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BACAMARTEIROS: uM TIRO dE

guERRA quE SE fEz ARTE

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Bacamarteiros: Um tiro de guerra que se fez arte

1ª edição – dezembro de 2010

Capa e diagramaçãoSandemberg Pontes

FotografiasLeonardo Gomes, Sávio Marques,

Vladimir Barreto e Arquivos Pessoais

Roberto Franca (foto de capa)

OrientaçãoMário Flávio Lima

Silva, Paula Bezerra da, 1981- Bacamarteiros: Um tiro de guerra que se fez arte

2010Impresso no Brasil

Printed in Brazil

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LIVRO-REPORTAGEM

PAULA BEZERRA

BACAMARTEIROS:uM TIRO dE

guERRA quE SE fEz ARTE

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DedicatóriaDedico este trabalho aos meus

pais, ao orientador e a todos que

contribuíram direta e indiretamente

para que ele fosse realizado

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AgradecimentosA Deus por ter permitido a realização deste trabalho.

Aos meus pais Antônio Bezerra da Silva e Maria Auxiliadora de

Oliveira, pelo apoio incondicional.

A meu avô, Zacarias Soares de Oliveira, que com sua paixão

contagiante pelo bacamarte despertou em mim o desejo de

pesquisar e escrever sobre o tema.

A José Benedito, chefe do Batalhão B41, que me abriu as portas

de sua casa e me descreveu mais de um século de tradição

iniciada pelo seu bisavô, Benedito Bezerra dos Santos.

A Luiz Teófilo Filho (seu Lula), por ter enriquecido com histórias

e material fotográfico este trabalho.

A família do major Emídio do Ouro pelo empenho em não deixar

sua história cair no esquecimento.

Ao meu Orientador Mário Flávio Lima pelo apoio, incentivo e

dedicação para com a produção do Livro-reportagem-história

de conclusão do curso de jornalismo.

E a todos os entrevistados pela disponibilidade e grande

contribuição de informações que me passaram.

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Sumário

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“O Dia do Bacamarteiro”página 59

“As mulheres”página 65

“Os Bacamarteiros como manifestação folclórica”

página 68

3O cOnflitO“A guerra do

Paraguai e os Bacamarteiros”página 81

“Os voluntários da Pátria”página 82

“Bacamarteiros x Cangaceiros”página 83

“Uma tradição preservada apenas na região Nordeste”

página 86

4ApAixOnAdOs pelO

bAcAmArte“Olímpio Bonald Neto”

página 95

“Sobre sua pesquisa”página 96

“Descreva o Major Emídio”página 99

“Bacamarteiro em Alta velocidade”página 102

Sumárioprefácio

ArnAldO dAntAspágina 13

notas das autoraslivrO,

repOrtAgem e históriA

página 17

1Os bAcAmArteirOs

de cAruAru e A herAnçA dA guerrA

“A origem - a versão dos pesquisadores”

página 27

“A relação com a guerra”página 29

“A versão dos Bacamarteiros de Caruaru”página 29

“A origem das armas também é um mistério”

página 32

“Particularidades”página 34

2Os bAtAlhões piOneirOs

de cAruAru “O batalhão B41”

página 49

“A festa de Santa Ana”página 50

“O Batalhão 333, mais de 150 anos de história”

página 54

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PREFÁCIO

ArNAlDO DANtAS

Este trabalho foi escrito sob o signo da paixão: paixão pelo ho-mem, paixão pela terra e paixão pela identidade de um povo. Atra-vés deste trabalho: “Bacamarteiros: um tiro de guerra que se fez ar-te”, esta talentosa e competente escritora, mostra que é possível re-construir a história dos bacamarteiros de forma viva e apaixonante, articular o trabalho de pesquisa documental aos relatos de experi-ência de vida de bacamarteiros sem comprometer o método de pes-quisa e sem romper com a tradição acadêmica.

Ao buscar as raízes históricas dos bacamarteiros, ela não per-de nunca o sentido da contextualização, sabe recriar com maestria os imaginários sociais e os universos simbólicos dos atores, busca através da história oral de indivíduos reais e concretos de sua coti-dianidade construir um cenário forjado na soma de temporalidades que formam a sociedade nordestina de hoje. Entende com seguran-ça que a prática de um hábito cria os costumes que é uma das mar-cas de uma coletividade, que a permanência dos costumes no tempo, cria a tradição, marca registrada do fazer e do saber fazer de um po-

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vo. As tradições são os alicerces de uma identidade e sem ela a cul-tura perde todos os seus significados.

A tradição que a autora nos mostra, não é aquela a - histórica, mu-mificada, onde não existe tempo nem memória, onde seus atores são peças de cenário sem forma nem conteúdo, que deixou de possuir sig-nificado cultural, para ser mais um evento para turista ver, por ser exótico ou estranho ao seu padrão de vida e consumo.

Ela nos fala de tradição viva, latente, dinâmica, articulada diale-ticamente com a história que deixou e deixa marcas profundas em nossa sociedade, entende com profundidade que, sem as tradições, o povo não possui identidade e, sem identidade nenhum povo se co-nhece como sujeito histórico do seu tempo. A perda da identidade de um povo contribui para se criar uma coletividade de alienados, verdadeiros zumbis que jamais podem se entender como cidadão.

Vivemos na sociedade do simulacro onde as pessoas são vistas não pelo que são, mas, pelo que possuem. Uma sociedade de consumo on-de os shopping centers são as novas catedrais e o cartão de crédito, o passaporte para o paraíso. O processo de globalização acelerou o tempo e contraiu o espaço. As novas tecnologias da informação rom-pem fronteiras reais e imaginárias e impõem novos padrões e visões de mundo às pessoas. Este é o processo mais cruel de denominação visto na história, edificado pelas grandes corporações financeiras em nome de um novo processo civilizatório. Um aprocesso que es-tá gerando bilhões de excluídos em cada canto do planeta. As rea-ções são as mais diferentes, desde os movimentos ecológicos, pacifis-tas, até o ressurgimento das questões nacionais, étnicas e religiosas.

Existe uma globalização possível, aquela que nasce do respeito aos povos e a sua cultura, um mundo onde a diversidade cultural de-ve servir para o aprendizado de todos. Um mundo em que a identi-dade cultural de uma pessoa não seja motivo de sua discriminação, que nos ensine a conviver com os diferentes, enfim, onde o desenvol-vimento da ciência e da tecnologia sirva para tornar o Planeta Ter-ra um lar fraterno para todos.

Ler o trabalho da jovem escritora Paula Bezerra da Silva, sobre

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os Bacamarteiros me possibilitou vislumbrar que este mundo é pos-sível. Quando achamos que os jovens perderam o sentido de sua his-tória, nos surpreendemos a cada dia. Talvez seja esta a razão maior de sermos professores. Ela entende de forma sábia que não podemos falar de um país ou de um povo, sem que eles conheçam sua histó-ria, cultura e tradições. Valorizar e difundir estes valores é o maior exemplo de cidadania que se pode deixar tanto para a sua, quanto para as futuras gerações. Parabéns à escritora Paula Bezerra da Sil-va, por seu memorável trabalho e parabéns ao professor Mário Flá-vio Lima por seu trabalho e por ter descoberto este talento.

ArNAlDO DANtAS, Historiador e Professor Universitário

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NOTA DA AUTORA

O objetivo deste trabalho é fazer com que o leitor conheça a his-tória dos bacamarteiros no município de Caruaru, sua riqueza cul-tural e seus personagens históricos. Que se apaixonem pelo tema co-mo eu me apaixonei e, que assim, valorizem mais a nossa cultura co-mo um patrimônio que é só nosso.

Ao longo dos quatro capítulos o leitor terá a oportunidade de co-nhecer a história dos bacamarteiros em Caruaru, da origem da ma-nifestação folclórica do grupo na cidade, além da relação com o ba-camarte e as particularidades de cada batalhão com seus chefes e sol-dados. Outro fato que chama a atenção é a ligação dos batalhões com a religiosidade e a tradição das comidas típicas servidas nas casas que recebem os atiradores. Com esse trabalho eu pretendendo mos-trar como os costumes foram passados por várias gerações da mes-ma família, da guerra que imprimiu marcas na vida destes soldados e, a paixão que move esses homens por mais de um século.

Os Bacamarteiros ajudaram a construir a história do município de Caruaru, divulgaram e divulgam nossa cidade para o mundo com

158 AnOS dE hISTóRIA

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suas apresentações, despertam a curiosidade e o interesse de todos. Com coragem e dedicação, homens e mulheres mantêm viva a me-mória dos pioneiros e lutam para que suas características e costu-mes não se percam no tempo.

Esses soldados carregam e ajudam a escrever nossa história, por-tanto, merecem todo nosso reconhecimento, respeito e colaboração.Boa leitura.

PAUlA BEZErrA

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LIVRO-REPORTAGEM

1OS BACAMARTEIROS

dE CARuARu E A hERAnçA dA guERRA

BACAMARTEIROS: UM TIRO DE GUERRA QUE SE FEZ ARTE

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Capitão Eliel no comando do Batalhão 333

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O fardamento tradicional tem

as características dos que

foram usados na guerra

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Todos os anos, os

santos juninos são

saudados com tiros

de bacamarte

Algumas armas usadas hoje

também são heranças da guerra

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Existem hoje, em Caruaru, cerca de dez

batalhões registrados na Associação

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A pólvora usada para carregar as armas é preparada por eles

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A tradição do bacamarte, no município, é passada de geração em geração

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A origem - a versão dos pesquisadores

A origem dos Bacamarteiros de Caruaru é uma questão polêmi-ca. Alguns pesquisadores afirmam que a tradição teria surgido após a realização da Guerra do Paraguai. No entanto, existem diferentes versões que indicam o uso do bacamarte para saudar os santos juni-nos (fato que existe até hoje). Outros pesquisadores ligam o início da cultura em Caruaru à invasão holandesa a Pernambuco por volta de 1.600, pois, o Inventário das Armas deixado pelos combatentes faz referência a “bacamartes de metal de ferro”, que teriam passa-do a cangaceiros e capangas de coronéis do açúcar e posteriormen-te às mãos dos matutos.

CAPÍTULO 1

LIVRO-REPORTAGEM

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Tudo o que foi relatado até hoje foi repassado apenas de forma oral, nada foi documentado, a não ser em fotografias que começaram a ser tiradas algumas décadas após o início da formação dos primei-ros batalhões. O primeiro pesquisador a tentar encontrar essa ori-gem foi Olímpio Bonald Neto. Historiador recifense, ele esteve em Caruaru na década de 1960 e escreveu o livro “Bacamarte, Pólvo-ra e Povo”. Bonald entrevistou personagens importantes dessa his-tória como o Capitão Eliel e o Major Emídio do Ouro, apesar disso, relata no livro que não chegou a essa origem.

A relação com a guerra

Características militares como as riúnas, os comandantes, a dis-ciplina militar, as fardas azuis e a numeração dos batalhões, nos re-mete a essa herança da Guerra do Paraguai como a maior fonte de inspiração para criar os grupos de bacamarte na cidade. O confron-to cisplatino interferiu diretamente na vida do brasileiro, em espe-cial na vida dos caruaruenses, que adaptaram as memórias ineren-tes à batalha, às tradições regionais como a música, a saudação aos santos juninos e o cardápio que é servido nas apresentações. Além disso, vários bacamarteiros caruaruenses afirmam que suas riúnas usadas ainda hoje estiveram na guerra da Tríplice Aliança.

A versão dos Bacamarteiros de Caruaru

Desde que surgiram na cidade, a maioria dos batalhões de baca-marteiros já está na sua 4ª geração de comandantes e, como já foi nar-rado, parte dessa história passada apenas verbalmente aos sucessores foi se perdendo. De acordo com José Benedito, comandante do Ba-talhão B41 de Cajazeiras, que data sua fundação em 1851 e João Sa-turnino, comandante do Batalhão 333, que data de 1857, a tradição de usar o bacamarte para saudar o principal santo junino, São João,

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originou-se alguns anos antes da Guerra do Paraguai (1864).Mas a guerra serviu de inspiração para os batalhões. De acordo

com relatos dos líderes dos grupos B41 e 333 muitos de seus antepas-sados foram recrutados para essa guerra, os que conseguiram voltar, saudaram em frente às igrejas, os companheiros mortos no combate, com salvas de tiros. E, assim, algumas características militares, can-ções de despedida, saudação aos santos juninos e o uso do bacamarte foram adaptados, dando força à manifestação folclórica.

Esses Comandantes relatam ainda que esse recrutamento foi fei-to a força, nas feiras, nas roças, nas estradas. As famílias que tinham homens aptos à batalha em casa, escondiam até as roupas deles ou qualquer vestígio que denunciasse que ali morasse um rapaz. À no-tícia da aproximação das volantes militares que “caçavam” estes ho-mens para a guerra causava pânico no agreste. Muitos largavam o trabalho e fugiam, escondiam-se nas matas, abandonando os instru-mentos de trabalho e animais.

Alguns batalhões surgiram anos após o término da guerra, co-mo é o caso do Batalhão 27 de Serra dos Cavalos, zona rural de Ca-ruaru. Seu bacamarteiro mais antigo, Zacarias Soares de Oliveira, que faz parte do grupo há 62 anos conta parte da história que ouvia dos seus antecessores.

– Quando a guerra acabou, todo mundo tinha as armas, mas não tinha batalhão, aí cada um acendia sua fogueira no dia dos santos (Santo Antônio, São João e São Pedro) e atirava. Os outros escuta-vam e vinham das suas casas para atirar na casa do vizinho que sem-pre o convidava para a mesa para tomar um café. No dia do próximo santo, a visita era retribuída, assim nasceu a tradição.

Ele recorda-se ainda de um trecho da toada que ouvia dos mais velhos e que era cantada pelos sobreviventes da Guerra:

“Fui para a guerraVenci a batalhaGanhei a medalhaDo governador”.

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Major Emidio do Ouro desfilando com

seus atiradores no centro de Caruaru

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Zacarias possui duas armas que, segundo ele, foram usadas na Guerra Cisplatina. Uma ele usa há 53 anos e a outra, ele doou para a filha que também é bacamarteira. Elas nunca foram reformadas, no máximo são feitos reparos quando há necessidade.

– Não quero que elas percam as características tradicionais.Já o Major Emídio do Ouro, um dos pioneiros do bacamartismo

em Caruaru, quando questionado a respeito da origem, confirmava a hipótese de os bacamarteiros do Estado terem surgido após a in-vasão holandesa. E que, além disso, participaram da Guerra de Ca-nudos e em lutas ao lado do Padim Cícero do Juazeiro, a respeito de como surgiram na cidade, no entanto, não sabia dizer.

Observando cada apresentação, com suas manobras militares, a reza do terço em cada casa que se visita (na zona rural ainda man-tem-se tal tradição), o costume de acender a fogueira, a saudação aos três santos juninos, Santo Antônio, São João e São Pedro, pare-ce-nos, pois perfeitamente legítimo supor que todos esses rituais se-jam a dramatização inconsciente daquela primeira festa da vitória promovida pelos sorteados de 1865 ao voltarem às suas vilas depois da Guerra Cisplatina.

E, diante de tais relatos, podemos afirmar que o caruaruense, assim como o resto do Brasil, sofreu as influências decorrentes da Guerra do Paraguai e incorporou às suas próprias tradições, de ma-neira preponderante e profunda, as histórias e tradições ditadas pe-la Grande Guerra.

A origem das armas também é um mistério

A origem do bacamarte também é uma questão aberta. Apesar de ter se tornado muito popular entre os nordestinos, não se sabe exa-tamente se é uma arma originalmente brasileira ou como ela chegou até a nossa região. Alguns historiadores defendem que o bacamar-te é originário do Clavinote holandês do séc. XVII ou na Granadei-

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Major Emídio do ouro vendendo

bacamarte no marco zero de Caruaru

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ra do Sistema Miniée francês, de meados do séc XIX. As granadeiras ou riúnas que serviram na Guerra do Paraguai,

em 1865, sofreram mutilações que as adaptaram ao uso dos bacamar-teiros, e o tipo de munição também foi mudado. Para o uso na guerra ou na caça era usado chumbo, para as apresentações que acontecem atualmente é usada pólvora, que produz mais barulho e fumaça.

Esse tipo de arma, de acordo com o escritor Olímpio Bonald Ne-to, foi usada regularmente, pela primeira vez no Brasil, pelos fuzilei-ros componentes da infantaria de Linha do Exército Brasileiro em 1865. Mas os bacamarteiros afirmam que a arma já era vendida no comércio do centro de Caruaru, nos primórdios da Feira da cidade, no início do século XIX. O Major Emídio do Ouro, um dos chefes do batalhão 333, era comerciante em Caruaru, vendia ouro e antiguida-des e, após iniciar suas atividades como bacamarteiro passou a ven-der bacamartes numa banca em pleno marco zero da cidade.

A arma é citada em duas obras da literatura brasileira que tra-tam da batalha de canudos. Em Os Sertões por Euclides da Cunha e em A campanha de Canudos de Aristides Milton. “Os bandidos esta-vam armados em grande parte com carabinas Comblain e Chuchu, outros tinham bacamartes, garruchas e pistolas, e quase todos tra-ziam, além das armas de fogo, grandes facões, foices e machados”.

Particularidades

Entre os diversos grupos de atiradores de Caruaru, um costume distingue os bacamarteiros dos brejos (agreste) dos demais. Eles usam no chapéu de palha, uma flor silvestre, geralmente uma pa-poula, representando campos férteis que os distingue dos bacamar-teiros do Sertão, os quais usam chapéu de couro.

Em Caruaru, após a fundação da Associação dos Bacamarteiros em 2002, que tem como presidente, Sebastião José Torres, chefe do Batalhão 27, ficou acordado que todos os batalhões manteriam as mesmas características no fardamento original da Guerra do Para-

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guai, que se compõe de calça e camisa de Zuarte azul, lenço verme-lho no pescoço, botinas pretas e chapéu de palha, mas, entre os baca-marteiros de outras cidades observam-se fardamentos variados de-finidos por eles próprios, de acordo com a opinião da maioria e devi-do à falta de uma associação que os padronize.

Existem hoje em Caruaru cerca de 200 bacamarteiros divididos em 10 Batalhões registrados pela Associação que tem o apoio da Fun-dação de Cultura do Município, mas antigamente os números eram bem superiores. Há registros que em 1930, cerca de 600 homens, desfilaram pela Rua da Matriz, sob o comando do fazendeiro Antô-nio Martins, então apaixonado pelos tiros no monte Bom Jesus. Em 1965 esse número chegava à cerca de 800 bacamarteiros, organiza-dos em 52 batalhões. Eram 2.000 bacamarteiros atuantes em nosso Estado. Essa redução significativa nos números preocupa os mais velhos como seu Zacarias.

– Antes a gente precisava comprar tudo, comprar as roupas os equipamentos e se via muito mais homens nos batalhões. Hoje em dia se ganha praticamente tudo, se tem incentivos e quase ninguém mais quer ser bacamarteiro.

Mas, não foi só o número de bacamarteiros atuantes que mudou ao longo dos anos, os costumes também foram alterados. Há cerca de 100 anos, os instrumentos tocados para ritmar a marcha dos sol-dados eram uma gaita de boca, uma zabumba e um reco-reco. Se-gundo relatos, o músico da gaita após uma noite inteira animando os soldados, chegava a ferir a boca de tanto tocar. Após a gaita de boca veio a sanfona de Oito Baixos, (ela não tem teclados, é menor, mais leve e muito mais difícil de tocar) depois a sanfona Concerti-na (a concertina tem forma hexagonal com alguns tantos botões em cada lado e um fole, e tem como característica marcante o solo dos dois lados), a partir daí também foi introduzido o triângulo, forman-do o trio pé-de-serra, como está até hoje. Essa mudança ocorreu na década de 1940.

– O finado Henrique, que era nosso gaitista, quando ia pra cida-de ficava encostado nos postes, que naquela época tinham auto-fa-

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lantes, e ficava ali paradinho ouvindo Luiz Gonzaga, ele aprendeu assim. Foi nessa época que a “Asa Branca” estourou e o Henrique comprou a sanfona de oito baixos, era um sucesso quando ele toca-va. Relata Zacarias.

Nessa época, os bacamarteiros dançavam uns com os outros, há certa altura da festa, o comandante lançava mão do apito e ordena-va que eles parassem a dança para dar vez às mulheres. As mulheres iam para o salão e dançavam entre si. Mas, porque proibir que ho-mens e mulheres dançassem?

– Não era forró, era festa religiosa e achava-se que em festas re-ligiosas, permitir que homem dançasse com mulher seria um des-respeito. A gente levava as esposas, as namoradas, mas, não podia dançar com elas.

No caso do Batalhão 27, a proibição durou até a década de 1950 quando o então comandante faleceu e o senhor “Sebastião Fulô” as-sumiu o apito. Em 1958, foi dada a permissão para que os casais dan-çassem nas casas onde o batalhão estava se apresentando. Como toda mudança, agradou a uns e desagradou a outros. Dois dos 25 bacamar-teiros, os mais velhos do grupo, acabaram abrindo mão de sua parti-cipação. Mas agradou a maioria como relata sorridente Zacarias:

– As festas ficaram mais animadas. Nessa época, quando não havia apresentações na cidade, exceto

a do Morro Bom Jesus, os festejos ocorriam somente na zona rural e o batalhão percorria as casas de todos os bacamarteiros sem exce-ção. Hoje em dia, além de ocorrerem muitas apresentações na cida-de, pouquíssimas casas de bacamarteiros são visitadas, apenas quan-do o próprio formaliza o convite.

O batalhão do qual Zacarias faz parte, o 27, completou 100 anos em 2008 e, como parte das comemorações, um dos bacamarteiros, Antônio Bezerra da Silva, compôs um xote que, a partir de então, acompanha o grupo nas apresentações:

Há cem anosNesta região

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Um grupo de amigosFormou um batalhão

De casa em casaDe noite ou de diaFazendo a festaLevando alegria

Cem anos brincamosCem anos vai brincarCom o vinte e sete pra festa não parar

sanfona e bacamarteé boa combinaçãopra completar a festacachaça com limãosanfona e bacamarteé boa combinaçãopra completar a festada um viva a são João.

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LIVRO-REPORTAGEM

2OS BATAlhõES pIOnEIROS dE

CARuARu

BACAMARTEIROS: UM TIRO DE GUERRA QUE SE FEZ ARTE

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José Manoel dos Santos,

chefe do Batalhão B41

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Os primeiros comandantes recebiam

patentes militares simbolicamente

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O trio pé-de-serra foi incorporado aos

batalhões na década de 1940

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As apresentações reproduzem

manobras militares

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Comidas típicas são servidas nas

casas onde eles se apresentam

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Grande parte dos batalhões de

Caruaru, concentram-se na zona rural

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O batalhão B41O batalhão mais antigo do município de Caruaru é o B41, coman-

dado por José Manoel dos Santos, o seu Benedito. Foi fundado em 1851 por Benedito Bezerra dos Santos, o bisavô do atual chefe, que relembra detalhes da origem desse importante símbolo da cultura caruaruense.

– De meu bisavô, ficou pra meu avô, aí José Francisco (amigo da família) tomou conta porque meu avô adoeceu. Depois ele abando-nou porque mudou de religião, meu pai estava com 18 anos na épo-ca, aí minha vó disse: ô Manoel a festa é tão grande aqui, toma conta que eu pago a despesa. Aí meu avô reclamou: Joana um homem com 18 anos não pode tomar conta disso não. Então ela respondeu: olha Benedito se um homem com 18 anos não for um homem ele não é mais nunca. Aí ele tomou conta e como chefe ainda brincou 64 anos. Não aguentou mais, entregou a mim, e nesse São João agora, com-pletou 18 anos que eu tomei conta.

CAPÍTULO 2

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O pai, Manoel Benedito, faleceu há 12 anos. O cortejo fúnebre de-le, como da maioria dos bacamarteiros, foi acompanhado pelo gru-po, fardado.

– Antes de o meu pai morrer, fez o pedido: só queria que seu cor-po fosse levado ao cemitério nas mãos, não queria que fosse de car-ro. Então atendendo a esse pedido, ele foi levado a pé por parentes e amigos de Cajazeiras para São Caetano, em 10 de agosto de 1998.

A festa de Santa Ana

Uma das festividades mais importantes realizadas pelo Batalhão B41 é a Festa de Santana. Na noite de 25 de julho de 2009, após cer-ca de 10 quilômetros percorridos entre o centro de Caruaru e o po-voado de Cajazeiras, na zona rural, chegamos à casa do senhor Be-nedito. Uma figura muito simpática e hospitaleira. No grande ter-reiro de chão batido em frente a casa, alguns batalhões já se orga-nizam para dar início às apresentações. É aí então, que Seu Benedi-to começa a contar a história de sua família e a relação com a tradi-ção do bacamarte.

– Essa festa começou em 1945, faz 65 anos. Desde o início que ela acontece no dia de Santana. Quando ela cai no meio da sema-na, a gente deixa pra fazer do sábado para o domingo para poder os Bacamarteiros virem. A gente morava lá perto de São Caetano na cruz de João Guilherme, é um sítio, tem a cruz desse João Guilher-me lá, que era avô do João Guilherme que foi prefeito aqui em Caru-aru. Ele foi assassinado lá e a cruz está lá ainda, por isso esse nome. Aí tinha um rapaz muito amigo do meu pai que disse: Ô seu Manoel depois que passar a festa de São João vamos fazer a festa de Santana para recordar os festejos? Aí foram fazendo. Depois, viemos morar aqui em Cajazeiras. Nos primeiros anos se rezava o terço, fazia uns brinquedinhos de roda, tinha um comboio de moças por aqui, todos se danavam a brincar brinquedo de roda e assim amanheciam o dia.

A festa permaneceu com esse “formato” de 1945 até 1960 quan-

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Manoel Benedito, fundador

da festa de Santana

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do se teve a ideia de convidar grupos de bacamarteiros para animar a comemoração.

– A ideia foi do meu irmão que disse: Ô pai, porque o senhor não chama os atiradores tudo trajado como no São João e o tocador pra participar da nossa festa? Nosso Senhor abençoou e hoje está desse jeito que você está vendo.

– E já houve algum ano em que a festa não foi realizada?– Não senhora, todo ano nós faz!Essa festa é a segunda oportunidade que os bacamarteiros têm

para se reunir durante o ano. A primeira é o encontro que acontece no Sesc de Caruaru todo dia 24 de junho, quando é comemorado o Dia do Bacamarteiro. Os Bacamarteiros vêm de toda parte, na maio-ria dos casos em cima de caminhões “pau-de-arara”, tocando e can-tando os clássicos da música nordestina.

As apresentações acontecem simultaneamente. Eles vão fazen-do suas coreografias e manobras e o público fica ao redor observan-do e aplaudindo. O som dos apitos dos comandantes se mistura ao dos trios pé-de-serra. É chegada a hora de deflagrar os cartuchos de pólvora preparados por eles mesmos. O trio para de tocar, os sol-dados se organizam em filas. O chefe usa o apito para ordenar a se-quência dos tiros. O chão sob os nossos pés chega a vibrar com a in-tensidade dos ribombos.

Nessa hora, cada trio pé-de-serra que veio acompanhando os ba-talhões, procura um lugarzinho na casa, que é tão grande quanto mo-desta, ou no terreiro e tocam para animar os expectadores e, assim se vai até o raiar do dia. Enquanto isso, os soldados que já se apre-sentaram se dirigem a convite do anfitrião para uma mesa enorme da sala de jantar, para lancharem. Esse momento é mágico tanto pa-ra quem observa, quanto para quem participa.

Antes que comecem a se alimentar as armas são “descansadas” nas bordas da mesa, saúdam os santos, (Santo Antônio, São Pedro, São João e Santa Ana, ou Santana como eles dizem) agradecem ao dono da casa pelo convite e curiosamente se despedem, pela incerteza de estarem ali novamente reunidos no próximo ano. Os mais idosos cho-

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ram, talvez porque pode ser justamente ele que não voltará. Os mais jovens choram pela incerteza de voltarem a presenciar tal cena com os mesmos companheiros. É uma grande confraternização.

A música da despedida nunca falta, ela é um clássico entre eles:

Adeus, adeusAdeus que eu me vouAdeus, adeusAdeus que eu me vouAté para o anoSe nós vivo for

Cadê a dona da casaQue eu não vejo ela falarEstá debaixo da roseiraCoberta de rosedáMeu senhor dono da casaFaça favor venha cáPeço desculpasSe o nosso festejoNão foi de agradarAdeus, adeusAdeus que eu me vouAdeus, adeusAdeus que eu me vouAté para o anoSe nós vivo for

Enquanto isso, a comida vai esfriando sobre a mesa, o cardápio? Buchada de bode, sarapatel, farinha de mandioca, carne de porco as-sada e cozida, pães, milho cozido, pamonha, canjica, bolo, café... não demora e, o dia amanhece. É hora de ir para a capela erguida em 1974 pelo pai de José Manoel dos Santos, o Seu Benedito.

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– Chamam com eu Zé Benedito, porque meu pai era Manoel Be-nedito.

A capela foi construída para homenagear a Santa que deu ori-gem à festa. Lá eles rezam o terço e encerram os festejos de mais um ano. Seu Benedito está com 70 anos de idade e organiza a festa pra-ticamente só.

– Eu convido todos os batalhões a virem para a Festa de Santana no dia 24 de junho quando entregam a medalha lá na estação ferro-viária. A ajuda financeira eu recebo da Fundação de Cultura pra fa-zer essa festa. Desde que terminou o São João que eu estou organi-zando, as barracas de comida e bebida que são colocadas aqui, são de pessoas de Caruaru e dos sítios vizinhos.

Há energia elétrica no local há apenas seis anos, antes disso, as festas eram realizadas sob a luz do lampião.

O Batalhão 333, mais de 150 anos de história

Atualmente comandado por João Saturnino Filho, o batalhão 333, o segundo mais antigo de Caruaru, foi fundado em 1857 pelo Ca-pitão João Barbosa. Em 1928 após sua morte, o neto Capitão Eliel Alves de Azevedo, recebia o comando dos atiradores, e entre estes existiam alguns que já atiravam havia 50 anos. Eliel, durante seus 59 anos de idade, comandou por 32, ininterruptos, as atividades des-se batalhão.

A patente do Capitão Eliel, comerciante que morou na Rua Ser-gipe, 105, ao pé do Morro Bom Jesus, ele recebeu das mãos do Co-mandante, Cel. Epitácio Braga, durante um almoço, em 1945. Após o Capitão, que precisou encerrar suas atividades porque se mudou para Recife para tentar a vida lá de 1954 a 1963, quem assumiu o ba-talhão foi o Major Emídio do Ouro.

Emídio Ferreira da Silva era ourives e comerciante, ofícios apren-didos com o pai. Nasceu em 17 de abril de 1905 em Bonito, morava

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Capitão Eliel Alves

de Azevedo

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em Caruaru desde 1927, na Rua Paraná, bairro São Francisco. Anal-fabeto, conduzia seus negócios com sucesso, alcançou um padrão de vida confortável. Vendia antiguidades também e viajava muito para comprar essas peças. Após iniciar suas atividades como bacamartei-ro aos 17 anos, passou a comercializar também bacamartes em uma banca no marco zero da cidade.

O Major tinha residência e oficina em Juazeiro do Norte, terra de sua esposa Maria de Lourdes Brito. Lá, ele tinha cinco funcioná-rios fabricando jóias em ouro para ele revender aos ricos de Carua-ru que faziam as encomendas. Teve apenas uma filha, Sueli Ferreira de Aquino, hoje com 51 anos. Fanático pelo time do Central, o Ma-jor participou da construção do Estádio Lacerdão (Luiz José de La-cerda), o que quase lhe custou à vida. Durante a construção, foi pica-do por uma cobra e acabou ficando cego de um olho e manco de uma perna, devido o efeito do veneno que ele tentou reverter tomando por conta própria um litro de querosene.

O Major Emídio do Ouro era um homem rígido, temido pelos seus homens que não ousavam desobedecer a suas ordens como a proibição de consumir bebidas alcoólicas durante as apresentações, fato bastante comum hoje em dia. Emídio do Ouro levou nossa cul-tura a vários cantos do país, inclusive a Brasília onde esteve se apre-sentando com o grupo. Ele também não era militar sua patente foi “ganhada”.

Além disso, era o único bacamarteiro da cidade que tinha autori-zação do Batalhão de Polícia Militar para transportar o salitre , que era trazido de Recife e entregue aos chefes dos demais batalhões, os quais o distribuíam entre seus homens para que cada um fizes-se sua pólvora.

O escritor caruaruense Nelson Barbalho escreveu sobre o Major em duas de suas obras: “Meu povinho de Caruaru (1980)” e “Vas-to Mundo (1981)”. Publicou conversas que teve com o Major e que traduz em palavras o homem rústico e espirituoso que comandava os bacamarteiros de Caruaru.

– Emídio do Ouro era bicho que não mareava, latão do bom sem

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Major Emídio

do Ouro

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defeito, cabra que a gente conhecia de longe pelo papouco do tiro, pela rama caprinística. Protetor de zabumbeiros, chefe de bacamar-teiros, vendedor de pistola fogo-tebêi na grande feira de Caruaru, era um grande sujeito, amigo meu de infância. Certa vez, apelidou-se de capitão e como capitão passou muito tempo, até debaixo da ca-ma. Depois, numa farra com o me dando no meio da canela, o paulis-ta Cunha Bueno, por deboche, “promoveu” Emídio a major e, como major sem patente, a Imídia passou a viver até bater a bota e pres-tar continência à Morte.

Era um homem simples e puro e eu gostava demais de conver-sar com ele. Vez, a gente falava sobre famílias cujos filhos têm todos os nomes iniciados por uma mesma letra, fato muito comum aqui no Nordeste. Nisso, o major de grupo pediu a palavra e lascou: - Lá na Ciará eu conheço uma famiação que é toda no ó, é Ocrídio, Oro-ra, Olina, Oristela, Otrope, Oraço, Ogênio, Orico, Ostrogildo, On-tonho, Orides e Ozébio, só o caçula foi que desonerou e botaro nele um nome começado por tê, é o Tavim! Tavim era o Otávio, sim se-nhor. (Vasto Mundo - 1.981).

– O major-capitão é um filósofo, ninguém disso duvide. Prova do que digo: - Emídio e, Caruaru, como vai indo? Atenção para a filo-sofia do cara:

– A Caruaru vai cuma Deus qué e a polícia consente, cum pouca água nas torneira e muita ferruge na encanação, com uma tal de su-permeicada danisca de grande e de enfeitada mas porém danisca de projudiciá pras budegueira pobe de Caruaru, que ta tudo ficano fudi-do na base da muchila de pedir ismola por não poder acumpetir com a supermeicada, pois falta simitria na coisa mode equilibrar o negó-cio, tas morando na jogada? E sem simitria, pessoa, a vida se pende prum lado: pro lado das ricas fias da puta, num sabe? (Meu povinho de Caruaru - 1.980)

Emídio do Ouro faleceu em 20 de abril de 1980 aos 85 anos de idade, fumante desde os 09, também era diabético. No dia do seu en-terro no cemitério Dom Bosco, bacamarteiros de toda a região vie-ram acompanhar o cortejo, todos fardados. Antes de morrer, pas-

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sou o comando do Batalhão 333 para o amigo e companheiro Cas-simiro Pedro da Silva. Bacamarteiro desde os 12 anos de idade, ele ficou 66 à frente do batalhão até o seu falecimento em 19 de Março de 2009, aos 86 anos.

O Dia do Bacamarteiro

Antônio José do Nascimento, bacamarteiro que deu nome ao fe-riado de 24 de junho, foi atirador durante 55 anos no batalhão 41 da vila de Murici, zona rural de Caruaru. A homenagem a José Antônio veio um ano após a sua morte em 1999, pelo amigo e vereador Lula Tôrres. O homenageado é pai do também vereador José Ailton.

O Encontro dos Bacamarteiros no Sesc Caruaru, todos os anos no dia 24 de junho, é um momento único de se ver todos os Bacamar-teiros registrados ou não, na Associação de Bacamarteiros da cida-de que aceita grupos de toda a região Agreste.

Em 2009, cerca de 800 homens divididos em 36 batalhões, sendo 10 de Caruaru e 26 da região, participaram do Encontro que é or-ganizado pela Fundação de Cultura da cidade. O evento tem início às 10h e trata-se de uma grande confraternização. Os grupos pas-sam a manhã se apresentando e atirando. Após o almoço, oferecido pela organização do Encontro, eles seguem em marcha até a Esta-ção Ferroviária onde recebem do Prefeito uma medalha de Honra ao Mérito, criada no mesmo ano em que a Lei foi sancionada (1999).

Participaram Batalhões das cidades de São Caetano, Tacaimbó, Riacho das Almas, São Caetano, Vertentes e outras. De acordo com os bacamarteiros, muitos grupos não são registrados, ficando im-precisa a contagem destes. O que ocorre, é que, os batalhões se divi-dem, às vezes por desentendimentos e acabam demorando ou sim-plesmente não se registrando na Associação.

Para se deslocarem de uma cidade para outra é necessário ter a Guia de Tráfego para Armas de Fogo, cedida pela Polícia Militar. Esta tem validade de 30 dias e consta o nome de todos os bacamar-

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teiros do grupo, para que possam transportar seus bacamartes com a devida autorização. Além disso, pessoas com passagem pela polí-cia não são aceitas pelos bacamarteiros.

As mulheres

A presença feminina é cada vez maior em atividades antes exclu-sivamente masculinas, não poderia ser diferente entre os bacamar-teiros. As mulheres foram ganhando espaço no folclore a medida em que seus pais, irmãos ou maridos bacamarteiros iam morrendo e não haviam homens na família para manter a tradição. Hoje não. Elas in-gressam por paixão, assim como os homens.

A brutalidade do tiro de bacamarte, as fardas com cortes mascu-linos, o peso da caturcheira, as viagens em cima de caminhões e as noites de sono perdidas, não as intimida. E eis que surge em meio a um desfile de homens suados e desengonçados, batons, bijuterias, unhas pintadas e cabelos grandes. Elas roubam a cena e sempre ar-rancam aplausos dos expectadores porque ver um homem manejar um bacamarte é normal, mas uma mulher...

Entre os companheiros de bacamarte elas são muito bem-vin-das.

– A presença da mulher melhora qualquer ambiente. Além disso, elas ajudam nas tarefas mais delicadas. Se introsam primeiro com os donos das casas por onde a gente passa, são elas que iniciam a re-za do terço, enfim, nas tarefas em que os homens sentem dificulda-des elas agilizam e não deixam a desejar em nada, nem reclamam de cansaço. E, são elas que chamam mais a atenção, são sempre as mais entevistadas e fotografadas, então, quanto mais mulheres nos bata-lhões, melhor para todos.

Esse depoimento foi do bacamarteiro Antônio Bezerra da Silva do batalhão 27, que atualmente desfila com 5 mulheres.

Aldenira Maria de Oliveira, 43 anos de idade, bacamarteira há 16, é caruaruense. No entanto, foi morar em São Paulo ainda na ado-

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lescência. Filha de Zacarias Soares, bacamarteiro do Batalhão 27, ela vem para Caruaru todos os anos no mês de junho para partici-par dos festejos.

– São vários os motivos que me levam a vir todos esses anos inin-terruptamente. O prazer de poder fazer isso na companhia do meu pai e a admiração que tenho por ele. O meu marido me apóia muito e sente orgulho de me ver ajudando a manter viva essa tradição.

Aldenira conta que, desde criança via o pai saindo para festejar ano a ano, e isso fez crescer ainda mais a sua admiração pelo baca-marte, até que decidiu passar de expectadora a participante.

– Eu senti a necessidade de manter viva a minha cultura e passar isso adiante para as novas gerações.

Ela relata ainda que nunca sofreu nenhum tipo de preconceito ou discriminação por ser mulher e fazer parte de um grupo onde a maioria são homens e afirma não parar, mesmo quando o pai já não estiver mais aqui.

– Eu nunca quero deixar pra trás essa herança que o meu pai nos passou, meu desejo é perpetuá-la.

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3O COnflITO

BACAMARTEIROS: UM TIRO DE GUERRA QUE SE FEZ ARTE

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A infantaria brasileira que lutou na guerra,

era formada por voluntários da pátria

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Os homens jovens e solteiros não tinham

escolha, eram obrigados a defender o país

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O Brasil achava-se

despreparado para a guerra

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Dos 160 mil brasileiros que combateram

na guerra, cerca de 50 mil morreram

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A guerra imprimiu marcas profundas na vida dos

brasileiros, em especial, na dos nordestinos.

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A guerra do Paraguai e os Bacamarteiros

Desde a independência do Paraguai, em 1811, os governos desse país passaram a atuar de modo diferente dos outros países da Amé-rica Latina. Foram desenvolvidas políticas sócio-econômicas volta-das para os interesses da população paraguaia. Em 1840, pratica-mente não havia analfabetos no país.

O desenvolvimento do Paraguai contrariava os interesses gerais dos capitalistas ingleses. Eles preferiam que os países latino-ameri-canos permanecessem fornecedores de matérias-primas e consumi-dores dos seus produtos industrializados. O governo inglês, de cer-to modo, favoreceu a luta promovida pelas forças do Brasil, Argen-

CAPÍTULO 3

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tina e do Uruguai (a Tríplice Aliança) contra o Paraguai, dando iní-cio ao mais longo conflito armado já ocorrido na América do Sul.

A versão dos militares brasileiros é que o episódio que iniciou a guerra foi o aprisionamento, pelo governo paraguaio, do na-vio brasileiro Marquês de Olinda, em novembro de 1864. A em-barcação navegava pelo rio Paraguai, com destino à província de Mato Grosso.

O conflito durou até 1870 e as perdas humanas foram imensas, embora não haja cálculos precisos sobre o número de mortes. Do lado brasileiro, há estimativas que variam de 25 a 100 mil. Do la-do paraguaio, aproximadamente metade da população foi dizimada.

A herança – Este combate plantou a semente do serviço militar obrigatório no Brasil, devido ao alistamento obrigatório. Essa é uma herança deixada por esse conflito em que, cerca de 50 mil brasilei-ros morreram. Os soldados que sobreviviam, voltavam para casa, subiam nos morros e disparavam tiros com o bacamarte trazidos da batalha. Esse comportamento era uma maneira de anunciarem sua volta. O prêmio era este, ter preservado a própria vida.

Os voluntários da Pátria

De acordo com relatos de descendentes pernambucanos dos “Vo-luntários da Pátria”, os homens jovens e solteiros não tinham esco-lha, eram obrigados a deixar suas casas e ir defender o país na guer-ra contra Solano López, como explicou João Saturnino, comandan-te do Batalhão de Bacamarteiros 333 de Caruaru.

– Na época, era comum manter armas em casa. Esses homens ti-nham Riúnas e as usavam para caça, para sua segurança e também como parte de coleção. No período junino, eles se juntavam, acen-diam a fogueira de São João e atiravam em saudação ao Santo, mas quando o Brasil entrou na Guerra contra o Paraguai, não havia ho-mens suficientes para a luta, então, como eles já possuíam essas ar-mas e sabiam manejá-las foram levados para a batalha.

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Bacamarteiros x Cangaceiros

Ao longo da nossa pesquisa observamos um detalhe importan-te na trajetória dos bacamarteiros: eles ainda são confundidos com cangaceiros por grande parte da população e observamos ainda que as características que os difere não são muitas a não ser as circuns-tancias que os originaram, já que ambos tornaram-se figuras do nos-so folclore. Quem vai nos ajudar nessa diferenciação é o professor e historiador Urbano Silva, um caruaruense que há 20 anos pesquisa o fenômeno do cangaço.

Segundo ele, as pessoas ainda confundem, pelo fato de que o can-gaço nordestino continua muito vivo no imaginário popular, mes-mo 71 anos após a morte de Lampião. A primeira diferença entre eles é que os cangaceiros nunca usaram bacamartes. Essa arma é de origem Européia.

– Nós que estudamos história, identificamos o bacamarte nas pri-meiras lutas de revolução no Brasil. Exemplo disso é que ele foi usa-do em 1600 quando começou o movimento dos Bandeirantes e na Guerra do Paraguai em 1864. E isso foi bem antes do movimento dos cangaceiros que teve inicio no século XIX.

Ainda segundo o professor Urbano, a segunda diferença é que os cangaceiros utilizavam fuzis e espingardas, armas essas que podem dar mais de um tiro por vez e com um único projétil. Diferente do bacamarte, que dispara apenas uma vez.

– Você precisa recarregá-lo com pólvora a cada tiro que for da-do. E, ele só foi utilizado em guerras antigas, pois, se colocava até 50 gramas de pólvora e quando se atirava atingia uma área maior do que um metro quadrado. De seis a dez pessoas podiam ser atingi-das. Por exemplo, quando os bandeirantes invadiram o interior do Brasil e chegaram há algumas tribos indígenas, se houvesse uma re-ação eles dariam um único tiro, e com ele feriam várias pessoas ao mesmo tempo.

De acordo com Urbano, o ultimo combate dos bacamarteiros aconteceu no final do Império em 1889.

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– O que as pessoas imaginam é que o bacamarte só teria a boca maior para dar um tiro grande, e isso não é verdade. Ele possui es-sa anatomia porque o volume da munição que ele recebe é grande. A boca daquela largura ajuda no barulho da explosão e como o som se propaga no vácuo o estrondo assustava o inimigo. Outra coisa que ajuda a confundir as pessoas é que os bacamarteiros, pelo menos os de Caruaru, utilizam em suas vestes a cor azul, a mesma que anda-va o grupo de Lampião.

A história conta que, no ano de 1925, Lampião que era devoto de Padre Cícero, fez uma visita à cidade de Juazeiro do Norte, no Cea-rá. E, na época com interferência do Padre Cícero, o Deputado Flo-ro Bartolomeu, convocou Lampião para receber uma patente mili-tar de Capitão e combater pelo movimento comunista, que estava se instalando no Brasil, liderado por Antonio Carlos Prestes. Ele e seu bando foram subsidiados com fardamento, armamento e muni-ção. E a farda que antes era brim na cor cáqui – tecido mais resisten-te para se viver na caatinga e na cor fazia com que eles se camuflas-sem na vegetação seca - passou a ser azul a pedido do Padre Cícero, cor esta, que é utilizada até hoje.

O professor Urbano revela que, os batalhões de bacamarteiros carregam três tradições: A primeira é a do folclore do povo nordes-tino. A segunda é o armamento, que era utilizado pelos batalhões patrióticos e também pelos grupos advindos da Europa. Os euro-peus que colonizaram as Américas, os Estados Unidos e Canadá e os ingleses que também tinham grupos de bacamarteiros. E a ter-ceira é o chapéu.

– Ele se parece com o que Napoleão Bonaparte usava, com as abas quebradas. Em tese, bacamarteiros são pessoas de origem rural, que buscam homenagear a valentia do homem nordestino e acabam fa-zendo a mistura tanto no figurino quanto na musicalidade. É a união de musica, cultura, valentia e das características do homem nordes-tino que homenageia seus mitos e faz disso um lazer.

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Uma tradição preservada apenas na região Nordeste

– Os fatores que contribuíram para a manutenção desta tradição na nossa região foram o forró, a nossa cultura musical, a figura do ho-mem nordestino, aquele que mostra a sua valentia, seu destemor e a forma como o agricultor se diverte, unindo música com a tradição de seus antepassados. O curioso é que a tradição foi preservada por ho-mens da zona rural. Eles entendem que a musica brasileira é o forró deixado por Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga. Esses são os ingre-dientes que fazem o Bacamarteiro.

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LIVRO-REPORTAGEM

4ApAIxOnAdOS pElO

BACAMARTE

BACAMARTEIROS: UM TIRO DE GUERRA QUE SE FEZ ARTE

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Tradição e modernidade juntos em nome

da preservação do bacamartismo

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O bacamarteiro em alta velocidade

é uma atividade inédita

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Primeira apresentação no

Autódromo de Caruaru

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Durante as gravações do vídeo:

Bacamarteiro em alta velocidade

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Olímpio foi o primeiro historiador a

pesquisar sobre os bacamarteiros

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Olímpio Bonald Neto

Olímpio Bonald da Cunha Pedrosa Neto, nasceu em Olinda PE, em 17 de outubro de 1932. Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do recife em 1957, fez também os cursos de Artes Plásticas na Escola Livre da Ribeira, o de Planejamento do Desenvolvimento Turístico (Cicatur/ OEA / México) e pós-gradu-ação em Jornalismo Político na Unicap.

É membro da Academia Pernambucana de Letras; do instituto Histórico de Olinda e da entidade congênere em Goiana. É sócio e foi Presidente da União Brasileira de Escritores-seção de PE. É só-cio fundador do Centro de Estudos de História Municipal, da FIAM;

CAPÍTULO 4

LIVRO-REPORTAGEM

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da Academia Olindense de Letras; da congênere do Recife; da Aca-demia de Letras e Artes do Nordeste e da Sociedade dos Poetas Vi-vos de Olinda. Na APL, ocupa, desde 1981, a cadeira nº. 1, da qual é patrono o primeiro poeta brasileiro, Bento Teixeira.

É portador da Comenda da Ordem dos Guararapes do estado de Pernambuco e recebeu a medalha Marechal Trombwsky, d’O ins-tituto do Magistério Militar em 2004, além de ter recebido vários prêmios literários, entre os quais os de Contos, conferido pela Se-cretaria de Educação e Cultura do Estado de Pernambuco, em 1957; o de Poesia, da União Brasileira de Escritores/ PE, o de Ensaio, da Academia Pernambucana de Letras e o de Antropologia Cultural, da Fundação Joaquim Nabuco, em 1990.

O livro “Bacamarte Pólvora e Povo”, escrito por ele na década de 1960, foi reeditado pela terceira vez em 2004 e continua sendo a úni-ca literatura até então escrita sobre os bacamarteiros.

Sobre sua pesquisa

A pesquisa inicialmente intitulada “Os Bacamarteiros”, foi pu-blicada no Recife, pelo Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas So-ciais, no Boletim nº. 12 e feita uma Separata em 1965. Logo depois, foi publicado na Revista “O Cruzeiro” de 23 de janeiro de 1965, com o título “Cada trovão é um tiro”. O texto original foi publicado em edição nacional intitulado “Bacamarte, pólvora e povo”, ganhando o prêmio Geraldo de Andrade, em 1978, pela Academia Pernambu-cana de Letras.

Em 12 de Dezembro de 2009 fomos até Olinda conhecer o autor do único livro publicado sobre bacamarteiros de que se tem notícia e fonte de pesquisa de nosso trabalho, Olímpio Bonald Neto. A ansie-dade era inevitável. Ao chegar a sua casa pontualmente às 8h – em conversa por telefone ele perguntou: Vocês virão cedo? Porque ce-do para mim é às 5h - a recepção não poderia ter sido mais calorosa. Dona Zenaide, com quem seu Olímpio é casado há mais de 50 anos,

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parceira e incentivadora em todas as aventuras literárias, nos rece-beu como se já nos conhecesse há longos anos.

Finalmente, Olímpio deixa sua biblioteca (são duas na casa) e vem

nos receber. Uma figura extremamente carismática e atenciosa. An-tes da longa entrevista, o café da manhã regado a boas conversas e risadas. Damos início à entrevista, foi como se tivéssemos nos trans-portado à década de 1960, quando o pesquisador esteve em Carua-ru e deu início aos trabalhos com os bacamarteiros.

Fizemos com esse mestre da literatura popular uma entrevista, para que ele possa revelar detalhes de como surgiu o interesse pelo tema.

Como nasceu o desejo de pesquisar sobre o tema e quando resolveu con-cretizá-lo?

Olímpio Bonald Neto – Desde pequeno, quando ia de férias a Ca-ruaru e ficava hospedado na casa do meu tio Severino Oscar Barreto. Nas nossas andanças pela cidade, eu via os bacamarteiros se apresen-tando e fiquei curioso, mas, como eu era apenas uma criança, fiquei só na curiosidade. Depois, quando fiquei mais velho, comecei a pes-quisar. Porque você recebe uma informação, uma imagem, um som e essas coisas lhe atraem. Você guarda, mas fica funcionando dentro da memória, e quem é curioso como eu sou, é como se fosse uma plan-tinha, que vai crescendo dentro de você. Aí eu comecei a dar telefo-nemas, estabelecer relacionamentos e contatos para poder explicar pra mim mesmo o que era aquilo. Aproximei-me do Major Emídio do Ouro, não sem antes pesquisar em jornais, na Fundação Joaquim Nabuco etc. O ambiente em que eu vivia já me induzia e estimulava às pesquisas. Dediquei-me e recebi apoio de amigos, que me diziam para eu escrever sobre o assunto, então me dediquei.

Quanto tempo durou sua pesquisa em Caruaru para escrever o livro Ba-camarte pólvora e povo?

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Olímpio Bonald Neto – Foram anos para escrever o livro. Eu ia a Caruaru apenas nas férias. Passei a conhecer alguns bacamarteiros até que veio o Major Emídio do Ouro, o comandante do batalhão 333, e me mostrou outros batalhões. Além disso, ele me convidou para acompanhá-los na subida do Monte Bom Jesus e eu aceitei. Comecei então, a participar todos os anos. Atirava no bacamarte, mais nun-ca tive um. Era muito caro, então atirava no que ele me emprestava.

Depois eu comecei a fazer interações históricas e sociológicas e comecei a descobrir que, bacamarteiro não era uma coisa espontâ-nea e que tinha informações e induções anteriores. Deparei-me com as guerras do Paraguai e Holandesa. Essas informações foram se acumulando, e Mário Solto Maior que dirigia a parte folclórica da Fundaj, me estimulava a fazer um trabalho sobre isso. Nessa época eu já havia escrito “Bonecos Gigantes de Olinda”, “Caboclo de Lan-ças” e “Bumba Meu Boi”.

Como o senhor se sente diante do fato de que é o único pesquisador a es-crever sobre o tema?

Olímpio Bonald Neto – Escrever um livro é assim, ele vai e vol-ta. E como volta? Na critica e no interesse, que desperta nas pesso-as. Quando você é criticado por um trabalho, como eu ouvia as pes-soas dizendo: “Esse livro está fraco, escreve mais um pouco, tira is-so, acrescenta aquilo, vai adiante”, então, você é estimulado e vê que precisa acrescentar mais alguma coisa. Aí saiu uma edição com apoio de Caruaru, inclusive a capa da primeira edição é de Luisa Maciel.

Depois que lancei a primeira edição continuei trabalhando, acres-centando informações, que culminaram na segunda edição. Nela saiu uma lei proibindo o porte de armas e que possuir um bacamarte era crime. Então alguns bacamarteiros me procuraram e eu corri para a Fundação Joaquim Nabuco e junto com a Comissão Pernambucana de Folclore, fizemos e enviamos um oficio ao Pernambucano Mar-co Maciel, que era Vice-Presidente da República na época. Pedimos que ele que interferisse na Lei, que regula a posse de armas de fogo,

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inserindo um parágrafo, que permitisse o uso de armas de fogo na prática esportiva tradicional. E foi o que salvou os bacamarteiros. Agora estão rigidamente regulamentados e controlados tendo que se inscrever e não podendo fazer a utilização de seu bacamarte fora do espetáculo público. A guia de tráfego de armas é disponibilizada pelo Exército Brasileiro e deve ser levada obrigatoriamente em to-das as apresentações.

Em sua opinião, porque o número de Bacamarteiros vem diminuin-do a cada ano em relação à década de 1960 quando você conheceu o Ma-jor Emídio em Caruaru?

Olímpio Bonald Neto – Acho que faltam incentivo, informação e prestígio das autoridades. Eles não prestigiam as manifestações cul-turais locais. Turista não vai ver o que não tem na cidade e o baca-martismo é um diferencial para Caruaru, mas, sem incentivo, a tra-dição vai se perdendo. O que está acontecendo é que, o bacamartis-mo se desenvolveu por toda a região, em Paulista, Bonito, Abreu e Lima e em Caruaru que é a matriz, está perdendo espaço.

Quando o senhor escreveu o livro, Caruaru era o maior pólo dos Baca-marteiros do estado?

Olímpio Bonald Neto – Era sim, inclusive o Major Emídio, ven-dia armas na feira e durante o São João, alugava, comercializava e emprestava as armas. Ele tinha o controle de tudo isso. Estimulan-do assim as pessoas. E para manter a tradição, rezavam antes de su-bir no Morro Bom Jesus, era tudo bem diferente do que se vê hoje.

Descreva o Major Emídio

Olímpio Bonald Neto – Era um homem sério, poucas palavras, efi-ciente, autoritário e me parecia ser independente. Ele tinha a barra-

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ca dele na feira, não pedia nada a ninguém, nós nos víamos eventu-almente, mas a imagem que ele me passava era de um homem sério.

O bacamartismo aqui no Estado corre o risco de acabar? Olímpio Bonald Neto – Veja, a cada dia aumenta mais. Agora

mesmo tem um grupo liderado pelo professor Ivan, que é de Paulis-ta, e está regimentando o pessoal para fazer uma espécie de sindica-to, uma agremiação maior, que vai abranger a todos os bacamartei-ros. Então, eu acho que o bacamartismo está estruturado de tal for-ma que não deixará de existir. Pode deixar de acontecer aonde não é prestigiado, onde não tem apoio burramente das autoridades locais.

E em Caruaru, você acha que a tradição tende a se acabar?Olímpio Bonald Neto – Acho uma burrice o que estão fazendo

com a tradição em Caruaru. Aqui em Abreu e Lima abriram um es-paço recreativo para a apresentação deles. A tradição do bacamar-te não pode ser resumida apenas ao dia do Bacamarteiro. A constru-ção de espaços onde eles possam se apresentar fora do período juni-no ajuda a preservar a tradição e não incomoda as pessoas, porque cada tiro é um trovão.

Na época em que escreveu seu livro cerca de 800 homens faziam par-te de batalhões em Caruaru, hoje são pouco mais de 300. O senhor se pre-ocupa com a preservação?

Olímpio Bonald Neto – Hoje em dia muitos deles desconhecem a origem do bacamartismo, então falta estímulo para dar continuida-de à tradição. Tem que ser feito uma promoção e divulgação do que é o bacamarteiro para recuperar o interesse. Uma coisa fundamen-tal e essencial foi a criação do Dia do Bacamarteiro para a sobrevi-vência dessa tradição. Então, não promover o que já existe é estu-pidez e deixar morrer uma representação cultural que foi da Guer-

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ra é perder cultura.

A Guerra do Paraguai deixou marcas no Brasil, mas, porque o senhor acha que ela foi mais forte para o estado de Pernambuco?

Olímpio Bonald Neto – Eu entendi que, como Pernambuco tem uma tradição de rebeldia em sua história, foi um ponto de interesse internacional desde a Guerra Holandesa, na qual, Olinda foi incen-diada e se tornou um Estado marcado. Caruaru era um caminho de boiadas, onde todos paravam por lá, e os voluntários da pátria, aqui do Nordeste eram levados à força para o Paraguai. Os rapazes mais fortes e robustos eram apanhados nas feiras livres como cachorros e transformados nos voluntários que eu chamo de voluntários invo-luntários, pois, eram levados contra a sua vontade. Sofriam uma la-vagem cerebral para chegar à guerra e derrubar os paraguaios com mais rapidez. Eles chegavam ao Paraguai tão furiosos, que quando terminou a Guerra a população de homens no Paraguai tinha sido quase zerada. As Autoridades tiveram que permitir a bigamia dos homens para repovoar a região. É por isso que ainda hoje os para-guaios têm horror ao Brasil.

Então os voluntários da pátria quando voltavam da Guerra do Pa-raguai anunciavam sua chegada dando tiros de bacamarte em mor-ros para que seus circundantes ficassem sabendo que eles tinham vol-tado. Esse costume ficou conhecido como a festa da volta e era tam-bém uma ação de graça, atiravam para agradecer aos santos. Os ti-ros de bacamarte eram as vozes escondidas de alegria de voltar pa-ra casa. Em Caruaru, isso passava de pai para filho e era um orgulho.

Lembro-me agora de uma modinha que dizia assim “Eu fui ao to-roró beber água e não achei, achei bela morena, que no tororó dei-xei...” Sabe o que ela quer dizer? Ela se refere ao Rio Itororó. A par-te que diz “eu fui ao tororó beber água e não achei” quer dizer que rio estava cheio de sangue da guerra, contam os historiadores. Essa mo-dinha corre o Brasil inteiro e hoje em dia as pessoas não sabem o sig-nificado. Matavam e degolavam os homens na beira do Rio Itororó.

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Bacamarteiro em Alta velocidade

As manifestações folclóricas como sabemos, não são culturas “en-gessadas”, apesar de tradicionais, estão em constante movimento e mudança, sem perder suas características essenciais e não poderia ser diferente com o bacamartismo. Certo dia, em nossas buscas na internet, encontramos no site da Fundarpe (Fundação do Patrimô-nio Histórico e Artístico de Pernambuco) um vídeo intitulado “Ba-camarteiro em Alta Velocidade”, a curiosidade claro, foi instantânea.

O vídeo com duração de quatro minutos traz um patinador des-cendo a parte mais inclinada do Anel Viário Deputado José Libera-to, que dá acesso à BR 232, em Caruaru, a aproximadamente 85 km/h atirando com um bacamarte em plena descida. À primeira vista, o pensamento não é outro se não: que louco! Mas, não se trata apenas de uma “loucura”. Trata-se de uma forma de chamar a atenção de au-toridades e sociedade para a preservação da nossa cultura.

O bacamarteiro em alta velocidade é Elifas Lima Cavalcanti, ca-ruaruense, morando atualmente em Belo Jardim, 29 anos, casado, pai de um menino e operador de máquinas de bordar. Seu interesse pe-lo bacamarte teve início ainda na infância, quando foi assistir ao fes-tival de fogueteiros e baloeiros, que acontece todos os anos no está-dio Luiz José de Lacerda, o Lacerdão em Caruaru e conta com a par-ticipação de grupos de bacamarteiros. Segundo Elifas, ele ficou fas-cinado pelas explosões dos tiros de bacamarte.

Mas a vida foi tomando outros rumos, tentou ser jogador de fute-bol, junto com o desejo de ser jogador, nasceu o interesse pelos pa-tins. Ainda na adolescência, Elifas começou a patinar em grupo pe-la cidade. Teve que abandonar as duas atividades e arrumar um em-prego para se manter. No entanto, o sonho de se tornar o “bacamar-teiro em alta velocidade” sempre o acompanhou. Seria perfeito unir o bacamarte e os patins (duas paixões) e ainda, conseguir ganhar di-nheiro com tal atividade. Mas, precisaria de apoio, recursos e prin-cipalmente coragem para concretizá-lo, muito mais por se tratar de um projeto inédito e a primeira impressão sem importância cultural.

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– Trabalhei durante sete meses, consegui juntar grana pra com-prar os patins e o bacamarte e colocar meus planos em prática. Não foi fácil, depois de muita procura, achei a casa do seu João do Pife, que me recebeu muito bem e logo me indicou o grande mestre Cas-simiro, capitão do Batalhão 333. Ele gostava de conversar, tomar um cafezinho e contar suas histórias, de bacamarteiro, e mostrava com muito orgulho algumas fotografias de sua apresentação em “Portu-gal” e foi esse grande guerreiro, que me passou o bacamarte e tenho o maior orgulho disso.

Vencida essa etapa, contratou uma equipe de filmagem, tarefa di-

fícil, já que, a maioria dos profissionais contactados não acreditava no projeto. Escolheu o local e fez a primeira tentativa.

– Com o impacto, o bacamarte soltou das minhas mãos e que-brou, tive que desistir temporariamente e consertar a arma. Apenas um mês depois consegui achar uma pessoa que ainda faz o serviço, quando voltamos ao local de filmagem o bacamarte não funcionava, tive que procurar outra pessoa.

O vídeo gravado no início de 2009 foi enviado ao site da Fundar-

pe, na tentativa de despertar interesse em possíveis patrocinadores.– Até o momento não conseguimos nenhum apoio de órgãos pú-

blicos. Talvez, por fazer pouco tempo que o vídeo foi divulgado, mas, estou tranquilo, há outros caminhos, uma grande possibilidade de apresentarmos essa atividade na Fórmula Truck, já fizemos alguns contatos e fomos vistos em uma apresentação, que fizemos recen-temente no Autódromo Ayrton Senna, na abertura de um campeo-nato de Tunning e acredito, com essa apresentação iremos dar um passo importante.

Ele revela que o principal objetivo do vídeo não é ganhar dinheiro.– O meu intuito principalmente, é ajudar a preservar e divulgar

essa nossa riqueza cultural, que me fascinou desde a infância e pre-cisa ser valorizada. Eu quis unir tradição e modernidade e acredito

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que deu certo e a internet é uma ferramenta muito importante na divulgação de qualquer trabalho.

O vídeo também foi postado Youtube (site em que é possível usu-

ários postarem seus vídeos) em 31 de maio de 2009 e até então, já te-ve cerca de 280 acessos.

– Quem postou foi um vizinho meu. Eu não queria, por achar que alguém poderia copiar minha ideia e descer a Mega Rampa antes que eu, usando o mesmo tipo de apresentação, mas, pensando bem eu acho difícil ter outro doido com essa disposição.

A Mega Rampa é uma estrutura no formato grande de rampa

utilizado por competidores em skate, BMX, patins e Velotrol, mede 105 metros de extensão e 27 metros de altura sendo a maior rampa do mundo. O bacamarteiro em alta velocidade tem planos de conse-guir patrocínio para participar da competição atirando de bacamarte.

– Estou encontrando muitas barreiras, mas acredito na consis-tência desse trabalho e com fé conseguiremos chegar lá.

O vídeo pode ser acessado nos seguintes endereços: http://www.

nacaocultural.pe.gov.br/bacamarteiro-em-alta-velocidade e http://www.youtube.com/watch?v=wCW1cyUwSq0

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Este livro foi composto em formato 13,5/21e impresso pela Estudantil gráfica

sobre o papel A3em dezembro de 2010