY et al. 2013). Tendo em vista que o

amido é armazenado em maiores quantidades que as demais reservas nos cotilédones de

E. velutina (Figura 3a), é notável a contribuição das amilases no estabelecimento da

plântula, pois o aumento da sua atividade (Figura 5a) coincide com a mobilização do amido

(Figura 3a). Curiosamente, este processo é sincrônico com o decréscimo no conteúdo de LN

(Figura 3b) e PS (Figura 3c) e o aumento da atividade das lipases (Figura 5b) e proteases

ácidas (Figura 5C) no inicio do estabelecimento da plântula, podendo haver uma

interdependência nos processos de mobilização das reservas majoritárias.

É importante ressaltar que o aumento da atividade das hidrolases não é

acompanhado pela acumulação de AST e ANR (Figura 4a e b, respectivamente) nos

cotilédones. Considerando que estes processos geram açúcares livres que podem ser

consumidos nos tecidos de armazenamento ou utilizados na produção de sacarose para

transporte aos tecidos em crescimento (DONG e BECKLES, 2019), o fato de que os

conteúdos de AST e ANR se mantiveram praticamente inalterados em paralelo com o

aumento da atividade de amilases e lipases, provavelmente está relacionado à alteração da

relação fonte-dreno durante o estabelecimento da plântula. No estágio V, a expansão das

Page 41: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

28

folhas cordiformes ocorre em paralelo com o crescimento das raízes secundárias,

exercendo força de dreno sobre a mobilização das reservas nos cotilédones. Estes

resultados corroboram aqueles previamente verificados em outras dicotiledôneas não

endospérmicas, nas quais as hidrolases apresentam um importante papel na degradação

das reservas majoritárias, iniciando o processo de mobilização (BUCHANAN et al., 2015;

BEWLEY et al. 2013). É interessante que diferindo da assincronia verificada entre as

hidrolases e os açúcares solúveis, o conteúdo de AALT acompanhou o aumento da atividade

das proteases, o que possivelmente pode estar relacionado ao aumento da renovação das

proteínas nos cotilédones, subsidiando o crescimento inicial da plântula.

Após a realização de CCD a partir de extratos cotiledonares de E. velutina, foi

verificado em concordância à estudos realizados por Rambo et al. (2019), a presença de

terpenos (Figura 6), flavonoides, ácidos fenólicos (Figura 7) e alcaloides (Figura 8) durante a

germinação e nos estágios iniciais do estabelecimento. Dentre estes compostos, os

flavonoides desempenham um papel fundamental na proteção contra agentes oxidantes e

radiação ultravioleta (UV) (BUCHANAN et al., 2015). Em E. velutina, foi detectada uma

banda característica de flavonoides a partir do estágio II e, após o estágio V, uma outra

banda de flavonoides foi observada (Figura 7). Levando em consideração as funções

conhecidas dos flavonoides, é possível que a presença desses compostos seja justificada

pela exposição à radiação UV, tendo em vista que, a partir do estágio V, a plântula já possui

folhas e realiza fotossíntese.

Por outro lado, os derivados terpenoides são detectados durante a germinação das

sementes e o estabelecimento inicial das plântulas (Figura 6). O perfil cromatográfico obtido

por coloração com vanilina usada na CCD não é suficiente para definição exata da classe de

derivado terpenoide presente nas amostras. Dentre os possíveis terpenoides, a ocorrência

de saponinas e esteroides pode ser a mais plausível. Como os flavonoides, as saponinas

também podem estar envolvidas na defesa das plântulas, pois apresentam atividade

antifúngica (NABOULSI et al. 2018).

Sabe-se que o gênero Erythrina é amplamente utilizado para fins farmacológicos,

devido à acumulação de alcaloides em todas as partes da planta, principalmente nas

sementes. Estes compostos comumente estão relacionados à defesa contra herbivoria e

doenças. (ANISZEWSKI, 2015; GARCIA-MATEOS, 1996). Em extratos cotiledonares de E.

velutina, foram detectadas quatro bandas majoritárias de alcaloides, durante o estágio I,

sendo que as mesmas não estão presentes após a germinação, permanecendo apenas uma

banda até o final do estabelecimento (Figura 8). Esses resultados corroboram aqueles

anteriormente verificados em sementes de Erythrina americana, nos quais Garcia-Mateos

Page 42: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

29

(1996) verificaram a maior concentração de alcaloides nas sementes secas. Curiosamente,

alguns dos alcaloides encontrados nas sementes de E. velutina desaparecem ao longo da

germinação e do estabelecimento (Figura 8). Tendo em vista que os alcaloides são

compostos nitrogenados, eles poderiam atuar como reservas de nitrogênio durante e após a

germinação (NAIK; AL-KHAYRI, 2016; ALI et al 2019).

Em estudo realizado por Centenaro et al. (2009), é constatada atividade alelopática

de extratos de E. velutina sobre a germinação de sementes de Lactuca sativa.

Considerando que o desaparecimento de alguns alcaloides após a germinação da semente

de E. velutina (Figura 8) pode envolver a sua exsudação para o meio externo, é possível

que estes compostos tenham algum papel como alelopáticos. De fato, estes compostos

podem ter sido liberados para o meio externo, pois é observada a liberação de um exsudato

de cor alaranjada pelas sementes embebidas, tanto na água de embebição, quanto no

substrato usado no experimento. Esta sugestão corrobora aquelas levantadas por Aoyama e

Labinas (2012), as quais vinculam a presença de alcaloides em sementes como uma

estratégia para enfrentar a herbivoria.

Page 43: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

30

CONCLUSÕES

_____________________________

Page 44: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

31

6. CONCLUSÕES

__________________________________________________________________________

De acordo com os resultados obtidos no presente trabalho, é possível concluir que

as sementes de E. velutina apresentam conteúdos balanceados de reservas majoritárias,

incluindo amido, lipídeos e proteínas de reserva. As reservas minoritárias de açúcares

solúveis são utilizadas mais precocemente, a partir da emergência do hipocótilo, enquanto

que as reservas majoritárias são degradadas mais tardiamente, a partir da abertura do

gancho plumular. No entanto, amido, lipídeos e proteínas de reserva são mobilizados mais

intensamente e sincronicamente quando ocorre a expansão das folhas cordiformes,

coincidindo com o aumento da atividade de hidrolases. Dentre os metabólitos secundários

verificados ao longo do experimento, é possível constatar que há maior variedade e

quantidade destas substâncias nas sementes embebidas, indicando que os cotilédones de

sementes não germinadas são fontes mais ricas em terpenos, flavonoides, ácidos fenólicos

e alcaloides, em comparação com os cotilédones de plântulas em estabelecimento.

Page 45: MOBILIZAÇÃO DE RESERVAS E PERFIL PRELIMINAR DE …

32

Agradecimentos

_____________________________

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33

7. Agradecimentos

__________________________________________________________________________

O presente estudo foi em parte financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código 001.

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34

Literatura citada

_____________________________

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