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Donizete Galvão - Plaquete - mioloTRANSCRIPT
DonizeteGalvão
De Souza24 de agosto de 1955
30 de janeiro de 2014
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oraÇÃo natUraL
Fique atento
ao ritmo,
aos movimentos
do peixe no anzol.
Fique atento
às falas
das pessoas
que só dizem
o necessário.
Fique atento
aos sulcos
de sal
de sua face.
Fique atento
aos frutos tardios
que pendem
da memória.
Fique atento
às raízes
que se trançam
em seu coração.
A atenção:
forma natural
de oração.
(Mundo Mudo)
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dessinCronia
Depois da chuva de primavera,
o sol se abre em frouxa luz
de quem, em breve, vai-se pôr.
Tece jogo de claros e sombras
pelas encostas de capim-gordura.
Gotas d’água tremulam
nas folhas de bananeiras.
Galinhas abrem as asas
ou untam as penas com o bico.
Nuvens de aleluias
voam por cima dos cupins.
Da plantação de milho,
sobe um cheiro verde,
vindo das bonecas de cabeleira vermelha,
ainda em granação.
Reluzem abóboras e melancias.
Por que o menino divaga,
alheio à celebração da tarde?
Por que, só agora, vem à tona
o instante do gozo perdido?
Por que tudo flui e desbota,
perde-se em escombros,
para renascer com novo sentido?
(A cArne e o teMpo)
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trajetÓria
na queda
fundou um reino
criou um
pai
fez um leito
de pedra
para o corpo
de cristal
(do silêncio dA pedrA)
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Ferida aBerta
reverbera
a sua morte
em círculos
concêntricos
de dor
um homem sangrava
outro homem dormia
esse sangue
coagulado
anuviou para sempre
a luz do dia
a cada perda
abre-se um talho
por onde escorre
sempre viva
a primeira agonia
(o hoMeM inAcAbAdo)
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Ferida aBerta
reverbera
a sua morte
em círculos
concêntricos
de dor
um homem sangrava
outro homem dormia
esse sangue
coagulado
anuviou para sempre
a luz do dia
a cada perda
abre-se um talho
por onde escorre
sempre viva
a primeira agonia
(o hoMeM inAcAbAdo)
tÚneL de BaMBUs
Um arco de folhas
cobre a estrada.
Sob a sombra dos bambus,
sentadas no barranco,
crianças recebem lições
de catecismo no domingo
— Quanto mundo
para além desse casulo
— Quantos enigmas
longe da luz dessas montanhas
Não dirás nunca mais:
filho
Morrerás
todo dia
até ninguém lembrar-se
do teu rosto
(o hoMeM inAcAbAdo)
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nigredo
Farão de você uma espécie de sombra, mas uma sombra que deseja a vida e nunca morre. Cesare Pavese Há muito habitasum reino escuroonde te imaginavasapenas hóspede.
Cadê o júbiloao avistar o mare quando sentiaso cheiro da maresia?
No reino escuro não há memóriados dias de luzcom sol a pino.
Entre sombrasguardas o núcleode tua nódoa,
pedra de aluvião.
Não te escapasda obra em negro,purgatório infindo
de suas feridas.
(o hoMeM inAcAbAdo)
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atraVessar as Coisas
Atravessar as coisas
para melhor absorver-lhes
a duração e o gosto.
Aprender a paciência
de um artesanato.
Sair do outro lado
com outra densidade:
o corpo mais sólido
diante da correnteza
desses dias.
(o hoMeM inAcAbAdo)
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nÃo Posso soFrer essa dor agora
Não posso sofrer essa dor agora,
porque já penei bastante outrora.
Veio oferecida, sem marcar hora
e pula no peito com sua espora.
Tirana, de mim quer ser senhora.
Apraz-lhe quem todo dia chora.
Peço que a dor vá logo embora
e se perca pelo ermo afora.
(ruMinAções)
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Nossos agradecimentos a todos,
Ana Tereza, Bruno Lucas, Anna Lívia, Waleska e Maria Aparecida
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